CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE PSICANÁLISE & NOVAS CONFERÊNCIAS INTRODUTÓRIAS SOBRE PSICANÁLISE

-Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse-

P. 2548 das Obras Completas em Português (no volume XV)

Em verde: trechos execráveis.

Esta obra teve uma circulação maior do que qualquer outra obra de Freud, com exceção, talvez, de The Psychopathology of Everyday Life. Também se distingue pela quantidade de erros de impressão nela existentes. Como ficou assinalado acima, quarenta foram corrigidos na segunda edição; porém havia ainda muitos mais, e pode ser observado um número considerável de pequenas variações no texto das diversas edições. A presente tradução inglesa segue o texto dos Gesammelte Werke, que é, de fato, idêntico ao texto dos Gesammelte Schriften; e somente foram registradas as discordâncias mais importantes das primeiras versões.”

As conferências publicadas neste livro foram proferidas por Freud em dois períodos de inverno sucessivos, durante a Primeira Guerra Mundial: 1915-16 e 1916-17.”

Em seu prefácio às New Introductory Lectures, há pouco citado, Freud nos refere que a primeira metade da série atual, a série inicial, ‘foi improvisada e escrita logo depois’, e que ‘esboços da segunda metade foram feitos durante as férias do verão intermediário, em Salzburg, e passados para o papel, palavra por palavra, no inverno seguinte’ [mentiroso]. Acrescenta que, naquela época, ‘ainda possuía o dom de uma memória fotográfica’, pois, por mais cuidadosamente que suas conferências pudessem ter sido preparadas, na realidade, invariavelmente, as proferia de improviso, e geralmente sem anotações. Existe concordância geral no tocante à sua técnica de dar conferências: que ele nunca era retórico [nada mais diferente do que estão prestes a ler…] e que seu tom era sempre o de uma conversação tranqüila e mesmo íntima. Contudo, não se deve supor, por isso, que houvesse algo de desleixo ou desordem nessas conferências. Elas quase sempre tinham uma forma definida – início, meio e fim – e podiam, freqüentemente, dar ao ouvinte a impressão de possuírem uma unidade estética.”

Freud se socorreu evidentemente das conferências como método de expor suas opiniões, mas apenas sob uma condição particular: ele devia estar em vívido contato com seu auditório real ou suposto. Os leitores do presente volume descobrirão como é constante Freud manter esse contato – quão regularmente ele coloca objeções na boca de seus ouvintes, e quão freqüentemente existem debates imaginários entre ele e seus ouvintes. [pois isso é que é ser ultra-retórico, e extremamente enfadonho!] Na verdade, ele estendia esse método de formular suas exposições a alguns de seus trabalhos que absolutamente não são conferências: a totalidade de The Question of Lay Analysis (1926e) e a maior parte d’O Futuro de uma Ilusão (1927c) tomaram a forma de diálogos entre o autor e um ouvinte que faz críticas.” E ‘o futuro de uma ilusão’ é talvez o livro mais chato de F. que eu já lera depois deste aqui…

As Conferências Introdutórias podem ser verdadeiramente consideradas como um inventário das conceituações de Freud e da posição da psicanálise na época da Primeira Guerra Mundial. As dissidências de Adler e Jung já eram história passada, o conceito de narcisismo já tinha alguns anos de vida, [isso não impede o recalque de F. de sempre citá-los pejorativamente durante as conferências] o caso clínico do ‘Wolf Man’, que marcou época, tinha sido escrito (com exceção de 2 passagens) um ano antes do começo das conferências, embora não fosse publicado senão mais tarde. E, também, a grande série de artigos ‘metapsicológicos’ sobre a teoria fundamental tinha sido ultimada alguns meses antes, ainda que apenas 3 deles tivessem sido publicados. (Mais 2 deles surgiram logo após as conferências, porém os 7 restantes desapareceram sem deixar vestígio.)”

Em nenhuma outra parte fornece tão claro resumo da formação dos sonhos como nas últimas páginas da Conferência XIV. Sobre as perversões, não há comentários mais inteligíveis do que aqueles encontrados nas Conferências XX e XXI.”

* * *

PRIMEIRA CONFERÊNCIA

Da maneira como estão as coisas, no momento, tal escolha de profissão arruinaria qualquer possibilidade de obter sucesso em uma universidade, e, se começou na vida como médico clínico, iria encontrar-se numa sociedade que não compreenderia seus esforços, que o veria com desconfiança e hostilidade e que despejaria sobre ele todos os maus espíritos que estão à espreita dentro dessa mesma sociedade.” Citando seu ex-discípulo favorito Jung?

CIGANO SEDUTOR! “Na própria psiquiatria, a demonstração de pacientes, com suas expressões faciais alteradas, com seu modo de falar e seu comportamento, propicia aos senhores numerosas observações que lhes deixam profunda impressão. Assim, um professor de curso médico desempenha em elevado grau o papel de guia e intérprete que os acompanha através de um museu, enquanto os senhores conseguem um contato direto com os objetos exibidos e se sentem convencidos da existência dos novos fatos mediante a própria percepção de cada um.”

A CAIXA PRETA DA PSEUDANÁLISE: “A conversação em que consiste o tratamento psicanalítico não admite ouvinte algum; não pode ser demonstrada. Um paciente neurastênico ou histérico pode, naturalmente, como qualquer outro, ser apresentado a estudantes em uma conferência psiquiátrica. Ele fará uma descrição de suas queixas e de seus sintomas, porém apenas isso. As informações que uma análise requer serão dadas pelo paciente somente com a condição de que ele tenha uma ligação emocional especial com seu médico; ele silenciaria tão logo observasse uma só testemunha que ele percebesse estar alheia a essa relação. Isso porque essas informações dizem respeito àquilo que é mais íntimo em sua vida mental, a tudo aquilo que, como pessoa socialmente independente, deve ocultar de outras pessoas, e, ademais, a tudo o que, como personalidade homogênea, não admite para si próprio.”

O resultado da pesquisa sem dúvida lhes traria uma confirmação, no caso de Alexandre; no entanto, provavelmente seria diferente quando se tratasse de personagens como Moisés ou Nemrod.”

CONVENIENTEMENTE, FAÇAM O QUE EU DIGO, MAS ESQUEÇAM TUDO QUE EU FIZ: “Mas os senhores têm o direito de fazer outra pergunta. Se não há verificação objetiva da psicanálise nem possibilidade de demonstrá-la, como pode absolutamente alguém aprender psicanálise e convencer-se da veracidade de suas afirmações? É verdade que a psicanálise não pode ser aprendida facilmente, e que não são muitas as pessoas que a tenham aprendido corretamente. Naturalmente, porém, existe um método¹ que se pode seguir, apesar de tudo. Aprende-se psicanálise em si mesmo, estudando-se a própria personalidade. Isso não é exatamente a mesma coisa que a chamada auto-observação, porém pode, se necessário, estar nela subentendido. Existe grande quantidade de fenômenos mentais, muito comuns e amplamente conhecidos, que, após conseguido um pouco de conhecimento da técnica,¹ podem se tornar objeto de análise na própria pessoa. Dessa forma, adquire-se o desejado sentimento de convicção da realidade dos processos descritos pela análise e da correção dos pontos de vista da mesma.¹ Não obstante, há limites definidos ao progresso por meio desse método. A pessoa progride muito mais se ela própria é analisada por um analista experiente e vivencia os efeitos da análise em seu próprio eu (self),² fazendo uso da oportunidade de assimilar de seu analista a técnica mais sutil do processo. Esse excelente método é, naturalmente, aplicável apenas a uma única pessoa³ e jamais a todo um auditório de estudantes reunidos.”

¹ Sempre palavras vazias, que nunca são fundamentadas em toda sua obra.

² O monopólio de saber do especialista – BAM!

³ Veja como toma-se o cuidado de aumentar ao máximo a quantidade e gravidade das restrições para aquisição do “grande método ou técnica infalível e bastante seleta”!

A educação que receberam previamente deu uma direção particular ao pensar dos senhores que conduz para longe da psicanálise. Foram formados para encontrar uma base anatômica para as funções do organismo e suas doenças, [fala aqui dele mesmo] a fim de explicá-las química e fisicamente e encará-las do ponto de vista biológico. Nenhuma parte do interesse dos senhores, contudo, tem sido dirigida para a vida psíquica, onde, afinal, a realização desse organismo maravilhosamente complexo atinge seu ápice. Por essa razão, as formas psicológicas de pensamento têm permanecido estranhas aos senhores. Cresceram acostumados a encará-las com suspeita, a negar-lhes a qualidade científica, a abandoná-las em poder de leigos, poetas, filósofos naturalistas e místicos.”

NÃO É PORQUE A PSICANÁLISE É UMA FRAUDE QUE A PSIQUIATRIA DINÂMICA, SUA ARQUI-INIMIGA, TAMBÉM NÃO SERIA! “É verdade que a psiquiatria, como parte da medicina, se empenha em descrever os distúrbios mentais que observa, e em agrupá-los em entidades clínicas; porém, em momentos favoráveis os próprios psiquiatras duvidam de que suas hipóteses puramente descritivas mereçam o nome de ciência. Nada se conhece da origem, do mecanismo ou das mútuas relações dos sintomas dos quais se compõem essas entidades clínicas; ou não há alterações observáveis, no órgão anatômico da mente, que correspondam a esses sintomas, ou há alterações nada esclarecedoras a respeito deles.”

EM OUTROS TERMOS, VIVA A PSICOLOGIA!, MAS NÃO NECESSARIAMENTE A MINHA PSICOLOGIA: “Essa é a lacuna que a psicanálise procura preencher. Procura dar à psiquiatria a base psicológica de que esta carece. Espera descobrir o terreno comum em cuja base se torne compreensível a conseqüência do distúrbio físico e mental.”

A primeira dessas assertivas impopulares feitas pela psicanálise declara que os processos mentais são, em si mesmos, inconscientes e que de toda a vida mental apenas determinados atos e partes isoladas são conscientes.”

Essa segunda tese, que a psicanálise apresenta como uma de suas descobertas, é uma afirmação no sentido de que os impulsos instintuais que apenas podem ser descritos como sexuais, tanto no sentido estrito como no sentido mais amplo do termo, desempenham na causação das doenças nervosas e mentais um papel extremamente importante e nunca, até o momento, reconhecido.”

A sociedade acredita não existir maior ameaça que se possa levantar contra sua civilização do que a possibilidade de os instintos sexuais serem liberados e retornarem às suas finalidades originais.”

Mas não se preocupem: isto que lhes ensino não detonará a vossa boa sociedade pelos ares! É como se dissesse…

SEGUNDA CONFERÊNCIA

Escolhamos como tema determinados fenômenos muito comuns e muito conhecidos, os quais, porém, têm sido muito pouco examinados e, de vez que podem ser observados em qualquer pessoa sadia, nada têm a ver com doenças. São o que se conhece como ‘parapraxias’, às quais todos estão sujeitos.”

nenhum pardal cai do telhado sem a vontade de Deus.”

Descobrimos que as parapraxias desse tipo e o esquecimento dessa espécie ocorrem em pessoas que não estão fatigadas ou distraídas ou excitadas, mas que estão, sob todos os aspectos, em seu estado normal – a menos que decidamos atribuir ex post facto às pessoas em questão, puramente por conta de suas parapraxias, uma excitação que, entretanto, elas mesmas não comportam.”

Um teimoso erro de impressão dessa espécie, segundo se conta, certa vez esgueirou-se para dentro de um jornal social-democrata. A notícia que dava de uma cerimônia incluía as palavras: ‘Entre os que estavam presentes, podia-se notar Sua Alteza o Kornprinz.’ No dia seguinte, fez-se uma tentativa de correção. O jornal pedia desculpas e dizia: ‘Devíamos, naturalmente, ter dito <o Knorprinz>.’ Em tais casos, as pessoas falam de um ‘demônio dos erros de impressão’ ou um ‘demônio da composição tipográfica’ – expressões que, pelo menos, vão além de qualquer teoria psicofisiológica dos erros de impressão.”

Tinha sido confiado a um estreante dos palcos o importante papel, em Die Jungfrau von Orleans (Schiller), do mensageiro que anuncia ao rei de ‘der Connétable schickt sein Schwert zurück [o Condestável devolve sua espada]’. Um primeiro ator divertia-se, durante os ensaios, com induzir repetidamente o nervoso jovem a dizer, em vez das palavras do texto: ‘der Komfortabel schickt sein Pferd zurück [o cocheiro devolve seu cavalo]’. Conseguiu seu intento: o desventurado principiante realmente fez sua estréia na representação com a versão corrompida, apesar de haver sido admoestado de não fazê-lo, ou, talvez, porque tenha sido admoestado.” Scharr spieler, Schauspieler

Dois escritores, Meringer e Mayer (um, filólogo, o outro, psiquiatra), de fato tentaram, em 1895, atacar o problema das parapraxias por esse ângulo. Coligiram exemplos e começaram por abordá-los de maneira puramente descritiva. Isso, naturalmente, até aqui não oferece nenhuma explicação, embora possa preparar o caminho para alguma. Distinguem os diversos tipos de distorções que o lapso impõe ao discurso pretendido, como ‘transposições’, ‘pré-sonâncias (antecipações)’, ‘pós-sonâncias (perseverações)’, ‘fusões (contaminações)’ e ‘substituições’. Eu lhes darei alguns exemplos desses principais grupos propostos pelos autores. Um exemplo de transposição seria dizer ‘a Milo de Vênus’ em vez de ‘a Vênus de Milo’ (transposição da ordem das palavras); um exemplo de pré-sonância seria: ‘es war mir auf der Schwest… auf der Brust so schwer’; e uma pós-sonância seria exemplificada pelo conhecido brinde que saiu errado: ‘Ich fordere Sie auf, auf das Wohl unseres Chefs aufzustossen’ (em vez de ‘anzustossen’). Essas três formas de lapso de língua não são propriamente comuns. Os senhores encontrarão exemplos muito mais numerosos, nos quais o lapso resulta de contração ou fusão. Assim, por exemplo, um cavalheiro dirige-se a uma senhora na rua com as seguintes palavras: ‘Se me permite, senhora, gostaria de a begleit-digen.’ A palavra composta que se juntou a ‘begleiten [acompanhar]’ evidentemente escondeu em si ‘beleidigen [insultar]’.”

A explicação em que esses autores tentaram basear sua coleção de exemplos, é especialmente inadequada. Acreditam que os sons e as sílabas de uma palavra têm uma ‘valência’ determinada, e que a inervação de um elemento de alta valência pode exercer uma influência perturbadora em outro de menor valência. Com isso, estão evidentemente se baseando nos raros casos de pré-sonância e pós-sonância; essas preferências de uns sons a outros (se é que de fato existem) podem não ter absolutamente qualquer relação com outros casos de lapsos de língua. Afinal, os lapsos de língua mais comuns ocorrem quando, em vez de dizermos uma palavra, dizemos uma outra muito semelhante; e essa semelhança é, para muitos, explicação suficiente de tais lapsos. Por exemplo, um professor declarou em sua aula inaugural: ‘Não estou geneigt [inclinado] (em vez de geeignet [qualificado]) a valorizar os serviços de meu mui estimado predecessor.’ Ou então, outro professor observava: ‘No caso dos órgãos genitais femininos, apesar de muitas Versuchungen [tentações] – me desculpem, Versuche [tentativas] ….’”

Um presidente da câmara dos deputados de nosso parlamento certa vez abriu a sessão com as palavras: ‘Senhores, observo que está presente a totalidade dos membros, e por isso declaro a sessão encerrada.’” “O presidente não esperava nada de bom da sessão e ficaria satisfeito se pudesse dar-lhe um fim imediato.” Suposição vazia.

E não seria de surpreender se tivéssemos mais a aprender sobre lapsos de língua com escritores criativos, do que com filólogos e psiquiatras.”

Lento, muito lento…

TERCEIRA CONFERÊNCIA

E talvez pudéssemos encontrar uma saída acompanhando o filósofo[-psicólogo] Wundt, quando diz que os lapsos de língua surgem se, em conseqüência de exaustão física, a tendência a associar prevalece sobre aquilo que a pessoa tenciona dizer.” Poeta cansado.

Empilha vários exemplos anônimos, provavelmente falsos (além de chulos).

Essa opinião, porém, não é sustentada apenas por nós, psicanalistas; é opinião geral, aceita por todos em sua vida diária e negada somente quando se torna teoria.”

Os senhores não terão dúvida em achar inacreditável que nós próprios podemos desempenhar um papel intencional em coisa tão freqüente como o é o doloroso acidente de perder algo.”

QUARTA CONFERÊNCIA

EXEMPLO DE RETÓRICA VAZIA: “prova da existência de determinado propósito não é argumento contra a existência de um propósito oposto; há lugar para ambos. É apenas uma questão de saber como se colocam esses contrários”

QUINTA CONFERÊNCIA

Não me levem a mal: ainda acho que a ‘onirologia’ freudiana é sua melhor parte, a ponta de iceberg ainda não submergida no nonsense escolástico atual. No entanto, continuará havendo trechos grifados em verde, devido à exposição ‘sofística’ do ‘Professor’…

VERBETE ENCICLOPÉDICO FABRICADO PARA UMA HISTÓRIA TOTALMENTE PESSOAL: “Um dia descobriu-se que os sintomas patológicos de [MEUS] determinados pacientes neuróticos têm um sentido. Nessa descoberta fundament[ei]ou-se o método psicanalítico de tratamento [meu método]. Acontecia que no decurso desse tratamento os [meus] pacientes, em vez de apresentar seus sintomas, apresentavam sonhos. Com isso, surgiu a suspeita [eu suspeitei] de que também os sonhos teriam um sentido.” Se o método fosse rigoroso, não haveria a necessidade de “terceirizar” a grande descoberta. O método não pode ser replicado a não ser pelo “Pai” da “““Ciência”””. Além disso, há autores mais pioneiros que F. na onirologia, mas eles não receberam o devido crédito (foram inclusive consultados por F. enquanto elaborava sua Interpretação dos sonhos).

Traz consigo a reprovação geral de não ser científico e desperta a suspeita de uma inclinação pessoal pelo misticismo. Imaginem um profissional da medicina dedicando-se a sonhos, quando há tantas coisas mais sérias, mesmo na neuropatologia e na psiquiatria: tumores da dimensão de maçãs comprimindo o órgão da mente, hemorragias, inflamação crônica, onde, em todos, as alterações dos tecidos podem ser demonstradas ao microscópio!”

QUANDO A HONESTIDADE É USADA COMO FERRAMENTA PRELIMINAR DA ORATÓRIA POSTERIOR: “Via de regra, não se pode fazer nenhum relato de sonhos. Se alguém faz um relato de um sonho, existe alguma garantia de que seu relato foi correto, ou, pelo contrário, não poderia ter alterado seu relato à medida que o fazia e ter sido compelido a inventar algum acréscimo para compensar a obscuridade de suas recordações? A maioria dos sonhos não pode absolutamente ser lembrada e é esquecida, salvo pequenos fragmentos. E de que modo a interpretação de material desse tipo pode servir como base de uma psicologia científica ou como método de tratar pacientes?”

há outros assuntos de pesquisa psiquiátrica que padecem da mesma característica de indefinição – em muitos casos, por exemplo, as obsessões, e estas têm, em última análise, sido abordadas por psiquiatras respeitáveis e conceituados.”

Da literatura que trata do assunto, o principal trabalho pelo menos sobreviveu: o livro de Artemidoro de Daldis, [F. mente!] que provavelmente viveu durante o período do imperador Adriano. Não sei dizer-lhes como aconteceu que, depois disso, a arte de interpretar sonhos sofreu um declínio e os sonhos caíram em descrédito.”

O abuso final da interpretação de sonhos foi atingido em nossos dias com tentativas de descobrir, a partir dos sonhos, os números destinados a serem premiados no jogo do loto.”

A única contribuição de valor aos conhecimentos sobre sonhos, que temos a agradecer às ciências exatas, refere-se ao efeito produzido no conteúdo dos sonhos pelo impacto de estímulos somáticos durante o sono. Um autor norueguês, recentemente falecido,¹ J. Mourly Vold, publicou dois alentados volumes de pesquisas experimentais sobre sonhos (edição alemã, 1910 e 1912), que se dedicam quase que exclusivamente às conseqüências das alterações na postura dos membros. Foram-nos recomendados como modelos de pesquisa exata sobre sonhos.”

¹ É se imaginar que se se encontrasse vivo não teria sido creditado pelo invejoso F.

O sonhar é, evidentemente, vida mental durante o sono – algo que tem certas semelhanças com a vida mental desperta, mas que, por outro lado, se distingue dela por grandes diferenças. Essa era, há muito tempo, a definição de Aristóteles. Talvez existam ainda conexões mais estreitas entre sonhos e sono. Podemos ser acordados por um sonho; muito freqüentemente temos um sonho quando acordamos espontaneamente ou quando somos tirados, à força, do sono. Assim, os sonhos parecem ser um estado intermediário entre o sono e a vigília.”

Esse é um problema fisiológico sobre o qual ainda existe muita controvérsia. Quanto a esse respeito não podemos chegar a qualquer conclusão; penso, porém, que devemos tentar descrever as características psicológicas do sono. O sono é um estado no qual não desejo saber de nada do mundo externo, um estado no qual retirei do mundo externo meu interesse. Ponho-me a dormir retraindo-me do mundo externo e mantendo afastados de mim seus estímulos. Também vou dormir quando estou fatigado dele.”

As crianças, ao contrário, dizem: ‘Eu não vou dormir agora; não estou cansado e quero ter mais algumas experiências.’ A finalidade biológica do sono parece ser, portanto, a recuperação, e sua característica psicológica a suspensão do interesse pelo mundo. Nossa relação com o mundo, ao qual viemos tão a contragosto, parece incluir também nossa impossibilidade de tolerá-lo ininterruptamente. Assim, de tempos em tempos nos retiramos para o estado de pré-mundo, para a existência dentro do útero. A todo custo conseguimos para nós mesmos condições muito parecidas com aquelas que então possuímos: calor, escuridão e ausência de estímulos. Alguns de nós se embrulham formando densa bola e, para dormir, assumem uma postura muito parecida com a que ocupavam no útero.” Sem forçar, muitos encontrariam aqui as posições do cismático Rank!

Não deveria existir qualquer atividade mental no sono; se este começa a ficar inquieto, é por que não conseguimos atingir o estado fetal de repouso: não fomos inteiramente capazes de evitar os remanescentes da atividade mental. Os sonhos consistiriam nesses remanescentes.”

Os processos mentais no sono têm um caráter bastante diferente daqueles que se realizam em vigília. Nos sonhos experimentamos toda sorte de coisas e acreditamos nelas, ao passo que nada experimentamos, exceto talvez o estímulo perturbador isolado. Nós o experimentamos predominantemente sob a forma de imagens visuais; sentimentos também podem estar presentes, assim como pensamentos que nisso se entrelaçam. Os outros sentidos também podem experimentar algo; porém, mesmo assim, se trata principalmente de uma questão de imagens. Parte da dificuldade de fornecer uma descrição dos sonhos se deve ao fato de termos de traduzir essas imagens em palavras.”

No que concerne às dimensões dos sonhos, alguns são muito curtos e compreendem apenas uma única imagem, ou umas poucas imagens, um único pensamento, ou mesmo uma única palavra; outros são extraordinariamente ricos em seu conteúdo, apresentam novelas inteiras e parecem durar longo tempo. Há sonhos tão claros como a experiência vigil, tão claros que, bastante tempo após havermos acordado, não percebemos que eram sonhos; e outros existem que são indescritivelmente obscuros, vagos e borrados. Na realidade, em um mesmo sonho partes muito definidas podem se alternar com outras de uma vaguidade que mal se pode discernir. Há sonhos inteiramente plenos de sentido ou, pelo menos, coerentes, humorísticos mesmo, ou fantasticamente belos; outros, ademais, são confusos, imbecis por assim dizer, absurdos, muitas vezes positivamente loucos. Há sonhos que nos deixam praticamente frios e outros em que se manifestam afetos de todos os tipos – sofrimento a ponto de fazer chorar, ansiedade a ponto de nos acordar, surpresa, encantamento, etc. Os sonhos são, de hábito, esquecidos facilmente, após o despertar, ou podem perdurar através do dia, lembrados mais e mais indistintamente até o fim do dia; outros, ainda – por exemplo, sonhos da infância – , são tão bem-preservados que, 30 anos após, permanecem na memória como se fossem experiência recente. Os sonhos, à semelhança de pessoas, podem aparecer somente em uma única ocasião para nunca mais, ou retornar na mesma aparência não-modificada ou com pequenas dessemelhanças. Em suma, esse fragmento da vida mental durante a noite tem um imenso repertório à sua disposição”

…sonho relatado por um observador inteligente, Hildebrandt (1875), todos eles reações à campainha de um despertador:

Sonhei, então, que certa manhã de primavera eu saía a passeio e vagava pelos verdes campos até chegar a uma aldeia próxima, onde vi os aldeões, em suas melhores roupas, com seus livros de cânticos debaixo do braço, reunindo-se na igreja. Evidente! Era domingo e o culto do início da manhã logo estaria começando. Decidi assistir ao culto, mas, antes, eu estava um tanto acalorado de caminhar, entrei no cemitério que circundava a igreja, para refrescar. Enquanto lia algumas das lápides dos túmulos, ouvi o sineiro subindo a torre da igreja e, lá no alto, via agora o pequeno sino da aldeia, que logo daria o sinal para o início das devoções. Por um momento eu o vi pendente ali, sem movimento, depois começou a balançar, e subitamente seu repicar começou a soar claro e penetrante – tão claro e penetrante que pôs fim ao meu sono. Porém, o que estava soando era o despertador. (…)

O sonho não reconhece o despertador – e sequer este aparece no sonho – mas substitui o ruído do despertador por outro; interpreta o estímulo que está pondo fim ao sono, contudo o interpreta de forma diferente em cada uma das vezes. Por que faz isso? Não há resposta; parece questão de capricho. Compreender o sonho significaria poder dizer por que esse determinado ruído, e não outro, foi escolhido para interpretar o estímulo proveniente do despertador.”

a interpretação de ‘corredores longos, estreitos e ventosos’, como derivados de um estímulo intestinal, parece válida e confirma a asserção de Scherner de que os sonhos procuram sobretudo representar o órgão que emite o estímulo por objetos que se lhes assemelham.”

Quando uma pessoa constrói algo em conseqüência de um estímulo, o estímulo não necessita, por isso, levar a cabo todo o trabalho. O Macbeth de Shakespeare, por exemplo, foi uma pièce d’occasion composta para celebrar a elevação ao trono do rei que foi o primeiro a unir as coroas dos 3 reinos. Essa ocasião histórica imediata, porém, abrangeria todo o conteúdo da tragédia? Explica todas as suas grandezas e os seus enigmas? Pode ser que os estímulos externos e internos, também, atingindo a pessoa em sono, sejam apenas provocadores do sonho e, por conseguinte, nada nos revelem de sua essência.”

Os devaneios são fantasias (produtos da imaginação): são fenômenos muito generalizados, observáveis mais uma vez tanto nas pessoas sadias como nas doentes, e são facilmente acessíveis ao estudo em nossa própria mente. A coisa mais notável a respeito dessas estruturas imaginárias é que lhes foi dado o nome de ‘devaneios’ [daydreams – ignoro em Alemão], de vez que nelas não há qualquer traço dos dois elementos comuns aos sonhos.” Eu particularmente nunca ‘devaneei’…

O FILME OU ‘NEGATIVO’ DO SONHO OU ‘NIGHT-DREAM’: “não experimentamos nem alucinamos, mas imaginamos, sabemos que estamos tendo uma fantasia, não vemos, mas pensamos.”

Esses devaneios surgem no período pré-púbere, freqüentemente ainda na parte final da infância; persistem até a maturidade ser alcançada e, então, ou são abandonados ou mantidos até o fim da vida. O conteúdo dessas fantasias é dominado por um motivo muito inteligível. São cenas e eventos em que as necessidades egoísticas de ambição e poder da pessoa, ou seus desejos eróticos, encontram satisfação.”

Eles se acomodam aos tempos, por assim dizer, e recebem uma ‘marca da época’ que testemunha a influência da nova situação. São a matéria-prima da produção poética, pois o escritor criativo usa seus devaneios com determinadas remodelações, disfarces e omissões, para construir as situações que introduz em seus contos, novelas ou peças. O herói dos devaneios é sempre a própria pessoa, seja diretamente, seja por uma óbvia identificação com alguma outra pessoa.”

SEXTA CONFERÊNCIA

A escola de Wundt introduziu o que conhecemos como experiências de associação, nas quais se diz à pessoa uma palavra-estímulo e a pessoa tem de responder a ela tão rapidamente quanto lhe é possível, com qualquer reação que lhe ocorra.”

A escola de Zurique, liderada por Bleuler e Jung, encontrou explicação para as reações que se sucediam na experiência de associação, fazendo as pessoas em experiência elucidarem suas reações por meio de associações subseqüentes, no caso de essas reações terem mostrado aspectos marcantes. Constatou-se então que essas reações marcantes eram determinadas de forma muito definida pelos complexos da pessoa. Assim, Bleuler e Jung estabeleceram a primeira ponte entre a psicologia experimental e a psicanálise.”

Como pode haver uma ponte entre o behaviorismo (algo tão concreto quanto contestável, justamente dada sua surda concretude) e o ‘nada’ – avant la lettre ou interessadamente? Avant la lettre no caso de Freud ter conhecido Jung e Bleuler depois deste estudo, o que não é muito crível; interessadamente para o caso de ambos terem conduzido a pesquisa já enquanto discípulos de Freud. Então, de forma simples, pode-se dizer que, não Jung nem Bleuler, mas Freud – por meio de suas ferramentas – encontrou aquilo que tanto procurava, i.e., inventou astutamente como procurar aquilo que já tinha achado (com todos os sentidos subliminares da palavra achado). Uma inversão tipicamente cartesiana? ‘Eu acho, logo tateio’ no lugar do mais ‘lógico-empírico’ eu tateio logo acho…

E LÁ VAMOS NÓS… “Certo dia verifiquei que não conseguia recordar o nome do pequeno país da Riviera cuja capital é Monte Carlo.”

SÉTIMA CONFERÊNCIA

Não consigo imaginar como alguém do público desta conferência que foi ao primeiro dia – ou ao quinto dia, quando começou a palestrar sobre os sonhos – tenha se prestado a retornar… Condensação, irmão, condensação no palavrório!

esses dias sonhei com uma fase aquática de Banjo-Kazooie.

óleos, peças e notas musicais

água cinza, piche

submerso

ancorado

sem ar

Jinjo

Ernest JinJones

um Jin

um gênio!

Leonardo

Rafael

eu e Jin, Sun,

Saiyd Jarra

Água da jarra

Jack, Sawyer, Kate,

tabu e… leiro zoo e

boo mafoo

Adalto

autuado

Ginga

Ging

Dong

Freecs

freaks

no doubt

about

a dark

cont

&

fake.

n(e)(n)t

Hunters and prey

Hamsters and pray

TWO Gods

Atom and Evil

Karamazóv

Fountain of Désirées

Le réel

reel&fish

confiscation

celebration

demise of a

nation

defec-

tível

perfume de

estrume lagoa

nadazul

resumindo meu trabalho onírico, eu acho que tudo se refere à escuridão da vida vista pelos olhos de uma criança.

o rio que corre forte e rápido é o maior inimigo de si mesmo

Se a resistência é pequena, o substituto não pode estar muito distante do material inconsciente; contudo, uma resistência maior significa que o material inconsciente está muito distorcido e que será longo o caminho que se estende desde o substituto ao material inconsciente.” Não seria o contrário?

Se tomamos nota por escrito de um sonho e então anotamos todas as idéias que emergem como resposta a ele, podemos verificar que essas idéias são muitas vezes mais longas do que o texto do sonho.” Biblioteca inútil da alma pública

OITAVA CONFERÊNCIA

Essa característica dos sonhos de ejaculação (como foi assinalado por Otto Rank) faz deles assunto especialmente favorável ao estudo da deformação onírica.”

NONA CONFERÊNCIA

Em qualquer parte onde existem lacunas no sonho manifesto, a censura é responsável por elas. Devemos ir mais adiante e considerar como manifestação da censura toda passagem em que um elemento onírico é recordado de maneira especialmente indistinta, indefinida, duvidosa, em meio a outros elementos construídos mais claramente.”

quando a resistência é grande, temos de percorrer longas cadeias de associações a partir do elemento onírico, somos conduzidos para longe deste, e, em nosso caminho, temos de vencer todas as dificuldades representadas pelas objeções críticas às idéias que ocorrem.” Reiteração.

O desejo de prazer – a ‘libido’, conforme o denominamos – escolhe sem inibição seus objetos e, de preferência, os proibidos: não somente as mulheres de outros homens, mas, acima de tudo, objetos incestuosos, objetos sagrados segundo o consenso da humanidade, mãe e irmã de um homem, pai e irmão de uma mulher.” E por que não desejos homossexuais, F.?

O simbolismo é, talvez, o mais notável capítulo da teoria dos sonhos. Em primeiro lugar, como os símbolos são versões constantes, realizam até certo ponto o ideal da antiga, tanto como da popular, interpretação dos sonhos, do qual, com nossa técnica, nos afastamos muito.”

O filósofo K.A. Scherner (1861) deve ser apontado como o descobridor do simbolismo onírico, se é que absolutamente se possam situar seus inícios nos tempos atuais.” Pelo menos teve a idoneidade de mencioná-lo.

DÉCIMA CONFERÊNCIA

Nos mitos sobre o nascimento de heróis – aos quais Otto Rank (1909) dedicou um estudo comparado, sendo o mais antigo o mito do rei Sargão, de Agade (cerca de 2800 a.C.) –, uma parte predominante é desempenhada pelo abandono na água e o resgate da água.”

O fato de fogões representarem mulheres e útero, é confirmado pela lenda grega de Periandro de Corinto e sua esposa Melissa. O tirano, segundo Heródoto, faz aparecer o espírito de sua mulher, a quem amara apaixonadamente e, contudo, assassinara por ciúmes, a fim de obter dela algumas informações. A mulher morta provou sua identidade dizendo que ele, Periandro, havia ‘metido seu pão dentro de um forno frio’, como forma de disfarçar um acontecimento que só era conhecido dos dois. Na revista Anthropophyteia, editada por F.S. Krauss, inestimável fonte de conhecimentos de antropologia sexual, ficamos sabendo que, em determinada região da Alemanha, de uma mulher que deu à luz uma criança se diz que ‘o forno dela se fez em pedaços’.”

#offtopic

o título do governante do Egito antigo, ‘Faraó’, significa simplesmente ‘Grande Saguão do Paço’. (No antigo oriente, os pátios entre os duplos portões de uma cidade eram locais de encontro públicos, assim como as praças do mercado do mundo clássico)”

a relação simbólica pode ultrapassar os limites da linguagem – o que, aliás, foi afirmado há muito tempo por um antigo pesquisador de sonhos, Schubert (1814).”

O trevo de 4 folhas tomou o lugar do de 3 folhas, que realmente se presta para ser um símbolo. O porco é um antigo símbolo da fertilidade. O cogumelo é sem dúvida um símbolo do pênis: existem cogumelos (fungos) que devem seu nome sistemático (Phallus impudicus) à sua inconfundível semelhança com o órgão masculino.”

DÉCIMA PRIMEIRA CONFERÊNCIA

Às vezes a condensação pode estar ausente; via de regra se faz presente e, muitíssimas vezes, é enorme. Jamais ocorre uma mudança em sentido inverso; ou seja, nunca encontramos um sonho manifesto com extensão ou com conteúdo maior do que o sonho latente. A condensação se realiza das seguintes maneiras: (1) determinados elementos latentes são totalmente omitidos, (2) apenas um fragmento de alguns complexos do sonho latente transparece no sonho manifesto e (3) determinados elementos latentes, que têm algo em comum, se combinam e se fundem em uma só unidade no sonho manifesto. Se preferirem, podemos reservar o termo ‘condensação’ apenas para o último desses processos. Seus resultados podem ser demonstrados com especial facilidade. Os senhores não terão dificuldade em relembrar exemplos de seus próprios sonhos, em que pessoas diferentes são condensadas em uma só. Um personagem composto, deste tipo, pode, talvez, assemelhar-se a A, mas pode, talvez, [enquanto se assemelha] a A, estar vestida como B, executar algo que lembre C, e ao mesmo tempo podemos saber que é D. Essa estrutura composta naturalmente está dando ênfase àquilo que as 4 pessoas têm em comum. É possível, naturalmente, formar tal estrutura composta de coisas ou de lugares, do mesmo modo que de pessoas, contanto que as diferentes coisas e lugares tenham em comum algo que o sonho latente acentua. O processo se assemelha à construção de um conceito novo e transitório que tem nesse elemento comum o seu núcleo. O resultado dessa superposição de elementos separados, que foram condensados conjuntamente, é, via de regra, uma imagem difusa e vaga, à semelhança daquilo que sucede quando se batem diversas fotografias sobre uma mesma chapa. A produção de estruturas compostas, como essas referidas, deve ser de grande importância para a elaboração onírica, porquanto podemos demonstrar que[,] ali onde inicialmente faltam os elementos comuns para formá-las, estes são introduzidos deliberadamente – por exemplo, através da escolha da palavra pelas quais um pensamento é expresso.” “A imaginação ‘criativa’ realmente é bastante incapaz de inventar qualquer coisa; ela pode apenas combinar entre si componentes que são estranhos.”

Embora a condensação torne os sonhos obscuros, não parece dar-nos a impressão de ela ser efeito da censura. Antes, parece ser devida a um fator automático ou econômico, mas, em todo caso, a censura lucra com ela. Aquilo que a condensação consegue realizar pode ser bastante extraordinário. Às vezes é possível, com seu auxílio, combinar duas seqüências de pensamentos latentes muito diferentes, em um único sonho manifesto, de modo que se pode chegar a algo que parece ser uma interpretação suficiente de sonho, e no entanto, procedendo assim, pode-se deixar de perceber uma possível ‘superinterpretação’.”

Quando diversos sonhos ocorrem durante a mesma noite, têm freqüentemente a mesma significação e indicam que está sendo feita uma tentativa de manejar cada vez mais eficazmente um estímulo de crescente insistência.” Não necessariamente. Depois que sonhei com a morte do pai (ou meu suicídio?), a cena mudava para duas crianças brincando de embaixadinha num quarto…

Com algumas exceções destacadas, os discursos nos sonhos são cópias e combinações de discursos que alguém ouviu ou enunciou para si próprio no dia anterior ao sonho e que foram incluídos nos pensamentos latentes, ou como material ou como instigadores dos sonhos.”

DÉCIMA SEGUNDA CONFERÊNCIA

Em primeiro lugar, devo admitir que ninguém efetua interpretação de sonhos como sua atividade principal. Como ocorre, então, que as pessoas os interpretam? Ocasionalmente, sem nenhum objetivo em vista, alguém pode se interessar por sonhos de um conhecido seu, ou alguém pode esquadrinhar seus próprios sonhos durante algum tempo a fim de preparar-se para o trabalho psicanalítico; mas, na maior parte das vezes, aquilo com que se tem de lidar são os sonhos de pacientes neuróticos que estão em tratamento psicanalítico. Esses sonhos constituem excelente material e de modo algum são inferiores aos de pessoas sadias; a técnica do tratamento, porém, requer que subordinemos a interpretação de sonhos aos objetivos terapêuticos, e temos de permitir que bom número de sonhos tenha sido examinado até havermos extraído dos mesmos alguma coisa de utilidade para o tratamento. Alguns sonhos que ocorrem durante o tratamento escapam inteiramente a uma análise completa: de vez que se originam de um grande acervo de material que ainda nos é desconhecido, é impossível entendê-los antes de o tratamento chegar ao término.”

Talvez o melhor exemplo de interpretação de um sonho seja o que foi relatado por Otto Rank (1910b), consistindo em dois sonhos inter-relacionados, tidos por uma jovem, que ocupam cerca de 2 páginas impressas: mas sua análise vai a 76 páginas [pouta merda!]. Assim, eu deveria necessitar de cerca de um semestre inteiro para conduzi-los através de um único trabalho dessa espécie. Se se tomar qualquer sonho relativamente longo e muito deformado, há que fornecer tantas explicações do mesmo, levantar tanto material que surge no curso das associações e das recordações, seguir tantas vias secundárias, que uma conferência a respeito dele seria muito confusa e insatisfatória.”

Quando se perde alguém que é de nossas relações e nos é caro, surgem sonhos de um tipo especial, durante algum tempo após, nos quais o conhecimento da morte chega às mais estranhas conciliações com a necessidade de trazer novamente à vida a pessoa morta. Em alguns desses sonhos, a pessoa que morreu está morta e ao mesmo tempo permanece viva porque não sabe que está morta; somente se soubesse, morreria completamente. Em outros, a pessoa está meio morta e meio viva, e cada um desses estados vem indicado por uma forma particular. Não devemos descrever esses sonhos como simplesmente absurdos; pois ser devolvido novamente à vida não é mais inconcebível nos sonhos do que o é, por exemplo, em contos de fadas, nos quais isso ocorre como fato muito rotineiro.”

AQUI QUEM FALA É O CASTO: “Estou certo de que os senhores ouviram, uma vez ou outra, a psicanálise afirmar que todo sonho tem uma significação sexual. Pois bem, os senhores mesmos estão em condições de formar um julgamento da incorreção dessa acusação.”

DÉCIMA TERCEIRA CONFERÊNCIA

Uma criança pequena não ama necessariamente seus irmãos e irmãs; muitas vezes, obviamente não os ama. Sem dúvida ela os odeia como rivais seus, e é fato sabido que esta atitude freqüentemente persiste por muitos anos, até ser atingida a maturidade ou mesmo até mais tarde, sem interrupção. Com efeito, muito amiúde esta atitude é substituída, ou melhor, digamos, é encoberta por outra, mais cordial. Mas, a que é hostil em geral parece ser a que surge primeiro.”

Via de regra, só existe uma pessoa que uma menina inglesa odeia mais do que a sua mãe; é a sua irmã mais velha.” Bernard Shaw

Otto Rank (1912b) demonstrou, em cuidadoso estudo, como o complexo de Édipo proporcionou aos autores dramáticos uma riqueza de temas com infindáveis modificações, atenuações e disfarces – isto é, com distorções do tipo que já conhecemos como obra de uma censura.”

Quando abandonadas a si próprias, ou sob a influência de sedução, amiúde as crianças realizam proezas consideráveis na área da atividade sexual perversa.”

DÉCIMA QUARTA CONFERÊNCIA

é muito mais difícil a elaboração onírica alterar o sentido dos afetos de um sonho do que o seu conteúdo; os afetos, às vezes, são altamente resistentes. O que então acontece é a elaboração onírica transformar o conteúdo aflitivo dos pensamentos oníricos na realização de um desejo, ao passo que o afeto desagradável persiste inalterado.”

Uma fada boa prometeu a um casal pobre assegurar-lhe a realização dos seus 3 primeiros desejos. Eles ficaram jubilosos e puseram-se a pensar em como escolher cuidadosamente seus 3 desejos. Mas um cheiro de lingüiça frita, proveniente da casa próxima, tentou a mulher a desejar algumas lingüiças. Num relâmpago, ali estavam as lingüiças; e esta foi a primeira realização de desejo. Mas o marido se enfureceu, e, em sua raiva, desejou que as lingüiças ficassem dependuradas no nariz da mulher. E foi isto o que também aconteceu; e não havia como retirá-las dessa nova posição. Esta foi a segunda realização de desejo; mas o desejo era do homem, e a sua realização foi muito desagradável para sua mulher. Os senhores sabem o restante da história. Visto que, afinal, eles eram, de fato, um – marido e mulher – o terceiro desejo não podia ser senão o de que as lingüiças se desprendessem do nariz da mulher.”

A geração da ansiedade assumiu o lugar da censura. Ao passo que de um sonho infantil podemos dizer ser ele a realização franca de um desejo permitido, e de um sonho deformado como sendo a realização disfarçada de um desejo reprimido, a única fórmula adequada a um sonho de ansiedade consiste em que este é a realização franca de um desejo reprimido.”

Sonhos de ansiedade, via de regra, são também sonhos que fazem despertar; habitualmente interrompemos nosso sono antes que o desejo reprimido, no sonho, tenha executado a realização completa, apesar da censura. Nesse caso, a função do sonho fracassou, mas sua natureza essencial não foi modificada com isto. Temos comparado os sonhos com o vigia noturno ou guardião do sono, que procura proteger nosso sono contra perturbações. O vigia noturno, também, pode chegar ao ponto de acordar a pessoa que dorme, se sente que é por demais fraco para, sozinho, afugentar a perturbação ou o perigo. Ainda assim, às vezes conseguimos continuar nosso sono, mesmo quando o sonho começa a ficar inseguro e a transformar-se em ansiedade. Dizemos a nós mesmos, em nosso sono, ‘afinal é apenas um sonho’, e continuamos dormindo.”

Há alguns pacientes neuróticos que são incapazes de dormir, e admitem que sua insônia foi, inicialmente, intencional. Não ousavam dormir porque temiam os seus sonhos – isto é, temiam os resultados do enfraquecimento da censura. Os senhores constatarão com facilidade, entretanto, que, a despeito disto, o afastamento da censura não importa em grande desorganização. O estado de sono paralisa nossa capacidade motora. Se nossas intenções más começam a perturbar, elas podem, afinal, causar nada mais do que simplesmente um sonho, que é inócuo, do ponto de vista prático.”

Pensamos, pois, que alguma coisa se acrescenta aos resíduos diurnos, algo que também fazia parte do inconsciente, um impulso pleno de desejos, poderoso, porém reprimido; e é este, somente, que torna possível a construção do sonho. A influência deste impulso pleno de desejos sobre os resíduos diurnos cria a outra parte dos pensamentos oníricos latentes – essa parte que já não necessita parecer racional e inteligível como se fosse derivada da vida desperta.”

“‘Os resíduos diurnos’, os senhores me perguntarão, ‘são realmente inconscientes no mesmo sentido que o desejo inconsciente que deve ser acrescentado a eles, a fim de torná-los capazes de produzir um sonho?’ A suposição dos senhores está correta. Este é o ponto saliente em todo este assunto. Não são inconscientes no mesmo sentido. O desejo onírico pertence a um inconsciente diferente – àquele inconsciente que já reconhecemos como tendo uma origem infantil e mecanismos peculiares. Seria muito oportuno distinguir essas duas espécies de inconscientes por meio de nomes diferentes. Preferiríamos, porém, esperar até nos familiarizarmos com a área dos fenômenos das neuroses. As pessoas consideram um tanto fantástico haver um só inconsciente. Que dirão quando confessarmos que temos de nos haver com dois?”

DÉCIMA QUINTA CONFERÊNCIA

O idioma chinês está cheio de exemplos de imprecisão que poderiam nos deixar muito alarmados. Como se sabe, compõe-se de numerosos sons silábicos que são falados isolados ou combinados aos pares. Um dos principais dialetos possui uns 400 destes sons. Como o vocabulário deste dialeto é calculado em cerca de 4 mil palavras, porém, conclui-se que cada som tem, em média, 10 significados diferentes – alguns menos, mas outros, em troca, têm mais. Existem numerosos métodos de evitar a ambigüidade, pois não se pode inferir, apenas a partir do contexto, qual dos 10 significados do som silábico a pessoa tenciona transmitir ao ouvinte. Entre esses métodos estão aqueles que consistem em combinar 2 sons em uma palavra composta e em utilizar 4 diferentes ‘tons’ na pronúncia das sílabas. Do ponto de vista de nossa comparação, é ainda mais interessante verificar que este idioma praticamente não tem gramática. É impossível dizer se uma das palavras monossilábicas é um substantivo, ou um verbo, ou um adjetivo; e não há flexões verbais, pelas quais se possa reconhecer gênero, número, desinência, tempo e modo. Assim, a linguagem consta, poderia dizer-se, apenas de matéria-prima, assim como nossa linguagem-pensamento fica reduzida, através da elaboração onírica, à sua matéria-prima, e se omite qualquer expressão de relação. No idioma chinês, a solução do sentido, em todos os casos, cabe ao entendimento de quem ouve, e nisto a pessoa se guia pelo contexto. Tomei nota de um exemplo de um provérbio chinês que, traduzido literalmente, reza assim: ‘Pouca visão, muita maravilha’. Não é difícil compreender isto. Pode significar: ‘Quanto menos alguém viu, mais tem com que se maravilhar’; ou: ‘De muita coisa se admira aquele que viu pouco.’ Naturalmente, não há maneira de diferenciar entre estas 2 versões que diferem apenas gramaticalmente. Apesar desta imprecisão, foi-nos assegurado que o idioma chinês é um veículo bastante eficiente de expressão do pensamento. Assim, a imprecisão não deve necessariamente produzir ambigüidade.”

Talvez nem todos os senhores estejam cientes de que uma situação semelhante surgiu na história da decifração das inscrições assírio-babilônicas. Houve época em que a opinião pública esteve muito inclinada a considerar visionários os decifradores da escrita cuneiforme, e a totalidade de suas pesquisas, uma ‘impostura’. Mas, em 1857, a Royal Asiatic Society fez uma experiência decisiva. Solicitou a 4 dos peritos mais altamente respeitados em escrita cuneiforme, Rawlinson, Hincks, Fox Talbot e Oppert para remeterem, em envelopes lacrados, traduções independentes de uma inscrição recentemente descoberta; e, após uma comparação entre os 4 trabalhos, pôde anunciar que a concordância entre estes peritos era suficiente para justificar o crédito que até então se havia dado e a confiança em posteriores realizações. A zombaria por parte do mundo leigo culto diminuiu gradualmente, após isto, e desde então tem aumentado enormemente a certeza na leitura dos documentos cuneiformes.”

Uma confusão muito pior parece estar subjacente à afirmação de que a idéia de morte pode ser encontrada por trás de todo sonho (Stekel, 1911, 34).” Briguem mais!

os senhores acharão bastante incompreensível uma afirmação de que todos os sonhos devem ser interpretados bissexualmente, como confluência de duas correntes, descritas como masculina e feminina (Adler, 1910).”

Um dia o valor objetivo da investigação sobre sonhos pareceu ser posto em xeque por uma observação de que os pacientes em tratamento analítico ordenam o conteúdo dos sonhos conforme as teorias prediletas de seus médicos – alguns sonhando predominantemente com impulsos instintuais sexuais, outros, com a luta pelo poder, e ainda outros, até mesmo, com renascimento (Stekel).”

Freqüentemente, é possível influenciar uma pessoa acerca do que ela vai sonhar, mas nunca aquilo que sonhará.”

DÉCIMA SEXTA CONFERÊNCIA (no ano seguinte – início das Novas conf. – poderia ter-se saído muito bem sem elas, aliás)

Nunca pude convencer-me da verdade da máxima segundo a qual a controvérsia é a mãe de todas as coisas. Penso que deriva dos sofistas gregos e, como eles, peca por supervalorizar a dialética.” Péssimo começo.

Algumas pessoas jamais tomaram conhecimento de quaisquer de minhas autocorreções, e continuam, até hoje, a criticar-me por hipóteses que, para mim, há muito cessaram de ter o mesmo significado. Outros me reprovam justamente por estas modificações, e, por causa delas, consideram-me indigno de confiança.”

todo aquele que se conduz dessa forma e deixa aberta a porta entre a sala de espera e a sala de consulta de um médico, é mal-educado e merece uma recepção inamistosa.”

“‘ele é um trapaceiro que dá mais do que tem.’ O psiquiatra não sabe como lançar mais luz sobre um caso como este. Ele deve contentar-se com um diagnóstico e um prognóstico – incertos, apesar de uma grande quantidade de experiência, e com sua evolução futura.”

Ela própria estava intensamente apaixonada por um homem jovem, pelo mesmo genro que a persuadira a procurar-me na qualidade de paciente. Ela mesma nada sabia, ou, talvez, sabia muito pouco dessa paixão; no relacionamento familiar que existia entre ambos, era fácil essa afeição apaixonada disfarçar-se como afeição inocente.” “posso recordar-lhes que a relação entre sogra e genro tem sido considerada, desde as épocas mais remotas da raça humana, como relação particularmente embaraçosa e que, entre tribos primitivas, deu origem a regulamentações e ‘evitações’ tabu muito poderosas.”

Ainda que a psicanálise se mostrasse tão ineficaz em qualquer outra forma de doença nervosa e psíquica, como se mostra ineficaz nos delírios, estaria plenamente justificada como insubstituível instrumento de investigação científica.” Um se pergunta de onde vinha tamanha autoconfiança…

DÉCIMA SÉTIMA CONFERÊNCIA

PURA FALSA MODÉSTIA: “Em todo caso, pode parecer questão de somenos importância saber quem fez a descoberta, de vez que, como sabem, toda descoberta é feita mais de uma vez, e nenhuma se faz de uma só vez. Ademais disso, nem sempre o sucesso acompanha o mérito: não foi de Colombo que a América recebeu seu nome. O grande psiquiatra Leuret opinou, antes de Breuer e Janete (sic), que mesmo nas idéias delirantes do insano se poderia encontrar um sentido, bastaria que compreendêssemos a maneira de traduzi-las. Devo admitir que, durante longo tempo, estive disposto a dar bastante crédito a Janet por elucidar os sintomas neuróticos, porque ele os considerava expressão de idées inconscientes que dominavam os pacientes. Depois disso, porém, ele se tem expressado com exagerada reserva, como se quisesse admitir que o inconsciente, para ele, não tivesse sido nada mais que uma fórmula verbal, um expediente, une façon de parler – que ele, com isso, não quis significar nada de real. Desde então, deixei de compreender os escritos de Janet”

Freud almoçava espinafre com biotômico Fontoura nessa época (para estar tão galante e soberbo das idéias).

A histeria morreu porque a psicossomática nasceu.

A neurose obsessiva manifesta-se no fato de o paciente se ocupar de pensamentos em que realmente não está interessado, de estar cônscio de impulsos dentro de si mesmo que lhe parecem muito estranhos, e de ser compelido a ações cuja realização não lhe dá satisfação alguma, mas lhe é totalmente impossível omitir. Os pensamentos (obsessões) podem ser, em si, carentes de significação, ou simplesmente assunto sem importância para o paciente; freqüentemente, são de todo absurdos e, invariavelmente, constituem o ponto de partida de intensa atividade mental que exaure o paciente e à qual ele somente se entrega muito contra sua vontade. Obriga-se, contra sua vontade, a remoer pensamentos e a especular, como se se tratasse dos seus mais importantes problemas vitais. Os impulsos, dos quais o paciente se apercebe em si próprio, também podem causar uma impressão de puerilidade e falta de sentido; via de regra, porém, têm um conteúdo da mais assustadora categoria” “não suponham que ajudarão o paciente, nem de longe, admoestando-o para que adote uma nova conduta, deixe de ocupar-se com esses pensamentos absurdos e faça algo sensato em lugar de suas extravagâncias infantis.”

O que é posto em ação, em uma neurose obsessiva, é sustentado por uma energia com a qual provavelmente não encontramos nada comparável na vida mental normal. Existe uma coisa apenas, que ele pode fazer: realizar deslocamentos, trocas, pode substituir uma idéia absurda por outra um pouco mais atenuada, em vez de um cerimonial pode realizar um outro. Pode deslocar a obsessão, mas não removê-la. A possibilidade de deslocar qualquer sintoma para algo muito distante de sua conformação original é uma das principais características desta doença.”

Além das obsessões, de conteúdo positivo e negativo, a dúvida se faz notar na área intelectual, e lentamente começa a corroer até mesmo aquilo que geralmente é tido como muito certo.” “Ao mesmo tempo, o neurótico obsessivo inicia seus empreendimentos com uma disposição de grande energia, freqüentemente é muito voluntarioso e, via de regra, tem dotes intelectuais acima da média. Geralmente atingiu um nível de desenvolvimento ético satisfatoriamente elevado; mostra-se superconsciencioso, e tem uma correção fora do comum em seu comportamento.”

É verdade que, graças à sua própria discrição e às falsificações de seus biógrafos [he, he!], pouco sabemos dos aspectos íntimos dos grandes homens que são nossos modelos; não obstante, também sucede um deles, como Émile Zola, poder ser um fanático da verdade, e, assim, ficamos conhecendo seus muitos e estranhos hábitos obsessivos, dos quais foi vítima a vida inteira.”

Nossa paciente gradualmente veio a constatar que era devido à sua qualidade de símbolos dos genitais femininos que os relógios eram retirados do meio de seus objetos de uso à noite. Os relógios – embora em outra parte tenhamos encontrado outras interpretações simbólicas para os mesmos – assumiram a significação genital devido à sua relação com processos periódicos e intervalos de tempo iguais. (…) A ansiedade de nossa paciente, porém, estava voltada em especial contra a possibilidade de ela ter o seu sono perturbado pelo tique-taque de um relógio. O tique-taque do relógio pode ser comparado com a pulsação ou latejamento do clitóris durante a excitação sexual.”

quanto ao restante, remeto-os (…) à vívida luz lançada sobre os mais obscuros sintomas daquilo que se conhece como dementia praecox, por C.G. Jung (1907), numa época em que ele era apenas psicanalista e ainda não aspirava a ser profeta”

DÉCIMA OITAVA CONFERÊNCIA

As neuroses traumáticas não são, em sua essência, a mesma coisa que as neuroses espontâneas que estamos acostumados a investigar e tratar pela análise; até agora, não conseguimos harmonizá-las com nossos pontos de vista, e espero, em algum época, poder explicar-lhes a razão desta limitação.” Espera poder “suicidar” Tausk!

Como é que ninguém se dava conta do caráter burlesco e charlatão dessas palestras? “Aqui, pois, mais uma vez devemos interromper o trajeto que iniciamos. Por agora, não conduz a nada mais, e teremos de nos instruir com outras coisas, antes de podermos encontrar sua correta continuação.” “tão logo os processos inconscientes pertinentes se tenham tornado conscientes, o sintoma deve desaparecer.” “A tese, segundo a qual os sintomas desaparecem quando se fazem conscientes seus motivos predeterminantes inconscientes, tem sido confirmada por todas as pesquisas subseqüentes, embora nos defrontemos com as mais estranhas e inesperadas complicações ao tentarmos pô-la em prática.”

Saber nem sempre é a mesma coisa que saber: existem diferentes formas de saber, que estão longe de serem psicologicamente equivalentes.” Foucault mode on.

Não estaria eu confundindo-os ao retomar, com tanta freqüência, coisas que já disse ou fazendo ressalvas às mesmas – ao iniciar seqüências de idéias e depois abandoná-las?” Sim.

DÉCIMA NONA CONFERÊNCIA

Então conseguimos perceber que a resistência se refugiou dentro da dúvida, que é própria da neurose obsessiva, e desta posição ela consegue resistir-nos. É como se o paciente dissesse: ‘Sim, está tudo muito bem, muito interessante, e terei muita satisfação em prosseguir ainda mais. Eu mudaria um bocado minha doença, se tudo isto fosse verdade. Mas não acredito, nem um pouco, que seja verdade; e, na medida em que não acredito, não faz qualquer diferença para minha doença.’

As mulheres têm um talento de mestre para explorar, na relação com o médico, uma transferência afetuosa, com nuances eróticas, destinada à resistência. Se esta ligação atinge determinado nível, desaparece todo o seu interesse pela situação imediata do tratamento e todas as obrigações que assumiram no início; seu ciúme, que nunca está ausente, e sua irritação ante a inevitável rejeição, embora expressos respeitosamente, não podem deixar de ter como efeito um dano na harmonia entre paciente e médico, e assim inativam uma das mais poderosas forças motrizes da análise.”

Inicialmente, Breuer e eu empreendíamos a psicoterapia por meio da hipnose; a primeira paciente de Breuer foi totalmente tratada sob influência hipnótica, e, no início, eu o segui neste procedimento. Admito que, naquela época, o trabalho avançava mais fácil e satisfatoriamente, e também em muito menos tempo. Os resultados eram, porém, incertos e não duradouros, e por esse razão finalmente abandonei a hipnose.”

CIÊNCIA MUITO LIMITADA (QUASE CIENCINHA): “tudo aquilo que disse aqui sobre repressão e a formação e significação dos sintomas derivou de 3 formas de neurose – histeria de angústia, histeria de conversão e neurose obsessiva, e que, numa primeira instância, só é válido para estas formas. Estes 3 distúrbios, que estamos acostumados a agrupar conjuntamente como ‘neuroses de transferência’ também circunscrevem a região em que a terapia psicanalítica pode funcionar. As demais neuroses têm sido estudadas de forma muito menos completa pela psicanálise; num grupo delas a impossibilidade de influência terapêutica foi uma das razões desse abandono.” É a histeria uma neurose?

Na neurose obsessiva, as duas partes freqüentemente estão separadas; o sintoma então se torna bifásico (divide-se em 2 estágios) e consiste em 2 ações, uma depois da outra, as quais se anulam reciprocamente.”

VIGÉSIMA CONFERÊNCIA (pedaço hediondo de literatura!)

Somente pessoas de seu próprio sexo podem excitar seus desejos sexuais; pessoas do outro sexo, e especialmente os órgãos sexuais destas pessoas absolutamente não constituem para eles objeto sexual e, em casos extremos, são objetos de repulsa. Isto implica, naturalmente, que abandonaram qualquer participação na reprodução. Tais pessoas denominamos homossexuais ou invertidas. São homens e mulheres que, freqüentemente mas não sempre, conduzindo-se irrepreensivelmente, em outros aspectos possuindo elevado desenvolvimento intelectual e ético, são vítimas apenas deste único desvio fatídico. Pela boca de seus porta-vozes científicos, eles se apresentam como variedade especial da espécie humana – um ‘terceiro sexo’ que tem o direito de se situar em pé de igualdade com os outros dois. Naturalmente, eles não são, como também gostam de afirmar, uma ‘élite’ da humanidade; entre eles, há pelo menos tantos indivíduos inferiores e inúteis como os há entre pessoas de tipo sexual diferente. Esta classe de pervertidos, de qualquer modo, se comporta em relação a seus objetos sexuais aproximadamente da mesma forma como as pessoas normais o fazem com os seus. Agora, porém, chegamos a uma longa série de pessoas anormais cuja atividade sexual diverge cada vez mais amplamente daquilo que parece desejável para uma pessoa racional. Na sua multiplicidade e estranheza, somente podem ser comparadas aos monstros grotescos, pintados por Brueghel para a tentação de Santo Antônio, ou à longa procissão de deuses e crentes desaparecidos, que Flaubert faz desfilar ante os olhos de seu piedoso penitente. Uma tal miscelânea requer algum tipo de ordenamento para que não venha a confundir nossos sentidos. Por conseguinte, nós os dividimos naqueles em que, como os homossexuais, o objeto sexual foi modificado, e em outros nos quais a finalidade sexual é que foi primariamente modificada. O primeiro grupo inclui aqueles que renunciaram à união dos dois genitais e que substituem os genitais de um dos parceiros envolvidos no ato sexual por alguma outra parte ou região do corpo; com isto, eles desprezam a falta de dispositivos orgânicos adequados, assim como todo impedimento oriundo de sentimentos de repulsa. (Por exemplo, substituem a vulva pela boca ou pelo ânus.) Outros há que, realmente, ainda mantêm os genitais como um objeto – não, porém, por causa da função destes, mas de outras funções em que o genital desempenha um papel, seja por motivos anatômicos, seja por causa de sua proximidade. Neles, constatamos que as funções excretórias, que foram postas de lado como impróprias, durante a educação das crianças, conservam a capacidade de atrair a totalidade do interesse sexual. E ainda há outros que abandonaram totalmente o genital como objeto, e tomaram alguma outra parte do corpo como o objeto que desejam – um seio de mulher, um pé, ou uma trança de cabelos. Depois há outros para os quais as partes do corpo não têm nenhuma importância, mas todos os seus desejos se satisfazem com uma peça de roupa, um sapato, uma peça de roupa íntima – são de fetichistas. Ainda mais atrás, nesse séquito, se enfileiram essas pessoas que requerem de fato o objeto total, mas fazem a este exigências muito definidas – estranhas e horríveis exigências –, até mesmo a de que esse objeto devesse tornar-se um cadáver indefeso e de que, usando de uma violência criminosa, transformem-no num objeto no qual possam encontrar prazer. Mas basta com essa espécie de horror! O segundo grupo é formado por pervertidos que transformaram em finalidade de seus desejos sexuais aquilo que normalmente constitui apenas um ato inicial ou preparatório. São pessoas cujo desejo consiste em olhar outras pessoas, ou palpá-las, ou espiá-las durante a execução de atos íntimos, ou pessoas que expõem partes do corpo que deveriam estar encobertas, na obscura expectativa de poderem ser recompensadas, em troca, por uma ação correspondente. Depois vêm os sádicos, essas pessoas enigmáticas, cujas tendências carinhosas não têm outro fim senão o de causar sofrimento e tormento a seus objetos, indo desde a humilhação até as lesões físicas graves; e, como que para contrabalançá-los, seus equivalentes opostos, os masoquistas, cujo único prazer consiste em sofrer toda espécie de tormentos e humilhações de seu objeto amado, seja simbolicamente, seja na realidade. Ainda existem outros em que diversas dessas precondições anormais estão unidas e entrelaçadas; e, por fim, devemos nos lembrar de que cada um destes grupos pode ser encontrado sob duas formas: ao lado daqueles que procuram sua satisfação sexual na realidade, estão os que se contentam simplesmente com imaginar essa satisfação, que absolutamente não necessitam de um objeto real, mas podem substituí-lo por suas fantasias.”

A menos que possamos compreender essas formas patológicas de sexualidade e correlacioná-las com a vida sexual normal, não poderemos nem mesmo entender a sexualidade normal.”

Iwan Bloch corrige a opinião de que todas essas perversões são ‘sinais de degeneração’, mostrando que tais aberrações do fim sexual, esses afrouxamentos do nexo com o objeto sexual, ocorreram desde tempos imemoriais, em todas as épocas conhecidas, entre todos os povos, os mais primitivos e os mais civilizados, e, em algumas ocasiões, foram tolerados e difusamente reconhecidos.”

A reivindicação que fazem os homossexuais ou invertidos de serem uma exceção desfaz-se imediatamente ao constatarmos que os impulsos homossexuais são encontrados invariavelmente em cada um dos neuróticos e que numerosos sintomas dão expressão a essa inversão latente.”

somos forçados a encarar a escolha de um objeto do mesmo sexo como um desvio na vida erótica, desvio cuja ocorrência é positivamente freqüente, e cada vez aprendemos mais sobre isso, atribuindo-lhe importância particularmente elevada.”

Temos até mesmo verificado que determinada doença, a paranóia, que não deve ser incluída entre as neuroses de transferência, origina-se habitualmente de uma tentativa no sentido de o doente libertar-se de impulsos homossexuais excessivamente intensos.”

mulheres neuróticas muito freqüentemente produzem sintomas assim, à feição de um homem. Ainda que isso não se deva considerar homossexualismo, relaciona-se muito de perto com as precondições destas.”

não atribuímos à consciência da pessoa os impulsos sexuais pervertidos, mas os localizados em seu inconsciente.”

Uma quantidade incrivelmente grande de atos obsessivos pode remontar à masturbação, da qual constituem repetições e modificações disfarçadas; sabe-se muito bem que a masturbação, embora sendo uma ação única e uniforme, acompanha as mais diversas formas do fantasiar sexual.”

Maneira catastrófica de informar uma verdade, que não deixaria de apresentar suas conseqüências: “Pois a investigação psicanalítica teve de ocupar-se também com a vida sexual das crianças, e isto porque as lembranças e associações emergentes durante a análise de sintomas de adultos remetiam-se regularmente aos primeiros anos da infância. O que inferimos destas análises mais tarde se confirmou, ponto por ponto, nas observações diretas de crianças. E, com isso, verificou-se que todas essas inclinações à perversão tinham suas raízes na infância, que as crianças têm uma predisposição a todas elas e põem-nas em execução numa medida correspondente à sua imaturidade – em suma, que a sexualidade pervertida não é senão uma sexualidade infantil cindida em seus impulsos separados”

Sem dúvida, a experiência deve ter ensinado aos educadores que a tarefa de docilizar a tendência sexual da nova geração só poderia ser efetuada se começassem a exercer sua influência muito cedo, se não esperassem pela tempestade da puberdade, mas interviessem logo na vida sexual das crianças, que é preparatória para a puberdade.” E vimos o quanto esses educadores estavam completamente errados!

erigiu-se o ideal de tornar a vida das crianças assexual, e, no decorrer do tempo, as coisas chegaram ao ponto de as pessoas realmente acreditarem que as crianças sejam assexuais e, subseqüente, de a ciência proclamar isto como doutrina. Para evitar que sejam contraditas suas crenças e suas intenções, a partir daí as pessoas passam por alto as atividades sexuais das crianças (que não são de se desprezar) ou se mostram contentes quando a ciência assume um ponto de vista diferente com relação a tais atividades. As crianças são as únicas a não concordar com essas convenções. Afirmam seus direitos animais com total naïveté e dão constantes provas de que ainda terão de trilhar o caminho da pureza. É por demais estranho que as pessoas que negam a existência da sexualidade nas crianças nem por isso se tornam mais brandas em seus esforços educacionais, mas perseguem as manifestações daquilo que negam que exista, com a máxima severidade – descrevendo tais manifestações como ‘traquinagens pueris’. É também do maior interesse teórico o período de vida que contradiz mais flagrantemente o preconceito de uma infância assexual – os anos de vida de uma criança até os 5 ou 6 –, ser posteriormente, na maioria das pessoas, coberto pelo véu da amnésia, o qual só é completamente desfeito pela investigação analítica, embora anteriormente tenha sido permeável à construção de alguns sonhos.”

Em exata analogia com a ‘fome’, empregamos ‘libido’ como nome da força (neste caso, a força do instinto sexual, assim como, no caso da fome, a força do instinto de nutrição) pela qual o instinto se manifesta. Outros conceitos, como os de ‘excitação’ e ‘satisfação’ sexual, não requerem explicação.”

VIGÉSIMA PRIMEIRA CONFERÊNCIA

o beijar pode facilmente tornar-se perversão completa – ou seja, se se torna tão intenso, que uma descarga genital e o orgasmo sobrevêm diretamente, coisa nada rara.”

O período de latência também pode estar ausente: não acarreta necessariamente qualquer interrupção da atividade sexual e dos interesses sexuais por toda a extensão da linha. A maior parte das experiências e dos impulsos mentais anteriores ao início do período da latência agora sucumbe à amnésia infantil”

Esse curso do desenvolvimento realiza-se com tanta rapidez, que, talvez, jamais pudéssemos conseguir, pela observação direta, apreender firmemente os seus quadros fugazes. Foi apenas com a ajuda da investigação psicanalítica das neuroses que se tornou possível descobrir as fases ainda mais precoces do desenvolvimento da libido. Para dizer a verdade, estas não são senão hipóteses; mas, se os senhores efetuarem a psicanálise na prática, verificarão que são hipóteses necessárias e úteis.”

Um dos bravos discípulos da psicanálise foi designado oficial médico no front alemão, em algum lugar da Polônia [Viktor Tausk]. Ele chamou a atenção de seus colegas pelo fato de, ocasionalmente, exercer inesperada influência sobre algum paciente. Indagado a respeito, reconheceu que estava empregando os métodos da psicanálise e declarou-se disposto a transmitir seu conhecimento a seus colegas. Depois disso, todas as noites os oficiais médicos da tropa, seus colegas e superiores, reuniam-se a fim de aprender as doutrinas secretas da análise. Tudo correu bem, durante algum tempo; quando, porém, falou ao seu auditório a respeito do complexo de Édipo, um de seus superiores levantou-se, declarou que não acreditava nisso, que constituía um ato vil, por parte do conferencista, falar-lhes a respeito de tais coisas, a homens honestos que estavam lutando por seu país e que eram pais de família; e que proibia a continuação das conferências. Este foi o final do caso. O analista viu-se transferido para outra parte do front. Parece-me mau, entretanto, se uma vitória alemã exige que a ciência se ‘organize’ dessa maneira, e a ciência alemã não reagirá bem a uma organização dessa espécie.”

A obra do dramaturgo ateniense mostra a maneira como o feito de Édipo, realizado num passado já remoto, é gradualmente trazido à luz por uma investigação engenhosamente prolongada e restituído à vida por meio de sempre novas séries de provas. Nesse aspecto, tem certa semelhança com o progresso de uma psicanálise. No decorrer do diálogo, Jocasta, a iludida mãe e esposa, declara-se contrária à continuação da investigação. Apela para o fato de que muitas pessoas sonharam com dormir com a própria mãe, mas que os sonhos devem ser menosprezados.”

SENSIBILIDADE ESTILÍSTICA E DE LINGUAGEM PROXIMAL DO ZERO: “Conquanto um homem tenha reprimido seus maus impulsos para dentro do inconsciente e prefira dizer a si mesmo, posteriormente, que não é responsável por eles, ele, não obstante, tem de reconhecer essa responsabilidade na forma de um sentimento de culpa cuja origem lhe é desconhecida.”

Senão vejamos quantos absurdos em pouco espaço físico linear: autorepressão!, maus impulsos (conceituar pra quê?!), para DENTRO do inconsciente (onde é isso, quando é isso?), o consciente moralista agora é um DEUS que governa o inconsciente! Que sentimento de culpa, meu amigo?! Você não superou o complexo de Édipo? Desconhecida como, se ele expulsou para DENTRO do ABSTRATO e INCORPÓREO inconsciente (que está DENTRO de si) tudo aquilo?

VIGÉSIMA SEGUNDA CONFERÊNCIA

repressão diz respeito às regiões psíquicas que supomos existirem ou, se abandonamos essa desajeitada hipótese de trabalho, [muito expediente em seu trabalho] à construção do aparelho mental a partir dos diferentes sistemas psíquicos.” “a repressão também pode ser enquadrada no conceito de regressão, de vez que também a repressão pode ser descrita como um retorno a um estágio anterior e mais profundo na evolução de um ato psíquico. No caso da repressão, porém, esse movimento retrocessivo não nos interessa, já que falamos também em repressão, no sentido dinâmico, quando um ato psíquico é detido no estágio inferior, inconsciente. O fato é ser a repressão um conceito topográfico-dinâmico, ao passo que a regressão é um conceito puramente descritivo.”

não podemos chamar de regressão da libido um processo puramente psíquico, nem podemos dizer onde deveríamos localizá-lo no aparelho mental.” Talvez você devesse jogar fora a noção de repressão, portanto, porque a única coisa que valha em psicologia é o conhecimento descritivo.

Devemos estar preparados para constatar que nossos pontos de vista estarão sujeitos ainda a outras ampliações a reavaliações, quando pudermos levar em consideração não apenas a histeria e a neurose obsessiva, como também as outas neuroses, as neuroses narcísicas.”

histéricos são boqueteiros

neuróticos são sodomitas

quem chupa gosta de isqueiros

quem caga pra tudo

quem dizes que imita?

Uma regressão da libido, sem repressão, jamais produziria uma neurose, mas levaria a uma perversão.”

conhecemos pessoas capazes de suportar uma privação dessa espécie, sem serem lesadas: não são felizes, sofrem devido aos seus anseios, porém não adoecem.”

REICH E O NÚMERO: “Há um limite à quantidade de libido não-satisfeita que os seres humanos, em média, podem suportar.”

A esse ponto, aproveito a oportunidade para alertá-los contra a possibilidade de tomarem partido em uma disputa muito desnecessária. Em assuntos científicos, as pessoas mantêm muito essa tendência de selecionar uma parte da verdade, colocando-se a favor dessa parte somente. Foi justamente dessa forma que diversas correntes de opinião já se cindiram do movimento psicanalítico, algumas delas reconhecendo os instintos egoísticos e negando os sexuais, e outras atribuindo importância à influência das incumbências reais da vida e desprezando o passado do indivíduo – e outras mais.” Sujeito magoado!

A psicanálise das neuroses de transferência não nos dá um acesso fácil a um exame detalhado dos instintos do eu [leia-se interdições morais – nada de instintual aqui!]; quando muito, chegamos a conhecê-los, em certa medida, através das resistências que se opõem à análise.”

sua educação intelectual reduziu seu interesse pelo papel feminino que estava destinada a desempenhar. Devido à sua moral mais elevada e ao desenvolvimento intelectual de seu eu, ela entrou em conflito com as exigências de sua sexualidade.”

VIGÉSIMA TERCEIRA CONFERÊNCIA

PERCEBA COMO FUNCIONA A FALSIFICAÇÃO: “a experiência analítica de fato nos leva a supor que experiências puramente casuais, na infância, são capazes de deixar atrás de si fixações da libido.” Experiências baseadas em teorias, jamais verificáveis; suposições sobre o que já eram, antes de tudo, meras hipóteses, dogmatizadas, e assim por diante…

CERTO PITAGORISMO-KARDECISMO-JUNGUISMO! “As disposições da constituição também são indubitavelmente [!] efeitos secundários de experiências vividas pelos ancestrais no passado (…) Sem essa aquisição, não haveria hereditariedade.”

a importância das experiências infantis não deve ser totalmente negligenciada, como as pessoas preferem, em comparação com as experiências dos ancestrais da pessoa e com sua própria maturidade; pelo contrário, as experiências infantis exigem uma consideração especial.” Bem contraditório: o Édipo sai do berço e volta às cavernas e aos totens quando é conveniente e vice-versa…

TUDO É ‘EXTREMAMENTE DUVIDOSO’ NO FREUDISMO: “continua sendo extremamente duvidoso saber até onde a profilaxia na infância possa ser executada com vantagens, e se uma modificação de atitudes para com a situação imediata não poderia oferecer um melhor ângulo de abordagem à prevenção das neuroses.” Talvez Anna Freud tenha enxergado aqui a brecha de sua Ego Psychology para baixinhos… O papel da prevenção pedagógica!

Descobrimos, há algum tempo, que os neuróticos estão ancorados em algum ponto do seu passado” Por revelação divina! Bom, ainda é melhor que o kleinismo…

Isto somente compreenderemos em conexão com algo novo que ainda teremos de aprender das pesquisas analíticas da formação dos sintomas.”

CHARLATANISMO, MAS COM MUITO INSIGHT! “Conforme os senhores verão, essa descoberta está fadada, mais que qualquer outra, a desacreditar tanto a análise, que chegou a tal resultado, como os pacientes, em cujas declarações se fundamentam a análise e todo o nosso entendimento das neuroses. Existe, contudo, mais alguma coisa singularmente desconcertante em tudo isso. Se as experiências infantis trazidas à luz pela análise fossem invariavelmente reais, deveríamos sentir estarmos pisando em chão firme; se fossem regularmente falsificadas e mostrassem não passar de invenções de fantasias do paciente, seríamos obrigados a abandonar esse terreno movediço e procurar salvação noutra parte. Mas, aqui, não se trata nem de uma nem de outra coisa: pode-se mostrar que se está diante de uma situação em que as experiências da infância construídas ou recordadas na análise são, às vezes, indiscutivelmente falsas e, às vezes, por igual, certamente corretas, e na maior parte dos casos são situações compostas de verdade e de falsificação.”

VIGÉSIMA QUARTA CONFERÊNCIA

A estrutura teórica da psicanálise, que criamos, é, com efeito, uma superestrutura, que um dia terá de se erguer sobre seus fundamentos essenciais. Acerca disso, porém, nada sabemos ainda. O que caracteriza a psicanálise como ciência não é o material de que trata, mas sim a técnica com a qual trabalha.”

Os problemas das neuroses ‘atuais’, cujos sintomas provavelmente são gerados por uma lesão tóxica direta, não oferecem à psicanálise qualquer ponto de ataque. Ela pouco pode fazer para esclarecê-los e deve deixar a tarefa para a pesquisa biológico-médica.”

Posso informar-lhes, pois, que distinguimos 3 formas puras de neuroses ‘atuais’: neurastenia, neurose de angústia e hipocondria.” Esta última foi inventada depois de seu último período real de investigação teórica (até, no máximo, 1900).

VIGÉSIMA QUINTA CONFERÊNCIA

Hoje em dia, entretanto, devo observar que não conheço nada que possa ter menos interesse para mim, ao tratar-se da compreensão psicológica da ansiedade, do que o conhecimento dos trajetos dos nervos, por cuja extensão passam suas excitações.” Joguem fora meus Projetos.

ROBBING RANK: “Acreditamos ser no ato do nascimento que ocorre a combinação de sensações desprazíveis, impulsos de descarga e sensações corporais, a qual se tornou o protótipo dos efeitos de um perigo mortal, e que desde então tem sido repetida por nós como rigor mortal, e que desde então tem sido repetida por nós [cacofonia] como o estado de ansiedade.”

O substantivo ‘Angst’, ‘Enge’, acentua a característica de limitação da respiração que então se achava presente em conseqüência da situação real, e é, agora, quase invariavelmente recriada no afeto.”

Talvez lhes interesse saber como pôde alguém formar essa idéia de que o ato do nascimento é a origem e o protótipo do afeto de ansiedade. Nisto a especulação teve muito escassa participação; antes, o que fiz foi tomá-la emprestada da naïve mente popular.”

Semelhante tendência a uma expectativa do mal pode ser encontrada na forma de traço de caráter em muitas pessoas de quem não se pode, de outro modo, dizer serem doentes; diz-se que são superansiosas ou pessimistas.”

VIGÉSIMA SEXTA CONFERÊNCIA

devemos, porém, ater-nos aos fatos biológicos subjacentes aos instintos. No momento atual, sabemos muito pouco a respeito deles, e, ainda que soubéssemos mais, isto teria pouca importância para nosso trabalho analítico.” Hein?

É, também, óbvio que obteremos muito pouco proveito se, seguindo o exemplo de Jung, insistirmos na unidade original de todos os instintos e dermos o nome de ‘libido’ à energia que se manifesta em todos eles.” A pior conferência do recalcado.

VIGÉSIMA SÉTIMA CONFERÊNCIA

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VIGÉSIMA OITAVA CONFERÊNCIA

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