OPEN LETTER TO “PROFESSOR” FREUD FOR HIS 75TH BIRTHDAY, from LOU ANDREAS-SALOMÉ // CARTA ABERTA A FREUD, por UMA CHARLATÃ (em tradução mais ou menos horrorosa de Lenis E. Gemignani de Almeida, sob péssima editoração de Antonio Daniel Abreu)

Quite out of the blue I recall the question that’s usually asked half-jokingly— though now and then by our opponents even somewhat seriously: <By whom and in what manner will the creator of psychoanalysis himself be analysed, seeing that he regards the procedure as imperative for all members of the Society?> Well now! it was by this very method that he became its creator: it resulted from his struggle with what we call ‘resistance’, that is, the resistance of his nature against the resistance of what that same nature had been happy to repress and cause him discomfort. And it was from this conflict with himself that there came forth a work of genius.”

Before you came, Professor, psychologists deemed people they treated healthy, or else interpreted the symptoms as verging on the mystical. More often than not it was as if they were sitting by a stretch of water exchanging opinions about fish swimming about below them that they couldn’t see. They either fantasised over them philosophically or alternatively proudly caught a fish and put its dead body with the others awaiting methodical dissection.”

One could consider the relatedness to the object—of the analyst, of the poet—as not being comparable, despite the fact that they both abstain from the photographer’s <smile please>, and despite the fact that both confidently empathise with a person’s inner situation and, irrespective of what that condition be, respond fittingly in every case; one could object to the opposition of the 2 methods: one bent on analysing, the other on synthesising. And yet, this opposition is crucial: for one thing it is the reverse side of the cloth that is being considered, the way the individual threads travel, the way they intertwine, knot, and lead off; and for another, it is how one gains a clear impression of how these threads come together neatly on the visible side to make a pattern.”

even then, if, meanwhile, the external reality has remained unchanged and the patient finds himself beset with difficulties just as before, then for the first time it will be one reality dealing with another reality, instead of one spectre dealing with another spectre.”

com o <isso> (ça), perde-se a imagem de uma fronteira da nossa identidade e se vai derivar a definições filosóficas: haverá, dentro em pouco, tantas definições do <isso> quantos filósofos há”

o narcisismo, conceito-limite, deve assumir uma dupla função ao longo da existência: ele aparece tanto como reservatório, o substrato de todas as manifestações do psiquismo, até a mais individualizada ou a mais sutil, assim como o lugar de toda recaída, de toda tendência à regressão (…) por fixação patológica, ao estágio infantil.”

não derrame o sangue do isso!

Esta relação equívoca ao ser corporal, esta <ambivalência> característica de nosso comportamento psíquico, tem sido bem-vista por nosso velho amigo e contraditor Bleuler, criador do termo esquizofrenia”

o sado-masoquismo, que associa curiosamente o nome de duas pessoas fundamentalmente opostas.”

Filho de recalcado, recalcadão é.

No primário eu fui um ator secundário.

Nosso viver infantil é lava e vulcão. A era do gelo é a idade adulta. O que quer que hoje me torne altivo, o que quer que seja essa angústia de fundo irreprimível e estilhaçadora nos meus piores dias, eu gostaria de saber do quê deveio, ou do que devieram, embora para a “primeira parte” eu esteja muito mais perto de obter uma resposta. É o abandono? Mas o gênio já não foi sempre de certa forma um abandonado? Um auto-abandonado? A falta de um público fiel e motivador no lugar da mãe onipotente?

o homoerotismo (para tomar a expressão de Ferenczi, em lugar do termo homossexualidade, que acabou por tomar uma ressonância atrozmente vulgar[???]) ou inversão (…) deve ser visto(a) como patológico(a), casualmente curável, se tomar os caracteres de uma neurose obsessiva – de uma oscilação entre o pólo masculino e o pólo feminino, com super-compensações no sentido da iteratividade [repetição] e da hiper-passividade.”

nisto que impede o homoerótico de dar o último passo para se unificar como sujeito heterossexual reconhece-se a marca do caráter erótico fundamental, que não se encontra senão no Eros infantil” “no homoerotismo [não consigo usar essa palavra, cof], este caráter [narcísico?] está concentrado, preservado, o que é impossível na infância, onde as atividades sexuais precoces se desenvolvem de maneira isolada.”

o homossexual leva suas atividades a um grau de maturidade particular, que será preciso abandonar de novo [?] se ele se tornar uma <metade> unissexuada.¹ Parece-me que, na homossexualidade, as manifestações primitivas perdem de tempos em tempos seu caráter de materialidade, revestimento necessário do temperamento infantil (passível de sublimação)”

¹ Um homossexual decidido (não-reprimido)? Quanta contradição!

Tem-se com freqüência chamado a atenção sobre o arrebatamento, a exaltação que caracteriza as uniões homossexuais”

A MOÇA LEU PLATÃO (SÓ FALTOU MESMO ENTENDER): “Observemos que este traço caracteriza também a natureza verdadeira da amizade, da qual se tem podido duvidar, com alguma razão, que possa se estabelecer entre pessoas de sexo oposto antes da velhice”

tanto uma paixão pelo esporte como o Bom Deus são suscetíveis de ser o mediador ou o terceiro termo que unifica.” Ou uma ópera wagneriana.

Imagine se o indivíduo místico aprendesse a procriar pondo ovos… A humanidade estaria salva, e o sexo seria interdito para todo e qualquer fim pela religião oficial!

Para metade da humanidade, quero dizer as mulheres, estas dificuldades se resolvem normalmente nelas mesmas, pela graça da natureza. (…) A mulher se liga por natureza, tanto sobre o plano biológico quanto sobre o plano psíquico, ao contrário do homem, ao elemento passivo, uma vez que é somente assim que ela, na sua especificidade, pode chegar à felicidade e seu pleno desabrochar erótico (ah! que bom é ver que também nós começamos a compreender que o destino do sexo feminino é a felicidade e não a resignação!)” Lou Salomé não tinha começado a entender porra nenhuma!

Nietzsche devia ter ressuscitado para dar-lhe umas boas bofetadas!

ERAM OS DEUSES PEDERASTAS: “A outra metade da humanidade, constituída pelos homens, não se libera por ela mesma do dilaceramento de querer ser mais que uma só metade; o homem que, inteiramente heterossexual, dá o último passo para penetrar o sexo estranho, seu complementar, se condena, assim, a não ser senão um homem, incompleto, tomado entre 2 exigências rivais: consagrar-se à família ou entregar-se a tarefas materiais, profissionais, altamente humanas.”

não é raro que o esmorecimento da relação amorosa tenha por corolário uma compreensão aumentada em relação ao parceiro abandonado.”

Mesmo no amor que devotamos às plantas, é puro <esteticismo> o que prevalece e a nossa sensibilidade não ocupa aí senão um lugar secundário.”

o homem [no sentido antropológico geral], quando é o objeto do nosso amor, manifesta exigências imensas; tendo-o como parceiro, está fora de questão que se possa sair tão bem com facilidade e que se possa ser tão parcimonioso como com as outras criaturas, as quais, satisfeitas com as migalhas do nosso amor, nos introduzem, em troca, nesse mundo mirabolante, complementário do nosso, fabuloso (e é aí que reside, em todo relacionamento com um animal, o grande, o verdadeiro acontecimento).” Os cachorros parecem ter se tornado muito mais complexo desde a época de Lou Salomé. Eles não ficam satisfeitos com ‘migalhas’, e obsequiam nosso amor e dedicação sinceros…

Não concedemos tampouco uma tão grande significação à passagem tirada de uma das cartas maravilhosas de Rosa Luxemburgo, na qual ela descreve a piedade apaixonada que a invadira diante do espetáculo dos besouros (ou outros insetos) devorados pelas formigas. Porque o besouro aqui está desmesuradamente favorecido pelo ódio reativo da revolucionária, e não se está longe de suspeitar aí uma tentativa de compensação do caráter neurótico confirmado, que é a vingança, em seu sentido oposto, contra todas as espécies de besourões.”

somente as relações que permanecem distanciadas e que não se ligam a um ser humano nos deixam a tranqüilidade necessária para vivê-las sem ódio, até o fim. Porque quando a nossa individualidade se encontra em jogo na relação amorosa e sujeita ao contato de uma outra individualidade, ela deve enfrentar o combate pela afirmação do seu eu, e a necessidade aí é tanto mais imperiosa quanto o caráter apaixonado e exclusivo da relação faz pesar uma ameaça sobre a conservação do eu.”

Nós preferimos tratar os objetos de nossa aversão com correção, vê-los com polidez, porque é assim que eles nos tomam menos tempo. Torturar cruelmente aquilo que não se ama mais não é senão angustiante e desvia o eu dos objetivos que ele persegue: é somente quando o objeto exerce um atrativo erótico que se desperta a crueldade, que a pulsão amorosa é devorada pela pulsão de poder e a perverte para fazer disso um meio de alegria.” Vocábulo nada técnico, descuidado. Ou seria descuidado justamente por ser, de alguma forma, muito esmerado e técnico? No seio da psicanálise banalizada, pervertida, já nem se sabe mais, e não interessa a distinção. Má assimilação da filosofia do séc. XIX e reiteração do erro, em efeito cascata, com a soma das décadas…

Décimo primeiro mandamento: Nunca serás indiferente ao teu cão, nem ele a ti.

Olhar alguma coisa como morta ou viva quer dizer apenas observá-la sob o ponto de vista do que nós temos transformado em mecânico ou em psíquico.”

qual é a origem da doença? É a solidez destas cascas da superfície, que o adulto, por seu poder (e as experiências da vida), tem forjado precocemente, para proteger o ser, deixando a parte mais íntima dele mesmo desamparada e sem proteção.”

Toda neurose simula o acordo desejado entre o mundo interior e o mundo exterior”

Esta inquietante estranheza esconde de todo o vivido do neurótico, até o momento em que isso se exprime numa vertigem e num desvario, onde o <o que é interior?> e o <o que é exterior?> se invertem.”

O perigo, mesmo no interior da normalidade, reside na vacilação entre a tendência a se superestimar e a crença de ser inferior, na oscilação do pólo ativo ao pólo passivo, que é muito natural à medida que o desejo imperioso das pulsões deve fazer frente às realidades ameaçadoras da vida.”

no homem mais evoluído [que o histérico, que nega o real], os sentimentos [de culpa] têm suas raízes, pelo simples fato de que o acesso à consciência põe diante dele o mundo real e dá eo ipso condenação a seus desejos. Nós procuramos então rejeitá-los e apaziguá-los, mas não conseguimos senão fazê-los enfraquecer, enterrar-se ainda mais. Ou então nós nos livramos lançando-nos num excesso de abstinência, de docilidade, e daí nossa agressividade se insurge, protesta vigorosamente, e nos faz entrar em conflito com a parte de nós que se liga aos instintos.” Meu corpo cotidiano se rebela contra meu eu, sempre oculto observando as cenas, o criador, encarnado em músculo esporadicamente.

para arbitrar entre os 2 pólos de oscilação [o meigo e o selvagem, mamãe e papai], uma mediação de caráter obsessivo foi elaborada.”

exacerbação da dúvida”

Hamlet: incapaz de formar um compromisso, de ignorar o ultraje à mãe e a honra do pai, e o ódio ao tio, mas incapaz também de vencer e continuar, ele escolhe vencer perdendo, i.e., vingar-se e morrer. Tipo decadente do herói.

HEADS OR TAILS: “A uma escala reduzida, tem-se observado uma forma de superstição nas crianças que, em casos de dúvida, preferem confiar-se ao acaso, aos presságios (escolha das calçadas sobre as quais andam, superstições com números, escolha da direita ou da esquerda [+ <jogos de velocidade>: se não chegar à porta ou ao microondas a tempo, serei punido, ficarei cego, etc.]), à necessidade de decidir.” Fé na ausência da barba mosaica.

Na religião, o sujeito pode encontrar um meio[-caminho] de superar as decepções, i.e., as aspirações insatisfeitas das suas pulsões, sem se expor, particularmente a tensões perigosas que conduziriam a uma neurose”

reserva natural protegida”

reverso da medalha [onipresente]”

Conseqüência da conversão do crente: “toda realidade que, em si, teria merecido ser vivida, teria podido ser amada, perde suas cores.” “realidade diabólica” “não existe nenhuma ressurreição na fé atrás da qual não se perfile uma crucificação.”

observam-se, em relação ao homem, tendências para um hábito mais histérico ou mais obsessivo. No primeiro caso, nada adquire um aspecto trágico para aquele que se encontrou agarrando-se à fé, simplesmente porque este recurso lhe estava sugerido pelo espírito do tempo e por sua educação, e porque se ajustava perfeitamente à linha do seu otimismo [Inato: sou pessimista de nascença] o fato de privilegiar sem dificuldades as verdades mais agradáveis e outorgar-lhes fé. São tais <sedentários> que constituem a comunidade de crentes numericamente mais importante do mundo. (…) A base de sua fé permanece muito banal.” Parasita.

estes medíocres felizes que têm sempre a tez florida” sua fé é muito mais mundana do que gostariam de admitir

um ícone bem simples de latão se põe a resplandecer quando revestido de roupa dourada ou ornamentado de jóias.” O verdadeiro criador religioso, legislador e escultor de deuses, é o neurótico.

Trata-se de compreender que o culto de Deus é já um nome para um vazio, para uma lacuna na piedade, onde residem, de antemão, a perda e a renúncia, uma necessidade de Deus, porque não há posse, à medida que Deus não poderia existir como Deus senão onde <não há necessidade> dele. Quem quisesse utilizá-lo, não teria mais <Deus> mas alguma coisa que se pode apontar com o dedo”

Nemo contra Deum nisi Deus ipse.”

De que profundezas tão grandes subiu a força que abalou o pensamento de Nietzsche? É o martírio de uma vida inteira passada em busca de um substituto de Deus. Eis a verdade que ele pôs a nu: o homem não faz senão começar, lentamente, a dar-se conta do ato que ele cometeu” deleuZzZzZe diZzZzZia que já estamos cansados de tudo isso, em verdade. Melhor deixar pra lá…

Como sempre, Nietzsche foi excessivo na conclusão” Ou você foi insuficiente, Salomé.

ela o induziu à profecia que constitui a idéia do Retorno.” Que você está misturando com a compulsão freudiana sem vênia!

Pode até ter razão em seus pressupostos fundamentais, mas não passa de uma existencialista má escrevinhadora e redundante. Espiralando quando podia tomar vias heideggerianas, sartreanas, até mesmo beauvoirianas; e olha que estamos falando de sujeitos já bem “enrolões” e elípticos… Um estilo estafante que não deve ser melhor no vernáculo do que na insegura tradução.

Decerto não é você que me dará lições sobre o deserto.

Se, nas religiões, são sempre as representações mais primitivas da divindade que têm mostrado o rosto mais terrível, o mais sombrio, o mais cruel, isto não é somente porque elas estão destronadas pelos deuses que lhes sucedem, e, portanto, rebaixadas, escarnecidas por eles; há mais: é lá que se lê toda a evolução do espírito que se volta sempre mais em direção à claridade na existência e em direção aos quadros da consciência, dos quais os deuses mais tardios tiram seu caráter próprio.”

o homem reduz sempre este espaço até fazer dele a porta estreita da morte”

é na margem do mesmo oásis que se reencontram os animais do deserto”

a arte confina com a magia e a religião, que são uma maneira de conjurar o que se acredita poder transformar em realidade.”

fuck daydreams

FUTURO SIM, PASSADO NÃO: “poder-se-ia dizer, ainda mais, que a criação provém de realizações, da força com que isso que não está ainda vinculado à pessoa é involuntária e imperiosamente levado a se realizar. É quanto a este aspecto que ela se opõe inteiramente ao patológico que <regressa ao infantil>”

Eis o que regulamenta a questão espinhosa de saber se o criador tem o direito de utilizar para sua obra tudo o que a humanidade encerra de duvidoso: esta reivindicação impede, efetivamente, a consagração a outros fins (…) o artista, do qual se poderia dizer que é um <obcecado pela perfeição>, sofre em dobro: seja por sua sensibilidade exacerbada, seja pelas imperfeições da vida e pelas suas próprias

a mais-valia conferida ao social na criação artística.” “Só se é criador sob o impulso jubiloso da obra (…) mesmo que nos interessemos por nossos semelhantes, estes fatores não participam do processo que conduz à obra”

DOUBLE DEEDS

o talento se desvia do fim sexual (…) é isto que faz sempre com que se veja o artista como alguém muito <narcísico>.” “Nessa relação estreita que liga o erotismo precoce à consciência do eu já orientada em direção ao espírito, há um elemento ascético importuno para o criador, ou seja, que, parcialmente, seu erotismo não busca realizar-se e evoluir na carne. (…) assim, o artista paga o preço da concorrência duvidosa que ele faz a Deus, fazendo-se criador de realidade. Estas riquezas (…) obrigam-no à renúncia, da mesma forma que um mergulhador vestido com um equipamento estanque apanha tesouros no fundo do mar para levá-los à superfície, não estando atado ao mundo, durante toda a sua atividade, senão pelo tubo que lhe permite respirar. Se o artista não chega a essa renúncia total, o que deveria tornar-se força produtiva recai na fase infantil do erotismo. Entre todo este processo se estende na sua teia a aranha da patologia, à espreita do esgotamento da mosca.”

A fragilidade desta fronteira que separa a criação artística da penetração na experiência do corpo se encontra de maneira impressionante no breve episódio do Duino (1913), escrito por Rilke [CARTA ABERTA A TODOS OS MEUS HOMENS] (publicado primeiramente no Almanach Insel, de 1919, com o título de Experiência vivida): <Ombros apoiados contra o tronco bifurcado de uma árvore>, ele teve a sensação de que o ser dessa árvore passava literalmente nele.” “experiência corporal num estado de quase-sonambulismo, experiência não-poética (…) [nela] o artista não desaparece” “acessos de misticismo”

Todos aqueles que desprezam a arte encontram aí os melhores argumentos contra o artista: este seria uma espécie de trapaceiro que se elevaria acima do mundo, mundo que nós nos esforçaríamos por colocar em ordem sob as perspectivas da prática e da lógica, em lugar de nos iludirmos – o que é mais confortável – como faz o artista. Mas essa objeção erra a sua pontaria em face da obra realizada: o artista colhe suas sensações de impressões arcaicas, onde, para ele, o mundo e o ser humano estavam ainda unidos para constituir a realidade, e é ela que se realiza de novo na obra.” Desaparecer não dói nem dá prazer. No, e não acima do, mundo.

Especializações (não exatamente, por exemplo, a de escritor, poeta ou ator, i.e., de ofício, mas as “de época” ou escolásticas, típico fenômeno modernista e anti-genial) encaradas de modo nefasto. Maior exemplo: as deficiências inerentes ao Romantismo. Obra moral é o cúmulo do absurdo.

transformação do destino humano na arte”

Não sei se fala de Rilke ou não: “Não se pode falar a não ser em voz baixa de coisas tão secretas como esta irrupção dolorosa das Elegias que se prolongou por 10 anos, como se o ser humano, forçado a se oferecer em sacrifício, opusesse uma resistência a esta constrição que se perverteu a si mesma: <Porque todo anjo é terrível>.” “a forma proclamava o Último – mas o homem foi quebrado. Uma obra de arte se mantém silenciosamente num mundo de paz e de desespero, mas o véu transparente (chamado <estética>) despregado sobre ela para dissimular as condições extremas do nascimento desta obra é muito fraco.

Quem disse que não se pode viver perigosamente sem ser um “macho hollywoodiano da aventura e da ação”? O dente-do-ser. O sedentário que rói o devir mais que o ciclista-maratonista que, em movimento, não sabe o que é deslocamento e alteridade. E que, portanto, não sabe nada.

Mostrando-se sob um aspecto muito severo, os pais não querem senão garantir, pelo menos em certa medida, o que é absolutamente indispensável. As linhas azuis traçadas no caderno do estudante estão destinadas a desaparecer posteriormente, ao serem rejeitadas todas as dependências quando o ser autônomo escolher seu itinerário. Se a autoridade, que, num primeiro tempo, tem sua razão de ser, não é destruída a tempo, não somente ela erra a sua pontaria, mas ainda, não dando importância a tudo o que já está executado com êxito na construção do nosso ser, ela conduz a inseguranças mais bizarras: o que, no começo, era influência que se exercia naturalmente do exterior, madeiramento do edifício ainda inacabado, se incrusta na construção terminada como um cogumelo de bolor, que não se sabe onde se esconde; as instâncias que operam no processo da consciência moral – o <supereu> que temos retomado como <eu ideal> – se agarram a um sentimento de culpa e a uma necessidade de castigo, que, vindos das origens do estágio infantil, conseguem ter um efeito mais místico justamente pelo fato de sua distância em relação à clareza racional do juízo pessoal.” Pais de messias não são – sempre – deuses nem divinos são os mortos…

o remorso não é reconhecido como tal a não ser quando ele sucede a atos ou a considerações <egoístas>, enquanto que um pesar tão forte pode se apresentar depois de uma ação supostamente <desinteressada>, quando esta quis se realizar no seu egoísmo pulsional, de maneira intempestiva, desenfreada, em detrimento de outras exigências pulsionais. Ou seja, um combate incessante se trava entre as exigências das diversas pulsões em nós, e, quanto mais um homem é dotado disso, mais a situação é crítica para ele, e, bem entendido, a Bíblia fala já, muito justamente, de nossos pensamentos que <se denunciam e se acusam reciprocamente>”

uma pulsão lesada se precipita sobre aquela que prevaleceu sobre ela, até que esta, gravemente ferida, esteja bem <arrependida>; mas tudo isto resulta da vida e da saúde, não das dívidas e dos prejuízos”

Quando imperativos morais por demais rigorosos e inaplicáveis ultrapassam nossa natureza pulsional, esta, se ela goza de uma saúde perfeita, pode, mesmo com o desafio de sua fé total na autoridade, decidir vitoriosamente o combate entre eles, como ela combateria as calúnias (que nos reportemos, sobre este ponto, aos velhos cantos sérvios, onde se faz o elogio do herói: embora ciente, depois que ele se tornou cristão, do castigo celeste como uma conseqüência natural inevitável, ele ama tanto seus pecados que menospreza o risco de continuar a cometê-los e <endossa> o castigo). Não é preciso esquecer que os discursos do <supereu> e do <ideal do eu> para nos insultar ou nos convencer são para ser assimilados aos vestígios de impressões e de angústias infantis que não foram ainda liquidados e que, quando se caminha para o sentimento de culpa ou de remorso, não produz senão muito facilmente uma mudança de direção que propulsa na neurose. Se a obediência à autoridade reconhecida é muito perfeita, é porque a fronteira do patológico não está muito afastada – o que quer dizer: a repressão das pulsões é já em si a manifestação, mesmo disfarçada, do retorno da dimensão pulsional recalcada, uma vez que mesmo a obediência não pode tirar sua energia de parte alguma, a não ser da força pulsional que ela tem contaminado com sua doença. (…) nós ficamos com as exigências que tínhamos no começo: nós não deixamos em nada nosso fundo, nosso solo, nós não podemos senão imaginá-lo, quando fugimos de nós mesmos de maneira patológica.”

DEAR FATHER: “Todo crente cuja evolução foi harmoniosa – i.e.: que permaneceu com boa saúde – tem sempre sido intimamente penetrado pelo fato de a exigência ética lhe colocar ante uma tarefa que não tem fim nem acaba, da qual ele jamais poderá se exonerar inteiramente dos limites da sua condição de homem, mas somente por intermédio do ‘dom da graça divina’.”

resulta que nós somos, inevitavelmente, lançados no turbilhão de toda realidade, com a única opção de consentir nisso. Se, sem dúvida, isto quer dizer atravessar um oceano num frágil barquinho, tal é a nossa condição humana”

Que importa agora que as tentativas de nossa consciência para emergir estejam maculadas de todos os erros possíveis? Se alguém tachar esse comportamento de imoralidade, de arbitrário e de presunção, nós estaríamos com maior razão autorizados a tachar de confortável desleixo moral a escravidão infantil daquele que se mantém no respeito das prescrições!

Com efeito, que fez, portanto, o homem, ao ousar decidir, escolher, colocar seus valores? Ele realizou o ato mais rigoroso, o mais determinado, porque era um ato autônomo, que não procedia de nenhum cálculo, apesar da maneira pela qual ele vinha, mas, ao contrário, era um ato erguido nele com a onda do entusiasmo criador, um ato consumado APESAR DE TUDO, ao aceitar todos os riscos. Um ato legitimado por seu caráter universal, um ato que acompanha uma transcendência e que quer dizer: eu pertenço a esta realidade, eu faço corpo com ela, eu não estou somente confrontado com ela num combate hostil. É muita insolência? Sim porque o cúmulo da insolência, que nós temos inventado para nós, é a nossa adesão à humanidade: nós temos colocado o homem que cria os seus valores como a aventura mais sublime da vida.”

nós escapamos desta realidade original ao erigir uma imagem intelectual do mundo, imagem que mantém a ficção de uma oposição entre ela e nós, mas que representa somente a margem reservada para a consciência no interior do campo global do inconsciente.”

Mesmo em relação àquele que qualificamos de <realista ingênuo>, permanece um pouco dessa atitude, o que explica que a dissolução da realidade numa aparência – que isto esteja no espírito de Berkeley, na representação que os hindus se fazem no <véu de Maya>, ou sob outra forma qualquer – não lhe quisesse entrar na cabeça, tão <absurdo manifesto> isto é.”

Enquanto olhamos a meia-lua, como poderíamos não sentir que ela está integrada na rotundidade da lua inteira?”

nós não somos apenas seres que fazem compromissos, como na neurose – nós não somos apenas, como na normalidade, seres que buscam acumular suas insuficiências com novas aquisições –, nós somos o homem em toda a sua contradição

L’ÉTAT MENTAL D’AUGUSTE COMTE – Georges Dumas

In: Revue philosophique de la France et de l’étranger, 1898.

il s’abstint non seulement de journaux, mais de toute espèce de revue, et même de toute lecture, à l’exception de quelques auteurs de choix anciens ou modernes.”

Adopter une pareille hygiène, s’isoler volontairement du monde actuel, ne connaître ni les objections ni les protestations que l’on soulève, ne vivre qu’avec ses propres pensées et ne juger ses propres conclusions qu’en les confrontant avec ses propres principes, c’est se condamner fatalement à construire à côté de la réalité, à systématiser de force comme de gré le monde et les choses.”

Comte fut ainsi porté à prendre des libertés de plus en plus grandes envers les hypothèses; il crut pouvoir, pour des exigences personnelles de système, les subordonner à l’esthétique, et finalement à la sociologie; il arriva progressivement à la conception des hypothèses plus utiles que vraies dont il abusa.”

Si l’on ajoute qu’à partir de 1848 le fondation du subside éloigna de plus en plus Auguste Comte de la vie pratique et lui permit de consacrer tout son temps à la méditation, on sera, je crois, em mesure d’apprécier avec impartialité ses spéculations les plus hardies.”

La théorie de Gall ne lui suffisant pas, il la refit a priori, em vertu de principes très contestables qu’il posait comme des axiomes. Or l’étude des fonctions mentales ne pouvant mieux se faire, d’après Comte, que dans l’ordre social où ces fonctions se projettent, c’est la sociologie qu’il chargea de dénombrer les fonctions cérébrales.”

Il était devenu presque indifférent à la preuve pourvu qu’il obtînt la cohérence théorique, et d’autre part il avait fini par croire, avec une assurance pleine de sérénité, que les conjectures mêmes qu’il enfantait ne pouvaient manquer de se trouver vraies finalement.” Stuart Mill

Il avait toujours eu beaucoup de sympathie pour le fétichisme, cette conception primitive de la théologie qui regarde tous les corps, soit naturels, soit artificiels, comme animé; il y voyait des analogies très grandes avec la conceptions de la synthèse subjective”

C’est dans cet esprit que Comte suppose que la Terre, le Grand Fétiche, aujourd’hui volonté aveugle et bienveillante, a été autrefois intelligente, qu’elle a cherché, préparé, avec conscience, les conditions du véveloppement social; il ´’etend aux autres planètes les mêmes fictions, il peuple de volontés bonne l’Univers régi par des lois, et pour notre humanité il institue le culte de la terre.” “Le culte du Grand Milieu, de l’Espace, s’ajoute ainsi au culte du Grand Fétiche et du Grand Être, et la Trinité positive est constituée.”

À ce besoin de trouver coûte que coûte le nombre 3 et une trinité, on peut soupçonner des influences de son enfance catholique, car on sait que ces influences, tout endormies que’elles paraissent, se réveillent parfois, non sans force, au déclin de la vie.” Littré

Ces caractères une fois établis, nous devons introduire dans tous les actes de la vie autant de nombres sacrés ou premiers que les circonstances le permettent; Comte demande 3 prières par jour, il fixe le nombre de sacrements à 7; il choisit, quand il écrit son testament, 13 exécuteurs testamentaires; il pensa, et il agit autant qu’il le put par 1, 2, 3, 7 e 13. Dans la préface du dernier volume de sa Politique, il nous annonce que pour éviter les phrases trop longues dont quelques lecteurs se sont plaints, il n’a jamais permis qu’aucune excédat 2 lignes de manuscrit e 5 d’imprimé; les alinéas eux-mêmes ont été restraints à 7 phrases.” “Les poèmes conçus sur ce type doivent comprendre 3 chants d’introduction, 7 chants pour le corps du sujet, 3 chants pour la conclusion, ce qui fait em tout 13 chants”

j’ajoute que si j’avais à m’occuper ici d’autre chose que de l’état mental du philosophe et des conceptions étranges qu’on lui a reprochées, ce n’est pas la seule ressemblance que je signalerais entre les deux systèmes d’Auguste Comte et de Platon.”

révolutionnaire était synonyme de négatif.”

De Maistre proposait un retour à l’unité théologique du passé, Comte voulait substituer au pouvoir de l’Église le nouveau pouvoir spirituel de la science, et les saint-simoniens prétendaient eux aussi organiser ce nouveau pouvoir. Tous éprouvaient le même besoin de dogmatisme e d’unité, mais ceux qui parleaient au nom de la science et d’un pouvoir spirituel non encore éprouvé, avaient une foi sans borne dans la religion nouvelle qu’ils annonçaient.

Saint-Simon, qui fut un moment le maître de Comte, se proclamait <le véritable pape>, le vicaire de Dieu sur la terre; il écrivait un <nouveau christianisme>.”

C’est par ces traits de caractère que Comte se rattache, non seulement aux socialistes de 1830, mais même aux romantiques. Comme eux il est hanté par l’idée des hommes prédestinés; il veut, luis aussi, être l’homme de Dieu; il se croit appelé à ce rôle <par l’ensemble des destinées humanines>; il parle de sa mission comme si elle lui avait été dévolue par le destin.”

Si l’on fait la part du milieu et du temps dans les extravagances que j’ai citées, je doute que l’orgueil de Comte paraisse supérieur à celui de la plupart des hommes de génie.”

Il avait été fou, cependant, maniaque d’après le diagnostic d’Esquirol, et 3 [!] fois au moins il fut menacé de rechute, mais j’ai montré comment il évita tout retour offensif de la maladie e quelle preuve de raison il donna dans la façon dont il lutta contre elle. Tout ce qu’on peut conclure de sa maladie mentale et de ces menaces, c’est qu’il avait un tempérament névropathique et qu’il fut pendant longtemps exposé aux congestions cérébrales.

Or, Auguste Comte ne crut jamais à la signification objective de ses hallucinations; bien mieux, il les gouverna, il les produisit à volonté, il choisit celles qui lui plaisaient le plus pour les évoquer suivant les moments et les jours, il les <systématisa>, comme il dit.”

Il fut plutôt quiétiste, c’est-à-dire qu’il se complut dans la paix de l’amour pur et crut y trouver le souverain bonheur: il conçut la vie comme une longue prière, il déclara qu’on se lasse d’agir et non d’aimer, il s’astreignit à certaines pratiques de chasteté, d’austérité, d’ascétisme pour se rapprocher de l’idéal de vie surhumaine qu’il avait conçu; c’est à cette conception du bonheur que se réduit son mysticisme.”

La conséquence c’est qu’on ne peut songer à présenter Comte comme un aliéné de génie, écrivant pendant le cours de as folie d’admirables chefs-d’oeuvre de logique et de raison; la vérité est moins merveilleuse: Comte a été fou em 1826, mais il a guéri rapidement et n’a jamais eu d’anormal que le tempérament que j’ai étudié. Ce tempérament a-t-il moins quelque rapport avec celui des comitiaux? Certainement non, à moins qu’on ne fasse de l’épilepsie la plus vague et la moins délimitée des névroses.L’épilepsie, même larvée, se caractérise par des troubles précis, par des amnésies symptomatiques, par des délires subits, des violences, des fugues, et nous ne trouvons rien d’analogue dans la vie et dans la pensée de Comte. Ce fut ni un génie épileptique ni un génie épileptoïde; ce fut pendant 10 mois un maniaque, et un névropathe pendant toute sa vie.”

La théorie des rapports de la folie et du génie repose donc sur des faits mal étudiés, sur des hypothèses injustifiées, et aboutit finalement à des explications vaines à peine capable de satisfaire le plus accommodant des métaphysiciens.”

A PAZ PERPÉTUA: Um projeto filosófico (ou “De um jeito sumo de dizer o óbvio”) – Kant

Tradução de Artur Morão

1. «Não deve considerar-se como válido nenhum tratado de paz que se tenha feito com a reserva secreta de elementos para uma guerra futura.»”

2. «Nenhum Estado independente (grande ou pequeno, aqui tanto faz) poderá ser adquirido por outro mediante herança, troca, compra ou doação.»”

Um reino hereditário não é um Estado que possa ser herdado por outro Estado; é um Estado cujo direito a governar se pode dar em herança a outra pessoa física. O Estado adquire, pois, um governante”

Todos sabem a que perigo induziu a Europa até aos tempos mais recentes o preconceito deste modo de aquisição, pois as outras partes do mundo jamais o conheceram, isto é, de os próprios Estados poderem entre si contrair matrimônio; este modo de aquisição é, em parte, um novo gênero de artifício para se tornar muito poderoso mediante alianças de família sem dispêndio de forças e, em parte também, serve para assim ampliar as possessões territoriais.”

3. «Os exércitos permanentes (miles perpetuus) devem, com o tempo, de todo desaparecer.»”

os Estados incitam-se reciprocamente a ultrapassar-se na quantidade dos mobilizados que não conhece nenhum limite, e visto que a paz, em virtude dos custos relacionados com o armamento, se torna finalmente mais opressiva do que uma guerra curta, eles próprios são a causa de guerras ofensivas para se libertarem de tal fardo; acrescente-se que pôr-se a soldo para matar ou ser morto parece implicar um uso dos homens como simples máquinas e instrumentos na mão de outrem (do Estado), uso que não se pode harmonizar bem com o direito da humanidade na nossa própria pessoa.”

dos três poderes, o militar, o das alianças e o do dinheiro, este último poderia decerto ser o mais seguro instrumento de guerra.”

4. «Não se devem emitir dívidas públicas em relação aos assuntos de política exterior.»”

um sistema de crédito, como aparelho de oposição das potências entre si, é um sistema que cresce ilimitadamente, é sempre um poder financeiro perigoso para a reclamação presente (porque certamente nem todos os credores o farão ao mesmo tempo) das dívidas garantidas – a engenhosa invenção de um povo de comerciantes neste século – ou seja, é um tesouro para a guerra”

5. «Nenhum Estado se deve imiscuir pela força na constituição e no governo de outro Estado.»

enquanto essa luta interna ainda não está decidida, a ingerência de potências estrangeiras seria uma violação do direito de um povo independente que combate a sua enfermidade interna; seria, portanto, um escândalo, e poria em perigo a autonomia de todos os Estados.”

6. «Nenhum Estado em guerra com outro deve permitir tais hostilidades que tornem impossível a confiança mútua na paz futura, como, por exemplo, o emprego no outro Estado de assassinos (percussores), envenenadores (venefici), a ruptura da capitulação, a instigação à traição (perduellio), etc.»”

São estratagemas desonrosos; mesmo em plena guerra deve ainda existir alguma confiança no modo de pensar do inimigo já que, caso contrário, não se poderia negociar paz alguma e as hostilidades resultariam numa guerra de extermínio (bellum internecinum)”

uma guerra de extermínio, na qual se pode produzir o desaparecimento de ambas as partes e, por conseguinte, também de todo o direito, só possibilitaria a paz perpétua sobre o grande cemitério do gênero humano.”

* * *

Ora, uma posse putativa (sincera), logo que se reconheceu como tal, é proibida no estado de natureza do mesmo modo que um tipo semelhante de aquisição é proibido no ulterior estado civil (após a passagem); a possibilidade de uma posse duradoura não existiria se tivesse havido uma aquisição putativa no estado civil, pois, neste caso, teria de cessar imediatamente como uma lesão, logo após a descoberta da sua não-conformidade com o direito.”

a possibilidade de uma fórmula assim (semelhante às fórmulas matemáticas) é a única e genuína pedra-de-toque de uma legislação que permanece conseqüente, sem a qual o chamado ius certum permanecerá sempre um pio desejo. – De outro modo, ter-se-ão apenas leis gerais (que valem em geral), mas não leis universais (com eficácia universal), como todavia parece exigir o conceito de lei.”

a omissão de hostilidades não é ainda a garantia de paz e, se um vizinho não proporcionar segurança a outro (o que só pode acontecer num estado legal), cada um pode considerar como inimigo a quem lhe exigiu tal segurança.”

* * *

1. A Constituição civil em cada Estado deve ser republicana.”

A validade dos direitos inatos inalienáveis e que pertencem necessariamente à humanidade é confirmada e elevada pelo princípio das relações jurídicas do próprio homem com entidades mais altas (quando ele as imagina), ao representar-se a si mesmo segundo esses mesmos princípios também como um cidadão de um mundo supra-sensível.”

é claro que, se o estatuto está vinculado ao nascimento, é de todo incerto se o mérito (capacidade e fidelidade profissionais) também virá depois; por conseguinte, é como se ele fosse concedido (ser chefe) ao beneficiado sem qualquer mérito – o que nunca a vontade geral do povo decidirá num contrato originário (que, no entanto, é o princípio de todos os direitos). Com efeito, um nobre não é necessariamente por isso um homem nobre. – No tocante à nobreza de cargo (como se poderia denominar o estatuto de uma elevada magistratura e à qual é necessário elevar-se por meio dos méritos), o estatuto não pertence à pessoa como uma propriedade, mas ao lugar, e a igualdade não é por isso lesada; pois, quando a pessoa abandona o seu cargo deixa, ao mesmo tempo, o estatuto e retorna ao povo.”

A constituição republicana, além da pureza da sua origem, isto é, de ter promanado da pura fonte do conceito de direito, tem ainda em vista o resultado desejado, a saber, a paz perpétua; daquela é esta o fundamento.”

¹ Difícil que Aristóteles concordasse (governo misto)!

Para não se confundir a constituição republicana com a democrática (como costuma acontecer), deve observar-se o seguinte. As formas de um Estado (civitas) podem classificar-se segundo a diferença das pessoas que possuem o supremo poder do Estado, ou segundo o modo de governar o povo, seja quem for o seu governante; a primeira chama-se efetivamente a forma da soberania (forma imperii) e só há 3 formas possíveis, a saber, a soberania é possuída por um só, ou por alguns que entre si se religam, ou por todos conjuntamente, formando a sociedade civil (autocracia, aristocracia e democracia; poder do príncipe, da nobreza e do povo). A segunda é a forma de governo (forma regiminis) e refere-se ao modo, baseado na constituição (no ato da vontade geral pela qual a massa se torna um povo), como o Estado faz uso da plenitude do seu poder: neste sentido, a constituição é ou republicana, ou despótica. O republicanismo é o princípio político da separação entre o poder executivo (governo) e o legislativo; o despotismo é o princípio da execução arbitrária pelo Estado de leis que ele a si mesmo deu, portanto a vontade pública é manejada pelo governante como sua vontade privada. – Das três formas de Estado, a democracia é, no sentido próprio da palavra, necessariamente um despotismo, porque funda um poder executivo em que todos decidem sobre e, em todo o caso, também contra um (que, por conseguinte, não dá o seu consentimento), portanto todos, sem no entanto serem todos, decidem – o que é uma contradição da vontade geral consigo mesma e com a liberdade.

Toda a forma de governo que não seja representativa é, em termos estritos, uma não-forma, porque o legislador não pode ser ao mesmo tempo executor da sua vontade numa e mesma pessoa (como também a universal da premissa maior num silogismo não pode ser ao mesmo tempo a subsunção do particular na premissa menor); e, embora as duas outras constituições políticas sejam sempre defeituosas porque proporcionam espaço a um tal modo de governo, é nelas ao menos possível que adotem um modo de governo conforme com o espírito de um sistema representativo como, por exemplo, Frederico II ao dizer que ele era apenas o primeiro servidor do Estado, ao passo que a constituição democrática torna isso impossível porque todos querem ser soberano. Pode, pois, dizer-se: quanto mais reduzido é o pessoal do poder estatal (o número de dirigentes), tanto maior é a representação dos mesmos, tanto mais a constituição política se harmoniza com a possibilidade do republicanismo e pode esperar que, por fim, a ele chegue mediante reformas graduais. [Além de o povo no poder ser uma tirania, a aristocracia no poder não teria muitas vantagens sobre esse cenário – a monarquia constitucional aparece, como com Hegel, tã-dã…]”

Kant entende democracia no sentido direto antigo.

NO HAY REPÚBLICA: “Nenhuma das denominadas repúblicas antigas conheceu este sistema e tiveram, de facto, de se dissolver no despotismo que, sob o poder supremo de um só, é ainda o mais suportável de todos os despotismos.”

Quem governou melhor do que um Tito ou um Marco Aurélio? E, no entanto, um deixou como sucessor um Domiciano, e o outro um Cômodo; o que não poderia ter acontecido com uma boa constituição política, pois a incapacidade dos últimos para o cargo tinha sido conhecida bastante cedo e o poder do Imperador era também suficiente para os ter excluído.”

2. O direito das gentes deve fundar-se numa federação de Estados livres.”

Isto seria uma federação de povos que, no entanto, não deveria ser um Estado de povos. Haveria aí uma contradição, porque todo o Estado implica a relação de um superior (legislador) com um inferior (o que obedece, a saber, o povo) e muitos povos num Estado viriam a constituir um só povo, o que contradiz o pressuposto (temos de considerar aqui o direito dos povos nas suas relações recíprocas enquanto formam Estados diferentes, que não se devem fundir num só).

Assim como olhamos com profundo desprezo o apego dos selvagens à sua liberdade sem lei, que prefere mais a luta contínua do que sujeitar-se a uma coerção legal por eles mesmos determinável, escolhendo antes a liberdade grotesca à racional, e consideramo-lo como barbárie, grosseria e degradação animal da humanidade; assim também – deveria pensar-se – os povos civilizados (cada qual reunido num Estado) teriam de se apressar a sair quanto antes de uma situação tão repreensível: em vez disso, porém, cada Estado coloca antes a sua soberania (pois a soberania popular é uma expressão absurda) precisamente em não se sujeitar a nenhuma coação legal externa, e o fulgor do chefe de Estado consiste em ter à sua disposição muitos milhares que, sem ele próprio se pôr em perigo, se deixam sacrificar(*) por uma coisa que em nada lhes diz respeito, e a diferença entre os selvagens europeus e os americanos consiste essencialmente nisto: muitas tribos americanas foram totalmente comidas pelos seus inimigos [absorção pelo mais forte!], ao passo que os europeus sabem aproveitar melhor os seus vencidos do que comendo-os; aumentam antes o número dos seus súbditos, por conseguinte, também a quantidade dos instrumentos para guerras ainda mais vastas.

(*) “Eis a resposta que um príncipe búlgaro deu ao imperador grego, que queria resolver uma disputa com um duelo: «Um ferreiro que tem tenazes não tirará do carvão o ferro em brasa com as mãos.»

esta homenagem que todos os Estados prestam ao conceito de direito (pelo menos, de palavra) mostra que se pode encontrar no homem uma disposição moral ainda mais profunda, se bem que dormente na altura, para se assenhorear do princípio mau que nele reside (o que não pode negar) e para esperar isto também dos outros; pois, de outro modo, a palavra direito nunca viria à boca dos Estados que se querem guerrear entre si, a não ser para com ela praticarem a ironia como aquele príncipe gaulês, que afirmava: «A vantagem que a natureza deu ao forte sobre o fraco é que este deve obedecer àquele.»

uma vez que não pode ter vigência para os Estados, segundo o direito das gentes, o que vale para o homem no estado desprovido de leis, segundo o direito natural – «dever sair de tal situação» (porque possuem já, como Estados, uma constituição interna jurídica e estão, portanto, subtraídos à coação dos outros para que se submetam a uma constituição legal ampliada em conformidade com os seus conceitos jurídicos); e visto que a razão, do trono do máximo poder legislativo moral, condena a guerra como via jurídica e faz, em contra-partida, do estado de paz um dever imediato, o qual não pode todavia estabelecer-se ou garantir-se sem um pacto entre os povos: – tem, pois, de existir uma federação de tipo especial, a que se pode dar o nome de federação da paz (foedus pacificum), que se distinguiria do pacto de paz (pactum pacis), uma vez que este tentaria acabar com uma guerra, ao passo que aquele procuraria pôr fim a todas as guerras e para sempre.”

se a sorte dispõe que um povo forte e ilustrado possa formar uma república (que, segundo a sua natureza, deve tender para a paz perpétua), esta pode constituir o centro da associação federativa para que todos os outros Estados se reúnam à sua volta e assim assegurem o estado de liberdade dos Estados conforme à idéia do direito das gentes e estendendo-se sempre mais mediante outras uniões.”

Um ímpio e horrível furor ferve bem dentro da sua boca sangrenta” – Virgílio

A festa de ação de graças por uma vitória conseguida durante a guerra, os hinos que se cantam ao Senhor dos exércitos (à boa maneira israelita) contrastam em não menor grau com a idéia moral do Pai dos homens; pois, além da indiferença quanto ao modo (que é bastante triste) como os povos buscam o seu direito mútuo, acrescentam ainda a alegria de ter aniquilado muitos homens ou a sua felicidade.”

3. «O direito cosmopolita deve limitar-se às condições da hospitalidade universal.»”

Não existe nenhum direito de hóspede sobre o qual se possa basear esta pretensão (para tal seria preciso um contrato especialmente generoso para dele fazer um hóspede por certo tempo), mas um direito de visita, que assiste todos os homens para se apresentarem à sociedade, em virtude do direito da propriedade comum da superfície da Terra, sobre a qual, enquanto superfície esférica, os homens não se podem estender até ao infinito, mas devem finalmente suportar-se uns aos outros, pois originariamente ninguém tem mais direito do que outro a estar num determinado lugar da Terra.

o camelo (o barco do deserto)”

A inospitalidade das costas marítimas (por exemplo das costas berberescas), os roubos de barcos nos mares próximos ou a redução à escravatura dos marinheiros que arribam à costa, ou a inospitalidade dos desertos (dos beduínos árabes) em considerar a sua proximidade às tribos nômades como um direito a saqueá-las – tudo é, pois, contrário ao direito natural; mas o direito de hospitalidade, isto é, a faculdade dos estrangeiros recém-chegados não se estende além das condições de possibilidade para intentar um tráfico com os antigos habitantes.”

A América, os países negros, as ilhas das especiarias, o Cabo, etc., eram para eles [os comerciantes ‘civilizados’], na sua descoberta, países que não pertenciam a ninguém, pois os habitantes nada contavam para eles.”

as ilhas do açúcar, sede da escravidão mais violenta e deliberada, não oferecem nenhum autêntico benefício, mas servem apenas diretamente um propósito e, claro está, não muito recomendável, a saber, a formação dos marinheiros para as frotas de guerra, portanto também para as guerras na Europa; e tudo isto para potências que querem fazer muitas coisas por piedade e pretendem considerar-se como eleitas dentro da ortodoxia, enquanto bebem a injustiça como água.”

BREVE ETIMOLOGIA KANTIANA DA CHINA

Segundo a observação do Prof. Fischer, de Petersburgo, não tem um nome determinado com que a si mesmo se designa; o nome mais habitual é ainda o da palavra Kin, isto é, ouro (que os Tibetanos exprimem com Ser), pelo que o imperador se chama Rei do ouro (do país mais magnífico do mundo); esta palavra poderia pronunciar-se nesse reino como Chin, mas pode ter sido pronunciada Kin pelos missionários italianos (por causa da gutural). – Daqui se infere que o país chamado pelos Romanos País dos Seres era a China, mas a seda era trazida para a Europa através do Grande Tibete (provavelmente através do Pequeno Tibete e de Bucara pela Pérsia) o que dá lugar a algumas considerações acerca da antiguidade deste surpreendente Estado, em comparação com o Industão [Índias Orientais], no laço com o Tibete e, através deste, com o Japão; no entanto, o nome de Sina ou Tschina que lhe deviam dar os vizinhos deste país não leva a nada. – Talvez se possa explicar também o antiqüíssimo, se bem que nunca corretamente conhecido, intercâmbio da Europa com o Tibete, a partir do que nos refere Hesíquio, a saber, do grito dos hierofantes Konx Ompax nos mistérios de Elêusis (ver Reise des Jüngern Anacarsis, 5ª parte, pp. 447-ss.). – Pois, segundo o Alphab. Tibet. de Georgius, a palavra Concioa significa deus, e esta palavra tem uma semelhança muito marcante com a de Konx: Pah-cio (ib. p. 520), que facilmente poderia ser pronunciada pelos gregos como pax, significa promulgator legis, a divindade repartida por toda a natureza (chamada também Cencresi, p. 177). – Mas Om, que Lacroze traduz por benedictus, bendito, nada mais pode significar na sua aplicação à divindade do que bem-aventurado, p. 507. Mas o P. Franz Horatius afirma que, ao interrogar muitas vezes os lamas tibetanos sob o que eles entendiam por deus (concioa), obteve sempre a resposta: «É a reunião de todos os santos» (isto é, dos bem-aventurados que, através do renascimento lamaísta, após muitas migrações por toda a classe de corpos, regressaram finalmente à divindade e se tomam Burchane, isto é, seres dignos de serem adorados, almas transformadas; p. 223). Pelo que a palavra misteriosa Konx Ompax deverá significar o supremo ser difundido por todo o mundo (a natureza personificada): santo, pela palavra Konx Ompax, bem-aventurado (Om) e sábio (pax); e estas palavras utilizadas nos mistérios gregos significaram o monoteísmo dos epoptas em oposição ao politeísmo do povo, embora Horatius suspeite aqui de um certo ateísmo. – Mas o modo como essa misteriosa palavra chegou aos Gregos através do Tibete explica-se da maneira antes indicada e, inversamente, torna provável um remoto tráfico da Europa com a China através do Tibete (talvez ainda antes do tráfico com o Industão).”

* * *

inferir de um acontecimento singular um princípio particular da causa eficiente (que este conhecimento seja um fim e não uma simples conseqüência marginal do mecanismo natural a partir de um outro fim que nos é totalmente desconhecido) é um disparate e uma arrogância total, por piedosa e humilde que a este respeito a linguagem ressoe. – Igualmente, a divisão a Providência (considerada materialiter) em universal e particular, segundo os objetos do mundo a que se refere, é falsa e contraditória em si mesma (porque cuida, por exemplo, da conservação das espécies de criaturas e abandona os indivíduos ao acaso)”

MORRE O ÚLTIMO TEÓLOGO: “…a fé de que Deus completará a deficiência da nossa própria justiça, se a nossa disposição for genuína, através de meios para nós inconcebíveis, portanto, se nada descurarmos no esforço pelo bem”

O primeiro instrumento de guerra que, entre todos os animais, o homem aprendeu a domar e a domesticar, na época do povoamento da Terra, foi o cavalo (pois o elefante pertence a uma época posterior, a saber, à época do luxo de Estados já estabelecidos)”

Entre todos os modos de vida, a caça é decerto o mais oposto a uma constituição estabelecida, porque as famílias forçadas a isolar-se depressa se tomam estranhas entre si e assim, dispersas por ingentes bosques, também depressa se tornam inimigos, já que cada uma precisa de muito espaço para a aquisição do alimento e do vestuário. – A proibição de Noé de comer sangue, 1 Moisés, IX, 4–6 (que, muitas vezes repetida, foi depois transformada pelos judeo-cristãos em condição para os novos cristãos vindos do paganismo, se bem que com outro sentido, Atos dos Apóstolos, XV, 20, XXI, 25), não parece inicialmente ter sido outra coisa a não ser a proibição de se dedicar à caça

O mesmo se passa com os finlandeses na região setentrional da Europa, os chamados Lapões, agora tão afastados dos húngaros, mas com eles aparentados pela língua, separados entretanto pela irrupção dos povos góticos e sármatas; e que outra coisa pode ter impelido os esquimós (talvez os aventureiros europeus mais antigos, uma raça inteiramente diversa de todas as americanas) para o Norte, e os Fueguinos, no sul da América, para a Terra do Fogo senão a guerra, de que a natureza se serve como de um meio para povoar a Terra?”

a coragem guerreira se considera como dotada de um grande valor imediato (tanto pelos selvagens americanos como pelos europeus, na época da cavalaria).”

Ora, a constituição republicana é a única perfeitamente adequada ao direito dos homens, mas é também a mais difícil de estabelecer, e mais ainda de conservar, e a tal ponto que muitos afirmam que deve ser um Estado de anjos porque os homens, com as suas tendências egoístas, não estão capacitados para uma constituição de tão sublime forma.”

assim, o homem está obrigado a ser um bom cidadão, embora não esteja obrigado a ser moralmente um homem bom.” “Um problema assim deve ter solução.” “O que não se faz, aqui e agora, por negligência, far-se-á finalmente por si mesmo”

«Se a cana se dobrar demasiado quebra; e quem demasiado quer nada quer» Bouterweck

as leis, com o aumento do âmbito de governação, perdem progressivamente a sua força, e também um despotismo sem alma acaba por cair na anarquia, depois de ter erradicado os germes do bem.”

Diversidade das religiões: expressão estranha! Tal como se também se falasse de diferentes morais. Pode, sem dúvida, haver diferentes tipos de fé que não radicam na religião, mas na história dos meios utilizados para o seu fomento (…) mas só pode existir uma única religião válida para todos os homens e em todos os tempos. Por conseguinte, as crenças apenas contêm o veículo da religião que é acidental e pode variar segundo os tempos e os lugares.”

é o espírito comercial que não pode coexistir com a guerra e que, mais cedo ou mais tarde, se apodera de todos os povos.” HAHAHA!

HOPE, WE MISS YOU! “Deste modo, a natureza garante a paz perpétua através do mecanismo das inclinações humanas; decerto com uma segurança que não é suficiente para vaticinar (teoricamente) o futuro, mas que chega, no entanto, no propósito prático, e transforma num dever o trabalhar em vista deste fim (não simplesmente quimérico).”

* * *

O Estado convidará, pois, tacitamente os filósofos (fazendo disso, portanto, um segredo), o que significa tanto como deixá-los falar livre e publicamente sobre as máximas gerais da condução da guerra e do estabelecimento da paz (pois eles farão isso por si mesmos, sempre que não lhes for proibido); e a coincidência dos Estados entre si acerca deste ponto não precisa também de nenhuma razão especial com este propósito, mas reside já na obrigação mediante a razão humana universal (moral e legisladora).”

NÃO SOUBE LER PLATÃO: “Não é de esperar nem também de desejar que os reis filosofem ou que os filósofos se tornem reis, porque a posse do poder prejudica inevitavelmente o livre juízo da razão.”

* * *

não pode existir nenhum conflito entre a política, enquanto teoria do direito aplicado, e a moral, como teoria do direito, mas teorética (não pode, pois, haver nenhum conflito entre a prática e a teoria): deveria então entender-se pela última uma teoria geral da prudência (Klugheitslehre), isto é, uma teoria das máximas para escolher os meios mais adequados aos seus propósitos”

O deus-término da moral não recua perante Júpiter (o deus-término do poder)”

não se deve contar, na execução daquela idéia (na prática) com nenhum outro começo do estado jurídico a não ser o começo pela força, sobre cuja coação se fundará ulteriormente o direito público”

O problema de Kant foi ter elegido uma preferência cedo demais.

Certamente, quando não existe liberdade nem lei moral nela fundada, mas tudo o que acontece ou pode acontecer é simples mecanismo da natureza, então a política (enquanto arte de o utilizar para o governo dos homens) constitui toda a sabedoria prática, e o conceito de direito é um pensamento sem conteúdo.”

O GOLPE DE 2016 E KANT

Máxima sofistas:

1. Fac et excusa (‘Actua e justifica-te.’) Aproveita a ocasião favorável para arbitrariamente entrares na posse (ou de um direito do Estado sobre o seu povo ou sobre outro povo vizinho); a justificação será muito mais fácil e mais elegante depois do fato, e pode dissimular-se a violência (sobretudo no primeiro caso, em que o poder supremo no interior é também a autoridade legisladora a que se deve obedecer, sem usar de sutilezas a seu respeito), do que se antes se quisesse refletir sobre motivos convincentes e esperar ainda as objeções. Esta audácia confere mesmo uma certa aparência de convicção interior à legitimidade do ato e o deus bonus eventus (‘acontecimento favorável’) é, depois, o melhor advogado.

2. Si fecisti nega (‘Se fizeste algo, nega’). O que tu próprio perpetraste, por exemplo, para levar o teu povo ao desespero e assim à

revolta, nega que seja culpa tua; afirma, pelo contrário, que a culpa reside na obstinação do súdito ou, se te apoderas de um povo vizinho, a culpa é da natureza do homem, o qual, se não se antecipa ao outro com violência, pode estar certo de que será este a antecipar-se-lhe e a submetê-lo ao seu poder.” Os Petralhas e a Ursal

3. Divide et impera [‘Cria divisões e vencerás’). Isto é, se no teu povo existem certas personalidades privilegiadas que simplesmente te escolheram como seu chefe supremo (primus inter pares) desune-as e isola-as do povo; fica então ao lado deste último sob a falsa pretensão de maior liberdade e assim tudo dependerá da tua vontade absoluta ou, se se trata de Estados exteriores, a criação da discórdia entre eles é um meio bastante seguro de os submeteres a ti um após outro, sob a aparência de apoiar o mais débil.” O brasileiro é o canalha perfeito: mesmo iletrado, executou a cartilha maquiavélica do <sofista perfeito> kantiano; a Casa Branca, decerto, teve de ler bastante os politicólogos após a II Guerra para consolidar seu Unopoder ou hegemonia.

apenas o fracasso no uso dessas máximas pode levar as grandes potências à vergonha [, mas não a podridão dessas máximas em si ou qualquer consideração moral]”

Embora se possa duvidar de uma certa maldade radicada na natureza dos homens que convivem num Estado e, em vez dela, se possa com alguma aparência aduzir a carência de uma cultura ainda não suficientemente desenvolvida (a barbárie) como causa das manifestações do seu modo de pensamento contrárias ao direito, contudo, nas relações externas dos Estados entre si essa maldade manifesta-se de um modo patente e incontestável. No seio de cada Estado, encontra-se encoberta pela coação das leis civis, pois a tendência dos cidadãos para a violência recíproca é ativamente inibida por um poder maior, a saber, o do governo, e assim não só fornece ao conjunto um verniz moral (causae non causae), mas também em virtude de impedir a erupção de tendências contrárias à lei facilita muito o desenvolvimento da disposição moral ao respeito pelo direito.”

O mundo de nenhum modo perecerá por haver menos homens maus. O mal moral tem a propriedade, inseparável da sua natureza, de se contradizer e se destruir nas suas intenções (sobretudo em relação aos que pensam da mesma maneira), e deixa assim lugar, embora mediante um lento progresso, ao princípio (moral) do bem.” Porém, o processo de deterioração pode ser infinito, sr. Kant.

tu ne cede malis sed contra audentior ito (‘não cedas ao mal, mas enfrenta-o com ousadia’)”

A Providência está assim justificada no curso do mundo, pois o princípio moral nunca se extingue no homem, e a razão, capaz pragmaticamente de realizar as idéias jurídicas segundo aquele princípio, cresce continuamente em virtude do incessante aumento da cultura, mas com ela cresce também a culpa das transgressões.”

* * *

uma máxima que eu não posso manifestar em voz alta sem que, ao mesmo tempo, se frustre a minha própria intenção, que deve permanecer inteiramente secreta se quiser ser bem-sucedida, e que eu não posso confessar publicamente sem provocar de modo inevitável a oposição de todos contra o meu propósito, uma máxima assim só pode obter a necessária e universal reação de todos contra mim, cognoscível a priori, pela injustiça com que a todos ameaça.”

princípio transcendental da publicidade”

PROBLEMA DA JUSTIÇA: “A injustiça da rebelião manifesta-se, pois, em que a máxima da mesma, se se confessasse publicamente, tornaria inviável o seu próprio propósito.”

A autoridade suprema pode dizer livremente que castigará toda a revolução com a morte dos cabecilhas, embora estes continuem a crer que aquela transgredira primeiro, por seu lado, a lei fundamental; pois, se é consciente de possuir o supremo poder irresistível, não deve preocupar-se de que a publicação das suas máximas frustre os seus propósitos; mas se, em consonância com isto, a rebelião do povo triunfar, aquela autoridade suprema deposta não deve recear que se lhe exijam contas por causa do seu anterior governo.” Pena de morte a Hitler por ter se suicidado antes de seu julgamento!

casos de antinomia entre a política e a moral”

Quando começa a mania de simetria kantiana, acaba o possível valor extraível da obra…

HÍPIAS MENOR ou DA MENTIRA

Tradução comentada de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”

 

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei oportuno abordar pontos polêmicos ou obscuros. Quando a nota for de Azcárate (tradutor) ou de Ana Pérez Vega (editora), um (*) antecederá as aspas.

 

(*) MOTE DO DIÁLOGO: “qual dos dois personagens célebres da mitologia, Aquiles ou Ulisses, é superior?” – A.P.V.

(*) “Como sói acontecer nos diálogos desta fase de Platão, a conversa culmina numa aporia: os personagens chegam a um fim sem apresentar soluções ao problema e encerram a obra reconhecendo sua ignorância.” – A.P.V.

“SÓCRATES – Muito bem, Eudico. Com muito prazer é que perguntaria a Hípias sobre algumas das coisas que ele afirmara com respeito a Homero. Ouvi dizer, da parte de teu pai Apemantes, que a Ilíada de Homero era um poema melhor que a Odisséia, sendo aquele mais belo que este, tanto quanto é Aquiles superior a Ulisses. (…) Desejaria, pois, saber de Hípias, se não se aborrece, claro, o que pensa destes heróis e qual dos dois prefere, levando em conta que já discursara sobre tantas matérias e acerca de tantos poetas, particularmente o Pai de todos, Homero.

EUDICO – Esteja certo de que qualquer pergunta que fizeres a Hípias será respondida sem demora. Não é isso mesmo, Hípias?

HÍPIAS – Incorreria eu em grave falta se, acostumado como estou em ir da Élide, minha pátria, a Olímpia, participar das assembleias gerais do povo grego durante os jogos, aberto a todo tipo de questão e debate, me negasse agora a fazer o mesmo com Sócrates!

SÓCRATES – Ó Hípias! Ditoso de ti se a cada Olimpíada te apresentas no templo com a alma tão confiante em tua sabedoria! Muito me espantaria deparar com um atleta que exibisse tua mesma segurança, que confiasse nas próprias forças do corpo tanto quanto tu confias no poder de teu espírito.

HÍPIAS – Se penso bem de mim mesmo, não é em vão, Sócrates; desde que comecei a freqüentar os jogos olímpicos nunca encontrei adversário a minha altura.

SÓCRATES – Decerto, Hípias, teu renome é um monumento reluzente de sabedoria para teus concidadãos da Élide, e ainda mais para os que te geraram!”

“HÍPIAS – (…) Homero fez de Aquiles o mais valente de quantos guerrearam em Tróia; de Nestor, o mais prudente; e de Ulisses o mais astuto.

SÓCRATES – Pelos deuses, Hípias! Concordarias em conceder-me um desejo? Não é difícil: é não troçar de mim, quando verificar que eu compreendo apenas com bastante esforço o que tu dizes, e se me mostro tão importuno ao perguntar aquilo que ignoro. Por favor, te peço que respondas com doçura e complacência a minhas dúvidas!

HÍPIAS – Seria indelicado de minha parte, Sócrates, agir desta maneira, sendo eu um professor. Seria ilícito que eu que recebo a paga por ensinar tantas pessoas e estou acostumado ao ofício e tenho tato para a coisa não te oferecesse a indulgência e a polidez que são de ordem.”

“SÓCRATES – (…) Não é Aquiles representado igualmente como astuto?

HÍPIAS – De jeito nenhum, Sócrates. Ele é representado como o homem mais sincero. Quando o poeta escreve o diálogo de ambas as figuras, assim se expressa Aquiles:

– Ó nobre filho de Laerte, o sagaz Ulisses, é preciso que te diga sem rodeios o que penso e o que estou disposto a fazer, porque me é adverso tanto quanto são as portas do Hades o ver gente que dissimula e esconde suas reais intenções. Por conseguinte, dir-te-ei sem delongas tudo que tenciono fazer.

            Percebeste o quanto este trecho demonstra a sinceridade de Aquiles e o caráter astuto e dissimulador de Ulisses?”

“Por astuto me parece que subentendes <mentiroso>.”

“SÓCRATES – Homero cria que o homem veraz e o mentiroso são dois homens, nunca o mesmo.

HÍPIAS – E como haveria de ser de outra maneira, Sócrates?

SÓCRATES – Logo, tu pensas igual.

HÍPIAS – Decerto que sim, e seria bem estranho discordar neste tocante! Esta era o título, entre os antigos, do nono livro da Ilíada.

SÓCRATES – Procedamos assim: abandonemos por ora a Homero, tanto mais quanto não nos é permitido consultar a opinião oculta de alguém que já morreu. Sem embargo, já que comungas com ele no essencial, responde-me a um só tempo por ele e por ti.”

“SÓCRATES – Crês que os homens mentirosos são homens incapazes de fazer alguma coisa, como por exemplo os doentes, ou consideras que os mentirosos são capazes de fazer algo?

HÍPIAS – Tenho-os por bastante capazes; e dentre suas capacidades está a de enganar os demais.

SÓCRATES – Segundo o que dizes, os astutos são igualmente capazes; não é isso mesmo?

HÍPIAS – Não erras.

SÓCRATES – Os astutos e os mentirosos são tais por imbecilidade e defeito natural, ou por malícia guiada pela inteligência?

HÍPIAS – Por malícia.

SÓCRATES – Logo, são inteligentes, conforme todos os indícios?

HÍPIAS – Por Zeus, Sócrates! E muito!

SÓCRATES – Sendo inteligentes, sabem ou não sabem o que fazem?

HÍPIAS – Sabem-no perfeitamente bem, e porque o sabem fazem mal.

SÓCRATES – Sabendo o que sabem, são ignorantes ou instruídos?

HÍPIAS – Instruídos, na arte de enganar.

(…)

SÓCRATES – Os homens sinceros e os mentirosos diferem entre si, e são ao mesmo tempo o oposto um do outro.

HÍPIAS – Ora, evidente.”

“Portanto, o homem incapaz e ignorante neste gênero não é mentiroso.”

“Se se te perguntasse quanto é 3×700, não responderias querendo, com maior certeza e maior ânsia que qualquer um, a verdade?

HÍPIAS – Com certeza.

SÓCRATES – E isto fá-lo-ias, posto que és sábio e muito competente em matemática.

HÍPIAS – Decerto.”

“Agora responde-me, com firmeza: se te perguntassem quanto é 3×700, não serias tu capaz de mentir como ninguém mais o é, e não serias igualmente capaz de dar uma resposta falsa contanto que fizesse parte de tua intenção mentir e eludir a verdade? Poderia o ignorante em cálculos mentir melhor do que tu, ainda que quisesse mentir?”

“SÓCRATES – O mentiroso é mentiroso em outras coisas e não nos números, e não poderá mentir ao contar?

HÍPIAS – Por Zeus! O mentiroso pode mentir nos números ou em qualquer outra coisa, Sócrates.”

“SÓCRATES – Estou vendo que o mesmo homem é capaz tanto de mentir quanto de ser veraz sobre o cálculo, e este homem é o que é melhor no seu tipo de arte, isto é, o melhor calculador.

HÍPIAS – Concedo-te.”

“SÓCRATES – Ânimo, Hípias! Vê todas as ciências em panorama, e me testifica se em alguma delas ocorre algo diferente do que relatei. És sem paralelo o mais instruído dos homens na maioria das artes, o que já ouvi da tua boca mesmo, numa ocasião em que o afirmaste com jactância. Foi na praça pública onde te ouvi enumerar teus conhecimentos. (…) Relataste saber forjar anéis, alegando seres o fabricador do anel que vestias. O mesmo disseste com referência a um selo, uma esponja de banho e um recipiente de azeite. Tudo era obra tua. Acrescentavas, inclusive, que havias feito tu mesmo o calçado que calçavas e os trajes que trajava. (…) Ademais, contavas que levava contigo poemas, versos heróicos, tragédias, ditirambos e muitos outros gêneros de textos em prosa sobre uma variedade de temas (…) e também és mestre na ciência do ritmo, da harmonia e da gramática, sem contar muitas outras, que me seria penoso lembrar. E no entanto omiti ou só agora me veio à mente tua excelente memória, que é aquilo de que mais te vanglorias. Mas isto seria sem fim, Hípias, porque sempre um ou outro talento seu ficaria de fora de minha lista, nunca exaustiva…”

“HÍPIAS – Sócrates, confesso que não adivinho aonde queres chegar…

SÓCRATES – Se é verdade o que dizes, deve ser porque neste instante não estás empregando tua portentosa memória artificial, crendo que ela não seria necessária para o caso. Pôr-te-ei, portanto, no caminho sem demora: Lembras-te de haver dito que Aquiles era sincero e de que Ulisses era um embusteiro e mentiroso?

HÍPIAS – Claro que sim.

SÓCRATES – (…) Donde se segue que se Ulisses é mentiroso é ao mesmo tempo veraz; e que se Aquiles é veraz é igualmente mentiroso; logo, não são dois homens distintos, nem opostos entre si, mas bastante semelhantes.

HÍPIAS – Sócrates, tu tens sempre o talento de embaraçar uma discussão. Te apoderas do mais espinhoso que há no discurso, e te apegas a ele, perscrutando e examinando parte por parte; qualquer que seja o assunto, jamais em tuas impugnações tu observa o todo, o conjunto. Eu demonstrarei com provas e testemunhas cabais que Homero compôs Aquiles como o protótipo da franqueza e nesse tocante superior a Ulisses, e Ulisses como um embusteiro em mil ocasiões, e neste aspecto inferior a Aquiles. Se continuas a discordar, dá-me tuas razões a fim de provar que Ulisses tem mais valor do que penso que tem. (…)

SÓCRATES – Hípias, mui distante estou de negar que tu sejas mais sábio que eu. Mas quando alguém fala tenho sempre o costume de me pôr atento, crendo eu que quem fala é homem bastante hábil; e como anseio deveras por compreender tudo o que diz o sábio, examino ponto por ponto, e cotejo suas palavras umas com as outras, a fim de aperfeiçoar meu juízo. Já, ao contrário, se converso com um espírito vulgar nada lhe pergunto, pois o que ele dirá não me interessa!

“Com efeito, depois de haver começado pelos versos que tu referiste, …me é adverso tanto quanto são as portas do Hades o ver gente que dissimula e esconde suas reais intenções, acrescenta Aquiles um pouco depois a seu discurso que nem Ulisses nem Agamêmnon fá-lo-ão dobrar nunca os joelhos, e que abandonará com certeza o cerco de Tróia.”

“Depois de ter falado desta maneira, tanto diante do exército como em particular com os de sua confiança, nunca na Ilíada ficamos sabendo de Aquiles reunindo sua bagagem para fazer a viagem, nem que tenha desancorado algum navio do porto. Muito pelo contrário: durante toda a saga nunca dá nenhum passo rumo a sua pátria, e fica patente que ele também é, por isso, um dissimulador.”

“HÍPIAS – Tudo consiste em que não examinas bem as coisas, Sócrates. Nas circunstâncias em que Aquiles mente, não há desígnio premeditado de fazê-lo, senão que a derrota do exército forçou-o a isso, pois a despeito da sua intenção original ele se viu premido a regressar ao campo de batalha para salvar seus companheiros. Mas Ulisses mente desde o início deliberadamente, com insídia.

SÓCRATES – Tu enganas muito bem teus contendores, querido Hípias: imitas perfeitamente a Ulisses!

HÍPIAS – Nada disso, Sócrates. Em que foi que eu te enganei? Que queres dizer?

SÓCRATES – Quando supões que Aquiles não mente com deliberação; um homem tão charlatão, tão insidioso, que além de ser falso em suas palavras, se é que nos ateremos ao que está em Homero, demonstra ainda dominar a arte da dissimulação e do engodo, de uma maneira ainda não pressentida sequer por Ulisses! Mesmo diante do próprio Ulisses atreveu-se ele a listar as vantagens e desvantagens de cada atitude a tomar (continuar ou não a guerra), e nem Ulisses, o maroto, se apercebeu de que estava bancando o joguete do herói. Ou Ulisses cai de propósito, se assim for, e não emite sinais de que tenha compreendido que Aquiles enganava-o.

HÍPIAS – Em que trecho da Ilíada?

SÓCRATES – Não tomarei parte nos combates sangrentos enquanto Heitor, filho de Príamo, não houver chegado às tendas e às naves dos Mirmidões, após empreender uma carnificina entre os Argivos e queimado toda a sua frota! Quando este dia chegar, saiba que porei Heitor em seu devido lugar. Crês tu, Hípias, que o filho de Tétis, o discípulo do sapientíssimo Quíron, tinha memória de peixe, para, assim, depois de despejar terríveis torrentes de palavras sobre seus próprios companheiros de armas, dizer a Ulisses, por um lado, que iria partir, e a Ájax, por outro, que permaneceria no campo de batalha?

HÍPIAS – Não preciso crer que fosse defeito ou limitação de memória, Sócrates. Mas a razão que Aquiles teve para dizer isso a Ájax foi pela bondade inata de seu caráter, que o fez mudar rapidamente de resolução. Quanto a Ulisses, entretanto, pouco importa que ele minta ou seja honesto, pois é sempre frio e calculista.”

“SÓCRATES – Mas Hípias, considera! Não acabamos de concordar que os que mentem voluntariamente são superiores aos que mentem sem querer?!?

HÍPIAS – Como seria possível, Sócrates, que os que cometem uma injustiça, tramam teias e nós cegos, e que causam o mal premeditadamente, justo eles, são melhores que outros, que incorrem em tais faltas contra sua própria vontade, sendo por isso mesmo dignos de compaixão? Porque aquele que comete um crime culposo é absolvido; mas a lei diz outra coisa sobre quem comete um crime com dolo!”

“sempre que dialogo com algum de vós, tão creditados por sua sabedoria e em quem todos os gregos depositam sua fé, descubro que nada sei!”

“sou como sou, para não dizer coisa pior.”

“vejo que quem fere outrem, comete ação injusta, mente, engana e incorre em falta voluntária, mas não involuntária, é melhor que quem age com inocência…”

(A Hípias) Por favor, suplico: não te negues a curar minh’alma! Far-me-ias um grande serviço, livrando-me assim da ignorância, como farias também a meu corpo, livrando-o duma doença. Se tens a intenção de pronunciar um longo discurso, declaro-te desde já que assim não me curarás, porque não poderei acompanhar-te! Mas se desejas me responder como o fizeste até agora, ser-me-ás de enorme auxílio, e creio que disso nenhum mal a ti derivaria.

(A Eudico) Tenho o direito de pedir este socorro a ti, ó filho de Apemantes, posto que tu me comprometeste a ter este diálogo com Hípias! Se este se nega a me responder, faz-me o favor de suplicar-lhe em meu lugar.”

“HÍPIAS – (…) Esse Sócrates tudo engabela, distorce e desvirtua numa discussão! Tudo me leva a crer que ele não almeja outra coisa senão criar discórdia…

SÓCRATES – Meu querido Hípias, se eu o faço, é a despeito meu! Porque se fôra eu capaz de engabelar, distorcer e desvirtuar de propósito, significa que seria eu, segundo tu mesmo, sábio e hábil; coisa que não sou. Faço essas coisas por acidente, podes ter certeza. Escuta: exerce agora teu próprio ditado. Tu me disseste que é preciso ser indulgente com os que fazem o mal sem querer.”

“SÓCRATES – O bom corredor não é o que corre bem e o mau corredor o que corre mal?

HÍPIAS – Correto.

SÓCRATES – E não corre mal aquele que corre lentamente, ao passo que corre bem aquele que corre ligeiro?

(…)

SÓCRATES – (…) A velocidade é um bem e a lentidão um mal?

HÍPIAS – Sem dúvida.

SÓCRATES – De 2 homens que correm lentamente, um com intenção e fingimento e o outro porque é apenas devagar, qual é o melhor corredor?

HÍPIAS – O que corre lentamente porque quer.

SÓCRATES – Correr não é agir?

HÍPIAS – Claro que sim.

SÓCRATES – Se é agir, não é fazer alguma coisa?

HÍPIAS – Concedo.

SÓCRATES – Logo, aquele que corre mal faz uma coisa má e feia quando o assunto é a corrida.

HÍPIAS – Exato, exato.

SÓCRATES – Aquele que corre devagar, não corre mal?

HÍPIAS – Sim.

SÓCRATES – O bom corredor faz esta coisa má e feia porque quer; e o mau fá-la porque é só o que sabe fazer.

HÍPIAS – Assim parece.

SÓCRATES – Na corrida, por conseguinte, o que faz o mal sem querer é mais mau.

HÍPIAS – Sim, Sócrates, é pior na corrida.

SÓCRATES – Na luta: de 2 lutadores que perdem, um deliberadamente, outro porque foi realmente derrotado, qual deles é o melhor?

HÍPIAS – O primeiro, ao que parece.

(…)

SÓCRATES – Destarte, aquele que faz uma coisa má e feia por vontade própria é melhor lutador que o outro.

HÍPIAS – Sim, Sócrates, perfeitamente.”

“HÍPIAS – Seria assaz estranho, Sócrates, se o homem voluntariamente injusto fôra melhor que o que o é involuntariamente.

SÓCRATES – E no entanto parece ser a conclusão de nosso raciocínio. Não acho que seja realmente assim! Pelo menos para mim, fica um sabor amargo ao dizer essas palavras… Mas responde-me de novo: a justiça é exclusivamente uma capacidade ou uma ciência? Ou uma ou outra, sem poder ser ambas ou nenhuma das duas?

HÍPIAS – É uma necessidade que seja apenas uma das duas, Sócrates.”

APOLOGIA DE SÓCRATES – atualizado e ampliado

Conteúdo original em https://seclusao.art.blog/2017/12/08/apologia-de-socrates/ (08/12/17) – Foram acrescentados novos trechos e editadas algumas das traduções de 2 anos atrás.

Tradução comentada de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei oportuno abordar pontos polêmicos ou obscuros. Quando a nota for do tradutor Azcárate ou da editora Ana Pérez Vega, um (*) antecederá as aspas.

(*) “Os últimos acusadores de Sócrates foram Anito, que morreu posteriormente apedrejado no Ponto, Lícon, que sustentou a acusação, e Meleto.”

esta é a primeira vez na minha vida que compareço perante um tribunal de justiça, apesar de contar mais de 70 anos. (…) muitos acusadores (…) disseram-vos que há um certo Sócrates, homem sábio que indaga o que se passa nos céus e nas entranhas da terra e que sabe converter uma doutrina má em boa. (…) Por outra parte, estes acusadores são em grande número, e faz muito tempo que estão metidos nesta trama. (…) o mais injusto é que não me é permitido conhecer nem nomear meus acusadores, à exceção de um certo autor de comédias.”

Remontemos, pois, à primeira causa da acusação, sobre a que fui tão desacreditado e que deu a Meleto segurança para me arrastar a este tribunal.”

E nem é porque não considere louvável o poder instruir os homens, como fazem Górgias de Leôncio(*), Pródico de Céos(**) e Hípias de Élide(***). Estes grandes personagens têm o maravilhoso talento, aonde quer que vão, de persuadir os jovens a se unir a eles e abandonar seus concidadãos, quando poderiam estes ser seus mestres sem custar-lhes um óbolo [centavo].

(*) Górgias de Leontinos ou de Leontini [atual Sicília] (em grego, Γοργίας) (circa 485a.C.-circa 380a.C): filósofo do período antropológico da Filosofia grega.

(**) Pródico de Céos (Pródikos; circa 465(50?)a.C.-circa 395a.C.) foi um filósofo grego, que formou parte da primeira geração de sofistas. Nasceu no povoado de Yulis, na ilha egéia de Céos (uma das Cíclades, no mar Egeu).

(***) Hípias de Élide, sofista grego das primeiras gerações, nasceu aproximadamente em meados do século V a.C. e ademais foi um jovem contemporâneo de Protágoras e Sócrates. A maior fonte de conhecimento sobre ele é Platão. Aparece nos diálogos platônicos (Hípias menor e Hípias maior), além de (de forma breve) no Protágoras.”

Cálias III, filho de Hipônico [sogro de Alcibíades, neto de Cálias II], homem que gasta mais com os sofistas que todos os cidadãos juntos”

(*) “Querefonte, segundo Platão, era um cidadão ateniense que perguntou ao oráculo de Delfos se havia alguém mais sábio do que Sócrates, e a Pitonisa contestou-lhe que não havia nenhum grego mais sábio que este.”

ele não mente, a divindade não pode mentir.”

Pode muito bem suceder, que nem ele nem eu saibamos nada do que é belo e do que é bom; mas há esta diferença, que ele crê sabê-lo por mais que nada saiba, e eu, não sabendo nada, admito não saber. Me parece, pois, que nisto eu, ainda que por pouco, era mais sábio, porque não cria saber o que de fato não sabia. (…) fui em busca de outros, conhecendo bem que me fazia odioso, e fazendo-me violência, porque temia os resultados; mas me parecia que devia, sem duvidar, preferir a voz de deus a todas as coisas, e para topar com o verdadeiro sentido do oráculo, ir de porta em porta pelas casas de todos aqueles que gozavam de grande reputação (…) todos aqueles que passavam por ser os mais sábios me pareceram que não eram, ao passo que todos aqueles que não gozavam desta mesma opinião se achavam, em verdade, muito mais próximos de sê-lo.”

Depois destes grandes homens de Estado, fui então aos poetas, tantos aos tragediógrafos quanto aos ditirâmbicos, fora outros, em nada duvidando de que com eles finalmente seria pego no pulo, i.e., descoberto como mais ignorante que eles. Com esse intuito, examinei suas obras, as mais famosas e bem-escritas, e perguntei-lhes o que queriam dizer aqui e ali, e qual era seu objetivo, para que isso me instruísse. (…) Não houve um só de todos os poetas vivos que houvesse abordado que soubesse dizer ou dar razão de seus próprios poemas. Aprendi então que não é a sabedoria que guia os poetas, mas certos movimentos da natureza e um entusiasmo semelhante ao dos profetas e adivinhos; que todos dizem coisas muito boas, sem compreender nada do que dizem. Convenci-me então da presunção dos poetas, que se julgavam os mais sábios num sem-número de matérias. Deixei-os, pois, persuadido de que até eu era superior a eles, pela mesma razão que eu era superior aos políticos.”

Era melhor para mim ser como sou. Desta singela conclusão, atenienses, nasceu contra mim todo o ódio e inimizade que se me dedicam, capaz de produzir todas as calúnias que conheceis, fazendo-me adquirir esta fama injusta de homem sábio.”

Parece-me, atenienses, que somente Deus é o verdadeiro sábio, e que isto quisera dizer por intermédio de seu oráculo, deixando transparecer que toda a sabedoria humana não é grande coisa ou, por melhor dizer, que não é nada; e se o oráculo nomeou a Sócrates, sem dúvida valeu-se de meu nome como um exemplo, e como se dissesse a todos os homens: <O mais sábio de entre vós é aquele que reconhece, como Sócrates, que sua sabedoria nada é>.”

Isto tanto me preocupa que não tenho tempo para me dedicar ao serviço da república nem ao cuidado de meus assuntos pessoais, e vivo numa grande pobreza em virtude deste culto que rendo a deus. Por outro lado, muitos jovens das mais abastadas famílias, em meio a seu tempo ocioso, a mim se juntam de bom grado, e nisso sentem tanto prazer que acabam emulando meu método, e saem por aí questionando os homens auto-intitulados sábios, pondo-os à prova. E não duvideis de que acabam encontrando boa colheita, porque há muitos desses homens vãos pela cidade: tão confiantes quanto são ignorantes.

Todos aqueles que os jovens convencem de que não passam em realidade de uns ignorantes acabam por se voltar contra mim e não contra os próprios jovens, e espalha-se esse rumor de que há um tal Sócrates, malvado e infame, corruptor da juventude; quando se lhes pergunta o que faz Sócrates ou o que ensina Sócrates, não têm o que dizer, e para dissimular a debilidade de sua acusação e a vacuidade de seu argumento soltam estes impropérios de sempre dirigidos aos filósofos, coisa trivial, vós o sabeis. Alegam que Sócrates indaga o que é que se passa nos céus e nas entranhas da terra, que além disso não crê nos deuses, que explica as causas más como sendo boas. E toda essa celeuma só porque não se atrevem a dizer a verdade: que o único que faz Sócrates é pegar esses pseudo-sábios no pulo, descobrindo seu segredo (eles nada sabem).”

Meleto representa os poetas, Anito os políticos e artistas e Lícon os oradores.”

ACUSAÇÃO FORMAL: “Sócrates é réu, porque corrompe os jovens, porque não crê nos deuses do Estado, e porque no lugar destes deuses estabelece novas divindades que chama de demônios ou espíritos ou gênios.”

SÓCRATES – (…) já que encontraste quem corrompe os jovens desta cidade, e já o denunciaste aos magistrados, é necessário que digas quem fará dos jovens pessoas melhores. Fala, vejamos de quem se trata!… Vês, Meleto? Calaste-te. Estás perplexo, não atinas com que responder. Não te parece isto vergonhoso? Não é a prova cabal de que jamais te preocupaste com a educação da juventude? Mas repito, meu excelente Meleto: quem é aquele que pode melhorar os jovens?

MELETO – As leis.

SÓCRATES – Meleto, sabes que não foi esta minha pergunta. Eu te pergunto quem é o homem; porque é evidente que a primeira coisa que este homem deve conhecer são as leis.

MELETO – São, Sócrates, os magistrados aqui reunidos.

SÓCRATES – Como, Meleto?! Estes magistrados ou juízes são capazes de instruir os jovens e fazer deles pessoas melhores?

MELETO – Sim, Sócrates, certamente.

SÓCRATES – Mas são todos estes juízes, ou há entre eles uns que são capazes e outros que não?

MELETO – Todos igualmente.

SOCRATES – Hm, perfeitamente. Por Hera! De um só golpe deste a Atenas um número enorme de bons preceptores! Mas sigamos adiante, Meleto. Estes ouvintes que nos escutam, o júri, podem eles, também, fazer dos jovens melhores, ou não?

MELETO – Podem.

SÓCRATES – E os senadores?

MELETO – O mesmo digo dos senadores.

SÓCRATES – Mas, querido Meleto, todos aqueles que vêm à assembléia do povo corrompem igualmente os jovens ou são capazes de melhorá-los?

MELETO – São todos capazes.

SÓCRATES – Segue-se daí que todos os atenienses podem fazer os jovens melhores, menos eu; só eu os corrompo, não é assim, Meleto?

MELETO – Sim, Sócrates.

SÓCRATES – Ó, sou mesmo um desgraçado! Mas continua a responder-me. Parece-te que sucederá o mesmo com os cavalos? Podem todos os homens aperfeiçoá-los, e é possível que somente um indivíduo possua a capacidade de arruiná-los? (…) Há um só bom domador ou há alguns bons domadores? E o restante dos homens, que não são domadores, será que pioram os cavalos? Não seria assim com todos os animais? Ó, sem dúvida! Anito e tu já conviestes nisto! Porque seria extremamente raro e vantajoso para a juventude que um só houvera capaz de corrompê-la, enquanto todos os demais instruem-na e a conduzem no bom caminho. Mas tu provaste com sobras, Meleto, que a educação da juventude não é coisa que tenha tirado teu sono um só dia, e teus discursos evidenciam com clareza absoluta que tu jamais te ocupaste desta matéria que motiva tua perseguição contra mim.”

SÓCRATES – Existirá alguém que prefira receber dano daqueles com quem trata a tirar vantagem? Responde, porque a lei manda que me respondas neste tribunal. Há alguém em seu juízo perfeito que prefira ser piorado que melhorado, Meleto?

MELETO – Não, não há.

SÓCRATES – Mas então, vejamos: quando me acusas de corromper a juventude e torná-la pior, sustentas que faço-o deliberadamente ou sem querer?

MELETO – Sabes o que fazes, Sócrates.

SÓCRATES – Tu és jovem, eu um ancião. É possível que tua sabedoria seja assim tão superior a minha, que sabendo tu que o contato com os maus causa o mal, e o contato com os bons causa o bem, suponhas-me tão ignorante que não saiba que, se converto aqueles que me rodeiam em maus, exponho-me a receber o mesmo mal em paga? Supões que eu, apesar desta simples consequência lógica, insista e persista no mal, e isso por livre e espontânea vontade, conhecedor dos meus atos? (…) Um de dois: ou eu não corrompo os jovens, ou, corrompendo-os, fá-lo sem saber e contra minha vontade, e de qualquer maneira que seja tu és um caluniador. Se corrompo a juventude a despeito de minhas intenções, a lei não permite que se cite alguém que não pode responder pelos próprios atos no tribunal. Não é culpado aquele que erra involuntariamente; só pode ser réu aquele que peca porque quer. O procedimento nestes casos seria chamar-me e repreender-me, instruindo-me no jeito correto de fazer as coisas. É certo que, se me ensinam aquilo que não sei, não mais errarei. Mas tu, com propósito, e longe de preocupar-te em educar-me, arrastas-me a este tribunal, onde o objetivo da lei é castigar as ofensas, jamais o mero repreender ou prevenir faltas voluntárias.

SÓCRATES – (…) explica-te se me acusas de ensinar que há muitos deuses (e neste caso, se creio que há deuses, não sou ateu, e falta a matéria para que seja eu culpado), ou se estes deuses não são do Estado. (…) Ou bem me acusas de que não admito nenhum deus, e que ensino os demais a que não reconheçam nenhum?

MELETO – Acuso-te de não reconhecer nenhum deus.

SÓCRATES – Oh, maravilhoso Meleto!, por que dizes isso? O quê!! Eu não creio como os demais homens que o sol e a lua são deuses?!

MELETO – Não, por Zeus! Ateniense Sócrates, tu não crês nisto, porque afirmas que o sol é uma pedra e a lua um pedaço de terra.

SÓCRATES – Mas tu estás acusando Anaxágoras em meu lugar, querido Meleto? Creio que menosprezes estes juízes, subestimando sua inteligência, ao pensar que eles ignorem que os livros de Anaxágoras de Clazômenas estão repletos de asserções deste tipo. E que necessidade teriam os jovens de aprender comigo coisas que poderiam aprender no teatro mesmo, por um dracma quando muito?

SÓCRATES – Meleto, tu dizes coisas verdadeiramente incríveis. Nem mesmo te pões de acordo contigo! Me parece, caros atenienses, que este Meleto é um insolente, que forjou esta acusação com o único intuito de insultar-me, com toda a audácia de um imberbe, porque, justamente, só veio ao tribunal a fim de testar-me e propor um enigma, dizendo-se a si próprio: Vejamos se Sócrates, este homem que se passa por tão sábio, reconhece que me contradigo e que digo coisas absurdas, ou se consigo enganá-lo, não só a ele como a todos os presentes! Efetivamente, contradizes-te em tua acusação, porque é como se tu dissesses: Sócrates é réu; primeiro, porque não reconhece deuses; segundo, porque os reconhece! Não seria isto mangar dos outros? Pelo menos eu creio que sim. Atenienses, suplico-vos que não vos irriteis comigo, se falo de forma tão simplória. Responde mais isto, Meleto. Há alguém no mundo que crê na existências de coisas humanas mas não na existência de homens?… Juízes, mandai que ele responda, e que deixe de murmurar tanto!… Há quem acredite haver regras para domar cavalos, e que não haja cavalos? Que há tocadores de flauta e que não há som de flauta? (…) há alguém que ao mesmo tempo creia nas coisas dos demônios, e que, no entanto, creia que não há demônios?

MELETO – Não, sem dúvida.

SÓCRATES – Que trabalho custou-me arrancar-te esta confissão! Respondeste-me, mas não sem que os magistrados a isso te obrigassem!”

SÓCRATES – E estes demônios, não estamos convencidos de que são deuses ou filhos de deuses? É assim, sim ou não?

MELETO – Sim.”

…E se os demônios são filhos dos deuses, filhos bastardos, que seja, pois o que dizem é que são filhos de deuses com ninfas ou de deuses com homens quaisquer, diz-me, quem é o homem capaz de crer que há filhos de deuses, mas que não há deuses? Seria como acreditar que há mulas e jegues mas que não há cavalos nem asnos!”

Talvez alguém objete: Não tens remorso, Sócrates, de te haveres consagrado a um estudo que te põe neste momento em risco de morte?

Meu filho, se vingares a morte de Pátroclo, teu amigo, matando a Heitor, tu morrerás, porque tua morte deve seguir à de Heitor.”

É uma verdade constante, atenienses, que todo homem que escolheu um posto que tenha crido honroso, ou que foi-lhe imposto por seus superiores, deve se manter firme, e não deve temer nem a morte, nem o que há de mais terrível, antecipando-se a todo o horror.

Conduzir-me-ia de uma maneira singular e estranha, atenienses, se depois de ter guardado fielmente todos os postos a que me destinaram nossos generais em Potidéia, em Anfípolis e em Délio(*) [não confundir com Delos] e de ter arriscado minha vida tantas vezes, agora que o deus me ordenou passar meus dias no estudo da filosofia, estudando-me a mim mesmo e estudando os demais, abandonasse este posto por medo da morte ou de qualquer outro perigo. (…) Porque temer a morte, atenienses, não é outra coisa senão se crer sábio sem o ser, e crer conhecer o que não se conhece. Com efeito, ninguém conhece a morte, nem sabe se é o maior dos bens para o homem.

(*) Sócrates se distinguiu por seu valor nos dois primeiros lugares, e na batalha de Délio salvou as vidas de Xenofonte e Alcibíades, seus discípulos.”

Se me dissésseis: Sócrates, em nada estimamos a acusação de Anito, e te declaramos absolvido; mas só à condição de que cessarás de filosofar e de fazer tuas indagações de costume; e se reincidires, e se se chegar a descobri-lo, tu morrerás. Se me désseis a liberdade sob estas condições, responder-vos-ia sem hesitar: Atenienses, respeito-vos e amo-vos; mas obedecerei a deus antes que a vós, e enquanto eu viver não cessarei de filosofar, dando-vos sempre conselhos, retomando minha vida ordinária, e dizendo a cada um de vós quando vos encontrasse: – Bom homem, como, sendo ateniense e cidadão da maior cidade do mundo por sua sabedoria e por seu valor, como é que não te envergonhas de não haveres pensado senão em amontoar riquezas?

Toda minha ocupação se resume em trabalhar para persuadir-vos, jovens e velhos, de que antes do cuidado com o corpo e com as riquezas, antes de qualquer outro cuidado, vem o da alma e seu aperfeiçoamento”

Fazei o que pede Anito, ou não o façais; dai-me a liberdade, ou não ma deis; eu não posso fazer outra coisa, ainda que houvesse de morrer mil vezes… Mas não murmureis, atenienses, e concedei-me a graça que vos pedi ao princípio: escutai-me com calma. Calma que creio não resultar infrutífera; fato é que tenho de dizer-vos outras muitas coisas que, quiçá, far-vos-ão murmurar. Mas não vos deixeis levar pela paixão. Estai persuadidos de que se me fizerdes morrer com base no que acabo de declarar-vos, o mal não será só para mim. Com efeito, nem Anito nem Meleto podem causar-me mal algum, porque o mal nada pode contra o homem de bem. Far-me-ão condenarem-me à morte, é certo, ou quiçá ao desterro, ou à perda dos meus bens e dos meus direitos de cidadão”

condenar-me seria ofender o deus e desconhecer a dádiva que vos foi regalada. Morto eu, atenienses, não encontraríeis facilmente outro cidadão que o deus conceda a esta cidade – sim, sei que esta comparação vos soará ridícula e prepotente –, como se diz de um corcel nobre e generoso, porém entorpecido por sua nobreza, e que tem necessidade da espora, de ser excitado, constrangido e despertado para o bom comportamento. Figura-se-me que sou realmente aquele que deus escolheu para excitar os atenienses e retificá-los, atiçá-los, fustigá-los, espetá-los, cuidar de vós, numa só palavra, jamais abandonar-vos, nem um só instante!”

Que resultará disso, amigos? Passareis o resto da vida dormentes, profundamente insensíveis, a menos que o deus tenha compaixão de vós e vos envie um outro homem que se pareça comigo. (…) Há um quê de sobre-humano no fato de eu ter abandonado durante tantos anos meus próprios interesses a fim de me consagrar aos vossos, dirigindo-me a cada qual de vós, como se fôra um pai ou um irmão mais velho, como só um destes poderia fazer… exortando-vos sem descanso a que praticásseis a virtude.”

ZARATUSTRA II (OU ZARATUSTRA ZERO): “Talvez pareça absurdo que eu me tenha intrometido a dar lições a cada um em particular, e que jamais me tenha atrevido a me apresentar em vossas assembléias, para dar meus conselhos à pátria. Quem mo impediu, atenienses, foi este demônio familiar, esta voz divina de que tantas vezes vos falei, e que serviu a Meleto para formar admiravelmente um capítulo da acusação. (…) Essa voz é a que sempre se me opôs, quando quis mesclar-me nos negócios da república”

É preciso, de toda necessidade, que aquele que quiser combater pela justiça, por pouco que queira viver, seja tão-somente um simples particular e não um homem público.”

é impossível que eu deixe de ser vítima da injustiça.”

Já sabeis, atenienses, que nunca desempenhei nenhuma magistratura, e que fui tão-somente senador. A tribo de Antioquia, à qual pertenço, ocupava seu turno no Pritaneu quando, contra toda a lei, vos empenhastes em processar um dos dez generais que não haviam enterrado os corpos dos cidadãos mortos no combate naval das Arginusas; injustiça, reconheceis hoje, porque arrependestes-vos.¹ Fui eu o único senador que se atreveu a opor-se a vós a fim de impedir a violação das leis. Protestei contra vosso decreto, e apesar dos oradores que estavam prestes a denunciar-me, apesar de vossas ameaças e vitupérios, preferi correr este perigo ao lado da lei e da justiça que consentir convosco em tão insigne iniqüidade, sem que me impedissem nem os grilhões nem a morte.

Isto se deu quando a cidade era governada pelo povo, porém já depois que se estabeleceu a oligarquia (decadência dos costumes): havendo-nos mandado os Trinta tiranos que outros quatro e eu fôramos a Tholos(*) para um assunto, comunicaram-nos uma ordem: prender Léon de Salamina para a execução. Os Trinta davam este tipo de comando à toa, a muitas pessoas, a fim de comprometer o maior número de cidadãos o possível em seus crimes e calamidades. (…) Mas vede: todo o poder destes Trinta tiranos, por maior que fôra, não me intimidou. Não foi o bastante para turvar meu juízo ou fazer-me desobedecer à lei justa.

Assim que saímos de Tholos, dirigiram-se os outros 4 a Salamina, e mataram León. Eu voltei a minha casa. Não duvideis de que minha morte teria sido ordenada em muito pouco tempo caso naquele momento mesmo não tivesse sido abolido tal governo. Existe um grande número de cidadãos capazes de testemunhar a meu favor.

Credes que eu haveria de viver tantos anos se me mesclara ainda mais do que nestas ocasiões nos negócios da república? Se, como homem de bem, houvera combatido toda e qualquer classe de interesse bastardo, dedicando-me exclusivamente à defesa da suprema justiça? Esperança vã, atenienses! Nem eu nem nenhum outro houvera podido fazê-lo. Mas a única coisa a que me propusera em toda minha vida pública e privada foi jamais ceder ante a injustiça, jamais ceder aos tiranos que meus caluniadores querem agora convencer-vos de que são meus discípulos! (…) como meu ofício não é mercenário, não me recuso a discursar, ainda que sem a menor das retribuições; e estou sempre disposto, seja com ricos ou com pobres, a dedicar todo o tempo àquele cidadão que queira me fazer perguntas, e, se o prefere, a fazer-lhe eu mesmo as perguntas que ele queira responder, ou as que ele deseja que eu pergunte de todo o coração. E se, dentre estes que questionei, há alguns que se tornaram homens de bem ou pícaros, nem por isso devo ser exaltado ou censurado. Porque não sou eu a causa. Nunca prometi ensinar coisa alguma a ninguém.

¹ Atenas, além de ter vencido a batalha de Arginusa contra Esparta, não tinha como enterrar soldados mortos como náufragos, cujos cadáveres afundaram em alto-mar!

(*) “Sala de despacho dos Pritaneus, prítanes ou senadores – P.A. / Vestígios dessa câmara, uma sala redonda, foram escavados por arqueólogos em tempos recentes. – A.P.V.”

Como já vos disse, foi o deus mesmo quem me deu esta ordem, através dos oráculos, sonhos e outros meios de que se vale a divindade quando quer que os homens saibam qual é a sua vontade.”

Não desejo contar com a proteção dos que ‘corrompi’, porque poderiam ter razões para defender-me com unhas e dentes; mas seus pais, que não seduzi e que têm já certa idade, que outra razão podem ter para querer me proteger, senão minha inocência?”

tenho parentes e tenho três filhos, dos quais o maior está na adolescência e os outros dois na infância, e no entanto, não os farei comparecer aqui para vos comprometer a absolver-me.”

muitos que vi, que passavam por grandes personagens, agiam com uma baixeza surpreendente quando se tornavam réus de um julgamento, como que persuadidos de que seria para eles um grande mal se lhes arrancassem a vida, e de que se tornariam imortais caso viesse a sonhada absolvição. Repito que, obrando assim, só poderiam cometer uma afronta a Atenas, pois fariam com que os estrangeiros cressem que os mais virtuosos dentre nós, os favoritos e os mais dignos de louvor, em nada se diferenciavam, no fundo, de mulherzinhas miseráveis. Isso é o que não deveis absolutamente fazer, atenienses, vós que houvestes alcançado tanto renome. Se quiséramos fazê-lo, nós, grandes personagens, estais obrigados, vós magistrados, a impedir-nos, e declarar que condenareis ainda mais depressa àquele que recorrer a estas cenas trágicas para mover os juízes por compaixão, ridicularizando nossa polis. Aquele que esperar tranqüilamente vossa sentença, com efeito, demorará mais a morrer.”

* * *

não esperava ver-me condenado por tão escasso número de votos.”

(*) “A lei permitia ao acusado condenar-se a uma destas três penas: prisão perpétua, multa ou desterro. Sócrates não caiu nesta armadilha.”

Dito isto, de que sou eu merecedor? De um grande bem, sem dúvida, atenienses, se é que recompensais verdadeiramente o mérito. E que é que convém a um homem pobre, vosso benfeitor, e que tem necessidade de uma grande concessão e tolerância a fim de se ocupar exclusivamente em exortar-vos? Nada convém-lhe tanto, atenienses, quanto ser alimentado no Pritaneu, o que é-lhe muito mais devido que àqueles dentre vós que ganharam as corridas de charrete nos jogos olímpicos; porque estes, com suas vitórias, fazem que pareçamos mais felizes; eu, eu os faço, não em aparência, mas verdadeiramente, mais felizes. Acresce que os atletas de renome não carecem deste tipo de socorro – o sustento alheio –; por outro lado, eu dele necessito.”

Se tivésseis uma lei que ordenasse que um julgamento de morte durasse muitos dias, como se pratica noutras partes, estou convencido de que vos convenceria de minha inocência. Mas como hei de destruir tantas calúnias num espaço de tempo tão curto? Tenho a mais absoluta certeza que nada fiz de mal a ninguém. Como hei de fazê-lo a mim mesmo, pois, confessando que mereço ser castigado, impondo-me a mim mesmo uma pena? Por não ter de sofrer necessariamente o suplício a que me condena Metelo, suplício que, verdadeiramente, não sei se é um bem ou um mal, iria eu optar, em detrimento da pena capital, por uma dessas penas ditas ‘menores’, que tenho certeza que são realmente males? Condenar-me-ei eu, inocente, a alguma delas? Seria cabível uma prisão perpétua? E que significa viver, sendo eterno escravo dos Onze?(*) Será justo o confinamento até que pague eu a multa estipulada? Isto equivale à pena de prisão perpétua, pois que não tenho com que pagar a multa. Condenar-me-ei ao desterro? Era preciso que eu fosse obcecado pelo ‘estar vivo’, queridos atenienses, se não percebesse que, se vós, meus concidadãos, não mais suporteis meus hábitos e conversações nem minhas máximas, havendo-vos irritado a ponto de levar vosso ódio e repulsa às últimas conseqüências, com muito mais razão os homens de outros países não poderiam em absoluto suportar-me! Preciosa vida para Sócrates, se a esta idade, expulso de Atenas, se visse errante de cidade em cidade como um vagabundo e como um proscrito! Sei muito bem que, aonde quer que eu vá, os jovens me escutarão, como me escutam os de Atenas; mas se os rechaço eis que rogarão a seus pais que me desterrem; e, se não os rechaço, eis que seus próprios pais e parentes, sem nenhum rogo, se apressarão em arrojar-me da cidade ainda mais depressa!

(*) “O número de magistrados encarregados de vigiar as prisões.”

O quê, Sócrates, se fores banido não poderás manter-te em repouso e guardar silêncio? (…) se vos digo que calar no meu exílio seria o mesmo que desobedecer a Deus, e que por esta razão me é impossível guardar silêncio, não me creríeis, decerto, e entenderíeis isto como ironia!

uma vida sem avaliação moral não é vida”

Verdadeiramente, se fosse eu rico, condenar-me-ia a uma multa tal que pudesse pagá-la, porque isto não me causaria nenhum prejuízo; mas não posso, porque nada tenho, a menos que queirais que a multa seja proporcional a minha indigência, e neste particular poderia ela se estender no máximo a uma mina de prata, pois é a isto que me condeno.”

(Havendo-se Sócrates condenado a si mesmo à multa por obedecer à lei, os juízes deliberaram e o condenaram à morte…)”

E para agravar vossa vergonhosa situação, sabeis que os estrangeiros me chamarão sábio, ainda que eu não o seja! No lugar deste gravame para vós, poderíeis muito bem ter agido com mais paciência, pois minha morte adviria naturalmente. Alcançaríeis da mesma forma vosso objetivo, pois vede: na idade em que estou, já não disto muito da morte.”

Não são as palavras, atenienses, aquilo que me faltara; é a impudência de não vos haver dito aquilo que gostaríeis de ouvir. Teria sido para vós uma grande satisfação o haver-me visto lamentar, suspirar, chorar, suplicar e cometer todas as demais baixezas que estais vendo todos os dias dentre outros acusados.”

Sucede amiúde nos combates que pode-se salvar a própria vida com muita facilidade, depondo as armas e pedindo asilo e clemência ao inimigo, e o mesmo sucede em todos os demais perigos; há mil expedientes utilizáveis para evitar a morte. Quando alguém está em liberdade para escolher suas ações ou seu discurso, é realmente fácil. Ah, atenienses! Não é evitar a morte que é difícil, mas evitar a desonra, que se aproxima muito mais ligeira que a morte!

Ó vós, que me houvestes condenado à morte! Quero predizer-vos o que vos sucederá, porque me vejo naqueles instantes, quando a morte se aproxima, em que os homens são capazes de profetizar o futuro. Vo-lo anuncio: vós que me matais agora, vosso castigo não tardará, quando eu houver finalmente morrido, e será, por Zeus!, mais cruel que o castigo que me impusestes! Ao desfazer-vos de mim, só houvestes tentado em vão descarregar-vos do importuno peso da prestação de contas de vossa existência, mas vos sucederá tudo ao contrário, vo-lo predigo!”

se credes que basta matar alguém para impedir que outros vos denunciem e joguem na cara que viveis pessimamente, vos enganais de forma terrível. Esta maneira de libertar-vos de vossos censores não é decente nem sequer possível. A melhor maneira, ao mesmo tempo decente e muito simples, é, no lugar de calar os homens, fazer-vos pessoas melhores.”

Com respeito a vós que me absolvestes com vossos votos, ó, atenienses! Conversarei convosco com o maior prazer, no intervalo de tempo entre meu encarceramento e os preparativos dos Onze. Concedei-me, suplico-vos, um momento só de atenção, nesta oportunidade, pois nada impedirá que conversemos juntos; haverá tempo de sobra. Quero dizer-vos, como amigos que sois, antes disso, só uma coisa que acaba de suceder-me, e explicar-vos o que significa. Sim, meus juízes (e, chamando-vos desta maneira, não me engano no nome!), sucedeu-me hoje uma coisa muito maravilhosa. A voz divina de meu demônio familiar que me fazia advertências tantas vezes, e que às menores ocasiões não deixava jamais de separar-me de todo o mal que possivelmente viesse a empreender, hoje, que me sucede o que vós vedes, e que a maior parte dos homens tem pelo mal supremo, esta voz não me disse nada, nem esta manhã, enquanto saía de casa, nem quando cheguei ao tribunal, nem após começar a discursar a vós. E todavia muitas vezes me sucedeu ser interrompido em meio a minhas conversações por esta ‘voz’! Hoje a nada meu gênio interior se opôs, em nenhum momento de minha fala ou de minhas ações. Que quer dizer isso? Vou dizê-lo! São fortes indícios de que o que me sucedeu é um grande bem”

É preciso que de duas uma: ou que a morte seja um aniquilamento absoluto e uma privação de todo sentido, ou, como se diz, que seja um trânsito da alma de uma paragem para outra. Se é a privação de todo sentido, um sono pacífico que não é turvado por nenhum sonho, que maior vantagem poderia apresentar a morte? (…) Se a morte é semelhante coisa, chamo-a com razão de um bem; porque então o tempo todo inteiro não é mais que uma longa noite.

Mas se a morte é um trânsito de um lugar para outro, e se, segundo se diz, lá embaixo está o paradeiro de todos os que um dia viveram, que maior bem, outrossim, é possível imaginar, ó meus juízes? Porque se, ao deixar os juízes prevaricadores deste mundo, encontramos no Hades os verdadeiros juízes, que se diz que fazem, ali sim, justiça, Minos, Radamanto, Éaco, Triptólemo e todos os demais semideuses que foram justos em vida, não é esta a mudança mais feliz que há? A que preço não compraríeis a felicidade de conversar com Orfeu, Museu, Hesíodo e Homero? (…) Que transporte de alegria não teria eu assim que me encontrasse com Palamedes, com Ájax, filho de Telamon, e com todos os demais heróis da antiguidade, que foram vítimas da injustiça? Que prazer o poder comparar minhas aventuras com as suas! Mas ainda seria um prazer infinitamente maior para mim passar ali os dias, interrogando e examinando e avaliando todos estes personagens, para distinguir os verdadeiramente sábios dos que apenas crêem sê-lo e não o são (os torpes). Há alguém, juízes meus, que não daria tudo aquilo que possui neste mundo para poder examinar em pessoa aquele que conduziu um vasto exército contra Tróia? Ou Ulisses, ou Sísifo, ou tantos outros, homens, mulheres, cuja conversação e avaliação moral seriam de um júbilo inexprimível? De fato é uma recompensa que não traz qualquer prejuízo! Ali entraríamos em contato com os mais felizes e os únicos que gozam de fato da imortalidade, se havemos de crer no que diz o vulgo.”

Eis, em suma, por que a voz divina nada me dissera neste dia. Não guardo nenhum rancor contra meus acusadores, nem contra os que me condenaram. (…) Um favor, apenas, peço-vos: Quando meus filhos houverem crescido, suplico-vos que os fustigai, os atormentai, como eu vos atormentei, no caso de que eles prefiram as riquezas à virtude, e de que se creiam algo quando nada são! Não deixeis de vexá-los bastante, se eles deixarem de se aplicar naquilo em que devem se aplicar, imaginando que são aquilo que não são!

Mas já é tempo de que nos retiremos daqui, eu para morrer, vós para viverdes. Entre vós e eu, quem leva a melhor parte? Isto é o que ninguém sabe, exceto Deus.”

AS LEIS – Livro XII

Tradução comentada de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei oportuno abordar pontos polêmicos ou obscuros. Quando a nota for de Azcárate, um (*) antecederá as aspas.

em nada devem nossos cidadãos se exercitar tanto, desde a tenra infância, em tempos de paz, como na aquisição deste hábito, aprendendo uns a mandar e outros a obedecer. É preciso desterrar o sentimento de independência das relações da vida, não só entre os homens, mas também entre os animais submetidos ao homem.”

Com o mesmo fim em vista é necessário acostumar-se a sentir fome, sede, frio, calor, deitar na cama dura, evitar enfaixar a cabeça e os pés, superprotegendo-os, tornando os cabelos e a pele inúteis; sendo que a natureza no-los deu a fim de proteger essas partes sem ajuda de outros artifícios. Porque, como estão situados nos extremos do corpo, influem sem dúvida, cabeça e pés, na boa ou má disposição, segundo se achem em bom ou mau estado. Os pés foram feitos, mais que qualquer outro membro, para obedecer o corpo, assim como a cabeça foi feita para mandar, afinal nela a natureza colocou todos nossos principais sentidos.”

Se, conduzido a sua tenda, desarmado, Pátroclo houvesse dado algum sinal de vida, como já sucedeu a inumeráveis guerreiros vencidos em combate, ao mesmo tempo que as mesmas armas do filho de Peleu se encontravam em poder de Heitor, todos os covardes que havia no exército grego teriam tido ocasião de culpar Menécio pela perda de suas próprias armas. Outros há que perderam sua espada e escudo por terem se aventurado precipitadamente em terrenos escarpados, ou por combaterem com demasiado vigor nos mares, ou quando arrastados de sua embarcação pela tempestade, ao caírem n’água e serem arrebatados por correntes agitadas, ou, enfim, noutras mil circunstâncias as quais poderiam ser usadas para justificar esta grave perda, que é motivo de muita difamação e às vezes de calúnia entre os cidadãos, quando exagera-se o efetivamente acontecido.” Para o grego desta época, era pior voltar de um combate vivo e desarmado do que morrer em batalha.

É impossível ao homem transformar uma coisa no seu contrário como fizeram noutros tempos os deuses, como no caso, p.ex., de Ceneu o Tessálio, que foi transformado pelos deuses de mulher em homem. E, não obstante, se a metamorfose inversa a esta pudesse acontecer (a de homem em mulher), tal seria, de todos os castigos, o mais óbvio para um guerreiro que perdesse suas armas em combate.”

Pode acontecer que os magistrados, esmagados pelo peso do próprio cargo, sem forças para manter a convicção e a correção, sentenciem de modo injusto ou cometam algo que não lhes seria adequado; por difícil que seja encontrar este homem, é necessário ao Estado investir alguém no cargo de supervisor da conduta dos magistrados, alguém dotado de uma virtude superior. Estes caracteres verdadeiramente divinos devem ser descobertos pelo Estado para que dêem sua parcela de contribuição.” “Somente estes, dentre todos os cidadãos, farão jus a usar uma coroa de laurel. Serão todos sacerdotes de Apolo e do Sol, e a cada ano se elegerá para grande sacerdote o mais digno dentre os sacerdotes do ano anterior. Seu nome será inscrito nos anais e servirá para contar o número de anos enquanto o Estado subsistir.”

Quando hoje se julga um processo, o legislador [não teria querido dizer juiz?], se possui intuição, sensibilidade e experiência, não exigirá das partes nenhum juramento. Obrigará, tão-somente, a parte acusadora a que ponha por escrito, de modo singelo, os tópicos da acusação; e a parte defensora a que produza da mesma forma suas provas. Seria um desastre se, tendo em vista a quantidade de processos que são suscitados num Estado, não pudéssemos jamais duvidar das acusações que ali são feitas; pois significaria que pelo menos metade da polis é perjura. E mesmo aqueles que não são réus formais comem com os culpados, coabitam e coexistem com eles sem nenhum problema ou peso na consciência!”

os juízes não consentirão de maneira alguma que se façam juramentos vãos na tentativa do depoente de dar mais crédito às próprias palavras. Também não será permitido dirigir imprecações contra os magistrados e as famílias dos magistrados, nem que os depoentes se degradem em súplicas indecorosas e em lamentações mulheris”

O efeito natural do comércio freqüente entre habitantes de diversos Estados é introduzir uma grande variedade nos costumes, pois relações de povos estrangeiros entre si sempre acarretam o surgimento de novidades e modas. Este é o maior mal que pode experimentar o Estado governado por leis sábias.”

é indiferente passar-se por homem de bem ou não perante as demais nações; porque os homens maus e viciosos se encontram tão longe de se enganar quanto à noção que têm da virtude quanto os homens bons; não é porque não se pratica a virtude que não se conhece a virtude. Há nesses tipos tratantes um não-sei-quê de perspicácia acima da média. Mesmo que afundados nos maus costumes, discursam belamente e formam um juízo exato do que é que separa homens de bem dos homens que não são bons.”

não será permitido a nenhum cidadão com menos de 40 anos viajar ao estrangeiro. E, aliás, que absolutamente ninguém viaje por conta própria, por turismo e curiosidade, mas sempre com incumbências públicas, em nome do Estado, na qualidade de heraldo (mensageiro), embaixador ou simples observador. Mas que não se contem entre as viagens as correrias e expedições militares, porque não o são. Serão eleitos os melhores cidadãos para assistir aos sacrifícios e aos jogos que se realizam longe da polis. Na Pítia quando em honra de Apolo, em Olímpia quando em honra de Zeus, na Neméia e no Istmo (Corinto) em honra a outros deuses do Olimpo. Como nestas ocasiões outros povos terão contato com o nosso, seria inconcebível que fossem eleitos cidadãos não-virtuosos, que nos causassem vergonha e arruinassem nossa reputação ao nos representar. Pois nestas assembléias graves, consagradas à celebração da religião e da paz, deve-se ter uma elevada idéia de nossa república.”

E essas espécies de embaixadores, quando estiverem de regresso à pátria, farão saber a nossa juventude quão ruins são as leis das demais nações, muito inferiores as nossas.”

Encontram-se sempre, em meio à multidão, certos personagens divinos, ainda que raríssimos, nascidos em países civilizados ou não, sempre na mesma proporção nos dois casos, e a comunicação com este tipo de espírito é de valor inestimável.”

O observador, após deter-se em seu trabalho por um período máximo de 10 anos, ao voltar se apresentará ao conselho dos magistrados encarregados da inspeção das leis.” “Se não regressa nem melhor nem pior do que quando fizera a viagem de ida, o mínimo que se faz é agradecer-lhe o zelo pelo bem público.” “Se houvesse motivos para crer que tal embaixador voltara pior do que fôra, aparentando trazer novos conhecimentos que na realidade não tem, este cidadão seria proibido de se comunicar com os outros, jovens ou anciãos, indistintamente. Se então guardasse obediência a esta ordem dos magistrados, deixar-se-á que vivesse em nossa república, doravante como simples particular (não seria mais um cidadão). Mas se ficasse provado, no foro, que tentara introduzir mudanças na educação e nas leis após seu retorno do exterior, condenar-se-o-ia à morte.”

As oferendas mais divinas são as aves e as pinturas que um artista delas pode fazer um dia.”

Uma vez que o condenado tenha ofendido os juízes que o condenaram, os ofendidos o entregarão ao tribunal dos guardiães das leis; se condenado por mais este crime, merece morrer, posto que trata-se de atentado contra o Estado e as leis.”

ATENIENSE – (…) O vulgo imagina que aqueles que se dedicam, auxiliados pela astronomia e demais artes necessárias, à contemplação de objetos mundanos acabam por se fazerem ateus, porque por este método descobrem que tudo o que sucede no mundo real é obra da necessidade, e não dos desígnios da Providência, que tudo conduz ao sumo bem.

CLÍNIAS – Que pensas a respeito, caro Estrangeiro?”

MAGOADO COM ARISTÓFANES

ATENIENSE – (…) Todos os corpos celestes que velam com seus olhos lhes pareceram cheios de pedras, e terra e outras matérias inanimadas, às quais atribuíram as causas da harmonia universal. Vês tu que é daí que provêm tantas acusações de ateísmo, e isto desgostou muitas pessoas de estudarem os astros. Vês aí a origem das invectivas dos poetas, que compararam os filósofos aos cachorros, por fazerem ressonar seus argumentos como inúteis ladridos. Nada mais infundado que semelhantes injúrias; mas bem vês que hoje todos pensam ao contrário!

CLÍNIAS – Como pensam exatamente?

ATENIENSE – Não é possível que um mortal tenha piedade sólida a respeito dos deuses, caso não se convença da verdade daquilo de que falamos, a saber: que a alma é o mais antigo dos seres que existem via geração, ela é imortal e rege a todos os corpos. Além disso, como já disséramos, há nos astros uma inteligência que dirige a todos os seres.”

Começaremos pela eleição dos guardiães do Estado, obedecendo aos critérios: idade, nível de conhecimentos, caráter, conduta prática. O que deve saber um guardião da lei? Questão dificílima, posto que acima de nossas competências. Nem mesmo saberíamos fixar em lei, p.ex., o tempo prescrito para se começarem e para se concluírem os estudos de cada ciência indispensável a este cargo. Os próprios estudantes das especialidades das ciências não sabem, eles mesmos, nem podem saber, o tempo necessário para aprendê-las, a não ser que já tenham se tornado mestres.”

Amigos, como diz o provérbio, nada se fez ainda, e tudo está em nossas mãos; mas, se quisermos arriscar nossas vidas na empresa, a fim de obter, no jargão dos apostadores, seja o pior, seja o melhor dos mundos possíveis,¹ de nada devemos descuidar!”

¹ Optei por uma tradução mais conservadora e descontextualizada, embora Platão realmente mergulhe na metáfora do jogador na acepção de apostador, que, sem garantias, dá seu lance, faz sua jogada e espera pelo tudo ou pelo nada. No caso do texto que encontrei em Azcárate, a referência é ao uso dos dados, jogando-se 3 dados de 6 lados e somando-se o resultado: o número mínimo da jogada (jogada de muito azar) seria 3 (1×3), e o número máximo, ou jogada mais sortuda, seria 18 (6×3). Citar diretamente 3 e 6, como na versão em espanhol (talvez a grega), seria confuso para o leitor, pois não é uma referência muito direta. Mas mesmo “3 e 18”, graduando e facilitando o texto platônico, não faria muito sentido para quem não conhece o hábito dos jogos de azar, e que se jogam nessas ocasiões precisamente três dados, e não dois, nem quatro. Em suma, quem quer ganhar ou atingir a excelência, precisa ter coragem e se dispor à eventualidade da miséria e do fracasso totais. A ciência do Estado (das Leis, na época de Platão) não é uma ciência exata.

AS LEIS – Livro X

Tradução comentada de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei oportuno abordar pontos polêmicos ou obscuros. Quando a nota for de Azcárate, um (*) antecederá as aspas.

Com respeito às demais desordens, as mais graves são a libertinagem e os excessos da juventude. São de enorme impacto quando recaem sobre as coisas sagradas, e chegam ao cúmulo quando estas coisas sagradas interessam diretamente ao Estado, ou ao menos a uma tribo, facção ou classe relevante socialmente.”

CLÍNIAS – Estrangeiro, não crês que seja mais fácil dar provas cabais da existência dos deuses?

ATENIENSE – Que provas seriam essas?

CLÍNIAS – Em primeiro lugar, a terra, o sol e todos os astros; esta bela ordem que reina entre as estações; a divisão de anos e meses; e, por fim, o consentimento de todos os povos gregos e bárbaros, que reconhecem sem exceção a existência dos deuses.

ATENIENSE – Meu querido amigo, temo muito por vós o desprezo dessa gente má, porque dizer que eu tenha vergonha de vós é coisa que jamais se poderá afirmar. Não conheceis o que os faz pensar de maneira diferente dos demais. Credes que tem isto origem unicamente nas paixões desenfreadas e numa inclinação invencível ao prazer, e que é isto que empurra suas almas em direção à impiedade?

CLÍNIAS – A que outra causa haveríamos de atribuí-lo, Estrangeiro?

ATENIENSE – A uma que não podeis adivinhar e que deve ser desconhecida para vós que viveis separados do restante dos gregos.

CLÍNIAS – Qual é, diz-me!”

ATENIENSE – Temos em nossa Grécia um grande número de obras, tanto em verso quanto em prosa, que, pelo que ouço dizer, não são conhecidas entre vós, o que explica a bondade de vosso governo. As mais antigas dentre estas obras nos dizem, no assunto dos deuses, que a primeira coisa que existiu foram os céus e os demais corpos. Um intervalo de tempo depois, situam a geração dos deuses em si, contam-nos seu nascimento e o modo como se tratavam entre si. Se estes discursos são ou não, em certos pontos, de alguma utilidade para os ouvintes e leitores, trata-se de uma questão penosa de se responder, principalmente porque não vem de hoje.”

Vejamos nossos escritos modernos, e demonstremos em que sentido esses novos sábios são um manancial de mazelas. Eis o efeito produzido por seus discursos: quando, para provar que existem deuses, nós, vós e eu, apresentamos o sol, a lua, os astros, a terra como outros tantos deuses e seres divinos, os imbuídos da doutrina destes <neo-sábios> respondem: tudo isso é uma forma poética de descrever a terra e as pedras, que são incapazes de se imiscuir nos negócios humanos”

Estrangeiro, o sistema que acabas de expor é mui complicado de refutar, ainda quando sustentado por um autor somente; mal imagino como se o refutaria, havendo uma caterva de defensores destas idéias!”

Como pode alguém se ver premido a provar a existência dos deuses sem indignação? Aqueles que foram e são a causa presente da discussão em que vamos incorrer não deveriam merecer mais do que um olhar de esguelha e um compadecimento aborrecido.” “Quem haveria de ter paciência para instruir com calma semelhante gentalha, e começar de novo a ensiná-los, da estaca zero, que os deuses realmente existem?

filho meu, és jovem; com a devida idade mudarás tuas opiniões sobre muitas coisas e adquirirás outras contrárias às de hoje. Aguarda este dia, para aí sim te decidires sobre os maiores propósitos da vida. O que agora para ti não é de nenhuma consequência é de fato o que mais pode interessar ao homem: ter idéias exatas acerca da divindade, das quais depende todo o seu bem ou mal proceder. (…) nem tu nem teus amigos sois os primeiros a pensar como pensais acerca da existência dos deuses; em todos os tempos sempre houve dessas pessoas adoecidas, ora mais, ora menos. (…) te asseguro: nenhum dos que renegaram os deuses em sua juventude persistiu neste caminho até a velhice”

ATENIENSE – Alguns defendem que todas as coisas que existem, existirão e existiram devem sua origem umas à natureza, outras à arte e outras ainda ao acaso.

CLÍNIAS – E não têm razão?”

A arte, posterior a estes dois princípios a que deve sua existência e inventada por seres mortais como a arte mesma o é, deu origem, muito tempo depois, a essas maquinações vãs, que possuem quando muito rasgos de verdade, meras aparências semelhantes somente a si próprias. Nesta categoria se encontram as pinturas, a música e as demais artes emulativas. Se há artes cujas produções são mais concretas, estas são as que unem sua virtude especial às da natureza, artes compósitas, como a medicina, a agricultura e a ginástica. A política mesma tem pouco de comum com a natureza, sendo quase todo seu conteúdo emprestado das artes.”

Com respeito aos deuses, alegam que não existem por obra da natureza, mas sim pelas mãos do homem, graças às artes e a certas leis; que aqueles são distintos entre os distintos povos, adaptando-se aos costumes de cada povo; que o bom é uma coisa segundo a natureza e outra coisa segundo a lei; que, com respeito ao justo, ele não existe na natureza, mas que os homens, sempre divididos neste ponto, ditam sem cessar novas disposições acerca dos mesmos objetos de sempre; que estas disposições são a medida do justo enquanto forem observadas”

ATENIENSE – Todas as produções da natureza e a natureza mesma, segundo o falso sentido que eles dão a esse termo, são posteriores e estão subordinadas à arte e à inteligência. Mas esses filósofos não têm razão em entender pela palavra <natureza> a geração dos primeiros seres, e por primeiros seres os corpos; porque se chegamos a demonstrar que nem o fogo, nem o ar, nem o corpo foram engendrados primeiro, e sim a alma, não poderemos sustentar, com toda a razão, que a alma ocupa o primeiro lugar entre os seres, e que esta é a ordem estabelecida pela natureza? Mas a alma é anterior ao corpo, e se isto não provássemos não poderíamos seguir adiante!

CLÍNIAS – Sim, estrangeiro, com toda a razão.”

Como aquilo que é movido por outra coisa poderia ser princípio da mudança? Isso é impossível.”

ATENIENSE – Esta alma, seria única, ou haverá muitas? Eu respondo por vós que há mais de uma, sem designar menos de duas, uma benfeitora e outra com o poder de fazer o mal.

CLÍNIAS – Ó, perfeitamente!

ATENIENSE – Assim seja. A alma governa, pois, tudo o que existe no céu, na terra e no mar, mediante os movimentos que lhe são próprios, e que nós chamamos de vontade, exame, previsão, deliberação, juízo verdadeiro ou falso, alegria, tristeza, confiança, temor, aversão, amor, e mediante outros movimentos semelhantes, que são as primeiras causas eficientes, que, valendo-se dos movimentos dos corpos, como de outras tantas causas secundárias, produzem em todos os seres sensíveis o aumento e a diminuição (…), o branco, o negro, a brandura, o áspero, o doce e o amargo.”

Todo homem vê o corpo do sol, mas ninguém vê a alma de nenhum animal vivo ou morto. Mas há motivos para crer que esta classe de substâncias é por natureza imperceptível a todos os sentidos corporais, sendo visível somente para os olhos do espírito.”

não penses que o universo não existe para ti, mas que tu existes para o universo.”

Posto que estamos de acordo em que o universo está cheio de bens e males, de forma que a soma dos males sobrepuja a de bens, deve haver entre uns e outros uma guerra imortal, que exige uma vigilância extraordinária.”

Há homens que não reconhecem a existência dos deuses, mas que, tendo, por outro lado, um caráter naturalmente amigo da igualdade, têm ódio dos homens maus; por um certo horror à injustiça, que lhes é inato, seriam incapazes de cometer ações criminosas; evitam associar-se com os perversos e se unem com outros homens de bem.”

Que ninguém possua em sua casa altar particular; e que aquele que deseje fazer sacrifícios, que se dirija aos templos públicos; que as vítimas sejam entregues aos sacerdotes e sacerdotisas encarregados especialmente de velar pela pureza dos sacrifícios”

É coisa muito comum, sobretudo entre as mulheres, os doentes, os que correm algum perigo e se acham em apuros, ou, pelo contrário, entre os que tiveram alguma sorte extraordinária, consagrar e prometer aos deuses, aos gênios e aos filhos dos deuses. E o mesmo com as pessoas que dia e noite se espantam com fantasmas, as que relembram visões em seus sonhos, e que pensam remediar algo de mal erguendo capelas e altares. Enchem com eles todas as casas, todos os bairros, numa palavra, todos os lugares, estejam purificados ou não.”

A REPÚBLICA – Livro X – OU: DE QUE FORMA PLATÃO PARIU O CRISTIANISMO

Tradução de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei que devia tentar esclarecer alguns pontos polêmicos ou obscuros demais quando se tratar de leitor não-familiarizado com a obra platônica. Quando a nota for de Azcárate, haverá um (*) antecedendo as aspas.

Terei de dizê-lo, muito embora me penalize dirigir tais palavras contra Homero, por quem desde criança nutro o maior respeito e afeição, o que como que amortece minha língua neste momento; pois sem dúvida que Homero é o mestre e chefe de todos estes belos poetas trágicos, alvos principais de minha crítica. Persisto em meu desígnio, na certeza de que a reputação de um só homem não deve falar mais alto que a consideração que devemos ter para com a verdade.”

Muita vez são os míopes que percebem os objetos antes que os de vista aguda e penetrante.”

– Este maior de todos os artífices possui o talento não só de esculpir todos os móveis como também o de criar as obras da natureza, todos os seres vivos e, como direi, até se faz a si próprio! E não cessa aqui: faz a terra, o céu, os deuses, tudo o que há no céu e sob a terra, no Hades.

– Vejo que discorres sobre um artista verdadeiramente admirável!”

Querido Homero, se é certo que és um artista distanciado em três graus da Verdade, incapaz de fabricar outra coisa senão aparências (porque tal é a definição que demos do imitador); se ocupas, no lugar, a segunda ordem; se conheceste o que pode melhorar ou piorar os Estados e os particulares, diz-nos enfim: que Estado te deve a melhora da própria constituição (Esparta deve-o a Licurgo; numerosos Estados, grandes e pequenos, devem-no a tantos outros)? Que país fala de ti como de um sábio legislador e se vangloria de haver tirado proveito de tuas leis? A Itália e a Sicília evocam Carondas; nós temos Sólon; mas onde está o povo que clama <Homero!>?”

– Distinguiu-se por essas múltiplas invenções úteis nas artes ou nos demais ofícios que são próprios de um homem sábio, como se conta até de Tales de Mileto e do cita Anacársis?¹

– Nada disso se conta de Homero, Sócrates.”

¹ A respeito do segundo: http://remacle.org/bloodwolf/livres/anacharsis/table.htm.

Escuta, para depois julgar. Sabes que até os mais razoáveis, quando ouvimos recitar passagens de Homero ou de qualquer outro poeta trágico, em que se apresenta um herói angustiado, deplorando sua sorte num largo monólogo, prorrompendo em gritos e se dando golpes no peito, sabes, repito!, que naquele ato percebemos um vivo prazer, que deixamos nos embalar inadvertidamente, e exaltamos o talento do poeta que nos transporta com mais força a este estado.

– Sei-o bem; como não?

– E no entanto já pudeste observar que em nossas próprias desgraças presumimos o exato contrário: seria o ideal poder mantermo-nos firmes e tranqüilos, como convém à condição humana, abandonando às mulheres estas mesmas lamentações que aplaudimos no teatro!

– Sim, observei-o muito bem.

– Diz-me: será justo isso? Aprovar com entusiasmo em outros uma condição que não consentiríamos que se desse conosco mesmos? Envergonhando-nos se porventura nos assemelháramos a tais personagens, e, simultaneamente, gozando e celebrando – em vez de sentir repugnância! – quando se dá com terceiros?”

– …depois de haver conservado e até agravado nossa suscetibilidade mediante a contemplação dos maus alheios, é difícil moderar a sensibilidade conosco mesmos.

– Tens razão.

– Não diremos outro tanto acerca do cômico? Se tu manifestas um prazer excessivo em ouvir palhaçadas sobre o que em ti mesmo te envergonharia ao invés de produzir teu riso, mas que tratas como ridículo quando escutas vindo de uma terceira pessoa, deixando neste momento de detestar tais condutas como más, ainda que seja no teatro em vez de em meras conversas privadas acerca de entes conhecidos, todo o processo de identificação que se dá com as emoções patéticas¹ irá, seguro, se repetir. Ao desejo de fazer rir, antes reprimido pela razão, serão soltas as rédeas. Antes temias passar por bufão ou histrião, mas, agora, alimentados esse desejo e essa propensão para a comédia, eles se tornarão predominantes em tua alma! O início é mais hesitante, mas em breve o homem não terá qualquer resquício de pudor diante dos demais, até ver-se convertido num farsante de carteirinha. Um comediante profissional.

– E o pior é que estás coberto de razão, Sócrates!”

¹ Trágicas, sérias, graves, capazes de causar abalo ou comoção. Palavra de origem grega que se perverteu para nós.

em nosso Estado não podemos admitir outras obras de poesia além dos hinos aos deuses e das odes aos heróis”

procuraremos não recair na paixão que por ela (a poesia) sentimos em nossa juventude, e de cuja influência não se livra fácil o comum dos mortais”

– Pode se chamar <grande> aquilo que se passa num pequeno espaço de tempo? O intervalo que separa nossa infância de nossa velhice é bem curto comparado à totalidade do tempo.

– Com efeito pode-se dizer que nada é.

– E não crerias absurdo se um ser imortal se devotasse a contemplar e se preocupar com espaços de tempo tão efêmeros ao invés de dirigir seu olhar à eternidade?

– Crê-lo-ia absurdo. Mas a propósito de quê vem essa afirmação tão súbita?

Não sentes que nossa alma é imortal e que jamais perece?

Ao ouvir estas palavras, olhando-me atônito, disse:

– Não, por Zeus! Podes prová-lo?”

Se encontramos na natureza uma coisa a que um mal pode tornar miserável, embora não possa dissolver nem destruir, desde este instante não é factível assegurar que esta coisa não poderá perecer?” “Mas é evidente que uma coisa que não pode perecer nem por seu próprio mal nem por um mal estranho deve necessariamente existir para sempre!”

se o número de seres imortais se fizesse maior, esses novos seres se formariam daquilo que é mortal e se decompõe”

– Não me concederás também que o homem, querido pelos deuses, só deveria esperar deles bens, mas que às vezes recebe males como expiação de faltas cometidas em vidas passadas (muitas delas não-humanas)?

– Assim o creio.”

E quanto aos injustos, defendo que, ainda quando desde muito tenros já tenham aprendido a dissimular o que são, na sua maior parte acabam por desvelar sua natureza hora ou outra até o final de suas vidas; os injustos, em geral, colhem na velhice o ridículo e o opróbrio que plantaram durante toda a vida (…) afirmo que serão açoitados e submetidos ao tormento; numa palavra, imagina-te que escutas de minha boca todos os gêneros de suplício concebíveis.”

Não vou contar uma estória de Alcínoo, que é comprida e maçante.¹ É a simples história dum homem puro de coração, Er o Armênio, originário da Panfília.² Dez dias após uma batalha cruel e sangrenta, onde encontraram pilhas de cadáveres, o seu era o único intacto pela ação do tempo. Conduzido a seu lar para as cerimônias fúnebres, ao décimo segundo dia, já prestes a ser deposto nas chamas, o destino de todos os defuntos, volveu à vida de repente, e referiu aos circunstantes tudo o que havia visto <do outro lado>. Segundo Er, no momento em que sua alma saiu do corpo, juntou-se a uma infinidade de outras almas em um sítio fantástico; havia duas aberturas na terra e mais duas no céu, neste lugar, estas alinhadas com aquelas, de modo que pareciam possuir alguma relação. Entre os dois pares estavam sentados vários juízes. Assim que pronunciavam sua sentença, os juízes mandavam os justos seguirem por uma das vias que conduziam ao céu, à direita, não sem antes marcar suas costas com uma insígnia que confirmava seus destinos bem-aventurados; os injustos, por sua vez, eram obrigados a seguir à esquerda, por uma das vias telúricas, e também recebiam um selo, desta feita condenatório. Nele, registravam-se todas suas más ações. Quando chegou a vez de Er ser julgado, de súbito os juízes mudaram de idéia, e decidiram que era preciso que alguém retornasse e levasse aos vivos as notícias do que se passava neste além-mundo, e ele fôra o escolhido. Comandaram que passasse mais tempo por ali, escutando e observando atentamente tudo o que acontecia ao seu redor. (…) Er viu que das segundas aberturas (pois, lembre-se, havia duas aberturas para cada destino desta viagem, mas só a primeira de cada par era usada para os que se iam após o julgamento) voltavam outras tantas almas, umas das profundas, outras do paraíso (…) Estas almas que estavam de regresso se detinham no caminho para conversarem calmamente entre si, referindo sua jornada, parecendo peregrinos numa feira, que se reviam depois de uma longa pausa. As que vinham da estrada da terra se exprimiam com gemidos e lamúrias, despertados pela recordação de mil anos, o tempo total que passavam no refúgio subterrâneo. As que vinham do retiro celeste só tinham deleites e prazeres para narrar. (…) Er escutou um diálogo que lhe chamou a atenção: contavam o destino de Ardieu, célebre tirano panfiliano do milênio anterior. Ardieu matara seu próprio pai, já bastante idoso, bem como seu irmão mais velho, sem falar que cometera muitos outros crimes aberrantes e atrozes. <Ele não volta, nem hoje e nem nunca!>, é o que se disse a seu respeito. (…) Acudiram alguns homens selvagens, que pareciam feitos de fogo. De imediato conduziram, por coerção, algumas das almas presentes, as piores dentre elas. Ardieu estava entre elas. Seus pés e suas mãos foram amarrados, e a cabeça imobilizada. Depois de derrubados brutalmente, foram esfolados em castigos contínuos, em seguida arrastados para fora da trilha, sobre urzes, que logo se conspurcaram de sangue. Os <homens de fogo> explicaram às almas que apenas testemunhavam aquele tratamento o porquê deste suplício direcionado às almas criminosas incorrigíveis; contaram também que após esta série de sofrimentos elas seriam arremessadas no Tártaro, o abismo do Hades.”

¹ Odisséia, Capítulos 9 a 12.

² Na Ásia.

A virtude não tem dono. Cada qual participa dela conforme a honra ou a despreza. Cada qual é livre para agir, porque Deus é inocente.”

Diz-se que a alma de Orfeu escolhera reencarnar como cisne devido ao rancor e ódio que nutria pelas mulheres, que o chacinaram na outra vida. Orfeu tinha horror à idéia de ser engendrado de novo em um útero de mulher. Diz-se também que a alma de Tamiras escolheu reencarnar como rouxinol. Diz-se também que uma alma de cisne optou por voltar na forma de humano, bem como muitos outros animais cantores. Outra alma, após o fim da última vida, escolheu a condição de leão na próxima. E sabem quem era esta alma? Ájax, filho de Telamon. Pesaroso das guerras armadas entre os homens, recusou-se obstinadamente a repetir a vida de guerreiro. Dizem também que a alma de Agamêmnon, igualmente dissaborosa quanto à existência humana depois de todas as desgraças que lhe sobrevieram neste mundo, optou por reencarnar como águia.”

(*) “Epeu, filho de Panopeu, foi quem construiu o cavalo de madeira que os aqueus usaram para invadir Tróia.”

Como eu referira, havia almas de animais que foram promovidas a humanos, ou promovidas ou rebaixadas a outras espécies animais, segundo a vida que viveram; os animais injustos reencarnavam como animais selvagens; os justos, como animais domésticos.”

Fim da série de traduções d’A República.

PÉROLAS DO X-TUDO – Capítulo I

Antes de ser o Seclusão Anagógica, o blog era o X-TUDO (2005-2016), onde eu escrevia, quase que literalmente, sobre tudo. Uma omelete lingüística efervescente, com um pouco de cada coisa comestível dentre os ingredientes. Nesta série chamada “Pérolas do X-Tudo”, que resolvi iniciar hoje, revisitarei criticamente algumas das minhas postagens mais antigas, indicando erros crassos e mudanças de percepção que sofri de lá pra cá, em mais ou em menos detalhes (hoje eu fui bem prolixo, vejam abaixo). Notar que enquanto escrevo estas linhas tenho a idade de 31 anos. Infere-se daí que alguns dos textos que ainda planejo que figurem no Seclusão neste série “Pérolas” foram escritos na minha adolescência e durante minha formação filosófica “primeira”, no que devemos ser indulgentes comigo mesmo quanto ao conteúdo que encontrarmos (hehe!).

Fonte original do material de hoje: http://xtudotudo6.zip.net/arch2008-03-01_2008-03-31.html (DICA: use a ferramenta Control + F para localizar o excerto original!)

março de 2008

“Contrariando Kant, a estética não é um juízo independente. Vincula-se totalmente à Política e à Economia, ao modo como um povo emprega sua razão – e cada movimento histórico-intelectual tem sua beleza: que outra ordem das coisas seria suficiente para explicar o impulso modernista em seu cume nazista? Obviamente uma deturpação (heideggeriana) do astuto Nietzsche, da Estética do mesmo.” [negrito, sublinhados e itálico em 17/07/19)

COMENTÁRIOS (17/07/19):

OS ERROS E ACERTOS DE KANT, A RESSURREIÇÃO PÓS-PLATÔNICA DA TEORIA DA ARTE & ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O CONFUSO SÉCULO XX

 

            Eu não conhecia a teoria estética de Immanuel Kant diretamente. Ela não é oposta à de Nietzsche; tampouco eu tinha lido qualquer texto de Heidegger, salvo, talvez, a essa altura, “Por que antes existe algo em vez do nada?” (título aproximado de um artigo). A parte “desprezível” da filosofia de Kant, de um ângulo da “vontade de potência”, desprezo endossado pelos filósofos existencialistas do século XX, seria, principalmente, sua segunda obra da trilogia clássica – CRÍTICA DA RAZÃO PRÁTICA –, circunscrita ao problema da moral. Àquela altura, Kant teve de recorrer a arremedos e justificativas teleológicas derivadas de seus predecessores (ou seja, justificativas mediante DOGMAS) EM QUE PESE anos antes haver refutado toda a Filosofia Ocidental anterior a si próprio acusando-a de DOGMÁTICA – refutação não apenas em gritaria e palavrório, mas com método, refino e maestria, diga-se – na sua cética e inaugural CRÍTICA DA RAZÃO PURA, dedicada à síntese do conflito EMPIRISMO X RACIONALISMO (em teoria do conhecimento), inclusive acertando em cheio em sua audaciosa crítica a Hume, tido como “referência em Ceticismo”. Porém, tal ceticismo consumado (que significava superar as epistemologias não só de Hume, mas também de Locke, Descartes, Bacon, entre outros grandes nomes) não conduzia a lugar nenhum em termos de conhecimento (se é que Kant desejava erigir algo, além de resenhar, refutar e destruir a Filosofia precedente). Talvez por isso ele se propôs, na sequência, à “parte positiva” de sua grande tarefa – o que preciso explicar antes de falar da estética kantiana –, dando a partir daí seus referidos passos em falso e voltas em círculo.

            Como assinalado em LETRA DE FÔRMA no parágrafo anterior, sendo sua segunda CRÍTICA, em realidade, apenas a reafirmação de velhos dogmas judaico-cristãos – a exposição do imperativo categórico, a afirmação da liberdade humana a despeito da estrutura a priori do conhecimento (tornando-nos criaturas condicionadas por tempo, espaço e as relações de causa-e-efeito da matéria), fazendo o comportamento ético depender subitamente de uma noção moral inata ao homem, que deve escolher livremente cumprir o dever prescrito pela divindade (um paradoxo já no enunciado, como hoje se nota facilmente) –, tal tentativa de crítica se torna mera Apologia da RAZÃO PRÁTICA (justamente a descrição da Europa cristã do século XVIII, o mundo de Kant), e não sua refutação ou superação, como pareceria que a encontraríamos, pelo menos após lermos a promissora CRÍTICA DA RAZÃO PURA…

            Já sua CRÍTICA DA FACULDADE DO JUÍZO ou CRÍTICA DA FACULDADE DE JULGAR (as traduções variam), a terceira parte da trilogia escrita muitos anos depois, devotada exclusivamente à Estética, apesar de não retificar o erro moral, analisa com precisão cirúrgica o fenômeno estético, que é imediato e não depende do juízo moral, i.e., diz respeito à Vontade (conceito ainda inexistente em Kant), instinto, predisposição individuais, pois o “gosto estético” (sendo precisamente aqui descoberto tal qual o temos hoje) não é derivado da reflexão ou princípio de razão (que elaboram conceitos), mas é sentido antes de ser pensado, no que harmoniza-se, sim, com a filosofia nietzschiana (única parte em que o faz). Kant, nestes anos de maturidade, a contento ou não, funda a disciplina chamada Estética Ocidental ou Teoria da Arte.

            O dito acima (2008) está totalmente revirado. Insisto: a Estética – como reconhecida por Kant, Schopenhauer, Nietzsche, e com certeza por Heidegger também, hoje posso endossá-lo – é completamente autônoma em relação à Política ou Economia, grosso modo; o que não impede uma análise econômica ou política do devir estético; mas isso não interessa como objeto da Estética e não é a verdadeira arte. Logo, Walter Benjamin, na sua conhecida obra “…Reprodutibilidade técnica” precisa estar errado; e Theodor Adorno, seu colega e correspondente (e podemos até dizer financiador), que o critica acerbamente, evocando os fundadores do campo da Estética em seu auxílio, tem de estar do lado da razão. Essa visão de que uma “arte politizada” ou, enfim, de que a política mesma poderia redimir O MUNDO E A ARTE é típica sobretudo da primeira metade do século XX, uma crença tipicamente MODERNISTA e derivada do ROMANTISMO ALEMÃO.

            Em suma, o supra-sumo do belo seria belo em todas as apreciações; a relatividade da beleza decorre de estarmos lidando com gradações do belo. Provavelmente esta BELEZA IDEAL, que atingiu a perfeição, não existe nem existirá, a não ser enquanto conceito (o que une, na história da Estética, Kant e seus discípulos, tão próximo de nós no tempo, ao prematuro Platão, que há mais de 2 mil anos não distinguia Ética de Estética). O Nazismo se apropriava de aspectos estéticos conforme lhe fosse conveniente, a arte contemporânea ao Nazismo se posicionava contra ou a favor dele. Hoje, podemos falar de características “fascistas/antifascistas” nas obras de arte póstumas à II Guerra ou mesmo, grosso modo, nas obras dos períodos anteriores (século XIX para trás). Já afirmar, de modo totalizante e precipitado, que o Renascimento seria uma Estética fascista por ter em mira um ideal de homem que poderia corresponder ao ideal de homem do Arianismo não faz o menor sentido. Não passava de escolha política conveniente do Nazismo eleger sua “arte oficial”, e esse fato histórico não diminui o Renascimento ou, mais ainda, os cânones da arte helenística, em nada, enquanto Arte. Outro fato histórico, ou antes deveria dizer “hipótese historiográfica plausível”, é que, se o III Reich se concretizasse (vencesse), haveria a destruição de toda a arte modernista, entendida como degenerada pelos idealizadores do regime, bem como hoje sublinhamos a degenerescência e anomalia do supremacismo nazifascista.

            Em suma (2!), não basta ser antifascista para estar certo: reconhecer a estética nazista como degenerada é bem fácil e foi o único acerto da anotação de 2008. Mas todo o fundamento do raciocínio estava do lado do avesso!

* * *

COMO TRADUZIR A BÍBLIA: THE THEORY AND PRACTICE OF TRANSLATION (Vol. VIII) – NIDA, Eugene & TABER, Charles, 1969 (1982)

Os 7 primeiros volumes são devotados a controvérsias bíblicas.

GLOSSÁRIO POLIGLOTA

heap: monte (amontoado)

quiasmo: “(do grego khiasmós, -oû, disposição em cruz, arranjo diagonal) substantivo masculino; (Retórica) Figura composta de um paralelo ou uma dupla antítese cujos termos se cruzam (ex.: é preciso comer para viver e não viver para comer).”

PREFACE

This volume on The Theory and P. of Tr. is the logical outgrowth of the previous book Toward a Science of Translating (1964)” “In this vol. the illustrative data are drawn primarily from the field of Bible translating. (…) Bible transl. has a long tradition (it began in the III BC), involves far more languages (1393, by the end of 1968[!]), is concerned with a greater variety of cultures, and includes a wider range of literary types (from lyric poetry to theological discourse) than any comparable kind of translating.”

1. A NEW CONCEPT OF TRANSLATION

It is estimated that at least 100.000 persons dedicate most or all of their time to such work (translation), and of these at least 3.000 are engaged primarily in the translation of the Bible into 800 languages, representing about 80% of the world’s population.”

One specialist in translating and interpreting for the aviation industry commented that in his work he did not dare to employ the principles often followed by translators of the Bible (…) Unfortunately, translators of religious materials have sometimes not been prompted by the same feeling of urgency to make sense.”

A pequeno-burguesia da rima (nem pobre nem rica!)

On translating Hegel (from his idiom to our idiom!)

A expressão “montes de carvão em brasa em sua cabeça” (que seria a tradução literal de um trecho em Romanos 12) significa, dentro da tradição hebraica, estar profundamente envergonhado de sua conduta. Seria fácil errar ingenuamente ou manipular a informação, removendo seu caráter de metáfora (vd. além).

Não use, no entanto, a língua como prova e testemunha de defesa no seu ofício de Advogado de Deus!

in the American Standard Version (1901), 2 Corinthians 3:10 reads, <For verily that which hath been made glorious hath not been made glorious in this respect, by reason of the glory that surpasseth.> The words are all English, but the sentence structure is essentially Greek. The New English Bible quite rightly restructures this passage to read <Indeed, the splendour that once was is now no splendour at all; it is outshone by a splendour greater still.>”

moniThor guia-para-o-portal-de-mármore

inkissidor do abraço fúnebre

João 1:14

a. “And the Word was made flesh, and dwelt among us, (and we beheld his glory, the glory as of the only begotten of the Father,) full of grace and truth”

b. “So the word of God became a human being and lived among us. We saw his splendour (the splendour as of a father’s only son), full of grace and truth”

c. “The Word became a human being and lived among us. We saw his glory, full of grace and truth. This was the glory which he received as the Father’s only Son”

DIS|SECTION

a. “And the Word was made flesh, and dwelt among us, (and we beheld his glory, the glory as of the only begotten of the Father,) full of grace and truth” (30 palavras) (2 repetições de ênfase ou para facilitar o entendimento) (1 oclusão – parênteses) (1 sentença) Father

dwell – origem: pelo menos 900, conectado à idéia da loucura (cf. The Thing That Should Not Be), sedução, perdição, prevenção, estorvar, chocar, fumaça, nuvem, vapor, erro…

behold – origem: pelo menos 900, ligado à idéia de conservar no campo de visão, pertencer, amarrar-se a… (cf. Eye of The Beholder)

begotten – origem: pelo menos 1000, ligado à idéia de derivar de, gênesis, criação, pertencimento, advento (inclusive se usa Advento em Português para se referir ao mês de dezembro, antes do Natal)…

significados mais implícitos: valorização da Eleição; mas todos somos irmãos de Jesus e portanto filhos de Deus.

b. “So the word of God became a human being and lived among us. We saw his splendour (the splendour as of a father’s only son), full of grace and truth” (30 palavras) (2 repetições de ênfase ou para facilitar o entendimento) (1 oclusão) (2 sentenças) God-father

A estrutura frasal evita o verbo no particípio no meio do versículo.

significados mais implícitos: valorização da paternidade de um filho homem sem outros co-descendentes, humanização do fato (da Vinda).

c. “_The Word became a human being and lived among us. We saw his glory, full of grace and truth. This was the glory which he received as the Father’s only Son” (31 palavras) (1 repetição de ênfase ou para facilitar o entendimento) (0 oclusões) (3 sentenças) Father

Inversão frasal não verificada nos itens a e b.

Os parênteses são trocados pelo conectivo.

Primeira referência “genérica” a Jesus como “he”.

receive – origem: de 1250 a 1300; ligado à idéia de bênção, dom, recuperação (quem recebe também toma, ou antes poderíamos dizer que neste caso Deus tem o poder de dar ilimitado, é Ele mesmo quem recebe, mas em prol de Suas criaturas, que no fim O São, mesmo quando ainda não O sabem); ao contrário dos demais verbos, a etimologia é francesa.

significados mais implícitos: O “as” já despido de “of” possui menos valor poético, e mais valor “possessivo”: o legítimo herdeiro, deus em carne e osso de fato. Logo, Son precisa ser enaltecido (como nome próprio).

UNIVERSALITIES (a&b&c): and, among us, as, full of grace and truth, only, a idéia da Palavra (sendo necessariamente) Divina. João remete ao primeiro versículo do Antigo Testamento, sem dúvida.

CONTRASTE COM TRADUÇÕES DO PORTUGUÊS:

“E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade.”

Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória, glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade.”

“A Palavra se tornou um ser humano e morou entre nós, cheia de amor e de verdade. E nós vimos a revelação da sua natureza divina, natureza que ele recebeu como Filho único do Pai.”

COMENTÁRIOS:

Verbo no lugar de Palavra: Ação, no lugar de Contrato. Prefiro palavras. Prefiro as escolhas da terceira tradução encontrada, que inclusive também realiza uma inversão frasal, denunciando sua provável origem (c). A supressão do termo “graça” também foi muito feliz, devido ao duplo sentido moderno presente na palavra, ainda mais em minúscula. Unigênito me soa forçado e esquisito. Veja que pouco se entra em concórdia sobre o verbo inicial (Jesus entre nós): morar, viver, habitar. Particularmente, é a única coisa que eu modificaria na 3ª opção. “Aquele” e “carne” para mim subtraem e ocultam sentidos de forma desnecessária. Outro mérito da 3ª: glória se tornou um termo muito secular e degradado. Em sua passagem na terra (enquanto cá morou, habitou, viveu), Jesus Cristo teve uma vida que foi exatamente o avesso da glória temporal.

* * *

A promessa se materializou. Bíblia para crianças superdotadas e adultos retardados. Para o rico, para o pobre e para o preto (RPP). LGBT your neighbour.

Ele esteve Aqui. Foi um ser-aí. Mas não há provas dessa discreta e efêmera luz, seja você um leigo ou um perito. Padre no tiene hijo. Que trágico! E a Mãe nisso tudo, recebeu P.A.?

E se descobríssemos, aliás, que tudo não passou duma grande pegadinha (uma pegada ou pegadona) de José mais 12 amigos (um quis caguetar no final e quase levou outro junto) para não pagar P.A. à Maria, com a ciência e colaboração do filho do casal, Jesus O (C)anastr(ão)?

Tem gente que adora um flash, mas não conseguimos mesmo é viver sem flesh, sejamos francos. Mesmo que sejamos até saxões ou bárbaros… Visigodo. Vizinho gordo. À refeição grátis não se olha os pentelhos nem dentes de alho, muito menos caroço ou alface no dente após o arroto consagrador da missão.

Jesus precisou comer, cagar e pagar aluguel. Não foi fácil pra NINGUÉM, nem pro filho do dono!

Quem não vê com os Olhos do Coração, o que é que faz, hein?!

Mas no final, vocês sabem, né: é tudo Verdade!

vivencivivi.alexandre.cesar.gloriatemporal.ig.pt/estantismo

Clicai e sê feliz!

No sofá? Not so far… so bad. So war!

3 Romanos em 1 Bar

Paulo 1:71: “No dia do Juízo Final eu pago a Conta! Enquanto isso, pendura aí, que ninguém é de ferro!”

Pra que serviram os profetas do Antigo Testamento? Não houve raça mais imunda e inútil sobre a terra! Um bando de farisaicos!

Now,

com o passar dos milênios, se transforma em

in these days (tá chegando, você não tá sentindo? Hm, talvez você tenha perdido seus poderes espirituais ou seu nen)

all them that believe

//

upon everybody without distinction, if…

Descartes, me diz aí: Ser é Acreditar?

Todo ser humano é realmente humano?

Mentir e rezar, é só começar…

God’s ways

at last

Oh, but that is always a <but>!

Secular butts

Só sei que não sei de ná-digas

Raul Seixas esqueceu de dizer que é tudo da Fé também!

* * *

Finalmente voltamos ao livro de Nida. Toda essa excursão? Não foi NADA!

Eu acho que pirei, meus pés saíram do chão, Pai!

Each language is rich in vocabulary for the areas of cultural focus, the specialities of the people, e.g., cattle (Anuaks in the Sudan), yams [batata doce] (Ponapeans in Micronesia), hunting and fishing (Piros in Peru), or technology (the western world).”

one missionary in Latin America insisted on trying to introduce the passive voice of the verb into a language which had no such form. Of course, this was not successful. One must simply accept the fact that there are many languages which do not have a passive voice. They merely choose to report actions only as active.” “we do not have such a match even in translating from Hebrew or Greek into English, with all its wealth of vocabulary (more than a million words if one includes all the technical terminology).” “Similarly, when the Gospel of John uses the Greek word logos, <Word>, in the prologue, there simply is no English word (and certainly not Word itself) which can do justice to the variety and richness of meaning of the Greek term.”

loving-kindness” “covenant love” partículas literais hebraicas

A ALMA EXISTE: “in the 3rd chapter of John, Jesus speaks of the <wind> and of the <Spirit>. In Greek a single word, pneuma, is used with both meanings. This results in a very significant play on words, but it cannot be reproduced in English. The best we can do under such circumstances is to use a marginal note to call the attention of the reader to the fact that in the source language one and the same word has both meanings.”

sacrifice the form or the meaning? Here it seems obvious and evident that the preservation of rhymes in poems is a dull and fool thing to do. some people would imply the exact opposite.”

Às vezes é importante converter substantivos (mais escassos) de uma língua em verbos na TL (mais profusos).

Quite naturally the easiest transitions (those with the least amount of formal change), occur when one translates from a language such as English into German, or Fante into Ashanti, closely related languages. Moreover, English and German represent the same general cultural setting, Western technological, and Fante and Ashanti represent the same cultural setting, West African.”

EXPRESSÕES INTERESSANTES PARA ANÁLISE:

a. “if she pass the flower of her age” I Cor. 7:36b

b. “Bring forth therefore fruits meet for repentance” Mat. 3:8

c. “which devour widows’ houses” Lucas 20:47

d. “our fathers: who received the lively oracles to give unto us” Atos 7:38b

a.

“quando ela já for avançada em idade”

“se ela já estiver na idade da sabedoria”

“Se já contar mais verões que ovos em três caixas”

b.

“Só é digno de mim aquele capaz do arrependimento”

“Sede humilde; não sejais presunçoso”

c.

“destruidor de órfãos, pregador hipócrita (sentido contextual)” // “Afasta-te da gentalha e do oportunista” // “Cuidado com os demagogos” // “Evite os falsos professores de moral” // “Certa vez conheci um crente chamado Davi…” – tradução pessoal

d.

“nossos pais (os contemporâneos de Moisés, os judeus, os primeiros crentes, etc.) foram encarregados de nos dar as boas-novas”

Hebrew is regarded as a special esoteric tongue for the theologians, and Greek is a <mystery>, or <the finest instrument of human thought ever devised by man>. On the contrary, Greek and Hebrew are just <languages>, with all the excellencies and liabilities that every language tends to have. They are neither the languages of heaven nor the speech of the Holy Spirit.”

A IMANÊNCIA DA PALAVRA: “in the Greek Gospels there are some 700 grammatical and lexical ambiguities, but of course, as in most languages, a high percentage of these are resolved by the linguistic context.” “the words of the Bible were all current terms. Our problem today is that many of the cultural contexts of Bible times which provided meanings for those words no longer exist and therefore we often cannot determine just what a word means.”

Writing to be understood might seem to be a truism, but for some persons it is a startling revelation, for many individuals have assumed that the Bible is not a book to be understood [só sentida!]. One person, for example, who began to read Today’s English Version remarked, <This must not be the Bible; I can understand it.>1

some persons insist that in translating the Greek of the New Testament one must go back to the Aramaic and understand Jesus’ words in terms of what he must have said in Aramaic. But the translator is bound to ask himself: What was it that Luke, writing in his day, understood by the Greek that he used? If we are to make a faithful translation of Luke’s Gospel, this is what must be our viewpoint. Otherwise, we will not only be involved in interminable controversy, but we will inevitably tend toward unwarranted harmonization. For example, in the Lucan form of the Beatitudes it is the <poor> who are blessed, but in Matthew they are the <poor in spirit> (or <those who recognize their spiritual poverty> [which is, indeed, a richness!]). Luke employs an expression which is a direct reference to poor people, but Matthew puts it into a more <spiritual context>. To try to reconstruct the Aramaic, and to reinterpret both Luke and Matthew on the basis of this reconstruction of the Psalms have important Ugaritic parallels,¹ and much can be understood in the Psalms as the result of such studies, but one does not translate these Psalms as though they were Ugaritic ritual songs, but as hymns used in the temple of worship of Yahweh.”

¹ Ugarítico: idioma hebreu extinto oralmente; redescoberto em escritos apenas no século XX.

A TARA PELA GENEALOGIA CEGA A ANÁLISE: “the Greek term pistis, <faith>, came to have the meaning <content of faith>, or <creed>, in the later parts of the New Testament and especially in the writings of the early Christian Fathers. But it would be quite wrong to read this meaning back into the Gospels, e.g., in Luke 18:8. Similarly, we must not read back into the Genesis account of creation our own <world view> and translate the days as <geological ages>, or the <dome of the sky> (wrongly translated in English as <firmament>) as <the ionosphere>.”

ARMADILHAS COMUNS DA EVOLUÇÃO DO INGLÊS: the case of “event nouns”: “baptism of repentance” é um arcaísmo; traduzi-lo por “repent and be baptized” // “obedience of faith” é nonsense: no lugar, “be obedient and have faith (or be faithful, embora o verbo, seja no passivo ou ativo, seja sempre uma alternativa mais segura)”. Mais simplesmente ainda, “believe and obey”.

Deus atravessa como uma adaga. Ele é pungente e efetivo.

FILOSOFANDO E TECENDO TEIAS D’ARANHA

mestre trágico do existir

vi, vivi, venci

o profeta vitorioso da vivência

dominei, sofri, logo sou

penso, logo excito

materializo minhas luxúrias

a solitária existência

Você cumpriu os requerimentos e requisitos formais estatuídos pelo regimento da fé!

3 Gal. 2:6: linguagem moderna: não importa se puta ou ladrão ou tratante ou patife, ou gay ou sodomita, se eles entenderam a Mensagem, como foi enunciada pelos que conviveram com Jesus Cristo, acredite no que eles dizem. Não confie em togas e cargos. Investiduras não são consideradas pelo Espírito e no dia do Juízo.

2. THE NATURE OF TRANSLATING

In trying to reproduce the style of the original one must beware, however, of producing something which is not functionally equivalent. F.e., Mark employs typical Semitic Greek in the use of the conjunction kai, <and>, to begin many sentences. This is perfectly appropriate Semitized Koine Greek, in that it accurately reflects the corresponding use of the Hebrew conjunction waw. In the RSV, however, most of these conjunctions are reproduced literally, with the result that 26 sentences in Mark 1 begin with <And>, producing a kind of style completely contrary to good English usage. In fact, it gives the impression of being <childish>. This is, of course, not the case with the original Greek text of Mark. This means that reproducing style, even on a formal level, may not result in an equivalence, and it is functional equivalence which is required, whether on the level of content or on the level of style.”

In the Greek translation of the Old Testament, made a couple of centuries before Christ, Jewish scholars used the Greek term kurios to render both Adonai and YHWH. This use was carried over into the Greek New Testament, with the result that there is a kind of divine ambiguity in the use of the same term to apply both to God and to Jesus Christ.

It is interesting that in the English tradition, the term <LORD> has consistently been preferred to <Jehovah> (the use of <Jehovah> in the Revised Version and the American Standard Version never proved especially popular), and the RSV has returned to the King James use of <LORD>.

Some persons assume that a translation which is well done in the aspect of its printed form will be quite easily read aloud, but this is by no means always true. In fact, if one is to anticipate the problems of the hearer, it is necessary to bear in mind a number of very essential matters”

in I Chronicles 25:1, the RSV reads, <prophesy with lyres,>, but people will almost inevitably think of liars and not lyres, since the latter is such an uncommon term. The problem of the written form of language is very acute in the case of Chinese, in which a written text may be quite clear, but a spoken text of the same passage can be very ambiguous.

Lyres used to be liars instruments for lying chants in people’s ears and minds.

in American English the word ass does not seem so vulgar in a printed text, but in pronunciation the term carries strongly unfavorable connotations.”

In some languages, e.g., Portuguese, it is quite common for people to listen for combinations of sounds (usually the endings of words combined with the initial portions of following words) which have vulgar or obscene meanings. This means that one must carefully read all translations of the Bible so as to avoid any combinations of sounds which can be reinterpreted as a different and unacceptable word.”

In order to preserve some of the special phonological contrasts in Hebrew and Greek, some languages have employed artificial sound distinctions and combinations of sounds, which are very misleading to the average reader. As a result, many persons hesitate, or even refuse, to read the Scriptures in public, for they do not know how to pronounce these unusual letters of combinations of letters.

One could always caution the reader that the meaning of the verse is uncertain. But as a principle it is best at least to make sense in the text and put the scholarly caution in the margin, rather than to make nonsense in the text and offer the excuse in the margin.”

it is not only legitimate, but also necessary, to see that the rate at which new information is communicated in the translation will not be too fast for the average listener.”

P. 31 (in-book): os 3 tipos de tradução da Bíblia:

  • eclesiástica ou litúrgica (formal clerical);

  • contemporânea literária (formal laica);

  • contemporânea popular (no limite do informal publicável – formal/informal).

the Scriptures must be intelligible to non-Christians, and if they are, they will also be intelligible to Christians.” They aren’t up to today.

The use of language by persons 25 to 30 years of age has priority over the language of the older people or of children. (…) At the same time, one should not accept the language of children or teenagers as a norm, for this does not have sufficient status to be fully acceptable. Such forms often including slang and fad words are generally rejected by the young people themselves, who may be offended by being adressed in a style which seems substandard or paternalistic.

Vamos fazer um teste com Gên. 1 (tradução do Português mais formal encontrado para um Português que eu considere “jovial” nesta faixa):

KITSCH(GAY): EVANGELIZE

A pedagogia do Tudo para os retardados.

No começo de tudo, Deus criou todas as coisas.

Nosso mundo não tinha forma nem matéria nem substância, tudo era o Breu e as Águas do Oceano Primordial.¹

Deus disse: Luz!²

E fez-se luz. [segundo Eugene Nida, ênclises estão proibidas porque causam confusão na leitura para uma audiência!]

Fizeram luz, pronto! Fizeram um abajur sem forma. Antes da língua francesa sequer existir.

A luz era o bem; as trevas primordiais ficaram sendo o mal. Quem pode, pode.

Este foi o primeiro dia do universo.

Deus disse: Agora divida-se o Oceano em dois, e acima fique o Céu e abaixo fiquem as Águas (H2O)!

Este foi o dia 2.

Deus disse: Agora é hora de haver continentes e oceanos!

A parte seca Deus chamou de terra; a úmida são os mares. Deus era um artesão e tanto e gostou do que fez.

Deus disse: Brote vegetação da terra, e cada fruto se multiplique na superfície!

A flora era o bem.

Este foi o dia 3.

Deus disse: Não está bem que o Céu fique indiferenciado. Criarei as estrelas, o Sol, e a Lua, e que bem e mal se alternem no Céu!³

Este foi o dia 4, quando Deus criou “o dia”.

E a Deus, muito admirado da própria inteligência, agradou esse arranjo (tanto que depois desmembraria em duas coisas esta palavra, criando o “ar” e criando o “anjo”).

Deus disse: Nasçam bichos na água e aves no ar!

Deus criou as espécies animais, que eram também o bem.

Deus comandou: Procriai-vos!

Deus achou o panorama muito bonito. Melhor do que antes.

Deus disse: Mas falta alguma coisa! Que tal um clone meu, mortal? Como num espelho (mas antes Deus também teve de pensar um pouco e criar o primeiro espelho)…

Deus decretou: O homem será o rei dos peixes, o rei das aves, o Antônio Fagundes (charada), e independente de gênero ou ideologia ou identidade, até o rei das cobras!

Deus se masturbou e desse germe indiferenciado (o sêmen auto-fecundado) pulularam, formadinhos, Adão e Eva.

Deus pediu: ‘Bença!

– ‘Bença, nhô!

– ‘Bença, nhôzinho!

Deus disse: Agora que sois meus animais prediletos, sejam meus primeiros atores pornôs. Comam este afrodisíaco e tenham um filho (ainda não inventei a impotência, a camisinha nem essas viadagens que-tais…)!

Deus era muito tagarela e antes de Adão e Eva poderem realizar qualquer gesto, continuou (falar, até Papagaio fala):

– O destino de vocês é serem os Senhores deste planetinha. Com mãos de ferro e de pelica, tanto faz, por isso na verdade criei dois diferentes de vocês, e não uma bola perfeita, com pinto e boceta!

Peixes são pra pescar; aves pra adestrar e engaiolar; cavalos são pra cavalgar!

Ainda não inventei isso que chamarão um dia de “dosar”! (malditos epicureus, por que vou criar esses troços?!)

Maldito Seja Eu!

Retomando a compostura:

– Cof, cof! (Inventando a aspirina)

Fauna e flora são serventia da casa, “rapaziada”… (inventou a gíria)

Vou ter que inventar um relógio, puta merda, falei tanto que já tá terminando o sexto dia.

As pálpebras foram baixando…

Tirou um ronco e enquanto isso (enquanto SEXTAVA) nem os gemidos de Eva acordaram o Patrão…

¹ Aristóteles fotografou este momento e depois analisou-o com retidão em sua “Metafísica”.

² Aí nasceu a expressão arrogante dos diretores de Cinema: Luz, Câmera, Ação!

³ GÊNESE do materialismo histórico.

* * *

3. GRAMMATICAL ANALYSIS

P. 21 (PDF): Alice Através do Espelho

Jabberwocky

Twas brillig, and the slithy toves,

Did gyre and gimble in the wabe;

All mimsy were the borogoves,

And the mome raths outgrabe.

The syntactical meanings here indicated are subsequently confirmed in Through the Looking Glass by Humpty Dumpty, who, in answer to Alice’s enquiry, also assigns a lexical meaning to each of the items concerned.”

THE BOOK OF MOSES: “If one employs the normal possessive construction, Moses’ book, then it is the book that Moses had in his possession, rather than the one he was regarded as having written.”

Verbos tocam mais o Espírito

Pronomes pessoais também

P. 24 (PDF): Problem 9: resolução:

I.

John I

Colossians I

Hebrews II

KJV (King James), RSV (Revised Standard) (old translations)(a) X NEB, Phillips, TEV (modern translations)(b)

John I

James

1 That which was from the beginning, which we have heard, which we have seen with our eyes, which we have looked upon, and our hands have handled, of the Word of life;

2 (For the life was manifested, and we have seen it, and bear witness, and shew unto you that eternal life, which was with the Father, and was manifested unto us;)

3 That which we have seen and heard declare we unto you, that ye also may have fellowship with us: and truly our fellowship is with the Father, and with his Son Jesus Christ.

4 And these things write we unto you, that your joy may be full.

[—]

5 This then is the message which we have heard of him, and declare unto you, that God is light, and in him is no darkness at all.

6 If we say that we have fellowship with him, and walk in darkness, we lie, and do not the truth:

7 But if we walk in the light, as he is in the light, we have fellowship one with another, and the blood of Jesus Christ his Son cleanseth us from all sin [once and for all?].

8 If we say that we have no sin, we deceive ourselves, and the truth is not in us.

9 If we confess our sins, he is faithful and just to forgive us our sins, and to cleanse us from all unrighteousness.

10 If we say that we have not sinned, we make him a liar, and his word is not in us.”

substantivos com significados (relevância) (18):

beginning (of time)

eyes

Word of life

(manifested) life

eternal life

the Father

fellowship

his Son Jesus Christ

your joy

the message

light

darkness

the truth

the blood of Jesus Christ

all sin, our sins, all unrighteousness

a liar

his word

in us

dividir em (substantivos) concretos e abstratos:

C / A

eyes, Jesus / almost all!

No começo kantiano dos tempos alguém proferiu discursos verdadeiros, dos quais só nos restam escombros e indícios de indícios. Muito se fala duma tal vida, mas ninguém a “experimenta”, nem sabe o quanto dura. Na verdade, nunca se a provou, se é que me entende, detetive! Uma irmandade de estranhos fala em sentimentos de terceiros, como alegria, contentamento… O que eles sabem? Luzes, trevas, confusão… Alegorias sem sentido para perpetuamente cegos… Cafonas que acham que o sangue de alguém purifica alguma coisa! O que é pecado? Não preste ouvido aos mentirosos. Menina-dos-olhos do pastor é a ovelha, cuide bem das suas.

Phillips

1 1-4 We are writing to you about something which has always existed yet which we ourselves actually saw and heard: something which we had an opportunity to observe closely and even to hold in our hands, and yet, as we know now, was something of the very Word of life himself! For it was life which appeared before us: we saw it, we are eye-witnesses of it, and are now writing to you about it. It was the very life of all ages, the life that has always existed with the Father, which actually became visible in person to us mortal men. We repeat, we really saw and heard what we are now writing to you about. [!!!] We want you to be with us in this—in this fellowship with the Father, and Jesus Christ his Son. We must write and tell you [thrice!] about it, because the more that fellowship extends the greater the joy it brings to us who are already in it.

Experience of living <in the light>

5-10 Here, then, is the message which we heard from him, and now proclaim to you: GOD IS LIGHT [SHOUT!!! I CAN’T HEAR YOU!!! LOUDER!!! ONE MORE TIME, MOTHERFUCKERS!] and no shadow of darkness can exist in him. Consequently, if we were to say that we enjoyed fellowship with him and still went on living in darkness, we should be both telling and living a lie. But if we really are living in the same light in which he eternally exists, then we have true fellowship with each other, and the blood which his Son shed for us keeps us clean from all sin. If we refuse to admit that we are sinners, then we live in a world of illusion and truth becomes a stranger to us. But if we freely admit that we have sinned, we find God utterly reliable and straight-forward—he forgives our sins and makes us thoroughly clean from all that is evil. For if we take up the attitude <we have not sinned>, we flatly deny God’s diagnosis of our condition and cut ourselves off from what he has to say to us.”

verbos vicários (29):

to write

to exist

to see and hear

to have

to observe

… hold

know

be

appear

become

REPEAT

want

must

tell

extend

bring

LIVE (“invented”)

proclaim

enjoy

go

SHARE

keep

refuse to admit

forgive

make

take up

DENY

cut

GIROS ALÉM!

Colossians I

Revised

Salutation

1 Paul, an apostle of Christ Jesus by the will of God, and Timothy our brother,

2 To the saints and faithful brethren in Christ at Colos′sae:

Grace to you and peace from God our Father.

Paul Thanks God for the Colossians

3 We always thank God, the Father of our Lord Jesus Christ, when we pray for you, 4 because we have heard of your faith in Christ Jesus and of the love which you have for all the saints, 5 because of the hope laid up for you in heaven. Of this you have heard before in the word of the truth, the gospel 6 which has come to you, as indeed in the whole world it is bearing fruit and growing—so among yourselves, from the day you heard and understood the grace of God in truth, 7 as you learned it from Ep′aphras our beloved fellow servant. He is a faithful minister of Christ on our behalf and has made known to us your love in the Spirit.

9 And so, from the day we heard of it, we have not ceased to pray for you, asking that you may be filled with the knowledge of his will in all spiritual wisdom and understanding, 10 to lead a life worthy of the Lord, fully pleasing to him, bearing fruit in every good work and increasing in the knowledge of God. 11 May you be strengthened with all power, according to his glorious might, for all endurance and patience with joy, 12 giving thanks to the Father, who has qualified us to share in the inheritance of the saints in light. 13 He has delivered us from the dominion of darkness and transferred us to the kingdom of his beloved Son, 14 in whom we have redemption, the forgiveness of sins.

The Supremacy of Christ

15 He is the image of the invisible God, the first-born of all creation; 16 for in him all things were created, in heaven and on earth, visible and invisible, whether thrones or dominions or principalities or authorities—all things were created through him and for him. [Then why Caesar?] 17 He is before all things, and in him all things hold together. 18 He is the head of the body, the church; he is the beginning, the first-born from the dead, that in everything he might be pre-eminent. 19 For in him all the fulness of God was pleased to dwell, 20 and through him to reconcile to himself all things, whether on earth or in heaven, making peace by the blood of his cross.

21 And you, who once were estranged and hostile in mind, doing evil deeds, 22 he has now reconciled in his body of flesh by his death, in order to present you holy and blameless and irreproachable before him, 23 provided that you continue in the faith, stable and steadfast, not shifting from the hope of the gospel which you heard, which has been preached to every creature under heaven, and of which I, Paul, became a minister.

Paul’s Interest in the Colossians

24 Now I rejoice in my sufferings for your sake, and in my flesh I complete what is lacking in Christ’s afflictions for the sake of his body, that is, the church, 25 of which I became a minister according to the divine office which was given to me for you, to make the word of God fully known, 26 the mystery hidden for ages and generations but now made manifest to his saints. 27 To them God chose to make known how great among the Gentiles are the riches of the glory of this mystery, which is Christ in you, the hope of glory. 28 Him we proclaim, warning every man and teaching every man in all wisdom, that we may present every man mature in Christ. 29 For this I toil, striving with all the energy which he mightily inspires within me.”

substantivos concretos:

apóstolo

Timóteo

santos

irmãos

Epafras

tronos (dúbio)

autoridades

toda criatura mortal

São Paulo

meus sofrimentos

minha carne

os pagãos

Nada mais abstrato do que “a imagem do deus invisível”.

Phillips

1-2 Paul, messenger of Jesus Christ by God’s will, and brother Timothy send this greeting to all faithful Christians at Colossae: grace and peace be to you from God our Father and the Lord Jesus Christ!

We thank God for you and pray constantly for you

3-6 I want you to know by this letter that we here are constantly praying for you, and whenever we do we thank God the Father of our Lord Jesus Christ because you believe in Christ Jesus and because you are showing true Christian love towards other Christians. We know that you are showing these qualities because you have grasped the hope reserved for you in Heaven—that hope which first became yours when the truth was brought to you. It is, of course, part of the Gospel itself, which has reached you as it spreads all over the world. Wherever that Gospel goes, it produces Christian character, and develops it, as it had done in your own case from the time you first heard and realised the amazing fact of God’s grace.

7-10 You learned these things, we understand, from Epaphras who is in the same service as we are. He is a most well-loved minister of Christ, and has your well-being very much at heart. As a matter of fact, it was from him that we heard about your growth in Christian love, so you will understand that since we heard about you we have never missed you in our prayers. We are asking God [terrível telemarketing!] that you may see things, as it were, from his point of view by being given spiritual insight and understanding. We also pray that your outward lives, which men see, may bring credit to your master’s name, and that you may bring joy to his heart by bearing genuine Christian fruit, and that your knowledge of God may grow yet deeper.

We pray for you to have real Christian experience

11-14 As you live this new life, we pray that you will be strengthened from God’s boundless resources, so that you will find yourselves able to pass through [zzz] any experience and endure it with courage. You will even be able to thank God in the midst of pain and distress because you are privileged to share the lot of those who are living in the light. For we must never forget that he rescued us from the power of darkness, and re-established us in the kingdom of his beloved Son, that is, in the kingdom of light. For it is by his Son alone that we have been redeemed and have had our sins forgiven.

Who Christ is, and what he has done

15-20 Now Christ is the visible expression of the invisible God. He existed before creation began, for it was through him that every thing was made, whether spiritual or material, seen or unseen. Through him, and for him, also, were created power and dominion, ownership and authority. In fact, every single thing was created through, and for him. He is both the first principle and the upholding principle of the whole scheme of creation. And now he is the head of the body which is composed of all Christian people [Mega Zord da Paixão]. Life from nothing began through him, and life from the dead began through him, and he is, therefore, justly called the Lord of all. It was in him that the full nature of God chose to live, and through him God planned to reconcile in his own person, as it were, everything on earth and everything in Heaven by virtue of the sacrifice of the cross.

21-23 And you yourselves, who were strangers to God, and, in fact, through the evil things you had done, his spiritual enemies, he has now reconciled through the death of his body on the cross, so that he might welcome you to his presence clean and pure, without blame or reproach. This reconciliation assumes, of course, that you maintain a firm position in the faith, and do not allow yourselves to be shifted away from the hope of the Gospel, which you have heard, and which, indeed, the whole world is now having an opportunity of hearing. [AGUARDE NA LINHA ENQUANTO RESOLVEMOS O SEU PROBLEMA, SR.!]

My divine commission [$$$]

24-27 I myself have been made a minister of this same Gospel, and though it is true at this moment that I am suffering on behalf of you who have heard the Gospel, yet I am far from sorry about it. Indeed, I am glad, because it gives me a chance to complete in my own sufferings something of the untold pains for which Christ suffers on behalf of his body, the Church. For I am a minister of the Church by divine commission, a commission granted to me for your benefit and for a special purpose: that I might fully declare God’s word—that sacred mystery which up to now has been hidden in every age and every generation, but which is now as clear as daylight to those who love God. They are those to whom God has planned to give a vision of the full wonder and splendour of his secret plan for the sons of men. And the secret is simply this: Christ in you! Yes, Christ in you bringing with him the hope of all glorious things to come.

To preach and teach Christ is everything to us

28-29 So, naturally, we proclaim Christ! We warn everyone we meet, and we teach everyone we can, all that we know about him, so that, if possible, we may bring every man up to his full maturity in Christ. This is what I am working at all the time, with all the strength that God gives me.”

Hebrews II

James

1 Therefore we ought to give the more earnest heed to the things which we have heard, lest at any time we should let them slip.

2 For if the word spoken by angels was stedfast, and every transgression and disobedience received a just recompence of reward;

3 How shall we escape, if we neglect so great salvation; which at the first began to be spoken by the Lord, and was confirmed unto us by them that heard him;

4 God also bearing them witness, both with signs and wonders, and with divers miracles, and gifts of the Holy Ghost, according to his own will?

5 For unto the angels hath he not put in subjection the world to come, whereof we speak.

6 But one in a certain place [ouvi dizer, um dragonight me contou…] testified, saying, What is man, that thou art mindful of him [pra que te importas com isso]? or the son of man that thou visitest him? [SON OF A BITCH MAN]

7 Thou madest him a little lower than the angels; thou crownedst him with glory and honour, and didst set him over the works of thy hands:

8 Thou hast put all things in subjection under his feet. For in that he put all in subjection under him, he left nothing that is not put under him. But now we see not yet all things put under him.

9 But we see Jesus, who was made a little lower than the angels for the suffering of death, crowned with glory and honour; that he by the grace of God should taste death for every man.

10 For it became him, for whom are all things, and by whom are all things, in bringing many sons unto glory, to make the captain of their salvation perfect through sufferings.

11 For both he that sanctifieth and they who are sanctified are all of one: for which cause he is not ashamed to call them brethren,

12 Saying, I will declare thy name unto my brethren, in the midst of the church will I sing praise unto thee.

13 And again, I will put my trust in him. And again, Behold I and the children which God hath given me.

14 Forasmuch then as the children are partakers of flesh and blood, he also himself likewise took part of the same; that through death he might destroy him that had the power of death, that is, the devil;

15 And deliver them who through fear of death were all their lifetime subject to bondage.

16 For verily he took not on him the nature of angels; but he took on him the seed of Abraham.

17 Wherefore in all things it behoved him to be made like unto his brethren, that he might be a merciful and faithful high priest in things pertaining to God, to make reconciliation for the sins of the people.

18 For in that he himself hath suffered being tempted, he is able to succour them that are tempted.”

substantivos concretos:

tempo (?)

contratantes

a descendência de Abraão

rid of arid rides

Phillips

The angels had authority in past ages: today the Son is the authority

1-4 We ought, therefore, to pay the greatest attention to the truth that we have heard and not allow ourselves to drift away from it. For if the message given through angels proved authentic, so that defiance of it and disobedience to it received appropriate retribution, how shall we escape if we refuse to pay proper attention to the salvation that is offered us today? For this salvation came first through the words of the Lord himself: it was confirmed for our hearing by men who had heard him speak, and God moreover has plainly endorsed their witness by signs and miracles, by all kinds of spiritual power, and by gifts of the Holy Spirit, all working to the divine plan.

5 For though in past ages God did grant authority to angels, yet he did not put the future world of men under their control, and it is this world that we are now talking about.

6-7 But someone has said: ‘What is man that you are mindful of him, or the son of man that you take care of him? You made him a little lower than the angels; you crowned him with glory and honour, and set him over the works of your hands. You have put all things in subjection under his feet’.

8 Notice that the writer [?] puts ‘all things’ under the sovereignty of man: he left nothing outside his control. But we do not yet see ‘all things’ under his control.

Christ became man, not angel, to save mankind

9-12 What we actually see is Jesus, after being made temporarily inferior to the angels (and so subject to pain and death), in order that he should, in God’s grace, taste death for every man, now crowned with glory and honour. It was right and proper that in bringing many sons to glory, God (from whom and by whom everything exists) should make the leader of their salvation a perfect leader through the fact that he suffered. For the one who makes men holy and the men who are made holy share a common humanity. So that he is not ashamed to call them his brothers, for he says: ‘I will declare your name to my brethren; in the midst of the congregation I will sing praise to you’.

13 And again, speaking as a man, he says: ‘I will put my trust in him’. And, one more instance, in these words: ‘Here am I and the children whom God has given me’.

14-18 Since, then, ‘the children’ have a common physical nature as human beings, he also became a human being, so that by going through death as a man he might destroy him who had the power of death, that is, the devil; and might also set free those who lived their whole lives a prey to the fear of death. It is plain that for this purpose he did not become an angel; he became a man, in actual fact a descendant of Abraham. It was imperative that he should be made like his brothers in nature, if he were to become a High Priest both compassionate and faithful in the things of God, and at the same time able to make atonement for the sins of the people. For by virtue of his own suffering under temptation he is able to help those who are exposed to temptation.”

A diferença entre Velho Testamento e Novo Testamento (antigas e novas traduções) é nítida: No VT há um grande contraste; mas os capítulos do NT são praticamente idênticos ao longo dos séculos.

III (última parte da tarefa da P. 24).

double expressions kernel (cerne mais simples possível)ver a definição lingüística de kernel na p. 105 do PDF

hardness of heart: incredulity, skepticism

flow of blood: ilness, tumour

the prophets of old: Hebrew heralds, Yaweh priests, yester oracles, soothsayers, blessed

the washing of cups: washing-up, do the dishes, domestic ablution

precepts of men: vain knowledge, mundane wisdom

the commandment of God: Law

the eye of a needle: the straightest path, the smallest hole

Mount of Olives: altar, sacred site

the master of the house: the Judgement Day, the hour appointed

the King of the Jews: Messiah, last prophet

the day of Preparation: fast, eve, mourning day

men of little faith: incredulous, blasphemers, unbelievers

men of violence: sinners

fishers of men: preachers, teachers

Now with verbalizations (except the first two terms)…

1 who prophecized/prophesied before/used to prophecize/prognosticate

2 the cups are washed

3 the given precepts / laws once told / lessons they taught / doctrines they taught

4 the things God commanded

5 crossing through the inside of a needle

6 the mount where olives flourished / the place where they prayed

7 he who commands and owns

8 he who leads, who reigns over

9 preparing for the Sabbath

10 who trusts not / believes not

11 those that search for power, those who dominate, those who do wrong

12 fish(es) men / talk to the laymen

* * *

What makes Today’s English Version, published by the American Bible Society, so popular and helpful to translators is that it is frequently restructured in the direction of kernel expressions, and is thus more readily understandable and provides a useful basis for transfer to other languages.”

Da tradução mais erudita e elusiva à mais simplificada, popular e moderna, vai muita labuta:

Efésios 1:7

in whom we have redemption through his blood, the forgiveness of sins, according to the riches of his grace” “God redeemed us through Christ’s shedding of blood, and God forgave our sins. All this indicates how richly God showed his grace.”

Efésios 2:8

For by grace are ye saved through faith; and that not of yourselves: it is the gift of God: not of works, lest any man should boast.” “For it is by his grace you are saved through trusting him. It is not your own doing. It is God’s gift, not a reward for work done. There is nothing for anyone to boast of.” “God showed his grace to you, and in this way he saved you through your trusting in him. You yourselves did not save yourselves. Rather, God gave you this salvation. You did not earn it by what you did. Therefore no one can boast about what he has done.”

Em breve teremos umas gordas 500 páginas a mais, se continuarmos nesse ritmo…

Analfabetismo funcional transcendental

Fé dispensa

trabalho

compensa

dispensa férias

diz e pensa aquilo

que crê

recompensa

a falta de crença

e energia

descompensado

atabalhoado

disperso

nada temente

às Doze Tábuas

gravadas

com sucesso

no disco rígido

do coração

fé desacreditada

despida de energia

ritmo truncado

coro desafinado

missa fúnebre

informal

sem carteira assinada

para o defunto

da ocasião

intemporal

P. 31: Problema 15

By his great mercy we have been born anew to a living hope through the resurrection of Jesus Christ from the dead, and to an inheritance which is imperishable, undefiled, and unfading, kept in heaven for you…”

1. God pardons abundantly

2. God can change our lives

3. Only they who believe are changed by God

4. We are heirs to God’s indestructible gifts

5. God is able to turn mortals into immortals, fix, heal and create ex nihilo

6. Our prizes are waiting for us (the believers) in the Heavens

7. You have free will to persecute these prizes or not

8. God is watching

Go(o)d e(no)ugh?

And because God forgives us, we are as purified individuals, because we believe that Jesus Christ resurrected from the dead that day. And as a gift he, in the name of God, gave us a seat in the Heavens, the only eternal realm, after this corrupted life.

So as God resurrected Jesus Christ His Son, God resurrects our bodies, our souls and our hearts, because we do believe in Them…

MISISON BRIEF: Diga o que os versículos a seguir querem dizer:

King James diz:

Mateus 7

1 Judge not, that ye be not judged.

2 For with what judgment ye judge, ye shall be judged: and with what measure ye mete, it shall be measured to you again.”

Podemos considerá-lo um fragmento de existencialismo de século XX, com conclusões tão óbvias quanto duras. Talvez sejam sutis e reconfortantes, afinal.

DEONTOLOGIA EM MATEUS, PROTÁGORAS E NA FENOMENOLOGIA

Você pode julgar, com certeza. Todo homem pode ser juiz. Porém, isto não sai de graça: serão, decerto, juízes contigo. E o juiz severo irá se deparar com juízes igualmente severos. Mas eis que alguém que enxerga o mundo como um poço de maldade só terá olhos para a maldade dos outros. Mesmo que se imagine a única fonte a emanar benignidade. E eis que a ovelha não saberá reconhecer os lobos, e pensa que mesmo os piores arbítrios direcionados contra si sejam apenas a devida paga por ser um pecador impuro. Assim talvez seja simples viver, pensa o fraco. Ou pensou o primeiro fraco pelas próximas gerações de fracos. E nisso o fraco ainda tinha muitos resíduos do forte. Protágoras certamente se poria de acordo com os versos. Porque o homem é a medida de todas as coisas. Porque a coisa que somos nós é o parâmetro para todos os homens; e todos os homens nos julgam como nós os julgamos. Portanto é o prêmio (a colheita) do poeta ser tratado com a mais sobeja das indiferenças. É a recompensa por seu talento anômalo. Incompreensão de berço gera desprezo no jovem adulto em relação aos pais, e saudades de todos os lados. Nada mais pragmático que Mateus neste início. Apenas agüenta as conseqüências de ser, ou dissimula quem tu és para teu próprio bem-estar. Maldiga o vizinho sim, ora! só esteja com pedras na mão para quando o assalto alheio começar… Porque não há nada mais certo que o apedrejamento dos vizinhos que pensam diferente. O problema do ansioso e severo demais: não é que ele o seja conscientemente consigo próprio. É que os outros, na medida em que o tempo passa, de vidro passarão a espelhos. E tudo quebrará, revelando novas essências. Quem se pensa lixo e frágil, e que não persistiu o bastante, é teu próprio pai. Mas ele não o é; ou não o seria se se convencesse menos disso. É verdade que eu gostaria de ser mais reconhecido, mas não bajulado nem lisonjeado feiamente. Tenho um tamanho, e não é do monte Rushmore. É menor. Posso engolir certa medida de despeito multidirecional. Certa medida. Preciso de pausas em que enxergo futuros brilhantes nos outros. Mas como eu poderia mentir para mim mesmo que este mundo ocidental não está condenado, quando sei que vou morrer?! Pelo menos eu posso escolher que juízes terei em cada recinto em que adentrarei, e não esperar como numa antessala de consultório que dure a vida inteira… Paradoxalmente, este aforismo nos diz que não há quem interceda por nós, sejamos arrogantes ou humildes, mas que todas as relações pessoais são imanentes. Todo repolho gera peido, diria o escatológico gourmet. Se te dissessem: Não respires e não tomarás o oxigênio dos outros, far-te-ia este conselho mudar de postura? Pois bem. Por isso, quem exige demais de si mesmo não consegue ter amigos. Porque ninguém parece ter valor, e não o contrário. Talvez seja por isso que todo velho que fez um balanço de sua existência é indulgente acima da média com a juventude de seus tempos idosos.

4. REFERENTIAL MEANING

Marcador sintático e marcador semotático do significado semântico-contextual do termo. (mais simples do que parece)

os “etic” e os “emic” pseudodomains.

Folk classifications are often relatively unsystematic, without the neat classifications employed by the specialists (compare, f.ex., the average English-speaker’s classification of plants and animals with those the technically trained botanist or zoologist employs). (…) most English-speaking people can name various kinds of dogs without being able to describe systematically what the distinguishing features are.”

VENERAÇÃO PELO SÁBIO DA MONTANHA

Sujeito meditabundo não é fervoroso

vagabundo não é rancoroso

decoroso não é ser deste mundo

louvar é comungar dum leito

conspurcado com o fluido

da pureza da eminência

divina

venero o Nero que há em

você

nunca a bajulação

nos custou um só

tostão

psicanálise não é devoção mística mas

canônica

verbal

diga-se a palavra tabu e a maldição

será arrancada.

SEM MALDADE SAFADEZA

verso branco

cintura dura

sem malemolência

frente rosa

cadeira cheirosa

da negra que se

esfrega

no carnaval

comunhão

de todos

righteous, as found in Matthew, turns to be hierarchically subordinate to good, that is to say, it is a special subclass of good, namely, the goodness which is in conformance to the standard established by God. At the same time, righteous as used by Paul is quite distinct from righteous as used by Matthew, for rather than being ethical behavior, it is essentially a right relationship made possible by God, and thus characteristic of the man who has been <justified>, i.e., put into a right relationship with God (cf. Today’s English Version).”

figure 10

Diagrama-síntese da interrelação entre sinônimos

mother and father share all essential components except that of sex, but on that one the contrast is polar, and the 2 terms are antonyms.”

Compreendendo um pouco da carga negativa dos cristãos ortodoxos (ou misticistas!) associada à palavra “desgraça”. Fora de alcance mesmo da fé…

The two Greek terms agapao and phileo, both translated <love> in most contexts, have been extensively discussed by exegetes as instances of near synonyms, which are supposed to have certain important distinctions of meaning.” “phileo is never used in the imperative.” “one can <love> (agapao) without <liking> (phileo), but this is likewise too strong a contrast.”

Amor ao primeiro cogito

Certainly there is no clear-cut contextual contrast in John 21:15-17

Though agapao and phileo do occur in similar semotactic frames [contextos semânticos], the great preponderance of uses of agapao in certain types of contexts does point to the divine element of love.”

assoma um corpo somático

SESSÃO CATEQUESE

It should be noted that in the Bible the <holiness> of God differs from holy as applied to the gods, in that God possesses a moral quality, for he is expected to act justly quite apart from any propitiation. Note the exclamation of Abraham in Gen. 18:25: <Shall not the Judge of all the earth do right?>”

Henotheism means that there is one supreme god over other gods (a belief which is reflected in some passages of Old Testament), while monotheism means that there is only one God and that other gods simply do not exist.”

the word Elohim is plural in form but is used of God as well as of gods; a typical case is Psalm 138:1, in which different versions interpret the word differently. But such cases are relatively rare.”

this contrast between the meanings of a single word becomes even more startling when one compares the <meanings> of Jesus and Isa, the Christian and Muslim name for the same historical personage. In a number of translations employed in the Muslim world some persons have insisted that Isa must be used because this is the historical person referred to both in the New Testament and in the Koran. On the other hand, other persons have insisted that some adaptation of Jesus must be used since Isa is entirely inappropriate.”

To overcome the perennial problem of people’s twisting and changing the meaning of words (e.g. Communist use of terms such as peace, democracy, and republic), some persons want to set up some all-powerful language academy which would rule on all terms once and for all. But this will never work, for words are always subject to reshaping as circumstances and conditions change. In fact, such capacity for growth and change in language is essential to the very nature of language. Therefore, to enjoy the advantage of a living language we must also take the risks of its being perverted. Furthermore, even if it were desirable, so-called language engineering would still be in almost all cases a futile effort, simply because there is no effective authority which can impose its will on the way people speak. Cases as diverse as those of the French Academy and the efforts to impose Hindi in India are ample proof of this. Apparent exceptions, as in Israel or Turkey, result from the fact that official efforts happened to coincide with a powerful trend in the social history of the peoples involved, which would no doubt have come to fruition without any official pronouncements.”

BATIZO MINHA OBRA!

Mark 10:38: “Are you able… to be baptized with the baptism with which I am baptized?”

the essential components of Christian baptism are normally regarded to be: (1) the use of liquid (though as to the exact amount there is considerable disagreement), (2) the religious nature of the rite (this is not a secular act of dipping or washing), (3) the name in which the act of baptism is done, and (4) the function of the rite as a symbol of initiation into the Christian community. These are the same essential components of meaning which have continued to be generally recognized by most Christians through the ages. There are, however, some supplementary components of the rite which have in some instances competed for priority. For example, some churches have insisted that baptism cannot be valid unless one is actually totally immersed under the surface of the water, though even in the Didache, coming from the 2nd century, the possibility of pouring is allowed in cases of necessity. For other persons, baptism must not only be immersion, but immersion 3 times in order to be in the name of the Father, the Son, and the Holy Spirit. For some Christians the precise form of the verbal formula employed in the rite of baptism is also an essential part, without which the baptism is not efficacious or valid; while for other persons the real issue is whether the individual is a <believer>, that is, a person of accountable age (not an infant) who accepts baptism as a believer. In the case of certain churches the giving of a name is such an important part of baptism that the name for the rite has become <to give a name to>. (…) the most extreme form of restructuring of the meaning of baptism takes place among groups such as the Quakers and Salvation Army churches, who in reaction against ritual formalism have <spiritualized> the meaning of baptism and rejected the use of water entirely. The event of baptism among Quakers is, however, an important religious experience, and it marks initiation into the community, but not as a rite conducted by man but as an act of the Spirit of God. Quakers do not hesitate, however, to say that in a passage such as Acts 2:41 water was employed.”

fox is assigned the component <deceptively clever> only in Western European culture (note the Reynard stories); in other cultures the same trait is, just as arbitrarily, assigned to the rabbit, or to the spider, or to some other animal.”

The figurative sense of any term rests on the fact that it has an almost entirely distinct set of components, but that it also has a link to the primary sense through some one component, usually a supplementary one. This supplementary component can be actually relevant to the referent of the primary sense, or only conventionally assigned, but in either case it is not one of the essential, distinctive features by which the primary sense is distinguished from others.”

The terms circumcised and uncircumcised in Galatians 2, though literally object-event words, actually function primarily as object-words, and can more correctly be translated <Jews> and <Gentiles>. Their reference is to ethnic groups rather than to the physical operation (or its lack) which typically characterized these groups.” Particularmente discordo.

In some instances, one must deal with special Semitic usages, which may pose certain difficulties. F.ex., the common phrases children of… and sons of… frequently identify persons who are characterized by the term which follows the of: thus sons of disobedience (Ephesians 2:2) means simply <people who disobey (God)>, and children of wrath (Ephesians 2:3) refers to <persons who will experience the wrath of God> or, better, <those whom God will judge>.”

<horn of salvation> must be restructured semantically as <a great savior>”

5. CONNOTATIVE MEANING

the phrase thus saith the Lord is not merely equivalent to the Lord says, but carries with it the connotations of King James language and ecclesiastical intonations. Certainly once upon a time no longer means literally <once upon a time>.”

the Toity-toid and Toid Avenue dialect of New York, with its special pronunciation of bird as boid, girl as goil and third as toid is quite understandable and after a little practice one can readily <restructure> the sounds. However, these forms do carry certain associative meaning of being substandard.”

<Living forever> is in the Buddhist view one of the greatest of tragedies, for this means being trapped in the physical world of delusion and thus never permitted to escape into the eternal bliss of Nirvana, which is the logical and metaphysical opposite to the physical world.”

the Guaica Indians of southern Venezuela were entirely unmoved by the story of Jesus’ trial and death, for they regarded him as a complete coward for not having put up a fight in the Garden of Gethsemane. Anyone who would not fight or attempt to escape was regarded by the Guaica as deserving death.”

6. TRANSFER

Um problema comum entre os tradutores é que eles distorcem a mensagem não por saberem de menos, mas por saberem DEMAIS da matéria, algo que contraria a noção vulgar. Com efeito, eles tendem a se equiparar ao público-alvo, quando na realidade quase sempre são um técnicos-especialistas que superestimam o nível de compreensão do leitor típico. Creio que tomei a escolha correta nas minhas traduções de Platão ao me alongar em trechos que pareceriam inteligíveis tão-somente a estudantes de Filosofia; sempre penso nos meus amigos mais íntimos nestes momentos-chave: “Como será que eles processarão a informação ‘x’? Não fará qualquer sentido para eles se eu não adaptar dessa e daquela maneira!”.

translationese”

But if all the laymen can understand the Bible, what will the preachers have to do?” Por isso é altamente benéfico se especializar em Heidegger ou Shakespeare: sempre teremos algo a ensinar a alguém!

One of the particularly unfortunate ways of translating the Bible is to proceed verse by verse, for the verse divisions are often quite arbitrary units.”

Of course there are some situations in which one individual, unusually gifted in a knowledge of the original languages and skilled in the style of the receptor language, can undertake the task of Bible translating alone. But such one-man translations are increasingly less possible.”

expressões como ‘heap coals of fire on his head’ (Rom 12:20) [pilhas de carvão deixam sua cabeça em brasa] se transformam, na tradução, em <o envergonharão>.” CONTRA-EXEMPLO DE TRADUÇÃO, PORTANTO: “Portanto, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas de fogo sobre a sua cabeça.

In some languages, Holy Spirit means little more than a white ghost, for holy has been equated with cleanness or whiteness, and Spirit is more readily understood in such a context as ghost rather than as the Spirit of God. An even worse situation was encountered in a language in which holy was rendered as that which makes taboo and spirit meant primarily an evil or malicious spirit.”

the phrase Son of man in discourses by Jesus must be modified to read I who am the Son of man, since in some languages such a 3rd person reference could not be to Jesus. § Some persons have argued that Jesus did not actually speak of himself as <the Son of man>, but that this is a wrong attribution made to him by his disciples. Regardless of what position one might take with respect to such a reinterpretation of the data, it is evident that the Gospel writers themselves made this identification, and it is their text which we are translating rather than any presumed underlying original.”

Whenever a language has an obligatory order, the situation is somewhat easier than when there are a number of optional patterns, for though the different choices may appear to be substantially identical, there are usually certain subtle distinctions which are only mastered by long association with and close study of a language.”

In Quechua, a term may occur in the plural form at the beginning of a paragraph but any later references to the same term normally do not have the plural suffix. To keep attaching plural suffixes regularly to every occurrence of a plural word seems awkward and childish in Quechua.”

SABER TRANSCENDENTAL E SABER MUNDANO: “Judge not so that God will not judge you.” Intenção judaica original: “Não julgue outros homens para que Deus não o julgue desfavoravelmente.”; Provérbio que se tornou popular e uma referência como conselho para a vida: “Não julgue-os para que eles (os homens) não o julguem também.” Porém, sabemos que é-se julgado independentemente de querer ou divulgar seus julgamentos, seja numa instância fenomênica, seja na Prestação de Contas Derradeira (C://Memorando nº 666-PCD/PURG/Post-Morten/DEUS)!

Ah, que isso, os humilhados estão descontrolados (exaltados)!

cuscuz levantará os shinobi afogados.

He is greater than I must be rendered in some languages as He is greater than I am great, while in other languages the equivalent is He is great, I am not.”

O Black Sabbath foi feito para o homem, não o homem para o Black Sabbath.

beheaded fool

sejacabeceado tologordo

descabeçado

descabaçado

circuncidado

pelas circunstâncias

In some languages, one cannot say Jesus arose from the dead, but rather Jesus got up and left the dead, for such a language simply does not employ a preposition from but rather a verb indicating an event of movement.”

In the Guaica language of Venezuela, each complete sentence must end with one of the aspectual particles which indicates whether the described was seen by the speaker, was heard from reliable persons, or is purely legendary or imaginary.”

PAULO, O MAU ESCRITOR: “in Colossians 1:1-12 the we forms are essentially exclusive, but at verse 13 Paul evidently shifts viewpoints and includes his audience, and in verse 21 there is another shift back to the I-you or the we-you distinction. In Ephesians the problem is somewhat more acute.”

CRISTO, O 1º ZUMBI (d.C.?): “Some languages mark continually the differences between persons who are dead (or have died) and those who are still alive.”

In the recasting of borrowed words, including proper names especially, one normally attempts to follow the phonological structure of the receptor language. This may mean, for example, that Mark may become Maliko and Peter may become Petelo. There are, however, two principles which tend to alter a systematic adjustment to the phonological patterns of the receptor language: (1) the prestige of the orthography of a dominant language and (2) the problems of accidental correspondences.” “in many of the Indian languages of Latin America the people insist that the forms of common proper names must be like Spanish or Portuguese. (…) The same is true in many situations in Africa where French, English and Portuguese tend to dominate.”

Messiah in one language of West Africa turned out to be identical with an indigenous expression meaning death’s hand.”

7. RESTRUCTURING

figure 12

The solid lines in each instance represent the producer language, that is to say, the type of language which the person X or Y is able to produce, whether in speaking or writing. The broken lines represent the corresponding <consumer> language, that is to say, the range of language which these same persona are able to understand. It should be noted that in each instance, the spread or range of the consumer language is greater than that of the producer language. In other words, one is generally able to hear or read more than he can say or write.” “It is important to realize, however, that speaker X does not usually understand the total range of Y. That is to say, there are certain substandard forms which he probably can neither understand nor use correctly.”

In fact, if persons in class X employ substandard forms in writing to or for persons of class Y, the latter are quite understandably offended, and usually refuse to accept such communications”

The diagram employed in Figure 12 is not, however, adequate, since it does not reveal the historical perspective, and in all languages with a literary heritage there are many documents which reflect earlier stages of language. This is specially true of the Bible, which so often reflects long-established literary associations and well-entrenched stylistic usages.”

REDUBLAGEM & ESQUECIMENTO: “It is altogether possible that with the advent of recording we shall experience quite a different role for the oral language, but anything which is likely to be preserved over any long period of time is also likely to be relatively close to acceptable written style.”

figure 13

Ovelha não pode ler a Bíblia

The King James Version is listed at the extreme of the historical dimension, even though, of course, it was preceded by others. However, it is the only translation from the early period that exerts a significant continuing influence. § The RSV represents a somewhat middle position between the KJV and contemporary usage. As far as vocabulary usage is concerned, however, it is not on such a high literary level as the NEB. On the other hand, the NEB is stylistically much simpler in sentence structure, so that in some measure these 2 factors produce an average which makes the RSV and the NEB somewhat parallel. It is, of course, quite impossible to represent all the finer grades of contrast in a diagram of this type. § Phillips’ translation may be said to dip a little further than the NEB into the language of overlap between the upper and lower languages.”

In languages without literary traditions, one should attempt to produce a translation in the <popular> form of language, which represents the usage between the technical levels at the top and the vulgar speech at the bottom. The artificial forms of translationese should certainly be rejected as not representing the true genius of the language, and speech which is only used by the older generation should be largely rejected. However, in these situations one is generally able to employ a relatively wider range of the total resources of the language than in the case of <common language translations>, in which usage must be restricted primarily to the specific area of overlap [sobreposição – formal ou informal, tabuísmos, tecnicismos, etc.].”

whereas in case of languages with long literary traditions one is faced with the problems of socioeconomic and educational <dialects>, in the case of languages only now being reduced to writing, the problems are not those of vertical (sociological) dialects but of horizontal, or geographical, ones. Without the normalizing influence of a national educational program, local geographical dialects quite naturally proliferate, and one is confronted with certain very serious difficulties.”

in some instances the written language may almost be a <foreign language>, as in the case of written Arabic, which differs so markedly from the colloquial form of speech that a child must go to school for several years before being able to read standard written Arabic with ease.”

One well-known linguist has compared this relationship [between oral and written languages] to that between a person and a dog being walked on a long elastic leash. The dog (written language) can get quite far from the man (oral language), but the leash imposes limits, and the elasticity of the leash forces the dog to return to the man from time to time.” Alguns homens parecem cães (Kikuchi).

Lyric poetry should sound like poetry and not like an essay; letters should read like letters and not like some technical treatise on theology.”

<To hell with you and your money>, which is really an excellent equivalent of the Greek term apollumi. In Bible translating perhaps the greatest distortion in style comes in the rendering of the Epistles, for so often instead of producing letters the translator becomes so hopelessly entangled in technical theological language that the results sound more like a legal document than a letter.”

The first part of Romans appears in some languages to sound something like the following: <I, Paul, a slave of said master Jesus Christ, have been specifically called and summoned by God to be sent for a particular purpose and have been commissioned to that end, appointed to serve as a preacher of what is commonly known as the Good News, a message disclosed and published prior to final pronouncement in the Scriptures, widely known as the Old Testament.> Of course, no one translates quite so badly as this, but the heavy, involved, and ponderous style of some translations is equally out of place and poorly designed to represent something of the <spontaneous fullness> with which Paul speaks.”

If, for example, languages differ by more than 15% in their basic vocabulary (the central core of vocabulary which tends to be the most conservative), it is almost impossible to bring such dialects together, for they represent a linguistic separation, in glottochronological terms, of more than 700 years.”

Unfortunately, it often happens that translators have attempted to solve the problems of geographical dialects by a kind of <democratic method>, by which they select certain words and forms from one dialect, other words and forms from a 2nd dialect, and so on, until presumably all the dialects have been democratically represented. Such a procedure results in a hopeless mélange, a kind of language that no one speaks and all persona unanimously reject.”

some languages have a 4th person, but it is a specialized kind of 3rd person, not a really distinct one.”

The essential differences between languages are thus not in what can be said, but in what are permissible and/or probable combinations, and especially in what categories are marked obligatorily and what are purely optional.”

The most effective translations of Homer’s Iliad and Odyssey are now in prose, not in poetry, for poetic translations seem rather unnatural and even, at times, <silly>, but as prose, translations of Homer can be full of life, vigor and punch (e.g., Rieu’s). On the other hand, in India the poetic form is still much appreciated in many of the languages, and one of the very popular accounts of the life of Christ has been done in Malayalam verse by a skilled poet.”

phillips

Evitar a tradução Phillips

It is the job of a pastor and teacher, not of the translator, to make the cultural adaptation. This is also one of the major differences between an exegetical commentary and a homiletical or devotional commentary.”

RSV X NEB em Lucas 15:

1. The Greek text reads literally <and he said>, but this expression is used frequently by Luke as a marker of discourse transition, that is, to signal the shifts from one story or account to another. Accordingly, the NEB is thoroughly justified in introducing an equivalent marker in English. Stylistic feature: Discourse-transition marker.

2. The use of <once> in the NEB suggests the discourse type, i.e., the fact that this is a parable, rather than the account of a particular person and his two sons. In Greek this is clearly marked by the indefinite pronoun tis, <some>, <any>, <a>. Stylistic feature: Discourse-type marker.

(…)

4. Though the phrase <that falls to me> is a literal rendering of the original, the NEB has avoided a phrase which is semotactically unnatural. Stylistic feature: Semotactic appropriateness.

5. The use of <so> in place of the literal translation <and> is used to mark the intra-discourse transition. This is a perfectly legitimate translation of the Greek conjunction kai. Stylistic feature: Intradiscourse transition.

6. Though <living> is a literal rendering of Greek bios, it is misleading in present-day English, for <living> would refer to <income> and not to one’s entire estate. The NEB rendering is basically not a matter of style but of correctness in rendering, based on the principle of dynamic equivalence and not on the principle of formal correspondence.

(…)

8. The NEB is a more idiomatic rendering and is fully justified by Koine usage. Moreover, it results in a much more understandable account.”

Para mim foi o contrário (facilidade maior da RSV).

13. The phrase <loose living> implies immorality, but this element in the story does not come out until one hears the accusation of the elder brother. The NEB <reckless> seems a much better rendering of the Greek asotos. This is essentially a matter of interpretation.

14. The RSV construction, <when he … spent …, a great famine arose…>, suggests that the first action took place with anticipation of what was to follow. The NEB, however, makes the second clause the dependent clause to emphasize the unexpectedness of the famine. The Greek sentence would normally be translated as in the RSV, since the <spending> is a dependent participle. However, it is by no means necessary to treat all Greek participles in this rather mechanical fashion. Therefore, the NEB rendering can be justified as a much more effective and semantically appropriate means of showing relationships between clauses. Stylistic feature: Interclause markers.” Mas quem em santa consciência creria que um só hedonista, por mais rico que fosse, produziria um estado de penúria e fome geral num país? E que o jovem hedonista tinha fins suicidas em suas ações destemperadas? Não vejo qualquer desvantagem na primeira tradução; para se ler a Bíblia, é preciso ter algum raciocínio lógico – e não é uma tradução mais “exata” ou didática que o fará pelo leitor! Não pensei que a situação de falta de comida fosse um só instante condicionada pela dilapidação da fortuna do jovem…

16. The adjective <great> normally suggests something valuable or important, and is not so semotactically appropriate with <famine>. Stylistic feature: Semotactic appropriateness.

17. Normally so-called natural calamities are said to <fall>; they do not <arise>. Stylistic feature: Semotactic appropriateness.” Ok, já está quase me convencendo…

FINALMENTE UM GANHO DE CAUSA PARA A RSV (no décimo oitavo ponto, i.e.!): “The phrase <to be in want> is obsolescent, but <to feel the pinch> is rather weak. This suggests to many Britishers rising income taxes rather than being completely out of money. Stylistic feature: Contemporary usage (but misleading).

19. The expression <joined to> suggests a meeting of equals or an association, while <attached to> shows dependency relationship. Perhaps a better rendering would be <went to work for>. Stylistic feature: Semotactic appropriateness.

27. The phrase <bread enough and to spare> is obsolescent.” A Bíblia é obsoleta! O mal do homem é prolongar algo fadado ao fim há milênios…

36. The verb <embraced> seems not only somewhat stilted, but to many people it carries a rather heavy sexual connotation.” HAHAHA!

RSV X NEB X TEV em Hebreus 1:

3. The usage of <fathers> is obsolescent (and translationese), while <forefathers> is rather technical. <Ancestors> is more normal (at least for American English). Stylistic features: Contemporary usage and level of language.

The use of a term such as <effulgence> is likewise typical of the lexical high level of academic or technical style.”

12. The term <purification> is very seldom used with <sins>, except in certain traditional religious contexts. The word <purgation> is even less used in such a context and is understood, if it is known at all, by most persons as applying to <purgation of gastrointestinal wastes>.”

Some modern writers have introduced calculated formal confusion in order to suggest by the style something of the confusion and <absurdity> of the action or the responses of the participants.”

One might assume that well-known words would automatically all be high-frequency words. That is not, however, always the case. For example, headache and knee are not high-frequency words, but they are quite well known by any user of English. On the other hand, words such as matter and object are relatively frequent, but they are not always easy to comprehend.”

For special effects obsolescent or archaic words may be useful”

New and striking combinations of words make a writing fresh and give the impression that the ideas are also new and important.”

Some exegetes insist that en with <Christ>, <Son> or any other designation of the 2nd person of the Trinity can only mean <in Christ> in a very special Pauline sense. The principal difficulty with such a rendering is that it simply does not make much sense, if any, in English. (…) Even in the more than 400 years that this expression has been used in the English language, Christian preachers and scholars have been quite incapable of making it really meaningful. (…) It is precisely for this reason that even in this passage various translators have translated en as <by means of> or <by>.”

O novo testamento só quer saber de agência: ele é imensamente espírita.

If a stylist is to be employed either for the initial work or for later revision of the manuscript, it is important that he have certain very essential qualifications: (1) he must be a good writer, (2) he should not have too much acquaintance with the traditional forms of the Scriptures, (3) he should be sympathetic with the message of the Scriptures (though not necessarily a <believer>), and (4) in general he should work as a special consultant or assessor, and not as a member of a committee.

Being a good writer must mean much more than his having turned in a couple of publishable articles for a church paper. If at all possible a stylist should be a professional writer. It is not even enough that he be an editor or a corrector of other people’s writing. He should have creative writing abilities himself, for in the process of providing stylistic help for a translation he must do more than spot awkward sentences; he must be able to provide the creative assistance which is so essential.”

The really 1st-rate stylist usually does not survive as a member of a committee, for his job is an aesthetic type of contribution, and aesthetics is something many theologically trained persons simply do not understand. (…) he is usually ill equipped to defend his suggestions against the onslaught of those who claim to know just what the original means. The fact that what the committee is rendering may not make sense to the common man or that, if it is intelligible, it is painfully awkward, seems not to be too important to many theologically trained people translating the Bible. Accordingly, it is probably better for the stylist to do his work alone, in circumstances in which he can be far more creative.”

ETNOGRAFANDO: “To understand something about the style of oral literature in a language, it is essential to make thorough studies of the literary forms of legends, myths and stories from candidly recorded texts. That is to say, recordings should be made when the speaker is unaware of the fact that a recording is being made. Otherwise he will almost inevitably introduce a number of artificialities into the material. The translator who comes to the receptor language as a foreign language must alto <soak up> the language by saturating himself in hearing and speaking the language. And to do this he will need a number of years. (…) The average person can quite well master the syntactic structure of a language in 4 or 5 years, but it is the rare individual who masters the semotactic structure of a foreign language in less than 20 years, especially if he begins this process after he has become an adult.”

TRAINING STYLISTS FOR LANGUAGES LACKING A LITERARY TRADITION

Many persons have insisted that stylists, like any other artists, are born, not made, and in very large measure this is true. However, even persons with artistic talent need to have their capacities developed, and even those persons who seemingly have limited abilities can improve their output immensely through careful and consistent practice under guidance.”

For the most part such persons should have (1) good oral ability in the language, (2) creative imagination, i.e., the capacity to put words together, (3) some evidence of ability to write their own language reasonably well, (4) pride in their own language, (5) knowledge of the oral literature, i.e., of the legends, myths, etc., or a keen desire to study them, and (6) willingness to listen to and carefully consider suggestions made by others. Without these minimal qualifications [!] it is unlikely that a person will really succeed in doing quality work as a stylist, regardless of how much help he may be given in trying to learn how to write and to edit.”

The selection of potentially qualified persons is, however, only the beginning. They must also be carefully guided through a relatively long and carefully [QUANTOS CAREFULLY!] worked-out series of steps [não basta passos, tem de ser SÉRIES DE PASSOS!] in learning how to write [contradição em termos]. (…) writing for different levels of audience, writing for different degrees of impact, writing for differences of response, adaptation of articles and stories, learning to respond to orally given alternatives (…)”

Perhaps one of the most serious problems to overcome in the completely new writer is his tendency to be unbearably brief.” Nunca – N-U-N-C-A – tive esse problema!!

Nunca vou entender o pressuposto de que oralidade e escrita são absolutamente dependentes entre si. Realmente os autores nunca conheceram alguém como eu em toda sua longa vida!

* * *

8. TESTING THE TRANSLATION

As has already been intimated at several points in the preceding chapters, there is a tendency for all good translations to be somewhat longer than the originals.” “This tendency to greater length is due essentially to the fact that one wishes to state everything that is in the original communication but is also obliged to make explicit in the receptor language what could very well remain implicit in the source-language text, since the original receivers of this communication presumably had all the necessary background to understand the contents of the message. Moreover, there seems to be a relatively fixed tendency for languages to be approximately 50% redundant, not only in the sounds which are used but also in the flow of lexical information. From all evidence we have it is also assumed that most languages have approximately the same rate of flow of information for corresponding types of style and levels of usage.” Será que uma tradução que volte um texto traduzido da própria língua (3ª versão) [ex: LIVRO ALEMÃO LIVRO INGLÊS (2ª versão) LIVRO ALEMÃO], traduzido por uma terceira pessoa, por esporte, ou por desconhecimento da fonte original, seria necessariamente maior que a 1ª versão? (Parece que a resposta é não, a julgar pelo estudo realizado e descrito em VINAY & DARBELNET no tocante ao backtranslating; vd. próximas publicações.)

Some expressions, however, are so semantically condensed in the source-language text that they often require considerable expansion in the receptor language. For example, <I am a jealous God> (Exod. 20:5) can be badly misunderstood if translated literally, for it may only suggest that God acts like some jilted lover or that he has a mean, possessive disposition. More often than not, a literal rendering introduces quite unwarranted sexual connotations. Accordingly, in some languages this sentence must be semantically restructured by expansion to read <I am a God who demands that my people love no one else other than me>.

among some of the tribes in South America gambling is not known nor are there any devices for <selecting by lot>. Accordingly, in order for readers to comprehend the significance of certain accounts in the Scriptures, some supplementary information must be given in marginal notes.”

simplification of highly repetitious style, often associated with stateliness of form and importance of the theme, e.g., the first chapter of Genesis. While in Hebrew such repetitions and pleonasms may have a valued liturgical significance, a close formal parallel in another language may seem awkwardly heavy.”

it is just as important to employ the proper reductions as it is to introduce the proper expansions”

Actually the only linguistically sound [confiável] test of ease of comprehension is the Cloze Technique, which is based on the principle of transitional probabilities. That is to say, the easier it is for the reader to guess the next word, the easier it is to comprehend the word in such a context. This matter of <degree of predictability> (being able to guess the right word is only another way of talking about predictability) is essentially a concept derived from Information Theory. In its written application the Cloze Technique provides the reader with a text in which every 5th word is deleted and a blank space is left in its place. The reader is then asked to fill in those words which seem to fit the context best. (…) In general, one only needs about 50 such blanks in any text to provide a very satisfactory guide as to the relative comprehensibility of the text.”

As the text is read, the translator should note carefully those places at which the reader stumbles, hesitates, makes some substitution of another grammatical form, puts in another word, or in any way has difficulty in reading the text fluently. Of course, some of the problems in reading may be due to inexperience in public reading”

Despite all the tests that one might wish to make of a translation it seems that only the actual publication of sample materials can provide the kind of test necessary to judge the acceptability of a translation. But even the analysis of reactions to a published text is not a simple matter. The popularity may be for a number of different reasons: price, illustrations, format, marketing, and even quality of paper. (…) This is especially true of the Bible, which is so often bought as a prestige symbol or as a kind of <fetish of the faith>. The fact that a Bible with particularly small types sells well may not mean that it is greatly read (in fact, some small-type Bibles are practically illegible)”

Does his face show real interest and understanding (or is he only going through a devotional practice)?”

APPENDIX

AUTHORIZED CANONICAL BABEL GOSPEL: “In an earlier day, it was commonly supposed in Christian circles that translations of the Scriptures would be required for all the languages of the world. The most recent guesses, based on reliable though fragmentary data, suggest that there are somewhere between 4,000 and 5,000 languages and significantly different dialects now spoken in the world. The Bible has already been translated into some 1,500 languages, and these represent fully 97% of the world’s population.”

In many constituencies the very word <revision> often troubles people, for revision of the Bible means changing it, and this seems to call into question its inspiration and authority. (…) A new translation is so different from the old that it more or less disarms the attacks of the traditionalists.”

TATUAGEM RECURSAL INFINITA: “Revising an unsatisfactory translation has been compared to painting over the dirty spots on a wall.”

Testemunhas do Bem-Estar, um grupo de democratas fanáticos loucos que bate de porta em porta perguntando se os moradores não gostariam de ouvir a palavra da Constituição Federal de 1988, disseminando a Lei para Todos, convertendo almas degeneradas para o vade mecum da salvação.

enormormon

Increasingly, Roman Catholics and Protestants are working together on joint Bible translation projects. In order to facilitate such cooperation, a document has been prepared entitled Guiding Principles for Interconfessional Cooperation in Translating the Bible. This document issued jointly by the United Bible Societies and the Vatican’s Secretariat for Promoting Christian Unity, spells out in considerable detail the way in which such cooperation can be made to work harmoniously.”

assess their asses.

Experience has indicated that the ideal number of translators is between 3 and 5. When the group is larger, its procedures become excessively cumbersome.” “In case after case it has proved virtually impossible to make satisfactory progress when translators are working only part time.” Realmente a tradução não irá cair do céu!

Most of their work is done individually, each working in his own manner. From time to time they meet together as a group to compare and evaluate their work and to decide the final form of the translation.

The reviewers usually number 8 to 10 and are especially chosen either because of their competence in the original languages and in Biblical studies, or because of their ability as writers in the receptor language. They are often persons who have the technical capability to translate but who, because of other responsibilities or because they do not work well in a team, cannot serve effectively as translators.”

In order for the project to proceed efficiently, it is necessary that one person be designated as secretary or coordinator of the project.”

Livros com as passagens mais difíceis: Gênesis 1, Salmos 1, Isaías 53, Mateus 5 a 7, Marcos 1, João 1, Romanos 1 e Efésios 1.

Uma seleção de princípios de tradução para línguas denominadas <Bantu meridionais>

(…)

Para o Antigo Testamento o comitê deve basear seu trabalho no texto Masorético [Tanakh, a bíblia considerada original e mais completa] conforme fornecido pela terceira edição de Kittel, com a previsão formal de que em trechos particularmente problemáticos dever-se-á empreender uma releitura comparada de versões reputadas, recorrendo-se excepcionalmente, na persistência de divergências, a tradições hebraicas alternativas e, em último caso, a emendas [trechos que as autoridades reconhecem como ilegítimos conquanto válidos do ponto de vista da facilitação proporcionada pelo escriba e intérprete ao leitor comum].

Para o Novo Testamento o texto publicado pela United Bible Societies (Sociedades Bíblicas Unidas) é o recomendável. Para as passagens carentes de autoridade, recomenda-se a inserção de palavras entre parênteses ou colchetes, com o acréscimo de observação introdutória indicando que tais passagens não se encontram nos primeiros manuscritos canônicos e foram acrescidas depois.

(…) Ajudas de exegese: The Revised Standard Version (RSV), The New English Bible (NEB), Today’s English Version (TEV) e The Translators’ Translation (TT). (…)

Answers to rhetorical questions should be introduced unless the following expressions clearly imply the proper answer.

(…)

The basic unit of translation should be the paragraph

(…)

1st-person plural references to the 1st-person singular should be changed to 1st-person singular.

(…)

In case of genuine ambiguity, either in the source or receptor texts, one alternative should be given in the text and the other in the margin.

(…)

Proper names should in general be transcribed on the basis of receptor-language phonological structures, taking into consideration syllabic patterns, sequences of vowels and length of words.

(…)

Todos os termos para pesos e medidas que não forem familiares deverão ser explicados numa Tábua de Pesos e Medidas à parte.

Deverão ser incluídos mapas com as principais localizações apresentadas. [!!]”

Translating in committee is not only highly inefficient and wasteful of time, but it rarely produces an acceptable style.”

It is important not to break up books of the Bible and assign parts of them to different people, for the resulting will be too uneven.”

when a serious issue strongly divides the group, it is often advisable to set the problem aside until it can be discussed with a translations consultant. (…) The reason is that in the heat of argument the issues seem much more important than they do several days or weeks later when more experience has been gained and the problems are seen in a wider perspective.”

In some projects the reviewers have insisted on meeting together as a committee and going over the whole draft verse by verse. This is rarely a desirable approach. Not only can such a committee spend endless hours debating over details, but the end results are rarely as good as the work of the translators which was the basis of the discussion. The reviewers and the consultative group should remember that it is not their work to be censors.” Irônico… Um CHEFE DE TRADUÇÃO INQUISITIVO, he-he…

Versões para comparação instrutiva:

(*) American Bible Society

ASV – American Standard Version, 1901

ANT – The Amplified New Testament, 1958

TEV, 1966 (*)

KJV I, 1611

NEB, 1961

Livros/artigos de ajuda em técnicas de tradução, tópicos bíblicos, lingüística geral e antropologia:

Ackroyd & Knibb, Translating the Psalms, 1966

Benveniste, Problèmes de Linguistique Générale, 1966

Bratcher, Review of the 20th Century New Testament, 1962 (artigo)

______, Review of New American Standard Gospel of John, 1960 (artigo)

Chao, Yuen Ren. How Chinese logic operates, 1959 (artigo)

Clements, Divine Titles as a problem of Old Testament Translation, 1966 (artigo)

Garvin, L’analyse linguistique automatique: un problème heuristique, 1964 (artigo)

Hall, Pidgin and Creole Languages, 1966

Hess, A study of glossa in the New Testament, 1964 (artigo)

Hjelmslev, La stratification du langage, 1954 (artigo)

Hockett, Ethno-linguistic implications of studies in linguistics and psychiatry, 1960 (artigo)

Lamb, Ervin & Horowitz, Navaho color categories, 1960 (artigo)

Meek, Translating the Hebrew Bible, 1965 (artigo)

Newman, The Meaning of the New Testament, 1966

Pickett, Those problem pronouns: we, us and our in the New Testament, 1964 (artigo)

Smalley, La Version Populaire: a new version in simplified French, 1961 (artigo)

______, Phillips and NEB: some comments on style, 1965 (artigo)

Swellengrebel, Puzzles in Luke, 1966 (artigo)

Wonderly, La Versión Popular: a new version in simplified Spanish, 1961 (artigo)

1 Nunca esqueça do valor da nota de rodapé!

L’ENCYCLOPÉDIE – AM – Âme

ÂME. “Il ne peut y avoir que deux manieres d’envisager l’ame, ou comme une qualité, ou comme une substance. Ceux qui pensoient qu’elle n’étoit qu’une pure qualité, comme Epicure, Dicéarchus, Aristoxène, Asclepiade & Galien, croyoient & devoient nécessairement croire qu’elle étoit anéantie à la mort. Mais la plus grande partie des Philosophes ont pensé que l’ame étoit une substance. Tous ceux qui étoient de cette opinion ont soutenu unanimement qu’elle n’étoit qu’une partie séparée d’un tout, que Dieu étoit ce tout, & que l’ame devoit enfin s’y réunir par voie de réfusion.” “Ceux qui soûtenoient qu’il n’y avoit qu’une seule substance universelle étoient de vrais athées: leurs sentimens & ceux des Spinosistes modernes sont les mêmes; & Spinosa sans doute a puisé ses erreurs dans cette source corrompue de l’antiquité. Ceux qui soûtenoient qu’il y avoit dans la nature deux substances générales, Dieu & la matiere, concluoient en conséquence de cet axiome fameux, de rien rien, que l’une & l’autre étoient éternelles: ceux-ci formoient la classe des Philosophes Théistes & Déistes, approchant plus ou moins suivant leurs différentes subdivisions, de ce qu’on appelle le Spinosisme. Il faut remarquer que tous les sentimens des anciens sur la nature de Dieu tenoient beaucoup de ce systeme absurde. La seule barriere qui soit entr’eux & Spinosa, c’est que ce Philosophe ainsi que Straton, destituoit & privoit de la connoissance & de la raison cette force répandue dans le monde, qui selon lui en vivifioit les parties & entretenoit leur liaison, au lieu que les Philosophes Théistes donnoient de la raison & de l’intelligence à cette ame du monde. La divinité de Spinosa n’étoit qu’une nature aveugle, qui n’avoit ni vie ni sentiment, & qui néanmoins avoit produit tous ces beaux ouvrages, & y avoit mis sans le savoir une symmétrie & une subordination qui paroissent évidemment l’esset d’une intelligence très-éclairée, qui choisit & (sic?) ses fins & ses moyens.” “Voyez l’article de l’immatérialisme, où nous prouvons que les anciens Philosophes n’avoient eu aucune teinture de la véritable spiritualité.”

Humanus autem animus decerptus est, mente divina, cum alio nullo nisi cum ipso Deo comparari potest.” « On ne rencontre rien, dans la nature terrestre, qui ait la faculté de se ressouvenir & de penser, qui puisse se rappeller le passé, considérer le présent, & prévoir l’avenir. Ces facultés sont divines; & l’on ne trouvera point d’où l’homme peut les avoir, si ce n’est de Dieu. Ainsi ce quelque chose qui sent, qui goûte, qui veut, est céleste & divin, & par cette raison il doit être nécessairement éternel » Cícero

Celles qui s’étoient souillées par des vices ou par des crimes, passoient par une succession de corps différens, pour se purifier avant que de retourner à leur substance primitive. C’étoit-là les deux especes de métempsycoses naturelles, dont faisoient réellement profession ces deux écoles de Philosophie [Platônicos e Pitagóricos].” “les 4 grandes sectes de l’ancienne Philosophie; savoir les Pythagoriciens, les Platoniciens, les Péripatéticiens, & les Stoïciens

« Pourquoi donc l’ame, que vous dites être immortelle, être Dieu, est-elle malade dans les malades, imbécille dans les enfans, caduque dans les vieillards? ô folie, démence, infatuation! » Arnobe (?)

Après avoir parlé des ames sensitives, & déclaré qu’elles étoient mortelles, Aristote ajoûte que l’esprit ou l’intelligence existe de tout tems, & qu’elle est de nature divine: mais il fait une seconde distinction; il trouve que l’esprit est actif ou passif, & que de ces deux sortes d’esprit le premier est immortel & éternel, le second corruptible. Les plus savans Commentateurs de ce Philosophe ont regardé ce passage comme inintelligible, & ils se sont imaginés que cette obscurité provenoit des formes & des qualités qui infectent sa philosophie, & qui confondent ensemble les substances corporelles & incorporelles. (…) Aristote tire ici une conclusion contre son existence particuliere & distincte dans un état futur [e funda o Existencialismo, por assim dizer]: sentiment qui a été embrassé par tous les Philosophes, mais qu’ils n’ont pas tous avoüé aussi ouvertement.”

A ansiedade vai passar como a vontade, fique à vontade. Prolixo ansioso. Ânsia de vômito e sêmen, de engolir e ruminar, de introjetar, de ser invadido e libertar. Embraçar o embaraçado. Um ébrio médio, um Baco baço. Coceira no ventre, o baixo. Venta e molda o barro. Muda o endereço do bairro dos deuses. Sede nectarina da existência e dos assopros.

Peu de tems après la naissance du Christianisme, les Philosophes étant puissamment attaqués par les écrivains chrétiens, altérerent leur philosophie & leur religion, en rendant leur philosophie plus religieuse, & leur religion plus philosophique. Parmi les rafinemens du paganisme, l’opinion qui faisoit de l’ame une partie de la substance divine, fut adoucie. Les Platoniciens la bornerent [confinerent] à l’amedes brutes. Toute puissance irrationnelle, dit Porphire, retourne par réfusion dans l’ame du tout. Et l’on doit remarquer que ce n’est seulement qu’alors que les Philosophes commencerent à croire réellement & sincerement le dogme des peines & des récompenses d’une autre vie. Mais les plus sages d’entre-eux n’eurent pas plûtôt abandonné l’opinion de l’ame universelle, que les Gnostiques, les Manichéens & les Priscilliens s’en emparerent: ils la transmirent aux Arabes, de qui les athées de ces derniers siecles, & notamment Spinosa, l’ont empruntée. § On demandera peut-être d’où les Grecs ont tiré cette opinion si étrange de l’ame universelle du monde; opinion aussi détestable que l’athéisme même, & que M. Bayle trouve avec raison plus absurde que le système des atomes de Démocrite & d’Epicure. On s’est imaginé qu’ils avoient tiré cette opinion d’Egypte. La nature seule de cette opinion fait suffisamment voir qu’elle n’est point Egyptienne: elle est trop rafinée, trop subtile, trop métaphysique, trop systématique: l’ancienne philosophie des Barbares (sous ce nom les Grecs entendoient les Egyptiens comme les autres nations) consistoit seulement en maximes détachées, transmises des maîtres aux disciples par la tradition, où rien ne ressentoit la spéculation, & où l’on ne trouvoit ni les rafinemens ni les subtilités qui naissent des systèmes & des hypothèses. Ce caractere simple ne régnoit nulle part plus qu’en Egypte. Leurs Sages n’étoient point des sophistes scholastiques & sédentaires, comme ceux des Grecs; ils s’occupoient entierement des affaires publiques de la religion & du gouvernement; & en conséquence de ce caractere, ils ne poussoient les Sciences que jusqu’où elles étoient nécessaires pour les usages de la vie. Cette sagesse si vantée des Egyptiens, dont il est parlé dans les saintes Écritures, consistoit essentiellement dans les arts du gouvernement, dans les talens de la législature, & dans la police de la société civile. § Le caractere des premiers Grecs, disciples des Égyptiens, confirme cette vérité; savoir, que les Egyptiens ne philosophoient ni sur des hypothèses, ni d’une maniere systématique. Les premiers Sages de la Grece, conformément à lusage des Égyptiens leurs maîtres, produisoient leur philosophie par maximes détachées & indépendantes, telle certainement qu’ils l’avoient trouvée, & qu’on la leur avoit enseignée. Dans ces anciens tems le Philosophe & le Théologien, le Législateur & le Poëte, étoient tous réunis dans la même personne: il n’y avoit ni diversité de sectes, ni succession d’écoles: toutes ces choses sont des inventions Greques § (…) Le plus beau principe de la Physique des Grecs eut deux auteurs, Démocrite & Séneque: le principe le plus vicieux de leur Métaphysique eut de même deux auteurs, Phérécide le Syrien, & Thalès le Milésien, Philosophes contemporains. § Phérécide le Syrien, dit Cicéron, fut le premier qui soûtint que les ames des hommes étoient sempiternelles; opinion que Pythagore son disciple accrédita beaucoup. § Quelques personnes, dit Diogene Laërce, prétendent que Thalès fut le premier qui soûtint que les ames des hommes étoient sempiternelles. Thalès, dit encore Plutarque, fut le premier qui enseigna que l’ame est une nature éternellement mouvante, ou se mouvant par elle-même.” “l’immortalité de l’ame étoit une chose que l’on avoit crue de tout tems? Homere l’enseigne, Hérodote rapporte que les Égyptiens l’avoient enseignée depuis les tems les plus reculés: c’est sur cette opinion qu’étoit fondée la pratique si ancienne de déifier les morts.”

O CÍRCULO CONTRA O TRIÂNGULO: “Suidas nous dit que Phérécide n’eut de maître que lui-même.” E eu digo que sou deus. “Le grand secret des mystères & le premier des mysteres qui furent inventés en Égypte, consistoit dans le dogme de l’unité de Dieu: c’étoit-là le mystère que l’on apprenoit aux Rois, aux Magistrats & à un petit nombre chois d’hommes sages & vertueux; & en cela même cette pratique avoit pour objet l’utilité de la société. (…) tout est Dieu: ce qui les a entraînés dans toutes les erreurs & les absurdités de notre spinosisme. Les Orientaux d’aujourd’hui ont aussi tiré originairement leur réligion d’Égypte, quoiqu’elle soit infectée du spinosisme le plus grossier: mais ils ne sont tombés dans cet égarement que par le laps de tems, & par l’effet d’une spéculation rafinée, nullement originaire d’Égypte. Ils en ont contracté le goût par la communication des Arabes-Mahométans, grands partisans de la Philosophie des Grecs, & en particulier de leur opinion sur la nature de l’ame.

Anima velut surculus quidam ex matrice Adami in propaginem deducta, & genitalibus semine foveis commodata. Pullulabit tam intellectu quam & sensu.” Tertullien

M. Leibnitz a sur l’origine des ames un sentiment qui lui est particulier. Le voici: il croit que les ames ne sauroient commencer que par la création, ni finir que par l’annihilation; & comme la formation des corps organiques animés ne lui paroit explicable dans l’ordre, que lorsqu’on suppose une préformation déjà organique; il en infere que ce que nous appellons génération d’un animal, n’est qu’une transformation & augmentation: ainsi puisque le même corps étoit déjà organisé, il est à croire, ajoûte-t-il, qu’il étoit déjà animé, & qu’il avoit la même ame.”

Encore aujourd’hui il y a peu d’hommes en Orient qui aient une connoissance parfaite de la spiritualité.”

PERSEGUIÇÃO INTELECTUAL: “Spinosa ayant une fois posé pour principe qu’il n’y a qu’une substance dans l’univers, s’est vû forcé par la suite de ses principes à détruire la spiritualité de l’ame. Il ne trouve entre elle & le corps d’autre différence que celle qu’y mettent les modifications diverses, modifications qui sortent néanmoins d’une même source, & possedent un même sujet. Comme il est un de ceux qui paroît avoir le plus étudié cette matiere, qu’il me soit permis de donner ici un précis de son système & des raisons sur lesquelles il prétend l’appuyer. Ce Philosophe prétend donc qu’il y a une ame universelle répandue dans toute la matiere, & surtout dans l’air, de laquelle toutes les ames particulieres sont tirées; que cette ame universélle est composée d’une matiere déliée & propre au mouvement, telle qu’est celle du feu; que cette matiere est toûjours prête à s’unir aux sujets disposés à recevoir la vie, comme la matiere de la flamme est prête à s’attacher aux choses combustibles qui sont dans la disposition d’être embrasées.” “Ainsi les corps ne sont que des modifications qui peuvent exister ou non exister sans faire aucun tort à la substance; ils caractérisent & déterminent la matiere ou la substance, à peu près comme les passions caractérisent & déterminent un homme indifférent à être mû ou à rester tranquille. En conséquence, la matiere n’est ni corporelle ni incorporelle; sans doute, parce qu’il n’y a qu’une seule substance dans l’univers, corporelle en ce qui est corps, incorporelle en ce qui ne l’est point. (…) Aussi Pythagore & Platon conviennent-ils l’un & l’autre, que Dieu existoit avant qu’il y eût des corps, mais non avant qu’il y eût de la matiere, l’idée de la matiere ne demandant point l’existence actuelle du corps.” “Mais si par substance Spinosa entend une substance idéale métaphysique & arbitraire, il ne dit rien; car ce qu’il dit ne signifie autre chose, sinon qu’il ne peut y avoir dans l’univers deux essences différentes qui aient une même essence? Qui en doute? C’est à la faveur d’une équivoque aussi grossiere qu’il soûtient qu’il n’y a qu’une seule substance dans l’univers.”

Ce seroit une extravagance de dire que l’esprit de l’homme fût un point mathématique, puisque le point mathématique n’existe que dans l’imagination. Ce n’est pas aussi un point physique ou un atome. Outre qu’un atome indivisible répugne par lui-même, cette ridicule pensée n’est jamais tombée dans l’esprit d’aucun homme, non pas même d’aucun Épicurien.”

Spinosa pose comme un principe de sa Philosophie, que l’esprit n’a aucune faculté de penser ni de vouloir: mais seulement il avoüe qu’il a telle ou telle pensée, telle ou telle volonté. Ainsi par l’entendement, il n’entend autre chose que les idées actuelles qui surviennent à l’homme. Il faut avoir un grand penchant à adopter l’absurdité, pour recevoir une philosophie si ridicule.” APENAS CHAUVINISMO: “Cet absurde système a été embrassé par Hobbes: écoutons-le expliquer la nature & l’origine des sensations.”

PRÉ-SAUSSUREANOS: “quand on entend dire Dieu, l’Arabe reçoit le même mouvement d’air à la prononciation de ce mot François; le tympan de son oreille, les petits os qu’on nomme l’enclume & le marteau, reçoivent de ce mouvement d’air la même secousse & le même tremblement qui se fait dans l’oreille & dans la tête d’une personne qui entend le François. Par conséquent tous ces petits corps qu’on suppose composer l’esprit humain, sont remués de la même maniere, & reçoivent les mêmes impressions dans la tête d’un Arabe que dans celle d’un François; par conséquent encore un Arabe attacheroit au mot de Dieu la même idée que le François, parce que les petits corps subtils & agités qui composent l’esprit humain, selon Epicure & les Athées, ne sont pas d’une autre nature chez les Arabes que chez les François. Pourquoi donc l’esprit de l’Arabe ne se forme-t-il à la prononciation du mot Dieu aucune autre idée que celle d’un son, & que l’esprit d’un François joint à l’idée de ce son celle d’un être tout parfait, Créateur du ciel & de la terre? Voici un détroit pour les Athées & pour ceux qui nient la spiritualité de l’ame, d’où ils ne pourront se tirer, puisque jamais ils ne pourront rendre raison de cette différence qui se rencontre entre l’esprit de l’Arabe & celui du François. § (…) comme l’Arabe qui ne sait pas la langue Françoise ignore cette convention, il ne reçoit que la seule idée du son, sans y en joindre aucune autre. Cette vérité est constante, & il n’en faut pas davantage pour détruire les principes d’Epicure, d’Hobbes, & de Spinosa; car je voudrois bien savoir quelle seroit la partie contractante dans cette convention; à ce mot Dieu, je joindrai l’idée d’un être tout parfait; ce ne sera pas ce corps sensible & palpable, chacun en convient; ce ne sera pas aussi cet amas de corps subtils & agités, qui sont l’esprit humain, selon le sentiment de ces Philosophes, parce que ces esprits reçoivent toutes les impressions de l’objet, sans pouvoir rien faire au-delà: or ces impressions étoient les mêmes, & parfaitement semblables, lorsque l’Arabe entendoit prononcer ce mot Dieu, sans savoir pourtant ce qu’il signifioit. Il faut donc nécessairement qu’il y ait quelqu’autre cause que ces petits corps avec laquelle on convienne qu’à ce mot Dieu l’ame se représentera l’être tout parfait, de la même maniere qu’on peut convenir avec le Gouverneur d’une place assiégée, qu’à la décharge de 20 ou 30 volées de canon, il doit assûrer les habitans qu’ils seront bien-tôt secourus.”

1e. quand on a les yeux ouverts, en pensant fortement à quelque chose, il arrive très-souvent qu’on n’apperçoit pas les objets qui sont devant soi, quoiqu’ils envoyent à nos yeux les mêmes especes & les mêmes rayons, que lorsqu’on y fait plus d’attention. De sorte qu’outre tout ce qui se passe dans l’oeil & dans le cerveau, il faut qu’il y ait encore quelque chose qui considere & qui examine ces impressions de l’objet, pour le voir & pour le connoître.”

Precursores de uma longa discussão que não leva a nada: “Le néant, le pur néant, quoiqu’il ne puisse produire aucune impression, parce qu’il ne peut agir, ne laisse pas d’être l’objet de la pensée, de même que ce qui existe. L’esprit, par sa propre vertu & par la faculté qu’il a de penser, tire le néant de l’abysme pour le confronter avec l’être, & pour reconnoître que ces deux idées du néant & de l’étre se détruisent réciproquement.”

la question de la matérialité de l’ame, portée au tribunal de la raison, sera décidée en faveur de M. Locke.”

La question de l’immortalité de l’ame est nécessairement liée avec la spiritualité de l’ame. Nous ne connoissons de destruction que par l’altération ou la séparation des parties d’un tout; or nous ne voyons point de parties dans l’ame: bien plus nous voyons positivement que c’est une substance parfaitement une & qui n’a point de parties. Pherécide le Syrien est le premier qui au rapport de Cicéron & de S. Augustin, répandit dans la Grèce le dogme de l’immortalité de l’ame. Mais ni l’un ni l’autre ne nous détaillent les preuves dont il se servoit, & de quelles preuves pouvoit se servir un Philosophe qui, quoique rempli de bon sens, confondoit les substances spirituelles avec les matérielles, ce qui est esprit avec ce qui est corps. On sait seulement que Pythagore n’entendit point parler de ce dogme dans tous les voyages qu’il fit en Égypte & en Assyrie, & qu’il le reçut de Phérécide, touché principalement de ce qu’il avoit de neuf & d’extraordinaire. L’Orateur Romain ajoûte que Platon étant venu en Italie pour converser avec les disciples de Pythagore approuva tout ce qu’ils disoient de l’immortalité de l’ame, & en donna même une sorte de démonstration qui fut alors très applaudie: mais il faut avoüer que rien n’est plus frêle que cette démonstration, & qu’elle part d’un principe suspect. En effet, pour connoître quelle espece d’immortalité il attribuoit à l’ame, il ne faut que considérer la nature des argumens qu’il emploie pour la prouver. Les argumens qui lui sont particuliers & pour lesquels il est si fameux ne sont que des argumens métaphysiques tirés de la nature & des qualités de l’ame, & qui par conséquent ne prouvent que sa permanence, & certainement il la croyoit; mais il y a de la différence entre la permanence de l’ame pure & simple, & la permanence de l’ame accompagnée de châtimens & de récompenses. Les preuves morales sont les seules qui puissent prouver un état futur & proprement nommé de peines & de récompenses. Or Platon, loin d’insister sur ce genre de preuves, n’en allegue point d’autres, comme on peut le voir dans le douzieme livre de ses lois, que l’autorité de la tradition & de la religion. Je tiens tout cela pour vrai, dit-il, parce que je l’ai oüi dire. Par là il fait assez voir qu’il en abandonne la vérité, & qu’il n’en réclame que l’inutilité. 2e. L’opinion de Platon sur la métempsycose a donné lieu de le regarder comme le plus grand défenseur des peines & des récompenses d’une autre vie. A l’opinion de Pythagore qui croyoit la transmigration des ames purement naturelle & nécessaire, il ajoûta que cette transmigration étoit destinée à purifier les ames qui ne pouvoient point à cause des souillures qu’elles avoient contractées ici bas, remonter au lieu d’où elles étoient descendues, ni se rejoindre à la substance universelle dont elles avoient été séparées; & que par conséquent les ames pures & sans tache ne subissoient point la métempsycose. Cette idée étoit aussi singuliere à Platon que la métempsycose physique l’étoit à Pythagore. Elle semble renfermer quelque sorte de dispensation morale que n’avoit point celle de son maître; & elle en différoit même en ce qu’elle n’y assujettissoit pas tout le monde sans distinction, ni pour un tems égal. Mais pour faire voir néanmoins combien ces deux Philosophes s’accordoient pour rejetter l’idée des peines & des récompenses d’une autre vie, il suffira de se rappeller ce que nous avons dit au commencement de cet article de leur sentiment sur l’origine de l’ame. Des gens qui étoient persuadés que l’ame n’étoit immortelle que parce qu’ils la croyoient une portion de la divinité elle-même, un être éternel, incréé aussi bien qu’incorruptible; des gens qui supposoient que l’ame, après un certain nombre de révolutions, se réunissoit à la substance universelle où elle étoit absorbée, confondue & privée de son existence propre & personnelle: ces gens-là, dis-je, ne croyoient pas sans doute l’ame immortelle dans le sens que nous le croyons: autant valoit-il pour les ames être absolument détruites & anéanties, que d’être ainsi englouties dans l’ame universelle, & d’être privées de tout sentiment propre & personnel. Or nous avons prouvé au commencement de cet article, que la réfusion de toutes les ames dans l’ame universelle étoit le dogme constant des 4 principales sectes de Philosophes qui florissoient dans la Grèce.”

qu’il y a trois juges dans les enfers: il parle du Styx, du Cocyte & de l’Achéron, &c. & il y insiste avec tant de force, que l’on peut & que l’on doit même croire qu’il a voulu persuader les lecteurs auxquels il avoit destiné les ouvrages où il en parle, comme le Phédon, le Gorgias, sa République, &c. Mais qui peut s’imaginer qu’il ait été lui-même persuadé de toutes ces idées chimériques? Si Platon, le plus subtil de tous les Philosophes, eût crû aux peines & aux récompenses d’une autre vie, il l’eût au moins laissé entrevoir comme il l’a fait à l’égard de l’éternité de l’ame, dont il étoit intimement persuadé; c’est ce qu’on voit dans son Epinomis, lorsqu’il parle de la condition de l’homme de bien après sa mort: « J’assûre, dit-il, très-fermement, en badinant comme sérieusement, que lorsque la mort terminera sa carrière, il sera à sa dissolution dépouillé des sens dont il avoit l’usage ici-bas; ce n’est qu’alors qu’il participera à une condition simple & unique; & sa diversité étant résolue dans l’unité, il sera heureux, sage & fortuné ». (…) n’est pas sans dessein que Platon est obscur dans ce passage. Comme il croyoit que l’ame se réunissoit finalement à la substance universelle & unique de la nature dont elle avoit été séparée, & qu’elle s’y confondoit, sans conserver une existence distincte, il est assez sensible que Platon insinue ici secrètement, que lorsqu’il badinoit, il enseignoit alors que l’homme de bien avoit dans l’autre vie une existence distincte, particulière, & personnellement heureuse, conformément à l’opinion populaire sur la vie future; mais que lorsqu’il parloit sérieusement, il ne croyoit pas que cette existence fût particulière & distincte: il croyoit au contraire que c’étoit une vie commune, sans aucune sensation personnelle, une résolution de l’ame dans la substance universelle. J’ajoûterai seulement ici, pour confirmer ce que je viens de dire, que Platon dans son Timée s’explique plus ouvertement, & qu’il y avoue que les tourmens des enfers sont des opinions fabuleuses.

En effet, les Anciens les plus éclairés ont regardé ce que ce Philosophe dit des peines & des récompenses d’une autre vie comme choses d’un genre exotérique, c’est-à-dire, comme des opinions destinées pour le peuple, & dont il ne croyoit rien lui-même. Lorsque Chrysippe, fameux Stoïcien, blâme Platon de s’être servi mal-à-propos des terreurs d’une vie future pour détourner les hommes de l’injustice, il suppose lui-même que Platon n’y ajoûtoit aucune foi; il ne le reprend pas d’avoir crû ces opinions, mais de s’être imaginé que ces terreurs puériles pouvoient être utiles au progrès de la vertu. Strabon fait voir qu’il est du même sentiment, lorsqu’en parlant des Brachmanes des Indes, il dit qu’ils ont à la manière de Platon, inventé des fables concernant l’immortalité de l’ame & le jugement futur. Celse avoue que ce que Platon dit d’un état futur & des demeures fortunées destinées à la vertu, n’est qu’une allégorie.

Aristote s’explique sans détour, & de la manière la plus dogmatique contre les peines & les récompenses d’une autre vie: « La mort, dit-il, est de toutes les choses la plus terrible, c’est la fin de notre existence; & après elle l’homme n’a ni bien à espérer, ni mal à craindre. »

Epictète, vrai Stoïcien s’il y en eut jamais, dit en parlant de la mort: « Vous n’allez point dans un lieu de peines: vous retournez à la source dont vous êtes sortis, à une douce réunion avec vos élémens primitifs; il n’y a ni enfer, ni Achéron, ni Cocyte, ni Phlégéton. ». Séneque dans sa consolation à Marcia, fille du fameux Stoïcien Crémutius Cordus, reconnoît & avoue les mêmes principes avec aussi peu de tour qu’Epictète: « Songez que les morts ne ressentent aucun mal; la terreur des enfers est une fable; les morts n’ont à craindre ni ténebres, ni prison, ni torrent de feu, ni fleuve d’oubli; il n’y a après la mort ni tribunaux, ni coupables, il regne une liberté vague sans tyrans. Les Poëtes donnant carriere à leur imagination, ont voulu nous épouvanter par de vaines frayeurs: mais la mort est la fin de toute douleur, le terme de tous les maux; elle nous remet dans la même tranquillité où nous étions avant que de naître ».”

Les Newtoniens peuvent-ils supposer que l’attraction soit une cause réelle, quand même il ne surviendroit jamais aucun phénomene qui ne suivît la loi inverse du quarré des distances?”

Falando assim até parece fácil: “Mais de quelque manière que l’on conçoive ce qui pense en nous, il est constant que les fonctions en sont dépendantes de l’organisation, & de l’état actuel de notre corps pendant que nous vivons. Cette dépendance mutuelle du corps & de ce qui pense dans l’homme, est ce qu’on appelle l’union du corps avec l’ame; union que la saine Philosophie & la révélation nous apprennent être uniquement l’effet de la volonté libre du Créateur. Du moins n’avons-nous nulle idée immédiate de dépendance, d’union, ni de rapport entre ces deux choses, corps & pensée. Cette union est donc un fait que nous ne pouvons révoquer en doute, mais dont les détails nous sont absolument inconnus.”

On a des expériences de destruction d’autres parties du cerveau, telles que les nates & testes, sans que les fonctions de l’ame aient été détruites. Il en faut dire autant des corps cannelés; c’est M. Petit qui a chassé l’ame des corps cannelés, malgré leur structure singulière. Où est donc le sensorium commune? où est cette partie, dont la blessure ou la destruction emporte nécessairement la cessation ou l’interruption des fonctions spirituelles, tandis que les autres parties peuvent être altérées ou détruites, sans que le sujet cesse de raisonner ou de sentir? M. de la Peyronie fait passer en revûe toutes les parties du cerveau, excepté le corps calleux; & il leur donne l’exclusion par une foule de maladies très-marquées & très-dangereuses qui les ont attaquées, sans interrompre les fonctions de l’ame: c’est donc, selon lui, le corps calleux qui est le lieu du cerveau qu’habite l’ame. Oui, c’est selon M. de la Peyronie, le corps calleux qui est ce siége de l’ame, qu’entre les Philosophes les uns ont supposé être partout, & que les autres ont cherché en tant d’endroits particuliers” “Voilà donc l’ame installée dans le corps calleux, jusqu’à ce qu’il survienne quelqu’expérience qui l’en déplace, & qui réduise les Physiologistes dans le cas de ne savoir plus où la mettre. En attendant, considérons combien ses fonctions tiennent à peu de chose; une fibre dérangée; une goutte de sang extravasé; une légere inflammation; une chûte; une contusion: & adieu le jugement, la raison, & toute cette pénétration dont les hommes sont si vains: toute cette vanité dépend d’un filet bien ou mal placé, sain ou mal sain.”

La nature des alimens influe tellement sur la constitution du corps, & cette constitution sur les fonctions de l’ame, que cette seule réflexion seroit bien capable d’effrayer les mères qui donnent leurs enfans à nourrir à des inconnues.”

A HISTORINHA DA BOA CRENTE: “Une jeune fille que ses dispositions naturelles, ou la sévérité de l’éducation, avoit jettée dans une dévotion outrée, tomba dans une espece de mélancholie religieuse. La crainte mal raisonnée qu’on lui avoit inspirée du souverain-Être, avoit rempli son esprit d’idées noires; & la suppression de ses règles fut une suite de la terreur & des alarmes habituelles dans lesquelles elle vivoit. L’on employa inutilement contre cet accident es emmenagogues les plus efficaces & les mieux choisis [plantas aplicadas na pélvis para estimular o sangramento no útero]; la suppression dura; elle occasionna des effets si fâcheux, que la vie devint bientôt insupportable à la jeune malade; & elle étoit dans cet état, lorsqu’elle eut le bonheur de faire connoissance avec un Ecclésiatique d’un caractere doux & liant, & d’un esprit raisonnable, qui, partie par la douceur de sa conversation, partie par la force de ses raisons, vint à bout de bannir les frayeurs dont elle étoit obsédée, à la réconcilier avec la vie, & à lui donner des idées plus saines de la Divinité; & à peine l’esprit fut-il guéri, que la suppression cessa, que l’embonpoint revint, & que la malade joüit d’une très-bonne santé, quoique sa manière de vivre fût exactement la même dans les deux états opposés. Mais, comme l’esprit n’est pas moins sujet à des rechûtes que le corps, cette fille étant retombée dans ses premieres frayeurs superstitieuses, son corps retomba dans le même dérangement, & la maladie fut accompagnée des mêmes symptomes qu’auparavant. L’Écclésiastique suivit, pour la tirer de-là, la même voie qu’il avoit employée; elle lui réussit, les règles reparurent, & la santé revint. Pendant quelques années, la vie de cette jeune personne fut une alternative de superstition & de maladie, de religion & de santé. Quand la superstition dominoit, les règles cessoient, & la santé disparoissoit; lorsque la religion & le bon sens reprenoient le dessus, les humeurs suivoient leur cours ordinaire, & la santé revenoit.”

O MÚSICO AFICIONADO: “La fièvre & le délire étoient toûjours suspendus pendant les concerts, & la Musique étoit devenue si nécessaire au malade, que la nuit il faisoit chanter & même danser une parente qui le veilloit, & à qui son affliction ne permettoit guère d’avoir pour son malade la complaisance qu’il en exigeoit. Une nuit entr’autres qu’il n’avoit auprès de lui que sa garde, qui ne savoit qu’un misérable vaudeville, il fut obligé de s’en contenter, & en ressentit quelques effets. Enfin 10 jours de Musique le guérirent entierement, sans autre secours qu’une saignée du pié, qui fut la seconde qu’on lui fit, & qui fut suivie d’une grande évacuation.” The discmanman. “Il n’y a pas d’apparence qu’un Peintre pût être guéri de même par des tableaux; la Peinture n’a pas le même pouvoir sur les esprits, & elle ne porteroit pas la même impression à l’ame.” Sessões continuadas de recitação de poemas e muito thrash metal inoculado diretamente na veia…

ÂME des Bêtes (Métaph.). “La question qui concerne l’ame des bêtes étoit un sujet assez digne d’inquiéter les anciens Philosophes; il ne paroît pourtant pas qu’ils se soient fort tourmentés sur cette matiere, ni que partagés entr’eux sur tant de points différens, ils se soient fait de la nature de cette ame un prétexte de querelle. Ils ont tous donné dans l’opinion commune, que les brutes sentent & connoissent, attribuant seulement à ce principe de connoissance plus ou moins de dignité, plus ou moins de conformité avec l’ame humaine; & peut-être, se contentant d’envelopper diversement, sous les savantes ténebres de leur style énigmatique, ce préjugé grossier, mais trop naturel aux hommes, que la matiere est capable de penser. Mais quand les Philosophes anciens ont laissé en paix certains préjugés populaires, les modernes y signalent leur hardiesse [neste contexto, provavelmente afobação cairia bem]. Descartes suivi d’un parti nombreux, est le premier Philosophe qui ait osé traiter les bêtes de pures machines [e é incrível como esta reificação do universo era tratada como um avanço nos últimos esplendores do Progressismo, neste século tão secular! O quanto não devemos voltar a beber dos gregos e glorificar neo-filósofos que humanizem as coisas, hoje em dia, desintoxicando nossa NÃO-ALMA desta bobajada mecanicista toda!]: car à peine Gomesius Pereira, qui le dit quelque tems avant lui, mérite-t’il qu’on parle ici de lui; puisqu’il tomba dans cette hypothèse par un pur hasard, & que selon la judicieuse réflexion de M. Bayle, il n’avoit point tiré cette opinion de ses véritables principes. Aussi ne lui fit-on l’honneur ni de la redouter, ni de la suivre, pas même de s’en souvenir; & ce qui peut arriver de plus triste à un novateur, il ne fit point de secte.”

Peter Bayle – The Dictionary Historical and Critical [já baixado] (orig. 1737 – 2ª edição crítica de Des Maizeaux – 4º tomo, letras M-R) (dicionário muito bem-detalhado de personalidades). A seguir, trechos: “If it be a strange doctrine we ought not to wonder at it; for of all physical objects, none is more abstruse and perplexing than the souls of beasts.” O que começou mal, termina mal. O homem, ao se inventar a alma, pensa primeiro na sua. Depois, quimera das quimeras, inventa uma alma para os bichos. Se ainda não decidiu o quão espiritualizada é a natureza e o quão coisa é ou está ele mesmo, que homem poderia acertar o palpite sobre os animais, remexendo e atiçando ígneos híbridos com vara curtíssima? Um coelho alucinado não é menos humano que um homem dormindo.

Seek the clown Descartes in thyself!

Todos nós somos de origem obscura (uterina). África-mãe-nação.

INTRANSIGENTE: Desde que me entendo por em transe, gente!

On peut observer en passant que la Philosophie de Descartes, quoiqu’en aient pû dire ses envieux, tendoit toute à l’avantage de la religion” Papagaiam isso o tempo inteiro.

Heureusement depuis Descartes, on s’est apperçû d’un troisieme parti qu’il y avoit à prendre; & c’est depuis ce tems que le ridicule du système des automates s’est développé. On en a l’obligation aux idées plus justes qu’on s’est faites, depuis quelque tems, du monde intellectuel. On a compris que ce monde doit être beaucoup plus étendu qu’on ne croyoit, & qu’il renferme bien d’autres habitans que les Anges, & les ames humaines; ample ressource pour les Physiciens, partout où le méchanisme demeure court, en particulier quand il s’agit d’expliquer les mouvemens des brutes.”

Un musicien, un joüeur de luth, un danseur, exécutent les mouvemens les plus variés & les plus ordonnés tout ensemble, d’une maniere très-exacte, sans faire la moindre attention à chacun de ces mouvemens en particulier: il n’intervient qu’un seul acte de la volonté, par où il se détermine à chanter, ou joüer un tel air, & donne le premier branle aux esprits animaux; tout le reste suit régulierement sans qu’il y pense.” Eu, AnimaRobô

Rien ne donne une plus juste idée des automates Cartésiens, que la comparaison employée par M. Regis, de quelques machines hydrauliques que l’on voit dans les grottes & dans les fontaines de certaines maisons des Grands, où la seule force de l’eau déterminée par la disposition des tuyaux, & par quelque pression extérieure, remue diverses machines. Il compare les tuyaux des fontaines aux nerfs; les muscles, les tendons, &c. sont les autres ressorts qui appartiennent à la machine; les esprits sont l’eau qui les remue; le coeur est comme la source; & les cavités du cerveau sont les regards. Les objets extérieurs, qui par leur présence agissent sur les organes des sens des bêtes, sont comme les étrangers qui entrant dans la grotte, selon qu’ils mettent le pié sur certains carreaux disposés pour cela, font remuer certaines figures; s’ils s’approchent d’une Diane, elle fuit & se plonge dans la fontaine; s’ils avancent davantage, un Neptune s’approche, & vient les menacer avec son trident. On peut encore comparer les bêtes dans ce système, à ces orgues qui joüent différens airs, par le seul mouvement des eaux: il y aura de même, disent les Cartésiens, une organisation particuliere dans les bêtes, que le Créateur y aura produite, & qu’il aura diversement réglée dans les diverses especes d’animaux, mais toûjours proportionnément aux objets, toûjours par rapport au grand but de la conservation de l’individu & de l’espece.

On sait jusqu’où est allée l’industrie des hommes dans certaines machines: leurs effets sont inconcevables, & paroissent tenir du miracle dans l’esprit de ceux qui ne sont pas versés dans la méchanique. Rassemblez ici toutes les merveilles dont vous ayez jamais oüi parler en ce genre, des statues qui marchent, des mouches artificielles qui volent & qui bourdonnent; des araignées de même fabrique qui filent leur toile; des oiseaux qui chantent; une tête d’or qui parle; un Pan qui joue de la flûte: on n’auroit jamais fait l’énumération, même à s’en tenir aux généralités de chaque espece, de toutes ces inventions de l’art qui copie si agréablement la nature. Les ouvrages célebres de Vulcain, ces trépiés qui se promenoient d’eux-mêmes dans l’assemblée des Dieux; ces esclaves d’or, qui sembloient avoir appris l’art de leur maître, qui travailloient auprès de lui, sont une sorte de merveilleux qui ne passe point la vraissemblance; & les Dieux qui l’admiroient si fort, avoient moins de lumieres apparemment que les Méchaniciens de nos jours. Voici donc comme nos Philosophes Cartésiens raisonnent. Réunissez tout l’art & tous les mouvemens surprenans de ces différentes machines dans une seule, ce ne sera encore que l’art humain (…) le corps de l’animal est incontestablement une machine composée de ressorts infiniment plus déliés que ne seroient ceux de la machine artificielle” BioTech is GodZilla

Si les bêtes sont de pures machines, Dieu nous trompe; cet argument est le coup fatal à l’hypothese des machines.”

Esplêndida reviravolta: ”Avoüons-le d’abord; si Dieu peut faire une machine, qui par la seule disposition de ses ressorts exécute toutes les actions surprenantes que l’on admire dans un chien ou dans un singe, il peut former d’autres machines qui imiteront parfaitement toutes les actions des hommes: l’un & l’autre est également possible à Dieu; & il n’y aura dans ce dernier cas qu’une plus grande dépense d’art; une organisation plus fine, plus de ressorts combinés, seront toute la différence. Dieu dans son entendement infini renfermant les idées de toutes les combinaisons, de tous les rapports possibles de figures, d’impressions & de déterminations de mouvement, & son pouvoir égalant son intelligence, il paroît clair qu’il n’y a de différence dans ces deux suppositions, que celle des degrés du plus & du moins, qui ne changent rien dans le pays des possibilités. Je ne vois pas par où les Cartésiens peuvent échapper à cette conséquence, & quelles disparités essentielles ils peuvent trouver entre le cas du méchanisme des bêtes qu’ils défendent, & le cas imaginaire qui transformeroit tous les hommes en automates, & qui réduiroit un Cartésien à n’être pas bien sûr qu’il y ait d’autres intelligences au monde que Dieu & son propre esprit.”

Vous Cartésien, m’alléguez l’idée vague d’un méchanisme possible, mais inconnu & inexplicable pour vous & pour moi: voilà, dites-vous, la source des phénomenes que vous offrent les bêtes. Et moi j’ai l’idée claire d’une autre cause; j’ai l’idée d’un principe sensitif: je vois que ce principe a des rapports très-distincts avec tous les phénomenes en question, & qu’il explique & réunit universellement tous ces phénomenes. Je vois que mon ame en qualité de principe sensitif, produit mille actions & remue mon corps en mille manieres, toutes pareilles à celles dont les bêtes remuent le leur dans des circonstances semblables. Posez un tel principe dans les bêtes, je vois la raison & la cause de tous les mouvemens qu’elles font pour la conservation de leur machine: je vois pourquoi le chien retire sa patte quand le feu le brûle; pourquoi il crie quand on le frappe, &c. ôtez ce principe, je n’apperçois plus de raison, ni de cause unique & simple de tout cela. J’en conclus qu’il y a dans les bêtes un principe de sentiment, puisque Dieu n’est point trompeur, & qu’il seroit trompeur au cas que les bêtes fussent de pures machines; puisqu’il me représenteroit une multitude de phénomenes, d’où résulte nécessairement dans mon esprit l’idée d’une cause qui ne seroit point: donc les raisons qui nous montrent directement l’existence d’une ame intelligente dans chaque homme, nous assûrent aussi celle d’un principe immatériel dans les bêtes.”

pourquoi ces yeux, ces oreilles, ces narines, ce cerveau? c’est, dites-vous, afin de régler les mouvemens de l’automate sur les impressions diverses des corps extérieurs: le but de tout cela, c’est la conservation même de la machine. Mais encore, je vous prie, à quoi bon dans l’univers des machines qui se conservent elles-mêmes? (…) Nierez-vous que les différentes parties du corps animal soient faites par le Créateur pour l’usage que l’expérience indique? Si vous le niez, vous donnez gain de cause aux athées.” “Cette machine doit être faite pour quelque fin distincte d’elle; car elle n’est point pour elle-même, non plus que les roues de l’horloge ne sont point faites pour l’horloge.”

qui nous empêcheroit de supposer dans l’échelle des intelligences, au-dessous de l’ame humaine, une espece d’esprit plus borné qu’elle, & qui ne lui ressembleroit pourtant que par la faculté de sentir; un esprit qui n’auroit que cette faculté sans avoir l’autre, qui ne seroit capable que d’idées indistinctes, ou de perceptions confuses? Cet esprit ayant des bornes beaucoup plus étroites que l’ame humaine, en sera essentiellement ou spécifiquement distinct.”

Si l’ame des bêtes est immatérielle, dit-on, si c’est un esprit comme notre hypothèse le suppose, elle est donc immortelle, & vous devez nécessairement lui accorder le privilége de l’immortalité, comme un apanage inséparable de la spiritualité de sa nature. Soit que vous admettiez cette conséquence, soit que vous preniez le parti de la nier, vous vous jettez dans un terrible embarras. L’immortalité de l’ame des bêtes est une opinion trop choquante & trop ridicule aux yeux de la raison même, quand elle ne seroit pas proscrite par une autorité supérieure, pour l’oser soûtenir sérieusement. Vous voilà donc réduit à nier la conséquence, & à soûtenir que tout être immatériel n’est pas immortel: mais dès lors vous anéantissez une des plus grandes preuves que la raison fournisse pour l’immortalité de l’ame. Voici comme l’on a coûtume de prouver ce dogme: l’ame ne meurt pas avec le corps, parce qu’elle n’est pas corps, parce qu’elle n’est pas divisible comme lui, parce qu’elle n’est pas un tout tel que le corps humain, qui puisse périr par le dérangement ou la séparation des parties qui le composent. Cet argument n’est solide qu’au cas que le principe sur lequel il roule le soit aussi; savoir, que tout ce qui est immatériel est immortel, & qu’aucune substance n’est anéantie: mais ce principe sera réfuté par l’exemple des bêtes; donc la spiritualité de l’ame des bêtes ruine les preuves de l’immortalité de l’ame humaine.” Não acredito que depois de São Tomás de Aquino e suas enciclopédias escolásticas ainda haja tanto o que discutir!

Ainsi, quoique l’ame des bêtes soit spirituelle, & qu’elle meure avec le corps, cela n’obscurcit nullement le dogme de l’immortalité de nos ames, puisque ce sont là deux vérités de fait dont la certitude a pour fondement commun le témoignage divin. Ce n’est pas que la raison ne se joigne à la révélation pour établir l’immortalité de nos ames: mais elle tire ses preuves d’ailleurs que de la spiritualité.”

E qual é o problema de levar meu cãozinho para o paraíso comigo?

Si les brutes ne sont pas de pures machines, si elles sentent, si elles connoissent, elles sont susceptibles de la douleur comme du plaisir; elles sont sujettes à un déluge de maux, qu’elles souffrent sans qu’il y ait de leur faute, & sans l’avoir mérité, puisqu’elles sont innocentes, & qu’elles n’ont jamais violé l’ordre qu’elles ne connoissent point. Où est en ce cas la bonté, où est l’équité du Créateur? Où est la vérité de ce principe, qu’on doit regarder comme une loi éternelle de l’ordre? Sous un Dieu juste, on ne peut être misérable sans l’avoir mérité. Mais ce qu’il y a de pis dans leur condition, c’est qu’elles souffrent dans cette vie sans aucun dédommagement dans une autre, puisque leur ame meurt avec le corps; & c’est ce qui double la difficulté. Le Pere Malebranche a fort bien poussé cette objection dans sa défense contre les accusations de M. de la Ville. § Je répons d’abord que ce principe de S. Augustin, savoir, que sous un Dieu juste on ne peut être misérable sans l’avoir mérité n’est fait que pour les créatures raisonnables, & qu’on ne sauroit en faire qu’à elles seules d’application juste.”

Eu e meus apaniguados mereceríamos nós essa dorzinha de pedra nos rins ou de bexiga apertada?

que sous un Dieu bon aucune créature ne peut être nécessitée à souffrir sans l’avoir mérité: mais loin que ce principe soit évident, je crois être en droit de soûtenir qu’il est faux. L’ame des brutes est susceptible de sensations, & n’est susceptible que de cela: elle est donc capable d’être heureuse en quelque degré. (…) Qu’emporte donc la juste idée d’un Dieu bon? c’est que quand il agit il tende toûjours au bien, & produise un bien; c’est qu’il n’y ait aucune créature sortie de ses mains qui ne gagne à exister plûtôt que d’y perdre: or telle est la condition des bêtes; qui pourroit pénétrer leur intérieur, y trouveroit une compensation des douleurs & des plaisirs, qui tourneroit toute à la gloire de la bonté divine; on y verroit que dans celles qui souffrent inégalement, il y a proportion, inégalité, ou de plaisirs ou de durée; & que le degré de douleur qui pourroit rendre leur existence malheureuse, est précisément ce qui la détruit: en un mot, si l’on déduisoit la somme des maux, on trouveroit toûjours au bout du calcul un résidu de bienfaits purs, dont elles sont uniquement redevables à la bonté divine; on verroit que la sagesse divine a sû ménager les choses, en sorte que dans tout individu sensitif, le degré du mal qu’il souffre, sans lui enlever tout l’avantage de son existence, tourne d’ailleurs au profit de l’univers.” [Esse raciocínio seria genial se aplicado à enantiodromia do próprio ser humano – mas que falta de tato clássico!]

O gato não sabe que é charmoso e elegante, que inútil cega beleza, que não se aproveita! Poderia a mulher?… Poderia eu?… Pingos conscienciosos.

Est-il juste que l’ame d’un poulet souffre & meure afin que le corps de l’homme soit nourri? que l’ame du cheval endure mille peines & mille fatigues durant si long-tems, pour fournir à l’homme l’avantage de voyager commodément? Dans cette multitude d’ames qui s’anéantissent tous les jours pour les besoins passagers des corps vivans, peut-on reconnoître cette équitable & sage subordination qu’un Dieu bon & juste doit nécessairement observer? Je réponds à cela que l’argument seroit victorieux, si les ames des brutes se rapportoient aux corps & se terminoient à ce rapport; car certainement tout être spirituel est au-dessus de la matiere. Mais, remarquez-le bien, ce n’est point au corps, comme corps, que se termine l’usage que le Créateur tire de cette ame spirituelle, c’est au bonheur des êtres intelligens. Si le cheval me porte, & si le poulet me nourrit, ce sont bien là des effets qui le rapportent directement à mon corps: mais ils se terminent à mon ame, parce que mon ame seule en recueille l’utilité.”

Tudo isso pertence à Genealogia do Fascismo: “Pour l’anéantissement, ce n’est point un mal pour une créature qui ne refléchit point sur son existence, qui est incapable d’en prévoir la fin, & de comparer, pour ainsi dire, l’être avec le non-être, quoique pour elle l’existence soit un bien, parce qu’elle sent. La mort, à l’égard d’une ame sensitive, n’est que la soustraction d’un bien qui n’étoit pas dû [A Mosca Filosófica!]; ce n’est point un mal qui empoisonne les dons du Créateur & qui rende la créature malheureuse. Ainsi, quoique ces ames & ces vies innombrables que Dieu tire chaque jour du néant soient des preuves de la bonté divine, leur destruction journalière ne blesse point cet attribut: elles se rapportent au monde dont elles font partie; elles doivent servir à l’utilité des êtres qui le composent; il suffit que cette utilité n’exclue point la leur propre, & qu’elles soient heureuses en quelque mesure, en contribuant au bonheur d’autrui. Vous trouverez ce système plus développé & plus étendu dans le traité de l’essai philosophique sur l’ame des bêtes de M. Bouillet [Dispenso, obrigado.]”

Confrontando novamente o Ultra-existencialismo/solipsismo de uma alma antiga (2009): “Il n’est pas possible que les hommes avec qui je vis soient autant d’automates ou de perroquets instruits à mon insu. J’apperçois dans leur extérieur des tons & des mouvemens qui paroissent indiquer une ame: je vois régner un certain fil d’idées qui suppose la raison: je vois de la liaison dans les raisonnemens qu’ils me font, plus ou moins d’esprit dans les ouvrages qu’ils composent. Sur ces apparences ainsi rassemblées, je prononce hardiment qu’ils pensent en effet. Peut-tre que Dieu pourroit produire un automate en tout semblable au corps humain, lequel par les seules lois du méchanisme, parleroit, feroit des discours suivis, écriroit des livres très-bien raisonnés. Mais ce qui me rassûre contre toute erreur c’est la véracité de Dieu.” “Je vois un chien accourir quand je l’appelle, me caresser quand je le flatte, trembler & fuir quand je le menace, m’obéir quand je lui commande, & donner toutes les marques extérieures de divers sentimens de joie, de tristesse, de douleur, de crainte, de desir, des passions de l’amour & de la haine; je conclus aussitôt qu’un chien a dans lui-même un principe de connoissance & de sentiment, quel qu’il soit.”

Il vaudroit encore mieux s’en tenir aux machines de Descartes, si l’on n’avoit à leur opposer que la forme substantielle des Péripatéticiens, qui n’est ni esprit ni matiere. Cette substance mitoyenne est une chimere, un être de raison dont nous n’avons ni idée ni sentiment. Est-ce donc que les bêtes auroient une ame spirituelle comme l’homme? Mais si cela est ainsi, leur ame sera donc immortelle & libre; elles seront capables de mériter ou de démériter, dignes de récompense ou de châtiment; il leur faudra un paradis & un enfer. Les bêtes seront donc une espece d’hommes, ou les hommes une espece de bêtes; toutes conséquences insoûtenables dans les principes de la religion.” “puisqu’il est prouvé par plusieurs passages de l’Écriture, que les démons ne souffrent point encore les peines de l’enfer, & qu’ils n’y seront livrés qu’au jour du jugement dernier, quel meilleur usage la justice divine pouvoit-elle faire de tant de légions d’esprits réprouvés, que d’en faire servir une partie à animer des millions de bêtes de toute espece, lesquelles remplissent l’univers, & font admirer la sagesse & la toute-puissance du Créateur? (…) Une dégradation si honteuse pour ces esprits superbes, puisqu’elle les réduit à n’être que des bêtes, est pour eux un premier effet de la vengeance divine, qui n’attend que le dernier jour pour se déployer sur eux d’une maniere bien plus terrible.” “Les bêtes sont naturellement vicieuses: les bêtes carnacieres & les oiseaux de proie sont cruels; beaucoup d’insectes de la même espece se dévorent les uns les autres; les chats sont perfides & ingrats; les singes sont malfaisans; les chiens sont envieux; toutes sont jalouses & vindicatives à l’excès, sans parler de beaucoup d’autres vices que nous leur connoissons. Il faut dire de deux choses l’une: ou que Dieu a pris plaisir à former les bêtes aussi vicieuses qu’elles sont, & à nous donner dans elles des modeles de tout ce qu’il y a de plus honteux; ou qu’elles ont comme l’homme un péché d’origine qui a perverti leur premiere nature.” “Pythagore enseignoit autrefois, qu’au moment de notre mort nos ames passent dans un corps soit d’homme, soit de bête, pour recommencer une nouvelle vie, & toûjours ainsi successivement jusqu’à la fin des siecles. Ce système qui est insoûtenable par rapport aux hommes, & qui est d’ailleurs proscrit par la religion, convient admirablement bien aux bêtes, selon le P. Bougeant, & ne choque ni la religion, ni la raison. Les démons destinés de Dieu à être des bêtes, survivent nécessairement à leur corps, & cesseroient de remplir leur destination, si lorsque leur premier corps est détruit, ils ne passoient aussitôt dans un autre pour recommencer à vivre sous une autre forme.”

ConFABULANDO: “Si les bêtes ont de la connoissance & du sentiment, elles doivent conséquemment avoir entre-elles pour leurs besoins mutuels, un langage intelligible. La chose est possible, il ne faut qu’examiner si elle est nécessaire. Toutes les bêtes ont de la connoissance, c’est un principe avoüé; & nous ne voyons pas que l’Auteur de la nature ait pû leur donner cette connoissance pour d’autres fins que de les rendre capables de pourvoir à leurs besoins, à leur conservation, à tout ce qui leur est propre & convenable dans leur condition, & la forme de vie qu’il leur a prescrite. Ajoûtons à ce principe, que beaucoup d’especes de bêtes sont faites pour vivre en société, & les autres pour vivre du moins en ménage, pour ainsi dire, d’un mâle avec une femelle, & en famille avec leurs petits jusqu’à ce qu’ils soient élevés. Or, si l’on suppose qu’elles n’ont point entr’elles un langage, quel qu’il soit, pour s’entendre les unes les autres, on ne conçoit plus comment leur société pourroit subsister: comment les castors, par exemple, s’aideroient-ils les uns les autres pour se bâtir un domicile, s’ils n’avoient un langage très-net & aussi intelligible pour eux que nos langues le sont pour nous? (…) si la nature les a faites capables d’entendre une langue étrangere, comment leur auroit-elle refusé la faculté d’entendre & de parler une langue naturelle? car les bêtes nous parlent & nous entendent fort bien.” HAHA!

Une hirondelle ne fait pas le printemps.” Proverbe!

Quelque difficile qu’il soit d’expliquer leur langage & d’en donner le dictionnaire, le Père Bougeant a osé le tenter. Ce qu’on peut assurer, c’est que leur langage doit être fort borné, puisqu’il ne s’étend pas au-delà des besoins de la vie (…) Point d’idées abstraites par conséquent, point de raisonnemens métaphysiques, point de recherches curieuses sur tous les objets qui les environnent, point d’autre science que celle de se bien porter, de se bien conserver, d’éviter tout ce qui leur nuit, & de se procurer du bien. (…) Comme la chose qui les touche le plus est le desir de multiplier leur espece, ou du moins d’en prendre les moyens, toute leur conversation roule ordinairement sur ce point. On peut dire que le Pere Bougeant a décrit avec beaucoup de vivacité leurs amours, & que le dictionnaire qu’il donne de leurs phrases tendres & voluptueuses, vaut bien ce de l’Opéra. Voilà ce qui a révolté dans un Jésuite condamné par état à ne jamais abandonner son pinceau aux mains de l’amour. La galanterie n’est pardonnable dans un ouvrage philosophique, que lorsque l’Auteur de l’ouvrage est homme du monde; encore bien des personnes l’y trouvent-elles déplacée. En prétendant ne donner aux raisonnemens qu’un tour léger & propre à intéresser par une sorte de badinage, souvent on tombe dans le ridicule; & toûjours on cause du scandale, si l’on est d’un état qui ne permet pas à l’imagination de se livrer à ses saillies. Il paroît qu’on a censuré trop durement notre Jesuite sur ce qu’il dit, que les bêtes sont animées par des diables. Il est aise de voir qu’il n’a jamais regardé ce système que comme une imagination bisarre & presque folle. Le titre d’amusement [Amusement philosophique] qu’il donne à son livre, & les plaisanteries dont il l’égaye, font assez voir qu’il ne le croyoit pas appuyé sur des fondemens assez solides pour opérer une vraie persuasion.”

Âme des Plantes (Jardinage.) Les Physiciens ont toûjours été peu d’accord sur le lieu où réside l’ame des plantes; les uns la placent dans la plante, ou dans la graine avant d’être semée; les autres dans les pepins ou dans le noyau des fruits.” Haverá briófitas no Céu? Coitada da planta, está sobrevivendo em estado vegetativo somente!

on restraint à l’homme, comme à l’être le plus parfait, les trois qualités de l’ame, savoir de végétative, de sensitive, & de raisonnable.”

Âme de Saturne. Ame de Saturne, anima Saturni, selon quelques Alchimistes, est la partie du plomb la plus parfaite, qui tend à la perfection des métaux parfaits; laquelle partie est selon quelques-uns, la partie teignante [? – régnante?].”

A REPÚBLICA – Livro II

Tradução de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei que devia tentar esclarecer alguns pontos polêmicos ou obscuros demais quando se tratar de leitor não-familiarizado com a obra platônica. Quando a nota for de Azcárate, haverá um (*) antecedendo as aspas.

(*) “Os antigos criam que as serpentes se deixavam hipnotizar pelo canto. Vide Virgílio, Éclogas, 8:71.”

“Diz-se que é um bem em si o cometer a injustiça e um mal o padecê-la. E que resulta um maior mal em padecê-la que um bem em cometê-la. Que os homens cometeram e sofreram a injustiça alternativamente; experimentaram a ambas, e tendo todos os homens conhecido o que é sofrer já por bastante tempo, e não podendo os mais débeis dentre eles evitar os ataques dos mais fortes, nem atacá-los por sua vez, creram que era de interesse comum impedir que se fizesse e que se recebesse qualquer mal. Daqui nasceram as leis e as convenções. Passou-se a chamar justo e legítimo o que foi ordenado pela lei. (…) E chegou-se mesmo a amar a justiça, não porque seja um bem em si mesma, mas em razão da impossibilidade em que nos coloca de cometer a injustiça. Porque aquele que pode cometê-la e é verdadeiramente homem não se põe a negociar tratos para evitar que se cometam ou sofram injustiças, e seria isso uma loucura sua, caso negociasse. Eis aqui, Sócrates, a natureza da justiça.”

“Giges era pastor do rei da Lídia. Depois de uma tempestade seguida de violentos abalos sísmicos, a terra se abriu justo no local em que apascentava o seu gado; assombrado diante desta maravilha natural, desceu pela fenda aberta e, entre tudo o de mais estranho que encontrou, viu um cavalo de bronze, em cujo ventre havia, abertas, portinholas, pelas quais enfiou a cabeça para verificar o conteúdo das entranhas do simulacro de animal. O que encontrou foi um cadáver de porte aparentemente superior ao humano. Este cadáver, ademais, estava nu, e só possuía um adorno, um anel de ouro num dos dedos. Giges o tocou e o retirou da mão do cadáver. Posteriormente, havendo-se todos os pastores se reunido em assembléia da forma costumeira, ao fim do mês, a fim de prestar contas ao rei sobre o estado de seus rebanhos, Giges lá compareceu, usando o anel no dedo e sentando-se em meio aos demais pastores. Quando a pedra preciosa do anel, por acidente, girou para o lado de dentro (da palma da mão de Giges), ele se tornou invisível, e então dele falaram como se estivera ausente. Embasbacado com este novo prodígio, Giges girou a pedra de novo para o lado externo, e na mesma hora se fez visível.”

“Decidido, sabendo agora usar seu objeto, tramou para incluir-se entre os da comitiva de pastores que teriam uma conversação privada com o rei. Chegado ao palácio, corrompeu a rainha e com seu auxílio se desfez do rei e se apoderou do trono. Ora, se existissem dois anéis desta espécie, e se um fosse concedido a um homem justo e outro a um injusto, é consenso geral que provavelmente não haveria um só homem de caráter bastante firme para perseverar na justiça e abster-se de se apropriar dos bens alheios, sendo que poderia fazê-lo impunemente: furtar em praça pública, invadir as casas, abusar de quem fôra, matar alguns, libertar outros dos grilhões e, enfim, fazer tudo o que quisera de posse de um poder semelhante ao dos deuses em meio aos mortais. Em nada difeririam, portanto, as condutas de um e de outro: ambas tenderiam aos mesmos fins, e nada provaria melhor que ninguém é justo deliberadamente, mas tão-só por necessidade”

“O grande mérito da injustiça consiste em parecer justo sem sê-lo. É preciso dotar, portanto, o homem perfeitamente injusto da perfeita injustiça sem nada tirar dela, que, assim, mesmo cometendo os maiores crimes, saberia sempre conservar uma reputação de homem de bem; e quando ele desse um passo em falso, saberia sempre remediá-lo a tempo. Seria um homem tão eloqüente que convenceria de sua inocência aos próprios homens que se tornassem vítimas de suas ações e que fossem os seus acusadores; atrevido e poderoso, ora por si mesmo, ora através das amizades, operaria de modo a sempre conseguir pela força o que não poderia obter de outra forma.”

“O justo, dizem, o que é tal como eu o pintei, será açoitado, atormentado, acorrentado, queimar-se-á seus olhos, e, por fim, depois de terem-no feito sofrer toda a classe de males, será empalado, e assim farão compreender que não adianta tratar de ser justo, mas tão-somente de parecer sê-lo.” “enriquece, faz o bem aos seus íntimos, mal aos inimigos, oferece sacrifícios e presentes magníficos aos deuses, atrai a benevolência dos deuses e dos homens com mais facilidade e segurança do que o justo.”

“SÓCRATES – Os pais aconselham a justiça a seus filhos e os professores a seus alunos. E o fazem tendo em vista a justiça em si? Não, unicamente devido à reputação que vai embutida no conceito, a fim de que a reputação de homens justos propicie-lhes dignidades, uniões auspiciosas e todos os demais bens mencionados por Glauco. Mas vão ainda mais longe, e ensinam sobre os inesgotáveis favores e bênçãos derramados de mãos cheias sobre os justos pelos deuses. E citam Hesíodo e Homero (…) Museu¹ e seu filho vão ainda mais longe e prometem aos justos recompensas maiores ainda. Conduzem-nos para o além, no Hades; sentam-nos à mesa, coroados de flores, assegurando que passarão uma existência inteira em festas e banquetes, como se uma embriaguez eterna fosse a mais bela recompensa pela virtude. Segundo outros, estas recompensas não se limitam aos indivíduos. O homem são e fiel aos semelhantes revive em sua posteridade, que se perpetua de era em era.”

¹ Personagem mitológico. Teria criado os mistérios de Elêusis (esta uma das polis gregas), associados ao surgimento do orfismo (lado místico e oculto da religiosidade helena). Teria morrido de causas naturais (de velhice); talvez isso explique nossa instituição moderna do museu que preserva antiguidades artísticas e o dito popular de quem “quem vive de passado é museu”… Muito do que se sabe hoje sobre Museu foi retirado de Virgílio e Pausânias.

“Um único assunto como o dos ritos de sacrifício foi capaz de produzir uma vastidão de livros, entre cujos autores estão Museu e Orfeu, que os fazem descender, um das Musas, e o outro de Selene; e com estes discursos creia tu que não convencem apenas um ou outro, mas cidades inteiras! Estas, assim, pensam poder expiar qualquer culpa dos vivos e dos mortos através de um pequeno número de vítimas e de jogos regulares. Chamam tudo isso de purificações, estes sacrifícios instituídos para nos livrar dos males da próxima vida; e sustentam que aqueles que se isentam destas práticas estão sujeitos aos mais terríveis tormentos no amanhã.”

“Se se me diz que é árduo ao homem mau ocultar-se por muito tempo, responderei que todas as grandes empresas têm suas dificuldades, e que, suceda o que suceder, se desejo ser bem-sucedido, não tenho outro caminho a seguir que não o traçado pelos discursos que escuto. No mais, para escapar das inquirições, pode-se organizar seitas e irmandades. Mestres há que nos ensinarão a arte de seduzir o povo e os juízes com discursos artificiosos. Empregaremos a eloqüência e, na ausência desta, a força, a fim de escapar da punição de nossos crimes. Mas a força e o engodo nada podem contra os deuses. E na hipótese de que não haja deuses ou que eles não se imiscuam nas coisas deste mundo, ainda mais despreocupados ficamos de ludibria-los! Se há, sim, deuses, e eles participam, sim, dos negócios humanos, o fato é que deles só sabemos por ouvir falar, pelo povo, e pelos retratos dos poetas que descreveram sua genealogia; e precisamente estes mesmos poetas nos dizem que é possível aquietá-los e aplacar sua cólera por meio de sacrifícios, votos e oferendas.” “se alguém combate a injustiça, é que a covardia, a velhice ou qualquer outra debilidade tornam-no impotente para fazer o mal.”

“Muito me surpreendi, agradavelmente, dos discursos de Glauco e de Adimanto. Nunca admirei tanto quanto nesta ocasião seus dotes naturais”

“- (…) É quase impossível que um Estado encontre um ponto da terra em que não sejam necessárias as importações.

– É impossível, de fato.

– Também teria necessidade, nosso Estado, de que alguns se encarreguem de ir aos Estados vizinhos buscar o que falta.”

“- Mas no Estado mesmo, como se comunicarão uns cidadãos com outros sobre o fruto de seu trabalho? Porque esta é a primeira razão que tiveram para viver em sociedade e erigir tal Estado.

– É evidente que será por meio da compra e da venda.

– Logo, necessitar-se-á de um mercado e de uma moeda, signo do valor dos objetos trocados.”

“Quer dizer que nossa cidade não pode existir sem varejistas. Não é este o nome que se dá aos que, permanecendo na praça pública, nada mais fazem que comprar e vender, reservando-se o nome de atacadistas¹ aos que viajam e pululam de um Estado a outro?”

¹ Poder-se-ia usar o termo “traficantes”, mas a frase adquiriria duplo sentido. O sentido exato da sentença original não pode ser alcançado em Português, uma vez que para nós negociante, mercador ou comerciante adquiriram status de sinônimos, na prática. Então a oposição varejo-atacado não é exatamente a intenção original, mas não deixa de ser um substituto razoável – há o feirante ou microempresário sedentário e o verdadeiro ambulante, modesto ou opulento; mas fala-se aqui, efetivamente, do segundo tipo, empreendedor com capital suficiente para estabelecer papel em redes mais complexas de trocas.

“É provável que muitos não se dêem por satisfeitos com o gênero de vida simples que prescrevemos. Ainda acrescentarão camas, mesas, móveis de todas as sortes, refeições bem-condimentadas, perfumes, incensos, cortesãs e guloseimas de todas as classes e em profusão.”

“Será necessário aumentá-lo e fazer nele entrar uma multidão de gentes que o luxo, e não a necessidade, introduz nos Estados, como caçadores de todos os gêneros e aqueles cuja arte consiste na imitação por intermédio de figuras, cores e sons;¹ e ainda mais, os poetas, com todo seu cortejo, i.e., rapsodos, atores, dançarinos, empresários. E também fabricantes de artigos de todos os gêneros, principalmente aqueles que trabalham para o público feminino. Também precisaremos de novos servos: afinal, para tanta gente não farão falta aios e aias, amas e camareiras, cabeleireiros, garotos-de-recados, cozinheiros e mesmo porqueiros? No primeiro Estado não havia que pensar em todas essas coisas; mas neste, como passar sem elas? e sem toda classe de animais destinados a atender ao paladar dos gastrônomos?

– Com efeito: como não?

– Mas, com este gênero de vida, não crês que os médicos não se fazem mais necessários que antes?

– Muito mais importantes.”

¹ Pintores, escultores e músicos.

“SÓCRATES – Em decorrência, Glauco, faremos a guerra ou não? Vês alguma outra postura possível?

GLAUCO – Só esta tua.”

“SÓCRATES – Agora é preciso, querido amigo, dar guarida, em nosso Estado, a um numeroso exército que possa sair de encontro ao inimigo e defender o Estado e tudo o que possui das invasões do mesmo inimigo.

GLAUCO – Mas como?!?… Não poderão os próprios cidadãos atacar e se defender?

SÓCRATES – Não, se o princípio em que convimos ao formar o plano do Estado for autêntico. Convimos, para te lembrar, que era impossível que um mesmo homem desempenhasse vários ofícios.

GLAUCO – É, tens razão.”

“Mas estar ansioso por aprender e ser filósofo não são uma e a mesma coisa?”

“Formemos, pois, nossos homens como se tivéssemos tempo para contar estórias.”

“- Os discursos, em tua opinião, são parte integrante da música?

– Sim, assim os creio.

– E há discursos de duas classes, verdadeiros e falsos.

– Sim.

– Uns e outros entrarão igualmente em nosso plano de educação, começando pelos discursos falsos?

– Não compreendo teu pensamento.

– Não sabes que o primeiro que se faz com as crianças é contar-lhes fábulas, e que ainda quando se ache algo de verdadeiro nelas, não são, ordinariamente, mais que um tecido de falsidades?”

“Escolhamos os mitos convenientes e descartemos os demais. A seguir, comprometeremos as amas e as mães a entreter suas crianças com os mitos autorizados”

“…os de Hesíodo, Homero e demais poetas; porque os poetas, tanto os de hoje quanto os dos tempos antigos, não fazem nada senão divertir o gênero humano com falsas narrativas.”

“Acima de tudo, não é uma falsidade das maiores e das mais graves a de Hesíodo quanto aos atos de Urano, a vingança suscitada em Cronos, as façanhas deste e o péssimo tratamento que recebeu este de seu filho por sua vez? E ainda que tudo isso fôra exato, não são coisas que devam se contar na frente de crianças desprovidas de razão; é preciso condená-las ao silêncio; ou, se for preciso falar delas, só se deve fazê-lo em segredo, diante de uma audiência seleta, com a proibição expressa de revelar seu conteúdo aos de fora, e assim mesmo só depois de haver feito cada membro dessa audiência imolar, não um porco, mas uma vítima preciosa e rara a fim de limitar o número dos iniciados.” Não se deve contar o inato: o Complexo de Édipo.

“Pelo menos não se devem ouvir nunca em nosso Estado. Não quero que se diga na presença de um jovem que, cometendo os maiores crimes e até se vingando cruelmente de seu próprio pai pelas injúrias recebidas, alguém deixará de cometer qualquer coisa de extraordinário e assombroso, posto que há o precedente dos primeiros e maiores deuses, que deram o mau exemplo.”

“tampouco falaremos dos combates dos deuses, ou dos laços que havia entre uns e outros; lembre-se que nada disso é seguro. Menos ainda daremos a conhecer, seja em narrativas, seja através de pinturas e tapeçarias, as guerras dos gigantes e todas as querelas que houve entre os deuses e os heróis com seus parentes e amigos mais chegados.”

“Que jamais se ouça entre nós que Hera foi agrilhoada pelo próprio filho e Hefesto atirado do céu por seu pai, por ter desejado socorrer sua mãe quando este a mal tratava”

“ADIMANTO – Dizes coisas mui sensatas, mas se se nos perguntasse quais são as fábulas admissíveis, que responderíamos?

SÓCRATES – Adimanto, nem tu nem eu somos poetas. Nós fundamos uma república, e neste conceito nos cabe conhecer segundo que modelo devem os poetas compor suas fábulas, além de proibir que se separem fábula e autor um dia; mas não nos cabe compô-las.

ADIMANTO – Tem razão; mas o que as fábulas devem nos ensinar com respeito à divindade?

SÓCRATES – De imediato, é necessário que os poetas nos representem Deus tal qual é de todos os ângulos, seja na epopéia, seja na ode, seja na tragédia.”

“Deus, sendo essencialmente bom, não é causa de todas as coisas, como se diz por aí. E os bens e os males estão de tal maneira repartidos entre os homens que o mal domina, Deus não é causa senão de uma pequena parte do que nos acontece e não o é em tudo o mais (na natureza). A Deus só se devem atribuir os bens; quanto aos males, é preciso buscar outra causa que não seja a divindade.”

“Que não se dê confiança a Homero nem a qualquer outro poeta, insensato o bastante para disparatar sobre os deuses e para dizer, por exemplo, que:

Sobre o umbral do palácio de Zeus há dois tonéis,

um cheio de destinos felizes

e outro de destinos desgraçados,

Se Zeus toma de um e outro para um mortal,

Sua vida será uma mescla de bons e maus dias;

mas se toma só de um ou só de outro sem mescla,

uma terrível miséria o perseguirá sobre a divina terra.

“Não consentiríamos que se dissessem estes versos de Ésquilo¹ diante de nossa juventude:

A divindade faz crescer a culpa entre os homens

quando quer arruinar uma família totalmente.

¹ Níobe

(*) “Ínaco, drama satírico, atribuído alternadamente a Sófocles, Ésquilo e Eurípides.”

“A mentira, falando com propriedade, é a ignorância, que afeta a alma do que é enganado; porque a mentira nas palavras não é mais que uma expressão do sentimento que a alma experimenta; não é uma mentira pura, mas um fantasma filho do erro.”

“Deus é essencialmente reto e veraz em seus ditos e em suas ações, não muda de forma, nem pode enganar os demais, nem mediante fantasmas, nem mediante discursos, nem valendo-se de signos, seja durante o dia e à vigília, seja durante a noite e em sonhos.”

O POLÍTICO OU DA SOBERANIA

Tradução de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei que devia tentar esclarecer alguns pontos polêmicos ou obscuros demais quando se tratar de leitor não-familiarizado com a obra platônica. Quando a nota for de Azcárate, haverá um (*) antecedendo as aspas.

Ficino, escolástico do século XV, foi um dos primeiros tradutores de Platão, às portas do “ressurgimento moderno da Filosofia”. Victor Cousin, filósofo francês, 4 séculos mais tarde, faria uma tradução bem parecida. Falo isso porque em traduções de trechos difíceis eles costumam concordar.

(*) “Amon, i.e., o Zeus dos habitantes do litoral africano. Amon significa areia [embora haja controvérsias – e tem proveniência egípcia]. O Teodoro do diálogo é oriundo de Cirene [colônia grega situada na atual Líbia].”

(*) “Conforme o testemunho do mesmo Platão, o diálogo intitulado Teeteto precede O Sofista, que é por sua vez seguido pel’O Político, cujo plano é que fosse continuado em O Filósofo. [Este último não foi produzido antes da morte de Platão. Os diálogos, portanto, devem ser estudados como uma unidade, e não como independentes entre si.]

O ESTRANGEIRO – (…) Procedemos como aquele que, pretendendo dividir em dois o gênero humano, fizesse como os nativos da Ática, que distinguem os gregos de todos os demais povos como uma raça à parte; a seguir, juntando todas as demais nações, ainda que numerosas, quase infinitas, sem sequer se conhecerem muitas delas, as designam pelo singelo nome de <bárbaros>. (…) Quão mais sábio e veraz não seria dividir por espécies e por metades, se se dividisse o número em par ou ímpar, e a raça humana em varões e fêmeas; sem distinguir os lídios, os frígios ou qualquer outro povo, nem opô-los a todos os demais, a não ser quando não houvesse meio de dividir por espécies e por partes!”

O ESTRANGEIRO – Toda a parte da ciência especulativa que se refere ao mando, como já dissemos, que tem por objeto a educação dos animais, dos que vivem em rebanho. De acordo?

SÓCRATES O JOVEM¹ – Sim.

O ESTRANGEIRO – Assim, já dividimos todo o reino animal, pondo de um lado os selvagens, e doutro os que se pode amansar; pois esses animais que são suscetíveis de amansamento nós denominamos animais domesticados, em contraste com os selvagens.”

¹ Este é apenas um xará do grande Sócrates, estudante novato de Filosofia.

O ESTRANGEIRO – Nestas divisões da educação dos animais que andam, é preciso se valer de perífrases¹ para designar as diversas partes; porque querer dar a cada uma um nome próprio seria prestar-se a um trabalho desnecessário.

SÓCRATES O JOVEM – Então como se deve dizer?

O ESTRANGEIRO – Desta forma: dividida a educação dos animais que andam em duas partes, uma se refere à espécie de animais que vive em grupos e que tem chifres; e a outra à espécie que não os tem.

SÓCRATES O JOVEM – Se estabelecermos isso, tudo bem, não será mais preciso voltar a este assunto.

O ESTRANGEIRO – Muito bem: é óbvio que o rei conduz um rebanho desprovido de cornos.

SÓCRATES O JOVEM – Mas por que isso é óbvio?

O ESTRANGEIRO – Decomponhamos esta espécie; façamos de forma que designemos aquilo que lhe pertence.

SÓCRATES O JOVEM – Estou conforme.

O ESTRANGEIRO – Queres dividi-la segundo os animais que têm ou não a pata fendida; ou segundo o critério da geração, i.e., aquelas em que a geração pode se produzir mesmo que não se trate dos mesmos animais e aquelas em que a geração só se dá entre os semelhantes? Compreendeste a questão?

SÓCRATES O JOVEM – Não exatamente.

O ESTRANGEIRO – Vou dar um exemplo: os cavalos e os asnos podem reproduzir entre si.

SÓCRATES O JOVEM – Ah, compreendo.

O ESTRANGEIRO – Ao contrário, os demais animais domésticos, que vivem em rebanho, engendram cada um sua própria espécie dentro de seus confins, não se mesclando nem engendrando híbridos.

SÓCRATES O JOVEM – Sim, isso é exato.

O ESTRANGEIRO – Mas e então: te parece que o político cuida de uma espécie que engendra em comum com outras, ou de um animal puro, que não se mescla com nenhum outro?

SÓCRATES O JOVEM – Evidentemente, de uma espécie que não se mescla.

O ESTRANGEIRO – Agora é preciso, ainda, dividir em duas partes esta espécie eleita, como já fizemos outras vezes.

SÓCRATES O JOVEM – Com certeza.”

¹ Substitutos na mesma língua, i.e., poder-se-ia chamar “animal que produz e se alimenta de mel” no lugar de “abelha”. Nem tudo que não tem nome carece por isso de uma descrição exata.

O ESTRANGEIRO – (…) os cachorros não devem ser incluídos entre os animais que vivem em sociedade.

SÓCRATES O JOVEM – Não, decerto. Mas então como obteremos nossas duas metades desta vez?

O ESTRANGEIRO – Procedendo como vós faríeis; refiro-me a ti e Teeteto, posto que vós vos ocupais da Geometria.¹

SÓCRATES O JOVEM – Ainda não entendo aonde queres chegar.

O ESTRANGEIRO – Pelo cálculo da diagonal. E depois pelo da diagonal da diagonal.

SÓCRATES O JOVEM – Ainda não compreendi!

O ESTRANGEIRO – A natureza própria da espécie humana, quanto a seu modo de andar, não consiste em ser exatamente como a diagonal, sobre a qual pode-se construir um quadrado de 2 pés?

SÓCRATES O JOVEM – Sim, exato.

O ESTRANGEIRO – E a natureza da outra espécie, relativamente ao mesmo objeto, não é como a diagonal do quadrado do nosso quadrado, posto que tem 2×2 pés?”

¹ Isto não está em contradição com a nota anterior sobre o jovem Sócrates: um dos pilares da dialética platônica é justamente o conhecimento matemático, que é preciso dominar primeiro em sua generalidade a fim de filosofar com conseqüência.

O ESTRANGEIRO – Eis nossa espécie humana ao lado e em companhia da mais nobre e ao mesmo tempo a mais ágil das espécies.

SÓCRATES O JOVEM – É verdade que se trata de uma conseqüência bem ridícula.

O ESTRANGEIRO – Não é o mais natural que o mais lento chegue sempre mais tarde?

SÓCRATES O JOVEM – Irrefutável.

O ESTRANGEIRO – E não seria mais ridículo ainda apresentar o rei correndo com seu rebanho, e disputando corrida com o homem mais atlético, um corredor nato?”

SÓCRATES O JOVEM – Nada concebo de mais ridículo.

O ESTRANGEIRO – Já vês às claras, Sócrates, o que disséramos quanto ao sofista.

SÓCRATES O JOVEM – O que exatamente?

O ESTRANGEIRO – Que este método não considera o que é nobre e o que não o é, nem considera se o caminho é curto ou comprido, apenas concentra todas as suas forças na busca pela verdade.

SÓCRATES O JOVEM – Já o aprecio.

O ESTRANGEIRO – Pois bem: depois de tudo isto, e antes de que perguntes-me qual era esse caminho mais curto do qual falavas antes, que conduz à definição do rei, eu mesmo me adiantarei.

SÓCRATES O JOVEM – De acordo.

O ESTRANGEIRO – Teria sido necessário começar por dividir os animais que andam em bípedes e quadrúpedes. E, como à primeira categoria só pertencem os pássaros – ademais do homem –, seria preciso dividir esta nova espécie de bípedes em bípedes nus e bípedes com pena;¹(*) por último, feita esta dupla operação, e deixado às claras o modo de educar ou de conduzir os homens, situamos, numa terceira etapa, o político e o rei à cabeça desta arte, confiando-lhes a renda do Estado, como legítimos possuidores desta ciência.”

¹ Este trecho é muito famoso e parodiado, já por contemporâneos (vd. Aristófanes), já por modernos muito mais próximos de nós. Aristóteles e Diógenes Laércio, este último nem que fosse de forma distorcedora ou descontextualizadora, também tornaram essa passagem ainda mais célebre.

(*) “Esta passagem deu origem sem dúvida à famosa anedota de Diógenes o Cínico. Diógenes Laércio [um dos primeiros historiadores da Filosofia, ainda do mundo antigo, que acabo de citar], num comentário sobre a vida de seu xará, nos diz: <Como ele tinha ouvido a definição platônica do homem (um animal de dois pés sem penas), pegou um galo e, depenando-o, levou-o à Academia, e ao apresentá-lo afirmou: ‘Eis aqui o homem de Platão.’>.”

O ESTRANGEIRO – Uma das antigas tradições, ainda recordadas e que se recordarão por muito tempo, é a do prodígio, que apareceu na querela entre Atreu e Tiestes. Tu com certeza já a ouviste, então te será fácil dizeres o que se sucedeu então.

SÓCRATES O JOVEM – Creio que falas da maravilha da ovelha de ouro.(*)

O ESTRANGEIRO – Não se trata disso, meu jovem! Falo da mudança do nascer e do pôr do sol e dos demais astros, os quais se punham no mesmo ponto de que agora nascem, e nasciam do lado oposto. Querendo o deus testificar sua presença a Atreu, por uma mudança repentina foi que estabeleceu a ordem atual.

SÓCRATES O JOVEM – Ah, já ouvi esta estória também.

O ESTRANGEIRO – Também é muito popular aquela do reinado de Cronos.

SÓCRATES O JOVEM – Já perdi as contas de quantas vezes a escutei!

O ESTRANGEIRO – Mas não se diz por aí que os homens doutros tempos eram filhos da terra, e que não nasciam uns dos outros?

SÓCRATES O JOVEM – Sim, sim, essa é outra de nossas antigas tradições orais.”

(*) Cuja determinação necessitaria de 3 divisões sucessivas em 2 partes, como as realizadas pelo Estrangeiro até aqui.

O ESTRANGEIRO – Escuta! Este universo é às vezes dirigido por Deus mesmo, que lhe imprime um movimento circular; mas em outras Ele o abandona, como quando suas revoluções já preencheram a medida do tempo marcado. O mundo, então, dono de seu movimento, descreve um círculo contrário ao primeiro, porque é um ser vivo e recebeu a inteligência daquele que desde o princípio o ordenou harmoniosamente. A causa deste movimento retrógrado é necessária e inata ao mundo, e vou dizer-te qual é esta.

SÓCRATES O JOVEM – Estou curioso!

O ESTRANGEIRO – Ser sempre da mesma maneira, na mesma forma e sendo o mesmo ser é privilégio dos deuses por excelência. A natureza do corpo não pertence a esta ordem das coisas. O ser a que chamamos céu e mundo foi dotado, desde seu começo, de uma multitude de qualidades admiráveis, porém participa ao mesmo tempo da natureza dos corpos.” “Mover-se por si mesmo por toda a eternidade só pode fazê-lo aquele que conduz tudo o que se move, e este ser não pode se mover simultaneamente de duas maneiras antitéticas. Tudo isto prova que nem se pode dizer que o mundo se dá a si mesmo o movimento por toda a eternidade, nem que recebe da divindade dois impulsos e dois impulsos contrários, nem que é colocado alternativamente em movimento por duas divindades contrárias.”

sua massa imensa, suspensa igualmente por todas as partes, gira sobre um ponto de apoio muito estreito.” Antes ou depois do Eureka! de Arquimedes?

Então necessariamente há uma grande mortandade entre os demais animais, e dentre os homens são poucos os que sobrevivem. Estes últimos experimentam mil fenômenos surpreendentes e inauditos; mas o mais extraordinário é o que resulta do movimento retrógrado do mundo, quando ao curso atual dos astros sucede outro, contrário.” “a idade dos diversos seres vivos se deteve repentinamente” “Os cabelos brancos dos anciãos se tornaram negros” “e o corpo e a alma se metamorfosearam juntos. Ao fim deste progresso tudo se desvaneceu e entrou no nada.” “Se os anciãos voltavam às formas da juventude, era natural que os que haviam morrido e estavam enterrados ressuscitassem, voltassem à vida e seguissem o movimento geral, que renovava em sentido contrário a geração” “Os animais, divididos em gêneros e em grupos, eram dirigidos por daimons, que, como pastores divinos, sabiam prover a todas as necessidades do rebanho” “Deus mesmo conduzia e vigiava os homens; da mesma forma que hoje os homens, como animais de uma natureza mais divina, conduzem as espécies inferiores. Sob este governo divino não havia nem cidades, nem casamentos, nem família. Os homens ressuscitavam todos do seio da terra sem nenhuma lembrança passada. Ignorantes de nossas instituições, coletavam nas árvores e nos bosques frutas em abundância, sem para isso aprender o cultivo, pois a terra era fecunda. Nus e sem abrigo, passavam quase toda a vida ao ar livre; as estações, temperadas, eram-lhes agradáveis; o espesso céspede que cobria a terra lhes propiciava leitos macios. Eis aqui, Sócrates, a vida dos homens sob Cronos.”

Quando terminou a época que compreende todas estas coisas, sobrevindo uma revolução, e a raça nascida da terra já havia perecido quase por inteiro, e cada alma já havia passado por todas as gerações, entregando à terra as sementes de que ela era tributária, sucedeu que o senhor deste universo, à guisa do piloto que abandona o timão, lançou-se para fora, passando a ocupar apenas um ponto de observação; e a fatalidade, bem como seu próprio impulso, arrastaram o mundo num redemoinho contrário.”

Enquanto o mundo dirige, em concerto com seu guia e senhor, os animais que encerra em seu seio, produz pouco mal e muito bem. Quando chega a separar-se do guia, no primeiro instante de seu isolamento governa ainda com sabedoria; mas à medida que o tempo passa e que o esquecimento chega, o antigo estado de desordem reaparece e domina; e, por último, o bem que produz é de tão pouco valor e a quantidade de mal, que se mescla com ele, tão grande, que o mundo mesmo, com tudo o que encerra, se põe em perigo de perecer. É então que o deus, que ordenara o mundo, ao vê-lo em perigo, e não desejando que sucumba na confusão e chegue a se perder e dissolver no abismo da dessemelhança, é então, repito, que, assumindo de novo o timão, repara as alterações que sofreu o universo, restabelecendo o antigo movimento por ele (este deus) presidido, protegendo-o contra a caducidade, e fazendo dele imortal.” “tendo o mundo adentrado no caminho da atual geração, a idade se deteve de novo e se viu que reaparecia já a corrente contrária. Aqueles animais que por sua pequenez estavam quase reduzidos ao nada começaram a crescer; e os que tinham saído da terra encaneceram de repente; morreram e voltaram à própria terra. Todo o demais sofreu a mesma mudança, imitando e seguindo todas as modificações do universo.” “Privados da proteção do daimon, seu pastor e senhor, entre animais naturalmente selvagens e que se haviam feito ferozes, os homens débeis e sem defesa eram despedaçados por eles. Viram-se desprovidos, além disso, da arte e da indústria nestes primeiros tempos, porque a terra havia cessado de oferecer-lhes o alimento, sem que tivessem meios de procurar-se-o, pois esta era uma necessidade nova. Por isso acabavam vivendo na maior escassez, até que os deuses nos proporcionaram, com as devidas instruções e ensinamentos, estes presentes de que falam as antigas tradições: Prometeu, o fogo; Hefesto e a deusa que o acompanha nos mesmos trabalhos, as artes; outras divindades, as sementes e as plantas.”

O ESTRANGEIRO – A meu ver, só quando já se tiver determinado a natureza do governo do Estado é que nos convenceremos de que o homem político chegou a sua definição completa.”

O ESTRANGEIRO – Alimentar seu gado é um dever de todos os pastores, mas não do político, ao qual atribuímos, assim, um nome que não lhe convém; e o que se devia fazer era escolher um que fosse comum a todos os pastores de uma vez.”

confundimos o rei com o tirano, figuras tão diferentes, seja em si mesmas, seja pela maneira exterior de governar.”

Chamemos, pois, a arte de governar mediante a violência de tirania; e a arte de governar voluntariamente os animais bípedes, governo esse prestado com gosto, de política”

a exposição já se fez demasiado comprida, e não pudemos pôr termo a nossa história.”

O ESTRANGEIRO – Até que fim, caro Sócrates! Mas por quem, em vez de responder de uma vez que a arte do tecedor é a de entrelaçar a trama e a urdidura, demos tantas voltas e procedemos a mil divisões inúteis?

SÓCRATES O JOVEM – Me parece, querido estrangeiro, que nada do que dissemos é inútil.”

nenhuma dessas artes nega a existência do justo meio, para o bem ou para o mal; pelo contrário, as artes forçosamente a admitem, se bem que com desconfiança”

O ESTRANGEIRO – Se suprimirmos a política, como poderíamos indagar depois no que consiste a ciência real?

SÓCRATES O JOVEM – Isso seria impossível.

O ESTRANGEIRO – Pois bem; da mesma forma que no Sofista provamos que o não-ser existe, porque não sendo assim não se poderia conceder existência ao discurso, provaremos agora que os excessos, o mais e o menos, o bem e o mal que escapam do justo meio da política, são comensuráveis; e não só entre si, como justamente em referência a este justo meio.”

O ESTRANGEIRO – O quê? Mas será possível?! Nos consagraremos a esta indagação sobre a política só para aprender política, ou fá-la-emos para chegarmos também a ser dialéticos mais hábeis acerca de todas as outras coisas?

SÓCRATES O JOVEM – Evidentemente que com o segundo fito.”

Acrescentemos que, se se encontra um homem que, neste tipo de discussões, censura todos os discursos longos e não aprova estes perpétuos rodeios e reviravoltas, é preciso impedi-lo de ir-se embora depois de haver simplesmente criticado a extensão de nosso discurso. Peçamos-lhe que comprove claramente de que modo uma discussão mais breve faria dos contendores melhores dialéticos e mais hábeis perscrutadores das razões por trás das coisas! (…) Voltemos ao homem político, aplicando ao caso nosso exemplo do tecedor de que acabamos de falar.

O ESTRANGEIRO – Todas as artes que fabricam instrumentos para o Estado, grandes ou pequenos, é preciso que as consideremos como artes auxiliares. Sem elas, na verdade, não haveria nem Estado nem política; no entanto, nenhuma delas integra a ciência real.

SÓCRATES O JOVEM – Certamente que não!

O ESTRANGEIRO – (…) se alguém disser que não há nada que não seja instrumento de outra coisa, enunciaria uma proposição muito provável, porém há uma entre as coisas que o Estado possui que não tem este caráter.”

O ESTRANGEIRO – Não colocaremos numa quinta espécie a arte da ornamentação, a pintura, a música, todas as imitações que se realizam com a cooperação destas artes, que têm por único objeto o prazer, e que, com razão, poderiam ser chamadas por um só nome?

SÓCRATES O JOVEM – Sim, mas qual?

O ESTRANGEIRO – As artes de recreio.”

O ESTRANGEIRO – E não formaremos uma sexta espécie com esta outra que fornece a cada uma das artes de que acabamos de falar os corpos, com os quais e sobre os quais elas operam, espécie muito variada e que procede de outras muitas artes?

SÓCRATES O JOVEM – Aonde queres chegar?

O ESTRANGEIRO – O ouro, a prata e todos os metais que se extraem das minas; tudo aquilo que a arte de cortar e esculpir as árvores fornece à carpintaria e à marcenaria; a arte de extrair tocos das árvores; a do curtidor que despoja os animais de sua pele; todas as artes análogas que nos preparam a cortiça, o papel e as maromas (cordas grossas); tudo isso fornece espécies simples de trabalhos com os quais podemos formar espécies compostas.”

Tudo o que se pode possuir, com exceção dos animais domésticos, parece-me que está categorizado nestas 7 espécies.”

Quanto à posse de animais domésticos, sem contar os escravos, a arte de educar o gado, que distinguimos anteriormente, abarca a todos os animais, de modo indubitável.

(…)

Só nos falta a espécie dos escravos, e em geral a dos servidores, entre os quais, pelo que me consta, incluem-se os que competem frente ao rei pela elaboração mesma do tecido que é seu desígnio elaborar; à maneira que vimos antes: que os que fiam, os que cardam e os que executam alguma das operações supracitadas competiam entre si pelo título de tecelões.”

O ESTRANGEIRO – Aqueles que se adquire por dinheiro podemos sem dificuldade batizar de escravos, e dizer que não participam, absolutamente, da ciência real.

SÓCRATES O JOVEM – Sem dúvida.

O ESTRANGEIRO – Mas todos esses homens livres, que voluntariamente se filiam com os anteriores na classe dos servidores, transportando e distribuindo entre si os produtos da agricultura e das demais artes; fixando-se nas praças; ou comprando e vendendo de cidade em cidade, por mar ou por terra; trocando objetos por moeda, se é que não moeda por moeda; os cambistas, os comerciantes, os locadores de embarcações, os traficantes, como os chamamos; teria toda essa gente a pretensão de aspirar à ciência política?

SÓCRATES O JOVEM – No máximo, à ciência mercantil.”

O ESTRANGEIRO – A classe dos pregoeiros, dos homens hábeis em redigir escritos, e que freqüentemente nos prestam seu ministério, e outros tantos muito versados na arte de desempenhar certas funções perante os magistrados; que diremos deles todos?

SÓCRATES O JOVEM – O mesmo que disseste antes; que estes são servidores, mas não chefes de Estado.

O ESTRANGEIRO – No entanto, não fui, pelo menos não conscientemente, mero títere quando afirmei que nesta categoria veríamos aparecer os que têm as maiores pretensões à ciência política; eis o que é estranho: que tais pretendentes pertençam à classe dos servidores.”

O ESTRANGEIRO – (…) Encontramos os adivinhos, que têm uma parte da ciência do servidor, porque se os considera intérpretes dos deuses entre os homens.

SÓCRATES O JOVEM – Exatamente.

O ESTRANGEIRO – Temos também a classe dos sacerdotes, que, segundo se opina, sabem oferecer, em nosso nome, sacrifícios aos deuses a fim de agradá-los, e sabem também pedir-lhes bens, intercedendo em nosso favor.”

Com efeito, a ordem dos sacerdotes e adivinhos tem-se em alta conta e inspira um profundo respeito dada a nobreza de suas funções. No Egito ninguém pode reinar sem pertencer à classe sacerdotal; e se um homem de uma classe inferior se apodera do trono pela violência tem necessariamente de salvaguardar-se ingressando logo nesta ordem. Entre os gregos, em muitas cidades, são os primeiros magistrados que presidem os principais sacrifícios.”

O ESTRANGEIRO – O que não se conhece é sempre surpreendente. Isso se aplica a mim. Tive um momento de estupor a primeira vez que vi o grupo que se ocupa dos negócios públicos.

SÓCRATES O JOVEM – Que grupo?

O ESTRANGEIRO – O maior mágico de todos os sofistas, o mais hábil nesta arte, e que é preciso distinguir, por mais difícil que seja, do verdadeiro político e do verdadeiro rei, caso queiramos contemplar com clareza o objeto de nossas indagações.”

O ESTRANGEIRO – Mas estas três formas não são de certo modo cinco, já que duas delas criam para si mesmas outros nomes?

SÓCRATES O JOVEM – Quais nomes?

O ESTRANGEIRO – Ao considerar estes governos sob a perspectiva da violência ou do livre consentimento, da pobreza ou da riqueza, das leis ou da licenciosidade que neles aparecem, divide-se-os em dois; e como se encontram duas formas de monarquia, são denominadas como tirania e reinado.

(…)

Analogamente, todo Estado governado por uns poucos se chama ou aristocracia ou oligarquia.

SÓCRATES O JOVEM – Nenhuma objeção.

O ESTRANGEIRO – Quanto à democracia, que o povo governe com o uso da força ou com o consentimento dos demais, que os que a exercem observem escrupulosamente as leis ou não, a rigor não faz diferença, pois não a conhecemos por nomes distintos.”

É necessário examinar agora em qual destes governos se encontra a ciência de mandar nos homens, ciência, por acaso, a mais difícil e mais preciosa de todas as que se pode adquirir.”

O ESTRANGEIRO – Mas será possível que, numa cidade de mil homens, cem, ou somente 50, possuam-na de maneira suficiente?

SÓCRATES O JOVEM – Neste caso, de todas as artes, seria esta a mais fácil. Sabemos, positivamente, que de mil homens não extrairemos nem 100 jogadores de xadrez que possam ser considerados mestres entre os gregos, quanto mais 100 reis! Afinal de contas, governe ou não, quem possui a ciência real merece ser chamado de rei, e nisso estamos bastante de acordo.

as diferenças que separam todos os homens e todas as ações e a incessante variação das coisas humanas, que sempre estão em movimento, não permitem a uma arte, qualquer que seja ela, estabelecer uma regra simples e única, que convenha em todos os tempos e lugares.

(…)

E no entanto sabes que é este o caráter da lei, como o de um homem obstinado e falto de educação, que não tolera que ninguém faça nada contra sua vontade, nem questione, ainda que alguém descubra algo inusitado e genial.

SÓCRATES O JOVEM – Com certeza; a lei impera sobre cada um de nós indistintamente, como acabaste de expor.

O ESTRANGEIRO – E não é impossível que o que é sempre o mesmo convenha ao que não é sempre o mesmo?

SÓCRATES O JOVEM – Temo que sim.

O ESTRANGEIRO – Doravante, como é que pode ser imprescindível criar leis, se as leis não são as melhores? Investiguemos este problema!”

Aquilo que convém ao maior número de indivíduos e de circunstâncias será o que constituirá a lei, e o legislador o imporá a toda a comunidade, seja formulando-o por escrito, seja estipulando-o via costumes dos antepassados transmitidos oralmente.”

O ESTRANGEIRO – Não seria de crer que um médico, e também um professor de ginástica, ao empreender uma viagem e, quiçá, ausentar-se por um longo período, tenha razões para temer pelo futuro de seus doentes e alunos, caso não tome o cuidado de deixar suas prescrições por escrito, para que não se as esqueçam? E afinal, é o melhor deixar suas disposições e convicções assim por escrito, ou haveria outro expediente mais recomendável?

SÓCRATES O JOVEM – Não, nada melhor que deixar tudo por escrito.

O ESTRANGEIRO – Mas se acaso volta mais cedo do que havia planejado, não se atreverá a substituir as prescrições que havia deixado por outras novas, caso perceba que estas são mais saudáveis aos doentes graças ao que aprendeu sobre os ventos ou sobre mudanças de temperatura nos lugares em que esteve, em que o curso ordinário das estações era diferente?”

Se alguém, sem ter convencido os outros, impõe-lhes pela força aquilo que é melhor, diga-me, que nome recebe esta violência?

(…)

Se um médico, sem ter recorrido à persuasão, em virtude da arte que conhece tão a fundo, prescreve que o doente, criança, homem ou mulher, tome agora um remédio melhor que o que estava tomando (porque era o que estava escrito), qual é o nome desta violência? Qualquer um menos o de um pecado contra a arte médica, ou será que seria precisamente um atentado contra a saúde? E o paciente desta violência acaso poderá dizer que tal tratamento é daninho e anti-medicinal?

SÓCRATES O JOVEM – O nome é qualquer um menos o de pecado contra a medicina ou dano contra o doente.”

O ESTRANGEIRO – (…) não seria o cume do ridículo criticar esta violência, da qual tudo se poderá dizer, exceto que obrigara o doente a executar qualquer coisa vexatória, injusta ou má?

SÓCRATES O JOVEM – Sim, seria.

O ESTRANGEIRO – E a violência, é justa se seu autor é rico, e injusta se ele é pobre? Ou, pelo contrário, se um homem, valendo-se ou não da persuasão, rico ou pobre, com ou contra as leis escritas, faz o que é útil, não se deve dizer que esta é a verdadeira definição do bom governo, e que ela pautará o homem sábio e virtuoso, que acima de tudo respeita o interesse dos governados? Assim como o piloto, preocupado constantemente com a segurança de seu navio e da tripulação, sem escrever leis, mas criando por assim dizer, e seguindo, uma lei inerente a sua arte, protege seus companheiros de viagem; assim, da mesma forma, o Estado se veria em prosperidade, caso fosse administrado por homens que soubessem governar desta maneira, fazendo prevalecer o poder supremo da arte sobre as leis escritas!”

O ESTRANGEIRO – Que nenhum membro do Estado se atreve a fazer nada <contra as leis>; e se alguém a isso se atrevera, seria castigado com a pena de morte e com os maiores suplícios. Esta regra é muito justa e bela, se consideramos apenas o segundo tipo de punição e descartamos o primeiro. Expliquemos de que maneira se estabelece essa regra, que, em nossa opinião, só se justifica mesmo com a remoção da pena de morte. Ou tu pensas doutra forma?

SÓCRATES O JOVEM – De forma alguma!”

O ESTRANGEIRO – (…) Suponhamos, imbuídos do espírito destas idéias, que determinássemos, depois de uma detida reflexão, que se proibisse que a medicina ou a arte da pilotagem mandassem, como senhoras absolutas, nos escravos e nos homens livres; que se formasse uma assembléia, fosse constituída tão-só por nós (os políticos governantes), fosse constituída por todo o povo, fosse constituída só pelos ricos (forma censitária); e que os ignorantes e os artesãos possuíssem o direito de dar seu parecer sobre a navegação e sobre o tratamento das doenças, sobre como se deveria empregar os remédios e demais instrumentos médicos para o bem dos adoentados, e como se deveria dispor dos navios e dos instrumentos marítimos a fim de navegar; sobre o que se deve fazer nos momentos de perigo, proceda este dos ventos e das ondas, ou de encontros com piratas; e sobre se conviria, numa batalha naval, opor embarcações compridas com outras embarcações compridas ou não. E, depois disto, suponhamos, ainda, que o que tivesse sido aprovado pelo povo, não importa se oriundo dos médicos ou pilotos, ou dos ignaros nestas artes, fosse por nós inscrito em tábuas triangulares e em colunas, ou então consagrado como costumes orais de nossos antepassados (por mera convenção), e que doravante se navegasse e se tratasse dos doentes exclusivamente conforme estas novas regras.

SÓCRATES O JOVEM – Mas eis uma suposição perfeitamente absurda!

ESTRANGEIRO – Cada ano tiraríamos a sorte para eleger os chefes entre os ricos ou entre o povo inteiro, e os chefes assim eleitos, ajustando sua conduta às leis estabelecidas da forma que dissemos, dirigiriam os navios e cuidariam dos doentes.

SÓCRATES O JOVEM – Isso é ainda mais impossível de admitir.”

“O ESTRANGEIRO – (…) Aquele que quiser poderá acusar os magistrados [governantes] de não terem dirigido os navios durante o ano de mandato segundo as leis escritas ou os antigos costumes dos antepassados. E o mesmo com os doentes. Aquele que for condenado, os próprios magistrados decidirão seu castigo.

SÓCRATES O JOVEM – Aquele que de espontânea vontade chegasse a exercer magistratura semelhante seria, por sua vez, muito castigado, e justamente – e aliás mais justo quão mais rigoroso fosse o castigo!

O ESTRANGEIRO – Será preciso ainda estabelecer uma lei ordenando que, se há alguém que, independentemente das leis escritas, estuda a arte do piloto e da navegação, a arte de curar e da medicina, relativamente aos ventos ou ao quente e ao frio, e se dedica a indagações profundas sobre isto, deve-se começar por declará-lo, não um médico ou piloto, mas um vaidoso extravagante e um sofista inútil. Após o quê, quem queira poderá acusá-lo de corromper a juventude, ao ensiná-la a praticar a arte do piloto e do médico sem ter em mente as leis escritas, e ao dirigir os navios conforme seus próprios caprichos e tratar os doentes da forma mais arbitrária; e nem preciso dizer que um tal subversivo será citado diante de um tribunal de justiça.

“os homens não consentem, de bom grado, em ser governados por um só, por um monarca, pois assim perdem a esperança de que um dia um homem comum digno de exercer esse poder apareça, um homem dotado simultaneamente de vontade e força para mandar com virtude e conhecimento, tanto quanto para distribuir eqüitativamente a justiça, que é o que se chama bem.”

“E como hoje em dia já não se vê nas cidades, tal qual sucede na colméia, um rei como o que descrevemos, que sobressaia a olhos vistos a todos os demais, na alma e no corpo, não resta outro recurso senão reunir-se em conselho a fim de redigir as leis, seguindo as pegadas do verdadeiro governo.”

“Não deveríamos antes de tudo nos admirar de que um Estado como este seja tão sólido e poderoso? Porque faz muito tempo que os Estados são vítimas desses males; e, no entanto, permanecem de pé, estáveis e firmes. É verdade que muitos, submersos, como os navios naufragados, perecem, pereceram e perecerão pela nescidade dos pilotos e tripulantes, que no que toca às coisas mais importantes são rematados ignorantes; sendo completamente estranhos à política, crêem que de todas as ciências esta é que melhor dominam.”

“O ESTRANGEIRO – Deves reconhecer, pupilo Sócrates, que as três formas de governo fazem uma, que é ao mesmo tempo a mais fácil e a mais difícil.

SÓCRATES O JOVEM – Como é?

O ESTRANGEIRO – As três formas de governo de que tratamos desde o princípio deste discurso, i.e., o monárquico, o dos poucos e o da multidão.

SÓCRATES O JOVEM – De fato.

ESTRANGEIRO – Dividamos cada uma delas em outras duas, a fim de que tenhamos por fim 6 e, acrescidas à mais distinta, a sétima, fazemos 7; o sétimo sendo o único e verdadeiro governo.

SÓCRATES O JOVEM – Mas como?

O ESTRANGEIRO – Da monarquia dissemos que nascem o reinado e a tirania; do governo dos poucos, a aristocracia, que é um nome de bom agouro, e a oligarquia; quanto ao governo das massas, optamos por chamá-lo só de democracia; mas veja, é chegado o momento de dividi-lo em duas partes por sua vez.

SÓCRATES O JOVEM – E qual será o método empregado?”

“desde que amarrada com estes sábios regulamentos, que chamamos de leis, a monarquia é o melhor dos 6 governos; sem leis, é o mais duro e mais insuportável.” “quanto à multidão, sua essência é a debilidade, então ela não é capaz nem de um grande bem nem de um grande mal, pelo menos em comparação com os outros governos; ali, o poder está dividido em 1000 partes entre 1000 indivíduos; por está razão é que é o pior de todos os governos, quando se observa a lei, isto é; mas é o melhor dos 3 quando as leis são violadas. Quando o povo é licencioso, o melhor é viver sob a democracia”

“a ciência que julga se é preciso ou não persuadir tem de mandar na que tem o poder de persuadir”

“Certos governantes são extremamente moderadas por natureza, inclinadas a viver uma vida pacífica, cuidando por si mesmos e de seus negócios, atuando em suas relações internas e externas do modo mais condizente para a manutenção da paz entre os seus e os Estados vizinhos. Mas, enganados por este amor excessivo ao repouso e pela satisfação de seus desejos, não reparam que assim se incapacitam para a guerra, que educam os jovens na mesma molície, e que se colocam à mercê do inimigo; de maneira que ao cabo de poucos anos eles, seus filhos e o Estado inteiro, de livres que eram, caem, insensivelmente, na escravidão.”

“E que é que diremos dos outros, que se inclinam mais para o lado da força? Não lançam sem cessar sua pátria em novas guerras, à conta de sua paixão imoderada por este gênero de vida? E, à força de suscitar inimigos, não a conduzem à ruína total ou então à perda de sua liberdade?”

“O ESTRANGEIRO – Os homens moderados buscam nos demais o seu próprio caráter; se casam, tanto quanto seja possível, com mulheres das mesmas condições e casam suas filhas da mesma maneira; e os homens fortes e enérgicos fazem o mesmo: buscam nos demais o seu próprio caráter; tudo isso quando o mais conveniente seria que estas duas classes de homens fizessem o exato contrário.

SÓCRATES O JOVEM – Mas como o fariam e por que razão?

O ESTRANGEIRO – Porque tal é a natureza do caráter forte e enérgico que, repleto de vigor no princípio, se se reproduz sem misturas por muitas gerações, acaba-se deixando arrastar a incríveis acessos de furor.

SÓCRATES O JOVEM – É bastante provável.

O ESTRANGEIRO – Por outro lado, a alma que se deixa levar por um pudor excessivo, que não se associa a uma audácia varonil, e que se reproduz assim durante longo tempo, faz-se mais débil do que seria aconselhável, e acaba caindo em completo desfalecimento.

“esta é a única tarefa, e ao mesmo tempo toda a tarefa do tecedor real: não permitir jamais que o caráter prudente se divorcie do caráter forte e enérgico” “Os chefes moderados têm, com efeito, costumes prudentes, justos e conservadores, mas carecem da energia e da audácia que a ação reclama.” “Os chefes fortes e enérgicos, por sua vez, deixam algo a desejar em termos de justiça e da prudência, mas sobressaem quanto à ação.”

“Não era possível, estrangeiro, definires melhor o rei e o político.”

LORD[S] OF CHAOS: The bloody rise of the satanic metal underground (1998), revised & enlarged (2003) [Ou: uma biografia obviamente não-autorizada do delinqüente eternamente juvenil Varg. V. de VVinter e VVar / & outras estórias não-relacionadas] – Moynihan & Søderlind

Our world, increasingly homogenized and with the entire spectrum of its cultural creations adulterated for palatable mass-consumption, needs dangerous ideas more than ever. It may not need the often ill-formed and destructive ideas expressed by some of the protagonists in Lords of Chaos, but we felt all along that this is an issue for the individual reader to decide.”

The notion of a Protocols of the Elders of Zion-style Jewish cabal running the world is absurd to begin with, but all the more so in a country with practically no Jewish population, and we felt the need to point this out.”

The Satyricon single Fuel for Hatred received heavy air-play on one of Norway’s 3 biggest radio stations, and just before this revised edition went to press we heard that Dimmu Borgir’s new album will be hawked to the public through TV advertising spots.”

William Pierce – The Turner Diaries

Heavy Metal exists on the periphery of Pop music, isolated in its exaggerated imagery and venting of masculine lusts. Often ignored, scorned, or castigated by critics and parents, Heavy Metal has been forced to create its own underworld. It plays by its own rules, follows its own aesthetic prerogatives. Born from the nihilism of the 1970s, the music has followed a singular course. Now in the latter half of the 1990s it is often considered passé and irrelevant, a costume parade of the worst traits in Rock. Metal is no longer a staple of FM radio, nor are record labels pushing it like they used to. Watching MTV and reading popular music magazines, one might not even realize Heavy Metal still existed at all.”

Arthur Lyons – The Second Coming: Satanism in America

In the first half of the twentieth century, Jazz was considered particularly dangerous, with its imagined potential to unleash animal passions, especially among unsuspecting white folk. (…) In his book on the Rolling Stones, Dance With the Devil, Stanley Booth quotes the New Orleans Times-Picayune in 1918: <On certain natures sound loud and meaningless has an exciting, almost an intoxicating effect, like crude colors and strong perfumes, the sight of flesh or the sadic pleasure in blood.>”

More directly tied to deviltry than Jazz, and likewise imbued with the potency of its racial origins, was Blues. Black slaves often adopted Christianity after their enforced arrival in America, but melded it with native or Voudoun strains. Blues songs abound with references to devils, demons, and spirits. One of the most influential Blues singers of all time, Robert Johnson, is said to have sold his soul to the Devil at a crossroads in the Mississippi Delta, and the surviving recordings of his haunting songs give credence to the legend that Satan rewarded his pact with the ability to play. Johnson recorded only 29 tunes, some of the more famous being Crossroads Blues, Me and the Devil Blues, and Hellhound on My Trail. The leaden resignation of his music is a genuine reflection of his existence. Life for Johnson began on the plantations, wound through years of carousing and playing juke joints, ending abruptly in 1938 when at the age of 27 he was poisoned in a bar, probably as a result of an affair with the club owner’s wife.”

A DÉCADA QUE COMEÇOU 26 DIAS MAIS CEDO: “The Stones took their diabolical inspiration seriously, deliberately cultivating a Satanic image, from wearing Devil masks in promotional photos to conjuring up sinister album titles such as Their Satanic Majesties Request and Let it Bleed. The band’s lyrics ambivalently explored drug addiction, rape, murder, and predation. The infamous culmination of these flirtations revealed itself at the Altamont Speedway outdoor festival on December 6, 1969. Inadvertently captured on film in the live documentary Gimme Shelter, it was only moments into the song Sympathy for the Devil before all hell broke loose between the legion of Hell’s Angels <security guards> and members of the audience, ending with the fatal stabbing of Meredith Hunter, a gun-wielding black man in the crowd. The infernal, violent chaos of the event at Altamont made it abundantly clear the peace and love of the ‘60s wouldn’t survive the transition to a new decade.” 7, o mais belo número.

Page’s interest in Crowley developed to a far more serious level than the Satanic dabbling of the Stones; his collection of original Crowley books and manuscripts is among the best in the world. Page held a financial share in the Equinox occult bookshop (named after the hefty journal of <magick> Crowley edited and published between 1909–14) in London and at one point even purchased Crowley’s former Scottish Loch Ness estate, Boleskine. The property continued to perpetuate its sinister reputation under new ownership, as caretakers were confined to mental asylums, or worse, committed suicide during their tenures there.” “If there is any early Rock band bearing exemplifying the basic themes that would later preoccupy many of the Black Metal bands in the ‘90s, it is Led Zeppelin.”

I read a lot of Dennis Wheatley’s books, stuff about astral planes. I’d been having loads of these experiences since I was a child and finally I was reading stuff that was explaining them. It lead me into reading about the whole thing —black magic, white magic, every sort of magic. I found out Satanism was around before any Christian or Jewish religion. It’s an incredibly interesting subject. I sort of got more into the black side of it and was putting upside-down crosses on my wall and pictures of Satan all over. I painted my apartment black. I was getting really involved in it and all these horrible things started happening to me. You come to a point where you cross over and totally follow it and totally forget about Jesus and God.” GZR, Seconds Magazine, #39, 1996, pg. 64.

Groups further from the spotlight than Black Sabbath—such as Black Widow and Coven—could afford to be even more obsessive in their imagery. The English sextet Black Widow released three diaphanous Hard Rock albums between 1970–72, and later appear as a footnote in books that cover the history of occultism in pop culture. The chanting refrain of their song Come to the Sabbat evokes images of their concerts which featured a mock ritual sacrifice as part of the show. Beyond sketchy tales of such events, and the few recordings and photos they’ve left behind, Black Widow remains shrouded in mystery.

Coven are just as obscure, but deserve greater attention for their overtly diabolic album Witchcraft: Destroys Minds and Reaps Souls. Presented in a stunning gatefold sleeve with the possessed visages of the three band members on the front, the cover hints at a true Black Mass, showing a photo with a nude girl as the living altar. The packaging undoubtedly caused consternation for the promotional department of Mercury Records, the major label who released it, and the album quickly faded into obscurity. Today it fetches large sums from collectors, clearly due more to its bizarre impression than for any other reason. The songs themselves are standard end-of-the-‘60s Rock, not far removed from Jefferson Airplane; the infusion of unabashed Satanism throughout the album’s lyrics and artwork makes up for its lack of strong musical impact. In addition to the normal tracks, the album closes with a thirteen minute Satanic Mass.”

To the best of our knowledge, this is the first Black Mass to be recorded, either in written words or in audio. It is as authentic as hundreds of hours of research in every known source can make it. We do not recommend its use by anyone who has not thoroughly studied Black Magic and is aware of the risks and dangers involved.” Coven, Witchcraft, Mercury Records, SR 61239.

Coven included the attractive female lead singer Jinx as well as a man by the name of Oz Osbourne, who bore no relation to the British vocalist Ozzy. In an additional coincidental twist, the first track on the Coven album is titled Black Sabbath.”

Do what thou wilt shall be the whole of the law”

Stories persisted for a time of a planned Satanic Woodstock in the early ‘70s where Coven was to play as a prelude to an address by Anton LaVey, High Priest of the Church of Satan.”

King Diamond, the singer and driving force behind Mercyful Fate, one of the most important openly Satanic Metal bands of the ‘80s, acknowledges he received dramatic influences from a Black Sabbath concert he attended as a kid in his native Denmark in 1971. He also tells of finding inspiration from Coven’s lead vocalist Jinx: An amazing singer, her voice, her range… not that I stand up for the viewpoints on their Witchcraft record, which was like good old Christian Satanism. But they had something about them that I liked…

Anton Szandor LaVey made headlines when he founded the first official Church of Satan on the dark evening of Walpurgisnacht, April 30, 1966. The fundamentals of the Church were based not on shallow blasphemy, but opposition to herd mentality and dedication to a Nietzschean ethic of the antiegalitarian development of man as a veritable god on earth, freed from the chains of Christian morality.”

We played to skinheads and punks and hairies—everybody. Where some guy with long hair couldn’t come into a Punk gig, all of the sudden it was really cool to go to a Venom gig for anybody. That’s why the audience grew really quick and became very strong; they were always religiously behind Venom and they’ve always stayed the same.” Abaddon

I never thought we’d be able to enter a studio again after that because we were really dirty sounding. But it turned out that 85-90% of all the fan mail that came to the record company from that record (the compilation was titled Scandinavian Metal Attack) was about our songs. So the guy from the record company called me up and said, <Hey, you really need to put your band together again and write some songs, because you have a full-length album to record this summer>. (…) Everybody seems to think that I’m a megalomaniac with a big head or something, but it wasn’t really my fault —I should have been born in some place like San Francisco or London where I would have had a real easy time putting this band together.” Quorthon

Much of the explanation for this sound was simply the circumstances of recording an entire album in two-and-a-half days on only a few hundred dollars. The end result was more extreme than anything else being done in 1984 (save maybe for some of the more violent English Industrial <power electronics> bands like Whitehouse, Ramleh, and Sutcliffe Jugend) and made a huge impact on the underground Metal scene.”

Aplicável ao “projeto ATS”: “I’m not one inch deeper into it than I was at that time, but your mind was younger and more innocent and you tend to put more reality toward horror stories than there is really. Of course there was a huge interest and fascination, just because you are at the same time trying to rebel against the adult world, you want to show everybody that I’d rather turn to Satan than to Christ, by wearing all these crosses upside down and so forth. Initially the lyrics were not trying to put some message across or anything, they were just like horror stories and very innocent.”

Like any style hyped incessantly by the music industry, Thrash Metal’s days were ultimately numbered. The genre became too big for its own good and major labels scrambled to sign Thrash bands, who promptly cleaned up their sound or lost their original focus in self-indulgent demonstrations of technical ability.”

The whole Norwegian scene is based on Euronymous and his testimony from this shop. He convinced them what was right and what was wrong.”

Norway’s official religion is Protestantism, organized through a Norwegian Church under the State. This has deep historical roots and a membership encompassing approximately 88% of Norway’s population. However, only about 2-3% of the population are involved enough to attend regular church services. A saying goes that most Norwegians will visit church on three occasions in their lives—and on two of them, they will be carried in.”

An example of the conservative Christian influence in Norway was the banning of Monty Python’s classic comedy The Life of Brian as blasphemous. The amicable rivalry and fun-making between Norwegians and Swedes led to the movie being advertised in Sweden as <a film so funny it’s banned in Norway>.” “While America has figures like Edgar Allan Poe as a part of the literary heritage, and slasher movies are screened on National TV, Norway’s otherwise highly prolific movie industry has produced but one horror film in its 70-year history. Horror films from abroad are routinely heavily censored, if not banned outright. This taboo against violence and horror permeates every part of Norwegian media. In one case, Norwegian National Broadcasting stopped a transmission of the popular children’s TV series Colargol the Singing Bear on the grounds that the particular episode featured a gun.”

When denied something, one tends to gorge on it when access is finally gained. Black Metal adherents tend to be those in their late teens to early twenties who have recently gained a relative degree of freedom and independence from their parents and other moral authorities.” Aqui, ao contrário, o pré-adolescente se rebela e o adultinho adere ao sertanejo e forró, arrependido e tosado, quando não rebola no axé.

One strange aspect of the Black Metal mentality of the earlier days was the insistence on suffering. Unlike other belief systems, where damnation is usually reserved for one’s enemies, the Black Metalers thought that they, too, deserved eternal torment. They were also eager to begin this suffering long before meeting their master in hell.”

I think Norway, being a very wealthy country with a high standard of living, makes young kids very blasé. It’s not enough to just play pinball anymore. They need something strong, and Black Metal provides really strong impulses if you get into it.” Desse ponto de vista, era pro Aloísio virar o metaleirinho do mal e eu ser o normal dos 2, concentrado em objetivos “realistas”. Conquanto… o jovem frustrado acaba caindo de barriga no fascismo quando vislumbra o “poder-na-máquina” e sente que pode tocá-lo e participar dele… Bolsonaro é seu goregrind e nada lhe faltará!

A MAN’S DEAD BODY MUST ALWAYS HAVE BEEN A SOURCE OF INTEREST TO THOSE WHOSE COMPANION HE WAS WHILE HE LIVED…”

GEORGES BATAILLE, DEATH AND SENSUALITY

Do the names eerily reflect the karma of the personalities they denote? Or are the people destined to fulfill the fate foretold in titles they (ir)reverently adopt?”

Mayhem began in 1984, inspired by the likes of Black Metal pioneers Venom, and later Bathory and Hellhammer. Judging from an early issue of Metalion’s Slayer magazine, Aarseth initially adopted Destructor for his stage name as guitarist. The other members of the earliest incarnation of the band were bassist Necro Butcher, Manheim on drums, and lead vocalist Messiah. Not long after this Aarseth took on Euronymous as his own personal mantle—presumably it sounded less comical and more exotic than his previous pseudonym. His new name was a Greek title mentioned in occult reference books as corresponding to a <prince of death>.”

Mayhem played their first show in 1985. Their debut demo tape, Pure Fucking Armageddon, appeared a year later in a limited edition of 100 numbered copies. By 1987 someone called Maniac replaced the previous singer, whom Aarseth henceforth referred to as a <former session vocalist>, despite his appearance on the demo as well as the first proper release, that year’s Deathcrush mini-LP.” “Dead, the distinctive singer for the Stockholm cult act Morbid, joined Mayhem and moved to Oslo. A new drummer was found in Jan Axel <Hellhammer> Blomberg, one of the most talented musicians in the underground. Even with the mini-LP selling briskly, and Mayhem’s bestial reputation increasing, the band and its members remained dirt poor.”

Euronymous found him. We only had one key to the door and it was locked, and he had to go in the window. The only window that was open was in Dead’s room, so he climbed in there and found him with half of his head blown away. So he went out and drove to the nearest store to buy a camera to take some pictures of him, and then he called the police.” Hellhammer, the drummer

He just sat in his room and became more and more depressed, and there was a lot of fighting. One time Euronymous was playing some synth music that Dead hated, so he just took his pillow outside, to go sleep in the woods, and after awhile Euronymous went out with a shotgun to shoot some birds or something and Dead was upset because he couldn’t sleep out in the woods either because Euronymous was there too, making noises.”

It might sound a bit weird, but Mayhem was the band that everyone had heard of, but not many people had actually heard because they had released the demos which were quite limited and the mini-LP itself was very limited. But I was lucky because I knew Maniac, the vocalist, so he had some extra copies of the mini-album and he gave me one. I was very impressed because it was the most violent stuff I had ever heard, very brutal. I remember I thought that these people like Euronymous, Maniac, and Necro Butcher were very mysterious, because they didn’t do many interviews but they were always in magazines and I saw pictures of them. They had long black hair and you couldn’t see their faces, it was mysterious and atmospheric.” Bård Eithun

WHEN DID YOU FIRST MEET EURONYMOUS?

I met Euronymous and Dead at a gig in Oslo in 1989; it was an Anthrax concert and I met them outside”

Dead hated cats. I remember one night he was trying to sleep. A cat was outside his apartment, so he ran outside with a big knife to get the cat. The cat ran into a shed [galpão] and he went after it. Then you heard lots of noise, and screaming, and there was a hole in the shed where the cat came out again, and Dead ran after it with his big knife, screaming, hunting the cat, only dressed in his underwear. That was his idea of how to deal with a cat.”

I remember Aarseth told me, <Dead did it himself, but it is okay to let people believe that I might have done it because that will create more rumors about Mayhem>. (…) But he did use some stuff from the brain to make necklaces.”

There is a bootleg of the Sarpsborg show [1990] called Dawn of the Black Hearts: Live in Sarpsborg [vídeo?], released by someone in South America.” Metalion

That’s one thing about worshiping death—why worry when people die?”

I see Dead, people.

Where?

Oh, everywhere on the stage!

She told me that the first <plane> in the astral world has the color of blue. The earthly plane has the color of black. Then comes a gray that is very near the earthly one and is easy to come to. The next one further is blue, then it gets brighter and brighter till it “stops” at a white shining one that can’t be entered by mortals. If any mortal succeeds in entering it, that one is no longer mortal and can not come back to the earthly planes nor back to this earth.” Morto, o Místico

No one speaks ill of him, which is rare in such an insular and competitive realm as the extreme music underground. As many will testify, however, Aarseth appeared to feel little sorrow over the loss of Dead, instead glorifying his violent departure in order to cultivate a further mystique of catastrophe surrounding the band.”

This has nothing to do with black, these stupid people must fear black metal! But instead they love shitty bands like Deicide, Benediction, Napalm Death, Sepultura and all that shit!! We must take this scene to what it was in the past! Dead died for this cause and now I have declared war! I’m angry, but at the same time I have to admit that it was interesting to examine a human brain in rigor mortis. Death to false black metal or death metal!! Also to the trendy hardcore people… Aarrgghh!” Euronymous “manifesto”

Dead died wearing a white T-shirt with I ❤ Transylvania stenciled across it.”

if we ever come to, for example, India, the most evil thing that we can do there that I have in mind will be to sacrifice a holy cow on stage.” Euro.

HELL IS FULL OF MUSICAL AMATEURS;

MUSIC IS THE BRANDY OF THE DAMNED.”

GEORGE BERNARD SHAW, MAN AND SUPERMAN

I’d rather be selling Judas Priest than Napalm Death, but at least now we can be specialized within <death> metal and make a shop where all the trend people will know that they will find all the trend music.”

O que vocês fazer hoje, Cérebro Mole e Solto?

O que fazemos todas as noites, Blacky… Tentar conquistar o mundo para Satanás!

Aarseth also kept in touch with a growing number of extreme bands from outside Norway whom he likewise encouraged and made plans to release records by: Japan’s Sigh, Monumentum from Italy, and the bizarre Swedish entity Abruptum. Only a few of these schemes would ever be realized before Aarseth’s death, mostly because he was never cut out to be a businessman. He ran his label ineptly, and the capital to invest in new releases was simply not there.”

WHAT SORT OF IDEAS DID VARG HAVE WHEN YOU FIRST MET HIM?

He was a Devil worshiper and he was against Nazis, for reasons I don’t know, but that’s what he said. After the arrest in early ’93 then he got into this Nazi stuff.” Eithun

the shelves contained bands like Metallica and Godflesh.”

he had a specific taste for German electronic music like Kraftwerk.”

Politically, Aarseth was a long way from the nationalist and often pseudo-right-wing sentiments that are so prominent in Black Metal today. He proclaimed himself a communist, and for a while had been a member of the Rød Ungdom (Red Youth), the youth wing of the Arbeidernes Kommunist Parti (Marxist-Leninistene) —The Marxist/Leninist Communist Workers Party. Though rather few in number, the party had an appeal for intellectuals, including many prominent writers and politicians, and thus maintained a strong grip on Norwegian cultural life for many years. Rød Ungdom was aggressively anti-Soviet, and looked to China and Albania for inspiration. Despots like Pol Pot were also viewed as models of resistance against Western imperialism.”

Some of the treasured objects in his collection were heroic photographs of Nicolae Ceaucescu, the former dictator of Rumania and one of Aarseth’s idols. <Albania is the future>, he would muse to anyone willing to listen.”

Varg came to Oslo for a time and moved into the basement of the record shop, living in the barren space there along with Samoth, the guitarist of Emperor.”

On the second Burzum release, Aske (Ashes), bass playing would be done by Samoth, but with this sole exception Vikernes maintained his project entirely alone.”

Very few such corpse-painted portraits of Vikernes exist—the fashion seems to be something more particular to Aarseth. If it is true that Vikernes introduced the ideology of medieval-style Devil worship to Norwegian Black Metal, it must be also acknowledged that not a moment was lost before Aarseth began trumpeting it as his own.”

As many as 1,200 stave churches may have existed in the early Middle Ages; only 32 original examples survived in the second half of this century. That total has since been revised to 31.”

News of the destruction of one of Norway’s cultural landmarks made national headlines. It would not be long before other churches began to ignite in nighttime blazes. On August 1st of the same year the Revheim Church in southern Norway was torched; twenty days later the Holmenkollen Chapel in Oslo also erupted in flames. On September 1st the Ormøya Church caught fire, and on the 13th of that month Skjold Church likewise. In October the Hauketo Church burned with the others. After a short pause of a few months’ time, Åsane

Church in Bergen was consumed in flames, and the Sarpsborg Church was destroyed only two days later. In battling the blaze at Sarpsborg a member of the fire department was killed in the line of duty. Some would later consider this death the responsibility of the Black Circle.” “The authorities are reluctant to discuss the details of many of these incidents, fearing that undue attention may literally spark other firebugs or copycats to join the assault which Vikernes and his associates began in 1992.”

In eleventh-century England, arson was a crime punishable by death. Later, during the reign of King Henry II, a person convicted of arson would be exiled from the community after they had suffered the amputation of one hand and one foot.”

Lewis & Yarnell – Pathological Firesetting

True pyromaniacs tend to have a sexual impulse behind their action, according to psychologist Wilhelm Stekel, whose Peculiarities of Behavior covers the affliction in detail.”

It’s not a Satanic thing, it’s a national heathen thing. It’s not a rebellion against my parents or something, it’s serious. My mother totally agrees with it. She doesn’t mind if someone burns a church down. She hates the Church quite a lot. Also about the murder (of Østein Aarseth), she thinks that he deserved it, he asked for it. So she thinks it’s wrong to punish me for it. There’s no conflict between us at all about these things. The only thing she disliked was that I liked weapons and wanted to buy weapons, and suddenly she got a box of helmets at her place because I ordered them! Bulletproof vests, all this stuff…” Varg

TEENAGERS GONNA TEEN:

I said, I know who burned the churches, to the journalist, and I was making a lot of fun with him because we told him on the phone, we have a gun and if you try to bring anybody we’ll shoot you. Come meet me at midnight and all this, it was very theatrical. He was a Christian, and I fed him a lot of amusing info. Very amusing! Of course he twisted the words like usual. After he left we lay on the floor laughing.

We thought it would be some tiny interview in the paper and it was a big front page. The same day, an hour or so after I talked to him on the phone, the police came and arrested me. That was why I was arrested. I didn’t tell them anything. I talked to the police that time and I told them, I know who burned the churches —so what? They tried to say, We’ve seen you at the site, and all this, and I said, No you haven’t!

I’d already killed a man so it’s okay to be involved in this too, to burn down a church.” Eithun

VON [americana] were merely an obscure group who managed to release one raw-sounding demo tape, Satanic Blood, which became legendary within the Norwegian scene.” O primeiro full length (Satanic Blood, idem) dos caras é de 2012!

kerrang03
IMAGEM 1. Kerrang!, 27/03/1993

The Kerrang! exposé is also notable as it appears to be the first media story which labels the Black Metal scene as <neo-fascist>. Arnopp quotes members of Venom and mainstream UK Metal band Paradise Lost (who the article claims were haphazardly attacked by teenage Black Metalers while on tour in Norway), referring to the Satanic Terrorists as Hitlerian Nazis.”

I support all dictatorships—Stalin, Hitler, Ceaucescu… and I will become the dictator of Scandinavia myself.” V.V. Mau-Mau

I didn’t care much about the value of human life. Nothing was too extreme. That there were burned churches, and people were killed, I didn’t react at all. I just thought, Excellent! I never thought, Oh, this is getting out of hand, and I still don’t. Burning churches is okay; I don’t care that much anymore because I think that point was proven. Burning churches isn’t the way to get Christianity out of Norway. More sophisticated ways should be used if you really want to get rid of it.” Ihsahn (Emperor)

I told them, why not burn up a mosque, the foreign churches from the Hindu and Islamic jerks—why not take those out instead of setting fires to some very old Norwegian artworks? They could have taken mosques instead, with plenty of people in them” Hellhammer o Batera

The epidemic mostly afflicted poor black churches in the South (States), and public outrage against a presumed conspiracy of racist terrorism resulted in the President’s formation of a National Church Arson Task Force in June, 1996. The Task Force has since concluded that no nationwide conspiracy exists, and suspects arrested in relation to the the fires have been blacks and Hispanics as well as whites. The motives in specific incidents have ranged widely, from revenge to vandalism to racial hatred.”

I understood that he was a homosexual very quickly. He was asking if I had a light, but he was already smoking. It was obvious that he wanted to have some contact. Then he asked me if we could leave this place and go up to the woods. So I agreed, because already then I had decided that I wanted to kill him, which was very weird because I’m not like this—I don’t go around and kill people. (…) He was walking behind me and I turned and stabbed him in the stomach. After that I don’t remember much, only that it was like looking at this whole incident through eyes outside of my body. It was as if I was looking at two people who were having a fight—and one had a knife, so it was easy to kill the other person. If something happens that is obscure, it’s easier for the mind to react if it acts like it is watching it from outside of yourself.” Eithun

The bizarre duo Abruptum (SUE), who allegedly recorded their music during bouts of self-inflicted torture, was praised by Aarseth as <the audial essence of Pure Black Evil>. He released their debut album Obscuritatem Advoco Amplectère Me on Deathlike Silence in 1992. Østein had also managed, with financial assistance from Varg Vikernes, to release the first Burzum CD on DSP. The second Burzum effort, Aske, was released in early 1993, some months after the burning of the Fantoft Stave Church. It was around this time, in the first months of the year, that bad blood arose between Vikernes and Aarseth. Their disagreement appears to come at the same period when Øystein was also arguing with members of the Swedish scene, causing a general animosity to surface between Black Metalers in the two neighboring countries.” “There was a certain degree of cooperation between the two groups, but the recent frictions had been strong enough that when Øystein Aarseth was found slaughtered in the stairwell of his apartment building on August 10, 1993, the initial suspicion of many was directed at the Swedes.”

People who never knew what Black Metal was, or Death Metal, or Metal at all, were attracted to this because they thought it was cool. People who never knew Grishnackh and never knew Euronymous. Oh yeah, Black Metal—that’s the new thing. There were so many new bands starting at this time in ’93 who were influenced by the writing in the newspapers.” Metalion

Aarseth had been forced to close the Helvete store a few months earlier, due to overwhelming attention from the media and police after the initial Black Metal church fire revelations. His parents were upset about all the negative publicity and, since they had helped him finance the shop, they successfully leaned on him to shut it down. Vikernes sarcastically points out how Aarseth’s inconsistent nature often resulted in deference to his parents’ wishes instead of adhering to the black and <evil> image he supposedly embodied: <Øystein once came to one of the newspapers wearing a white sweater, and later apologized to the scene, in case he had insulted anybody! It was all because of his parents. He was 26 years old!>

Øystein owed Varg a significant sum of royalty payments from the Burzum releases on Deathlike Silence, although given the poorly-run nature of the record label, this was hardly unusual or unexpected. Vikernes denies there was any monetary motive behind his actions. Others claim the attack came about as a result of a power struggle for dominance of the Black Metal scene, although astute insiders like Metalion are skeptical: That’s stupid reasoning, because you can’t expect to kill someone and have everyone think of you as the king and forget about him. That’s very, very primitive. It’s something more than that, I think.“Also Grishnackh’s mother paid for the studio recording of the first album, and Euronymous owed her money which she was supposed to get back.”

When he was sitting in his shop drinking Coca-Cola and eating Kebab from the Paki shop next door, it was all our money he bought everything with. It was dishonest pay. He was a parasite. Also he was half Lappish, a Sami, so that was a bonus. Bastard!” V.

They told the police they heard a woman screaming! I was laughing when I read about it. He ran away, pressing the doorbells and calling Help!

Bam! he was dead. Through his skull. I actually had to knock the knife out. It was stuck in his skull and I had to pry it out, he was hanging on it—and then he fell down the stairs. I hit him directly into his skull and his eyes went boing! And he was dead.”

NONE OF THE NEIGHBORS OPENED THEIR DOORS?

They didn’t dare. They thought it was some drunken fight. It’s the worst neighborhood in Oslo—60% colored people.”

When three people are going to tell the same story to the police, in interrogations lasting seven hours, it will go to hell.” Snorre Ruch, o Cúmplice

Varg was saying that what Bård had done was uncool, but inside the scene Bård’s actions commanded respect.”

The truth of the matter is that Snorre had shortly before joined Mayhem as a second guitar player. It is difficult to believe that he could have cared less about killing the founder of the band he was in—doubly difficult given Mayhem’s position as such a legendary group in the underground. In hearing his and Vikernes’s versions of the story, both are flawed. With his history of mental problems, one far-fetched explanation may be that Snorre was too daft to comprehend what he was actually participating in.”

The only foolish thing I did and the only thing I regret, is not killing (Snorre) as well. If I’d killed him as well I would not have gotten any more punishment if I was caught, and secondly, I wouldn’t have been caught. That’s what I regret.”

What is striking about members of the Scandinavian Black Metal circles in general is how little they cared about the lives or deaths of one another. When Dead killed himself, it became merely an opportunity for Aarseth to hype Mayhem to a new level. When he himself died violently two years later, his own bandmates speak of the killing with a tone of indifference more suited to a court stenographer.”

With the exception of Darkthrone, the major Norwegian Black Metal bands were now in hiatus, their key members facing prison sentences for arson, grave desecration, and murder. The legal proceedings that would follow disrupted the entire scene and pitted different factions against one another. People felt forced to choose sides: pro-Vikernes or pro-Euronymous. At this point a cult developed around the memory of Euronymous, hailed as <the King> or <Godfather of Black Metal>. As many have commented in the preceding interviews, much of this was hyperbole, emanating from a second generation of musicians trying to gain credibility by riding on the back of the legend of Aarseth’s Black Metal legacy.”

He simply refused to cooperate with the authorities, and maintained he was innocent until proven guilty. He followed the advice of his lawyer and never testified in court. The same cannot be said of the other offenders, most of whom confessed in detail once they were pressured by the police. On the one hand, this is understandable given their young age, relative naivety, and fear of worse punishments if they refused to admit their wrongdoing.”

ERROS E PUERILIDADES DA POLÍCIA NORUEGUESA: “Especially difficult to take seriously is the alleged calendar of <Satanic holy days> reprinted in the report, with many of the dates involving the sexual molestation of minors—something that is strongly condemned by all established Satanic organizations. And while it might be argued that fringe religious phenomena like Satanism are often so bewildering that it’s hard to accurately assess their practices, even complete novices in the study of New Religious Movements should begin to suspect something is wrong when they see references to dates that don’t exist, such as April 31. Unless, of course, Satanists are so evil that they follow their own calendar.” ZAGALLO (OLLAGAZ) AMOU.

Kirkebranner og satanistisk motiverte skadeverk also refers to stories that never really reached the media when the Satanic furor was at its height.”

But despite his smart-ass remarks and mental capabilities, Vikernes was no match for the seasoned investigators of the Kripos [FBI norueguês]. He sensed that the police net was tightening around him and that he was no longer in control of the situation, especially as the Oslo police dispatched its Church Fire Group to Bergen in 1993 to follow the goose steps of the Count and his subjects around Bergen.”

Lendas a respeito de Vikinho: “Vikernes knocked on the door of the police investigation’s impromptu headquarters in Room 318 of the Hotel Norge in Bergen, and seems to have virtually forced his way into the suite.”

A M O R A M O R A M O R A M O R

A M O R A M O R A M O R A M O R

A M O R A M O R A M O R A M O R

A M O R A M O R A M O R A M O R

The word Varg has a great meaning for me. I could speak about this matter for an hour.”

Grishnackh is an evil character on the side of Sauron.”

That’s typical trial bullshit. Like my psychiatrists who examined me, one of them was a Jew and a Freemason! The other was a communist. My lawyer was a homosexual. The other lawyer was a Freemason. The one single Christian faith healer in Norway was in the jury! Can you imagine? In other words, a person who says, I can look through you and with the power of Jesus pull out the evil spirits who make you sick!

There is one person who has always stood by Varg’s side and spoken out rigorously in his defense: his mother Lene Bore. Not only has she attempted to improve the public perception of her son, she also visits him frequently, helps him deal with correspondence, and assists in business matters relating to Burzum.

A number of Burzum albums have been released since his imprisonment and all have sold admirably well on the worldwide market. Royalties for the record sales are received by Lene Bore, a fact that allegedly allowed for the development of serious trouble in the future. Lene Bore also helped provide the money for recording and releasing the early Burzum releases on Aarseth’s Deathlike Silence label, and as a result she had occasion to meet a number of Varg’s friends in the Black Metal scene. Her comments are interesting, for she has dealt with an amazing amount of unrest as a result of her son’s actions over the years, and some of her impressions of Varg’s life are quite different from his own.”

YOUR FAMILY SPENT A YEAR IN IRAQ. WHAT WAS THIS LIKE FOR VARG?

I think it might be here that Varg’s dislike toward other peoples started. He experienced a very differential treatment. The other children in his class would get slapped by their teachers; he would not be. For example when they were going to the doctor, even when there were other children waiting in line, Varg would be placed first. He reacted very strongly to this. He could not understand why we should go first when there were so many before us. He had a very strongly developed sense of justice. This created a lot of problems, because when he saw students being treated unfairly, he would intervene, and try to sort things out.”

DID VARG’S RACISM INTENSIFY AT A CERTAIN POINT?

If he had racist tendencies to begin with, I am sure that they came to the surface when he lived in Oslo.”

LONG-HAIRED SKINHEADS: “It’s difficult to say. When I was three years old we moved to a road named Odinsvei, Odin’s Walk, and we were playing with the neighbor. He had German toy soldiers, but he always wanted to have the American soldiers, because they were the big heroes in his view. So I ended up with the German soldiers, as he was five years older than I. And I actually came to like them. It developed from soldiers to running around with SS helmets and German hand grenades and a Schmeizer with a swastika on it. In time we tried to figure it out —what the hell does this mean? That’s how it really began, and it developed. I was a skinhead when I was 15 or 16. Nobody knows that. People say that suddenly I became a Nazi, but I was actually a skinhead back then. It was in waves—in ‘91 I was into occultism, in ‘92 Satanism, in ‘93 mythology and so on, in waves.

WHAT ABOUT YOUR FATHER?

I have very little contact with him. They’re divorced. He left about ten years ago. There wasn’t any big impact. I was glad to be rid of him; he was just making a lot of trouble for me, always bugging me. He was in the Navy. We were raised very orderly; it was a good experience. I had a swastika flag at home and he was hysterical about it. He’s a hypocrite.¹ He was pissed about all the colored people he saw in town, but then he’s worried about me being a Nazi. He’s very materialistic, as is my mother really, but that’s the only negative thing I can say about her.² The positive thing is that she’s very efficient, and in business I have to have someone take care of my money and I can trust her fully. I know she will do things in the best way.”

¹ Yeah, that prettily sums it up for all of us – satanists, pagans, nihilistics, depressed, guilty or innocent boys… with bad dads! Apenas troca “Nazi” por “PT” e “pessoas de cor” por “corrupção” (que ele pratica) e aí tens.

² This is war! UHHH

WHAT WAS SCHOOL LIKE?

It was an Iraqi elementary school. The English school couldn’t take us because they were full. I went to a regular Iraqi school. I could use some basic English. I think it was my mother’s idea, because she didn’t want us to stay home, bored. We couldn’t go out too much because of the rabid dogs and all this, so she put us in school, just to keep us active.”

In Bergen it’s a more aristocratic society I was part of, because of my mother mainly. I had very little contact with colored people, really. In Bergen we are still blessed with having a majority of whites—unlike Oslo, which is the biggest sewer in Norway.”

When I was a skinhead there still weren’t any colored people, but there were these punks—that was more the reason I went over to the other side.” He-he

We liked the Germans, because they always had better weapons and they looked better, they had discipline. They were like Vikings. The volunteers from America were tall, blond guys, who looked much more like the ones they were attacking than some Dagos who were waving them good luck when they left home. It’s pretty absurd.”

Our big hope was to be invaded by Americans so we could shoot them. The hope of war was all we lived for. That was until I was 17, and then I met these guys in Old Funeral.”

WHAT INFLUENCED YOU TOWARD THAT?

I got interested in occultism through other friends. We played role-playing games, and some of these guys (all older than me) started to buy books on occultism, because they were interested in magic and spell casting. They showed me the books and then I bought similar things. But the music guys weren’t interested in that stuff at all, they only cared about food. [QUE PORRA É ESSA? HAHA]

WHAT WAS THE MUSIC LIKE?

Originally it was Thrash Metal, and then it became Death-Thrash or Techno-Thrash, and I lost interest. I liked the first Old Funeral demo. It had ridiculous lyrics, but I liked the demo and that was why I joined with them. They developed into this Swedish Death Metal trend; I didn’t like that so I dropped out. But I played with them for two years.” The fart(Varg) that should’ve been.

We were drawn to Sauron and his lot, and not the hobbits, those stupid little dwarves. I hate dwarves and elves. The elves are fair, but typically Jewish—arrogant, saying, We are the chosen ones. So I don’t like them. But you have Barad-dûr, the tower of Sauron, and you have Hlidhskjálf, the tower of Odin; you have Sauron’s all-seeing-eye, and then Odin’s one eye; the ring of power, and Odin’s ring Draupnir; the trolls are like typical berserkers, big huge guys who went berserk, and the Uruk-Hai are like the Ulfhedhnar, the wolfcoats. This wolf element is typically heathen. So I sympathize with Sauron. That’s partly why I became interested in occultism, because it was a so-called <dark> thing. I was drawn to Sauron, who was supposedly <dark and evil>, so I realized there had to be a connection.”

Just like democracy claims to be <light> and <good>, I reasoned that then we obviously have to be <dark> and <evil>.” J.R.R. se revira no túmulo.

SALADA DE MAIONESE ESTRAGADA NA CAIXA ENCEFÁLICA: “I never said I will become the dictator of Scandinavia myself. I did say that I support Stalin, Hitler, and Ceaucescu, and I even said that Rumania is my favorite country—an area full of Gypsies! But the point is that Rumania is the best example of communism, and when people can realize how ridiculously the whole thing works, they can see what it really is. (…) It may be a provocative way to say it, but if there wasn’t Stalin, Hitler would look even worse. Now at least we can say, look at Stalin—he’s worse. He killed 26 million.”

Well, there was a T-shirt that Øystein printed which said <Kill the Christians.> I think that’s ridiculous. What’s the logic in that? Why should we kill our own brothers? They’re just temporarily asleep, entranced. We have to say, <Hey, wake up!> That’s what we have to do, wake them up from the Jewish trance. We don’t have to kill them—that would be killing ourselves, because they are part of us.”

He was at first allowed a computer, which he used for correspondence and for the preliminary texts which would form his nationalist heathen codex. Some of the essays he composed were forwarded to correspondents and began to appear in underground publications around Europe. Most of these concerned his investigations into the esoterica of Nordic mythology and cosmology. At a certain point, after he had compiled a large portion of his book, the prison authorities decided to take away his computer; presumably they were worried he was somehow employing it for nefarious ends.” “By titling his treatise Vargsmål, Vikernes seeks to place himself in mythic lineage as a modern-day figure worthy of the ancient sagas.” “The official publication of Vargsmål would only come about years after it was written. With Varg’s front-page notoriety there were certain publishers interested in releasing the book, obviously figuring to make a quick buck on the sensationalism that could be generated, but it appears that most backed out when they had a chance to review the actual contents. In addition to mythological commentary, the book brims with volatile statements and racial, anti-Christian, nationalist rhetoric.”

I would like to find a woman to live with in peace and quiet, far away from the world’s problems, but I cannot. It is my duty to sacrifice myself and my personal wishes for the benefit of my tribe.” He-he

Varg Vikernes serves the role of a pariah and heretic to Norwegians, similar on a number of levels to that of Charles Manson in America. Both profess a radical ideology at odds with, and at times unintelligible to the average citizen. Both insist they have done nothing wrong. Both espouse a revolutionary attitude, imbued with strong racial overtones. Both have become media bogeymen in their respective countries, and both knowingly contribute to their own mythicization. Both also understand well the inherent archetypal power of symbols and names—especially those they adopt for themselves.”

With his increasing nationalism, Vikernes has discovered his predecessor in Vidkun Quisling, the Norwegian political leader who founded a collaborationist pro-German government in the midst of the Second World War. Quisling was tried and executed for treason shortly after the war’s end. As a result his name has entered international vernacular as a synonym for <traitor>. In Norway, that name is still anathema even today.” Quisling – That Inhabited Worlds Are To Be Found Outside of the Earth, and the Significance Thereof for Our View of Life, o manifesto deste idiota.

Norway’s conversion to Christianity, made possible by St. Olav’s death as a martyr at Stiklestad, was described by Jacobsen [dissidente do quislinguismo, ainda mais extremista] as the introduction of <something false and unnatural into our folk’s life>. It was therefore logical for him to condemn Quisling’s adoption of the St. Olav’s cross as the NS symbol, declaring that the party symbol itself was non-Nordic.”

He lamented not being able to legally register his own religious organization in Norway due to his criminal record. Toward this goal he has, however, formed the Norwegian Heathen Front, a loosely knit operation through which he will issue propaganda. The members of German Black Metal band Absurd, also currently behind bars, are involved with a branch of the organization in their country.” Além de ideólogos degenerados, péssimos músicos. Um absurdo, literalmente.

he plans to employ his philosophy on the nature of women as a basis for NHF strategy. His awareness of the woman’s role in revolutionary activities is not unlike that of Charles Manson before him, although Vikernes claims to have arrived at it from personal observation during his Black Metal period.”

A PSICOLOGIA INFANTO-JUVENIL DO FASCISMO: “The groundwork of the Black Metal scene is the will to be different from the masses.¹ That’s the main object. Also girls have a very important part in this, because they like mystical things and are attracted to people who are different, who have a mystique.² When a girl says <Look how cute he is> when she sees a picture of someone, her male friends will think <She likes him. If I look like him maybe she will like me as well.> They turn toward the person she admires.² The way to make Norway heathen is to go through the girls, because the males follow the girls.³” Varg

¹ Baudrillard diria: Coitado, ele ainda está preso às concepções socialistas-revolucionárias! As massas não são nada conceituável, ou são tudo, não há relação binária passível de ser feita entre massa e não-massa, não é simples assim. Não mais. Mas sendo a massa o advento inevitável do mundo moderno decadente, negar a massa como os neo-pagãos presumem, seria negar a vida, e não reafirmá-la, como pensam os Anti-Nazarenos.

² Gado demais. Boi ou vaca.

³ No Brasil atual isso seria mais condizente com tornar-se funkeiro. Mundial e macroscopicamente falando, talvez aderir ao k-pop.

Males aren’t extreme really. You find females are more to the left or more to the right than the males. Females are more communistic, more extremely Marxist-Leninist, or more extremely rightist than the males.”

In Oslo everybody fucks everybody in the scene. If one person gets a venereal disease, everyone does. The females I know in the Black Metal scene are not very intelligent, they are basically just whores. That’s a typical Oslo phenomenon.

The people I correspond with are not Black Metal girls at all. Some of them were, but they realized that I don’t like it and then they realized they didn’t really like it either. They were just doing it because they wanted to get in touch with certain people. The way to power is through the women. Hitler knew this as well. Women elected Hitler.”

O TRAPÉZIO DOS MÍMICOS: “Ironically, while Vikernes’s name is more or less synonymous with Black Metal, he takes great care to distance himself from that musical milieu. He even now claims the early Burzum releases—records regarded today as milestones of the genre—never were Black Metal music at all, instead classifying them as <standard, bad Heavy Metal>. He passionately distances himself from all forms of Rock and Roll, stressing that Rock’s roots in Afro-American culture make it alien to white people.”

Presently, Vikernes is no longer even permitted to listen to CDs. The only music he is currently allowed to experience must come via MTV—something which, in his case, might be considered a cruel and unusual form of punishment.”

Denied a musical outlet, Vikernes has focused his strong creative drive on writing. His output has encompassed political tracts, a book on mythology called Germansk Mytologi og Verdensanskuelse (Germanic Mythology and Worldview), and fiction, including a short novel. His fictional works can be compared to the infamous neo-Nazi novels Hunter and The Turner Diaries, in the sense that much of it functions as a dramatization of National Socialist rhetoric. Vikernes seems to be slightly more aware of his literary limitations than the late author of the aforementioned books, Dr. William Pierce (a former physics professor who became director of the American racialist political group the National Alliance), who makes his characters’ tender pillow-talk read like political sermonizing.”

In the early days of the Heathen Front, the organization’s mailing address was one and the same with Vikernes’s private P.O. box prison address. This would, of course, mean that any prospective members would have their letters read and, one presumes, registered by the authorities. And this actually strengthens the Heathen Front’s assertion that Vikernes is not the leader: it would be very hard for him to do an effective job of it. Whatever his official role may be, Vikernes certainly has left a strong mark on the Heathen Front. Its program was written by Vikernes, and this is a mix of rather orthodox National Socialist doctrine and neo-Heathen, anti-Christian ideas, along with some emphasis on environmentalism.” “The Allgermanische Heidnische Front [subdivisão do já irrelevante Heathen Front] and its subdivisions in Norway, Sweden, Belgium, Denmark, Holland, Iceland, Germany, and Sweden (with <affiliated subdivisions> in Russia, Finland, and the USA) are probably little more than Internet tigers. While the AHF’s policy of concentrating on producing web pages might be a bid to attract [“““]intellectually[”””] inclined youthful recruits rather than the streetfighters that make up much of the younger rank-and-file of other European National Socialist organizations, the focus on the Internet may have a more pragmatic motive.

One of the wonders of the Internet is that, in theory, a single person with a little know-how, a modem, and an acceptable computer can create web pages just as impressive as those of any huge organization. And, still theoretically, a loose group of e-mail correspondents across Europe can take on the appearance of a tremendously organized international network. In addition to its functioning as a political equalizer, the added attraction to all this is that Net know-how is mainly the field of younger people—exactly the sort the AHF has aboard. But while Vikernes’s network might theoretically consist of one teenage computer nerd per country, each still living in his parents’ house, such an estimation would probably be way off the mark. So how real is the AHF?” “whether the AHF will be noticed in the future probably depends most on if it can succeed at recruiting young Burzum fans (its most realistic recruitment base) into political activism—or at providing a conduit for them into more militant groups and scenes.” Cenário pouco auspicioso para a “organização”.

He also explains their recruiting strategy: <We don’t approach the great masses, but rather let individuals from the masses approach us instead. This is probably why so many see us as an ‘Internet project’ or as inactive and passive.> braço sueco

National-Socialists in Sweden are as much a minority as they are everywhere else, and young activists are likely to rub brown-shirted¹ shoulders with members of other groups in informal settings like concerts, meetings, and parties.”

¹ Essencialmente, <Juventude Hitlerista>, qualquer grupo paramilitar subversivo de extrema-direita – análogo aos camisas-negras para a Alemanha.

while the Third Reich was in some ways a modern welfare state (at least for those whose blood and ideology were in line with NS doctrines), Vikernes asserts that military veterans who are disabled in future wars for the greatness of Germania should commit suicide rather than be a burden on the resources of the Nation.”

SS

solo sangue Scandinavia

The journal Kulturorgan Skadinaujo appears to be the work of young students, some of whom have adopted an academic writing style. Though the fanzine-style musings that occasionally appear in its pages detract from its academic tone, the main reason why Skadinaujo seems doomed to fail as a scholarly venture is the fact that it reviews books like the pseudo-archaeology of Graham Hancock side by side with properly executed scholarly works. The end result is hardly something to show your professor.”

He has taken to interpreting the Old Norse texts as proof of—or at the very least circumstantial evidence for—contact between humans and extra-terrestrials in ancient times.”

And in the same way that Hymir sent all his trolls out to wreak revenge on Thor for having gone fishing and catching the Midgard Serpent in one of the most well-known of the Norse myths, a war was waged on Atlantis. After the conflict, the island sank into the ocean and the Aryans sought refuge on other continents, where they eventually mixed with lower races of men. The Atlantean Aryans only survived as a pure race in Northern Europe, where they can produce children like Vikernes: blonde, blue-eyed, and long-skulled.”

LIGANDO LÉ COM CRÉ E NO KIBE DANDO RÉ: “Thor had red hair, but all our ancestors had blonde hair prior to the degeneration of the Viking Age. [?] But the planet Jupiter is the colour of rust! [?] And Thor protected men against uncontrollable natural forces, just like Jupiter’s gravitation protects earth. […] Why does Thor have a belt of strength? Does not Jupiter have a ring around it? [??]”

The roots of Nazi preoccupation with flying saucers are complex, and date back to before the Second World War. Clear indications exist that the Third Reich had a program for developing flying saucers as part of its war machine.” Legal, salvou meu dia.

After the war, the UFO myth entered the subconscious of the West, with the rumored UFO crash at Roswell and alien abduction stories becoming standard features in modern folklore. And while many of the contemporary myths dramatized by the tremendously successful TV series The X-Files might seem fantastic, the strangest ideas are the ones that people actually seem to believe in.”

While the circumstances that led to the creation of the book [ufologia babaca envolvendo a tribo Africana dos Dogon!] are convoluted (as any arguments dealing with ancient astronauts invariably are), at the root of the mystery lie the writings of the French anthropologists Marcel Griaule and Germaine Dieterlen, who did research on the Dogon in the 1930s. Twenty years later, the Frenchmen published their story of how the Dogon had revealed this astronomical knowledge about Sirius (Sigu Tolo in the native language) to them.

But other anthropologists who later visited the area have been unable to find the same astronomical knowledge circulating among the Dogon, and the most realistic hypotheses seem to be that the one Dogon informant who divulged the information to the two Frenchmen either learned his Sirius lore from earlier visitors (of the human variety), or indeed from Marcel Griaule himself, a keen astronomy fan who took along star-charts to help extract information. Either wittingly or unconsciously, the Dogon native might have had this knowledge transferred to him from his interviewer—or else Griaule overemphasized what was passed to him through his interpreter, thus finding exactly what he wanted to. Furthermore, many of the Dogon’s astronomical <facts> are just plain wrong.

In the world of the pop esotericism, however, the fact that claims are exposed as lackluster or even fraudulent often has little bearing on their continuing distribution via the myriad magazines and bookshops that cater to alternative ideas.”

Sitchin was first attracted to this peculiar field of research because he was puzzled by the Nefilim, who are mentioned in Genesis, 6. There, the Nefilim (also spelled Nephilim) are described as the sons of the gods who married the daughters of Man in the days before the great flood, the Deluge. The word Nefilim is often translated as <giants>, meaning that the Old Testament asserts there were days when giants walked upon the earth. If this sounds a bit like the occult narrative of Varg Vikernes, it only becomes more so when Sitchin claims that the correct and literal meaning of the word Nefilim is <those who have come down to earth from the heavens>. [eram filósofos: viviam com a cabeça nas nuvens!] Fallen angels procured the daughters of men as mates, which Sitchin takes to mean that the space-farers mixed their superior DNA with that of primitive mankind, leading to a quantum leap in human genetic and cultural evolution which spawned the blossoming Mesopotamian cultures.” Tão crível seria a hipótese de que caiu um meteorito radioativo na Terra e fez com que gorilas e chimpanzés entrassem em acelerada mutação – com mortalidade de virtuais 100%… Os escassos sobreviventes desta hecatombe ecológica, entretanto, viriam a ser Prometeus… Cof, cof.

IS THERE A SPECIAL CONNECTION BETWEEN NATIONAL-SOCIALISM AND UFOs?

DR. MICHAEL ROTHSTEIN [cético que estuda gente que acredita em OVNIs]: In certain ways, yes. Nazism has always had some kind of relation to the occult and certain Nazi groups (often outside the actual Nazi parties) have made a special point out of it. However, this really is fringe stuff [indie, marginal]. What is more interesting is the fact that UFOs on many occasions have been interpreted as devices developed by Nazi scientists, as German secret weapons. This is, I believe, more interesting than notions of clones of Hitler hiding under Antarctica in huge UFO-related facilities. Nazis are in many ways the demons of the modern world, at least most people find them disgusting and dangerous, and any association between the bewildering UFOs and these groups points to a certain understanding of UFOs as sinister or demonic.”

As long as people wish to believe, they will readily accept authorities that support their beliefs. The phenomenon is not that Von Däniken is able to persuade people of anything. The phenomenon is that people want Von Däniken to provide material for them to believe in. Furthermore, this is not in itself a <far-out> belief. Any belief in things out of the ordinary could be considered <far out>: God, for instance, or the Resurrection of Christ, flying yogis, whatever.”

As hinted by Rothstein, one of the most unusual marriages of UFO lore and National Socialism is the idea that the Third Reich is alive and well under the Antarctic ice-cap, keeping watch over the world by means of its flying saucers and waiting for the day to return and free the world from Zionist bankers, communists, and other enemies of the Aryan race.” “The most eloquent spiritual representative of such ideas in the present day is the Chilean dignitary and author Miguel Serrano [1917-2009], a former diplomat (to India, Yugoslavia and Austria) who counted both Carl Jung and Herman Hesse [curiosamente, anti-nazi notório – autor da novela Steppenwolf] among his circle of friends.” Serrano – C.G. Jung and Hermann Hesse: A Record of Two Friendships (1965) (original: El círculo hermético, de Hesse a Jung)

Mattias Gardell is a lecturer in religious anthropology at the University of Stockholm. He has studied radical religions extensively, and is the author of a book on the Nation of Islam, Countdown to Armageddon. His latest research project has involved a year of travelling around North America and interviewing figures involved in the neo-Nazi and Ásatru movements, two milieus that sometimes overlap—and especially so in the case of Varg Vikernes.”

Such ideas of blood as a carrier of hereditary information are common in Nazi circles, and can in some way be compared to Carl Jung’s theory of the collective unconscious.”

Their law of the strong scorns pity as a four-letter word; they await the day it is banished from the dictionaries. They despise doctrines of humility. Christ’s Sermon on the Mount is even worse poison to their ears. War is their ideal, and they romanticize the grim glory of older epochs where it was a fact of life. Where is the source for such a river of animosity and primal urges? Did torrents of hatred arise simply from the amplification of a phonograph needle vibrating through the spiralled grooves of a Venom album? Is Black Metal music possessed of the inherent power to impregnate destructive messages into the minds of the impressionable, laying a fertile seed destined to sprout into deed? To an enlightened mind it would seem unlikely.”

After reading a number of similar texts by Varg Vikernes, the Austrian artist and occult researcher named Kadmon was inspired to investigate in detail what enigmatic connections might exist between the phenomena of modern Black Metal and the ancient myths of the Oskorei. The Oskorei is the Norse name for the legion of dead souls who are witnessed flying, en masse, across the night sky on certain occasions. They are rumored to sometimes swoop down from the dark heavens and whisk a living person away with them. This army of the dead is often led by Odin or another of the heathen deities. Throughout the centuries, there are many reports from people who claim to have experienced the terrifying phenomenon—they attest to having seen and heard the Oskorei with their own eyes and ears. The tales of the Oskorei also refer to real-life folk customs which were still prevalent a few hundred years ago in rural parts of Northern Europe.” “noise, corpse-paint, ghoulish appearances, the adoption of pseudonyms, high-pitched singing, and even arson.”

In German folklore, stories of the Oskorei correspond directly to the Wild Hunt, also termed Wotan’s Host. Wotan (alternately spelled Wodan) is the continental German title for Odin, Varg Vikernes’s <patron deity>”

Gyldendal’s Store Norske Leksikon (The Large Norse Encyclopedia)

O SATÃ DE VIKERNES É O JUDEU ERRANTE: “There were often fights and killings at those places Oskoreia stopped. They could drink the yule ale and eat the food, but also carry people away if they were out in the dark. One could protect against the ride by gesturing in the shape of a cross or by throwing oneself to the ground with the arms stretched out like a cross. The best way was to place a cross above all the doors. Steel above the stalls was effective as well. The Oskorei was probably regarded as a riding company of dead people, perhaps those who deserved neither Heaven nor Hell.”

the cover of Bathory’s first <Viking> album, Blood Fire Death (1988), features a haunting depiction of the Oskorei in action. The remarkable development is how so many of the minute details of the legends would inadvertently or coincidentally resurface in unique traits of the Norwegian Black Metal adherents. This behavior had already become prominent years before the scene acquired its current attraction toward Nordic mythological themes, and before Vikernes ever began writing commentaries on such topics.”

Many of the <Satanic> bands even evince a strong fascination for native folklore and tradition, seeing them as vital allegories which represent primal energies within man. This type of viewpoint is expressed well by Erik Lancelot of the band Ulver:

<The theme of Ulver has always been the exploration of the dark sides of Norwegian folklore, which is strongly tied to the close relationship our ancestors

had to the forests, mountains, and sea. The dark side of our folklore therefore has a different outlook from the traditional Satanism using cosmic symbolism from Hebraic mythology, but the essence remains the same: the ‘demons’ represent the violent, ruthless forces feared and disclaimed by ordinary men, but without whom the world would lose the impetus which is the fundamental basis of evolution.>”

atavistic ativism

folclorenoruegues
IMAGEM 2. Extraído dum livro de lendas

Ler Two Essays on Analytical Psychology do Jung: “There are present in every individual, besides his personal memories, the great <primordial> images, as Jacob Burckhardt once aptly called them, the inherited powers of human imagination as it was from time immemorial. The fact of this inheritance explains the truly amazing phenomena that certain motifs from myths and legends repeat themselves […] It also explains why it is that our mental patients can reproduce exactly the same images and associations that are known to us from the old texts.”

Kadmon also points out a few strong contrasts between the rural folklore and Black Metal, which he sees as an urban phenomena. He is not entirely correct in this assertion, however, as many of the Norwegian Black Metal musicians do not come [from] cities such as Oslo, Bergen, or Trondheim, but live in small villages in the countryside. And Varg Vikernes, too, is proud to make the distinction that he is originally from a rural area some distance outside of Bergen, rather than the city itself. Further examples can be found with the members of Emperor, Enslaved, and a number of other bands.”

Besides Bathory, one other early Scandinavian Metal band had also extolled the religion and lifestyle of the Vikings in their music, a group from the ‘80s called Heavy Load. Possibly they also inspired some of the kids later involved in Black Metal, and indeed they have been mentioned with appreciation by some close to the scene, like Metalion.”

The group Immortal even went so far as to make a professional video clip with every band member shirtless in the midst of a freezing winter snowscape, furiously playing one of their songs. A video for the Burzum song Darkness goes much further, leaving out any human traces whatsoever—the entire 8:00 clip is based on images of runic stone carvings, over which shots flash of rushing storm clouds, sunsets, rocks, and woods. Co-directed by Vikernes from prison via written instructions, the result is impressively evocative despite the absence of any storyline or drama.”

POUCO IMANENTE VOCÊ, NÃO É, DISCÍPULO EX-QUERIDINHO DE FREUD? “According to Carl Jung, it is not always modern man who actively seeks to consciously revive a pre-Christian worldview, but rather he may become involuntarily possessed by the archetypes of the gods in question. In March, 1936, Jung published a remarkable essay in the Neue Schweizer Rundschau, which remains highly controversial to the present day. Originally written only a few years after the National-Socialists came to power in Germany, it is entitled Wotan.

Jung states in no uncertain terms his conviction that the Nazi movement is a result of <possession> by the god Wotan on a massive scale. He traces elements of the heathen revival back to various German writers, Nietzsche especially, who he feels were <seized> by Wotan and became transmitters for aspects of the god’s archetypal nature. He states, <It is curious, to say the least of it […] that an old god of storm and frenzy, the long quiescent Wotan, should awake, like an extinct volcano, to a new activity, in a country that had long been supposed to have outgrown the Middle Ages.>

Jung would some years later reveal his conviction [not proofs, like Moro] that both Nietzsche and he himself had experienced personal visits [Jung estuprado na infância?] in their dreams from the ghostly procession of the <Wild Hunt>, the German equivalent of the Oskorei.”

In Norway and Sweden there has also been growing general interest in the indigenous religion of their forefathers, to the point that at least one heathen group, Draupnir, has been recognized as a legitimate religious organization by the Norwegian government. Along with them, other Ásatrú organizations such as Bifrost also hold regular gatherings where they offer blot, or symbolic sacrifice, to the deities of old.

There is absolutely no specific connection between these Nordic religious practitioners and the Black Metal scene. In fact, public assumptions that such a link would exist have been a severe liability to these groups. Dispelling negative public impressions of their religion is made considerably more difficult with characters like Vikernes speaking so frequently of his own heathen beliefs to the press.”

VonStuck
IMAGEM 3. Franz von Stuck, A caçada selvagem

O TRÁGICO ATRASADOR DA REASCENSÃO MITOLÓGICA: “Vikernes’s extreme and bloody interpretation of indigenous Norse religion is just as problematic to the neo-heathen groups as was his flaming-stave-church and brimstone variety of Satanism a few years earlier to organizations like the Church of Satan. When contemporary figures sought to revive the old religion of Northern Europe, they had not intended to bring back uncontrollable barbarism and lawlessness with it.”

There is another obscure old fable of the Oskorei, where they fetch a dead man up from the ground, rather than their usual choice of someone among the living. It was collected by Kjetil A. Flatin in the book Tussar og trolldom (Goblins and Witchcraft) in 1930. If the folkloristic and heathen impulses of Norwegian Black Metal are in fact some untempered form of resurgent atavism, then this short tale is even more surprising in its ominously allegorical portents of events to come over 60 years later with Grishnackh, Euronymous, and the fiery deeds that swirled around them”

Originally bestowed with Kristian for his first name, Vikernes found this increasingly intolerable in his late teenage years. When he first introduced himself to the Black Metal scene it was still his forename. Sometime in 1991–92 he legally changed his name to Varg. His choice of a new title is curious in light of the actions he would later commit, and the legend that would surround him—although he claims to have adopted it mainly for its common meaning of <wolf>. If one understands the etymology and usage of the word varg in the various ancient Germanic cultures (and there is no evidence that Vikernes did at the time of his name change), his decision becomes downright ominous.

A fascinating dissertation exists entitled Wargus, Vargr—‘Criminal’ ‘Wolf’: A Linguistic and Legal Historical Investigation by Michael Jacoby, published in Uppsala, Sweden, but written in German. It is a highly detailed, heavily referenced exploration of the Germanic word Warg, or vargr in Norse.”

Qual é o lado mais podre do LobisOmen?

The designation was used in the oldest written laws of Northern Europe, often with a prefix to add a specific legal meaning, such as gorvargher (cattle thief) or morthvargr (killer).”

another ancient Germanic legal text, the Salic Law, which states: <If any one shall have dug up or despoiled an already buried corpse, let him be a varg.> Hehehe

LICANTROPIA ETIMOLOGIZADA E SOCIOLOGIZADA

Vargr is the same as u-argr, restless; argr being the same as the Anglo-Saxon earg. Vargr had its double signification in Norse. It signified a wolf, and also a godless man. […] The Anglo Saxons regarded him as an evil man: wearg, a scoundrel; Gothic vargs, a fiend. […] the ancient Norman laws said of the criminals condemned to outlawry for certain offenses, Wargus esto: be an outlaw! (be a varg!) […] among the Anglo Saxons an utlagh, or out-law, was said to have the head of a wolf. If then the term vargr was applied at one time to a wolf, at another to an outlaw who lived the life of a wild beast, away from the haunts of men—<he shall be driven away as a wolf, and chased so far as men chase wolves farthest,> was the legal form of sentence—it is certainly no matter of wonder that stories of outlaws should have become surrounded with mythical accounts of their transformation into wolves.” “As can be seen from the Baring-Gould quote above, the wolf connotation of the term later became associated with werewolves, and in certain sources the Devil himself is referred to as a werewolf. However, this negative outlook on wolves appears to surface after the onset of the Christian period of Europe; the pre-Christian heathens had a quite different perception. “A number of Black Metal bands display a fascination for the wolf. The most obvious example is Ulver, whose name itself means wolves in Norwegian.”

The wolf lives in the forest, symbol of the demonic world outside the control of human civilization, and serves thus as a link between the demonic and the cultural, chaos and order, light and dark, subconscious and conscious. Still I do not by this mean to say that the wolf represents the balance point between good and evil—rather he is the promoter of <evil> in a culture which has focused too much on the light side and disowned the animalistic. He symbolizes the forces which human civilization does not like to recognize, and is therefore looked upon with suspicion and awe.” E. Lancelot

In the older Viking times, wolves were totem animals for certain cults of warriors, the Berserkers. A specific group is mentioned in the sagas, the Ulfhethnar or <wolf-coats>, who donned the skin of wolves. Baring-Gould recounts the behavior of the Berserks who, wearing these special vestments, reached an altered state of consciousness:

<They acquired superhuman force […] No sword would wound them, no fire burn them, a club alone could destroy them, by breaking their bones, or crushing their skulls. Their eyes glared as though a flame burned in the sockets, they ground their teeth, and frothed at the mouth; they gnawed at their shield rims, and are said to have sometimes bitten them through, and as they rushed into conflict they yelped as dogs or howled as wolves.>”

Wolves are sacred to Odin, the <Allfather>, who is usually accompanied by his own two wolf-elementals, Geri and Freki. Many Germanic personal first names can be traced back to another root word for wolf, ulv or ulf, so this was clearly not an ignoble or derisive connotation, except in its varg form.” “In the old sagas Odin is bestowed with myriad names and titles, some of which include Herjan (War God), Yggr (the Terrible One), Bölverkr, (The Evil Doer), Boleyg (Fiery Eyed), and Grímnir (the Masked One).”

It happens that he betrays his believers and his protégés, and he sometimes seems to take pleasure in sowing the seeds of fatal discord..” Georges Dumézil

In her essay on the word Warg, Mary Gerstein also discusses comparative symbolism between Odin, who hung on the world tree Yggdrasil for 9 nights in order to gain wisdom, and Christ, who was hung on the cross as an outlaw [3 days], only to be reborn as an empowered heavenly deity. Vikernes, despite his heathenism, has in certain respects set himself up as both avatar and Christ-like martyr for his cause, willing to suffer in prison for his sacrifice.”

SUarEZ

zeus arrrrrrghhhhhhhhh

horror arquetípico:

argh!!!típico

GIMME THE HARP: “Odin is the embodiment of every form of frenzy, from the insane bloodlust that characterized the werewolf warriors who dedicated themselves to him, to erotic and poetic madness.” Não leia senhor dos anéis demaaais…

Odin’s hall is easy to recognize: a varg hangs before the western door, an eagle droops above.”

the renunciation oath which was enforced under Boniface among the Saxons and Thuringians, who were ordered to repeat: <I forsake all the Devil’s works and words, and Thunær (Thor) and Woden (Odin) and Saxnôt (the tribal deity of the Saxons) and all the monsters who are their companions.>”

In my town all they do is have their cars and they drive up and down the one main street. They have nothing else to do—it’s a kind of competition for who has the finest car and the loudest stereo. They basically live in their cars. Those who are younger, who don’t have a car—they sit at the side of the road and look at the cars. Their lives are extremely boring, and I can see that some people want more out of existence, they want to have their own personality and expression which makes it impossible to be associated with all those meaningless humans who walk around everywhere.” Isahn

It started up with the whole <anti-LaVey> attitude that was common within the scene, because his form of Satanism is very humane. No one wanted a humane Satanism” “When LaVey says that the simplest housewife can be a Satanist, which it seems like he does in the Satanic Bible, I guess some were terrified that he had views that would take the special thing they had away from them.” “Many people did not laugh; they were very serious all the time. Nothing should be <good>. Everybody was very grim looking. Everyone wanted to be like that, and I guess there are some who are that way still.” “Of course you were affected by the whole atmosphere, that you don’t sit and laugh in this Helvete place, and you have respect for the known figures in the scene, and were careful what to say to Euronymous in the beginning, before you got to know him.”

Normal people assume, <Oh, people into Black Metal must have had a terrible childhood and have been molested. They’re weak and come from terrible backgrounds.> But as far as I’m concerned, many people I know in the scene actually come from good families, non-religious families, and had a great childhood with very nice parents and no pressure at all. Quite wealthy families, really.”

LÁ VEM O SATANISTA: “Sometimes I think it would be great to be more anonymous—it’s a small town that I live in, everyone knows who I am. People look at me even though I don’t dress particularly extremely, just because everybody knows what I am. Also with where I work, people are very skeptical towards me, and sometimes it would be easier if no one knew.”

The essence of Black Metal is Heavy Metal culture, not Satanic philosophy. Just look at our audience. The average Black Metal record buyer is a stereotypical loser: a good-for-nothing who was teased as a child, got bad grades at school, lives on social welfare and seeks compensation for his inferiority complexes and lack of identity by feeling part of an exclusive gang of outcasts uniting against a society which has turned them down. And with Heavy Metal as a cultural and intellectual foundation, these dependents on social altruism proclaim themselves the <elite>! Hah!” E. Lancelot

MANIFESTUM UNIVERSALIS: “The Satanist is an observer of society—to him, the world is like a stage, in relation to which he chooses sometimes to be a spectator, other times a participant, according to his will. He can watch from the outside and laugh, cry, sigh, or applaud depending on the effect the scenery has on his emotions; or he can throw himself into the game for the thrill; but his nature is always that of the watcher, the artist. He is not overly concerned with changing society, for his commitment to humanity is minimal.”

An appropriate example of how such futile aspirations may end is the case of Varg Vikernes: a neo-Viking martyr. A prophet of the ego who paradoxically enough chose to be the Jesus of his ideals, and now must suffer for it behind the walls of spleen. I have much respect for this man’s conviction and courage, but not his sense of reality.” Garm

I think many of them have grown up with the Bible and phone book as the only books in the house.” Simen Midgaard, jornalista free-lancer e ocultista, líder do grupo Ordo Templi Orientis. “The O.T.O. is established in Norway, unlike the Church of Satan, Temple of Set, or other real Satanic organizations.”

if they are going to get rid of Judeo-Christianity, they will have to get rid of Satan as well, as a matter of fact. He is a sort of Trotsky in the revolution”

I’m rather indifferent to the State Church. I’m not indifferent to these terrible small sects who teach their people with fear from the day they are able to talk [essas pulgas de rodoviária!]. I support any revolt, however strong it is, against that kind of Christianity because I think it makes people into neurotics. It should be forbidden by law because they torture their own children.”

O BRASIL TEM O SATANISMO MAIS MADURO (O CARNAVALESCO – A LUBRICIDADE DA CARNE): “Satanism in Norway has become strong because it’s a despotic form of Satanism, but that is also why it’s going to fade so fast—because people are not able to live like that for a very long period of time.” Pål Mathiesen, teólogo cristão

The Satanists say—to put it brutally—that we are animals. The animal culture is the most important one, and we are losing that part of us. This is broad in the culture today, with the “wild women,” etc., this whole thing of going back to nature. Being part of nature instead of spirit or morals is very strong now.”

That struck me when I was talking to Ihsahn, the symbols he was using of 3,000 or 4,000-year-old Eastern religions, and at the same to say that it’s only Norway for me and only the Nordic religion that counts. It’s not rational on that point at all. It doesn’t relate to history as something rational—you just use it.”

I think Vikernes has been analyzing our times and thinking, what can we do to achieve something? But I also think that over the years he will find out that for us to go back to the heathen religion is very, very unrealistic. It’s not going to happen if you look at the religious aspect of it. We’re not going to go back to that kind of religious ritual. That is not going to happen.”

If you are declared a Satanist or Nazi in Norway, then you are that for the rest of your life, there’s not a question about it. You will be condemned for the rest of your life. I hate that aspect of our culture, I really think it’s a bad thing, because if we don’t have an opening for forgiveness it becomes very alien to me.”

I think in society when something like that happens it’s a very good opportunity for the media. They like it because they can start a lasting soap opera with strong characters, and these Satanic groups. The media embraced it to a certain extent, and made it really big in Norway. Of course it was big, but I would say that the media capitalized on it, because it was something extreme, new, and specifically Norwegian. For them to sell newspapers, they treat it as extremely as possible. Very early on the media started to define them as total extremists, the same way they might look upon the neo-Nazi movement. They defined them as that right away; then they had them there and they can look upon them like animals doing strange things, and they can report it like something that is very different from the rest of our society.”

This is something that’s important—individualism in Norway has been held down. That has happened. If you are different in school, or very good for example, or very intelligent, that becomes a problem for you. We don’t accept people with exceptional gifts or anything like that. In England or the US, you have schools for these kind of youngsters, you send them somewhere else, and say, <You are different, go over there>. We don’t have that. Everything is supposed to fit in, in a classroom of 25 or 30 people. If you are too weak or too healthy, or if you’re too good, you’re supposed to shut up. It’s mediocrity.” “We have a very special relationship to nature, a very close one. And during the Christian period this thing with nature has been suppressed—nature is not good, nature is <evil>, so to speak. Norwegians interact with nature and are very closely connected to it, just due to the way the country itself is formed.”

They’ve spent fifty years after the war bringing down Christianity, and for the first time they’re saying now that we need more Christianity in the schools. It shows the times have changed. Maybe we have become conscious to some extent about the Christian culture when people start to burn down our churches—maybe, you can’t rule that out.”

Asbjørn Dyrendal is a Research Fellow at the Department of Cultural Studies at the University in Oslo. He has been primarily researching the new and emergent religions, especially Wicca.”

There you had a lot of young people who wanted to be Satanists. Where could they hear about what you do when you’re a Satanist? They had to get it through the media and Christian sources. They got the myths, and they tried as best as they could, by their rather modest means, to live up to them. You can see that in the early interviews with Varg Vikernes. There were situations where the journalists were trying to see this in light of the stories supplied by Kobbhaug [policial que fantasiava sobre <sacrifícios de bebês>], and where Vikernes played the appropriate role. He was hinting that many people disappear each year, that these might have been killed, and then said that he cannot comment on who was doing the killings. When asked if he has killed anyone: I can’t talk about that. He was building up to get the question of whether he had killed anyone, and then denying it in a manner which implied the opposite.” Dyrendal

Vikernes was very fond of telling people that he read LaVey and Crowley. However, what he has come out with in interviews indicates that he hasn’t understood it all very well.”

WAIT & BLEED: “If you are an adolescent, you are in a period of your life where it is impossible for you to exert influence upon your surroundings. Being able to hate and feel strong can be very liberating. This is much of the same power that lay in other forms of Metal and in Punk.” “It has passed the point where people point at you and laugh, and reached the point where people shy away from you.”

Almost every form of shocking behavior will only make your parents say, <Well, we did that when we were young too>. So, to get a shock effect, you have to go much further in your symbolism. Personally, I think these explanations are a bit simplistic.”

I am of the opinion that most people see Vikernes as a rather pathetic figure—

someone with delusions of grandeur who is only able to function within this self-created image.”

The myth of the outwardly respectable, even upstanding, citizens that go out at night to do terrible things to children has been around for thousands of years and has been levelled at Christians, Jews, Catholics, Protestants, heretics, Freemasons, and lots of other groups. It was then recycled by horror writers, who fictionalized the material. It now seems to be influencing reality again. One account of <ritual abuse> I have read seems to have been lifted directly from Rosemary’s Baby, one of the great horror classics.”

There have only been a handful of Metal groups with direct ties to LaVey’s church over the years (King Diamond being one of the more outspoken), although in recent times this has begun to change. LaVey was himself a musician, specializing in lost or obscure songs of ages past, but he often mentioned a personal distaste for Rock and other modern music in interviews. This might have alienated some musicians—who otherwise exemplify LaVey’s philosophy—from any public allegiance with the Church of Satan. In reality, LaVey understood fully why a genre like Black Metal has appeal for youth, though he may not had have much interest in the cacophony of the music itself.” “The Black Metalers are also quite mistaken if they believe LaVey is merely a humanist. Even a cursory study of LaVey’s actual writings will uncover his unabashed misanthropy and derisive scorn for the follies of humankind.”

A lot of people had tried to give it exposure, as Devil’s advocates—writers like Twain and Nietzsche—but none had codified it as a religion, a belief system.” LaVey

In the case of the Nine Satanic Statements, it took me twenty minutes to write them out. I was listening to Chopin being played in the next room and I was so moved I just wrote them out on a pad of paper lying next to me. The crux of the philosophy of Satanism can be found in the Satanic Rules of the Earth, Pentagonal Revisionism, and the Nine Satanic Sins, of which of course <stupidity> is tantamount, closely followed by <pretentiousness>. Often pretentiousness comes in the form of so-called <independent thinkers> that have a knee-jerk reaction [reação reflexa, instantânea] to any association with us.” Não compreendo o sentido exato.

It sounds like there’s a lot of stupid people in Norway too, like any country.” “We get more mail from Russia than ever, now that the Soviet Union is gone. They’ve been under atheist control for so long and the new religious <freedom> is pushing bullshit they can’t swallow. They almost yearn for the good old days of Soviet atheism…”

A lot of them are kids and they like the name Satan just as they might be attracted to a swastika and the colors red and black.” “Now, if a representative of the Church of Satan had just one entire hour on national TV to say what we want to say, Christianity would be finished.”

The anti-Christian strength of National-Socialist Germany is part of the appeal to Satanists—the drama, the lighting, the choreography with which they moved millions of people. However, the Satanic attitude is that people should be judged by their own merit—in every race there are leaders and followers. Satanists are the <Others>, who will push the pendulum in the direction it needs to go to reset the balance—depending on circumstances, this could be toward fascism or in the opposite direction. Satanism is a very brutal, realistic way of looking at things sometimes.” Barton, boqueteiro (assessor, amante, secretário, sei lá!) oficial de LaVey – verde a cor do nojo

How can someone say I don’t like Rock and Roll? It’s never been defined. There’s so much that’s fallen under that general heading, but I guess it then evolved into what we have now, which I’ve described as being like a linear metronome, i.e., music without music. They’ve just run out of ideas, really.” Continua ouvindo seu Chopin no Inferno, velhote.

kids who don’t know anything besides Rock music can still gain strength and motivation from Black Metal, Death Metal, and so forth.” Enough to found a new “religion”.

…And then you have to get a job! That’s no market place for 2 (or 20, whatever) LaFEIs…

O SEGUNDO VARG É MAIS ESPERTO: “The biggest success story in Norwegian Black Metal—measured in chart positions, magazine coverage, and gaudy magazine posters—is Dimmu Borgir, a band which boasts of six-figure CD sales on the German label Nuclear Blast. Dimmu Borgir were not part of the initial waves of Norwegian Black Metal, and therefore they have neither blood nor soot on their hands. But they have been very adept at capitalizing on the shocking image of their predecessors in the genre, while at the same time carefully distancing themselves from the worst excesses so as not to lose record sales or gigs. A typical example can be seen in the promo pictures of Dimmu Borgir engaging in the mock sacrifice of a virgin —pictures that were produced in versions ranging from <softcore> (less gore) to <hardcore> (very bloody), so that different media could pick the version most suited to their audience. In other words, it seemed as if Dimmu Borgir wanted to be provocative enough to make the kids think they were cool, but not so provocative that the kids couldn’t get their parents to buy them the album for Christmas.”

Two or three years ago it was on the verge of becoming really, really big, and the international press was interested in Black Metal. If there had been more bands like Dimmu Borgir and The Kovenant that could have made it big in the mainstream, Black Metal could have been another example of an underground that stepped up to the major league. But strong forces in the scene suddenly became very introverted and reverted to an older, harder style of Black Metal.” AsbjØrn Slettemark

There is a handful of bands that sell well, about 10,000 to 20,000 copies of each release. But sales figures are hard to confirm, because labels tend to exaggerate; and on the other hand, many of the retailers for Black Metal records don’t register their sales.”

It is my impression that Nuclear Blast realized their stable of Death Metal and Speed Metal artists were starting to lag behind. It seems to me like they picked Dimmu Borgir more or less by chance, because the records that got them the contract weren’t really that special. But Dimmu Borgir were still developing as a band, and they were willing to do the image and magazine poster thing. It wouldn’t be possible to sell a more established band like Mayhem or Darkthrone the same way. I guess Dimmu Borgir have the good old Pop Star ambition, the standing in front of the mirror singing into the toothbrush thing.”

Compared to the multinational record companies, Nuclear Blast Records is like a hot dog stand. But the German label has its home base in the world’s biggest market for heavy metal, and is serious enough to have an American distribution deal with Warner Records. And Nuclear Blast know how to <move units>, in record business parlance. The Marketing Director of Nuclear Blast, Yorck Eysel, says Dimmu Borgir has sold 150,000 copies of their last album and 400,000 discs in all during the time they have been with his label. These numbers are repeated like a mantra by everyone that works with the band, but should be taken with a pinch of salt, as exaggerating sales figures is the oldest trick in the book for vinyl and CD pushers. They know that it is easier to sell you a record that has been in the charts than one which has only been coveted by a few obsessive collectors. Even if the sales figures might be inflated, Dimmu Borgir has sold an impressive amount of records, and Eysel thinks that is due to the band’s merit.”

Interestingly, during Varg Vikernes’s trial a Burzum album was reviewed in the news section of Dagbladet, one of Norway’s most important tabloids; this was at a time when his band was being treated with contempt [even] by the Rock [specialized] press.” “Pop music there generally has been difficult to export and the Metal bands regularly outsell the <commercial> Norwegian bands”

Sigurd Wongraven of Satyricon, who had earlier starred in a Rock Furore exposé about racism in Black Metal, later received the full Rock star treatment in mainstream tabloid Dagbladet for a 2-page article which focused on the fact that Wongraven liked Italian designer clothes. Black Metal had become popular enough, and house-trained enough, for the mainstream press to dispense with the barge pole when touching it, even if the specters of racism and satanism still surfaced often enough to make the bands seem somewhat scary.”

Ketil Sveen, a co-founder of the record label and distributor Voices of Wonder, was one of the first people to sell Norwegian Black Metal records on a bigger scale. He ended his cooperation with Burzum after Varg Vikernes stated that he was a National-Socialist. Today there is a racism clause in the contracts which prospective artists have to sign in order to work with Voices of Wonder.”

We sell Black Metal in 25 countries—there’s not a lot of other music that we get out to so many.” Sveen

BURZUM_lighter

IMAGEM 4. Igreja de Fantoft em brasa e logotipo da banda de Vikernes num isqueiro promocional da Voices of Wonder. “I’ve done a few stupid things in my life, and that lighter was one of the stupidest. In my defense I want to say that none of us suspected Vikernes had really done anything like that. We figured that if he was crazy enough to torch a church he would not be crazy enough to go around bragging about it.” Sveen

Welcome to the world of German Black Metal. Less well known than its Norwegian counterpart, the German scene remains genuinely underground, an obscure exit off the darkened Autobahn of extreme Rock. That changed briefly following the night of April 29, 1993, however, when the members of the Black Metal band [arguably] Absurd followed the example set by Bård Eithun and Varg Vikernes and replaced thought with crime.”

Lianne von Billerbeck & Frank Nordhausen – Satanskinder (Satan’s Children: The murder case of Sandro B., 1994)

Such curiosities were difficult to satisfy until the Wall fell in 1989 and East Germany was opened to the West. At this point previously forbidden or impossible-to-obtain records and videos steadily came within reach. The three 17-year-olds Hendrik Möbus, Sebastian Schauscheill, and Andreas Kirchner began to draw attention to themselves with their Satanic obsessions and penchant for Black Metal. They were antagonized for their interests by many of the other kids in town—both left-wing punks and right-wing skinheads [curiosamente, o som da banda é nazi, sobre guitarras punks estéreis] —but developed a group of admirers among the local schoolgirls.” “At a certain point in 1992, a younger student, a 14-year-old named Sandro, also developed a fascination for the members of this sinister band and their associates.” “Widely disliked due to his irritating manners, he had almost no real friends. He quickly began to adopt the style and interests of the satanists and desperately tried to ingratiate himself into their circle. He would ask to attend band rehearsals and began corresponding with them and the others in the clique [panela] around Absurd. Satanskinder describes a peculiar <letter writing culture> that thrived among all of these youths.” “Heated arguments also took place there between them and members of the Christian Youth Club, which met regularly at the Center as well.”

Together with a young girl named Rita, Sandro began to plot actions against Sebastian and Hendrik, hoping to make a mockery of them in Sondershausen.” “He was also aware of an ongoing affair between Sebastian and an older married woman named Heidegrit Goldhardt, now pregnant with Sebastian’s child.” “Sebastian’s romantic relationship with Heidegrit, who oddly enough was an evangelical Christian schoolteacher, had produced some unexpected results. He had joined in with her pet projects for environmentalism and animal rights, and now spent time writing polemical letters to the newspapers about such issues.” “Absurd no longer rehearsed at the Youth Center, but had moved their equipment to a small cottage built by Hendrik’s father in the nearby woods. Through the guise of a female friend, Juliane, a letter was sent to Sandro in which she confided her hatred of Absurd. She asked Sandro to meet her one evening at the Rondell, a WW1 memorial in the forest above the town, in order to discuss how she could contribute to Sandro’s campaign against the satanists.” “Juliane didn’t appear, but the members of Absurd did instead. Sandro must have been confused, but dismissed any idea that he had been set up. They then somehow convinced him to accompany them elsewhere so that they could all discuss an important matter.” “Suddenly Andreas grabbed an electrical cord and wrapped it around Sandro’s neck. A struggle ensued, Sandro tried to scream for help. At this point, Hendrik is alleged to have pulled a knife and cut Sandro. They tied his hands behind his back. Sandro begged to be let free, promising to never speak about anything that had just happened. They could even have his life savings—500 German Marks (approximately $325). The boys considered the idea of letting him go free in the woods, but feared he would not keep his promise of silence about the abduction, especially now that he had been wounded.” “On May 1st [2 dias depois] the three members of Absurd returned to the scene of the crime and dragged Sandro’s corpse, wrapped in a blanket, to a nearby excavation pit, where they quickly buried him.” “Sebastian related a strange personal anecdote: about 6 months before the murder he heard a voice in his head. It was difficult to understand; he thought it uttered the nonsensical phrase <Küster Maier>. Later he decided it probably must have said <töte Beyer> (Kill Beyer!).” “The story detailed above follows the chronology presented in Satanskinder, although the book embellishes it with endless psychological speculation. The descriptions of the authors are based entirely on comments by disgruntled ex-friends and hangers-on who had interacted with the killers, since the latter refused to speak to them. The picture painted is one of an outsider group of youths whose fantasies got the best of them.”

We used to listen to British and German Punk Rock, British Oi, as well as Thrash Metal (Slayer, Destruction, Sodom, Morbid Angel, Possessed).” Hendrik

mostly we obtained Polish or Hungarian bootlegs, or recorded stuff from the West German radio.” “I guess it was just a question of time before we became aware of splendid bands like Deicide, Beherit, Sarcófago, Bathory, Mayhem, and Darkthrone…”

Before he <moved to the beyond>, Øystein Aarseth wanted to sign Absurd to Deathlike Silence, since our Death from the Forest demo appealed to him quite a bit.”

ABSURD HAS CALLED ITSELF <LUCIFERIAN PAGANS>…

You can use the terms <Luciferian>, <Promethean>, and <Faustian> to describe one and the same principle: reaching out toward a higher stage of existence and awareness by facing and overcoming the limiting circumstances. That is the trail we are on. However, a <Luciferian will> on its own would fall into hedonism and egomania. For that reason we need heathenism; on the one hand for expression of free will, but also for its channeling toward the greater good. In other words, a person of this sort should not operate only according to self-interest, but rather should serve his ethnic community and be the <light bringer> for it.

What we didn’t know, and only first learned from the court record, was that Sandro was bisexual. With a likelihood bordering on certainty, Sandro had fallen in love with Sebastian. That is also not astonishing, as in those days Sebastian had a certain <sex appeal> among the youths.

So Sandro discovered the relationship between Sebastian and his lover, who was married and 8 years older, while Sebastian was also considered the leader of the local satanists. If this relationship were to become public—which did indeed happen after the arrests—then it would have caused a significant fuss in the small town of Sondershausen, the result being that the girl would have been expelled from her congregation.”

WHAT WERE YOU EACH FOUND GUILTY OF?

Due to our age of 17, they had to use the youth laws for punishment, which meant a maximum of ten years in detention, no matter if even for mass-murder. At the start of 1994 our trial took place, which was a giant media spectacle. Among other things, the court found us guilty of first degree murder, deprivation of liberty, threat and duress, and bodily injury. (…) Ironically, the section we were sentenced under is one of the few pieces of legislation that remains today from National-Socialist jurisprudence.

Besides the trashy book Satanskinder, at least 3 other books feature our case. However, this book is certainly wrong with its version (although several phrases sound familiar…), due to the fact we refused to cooperate. A TV-film has also been made based on the events in Sondershausen. We have become <Satan murderers> and <Children of Satan> for all time. One could laugh about these stories, which are eternally the same old thing, if only they hadn’t led to such dire consequences. Apart from the media’s self interest for an ongoing story, there are also circles of people that have utilized the media for engaging in personal conflicts with, for example, my parents. It has long since ceased to have anything to do with <discovering the truth> (if that ever had even played a role) or <informing the public>. It has to do with chicanery, with calculated slander. It can further be asserted in my case that I turn more and more into the archetype of the scapegoat. I am the modern Loki, whom the gods punished for their own sins.

Andreas was released a year before Sebastian and I. After getting reacquainted with the scene for a half-year (among other things, he attended a Mayhem reunion concert in Bischofswerda), he retreated completely back into his private life. He broke off all contacts, lives with his girlfriend, and has a good job. Even if I was unhappy about his <departure>, I nevertheless wish him all the best.

Sebastian has totally devoted himself to a folkish world of ideas. He is married and has made a small circle of friends and acquaintances in which he actually plays the same role as he once did in our clique in Sondershausen. In the meantime he has also recorded and released new Absurd material. In addition he sings with Halgadom, a joint project with the band Stahlgewitter who are friends of his. He has only a peripheral contact with the scene, a situation that has probably kept him out of the media’s sights. It is different with me, for I have always had and maintained numerous contacts in the scene. In addition, I worked at Darker Than Black Records, through which I naturally was in a more prominent situation than my two former accomplices. Since then the media has decided to put me in the stocks and clothe me as their new scapegoat. Because I also nurtured an association with nationalistically inclined people, I have been charged severely. Nobody was interested in the facts anymore, the only thing that counted was sensationalism.”

Beginning meagerly with hymns to demons discovered in Satanic horror films, the early demo cassettes of the band are low-fi chunks of adolescent noise, soaked with distortion and offering unintentionally humorous spoken introductions to the songs. Their music is more akin to ’60s garage Punk than some of the well-produced Black Metal of their contemporaries—but what they lacked by way of musical execution they were more than willing to make up for with the real-life execution of the sad figure of Sandro Beyer.” “If there is any clear spiritual mentor behind Absurd’s transformation over the years, it is Varg Vikernes. Varg himself seems to be aware of this, and smiles when talking of recent events inspired by what happened in Norway: <In Germany some churches have burned. And there are the Absurd guys, who have also turned neo-Nazi…>”

The long quotation Hendrik attributes to <Herr Wolf> at the end of the interview is in actuality the words of Adolph Hitler, speaking of the new prototype of hardened, pitiless youth which Nazi Germany would produce.”

WHITEWASHED CARBON COPY: “Such sentiments would make Varg Vikernes proud. Absurd’s own tiny record label, Burznazg, takes its name from a term Varg once planned to use for his own operations, and the most infamous criminal in Norway was surely proud to know of the Tribute to Burzum compilation CD project initiated by Hendrik Möbus and friends.”

Möbus also reveals the existence of a Germanic <Black Circle> which he claims the members of Absurd are also connected to, called Die Teutsche Brüderschaft (Teutonic Brotherhood). The Brüderschaft is mentioned prominently in the dedication list on Absurd’s debut CD.”

In July of 1999 announcements circulated about the release of Absurd’s new 4-song CD entitled Asgardsrei. The CD featured a more aesthetic presentation and an evolved sound, although with much of Absurd’s garage-band ambience still intact. Guests on the release included Graveland’s Rob Darken and well as an <ex-member of the German mainstream band Weissglut>. The end of the advertisement advised interested customers to <ORDER IT NOW before ZOG¹ take YOUR copy>.”

¹ “A sarcastic acronym for Zionist Occupational Government, often employed in radical political circles to describe any of the present-day Western democratic states.”

The public prosecutor had now decided to launch an effort to revoke Hendrik’s parole on the basis of alleged political crimes he had committed since his release from juvenile prison. These consisted of displaying banned political emblems and also giving a <Hitler salute> at a concert.” “Travelling across the USA, Hendrik passed through a string of ill-fated liaisons with racists upon whom he depended for safe-housing, culminating with two of them violently threatening him. Following this incident, he eventually made his way to the state of West Virginia and to the headquarters of William Pierce’s racialist group the National Alliance. All was relatively quiet for a number of weeks until Hendrik was arrested in late August, 2000 by US federal agents acting on an international warrant. The German government had requested to have Hendrik extradited to face his charges of parole violation.

The press treatment of the case was unusual, with Hendrik being elevated from a <Satanic murderer> to a <neo-Nazi fugitive>. He became an international cause célèbre—garnering headlines in US News and World Report, as well as major papers like the Los Angeles Times and the Washington Post—and his case raised many serious issues about the way in which modern democratic states handle persons who they deem as threats to democracy itself. Soon after his arrest, Hendrik wrote a letter to US President Bill Clinton and Attorney-General Janet Reno and requested status as a political refugee, stating that if he were extradited back to Germany he would be persecuted on account of his political beliefs.” “A <Free Hendrik Möbus> campaign was also launched on the Internet, and William Pierce produced episodes of his radio program American Dissident Voices in which he addressed the topic of Möbus’s case in detail. In the first major ruling, the U.S. magistrate decided that Hendrik was not eligible for political asylum as he was a <convicted felon> in Germany. Hendrik then attempted to appeal the decision. In their commentaries on the case, both he and William Pierce attempted to make the fundamental issue one of free speech, since the actions which resulted in the original parole revocation were not of a violent nature, but rather <political> misdeeds (which would be perfectly legal according to US laws). Both the US and German governments tried to avoid this thorny issue and confine the legal proceedings to the logistical issues of Hendrik’s parole violation itself, rather than debating the validity of the charges that led to the violation.” A FRAQUEZA CONGÊNITA DO TOTALITARISMO: “His strategy for avoiding extradition created a further paradox: he was forced to seek the mercy of liberal democratic political asylum laws—exactly the sort of laws which a strident German nationalist would vehemently oppose in their own country for anti-immigration reasons.”

Two further court judgments against him, one for public display of the Hitler salute and the other for mocking his victim in published statements, have added more than two years of additional incarceration to the time he will serve in jail. It quickly became clear that Hendrik’s personal goal of collaborating with William Pierce in a venture to promote radical Black Metal through the racial music underground would be impossible to realize from a German prison cell. An equally significant obstacle arose exactly one year later when William Pierce died suddenly from cancer on July 23, 2002.”

Gorefest, an antiracist and politically correct Death Metal group.”

The teenager’s room was described as quite ordinary, except for a collection of disturbing compact discs. His neighbors had often noticed sounds blaring from his room, <gnawing music, hard and stressful, which one would hear late at night>—not a bad description of standard Black Metal from an unfamiliar listener.”

When a black-metaller enters a party at nite, we can say he cvlt up from his home.

Jean-Paul Bourre – Les Profanateurs (The Desecrators): “The fascination surrounding the grave of Jim Morrison of The Doors (buried in Paris’ famous Père La Chaise cemetery) and those of other notable personalities is also inexplicably discussed in one chapter. Les Profanateurs desperately attempts to pull all these disparate elements into a sinister scenario in hopes of alarming its readers.” Parece até o livro que estou lendo!

They got pissed and destroyed a few graveyards and subsequently they were in prison for it. The hoo-hah died down pretty quickly over it, and that sort of thing isn’t good for a band of our stature anyway because people get the whole ideology wrong straight away. This is why we kind of branched off from the Norwegian thing because as soon as you’ve got the Black Metal tag, people assume you are a fascist and you’re into Devil worship, which can be linked to child abuse.” Dani Filth, a ovelha negra (lúcida)

uktabloid
IMAGEM 5. Queen tabloid

The band began fairly quickly to distance themselves from their musical peers in Scandinavia by employing evocative aesthetics in the album artwork, and covering more romanticized themes drawn from nineteenth century literature and poetry. They wore the requisite Black Metal corpsepaint, but began to cultivate an atmosphere befitting of Hammer horror films rather than the one-dimensional <evilness> projected by other groups. Later releases Vempire and Dusk and Her Embrace brought the group to a exponentially increasing audience.”

In a strange political twist, an extremist racial group, the National Radical Party, nominated the singer of Metal band Korrozia Metalla (Коррозия Металла) as a mayoral candidate in Moscow. His name is Sergei Troitsky, AKA Spider, and he normally dresses in black T-shirts, jeans, and jackboots. Korrozia Metalla’s most popular song among fans is called Kill the Sunarefa, a slang term for darkly hued minorities from the south.” “Additional titillation regularly comes from naked females dancers who prance [rebolam, sensualizam] and masturbate on stage beside the musicians.”

The name Russia itself, after all, comes from the predominantly Swedish Viking tribe of the Rus who settled the region in the year 852C.E.[?].”

Poland, too, has a rapidly growing Black Metal scene which is closely linked to the rise of extreme right-wing activity there. The most visible band from that country is Graveland, led by the outspoken frontman Robert Fudali, AKA Darken.”

Fans of extreme Metal in this country are often far less intelligent than their Norwegian or European counterparts.” Which means, actually, that they are more intelligent.

SOCIEDADE DO ESPETÁCULO CONSUMADA: “The primary American interests outside of music include drugs and alcohol, neither of which played any significant part in the Norwegian Black Metal milieu. As a result, any antisocial actions are likely to be misdirected at best. The attempts to interrelate them into any kind of grand Satanic conspiracy are fruitless; the main similitude of these crimes lies in their irrational confusion.”

Singer Glen Benton branded an upside-down cross into his forehead years ago, and (to the obvious irritation of groups like Animal Militia) often advocates animal sacrifice in interviews. Allegedly the band’s albums have sold hundreds of thousands of copies worldwide.”

On April 13th, a group of male teenagers commenced a campaign of mayhem and terror with startling similarities in spirit to the Norse eruption in 1992–93. Calling themselves the Lords of Chaos, the cabal of six began their crusade by burning down a supermarket construction trailer. They followed this with the arson of a Baptist church. The terror spree escalated in perversity when the youths spread gasoline around a tropical aviary cage adjacent to a theme restaurant, then ignited the thatched-roof structure and watched the blaze exterminate the entire collection of exotic birds.”

Finnish groups like Beherit and Impaled Nazarene have enjoyed considerable success worldwide, paving the way for many fans to form their own bands and follow in their footsteps. And just as in Norway, segments of the Black Metal subculture also wed themselves to an especially virulent strain of teenaged Satanism. (…) They wear the distinctive Black Metal make-up, which gives cause for some Finns to call them <penguins>, and they flock to music festivals where their favorite bands play.” É o finlandês da picada…

Finnish metal him! Flo Mounier’s victory!

Unlike the scene in Norway, the crimes connected with Black Metal in Finland emanate from the fans, not the prominent artists. Despite its small size, this confused scene has produced one of the grisliest events to arise anywhere out of the Black Metal phenomenon. In one of the most notable cases in Finnish court history, four young Black Metalers murdered a friend in a scenario which featured overtones of Satanic sacrifice, cannibalism, and necrophilia.” “Reporting on the case is further complicated by the fact that the court has implemented a forty-year secrecy act on the entire legal proceedings.”

Jarno Elg’s career as a glue-sniffer and aspiring alcoholic led to psychiatric care at the young age of 11. He tried hashish the following year. By the time he was 16, young Jarno was drinking daily and devouring books on Satanism. This diet of Kilju [bebida etílica baseada na fermentação da laranja, com gusto e cheiro horríveis, típica da Finlândia], psychoactive chemicals, and teenaged Satanism was bound to go awry.”

The Poetic Edda, translated by Henry Adams Bellows

Sociologist Jeffrey Arnett has described Heavy Metal music as the <sensory equivalent of war.>” Segundo consta, numa rápida googlada, o sr. Arnett é PSICÓLOGO na área da adolescência/jovens adultos, e não SOCIÓLOGO.

[????????????????????????????] In France the journal Napalm Rock is issued regularly under the auspices of the National-Bolshevist political group Nouvelle Résistance.” Erva mais vencida que Hitler em 44.

The rebellious impulse in Metal therefore has yet to synthesize the nihilism with the fascism, and since fascism is a synthesis itself, there’s no reason this cannot eventually be achieved.” Kerry Bolton

The ‘60s music genres were thoroughly phony in their radicalism. Unlike Black Metal (and for that matter Oi, and much Industrial) the ‘60s musicians had no fundamental difference in outlook to the establishment they were supposedly rebelling against.”

ILLUMINATI: “The possibility of being bought off by the music business would most likely be by way of insisting on a return to the specifically anti-Christian themes at the expense of the heathen resurgence, since I’m sure many of the executives of the music industry can co-exist well enough and even utilize anti-Christianity, including Satanism, especially if it is of the nature of yet one more superficial American commodity.”

Será que esses albinos “phoneys” e bastardos utilizam Mozart o Maçom como garoto-propaganda de seu ideário europeu?

According to the police, the Einsatzgruppe was plotting direct action against prominent Norwegian politicians, bishops, and public figures. The group’s plans included a scheme to break Varg Vikernes out of jail by force. The Einsatzgruppe had all the trappings of a paramilitary unit: bulletproof vests, steel helmets, cartridge belts, and ski masks. In addition, the police found a list of 12 firearms and a map for a hiding place at a mountain. However, the only weapons the police confiscated right away were some sawed-off shotguns and dynamite with blasting caps. The police also found a war chest with 100,000 Norwegian Kroner (close to $20,000). This had been supplied by Lene Bore, Varg Vikernes’s mother. She was also arrested and charged with financing an illegal group. Bore confessed, but claimed she had no idea these people were <right-wing extremists>. She expressed concerns about the treatment her son received in jail, and claimed that he was subjected to violence by his fellow inmates. This was dismissed as unfounded by the prison director. However, it is true that Varg’s jaw had been broken in an altercation with another inmate in late 1996.” “Curiously, Bore could not be prosecuted under Norwegian law—conspiracy to break the law is not illegal if it is done to help a close family member.” “The group was, according to some sources, aiming to escape with the freed Vikernes to Africa—hardly the hideout of choice for passionate racists.”

The stigma associated with Nazism is much stronger in Norway than it is in neighboring Sweden or the US, where most of the Norwegian Nazis draw their inspiration from. This is largely due to the fact that Norway was occupied by Nazi Germany from 1940 to 1945.”

The Mayor of Brumunddal was subjected to what one would call low-level harassment. No physical attacks, no real serious vandalism, but an endless stream of mail-order merchandise, pizzas and ambulances ordered in his name. Pornographic photo montages were also posted along the route his children walked to school. Two of the activists from Brumunddal defecated on the steps of the town hall to express their discontent with municipal policy. They thought this was really smart, so they did it once more, and then were caught.”

Gaston Bachelard – Psychoanalysis of Fire

Fire stirs the spirit of human artistry; it is the spark of the will-to-create. It expresses the polarity of emotions, as Bachelard notes, and represents both the passionate higher ideals, as well as the hot and consuming tempers of irrationality.”

Most people have lost interaction with real fire; the once universal, mystical experience of blazing night fires is gone from their lives. Stoking the flames of resentment or dissension is frowned upon in a world which depends on the smooth exchange of services. Those possessed of unrestrained spirit are silenced, or ordered to fit in. Their tendencies must be stifled. Extreme emotions are shunned; those who act on them become outcasts. Mainstream culture produces a bulging sea of quaint diversions, the ostensible rewards for good behavior. The music and art made available to the masses has the consistency of soft, damp pulp—hardly a conducive medium for fire.”

re-fuse/reexist

* * *

ANEXOS

It’s not good for us to laugh. We have nothing to laugh at in this laughable society.” Varguxo

The wild hunt appeared in many legends—a ghostly flock of dark, martial shapes riding through the night on their horses through the woods, lead by Odin, the one-eyed ruler of the dead, or sometimes by a female rider… a perception that in Christian times was transposed onto the Archangel Michael and his hosts.”

The Austrian folklorist Otto Höfler was able to prove in his books Kultische Geheimbünde der Germanen and Verwandlungskulte (Transformation Cults) that the wild hunt was not at all a mythological interpretation of storms, thunder, or flocks of birds—as many researchers thought—but a union of mythology and folklore, of myth and reality which was of great importance in the Nordic mystery cults.” “Höfler stressed that in the Germanic Weltanschauung, like that of most pre-Christian cultures, there was no sharp distinction between this world and the one beyond—the borders were fluid. The folklore of the cult groups was often very brutal. With or without drugs the members felt a furor teutonicus which Höfler called a <decidedly terroristic ecstasy> with various excesses”

Beer was was their special goal—kegs were stolen or secretly emptied, sometimes to be refilled with water or horse urine, or they themselves urinated back into the barrels. Often horses were also stolen; they became the property of the Oskorei. In the morning the farmers found their horses completely exhausted, or they had to search for them because the apocalyptic riders had set them free somewhere.”

Hoping for a rich harvest, one accepted the demands and offenses of the Oskorei as part of the bargain. Similar perceptions existed in the Alps when the Perchten were given nourishment as they went from house to house, or they were allowed to plunder the pantry.” “Gradually, however, many farmers were no longer willing to accept the outrages of the Oskorei. The cultic background of the thefts and pranks fell into oblivion, becoming superstition. The sympathy of the populace disappeared—now the disguised young men were no longer considered embodiments of the dead or fertility demons, but rather trouble-makers and evil-doers.” “The louder the drums, bells, cries, rattles, and whips, the more effective the noise magic became.”

They dress as ghostly as possible, speaking with a falsetto voice, reaching ecstasy by dancing, music and noise. … Their clothes should be as nightmarish as possible. They attempted to dress as ugly as they were able. They had terrible eyes, with big white rings or painted up with coal. (Johannessen, Norwegisches Burschenbrauchtum. Kult und Saga. Wien, 1967 (dissertation), pp. 13, 95.)”

The disguised members of the Oskorei altered their voices and gave themselves false names—they represented demons and had to remain unknown. In Black Metal as well only a few musicians use their real names; many take pseudonyms from Nordic history and mythology and in the meantime it is possible to find in Black Metal culture almost all deities of the Eddas.”

munch_scream
IMAGEM 6. O Grito, de Munch, pintor norueguês expressionista.

But Black Metal is above all heathen noise, electronically enhanced. The music is powerful, violent, dark and grim; a demonic sonic art with several elements in common with the Norwegian expressionist painter Edvard Munch, whose famous work The Scream would fit well on a record cover. The eternal recurrence of certain leitmotifs, the dark blazing atmosphere, the obscure, viscous sonic landscape of many songs—often lasting more than ten minutes— have at times an almost psychedelic effect. In the heaviness and darkness of certain compositions it is possible to realize some subliminal melodies only after listening to these works several times. Black Metal is a werewolf culture, a werewolf romanticism.”

<A hard heart was placed in my breast by Wotan.> (Nietzsche, Beyond Good and Evil, aph. 260)” Muito bacana descontextualizar aforismos!

The first song I heard by Burzum was Det Som Engang Var in the CD Hvis lyset tar oss. Even now this song remains for me the most beautiful and powerful work of Burzum; its symphonic sonic violence is impressive over and over again. It is a 14-minute-long composition full of grim, blazing beauty—dark and fateful. The uniquely hair-raising, screaming-at-the-heavens vocal of Varg Vikernes turns the piece into an expressionistic shriek-opera, the words of which are probably incomprehensible even for Norwegians. The song was composed in the spring of 1992. Another work which fascinates me very much is Tomhet (Emptiness), on the same CD. This song too has an extraordinary length; from my point of view it is an exceptional soundtrack to the Norwegian landscape—that is, Norway as I imagine it, a country ruled by silence and storm, solitude and natural violence.”

I am no racist because I do not hate other races. I am no Nazi either, but I am a fascist. I love my race, my culture, and myself. I am a follower of Odin, god of war and death. He is also the god of wisdom, magic, and poetry. Those are the things I am searching for. Burzum exists only for Odin, the cyclopian enemy of the Kristian god. I do not consider my ideas to be extreme at all. That which stupid people call evil is for me the actual reason to survive.”

Daniel Bernard – Wolf und Mensch. Saarbrücken, 1983. [outro?]

Mircea Eliade – Shamanismus und archaische Ekstasetechnik. Frankfurt, 1991.

Rudolf Simek – Lexikon der Germanischen Mythologie. Stuttgart, 1984.

Grimm, Jacob – Teutonic Mythology (4 Vols). Magnolia, MA: Peter Smith, 1976.

Hoidal, Oddvar K. – Quisling: A Study in Treason. Oslo: Norwegian University Press, 1989.

Tarjei Vesaas – Land of Many Fires

METAFÍSICA DE ARISTÓTELES (FÍSICA – VOL. II)

Traducción y prefacio de Iñaki Jarauta

GLOSSÁRIO

agobio: angústia

aloja: calandra, “espécie de grande cotovia de bico forte e vôo rasteiro” (Priberam)

“calhandra”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://www.priberam.pt/dlpo/calhandra [consultado em 20-08-2018].

ESTUDIO PRELIMINAR (PREFACIO)

Grilo, Eudemo [Sobre a Alma], Protréptico, Sobre las ideas y Sobre el bien son obras de juventud, al estilo de los diálogos platónicos, estilo que luego abandonará al no tener el carácter imaginativo de Platón.

Conocido como <el lector>, por su gusto por la lectura (al punto que practicaba directamente sin la ayuda del esclavo lector como era costumbre)

De la filosofía como marco da independência teórica de Aristóteles.

Al no poder adquirir terreno por ser macedonio, se instala en un pórtico largo de un gimnasio público, fuera de las murallas, junto a un santuario dedicado a Apolo Licio. Por un lado, el nombre en griego, Perípatos, y por otro, el del héroe del santuario, dieron origen a las dos denominaciones con que históricamente se conoce a la escuela de Arist. [doravante apenas A.]: el Liceo e el Perípato.”

Tras la muerte del rey macedonio, se desató en Atenas una auténtica persecución contra todo sospechoso de haber pertenecido al bando de los que querían una Grecia unida y dominada por Macedonia.” “Se refugió en Calcis, en las posesiones heredadas de su madre, y murió al cabo de unos meses”

De hecho, muchas partes de sus obras quedaron agrupadas, desde su 1ª compilación, en tratados unitarios, ya clásicos, sin haberse reparado en la época en que dichas partes fueron escritas, invirtiendo a veces el ordenamiento cronológico de su redacción. Un ejemplo son los capítulos 9 y 10 del libro XIII y el libro XIV de la Metafísica, redactados en una época temprana, cuando todavía A. se consideraba platónico, que figuran como parte final de la propia obra, cuyos libros VII, VIII y IX, escritos muy posteriormente, ya consignan sin rodeos una radical independencia de Platón. [De fato, nos capítulos finais A. se dedica apenas à refutação negativa de concepções que já demonstrou serem absurdas através de seus próprios conceitos e novidades, apresentados nos primeiros livros desta obra-compêndio.]

A. nunca utilizó el término metafísica, ya que se refiere a la ubicación metodológica de este trabajo dentro de la edición de la obra total de A., el cual fue producido a continuación de Física. (…) Quizá, de acuerdo con la preocupación del filósofo, una denominación más correcta hubiese sido <Filosofía>

LIBRO PRIMERO

PREEMINÊNCIA DO OLHO: “Todos los hombres tienen, por naturaleza, el deseo de saber. El placer que nos causan las percepciones de nuestros sentidos es una prueba de esta verdad. Ellas nos agradan por si mismas, independientemente de su utilidad, sobre todo, las que corresponden a la vista.”

Los animales reciben de la naturaleza la facultad de conocer por los sentidos. Pero este conocimiento en unos no promueve la memoria, al tiempo que en otros la produce. Así, los primeros son simplemente inteligentes, mientras que los otros son más capaces de aprender que los que no poseen la facultad de recordar. La inteligencia, sin la capacidad de recordar, es patrimonio de los que no tienen la facultad de percibir los sonidos; por ejemplo, la abeja (…) la capacidad de aprender se encuentra en todos aquéllos que unen a la memoria el sentido del oído.

muchos recuerdos de una misma cosa constituyen la experiencia. Pero la experiencia, al parecer se asimila casi por completo a la ciencia y al arte.” “El arte comienza cuando de un gran número de nociones suministradas por la experiencia se forma una sola concepción general” “En la práctica, la experiencia no parece diferir del arte” “Esto es así porque la experiencia es el conocimiento de las cosas particulares; y el arte, por el contrario, el de lo general. Ahora bien, todos los actos, todos los hechos se dan en lo particular.” “si alguno posee la teoría sin la experiencia, y conociendo lo general ignora lo particular contenido en él, errará muchas veces en el tratamiento de la enfermedad.” “los hombres de arte pasan por ser más sabios que los hombres de experiencia (…) El motivo de esto es que los unos conocen la causa y los otros la ignoran.” “los operarios se parecen a esos seres inanimados que obran, pero sin conciencia de su acción, como el fuego” “En los seres animados, una naturaleza particular es la que produce cada una de estas acciones; en los operarios es el hábito. La superioridad de los jefes sobre los operarios no se debe a su habilidad práctica, sino al hecho de poseer la teoría y conocer las causas. (…) el carácter principal de la ciencia consiste en poder ser trasmitida por la enseñanza. (…) según la opinión común, el arte, más que la experiencia, es ciencia; porque los hombres de arte pueden enseñar y los hombres de experiencia, no.

inventores (…) su ciencia no tenía la utilidad por fin. (…) posibilidad del reposo. Las matemáticas fueron inventadas en Egipto, porque en este país se dejaba en gran solaz [ócio] a la casta de los sacerdotes.

la ciencia que se llama Filosofía consiste, según la idea que generalmente se tiene de ella, en el estudio de las causas y de los principios.” “concebimos al filósofo, principalmente, como conocedor del conjunto de las cosas, en tanto es posible, pero sin tener la ciencia de cada una de ellas en particular.” “un conocimiento que se adquiere sin esfuerzos no tiene nada de filosófico. Por último, el que tiene las nociones más rigurosas de las causas y quien mejor enseña estas nociones es más filósofo que todos los demás en todas las ciencias.” “El filósofo no debe recibir leyes, pero sí darlas”

la aritmética es más rigurosa que la geometría.”

que no es una ciencia práctica lo prueba el ejemplo de los primeros que han filosofado. Lo que en un principio movió a los hombres a hacer las primeras indagaciones filosóficas fue, como lo es hoy, la admiración.” //(ARENDT)

Ir en busca de una explicación y admirarse es reconocer que se ignora. (…) el amigo de la ciencia lo es en cierta manera de los mitos, porque el asunto de los mitos es lo maravilloso.” “Así como llamamos hombre libre al que se pertenece a sí mismo y no tiene dueño, de igual modo esta ciencia es la única entre todas que puede llevar el nombre de libre.”

no es posible que la divinidad sea envidiosa, y los poetas, como dice el proverbio, mienten muchas veces.”

La mayoría de los primeros que filosofaron no consideraron los principios de todas las cosas sino desde el punto de vista de la materia.” “Por lo que hace al número y al carácter propio de los elementos, estos filósofos no están de acuerdo.” “Estos elementos perduran siempre, y no se hacen o devienen” “Anaxágoras de Clazomenes, primogénito de Empédocles, no pudo presentar una teoría tan recomendable. Pretende que el nº de los principios es infinito.”

lo más antiguo que existe también es lo que hay de más sagrado, y lo más sagrado que hay es el juramento.”

Es inegable que toda destrucción y toda producción provienen de algún principio, ya sea único o múltiple. No obstante, ¿de dónde provienen estos efectos y cuál es la causa? Porque, en verdad, el sujeto mismo no puede ser autor de sus propios cambios.”

LAVOISIER, O RETARDATÁRIO: “Pretenden que la unidad es inmóvil y que no sólo nada nace ni muere en toda la naturaleza (opinión antigua y a la que todos se asociaron), sino que en la naturaleza es imposible todo otro cambio. (…) Ninguno de los que aceptan la unidad del todo ha llegado a la concepción de la causa que comentamos [o movimento], excepto, quizá, Parménides

cuando hubo un hombre que proclamó que en la naturaleza, al modo que sucedía con los animales, había una inteligencia, causa del concierto y del orden universal, pareció que este hombre era el único que estaba en el pleno uso de su razón, en compensación por las divagaciones de sus predecesores.”

El Amor, el más antiguo de todos los dioses.” Hesíodo

Si se dijese que Empédocles ha proclamado, y proclamado el primero, el bien y el mal como principios, no se caería en error”

estos filósofos en verdad no saben lo que dicen.”

PAI E FILHO: “Anaxágoras se sirve de la inteligencia como de una máquina, para la creación del mundo (…) pero en todos los demás casos a otra causa más bien que a la inteligencia es a la que atribuye la producción de los fenómenos. Empédocles se sirve de las causas más que Anaxágoras,es verdad, pero de un modo también insuficiente, y al servirse de ellas no sabe ponerse de acuerdo consigo mismo.”

según Leucippo y Demócrito, el no-ser existe lo mismo que el ser.”

Los números son, por su naturaleza, anteriores a las cosas (…) tal combinación de números les parecía ser la justicia, tal otra el alma y la inteligencia, tal otra la oportunidad; lo mismo, aproximadamente, hacían con todo lo demás. Por último, veían en los números las combinaciones de la música y sus acordes.” “Como la década parece ser un número perfecto, que reúne todos los números, pretendieron que los cuerpos en movimiento en el cielo son 10 en número. Pero no siendo visibles más que 9, han imaginado un 10º, el Antichtho [Contra-Terra]. Todo esto lo hemos explicado detenidamente en otra obra [Física].”

el impar es finito, el par es infinito”

Otros pitagóricos aceptan 10 principios, que colocan de 2 en 2, en el orden siguiente:

Finito e infinito.

Par e impar.

Unidad y pluralidad.

Derecha e izquierda.

Macho y hembra.

Reposo y movimiento.

Rectilíneo y curvo.

Luz y tinieblas.

Bien y mal.

Cuadrado y cuadrilátero irregular.”

Alcmeón de Crotona florecía cuando era anciano Pitágoras

según se dice, Parménides fue discípulo de Xenófanes

O LIQUIDIFICADOR ESTAGNADO (O 1º ZERO ABSOLUTO): “en el análisis que nos ocupa, debemos, como ya hemos dicho, prescindir de estos filósofos, por lo menos, de los dos últimos (Xenófanes y Melisso) cuyas concepciones son verdaderamente bastante ordinarias. Con respecto a Parménides, parece que reflexiona con un conocimiento más profundo de las cosas. Convencido de que fuera del ser, el no-ser es nada, acepta que el ser es necesariamente uno y que no hay ninguna otra cosa más que el ser; cuestión que hemos tratado detenidamente en la Física. Pero obligado a explicar las apariencias, a aceptar la pluralidad que nos ofrecen los sentidos, al mismo tiempo que la unidad concebida por la razón, sienta otras dos causas, otros dos principios: lo caliente y lo frío

los pitagóricos empezaron a ocuparse de la forma propia de las cosas y a definirlas; pero en este punto su teoría es demasiado imperfecta. (…) como si, p.ej., se creyese que lo doble y el nº 2 son una misma cosa, porque lo doble se encuentra desde luego en el nº 2. (…) porque entonces un ser único sería muchos seres, y ésta es la consecuencia de la teoría pitagórica.”

História é o que já morreu. O presente é fofoca.

Platón era partidario de la opinión de Heráclito, según la cual no hay ciencia posible de estos objetos. Más tarde conservó esta misma opinión. [*]

Por otro lado, fue discípulo de Sócrates, cuyos trabajos indudablemente no comprendieron más que la moral y de ningún modo el conjunto de la naturaleza, pero que al tratar la moral, se propuso lo general como objeto de sus investigaciones, siendo el primero que tuvo el pensamiento de dar definiciones. Platón creyó que sus definiciones debían recaer sobre otros seres que los seres sensibles, porque ¿cómo dar una definición común de los objetos sensibles que mudan continuamente? A estos seres los llamó Ideas, agregando que los objetos sensibles están fuera de las ideas y reciben de ellas su nombre (…) El único cambio que introdujo en la ciencia fue la palabra <participación>.

Los pitagóricos dicen, efectivamente, que los seres existen a imitación de los nºs (…) La diferencia es sólo de nombre. Con relación a investigar en qué consiste esta participación de las ideas, es algo de lo que no se ocuparon ni Platón ni los pitagóricos.” [*] “Platón consideró [que] las ideas son los números. (…) Platón está de acuerdo con los pitagóricos. [Recai em contradição, ou bem considera sua Dialética uma espécie de Poesia das Poesias?] (…) Pero reemplazar por una díada el infinito considerado como uno, y constituir el infinito de lo grande y de lo pequeño, esto es lo que le es propio. (…) mientras que los pitagóricos no aceptan a los seres matemáticos como intermedios. (…) sus precursores no conocían la Dialéctica.”

POESIA COM “P” DE “PARTICIPAÇÃO”, “PATAFÍSICA” E “PARA-A-MORTE”.

de una materia única sólo puede salir una sola mesa, mientras que él, que produce la idea, la idea única, produce muchas mesas.”

Unos dicen que es el fuego el principio de las cosas, otros el agua, otros el aire. ¿Y por qué no aceptan también, según la opinión común, la tierra como principio? Porque generalmente se dice que la tierra es todo.”

los seres matemáticos están privados de movimiento, a excepción de aquellos que trata la Astronomía.” “¿Pero cómo tendrá lugar el movimiento si no hay otras sustancias que lo finito y lo infinio, lo par y lo impar? Los pitagóricos nada dicen de esto ni explican tampoco cómo pueden operarse, sin movimiento y sin cambio, la producción y la destrucción, o las revoluciones de los cuerpos celestes.”

Dejemos ya a los pitagóricos y quedémonos con lo dicho en lo que respecta a ellos. [Platonismo]”

51 IDÉIAS, OU 50 TONS DE ESSÊNCIA: “Porque el nº de las ideas es casi tan grande o poco menos que el de los seres cuyas causas intentan descubrir y de los cuales han partido para llegar a las ideas. Cada cosa tiene su homónimo” “debería haber ideas de cosas en relación con las cuales no se acepta que las haya.” “de acuerdo con el argumento de la unidad en la pluralidad habrá hasta negaciones; y como se piensa en lo que ha desaparecido, habrá también ideas de los objetos que han desaparecido” “los razonamientos más rigurosos conducen ya a aceptar las ideas de lo que es relativo“la hipótesis del tercer hombre” “Las ciencias no recaen únicamente sobre la esencia, recaen también sobre otras cosas; y pueden obtenerse otras mil consecuencias de este género.” “una cosa participante de lo doble en sí, participaría al mismo tiempo de la eternidad” “Por lo tanto, idea significa esencia en este mundo y en el mundo de las ideas” “Si no hay comunidad de género, no habrá entre ellas más de común que el nombre: y será como si se diese el nombre de hombre a Callias y a un trozo de madera, sin haber observado ninguna relación entre ellos.” “Decir que las ideas son ejemplares y que las demás cosas participan de ellas es llenarse de palabras vacías de sentido y hacer metáforas poéticas.”

EL PROBLEMA DE LA MÓNADA: “aunque Sócrates exista o no, podría nacer un hombre como Sócrates.” “la misma cosa será a la vez modelo y copia.” “Se dice en Fedón que las ideas son las causas del ser y del devenir o llegar a ser, y no obstante, aun aceptando las ideas, los seres que de ellas participan no se producen si no hay un motor.” “Es indudable que de la reunión de muchos números resulta un número; no obstante, ¿cómo muchas ideas pueden formar una sola idea?”

Y no se diga que lo profundo es una especie de ancho, porque entonces el cuerpo sería una especie de plano.”

AVÔ DO PRINCÍPIO DE REALIDADE: “Platón negó la existencia del punto, suponiendo que es una concepción geométrica. Le daba el nombre de principio de la línea, siendo los puntos estas líneas indivisibles que trataba muchas veces.”

participar, como antes hemos dicho, no significa nada.”

Pero las matemáticas se han convertido hoy en filosofía, son toda la filosofía, por más que se diga que su estudio no debe hacerse sino en vista de otras cosas.”

Esto es a lo que viene a parar lo grande y lo pequeño. A esto se reduce la opinión de los físicos de que lo raro y lo denso son las primeras diferencias del objeto. Efectivamente, no es otra cosa que lo más y lo menos.”

Suponer na inmovilidad de las ideas es igual a eliminar todo estudio de la naturaleza. Una cosa que parece más fácil de explicar es que todo es uno; y no obstante, esta teoría no lo logra.”

buscar los elementos de todos los seres o imaginarse que se han encontrado es una verdadera locura.”

ANTI-KANT: “Quien aprende la geometría tiene, necesariamente, conocimientos previos, pero nada sabe de antemano de los objetos de la geometría y de lo que se trata de aprender. Las otras ciencias se encuentran en el mismo caso. Por lo tanto, si como se pretende, hay una ciencia de todas las cosas, se abordará esta ciencia sin poseer ningún conocimiento previo.” “Se discutirá sobre los verdaderos elementos como se discute con motivo de ciertas sílabas [//TEETETO]. Entonces, unos dicen que la sílaba xa se compone de c, de s y de a; otros pretenden que en ella entra otro sonido distinto de todos los que se reconocen como elementos.”

las investigaciones de todos los filósofos recaen sobre los principios que hemos enumerado en la Física, y no hay otros fuera de éstos.”

LIBRO SEGUNDO

La ciencia que tiene por finalidad la verdad es difícil desde un punto de vista y fácil desde otro. Lo evidencia la imposibilidad que hay de alcanzar la completa verdad, y la imposibilidad de que se oculte por entero. Cada filósofo expone algún secreto de la naturaleza. Lo que cada cual agrega en particular al conocimiento de la verdad no es nada, sin duda, o es muy poca cosa, pero, la reunión de todas las ideas presenta importantes resultados.”

¿quién no clava la flecha en una puerta?”

es justo reconocer no sólo a aquéllos cuyas opiniones compartimos, sino también a quienes han tratado las cuestiones de una manera un poco superficial, porque también han contribuido por su parte”

Es indudable que existe un primer principio y que no existe ni una serie infinita de causas ni una infinidad de especies de causas. Entonces, desde la perspectiva de la materia, es imposible que haya producción hasta el infinito; p.ej., que la carne provenga de la tierra, la tierra del aire, el aire del fuego, sin que esta cadena se termine nunca. Lo mismo debe entenderse del principio del movimiento (…) En igual forma, en relación con la causa final (…) Y finalmente, lo mismo puede decirse en relación con la causa esencial.”

lo mismo que entre el ser y el no-ser hay siempre el devenir, del mismo modo, entre lo que no existía y lo que existe, está lo que deviene. Entonces el que investiga, deviene o se hace sabio, y esto es lo que se quiere expresar cuando se dice que de aprendiz que era deviene o se hace maestro.”

Los que aceptan la producción hasta el infinito no ven que excluyen por este medio el bien. Porque ¿hay alguien que quiera emprender nada, sin proponerse llegar a un término? Esto sólo le ocurriría a un necio.”

Aquí no ocurre lo que con la línea, cuyas divisiones no acaban; el pensamiento tiene necesidad de puntos de parada. Entonces, si se recorre esta línea que se divide hasta el infinito, no se pueden contar todas las divisiones.”

Hay hombres que no aceptan más comprobaciones que las de las matemáticas; otros no quieren más que ejemplos; otros no encuentran mal que se apele al testimonio de los poetas. Los hay, por último, que reclaman que todo sea rigurosamente comprobado; mientras que otros encuentran insoportable este rigor, ya porque no pueden seguir la serie encadenada de los razonamientos, ya porque piensan que es perderse en insignificancias. Efectivamente, hay algo de esto en la afectación de rigurosidad en la ciencia. Así es que algunos consideran indigno que el hombre libre lo utilice, no sólo en la conversación, sino también en la discusión filosófica.”

sería absurdo confundir y mezclar la investigación de la ciencia y la del método“No debe requerirse rigor matemático en todo, sino tan sólo cuando se trata de objetos inmateriales. [Quão estranho era o mundo de A.!] Entonces, el método matemático no es el de los físicos, porque la materia es probablemente el fondo de toda la naturaleza.”

LIBRO TERCERO (ou: LIVRO DAS PERGUNTAS)

ANTI-DESCARTES: “Dudar en este caso es encontrarse en el estado del hombre encadenado, y, como a éste, es imposible seguir adelante.”

(1) “¿La investigación de las causas pertenece a una sola ciencia o a muchas?”

(2) “¿es posible o no afirmar y negar al mismo tiempo una sola y misma cosa?”

O ponto heideggeriano do princípio da não-contradição como limite ocidental.

los dialécticos, los cuales sólo razonan sobre lo probable”

(3) “¿hay o no hay alguna cosa que sea causa en sí?

(4) “¿Cuáles son en este caso los seres fuera de los cuales existe?”

(5) “¿Los principios de los seres mortales y los de los seres inmortales son los mismos o diferentes, son todos inmortales o son los principios de los seres mortales también mortales?

(6) “¿la unidad y el ser constituyen la sustancia de los seres, como pretendían los pitagóricos y Platón, o acaso hay algo que le sirva de sujeto, de sustancia, como la Amistad de Empédocles, el fuego, el agua, el aire de éste o aquel filósofo?

no hay acción sin movimiento, de modo que en las cosas inmóviles no se puede aceptar ni la existencia de este principio del movimiento ni la del bien en sí.

De esto se desprende que nada se comprueba en las ciencias matemáticas por medio de la causa del movimiento.” “Por esta razón, algunos sofistas, por ejemplo, Aristipo, rechazaban como infames las ciencias matemáticas.”

P. 49: “una cosa no puede ser y no ser al mismo tiempo” (2)

Toda comprobación debe partir de un principio, recaer sobre un objeto y comprobar algo de ese objeto. De esto se desprende que todo lo que se comprueba podría reducirse a un sólo género. Y efectivamente, todas las ciencias comprobatorias se sirven de axiomas. Y si la ciencia de los axiomas es distinta de la ciencia de la esencia, ¿cuál de las dos será la ciencia soberana, la ciencia primera? Los axiomas son lo más general que hay, son los principios de todas las cosas” “No es probable que haya una sola ciencia de todas las esencias. En este caso habría una sola ciencia comprobatoria de todos los accidentes esenciales de los seres” “la esencia, a lo que parece, no se comprueba”

Habrá otro cielo, otro Sol, otra Luna, además de los que podemos ver; y lo mismo en todo lo demás que aparece en el firmamento. No obstante, ¿cómo creeremos en su existencia? A este nuevo cielo no se lo puede hacer razonablemente inmóvil; y por otro lado, es por completo imposible que esté en movimiento. Lo mismo ocurre con los objetos que trata la Óptica, y con las relaciones matemáticas entre los sonidos musicales.”

Pero tampoco es exacto que la Geodesia [então, apenas uma subdivisão da Geografia com colaboração da Matemática – a gravidade não era conhecida pelos gregos, como na Geodésia Moderna] sea una ciencia de magnitudes sensibles y finitas, porque en este caso desaparecería ella cuando desapareciesen las magnitudes. La Astronomía misma, la ciencia del cielo que cae con el dominio de nuestros sentidos, no es una ciencia de magnitudes sensibles. Ni las líneas sensibles son las líneas del geómetra, porque los sentidos no nos dan ninguna línea recta, ninguna curva, que cumpla con la definición; el círculo no encuentra la tangente en un solo punto, sino en muchos, como observaba Protágoras en su polémica con los geómetras; ni los movimientos reales ni las revoluciones del cielo concuerdan completamente con los movimientos y las revoluciones que dan los cálculos astronómicos; últimamente, las estrellas no son de la misma naturaleza que los puntos.”

necesariamente en un mismo lugar se tendrán dos sólidos, y no serán inmóviles, ya que se darán en objetos sensibles que están en movimiento. ¿por qué aceptar seres intermedios para colocarlos en los seres sensibles? Los mismos absurdos de antes se reproducirán sin cesar. Entonces, habrá un cielo fuera del cielo que está sometido a nuestros sentidos, pero no estará separado de él, estará en el mismo lugar; lo cual es más inadmisible que el cielo separado.”

los principios de los seres no pueden ser al mismo tiempo los géneros y los elementos constitutivos. La esencia no acepta dos definiciones” “La unidad y el ser no son géneros, y por lo tanto, no son principios, ya que son los géneros los que constituyen los principios.” “Pero si las diferencias son principios, hay en cierto modo una infinidad de principios, sobre todo, si se toma como partida el género más elevado.”

la unidad debe aparecer más bien como individuo: el hombre, en efecto, no es el género de los hombres particulares.” “debe considerarse a los individuos como principios de los géneros. Pero por otro lado, ¿cómo concebir que los individuos sean principios?

Si no hay algo fuera de lo particular y si hay una infinidad de cosas particulares, ¿cómo es posible conseguir la ciencia de la infinidad de las cosas?”

Aceptemos que realente hay algo fuera del conjunto del atributo y de la sustancia, aceptemos que hay especies. No obstante, ¿la especie es algo que exite fuera de todos los objetos o sólo está fuera de algunos sin estar fuera de otros, o no está fuera de ninguno?

¿Entonces diremos que no hay nada fuera de las cosas particulares? En este caso no habría nada de inteligible, no habría más que objetos sensibles, no habría ciencia de nada, a menos que se llamase ciencia al conocimiento sensible. Tampoco habría nada eterno ni inmóvil” “Y si no hay nada eterno, la producción es imposible. Porque es imprescindible que lo que deviene o llega a ser sea algo, así como aquello que hace llegar a ser; y que la última de las causas productoras sea de todos los tiempos, ya que la cadena de las causas tiene un límite y es imposible que cosa alguna sea producida por el no-ser. (…) porque ningún movimiento es infinito: lo que deviene existe, necesariamente, antes de devenir o llegar a ser.

Asimismo, si la sustancia existe en todo tiempo, con mucha más razón es necesario aceptar la existencia de la esencia en el momento en que la sustancia deviene. En efecto, si no hay sustancia ni esencia, no existe absolutamente nada. (…) es necesario que la forma y la esencia sean algo fuera del conjunto de la sustancia y de la forma. (…) ¿En qué casos se aceptará esta existencia separada y en qué casos no se la aceptará? Porque es indudable que no en todos los casos se la aceptará. Efectivamente, no podemos decir que hay una casa fuera de las casas particulares.”

si los principios de los seres son reducidos a la unidad numérica, no quedará existente otra cosa que los elementos.

Numérica o individualmente son la misma cosa, ya que llamamos individual a lo que es uno por el nº

Hesíodo y todos los teósofos sólo han buscado lo que podía convencerlos, y no han pensado en nosotros. (…) luego agregan que los seres que no han gustado el néctar y la ambrosía están destinados a morir. Estas explicaciones tenían, sin duda, un sentido para ellos; pero nosotros ni siquiera comprendemos cómo han podido encontrar causas en esto.” “¿cómo estos seres podrán ser inmortales, ya que tendrían necesidad de alimentarse? Pero no tenemos necesidad de someter a un análisis profundo invenciones fabulosas.”

si se destruyen los principios, ¿cómo podrá haber seres mortales? Y si los principios son inmortales, ¿por qué entre estos principios inmortales hay unos que producen seres mortales y otros seres inmortales? (…) ningún filósofo ha aceptado que los seres tengan principios diferentes”

Platón y los pitagóricos pretenden, efectivamente, que el ser y la unidad no son otra cosa que ellos mismos y que tal es su carácter. La unidad en sí y el ser en sí; según estos filósofos, es lo que constituye la sustancia de los seres.

Los físicos son de otra idea. Empédocles explica que el ser es la Amistad. Otros pretenden que el fuego o el aire son esta unidad y este ser. Lo mismo ocurre con los que han aceptado la pluralidad de elementos”

Si no se establece que la unidad y el ser son una sustancia, se sigue que no hay nada general, ya que estos principios son lo más general que hay en el mundo, y si la unidad en sí y el ser en sí no son algo, con más fuerte razón no habrá ser alguno fuera de lo que se denomina lo particular. Asimismo, si la unidad no fuera una sustancia, es indudable que el nº mismo no podría existir como uma naturaleza separada de los seres.”

cómo puede haber más de un ser, ya que lo que es otra cosa que el ser no es. De lo cual, necesariamente, se sigue lo que decía Parménides: que todos los seres se reducían a uno y que la unidad es el ser.”

si la unidad fuese indivisible, no habría absolutamente nada, y esto es lo que piensa Zenón.” “No obstante, como la conclusión de Zenón es un poco rígida, y por otro lado, puede haber en ella algo de indivisible, se responde a la objeción de que en el caso de la mónada o el punto la adición no aumenta la extensión y sí el nº. Pero entonces, ¿cómo un solo ser, y si se quiere muchos seres de esta nauraleza, formarán una magnitud?”

Por lo tanto, si por un lado el cuerpo es la sustancia por excelencia; si por otro lado las superficies, las líneas y los puntos lo son más que el cuerpo mismo; y si, en otro concepto, ni las superficies, ni las líneas, ni los puntos son sustancias, en tal caso no sabemos ni qué es el ser ni cuál es la sustancia de los seres.” “con las superficies ocurre, aproximadamente, lo mismo que con el tiempo. Es imposible que devenga y muera; no obstante, como no es una sustancia, parece diferente sin cesar. En efecto, los puntos, las líneas y las superficies se encuentran en un caso semejante, porque se les puede aplicar los mismos razonamientos. Como el instante actual, no son ellos más que límites o divisiones.”

LIBRO CUARTO

investigar los elementos del ser, no como accidentes, sino como seres (…) debemos investigar las causas primeras del ser como ser.”

La unidad y el ser se subdividen en géneros, unos anteriores y otros posteriores; y habrá tantas partes de la filosofía como subdivisiones hay.” “Una sola ciencia se ocupa de los opuestos” “una sola ciencia debe tratar de la sustancia y sus diferentes modos; ésta era una de las cuestiones que nos habíamos planteado.”

Lo prueban las investigaciones de los dialécticos y de los sofistas, que se disfrazan con el traje del filósofo, porque la sofística no es otra cosa que la apariencia de la filosofía, y los dialécticos debaten sobre todo (…) Si se ocupan de estos modos del ser, es indudablemente porque son del dominio de la filosofía, como que la dialéctica y la sofística se mueven en el mismo círculo de ideas que la filosofía. Pero la filosofía se distingue de una por los efectos que produce, y de la otra por el género de vida que impone. La dialéctica trata de conocer, la filosofía conoce; en relación con la sofística, no es más que una ciencia aparente y sin realidad.”

casi todos los filósofos están de acuerdo en sostener que los seres y la sustancia están formados de contrarios. Todos dicen que los principios son contrarios, adoptando los unos el impar y el par, otros lo caliente y lo frío, otros lo finito y lo infinito, otros la Amistad y la Discordia.”

Por este motivo, ninguno de los que se ocupan de las ciencias parciales, ni el geómetra ni el aritmético, intenta exponer ni la verdad ni la falsedad de los axiomas; y sólo exceptúo algunos de los físicos, por entrar esta investigación en su propósito. En efecto, los físicos son los únicos que han querido comprender, en una sola ciencia, la naturaleza toda y el ser. Pero como hay algo superior a los seres físicos, porque los seres físicos son más que un género particular del ser, al que trate de lo universal y de la sustancia primera es a quien también pertenecerá investigar este algo. Verdaderamente, la física es una especie de filosofía, pero no es la filosofía primera.

Principio cierto por excelencia es aquél con relación al cual todo error es imposible. El principio cierto por excelencia debe ser el más conocido de los principios (porque siempre se cae en error en relación con las cosas que no se conocen) y un principio que no tenga nada de hipotético, ya que el principio, cuya posición es necesaria para comprender las cosas, no es una suposición. Finalmente, al principio que hay necesidad de conocer para conocer lo que quiera que sea, es también necesario poseerlo obvinculatoriamente [? – palavra não-dicionarizada], para realizar toda clase de estudios. No obstante, ¿cuál es este principio? Es el siguiente: es imposible que el mismo atributo pertenezca y no pertenezca al mismo sujeto, en un tiempo mismo, y en la misma relación, etc. (no olvidemos aquí, para precavernos de las sutilezas lógicas, ninguna de las condiciones esenciales que hemos establecido en otra parte).”

Según algunos, Heráclito es de otra idea; pero que se diga una cosa no hay que deducir necesariamente que se piensa.”

si dos pensamientos contrarios no son otra cosa que una afirmación que se niega a sí misma, mentiría quien afirmase tener esta concepción simultánea, sería necesario que tuviese al mismo tiempo los dos pensamientos contrarios.”

También hay filósofos que, dando una muestra de ignorancia, quieren comprobar este principio; porque es ignorancia no saber diferenciar lo que tiene necesidad de comprobación de lo que no la tiene. Es absolutamente imposible comprobarlo todo, porque seria necesario caminar hasta el infinito; de modo que no resultaría comprobación. Y si hay verdades que no deben comprobarse, dígasenos qué principio, como no sea el comprobado, se encuentra en semejante caso. § No obstante, se puede establecer, por vía de refutación, esta imposibilidad de los contrarios.” “Supuestamente, quien comprobase el principio incurriría en una petición de principio. Pero si se intenta dar otro principio como causa de éste que se trata, entonces habrá refutación, pero no comprobación.”

un hombre falto de razón se parece a una planta.”

VOCÊ ME DÁ SUA PALAVRA? “Pero quien comprueba no es la causa de la comprobación, sino aquél a quien ésta se dirige. Empieza por destruir todo lenguaje y acepta enseguida que se puede hablar. Por último, el que acepta que las palabras tienen un sentido también acepta que hay algo de verdadero, independiente de toda comprobación. De esto se desprende la imposibilidad de los contrarios.

si el animal de dos pies es el hombre y el hombre es una esencia, la esencia del hombre es el ser un animal de dos pies.” “la cuestión no es saber si es posible que la misma cosa sea y no sea al mismo tiempo el hombre nominalmente, sino si puede serlo realmente.”

Si el pensamiento no recae sobre un objeto uno, todo pensamiento es imposible. Para que el pensamiento sea posible, es necesario dar un nombre determinado al objeto del pensamiento.

esto es lo que distingue la esencia del accidente: la blancura, en el hombre, es un accidente; y la blancura es un accidente en el hombre, porque es blanco, pero no es la blancura.

Si se plantea que todo es accidente, ya no hay género primero, ya que siempre el accidente designa el atributo de un sujeto.”

El accidente no es nunca un accidente de accidente, sino cuando estos dos accidentes son los accidentes del mismo sujeto.”

Una nave, un muro y un hombre deben ser la misma cosa, si todo se puede afirmar o negar de todos los objetos, como se advierten obligados a aceptar los que adoptan la proposión de Protágoras. Si se cree que el hombre no es una nave, indudablemente, el hombre no será una nave. Y por lo tanto el hombre es una nave, ya que la afirmación contraria es verdadera. De esta manera llegamos a la proposición de Anaxágoras. Todas las cosas están confundidas. De modo que nada existe que sea verdaderamente uno.” “lo indeterminado es el ser en potencia y no en acto.” Sería absurdo que un ser tuviese en sí su propia negación y no tuviese la negación de otro ser que no está en él. P.ej., si es indudable que el hombre no es un hombre, por cierto también es indudable que el hombre no es una nave. Si aceptamos la afirmación también debemos aceptar la negación.” “Si es indudable que el hombre también es el no-hombre, es indudable que ni el hombre ni el no-hombre podrían existir, porque es necesario aceptar al mismo tiempo las dos negaciones de estas dos afirmaciones. Si de la doble afirmación de su existencia se forma una afirmación única, compuesta de estas dos afirmaciones, es necesario aceptar la negación única que es opuesta a aquélla.”

Sus palabras no tienen ningún sentido; porque no dicen que las cosas son así o que no son así, sino que son y no son así al mismo tiempo. Después viene la negación de estos dos términos; y dicen que no es así ni no así, sino que es así y no así. Si no fuera así, habría ya algo determinado.”

supuestamente, todos los hombres tienen la idea de la existencia real, si no de todas las cosas, por lo menos de lo mejor y de lo peor.

Pero aun cuando el hombre no tuviera la ciencia, aun cuando sólo tuviera opiniones, sería necesario que se aplicase mucho más todavía al estudio de la verdad; al igual que el enfermo se ocupa más de la salud que el hombre que está sano. Porque el que sólo tiene opiniones, si se lo compara con el que sabe, está en estado de enfermedad en relación con la verdad.”

según la teoría de Demócrito, aquello que parece a los sentidos es necesariamente en su opinión la verdad.” “en delirio los hombres también tienen razón, pero que ya no es la misma.” “si tales son las teorías que enseñan sobre la verdad, ¿cómo abordar sin desaliento los problemas filosóficos? Buscar la verdad ¿no sería ir en busca de sombras que desaparecen?” “la opinión que tienen es verosímil, pero no verdadera.” “De estas observaciones nacieron otras teorías que todavía van más lejos. Por ejemplo, la de los filósofos que se dicen de la escuela de Heráclito; la de Cratilo, que llegaba hasta creer que no es necesario decir nada.”

La cosa que cesa de ser aún participa de lo que ha dejado de ser, y necesariamente ya participa de aquello que deviene o se hace. si un ser muere, todavía en él habrá ser; y si deviene, es indispensable que aquello de donde sale y aquello que lo hace devenir tengan una existencia y que esto no continúe así hasta el infinito.”

FENOMENOLOGIA PURA!

¿por qué entonces han aplicado la teoría [do Não-Ser do Indivíduo] al mundo entero? Este espacio que nos rodea no es más que una porción nula del universo. hubiera sido más justo absolver a este bajo mundo en favor del mundo celeste, que condenar el mundo celeste a causa del primero. (…) Para rebatir a estos filósofos no hay más que comprobarles que existe una naturaleza inmóvil

pretender que el ser y el no-ser existen simultáneamente es aceptar el eterno reposo (…) no hay nada en que se puedan transformar los seres, ya que todo existe en todo.”

no todas las apariencias son verdaderas.”

No puede negarse el testimonio de un sentido porque en distintos tiempos esté en desacuerdo consigo mismo; la imputación debe dirigirse al ser que experimenta la sensación. P.ej., el mismo vino sea porque él haya cambiado, sea porque nuestro cuerpo haya cambiado, nos parecerá indudablemente dulce en un instante y lo contrario en otro. Pero no es lo dulce lo que deja de ser lo que es, nunca se despoja de su propiedad esencial; siempre es indudable que un sabor dulce es dulce, y lo que tenga un sabor dulce tendrá necesariamente para nosotros este carácter esencial.” “las teorías niegan toda esencia” “De modo que si hay algo necesario, los contrarios no podrían existir a la vez en el mismo ser. En general, si sólo existiera lo sensible, no habría nada, porque nada puede haber sin la existencia de los seres animados que pueden percibir lo sensible; y quizás entonces sería cierto decir que no hay objetos sensibles ni sensaciones, porque todo esto es en la hipótesis una modificación del ser que siente. Pero que los objetos que causan la sensación no existan, ni aun independientemente de toda sensación, es algo imposible.” “por su naturaleza, el motor es anterior al objeto en movimiento”

el principio de la comprobación no es una comprobación.”

decir que todo lo que aparece es verdadero es igual a decir que todo es relativo. Los que exigen una comprobación lógica deben tener en cuenta lo siguiente: es necesario que acepten, si quieren entrar en una discusión; no que lo que aparece es verdadero, sino que lo que aparece es verdadero para aquél a quien aparece cuando y como le aparece.”

REFUTAÇÃO FINAL DE SCHOPENHAUER: “Es facil contestar a los que, por las razones que ya hemos apuntado, pretenden que la apariencia es la verdad y, por lo tanto, que todo es verdadero y falso.”

si el hombre y lo que es pensado son la misma cosa, el hombre no es aquello que piensa, sino lo que es pensado.”

Y ya que es imposible que dos afirmaciones contrarias sobre el mismo objeto sean verdaderas al mismo tiempo, es indudable que tampoco es posible que los contrarios se encuentren al mismo tiempo en el mismo objeto, porque uno de los contrarios no es otra cosa que la privación, la privación de la esencia.”

También es imposible que haya un término medio entre dos proposiciones contrarias”

PREFÍSICA QUÂNTICA: “Por otro lado, todo lo que es inteligible o pensado, el pensamiento lo afirma o lo niega; y esto resulta indudablemente de acuerdo con la definición del caso en que se está en lo verdadero y de aquél en que se está en lo falso. Cuando el pensamiento pronuncia tal juicio afirmativo o negativo, está en lo verdadero. Cuando pronuncia tal otro juicio, está en lo falso.”

Hay más todavía: con los intermedios se llegará al infinito. Se tendrá no sólo tres seres en lugar de dos, sino muchos más. Efectivamente, además de la afirmación y negación primitivas, podrá haber una negación relativa al intermedio; este intermedio será alguna cosa, tendrá una sustancia propia. Y, por otro lado, cuando alguno, interrogado sobre si un objeto es blanco, responde <no>, no hace más que decir que no es blanco; y bien, no-ser es la negación.”

supuestamente, el pensamiento de Heráclito, cuando sostiene que todo es y no es, es que todo es verdadero; el de Anaxágoras, cuando pretende que entre los contrarios hay un intermedio, es que todo es falso. Ya que hay mezcla de los contrarios, la mezcla no es ni bien ni no-bien; nada se puede afirmar por lo tanto como verdadero.”

la relación de la diagonal con el lado del cuadrado es inconmensurable.”

Para polemizar es necesario empezar por una definición y establecer lo que significa lo verdadero y lo falso.”

El que dice que todo es verdadero también afirma la verdad de la afirmación contraria a la suya, de modo que la suya no es verdadera porque el que sienta la proposición contraria pretende que no está en lo verdadero. El que dice que todo es falso también afirma la falsedad de lo que él mismo dice.”

hay un motor eterno de todo lo que está en movimiento, y el primer motor es inmóvil.”

LIBRO QUINTO

las premisas son los principios de las comprobaciones” todas las causas son principios” la naturaleza es un principio” la causa de la octava es la relación de 2 a 1 y, en general, el número y las partes que entran en la definición de la octava.” La causa es también el finLa salud es causa del paseo.”

¿Por qué?” “Finalmente, se denominan causas todos los intermedios entre el motor y el objeto.”

No obstante, estas causas se distinguen entre sí, en la medida que unas son los instrumentos y otras operaciones.” causa material” X “causa de movimiento” la presencia y la privación, son ambas causas de movimiento.”

causa final significa, efectivamente, el bien por excelencia. Y poco importa que se diga que este fin es el bien real o que es sólo una apariencia del bien.”

Policletes es causa de la estatua de una manera y el estatuario de otra; sólo por accidente es el estatuario Policletes. (…) Así, el hombre, o ascendiendo más aún, el animal, es la causa de la estatua (…) Aceptamos decir que la causa de la estatua es el blanco, es el músico; y no Policletes o el hombre.”

Por último, las causas accidentales y las causas esenciales pueden encontrarse reunidas en la misma noción; p.ej., como cuando se dice no ya Policletes ni tampoco estatuario, sino Policletes estatuario.”

los modos de las causas son 6; y estos modos son opuestos 2 a 2[:]

particular X general

combinados X simples

en acto x en potencia”

las causas en acto, lo mismo que las causas particulares, comienzan y concluyen al mismo tiempo que los efectos que ellas producen” No siempre ocurre así con las causas en potencia; la casa y el arquitecto no mueren al mismo tiempo.”

Se denomina <elemento> a la materia prima que entra en la composición y que no puede ser dividida en partes heterogéneas. Así los elementos del sonido son lo que constituye el sonido, y las últimas partes en que se lo divide, partes que no se pueden dividir en otros sonidos de una especie diferente de la suya propia. Si se dividiesen, sus partes serían de la misma especie que ellas mismas: una partícula de agua, p.ej., es agua [H2O é H2O]; pero una parte de una sílaba no es una sílaba.”

a las comprobaciones primeras, que se encuentran en el fondo de muchas comprobaciones, se las llama elementos de las comprobaciones: éstos son los silogismos primeros, compuestos de 3 términos, uno de los cuales sirve de medio.”

los atributos más universales son elementos. Cada uno de ellos es uno y simple, y existe en gran número de seres, en todos o en la mayor parte. Por último, la unidad y el punto son, según algunos, elementos.” “algunos pretenden que los géneros son elementos más bien que la diferencia, porque el género es más universal. Efectivamente, ahí donde hay diferencia se muestra siempre el género; pero donde hay género, no siempre hay diferencia.”

ROMANTISMO ANTIGO: “(1) se denomina <naturaleza> a la generación de todo aquello que crece, p.ej., cuando se pronuncia larga la primera sílaba de la palabra griega, después la materia intrínseca de donde proviene lo que nace”

conexión [<fusão>] (pero no bajo la relación de la cualidad)” X “adjunción (simple contacto)”

(2) “sustancia bruta, inerte y sin acción” “el bronce es la naturaleza de la estatua y de los objetos de bronce, y la madera lo es de los objetos de madera (…) se entiende tambíen por naturaleza los elementos de las cosas naturales; entonces se explican los que aceptan por elemento el fuego, la tierra, el aire, el agua o cualquier otro principio análogo, y los que aceptan muchos de estos elementos o todos ellos a la vez.”

(3) “la naturaleza es la esencia de las cosas naturales. Esta acepción la toman los que dicen que la naturaleza es la composición primitiva (Empédocles).”

principio natural del devenir o del ser” “la reunión de la esencia y de la materia constituye la naturaleza de los seres.” “la forma y la esencia son también una naturaleza, porque son el fin de toda producción. (…) toda esencia en general toma el nombre de naturaleza, porque la naturaleza es también una especie de esencia.” “la naturaleza propiamente dicha es la esencia de los seres, que tienen en sí y por sí mismos el principio de su movimiento.”

Se denomina <necesario> a aquello que es la causa cooperante sin la cual es imposible vivir. Así, la respiración y el alimento son necesarios al animal.” “También constituyen lo necesario la violencia y la fuerza. Porque la violencia se denomina necesidad, y por lo tanto, la necesidad es una cosa que aflige, como dice Eveno:

<Toda necesidad es una cosa aflictiva>.”

la necesidad es a nuestros ojos aquello en cuya virtud es imposible que una cosa sea de otra manera.” “las comprobaciones de las verdades necesarias son necesarias, porque es imposible, si la comprobación es rigurosa, que la conclusión sea otra que la que es.” “la necesidad propiamente dicha, es la necesidad absoluta, porque es imposible que tenga muchos modos de existencia.” “Entonces, si hay seres eternos e inmutables, nada puede ejercer sobre ellos violencia o contrariar su naturaleza.”

Aceptemos que hombre y hombre músico sean idénticos entre sí. Esto se comprobará, o bien porque el hombre es una sustancia una, que tiene por accidente músico, o bien porque ambos son los accidentes de un ser particular, de Coriseo, p.ej. No obstante, en este último caso, los dos accidentes no son accidentes de la misma manera; uno representa, por así decirlo, el género, y existe en la esencia; el otro no es más que un estado, una modificación de la sustancia. Todo lo que se denomina unidad accidental es unidad tan sólo en el sentido que acabamos de decir.”

A linha, até a linha curva, sempre que seja contínua, é uma; assim como cada uma das partes do corpo, as pernas, os braços. Não obstante, podemos dizer que o que tem naturalmente a continuidade é mais uno que o que só tem uma continuidade artificial.

Observe que se denomina contínuo aquele cujo movimento é um basicamente e não pode ser outro.” “o movimento indivisível no tempo.”

DE LA HOMOGENEIDAD DEL OBJETO: “Las cosas básicamente continuas son unas, aun cuando tengan una flexión. Las que no tienen flexión lo son más: la canilla o el muslo, por ejemplo, lo son más que la pierna, la cual puede no tener un movimiento uno; y la línea recta tiene más que la curva el carácter de unidad. Decimos de la línea curva, así como de la línea angulosa, que es una y que no es una, porque es posible que no estén sus partes todas en movimiento, o que lo estén todas a la vez. Pero en la línea recta el movimiento es siempre simultáneo, y ninguna de las partes que tiene magnitud está en reposo.”

Se dice que el vino es uno y que el agua es una, son ambos genéricamente indivisibles; y que todos los líquidos juntos, el aceite, el vino, los cuerpos fusibles, no son más que una misma cosa, porque hay identidad entre los elementos primitivos de la materia líquida, ya que lo que constituye todos los líquidos es el agua y el aire.”

el caballo, el hombre, el perro, son una sola cosa, porque son animales.” “el triángulo isósceles y el equilátero son una sola y misma figura” “Efectivamente, toda definición puede dividirse.” “En general, la unidad de todos los seres es a unidad por excelencia

Para nosotros no constituirán una unidad las partes que constituyen el calzado colocadas una junto a otras de una manera cualquiera; y sólo cuando hay, no simplemente continuidad, sino partes colocadas de tal manera que constituyan un calzado y tengan una forma determinada, es cuando decimos que hay verdadera unidad. Por esta razón, la línea del círculo es la línea una por excelencia y es perfecta en todas sus partes.

O que é indivisível com relação à quantidade, e como quantidade, o que é absolutamente indivisível e não tem posição, se denomina mônada. O que o é em todos os sentidos mas que ocupa uma posição, é um ponto. O que não é divisível, senão num sentido, é uma linha. O que pode ser dividido em dois sentidos é uma superfície. O que pode sê-lo por todos os lados e em três sentidos, sob a relação da quantidade, é um corpo.”

Uno en número es aquello cuya materia es una; uno en forma es aquello que tiene unidad de definición; uno, genéricamente, es lo que tiene los mismos atributos; dondequiera que hay relación, hay unidad por analogía. Entonces, el uno en número también es uno en forma; pero lo que es uno en forma, no lo es siempre en número, etc.”

cuando se dice que una cosa es esto o aquello, significa que esto o aquello es el accidente de esta cosa; lo mismo que si se dice que el hombre es músico o el músico es hombre, o bien que el músico es blanco o el blanco es músico, porque uno y otro son accidentes del mismo ser (…) El músico no es hombre, sino porque el hombre es accidentalmente músico.” Pero el músico es ser sería pleonasmo. “El ser es designado accidental cuando el sujeto del accidente y el accidente son ambos accidentes de un mismo ser; cuando el accidente se da en un ser; o por último, cuando el ser en que se encuentra el accidente es tomado como atributo del accidente.”

Ser significa que una cosa es verdadera (…) decimos que la relación de la diagonal con el lado del cuadrado no es conmensurable, porque es falso que lo sea.

La guerra de Troya es anterior a las guerras médicas, porque está más lejana del instante actual. Después entra lo que está más próximo a este mismo instante actual. El porvenir está en este caso. La celebración de los juegos Nemeos será anterior al de los juegos Pythicos, porque está más próxima al instante actual, tomando el instante actual como principio, como cosa primera.”

El bailarín que sigue al corifeo es anterior al que figura en tercera fila; y la penúltima cuerda de la lira es anterior a la última. En el primer caso, el corifeo es el principio; en el segundo es la cuerda del medio.”

hay dos órdenes de conocimiento, el esencial y el sensible. Para el conocimiento esencial, lo universal es lo anterior, asi como lo particular para el conocimiento sensible. En la esencia misma, el accidente es anterior al todo; lo músico es anterior al hombre músico, porque no podría haber todo sin partes. Y no obstante, la existencia del músico es imposible si no hay alguien que sea músico.” “La anterioridad por naturaleza no tiene por condición la anterioridad accidental; pero ésta no puede nunca existir sin aquélla; distinción que Platón ha establecido. Por otro lado, el ser tiene muchas acepciones: lo que es anterior en el ser es el sujeto; entonces, la sustancia tiene la prioridad.”

Se denomina <poder> o <potencia> el principio del movimiento o del cambio, colocado en otro ser o en el mismo ser, pero como otro.”

Lo imposible es aquello cuyo contrario es absolutamente verdadero. Entonces, es imposible que la relación de la diagonal con el lado del cuadrado sea conmensurable

Una magnitud continua en un solo sentido, se denomina longitud; en dos sentidos, latitud, y en tres, profundidad. Una pluralidad finita es el número; una longitud finita es la línea. Lo que tiene latitud determinada es una superficie; lo que tiene profundidad determinada, un cuerpo.”

Lo grande y lo pequeño, lo mayor y lo menor, considerados ya en sí mismos, ya en sus relaciones, también son modos esenciales de la cantidad.”

el tiempo no es una cantidad, sino porque el movimiento lo es.”

<cualidad> se denomina a la diferencia que distingue la esencia”

La esencia del número es el ser producto de un número multiplicado por la unidad: la esencia de 6 no es 2x, 3x un número, sino 1x, porque 6 = 1*6.”

La cualidad primera es la diferencia en la esencia. La cualidad en los números forma parte de los números mismos” “en la segunda clase de cualidades se colocan los modos de los seres en movimiento (…) La virtud, el vicio, pueden considerarse como si formaran parte de estos modos, porque son la expresión de la diferencia de movimiento o de acción en los seres en movimiento que hacen o experimentan el bien y el mal. (…) El bien y el mal, sobre todo, reciben el nombre de cualidades que se dan en los seres animados, y entre éstos principalmente en los que tienen voluntad.”

la relación del más o del menos es una relación numérica completamente indeterminada. El número inferior es indudablemente conmensurable, pero se lo compara a un número inconmensurable.”

se denomina idéntico aquello cuya esencia es una; semejante, lo que tiene la misma cualidad; igual, lo que tiene la misma cantidad.”

lo que es conmensurable, científico, inteligible, se denomina relativo, porque se refiere a otra cosa. Decir que una cosa es inteligible, o sea, que se puede tener inteligencia de esta cosa, porque la inteligencia no es relativa al ser a la que pertenece, sería repetir 2x la misma cosa. De la misma manera, la vista es relativa a algún objeto, no al ser a quien pertenece la vista (…) La vista es relativa o al color o a otra cosa semejante. En la otra expresión, habría 2x la misma cosa; la vista es la vista del ser al que pertenece la vista.”

la medicina es una de las cosas relativas, porque la ciencia, de la que es ella una especie, parece una cosa relativa.”

lo igual es relativo; lo semejante también lo es. Finalmente, hay relaciones accidentales: en este concepto el hombre es relativo, porque accidentalmente es doble, y lo doble es una cosa relativa. También lo blanco puede ser relativo de la misma manera, si el mismo ser es accidentalmente doble y blanco.”

Se dice: un médico perfecto, un perfecto tocador de flauta, cuando no les falta ninguna de las cualidades proprias de su arte. Esta calificación se aplica metafóricamente al igual que a lo que es malo. Se dice: un perfecto mentiroso; un perfecto ladrón; y también se le suele dar el nombre de buenos: un buen ladrón, un buen mentiroso.” “De este modo, la palabra perfecta se aplica metafóricamente a la muerte: ambos son el último término.” “es indudable que la palabra término tiene tantos sentidos como principio, y más aún: el principio es un término, pero el término no es siempre un principio.”

en qué o por qué en su primera acepción significa en primer lugar la forma; en segundo, la materia, la sustancia primera de cada cosa; en resumen, tiene todas las acepciones del término causa.”

<en sí> y <por sí> también se entenderán necesariamente de muchas maneras. En sí significará la esencia de un ser, como Callias y la esencia propia de Callias. Expresará además todo lo que se encuentra en la noción del ser: Callias es en sí un animal; porque en la noción de Callias se encuentra el animal: Callias es un animal.” “Es verdad que el hombre tiene muchas causas, lo animal, lo bípedo; no obstante, el hombre es hombre en sí y por sí. Por último, se dice de lo que se encuentra sólo en un ser, como es solo; y en este sentido lo que está aislado se dice que existe en sí y por sí.”

Se denomina <pasión> a las cualidades que alternativamente pueden revestir un ser; como lo blanco y lo negro, lo dulce y lo amargo, la pesantez y la ligereza, y todas las demás de este género. (…) En fin, se denomina pasión a una gran y terrible desgracia.”

los helenos, los jonios. Estos nombres designan razas, porque son seres que tienen unos a Helen y otros a Jon [Íon, irmão de Aqueu] por autores de su existencia.”

Es falsa la proposición de Hippias de que el mismo ser es a la vez verídico y mentiroso.”

Se denomina <accidente> a lo que se encuentra en un ser y puede afirmarse con verdad, pero que no es, no obstante, ni necesario ni ordinario.”

LIBRO SEXTO

estas ciencias no dicen nada de la existencia o de la no existencia del género de seres de los que tratan (…) La Física: el principio del movimiento y del reposo; no es una ciencia práctica ni una ciencia creadora. (…) La voluntad es en el agente el principio de toda práctica” “la Física será una ciencia teórica, la ciencia de una sola esencia, inseparable de un objeto material.” “la forma determinada, la noción esencial de los seres físicos”

lo chato” X “lo romo”

Sucede que são sinônimos perfeitos, ainda mais aplicados ao exemplo do nariz!

También la ciencia matemática es teórica (…) Si hay algo que sea realmente inmóvil, eterno, independiente, a la ciencia teórica pertenece su conocimiento.”

Todas las causas son necesariamente eternas, y las causas inmóviles e independientes lo son por excelencia, porque son las causas de los fenómenos celestes.

Por lo tanto, hay 3 ciencias teóricas, la Matemática, la Física y la Teología. Efectivamente, si Dios existe en alguna parte, es en la naturaleza inmóvil e independiente donde es necesario reconocerlo. Por otro lado, la ciencia por excelencia debe tener por objeto el ser por excelencia. Las ciencias teóricas están a la cabeza de las demás ciencias, y ésta que comentamos, está a la cabeza de las ciencias teóricas.

Si entre las sustancias que tienen una materia, no hubiese alguna sustancia de otra naturaleza, entonces la Física sería la ciencia primera. Pero si hay una sustancia inmóvil, esta sustancia es anterior a las demás, y la ciencia primera es la Filosofía. Por su condición de ciencia primera, esta ciencia igualmente es la ciencia universal, y a ella pertenece investigar el ser como ser, la esencia, y las propiedades del ser como ser.”

no hay ninguna especulación que tenga por objeto el ser accidental” “porque el número de los accidentes es infinito.” “el accidente no tiene, en cierto modo, más que una existencia nominal. (…) desde cierta perspectiva, Platón ha puesto en la clase del no-ser el objeto de la Sofística.

El accidente es el que los sofistas han tomado, prefiriéndolo a todo, si así puedo decirlo, por texto de sus discursos. Se preguntan si hay diferencia o identidad entre música y gramática, entre Coriseo músico y Coriseo; si todo lo que existe, pero que no ha existido en todo tiempo, ha devenido o llegado a ser; y por lo tanto si el que es músico se ha hecho gramático, o el que es gramático, músico; y plantean otras cuestiones análogas. Ahora bien, el accidente parece que es algo que se distingue poco del no-ser, como se advierte en semejantes cuestiones. Todos los demás seres de diferente especie se hacen o devienen y se destruyen, lo cual no ocurre con el ser accidental.

Aun cuando el cocinero sólo atienda a satisfacer el gusto, puede ocurrir que sus comidas sean útiles a la salud; pero este resultado no proviene del arte culinario, entonces, decimos que es un resultado accidental que el cocinero llegue a conseguir algunas veces este resultado, pero no absolutamente.”

Una de dos: o no hay nada que exista siempre, ni ordinariamente; o esta suposición es imposible. Entonces, hay alguna otra cosa, que son los efectos del azar y los accidentes. No obstante, en los seres ¿tiene lugar sólo el <frecuentemente> y <de ninguna manera>, <el siempre> o bien hay seres eternos? Éste es un punto que más adelante discutiremos.

el agua con la miel es ordinariamente buena para la fiebre. Pero no se podrá establecer la excepción y decir, p.ej., que no es buen remedio en la luna nueva”

Todo lo que ocurrirá necesariamente ocurrirá. Así, es necesario que el ser que vive, muera; porque hay ya en él la condición necesaria (…) No obstante, ¿morirá de enfermedad o de muerte violenta? La condición necesaria aún no está cumprida, y no lo estará mientras eso no ocurra.”

LIBRO SÉPTIMO

la sustancia será el ser primero, no tal o cual modo del ser, sino el ser tomado en su sentido absoluto.”

el eterno objeto de todas las investigaciones pasadas y presentes; la pregunta que se manifiesta eternamente. ¿qué es el ser?, viene a reducirse a ésta: ¿qué es la sustancia?

Platón dice que las ideas y los seres matemáticos son por lo pronto dos sustancias, y que hay una tercera, la sustancia de los cuerpos sensibles. Speusippo acepta un número mucho mayor de ellas, siendo la primera, en su opinión, la unidad; después aparece un principio particular para cada sustancia, uno para los números, otro para las magnitudes, otra para el alma, y de esta manera multiplica el número de las sustancias.” “¿Quién está en lo cierto, quién no? ¿Cuáles son las verdaderas sustancias? ¿Hay o no otras sustancias que las sensibles? Y si hay otras, ¿cuál es su modo de existencia?”

sustancia tiene 4 sentidos principales. (…) la esencia, lo universal, el género, o el sujeto.” “El sujeto no es atributo de nada (…) [antes es] la materia, la forma, el conjunto de la materia y de la forma.” “de acuerdo con esta definición, la materia debería ser considerada como sustancia; porque si no es una sustancia, no vemos a qué otra cosa podrá aplicársela este carácter; si se quitan los atributos, no queda más que la materia.” “la cantidad no es una sustancia; sustancia es más bien el sujeto primero en el que se da la cantidad. Elimínese la longitud, la latitud y la profundidad, y no quedará nada absolutamente” “Considerada la cuestión desde esta perspectiva, la sustancia será la materia; sin embargo, por otro lado, esto es imposible. Porque la sustancia parece tener por carácter esencial el ser separable y el ser cierta cosa determinada. Entonces, la forma y el conjunto de la forma y de la materia parecen ser más bien sustancia que la materia.” “la materia cae, hasta cierto punto, bajo los sentidos. § Así, queda investigar la tercera, la forma. Esta ha dado lugar a prolongadas discusiones.” forma esencial” Ante todo, actuemos por vía de definición y digamos que la esencia de un ser es este ser en sí. Ser tú no es ser músico; tú no eres en tí músico y tu esencia es lo que eres tú en ti mismo.” “Para que haya definición de la esencia de una cosa es necesario que en la proposición que expresa su carácter no se encuentre el nombre de esta cosa.” “La definición es una expresión que designa un objeto primero

¿qué es la cualidad? La cualidad es un ser, pero no absolutamente; con la cualidad ocurre lo que con el no-ser, del cual algunos filósofos, para poder discurrir sobre él, dicen que es, no porque propiamente sea, sino que él es el no-ser.

Las investigaciones acerca de la definición de cada ser no deben trasponer las que se hagan sobre la naturaleza misma del ser.”

no hay definición primera. (…) no se desprende que toda expresión adecuada a la noción de un objeto sea una definición. Esto sólo es indudable en relación con ciertos objetos. P.ej., lo será si el objeto es uno (…) La unidad se entiende de tantas maneras como el ser, y el ser expresa, o tal cosa determinada, o la cantidad, o también la cualidad.

definiciones redundantes” “tampoco habrá definición que comprenda a la vez el atributo y el sujeto; p.ej., definición del número impar. Pero se dan definiciones de esta clase de objetos, sin advertir que estas son definiciones artificiales.”

Si se acepta la existencia de las ideas, entonces el bien en sí se distingue de la forma sustancial del bien, el animal en sí de la forma del animal, el ser en sí de la forma sustancial del ser “Si de este modo se separa el ser de la forma, ya no habrá ciencia posible del ser, y las formas, por su parte, no serán ya seres” “Digo que no hay ciencia porque la ciencia de un ser es el conocimiento de la forma sustancial de este ser.”

En efecto, las ideas necesariamente son sustancias y no atributos, de otra manera, participarían de su sujeto.” “por un lado, hay identidad entre el ser y la forma; por otro, no. No hay identidad entre la forma sustancial de hombre y la forma sustancial de hombre blanco, pero hay identidad en el sujeto, que experimenta la modificación.

Fácilmente se notará lo absurda que es la separación del ser y de la forma sustancial, si se da un nombre a toda forma sustancial. Fuera de este nombre habrá, en el caso de la separación, otra forma sustancial, entonces habrá una forma sustancial del caballo fuera de la forma sustancial del caballo en general. Y no obstante, ¿qué impide decir que algunos seres tienen inmediatamente en sí mismos su forma sustancial, ya que la forma sustancial es la esencia?” “no es accidental que la unidad y la forma sustancial de la unidad sean una misma cosa. Si son dos cosas diferentes, se irá así hasta lo infinito. Se tendrá por un lado la forma esencial de la unidad, y por otro, la unidad; y cada uno de estos dos términos, a su vez, estará en el mismo caso.”

En toda producción hay una causa, un sujeto, luego un ser producido

ser natural”: “Todos los seres que provienen de la naturaleza o del arte tienen una materia, porque todos pueden existir o no existir, y esta posibilidad depende de la materia, que se da en cada uno de ellos.”

CLONAR AINDA É FODER: “un hombre es el que produce un hombre.”

creaciones” “azar” “producciones colaterales” “hay en la naturaleza seres que se producen lo mismo por medio de una semilla que sin semilla.”

Las producciones del arte son aquéllas cuya forma está en el espíritu” “la salud es la idea misma que está en el alma, la noción científica; la salud viene de un pensamiento como éste: la salud es tal cosa, p.ej., si se quiere producirla, que haya otra cosa, p.ej., el equilibrio de las diferentes partes; ahora bien, para producir este equilibrio, es necesario el calor. De esta forma, sucesivamente, se llega por el pensamiento a una cosa última, que puede, de inmediato, producirse. El movimiento que realiza esta cosa se denomina operación, operación hecha con la mira de la salud. De manera que, desde una perspectiva, la salud viene de la saludPor esencia inmaterial entiendo la forma pura. § Entre las producciones y los movimientos hay unos que se denominan pensamientos y otros que se dicen operaciones; los que provienen de la causa productora y de la forma son los pensamientos; los que tienen por principio la última idea a que llega el espíritu, son operaciones.” “para que haya salud, es necesario que haya equilibrio; no obstante, ¿qué es el equilibrio? Es tal cosa: y esta cosa tendrá lugar, si hay calor. ¿Qué es calor? Tal cosa. El calor existe en potencia, y el médico puede realizarla. Por lo tanto, el principio productor, la causa motriz de la salud, si es fruto del arte, es la idea que está en el espíritu; si es fruto del azar, indudablemente, tendrá por principio la cosa misma, por medio de la cual la hubiera producido el que la produce por el arte. El principio de la curación, probablemente, es el calor; y se produce el calor por medio de fricciones. Ahora bien, el calor producido en el cuerpo es un elemento de la salud, o va seguido de otra cosa o de muchas que son elementos de la salud. Procediendo así, la última cosa a la que se llega es la causa eficiente

O MACACO FAZ O HOMEM: “es imposible que se produzca cosa alguna si no hay algo que preexista: sin duda, es absolutamente necesario la preexistencia de un elemento. La materia es un elemento, es el sujeto, y sobre ella tiene lugar na producción.”

INGLÊS, LÍNGUA DE AUSTRALOPITHECUS: “El objeto producido no toma nunca el nombre del sujeto de donde proviene; sólo se dice que es de la naturaleza de este sujeto, que es de esto, pero no esto. No se dice una estatua piedra, sino una estatua de piedra.” “el hombre sano proviene del hombre y del enfermo.” “Cuando una cosa proviene de otra, hay transformación de la una en la otra, y el sujeto no persiste en su estado. Ésta es la razón de esta locución.”

Producir un ser particular es hacer de un sujeto absolutamente indeterminado un objeto determinado. P.ej., digo que hacer el bronce redondo no es producir ni la redondez ni la esfera, sino que es producir un objeto en su totalidad diferente, es producir esta forma en otra cosa.” “De lo anterior se desprende que lo que se denomina la forma, la esencia, no se produce; la única cosa que deviene o se hace, es la reunión de la forma y de la materia, porque en todo ser que ha devenido, hay materia; por un lado, la materia; por otro, la forma.” “el ser realizado, Sócrates, Callias, tomados en forma individual, están en el mismo caso que una esfera particular de bronce. El hombre y el animal son como la esfera de bronce en general. § Entonces, es indudable que las ideas consideradas como causas, siendo ésta la perspectiva de los partidarios de las ideas y suponiendo que haya seres independientes de los objetos particulares, son inútiles para la producción de las esencias y que no son las ideas las que constituyen las esencias de los seres.” “el hombre produce al hombre. No obstante, puede haber una producción contra la naturaleza; el caballo engrendra al mulo; y aun la ley de la producción es en este caso la misma, porque la producción tiene lugar de acuerdo con un tipo común al caballo y al asno, de un género que se aproxima al uno y al otro, y que no ha recibido nombre. Probablemente, el mulo es un género indermedio.”

la materia se distingue, pero su forma es idéntica: la forma es indivisible.”

Una cantidad de seres tienen en sí mismos un principio de movimiento, y les es imposible tal movimiento particular; p.ej., no poder bailar al compás. Por lo tanto, todas las cosas que tienen una materia de este género, las piedras, p.ej., no pueden tomar tal movimiento particular, a menos que reciban un impulso exterior. No obstante, ellas tienen un movimiento que les es propio; así ocurre con el fuego. Por este motivo ciertas cosas no existirán independientemente del artista y otras, en cambio, podrán existir.”

En determinados casos, la definición de las partes entrará en la definición del todo, y en otros no entrará, como p.ej., cuando no haya definición del ser realizado.” “los seres inmateriales, como, p.ej., la forma considerada en sí misma, no pueden revolverse absolutamente en sus partes o se resuelven de otra manera. Ciertos seres tienen en sí mismos sus principios constitutivos, sus partes; pero la forma no tiene principios, ni partes de este género.”

se aplica igualmente el nombre de círculo a los círculos propiamente dichos y a los círculos particulares, porque no hay nombre propio para designar los círculos particulares.”

el alma es la esencia de los seres animados (…) hay prioridad de partes del alma, de todas o de algunas, con relación al conjunto del animal.” un dedo no es realmente un dedo en todo estado posible, sino tan sólo cuando tiene vida; no obstante, se denomina igual al dedo muerto.” el círculo y la esencia del círculo, el alma y la esencia del alma, son una sola y misma cosa.” si el alma no es el animal, si se distingue de él, habrá anterioridad para las partes.”

Es realmente difícil establecer qué partes pertenecen a la forma y qué partes pertenecen al conjunto de la forma y de materia; y no obstante, si este punto no es revisado, es imposible definir los individuos. (…) si no se nota qué partes son o no son materiales, tampoco se notará cuál deberá ser la definición del objeto.” “Aunque todos los círculos visibles fueran de bronce, no por esto el bronce sería una parte de la forma. No obstante, es difícil al pensamiento comprobar esta separación. Entonces, lo que a nuestros ojos constituye la forma es la carne, los huesos y las partes análogas. Por lo tanto, ¿serán éstas partes de la forma, las cuales entren en la definición, o es más bien la materia?”

pretenden que la definición de la línea es la noción misma de la dualidad. § Entre los que aceptan las ideas, unos dicen que la díada es la línea en si, otros que es la idea de la línea, porque si algunas veces hay identidad entre la idea y el objeto de la idea, p.ej., entre la díada y la idea de la díada, la línea no está en este caso.” “a este punto conducía ya la teoría de los pitagóricos; y por consecuencia última, la posibilidad de constituir una sola idea en sí de todas las ideas; o sea, el anonadamiento de las demás ideas y la reducción de todas las cosas a la unidad.

no tenemos necesidad de reducir de este modo todas las cosas y de eliminar la materia. Lo factible es que en algunos seres hay reunión de la materia y de la forma; en otros, de la sustancia y de cualidad. Y la comparación de la que ordinariamente se servía Sócrates, el joven con relación al animal no es exacta. Ella nos hace salir de la realidad y permite pensar que el hombre puede existir independientemente del bronce. Pero no hay paridad. El animal es un ser sensible y no lo puede definir sin el movimiento, por lo tanto, sin partes organizadas de cierta y determinada manera. (…) la mano inanimada no es una parte del hombre.”

¿por qué en los seres matemáticos las definiciones no entran como partes en las definiciones? ¿por qué no se define el círculo por los semicírculos? Se argumentará que los semicírculos no son objetos sensibles. Pero ¡que importa!, puede haber una materia hasta en seres no sensibles (…) todo lo que tiene una existencia real, tiene una materia. El círculo, que es la esencia de todos los círculos, no puede tenerla; pero los círculos particulares deben tener partes materiales

Por otro lado, es indudable que la sustancia primera en el animal es el alma, y que el cuerpo es la materia.”

las sustancias sensibles, sustancias cuyo estudio pertenece más bien a la física y a la segunda filosofía.” “las partes materiales no son partes de la sustancia y sí sólo de la sustancia total. Esta tiene una definición y no la tiene, según la perspectiva.” “sustancia primera” “sustancia realizada” “en relación con las sustancias primeras, hay identidad entre la curvatura y la forma sustancial de la curvatura, con tal que la curvatura sea primera; y entiendo por primero lo que no es atributo de otro ser, que no tiene sujeto, materia.”

¿por qué hay unidad en el ser definido, en el ser cuya noción es una definición? El hombre es un animal de dos pies. Aceptemos que ésta sea la noción del hombre. ¿Por qué este ser es un solo ser, y no varios: animal y bípedo? Si se dice hombre y blanco hay pluralidad de objetos cuando el uno no existe en el otro, pero hay unidad cuando el uno es atributo del otro, cuando el sujeto, el hombre, experimenta cierta modificación. En el último caso, los dos objetos se hacen uno solo y se tiene el hombre blanco” “supuestamente, el género no participa de las diferencias; de no ser así, la misma cosa participaría a la vez de los contrarios” “Hay pluralidad en las diferencias: animal, que anda, con dos pies, sin plumas. ¿por qué en este caso hay unidad y no pluralidad?” “porque la definición es una noción, es la noción de la esencia. La definición debe ser la noción de un objeto uno, ya que, como hemos dicho, esencia significa un ser determinado.”

género primero” “Los demás géneros no son más que el género primero y las diferencias reunidas al género primero. Entonces, el primer género es animal; el siguiente, animal de dos pies; y otro, animal de dos pies sin plumas. Lo mismo ocurre si la proposición contiene un número mayor de términos; y en general, poco importa que contenga un gran número de ellos o uno pequeño, o dos solamente.”

(el sonido es, p.ej., género y materia, y de esta materia derivan las diferencias, las especies y los elementos) (…) la definición es la noción proporcionada por las diferencias.”

es necesario indicar la diferencia en la diferencia.” “no se debe decir: entre los animales que tienen pies, hay unos que tienen pluma y otros que no las tienen; aunque esta proposición sea verdadera, no deberá emplearse este método, a no mediar la imposibilidad de dividir la diferencia. Se debe decir: unos tienen el pie dividido en dedos, otros no tienen el pie dividido en dedos. Éstas son las diferencias del pie: la división del pie en dedos es una manera de ser del pie. Y es necesario continuar de este modo hasta que se llegue a objetos entre los que no haya diferencias. En este concepto, habrá tantas especies de pies como diferencias (…) es indudable que la última diferencia debe ser la esencia” “Si se ha conseguido la diferencia de la diferencia, una sola, la última es la forma, la esencia del objeto.”

es imposible que ningún universal sea una sustancia. Por lo pronto, la sustancia primera de un individuo es aquélla que le es propia, que no es la sustancia de otro.” “¿De qué será sustancia el universal? Lo es de todos los individuos, o no lo es de ninguno” “la unidad de sustancia y la unidad de esencia constituyen la unidad del ser.”

¿el animal no puede ser la esencia del hombre y del caballo? Pero en este caso habría una definición del universal. Ahora bien, que la definición encierre o no todas las nociones que están en la sustancia, poco importa; el universal no por eso dejará de ser la sustancia de algo”

ninguno de los atributos generales indica la existencia determinada, sino que designan el modo de la existencia. Sin esto, prescindiendo de otras muchas consecuencias, se cae en la del tercer hombre.” “Es imposible que la sustancia sea un producto de sustancias contenidas en ella en acto. Dos seres en acto nunca se harán un solo ser en acto. Pero si los dos seres sólo existen en potencia, podrá haber unidad. En potencia, p.ej., el doble se compone de dos mitades.” “O la díada no es una unidad, o la mónada no existe en acto en la díada.”

toda sustancia debe ser simple. Por lo tanto, no podrá definirse ninguna sustancia. § No obstante, todo el mundo cree, y nosotros lo hemos dicho antes, que sólo la sustancia, o al menos ella principalmente, tiene una definición. Y ahora resulta que ni ella la tiene. ¿Será que es imposible la definición de absolutamente nada? ¿O bien lo será en un sentido y en otro no?

el hombre no es un accidente de lo animal.” “¿Cómo es posible que el animal, cuya sustancia es el animal en sí, exista fuera del animal en sí? § Las mismas consecuencias surgen en relación con los seres sensibles, y todavía más absurdas. (…) es indudable que no hay idea de los objetos sensibles, en el sentido en que lo entienden algunos filósofos.

Entiendo por conjunto la sustancia que se compone a partir de la reunión de la forma definida y de la materia (…) Todo lo que es sustancia en concepto de conjunción está sujeto a destrucción, porque hay producción de semejante sustancia. Por lo que hace a la forma definida, no está sujeta a la destrucción, porque no es producida; es el producto, no la forma sustancial de la casa, sino tal casa particular.”

Los seres mortales no se manifiestan al conocimiento cuando están fuera del alcance de los sentidos, y por lo tanto, aunque las nociones sustanciales se conserven en el alma, no puede haber definición ni comprobación de estos seres.” “ninguna idea es susceptible de definición.” “Esta observación necesariamente se aplica a los seres eternos. Son anteriores a todo, y son parte de lo compuesto (…) el hombre en sí es independiente; porque o ningún ser lo es o el hombre y el animal lo son ambos.” “ideas componentes”

En las articulaciones, existen principios de movimiento, principios producidos indudablemente por otro principio, pero que hacen que ciertos animales continúen viviendo aún después de ser divididos en partes. No obstante, no hay sustancia en potencia, sino cuando hay unidad y continuidad natural; cuando la unidad y la continuidad son resultado de la violencia o de una conexión arbitraria, entonces no es más que una mutilación.”

Cuando preguntamos: ¿cuál es el principio?, lo que queremos es referir el objeto en cuestión a un término más conocido. El ser y la unidad tienen más títulos a ser sustancia de las cosas que el principio, el elemento y la causa; y no obstante no lo son.

los que aceptan las ideas tienen razón en un sentido al darles una existencia independiente, ya que son sustancias. Pero en otro sentido no tienen razón en hacer de la idea una unidad en la pluralidad. El motivo del error es la imposibilidad en que están de decir cuál es la naturaleza de estas sustancias sensibles.”

…esta sustancia que existe separada de las sustancias sensibles.” “la sustancia es un principio y una causa. Preguntar el por qué es preguntar siempre porqué una cosa existe en otra.” “Investigar por qué una cosa es una cosa, es no investigar nada. Es necesario que el por qué de la cosa que se busca se manifieste realmente” “En los casos en que se pregunta por qué un ser es él mismo, por qué el hombre es hombre, o el músico es músico, no vale más que una respuesta a todas estas preguntas, no hay más que una razón que dar, es porque cada uno de estos seres es indivisible en sí mismo, o sea, porque es uno; respuesta que igualmente se aplica a todas las preguntas de este género, y que las resuelve en pocas palabras.” “¿Por qué truena?, porque se produce un ruido en las nubes. En este ejemplo lo que se busca es la existencia de una cosa en otra cosa, lo mismo que cuando se pregunta: ¿por qué estas piedras y estos ladrillos son una casa?” “lo que se busca es la esencia.” “si no se nota por qué el hombre es hombre, es porque el ser no es referido a cosa alguna” “Esto es una casa, ¿por qué?, porque se encuentra en ella tal carácter, que es la esencia de la casa. Por la misma causa, tal hombre, tal cuerpo es tal o cual cosa. Por lo tanto, lo que se busca es la causa de la materia. Y esta causa es la forma que determina el ser, es la esencia. Se nota que en relación con los seres simples no hay lugar para pregunta ni respuesta sobre este punto” “En la disolución, la carne, la sílaba, dejan de existir, mientras que las letras, el fuego y la tierra perduran. Por lo tanto, la sílaba es algo más que las letras; la vocal y la consonante es también otra cosa; y la carne, no es sólo el fuego y la tierra, lo caliente y lo frío, sino que es también otra cosa.”

sólo son sustancias los seres que existen por sí mismos y cuya naturaleza no está constituida por otra cosa que por ellos mismos.”

LIBRO OCTAVO

Entonces, los que definen una casa diciendo que es piedra, ladrillos, madera, tratan de la casa en potencia, porque todo esto es la materia; los que dicen que es un abrigo destinado para refugiarse los hombres y para guardar los muebles, o determinan algún otro carácter de este género, definen la casa en acto.” “la tercera sustancia, el conjunto de la materia y de la forma”

La esencia debe ser necesariamente eterna, o bien morir en un objeto, sin morir ella por esto; o producirse en un ser, sin estar ella misma sujeta a la producción. Anteriormente hemos probado y comprobado que nadie produce la forma; que no nace, y que solamente se realiza en un objeto. Lo que nace es el conjunto de la materia y de la forma.”

la definición es una especie de número (es divisible en partes indivisibles como el número, porque no hay una infinidad de nociones en la definición)”

¿cuál es la causa material del hombre? La menstruación. ¿Cuál es la causa motriz? Quizá la esperma. ¿Cuál es la causa formal? La esencia pura. ¿Cuál es la causa final? La finalidad. Quizás estas dos últimas causas son iguales.”

¿cuál es la causa, cuál es la materia del eclipse? No la hay, y sólo la Luna experimenta el eclipse. La causa motriz, la causa de la destrucción de la luz, es la tierra. En relación con la causa final, quizá no exista. La causa formal es la noción misma del objeto, pero esta noción es imprecisa, si no se le agrega la de la causa productora. Entonces, ¿qué es el eclipse? Es la falta de luz. Se agrega: esta falta es el resultado de la interposición de la tierra entre el Sol y la Luna”

No es lo blanco lo que deviene, es la madera que deviene o se hace blanca. Y todo lo que se produce proviene de algo y se hace o deviene algo. De esto se desprende que los contrarios no pueden provenir todos unos de otros. El hombre negro se hace un hombre blanco de otra manera que lo negro se hace blanco.”

O MISTÉRIO DA TRANSUBSTANCIAÇÃO AVANT LA LETTRE: “¿Es en potencia como el agua es vinagre y vino? (…) ¿Y el ser vivo es un cadáver en potencia, o bien no lo es? (…) El vinagre y el cadáver se originan del agua y del animal, como la noche se origina del día. En todos los casos en que hay, como en éste, transformación recíproca, es necesario que en la transformación los seres vuelvan a sus elementos materiales. Para que el cadáver se haga un animal, debe por lo pronto pasar de nuevo por el estado de materia; y después, gracias a esta condición, podrá hacerse un animal. Es necesario que el vinagre varíe en agua para luego volverse vino.”

¿Cuál es la causa de la unidad?” “¿Qué es lo que constituye la unidad del hombre y por qué es uno y no múltiple, animal y bípedo, p.ej., sobre todo si hay, como algunos pretenden, un animal en sí y un bípedo en sí? (…) En la hipótesis que tratamos, el hombre no puede absolutamente ser uno; es varios: (…) se nota que con esta forma de definir las cosas y de tratar la cuestión, es imposible mostrar la causa y zanjar el problema.” “no entran en las definiciones ni el ser ni la unidad.”

Hay algunos que aceptan la participación para zanjar este problema de la unidad; pero no saben ni cuál es la causa de la participación, ni lo que es participar. Según otros, lo que forma la unidad es el enlace con el alma; la ciencia, dice Licofrón [Licofrão]¹, es el enlace del saber con el alma. Por último, otros sostienen que la vida es la reunión, el encadenamiento del alma con el cuerpo. Lo mismo puede decirse de todas las cosas. La salud será en esto caso el enlace, el encadenamiento, la reunión del alma con la salud; el triángulo de metal, la reunión del metal y del triángulo; lo blanco, la reunión de la superficie y de la blancura.

La investigación de la causa es la que genera la unidad de la potencia y del acto, y el análisis de su diferencia es lo que ha engendrado estas opiniones. Ya lo hemos dicho: la materia inmediata y la forma son una sola y misma cosa, sólo que una es el ser en potencia, y la otra el ser en acto. Investigar cuál es la causa de la unidad, e investigar la de la forma sustancial de la unidad, es investigar lo mismo.

¹ Sofista. Também citado por A. na Política.

LIBRO NOVENO

ser primero” “la potencia, al igual que el acto, se aplica a otros seres que los que son susceptibles de movimiento.” “potencia motriz”

No tenemos que ocuparnos de las potencias que sólo son potencias en el nombre. En la geometría p.ej., algo parecido ha sido motivo de que se diera a algunos objetos el nombre de potencias; y a otras cosas se las ha supuesto potentes o impotentes a causa de una cierta manera de ser o de no ser.”

poder primero, el del cambio (…) La potencia de ser modificado es en el ser pasivo el principio del cambio, que es capaz de experimentar gracias a la acción de otro ser como otro. La otra potencia es el estado de ser.”

potencia de hacer bien”

desde una perspectiva, es indudable que la potencia activa y la potencia pasiva son una sola potencia, y desde otra son dos potencias.” “Cada potencia racional puede producir por sí sola efectos contrarios; pero cada una de las potencias irracionales produce un sólo y mismo efecto.” “Entonces, lo sano no origina más que la salud, lo caliente más que el calor, lo frío mas que la frialdad, mientras que el que sabe origina los dos contrarios.”

los objetos inanimados, lo frío, lo caliente, lo dulce; y en resumen, todos los objetos sensibles, no serán cosa alguna independientemente del ser que siente. Entonces, se llega a la teoría de Protágoras. (…) Si denominamos ciego al ser que no ve, cuando está en su naturaleza el ver y en la época en que debe por su naturaleza ver los mismos seres serán ciegos y sordos muchas veces al día.” “Semejante teoría elimina el movimiento y la producción.”

Es irrefutable que unas cosas pueden existir en potencia y no existir en acto, y que otras pueden existir realmente y no existir en potencia. Lo mismo ocurre con todas las demás categorías. Suele ocurrir que un ser que tiene el poder de caminar no ande; que camine un ser que tiene el poder de no andar. Digo que una cosa es posible cuando su tránsito de la potencia al acto no contiene ninguna imposibilidad.”

el movimiento parece ser el acto por excelencia. Por este motivo, no se atribuye el movimiento a lo que no existe (…) De las cosas que no existen ciertamente se dice que son inteligibles, apetecibles, pero no que están en movimiento.”

en acto (entelequia)” Desgina a condição de possibilidade

decir: la relación de la diagonal con el lado del cuadrado puede ser medida, pero no lo será, es no tener en cuanta lo que es la imposibilidad. Se dirá que nada se opone a que en relación con una cosa que existe o no existirá haya posibilidad de existir o de haber existido.” HOMEM: ANIMAL BÍPEDE VOADOR CASTRADO: “Pero aceptar esta proposición y suponer que no existe, pero que es posible, existe realmente o ha existido, es aceptar que no hay nada imposible. Pero hay cosas imposibles: es imposible medir la relación de la diagonal con el lado del cuadrado. No hay identidad entre lo falso y lo imposible. Es falso que ahora tú estés de pie, pero no es imposible.”

Un ser que tiene la potencia como tiene un poder de actuar, el cual no es absoluto sino sometido a ciertas condiciones, en las que va embebida la de que no habrá obstáculos exteriores. La eliminación de estos obstáculos es la consecuencia misma de algunos de los caracteres que entran en la definición de la potencia. Por esto la potencia no puede producir al mismo tiempo, aunque se quiera o se desee, dos efectos, o los efectos contrarios.

el acto significa tanto el movimiento en relación con la potencia, como la esencia en relación con una cierta materia.”

como la división se prolonga hasta el infinito, se dice que el acto de la división existe en potencia, pero nunca existe separado de la potencia.”

actos completos” “todo movimiento es incompleto, como la demarcación [emagrecimento], la investigación, la marcha, la construcción” “No se puede dar un paso y haberlo dado al mismo tiempo, construir y haber construido, devenir y haber devenido, imprimir o recibir un movimiento y haberlo recibido [?]. El motor se distingue del ser en movimiento; pero por el contrario, el mismo ser puede al mismo tiempo ver y haber visto, pensar y haber pensado; estos últimos hechos son los que designo como actos; los otros no son más que movimientos.”

¿la tierra es o no el hombre en potencia? Tendrá más bien esta condición cuando se haya hecho esperma, y quizá ni aun entonces será el hombre en potencia. Del mismo modo, la salud no lo recibe todo de la medicina y del azar; pero hay seres que tienen esta propiedad, y son los que se denominan sanos en potencia.”

A TERRA EM SI NÃO É FODIDA: “La esperma todavía no es el hombre en potencia; es necesario que esté en otro ser y que experimente un cambio. Cuando ya tenga esta condición, de acuerdo con la acción de producir, si nada exterior se opone a ello, entonces será el hombre en potencia; pero para esto es necesario la acción de otro principio. Así, la tierra no es todavía la estatua en potencia; es necesario que se convierta en bronce” “la materia que contiene un ser en potencia es aquélla en relación con la cual se dice: este ser es, no este otro, sino de este otro. La tierra no contendrá el ser en potencia sino de un modo secundario: entonces no se dice que el cofre es de tierra o que es tierra, sino que es de madera, porque la madera es el cofre en potencia.” “Cuando la música es una cualidad de tal sujeto, no se dice que él es música, sino músico; no se dice que el hombre es blancura, sino que es blanco; que es marcha o movimiento, sino que está en marcha o en movimiento, como se dice que el ser es de esto. Los seres que están en este caso, los seres primeros, son sustancias; los otros no son más que formas, el sujeto determinado

es indudable que el acto es anterior a la potencia.” “bajo la relación del tiempo, el acto es algunas veces anterior, otras veces no. Es indudable que el acto es anterior bajo la relación de la noción.” “Es necesario que la noción preceda; todo conocimiento debe apoyarse sobre un conocimiento.” “El ser que obra es anterior genéricamente, pero no con relación al número; la materia, la semilla, la facultad de ver, son anteriores bajo la relación del tiempo a este hombre que existe actualmente en acto, al trigo, al caballo, a la visión. (…) porque siempre es necesario que el acto provenga de la potencia a partir de la acción de un ser que existe en acto; entonces, el hombre viene del hombre, el músico se forma bajo la dirección del músico; siempre hay un primer motor, y el primer motor ya existe en acto.”

Escritor desde o berço… Velho e ainda “não sabe” escrever.

tocando la flauta es como se aprende a tocarla. (…) de esto se desprende este argumento sofístico: que el que no conoce una ciencia hará las cosas que son objeto de esta ciencia. Sí, indudablemente el que investiga no posee aún la ciencia; pero así como en toda producción ya existe alguna cosa producida, y en todo movimiento ya hay un movimiento realizado (y ya lo hemos comprobado en nuestra Física), así es necesario que el que investigue ya tenga algunos elementos de la ciencia.”

Efectivamente, los animales no ven por tener vista, sino que tienen la vista para ver; del mismo modo, se posee el arte de construir para construir y la ciencia especulativa para elevarse a la especulación (…) aun en este último caso, no hay realmente especulación, no hay más que un ejercicio; la especulación pura no tiene como fin la satisfacción de nuestras necesidades.”

el fin de la vista es la visión, y definitivamente la vista no produce otra cosa que la visión; por el contrario, en otros casos se produce otra cosa: así del arte de construir se deriva no sólo la construcción sino también la casa. No obstante, no hay realmente fin en el primer caso, y es sobre todo en el segundo donde la potencia tiene un fin.”

siempre que fuera del acto no hay algo producido, el acto existe en el sujeto mismo: p.ej., la visión está en el ser que ve; la teoría en el que hace la teoría, la vida en el alma, y por lo tanto, la felicidad misma es un acto del alma, porque también la felicidad es un tipo de vida.

Por lo tanto, es indudable que la esencia y la forma son actos; de lo que indudablemente se desprende que el acto, bajo la relación de la sustancia, es anterior a la potencia. (…) se asciende de acto en acto hasta que se llega al acto del motor primero y eterno.”

nada de lo que existe en potencia es eterno. (…) toda potencia supone al mismo tiempo el contrario; lo que no tiene la potencia de existir no existirá necesariamente nunca; pero todo lo que existe en potencia puede muy bien pasar al acto: lo que tiene la potencia de ser puede ser o no ser (…) Pero puede ocurrir que lo que tiene la potencia de no ser no sea. Pero lo que puede no ser es mortal, absolutamente mortal, o muy mortal desde la perspectiva de que puede no ser con relación al lugar, a la cantidad, a la cualidad; y absolutamente mortal significa mortal en relación con la esencia. Nada de lo que es absolutamente mortal existe absolutamente en potencia; pero puede existir en potencia desde ciertas perspectivas, como en relación con la cualidad y con relación al lugar.

Todo lo que es inmortal existe en acto, y lo mismo ocurre con los principios necesarios. Porque son principios primeros, y si no lo fuesen no existiría nada. (…) Y si hay algún objeto que esté en movimiento eterno, no se mueve en potencia, a no entenderse por esto el poder pasar de un lugar a otro. Nada se opone a que este objeto, sometido a un movimiento eterno, no sea eterno. Por esta razón, el Sol, los astros, el cielo, todo existe siempre en acto, y no hay que temer que se detengan nunca como lo temen los físicos; nunca se cansan en su andar, porque su movimiento no es como el de los seres mortales, la acción de una potencia que acepta los contrarios. Lo que hace que la continuidad del movimiento sea difícil para éstos últimos es que la sustancia de los seres mortales es la materia, y que la materia existe sólo en potencia y no en acto. No obstante, ciertos seres sometidos a cambio son, bajo esta relación, una imagen de los seres inmortales; en este caso están el fuego y la tierra. Efectivamente, ellos existen siempre en acto, porque tienen el movimiento por sí mismos y en sí mismos.”

potencias irracionales”

No hay, en los principios, en los seres eternos, ni mal, ni pecado, ni destrucción, porque la destrucción se cuenta también en el número de los males.”

¿Por qué la suma de los tres ángulos de un triángulo equivale a dos rectos? Porque la suma de los ángulos formados alrededor de un mismo punto, sobre una misma línea, es igual a dos ángulos rectos.” “¿Por qué él ángulo inscripto en el semicírculo es invariablemente un ángulo recto? Porque hay igualdad en estas tres líneas: las dos mitades de la base y la recta llevada del centro del círculo al vértice del ángulo opuesto a la base (…) Por lo tanto, es indudable que por medio de la reducción al acto se descubre lo que existe en la potencia; y la causa de esto es que la actualidad es la concepción misma.

Existe el ser según las distintas formas de las categorías; después el ser en potencia o el ser en acto de las categorías; existen los contrarios de estos seres. Pero el ser propiamente dicho es sobre todo lo verdadero; el no-ser, lo falso.” “Todo lo que se dice es verdadero o falso, porque es necesario que se reflexione lo que se dice.”

ser es estar reunido, es ser uno; no-ser es estar separado, ser muchos.”

Lo verdadero es percibir y decir lo que se percibe, y decir no es lo mismo que afirmar. Desconocer es no percibir, porque sólo se puede estar en lo falso accidentalmente cuando se trata de esencias. (…) no hay para el ser en sí producción ni destrucción: sin esto provendría de otro ser.”

Desde una perspectiva, el ser considerado como lo verdadero, y el no-ser como lo falso, significan lo verdadero cuando hay reunión, lo falso cuando no hay reunión. Desde otra, el ser es la existencia determinada, y la existencia indeterminada es el no-ser. En este caso, la verdad es el pensamiento que se tiene de estos seres, y entonces no hay falsedad ni error, no hay más que ignorancia, la cual no se parece al estado del ciego, porque el estado del ciego es igual a no tener absolutamente la facultad de concebir.”

LIBRO DÉCIMO

En en libro de las diferentes acepciones hemos establecido que la unidad se entiende de muchas maneras. Pero estos numerosos modos pueden reducirse en total a 4 principales que comprenden todo lo que es uno primitivamente y en sí y no accidentalmente.” “continuidad o el conjunto” “unidad de pensamiento”

por movimiento primero entiendo el movimiento circular

El pensamiento indivisible es el pensamiento de lo que es indivisible, ya bajo la relación de la forma, ya bajo la relación del número. El ser particular es indivisible numéricamente; lo indivisible bajo la relación de la forma es lo que es indivisible bajo la relación del conocimiento y de la ciencia. Por lo tanto, la unidad primitiva es la misma que es causa de la unidad de las sustancias.”

Son 4 los modos de la unidad: continuidad natural, conjunto, individuo, universal.” “es uno todo ser que tiene en sí uno de estos caracteres de la unidad.”

Fuego y elemento no son idénticos entre sí en la esencia; pero el fuego es un elemento porque indudablemente es un objeto, una determinada naturaleza. Por la palabra elemento se entiende que una cosa es la materia primitiva que constituye otra cosa.”

unidad de longitud, de latitud, de profundidad, de peso, de velocidad. Es que el peso y la velocidad se encuentran simultáneamente en los contrarios, porque ambos son dobles” “En resumen, lo que es lento tiene su velocidad; lo que es ligero tiene su pesantez.”

se llega a considerar el pie como una línea indivisible por la necesidad de encontrar en todos los casos una medida única e indivisible” “Una cosa a la que no se pueda quitar ni agregar nada, esa es la medida exacta. La del número es por lo tanto la más exacta de las medidas: efectivamente, se define la mónada, diciendo que es indivisible en todos sentidos. Las otras medidas no son más que imitaciones de la mónada.”

conoceremos cuál es nuestra talla [estatura] porque se ha aplicado muchas veces la medida del codo [unidade de medida antiga que, dependendo do país, podia ser de uns 38 a 64cm, sendo normalmente uma média ponderada desses valores extremos =~50cm] a nuestro cuerpo. Protágoras pretende que el hombre es la medida de todas las cosas. Por esto entiende indudablemente el hombre que sabe y el hombre que siente; o sea, el hombre que tiene la ciencia y el hombre que tiene el conocimiento sensible.” Interpretação correta.

Nada hay más maravilloso que la opinión de Protágoras, y no obstante su proposición tiene sentido.” O melhor meio-metro da cidade.

PRETO ZERO: “Aceptemos que los seres sean colores; entonces, los seres serían un número, ¿pero qué tipo de número? Indudablemente, un número de colores y la unidad, propiamente dicha, sería una unidad particular, p.ej., lo blanco.” “La unidad sería el triángulo, si los seres fueran figuras rectilíneas.”

se nota que la unidad es en cada género una naturaleza particular, y que la unidad no es básicamente la naturaleza de lo que se quiera; la unidad que es necesario buscar en las esencias es una esencia.” “la pluralidad cae más bien bajo los sentidos que la unidad; lo divisible más bien que lo indivisible; de manera que bajo la relación de la noción sensible la pluralidad es anterior a lo indivisible.” los modos de la unidad son la identidad, la semejanza, la igualdad; los de la pluralidad son la heterogeneidad, la desemejanza, la desigualdad.” “tú eres idéntico a ti mismo bajo la relación de la forma y de la materia.” “las líneas rectas iguales son idénticas. Y asimismo se designan idénticos a cuadriláteros iguales y que tiene sus ángulos iguales, aunque haya pluralidad de objetos: en este caso, la unidad consiste en la igualdad.” “Los seres son semejantes cuando son idénticos en relación con la forma: un cuadrilátero más grande es semejante a un cuadrilátero más pequeño” el estaño se parece más bien a la plata que al oro: el oro se parece al fuego por su color leonado y rojizo.” La diferencia es opuesta a la identidad: tú te distingues de tu vecino.”

No hay negación absoluta de la identidad; indudablemente, se emplea la expresión no-idéntico, pero nunca cuando se trata de lo que no existe” “La heterogeneidad y la diferencia no son lo mismo: lo que se distingue de alguna cosa, se distingue de ella en algún punto”

El género es aquello en lo que son idénticas dos cosas que se distinguen en relación con la esencia. (…) la contrariedad es una especie de diferencia. (…) en todos los contrarios hay diferencia, y no sólo heterogeneidad.” “la contrariedad es la diferencia extrema” “diferencia perfecta” “La diferencia de género es la mayor de todas las diferencias.” “contrariedad primera” “la oposición primera es la contradicción, y no puede haber intermedio entre la afirmación y la negación, mientras que los contrarios aceptan intermedios

Anaxágoras se ha equivocado al decir que todo era igualmente infinito en cantidad y en pequeñez. En lugar de y en pequeñez, debía decir y en pequeño número; y entonces hubiera visto que no había infinidad, porque lo poco no es, como algunos creen, la unidad, sino la díada.”

Es indudable que toda ciencia es un objeto de conocimiento; pero no todo objeto de conocimiento es una ciencia” “supóngase la ciencia un número, y el objeto de la ciencia será la unidad, la medida.” Los opuestos por contradicción no tienen intermedios. Efectivamente, la contradicción es la oposición de dos proposiciones entre las que no hay medio: uno de los dos términos necesariamente está en el objeto.”

LIBRO UNDÉCIMO

La filosofía es una ciencia de principios. Pero podría aparecer esta duda: ¿debe considerarse la filosofía como una sola ciencia o como muchas? Si se responde que es una sola ciencia, una sola ciencia sólo comprende los contrarios, y los principios no son contrarios. Si no es una sola ciencia, ¿cuáles son las diversas ciencias que es necesario aceptar como filosóficas?” “La ciencia comprobatoria es la de los accidentes; la ciencia de los principios es la ciencia de las esencias.” “el motor primero no se encuentra en los seres inmóviles.” En relación con las ideas, es indudable que no existen”

A los seres matemáticos se los convierte en intermedios entre las ideas y los objetos sensibles, formando una tercera especie de seres fuera de las ideas y de los seres sometidos a nuestros sentidos. Pero no hay un tercer hombre, ni un caballo fuera del caballo en sí y de los caballos particulares. Por el contrario, si no tiene esto lugar, ¿de qué seres debe decirse que se ocupan los matemáticos? Indudablemente, no es de los seres que conocemos por los sentidos, porque ninguno de ellos tiene los caracteres de los que investigan las ciencias matemáticas.” “¿a qué ciencia pertenece investigar la materia de los seres matemáticos?” “nuestra ciencia, la filosofía, es la que se ocupa de este estudio.”

En resumen, ¿es necesario aceptar, sí o no, que existe una esencia separada fuera de las sustancias sensibles, o bien que estas últimas son los únicos seres, y ellas el objeto de la filosofía? Indudablemente, nosotros buscamos alguna esencia distinta de los seres sensibles, y nuestro fin es ver si hay algo que exista separado en sí y que no se encuentre en ninguno de los seres sensibles, ¿fuera de qué sustancias sensibles es necesario aceptar que existe?”

siendo el principio el mismo, ¿cómo unos seres son eternos y otros no son eternos? Esto es absurdo.”

CAPÍTULO V – FULCRO DA OBRA

O SER: “es imposible que una misma cosa sea y no sea al mismo tiempo” “No hay comprobación real de este principio y, no obstante, se puede refutar al que lo niegue. Efectivamente, no hay otro principio más cierto que éste, al cual se lo pudiera deducir por el razonamiento, y sería necesario que fuera así para que hubiera realmente comprobación. Pero si se quiere comprobar que comete un error quien pretenda que las proposiciones opuestas son igualmente verdaderas, será necesario tomar un objeto que sea idéntico a sí mismo, que puede ser y no ser el mismo en un solo y mismo momento y, no obstante, el cual, de acuerdo con la teoría, no sea idéntico. Es la única forma de refutar al que pretende que es posible que la afirmación y la negación de una misma cosa sean verdaderas al mismo tiempo.” “Con relación al que dice que tal cosa es y no es, niega lo mismo que afirma, y por lo tanto afirma que la palabra no significa lo que significa. Pero esto es imposible; es imposible, si la expresión tal cosa es tiene un sentido, que la negación de la misma cosa sea verdadera.”

Por no haberse entendido a sí mismo, Heráclito adoptó esta opinión. Aceptemos por un momento que su teoría sea verdadera; en tal caso, su principio mismo no será verdadero: no será cierto que la misma cosa puede ser y no ser al mismo tiempo; porque así como se dice verdad, afirmando y negando separadamente cada una de estas dos cosas, el ser y el no ser; en igual manera, se dice verdad afirmando como una sola proposición, la afirmación y la negación reunidas, y negando esta proposición total, considerada como una sola afirmación. Por último, si no se puede afirmar nada con verdad, se cometerá un error al decir que ninguna afirmación es verdadera. Si puede afirmarse alguna cosa, entonces cae por su propio peso la teoría de los que refutan los principios, y que por lo mismo vienen a suprimir en absoluto toda discusión.”

* * *

Protágoras pretendía que el hombre es la medida de todas las cosas, lo cual quiere decir, simplemente, que todas las cosas son, en realidad, tales como a cada uno le parecen. Si así fuese, se desprendería que la misma cosa es y no es, es a la vez buena y mala, y que todas las demás afirmaciones opuestas son igualmente verdaderas, ya que muchas veces la misma cosa parece buena a éstos, mala a aquéllos, y que lo que a cada uno parece es la medida de las cosas.” “es necesario aceptar que unos son y otros no lo son la medida de las cosas.”

si todo es falso, no se estará en lo verdadero al afirmar que todo es falso; en fin, porque si todo es verdadero, el que diga que todo es falso, no dirá una falsedad.”

la existencia de lo que es al presente arrastrará necesariamente la producción de todo lo que deberá seguirse, y, por lo tanto, todo deviene necesariamente.” “El azar y el pensamiento se refieren al mismo objeto, no habiendo elección sin pensamiento. Pero las causas que producen los efectos atribuidos al azar son indeterminadas” “Aun aceptando que el cielo tiene por causa el azar o un concurso fortuito, habría todavía una causa anterior, la inteligencia y la naturaleza.”

Llamo movimiento a la actualidad de lo posible como posible.” “el movimiento es la actualidad de lo que existe en potencia, cuando la actualidad se manifiesta, no como el ser es, sino como móvil.” “El metal es la estatua en potencia; no obstante, la actualidad del metal como metal no es el movimiento que produce la estatua. La noción del metal no implica la noción de una potencia determinada.” “no hay identidad, como lo prueba el análisis de los contrarios.” La construcción es o la actualidad misma, o la casa. Pero cuando es una casa, la posibilidad de construir ya no existe”

La causa de que el movimiento parezca indefinido es que no se puede reducir ni a la potencia, ni al acto de los seres, porque ni la cantidad en potencia se mueve necesariamente, ni la cantidad en acto.” “el movimiento es una actualidad y no es una actualidad; cosa difícil de comprender, pero que por lo menos es posible.” “el movimiento es la actualidad del objeto móvil producida por el motor.”

El infinito es lo que no se puede recorrer. (…) También existe el infinito por adición o por sustracción, o por adición y sustracción a la vez. § El infinito no puede tener una existencia independiente, ser algo por sí mismo, y al mismo tiempo ser un objeto sensible.”

¿cómo es posible que el infinito exista en sí, cuando el número y la magnitud, de los cuales no es el infinito más que un modo, no existen por sí mismos? Por lo tanto, si el infinito es accidental, no podrá ser, como infinito, el elemento de los seres, así como lo invisible no es el elemento del lenguaje, no obstante la invisibilidad del sonido.” el infinito será o indivisible o divisible, susceptible de ser dividido en infinitos. Pero un gran número de infinitos no puede ser el mismo infinito, porque el infinito sería una parte del infinito como el aire es una parte del aire, si el infinito fuera una esencia y un principio.”

si el todo es homogéneo, o será inmóvil o estará en perpetuo movimiento; pero la última suposición es imposible.” “si hay heterogeneidad en el todo, los lugares están entre sí en la misma relación que las partes que ellos contienen. Por lo pronto, no hay unidad en el cuerpo que constituye el todo, sino unidad por contacto. Entonces, o el número de las especies de cuerpos que lo componen es finito, o es infinito. Es imposible que este número sea finito; sin esto habría cuerpos infinitos, otros que no lo serían, siendo el todo infinito; p.ej., lo sería el fuego o el agua. Pero semejante suposición es la destrucción de los cuerpos finitos. Pero si el número de las especies de cuerpos es infinito, y si son simples, habrá una infinidad de especies de lugares, una infinidad de especies de elementos; esto es imposible” “todo cuerpo sensible está en un lugar. hay seis especies de lugares. En resumen, si es imposible que el lugar sea infinito, es imposible que lo sea el cuerpo mismo.”

En los seres que cambian, el cambio es un tránsito, o de un sujeto a otro sujeto, o de lo que no es sujeto a lo que no es sujeto, o de un sujeto a lo que no es sujeto, o de lo que no es sujeto a un sujeto” “el cambio de lo que no es sujeto no es un verdadero cambio. El tránsito de lo que no es sujeto al estado del sujeto, en cuyo caso hay contradicción, este cambio es la producción” “El cambio de un sujeto en lo que no es sujeto es la destrucción“es imposible que el no-ser esté en movimiento. Por lo tanto, es imposible que la producción sea un movimiento, porque lo que deviene es el no-ser. Indudablemente, sólo accidentalmente es como el no-ser deviene; no obstante, es indudable que el no-ser es el fondo de lo que deviene o llega a ser, en el sentido propio de esta expresión.” “entonces, la misma destrucción no es un movimiento. (…) el contrario de la destrucción es la producción.” “no hay más que un solo cambio verdadero, que es el del sujeto en un sujeto.”

nunca hay movimiento de movimiento, producción de producción ni, en resumen, cambio de cambio.” “si hay cambio de cambio, producción de producción, será necesario ir hasta el infinito.” “No hay primer término en una serie infinita, no habrá primer cambio, ni tampoco cambio que se una al primero; por lo tanto, es imposible que nada devenga, o se mueva, o experimente un cambio. Y luego, el mismo ser experimentaría a la vez los dos movimientos contrarios, el reposo, la producción y la destrucción; de modo que lo que deviniese aún, porque no existe ya, ni en el instante mismo de este devenir, ni después de este devenir, y lo que muere debe existir. A su vez, es necesario que lo que deviene, así como lo que cambia, tenga una materia.”

¿Y cuál sería el fin del movimiento? El movimiento es el tránsito de un sujeto de un estado a otro estado; por lo tanto, el fin del movimiento no debe ser un movimiento. ¿Cómo debería ser un movimiento? La enseñanza no puede tener por fin la enseñanza; no hay producción de producción.

El consiguiente no está en contacto; pero lo que está en contacto es consiguiente. Si hay continuidad, hay contacto; pero si no hay más que contacto, no hay continuidad todavía. Con relación a los seres que no son susceptibles de contacto, no hay conexión. De esto se desprende que el punto no es lo mismo que la mónada, porque los puntos son susceptibles de tocarse, mientras que las mónadas no lo son; no hay con relación a ellas más que la sucesión; finalmente, hay un intermedio entre los puntos; no lo hay entre las mónadas.”

LIBRO DUODÉCIMO

los objetos que no son esenciales no son objetos propriamente dichos, sino cualidades y movimientos” “nada puede tener una existencia separada más que la esencia.”

O ATEMPORAL: Los filósofos de hoy prefieren considerar como esencia los universales, ya que los universales son esos géneros con los que forman los principios y esencias, preocupados como están con el punto de vista lógico [olha quem fala!]. Para los antiguos, la esencia era lo particular; era el fuego, la tierra, y no el cuerpo en general.

Existen tres esencias, dos sensibles, una de ellas inmortal y la otra mortal; no hay duda en relación con ésta última: son las plantas, los animales. En relación con la esencia sensible inmortal, es necesario asegurarse si sólo tiene un elemento o si tiene muchos. La tercera esencia es inmóvil (…) Unos la dividen en dos elementos; otros reducen las ideas y los seres matemáticos a una sola naturaleza” “Las dos esencias sensibles son objeto de la física” “Pero la esencia inmóvil es objeto de una ciencia diferente, ya que no tiene ningún principio que sea común a ella y a las dos primeras.”

Existe, necesariamente, un sujeto que experimenta el cambio del contrario al contrario, porque no son los contrarios mismos los que cambian. A su vez, este sujeto persiste después del cambio, mientras que el contrario no persiste. Por lo tanto, además de los contrarios hay un tercer término, la materia.” “no es siempre accidental el que una cosa provenga del no-ser. Todo proviene del ser; pero indudablemente del ser en potencia, o sea, del no-ser, en acto. Ésta es la unidade de Anaxágoras, porque este término expresa mejor su pensamiento que las palabras: todo estaba confundido; ésta es la mezcla de Empédocles y Anaximandro, y esto es lo que dice Demócrito: todo existía a la vez en potencia, pero no en acto. Estos filósofos tienen alguna idea de lo que es la materia.” “Podría preguntarse de qué no-ser provienen los seres, porque el no-ser tiene tres acepciones. Si hay realmente el ser en potencia, de él es de quien provienen los seres; no de todo ser en potencia, sino tal ser en acto de tal ser en potencia. No alcanza con decir que todas las cosas existían confundidas, porque se distinguen por su materia.” “La inteligencia en este sistema es única” “Por lo tanto, hay tres causas, tres principios: dos constituyen la contrariedad, por un lado, la noción sustancial y la forma, por otro, la privación; el tercer principio es la materia.”

El arte es un principio que reside en un ser diferente del objeto producido; pero la naturaleza reside en el objeto mismo (…) las demás causas, no son más que privaciones de estas dos.”

existen o no existen la casa imaterial y la salud, y todo lo que es producto del arte. Pero no ocurre lo mismo con las cosas naturales. Así, Platón estaba en lo cierto al sostener que no hay más ideas que las de las cosas naturales, si se acepta que puede haber otras ideas que los objetos sensibles”

un hombre engendra un hombre; el individuo engendra el individuo. Lo mismo ocurre en las artes: la medicina es la que contiene la noción de la salud.”

es absurdo aceptar la identidad de principios, porque entonces provendrían de los mismos elementos las relaciones y la esencia.” “Nunca podrá haber identidad entre un elemento y lo que se compone de elementos, entre B o A, p.ej., y BA. Tampoco hay un elemento inteligible, como la unidad o el ser, que pueda ser el elemento universal; éstos son caracteres que pertenecen a todo compuesto. Ni la unidad ni el ser pueden ser esencia ni relación, y no obstante, esto sería necesario.”

Por lo tanto, desde la perspectiva de la similitud, hay 3 elementos y 4 causas o 4 principios y, desde otra perspectiva, hay elementos diferentes para los seres diferentes, y una primera causa motriz también diferente para los diferentes seres.” “ya que en relación con los hombres, productos de la naturaleza, el motor es un hombre (…) se desprende que de una manera hay 3 causas, de la otra 4; porque el arte del médico es en cierto modo la salud; el del arquitecto la forma de la casa, y es un hombre el que engendra un hombre. Finalmente, fuera de estos principios está el primero de todos los seres, el motor de todos los seres.”

el alma o el cuerpo, o bien na inteligencia, el deseo y el cuerpo.” “el hombre tiene por causas los elementos: que son la materia; después su forma; después una causa externa, su padre; y además de estas causas, el sol y el círculo oblicuo” “la actualidad primera, o sea, la forma” “del hombre universal sólo podría salir un hombre universal; pero no hay hombre universal que exista por sí mismo: Peleo es el principio de Aquiles; tu padre es tu principio; esta B es el principio de esta sílaba, BA; las formas son los principios de las esencias.

es imposible que el movimiento haya comenzado o que concluya; el movimiento es eterno; lo mismo es el tiempo, porque si el tiempo no existiese, no habría antes ni después. Además, el movimiento y el tiempo tienen la misma continuidad. Efectivamente, o son idénticos el uno al otro, o el tiempo es un modo del movimiento. No hay más movimiento continuo que el movimiento en el espacio, no todo movimiento en el espacio, sino el movimiento circular.” “es necesario que haya un principio tal que su esencia sea el acto mismo.”

Tampoco son los menstruos ni la tierra los que se fecundarían ai sí mismos; son las semillas, el germen, los que los fecundan.” “algunos filósofos aceptan una acción eterna, como Leucippo y Platón (…) Pero no explican ni el porqué ni la naturaleza, ni el cómo, ni la causa.” “¿cuál es el movimiento primitivo? Esto es una cuestión de alta importancia que ellos tampoco explican.”

A RODA IDIOTA: No hay necesidad de decir que, durante un tiempo indefinido, el caos y la noche existían solos. El mundo de toda eternidad es lo que es (ya tenga regresos periódicos, ya tenga razón otra teoría) si el acto es anterior a la potencia.” “debe de haber un ser cuya acción subsista siendo eternamente la misma.” “Es absolutamente necesario que aquél del que tratamos siempre actúe de acuerdo con el primer principio” “¿Qué necesidad hay de buscar otros principios?” “el primer cielo debe ser eterno.” “es un ser que mueve sin ser movido” “Lo deseable y lo inteligible mueven sin ser movidos, y lo primero deseable es idéntico al primero inteligible. Porque el objeto del deseo es lo que parece bello, y el objeto primero de la voluntad es lo que es bello.”

el cambio primero es el movimiento de traslación” “Así, el motor inmóvil es un ser necesario” “la necesidad, que es la condición del bien” “Sólo por poco tiempo podemos disfrutar de la felicidad perfecta. Él la posee eternamente, lo cual es imposible para nosotros.” “La inteligencia se piensa a sí misma (…) este carácter supuestamente divino de la inteligencia se encuentra en el más alto grado de la inteligencia divina, y la contemplación es el placer supremo y la soberana felicidad.” “la acción de la inteligencia es una vida” “Dios es un animal eterno, perfecto.”

puede decirse que el hombre es anterior al semen, no sin duda el hombre que ha nacido del semen, sino aquél de donde la semilla proviene.”

La teoría de las ideas no proporciona ninguna reflexión que, directamente, se aplique a este problema. Los que aceptan la existencia de aquéllas dicen que las ideas son números, y se expresan sobre los números tanto como si hubiera una infinidad de ellos, tanto como si no fuesen más que diez. ¿Por qué razón reconocen precisamente diez números? No dan ninguna comprobación concluyente para probarlo.”

además del movimiento simples del Universo, movimiento que, como hemos dicho, imprime la esencia primera e inmóvil, observamos que existen también otros movimientos eternos, los de los planetas (porque todo cuerpo esférico es eterno e incapaz de reposo, como hemos comprobado en la Física)” “Efectivamente, la naturaleza de los astros es una esencia eterna” “cuantos tantos planetas hay, otras tantas esencias eternas de su naturaleza debe haber, inmóviles en sí y sin extensión, siendo esto una consecuencia que se desprende de lo que antes hemos dicho.” “Pero cuál es el nº de estos movimientos es lo que debemos preguntar a aquélla de las ciencias matemáticas que más se aproxima a la filosofía; quiero decir, a la astronomía; porque el objeto de la ciencia astronómica es una esencia sensible, es indudable, pero eterna; mientras que las otras ciencias matemáticas no tienen por objeto alguno ninguna esencia real, como lo manifiestan la aritmética y la geometría. § Es indudable hasta para quienes apenas están iniciados en estas materias que hay un nº de movimientos mayor que el de seres en movimiento. Efectivamente, cada uno de los planetas tiene más de un movimiento ¿pero cuál es este nº?”

COMEÇAMOS COM OS TRECHOS ASTROLÓGICOS E ASTRONÔMICOS (QUASE) ININTELIGÍVEIS DA OBRA:

Eudoxio¹ explicaba al movimiento del sol y de la luna aceptando 3 esferas² para cada uno de estos dos astros. La primeira era la de las estrellas fijas³; la seguía el círculo que pasa por medio del Zodíaco4; y la el que está inclinado a todo ancho del Zodíaco.5 El círculo que sigue la 3ª esfera de la luna está más inclinado que el de la 3ª esfera del sol.6 Colocaba el movimiento de cada uno de los planetas en 4 esferas.7 La primeira y la segunda eran las mismas que la 1ª e la 2ª del sol y de la luna,8 porque la esfera de las estrellas fijas imprime el movimiento a todas las esferas, y la esfera que está colocada por debajo de ella, y cuyo movimiento sigue el círculo que pasa por medio del Zodíaco, y el movimiento de la 9 seguía un círculo oblicuo al círculo del medio de la 3ª.10 La 3ª esfera tenía polos particulares para cada planeta; pero los de Venus y de Mercurio eran los mismos.11

¹ Eudoxo de Cnido, discípulo do pitagórico Arquitas; contemporâneo de Platão. Astrônomo, médico e matemático.

² Órbitas ou “céus”, na nomenclatura aristotélica.

³ O céu mais remoto, o horizonte que não se mexe para o observador. De fato, trata-se de deuses, por assim dizer, pois não se mexem, ao contrário do sol e da lua, “deuses inferiores”, na concepção astronômica peripatética.

4 Faixa estrelada do firmamento que contém todas as constelações de estrelas que associamos aos signos. Ao que tudo indica, estrelas muito mais próximas e partícipes do destino humano que as do “primeiro céu”.

5 Céu que ocupa toda a extensão visível do Zodíaco, ou seja, onde as mudanças são mais perceptíveis de acordo com as estações e mudanças de calendário.

6 As órbitas do sol e da lua não são paralelas.

7 Agora o assunto são os planetas, astros esféricos, e portanto “perfeitos e eternos”, porém que possuem diferenças de órbita em relação ao sol e à lua (inclusive no número de órbitas em si).

8 Quanto às primeiras órbitas, entretanto, planetas e sol e lua (que no fim não eram considerados mais do que planetas, também, caso contrário seriam estrelas, ou seja, entes exclusivos do primeiro céu) compartilhavam exatamente o mesmo “circuito”.

9 A diferença de nobreza está em que os planetas possuem um quarto firmamento (quanto mais firmamentos, e quão maior seu número designativo, menos nobre(s)). Eis uma órbita “corrupta” (em termos de matéria e mortalidade) a que não degeneram nem o sol nem a lua, mas sim Vênus, Marte, entre outros.

10 Mesma observação da nota 6: órbitas de planetas e do sol e da lua, e mesmo de planetas entre si, não são paralelas.

11 Desconhecemos por que Mercúrio e Vênus precisam “dividir uma órbita”. Talvez tenha relação com serem os planetas mais próximos da Terra e os mais vulgarmente observáveis (o que é estranho, porque não se menciona Marte). Talvez seja a exposição da adequação supersticiosa que faziam os filósofos até Platão, ainda por demais pitagóricos, e que A. critica: eles possuem uma fixação pelo número 10. Com as estrelas fixas, o sol e lua, sobram poucas órbitas para os planetas restantes, que não poderiam ser superiores ao número mágico 10. Eu mesmo estou ofendendo os deuses, chegando a minha décima-primeira nota explicativa do parágrafo, cof, cof!

Callippo¹ pretendía que era necesario agregar otras 2 esferas al sol y 2 a la luna, si se quería dar cuenta de estos fenómenos, y una a cada uno de los otros planetas.”

¹ Cálipo de Cízico, discípulo de Eudoxo, talvez multiplicando seus erros na tentativa de diminuí-los. Contemporâneo do próprio A. Talvez considerações cabalísticas como a soma de todos os números de órbitas (céus), podendo resultar num número “de bons augúrios”, primo ou mágico, influenciasse astrônomos da Antiguidade a “acrescentar casas” para determinados astros, arbitrariamente. Tudo isso era um nunca ter fim especulativo, como sabe o autor desta Metafísica.

PURO NONSENSE

ya que las esferas en que se mueven los astros son por un lado 8 y por otro 25 (…) habrá entonces para los 2 primeros astros 6 esferas que giran en sentido inverso, y 16 para las 4 siguientes; y el nº total de esferas, de las de movimiento directo y las de movimiento inverso, será de 55. Pero si no se agregan los movimientos de los que hemos tratado al Sol y a la Luna, no habrá en todo más que 47 esferas.

Aceptemos que éste es el nº de las esferas. Entonces habrá un nº igual de esencias y de principios inmóviles y sensibles. Así debe suponerse racionalmente; pero que por precisión haya de aceptarse, esto dejo a otros más hábiles el cuidado de comprobarlo.¹”

¹ Como filósofo mais hábil de sua época, e cônscio de sua superioridade e corretude inigualáveis, A. lança o desafio, apenas como um fecho retórico ou, antes, como carimbo de certificação de que tudo quanto disse anteriormente não passa de especulação inútil pela qual ele perpassa e a qual ele deslinda, não como parte necessária e imprescindível de seu tratado metafísico, mas como gentil concessão aos filosofastros de seu tempo.

es indudable que no hay más que un solo cielo. Si hubiese muchos cielos como hay muchos hombres, el principio de cada uno de ellos sería uno bajo la relación de la forma, pero múltiple con relación al . Todo lo que es múltiple numéricamente tiene materia, porque cuando se trata de muchos seres, no hay otra unidad ni otra identidad entre ellos que la de la noción sustancial, entonces se tiene la noción del hombre en general; pero Sócrates es realmente uno. En relación con la primera esencia, no tiene materia, porque es una entelequia.”

Una tradición proveniente de la más remota antigüedad, y transmitida a la posteridad bajo el velo de la leyenda, nos dice que los astros son los dioses y que la divinidad comprende toda la naturaleza; todo lo demás no es más que una relación fantasiosa, imaginada para persuadir al vulgo y para el servicio de las leyes y de los intereses comunes. Así se da a los dioses la forma humana; se los representa bajo la figura de ciertos animales, y se crean mil invenciones del mismo tipo que se relacionan con estas fábulas.” “Una explicación a la que no le falta verosimilitud es que las diversas artes y la filosofía fueron descubiertas muchas veces y perdidas muchas veces, lo cual es muy probable, y que estas creencias son, por así decirlo, restos de la sabiduría antigua conservados hasta nuestro tiempo.”

Supuestamente la inteligencia es la más divina de las cosas que conocemos. Pero para serlo efectivamente, ¿cuál debe ser su estado habitual? (…) § Si la inteligencia no pensase nada, si fuese como um hombre dormido, ¿dónde estaría su dignidad? Y si piensa, pero su pensamiento depende de otro principio, no siendo entonces su esencia el pensamiento, sino un simple poder de pensar, no puede ser la mejor esencia, porque lo que le da su valor es el pensar.” “o se piensa a sí misma, o piensa algún otro objeto. Y si piensa otro objeto, o es éste siempre el mismo, o cambia. (…) ¿no sería absurdo que tales y cuales cosas fueran objeto del pensamiento? Es indudable que piensa lo más divino y excelente que existe, y que no cambia de objeto, porque cambiar sería pasar de lo mejor a lo peor, sería un movimiento.”

hay cosas que es necesario no ver, más bien que verlas”

I AM THE TABLE: si pensar fuese distinto de ser pensado, ¿cuál de los dos constituiría la excelencia del pensamiento? (…) En las ciencias creadoras la esencia independiente de la materia y la forma determinada, la noción y el pensamiento en las ciencias teóricas, son el objeto mismo de la ciencia. En relación con los seres inmateriales, lo que es pensado no tiene una existencia diferente de lo que piensa; hay con ellos identidad, y el pensamiento es uno con lo que es pensado.”

la inteligencia humana no se apodera siempre sucesivamente del bien, sino que se apodera en un instante indivisible de su bien supremo.”

el bien de un ejército lo constituyen el orden que reina en él y su general, y sobre todo su general: no es el general obra del orden, sino que es el general causa del orden.”

todo está ordenado en vista de una existencia única. Ocurre con el Uni[-]verso lo que con una familia.” “En la misión de cada cosa en el Universo, el principio es su naturaleza misma: quiero decir, que todos los seres necesariamente van separándose los unos de los otros, y todos, en sus diferentes funciones, concurren a la armonía del conjunto.”

Según todos los filósofos, todas las cosas provienen de los contrarios. Todas las cosas, contrarios: o sea, dos términos que están los dos mal utilizados” “La materia prima no es el contrario de nada.” “Suponiendo que pueda ocurrir que la misma cosa exista a la vez en concepto de materia y de principio, y en concepto de causa motriz, siempre resultaría que no habría identidad en su ser. ¿Qué es lo que constituye la amistad? Otro absurdo es el haber considerado la Discordia inmortal, mientras que la Discordia es la esencia misma del mal.” “Si prestamos atención, se notará que todos los que proponen a los contrarios como principios no utilizan los contrarios. ¿Y por qué esto es mortal, aquello inmortal? Ninguno de ellos explica esto”

Los partidarios de las ideas también deben aceptar un principio superior a las ideas, porque ¿de acuerdo con qué ha habido y hay todavía participación de las cosas en las ideas? Y mientras los demás están forzados a aceptar un contrario de la sabiduría y de la ciencia por excelencia, nosotros nos libramos de esta situación, no aceptando contrario en lo que es primero,¹ porque los contrarios tienen una materia y son idénticos en potencia. La ignorancia, por ser el contrario de la ciencia, implicaría un objeto contrario al de la ciencia.”

¹ O gênio, de fato, não tem contrário. É único. O burro é o contrário apenas do filosofastro ou sofista (que vivem no erro). O contrário do gênio é o Não-ser. Mas, desta perspectiva, o contrário do não-ser não pode ser o Ser, que é genérico, mera potência e não ato (atributo do gênio – Sócrates era o homem da pura ação).

si no hay más seres que los sensibles, ya no puede haber principio, ni orden, ni producción, ni armonía celeste, sino sólo una serie infinita de principios, como la que pretenden los teólogos y físicos sin excepción. Pero si se acepta la existencia de las ideas o de los números, no se tendrá la causa de nada; por lo menos no se tendrá la causa del movimiento.”

El mando de muchos no es bueno, alcanza con un solo jefe, como ya lo señaló Homero.”

LIBRO DECIMOTERCERO

Y si por suerte encontrásemos puntos de las teorías que conviniesen con los nuestros, guardémonos de sentir por esto pena alguna. Es para nosotros un motivo de respeto el que sobre determinadas cosas tengan concepciones superiores a las nuestras, y que no sean en otros puntos inferiores a nosotros.” “casi todas las cuestiones que se refieren a este tema ya han sido refutadas en nuestros tratados exotéricos.

Se equivocan quienes pretenden que las ciencias matemáticas no tratan ni de lo bello ni del bien. De lo bello es de lo que principalmente tratan, y lo bello es lo que comprueban. No hay motivos pero indican sus efectos y sus relaciones. ¿El orden, la simetría y la limitación no son las formas más imponentes de lo bello?” “Acabamos de comprobar que los objetos matemáticos son seres, y cómo son seres, en qué concepto no tienen la prioridad, y en cuál son anteriores.”

La teoría de las ideas nació en los que la establecieron como consecuencia de este principio de Heráclito, que aceptaron como verdadero: todas las cosas sensibles están en un flujo perpetuo. De esto principio, se desprende que, si hay ciencia y razón de alguna cosa, debe haber, fuera del mundo sensible, otras naturalezas, naturalezas persistentes; porque no hay ciencia de lo que pasa perpetuamente.” “Sócrates se encerró en la especulación de las virtudes morales, y fue el primero que investigó las definiciones universales de estos objetos.” “Sócrates intentaba no sin motivo establecer la esencia de las cosas. La argumentación regular era el punto al que dirigía sus esfuerzos. Ahora bien, el principio de todo silogismo es la esencia. La dialéctica todavía no tenía un poder bastante fuerte en ese [silogismo?] entonces para razonar sobre los contrarios independientemente de la esencia (…) puede atribuirse a Sócrates el descubrimiento de estos dos principios: la inducción y la definición general. Estos dos principios son el punto de partida de la ciencia. § Sócrates no aceptaba una existencia separada, ni a los universales ni a las definiciones. Los que vinieron después de él¹ las separaron, y dieron a esta clase de seres el nombre de ideas.” “Se encontraron próximamente el caso del hombre que, queriendo contar un pequeño nº de objetos, y persuadido de que no podría conseguirlo, aumentase el nº para mejor contarlos.”

¹ A referência a Platão, mestre de A. e discípulo nº 1 de Sócrates, não poderia ser mais evidente.

Decir que las ideas son ejemplares, y que los demás seres participan de las ideas, es contentarse con palabras vacías de sentido, es formar metáforas poéticas.” Nenhum golpe poderia ferir mais o anti-homérico Platão!

Se dice en el Fedón que las ideas son las causas del ser y del devenir. Entonces, aun cuando hubiese ideas, no habría producción, si no hay una causa motriz.”

LIBRO DECIMOCUARTO

Efectivamente, no hay grande y pequeño, mucho y poco; en resumen, no hay relación que sea básicamente mucho y poco, grande y pequeño; solamente relación. § Una prueba basta para comprobar que la relación no es en manera alguna una sustancia y un ser determinado, y es porque no está sujeta ni al devenir, ni a la destrucción, ni al movimiento.”

Se creyó que todos los seres se reducirían a un solo ser, al ser en sí, si no se solucionaba un problema, si no se salía al encuentro de la argumentación de Parménides: <es imposible que haya en ninguna parte no seres>.” “si se entiende el ser en varios sentidos, el no-ser tiene también varios sentidos” “Se llega hasta pretender que lo falso es esta naturaleza, este no-ser que con el ser produce multiplicidad de los seres. Esta opinión es la que ha obligado a decir que es necesario aceptar desde luego una hipótesis falsa, como los geómetras, que suponen que lo que no es un pie es un pie.” “el no-ser, desde la perspectiva de la pérdida de la existencia, se entiende en tantos sentidos como categorías hay; luego viene el no-ser que significa lo falso, y después el no-ser que es el ser en potencia; de este último es del que provienen los seres. No es del no-hombre

¿cómo el ser es muchos?”

Los antiguos poetas, supuestamente, participaron de esta opinión. Efectivamente, lo que rige, lo que manda, según ellos, no son los primeros seres, no es la Noche, ni el Cielo, ni el Caos, ni el Océano, sino Júpiter. Pero a veces mudan los jefes del mundo, y dicen que la Noche, el Océano, son el principio de las cosas. Aun aquéllos que han mezclado la filosofía con la poesía, y que no encubren siempre su pensamiento bajo el velo de la fábula, p.ej., Ferecides¹, los Magos y algunos otros, dicen que el bien supremo es el principio productor de todos los seres.”

¹ Ferécides de Siro, suposto Sábio da Grécia, contemporâneo, ou quase, portanto, de Tales de Mileto, um dos outros 6 e reputado “fundador da filosofia ocidental” (se bem que há 22 citações como “um dos 7 sábios” e que a historiografia não pôde esclarecer – o que se sabe é que as referências mais confiáveis não apontam Ferécides como um dos 7 sábios consagrados, mas sim discípulo de um). Discípulo de Pítaco e potencial influenciador de Pitágoras, principalmente no que concerne à doutrina da transmigração das almas ou metempsicose. Autor do livro (perdido) de teogonia As cinco cavernas.

el principio, ¿es la unidad o es el bien? Ahora bien, sería extraño si hay un ser primero, eterno, si ante todo se basta a sí mismo, que no sea el bien el que constituye este privilegio, esta independencia.”

ANTE&ANTI-DARWIN: Así, un filósofo ha rehusado reunir en un solo principio la unidad y el bien, porque hubiera sido necesario decir que el principio opuesto, la pluralidad, era el mal, ya que la producción viene de los contrarios.” “Es imposible colocar a la vez el bien entre los principios, y no colocarlo. Entonces, es indudable que los principios, las primeras sustancias, no han sido convenientemente determinados. Tampoco están en lo cierto aquéllos que asimilan los principios del conjunto de las cosas a los de los animales y de las plantas, y que dicen que lo que es más perfecto viene siempre de lo que es indeterminado, imperfecto.”

Es absurdo plantear que los seres matemáticos ocupan el mismo lugar que los sólidos. Cada uno de los seres individuales tiene su lugar particular, y por este motivo se pretende que existen separados con relación al lugar; pero los seres matemáticos no ocupan lugar; y es absurdo sostener que lo ocupan sin aclarar este lugar.”

¿por qué el número será inmortal?” “Indudablemente, los números no son esencias ni causas de la figura.” “un nº de carne, de hueso, esto es lo que es: 3 partes de fuego, 2 de tierra.” “la esencia es la relación mutua de las cantidades que entran en la mezcla: pero esto no es un nº, es la razón misma de la mezcla de los números corporales o cualesquiera otros.”

la discordia es, verdaderamente, la destrucción de la mezcla.”

si todo participa necesariamente del nº, es necesario que muchos seres se hagan idénticos, y que el mismo nº sirva a la vez a muchos seres.” “El Sol tiene cierto nº de movimientos; la Luna igualmente; y como ellos los tiene la vida y desenvolvimiento de cada animal.”

habrá identidad entre el Sol y la Luna. § ¿por qué los números son causas? Hay 7 vocales¹, 7 cuerdas tiene la lira, 7 acordes; las Pléyades son 7; en los 7 primeros años pierdon los animales, salvo las excepciones, los primeros dientes; los Jefes que mandaban delante de Tebas eran 7. ¿Es porque el nº 7 es 7 el haber sido 7 los jefes, y que la Pléyade se compone de 7 estrellas, o bien sería, en relación con los jefes, a causa del nº de las puertas de Tebas, o por otra razón? Éste es el nº de estrellas que atribuimos a la Pléyade; pero sólo contamos 12 en la Osa, mientras que algunos distinguen más. Hay quien dice que xi, psi y dzeta son sonidos dobles, y que, por lo mismo que hay 3 acordes, hay 3 letras dobles; pero aceptada esta hipótesis, habría una gran cantidad de letras dobles.” “Nosotros responderemos que no hay más que 3 disposiciones del órgano de la voz proprias para la emisión de la sigma después de la 1ª consoante de la sílaba. Este es el único motivo de que no haya más que 3 letras dobles, y no porque hay 3 acordes, porque hay más de 3, mientras que no puede haber más de 3 letras dobles.”

¹ Esta nota eu preparei para comentar trecho do Teeteto de Platão, mas reaproveitei aqui, adaptada ao contexto, bastante similar:

Este é o número de vogais na cultura ou língua grega, ou pelo menos na concepção gramatical em vigor na época de Sócrates, Platão e Aristóteles. Usualmente, dizemos, para o Português, haver 5 vogais. Porém, o mais correto seria diferenciar: “A, É, Ê”: aqui temos 3 vogais (fonemas), não somente 2 (“A e E”, como responderiam os vestibulandos ou formalistas). O acento gráfico transforma a pronúncia, pode mudar radicalmente o sentido de um (semi-)homônimo (todos os demais elementos do vocábulo mantidos). Este é um recorte de conhecimento didático aceito e transmitido por Aristóteles nesta sua compilação de “coisas que se apresentam em 7 no universo”. Mas é, como vemos, uma percepção altamente relativa, no espaço e no tempo: nós, lusófonos (ou latinos?), não consideramos a vogal “Ü”. Não significa que temos um alfabeto mais imperfeito que o grego. Já outras culturas não reconhecem o “Ô, tão óbvio para nós (mesmo nações vizinhas não o apresentam na fala nem o “~” por escrito). Noutras culturas, ainda, maioria das ocorrências de “E” se dá numa zona proximal do “I” (ex: dois “E” consecutivos no Inglês). Muitas vezes, os acentos “caem” na ortografia oficial, mas a pronúncia segue inalterada, porque se tornaram redundantes para a média populacional (cfr. inúmeros casos no próprio Português e no Francês). Os gregos ou franceses pré-modernos possuíam sinais gráficos que nós nem mesmo estudamos ou conhecemos na escola, tal qual a vogal “O” ou “I” encimada por uma barra horizontal, indicadora do tempo empregado na pronúncia da palavra (vogal breve ou longa, etc.). Em suma, trata-se de um sistema reputado como verdadeiro neste contexto (há 7 vogais na Grécia, e isso não se contesta).

Las cuerdas intermedias son la una como 9, la otra como 8; entonces el verso heroico es de 17, nº que es la suma de los otros 2 números, apoyándose a la derecha sobre 9 y a la izquierda sobre 8 sílabas. La misma distancia hay entre el alpha y la omega, que entre el agujero [buraco, orifício] más grande de la flauta, el que da la nota más grave, y el pequeño, que da el más agudo; y el mismo nº es el que constituye la armonía completa del cielo.

Es necesario no preocuparse por semejantes pequeñeces. Éstas son relaciones que no deben buscarse ni encontrarse en los seres eternos, ya que ni siquiera es necesario buscarlas en los seres mortales.” Dedicado ao Rev. Renan

ningún ser matemático es causa en ninguno de los sentidos que hemos establecido al tratar de los principios.

No obstante, ellos nos revelan el bien que reside en las cosas, y a la clase de lo bello pertenecen lo impar, no recto, lo igual y ciertas potencias de los números [?]. Hay paridad numérica entre las estaciones del año y tal nº determinado, pero nada más.”

Las relaciones en cuestión se parecen mucho a coincidencias fortuitas: éstas son accidentes; pero estos accidentes pertenecen igualmente a 2 géneros de seres; tienen una unidad, la analogía. Porque en cada categoría hay algo análogo”

Digamos también que los números ideales tampoco pueden ser causas de los acordes de la música: aunque iguales bajo la relación de la especie, se distinguen entre sí porque las mónadas se distinguen unas de otras. De esto se desprende que no se pueden aceptar las ideas.” “Por lo tanto, los despreciables problemas que trae el querer exponer cómo los números producen, y la absoluta imposibilidad de contestar a todas las objeciones, son una prueba concluyente de que los seres matemáticos no existen, como algunos pretenden, separados de los objetos sensibles”

Próxima Leitura em Aristóteles:

Física Vol I

IO

Renan Crente

PARMÊNIDES OU DAS IDÉIAS

Tradução de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.

        Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei que devia tentar esclarecer alguns pontos polêmicos ou obscuros demais quando se tratar de leitor não-familiarizado com a obra platônica. Quando a nota for de Azcárate, haverá um (*) antecedendo as aspas.

(*) “No Parmênides, Antifonte [meio-irmão de Platão] narra o diálogo que, por ocasião das Grandes Pan-Atenéias, tiveram Sócrates, ainda bastante jovem, Parmênides, Zenão de Eléia e Aristóteles [não é, obviamente, o discípulo de Platão]. (…) Este é quiçá o diálogo platônico mais desafiante pela dificuldade na sua interpretação [E pela aridez e monotonia lógico-retórica do texto. Até equação matemática de ensino fundamental com regra de três para determinar porcentagens eu me vi fazendo!]. Nele se avent[ur]a uma crítica consistente à própria Doutrina das Idéias de Platão, crítica que não será rebatida por nenhum personagem no diálogo [Trata-se, basicamente, da antítese d’O Sofista, a tradução de Platão imediatamente anterior neste Seclusão, onde o Estrangeiro refuta Parmênides diante do jovem Teeteto, com a participação, a não ser como ouvinte, de Sócrates, já velho, apenas no princípio no diálogo.].”

(*) “O verdadeiramente Único não é o Um absoluto, exclusivo de tudo o que não é o Mesmo, i.e., o Um-Uno. É, antes, o Ser-Único, que é o que está demonstrado nas segunda e terceira suposições. (…) O uno existe por sobre o universo, mas não fica encerrado, como criam os superficiais eleáticos, pela abstração da unidade em si. (…) esta unidade múltipla é o verdadeiro Deus; e esta multiplicidade una é o verdadeiro mundo.”

(*) “Não se deve confundir o Céfalo de Clazomene (na Jônia) que aparece no Parmênides com o Céfalo de Siracusa que figura n’A República.”

“Parmênides era já um senhor de idade, e seus cabelos na cabeça eram quase inteiramente brancos, sem deixar de ser de nobre e belo aspecto, aparentando ter uns 65 anos. Zenão se aproximava dos seus 40; era bem formado e tinha o semblante agradável.”

“SÓCRATES – Vejo com clareza, Parmênides, que entre Zenão e tu não há somente um forte laço de amizade, senão também o da doutrina; porque ele expõe de forma semelhante a ti, mudando apenas os termos aqui e ali, esforçando-se por nos atordoar e persuadindo-nos de sua singularidade. (…) dizendo um que tudo é um, e o outro que nada é múltiplo, aparentais dizer coisas distintas, quando no fundo são as mesmas, e com este artifício credes enganar-nos.”

“ZENÃO – (…) a hipótese da pluralidade é muito mais ridícula que a da unidade, para quem vê com clareza. Meu amor à discussão fez-me escrever esta obra quando eu era mais jovem; mas como ma roubaram, não me coube a mim julgar se devia expô-la ao público, deixá-la correr nas mãos das gentes. Enganas-te, ó Sócrates, atribuindo este livro à ambição dum velho, quando é a obra de um jovem, amigo da discussão.”

“SÓCRATES – Nada disso; acontece que, assim como a luz, permanecendo una e idêntica, está ao mesmo tempo em muitos lugares diferentes, sem estar separada de si mesma, assim também cada idéia está por sua vez em muitas coisas, e nem por isso deixa de ser uma só e mesma idéia.”

“as idéias são como que modelos que existem na natureza em geral; as demais coisas a elas se assemelham, são cópias suas”

“PARMÊNIDES – Por conseguinte, se Deus tem o domínio perfeito e a ciência perfeita, nem seu poder nos dominará nunca, nem sua ciência nos conhecerá jamais, nem a nós, nem as coisas que nos rodeiam; mas assim como nossa posição não nos dá nenhum poder sobre os deuses, e nossa ciência, nenhum conhecimento do que lhes concerne, pela mesma razão não são os deuses nossos donos, nem conhecem as coisas humanas, por mais que sejam deuses.”

“o poeta diz que, apesar de si mesmo, e jé velho, continua a sofrer sob o jugo do amor. Eu igualmente me tremo ao considerar que, velho como sou, terei ainda de cruzar a nado um sem-fim de discussões.”

“PARMÊNIDES – Se o um é um, não será um todo; e não terá partes.

ARISTÓTELES – Sem dúvida.

PARMÊNIDES – Por conseguinte, não tendo o um parte alguma, não terá nenhum princípio, nem fim, nem meio, porque, ora, estes três não seriam mais do que partes.

ARISTÓTELES – De acordo.”

“PARMÊNIDES – O um é ilimitado, e não tem princípio nem fim.

ARISTÓTELES – Ilimitado o um é.

PARMÊNIDES – O um não tem figura, porque nem é reto, nem redondo.”

“PARMÊNIDES – O um não participa de qualquer classe de movimento; é absolutamente imóvel.”

“PARMÊNIDES – Não subsiste nunca no mesmo lugar.”

“não é fixo, não tem nada de estável.

(…)

Logo, o um, ao que parece, não está nem em repouso nem em movimento.”

“Se o Um fosse o mesmo que o Outro, seria esse Outro, e não ele mesmo

(…)

“Portanto, é impossível que o Um seja outro que não o Outro, e o mesmo que ele mesmo.”

“O um não é mais velho nem mais jovem, nem da mesma idade que ele mesmo, ou que outrem.

(…)

Sendo tal a sua natureza, o um não pode estar no tempo; porque o que está no tempo necessariamente se faz sempre mais velho que ele mesmo.”

“PARMÊNIDES – O um não participa, portanto, de maneira alguma do ser.

ARISTÓTELES – É o que parece.

PARMÊNIDES – Quer dizer que o um não existe?

ARISTÓTELES – É o que parece.”

“PARMÊNIDES – Para uma coisa tal, nome não há, nem discurso, nem ciência, nem sucessão, nem opinião.

ARISTÓTELES – Com certeza é isso que decorre.

PARMÊNIDES – Não pode ser nomeada, nem expressa, nem julgada, nem conhecida, nem há um ser que possa senti-la.”

“PARMÊNIDES – (…) não é correto que há um número infinito, que participa do ser?

ARISTÓTELES – Perfeitamente.

PARMÊNIDES – Se todo número participa do ser, cada parte do número dele participa por igual?

ARISTÓTELES – Temo que sim.

PARMÊNIDES – A existência, doravante, está dividida entre todos os seres, e nenhum ser está privado dela, desde o menor até o maior. Mas esta questão não seria irracional? Porque como poderia faltar a existência a algum ser?”

“PARMÊNIDES – Vejamos: alguma destas partes integra a existência, sem que seja considerada, não obstante, propriamente uma parte?

(…)

O Um está, vê-se, em cada uma das partes do Ser, sem que mesmo a menor delas prescinda d’Ele, bem como a maior, bem como qualquer outra.”

“PARMÊNIDES – O que não está inteiramente em cada parte, diz-se que está dividido; pois o que não o está, não pode estar simultaneamente em todas as divisões do ser, ao menos não sem que esteja dividido.”

“PARMÊNIDES – Me parece que estivemos enganados todo esse tempo, ao dizer que o Ser se dividia numa infinidade de partes; porque o Ser não pode ter mais partes que o Um; aliás, o Ser não pode distinguir-se do Um, nem o Um do Ser. E os dois marcham sempre juntos.”

“PARMÊNIDES – (…) Será o Um limitado enquanto todo, ou bem não estariam as partes contidas no todo?

ARISTÓTELES – Necessariamente.

PARMÊNIDES – Aquilo que contém uma coisa é um limite.

ARISTÓTELES – Sem dúvida.

PARMÊNIDES – Ou seja: o Um é uno e múltiplo ao mesmo tempo, um todo e partes, limitado e ilimitado.

ARISTÓTELES – Não tenho como contestar.”

“PARMÊNIDES – Desta perspectiva, o Um tem sim princípio, meio e fim.”

“PARMÊNIDES – O meio está a uma distância igual dos extremos; se não estivesse, não seria meio.

ARISTÓTELES – Tens toda razão.

PARMÊNIDES – Desta forma, a imagem que concebo do Um é uma forma geométrica, reta ou redonda, ou então uma híbrida de ambas.”

“ora, o Um está em si mesmo.”

“PARMÊNIDES – Se o todo não está em muitas de suas partes, nem em uma sequer, aliás, nem em todas em sua soma, é preciso, necessariamente, que esteja em outra coisa, ou que não esteja em parte alguma.”

“PARMÊNIDES – O Um está em repouso a partir do momento em que está sempre em si mesmo. Porque estando em algo e não saindo deste algo, como sucede estando sempre em si mesmo, estará sempre no mesmo.”

“PARMÊNIDES – E aquilo que está sempre em outra coisa, não é, ao contrário, uma necessidade que não esteja nunca no mesmo? E que, não estando nunca no mesmo, não esteja nunca em repouso? E que, não estando jamais em repouso, esteja por conseguinte em movimento?

ARISTÓTELES – Sem dúvida.”

“PARMÊNIDES – O que é não-Um não é tampouco um número, porque então não poderia ser um não-Um de verdade.”

“PARMÊNIDES – Será que podes pronunciar o mesmo nome várias vezes, ou só uma única vez?

ARISTÓTELES – Muitas vezes, com certeza.

PARMÊNIDES – E pronunciando um nome uma vez, designas assim a coisa que possui esse nome, ao passo que ao pronunciá-la várias vezes deixas de designá-la? Ou será que tanto faz?

ARISTÓTELES – Neste caso, tanto faz, Parmênides, pois sempre designo a coisa nomeada.”

“PARMÊNIDES – O Um será então semelhante e dessemelhante às demais coisas; enquanto Outro, semelhante; enquanto o Mesmo, dessemelhante.”

“PARMÊNIDES – Algo contido em outras coisas, não estaria em contato com elas? Algo contido em si mesmo não pode estar em contato com as demais coisas, mas apenas consigo.

ARISTÓTELES – Exatamente.”

“PARMÊNIDES – Mas aquilo que está em contato com uma coisa, não seria indispensável que fosse consecutivo a esta coisa?

ARISTÓTELES – Sim, necessariamente.

PARMÊNIDES – Portanto, se o Um tem de estar em contato consigo mesmo, decorre que seja subsecutivo a si mesmo, não é?

ARISTÓTELES – Não pode ser de outro jeito.

PARMÊNIDES – Mas para que fosse assim com o Um, ele teria de ser Deus, ocupando, ao mesmo tempo, dois lugares distintos. Mas como o Um é Um, e não Deus, esse pensamento nos repugna.”

“PARMÊNIDES – Se entre duas coisas se encontra uma terceira, que esteja em contato com ambas as primeiras, então seriam três coisas, e não duas. Mas quanto ao número de contatos, seriam apenas 2.

ARISTÓTELES – Sim, vejo-o.

PARMÊNIDES – E cada vez que se acrescenta um, se adiciona um contato, de sorte que o número de contatos é sempre inferior em uma unidade ao das coisas. Porque as coisas desde o princípio superando aos contatos, continuam se excedendo na mesma proporção original; o que é bem simples de se entender, porque sempre temos <+1 coisa> e <+1 contato> nesta conta.

ARISTÓTELES – Inegável.”

“Levando em conta tudo isso, o Um está em contato e não está em contato com as outras coisas e também consigo mesmo.”

“Mas se o Um está em si mesmo, também está rodeado de si mesmo e fora de si mesmo; e desde que rodeia a si mesmo de uma perspectiva, é maior que a si mesmo; e, doutra perspectiva, sendo rodeado por si mesmo, é menor que a si mesmo! O Um é menor e maior que a si mesmo.

ARISTÓTELES – Não vejo como não ser.”

“E ser, que outra coisa é que participar da existência presente; que outra coisa era que uma participação passada; e que outra coisa será que uma participação futura?”

“PARMÊNIDES – Logo, é forçoso que seja mais velho que a si mesmo, marchando contra o tempo.

ARISTÓTELES – Inescapavelmente.”

“Não é mais velho quando chega ao presente, intermediário entre o era e o será? Porque passando de ontem a amanhã não pode saltar sobre o hoje!”

“E se necessariamente aquilo que devém, ou vem a ser, não pode saltar por sobre o presente, a partir de quando entra em contato com ele, o presente, cessa de devir ou vir-a-ser, e é realmente o que devinha.”

“Devo concluir que o Um, que quando toca o presente se faz mais velho e quando se faz mais velho toca o presente, já não se faz mais velho, ao percebermos que não <se faz>, mas sempre <é>.”

“PARMÊNIDES – Mas o presente é inseparável do Um, não importa quanto tempo exista; porque enquanto o Um existe, existe como presente.

ARISTÓTELES – Nunca poderia ser ao contrário.”

“PARMÊNIDES – Entre todas as coisas que levam números, é o Um que antecede a todas. Mas é certo que todas as coisas têm números, se são coisas, e não uma coisa só.

ARISTÓTELES – Aham, com efeito.

PARMÊNIDES – E eu creio, Aristóteles, que o que primeiro se fez, se fez antes; e o que se fez depois, depois. (…) Segue, meu caro, que as demais coisas são mais jovens que o Um; e o Um é mais velho que as outras coisas.

ARISTÓTELES – Não pecas no raciocínio.”

“PARMÊNIDES – Considera que, do princípio ao fim, são partes do todo do Um; de modo que o Um e o todo não vêm a ser por completo senão no final.

ARISTÓTELES – Concedo-te que assim deve ser.

PARMÊNIDES – E o fim é aquilo que acontece por último, e com este o Um, apenas seguindo sua natureza; de tal forma que, se for impossível que o Um fuja de sua natureza eterna, fazendo-se Um ao final, estará em suas entranhas ser o último que devém dentre todas as coisas.

ARISTÓTELES – Bem, Parmênides, não vejo como objetar a isso.

PARMÊNIDES – Logo, o Um é mais jovem que as outras coisas; e as outras coisas são mais velhas que o Um!”

“PARMÊNIDES – (…) Então a menos que o Um nasça de forma anti-natural, não pode devir ou fazer-se, nem antes, nem depois, das outras coisas, senão que ao mesmo tempo. Seguindo este raciocínio, Ele não pode ser mais velho nem mais novo que as outras coisas; nem as outras coisas ser mais velhas ou mais jovens que o Um. Mas se, ao inverso, concluirmos pela linha de raciocínio que primeiro tomamos, o Um será mais velho e mais moço que as outras coisas; e estas, mais anciãs e mais jovens que aquele.

ARISTÓTELES – Não foste menos que perfeito em tua exposição.”

“PARMÊNIDES – (…) Quero saber: sucede o mesmo com o devir que com o ser, ou se comportam de formas diferentes?

ARISTÓTELES – Confesso-te que não sei dizer.

PARMÊNIDES – Mas eu posso, ao menos, dizer o seguinte, quanto a isso: quando uma coisa é mais velha que outra, não pode se fazer mais velha do que já o era quando havia começado a ser, nem alterar essa relação (mudar essa quantidade de diferença de velhice); e idem se uma coisa é mais jovem que outra. Portanto, se, como vimos, a quantidades iguais se somam quantidades desiguais, de tempo ou do que quer que seja, a diferença, daqui em diante, subsiste sempre igual à diferença primeira.

ARISTÓTELES – Te compreendo muito bem.”

“a diferença de idades mantém-se constante”

“PARMÊNIDES – Para que o Um seja mais velho que as outras coisas, é preciso que tenha existido antes que elas, concorda?

ARISTÓTELES – Sim.

PARMÊNIDES – Analisa o problema: se tens duas quantidades originais, tomadas em separado – uma maior, outra menor –, e acrescentas a cada uma delas uma quantidade <x> idêntica; a quantidade maior continuará maior que a quantidade menor numa proporção igual ou numa proporção menor?¹

ARISTÓTELES – Numa proporção menor, creio eu, Parmênides.”

¹ Dado o linguajar difícil, acho oportuno intervir: é mais fácil do que parece ao somente lermos esta questão matemática, porque estamos mais habituados à matemática transformada em notações aritméticas:

Ex: Suporemos que a quantidade maior seja 10. A menor será 1. Assim fica fácil de demonstrar pelo sistema decimal que adota nossa Matemática escolar e vulgar:

 

10 + x        //        1 + x

Se 1 é 10% de 10, “x”, um valor absoluto, um número, é muito mais relevante para 1 do que para 10. Supondo que x fosse, p.ex., 4, tem-se:

 

10 + 4 = 14

Um crescimento de 40%.

 

1 + 4 = 5

Um crescimento de 400% (10x mais que o crescimento progresso). 5 é mais do que quatro décimos de 14, 42%, exatamente(*). Esta porcentagem continuaria subindo, se empregássemos exemplos concretos, até 99,99999…%, conforme a grandeza monumental de ambos os números e a quase irrelevante diferença entre si, dado que este 9, que é constante, seguiria sendo cada vez mais e mais insignificante na comparação…

 

RESPOSTA: Portanto, a diferença agora será menor, proporcionalmente, que antes do acréscimo de “x” a ambos os números. Vemos que Aristóteles, o Velho (posto que veio antes do Aristóteles consagrado na História da Filosofia) tem um raciocínio bem afiado, ao ter respondido rápida e corretamente ao Mestre do Um!

 

(*) Ou, analogamente: 14 é 280% de 5, mas 10 era 1000% de 1, e a porcentagem seguiria caindo até valores infinitesimais!

 

(obs.)

Para quem ainda não “engoliu” a resposta desenvolvida acima:

(substrações)

10 – 1 = 9

14 – 5 = 9

Apesar de isso também ser verdade, 9 é uma quantidade relativamente menos considerável para o número 5 do que o era para o número 1.

 

9 é 90% de 10 e 900% de 1.

Mas 9 é apenas 64,28% de 14 e 180% de 5, conforme regras de 3 abaixo:

 

14 está para 9 assim como                                           5 está para 9 bem como

100 está para “x”                                                          100 está para “x”

14x = 900                                                                    5x = 900

x = 64,…                                                                      x = 180

* * *

 

“PARMÊNIDES – O que nasce depois vai se fazendo mais velho com relação a quem nascera antes, e que é e sempre será mais velho, mas cada vez menos mais velho. Ou seja, o moço se faz cada vez mais velho. Um não cessa de caminhar à juventude enquanto o outro à velhice. Por sua vez, o mais velho se faz sempre mais jovem face ao mais jovem; pois fica parecendo que um anda contra o tempo e o outro a seu favor. O problema é que essa situação jamais cessará de devir, sem um arremate… já que, se houvesse um momento de resolução do conflito, em que cessasse o vir-a-ser, já nada seriam, tanto um como outro.”

“o Um, portanto, tem um nome e uma definição; nomeia-se-o e se o define; e tudo o que convém às coisas desse gênero, ao Um também convém.”

“Há um momento em que o Um participa do Ser e outro em que não participa.”

“PARMÊNIDES – Há um momento em que o Um ingressa no Ser e outro em que ele o abandona? Porque, como seria possível ter tanto como não ter uma mesma coisa, participar e não participar, se não se a pudesse tomar e deixar?

ARISTÓTELES – Só dessa maneira é que seria possível.

PARMÊNIDES – Participar do Ser, não seria o mesmo que <nascer>?

ARISTÓTELES – Imagino que sim.

PARMÊNIDES – Abandoná-lo, não é metáfora para <morrer>?

ARISTÓTELES – Ah, sem dúvida.

PARMÊNIDES – Resulta daí que o Um, invadindo e depois desertando do Ser, nasce e morre.

ARISTÓTELES – Isso é óbvio.”

“não seria possível dizer que, fazendo-se Um, morre-se como múltiplo, e que, fazendo-se múltiplo, morre-se como Um?

(…)

Fazendo-se Um e muitos, não faz parte da coisa dividir-se e reunir-se?

(…)

E quando faz-se semelhante e dessemelhante, quando parece e não parece?”

“PARMÊNIDES – Não há momento possível, em que uma mesma coisa possa estar simultaneamente em movimento e em repouso.

ARISTÓTELES – Ó, não mesmo!

PARMÊNIDES – Mas tudo muda, se transformando.

ARISTÓTELES – Isso também é verdade.”

“PARMÊNIDES – Não ocorre algo estranho, enquanto há a mudança?

ARISTÓTELES – Sim, mas o quê?

PARMÊNIDES – O instante. Porque o instante parece representar com perfeição o ponto em que acontece a mudança, passando-se de uma maneira tal de ser para outra maneira de ser. Uma vez que o repouso é repouso, não há nisso mudança; uma vez que o movimento é movimento, não há nisso mudança, só constância. Mas este algo estranho, não é verdade que está ele entre o repouso e o movimento; como intercessor, sem exatamente pertencer ao tempo?”

“PARMÊNIDES – É assim com toda transformação? Quando o Um escapa do Ser rumo ao Nada, ou incorre ao Devir, vindo do Nada; seria preciso dizer que ocupa um posto-chave entre o movimento e o repouso, que não é Ser nem não-Ser, que não nasce nem morre?

ARISTÓTELES – Ora, me convenceste.”

“a fim de dizer que algo não existe, não é menos necessário conhecer sua natureza; e conhecer sua diferença em relação a outras naturezas.”

“PARMÊNIDES – Mas, voltando ao princípio, digamos o que sucederá se o Um inexiste. Primeiramente, é preciso que haja um conhecimento do Um; porque do contrário não se saberia de quê se estaria falando quando se diz: <se o Um inexistisse>…

ARISTÓTELES – No ponto!”

“O Um não pode existir, se não existe; mas nada impede que participe de muitas coisas”

“o Ser, a fim de possuir perfeitamente o Ser, deve ter o não-Ser do não-Ser.” “o Ser participando do Ser de ser um Ser, e do Ser de ser um não-Ser”

“Necessariamente, o Ser pertence ao Um, se não existe.”

“O Mesmo é um Ser; e o que não existe é impossível que esteja em algum Ser.”

“o Um, que não existe, ao alterar-se, nasce e morre; e ao não se alterar, nem nasce, nem morre.”

“PARMÊNIDES – Se o Um não existe, poderemos dizer o que acontecerá ao Um?

ARISTÓTELES – Eis a questão.

PARMÊNIDES – Quando dizemos <não existe>, queremos indicar outra coisa que não a falta de Ser naquilo, ou dizemos que não existe propriamente?

ARISTÓTELES – Não existe.

PARMÊNIDES – Quando dizemos, d’algo, que algo não existe, dizemos que não existe de uma maneira, mas que existe de outra? Ou bem esta expressão <não existir> significa que o que não existe, não existe de forma alguma, sem que possa participar do Ser?

ARISTÓTELES – Que não existe de forma alguma.”

“PARMÊNIDES – Se disséssemos, resumindo, <se o Um não existe, Nada existe>, não diríamos a verdade?

ARISTÓTELES – Perfeito!”

O SOFISTA OU DO SER

Tradução de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego de Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé onde achei que devia tentar esclarecer alguns pontos polêmicos ou obscuros demais se não analisados no contexto devido (lendo o diálogo integral, p.ex., ou comparando o que se lê n’O Sofista com outras obras de Platão).

SÓCRATES – Perfeitamente, meu querido amigo. Poderia muito bem ser que fosse mais difícil reconhecer essa raça de filósofos que à dos deuses mesmo. Esses homens, que a ignorância representa sob os mais diversos avatares, vão de cidade em cidade (não falo dos falsos filósofos, mas dos verdadeiros professantes da ciência) contemplando tudo em panorama, como que de cima, ou seja, a vida dos seres comuns e inferiores, sendo que alguns os consideram dignos do maior desprezo possível, já outros lhes prestam as maiores honras; aqui se os confunde com políticos, ali são chamados de sofistas, e ainda mais acolá não estão distantes do rótulo da loucura. Quereria saber da boca de nosso estrangeiro, se é que não se sentirá ofendido com a questão, que opinião se tem disso tudo no seu país-natal, e qual é o nome que se lhes dá.”

SÓCRATES – (…) Qual é tua maneira costumeira de discutir? Preferes explicar com a ajuda de longos discursos aquilo que propões demonstrar ou preferes, ao invés, proceder por perguntas e respostas, a exemplo de Parmênides, que ouvi dialogar, sendo eu ainda muito jovenzinho, e ele já um senhor avançado em idade?

ESTRANGEIRO – Se tropeço num interlocutor afável e receptível, dou primazia ao diálogo; mas, em caso contrário, o melhor é falar só.

SÓCRATES – Opta pelo que quiseres para nossa sessão filosófica. Estamos as tuas ordens. Mas, se é que consideras minha opinião, dirige-te a um jovem antes que a mim, por exemplo a nosso querido Teeteto, ou se quiseres a qualquer outro da assembléia, enfim.”

ESTRANGEIRO – Prosseguindo nossas classificações dicotômicas, a arte em que se fere o elemento pescado de maneira oposta à precedente, com o anzol, não na primeira parte do corpo que se apresenta, como é o caso de quando se usam arpões, mas privilegiando a cabeça e a garganta, recolhendo o instrumento de baixo para cima, ao invés de atingir o peixe de cima para baixo, sendo esse o proceder quando se trata de varas ou paus como é que se chama essa subespécie de pesca, meu querido Teeteto?”

ESTRANGEIRO – Quanto à caça dos animais, há subdivisões; uma se realiza no mar, nos rios e lagos;

TEETETO – Muito bem.

ESTRANGEIRO – –a outra modalidade é terrestre, aspirando a grandes e fecundas pradarias, com o intento de capturar ali o que sobrevive de bons alimentos.

TEETETO – Não entendi o que queres dizer.

ESTRANGEIRO – A caça terrestre compreende duas partes notáveis.

TEETETO – Quais são?

ESTRANGEIRO – A caça dos animais domesticados, e a dos animais silvestres.

TEETETO – Mas por um acaso animais domesticados são caçados?

ESTRANGEIRO – Sem dúvida, se é que o homem é um dos animais domesticados existentes. Mas te dou liberdade para pensar doutra forma: ou se diz que inexistem animais domesticados; ou que existem, mas que o homem é um animal selvagem; ou que o homem é realmente domesticado, mas que, ainda assim, conforme teu parecer, não há o que se poderia chamar de caça de homens. Diz-me agora qual desses cenários preferes.

TEETETO – Estou convencido, estrangeiro, de que nós mesmos somos animais domesticados e que há sim caça de homens.

ESTRANGEIRO – Na caça privada, há aquela que reclama uma remuneração ou recompensa utilitária e a que é praticada como passatempo ou antes altruísmo (a caça da conquista).

TEETETO – Não te entendo direito.

ESTRANGEIRO – Não pensaste, no momento em que discorria, na caça dos amantes.

TEETETO – Como é?

ESTRANGEIRO – Os amantes têm o costume de presentear aquele que almejam conquistar (o perseguido).

TEETETO – Ah sim, agora compreendo.”

ESTRANGEIRO – Quanto à caça interesseira de homens (a primeira caça privada enumerada acima, que tem por único objetivo a recompensa material), há uma primeira subdivisão, em que o caçador exerce a atração sobre o caçado por meio de carícias e afagos, ou então com iscas de comida, ou seja, armadilhas bem-planejadas a fim de dominar. O caçador dessa modalidade não exige nada em troca a não ser o próprio prêmio, isto é, a comida obtida, o prazer pelo prazer. Concordas que não falo aqui senão da arte da adulação ou do hedonismo?

TEETETO – A isto nada objeto.

ESTRANGEIRO – Mas a segunda subdivisão, aquela em que o caçador caça outros homens com o mero intuito de ser um educador da virtude, muito embora cobre uma indenização ao final do processo, de que nome é que poderíamos batizá-la?

TEETETO – Não sei de que nome, mas creio haver a necessidade de encontrá-lo.

ESTRANGEIRO – Pensa um pouco e me diz um nome.

TEETETO – A bem avaliar o caso, creio que nos deparamos com a arte dos sofistas. Dando esse nome ao último caçador que descrevemos, creio que fazemos justiça.

ESTRANGEIRO – (…) Destarte, a sofística é a arte de se apropriar, de adquirir, com violência, como se faz com os animais semoventes, terrestres, domesticados, enfim, uma caça à espécie humana, caça privada, que ou busca o salário no consumo do caçado em si, ou via moedas, isto é, um salário pelos seus ensinamentos professorais.1 Graças ao poder enganador da técnica e do conhecimento, este caçador ilustre se apodera dos jovens ricos e considerados distintos.”

1 Gostaria de deixar a tradução neste ponto menos confusa, mas sentiria essa atitude como uma traição ao original. Platão elabora o tema de forma muito mais competente em outros de seus diálogos; este é considerado secundário em sua obra. Aqui, há uma confusão ininterrupta, quase uma indistinção, entre as categorias (dicotomias) encontradas pelo Estrangeiro que visita Atenas – a ponto de muitas vezes nos sentirmos impelidos a trocar uma pela outra, voltar, reler e checar se não estamos confundindo a leitura. Mas a confusão está na própria fala do personagem. Talvez ciente disso é que Platão ponha o discurso na boca deste discursador anônimo ao invés de na de Sócrates, que conduziria o assunto com mais maestria e clareza. Eu diria que tudo que o Estrangeiro profere neste diálogo empalidece (ou será que se convertem em meras sombras?) se compararmos até as Idéias mais parecidas (pun intended) e já manifestadas aqui em germe com a exposição madura dos mesmos conceitos n’A República!

a arte do sofista, sob seu segundo avatar, se nos apresenta como a arte de adquirir pelo comércio; estabelecendo trocas de mercadorias”

ESTRANGEIRO – A luta entre dois inimigos, aquela corpo a corpo, não seria mais próprio denominá-la luta pela força?

TEETETO – Com certeza.

ESTRANGEIRO – A que opõe discurso a discurso, não denominamos essa luta, querido Teeteto, controvérsia, ou terias um nome melhor?

TEETETO – Não, este está apropriado.

ESTRANGEIRO – A controvérsia precisa, por sua vez, ser dividida em duas.

TEETETO – Como o faremos?

ESTRANGEIRO – Quando consiste na exposição de enormes discursos, que contrastam com outros iguais e recai a questão sobre o justo e o injusto, sendo realizada em público, chamá-la-emos controvérsia jurídica.

TEETETO – De acordo.

ESTRANGEIRO – Mas quando se dá entre particulares, e um e outro, a sua vez, é interrompido por perguntas e respostas, não seria mais uma disputa?

TEETETO – Precisamente.”

ESTRANGEIRO – Creio que, no tocante à discussão em que um (ou mais) se lança(m) por prazer e passatempo, deixando à parte seus próprios negócios, e que, devido à imperfeição de estilo, é escutada com tédio pela audiência a essa, creio, devíamos chamar de barraco.

TEETETO – Não há outro nome.

ESTRANGEIRO – Quanto à discussão que se difere desta, ou seja, montada sobre querelas particulares com o lucro em vista, vê se consegues dar tu mesmo um nome.

TEETETO – Respondo tranqüilamente, pois só diviso uma resposta: chegamos ao personagem que é tema de nossos colóquios, caro Estrangeiro, pois isto que descreveste não passa de sofistaria.1

1 Sofística; o registro de mofa me encorajou a mudar para um termo mais pejorativo.

Não creio que a arte da guerra proporcione uma caça mais nobre que a arte de destruir os insetos; pelo contrário, pois, de ordinário, é capaz de inspirar mais frivolidade e orgulho ainda. (…) o objetivo de nosso método é, se ainda não perdi o fio da meada, separar claramente as purificações do espírito de todas as demais.”

ESTRANGEIRO – De todo o precedente, meu querido Teeteto, preciso é concluir pela maior nobreza e prestígio do método de refutação como purificação da alma; quem não é jamais refutado, nem, digamos, um monarca, o magnânimo rei da Pérsia, por exemplo, nunca conserva pura a melhor parte de si mesmo; noutras palavras, é um mal-educado, torpe justamente na matéria em que o homem que aspira à suprema felicidade dever-se-ia mostrar o mais puro e belo do mundo.

ESTRANGEIRO – Separemos, pois, na arte de distinguir ou discernir, a de purificar; na arte de purificar, aquela referente à alma; nesta, o ensino; no ensino, a educação; e na educação, esta arte de refutar as opiniões vãs e a falsa sabedoria, tal como demonstramos em nossa trilha argumentativa. Declaremos, por fim, que não se trata duma arte menos refinada que a sofística.

TEETETO – Sim, declaremo-lo! Porém, confesso que estou perturbado com uma contradição: no meio de tantas formas diversas de distinção e purificação, e ensino e educação, não sei como descobrir o que é sofisma e o que não é.”

o provérbio é exato: não é simples percorrer todas as avenidas¹.”

¹ Alternativas: não é simples pôr-se no lugar do outro; não é fácil tomar todas as perspectivas num relance só; não é tarefa fácil suprimir os próprios pontos cegos; o mais difícil ofício é o de antropólogo e crítico imparcial; o mais raro e complicado é encontrarmos um homem capaz de ser perfeitamente justo.

ESTRANGEIRO – Eu te pergunto o seguinte: é possível que um homem saiba tudo?

TEETETO – Fala da nossa espécie, caro Estrangeiro?! Ah, se fosse possível seríamos uns abençoados!

ESTRANGEIRO – Se alguém se cresse capaz de fazer-nos, a ti e a mim, e de fazer todos os demais seres vivos…

TEETETO – Qual teu conceito de <fazer>? Aqui com certeza não citas um lavrador, porque falas de um homem que faz animais…

ESTRANGEIRO – Não tenhas dúvida, Teeteto, e assim o mar, como a terra, o céu, os deuses e tudo o mais; e suponho ainda que, depois de ter feito todas estas coisas num abrir e fechar de olhos as venderia por um preço ínfimo!

TEETETO – Ahh, Estrangeiro, estás a mangar!”

Parecer e assemelhar-se sem ser; falar sem dizer nada verdadeiro; são coisas contraditórias, e sempre foram.”

ESTRANGEIRO – Podemos associar ao não-ser algum número, ou a pluralidade ou a unidade em si?

TEETETO – Seria proceder bastante mal, tendo em conta nosso uso da razão.”

ESTRANGEIRO – Para ti, o que é o verdadeiro? Seria <o que existe realmente>?

TEETETO – Acertaste.

ESTRANGEIRO – E então, com base nisso, o que não é verdadeiro, é o oposto do que é?

TEETETO – Ora, claro.

ESTRANGEIRO – Portanto, como disseste, o que parece ser, não é realmente, uma vez que não é verdadeiro; mas como explicar então que exista??”

ESTRANGEIRO – Veja, o que chamamos <imagem> não seria um não-ser?

TEETETO – Me parece que neste caso se trata de uma espécie de mescla entre o ser e o não-ser; estranhamente, confundo-os numa mesma coisa, o que é até absurdo!

ESTRANGEIRO – Sim, sim, absurdo! Percebeste como, de pergunta em pergunta, o sofista, dentre as 100 cabeças¹, nos obrigou, finalmente, a escolher uma, ainda que a contragosto? Está provado, pois, que o não-ser, quer queira, quer não, existe!

¹ Outra versão, mais compreensiva: “Percorremos todas as veredas que imaginávamos possíveis, e ainda assim o que encontramos ao final foi o sorriso condescendente do sofista, que parece já ter trilhado todas estas sendas; parece ser impossível escapar dessa quimera. Fomos dominados! Se nem a negação de todo ponto de vista deixa de ser freqüentada e antecipada por nosso rival, como havemos de sair dessa emboscada?”

ESTRANGEIRO – Vou pedir-te um segundo favor.

TEETETO – E qual é?

ESTRAMGEIRO – Que não me consideres nenhuma espécie de parricida.

TEETETO – Mas o que tem isso a ver?

ESTRANGEIRO1 – Para nos defender neste impasse, nos vemos na obrigação de submeter o sistema de nosso mestre Parmênides a um exame severo, provando, ao acuá-lo contra a parede, para o nosso bem, que, sob certos ângulos, o não-ser é, e que sob certos ângulos o próprio ser não é.

1 Mais uma vez creio ter palpitado certo: Platão, discípulo de Sócrates, discípulo de Parmênides, não ousaria proferir da própria boca esse “ensaio de refutação” do “próprio mestre”. Em outras palavras, o Platonismo não sairia incólume de uma crítica abertamente devastadora da doutrina do Um e do Mesmo. Alternativamente, poderíamos pensar que é mais uma questão de epistemologia do que de guardar respeito:

P. X P.

Parmênides estava tão à frente de seu tempo que nem Platão o compreendeu!”

          Mas eu pessoalmente não acredito nesta hipótese! Isto é, já acreditei, mas de tanto reler Platão creio que mudei de idéia sobre o caso…

Se não começarmos por refutar ou confirmar o sistema de Parmênides, nada poderíamos discorrer sobre os falsos discursos, nem a opinião, nem as ficções, nem as imagens, nem as imitações, nem as artes a que se ligam todos estes temas; isto é: ao menos, sem nos prestarmos ao ridículo, tendo em vista os tombos que já levamos em nossas primeiras tentativas. Pois era inevitável, sem este exame apropriado!”

Todos parecem não nos recitar senão uma fábula, como se fôramos criancinhas. Segundo um deles, os seres são 3 em número; os quais tanto podem guerrear quanto ser amigos, se casar, procriar e alimentar sua prole. Segundo um segundo, não há mais que 2, o seco e o molhado, o quente e o frio, que, embora distintos e polarizados, aliás, por isso mesmo, se unem e estabelecem relação. Nossa escola de Eléia, desde os tempos de Xenófanes, e até antes, refere outras tantas fábulas. São capazes até de nos apresentar o universo como sendo Um só Ser!

ESTRANGEIRO – Considerando o nome como diferente da coisa, já aí temos duas coisas.

(…)

Ou bem, se se considera nome e coisa como idênticos, ainda é preciso reconhecer, como conseqüência, que o nome é redundante, nada nomeia; ou, querendo-se que realmente nomeie algo, resulta dessa disposição que o nome só pode ser o nome de um nome, e nada mais, o que não resolve o problema.”

ESTRANGEIRO – Eis aqui como o universo não se resume a um só princípio, pois o todo e o ser possuem naturezas distintas.

TEETETO – É verdade.

ESTRANGEIRO – E se o todo não existe, o mesmo terá de suceder com o ser, e não só ele não existirá, senão que não poderia existir jamais.”

Fazendo grosseira acepção das pedras e das árvores, afirmam que só existe aquilo que está submetido ao tato e aos demais sentidos; confundem, ao definir os objetos, corpo e saber; e se outro filósofo se atreve a corrigi-los, relatando a existência da alma (seres sem corpo), não só se recusam a ouvi-lo como o desdenham.¹”

¹ Acerba referência a três dos precursores de Sócrates: Anaximandro de Jônia; e Leucipo e Demócrito, ambos representantes do Atomismo.

          No fim, o diálogo é antes de tudo uma pesada crítica a gerações de pré-parmenidianos cheios de teses confusas ou de pós-parmenidianos que não souberam interpretar o Mestre.

Quanto aos corpos e a essa pretensa realidade, única realidade para esses filósofos, reduzem-nos a pó com seus argumentos, e no lugar da existência só admitem o moto perpétuo que a ela aspira, sem jamais alcançá-la.”

Defino o ser alegando que não é mais, nem menos, que a força.”

TEETETO – Parece, com efeito, que declaramos que o ser é um terceiro princípio, ao dizermos <tanto o movimento quanto o repouso existem>.

ESTRANGEIRO – Logo, o ser não é o movimento nem o repouso, considerados em conjunto; é um princípio diferente.”

no homem vulgar, os olhos da alma são demasiadamente débeis para se poderem fixar por muito tempo nas coisas divinas.”

ESTRANGEIRO – Poderemos, a seguir, empreender esforços a fim de formar uma idéia ainda mais clara do filósofo, se nossa vontade caprichosa ou algum azar nos levarem realmente a fazê-lo”

ESTRANGEIRO – Está claro, portanto, que o movimento é ilusório e não existe de fato, e que, por outro lado, existe sim, afinal ele participa do ser.

(…)

O não-ser, portanto, se encontra necessariamente no movimento e em todos os gêneros.”

a partícula <não>, ou negativa, serve apenas para expressar algo que difere dos nomes que se seguem a ela, nomes que também chamaríamos de coisas, pois os nomes foram feitos para se referir a elas (as coisas).”

Como o grande é grande e o belo é belo; como o não-grande é não-grande e o não-belo é não-belo; não acabamos de dizer, e não continuamos a dizer, que o não-ser é não-ser, e que ocupa seu lugar e seu ranking entre os seres, sendo uma de duas espécies diferentes de coisas?”

NAÏVETÉ?

ESTRANGEIRO – E em todo este nosso percurso dialético deixamos para trás o legado de Parmênides, do qual nos encontramos, já, tão distantes!

TEETETO – Confesso que não entendo!

ESTRANGEIRO – É que levamos nossas indagações e nossas demonstrações muito além dos limites que ele havia prefixado em sua época.

faz-se necessário estudar a natureza do discurso, do juízo e da imaginação, a fim de, conhecendo-os melhor, podermos constatar o que há de comum entre estas coisas e o não-ser”

ESTRANGEIRO – (…) Há, com efeito, duas espécies de signos que representam, vocàlicamente, o que existe.

TEETETO – Não entendo!

ESTRANGEIRO – Aquilo que chamamos <nomes>1 e também os <verbos>.”

1 Substantivos (verbos cristalizados). As outras classes gramaticais da Gramática Moderna (adjetivos, advérbios,…) não têm importância para o estudo lingüístico antigo. O Ser (ser e não-ser) só pode radicar na coisa, e verbos e nomes, neste cenário, são o suficiente para designar todas as coisas.

ESTRANGEIRO – Digo-te, Teeteto, que o juízo é: a faculdade da alma chegar a uma afirmação ou negação definitiva, após deliberar, em silêncio, acerca d’algo.

TEETETO – Muito bem.

ESTRANGEIRO – Mas quando esta maneira de ser é produzida mais pela sensação que pelo pensar em si, que nome lhe caberia melhor que o de imaginação?

TEETETO – Nenhum.”

TEETETO OU DA NATUREZA DO SABER OU DO CONHECIMENTO – Ou: Acerca da noção de sílaba e sobre narizes achatados

Tradução de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego de Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.

TERPSIÃO – (…) Não podíamos vê-la agora [o registro escrito de um diálogo entre Sócrates e o jovem Teeteto, mediados ainda pelo experiente Teodoro]? Como venho do campo, tenho absolutamente necessidade de descanso.

EUCLIDES – Como acompanhei Teeteto até o Erineon [em Dorida, célebre por seu oráculo], também necessito. Vamos, então, e um escravo nos lerá enquanto nós repousamos.”

TEODORO – (…) Se fosse bonito temeria falar dele, para que não te imaginasses que eu me deixava arrastar pela paixão; mas, seja dito sem te ofender, longe de ser bonito, se parece contigo, e tem, como tu, o nariz achatado e uns olhos que saem das órbitas, conquanto não tanto quanto os seus.¹ (…) Com efeito, a uma penetração de espírito pouco comum, une a doçura singular de seu caráter, e é sobretudo valente como ninguém, coisa que não cria possível, e que não encontro alhures. Porque os que têm como ele muita vivacidade, penetração e memória, são de ordinário inclinados à cólera, deixam-se levar pra lá e pra cá, semelhantes a um navio sem lastro, e são naturalmente mais fogosos que valentes. Ao contrário, aqueles que têm mais consistência no caráter, levam ao estudo das ciências um espírito entorpecido, e não têm nada. Mas Teeteto anda nas trilhas das ciências e dos estudos com passo tão fácil, tão firme e tão lépido, e com uma fluidez comparável ao azeite, que corre sem ruído, que não me canso de admirá-lo e estou assombrado de que em sua idade já tenha feito tão grandes progressos.”

¹ A feiúra de Sócrates, que não deveria ser objeto do estudo filosófico do autor, é um dos assuntos favoritos dos comentadores. Do ângulo da teoria do conhecimento, teria sido impossível um homem formoso formular sua bela teoria das Idéias, continuada por Platão? Aquele que sumamente não agrada à vista, à aparência, sendo o mais conhecido defensor da essência oculta não deixa de ser socraticamente irônico, ou ironicamente socrático… Ao fazer seu próprio retrato – ou o aluno fazendo o do mestre – de forma inusitada, também é inaugurada a filosofia que conta consigo próprio, que não se ignora como ponto de partida das afirmações sobre o conhecimento, inserindo-se como ridículo na maior parte das vezes; seja para engrandecer a autoridade de seu discurso, seja simplesmente para se humanizar, se desarmar da pedanteria do sábio. Alcibíades, ao contrário, é o protótipo do galã grego, e no entanto é um cabeça-de-vento. O mais curioso, para a filosofia pós-socrática, é que Aristóteles cita preferentemente, quando necessita ilustrar seus conceitos, Sócrates e seu nariz achatado, recursivamente. Sócrates é animal, bípede e homem. Achatado não é necessariamente um nariz, é um atributo, não tem substância fixa; nem todos os narizes são achatados; nem todos os homens são Sócrates. Mas incidentalmente Sócrates é um homem que possui um nariz e ele é achatado.

SÓCRATES – Conheço-o; é o filho de Eufrônio de Súnion; nasceu de um pai, meu querido amigo, que é tal como acabas de pintar o filho mesmo; que gozou ademais de uma grande consideração, e deixou, a sua morte, uma considerável herança. Mas não sei o nome deste jovem.

TEODORO – Chama-se Teeteto, Sócrates. Seus tutores, pelo que parece, dissiparam algum tanto seu patrimônio, mas ele se conduziu com um desinteresse admirável.”

SÓCRATES – Sim, Teeteto, vem, para que ao mirar-te veja minha figura, que, segundo diz Teodoro, se parece com a tua. Mas se um e outro tivéssemos uma lira, e aquele nos dissesse que eram uníssonas, crer-lhe-íamos de pronto, ou examinaríamos antes se era músico?

TEETETO – Examiná-lo-íamos antes.

SÓCRATES – E se chegássemos a descobrir que é músico, daríamos fé a seu discurso; mas se não sabe música, não creríamos nele.

TEETETO – Sem dúvida.”

SÓCRATES – (…) Não é um sábio nas coisas que se sabem?

TEETETO – Sem dúvida.

SÓCRATES – Por conseguinte, o saber e a ciência são uma mesma coisa?

TEETETO – Sim.”

A juventude é suscetível de progresso em todas as direções.”

SÓCRATES – Pois bem, pobre inocente, nunca ouviste falar que eu sou filho de Fenarete, parteira muito hábil e de muita fama?

TEETETO – Sim, já o ouvi.

SÓCRATES – E não ouviste também que eu exerço a mesma profissão?

TEETETO – Não.”

SÓCRATES – (…) mas dizem que sou um homem extravagante, e que não tenho outro talento que o de afundar todo mundo em toda classe de dúvidas. Nunca ouviu dizerem?

TEETETO – Já.

(…)

SÓCRATES – Concentra-te no que concerne às parteiras, e compreenderás melhor o que quero dizer. Já sabes que nenhuma delas, enquanto pode conceber e ter filhos, se ocupa de fazer parirem as demais mulheres, e que não exercem este ofício, a menos que já não sejam suscetíveis da gravidez. Diz-se que Ártemis dispôs assim as coisas porque preside os partos, e todos sabemos que ela não é mãe. Não quis dar a mulheres estéreis o emprego de parteiras, porque a natureza humana é demasiado débil para exercer uma arte da que não se tem nenhuma experiência, e encomendou este cuidado àquelas que passaram através da idade da concepção, honrando assim a semelhança que têm com ela [a concepção? a experiência? a própria deusa?].” Só mediante muitos e calejados anos o ser humano pode se equiparar a um deus virgem em sabedoria reprodutiva. Afinal, imortalidade implica fertilidade. Sexuada ou não.

SÓCRATES – Ademais, por meio de certas beberagens e encantamentos sabem apressar o momento do parto e amortizar as dores, quando desejam; fazem parir as que têm dificuldades menstruais, e facilitam o aborto, se se julga necessário, quando o feto é prematuro.

TEETETO – Decerto.

SÓCRATES – Nunca observaste outra de suas habilidades, que consiste em serem muito entendidas em arranjar casamentos, uma vez que distinguem perfeitamente que homem e que mulher se devem unir, a fim de gerar filhos robustos?

TEETETO – Disso eu não sabia.

SÓCRATES – Pois bem, tem por certo que são elas mais orgulhosas dessa última qualidade que de sua destreza para cortar o umbigo. É só meditar um pouco.”

SÓCRATES – Tal vem a ser, então, o ofício das parteiras ou matronas, que é muito inferior ao meu. De fato, essas mulheres não têm que dar à luz quimeras ou coisas imaginárias como se fossem seres verdadeiros, o que não é tão fácil distinguir, e se as matronas tivessem o discernimento do verdadeiro e do falso nesta matéria, seria esta a parte mais bela e importante de sua arte. Não crês?

TEETETO – Sim.”

eu tenho em comum com as parteiras ser estéril quanto à sabedoria [Mas já soube um dia? Já pariu idéias?], e quanto àquilo de que muitos me acusam, de que passo o dia interrogando os outros, sem nada responder quando me interrogam, porque eu nada sei, confesso que eles têm razão. (…) O deus me impõe o dever de ajudar os demais a parir, e ao mesmo tempo não permite que eu mesmo produza nada.” “eles nada aprenderam de mim, tendo encontrado em si mesmos os numerosos e belos conhecimentos que adquiriram”

Não podem se convencer de que eu nada faço que não seja por afeição a eles, e estão longe de saber que nenhuma divindade quer mal aos homens, e que eu não obro assim porque lhes tenha qualquer má vontade, mas porque não me é permitido de maneira alguma conceder veracidade ao falso, nem deixar a verdade oculta.”

SÓCRATES – (…) O homem, diz Protágoras, é a medida de todas as coisas, da existência das que existem, e da não-existência das que não existem. Tu com certeza leste sua obra.

TEETETO – Sim, e mais de uma vez.

SÓCRATES – Não é teu parecer que as coisas são, com relação a mim, tais quais me parecem, e com relação a ti, tais como a ti te parecem? Porque somos homens, tu e eu.

TEETETO – É o que Protágoras diz, efetivamente.

(…)

SÓCRATES – Diremos então que o vento tomado em si mesmo é frio ou não é frio? Ou bem teremos que seguir Protágoras, dizendo que é frio para aquele que sente frio, e que não seja para um outro? (…) Parecer não é, a respeito de nós mesmos, a mesma coisa que sentir?

TEETETO – Sem dúvida.

(…)

SÓCRATES – Logo a sensação, enquanto ciência, tem sempre um objeto real e não é suscetível de erro.

a coisa alguma se lhe pode atribuir com razão denominação nem qualidade alguma; pois se se chama grande a uma coisa, ela parecerá pequena; se pesada, parecerá leve, e assim com todo o demais; porque nada é uno, nem igual, nem de uma qualidade fixa, senão que dependemos da translação, do movimento e de sua mescla recíproca para decidirmo-nos das coisas que existem. Servimo-nos, então, de uma expressão imprópria, porque nada existe; tudo devém. Os sábios todos, menos Parmênides, convieram neste ponto, inclusive Protágoras, Heráclito, Empédocles; os mais excelentes poetas dos mais díspares gêneros poéticos, Epicarmo na comédia, Homero na tragédia, quando diz:

O Oceano, pai dos deuses e Tétis sua mãe,

com o que dá a entender que todas as coisas são produzidas pelo fluxo e o movimento. Não julgas que é isto o que quisera dizer?

TEETETO – Sim.”

nada existe que seja uno, tomado em si. Assim, o preto, o branco e qualquer outra cor nos parecerão formados pela aplicação dos olhos a um movimento conveniente e o que dizemos que é tal cor não será o órgão aplicado, nem a coisa a que se aplica, senão um <não-sei-quê> intermediário e peculiar de cada um de nós.” “Não afirmarias antes que nada se te apresenta sob o mesmo aspecto, porque nunca és semelhante a ti mesmo?”

O desassossego é um sentimento próprio do filósofo, e o primeiro que disse que Íris (o conhecimento) era filha de Taumas (o assombro), não explicou mal a genealogia.”

Igualmente, o objeto, concorrendo com o olho à produção da cor, se vê empapado na brancura; e se faz, não brancura, mas branco, seja madeira, pedra ou qualquer outra coisa que receba essa tintura. (…) nada disso é uma realidade em si, como dizíamos antes, pois todas as coisas se engendram em meio a uma diversidade prodigiosa através de seu contato mútuo, que é um resultado do movimento. Com efeito, é impossível, dizem, se representar de uma maneira fixa um ser em si sob a qualidade de agente ou de paciente; porque nada é agente antes de sua união com o que é paciente, nem paciente antes de sua união com o que é agente”

é preciso suprimir absolutamente a palavra ser. É certo que muitas vezes, e agora mesmo, nos vimos forçados a usar esta palavra por hábito e como resultado de nossa ignorância; mas o parecer dos sábios é que não se deve usar, nem dizer, falando de mim ou de qualquer outro, que eu sou alguma coisa, isto ou aquilo, nem empregar nenhum outro termo que signifique um estado de consistência, e que, para se expressar segundo a natureza, deve-se dizer que as coisas se engendram, se fazem, perecem e se alteram sem passar daqui”

SÓCRATES – Diz-me de novo, se te agrada a opinião de que nem o bom, nem o belo, nem nenhum dos objetos de que acabamos de fazer menção, estão em estado de existência, senão que estão sempre em vias de geração.

TEETETO – Quando te ouvi dar a explicação, pareceu-me perfeitamente fundada, e estou persuadido de que se deve crer que as coisas são como tu explicaste.”

O que ouviste, creio eu, muitas vezes dos que não exigem provas de se neste momento dormimos, sendo nossos pensamentos outros tantos sonhos, ou se estamos despertos e conversamos realmente juntos.”

quando, sonhando, cremos contar como foi nosso sonho, é singular a semelhança com o que se passa no estado de vigília.”

mas, diga-se de uma coisa que existe, ou então que devém, é preciso dizer que é sempre a causa de alguma coisa, ou lastra a alguma coisa; e que não se diga, nem se consinta que se diga, que existe ou se faz coisa alguma em si e por si.”

SÓCRATES – Posto que não me engano, nem me extravio, no juízo que formo sobre o que existe ou devém, como posso me ver privado da ciência dos objetos, cuja sensação experimento?

TEETETO – Isso não é possível.

SÓCRATES – Assim, tu bem definiste a ciência, dizendo que não é mais que a sensação; e sustente-se com Homero, Heráclito e os demais, que pensam como eles, que tudo está em movimento e fluxo contínuo; sustente-se com o mui sábio Protágoras que o homem é a medida de todas as coisas; sustente-se com Teeteto, que, sendo isto assim, a sensação é a ciência, todas estas opiniões significam no fundo a mesma coisa.”

anfidromia (etim. “corrida” + “ao redor”): (*) “Ao quinto dia de vida do bebê levavam-no ao altar; ali davam-lhe nome e consagravam-no aos deuses Penates.”

Muito me surpreende que ao princípio de sua Verdade¹ ele não tenha dito que o porco, o cinocéfalo² ou outro animal mais ridículo ainda, capaz de sensação, são a medida de todas as coisas. Esta teria sido uma introdução magnífica e de fato ofensiva a nossa espécie, com a qual ele nos teria feito conhecer que, enquanto que nós o admiramos como um deus por sua sabedoria, ele não supera em inteligência, não digo nem a outro homem, mas sequer a um girino.”

¹ Título do livro de Protágoras tão citado por Sócrates neste Teeteto e em toda sua obra em geral. Infelizmente só nos restam poucos fragmentos. A melhor fonte de consulta segue sendo o filósofo antigo e exegeta Diógenes Laércio, mas já de sua época sua obra “Verdade” como volume e fonte de consulta completos tinha desaparecido.

² Criatura fabulosa, com corpo de homem e cabeça de cão, comum em representações das mitologias grega e egípcia.

SÓCRATES – Não seria assim, meu querido amigo, se o pai do primeiro sistema ainda vivesse, porque o sustentaria com energia. Hoje, que este sistema está órfão, insultamo-lo tanto mais quanto os tutores que Protágoras deixou, um dos quais é Teodoro, se recusam a patrociná-lo, e vejo claramente que, por interesse da justiça, estamos obrigados a sair em sua defesa.

TEODORO – Não sou eu, Sócrates, o tutor das opiniões de Protágoras, mas muito mais Cálias filho de Hipônico. Com respeito a mim, troquei de há muito estas matérias abstratas pelo estudo da geometria.”

Como? E não estaria Teeteto em muito melhor disposição para discutir que muitos homens barbudos?”

Não é fácil, Sócrates, quando alguém está sentado perto de ti, poder evitar o responder-te, e me equivoquei antes quando disse que me permitirias não despojar-me de minhas vestes, e que não me obrigarias, neste conceito, a lutar como fazem os lacedemônios.” “É preciso sofrer o destino que me preparas, e consentir de boa vontade em me ver refutado.”

Em segundo lugar, eis o mais gracioso. Protágoras, reconhecendo que o que parece a cada um é o verdadeiro, concede que a opinião dos que contradizem a sua, e a causa dos que crêem que ele se engana, é verdadeira.” “Logo, como a verdade de Protágoras é combatida pelo mundo inteiro, não é verdadeira para ninguém, nem para ele mesmo.”

com respeito ao justo e ao injusto, ao santo e ao ímpio, seus partidários asseguram que nada de tudo isto tem por sua natureza uma essência que lhe seja própria, e que a opinião, que toda uma cidade conceba, faz-se verdadeira por este fato singular e somente pelo tempo que dure. (…) Porém, Teodoro, um discurso sucede a outro discurso, e um mais importante a outro que o é menos.”

passam da adolescência à idade madura com um espírito inteiramente corrompido, imaginando-se com isto ter adquirido muita habilidade e sabedoria.”

Os verdadeiros filósofos ignoram desde sua juventude o caminho que conduz à praça pública. Os tribunais, onde se administra justiça, a paragem onde se reúne o senado, e os sítios onde se reúnem as assembléias populares lhes são desconhecidos. (…) e com referência às diversões com os tocadores de flauta, não lhes vêm ao pensamento acorrer a elas, nem em sonhos. Nasce um de alto ou baixo nascimento na cidade, sucede a alguém uma desgraça pela má conduta de seus antepassados, varões ou fêmeas, e o filósofo não demonstra mais ciência destes fatos que do número de gotas d’água que há no mar. Nem sabe ele mesmo que ignora tudo isso, porque se se abstém de se inteirar de tudo, não é por vaidade, senão que, para dizer a verdade, é porque está presente na cidade só de corpo. Quanto a sua alma, considerando todos estes objetos indignos, e não fazendo deles o menor caso, passeia por todos os lugares, medindo, segundo a expressão de Píndaro, o que está por baixo e o que está por cima da terra, eleva-se até os céus”

SÓCRATES – Conta-se, Teodoro, que Tales estando muito absorvido na astronomia, e olhando para o alto, caiu um dia num poço, e que uma servente da Trácia de espírito alegre e burlão riu, dizendo que o pobre homem queria tanto saber o que acontecia no céu que se esquecia do que tinha diante de si e diante dos próprios pés. Esta piada pode se aplicar a todos os que desempenham a profissão de filósofos. Com efeito, não só ignoram o que faz seu vizinho, e se ele é homem ou qualquer outro animal, como concentram toda a sua energia no indagar e descobrir o que é o homem, e o que convém fazer ou padecer a sua natureza (…) é verdade, ainda, que quando se vê obrigado a falar diante dos tribunais ou em qualquer outro evento ‘terrestre’, como disse ao princípio, o filósofo faz com que riam dele, não só as servas da Trácia, mas todo o povo, recaindo a cada instante, por sua falta de experiência, em novos poços e em toda sorte de perplexidades, e em tais conflitos que fazem-no passar por um imbecil. Se se o ofende, como ele ignora os defeitos dos demais, porque nunca quis se informar deles, não pode jogar na cara do ofensor nada pessoal, de maneira que, ao não ocorrer-lhe o que dizer, faz-se ainda mais ridículo. Quando escuta os demais dirigindo-se lisonjas entre si ou autogabando-se, ri-se, não por soberba, mas na melhor das intenções, e é tomado por isso, de novo, como um extravagante. Se em sua presença se exalta um tirano ou um rei, é como se ouvisse falar apenas da felicidade de algum pastor, porqueiro ou qualquer humilde guardador de ovelhas ou bois, porque deles extrai muito leite, e porque crê que os reis estão encarregados de apascentar e ordenhar uma espécie de animais, mais difíceis de governar e mais traidores, decerto, sem que por outra parte os mesmos tiranos ou reis sejam menos grosseiros e ignorantes que os pastores, por causa do pouco tempo que têm para se instruir, permanecendo encerrados em muralhas, como num aprisco situado no alto de uma montanha. Quando se diz em sua presença que um homem tem imensas riquezas, porque possui em bens dez mil acres ou mais, isto lhe parece pouca coisa, acostumado como está a dirigir sua vista ao mundo inteiro. Quanto aos que enaltecem a nobreza, e dizem que fulano é de bom nascimento, porque pode contar sete avós ricos, crê que semelhantes elogios procedem de gentes que têm a vista baixa e curta, a quem a ignorância impede fixar-se sobre o gênero humano como um todo, e a quem não ocorre o simples pensamento de que cada um de nós tem milhares de avós e antepassados, entre os quais se encontram muitas vezes uma infinidade de gente rica, como de gente pobre, de reis e de escravos, de gregos e de bárbaros (…) ri ao pensar que não pode se ver livre de idéias tão disparatadas cotidianamente. Em todas estas ocasiões o vulgo se burla do filósofo, a quem, em certos conceitos, supõe cheio de orgulho, e um ignorante, na outra mão, das coisas mais simples, e além disso um inútil para tudo.

TEODORO – O que tu dizes, Sócrates, se vê todos os dias.”

O primeiro a que chamas filósofo, educado no seio da liberdade e do ócio, não vê como é desonroso passar por homem cândido e inútil para tudo, tudo, isto é, cumprir certos desígnios servis, por exemplo, transportar uma maleta, temperar carnes ou fazer discursos. O outro, pelo contrário, desempenha perfeitamente todas estas comissões com destreza e prontidão, mas não sabe se portar como convém a uma pessoa livre, não tem nenhuma idéia da harmonia do discurso, e é incapaz de ser o cantor da verdadeira vida dos deuses e dos homens bem-aventurados.”

e nem é possível, Teodoro, que o mal desapareça por inteiro, porque é preciso que sempre haja alguma coisa contrária ao bem, e como não é possível colocá-lo entre os deuses, é de necessidade que circule sobre esta terra e ao redor de nossa natureza mortal. Esta é a razão pela qual devemos procurar fugir o mais rápido possível desta estância rumo aos deuses. Ao fugir nos assemelhamos a deus no que depende apenas de nós, e nos assemelhamos a ele pela sabedoria, pela justiça e pela santidade.”

Disso depende o verdadeiro mérito do homem ou sua baixeza e seu nada.”

quanto menos acreditarem ser o que são, tanto mais o serão em realidade, porque ignoram qual é o castigo da injustiça, que é o que menos se deve ignorar.”

o que uma cidade erige em lei, por parecer-lhe justa, é tal para ela, enquanto subsistir a lei; mas com respeito ao útil ninguém é atrevido o bastante para poder assegurar que toda instituição adotada por uma cidade que a julgou, por ora, vantajosa continue a sê-la indefinidamente; a não ser que se diga que o é apenas no nome, o que seria uma zombaria tratando-se deste assunto. Não concordais?”

os de Éfeso, que se têm por sábios, são tais, que disputar com eles é disputar com furiosos. Nada há de fixo em suas doutrinas. Deter-se sobre uma matéria, sobre uma questão, responder e interrogar por sua vez, pacificamente, é uma coisa que lhes é impossível, absolutamente impossível; tão pouca formalidade têm. Se lhes interrogas, logo retiram, como de uma bolsa, umas palavras enigmáticas que te arremessam no rosto, e se queres que te dêem a razão do que acabam de dizer, te verás, no meio da frase, já atacado por outras expressões equívocas.”

De que discípulos falas, meu querido Sócrates? Entre eles, nenhum é discípulo de outro; cada um se forma a si mesmo, desde o momento em que o entusiasmo se apoderou dele, e se têm uns aos outros por ignorantes. Não obterás nunca dessa gente, como antes te dizia, nem por força nem por vontade, o consentimento em nada”

Ainda temo criticar Melisso e os demais com alguma dureza quando sustentam que tudo é um e imóvel, mas sinto-o menos a respeito destes que com relação a Parmênides. Parmênides me parece a um só tempo respeitável e temível, para me servir das palavras de Homero. Tratei com ele sendo jovem e quando ele era já muito ancião, e me pareceu que havia em seus discursos uma profundidade pouco comum. Temo que não compreendamos suas palavras e que não penetremos bem em seu pensar; e, mais do que tudo, temo que as digressões que venham a se apoderar de nós, se não as evitamos, nos façam perder de vista o objeto principal desta discussão, que é conhecer a natureza da ciência.

Tu és belo, Teeteto, e não feio como dizia Teodoro, porque o que responde bem é belo e bom.”

SÓCRATES – Quando se julga, é necessário julgar sobre o que se sabe e sobre o que não se sabe?

TEETETO – Sim.

SÓCRATES – É impossível que, sabendo uma coisa, não se a saiba, ou que, não a sabendo, se a saiba.

TEETETO – Certamente.”

Como se formaria um juízo falso, já que o juízo não pode ter lugar fora dos casos que acabo de referir, posto que tudo está compreendido no que sabemos e não sabemos, e que em todos estes casos nos parece impossível o julgar falsamente? Quiçá não convenha examinar o que buscamos sob o ponto de vista da ciência e da ignorância, mas sim sob o ponto de vista do ser e do não-ser.

SÓCRATES – Pode acaso dar-se o caso de que se veja alguma coisa, e que o que se vê não seja nada?

TEETETO – Como?

SÓCRATES – Quando se vê um objeto, aquilo que se vê é uma coisa real, ou pensas tu que aquilo, que é alguma coisa, não é nada?

TEETETO – De forma alguma.”

SÓCRATES – Julgar sobre nada é em absoluto não julgar.

TEETETO – Parece evidente.

SÓCRATES – Logo, não é possível julgar, nem sobre o que não existe, nem sobre um objeto real, nem sobre um ser abstrato.”

SÓCRATES – Um discurso que o espírito dirija a si próprio acerca dos objetos que ele considera. Explico-me, como homem que não sabe muito bem do que fala, mas me parece que o espírito, quando reflete, nada faz senão conversar consigo próprio, interrogando e respondendo, afirmando e negando; e que quando se decidiu, mais cedo ou mais tarde, e revela seu verdadeiro pensar sobre um objeto sem hesitar, é nisto que consiste o juízo. Julgar, então, no meu conceito, é falar, e a opinião é um discurso pronunciado, não a um outro, nem em voz alta, mas em silêncio e diante de si mesmo.

SÓCRATES – Supõe comigo, seguindo nossa linha de raciocínio, que haja em nossas almas pranchas de cera, maior em uns, menor em outros, muito rígida ou muito branda em alguns, ou um perfeito meio-termo noutros.”

(*) “As artes são filhas de Deus (para os crentes), ou do Sublime (para os descrentes), e da Memória, do estudo: sem talento inato e sem estudar (memorizar) os sábios, os predecessores, não pode existir a arte.”

CHACRINHA

É impossível que o que se sabe, cuja impressão se conserva no espírito, e que não se sente no momento atual, imaginemos que seja alguma outra coisa que se sabe, cuja impressão se tem também e que não se sente; da mesma forma, que aquilo que se sabe seja outra coisa que não se sabe e do que não se tem impressão; e também que aquilo que não se sabe seja outra coisa que tampouco se sabe; e aquilo que se sente, algo que também se sinta; e aquilo que se sente, algo que não se sinta; e aquilo que não se sente, outra coisa que tampouco se sinta; e aquilo que não se sente, outra coisa se sinta.

É ainda mais impossível, se é que cabe, se figurar que o que se sabe e se sente, cuja impressão temos n’alma pela sensação, seja alguma outra coisa que se saiba e que se sinta, e cuja impressão tenhamos igualmente por intermédio da sensação.

É igualmente impossível que aquilo que se sabe, aquilo que se sente, cuja imagem conservamos gravada na memória, imaginemos que seja alguma outra coisa que se saiba; e também que aquilo que se sabe, que se sente e cuja lembrança se guarda, seja outra coisa que se sinta; e que aquilo que não se sabe, nem se sente, seja outra coisa que não se saiba, nem se sinta de igual forma; e aquilo que não se sabe, nem se sente, outra coisa que não se saiba; e aquilo que não se sabe nem se sente, outra coisa que não se sinta.”

SÓCRATES – Com relação àquilo que se sabe, quando imaginamos que seja alguma outra coisa que se saiba e que se sinta, ou que não se saiba, mas que se sinta; ou com relação ao que se sabe e se sente quando se toma por outra coisa que se saiba e igualmente se sinta.

TEETETO – Agora te entendo menos que antes.”

é possível que não se sinta o que se sabe e, igualmente, que se sinta.”

Não pode acontecer de forma análoga, com respeito ao que não se sabe, que muitas vezes não se o sinta, e muitas vezes se o sinta, sem mais?”

Sócrates conhece Teodoro e Teeteto, mas não vê nem um, nem outro, e não tem nenhuma outra sensação a respeito deles. Neste caso nunca formará em si mesmo este juízo: que Teeteto é Teodoro.”

SÓCRATES – (…) conhecendo um de vós dois e não conhecendo o outro, e não tendo, por outro lado, nenhuma sensação de um nem de outro, não se me há de afigurar jamais que aquele que eu conheço seja o outro que eu não conheço.

TEETETO – Perfeito.

SÓCRATES – (…) e não conhecendo nem sentindo um ou outro, não hei nunca de pensar que um, que não me é conhecido, seja o outro, que tampouco eu conheço. Numa só palavra, te imagina ouvindo de novo todos os exemplos que propus em primeiro lugar, nos quais jamais formarei um juízo falso sobre ti, nem sobre Teodoro”

SÓCRATES – Resta, por conseguinte, formar juízos falsos no caso em que, conhecendo-os a ti e Teodoro, e tendo vossas feições gravadas sobre as citadas pranchas de cera da memória, vendo-os a ambos de longe, sem distingui-los o suficiente, me esforce em aplicar a imagem de um e de outro à visão que lhe é própria, adaptando e ajustando esta visão sobre as camadas de cera (impressões) que eu possuo (…) e tomando um por outro, como acontece a quem põe o sapato de um pé no outro pé, aplico a visão de um e de outro à fisionomia que não é sua, ou quando recaio em erro, experimentando o mesmo de quando nos olhamos no espelho, onde o que está à direita aparece à esquerda; então acontece que uma coisa se toma pela outra, e se forma um juízo falso.”

SÓCRATES – O mesmo acontece quando, conhecendo-vos, os dois, tenho, além disso, a sensação de um mas não a do outro e não tenho conhecimento deste outro através da sensação, que é o que eu dizia antes”

Dissemos que o falso juízo tem lugar quando, conhecendo estas duas pessoas e vendo uma e outra, ou tendo qualquer outra sensação de ambas, eu não atribuo a imagem de cada uma (das pessoas) à sensação que dela tenho”

o falso ou verdadeiro juízo gira e se move de certa maneira nos limites do que sabemos e do que sentimos”

SÓCRATES – E eis a causa. Quando a cera que se tem na alma é profunda, profusa, densa, aderente e bem-moldada, os objetos que entram através dos sentidos e se gravam neste coração d’alma, como o chamou Homero, designando assim de uma forma poética sua semelhança com a cera, deixam ali impressões distintas entre si e de alguma profundidade, capazes de se conservar à passagem do tempo.

Quem se enquadra neste caso tem a vantagem, em primeiro lugar, de aprender mais facilmente; em segundo, de reter o que aprenderam; e, enfim, de não confundir os signos das sensações, podendo formar verdadeiros juízos. Porque como esses signos são claros e estão colocados num lugar espaçoso, se aplicam de pronto, cada um, a sua marca, isto é, objetos reais. A esta classe se dá o nome de sábios.

SÓCRATES – Pelo contrário, quando este coração está recoberto de pelugem, como loa nosso mui sábio Homero, ou a cera é impura e cheia de sujeiras, ou demasiado mole ou então demasiado dura; acontece o seguinte: os que a tem muito branda aprendem rapidamente, mas esquecem com a mesma facilidade, que é o exato oposto de quem tem uma cera mui dura. Sobre os indivíduos que possuem cera <peluda>, áspera e pétrea até certa medida, ou mesclada com terra e limo, o signo dos objetos não se mostra limpo; tampouco naqueles com cera demasiado rígida, porque aí não há profundidade; nem naqueles com cera molenga, porque, entremesclando-se as camadas (impressões recebidas), rapidamente os objetos se escurecem. Ainda menos claros são quando além do mais a alma ainda é pequena, sendo estreitas suas sendas (o depósito da memória). Todos estes estão sob o caso dos que formam falsos juízos. Porque quando vêem, escutam ou imaginam alguma coisa, ao não aplicar a cada objeto seu signo verdadeiro, seja por lentidão, seja por descuido apressado, atribuem a um objeto características que corresponderiam a outro, e geralmente tudo que ouvem, escutam e concebem decorre do capricho. (…)

TEETETO – Impossível se expressar melhor, Sócrates.”

SÓCRATES – Na verdade, Teeteto, precisamos convir que um homem tagarela é um ser muito importuno e enfadonho.

(…)

SÓCRATES – Me encontro de mau humor a respeito da minha pobre inteligência, ou, para dizer a verdade, quanto ao meu charlatanismo; porque, que outro termo se emprega quando um homem, por pura estupidez, provoca conversa fiada, indo e vindo em todas as direções, jamais se dá por satisfeito e não abandona o assunto a não ser quando é forçado?

TEETETO – Mas o que é que tanto te incomoda?

SÓCRATES – Não só me encontro incomodado, como temo não saber o que responder, no caso de me perguntarem: <Sócrates, averiguaste que o falso juízo não se encontra nem nas sensações comparadas entre si, nem nos pensamentos, mas no concurso da sensação e do pensamento?>. Eu dir-lhes-ei que sim, ao que me parece, comprazendo-lhes como se de magnífica descoberta se tratara.”

SÓCRATES – E não te tocas de que é insolente explicar o que seja o saber, quando ainda não se sabe o que é a ciência? Mas, Teeteto, depois de tanto falarmos, nossa conversa já é um formigueiro de defeitos. Empregamos uma infinidade de vezes estas expressões: conhecemos, não conhecemos, sabemos, não sabemos, como se entendêssemos tanto umas quanto outras, não obstante até agora ignorarmos o que é a ciência”

TEETETO – Como poderás dialogar, Sócrates, se absténs-te de usar tais expressões?

SÓCRATES – Não poderei, até que seja outra coisa que não eu. Mas ao menos é certo que se eu fosse um disputador ou se encontrasse aqui algum, estudar-me-ia e medir-me-ia com maior cautela as palavras de que me sirvo.”

se havendo comprado algum traje e sendo seu dono, o comprador não o usa, diremos acaso que ele tem um traje? Antes, apenas o possui.”

SÓCRATES – Examina, para saber, apenas aquele que, pela aparência, já o sabe desde o início e se exercita, porque para se chegar ao resultado dum cálculo tem-se de conhecer todos os números de antemão. Estás ciente da natureza das dificuldades que agora abordamos?”

SÓCRATES – Depois de uma volta bem comprida, eis-nos aqui de novo de volta ao primeiro problema.”

SÓCRATES – Não é certo que, quando os juízes têm uma persuasão bem-fundada sobre fatos, que não podem ser conhecidos a menos que testemunhados diretamente, julgando, neste caso, somente com base no relato de uma terceira parte, eles mesmo assim formam um verdadeiro juízo sem a ciência, e estão persuadidos, com razão, posto que o bom juiz bem julga, e assim o faz?

TEETETO – Incontestavelmente.

SÓCRATES – Mas, meu querido amigo, se o verdadeiro juízo e a ciência fossem a mesma coisa, nunca que o juiz julgaria bem, nem mesmo o melhor de todos, estando desprovido, pela lógica, da ciência. Disso decorre: o verdadeiro juízo não é sinônimo de ciência.”

SÓCRATES – (…) tu podes explicar-me como ele distinguiria os objetos que se podem saber dos que não se podem?

(…)

SÓCRATES – Escuta bem, então, Teeteto, este segundo relato de um sonho: Creio ter ouvido também de algumas bocas que os primeiros elementos, se é que posso dizê-lo, dos que o homem e o universo se compõem, são inexplicáveis; a cada qual, segundo é em si mesmo, não se pode fazer nada além de dar um nome, sendo impraticável enunciar juízos contra ou a favor das coisas, porque isso já seria atribuir o ser ou o não-ser; nada se deve acrescentar ao elemento, se o objetivo for tão-só enunciá-lo; nem mesmo a coisa é digna de que se a misture e embace com as palavras <ele>, <este>, <cada>, <só>, <isto>, nem outros muitos termos similares, porque, ao não existir nada que seja fixo, todo pronome se aplica a todas as coisas e é de algum modo diferente da própria coisa a que se refere; seria preciso enunciar o elemento em si mesmo, se isso fosse possível, e se houvesse uma explicação que lhe fôra particular, por meio da qual se enunciasse a coisa de uma vez por todas sem o auxílio de nenhuma outra coisa (…)

Ao contrário, sobre os seres compostos desses elementos, como há uma combinação de princípios, combinam-se os nomes que possibilitam a comprovação, porque afinal esta resulta essencialmente da reunião dos nomes. Em suma, os elementos sozinhos não são nem explicáveis nem cognoscíveis, mas apenas sensíveis; porém, quanto aos compostos, estes são cognoscíveis, enunciáveis e estimáveis por um verdadeiro juízo”

SÓCRATES – Então, Teeteto, será que descobrimos mesmo, num só dia, o que muitos sábios tentaram descobrir durante tanto tempo, até a velhice, sem sucesso?”

SÓCRATES – (…) Sem embargo, há, no que acabamos de dizer, um ponto que me desagrada.

TEETETO – E qual é?

SÓCRATES – O que parece mais evidente, a saber: que os elementos não podem ser conhecidos, e que os compostos, por outro lado, o podem.

TEETETO – E não é assim mesmo?”

SÓCRATES – (…) esclarece-me, por favor: têm as sílabas uma definição e os elementos não? (…) Estou de acordo que seja assim. Se alguém te perguntasse sobre a primeira sílaba do meu nome desta maneira: Teeteto, diz-me, o que é SO? O que tu responderias?

TEETETO – Que é um S e um O.

SÓCRATES – Não é essa a explicação dessa sílaba?

TEETETO – Sim.

SÓCRATES – Diz-me então qual é a do S?

TEETETO – Como explicar os elementos dum elemento? O S, Sócrates, é uma letra muda e um som simples, que a língua executa silvando. O B não é uma vogal, nem um som, da mesma forma que maior parte dos elementos; de sorte que pode-se dizer com fundamento que os elementos são inexplicáveis, uma vez que os mais sonoros deles, até o número de sete¹, não têm mais do que som, e não admitem absolutamente explicação.”

¹ Provavelmente, uma referência ao número de vogais gregas, na concepção gramática de Platão, e que, também provavelmente, é a válida para a maior parte dos autores e gramáticos helênicos, se hoje fôssemos fazer um levantamento. Usualmente, dizemos haver 5 vogais. Porém, o mais certo é diferenciar: “A, É, Ê”: aqui temos 3 vogais (fonemas), não somente 2 (“A e E”, como responderiam os vestibulandos). O acento gráfico transforma a pronúncia, pode mudar radicalmente o sentido de um (semi-)homônimo (todos os demais elementos do vocábulo mantidos). A contagem de Teeteto não é exaustiva: não computa todas as vogais que possuem “todos os fonemas humanamente possíveis e discerníveis”, nem conseguiria chegar ao mesmo resultado sobre as consoantes, nem em termos de língua grega clássica (se considerarmos períodos anteriores e posteriores ao socrático) nem se se referisse a qualquer outra cultura, isoladamente, embora possamos hoje, historiogràficamente, (tentar) empreender um catálogo que “some” todos os fonemas produzidos pelas mais díspares culturas, mas este catálogo terá sempre a possibilidade de ter novas páginas conforme novas descobertas arqueoantropológicas. Ex: para nós, brasileiros, inexiste o “Ü”. Não significa que temos um alfabeto “menos total”. Então, essa vogal não adentra nosso sistema fônico. Já outras culturas não reconhecem o “Ô. Noutras culturas, ainda, maioria das ocorrências de “E” se dá numa zona proximal do “I” (dois “E” consecutivos no Inglês). Muitas vezes, os acentos “caem” na ortografia oficial, mas a pronúncia segue inalterada, porque se tornaram redundantes para a média populacional (inúmeros casos no próprio Português e no Francês). Os gregos ou franceses pré-modernos possuíam sinais gráficos que nós nem mesmo estudamos ou conhecemos na escola, tal qual a vogal “O” ou “I” encimada por uma barra horizontal, indicadora do tempo empregado na pronúncia da palavra (vogal breve ou longa, etc.).

Importa, portanto, menos saber quais são os sete fonemas pensados por Teeteto do que se eles configuram um sistema ou totalidade racional representável. O número de “vogais” (que é o que ele nomeia, sem nomear expressamente) poderia ser 5 ou 10, sem ferir o significado essencial no diálogo. “A”, “E”, “I”, “O” ou “U” não têm um conceito, são meros significantes arbitrários.

SÓCRATES – (…) nosso belo razoar se desvanece e escapa de nossas mãos.

TEETETO – Mentiria se dissesse que não. E tão de repente!

SÓCRATES – A culpa é nossa: não defendemos suficientemente bem nossos argumentos. Quiçá fosse necessário supor que a sílaba não consiste em elementos, mas num não-sei-quê, resultante de elementos combinados, representados de uma forma particular, só sua, que é diferente dos elementos tomados por si mesmos.”

SÓCRATES – Concluindo, é preciso que não contenha partes.

TEETETO – Por quê?

SÓCRATES – Porque, onde há partes, o todo é necessariamente o mesmo que a soma das partes. Ou bem dirás que um todo resultante da soma das partes tem uma forma própria distinta da de todas aquelas (partes em conjunto)?

TEETETO – Concordo.

SÓCRATES – O todo e o total ou a soma, são em tua opinião uma mesma coisa ou duas coisas distintas?

TEETETO – Não tenho convicção acerca disso, mas pôsto que queres que eu responda com resolução, me atrevo a dizer que são coisas diferentes.

SÓCRATES – Toda coragem é laudável, Teeteto, e é preciso ver se o é também tua resposta.”

SÓCRATES – Há alguma diferença entre todas as partes e o total? Por exemplo, quando dizemos, um, dois, três, quatro, cinco, seis, ou duas vezes três, ou três vezes dois, ou quatro mais dois, ou três, dois e um (3 + 2 + 1), ou 5 + 1, não dão todas estas expressões no mesmo número, ou resultam num número diferente?

TEETETO – Dão no mesmo número.

SÓCRATES – Não é o mesmo que 6?

TEETETO – Exato.

SÓCRATES – Não compreendemos em cada expressão¹ todas as 6 unidades?

TEETETO – Decerto.

SÓCRATES – Não expressamos nada quando dizemos todas as seis unidades?

TEETETO – Alguma coisa queremos dizer, certamente.

SÓCRATES – Outra coisa que não seja <seis>?

TEETETO – Discordo.

SÓCRATES – Por conseguinte, por tudo que se pode conseguir através dos números, entendemos que o total e todas as suas partes sejam o mesmo.

TEETETO – Assim me parece.

SÓCRATES – Digamos de outra forma. O número, que expressa um acre, e o acre em si, não são a mesma coisa?

TEETETO – Com certeza.

SÓCRATES – O número que expressa o estádio² não estaria no mesmo caso?

TEETETO – Também.

SÓCRATES – Não sucederia o mesmo com respeito ao número de uma infantaria, de uma frota ou coisas semelhantes? Porque a totalidade do número é precisamente cada uma destas coisas tomada em conjunto.

TEETETO – Não posso negar.

SÓCRATES – Mas o que é o número a respeito de cada coisa senão suas partes?

TEETETO – Nada.

¹ Curiosamente, foram 6 os exemplos socráticos:

a) Contando de 1 a 6;

b) 2*3 = 6

c) 3*2 = 6 (regra da permutação, que reza: a ordem da disposição dos termos não altera o produto)

d) 4 + 2 = 6

e) 3 + 2 + 1 = 6 (Não importa o nº de termos, se o somatório for idêntico, já que 4 poderia se decompor perfeitamente em 3 + 1, ou seja, quem conhece o princípio “a)” pode chegar a todos os outros em adição: basta saber contar de 1 até 6 para saber quantas possibilidades de somas de 1 a 5 produzem 6 como resposta.) (Ignoramos aqui o 0, pois os gregos não o reconheciam. Não reconheciam a existência de 6 + 0 = 6.)

f) 5 + 1 = 6 (primeiro termo da série + último termo da série = termo seguinte da série, se o primeiro termo da série for a unidade)

² 1 estádio = 185m

SÓCRATES – O todo não é composto de partes, caso contrário o conjunto das partes seria um total.”

(…)

SÓCRATES – Mas a parte, é parte de algo senão o todo?

TEETETO – Sim, só pode ser parte do total.

SÓCRATES – Te defendes com bravura, Teeteto. O total não é um total quando nada lhe falta?

TEETETO – Necessariamente.

SÓCRATES – O todo, não será, pois, um todo, quando nada lhe falte? Tanto que, se lhe falta alguma coisa, não pode ser um total, nem é um todo, e um e outro (todo e total) se fazem o que são pela mesma causa.”

SÓCRATES – Regressando, enfim, ao que antes queria comprovar, não é certo que se a sílaba não é um dos elementos compostos é uma necessidade que estes elementos não sejam partes com relação a ela, ou que, sendo a mesma coisa que os elementos, não possa a sílaba ser mais conhecida que eles?”

SÓCRATES – Segundo o que dizes, Teeteto, a sílaba deve ser uma espécie de forma indivisível.”

SÓCRATES – Se a sílaba não tem partes, tem então a mesma forma que os primeiros princípios e é simples como eles?

TEETETO – A parecer que sim.”

SÓCRATES – Se acaso a sílaba for una e indivisível, tanto quanto o elemento, ela não será então mais suscetível de explicação, nem mais cognoscível que aquele, porque a mesma causa produzirá os mesmos efeitos em ambos.”

SÓCRATES – Tu não fizeste outra coisa, ao aprender as letras, que exercitar-se em distinguir os elementos, seja pela vista, seja pelo ouvido, para não te veres confundido, qualquer que fosse a ordem em que se as pronunciava ou escrevia.

TEETETO – Dizes a verdade.

SÓCRATES – E que é que trataras de aprender perfeitamente à casa do mestre de lira, senão o meio de te pores de acordo com cada som audível e distinguir a corda de que cada tipo diferente de som procedia? Isso o mundo inteiro admite, porque são estes (o som, a nota) os elementos da música.”

Os elementos podem ser reconhecidos, conforme exige a perfeita inteligência de cada ciência, de maneira mais clara e decisiva que quanto às sílabas;¹ e se alguns sustentam que a sílaba é, por natureza, cognoscível, e que o elemento por natureza não o é, podemos ter certeza que é um bromeiro ou um louco.”

¹ Não existia na antiguidade uma ciência chamada Linguística, bem como ela ainda hoje comporta tantas correntes que seria besteirol e pretensão tentar abarcar tantas e tão profusas concepções lingüísticas sob um mesmo rótulo.

SÓCRATES – Diz-me quê significa a palavra explicação. Em meu juízo significa uma destas três coisas.

TEETETO – Que coisas?

SÓCRATES – A primeira, o ato de fazer o pensamento sensível pela voz por meio dos nomes e dos verbos; em conseqüência disso, ficará a palavra empregada gravada no pensamento, nele refletida, a modo de um espelho ou da superfície d’água.”

SÓCRATES – Não é todo mundo igualmente capaz de fazê-lo, e de expressar com razoável clareza e sucintez o que pensa sobre determinada matéria, salvo se falamos de um mudo ou surdo de nascimento?”

Hesíodo¹ diz que a carruagem compõe-se de cem peças. Eu não as poderia enumerar, e creio que tu tampouco. E se nos perguntassem o que diabos é uma carruagem, creríamos suficiente responder <as rodas, o eixo, os flancos, os aros e o timão>.

TEETETO – Certamente.

SÓCRATES – Mas, respondendo assim pareceríamos, a quem nos fizesse essa pergunta, tão ridículos, como se perguntando-nos teu nome, respondêssemos sílaba por sílaba, e talvez não imaginássemos, crendo formar um juízo exato e bem-enunciado, que vestíamos no final a toga de gramáticos, explicando conforme as regras da gramática o nome de Teeteto; sendo que isso é exatamente ignorar o quê é responder como um homem que sabe, a não ser que com o verdadeiro juízo prestássemos conta exata de cada coisa, menor que fosse, de acordo com seus elementos constituintes, como dissemos precedentemente.”

¹ (*) Nota do editor espanhol – As Obras e Os Dias, 454.

SÓCRATES – Pensas tu que alguém conhece qualquer objeto, seja qual seja, quando julga que uma mesma coisa pertence tanto ao mesmo objeto quanto a outro diferente, ou que sobre um mesmo objeto forma tão logo um juízo como outro?

(…)

TEETETO – Tu queres dizer, Sócrates, que nós críamos que tal letra pertencia tanto à mesma sílaba quanto a outra, e que colocávamos a mesma letra, tão logo numa sílaba (que lhe correspondia) como em outra qualquer?

SÓCRATES – Sim, isso mesmo.

TEETETO – Pois bem, então, não o esqueci; e não tenho por sábios aqueles que incorrem nesses equívocos.

SÓCRATES – Mas… e se uma criança em situação análoga escreve o nome Teeteto, com um T e um E, crendo estar, assim, escrevendo-o corretamente, e, querendo ainda escrever o nome Teodoro, usa também o T e o E, diremos dessa criança que conhece a primeira sílaba de vossos nomes?

TEETETO – Acabamos de convir, Sócrates, que quem assim pensa, pensa em confusão e dista do conhecer.

SÓCRATES – E não poderia pensar igual com respeito à segunda, terceira e também à quarta sílabas?

TEETETO – Em absoluto.”

SÓCRATES – Quer dizer, meu querido amigo, que há um juízo reto, acompanhado de explicação, que ainda não se pode chamar <ciência>.

TEETETO – Parece que é isso mesmo.

SÓCRATES – Segundo todas as aparências, nós só estávamos sonhando ao crer determos a verdadeira definição da ciência. Mas não a condenemos ainda!”

TEETETO – Isso me recorda, Sócrates, bem oportunamente, que, com efeito, ainda falta um sentido para examinar: segundo o primeiro, a ciência seria a imagem do pensamento expressa pela palavra; segundo o segundo sentido do qual acabamos de falar, a determinação do todo pelos elementos (método analítico); e o terceiro sentido ou a terceira acepção, qual seria essa?

SÓCRATES – O mesmo que muitos outros designariam assim como eu, e que consiste em poder dizer no quê a coisa que é objeto de interrogação difere de todas as demais coisas (exclusão pela negação dos contrários).

(…)

SÓCRATES – Veja o sol, por exemplo. Creio que designo-o suficientemente ao dizer que é o mais brilhante de todos os corpos celestes que giram ao redor da Terra.

TEETETO – E nisso não erras.

SÓCRATES – Escuta, Teeteto, porque assim me expressei. Acabamos de dizer que, segundo alguns, fixa-se, a respeito de cada objeto, a diferença que os separa de todos os demais; desse modo, obtém-se a explicação do objeto em questão; mas se só te fixares numa qualidade em comum, terás apenas a explicação dos objetos a quem esta qualidade é comum.

(…)

SÓCRATES – Desse modo, quando, mediante um juízo reto acerca dum objeto qualquer, vem-se a saber no quê é que ele se diferencia de todos os demais, ter-se-á a ciência do objeto, superando assim, aquele estágio em que nos encontrávamos, quando detínhamos apenas a opinião acerca do objeto.

Quando formo sobre ti um juízo verdadeiro, ou o verdadeiro juízo, possuindo a explicação do que és, finalmente te conheço; mas, senão, não tenho mais do que uma opinião de Teeteto.”

SÓCRATES – E quando não tinha de ti mais que uma simples opinião, estás de acordo que eu não havia ainda penetrado com profundidade de pensamento bastante os traços que te distinguem do resto dos mortais?

TEETETO – De fato, creio-o.

SÓCRATES – Não tinha presentes no espírito (na alma) qualidades além das comuns, que podem ser tanto suas quanto de qualquer outro homem.

TEETETO – Necessariamente.”

SÓCRATES – No meu entendimento, Teeteto, nunca hei de formar tua imagem antes de que teu nariz achatado se imprima em minha memória, de uma maneira diferente a todas as espécies de narizes achatados que eu já gravei; e o mesmo a respeito de todas as outras partes que te compõem. De sorte que, se te encontrar amanhã, teu nariz achatado trar-me-á à tona tua alma, e formarei de ti um juízo verdadeiro.

TEETETO – Incontestável!”

SÓCRATES – E se se pergunta, ao autor da definição, <o quê é a ciência>, ele responderá, é o mais provável, que trata-se dum juízo exato sobre um objeto do qual se conhecem as distinções

a ciência não é a sensação, nem o verdadeiro juízo, nem o mesmo juízo acompanhado de explicação.”

SÓCRATES – Veja, pois, meu querido amigo, que ainda segue nossa penosa gravidez e as dores do parto (na forma do conhecimento sobre a ciência) ainda nos premem. Ou tu achas que já demos a luz a todas as nossas concepções?

TEETETO – Com efeito, Sócrates, pude dizer, com teu auxílio, muito mais coisas do que tinha em meu interior.

SÓCRATES – Não viste com perfeição, por intermédio de minha arte de parteiro, que todas aquelas concepções eram frívolas e indignas de sustentação e propagação?

TEETETO – Sim, vi muito bem.

SÓCRATES – Se, Teeteto, desejas, doravante, produzir, e se, com efeito, produzes frutos, serão melhores, graças a esta discussão que travamos; mas se permaneces estéril, ao menos não te farás enfadonho aos que contigo dialoguem, porque serás mais tratável e mais humilde, e não crerás saber o que não se sabe. Isso é tudo de que minha arte é capaz – não espere mais dela. (…) No entanto, sobre o ofício de fazer partos, minha mãe e eu o recebemos diretamente de deus, ela, para as mulheres, eu, para os jovens de belas formas e nobres sentimentos. Agora necessito ir ao pórtico do rei, para responder à acusação de Meleto contra mim¹; mas, Teodoro, que também nos escuta, te insto a me aguardar neste mesmo local e horário amanhã.”

¹ https://seclusao.art.blog/2017/12/08/apologia-de-socrates/.