DANIEL DEFOE, JONATHAN SWIFT & UM PANORAMA DA LITERATURA INGLESA DOS XVIII // OU AINDA: UMA CRÍTICA DA CLASSE MÉDIA E, AINDA, ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PROTOFEMINISTAS – Excertos traduzidos de um capítulo de livro de Terry Eagleton, crítico literário britânico, intitulado “Daniel Defoe and Jonathan Swift”

Os excertos giram em torno de dois autores contemporâneos, talvez os dois mais conhecidos hoje fora da Inglaterra em termos de literatura clássica daquele país – As Viagens de Gulliver veio ao mundo menos de quinze anos depois d’As Aventuras de Robinson Crusoe. São duas obras espantosamente similares e divergentes ao mesmo tempo. Duas narrativas, eu diria, de restless wanderers, viajantes incansáveis, espécies de maníacos tragicamente involuntários por navegar o mundo, sem propósito claro em mente…

Assim como o novelista e ex-condenado Jeffrey Archer, a carreira de Daniel Defoe abrangeu dívidas e alta política, a profissão de escritor e o cárcere. Cronologicamente falando, a arte imitou a vida com Defoe, uma vez que ele começou a escrever maior parte de suas obras enquanto ativista. De outro ângulo, entretanto, sua vida imitou, sim, a arte, pois sua trajetória foi sensacionalista o bastante para que pudesse figurar tranquilamente como o protagonista de suas próprias novelas tumultuadas. Em diversos momentos ele se dedicou ao comércio de vestuário, vinho e tabaco, foi dono de uma fábrica de tijolos, um político vira-casaca, uma espécie de espião do submundo e dos bastidores da política, agente secreto oficial do governo, espécie de diplomata e assessor do império britânico por meio de suas publicações jornalísticas (o que na época chamavam de publicista). Não bastasse todo esse cartel, tomou parte ativa em uma rebelião armada contra Jaime II, excursionou incansavelmente pela Europa e teve um papel crucial nas históricas negociações da unificação política dos reinos da Inglaterra e da Escócia.

Defoe faliu mais de uma vez, foi preso por débitos e até exposto no pelourinho num processo de sedição após publicar um panfleto satírico. Mesmo depois dessa experiência, ele viria a publicar um Hino ao Pelourinho (Hymn to the Pillory), bem como um Hino às Massas (Hymn to the Mob), em que, escandalosamente para a época, enaltecia o povo de extrato inferior por sua extrema lucidez de julgamento. É difícil imaginar outro grande autor inglês fazendo a mesma coisa na mesma época. Entre suas obras, está também Uma História Política do Demônio (A Political History of the Devil), um estudo sobre fantasmas, motivado pela Grande Praga de Londres, um surto da peste bubônica que eclodiu em 1665 e durou até o biblicamente simbólico ano seguinte. Defoe publicou também uma apologia irrestrita da instituição do casamento intitulada Indecência Conjugal; ou da Prostituição Marital. Um tratado sobre a Utilidade e a Inconveniência da Cama de Casal (Conjugal Lewdness; or Matrimonial Whoredom. A Treatise Concerning the Use and Abuse of the Marriage Bed). De modo algum ele seria um ‘novelista’ no puro senso da palavra (o próprio termo em voga criou sua acepção muito mais tarde), muito embora ele tenha atacado os ‘Romances’ (o gênero pré-novelístico por excelência), que para ele eram estórias que não informavam, apenas entretinham (e isso era necessariamente ruim naquela Inglaterra). Suas obras mais consagradas, Moll Flanders e Robinson Crusoe, são ‘novelas’ apenas em retrospecto. Defoe só escrevia aquilo com que pensava poder lucrar, sendo uma espécie de autor oportunista altamente prolífico que ‘atirava para todos os lados’ no mercado literário em ebulição de seus dias. A imprensa da época não discriminava entre gêneros, muito menos Defoe o faria.

Escrever, para Defoe, pois, não passava de commodity, como ele próprio retrata o mundo em suas ‘novelas’, que podemos resumir como ‘uma série de coisas a que se dá um preço de alto a baixo’. Tampouco era Defoe um ‘homem literário’: ao contrário, sua escrita é apressada, não pesa as palavras, e é transparente demais. Um ‘grau zero’ do estilo como se sempre fosse um jornalista ou historiador relatando fatos que tendia a apagar as próprias pegadas, negando seu próprio status de escritor e, portanto, de criador de realidades. O próprio Defoe batizava seu estilo de ‘cáustico’ ou ‘abjeto’ (mean), pretensamente desprovido de conscienciosidade e ignorante dos próprios artifícios. Na linguagem lacônica e um tanto caseira e pré-fabricada de Defoe sentimos, quase pela primeira vez na Literatura, o idioma dos comuns. Linguagem despida de textura e densidade, que permite ao leitor atravessar as palavras e ver as coisas de frente e em si mesmas. ‘O conhecimento das coisas, não das palavras, molda o erudito’, comentou Daniel Defoe no Compleat English Gentleman.¹ Uma profusão de aventuras e incidentes tem forçosamente de compensar as narrativas de Defoe, devido à crueza de textura. A suprema fertilidade de sua técnica é de fato impressionante. Defoe quase não se preocupa com o sentir das coisas, não mais do que um merceeiro passaria o dia acariciando e apalpando seus queijos, que são apenas seu ganha-pão. Defoe é o utilitarista-padrão: mais interessado no valor de troca dos objetos, não em suas qualidades sensuais ou sensórias. Há sem dúvida sensualidade em Defoe, principalmente nas obras de protagonistas mulheres (Moll Flanders e Roxana), mas não sensualismo, voluptuosidade. O realismo defoeniano é um realismo das coisas, enquanto que o de Richardson, por exemplo, é um das pessoas e sentimentos.”

¹ Uma espécie de enciclopédia de seu tempo, hoje de domínio público: https://ia800900.us.archive.org/29/items/compleatenglishg00deforich/compleatenglishg00deforich.pdf. Manuscritos descobertos no séc. XIX, tudo indica que fossem anotações diversas do escritor que ele tinha a intenção de completar e publicar.

Depois de um bom tempo exercendo seu ofício errático, pau-pra-toda-obra, escrevendo meramente para sobreviver, Defoe morreu enquanto se ocultava ou fugia de seus credores, autodeterminado, quem sabe, a acabar da mesma maneira que havia começado, ignorando outros estilos de vida. Foi um Dissidente (um imoralista) numa época em que ser Dissidente (assim, com letra maiúscula mesmo) era o mesmo que não possuir direitos civis. Como muitos de seus compatriotas novelistas, provinha da classe-média baixa econômica mas que possuía um status de pequena-burguesia, devido ao fator da formação intelectual: ilustrado, completou sua educação formal, cultivava ambições de ascensão e em seu meio os jovens eram politicamente articulados. No seu Journal of the Plague Year, ou Jornal do Ano da Peste, ele tripudia de algumas superstições do povão enquanto dá crédito irrestrito a outras. Muito parecido com William Blake em sua origem social, a rebeldia de Defoe afirmava a radical igualdade entre homens e mulheres, sustentando que o handicap feminino não passava do resultado de convenções. Desigualdades sexuais eram puramente culturais, nada naturais. O que distingue suas personagens Roxana e Moll Flanders, como outras tantas prostitutas vigaristas (seja as de luxo ou as que trabalhavam em espeluncas) e objetificadas da literatura de então, é que havia a afirmação premente, em todo o livro: elas não são propriedade de homem algum, elas não são de ninguém. No mundo de Defoe, nenhuma relação é permanente, aliás.”

Quando Moll Flanders diz levianamente que está grata por ter se livrado de seu filho na barriga, todo leitor de época se sentia escandalizado e ao mesmo tempo representado. Roxana é a comerciante-mulher, que embora seja a própria mercadoria é a dona do negócio: recusa o casamento, mesmo com um bom nobre, pois isso seria a ruína total de sua independência financeira. Ser esposa, para Roxana, era o mesmo que ser escrava. Os puritanos da geração de Defoe prezavam tanto a felicidade doméstica quanto o individualismo econômico; o único problema era a completa incompatibilidade de ambos. Sobretudo no caso das mulheres, que em quaisquer das esferas, isoladamente consideradas, estavam de todo modo alijadas da autonomia. Isso não significa que não fosse também uma questão masculina: na prática o individualismo econômico significava uma castração, compelindo à afabilidade, afeição, lealdade e companheirismo que o pai de família devia simbolizar.

Para complementar as credenciais progressistas de Defoe, ele militava pela absoluta soberania do plebeu, cujo direito de não se curvar a uma soberania injusta era, ele pregava, inalienável. Ele defendia os quakers e já então propagava os méritos de uma sociedade etnicamente miscigenada. Estrangeiros, segundo ele, eram um precioso acréscimo para a nação. Defoe troçava das mitologias chauvinistas dos bretões em poemas como O Inglês Puro-Sangue (The True-Born Englishman), cujos versos não hesitam em caracterizar a raça britânica justamente pela sua alta mestiçagem, desdenhando a noção aristocrática de pureza de sangue e ridicularizando a própria idéia-título do ‘puro-sangue’ com suprema ironia: mera ficção e, aliás, contradição. Não é irrelevante para essa polêmica (à época) que Guilherme III, sob quem Defoe exerceu seus trabalhos panfletários, fosse um holandês.”

“‘O que significam as capacidades naturais de qualquer criança sem a educação?’, o autor questiona no Compleat English Gentleman. Apenas tories absolutamente reacionários como Henry Fielding seriam capazes de enaltecer só o lado das qualidades inatas. Defoe não se mostrava pudico em politizar a questão: por trás dessa doutrina pedagógica ‘inocente’ havia toda uma tentativa de impedir as reformas pedagógico-sociais necessárias à Inglaterra, mediante o argumento dos talentos e habilidades congênitos e inalteráveis, que sempre legitimariam só as crianças da nobreza.”

O homem não é rico porque é honesto, mas é honesto porque é rico.

Essa é uma doutrina escandalosamente materialista avant-la-lettre, muito mais típica de um Bertolt Brecht do que de um ardoroso cristão dos Setecentos. Valores morais são o simples reflexo das condições materiais. Os ricos são apenas privilegiados o bastante para não terem de roubar. A moralidade é para aqueles que podem cultivá-la. Ideais calham muito bem a quem tem de sobra o que comer. Defoe também exigia leis que reconhecessem a condição dos miseráveis, ao invés da replicagem de um sistema que, em primeiro lugar, criou a miséria, para depois enforcar os miseráveis por serem eles o que são.”

Se a classe média preza tanto pelo eu autônomo na teoria, como pode ser que viole tanto essa doutrina na prática? Quer ela de fato a independência de todos os seus servos, assalariados que tem tão pouco poder de barganha que são menos do que cidadãos e pouco mais que escravos, sem falar dos colonizados além-mar? Não seria preferível para o pequeno-burguês, secretamente, é claro, preferir a liberdade irrestrita para si e a negativa para todos os competidores no mercado? A pequena-burguesia acredita na autodeterminação da população; mas ao mesmo tempo seus membros, homens e mulheres, não passam de títeres de forças econômicas impessoais. Os protagonistas de Defoe – Moll, Crusoe, Roxana, Coronel Jack – estão todos enleados nessa contradição. Se eles são, num sentido, forjadores de seu próprio destino, são, inegavelmente, vítimas desafortunadas da Providência, das leis do livre comércio e de seus próprios apetites.

No ensaio A Divindade da Troca (The Divinity of Trade), Defoe vê a Natureza como um tipo de capitalista, que – em sua infinita e inapreensível sabedoria burguesa – criou corpos capazes de flutuar sobre as águas, para que se pudessem construir navios e fomentar o comércio; criou as estrelas para nortear os navegadores; e até escavou rios no seio dos continentes que levam as embarcações direto para os recursos espoliáveis de outros países. Animais foram feitos dóceis e submissos deliberadamente para que o homem os explorasse como instrumentos e também como matéria-prima; linhas costeiras pedregosas foram criadas possibilitando a construção de fortalezas; matéria-prima conveniente foi distribuída ao longo de todo o planeta para que cada nação tivesse algo para vender e algo para comprar. Ainda que estejamos falando de um período muito aquém dos oceanos de Coca-Cola e da produção da necessidade quase que instintiva de calçar um Nike, a Natureza, para Defoe, não perdia e não perdeu nada de vista.”

Ora, se o homem era divinizado e elevado de forma sem precedentes nessa nova ordem social, temos em contrapartida a desvantagem de que qualquer indivíduo é indiferentemente intercambiável. Parceiros comerciais, sexuais ou maritais em Defoe vêm e vão, às vezes com tanta individualidade quanto numa coletividade de coelhos. Mas o maior conflito se dá entre as práticas amorais de uma cultura plutocêntrica e autocentrada em excesso e os altos ideais morais que essa própria cultura insiste em pregar.”

O escritor John Dunton, também do séc. XVIII, que teve ligeiro contato com Defoe, geria um jornal mensal devotado à prostituição, ou antes a denegrir a prática da prostituição ao invés de servir como Classificados do corpo humano alheio, o Night Walker: or, Evening Rambles in Search after Lewd Women (O Caminhante Noturno [/o Homem da Noite]: ou Aventuras do Entardecer em Busca de Mulheres Lascivas). Mesmo sendo vanguardista para a época, impossível que fosse um jornal politicamente correto para nossa concepção. A novela naturalista do século XIX procedia a expedientes parecidos, num meio-termo entre a objetificação degradante e gratuita da mulher da noite e a exposição de uma espécie de mal burguês: essas escapadelas maritais tinham um odor sensual e fatalista, havia um certo prazer mórbido no retrato de becos sujos e miseráveis em que todo moralista jogava a moral fora, e a mulher podia ser vista como a vítima de uma (des)ordem social; o século XIX foi cada vez mais inquirindo sobre esta questão de forma científica, menos sensacionalista, mas Defoe não chegou a testemunhar essa evolução.”

A família, para um puritano devoto como Defoe, é um domínio sagrado, como sugere seu panfleto de costumes O Instrutor da Família (The Family Instructor). Ao mesmo tempo, ele advoga, sem constrangimento, que tais laços podem e devem ser cortados quando se tornam mais maus do que bons: quando forem sinônimo de uma degradação do casamento, quando forem sinônimo do aviltamento das relações sangüíneas, acaba sendo a conduta mais autêntica e virtuosa o corte destes laços, ignorados ou tratados como meros meios para outros fins.”

Em Crusoe, é como se o colonialista frio e moderado desse o tom do enredo. Ele (o narrador em primeira pessoa) também é aquele que dá o matiz exótico ao objeto (cenário) em questão, isto é, sua colônia involuntária no meio dos trópicos. Essas narrativas sem adornos e sem culpa de consciência não chegam a destruir os vasos capilares do decoro ideológico da Inglaterra pós-elizabetana, mas são um primeiro desnudamento de sua lógica imperialista. Não são narrativas de uma veia polêmica, ainda, são mais cândidas que outra coisa. Não há sentimentalismo, porque sentimentos não podem ser quantificados, e nesta literatura em que só o que é quantificável é real eles ainda não aparecem. Nesta atmosfera intermediária de amoralismo, o relato é fidedignamente subversivo ou subversivamente fidedigno espelhando a existência social daquelas décadas; as relações são o que são, não o que deveram ser. Não obstante, a pura e simples descrição do fato e da matéria bruta não deixa de ser explosivo em si mesmo, ou conducente à explosão da dinamite próxima. O realismo se torna de grau em grau Política.”

Moll Flanders termina sua história contando como prosperou e chegou ao sucesso após uma vida de crimes, mas acrescentando, com alguma urgência, em tom de confissão compungida, que ela se arrepende sinceramente de todo seu passado. A moral da história – o crime não compensa – é explicitamente contradita pelo final efetivo. O contraste é tão desconcertante que alguns críticos passaram seu tempo imaginando se Defoe foi ou não abertamente sarcástico. Quando o náufrago Crusoe considera a inutilidade de todo o ouro que conseguira trazer do navio até a ilha, mas, no fim, decide levá-lo consigo assim mesmo – isso é uma tirada irônica do autor ou humor involuntário? Quando Crusoe, testemunhando Sexta-Feira que escapa de seus ex-irmãos canibais para não ser comido, reflete acerca da utilidade de levar consigo um servo, sendo este acréscimo a seu ‘patrimônio’ coincidente com um suposto chamado da Providência para salvar um desgraçado, seria essa harmonia entre interesse capitalista e revelação divina um artifício do autor para produzir o riso do leitor? Defoe está ou não depreciando sua heroína Roxana quando ela declara que deve manter seu próprio dinheiro separado do de seu amo e marido, para não misturar seus ganhos ilícitos com o suado e honesto capital do cônjuge?”

Porque se essa for a opinião fática do Defoe o Realista literário e Materialista radical, dificilmente seria também o credo de sua metade dissidente e religiosa. Defoe o Cristão estabelece a moral e a religião como realidades autossuficientes e inquestionáveis. Mas autossuficientes e inquestionáveis até que ponto, cara pálida? Se esses valores transcendentais existem numa esfera própria, eles pouco impactam na conduta efetiva dos personagens. Moll sente pena de uma de suas vítimas mesmo durante o ato de roubá-la, mas sua tristeza nada impede na concretização do ato. Como o Coronel Jack, que pode muito bem ser um perfeito larápio e viver com a consciência remoída. No século XVIII, piedade e nariz empinado não eram estranhos um ao outro. E não se distinguiam muito bem. Ou a moral falha porque está muito mesclada com o mundo material, ou falha porque está, justamente, dele apartada. Defoe reconhece esta última condição quando escreve: ‘Lágrimas e orações não fazem revoluções / Não derrubam tiranos, não quebram grilhões’.”

A moralidade em Defoe é geralmente retrospectiva. Uma vez que você tenha pilhado, pode finalmente ser penitente. Como demonstra o narrador de si próprio em Crusoe, é só ao escrever seus atos que você pode julgar sua vida como um todo. Enquanto tenta entender a própria vida ao vivo, você anda ocupado demais mantendo o nariz acima do nível d’água para levar a termo qualquer reflexão, quanto mais sentir remorso. Só há dois desfechos: continuar ou se afogar. Correr e ainda assim não ganhar nenhum terreno, continuar na condição em que já estava; ou simplesmente perecer. Não é fácil se embrenhar em considerações metafísicas enquanto a necessidade imediata é fugir dos credores ou lidar com seu atual marido. A narrativa sempre ziguezagueia num passo tão frenético que um evento vai borrando o outro num contínuo. Nenhum da horda de personagens da novela Moll Flanders chega a ter um intercurso mais que casual com a heroína – a interação típica entre cosmopolitas, mas impensável na comunidade rural dos livros de uma Jane Austen ou George Eliot. As figuras que interagem com Moll entram e saem de sua vida e das páginas de sua vida como meros transeuntes cruzam pela Piccadilly. A pergunta mais premente na cabeça do leitor que atravessa este processo metonímico virtualmente infindável é: o que vem a seguir? Sentido e relato não são concordes.

Assim como um parvo, diz-se, é incapaz de mascar chiclete e caminhar ao mesmo tempo, os personagens de Defoe só podem agir ou refletir, mas nunca os dois juntos. A ação moralmente informada é rara; a reflexão moral só vem bem depois. É essa a razão da coexistência de dois formatos literários consideravelmente diferentes sob a capa do Robinson Crusoe: a história aventuresca e a autobiografia espiritual. De todos os personagens de Daniel Defoe, Crusoe é o mais feliz na combinação dessa ação racional com a reflexão moral. Mas isso se dá, em parte, por causa das circunstâncias excepcionais: Crusoe está sozinho numa ilha, tem algum trabalho a executar, mas também muito tempo ocioso para meditar.”

Como a vida é terrivelmente material mas também uma sucessão ininterrupta e agitada de eventos, cada ato parece simultaneamente vívido e sem substância. Essas novelas são tornadas artigos fascinantes pelo processo de criação em si mesmo, pelo valor de troca, e não pelo valor de uso (intenção final). Não há uma lógica conclusiva para a narrativa de Defoe, é uma narrativa pura e simples. Não há um momento do livro em que o fechamento seria mais natural que em qualquer outro fecho de capítulo. O eu-lírico apenas prossegue acumulando narrativa(s), como um capitalista jamais cessa de acumular capital. Um pedaço de enredo, como um investimento particular, acaba levando ao próximo. Crusoe mal volta à terra natal e já está em alto-mar de novo, ainda acumulando aventuras, que serão obviamente narradas e contarão com o desejo do eu-lírico de formular um propósito. A sede de narrativa é insaciável. A acumulação de capital parece ter um propósito, mas é pura aparência. Secretamente, pelo menos no mercantilismo defoeniano, subjaz a verdade de que o único fim da acumulação é a própria acumulação. Uma novela de Defoe não tem o epílogo de facto, como têm as novelas de Fielding. Todos os finais são arbitrários, e todos poderiam ser apenas novos começos, se se quisesse.¹ O viajante inquieto só repousa a fim de se preparar para a próxima viagem…”

¹ A maior prova disso é que AS AVENTURAS DE ROBINSON CRUSOE são continuadas pelas NOVAS AVENTURAS DE ROBINSON CRUSOE, por mim panoramicamente traduzidas em https://seclusao.art.blog/2018/08/25/as-novas-aventuras-de-robinson-crusoe-sendo-a-segunda-e-ultima-parte-de-sua-vida-e-contando-as-estranhezas-e-surpresas-de-suas-viagens-por-tres-cantos-do-mundo-versao-co/. O autor escolheu convenientemente que o primeiro livro é a primeira metade da vida de Crusoe, e depois veio a 2ª. Mas nada o impediria de estabelecer uma tripartição, ou uma divisão em 4. Exemplos literários correlatos é o que não falta!

E devido a essa narratividade pura poucos eventos em Defoe são fruídos com densidade o bastante para deixar uma impressão permanente ou recordação intacta. Personagens como Moll ou Roxana vivem premidas pelo pão de cada dia, contando apenas consigo próprias, flutuando conforme a maré, dançando conforme a dança, apostando tudo ou nada a cada momento. Em perfeita adaptação com o mundo altamente mutante que encontram, esses sujeitos sincopam seu ritmo. Ou seja: não há um núcleo central da personalidade, tampouco, porque memórias e aprendizados estarão sempre se acumulando sem uma síntese definitiva. A identidade é uma improvisação, um cálculo, uma estratégia de passagem. Trata-se de uma cadeia de reações possíveis para cada ação promovida pelo ambiente. Os impulsos humanos – avareza, egoísmo, autopreservação – são fixos e imutáveis, é verdade, mas para sempre alcançá-los cada personagem é obrigado a ser flexível a ponto de se converter em metamorfo. A perspicácia e cautela necessárias para lidar com o tema da epidemia no Jornal do Ano da Peste seriam versões escandalosas e exageradas das próprias exigências do cotidiano para o leitor-padrão.”

O Coronel Jack se casa quatro vezes, a despeito de poder passar tranqüilamente sem mulheres, e rompe com uma delas porque ela dilapida sua fortuna. Na veia mais hobbesiana e pragmática possível, o interesse burguês é muito mais fundamental que a o altruísmo iluminista. Só mesmo caçar para comer seria mais premente que caçar para lucrar.”

O eu-narrador deslinda a trama com ar imperturbável que sugere um presente consideravelmente distanciado do passado em que o eu-narrado aparece (anos de intervalo, com toda a certeza). Este último não se pode dar ao luxo dessa parcimônia glacial do primeiro. Há uma tensão constante entre as duas dimensões temporais.”

Embora ‘Deus não esteja morto’, pareceria, a essa altura, para o bom Protestante, que Ele se recolheu deste mundo. Essa é uma das razões para as especulações de Defoe sobre a Providência ecoarem com um quê de vacilação. Ora, lembra o autor em The True-Born Englishman: ‘O que vem da Providência, consiste no interesse de todo o universo.’. Se tomarmos a frase ao pé-da-letra, estariam justificados o estupro, o assassinato, o canibalismo. Cada um desses pecados teria seu papel na manutenção da harmonia do cosmo. Defoe declama piamente no prefácio do Crusoe como devemos honrar a sabedoria da Providência e suas obras, ‘sucedam como sucedam’; mas o protagonista, muito longe de se resignar ao destino, é hiperativo e incansável na tentativa de forjar seus próprios porquês.”

De nossa perspectiva, se Crusoe devera ser punido, não seria por ter vivido a primeira metade da vida como um pagão, mas sim por vender Xury, seu servo, à escravidão brutal e por gerir uma plantation no Brasil movida a mais trabalho escravo. Na verdade, quando naufraga, ele estava justamente prestes a comprar mais mão-de-obra escrava numa expedição clandestina para abastecer seu engenho. Mas nem o personagem nem o autor conseguiriam ver tais ações como pecaminosas, ainda que Crusoe se indigne com as condições do imperialismo espanhol nas Américas. Como com o narrador de O Coração das Trevas de Joseph Conrad, o ‘imperialismo dos outros’ é sempre mais repreensível que o nosso. O Coronel Jack defende o castigo físico dos escravos, e não há qualquer indicativo de que Defoe pensasse diferente. A liberdade era para os ingleses, não para os africanos! Como zeloso puritano, Defoe decerto cria que os ‘selvagens’ estavam condenados irremediavelmente à bestialidade nesta terra, e ao tormento eterno no além. Seu radicalismo (progressismo de vanguarda na política) tinha seus claros limites.”

A Natureza não é mais um livro aberto, mas um texto obscuro a ser decifrado com imensa dificuldade. O Protestante tateia avidamente no escuro atrás de qualquer signo ambíguo de sua própria salvação. Mas o fato é que, num universo secularizado, tudo está entregue à própria contingência, isto é, nada no mundo visível quer dizer alguma coisa nem dá qualquer pista de nada.”

Signos, nesse mundo dessacralizado, como também numa profusão de textos modernistas (dali a duzentos anos), são a priori e incontornavelmente ambíguos. Essa é a razão por que o crente nunca pode parar de trabalhar, porque se não se tem certeza da salvação agora, cada dia seu de labuta pode ser o fiel na balança para a absolvição no dia do Juízo. Ilhas tropicais, é bom lembrar, estão geralmente associadas à indolência, mas não no caso de Crusoe. Ele está sempre ocupado em melhorar e estender sua ‘propriedade paradisíaca’. ‘Eu realmente gostaria de um estábulo maior.’ Tanto é assim que o próprio Crusoe responde a si mesmo, vendo o quão ilógica é essa vontade: ‘Para quê?’. Crusoe não é um capitalista de verdade – é só um de mentirinha, sem mão-de-obra como Outro, sem mercado, consumidor, produto nem competidores ou divisão de trabalho. Mas, ainda que não tenha concorrentes, ele age como se os tivesse…”

A ilha de Crusoe é menos a utopia da pequena-burguesia numa dimensão paralela do que uma versão piorada ou distópica da situação pequeno-burguesa inglesa. Ou, antes, o que uma classe sofre no mundo, Crusoe sofre na sua ilha. Sua solidão é uma versão exponencial da solidão de todos os indivíduos da cidade moderna. Sendo absolutamente dependente num sentido, é verdade que é possível ser absolutamente autodeterminado num outro. Quão enérgico e engenhoso pode-se chegar a ser na administração de seu próprio império seria um índice de sua inclusão entre a minoria eleita. Assim poder-se-ia resolver o conflito aparente entre ser o joguete de Deus e, pelo próprio suor, pregar, no melhor estilo puritano, que o sucesso no trabalho é o melhor sinal que o mundo poderá dar de que você achou favor aos olhos da divindade.”

UM PROBLEMA ISENTO DE QUAISQUER “MEMÓRIAS PÓSTUMAS”: “A narrativa está sempre precariamente ancorada no presente que é um fio de navalha, em que a sorte do personagem é indefinida e o futuro absolutamente duvidoso; mas tudo isso é contado com um tal desassossego e afastamento, fechando um passado, que empresta certa autoridade. Supomos então que o narrador sobreviveu, nem que apenas pelo fato de estar agora, com a maior das calmas, falando de si mesmo na época em que corria perigo. Ansiedade e segurança se acoplam perfeitamente na escrita.”

E assim Defoe continua a insistir que sua estória existe com um fundo moral, embora isso seja obviamente uma farsa. O realismo, no sentido de uma atenção dedicada ao mundo material por si e nele mesmo, não está ainda avalizado neste período literário, embora se encontre em visível ascensão; embora a sociedade em que ele cresce e ascende demande-o cada vez mais, e encoraje-o mais que à moralidade, pois as pessoas passam a acreditar somente no que podem cheirar, tocar, provar. Samuel Johnson argumentava que o fato de um personagem ou evento ser fidedigno à natureza não servia de desculpa para incluí-lo num enredo ou obra de arte. Na teoria, essa colisão entre o moral e o real pode ser resolvida por justificações do autor, no estilo tabloide. Quão mais gráfica e escandalosa uma estória, mais fácil transmitir uma mensagem, poder-se-ia astuciosamente argumentar. Defoe escreve no prefácio para Roxana: ‘Se há qualquer parte da história, no relato de uma má ação, que pareça descrever as coisas de forma muito direta e impudica, todo o cuidado imaginável foi tomado para purificar o trabalho de todas as indecências e indecorosidades…’. Essas linhas, ao que parece, produziam, já naquele tempo, o mesmo efeito que hoje os avisos solenes, prévios a um audiovisual, acerca da presença de sexo e violência nos minutos que seguem: são só um chamariz a mais para a audiência (‘o que é proibido é melhor’), engenhosamente acrescentado pelo autor, sem transgredir nenhuma regra.

A novela realista se torna popular num marco da história em que o cotidiano banal começa a se tornar atrativo por si mesmo. Essa mescla do ordinário e exótico é a síntese do trabalho de Defoe. Parte do prazer extraído da leitura emana da excitação que deriva do puramente mundano. Defoe viveu em tempos turbulentos, e ninguém pode dizer que ele não viveu esses tempos intensa e perigosamente. Em épocas revolucionárias, a teatralidade adquire maior importância, mesmo fora da arte. Como a nova arte imita a vida, o teatral tem de despontar também na arte. Por último: Defoe também sabia o que era sofrer uma bancarrota, ser trancafiado nas galés e embarcar em expedições insólitas das quais não se sabia se se ia voltar.”

James Joyce, que, para nossa surpresa, enumera Defoe entre seus autores prediletos, escreveu do Crusoe que ele encarna ‘todo o espírito anglo-saxão … a independência masculina; a crueldade inconsciente; a persistência; a inteligência devagar mas eficaz; a apatia sexual; a religiosidade prática e metódica; a taciturnidade calculada’. Poderíamos dizer que essa é exatamente a visão que Sexta-Feira tem de Crusoe: Joyce é um súdito colonial da coroa britânica, e com certeza, quando alistado para a guerra, combateu muitos soldados com este perfil, em Dublin. Um ou dois assim são vistos no Ulisses. A passagem acima, que Joyce redigiu enquanto no exílio italiano, tem ainda algo do genial vislumbre do caráter imperial, que era meio-compatível com Joyce (colonizado, mas ao mesmo tempo da elite, ou seja, colonizador pela ótica dos subalternos, das massas irlandesas): outro materialista, o irlandês devia apreciar a fisicalidade intensa de Defoe. Uma vez o dublinense se descreveu como tendo a mente de um verdureiro. Defoe, por sua vez, destila em sua obra o autêntico espírito de uma nação de sapateiros.”

Quem é ele, ele se pergunta no mesmo estilo hipocondríaco do devoto liberal ou do pós-modernista, para interferir com a prática do canibalismo num povo primitivo? Mas o fato de maior parte da novela tratar justamente do know-how do homem civilizado e prático empresta lentes peculiares à tese do universalismo. A racionalidade ortodoxa, no sentido de ensinar quando o importante é se preservar, como não cair de um precipício, por exemplo, é mais plausível como universalidade de todos os povos do que qualquer outro tipo de raciocínio utilitário. É por isso que Sexta-Feira pode ajudar Crusoe nos trabalhos braçais muito antes de poder falar Inglês, porque a lógica do mundo material é comum a todas as culturas. Pedras caem em ambas (a ocidental e a autótocne) porque obedecem à gravidade, seja no Haiti ou em Huddersfield; quatro mãos aplicadas sempre trabalham melhor que duas para carregar objetos pesados; alguém pode jogar-lhe uma corda para evitar que você se afogue ainda que no sistema cultural de quem jogou a corda a água simbolize algo totalmente diferente do que você aprendeu em seus dogmas e valores. A racionalidade prática é, nesse aspecto, o epítome do Anglicismo: se o gentleman chegar de fato aos céus, está na cara que examinarão o lugar com bastante escrutínio, para tirarem o melhor proveito do que ele terá a oferecer. Mas eis um tipo de comportamento, senão onipresente, pelo menos atemporal.”

Não é escassa a literatura da tradição do comerciante-criminoso e vice-versa, dos vigaristas de John Gay em A Ópera do Vagabundo ao Vautrin de Balzac e o Mr. Merdle de Dickens. Como Bertolt Brecht disse: ‘O que é roubar um banco comparado com abrir um?’. A cozinha dos ladrões é a companhia de comércio sem a ideologia da respeitabilidade. O Coronel Jack começa como um ladrão de meia-tigela e termina como um bem-sucedido capitalista na Virgínia, sem nenhum talento a mais do que quando começara sua ‘carreira’. O mestre do crime de Fielding, Jonathan Wild, é um retrato satírico do político Robert Walpole, que funde em sua figura o mundo da alta política e da contravenção chic ou do colarinho branco. A idéia de ir parar numa terra virgem e construir do zero uma civilização deve constituir uma das fantasias mais intensas para a classe média. Sem dúvida isso ajuda a justificar a permanência de Crusoe como clássico sem o menor sinal de que vá ceder o posto tão cedo.”

Ao desafiar a influência do gentil-homem e da nobreza, era necessário, para lograr êxito, desacreditar o poder da antiguidade no processo. Defoe é sardônico sobre a obsessão aristocrática com a pureza de sangue e o matrimônio: Por que – ele pergunta no Compleat English Gentleman – os nobres permitem de boa vontade que amas-de-leite plebéias amamentem seus filhos, já que, ironicamente, elas lhes estão repassando, conforme a própria teoria eugênica dos sangue-azul, um sangue degenerado? N’O Inglês Puro-Sangue ele admite explicitamente a irrelevância do tópico da ancestralidade. Destarte, é uma fantasia muito benquista pelo homem branco imaginar-se num território virgem, poder desfazer toda a história até suas origens, recomeçando-a melhor, já com a ‘classe média’ no poder.”

O MESMO EFEITO DA ESTÁTUA DA LIBERDADE NO PRIMEIRO LONGA DE PLANETA DOS MACACOS: “O que nos deixa derrotados em Robinson Crusoe, e um dos momentos mais insólitos da literatura universal, é aquela misteriosa única pegada encontrada na areia.”

Ainda assim, Robinson Crusoe segue muitos anos sem preocupações em sua ilha; O Gulliver, de Jonathan Swift, não tem a mesma sorte.”

Como Defoe, Swift escreve numa prosa prática, transparente, célere, com o perdão do trocadilho,¹ sem muita textura ou ressonância. Seu texto não possui, como um crítico bem apontou, recessos ou raízes e ramificações mil. Há uma alarmante ausência de metáforas. É um estilo da superfície, sem muita profundeza nem interioridade.² Swift desconfia de toda reflexividade textual como de toda metafísica ou especulação abstrusa. Essa indiferença à verdade filosófica nos conta algo sobre o clero do século XVIII, do qual Swift fazia parte. É quase como um ladrão de banco ser indiferente ao dinheiro. Um aristocrata tory da época de Swift era necessariamente um amador, não um especialista: acreditava num certo número necessário de princípios básicos que o século do Iluminismo vinha tornar acessíveis a todos. Swift não poderia entender, ainda que sobrevivesse a sua época, a era da prosa de gêneros especializada. As Viagens de Gulliver não são, no sentido hodierno da palavra, uma obra ‘literária’, e não teriam saído do papel se o autor pensasse em escrever uma novela. A linguagem de Swift, como a de Defoe, tenta apagar a si mesma desdobrando o real no real, e na época não havia palavra para batizar esse zero fictício. As palavras perdem o valor e privilegiam os objetos, que ocupam o centro do palco. A própria linguagem ideal que o autor imaginou – uma língua que abole a língua – é a transparência do modelo. Isso acontece entre os laputianos gramáticos que, ao invés de conversar entre si usando as cordas vocais e convenções aceitas unicamente pelo seu povo, carregam para um e outro lado uma sacola com diversos objetos que eventualmente precisem comunicar, e vão-nos mostrando ao interlocutor, desempenhando uma caricata ‘linguagem de Babel’. A verdade é que a linguagem humana é este saco, mas sem fundo e diáfano, uma forma de levar o mundo conosco sem carregar peso algum (ainda que com a inconveniência de cada povo ter a sua língua). Os Houyhnhnms evitam elaborações verbais e mantêm uma perfeita correspondência entre palavra e coisa – a tal ponto, aliás, que são incapazes de mentir. Perfeitos como são em sua representação do mundo, se houvera dentre eles um escritor, seria este capaz de produzir uma bela novela realista!”

¹ Swift em inglês é ágil, veloz.

² Sublinhei em verde porque não posso estar minimamente de acordo com Eagleton neste trecho!

As Viagens de Gulliver, muito ao contrário do Crusoe, é um libelo do ‘anti-progressismo’ em que um protagonista amnesíaco parece não aprender nada ou aprender muito pouco em cada uma de suas jornadas; assim que ele parte para uma nova aventura, volta a aparentar ser uma tabula rasa. De fato as viagens de Gulliver são mais entrecortadas que as de Crusoe. Estas, mesmo que possam ser segmentadas pelo autor em capítulos e tomos, parecem bem-costuradas narrativamente. Gulliver vive literalmente episódios desconexos um do outro. Não em vão fala-se d’As Viagens como a suprema paródia do livro de viagem, gênero literário¹ usualmente otimista e cheio de ‘lições e aprendizados’.”

¹ O leitor de minha tradução deve ter percebido que em seu afã descritivo o crítico costuma se contradizer bastante. Aqui, vemos que na verdade o europeu do século XVIII contemporâneo de Defoe e Swift já reconhecia, senão o realismo ou o romantismo, pelo menos certos gêneros literários…

O tory Swift, ao contrário do whiggiano Defoe,¹ nada quer ter a ver com indivíduos. Sua única descrição é a de uma verdade universal, enquanto Gulliver e os personagens secundários servem apenas como meios para ilustrá-la. Gulliver não passa de um dispositivo narrativo bem conveniente, não é um ‘personagem’ propriamente dito, não é possível se identificar resolutamente com ele. Crusoe é bem diferente e vai crescendo em nossa concepção conforme avançam as páginas. Gulliver apenas ‘pede’ que observemos e julguemos os lugares que ele visitou.”

¹ Ver tabelas no final.

Os lilliputianos são cruéis, gananciosos e sectários, como se fossem réplicas em miniatura dos políticos de Westminster. Esse retrato da raça humana como corrupta e imutável é típica do conservantismo anglicano swiftiano. Ele desdenha a possibilidade de qualquer progresso dramático e mudança revolucionária para melhor no campo social, e logo se vê que a tal verdade universal que ele tenta mostrar é uma só: já conhecíamos essa verdade antes de viajarmos. Deus nos deu tudo de que precisávamos logo de partida, e velejar a esmo tropeçando em criaturinhas de uma polegada ou esbarrando no tornozelo de gigantes pouco importa nesse quadro. Talvez todos os indivíduos exóticos que encontramos não passem de distrações válidas unicamente para o momento.”

Mas só sabemos que os lilliputianos são diferentes de nós porque conservamos com eles a identidade do conceito de tamanho. Chamamos tarântulas de tarântulas e não de humanos porque usamos a linguagem, pela qual descrevemos e nomeamos as tarântulas, e elas não. Se as tarântulas fossem tão alienígenas assim à espécie humana, não seria esse o caso. Não se pode falar da diferença sem a comparação e o diagnóstico de algo igual. Os únicos diferentes reais de nós são aqueles que passam invisíveis, de cócoras, bem diante do nosso nariz, e que jamais percebemos.”

A escrita de uma viagem é, mais do que antes, como se vê, um gênero muito duvidoso para um tory se engajar naquele tempo. De um livro como esse esperam-se sobretudo novidades, que são indesejáveis para os conservadores. Defoe escreveu cedo na vida um Ensaio sobre Projetos (Essay on Projects), que era o perfeito contraponto dessa ânsia de imobilismo do tory: exibia grande entusiasmo quanto às reformas técnico-científicas. Crusoe rejeita implicitamente, ao querer sair de casa, os valores benquistos pela aristocracia (o lar, a coroa, a nação). Toda essa sede mercantilista de Crusoe não parece mais do que a pornografia do progresso para muitas mentes mais estreitas ou mais clássicas. Fantasiar com monstros desconhecidos é indecoroso; tudo que não é verossímil só pode nublar nosso julgamento. Crusoe encoraja caprichos tolos e emoções extravagantes que são péssimos para a lei e a ordem. Fora que, quanto mais viaja, mais Crusoe se sente um relativista cultural, algo igualmente insidioso para um tory. Pode ser perigoso para o viajante chegar a se tornar tão sonhador e apegado a coisas estrangeiras, a ponto de bradar, por exemplo, que se deparou com selvagens que, eles sim, são felizes e vivem em harmonia com a natureza. Isso seria negar o pecado original e inspirar nas gentes utopias cândidas e pueris, coisa contra a qual se deve lutar. Além do mais, de que vale, se o aventureiro acabaria sempre voltando ao solo inglês, muito longe dessas tais utopias inúteis? As alusões anti-monárquicas e anti-establishment de tais peregrinações pareceram, em todos os tempos, muito grosseiras aos tories.

Muito do debate em curso no século XVIII girava em torno de um consenso político que pudesse superar as terríveis dissensões do século anterior, mais animoso, de guerras civis e de queda e restauração da monarquia. Swift se referiu em vida a Defoe com toda a prepotência de um patrício: ‘Aquele sujeito que foi exibido no pelourinho – esqueci o nome dele…’. Mas não podemos deixar de observar em Swift o mesmo entusiasmo pelo comércio que em Defoe. Swift é irlandês e a Irlanda estava sempre em posição mais combalida que a metrópole. Além disso, Swift também não dava crédito à teoria da pureza da raça, e gostava de se ver como um burguês em que tudo de seus antepassados já se diluíra há muito tempo, a ponto de torná-lo irreconhecível para estes. Swift foi um tory, mas um tory radical, um exemplar do animal oximorônico que muito enriqueceu a cultura inglesa se formos considerar outros escritores tories e radicais ao mesmo tempo, como William Cobbett e John Ruskin.

Defoe era ‘progressista’ e rebelde, mas chegava a delírios de esnobeza episódicos tão altaneiros que chegou a alterar seu nome de Daniel Foe para Daniel De Foe, e que hoje escrevemos Defoe. A conjunção ‘de’ implica origem nobre. Swift e autores como Pope viam a sociedade britânica como desprovida desde os primórdios de mérito congênito, uma raça venal que além de tudo foi muito corrompida pelo poder e pelo dinheiro com o passar do tempo, atributos que eles viam encarnados pelo odioso primeiro-ministro whig Robert Walpole (já comentado). Mas Defoe não deixava, idem, de criticar a obsessão cega e sem qualquer pano de fundo pelo dinheiro.

Poderíamos ver os mesmos entrelaçamentos complementares e/ou contraditórios em pares como Henry Fielding e Samuel Richardson. Richardson era filho de um carpinteiro de Derbyshire, não completou a escola básica e se tornou impressor, enquanto Fielding era um egresso do colégio de Eton repleto de conexões com figurões. Richardson tinha estilo agressivo, era um campeão das classes médias, e afirmava que o ofício do comércio ‘é infinitamente de mais conseqüência, e devia ser muito mais estimulado que qualquer outra posição ou ranking social, sobretudo as dos títulos inócuos típicas da Inglaterra’. E não obstante Richardson se punha estupefato diante da quantidade de personalidades decrépitas e mesquinhas das novelas de Fielding: chegou a afirmar que se não soubesse quem Fielding era, pensaria se tratar de um cavalariço. Fielding rebatia. Disse uma vez que Pamela de Richardson encorajava jovens aristocratas a se casarem com as camareiras de suas mamães, e que não conseguiria por nada pôr-se no lugar dos nobres de suas novelas. Com efeito, em vez de casar-se com a empregada de sua mãe, Henry Fielding casou-se, no segundo matrimônio, com a empregada de sua primeira esposa!” HA-HA-HA-HA!

O nome Gulliver está muito bem-dado, por sinal.¹ Sua credulidade é o mais das vezes seu ponto fraco. Ele de alguma forma se sente pateticamente (afetivamente) ligado a pessoas que conhece em suas viagens um tanto rápido demais, sem muito senso crítico. Em Lilliput, vangloria-se de seu título de Nardac, espécie de análogo a cavaleiro da rainha, lança-se como líder militar, envolve-se em intrigas as mais pavonescas, tendo de enfrentar um processo para provar que não cometeu fornicação com uma lilliputiana. A impossibilidade física do ato sexual entre seu corpo descomunal perto de um lilliputiano não parece ter passado ora alguma pela cabeça do réu que tentava, afobado, se defender. (…) De herói a vilão da pátria, Gulliver parece ser sempre o mesmo, tanto num pólo como noutro, levado unicamente pelas circunstâncias e vilezas dos outros personagens.”

¹ “Gullible” é bobo, ingênuo.

E a despeito do inconveniente de ser um inglês e de explorar terras tão remotas, ele é um ótimo aluno de idiomas, aprendendo rápido a falar como os nativos em suas jornadas, apesar de que isso soa mais como recurso estilístico para justificar a comunicação de Gulliver nessas praças do que uma característica que Swift gostaria de ter dado sem mais a seu protagonista. Se essa parte da personalidade de Gulliver se mostra tão expedita para se adaptar aos costumes forasteiros, sua outra metade é a de um inglês chauvinista cabeça oca, complacente e cego quanto aos defeitos dos seus conterrâneos. Seu relato visivelmente galante da história do reino britânico ao rei Brobdingnag logo produz um efeito contrário ao esperado, horrorizando-o, a ponto deste rei considerar que, se Gulliver fala mesmo a verdade, todos os bretões não passam de uns vermes.”

Ou ele é um imperialista ou um relativista cultural, sem meio-termo. A questão é que a novela serve para demonstrar a secreta afinidade entre os dois extremos. Não há tanta diferença entre defender acriticamente a Coroa inglesa ou o poder soberano de Lilliput. Se devêramos simpatizar com outras culturas, se isso fosse um imperativo, então por que não simpatizar com a própria civilização? Se devemos desculpar os canibais, por que não as grandes multinacionais que poluem a atmosfera? Se todas as culturas estão em ordem e seguem na supracitada ‘harmonia cósmica’, então na realidade não há nada o quê escolher, e nenhum indício de que os brobdingnaguianos seriam superiores, em qualquer sentido, aos ingleses.”

Swift com certeza conhecia o que era preconceito: difamador dos bons, satirista vituperador altamente imaginativo e polemista de vocação, capaz de ignorar a verdade só para terminar com a razão, acabava inadvertidamente por levantar a bandeira da intolerância política e religiosa. Se a sátira de Fielding é genial, a de Swift é tão brusca e amalucada em contraste que parece até semipatológica. Ele era misógino, autoritário, troçador da canalha, e acima de tudo um representante da Irlanda de seu tempo, isto é, a colônia inglesa que era quase um pária e que, caso houvesse uma corrida entre todos os povos colonizados pela Inglaterra decerto não chegaria em primeiro lugar, no juízo inglês. Eis aqui, outra vez, o incômodo e involuntário papel ambíguo de diplomata e capataz, exercido, como vimos, por James Joyce.”

Enfim, o que As Viagens parece querer ensinar? Que você deveria apreciar todas as culturas humanas em sua parcialidade, sem ser um Gulliver, mas também sem recair no niilismo. Homens e mulheres precisam cultivar ideais, como as virtudes plácidas e racionais dos Houyhnhnms, caso queiram ser mais do que reles materialistas. O problema é deixar que esses ideais exerçam um papel predatório na própria consciência. Isso seria ser tão ao revés de um materialista que representaria a negação do próprio corpo, tão ruim quanto a falta de ideais. Não se deve chegar a esse ponto, o de perceber-se com desgosto por causa do Outro. Não se conformar inteiramente com o próprio corpo, é certo, mas nem por isso chegar a reprimi-lo.”

Se não fosse por terem 4 patas e cauda, os Houyhnhnms talvez não estivessem totalmente fora do lugar num salão janeausteniano, tomando chá com Mr. Knightley. Mas convenhamos que este é o ponto: os Houyhnhnms são menos uma possibilidade humana do que, como um ensaísta bem colocou, uma impossibilidade insultante.”

Qual perspectiva é a correta? Difícil responder na época em que inventaram o microscópio. Quão distanciado ou aproximado dos fatos você precisa estar para vê-lo ‘direito’? O que se vê na lente de um microscópio é a verdade ou a distorção da verdade?”

Os novelistas do Dezoito, tendo estabelecido uma distância do mundo romanesco, estão a maior parte das vezes cônscios de que a crença no fato nu e cru é tão mítica quando o próprio ideal do Romance. A novela, sendo a forma literária que é, nada pode fazer no tocante a decidir qual perspectiva é mais ‘verdadeira’, embora exerça um importante papel na definição do ‘mundo real’. Gulliver é um empiricista ultimado ou crente no fato bruto, um ponto de vista que anda de mãos dadas com seu interesse ‘progressista’ nos problemas técnicos e mecânicos (em contraponto ao próprio Swift, parecendo-se, desse ângulo, uma reedição de Crusoe). Ele é um exemplar do ‘novo homem’: cabeça-dura, ou melhor, obstinado, pragmático, aposta todas as suas fichas na religião chamada progresso, é fascinado por esquemas quiméricos e projetos de reforma social, ansioso por galardoar sua narrativa em primeira pessoa com mapas e provas documentais que para ele atestam a veracidade absoluta do que observa nas nações forasteiras.”

Mas Swift não nos brinda com uma solução ao dilema fundamental. Ele desaparece de vista e dá espaço para o leitor lidar com as contradições postas. É da natureza de sua sátira deixar de propor qualquer resposta construtiva – em parte porque um gentleman não carece de se envolver com esses problemas, ninharia de pequeno-burguês; e em parte porque qualquer solução logo se denunciaria como parcial.”

Swift e Defoe escrevem ambos numa sociedade que acredita na verdade, na razão e na justiça teóricas, mas cuja conduta contumaz se tornou tão falsa, injusta e irracional que já não é possível acreditar em nenhum indivíduo na prática.”

Se ‘primitivos’ como os irlandeses (que não são civilizados como os ingleses, ainda) e os aborígenes do Pacífico Sul forem realmente Yahoos, parece que isso justificaria o imperialismo britânico. Mas se os Yahoos são a humanidade inteira, então os colonizadores são (metaforicamente) bestiais e vivem também cobertos de fezes, o que suprime qualquer direito de soberania que tanto se arrogam. Por esta via, o colonialismo se torna uma questão de um bando de selvagens hipócritas liderando outros selvagens, não-hipócritas. Os mestres seriam tão imprestáveis quanto os súditos – uma opinião que, n’O Coração das Trevas, desautoriza qualquer colonialismo mas confirma, ainda, alguns de seus preconceitos (sim, os nativos são mesmo uns imprestáveis).”

Yahhoo boss (Quintanilla)
O chefe Yahoo

No fim, o que cavalos pensam de nós não é o suficiente para nos rotular como Houyhnhnms nem Yahoos – exceto, talvez, para os antepassados dos nobres anglo-irlandeses, para quem era regra amar um cavalo mais do que seus entes queridos, quem dirá o povão.”

comparison gulliver vs crusoe
comparison swift vs defoe

GLOSSÁRIO PSICANALÍTICO ou A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CASOS ou ainda “NOVELA DAS NOJEIRAS E SUJIDADES DAS BIOGRAFIAS DOS PSICANALISTAS ATÉ AQUI (2001, por falta de dados mais atuais)”

considerações preliminares (Roud. & Plon)

a terminologia analítica dá uma impressão insólita que a língua de Freud não dá, se os recursos da língua do tradutor não (sic) forem sempre explorados; em outros casos é a simplicidade da expressão freudiana que torna imperceptível o seu tecnicismo.” “O método conveniente é antes de mais nada histórico-crítico, como o do Vocabulaire technique et critique de la philosophie, de André Lalande. Eram estas as intenções iniciais quando, por volta de 1937-39, se começou a executar o projeto de um vocabulário da psicanálise. Os dados recolhidos perderam-se”

a oposição entre <pulsão> e <instinto>, necessária para a compreensão da teoria psicanalítica, em nenhum lugar é formulada por Freud: a oposição entre <escolha por apoio> de objeto (ou anaclítica) e <escolha narcísica de objeto>, embora retomada pela maior parte dos autores, nem sempre é relacionada com aquilo que em Freud a esclarece: o <apoio> ou <anáclise> das <pulsões sexuais> sobre as funções de <auto-conservação>; a articulação entre <narcisismo> e <auto-erotismo>, sem a qual não se pode situar estas duas noções, perdeu rapidamente a sua primitiva nitidez, e isto até no próprio Freud.”

Psicanalistas não batem cabeça.

O primeiro dicionário de psicanálise, intitulado Handwörterbuch der Psychoanalyse, foi elaborado por Richard Sterba, entre 1931 e 1938. Foram publicados cinco fascículos, até o momento em que a ocupação da Áustria pelos nazistas pôs fim ao empreendimento. A intenção era compor um léxico geral dos termos freudianos, um vocabulário mais do que um recenseamento dos conceitos: <Não desconheço, escreveu Freud em uma carta a seu discípulo, que o caminho que parte da letra A e passa por todo o alfabeto é muito longo, e que percorrê-lo significaria para você uma enorme carga de trabalho. Assim, não o faça, a menos que se sinta internamente levado a isso. Apenas sob o efeito desse impulso, mas certamente não a partir de uma incitação externa!>” “Em sua famosa análise do caso Dora (Ida Bauer), ele frisava que um dicionário é sempre objeto de um prazer solitário e proibido, no qual a criança descobre, à revelia dos adultos, a verdade das palavras, a história do mundo ou a geografia do sexo.” “Sterba interrompeu a redação do seu Handwörterbuch na letra L, e a impressão do último volume na palavra Grössenwahn: <Não sei, declarou vinte anos depois em uma carta a Daniel Lagache, se esse termo se refere à minha megalomania ou à de Hitler.> De qualquer forma, o Handwörterbuch inacabado serviu de modelo para as obras do gênero, todas publicadas na mesma data (1967-1968), em uma época em que o movimento psicanalítico internacional, envolvido em rupturas e dúvidas, experimentava a necessidade de fazer um balanço e recompor, através de um saber comum, a sua unidade perdida. Diversas denominações foram utilizadas: GLOSSÁRIO, dicionário, enciclopédia, vocabulário.” “o Critical Dictionary of Psychoanalysis (600 verbetes) do psicanalista inglês Charles Rycroft, claro, conciso e racional, tinha a vantagem de não ser uma obra coletiva. (…) Rycroft foi também o primeiro a pensar o freudismo sem com isso deixar de considerar a terminologia pós-freudiana (especialmente a de Melanie Klein e de Donald Woods Winnicott).”

Quanto ao célebre Vocabulário da psicanálise(417 verbetes) de Jean Laplanche e Jean-Bertrand Pontalis, foi o primeiro e único a estabelecer os conceitos da psicanálise encontrando as <palavras> para traduzi-los, segundo uma perspectiva estrutural aplicada à obra de Freud. Composto de verdadeiros artigos (de 20 linhas a 15 páginas), e não de curtas notas técnicas, como os precedentes, inaugurou um novo estilo, optando por analisar <o aparelho nocional da psicanálise>, isto é, os conceitos elaborados por esta para <explicar suas descobertas específicas>. Marcados pelo ensino de Lacan e pela tradição francesa da história das ciências, os autores conseguiram a proeza de realizar uma escrita a duas vozes, impulsionada por um vigor teórico ausente nas outras obras. É a essas qualidades que ela deve seu sucesso.

Os insucessos terapêuticos, a invasão dos jargões e das lendas hagiográficas levaram a uma fragmentação generalizada do movimento freudiano, deixando livre curso à ofensiva fin-de-siècle das técnicas corporais. Relegada entre a magia e o cientificismo, entre o irracionalismo e a farmacologia, a psicanálise logo tomou o aspecto de uma respeitável velha senhora perdida em seus devaneios acadêmicos. O universalismo freudiano teve então o seu crepúsculo, mergulhando seus adeptos na nostalgia das origens heróicas.” Ó! “apareceram monstros polimorfos [Cilas], com entradas anárquicas e profusas, nas quais a lista dos verbetes, artigos e autores estendia-se infinitamente, pretendendo esgotar o saber do mundo, sob o risco de mergulhar as boas contribuições em um terrível caos.” Ver Bouvard e Pécuchet, de Flaubert!

Foram incluídos, enfim, os membros da família de Sigmund Freud, seus mestres diretos, os escritores e artistas com os quais ele manteve correspondência importante ou contato pessoal determinante, [PARTE DA FOFOCA E BASTIDORES] e os 23 livros por ele publicados entre 1891 e 1938, inclusive o segundo, escrito com Josef Breuer (Estudos sobre a histeria), e o último, inacabado e publicado a título póstumo (Esboço de psicanálise). Foi acrescentada uma outra obra póstuma, O presidente Thomas Woodrow Wilson, da qual Freud redigiu apenas o prefácio, mas à qual deu contribuição essencial como co-autor ao lado de William Bullitt.”

ABREVIATURAS BIBLIOGRÁFICAS

ESB Sigmund Freud, Edição Standard Brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud, 24 vols., Rio de Janeiro, Imago, 1977

GW Sigmund Freud, Gesammelte Werke, 17 vols., Frankfurt, Fischer, 1960-1988

IZPInternationale ärztlische Zeitschrift für Psychoanalyse

IJP International Journal of Psycho-Analysis

OC Sigmund Freud, Oeuvres complètes, 21 vols., Paris, PUF, em preparação desde 1989

SE The Standard Edition of the Complete Psychological Works of Sigmund Freud, org. James Strachey, 24 vols., Londres, Hogarth Press, 1953-1974

INÍCIO DO GLOSSÁRIO PROPRIAMENTE DITO, EM ORDEM ALFABÉTICA (ver BIBLIOGRAFIA-BASE e RECOMENDAÇÕES DE LEITURA ao final)

a posteriori ou ação diferida ou só-depois

O termo nachträglich é de uso repetido e constante em F., que muitas vezes o emprega sublinhado. Encontramos também a forma substantivada Nachträglichkeit

Segundo Jung, o adulto reinterpreta o seu passado nas suas fantasias, que constituem outras tantas expressões simbólicas dos seus problemas atuais. (…) meio de fugir das <exigências da realidade> presente” Vinculação com os estratos de Reich.

F. pergunta: por que o recalque incide preferencialmente sobre a sexualidade? (…) O primeiro acontecimento no tempo é constituído por uma cena sexual (sedução por um adulto), mas que não tem então para a criança significação sexual. O segundo apresenta certas analogias, que podem ser superficiais; mas, pelo fato de que nesse meio tempo surgiu a puberdade, a emoção sexual é possível, emoção que o sujeito ligará conscientemente a este segundo acontecimento, quando na realidade é provocada pela recordação do primeiro. (…) O ego utiliza então o recalque, modo de <defesa patológica>”

A tradução como “ação diferida”, em português e inglês, é hoje considerada anacrônica e indutora de confusão. Hoje: complemento ao verbete ab-reação.

ab-reação

#Autorreferente #facebookCasosdeFamília

Tudo menos os anos de zumbi (2009-2011)! Tudo menos o passado e o futuro remotos (o Ceará e a Soneca dos mortos)! Tudo menos o gelo do zero absoluto a que cheguei nestas incríveis zonas temporais que hoje me são estranhas, como se pertencessem a séculos enterrados pela humanidade, cujas vicissitudes ficaram sem registros. Postura que eu classificaria hoje como Anti-Ed***d****. A cura do Vanigracismo. Son of Netherrealm, aiming the Ascension. Thorns and Aborted Trees. You shouldn’t needa drink to kill or exorcize some painful devils… Foda-se a SOMAtória de suas vãs probabilidades…

A persistência do afeto que se liga a uma recordação depende de diversos fatores, e o mais importante deles está ligado ao modo como o sujeito reagiu a um determinado acontecimento. Esta reação pode ser constituída por reflexos voluntários e involuntários, pode ir das lágrimas à vingança. Se tal reação for suficientemente importante, grande parte do afeto ligado ao acontecimento desaparecerá. Se essa reação for reprimida(unterdrückt), o afeto se conservará ligado à recordação.”

A ab-reação é o caminho normal” “a ab-reação pode ser secundária, provocada pela psicoterapia catártica, que permite ao doente rememorar e objetivar pela palavra o acontecimento traumático, e libertar-se assim do quantum de afeto que o tornava patogênico.” TABU É O TEU CU: Verbalizar a morte do próximo. A maior burrice é ser inteligente o tempo todo. Em briga de condomínio de homens das cavernas não se usa terno e gravata nem se apara barba. Às vezes cagar nas calças é, sim, o melhor remédio. Uma ventilada brutal ou cem azias, tu escolhes – que fria! Vaso entupido, contanto que não seja o meu, é merda na cu da pimenta, ehr, quer dizer… Eu não levo desaforo pra casa: deixo debaixo da ponte mesmo…

AB-NEGADO AB-O-TO-‘ADO OR ÍGIDO FREE-GIDON (MICE MARINEER-BIKERS)

CRACK CRACK CRACK! SHRECK!

ranço

abraço

dinasTIA

Jardimdim fancyn’

Socorro!

Carolíngia

do Papado

ad-block

ab-rock

ad odd world Helenistic Hell flows like an

Hell-aclitean pseudorriver

on that party that’s over

DAD

DED

HA-DAD-É O NOVO PRES-

O? PREÇO DO SENTIMENTO SUFO

CADO

PRESIDENTE DO BRASIL

S’Il y a fascists…

we’re gonna smash them

with all your heavy solos

and boots

but

le but qui est

faire le but

ter in the br…

lay down and d,…

abread

abreact

acts

ontology

AUTOANALstesia

on the

me,ta

metatable

constance

exis’

nstância-do-querer

rot

rough

road

frog

bog

jog

mob

throat

float

at

the

flow

frown

but not

nut bot

drown’d.

into the dust

in to d dãs

in 2 they do

us

estou tenso, logo fezes muito tudo ISSO

to be or not to be oh honey

sterile

barking at the moon

As 3 histerias antigas (retenções de reação):

a) limitação psicofisiológica (pavor, estado hipnótico) HISTERIA HIPNÓIDE

b) limitação social atual HISTERIA DE RETENÇÃO (sovina de MERDA)

c) repressão consciente voluntária (conscientemente esquecer!) HISTERIA DE DEFESA (é o pior ataque?! – eu diria, antes, MÁ-FÉ)

OBS: “a” e “b” foram “extintas”.

Abraham, Karl

nome indissociável da história da grande saga freudiana. (…) pioneiro no desenvolvimento da psicanálise em Berlim. (…) Elaborou uma teoria dos estágios inspirado em Klein, que foi sua aluna. Formou muitos analistas, entre os quais Helene Deutsch, Edward Glover, Karen Horney, Sandor Rado, Ernst Simmel.”

Em 1906, casou-se com Hedwig Bürgner. Tiveram dois filhos. Abraham analisou sua filha Hilda (1906-1971), descrevendo o caso em um artigo de 1913, intitulado A pequena Hilda, devaneios e sintomas em uma menina de 7 anos.

Mais clínico do que teórico, Abraham escreveu artigos claros e breves, nos quais domina a observação concreta. Devem-se distinguir três épocas. Entre 1907 e 1910, dedicou-se a uma comparação entre a histeria e a demência precoce (que ainda não era chamada esquizofrenia) e à significação do trauma sexual na infância. Durante os dez anos seguintes, estudou a psicose maníaco-depressiva, o complexo de castração na mulher e as relações do sonho com os mitos. Em 1911, publicou um importante estudo sobre o pintor Giovanni Segantini (1859-1899), atingido por distúrbios melancólicos. Em 1912, redigiu um artigo sobre o culto monoteísta de Aton, do qual Freud se serviria em Moisés e o monoteísmo, esquecendo de citá-lo. Enfim, durante o terceiro período, descreveu os três estágios da libido: anal, oral, genital.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Karl Abraham, Oeuvres complètes, 2 vols. (1965), Paris, Payot, 1989;

Hilda Abraham, Karl Abraham, biographie inachevée, Paris, PUF, 1976.

Adler, Alfred (1870-1937)

Adler, primeiro grande dissidente da história do movimento psicanalítico,¹ nasceu em Rudolfsheim, subúrbio de Viena, em 7 de fevereiro de 1870. Na verdade, nunca aderiu às teses de Sigmund Freud, de quem se afastou em 1911, sem ter sido, como Carl Gustav Jung, seu discípulo privilegiado. (…) Ambos eram judeus e vienenses, ambos provinham de famílias de comerciantes que nunca conheceram realmente o sucesso social. Adler freqüentou o mesmo Gymnasium que Freud e fez estudos de medicina mais ou menos idênticos aos seus. Entretanto, originário de uma comunidade de Burgenland, era húngaro, o que fazia dele cidadão de um país cuja língua não falava. Tornou-se austríaco em 1911 e nunca teve a impressão de pertencer a uma minoria ou de ser vítima do anti-semitismo.

Segundo de 6 filhos, tinha saúde frágil, era raquítico e sujeito a crises de falta de ar. Além disso, tinha ciúme do irmão mais velho, que se chamava Sigmund, e com quem teve uma relação de rivalidade permanente, como a que teria mais tarde com Freud.” Vira-se para o Marxismo.

¹ Uma estátua para o rapaz já!

Em 1897, casou-se com Raissa Epstein, filha de um comerciante judeu originário da Rússia. A jovem pertencia aos círculos da intelligentsia e propalava opiniões de esquerda que a afastavam do modo de vida da burguesia vienense, em que a mulher devia ser antes de tudo mãe e esposa. Através dela, Adler freqüentou Léon Trotski (1879-1940) e depois, em 1908, foi terapeuta de Adolf Abramovitch Ioffe (1883-1927), futuro colaborador deste no jornal Pravda.

Em 1898, publicou sua primeira obra, Manual de higiene para a corporação dos alfaiates. Nela, traçava um quadro sombrio da situação social e econômica desse ofício no fim do século: condições de vida deploráveis, causando escolioses e doenças diversas ligadas ao uso de tinturas, salários miseráveis, etc.”

Em 1902, depois de ficar conhecendo Freud, começou a freqüentar as reuniões da Sociedade Psicológica das Quarta-Feiras, fazendo amizade com Wilhelm Stekel.” “Foi nessa data (1909) que começaram a se manifestar divergências fundamentais entre suas posições e as de Freud e seus partidários. Elas constam das Minutas da Sociedade, transcritas por Otto Rank e editadas por Hermann Nunberg.” “Freud começou então a criticar o conjunto das posições de Adler, acusando-o de se apegar a um ponto de vista biológico, de utilizar a diferença dos sexos em um sentido estritamente social e, enfim, de valorizar excessivamente a noção de inferioridade. Hoje, encontra-se a concepção adleriana da diferença dos sexos entre os teóricos do gênero (gender).” “Adler estava edificando uma psicologia do eu, da relação social, da adaptação, sem inconsciente nem determinação pela sexualidade.” “A noção de órgão inferior já existia na história da medicina, em que muitos clínicos observaram que um órgão de menor resistência sempre podia ser o centro de uma infecção. Adler transpunha essa concepção para a psicologia, fazendo da inferioridade deste ou daquele órgão em um indivíduo a causa de uma neurose transmissível por predisposição hereditária. Segundo ele, era assim que apareciam doenças do ouvido em famílias de músicos ou doenças dos olhos em famílias de pintores, etc.” Doenças do estômago em famílias retirantes?

A ruptura entre Freud e Adler foi de uma violência extrema, como mostram as críticas recíprocas que trocaram 35 anos depois. A um interlocutor americano que o questionava sobre Freud, Adler afirmou, em 1937, que <aquele de quem nunca fôra discípulo era um escroque astuto e intrigante>. Por sua vez, informado da morte de seu compatriota, Freud escreveu estas palavras terríveis em uma célebre carta a Arnold Zweig: <Para um rapaz judeu de um subúrbio vienense, uma morte em Aberdeen é por si só uma carreira pouco comum e uma prova de seu progresso. Realmente, o mundo o recompensou com generosidade pelo serviço que ele lhe prestou ao opor-se à psicanálise.>” “Foi preciso esperar pelos trabalhos da historiografia erudita, principalmente os de Henri F. Ellenberger e os de Paul E. Stepansky, para se formar uma idéia mais exata da realidade dessa dissidência.”

Em 1912, publicou O temperamento nervoso, em que expôs o essencial da sua doutrina, e um ano depois fundou a Associação para uma Psicologia Individual, com ex-membros do círculo freudiano, entre os quais Carl Furtmuller (1880-1951) e David Ernst Oppenheim (1881-1943).”

Em 1930, recebeu o título de cidadão de Viena, mas 4 anos depois, pressentindo que o nazismo dominaria a Europa inteira, pensou em emigrar para os Estados Unidos.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Alfred Adler, La Compensation psychique de l’état d’infériorité des organes (1898), Paris, Payot, 1956;

Manès Sperber, Alfred Adler et la psychologie individuelle (1970), Paris, Gallimard, 1972.

abstinência

É em 1915, ao se interrogar sobre qual deve ser a atitude do psicanalista confrontado com as manifestações da transferência amorosa, que Sigmund Freud fala pela primeira vez da regra de abstinência. Esclarece que não pretende evocar apenas a abstinência física do analista em relação à demanda amorosa da paciente, mas o que deve ser a atitude do analista para que subsistam no analisando as necessidades e desejos insatisfeitos que constituem o motor da análise.

Para ilustrar o caráter de tapeação de que se revestiria uma análise em que o analista atendesse às demandas de seus pacientes, Freud evoca a anedota do padre que vai dar os últimos sacramentos a um corretor de seguros descrente: ao final da conversa no quarto do moribundo, o ateu não parece haver se convertido, mas o padre contratou um seguro.”

o tratamento psicanalítico deve, <tanto quanto possível, efetuar-se num estado de frustração e abstinência>. Mas F. deixa claro que não se trata de proibir tudo ao paciente e que a abstinência deve ser articulada com a dinâmica específica de cada análise. Este último esclarecimento foi progressivamente perdido de vista, assim como se esqueceu a ênfase depositada por Freud no caráter incerto da satisfação a longo prazo. O surgimento de uma concepção pedagógica e ortopédica do tratamento psicanalítico contribuiu para a transformação da regra de abstinência em um conjunto de medidas ativas e repressivas, que visam fornecer uma imagem da posição do analista em termos de autoridade e poder.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Sigmund Freud, “Observações sobre o amor transferencial”, (1915), ESB, XII, pp. 208-21. (artigo)

afaniseou afânise

Termo introduzido por Ernest Jones (Early Development of Female Sexuality, 1927); desaparecimento do desejo sexual. Segundo este autor, a afanise seria, nos 2 sexos, objeto de um temor mais fundamental que o temor da castração.”

afeto

O afeto é a expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações.” Mais tarde, ainda em Freud (muito confuso): “O afeto é aí definido como a tradução subjetiva da quantidade de energia pulsional. Freud distingue aqui nitidamente o aspecto subjetivo do afeto e os processos energéticos que o condicionam.”

LINK COM #Ab-reação: “Somente quando a evocação da recordação provoca a revivescência do afeto que estava ligado a ela na origem é que a rememoração encontra a sua eficácia terapêutica.”

O mundo como afeto & representação (não existe afeto inconsciente)

Sub-espécies de estados do afeto dinâmico:

a) transformação (ansiedade, depressão)

b) deslocamento (obsessão, paranóia)

c) conversão (histeria)

(Classificação tripartite provavelmente tão obsoleta quanto aquela da histeria enumerada no verbete ab-reação.)

afonia

Perda mais ou menos considerável da força e da clareza da voz.”

afonia”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, http://dicionario.priberam.org/afonia [consultado em 05-10-2018].

agressão

a hipótese de uma <pulsão de agressão> autônoma, emitida por Adler logo em 1908, foi durante muito tempo recusada por Freud” Normal.

…o doente no decorrer de outros tratamentos só evoca transferências ternas e amigáveis em favor da sua cura […]. Na psicaná., em contrapartida, todas as moções, incluindo as hostis, devem ser despertadas, utilizadas pela análise ao se tornarem conscientes.” F.

Um-dois abismo(s) entre o dever e o poder e o ser, hehe!

Os 3 tipos de chistes (e lá vamos nós de novo com esse de TRÊS TIPOS DE…):

a) o ingênuo (o chiste pelo chiste)

b) o hostil (agressivo, negro, defensivo)

c) o obsceno (???)

Alemanha

Sem o advento do nazismo, que a esvaziou da quase totalidade de seus intelectuais e eruditos, a Alemanha teria sido o mais poderoso país de implantação da psicanálise. Se fosse necessário comprovar essa afirmação, bastariam os nomes de seus prestigiosos fundadores, que se naturalizaram americanos, quando não morreram antes de poder emigrar: Karl Abraham, Max Eitingon, Otto Fenichel, Ernst Simmel, Otto Gross, Georg Groddeck, Wilhelm Reich, Erich Fromm, Karen Horney.”

Tratada de <psiquiatria de dona de casa> pelos meios da medicina acadêmica, a psicanálise foi mal-aceita pelos grandes nomes do saber psiquiátrico, e principalmente por Emil Kraepelin. Reprovavam o seu estilo literário e a sua metapsicologia, embora Freud tivesse assimilado em seus trabalhos uma parte importante da nosologia kraepeliniana. Entretanto, foi mesmo no campo do saber psiquiátrico que ela acabou por ser reconhecida, graças à ação de alguns pioneiros.”

No nível universitário, a resistência se manifestou de modo mais determinado. Como sublinha Jacques Le Rider, <a psicologia alemã construíra a sua reputação sobre a pesquisa em laboratório, sobre um método científico do qual a física e a química eram o modelo ideal, e cujo espírito positivo pretendia banir qualquer especulação, reconhecendo apenas um saber sintético: a biologia>. A escola alemã de psicologia reagiu contra a Naturphilosophie do século XIX, essa ciência da alma que florescera na esteira do romantismo e de que se nutriam os trabalhos freudianos.Thomas Mann seria um dos poucos a reconhecer o valor científico desse freudismo julgado excessivamente literário pelos psicólogos universitários.

No campo da filosofia, a psicanálise passava por ser aquele <psicologismo> denunciado por Edmund Husserl desde seus primeiros trabalhos. Assim, ela foi criticada em 1913 por Karl Jaspers (1883-1969) em uma obra monumental, Psicopatologia geral, que teve um grande papel na gênese de uma psiquiatria fenomenológica, principalmente na França, em torno de Eugène Minkowski, de Daniel Lagache e do jovem Jacques Lacan. Em 1937, Alexander Mitscherlisch tentou convencer Jaspers a modificar a sua opinião, mas chocou-se com a hostilidade do filósofo, que manteve-se surdo aos seus argumentos.”

Três congressos se realizaram em cidades alemãs: Nuremberg em 1910, onde foi criada a International Psychoanalytical Association (IPA), Weimar em 1911, do qual participaram 116 congressistas, Munique em 1913, quando se consumou a partida de Jung e seus partidários. Um ano depois, Freud pediu a Abraham que sucedesse a Jung na direção da IPA.”

Centro da divulgação clínica, Berlim continuava sendo pioneira de um certo conservadorismo político e doutrinário. E foi Frankfurt que se tornou o lugar da reflexão intelectual, dando origem à corrente da <esquerda freudiana>, sob a influência de Otto Fenichel, e à instituição do Frankfurter Psychoanalytisches Institut.” “Institut für Sozialforschung (…) Núcleo fundador da futura Escola de Frankfurt, esse instituto de pesquisas sociais fundado em 1923 originou a elaboração da teoria crítica, doutrina sociológica e filosófica que se apoiava simultaneamente na psicanálise, na fenomenologia e no marxismo, para refletir sobre as condições de produção da cultura no seio de uma sociedade dominada pela racionalidade tecnológica.”

Muito se disse, como sabemos, que o seu método original correspondia essencialmente à natureza da burguesia muito refinada de Viena, na época em que ele foi concebido. Claro que isso é totalmente falso em geral, mas mesmo que houvesse um grão de verdade isso em nada invalidaria a obra de Freud. Quanto maior for uma obra, mais estará enraizada em uma situação histórica concreta.”Horkheimer

Em 1930, graças à intervenção do escritor Alfons Paquet (1881-1944), a cidade concedeu a Freud o prêmio Goethe. Em seu discurso, lido por sua filha Anna, Freud prestou homenagem à Naturphilosophie, símbolo do laço espiritual que unia a Alemanha à Áustria, e à beleza da obra de Goethe, segundo ele próxima do eros platônico encerrado no âmago da psicanálise.

Depois da ascensão de Hitler ao poder, Matthias Göring, primo do marechal, decidido a depurar a doutrina freudiana de seu <espírito judaico>, pôs em prática o programa de <arianização da psicanálise>, que previa a exclusão dos judeus e a transformação do vocabulário. Rapidamente, conquistou as boas graças de alguns freudianos, dispostos a se lançarem nessa aventura, como Felix Boehm e Carl Müller-Braunschweig, aos quais se reuniram depois Harald Schultz-Hencke e Werner Kemper. Nenhum deles estava engajado na causa do nazismo. Membros da DPG e do BPI, um freudiano ortodoxo, o segundo adleriano e o terceiro neutro, simplesmente tinham ciúme de seus colegas judeus. Assim, o advento do nacional-socialismo foi para eles uma boa oportunidade de fazer carreira.

ambivalência

Ver também OBJETO (“BOM” E “MAU”).

#OFFTOPICFILOSOFAL É Além do Bem e do Mal a superação do princípio da não-contradição ou apenas uma solução guiada por este princípio? Pegadinha do Mallandgenstein.

anáclise ou apoio

[Devido a divergências de traduções ou simplesmente à incompetência da teoria,] o conceito de Anlehnungnão foi nitidamente apreendido pelos leitores de Freud.” “em francês o substantivo anaclise (anáclise), que traduziria Anlehnung, não é admitido. (…) os autores deste Vocabulário propuseram como equivalente étayage (apoio)”

Trata-se do momento de escolha do primeiro objeto de amor (paixão). A famosa necessidade do supérfluo(encobridor).

Parece que, até hoje, a noção de apoio não foi plenamente apreendida na obra de Freud; quando vemos intervir esta noção, é quase sempre na concepção de escolha de objeto, que longe de defini-la por inteiro, supõe que ela esteja no centro de uma teoria das pulsões.

O seu sentido principal é estabelecer uma [diferença entre as pulsões de autoconservação e o nascimento das pulsões sexuais e auxiliar na compreensão entre a separação entre desenvolvimento da heteronomia e autoerotismo ou narcisimo].” Apoio Exterior

anaclítica, depressão (Klein)

É um tipo de depressão passível de desenvolvimento já em bebês. Poder-se-ia chamar de “desmame traumático” que não foi satisfatoriamente reposto. É estruturalmente oposta à depressão adulta. = HOSPITALIZAÇÃO de ROUDINESCO. O verbete vem de René Spitz (The Psycho-Analytic Study of the Child; La première année de la vie de l’enfant).

análise didática

O ensino formal da psicanálise para a formação do profissional clínico, que inclui a análise propriamente dita do inconsciente do paciente-aprendiz.

Sobre o mito da autoanálise (a 1ª análise didática feita dentro da psicanálise, necessariamente, pelo Pai da disciplina): só Freud? Ou o mesmo afirmara, num congresso, que seria pré-requisito para o exercício da profissão? Respostas mais adiante, nos IMPERDÍVEIS CAPÍTULOS VERBORRÁGICOS DESTA SAGA, amigos!

F. presta homenagem à escola de Zurique por ter <…apresentado a exigência segundo a qual quem quiser praticar análises sobre outros deve 1º submeter-se a uma análise realizada por alguém com experiência>.” Experiência é relativa, diria seu mentor na Filosofia…

Foi em 1922, no Congresso da Associação Psicanalítica Internacional, 2 anos após a fundação do Instituto de Psicanálise de Berlim, que se apresentou a exigência da análise didática para todo e qualquer candidato a analista.”

Para resistir firmemente a essa investida geral do paciente, é preciso que o analista também tenha sido plena e completamente analisado. (…) muitas vezes se julga suficiente que um candidato passe um ano familiarizando-se com os principais mecanismos naquilo a que se chama a sua análise didática. Quanto ao seu progresso ulterior, confia-se no que virá a aprender no decorrer da própria experiência. (…) enquanto nem todos os empreendimentos com fins terapêuticos precisam ser levados até a profundidade quando falamos de uma terminação consumada da análise, o próprio analista deve conhecer e controlar mesmo as fraquezas mais secretas do seu caráter, e isto é impossível sem uma análise plenamente acabada.” Ferenczi

Hmmm… Que torre de Babel não temos aqui!

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Balint, Sobre o sistema de formação psicanalítica

análise direta

Espécie de “análise intensiva” para casos de psicose. Inimiga, portanto, do princípio freudiano de abstinência.

o paciente sente-se compreendido por um terapeuta ao qual atribui a compreensão todo-poderosa de uma mãe ideal; tranqüiliza-se com palavras que visam o conteúdo infantil das suas angústias mostrando a inanidade delas.” Tem-se por base que na terapia para o neurótico a postura do psicanalista tem de ser muito mais neutra. A teoria de base que sustenta essa metodologia é a de que o psicótico é necessariamente aquela criança que sofreu a influências de uma mãe perversa.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Rosen, Direct Analysis

análise existencial (Daseinanalyse)

Entre os adeptos franceses da análise existencial encontramos Eugène Minkowski, o Jean-Paul Sartre de O ser e o nada [Hm… muito mais na persona literária…] e o jovem Michel Foucault (até 1954). (…) Na Grã-Bretanha, é essencialmente em Ronald Laing que encontramos a temática existencial.” how LAING will this treatment take?

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Viktor Frankl, La Psychothérapie et son image de l’homme, Paris, Resma, 1970.

Andersson, Ola

Pioneiro da historiografia erudita, Ola Andersson teve um destino curioso no movimento freudiano. O único livro que escreveu, publicado em 1962 com o título anglófono de Studies in the Pre-history of Psychoanalysis. The Etiology of Psychoneuroses (1886-1896) [ver versão francesa nas indicações de leitura], foi completamente ignorado na Suécia nos meios psicanalíticos, embora seu autor ocupasse funções acadêmicas importantes e fosse responsável pela tradução sueca das obras de Sigmund Freud. [!]”

No seu próprio trabalho, Andersson empreendeu então a primeira grande revisão de um caso princeps dos Estudos sobre a histeria: o caso Emmy von N.. Descobriu seu nome verdadeiro, Fanny Moser, expôs a sua história no congresso da IPA de Amsterdam em 1965, e esperou 14 anos para publicar um artigo sobre esse tema na The Scandinavian Psychoanalytic Review.” “Entretanto, ao contrário de Ellenberger, continuou apegado, como membro da IPA, à ortodoxia oriunda de Ernest Jones, cujo trabalho biográfico admirava, o que o impediu de empenhar-se mais na história erudita. Sofreu muito com seu isolamento no seio da Sociedade Psicanalítica Sueca, a ponto de pedir a Ellenberger, em 1976, que o ajudasse a emigrar para os Estados Unidos.”

Seu sobrenome Andersson, psicanalista ao mesmo tempo integrado e marginal, foi realmente apagado da história intelectual de seu país, a ponto de não figurar na Enciclopédia nacional sueca, ele que havia escrito tantos artigos em diversas enciclopédias suecas.”

Andreas-Salomé, Lou, née Lelia (Louise) von Salomé (1861-1937)

Mais por sua vida do que por suas obras, Lou Andreas-Salomé teve um destino excepcional na história do século XX. Figura emblemática da feminilidade narcísica,¹ concebia o amor sexual como uma paixão física que se esgotava logo que o desejo fosse saciado. Só o amor intelectual, fundado na mais absoluta fidelidade, era capaz, dizia ela, de resistir ao tempo.”

¹ O que seria isso?

Ironizava as invectivas, os boatos e os escândalos, decidida a não se dobrar às imposições sociais. Depois de Nietzsche (1844-1900) e de Rilke (1875-1926), Freud ficou deslumbrado por essa mulher, a quem amou ternamente e que revolucionou a sua existência.

Nascida em São Petersburgo, em uma família da aristocracia alemã, Lou Salomé era filha de um general do exército dos Romanov. Com a idade de 17 anos, recusando-se a ser confirmada pelo pastor da Igreja evangélica reformada, à qual pertencia sua família, colocou-se sob a direção de outro pastor, Hendrik Gillot, dândi brilhante e culto, que se apaixonou por ela logo que a iniciou na leitura dos grandes filósofos.”

Graças a Malwida von Meysenburg (1816-1903), grande dama do feminismo alemão, ficou conhecendo o escritor Paul Rée (1849-1901), que lhe apresentou Nietzsche. Persuadido de que encontrara a única mulher capaz de compreendê-lo, este lhe fez um pedido solene de casamento. Lou recusou-se. A esses dois homens, profundamente apaixonados por ela, propôs então constituírem uma espécie de trindade intelectual, e em maio de 1882 [38 x 33 x 21 anos], para selar o pacto, fizeram-se fotografar juntos, diante de um cenário de papelão: Nietzsche e Rée atrelados a uma charrete, Lou segurando as rédeas.” “Foi a adesão ao narcisismo nietzschiano, e de modo mais geral o culto do ego, característico da Lebensphilosophie (filosofia da vida)¹ fin de siècle, que preparou o encontro de Lou com a psicanálise.” Blá, blá, blá…

¹ Por que afinal via de regra é a filosofia-da-morte, certo?

PICÂNCIA EDÍPICA CHULA

Em junho de 1887, Lou casou-se com o orientalista alemão Friedrich-Carl Andreas, que ensinava na Universidade de Göttingen. O casamento não foi consumado, e Georg Ledebourg, fundador do Partido Social-Democrata alemão tornou-se seu primeiro amante, algum tempo antes de Friedrich Pineles, médico vienense. Essa segunda ligação terminou com um aborto e uma trágica renúncia à maternidade. Lou instalou-se então em Munique, onde ficou conhecendo o jovem poeta Rainer Maria Rilke: <Fui tua mulher durante anos, escreveria ela em Minha vida, porque foste a primeira realidade, em que o homem e o corpo são indiscerníveis um do outro, fato incontestável da própria vida […]. Éramos irmão e irmã, mas como naquele passado longínquo, antes que o casamento entre irmão e irmã se tornasse um sacrilégio.>” “como diria Freud em 1937, <ela foi ao mesmo tempo a musa e a mãe zelosa do grande poeta […] que era tão infeliz diante da vida.>” Mal consigo contar os clichês deste verbete…

Em seu artigo de 1914 sobre o narcisismo, era nela que pensava quando descreveu os traços tão particulares dessas mulheres, que se assemelham a grandes animais solitários mergulhados na contemplação de si mesmos.”“Logo ela abraçou exclusivamente a causa do freudismo. Foi então que se apaixonou porViktor Tausk, o homem mais belo e mais melancólico do círculo freudiano.”“Introduzida no círculo da Berggasse, tornou-se familiar da casa e apegou-se particularmente a Anna Freud. Depois das reuniões das quartas-feiras, Freud a conduzia a seu hotel; depois de cada jantar, a cumulava de flores.”

Fiquei sabendo com temor — e pela melhor fonte — que todos os dias você dedica até dez horas à psicanálise. Naturalmente, considero isso uma tentativa de suicídio mal-dissimulada, o que muito me surpreende, pois, que eu saiba, você tem muito poucos sentimentos de culpa neurótica. Portanto, insisto que pare e de preferência aumente o preço de suas consultas em um quarto ou na metade, segundo as flutuações da queda do marco. Parece que a arte de contar foi esquecida pela multidão de fadas que se reuniram em torno do seu berço quando você nasceu. Por favor, não jogue pela janela este meu aviso.”

Empobrecida pela inflação que assolava a Alemanha e obrigada a manter os membros de sua família arruinados pela Revolução de Outubro, Lou não conseguia suprir suas necessidades. Embora nunca pedisse nada, Freud lhe enviava somas generosas e dividia com ela, como dizia, a sua <fortuna recentemente adquirida>.

OEDIPUS GONNA ANTIOEDIPALIZE YOU: “Lou tornou-se confidente da filha de Freud e até sua segunda analista, quando isso se tornou necessário.”

Para comemorar o seu 75º aniversário, Lou decidiu dedicar a Freud um livro, para expressar sua gratidão e alguns desacordos. Criticava principalmente os erros cometidos pela psicanálise a respeito da criação estética, reduzida abusivamente, dizia ela, a um caso de recalque. Freud aceitou sem reservas a argumentação, mas tentou conseguir que ela mudasse o título da obra (Minha gratidão a Freud).”

A partir de 1933, Lou assistiu com horror à instauração do regime nazista. Conhecia o ódio que lhe consagrava Elisabeth Forster (1846-1935), irmã de Nietzsche, que se tornara adepta fervorosa do hitlerismo. Conhecia os desvios que esta impusera à filosofia do homem de quem fôra tão próxima e que tanto admirava. Não ignorava que os burgueses de Göttingen a chamavam A Feiticeira. Mas decidiu não fugir da Alemanha. Alguns dias depois de sua morte, um funcionário da Gestapo foi à sua casa para confiscar a biblioteca, que seria jogada nos porões da prefeitura:Apresentou-se como razão para esse confisco, escreveu Peters, que Lou fôra psicanalista e praticara aquilo que os nazistas chamavam de ciência judaica, que ela fôra colaboradora e amiga íntima de Sigmund Freud e que a sua biblioteca estava apinhada de autores judeus.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Lou Andreas-Salomé, Fenitschka (Stuttgart, 1898), Paris, Des Femmes, 1985;

______. Érotisme (Frankfurt, 1910, Munique, 1979), in: Eros, Paris, Minuit, 1984; (art.)

______. Rainer Maria Rilke (Leipzig, 1928), Paris, Marendell, 1989;

______. Ma gratitude envers Freud (Viena, 1931, Paris, 1983), Seuil, col. “Points”, 1987, traduzido com o título Lettre ouverte à Freud;

______. Ma vie (Zurique, 1951, Frankfurt 1977), Paris, PUF, 1977;

______. L’Amour du narcissisme, Paris, Gallimard, 1980;

______. Carnets intimes des dernières années (Frankfurt, 1982), Paris, Hachette, 1983;

______. En Russie avec Rilke, 1900. Journal inédit, Paris, Seuil, 1992;

Freud & Lou Andréas-Salomé, correspondência completa (Frankfurt, 1966), Rio de Janeiro, Imago, 1975;

Nietzsche, Rée & Salomé, Correspondance (Frankfurt, 1970), Paris, PUF, 1979;

H.F. Peters, My sister, my spouse (N. York, 1962), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1986;

Rudolph Binion, Frau Lou, Nietzsche’s Wayward Disciple, Princeton, Princeton University Press, 1968;

Angela Livingstone, Lou Andreas-Salomé: Her Life and Work (Londres, 1984), Paris, PUF, 1990.

antipsiquiatria

Sob certos aspectos, a antipsiquiatria foi a seqüência lógica e o desfecho da psicoterapia institucional. Se esta havia tentado reformar os manicômios e transformar as relações entre os que prestavam e os que recebiam cuidados, no sentido de uma ampla abertura para o mundo da loucura, a antipsiquiatria visou a extinguir os manicômios e eliminar a própria idéia de doença mental.” “foi justamente por ter sido uma revolta que a antipsiquiatria teve, ao mesmo tempo, uma duração efêmera e um impacto considerável no mundo inteiro. Ela foi uma espécie de utopia: a da possível transformação da loucura num estilo de vida, numa viagem, num modo de ser diferente e de estar do outro lado da razão, como a haviam definido Arthur Rimbaud (1854-1891) e, depois dele, o movimento surrealista.”

Assim como o movimento psicanalítico havia fabricado sua lenda das origens através da história de Anna O. (Bertha Pappenheim), a antipsiquiatria também reivindicou a aventura de uma mulher: Mary Barnes. Essa ex-enfermeira, reconhecida como esquizofrênica e incurável, tinha cerca de 40 anos ao ingressar no Hospital de Kingsley Hall, onde Joseph Berke a deixou regredir durante 5 anos. Através dessa descida aos infernos e de uma espécie de morte simbólica, ela pôde renascer para a vida, tornar-se pintora e, mais tarde, redigir sua <viagem>.”

GUERRA FRIA LACAN X SEU MESTRE: “Na França, não houve nenhuma verdadeira corrente antipsiquiátrica, de um lado porque a esquerda lacaniana ocupou parcialmente o terreno da revolta contra a ordem psiquiátrica, através da corrente da psicoterapia institucional, e de outro, em função de Foucault e Gilles Deleuze (1925-1995) [Batman & Robin], cujos trabalhos cristalizaram a contestação <antipsiquiátrica> a uma dupla ortodoxia, freudiana e lacaniana.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

David Cooper, Psiquiatria e antipsiquiatria (Londres, 1967);

Mary Barnes & Joseph Berke. Un voyage à travers la folie (Londres, 1971), Paris, Seuil, 1973;

Thomas Szasz, Le Mythe de la maladie mentale (N. York, 1974), Paris, Payot, 1975.

antropologia

O debate entre os antropólogos e os psicanalistas começou após a publicação, em 1912-1913, do livro Totem e tabu e deu origem a uma nova disciplina, a etnopsicanálise, cujos dois grandes representantes foram Geza Roheim e Georges Devereux. Seu principal contexto geográfico inicial foi a Melanésia, isto é, a Austrália, onde ainda viviam aborígines que, no final do século, eram considerados o povo mais <primitivo> do planeta, e as ilhas situadas a sudoeste do oceano Pacífico (Trobriand e Normanby), habitadas pelos melanésios propriamente ditos e pelos polinésios. Posteriormente, o campo de eleição foi o dos índios da América do Norte.”

Derivada do grego (ethnos: povo, e logos: pensamento), a palavra etnologia só veio a surgir no século XIX. Todavia, o estudo comparativo dos povos remonta a Heródoto. Se, de acordo com os antigos, o mundo estava estaticamente dividido entre a civilização e a barbárie (externa à cidade), a questão colocou-se de outra maneira na era cristã. Os missionários e conquistadores se indagaram, com efeito, se os indígenas tinham alma ou não.”

Daí nasceu a tese de que o primitivo se assemelha à criança, que se assemelha ao neurótico. Foi nesse darwinismo que Freud se inspirou, através dos trabalhos de James George Frazer (1854-1941) sobre o totemismo e de William Robertson Smith (1846-1894) sobre o tabu.”

Na França, a palavra ethnologie, etnologia, surgiu em 1838, para designar o estudo comparativo dos chamados costumes e instituições <primitivos>. Dezessete anos depois, foi suplantada pelo termo antropologia, ao qual o médico Paul Broca (1824-1881) associou seu nome, ao fazer dela uma disciplina física e anatômica que logo desembocou, no contexto da teoria da hereditariedade-degenerescência, no estudo das <raças> e das <etnias>, concebidas como espécies zoológicas.

No mundo anglófono, ao contrário (na Grã-Bretanha e, depois, nos Estados Unidos), a palavra ethnology cobriu o campo da antropologia física (no sentido francês), enquanto se cunhou, em 1908, o termo social anthropology, para designar a cátedra de antropologia de Frazer na Universidade de Liverpool.”

Observe-se que Charles Seligman (1873-1940) e William Rivers (1864-1922), dois antropólogos de formação médica, foram os primeiros a tornar conhecidos no meio acadêmico da antropologia inglesa os trabalhos freudianos sobre o sonho, a hipnose e a histeria. Mais tarde, esse trabalho teve seguimento através da escola culturalista norte-americana, desde Margaret Mead até Ruth Benedict (1887-1948), passando por Abram Kardiner e pelo neofreudismo.”

Quanto à antiga escola de antropologia, ela evoluiria para o racismo, o anti-semitismo e o colaboracionismo, em especial sob a influência de Georges Montandon, ex-médico e adepto das teses do padre Wilhelm Schmidt (1868-1954). Fundador da Escola Etnológica de Viena e diretor, em 1927, do museu etnográfico pontifical de Roma, Schmidt acusaria Freud de querer destruir a família ocidental. Quanto a Montandon, ele participaria do extermínio dos judeus durante o regime de Vichy e seria amigo do psicanalista e demógrafo Georges Mauco.

Foi preciso esperar pela segunda metade do século XX para que fosse introduzida na França, através de Claude Lévi-Strauss, a terminologia anglófona. Em 1954, ele livrou o termo <antropologia> de todas as antigas imagens da hereditariedade-degenerescência, a fim de definir uma nova disciplina que abarcasse, ao mesmo tempo, a etnografia, como primeira etapa de um trabalho de campo, e a etnologia, designada como segunda etapa e primeira reflexão sintética.

Se Marcel Mauss, sobrinho de Émile Durkheim, havia desvinculado a etnologia da sociologia durkheimiana, embora se inspirasse em seus modelos, Claude Lévi-Strauss passou da etnologia para a antropologia, unificando os dois campos (anglófono e francófono) em torno de três grandes eixos: o parentesco (em vez da família e do patriarcado), o universalismo relativista (em vez do culturalismo) e o incesto. Situou-se prontamente como contemporâneo da obra freudiana, à qual se referiu, como ao Curso de lingüística geral de Ferdinand de Saussure (1857-1913), sublinhando, em Tristes trópicos, o que ela lhe havia trazido: <…(essa obra) me revelou que […] são as condutas aparentemente mais afetivas, as operações menos racionais e as manifestações declaradas pré-lógicas que são, ao mesmo tempo, as mais significativas.>“Lévi-Strauss foi, sem sombra de dúvida, o primeiro etnólogo a teorizar a viagem etnológica segundo o modelo de uma estrutura melancólica: todo etnólogo redige uma autobiografia ou escreve confissões, diria ele, em essência, porque tem que passar pelo eu para se desligar do eu.”

PREFIGURAÇÃO DE BAUDRILLARD: “Foi dentro dessa orientação que ele estabeleceu uma analogia entre a técnica de cura xamanista e o tratamento psicanalítico. Na primeira, dizia, o feiticeiro fala e provoca a ab-reação, isto é, a liberação dos afetos do enfermo, ao passo que, na segunda, esse papel cabe ao médico que escuta, no bojo de uma relação na qual é o doente quem fala. Além dessa comparação, Lévi-Strauss mostrou que, nas sociedades ocidentais, tendia a constituir-se uma <mitologia psicanalítica> que fizesse as vezes de sistema de interpretação coletivo: <Assim, vemos despontar um perigo considerável: o de que o tratamento, longe de levar à resolução de um distúrbio preciso, sempre respeitando o contexto, reduza-se à reorganização do universo do paciente em função das interpretações psicanalíticas.> Se a cura, portanto, sobrevém através da adesão a um mito, agindo este como uma organização estrutural, isso significa que esse sistema é dominado por uma eficácia simbólica. Daí a idéia, proposta já em 1947 na Introdução à obra de Marcel Mauss, de que o chamado inconsciente não seria outra coisa senão um lugar vazio onde se consumaria uma autonomia da função simbólica.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

(a eterna busca pelo ramo de ouro) Pierre Bonte & Michel Izard, Dictionnaire de l’ethnologie et de l’anthropologie, Paris, PUF, 1992;

R. Lowie, Histoire de l’ethnologie classique (N. York, 1937), Paris, Payot, 1971.

anulação

o isolamento, uma forma de defesa característica da neurose obsessiva, processo mágico em Freud (1926)

Anzieu, Marguerite (Aimée), paciente de Lacan

Foi Élisabeth Roudinesco quem revelou pela primeira vez, em 1986, a verdadeira identidade dessa mulher, e depois reconstruiu, em 1993, a quase totalidade de sua biografia, a partir do testemunho de Didier Anzieu e dos membros de sua família.”

Marguerite Pantaine provinha de uma família católica e interiorana do centro da França. Criada por uma mãe que sofria de sintomas persecutórios, sonhou desde muito cedo, à maneira de Emma Bovary, sair de sua situação e se tornar uma intelectual. Em 1910, ingressou na administração dos correios e, sete anos depois, casou-se com René Anzieu, também funcionário público. Em 1921, quando grávida de seu filho Didier, começou a ter um comportamento estranho: mania de perseguição, estados depressivos. Após o nascimento do filho, instalou-se numa vida dupla: de um lado, o universo cotidiano das atividades de funcionária dos correios, de outro, uma vida imaginária, feita de delírios. Em 1930, redigiu de enfiada dois romances que quis mandar publicar, e logo se convenceu de estar sendo vítima de uma tentativa de perseguição por parte de Hughette Duflos, uma célebre atriz do teatro parisiense dos anos 30. Em abril de 1931, tentou matá-la com uma facada, mas a atriz se esquivou do golpe e Marguerite foi internada no Hospital Sainte-Anne, onde foi confiada a Jacques Lacan, que fez dela um caso de erotomania e de paranóia de autopunição.

A continuação da história de Marguerite Anzieu é um verdadeiro romance. Em 1949, seu filho Didier, havendo concluído seus estudos de filosofia, resolveu tornar-se analista. Fez sua formação didática no divã de Lacan, enquanto preparava uma tese sobre a auto-análise de Freud sob a orientação de Daniel Lagache, sem saber que sua mãe tinha sido o famoso caso Aimée. Lacan não reconheceu nesse homem o filho de sua ex-paciente, e Anzieu soube da verdade pela boca da mãe, quando esta, por um acaso extraordinário, empregou-se como governanta na casa de Alfred Lacan (1873-1960), pai de Jacques” [!!]

Argentina

Independente desde 1816, depois de ter-se submetido à colonização espanhola, a Argentina viveu sob o reino dos caudilhos durante todo o século XIX. A partir de 1860, a cidade de Buenos Aires, sob a influência da sua classe dominante, os portenhos, esteve na liderança da revolução industrial e da construção de um Estado moderno. Em 1880, realizou-se a unidade entre as diferentes províncias e a cidade portuária se tornou a capital federal do país. Em 50 anos (1880-1930), a Argentina acolheu 6 milhões de imigrantes, italianos ou espanhóis na maioria; três vezes o volume de sua população inicial. Fugindo dos pogroms, os judeus da Europa central e oriental se misturaram a esse movimento migratório e se instalaram em Buenos Aires, fazendo da capital o centro de um cosmopolitismo aberto a todas as idéias novas.” “Fundador do asilo argentino, Lucio Melendez repetiu no seu país o gesto de Philippe Pinel, criando uma organização de saúde mental dotada de uma rede de hospitais psiquiátricos e edificando uma nosografia inspirada em Esquirol. Domingo Cabred, seu sucessor, prosseguiu a obra, adaptando a clínica da loucura aos princípios da hereditariedade-degenerescência. Na mesma época, começaram a afirmar-se as pesquisas em criminologia e em sexologia, enquanto o ensino da psicologia, em todas as suas tendências, tomava uma extensão considerável, com a criação, em 1896, de uma primeira cátedra universitária em Buenos Aires.”

Em 1904, José Ingenieros, psiquiatra e criminologista, publicou o primeiro artigo que mencionava o nome de Freud. Depois, durante os anos 1920, vários autores apresentaram a psicanálise ora como uma moda ou uma epidemia (Anibal Ponce), ora como uma etapa da história da psicologia (Enrique Mouchet). Em 1930, Jorge Thénon afirmou que ela era excessivamente metapsicológica, sem com isso negar o seu interesse. Curiosamente, enquanto uma notável tradução espanhola das obras de Freud estava em preparação em Madri, sob a direção de José Ortega y Gasset, os autores argentinos se referiam a versões francesas. Do mesmo modo, importavam as polêmicas parisienses, às quais acrescentavam — imposição da latinidade — as críticas italianas. Assim, os argumentos de Enrico Morselli (1852-1929) tiveram uma repercussão favorável, enquanto o temível Charles Blondel tinha um franco sucesso ao declarar, por ocasião da sua viagem de conferências em 1927, que Henri Bergson (1859-1941) era o verdadeiro descobridor do inconsciente

e Freud uma espécie de Balzac fracassado [haha!].”

A escola argentina nunca se limitaria a uma única doutrina. Acolheria todas com um espírito de ecletismo, inscrevendo-as quase sempre em um quadro social e político: marxista, socialista ou reformista. Ao longo dos anos e através de suas diversas filiações, ela conservaria o aspecto de uma grande família e saberia organizar suas rupturas sem criar clivagens irreversíveis entre os membros de suas múltiplas instituições.” “Tendo adquirido uma tradição clínica e uma verdadeira identidade freudiana, os argentinos formaram então, pela análise didática, seja em Buenos Aires, seja em seus próprios países, a maioria dos terapeutas dos países de língua espanhola que, por sua vez, se integrariam à IPA, constituindo grupos ou sociedades: Uruguai, Colômbia, Venezuela.” “Em 1977, a América Latina estava a ponto de tornar-se o continente freudiano mais poderoso do mundo, sob a égide da COPAL (futura FEPAL) e em ligação com os grupos brasileiros, capaz de rivalizar com a American Psychoanalytic Association (APsaA) e a Federação Européia de Psicanálise (FEP).” “As duas cisões se produziram no momento em que a Argentina saía de um regime militar clássico, fundado no populismo e herdado do velho caudilhismo, para um sistema de terror estatal. Ora, se o primeiro feria as liberdades políticas, não limitava a liberdade profissional e associativa, da qual dependia o funcionamento das instituições psicanalíticas. O segundo, ao contrário, visava erradicar todas as formas de liberdade individual e coletiva. Por conseguinte, poderia destruir a psicanálise, como fizera outrora o nazismo. § Em 1973, quando Perón voltou ao poder, nomeou Isabelita, sua nova esposa, para o posto de vice-presidente e fez de seu secretário José Lopez Rega o ministro dos assuntos sociais do país. Este apressou-se a criar a Tríplice A (Aliança Argentina Anticomunista), conhecida por seus esquadrões da morte, que serviram de força suplementar para o exército, em suas operações de controle da sociedade civil.Um ano depois, Perón morreu e Isabelita assumiu a sua sucessão, sendo substituída em março de 1976 pelo general Jorge Videla, que instaurou durante 9 anos um dos regimes mais sangrentos do continente latino-americano, com o do general Pinochet no Chile: 30 mil pessoas foram assassinadas e torturadas, sob o rótulo de desaparecidos.” “E foi em nome da defesa de um <ocidente cristão> e da segurança nacional que as forças armadas decidiram erradicar o freudismo e o marxismo, julgados responsáveis pela <degeneração> da humanidade. Ao contrário dos nazistas, não erigiram um instituto como o de Matthias Heinrich Göring e não aboliram a liberdade de associação. A perseguição foi silenciosa, anônima, penetrando no coração da subjetividade.” “Marxista e veterana das Brigadas Internacionais, Marie Langer encontrou-se, desde o seu exílio no México, na vanguarda dos combates, arrastando consigo todos os psicanalistas politizados do país. Foi nessa época que os argentinos, como outrora os judeus europeus, emigraram em grande número para os quatro cantos do mundo, a fim de formar novos grupos freudianos ou integrar-se aos que já existiam na Suécia, na Austrália, na Espanha, nos Estados Unidos, na França.” “Durante todo o período de terror estatal (1976-1985), o interesse pelo pensamento de Lacan progrediu na Argentina de maneira curiosa. Recebido como uma contracultura subversiva e de aspecto esotérico, a doutrina do mestre permitia aos que a faziam frutificar mergulhar em debates sofisticados sobre o passe, o matema e a lógica, e esquecer, ou mesmo ignorar, a sangrenta ditadura instaurada pelo regime. Como seus colegas politizados da IPA, os lacanianos marxistas e militantes se exilaram ou resistiram ao terror.” “Em 1991, Horacio Etchegoyen foi eleito presidente. Técnico do tratamento de tendência kleiniana, analisado por Heinrich Racker e membro da ABdeBA, foi o primeiro presidente de língua espanhola do movimento freudiano.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jacques Derrida, Geopsychanalyse and the rest of the world, 1981.

associação verbal, teste de

Técnica experimental usada por Carl Gustav Jung, a partir de 1906, para detectar os complexos e isolar as síndromes específicas de cada doença mental. Consiste em pronunciar diante do sujeito uma série de palavras, cuidadosamente escolhidas, pedindo-lhe que responda com a primeira palavra que lhe vier à cabeça e medindo seu tempo de reação.”

Historicamente, essa técnica está ligada à noção de associação de idéias, já utilizada por Aristóteles, que definira seus 3 grandes princípios: a contigüidade, a semelhança e o contraste. No século XIX, a psicologia introspectiva e a filosofia empirista conferiram-lhe tamanha importância que o associacionismo transformou-se numa verdadeira doutrina, na qual se inspirariam todas as correntes da psicologia e, em especial, Freud”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Freud/Jung: correspondência completa (Paris, 1975).

atenção (uniformemente) flutuante

É o “espelho” da associação livre: faz parte do método de conduta do analista frente ao paciente (busca de neutralidade).

Tal como o paciente deve contar tudo o que lhe passa pelo espírito, eliminando todas as objeções lógicas e afetivas que pudessem levá-lo a fazer uma escolha, assim o médico deve estar apto a interpretar tudo o que ouve a fim de que possa descobrir aí tudo o que o insconsciente dissimula”F., 1912

Graças a ela, o analista pode conservar na memória uma multidão de elementos aparentemente insignificantes cujas correlações só aparecerão posteriormente.”

ouvir com o terceiro ouvido”Reik

empatia infraverbal”

Se o isso são imagens, como escutá-las? Porque mesmo que emitissem sons, o isso também não tem ouvidos, ainda que tivesse bocas

ato falho

Os editores da Standard Edition observam que para designá-lo foi preciso criar em inglês um termo, parapraxis. Em francês, o tradutor de Psicopatologia da vida cotidiana utilizou a expressão acte manqué, que adquiriu fôro de cidadania, mas parece que na prática psicanalítica corrente na França ela designa principalmente uma parte do campo coberto pelo termo Fehlleistung, quer dizer, as falhas da ação stricto sensu [enquanto que, para Freud, o ato falho pode ser compreendido como um ato bem-sucedido do inconsciente, vd. verbete do livro citado].”

auto-análise

Doctor Dream

mantenho a opinião de que esta espécie de análise [dos sonhos] pode ser suficiente para quem é um bom sonhador e não muito anormal.”O inconveniente é que esse tipo de pessoa teria de ser avisado disso (2ª característica)!

Num instante 2, em carta: “Uma verdadeira auto-análise é impossível; se não fosse isso não haveria doença.”

LOOK WHO SAYS… “Considera-se geralmente a auto-análise uma forma particular de resistência à psicanálise que embala o narcisismo e elimina a mola mestra do tratamento, que é a transferência.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Anzieu, Freud’s Self-Analysis (1986) (filho da paciente Marguerite Anzieu de Lacan!)

deb(u)t of the doubt

Nada mais risível e não-enriquecedor do que testemunhar os mútuos ataques dos psicanalistas entre si.

autismo

A PSICANÁLISE CLÁSSICA PRECISA SER SUPEREGOTIZADA APÓS SEU PAPAI: “Termo criado em 1907 por Eugen Bleuler e derivado do grego autos (o si mesmo), para designar o ensimesmamento psicótico do sujeito em seu mundo interno e a ausência de qualquer contato com o exterior, que pode chegar inclusive ao mutismo.” “É numa carta de Carl Gustav Jung a Sigmund Freud, datada de 13 de maio de 1907, que descobrimos como Bleuler cunhou o termo autismo. Ele se recusava a empregar a palavra auto-erotismo, introduzida por Havelock Ellis e retomada por Freud, por considerar seu conteúdo por demais sexual. Por isso, fazendo uma contração de auto com erotismo, adotou a palavra autismo, depois de ter pensado em ipsismo, derivada do latim. Posteriormente, Freud conservou o termo auto-erotismo para designar esse mesmo fenômeno, enquanto Jung adotou o termo introversão.” “Em 1911, em seu principal livro, Dementia praecox ou grupo das esquizofrenias, Bleuler designou por esse termo um distúrbio típico da esquizofrenia e característico dos adultos.”

Cinco grandes sinais clínicos permitiriam, segundo Kanner, reconhecer a psicose autística: o surgimento precoce dos distúrbios (logo nos dois primeiros anos de vida), o extremo isolamento, a necessidade de imobilidade, as estereotipias gestuais e, por fim, os distúrbios da linguagem (ou a criança não fala nunca, ou emite um jargão desprovido de significação, incapaz de distinguir qualquer alteridade).”

Além de Bettelheim, foram a corrente annafreudiana, por um lado, com os trabalhos de Margaret Mahler sobre a psicose simbiótica, e a corrente kleiniana, por outro, que melhor estudaram e trataram o autismo, amiúde com sucesso, com a ajuda dos instrumentos fornecidos pela psicanálise. Nesse contexto, Frances Tustin trouxe uma nova visão sobre essa questão na década de 1970, ao propor uma classificação do autismo em três grupos: o autismo primário anormal, resultante de uma carência afetiva primordial e caracterizado por uma indiferenciação entre o corpo da criança e o da mãe; o autismo secundário, de carapaça, que corresponde em linhas gerais à definição de Kanner; e o autismo secundário regressivo, que seria uma forma de esquizofrenia sustentada por uma identificação projetiva.”

apesar da evolução da psiquiatria genética, nenhum trabalho de pesquisa conseguiu comprovar (como de resto não o fez em relação à esquizofrenia e à psicose maníaco-depressiva) que o autismo verdadeiro (quando não existe nenhuma lesão neurológica anterior) seja de origem puramente orgânica.”

Balint, Michael

Como muitos judeus húngaros cujos antepassados adotaram nomes alemães, decidiu, no fim da guerra, <magiarizar-se> para afirmar assim que pertencia à nação húngara. Tomou então o sobrenome de Balint. Na universidade, ficou conhecendo Alice Szekely-Kovacs, estudante de etnologia, que despertou seu interesse pela psicanálise.”

Foi obrigado, como todos os imigrantes, a refazer os estudos de medicina e teve que enfrentar, além do exílio, a dor de perder de uma só vez quase todos os membros da família. Alice Balint (1898-1939) (a Kovacs acima), sua mulher, e Wilma Kovacs [psicanalista e outrora paciente tratada por Groddeck!], sua sogra, a quem era muito apegado, morreram com um ano de intervalo. Depois da guerra, ficou sabendo que seus pais tinham se suicidado para escapar à deportação.”

A LINHA TÊNUE ENTRE SER WORKHALOIC E “PSICAEROTÔMANO”: “Foi lá também que ficou conhecendo Enid Albu-Eichholtz, sua terceira mulher. Analisada por Donald Woods Winnicott, Enid Balint (1904-1994) iniciou Michael em uma nova técnica, o case work. Tratava-se de comentar e trocar relatos de casos no interior de grupos compostos de médicos e de psicanalistas. Essa experiência deu origem ao que se chama de grupos Balint. Apesar de sua separação em 1953, Michael e Enid continuaram a trabalhar juntos.”

A sobrinha da falecida primeira mulher de Balint se tornou sua tradutora ao Francês!

Grande técnico do tratamento, Balint soube aliar o espírito inovador de seu mestre Ferenczi à tradição clínica da escola inglesa. Nesse aspecto, foi realmente o <húngaro selvagem> da British Psychoanalytical Society (BPS), cujos rituais e cuja esclerose ele criticou com muito humor, prestando homenagem, na primeira ocasião, aos costumes mais liberais da antiga sociedade de Budapeste”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Balint, A falha básica (Londres, 1968), P. Alegre, Artes Médicas, 1993.

Bateson, Gregory (1904-1980)

Marido de Margaret Mead.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

B. (ed.), Perceval le fou. Autobiographie d’un schizophrène (Londres, 1962), Paris, Payot, 1975.

Bauer, Ida, sobrenome de casada Adler (1882-1945), caso Dora

Primeiro grande tratamento psicanalítico realizado por Freud, anterior aos do Homem dos Ratos (Ernst Lanzer)e do Homem dos Lobos (Serguei Constantinovitch Pankejeff), a história de Dora, redigida em dezembro de 1900 e janeiro de 1901 e publicada quatro anos depois, desenrolou-se entre a redação de A interpretação dos sonhos e a dos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.

GUINESS: “trata-se do documento clínico que mais se comentou, desde sua publicação. (…) o caso dessa jovem tornou-se o objeto privilegiado dos estudos feministas.”

Para a publicação desse 1o tratamento exclusivamente psicanalítico, conduzido com uma mocinha virgem de 18 anos de idade, Freud tomou precauções inauditas. Na época, de fato, a cruzada que se travava contra o freudismo consistia em fazer com que a psicanálise passasse por uma doutrina pansexualista, que tinha por objetivo fazer os pacientes (sobretudo as mulheres) confessarem, por meio da sugestão, <sujeiras> sexuais inventadas pelos próprios psicanalistas. Na Grã-Bretanha e no Canadá, por exemplo, Ernest Jones suportaria o peso de acusações dessa ordem. [Veja em ESCANDINÁVIA que E.J. não era nenhum ‘santinho’.]”

A melhor maneira de falar dessas coisas é sendo seco e direto; e ela é, ao mesmo tempo, a que mais se afasta da lascívia com que esses assuntos são tratados na ‘sociedade’, lascívia esta com que as moças e mulheres estão plenamente habituadas.”

um marido fraco e hipócrita engana sua mulher, uma dona de casa ignorante, com a esposa de um de seus amigos, conhecida numa temporada de férias em Merano. A princípio enciumado, depois indiferente, o marido enganado tenta, de início, seduzir a governanta de seus filhos. Depois, apaixona-se pela filha de seu rival e a corteja durante uma temporada em sua casa de campo, situada às margens do lago de Garda. Horrorizada, esta o rejeita, pespega-lhe uma bofetada e conta a cena a sua mãe, para que ela fale do assunto com seu pai. Este interroga o marido da amante, que nega categoricamente os fatos pelos quais é recriminado. Preocupado em proteger seu romance extraconjugal, o pai culpado faz com que a filha passe por mentirosa e a encaminha para tratamento com um médico que, alguns anos antes, prescrevera-lhe um excelente tratamento contra a sífilis.

A entrada de Freud em cena transforma essa história de família numa verdadeira tragédia do sexo, do amor e da doença. Sob esse aspecto, sua narrativa do caso Dora assemelha-se a um romance moderno: hesitamos entre Arthur Schnitzler, Marcel Proust (1871-1922) e Henrik Ibsen (1828-1906).” “Grande industrial, ele desfrutava de uma bela situação financeira e era admirado pela filha [Dora]. Em 1888, contraiu tuberculose, o que o obrigou a se instalar com toda a família longe da cidade. Assim, optou por residir em Merano, no Tirol, onde travou conhecimento com Hans Zellenka (Sr. K.), um negociante menos abastado que ele, casado com uma bela italiana, Giuseppina ou Peppina (Sra. K.), que sofria de distúrbios histéricos e era uma assídua freqüentadora de sanatórios. Peppina tornou-se amante de Phillip [Bauer] e cuidou dele em 1892, quando ele sofreu um descolamento da retina.”

Katharina, a mãe de Ida, provinha, como o marido, de uma família judia originária da Boêmia. Pouco instruída e bastante simplória, sofria de dores abdominais permanentes, que seriam herdadas pela filha. Nunca se interessara pelos filhos e, desde a doença do marido e da desunião que se seguira a ela, exibia todos os sinais de uma <psicose doméstica>: <Sem mostrar nenhuma compreensão pelas aspirações dos filhos, ela se ocupava o dia inteiro, escreveu F., em limpar e arrumar a casa, os móveis e os utensílios domésticos, a tal ponto que usá-los e usufruir deles tinha-se tornado quase impossível […]. Fazia anos que as relações entre mãe e filha eram pouco afetuosas. A filha não dava a menor atenção à mãe, fazia-lhe duras críticas e escapara por completo de sua influência.> E era uma governanta quem cuidava de Ida. Mulher moderna e <liberada>, esta lia livros sobre a vida sexual e dava informações sobre eles à sua aluna, em segredo. Abriu-lhe os olhos para o romance do pai com Peppina. Entretanto, depois de tê-la amado e de lhe ter dado ouvidos, Dora se desentendera com ela.”

Aos 9 anos de idade [o irmão mais velho de Dora, Otto] se tornara um menino prodígio, a ponto de escrever um drama em cinco atos sobre o fim de Napoleão. Depois, rebelara-se contra as opiniões políticas do pai, cujo adultério aprovava, por outro lado. (…) Secretário do Partido Social-Democrata de 1907 a 1914 e, depois, assessor de Viktor Adler no ministério de Assuntos Exteriores em 1918, viria a ser uma das grandes figuras da intelectualidade austríaca no entre-guerras. No entanto, apesar de seu talento excepcional, nunca se refez do desmoronamento do Império Austro-Húngaro e despendeu mais energia atacando Lenin do que combatendo Hitler (…) Bauer insistiu, até 1934, em fazer cruzadas típicas do pré-guerra contra a Igreja e a aristocracia, num momento em que, justamente, deveria ter-se associado a seus inimigos de outrora para repelir o fascismo. Poucas cegueiras tiveram conseqüências tão pesadas.”

foi em outubro de 1901 que Ida Bauer visitou Freud para dar início a esse tratamento, que duraria exatamente 11 semanas.”

Minha Ida já está garantida.

Dora fôra acusada por Hans[o amigo tarado do pai, quem curiosamente lhe havia metido chifres, i.e., furado seu olho; aqui cabe a citação da coincidência: o pai de Dora era cego de um olho] e por seu pai de ter inventado a cena de sedução. Pior ainda, fôra reprovada por Peppina Zellenka (Sra. K. [a chifradora – e quase chifruda]), que suspeitava que ela lesse livros pornográficos, em particular A fisiologia do amor, de Paolo Mantegazza (1831-1901), publicado em 1872 e traduzido para o alemão 5 anos depois. O autor era um sexólogo darwinista [?], profusamente citado por Richard von Krafft-Ebing e especializado na descrição <etnológica> das grandes práticas sexuais humanas: lesbianismo, onanismo, masturbação, inversão, felação, etc. Ao encaminhar sua filha a Freud, Philipp Bauer esperava que este lhe desse razão e que tratasse de pôr fim às fantasias sexuais da filha.” “O primeiro sonho revelou que Dora era dada à masturbação e que, na realidade, estava enamorada de Hans Zellenka.” “Dora não encontrara em Freud a sedução que esperava dele: ele não fôra compassivo e não soubera empregar com ela uma relação transferencial positiva. Nessa época, com efeito, ele ainda não sabia manejar a transferência na análise.”

fôra a própria Sra. K. que fizera a moça ler o livro proibido, para depois acusá-la. E fôra também ela quem lhe havia falado de coisas sexuais.” Que beleza…

Esse tema da homossexualidade inerente à histeria feminina seria longamente comentado por Jacques Lacan em 1951, enquanto outros autores fariam questão de demonstrar ora que Freud nada entendia de sexualidade feminina,¹ ora que Dora era inanalisável.”

¹ A única coisa certa nesse imbróglio todo!

Ida Bauer nunca se curou de seu horror aos homens.Mas seus sintomas se aplacaram. Após sua curta análise, ela pôde vingar-se da humilhação sofrida, fazendo a Sra. K. confessar o romance com seu pai e levando o Sr. K. a confessar a cena do lago.” “Em 1903, casou-se com Ernst Adler [Adler é o quê afinal, uma espécie de ‘Silva’?], um compositor que trabalhava na fábrica de seu pai.” “Em 1923, sujeita a novos distúrbios — vertigens, zumbidos no ouvido, insônia, enxaquecas —, por acaso chamou à sua cabeceira Felix Deutsch. Contou-lhe toda a sua história, falou do egoísmo dos homens, de suas frustrações e de sua frigidez. Ouvindo suas queixas, Deutsch reconheceu o famoso caso Dora: <Desse momento em diante, ela esqueceu a doença e manifestou um imenso orgulho por ter sido objeto de um texto tão célebre na literatura psiquiátrica.> Então, discutiu as interpretações de seus dois sonhos feitas por Freud. Quando Deutsch tornou a vê-la, os ataques tinham passado.”

Dora tinha voltado contra o próprio corpo a obsessão de sua mãe: <Sua constipação, vivida como uma impossibilidade de ‘limpar os intestinos’, causou-lhe problemas até o fim da vida.>

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Freud, Fragmento da análise de um caso de histeria (1905);

Felix Deutsch, Apostille au “Fragment d’une analyse d’hystérie (Dora)” (1957), Revue Française de Psychanalyse, n. 37, janeiro-abril de 1973, 407-14;

Lacan. O Seminário, livro 17, O avesso da psicanálise (1969-1970) (Paris, 1991), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1992.

benefício primário e secundário da doença

Defesa secundária e benefício secundário surgem como duas modalidades de resposta do ego a esse <corpo estranho> que o sintoma antes de mais nada é”

O que R***** e Maria D’Stress nunca entenderão: os benefícios de ser sedentário são muito maiores que os de ser um “saudável”!

Bernays, Anna, née Freud (1859-1955), irmã de Sigmund Freud

Em suas lembranças, manifestou o mesmo ciúme que seu irmão sentira em relação a ela, quando era criança. Contou até que pontoAmalia Freudprivilegiava o filho mais velho: ele tinha direito a um quarto só para ele, enquanto as irmãs se apertavam no resto do apartamento. Quando Amalia quis dar aulas de piano a Anna Freud (futura Bernays), Sigmund se opôs e ameaçou deixar a casa. Quando ela tinha 16 anos, ele a impediu de ler as obras de Honoré de Balzac e deAlexandre Dumas (1802-1870). Essa atitude tirânica estava ligada ao fato de que Freud fora muito ciumento de seu irmão Julius Freud, nascido depois dele, e posteriormente se sentira culpado de sua morte.” E o kiko?

Em outubro de 1883, Anna Freud casou-se comEli Bernays, irmão deMartha Bernays, futura mulher de Freud, com o qual este não tardou a se indispor por causa de uma banal história de dinheiro.Novamente manifestou seu ciúme querendo que Martha, sua noiva, tomasse partido por ele, o que ela não fez. Por isso, não assistiu ao casamento da irmã. Tempos depois, deu fim à briga e ajudou os Bernays a emigrar para os Estados Unidos, onde Eli se tornou um homem de negócios muito rico.”

Bettelheim, Bruno (1903-1990)

Não se pode evocar a vida e a obra de Bruno Bettelheim sem levar em conta o escândalo que estourou nos Estados Unidos algumas semanas depois de sua morte. Em conseqüência da publicação, em alguns grandes jornais, de cartas de ex-alunos da Escola Ortogênica de Chicago, que ele dirigira durante cerca de 30 anos e que acolhia crianças classificadas como autistas, a imagem do bom <Dr. B.>, como era chamado, se apagava por trás da figura de um tirano brutal, que fazia reinar o terror em sua escola.”

Os termos de impostor, de falsificador e de plagiário se somaram ao de charlatão. Esse tumulto teve pouca repercussão na França, onde ele gozara, em razão do sucesso de seu livro A fortaleza vaziae do programa dedicado à Escola Ortogênica, realizado por Daniel Karline Tony Lainépara a televisão francesa e difundido em outubro de 1974, de um imenso prestígio que só foi prejudicado pelo declínio geral das idéias filosóficas e psicanalíticas dos anos 1970.”

Nascido em Viena a 28 de agosto de 1903, em uma família da pequena burguesia judaica assimilada, de uma feiúra constatada sem delicadeza pela mãe, que nunca lhe dedicou grande afeição, Bruno Bettelheim manifestou cedo suas tendências à depressão.”

Preso pela Gestapo, chegou a Dachau a 3 de junho de 1938, depois de ter sido violentamente espancado. Transferido depois para o campo de concentração de Buchenwald a 23 de setembro de 1938, encontrou ali Ernst Federn, filho de Paul Federn, companheiro de Freud. Naquele universo de medo, angústia e humilhação permanentes, começou a fazer um trabalho consigo mesmo, para resistir à ação mortífera dos SS. Foi a experiência desses campos a origem do conceito de <situação extrema>, pelo qual ele designava as condições de vida diante das quais o homem pode seja abdicar, identificando-se com a força destruidora, constituída tanto pelo carrasco ou pelo ambiente quanto pela conjuntura, seja resistir, praticando a estratégia da sobrevivência — Sobreviver seria o título de um de seus livros — que consiste em construir para si, a exemplo do que Bettelheim supunha ser a origem do autismo, um mundo interior cujas fortificações o protegeriam das agressões externas. Libertado a 14 de abril de 1939, graças a intervenções que seriam para ele uma nova ocasião de fabular, emigrou para os Estados Unidos, despojado de todos os seus bens.”

Assim, Bruno Bettelheim tornou-se especialista em campos de concentração, qualidade que se revelaria sobrecarregada de muitos mal-entendidos, desta vez com o conjunto da comunidade judaica. Com efeito, os testemunhos dos raros sobreviventes dos campos de morte fariam aparecer a insondável distância que separava o universo concentracionário da empreitada de extermínio sistemático, cujo símbolo será, para sempre, Auschwitz. Bruno Bettelheim levaria anos para admitir essa diferença, recusando-se a ver nela o limite trágico de sua virulenta crítica daquilo que ele apresentava como a passividade dos judeus diante de seus torturadores.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

B., Psychanalyse des contes de fées;

Nina Sutton, Bruno Bettelheim, une vie, Paris, Stock, 1995.

Biblioteca do Congresso (Washington), a tragédia “alexandrina” (para não dizer que tudo se resume a Édipo) da família Freud!

Foi ali, no departamento de manuscritos, que foram depositados os arquivos de Freud (cartas, manuscritos, etc.) e os de inúmeros outros psicanalistas de diferentes países. Essa iniciativa foi tomada por Siegfried Bernfeld. Depois dele, Kurt Eissler, psicanalista também de origem vienense e autor de vários livros sobre Freud, foi, depois da II Guerra Mundial, o principal responsável por esse grande depósito de saber e memória, que assumiu o nome de Sigmund Freud Archives (SFA) ou Arquivos Freud. Ele colecionou documentos apaixonantes, tanto interrogando todos os sobreviventes da saga freudiana quanto preservando a gravação de suas entrevistas em fitas magnéticas. De comum acordo com Anna Freud, Eissler editou normas de conservação draconianas, as quais, respeitando a vontade dos doadores, proibiram à maioria dos pesquisadores externos à IPA o acesso a esse reservatório. Foi sob a direção dele, sumamente ortodoxa, que, a partir de 1979, numa reação ao espírito de censura, produziu-se uma virada revisionista na historiografia freudiana, em especial a propósito da edição das cartas de Freud a Wilhelm Fliess, confiada pelo próprio Eissler a um pesquisador pouco escrupuloso: Jeffrey Moussaieff Masson. A censura e a desconfiança, assim, levaram ao favorecimento de uma iniciativa historiográfica violentamente antifreudiana.” O que eu chamo de ENANTIODROMIA.

A coleção Sigmund Freud, dividida em séries (A, B, E, F e Z), e cujos direitos de publicação dependem da Sigmund Freud Copyrights (que representa os interesses financeiros das pessoas legalmente habilitadas), está agora acessível a todos os pesquisadores. Seu regulamento prevê algumas restrições, ora justificadas e conformes às leis em vigor, ora contestáveis. Quanto à série Z, sujeita a uma suspensão progressiva da imposição de sigilo que se estende até 2100, ela encerra, supostamente, documentos concernentes à vida privada de pessoas (pacientes, psicanalistas, etc.), as quais é preciso proteger.

Na realidade, essa série Z contém alguns textos que nada têm de confidencial, outros que não comportam nenhuma revelação bombástica, ainda que digam respeito a segredos de família ou do divã, e outros, por fim, cuja presença nessa classe nada tem de evidente: p.ex., contratos de Freud com seus editores, cartas trocadas com uma organização esportiva judaica, ou documentos sobre Josef Freud que já são conhecidos dos historiadores. Patrick Mahony e o historiador Yosef Hayim Yerushalmi denunciaram o regulamento que rege a organização dessa série numa conferência notável, realizada em 1994. Este último sublinhou que esconder segredos de polichinelo conduz, antes, a alimentar boatos inúteis, e que a única maneira de evitá-los seria abrir os chamados arquivos secretos.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Yosef Hayim Yerushalmi, “Série Z” (1994), “Une fantaisie archiviste”, Le Débat, 92, novembro-dezembro de 1996, 141-52(artigo);

Jacques Derrida, Mal d’archive, Paris, Galilée, 1995.

Binswanger, Ludwig (1881-1966)

O tio de Ludwig Binswanger, Otto Binswanger (1852-1929), que tratou de Friedrich Nietzsche (1844-1900) e conheceu Freud em 1894, por ocasião de um congresso em Viena, publicou trabalhos sobre a histeria e a paralisia geral. Nomeado professor em Iena, acolheu o sobrinho entre 1907 e 1908 no seu serviço da clínica psiquiátrica desta cidade, onde o jovem Ludwig ficaria conhecendo sua futura mulher, Hertha Buchenberger.”

Sua atração crescente pela filosofia, sua curiosidade e o contato assíduo com intelectuais e artistas de seu tempo, entre os quais Martin Buber (1878-1965), Ernst Cassirer (1874-1945), Martin Heidegger (1889-1976), Edmund Husserl (1859-1938), Karl Jaspers (1883-1969), Edwin Fischer, Wilhelm Furtwängler, Kurt Goldstein (1878-1965), Eugène Minkowski, o levaram a desenvolver uma concepção diferente da via freudiana. Mas esse afastamento não o faria renunciar à teoria. Seu respeito, sua admiração e amizade por Freud ficariam intactos ao longo dos anos, como mostram a sua intervenção do dia 7 de maio de 1936, por ocasião do octogésimo aniversário de Freud, e também o seu texto de 1956, destinado à comemoração do centenário de nascimento do inventor da psicanálise, intitulado Meu caminho para Freud.”

publicou em 1930 Sonho e existência, em que misturava a concepção freudiana da existência humana com as de Husserl e de Heidegger. Foucault redigiria para essa obra, que ele traduziria com Jacqueline Verdeaux, um longo prefácio. Em 1983, na versão inglesa (inédita em francês) da apresentação do seu livro O uso dos prazeres, Foucault evocaria a sua dívida em relação a Binswanger e as razões pelas quais se afastou dele.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Joseph Roth, La Marche de Radetzky (1932), Paris, Seuil, 1982.

Bion, Wilfred Ruprecht

Bion foi o aluno mais turbulento de Melanie Klein, cujo dogmatismo rejeitou para construir uma teoria sofisticada do self e da personalidade, fundada em um modelo matemático e repleta de noções originais — pequenos grupos, função alfa, continente/conteúdo, objetos bizarros, pressupostos de base, grade, etc. — que, em certos aspectos, se assemelhavam às de Jacques Lacan, seu contemporâneo. Como este, tentou dar um conteúdo formal à transmissão do saber psicanalítico, apoiando-se em fórmulas e na álgebra, e, também como ele, apaixonou-se pela linguagem, pela filosofia e pela lógica, mas com uma perspectiva nitidamente cognitivista.”

Nascido em Muttra, no Pendjab, de mãe indiana e pai inglês, engenheiro especialista em irrigação, foi educado por uma ama-de-leite e passou a infância na Índia, no fim da era vitoriana e no apogeu do período colonial. Não sem humor, diria que todos os membros de sua família eram <completamente malucos>. Em sua autobiografia, apresentou sua mãe como uma mulher fria e aterrorizante, que lhe lembrava as correntes de ar geladas das capelas inglesas.”

Só gostava das atividades esportivas e permaneceu virgem até seu casamento, aos 40 anos. Em janeiro de 1916, foi incorporado a um batalhão de blindados e logo estava no campo de batalha de Cambrai, no meio dos obuses e do fogo da guerra. Saiu em 1918 com a patente de capitão, uma sólida experiência da fraternidade humana e dos artifícios da hierarquia militar, de que se serviria anos depois.”

Em 1932, contratado como médico assistente na Tavistock Clinic de Londres, dirigiu tratamentos de adolescentes delinqüentes ou atingidos por distúrbios da personalidade, e ocupou-se durante cerca de dois anos do tratamento de Samuel Beckett.”

Amigo e admirador de James Joyce (1882-1941) desde 1928, Beckett se indispusera com ele dois anos depois, após ter repelido as pretensões amorosas de sua filha, Lucia Joyce, doente de esquizofrenia e tratada por Jung. Atormentado por uma mãe conformista e abusiva, que desconhecia seu talento e desaprovava sua conduta, sofria em 1932 de graves distúrbios respiratórios, de dores de cabeça e de diversos problemas crônicos ligados ao alcoolismo e a uma tendência para a vadiagem. Assim, decidira fazer uma psicoterapia, a conselho de seu amigo, o doutor Geoffrey Thomson. O tratamento com Bion foi conflituoso e difícil. A cada vez que Beckett voltava para a casa de sua mãe em Dublin, sofria de terrors noturnos, torpor e furúnculos no pescoço e no ânus. Por isso, Bion acabou recomendando-lhe que se afastasse dela. Beckett não conseguiu e interrompeu a análise, depois de ter assistido, a conselho de Bion, a uma conferência de Jung na Tavistock Clinic, na qual este afirmava que os personagens de uma ficção são sempre a imagem mental do escritor que os criou.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Didier Anzieu, “Beckett et Bion”, Revue Française de Psychanalyse, Paris, Mentha, 1992. (artigo)

bissexualidade

Assim como todos os trabalhos modernos sobre o transexualismo tomaram por mitos fundadores a lenda de Hermafroditos e os amores da deusa Cibele, as reflexões sobre a bissexualidade sempre tiveram por origem o célebre relato dos infortúnios de Andrógino, feito por Aristófanes no Banquete de Platão”

Foi com a publicação, em 1871, de A descendência do homem, de Charles Darwin (1809-1882), que começou a se efetuar a passagem do mito platônico da androginia para a nova definição da bissexualidade, segundo as perspectivas da ciência biológica. Tratava-se, na época, de dotar o estudo da sexualidade humana de uma terminologia adequada em matéria de <raça>, constituição, espécie, organicidade, etc. A contribuição da embriologia foi decisiva, na medida em que ela pôde mostrar, graças à utilização do microscópio, que o embrião humano era dotado de duas potencialidades, uma masculina e outra feminina. Daí a idéia de que a bissexualidade já não era apenas um mito, porém uma realidade da natureza. Através dos ensinamentos de Carl Claus e, mais tarde, em contato com seu amigo Wilhelm Fliess, Freud adotou, por volta de 1890, a tese da bissexualidade.”

Em seu livro de 1896 sobre as relações entre o nariz e os órgãos genitais, Fliess expôs sua concepção dupla da bissexualidade e da periodicidade, estabelecendo um vínculo entre as dores da menstruação e as do parto, todas remetidas a <localizações genitais> situadas no nariz. Daí decorria a tese da periodicidade, segundo a qual as neuroses nasais, os acessos de enxaqueca e outros sintomas do ciclo feminino obedeciam a um ritmo de 28 dias, como a menstruação.”

Em seguida, após seu rompimento com Fliess, Freud apagaria os vestígios desse empréstimo [teoria da bissexualidade psíquica], sobretudo por causa da delirante história de plágio em que seria implicado por intermédio de Hermann Swoboda.”Pense 2x: com Freud nada é delirante!

Weininger assimilava o judeu à mulher, sublinhando, além disso, que esta era pior do que aquele, uma vez que o judeu, como encarnação de uma dialética negativa, podia ter acesso à emancipação. Assim, a noção de bissexualidade serviu para reinstaurar sob nova forma os velhos preconceitos da época clássica.”

Depois de fazer da bissexualidade o núcleo central de sua doutrina da homossexualidade e da sexualidade feminina, Freud considerou que essa noção era de completa obscuridade, na medida em que não podia articular-se com a de pulsão. Em 1937, porém, deu meia-volta e, em Análise terminável e interminável, mencionou o nome de Fliess e voltou à idéia de 1919 de que ambos os sexos recalcavam o que dizia respeito ao sexo oposto: a inveja do pênis, na mulher, e, no homem, a revolta contra sua própria feminilidade e sua homossexualidade latente: Já mencionei em outros textos que, na época, esse ponto de vista foi-me exposto por Wilhelm Fliess, que se inclinava a ver na oposição entre os sexos a verdadeira causa e o motivo originário do recalque. Só faço reiterar minha discordância de outrora ao me recusar a sexualizar o recalque dessa maneira, e portanto, a lhe dar um fundamento biológico, e não apenas psicológico.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Freud, Bate-se numa criança (1919);

Wilhelm Fliess, Les Relations entre le nez et les organes génitaux féminins présentés selon leurs significations biologiques (Viena, 1897), Paris, Seuil, 1977;

Otto Weininger, Sexe et caractère (Viena, 1903), Lausanne, L’Âge d’Homme, 1975;

Jacques Le Rider, Le Cas Otto Weininger. Racines de l’antiféminisme et de l’antisémitisme, Paris, PUF, 1982.

Bleuler, Eugen (1857-1939)

Inventor dos termos esquizofrenia e autismo, diretor, depois de August Forel, da prestigiosa clínica do Hospital do Burghölzli, por onde passaram todos os pioneiros do freudismo, Eugen Bleuler foi o grande pioneiro da nova psiquiatria do século XX e um reformador do tratamento da loucura comparável ao que tinha sido, um século antes, Philippe Pinel (1745-1825).”“fundou uma verdadeira escola de pensamento, o bleulerismo, que marcou o conjunto do saber psiquiátrico até aproximadamente 1970, data a partir da qual generalizou-se em todos os países do mundo um novo organicismo, nascido da farmacologia.”

Descendentes diretos de uma certa tradição francesa, de Charcot, por um lado, e por outro de Hippolyte Bernheim, os principais especialistas em doenças mentais e nervosas procuravam elaborar uma nova clínica da loucura, fundada não na abstração classificadora, mas na escuta do paciente: queriam ouvir o sofrimento dos doentes, decifrar sua linguagem, compreender a significação de seu delírio e instaurar com eles uma relação dinâmica e transferencial.” “do mesmo modo que Freud transformara a histeria em um paradigma moderno da doença nervosa, Bleuler inventava a esquizofrenia para fazer dela o modelo estrutural da loucura no

século XX.” “Através desse deslocamento, Bleuler renovava o gesto do alienismo do Século das Luzes, segundo o qual a loucura era curável, pois todo indivíduo insano conservava em si umresto de razão, acessível por um tratamento apropriado: o tratamento moral. Ora, no fim do século XIX, as diversas teorias da hereditariedade-degenerescência tinham abolido essa idéia de curabilidade, em proveito de um constitucionalismo da doença mental, tendo como corolário o confinamento perpétuo.”

Se Bleuler queria adaptar a psicanálise ao asilo, Freud sonhava conquistar, desde Viena, via Zurique, a terra prometida da psiquiatria de língua alemã que, nessa época, dominava o mundo. E contava com a fidelidade de Jung, assistente de Bleuler no Burghölzli, para ajudá-lo nesse empreendimento. Contra Bleuler, ele conservou a noção de auto-erotismo e preferiu pensar o domínio da psicose em geral sob a categoria da paranóia, ao invés da esquizofrenia. Opôs assim o sistema de Kraepelin à inovação bleuleriana, mas tranformou-o de cima a baixo, a fim de estabelecer uma distinção estrutural entre neurose, psicose e perversão.

Quanto a Jung, separou-se primeiro de Bleuler, seu mestre em psiquiatria, e depois de Freud, que fizera dele o seu sucessor. Decidiu utilizar a expressão demência precoce, e não a de esquizofrenia, e inventou em 1910 a palavra introversão, que preferiu a autismo, para designar a retirada da libido para o mundo interior do sujeito.”

Depois de ser contestada pela antipsiquiatria, a clínica freudo-bleuleriana foi marginalizada, a partir de 1970, pela elaboração de um Manual diagnóstico e estatístico dos distúrbios mentais (DSM III, IV etc.), de inspiração comportamentalista e farmacológica.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jean Garrabé, Histoire de la schizophrénie, Paris, Seghers, 1992.

Manfred Bleuler (filho deste Bleuler), La Pensée bleulérienne dans la psychiatrie suisse, Nervure, VIII, novembro de 1995, 23-4.

Bonaparte, Marie

Filha de Roland Bonaparte (1858-1924), neto de Lucien, irmão do imperador, Marie Bonaparte, nascida em Saint-Cloud, era portanto sobrinha-bisneta de Napoleão Bonaparte (1769-1821). Sua mãe morreu por ocasião de seu nascimento e a menina teve uma infância e uma adolescência trágicas. Educada pelo pai, que só se interessava por suas atividades de geógrafo e antropólogo, e por sua avó paterna, verdadeira tirana doméstica, ávida de sucesso e de notoriedade, Marie tinha tudo de uma personagem romanesca.

Seu casamento arranjado com o príncipe Jorge da Grécia (1869-1957), homossexual depravado, alcoólatra e conformista, fez dela uma alteza real coberta de honras e de celebridade, mas sempre obcecada pela procura de uma causa nobre e principalmente preocupada com sua frigidez. Quando encontrou Freud em Viena em 1925, a conselho de René Laforgue, estava à beira do suicídio e acabava de publicar, sob o pseudônimo de Narjani, um artigo no qual louvava o mérito de uma intervenção cirúrgica, em voga na época, que consistia em aproximar o clitóris da vagina, a fim de transferir o orgasmo clitoridiano para a zona vaginal. Acreditava assim que poderia curar sua frigidez e não hesitou em experimentar a operação em si própria, mas sem nunca obter o menor resultado.

Graças ao minucioso trabalho de Célia Bertin, única a ter acesso aos arquivos da família, conhecemos a vida dessa princesa, estimada por Freud, que reinou como soberana sobre a Sociedade Psicanalítica de Paris, da qual foi um dos 12 fundadores, ao lado de René Laforgue, Adrien Borel, Rudolph Loewenstein, Édouard Pichon, Raymond de Saussure, René Allendy, etc. Tradutora incansável da obra freudiana, organizadora do movimento francês, que financiou em parte com seu dinheiro, Marie Bonaparte consagrou a vida à psicanálise, com um entusiasmo e uma coragem invejáveis. Lutou em favor da análise leiga e, diante do nazismo, adotou uma atitude exemplar, negando-se a qualquer concessão. Pagou um resgate considerável para arrancar Freud das garras da Gestapo, salvou seus manuscritos e instalou-o em Londres com toda a família. Foi sua atividade eficaz a serviço da causa que lhe valeu ocupar um lugar central na França e tornar-se uma das personalidades mais respeitadas do movimento freudiano.

Depois da Segunda Guerra Mundial, tornou-se uma espécie de monstro sagrado, incapaz de perceber as ambições, os sonhos e os talentos das duas novas gerações francesas (a segunda e a terceira).

Durante a primeira cisão (1953) e às vésperas da segunda (1963), opôs-se fanaticamente a Jacques Lacan, a quem detestava e que a tratava de <cadáver de Ionesco>. Na verdade, ele lhe tirava o papel de chefe de escola, ao arrastar consigo a juventude psicanalítica francesa.

Apesar de sua extensão, a obra escrita de Marie Bonaparte é bastante medíocre,à exceção de alguns belos textos, entre os quais uma obra monumental sobre Edgar Allan Poe (1809-1849), ilustração dos princípios freudianos da psicobiografia, um artigo de 1927 sobre Marie-Félicité Lefebvre (um caso de loucura criminosa) e os seus famosos <cadernos>: os Cinco cadernos de uma menina, nos quais comentou sua análise e suas lembranças da infância, e os Cadernos negros, diário íntimo em que relatou todos os detalhes de sua vida e as confidências que Freud lhe fez sobre vários assuntos.

Ao contrário do tratamento dos outros discípulos, o da princesa foi interminável. Fez-se em alemão e em inglês, por etapas sucessivas, de 1925 a 1938: cinco a seis meses nos primeiros anos, um a dois meses nos anos seguintes. Desde o início, Marie recebeu uma forte interpretação. Depois de um sonho, em que ela se via em seu berço assistindo a cenas de coito, Freud afirmou peremptoriamente que ela não tinha apenas ouvido essas cenas, como a maioria das crianças que dormem no quarto dos pais, mas que ela as vira em pleno dia. Assustada e sempre preocupada em obter provas materiais, recusou essa afirmação e protestou que não tinha tido mãe. Freud manteve o que afirmara e lembrou a presença de sua ama. Finalmente, Marie decidiu interrogar o meio-irmão de seu pai, que tratava dos cavalos na casa em que passou a infância. Constrangido, o velho contou como tivera relações sexuais em pleno dia, diante do berço de Marie. Ela tinha pois visto cenas de coito, de felação e de cunilíngua.” Um bebê nem sabe separar as partes do corpo!

Durante a análise, ele evitou que ela tivesse uma relação incestuosa com o filho, e impôs certos limites às suas experiências cirúrgicas, sem conseguir, entretanto, impedi-la de passar ao ato. Deve-se dizer que a sua situação contratransferencial era difícil: ao longo de toda a duração dessa análise, Freud sofreu temíveis operações da mandíbula, a fim de combater a progressão do câncer. Como poderia ele, em tais condições, interpretar o gozo sentido por Marie ao manejar o bisturi?”

Deduziu uma psicologia da mulher da qual o inconsciente era esvaziado. Afastando-se simultaneamente da escola vienense e da escola inglesa, distinguiu três categorias de mulheres: as que reivindicam e procuram apropriar-se do pênis do homem; as que aceitam e se adaptam à realidade de suas funções biológicas ou de seu papel social; as que renunciam e se afastam da sexualidade.Essas teses não teriam eco na França, onde o debate sobre esse tema seria conduzido por Simone de Beauvoir (1908-1986) e depois pelos alunos de Lacan (François Perrier e Wladimir Granoff) e Françoise Dolto.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Celia Bertin, La Dernière Bonaparte, Paris, Perrin, 1982.

Borderline (caso-limite)

A noção do borderline faz parte do vocabulário clínico norte-americano e anglo-saxão próprio da corrente da Self-Psychology e, sob certos aspectos, do pós-kleinismo da década de 1960. Perpassa igualmente o neofreudismo e o culturalismo e acabou se integrando à terminologia psicanalítica francesa, sob o nome de états-limites (no plural).”

Otto Fenichel foi um dos primeiros, em 1945, a sublinhar a existência desse tipo de patologia: Existem personalidades neuróticas que, sem desenvolver uma psicose completa, possuem inclinações psicóticas, ou manifestam uma propensão a se servir de mecanismos esquizofrênicos em caso de frustração. Essa noção foi consideravelmente desenvolvida, mais tarde, nos trabalhos de Heinz Kohut e Otto Kernberg, que propôs o termo <organização fronteiriça> para demonstrar com clareza que o estado borderline era estável e duradouro.

Foi o psicanalista norte-americano Harold Searles, especialista em esquizofrenia, quem produziu, nesse mesmo período, os trabalhos mais pertinentes a respeito dessa questão, a partir de uma longa prática na Chesnut Lodge Clinic, uma das mecas do tratamento psicanalítico das psicoses, onde trabalhou Frieda Fromm-Reichmann depois de sua emigração da Alemanha. Marcado pelo ensino de Harry Stack Sullivan, Searles desarticulou a definição clássica da loucura à maneira dos artífices da antipsiquiatria, mostrando que, nos pacientes borderline, o eu funciona de maneira autística. Em seu célebre livro de 1965, O esforço de enlouquecer o outro, Searles criticou a ortodoxia, freudiana sublinhando como a prática ortodoxa da transferência pode desembocar numa estratégia de terror, que consiste em tornar o paciente dependente do analista. Contrastou com isso uma prática da análise inspirada no tratamento dos estados borderline e fundamentada na idéia de reconhecimento mútuo entre o terapeuta e o paciente.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Otto Kernberg, com Michael A. Selzer, Harold W. Koenisgsberg, Arthur C. Carr e Ann H. Appelbaum, La Thérapie psychodinamique des personnalitiés-limites (N. York, 1989), Paris, PUF, 1995.

Bowlby, John

A partir de 1948, dirigiu uma pesquisa sobre as crianças abandonadas ou privadas de lar, cujos resultados tiveram repercussão mundial sobre o tratamento psicanalítico do hospitalismo, da depressão anaclítica e das carências maternas, assim como sobre a prevenção das psicoses. Em 1950, tornou-se assessor da ONU, onde suas teses tiveram papel considerável na adoção de uma carta mundial dos direitos da infância. Um ano depois, publicou o seu relatório Maternal Care and Mental Health, no qual mostrou que a relação afetiva constante com a mãe é um dado fundamental para a saúde psíquica da criança. No fim da vida, sempre apaixonado por biologia e etologia, redigiu a biografia de Charles Darwin (1809-1882). Estudou minuciosamente a primeira infância do sábio, suas doenças psicossomáticas, suas dúvidas e depressões, pintando um vigoroso quadro da época vitoriana e das reações que a revolução darwiniana suscitou na Inglaterra.”

Brasil

Em 1890, o antigo Hospício Pedro II foi transformado em hospital de alienados, na mais pura tradição do gesto de Philippe Pinel (1745-1826). A força da nosologia francesa foi tal, durante cerca de uma década, que a expressão <estar Pinel> passou, na linguagem corrente, a significar <estar louco>.

Foi nesse terreno da primeira reforma asilar que Juliano Moreira, baiano e negro, introduziu a nosografia alemã. Amigo de Emil Kraepelin e excelente conhecedor da Europa, foi nomeado professor na Universidade da Bahia com a idade de 23 anos, e tomou em 1903 a direção do Hospital Nacional de Alienados do Rio de Janeiro. Nove anos depois, graças à sua ação, a psiquiatria se tornou uma especialidade autônoma no currículo dos estudos médicos. Fundador da psiquiatria brasileira moderna, Juliano Moreira foi também o primeiro no país a adotar e divulgar a doutrina freudiana.

a atração dos filhos de família pelas mulheres de cor provinha das relações íntimas da criança branca com a sua ama negra: uma sexualidade carnal e sensual.”

Assim como sob a monogamia surgia sempre a prática mal encoberta da poligamia, sob o monoteísmo perfilavam-se todas as variantes de um politeísmo selvagem. Assim, quando foi instaurado, por um homem negro, um saber psiquiátrico que visava arrancar a loucura das práticas mágicas, a clivagem se repetiu. A nova ordem não conseguiu pôr termo às antigas tradições terapêuticas do transe e das possessões (o candomblé).”

Reservada inicialmente, no período entre as duas guerras, à grande burguesia paulista e a médicos preocupados em seguir as regras ortodoxas da IPA, a psicanálise se tornou, na segunda metade do século, ao desenvolver-se no Rio e em outras cidades, a nova psicologia das classes médias brancas, formadas na universidade. Tomou o lugar da antiga sociologia comteana.”

Nessa época, a análise didática era obrigatória, e Marcondes, que não fizera análise, não podia formar alunos. Aliás, em 1931, teve que enfrentar um charlatão chamado Maximilien Langsner, que obteve grande sucesso em São Paulo. Esse homem usava um nome vienense e praticava a telepatia, proclamando-se o melhor discípulo de Freud. Temendo que esse espetáculo desacreditasse a psicanálise nos meios médicos, Marcondes pediu a Freud que desmascarasse o impostor, o que ele logo fez.”

Dissolvida em 1944, a SBP se reconstituiu em um grupo puramente paulista, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), reconhecida pela IPA no Congresso de Amsterdam de 1951. A partir desse momento, houve intercâmbios entre Londres e São Paulo. Apaixonados pelas teorias de Melanie Klein e seus discípulos, analistas paulistas atravessaram o Atlântico para receber uma formação na British Psychoanalytical Society (BPS). Foi o caso de Virgínia Bicudo. Depois de cinco anos em Londres, ela trouxe as suas experiências clínicas da Tavistock Clinic e as ensinou. Por sua vez, Frank Philips, voltando de Londres, realizou no seio do grupo paulista seminários técnicos e teóricos de inspiração kleiniana. À influência compósita argentina acrescentou-se então a do kleinismo, nitidamente mais implantado em São Paulo do que no Rio. Posteriormente, Wilfred Ruprecht Bion, convidado por Philips, se tornaria um dos mestres do grupo paulista.”

Essa expansão da psicanálise nas duas grandes cidades rivais, São Paulo e Rio, assim como na região sul do país, permitiu ao freudismo brasileiro recuperar progressivamente o seu atraso em relação ao movimento argentino, sem com isso fazer emergir em suas fileiras chefes de escola de estatura comparável à dos argentinos. Deve-se dizer que, desde a origem, a situação no Brasil era diferente. Efetivamente, a escola brasileira, na ausência de um sólido movimento migratório durante o período entre as duas guerras, não tivera <fundador> que fosse ao mesmo tempo didata e teórico. E ela só encontrou a sua identidade, de uma cidade à outra, ao filiar-se ora à escola inglesa ou a algumas correntes norte-americanas, ora à escola argentina. Entretanto, desenvolveu uma grande atividade clínica em diversas instituições (hospitais e centros de saúde). A partir de 1960, com a criação da COPAL (futura FEPAL) e depois da Associação Brasileira de Psicanálise (ABP, 1967), ela se tornou, ao lado da escola argentina, a segunda grande potência do freudismo latino-americano.”

Em 31 de março de 1964, depois de dez anos de governo social-democrata, durante os quais o presidente Kubitschek inaugurou a cidade de Brasília, o marechal Castello Branco, apoiado pelos Estados Unidos e pelas classes médias, derrubou o presidente João Goulart e instaurou uma ditadura que duraria vinte anos. (…) Orgulhosos de construírem um Brasil novo, os tecnocratas, os conservadores e os anticomunistas afirmaram sua vontade de governar sem o sufrágio das massas. Os partidos foram dissolvidos, as forças armadas reorganizadas.”

Helena Besserman Vianna, psicanalista de extrema esquerda e membro da outra sociedade (SBPRJ), tomou conhecimento desse artigo. Suas opiniões radicais eram conhecidas, pois ela se expressara publicamente na SBPRJ, por ocasião de um debate com Bion, perguntando-lhe se ele aceitaria analisar um torturador. A assembléia respondera que essa pergunta era <provocadora, nem científica nem construtiva>. Helena enviou a Marie Langer o artigo da Voz Operária, acompanhado do nome e do endereço de Leão Cabernite [psicanalista carioca ligado aos militares, que dentre seus pacientes contava com um torturador, denunciado pelo jornal proletário acima] escritos à mão, para que ela o publicasse em sua revista Cuestionamos e pedisse à direção da IPA a abertura de um inquérito. Marie Langer mandou imediatamente o artigo a Serge Lebovici, presidente da IPA, e a diversos responsáveis do movimento psicanalítico. Depois, publicou-a em sua revista. Marie Langer tinha um peso considerável na IPA, em razão de sua notoriedade e de seu engajamento contra todas as ditaduras latino-americanas.

Preocupado com as conseqüências desse caso para a imagem da psicanálise no mundo, Lebovici preveniu Cabernite e David Zimmermann [sobrenome de fascista], membro da SPPA (Porto Alegre) e presidente da COPAL, que lhe respondeu logo que essa publicação era <um jornaleco que não merecia respeito>.” “Não só os autores negavam qualquer participação de Amílcar Lobo nesse gênero de atividade, como também acusavam o denunciante de fomentar um complô para desestabilizar a psicanálise brasileira, no momento em que ia se realizar o IV Congresso da ABP.” O Amílcar é o Lobo do homem.

Identificada por uma perícia grafológica, Helena Besserman Vianna pagou caro a denúncia do torturador. Sua sociedade recusou-se, durante dois anos, a lhe conferir o título de membro titular, ao passo que ela tinha teoricamente direito a ele, considerando-se o seu currículo. Pior ainda, o conselho de administração da SBPRJ se transformou em tribunal interno para acusá-la de delação, envolvendo a pessoa de um inocente (Amílcar Lobo), de plágio dos textos de seus colegas e enfim de falta de respeito para com Bion: uma verdadeira degradação pública. Posteriormente, Helena foi vítima de uma tentativa de atentado fracassada, por parte da polícia brasileira, prevenida por Amílcar Lobo. Ela só foi definitivamente reabilitada em 1980, quando um ex-prisioneiro revelou publicamente as atrocidades de Amílcar Lobo. Entretanto, nem Cabernite, nem Zimmermann, nem Lebovici prestaram contas de seu erro durante esse período, o que provocou uma verdadeira tempestade nas fileiras das duas sociedades do Rio.”

o lacanismo se implantou maciçamente na universidade, em particular nos departamentos de psicologia, trazendo assim uma cultura e uma identidade para a profissão de psicoterapeuta, abandonada pela ABP, que tendia, apesar de algumas exceções, como Inês Besouchet (1924-1991) por exemplo, a favorecer os médicos. Daí a eclosão paralela de múltiplos grupos, com diversas orientações: 26 no Rio, 27 em São Paulo, 7 no Rio Grande do Sul, 9 em Minas Gerais, ao todo 70 associações, reunindo cerca de 1500 psicoterapeutas. Essa cifra elevava o efetivo total dos psicanalistas freudianos a mais de 3000.”

as extravagâncias xamanísticas do célebre lacaniano brasileiro dos anos 1970, Magno Machado Dias, mais conhecido sob o nome de MDMagno.” “Analisado por Lacan em alguns meses, esse esteta carioca culto e sedutor, professor de semiologia na universidade, fundou em 1975, com Betty Milan, outra analisada de Lacan, o Colégio Freudiano do Rio de Janeiro (CFRJ). Tornou-se o terapeuta dos membros de seu grupo, que freqüentavam seu divã e seus seminários. MDMagno deu ao lacanismo carioca uma furiosa expansão, e o seu Colégio foi o núcleo inicial de todos os grupos formados depois no Rio, por cisões sucessivas. Evoluindo para um culturalismo radical, Magno se apresentava como fundador da psicanálise <abrasileirada>. Segundo a nova genealogia, Freud era o bisavô, Lacan o avô, MDMagno o pai.”

Na Bahia, Emilio Rodrigué, grande figura da escola argentina, realizou uma experiência única em seu gênero. Dissidente da APA, próximo de Marie Langer e do grupo Plataforma, recebera sua formação didática em Londres, com Paula Heimann e Melanie Klein. Instalando-se em 1974 no coração da civilização brasileira, entre a negritude e a colonização, casado com uma sacerdotisa da aristocracia do candomblé, apaixonado por historiografia, conseguiu reunir em torno de si um grupo composto de todas as tendências do freudismo. Assim, foi um dos raros psicanalistas, talvez o único, a estabelecer uma ponte entre todas as culturas do continente latino-americano, sem ceder nem ao universalismo abstrato, nem ao culturalismo desenfreado. Daí o seu lugar de mestre socrático, único na psicanálise neste fim do século XX.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jurandir Freire Costa, História da psiquiatria no Brasil, Rio de Janeiro, 1976; (documentário)

Marialzira Perestrello, História da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro. Suas origens e fundação, Rio de Janeiro, Imago, 1987.

Breuer, Josef (1842-1925)

A imagem desse brilhante clínico vienense que tratou de Franz Brentano, Johannes Brahms (1833-1897), Marie von Ebner-Eschenbach e seus colegas médicos, o ginecologista Rudolf Chrobak (1843-1910), Theodor Billroth e o próprio

Freud, foi deformada por Ernest Jones. Em sua biografia de Freud, este o apresentou como um terapeuta tímido e estúpido, incapaz de compreender a questão da sexualidade. Foi necessário esperar pelo trabalho deAlbrecht Hirschmüller, historiador da medicina de língua alemã, para que fosse escrita a história das relações entre Freud e Breuer, longe das lendas da historiografia oficial.” “Josef Breuer não era crente nem praticante. Como Freud, permaneceu ligado à sua judeidade, sem proclamar nenhuma fé e defendendo os princípios da assimilação. Em 1859, orientou-se para a medicina, tornando-se aluno de Karl Rokitansky (1804-1878), de Josef Skoda, de Ernst von Brücke e, enfim, do assistente deste, Johann von Oppolzer(1808-1871), notável clínico geral, do qual foi por sua vez assistente. Foi no laboratório de fisiologia de Ewald Hering, rival de Brücke, que começou a trabalhar no problema da respiração. Essa formação fez dele o herdeiro de uma tradição positivista, originária da escola de Hermann von Helmholtz, pela qual se realizava a união de uma medicina de laboratório de estilo alemão e da medicina hospitalar vienense. Tornando-se célebre em 1868 por um estudo sobre o papel do nervo pneumogástrico na regulação da respiração, estudou depois os canais semicirculares do ouvido interno.”

Breuer e Freud tinham em sua clientela doentes mentais, principalmente mulheres histéricas da boa burguesia vienense. Assim, começaram a tornar-se, cada um a seu modo, especialistas em distúrbios psíquicos, o que os levou a assinarem juntos, em 1895, os famosos Estudos sobre a histeria.” “Sua amizade terminou na primavera de 1896. Entretanto, o conflito não foi nem violento nem definitivo, como aconteceu com Fliess e depois com Carl Gustav Jung. Constrangido por ter que pagar sua dívida financeira, Freud comportou-se com Breuer como um filho intransigente e revoltado. Suspeitou que ele quisesse tutelá-lo e acusou-o de ser oportunista e não ter a coragem de defender idéias novas. Na realidade, Breuer não tinha as mesmas ambições que Freud. Não procurando fazer nome na história das ciências nem tornar-se profeta de uma doutrina que iria abalar o mundo, mostrou-se sempre favorável à psicanálise.”

Brücke, Ernst Wilhelm von (1819-1892)

Brücke merece ser considerado o fundador da fisiologia na Áustria.”

Brücke ficara sabendo que eu cheguei várias vezes atrasado ao laboratório. Um dia, ele veio na hora em que eu deveria chegar e me esperou. […] O essencial estava em seus terríveis olhos azuis, cujo olhar me aniquilou. Aqueles que se lembram dos olhos maravilhosos que o mestre conservou até a velhice e que o viram encolerizado podem imaginar facilmente o que senti então.”Interpretação dos Sonhos

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Siegfried Bernfeld, Freud’s earliest theories and the school of Helmholtz, Psychoanalytic Quarterly, XIII, 1944, 341-62;

______. Freud’s scientific beginnings, American Imago, vol. 6, 1949, 163-96;

______. Sigmund Freud M.D., IJP, vol. 32, 1951, 204-17.

Caruso, Igor

em 1947, Caruso se separou sem traumas da WPV, cuja orientação lhe parecia excessivamente médica, excessivamente materialista, ou seja, excessivamente <americana>, para criar o primeiro círculo de trabalho vienense sobre a psicologia das profundezas. Mesmo continuando a ser freudiano, não aceitava os padrões de formação da IPA e, como Lacan, queria dar à psicanálise uma orientação intelectual, espiritual e filosófica. Assim, considerava-a, à luz da fenomenologia, como um método de edificação da personalidade humana (ou personalismo), destinado não a adaptar o sujeito ao princípio de realidade, mas a levá-lo a resolver as tensões resultantes da sua relação conflituosa com o mundo.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Igor Caruso, Psychanalyse et synthèse personnelle (Viena, 1952), Paris, Desclée de Brouwer, 1959.

castração

Em A interpretação dos sonhos todas as passagens relativas à castração, se excetuarmos uma alusão, aliás errada, a Zeus castrando Cronos, são acrescentadas em 1911 ou nas edições posteriores.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Stärcke, The Castration Complex

Charcot (1825-1893)

O nome de Jean Martin Charcot é inseparável da história da histeria, da hipnose e das origens da psicanálise, e também daquelas mulheres loucas, expostas, tratadas e fotografadas no Hospital da Salpêtrière, em suas atitudes passionais: Augustine, Blanche Wittmann, Rosalie Dubois, Justine Etchevery. Essas mulheres, sem as quais Charcot não teria conhecido a glória, eram todas oriundas do povo. Suas convulsões, crises, ataques, suas paralisias eram sem dúvida alguma de natureza psíquica, mas também eram conseqüência de traumas de infância, estupros, abusos sexuais. Em suma, da miséria da alma e do corpo, tão bem-descrita pelo mestre nas suas Lições da terça-feira.”

Graças ao método anátomo-clínico, descreveu a doença que levaria o seu nome: esclerose lateral amiotrófica.”

Foi em 1870 que se interessou pela histeria, por ocasião de uma reorganização dos setores do hospital. De fato, a administração tomou a decisão de separar os alienados dos epiléticos (não-alienados) e das histéricas. Como essas duas últimas categorias de doentes apresentavam sinais convulsivos idênticos, decidiu-se reuni-los em uma seção especial: a seção dos epiléticos simples.” “Charcot inaugurou assim um modo de classificação que distinguia a crise histérica da crise epilética e permitia à doente histérica escapar da acusação de simulação. Assim, abandonou a definição antiga de histeria, para substituí-la pelo conceito mais moderno de neurose.”

recorreu à hipnose: adormecendo as mulheres na Salpêtrière, fabricava sintomas histéricos experimentalmente, fazendo-os desaparecer imediatamente, provando assim o caráter neurótico da doença. Foi nesse ponto que seria atacado por Bernheim.” “em 1887, publicou Os demoníacos na arte, em colaboração com seu aluno Paul Richer (1849-1933). Para ele, tratava-se de encontrar nas crises de possessão e nos êxtases os sintomas de uma doença que ainda não recebera a sua definição científica.” “a fase epileptóide, quando a doente se contraía em uma bola e dava uma volta completa em torno de si mesma, a fase de clownismo, com seu movimento em arco de círculo, a fase passional, com seus êxtases, e enfim o período terminal, com suas crises de contraturas generalizadas. A isso Charcot acrescentava uma variedade <demoníaca> da histeria: aquela em que a Inquisição via os sinais da presença do diabo no útero das mulheres.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Désiré-Magloire Bourneville & Paul Regnard (org.), Iconografia fotográfica da Salpêtrière, “verdadeiro laboratório das representações visuais da histeria” (livro fotográfico).

Mon cher docteur Freud: Charcot’s unpublished correspondance to Freud, 1888-1893, anotações, tradução e comentários de Toby Gelfand, in: Bulletin of the History of Medecine, 62, 1888, 563-88.

Chistes e sua relação com o inconsciente, Os

Freud tinha paixão por aforismos, trocadilhos e anedotas judaicas, e não parou de colecioná-los ao longo de toda a sua vida. Como inúmeros intelectuais vienenses — Karl Kraus, p.ex. —, era dotado de um senso de humor corrosivo e adorava as histórias das Schadhen (casamenteiras judias) ou dos Schnorrer (pedintes), através das quais se exprimiam, por meio do riso, os principais problemas da comunidade judaica da Europa Central, confrontada com o anti-semitismo. Sob esse aspecto, como sublinha Henri F. Ellenberger, seu livro sobre o chiste é um pequeno monumento à memória da vida vienense: ali ele conta histórias de dinheiro e sonhos de glória, e piadas referentes ao sexo, à família, ao casamento, etc.”

QUE INFANTIL… “De Mark Twain (1835-1910) a Dom Quixote, distingue o humor, o cômico e o chiste propriamente dito. Todos os três, afirma, remetem o homem ao estado infantil, pois <a euforia que almejamos atingir por esses caminhos não é outra coisa senão o humor […] de nossa infância, idade em que desconhecíamos o cômico, éramos incapazes de espirituosidade e não precisávamos do humor para nos sentirmos felizes na vida>.”

Em 1916, Abraham Arden Brill redigiu a primeira versão do livro em inglês e escolheu a palavra wit como equivalente de Witz, com o risco de restringir a significação do chiste à espirituosidade intelectual, no sentido como dizemos que alguém <tem espírito>, ou <é uma pessoa espirituosa>, ou <faz tiradas oportunas>. Opondo-se a essa redução, James Strachey preferiu, em 1960, o vocábulo joke, que ampliou a significação do termo, estendendo-o até a blague, a brincadeira ou a farsa, com o risco de dissolver o dito espirituoso, ou seja, o aspecto intelectual do Witz freudiano, no campo mais vasto das diferentes formas de expressão do cômico. Na verdade, por trás dessa querela perfilava-se uma luta ideológica entre os ingleses e os norte-americanos [os anglo-saxões e os judeus?] pela apropriação da obra freudiana. É que Brill havia procurado, em sua tradução, <adaptar> o pensamento freudiano ao espírito de além-Atlântico, transformando certas blagues judaicas em piadas norte-americanas. Strachey, ao contrário, opondo-se a Brill, reivindicava uma fidelidade maior tanto ao texto freudiano quanto à língua inglesa (e não norte-americana) e à história vienense.” “Na França, foi Lacan, contrariando Marie Bonaparte, quem procurou traduzir Witz por trait d’esprit, assim dissociando o trait (rasgo, traço), como significante, do esprit (intelecto, engenho, espírito). A partir daí, os lacanianos, fascinados pelos trocadilhos do mestre, privilegiaram o termo Witz, preferencialmente a chiste, como se o emprego do termo alemão permitisse remeter o Witz freudiano a uma função simbólica da linguagem, a um traço significante não-redutível à diversidade das línguas. Em 1988, quando do lançamento da excelente tradução de Denis Messier, Jean-Bertrand Pontalis redigiu uma nota em que se recusou a traduzir Witz por trait d’esprit. Mesmo levando em conta o caráter positivo da contribuição teórica de Lacan, sublinhou, com justa razão, que o Witz tinha, no sentido freudiano, uma significação muito mais ampla e menos conceitual do que a leitura que dele propusera Lacan. Daí a opção de traduzir o livro como Le Mot d’esprit et sa relation à l’inconscient.”

Ver verbete agressão.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Theodor Lipps, Komik und Humor. Eine psychologisch-ästhetische Untersuchung, Hamburgo, L. Voss, 1898;

Joël Dor, Introdução à leitura de Lacan, t. 1 (Paris, 1985), P. Alegre, Artes Médicas, 1992;

André Bourguignon, Pierre Cotet, Jean Laplanche & François Robert, Traduzir Freud (Paris, 1989), S. Paulo, Martins Fontes, 1992.

Cinco lições de psicanálise (Sobre a Psicanálise), 1910

Livro de Sigmund Freud, publicado pela primeira vez em inglês, no American Journal of Psychology, sob o título The Origin and Development of Psychoanalysis, numa tradução de H.W. Chase, e depois retraduzido por James Strachey em 1957, sob o título Five Lectures on Psycho-analysis. Publicado em alemão em 1910, sob o título Über Psychoanalyse. Traduzido para o francês em 1920 por Yves Le Lay, sob o título Origine et développement de la psychanalyse, e mais tarde, em 1923, sob o título Cinq Leçons sur la psychanalyse. Retraduzido por Cornélius Heim em 1991, sob o título Sur la psychanalyse. Cinq conférences, e depois, em 1993, por René Lainé & Johanna Stute-Cadiot, sob o título De la psychanalyse.”

Para Freud, esse momento marcou o fim de seu isolamento. No entanto, em 1914, em seu ensaio sobre A história do movimento psicanalítico, falou com certa leviandade das Cinco conferências, afirmando havê-las improvisado. Na verdade — e sua correspondência com Ferenczi o atesta —, redigiu-as durante todo o verão de 1909.”

O COMEÇO DO FIM: “Na época, eu contava apenas 53 anos, sentia-me jovem e saudável, e essa breve temporada no Novo Mundo foi, de maneira geral, benéfica para meu amor-próprio; na Europa, eu me sentia meio proscrito, enquanto ali me vi acolhido pelos melhores como um de seus pares. Foi como que a realização de um devaneio improvável subir ao púlpito de Worcester, para ali proferir as Cinco lições de psicanálise. A psicanálise, portanto, já não era uma formação delirante, havendo-se transformado numa parte preciosa da realidade.”

Inicialmente publicadas em inglês, essas cinco lições nada trazem de novo para quem conhece a essência da obra freudiana. No entanto, por sua clareza exemplar, têm uma função didática e constituem uma iniciação particularmente simples aos princípios gerais da psicanálise.” (veja instruções sobre a ordem da leitura de Freud ao final do post)

ESBOÇO DA OBRA:

A primeira conferência versa sobre a especificidade da abordagem psicanalítica da

neurose. A propósito disso, Freud evoca a história de Anna O. (Bertha Pappenheim) e a lembrança de Josef Breuer.

Na segunda conferência, explica de que modo o abandono da hipnose lhe permitiu captar a manifestação das resistências, do recalque e do sintoma, assim como seu funcionamento em relação ao surgimento de <moções> do desejo por ele qualificadas de <perturbadoras> para o eu.”

¹ Vocabulário intragável!

A conferência de Freud na quarta-feira à tarde, com efeito, foi perturbada pela intromissão de Emma Goldmann, a célebre anarquista norte-americana, acompanhada, nesse dia, por Ben Reitman, o <rei dos vagabundos>.

Em seu prefácio à tradução francesa de 1991, Jean-Bertrand Pontalis sublinhou a engenhosidade de que Freud deu mostras ao usar essa imagem do perturbador. Contudo, sublinhou também que a tática que consiste em desarmar o adversário em potencial comporta o risco de gerar, por força da moderação, um número excessivo de mal-entendidos. Assim, para não chocar o público norte-americano, Freud havia recuado, nesse momento, em relação às posições adotadas em 1905, em seus Três ensaios sobre a teoria da sexualidade. Essa concessão, entretanto, não evitaria que sua doutrina fosse assemelhada a um pansexualismo, tanto nos Estados Unidos quanto em todos os outros lugares.

Esse exemplo de deslizamento epistemológico, responsável por uma certa edulcoração da teoria, também responde pelo interesse desse livro. Nele, com efeito, podemos apreender como foi difícil o combate travado por Freud em prol do uso e da manutenção do termo sexualidade. Como sublinhou Jean Laplanche a esse respeito, <Ceder quanto à palavra já é ceder em ¾ quanto ao próprio conteúdo da idéia.>

cisão

Dá-se o nome de cisão a um tipo de ruptura institucional ocorrida no interior da IPAa partir do fim da década de 1920. O cisionismo é um processo ligado ao desenvolvimento maciço da psicanálise durante o entre-guerras e, mais tarde, durante a segunda metade do século XX. Atesta uma crise da instituição psicanalítica e a transformação desta num aparelho burocrático, destinado a administrar os interesses profissionais da corporação (análise didática e supervisão, análise leiga ou análise feita por médicos) a partir de regras técnicas (duração das sessões e dos tratamentos, currículo, hierarquias) que se tornaram contestáveis aos olhos de alguns de seus membros, a ponto de conduzi-los a rejeitá-las radicalmente e, depois, a promover uma secessão.”

O cisionismo, portanto, é o sintoma da impossibilidade de a psicanálise e o freudismo da segunda metade do século XX serem representados em sua totalidade unicamente pela IPA, ainda que ela seja a associação mais poderosa e mais legítima do mundo. Quanto mais importante é o movimento freudiano num país, mais freqüentes são as cisões. Por isso é que o cisionismo é realmente um fenômeno ligado ao desenvolvimento das instituições psicanalíticas.”

Somente a Grã-Bretanha conseguiu evitar as cisões, através de um arranjo interno da British Psychoanalytical Society (BPS) após as Grandes Controvérsias: em vez de levar a uma verdadeira cisão, os conflitos conduziram a uma divisão tripartite da própria BPS (kleinismo, annafreudismo e o Grupo dos Independentes).”

O termo difere, portanto, de cisma, muitas vezes empregado na terminologia inglesa e que, embora designe a contestação de uma autoridade legítima, tem uma conotação religiosa que não convém à inscrição da psicanálise no século. [hehe]”

A dissidência é um fenômeno historicamente anterior ao das cisões, contemporâneas da expansão maciça da psicanálise no mundo, e do advento da terceira geração psicanalítica mundial (Jacques Lacan, Heinz Kohut, Marie Langer, Wilfred Ruprecht Bion, Igor Caruso, Donald Woods Winnicott).” “De modo geral, emprega-se o termo dissidência para qualificar as duas grandes rupturas que marcaram os primórdios do movimento psicanalítico: com Alfred Adler, em 1911, e com Carl Gustav Jung, em 1913. Essas duas rupturas conduziram seus protagonistas a abandonar o freudismo e fundar, ao mesmo tempo, uma nova doutrina e um novo movimento político e institucional: a psicologia individual, no caso do primeiro, e a psicologia analítica, no que tange ao segundo.” “As dissidências de Wilhelm Stekel e Otto Rank, sob esse aspecto, são diferentes da adleriana e da junguiana, porquanto dizem respeito a certos aspectos da doutrina e não à sua totalidade. Trata-se, pois, de dissidências internas à história da teoria freudiana, da qual conservam quer o essencial, quer uma parte. A dissidência de Wilhelm Reich é da mesma ordem, tendo sido acompanhada, como a de Rank, de uma expulsão da IPA.”

Note-se que Lacan foi o único a utilizar a palavra excomunhão para designar a maneira como foi obrigado a deixar a IPA em 1963. Com isso, inscreveu sua ruptura com a legitimidade freudiana na linha direta do herem de Baruch Spinoza (1632-1677), que era um castigo de caráter leigo, e não religioso. (…) Censurando a instituição freudiana por já não ser freudiana, ele se viu coagido a fundar um novo lugar de legitimidade para o exercício da psicanálise — a École Freudienne de Paris (EFP) —, assim fazendo nascer um movimento que, apesar de se pretender freudiano, seria chamado de lacaniano. Essa é a contradição traduzida pela palavra excomunhão: também o jovem Spinoza foi coagido por seu herem a fundar uma filosofia spinozista.”

Claus, Carl (1835-1899) [não confundir com Karl Kraus]

Em 1874, Freud seguiu seus cursos, no momento em que Claus se dedicava a uma vasta polêmica com outro discípulo alemão de Charles Darwin, Ernst Haeckel. No ano seguinte, obteve por duas vezes uma bolsa para Trieste, onde efetuou pesquisas sobre as gônadas da enguia. Em 1990, Lucille Ritvo foi a primeira a estudar a importância do ensino de Carl Claus na gênese da adesão de Freud ao darwinismo, especialmente à tese da hereditariedade dos caracteres adquiridos.”

complexo

Nenhum outro termo instituído pela psicanálise para as suas necessidades adquiriu tanta popularidade nem foi mais mal-aplicado em detrimento da construção de conceitos mais exatos” F., História da psicanálise

Podemos encontrar diversos motivos para esta reserva de Freud. Repugnava-lhe uma certa tipificação psicológica (por exemplo, o complexo de fracasso), que implica o risco de dissimular a singularidade dos casos e, ao mesmo tempo, apresentar como explicação aquilo que constitui o problema.” “surge, com efeito, a tentação de criar tantos complexos quantos forem os tipos psicológicos que se imaginem” “Note-se que a aparente diversidade dos termos <paterno>, <materno>, etc., remete em cada caso para dimensões da estrutura edipiana, quer essa dimensão seja particularmente dominante em determinado sujeito, quer Freud pretenda dar um relevo especial a determinado momento da sua análise. E assim que, sob o nome de complexo paterno, ele acentua a relação ambivalente com o pai. O complexo de castração, embora o seu tema possa ser relativamente isolado, inscreve-se inteiramente na dialética do complexo de Édipo.” Hm.

No Dictionnaire de psychanalyse et psychotechnique publicado sob a direção de Maryse Choisy na revista Psyche, são descritos cerca de 50 complexos. Escreve um dos autores: <Tentamos dar uma nomenclatura tão completa quanto possível dos complexos conhecidos até agora. Mas todos os dias se descobrem mais.>” HAHAHA

complexo de Electra

Expressão utilizada por Jung como sinônimo do complexo de Édipo feminino, para marcar a existência nos dois sexos, mutatis mutandis, de uma simetria da atitude para com os pais.” Nem mesmo Simone de Beauvoir sabia disso.

compulsão à repetição (Wiederholungszwang)

Ver vocábulos das neuroses

Em psicopatologia concreta, processo incoercível e de origem inconsciente, pelo qual o sujeito se coloca ativamente em situações penosas, repetindo assim experiências antigas sem se recordar doprotótipo e tendo, pelo contrário, a impressão muito viva de que se trata de algo plenamente motivado na atualidade.”

Ela participa de tal modo da investigação especulativa de Freud nesse momento decisivo, com suas hesitações, impasses e mesmo contradições, que é difícil delimitar a sua acepção restrita como também a sua problemática própria.”

De um modo geral, o recalcado procura <retornar> ao presente, sob a forma de sonhos, de sintomas, de atuação

…o que permaneceu incompreendido retorna; como uma alma penada, não tem repouso até que seja encontrada solução e alívio” Quem diria que não foi escrito por um espírita! Mas um surdo pressentimento – ou grande ignorância – me faz pensar que um bisavô meu me deu esse presente e que desde criança esse é meu fado… Tudo se inverte quando percebemos que criamos isso, imploraríamos por isso se não existisse (única realidade possível) e vivemos nossa vida como a MALDIÇÃO DO ESCRITOR, espontaneamente, por paradoxal que pareça.

Lacan distingue duas ordens de repetição, as quais analisa numa perspectiva aristotélica: por um lado, a tyche, encontro dominado pelo acaso — de certo modo, ela é o contrário do kairos, o encontro que ocorre no <momento oportuno> — e que podemos assimilar ao trauma, ao choque imprevisível e incontrolável.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

F., Recordar, repetir, perlaborar

comunismo

instaurou-se entre o marxismo e o freudismo um vínculo que deu origem a uma corrente intelectual designada pelo nome de freudo-marxismo, cujos principais representantes foram os filósofos da Escola de Frankfurt e os psicanalistas da <esquerda freudiana>: desde Otto Fenichel a Wilhelm Reich, passando por Erich Fromm e Herbert Marcuse.”

Freud sempre manifestou uma hostilidade, se não ao marxismo, pelo menos ao comunismo e, acima de tudo, aos freudo-marxistas. Foi contra Reich que se mostrou mais violento, sobretudo em 1933, no momento em que os freudianos de todas as tendências deveriam ter se mobilizado contra o nazismo, e não contra os dissidentes marxistas de seu próprio movimento.(Freud, entretanto, jamais confundiu comunismo com nazismo, como mostra uma carta publicada por Jones, dirigida a Marie Bonaparte em 10 de junho de 1933: <O mundo está se transformando numa enorme prisão. A Alemanha é a pior de suas celas. O que acontecerá na cela austríaca é absolutamente incerto. Prevejo uma surpresa paradoxal na Alemanha. Eles começaram tendo o bolchevismo como seu inimigo mortal e terminarão com algo que não se distinguirá dele — exceto pelo fato de que o bolchevismo, afinal, adotou ideais revolucionários, ao passo que os do hitlerismo são puramente medievais e reacionários.>)

Em todos os países que se tornaram comunistas e onde a psicanálise estava implantada no começo do século, ela foi proibida e seus representantes foram perseguidos, caçados ou obrigados a se exilar. Naqueles em que ainda não existia antes do advento do regime comunista, ela também foi proibida. Num primeiro momento, de 1920 a 1949, e à medida que se deu a stalinização do movimento comunista e a transformação do regime soviético (e de seus satélites) num sistema totalitário, a supressão de todas as liberdades associativas e políticas acarretou a extinção pura e simples da prática psicanalítica e de suas instituições. (…) O pavlovismo tornou-se o padrão generalizado de uma psicologia chamada materialista, que foi contrastada com a ciência burguesa freudiana, dita espiritualista ou reacionária.” “Somente após a queda do comunismo, em 1989, é que o freudismo pôde implantar-se novamente na Rússia e na Romênia, ou encontrar uma nova via de introdução na Polônia, na Bulgária e na República Tcheca.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

André Jdanov, Sur la littérature, l’art et la musique (1948), Paris, Éd. de la Nouvelle Critique, 1950.

Conferências introdutórias sobre psicanálise

Livro inicialmente publicado por Sigmund Freud em 3 partes distintas, entre 1916 e 1917, e depois num único volume, em 1917, sob o título Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse. Traduzido para o francês pela primeira vez em 1921, por Samuel Jankélévitch, sob o título Introduction à la psychanalyse. Traduzido para o inglês pela primeira vez em 1920, sem indicação do tradutor mas sob a direção e com um prefácio de Stanley Granville Hall, sob o título A General Introduction to Psychoanalysis. Mais tarde, traduzido em 1922 por Joan Riviere sob o título Introductory Lectures on Psycho-Analysis, com um prefácio de Ernest Jones. A tradução de Joan Riviere foi posteriormente reeditada em 1935 sob o título A General Introduction to Psychoanalysis, incluindo os dois prefácios. Traduzido em 1964 por James Strachey sob o título Introductory Lectures on Psycho-Analysis.”

As Conferências introdutórias sobre psicanálise compreendem 3 grupos de aulas: as quatro primeiras aulas dizem respeito aos atos falhos; as 11 seguintes são dedicadas ao sonho, e as outras 13, que em si constituem a verdadeira segunda parte do livro, são agrupadas sob o título de Teoria geral das neuroses.”

Mas, nova dificuldade, é impossível assistir a uma sessão de psicanálise, embora seja corriqueiro observar apresentações de doentes no âmbito dos serviços de psiquiatria. Com efeito, a psicanálise pressupõe a fala espontânea e não controlada por parte do paciente; assim, ela versa sobre o que há de mais íntimo e mais pessoal, que não pode ser dito na presença de terceiros.”

As quatro primeiras conferências retomam de forma sintética o tema da Psicopatologia da vida cotidiana.” “Esse corpus de símbolos tende a constituir uma espécie de reservatório de traduções permanentes a que a análise deve recorrer quando o conteúdo manifesto não suscita nenhuma associação, o que, esclarece Freud, não pode ser atribuído a um fenômeno de resistência, mas à especificidade do material. Ele reconhece que esse conjunto de símbolos não deixa de evocar <o ideal da antiga e popular interpretação dos sonhos, um ideal do qual nossa técnica nos afastou consideravelmente>. Nesse ponto e em termos ainda mais claros, renova a advertência acrescentada em 1909 ao texto de A interpretação dos sonhos: <Não se deixem, contudo, seduzir por essa facilidade. Nossa tarefa não consiste em realizar façanhas. A técnica que repousa no conhecimento dos símbolos não substitui a que repousa na associação e não pode comparar-se com ela. Apenas a complementa e lhe fornece dados utilizáveis.>Dito isso, a freqüência das analogias simbólicas no sonho permite a Freud sublinhar o caráter universalista da psicanálise, bem diferente, nesse como em outros aspectos, da psicologia e da psiquiatria.”

as Conferências introdutórias sobre psicanálise não são apenas um manual didático, mas constituem, assim como a maioria das publicações de Freud, uma etapa no desenvolvimento de sua elaboração teórica. Isso se aplica, em particular, ao capítulo sobre a angústia, onde é retomado um certo número de observações clínicas, previamente desenvolvidas no âmbito dos históricos de casos, mas onde são igualmente introduzidas novas concepções, que anunciam as elaborações que Freud iria teorizar em Inibições, sintomas e angústia (1926).”

Em algumas linhas, esclarece sua reticência em fornecer, nesse como noutros pontos, um <guia prático para o exercício da psicanálise>, e demonstra através de exemplos como a transmissão dessa prática passa por vias que não podem ser as do ensino abstrato.” Seria um perigo para os não-hunters aprenderem sobre o Nen.

denegação, negação, for(a)clusão (Lacan, psicose)

Etimologia: do francês forclusion ou prescrição legal (decadência de prazo no Direito).

a denegação é um meio de todo ser humano tomar conhecimento daquilo que recalca em seu inconsciente. Através desse meio, portanto, o pensamento se liberta, por uma lógica da negatividade, das limitações que lhe são impostas pelo recalque.”

* * *

O termo foraclusão foi introduzido pela primeira vez por Lacan, em 4 de julho de1956, na última sessão de seu seminário dedicado às psicoses e à leitura do comentário de Sigmund Freud sobre a paranóia do jurista Daniel Paul Schreber.”

Para compreender a gênese desse conceito, há que relacioná-lo com a utilização que Hippolyte Bernheim fez, em 1895, da noção de alucinação negativa: esta designa a ausência de percepção de um objeto presente no campo do sujeito após a hipnose. Freud retomou o termo, porém não mais o empregou a partir de 1917, na medida em que, em 1914, propôs uma nova classificação das neuroses, psicoses e perversões no âmbito de sua teoria da castração. Deu então o nome de Verneinung ao mecanismo verbal pelo qual o recalcado é reconhecido de maneira negativa pelo sujeito, sem no entanto ser aceito: <Não é meu pai.> Em 1934, o termo foi traduzido em francês por négation.”

Laforgue propunha traduzir por escotomização tanto a renegação (Verleugnung) quanto um outro mecanismo, próprio da psicose e, em especial, da esquizofrenia. Freud recusou-se a acompanhá-lo e distinguiu, de um lado, a Verleugnung, e de outro, a Verdrängung (recalque). A situação descrita por Laforgue despertava a idéia de uma anulação da percepção, ao passo que a exposta por Freud mantinha a percepção, no contexto de uma negatividade: atualização de uma percepção que consiste numa renegação.”

Lacan inspirou-se no trabalho de Maurice Merleau-Ponty (1908-1961), Phénoménologie de la perception, e sobretudo nas páginas desse livro dedicadas à alucinação como <fenômeno de desintegração do real>, componente da intencionalidade do sujeito.”

O ULTRA-ROMÂNTICO VS. O PÓS-MOD. RESSEQUIDO

Normalmente, o alucinado vê coisas a mais, que não existem. Mas e se se tratasse de um alucinado lacaniano? É aquele que não vê o que existe. É como o niilista nietzschiano: cético, não acredita em nada para-além do empírico; mas, o que é pior, sequer dá fé ao empírico e imediato. Dá valor de nada ao que efetivamente está-aí. Não dá presença ao que é imaginário, como o niilista ingênuo clássico. Devaloração de todos os valores.

* * *

um recalque é algo diferente de uma rejeição F.

RECALQUE: Eu não quero lembrar como meu pai é ruim (neurose)

FORACLUSÃO: Não existe um pai que seja ruim. (psicose)

O conceito de foraclusão assumiu, em seguida, uma extensão considerável na literatura lacaniana, a ponto de os discípulos do mestre francês acabarem vendo (senão alucinando) sua existência no corpus freudiano.” He-he.

* * *

A forclusão distinguir-se-ia do recalque em dois sentidos: 1) Os significantes forcluídos não são integrados no inconsciente do sujeito; 2) Não retornam <do interior>, mas no seio do real, especialmente no fenômeno alucinatório.”

Em conclusão, podemos verificar, limitando-nos ao ponto de vista terminológico, que nem sempre o uso do termo Verwerfung abrange a idéia expressa por forclusão e que, inversamente, outras formas freudianas designam o que Lacan procura evidenciar.”

Ulteriormente, quando Freud tender a reinterpretar a projeção como um simples momento secundário do recalque neurótico, ver-se-á obrigado a admitir que a projeção — tomada neste sentido — já não é o fator propulsor essencial da psicose: <Não era exato dizer que a sensação reprimida (ünterdrückt) no interior era projetada para o exterior; reconhecemos antes que o que foi abolido (das Aufgehobene) no interiorvolta do exterior.>

O ego arranca-se à representação insuportável, mas esta está indissoluvelmente ligada a um fragmento da realidade e, realizando esta ação, o ego desligou-se também total ou parcialmente da realidade.” F., 1894

INFELIZMENTE A ÚNICA VÍTIMA DE UM COMPLEXO DE CASTRAÇÃO AQUI ERA O PRÓPRIO SEGISMUNDO: “Nos diversos textos de Freud existe uma ambigüidade indubitável quanto ao que é rejeitado (verworfen) ou recusado (verleugnet) quando a criança não aceita a castração. Será a própria castração? Neste caso, seria uma verdadeira teoria interpretativa dos fatos que seria rejeitada e não uma simples percepção. Tratar-se-á da <falta de pênis> na mulher? Mas então é difícil falar de uma <percepção> que seria recusada, porque uma ausência só é um fato perceptivo na medida em que é relacionada com uma presença possível.”

[Para Lacan,] a forclusão consiste então em não simbolizar o que deveria sê-lo (a castração): é uma <abolição simbólica>.” De acordo com a enantiodromia ou necessidade do retorno do recalcado (forcluído, neste caso) e homeostase das pulsões, o forcluído tem de re-advir no real em forma de ALUCINAÇÃO (ex: quando o Pequeno Hans vê seu dedo ser decepado).

Esse assunto é uma bosta de árido e confuso. Consultar bibliografia complementar!

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jacques Damourette & Édouard Pichon, “Sur la signification psychologique de la négation en français” (1928), Le Bloc-notes de la Psychanalyse, 5, 1985, 111-32.

Deutsch, Helene

Aos 14 anos, a despeito de sua inteligência e sua beleza, Helene era deprimida, marcada pela hostilidade da mãe em relação a ela e pela tentativa de estupro de que tinha sido vítima por parte do irmão. Para grande escândalo da família, tornou-se então amante de um homem casado e conhecido em toda a cidade: Herman Lieberman. Esse eminente dirigente socialista, que seria ministro do governo polonês no exílio em Londres em 1940, lhe apresentou Rosa Luxemburgo, figura histórica, de quem ela falaria ainda com entusiasmo e admiração no fim da vida, aos 85 anos.”

encontrou Felix Deutsch, jovem médico atraído pelas idéias freudianas, com quem se casou no ano seguinte.”

Seduzido pela inteligência e pelos conhecimentos da jovem, Freud quis fazer dela sua principal discípula e acelerou o curso das coisas.”

seu livro mais importante, Psicologia da mulher, que seria, em 1949, a referência psicanalítica maior de Simone de Beauvoir (1908-1986) em O segundo sexo.”

As longas décadas que se seguiram — ela viveu até os 98 anos — foram ritmadas pelas tensões e conflitos de uma vida conjugal insatisfatória e pela nostalgia da paixão amorosa que marcou sua juventude. Sem dúvida, era essa uma das razões de seu apego à Polônia natal. Manifestava esse sentimento por um forte sotaque, o que fazia com que seus amigos dissessem que <ela falava cinco línguas, todas em polonês>. A grande dama [selvagem] de um freudismo sem concessões, criticando tão severamente a Ego Psychology quanto a standardização, à moda americana, da análise didática, desprovida segundo ela daquele espírito militante ao qual aderira apaixonadamente durante a sua juventude, foi então reconhecida e celebrada no continente americano.”

diferença sexual (A QUESTÃO FREUDO-FEMINISTA)

Razão da cisão kleiniana, que reconhece uma libido masculina e outra feminina.

Quando Simone de Beauvoir (1908-1986) publicou O segundo sexo, em junho de 1949, anunciou desde logo que a reivindicação feminista já estava ultrapassada. Para abordar esse tema a sério, após uma guerra que, na França, permitira às mulheres obterem o direito de voto, era preciso, doravante, tomar uma certa distância. Beauvoir não sabia que seu livro estaria na origem, após um longo desvio pelo continente norte-americano, de uma transformação simultânea dos ideais do feminismo e dos do freudismo.” “Beauvoir estudou a sexualidade à maneira de um historiador e tomou o partido da escola inglesa [kleinismo].” “A seu ver, a questão feminina não era assunto das mulheres, mas da sociedade dos homens, a única responsável, em sua opinião, pela submissão a ideais masculinos.”

O FALO HERMAFRODITA OU BINOMIAL DE LACAN: “o falo é assimilado a um significante puro da potência vital, dividindo igualmente os dois sexos e exercendo, portanto, uma função simbólica. Se o falo não é um órgão de ninguém, nenhuma libido masculina domina a condição feminina.”

Na França, essa leitura lacaniana do falocentrismo abriu caminho, entre 1968 e 1974, para teses diferencialistas encontradas sob a pena de autores — em geral mulheres e psicanalistas — preocupados em definir as características de uma identidade feminina liberta de qualquer substrato biológico ou anatômico. Assistiu-se então, em seguida à reformulação lacaniana, ao surgimento de um feminismo psicanalítico francês que, embora apoiando-se no livro fundador de Simone de Beauvoir, procurou ora contestá-lo radicalmente, ora corrigir seu aspecto naturalista e existencialista através de uma nova referência a Freud.” “Daí esse feminismo radical que renunciou, ao mesmo tempo, ao universalismo iluminista e à concepção freudiana da sexualidade.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Luce Irigaray, Speculum de l’autre femme, 1974;

Juliet Mitchell, Psychanalyse et féminisme, 1974;

Michèle Montrelay, L’Ombre et le nom, Paris, Minuit, 1977.

Dolto, Françoise

Em 1949, Françoise Dolto expôs à Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP) o caso de duas meninas psicóticas, Bernadette e Nicole. A primeira gritava, sem conseguir fazer-se ouvir. Humanizava os vegetais e coisificava os seres humanos. A segunda permanecia muda, embora não fosse surda. Dolto teve a idéia de pedir à mãe de Bernadette que fabricasse um objeto que teria, para a criança, o papel de um bode expiatório. Deu-lhe o nome de <boneca-flor>: uma haste coberta de tecido verde no lugar do corpo e dos membros, uma margarida artificial para representar o rosto. Bernadette projetou no objeto as suas pulsões mortíferas e começou a falar, enquanto Nicole saía de seu mutismo. Com essa <boneca-flor>, Dolto integrava à sua prática a técnica dos jogos e, embora não tivesse conhecimento, na época, dos trabalhos de Melanie Klein, referia-se implicitamente a uma clínica das relações de objeto, desprovida, entretanto, da temática kleiniana do ódio, da inveja e de qualquer forma de perseguição ligada à idéia de objeto mau. Dessa <boneca-flor>, sairia a representação particular que Dolto faria da imagem do corpo, mais próxima da concepção lacaniana do estágio do espelho do que da definição de Paul Schilder.”

Em janeiro de 1979, Françoise Dolto criou em Paris a primeira Casa Verde, para acolher crianças até a idade de 3 anos, acompanhadas dos pais. <Segundo Dolto, tratava-se de evitar os traumas que marcam a entrada na pré-escola e de manter a segurança que a criança adquiriu no nascimento.>, declarou Jean-François de Sauverzac. Essa experiência teve sucesso e muitas casas verdes foram abertas no Canadá, na Rússia, na Bélgica, etc.”

Tornou-se a figura mais popular da França freudiana, mas foi criticada pelos meios psicanalíticos, que a acusavam de pôr o divã na rua.<Cientista, ela se comportava à maneira dos jornalistas, escreveu Madeleine Chapsal, dizendo o que tinha a dizer a cada dia, com urgência e com desprezo pelo escândalo, pelo choque que poderia causar. Evidentemente, sofreu o contragolpe de sua deliberada imprudência. Foi atacada, afastada, desprezada. Nada disso a deteve.>

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Françoise Dolto, Psicanálise e pediatria (Paris, 1939), Rio de Janeiro, Zahar, 1980; O caso Dominique (Paris, 1971), Rio de Janeiro, Zahar, 1981; Seminário de psicanálise de crianças (Paris, 1982, 1988), Rio de Janeiro, Zahar, 1985.

Doolittle, Hilda, dita H.D. (1886-1961)

Publicou várias antologias importantes e um romance autobiográfico, que relata os conflitos da bissexualidade em uma mulher apaixonada por um homem e por outra mulher. Analisada por Sigmund Freud em 1933-1934, publicou em 1956 um depoimento sobre o seu tratamento, composto de duas partes: O advento, conjunto de notas tomadas diariamente durante a análise e Escrito na parede. Reminiscências de uma análise com Freud, relato redigido 10 anos depois.”

duplo vínculo, double bind

Dilema do esquizofrênico, referente à incapacidade de decodificação da mensagem exterior.

egooueu

é corrente em psicanálise admitir que a noção de ego só se teria revestido de um sentido estritamente psicanalítico, técnico, após aquilo a que se chamou a virada de 1920. Esta mudança profunda da teoria, aliás, pode ter correspondido, na prática, a uma nova orientação, voltada para a análise do ego e dos seus mecanismos de defesa, mais do que para a elucidação dos conteúdos inconscientes. É claro que ninguém ignora que Freud falava de ego (Ich) desde os seus primeiros escritos, mas afirma-se que isso acontecia, geralmente, de forma pouco especificada, pois o termo designava então a personalidade no seu conjunto. Considera-se que as concepções mais específicas que atribuem ao ego funções bem determinadas no seio do aparelho psíquico (no Projeto para uma psicologia científica [Entwurt einer Psychologie, 1895], por exemplo) são prefigurações isoladas das noções da segunda tópica.”

o ego do amor-próprio segundo La Rochefoucauld

Freud não só encontra e utiliza acepções clássicas, opondo, por exemplo, o organismo ao meio, o sujeito ao objeto, o interior ao exterior, como emprega o próprio termo Ich nestes diferentes níveis, chegando até a jogar com a ambigüidade da utilização desta palavra; isso mostra que não exclui do seu campo qualquer das significações atribuídas aos termos ego (moi) ou eu (je).”

O ego só põe em funcionamento o processo primário quando não está em condições de fazer funcionar as suas defesas normais (atenção e evitação, por exemplo). No caso da lembrança de um traumatismo sexual (ver: a posteriori) o ego é surpreendido por um ataque interno e só pode <deixar agir um processo primário>. A situação da <defesa patológica> em relação à palavra [associação de complexos] não é pois determinada de maneira unívoca; em certo sentido, o ego é na verdade o agente da defesa, mas, na medida em que só pode se defender separando-se daquilo que o ameaça, abandona a representação inconciliável a um tipo de processo sobre o qual não tem domínio [primário].” Deixa os resquícios para os sonhos encobertos – mas isso só enquanto o trauma não adquire o status de ferida aberta (mórbido). Do contrário, a vida do sujeito em seus processos secundários estará avariada.

para que a alucinação seja evitada e para que a descarga não se produza quer na ausência quer na presença do objeto real, é necessário que seja inibido o processo primário que consiste numa livre propagação da excitação até a imagem.” HOMEOSTASE: “É a permanência nele de um nível de investimento que permite ao ego inibir os processos primários, não só aqueles que levam à alucinação, mas também os que seriam suscetíveis de provocar desprazer (= defesa primária).”

Processos psíquicos primários X Processos psíquicos secundários

Medidas drásticas e daninhas (representações alucinatórias, angústia, pânico) ou que no mínimo se exaurem rapidamente X Amadurecimento do Consciente por interferência paulatina do Supereu (pulsões refreadas, noção de dosagem da energia responsiva)

Ex: sonho X introjeção moral

Esta ambigüidade constitutiva do ego reaparece na dificuldade em dar um sentido unívoco à noção de interior, de excitação interna.Só sei que não sei nem o eu.

O mais engraçado é que, se Freud estivesse correto, a vontade que o eu moral tem de dormir (esgotamento energético) para repor o equilíbrio das representações,ciclicamente perturbado, significaria que a instância auto-cultivada de nosso Ser é impotente e escrava justamente dos instintos mais selvagens (os processos primários salvam os secundários, os secundários em nada são uma evolução ou aperfeiçoamento daqueles). Precisa o Ser esgotar-se a todo momento a fim de estar novamente compensado (energizado) e não sucumbir. Ou seja, a homeostase do sistema (acima) é a liberação dos processos primários, não sua inibição. A leitura de ponta-cabeça do cânone freudiano faria infinitamente mais sentido. Ler Schopenhauer e entendê-lo corretamente (às avessas do que entendeu F.) faria infinitamente mais sentido e nos faria economizar tempo do nosso intelectual, ajudando-nos a compreender melhor nós mesmos e nossa Vontade…

1ª TÓPICA, 2ª TÓPICA, 3ª TÓPICA, TÓPICA ANNAFREUDIANA & “TÓPICA INGLESA” OU HETERODOXA (só para citar as MAIS TRADICIONAIS), uma salada irreconciliável: “É claro que não se pensaria em contrapor a esta orientação da Ego psychology uma exposição do que seria a <verdadeira> teoria freudiana do ego: antes nos impressiona a dificuldade em situar numa única linha de pensamento o conjunto das contribuições psicanalíticas para a noção de ego.” “Mas, se a única energia de que dispõe o aparelho psíquico é a energia interna proveniente das pulsões, aquela de que o ego poderia dispor não pode deixar de ser secundária, derivada do id. Esta solução, que é a mais geralmente admitida por Freud, não podia deixar de conduzir à hipótese de uma <dessexualização> da libido, hipótese da qual se pode pensar que apenas localiza numa noção, por sua vez também problemática, uma dificuldade da doutrina.” “A idéia de uma gênese do ego é cheia de ambigüidades, que aliás foram mantidas por Freud ao longo de toda a sua obra e que só se agravaram com o modelo proposto em Além do princípio do prazer

ego ideal ou eu ideal

Derivado do estágio narcísico, representa o supra-sumo da concepção de um eu perfeito. Sensação de onipotência. Psicose.

O ego ideal é ainda revelado por admirações apaixonadas por grandes personagens da história ou da vida contemporânea, caracterizados pela independência, orgulho, autoridade. Quando o tratamento progride, o ego ideal se delineia, emerge como uma formação irredutível ao supereu.” Lagache, La psychanalyse et la structure de la personnalité

ego, ideal do ou superego

Instância da moral.

Ego Psychology (Psicologia do eu)

foi a Ego Psychology que serviu de grande referência doutrinal, na segunda metade do século, para análises intermináveis e cronometradas, imobilizadas no silêncio, reservadas à burguesia urbana rica e praticadas por médicos preocupados com o prestígio social e a rentabilidade financeira. Essa técnica psicanalítica, aliás, seria violentamente criticada, no interior da própria IPA.”

PAÍS DE RETARDADOS: “As diferentes correntes desse freudismo norte-americano, quaisquer que sejam suas (numerosas) variações são quase sempre perpassadas por uma religião da felicidade e da saúde, contrária tanto à concepção vienense do mal-estar da Kultur quanto ao recentramento kleiniano do sujeito numa pura realidade psíquica, ou à visão lacaniana do freudismo como uma peste subversiva. Aliás, é em razão dessa contradição radical entre as interpretações européias e norte-americanas da psicanálise que o kleinismo, o lacanismo e o freudismo <original> (vienense e alemão) não puderam implantar-se como tais nos Estados Unidos. Quanto aos partidários da <esquerda freudiana> (em torno de Otto Fenichel), foram obrigados a renunciar a suas atividades porque elas eram julgadas <subversivas> no solo norte-americano. Depois de sofrerem os ataques do macarthismo, eles tiveram de se medicalizar, recalcar seu passado europeu e se transformar em técnicos da adaptação. Daí a ortodoxia burocrática que acabaria por desacreditar a imagem do psicanalista e deixar o campo livre à supremacia dos laboratórios farmacêuticos, fornecedores de <pílulas da felicidade>, ou às diversas terapias da New Age — tratamentos xamanísticos e experiências de espiritismo, vidência ou telepatia.”

Hartmann introduziu uma distinção entre o eu (ego), como instância psíquica, e o si mesmo (self), tomado no sentido da personalidade ou da própria pessoa. Esse termo seria retomado por Winnicott, que lhe acrescentaria uma referência fenomenológica, e por Kohut, que o transformaria numa instância específica, a única apta a explicar os distúrbios narcísicos.” “o terapeuta do ego deve ocupar o lugar do eu <forte> com o qual o paciente quer se parecer a fim de conquistar a autonomia do eu.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Heinz Hartmann, La Psychologie du moi et le problème de l’adaptation

Eitingon

Lixo humano! Ver verbete ESCANDINÁVIA.

Ellenberger, Henri F. (1905-1993)

Em meados do século, tinha adquirido um grande conhecimento da história da psiquiatria e da psicanálise na Europa. Falava e escrevia muito bem em francês, alemão e inglês, e interessava-se pela evolução de todas as formas de tratamento psíquico. Só lhe faltava iniciar-se na história da emigração freudiana de leste para oeste.”

Depois de trabalhar durante 20 anos com arquivos, redigiu em inglês sua obra fundamental: The Discovery of the Unconscious. The History and Evolution of Dynamic Psychiatry, que foi publicada nos Estados Unidos em 1970, o que lhe valeu o reconhecimento da maior parte dos países do mundo, à exceção da França, onde, quando de sua primeira tradução em 1974, interessou apenas aos meios psiquiátricos. Ellenberger fazia uma revolução que lembrava a dos Annales. Opondo-se sobretudo à história oficial segundo Ernest Jones e seus herdeiros, seu método associava o tratamento positivo das fontes, à maneira de Alphonse Aulard, à sondagem imaginária, tal como a concebia Lucien Febvre.

Segundo ele, existia uma dicotomia entre a história da teorização da noção de inconsciente e a da sua utilização terapêutica. A primeira começara com as intuições dos filósofos da Antiguidade, depois prosseguira com as dos grandes místicos. No século XIX, a noção de inconsciente se consolidou com Arthur Schopenhauer (1788-1860), Friedrich Nietzsche e os trabalhos da psicologia experimental: Johann Friedrich Herbart, Hermann Helmholtz, Gustav Fechner. Quanto à segunda história, esta remontava à arte do feiticeiro e do xamã, e passava pela confissão cristã. Dois métodos terapêuticos foram praticados. Um consistia em provocar no doente a emergência de forças inconscientes, sob forma de <crises>: possessões ou sonhos. O outro gerava o mesmo processo no médico. Do tratamento centrado no paciente derivava a neurose de transferência no sentido freudiano; do tratamento centrado no médico derivava a análise didática. Efetivamente, esta herdava a <doença iniciática> que conferia ao xamã o seu poder de cura, e a <neurose criadora> tal como a tinham vivido no fim do século XIX os pioneiros da descoberta do inconsciente: Pierre Janet, Freud, Jung, Adler.

Nessa perspectiva, a primeira grande tentativa de integrar a investigação do inconsciente à sua utilização terapêutica começava com as experiências de Franz Anton Mesmer, iniciador da primeira psiquiatria dinâmica.”

e foi então que nasceu, sobre as ruínas de um magnetismo que se tornara hipnotismo, a segunda psiquiatria dinâmica, dividida em quatro grandes correntes: a análise psicológica de Pierre Janet, centrada na exploração do subconsciente, a psicanálise de Freud, fundada na teoria do inconsciente, a psicologia individual de Adler, a psicologia analítica de Jung. Ellenberger observou que o paradoxo dessa segunda psiquiatria dinâmica, cuja história se detinha em 1940, era que, ao cindir-se em escolas opostas, ela rompia o pacto fundador que a ligava ao ideal de uma ciência universal nascida do Iluminismo, para voltar ao antigo modelo das seitas greco-romanas.”

Ellis, Henry Havelock (1859-1939)

Homossexual revoltado contra os códigos morais da Inglaterra vitoriana, decidiu, aos 16 anos, dedicar a vida à análise da sexualidade humana sob todas as suas formas. Foi com essa intenção que estudou medicina: <Queria poupar à juventude das gerações futuras as preocupações e perplexidades que a ignorância do sexo me infligiu.> De 1884 a 1889, tornou-se amigo íntimo de uma romancista feminista, Olive Schreiner, que conhecera através da filha de Karl Marx (1818-1883). [!] Depois do casamento de Olive, desposou Edith Lees, uma intelectual que mergulhou progressivamente na loucura.”

Em 1890, começou a redação de sua grande obra: Estudos de psicologia sexual. Publicado em Londres um ano depois do processo de Oscar Wilde (1856-1900), o primeiro volume era consagrado à inversão sexual. O livro causou escândalo, e o livreiro que vendeu a obra foi processado na justiça. Posteriormente, Ellis seria obrigado a publicar os outros volumes nos Estados Unidos:<A envergadura da documentação de Ellis nesses Estudos, escreveu Frank Sulloway, era realmente impressionante. Ele estava completamente a par de toda a literatura médica do seu tempo e citava mais de dois mil autores, pertencentes a 12 áreas lingüísticas diferentes. Cada volume era uma suma enciclopédica do saber contemporâneo sobre cada uma das questões tratadas.>

Esboço de Psicanálise

Iniciado em 22 de julho de 1938, esse último livro de Freud permaneceu inacabado e comporta apenas 3 partes. Fazia muito tempo que Freud tinha o projeto de escrever um opúsculo destinado a apresentar ao grande público uma síntese de sua doutrina. Iniciou esse trabalho em Viena, às vésperas de seu exílio, queixando-se de ter que escrever coisas que já tinha dito e às quais nada tinha a acrescentar. No entanto, redigiu o texto em ritmo animado e ao sabor da pena, apelando para abreviaturas. De fato, o livro é certamente bem melhor do que o julgava Freud. Trata-se de uma excelente síntese dos eixos fundamentais do pensamento freudiano no tocante ao aparelho psíquico, à teoria das pulsões, à sexualidade, ao inconsciente, à interpretação dos sonhos e à técnica psicanalítica. Em algumas passagens, Freud se interroga sobre novas direções de investigação, em especial a propósito do eu, e prenuncia, acima de tudo, a descoberta de substâncias químicas capazes de agir diretamente sobre o psiquismo e tornar obsoleto o método psicanalítico, do qual, no entanto, assume vigorosamente a defesa:<Por ora, no entanto, dispomos apenas da técnica psicanalítica, e é por isso que, a despeito de todas as suas limitações, convém não desprezá-la.>

Escandinávia

PRÓLOGO: UM POUCO DE LINGÜÍSTICA E GEOGRAFIA

Sob essa designação genérica estão agrupados 5 países da Europa: Dinamarca, Noruega, Suécia, Finlândia e Islândia. No plano político, existem apenas 3 Estados ditos escandinavos: Suécia, Noruega e Dinamarca. Geograficamente, chama-se Escandinávia a parte norte da Europa que reúne a Suécia, a Noruega, a Dinamarca e a Finlândia, ou seja, 4 países no total, e dá-se o nome de Península Escandinava ao conjunto constituído pela Suécia e pela Noruega. São 4 as línguas escandinavas ligadas ao grupo das línguas germânicas: dinamarquês, sueco, norueguês e islandês, enquanto o finlandês pertence à família das línguas ditas fino-úgricas.”

Foi na Suécia que o freudismo obteve mais sucesso, ao passo que, por razões políticas, ligadas ao forte desenvolvimento dos partidos trabalhistas, a Dinamarca e a Noruega foram principalmente receptivas às teses de Wilhelm Reich, ou seja, ao materialismo biológico e à síntese entre o freudismo e o marxismo.”

Obcecados pelo exílio, preocupados com a loucura ou com a estranheza do homem em relação a si mesmo, todos procuravam captar em suas obras a angústia existencial de uma época dominada pelo ceticismo, pelo irracionalismo e pela recusa da idéia de progresso linear. Foi nesse terreno crítico, e em um contexto em que o puritanismo luterano era ao mesmo tempo religião do Estado e uma atitude mental e espiritual, que surgiram as primeiras interrogações sobre a doutrina freudiana.”

A CONTIGO DA PSICANÁLISE:

A EXECRAÇÃO REACIONÁRIA DO LEGADO REICHIANO

Na Dinamarca, ao invés de adotar uma posição flexível, os dirigentes da IPA, especialmente Max Eitingon e Anna Freud, apoiados por Ernest Jones e Freud, não autorizaram Reich a praticar análises didáticas, ao passo que ele era membro da International através de sua filiação à Deutsche Psychoanalytische Gesellschaft (DPG). Ora, apesar de suas divergências técnicas e políticas com os freudianos ortodoxos, ele era na época o único psicanalista capaz de formar clínicos em Copenhague, como mostra uma carta dirigida a Freud, em 10 de novembro de 1933, por Erik Carstens, publicada em 1967 em Reich fala de Freud[Carl Lesche].

Evocando o papel desastroso desempenhado por Naesgaard, que recusava o princípio da formação didática, Carstens enfatizava que a atividade de Reich fôra positiva nessa área. E, principalmente, queixava-se de que o comitê de formação da DPG, sob a responsabilidade de Eitingon, concedera a Jenö Harnik, psicanalista húngaro exilado, e não a Reich, o estatuto de didata. Todos sabiam que Harnik sofria de paranóia com crises de delírio: de qualquer forma, muito mais patológico que Reich e, sobretudo, sem a menor competência psicanalítica. Em 1912, Sandor Ferenczi tentara tratá-lo de impotência sexual, dissuadindo-o de se tornar psicanalista. Posteriormente, quando Harnik quis aderir à Wiener Psychoanalytische Vereinigung, Ferenczi, a pedido de Freud e com sua inteira aprovação, apresentou um motivo de oposição categórica: <Ciumento, psiquicamente impotente, patologicamente vaidoso, inepto. Deveria tomar outro caminho.> Apesar dessa opinião desfavorável, Harnik conseguiu integrar-se ao Berliner Psychoanalytisches Institut (BPI) e ser enviado por Eitingon, como didata, para desenvolver a psicanálise na Dinamarca.”

Considerei como virtualmente estabelecido o fato de que os teólogos eram enviados para Oskar Pfister, os filósofos morais para Carl Müller-Braunschweig e os socialistas recuperados para Siegfried Bernfeld.” Reich

Acusado de ser ele próprio simultaneamente paranóico, bolchevista e antifreudiano, Reich foi instado por Anna Freud [outra cobrinha criada], em julho de 1934, a aceitar que seu nome fosse riscado da lista dos membros da DPG: <O problema todo tem apenas um valor teórico, acrescentou ela, já que o reconhecimento pelo congresso do grupo escandinavo acarretaria automaticamente a inserção de seu nome na lista dos membros desse novo grupo.> A manobra era simples: Eitingon conseguira secretamente que Reich fosse expulso da DPG, e conseqüentemente da IPA. Para evitar qualquer reintegração no grupo escandinavo, ele fizera com que a filiação da Sociedade Dano-Norueguesa à IPA, que devia ocorrer em Lucerna em agosto de 1934, dependesse de uma promessa de não-integração de Reich. Mas os noruegueses se recusaram a submeter-se a essa imposição, e essa determinação impressionou o comitê executivo da IPA, que foi obrigado a admitir a entrada dos noruegueses sem impor qualquer condição. Assim, Reich foi riscado da IPA em Lucerna, através da sua exclusão da DPG. Dois meses depois, instalou-se em Oslo [fialiado apenas à Sociedade Dano-Norueguesa, mesmo que esta fosse reconhecida pela IPA!]. Em 1935, Eitingon negou qualquer participação nesse episódio, que entretanto ele havia habilmente arquitetado.

Com essa política, a direção da IPA contribuiu para desvalorizar a imagem do freudismo no seio da comunidade psicanalítica escandinava, já atravessada por fenômenos de dissidência e ainda muito frágil para se submeter aos padrões impostos nessa época pela ortodoxia freudiana. Em 1937-1938, Reich foi vítima de uma obstinada campanha de imprensa na Noruega. Depois de ser tratado muitas vezes de <charlatão> e de <pornógrafo judeu>, emigrou para os Estados Unidos, deixando por sua vez uma marca desastrosa na comunidade psicanalítica nórdica.Efetivamente, não sendo mais membro da IPA, não foi defendido contra os ataques (exceto por Schjelderup) e evoluiu rapidamente para um biologismo exacerbado, para o qual arrastou Ola Raknes. Seus conflitos com Fenichel, exilado em Oslo entre 1933 e 1935, também contribuíram para a deterioração da situação do freudismo na Noruega.Quatro anos depois, em plena guerra, a Sociedade Dano-Norueguesa de Psicanálise foi banida da IPA. Ernest Jones [outro picareta desonesto], novo presidente da Associação, estava fazendo com que Schjelderup, Raknes, Nic Waal (née Hoel, 1905-1960) <pagassem> por sua desobediência à imposição de 1934. Assim, sem dizer claramente, acusou-se o grupo de ter sido demasiado sensível às teses reichianas. Estas, aliás, continuaram a ganhar terreno, graças a Raknes e a Nic Waal. Essa psicanalista norueguesa, analisada primeiramente por Schjelderup, e depois por Fenichel e Reich, passara pela clínica de Karl Menninger em Topeka, no Kansas, antes de fundar em Oslo, em 1953, uma instituição para crianças.” só em 1957 reconstituiu-se oficialmente um grupo psicanalítico dinamarquês, filiado à IPA, a Dansk Psykoanalytisk Selskab (DPS). Aliás, só em 1975 foi criada uma nova sociedade norueguesa, a Norsk Psykoanalitisk Forening (NPF). Nessa data, os pioneiros e imigrantes haviam desaparecido, e os dois grupos, compostos de terapeutas anônimos, se regularizaram sem obstáculos, às custas de uma progressiva esclerose.”

AS DURAS MARCAS DO NAZISMO

Em 1943, com a morte de Kulovesi, a Sociedade Fino-Sueca foi dissolvida, sendo substituída por uma associação exclusivamente sueca, a Svenska Psykoanalytiska Föreningen (SPF), que durante muitos anos contou apenas com 8 membros.”

Durante a Segunda Guerra Mundial, apenas a Suécia [dentre os escandinavos da Psicanálise, lembrando que a Islândia não possuía Psicanálise], declarou sua neutralidade. Mas nem por isso serviu de refúgio para os vários freudianos da Europa, que preferiram emigrar para a Grã-Bretanha, para os Estados Unidos ou para a América Latina. Enquanto o corajoso Harald Schjelderup decidiu engajar-se na luta antinazista, depois de recusar a proposta de Matthias Heinrich Göring [o epítome da psicanálise nazi, ver ALEMANHA] para criar em Oslo um instituto <arianizado> a partir do modelo do instituto de Berlim, Poul Bjerre [judeu] adotou, ao contrário, uma atitude ambígua, mantendo com Göring, desde 1933, excelentes relações em nome de um diferencialismo que assimilava o freudismo a um semitismo tão fanático quanto o hitlerismo. Por sua vez, o psicanalista Tore Ekman (1887-1971), formado no BPI, ficou na Alemanha até 1943 e trabalhou no Instituto Göring. Ao voltar à Suécia, foi acusado pelos colegas de colaboração com o nazismo. Posteriormente, conseguiu abafar o caso e reintegrar-se à SPF, mascarando o seu passado.”

nenhum dos grandes componentes do freudismo moderno (kleinismo, lacanismo, Ego Psychology, etc.) implantou-se verdadeiramente nos países nórdicos nem nessa <noite sueca>, em que Foucault foi duramente criticado pelo professor Sten Lindroth (1914-1980), depois de encontrar, em 1959, na BibliotecaCarolina Rediviva todos os arquivos necessários à redação de seu grande livro História da loucura na idade clássica.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Bror Gadelius, Tro och helbrägdagörelse jämte en kritisk studie av psykoanalysen [Crença e cura pela fé com um estudo crítico sobre a psicanálise], Estocolmo, Hugo Gebers Förlag, 1934; [!]

Nigel Moore, “Psychoanalysis in Scandinavia”, 1ª parte: “Sweden and Finland”, The Scandinavian Psychoanalytic Review, 1, 1978, 9-64;

Reimer Jensen & Henning Paikin, “On psychoanalysis in Denmark”, ibid., 2, vol. 3, 1980, 103-16;

Randolf Alnaes, “The development of psychoanalysis in Norway. An historical overview”, ibid., 2, vol. 3, 1980, 55-101.

Espanha

Enquanto na França essa primeira fase de introdução desembocou em 1926 na criação da Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP), na Espanha não houve nada disso. Na verdade, longe de se orientar para a prática da psicanálise, criando um grupo freudiano, os pioneiros espanhóis incorporaram os dados do freudismo ao saber psiquiátrico, deixando lugar não para a constituição de uma corrente crítica ou de uma escola ligada à ortodoxia, como ocorreu por toda a parte, mas apenas para um movimento antifreudiano, amplamente orquestrado pela Igreja católica.

Do lado literário, Ortega y Gasset não deixou herança. Quando voltou à Espanha depois de ter emigrado, já não se interessava mais pela psicanálise: <Não se pode citar nenhum romancista espanhol da segunda metade do século, escreveu Christian Delacampagne, para quem a psicanálise tenha constituído fonte de inspiração ou de criação. Quanto aos raros artistas para os quais ela parece ter tido esse papel — o cineasta Buñuel, os pintores Dalí ou Clavé —, estes pertencem a uma geração já antiga, a geração surrealista, que, além disso, realizou grande parte de sua obra fora da Espanha.>Compreende-se então por que, já em 1936, Lopez Ibor, representante de uma concepção repressora e reacionária da psiquiatria, conseguiu ocupar tal lugar, publicando um livro de anátemas contra Freud, Vida e morte da psicanálise, que escamoteava todos os trabalhos dos pioneiros espanhóis. Depois da Segunda Guerra Mundial, a psicanálise foi banida da Espanha durante 30 anos, enquanto o saber psiquiátrico, violentamente antifreudiano, tomava uma orientação ultraorganicista, e até policial, generalizando a utilização da lobotomia, do eletrochoque e da insulinoterapia.Através das campanhas feitas pela Opus Dei, a psicanálise foi então denunciada como um <complô judeu-maçônico> e Freud tratado de <gênio satânico>. (…) Em 1951, Lopez reeditou seu livro sob um novo título (Agonia da psicanálise) e, em 1975, renovou o seu anátema com outra obra: Freud e seus deuses ocultos.” “Como o regime franquista não tinha nem eliminado a liberdade de associação, nem impedido os intercâmbios culturais, nem proibido a prática das diversas psicoterapias, foi possível fundar uma associação psicanalítica reunindo os círculos de Madri e de Barcelona.”

Depois da morte de Lacan e da reorganização empreendida por Jacques-Alain Miller, a maioria dos grupos se fundiu com a criação em Barcelona, em setembro de 1990, da Escola Européia de Psicanálise (EEP), que logo se transformaria, no interior da Association Mondiale de Psychanalyse (AMP), em um pólo avançado da corrente milleriana na Europa. No fim do século, a Espanha se tornou assim o único país em que essa tendência é amplamente majoritária, ao contrário da Argentina e da França”

espiritismo

Na historiografia da psicanálise, o espiritismo e a telepatia (ou transmissão do pensamento à distância) são considerados pertinentes ao campo do ocultismo ou do oculto. O espiritismo diz respeito à história da parapsicologia, assim como o ocultismo, a telepatia ou o sonambulismo. Contudo, é tênue a fronteira entre o estudo positivista do psiquismo e a tentação faustiana de conquistar o domínio do irracional.” “fascinou André Breton (1898-1966) e os surrealistas, assim como havia fascinado Victor Hugo (1802-1885).”

Historicamente, o espiritismo, em sua forma moderna, nasceu por volta de 1840, sobre as ruínas do magnetismo mesmeriano, e permitiu que o hipnotismo se disseminasse numa nova doutrina do conhecimento do inconsciente, do qual emergiria a psicanálise, no alvorecer do século XX.”

esquizofrenia

Em 1832, Honoré de Balzac (1799-1850) descreveu pela primeira vez, em Louis Lambert, a quintessência do que viria a se transformar no sintoma esquizofrênico: <Louis ficava de pé como eu o estava vendo, dia e noite, de olhos vidrados, sem jamais baixar e erguer as pálpebras como costumamos fazer […]. Tentei falar-lhe em várias ocasiões, mas ele não me ouvia. Era uma carcaça arrancada do túmulo, uma espécie de conquista feita à morte pela vida, ou feita à vida pela morte. Fazia cerca de uma hora que eu estava ali, mergulhado num devaneio indefinível, às voltas com mil idéias aflitivas. Escutava a Srta. de Villenoix, que me contava com todos os detalhes aquela vida de criancinha de berço. De repente, Louis parou de esfregar suas pernas uma na outra e disse em voz lenta: — Os anjos são brancos.>

Ao contrário da melancolia, da mania, da histeria e da paranóia (já conhecidas antes de serem denominadas), a demência precoce era uma nova doença da alma, que atingia com a impotência e a hebetude jovens da sociedade burguesa, revoltados contra sua época ou seu meio, mas incapazes de traduzir suas aspirações de outro modo que não por um verdadeiro naufrágio da razão. A psiquiatria nascente procurou classificar esse estado e denominá-lo em função das outras entidades já identificadas. Por isso é que o termo deu margem a numerosas discussões. Tratava-se realmente de uma doença nova, ou seria uma afecção antiga, que estava sendo batizada com outro nome? Durante todo o fim do século XIX e até a definição bleuleriana, as opiniões ficaram ainda mais divididas, na medida em que era perfeitamente possível incluir na histeria, por um lado, e na melancolia, por outro, numerosos sintomas atribuídos à demência precoce.”

Bleuler inventou, ao mesmo tempo, a noção de Spaltung (clivagem, dissociação, discordância)“essa nova demêncianão era uma demência e já não era precoce, mas englobava todos os distúrbios ligados à dissociação primária da personalidade e conducentes a diversos sintomas, como o ensimesmamento, a fuga de idéias, a inadaptação radical ao mundo externo, a incoerência, as idéias bizarras, e os delírios sem depressão, nem mania, nem distúrbios do humor, etc.”

Dado que tudo o que se opõe ao afeto sofre uma repressão acima do normal, e que o que tem o mesmo sentido do afeto é favorecido de forma igualmente anormal, acaba resultando que o sujeito não pode mais de modo algum pensar aquilo que contradiz uma idéia marcada pelo afeto: o esquizofrênico, na sua pretensão, sonha apenas os seus desejos; o que poderia impedir a sua realização não existe para ele. Assim, complexos de idéias, cuja ligação consiste mais em um afeto comum do que em uma relação lógica, são não apenas formados, como ainda reforçados. Não sendo utilizados, os caminhos associativos que levam de determinado complexo a outras idéias perdem, no que diz respeito às associações adequadas, a sua viabilidade; o complexo ideativo marcado de afeto separa-se cada vez mais e consegue uma independência cada vez maior (Spaltung das funções psíquicas).”

As ressonâncias semânticas do termo francês dissociation (dissociação), pelo qual se traduz a Spaltung esquizofrênica, evocam sobretudo o que Bleuler descreve como Zerspaltung.”

a segunda psiquiatria dinâmica seria dominada, até cerca de 1980, pelo sistema de pensamento freudo-bleuleriano. Toda uma terminologia seria cunhada, sobretudo pela escola francesa (Henri Claude e René Laforgue) e, mais tarde, por Ernst Kretschmer, para exprimir diversas modalidades dessa <esquize>: desde a esquizomania, onde o autismo se faz presente sem a dissociação, até a esquizoidia, caracterizada por um estado patológico sem psicose, passando pela esquizotimia, a tendência <morfológica> à interiorização.”

Foi na perspectiva de uma abordagem geral das psicoses, herdada do ensino de Karl Abraham e Sandor Ferenczi, que Melanie Klein elaborou sua concepção da posição depressiva e da posição esquizo-paranóide, para mostrar que elas eram o destino comum de qualquer sujeito e que a <normalidade> era apenas uma maneira de cada um superar um estado psicótico original.”

Para Binswanger, que apresentou a história de 5 grandes casos clínicos, dentre eles os de Ellen West e Suzan Urban, a causalidade primária da esquizofrenia era o ingresso numa vida inautêntica, conducente à <perda do eu na existência>, a uma grave alteração da temporalidade e ao autismo, isto é, a um <projeto de não ser quem se é> [aloisismo].”

A partir de 1922 e buscando inspiração em biografias clássicas de figuras patológicas, Karl Jaspers (1883-1969) empenhou-se em estudar 4 destinos de criadores retroativamente considerados esquizofrênicos: Friedrich Hölderlin (1770-1843), Emmanuel Swedenborg (1688-1772), Vincent Van Gogh (1853-1890) e August Strindberg (1849-1912).”

Existe uma vida do espírito da qual a esquizofrenia se apodera para nela fazer suas experiências, criar suas fantasias e implantá-las; a posteriori, talvez possamos crer que essa vida espiritual basta para explicá-las, mas, sem a loucura, elas não poderiam manifestar-se da mesma maneira.” Jaspers

Desde a década de 1920, a esquizofrenia, como aliás a histeria, escapou, portanto, à definição bleuleriana, transformando-se na expressão de uma verdadeira linguagem da loucura, não <patológica> mas subversiva, portadora de uma revolução formal e de uma contestação da ordem estabelecida. Foi essa a significação, em 1925, do manifesto surrealista intitulado <Lettre aux médecins-chefs des asiles de fous>, inspirado por Antonin Artaud (1896-1948) e redigido por Robert Desnos (1900-1945): <Sem insistir no caráter perfeitamente genial das manifestações de alguns loucos, desde que estejamos aptos a apreciá-las, afirmamos a absoluta legitimidade de sua concepção da realidade e de todos os atos dela decorrentes.>

Onde há obra, não há loucura; e no entanto, a loucura é contemporânea da obra, uma vez que inaugura o tempo de sua verdade.” Foucault

Quanto a Deleuze, em O anti-Édipo — Capitalismo e esquizofrenia, livro redigido com Félix Guattari, ele se apropriou do termo esquizofrenia para fazê-lo ressoar de outra maneira. Os dois autores esforçaram-se por repensar a história universal das sociedades a partir de um único postulado: o capitalismo, a tirania ou o despotismo encontrariam seus limites nas máquinas desejantes de uma esquizofrenia bem-sucedida, isto é, nas redes de uma loucura não-entravada pela psiquiatria. (…) O livro, notável por sua verve antidogmática, pela beleza de seu estilo, pela generosidade da inspiração e pelo valor programático de seu ideal bioquímico e energético, não provocou nenhuma reforma do saber psiquiátrico no campo do tratamento da esquizofrenia e se inscreveu, da maneira mais simples do mundo, na história progressista da psicoterapia institucional.”

Publicado pela primeira vez em 1952, sob o título de DSM I, a princípio ele foi influenciado pelas teses higienistas de Adolf Meyer. Em 1968, sob o nome de DSM II, tornou-se a expressão de uma concepção puramente organicista da doença mental, da qual foi eliminada qualquer idéia de causalidade psíquica. Doze anos depois, após vastos debates sobre os abusos da psiquiatria na União Soviética, editou-se um novo manual, o DSM III, no qual se concretizou uma escolha deliberadamente <ateórica>. A própria noção de doença da alma, ou loucura, com seus 2 mil anos de idade, foi liquidada, em prol de uma classificação dos indivíduos segundo o comportamento e os sintomas. Ao mesmo tempo, a esquizofrenia e a histeria desapareceram do quadro. Assim foram abolidos os dois grandes paradigmas da clínica freudo-bleuleriana, que havia dominado o século inteiro, dando uma nova significação ao universo mental do homem moderno.Com o sucesso considerável do DSM nas sociedades industriais avançadas, a psiquiatria deixou o campo do saber clínico para se colocar a serviço dos laboratórios farmacêuticos, e se transformou numa psiquiatria sem alma e sem consciência, baseada na crença nas pílulas da felicidade e adepta do famoso niilismo terapêutico tão combatido por Freud e Bleuler.”

* * *

Para Freud, PSICOSE = (PARANOIA + ESQUIZOFRENIA[PARAFRENIA em sem léxico]).

Quanto ao binômio principal da “loucura”, NEUROSE X PSICOSE, a parte da PSICOSE chamada PARANOIA (PROJETIVA apud KLEIN) seria mais próxima, nosograficamente, à NEUROSE, subtipo OBSESSÃO. Formas mais monistas ou simplórias de ‘ser louco’, se posso assim dizer. Faltam nuances para estes arquétipos se igualarem ou equipararem a nós, os reis-loucos!

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Binswanger, “Der Fall Ellen West. Studien zum Schizophrenieproblem”, Schweiz. Archiv für Neurologie und Psychologie, vols. 54, 55 & 58, 1945;

______. Le Cas Suzan Urban (1952), Paris, Desclée de Brouwer, 1958;

______. Schizophrenie, Pfullingen, Günther Neske, 1957;

Garrabé, Histoire de la schizophrénie, Paris, Seghers, 1992;

Laplanche, Hölderlin e a questão do pai (Paris, 1961), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1991.

estágio / estádio em português de Portugal (oral, anal, fálico, genital)

A noção de estádio fálico só veio a surgir num artigo de 1923,A organização genital infantil, mas a do falicismo já estava presente em 1915 num adendo aos Três ensaios, o que permitiu a Freud atribuir à libido uma única essência, de natureza masculina (viril), tanto na menina quanto no menino.”

Entram num bar: um judeu, uma feminista e um relativista…

estágio do espelho ou fase do espelho

Durante uma conferência proferida na Sociedade Psicanalítica de Paris em 16 de junho de 1936, Lacan retomou a terminologia de Wallon, transformando a prova do espelho num <estágio do espelho>, isto é, numa mistura de posição, no sentido kleiniano, e estágio, no sentido freudiano.¹ Assim desapareceu a referência walloniana a uma dialética natural: na perspectiva lacaniana, o estágio do espelho já não tinha muito a ver com um verdadeiro estágio nem com um verdadeiro espelho. Transformava-se numa operação psíquica, ou até ontológica, pela qual o ser humano se constitui numa identificação com seu semelhante.”

¹ “O termo francês phase — momento de virada — conviria indubitavelmente melhor do que stade — etapa de uma maturação psicobiológica; o próprio Lacan o indicou (1957).”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Lacan, Os complexos familiares na formação do indivíduo (1938, Paris, 1984), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1987;

______. “O estádio do espelho como formador da função do eu” (1949), in:Escritos (Paris, 1966), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998, 96-103;

______. O Seminário, livro 1, Os escritos técnicos de Freud (1953-1954) (Paris, 1975), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1979 (1998);

Bolk, Das Problem der Menschwerdung, 1926. Fr., in: Arguments, 1960, 18, 3-13.

Estudo autobiográfico, Um

Obra de Freud publicada em 1925, sob o título genérico da coleção dirigida pelo professor Dr. L.R. Grote, Die Medizin der Gegenwart in Selbstdarstellung (A medicina contemporânea apresentada por ela mesma). Reeditada em 1928 nos Gesammelte Schriften e, mais tarde, em 1934, sob a forma de livro, com o título Selbstdarstellung. Traduzido para o francês pela primeira vez em 1928, por Marie Bonaparte, sob o título Ma vie et la psychanalyse, e posteriormente, em 1984, por Fernand Cambon, sob o título Sigmund Freud présenté par lui-même. Retraduzido por Pierre Cotet e René Lainé em 1992, sob o título Autoprésentation. Traduzido para o inglês pela primeira vez em 1927, por James Strachey, sob o título An Autobiographical Study, reeditado em 1935 com o título Autobiography, acompanhado por um pós-escrito, e por fim, em 1959, sob o título An Autobiographical Study.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Érik Porge, Freud/Fliess, Mito e quimera da auto-análise (Paris,1996), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998.

etnopsicanálise

Desde a Antiguidade, colocou-se a questão da existência de doenças específicas das diferentes culturas, e é na coleção hipocrática do Tratado dos ares, das águas e dos lugares que encontramos a famosa descrição da <doença dos citas> (Rússia meridional), que serviria de modelo para a constituição, no Ocidente, de um discurso da psicopatologia baseado na separação entre a racionalidade e a magia: <Quando fracassam em suas relações com as mulheres, na primeira vez eles (os citas) não se inquietam, conservando a calma. Ao cabo de duas, três ou várias tentativas que não dão nenhum resultado, e acreditando haver cometido algum pecado contra a divindade à qual atribuem a causa disso, eles vestem a roupa das mulheres, confessando sua impotência. Depois, assumem a voz das mulheres e executam a seu lado os mesmos trabalhos que elas.>(…) Constatando que o sintoma atingia cavaleiros ricos, deduzia que a prática cotidiana da equitação alterava as vias seminais e provocava, a longo prazo, uma impotência sexual. (…) A seu ver [agora Heródoto], de fato, a deusa Afrodite infligira essa doença <feminina> aos descendentes de alguns citas culpados pela pilhagem do templo de Ascalon, na Palestina. O <pecado>, portanto, fora transmitido de uma geração para outra. Quanto aos descendentes das famílias amaldiçoadas, que outrora haviam suscitado a cólera divina, eles eram atingidos por um destino trágico.”

Terá o distúrbio mental como origem uma história familiar, um destino (fatum), um romance familiar, ou será que é produzido por uma deficiência fisiológica, funcional ou orgânica?”

[No século XIX] a doença dos citas pôde ser assimilada a um transexualismo ou a uma paranóia” O ou sempre mata

Do mesmo modo, a fúria dos Berserks (entre os antigos guerreiros escandinavos) ou a maldição de Amok (entre os malaios) encontraram lugar sob as designações de estados maníacos, surtos delirantes ou psicoses alcoólicas. Em 1904, Kraepelin publicou os resultados de sua pesquisa e deu a esse campo o nome de psiquiatria comparada. Dela nasceram a etnopsiquiatria e, mais tarde, a psiquiatria transcultural, que se desenvolveu nos Estados Unidos e no Canadá, em especial na universidade McGill, de Montreal, onde trabalhou Henri F. Ellenberger.”

primeiro a etnopsiquiatria esteve aliada à psicologia dos povos, depois à psiquiatria colonial e, por fim, ao desenvolvimento da antropologia e da etnologia. Conforme a ocasião, favoreceu ora a universalização do discurso científico sobre a doença mental, ora o tácito restabelecimento do diferencialismo étnico (impondo-se então como uma espécie de departamento psiquiátrico a serviço dos povos não-civilizados, que se tratavam com feiticeiros e ainda estavam convencidos da origem religiosa da loucura).” “Georges Devereux, aluno de Marcel Mauss, psicanalista e etnólogo de campo, reuniu as duas disciplinas — a etnopsiquiatria e a etnopsicanálise —, associando as teorias freudianas às de Claude Lévi-Strauss. Ao fazê-lo, estabeleceu as bases de uma espécie de antropologia da loucura, que recorria, ao mesmo tempo, à psicanálise, à psiquiatria e à etnologia. § Definitivamente emancipada da psicologia dos povos e da psiquiatria colonial, a etnopsicanálise separou-se então da antropologia, transformando-se numa disciplina hostil a qualquer universalismo e servindo para tratar das minorias urbanas e das populações migratórias dos países ocidentais, com a ajuda de suas próprias técnicas xamanísticas. Dentro dessa linha, ela evoluiu para um culturalismo radical, hostil à psicanálise da qual ela havia saído e valorizador da identificação entre o prestador de cuidados e o feiticeiro. § Quanto a esse aspecto, convém constatar que nem Roheim nem Devereux formaram discípulos e que a antropologia psicanalítica, no sentido como eles a entendiam, deixou de existir com esses pesquisadores, deslizando então quer para o lado da magia e das medicinas paralelas, quer para o lado do engajamento militante anti-ocidental.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Edmond & Marie-Cécile Ortigues, Oedipe africain, Paris, Plon, 1966;

Roger Bastide, Le Rêve, la transe, la folie, Paris, Flammarion, 1972;

Marc Augé, “Ordre biologique, ordre social: la maladie, forme élémentaire de l’événement”, in: M. Augé e C. Herzlich (orgs.), Le Sens du mal. Anthropologie, histoire, sociologie de la maladie, Paris, Éd. des Archives Contemporaines, 1984.

Eu e o Isso, O

Livro publicado por Sigmund Freud em 1923, sob o título Das Ich und das Es. Traduzido para o francês pela primeira vez em 1927, por Samuel Jankélévitch, sob o título Le Moi et le Soi. Essa tradução foi revisada por Angelo Hesnard e reeditada em 1966, sob o título Le Moi et le Ça. Uma nova tradução foi feita em 1981 por Jean Laplanche & Jean-Bertrand Pontalis, sob o título Le Moi et le Ça, e depois, em 1991, por Catherine Baliteau, Albert Bloch & Joseph-Marie Rondeau, sem modificação do título. Traduzido pela primeira vez para o inglês por Joan Riviere, em 1927, sob o título The Ego and the Id. Essa tradução foi revista por James Strachey e republicada em 1961, sem alteração do título.

Desde seu lançamento, O eu e o isso foi acolhido com entusiasmo pela comunidade psicanalítica, ainda que alguns tenham feito certas reservas à homenagem nele prestada por Freud a Georg Groddeck, autor do Livro d’Isso,¹ publicado alguns meses antes.”

¹ Já postado no SECLUSÃO.

durante o verão de 1922, Freud estava perfeitamente cônscio de dar continuidade, através desse terceiro ensaio, à vasta reformulação teórica iniciada com Mais-além do princípio de prazere prosseguida na Psicologia das massas e análise do eu.”

A existência de uma parte inconsciente no eu, oposta por clivagem ao eu coerente, impunha que se reconhecesse a existência de três inconscientes: um inconsciente assimilável ao recalcado, um inconsciente dependente do eu, distinto do recalcado, e um inconsciente latente, o pré-consciente. Ao mesmo tempo, já não era possível definir a neurose como o resultado de um conflito entre o consciente e o inconsciente.”

Apoiando-se no texto de Groddeck, Freud estabelece uma distinção fundamental entre um eu consciente e o eu <passivo> groddeckiano, isto é, um eu inconsciente, que ele passa desde então a chamar, <à maneira de Groddeck>, de isso.” Realmente um discípulo de Groddeck, e não o inverso, como a historiografia hegemônica quer passar.

Seja qual for a forma do complexo de Édipo, positiva, negativa ou intermediária[negativa = gay], e seja qual for sua resolução final, o supereu conserva o caráter do pai [metáfora de civilização e gênio interior]: <Quanto mais forte é o complexo de Édipo e quanto mais depressa se produz seu recalcamento (sob a influência da autoridade, da instrução religiosa [a importância da primeira comunhão!], do ensino [adaptação à escola], das leituras [caso pessoal: contracorrente das pulsões paternas]), mais severa será, posteriormente, a dominação do supereu sobre o eu como consciência moral, ou até como sentimento de culpa inconsciente.” (TIRANIA DOS AVÓS IMAGINÁRIOS)

O ideal do eu/supereu aparece, portanto, como o herdeiro do complexo de Édipo, e constitui, por isso mesmo, a expressão mais acabada do desenvolvimento da libido do isso.”

Na melancolia e na neurose obsessiva, o sentimento de culpa persiste e corresponde ao que chamamos <consciência moral>. Em ambos os casos, o ideal do eu investe contra o eu com rara ferocidade, mas as formas dessa severidade e as respostas do eu são diferentes. Na neurose obsessiva, o paciente recusa sua culpa e pede ajuda. [Não literalmente na maioria dos casos – através de sintomas físicos.] Confrontado com uma aliança entre o supereu e o isso, desconhece as razões da repressão de que é vítima. Na melancolia, o eu se reconhece culpado e podemos formular a hipótese de que o objeto da culpa já está no eu, como produto da identificação.

Em outros casos, como na neurose histérica, por exemplo, o sentimento de culpa é totalmente inconsciente. Posto em perigo por percepções dolorosas, provenientes do supereu, o eu, contrariando seu senhor, serve-se então do recalque, quando de praxe coloca esse recalque a serviço dele.” Só há uma neurose, mas Freud separa a de sintomas psíquicos (obsessão) e a somática (histeria). Não existe completa inconsciência do que existe. Uma culpa não é culpa se não é sentida. É na verdade sua manifestação por outros órgãos do corpo que não o cérebro. Da sola do pé à raiz dos cabelos.

No caso da melancolia, o supereu se apodera do sadismo para arrasar o eu. Mas se trata, nessa situação, daquela parcela do sadismo que é irredutível ao amor: sua instalação no supereu e seus ataques exclusivamente dirigidos contra o eu constituem o caso singular de uma dominação absoluta da pulsão de morte, passível, com muita freqüência, de levar o eu a seu fim.” Nunca foi meu caso estrito. “Na neurose obsessiva, o sujeito, mesmo sendo exposto a recriminações igualmente duras, nunca chega, por assim dizer, à autodestruição: diversamente do histérico, ele mantém uma relação com o objeto contra o qual as pulsões destrutivas podem inverter-se em pulsões de agressão.”

Por que essa especificidade da melancolia, cujo quadro clínico de fato parece constituir o argumento decisivo a favor da existência das pulsões de morte? Um primeiro elemento de resposta, observa Freud, nisso contrariando o senso comum, é que, quanto mais um homem restringe sua agressividade contra o exterior, mais ele a aumenta em relação a si mesmo.” Socinar, o Narciso invertido.

Ey, Henri

Nascido em Banyuls-dels-Aspres, na região catalã, esse homem caloroso, gourmet refinado, grande fumante de charutos e apaixonado por tauromaquia, ocupa na história do movimento psiquiátrico francês um lugar equivalente ao de Lacan na França freudiana. Foi colega de residência deste no hospital Sainte-Anne nos anos 1930. Aluno de Henri Claude, assumiu em 1933 a direção do hospital psiquiátrico de Bonneval, situado na Beauce, onde praticou uma nova abordagem das doenças mentais, inspirada nos trabalhos de Freud e Bleuler.”

Se Hughlings Jackson libertou a neurologia de seus pressupostos mecanicistas, Freud abandonou a neurologia para fundar uma nova teoria do inconsciente e dar à psiquiatria uma concepção inédita da loucura. Ora, segundo Ey, era preciso reunir a neurologia à psiquiatria, para dotar esta última de uma verdadeira teoria capaz de integrar o freudismo.”

Henri Ey contestaria durante os anos 1960 os princípios da antipsiquiatria. Também se oporia às teses de Foucault sobre a questão da loucura, julgando-as <psiquiatricidas>.

Apesar de todos os esforços que fez, visando o desenvolvimento de uma psiquiatria humanista que levasse em conta ao mesmo tempo a subjetividade do doente e a nosografia clássica, a Association Mondiale de Psychiatrie, tornando-se inteiramente americana sob o nome de World Psychiatric Association (WPA), nada guardou de sua herança clínica e, no fim do século XX, recorreria apenas à farmacologia, reduzindo assim o fenômeno da loucura a sintomas puramente comportamentalistas, desprovidos de qualquer significação para os próprios sujeitos: um verdadeiro retorno ao niilismo terapêutico que Freud combatera em sua época.” Forte sensação de déjà vu…

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Ey, Traité des hallucinations, Paris, Masson, 1977;

Ey, Encyclopédie medico-chirurgicale: Psychiatrie.

falo

referimo-nos, então, de modo mais ou menos explícito, ao uso deste termo na Antiguidade, quando designava a representação figurada, pintada, esculpida, etc., do órgão viril, objeto de veneração que desempenhava um papel central nas cerimônias de iniciação (Mistérios).”

Nessa época longínqua, o falo em ereção simbolizava o poder soberano, a virilidade transcendente, mágica ou sobrenatural, e não a variedade puramente priápica do poder masculino, a esperança da ressurreição e a força que pode produzi-la, o princípio luminoso que não tolera sombras nem multiplicidade e sustenta a unidade que brota eternamente do ser. Os deuses itifálicos Hermes e Osíris encarnam esta aspiração essencial.”Laurin

Não se poderia atribuir ao símbolo falo uma significação alegórica determinada, por mais ampla que a queiramos (fecundidade, poder, autoridade, etc.).”

O fato, percebido por Freud desde A interpretação dos sonhos e largamente confirmado pela investigação analítica, de que o sujeito como pessoa total pode ser identificado ao falo não infirma a idéia precedente: nesse momento é mesmo uma pessoa que é assimilada a um objeto capaz de ser visto, exibido, ou ainda de circular, ser dado e recebido.”

fantasia (Phantasie em Alemão, fantasme em Francês)

Ver verbetes sonho diurno (daydream) e os dois próximos.

Em francês, o termo fantasme voltou a ser posto em uso pela psicanálise e, como tal, está mais carregado de ressonâncias psicanalíticas do que o seu homólogo alemão. Por outro lado, não corresponde exatamente ao termo alemão, visto que a sua extensão é mais restrita. Designa determinada formação imaginária e não o mundo das fantasias, a atividade imaginativa em geral.

Daniel Lagache propôs retomar no seu sentido antigo o termo fantaisie, que tem a vantagem de designar ao mesmo tempo uma atividade criadora e as produções, mas que, para a consciência lingüística contemporânea, dificilmente pode deixar de sugerir os matizes de capricho, originalidade, ausência de seriedade, etc.”

Em A interpretação dos sonhos, Freud ainda descreve as fantasias a partir do modelo dos sonhos diurnos. Analisa-as como formações de compromisso e mostra que a sua estrutura é comparável à do sonho. Essas fantasias ou sonhos diurnos são utilizados pela elaboração secundária, fator do trabalho do sonho que mais se aproxima da atividade de vigília.”

fantasias originárias (Urphantasien)

As reservas que suscita a teoria de uma transmissão genética hereditária não devem, na nossa opinião, levar-nos a considerar igualmente caduca a idéia de que existem, na fantasística, estruturas irredutíveis às contingências do vivido individual.”

fenômeno funcional (sonho)

Ver verbete sonho diurno (daydream)

Freud reconheceu no fenômeno funcional <…um dos raros aditamentos à doutrina dos sonhos cujo valor é incontestável. Herbet Silberer provou a participação da auto-observação — no sentido do delírio paranóico — na formação do sonho>. Freud foi convencido pelo caráter experimental da descoberta de Silberer, mas limitou o alcance do fenômeno funcional aos estados situados entre a vigília e o sono ou, no sonho, à <autopercepção do sono ou do despertar> que por vezes pode acontecer e que ele atribui ao censor do sonho, ao supereu.”

…há porém quem chegue a falar de fenômeno funcional cada vez que atividades intelectuais ou processos afetivos aparecem no conteúdo dos pensamentos do sonho, embora este material não tenha mais nem menos direitos a penetrar no sonho do que qualquer outro resto diurnoF.

Para a crítica da concepção ampliada de Silberer, é interessante reportar-se ao estudo de Jones, A teoria do simbolismo (The Theory of Symbolism, 1916).”

Ferenczi, Sandor

Nascido em Miskolc, na Hungria, originário de uma família de judeus poloneses imigrantes, Sandor Ferenczi foi não só o discípulo preferido de Freud, mas também o clínico mais talentoso da história do freudismo. Foi através dele que a escola húngara de psicanálise, da qual foi o primeiro animador, produziu uma prestigiosa filiação de artífices do movimento, entre os quais Melanie Klein, Geza Roheim e Michael Balint.”

O pai de Ferenczi era um simpático livreiro, que se empenhara com fervor na revolução de 1848 antes de se tornar editor militante, favorável à causa do renascimento húngaro. Assim, mudara seu nome, de sonoridade alemã (Baruch Fraenkel), para um patronímico magiar (Bernat Ferenczi). Deu ao filho predileto, o oitavo entre 12, uma educação em que prevaleciam o culto da liberdade e um gosto acentuado pela literatura e pela filosofia.”

Atacava os preconceitos reacionários da classe dominante, que tendia a designar aqueles que se chamavam uranianos como degenerados responsáveis pela desordem social.”

Partindo de um combate contra o niilismo terapêutico, Freud elaborou uma teoria da neurose e da psicose que superava amplamente os limites da clínica. Sempre consciente de seu próprio gênio e da importância de sua descoberta, sabia dominar seus afetos e mostrar-se implacável para com seus adversários. Acima de tudo, amava a razão, a lógica, as construções doutrinárias. Mais intuitivo, mais sensual e mais feminino, Ferenczi procurava na psicanálise os meios de aliviar o sofrimento dos pacientes.Era menos atraído pelas grandes hipóteses genéricas do que pelas questões técnicas. Assim, era mais inventivo [texto contraditório; mas não prejudica o entendimento] que Freud na análise das relações com o outro. Em 1908, descobriu a existência da contratransferência, explicando a seu interlocutor sua tendência em considerar os assuntos do paciente como seus próprios. Dois anos depois, F. conceitualizou essa noção, fazendo dela um elemento essencial na situação analítica. Entre ambos, portanto, o intercâmbio epistolar teve como função fazer surgir novas problemáticas, que serviam depois para alimentar a doutrina comum.

Como muitos pioneiros do freudismo, Ferenczi experimentou em si mesmo os efeitos de suas descobertas. Em 1904, tornou-se companheiro de Gizella Palos, 8 anos mais velha que ele. Essa ligação era tolerada pelo marido desta, que entretanto lhe recusava o divórcio. Gizella vivia com suas duas filhas, Magda, casada com o irmão mais novo de Sandor, e Elma, nascida em 1887. Não só Ferenczi tornou-se, em 1908, analista de sua amante, como também não hesitou em tratar de Elma, sua enteada, quando esta apresentou sintomas de depressão 3 anos depois.

Inutilmente Freud o advertiu contra os perigos de uma prática como essa. Implicado em uma espécie de auto-análise epistolar, ele procurava desafiar Freud, pedindo-lhe que o reconhecesse como um pai reconhece o filho, dando-lhe a entender ao mesmo tempo que podia perfeitamente passar sem ele. Em novembro de 1911, depois do suicídio com arma de fogo do noivo de Elma, anunciou a Freud que estava apaixonado pela jovem. Disse que não sentia mais desejo sexual por Gizella, muito idosa, e queria fazer com que ela ocupasse uma posição de sogra, fundando uma família com sua filha. Na verdade, queria ficar com as duas. Logo, anunciou sua intenção de se casar com Elma.” J-O-C-(asta-)O-S-O

Finalmente, percebeu que se envolvera em uma confusão transferencial e desistiu de desposar a jovem, junto a quem ocupou uma posição de médico e de analista. Mas, não podendo conduzir adequadamente o tratamento, obrigou Freud a analisar Elma e depois fez-se analisar em 3 ocasiões pelo mestre, entre 1914 e 1916. Este agiu então como um pai autoritário, obrigando Ferenczi a casar-se com Gizella e a renunciar a Elma.” “De qualquer forma, o episódio dessa confusão familiar e transferencial pode ser compreendido como a matriz de todas as reflexões posteriores sobre o estatuto incerto do tratamento psicanalítico, oscilando sempre entre um excesso de conformismo adaptador, que seria denunciado por Ferenczi e seus partidários, e a ausência de lei, contra a qual reagiriam os herdeiros ortodoxos de Freud.”

Membro do Comitê Secreto a partir de 1913, participou de todas as atividades de direção do movimento freudiano, formando com Otto Rank e Freud um pólo <sulista> e austro-húngaro, diante das iniciativas mais rígidas e burocráticas dos discípulos vindos do norte da Europa: Karl Abraham, Ernest Jones, Max Eitingon. Mas foi nesse período que se desenrolou o grande debate sobre a telepatia, em torno do qual se cristalizaram os conflitos entre Jones, partidário de uma psicanálise racionalista empírica, e Ferenczi, muito mais aberto a experiências julgadas desviantes, irracionais ou extravagantes por seu adversário.”

Em março de 1919, Bela Kun proclamou a República dos Conselhos, enquanto em Budapeste era criada, pela primeira vez no mundo, uma cátedra de ensino da psicanálise na universidade. Ferenczi foi, naturalmente, nomeado para esse posto. Mas, quatro meses depois, a Comuna foi reprimida com sangue pelas tropas do almirante Miklos Horthy. A Hungria caiu então sob o jugo de outra ditadura, e os brilhantes representantes da escola húngara de psicanálise, florão do movimento, começaram a emigrar. Berlim tornou-se o centro nevrálgico do movimento freudiano”

A partir de 1919, como Rank, Ferenczi se empenhou na reforma completa da técnica psicanalítica. Inventou primeiro a técnica ativa, que consiste em intervir diretamente no tratamento, através de gestos de ternura e afeto, e depois a análise mútua, durante a qual o analisando é convidado a <dirigir> o tratamento ao mesmo tempo que o terapeuta, antes de reatar com a teoria do trauma, denunciando a hipocrisia da corporação analítica em um texto famoso de 1932, intitulado Confusão de línguas entre os adultos e a criança. Através dessa exposição, que suscitou a oposição de Jones e de Freud, relançava todo o debate sobre a teoria da sedução.”

Jones o chamaria de psicótico:<Ferenczi sempre acreditou firmemente na telepatia. Depois, foram os delírios sobre a pretensa hostilidade de Freud. No fim, apareceu uma violenta paranóia, acompanhada até de explosões homicidas. Foi o fim trágico de uma personalidade brilhante…>

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

André Haynal, “Da correspondência (com Freud) ao Diário (de Ferenczi)”, Revista Internacional da História da Psicanálise, 2 (1989), Rio de Janeiro, Imago, 1992, 153-64; “Notas sobre a história da correspondência Freud-Ferenczi”, ibid., 219-28;

Sandor Ferenczi, Thalassa: A Theory of Genitality, 1924;

Sandor Ferenczi & Georg Groddeck, Correspondance, Paris, Payot, 1982.

Fliess, Robert

Filho de Wilhelm Fliess e Ida Bondy (ex-paciente de Josef Breuer), Robert Fliess foi, como Anna Freud, um filho da psicanálise.” “Em uma de suas obras, publicada depois de sua morte, adotou a antiga teoria freudiana da sedução, para enfatizar que todos os neuróticos graves tinham sido atingidos na infância por traumas reais ou por abusos sexuais. Essa posição permitiria à historiografia revisionista, e principalmente a Jeffrey Moussaïeff Masson, editor da correspondência de Freud e Wilhelm Fliess, relançar o debate sobre a sedução e formular a hipótese, sem provas, de que o próprio Robert Fliess teria sido vítima de seu pai.”

Fliess, Wilhelm

Personagem pitoresco, amigo íntimo de Freud e teórico da bissexualidade, Wilhelm Fliess pertence à longa linhagem de sábios prometéicos da literatura romântica, cujos traços se encontram na obra de Thomas Mann.”

Sua amizade foi curta mas apaixonada, como são habitualmente essas aventuras iniciáticas de uma juventude à procura de identidade intelectual, e foi acompanhada de uma bela correspondência, da qual infelizmente só se conhece a parte escrita por Freud.

Maravilhoso correspondente, Freud descreveu com prazer aquilo que chamou de sua autoanálise. Ao longo das páginas, descobrimos como ele adotou as teses do amigo sobre a bissexualidade para transformá-las, e depois como elaborou suas primeiras hipóteses sobre a histeria, a neurose e o Édipo. As cartas também relatavam o abandono da teoria da sedução, acontecimento central na relação entre ambos, o episódio do caso Emma Eckstein, e enfim a gênese de A interpretação dos sonhos. Continham uma multiplicidade de detalhes sobre a vida cotidiana e sexual do autor, e muitas outras informações de todo tipo. A correspondência terminou em setembro de 1902.

Preocupado em não desvelar para a posteridade sua relação com Fliess, Freud destruiu as cartas do amigo. Mas em 1936, Charles Fliess (1899-1956), irmão mais velho de Robert, vendeu a um comerciante as cartas de Freud, que seu pai guardara até a morte. Foi então que Marie Bonaparte as comprou e as conservou, contra a opinião do mestre, que se recusava obstinadamente a que fossem publicadas, nem queria que elas fossem conhecidas. Em 1950, com a ajuda de Ernst Kris e de Anna Freud, ela publicou algumas, sob o título O nascimento da psicanálise. Só em 1985 foi enfim publicada uma edição completa, depois de um escândalo nos Arquivos Freud.”

formação reativa (hipocrisia)

Em termos econômicos, a formação reativa é um contra-investimento de um elemento consciente, de força igual e de direção oposta ao investimento inconsciente. As formações reativas podem ser muito localizadas e se manifestar por um comportamento peculiar, ou generalizadas até o ponto de constituírem traços de caráter mais ou menos integrados no conjunto da personalidade.

Do ponto de vista clínico, as formações reativas assumem um valor sintomático no que oferecem de rígido, de forçado, de compulsivo, pelos seus fracassos acidentais, pelo fato de levarem, às vezes diretamente, a um resultado oposto ao que é conscientemente visado (summum jus summa injuria).”Quando o excessivamente polido acaba sendo o fulcro de várias agressões ao ter elegido sua postura com base no preceito de que não deseja mais ser agredido.

virtudes morais levadas ao extremo”

contra-investimento permanente”

assim, determinado sujeito dará provas, de um modo geral, de piedade para com os seres vivos, enquanto a sua agressividade inconsciente visa determinadas pessoas em particular.” METÁFORA HIDRÁULICA EM ESTADO BRUTO. Xinga muito no twitter, baixa a cabeça no trabalho diante dos mais maus-caracteres. Tratar mal um Kikuchi, um Emannoel ou uma “Help” da vida.

BRIGAR. BRIGAR. BRIGAR. DESCER O SOCÃO EM ALGUÉM.

O sujeito reativo (…) mudou a estrutura da sua personalidade como se esse perigo estivesse sempre presente, para estar pronto em qualquer momento em que surgir.” Fenichel,The Psychoanalytic Theory of Neurosis, 1945.

As formações reativas são especialmente patentes no <caráter anal>(ver: neurose de caráter).”

The hot-tempered ones from my ex-family, oh, they think alcohol induces it all…

Obsequioso com professores e autoridades em geral…

ELE ANDA ESQUENTADINHO (ELE “É”, PORÉM PARA SE ESTABILIZAR MATERIALMENTE NA VIDA TEVE DE PÔR RÉDEAS EM SI MESMO): “numa dada formação reativa, podemos descobrir a ação da pulsão contra a qual o sujeito se defende [a virulência paterna]; por um lado, esta irrompe bruscamente, quer em certos momentos, quer em certos setores da atividade do sujeito [ULTRASSADISMO INTERMITENTE – escritor ferino, bad hair days], e são precisamente estes fracassos flagrantes, contrastando com a rigidez [quase estóica!] da atitude exibida pelo sujeito, que permitem conferir a determinado traço da personalidade o seu valor sintomático

A dona de casa dominada pela idéia de limpeza não estará centrando a sua existência no pó e na sujeira?”A imbecil para quem a vida é estática: Mas você era tão organizado, tão cuidadoso com suas coisas… EU NÃO ACEITO QUE ISSO NÃO CONTINUE EXATAMENTE COMO QUANDO VOCÊ TINHA 10 ANOS DE IDADE!

Estou centrando minha existência na desgraça alheia e na punição invisível de quem ousa ter uma vida completamente distinta da minha e ainda tem a CARA-DE-PAU de se atribuir qualquer VALOR, quem dirá SUPERIORIDADE INCONTESTE! “Viu só… eu não te disse?” Mas na verdade eu não te disse… Porque eu detesto dar conselhos, isso não é do meu feitio… Mas agora você sabe que não deveria ter desperdiçado o SEU tempo dando-me conselhos, eu, um MESTRE DA MORAL. Porque você cometeu um erro infantil ao demonstrar quão hipócrita é… Ops, deslize! Pois é, eu não te disse, mas ESTAVA NA CARA! Nisso eu gozo. No devir dos imbecis, sendo eu o exato contrário. Eu gosto de ver os mais velhos se fodendo, e sentir meus cabelos brancos cada vez mais próximos de aparecerem… Eu gosto de ver o überfit adquirindo uma doença letal e limitante, o defensor da família vendo sua família e sua felicidade-do-lar se desintegrando em pó… O curser testemunhando o meu sucesso e independência. A profecia se tornando verdade. A ironia socrática de cada dia nos dai hoje…

Sim, o Senhor Metafísica há de se comover com cada tropicão de escada, com cada má-nova de cada ex-conhecido seu… Esse é o alento necessário para se respirar no Céu-pedestal dos grandes homens. Compreenda-me como uma árvore que chupa sua vida, ou melhor, se nutre, do seu dejeto involuntário, o gás carbônico da sua falação diuturna sem-sentido… Uma árvore cuja seiva é mais e mais pura e retribui com obras cristalinas o falatório sujo e vil dos homenzinhos passeando no jardim… Lá embaixo.

A formação reativa poderia ser então definida como uma utilização [mal-feita] pelo eu da oposição inerente à ambivalência pulsional.”

FATUM & ENFADO

Eu tinha de ter escritos sórdidos e boca-suja para ser um homem de caráter quando chegasse o tempo (pós-adolescência e primeira juventude)… Nunca deixarei de ser uma personalidade controversa, por onde quer que se me estude amanhã…

Demorou menos para eu me formar como homem do que para obter aquele papelzinho vale-bosta de graduado universitário… Imagine a dor que essa árvore (planta rara) sentiu durante esse curto espaço de tempo… É praticamente indescritível! Hoje, hoje não é nada, tudo são jujubas doces… Mas só pela RESSONÂNCIA do que foram aqueles anos já consigo me arrepiar… Minha memória condescendente com minha evolução psicológica é a primeira grande prova de que eu sou – e assim serei considerado pelas gerações futuras, se chegarem a me conhecer – um grande homem.

sidenote: Santo Agostinho pode ser considerada uma dessas árvores que decidiu crescer demais e se monumentalizar já lá pelos seus quarenta… Quanto mais se hiberna, mais se sofre com o radicalismo da transformação, quando ela deixa de ser auto-adiada.

O meu momento de viragem foi à segunda leitura da obra Assim Falou Zaratustra, aos 19 ou 20 anos de idade. Talvez se eu não tivesse engordado àquela época não teria tido como sobreviver à fome da alma que senti e à ânsia pantagruélica por uma luz para estes olhos cegos… Quando menos tinha liberdade, porque eu mesmo a suprimia, era quando eu mais me regalava com pão, bela lição, sr. Dosto.! Se um dia essas anotações tão subjetivas forem reunidas, só elas, para interesses autobiográficos, por mim ou outro qualquer, deviam(os) dar um nome como MEMÓRIAS DO CÁRCERE A CÉU ABERTO ou algo do tipo, que acha(m)? Que acho? Diacho, eu tenho menos livros para escrever do que livros prontos para compilar, e isso aos meus 31 anos… É um material infinito a meu dispor. Fico zonzo só de pensar seriamente por onde começar e que critério estabelecer, afinal… Porque uma coisa são meus escritos com interesses filosófico-literários, i.e., o mundo, e outra coisa sou eu, seu irmão gêmeo… Misteriosa preposição que está entre nós. Será você que lê uma delas, ou esse texto é menos lido que uma carta enrolada em uma garrafa nos Sete Mares mais remotos de um mundo com poucos piratas?!

Reconheço que sou medíocre perto dos últimos clássicos, mas que toda a minha soberba decorre da absoluta INCOMPETÊNCIA GENERALIZADA da minha própria época… Será concebível, num momento finalmente maduro para pelo menos me apreciar ou se condoer de mim?!? UMA CARTA PARA AURORA é outro título de que gosto muito… Quero pensar num Querido Diário que fosse uma linda mulher!

França

a França foi o único país do mundo onde foram reunidas, a longo prazo (de 1914 ao fim do século XX) e sem nenhuma interrupção, as condições necessárias à implantação da psicanálise em todos os setores da vida cultural e científica, tanto por via médica e terapêutica (psiquiatria, psicologia, psicologia clínica) quanto por via intelectual (literatura, filosofia, política, universidade).”

Essa concepção de língua era totalmente estranha à maioria dos outros países da Europa. Ela explica, de qualquer forma, que um gramático (Édouard Pichon) tenha tido papel tão importante na gênese da conceitualidade francesa do freudismo e tanta influência sobre os dois grandes mestres da psicanálise nesse país: Jacques Lacan, formalista mallarmaico de uma língua do inconsciente, e Françoise Dolto, porta-voz de um léxico de raiz perfeitamente adaptado à identidade nacional.”

O mito conta que, nessa época, Pinel recebeu a visita de Couthon (1756-1794), membro do Comitê de Salvação Pública, que procurava suspeitos entre os loucos. Todos tremiam ao ver o acólito de Robespierre (1758-1794), que deixara sua cadeira de paralítico para ser carregado por auxiliares. Pinel o conduziu até os alojamentos, onde a visão dos loucos agitados lhe causou um medo intenso. Recebido com injúrias, voltou-se para o alienista e lhe disse: <Cidadão, tu mesmo és louco para quereres libertar semelhantes animais?>O médico respondeu que os insensatos eram ainda mais intratáveis porque estavam privados de ar e liberdade. Couthon aceitou portanto a supressão das correntes, mas advertiu Pinel contra sua presunção. Foi transportado até seu veículo, e o filantropo pôde começar a sua obra: o alienismo acabava de nascer. Como o mito da peste, o da abolição das correntes foi questionado por todos os historiadores da psiquiatria, que explicaram que esse gesto simplesmente não ocorreu. Mas os mitos fundadores têm como característica serem mais significativos do que a realidade das coisas.”

Depois da Primeira Guerra Mundial e do acirramento do ódio à Alemanha, a psicanálise foi tratada de <ciência boche>, como aliás também a teoria da relatividade de Albert Einstein. Às reações violentas da imprensa somou-se o antifreudismo selvagem de duas grandes figuras da psicopatologia francesa: Georges Dumas (1866-1946) e Charles Blondel.”

Geralmente chauvinistas, os meios médicos não aderiram senão a uma concepção terapêutica da psicanálise. Os meios literários, por sua vez, acolheram bem a doutrina ampliada da sexualidade, recusaram-se a considerar o freudismo como <cultura germânica> e defenderam a análise leiga. Por esse lado, todas as correntes literárias em geral consideravam o sonho como a grande aventura do século.Inventou-se a utopia de um inconsciente feito de linguagem e aberto à liberdade e à subversão, e admirava-se acima de tudo a coragem com a qual um sábio austero ousara fazer escândalo ao desafiar a intimidade do conformismo burguês. A partir de 1920, a psicanálise obteve um sucesso considerável nos salões literários parisienses, e muitos escritores experimentaram um tratamento. Foi o caso, notadamente, de Michel Leiris (1901-1990), René Crevel (1900-1935), Antonin Artaud (1896-1948), Georges Bataille (1897-1962) ou Raymond Queneau (1903-1976).”

Em novembro de 1926, foi criada a primeira associação de psicanálise, a Sociedade Psicanalítica de Paris (SPP), composta de 12 membros”

Marginalizado desde 1935, René Laforgue tentou isoladamente instaurar em Paris um instituto <arianizado>, como o de Matthias Heinrich Göring. Não conseguiu. Quanto a Georges Mauco, único psicanalista francês adepto do nazismo, empenhou apenas a própria pessoa na colaboração. Por conseguinte, o movimento francês saiu incólume do período da ocupação e pôde assim desenvolver-se no momento em que, na Europa, só a Grã-Bretanha se encontrava na vanguarda do freudismo internacional, graças sobretudo à solidez de sua escola clínica que, embora cindida em três correntes, pertencia completamente à IPA: kleinismo, annafreudismo, Independentes.”

Excluída do movimento psicanalítico internacional, a obra lacaniana ocuparia a partir de então um lugar central na história do estruturalismo. Dez anos depois do momento fecundo de sua elaboração, o retorno lacaniano a Freud veio, efetivamente, ao encontro das preocupações de uma espécie de filosofia da estrutura, oriunda das interrogações da lingüística saussuriana e convertida, ela própria, na ponta de lança de uma oposição à fenomenologia clássica [mas Lacan não é hegeliano?]. A efervescência doutrinária, que se concretizou em torno dos trabalhos de Louis Althusser (1918-1990), de Roland Barthes (1915-1980), de Foucault e de Jacques Derrida, que tomou como objeto de estudo o primado da língua, o anti-humanismo, a desconstrução ou a arqueologia, se desenvolveu no interior da instituição universitária, preparando o terreno para a revolta estudantil de maio de 1968. A revista Tel Quel, animada por Philippe Sollers, desempenhou um papel idêntico ao da vanguarda surrealista do período entre-guerras.”

Essa [terceira] cisão [francesa] marcou a entrada do lacanismo em um processo de burocratização e de dogmatismo, e se distinguiu nitidamente das precedentes. De fato, até então, Lacan representava a renovação da doutrina freudiana, e as cisões se faziam <com> ele. Dessa vez, deixavam-no para fundar uma escola mais liberal.”

Membro da SPP, René Major deu então um impulso teórico e político à dissidência dos anos 1975-1980, que afetou os 4 grandes grupos freudianos. Baseando-se nas teses de Derrida, criou uma revista e um grupo, que tomaram o nome de Confrontation. Daí a emergência de uma corrente derridiana da psicanálise, que serviria para criticar todas as formas de dogmatismo institucional.”

Nos anos 90, após a morte de Lacan, a França viu seu número de associações psicanalíticas se atomizar até a espantosa cifra de 19, incluindo as 2 únicas associações filiadas à IPA! A grande ironia é que a virtual totalidade delas é freudiana.

No fim do século, o número de psicanalistas franceses de todas as tendências se elevou a cerca de 5 mil, para uma população de 58 milhões, dos quais mil para as duas sociedades pertencentes à IPA (inclusive alunos), ou seja, uma taxa de 96 psicanalistas por milhão de habitantes, a mais alta do mundo [1 para 10 mil]. Jacques Lacan conseguiu assim, auxiliado por Françoise Dolto, fazer da França o país mais freudiano, o único, pouco antes da Argentina, em que a psicanálise se tornou ao mesmo tempo um componente maior da vida intelectual e uma real terapêutica de massa.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Breton & Soupault, Os campos magnéticos

Freud, Amalia, née Malka Nathanson (1835-1930), mãe de Sigmund Freud

Freud foi adorado pela mãe e teve uma relação privilegiada com ela. Foi a partir desse contato que ele construiu sua teoria do complexo de Édipo, cuja evocação se encontra na Interpretação dos sonhos. Aos 4 anos, deslumbrou-se com sua nudez e teve, 6 anos depois, um célebre sonho de angústia: <Minha mãe querida, com uma expressão no rosto particularmente tranqüila e adormecida, levada para o seu quarto e estendida no leito por 2 (ou 3) personagens com bicos de pássaro.>

Consciente do amor que sua mãe lhe dedicava,¹ Freud declarou muitas vezes, especialmente a propósito de Goethe, que <quando se foi o favorito inconteste de sua mãe, guarda-se pela vida inteira uma sensação conquistadora, uma segurança de sucesso que muitas vezes leva efetivamente ao sucesso>. Nada é mais verdadeiro, e o laço que une freqüentemente todo criador (escritor ou artista) à sua mãe está aí para provar, principalmente nos casos de homossexualidade bem-sucedida [???].”

¹ Realmente, quanto às famílias européias até o séc. XIX, ser o mais benquisto entre os irmãos devia ser como passar num vestibular ou ser o primeiro da turma. O que representa isso hoje, quando disputamos os louros com apenas mais 1 ou 2, quando muito?

DICIONÁRIO PSICANALÍTICO OU FÃ CLUBE? “[Freud] adotou em relação à morte a atitude de aceitação típica daqueles que se sentem imortais¹ porque puderam realizar o luto do primeiro objeto de amor: a mãe amorosa.”

¹ Aceitação da morte pelo imortal? Reconstrua a frase, por favor. Desse ponto de vista, a psicanálise me é mais fatalista que qualquer schopenhauerismo ultimado… Em suma: estou(estaria) fodido!

Pode-se acrescentar que a constatação que Freud fez sobre o <filho preferido> foi corroborada de modo negativo pelas descobertas de Melanie Klein sobre a primeira infância. Inspirando-se em sua relação detestável com a própria mãe, Klein mostrou,¹ efetivamente, que o ódio primordial que ligava a criança à mãe era fonte de todas as perturbações psicóticas e neuróticas posteriores, assim como a causa primeira e inconsciente de todos os fracassos amorosos e profissionais da idade adulta,2aDaí a necessidade de uma análise precoce [hm].”

¹ Provou? Mesmo?

² Pendente: conceito de fracasso.

2a Difícil fracassar como funcionário público. E, de toda forma, “menos fracassado” em terra de fracassados já é algo próximo de aristocracia privilegiada… Homem ético em terra de Bozo é rei imortal.

A cena primária pode tê-lo tornado relativamente impotente […] Em sua conduta, Freud faz apenas o papel do deus castrador, nada quer saber do momento traumático de sua própria castração na infância; é o único que não deve ser analisado.” Ferenczi sobre Freud

Aliás, foi sua ama, Monica Zajic, dita Nannie, e não sua mãe, que foi sua iniciadora¹ nesse campo.”

¹ Também gostaria de ser instruído a respeito da CONOTAÇÃO de iniciadora nesta frase!

Em relação à sexualidade, Freud adotou em sua vida uma atitude contrária à que preconizava em sua teoria. Nunca foi amante das mulheres que o seduziam por sua inteligência, dita <masculina> e com quem mantinha relações transferenciais apaixonadas (Marie Bonaparte, Ruth Mack-Brunswick, Jeanne Lampl-De Groot, etc.), e casou-se com uma mulher cuja sexualidade se reduzia a desempenhar o papel para o qual era biologicamente constituída”

Freud, Anna (1895-1982), filha de Freud

AVANT-GARDE NA CIÊNCIA, CONSERVADOR NA FAMÍLIA: “Nascida em Viena, Anna Freud era a sexta e última dos filhos de Sigmund e Martha. Não fôra desejada nem por sua mãe, nem por seu pai, que decidiu, depois de seu nascimento, permanecer casto por não poder utilizar contraceptivos. Assim, Anna teve de lutar para ser reconhecida pelas qualidades de que dispunha: coragem, tenacidade e o gosto pelas coisas do espírito.Não tendo nem a beleza de sua irmãSophie Halberstadtnem a elegância deMathilde Hollitscher, sentia-se em estado de inferioridade na família, na qual se esperava que só os herdeiros masculinos fossem talentosos para os estudos.”

Acompanhando Loe Kann, amante de Jones então em análise com Freud, Anna foi cortejada por ele. Prevenido por Loe, Freud reagiu muito mal e dirigiu a Jones sérias advertências, ao mesmo tempo que proibia à filha embarcar em uma aventura sem futuro com um <velho celibatário> astuto. (…) A partir desse dia, Freud começou a desviar de sua filha todos os pretendentes que ousavam fazer-lhe a corte (Hans Lampl, notadamente). Jones esperou 40 anos para explicar-se com Anna e confessar-lhe que continuava a amá-la.”

<Com minha própria filha tive sucesso, com um filho têm-se escrúpulos especiais.> Na verdade, Freud não se iludia com essa explicação edipiana. Sabia muito bem que essa análise tivera como efeito reforçar o amor que Anna lhe dedicava e que a afirmação do <sucesso> do tratamento não era mais do que a expressão de uma paixão impossível de resolver.¹ E foi com toda a franqueza que expressou a Lou Andreas-Salomé os seus verdadeiros sentimentos:¹era tão incapaz de renunciar¹ a Anna quanto deixar de fumar.²”

¹ O que tudo isso queria dizer? Que Anna queria Sigmund carnalmente e que essa pulsão era, ainda por cima, correspondida?

² Se nem Freud conseguiu, é claro que, mesmo que quisesse, eu não conseguiria. #AutoDesajuda #ParaEsfregarnaCaradeGenteChataeInsistente

Manteve com o pai uma correspondência de 300 cartas, de ambos os lados, ainda não-publicada, mas disponível na Biblioteca do Congresso de Washington.”

Criou com Erik Erikson, Peter Blos e Eva Rosenfeld (1892-1977),sobrinha de Yvette Guilbert, uma escola especial, que foi depois freqüentada por crianças cujos pais se analisavam: <Para esses analistas que gravitavam em torno de Freud e da família Burlingham em Viena, escreveu Peter Heller, a psicanálise era realmente uma religião, um culto, uma Igreja […] Minha vida se passava na escola muito particular das Burlingham-Rosenfeld, marcada pela personalidade de Anna Freud e por sua concepção de uma pedagogia psicanalítica. Entre outras coisas, embora isso tenha sido negado depois, a escola consistia em uma experiência progressiva e elitista de educação de crianças cujos pais faziam análise. Uma experiência privilegiada, muito promissora, inspirada e animada por um ideal de humanidade mais puro e mais sincero do que todos os outros estabelecimentos que freqüentei. Ali, difundia-se um autêntico sentido de comunidade.>

Considerando que uma criança é frágil demais para ser submetida a uma verdadeira análise, com exploração do inconsciente, defendia o princípio do tratamento sob a responsabilidade da família e dos parentes, e mais geralmente sob a tutela das instituições educativas. Segundo ela, o complexo de Édipo não devia ser examinado muito profundamente na criança, em razão da falta de maturidade do supereu.”Com imbecis como pais e imbecis como professores e pedagogos (cenário 95% provável), isso e dizer que crianças não devem ser psicanalizadas mas abandonadas à própria sorte é dizer o mesmo. Nós, os talentosos e predestinados, de fato criamos a própria sorte, então não há com o quê se preocupar!

Em 1937, graças ao dinheiro de uma rica americana, Edith Jackson (1895-1977), que foi a Viena analisar-se com Freud, Anna criou um pensionato para crianças pobres, ao qual deu o nome de Jackson Nursery. A experiência se inspirava na de Maria Montessori. Foi interrompida pela implantação do nazismo na Áustria.”

Não só os psicanalistas ingleses tinham-se afastado de seus colegas do continente, mas também sua prática, sua mentalidade, suas orientações clínicas, até seus conflitos — notadamente em torno de Edward Glover— não tinham mais nada a ver com as querelas do mundo germanófono. Ora, nessa época, Anna acabava de publicar sua obra maior, O eu e os mecanismos de defesa, que se chocava com as pesquisas da escola inglesa. O conflito era pois inevitável e ocorreria depois da morte de Freud, com a explosão, em 1941, das Grandes Controvérsias.”

Em 1990, tornando-se professor de literatura, Peter Heller publicou um depoimento comovedor sobre as suas lembranças da análise com Anna Freud. Nascido em Viena em 1920, submeteu-se a um tratamento com ela entre 1929 e 1932. Depois, casou-se com Tinky, filha de Dorothy Burlingham, e em seguida passou ainda longos anos no divã de Ernst Kris. O relato de seu tratamento, acompanhado das notas que Anna lhe entregou, revivia a estranha confusão dos anos 1920-1935, durante a qual Anna e seu pai misturaram tão estreitamente o divã, a família e a vida particular. Peter Heller mostrava, principalmente, o caráter sufocante da posição <materna> ocupada por Anna, ao passo que, em sua doutrina, ela não levava em conta o vínculo arcaico com a mãe.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Joseph Sandler, Hansi Kennedy & Robert L. Tyson, Técnica da psicanálise infantil (Londres, 1980), P. Alegre, Artes Médicas.

Freud, Ernst (1892-1966), filho de Freud

Quando lhe perguntaram por que se tornara arquiteto, disse que foi porque seu pai e os outros membros da família não entendiam nada disso.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Ernst Freud, Lucie Freud & Ilse Grubrich-Simitis (orgs.), Sigmund Freud. Lieux, visages, objets(Frankfurt, 1976), Bruxelas, Complexe-Gallimard, 1979.

Freud, Kallamon Jacob (1815-1896), pai de Freud

Foi Marianne Krüll quem estabeleceu em 1979 a genealogia familiar dos Freud, dando seqüência aos trabalhos de Renée Gicklhorn e Josef Sajner.”

O nome Freud, que significa alegria em alemão (Freude) era derivado de Freide, prenome da bisavó materna de Jacob. A família o adotara em 1789, quando o imperador José II promulgou uma carta de tolerância que emancipava os judeus, reconhecendo-lhes os mesmos direitos e privilégios que aos outros súditos do Império. Essa carta os obrigava, entretanto, a assumir um nome de família, e conseqüentemente a renunciar à organização comunitária.”

Renunciando a considerar em 1897 que, na origem da neurose existe a sedução sexual da criança pelo adulto, Freud confessa sua culpa: efetivamente, suspeitou que seu próprio pai fosse um sedutor e lamentava amargamente que este tivesse morrido antes do abandono dessa teoria.” ???

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Yosef Hayim Yerushalmi, Le Moïse de Freud. Judaïsme terminable et interminable (New Haven, 1991), Paris, Gallimard, 1993.

Freud, Martha, née Bernays (1861-1951), mulher de Freud

A partir de 1920, Freud comportou-se com Anna do mesmo modo com que se comportara outrora com Martha. E seu ciúme em relação à filha era certamente a repetição do que mostrara durante o noivado. De qualquer forma, Anna foi a <filha

da psicanálise> e teve que lutar, na infância, contra uma terrível rival, que lhe tomava o pai. De fato, era com uma mulher que Freud comparava a psicanálise, no fim da vida, em uma carta aStefan Zweig datada de julho de 1938:<A análise é como uma mulher que quer ser conquistada, mas que sabe que será pouco estimada se não opuser resistência.>

Freud, (Jean) Martin (1889-1967), filho de Freud

Como seus outros irmãos, não foi circuncidado. De fato, Freud se recusou a impor aos filhos os rituais religiosos. Educado segundo a tradição da burguesia vienense, Martin deveria ter se tornado um patriarca.”

Habituado a pregar peças, fantasiou-se um dia de astrólogo e apresentou-se no domicílio do pai, que lhe dirigiu um olhar tão furibundo que o deixou petrificado. O autor d’Os Chistes não gostava de ser objeto de zombaria. À exceção de Mathilde, todos os filhos de Freud tiveram problemas de pronúncia, como o pai na infância. Tinham a língua presa, como se diz. Assim, tiveram que recorrer aos serviços de uma fonoaudióloga.”

Depois de cursar direito, Martin preferiu ocupar-se de negócios, o que o levou a tratar dos assuntos do pai e particularmente da Verlag, a casa editora do movimento freudiano, cujas finanças saneou. Também geriu muito bem a fortuna do pai, particularmente no momento da tomada do poder pelos nazistas na Alemanha.”

Freud era tão tradicionalista no que se referia à educação dos filhos que deixou que eles acreditassem, sem ser desmentido por Martha, que os bebês nasciam nos repolhos.”

No momento da celebração do centenário do nascimento de Freud, contra a opinião de sua irmã Anna, redigiu um livro de lembranças, cheio de episódios pitorescos sobre os diversos membros da família.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Martin Freud, Freud, mon père (Londres, 1957), Paris, Denoël, 1975;

Sophie Freud (sua filha, neta de Sigismundo), My Three Mothers and Other Passions, N. York, New York Universities Press, 1991.

Freud, Schlomo Sigismund, dito Sigmund (1856-1939)

Kurt Eissleravaliou em 15 mil o número de cartas escritas por Freud e em cerca de 10 mil as que estão depositadas na Biblioteca do Congresso

Observe-se que Freud publicou 5 grandes casos clínicos, que foram comentados ou revistos por seus sucessores: Ida Bauer (Dora), Herbert Graf (o Pequeno Hans), Ernst Lanzer (o Homem dos Ratos), Daniel Paul Schreber, Serguei Constantinovitch Pankejeff (o Homem dos Lobos). Segundo o quadro das filiações estabelecido por Ernst Falzeder em 1994, Freud formou na análise didática mais de 60 práticos, na maioria alemães, austríacos, ingleses, húngaros, neerlandeses, americanos, suíços, aos quais se acrescentam os pacientes cuja identidade se ignora.”

Entre 1879 e 1880, forçado a uma licença para cumprir o serviço militar, enganava

o tédio traduzindo quatro ensaios de John Stuart Mill (1806-1873), sob a direção de Theodor Gomperz (1832-1912), escritor e helenista austríaco, responsável pela publicação alemã das obras completas desse filósofo inglês, teórico do liberalismo político.”

Em setembro de 1886, casou-se com Martha, e no dia 15 de outubro fez uma conferência sobre a histeria masculina na Sociedade dos Médicos, onde teve uma acolhida glacial, não em razão de suas teses (etiológicas), como diria depois, mas porque atribuía a Charcot a paternidade de noções que já eram conhecidas pelos médicos vienenses.”

Apesar de várias tentativas, Fliess não conseguiria curar Freud de sua paixão pelo fumo: <Comecei a fumar aos 24 anos, escreveu em 1929, primeiro cigarros, e logo exclusivamente charutos […]. Penso que devo ao charuto um grande aumento da minha capacidade de trabalho e um melhor autocontrole.>

Em 1909, a convite deStanley Grandville Hall, Freud foi, em companhia de Jung e de Ferenczi, à Clark University de Worcester, em Massachusetts, para dar cinco conferências, que seriam reunidas sob o título de Cinco lições de psicanálise. Apesar de um encontro produtivo com James Jackson Putnam e de um sucesso considerável, Freud não gostou do continente americano. Durante toda a vida, desconfiaria do espírito pragmático e puritano desse país que acolhia suas idéias com um entusiasmo ingênuo e desconcertante.”

Em 1911, Adler e Stekel se separaram do grupo freudiano. Dois anos depois, Jung e Freud romperam todas as suas relações. Não suportando desvios em relação à sua doutrina, Freud publicou, às vésperas da I Guerra Mundial, o panfleto História da psicanálise, no qual denunciou as traições de Jung e Adler.”

Isolado em Viena, mas célebre no mundo inteiro, Freud prosseguiu sua obra, sem conseguir controlar a política de seu movimento. Entre 1919 e 33, a IPA se transformou em uma verdadeira máquina burocrática, com a responsabilidade de resolver todos os problemas técnicos relativos à formação dos psicanalistas.”

Embora não aprovasse a política de <salvamento> da psicanálise, preconizada por Jones, cometeu o erro de privilegiar a luta contra os dissidentes (Reich e os adlerianos), ao invés de recusar qualquer compromisso com Göring, o que teria levado à suspensão de todas as atividades psicanalíticas logo que Hitler chegou ao poder.”

Iniciou [no fim da vida] a leitura de Peau de chagrin de Honoré de Balzac: <É exatamente disso que preciso, este livro fala de definhamento e de morte por inanição.>

freudo-marxismo

O freudo-marxismo é uma corrente intelectual que perpassa toda a história do pensamento freudiano, de 1920 a 1975, tanto de um ponto de vista doutrinal (ligação entre o freudismo e o marxismo) quanto do ponto de vista político (relações entre o comunismo e a psicanálise na Rússia, na Alemanha, na Hungria, na França, no Brasil, na Argentina, na Itália e nos Estados Unidos). Os representantes dessa corrente foram muito variados. Os filósofos da Escola de Frankfurt, em especial Max Horkheimer, criticaram o pessimismo freudiano [olha quem fala! Escola frankfurtiana, a.k.a., <Os Apocalípticos>!], incompatível, a seu ver, com as esperanças revolucionárias suscitadas pelo marxismo, mas conseguiram ligar as duas doutrinas de maneira muito fecunda.

De Reich (simultaneamente freudiano e comunista) a Otto Fenichel ou Marie Langer (representantes de uma esquerda freudiana social-democrata), até os artífices do neofreudismo (menos marxistas do que culturalistas), passando por Joseph Wortis (que foi stalinista e, depois, antifreudiano) e Herbert Marcuse (que reacendeu o debate em meados dos anos 60, através de uma virulenta crítica a seus predecessores neofreudianos), todos os freudo-marxistas ligaram-se à idéia de que o freudismo e o marxismo são duas doutrinas da libertação do homem.”

Fromm, Erich

No período entre-guerras, criticou a tese clássica do complexo de Édipo e valorizou o matriarcado, em detrimento do patriarcado, inspirando-se nos trabalhos de Johann Jakob Bachofen (1815-1887), em uma perspectiva próxima da de Friedrich Engels (1820-1895). Em 1946, seria duramente atacado por Theodor Adorno por seu <revisionismo> anti-freudiano e, mais tarde, por Marcuse.”

A partir de 1951, como Igor Caruso, instalou-se na Cidade do México, onde o freudismo não se implantara, sendo considerado uma doutrina imperialista importada dos Estados Unidos.”

Fromm fez da psicanálise a expressão última de uma crise espiritual do homem ocidental, desejoso de se libertar de seu inconsciente, contestou radicalmente o universalismo freudiano e a filosofia do Iluminismo, em nome do relativismo cultural, e pregou os valores de um humanismo individualista.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Erich Fromm, O medo da liberdade (NY 1941), RJ, Guanabara, 1986; L’Homme pour lui-même (NY, 1947), Paris, Éditions Sociales Françaises, 1967; A arte de amar (NY, 1956, Paris, 1967), BH, Itatiaia, 1964; La Mission de Sigmund Freud. Une analyse de sa personnalité et de son influence (NY, 1959), Bruxelas, Complexe, 1975; O conceito marxista do homem (NY, 1961), RJ, Guanabara, 1986; La Crise de la psychanalyse (NY, 1970), Paris, Anthropos, 1971; La Passion de détruire (NY, 1973), Paris, Laffont, 1975; A linguagem esquecida (Paris, Payot, 1975), RJ, Guanabara, 1986;

Martin Jay, L’Imagination dialectique. Histoire de l’École de Frankfurt, 1923-1950 (Boston, 1973), Paris, Payot, 1977;

Jean-Baptiste Fagès, Histoire de la psychanalyse après Freud (1976), Paris, Odile Jacob, 1996.

geração

O estudo das gerações é comum a diferentes campos das ciências humanas e sociais, em especial a antropologia e a história. Na historiografia psicanalítica, esse instrumento sociológico permite estabelecer a genealogia dos sucessores de Freud, o encadeamento das diversas interpretações da obra original, a sucessão das escolas e a dialética dos conflitos conducentes a cisões. Por esse ponto de vista, existem 2 modos de enumeração: um, de alcance mundial e internacional, concerne aos diferentes membros da diáspora freudiana espalhados pelo mundo, e o outro, de alcance nacional, permite inscrever a filiação dos psicanalistas a partir de um grupo pioneiro (passível de ser reduzido a uma única pessoa, em certos países), considerado como o introdutor da psicanálise num dado país.”

A segunda geração internacional, representada por Ernst Kris, Heinz Hartmann, Rudolph Loewenstein, Wilhelm Reich, Otto Fenichel, Melanie Klein, etc., é a que começou a se formar a partir de 1918, quer junto a Freud, quer no divã dos que lhe eram próximos. Já afastada do espírito de conquista que havia caracterizado sua antecessora, essa geração foi a componente essencial do aparelho da IPA da década de 30. Teve como verdadeiro porto de matrícula (salvo poucas exceções) não uma cidade ou um mestre, mas uma organização legitimista, que encarnava o movimento e a doutrina originais.”

A terceira geração internacional, instruída pelos representantes da 2a ou tendo acesso ao freudismo através da leitura dos textos, foi a das grandes cisões, provocadas, entre 1950 e 70, pelo questionamento das modalidades da formação didática típica da IPA e pelas querelas de escolas em torno da interpretação da obra freudiana e da técnica psicanalítica (Self Psychology, Lacan, Heinz Kohut, Winnicott, Ruprecht Bion, Marie Langer, Caruso). À história dessa terceira geração liga-se a do surgimento de uma historiografia freudiana, a princípio oficial (com Jones e seus herdeiros), depois acadêmica (Ola Andersson, Henri Ellenberger) e, por fim, revisionista. Nessa condição, essa geração foi marcada por intensas batalhas em torno da tradução e da publicação das obras e da correspondência do mestre, bem como por uma fragmentação irreversível de todas as formas de legitimidade organizacional. Daí o confronto com uma profusão de escolas de psicoterapia.”

OITAVA, NONA, DÉCIMA?! Now loading…

Gestalt-terapia [form therapy]

Inicialmente analisado por Reich, e depois por Karen Horney, Perls situou-se desde logo na dissidência do freudismo clássico. Fugindo do nazismo, emigrou para os Países Baixos e, em 1940, para a África do Sul, onde redigiu um primeiro livro em que revisava a concepção freudiana, aspirando a ver o corpo ser mais solicitado no processo da análise.” “Após uma temporada no Japão, associou a gestalt-terapia à prática do budismo zen, e depois se tornou um grande guru californiano, pregando ao mesmo tempo o naturismo, o orientalismo e a abertura para todas as formas de psicoterapias corporais que se desenvolveram na costa oeste dos Estados Unidos nos anos 70.”

O PODER DO WISHFUL THINKING: “a gestalt-terapia rejeita tanto a noção de isso quanto a de supereu, a primeira porque desviaria o sujeito da plena consciência de si, a segunda porque seria uma instância de opressão do eu.” “terapia de grupo voltada à <desintelectualização> do sujeito” “Daí a junção que se efetuou, mais ou menos em todas as partes do mundo, depois da morte de Perls, entre a gestalt-terapia e todas as técnicas ditas bioenergéticas, herdadas da vegetoterapia de Reich e baseadas na idéia de que a <comunicação não-verbal> (gritos, ginástica, massagens, expressões corporais, etc.) permite um melhor acesso à cura do que o tratamento pela fala.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Frederick Perls, Ego, Hunger and Agression. A Revision of Freud’s Theory and Method (1942);

Kurt Goldstein, La Structure de l’organisme[neurologia] (1934).

Glover, Edward

Pioneiro da psicanálise na Grã-Bretanha, ao mesmo tempo conservador e rebelde, marginal e ortodoxo, Edward Glover foi, depois de Ernest Jones, o clínico mais poderoso da British Psychoanalytical Society (BPS), mas também o principal responsável por sua fragmentação, pois desencadeou, em 1942, as Grandes Controvérsias que resultariam na divisão da sociedade em 3 grupos:os annafreudianos, os kleinianos, os Independentes. Notável técnico do tratamento, Glover manejava a ironia com ferocidade e a língua inglesa com um verdadeiro dom de ator. Inventou a noção de núcleo do eu, para definir o esquema comportamental do lactente, ligado aos reflexos afetivos, e a de sexualização da angústia, para designar um processo de erotização, próprio da perversão, permitindo suprimir os temores do self por uma experiência orgástica.”

Com Jones, presidente da BPS, Edward Glover realizou uma política conservadora no interior da sociedade, pretendendo manter a psicanálise afastada das instituições em que se praticavam diversas formas de psicoterapias, notadamente a famosa Tavistock Clinic. Essa atitude isolacionista seria reprovada pelos kleinianos, com os quais Glover estabeleceria um conflito permanente. Seu rigorismo o levou, em 1933, em sua obraGuerra, sadismo e pacifismo a interpretar os conflitos políticos em termos de neurose e a preconizar, para evitar as guerras, a entrada maciça dos diplomatas em análise e o reconhecimento oficial, pelos Estados, do caráter psicopatológico da própria guerra.“atacou violentamente a <esquerda freudiana>, afirmando que esta queria anexar a psicanálise ao marxismo e ao comunismo”

Inicialmente entusiasmado com as inovações kleinianas, rejeitou-as com a mesma radicalidade em 1933, a partir do momento em que, tendo-se tornado analista de Melitta Schmideberg, assumiu a revolta desta contra a mãe. Então, chamou de especulação estéril as hipóteses kleinianas sobre a psicose infantil e afirmou que elas não poderiam ser validadas enquanto não se demonstrasse que também se aplicavam aos adultos.”

A partir de 1935, só chamava Melanie Klein de <cismática> e <desviante>, acusando-a de não ser mais freudiana e denunciando a idolatria de seus discípulos. Através desse combate, tentava defender, não os annafreudianos, nem mesmo a própria Anna Freud, que ele julgava incapaz de retomar a chama da <verdadeira> psicanálise, mas uma espécie de utopia. Na verdade, sonhava com o velho mundo vienense, então desaparecido, e combatia a burocracia ipeísta [dos institutos recém-criados de psicanálise] que acabara destruindo a autenticidade da análise didática: <Os sistemas de formação [de novos psicanalistas] se tornaram uma forma de poder político, mal-disfarçada por racionalizações…>

Em fevereiro de 1944, demitiu-se da BPS, predizendo a esta um futuro lúgubre sob o reinado de um kleinismo e de um pós-kleinismo que qualificava de <junguismo>, rótulo infamante, em sua opinião. Entretanto, continuou membro da IPA através de uma filiação à Sociedade Suíça de Psicanálise (SSP), o que lhe permitiu preservar suas funções de secretário da IPA.

Não contente em perseguir Melanie Klein com suas invectivas, não hesitou, em 1944, durante programas de rádio, em criticar a famosa seleção pelos testes de aptidão (elaborada principalmente por John Rickman), que haviam revolucionado a psiquiatria inglesa durante a guerra.”

Agora, os psiquiatras do exército estão com o rei na barriga […] Uma medida de precaução consistiria em submetê-los a um curso de reabilitação (como eles dizem, quando o aplicam aos outros), para que reencontrem uma perspectiva correta quanto aos direitos dos civis. Sem salvaguardas adequadas, esse sistema poderia carregar consigo os germes do nazismo.”

Por ocasião da morte de Klein, prestou-lhe homenagem, como se o furor que demonstrara quando ela era viva tivesse sido apenas o sinal de uma ferida secreta [hehe].”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Glover, Freud et Jung (Londres, 1950);

_____, Técnica da psicanálise, 1955.

Göring, Matthias Heinrich

foi assistente em Munique de Emil Kraepelin, apaixonou-se pela hipnose e depois adotou as teses da psicologia individual de Alfred Adler. No dia 1º de maio de 1933, aderiu ao Partido Nacional-Socialista, tornando-se, até a morte, um militante-modelo da doutrina nazista e o grande líder da psicoterapia alemã <arianizada>, isto é, desembaraçada não só de seus clínicos judeus, mas do <espírito judaico> em geral.

Göring não foi temido por seus aliados nem por seus adversários, que lhe deram o apelido de Papy, ou Papai Noel, por causa de sua longa barba e de sua aparente generosidade. Camuflava muito bem sua dureza por trás de uma aparência de menino tímido sofrendo de gagueira.”

A partir de 1933, endeusou o Führer a ponto de pedir a todos os psicoterapeutas pelos quais era responsável que fizessem de Mein Kampfa bíblia da nova ciência psicológica do Reich.”

A palavra psicanálise foi substituída por psicoterapia das profundezas, o Édipo foi simplesmente varrido, a sexualidade suprimida.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Les Années brunes. La Psychanalyse sous le IIIe Reich, textos traduzidos e apresentados por Jean-Luc Evard, Paris, Confrontation, 1984;

Chaim S. Katz (org.), Psicanálise e nazismo, Rio de Janeiro, Taurus, 1985.

gozo (Genuss)

DO DIREITO À CAMA: “O termo gozo surgiu no século XV, para designar a ação de fazer uso de um bem com a finalidade de retirar dele as satisfações que ele supostamente proporcionava. (…) Em 1503, o termo foi enriquecido por uma dimensão hedonista, tornando-se sinônimo de prazer, alegria, bem-estar e volúpia.”

SENSABORÕES DO CHÁ DAS 5: “A língua alemã faz uma distinção entre Genuss, termo que abrange as duas acepções francesas da palavra jouissance, e Lust, que exprime as idéias de prazer, desejo e vontade. Essa distinção era impossível de estabelecer na língua inglesa, onde existia apenas a palavra enjoyment, até o surgimento, em 1988, do termo jouissance, no Shorter Oxford English Dictionary.”

Lacan estabelece então uma distinção essencial entre o prazer e o gozo, residindo este na tentativa permanente de ultrapassar os limites do princípio de prazer. Esse movimento, ligado à busca da coisa perdida que falta no lugar do Outro, é causa de sofrimento; mas tal sofrimento nunca erradica por completo a busca do gozo.”

Desenvolvendo, em seu artigo intitulado Kant com Sade, a idéia de uma equivalência entre o bem kantiano e o mal sadiano, Lacan pretende mostrar que o gozo se sustenta pela obediência do sujeito a uma ordem — quaisquer que sejam sua forma e seu conteúdo — que o conduz, abandonando o que acontece com seu desejo, a se destruir na submissão ao Outro.

A partir do seminário do ano de 1969-1970 (O avesso da psicanálise) até o do ano de 1972-1973 (Mais, ainda), passando por De um discurso que não seria do semblante(1970-1971)e por …Ou pior(1971-1972), Lacan elabora sua teoria do processo da sexuação, que ele exprime por meio de um conjunto de fórmulas lógicas.”

ESSE SUJEITO É UM BIRUTA DE PRIMEIRA! “Lacan fabrica nessa ocasião uma palavra-valise, tal como as produzidas pelo fenômeno dacondensação [LAVA LIFE LOVE GIVER FORGIVEN], e chama o <pelo menos um> (au moins un) de <homenosum> (hommoinzun, homme moins un). Esse <homenosum>, que funda a possibilidade da existência da totalidade dos outros, esse pai originário, pai simbólico, segundo a conceituação lacaniana, não-submetido à castração, é, pois, o esteio da fantasia de um gozo absoluto, tão inatingível quanto o é esse pai originário.”

O gozo feminino, portanto, é diferente e, acima de tudo, sem limite. É, pois, um <gozo suplementar> (um suplemento [WHEY!]), enunciado como tal no brilhante seminário Mais, ainda, cujos contornos realmente parecem ter sido esboçados alguns anos antes por Wladimir Granoff e François Perrier, em 1960, num relatório apresentado ao congresso de Amsterdã sobre a sexualidade feminina. É a existência desse gozo suplementar, incognoscível para e pelo homem, mas indizível pelas mulheres, que serve de base para o aforismo lacaniano, tantas vezes criticado, de que <não existe relação sexual>, desenvolvido no âmbito do seminário …Ou pior.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jacques Lacan, Diretrizes para um Congresso sobre a sexualidade feminina (1958), in: Escritos (Paris, 1966), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998;

______. O Seminário, livro 7, A ética da psicanálise (1959-1960) (Paris, 1986), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1988;

Françoise Dolto, Sexualidade feminina (1982), SP, Martins Fontes, 1996, 3ª ed.;

Dylan Evans, An Introductory Dictionary of Lacanian Psychoanalysis, Londres, N. York, Routledge, 1996;

Julia Kristeva, La Révolution du langage poétique, Paris, Seuil, 1974;

Philippe Sollers, Femmes, Paris, Gallimard, 1982;

Elizabeth Wright (org.), Feminism and Psychoanalysis. A Critical Dictionary, Oxford, Blackwell, 1992.

Graf, Herbert (1903-1973), caso Pequeno Hans

Até 1972, data da publicação das Memórias de um homem invisível, transcrição das quatro entrevistas concedidas por Herbert Graf ao jornalista Francis Rizzo, não se conhecia a identidade do menino de 5 anos que se celebrizou sob o nome de Pequeno Hans, graças ao relato feito por Freud sobre sua análise, realizada sob a condução de Max Graf, pai do paciente (ver abaixo).

Considerado um dos grandes casos da história da psicanálise, o tratamento do Pequeno Hans ocupou rapidamente um lugar especial nos anais do freudismo, a começar pelo fato de que o paciente (pela primeira vez) era uma criança e, além disso, porque Freud, em vez de ficar na posição de analista, interviera como supervisor.

A BATATA AOS VITORIANOS: “A análise propriamente dita do Pequeno Hans desenrolou-se durante o primeiro semestre do ano de 1908. Foi contemporânea da de Ernst Lanzer, o Homem dos Ratos. Freud, com a autorização do pai do menino, publicou o relato em 1909, mas já se referira ao Pequeno Hans em dois artigos sobre a sexualidade infantil, publicados em 1907 e 1908. Na verdade, desde 1906, quando o menino ainda não tinha 3 anos, seu pai, conquistado pela psicanálise ao escutar sua mulher lhe falar de seu tratamento com Freud, tomava notas sobre tudo o que dizia respeito à sexualidade do filho, a fim de transmiti-las ao mestre, para quem se tornara uma pessoa da família. Max Graf não era o único a se entregar a esse tipo de observação: Freud, como lembrou no início de seu relato, incitara seus colegas das reuniões da Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras a se dedicarem a esse tipo de exercício, de modo a lhe levarem provas da solidez de fundamento de suas teses sobre a sexualidade infantil, expostas algum tempo antes nos Três ensaios sobre a teoria da sexualidade.”

Desde as primeiras anotações do pai, o Pequeno Hans parecia muito preocupado com a parte do corpo a que chamava seu <faz-pipi>. Sucessivamente, perguntou à mãe se ela também tinha um, atribuiu um à vaca leiteira, à locomotiva que soltava água, ao cachorro e ao cavalo, mas não o atribuiu à mesa nem à cadeira. Esse interesse, como assinalou Freud com humor, não se limitava à teoria: levou Hans a ser surpreendido pela mãe quando se entregava a bulir no pênis. A ameaça brandida por esta, de mandar que lhe cortassem o <faz-pipi> se ele continuasse a se dedicar àquele tipo de atividade, não chegou a induzir nenhum sentimento de culpa, mas, como assinalou ainda Freud, fez com que ele adquirisse o complexo de castração. Prosseguindo em suas explorações, o menino procurou averiguar se seu pai também tinha um <faz-pipi> e ficou surpreso ao saber que a mãe, adulta, não tinha um <faz-pipi> do tamanho do de um cavalo.” “Hans precisaria de uns 6 meses para superar seu ciúme e se convencer de sua superioridade em relação à irmã caçula. Assistindo ao banho desta, constatou que ela possuía um <faz-pipi […] ainda pequeno> e, benevolente, previu que ele se tornaria maior quando Anna crescesse.”

Nosso Pequeno Hans realmente parece ser um modelo de todas as perversidades.” Dr. F.vcked

Hans atravessou em seguida um período marcado pela busca de emoções eróticas — apaixonou-se por uma menina e insistiu com os pais em que ela fosse a sua casa para que lhe fosse possível dormir com ela —, num prolongamento das emoções que sentira em suas incursões à cama dos pais. Um sonho, quando ele contava 4 anos e ½, traduziu seu desejo, desde então recalcado, de se entregar novamente ao exibicionismo a que se dedicara no ano anterior, diante das meninas. Esse período encerrou-se com o reconhecimento, por parte do menino, ao assistir outra vez ao banho da irmã, da diferença entre os órgãos genitais masculino e feminino.”

Pouco antes da eclosão do estado ansioso, Hans tivera um sonho, um <sonho de punição>, diz Freud, no qual a mãe, com quem ele podia <fazer denguinho>, tinha ido embora. Esse sonho era um eco dos privilégios obtidos quando a mãe o levava para sua cama, no ano anterior, todas as vezes que ele manifestava ansiedade e também todas as vezes que seu pai estava ausente. Alguns dias depois, passeando com a babá, Hans começou a chorar e pediu para voltar para casa, para <fazer denguinho com a mamãe>. No dia seguinte, a mãe resolveu levá-lo pessoalmente para passear. A princípio ele recusou, chorou e, depois, deixou-se levar, porém manifestando um medo intenso, do qual só falou na volta: <Eu estava com medo que o cavalo me mordesse.> À noite, nova crise de angústia ante a idéia do passeio do dia seguinte e medo de que o cavalo entrasse em seu quarto. A mãe perguntou-lhe, então, se por acaso ele estivera pondo a mão no <faz-pipi>. Ao obter sua resposta afirmativa, ela lhe ordenou que parasse com aquilo, o que mais tarde ele confessou só conseguir fazer precariamente.”

Essa transformação da libido em angústia é irreversível e a angústia tem que encontrar um objeto substituto, que constituirá o material fóbico.”

Nesse estágio, Freud aconselha o pai de Hans a dizer ao menino que a história dos cavalos é uma <besteira> — esse foi o termo que o pai e o filho passaram a empregar para designar a fobia — e que o medo provém de seu interesse exagerado pelo <faz-pipi> dos cavalos.” “Passado algum tempo, a fobia retorna e se estende a todos os animais grandes, girafas, elefantes e pelicanos. Após um comentário de Hans sobre o enraizamento de seu <faz-pipi>, que o menino espera ver crescer junto com ele, Freud explica que os animais grandes lhe dão medo porque o remetem à dimensão atual e insatisfatória de seu órgão peniano. Quanto ao enraizamento, ele seria uma resposta à ameaça de castração, expressa muito antes pela mãe e cujo efeito se manifesta, assim, a posteriori, no momento em que a inquietação do menino aumentou, depois de feito o anúncio oficial sobre a ausência do <faz-pipi> nas mulheres.

BUTT-BASH: “Certa manhã, Hans dá conta de sua incursão noturna à cama dos pais explicando que havia em seu quarto uma grande girafa e uma girafa amassada. A grande, diz ele, gritou que eu tinha tirado dela a amassada. Depois ela parou de gritar, e aí eu me sentei em cima da girafa amassada.” “Freud acrescenta que o <sentar-se> sobre a girafa amassada representa uma <tomada de posse>, baseada numa fantasia de desafio ao pai e na satisfação de menosprezar sua proibição, tudo isso revestindo-se do medo de que a mãe ache o <faz-pipi> do menino muito pequeno, em comparação ao do pai.”

CARROCAVALO: “A fobia se declara quando a angústia, que originalmente nada tinha a ver com os cavalos, transpõe-se para esses animais” “quando menor, Hans tivera paixão por cavalos, vira um de seus coleguinhas cair de um cavalo e se lembrava da história de um cavalo branco que era capaz de morder os dedos.”

Hans ganhou mais liberdade com o pai, chegando a querer mordê-lo, prova de que o identificara com o tão temido cavalo. Mas isso não impediu que o medo dos cavalos persistisse.”

Ayrton Senna era a potência do brasileiro. Não tinha pra francês, alemão, nem gringo nenhum. Ayrton Senna era o Pelé dos motores de milhares de cavalos, e comia até a Xuxa depois dele! Trono ocupado. Não tinha o direito de morrer com um parafuso na cabeça.

Por que não compras uma limousine logo? Vamos de furgão para o casamento (almoço grátis de rico).

A mãe, momentaneamente esquecida, voltou ao primeiro plano, por intermédio de fantasias excrementícias e reações fóbicas à visão de calças amarelas e pretas.”

Seguiram-se então a fantasia do bombeiro, que furava o estômago de Hans com uma broca, e o medo de tomar banho numa banheira grande. A fantasia do bombeiro, fantasia de procriação, encontraria sua significação mais tarde, ao ficar claro que o menino nunca havia acreditado na história da cegonha, e ficara zangado com o pai por lhe contar essas mentiras.”

Parece que, para Hans, os veículos, assim como os ventres das mães, eram carregados de filhos-excrementos: a queda dos cavalos, tal como a dos <lumfs> [cocô], era a representação de um nascimento, e Freud sublinha, nessa oportunidade, o caráter significante da expressão <deitar cria>. O cavalo que cai, portanto, não é apenas o pai que morre, mas também a mãe que dá à luz.”

Nascer já é entrar pelo cano (ou escapamento). Fu-[cadê]ligem. foolimage

Diversamente dos outros casos princeps [que chic] expostos por Freud, o do pequeno Hans não foi objeto de nenhuma revisão historiográfica exaustiva. Entretanto, deu margem a numerosas leituras críticas.”

Num primeiro momento, enquanto era impensável abordar tão de perto a lendária <inocência infantil>, os psicanalistas fizeram desse caso o paradigma de todos os processos de psicanálise de crianças. Foi preciso esperar que os primeiros passos fossem dados nesse campo por Hermine von Hug-Hellmuth, e sobretudo aguardar a revolução efetuada por Melanie Klein, para que essa concepção fosse ultrapassada no movimento psicanalítico.”Ultrapassada mas não muito: Klein, como diz Deleuze, segue na triangulação simbólica estúpida do “comboio papá-Dick / estação mamã”.

Lacan dedicou a segunda parte de seu seminário do ano de 1956-1957, intitulado A relação de objeto, ao caso do pequeno Hans. Seu objetivo era elaborar uma clínica lacaniana da análise de crianças, da qual Jenny Aubry e Françoise Dolto eram as grandes mestras, que fosse capaz de rivalizar com a escola inglesa, enriquecida pelas contribuições contraditórias de Melanie Klein, Anna Freud e Winnicott. Para Lacan, a fobia de Hans sobreviera com a descoberta de seu pênis real e com seu conseqüente pavor de ser devorado pela mãe, investida de uma onipotência imaginária. A fobia, portanto, só podia ser ultrapassada, senão curada, pela intervenção do Pai real (Max Graf), apoiada pelo Pai simbólico (Freud), que teve como efeito separar o menino da mãe e garantir seu avanço do imaginário para o simbólico. Lacan interpretou os mitos dos animais que funcionaram na análise em termos lévi-straussianos. Longe de buscar em cada um deles uma significação particular, ele os relacionou uns com os outros, a fim de captar a reiteração do semelhante num sistema. O cavalo, portanto, ora remete ao pai, ora à mãe, e funciona como elemento significante, isolado do significado. A torção que com isso Lacan imprime à teoria freudiana do Édipo está ligada a sua concepção do declínio da função paterna na sociedade ocidental, que ele expusera em 1938 em seu artigo sobre a família.” Alguns não percebem o quão atrasados estão.

Em 1987, o psicanalista francês Jean Bergeret relacionou as dificuldades de Hans com as que o próprio Freud teria conhecido na infância. Observando que os dois únicos textos que Freud não publicou em vida (o que ele dedicara aos personagens psicopáticos no palco, cujo manuscrito entregou a Max Graf no começo da análise de Hans, e o que foi encontrado e publicado por Ilse Grubrich-Simitis sob o título de Neuroses de transferência: uma síntese) têm em comum o tema da violência irrepresentável, indizível, produzida por uma incitação sexual precoce demasiadamente intensa, Bergeret defendeu a hipótese de que a análise do Pequeno Hans teria sido construída com base na denegação de um trauma conhecido.”

Estudiosos da vida de Max Graf classificam-no como “bom pai porém péssimo marido”. Como o que Lacan faz é aumentar a responsabilidade da mãe na psicopatia desta criança, isso só aumentou a polêmica e controvérsia sobre a psicanálise do Pequeno Hans.

Em 1996, Peter L. Rudnytsky, um professor universitário norte-americano, propôs considerar o caso do Pequeno Hans mais como um exemplo de terapia de família do que como a análise de uma criança. Sua abordagem do caso referiu-se às teses feministas desenvolvidas, em especial, por Luce Irigaray. Ela o conduziu a discernir nessa análise os elementos fundamentais da concepção freudiana da diferença sexual e da sexualidade feminina, que apareceria sob sua forma definitiva em 1933, nas Novas conferências introdutórias sobre psicanálise.”

Em 1922, Freud acrescentou um <epílogo> a seu texto de 1909; nele, relatou brevemente a visita, naquele mesmo ano, de um rapaz que se apresentara a ele como sendo o Pequeno Hans. Para Freud, essa visita constituiu, antes de mais nada, um contundente desmentido das sinistras previsões enunciadas na época da análise. Ele se felicitou pelo fato de o rapaz ter conseguido superar as dificuldades inerentes ao divórcio e às segundas núpcias de seus pais e, finalmente, observou que Hans/Herbert esquecera tudo de sua análise, inclusive a própria existência dela.”

Embora, na época, a análise do Pequeno Hans fosse um assunto freqüentemente evocado nessas reuniões das noites de quarta-feira, Max Graf não faz a menor alusão a ela. É mais prolixo no que concerne ao que o psicanalista holandês Harry Stroeken propôs chamar de <a relação entre a família Graf e Freud>. Assim ficamos sabendo, entre outras coisas, que Freud, que se associava com facilidade aos festejos familiares dos Graf, levou para o Pequeno Hans, de presente por seu 3o aniversário, um… cavalo de balanço!”

Em suas Memórias, Herbert Graf manifesta, no ocaso da vida, um fervor e uma admiração pelo pai que impressionam ainda mais pelo fato de ele não dizer uma só palavra sobre a mãe ao longo dessas quatro entrevistas. Essa clivagem parece ilustrar bem o que foi a vida do Pequeno Hans quando transformado em adulto, caracterizada pelo contraste entre seu sucesso profissional e seus fracassos afetivos. Com efeito, Herbert Graf conheceu, na juventude, por intermédio do pai, tudo o que Viena tinha a oferecer em matéria de personalidades do mundo artístico da época. Gustav Mahler foi seu padrinho, enquanto Arnold Schönberg (1874-1951), Richard Strauss (1864-1949) e Oskar Kokoschka (1886-1980) estiveram entre os freqüentadores da casa dos Graf.” “ele defendeu uma tese sobre a cenografia wagneriana que lhe valeu o reconhecimento oficial da família do autor dos Mestres cantores. Depois de se arriscar sem sucesso na arte lírica, assumiu a direção cênica da Ópera de Münster.”

Ao lado dessa brilhante carreira, pontilhada por alguns textos audaciosos e sempre atuais sobre a questão da ópera popular, a vida particular de Herbert Graf parece ter sido balizada por sofrimentos. Ao contrário da apreciação de Freud, ele parece nunca se haver refeito por completo do choque causado pelo divórcio e pelas segundas núpcias de seus pais.Atormentado por conflitos conjugais, retomou uma análise com Hugo Solms, que o incitou, em 1970, quando se realizou em Genebra um congresso de psicanálise, a ir se apresentar a Anna Freud, visita esta que não teve nenhuma conseqüência.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Brigitte e Jean Massin (orgs.), História da música ocidental (Paris, 1985), Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1998.

Graf, Max

Tornando-se musicólogo, Max Graf redigiu duas obras sobre Richard Wagner. A segunda, consagrada ao Navio fantasma, foi publicada por Freud em 1911, na série Schriften zur angewandten Seelenkunde. Tradutor de Romain Rolland e de várias obras de história da música, Max Graf tentou a composição mas renunciou rapidamente, a conselho de Johannes Brahms (1833-1897). Ensinou história da música e estética musical em Viena, e quando de seu exílio nos Estados Unidos, durante o período nazista, na New School for Social Research em Nova York, e na Universidade de Filadélfia. Max Graf interveio também no campo da política, como editorialista da Neue Frei Press.”

Em 1908, Max Graf dirigiu, sob a supervisão de Freud, a análise de seu filho Herbert. O relato do caso seria publicado no ano seguinte. Uma frase de Freud, em uma carta de 2 de fevereiro de 1910 a Carl Gustav Jung, faz pensar que depois da análise do filho, Max Graf conduziu o segundo tratamento de sua mulher: <Eu consideraria a análise da própria mulher como absolutamente impossível. O pai do Pequeno Hans me provou que isso funciona muito bem. A regra técnica da qual suspeito há pouco tempo, superar a contratransferência’, se torna, apesar de tudo, excessivamente difícil nesse caso.>”Posteriormente, o casal se divorciou e Max Graf se casaria de novo por duas vezes.

Em seu livro A oficina interior do músico, publicado em 1910, ele se inspirou nas teses freudianas para explicar certas diferenças entre o classicismo e o romantismo na história da música. Em sua opinião, o compositor romântico deixa falar em si os vestígios de sua infância, enquanto o músico clássico domina seu inconsciente.” “Deixou muitas obras consagradas à vida musical vienense.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Max Graf, Die innere Werkstatt des Musikers, Stuttgart, Ferdinand Encke, 1910; ______., Richard Wagner im “Fliegenden Holländer”, Leipzig e Viena, Franz Deiticke, 1911;

______., “Réminiscences sur le professeur Freud” (1942), Tel Quel, 88, 1981, 52-101 (artigo);

______., “Entretien du père du petit Hans avec Kurt Eissler”, 16/12/1952, Le Bloc-notes de la psychanalyse, 14, 1996, 123-159 (artigo);

André Michel, Psychanalyse de la musique (1951), Paris, PUF, 1984.

Grandes Controvérsias ou “Casos de família”

Após a destruição das sociedades psicanalíticas do continente pelo nazismo, a BPS tornou-se o último bastião da psicanálise na Europa. Entre 1933 e 1939, ela acolheu inúmeros imigrantes, dentre os quais os vienenses, inclusive a família Freud. Ora, desde 1926, a escola vienense (em especial os partidários de Anna Freud) opunha-se a Melanie Klein e seu grupo, que representavam a corrente majoritária da escola inglesa.

Adeptos de uma concepção dita ortodoxa (ou continental) da psicanálise, os annafreudianos pretendiam ser os porta-vozes da tradição do pai fundador: um freudismo clássico, centrado na primazia do patriarcado, no complexo de Édipo, nas defesas e na clivagem do eu, na neurose e numa prática da psicanálise de crianças ligada à pedagogia.

Frente a esse freudismo, que já deslizava para o annafreudismo, os freudianos chamados kleinianos eram os artífices de uma clínica moderna das relações de objeto, centrada nas psicoses e nos distúrbios narcísicos, nos fenômenos de regressão, nas relações arcaicas e inconscientes com a mãe e na exploração do estágio pré-edipiano.

Entretanto, as Controvérsias não opuseram apenas o kleinismo ao annafreudismo. Também puseram em cena um caso de família. Filha de Melanie Klein e analisada na infância pela mãe, Melitta Schmideberg havia iniciado o combate contra esta antes da chegada dos vienenses a Londres, então apoiada por Edward Glover, um dos fundadores da BPS. Conservador e não-conformista, este passara a defender, em oposição ao annafreudismo e ao kleinismo, um <outro> freudismo: o da primeira geração inglesa, que iria desaparecer com a guerra. (…) middle group (…) os grandes clínicos da segunda geração inglesa (Winnicott, John Bowlby), que aceitavam tanto o freudismo quanto o kleinismo, mas recusavam a se curvar a quaisquer dogmas.”

Inicialmente kleiniano, John Rickman, reformador da psiquiatria inglesa, defendeu então o middle group, antes de ser violentamente atacado por Glover. Através dessa outra controvérsia opuseram-se igualmente duas concepções da psicanálise: uma (a de Glover) avessa a qualquer psicologização do freudismo, outra (a de Rickman) derivada do pragmatismo adaptativo, o qual, convém dizer, levaria a algumas aberrações.”

Durante 4 anos, as Controvérsias dilaceraram a BPS. A cisão foi evitada por pouco, ao preço da demissão espetacular de Glover, da emigração de Melitta Schmideberg para os Estados Unidos e da demissão de Anna Freud do training committee. O grupo britânico organizou-se então em torno do reconhecimento oficial de três tendências: os annafreudianos, os kleinianos e os Independentes (o antigo middle group).”

Publicadas em 1991, sob os cuidados de Pearl King & Riccardo Steiner, as Grandes Controvérsiassão um dos mais apaixonantes documentos de arquivo da história do freudismo.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Pearl King e Riccardo Steiner (orgs.), Les Controverses Anna Freud/Melanie Klein, 1941-1945 (Londres, 1991), Paris, PUF, 1996.

Groddeck

Groddeck, que Freud qualificou um dia de <soberbo analista>, e que reivindicava para si o título de <analista selvagem>, tinha o temperamento de um Wilhelm Fliess ou de um Wilhelm Reich.” “Thomas Mann se inspirou nele para criar o personagem do doutor Edhin Krokovski em A montanha mágica.”

Groddeck abalou o conformismo dos discípulos de Freud, manteve com este uma relação de fascínio e de rejeição, para compartilhar depois com Ferenczi uma longa cumplicidade fundada em uma crença comum nos benefícios <maternantes> da natureza biológica do homem. Com sua doutrina, foi o inventor de uma medicina psicossomática de inspiração psicanalítica, da qual se alimentariam posteriormente, sem confessar, muitos herdeiros de Freud.”

Nascido em Bad Kösen, Georg Groddeck era filho de Carl Theodor Groddeck, médico conceituado que dirigia um estabelecimento de banhos salinos. Depois dos acontecimentos de 1848, este redigira um livro ultraconservador, De morbo democratico nova insaniae forma(A doença democrática, uma nova espécie de loucura), que passava por ter marcado a obra nietzschiana. O autor assimilava a idéia democrática a um flagelo, a uma epidemia capaz de <contaminar> a Europa e fazer desaparecer nos indivíduos qualquer forma de consciência de si. Essa tese, que também se encontrava entre os sociólogos das multidões e notadamente em Gustave Le Bon (1841-1931), fazia de Carl Theodor Groddeck um partidário do chanceler Bismarck.” Bismarck foi um dos sacos de pancada favoritos de Nietzsche…

A mãe de Georg, Caroline, era filha de August Koberstein, historiador conhecido por seus trabalhos sobre a literatura alemã. Ela o admirava tanto que educou seus 5 filhos de maneira fria e distante, no culto ao avô venerado. Georg sofreu com essa educação e com esse poder materno que, a seus olhos, eclipsava a figura do pai.” Se ficar a vagina dentada come, se correr o pai enraba.

À sua maneira, combatia, como Freud, o niilismo terapêutico de uma medicina exclusivamente centrada no diagnóstico (DV), sem nenhuma compaixão pelo sofrimento do paciente. Como ele, procurava apreender o ser humano em sua totalidade. Daí a escolha de uma medicina psicossomática atenta à fala do sujeito.

Em 1913, em Nasamecu, Groddeck prestou uma vibrante homenagem ao ensino de Schweninger, fazendo simultaneamente considerações higienistas que coincidiam com as teses conservadoras de seu pai. Na mais pura tradição da hereditariedade-degenerescência e da crença nos valores do sangue e da nação, reivindicava a idéia de uma <pureza das raças> e propunha que todo cidadão alemão casado com um estrangeiro fosse despojado de seus direitos civis. Em 1929, nas Lebenserinnerungen(Lembranças de vida), lamentou sua atitude de então e a corrigiu, sem nunca renunciar à utopia higienista que a sustentava.”

Logo de saída, Groddeck interpretou sua hostilidade pela psicanálise como uma expressão de inveja em relação a seu fundador. Depois, aproximou-se das teses psicanalíticas sobre a resistência, a sexualidade e a transferência, mas preservando a originalidade de seu percurso. Foi então que uma espécie de desafio se instaurou entre ambos. Quanto mais Groddeck se dirigia a Freud como um discípulo que esperava do mestre aprovação e reconhecimento de sua singularidade, mais Freud se comportava como soberano preocupado antes de tudo em fazer esse recém-chegado ingressar na <horda selvagem>:<Certamente, eu lhe daria um grande prazer se o expulsasse para longe de mim, para o lugar onde estão os Adler, Jung e outros. Mas não posso fazer isso. Devo afirmar que você é um soberbo analista, que apreendeu a essência da coisa, e não pode mais perdê-la. Aquele que reconhece que transferência e resistência são os eixos do tratamento, queira ou não, pertence irremediavelmente à horda selvagem. E não faz diferença que ele chame o inconsciente de ‘isso’>.”

No Sanatório de Baden-Baden, Groddeck recebia pacientes que sofriam de todo tipo de doenças orgânicas, para os quais a medicina da época era impotente. A fim de fazê-los participar de seu próprio tratamento, teve a idéia, a partir de 1916, de fazer conferências para eles e de criar uma revista, a Satanarium, na qual podiam expressar-se em pé de igualdade com o terapeuta. Groddeck tratava de câncer, úlceras, reumatismo, diabete, pretendendo encontrar no aspecto da doença a expressão de um desejo orgânico. Assim, via em um bócio um desejo infantil e no diabete um desejo do organismo de ser adoçado [faz TODO o sentido…]. Na mesma perspectiva, sexualizava os órgãos do corpo, situando o nervo óptico no lado da masculinidade e as cavidades cardíacas no lado da feminilidade.” A vontade O conhecimentintelecto

Em contato com a psicanálise, Groddeck modificou as suas teorias e levou em consideração a eficácia simbólica do tratamento pela fala. Mas conservou o essencial de sua doutrina do isso e decidiu exprimi-la por métodos narrativos originários da literatura.

Em 1921, publicou um <romance psicanalítico>, O pesquisador de almas, no qual contava a epopéia de um homem transfigurado pela revelação de seu inconsciente e perseguindo pelo mundo percevejos e <imagens de alma>. Freud admirou o estilo picaresco do autor, que lhe lembrava o Dom Quixote de Cervantes. Entretanto, a obra causou escândalo, sobretudo para o pastor Oskar Pfister, que a julgou excessivamente rabelaisiana.”

O Livro d’Isso TAMBÉM é uma ficção!

Com essa hostilidade pela religião do pai, e em nome de uma busca messiânica da feminilidade, única capaz de salvar a humanidade, Groddeck rejeitava a judeidade por razões opostas às de Weininger. Mas a problemática era a mesma: por um lado, o judeu era assimilado a uma mulher e todo o mal da civilização vinha da feminilidade, por outro lado, ele encarnava o mal ao recalcar os benefícios do feminino.

Do ponto de vista clínico, Groddeck prenunciava os pós-freudianos, que se interrogavam sobre a origem das psicoses, a natureza da bissexualidade e as formas pré-edipianas da relação com a mãe. Daí a proximidade de seu percurso com o dos culturalistas americanos, especialistas em esquizofrenia, como Harry Stack Sullivan.”

Os grandes representantes freudianos da medicina psicossomática, como Franz Alexander e Alexander Mitscherlich, não conservaram nada da doutrina groddeckiana, considerada extravagante e incompatível com o desenvolvimento da biologia moderna. E foi na França, entre 1975 e 1980, que esse personagem romântico foi finalmente exumado, graças ao imenso trabalho de seu tradutor, Roger Lewinter, que teve de enfrentar uma polêmica injusta sobre o pretenso racismo de seu herói.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Georg Groddeck, Un Problème de femme (Leipzig, 1903), Paris, Mazarine, 1979;

______., “Le Double sexe de l’Être humain” (1931), Nouvelle Revue de Psychanalyse, 7, primavera, 1973, 193-9;

______., La Maladie, l’art et le symbole, Paris, Gallimard, 1969;

______., Ça et Moi. Lettres à Freud, Ferenczi et quelques autres (Wiesbaden, 1970), Paris, Gallimard, 1977;

François Roustang, Um destino tão funesto (Paris, 1977), Rio de Janeiro, Taurus, 1987;

Jacquy Chemouni, “Psychopathologie de la démocratie”, Frénésie, 10, primavera de 1992, 265-82.

Gross, Otto

As relações de Freud com Fliess e Hermann Swoboda mostram até que ponto a história do movimento psicanalítico foi marcada, principalmente no início, por uma temática do plágio, do roubo de idéias, da droga e da loucura. O caso Otto Gross, como os que envolveram Tausk e Sabina Spielrein, é um dos episódios mais violentos.”“Otto Gross era filho do jurista Hans Gross (1847-1915), um dos fundadores da criminologia. Desde a infância, apresentou sinais de desequilíbrio mental, aos quais o pai, muito rígido, não soube dar nenhuma resposta. Sonhando fazer do filho um adepto de suas teorias sobre as características antropológicas dos criminosos, orientou-o para os estudos psiquiátricos. Mas logo depois de seu doutorado, Otto Gross embarcou como médico de bordo nos navios da linha Hamburgo-América do Sul. À procura de identidade, usou diversas drogas: cocaína, ópio, morfina. Ao voltar, depois de vários estágios em clínicas neurológicas de Munique e de Graz, submeteu-se a um primeiro tratamento de desintoxicação na clínica do Hospital Burghölzli, onde trabalhava Jung, sob a direção de Bleuler”

Foi através desse culto, e pregando o imoralismo sexual, que Gross militou pela psicanálise. Nessa época, era amante de ambas as irmãs Richthofen.¹ Em 1906, em Ascona, foi envolvido no suicídio de Lotte Chattemer, uma militante anarquista. Era suspeito de ter fornecido drogas à jovem e tê-la estimulado a matar-se. Em 1907, três anos depois de seu primeiro encontro com Freud, publicou uma obra, A ideogenidade freudiana e sua significação na alienação maníaco-depressiva de Kraepelin, na qual relacionava o conceito freudiano de clivagem (Spaltung) com o de dissociação de Kraepelin. Propunha substituir o termo dementia praecox por dementia sejunctiva, tomado ao psiquiatra Karl Wernicke (1848-1905), para designar a idéia de disjunção, abrindo assim o caminho para a idéia bleuleriana de esquizofrenia. Um ano depois, a pedido de seu pai, foi internado na Clínica do Burghölzli, para um segundo tratamento de desintoxicação.”

¹ Uma delas, Else Freiin von R., ex-esposa do sociólogo Edgar Jaffé, contemporâneo de Weber, do qual também foi parceira, bem como do seu irmão Alfred Weber! A outra, Frieda Freiin, se tornaria a Sra. Lawrence, ou seja, casada com D.H.! Mundo pequeno…

Nenhum dos astros da <esquerda freudiana> — de Reich a Fenichel — prestaria homenagem a essa figura maldita da revolta anti-autoritária. Foram escritores como Max Brod (1884-1968), Blaise Cendrars (1887-1961) e principalmente Franz Kafka (1883-1924), mais sensível que outros à relação pai/filho), que saudaram a memória daquele que tanto perturbara a ordem moral do freudismo incipiente, e cuja obra refletiu o transtorno sofrido pela sociedade ocidental na virada do século: <Mal conheci Otto Gross, mas senti que algo de importante estendia a mão para mim, sobre um fundo de ridículo. O ar desorientado de sua família e de seus amigos (a mulher, o cunhado e até o bebê misteriosamente silencioso no meio dos sacos de viagem — para que não caísse da cama quando ficasse sozinho — que bebia café preto, comia frutas e tudo o que lhe davam) me fazia pensar no desamparo dos discípulos do Cristo aos pés do crucificado.>

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Martin Burgess Green, The Von Richthofen Sisters: The Triumphant and the Tragic Modes of Love: Else and Frieda Von Richthofen, Otto Gross, Max Weber, and D.H. Lawrence, in the Years 1870–1970

Guattari

Félix Guattari pertencia à quarta geração psicanalítica francesa.” “Psicólogo de formação, participou da história do movimento psicanalítico de 3 maneiras: como psicanalista lacaniano, como terapeuta ligado à experiência da psicoterapia institucional realizada na Clínica de La Borde, em Cour-Cheverny, sob a direção de Jean Oury, e enfim como co-autor de várias obras escritas com o filósofo Gilles Deleuze [sequer verbetizado por ROUDINESCO, tsc!], entre as quais O anti-Édipo, que foi, em 1972, o verdadeiro manifesto de uma antipsiquiatria à francesa e teve um estrondoso sucesso [contradito por outros verbetes].”

ALORS… “Os dois autores criticavam o edipianismo freudiano que, em sua opinião, encerrava a libido plural da loucura em um quadro excessivamente estreito, de tipo familiar. Para sair desse impasse <estrutural>, eles se propunham a traduzir a polivalência do desejo humano em uma conceitualidade adequada. Daí a idéia de opor à psicanálise freudiana e lacaniana, articulada em torno da prioridade do Édipo e do significante, uma psiquiatria materialista fundada na <esquizo-análise>, isto é, na possível liberação dos fluxos desejantes. Nascido de um ensino oral dado por Deleuze na Universidade de Paris-VIII (1969-1972)[percebe-se por que é uma escrita tão caótica e despida de rigor, cof, cof] e de uma escrita a dois, O anti-Édipo tomava assim como alvo maior o conformismo psicanalítico de todas as tendências, anunciando com vigor o esgotamento trágico do lacanismo dos últimos tempos.” 47 anos e contando…

Halberstadt, Sophie, née Freud (1893-1920), filha de Freud

Seu nome foi escolhido em homenagem a Sophie Schwab, uma bela mulher que era sobrinha de Emil Hammerschlag, ex-professor de hebraico de Freud.”

Era Freud patriarca tirânico, compulsivamente apegado ao amor de suas filhas, e não suportava o casamento de Sophie, depois do de Mathilde, a tal ponto que Ferenczi diagnosticou nele um ‘complexo de Sophie’, exortando-o a aceitar normalmente essa perda.” “Em 1924, Fritz Wittels quis demonstrar que a teorização de Freud sobre a noção de pulsão de morte em Mais-além do princípio do prazer era o contragolpe da dor sentida com a morte de Sophie.” “o <menino do carretel> [filho de Sophie], que aliás esqueceu o episódio contado pelo avô em Mais-além do princípio do prazer, foi o único descendente masculino da família Freud que se tornou psicanalista.”

Heimann, Paula (EX-kleiniana)

NOVIDADE… “Em 1949, entrou em conflito com Melanie Klein a propósito da publicação de seu artigo sobre a contratransferência. Sentindo-se tratada <como escrava>, rebelou-se e foi rejeitada implacavelmente pelos kleinianos. Reuniu-se então ao Grupo dos Independentes.”

Herbart, Johann Friedrich

Sucessor de Immanuel Kant na cátedra de Königsberg em 1809 e aluno de Fichte, Herbart foi um dos fundadores da psicologia moderna. Em sua principal obra, A psicologia como ciência fundada na experiência, na metafísica e na matemática, tentou fundar uma ciência do homem sobre o ensino das ciências naturais, do associacionismo inglês e do idealismo especulativo alemão.”

hereditariedade-degenerescência

Proveniente do darwinismo social, o termo hereditariedade-degenerescência invadiu, no fim do século XIX, todos os campos do saber, desde a psiquiatria até a biologia, passando pela literatura, filosofia e criminologia. Encontramos grandes vestígios dele nas teorias da sexualidade de Richard von Krafft-Ebing, na nosografia de Emil Kraepelin, nas teses de Cesare Lombroso sobre o <criminoso nato>, nas de Gustave Le Bon sobre a psicologia das massas e de Georges Vacher de Lapouge sobre o eugenismo, e também nas obras de Hippolyte Taine (1828-1893) sobre a Revolução Francesa, no romance À rebours, de Karl Huysmans (1848-1907), lançado em 1884, no de Émile Zola intitulado Le Docteur Pascal, 1893, e, acima de tudo, no mesmo ano, no célebre livro de Max Nordau (1849-1923) chamado Degenerescência, que impregnou toda a geração dos judeus vienenses atormentados pela questão do <ódio judeu de si> e da bissexualidade.”

A doutrina da hereditariedade-degenerescência teve, na França, um destino particular na história da implantação do freudismo, em virtude da eclosão do caso Dreyfus em 1894, da irrupção de uma vigorosa corrente germanófoba e da constituição, através das diversas teorias psicológicas, sobretudo a de Pierre Janet, de um modo de resistência à psicanálise de natureza chauvinista, xenófoba e anti-semita. Daí a tentativa da primeira geração psicanalítica francesa de elaborar um freudismo <nacional>, livre de sua pretensa <barbárie alemã>.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Patrick Wald Lasowski, Syphilis, Paris, Gallimard, 1982.

Hesnard, Angelo

publicou com Regis a famosa obra A psicanálise das neuroses e das psicoses, verdadeiro manifesto germanófobo em favor de uma latinização da psicanálise, que seria considerada como o primeiro texto de implantação das teses freudianas na França pela via médica.”

A trajetória de Hesnard não se parece nem com a de Édouard Pichon, apóstolo também do afrancesamento da psicanálise e membro da Ação Francesa, nem com a de René Laforgue, que não foi chauvinista e <fracassou> em sua colaboração com os nazistas, e tampouco com a de Georges Mauco, que foi o único psicanalista francês a ser ao mesmo tempo anti-semita ativo e colaboracionista adepto do nazismo. Entretanto, a prosa chauvinista de Hesnard não está isenta de certos vestígios de anti-semitismo, como mostra seu artigo Sobre o israelismo de Freud, redigido entre novembro de 1942 e maio de 1943, e publicado em 1946, em que o filo-semitismo proclamado, em nome de uma psicologia dos povos, faz pensar irresistivelmente no bom e velho discurso do anti-semitismo francês. Na verdade, a defesa da pretensa superioridade da <raça latina> era de fato a confissão de um anti-semitismo que não ousava dizer o seu nome e tomava como alvo a Kultur alemã, julgada inferior à civilização francesa.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Hesnard, L’Oeuvre de Freud et son importance dans le monde moderne, Paris, Payot, 1960;

Sandor Ferenczi, “A psicanálise vista pela escola psiquiátrica de Bordéus” (1915), in: Psicanálise II, Obras completas, 1913-1919;

Édith Félix-Hesnard, Le Docteur Hesnard et la naissance de la psychanalyse en France, tese de doutorado em filosofia, Universidade de Paris I, 1984.

hipnose

Em 1784, no exato momento em que, em Paris, a teoria do magnetismo animal de Franz Anton Mesmer era condenada pelos especialistas da Academia de Ciências e da Real Sociedade de Medicina, o marquês Armand de Puységur (1751-1825) demonstrava, em sua cidadezinha de Buzancy, a natureza psicológica e <não-fluídica> da relação terapêutica, substituindo o tratamento magnético por um estado de <sono desperto> ou <sonambulismo>. Em especial, ele observou que Victor Race (seu <paciente>), longe de cumprir suas ordens, antecipava-se a elas e chegava até a impor sua vontade a seu magnetizador pelas palavras, pela verbalização de seus sintomas, sem experimentar nenhuma crise convulsiva. Foi assim que, às vésperas da Revolução de 1789, nasceu a idéia de que um mestre (um cientista, um médico ou um nobre) podia ser cerceado no exercício de seu poder por um sujeito capaz de falar, mesmo que este lhe fosse inferior (um criado, um doente, um camponês, etc.).

Em 1813, o abade José Custódio de Faria (1756-1819) retomou a mesma idéia, depois de haver participado do movimento revolucionário. Criticando todas as teorias do <fluido>, inaugurou em Paris um curso público sobre o <sono lúcido> e demonstrou que era possível fazer os sujeitos adormecerem, concentrando a atenção deles num objeto ou num olhar. O sono, portanto, não dependia do hipnotizador, mas do hipnotizado. Em 1845, Alexandre Dumas fez do abade Faria um personagem lendário em seu romance O conde de Montecristo.”

Progressivamente libertos do <fluido>, os magnetizadores da primeira metade do século XIX começaram a praticar um hipnotismo espontâneo, provocando estados sonambúlicos nos doentes nervosos. Esse método de exploração favorecia a revelação de segredos patogênicos nocivos, enterrados no inconsciente e responsáveis pelo mau estado psíquico dos sujeitos.

A partir de 1840, espalhou-se pela Europa e Estados Unidos uma grande onda de espiritismo. Entre as mulheres que se transformavam em videntes, dotadas de personalidades múltiplas, e os médicos que hesitavam em acreditar numa possível comunicação com o além, o hipnotismo permitiu conferir um estatuto racional à relação terapêutica. James Braid (1795-1860), que introduziu a palavra, refutou definitivamente a teoria fluídica em prol de uma explicação de tipo fisiológico, e substituiu a técnica mesmeriana dos <passes> pela fixação num objeto brilhante, na qual Faria já havia pensado.”

A querela entre essas duas escolas, que teve por pivô fundamental a questão da histeria, durou uns bons dez anos. Enquanto Charcot assimilava a hipnose a um estado patológico, a uma crise convulsiva, e utilizava o hipnotismo para retirar a histeria da simulação e lhe conferir o estatuto de neurose, Bernheim a considerava um processo normal. Assim, via no hipnotismo uma técnica de sugestão que permitia tratar dos pacientes. Reatando com o projeto de instituir uma terapia fundamentada numa pura relação psicológica, ele abriu caminho para a expansão das diversas psicoterapias da segunda psiquiatria dinâmica. Foi por isso que acusou Charcot de <fabricar> histéricas através da sugestão.” “Simultaneamente marcado pelo ensino de Charcot e pelo de Bernheim, Freud logo abandonou a hipnose em favor da catarse, como mostram os Estudos sobre a histeria.”

Com a expansão do freudismo teve início o declínio do hipnotismo. Mas sua prática nem por isso desapareceu. Recorreu-se a ele entre 1914 e 1918, no momento do primeiro conflito mundial, para tratar os sintomas histéricos dos soldados atingidos pelas neuroses de guerra. Além disso, a cada crise do movimento psicanalítico, a questão da hipnose e de seu possível retorno voltou a se colocar. Assediados por suas origens, diversos psicoterapeutas formados no freudismo tenderam, ao longo de todo o século XX, a retornar ao hipnotismo, fosse para demonstrar a existência de um resíduo de sugestão no interior da relação transferencial, fosse para denunciar os impasses terapêuticos do tratamento freudiano clássico, fosse ainda para afirmar, numa ótica revisionista, que Freud não teria inventado nada de novo e se haveria deixado ludibriar por simuladoras em estado de hipnose.”

Na França, a técnica do <sonho acordado dirigido>, de Jacques Desoille, foi um derivado do hipnotismo e da sugestão, do mesmo modo que o training autógeno de Johannes Schultz, na Alemanha.”

histeria

Derivada da palavra grega hystera (matriz, útero), a histeria é uma neurose caracterizada por quadros clínicos variados. Sua originalidade reside no fato de que os conflitos psíquicos inconscientes se exprimem de maneira teatral e sob a forma de simbolizações, através de sintomas corporais paroxísticos (ataques ou convulsões de aparência epiléptica) ou duradouros (paralisias, contraturas, cegueira).

As duas principais formas de histeria teorizadas por Freud foram a histeria de angústia, cujo sintoma central é a fobia, e a histeria de conversão, onde se exprimem através do corpo representações sexuais recalcadas. A isso se acrescentam duas outras formas freudianas de histeria: a histeria de defesa, que se exerce contra os afetos desprazerosos, e a histeria de retenção, onde os afetos não conseguem se exprimir pela ab-reação.” “A expressão histeria traumática pertence ao vocabulário clínico de Jean Martin Charcot e designa uma histeria consecutiva a um trauma físico.”

a histeria permanece como a doença princeps e proteiforme que possibilitou não apenas a existência de uma clínica freudiana, mas também o nascimento de um novo olhar sobre a feminilidade.”

Entre uma cidade e outra, a histeria do fim de século fez estremecer o corpo das européias, sintoma de uma rebelião sexual que serviu de motor para sua emancipação política: <A histeria não é uma doença>, sublinhou Gladys Swain [psiquiatra francesa contemporânea, bastante crítica da epistemologia da loucura de Foucault], <mas a doença em estado puro, aquela que não é nada em si, mas é passível de assumir a forma de todas as demais. É mais estado do que acidente: o que torna a mulher doente por essência.>

Em seu Timeu, Platão retomou a tese hipocrática, sublinhando que a mulher, diferentemente do homem, trazia em seu seio um <animal sem alma>. Próximo da animalidade: assim foi, durante séculos, o destino da mulher, e mais ainda da histérica.

Na Idade Média, sob a influência das concepções agostinianas, renunciou-se à abordagem médica da histeria e a palavra em si quase deixou de ser empregada. As convulsões e as famosas sufocações da matriz eram consideradas a expressão de um prazer sexual e, por conseguinte, de um pecado. Por isso, foram atribuídas a intervenções do demônio: um demônio enganador, capaz de simular doenças e entrar no corpo das mulheres para <possuí-las>. A histérica tornou-se a feiticeira, redescoberta de maneira positiva no século XIX porJules Michelet (1798-1874).

No Renascimento, médicos e teólogos disputaram o corpo das mulheres. Em 1487, com a publicação do Malleus maleficarum, a Igreja católica romana e a Inquisição dotaram-se de um manual aterrador, que permitia <detectar> os casos de bruxaria e mandar para o carrasco todos os seus representantes, mais particularmente as mulheres.Durante mais dois séculos, a caça às bruxas fez inúmeras vítimas, embora a opinião médica tentasse resistir a essa concepção demoníaca da possessão. Assim, o médico alemão Jean Wier (1515-1588) tentou, no século XVI, opor-se ao poder da Igreja, e assumiu a defesa das <possuídas>, sublinhando que elas não eram responsáveis por seus atos e que era preciso considerar toda sorte de convulsivas como doentes mentais. Em 1564, na Basiléia, em plena guerra religiosa, Wier publicou um livro, Da impostura do diabo, que teve grande repercussão. Os teólogos viram nele a marca do demônio e por pouco o autor conseguiu evitar as perseguições, graças a proteções principescas.Gregory Zilboorg consideraria Jean Wier o pai fundador da primeira psiquiatria dinâmica.”

Henri Ellenberger sublinhou que foi em 1775 que se efetuou a passagem do sagrado para o profano, data em que Mesmer obteve sua grande vitória sobre o exorcista Josef Gassner (?-1779), ao demonstrar que as curas obtidas por este decorriam do magnetismo.”

uma histeria masculina, que Charles Lepois (1563-1633), um médico francês originário da cidade de Nancy, foi o primeiro a estabelecer, em 1618. A hipótese cerebral conduziu a uma <dessexualização> da histeria, sem pôr fim à velha concepção da animalidade da mulher. Entretanto, no século XVII, pôde-se invocar, em vez da antiga sufocação da matriz, o papel das emoções, dos <vapores> e dos <humores>, a ponto, aliás, de confundir numa mesma entidade a histeria e a melancolia

Neurose. Esse termo, que faria fortuna, fôra introduzido em 1769 por um médico escocês, William Cullen (1710-1790). Ele incluía nessa categoria as afecções mentais sem origem orgânica, qualificando-as de <funcionais>, isto é, sem inflamação nem lesão do órgão em que aparecia a dor. Essas afecções, portanto, eram doenças nervosas.”

Ligando o hipnotismo e a neurose, Charcot devolveu dignidade à histeria. Não somente abandonou a tese da presunção uterina, a ponto de se recusar a levar oficialmente em conta a etiologia sexual, como também, fazendo da doença uma neurose, libertou as histéricas da suspeita de simulação.”

as massas trabalhadoras eram chamadas de histéricas quando entravam em greve, enquanto as multidões eram remetidas a seus <furores uterinos> quando ameaçavam a ordem estabelecida.”

Nos Estudos sobre a histeria, obra magistral, tanto por sua contribuição teórica quanto pela exposição clínica dos casos patológicos, propuseram-se os grandes conceitos de uma nova apreensão do inconsciente: o recalcamento, a ab-reação, a defesa, a resistência e, por fim, a conversão, graças à qual tornou-se possível compreender como uma energia libidinal se transformava numa inervação somática, numa somatização dotada de uma significação simbólica.”

Mesmo que, na infância, elas houvessem sofrido abusos ou violências, o trauma já não servia como explicação exclusiva sobre a questão da sexualidade humana. Ao lado da realidade material, afirmou Freud, existia uma realidade psíquica igualmente importante em termos da história do sujeito.”

As epidemias histéricas do fim do século XIX contribuíram de tal maneira para o nascimento e a difusão do freudismo, que a própria noção de histeria desapareceu do campo da clínica. Não apenas os doentes não mais apresentaram os mesmos sintomas, uma vez que eles tinham sido claramente reconhecidos e desvinculados de qualquer simulação, como também, quando porventura esses sintomas ressurgiam, já não eram classificados no registro da neurose, mas no da psicose: começou-se então a falar de psicose histérica, termo que Freud havia descartado, e depois esta foi misturada à nova nosografia bleuleriana da esquizofrenia. A partir de 1914, ninguém mais ousou falar em histeria, a tal ponto a palavra foi identificada com a própria psicanálise.

Em seguida, na França, o movimento surrealista reivindicou a expressão <beleza convulsiva>, para fazer da histeria o emblema de uma arte nova, enquanto Jules de Gaultier inventava a noção de bovarismo para designar uma neurose narcísica de conotação melancólica (e marcante conteúdo histérico).”

Quanto à idéia de personalidade histérica, herdada da de personalidade múltipla, fez fortuna a partir da década de 1960, quando começaram os grandes debates norte-americanos e ingleses sobre a Self Psychology e os borderlines.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Gladys Swain, Dialogue avec l’insensé, Paris, Gallimard, 1994;

______., Le sujet de la folie: Naissance de la psychiatrie, 1977;

Swain & Gauchet, La pratique de l’esprit humain. L’institution asilaire et la révolution démocratique, Paris, Gallimard, 1980.

história da psicanálise

Na África, apenas um pioneiro, Wulf Sachs, emigrado da Rússia, conseguiu formar um grupo, que depois veio a se desfazer. Neste final do século XX, um novo grupo está em vias de reconstituição (na África do Sul, depois do fim do apartheid).”

Em Israel, Max Eitingon e Moshe Wulff fundaram (na Palestina) uma sociedade psicanalítica, enquanto, no Líbano, libaneses e franceses de origem libanesa criaram, em 1980, a Sociedade Libanesa de Psicanálise (SLP).”

Na China, após um movimento de higiene mental e reforma dos manicômios marcado pela introdução da terminologia de Kraepelin e as teses de Adolf Meyer, o regime comunista impediu, depois de 1949, qualquer implantação da psicanálise.”

No sul, 5 Estados instauraram novas monarquias, ao mesmo tempo em que continuavam subordinados ao Império Otomano: a Bulgária, a Romênia, a Sérvia, a Grécia e Montenegro.Nesses países de fronteiras incertas, as minorias judaicas eram importantes, mas não existiu um movimento de reforma passível de favorecer a implantação do saber psiquiátrico e a afirmação de uma nova visão da loucura. Em conseqüência disso, neles a psicanálise permaneceu como um fenômeno marginal, ligado a uns poucos pioneiros que se abriam para a cultura do Ocidente.”

Houve uma exceção: a Península Ibérica (Espanha e Portugal). No começo do século, ela era a única parte da Europa ocidental a ter conservado um regime monárquico tradicional, embora em visível declínio. Não se mostraria uma terra acolhedora para a psicanálise, e os partidários desta emigrariam para a América Latina por ocasião da guerra civil (1936-1938).”

Nascida no coração do Império Austro-Húngaro, portanto, a psicanálise seduziu, inicialmente, uma primeira geração de pioneiros de língua alemã, provenientes de todos os cantos da Mitteleuropa e, de modo geral, oriundos de um meio de comerciantes ou intelectuais judeus. Entre 1902 e 1913, ela veio então a conquistar 3 <terras prometidas> (ou Estados democráticos) onde se haviam desenvolvido, segundo o ideal da ética protestante, os princípios gerais da psiquiatria dinâmica: Suíça, Grã-Bretanha e Estados Unidos.”

A vitória do stalinismo, na Rússia, e do nazismo, na Alemanha, modificou as modalidades de implantação e organização da psicanálise na Europa. Entre 1933 e 1941, os freudianos da primeira e segunda gerações deixaram a Europa em ondas sucessivas: russos e húngaros refugiados na Alemanha e na França desde 1920, alemães caçados pelo nazismo, italianos e espanhóis perseguidos pelo fascismo e pelo franquismo, e austríacos após a ocupação das tropas alemãs. A partir de 1939, os suíços instalados na França retornaram a seu país, alguns franceses abandonaram a terra natal (como Marie Bonaparte) e outros se esconderam ou interromperam qualquer atividade pública.”

Note-se que as ditaduras militares não impediram a expansão da teoria psicanalítica na América Latina (em especial no Brasil e na Argentina). Isso se deveu à natureza delas, diferente da encontrada nos outros dois sistemas (stalinismo e nazismo) que destruíram a Europa. Os regimes de tipo caudilhista nunca instauraram um plano de eliminação do freudismo como <ciência judia>, como aconteceu na Alemanha entre 1933 e 1944, nem como <ciência burguesa>, como se deu na União Soviética entre 1945 e 1989.”

historiografia

Os primeiros trabalhos históricos sobre a psicanálise foram redigidos pelo próprio Freud primeiro em 1915, sob a forma de um longo artigo, intitulado A história do movimento psicanalítico, e depois em 1925, através de uma autobiografia, chamada Um estudo autobiográfico.

Esses dois textos, de grande qualidade literária, mostram que Freud, apesar de muito atento à ciência histórica, não conseguiu desvincular-se, para contar seu próprio destino e o de seu movimento, de um modelo historiográfico arcaico, baseado no mito da autogeração da psicanálise por seu valoroso fundador:ela teria nascido de seu próprio cérebro, distante das doutrinas pré-científicas características da época anterior. No primeiro caso, Freud, travando batalhas contra dois dissidentes (Adler e Jung), apresenta-se como pai de uma doutrina que ele pretendia gerir. No segundo, escreve uma Bildung na mais pura tradição alemã, segundo a qual o autor traça seu itinerário intelectual.”

Foi depois da II Guerra Mundial que realmente nasceu a historiografia psicanalítica, impulsionada por Ernest Jones, o primeiro grande autor a biografar Freud. Seu magistral livro em 3 volumes, publicado entre 1952 e 1957 e apoiado em arquivos inéditos e parcialmente compilados por ele, bem como por Siegfried Bernfeld e Kurt Eissler, permitiu que começássemos a traçar a história do freudismo.” “verdadeiro problema dessa biografia está em ela ter sido escrita por um homem que foi, ao mesmo tempo, um cronista a serviço de um rei, o líder de um movimento político e um adversário da maioria dos atores cuja saga narrou.Jones quis ser Saint-Simon, depois de haver desempenhado, sucessivamente, os papéis de Joinville, Richelieu e Fouché. (…) Não apenas se mostrou de uma injustiça flagrante com Otto Rank, Sandor Ferenczi ou Wilhelm Reich, como também situou mal a importância de Wilhelm Fliess e suas teorias na história das origens imediatas do freudismo.Além disso, como bom estrategista político, dissimulou os acontecimentos passíveis, a seu ver, de tirar o brilho da imagem do movimento psicanalítico: os suicídios, os extravios, as loucuras e as transgressões. Por último, Jones mascarou ou não reconheceu os erros terríveis que cometeu, sobretudo frente ao nazismo, ao pôr em prática sua política de um pretenso <salvamento> da psicanálise.”

Em 1972, com seu livro Freud: vida e agonia, uma biografia, Max Schur corrigiu a versão jonesiana, apresentando uma imagem mais vienense do mestre, que então começou a emergir sob a aparência de um cientista ambivalente, angustiado pela morte e hesitante entre o erro e a verdade. Schur revelou pela primeira vez a existência de Emma Eckstein.”

Henri Ellenberger: Sua História da descoberta do inconsciente, com efeito, foi a primeira a introduzir o longo prazo na aventura freudiana e a mergulhar a psicanálise na história da psiquiatria dinâmica.”

Quanto à historiografia dissidente, ela surgiu em 1971, com a publicação de Freud e seus discípulos, de Paul Roazen. Nascido em 1936, o autor abandonou a história oficial para se tornar o cronista da memória oral do movimento. Com a ajuda de depoimentos de sobreviventes, construiu uma prosopografia do meio psicanalítico: redes de poder, filiações, etc. Acima de tudo, Roazen foi o primeiro a dar lugar plenamente aos discípulos cujo destino a história oficial havia ocultado ou deturpado: Hermine von Jugh-Hellmuth, Victor Tausk e Ruth Mack-Brunswick.”

Ora, a política de retenção [dos arquivos confidenciais na Biblioteca do Congresso, em Washington] conduzida por Eissler, com a concordância de Anna Freud, iria revelar-se catastrófica, como sublinhou o historiadorPeter Gay: <A opção pelo sigilo, à qual Eissler esteve e continua muito firmemente ligado, só pode incentivar a proliferação dos mais extravagantes boatos sobre o homem (Freud) cuja reputação ele quer proteger.>

Em vez de abrirem os arquivos a historiadores profissionais, Eissler e Anna Freud decidiram confiar a Jeffrey Moussaïeff Masson, aluno brilhante e devidamente analisado dentro do serralho, o estabelecimento da correspondência entre Fliess e Freud. Pois bem, em meio a suas pesquisas, o feliz eleito transformou-se num contestador radical não somente da legitimidade oficial, mas da própria doutrina freudiana. Sonhando-se profeta de um freudismo <revisto>, passou a acreditar que a América tinha sido corrompida por uma mentira freudiana original. Assim, afirmou que as cartas de Freud revelavam que este havia abandonado a teoria da sedução por covardia. Não ousando revelar ao mundo as atrocidades cometidas pelos adultos com crianças inocentes (estupros, maus-tratos, incestos forçados, etc.), ele teria inventado a teoria da fantasia e, por conseguinte, seria um falsário.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Janet Malcolm, Tempête aux Archives Freud (N. York, 1984), Paris, PUF, 1986.

Hollitscher, Mathilde, née Freud (1887-1978), filha de Freud

FREUD SEMPRE PIEGAS: “Quando nasceu, seu nome foi escolhido em homenagem a Mathilde Breuer, esposa de Josef Breuer.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Stefan Zweig, Le Monde d’hier

homossexualidade

a figura do homossexual, desde Oscar Wilde (1856-1900) até Marcel Proust (1871-1922), no final do século, enquanto progredia o anti-semitismo, foi acolhida como um equivalente do judeu”

Ao ódio do judeu por si mesmo corresponde o ódio do homossexual por si mesmo.”Hans Mayer

Em sua interpretação do mito de Édipo Freud nunca pensou em evocar o episódio <homossexual> de Laio: quando rei de Tebas, ele havia raptado o belo Crísipo. Hera, protetora do casamento, ficara escandalizada com isso e havia mandado a Esfinge aos tebanos para puni-los por terem sido demasiadamente tolerantes para com essa relação culpada.”

com respeito às mulheres, empregavam-se os termos safismo ou lesbianismo, numa referência a Safo, a poetisa grega da ilha de Lesbos que era adepta do amor entre as mulheres; quanto aos homens, falava-se de uranismo, pederastia, sodomia, neuropatia, homofilia, etc.”

Sob a pressão de Jones e dos berlinenses, os membros do Comitê cederam — inclusive Ferenczi e Freud. Assim, a homossexualidade foi banida da legitimidade freudiana, a ponto de ser novamente considerada uma <tara>.”Comitê secreto do meu pau fumando charuto.

LÁ VEM A MONSTRINHA FEIOSA: “Anna Freud desempenhou um grande papel na deturpação das teses de seu pai. Estando ela mesma sob a suspeita do meio psicanalítico de manter uma ligação <culpada> com Dorothy Burlingham, Anna militou contra o acesso dos homossexuais à análise didática.Apoiada por Jones e pelo conjunto das sociedades norte-americanas da IPA, exerceu nesse campo uma influência considerável, que não foi contrabalançada pela corrente kleiniana, mais liberal,mas pela qual a homossexualidade (latente ou consumada) era vista, sobretudo em sua versão feminina, como uma identificação com um pênis sádico, e, em sua versão masculina, como um distúrbio esquizóide da personalidade.”

TOMA JARARACA: “o lacanismo foi, na França e, mais tarde, nos países onde se implantou, a ponta de lança de uma reativação da tolerância freudiana para com a homossexualidade. Essa tolerância se prendia à própria personalidade de Lacan. Libertino e sedutor das mulheres, leitor de Sade e de Bataille e grande admirador da obra de Foucault, ele não tinha nenhum preconceito em relação às diversas formas da sexualidade humana.”

Horney, Karen

Desde a juventude, Karen dedicou um amor total à mãe e rejeitou o pai, que não queria que ela estudasse, desejando que se consagrasse aos trabalhos domésticos. Como todas as mulheres de sua geração, teve de enfrentar uma luta violenta para ter acesso à liberdade de fazer suas próprias escolhas. Apoiada pela mãe, conseguiu matricular-se na faculdade de medicina de Freiburg.”

valorizaria sempre o princípio da auto-análise contra o tratamento clássico, e consideraria um insulto às mulheres a teoria da sexualidade feminina [inveja do pênis]. Não há nenhuma dúvida de que, através de sua crítica à obra freudiana, atacava primeiro a maneira selvagem com que Abraham a tratara.”“foi a primeira mulher professora no Instituto Psicanalítico Berlinense e a primeira também a criticar a famosa tese freudiana sobre a feminilidade, respondendo a Abraham no congresso da IPA em Berlim, em 1922. (…) Em 1926, afirmou que a sociedade masculina recalcava a inveja da maternidade dos homens. Depois, em 1930, desenvolveu a tese segundo a qual a própria psicanálise, como obra do <gênio masculino>, não podia de forma alguma resolver a questão feminina.”

Em 1934, tornando-se companheira de Erich Fromm, que também emigrara, aceitou um lugar de professora na Sociedade Psicanalítica de Washington-Baltimore. Mas foi em Nova York que se instalou e, apesar da oposição violenta de Sandor Rado, foi eleita membro da New York Psychoanalytic Society (NYPS) em 1935, onde, durante vários anos, teve um sucesso considerável com os estudantes em seus cursos e publicações. Quando Marianne, sua filha, abraçou a carreira de psiquiatra, ela não hesitou em fazer, durante 4 anos, uma análise com Erich Fromm [ERRADO ERRADO ERRADO, PORRA!].”

Tornando-se célebre, Karen Horney mostrou-se então de um autoritarismo tão <masculino> quanto o que criticava nos homens, e é certamente esse amor de si que explica sua cegueira em relação a Göring. Como alguns psicanalistas homens, ela transgrediu as regras do tratamento, tendo uma ligação com um de seus analisandos.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

H., L’Auto-analyse (N. York, 1943), Paris, Stock, 1993.

Hug-Hellmuth, Hermine von, née Hug Von Hugenstein (1871-1924)

Fascinados com essa <doutora>, que era de uma ortodoxia sem falhas, Freud e seus fiéis não viram — ou não quiseram ver — que Hermine von Hug-Hellmuth aplicava as teses do mestre ao <caso> no seu jovem sobrinho, fazendo interpretações selvagens. (…) Nascido em 1906, Rolf Hug era filho natural de Antonia, irmã consangüínea de Hermine. Quando sua mãe morreu, foi enviado para uma ama, mudou DEZOITE VEZES de domicílio, e teve 4 tutores sucessivos, entre os quais Sadger [analista de Hermione]. Com a idade de 13 anos, acabou sendo acolhido pela tia. Esta tanto experimentou nele as teses freudianas que acabou vítima de sua cobaia. Em setembro de 1924, procurando roubar-lhe dinheiro e vendo que ela começava a gritar, Rolf a estrangulou, depois de sufocá-la com uma mordaça.” Interessante!

A comunidade psicanalítica vienense foi atingida por esse escândalo. Condenado a 12 anos de prisão, Rolf foi libertado em 1930 e apressou-se a ir pedir dinheiro a Paul Federn, então presidente da Wiener Psychoanalytische Vereinigung (WPV). Assim, queria ser indenizado por ter servido de material humano para as experiências interpretativas da tia. Como resposta, Edward Hirschmann o aconselhou a fazer um tratamento com Helene Deutsch.”

Realizado a partir das efetivas lembranças de infância de Hermine, oDiário foi apresentado ao público em 1919, por uma editora anônima, como o autêntico diário de uma verdadeira adolescente chamada Grete Lainer.O nome da autora era forjado sobre o da mãe de Hermine (Leiner). A obra era acompanhada de uma carta-prefácio de Freud, datada de 1915, na qual se podia ler que se tratava de uma jóia, mostrando a sinceridade de que era capaz a alma infantil no estado presente da civilização. O fato de que Freud se tenha deixado iludir por essa falcatrua, que ilustrava maravilhosamente suas teses, não impediu Cyril Burt, membro da British Psychoanalytical Society (BPS), de denunciá-la. Ele conhecia muito bem o assunto porque ele próprio recorrera ao uso de dados falsos para teorizar suas hipóteses sobre a hereditariedade da inteligência.” Malandro não engana malandro!

Depois da morte da autora, o caso do assassinato e do falso diário foi apagado dos anais do movimento freudiano, a tal ponto que, no fim do século XX, alguns psicanalistas ainda acreditavam que o homicídio e a falsificação foram calúnias difundidas pelos inimigos de Freud. Foi preciso esperar pelos trabalhos do historiador americano Paul Roazen, do historiador austríaco Wolfgang Huber (1931-1989), da psicóloga suíça Angela Graf-Nold e enfim do germanista francêsJacques Le Rider, para que o conjunto dos fatos fosse conhecido em seus mínimos detalhes.”

Na França, o Diário foi traduzido por Clara Malraux (1897-1982) e publicado em 1928 em versão resumida. Depois, foi reeditado integralmente em 1975, depois em 1987 e 1988.Em cada uma dessas ocasiões, foi apresentado, por psicanalistas pouco preocupados com a história, como o <verdadeiro> diário de uma <verdadeira> adolescente. No volume XII das Oeuvres complètes de Freud, realizado pela equipe de Laplanche & André Bourguignon (1920-1996) em 1988, o prefácio de Freud foi acompanhado de uma nota que não mencionava a reedição francesa de 1975 e confundia a edição vienense de 1919 com a de 1923.A autenticidade do Diário não era questionada, Cyril Burt foi tratado de falsificador e a história do assassinato não foi mencionada. Na edição de 1994, os autores corrigiram o erro.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Paul Roazen, Freud e seus discípulos (N. York, 1971), S. Paulo, Cultrix, 1978.

identificação

Na década de 60, Lacan consagrou um ano de seu Seminário à questão da identificação. Primeiramente, construiu seu conceito de traço unário, que, apesar de se inspirar no traço único da identificação regressiva de Freud, supera largamente seu conteúdo, uma vez que Lacan fundamenta nele sua concepção do um, esteio da diferença, que por sua vez é a base da identidade, distinta da abordagem lógica clássica que faz do um a marca do único. Daí, a partir da análise do cogito cartesiano, Lacan situa o fundamento da identificação inaugural, a do sujeito distinto do eu, no traço unário, essência do significante, que é o nome próprio.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Joseph Sandler (org.), Projection, identification, identification projective (Londres, Madison, 1988), Paris, PUF, 1991.

identificação projetiva (psicose)

Conceito introduzido em 1946 por Melanie Klein para designar um modo específico de projeção e identificação que consiste em introduzir a própria pessoa no objeto para prejudicá-lo.”

Foi numa comunicação sob o título de Notas sobre alguns mecanismos esquizóides, que Melanie Klein criou a noção. Ela vinculou esse mecanismo ao sadismo infantil: a criança não quer simplesmente destruir a mãe, porém apossar-se dela. <Isso leva a uma forma de identificação que estabelece o protótipo de uma relação de objeto agressiva.>

Em dado momento é necessário escolher a psicanálise que se quer seguir, pois o leque de opções torna qualquer aprendizado útil anti-intuitivo a essa altura do campeonato! Cisão cerebral face às cisões do movimento…:“A identificação projetiva de Klein é uma das modalidades da projeção no sentido freudiano, mas é também um mecanismo de natureza psicótica encontrado em todos os sujeitos.”

A melhor ilustração da natureza clínica da identificação projetiva encontra-se num artigo de 1955, que tem por título A propósito da identificação, no qual Melanie Klein comenta um romance de Julien Green, Se eu fosse você…, publicado em 1947. Nessa obra, o escritor conta a história de um Fausto moderno, Fabien, que faz um pacto com o diabo a fim de poder assumir a identidade das pessoas cuja vida quer viver. Assim, transforma-se indefinidamente num outro. No fim do livro, reintegra seu próprio corpo e morre apaziguado, junto de sua mãe. Klein vê no destino do herói uma tentativa dele superar suas angústias psicóticas, mas contesta o final feliz pretendido pelo autor: <A explicação desse fim abrupto não pode ser definitiva>.

Ao ler esse comentário, Julien Green ficou muito surpreso por constatar que Melanie Klein enxergara longe e tinha adivinhado o verdadeiro fim do romance. De fato, ele havia redigido uma primeira versão de Se eu fosse você…, pessimista, na qual Fabien, depois de voltar a ser ele mesmo, tornava a se encontrar com o diabo: <A história não acabava nunca, era o inferno.> Na segunda versão, ao contrário, reconciliou o herói com Deus e o fez morrer feliz.”

Klein e Joan Riviere constatam a ação de fantasias de identificação projetiva em diversos estados patológicos como a despersonalização e a claustrofobia.”

SOBRE A CONFUSÃO INERENTE AO TERMO MAL-CUNHADO: “Se Klein fala aqui de identificação, é na medida em que é a própria pessoa que é projetada.” “projeção do que é mau”

igreja

Freud apaixonou-se, tal como Jean Martin Charcot, pelas possessões demoníacas. Assim, em 1897, encomendou a seu editor o Malleus maleficarum, terrível manual publicado em latim em 1487 por Sprenger & Kramer utilizado pela Inquisição com a aprovação do papa Inocêncio VIII, para mandar para a fogueira as supostas feiticeiras. Mais tarde, em 1909, numa discussão com Hugo Heller durante uma reunião da Sociedade Psicológica das Quartas-Feiras, ele expôs suas idéias sobre a questão, fazendo do diabo uma personificação das pulsões sexuais recalcadas. Por fim, em 1923, publicou um artigo, Uma neurose demoníaca do século XVII, no qual estudou a história de Christopher Haitzmann, um pintor da Baviera que foi exorcizado depois de ter sido seduzido pelo diabo e tomado de convulsões. Nesse episódio, Freud contrastou os benefícios da psicanálise, capaz, a seu ver, de curar as neuroses, com as práticas religiosas e ocultas de antigamente, pouco compatíveis com o Aufklärung.”

a encíclica Rerum novarum, promulgada em 1891 pelo papa Leão XIII, valorizava as pesquisas científicas em detrimento do obscurantismo. Chegava até a incentivar os cristãos a elaborarem uma racionalidade passível de fazer frente, na Europa, ao advento dos modernos Estados leigos, cuja legitimidade seria preciso reconhecer um dia.”

América Latina, terra de escolha de uma teologia da libertação da qual surgiria mais uma interrogação sobre o marxismo e as novas formas de espiritualidade cristã. Durante 20 anos, entre 1955 e 75, alguns padres renunciaram ao hábito e se tornaram psicanalistas, outros exerceram a psicanálise sem tirar o hábito, e outros ainda, após a análise, viveram com mulheres ou praticaram clandestinamente uma homossexualidade até então recalcada.”

a Associação Médico-Psicológica de Ajuda aos Religiosos (AMAR), destinada ao clero regular, desempenhou um papel importante, não apenas orientando os candidatos ao sacerdócio para ordens que conviessem a sua personalidade, mas também difundindo um saber freudiano entre padres provenientes do mundo inteiro.”

Iniciado por Alexandre Kojève (1902-1968) e Alexandre Koyré (1892-1964) na história das religiões, fascinado como Bataille pelo misticismo feminino, e apaixonado pela arte barroca e pela grandeza do catolicismo romano, Lacan tinha consciência — em agosto de 1953, no momento da redação de sua famosa conferência sobre a função da fala e da linguagem — da expansão das idéias freudianas fora do meio médico. Por isso, voltou seu olhar para as duas instituições rivais que se abriam para a psicanálise nos anos 50: a igreja católica e o Partido Comunista Francês. Não hesitou em pedir a seu irmão, Marc-François Lacan (1908-1994), monge beneditino, que lhe conseguisse uma audiência com o papa. E, se o encontro não se deu, a EFP contou em suas fileiras com diversos jesuítas que lhe deixaram sua marca, dentre eles o grande historiador do misticismo Michel de Certeau (1926-1986).”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Michel David, La Psicoanalisi nella cultura italiana (1966), Turim, Boringheri, 1990;

Françoise Dolto, O Evangelho à luz da psicanálise, 2 vols. (Paris, 1977), Rio de Janeiro, Imago, 1979, 1981;

Roudinesco, Jacques Lacan. Esboço de uma vida, história de um sistema de pensamento (Paris, 1993), S. Paulo, Companhia das Letras, 1994;

Mélanie Arnal, Marc Oraison, l’Église et la psychanalyse (1914-1979), mestrado em história, Universidade Paris I, 1993-1994.

~^~Parabéns, você acaba de chegar à metade!~^~

imagem do corpo

Paul Ferdinand Schilder, A imagem do corpo (Londres, 1935), S. Paulo, Martins Fontes, 1994, 2ª ed.;

Françoise Dolto, A imagem inconsciente do corpo (Paris, 1984), S. Paulo, Perspectiva, 1992.

imaginário

Utilizado por Lacan a partir de 1936, o termo é correlato da expressão estágio do espelho e designa uma relação dual com a imagem do semelhante. Associado ao real e ao simbólico no âmbito de uma tópica, a partir de 1953, o imaginário se define, no sentido lacaniano, como o lugar do eu por excelência, com seus fenômenos de ilusão, captação e engodo.”

Foi inspirando-se ao mesmo tempo nos trabalhos do psicólogo Henri Wallon (1879-1962), na fenomenologia hegeliana e husserliana e no conceito de Umwelt, extraído de Jakob von Uexküll (1864-1944), que Lacan construiu sua primeira teoria do imaginário. Esse biólogo alemão servira-se do termo Umwelt para definir o mundo tal como vivido por cada espécie animal. No começo do século, revolucionara o estudo do comportamento (inclusive do sujeito humano), mostrando que o pertencimento a um meio devia ser pensado como a internalização desse meio em cada espécie. Daí a idéia de que o pertencimento de um sujeito a seu ambiente já não podia ser definido como um contrato entre um indivíduo livre e uma sociedade, mas sim como uma relação de dependência entre um meio e um indivíduo.”

Num primeiro momento, Lacan mostrou que o estágio do espelho era a passagem do especular para o imaginário, e depois, em 1953, veio a definir o imaginário como um engodo ligado à experiência de uma clivagem entre o eu (moi) e o eu (je, o sujeito). [AH NÃO!] O simbólico foi então definido como o lugar do significante e da função paterna, o imaginário como o das ilusões do eu, da alienação e da fusão com o corpo da mãe, e o real como um resto impossível de simbolizar. Lacan conferiu ao simbólico, até 70, um lugar dominante em sua tópica. A ordem das instâncias era esta: S.I.R. Depois dessa data, ele construiu uma outra organização, centrada na primazia do real (e portanto, da psicose), em detrimento dos outros dois elementos. S.I.R. transformou-se então em R.S.I.” E quando vem o fecho da trilogia, o I.S.R. ou I.R.S?? Lacan parece ter feito como Freud: passou a vida se retificando para no final… chegar a lugar nenhum?!

Para Lacan só existe semelhante – outro que seja eu – porque o eu é originalmente um outro

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Lacan., O Seminário, livro 2, O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise (1954-1955) (Paris, 1978), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1985;

______., O Seminário, livro 3, As psicoses (1955-1956) (Paris, 1981), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1988, 2a. ed.;

______., O Seminário, livro 4, A relação de objeto (1956-1957) (Paris, 1994), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1995;

______., Le Séminaire, livre XXII, R.S.I. (1974-1975), inédito; (meio-recomendado)

Bertrand Ogilvie, Lacan. A formação do conceito de sujeito (Paris, 1987), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1988;

imago

Sempre dependentes do mundo dos artistas para preencher seus vácuos empíri(CO²)nceituais: “Foi em 1906 que o escritor suíço Carl Spitteler (1845-1924) publicou seu romance Imago, que obteve sucesso considerável no seio da comunidade psicanalítica nascente. Simultaneamente marcado pelo nietzscheanismo e pelo espiritualismo pós-romântico, o autor contava a história de um poeta (Viktor) que inventava para si uma mulher imaginária (Imago), conforme a seus desejos, para fazê-la ocupar em suas fantasias e devaneios o lugar da burguesa bastante real e muito conformista a quem ele amava com um amor infeliz.” “Jung cunhou a noção de imago (paterna ou materna) a partir da leitura desse romance. Sob sua pena, o termo evoluiria para dar origem à anima ou arquétipo característico da parte feminina da alma do sujeito.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Carl Gustav Jung, Métamorphoses de l’âme et ses symboles (Leipzig-Viena, 1912, Paris, 1931), Paris, Buchet-Chastel, 1953.

incesto

Na totalidade das sociedades conhecidas, à exceção de alguns casos, dentre eles os faraós do Egito ou a antiga nobreza havaiana, o incesto sempre foi severamente castigado e, mais tarde, proibido. (…) Três argumentos foram invocados pelos antropólogos e sociólogos para explicar a existência dessa proibição. Lewis Morgan (1818-1881) sublinhou que ela era uma maneira de proteger a sociedade dos efeitos nefastos da consangüinidade. Havelock Ellis e Edward Westermarck (1862-1939) afirmaram em seguida que a proibição se explicava pelo sentimento de repulsa ante o ato incestuoso. Por fim, Durkheim propôs compreendê-la como a sobrevivência de um conjunto de regras que impunham às sociedades a lei da exogamia.” “Depois das disputas entre Bronislaw Malinowski e Geza Roheim, foi preciso esperar pela publicação de As estruturas elementares do parentesco, por Claude Lévi-Strauss, em 1949, para que o problema da proibição fosse colocado de outra maneira que não num quadro evolucionista ou através de uma oposição entre culturalismo e universalismo. Em vez de buscar a gênese da civilização numa hipotética renúncia dos homens à prática do incesto (horror ao ato), ou, ao contrário, de contrastar com essa gênese o florilégio da diversidade das culturas, Lévi-Strauss mostrou que a proibição do incesto consumou a passagem da natureza para a cultura: <Ela não é nem puramente de origem cultural nem puramente de origem natural. E tampouco é uma dosagem de elementos compósitos, parcialmente retirados da natureza e parcialmente da cultura. Nesse sentido, ela pertence à natureza, pois é uma condição geral da cultura, e, por conseguinte, não há por que nos surpreendermos por vê-la extrair da natureza seu caráter formal, isto é, a universalidade.>

SIGISMUNDO ADÃO ESTÁ IMUNE: “a partir de 1925, os discípulos de Freud transpuseram para a IPA a regra da proibição do incesto, proibindo, sob pena de expulsão, as práticas endogâmicas: proibição de analisar membros da própria família ou de uma mesma família (filhos, pais, cônjuges, sobrinhos, sobrinhas); proibição de qualquer forma de relação sexual ou mesmo afetiva com os pacientes; e proibição de misturar a análise com a vida privada, analisando, por exemplo, um amante ou uma amante.Naturalmente, muitas vezes essas regras foram transgredidas, justamente por aqueles que se colocavam como mestres da virtude. Todavia, sua existência nunca foi questionada por nenhuma instituição freudiana, qualquer que fosse sua tendência.

Com Marie Bonaparte, Freud teve a oportunidade de abordar a questão da proibição do incesto no terreno clínico. Em seu Diário, na data de 28 de abril de 1932, a princesa anotou que seu filho, Pedro da Grécia (1908-1979), então em análise com Rudolph Loewenstein, escrevera-lhe uma carta em que lhe confidenciava sua tentação do incesto: <Se eu passasse a noite contigo, talvez isso me curasse.>

Para ser realmente livre e, portanto, feliz na vida amorosa, é preciso ter superado o respeito pela mulher e ter se familiarizado com a representação do incesto com a mãe ou a irmã.” Freud, 1912 – se não REIficar, não descabaçará.

Se Freud não tivesse compreendido que a exigência da proibição internalizada era o único contrapeso possível para a decadência igualmente necessária da antiga autoridade paterna e, em outras palavras, para o advento das sociedades modernas, ele nunca poderia ter elaborado uma doutrina em que a transgressão, o desejo e a proibição mantivessem tamanha relação de proximidade.”

#TítulosdeLivros(Sugestões)

Eunuco mental // Eunuco da cabeça de cima // Eunuco da primeira cabeça // Estranho no ninho // O hermafrodita que não conheceu um útero // A cada um seu cálice // A mula eunuca // O cavaleiro eunuco

DIL & DANTE

Diletant/pis

BIBLIOGRAGIA SUGERIDA:

Marie Bonaparte, Cahiers noirs, 1925-1939, inédito (arquivos Élisabeth Roudinesco);

Françoise Héritier, Les Deux soeurs et leurs mères. Anthropologie de l’inceste, Paris, Odile Jacob, 1994.

inconsciente

Conceitualmente empregado em língua inglesa pela primeira vez em 1751 (com a significação de inconsciência), pelo jurista escocês Henry Home Kames (1696-1782), o termo inconsciente foi depois vulgarizado na Alemanha, no período romântico, e definido como um reservatório de imagens mentais e uma fonte de paixões cujo conteúdo escapa à consciência.”

[o termo] foi incluído [como substantivo] no Dictionnaire de l’Académie Française [somente] em 1878.”

GANHO EPISTEMOLÓGICO, PERDA METAFÍSICA: “Caberá, nesse caso, falarmos de uma dissociação do conceito de inconsciente? Embora Freud insistisse na manutenção do inconsciente como eixo essencial de sua nova conceituação, algumas correntes do freudismo (o annafreudismo e a Ego Psychology) interpretaram a [infame] segunda tópica, progressivamente, num sentido redutor, privilegiando a parte consciente do eu.” “Outras correntes — as representadas por Melanie Klein ou Karen Horney — conservaram o inconsciente freudiano no centro de suas concepções, porém deslocando sua atenção para a relação arcaica com a mãe, em detrimento da sexualidade e do pólo paterno.”

eu, eu de novo e o isso

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Von Hartmann, Filosofia do inconsciente, 1868;

Jean Laplanche, O inconsciente e o id (Paris, 1981), S. Paulo, Martins Fontes, 1992.

incorporação [Majin Boozices]

Termo introduzido por Freud em 1915 (As pulsões e suas vicissitudes) para designar um processo pelo qual um sujeito faz com que um objeto penetre, fantasisticamente, no interior de seu corpo.”

Independentes, Grupo dos

Enquanto as bombas alemãs iluminavam o céu londrino e destroçavam os prédios da capital, os confrontos ou Grandes Controvérsias campeavam entre os representantes dos 2 clãs da psicanálise. A discussão dizia respeito a questões teóricas e à formação dos analistas. No fim da guerra, essa batalha epistemológica foi encerrada com um lady’s agreement, laboriosamente negociado, que estipulava a livre escolha de sua formação por cada candidato, com a obrigação de que ele fizesse uma segunda supervisão conduzida por um supervisor não-pertencente a nenhum dos dois grupos.”

Sob mais de um aspecto, o desenvolvimento desse Grupo dos Independentes inscreveu-se na tradição filosófica e política inglesa, que se caracteriza pela recusa das categorias totalizadoras e da militância doutrinária. Podemos resumi-la com o lema adotado pela nação britânica quando ela se libertou do autoritarismo católico: Nada de entusiasmo, se Deus quiser! A originalidade desse grupo, único no mundo, está em ele haver conseguido fazer escola, graças à qualidade de seus clínicos e a seus trabalhos sobre a relação de objeto e a contra-transferência.”

A partir da década de 80, a calma restabelecida favoreceu a integração do Grupo dos Independentes. Ele acabou mesmo dominando as instituições, sem contudo obscurecer por completo as idéias de Klein [que pena], que continuaram muito presentes, sobretudo na Tavistock Clinic. Mas os apaziguamentos e concessões também tiveram como conseqüência o enfraquecimento da exigência teórica, o que favoreceu o retorno à psicologia e à psicossociologia, muito distintas da conceituação freudiana.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Éric Rayner, Le Groupe des “Indépendants” et la psychanalyse britannique (Londres, 1990), Paris, PUF, 1994;

Donald Woods Winnicott, Lettres vives (Londres, 1987), Paris, Gallimard, 1989.

Índia

A Índia foi o primeiro país da Ásia, e o único com o Japão, em que a prática institucional da psicanálise pôde se implantar, aliás de maneira muito reduzida, em um contexto cultural não-ocidental.”

Era na província de Bengala, onde o colonialismo inglês estava instalado desde 1757, que estava localizado o maior número de instituições relativas à educação, à medicina e ao urbanismo, e ali os primeiros psicanalistas indianos começaram a tratar de pacientes também indianos. Todos pertenciam à elite ocidentalizada, adepta dos costumes e do saber europeus.”

Berkeley-Hill promovia, ao contrário, um diferencialismo de tipo colonial, afirmando, por exemplo, que o sujeito indiano se distinguia estruturalmente do sujeito ocidental por uma patologia especificamente anal.”

Nacionalista moderado, Bose conduzia os tratamentos em bengali, usava roupas indianas e mantinha distância das modas de pensamento ocidentais. Assim, ao invés de procurar universalizar a questão edipiana, criando uma modalidade específica de complexo, como propunha Heisaku Kosawa com o mito de Ajase,preferiu estudar a relação do sujeito com a mãe, abstraindo o pai. Nessa perspectiva reivindicava menos as teses kleinianas do que a cultura do hinduísmo, povoada de uma multidão de divindades femininas e masculinas que exerciam a autoridade através de uma identidade fluida e mal-definida.”

T.C. Sinha, e depois Sudhir Kakar e o antropólogo Stanley Kurtz redefiniram por sua vez o culturalismo indiano, dando-lhe como missão resistir à mundialização das formas de saber oriundas do Ocidente, inclusive o universalismo freudiano.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Roger-Pol Droit, L’Oubli de l’Inde. Une amnésie philosophique, Paris, PUF, 1989; Stanley Kurtz, All the Mothers are One. Hindu, India and the Cultural Reshaping of Psychoanalysis, N. York, Columbia University Press, 1992.

Inibições, sintomas e angústia

Livro de Freud, publicado em alemão, em 1926, sob o título Hemmung, Symptom und Angst. Traduzido para o francês pela primeira vez em 1951, por Paul Jury (1878-1953) e Ernest Fraenkel, sob o título Inhibition, symptôme et angoisse, depois em 1965, por Michel Tort, sem modificação do título, e por último em 1992, por Joël & Roland Doron, também sem alteração do título. Traduzido para o inglês em 1927, por Pierce Clark (et al.), sob o título Inhibition, Symptom and Anxiety, depois em 1935, por Bunker, sob o título The Problem of Anxiety [!], e novamente em 1936, por Alix Strachey, sob o título Inhibitions, Symptoms and Anxiety. Esta última tradução foi retomada por James Strachey, com algumas modificações, em 1959.”

O sintoma pode estar ou não ligado a uma inibição e, em geral, é o substituto de uma satisfação pulsional não-ocorrida: tal como o sonho e o ato falho, é uma formação de compromisso entre as representações recalcadas e as instâncias recalcadoras. Assume formas particulares, de acordo com o tipo de patologia: conversão, na histeria, e deslocamento para um objeto externo [PAI], na fobia.

Freud distingue 5 funções sujeitas a inibições: função sexual, alimentação, locomoção, trabalho social e inibições específicas. A inibição sexual masculina assume 4 formas: impotência psíquica, falta de ereção, ejaculação precoce e falta de ejaculação. A inibição sexual feminina decorre essencialmente da histeria (assim como a inibição da marcha). A inibição no trabalho tanto remete à histeria quanto à neurose obsessiva.”

A compulsão a comer é motivada pela angústia da inanição; essa questão, todavia, tem sido pouco estudada. O sintoma do vômito é conhecido como uma defesa histérica contra a alimentação. A recusa do alimento, decorrente da angústia, é própria dos estados psicóticos (delírios de envenenamento).”

Freud responde, em particular, às teses desenvolvidas por Rank em O trauma do nascimento.”: “O fato de o homem ter em comum com os outros mamíferos o processo do nascimento, ao passo que tem em relação aos animais o privilégio de uma predisposição particular para a neurose, não depõe em favor da doutrina de Rank. Mas a objeção principal continua a ser a de que essa doutrina paira no ar em vez de se apoiar numa observação sólida. Não dispomos de nenhum bom estudo que estabeleça uma relação incontestável entre um nascimento difícil e prolongado e o desenvolvimento de uma neurose.” Sempre achei que trauma do nascimento fosse um meme

Sejam quais forem suas qualidades clínicas, Inibições, sintomas e angústia é o livro mais fraco de Freud.Isso decorre da recusa do autor a vincular a questão da angústia às interrogações da filosofia moderna. Assim é que, em seu prefácio, Freud emite sobre a filosofia colocações bastante genéricas: Sou hostil à fabricação de visões de mundo.” “A noção de angústia, no sentido da angústia existencial, é mais bem-explicitada por Freud em textos que não versam diretamente sobre esse assunto, como O estranho

Na figura do duplo ou do autômato, suspeita-se de que um ser aparentemente inanimado esteja vivo e se presume que um objeto sem vida seja animado.”

ele efetivamente mostrou que a angústia surge quando o sujeito é confrontado com a <falta da falta>, ou seja, com uma alteridade onipotente (pesadelo, duplo alienante, estranheza inquietante) que o invade a ponto de destruir nele qualquer faculdade de desejar.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Wilhelm Stekel, Os estados nervosos de angústia e seu tratamento, 1908;

Jacques Lacan, Le Séminaire, livre X, L’Angoisse(1962-1963), inédito;

Jean Kestemberg, Evelyne Kestemberg & Simone Decobert, La Faim et le corps. Une étude psychanalytique de l’anorexie mentale, Paris, PUF, 1972.

intelectualização

Um dos textos mais explícitos é o de Anna Freud, que descreve a intelectualização no adolescente como um mecanismo de defesa, mas considera-o como a exacerbação de um processo normal pelo qual o ego tenta <dominar as pulsões ligando-as a idéias com que se pode conscientemente jogar…>

O termo intelectualização é empregado sobretudo para designar uma modalidade de resistência encontrada no tratamento. Esta é mais ou menos patente, mas constitui sempre um meio de evitar as implicações da regra fundamental. É assim que determinado paciente só apresenta os seus problemas em termos racionais e gerais (diante de uma escolha amorosa, dissertará sobre os méritos comparados do casamento e do amor livre). Outro, embora evoque bem a sua história, o seu caráter, os seus conflitos próprios, formula-os imediatamente em termos de uma reconstrução coerente que pode até ir buscar na linguagem psicanalítica (p.ex.: invocando a sua <oposição à autoridade>, em vez de falar das suas relações com o pai).” “certos pacientes parecem fazer <bom trabalho> analítico e aplicar a regra, relatando recordações, sonhos e mesmo experiências afetivas. Mas tudo se passa como se falassem segundo um programa e procurassem comportar-se como analisandos-modelos, apresentando eles próprios suas interpretações e evitando assim qualquer irrupção do inconsciente ou qualquer intervenção do analista, percebidas como perigosas intrusões.”

CONTRA-JUSSARA: “O termo intelectualização refere-se à oposição, herdada da psicologia das <faculdades>, entre intelectual e afetivo. Ameaça levar, uma vez denunciada a intelectualização, a uma valorização excessiva da <vivência afetiva>no tratamento analítico, confundindo este com o método catártico.”

International Psychoanalytical Association (IPA)

Entre 1925 e 1933, mudou radicalmente de feição, ao ser instaurada a obrigatoriedade da análise didática e da supervisão. A partir daí, transformou-se numa organização centralizada, dotada de regras de formação e admissão que visavam normatizar as análises e afastar da formação os analistas <selvagens> ou transgressores, considerados psicóticos demais, gurus demais ou feiticeiros demais para terem o direito de clinicar. (…) Note-se que, através de uma decisão tomada no seio do Comitê Secreto [clubinho de sodomitas incestuosos judeus ou os best de Freud] em dezembro de 1921, o acesso à profissão de psicanalista foi definitivamente recusado aos homossexuais. Essa regra nunca foi abolida.”

TCHAU, QUERIDA ou MORRE A INESQUECÍVEL: “Por fim, a partir de 1965, a IPA foi perpassada por múltiplas crises e, aos poucos, deixou de ser a única potência institucional do freudismo no mundo. Não apenas sofreu a concorrência da considerável expansão das escolas de psicoterapia, como, além disso, perdeu o monopólio da legitimidade freudiana: com efeito, outras correntes freudianas desenvolveram-se fora dela, em especial o lacanismo, os círculos de psicologia profunda de Igor Caruso (Internationale Föderation der Arbeitskreise für Tiefenpsychologie) e toda sorte de grupos independentes e sem esteio institucional.”

interpretação

os paranóicos interpretam os pequenos detalhes do comportamento corriqueiro da vida alheia e, com freqüência, dão mostras de uma lucidez maior que a do sujeito normal. Essa qualidade, entretanto, tem como contrapartida um desconhecimento radical deles mesmos.”

DO PINTO AO PÓ: “chama-se delírio de interpretação a uma forma de delírio crônico, caracterizada pela preponderância de um tema persecutório e de um raciocínio mono-ideativo, que impele o sujeito a proceder a construções alucinatórias, convencido de que todas as manifestações da realidade externa se referem a ele.”

ele dá o nome de <psicanálise selvagem> a um erro técnico cometido pelos praticantes ignorantes, que consiste em atirar no rosto do paciente, logo no primeiro encontro, os segredos que eles adivinharam. Nesse caso, seja ela <verdadeira> ou <falsa>, a interpretação é inaceitável, já que provém de um completo desconhecimento da estrutura psíquica do sujeito, de suas resistências e de seu recalque.”

Essa mistura de psicanálise selvagem, delírio interpretativo e utilização dogmática da doutrina freudiana, para fins de explicação da realidade, manifestou-se desde muito cedo entre os que pretendiam servir-se do freudismo para fazer surgir verdades ocultas de um texto ou de um indivíduo.”

TOLOS CIENTÍFICOS (PORQUE REFUTÁVEIS): “Duas correntes filosóficas comentaram a noção freudiana de interpretação. A primeira, representada por Karl Popper (1902-1994) e seus herdeiros, afirmou que a psicanálise, na medida em que não é refutável, não pode ser promovida à categoria de ciência. A segunda, próxima de Paul Ricoeur e da fenomenologia, reivindicou para o freudismo o estatuto positivo de uma hermenêutica, passível de fornecer à filosofia os instrumentos de uma verdadeira crítica das ilusões da consciência.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jacques Lacan, Le Séminaire, livre VI, Le Désir et son interprétation (1958-1959), inédito (esse dicionário realmente é velho, já que TENHO o livro!);

introjeção (neurose)

Foi Sandor Ferenczi que introduziu o termo introjeção, forjado por simetria ao termo projeção. Em Introjeção e transferência, 1909, escreve: Enquanto o paranóico (psicótico) expulsa do seu ego as tendências que se tornaram desagradáveis, o neurótico procura a solução fazendo entrar no seu ego a maior parte possível do mundo exterior, fazendo dele objeto de fantasias inconscientes. Podemos pois dar a este processo, em contraste com a projeção, o nome de introjeção.

inveja (Klein)

Na posição esquizo-paranóide ou depressiva, a inveja ataca o objeto bom para dele fazer um objeto mau, assim produzindo um estado de confusão psicótica. Como quase todos os termos do vocabulário kleiniano, inveja opõe-se a um outro: gratidão. Na concepção freudiana clássica, a inveja só é estudada no contexto da gênese da sexualidade feminina e na categoria de inveja do pênis.” “Se é verdade que Freud foi o grande teorizador da sexualidade humana, podemos dizer que Klein, como também Lacan, foi a grande clínica da agressividade e da relação odiosa do homem com seu semelhante.”

isso

Esta confluência do isso com a instância recalcante apóia-se antes de mais nada na definição genética que é apresentada desta, pois o eu é <…a parte do isso que foi modificada sob a influência direta do mundo exterior, por intermédio do sistema percepção-consciência>.”

Nas primeiras traduções francesas de F., das Es é traduzido por le soi. Encontramos esta tradução, mas cada vez mais raramente, em certos autores franceses, pois o termo soi é sobretudo reservado para traduzir o inglês self ou o alemão das Selbst.”

Jackson, John Hughlings

Fundador da neurologia moderna, Hughlings Jackson foi durante 45 anos médico no National Hospital de Londres. Em 1884, elaborou a teoria da dissolução das funções nervosas pela doença, retomada em parte por Freud e introduzida na França pelo psicólogo Théodule Ribot (1839-1916). Na história do saber psiquiátrico, o jacksonismo teria um papel considerável nos EUA, servindo de substrato para a implantação das teses freudianas. Na França, seria utilizado por Henri Ey, para a elaboração da noção de organo-dinamicismo.”

Japão

Em quinze anos, de 1853 a 1868, escreveu Maurice Pinguet, o Japão atravessou a crise mais grave de sua história, tão aguda e profunda quanto a Revolução Francesa. Esse período, a era Meiji, nome do imperador que foi um de seus iniciadores, viveu o desmoronamento da ordem feudal, depois de mais de dois séculos de reinado dos shoguns da dinastia Tokugawa. A ordem feudal era simbolizada pelo personagem do samurai. Nele, encarnavam-se os ideais do Japão ancestral, e entre suas múltiplas prerrogativas estava o seppuku, o direito de se suicidar com um sabre, por evisceração da esquerda para a direita, segundo um ritual imutável.

Ora, com a instauração dos princípios do Código de Napoleão e dos valores do capitalismo ocidental, essa prática da morte voluntária foi moralmente banida da sociedade japonesa. Mas sobretudo no momento em que se implantava nas novas universidades imperiais a nosografia psiquiátrica alemã, proveniente do ensino de Emil Kraepelin, ela foi progressivamente assimilada a uma doença da alma, ou considerada como a expressão melancólica de um niilismo individual. Menos de um século depois da revolução pineliana, o Japão entrava assim na era da psiquiatria dinâmica, julgando o heroísmo feudal, ou seja, uma de suas tradições, como uma psicopatologia.”

Kenji Otsuki, homem de letras e tradutor de literatura alemã, foi o primeiro a mencionar o nome de Freud em um artigo de 1912 dedicado ao esquecimento e à memória. Dois anos depois, Yoshihide Kubo (1883-1942), professor de psicologia na Universidade de Hiroshima Bunri, publicou uma série de artigos sobre o sonho, antes de ir para a Universidade Clark de Worcester, onde Stanley Grandville Hall, que recebera Freud em 1905, o iniciou nas teses freudianas. Ao retornar, em 1917, publicou o primeiro grande livro japonês de introdução à psicanálise. Falava da sexualidade infantil, do chiste, dos atos falhos, dos lapsos, da psicanálise aplicada, sem esquecer de mencionar todos aqueles que criticaram Freud: Pierre Janet, Alfred Adler. Para traduzir a palavra psicanálise, propôs seishinbunseki: seishin contém dois caracteres (ou kanji) e significa alma, e bunseki, também com dois caracteres, significa análise.”

Assim como na França a teoria da sexualidade era julgada excessivamente germânica para se adaptar à cultura dita latina, e na Suécia excessivamente latina para ser assimilada pelos países nórdicos, ela foi recebida no Japão como excessivamente ocidental para ser aceita por uma sociedade de tradição budista.”

Complexo de Ajase: Tratava-se de levar em conta as diferenças entre a organização da família ocidental, na qual a criança era destinada a tornar-se um sujeito emancipado da sua mãe através de uma identificação paterna [cof, cof], e a da família japonesa, na qual o pertencimento ao clã predominava sobre a identidade individual. Daí a dependência culpada (ou amae) do homem japonês em relação à sua mãe (complexo de Ajase), e uma simbiose específica, através da qual esse vínculo se tornava uma espécie de <valor moral>, como diria mais tarde Maurice Pinguet: Nosso pensamento culpa a dependência (captação, castração) e joga o erro sobre a mãe possessiva e o pai abusivo. A tendência japonesa é estabelecer uma intimidade estreita e culpar a independência, jogando o erro sobre o filho infiel e frívolo […]. Em suma, o supereu japonês é a consciência do vínculo, o supereu ocidental a consciência da lei.

Depois de 1935, em reação contra a era Meiji e a ascensão do movimento comunista internacional, o Japão sonhou com a volta da antiga ordem. A instauração de um regime militar de tendência fascista foi favorecida pelo advento, na Europa, dos regimes ditatoriais e pela crise econômica que se apoderou do país depois da quebra da bolsa de Wall Street. Foi então que o nacionalismo radical pregou o renascimento das virtudes guerreiras do antigo samurai. Aliando-se à Alemanha, o Japão entrou na guerra em 1941, o que provocou a retração completa das atividades freudianas. Foi necessário que esse sonho feudal fosse aniquilado e que os principais responsáveis militares se suicidassem (segundo o rito do antigo seppuku, sob os muros do palácio imperial, depois do bombardeio de Hiroshima), para que o Japão adotasse definitivamente os princípios da democracia, com um espírito de abertura para o Ocidente semelhante ao da era Meiji.”

Melanie Klein e Donald Woods Winnicott tiveram especial sucesso, pelo interesse que dedicaram à questão do vínculo arcaico com a mãe. A obra de Jung também fez muitos adeptos, graças à atividade pioneira de H. Kawai. Formado em Zurique, este se tornou em 1965 o primeiro psicoterapeuta junguiano de língua japonesa.”

Posteriormente, Doï Takeo tentou explicar as razões do relativo fracasso da implantação do freudismo no Japão. Segundo ele, o freudismo, doutrina judaico-cristã, era inassimilável por uma sociedade de tradição budista e xintoísta, na qual o desejo de emancipação subjetiva não tinha lugar. Mesmo continuando a ser freudiano, ele adotava assim, nesse debate clássico, a posição que fôra a da escola culturalista angloamericana, de Bronislaw Malinowski a Ruth Benedict.”

Em 1969, o jovem filósofo Tagatsuku Sasaki iniciou a tradução integral dos Escritos, e foi através desse imenso trabalho de reflexão sobre a língua teórica da psicanálise, e principalmente sobre a maneira de transpor os conceitos freudianos para uma cultura nova, que o lacanismo se implantou em terras japonesas.

Lacan, ao contrário de Freud, era fascinado pelo Japão. Em 1963, descobriu maravilhado as grandes obras da estatuária budista, nos templos de Kioto e Nara. No coração do Extremo Oriente, onde Alexandre Kojève (1902-1968), seu professor de filosofia, acreditara ter cruzado o conceito hegeliano de <fim da história>, Lacan foi seduzido pelo refinamento dessa cultura ancestral.Em sua busca do absoluto, privilegiando o matema e os nós borromeanos, quis dar corpo a uma representação formalizada do laço social, a fim de construir um modelo de liberdade humana fundado no primado da estrutura e do coletivo. Também ele, de certa forma, foi tomado, como Kosawa, por uma reflexão sobre a amae.

Em 1971, Lacan voltou ao Japão para uma viagem de estudos, no momento em que Sasaki acabava a tradução da primeira parte dos Escritos. Ao retornar, impôs-se o dever de definir a <coisa japonesa>, esse modo específico de gozo que ele atribuía ao <sujeito japonês> e cuja manifestação detectava na escrita. Transcreveu com um simples traço horizontal a pureza dessa caligrafia, impossível de se atingir, segundo ele, pelo sujeito ocidental. A esse traço, ou <letra>, deu o nome de littoral.”

Em um livro publicado em 1980, Chichioya hahaoya okite (O pai, a mãe e a lei),Kosawa fez do sujeito japonês um ser dilacerado entre a onipotência dita imaginária da mãe e a fraqueza aparente do pai, reduzido a uma função de simulacro. Nesse mesmo ano, enquanto acabava a tradução integral dos Escritos, publicou outra obra, Kai no uchidenokozuchi (O pequeno malho mágico do prazer), na qual divulgava os principais temas do pensamento lacaniano.”

De 1896 a 1920, Freud e seus discípulos da primeira geração tomaram efetivamente a função paterna e a paternidade como objeto de reflexão, e a partir de 1920, com o impulso dado por Klein, a reflexão se deslocou para o estudo da relação com a mãe.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

D.T. Suzuki, Erich Fromm & Richard de Martino, Bouddhisme zen et psychanalyse (N. York, 1963), Paris, PUF, 1971;

Jacques-Alain Miller (org.), Lacan et la chose japonaise, Paris, Analytica, 1988.

Jones, Ernest

Freud não gostava dele, mas ao longo dos anos, embora desaprovando muitas vezes as suas iniciativas, confiou nele para administrar os assuntos políticos do movimento, especialmente depois da partida de Max Eitingon para a Palestina.” “Tinha paixão pela <causa analítica> e queria defendê-la a sua maneira, se necessário contra o próprio Freud, o que explica seu apoio às inovações kleinianas e sua ambivalência em relação à análise leiga.”

A prática do coito já me era familiar aos 6 ou 7 anos de idade, escreveu em sua autobiografia; depois, eu a interrompi e só a retomei depois dos 24 anos; esse era um hábito bastante comum entre as crianças da aldeia.”

Em 1903, entrou para o North Eastern Hospital, do qual seria demitido 6 meses depois por insubordinação. Rotulado como <indivíduo problemático>, teve posteriormente muita dificuldade para se integrar a outros serviços hospitalares. Interessado pela hipnose, a neurologia e as doenças mentais, começou a praticar espontaneamente a psicanálise em 1906. No ano seguinte, foi a Amsterdã para o primeiro congresso de neurologia, psiquiatria e assistência aos alienados, e ficou conhecendo Jung, que o convidou a trabalhar na clínica do Hospital Burghölzli, dirigida por Bleuler.”

Denunciado publicamente pelo irmão de uma de suas pacientes, desejosa de divorciar-se depois de uma análise, Jones foi depois acusado de ter falado de maneira indecente com duas crianças pequenas, que estava submetendo a um teste. Registrou-se queixa contra ele, que passou uma noite na prisão, antes de ser absolvido de qualquer suspeita pela justiça e pela imprensa.”

Foi o início de uma longa correspondência com Freud: 671 cartas no total. Como observou Ernst Falzeder, faltam, nessa correspondência <a intimidade, a amplitude, o dinamismo e o caráter trágico que caracterizam outras correspondências de Freud […]. O estilo inimitável de Freud sofre com isso…>. Na verdade, tem-se a impressão de que o tom de Freud é de um <homem de negócios>. De qualquer forma, se Freud via em Jones o aliado indispensável, este se apresentava a ele como o Thomas Henry Huxley (1825-1895) de Charles Darwin, isto é, como o primeiro discípulo da doutrina freudiana em solo inglês.”

judeidade (Judesein)

No judaísmo distinguem-se vários grandes movimentos: a emancipação, que começou no século XVII, com o reconhecimento dos direitos civis; a Haskalah, ou movimento judaico do Iluminismo, que se afirmou no fim do século XVIII e foi acompanhado por uma assimilação progressiva; o judaísmo ortodoxo, nascido em 1795, hostil à Haskalah e à emancipação; o hassidismo, movimento pietista judaico de renovação da fé, nascido na Europa oriental na mesma época; e o judaísmo reformado, inspirado no protestantismo (primeiro na Alemanha, depois nos Estados Unidos), que incita à prática liberal da religião [?!]. A estes se juntam todos os movimentos nascidos depois do fim do século XIX: o judaísmo humanista e leigo, que se define pelo abandono da religião e por uma tendência ao ateísmo; o sionismo, que designa (desde 1890) uma ideologia e um movimento político que visam ao renascimento e à independência do povo judeu nas terras de Israel; o judaísmo conservador, forma norte-americana do judaísmo ortodoxo, nascido em 1886, que insiste na renovação ética; e, por fim, o judaísmo reconstrutivista (também norte-americano), nascido em 1922, que considera o judaísmo uma cultura religiosa fundamentada num nacionalismo espiritual.

Chama-se judeidade ao fato e à maneira de alguém se sentir ou ser judeu, independentemente do judaísmo. O sentimento de judeidade ou de identidade judaica é uma maneira de ele continuar a se pensar judeu no mundo moderno, a partir do fim do século XIX, mesmo sendo descrente, agnóstico, humanista, leigo ou ateu. Essa reivindicação de judeidade rejeita a idéia de pertencimento enunciada pela jurisprudência rabínica (Halakha, nascida da Torah), que designa como judia qualquer pessoa nascida de mãe judia ou qualquer pessoa convertida ao judaísmo nas condições exigidas pela lei religiosa.

Ao contrário de numerosos intelectuais judeus vienenses, como Karl Kraus ou Otto Weininger, Freud tinha horror ao ódio judeu de si mesmo (Jüdischer Selbsthass) e à fuga para a conversão. Descrente e hostil às práticas religiosas, rejeitava as tradições, os ritos e as festas e, no seio de sua própria família, combatia as atitudes religiosas de sua mulher (Martha). No entanto, nunca renegou sua judeidade e a reivindicou todas as vezes que se confrontou com o anti-semitismo.”

Cônscio do fato de que seus primeiros discípulos vienenses eram todos judeus, Freud temia que sua nova ciência fosse assimilada a uma <questão judaica>, isto é, a um particularismo sujeito às leis do genius loci. Nada lhe causava mais horror do que ouvir seus adversários reduzirem a psicanálise a um produto do <espírito judaico> ou da <mentalidade vienense>.”

Único não-judeu da primeira geração freudiana depois da partida de Jung, Ernest Jones, que era galês e, como costumava dizer, pertencia a uma <raça oprimida>, sentia-se próximo dos judeus vienenses da primeira geração, que Jung costumava chamar de <ciganos>.”

Jones foi acusado de anti-semitismo por seus adversários em virtude de uma conferência, A psicologia da questão judaica, proferida num colóquio dedicado aos judeus e aos <gentios> em 1945. Nessa ocasião, com efeito, declarou que os judeus eram tão responsáveis pelo anti-semitismo quanto os anti-semitas, em razão de sua arrogância e de sua concepção de povo eleito. E acrescentou que eles tinham uma particularidade: <O nariz hitita, que tanto evoca uma deformidade e que, infelizmente, os judeus adquiriram em suas andanças; por um azar, ele está associado a um gene dominante.> Nessa ocasião, de fato, Jones alinhou-se com as posições clássicas da psicologia dos povos, que quase sempre levam a esse tipo de derrapagem (como aconteceu, com muito maior gravidade, com Jung) [?].”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

René Major, De l’élection. Freud face aux idéologies allemande, américaine et soviétique, Paris, Aubier, 1986;

Yirmiyahu Yovel, Spinoza et autres hérétiques (1989), Paris, Seuil, col. “Libre examen”, 1991.

Jung

Carl Gustav Jung realizou uma obra tão abundante quanto a de Freud, cuja tradução em francês está muito longe de ser concluída. Dezenas de obras, artigos e comentários foram escritos sobre Jung, e o junguismo se implantou em vários países: Grã-Bretanha, Estados Unidos, Itália e Brasil.”

Em 1903, foi a Paris, para seguir os cursos de Pierre Janet e ao voltar casou-se com Emma Rauschenbach, filha de um rico industrial de Schaffhouse, com quem teria cinco filhos [com o industrial? Hahaha]: Agathe, Anna, Franz, Marianne, Emma.”

Quando encontrou Freud, Jung já tinha uma concepção do inconsciente e do psiquismo, herdada de Théodore Flournoy, de Janet e de todos os artífices da subconsciência. Não só não compartilhava as hipóteses vienenses, como também estava em desacordo com a concepção freudiana da sexualidade infantil, do complexo de Édipo e da libido. O que o aproximava de Freud era, por um lado, o fascínio por uma obra na qual acreditava encontrar a confirmação de suas hipóteses sobre as idéias fixas inconscientes, as associações verbais e os complexos, e por outro lado, a atração por um ser excepcional com o qual podia se medir. Jung era homem de uma poderosa inteligência, habitado por um mundo interior feito de sonhos, de introspecção, de busca de si mesmo e de gosto pelo oculto. Era dotado de grande força física, apreciava os contatos humanos, os exercícios corporais e o convívio das mulheres; dizia-se polígamo.”

Os três principais arquétipos são o animus (imagem do masculino), a anima (imagem do feminino) e o selbst (si-mesmo), verdadeiro centro da personalidade.” “Com a noção de arquétipo, Jung se afastou radicalmente do universalismo freudiano, mesmo desejando encontrar o universal nas grandes mitologias religiosas. Na verdade, é antes com a idéia de pattern, próxima dos culturalistas, que se pode comparar o arquétipo. E Jung a aprofundou, aliás, ao se interessar cada vez mais pelo estudo etnológico das civilizações ditas arcaicas. Por ocasião de várias viagens, que o levariam até tribos indígenas ou africanas (México, Quênia), adotou as teses da psicologia dos povos”

Ora, Freud, não compreende nada da psique alemã, como aliás os seus epígonos germânicos. O grandioso fenômeno do nacional-socialismo, que o mundo inteiro contempla com olhos admirados, os esclareceu?” Jung, 1934

Deveríamos realmente pensar que uma tribo que atravessa a história há milhares de anos como povo eleito por Deus não tivesse sido levada a uma tal idéia por uma disposição psicológica particular? Enfim, se não existe diferença, o que faz com que os judeus sejam reconhecidos? Diferenças psicológicas existem entre todas as nações e todas as raças, e até entre os habitantes de Zurique, de Basiléia e de Berna […]. É por isso que combato toda psicologia uniformizante quando pretende a universalidade, como a de Freud e a de Adler, por exemplo.

PENSEI QUE AS ASPAS ACIMA ERAM IRÔNICAS, MAS… “A comunidade internacional junguiana se dividiria sobre a questão da responsabilidade de Jung, e foi Andrew Samuels, psicoterapeuta junguiano, membro da Sociedade Londrina de Psicologia Analítica, que redigiu em 1992 um dos comentários mais notáveis sobre esse período doloroso da história. Dizendo-se ele próprio adepto do culturalismo, mostrou que foi a tentativa de instaurar uma psicologia das nações que conduziu Jung a aderir à ideologia nazista e conclamou os <pós-junguianos> a reconhecer a verdade.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Carl Gustav Jung, Gesammelte Werke, 20 vols. (com um índice e um volume de bibliografia), Zurique, Rascher Verlag, e Olten, Walter Verlag, 1960-1991; The Collected Works, 21 vols. (com um índice, um volume de bibliografia e um suplemento), Londres, Routledge e Paul Kegan, 1957-1983 – DESTAQUES INDIVIDUAIS: Psicologia e alquimia (1935-1936, GW, XII), Petrópolis, Vozes, 1991; Resposta a Jó(1952), Petrópolis, Vozes, 1979;

Andrew Samuels, Jung and the Post-jungians, Londres, Routledge e Paul Kegan, 1985.

Kemper, Werner

Sem a política de <salvamento> da psicanálise, defendida por Ernest Jones na Alemanha depois da tomada do poder pelos nazistas, Werner Kemper teria sido um funcionário obscuro. Mas, graças à orientação adotada pela IPA em 1933, ele fez parte, com Felix Boehm, Carl Müller-Braunschweig e Harald Schultz-Hencke, dos psicoterapeutas alemães que decidiram fazer carreira sob o nazismo, quando a profissão foi proibida a todos os judeus do país.”“Querendo estender o freudismo para além da Europa, Ernest Jones decidiu enviar Werner Kemper para o Brasil a fim de fazer uma nova carreira.”

foi um funcionário zeloso da política de seleção inaugurada pelo III Reich, que consistia em enviar para a morte, em batalhões disciplinares, os sujeitos que apresentassem <anomalias psíquicas>. Entre estas, estavam a angústia, a astenia [fadiga prolongada] e a hipocondria.

Depois da capitulação da Alemanha, Kemper se transformou em militante marxista e participou, com Schultz-Hencke, de uma reunião de psiquiatras na parte leste de Berlim, ocupada pelas tropas soviéticas. Contribuiu assim para a reconstrução, na República Democrática Alemã (DDR), de uma escola de psicoterapia de tipo pavloviano, visando liquidar o freudismo.Depois de colaborar com o nazismo para a destruição da psicanálise por motivo de judeidade, contribuía com igual zelo para a política stalinista de rejeição às teses freudianas, que iria estender-se a todos os países dominados pelo socialismo de inspiração soviética depois da partilha de Yalta.”

Klein

Melanie Klein foi o principal expoente do pensamento da segunda geração psicanalítica mundial.”“Sua obra, composta essencialmente de cerca de 50 artigos e de um livro, A psicanálise de crianças (da criança) [duas traduções], foi traduzida em 15 línguas e reunida em 4 volumes. Acrescenta-se uma Autobiografia inédita e uma importante correspondência.A tradução francesa, realizada em parte por Marguerite Derrida, é de excepcional qualidade. Muitas obras foram dedicadas a Melanie Klein, entre as quais as de Hannah Segal, sua principal comentadora, e a de Phyllis Grosskurth, sua biógrafa. Um dicionário dos conceitos kleinianos [haja saco] foi realizado por R.D. Hinshelwood em 1991.”

Tinha 4 anos quando sua irmã Sidonie morreu de tuberculose com a idade de 8; tinha 18 quando o pai, debilitado há longos anos, desapareceu, deixando-a com a mãe; tinha 20 quando seu irmão Emmanuel, que a influenciara muito e a quem estava ligada por uma relação de tons incestuosos, morreu esgotado pela doença, pelas drogas e pelo desespero. Phyllis Grosskurth observou que Melanie se casou pouco depois desse falecimento, pelo qual se sentia culpada, o que, acrescentou, <provavelmente tinha sido o objetivo perseguido por Emmanuel>.”

SE NÃO ESTÁS DISPOSTO À FRAUDE, NÃO ESTÁS DISPOSTO AO SUCESSO: “Em julho de 1919, levada por Ferenczi, apresentou, diante da Sociedade Psicanalítica de Budapeste, seu primeiro estudo de caso, dedicado à análise de uma criança de 5 anos, que na realidade era o seu próprio filho Erich. Uma versão reformulada dessa intervenção, na qual ela dissimulou a identidade do jovem paciente chamando-o de Fritz, constituiu seu primeiro escrito, publicado no Internationale Zeitschrift für Psychoanalyse.” “A criança de que se trata, Fritz, escreveu ela, é um menino cujos pais, que são de minha família, habitam na minha vizinhança imediata. Isso permitiu encontrar-me muitas vezes, e sem nenhuma restrição, com a criança. Além do mais, como a mãe segue todas as minhas recomendações, posso exercer uma grande influência sobre a educação de seu filho.”

Em Londres, Melanie Klein experimentou suas teorias, tratando dos filhos perturbados de alguns de seus colegas: o filho e a filha de Jones, por exemplo. Sua personalidade invasiva provocou à sua volta paixões e repulsas. Em março de 1927, Anna Freud fez uma comunicação ao grupo berlinense da DPG. Na verdade, tratava-se de um verdadeiro ataque contra as teses kleinianas em matéria de análise de crianças. Houve críticas e Freud irritou-se. A discordância entre ambas não parava de crescer, referindo-se especialmente à oportunidade da análise de crianças: parte integrante da educação geral de toda criança, afirmava Melanie Klein;necessária apenas quando a neurose se manifesta, replicava Anna, que circunscrevia a análise de crianças apenas à expressão do mal-estar parental, enquanto Melanie autonomizava a criança, tanto em sua demanda quanto no tratamento.”

Em janeiro de 1929, começou a tratar de uma criança autista de 4 anos, filha de um dos seus colegas da BPS, à qual deu o nome de Dick. Logo percebeu que ele apresentava sintomas que ela nunca havia encontrado. Não expressava nenhuma emoção, nenhum apego, e não se interessava pelos brinquedos. Para entrar em contato com ele, colocou dois trenzinhos lado a lado e designou o maior como <trem Papai> e o menor como <trem Dick>. Dick fez o trem com o seu nome andar e disse a Melanie: <Corta!>. Ela desengatou o vagão de carvão e o menino guardou então o brinquedo quebrado em uma gaveta, exclamando: <Acabou!>. A história desse caso se tornaria célebre, por mostrar como alguns psicanalistas não conseguem dar aos filhos o amor que esperam deles.”

LAÇOS DE FAMIGLIA: “Sua filha Melitta Schmideberg, casada comWalter Schmideberg, amigo da família Freud e de Ferenczi, tornou-se analista. Sem perceber, Melanie repetiu com sua filha o comportamento que Libussa tivera com ela. Foi por ocasião de uma retomada de análise com Edward Glover que Melitta se afastou de Melanie.”“A partir de 1933, Melanie Klein, que sofria os ataques incessantes de Glover e de Melitta, via com terror a chegada a Londres dos analistas vienenses e berlinenses que fugiam do nazismo.”

Ernest Jones, em quem Melanie Klein acreditava ter um fiel aliado, saía freqüentemente dessa cena, cujos atores eram essencialmente mulheres, umas reunidas em torno de Melanie, outras em torno de Anna. Os confrontos assumiram tal intensidade que Winnicott, partidário de Melanie, interrompeu uma noite os debates para observar que um ataque aéreo estava ocorrendo e era urgente procurar abrigo.” Hahaha!

kleinismo

Diversamente do annafreudismo, o kleinismo não é uma simples corrente, mas uma escola comparável ao lacanismo. Com efeito, constituiu-se como um sistema de pensamento a partir de um mestre (no caso, uma mulher) que modificou inteiramente a doutrina e a clínica freudianas, cunhando novos conceitos e instaurando uma prática original da análise, da qual decorreu um tipo de formação didática diferente da do freudismo clássico.” Modificar Freud não foi o problema: o problema foi modificá-lo para pior.

Por outro lado, definiram um novo âmbito para a análise, muito diferente do dos freudianos, baseado em regras precisas e, em especial, num manejo da transferência que tende a excluir da situação analítica qualquer forma de realidade material em prol de uma realidade psíquica pura, conforme à imagem que o psicótico tem do mundo e de si mesmo. Daí a criação do termo acting in, decorrente de acting out.”

o kleinismo é uma doutrina em expansão, sobretudo nos países latino-americanos (Brasil e Argentina), onde ajuda a psicanálise a enfrentar as outras escolas de psicoterapia que começaram a ameaçá-la, a partir da década de 70, em virtude de sua falta de criatividade.

Por ser uma escola de pensamento que alia um saber clínico a uma teoria, o kleinismo erigiu-se sobre uma crítica da forma dogmática do freudismo, para em seguida produzir, no próprio interior do freudismo de que nasceu, uma nova idolatria do mestre fundador, uma historiografia de tipo hagiográfico e um novo dogmatismo. E ainda não suscitou, como o freudismo, as condições internas para uma crítica a esse dogmatismo.”

Kraepelin, o autor pioneiro sem bibliografia em Desejo de Deleuze!

hebefrenia, ou psicose da adolescência, com excitação intelectual e motora (tagarelice, neologismos, maneirismos)” Maurício é o sujeito mais hebefrênico que já conheci.

Houve realmente uma era kraepeliniana na história da psiquiatria, como houve uma era pineliana, que marcou o apogeu do alienismo. Nesse aspecto, comparou-se o sistema de pensamento freudiano com a classificação de Kraepelin.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Emil Kraepelin, Compendium der Psychiatrie, Leipzig, Abel, 1883; Introduction à la psychiatrie clinique (Leipzig, 1901), Paris, Vigot, 1907; Leçons cliniques sur la démence précoce et la psychose maniaque-dépressive (Leipzig, 1907), Toulouse, Privat, 1970; La Folie maniaque-dépressive (Leipzig, 1909), Grenoble, Jérôme Millon, 1993.

Krafft-Ebing

Mas foi sobretudo com sua obra Psychopathia sexualis, publicada em 1886 e traduzida no mundo inteiro, que Krafft-Ebing se tornou célebre. Fazia uma descrição extraordinária, a partir de casos precisos, de todas as formas possíveis de perversões sexuais: uma espécie de catálogo sofisticado, do qual Freud adotou várias noções e que o Marquês de Sade não teria desaprovado.”

Kraus, Karl (o homem da frase “Não é verdade que…”)

Karl Kraus foi uma das grandes figuras da modernidade vienense do fim do século XIX.Judeu e adepto do ódio de si judeu, foi contrário a Dreyfus e se converteu ao catolicismo, que depois renegou. Denunciou a corrupção da imprensa e a feminilização da arte e da sociedade, que poderiam reduzir a sociedade a nada, e adotou as teses da bissexualidade. Mas, ao contrário de Otto Weininger, de quem era próximo, pensava que os princípios feminino e masculino deviam complementar-se.”

Inventou alguns maravilhosos aforismos, que se tornariam célebres: <A psicanálise é aquela doença do espírito da qual ela própria se considera o remédio>, ou ainda: <É a ele (Freud) que cabe o mérito de ter dado uma organização à anarquia do sonho, mas ali tudo acontece como na Áustria.>

Lacan

se alguns dos ferozes adversários de Lacan foram injustos, ele se prestou à crítica ao cercar-se de discípulos pedantes, que contribuíram para obscurecer um ensino certamente complexo e muitas vezes enunciado em uma língua barroca e sofisticada, mas perfeitamente compreensível (pelo menos até 1970). [HAHA]

Lacan sofria de inibições na escrita e precisou de ajuda para publicar seus textos e transcrever o famoso seminário público, que se realizou de 1953 a 1979 [!!!]. Nove seminários entre 25 foram <estabelecidos> e publicados por seu genro, Jacques-Alain Miller, entre 1973 e 1995. O 26º seminário, do ano 1978-1979, é <silencioso>, pois Lacan não mais podia falar.”

Jacques Lacan escreveu apenas um livro, sua tese de medicina de 1932 publicada sob o título Da psicose paranóica em suas relações com a personalidade, na qual relatou o caso de Marguerite Anzieu.” já baixada

Sua correspondência é quase inexistente: 247 cartas recenseadas por Élisabeth Roudinesco em 1993. A obra de Lacan está traduzida em 16 línguas, e Joël Dor realizou a melhor bibliografia do conjunto de títulos, publicados e inéditos.” Média de 3 cartas por ano. Que sociável!

Jacques Lacan reinterpretou quase todos os conceitos freudianos, assim como os grandes casos (Herbert Graf, Ida Bauer, Serguei Constantinovitch Pankejeff, Ernst Lanzer e Daniel Paul Schreber) e acrescentou ao corpus psicanalítico sua própria conceitualidade.

Existem dois dicionários dos conceitos lacanianos: um em inglês, realizado por Dylan Evans, outro em espanhol, por Ignacio Garate& José Miguel Marinas. Alguns dos mais belos comentários da obra de Lacan foram escritos por filósofos: Louis Althusser, Jacques Derrida, Christian Jambet, Jean-Claude Milner e Bernard Sichère.”

PAISTEL: “Com a idade de 16 anos, admirava a Ética de Baruch Spinoza. Um ano depois, voltou-se para o nietzscheísmo, e durante algum tempo ficou fascinado com Charles Maurras (1868-1952), cujo estetismo e gosto pela língua adotou [sem aprender a escrever?]. Enfim, interessou-se pela vanguarda literária. Alfred Lacan, que desejava que seu filho mais velho assumisse a sucessão de seus negócios e desse um impulso decisivo ao comércio de mostarda [!], não compreendia nem aprovava sua evolução. Quanto a Émilie Lacan, a mãe, ignorava tudo sobre a vida que o filho levava fora dos caminhos da religião e do conformismo burguês.”

Magnífica síntese de todas as aspirações freudianas e anti-organicistas da nova geração psiquiátrica francesa dos anos 1920, sua tese foi imediatamente considerada uma obra-prima por René Crevel, Dalí e Paul Nizan (1905-1940), principalmente, que apreciaram a utilização feita por Lacan dos textos romanescos da paciente e da força doutrinária de sua posição quanto à loucura feminina. No ano seguinte, na revista Le Minotaure, Lacan dedicou um artigo ao crime cometido em Mans por duas domésticas (as irmãs Papin) contra suas patroas. Viu nesse ato, de uma intensa selvageria, uma mistura de delírio a dois, de homossexualidade latente, mas antes de tudo o surgimento de uma realidade inconsciente que escapava às próprias protagonistas. Desse drama Jean Genet (1910-1986) tirou uma peça, Les Bonnes, e Claude Chabrol um filme, sessenta anos depois, La Cérémonie.”

ESCOLA DE DOIDOS: “Sua análise com Loewenstein durou 6 anos e ½, e acabou com um fracasso e um desentendimento duradouro entre ambos. Finalmente, graças à intervenção de Édouard Pichon, Lacan foi titularizado em 1938. Pichon reconhecia seu gênio e queria fazer dele, apesar de seu hegelianismo, o herdeiro de uma tradição <francesa> do freudismo. Lacan nunca obedeceria a essa injunção.”Gostaria de saber o que é um gênio freudo-hegeliano…

A-Freu-DIOnisíaco

Desde o início, o casamento foi insatisfatório. Malou acreditara ter-se casado com um homem perfeito, cuja fidelidade conjugal estaria à altura de seus sonhos de felicidade. Ora, Lacan não era esse homem, nem nunca seria. Três filhos nasceram: Caroline (1937-1973), Thibaut, Sibylle.”

Desses anos de grande riqueza cultural e teórica, tirou a certeza de que a obra freudiana devia ser relida <ao pé da letra> e à luz da tradição filosófica alemã.” ???

Em 1936, cruzou pela primeira vez a história do freudismo internacional indo a Marienbad para o Congresso da IPA. Nesse congresso, apresentou uma exposição sobre o estágio do espelho. Mas Ernest Jones cortou-lhe a palavra apenas com dez minutos de sua exposição. Foi em seguida para Berlim assistir aos Jogos Olímpicos. O triunfo do nazismo provocou nele um sentimento de repugnância.”

Desde 1937, apaixonou-se por Sylvia Maklès-Bataille (1908-1993). Separada nessa época de Georges Bataille mas continuando a ser sua esposa, atuou em um filme de Jean Renoir (1894-1979), Une partie de campagne. Era mãe de uma menina, Laurence Bataille (1930-1986), que se tornaria uma notável psicanalista.”

Em setembro de 1940, Lacan encontrou-se em uma situação insustentável. Anunciou a sua mulher legítima, que estava grávida de 8 meses, que Sylvia, sua companheira, também esperava um filho. Malou pediu o divórcio imediatamente e foi em plena crise de depressão que deu à luz, a 26 de novembro, uma menina à qual deu o nome de Sibylle. <Quando eu nasci, escreveria esta em 1994, meu pai não estava mais conosco. Até poderia dizer que, quando fui concebida, ele já estava em outro lugar […]. Sou o fruto do desespero. Alguns dirão que sou fruto do desejo, mas não creio nisso.> Oito meses depois, em 3 de julho de 1941, Sylvia deu à luz à 4a dos filhos de Lacan, Judith, registrada com o sobrenome de Bataille. Só poderia usar o nome do pai em 1964. Essa impossibilidade de transmitir o sobrenome seria uma das determinações inconscientes da elaboração do conceito lacaniano de Nome-do-Pai.” E você acha isso bonito?

<Lacan não tinha absolutamente, como objetivo, reinventar a psicanálise, escreveu Jacques-Alain Miller. Pelo contrário, situou o começo de seu ensino sob o signo de um ‘retorno a Freud’; apenas perguntou, a respeito da psicanálise:sob que condição ela é possível?>Em 1950, Lacan começou esse retorno aos textos de Freud, baseando-se, ao mesmo tempo, na filosofia heideggeriana, nos trabalhos da linguística saussuriana e nos de Lévi-Strauss. Da primeira, adotou um questionamento infinito sobre o estatuto da verdade, do ser e de seu desvelamento; da lingüística, extraiu sua concepção do significante e de um inconsciente organizado como uma linguagem; do pensamento de Lévi-Strauss deduziu a noção de simbólico, que utilizou em uma tópica (simbólico, imaginário, real: S.I.R.)”

Lacan atacou uma das grandes correntes do freudismo, a Ego Psychology, da qual seu ex-analista se tornara um dos representantes, e que ele assimilava a uma versão edulcorada e adaptativa da mensagem freudiana. Chamava-a de <psicanálise americana> e lhe opunha a peste, isto é, uma visão subversiva da teoria freudiana, centrada na prioridade do inconsciente. Como fizera no período entreguerras, Lacan continuou então a estabelecer fortes relações fora do meio psicanalítico: com Roman Jakobson (1896-1982), Claude Lévi-Strauss, Merleau-Ponty. Graças a Jean Beaufret (1907-1982), de quem era analista, encontrou-se com Martin Heidegger.”

gustavecourbet
“No jirau que dominava a peça única, pendurou o famoso quadro de Gustave Courbet (1819-1877) A origem do mundo, que comprou a conselho de Bataille e de Masson.”

Recusando qualquer idéia de assimilação da psicanálise a uma psicologia qualquer, considerava os estudos de filosofia, de letras ou de psiquiatria como as três melhores vias de acesso à formação dos analistas. Reatou assim com o programa projetado por Freud, quando do congresso da IPA em Budapeste, em 1918.”

Graças a seu amigo Jean Delay, obteve um anfiteatro no Hospital Sainte-Anne. Durante 10 anos, 2 vezes por mês, realizou ali seu seminário, comentando sistematicamente todos os grandes textos do corpus freudiano e dando assim origem a uma nova corrente de pensamento: o lacanismo. O <Discurso de Roma> foi publicado no primeiro número de La Psychanalyse, revista da SFP. A cada ano, Lacan daria a essa revista o texto de suas melhores conferências, que eram uma espécie de resumo dos temas do seminário. Também publicaria nela artigos de Martin Heidegger, Émile Benveniste, Jean Hyppolite (1907-1968) e muitos outros.”

Nessa época, ninguém pensava em se emancipar da legitimidade freudiana, muito menos Lacan. Apoiados por ele, Granoff, Leclaire e Perrier formaram uma <tróica>, cuja tarefa era negociar a reintegração da SFP. Depois de anos de discussão e intercâmbio, o comitê executivo da IPA recusou a Lacan e a Dolto o direito de formar didatas. As razões dessa recusa eram complexas. Lacan era acusado de transgressão das regras técnicas, principalmente das que determinavam a duração das sessões. Quanto a Dolto, o problema era, em parte, sua maneira de praticar a psicanálise de crianças, mas também sua formação didática: nessa época, os alunos de René Laforgue foram convidados a fazer uma nova análise.”

Em 1964, a SFP foi dissolvida e Lacan fundou a École Freudienne de Paris (EFP), enquanto a maioria de seus melhores alunos se posicionou ao lado de Lagache, na Associação Psicanalítica da França (APF), reconhecida pela IPA. Obrigado a deslocar seu seminário, Lacan foi acolhido, graças à intervenção de Louis Althusser, em uma sala da École Normale Supérieure (ENS), na rue d’Ulm, onde pôde prosseguir seu ensino.”

A obra Seminários mostrava os vestígios de sua difícil elaboração: reescrita do próprio Lacan, correções múltiplas de Wahl, comentários de Miller. Lacan recebeu enfim a consagração esperada e merecida: 5 mil exemplares foram vendidos em 15 dias, antes mesmo que aparecessem resenhas na imprensa. Mais de 50 mil exemplares foram vendidos na edição comum e a venda da edição de bolso bateria todos os recordes para um conjunto de textos tão difíceis: mais de 120 mil exemplares o primeiro volume, mais de 55 mil o segundo. Doravante, Lacan seria reconhecido, celebrado, odiado ou admirado como um pensador de envergadura, e não mais apenas como um mestre da psicanálise. Sua obra seria lida e comentada por inúmeros filósofos, entre os quais Deleuze.” “A leitura de sua obra no mundo anglo-saxão ficaria limitada aos intelectuais, às feministas e aos professores de literatura francesa.”

Ah, minha cara, os italianos são tão inteligentes! Se eu pudesse escolher um lugar para morrer, seria em Roma que eu gostaria de acabar os meus dias. Conheço todos os ângulos de Roma, todas as fontes, todas as igrejas… Se não fosse Roma, eu me contentaria com Veneza ou Florença: eu sou sob o signo da Itália.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

L., De la psychose paranoïaque dans les rapports avec la personnalité suivi de Premiers écrits sur la paranoïa (monografia médica)

Philippe Julien, Pour lire Jacques Lacan (Toulouse, 1985), Paris, Seuil, col. “Points”, 1995;

Ignacio Garate & José Miguel Marinas, Lacan en castellano, Madri, Quipu Ediciones, 1996.

lacanismo

Na história do movimento psicanalítico, chama-se lacanismo a uma corrente representada pelos diversos partidários de Jacques Lacan, sejam quais forem suas tendências. Foi entre 1953 e 1963 que ganhou corpo, na França, a reformulação lacaniana, que depois desembocou, com a criação da École Freudienne de Paris (EFP), em 1964, num vasto movimento institucional e, em seguida, numa nova forma de internacionalização, num rompimento definitivo com a IPA. Depois da morte de Lacan, em 1981, o lacanismo fragmentou-se numa multiplicidade de tendências, grupos, correntes e escolas que formam uma poderosa nebulosa, implantada de maneiras diversas em muitos países.”

Lacan foi, com efeito, o único dos grandes intérpretes da doutrina freudiana a efetuar sua leitura não para <ultrapassá-la> ou conservá-la, mas com o objetivo confesso de <retornar literalmente aos textos de Freud>. Por ter surgido desse retorno, o lacanismo é uma espécie de revolução às avessas, não um progresso em relação a um texto original, mas uma <substituição ortodoxa> desse texto.”

Psicanálise norte-americana: Por esse vocábulo, Jacques Lacan e, depois dele, seus discípulos e herdeiros designam o neofreudismo, o annafreudismo e a Ego Psychology. Todas essas correntes remetem, segundo eles, a uma concepção <desviada> da psicanálise, i.e., a uma doutrina centrada no eu e esquecida do Isso, a uma visão adaptativa ou culturalista do indivíduo e da sociedade.”

O lacanismo tem em comum com o kleinismo o fato de haver estendido a clínica das neuroses a uma clínica das psicoses, e de ter levado mais longe do que o freudismo clássico a interrogação sobre a relação arcaica com a mãe. Nesse sentido, inscreveu a loucura bem no cerne da subjetividade humana. Mas, ao contrário do kleinismo, perseguiu, sem aboli-la, a interrogação sobre o lugar do pai, a ponto de ver na deficiência simbólica deste a própria origem da psicose. Daí seu interesse pela paranóia, mais do que pela esquizofrenia. Por outro lado, o lacanismo procedeu a uma completa reformulação da metapsicologia freudiana, inventando uma teoria do sujeito (distinto do eu, do ego, do self, etc.), isto é, introduzindo uma filosofia do sujeito e do ser bem no coração do freudismo. Além disso, para pensar o inconsciente, apoiou-se não mais num modelo biológico (darwinista), mas num modelo lingüístico.”

É por isso que, depois de ser expulsa da IPA, lugar supremo da legitimidade freudiana, a corrente lacaniana viu-se obrigada, a partir de 1964, a criar um novo modelo de associação, mais legítimo do que a antiga legitimidade: assim, chamou de escola o que era denominado de sociedade ou associação, para expressar o caráter platônico de sua reformulação, e se apoderou do adjetivo <freudiano>, para deixar bem claro que se pautava no verdadeiro mestre, e não em seus herdeiros.” Aqui vamos nós com o abuso do termo platônico novamente…

No plano político, o lacanismo implantou-se maciçamente, exportando o modelo institucional francês, em dois países do continente latino-americano — a Argentina e o Brasil —, onde, no entanto, fragmentou-se numa centena de grupos e tendências, e onde coabita com um kleinismo muito poderoso no interior da Federação Psicanalítica da América Latina (FEPAL), ramo latino-americano da IPA.” Não faria sentido uma Psicanálise não-conturbada e crísica na América do Sul!

O legitimismo lacaniano é encarnado, na França, por Jacques-Alain Miller, executor testamentário e genro de Jacques Lacan. É ele quem dirige, além disso, a internacional lacaniana, a Association Mondiale de Psychanalyse (AMP).” Por trás de um grande homem sempre existe um grande secretário – um amplificador.

CONTROVÉRSIA DA CONTROVÉRSIA: “É interessante notar que emergiram correntes separatistas a partir de 1990, tendendo a fazer do lacanismo um movimento externo ao freudismo, embora sem renegar este último. Testemunho disso é, por exemplo, o primeiro dicionário publicado em língua inglesa sobre o assunto, em 1996. Seu título e seu conteúdo dão a entender que existiria uma <psicanálise lacaniana> (coisa que Lacan jamais desejou).”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Slavoj Zizek, Looking Awry. An Introduction to Lacan through Popular Culture, Boston, Massachusetts University Press, 1991;

Jean-Louis Henrion, La Cause du désir. L’Agalma de Platon à Lacan, Paris, Point Hors Ligne, 1993.

Lagache, Daniel

Como Sacha Nacht, Françoise Dolto, Maurice Bouvet e muitos outros, Daniel Lagache pertencia à segunda geração psicanalítica francesa. Na história da psicanálise na França desempenhou um papel importante, ao mesmo tempo como herdeiro de Pierre Janet, no campo da psicologia clínica, e como introdutor da psicanálise na universidade. Contra Nacht, que preconizava o vínculo da psicanálise com a medicina, e contra Lacan, que queria desvincular a psicanálise da psicologia, através de um retorno rigoroso aos textos freudianos, foi o artífice da separação entre a filosofia e a psicologia, e da síntese entre esta e a psicanálise. Tornou-se assim, pela universidade, o líder de uma corrente favorável à análise leiga (ou Laïenanalyse), mas que permitia, principalmente, o acesso maciço dos psicólogos à profissão de psicanalistas.”

Em 1924, ingressou na École Normale Supérieure, na mesma classe que Jean-Paul Sartre, Paul Nizan, Raymond Aron (1905-1983) e Georges Canguilhem (1904-1995). Como muitos normaliens de sua geração, assistiu às apresentações de doentes de Georges Dumas, amigo de Janet violentamente hostil às teses freudianas. Professor de filosofia, residente dos hospitais psiquiátricos e chefe de clínica de doenças mentais e do encéfalo, foi aluno de Gaëtan Gatian de Clérambault na enfermaria especial. Enfim, em 1934, defendeu sua tese de medicina sobre as alucinações verbais.

Ao mesmo tempo que Lacan, mais velho que ele 2 anos, iniciou-se nos textos alemães, interessou-se pela loucura feminina e pela criminologia, descobriu a obra de Jaspers, a fenomenologia e seguiu os cursos de Henri Claude. [Regressou à filosofia?]

Ao contrário de Lacan e de Nacht, relatou seu tratamento com Rudolph Loewenstein em um artigo publicado em inglês em 1966, no qual fornecia muitas informações sobre sua infância e sua vida privada. Essa análise se desenrolou entre 1933 e 1936, sob condições difíceis, o que levaria Lagache a fazer uma segunda etapa, com Maurice Bouvet.”

Segudo Lagache, era preciso unificar o ramo dito naturalista da psicologia, compreendendo o behaviorismo e as teorias da aprendizagem (com a estatística e a experimentação), e o seu ramo dito humano, reunindo a psicologia clínica e a psicanálise, esta definida como ultraclínica.

Georges Canguilhem, embora amigo de longa data de Lagache, destruiu esse programa, tratando a psicologia de <filosofia sem rigor>, de <ética sem exigência> e de <medicina sem controle>.Dez anos depois, após a ruptura entre Lagache e Lacan, esse artigo seria utilizado pelos alunos de Louis Althusser na École Normale Supérieure, no âmbito de uma reformulação filosófica dos conceitos freudianos hostis a toda forma de psicologia.”

O carro-chefe de sua coleção [da Biblioteca de Psicanálise na editora PUF] seria o famoso Vocabulário da psicanálise, realizado sob sua direção por Laplanche & Pontalis e traduzido hoje em mais de 20 línguas.” Curiosamente de verve bem lacaniana!

o que todos os seus alunos aprenderam, a começar por mim, foi a importância da regularidade dos horários, de uma duração fixa e suficientemente longa das sessões, da manutenção da austeridade das regras e da situação diante das demandas manipulatórias do paciente, de uma interpretação por etapas, precisa, sóbria, concreta.” Anzieu

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Georges Canguilhem, Études d’histoire et de philosophie des sciences, Paris, Vrin, 1968.

Laing, Ronald

Poeta, escritor, militante de todas as causas a favor dos marginais, dos excluídos, dos oprimidos e dos povos colonizados, Ronald Laing é uma das mais belas figuras desse movimento de revolta que abalou durante 20 anos, de 1950 a 1970, o conjunto dos ideais da burguesia ocidental. Marcado simultaneamente pelo heideggerianismo, pelo existencialismo e pela experiência com a mescalina e o LSD, procurou durante toda a vida, através de uma longa viagem no interior do eu, o meio de compreender o grande enigma da loucura humana.”

INGÊNUO, DEMASIADO INGÊNUO: “Em 1972, depois de uma permanência na Índia, Ronald Laing evoluiu para o orientalismo, encontrando no budismo e nas teorias da reencarnação uma filosofia do sofrimento e da subjetividade capaz, segundo ele, de subverter o racionalismo ocidental.”

MEA CULPA: “Em sua autobiografia de 1985, reconheceu o fracasso de seus métodos de tratamento da esquizofrenia e renegou a maioria das suas teses anteriores.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Ronald Laing, O eu dividido (1960), Petrópolis, Vozes, 1975; A política da família (1964), S. Paulo, Martins Fontes; La Politique de l’expérience (1967), Paris, Stock, 1979; Laços (1970), Petrópolis, Vozes, 1976; Sagesse, déraison et folie. La Fabrication d’un psychiatre (1985), Paris, Seuil, 1986.

Lanzer, caso Homem dos Ratos

Segundo grande tratamento psicanalítico conduzido por Freud, depois de Dora e antes do Homem dos Lobos, a história do Homem dos Ratos é, sem sombra de dúvida, a mais elaborada, a mais estruturada e a mais rigorosamente lógica. A análise durou cerca de 9 meses, de outubro de 1907 a julho de 1908, e Freud falou dela em 5 oportunidades nas reuniões da Sociedade das Quartas-Feiras, antes de apresentar o caso no primeiro congresso da IPA em Salzburgo, em 26 de abril de 1908, num relatório verbal de cinco horas. Em suas memórias, publicadas em 1959, Ernest Jones narra o acontecimento: Sentado na ponta da longa mesa à qual todos estávamos acomodados, ele falou em sua voz baixa, mas nítida, como numa conversa. Começou às oito horas da manhã e nós o escutamos com profunda atenção. Às onze, fez uma pausa, sugerindo que já tínhamos ouvido o bastante. Mas estávamos todos tão interessados, que insistimos em que continuasse, o que fez até a uma da tarde.

Foi em 1901 que começou a ser dominado por estranhas obsessões sexuais e mórbidas. Com efeito, manifestava um gosto especial por funerais e ritos de morte, adquirira o hábito de olhar seu pênis num espelho para se certificar de seu grau de ereção, e tinha inúmeras tentações suicidas, baseadas em censuras e acusações dirigidas contra si mesmo, prontamente acompanhadas por resoluções beatas e orações. Ora queria cortar sua garganta, ora planejava afogar-se.

Em 1905, portanto, aos 27 anos de idade, sofria de uma grave neurose obsessiva. Embora houvesse rejeitado o projeto dos pais, que queriam fazê-lo casar-se com uma mulher rica, ainda não conseguira decidir-se a casar com Gisela. Consultou então o célebre psiquiatra Julius Wagner-Jauregg, por causa de uma compulsão a se apresentar numa prova sempre cedo demais e despreparado. O médico respondeu-lhe que a obsessão era muito salutar e não fez nada pelo rapaz.”

Foi durante o verão de 1907 que se produziram os dois grandes acontecimentos que ocupariam o cerne de sua análise com Freud. Em julho, durante um exercício militar na Galícia, ouviu o cruel capitão Nemeczek, adepto dos castigos corporais, contar a história de um suplício oriental que consistia em obrigar o prisioneiro a se despir e a se ajoelhar no chão com o dorso curvado para a frente. Nas nádegas do homem fixava-se então, por meio de uma correia, uma grande vasilha furada onde um rato se agitava. Privado de alimento e atiçado por um pedaço de ferro em brasa introduzido num orifício da vasilha, o animal procurava fugir da queimadura e penetrava no reto do supliciado, infligindo-lhe feridas sangrentas. Ao cabo de mais ou menos meia hora, morria sufocado, ao mesmo tempo que o prisioneiro.

Nesse dia, Lanzer perdeu seu pincenê durante um exercício. Telegrafou a seu oculista, em Viena, para lhe encomendar outro, que deveria ser enviado pela volta do correio. Dois dias depois, recebeu o objeto por intermédio do mesmo capitão, que lhe informou que as despesas postais deveriam ser reembolsadas ao tenente David, funcionário do correio. Obrigado a fazer o reembolso, Lanzer teve então um comportamento delirante em torno do tema obsedante do pagamento da dívida. A história do suplício misturou-se com a da dívida e fez surgir na memória do Homem dos Ratos um outro episódio envolvendo dinheiro. Um dia, seu pai contraíra uma dívida de jogo: fora salvo da desonra por um amigo que lhe emprestara a soma necessária para o pagamento [foi enrabado e roído por um rato chamado remorso]. Heinrich havia tentado, findo o seu serviço militar, reencontrar esse homem, mas não conseguira fazê-lo. Por isso, a dívida com certeza nunca fôra paga.”

Foi esse homem, obcecado por ratos e por uma dívida, que entrou no consultório do Dr. Freud no dia 1º de outubro de 1907.” “por volta dos 6 anos de idade, o pequeno Ernst teria praticado uma má ação de ordem sexual, relacionada com a masturbação, e teria sido castigado pelo pai.”

Quando aos 30 anos você escuta do pai que o criou mal que você é um filho MAU CRIADO (com o erro de português incluso), significaria um ato falho do idoso culpado? Criado: empregado, servo, escravo. Mau: oposto a mim, inimigo viscer(e)al.“Cedo, porém, em seus sonhos e associações, começou a insultar grosseiramente seu terapeuta, de quem, ao mesmo tempo, reivindicava um castigo. Esse episódio permitiu rapidamente a Freud mostrar a seu paciente como a <dolorosa via da transferência> levava, de fato, a uma confissão do ódio inconsciente pelo pai.”

JÁ QUE…³ “O caso do Homem dos Ratos foi considerado a única terapia perfeitamente bem-sucedida de Freud. Decerto isso não foi por acaso, JÁ QUE Freud foi o inventor do termo neurose obsessiva, JÁ QUE descreveu a si mesmo, numa carta a Jung, como o protótipo do neurótico obsessivo, e JÁ QUE considerava essa neurose o objeto mais <interessante e mais fecundo da pesquisa psicanalítica>.”

Peixe morre pela boca, soldado morre pelo cu mesmo. Filho de soldado é desaforado. Filho de crente é pe(s)cado. Pe(s)que a vara e ensine a meter, quer dizer

Nulifique seus 1000 agres

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jacques Lacan, “Le mythe individuel du névrosé ou Poésie et vérité dans la névrose” (1953), Ornicar?, 17-18, 1979, 289-307. (artigo)

Leclaire, Serge

Depois de estudar psiquiatria, Leclaire ouviu falar pela 1a vez em psicanálise por um monge hindu, que lhe aconselhou a procurar Françoise Dolto. Conheceu então seu colega Granoff no Hospital da Salpêtrière e se engajou, com ele, na via do freudismo. Durante 3 anos, fez sua formação didática com Lacan, relacionando-se, na SPP, com homens e mulheres [que bom!] da terceira geração francesa, principalmente Jean Laplanche e Anne-Lise Stern. Progressivamente, Serge Leclaire se tornou discípulo de um mestre excepcional, Lacan o próprio, que admirou sem servilismo nem submissão. Seria o primeiro lacaniano da história.”

Tornando-se o clínico mais apreciado da França freudiana, tentaria durante 30 anos unificar a comunidade psicanalítica francesa, sempre em processo de dispersão e conflitos. § Em 1969, depois de criar o primeiro departamento de ensino da psicanálise na universidade francesa (Paris-VIII), seria também, em 1983, o único psicanalista de envergadura a ousar enfrentar os riscos do <tratamento ao vivo> pela televisão, no programa Psy-show.”

A partir de F., sabemos que os relatos de casos, para evitar a mediocridade da literatura piegas, devem ser construídos à maneira da ficção. Nesse aspecto, Leclaire foi um dos raros psicanalistas franceses, com Michel de M’Uzan, a saber descrever seus casos na tradição inglesa, como mostra seu livro inaugural Psicanalisar, no qual é exposta pela primeira vez a história do Homem do Licorne: uma neurose obsessiva descrita a partir da concepção lacaniana do significante. Leclaire a apresentou pela primeira vez no Colóquio de Bonneval, durante o outono de 1960, organizado por Henri Ey, no Hospital de Bonneval.”

Mack-Brunswick, Ruth

Como Marie Bonaparte e Jeanne Lampl-De Groot, Ruth Mack-Brunswick pertencia ao <círculo das mulheres> de Freud. Foi sua paciente e depois tornou-se uma de suas discípulas mais fervorosas, a tal ponto que logo entrou na intimidade familiar do mestre e viu-se finalmente sob sua dependência, um pouco à maneira de sua filha Anna Freud. Entretanto, teve um destino bem mais trágico que os outros alunos de Freud. Sua análise foi um desastre e sua morfinomania [autoprescrição de morfina sem receituário ou acompanhamento médico], combinada a muitas doenças, impediu-a de desenvolver seus verdadeiros talentos de clínica e teórica.”

Nessa época, Freud analisava muitos americanos, que às vezes permaneciam vários anos em Viena para se tratar ou se tornar psicanalistas. Foi nessas circunstâncias que Ruth Mack encontrou Mark Brunswick. Ele era primo de sua mãe e apaixonou-se em segredo por ela desde que assistira a seu casamento. Sofrendo de distúrbios da personalidade, fazia uma análise com Freud ao mesmo tempo que seu irmão David, que estudava psicologia. Já separada do marido, Ruth ficou encantada com Mark, mais ainda porque Freud lhe explicava o seu caso, como se faz em uma análise de supervisão. Mark tinha um caso com uma jovem, mas finalmente, em 1928, depois de 4 anos de tratamento, decidiu casar-se com Ruth. Freud e Oscar Rie foram escolhidos como testemunhas.

Enquanto isso, Ruth se tornara uma verdadeira freudiana, especializada no tratamento das psicoses [contradição em termos] e apaixonada pela questão das relações pré-edipianas. [MERITOCRACIA EM PRIMEIRO LUGAR:] Como recusava as teses de Melanie Klein, Freud a apoiava, enviando-lhe muitos pacientes entre seus próximos: Max Schur e sua mulher em 1924, Muriel Gardiner e Serguei Constantinovitch Pankejeff em 1926, assim como Robert Fliess, filho de Wilhelm Fliess, e Karl Menninger.”

Sofrendo com seus distúrbios digestivos, ela tomou o hábito de acalmar a dor com repetidas injeções de morfina. À medida que sua análise avançava, a dependência transferencial em relação a Freud aumentava, assim como a toxicomania.”

Mahler, Gustav

Ele foi o primeiro a reger de pé, escreveu William Johnston, e um pioneiro na arte de usar técnicas de regência expressiva, servindo-se das duas mãos ao mesmo tempo, para modular cada frase.”

Mahler também conseguiu compreender por que a sua música ficava, de certo modo, <prejudicada> pela intrusão repetitiva de uma melodia banal. Na infância, depois de uma cena particularmente violenta entre seus pais, ele fugira para a rua e ouvira um realejo tocar uma melodia popular vienense. Essa música se fixara na sua memória e retornava sob a forma de uma melodia obsessiva.”

Mais-além do princípio de prazer

Livro de Freud, publicado em 1920 sob o título Jenseits des Lustprinzips. Traduzido para o francês pela 1a vez por Jankélévitch, em 1927, sob o título Au-delà du principe de plaisir, revisto por Angelo Hesnard em 1966 e retraduzido por Jean Laplanche & Jean-Bertrand Pontalis em 1981, sem alteração do título. Novamente retraduzido sem mudança de título, em 1996, por André Bourguignon (1920-1996), Pierre Cotet, Alain Rauzy&Janine Altounian. Traduzido para o inglês em 1922 por C.J.M. Hubback, sob o título Beyond the Pleasure Principle, e retraduzido por James Strachey em 1950, sem mudança do título.”

Agora escolhi como alimento o tema da morte, ao qual cheguei ao esbarrar numa curiosa idéia das pulsões, e eis que me vejo obrigado a ler tudo o que diz respeito a essa questão, como, p.ex., e pela 1a vez, Schopenhauer. Mas não o leio com prazer.” F., no surprises!

Essa declaração, aliás, pode ser entendida como uma resposta antecipada àqueles que, pouco à vontade com a idéia da pulsão de morte ou desejosos de retirar dela seu peso teórico, iriam esforçar-se por não ver nela senão uma noção circunstancial, produto do contexto econômico e político já evocado pelo próprio Freud, ou efeito dos falecimentos ocorridos ao redor dele nessa época — falecimento de Tausk, de Anton von Freund e, acima de tudo, alguns dias depois, em 25 de janeiro de 1920, de sua filha Sophie Halberstadt, cuja morte o deixou transtornado, como ele mesmo disse em numerosas cartas a Ludwig Binswanger ou Oskar Pfister.” Aqueles que, em derrisão à perfunctoriedade teórica de Freud, aperceberam-se de que a psicanálise clássica nada é senão um mergulho passivo e inocente no mais radical niilismo secular.

Mais-além do princípio de prazer, que Laplanche disse ser <o texto mais fascinante e mais desnorteante da obra freudiana>, tamanha a ousadia e a liberdade nele evidenciadas por seu autor, foi rejeitado por numerosos psicanalistas, inclinados a considerar a ousadia como falta de rigor e a liberdade de tom como uma deriva especulativa.”

Como primeira forma de perigo externo, existem as catástrofes naturais, os acidentes graves ou os atos de guerra, circunstâncias capazes de provocar neuroses traumáticas ou neuroses de guerra. Curiosamente, os sonhos que acompanham esses tipos de neuroses remetem reiteradamente os sujeitos às circunstâncias traumáticas de seus acidentes, embora eles não pensem no assunto durante o dia.” “Uma segunda forma de perigos externos é a ilustrada pela brincadeira de algumas crianças muito pequenas. Freud observou que seu neto (Ernstl), filho de Sophie Halberstadt, costumava divertir-se, quando sua mãe se ausentava, atirando para longe da cama os objetos pequenos que estivessem ao alcance de sua mão. Esse gesto era acompanhado por uma expressão de satisfação que assumia a forma vocal de um <o-o-o-o> prolongado, no qual se podia reconhecer o significado alemão fort, isto é, <fora>.”

a rememoração voluntária é ineficaz, e o paciente é obrigado a repetir na análise o recalque, em especial o de sua vida sexual infantil, marcada pela fase edipiana, para conseguir se instalar numa nova neurose, a neurose de transferência, substituta daquela que o fez procurar o analista.”

Freud toma o exemplo das pessoas condenadas a conhecer o fracasso reiteradamente, como se obedecessem a uma ordem <demoníaca>. Quanto a esse ponto, Freud se apóia em observações que fez algumas semanas antes de iniciar a redação do Mais-além (…), quando estava terminando seu artigo sobre O estranho, onde abordou o tema do duplo e do <eterno retorno do mesmo>. Ele reconhece que <efetivamente existe, na vida psíquica, uma compulsão à repetição que se coloca acima do princípio de prazer>.” “Os adversários desse texto censuraram-no por seu caráter especulativo. No entanto, Freud adverte seu leitor quanto a isso, e a seqüência de sua exposição é, com efeito, pura especulação motivada pelo desejo de saber, mesmo com o risco de errar.”

EVERY FUCKING DAMN NIGHT: “Os sonhos em que os sujeitos às voltas com uma neurose traumática¹ revivem a situação do acidente <têm por objetivo o domínio retroativo da excitação>, recriam uma situação em que a angústia, que foi insuficiente na realidade, acha-se agora bastante presente. (…) Esses sonhos constituem uma exceção à lei do sonho como realização de desejo: obedecem à compulsão à repetição, que, por sua vez, está a serviço do desejo inconsciente de permitir que o recalcado retorne.”

¹ Expulsão

Filosofia de século XVIII: “pulsões conservadoras, senhoras do desenvolvimento global do organismo, submetido a uma finalidade regressiva” conservadoras, global, regressiva não têm qualquer sentido GLOBAL nesta frase!

Por que não estudaste a Música Moderna? “O que se tem aí é uma concepção global da vida psíquica cujo funcionamento seria ritmado por um movimento pendular que faz alternar certas pulsões, premidas a atingirem a meta final da vida, com outras que estão mais voltadas para fazer o percurso dessa vida durar.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jacques Derrida, La Carte postale, Paris, Aubier-Flammarion, 1980.

Mal-estar na cultura, O

Livro de Freud publicado em 1930, sob o título Das Unbehagen in der Kultur. Traduzido pela primeira vez para o francês em 1934, por Charles Odier, sob o título Malaise dans la civilisation, e depois, em 1994, por Pierre Cotet, René Lainé & Johanna Stute-Cadiot, sob o título Le Malaise dans la culture. Traduzido para o inglês por Joan Riviere, em 1930 [já?], sob o títuloCivilization and its Discontents, retomado sem modificação por James Strachey em 1961.

Durante muito tempo, O mal-estar na cultura foi considerado proveniente da categoria de escritos freudianos qualificados, não sem uma certa condescendência, de sociológicos ou antropológicos. Longe de ratificar esse ponto de vista, Lacan, no seminário do ano de 1959-1960, dedicado à ética da psicanálise, falou dele como um <livro essencial>, no qual Freud realizara <a síntese de sua experiência> e discorrera sobre a tragédia da condição humana. Peter Gay, por seu turno, estima que O mal-estar na cultura é o texto <mais sombrio> de Freud, aquele em que se aborda sem disfarce e no tom mais grave a questão da <miséria humana>, à qual a crise econômica, a quebra da bolsa de Nova York, ocorrida dias antes de Freud entregar o manuscrito a seu editor, e a ascensão do partido hitlerista na Alemanha conferem toda a sua amplitude.”

Cumulando a degenerescência que começou, a dizer verdade, para Freud, com o século XX.

Por que concentrar-se no mundo se a resposta está no triângulo nesta tua testa, Mr. É.? “O que acontece com esse sentimento de culpa, que surge com tamanha constância, quer o mal tenha sido praticado, quer tenha permanecido em estado de intenção? Na verdade, ele tem uma origem dupla. Para começar, é produto da angústia sentida pela criança diante da autoridade paterna (origem externa): temendo não mais ser amada, a criança é levada a renunciar a satisfazer as pulsões [PULSÃO ZERO!], guiadas unicamente pela busca do prazer. Mas, quando a autoridade é internalizada no Supereu […aí, como diz o poeta, fodeu…], por intermédio da introjeção da agressividade que suscitava, a origem do sentimento de culpa passa a ser interna: desse momento em diante, já não é possível mascarar do Supereu aquilo que persiste no Eu do desejo de satisfazer a pulsão. O sentimento de culpa, gerado pela cultura (representada pelo Supereu), permanece então predominantemente inconsciente e, na maioria das vezes, é vivido sob a forma de um mal-estar ao qual se atribuem outras causas.Claro, porque cultura é uma palavra de semântica TÃO SIMPLÓRIA!! Mais fácil dizer que nada há fora da cultura…

Mann, Thomas

Thomas Mann nasceu em Lübeck, no norte da Alemanha, em 6 de junho de 1875, de mãe mestiça de origem brasileira, cuja beleza exótica e sensual inspiraria ao romancista alguns de seus personagens femininos mais fascinantes, e de um pai originário de uma das mais ilustres famílias protestantes da cidade.”

Aquele que se tornaria um dos maiores escritores alemães do século XX conheceu o sucesso desde 1901, com seu romance Os Buddenbrook, grandioso painel da decadência de uma família burguesa, amplamente inspirado na história de sua própria família paterna.”

Em 1905, casou-se com Katja Pingsheim, com quem teria 6 filhos (…) Klaus, também escritor, que se suicidaria em 1949 (6 anos antes da morte do pai) em Cannes, depois de concluir Le Tournant, sua segunda autobiografia” [!!]

Herdeiro do mundo prometéico da literatura romântica alemã, Thomas Mann foi ligado durante toda a vida à filosofia de Schopenhauer, à de Nietzsche e ao universo wagneriano. Esse fascínio pelas grandes epopéias líricas, pelos sábios loucos e pelos mágicos, sua hostilidade pelas formas de pensamento racionais, suspeitas, a seus olhos, de reducionismo, estavam na origem dos erros e das ambigüidades que caracterizariam sua relação com a política e a psicanálise.

O ódio que Thomas Mann sentia pelos valores do mundo ocidental, do qual excluía a Alemanha, quer se tratasse do parlamentarismo, do internacionalismo, dos ideais socialistas e mais ainda da psicologia, o levou a tomar partido pelo imperialismo prussiano já em 1914. A guerra lhe parecia então uma cruzada em defesa da cultura germânica. Assim, indispôs-se com seu irmão mais velho, Heinrich (1871-1950), também escritor e jornalista, apaixonado pela França e pela Itália, que se engajou em 1914 contra o empreendimento militarista da Alemanha guilhermina. Em 1918, Thomas Mann, amargurado com a derrota alemã, publicou uma obra-prima panfletária, Considerações de um apolítico, de tom populista e nacionalista, na qual atacava novamente, com incrível violência, a psicologia sob todas as suas formas, que acusava de cultivar a evidência e de não respeitar a arte e a criação.”

Em 1924, depois de se reconciliar com o irmão, publicou uma de suas obras mais célebres, A montanha mágica (Der Zauberberg), que lhe valeu uma reputação internacional: o escritor alemão mais conhecido do mundo recebeu o Prêmio Nobel de literatura em 1929. Durante esses anos, suas opiniões políticas mudaram. Desde o surgimento dos primeiros sintomas anunciadores da ascensão do nazismo, aliou-se às forças de esquerda, empenhando todo o seu prestígio nas campanhas eleitorais, multiplicando as conferências para a juventude, colaborando com os sindicatos para impedir a volta da barbárie. Consternado, tomou consciência de uma reviravolta histórica: o nazismo triunfante tomava para si, de modo caricatural mas eficaz, os valores da Alemanha romântica aos quais ele era tão apegado. O justo combate dos filósofos românticos se tornou anacrônico; não era mais hora para a apologia do instinto e do irracional contra a alienação moderna; era preciso mobilizar todas as forças disponíveis para socorrer a civilização ameaçada.”

Em 1996, sua filha Erika, que foi uma Resistente ao nazismo desde a primeira hora, publicou um livro de memórias no qual transcreveu cartas trocadas com o pai, entre 1933 e 1936. Algumas dessas cartas mostram a demora do escritor, então na Suíça, em assumir uma posição pública contra os novos senhores de seu país. A seu irmão Klaus, Erika escreveu: <Cabe a nós, apesar de nossa juventude, uma pesada responsabilidade, na pessoa do nosso pai menor.> Em fevereiro de 1936, Thomas Mann publicou em um jornal suíço uma tomada de posição isenta de ambigüidade, que o reconciliaria com a filha, como prova o telegrama que ela lhe dirigiu: <Obrigada, parabéns, bênção.>

Contraditório em suas declarações, Thomas Mann até se desculparia, em uma carta de 3 de janeiro de 1930 a Freud, pelo caráter tardio de sua compreensão da teoria psicanalítica e de sua adesão aos valores de que ela era portadora, enquanto havia declarado, em 1925, que sua novela Morte em Veneza, publicada em 1912, havia sido escrita sob a influência direta de Freud. Na verdade, ele sempre cultivou a ambigüidade quanto a esse ponto.”

Freud e o pensamento moderno, publicado em 1929, ano do Prêmio Nobel, sem dúvida um dos textos mais admiráveis redigidos sobre Freud, como certas linhas de Stefan Zweig.”

Em 44, adquiriu a nacionalidade americana e dedicou, a partir dessa data, muito de sua energia a descobrir as raízes do cataclisma cuja responsabilidade coletiva, a seus olhos, cabia a seu país-natal. Como observou Jean-Michel Palmier, essa posição seria duramente criticada por Bertolt Brecht (1898-1956), que o acusaria de confundir alemão e nazista.

Em 1945, em um texto intitulado Por que não volto à Alemanha, explicou seu percurso intelectual e político e seu abandono progressivo das raízes alemãs: É verdadeque a Alemanha se tornou estranha para mim durante todos esses anos. Hão de convir comigo que é um país que dá medo.”

Que grau de insensibilidade não foi necessário para ouvir o Fidelio¹ na Alemanha de Himmler, sem cobrir o rosto com as mãos e sair do teatro correndo!”

¹ Wiki: “Fidelio (em português Fidélio), Op. 72b, é um Singspiel em dois atos, de Ludwig van Beethoven, com libretto de Joseph Sonnleithner e Georg Friedrich Treitschke baseado no libreto de Léonore ou L’Amour Conjugal (1798), peça em <prosa entremeada de canto>, de Jean-Nicolas Bouilly, baseada nas memórias do autor sobre os acontecimentos da França durante o Terror, quando ele era promotor público do Tribunal Revolucionário de Tours.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Erika Mann, Mein Vater, der Zauberer, Frankfurt, Rowohlt, 1996.

Marcuse, Herbert

Sua consciência cada vez mais clara das insuficiências do marxismo, mesmo em sua versão hegeliano-marxista, o levou, como Horkheimer e Adorno antes dele, a refletir sobre os obstáculos propriamente psicológicos que se opõem a uma verdadeira mudança social.”

Marcuse preconizava assim uma teoria da libertação que o conduzia a imaginar uma sociedade fundada na superação dos conflitos e na possível <pacificação da existência>. Essa utopia o afastava da teoria crítica de Adorno e de Horkheimer, que permanecia ligada à tese freudiana da pulsão de morte. Marcuse conquistou um sucesso mundial junto aos jovens, no momento das grandes revoltas estudantis dos anos 1960, depois da publicação de O homem unidimensional. Nesse livro profético e muito mais freudiano, apesar das aparências, do que Eros e civilização, o filósofo, longe de pregar a superação dos conflitos, atacava a unificação das consciências e do pensamento. Enfatizando que o homem unidimensional da sociedade industrial tinha perdido todo o seu poder de negação à força de se submeter aos imperativos de uma falsa consciência, conclamava as massas a reatarem com a ética da grande recusa e a se revoltarem contra a ordem social dominante, em nome de uma nova estética da existência.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Paul Robinson, The Freudian Left. Wilhelm Reich, Geza Roheim, Herbert Marcuse, N. York, Harper and Row, 1969.

matema

Termo criado por Lacan em 1971 para designar uma escrita algébrica capaz de expor cientificamente os conceitos da psicanálise, e que permite transmiti-los em termos estruturais, como se tratasse da própria linguagem da psicose.

Foi no âmbito de sua última reformulação lógica, baseada numa leitura da obra de Wittgenstein e orientada para a análise da essência da loucura humana, que Lacan inventou, simultaneamente, o matema e o nó borromeano: de um lado, um modelo da linguagem, articulado com uma lógica da ordem simbólica; do outro, um modelo estrutural, baseado na topologia e efetuando um deslocamento radical do simbólico para o real.

A palavra matema foi proposta por Lacan pela 1a vez em 2 de dezembro de 1971. Cunhada a partir do mitema de Claude Lévi-Strauss e do termo grego mathema (conhecimento), ela não pertence ao campo da matemática. Evocando a loucura do matemático Georg Cantor (1845-1918),¹ Lacan explicou que, se essa loucura não era motivada por perseguições objetivas, estava relacionada à própria incompreensão matemática, i.e., à resistência provocada por um saber julgado incompreensível. Comparou então seu ensino ao de Cantor: seria a incompreensão em que esbarrava esse ensino um sintoma?”

¹ wiki: “Cantor’s work is of great philosophical interest, a fact he was well aware of. Cantor’s theory of transfinite numbers was originally regarded as so counter-intuitive – even shocking – that it encountered resistance from mathematical contemporaries such as Leopold Kronecker and Henri Poincaré and later from Hermann Weyl and L.E.J. Brouwer, while Ludwig Wittgenstein raised philosophical objections.”

Em outras palavras, Lacan colocou-se ao contrário de Wittgenstein: recusando-se a concluir pela separação dos incompatíveis, tentou arrancar o saber do inefável e lhe conferir uma forma integralmente transmissível. Essa forma é justamente o matema, porém o matema não é sede de uma formalização integral, uma vez que pressupõe sempre um resto que lhe escapa. Assim definido, o matema inclui os matemas, isto é, todas as fórmulas algébricas que pontuam a história da doutrina lacaniana e permitem sua transmissão: o significante, o estádio do espelho, o desejo com seus grafos, o sujeito, a fantasia, o Outro, o objeto (pequeno) a e as fórmulas da sexuação.”

mecanismo de desimpedimento (a defesa contra a defesa, para se chegar à melhora efetiva)

Foi E. Bibring que propôs descrever como working-offmechanisms (mecanismos de desimpedimento) certos mecanismos do eu que conviria diferenciar dos mecanismos de defesa clássicos de Freud, uma vez que relacionados especificamente com sua concepção da compulsão à repetição. Segundo este autor, com efeito, a repetição das experiências penosas sob o controle do eu permitiria uma redução ou assimilação progressiva das tensões: <A finalidade dos mecanismos de desimpedimento do eu não é provocar a descarga (ab-reação) nem deixar a tensão livre de perigo (fim do mecanismo de defesa clássico); a sua função é dissolver progressivamente a tensão alterando as condições internas que lhe dão origem.>Bibring descreve diversos métodos de desimpedimento, tais como o desapego da libido (trabalho do luto), a familiarização com a situação ansiógena, etc.

Na mesma linha de idéias, Lagache sublinhou a extensão abusiva do conceito de mecanismo de defesa, que é invocado ao mesmo tempo para explicar compulsões automáticas e inconscientes que a psicanálise procura destruir e, sob o nome de <defesa bem-sucedida>, operações que têm justamente por objeto a abolição dessas compulsões.” “a consciência ou eu-sujeito pode identificar-se com o eu-objeto, de modo que se aliene nele (narcisimo) ou, pelo contrário, objetivar o eu e assim se <desimpedir>.”

ESTÁGIOS DO DESIMPEDIMENTO: (1) a passagem da repetição atuada para a rememoração pensada e falada; (2) a passagem da identificação, pela qual o sujeito se confunde com a sua vivência, para a objetivação, pela qual ele se distancia dessa vivência(3) a passagem da dissociação para a integração; (4) o desapego do objeto imaginário, completado pela mudança de objeto; (5) a familiarização com as situações fóbicas, que substitui a espera ansiosa da situação traumática e fantasística; (6) a substituição da inibição pelo controle, da obediência pela experiência.” Em suma, passa-se sempre da defesa (passiva) para o desimpedimento (ativo).

¹ Ora, para pragmatistas: Tales O Lunático deve ser sempre evocado!

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA (apenas artigos):

Bibring (ed.), The conception of the Repetition Compulsion, 1943, in: Psychoanalytic Quarterly, XII, n. 4;

Lagache, Fascination de la conscience par le Moi, 1957, in: La psychanalise, PUF, Paris, vol. 3, pp. 33-46 (bem como outro artigo no vol. 6 deste mesmo periódico,La psychanalyse et la structure de la personalité, 1958).

melancolia

Termo derivado do grego melas (negro) e kholé (bile)”

Desde a descrição de Homero sobre a tristeza de Belerofonte, herói perseguido pelo ódio dos deuses por ter querido escalar o céu, até a teorização do <espírito melancólico> por Aristóteles, passando pelo relato mítico de Hipócrates sobre Demócrito, o filósofo <louco> que ria de tudo e dissecava os animais para neles encontrar a causa da melancolia do mundo, essa forma de deploração perpétua sempre foi, ao mesmo tempo, a expressão mais incandescente de uma rebeldia do pensamento e a manifestação mais extrema de um desejo de auto-aniquilamento, ligado à perda de um ideal. Daí a idéia, desenvolvida por Erwin Panofsky (1892-1968), de que a história da melancolia seria a história de uma transferência permanente entre o campo da doença e o do espírito que contaria a intensa e sombria irradiação do sujeito da civilização às voltas com a deficiência de seu desejo.

Foi a teoria hipocrática dos quatro humores que, durante séculos, permitiu descrever, de maneira mais ou menos idêntica, os sintomas clínicos dessa doença: ânimo entristecido, sentimento de um abismo infinito, extinção do desejo e da fala, impressão de hebetude, seguida de exaltação, além de atração irresistível pela morte, pelas ruínas, pela nostalgia e pelo luto.” “A melancolia ou bile negra imita a terra, aumenta no outono e impera na maturidade.” “Doença da maturidade, do outono e da terra, a melancolia também pode diluir-se nos outros humores e caminhar de mãos dadas com a alegria e o riso (o sangue), a inércia (a fleuma) e o furor (a bile amarela): através dessas misturas, portanto, ela afirmaria sua presença em todas as formas de expressão humana. Daí nasceria a idéia de uma alternância cíclica entre um estado e outro (mania e depressão), característica da nosografia psiquiátrica moderna.

Entretanto, como humor sombrio, a melancolia estaria ligada à doença de Saturno, deus terreno dos romanos, mórbido e desesperado, identificado com o Cronos da mitologia grega, que havia castrado o pai (Urano) antes de devorar os filhos. Assim, os melancólicos eram chamados de saturninos, mas cada época construiu sua própria representação da doença.

Se o médico inglês Thomas Willis (1621-1675) foi o primeiro, no século XVII, a aproximar a mania da melancolia para definir um ciclo maníaco-depressivo, foi o filósofo Robert Burton (1577-1640) quem forneceu, em 1621, com Anatomy of Melancholy, a versão canônica de uma nova concepção da melancolia, já introduzida nos costumes. A partir do fim da Idade Média, com efeito, o termo tornou-se sinônimo de uma tristeza sem causa, e a antiga doutrina dos humores foi progressivamente substituída por uma causalidade existencial. Falava-se então de temperamento melancólico, pensando em Hamlet, que, na virada do século, tinha-se tornado a imagem por excelência do drama da consciência européia: um sujeito entregue a si mesmo, num mundo perpassado pelo advento da revolução copernicana.”

Parecia atingir tanto os jovens burgueses, excluídos dos privilégios conferidos pelo nascimento, quanto os decaídos na escala social, que haviam perdido todos os referenciais. Grassava também entre os aristocratas ociosos, privados do direito de fazer fortuna. Tédio da felicidade, felicidade do tédio, sentimento de derrisão ou aspiração à felicidade de superar o tédio, a melancolia funcionava como um espelho onde se refletiam a falência geral da ordem monárquica e a aspiração à intimidade pessoal”

Todas as histórias universais e as buscas das causas me entediam. Esgotei todos os romances, contos e peças teatrais; somente as cartas, a vida particular e as memórias escritas pelos que fazem sua própria história ainda me divertem e me inspiram certa curiosidade. A moral e a metafísica provocam-me um tédio mortal. Que posso dizer-lhes? Vivi demais.”Marie Deffand

Acreditava-se também que alguns climas favoreciam a doença, mais freqüente nos países nórdicos do que nas regiões meridionais. Por fim, na mulher, ela era freqüentemente aproximada da doença dos vapores, ora atribuída ao baço, fonte da bile negra, ora ao útero, lugar imaginário da sexualidade feminina.”

Chamada de lipemania por Jean-Étienne Esquirol (1772-1840), a melancolia assumiu posteriormente o nome de loucura circular, sob a pena de Jean-Pierre Falret (1794-1870), sendo então aproximada da mania. No fim do século, foi integrada por Emil Kraepelin à loucura maníaco-depressiva, fundindo-se em seguida à psicose maníaco-depressiva.

Se os herdeiros da nosografia alemã tenderam a fazer a melancolia submergir no vocabulário técnico do discurso psiquiátrico,os fenomenologistas conservaram o termo, também eles efetuando uma aproximação da mania. Foi o que se deu, em particular, com Binswanger, que designou a melancolia como uma alteração da experiência temporal, e a mania como uma deficiência da relação intersubjetiva.

Pouco interessado nessa psiquiatrização do estado melancólico, Freud renunciou a aproximar a mania da depressão, preferindo revigorar a antiga definição da melancolia: não uma doença, mas um destino “Enquanto o sujeito, no trabalho do luto, consegue desligar-se progressivamente do objeto perdido, na melancolia, ao contrário, ele se supõe culpado pela morte ocorrida, nega-a e se julga possuídopelo morto ou pela doença que acarretou sua morte. Em suma, o euse identifica com o objeto perdido, a ponto de ele mesmo se perder no desespero infinito de um nada irremediável.”

No fim do século XX, a depressão, forma atenuada da melancolia, vai se tornando, nas sociedades industriais avançadas, uma espécie de equivalente da histeria da Salpêtrière, outrora exibida por Charcot: uma verdadeira doença de época.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Aristóteles, L’Homme de génie, prefácio e apresentação de Jackie Pigeaud, Paris, Rivages, 1988;

Julia Kristeva, Soleil noir. Dépression et mélancolie, Paris, Gallimard, 1987.

Mesmer, Franz Anton

Mozart morreu aos 35!

Foi muitas vezes confundido com seu duplo, Joseph Balsamo (1743-1795), dito Cagliostro, célebre aventureiro imortalizado por Alexandre Dumas. Esses dois homens não se pareciam, mas ambos pertenciam às lojas maçônicas e freqüentavam os círculos iluministas: Essas filiações, escreveu Robert Amadou, lhes abriram as portas dos meios mais cultos do século das Luzes. Mas Cagliostro […] só tocou no magnetismo por acidente e se apresentava como um alquimista fazedor de ouro e um necromante invocador de fantasmas. Sob essa máscara, era um prestidigitador hábil e um escroque de rica imaginação. Mesmer era autenticamente médico da Faculdade de Viena e conhecedor da física, da filosofia e da teologia do seu tempo. Acrescentara aos seus conhecimentos ciências proibidas, como a astrologia e a química. Como Fausto, sabia coisas demais, e não tinha gênio suficiente para tirar delas um sistema coerente e aceitável pelos sábios que conheciam as descobertas de Newton.

Em 1773, Mesmer popularizou a doutrina do magnetismo animal, que daria origem ao hipnotismo (hipnose) inventado por James Braid, à sugestão e à teoria freudiana da transferência. Afirmava que as doenças nervosas provinham de um desequilíbrio na distribuição de um fluido universal, que circulava no organismo humano e animal. Com Oesterline, uma jovem de 29 anos, que sofria de distúrbios histéricos, vômitos, sufocações e cegueira, experimentou pela 1a vez um tratamento dito magnético.”

metapsicologia

F. parece haver considerado que a reflexão metapsicológica, com suas inevitáveis especulações, constituía a única defesa epistemológica em condições de erguer uma barreira contra as derivas psicologizantes ou organicistas que, já em sua época, constituíam o principal perigo para essa nova ciência.”

Mitscherlich, Alexander

Daí o seu interesse pela psicossomática, método segundo o qual o sujeito é levado, com o médico, a estabelecer uma ligação entre o seu ser e o soma. Pelas mesmas razões, dedicou-se a uma longa reflexão sobre o passado nazista da Alemanha. Essas duas orientações fariam dele um marginal nos meios médicos e universitários, e um pensador célebre no seu país e no estrangeiro, pela sua coragem e pela originalidade dos seus trabalhos.”

Sejamos claros e falemos francamente: a ciência da psicanálise fundada por Freud ficou inacessível e estranha aos alemães — não digo apenas a um grande número, mas à maioria dos alemães; ou melhor, aos alemães. Eles desenvolveram contra ela uma antipatia coletiva, da qual se glorificaram por muito tempo.”

BIBILIOGRAFIA SUGERIDA:

Alexander Mitscherlich & Margarete Mitscherlich, Le Deuil impossible (Munique, 1967), Paris, Payot, 1972;

Hans Martin Lohman, Psychoanalyse und National-Sozialismus, Frankfurt, Fischer, 1984.

Moisés e o monoteísmo

Ao querer demonstrar que Moisés era egípcio, ele não pretendia chocar o catolicismo austríaco, que protegia os judeus do nazismo, nem despojar simbolicamente o povo judeu de seu evento fundador (a saída do Egito e o recebimento da Torah no Sinai), no momento em que o regime hitlerista começava a persegui-lo. Inicialmente publicados sob a forma de artigos, os três ensaios foram reunidos em livro depois que Freud se instalou em Londres.”

Qual é a especificidade desse monoteísmo judaico que, através das eras, induz a tamanho sentimento de participação num grupo, mesmo quando desaparece qualquer vestígio de prática religiosa? Que significa ser judeu, quando já não se recorre ao judaísmo?” “Esse sentimento, pelo qual um judeu se mantém judeu em sua subjetividade, mesmo sendo descrente, era experimentado pelo próprio Freud”

Eis a essência do livro: o monoteísmo não é uma invenção judaica, mas egípcia, e o texto bíblico só fez deslocar sua origem, posteriormente, para um tempo mítico, atribuindo sua fundação a Abraão e seus descendentes. Na realidade, ele proveio do faraó Amenófis IV, que fez dele uma religião, baseada no culto ao deus solar Aton. Para banir o antigo culto, ele se fez denominar de Aquenaton. Seguindo-se a ele, Moisés, alto dignitário egípcio e partidário do monoteísmo, assumiu a chefia de uma tribo semita e deu ao monoteísmo uma forma espiritualizada. Para distingui-la das outras, introduziu o rito egípcio da circuncisão, com isso pretendendo mostrar que Deus teria <eleito>, através dessa <aliança>, o povo escolhido por Moisés. Mas o povo não suportou a nova religião, matou o homem que se pretendia profeta e recalcou a lembrança do assassinato, que retornou com o cristianismo”

Os povos que hoje se entregam ao anti-semitismo só se cristianizaram tardiamente e, em muitos casos, foram obrigados a fazê-lo por uma coerção sangrenta. Dir-se-ia que todos foram ‘mal batizados’; sob uma tênue capa de cristianismo, continuaram, como seus ancestrais, apaixonados por um politeísmo bárbaro. Não superaram sua aversão pela nova religião, mas a deslocaram para a fonte de onde lhes veio o cristianismo […]. Seu anti-semitismo, no fundo, é um anticristianismo, e não surpreende que, na revolução nacional-socialista alemã, essa relação íntima entre as duas religiões monoteístas encontre expressão tão clara no tratamento hostil de que ambas são objeto.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Karl Abraham, “Amenhotep IV (Echnaton). Contribution psychanalytique à l’étude de sa personnalité et du culte monothéiste d’Aton” (1912), in Oeuvres complètes, I, 1907-1914, Paris, Payot, 1965, pp. 232-57.

Moser, Fanny (Emmy von N.)

Juntamente com Anna O., Lucy R., Katharina, Frau Cäcilie M. e Elisabeth von R., Emmy von N. é uma das pacientes cuja história foi apresentada por Breuer & Freud nos Estudos sobre a histeria.”

Viúva e mãe de 2 filhas, também elas afetadas por distúrbios nervosos, essa mulher manifestava uma grave fobia ante a visão de certos animais. A análise durou 6 semanas, durante as quais Freud lhe fez massagens no corpo, prescreveu-lhe banhos e procurou, através do sono artificial, da hipnose e de um diálogo catártico, libertá-la de seus afetos dolorosos. Afirmou tê-la curado. Em 1º de maio de 1889, numa crise de pânico, ela lhe ordenou que se afastasse e não a tocasse mais: Fique tranqüilo, disse, não fale comigo… Não toque em mim!” “Emmy fabricou, segundo se disse, as proibições necessárias a uma nova técnica de tratamento, fundamentada na retirada do olhar. Depois dela, o médico tornou-se psicanalista e se instalou fora da visão do doente, renunciando a tocá-lo e se obrigando a escutá-lo.” BEM AMBÍGUO!

Foi em Amsterdam, em 65, no congresso da IPA, que o historiador sueco Ola Andersson expôs o verdadeiro destino de Fanny Moser. Levando em conta o que havia acontecido com Ernest Jones depois da divulgação da identidade de Bertha Pappenheim (Anna O.), ele aguardou 14 anos para publicar sua comunicação, na qual, aliás, não revelou o nome de Emmy von N. Em 1977, apoiando-se no trabalho de Andersson, o historiador Henri F. Ellenberger publicou a primeira revisão do caso, fornecendo a identidade da moça e acrescentando um estudo sobre o destino de suas duas filhas, Fanny (filha) e Mentona. Graças a esses trabalhos, sabemos que Fanny Moser nunca foi curada de sua neurose, nem por Freud nem por seus sucessivos médicos.”

Aos 23 anos, ela desposou um negociante riquíssimo, 40 anos mais velho e já pai de 2 filhos, o qual, ao morrer, legou-lhe toda a sua fortuna. Por isso, foi acusada de tê-lo envenenado. A suspeita de assassinato lhe pesou a tal ponto que ela nunca conseguiu realizar seu mais caro anseio: ser recebida nos salões da aristocracia européia. Levou uma vida errante, teve amantes entre seus médicos e acabou se apaixonando por um rapaz que lhe roubou parte de sua fortuna.

Suas duas filhas foram marcadas, cada qual à sua maneira, pelos significantes da neurose materna: uma se especializou em zoologia e a outra se rebelou contra os valores da classe dominante da qual era um produto puro. Tornou-se militante comunista e, mais tarde, também se interessou pelos animais, havendo publicado, em 1941, uma coletânea de histórias destinadas às crianças.” HAHAHAHAHAHAHA!

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Ola Andersson, Freud avant Freud. La Préhistoire de la psychanalyse (Estocolmo, 1961), Paris, Synthélabo, col. “Les empêcheurs de penser en rond”, 1997.

narcisismo

A lenda e o personagem de Narciso foram celebrizados por Ovídio na terceira parte de suas Metamorfoses.”

O amor dos pais, tão tocante e, no fundo, tão infantil, não é outra coisa senão seu narcisismo renascido, que, a despeito de sua metamorfose em amor de objeto, manifesta inequivocamente sua antiga natureza.” F.

Foi sobre o ponto até hoje confuso da localização do narcisismo primário e de sua relação com a constituição do eu que se fundamentou a concepção lacaniana do estágio do espelho, desenvolvida em 49.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Bela Grunberger, Le Narcissisme. Essais de psychanalyse, Paris, Payot, 1971.

neofreudismo, neo-freudismo

Para os neofreudianos, o freudismo figura como uma doutrina original que, embora historicamente reivindicada, deve ser ultrapassada. Os neofreudianos, com efeito, contestam o dogmatismo freudiano e seu universalismo. Daí o caráter avulso e atomizado desse movimento, que, em virtude de suas convicções culturalistas, sempre rejeitou o próprio princípio de uma organização centralizada, de espírito internacionalista. Entre os principais representantes do neofreudismo figuram Karen Horney, Erich Fromm e Harry Stack Sullivan.”

neurastenia [coisa do século passado? digo, retrasado…]

ver também “neurose atual”

Afecção descrita pelo médico americano George Beard (1839-83). Compreende uma fadiga física de origem <nervosa> e sintomas dos mais diversos registros.” “F. (…) coloca-a no quadro das neuroses atuais, ao lado da neurose de angústia, e busca a sua etiologia num funcionamento sexual incapaz de resolver de forma adequada a tensão libidinal (masturbação).”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Beard, Sexual Neurasthenia (Nervous exhaustion), its Hygiene, Causes, Symptoms, and Treatment, NY, 1884.

neurose

Ver também o verbete “histeria”

O problema colocado pela expressão <escolha da neurose> situa-se na própria base de uma psicopatologia analítica. Como e por que certos processos gerais que explicam a formação da neurose (por exemplo, o conflito defensivo¹) se especificam em organizações neuróticas tão diferenciadas que não se pode estabelecer uma nosografia?” “O problema, pela sua amplitude, excede os limites desta obra.” “Todavia, não é indiferente que, numa concepção que invoca um determinismo absoluto, apareça este termo sugerindo que seja necessário um ato do sujeito para que os diferentes fatores históricos e constitucionais evidenciados pela psicanálise assumam o seu sentido e o seu valor motivante.”

¹ Ver verbete MECANISMO DE DESIMPEDIMENTO.

Têm uma sede orgânica reconhecida (neurose digestiva, neurose cardíaca, neurose do estômago, etc.) ou ao menos postulada. São afecções funcionais, i.e., sem inflamação nem lesão de estrutura do órgão. Abrangeria hoje desde a clássica histeria até a neurastenia (psicossomática, síndromes do trato digestivo) e doenças praticamente biológicas formais, como o Parkinson e a epilepsia.” Ainda assim, não está descartada uma “intromissão fronteirística” com tipos de psicose.

Já no século XIX a historiografia do termo neurose é muito ampla e ramificada. “Janet distingue essencialmente 2 grandes categorias de neuroses: a histeria e a psicastenia (derivada do termo neurastenia; neurose obsessiva em Freud). “

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Georges Lantéri-Laura, “Névrose et psychose: questions de sens, questions d’histoire”, Autrement, 117, outubro de 1990, 23-31;

Barras, Traités sur les gastralgies et les entéralgies, ou maladies nerveuses de l’estomac et de l’intestin, 1829.

neurose atual

Do ponto de vista terapêutico, essas opiniões levam à idéia de que as neuroses atuais nada têm a ver com a psicanálise, pois aqui os sintomas não procedem de uma significação que poderia ser elucidada.” “Freud tentou por várias vezes estabelecer correspondência termo a termo entre a neurastenia e a neurose de angústia, por um lado, e, por outro, entre as diversas neuroses de transferência. (…) [Mas] <o sintoma da neurose atual é muitas vezes o núcleo e a fase precursora do sintomas psiconeuróticos>

Hoje [Lacan?], o conceito de neurose atual tende a apagar-se da nosografia na medida em que, seja qual for o valor precipitante dos fatores atuais, encontramos sempre nos sintomas a expressão simbólica de conflitos mais antigos.” “a existência de um conflito atual agudo [mercado de trabalho, péssimo pai, assédio no trabalho, fascismo no país, etc.] é muitas vezes um obstáculo ao curso do tratamento psicanalítico”

Sintomas ligados à psicossomática (neurastenia em Freud): fadigas não-justificadas, dores vagas…

TÃO ÓBVIO… “Note-se, por fim, que Freud considera na sua teoria apenas a não-satisfação das pulsões sexuais.¹ Seria necessário levar em conta ainda, na gênese de sintomas neuróticos atuais e psicossomáticos, a repressão da agressividade.”

¹ Estivesse certo este imbecil, eu já estaria numa camisa-de-força há muito tempo!

Não adianta jogging, Mary of Anti-help, Rumals, etc.!

Preciso ser mais grosso, mas não como meu pai.

Eleger meus inimigos e envolver essa missão nos meus projetos literários.

Cruzada no serviço público

neurose de angústia

Sub-espécie da neurose atual descrita logo acima. Porém, a nosografia freudiana encontra-se ultrapassada.

neurose de caráter

organização patológica do conjunto da personalidade” “As formações reativas<evitam os recalques secundários realizando de uma vez por todas uma modificação definitiva da personalidade> (Fenichel).”

neurose de destino (ou a compreensão burra do Eterno Retorno)

ver também COMPULSÃO À REPETIÇÃO

Nietzsche e o próprio Sócrates diriam que o destino sempre nos puxa para aquilo que nascemos e a que devemos nos dedicar, mas F. não entende colocações filosóficas dessa grandeza: “Designa uma forma de existência caracterizada pelo retorno periódico de encadeamentos idênticos de acontecimentos, geralmente infelizes, encadeamentos a que o sujeito parece estar submetido como a uma fatalidade exterior, ao passo que, segundo a psicanálise, convém procurar as suas causas no inconsciente”

<os casos daquelas pessoas que dão a impressão de que um destino as persegue, de que há uma orientação demoníaca da sua existência (benfeitores pagos com ingratidão, amigos traídos, etc.).>

ESTUDOS “LITERÁRIOS” DO SR. FREUD: “ela não tem valor nosográfico mas descritivo. A idéia de neurose de destino pode ser facilmente tomada num sentido muito amplo: o curso de toda a existência seria <antecipadamente modelado pelo sujeito>.¹”

¹ Barafunda freudiana ao chamar nosso simples livre-arbítrio e capacidade criativa de compulsão à repetição. Na verdade, ironia, era seu destino achar compulsões onde não havia nenhuma. Incapaz de aceitar algo óbvio ou tautológico como dado, assistemático, procurava sempre teorizar a vida do sujeito enquanto suposto escravo de seu inconsciente (como se o isso não fosse nós mesmos!).

Como bem reconhece Laplanche, “ao generalizar-se, o conceito [quer algo mais arbitrário?] corre o risco de perder até o seu valor descritivo [uma vez que] exprimiria TUDO o que o comportamento de um indivíduo oferece de recorrente, e mesmo de constante. [Como se um indivíduo pudesse escapar a uma rotina – engraçado que quanto mais se tenta insinuar uma rebeldia contra esta neurose de destino, mais o sujeito cairia no seu oposto simetricamente mórbido, uma neurose de caráter.]”

Surgem como uma fatalidade externa de que o sujeito se sente vítima, e parece que com razão” É uma necessidade que um filósofo seja incompreendido em seu meio, ora.

o sujeito não tem acesso a um desejo inconsciente que lhe vem do exterior” – o que Heidegger chamava de missão do Ser ou o pensamento único de cada filósofo.

Outro exemplo: Freud admitia como uma necessidade o fato de que ele não era capaz de acordar cedo, pois trabalhava, de modo insone, sempre até muito tarde. Nada há nisso de hipócrita, enquanto o indivíduo se mantém coerente e à vontade com sua inevitável mania de assim o ser. O desagradável, para mim, é sentir que sou mais cordato no dia-a-dia do que devera ser (mas não se pode ser o próprio deus sem pagar o preço, certo?). O absolutamente desejável é que eu seja diferente dos outros e à frente do meu próprio tempo.

neurose de guerra

Ver Alemanha, nazismo, suicídio

o suicídio explícito e a melancolia são menos freqüentes quando a guerra autoriza o heroísmo da morte, e as neuroses são tão mais numerosas e manifestas quanto mais a sociedade na qual se exprimem tem todas as aparências de estabilidade.”

neurose de transferência

neurose artificial”: tratada em consultório, pelo analista, pois se refere a circunstâncias desviantes que não pertencem exatamente à personalidade do analisando e que podem ser objeto de melhoramento por parte do analista. As neuroses curáveis.

Na perspectiva freudiana, podemos ter por modelo ideal do tratamento a seguinte seqüência: a neurose clínica transforma-se em neurose de transferência, cuja elucidação leva à descoberta da neurose infantil.”

Regra geral, o médico não pode poupar ao analisando esta fase do tratamento. É obrigado a deixá-lo reviver um certo fragmento da sua vida esquecida, mas tem de cuidar para que o doente mantenha uma certa distância em relação à situação que lhe permita, apesar de tudo, reconhecer naquilo que surge como realidade o reflexo renovado de um passado esquecido.”

neurose familiar

Expressão usada para designar o fato de que, em uma determinada família, as neuroses individuais se completam, se condicionam reciprocamente, e para evidenciar a influência patogênica que a estrutura familiar, principalmente a do casal parental, pode exercer sobre as crianças.”

Idiossincrasia da psicanálise francesa.

René Laforgue insiste em particular na influência patogênica de um casal parental constituído em função de uma certa complementaridade neurótica (casal sadomasoquista, por exemplo).” “criança encarada como sintoma dos pais”

O supereu da criança não se forma à imagem dos pais, mas antes à imagem do Supereu deles; enche-se com o mesmo conteúdo,¹ torna-se o representante da tradição, de todos os juízos de valor que subsistem assim através das gerações.” Laforgue

¹ Aplicando ao meu caso: “você é um lixo.”

neurose mista

As neuroses raramente se apresentam em estado puro: este fato é amplamente reconhecido pela clínica psicanalítica. Insiste-se, p.ex., na existência de traços histéricos na raiz de qualquer neurose obsessiva e de um núcleo atual em qualquer psiconeurose.”

neurose narcísica

Expressão em extinção (…) se oporia, para F., às neuroses de transferência [casos intratáveis, ou seja, psicoses].”

Mais tarde, num mea culpa, especialmente no artigo Neurose e psicose (1924), irá restringir o uso da expressão neurose narcísica às afecções do tipo melancólico

neurose obsessiva

No plano clínico, manifesta-se através de (…) uma ruminação mental permanente, na qual intervêm dúvidas e escrúpulos que inibem o pensamento e a ação.”

Enquanto a histeria era conhecida desde a Antiguidade, a obsessão apareceu tardiamente na clínica das doenças nervosas.” “No caso da histeria, a possessão é mais sonambúlica, passiva, inconsciente e <feminina>: é o demônio que se apodera de um corpo de mulher para torturá-lo. Na obsessão, ao contrário, ela é ativa e <masculina>: é o próprio sujeito que é internamente torturado por uma força diabólica, embora permaneça lúcido quanto a seu estado.” “A histeria é uma arte <feminina> da sedução e da conversão, e a obsessão, um rito <masculino> comparável a uma religião.” “Constatando a analogia entre a religião (cujos rituais são portadores de um sentido) e o cerimonial da obsessão (onde esses mesmos rituais correspondem apenas a uma significação neurótica), F. passou a caracterizar a neurose como uma religião individual e a religião como uma obsessão universal.” “relação sadomasoquista interiorizada sob a forma da tensão entre o eu e um Supereu particularmente cruel

Janet, pouco depois de Freud, descreveu, sob a denominação de psicastenia, uma neurose próxima daquilo que Freud designa por neurose obsessiva, mas centrando a sua descrição em torno de uma concepção etiológica diferente”

Atualmente aceita-se que a tradução é equivocada: o sentido mais germanicamente correto seria “neurose compulsiva”.

neurose traumática

tal <fixação no trauma> é acompanhada de uma inibição mais ou menos generalizada da atividade do sujeito.”

A noção de traumatismo na medicina clássica é antes de mais nada somática (…) subdividem-se os traumatismos em feridas e contusões (ou traumatismos fechados) conforme haja ou não efração do revestimento cutâneo. Em neuropsiquiatria, fala-se de traumatismo em 2 acepções muito diferentes, a segunda das quais nos interessa.

Transpõe-se de forma metafórica para o plano psíquico a noção de traumatismo, que qualifica então qualquer acontecimento que ocasione uma brusca efração [ruptura] na organização psíquica do indivíduo.¹”

¹ Meu pai é meu inimigo e não meu amigo (ou, o mais implícito significado entranhado no Complexo de Édipo, simplesmente um pai). Dois marcos: 1) a expulsão do colégio militar e a perda do universo de amigos (meu Paraíso do Gêneses desde então), com direito a sabotagem psicológica por parte da própria instituição (meu Urstaat); 2) a festa do primo em que finalmente estourou o conflito e verbalizei o desejo trancado no coração: POR QUE VOCÊ NÃO MORRE LOGO, MISERÁVEL?. Notar que este evento se realizou APÓS meu único sonho de super-interpretação até o momento, o sonho em que descobri que não queria de forma alguma a morte do meu pai. Significa que num lapso de 1 ou 2 anos a situação se tornou tão sensivelmente outra que meu julgamento inconsciente mais enraizado pôde permitir a ida ao consciente da pulsão contrária, agora a mais condizente com as coisas (meu inconsciente não mais censura, a partir de 2012/13 minha vontade manifesta de que meu pai morra – superou dentro de si esse binarismo; não, é claro, se sofrer com isso intensa culpa introjetada pelo Supereu dos meus ancestrais). Fatos do mundo real cada vez mais tornam inviável qualquer prevalência do atavismo superegóico do respeito ao Deus-pai e conservação das tradições da árvore genealógica.

Fenichel, como sempre, nas obras já demarcadas neste post, oferece comentários muito ricos para a questão.

Se aplicada a uma “tendência inata do sujeito a procurar situações traumáticas”, o chamado traumatófilo, ou a uma tentativa defensiva do sujeito de superar um trauma origjnal através de outros traumas, o que acaba gerando um trágico efeito bola de neve, ressaltam os autores do Vocabulário, que “a noção de neurose traumática não seria, nesta perspectiva, mais do que uma primeira aproximação, puramente descritiva,¹ que não resistiria à análise mais aprofundada.”

¹ LEI INEXORÁVEL DA PSICANÁLISE: Sempre que se fala em aproximação ou elaboração descritiva, trata-se de um reconhecimento da esterilidade do método psicanalítico, uma vez que descrição é – para a angústia dos psicanalistas – psicologia e metafísica, e não psicanálise. Reflete-se sobre uma co-morbidade da história do sujeito aventando hipóteses jamais passíveis de comprovação, e que tornam o aparato psicanalítico inútil na clínica ou terapia, uma vez que não se sabe se o que se apresenta é um problema, na verdadeira acepção da palavra, e, mesmo que o fosse, não se sabe que tipo de problema e que conduta profissional seria a mais indicada para o tratamento. Em outros termos, se se não reconhece o trauma como inscrito no quadro da neurose ou da psicose, nada se pode fazer a respeito. O livro de Freud Além do princípio de prazer foi sua tentativa de lidar com o fracasso e desmantelamento de todas as suas descobertas: recorrendo a artifícios como pulsão de vida e pulsão de morte, ele não chegou a uma salvação da psicanálise e a uma solução satisfatória do problema. Antes, o agravou. Pode-se considerar este livro como uma confissão de culpa e o fim da História Romântica da Psicanálise. A queda dela mesma no mesmo pântano de niilismo terapêutico contra o qual Freud lutou durante toda a sua vida. A partir de 1920 a Psicanálise é um ectoplasma dos problemas da civilização contemporânea. Um meio terapêutico ou ciência da saúde tão forte ou fraca como qualquer outra. O psicanalista contemporâneo competente precisa se ater aos escritos psicanalíticos de 1895-1920 ou buscar em Lacan e outros autores um aporte que não torne seu trabalho despido de sentido, validade e eficácia.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Lagache, Deuil pathologique, 1957.

nó borromeano

Expressão introduzida por Lacan, em 72, para designar as figuras topológicas (ou nós trançados) destinadas a traduzir a trilogia do simbólico, do imaginário e do real, repensada em termos de real/simbólico/imaginário (R.S.I.) e, portanto, em função da primazia do real (isto é, da psicose) em relação aos outros dois elementos.”

Desde 50, juntamente com seu amigoGeorges T. Guilbault, Lacan vinha-se entregando a exercícios topológicos que se assemelhavam aos jogos com números e às periodicidades que Freud e Fliess faziam no chamado período da autoanálise. Essa atividade lúdica consistia em atar pedaços de barbante indefinidamente, em encher bóias de criança, trançar e recortar, em suma, em transcrever uma doutrina em figuras topológicas. Assim, a banda de Moebius, sem avesso nem direito, forneceu a imagem do sujeito do inconsciente, assim como o toro ou a câmara de ar designavam um furo ou uma hiância, isto é, um <lugar constitutivo que, no entanto, não existe>.”

a expressão nó borromeano, que remetia à história da ilustre família Borromeu. As armas dessa dinastia milanesa, com efeito, compunham-se de três anéis em forma de trevo, simbolizando uma tríplice aliança. Se um dos anéis se retirasse, os outros dois ficariam soltos, e cada um remetia ao poder de um dos três ramos da família.”

Nome-do-Pai

Termo criado por Lacan em 53 e conceituado em 56, para designar o significante da função paterna.” “Evocando a natureza da relação de Daniel Paul Schreber com o pai, Lacan fez da psicose do filho uma <forclusão do nome-do-pai>.”

Lacan foi o primeiro dos comentadores de Freud a teorizar o vínculo existente entre o sistema educacional de um pai e o delírio de um filho. É possível que essa idéia lhe tenha ocorrido a partir da lembrança da relação entre seu pai (Alfred) e seu avô (Émile), dramaticamente vivida por ele.” “Sendo forcluso o significante do Nome-do-Pai, ele retorna no real sob a forma de um delírio contra Deus, encarnação de todas as imagens malditas da paternidade.”

Novas conferências introdutórias sobre a Psicanálise

Livro de Freud publicado em alemão, em 1933, sob o título Neue Folge der Vorlesungen zur Einführung in die Psychoanalyse. Traduzido para o francês pela primeira vez em 1936, por Anne Berman (1889-1979), sob o título Nouvelles conférences sur la psychanalyse, mais tarde, em 1984, por Rose-Marie Zeitlin, sob o título Nouvelles conférences d’introduction à la psychanalyse, e novamente em 1995, por Janine Altounian, André Bourguignon, Pierre Cotet, Alain Rauzy e Rose-Marie Zeitlin, sob o título Nouvelle suite des leçons d’introduction à la psychanalyse. Traduzido para o inglês pela primeira vez em 1933, por W.J.H. Sprott, e depois em 1964, por James Strachey, sob o título New Introductory Lectures on Psycho-Analysis.”

A continuidade entre as duas séries de conferências é evidente. Não apenas ela se materializa na numeração das novas lições, a primeira das quais leva o número 29, como também se manifesta pela permanência dos objetivos: não mascarar nada da complexidade das questões abordadas, não dissimular coisa alguma das lacunas e incertezas persistentes.

Ao longo dessas 7 conferências, como testemunham a clareza do estilo e a firmeza da argumentação, F. está convencido, como atesta uma carta de 27 de novembro de 1932 a Arnold Zweig, de que acaba de escrever seu último livro. Ele expressa essa mesma idéia, com uma ponta de ironia, numa carta a Max Eitingon datada de 20 de março de 1932, afirmando que <sempre se deve estar fazendo alguma coisa, mesmo com o risco de ser interrompido — mais vale isso do que desaparecer em estado de preguiça>.”

Havendo o estudo do sonho permitido que Freud desse o passo <que leva de um procedimento psicoterápico a uma psicologia das profundezas>, é normal que ele seja o objeto da primeira aula dessa coletânea.”

Quanto aos sonhos de angústia, ligados aos acontecimentos traumáticos, que sabemos haverem constituído, em Mais-além do princípio de prazer, o ponto de partida da idéia da compulsão à repetição, premissa da conceituação da pulsão de morte, Freud se mantém prudente. Em 1923, ele considerava esses sonhos como a única verdadeira exceção a sua tese. Dez anos depois, acha bastante difícil <adivinhar> qual moção de desejo seria passível de se satisfazer com o retorno de acontecimentos penosos, e admite que sua tese, por mais correta que seja, ainda assim venha a passar por modificações ligadas à existência de outras forças psíquicas contraditórias”

A segunda conferência trata da questão do ocultismo, objeto de vivas controvérsias no movimento psicanalítico durante a década de 20-30.” “Freud abordou a questão do ocultismo, em pelo menos duas ocasiões, sob a rubrica mais geral da telepatia, na década de 20.” “F. se volta para os pretensos sonhos telepáticos (uma pessoa sonha com um acontecimento que se produz na realidade). Admitindo a hipótese de uma mensagem telepática cuja recepção fosse favorecida pelo estado de sono, ainda assim ele submete esse fenômeno ao trabalho de interpretação psicanalítica e demonstra que a dimensão telepática funciona, na realidade, como um resíduo diurno, modificado pelo trabalho do sonho. Após o exame de um certo número de exemplos, impõe-se a conclusão: como tal, o sonho telepático continua hermético e somente o trabalho psicanalítico do sonho permite apreender seu sentido.”

EU ESTOU ERRADO, QUERIA ESTAR CERTO, MAS PENSANDO MELHOR NINGUÉM PODE ESTAR CERTO SE NÃO CONCORDAR COMIGO: “Com a quinta conferência, Freud retorna a um terreno onde nunca se sentiu muito à vontade: o da sexualidade feminina, uma faceta do que ele denomina, em termos mais gerais, o enigma da feminilidade. Como no texto de 1931 consagrado a esse tema, ele dá mostras de prudência e diz querer referir-se, essencialmente, às pesquisas conduzidas por suas colegas que se debruçaram sobre o assunto. Sem registrar claramente suas intenções, F. parece querer corrigir sua concepção, conferindo um papel essencial à mãe na instauração e na resolução do complexo de Édipo, bem como na evolução do complexo de castração na menina — mas com a condição de que esse texto em nada perturbe sua tese da libido única e sua concepção falicista.Por isso é que ele seria criticado, em particular ao ser novamente discutida a questão da sexualidade feminina, a partir do congresso de Amsterdam organizado sobre o assunto, em 1958, por iniciativa de Lacan, assim como, mais tarde, em todos os trabalhos feministas.”

avaliando a força e a fraqueza do marxismo, escreve o seguinte: Por sua realização no bolchevismo russo, o marxismo teórico adquiriu agora o vigor, a coerência e o caráter excludente de uma Weltanschauung [comovisão], bem como, ao mesmo tempo, uma inquietante semelhança com aquilo que ele combate [a Realpolitik]. Inicialmente concebido, ele próprio, como parte da ciência (…), decretou, no entanto, uma proibição de pensar tão inexorável quanto o foi, em sua época, a da religião.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Marie-Christine Hamon, Pourquoi les femmes aiment-elles les hommes et non pas plutôt leur mère?, Paris, Seuil, 1992;

Sara Kofman, L’Énigme de la femme, Paris, Galilée, 1980;

objeto (“bom” e “mau”)

Abraham desmembrou a noção clássica de objeto e de estágio e substituiu o objeto total pelo objeto parcial.” “Em 1934, partindo da revisão de Abraham, Klein introduziu a clivagem no objeto a fim de cindi-lo em objeto bom e mau. O objeto parcial, tal como o seio, por exemplo, foi então clivado num seio ideal, objeto do desejo da criança (objeto bom), e num seio persecutório, objeto de ódio e de medo, percebido como fragmentado.” “todo sujeito, no sentido kleiniano, passa pela posição depressiva para sair do estado persecutório (paranóico) que é próprio da perda da mãe como objeto parcial.”

Consultar complementarmente INTROJEÇÃO e PROJEÇÃO.

objeto (pequeno) a

resto não-simbolizável” “falha-a-ser”, seio-sem-corpo, cocô-sem-corpo, voz-sem-dono e olhar-sem-autor.

Grande Outro, pequeno Outro, objeto pequeno a…

Por outro lado, o conceito de objeto (pequeno) a é inseparável das idéias de objeto bom e mau e de objeto transicional, tais como as encontramos em Klein e Winnicott. A criação lacaniana de uma nova categoria de objeto, portanto, entra no âmbito das discussões sobre a relação de objeto conduzidas pela escola inglesa de psicanálise durante a segunda metade do século XX.” Ou seja, é uma discussão irrelevante.

mamilo, cíbalo, falo (objeto imaginário), fluxo urinário.”

Lacan esvazia a psicanálise, drenando-a de substância e solo: equivale o Bem de Platão ao objeto bom (ideal) de Klein e ao seu próprio objeto (pequeno).

Platão e Deleuze na Terra sem Sol

objeto, relação de

FIGHT NIHILISM WITH NIHILISM: “lutar contra o niilismo terapêutico da psiquiatria no terreno do tratamento da loucura e do autismo.”

objeto transicional

MEU PRIMEIRO MASCOTE: “Expressão criada em 51 por Winnicott para designar um objeto material (brinquedo, animal de pelúcia ou pedaço de pano) que tem para o bebê e a criança um valor eletivo, que lhe permite efetuar a transição necessária entre a primeira relação oral com a mãe e uma verdadeira relação de objeto.

Essa notável conceituação — de uma realidade observável por qualquer pai ou mãe na criança pequena que guarda junto de si por vários anos um objeto de eleição, muitas vezes se recusando a largá-lo — inscreve-se no contexto da elaboração da questão da relação de objeto pelo kleinismo.” “está destinado a proteger a criança da angústia da separação no processo de diferenciação entre o eu e o não-eu.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Winnicott, O brincar e a realidade (Londres, 1971), Rio de Janeiro, Imago, 1979.

Pankejeff, caso Homem dos Lobos

Quinto e último grande tratamento psicanalítico conduzido por Freud, a história do Homem dos Lobos (Serguei Constantinovitch Pankejeff) é única nos anais do freudismo. Comentada inúmeras vezes por todas as escolas psicanalíticas e pelos mais diversos autores, também o foi pelo próprio paciente, que, depois de sobreviver às duas guerras mundiais, redigiu uma autobiografia que analisava seu próprio caso, revelando sua verdadeira identidade. Essa análise foi também a mais longa: começou em janeiro de 1910 e terminou exatamente em 28 de junho de 1914, data do assassinato, em Sarajevo, do arquiduque Francisco Ferdinando. O paciente não ficou curado: retomou uma etapa de análise com Freud no pós-guerra e, mais tarde, com uma aluna dele, Ruth Mack Brunswick. Instalado em Viena depois da derrota do nazismo, foi sustentado pelo movimento psicanalítico. Analisado a cada verão por Kurt Eissler, tratado por Wilhelm Solms-Rödelheime, finalmente, ajudado por Muriel Gardiner na redação de suas memórias, tornou-se um personagem mítico: mais o Homem dos Analistas do que o Homem dos Lobos, símbolo, afinal, do caráter interminável da análise freudiana.”

Sua mãe, afetada por diversos distúrbios psicossomáticos, preocupava-se exclusivamente com sua saúde, enquanto o pai, depressivo, levava a vida ativa de um político conhecido por suas opiniões liberais. Os membros da família, de ambos os lados da genealogia, assemelhavam-se a personagens de um dos romances de Dostoiévski, Os irmãos Karamazov. O tio Pedro, primeiro irmão do pai, sofria de paranóia e foi tratado pelo psiquiatra Serguei Korsakov (1854-1900). Fugindo do contato humano, viveu como um selvagem em meio aos animais e terminou a vida num hospício. O tio Nicolau, segundo irmão do pai, quis raptar a noiva de um de seus filhos e desposá-la à força: em vão. Um primo, filho da irmã da mãe, foi internado num manicômio de Praga, também ele afetado por uma forma de delírio de perseguição.”

Serguei descobriu-se no sanatório de Neuwittelsbach, onde seguiu tratamentos tão diversificados quanto inúteis — massagens, banhos, etc. Ali se apaixonou por uma enfermeira, Teresa Keller, um pouco mais velha do que ele e mãe de uma garotinha (Else). Iniciou-se então um relacionamento passional ao qual se opunham sua família (porque a moça era plebéia) e seu psiquiatra (convencido de que a sexualidade era o pior dos remédios nos casos de loucura).”

Até o momento, disse F. a Pankejeff, o senhor esteve procurando a causa de sua doença num urinol. Essa interpretação tinha uma significação dupla. Freud aludia tanto à inutilidade dos tratamentos anteriores quanto à patologia de Serguei, que sofria de distúrbios intestinais permanentes, em particular uma constipação crônica.”

Quando via 3 punhados de cocô na rua, sentia-se mal, por causa da Santíssima Trindade, e procurava ansiosamente um quarto punhado para destruir a evocação.”

Duas semanas após a suspensão do tratamento a Áustria entrou em guerra com a Rússia. Freud teve então a fantasia de que seu filho mais velho, Martin Freud, que acabara de ser convocado, poderia tombar na frente de batalha sob as balas de seu ex-paciente. Foi nesse estado de espírito e em meio à tormenta da guerra que, em 2 meses, de outubro a novembro de 1914, redigiu a história do caso, sem jamais utilizar a denominação Homem dos Lobos. O relato foi publicado em 1918, sob o título História de uma neurose infantil.”

Sonhei, que era noite e eu estava deitado em minha cama […]. Eu sabia que era inverno. De repente, a janela se abriu sozinha e, com enorme susto, vi que havia uns lobos sentados na grande nogueira em frente à janela. Eram uns 6 ou 7. Os lobos eram inteiramente brancos e mais pareciam raposas ou cães pastores, pois suas caudas eram compridas como as das raposas e eles tinham as orelhas em pé, como os cães quando prestam atenção a alguma coisa. Com grande medo, obviamente, de ser devorado pelos lobos, gritei e acordei.”

Em sua infância, Serguei vira seu dedo mínimo ser decepado por um canivete, e depois se apercebera da inexistência do ferimento. Freud deduziu disso que seu paciente manifestara nesse episódio uma atitude de rejeição (Verwerfung) que consistia em só ver a sexualidade pelo prisma de uma teoria infantil: a relação sexual pelo ânus.”

A Revolução de Outubro o havia arruinado e o ex-aristocrata transformou-se num outro homem, um emigrante pobre e sem recursos, obrigado a aceitar um emprego numa companhia de seguros, no qual permaneceria até se aposentar.

As mudanças ocorridas em sua vida mergulharam-no numa nova depressão, que o obrigou a retornar a Freud. Este o acolheu de bom grado, presenteou-o sem demora com o texto de seu caso, que acabara de publicar, e em seguida tomou-o novamente em análise, de novembro de 1919 a fevereiro de 1920. Segundo ele, essa <pós-análise> serviu para liquidar um resto de transferência não analisado e finalmente curar o paciente.” Se isso não é um charlatão…

Em 1926, afetado pelos mesmos sintomas, foi novamente consultar Freud, que se recusou a tratá-lo uma terceira vez e o encaminhou a Ruth Mack Brunswick [uma suicida viciada]. Serguei tornou-se então presa de um incrível imbróglio transferencial. Não apenas Freud estava analisando, ao mesmo tempo, Ruth, o marido dela e o irmão deste, como também, ainda por cima, nesse ano ele encaminhou para o divã de Ruth uma norte-americana, Muriel Gardiner, que iria tornar-se amiga e confidente de Pankejeff à medida que se desenrolavam suas respectivas análises.”

Mack Brunswick o descreveu como um homem perseguido, antipático, avarento, sórdido, hipocondríaco e obcecado com sua imagem, em especial com uma pústula que lhe corroía o nariz. Através desse novo diagnóstico, o movimento psicanalítico dividiu-se em 2 campos: os partidários da psicose, de um lado, e os da neurose, de outro.”

A partir de 1945 e por todo o resto de sua vida, o Homem dos Lobos, ainda e sempre melancólico, foi auxiliado pelo movimento freudiano de uma maneira a um tempo inédita e espetacular. Estimulado por Muriel Gardiner e subvencionado por uma pensão fornecida por Kurt Eissler em nome dos Arquivos Freud, ele tratou de redigir suas memórias e comentar a história de seu caso na própria linguagem do discurso psicanalítico. Elas foram publicadas em 1971, traduzidas no mundo inteiro e mil vezes comentadas.

Passados alguns anos, contrariando a opinião dos guardiães do templo freudiano, Pankejeff concordou em responder a uma longa entrevista de uma jornalista vienense, Karin Obholzer, que o fez contar sua vida num outro estilo, mais direto e menos compassado. Ele então declarou que a famosa cena do coito a tergo [cachorrinho] certamente nunca haveria acontecido, porque, na Rússia, as crianças jamais dormiam no quarto dos pais. Sempre venerando o talento terapêutico de Freud, ele tomou o partido do diagnóstico enunciado por este e se pôs contra o de Ruth Mack Brunswick.Bem diante do nariz e das barbas dos psicanalistas da IPA, que o haviam transformado numa espécie de arquivo, o Homem dos Lobos metamorfoseou-se mais uma vez: tornou-se, a seu próprio respeito, mais competente do que a maioria dos comentadores de seu caso, que não tinham, como ele, o privilégio de ser um trecho inalterável da obra freudiana.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Serge Leclaire, “À propos de l’épisode psychotique que présenta l’Homme aux Loups”, La Psychanalyse, 4, 1958, 83-111;

Muriel Gardiner, L’Homme aux loups par ses psychanalystes et lui-même (N. York, 1971), Paris, Gallimard, 1981.

Pappenheim, Bertha (Anna O.)

A história de Anna O. é um dos mitos fundadores da psicanálise. O relato do caso dessa moça vienense, que contava 21 anos na época de sua doença, foi exposto por Breuer em 1895, nos Estudos sobre a histeria. Desde essa publicação, mediante a qual o autor propôs, ao mesmo tempo, uma nova definição da histeria como doença das reminiscências psíquicas, e a invenção de um método de tratamento inédito (baseado na catarse e na ab-reação), o caso Anna O. não parou de ser comentado, tanto por historiadores quanto por clínicos. Uma imensa literatura, em diversas línguas, foi consagrada a essa mulher a quem se atribuiu a invenção da psicanálise. Com efeito, tratada por Breuer entre julho de 1880 e junho de 1882, Anna O. deu o nome de talking cure a um tratamento que era feito pela fala, e empregou o termo chimney sweeping para designar uma forma de rememoração por <limpeza de chaminé>.”

Dotada de talento poético, Anna O. falava diversas línguas e demonstrava grande sensibilidade em relação aos pobres e aos doentes. Breuer dividiu em 4 períodos as fases durante as quais se manifestaram os diversos sintomas histéricos de Anna, ligados à doença e morte de seu pai. Durante a chamada fase de incubação latente, a paciente ficou sujeita a alucinações, contraturas e acessos de tosse. Durante a chamada fase da doença manifesta, de 11 de dezembro de 1880 a 1º de abril de 1881, ela teve distúrbios da visão, da linguagem e da motricidade. Misturava diversas línguas, não sabia mais se expressar em alemão e acabou escolhendo o inglês. Sua personalidade dividiu-se e Breuer a acalmou através dos processos do tratamento pela fala e da <limpeza de chaminé>. Durante a terceira fase, os sintomas se agravaram: Breuer, então, fez com que Anna O. fosse internada num sanatório e a tratou pelo método da auto-hipnose [!]. Por fim, o último período caracterizou-se pelo desaparecimento progressivo dos sintomas e pela cura. Graças à rememoração de suas lembranças traumáticas, Anna O. reencontrou seu verdadeiro eu, tornou a falar alemão e se curou de sua paralisia. Deixou Viena para fazer uma viagem, mas foi preciso muito tempo para que recuperasse seu equilíbrio psíquico. Desde então, goza de perfeita saúde.

Foi em 1953, no primeiro volume de A vida e a obra de Sigmund Freud, que Ernest Jones revelou pela 1a vez a verdadeira identidade dessa paciente, o que desagradou seus herdeiros. Anna O. tornou-se então Bertha Pappenheim. Oriunda da burguesia judaica ortodoxa, foi criada por uma mãe rígida e conformista. Sua família era estreitamente ligada à de Martha Bernays, a noiva de Freud, que era sua amiga. Após o tratamento, ela se voltou para atividades humanitárias. Inicialmente diretora de um orfanato judaico em Frankfurt, mais tarde viajou aos Bálcãs, ao Oriente Próximo e à Rússia para realizar pesquisas sobre o tráfico de mulheres brancas. Em 1904, fundou o Judischer Frauenbund (a Liga das Mulheres Judias) e, 3 anos depois, um estabelecimento de ensino filiado a essa organização. Muito apegada ao judaísmo, desenvolveu estudos sobre a situação das mulheres judias e dos criminosos judeus. Quando Hitler assumiu o poder, ela se pronunciou contra a emigração para a Palestina. Após a Segunda Guerra Mundial, tornou-se uma figura lendária na história das mulheres e do feminismo através de sua ação social, a ponto de o governo alemão haver honrado sua memória com um selo que trazia sua efígie. Já no fim da vida, havendo-se tornado devota e autoritária como fôra sua mãe, reeditou antigas obras de religião e redigiu a história de uma de suas ancestrais.

Embora revelando a verdadeira identidade de Anna O., Jones narrou uma versão fantasiosa do término de seu tratamento com Breuer. Este, explicou Jones em síntese, ficou assustado com o caráter sexual da transferência amorosa da paciente para ele e, em particular, com uma gravidez nervosa (pseudociese) ocorrida nessa ocasião. Assim, interrompeu o tratamento e partiu em lua-de-mel para Veneza, onde foi concebida sua filha Dora. Dez anos depois, ele chamou Freud para consultá-lo num caso idêntico. Quando este lhe indicou que os sintomas da doente revelavam uma fantasia de gravidez, Breuer não pôde suportar tal repetição de um acontecimento passado: Sem dizer uma só palavra, apanhou sua bengala e seu chapéu e saiu às pressas da casa. Jones construiu essa versão da história a partir de diversas lembranças de Freud e de um resumo que Marie Bonaparte lhe dera de seu diário inédito. Ora, se consultarmos esse diário, bem como a correspondência entre Martha Bernays e Freud em 1883, exumada porJohn Forrester e Peter Swales, constataremos que essa história de gravidez histérica foi uma reconstrução de Freud, à qual Jones deu legitimidade arquivística e médica ao lhe conferir o nome de pseudociese.” “Segundo Freud,Mathilde Breuer não teria suportado o interesse que seu marido tinha pela paciente e teria adoecido. § Se em 1909, em suas Cinco conferências sobre a psicanálise, proferidas na Universidade Clark, em Worcester, F. falou do caso Anna O. seguindo a versão dos Estudos sobre a histeria, 5 anos depois, ao contrário, em sua Contribuição para a história do movimento psicanalítico, ele retomou a tese do amor transferencial (implícita em sua carta de 31 de outubro de 1883): Ocorre que tenho fortes razões para supor que Breuer, depois de haver afastado todos os sintomas, deve necessariamente ter descoberto, com base em novos indícios, a motivação sexual dessa transferência, mas a natureza geral desse fenômeno inesperado lhe escapou, de modo que, impressionado com um untoward event, ele suspendeu por completo sua investigação. Ele não me deu essas informações diretamente, mas, em diferentes épocas, forneceu-me pontos de referência suficientes para justificar essa suposição. F. sublinha em seguida que B. lhe exprimira sua reprovação a propósito da etiologia sexual das neuroses.”

A mesma idéia foi retomada nonecrológio que ele dedicou a Breuer, no qual esclareceu que a história do caso fôra abreviada e censurada em consideração à discrição médica e que sua publicação se tornara necessária por razões científicas:¹ era preciso provar que o tratamento de Anna O. fôra anterior aos conduzidos por Pierre Janet com pacientes idênticas. Entretanto, 7 anos depois, numa carta de 2 de junho de 1932 a Stefan Zweig, Freud acrescentou a história da fantasia da gravidez de Bertha e afirmou que Dora Breuer, a filha de Josef Breuer [!], havia confirmado a existência desse fato, depois de interrogar o pai: Na noite do dia em que todos os sintomas tinham sido superados, ele voltou a ser chamado; encontrou-a delirando, contorcendo-se em cãibras no baixo-ventre. Ao lhe perguntar o que estava acontecendo, ela respondeu: <é o filho que estou esperando do Dr. B. que está chegando>.”Só Sócrates explica, já dizia seu nome, amigos! Só-crates.

¹ “Razões científicas”: é que nessa época Freud ainda não tinha formulado SEU CONCEITO DE EGO INFLADO, rsrs.

Em 16 de dezembro, em Viena, Freud me contou a história de Breuer. Sua mulher tentara suicidar-se no final do tratamento de Anna = Bertha. A seqüência é conhecida: a recaída de Anna, sua fantasia de gravidez e a fuga de Breuer.” Marie Bonaparte

Freud teve lembranças falsas, reconstruiu os acontecimentos e os interpretou à sua maneira.” “Assim, foi lançado um descrédito sobre o personagem de Breuer, apresentado como indolente e ignorante. Quanto a Anna O., tornou-se, ao lado de Emmy von N. (Fanny Moser), uma figura mítica das origens do freudismo, curada de sua histeria graças ao método catártico do qual nasceu a psicanálise, triunfalmente.”

Em 1963, Dora Edinger, que havia trabalhado com Bertha Pappenheim, reuniu as cartas e textos desta última, além de alguns testemunhos. Forneceu sobre Bertha Pappenheim e seu destino posterior uma imagem diferente da fornecida por Jones, sublinhando, em especial, que a moça sempre se abstivera de evocar a época de sua vida em que estivera em tratamento com Breuer. E até, explicou Edinger, se opunha com veemência a qualquer sugestão de tratamento psicanalítico para as pessoas das quais se encarregava, para grande surpresa dos que trabalhavam com ela.”

Dora Edinger havia aconselhado Ellenberger a visitar as clínicas da Áustria, da Alemanha ou da Suíça. Intrigado com uma fotografia de Bertha em trajes de montaria, na qual estava gravada uma palavra ilegível, ele mandou que a foto fosse examinada pelo laboratório da polícia de Montreal. Viu surgir então o nome da cidade de Konstanz, onde ficava o famoso Sanatório Bellevue, em Kreuzlingen, dirigido de pai para filho pela dinastia dos Binswanger. Foi lá que descobriu um documento que invalidava a tese de Jones:um relatório inédito de Breuer sobre o caso, muito diferente do relato proposto nos Estudos sobre a histeria.Em 1972, Ellenberger

publicou sua revisão da história, que estabeleceu, por um lado, que Dora Breuer nasceu em 11 de março de 1882, e portanto, não poderia ter sido concebida em junho, e por outro, que a famosa gravidez nervosa nunca aconteceu.

O relatório de Breuer foi publicado pela primeira vez em 1978, por Albrecht Hirschmüller, seu rigoroso biógrafo, que acrescentou outros elementos à pesquisa de Ellenberger.Esse documento apresenta Anna O. com seu sobrenome verdadeiro e relata como que o avesso da história idílica dos Estudos sobre a histeria.Não apenas a verdadeira paciente não foi curada de seus sintomas histéricos durante o tratamento, como também, além disso, não foi tratada pelo método catártico. Breuer recorreu, em vez dele, à hipnose, e depois, para tratar as dolorosas nevralgias da paciente, a doses importantes de cloral e morfina, que a transformaram numa morfinômana. Só muito depois, fora de qualquer intervenção médica, foi que ela encontrou um certo equilíbrio. Em outras palavras, se o tratamento pela fala servia — às vezes, unicamente — para fazer desaparecerem alguns sintomas, de modo algum era um método claramente identificado. O mesmo se aplicava à <limpeza de chaminé>, que consistia, para Bertha, em desafogar seu espírito de histórias imaginadas nos dias anteriores. Breuer sublinhou também que o diagnóstico de histeria não era evidente, pensando em diversas doenças cerebrais.”

Quanto a Bertha Pappenheim, Ellenberger a apresentou como uma trágica mulher do fim do século XIX, que conseguiu sublimar sua personalidade ao se engajar numa grande causa a favor do trabalho social e dos direitos da mulher.” É o mesmo que eu faço: consigo sublimar o fato de ser filho de meu pai! “Acima de tudo, ela mostrou que Breuer e Freud conseguiram, em alguns anos, como quase todos os mestres da psicopatologia, transformar histórias de doentes em ficções, isto é, em relatos de caso destinados a comprovar a validade de suas teses.”

Em 1895, fazia muito tempo que Breuer havia abandonado o campo do tratamento catártico, e estava em discordância de Freud quanto a diversos pontos. Não obstante, ele fôra realmente o inventor desse método, e somente a publicação da história do tratamento de Bertha Pappenheim poderia fornecer a prova disso.”

Apesar do trabalho pioneiro de Ellenberger e da contribuição de Hirschmüller, que mostrou que Bertha superou sua doença através de um engajamento militante do qual foi banida qualquer relação carnal com os homens, os psicanalistas mais sérios continuaram a considerar os cânones da historiografia oficial como uma verdade intocável.” “O uso da teoria lacaniana do significante veio corroborar a lenda inventada por Jones em 1953 e as interpretações mais clássicas da escola norte-americana. Nos Estados Unidos, a partir de 1985 e sob o impulso da historiografia revisionista, diversos pesquisadores fizeram questão de demonstrar que Freud era um mistificador. Apropriando-se do corpo das mulheres para atender às necessidades de sua propaganda, ele teria, a princípio com Breuer e depois contra ele, falsificado a verdade, no intuito de promover a psicanálise como o único método de cura das doenças psíquicas. Depois dele, Jones teria corroborado, sempre em oposição a Breuer, a imagem oficial do herói solitário. Nessa perspectiva, que negava a própria idéia de uma possível inovação freudiana, Bertha Pappenheim tornou-se uma simuladora. Segundo Peter Swales e Mikkel Borch-Jacobsen, adeptos dessa tese, a paciente teria fingido ser histérica para zombar de seu médico. Vingança de uma mulher e da identidade feminina contra a ciência dos homens! Por desconhecer a história da consciência subjetiva dos cientistas, [???] por reduzir os mitos fundadores a mistificações¹ e por passar do culto positivista do arquivo para a denúncia antifreudiana, a historiografia revisionista norte-americana, portanto, acabou adotando a propósito de Anna O., em 1995, o método interpretativo denunciado por Jones [um salafrário, ou seja, que combatia coisas que devemos supor como boas e genuínas!], e acolhendo, em nome da defesa da diferença sexual,² as mais retrógradas teses dos médicos do fim do século XIX, que encaravam a histeria como uma simulação.”ROUDINESCO, a rainha da ingenuidade: a histeria é sim uma simulação, uma simulação INCONSCIENTE dx paciente, não deveria ser você a primeira a saber, Beth?!

¹ Achava que mito era mito e mística, não empiria (por mais que o significado no dicionário até me traia e deixe tudo ainda mais engraçado nesta minha observação – “hipóstase de um experto que trai a racionalidade”)! Não deixa de ser irônico que a Psicanálise morra pela boca, isto é, morre por onde nasce, sendo a ficção verbal o túmulo de uma psicoterapia que se propunha a curar pela fala.

² Serão o fato social da transexualidade e os Estudos de Gênero os maiores inimigos da Psicanálise?! Inimigas post-mortem: pelo menos impedem que ressuscite algum dia, no século XXI! Ali (em Viena, no tempo do Ronca) se fazia, aqui se paga (na Aldeia Global, no tempo do twitter e da fofoca digital instantânea e ubíqua, crime dente por dente, devolvido pela foice rosa da pauta identitária, he-he-he!). Curiosidade: Hiena é um sintagma de Viena. O animal traiçoeiro e troçador. O mais próximo de um mentiroso que pode existir no reino animal, até onde sabemos. Não é um totem muito honroso!

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Janet, O automatismo psicológico, 1889;

Henri F. Ellenberger, Histoire de la découverte de l’inconscient (N. York, Londres, 1970, Villeurbanne, 1974), Paris, Fayard, 1994;

Albrecht Hirschmüller, Josef Breuer (Berna, 1978), Paris, PUF, 1991;

Mikkel Borch-Jacobsen, Souvenirs d’Anna O. Une mystification centenaire, Paris, Aubier, 1995.

parafrenia

Atualmente, a acepção de Kraepelin prevalece completamente sobre a que foi proposta por Freud.”Para F., era apenas um guarda-chuva conceitual para a esquizofrenia, que ele não entendia. Em Kraepelin, é um subtipo de psicose delirante crônica que não torna o paciente demente (opondo-se à nosografia da demência precoce da virada do século na psiquiatria, portanto). Ou seja, o parafrênico é via de regra um delirante constante e intectualizado. O caso típico seria o do Presidente Schreber (capaz de escrever livros no manicômio e explicar racionalmente sua loucura), analisado e tornado famoso por Freud, embora sua análise seja considerada equivocada atualmente. Não é fácil de estabelecer bem a distinção entre o parafrênico e o paranóico (basta ver verbete abaixo).

paranóia ou último grau da mania de perseguição

Termo derivado do grego (para = contra, noos = espírito), que designa a loucura no sentido da exaltação e do delírio. Na nosografia psiquiátrica alemã, o termo foi introduzido em 1842 por Johann Christian Heinroth (1773-1843), a partir de um vocábulo cunhado em 1772, e na nosografia francesa, em 1887, por Jules Séglas (1856-1939). Com os trabalhos de Wilhelm Griesinger (1817-1868), Emil Kraepelin, Eugen Bleuler e, mais tarde, Gaëtan Gatian de Clérambault, a paranóia tornou-se, ao lado da esquizofrenia e da psicose maníaco-depressiva, um dos três componentes modernos da psicose em geral. Caracteriza-se por um delírio sistematizado, pela predominância da interpretação e pela inexistência de deterioração intelectual.Nela se incluem o delírio de perseguição, a erotomania, o delírio de grandeza e o delírio de ciúme.”

Essa forma de loucura, que F. preferia comparar a um sistema filosófico em razão de seu modo de expressão lógico e de sua intelectualidade próxima do raciocínio <normal>, já fôra descrita na Antiguidade não apenas por Hipócrates mas também pelos grandes autores trágicos, Ésquilo e Eurípides. No entanto, foi preciso esperar pelo século XIX e pelos trabalhos fundadores da escola alemã de psiquiatria para que o termo viesse a figurar numa classificação geral das doenças mentais.”

Nesse quadro, Kraepelin (1899) definiu a paranóia como o <desenvolvimento insidioso, na dependência de causas internas e segundo uma evolução contínua, de um sistema delirante, duradouro e inabalável, que se instaura com uma completa preservação da clareza e da ordem no pensamento, no querer e na ação.>

o paranóico é um doente crônico que se toma por profeta, imperador, grande homem, inventor, reformador, etc.”

As pessoas tornam-se paranóicas por não conseguirem tolerar algumas coisas — desde que, naturalmente, seu psiquismo esteja predisposto a tanto. (…) os paranóicos amam seu delírio como amam a si mesmos, esse é o segredo”F.

[Por sua inapetência no assunto, F.] deixou o campo livre para o desenvolvimento de uma concepção psicanalítica da esquizofrenia — o que seria feito por seus herdeiros, em especial a escola norte-americana da Self Psychology

Enquanto o mestre vienense sempre procurara levar a loucura quer para o quadro das neuroses, quer para o de uma concepção da psicose que escapava ao discurso psiquiátrico, Lacan fez exatamente o contrário. Havendo abordado o freudismo pelo caminho da clínica psiquiátrica de inspiração francesa e alemã, e sendo ele mesmo um grande clínico da psicose, Lacan sempre se interessou muito mais pelo campo da loucura que pelo das patologias comuns. E, dentre as psicoses, a paranóia é que foi para ele o modelo paradigmático da loucura em geral [curioso, já que é o protótipo da loucura lúcida]: Lacan era fascinado pela lógica do discurso paranóico a ponto de achar que o tratamento psicanalítico devia assemelhar-se a uma paranóia dirigida.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Sandor Ferenczi, “O papel da homossexualidade na patogênese da paranóia”, in: Psicanálise I, Obras completas, 1908-1912 (Paris, 1968) S. Paulo, Martins Fontes, 1991, 153-72.

passe

Em 1964, ao fundar a EFP, Lacan aboliu a clássica distinção entre análise pessoal (ou terapêutica) e análise didática, instituindo um regulamento que não obrigava os candidatos a escolherem seus didatas numa lista de titulares estabelecida de antemão, como é a norma na quase totalidade das sociedades psicanalíticas da IPA.”

Com essa transformação, Lacan sublinhou que a análise pessoal podia ou não revelar-se didática a posteriori. Ninguém pode decidir <de antemão> sobre a validade didática de uma psicanálise. Trata-se, pois, de restituir pertinência a duas perguntas formuladas por Freud desde a origem do movimento: Por que alguém se torna psicanalista? Como acontece isso?”

O passe foi então definido como um rito de passagem, que permitia a um simples membro (ME) que houvesse feito uma análise ter acesso ao título de analista da escola (AE), até então reservado aos que tinham sido oficialmente <titulados> quando da fundação da EFP.”

AH FEACES, HERE WE GO AGAIN:“Lacan denominou de <queda do sujeito suposto saber> a situação de fim de análise pela qual o analista fica na posição de <resto> ou de objeto (pequeno) a, depois de ter sido investido, ao longo de toda a análise, de uma onipotência imaginária ou <suposto saber>.”

Essa prova assemelha-se, de certo modo, ao que Georges Bataille chamava de experiência dos limites.”

E, se Lacan preservou a denominação <psicanálise didática>, foi para lhe dar uma nova significação, baseada numa inversão: a ordem institucional, que ele chamava de <psicanálise em extensão>, devia, com efeito, ser submetida ao primado da teoria, isto é, à <psicanálise em intensão>, única maneira de evitar a esclerose burocrática que costuma ser induzida pela hierarquia tradicional entre professores e alunos.” “a moção foi acolhida com entusiasmo pelas quarta e quinta gerações psicanalíticas francesas, que acabavam de participar da revolta estudantil e, como nas outras sociedades da IPA, desejavam transformar de ponta a ponta as formações habituais.” “Em pouco tempo, as falhas dessa proposição, suas aproximações e suas ambigüidades tornaram sua aplicação aleatória e irregular. Atacada de gigantismo, a EFP não conseguiu impedir o desenvolvimento da esclerose que o passe supostamente combateria.”

Em 1978, quando das novas assembléias da EFP, o fracasso do passe foi constatado pelo próprio Lacan, que o comparou a um <impasse> e deplorou que a massificação do lacanismo tivesse criado obstáculos à realização dessa bela utopia: Que pode haver na cachola de alguém para que ele se autorize a ser analista? Eu quis ter depoimentos, e naturalmente não tive nenhum […] é claro que esse passe é um completo fracasso.

patriarcado

O debate sobre a oposição entre o patriarcado e o matriarcado foi contemporâneo das hipóteses evolucionistas do século XIX, desde Henry Lewis Morgan até Friedrich Engels, passando por Johann Jakob Bachofen. Teóricos e juristas julgavam que o patriarcado era uma forma tardia de organização social que sucedera a um estágio mais primitivo, ou matriarcado. Engels via no advento do patriarcado a grande derrota do sexo feminino, enquanto Bachofen, cujo pensamento influenciou intensamente os escritores vienenses do fim do século, acossados pela decadência do pai, profetizava o declínio irreversível do patriarcado, símbolo da consciência ocidental, e estigmatizava os perigos de um matriarcado que encarnasse a onipotência irracional das forças da natureza [Bomba H? Rsrs.].”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Johann Jakob Bachofen, Le Droit maternel. Recherche sur la gynécocratie de l’Antiquité dans sa nature religieuse et juridique (1861), Lausanne, L’Âge d’Homme, 1996.

Perrier, François

BIBLIOGRAGIA SUGERIDA:

François Perrier & Wladimir Granoff, Le Désir et le féminin (1979), Paris, Aubier, 1991.

perlaboração ou working-through (empurrãozinho do analista)

A perlaboração é constante no tratamento, mas atua mais particularmente em certas fases em que ele parece estagnar e em que persiste uma resistência, ainda que interpretada.”

O termo élaboration que encontramos em alguns tradutores não deve, em nossa opinião, ser adotado; com efeito, ele corresponde melhor aos termos alemães bearbeiten, que já encontramos nos textos freudianos e causariam confusão; a nuança de <dar forma> que contém poderia infletir o sentido de durcharbeiten, a palavra que queremos traduzir pelo neologismo perlaboração.”

é mergulhandona resistência que o sujeito realiza a perlaboração.”

Em tese, o recalque, descoberto, exposto e interpretado, ainda deixa resíduos inconscientes e potencialmente perigosos para o analisando, que deve perlaborar a fim de eliminar a influência que este recalque específico ainda pode exercer no quadro de sua inibição pulsional. A perlaboração em si é prerrogativa do paciente. O analista não pode executá-la por ele – está no fim ou arremate da transferência, somente.

A nossa experiência cotidiana confirma constantemente a necessidade de perlaborar; tanto assim que vemos pacientes que adquiriram insight em determinada fase recusarem esse mesmo insight nas sessões seguintes; às vezes, até parecem ter esquecido que jamais esse insight tenha sido deles. Só tirando as nossas conclusões do material, tal como ele re-aparece em diversos contextos, e interpretando-o adequadamente, ajudamos progressivamente o paciente a adquirir insight de forma mais duradoura.” Klein (até que enfim mandou bem!)

peste

a França é o único país do mundo onde, através dos surrealistas e do ensino de Lacan, a doutrina de Freud foi encarada como <subversiva> e assimilada a uma <epidemia>, parecida com o que fora a revolução de 1789 e, pelo menos, irredutível a qualquer forma de psicologia adaptativa.”

posição depressiva/posição esquizo-paranóide

A idéia de posição depressiva foi introduzida por Klein em 1934, para designar uma modalidade da relação de objeto consecutiva a uma posição persecutória (ou paranóide). Esta intervém durante o quarto mês de vida e vai sendo superada ao longo da infância, sendo depois reativada, durante a vida adulta, no luto ou, de maneira mais grave, nos estados depressivos.” reCUoral

Em 1942, Klein introduziu, em lugar da idéia de posição persecutória, a de posição esquizo-paranóide, o que permitiu, do ponto de vista evolutivo, definir a passagem da posição esquizo-paranóide para a posição depressiva como a marca fundamental, em todo sujeito, da passagem de um estado arcaico de psicose para um funcionamento normal.”Agora um recuo ANAL – por quê? Porque foi RECUO DO ANALista.

Ou seja, graças a intensos avanços na cabeça de Klein, após o ciclo de três Jogos Olímpicos fomos brindados com este zodiacal saber: que para sermos depressivos precisamos superar a psicose e não a paranóia. Bom, agora tudo muda, meus amigos…

fase estágio posição enquadramento degrau grau evolução impulsão fusão espelho cu sem pelo regras são regressão progressão funcional dinâmico-tópica abissal econômicofalência

Presidente Thomas Woodrow Wilson, O

Livro de William Christian Bullitt, escrito em colaboração com Freud e prefaciado por este em 1930. Publicado em Inglês, em Londres e Boston, em 1967, sob o título Thomas Woodrow Wilson. A Psychological Study. Traduzido para o francês por M. Tadié, em 1967, sob o título Portrait psychologique de Thomas Woodrow Wilson. Republicado com a mesma tradução, em 1990, sob o título Le Président T.W. Wilson.

Em 1919, William Bullitt, oriundo de uma família abastada da Filadélfia e transformado em assessor do presidente Wilson (1856-1924), foi enviado à Rússia numa missão. Entusiasmou-se com a revolução de outubro e negociou com Lenin com vistas ao restabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países. Wilson rejeitou suas propostas e ele se demitiu. Depois de se casar com Louise Bryant, viúva de John Reed (autor de Os dez dias que abalaram o mundo), Bullitt atravessou um período de 10 anos de afastamento do poder. Fez jornalismo, escreveu um romance de sucesso e freqüentou o meio cinematográfico.

Foi através de sua mulher, então em análise com F., que se encontrou com este pela 1a vez, em Berlim, em maio de 1930. Freud estava passando uma temporada na clínica de Tegel (na casa de Ernst Simmel), e Bullitt o achou deprimido, atormentado por seus sofrimentos e não mais pensando em outra coisa senão a morte. Para distraí-lo, falou-lhe do livro que estava preparando sobre os 4 protagonistas do Tratado de Versalhes: Thomas Woodrow Wilson, Georges Clemenceau (1841-1929), David Lloyd George (1863-1945)e Vittorio Emanuele Orlando (1860-1952). Foi então que o rosto do velho mestre se iluminou. Desde seu ensaio Leonardo da Vinci e uma lembrança de sua infância, em relação ao qual tinha enfrentado uma cruel escassez de arquivos, ele sonhava dedicar um ensaio ao destino de um personagem sobre o qual dispusesse de toda a documentação necessária.

Por que se interessou Freud pelo 28o presidente dos Estados Unidos, um presbiteriano tacanho, de extrema feiúra e de temperamento doentio? A resposta é simples: Freud não gostava desse homem, a quem julgava responsável pelos infortúnios da Mitteleuropa. Censurava-o por haver ratificado um tratado iníquo, mediante o qual os vencedores haviam ditado sua lei aos vencidos. Com efeito, por sua submissão aos signatários francês e inglês, Wilson foi o artífice de um tratado que, humilhando a Alemanha e desarticulando os impérios centrais, favoreceria a ascensão do nazismo e conduziria à Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, F. lera um livro, publicado em 1920, onde se estudava o estilo dos discursos de Wilson.”

Em janeiro de 1932, Bullitt enviou a Freud a soma de 2500 dólares, a título de adiantamento pela edição norte-americana, mas eclodiu uma briga entre os dois.Freud manifestou uma intensa insatisfação e, de repente, modificou o texto comum, acrescentando trechos que Bullitt não aprovava. Nem um nem outro jamais revelariam o motivo dessa briga, nem tampouco o conteúdo das partes acrescentadas. Em 28 de maio, Marie Bonaparte anotou em seu diário que o livro com Bullitt estava terminado, mas aguardava as eleições norte-americanas. Com efeito, o diplomata retornara aos Estados Unidos para participar da campanha dos democratas a favor de Roosevelt. A disputa não parece haver afetado F. em demasia, porque, em 16 de fevereiro de 1933, ele escreveu aJeanne Lampl-de Groot: Bullitt é o único norte-americano que entende alguma coisa da Europa e quer fazer algo por ela. Por isso é que não consigo esperar que lhe confiem um cargo em que ele possa ser eficaz e agir à sua maneira.

Em agosto de 1933, Bullitt foi nomeado por Roosevelt embaixador dos Estados Unidos na União Soviética. Em dezembro, Freud declarou a Marie Bonaparte: De Bullitt, nenhuma notícia; nosso livro não verá a luz.

Em agosto de 1936, foi nomeado embaixador em Paris e, desse dia em diante, não parou de denunciar o perigo nazista. Quando da anexação da Áustria, assegurou-se do respaldo pessoal de Roosevelt para ir à embaixada da Alemanha em Paris e ameaçar os nazistas de escândalo, caso eles tocassem na família Freud. Quando o mestre vienense chegou a Paris, em junho de 1938, Bullitt foi recebê-lo, juntamente com Marie Bonaparte, e o acompanhou até a estação Saint-Lazare, ponto de partida para seu exílio na Grã-Bretanha.

Foi em Londres que os dois homens enfim resolveram sua querela. Segundo a versão de Bullitt, Freud concordou em suprimir as passagens acrescentadas e o diplomata integrou as novas modificações freudianas — ninguém sabe dizer quais. Tomou-se então a decisão comum de publicar o livro depois da morte da segunda mulher de Wilson. Em 17 de novembro de 1938, Marie Bonaparte indicou em seu diário que os manuscritos de Freud foram remetidos a Bullitt na América.

A espantosa aventura desse manuscrito inverossímil não pára por aí. Quando da invasão da França, Bullitt permaneceu em Paris e não acompanhou o governo de Paul Reynaud (1878-1966) no exílio. Achava, com justa razão, que uma intervenção norte-americana não estava na ordem do dia, mas subestimava o poder de resistência da Inglaterra, não acreditava no da França e se enganava quanto às possibilidades de uma aliança com a URSS, atitude esta que lhe seria censurada pelo general De Gaulle. Em 30 de junho de 1940, ele deixou Paris, para onde voltaria em setembro de 1944, com o grau de comandante do primeiro exército francês.”

Schur sugeriu que Bullitt remetesse uma cópia do manuscrito a Anna Freud, para que ele fosse publicado no âmbito oficialíssimo da Freud Copyrights. Bullitt despachou o texto sem pedir nenhuma ajuda a Anna, que, depois de lê-lo atentamente, declarou que somente o prefácio era de autoria de seu pai. O veredito foi inapelável. Desse dia em diante, Wilson foi banido da comunidade psicanalítica internacional, a ponto de ser considerado apócrifo. Bullitt encarregou-se sozinho, um ano antes de morrer, da publicação norte-americana: ela contém uma introdução de F., na qual este sublinha claramente haver colaborado para o livro, uma outra de Bullitt, notas deste sobre a infância de Wilson e uma elaboração comum sobre o destino político do personagem. Erik Erikson, em 1967, e Ilse Grubrich-Simitis, em 1987 (no prefácio à edição alemã), deram uma opinião próxima da de Anna Freud. Por conseguinte, o livro não figura nas edições completas da obra de Freud (inglesa, francesa, alemã [e provavelmente brasileira, baseada na inglesa de Strachey]).

Portanto, as diferentes versões sobre o episódio se contradizem. Enquanto Marie Bonaparte anotou que os manuscritos de Freud tinham sido enviados a Bullitt na América, este declarou a Schur que seu criado os havia queimado em Paris. Quanto a Freud, ele nunca disse qual parte do livro tinha redigido, mas sempre apoiou o projeto, afirmando haver contribuído para ele. Sem dúvida, Anna Freud, Schur e Erikson foram imprudentes ao decidir como decidiram a questão da atribuição dos textos.

O livro em si é notável. Além do vocabulário psicanalítico e conceitual simplista, que se deve à pena de Bullitt, ele propõe uma análise espantosa da loucura de um estadista aparentemente normal no exercício de suas funções.

Identificado desde a mais tenra idade com a figura de seu <pai incomparável>, um pastor presbiteriano e grande pregador de sermões, Wilson a princípio tomou-se pelo filho de Deus, antes de se converter a uma religião de sua própria lavra, na qual se atribuía o lugar de Deus. Optou por abraçar a carreira política a fim de realizar seus sonhos messiânicos. Quando se tornou presidente, nunca havia transposto as fronteiras da América, que considerava, tal como a Inglaterra de Gladstone, o mais belo país do mundo. Não conhecia a geografia da Europa e ignorava que nela se falavam diversas línguas. Foi assim que, durante as negociações do Tratado de Versalhes, esqueceu-se da existência do passo de Brenner e entregou à Itália os austríacos do Tirol, sem saber que eles falavam alemão. Do mesmo modo, acreditou na palavra de um parente que lhe afirmou que a comunidade judaica contava cem milhões de indivíduos, distribuídos pelos quatro cantos do mundo. Odiando a Alemanha, Wilson achava que seus habitantes viviam como animais selvagens.”

QUASE UM ESTADO DA NATUREZA APLICADO AO MUNDO POLÍTICO DO SÉCULO XX

Para levar adiante sua política internacional, ele inventou silogismos delirantes. Uma vez que Deus é bom e a doença é ruim, ele deduziu que, se Deus existe, a doença não existe. Esse raciocínio lhe permitiu negar a realidade em prol de uma crença na onipotência de seus discursos. Essa denegação da realidade o levou, segundo os autores, ao desastre diplomático. Assim é que ele criou a Sociedade das Nações antes de discutir as condições de paz, mediante o que os vencedores, garantidos pela segurança norte-americana, puderam despedaçar a Europa e condenar a Alemanha com toda a impunidade.

Wilson imaginou, então, deter em 14 pontos a chave da fraternidade universal. Mas, em vez de entrar em negociações com seus parceiros, discutindo as questões econômicas e financeiras, fez-lhes um sermão da montanha. Depois disso, deixou a Europa, convencido de os haver persuadido e de haver instaurado na Terra a paz eterna.

Qualquer que tenha sido o pivô da briga entre F. e Bullitt, esse livro, desprezado pelos historiadores e suspeito de ser apócrifo pela comunidade freudiana, traduz muito bem uma concepção freudiana da história. Ele descreve o encontro entre um destino individual, no qual intervém a determinação inconsciente, e uma situação histórica precisa sobre a qual atua essa determinação. Mas o livro também faz pensar num devaneio aristotélico sobre o herói decaído. [?] Wilson é comparado por Freud a Dom Quixote [como seria esta uma discussão aristotélica?], ou seja, ao avesso ridículo do Príncipe de Nicolas Maquiavel (1469-1527): o contrário de um grande homem.”

princípio de constância

Colocando na base da psicologia uma lei de constância, F., tal como Breuer, não fazem mais do que tornar suas uma exigência geralmente admitida nos meios científicos do fim séc. XIX: estender à psicologia e à psicofisiologia os princípios mais gerais da física, na medida em que esses princípios estão na própria base de toda ciência. Poderíamos encontrar muitas tentativas, quer anteriores (principalmente a de Fechner, que confere ao seu princípio de estabilidade um alcance universal), quer contemporâneas das de F., para vermos em ação, na psicofisiologia, uma lei de constância.”

O princípio de constância em psicanálise é às vezes entendido num sentido que permite compará-lo com o 2º princípio da termodinâmica: dentro de um sistema fechado, as diferenças de nível energético tendem para a igualização, de maneira que o estado final ideal é de equilíbrio. (…) Foi com base na meta de estase do sistema organismo-meio que Freud estruturou sua concepção de, como conseqüência da perda energética, o organismo reduzir sua energia a zero, chegando ao estado anorgânico (princípio do Nirvana).”

A existência e o restabelecimento de um nível ótimo são a condição que permite uma livre circulação da energia cinética. O funcionamento sem barreiras do pensamento, um desenrolar das associações de idéias, supõem que a auto-regulação do sistema não seja perturbada.”

As definições propostas contêm sempre um equívoco: a tendência para a redução absoluta e a tendência para a constância são consideradas equivalentes.”“energia livre” “energia ligada”

W.B. Cannon, no seu livro Sabedoria do corpo (Wisdom of the Body, 1932), designou pelo nome de homeostasis os processos fisiológicos por meio dos quais o corpo tende a manter constante a composição do meio sangüíneo. Descreveu esse processo para o conteúdo do sangue em água, sal, açúcar, gordura, cálcio, oxigênio, íons de hidrogênio (equilíbrio ácido-básico) e para a temperatura. Esta lista pode evidentemente ser ampliada a outros elementos (minerais, hormônios, vitaminas, etc.).”

projeção

O sujeito assimila-se a pessoas estranhas ou, inversamente, assimila a si mesmo pessoas, seres animados ou inanimados. Diz-se assim correntemente que o leitor de romances se projeta neste ou naquele herói e, no outro sentido, que La Fontaine projetou nos animais das suas Fábulas sentimentos e raciocínios antropomórficos. Esse processo deveria antes ser classificado no campo daquilo que os psicanalistas chamam de identificação.” Problema dos psicanalistas!

o racista projeta no grupo desprezado as suas próprias falhas e as suas inclinações inconfessadas. Este sentido, que English & English designam por disowning projection, parece ser o mais próximo daquilo que F. descreveu sob o nome de projeção.”

Nos primeiros escritos de F. sobre a paranóia, “a projeção é descrita como uma defesa primária, um mau uso de um mecanismo normal que consiste em procurar no exterior a origem de um desprazer. O paranóico projeta as suas representações intoleráveis que voltam a ele do exterior sob a forma de recriminações.”

O eu comporta-se como se o perigo de desenvolvimento da angústia não proviesse de uma moção pulsional, mas de uma percepção, e pode portanto reagir contra este perigo exterior pelas tentativas de fuga próprias aos evitamentos fóbicos.”

o sujeito defende-se dos seus próprios desejos de ser infiel imputando a infidelidade ao cônjuge. Assim, desvia a sua atenção do seu próprio inconsciente, desloca-a para o inconsciente do outro, e pode ganhar com isso tanta clarividência no que diz respeito ao outro como desconhecimento no que diz respeito a ele mesmo.”

no estudo do Caso Schreber, <a proposição ‘EU O ODEIO’ é transformada, por projeção, em ‘ELE ME ODEIA’ (ele me persegue), o que me vai então conceder o direito de odiá-lo>. Aqui é o afeto de ódio (por assim dizer, a própria pulsão) que é projetado. Por fim, nos textos metapsicológicos como Pulsões e destinos das pulsões e A negação, é o <odiado>, o <mau>, que é projetado. Estamos, portanto, muito próximos de uma concepção <realista> da projeção, que será plenamente desenvolvida por Klein: para ela, o <mau> objeto – fantasístico – é que é projetado, como se a pulsão ou o afeto, para serem verdadeiramente expulsos, devessem necessariamente encarnar um objeto.”

Recalque é esquecimento, projeção é eterna-lembrança. “O delírio, por sua vez, é concebido como um fracasso dessa defesa e como um <retorno do recalcado> que viria do exterior.”

Ora, parece que este sentido de rejeição, de ejeção, não era o predominante antes de F. no uso lingüístico, como o atestariam, p.ex., essas linhas de Renan: A criança projeta em todas as coisas o maravilhoso que tem si. Este uso sobreviveu, naturalmente, à concepção freudiana [e ainda mais à kleiniana], e explica certas ambigüidades atuais do termo <projeção> em psicologia, e mesmo às vezes entre os psicanalistas.

Por fim, as relações entre a identificação e a projeção são muito intrincadas, em parte devido a um uso pouco rigoroso da terminologia. Diz-se, às vezes, indiferentemente, que o histérico, p.ex., se projeta em ou se identifica com determinado personagem. A confusão é tal que Ferenczi chegou mesmo a falar de introjeção para designar este processo. Sem pretendermos tratar aqui os conceitos de introjeção e identificação, é lícito imaginar que no caso de Ferenczi trata-se de um emprego abusivo do termo <projeção>.[Não vejo como abuso, uma vez que ele inovou na matéria, e Klein foi sua discípula – sendo este comentário, digamos, mero revisionismo kleiniano.]”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

English, H.B. & English, A.C., A Comprehensive Dictionary of Psychological and Psychoanalytical Terms, 1958 (verbetes Projection-Eccentric e Projection);

Anzieu, Les méthodes projectives, 1960.

psicanálise aplicada (à literatura e à arte em geral)

Max Graf recomendou prudência na interpretação de obras literárias, esclarecendo que é somente quando alguns temas se destacam com muita nitidez e se repetem com freqüência que podemos ligá-los à vida sexual. Um ano depois, em 4 de dezembro de 1907, uma exposição de Isidor Sadger, dedicada a Meyer [Adolf?], provocou um severo confronto, prelúdio para a elaboração de uma espécie de carta magna enunciada na semana seguinte, em 11 de dezembro de 1907, por ocasião da exposição de Graf dedicada à metodologia da psicologia dos escritores. Graf entregou-se, primeiramente, a uma crítica radical das teses de Cesare Lombroso e das desenvolvidas pela escola francesa de psicologia, adepta da teoria da hereditariedade-degenerescência. Dentro dessa perspectiva, explicou Graf, é que se haviam começado a escrever patografias, análises de escritores com base em experiências patológicas […]. Bem diferente é o procedimento de Freud, que conduz ao inconsciente e mostra que a doença psíquica é apenas uma variação da pretensa sanidade psíquica, que as doenças mentais são uma dissociação dos elementos psíquicos da pessoa sadia. Antes de expor os princípios do método psicanalítico e as regras de sua aplicação aos artistas, Graf conclui: Lombroso trata os escritores da mesma maneira que um tipo de criminoso particularmente interessante […] [já quanto aos] psicólogos franceses, (eles) só vêem no escritor um neurótico.”

Lacan afirmou, em especial: <A psicanálise só se aplica, em sentido próprio, como tratamento, e portanto, a um sujeito que fala e que ouve>, com isso indicando que qualquer outra forma de aplicação só poderia sê-lo num sentido figurado, isto é, imaginário, baseado na analogia e, como tal, desprovido de eficácia.”

psicanálise de crianças (não-kleiniana)

Em todos os países do mundo, a formação exigida para que alguém se torne psicanalista de crianças é idêntica à exigida para a prática com adultos. Se a psicanálise de crianças mantém desde sempre uma relação particular com a pedagogia, a medicina (pediatria), a psiquiatria (pedopsiquiatria) e a psicologia, não se criou nenhum termo (equivalente à pediatria ou à pedopsiquiatria) para designá-la como especialidade.”

Assim como a psicanálise nasceu da medicina e, depois, da psiquiatria (e da psiquiatria dinâmica), também a prática da psicanálise de crianças é herdeira da filosofia do Iluminismo. Em todos os países, foi introduzida por 4 vias: medicina, psiquiatria, psicologia e pedagogia. Na França, tomou o caminho da psiquiatria ou da psicologia, ao passo que, noutros países da Europa (em geral protestantes), introduziu-se mais no terreno da pedagogia e, portanto, da análise leiga. Por toda parte, misturou-se com as disciplinas afins.”

Parece evidente que, quanto mais diminui a taxa de mortalidade infantil, mais dolorosa é a perda de uma criança. Do mesmo modo, quanto mais a criança é conscientemente desejada ou <planejada>, mais importante parece tornar-se seu lugar na afeição parental.”

a análise de crianças favoreceu a emancipação feminina. Mas foi também sede de múltiplos dramas, pois, muitas vezes, as psicanalistas da primeira e segunda gerações analisaram seus filhos, ou confiaram essa tarefa a suas colegas mais próximas. Além disso, entre as psicanalistas de crianças recenseou-se um número impressionante de mortes violentas: 4 suicídios (Arminda Aberastury, Sophie Morgenstern, Tatiana Rosenthal e Eugénie Sokolnicka) e um assassinato (Hermine von Hug-Hellmuth).

Depois de Sandor Ferenczi, que foi um dos maiores clínicos da infância no início do século, e de August Aichhorn, que cuidou de crianças delinqüentes em Viena, outros homens dedicaram-se a esse ramo da psicanálise: Erik Erikson, René Spitz, Winnicott e John Bowlby, em especial.”

Para a escola vienense, a análise de uma criança não deveria começar antes dos 4 anos de idade nem ser conduzida <diretamente>, mas sim por intermédio da autoridade parental julgada protetora. (…) Ferenczi fez a observação muito espirituosa de que, se a Sra. Klein estiver certa, na verdade já não haverá crianças.Naturalmente, a experiência é que dirá a palavra final. Até o momento, minha única constatação é que a análise sem uma orientação educativa só faz agravar o estado das crianças, e tem efeitos particularmente perniciosos nas crianças abandonadas, anti-sociais.”

NEM A FAVOR NEM CONTRA, MUITO PELO CONTRÁRIO! “Freud disse, em 1927, que a experiência teria a palavra final. Pois bem, no mundo inteiro, a experiência parece ter dado razão às teorias kleinianas que se impuseram com vigor entre todos os clínicos da infância. Não obstante, em toda parte elas foram revistas, corrigidas, transformadas e modificadas no sentido de uma participação maior dos pais no desenrolar da análise. Por outro lado, a herança da escola vienense foi colhida por todos os defensores das experiências sociais e educativas, de Margaret Mahler a Bruno Bettelheim.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Philippe Ariès, L’Enfant et la vie familiale sous l’Ancien Régime (1960), Paris, Seuil, 1973;

Maud Mannoni, A criança retardada e a mãe (Paris, 1964), S. Paulo, Martins Fontes.

Psicologia das massas e análise do eu

Livro de Freud publicado em 1921, sob o título Massenpsychologie und Ich-Analyse. Traduzido pela primeira vez para o francês em 1924, por Samuel Jankélévitch, sob o título Psychologie collective et analyse du moi, revisado por Angelo Hernard em 1966. Nova tradução em 1981 por Pierre Cotet, André Bourguignon (1920-1996), Odile Bourguignon, Janine Altounian e Alain Rauzy, sob o título Psychologie des foules et analyse du moi, e mais tarde, em 1991, sob o título Psychologie des masses et analyse du moi. Traduzido para o inglês por James Strachey em 1922, sob o título Group Psychology and the Analysis of the Ego, retomado sem modificação em 1955.”

A intenção sociológica e política desse ensaio, no qual Freud se refere explicitamente à concepção aristotélica do homem como animal político, tem sido freqüentemente encoberta por traduções aproximativas. James Strachey, ao traduzir o termo alemão Massen por group, em vez de mass, o que foi deplorado pelaEncyclopedia of Psychoanalysis de Ludwig Eidelberg (1898-1970), optou por uma concepção reducionista do social, característica da psicologia social norte-americana, segundo a qual o grupo constitui o modelo, reduzido ou experimental, da sociedade.” “para traduzir o termo francês foule, utilizado por Gustave Le Bon, Freud preferiu o termo alemão Massen à palavra Menge, assim privilegiando a conotação política. Preocupados em manter a ligação com a obra de Le Bon, os autores da nova tradução francesa optaram, inicialmente, pela palavra foule para traduzir Massen, antes de voltarem para <massa> em sua última versão, de conformidade com a opção freudiana.”

Enuncia então a hipótese de que as relações amorosas constituem a essência da alma das massas e enfatiza a função do líder na massa, parâmetro este que Le Bon e McDougall haviam negligenciado.”Hm, poxa vida…

Encontrar um Narciso em que se espelhar. Quando ele estava lá o tempo todo… Tsc.

LINDA VIDA-ROMANCE (Roudinesco e seu Deus): “foi no exato momento em que se preparava para refletir sobre a natureza da psicologia das massas, sobre a função dos chefes, dos líderes e de outros personagens supostamente carismáticos, que Freud foi levado a se recusar a ocupar esse lugar.”

primeira explicação psicológica do nazismo”Que pena que 2 mil anos atrás tinha o tal de Platão…

Uma passagem do texto, situada no fim do capítulo V, permite supor, aliás, que Freud estava perfeitamente ciente da evolução do comunismo soviético.”Que bacana, o doutor lia os jornais toda manhã após a torrada!

RudeUnesco, você votou no FhC? “Observe-se que os primeiros tradutores franceses, Samuel Jankélévitch e Angelo Hesnard, utilizaram a expressão partido extremista para traduzir o sozialistischen de Freud, enquanto Strachey, fiel nesse ponto ao texto original, falou de socialistic tie (vínculo socialista). Foi preciso esperar por 1981, data da nova tradução, para que o leitor francês pudesse resgatar o sentido dessas linhas, escritas quase 15 anos antes da chegada dos nazistas ao poder.”Felizmente este não é um texto de Teoria da Tradução…

O último refúgio do freudista: onde Freud indisfarçavelmente errou, Lacan retificou-o com justeza. O lacan-freudismo é inabalável e indestrutível!

Seria LOUCURA esse pessoal entrar num consenso sobre alguma coisa, certo?

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Max Horkheimer & Theodor Adorno, Dialética do esclarecimento (N. York, 1944, Frankfurt, 1969), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1985. (sem eira nem beira a Roudinesco cita este texto, mas beleza)

Psicopatologia da vida cotidiana, A

Livro de Freud publicado em 1901 sob o título Zur Psychopathologie des Alltagslebens. Traduzido para o francês pela primeira vez por Samuel Jankélévitch, em 1922, sob o título Psychopathologie de la vie quotidienne, e depois traduzido por Denis Messier sob o título La Psychopathologie de la vie quotidienne. Traduzido para o inglês pela primeira vez em 1914, por Abraham Arden Brill, sob o título Psychopathology of Everyday Life, e depois por Alan Tyson, em 1960, como The Psychopathology of Everyday Life.”

A psicopatologia da vida cotidiana constitui, ao lado de A interpretação dos sonhos e Os chistes e sua relação com o inconsciente, um tríptico que Ernest Jones agrupou sob a etiqueta de psicanálise aplicada, com isso marcando uma diferença em relação a outros textos da mesma época, mais precisamente os dedicados à teoria e à clínica, como os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade e o relato do caso Dora.”

SÍNDROME DE FRANKENSTEIN: “Por fim, Freud sustentou a tese do determinismo psíquico absoluto, que abriu caminho para um uso ilimitado da prática da interpretação, contra o qual, mais tarde, ele procuraria levantar-se, recorrendo principalmente ao processo da construção.” PALIATIVO INSUFICIENTE, MEU AMIGO.

ESTÁ PROVADO QUE SÓ É POSSÍVEL PSICANALIZAR EM ALEMÃO: “A psicopatologia da vida cotidiana divide-se em 12 capítulos, dedicados às diferentes formas de esquecimentos, lapsos, equívocos, descuidos e os mais variados atos falhos. Freud reconhece que essa divisão é essencialmente descritiva, havendo nos fenômenos estudados, na realidade, uma unidade interna que é atestada pelo livro inteiro. Aliás, em suas Conferências introdutórias sobre psicanálise, ele assinalaria que essa unidade era evidenciada, na língua alemã, pelo prefixo ver, comum a todas as palavras designativas desses <acidentes>: das Versagen (o esquecimento), das Versprechen (os lapsus linguae), das Vergreifen (o equívoco da ação), das Verlieren (o extravio de objetos), etc.” VER O ERRO

O primeiro capítulo, que versa sobre o esquecimento de nomes próprios, abre-se com um exemplo que se tornou célebre e que fôra objeto do artigo de 1898 dedicado ao mecanismo psíquico do esquecimento. Viajando com um companheiro fortuito para uma cidade da Herzegovina, Freud não mais consegue lembrar-se do nome de Luca Signorelli (1441-1523), o autor dos afrescos da catedral de Orvieto que representam os <quatro dias derradeiros>. Em vez disso, vêm-lhe à mente dois outros nomes de pintores, os de Sandro Botticelli (1467-1516) e Giovanni Boltraffio (1441-1523) [morreu e nasceu nos mesmos anos do signorabove!], que ele sabe serem incorretos. Quando o nome procurado lhe é fornecido por seu companheiro de viagem, F. não fica surpreso, mas faz questão de investigar as razões de seu esquecimento. Lembra-se então de que, antes de evocar a Itália com seu interlocutor, os dois haviam conversado sobre a mentalidade dos turcos da Bósnia-Herzegovina, em especial sobre sua resignação diante do destino — por exemplo, sua reação quando um médico lhes anuncia que a situação de um de seus parentes é desesperadora: <Herr [Senhor]>, é mais ou menos o que eles dizem nessa situação, <não falemos mais disso; sei que, se fosse possível salvá-lo, o senhor o salvaria.> Freud observa que esses dois nomes, Bósnia e Herzegovina, assim como a palavra Herr, têm lugar numa cadeia associativa entre Signorelli-Botticelli e Boltraffio. O Bo de Bósnia encontra-se nos nomes dos dois pintores que substituem o nome esquecido e procurado; quanto ao Herr, podemos encontrá-lo em Herzegovina, assim como, em sua tradução italiana, em Signorelli. Para explorar as razões inconscientes desse esquecimento, Freud procede como fizera ao analisar seus sonhos: esforça-se por fazer associações a partir do material manifesto. Lembra-se de ter pensado, ao longo da conversa, num outro aspecto dos costumes desses turcos da Bósnia: a importância que eles dão ao prazer sexual e seu desespero quando experimentam dificuldades nessa área, aspecto esse que Freud não quisera abordar com um desconhecido [cuzão]; ele se recorda também de haver pensado, naquele momento, na notícia recebida em Trafoi, no Tirol, de que um de seus pacientes, afetado por problemas sexuais incuráveis, havia-se suicidado. A proximidade entre Trafoi e Boltraffio<obriga-me a admitir>, escreve Freud, <que, apesar de haver intencionalmente desviado minha atenção, eu estava sofrendo a influência dessa reminiscência>. É de se notar, nesse exemplo, a especificidade da lógica inconsciente que leva a substituir o nome de Signorelli pelo de um pintor da mesma nacionalidadee da mesma época, Boltraffio, o qual contém os fonemas Trafoi, que remetem aos temas da morte e da sexualidade, recalcados por Freud na conversa que antecedeu seu esquecimento. <Já não me é possível ver no esquecimento do nome Signorelli>, escreve Freud, <um acontecimento acidental. Sou obrigado a ver nele o efeito de motivações psíquicas. […] Eu queria, na verdade, esquecer uma outra coisa, e não o nome do mestre de Orvieto; mas, entre essa ‘outra coisa’ e o nome estabeleceu-se umelo associativo, de tal sorte que meu ato voluntário errou o alvo e,contrariando minha vontade,esqueci o nome, quando queria intencionalmente esquecer a outra coisa>. Assim, segundo comenta Octave Mannoni, <o nome do pintor italiano, associado a certas idéias de morte e sexualidade recalcadas, foi arrastado junto com elas para o desejo inconsciente. Claro está que, em si mesmas, as idéias de morte e sexualidade não têm esse efeito: Freud não havia esquecido o tema dos afrescos, nem os 4 dias derradeiros, dos quais a morte faz parte. E nem tampouco as histórias sexuais turcas: o recalque não estava nisso (ligava-se à notícia recebida em Trafoi)>. Freud enuncia então as condições necessárias para se falar no esquecimento não-acidental de um nome, que são em número de 3: a tendência a esquecer esse nome, a existência de um recalque relativamente recente e a possibilidade de estabelecer uma associação externa entre o nome em questão e o objeto do recalque.

AYRTON SENNA NÃO É IMORTAL: “As primeiras lembranças, ou as lembranças mais antigas, concernem, na maioria das vezes, a coisas secundárias, ao passo que os acontecimentos importantes parecem não haver deixado nenhum vestígio na memória.”

O paranóico, explica ainda F., projeta na vida psíquica dos outros o que acontece em sua própria vida em estado inconsciente, e é por isso que dá a impressão freqüente de estar parcialmente certo.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

F., “O mecanismo psíquico do esquecimento”, artigo publicado, no fim do ano de 1898, na revista Monatschrift für Psychiatrie und Neurologie.

psicose

Em clínica psiquiátrica, o conceito de psicose é tomado a maioria das vezes numa extensão extremamente ampla, de maneira a abranger toda uma gama de doenças mentais, quer sejam manifestamente organogenéticas (paralisia geral, p.ex.), quer a sua etiologia última permaneça problemática (esquizofrenia, etc.).”

O aparecimento do termo psicose no séc. XIX vem pontuar uma evolução que levou à constituição de um domínio autônomo das doenças mentais, distintas não só das doenças do cérebro ou dos nervos – como doenças do corpo – mas também distintas daquilo que uma tradição filosófica milenar considerava <doenças da alma>: o erro e o pecado.”

Qualquer psicose é ao mesmo tempo uma neurose porque, sem a intervenção da vida nervosa, nenhuma modificação do psíquico se manifesta; mas nem toda neurose é também uma psicose.”

psicossomática, medicina (a psicologia que deve tratar quem ainda não sabe que quer morrer)

Nascida com Hipócrates, a medicina psicossomática concerne simultaneamente ao corpo e ao espírito e, mais especificamente, à relação direta entre o soma e a psyché. Descreve a maneira como as doenças orgânicas são provocadas por conflitos psíquicos, em geral inconscientes. Na história da psicanálise, diversas correntes de medicina psicossomática desenvolveram-se no mundo, inicialmente com Georg Groddeck, seu principal inspirador, e depois em torno de Franz Alexander (Escola de Chicago), nos Estados Unidos, Alexander Mitscherlich, na Alemanha, e Pierre Marty (1918-1993) e Michel de M’Uzan, na França (Escola de Paris).”

O GRAVE É QUE NÃO SOU MUITO AGUDO: “Enquanto a psiquiatria (campo das doenças mentais) serviu de trampolim para a implantação das teorias psicanalíticas concernentes às psicoses, foi através da chamada medicina psicossomática, com freqüência, que a clínica freudiana se introduziu na medicina (geral ou especializada), em particular nos grandes serviços hospitalares (hematologia, urologia, cancerologia geral, unidades especializadas em AIDS, etc.) onde a abordagem psicanalítica é indispensável ao tratamento dos problemas psíquicos (específicos ou não) dos sujeitos (crianças ou adultos) atingidos por doenças orgânicas crônicas ou agudas.”

Na medida em que a expressão <complacência somática> pretende explicar não mais apenas a escolha de determinado órgão do corpo, mas a escolha do próprio corpo como meio de expressão, somos naturalmente levados a tomar em consideração as vicissitudes do investimento narcísico do próprio corpo.”

FUGA PARA A / REFÚGIO NA DOENÇA. Expressão figurada que designa o fato de o sujeito procurar na neurose um meio de escapar aos seus conflitos psíquicos. Esta expressão foi favorecida com a difusão da psicanálise; estende-se hoje não apenas ao domínio das neuroses, mas ainda ao das doenças orgânicas em que pode ser posta em evidência uma componente psicológica.”

pulsão

Eu não tenho como dirigir minha vida, vamos assim dizer: licença para matar, licença para morrer. Death drive.

Freud nunca fez mistério desses antecedentes. Em sua autobiografia de 1925, referiu-se a Nietzsche e confessou só o haver lido muito tardiamente, por medo de lhe sofrer a influência.”

Diferenciar “pulsão” e “instinto” é da maior imbecilidade. Sem falar no termo técnico absolutamente revoltante “moção”!

Cuidado para não tomares tanto cuidado ao tomar cuidado lendo um autor que antes de ousares compreendê-lo e julgá-lo em seu todo tu já estás senil e de nada te serviria ainda que teu cérebro encolhido pudesse compreendê-lo, pois agora tua vida será esquentar-te à beira da lareira no canapé.

Questão da análise leiga, A

LACAN ESTÁ MAIS PARA TOMÁS DE AQUINO DA PSICANÁLISE QUE PARA LUTERO: “Livro de Freud publicado em alemão, em 1926, sob o título Die Frage der Laienanalyse. Traduzido pela 1a vez para o francês por Marie Bonaparte, em 1928, sob o título Psychanalyse et médecine, foi retraduzido em 1985 por Janine Altounian, André Bourguignon (1920-1996), Odile Bourguignon, Pierre Cotet e Alain Rauzy, sob o título La Question de l’analyse profane. Essa tradução foi ligeiramente revista em 1994 pela mesma equipe de tradutores. Traduzido para o inglês pela primeira vez em 1927, por A.P. Maerker-Branden, sob o título The Problem of Lay-Analysis, foi retraduzido por Nancy Procter-Gregg em 1947 como The Question of Lay-Analysis e, em 1959, traduzido por James Strachey sob o mesmo título.

O posfácio, Nachtwort zur Frage der Laienanalyse, foi publicado em alemão em 1927 e, em 1928, acrescentado ao livro. Foi traduzido para o francês pela primeira vez em 1985 e acrescentado à 2a edição. A tradução francesa de 1994 o restaurou em sua íntegra, incluindo o trecho suprimido por F. a conselho de Max Eitingon e Ernest Jones, que o julgavam demasiado ofensivo para os norte-americanos. Esta última edição contém, além disso, notas de 1935, bem como um pós-escrito do mesmo ano, destinados a uma edição norte-americana que nunca chegou a ser publicada. Esses documentos, encontrados por Ilse Grubrich-Simitis, não figuram em nenhuma edição inglesa ou norte-americana. O posfácio foi traduzido pela 1a vez para o inglês em 1927, sob o título Concluding remarks on the question of lay analysis, e posteriormente por James Strachey, em 1950, sob o título Postscript to a discussion on lay analysis.”

Freud inverteu desde logo a formulação habitual da questão: o leigo ou profano não era o analista não-médico, mas <qualquer um que não tenha adquirido uma formação, tanto teórica quanto técnica, suficiente em psicanálise, e quer possua ou não um diploma de medicina>. Para Freud, <a psicanálise, apesar de nascida num terreno médico, há muito tempo já não constitui um assunto puramente médico>, e se, por um lado, não se podia nem se devia impedir ninguém de se interessar por ela, era somente <fazendo-se analisar e exercendo a análise com terceiros>, por outro lado, que se podia adquirir <a experiência e a convicção em psicanálise>.”

O livro foi publicado no outono de 1926. Seu objetivo superou amplamente a simples defesa de Reik e, em termos mais gerais, dos analistas não-médicos. A colocação de Freud inscreve-se num outro debate, o qual, apesar de se referir à questão da análise leiga, trata, na verdade, da formação dos psicanalistas, e concerne, antes de mais nada, ao próprio movimento psicanalítico internacional. Com efeito, fôra em 1925 que o presidente da New York Psychoanalytic Society (NYPS), Abraham Arden Brill, havia anunciado sua intenção de romper com F. em razão dessa questão, e foi no outono de 1926, no momento da publicação do texto de F., que o estado de Nova York declarou ilegal a prática da análise por não-médicos [hustlers in New York are hustlers]. Os pivôs do conflito que acabava de eclodir, e que não estava nem perto de se encerrar, concerniam, pois, além da simples relação com a medicina, aos contornos institucionais da psicanálise, a seus fundamentos epistemológicos e a seu caráter universalista, garantia de uma questão que a atualidade geopolítica logo tornaria premente: a da emigração. Numa palavra — a de Jean-Bertrand Pontalis em seu prefácio à edição francesa de 1985 —, podemos dizer que, <para Freud, certamente, a questão da análise leiga era a questão da própria análise>.”

A pergunta que não quer calar: algum estudante pobre já se tornou psicanalista?

A questão da relação com a medicina começa a ser discutida depois que o interlocutor destaca que a psicanálise poderia muito bem ser considerada uma especialidade médica entre outras. F. responde que qualquer médico que observe o conjunto das concepções teóricas e das regras evocadas até esse ponto será bem-vindo, mas que é forçoso registrar uma realidade totalmente diversa, caracterizada pela luta que o conjunto dos médicos trava contra a análise. Essa atitude, além de ser suficiente para retirar do corpo médico qualquer direito histórico a se pretender proprietário da psicanálise, leva Freud a se dirigir, para além de seu interlocutor, ao legislador austríaco: <charlatão> é <quem empreende um tratamento sem possuir os conhecimentos e qualificações necessários>. Com isso ele esclarece que nessas condições, em matéria de análise, são os médicos que compõem o grosso do contingente de <charlatães>, já que, na maioria dos casos, <praticam o tratamento analítico sem havê-lo aprendido e sem compreendê-lo>.”

MAIS FÁCIL PLATÃO REENCARNADO FUNDAR SUA SONHADA REPÚBLICA: “Não seria possível autorizar aqueles dentre os analistas não-médicos que já comprovaram seus méritos e decidir que, no futuro, a formação médica será a norma? Diante dessa última tentativa de compromisso, Freud aborda de frente a questão da formação dos analistas e afirma que seu objetivo, a criação de uma escola superior de psicanálise, pressupõe a instauração de um ensino que, longe de se limitar unicamente aos conhecimentos médicos, englobe a história das civilizações, a mitologia e a literatura, e repouse no postulado da autonomia do registro psíquico em relação ao substrato fisiológico.”Ou seja, depois de umas 3 faculdades, SE LEVAR JEITO PRA COISA, o sujeito estará apto a ser psicanalista no País das Maravilhas (onde todos são felizes mas precisam de tratamento psicanalítico, obviamente).

No plano jurídico, a prática da análise leiga foi debatida na França por ocasião do caso Clark-Williams, que, por suas implicações, constituiu um dos pivôs do que viria a ser a primeira cisão do movimento psicanalítico francês, em 1953. Num primeiro momento, Margaret Clark-Williams, uma psicanalista não-médica que praticava análises de crianças no Centro Claude-Bernard, fundado por Georges Mauco, foi liberada. Todavia, após um apelo feito contra essa decisão pela Ordem dos Médicos [templários!], a 9a vara do tribunal de Paris condenou a ré a uma pena primária, embora reconhecendo sua moral e sua competência. Esse processo criaria jurisprudência, até a suspensão da sentença pelo tribunal correcional de Nanterre, em 9 de fevereiro de 1978, ao término do qual a independência da psicanálise em relação à medicina foi juridicamente reconhecida. Lacan, que não depôs nesse processo, nem por isso deixou, durante as discussões travadas sobre o assunto nos círculos psicanalíticos e psiquiátricos, de defender os não-médicos, censurando Sacha Nacht, então presidente da SPP, por querer abandoná-los por completo.” “Não muito tempo depois, [Lacan] aconselharia seus alunos a estudarem medicina ou filosofia [cagão], considerando que a proteção da formação dos psicanalistas e da psicanálise em si deveria exercer-se, prioritariamente, contra a psicologia e o psicologismo, os quais ele denunciou como uma ameaça muito mais perigosa do que a medicina. Posteriormente, dentro da perspectiva aberta por F., L., em especial através dos textos dedicados ao ensino e à formação dos analistas, procurou delimitar a especificidade do ato psicanalítico e mostrar que, se o psicanalista só pode ser <leigo>, isso se deve, antes de mais nada, ao fato de seu ato se inscrever na experiência psicanalítica que ele atravessa.”

Além da análise leiga, muitos gostariam de instituir a leitura ou estudo leigo (porque a eles sempre se contraporá a leitura, o estudo profissionais).

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Harald Leupold-Löwenthal, “Le Procès de Theodor Reik”, Revue Internationale d’Histoire de la Psychanalyse, 3, 1990, 57-69.

real

Depois, entre 1935 e 36, época em que, junto com Lacan, acompanhou o seminário de Kojève sobre A fenomenologia do espírito de Hegel, Bataille inventou o termo heterologia, extraído do adjetivo heterólogo, que serve para designar, em anatomopatologia, os tecidos mórbidos. A heterologia era, para ele, a ciência do irrecuperável, que tem por objeto o <improdutivo> por excelência: os restos, os excrementos, a sujeira. Numa palavra, a existência <outra>, expulsa de todas as normas: loucura, delírio, etc. Foi combinando a ciência do real, a heterologia e a noção freudiana de realidade psíquica que Lacan construiu sua categoria do real. Esta fez sua 1a aparição em 53, ainda sem ser conceituada, numa conferência intitulada O Simbólico, o Imaginário e o Real. Depois disso, Lacan adquiriu o hábito de escrever as 3 palavras com maiúsculas.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Émile Meyerson, La Déduction relativiste, Paris, Payot, 1925;

Georges Bataille, “La Structure psychologique du fascisme” (1933-1934), in: La Critique sociale, reimpressão, Paris, La Différence, 1985, 159-65; 205-11.

recalque

al. Verdrängung; esp. represión; fr. refoulement; ing. repression. Na linguagem comum, a palavra recalque designa o ato de fazer recuar ou de rechaçar alguém ou alguma coisa. Assim, é empregada com respeito a pessoas a quem se quer recusar acesso a um país ou a um recinto específico.

Para Freud, o recalque designa o processo que visa a manter no inconsciente todas as idéias e representações ligadas às pulsões e cuja realização, produtora de prazer, afetaria o equilíbrio do funcionamento psicológico do indivíduo, transformando-se em fonte de desprazer.F., que modificou diversas vezes sua definição e seu campo de ação, considera que o recalque é constitutivo do núcleo original do inconsciente. No Brasil também se usa <recalcamento>.”

Recalque é a zaga ruim, que não sabe defender, mas ainda assim engana alguns fanáticos.

Observe-se que F. não é nada explícito quanto à verdadeira origem desse processo: de onde provêm os elementos de atração do inconsciente que são responsáveis por essa primeira fixação? Na falta de uma resposta clara, ele enuncia a hipótese, em 26, de uma invasão primordial, decorrente de uma força de excitação particularmente intensa. O retorno do recalcado, terceiro tempo do recalque, manifesta-se sob a forma de sintomas — sonhos, esquecimentos e outros atos falhos —, considerados por Freud como formações de compromisso.”

Um paradoxo: os fracos são os mais resistentes.

regra fundamental (o postulado primário de que a psicanálise se baseia na fala e na livre associação das idéias do paciente)

Através de seu silêncio, o analista deixa transparecer que, mais-além da demanda de cura, o paciente é portador de uma outra demanda, uma <demanda intransitiva>, que <não comporta nenhum objeto>, e na qual vêm repetir-se os elementos de umaidentificação primária com a onipotência materna.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jean-Luc Donnet, “Surmoi. Le concept freudien et la règle fondamentale”, monografias da Revue Française de Psychanalyse, Paris, PUF, 1995.

Reich, Wilhelm

O itinerário atormentado do maior dissidente da segunda geração freudiana, próximo de Fliess por suas teorias biológicas e de Gross pelo seu destino de eterno perseguido, foi narrado de forma caricatural pela historiografia oficial, sobretudo pelo seu principal representante, Ernest Jones, responsável, com Max Eitingon, Anna e Freud, por sua exclusão da IPA.Foi o criador do freudo-marxismo, o teórico de uma análise do fascismo que marcou todo o século e o artífice de uma reformulação da técnica psicanalítica que se apoiava em uma concepção da sexualidade mais próxima da sexologia que da psicanálise.”

Peer Gynt (Ibsen), esse herói norueguês à procura de identidade, que acaba por se fazer proclamar Imperador do Egito num asilo de loucos, simbolizava, de certa forma, o mal-estar do pós-romantismo alemão, com o qual Reich se identificava.”

Para Reich, a hipótese da pulsão de morte teria sido consecutiva a uma depressão de Freud, causada pela evolução ortodoxa do movimento psicanalítico depois da Primeira Guerra Mundial. A partir de 1924, Reich se interessou pelas obras de Marx e Engels para tentar mostrar a origem social das doenças mentais e nervosas. Nessa perspectiva, procurava conciliar os conceitos marxistas e os da psicanálise. Em 1927, publicou uma obra de sexologia, A função do orgasmo, que dedicou a <meu mestre o professor Sigmund Freud>, e um ensaio, A análise do caráter.”

2 CONTRA 1: “Nesse debate sobre a sexualidade, que durava desde o fim do séc. XIX, a posição de Reich era simétrica à de Jung. Se este dessexualizava o sexo em benefício de uma espécie de impulso vital, Reich operava a dessexualização da libido em benefício de uma genitalidade biológica, fundada no desenvolvimento de uma felicidade orgástica, da qual a pulsão de morte estaria excluída.

em 1929 publicou na revista moscovita Sob a bandeira do marxismo o manifesto fundador do freudo-marxismo: Materialismo dialético e psicanálise.”

Criou então a Associação para uma Política Sexual Proletária, a SEXPOL, através da qual desenvolveu uma política de higiene mental dirigida à juventude. Assimilava a luta sexual à luta de classes e desafiava os costumes do conformismo burguês e do comunismo. Isso fez com que irritasse tanto os meios psicanalíticos (muito conservadores na política) e os comunistas stalinistas (adversários de suas teses libertárias). Excluído do Partido Comunista alemão, no exato momento da tomada do poder por Hitler [golpe de sorte], exilou-se na Dinamarca, onde teve que enfrentar uma campanha de difamação que o perseguiria até a Noruega.” “Com seus discípulos, F. optara por uma estratégia que consistia, por receio de eventuais represálias do governo, em excluir de suas fileiras os militantes de extrema esquerda: Marie Langer também pagaria o preço dessa política. (…) Assim, foi realmente em razão de sua adesão ao comunismo, e não por uma discordância técnica e doutrinária, que Reich foi perseguido pelo movimento freudiano, pelo próprio Freud e também por Jones, que inicialmente lhe demonstrara simpatia.(…) No Congresso de Lucerna, em 1934, Reich foi excluído das fileiras da IPA, exatamente quando não era possível acusá-lo de bolchevista, pois ele já não era mais membro do Partido Comunista. Harald Schjelderup e o grupo norueguês se opuseram a essa exclusão, que teria sérias repercussões na situação da psicanálise na Escandinávia.”

Longe de considerar o fascismo como produto de uma política ou de uma situação econômica de uma nação ou de um grupo, via nele a expressão de uma estrutura inconsciente e estendia a definição à coletividade, para enfatizar que, definitivamente, o fascismo se explicava por uma insatisfação sexual das massas. Reich retomava assim um tema que fôra tratado de outra maneira por Gustave Le Bon e depois por F., mas dando-lhe um conteúdo radicalmente novo no mesmo momento em que o nazismo se abatia sobre a Alemanha.”

Em 1936, tratado de <esquizofrênico> pela comunidade freudiana, Reich afastou-se definitivamente da psicanálise, criando em Oslo um Instituto de Pesquisas Biológicas de Economia Sexual, no qual se reuniam médicos, psicólogos, educadores, sociólogos e assistentes de jardins de infância.”

Instalado em um chalé no Maine, perto da fronteira canadense, realizou o seu sonho: construir e pôr em prática uma teoria orgástica do universo, com os meios tecnológicos da época. Foi assim que pensou ter descoberto o <orgônio atmosférico> e, para captá-lo, a fim de curar os seus pacientes da sua impotência orgástica, construiu um centro de pesquisas, ao qual deu o nome de Orgonon. Ali, como o Frankenstein de Mary Shelley revisto e corrigido pela estética do cinema hollywoodiano [?], experimentou os seus <acumuladores de orgônio>, verdadeiras máquinas destinadas a armazenar a famosa energia. Em dezembro de 1940, Reich pediu uma entrevista a Albert Einstein, com quem conversou durante 5h e que se encantou com suas <descobertas>, a ponto de verificar pessoalmente o funcionamento de um acumulador. Mas um mês depois, Einstein emitiu um veredito negativo sobre a experiência. Reich protestou, porém Einstein não respondeu as suas cartas. Nova decepção.

A partir de janeiro de 1942, atacado por todos os lados, tratado de charlatão pelos psiquiatras e de esquizofrênico pelos meios psicanalíticos americanos [não significa muita coisa, convenhamos], Reich mergulhou na loucura, acreditando-se vítima do grande MODJU, ou seja, dos <fascistas vermelhos>.Esse nome, forjado por ele, era derivado de MO (cenigo), personagem anônimo que entregara Giordano Bruno (1548-1600) à Inquisição, e de DJOU (gachvili), aliás Stalin.” [!!]

Acusado de estelionato por ter comercializado seus acumuladores de orgônio, Reich foi preso depois de um lamentável processo, e morreu de ataque cardíaco na penitenciária de Lewisburg, na Pensilvânia, a 3 de novembro de 1957. Em maio, quando trabalhava na biblioteca da prisão, escreveu estas palavras para seu filho Peter: Orgulho-me de estar em tão boa companhia, com Sócrates, Cristo, Bruno, Galileu, Moisés, Savonarola, Dostoiévski, Gandhi, Nehru, Mindszenty, Lutero e todos os que combateram contra o demônio da ignorância, os decretos ilegítimos e as chagas sociais… Você aprendeu a esperar em Deus assim como nós compreendemos a existência e o reino universais da Vida e do Amor.

Reich tinha uma admiração sem limites por Freud, enquanto Freud se mostrou, para com ele, de uma ferocidade desmedida. É quase certo que a publicação dessa correspondência daria ao grande fundador uma imagem pouco semelhante à que lhe atribui a hagiografia oficial. Efetivamente, conhecem-se resumos do conteúdo provável dessas cartas, que mostram que Freud teve medo de Reich: de sua loucura, de sua celebridade, de seu engajamento político. Quanto a seus discípulos, estes tudo fizeram para se livrar de um homem que incomodava seu conformismo, questionava suas convicções e reatava com as origens <fliessianas> — cuja importância eles queriam apagar — da doutrina freudiana.”

As teses reichianas tiveram uma grande influência na posteridade, tanto do lado do biologismo, quando retornaram com a Gestalt-terapia, quanto nos anos 1965-75, quando reapareceram com a contestação libertária na maioria dos grandes países onde a psicanálise se implantara.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

REICH, W., The Discovery of the Orgone, 2, The Cancer Biopathy (N. York, 1948), traduzido para o francês sob o títuloBiopathie du cancer, Paris, Payot, 1975; Escuta, Zé ninguém (N. York, 1948), S. Paulo, Martins Fontes; L’Éther, dieu et le diable (N. York, 1951), Paris, Payot, 1973; O assassinato de Cristo (Maine, 1953), S. Paulo, Martins Fontes, 1995; Reich parle de Freud (N. York, 1967), Paris, Payot, 1970; Premiers écrits, 2 vols. (N. York, 1979), Paris, Payot, 1982.

resistência

Sobre a explicação do fenômeno da resistência, os pontos de vista de Freud são mais difíceis de distinguir [que os da transferência]. Nos Estudos sobre a histeria, formula a hipótese seguinte: podemos considerar as lembranças agrupadas, segundo o seu grau de resistência, em camadas concêntricas em redor de um núcleo central patogênico; no decurso do tratamento, cada passagem de um círculo para outro mais aproximado do núcleo irá aumentar outro tanto a resistência.”

Esperávamos que, ao afastarmos as resistências do eu e do supereu, traríamos algo com uma libertação automática de pressão, e que outra manifestação de defesa logo ligasse esta energia agora livre, como acontece nos sintomas transitórios. Em vez disso, parece que demos uma chicotada na compulsão à repetição e que o Isso aproveitou o enfraquecimento das defesas do eu para exercer uma atração crescente sobre as representações pré-conscientes.” Glover

Roheim, Geza

fundou a etnopsicanálise, da qual foi, com Georges Devereux, o principal representante.”

HAHAHA: “Roheim teve uma infância feliz — fenômeno raro entre os pioneiros do movimento psicanalítico, à exceção do próprio Freud. Nunca teve filhos e foi ele mesmo uma eterna criança, apegado durante toda a vida à sua mulher Llonka, que se associou à sua obra e nunca deixava de brigar com ele em público.” [!!!]

no trabalho de campo, ensinou futebol às crianças da Melanésia.”

Durante toda a vida, conservaria sua independência em relação às diferentes escolas e uma sólida admiração por F.”

Segundo ele, as fantasias de devoração apenas repetiam uma situação mais antiga de identificação com o corpo da mãe: comer o pai durante o festim totêmico era comer a mãe.” Nosso primeiro banquete são as entranhas da mãe, não há como negá-lo!

No campo, longe de experimentar o mesmo sofrimento melancólico de Malinowski e de tantos outros etnólogos, teve logo uma <transferência positiva> em relação a seus anfitriões e se comportou com eles ao mesmo tempo como um irmão mais velho e como um analista kleiniano, procurando sempre refinar o seu método e interpretar os costumes, mitos, comportamentos, sonhos, jogos de palavras e histórias cotidianas à luz da psicanálise. Ao voltar, atravessando os EUA, parou durante algum tempo na Califórnia, para estudar os índios yumas e, em 1932, publicou suas observações em um artigo intitulado Psicanálise dos tipos culturais primitivos, cuja essência seria retomada em 1950, em sua grande síntese sobre a questão, Psicanálise e antropologia.

Atacava com firmeza todos os representantes do neofreudismo culturalista, Abram Kardiner e Margaret Mead particularmente, acusando-os de importarem modelos diferencialistas inadequados para analisar as grandes sociedades ocidentais. Concluía que o relativismo cultural, com sua auto-satisfação e seus ideais humanistas, era apenas uma forma mascarada de nacionalismo e de rejeição do outro: A idéia de que as nações são completamente diferentes umas das outras, e de que o papel da antropologia é simplesmente descobrir essas diferenças, é uma manifestação de nacionalismo mal-dissimulada. Ela constitui a contrapartida democrática da doutrina racial dos nazistas ou da teoria comunista das classes.

Rolland, Romain

Mais um polímata que devo conhecer e – tentar – superar…

Tocava piano admiravelmente, com uma suavidade que para mim é inesquecível, acariciando o teclado como se quisesse tirar dele os sons não pela força, mas apenas pela sedução. Nenhum virtuose — e ouvi nos círculos mais fechados Max Reger, Busoni, Bruno Walter — me proporcionou, a esse ponto, o sentimento de uma comunhão imediata com os mestres amados. Seu saber nos humilhava por sua extensão e diversidade. De certa forma, como vivia apenas através de seus olhos de leitor, detinha a literatura, a filosofia, a história, os problemas de todos os países e de todos os tempos. Conhecia cada compasso da música; as obras mais esquecidas de Galuppi, de Telemann, e até compositores de sexta ou sétima ordem lhe eram familiares. Ao lado disso, participava apaixonadamente de todos os acontecimentos do presente.”Zweig

Escritor prolixo, dramaturgo, biógrafo, musicólogo — sua biografia de Beethoven foi durante muito tempo a melhor —, ensaísta, moralista, Romain Rolland, como escreveram Henri & Madeleine Vermorel, entrou, todavia, <em um purgatório que se prolonga: seus romances não são mais lidos, exceto Jean-Christophe, sua obra-prima>.” “ele obteve em 1916 o Prêmio Nobel de literatura.”

romance familiar (al. Familienroman; esp. novela familiar; fr. roman familial; ing. family romance)

Expressão criada por Freud e Rank para designar a maneira como um sujeito modifica seus laços genealógicos, inventando para si, através de um relato ou uma fantasia, uma outra família que não a sua.

Desde 1898, F. havia observado que os neuróticos tendiam, em sua infância, a idealizar os pais e a querer se parecer com eles. A essa primeira identificação seguiam-se o discernimento crítico e a rivalidade

Rank estudou as lendas típicas das grandes mitologias ocidentais sobre o nascimento dos reis e dos fundadores de religiões. Assim, observou que Rômulo, Moisés, Édipo, Páris, Lohengrin e até Jesus Cristo são crianças achadas, abandonadas ou <expostas> a um curso d’água por pais reais em razão de alguma previsão sombria. Destinados a morrer, em geral são recolhidos por uma família nutriz de classe social inferior. Na idade adulta, recuperam sua identidade originária, vingam-se do pai e reconquistam seus reinos.”

O BOM FILHO NASCE NUMA CAPITAL (nonsense): “No caso de Páris, a figura mítica do animal protetor está associada à idéia da realização de uma previsão desastrosa. Príamo abandona seu segundo filho no nascimento, porque sua mulher, Hécuba, sonhou que trazia ao mundo uma tocha ardente. O menino, alimentado por uma ursa, é recolhido por um pastor de ovelhas, que lhe dá o nome de Páris (filho da ursa). Estando na origem da guerra de Tróia, Páris provocaria a ruína de sua família.” “Na história de Lohengrin, o tema do segredo patogênico, tão caro a Moriz Benedikt, caminha de mãos dadas com o do animal protetor e da mulher curiosa. Um cavalheiro errante, singrando as águas, salva a heroína, casa-se com ela e lhe dá filhos. Promete-lhe felicidade eterna, desde que ela renuncie a saber quem ele é e de onde vem. Em pouco tempo, entretanto, a rainha não resiste ao prazer de interrogar o marido. Lohengrin proclama então publicamente que é filho de Parsifal e abandona o reino para sempre para se colocar outra vez a serviço do Graal em sua embarcação puxada por um cisne.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Otto Rank, Le Mythe de la naissance du héros (Leipzig, Viena, 1909), Paris, 1983.

Rorschach, Hermann

Foi o historiador Henri F. Ellenberger quem redigiu a biografia desse fascinante médico da primeira geração freudiana, que se tornou célebre no mundo inteiro com a invenção do famoso teste das manchas de tinta.”

Rússia, URRS

Pavlov recebeu em 1904 o Prêmio Nobel de medicina por seus trabalhos sobre a atividade digestiva e o reflexo condicionado, que dariam origem a um modelo de psicologia materialista, retomado pelos marxistas, e depois pelo regime comunista, para combater as doutrinas ditas <espiritualistas>, entre as quais a psicanálise.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Pseudo-Bakhtin, Le Freudisme (1927), Lausanne, L’Âge d’homme, 1980;

Mikhail Stern, La Vie sexuelle en URSS, Paris, Albin Michel, 1979.

Sachs, Hanns

Muitas vezes, viajava em férias com seus analisandos, estes também acompanhados por seus analisandos, o que dá uma idéia dos hábitos da época, antes da regulamentação (1925) da análise didática.”

Em 1925, com Abraham e contra a opinião de F., que não entendia grande coisa da nova arte cinematográfica, Sachs participou da redação de um roteiro para o filme mudo realizado em 1926 por Wilhelm Pabst (1885-1967), Os mistérios da alma. Nessa obra-prima do cinema expressionista, o ator Werner Krauss, que fizera em 1919 o papel de Caligari no filme de Robert Wiene, interpretou o do professor Matthias, homem obcecado por desejos de assassinato com sabre e faca, curado pela psicanálise. Foi o primeiro filme inspirado nas teses freudianas e, quando de sua 1a exibição em Berlim, foi bem recebido: De imagem em imagem, escreveu um jornalista do Film-Kurier, descobre-se o pensamento de Freud. Cada episódio da ação poderia ser uma das proposições da agora célebre análise dos sonhos […]. Os discípulos de Freud podem se alegrar. Nada no mundo podia fazer tal publicidade com tanto tato.>

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Hanns Sachs, Caligula, Londres, Elin Matthews and Marott, 1931;

______, The Creative Unconscious, Studies in the Psychoanalysis of Art, Cambridge (Mass.), Science-Art Publications, 1942.

Schmideberg, Melitta, filha da madrasta-inata Melanie Klein

É difícil não ver nas relações entre Melitta Schmideberg e sua mãe uma espécie de caricatura das paixões que Klein teorizou: ódio, inveja, agressividade, perseguição, identificação projetiva, objeto bom ou mau. Nascida dentro da psicanálise e analisada por sua própria mãe, Melitta, filha mais velha de Melanie Klein, foi realmente a filha trágica da psicanálise, e, mais ainda, a cobaia de uma experiência que daria origem, não só à psicanálise de crianças no sentido moderno, mas também a uma das correntes mais ricas na história do freudismo.”

Segundo Phyllis Grosskurth, parece que Melanie temia que sua filha se tornasse sua rival. Assim, comportou-se com Melitta como sua própria mãe fizera com ela própria, mantendo-a permanentemente em estado de servidão, educando-a também na paixão pela <causa> psicanalítica. Desde os 15 anos, Melitta assistia a reuniões da Sociedade Psicanalítica de Budapeste e devorava textos psicanalíticos. Quando começou a estudar medicina, foi para se tornar psicanalista. Enfim, seguiu o mesmo itinerário da mãe: da Hungria para a Alemanha. Em Berlim, foi analisada três vezes pelos astros do movimento, então em plena expansão: Max Eitingon, Karen Horney e Hanns Sachs. Foi ali que encontrou Walter Schmideberg, seu futuro marido. Instalou-se depois em Londres, onde foi eleita membro da BPS. Fez mais uma análise com Ella Sharpe e começou a praticar a análise.”

Na Europa, era preciso ter coragem para ser analista. Nos Estados Unidos, nos anos 1950 e 1960, era preciso ter coragem para não ser.”

Em 1963, demitiu-se da BPS e deixou de freqüentar os meios psicanalíticos. Nunca aceitou reconciliar-se com sua mãe, nem mesmo falar com ela. No dia do enterro de Melanie, deu uma aula em Londres exibindo ofuscantes botas vermelhas.”

Schreber, Daniel Paul

Embora a análise que Freud fez do caso de Daniel Paul Schreber (1842-1910) não tenha se originado, como as de Dora, do Homem dos Ratos ou do Homem dos Lobos, de um tratamento real, as Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia, publicadas em 1911, sempre foram consideradas uma exposição ainda mais notável, pelo fato de F. nunca se haver encontrado com esse paciente. Ela foi comentada, questionada e reinterpretada por toda a literatura psicanalítica de língua inglesa e alemã. Na França, foi particularmente revisitada em vista da importância atribuída à paranóia na história do pensamento lacaniano.”

Em 1884, Daniel Paul Schreber, jurista renomado e presidente da côrte de apelação da Saxônia, deu sinais de distúrbios mentais, depois de ser derrotado na eleição em que se apresentara como candidato do partido conservador. Foi então tratado pelo neurologista Paul Flechsig (1847-1929), que em 2 ocasiões mandou interná-lo. Promovido a presidente do tribunal de apelação de Dresden em 1893, Schreber foi interditado 7 anos depois, sendo seus bens colocados sob tutela. Redigiu então suas Memórias de um doente dos nervos, publicadas em 1903. Graças a esse livro, pôde sair do hospício e recuperar seus bens, não por ter provado que não era louco, mas por ter sabido demonstrar ao tribunal que sua loucura não podia ser tomada como um motivo jurídico de confinamento. Em abril de 1910, ele morreu no manicômio de Leipzig. [?] Alguns meses depois, ao começar a redigir seus comentários sobre a autobiografia de 1903, Freud ignorava se o autor delas ainda estava vivo.”

As Memórias de Schreber apresentam o sistema delirante de um homem perseguido por Deus. Tendo vivido sem estômago e sem vesícula e havendo também <comido sua laringe>, ele achava que o fim do mundo estava próximo e que ele próprio era o único sobrevivente, em meio a um mundo de enfermeiros e doentes designados como <sombras de homens feitos às pressas>. Deus falava com ele na <língua fundamental> (a língua dos nervos) e lhe confiou a missão salvadora de se transmudar em mulher e gerar uma nova raça. Incessantemente regenerado pelos raios que o tornavam imortal e que emanavam dos <vestíbulos do céu>, Schreber era também perseguido por pássaros <miraculados>, que eram lançados contra ele depois de serem enchidos de <veneno de cadáver>: esses pássaros lhe transmitiam os <restos> das antigas almas humanas. Enquanto esperava ser metamorfoseado em mulher e engravidado por Deus, Schreber urrava contra o sol e resistia aos complôs do Dr. Flechsig, designado como um <assassino de alma> que abusara sexualmente dele, antes de abandoná-lo à putrefação. Deslumbrado com a extraordinária língua schreberiana, Freud analisou o caso para demonstrar, frente a Bleuler e Jung, a validade de sua teoria da psicose. Por isso, nos urros de Schreber contra Deus viu a expressão de uma revolta contra o pai, na homossexualidade recalcada, a fonte do delírio, e, por último, na transformação do amor em ódio, o mecanismo essencial da paranóia. A eclosão do delírio pareceu-lhe menos uma entrada na doença do que uma tentativa de cura, mediante a qual Daniel Paul, que não tivera nenhum filho para se consolar da morte do pai, tentou reconciliar-se com a imagem de um pai transformado em Deus.”

Em 1955, Ida Macalpine e seu filho, Richard Hunter, ambos alunos de Edward Glover e dissidentes da BPS, redigiram para a tradução inglesa das Memórias um prefácio que estigmatizou a negligência freudiana das teorias educativas de Gottlieb [pai de Schreber – amor de Deus? Hahaha…]. À tese freudiana eles opuseram uma interpretação kleiniana do caso.”

Por essa ótica, em vez de considerar a paranóia como uma defesa contra a homossexualidade, Lacan a situou sob a dependência estrutural da função paterna. Assim, propôs reler realmente os escritos de Gottlieb M. Schreber, a fim de evidenciar o vínculo genealógico entre as teses pedagógicas do pai e a loucura do filho. Nesse quadro, a paranóia de Schreber pôde ser definida como uma <forclusão do Nome-do-Pai>. Em outras palavras, como o seguinte encadeamento: o nome de D.G. [Deus G., Maurício] M. Schreber, isto é, a função do significante primordial encarnado pelo pai nas teorias educativas que visavam reformar a natureza humana, fôra rejeitado (ou forcluso) do universo simbólico do filho, e havia retornado no real delirante do discurso do narrador das Memórias.”

Em 1992, o comentário de F. foi radicalmente contestado por um psicanalista norte-americano, Zvi Lothane, membro da IPA. Ele acusou freudianos e kleinianos de haverem fabricado integralmente diagnósticos falsos e, dessa maneira, de haverem infligido aos Schreber, pai e filho, uma <vergonha> e um <assassinato moral> em nome de uma pretensa homossexualidade latente. Lothane <reabilitou> Daniel Paul, fazendo dele um melancólico cuja loucura beirava a genialidade, e Gottlieb Moritz, em quem viu o grande pensador de uma medicina humanista, injustamente chamado de tirano pelos psicanalistas e psiquiatras.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Zvi Lothane, In Defense of Schreber: Soul Murder and Psychiatry, Hillsdale e Londres, Analytic Press, 1992.

sexologia (R.I.P.)

Disciplina ligada à biologia, que toma por objeto de estudo a atividade sexual humana com um objetivo descritivo e terapêutico.” E no que diverge da Psicanálise?

Logo após a I Guerra Mundial, em especial sob a influência das teses de Reich, a sexologia começou a deixar o campo das descrições literárias ou médico-legais: transformou-se num movimento político, centralizado na idéia da liberação sexual,e criou um modelo de psicoterapia que tinha por objeto a função do orgasmo, isto é, a mensuração e a descrição dos fenômenos psíquicos, fisiológicos e biológicos ligados às diferentes modalidades do ato sexual, inclusive a masturbação.”

a partir do fim da década de 70, a sexologia não mais contribuiu verdadeiramente para o conhecimento, ao contrário do que havia acontecido na época da descoberta freudiana.”

sexuação (exemplo de péssima etnologia)

Utilizando o quadrado lógico de Apuleio, Lacan enunciou o que denominou de fórmulas da sexuação, ou seja, 4 proposições lógicas. As duas primeiras são proposições universais, uma afirmativa — Todos os homens têm o falo — e uma negativa: Nenhuma mulher tem o falo. Essas 2 proposições resumem a posição freudiana da libido masculina única, sendo o falo assimilado ao órgão sexual masculino. Segundo Lacan, entretanto, essa posição é inaceitável, pois avaliza a fantasia de uma complementaridade entre homens e mulheres e desemboca numa concepção do Um como negação da diferença e exclusão da castração, como quando se diz, por exemplo, a <humanidade> ou o <gênero humano>. Vêm então as outras 2 fórmulas. Uma é particular negativa: Todos os homens, menos um, estão submetidos à castração. Nesse caso, o conjunto dado, <todos os homens>, só pode existir logicamente se existir um outro elemento, distinto do conjunto: no caso, o pai originário da horda primitiva (Totem e tabu), que pode possuir todas as mulheres. A última fórmula é uma particular negativa: <Não existe nenhum X que constitua uma exceção à função fálica.> Na medida em que não existe, para o conjunto feminino, um equivalente do pai originário que escape à castração — o pelo-menos-um do conjunto dos homens —, todas as mulheres têm um acesso ilimitado à função fálica. Existe, portanto, uma dissimetria entre os dois sexos.”

sexualidade feminina

Pouco preocupado com o feminismo, Freud mostrou-se misógino em algumas ocasiões e, em muitas, conservador. A nos atermos às aparências, podemos ver nele um cientista estreito, um bom burguês, um marido ciumento e um pai incestuoso: em suma, um representante da autoridade patriarcal tradicional.”

significante

o estruturalismo lacaniano se assenta na idéia de que a verdadeira liberdade humana provém da consciência que o sujeito pode ter de não-ser-livre em virtude da determinação inconsciente. Para Lacan, a forma freudiana de uma consciência de si dividida (ou de uma clivagem do eu) era mais subversiva do que a crença — p.ex., sartriana — numa possível filosofia da liberdade.E por quê?!

Saussure situou o significado acima do significante e separou os dois por uma barra, denominada da significação. Lacan inverteu essa posição e colocou o significado abaixo do significante, ao qual atribuiu uma função primordial.”Parabéns!

L. deu o nome de ponto de basta ao momento pelo qual, na cadeia, um significante se ata ao significado para produzir uma significação. Essa é a única operação que detém o deslizamento da significação, fazendo com que os 2 planos se unam pontualmente. Daí a idéia de que a <pontuação> é uma maneira de intervir no desenrolar de uma sessão de análise, cortando-a, interrompendo-a com uma produção significativa: uma interpretação verdadeira.” Blábláblá…

Esse debate sobre a <primazia do significante> e sua possível desconstrução por uma leitura derridiana veio a ser o ponto de partida, nos EUA, de uma vasta polêmica sobre o estruturalismo, o lacanismo e o pós-estruturalismo.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Edgar Allan Poe, “La Lettre volée”, in: Histoires, Paris, Gallimard, col. “Pléiade”, 1940, 45-64.

sonho diurno (daydream)

Ver verbete FANTASIA.

enredo(fachada) imaginado(a) no estado de vigília”

Em relação às lembranças de infância a que se referem, estão um pouco na mesma relação daqueles palácios barrocos de Roma com as ruínas antigas: pedra e colunas serviram de material para construir formas modernas. No sonho diurno a elaboração secundária desempenha um papel predominante, garantindo aos enredos uma coerência maior do que aos do sonho.”

Spielrein, Sabina

Depois da publicação, em 80, por Aldo Carotenuto & Carlo Trombetta, de um trabalho sobre Sabina Spielrein, acompanhado de sua correspondência com Freud e Jung, de seu diário e vários de seus textos, essa psicanalista russa, esquecida pela historiografia, foi objeto de muitos estudos. Tornando-se um personagem romanesco, adquiriu uma celebridade tão grande quanto a de Pappenheim ou de I. Bauer. Deve-se dizer que sua história é singular e reveladora de todos os móbeis transferenciais do movimento psicanalítico.

Ao mesmo tempo paciente e estudante de psiquiatria, Sabina Spielrein participou, no começo do século, do debate sobre a esquizofrenia em torno de Bleuler. Depois, experimentou o princípio da transferência e do tratamento pelo amor, e tornou-se a testemunha privilegiada da ruptura entre Jung e Freud. Um foi seu amante e seu analista, outro seria seu mestre. Mais tarde, inventou a noção de pulsão destrutiva e sádica, da qual nasceria a pulsão de morte.[mais um plágio freudiano?] Enfim, atravessou as 2 grandes tragédias que marcaram a história do século XX: o holocausto e o stalinismo.

Jung não conseguia distinguir claramente amor e transferência, ainda mais porque tinha diante de si uma jovem de inteligência excepcional, que ele conseguira curar ao seduzi-la.”

Seu aluno e analisando mais célebre seria o psicólogo Jean Piaget (1896-1980). Seus últimos artigos conhecidos se referem à linguagem infantil, à afasia e à origem das palavras <papai> e <mamãe>.”

Em 1942, depois de muitos combates entre os Vermelhos e os alemães, os nazistas conseguiram ocupar a cidade de Rostov, onde fizeram reinar o terror. Comandos da morte executaram dezenas de milhares de habitantes e agruparam os judeus em colunas para exterminá-los. Em 27 de julho de 1942, Sabina Spielrein foi massacrada com suas 2 filhas na ravina de Viga da Serpente, em meio a cadáveres cobertos de sangue.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Jean Garrabé, Histoire de la schizophrénie, Paris, Seghers, 1992;

Victor Ivanovitch Ovtcharenko, “Le Destin de Sabina Spielrein” (1992), in: L’Évolution Psychiatrique, t. 60, janeiro-março de 1995, 115-22.

Stekel, Wilhelm

Com Max Kahane (1866-1923), Rudolf Reitler (1865-1917) e Alfred Adler, esse médico foi o quarto membro do núcleo fundador da Sociedade das Quartas-Feiras

Escritor prolixo, tinha um estilo enfático e adotou as teses freudianas sobre a sexualidade com um sectarismo que certamente remetia a seus próprios problemas neuróticos. Efetivamente, foi para tratar de sua impotência sexual e sua compulsão patológica à masturbação que consultou F.. Fez uma análise de algumas semanas, que pareceu aliviá-lo sem eliminar os seus sintomas. Obcecado pela questão do sexo sob todas suas formas, tinha, além disso, uma escuta muito intuitiva de todas as manifestações do inconsciente e um verdadeiro talento de inventor e de agitador de idéias novas.”

F. admirava a imaginação de Stekel e sua capacidade inventiva. Mas logo se sentiu exasperado por sua falta de tato e sua indecência. Em uma carta de 30/12/08 a Jung chegou a tratá-lo de <porco total>. Stekel teve que enfrentar os ataques de muitos discípulos do primeiro círculo vienense, especialmente de Tausk, que o acusou de inventar casos para justificar suas hipóteses. O boato de mitomania [mentiroso compulsivo] foi espalhado por Ernest Jones.”

Depois de Adler, Stekel foi o segundo dissidente da história da psicanálise em Viena. Na medida em que estava em jogo um caso de plágio, esse conflito também foi a repetição daquele que ocorreu entre Freud vs. Fliess.”

Em sua Autobiografia, Stekel declarou que Freud lhe roubara suas idéias:Ele usou minhas descobertas sem mencionar meu nome. Em seus escritos, nem se refere à 1ª edição do meu livro, no qual defini a angústia como uma reação do instinto de vida contra o instinto de morte. Muitos acreditam que o instinto de morte é uma das descobertas de F.!

Quero desmentir sua afirmação, tantas vezes repetida, de que me separei do sr. em conseqüência de divergências científicas. Isso causa um excelente efeito no público, mas não corresponde à verdade. São apenas e unicamente suas qualidades pessoais — o que se chama caráter e comportamento — que tornaram, aos meus amigos e a mim, qualquer colaboração com o sr. impossível”F.

Ao contrário de Adler e Jung, Stekel continuou sendo um adepto da psicanálise, ao mesmo tempo que prosseguia sua atividade literária, ora sob seu nome, ora sob o pseudônimo de Serenus. (…) foi um dos primeiros clínicos a criticar as análises intermináveis dos freudianos e a propor um modelo de tratamento psicanalítico fundado nos princípios da técnica ativa.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Wilhelm Stekel, Nervöse Angstzustände und ihre Behandlung, Viena e Berlim, Urban und Schwarzenberg, 1908, com prefácio de Freud, retomado in ESB, IX, 255-6; GW, VII, 467-8; SE, IX, 250-1;

______, Autobiography. The Life Story of a Pioneer Psychoanalyst, Emil A. Gutheil (org.), N. York, Liveright Publishing Co., 1950.

Strachey, Alix, esposa de James Strachey

Como James, permaneceu o que sempre fora na juventude: uma não-conformista. Fiel ao ideal Bloomsbury, que tanto contribuiu para o desenvolvimento da psicanálise na Inglaterra, levou assim uma vida contrária a todas as regras da BPS e não hesitou em exibir sua bissexualidade. Se James gostava de homens amando Alix ao mesmo tempo, Alix gostava de mulheres, continuando a ser a melhor companheira de James.”

Strachey, James

Tradutor da obra completa de Freud, Strachey não deveu ao acaso a realização da famosa Standard Edition (SE), mais lida no mundo inteiro, a partir dos anos 70, do que o original alemão. Para ter sucesso em semelhante empreendimento, era preciso ser capaz de assumir a obra de outro a ponto de fazê-la sua ao longo de toda uma vida. Foi através dessa exigência de humildade e graças à colaboração de sua mulher e de Anna Freud que Strachey adquiriu uma verdadeira identidade de escritor.”

Entrando para o Trinity College de Cambridge em 1905, James logo fez parte do Cenáculo dos Apóstolos que combatiam a hegemonia de Oxford na formação do <gosto inglês>, e depois da Sociedade da Meia-Noite, pequeno círculo de intelectuais, que formariam posteriormente o Grupo de Bloomsbury,¹ com Leonard Woolf, Lytton Strachey [seu irmão], Virginia Woolf (1882-1941), Dora Carrington (1893-1932), Roger Fry (1856-1934) e John Maynard Keynes (1883-1946).”

¹ Mais detalhes nos verbetes de Keynes e Woolf em https://seclusao.art.blog/2019/10/31/encyclopedia-of-homosexuality/.

As primeiras traduções, realizadas antes da guerra por Abraham Arden Brill, eram medíocres. No período entre as duas guerras, a fim de contrabalançar os Estados Unidos no seio da IPA, Jones teve a idéia de realizar a tradução da obra completa, graças ao financiamento das sociedades psicanalíticas americanas, mas colocando o empreendimento sob a égide da Grã-Bretanha, fortaleza avançada do freudismo na Europa. Assim, baseou-se no talento de Strachey e no público conquistado pelos Bloomsbury, depois da criação em 17, por Leonard e Virginia Woolf, da prestigiosa Hogarth Press.

Em setembro de 39, Marie Bonaparte se dispôs a financiar o projeto, e Jones o confiou a Strachey, com a idéia de publicar 24 volumes em 21 anos. Os primeiros foram publicados em 53 e o 23o em 66, um ano antes da morte do tradutor. O 24o saiu em 1974, depois da morte de Alix.

A Standard Edition é uma realização admirável, que nenhum tradutor no mundo conseguiu igualar. As notas e o aparato crítico são retomados em numerosas edições estrangeiras da obra freudiana.Quanto à própria tradução, nunca deixou de ser atacada.

Como todos os bons tradutores, James Strachey não foi servil ao texto original. Seu trabalho refletia suas próprias orientações, sua fantástica erudição, sua paixão pela língua inglesa e seu apego à tradição de Bloomsbury. (…) ele tendia a desprezar tudo o que ligava o texto freudiano ao romantismo alemão e à Naturphilosophie, privilegiando seu aspecto médico, científico e técnico. Na verdade, Strachey obedecia à vontade do próprio F. de transformar a psicanálise em uma ciência”

Strachey contribuiu para acentuar o processo irreversível de anglofonização da doutrina freudiana, processo ligado à situação política: o nazismo e, mais ainda, o Tratado de Versalhes, foram responsáveis pela migração para a Grã-Bretanha e os Estados Unidos da totalidade dos psicanalistas de língua alemã. Quanto aos russos e aos húngaros, estes já estavam germanizados por razões políticas por volta dos anos 20, e todos se tornaram anglófonos a partir de 33. Por conseguinte, é difícil acusar Strachey de ser o único responsável por essa evolução.”

Como muitos autores, Bruno Bettelheim [acerbo crítico de Strachey e da IPA] confundiu a problemática da tradução com questões políticas e ideológicas. Também cedia, além disso, à idéia muito discutível segundo a qual uma tradução pode ser a transcrição fiel da alma ou do espírito de um povo ou uma nação.”

BIBLIOGRAFIA “MAIS OU MENOS” SUGERIDA:

Bruno Bettelheim, Freud e a alma humana (N. York, 1982), S. Paulo, Cultrix, 1984.

suicídio (Selbstmord)

Termo cunhado a partir do latim sui (si) e caedes (matança), introduzido na língua inglesa em 1636 e na língua francesa em 1734, para expressar o ato de matar a si mesmo, no sentido de uma doença ou uma patologia, em oposição à antiga formulação <morte voluntária>, sinônima de crime contra si mesmo.

Se, a partir de meados do século XVII, a palavra suicídio substituiu progressivamente as outras denominações empregadas para designar a morte voluntária, foi preciso esperar pela segunda metade do século XIX para que esse ato, considerado heróico nas sociedades antigas ou no Japão feudal, fosse visto como uma patologia. Sob esse aspecto, o destino do suicídio nas sociedades ocidentais é comparável ao da homossexualidade, da loucura ou da melancolia. Rejeitado pelo cristianismo como um pecado, um crime contra si mesmo e contra Deus, ou então, como uma possessão demoníaca, o suicídio escapou à condenação moral no fim do século XIX, transformando-se em sintoma não de uma necessidade ética, de uma revolta ou de uma dor de viver, mas de uma doença social ou psicológica, estudada com a objetividade de um olhar científico.

O instigador dessa ruptura foi Durkheim. Opondo-se aos adeptos da teoria da hereditariedade-degenerescência, ele demonstrou, em seu magistral estudo de 1897, que o suicídio é um fenômeno social que não depende da <raça>, nem da psicologia, nem da hereditariedade, nem da insanidade nem da degenerescência moral.

Entretanto, a comparação termina aí. Com efeito, a abordagem sociológica de Durkheim não dá conta de uma dimensão essencial do suicídio, presente em todas as formas de morte voluntária: o desejo de morte, isto é, o aspecto psíquico do ato suicida. Por isso é que o livro de Durkheim não se aplica aos grandes casos de suicídio narrados pela literatura, como o de Emma Bovary. Perfeitamente integrado em seu meio, à primeira vista, essa personagem de mulher constitui um exemplo contrário à análise durkheimiana. Para compô-lo, Flaubert entregou-se a uma pesquisa tão dedicada quanto a do sociólogo.” Ora, nada de que uma classificação tripartite bem científica não cuide, rsrs!

Na sociedade vienense do início do século, eram numerosos os suicídios entre os intelectuais, particularmente entre os judeus, para quem a morte voluntária era uma maneira de acabar com uma judeidade vivenciada à maneira do <ódio de si mesmo>.”

A escolha de uma forma de suicídio revela o simbolismo sexual mais primitivo; o homem se mata com um revólver, ou seja, joga com seu pênis, ou então se enforca, isto é, transforma-se em algo que pende em todo o seu comprimento. A mulher conhece 3 maneiras de se suicidar: saltar de uma janela, atirar-se na água ou se envenenar. Pular da janela significa dar à luz, atirar-se na água significa trazer ao mundo, e se envenenar significa a gravidez. […] Assim, mesmo ao morrer a mulher cumpre sua função sexual.” F.

Freud e seus discípulos não chegaram propriamente a inovar nessa matéria. E o suicídio foi mais bem-compreendido pelos escritores e filósofos, suicidas ou não, do que pelos psicanalistas ou sociólogos.Isso decorre, em especial, do incômodo que o movimento psicanalítico sempre experimentou diante dos suicídios de alguns membros da comunidade freudiana: Viktor Tausk, Herbert Silberer, Tatiana Rosenthal, Clara Happel e Eugénie Sokolnicka.”

Em outras palavras, a psicanálise foi forçada a cuidar de pacientes suicidas considerados depressivos. Daí a freqüência com que teve de confessar sua impotência para curá-los. Com efeito, sabemos que, quando um sujeito realmente quer tirar a própria vida, nenhuma terapia consegue impedir que o faça. Entretanto,

numerosos depoimentos mostram que essa questão é mais complexa e que a análise permitiu que alguns melancólicos evitassem o suicídio.”

Ernest Jones escreveu relatos de suicídios a dois, enquanto Georges Devereux contou a história de Cleômenes, rei de Esparta, cujo suicídio foi, acima de tudo, um ato de loucura: em vez de simplesmente se matar, ele se submeteu à tortura, rasgando com sua arma seu corpo e suas entranhas.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Maurice Pinguet, La Mort volontaire au Japon, Paris, Gallimard, 1984;

Christian Baudelot & Roger Establet, Durkheim et le suicide, Paris, PUF, 1984;

Michel Braud, La Tentation du suicide dans les écrits autobiographiques, Paris, PUF, 1992;

Georges Minois, Histoire du suicide, Paris, Fayard, 1995;

Georges Devereux, Cléomène, le roi fou, Paris, Aubier, 1995.

supervisão

A supervisão refere-se, de um lado, à análise que o supervisor faz da contratransferência do supervisionando para seu paciente, e de outro, à maneira como se desenrola a análise do paciente.”

PAVLOV ATACA: “Note-se que o termo inglês control, tal como os termos francês e alemão, coloca a ênfase na idéia de dirigir e dominar, ao passo que a palavra supervision remete a uma atitude não-diretiva, inspirada nos métodos da terapia de grupo.”

Todas as correntes do freudismo (annafreudismo, kleinismo, lacanismo, Ego Psychology, Self Psychology) admitem como norma a necessidade de o futuro psicanalista complementar sua análise didática através de pelo menos uma supervisão, em geral conduzida por outro psicanalista que não o didata.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Sigmund Freud, “Sobre o ensino da psicanálise nas universidades” (1919)

Tausk, Victor/Viktor

Todo aquele que se apaixonaria pelas mesmas mulheres que eu merece minha detida consideração: “Certamente, foi Lou Andreas-Salomé, que foi sua amante, quem fez o retrato mais impressionante de Viktor (ou Victor) Tausk, em seu Diário de um ano. Ela percebeu nele a presença de uma força primitiva, o <animal de rapina>, como dizia F., e era sensível à maneira como ele se obrigava a pensar <analiticamente>: Desde o início, senti em Tausk essa luta da criatura humana, e era isso que me tocava mais profundamente. Animal, meu irmão, você.

Suas múltiplas ligações amorosas terminavam muitas vezes em rupturas violentas, o que o tornava cada vez mais infeliz. Assim, quando a crise econômica o atingiu em cheio, viu-se num impasse. Pediu então a F. que o analisasse. Este recusou-se categoricamente. Entretanto, diante da obstinação e do sofrimento do discípulo, F. armou uma dessas confusões transferenciais, que tinha o hábito de fazer nessa época: em janeiro de 1919, enviou Tausk, para ser analisado, a Helene Deutsch, que estava, ela mesma, em tratamento com Freud. Pensava que poderia assim, supervisionar, através de Helene, o desenrolar da análise de Tausk.O caso terminou em desastre. Tausk usou a maioria de suas sessões para despejar agressões contra F., sabendo perfeitamente que Helene Deutsche relataria tudo a este.Em março de 1919, a conselho de F., ela interrompeu o tratamento no momento em que Tausk estava a ponto de se casar comHilde Loewi, uma de suas ex-pacientes, que estava grávida dele. Três meses depois, em 3 de julho, Tausk se suicidou”

Como acontecia freqüentemente, a comunidade psicanalítica assumiu os filhos de seu infeliz companheiro. Desejando pagar as dívidas do pai, Marius Tausk dirigiu-se a Freud, que lhe respondeu que não tinha nenhuma lembrança da soma emprestada e que isso não tinha a menor importância.”

Em 69, Paul Roazen trouxe à tona essa terrível história em um livro contestável,¹ que fazia de Tausk a vítima de um complô transferencial, inteiramente fabricado por Freud.Dois anos depois, em Talent and Genius, e depois em 83 em outra obra, Kurt Eissler lhe respondeu, glorificando a bondade de Freud e apresentando Tausk como um personagem odioso, sádico, exibicionista e sobretudo inteiramente <responsável> por seu suicídio.Foi Marius Tausk quem soube achar os melhores termos para falar de seu pai e restabelecer a verdade.”

¹ Fonte: psicose roudinesqueana

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Victor Tausk, Oeuvres psychanalytiques, Paris, Payot, 1975;

Paul Roazen, Irmão animal (N. York, 1969), Rio de Janeiro, Imago, 1995;

Eissler, Le Suicide de Victor Tausk. Avec les commentaires du professeur Marius Tausk (N.

York, 1983) Paris, PUF, 1988.

técnica psicanalítica

A duração das sessões, a duração da própria análise, o número de sessões por semana, o modo de intervenção (ativo ou passivo) do analista, a posição do analisando (deitado ou frente a frente), todas essas questões foram objeto de múltiplos debates, que sempre conduziram à definição de novas maneiras de conduzir as análises conforme se estivesse lidando com crianças, com neuróticos ou psicóticos e com psicanalistas em formação, ou conforme se pertencesse a uma das grandes correntes do freudismo ou não.” “Em pouco tempo, entretanto, foi preciso perder as ilusões: como todos os métodos terapêuticos, como toda a medicina, a psicanálise não conseguiu definir os cânones do tratamento perfeito. Houve fracassos, falhas e desastres provocados pela rotina, pela lentidão e pela esclerose da escuta. Daí a idéia de refletir sobre uma nova temporalidade da análise e, por conseguinte, de organizar de outra maneira sua duração. Foi assim que nasceu a noção de <pressa terapêutica>, que marcaria o conjunto das inovações técnicas do freudismo durante cem anos: A tentação seria dupla, escreveu Jean-Baptiste Fagès, encurtar o tratamento e precipitá-lo, a fim de obter uma eficácia tangível.

O primeiro a contestar o caráter interminável da análise freudiana e a empregar um método chamado de <ativo> foi Stekel. Ele propôs limitar as análises a 50 a 150 sessões, ao ritmo de 3 a 6 por semana. Depois dele, foi Ferenczi, o mais brilhante clínico de toda a história da psicanálise, quem inventou, em 19, o princípio da <técnica ativa>, segundo o qual, em vez de se limitar a interpretações, o analista deveria intervir durante as sessões através de ordens e proibições. Mais tarde, Ferenczi levaria esse ativismo ao extremo de permitir que alguns pacientes o abraçassem ou beijassem a fim de instaurar uma identificação com um genitor amoroso que houvesse faltado durante a infância.Em 1932, ele foi ainda mais longe, com a idéia da análise mútua, segundo a qual o terapeuta podia inverter os papéis: ir à casa do paciente, em vez de fazê-lo vir a seu consultório; deixar que ele conduzisse a análise conforme sua vontade, ou, ainda, concordar em se deitar no divã em lugar dele, ou em lhe pagar honorários. [!!!]Em suma, tratava-se de instaurar uma reciprocidade maternalizadora, a fim de obter resultados cada vez melhores. Freud denunciou o furor sanandi (loucura de curar) de seu discípulo predileto.” “Em seguida vieram as inovações de Reich, Franz Alexander e da Escola de Chicago, e por último, de Balint, amplamente inspiradas na filiação ferencziana.”

Entre os sucessores de Freud que eram adeptos da <pressa terapêutica>, Lacan foi o único a empregar uma inovação técnica que consistiu em abreviar a duração das sessões em vez da duração da análise. Ele invocou a necessidade de pontuar o discurso do analisando a partir do enunciado de um significante. Essa inovação levou a corrente lacaniana a um alongamento considerável da duração das análisese terminou, para o próprio Lacan, num desafio faustiano: a dissociação radical do tempo da sessão.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Ferenczi & Rank, “Contra-indicações da técnica ativa”, in: Psicanálise III, Obras completas, 1919-1926 (Paris, 1974), S. Paulo, Martins Fontes, 1993, 365-76.

tradução (das obras de Sigmund Freud)

Foram traduzidas na íntegra para o francês, em ¾ para o russo e o sueco, e em metade para o romeno, o dinamarquês e o norueguês.” Só?

o estabelecimento sistemático de uma obra integral, organizada de maneira coerente e na ordem cronológica, só foi efetuado para quatro línguas — inglês, espanhol, italiano e japonês —, sem que essas diferentes Obras completas incluam os 22 artigos de Freud chamados de <pré-analíticos> (sobre a cocaína, as enguias, a sífilis, etc.), publicados entre 1877-86, e sem que incluam seu primeiro livro, datado de 1891 e intitulado Contribuição para uma concepção das afasias.”

Foi José Ortega y Gasset quem esteve na origem da primeira tradução de uma edição integral da obra freudiana, antes mesmo que ela estivesse terminada. Em 1921, ele confiou sua realização a Luis Lopez Ballesteros e recebeu prontamente a aprovação de Freud: 17 volumes foram lançados até 1934.” “A guerra civil, e sobretudo a vitória do franquismo, impuseram uma suspensão a qualquer forma de implantação da psicanálise naquele país, e foi na Argentina que teve prosseguimento o trabalho iniciado por Ortega y Gasset.”

É a James Strachey que devemos a mais bela tradução crítica integral, coerente e unificada: a Standard Edition. Sua principal falha reside no apagamento do estilo literário de Freud em prol de um vocabulário técnico e científico. Os conceitos foram latinizados: ego (eu), superego (supereu), id (isso), parapraxia (ato falho) e cathexis (investimento). Alguns erros flagrantes e já conhecidos foram cometidos: pulsão (Trieb) foi traduzida por instinct, recalque (Verdrängung), por repression (repressão), etc.”

foi em Londres, durante a II Guerra Mundial, que se produziu a nova versão da obra completa de Freud em alemão. Ela continua a ser utilizada no fim do século XX: Hoje em dia, 45 anos depois do fim da guerra, sublinhou Ilse Grubrich-Simitis em 1991, é difícil imaginar a que ponto o regime nazista conseguiu fazer desaparecer do mercado livreiro alemão os textos de F. e banir da consciência coletiva o universo conceitual que sua esplêndida prosa havia revelado.“Ilse Grubrich-Simitis desejava, justificadamente, incluir os artigos pré-analíticos e a correspondência, mas os herdeiros (Ernst Freud e Anna) não consentiram, sob o pretexto de que F. não havia prezado seus trabalhos neurológicos nem seu talento de missivista. [baboseira!] Foi assim que não se produziu na Alemanha nenhuma edição crítica completa. No fim do século XX, existem em língua alemã apenas uma edição crítica de textos seletos, os Studienausgabe, e uma edição integral, mas não crítica: os Gesammelte Werke, enriquecidos por um índice geral e um volume de suplementos (Nachtragsband), que contém um aparato crítico.”

as Obras completas publicadas no Brasil entre 1970 e 1977 foram diretamente traduzidas do inglês, isto é, da Standard. Daí um certo número de divagações lingüísticas: A versão brasileira de Freud, escreveu Marilene Carone, é inteiramente carregada de termos extravagantes, cuja escolha só se explica por sua proximidade do som dos termos correspondentes em inglês; embora figurem no dicionário, esses termos soam artificiais a nossos ouvidos. É o caso, por exemplo, da substituição de relações recíprocas por relações mútuas (mutual relationships), de posse por possessão (possession), ou de absurdo por absurdidade (absurdity).”

A situação da França (e, por extensão, dos países francófonos) é única no mundo. As obras de Freud (livros e artigos) encontram-se disponíveis na íntegra e em diversas versões, mas os 8 (dos 20) volumes das Oeuvres complètes (OC), produzidos em 1980 por uma equipe de cerca de 15 pessoas, sob a direção de Laplanche, Pierre Cotet, André Bourguignon e François Robert, têm como grande inconveniente, apesar da boa vontade e da competência da equipe, o fato de serem muito pouco legíveis em francês. Isso decorre, ao mesmo tempo, da história particularíssima da França freudiana e do lugar soberano conferido ao estatuto da língua nesse país. Na França, as iniciativas de tradução são quase sempre fruto de batalhas conceituais e brigas de escola referentes à arte e à maneira de traduzir. Os primeiros tradutores de F., Samuel Jankélévitch, Ignace Meyerson (1888-1983), Blanche Reverchon-Jouve (1897-1974), Paul Jury e, acima de tudo, Marie Bonaparte, despenderam muita energia e talento, mas não tiveram a menor preocupação de unificar os conceitos.Assim, os termos freudianos foram traduzidos de maneira diferente conforme os autores. Por seu lado, Édouard Pichon criou, no seio da SPP, uma Comissão para a Unificação do Vocabulário Psicanalítico Francês, que se reuniu 4 vezes, entre maio de 1927 e julho de 1928. Seu objetivo era livrar a psicanálise de seu pretenso caráter germânico (Kultur), passando-a pelo filtro da civilização francesa. Sem ser chauvinista e sem adotar a tese do genius loci, que fazia do freudismo a expressão de um pansexualismo germânico, Pichon considerava que a diferença das mentalidades devia traduzir-se na língua. Assim, inventou toda uma terminologia: amância [aimance] para libido, actorium para Ich (eu), pulsorium para Es (isso), etc. Por fim, introduziu o pronome neutro (ça (isso)) para traduzir o conceito alemão. Daí esta situação paradoxal no seio da SPP: Pichon pensava uma verdadeira conceituação e não traduzia nenhum texto, enquanto Marie Bonaparte traduzia textos sem propor qualquer reflexão conceitual.” “Instalado na editora Gallimard, Pontalis, ele mesmo um excelente tradutor, renunciou a publicar as obras completas, mas mandou retraduzir, traduzir ou revisar um grande número de textos de Freud, que foram publicados em sua coleção Connaissance de l’Inconscient: Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, Moisés e o monoteísmo, A questão da análise leiga, etc. Todas essas traduções são notáveis, tendo sido feitas em geral por bons profissionais, conhecedores do alemão, da conceituação freudiana e da língua francesa. Editadas na PUF por Bourguignon, Laplanche e Cotet, as Oeuvres complètes (OC) estão longe de ter a qualidade dos textos da Gallimard. Em completa contradição com o Vocabulário da psicanálise (do qual Laplanche foi co-autor), elas são fruto de um trabalho de equipe, o que tende a desumanizar o manejo das palavras e da escrita em prol de uma espécie de anonimato do léxico. Além disso, os responsáveis adotaram uma ideologia inversa à de Pichon, que consiste em retranscrever a pretensa germanidade original do texto freudiano. Por isso eles se deram o título de <freudólogos>, convencidos de que a língua freudiana não é o alemão, mas o <freudiano>, i.e., uma <língua freudiana>, um <dialeto do alemão que não é o alemão>, e sim uma língua <inventada> por Freud (no sentido em que os espíritas falavam da <língua marciana> no início do século). Essa teoria os conduziu a algumas aberrações e, acima de tudo, a inventarem, eles próprios, uma língua imaginária que não é mais o francês, e sim um idioma de freudólogos que supostamente representa essa <língua freudiana>. Daí a eliminação de alguns termos que se haviam imposto no vocabulário francês há 50 anos, mas que foram agora substituídos: souhait [anseio] para traduzir Wunsch, em lugar de désir [desejo], fantaisie para Phantasie, em vez de fantasme [fantasia], trait d’esprit [tirada espirituosa, rasgo espirituoso] para Witz, em lugar de mot d’esprit [chiste], négation [negação] para Verneinung, em vez de dénégation [denegação], souvenir-couverture [lembrança cobertura] em vez de souvenir-écran [lembrança encobridora], e mise à mort du père [execução/assassinato do pai] em vez de parricide [parricídio].A nova equipe também suprimiu lapsus [lapso de linguagem] (Versprechen) em favor de défaillance [falha], a pretexto de que Freud não utiliza aquele termo; e, por último, reativou ou fabricou alguns neologismos: désirance [desejança] (em vez de désir, desejo), animique [o anímico] (em vez de âme, a alma), frustrané (em vez de vain, futile [vão, fútil]), désaide [desassistência] (em vez de détresse, desamparo), retirement [retirada, afastamento] (em vez de retrait, retraimento), vicarier [vicariar] (em lugar de remplacer, substituir), refusement [recusamento] (em vez de frustration, frustração), surmontement [superamento] (como ato de surmonter, dépasser [superar, ultrapassar]), ou ainda os termos rétrofantasier, fantasie e fantasier, referidos a todas as atividades ligadas à fantasia.

BIBLIOGRAGIA SUGERIDA:

Antoine Berman, L’Épreuve de l’étranger. Culture et traduction dans l’Allemagne romantique, Paris, Gallimard, 1984;

Emmet Wilson, Did Strachey Invent Freud?, International Revue of Psycho-Analysis, 14, 1987, 299-315;

Marilene Carone, Freud em portugais, ibid., 361-9;

Irina Manson, Comment dit-on psychanalyse en russe?, ibid., 407-27.

transexualismo

Na mitologia grega, 3 personagens dão conta desse fenômeno: Cibele, Átis e Hermafrodito. Grande deusa-mãe da Frígia, Cibele era cultuada em todo o mundo antigo, a ponto de ser confundida com Deméter, a mãe de todos os deuses. Seu amante, Átis, era ao mesmo tempo seu filho e guardião de seu templo. Quando quis se casar, ela o fez enlouquecer: Átis então se castrou e se matou. Essa lenda explica por que os sacerdotes da deusa eram eunucos. Foi em homenagem ao ato de Átis que os adeptos do culto dessa deusa-mãe adquiriram o hábito de se mutilar, em meio à embriaguez e ao êxtase, durante os festejos ritualísticos. Quanto a Hermafrodito, filho de Hermes e Afrodite, foi amado por uma ninfa que rogou aos deuses que os unissem num só corpo. O rapaz foi assim dotado de um pênis e dois seios.”

Herculine Barbin foi chamada de Alexina por seus pais e criada num convento de moças, embora se sentisse um menino e seu sexo fosse ao mesmo tempo masculino e feminino (um pênis pequeno, uma uretra com uma fenda e lábios). Depois de conseguir que seu estado civil fosse transformado por um tribunal, não conseguiu suportar o novo estado e se suicidou, usando um aquecedor a carvão.”

Se o travestismo (ou eonismo), muito bem descrito por Havelock Ellis e pelos representantes da sexologia, é um disfarce que pode conduzir a uma perversão ou a um fetichismo, e se o hermafroditismo é um acidente das gônadas cujo tratamento depende de cirurgia, somente o transexualismo leva o sujeito não apenas a mudar de estado civil, mas também a transformar, através de uma intervenção cirúrgica, seu órgão sexual normal num órgão artificial do sexo oposto.Assim, o transexual masculino tem a convicção de ser uma mulher, embora, anatomicamente, seja um homem normal. Do mesmo modo, a mulher transexual está convencida de ser homem, muito embora seja mulher em termos anatômicos.”

Quem tem opiniões demais sem estudo sobre o tema: nunca vi burros tão oniscientes!

O médico Harry Benjamin criou o termo e propôs, para aliviar o sofrimento moral dos pacientes, um tratamento hormonal e uma experiência de vida social, durante um prazo mínimo de 6 meses, nos moldes do sexo desejado. Somente na última etapa é que ele considerava a cirurgia, caso o desejo de mudança de sexo persistisse. Depois de Benjamin, o psicanalista Robert Stoller foi o primeiro, em seu livro Sex and Gender, publicado em 1968 e traduzido para o francês sob o título de Recherches sur l’identité sexuelle, a propor uma classificação e um estudo sistemático desse distúrbio, revisando a teoria freudiana da sexualidade infantil e da diferença sexual. De início, fez uma distinção radical entre o transexualismo, o travestismo, a homossexualidade e o hermafroditismo. Depois, simultaneamente marcado pela Self Psychology e pelo kleinismo, fez do transexualismo um distúrbio da identidade (e não da sexualidade), diferente nos homens e nas mulheres, e ligado à relação particular e sempre idêntica da criança com a mãe. Daí a idéia de diferenciar o gênero (gender), como sentimento social de identidade (masculina ou feminina), do sexo, como organização anatômica masculina ou feminina.(No transexualismo, a dissimetria entre os dois é radical.) A palavra gender seria posteriormente retomada, nos EUA, em inúmeros trabalhos históricos e literários.

A partir do estudo de numerosos casos, Stoller traçou o retrato típico e quase estrutural da <mãe do transexual>: uma mulher depressiva, passiva, bissexual ou sexualmente neutra, ou então sem um interesse verdadeiro pela sexualidade nem um apego particular pelo pai da criança.Essa mãe busca uma simbiose perfeita com o filho, que lhe serve ao mesmo tempo de objeto transicional [ursinho de pelúcia] e de substituto fálico.Quanto ao pai, é sempre ausente, mas sua atitude difere conforme o filho seja menino ou menina. Tanto ele se mostra indiferente à mudança de trajes exibida pelo filho, quando este se veste de mulher, quanto favorece as atividades masculinas da filha, encontrando nela um cúmplice para sua solidão.Às vezes, quando tem dois filhos de sexos opostos, incita o menino a se feminizar e a menina a se masculinizar.Para Stoller, o transexualismo masculino, de longe o mais freqüente e paradigmático, aproxima-se da psicose.”

O tratamento psicanalítico em si só é possível na infância, em caráter preventivo, ou depois da intervenção cirúrgica: permite então ao paciente enfrentar a tarefa nunca resolvida de sua identidade impossível. Isso porque o mais surpreendente é que o transexual varão, apesar de suas alegações, suas denegações e suas renegações, nunca fica satisfeito com a mudança de sexo, ainda que lhe seja impossível renunciar a ela.” Porque passa a ser do sexo inferior socialmente.

Num livro rancoroso, a feminista norte-americana Janice Raymond acusou os homens de pretenderem, através desse meio, sujeitar ainda mais as mulheres, roubando-lhes seu sexo, sua identidade e sua anatomia.”

Numa perspectiva lacaniana, Catherine Millot deu o nome de horsexe (extra-sexo) [sexo cavalo, hehe] ao transexualismo, mostrando que, na mulher, o desejo de ser amada como <um> homem é mais decorrente de um processo histérico, ao passo que, no homem, a vontade de erradicação do órgão peniano consiste numa identificação psicótica com A Mulher, isto é, com uma totalidade impossível. Essa tese confirmou o que todos os casos observados já haviam mostrado, em especial nas histórias de incesto: o distúrbio da identidade sexual é simultaneamente mais freqüente e mais psicotizante no homem do que na mulher, na medida em que a simbiose original se deu com uma pessoa do sexo oposto: a mãe.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Janice Raymond, L’Empire transsexuel (N. York, 1979), Paris, Seuil, 1981; (manifesto feminazi)

Élisabeth Badinter, XY: sobre a identidade masculina (Paris, 1992), Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1994, 2ªed.

transferência

Historicamente, a noção de transferência assumiu toda a sua significação com o abandono da hipnose, da sugestão e da catarse” “Um século depois do nascimento da psicanálise, o conceito de transferência ainda é objeto de um debate contraditório”

Ao se recusar a ser objeto do arroubo amoroso de sua paciente, F. opôs uma resistência que, em contrapartida, desencadeou uma transferência negativa por parte dela. Alguns anos depois, ele qualificaria esse fenômeno de contratransferência.” “Em 1912, em A dinâmica da transferência, primeiro texto exclusivamente dedicado a essa questão, ele distinguiu a transferência positiva, feita de ternura e amor, da transferência negativa, vetor de sentimentos hostis e agressivos. A estas se acrescentariam transferências mistas, que reproduzem os sentimentos ambivalentes da criança em relação aos pais.”

amor transferencial”: quando a paciente se apaixona pelo analista (parece ser muito mais comum que o paciente pela analista ou situações de mesmo sexo), é impreterível que o psicanalista não ceda, e recuse reciprocidade a esta paixão transferencial. O analista deve procurar a gênese desse sentimento, um outro objeto mais profundo e remoto.

Para Klein, a transferência já representa o fim do tratamento, se bem conduzida: “Durante anos, e, em certa medida, ainda hoje, tem-se compreendido a transferência em termos de uma referência direta ao analista. Minha concepção de uma transferência enraizada nas fases mais precoces do desenvolvimento e nas camadas profundas do inconsciente é muito mais ampla, acarretando uma técnica mediante a qual se deduzem da totalidade do material apresentado os elementos inconscientes da transferência. Por exemplo, os ditos dos pacientes sobre sua vida cotidiana, seus relacionamentos e suas atividades não fazem compreender unicamente o funcionamento do eu; revelam também, se explorarmos seu conteúdo inconsciente, as defesas contra as angústias despertadas na situação de transferência.” “Para os kleinianos, todo ato (gesto ou palavra) que se produz no tratamento deve ser interpretado como a própria essência de uma manifestação contratransferencial, sem ser relacionado com uma realidade externa. Daí a criação do termo acting in, ao lado de acting out. Se um paciente esfregar a mão no divã, se tiver dor de cabeça, isso não será escutado somente em função da possível realidade somática de sua irritação cutânea ou de sua enxaqueca, mas relacionado, em primeiro lugar, através de uma interpretação, com o universo fantasístico do analista, persuadido de haver <induzido> inadvertidamente esse ato.”V.H. me induzia o silêncio e o sono. Bem mórbido!

Essa concepção kleiniana e pós-kleiniana da transferência, que consiste em fazer pender para o lado do analista uma modalidade da relação de objeto que é própria da psicose, a fim de compreender melhor a natureza da transferência psicótica, aproxima-se da sugestão e da telepatia, ou, mais exatamente, como dizia Freud, da <transferência de pensamento>.”

O management (gestão, direção) winnicottiano consiste em deixar que o paciente aproveite as falhas e deficiências do analista. É particularmente eficaz no caso dos pacientes frágeis em quem a subjetividade se manifesta por um falso self.”

[Para Lacan,] transformado em psicanalista, Sócrates não escolhe a abstinência por amor à filosofia, mas por deter o poder de expressar a Alcibíades que o verdadeiro objeto do desejo deste não é ele, Sócrates, mas Agatão.” Lacan é péssimo filósofo.

Três ensaios sobre a teoria da sexualidade

Livro de Freud, publicado pela 1a vez em 1905, sob o título Drei Abhandlungen zur Sexualtheorie. Traduzido para o francês pela 1a vez por Blanche Reverchon-Jouve, em 1923, sob o título Trois Essais sur la théorie de la sexualité, e depois, em 1987, por Philippe Koeppel, sob o título Trois Essais sur la théorie sexuelle. Traduzido para o inglês pela primeira vez em 1910, por Abraham Arden Brill e James Jackson Putnam, sob o título Three Contributions in the Sexual Theory, e depois em 1949, por James Strachey, sob o título Three Essays on the Theory of Sexuality. Retomado sem modificações em 1953.”

Foi [muito depois da publicação desta obra], entre 1910 e 1913, que o freudismo começou a ser encarado, em todas as partes do mundo, como uma <obscenidade>, uma <pornografia>, uma <coisa sexual> ou até uma <ciência boche>.”

F. nunca reescreveu, corrigiu e retificou tanto um livro quanto fez com este, a ponto de não mais sabermos distinguir o original de suas versões sucessivas. Entre 1905 e 1920, houve 4 edições dos Três ensaios, havendo Freud introduzido em cada uma delas modificações consideráveis à medida que ia aperfeiçoando sua teoria da libido em função da evolução geral de sua própria doutrina, organizando o dualismo pulsional e desenvolvendo sua concepção do narcisismo.

O escândalo dos Três ensaios reside no abandono da concepção sexológica da sexualidade (com sua infindável descrição de anomalias e aberrações) em favor de uma abordagem psíquica do sexual. Foi sua maneira de <sexualizar> a totalidade da vida individual e coletiva que provocou a perturbação e a acusação de pansexualismo. Ao arrancar a libido sexualis do gozo dos médicos, Freud fez dela o determinante fundamental do psiquismo humano. Mas também a devolveu ao próprio homem (doente, paciente, criança). Daí o emprego do termo <teoria sexual> (Sexualtheorie) para designar, ao mesmo tempo, as hipóteses do cientista e as <teorias> inventadas pelas crianças, ou mesmo pelos adultos, para resolver o enigma da copulação, do nascimento e da diferença sexual.”

A obra é dividida em 3 partes. Na primeira, dedicada às aberrações sexuais, F. introduz pela 1a vez a palavra pulsão, a fim de descrever os <desvios em relação ao objeto sexual>, entre os quais inclui a <inversão> [homossexualidade] e os <imaturos sexuais e animais tomados como objetos sexuais> [pedofilia e zoofilia].”

A rejeição das palavras eruditas, derivadas do latim e do grego, reveste-se em sua pena de uma significação precisa: para Freud, trata-se de mostrar que essas <aberrações>, por mais diferentes que sejam umas das outras, não podem de maneira alguma ser vistas como a expressão de uma degenerescência, a homossexualidade menos ainda que as outras.”

EX-PERVERTIDO, ATUAL HOMEM (UBIQÜIDADE DA NEUROSE): “Após uma intensa atividade sexual perversa na infância, freqüentemente se produz uma reviravolta, e a neurose substitui a perversão segundo o provérbio: <Moça dissoluta, velha beata.>

PEDO&ZOO: “Essas duas aberrações não estão ligadas, a seu ver, a uma doença mental, mas a um estado infantil da própria sexualidade. Daí o fato de os pedófilos e os zoófilos aparecerem como indivíduos covardes, mas perfeitamente adaptados à vida social burguesa ou camponesa.”

A segunda parte do livro, a mais essencial, consiste numa exposição, a um tempo simples e divertida, das variações da sexualidade infantil. Verdadeira matriz da teoria da libido, essa dissertação magistral, à qual seriam acrescentadas diversas passagens, serve também para a elucidação do complexo de castração, da idéia de inveja do pênis e, por último, da gênese da noção de estágio (oral, anal, fálico e genital) retirada da biologia evolucionista. O componente central da organização da sexualidade infantil continua a ser o que F. denomina de <disposição perverso-polimorfa>.” “Antes dos 4 anos, a criança é um ser de gozo, cruel, inteligente e bárbaro, que se entrega a toda sorte de experiências sexuais, às quais renunciará ao se transformar num adulto.”

O terceiro ensaio é dedicado a um estudo da puberdade e, portanto, da passagem da sexualidade infantil para a sexualidade adulta, através do complexo de Édipo e da instauração de uma escolha de objeto fundamentada

Com esse livro fundamental, Freud abriu caminho para o desenvolvimento da psicanálise de crianças e para a reflexão sobre a educação sexual: insistiu, p. ex., em que os adultos nunca mentissem para as crianças no que concerne à origem delas e em que a sociedade se mostrasse tolerante para com a sexualidade em geral.”

Viena

O historiador Schorske constatou que, na sociedade vienense dos anos 1880, o liberalismo era uma promessa sem futuro, que afastava o povo do poder e o abandonava aos demagogos anti-semitas. Diante do niilismo social e da explosão de ódio, os filhos da burguesia rejeitavam as ilusões de seus pais e expressavam outras aspirações: fascínio pela morte e pela intemporalidade, sonho de uma terra prometida (Estado judeu), desconstrução do eu, suicídio, negação ou conversão, invenção de novas formas literárias”

Depois da destruição por Tito do povo de Jerusalém, o rabino Hochanaan ben Sakkai pediu a Javé autorização para abrir uma escola dedicada ao estudo da Torá. Vamos fazer o mesmo. Pela nossa história, nossas tradições, estamos habituados a ser perseguidos.” F.

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Schorske, Viena fin-de-siècle, 1981.

Weininger, Otto

Poliglota e aluno brilhante, mas taciturno e melancólico, o jovem Otto admirava August Strindberg e adotara as teses anti-semitas de Houston Stewart Chamberlain (1855-1927), genro de Richard Wagner e teórico da superioridade da <raça alemã>. Em 1902, por ódio a sua judeidade, converteu-se ao protestantismo e, um ano depois, publicou sua única obra, Sexo e caráter, verdadeiro manifesto da bissexualidade e do ódio às mulheres e aos judeus.Em outubro do mesmo ano, preparou seu suicídio. Alugou um quarto na antiga casa de Ludwig van Beethoven, e ali deu um tiro no coração. Traduzido em 10 línguas, seu livro foi um fantástico best-seller e teve 28 reimpressões até 1947 [mais de uma a cada 2 anos!], antes de cair no esquecimento.”

Winnicott

Dotado de um excepcional gênio clínico, esse grande pediatra, considerado por seus colegas como um espírito independente, e muitas vezes comparado na França a Françoise Dolto, foi o fundador da psicanálise de crianças na Grã-Bretanha, antes da chegada a Londres de Klein. Posição paradoxal, pois em geral eram as mulheres que ocupavam esse lugar na história do freudismo. Por sua obra e suas posições no seio do Grupo dos Independentes, diante dos kleinianos, por um lado, e dos annafreudianos, por outro, deixou uma herança conceitual fundamental, embora nunca tivesse fundado escola ou corrente.”

Meu pai tinha uma fé religiosa simples. Um dia, quando lhe fiz uma pergunta que poderia nos levar a uma discussão sem fim, ele se limitou a dizer: <Leia a Bíblia que você encontrará a resposta certa.> Foi assim que ele deixou — graças a Deus — que eu me virasse sozinho.” Winnicott

O bebê não existe.

Winnicott queria dizer com isso que o lactente nunca existe por si só, mas sempre e essencialmente como parte integrante de uma relação.”

Nessa perspectiva, a good enough mother era realmente uma mãe ideal: atenta a todas as formas de diálogo e de brincar criativo, ela devia se mostrar capaz de inspirar à criança uma frustração necessária, a fim de desenvolver seu desejo e sua capacidade de individuação. Essa relação, que reduz o lugar do pai ao mínimo indispensável, aparece como exclusiva e não-erotizada.”

Dedicou a sua última obra, O brincar e realidade, aos seus pacientes que <pagaram para me ensinar>. Esse não-conformismo, essa ausência de ortodoxia nunca lhe foram realmente reprovados por seus colegas da BPS.” Fato raríssimo!

Em suas Cartas vivas, publicadas depois de sua morte, descobre-se até que ponto ele soube descrever a esclerose que atingia a BPS, à qual pertencia. Ao longo de uma rica correspondência, Winnicott se mostrou capaz de comentar os costumes e hábitos de seu país e os acontecimentos cotidianos da instituição freudiana de que era membro, e que se encontrava submetida à tirania de duas mulheres: Anna Freud e Melanie Klein. Impiedoso, ele descreveu com ferocidade os defeitos tão característicos dos grupos psicanalíticos (jargão, idolatria, etc.). Assim, em uma carta que se tornou célebre, datada de 3 de junho de 1954, denunciou a hipocrisia das duas <chefes> da escola inglesa: Considero que é de importância vital para a Sociedade que ambas destruam seus grupos em seu aspecto oficial. […] Não tenho razões para pensar que viverei mais tempo que as sras., mas ter que lidar com agrupamentos rígidos, que com a sua morte se tornariam automaticamente instituições de Estado, é uma perspectiva que me apavora.>

Independente sem ser solitário, não gostava de seitas, de discípulos, de imitadores. Foi por isso que, mostrando-se ao mesmo tempo transgressor em sua prática e rigoroso em sua doutrina, não hesitou em apoiar os rebeldes e os dissidentes — principalmente Ronald Laing, um dos artífices da antipsiquiatria.”

Wortis, Joseph

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Joseph Wortis, La Psychiatrie soviétique (Baltimore, 1950), Paris, PUF, 1953; Psychanalyse à Vienne, 1934; Notes sur mon analyse avec Freud (N. York, 1954), Paris, Denoël, 1974.

Zweig, Stefan

De seus estudos secundários no Maximilian Gymnasium, Zweig guardou apenas o tédio e a opressão que depois inspirariam sua crítica aos métodos de educação autoritários, repressores e hipócritas adotados pela burguesia vienense. Desde essa época, apaixonou-se pela música, especialmente a de Johannes Brahms, pelo teatro e pela literatura. Começou a estudar filosofia na universidade, mas freqüentava com mais assiduidade ainda os cafés, as salas de espetáculo e outros lugares de encontros intelectuais. Logo manifestou gosto pela vanguarda, assistiu aos primeiros concertos de Arnold Schönberg, tornou-se admirador de Rainer Maria Rilke e mais ainda de Hugo von Hofmannsthal (1874-1929), seu modelo. Em 1901, Zweig teve seu primeiro sucesso com um livro de poemas, A corda de prata, saudado por toda a crítica de língua alemã. Logo teria a consagração, com a publicação de um dos seus textos na 1a página do prestigioso diário Neue Freie Press, com seu nome ao lado dos maiores escritores europeus do momento, dos quais muitos se tornariam seus amigos.”

Instalado numa bela casa em Salzburgo, recebeu ali praticamente todos os artistas e intelectuais da Europa. Zweig era então um escritor célebre, conhecido por sua generosidade. Entretanto, por trás desse sucesso brilhante, a fragilidade psicológica persistia.”

F., que foi apresentado a Dalí por Zweig: “Na verdade, é preciso que eu lhe agradeça por ter trazido à minha casa os visitantes de ontem. Justamente, eu estava disposto a considerar os surrealistas, que parece que me elegeram para santo padroeiro, como loucos absolutos (digamos, a 95%, como o álcool).”

Em 22 de fevereiro de 1942, quando estava instalado havia 6 meses em Petrópolis, cidade próxima do Rio de Janeiro, Stefan Zweig se suicidou com sua jovem esposa, Lotte Altmann, tomando comprimidos de veronal.”

BIBLIOGRAFIA SUGERIDA:

Zweig, Três mestres, 1920.

* * *

FONTES PRIMORDIAIS DAS CITAÇÕES:

Laplanche & Pontalis. Vocabulário da Psicanálise. Martins Fontes (trad. Pedro Tamen, ed. Daniel Lagache), 4.ed, 2001.

Plon & Roudinesco. Dicionário de Psicanálise. Zahar (trad. Vera Ribeiro, Lucy Magalhães), 1998.

RECOMENDAÇÕES DE LEITURA (“Condensação final”)

Nem todas as sugestões em vermelho nos artigos acima estão compendiadas aqui, mas procurei dar uma seleção enxugada, relevante e eclética, com temas psicanalíticos diretos (Freud em si, discípulos, psicanalistas mais recentes) e indiretos (historiografias, influenciadores da psiquiatria dinâmica, biografias e autobiografias de psicanalistas ou doentes, psicólogos e psicanalistas pós-freudianos mais ou menos divergentes da doutrina original e Lacan, que é uma entidade em si e o mais “freudiano” de todos ao mesmo tempo), bem como para- ou meta-psicanálise, isto é, livros citados nos verbetes acima que não se afiguram como referentes à psicanálise numa primeira olhada (muitos de filosofia, literatura, música e história, por exemplo). Também separei as leituras breves das mais longas e dedicadas (artigos, verbetes e teses de livros ou volumes inteiros). Marcarei de azul os textos que já pude obter.

EIXO I

Psicanálise didática” (papo sério sobre psicanálise, mas em leituras curtas)(*)

(*) não há uma ordem preestabelecida, apenas separações minimamente temáticas. 49 artigos, 1 carta, 3 teses, 1 manifesto e 1 documentário.

Jurandir Freire Costa, História da psiquiatria no Brasil, Rio de Janeiro, Documentário audiovisual, 1976.

Freud, Observações sobre o amor transferencial;

F., A dinâmica da transferência, 1912;

F., publicado post-morten por Ilse Grubrich-Simitis, Neuroses de transferência: uma síntese;

F., “O mecanismo psíquico do esquecimento”, artigo publicado, no fim do ano de 1898, na revista Monatschrift für Psychiatrie und Neurologie;

F., “Sobre o ensino da psicanálise nas universidades” (1919);

F., Recordar, repetir, perlaborar.

Jacques Lacan, “Le mythe individuel du névrosé ou Poésie et vérité dans la névrose” (1953), Ornicar?, 17-18, 1979, 289-307. // O mito individual do neurótico

______, Kant com Sade

REICH, Materialismo dialético e psicanálise

Lesche, Carl,uma carta dirigida a Freud, em 10 de novembro de 1933, por Erik Carstens, publicada em 1967 em: Reich fala de Freud.

(relacionado com Jung)

Flournoy, Radical Empiriscm

Klein, “Algumas conclusões teóricas a propósito da vida emocional dos bebês”Ler esta bosta em PRIMEIRO LUGAR com referência à autora – se não me agradar, esquecer o kleinismo definitivamente!

Heimann, Paula, “On countertransference”, in:International Journal of Psychoanalysis. 31, 81-4 (1950).

source: https://psicanalisedownload.files.wordpress.com/2012/08/sobrecontratransferencia1.pdf

GRODDECK, “Le Double sexe de l’Être humain” (1931), Nouvelle Revue de Psychanalyse, 7, primavera, 1973, pp. 193-9

Jacquy Chemouni, “Psychopathologie de la démocratie”, Frénésie, 10, primavera de 1992, 265-82.

Karl Abraham, “Amenhotep IV (Echnaton). Contribution psychanalytique à l’étude de sa personnalité et du culte monothéiste d’Aton” (1912), in Oeuvres complètes, I, 1907-1914, Paris, Payot, 1965, 232-57.

Sandor Ferenczi, “O papel da homossexualidade na patogênese da paranóia”, in: Psicanálise I, Obras completas, 1908-1912 (Paris, 1968) S. Paulo, Martins Fontes, 1991, 153-72.

Ferenczi & Rank, “Contra-indicações da técnica ativa”, in: Psicanálise III, Obras completas, 1919-1926 (Paris, 1974), S. Paulo, Martins Fontes, 1993, 365-76.

Harald Leupold-Löwenthal, “Le Procès de Theodor Reik”, Revue Internationale d’Histoire de la Psychanalyse, 3, 1990, 57-69.

Victor Ivanovitch Ovtcharenko, “Le Destin de Sabina Spielrein” (1992), in: L’Évolution Psychiatrique, t. 60, janeiro-março de 1995, 115-22.

Wilhelm Stekel, Nervöse Angstzustände und ihre Behandlung, Viena e Berlim, Urban und Schwarzenberg, 1908, com prefácio de Sigmund Freud, retomado in ESB, IX, 255-6; GW, VII, 467-8; SE, IX, 250-1;

Binswanger,Meu caminho para Freud // Pass Towards Freud

* * *

Bernfeld, Freud’s earliest theories and the school of Helmholtz, Psychoanalytic Quarterly, XIII, 1944, 341-62;

______. Freud’s scientific beginnings, American Imago, vol. 6, 1949, 163-96;

______. Sigmund Freud M.D., IJP, vol. 32, 1951, 204-17.

Felix Deutsch, Apostille au “Fragment d’une analyse d’hystérie (Dora)” (1957), Revue Française de Psychanalyse, XXXVII, janeiro-abril de 1973, 407-14

Bibring, The Conception of the Repetition Compulsion, 1943, in: Psychoanalytic Quarterly, XII, 486-519.

Yosef Hayim Yerushalmi, “Série Z” (1994), “Une fantaisie archiviste”, Le Débat, 92, novembro-dezembro de 1996, 141-52

Manfred Bleuler (filho do primeiro Bleuler), La Pensée bleulérienne dans la psychiatrie suisse, Nervure, VIII, novembro de 1995, 23-4.

Jacques Damourette & Édouard Pichon, “Sur la signification psychologique de la négation en français” (1928), Le Bloc-notes de la Psychanalyse, 5, 1985, 111-32;

* * *

Nigel Moore, “Psychoanalysis in Scandinavia”, 1ª parte: “Sweden and Finland”, The Scandinavian Psychoanalytic Review, 1, 1978, 9-64;

Reimer Jensen & Henning Paikin, “On psychoanalysis in Denmark”, ibid., 2, vol. 3, 1980, 103-16;

Randolf Alnaes, “The development of psychoanalysis in Norway. An historical overview”, ibid., 2, vol. 3, 1980, 55-101.

* * *

Bolk, Das Problem der Menschwerdung, 1926. Fr., in: Arguments, 1960, 18, 3-13. (artigo de Embriologia)

Marc Augé, “Ordre biologique, ordre social: la maladie, forme élémentaire de l’événement”, in: M. Augé e C. Herzlich (orgs.), Le Sens du mal. Anthropologie, histoire, sociologie de la maladie, Paris, Éd. des Archives Contemporaines, 1984.

André Haynal, “Da correspondência (com Freud) ao Diário (de Ferenczi)”, Revista Internacional da História da Psicanálise, 2 (1989), Rio de Janeiro, Imago, 1992, 153-64; “Notas sobre a história da correspondência Freud-Ferenczi”, ibid., 219-28;

Graf, “Réminiscences sur le professeur Freud” (1942), Tel Quel, 88, 1981, 52-101;

___., “Entretien du père du petit Hans (Max Graf) avec Kurt Eissler”, 16/12/1952, Le Bloc-notes de la psychanalyse, 14, 1996, 123-159;

Jean-Luc Donnet, “Surmoi. Le concept freudien et la règle fondamentale”, monografias da Revue Française de Psychanalyse, Paris, PUF, 1995.

Mélanie Arnal, Marc Oraison, l’Église et la psychanalyse (1914-1979), tese de mestrado em história, Universidade Paris I, 1993-1994.

Édith Félix-Hesnard, Le Docteur Hesnard et la naissance de la psychanalyse en France, tese de doutorado em filosofia, Universidade de Paris I, 1984.

Lagache, Fascination de la conscience par le Moi, 1957, in: La psychanalise, PUF, Paris, vol. 3, pp. 33-46 (bem como outro artigo no vol. 6 deste mesmo periódico, La psychanalyse et la structure de la personalité, 1958).

Canguillhem, O que é a psicologia?

Georges Lantéri-Laura, “Névrose et psychose: questions de sens, questions d’histoire”, Autrement, 117, outubro de 1990, 23-31.

Serge Leclaire, “À propos de l’épisode psychotique que présenta l’Homme aux Loups”, La Psychanalyse, 4, 1958, 83-111; (em italiano)

English, H.B. & English, A.C., A Comprehensive Dictionary of Psychological and Psychoanalyticla Terms, 1958 (verbetes Projection-Eccentric e Projection);

* * *

Emmet Wilson, Did Strachey Invent Freud?, International Revue of Psycho-Analysis, 14, 1987, 299-315;

Marilene Carone, Freud em portugais, ibid., 361-9;

Irina Manson, Comment dit-on psychanalyse en russe?, ibid., 407-27.

Anzieu, “Beckett et Bion”, Revue Française de Psychanalyse.

* * *

Desnos, Lettre aux médecins-chefs des asiles de fous

* * *

Georges Dumas, um dos maiores psicólogos franceses, possui uma vastidão de artigos. Aqui vai uma seleção curiosa e razoável:

« Comment on fait l’opinion dans la France envahie » (Revue de Paris) (1917)

« L’état mental d’Auguste Comte »(3 articles) (Revue philosophique de la France et de l’étranger) (1897)

« Les obsessions et la psychasthénie » (Revue philosophique de la France et de l’étranger) (1903)

« Les conditions biologiques du remords » (Revue philosophique de la France et de l’étranger) (1906)

EIXO II

Psicanálise para profissionais! Não só sobre o método próprio para o psicanalista como a própria crítica e ciências colaterais(*)

(*) OBSERVAÇÕES GERAIS: Quando não aponto obra específica, apenas o nome do autor, significa que normalmente sua magnum opus é tão consagrada que não necessita comentários, etc.

OBSERVAÇÕES PARTICULARES:

HISTORIOGRAFIA: Não está em ordem de importância, mas ELLENBERGER, ROAZEN, MAX SCHUR E OLA ANDERSSON SÃO AS MAIORES REFERÊNCIAS.

FREUD: Minha ordem recomendada de leitura está à direita, em algarismos romanos. Não inseri livros que eu já li mais de uma vez e com que tenho muita familiaridade (Interpretação dos Sonhos, Totem & Tabu, a biografia de Da Vinci, 5 lições, etc.). Acerca destas duas últimas, contidas no TOMO 11 das Obras Completas, possivelmente preciso atualizar pontos de vista pessoais destacados em https://seclusao.art.blog/2019/06/18/obra-completa-de-freud-tomo-xi-no-diva-com-cila/ (preparar 2a versão do post).

DISCIPULADO PRIMÁRIO: Darei preferência em meu próprio programa de estudos aos autores destacados em negrito.

0. HISTORIOGRAFIA

0.1 ELLENBERGER, The Discovery of the Unconscious. The History and Evolution of Dynamic Psychiatry

0.2 ERNEST JONES, Life and work of Sigmund Freud

0.3 ANDERSSON, Studies in the Pre-history of Psychoanalysis. The Etiology of Psychoneuroses (1886-1896) (1962) [ou em francês: Ola Andersson, Freud avant Freud. La Préhistoire de la psychanalyse (Estocolmo, 1961), Paris, Synthélabo, col. “Les empêcheurs de penser en rond”, 1997.] // Freud precursor de Freud

0.4 SCHUR, Freud: vida e agonia, uma biografia, 3 vols.

0.5 Yosef Hayim Yerushalmi, Le Moïse de Freud. Judaïsme terminable et interminable (New Haven, 1991), Paris, Gallimard, 1993.

0.6 Martin Freud, Freud, mon père (Londres, 1957), Paris, Denoël, 1975.

0.7 Jean-Baptiste Fagès, Histoire de la psychanalyse après Freud (1976), Paris, Odile Jacob, 1996.

0.8 Les Années brunes. La Psychanalyse sous le IIIe Reich, textos traduzidos e apresentados por Jean-Luc Evard, Paris, Confrontation, 1984.

0.9 Chaim S. Katz (org.), Psicanálise e nazismo, Rio de Janeiro, Taurus, 1985.

0.10 Pearl King e Riccardo Steiner (orgs.), Les Controverses Anna Freud/Melanie Klein, 1941-1945 (Londres, 1991), Paris, PUF, 1996.

0.11 Hesnard, L’Oeuvre de Freud et son importance dans le monde moderne, Paris, Payot, 1960.

0.12 Gladys Swain, Dialogue avec l’insensé, Paris, Gallimard, 1994.

0.13 ______., Le sujet de la folie: Naissance de la psychiatrie, 1977.

0.14 Swain & Gauchet, La pratique de l’esprit humain. L’institution asilaire et la révolution démocratique, Paris, Gallimard, 1980.

0.15 ROAZEN, Freud e seus discípulos; Irmão animal.

0.16 Janet Malcolm, Tempête aux Archives Freud (N. York, 1984), Paris, PUF, 1986.

0.17 Marie Bonaparte, Cahiers noirs, 1925-1939, inédito (arquivos Élisabeth Roudinesco).

0.18 Éric Rayner, Le Groupe des “Indépendants” et la psychanalyse britannique (Londres, 1990), Paris, PUF, 1994.

0.19 Suzuki, Erich Fromm & Richard de Martino, Bouddhisme zen et psychanalyse (N. York, 1963), Paris, PUF, 1971.

0.20 Jacques-Alain Miller (org.), Lacan et la chose japonaise, Paris, Analytica, 1988.

0.21 RENÉ MAJOR, De l’élection. Freud face aux idéologies allemande, américaine et soviétique, Paris, Aubier, 1986.

0.22 Andrew Samuels, Jung and the Post-jungians, Londres, Routledge e Paul Kegan, 1985.

0.23 Philippe Julien, Pour lire Jacques Lacan (Toulouse, 1985), Paris, Seuil, col. “Points”, 1995.

0.24 ZIZEK, Looking Awry. An Introduction to Lacan through Popular Culture, Boston, Massachusetts University Press, 1991.

0.25 Paul Robinson, The Freudian Left. Wilhelm Reich, Geza Roheim, Herbert Marcuse, N. York, Harper and Row, 1969. (ver favoritos)

0.26 Albrecht Hirschmüller, Josef Breuer (Berna, 1978), Paris, PUF, 1991.

0.27 Mikkel Borch-Jacobsen, Souvenirs d’Anna O. Une mystification centenaire, Paris, Aubier, 1995.

0.28 Jean Garrabé, Histoire de la schizophrénie, Paris, Seghers, 1992.

0.29 EISSLER, Le Suicide de Victor Tausk. Avec les commentaires du professeur Marius Tausk (N. York, 1983) Paris, PUF, 1988.

0.30 SCHORSKE, Viena fin-de-siècle, 1981.

0.31 Joseph Wortis, La Psychiatrie soviétique (Baltimore, 1950), Paris, PUF, 1953.

0.32 LE RIDER, Le Cas Otto Weininger. Racines de l’antiféminisme et de l’antisémitisme, Paris, PUF, 1982.

0.33 Ritvo, Darwin’s Influence On Freud

0.34 Grosskurth, The Secret Ring: Freud’s Inner Circle and the Politics of Psychoanalysis (1991).

  1. FREUD

    1. (Velhas+Novas) Conferências introdutórias sobre psicanálise (I)

    2. Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (II)

    3. Psicopatologia da Vida Cotidiana (IV)

    4. Os chistes e sua relação com o inconsciente (V)

    5. História do movimento psicanalítico, Contribuição à (VI)

    6. Inibições, sintomas e angústia (XV)

    7. Projeto para uma psicologia científica (1895) (VII)

    8. Esboço de psicanálise (póstumo, BOM RESUMO DA DOUTRINA)(III)

    9. Um estudo autobiográfico (VIII)

    10. Freud & William Bullitt, Le Président Thomas Woodrow Wilson (Londres, 1966, Paris, 1967), Paris, Payot, 1990. (XIV)

    11. O Eu e o Isso (X)

    12. Moisés e o Monoteísmo (IX)

    13. Mais-além do princípio de prazer (XI)

    14. O mal-estar na cultura (XII)

    15. Psicologia das massas e análise do eu (XIII)

    16. A questão da análise leiga (ler a qualquer momento – poderia estar no tópico 3 deste EIXO)

  1. DISCIPULADO PRIMÁRIO

2.1 JUNG, Meu livro físico (1), Métamorphoses de l’âme et ses symboles (2), Psicologia e alquimia (1935-1936, GW, XII) (3).

2.2 REICH, The Discovery of the Orgone, 2, The Cancer Biopathy (N. York, 1948), traduzido para o francês sob o título Biopathie du cancer, Paris, Payot, 1975 (1); Escuta, Zé ninguém (N. York, 1948), S. Paulo, Martins Fontes (2); L’Éther, dieu et le diable (N. York, 1951), Paris, Payot, 1973 (3); O assassinato de Cristo (Maine, 1953), S. Paulo, Martins Fontes, 1995 (4); Reich parle de Freud (N. York, 1967), Paris, Payot, 1970 (5 – já incluído parcialmente na seção artigos psicanalíticos); Premiers écrits, 2 vols. (N. York, 1979), Paris, Payot, 1982. (6); Psicologia de massas do Fascismo (7).

2.3 ADLER, A constituição neurótica (1), O temperamento nervoso (2) (existe a possibilidade de tratar-se da mesma obra)

2.4 FERENCZI, Introjeção e transferência (1), Thalassa: A Theory of Genitality (2)

2.5 RANK, O trauma do nascimento (1); O mito do nascimento dos heróis (2)

2.6 Karl ABRAHAM

2.7 STEKEL, Os estados nervosos de angústia e seu tratamento

2.8 FENICHEL, The Psychoanalytic Theory of Neurosis, 1945.

2.9 FLIESS, Les Relations entre le nez et les organes génitaux féminins présentés selon leurs significations biologiques (Viena, 1897), Paris, Seuil, 1977.

2.10 Anna FREUD, O eu e os mecanismos de defesa

2.11 KLEIN, A psicanálise de crianças (da criança) [duas traduções] / leitura condicionada à aprovação do artigo da autora

2.12 GROSS, A ideogenidade freudiana e sua significação na alienação maníaco-depressiva de Kraepelin

2.13 TAUSK, Oeuvres psychanalytiques, Paris, Payot, 1975.

2.14 WEININGER, Sexo e caráter (em alemão, MOBI)

3. METODOLOGIA

3.1 Balint, Sobre o sistema de formação psicanalítica (1) / A falha básica (2) (favoritos)

3.2 André Bourguignon, Pierre Cotet, Jean Laplanche & François Robert, Traduzir Freud (Paris, 1989), S. Paulo, Martins Fontes, 1992.

3.3 Érik Porge, Freud/Fliess, Mito e quimera da auto-análise (Paris,1996), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1998.

3.4 Glover, Técnica da psicanálise, 1955.

3.5 Didier Anzieu, Freud’s Self-Analysis (1986)

3.6 Doolittle, Escrito na parede. Reminiscências de uma análise com Freud (favoritos archive.org.)

3.7 Zvi Lothane, In Defense of Schreber: Soul Murder and Psychiatry, Hillsdale e Londres, Analytic Press, 1992.

4. INFLUENCIADORES DA FUNDAÇÃO DA PSICANÁLISE (séc. XIX para trás)

4.1 HAVELOCK ELLIS, Estudos de psicologia sexual (VI)

4.2 CHARCOT, Os demoníacos na arte

4.3 GRODDECK, O pesquisador de almas (I); cartas com Ferenczi (II).

4.4 KRAEPELIN, Compendium der Psychiatrie, Leipzig, Abel, 1883 (1); Introduction à la psychiatrie clinique (Leipzig, 1901), Paris, Vigot, 1907 (2); Leçons cliniques sur la démence précoce et la psychose maniaque-dépressive (Leipzig, 1907), Toulouse, Privat, 1970 (3); La folie maniaque-dépressive (Leipzig, 1909), Grenoble, Jérôme Millon, 1993 (4). (V)

4.5 BLEULER, Dementia praecox (II) (em alemão)

4.6 HERBART, A psicologia como ciência fundada na experiência, na metafísica e na matemática (VII) (obra completa no archive.org, em alemão)

4.7 WEYER, Da impostura do diabo (I)

4.8 KRAFFT-EBING, Psychopathia sexualis (alemão)

4.9 BURTON, Anatomy of Melancholy, 1621 (III) (favoritos: gutenberg.org, online)

4.10 BARRAS, Traités sur les gastralgies et les entéralgies, ou maladies nerveuses de l’estomac et de l’intestin, 1829. (VIII)

4.11 JANET, O automatismo psicológico, 1889; Cours sur la personnalité. (IV)

4.12 BEARD, American Nervousness, its Causes and Consequences

4.13 DUMAS, Nuevo Tratado de Psicología (co-autor), 1930.

4.14 NORDAU, Degenerescência

5. INDEPENDENTES E DISSIDENTES

5.1 FROMM, Zen-budismo e psicanálise

5.2 BETTELHEIM, A fortaleza vazia

5.3 RUPRECHT BION

5.4 DOLTO, Seminário de psicanálise de crianças (1), Sexualidade feminina(2), A imagem inconsciente do corpo (3)

5.5 WINNICOTT, Lettres vives (Londres, 1987), Paris, Gallimard, 1989. (obras completas)

5.6 LAING, Sagesse, déraison et folie. La Fabrication d’un psychiatre (1985) (1); Politique de l’expérience (2).

5.7 LECLAIRE, Psicanalisar

5.8 A. MITSCHERLICH & M. MITSCHERLICH, Le Deuil impossible (Munique, 1967), Paris, Payot, 1972;

5.9 GRUNBERGER, Le Narcissisme. Essais de psychanalyse, Paris, Payot, 1971.

5.10 LAGACHE, Deuil pathologique, 1957.

5.11 MANNONI, A criança retardada e a mãe (Paris, 1964), S. Paulo, Martins Fontes; (1) Prospero and Caliban (2).

5.12 ROHEIM, Psicanálise e antropologia

5.13 HANNS SACHS, Caligula, Londres, Elin Matthews and Marott, 1931 (1); The Creative Unconscious, Studies in the Psychoanalysis of Art, Cambridge (Mass.), Science-Art Publications, 1942 (2).

5.14 STOLLER, Sex and Gender // Recherches sur l’identité sexuelle

5.15 HELENE DEUTSCH, Psicologia da mulher

5.16 CLÉRAMBAULT, Les psychoses passionelles

5.17 SPERBER, Alfred Adler et la psychologie individuelle (1970), Paris, Gallimard, 1972.

5.18 COOPER, Psiquiatria e antipsiquiatria

5.19 SEARLES, O esforço de enlouquecer o outro

5.20 BINSWANGER, Le Cas Suzanne Urban. Étude sur la schizophrénie

5.21 PERLS, Ego, Hunger and Agression. A Revision of Freud’s Theory and Method

5.22 HORNEY, L’Auto-analyse (N. York, 1943), Paris, Stock, 1993.

5.23 FLOURNOY, Spiritism and Psychology (1911) (1); The Philosophy of William James (2).

5.24 RIBOT, Les Maladies de la personnalité

6. LACAN, O Seminário 6; O Seminário 3.

EIXO III

Ensaios, biografias, curiosidades gerais, filosofia, “fofoca”, literatura, política & outros entretenimentos vinculados…(*)

(*) Em ordem alfabética. 4 artigos e 41 livros (dos quais me interessa realmente ler 28).

  • ARTIGOS

Bataille, “La Structure psychologique du fascisme” (1933-1934), in: La Critique sociale, reimpressão, Paris, La Différence, 1985, 159-65 e 205-11;

Edgar Allan Poe, “La Lettre volée”, in: Histoires, Paris, Gallimard, col. “Pléiade”, 1940, 45-64;

Salomé, Érotisme (Frankfurt, 1910, Munique, 1979), in: Eros, Paris, Minuit, 1984;

Janice Raymond, L’Empire transsexuel (N. York, 1979), Paris, Seuil, 1981. (CUIDADO: manifesto feminazi, e portanto transfóbico!)

  • LIVROS

Bachofen, Le Droit maternel. Recherche sur la gynécocratie de l’Antiquité dans sa nature religieuse et juridique (1861), Lausanne, L’Âge d’Homme, 1996. (alemão e espanhol, 2a versão incompleta)

Badinter, XY: sobre a identidade masculina (Paris, 1992), Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1994, 2ªed.

Barnes & Berke. Un voyage à travers la folie (Londres, 1971), Paris, Seuil, 1973.

Baudelot & Establet, Durkheim et le suicide, Paris, PUF, 1984.

Bertin, La Dernière Bonaparte, Paris, Perrin, 1982.

Bowlby, sua biografia de Charles Darwin

Braud, La Tentation du suicide dans les écrits autobiographiques, Paris, PUF, 1992.

Brigitte e Jean Massin (orgs.), História da música ocidental (Paris, 1985), Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1998. (alguns capítulos somente)

Derrida, Geo Psychoanalysis and the rest of the world, 1981;

______, Mal d’archive

Binion, Frau Lou, Nietzsche’s Wayward Disciple, Princeton, Princeton University Press, 1968.

Mann, Erika, Mein Vater, der Zauberer, Frankfurt, Rowohlt, 1996.

Ey, Encyclopédie medico-chirurgicale: Psychiatrie

__, Traité des hallucinations

Fraenkel, Michael, The Otherness of D.H. Lawrence

Gardiner, L’Homme aux loups par ses psychanalystes et lui-même (N. York, 1971), Paris, Gallimard, 1981.

Grosskurth, Byron: The Flawed Angel (1997);

______, Melanie Klein: Her World and Her Work (1986)

______, Havelock Ellis: A Biography (1980)

______, John Addington Symonds: A Biography (1964)

Hamon, Pourquoi les femmes aiment-elles les hommes et non pas plutôt leur mère?, Paris, Seuil, 1992.

Héritier, Les Deux soeurs et leurs mères. Anthropologie de l’inceste, Paris, Odile Jacob, 1994.

Hug-Hellmuth, seu diário falso de uma criança doente (buscar em francês)

Ibor, Vida e morte da psicanálise (retraduzido Agonia da psicanálise)

___, Freud e seus deuses ocultos

Jaspers, Psicopatologia geral

Klein, Autobiografia

Kofman, L’Énigme de la femme, Paris, Galilée, 1980.

Kristeva, Soleil noir. Dépression et mélancolie, Paris, Gallimard, 1987.

Lasowski, Syphilis, Paris, Gallimard, 1982.

Merleau-Ponty, Phénoménologie de la perception

Michel, Psychanalyse de la musique (1951), Paris, PUF, 1984.

Minois, Histoire du suicide, Paris, Fayard, 1995.

Mitchell, Psychanalyse et féminisme, 1974.

Nietzsche, Rée & Salomé, Correspondance (Frankfurt, 1970), Paris, PUF, 1979. (ver favoritos – nietzschechannel)

Peters (ex-marido de Salomé, curiosamente ainda vivo em 2019, contando mais de 100 anos de idade!), My sister, my spouse (N. York, 1962), Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 1986.

Pinguet, La Mort volontaire au Japon, Paris, Gallimard, 1984.

Rolland, Jean-Christophe

______, Beethoven

Salomé, Ma gratitude envers Freud (Viena, 1931, Paris, 1983), Seuil, col. “Points”, 1987, traduzido com o título Lettre ouverte à Freud;

______, Ma vie (Zurique, 1951, Frankfurt 1977), Paris, PUF, 1977. (alemão)

Schreber, Memórias de um doente dos nervos (ver filme nos favoritos)

Stekel, Autobiography. The Life Story of a Pioneer Psychoanalyst, Emil A. Gutheil (org.), N. York, Liveright Publishing Co., 1950.

Sutton, Bruno Bettelheim, une vie

Tausk, Diário de um ano

Von Hartmann, Filosofia do inconsciente, 1868.

Zweig, Le Monde d’hier

_____, Três mestres

MALLEUS MALEFICARUM (O MARTELO DA BRUXA) (com aproximadamente 30% de prólogos e prefácios, de facínoras ou não)

Kramer & Sprenger, 1486 (Summers,1928, 1948, [Wicca Society, 2001].

GLOSSÁRIO ENDEMONIADO POLIGLOTA

euhemerism: “The philosophy attributed to and named for Euhemerus, a Greek mythographer, holds that many mythological tales can be attributed to historical persons and events, the accounts of which have become altered and exaggerated over time.”

pitonisa: vidente, cartomante

zigurate: templo piramidal com terraplanagem (vários terraços configurando andares)

6 6 6

PREFÁCIOS & INTRODUÇÕES GERAIS

Estimates of the death toll during the Inquisition worldwide range from 600,000 to as high as 9,000,000 (over its 250 year long course) (…) Thus has it been said that The Malleus Maleficarum is one of the most blood-soaked works in human history, in that its very existence reinforced and validated Catholic beliefs which led to the prosecution, torture, and murder of tens of thousands of innocent people.”

At the height of its popularity, The Malleus Maleficarum was surpassed in public notoriety only by The Bible. Its effects were even felt in the New World, where the last gasp of the Inquisition was felt in the English settlements in America (most notably in Salem, Massachusetts during the Salem Witch Trials).”

6 6 6

A CARTA DO DIABO

IN the name of our Lord Jesus Christ, Amen. Know all men by these presents, whosoever shall read, see or hear the tenor of this official and public document, that in the year of our Lord, 1487, upon a Saturday, being the 19th day of the month of May, at the 5th hour after noon, or thereabouts, in the third year of the Pontificate of our most Holy Father and Lord, the lord Innocent, by divine providence Pope, the 8th of that name, in the very and actual presence of me Arnold Kolich, public notary, and in the presence of the witnesses whose names are hereunder written and who were convened and especially summoned for this purpose, the Venerable and Very Reverend Father Henry Kramer, Professor of Sacred Theology, of the Order of Preachers, Inquisitor of heretical depravity, directly delegated thereto by the Holy See together with the Venerable and Very Reverend Father James Sprenger, Professor of Sacred Theology and Prior of the Dominican Convent at Cologne, being especially appointed as colleague of the said Father Henry Kramer, hath on behalf both of himself and his said colleague made known unto us and declared that the Supreme Pontiff now happily reigning, lord Innocent, Pope, as hath been set out above [tá bom, que estilo grogue até para um nOTÁRIO!], hath committed and granted by a bull duly signed and sealed unto the aforesaid Inquisitors (…) granted (…) the power of making search and inquiry into all heresies, and most especially into the heresy of witches, an abomination that thrives and waxes strong in these our unhappy days, and he has bidden them diligently to perform this duty throughout the five Archdioceses of the five Metropolitan Churches, that is to say, Mainz, Cologne, Trèves, Salzburg and Bremen, granting them every faculty of judging and proceeding against such even with the power of putting malefactors to death (…) upon the tenor of the Apostolic bull, which they hold and possess and have exhibited unto us, a document which is whole, entire, untouched, and in no way lacerated or impaired, in fine whose integrity is above any suspicion. And the tenor of the said bull commences thus: <Innocent, Bishop, Servant of the servants of God, for an eternal remembrance. Desiring with the most heartfelt anxiety, even as Our Apostleship requires, that the Catholic Faith should be especially in this Our day increase and flourish everywhere, . . .> and it concludes thus: <Given at Rome, at S. Peter’s, on the 9 December of the Year of the Incarnation of Our Lord one thousand, four hundred and eighty-four, in the first Year of Our Pontificate.>” Ou seja: dois cretinos psicopatas levaram menos de 3 anos e ½ para escreverem esse verdadeiro TRATADO DE LESA-HUMANIDADE!

6 6 6

There is left no doubt in the reader’s mind that Rev. Summers not only believed in the existence of witches as the Medieval Church perceived them, but felt that the Inquisition, and the Malleus, were both justified and necessary. In both of his introductions (especially the original 1928 introduction), he seems more intent on using the occasion to convince us that the murder of thousands of innocent people, for the crime of witchcraft, during the Inquisition was somehow noble, and that the authors of the Malleus, Heinrich Kramer and James Sprenger, were visionaries of their time. One often finds the text of the introductions reading as if it had been written 500 years previously when the Malleus was originally published and the Inquisition was in full swing.”

There were 14 editions between 1487 and 1520, and at least 16 editions between 1574 and 1669. There are modern translations as well: Der Hexenhammer, J.W.R. Schmidt, 1906, and this one.”

This famous document should interest the historian, the student of witchcraft and the occult, and the psychologist who is interested in the medieval mind as it was confronted with various forces which could only be explained as witchcraft.”

Those readers whose familiarity with The Bible comes from the King James Version may be surprised by the references to these <obscure> books of The Bible, such as Paralipomenon, Apocalypse, Judith, and Tobias. These books were originally a part of The Bible, but were cut from the King James version as it was developed. They exist today primarily as a part of the Douay Rheims Version of The Bible, which is widely used by Catholics.”

DATAÇÃO POR CARBONO-14! “Many participants in this project have questioned my determination to transcribe the text of the Malleus Maleficarum by hand, as opposed to scanning the pages and using Optical Character Recognition (OCR) software to generate the text. While it is certain that the latter would prove more expedient and see the online edition posted much sooner, transcribing the text, while more labor intensive, ensures a more accurate translation to HTML format.” “In an age in which the Malleus Maleficarum could again achieve a relevance in the hands of radical Christian leaders, the accuracy of this online translation is, I believe, all-important.” Lovelace, 1998

6 6 6

SOBRE A BULA DO CULPÊNCIO OITAVO

It has indeed lately come to Our ears, not without afflicting Us with bitter sorrow, that in some parts of Northern Germany, as well as in the provinces, townships, territories, districts, and dioceses of Mainz, Cologne, Trèves, Salzburg, and Bremen, many persons of both sexes, unmindful of their own salvation and straying from the Catholic Faith, have abandoned themselves to devils, incubi and succubi, and by their incantations, spells, conjurations, and other accursed charms and crafts, enormities and horrid offences, have slain infants yet in the mother’s womb, as also the offspring of cattle, have blasted the produce of the earth, the grapes of the vine, the fruits of the trees, nay, men and women, beasts of burthen, herd-beasts, as well as animals of other kinds, vineyards, orchards, meadows, pasture-land, corn, wheat, and all other cereals; these wretches furthermore afflict and torment men and women, beasts of burthen, herd-beasts, as well as animals of other kinds, with terrible and piteous pains and sore diseases, both internal and external; they hinder men from performing the sexual act and women from conceiving, whence husbands cannot know their wives nor wives receive their husbands; over and above this, they blasphemously renounce that Faith which is theirs by the Sacrament of Baptism, and at the instigation of the Enemy of Mankind they do not shrink from committing and perpetrating the foulest abominations and filthiest excesses to the deadly peril of their own souls, whereby they outrage the Divine Majesty and are a cause of scandal and danger to very many. And although (…) Henry Kramer and James Sprenger (…) have been by Letters Apostolic delegated as Inquisitors of these heretical pravities, and still are Inquisitors, the first in the aforesaid parts of Northern Germany, wherein are included those aforesaid townships, districts, dioceses, and other specified localities, and the second in certain territories which lie along the borders of the Rhine, nevertheless not a few clerics and lay-folk of those countries, seeking too curiously to know more than concerns them, since in the aforesaid delegatory letters there is no express and specific mention by name of these provinces, townships, dioceses, and districts, and further since the 2 delegates themselves and the abominations they are to encounter are not designated in detailed and particular fashion, these persons are not ashamed to contend with the most unblushing effrontery that these enormities are not practised in these provinces, and consequently the aforesaid Inquisitors have no legal right to exercise their powers of inquisition in the provinces, townships, dioceses, districts, and territories, which have been rehearsed, and that the Inquisitors may not proceed to punish, imprison, and penalize criminals convicted of the heinous offences and many wickednesses which have been set forth. Accordingly in the aforesaid provinces, townships, dioceses, and districts, the abominations and enormities in question remain unpunished not without open danger to the souls of many and peril of eternal damnation.”

We decree and enjoin that the aforesaid Inquisitors be empowered to proceed to the just correction, imprisonment, and punishment of any persons, without let or hindrance, in every way as if the provinces, townships, dioceses, districts, territories, yea, even the persons and their crimes in this kind were named and particularly designated in Our letters.”

We grant permission to the aforesaid Inquisitors, to one separately or to both, as also to Our dear son John Gremper, priest of the diocese of Constance, Master of Arts, their notary, or to any other public notary, who shall be by them, or by one of them, temporarily delegated to those provinces, townships, dioceses, districts, and aforesaid territories, to proceed, according to the regulations of the Inquisition, against any persons of whatsoever rank and high estate, correcting, fining, imprisoning, punishing, as their crimes merit, those whom they have found guilty, the penalty being adapted to the offence.”

DISSIMULANDIBUS: “excommunication, suspension, interdict, and yet more terrible penalties, censures, and punishment, as may seem good to him, and that without any right of appeal, and if he will he may by Our authority aggravate and renew these penalties as often as he list, calling in, if so please him, the help of the secular arm.

Non obstantibus . . . Let no man therefore . . . But if any dare to do so, which God forbid, let him know that upon him will fall the wrath of Almighty God, and of the Blessed Apostles Peter and Paul.”

6 6 6

Witchcraft was inextricably mixed with politics. Matthew Paris tells us how in 1232 the Chief Justice Hubert de Burgh, Earl of Kent, (Shakespeare’s <gentle Hubert> in King John), was accused by Peter do (sic) Roches, Bishop of Winchester, of having won the favour of Henry III through <charms and incantations>. In 1324 there was a terrific scandal at Coventry when it was discovered that a number of the richest and most influential burghers of the town had long been consulting with Master John, a professional necromancer, and paying him large sums to bring about by his arts the death of Edward II and several nobles of the court. Alice Perrers, the mistress of Edward III, was not only reputed to have infatuated the old king by occult spells, but her physician (believed to be a mighty sorcerer) was arrested on a charge of confecting love philtres and talismans. Henry V, in the autumn of 1419, prosecuted his stepmother, Joan of Navarre, for attempting to kill him by witchcraft, <in the most horrible manner that one could devise.> The conqueror of Agincourt was exceedingly worried about the whole wretched business, as also was the Archbishop of Canterbury, who ordered public prayers for the king’s safety. In the reign of his son, Henry VI, in 1441, one of the highest and noblest ladies in the realm, Eleanor Cobham, Duchess of Gloucester, was arraigned for conspiring with <a clerk>, Roger Bolingbroke, <a most notorious evoker of demons>, and <the most famous scholar in the whole world in astrology and magic>, to procure the death of the young monarch by sorcery, so that the Duke of Gloucester, Henry’s uncle and guardian, might succeed to the crown.¹ In this plot were further involved Canon Thomas Southwell, and a <relapsed witch>, that is to say, one who had previously (11 years before) been incarcerated upon grave suspicion of black magic, Margery Jourdemayne. Bolingbroke, whose confession implicated the Duchess, was hanged; Canon Southwell died in prison; the witch in Smithfield was <burn’d to Ashes>, since her offence was high treason. The Duchess was sentenced to a most degrading public penance, and imprisoned for life in Peel Castle, Isle of Man. Richard III, upon seizing the throne in 1483, declared that the marriage of his brother, Edward IV, with the Lady Elizabeth Grey, had been brought about by <sorcery and witchcraft>, and further that <Edward’s wife, that monstrous witch, has plotted with Jane Shore to waste and wither his body.> Poor Jane Shore did most exemplary penance, walking the flinty streets of London barefoot in her kirtle. In the same year when Richard wanted to get rid of the Duke of Buckingham, his former ally, one of the chief accusations he launched was that the Duke consulted with a Cambridge <necromancer> to compass and devise his death.

One of the most serious and frightening events in the life of James VII of Scotland (afterwards James I of England) was the great conspiracy of 1590, organized by the Earl of Bothwell. James with good reason feared and hated Bothwell, who, events amply proved, was Grand Master of more than 100 witches, all adepts in poisoning, and all eager to do away with the King. In other words, Francis Stewart, Earl of Bothwell, was the centre and head of a vast political plot. A widespread popular panic was the result of the discovery of this murderous conspiracy. In France as early as 583, when the infant son and heir of King Chilperic, died of dysentery, as the doctors diagnosed it, it came to light that Mumolus, one of the leading officials of the court, had been secretly administering to the child medicines, which he obtained from <certain witches of Paris>. These potions were pronounced by the physicians to be strong poisons. In 1308, Guichard, Bishop of Troyes, was accused of having slain by sorcery the Queen of Philip IV of France (1285-1314), Jeanne of Navarre, who died three years before [1305]. The trial dragged on from 1308 to 1313, and many witnesses attested on oath that the prelate had continually visited certain notorious witches, who supplied him philtres and draughts. In 1315, during the brief reign (1314-1316) of Louis X, the eldest son of Philip IV, was hanged Enguerrand de Marigny, chamberlain, privy councillor, and chief favourite of Philip, whom, it was alleged, he had bewitched to gain the royal favour. The fact, however, which sealed his doom was his consultation with one Jacobus de Lor, a warlock [bruxo], who was to furnish a nostrum warranted to put a very short term to the life of King Louis. Jacobus strangled himself in prison.

In 1317 Hugues Géraud, Bishop of Cahors, was executed by Pope John XXII, who reigned 1316-1334, residing at Avignon. Langlois says that the Bishop had attempted the Pontiff’s life by poison procured from witches.

Perhaps the most resounding of all scandals of this kind in France was the La Voison case, 1679-1682, when it was discovered that Madame de Montespan had for years been trafficking with a gang of poisoners and sorcerers, who plotted the death of the Queen and the Dauphan, so that Louis XIV might be free to wed Athénais de Montespan, whose children should inherit the throne. The Duchesse de Fontanges, a beautiful young country girl, who had for a while attracted the wayward fancy of Louis, they poisoned out of hand. Money was poured out like water, and it has been said that <the entire floodtide of poison, witchcraft and diabolism was unloosed> to attain the ends of that <marvellous beauty> (so Mme. de Sévigné calls her), the haughty and reckless Marquise de Montespan. In her thwarted fury she well nigh resolved to sacrifice Louis himself to her overweening ambition and her boundless pride. The highest names in France – the Princesse de Tingry, the Duchesse de Vitry, the Duchesse de Lusignan, the Duchesse de Bouillon, the Comtesse de Soissons, the Duc de Luxembourg, the Marguis de Cessac – scores of the older aristocracy, were involved, whilst literally hundreds of venal apothecaries, druggists, pseudo-alchemists, astrologers, quacks, warlocks, magicians, charlatans, who revolved round the ominous and terrible figure of Catherine La Voisin, professional seeress, fortune-teller, herbalist, beauty-specialist, were caught in the meshes [teias] of law. No less than 11 volumes of François Ravaison’s huge work, Archives de la Bastille, are occupied with this evil crew and their doings, their sorceries and their poisonings. [Livro-pédia que não podemos deixar de perder!]

During the reign of Urban VIII, Maffeo Barberini, 1623-1644, there was a resounding scandal at Rome when it was discovered that <after many invocations of demons> Giacinto Contini, nephew of the Cardinal d’Ascoli, had been plotting with various accomplices to put an end to the Pope’s life, and thus make way for the succession of his uncle to the Chair of Peter. Tommaso Orsolini of Recanate, moreover, after consulting with certain scryers and planetarians, readers of the stars, was endeavouring to bribe the apothecary Carcurasio of Naples to furnish him with a quick poison, which might be mingled with the tonics and electuaries prescribed for the ailing Pontiff, (Ranke, History of the Popes, ed. 1901, Vol. III, pp. 375-6).”

¹ Se essas coisas fossem mesmo dotadas do mais remoto interesse, Shakespeare usaria muito de magia negra para apimentar suas peças, o que, vê-se, passa longe de ser o caso.

Jean Bodin, the famous jurisconsult (1530-90) whom Montaigne acclaims to be the highest literary genius of his time, and who, as a leading member of the Parlement de Paris, presided over important trials, gives it as his opinion that there existed, not only in France, a complete organization of witches, immensely wealthy, of almost infinite potentialities, most cleverly captained, with centres and cells in every district, utilizing an espionage in ever land, with high-placed adherents at court, with humble servitors in the cottage.”

Not the least dreaded and dreadful weapon in their armament was the ancient and secret knowledge of poisons (veneficia), of herbs healing and hurtful, a tradition and a lore which had been handed down from remotest antiquity.”

Little wonder, then, that later social historians, such as Charles MacKay and Lecky, both absolutely impartial and unprejudiced writers, sceptical even, devote many pages, the result of long and laborious research, to witchcraft. (…) The profoundest thinkers, the acutest and most liberal minds of their day, such men as Cardan; Trithemius; the encylcopædic Delrio; Bishop Binsfeld; the learned physician, Caspar Peucer; Sir Edward Coke, <father of the English law>; Francis Bacon; Malebranche; Bayle; Glanvil; Thomas Browne; Cotton Mather; all these, and scores besides, were convinced of the dark reality of witchcraft, of the witch organization.”

The latest reprint of the original text of the Malleus is to be found in the noble 4-volume collection of Treatises on Witchcraft, <sumptibus Claudii Bourgeat>, 4to., Lyons, 1669.”

It was implicitly accepted not only by Catholic but by Protestant legislature. In fine, it is not too much to say that the Malleus Maleficarum is among the most important, wisest, and weightiest books of the world.

It has been asked whether Kramer or Sprenger was principally responsible for the Malleus, but in the case of so close a collaboration any such inquiry seems singularly superfluous and nugatory. With regard to instances of jointed authorship, unless there be some definite declaration on the part of one of the authors as to his particular share in a work, or unless there be some unusual and special circumstances bearing on the point, such perquisitions and analysis almost inevitably resolve themselves into a cloud of guess-work and bootless hazardry and vague perhaps. It becomes a game of literary blind-man’s-bluff.

Heinrich Kramer was born at Schlettstadt, a town of Lower Alsace, situated some 26 miles south-west of Strasburg. At an early age he entered the Order of S. Dominic, and so remarkable was his genius that whilst still a young man he was appointed to the position of Prior of the Dominican House at his native town. He was a Preacher-General and a Master of Sacred Theology. P.G. and S.T.M., two distinctions in the Dominican Order. At some date before 1474 he was appointed an Inquisitor for the Tyrol, Salzburg, Bohemia, and Moravia. His eloquence in the pulpit and tireless activity received due recognition at Rome, and for many years he was Spiritual Director of the great Dominican church at Salzburg, and the right-hand of the Archbishop of Salzburg, a munificent prelate who praises him highly in a letter which is still extant.” “In 1495, the Master General of the Order, Fr. Joaquín de Torres, O.P., summoned Kramer to Venice in order that he might give public lectures, disputations which attracted crowded audiences, and which were honoured by the presence and patronage of the Patriarch of Venice. He also strenuously defended the Papal supremacy, confuting the De Monarchia of the Paduan jurisconsult, Antonio degli Roselli. At Venice he resided at the priory of Santi Giovanni e Paolo (S. Zanipolo). During the summer of 1497, he had returned to Germany, and was living at the convent of Rohr, near Regensburg. On 31 January, 1500, Alexander VI appointed him as Nuncio and Inquisitor of Bohemia and Moravia, in which provinces he was deputed and empowered to proceed against the Waldenses and Picards, as well as against the adherents of the witch-society.” “His chief works, in addition to the Malleus, are: Several Discourses and Various Sermons upon the Most Holy Sacrament of the Eucharist, Nuremberg, 1496; A Tract Confuting the Errors of Master Antonio degli Roselli, Venice, 1499; and The Shield of Defence of the Holy Roman Church Against the Picards and Waldenses, an incunabulum, without date, but almost certainly 1499-1500. Many learned authors quote and refer to these treatises in terms of highest praise.”

James Sprenger was born in Basel, 1436-8 [que parto longo]. He was admitted a novice in the Dominican house of this town in 1452. His extraordinary genius attracted immediate attention, and his rise to a responsible position was very rapid. According to Pierre Hélyot, the Franciscan (1680-1716), Histoire des Ordres Religieux, III (1715), ch. XXVI, in 1389 Conrad of Prussia abolished certain relaxations and abuses which had crept into the Teutonic Province of the Order of S. Dominic, and restored the Primitive and Strict Obedience. He was closely followed by Sprenger, whose zealous reform was so warmly approved that in 1468 the General Chapter ordered him to lecture on the sentences of Peter Lombard at the University of Cologne, to which he was thus officially attached. A few years later he proceeded Master of Theology, and was elected Prior and Regent of Studies of the Cologne Convent, one of the most famous and frequented Houses of the Order. On 30 June, 1480, he was elected Dean of the Faculty of Theology at the University. His lecture-room was thronged, and in the following year, at the Chapter held in Roma, the Master General of the Order, Fra Salvo Cusetta, appointed him Inquisitor Extraordinary for the Provinces of Mainz, Trèves, and Cologne. His activities were enormous, and demanded constant journeyings through the very extensive district to which he had been assigned. In 1488 he was elected Provincial of the whole German Province, an office of the first importance [ah, o século!]. It is said that his piety and his learning impressed all who came in contact with him. In 1495 he was residing at Cologne, and here he received a letter from Alexander VI praising his enthusiasm and his energy.” “Among Sprenger’s other writings, excepting the Malleus, are The Paradoxes of John of Westphalia Refuted, Mainz, 1479, a closely argued treatise; and The Institution and Approbation of the Confraternity of the Most Holy Rosary, which was first erected at Cologne on 8 September in the year 1475. Sprenger may well be called the Apostle of the Rosary. None more fervent than he in spreading this Dominican elevation.”

Certain it is that the Malleus Maleficarum is the most solid, the most important work in the whole vast library of witchcraft. One turns to it again and again with edification and interest: From the point of psychology, from the point of jurisprudence, from the point of history, it is supreme. It has hardly too much to say that later writers, great as they are, have done little more than draw from the seemingly inexhaustible wells of wisdom which the two Dominicans, Heinrich Kramer and James Sprenger, have given us” “What is most surprising is the modernity of the book. There is hardly a problem, a complex, a difficulty, which they have not foreseen, and discussed, and resolved.”

The Malleus Maleficarum is one of the world’s few books written sub specie aeternitatis.

Montague Summers.

7 October, 1946.”

6 6 6

Sometimes, no doubt, primitive communities were obliged to tolerate the witch and her works owing to fear; in other words, witchcraft was a kind of blackmail; but directly Cities were able to coordinate, and it became possible for Society to protect itself, precautions were taken and safeguards were instituted against this curse, this bane whose object seemed to blight all that was fair, all that was just and good, and that was well-appointed and honourable, in a word, whose aim proved to be set up on high the red standard of revolution; to overwhelm religion, existing order, and the comeliness of life in an abyss of anarchy, nihilism, and despair. In his great treatise De Civitate Dei S. Augustine set forth the theory, or rather the living fact, of the two Cities, the City of God, and the opposing stronghold of all that is not for God, that is to say, of all that is against Him. [humanity itself]”

and nations who had never heard the Divine command put into practice the obligation of the Mosaic maxim: Thou shalt not suffer a witch to live. (Vulgate: Maleficos non patieris vivere. Douay: Wizards thou shalt not suffer to live. Exodus, 22:18.)” // “A feiticeira não deixarás viver.” Êxodo 22:18

It is true that both in the Greek and in the earlier Roman cults, worships often directly derived from secret and sombre sources, ancient gods, or rather demons, had their awful superstitions and their horrid rites, powers whom men dreaded but out of very terror placated; fanes [templos] men loathed but within whose shadowed portals they bent and bowed the knee perforce in trembling fear. Such deities were the Thracian Bendis [a nova Ártemis; ver referências aos jogos e festivais incluindo corridas de cavalos noturnas n’A República], whose manifestation was heralded by the howling of her fierce black hounds, and Hecate the terrible <Queen of the realm of ghosts>, as Euripides calls her, and the vampire Mormo [espécie de bicho-papão da Antiguidade: mas pelo menos era uma mulher! Posteriormente, Lamia] and the dark Summanus who at midnight hurled loud thunderbolts and launched the deadly levin [relâmpago] through the starless sky [Curiosa espécie de anti-Zeus, o Deus do Trovão Diruno. Milton e Camões equiparam-no a Hades.]. Pliny tells us that the worship of this mysterious deity lasted long, and dogs with their puppies were sacrificed to him with atrocious cruelty, but S. Augustine says that in his day <one could scarce find one within a while, that had heard, nay more, that had read so much as the name of Summanus> (De Civitate Dei, 4:23). (…) Towards the end of the 5th century, the Carthaginian Martianus Capella boldly declares that Summanus is none other than the lord of Hell, and he was writing, it may be remembered, only a few years before the birth of S. Benedict(*); some think that he was still alive when the Father of All Monks was born.”

(*) “The Medal of S. Benedict has been found to be extremely potent against all evil spells.”

many strange legends attached to the island of Lemnos, which is situated in the Aegaean Sea, nearly midway between Mt. Athos and the Hellespoint. It is one of the largest of the group, having an area of some 147 square miles. Lemnos was sacred to Hephaestus, who is said to have fallen here when hurled by Zeus from Olympus.” “It should further be noted that the old Italian deity Volcanus, with whom he was to be identified, is the god of destructive fire – fire considered in its rage and terror, as contrasted with fire which is a comfort to the human race, the kindly blaze on the hearth, domestic fire, presided over by the gracious lady Vesta. It is impossible not to think of the fall of Lucifer when one considers the legend of Hephaestus. Our Lord replied, when the disciples reported: Domine, etiam daemonia subiiciuntur nobis in nomine tuo (Lord, the devils also are subject to us in Thy Name), Videbam Satanam sicut fulgur de coelo cadentem (I saw Satan like lightning falling from Heaven); and Isaias says: Quomodo cecidisti de coelo, Lucifer, qui mane oriebaris? Corruisti in terram qui vulnerabas gentes? (How art thou fallen from Heaven, O Lucifer, who didst rise in the morning? How art thou fallen to the earth, that didst wound the nations?). Milton also has the following poetic allusion:

Nor was his name unheard or unador’d

In Ancient Greece; and in Ausonian land

Men called him Mulciber; and how he fell

From Heav’n, they fabl’d, thrown by angry Jove

Sheer o’er the Chrystal Battlements: from Morn

To Noon he fell, from Noon to dewy Eve,

A Summers day; and with the setting Sun

Dropt from the Zenith like a falling Star,

On Lemnos th’Ægæan Ile: thus they relate,

Erring; for he with his rebellious rout

Fell long before; nor aught avail’d him now

To have built in Heav’n high Towers; nor did he scape

By all his Engines, but was headlong sent

With his industrious crew to build in hell.”

Paraíso Perdido, 1:738-51

Levar poeta a sério é pedir pra se queimar na fogueira de São João!

Hephaestus, especially in later days, is represented with one leg shortened to denote his lameness; and throughout the Middle Ages it was popularly believed that his cloven hoof was the one feature which the devil was unable to disguise. In this connexion with Loki, the Vulcan of Northern Europe, will be readily remembered.”

É Hefesto o Lúcifer pagão ou não seria apenas Lúcifer o Hefesto cristão, que não saberá nunca dar a volta por cima? Mas na verdade ele tinha amores, era excelente ferreiro, e foi afinal perdoado e regressou ao Olimpo, pleno de honras!

There were also dark histories of murder and blood connected with Lemnos. When the Argonauts landed here they found it inhabited only by Amazons, who, having murdered all their husbands, had chosen as their queen Hypsipyle, daughter of Thoas, whom she secretly preserved alive. When this was discovered the unfortunate woman was compelled to leave the island, and being subsequently captured by pirates she was sold to Lycurgus, king of the sacred groves that surrounded the temple of Zeus Nemeus in a remote Argive valley. Hypsipyle here became the nurse of the mysterious child Archemorus, the Forerunner of Death, who was bitten by a magic serpent and vanished, portending the doom of the Seven who went against Thebes.”

It is curious to remark that a certain red clay (terra Lemnia) found on the island was, as Pliny tells us, employed as a remedy for wounds, and especially the bite of a snake.”

In Rome black magic was punished as a capital offence by the Law of the Twelve Tables, which are to be assigned to the 5th century B.C., and, as Livy records, from time to time Draconian statutes were directed against those who attempted to blight crops and vineyards or to spread rinderpest amongst flocks and cattle. Nonetheless it is evident from many Latin authors and from the historians that Rome swarmed with occultists and diviners, many of whom in spite of the Lex Cornelia almost openly traded in poisons, and not infrequently in assassination to boot. Sometimes, as in the Middle Ages, a circumstance of which the Malleus Maleficarum most particularly complains, the sorcerers were protected by men of wealth and high estate. This was especially the case in the terrible days of Marius and of Catiline, and during the extreme decadence of the latest Caesars. Yet, paradoxical as it may appear, such emperors as Augustus, Tiberius, and Septimius Severus, whilst banishing from their realms all seers and necromancers, and putting them to death, in private entertained astrologers and wizards among their retinue, consulting their art upon each important occasion, and often even in the everyday and ordinary affairs of life.”

stern and constant official opposition to witchcraft, and the prohibition under severest penalties, the sentence of death itself, of any practice or pursuit of these dangerous and irreligious arts, was demonstrably not a product of Christianity, but had long and necessarily been employed in the heathen world and among pagan peoples and among polytheistic societies. Moreover, there are even yet savage communities who visit witchcraft with death.”

If the disease is universal, the medicine must be sharp.”

a song or a country dance mayhap, innocent enough on the surface, and even pleasing, so often were but the cloak and the mask for something devilish and obscene, that the Church deemed it necessary to forbid and proscribe the whole superstition even when it manifested itself in modest fashion and seemed guileless, innoxious, and of no account.”

I knok this rage upone this stane

To raise the wind in the divellis name,

It sall not lye till I please againe.”

Cântico de bruxas escocesas

A pagan diviner or haruspex could only follow his vocation under very definite restrictions. He was not allowed to be an intimate visitor at the house of any citizen, for friendship with men of this kind must be avoided. The haruspex who frequents the houses of others shall die at the stake, such is the tenor of the code. It is hardly an exaggeration to say that almost every year saw a more rigid application of the laws; although even as today, when fortune-telling and peering into the future are forbidden by the Statute Book, diviners and mediums abound, so then in spite of every prohibition astrologers, clairvoyants, and psalmists had an enormous clientèle of rich and poor alike.

The early legal codes of most European nations contain laws directed against witchcraft. Thus, for example, the oldest document of Frankish legislation, the Salic Law (Lex salica), which was reduced to a written form and promulgated under Clovis, who died 27 November, 511, mulcts (sic) those who practise magic with various fines, especially when it could be proven that the accused launched a deadly curse, or had tied the Witch’s Knot. This latter charm was usually a long cord tightly tied up in elaborate loops, among whose reticulations it was customary to insert the feathers of a black hen, a raven, or some other bird which had, or was presumed to have, no speck of white. This is one of the oldest instruments of witchcraft and is known in all countries and among all nations. It was put to various uses. The wizards of Finland sold wind in the three knots of a rope. If the first knot were undone a gentle breeze sprang up; if the second, it blew a mackerel gale; if the third, a hurricane. But the Witch’s Ladder, as it was often known, could be used with far more baleful effects. The knots were tied with certain horrid maledictions, and then the cord was hidden away in some secret place, and unless it were found and the strands released the person at whom the curse was directed would pine and die. This charm continually occurs during the trials. Thus in the celebrated Island-Magee case, March 1711, when a coven of witches was discovered, it was remarked that an apron belonging to Mary Dunbar, a visitor at the house of the afflicted persons, had been abstracted. Miss Dunbar was suddenly seized with fits and convulsions, and sickened almost to death. After most diligent search the missing garment was found carefully hidden away and covered over, and a curious string which had nine knots in it had been so tied up with the folds of the linen that it was beyond anything difficult to separate them and loosen the ligatures. In 1886 in the old belfry of a village church in England there were accidentally discovered, pushed away in a dark corner, several yards of incle braided with elaborate care and having a number of black feathers thrust through the strands. It is said that for a long while considerable wonder was caused as to what it might be, but when it was exhibited and became known, one of the local grandmothers recognized it was a Witch’s Ladder, and, what is extremely significant, when it was engraved in the Folk Lore Journal an old Italian woman to whom the picture was shown immediately identified it as la ghirlanda delle streghe.”

In 578, when a son of Queen Fredegonde died, a number of witches who were accused of having contrived the destruction of the Prince were executed. (…) what else was there left for the Church to do?” Yea, what else?

HISTERIA COLETIVA: “In 814, Louis le Pieux upon his accession to the throne began to take very active measures against all sorcerers and necromancers, and it was owing to his influence and authority that the Council of Paris in 829 appealed to the secular courts to carry out any such sentences as the Bishops might pronounce. The consequence was that from this time forward the penalty of witchcraft was death, and there is evidence that if the constituted authority, either ecclesiastical or civil, seemed to slacken in their efforts the populace took the law into their own hands with far more fearful results.”

MEDIDAS PROFILÁTICAS:It is quite plain that such a man as Frederick II, whose whole philosophy was entirely Oriental; who was always accompanied by a retinue of Arabian ministers, courtiers, and officers; who was perhaps not without reason suspected of being a complete agnostic, recked little whether heresy and witchcraft might be offences against the Church or not, but he was sufficiently shrewd to see that they gravely threatened the well-being of the State, imperilling the maintenance of civilization and the foundations of society.”

QUANTA BONDADE ECLESIÁSTICA, DEIXAR A PENA DE MORTE PARA O ESTADO! “It may be well here very briefly to consider the somewhat complicated history of the establishment of the Inquisition, which was, it must be remembered, the result of the tendencies and growth of many years, by no means a judicial curia with cut-and-dried laws and a complete procedure suddenly called into being by one stroke of a Papal pen. In the first place, S.[atan] Dominic was in no sense the founder of the Inquisition. Certainly during the crusade in Languedoc he was present, reviving religion and reconciling the lapsed, but he was doing no more than S. Paul or any of the Apostles would have done. The work of S. Dominic was preaching and the organization of his new Order, which received Papal confirmation from Honorius III, and was approved in the Bull Religiosam vitam, 22 December, 1216. S. Dominic died 6 August, 1221, and even if we take the word in a very broad sense, the first Dominican Inquisitor seems to have been Alberic, who in November, 1232, was travelling through Lombardy with the official title of Inquisitor hereticae pravitatis. The whole question of the episcopal Inquisitors, who were really the local bishop, his arch-deacons, and his diocesan court, and their exact relationship with the travelling Inquisitors, who were mainly drawn from the two Orders of friars, the Franciscan and the Dominican, is extremely nice and complicated; whilst the gradual effacement of the episcopal courts with regard to certain matters and the consequent prominence of the Holy Office were circumstances and conditions which realized themselves slowly enough in all countries, and almost imperceptibly in some districts, as necessity required, without any sudden break or sweeping changes. In fact we find that the Franciscan or Dominican Inquisitor simply sat as an assessor in the episcopal court so that he could be consulted upon certain technicalities and deliver sentence conjointly with the Bishop if these matters were involved. Thus at the trial of Gilles de Rais in October, 1440, at Nantes, the Bishop of Nantes presided over the court with the bishops of Le Mans, Saint-Brieuc, and Saint-Lo as his coadjutors, whilst Pierre de l’Hospital, Chencellor of Brittany, watched the case on behalf of the civil authorities, and Frère Jean Blouin was present as the delegate of the Holy Inquisition for the city and district of Nantes. Owing to the multiplicity of the crimes, which were proven and clearly confessed in accordance with legal requirements, it was necessary to pronounce two sentences. The first sentence was passed by the Bishop of Nantes conjointly with the Inquisitor. By them Gilles de Rais was declared guilty of Satanism, sorcery, and apostasy, and there and then handed over to the civil arm to receive the punishment due to such offences. The second sentence, pronounced by the Bishop alone, declared the prisoner convicted of sodomy, sacrilege, and violation of ecclesiastical rights. The ban of excommunication was lifted since the accused had made a clean breast of his crimes and desired to be reconciled, but he was handed over to the secular court, who sentenced him to death, on multiplied charges of murder as well as on account of the aforesaid offences.”

Today the word heresy seems to be as obsolete and as redolent of a Wardour-street vocabulary as if one were to talk of a game of cards at Crimp or Incertain, and to any save a dusty mediaevalist it would appear to be an antiquarian term.” MORTE AOS COMUNAS! “The heretics were just as resolute and just as practical, that is to say, just as determined to bring about the domination of their absolutism as is any revolutionary of today. The aim and objects of their leaders, Tanchelin, Everwacher, the Jew Manasses, Peter Waldo, Pierre Autier, Peter of Bruys, Arnold of Brescia, and the rest, were exactly those of Lenin, Trotsky, Zinoviev, and their fellows.”

Their objects may be summed up as the abolition of monarchy, the abolition of private property and of inheritance, the abolition of marriage, the abolition of order, the total abolition of all religion. It was against this that the Inquisition had to fight, and who can be surprised if, when faced with so vast a conspiracy, the methods employed by the Holy Office may not seem – if the terrible conditions are conveniently forgotten – a little drastic, a little severe? There can be no doubt that had this most excellent tribunal continued to enjoy its full prerogative and the full exercise of its salutary powers, the world at large would be in a far happier and far more orderly position today. Historians may point out diversities and dissimilarities between the teaching of the Waldenses, the Albigenses, the Henricans, the Poor Men of Lyons, the Cathari, the Vaudois, the Bogomiles, and the Manichees, but they were in reality branches and variants of the same dark fraternity, just as the Third International, the Anarchists, the Nihilists, and the Bolsheviks are in every sense, save the mere label, entirely identical.”

There is an apparent absence of motive in this seemingly aimless campaign of destruction to extermination carried on by the Bolsheviks in Russia, which has led many people to inquire what the objective can possibly be. So unbridled are the passions, so general the demolition, so terrible the havoc, that hard-headed individuals argue that so complete a chaos and such revolting outrages could only be affected by persons who were enthusiasts in their own cause and who had some very definite aims thus positively to pursue. The energizing forces of this fanaticism, this fervent zeal, do not seem to be anymore apparent than the end, hence more than one person has hesitated to accept accounts so alarming of massacres and carnage, or wholesale imprisonments, tortures, and persecutions, and has begun to suspect that the situation may be grossly exaggerated in the overcharged reports of enemies and the highly-coloured gossip of scare-mongers.” EUREKA!

Nearly a century and a half ago Anacharsis Clootz(*), <the personal enemy of Jesus Christ> as he openly declared himself, was vociferating God is Evil, To me then Lucifer, Satan! whoever you may be, the demon that the faith of my fathers opposed to God and the Church. This is the credo of the witch.”

(*) Bases constitutionnelles de la République du genre humain, Paris, 1793

Revolucionário francês de tendências cosmopolitas (globais) à frente de seu tempo.

Naturally, although the Masters were often individuals of high rank and deep learning, that rank and file of the society, that is to say, those who for the most part fell into the hands of justice, were recruited from the least educated classes, the ignorant and the poor [já vi isso em algum lugar…]. As one might suppose, many of the branches or covens in remoter districts knew nothing and perhaps could have understood nothing of the enormous system. Nevertheless, as small cogs in a very small wheel, it might be, they were carrying on the work and actively helping to spread the infection. It is an extremely significant fact that the last regularly official trial and execution for witchcraft in Western Europe was that of Anna Göldi, who was hanged at Glaris in Switzerland, 17 June, 1782(*). Seven years before, in 1775, the villian Adam Weishaupt, who has been truly described by Louis Blanc as <the profoundest conspirator that has ever existed,> formed his <terrible and formidable sect>, the Illuminati. The code of this mysterious movement lays down: <it is also necessary to gain the common people (das gemeine Volk) to our Order. The great means to that end is influence in the schools.>“So in the prosecutions at Würzburg we find that there were condemned boys of 10 and 11, two choir boys aged 12, <a boy of 12-years-old in one of the lower forms of the school>, <the two young sons of the Prince’s cook, the eldest 14, the younger 12>, several pages and seminarists, as well as a number of young girls, amongst whom <a child of 9 or 10 and her little sister> were involved.”

(*) Nota corretiva (do próprio reverendo na segunda edição?): “The last trial and judicial execution in Europe itself was probably that of two aged beldames, Satanists, who were burned at the stake in Poland, 1793, the year of the Second Partition, during the reign of Stanislaus Augustus Poniatowski.” Mas parece que a correção do reverendo estava errada, prevalecendo a primeira versão, conforme wiki e outras fontes…

In England in the year 1324 no less than 27 defendants were tried at the King’s Bench for plotting against and endeavouring to kill Edward II, together with many prominent courtiers and officials, by the practice of magical arts. A number of wealthy citizens of Coventry had hired a famous <nigromauncer>, John of Nottingham, to slay not only the king, but also the royal favourite, Hugh le Despenser, and his father; the Prior of Coventry; the monastic steward; the manciple; and a number of other important personages. A secluded old manor-house, some 2 or 3 miles out of Coventry, was put at the disposal of Master John, and there he and his servant, Robert Marshall, promptly commenced business. They went to work in the bad old-fashioned way of modelling wax dolls or mommets of those whom they wished to destroy. Long pins were thrust through the figures, and they were slowly melted before a fire.(*) The first unfortunate upon whom this experiment was tried, Richard de Sowe, a prominent courtier and close friend of the king, was suddenly taken with agonizing pains, and when Marshall visited the house, as if casually, in order that he might report the results of this sympathetic sorcery to the wizard, he found their hapless victim in a high delirium. When this state of things was promptly conveyed to him, Master John struck a pin through the heart of the image, and in the morning the news reached them that de Sowe had breathed his last. Marshall, who was by now in an extremity of terror, betook himself to a justice and laid bare all that was happening and had happened, with the immediate result that Master John and the gang of conspirators were arrested. It must be remembered that in 1324 the final rebellion against king Edward II had openly broken forth on all sides. A truce of 13 years had been arranged with Scotland, and though the English might refuse Bruce his royal title he was henceforward the warrior king of an independent country. It is true that in May, 1322, the York Parliament had not only reversed the exile of the Despensers, declaring the pardons which had been granted their opponents null and void, as well as voting for the repeal of the Ordinances of 1311, and the Despensers were working for, and fully alive to the necessity of, good and stable government, but nonetheless the situation was something more than perilous; the Exchequer was well-nigh drained; there was rioting and bloodshed in almost every large town; and worst of all, in 1323 the younger Roger Mortimer had escaped from the Tower and got away safely to the Continent. There were French troubles to boot; Charles IV, who in 1322 had succeeded to the throne, would accept no excuse from Edward for any postponement of homage, and in this very year, 1324, declaring the English possessions forfeited, he proceeded to occupy the territory with an army, when it soon became part of the French dominion. There can be not doubt that the citizens of Coventry were political intriguers, and since they were at the moment unable openly to rebel against their sovran lord, taking advantage of the fact that he was harassed and pressed at so critical a juncture, they proceeded against him by the dark and tortuous ways of black magic.

(*) “This is certainly one of the oldest and most universal of spells. To effect the death of a man, or to injure him by making an image in his likeness, and mutilating or destroying this image, is a practice found throughout the whole wide world from its earliest years. It is common both in Babylon and in the Egypt of the Pharoahs, when magicians kneaded puppets of clay or pitch moistened with honey. If it were possible to mingle therewith a drop of a man’s blood, the parings of his nails, a few hairs from his body, a thread or two from his garments, it gave the warlock the greater power over him. In ancient Greece and Rome precisely the same ideas prevailed, and allusions may be found in Theocritus (Idyll II), Virgil (Eclogue VIII, 75-82), Ovid (Heroides, VI, 91, sqq.; Amores, III, vii, 29, sqq.), and many more. (See R. Wunsch, Eine antike Rachepuppe, Philologus, lxi, 1902, pp. 26-31.) We find this charm among the Ojebway Indians, the Cora Indians of Mexico, the Malays, the Chinese and Japanese, the aborigines throughout Australia, the Hindoos, both in ancient India and at the present day, the Burmese, many Arab tribes of Northern Africa, in Turkey, in Italy and the remoter villages of France, in Ireland and Scotland, nor is it (in one shape and form or another) yet unknown in the country districts of England.”

An astrologer, attached to the Duke’s house-hold, when taken and charged with <werchyrye of sorcery against the King,> confessed that he had often cast the horoscope of the Duchess to find out if her husband would ever wear the English crown, the way to which they had attempted to smooth by making a wax image of Henry VI and melting it before a magic fire to bring about the king’s decease. A whole crowd of witches, male and female, were involved in the case, and among these was Margery Jourdemain, a known a notorious invoker of demons and an old trafficker in evil charms.”

In the days of Edward IV it was commonly gossiped that the Duchess of Bedford was a witch, who by her spells had fascinated the king with the beauty of her daughter Elizabeth, whom he made his bride, in spite of the fact that he had plighted his troth to Eleanor Butler, the heiress of the Earl of Shrewsbury. So open did the scandal become that the Duchess of Bedford lodged an official complaint with the Privy Council, and an inquiry was ordered, but, as might have been suspected, this completely cleared the lady.”

O Edward, Edward! fly and leave this place,

Wherein, poor silly King, thou are enchanted.

This is her dam of Bedford’s work, her mother,

That hath bewitch’d thee, Edward, my poor child.

Heywood

Her ascendancy over the king was attributed to the enchantments and experiments of a Dominican friar, learned in many a cantrip and cabala, whom she entertained in her house, and who had fashioned 2 pictures of Edward and Alice which, when suffumigated with the incense of mysterious herbs and gums, mandrakes, sweet calamus, caryophylleae, storax, benzoin, and other plants plucked beneath the full moon what time Venus was in ascendant, caused the old king to dote upon this lovely concubine. With great difficulty by a subtle ruse the friar was arrested, and he thought himself lucky to escape with relegation to a remote house under the strictest observance of his Order, whence, however, he was soon to be recalled with honour and reward, since the Good Parliament shortly came to an end, and Alice Perrers, who now stood higher in favour than ever, was not slow to heap lavish gifts upon her supporters, and to visit her enemies with condign punishment.”

There was nobody more thoroughly scared of witchcraft than Henry VIII’s daughter, Elizabeth, and as John Jewel was preaching his famous sermon before her in February, 1560, he described at length how <this kind of people (I mean witches and sorcerers) within these few last years are marvellously increased within this Your Grace’s realm;> he then related how owing to dark spells he had known many <pine away even to death.> <I pray God,> he unctuously cried, <they may never practise further than upon the subjects!> This was certainly enough to ensure that drastic laws should be passed particularly to protect the Queen, who was probably both thrilled and complimented to think that her life was in danger. It is exceedingly doubtful, whether there was any conspiracy at all which would have attempted Elizabeth’s personal safety.”

That it was a huge and far-reaching political conspiracy is patent form the fact that the lives of Louis XIV, the Queen, the Dauphin, Louise de la Vallière, and the Duchesse de Fontanges had been attempted secretly again and again, whilst as for Colbert, scores of his enemies were constantly entreating for some swift sure poison, constantly participating in unhallowed rites which might lay low the all-powerful Introduction of Minister.”

As early as 600 S. Gregory I had spoken in severest terms, enjoining the punishment of sorcerers and those who trafficked in black magic. It will be noted that he speaks of them as more often belonging to that class termed servi, that is to say, the very people from whom for the most part Nihilists and Bolsheviks have sprung in modern days.” Não consigo encontrar referências para os serui – segundo a grafia moderna poderiam ser os servi, os sérvios? Dostoievsky é o epítome da literatura niilista pré-Revolução Russa. Mas e daí? Ele queimou alguém na fogueira? Na verdade até onde eu sei era um beato (viciado em jogo, mas um beato). Nenhuma pista, só um palpite.

On 13, December, 1258, Pope Alexander IV (Rinaldo Conti) issued a Bull to the Franciscan Inquisitors bidding them refrain from judging any cases of witchcraft unless there was some very strong reason to suppose that heretical practice could also be amply proved. On 10 January, 1260, the same Pontiff addressed a similar Bull to the Dominicans.

DEFENDENDO O INDEFENSÁVEL: “Sixtus IV was an eminent theologian, he is the author of an admirable treatise on the Immaculate Conception, and it is significant that he took strong measures to curb [restrain] the judicial severities of Tomás de Torquemada [que bonzinho], whom he had appointed Grand Inquisitor of Castile, 11 February, 1482. During his reign he published three Bulls directly attacking sorcery, which he clearly identified with heresy, an opinion of the deepest weight when pronounced by one who had so penetrating a knowledge of the political currents of the day [ó!]. There can be no doubt that he saw the society of witches to be nothing else than a vast international of anti-social revolutionaries. (sic!!!)

It has been necessarily thus briefly to review this important series of Papal documents to show that the famous Bull Summis desiderantes affectibus, 9 December, 1484, which Innocent VIII addressed to the authors of the Malleus Maleficarum, is no isolated and extraordinary document, but merely one in the long and important record of Papal utterances, although at the same time it is of the greatest importance and supremely authoritative. It has, however, been very frequently asserted, not only by prejudiced and unscrupulous chroniclers, but also by scholars of standing and repute, that this Bull of Innocent VIII, if not, as many appear to suppose, is actually the prime cause and origin of the crusade against witches, at any rate gave the prosecution and energizing power and an authority which hitherto they had not, and which save for this Bull they could not ever have, commanded and possessed.” “a Bull is an instrument of especial weight and importance, and it differs both in form and detail from constitutions, encyclicals, briefs, decrees, privileges, and rescripts. It should be remarked, however, that the term Bull has conveniently been used to denote all these, especially if they are Papal letters of any early date. By the 15th century clearer distinctions were insisted upon and maintained.”

Alexander VI published two Bulls upon the same theme, and in a Bull of Julius II there is a solemn description of that abomination the Black Mass, which is perhaps the central feature of the worship of Satanists, and which is unhappily yet celebrated today in London, in Paris, in Berlin, and in many another great city.” Leo X, the great Pope of Humanism, issued a Bull on the subject; but even more important is the Bull Dudum uti nobis exponi fecisti, 20 July, 1523, which speaks of the horrible abuse of the Sacrament in sorceries and the charms confuted by witches.”

There is a Constitution of Gregory XV, Omnipotentis Dei, 20 March, 1623; and a Constitution of Urban VIII, Inscrutabilis iudiciorum Dei altitudo, 1st April [hehe], 1631, which – if we except the recent condemnation of Spiritism in the19th century – may be said to be the last Apostolic document directed against these foul and devilish practices.

The noble and momentous sentences are built-up word by word, beat by beat, ever growing more and more authoritative, more and more judicial, until they culminate in the minatory and imprecatory clauses which are so impressive, so definite, that no loophole is left for escape, no turn for evasion. <Nulli ergo omnino hominum liceat hanc paganim nostrae declarationis extentionis concessionis et mandati infringere vel ei ausu temeraris contrarie Si qui autem attentate praesumpserit indignationem omnipotentis Dei ac beatorum Petri et Pauli Apostolorum eius se noverit incursurum.> If any man shall presume to go against the tenor let him know that therein he will bring down upon himself the wrath of Almighty God and of the Blessed Apostles Peter and Paul.

infallibility is claimed on the ground, not indeed of the terms of the Vatican definition, but of the constant practice of the Holy See, the consentient teaching of the theologians, as well as the clearest deductions of the principles of faith.” “Without exception non-Catholic historians have either in no measured language denounced or else with sorrow deplored the Bull of Innocent VIII as a most pernicious and unhappy document, a perpetual and irrevocable manifesto of the unchanged and unchangeable mind of the Papacy. From this point of view they are entirely justified, and their attitude is undeniably logical and right. The Summis desiderantes affectibus is either a dogmatic exposition by Christ’s Vicar upon earth or it is altogether abominable.” Choose for the second!

It is all the more amazing to find that the writer of the article upon Witchcraft in the Catholic Encyclopaedia quotes Hansen with complete approval and gleefully adds with regard to the Bull of Innocent VIII, <neither does the form suggest that the Pope wishes to bind anyone to believe more about the reality of witchcraft than is involved in the utterances of Holy Scripture,> a statement which is essentially Protestant in its nature, and, as is acknowledged by every historian of whatsoever colour or creed, entirely untrue. By its appearance in a standard work of reference, which is on the shelves of every library, this article upon Witchcraft acquires a certain title to consideration which upon its merits it might otherwise lack. It is signed Herbert Thurston, and turning to the list of <Contributors to the Fifteenth Volume> we duly see <Thurston, Herbert, S.J., London.> Since a Jesuit Father emphasizes in a well-known (and presumably authoritative) Catholic work an opinion so derogatory to the Holy See and so definitely opposed to all historians, one is entitled to express curiosity concerning other writings which may not have come from his pen. I find that for a considerable number of years Fr. Thurston has been contributing to The Month a series of articles upon mystical phenomena and upon various aspects of mysticism, such as the Incorruption of the bodies of Saints and Beati, the Stigmata, the Prophecies of holy persons, the miracles of Crucifixes that bleed or pictures of the Madonna which move, famous Sanctuaries, the inner life of and wonderful events connected with persons still living who have acquired a reputation for sanctity. This busy writer directly or incidentally has dealt with that famous ecstatica Anne Catherine Emmerich; the Crucifix of Limpias; Our Lady of Campocavallo; S. Januarus; the Ven. Maria d’Agreda; Gemma Galgani; Padre Pio Pietralcina; that gentle soul Teresa Higginson, the beauty of whose life has attracted thousands, but whom Fr. Thurston considers hysterical and masochistic and whose devotions to him savour of the <snowball> prayer; Pope Alexander VI; the origin of the Rosary; the Carmelite scapular; and very many themes beside. Here was have (sic) a mass of material, and even a casual glance through these pages will suffice to show the ugly prejudice which informs the whole. The intimate discussions on miracles, spiritual graces and physical phenomena, which above all require faith, reverence, sympathy, tact and understanding, are conducted with a roughness and a rudeness infinitely regrettable. What is worse, in every case Catholic tradition and loyal Catholic feeling are thrust to one side; the note of scepticism, of modernism, and even of rationalism is arrogantly dominant. Tender miracles of healing wrought at some old sanctuary, records of some hidden life of holiness secretly lived amongst us in the cloister or the home, these things seem to provoke Fr. Thurston to such a pitch of annoyance that he cannot refrain from venting his utmost spleen. The obsession is certainly morbid. It is reasonable to suppose that a lengthy series of papers all concentrating upon certain aspects of mysticism would have collected in one volume, and it is extremely significant that in the autumn of 1923 a leading house announced among Forthcoming Books: The Physical Phenomena of Mysticism. By the Rev. Herbert Thurston, S.J. Although in active preparation, this has never seen the light. I have heard upon good authority that the ecclesiastical superiors took exception to such a publication. I may, of course, be wrong, and there can be no question that there is room for a different point of view, but I cannot divest my mind of the idea that the exaggerated rationalization of mystical phenomena conspicuous in the series of articles I have just considered may be by no means unwelcome to the Father of Lies [é coisa do demo usar a cabeça]. It really plays into his hands: first, because it makes the Church ridiculous by creating the impression that her mystics, particularly friars and nuns, are for the most part sickly hysterical subjects, deceivers and deceived, who would be fit inmates of Bedlam; that many of her most reverend shrines, Limpias, Campocavallo, and the sanctuaries of Naples, are frauds and conscious imposture; and, secondly, because it condemns and brings into ridicule that note of holiness which theologians declare is one of the distinctive marks of the true Church.” Finalmente alguém sensato na parada!

INFALIBILIDADE DOS DEMÔNIOS EM PELE DE CORDEIRO: “and Fr. Thurston for 15 nauseating pages insists upon <the evil example of his private life>. This is unnecessary; it is untrue; it shows contempt of Christ’s Vicar on earth.”

For a full account of the Papal Bulls, see my Geography of Witchcraft, 1927” Deve ser um livro interessantíssimo. Um catálogo das páginas mais execráveis já escritos por homens de autoridade na era dos domínios de Deus-Filho sobre a superfície da redonda terra.

* * *

Verbete W I K I sobre Thurston:

Thurston wrote more than 150 articles for the Catholic Encyclopedia (1907-1914), and published nearly 800 articles in magazines and scholarly journals, as well a dozen books. He also re-edited Alban Butler’s Lives of the Saints (1926-1938). Many of Thurston’s articles show a skeptical attitude towards popular legends about the lives of the saints and about holy relics. On the other hand, his treatment of spiritualism and the paranormal was regarded as <too sympathetic> by some within the Catholic community.” “Thurston attributed the phenomena of stigmata to the effects of suggestion.” Livro que parece o mais interessante como inicial: The Physical Phenomena of Mysticism (1952). Vemos, portanto, que o livro foi “enrolado”, mas saiu, após a segunda e nefastérrima edição do Malleus do reverendinho SummersWinters!

* * *

VOLTANDO ÀS PATACOADAS…

It should be borne in mind too that frequent disturbances, conspiracies of anarchists, and nascent Bolshevism showed that the district was rotted to the core, and the severities of Kramer and Sprenger were by no means so unwarranted as is generally supposed.” “Unfortunately full biographies of these two remarkable men, James Sprenger and Henry Kramer, have not been transmitted to us, but as many details have been succinctly collected in the Scriptores Ordinis Praedicatorum of Quétif and Echard, Paris, 1719, I have thought it convenient to transcribe the following accounts from that monumental work.”

PAPAS PROCRIADORES (MAS SANTOS): (*) Burchard was only aware of two children of Innocent VIII. But Egidio of Viterbo wrote: <Primus pontificum filios filiasque palam ostentavit, primus eorum apertas fecit nuptias.>

(*) “One writer, professing himself a Christian, declares that it is at least doubtful whether Our Lord instituted The Holy Sacrifice of the Altar. This, of course, is tantamount to a denial of Christ.”

6 6 6

The British Museum has five editions of the 15th century: 4to., 1490? (IA 8634); folio, 1490 (IB 8615); 4to., 1494 (IA 7468); folio, 1494 (IB 5064); 4to., 1496 (IA 7503).” “Malleus Maleficarum, 8vo., Paris, an edition to which the British Museum catalogue assigns the date of <1510?>.”

Malleus Maleficarum . . . per F. Raffaelum Maffeum Venetum et D. Jacobi a Judeca instituti Servorum summo studio illustratis et a multis erroribus vindicatus . . . Venetiis Ad Candentis Salamandrae insigne. 1576, 8vo. (This is a disappointing reprint, and it is difficult to see in what consisted the editorial care of the Servite Raffaelo Maffei [Rafael Má-fé!], who may or may not have been some relation of the famous humanist of the same name (d. 25 January, 1522)(*), and who was of the monastery of San Giacomo della Guidecca. He might have produced a critical edition of the greatest value, but as it is there are no glosses, there is no excursus, and the text is poor. For example, in a very difficult passage, Principalis Quaestio II, Pars II, where the earliest texts read <die dominico sotularia ivuenum fungia . . . perungunt,> Venice, 1576, has <die dominica sotularia ivuenum fungia . . . perungent.>)” (*) Não é Raffaello Sanzio, que morreu em 1520.

Malleus Maleficarum, 4 vols., <sumptibus Claudii Bourgeat,> 4to., Lyons, 1669. This would appear to be the latest edition of the Malleus Maleficarum

6 6 6

The derivation of Femina from fe minus is notorious, and hardly less awkward is the statement that Diabolus comes <a Dia, quod est duo, et bolus, quod est morsellus; quia duo occidit, scilicet corpus et animam.>

O show de horrores continua…

Possibly what will seem even more amazing to modern readers is the misogynic trend of various passages, and these not of the briefest nor least pointed. However, exaggerated as these may be, I am not altogether certain that they will not prove a wholesome and needful antidote in this feministic age, when the sexes seem confounded, and it appear to be the chief object of many females to ape the man, an indecorum by which they not only divest themselves of such charm as they might boast, but lay themselves open to the sternest reprobation in the name of sanity and common-sense. For the Apostle S. Peter says: Let wives be subject to their husbands: that if any believe not the word, they may be won without the word, by the conver[sa]tion of the wives, considering your chaste conversation with fear. Whose adorning let it not be the outward plaiting of the hair, or the wearing of god, or the putting on of apparel; but the hidden man of the heart is the incorruptibility of a quiet and meek spirit, which is rich in the sight of God. For after the manner heretofore the holy women also, who trusted God, adorned themselves, being in subjection to their own husbands: as Sara obeyed Abraham, calling him lord: whose daughters you are, doing well, and not fearing any disturbance.”

(*) “The extremer Picards seem to have been an off-shoot of the Behgards and to have professed the Adamite heresy. They called their churches Paradise whilst engaged in common worship stripped themselves quite nude. Shameful disorders followed. A number of these fanatics took possession of an island in the river Nezarka and lived in open communism. In 1421 Ziska, the Hussite leader, practically exterminated the sect. There have, however, been sporadic outbreaks of these Neo-Adamites. Picards was also a name given to the <Bohemian Brethren>, who may be said to have been organized in 1457 by Gregory, the nephew of Rokyzana.”

Montague Summers.

In Festo Expectationis B.M.V.

1927.”

Já vai tarde, martelador de coisas erradas!

6 6 6

It was published in 1487, but two years previously the authors had secured a bull from Pope Innocent VIII, authorizing them to continue the witch hunt in the Alps which they had already instituted against the opposition from clergy and secular authorities. They reprinted the bull of December 5, 1484 to make it appear that the whole book enjoyed papal sanction.

Anybody with a grudge or suspicion, very young children included, could accuse anyone of witchcraft and be listened to with attention; anyone who wanted someone else’s property or wife could accuse; any loner, any old person living alone, anyone with a misformity, physical or mental problem was likely to be accused. Open hunting season was declared on women, especially herb gatherers, midwives, widows and spinsters. Women who had no man to supervise them were of course highly suspicious. It has been estimated by Dr. Marija Gimbutas, professor of archaeology at the University of California, that as many as 9 million people, overwhelmingly women, were burned or hanged during the witch-craze. For nearly 250 years the Witches’ Hammer was the guidebook for the witch hunters, but again some of the inquisitioners had misgivings about this devilish book. In a letter dated November 27, 1538 Salazar advised the inquisitioners not to believe everything they read in Malleus Maleficarum, even if the authors write about it as something they themselves have seen and investigated (Henningson, p.347).”

Edo Nyland – The Witch Burnings: Holocaust Without Equal

6 6 6

TRADUÇÃO ORIGINAL DO REVERENDO CATÓLICO QUE DEVE TER VIVIDO BASTANTES “VERÕES”

every alteration that takes place in a human body – for example, a state of health or a state of sickness – can be brought down to a question of natural causes, as Aristotle has shown in his 7th book of Physics. And the greatest of these is the influence of the stars. But the devils cannot interfere with the stars. This is the opinion of Dionysius in his epistle to S. Polycarp. For this alone God can do. Therefore it is evident the demons cannot actually effect any permanent transformation in human bodies; that is to say, no real metamorphosis. And so we must refer the appearance of any such change to some dark and occult cause.”

For devils have no power at all save by a certain subtle art. But an art cannot permanently produce a true form. (And a certain author says: Writers on Alchemy know that there is no hope of any real transmutation.) Therefore the devils for their part, making use of the utmost of their craft, cannot bring about any permanent cure – or permanent disease.”

But the power of the devil is stronger than any human power” (Job 40) Ou a tradução para Português perde muito do sentido original ou o autor se equivoca muito ao interpretar os versos de Jó XL como sobre o demônio, quando só falam de Deus onipotente, do homem impotente e, no máximo, do animal beemote, que é um crente, age com sabedoria, não se desespera, porque conhece a própria fraqueza melhor do que o homem.

For the imagination of some men is so vivid that they think they see actual figures and appearances which are but the reflection of their thoughts, and then these are believed to be the apparitions of evil spirits or even the spectres of witches.”

#títulodelivro

DESBATIZADO

an infidel and worse than a heathen”

tempstation du mal, ô Être!

Deuteronômio 18: Este, pois, será o direito dos sacerdotes, a receber do povo, dos que oferecerem sacrifício, seja boi ou gado miúdo; que darão ao sacerdote a espádua e as queixadas e o bucho.”

Ça ser dote ou não ser, eis a questão

Entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro;

Nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos;

Pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti.

(…)

estas nações, que hás de possuir, ouvem os prognosticadores e os adivinhadores; porém a ti [descendente sacerdotal] o Senhor teu Deus não permitiu tal coisa. [Daí estaria implícito que a adivinhação e o ato de aconselhar [?] estão permitidos para todas as tribos não-sacerdotais; são simplesmente naturais dentre o povaréu. Não deveriam ser os e as possuidoras de tantos e atípicos talentos vítimas de apedrejamento, apenas deixad@s em sua ‘cegueira espiritual inerente’, para serem julgad@s na Esfera competente Quando de competência!]

Porém o profeta que tiver a presunção de falar alguma palavra em meu nome, que eu não lhe tenha mandado falar [um Genocídio teria de advir], ou o que falar em nome de outros deuses, esse profeta morrerá.” Não disse de quê.

Quando o profeta falar em nome do Senhor, e essa palavra não se cumprir, nem suceder assim; esta é palavra que o Senhor não falou; com soberba a falou aquele profeta; não tenhas temor dele.” Jesus tem ainda uns 30 mil anos de crédito, relaxai…

Levíticos 19: “The soul which goeth to wizards and soothsayers to commit fornication with them, I will set my face against that soul, and destroy it out of the midst of my people.”

Levíticos 20: “A man, or woman, in whom there is a pythonical or divining spirit dying, let them die: they shall stone them.”

IV Kings I // 2 Reis 1: “His brother and successor, Joram, threw down the statue of Baal, erected by Achab”

(…) Ide, e perguntai a Baal-Zebube, deus de Ecrom, se sararei desta doença.

Mas o anjo do Senhor disse a Elias, o tisbita: Levanta-te, sobe para te encontrares com os mensageiros do rei de Samaria, e dize-lhes: Porventura não há Deus em Israel, para irdes consultar a Baal-Zebube, deus de Ecrom?

E por isso assim diz o Senhor: Da cama, a que subiste, não descerás, mas sem falta morrerás. Então Elias partiu.

(…)

Então o rei (…) disse-lhe: Homem de Deus, o rei diz: Desce.

Mas Elias respondeu, e disse ao capitão de cinqüenta: Se eu, pois, sou homem de Deus, desça fogo do céu, e te consuma a ti e aos teus cinqüenta. Então fogo desceu do céu, e consumiu a ele e aos seus cinqüenta.

(…)

E tornou a enviar um terceiro capitão de cinqüenta, com os seus cinqüenta; então subiu o capitão de cinqüenta e, chegando, pôs-se de joelhos diante de Elias, e suplicou-lhe, dizendo: Homem de Deus, seja, peço-te, preciosa aos teus olhos a minha vida, e a vida destes cinqüenta teus servos.

Eis que fogo desceu do céu, e consumiu aqueles dois primeiros capitães de cinqüenta, com os seus cinqüenta; porém, agora seja preciosa aos teus olhos a minha vida.

Então o anjo do Senhor disse a Elias: Desce com este, não temas. E levantou-se, e desceu com ele ao rei.

(…)

Assim, pois, morreu, conforme a palavra do Senhor, que Elias falara (…)”

I Paralipomenon 10 (Bíblia Vulgata, English translation – equivalente a 1 Crônicas 10): “Saul is slain for his sins: he is buried by the men of Jabes. Now the Philistines fought against Israel, and the men of Israel fled from before the Philistines, and fell down wounded in mount Gelboe. And the Philistines drew near pursuing after Saul, and his sons, and they killed Jonathan, and Abinadab, and Melchisua the sons of Saul. And the battle grew hard against Saul and the archers reached him, and wounded him with arrows. And Saul said to his armour-bearer: Draw thy sword, and kill me: lest these uncircumcised come, and mock me. But his armour-bearer would not, for he was struck with fear: so Saul took his sword, and fell upon it. [réprobo dos réprobos!] And when his armour-bearer saw it, to wit, that Saul was dead, he also fell upon his sword and died. So Saul died, and his 3 sons, and all his house fell together. And when the men of Israel, that dwelt in the plains, saw this, they fled: and Saul and his sons being dead, they forsook their cities, and were scattered up and down: and the Philistines came, and dwelt in them. And the next day the Philistines taking away the spoils of them that were slain, found Saul and his sons lying on mount Gelboe. And when they had stripped him, and cut off his head, and taken away his armour, they sent it into their land, to be carried about, and shown in the temples of the idols and to the people. And his armour they dedicated in the temple of their god, and his head they fastened up in the temple of Dagon. And when the men of Jabes Galaad had heard this, to wit, all that the Philistines had done to Saul, All the valiant men of them arose, and took the bodies of Saul and of his sons, and brought them to Jabes, and buried their bones under the oak that was in Jabes, and they fasted 7 days. So Saul died for his iniquities, because he transgressed the commandment of the Lord, which he had commanded, and kept it not: and moreover consulted also a witch, And trusted not in the Lord: therefore he slew him, and transferred his kingdom to David the son of Isai.”

I will not mention those very many other places where S. Thomas in great detail discusses operations of this kind. As, for example, in his Summa contra Gentiles, Book 3, c. 1 and 2, in part one, question 114, argument 4. And in the Second of the Second, questions 92 and 94. We may further consult the Commentators and the Exegetes who have written upon the wise men and the magicians of Pharaoh, Exodus 7. We may also consult what S. Augustine says in The City of God, Book 18, c. 17. See further his second book On Christian Doctrine. Very many other doctors advance the same opinion, and it would be the height of folly for any man to contradict all these, and he could not be held to be clear of the guilt of heresy. For any man who gravely errs in an exposition of Holy Scripture is rightly considered to be a heretic.”

For they say, and S. Thomas agrees with them, that if witchcraft takes effect in the event of a marriage before there has been carnal copulation, then if it is lasting it annuls and destroys the contract of marriage, and it is quite plain that such a condition cannot in any way be said to be illusory and the effect of imagination.”

DSM-0 (IMPOTENCIAS FEITICIRIVS): “they lay down whether it is to be treated as a lasting or temporary infirmity if it continued for more than the space of 3 years”

Any person, whatsoever his rank or position, upon such an accusation may be put to torture, and he who is found guilty, even if he confesses his crime, let him be racked, let him suffer all other tortures prescribed by law in order that he may be punished in proportion to his offences.

Note: In days of old such criminals suffered a double penalty and were often thrown to wild beast to be devoured by them. Nowadays they are burnt at the stake, and probably this is because the majority of them are women.”

A tênue linha entre a Mãe Diná, David Copperfield e o Capeta.

Here it must be noticed that there are fourteen distinct species which come under the genus superstition, but these for the sake of brevity it is hardly necessary to detail, since they have been most clearly set out by S. Isidore in his Etymologiae, (*) Book 8, and by S. Thomas in his Second of the Second, question 92.” “The category in which women of this sort are to be ranked is called the category of Pythons, persons in or by whom the devil either speaks or performs some astonishing operation, and this is often the first category in order.”

(*) “Throughout the greater part of the Middle Ages it was the text-book most in use in educational institutions. Arevalo, who is regarded as the most authoritative editor of S. Isidore (7 vols., Rome, 1797-1803), tells us that it was printed no less than ten times between 1470 and 1529.”

it is necessary that there should be made a contract with the devil, by which contract the witch truly and actually binds herself to be the servant of the devil and devotes herself to the devil, and this is not done in any dream or under any illusion

CAVALGAR, ASSUNTO FEMININO POR EXCELÊNCIA: “although these women imagine they are riding (as they think and say) with Diana or with Herodias, in truth they are riding with the devil, who calls himself by some such heathen name and throws a glamour before their eyes. (…) the act of riding abroad may be merely illusory, since the devil has extraordinary power over the minds of those who have given themselves up to him, so that what they do in pure imagination, they believe they have actually and really done in the body.” “Whether witches by their magic arts are actually and bodily transported from place to place, or whether this merely happens in imagination, as is the case with regard to those women who are called Pythons, will be dealt with later in this work, and we shall also discuss how they are conveyed.”

The Evil Damnation

Devi[l-]da[-]mente orden[h]ado

that God very often allows devils to act as His ministers and His servants, but throughout all it is God alone who can afflict and it is He alone who can heal, for <I kill and I make alive> (Deuteronomy 32:39).”

(*) “<Lex Cornelia.> De Sicariis et Ueneficis. Passed circa 81 B.C. This law dealt with incendiarism as well as open assassination and poisoning, and laid down penalties for accessories to the fact.”

Yet perhaps this may seem to be altogether too severe a judgement mainly because of the penalties which follow upon excommunication: for the Canon prescribes that a cleric is to be degraded [?] and that a layman is to be handed over to the power of the secular courts, who are admonished to punish him as his offence deserves. Moreover, we must take into consideration the very great numbers of persons who, owing to their ignorance, will surely be found guilty of this error. And since the error is very common the rigor of strict justice may be tempered with mercy. And it is indeed our intention to try to make excuses for those who are guilty of this heresy rather than to accuse them of being infected with the malice of heresy. It is preferable then that if a man should be even gravely suspected of holding this false opinion he should not be immediately condemned for the grave crime of heresy. (See the gloss of Bernard upon the word Condemned.)”

since an idea merely kept to oneself is not heresy unless it be afterwards put forward, obstinately and openly maintained, it should certainly be said that persons such as we have just mentioned are not to be openly condemned for the crime of heresy. But let no man think he may escape by pleading ignorance. For those who have gone astray through ignorance of this kind may be found to have sinned very gravely. For although there are many degrees of ignorance, nevertheless those who have the cure of souls [padres?] cannot plead invincible ignorance, as the philosophers call it, which by the writers on Canon law and by the Theologians is called Ignorance of the Fact.” “For sometimes persons do not know, they do not wish to know, and they have no intention of knowing. For such persons there is no excuse, but they are to be altogether condemned.”

If it be asked whether the movement of material objects from place to place by the devil may be paralleled by the movement of the spheres, the answer is No. Because material objects are not thus moved by any natural inherent power of their own, but they are only moved by a certain obedience to the power of the devil, who by the virtue of his own nature has a certain dominion over bodies and material things; he has this certain power, I affirm, yet he is not able to add to created material objects any form or shape, be it substantial or accidental, without some admixture of or compounding with another created natural object.”

The planets and stars have no power to coerce and compel devils to perform any actions against their will, although seemingly demons are readier to appear when summoned by magicians under the influence of certain stars. It appears that they do this for two reasons. First, because they know that the power of that planet will aid the effect which the magicians desire. Secondly, They do this in order to deceive men, thus making them suppose that the stars have some divine power or actual divinity, and we know that in days of old this veneration of the stars led to the vilest idolatry.”

alchemists make something similar to gold, that is to say, in so far as the external accidents are concerned, but nevertheless they do not make true gold, because the substance of gold is not formed by the heat of fire which alchemists employ, but by the heat of the sun, acting and reacting upon a certain spot where mineral power is concentrated and amassed, and therefore such gold is of the same likeness as, but is not of the same species as, natural gold.”

Raimundo de Sabunde, espanhol, traduzido até por Montaigne (Theologia Naturalis).

we learn from the Holy Scriptures of the disasters which fell upon Job, how fire fell from heaven and striking the sheep and the servants consumed them, and how a violent wind threw down the four corners of a house so that it fell upon his children and slew them all. The devil by himself without the co-operation of any witches, but merely by God’s permission alone, was able to bring about all these disasters. Therefore he can certainly do many things which are often ascribed to the work of witches.”

uma sálvia podre, arremessada numa corrente d’água, pode causar terríveis tempestades e borrascas.”

Um dos argumentos muito repetidos: Citamos Aristóteles, que diz, no terceiro livro de sua Ética: O Mal é um ato voluntário, o que se prova pelo fato de que ninguém executa uma ação injusta, e um homem que comete um estupro o faz em busca do seu próprio prazer, não é que prejudique apenas por prejudicar ou queira cometer o mal pelo próprio mal. Mas não é assim que entende a Lei. O diabo está apenas usando a bruxa como seu instrumento; logo, neste caso a bruxa é apenas um títere; a bruxa não deveria ser punida pelo seu ato.” [!!!]

Gálatas 3: “O senseless Galatians, who hath bewitched you that you should not obey the truth?”

And the gloss upon this passage refers to those who have singularly fiery and baleful eyes [inflamados, perniciosos], who by a mere look can harm others, especially young children.” ???

Alguns podem seduzir e hipnotizar pelo mero olhar” Avicena

O ímã assustava os crentes até no mínimo Santo Agostinho. O “poder” feminino da maquiagem é colocado em pé de igualdade com aquele poder de atração magnética!

Moisés atacou o Egito com dez pragas por intermédio do ministério dos bons Anjos; já os magos do Faraó foram capazes tão-só de realizar três desses milagres pela ajuda de Satanás. E a peste que caiu sobre as pessoas por 3 dias devido ao pecado de Davi, que enumerou as pessoas, e os 72 mil homens que foram massacrados numa noite, do exército de Senacheribe, foram milagres produzidos por Anjos de Deus, i.e., Anjos bons tementes a Deus e sabedores de Sua Vontade.”

No tempo de Jó não havia feiticeiros nem bruxas. A Providência quis que o exemplo de Jó servisse para alertar sobre os poderes ocultos do Anjo caído manifestáveis mesmo contra os justos (…) lembre-se: nada ocorre senão a vontade de Deus.”

Vincent of Beauvais(*) in his Speculum historiale, quoting many learned authorities, says that he who first practised the arts of magic and of astrology was Zoroaster, who is said to have been Cham the son of Noe. And according to S. Augustine in his book Of the City of God, Cham laughed aloud when he was born, and thus showed that he was a servant of the devil, and he, although he was a great and mighty king, was conquered by Ninus the son of Belus,¹ who built Ninive, whose reign was the beginning of the kingdom of Assyria in the time of Abraham.”

(*) “Little is known of the personal history of this celebrated encyclopaedist. The years of his birth and death are uncertain, but the dates most frequently assigned are 1190 and 1264 respectively. It is thought that he joined the Dominicans in Paris shortly after 1218, and that he passed practically his whole life in his monastery in Beauvais, where he occupied himself incessantly upon his enormous work, the general title of which is Speculum Maius, containing 80 books, divided into 9.885 chapters. The third part, Speculum Historiale, in 31 books and 3,793 chapters, bring the History of the World down to A.D. 1250.”

¹ Grego antigo Bēlos; a reencarnação antropomórfica de Marduk; e ainda suposto neto de Hércules! Belus é algumas vezes associado à Assíria, outras à Babilônia e ainda outras ao Egito como um “pai civilizacional” e mestre militar ou semideus da guerra. Na última versão (a egípcia), teria se casado com a filha do deus-rio Nilo. De 12 autores clássicos que citaram Belus, 4 atribuem sua paternidade a Poseidon. Não estão tampouco descartadas relações do nome Belus com Ba’al do Velho Testamento (conseqüentemente, Ba’al e Marduque possuem verossimilhanças e correlações).

From this time men began to worship images as though they were gods; but this was after the earliest years of history, for in the very first ages there was no idolatry, since in the earliest times men still preserved some remembrance of the creation of the world, as S. Thomas says, Book 2, question 95, article 4. Or it may have originated with Nembroth [Nimrod], who compelled men to worship fire; and thus in the second age of the world there began Idolatry, which is the first of all superstitions, as Divination is the second, and the Observing of Times and Seasons the third.

The practices of witches are included in the second kind of superstition, since they expressly invoke the devil. And there are 3 kinds of this superstition: — Necromancy, Astrology, or rather Astromancy, the superstitious observation of stars, and Oneiromancy.Freud bruxão

The prophet Isaiah (6:6) says: The earth is filled with the knowledge of the Lord. And so in this twilight and evening of the world, when sin is flourishing on every side and in every place, when charity is growing cold, the evil of witches and their inequities superabound.”

And since Zoroaster was wholly given up to the magic arts, it was the devil alone who inspired him to study and observe the stars.”

For the eyes direct their glance upon a certain object without taking notice of other things, and although the vision be perfectly clear, yet at the sight of some impurity, such, for example, a woman during her monthly periods, the eyes will as it were contract a certain impurity. This is what Aristotle says in his work On Sleep and Waking, and thus if anybody’s spirit be inflamed with malice or rage, as is often the case with old women, then their disturbed spirit looks through their eyes, for their countenances are most evil and harmful, and often terrify young children of tender years, who are extremely impressionable.” “Os olhos dirigem sua mirada a certos objetos sem se concentrar sobre ou perceber outros, e ainda que o sentido da visão resulte perfeitamente claro, quando abstraído por alguma impureza, como, por exemplo, uma mulher em seu período menstrual, os olhos serão contaminados pela mesma impureza. Isto é o que Aristóteles diz em sua obra Sobre o Sono e a Vigília [livro contido na obra maior, Da Alma]; destarte, se a alma de alguém estiver dominada pela malícia ou fúria, o que é amiúde o caso das mulheres velhas, sua alma perturbada transparece através dos olhos; basta observar o quanto seus semblantes parecem maus e daninhos, e como assustam com tanta facilidade as crianças pequenas nos anos da inocência, que são extremamente impressionáveis.”

A lenda do “olhar letal” do basilisco: quiçá a fonte do Mito da Medusa.

EVIL NEVER DIES: “Réalité de la Magie et des Apparitions, Paris, 1819 (pp. xii-xiii), has: <Le monde, purgé par le déluge, fut repeuplé par les trois fils de Noé. Sem et Japhet imitèrent la vertu de leur père, et furent justes comme lui. Cham, au contraire, donna entrée au démon dans son coeur, remit au jour l’art exécrable de la magie, en composa les règles, et en instruisit son fils Misraim.>

OS TRÊS REIS MAGOS VIERAM PRESENTEAR O FILHO DE DEUS (O DIABO REDENTOR) COM PRESENTES FANTÁSTICOS E ENCANTADORES.

Caldeu, astrólogo e mago eram três sinônimos perfeitos.”

And now with reference to the second point, namely, that blood will flow from a corpse in the presence of a murderer.” Superstição lida hoje em Tom Sawyer!

Now there are two circumstances which are certainly very common at the present day, that is to say, the connexion of witches with familiars, Incubi and Succubi, and the horrible sacrifices of small children. (…) Now these demons work owing to their influence upon man’s mind and upon his free will, and they choose to copulate under the influence of certain stars rather than under the influence of others, for it would seem that at certain times their semen can more easily generate and beget children.”

At first it may truly seem that it is not in accordance with the Catholic Faith to maintain that children can be begotten by devils, that is to say, by Incubi and Succubi: for God Himself, before sin came into the world, instituted human procreation, since He created woman from the rib of man to be a help-meet unto man: And to them He said: Increase, and multiply, Genesis 2:24. Likewise after sin had come into the world, it was said to Noé: Increase, and multiply, Genesis 9:1. In the time of the new law also, Christ confirmed this union: Have ye not read, that he who made man from the beginning, Made them male and female? S. Matthew 19:4. Therefore, men cannot be begotten in any other way than this.

But it may be argued that devils take their part in this generation not as the essential cause, but as a secondary and artificial cause, since they busy themselves by interfering with the process of normal copulation and conception, by obtaining human semen, and themselves transferring it.”

to collect human semen from one person and to transfer it to another implies certain local actions. But devils cannot locally move bodies from place to place. And this is the argument they put forward. The soul is purely a spiritual essence, so is the devil: but the soul cannot move a body from place to place except it be that body in which it lives and to which it gives life: whence if any member of the body perishes it becomes dead and immovable. Therefore devils cannot move a body from place to place, except it be a body to which they give life. It has been shown, however, and is acknowledged that devils do not bestow life on anybody, therefore they cannot move human semen locally”

the power that moves and the movement are one and the same thing according to Aristotle in his Physics. It follows, therefore, that devils who move heavenly bodies must be in heaven, which is wholly untrue, both in our opinion, and in the opinion of the Platonists.”

as Walafrid Strabo says in his commentary upon Exodus 7:2: And Pharaoh called the wise men and the magicians: Devils go about the earth collecting every sort of seed, and can by working upon them broadcast various species. And again in Genesis 6 the gloss makes 2 comments on the words: And the sons of God saw the daughters of men. First, that by the sons of God are meant the sons of Seth, and by the daughters of men, the daughters of Cain. Second, that Giants were created not by some incredible act of men, but by certain devils, which are shameless towards women. For the Bible says, Giants were upon the earth.”

For through the wantonness of the flesh they have much power over men; and in men the source of wantonness lies in the privy parts, since it is from them that the semen falls, just as in women it falls from the navel.”

men may at times be begotten by means of Incubi and Succubi”

We leave open the question whether it was possible for Venus to give birth to Aeneas through coition with Anchises. For a similar question arises in the Scriptures, where it is asked whether evil angels lay with the daughters of men, and thereby the earth was then filled with giants, that is to say, preternaturally big and strong men.” Santo Agostinho

Satyrs are wild shaggy creatures of the woods, which are a certain kind of devils called Incubi.”

As to that of S. Paul in I Corinthians 11, A woman ought to have a covering on her head, because of the angels, many Catholics believe that because of the angels refers to Incubi. Of the same opinion is the Venerable Bede in his History of the English; also William of Paris in his book De Universo, the last part of the 6th treatise. Moreover, S. Thomas speaks of this (I. 25 and II. 8, and elsewhere; also on Isaiah 12 and 14). Therefore he says that it is rash to deny such things. For that which appears true to many cannot be altogether false, according to Aristotle (at the end of the De somno et vigilia, and in the 2nd Ethics). I say nothing of the many authentic histories, both Catholic and heathen, which openly affirm the existence of Incubi.”

I Corinthians 11: Every man who prays or prophesies with his head covered dishonors his head. But every woman who prays or prophesies with her head uncovered dishonors her head—it is the same as having her head shaved. For if a woman does not cover her head, she might as well have her hair cut off; but if it is a disgrace for a woman to have her hair cut off or her head shaved, then she should cover her head. A man ought not to cover his head, since he is the image and glory of God; but woman is the glory of man.”

materially life springs from the semen, and an Incubus devil can, with God’s permission, accomplish this by coition. And the semen does not so much spring from him, as it is another man’s semen received by him for this purpose (see S. Thomas, I. 51, art. 3). For the devil is Succubus to a man, and becomes Incubus to a woman. In just the same way they absorb the seeds of other things for the generating of various thing, as S. Augustine says, de Trinitate 3.”

INNER-BREEDING HERMAPHRODITE MUTUAL CONCEPTION: “one devil, allotted to a woman, should receive semen from another devil, allotted to a man [esperma feminino, vale dizer], that in this way each of them should be commissioned by the prince of devils to work some witchcraft; since, to each one is allotted his own angel, even from among the evil ones; or because of the filthiness of the deed, which one devil would abhor to commit.”

the soul occupies by far the lowest grade in the order of spiritual beings, and therefore it follows that there must be some proportionate relation between it and the body which it is able to move by contact. But it is not so with devils, whose power altogether exceeds corporeal power. (…) And just as the higher heavenly bodies are moved by the higher spiritual substances, as are the good Angels, so are the lower bodies moved by the lower spiritual substances, as are the devils. And if this limitation of the devils’ power is due to the essence of nature, it is held by some that the devils are not of the order of those higher angels, but are part of this terrestrial order created by God; and this was the opinion of the Philosophers. And if it is due to condemnation for sin, as is held by the Theologians, then they were thrust from the regions of heaven into this lower atmosphere for a punishment, and therefore are not able to move either it or the earth. (…) Also there is the argument that objects that the motion of the whole and of the part is the same thing, just as Aristotle in his 4th Physics instances the case of the whole earth and a clod of soil; and that therefore if the devils could move a part of the earth, they could also move the whole earth. But this is not valid, as is clear to anyone who examines the distinction.”

through such action complete contraception and generation by women can take place, inasmuch as they can deposit human semen in the suitable place of a woman’s womb where there is already a corresponding substance. (…) wherefore the child is the son not of the devil, but of some man.”

FREEZER ANTIGO: “devils are able to store the semen safely, so that its vital heat is not lost; or even that it cannot evaporate so easily on account of the great speed at which they move by reason of the superiority of the move over the thing moved.”

I Corinthians 15: “As long as the world endures Angels are set over Angels, men over men, and devils over devils. Also in Job 40 it speaks of the scales of Leviathan, which signify the members of the devil, how one cleaves to another. Therefore there is among them diversity both of order and of action.” “It is Catholic to maintain that there is a certain order of interior and exterior actions, and a degree of preference among devils. Whence it follows that certain abominations are committed by the lowest orders, from which the higher orders are precluded on account of the nobility of their natures.”

Dionysus also lays it down in his 10th chapter On the Celestial Hierarchy that in the same order there are 3 separate degrees; and we must agree with this, since they are both immaterial and incorporeal. See also S. Thomas (2:2).”

For though one and the same name, that of devil, is generally used in Scripture because of their various qualities, yet the Scriptures teach that One is set over these filthy actions, just as certain other vices are subject to Another. For it is the practice of Scripture and of speech to name every unclean spirit Diabolus, from Dia, that is Two, and Bolus, that is Morsel [pedaço]; for he kills two things, the body and the soul. And this is in accordance with etymology, although in Greek Diabolus means shut in Prison, which also is apt, since he is not permitted to do as much harm as he wishes. Or Diabolus may mean Downflowing, since he flowed down, that is, fell down, both specifically and locally. He is also named Demon, that is, Cunning over Blood, since he thirsts for and procures sin with a threefold knowledge, being powerful in the subtlety of his nature, in his age-long experience, and in the revelation of the good spirits. He is called also Belial, which means Without Yoke or Master; for he can fight against him to whom he should be subject. He is called also Beelzebub, which means Lord of Flies, that is, of the souls of sinners who have left the true faith of Christ. Also Satan, that is, the Adversary; see I Peter 2: For your adversary the devil goeth about, etc. Also Behemoth, that is, Beast, because he makes men bestial.

But the very devil of Fornication, and the chief of that abomination, is called Asmodeus, which means the Creature of Judgement: for because of this kind of sin a terrible judgement was executed upon Sodom and the 4 other cities. Similarly the devil of Pride is called Leviathan, which means Their Addition; because when Lucifer tempted our first parents he promised them, out of his pride, the addition of Divinity. Concerning him the Lord said through Isaiah: I shall visit it upon Leviathan, that old and tortuous serpent. And the devil of Avarice and Riches is called Mammon, whom also Christ mentions in the Gospel (Matthew 6): Ye cannot serve God, etc.

Segundo este panfleto, Lúcifer e os “diabos mais altos” jamais cometeriam um ato tão impuro quanto a fornicação! Demônios pudicos…

certain men who are called Lunatics are molested by devils more at one time than at another; and the devils would not so behave, but would rather molest them at all times, unless they themselves were deeply affected by certain phases of the Moon.”

the choleric are wrathful, the sanguine are kindly, the melancholy are envious, and the phlegmatic are slothful.”

S. Augustine (de Civitate Dei, V), where he resolves a certain question of 2 brothers who fell ill and were cured simultaneously, approves the reasoning of Hippocrates rather than that of an Astronomer. For Hippocrates answered that it is owing to the similarity of their humours; and the Astronomer answered that it was owing the identity of their horoscopes. For the Physician’s answer was better, since he adduced the more powerful and immediate cause.”

Saturn has a melancholy and bad influence and Jupiter a very good influence”

(*) “Although in Cicero and in Seneca mathematicus means a mathematician, in later Latin it always signifies an astrologer, a diviner, a wizard. The Mathematici were condemned by the Roman law as exponents of black magic. Their art is indeed forbidden in severest terms by Diocletian (A.D. 284-305): <Artem geometriae discere atque exervere oublice interest, ars autem mathematica damnabilis interdicta est omnino.>

Also, as William of Paris says in his De Universo, it is proved by experience that if a harlot tries to plant an olive it does not become fruitful, whereas if it is planted by a chaste woman it is fruitful.”

And here it is to be noted that a belief in Fate is in one way quite Catholic, but in another way entirely heretical.” “Fate may be considered to be a sort of second disposition, or an ordination of second causes for the production of foreseen Divine effects. And in this way Fate is truly something.”

as Aristotle says, the brain is the most humid of all the parts of the body, therefore it chiefly is subject to the operation of the Moon, which itself has power to incite humours. Moreover, the animal forces are perfected in the brain, and therefore the devils disturb a man’s fancy according to certain phases of the Moon, when the brain is ripe for such influences. And these are reasons why the devils are present as counsellors in certain constellations. They may lead men into the error of thinking that there is some divinity in the stars.”

And as for that concerning I Kings 16: that Saul, who was vexed by a devil, was alleviated when David played his harp before him, and that the devil departed, etc. It must be known that it is quite true that by the playing of the harp, and the natural virtue of that harmony, the affliction of Saul was to some extent relieved, inasmuch as that music did somewhat calm his sense through hearing; through which calming he was made less prone to that vexation.”

parteiras, que ultrapassam todas as outras em maldade.”

there are three things in nature, the Tongue, an Ecclesiastic, and a Woman, which know no moderation in goodness or vice; and when they exceed the bounds of their condition they reach the greatest heights and the lowest depths of goodness and vice.”

Avoid as you would the plague a trading priest, who has risen from poverty to riches, from a low to a high estate.”

Ecclesiasticus 25: “There is no head above the head of a serpent: and there is no wrath above the wrath of a woman. I had rather dwell with a lion and a dragon than to keep house with a wicked woman.”

O que mais é uma mulher senão um inimigo da amizade, uma punição inescapável, um mal necessário, uma tentação natural, uma calamidade desejável, um perigo doméstico, um prejuízo deleitável, um mal da natureza disfarçado de beleza?” João Crisóstomo

Cicero in his second book of The Rhetorics says: The many lusts of men lead them into one sin, but the lust of women leads them into all sins; for the root of all woman’s vices is avarice. And Seneca says in his Medea: A woman either loves or hates; there is no third grade. And the tears of woman are a deception, for they may spring from true grief, or they may be a snare. When a woman thinks alone, she thinks evil.”

Intelectualmente, as mulheres são como crianças.” Terêncio

Nenhuma mulher compreendia filosofia exceto Temeste.” Lactâncio, Instituições Divinas

Provérbios 11: “Como uma jóia de ouro no focinho dum porco, assim é uma mulher bonita que não tem modos.”

And when the philosopher Socrates was asked if one should marry a wife, he answered: If you do not, you are lonely, your family dies out, and a stranger inherits; if you do, you suffer perpetual anxiety, querelous complaints, reproaches concerning the marriage portion, the heavy displeasure of your relations, the garrulousness of a mother-in-law, cuckoldom, and no certain arrival of an heir. [fonte?] This he said as one who knew. For S. Jerome in his Contra Iovinianum says: This Socrates had 2 wives, whom he endured with much patience, but could not be rid of their contumelies and clamorous vituperations. So one day when they were complaining against him, he went out of the house to escape their plaguing, and sat down before the house; and the women then threw filthy water over him. But the philosopher was not disturbed by this, saying, <I knew the rain would come after the thunder.>

If we inquire, we find that nearly all the kingdoms of the world have been overthrown by women. Troy, which was a prosperous kingdom, was, for the rape of one woman, Helen, destroyed, and many thousands of Greeks slain. The kingdom of the Jews suffered much misfortune and destruction through the accursed Jezebel, and her daughter Athaliah, queen of Judah, who caused her son’s sons to be killed, that on their death she might reign herself; yet each of them was slain. The kingdom of the Romans endured much evil through Cleopatra, Queen of Egypt, that worst of women. And so with others. Therefore it is no wonder if the world now suffers through the malice of women.”

There is no man in the world who studies so hard to please the good God as even an ordinary woman studies by her vanities to please men.”

All witchcraft comes from carnal lust, which is in women insatiable.”

We know of an old woman who, according to the common account of the brothers in that monastery even up to this day, in this manner not only bewitched 3 successive Abbots, but even killed them, and in the same way drove the 4th out of his mind. For she herself publicly confessed it, and does not fear to say: I did so and I do so, and they are not able to keep from loving me because they have eaten so much of my dung – measuring off a certain length on her arm. I confess, moreover, that since we had no case to prosecute her or bring her to trial, she survives to this day.”

APARENTEMENTE, A REFUTAÇÃO DO ‘FENÔMENO’ DA POSSESSÃO: “And a third kind of mutation can be added, which is when a good or bad angel enters into the body, in the same way that we say that God alone is able to enter into the soul, that is, the essence of life. But when we speak of an angel, especially a bad angel, entering the body, as in the case of an obsession, he does not enter beyond the limits of the essence of the body; for in this way only God the Creator can enter, Who gave it to be as it were the intrinsic operation of life. But the devil is said to enter the body when he effects something about the body: for when he works, there he is, as S. John Damascene says. And then he works within the bounds of corporeal matter, but not within the very essence of the body.”

the devil can directly prevent the erection of that member which is adapted to fructification, just as he can prevent local motion.”

And again, it was a greater thing to turn Lot’s wife into a pillar of salt than it is to take away the male organ; and that (Genesis 19) was a real and actual, not an apparent, metamorphosis (for it is said that that pillar is still to be seen), And this was done by a bad Angel; just as the good Angels struck the men of Sodom with blindness, so that they could not find the door of the house. And so it was with the other punishments of the men of Gomorrah. The gloss, indeed, affirms that Lot’s wife was herself tainted with that vice, and therefore she was punished.”

PRECISO PROVAR QUE A ODISSÉIA NÃO FOI REAL, ORA QUAL É O MEU PROBLEMA? “it is read in the books of the Gentiles that a certain sorceress named Circe changed the companions of Ulysses into beasts; but that this was due to some glamour or illusion, rather than an actual accomplishment, by altering the fancies of men”

(*) “Crohns in his Die Summa theologica des Antonin von Florenz und die Schützung des Weibes im Hexenhammer, Helsingfors, 1903, has set out to show that the very pronounced misogyny which is apparent in the Malleus Maleficarum can be traced to the Summa of S. Antoninus.”

(*) “During the 16th century in France lycanthropy was very prevalent, and cannibalism were rife in many county districts.”

penitent witches have often told to us and to others, saying: No one does more harm to the Catholic Faith than midwives. For when they do not kill children, then, as if for some other purpose, they take them out of the room and, raising them up in the air, offer them to devils.”

Evil will be for all time, even to the perfecting of the universe.” Dionysius

as through the persecution of the tyrants came the patience of the martyrs, and through the works of witches come the purgation or proving of the faith of the just”

God in His justice permits the prevalence of evil, both that of sin and that of pain, and especially now that the world is cooling and declining to its end”

SALADA MISTA TEO-GENTÍLICA: “See Apocalypse 12. The dragon falling from heaven drew with him the third part of the stars. And he lives in the form of Leviathan, and is king over all the children of pride. And, according to Aristotle (Metaph., V), he is called king of princes, inasmuch as he moves those who are subject to him according to his will and command.”

Do alto de uma montanha (Escolástica, pressentimento de Dia do Juízo iminente) é fácil dizer que “a ordem do cosmo” exige descer até o último andar do porão na escada metafísica da perfeição gradual de cada coisa a seu tempo…

Democritus and the other natural philosophers were in error when they ascribed whatever happened to the inferior creation to the mere chance of matter.”

the sins of witches are more grievous than those of the bad angels and our first parents. Wherefore, just as the innocent are punished for the sins of their fathers, so are many blameless people damned and bewitched for the sins of witches.”

Adam sinned only in doing that which was wrong in one of two ways; for it was forbidden, but was not wrong in itself: but witches and other sinners sin in doing that which is wrong in both ways, wrong in itself, and forbidden, such as murders and many other forbidden things.”

in fornication a young man sins, but an old man is mad.”

For they are called witches (maleficae) on account of the enormity of their crimes”

For the sin of infidelity consists in opposing the Faith; and this may come about in 2 ways, by opposing a faith which has not yet been received, or by opposing it after it has been received. Of the first sort is the infidelity of the Pagans or Gentiles. In the second way, the Christian Faith may be denied in 2 ways: either by denying the prophecies concerning it, or by denying the actual manifestation of its truth. And the first of these is the infidelity of the Jews, and the second the infidelity of Heretics.”

II Pedro 2: “the infidelity of the heretics, who while professing the faith of the Gospel fight against it by corrupting it, is a greater sin than that of the Jews and Pagans.”

they received the prophecy of the Christian Faith in the Old Law, which they corrupt through badly interpreting it, which is not the case with the Pagans.”

a Saracen fasts, to observe the law of Mohammed as to fasting, and a Jew observes his Feast days; but in such things he is guilty of mortal sin.”

For, besides the punishment of excommunication inflicted upon them, Heretics, together with their patrons, protectors and defenders, and with their children to the 2nd generation on the father’s side, and to the first degree on the mother’s side, are admitted to no benefit or office of the Church. And if a Heretic have Catholic children, for the heinousness of his crime they are deprived of their paternal inheritance. And if a man be convicted, and refuse to be converted and abjure his heresy, he must at once be burned, if he is a layman. For if they who counterfeit money are summarily put to death, how much more must they who counterfeit the Faith? But if he is a cleric, after solemn degradation he is handed over to the secular Court to be put to death. But if they return to the Faith, they are to be imprisoned for life.”

For, bodily speaking, sons are a property of the father, and slaves and animals are the property of their masters; and so the sons are sometimes punished for their parents. Thus the son born to David from adultery quickly died; and the animals of the Amalekites were bidden to be killed. Yet the reason for these things remains a mystery.”

SOBRE DEUS INFLIGIR SOFRIMENTO SEM CULPA DO “CRENTE”: “For he says that for 5 causes God scourges man in this life, or inflicts punishment. First, that God may be glorified; and this is when some punishment or affliction is miraculously removed, as in the case of the man born blind (S. John 9), or of the raising of Lazarus (S. John 11).” Ou quando ele me deu 10 graus de miopia, para se gloriar na seqüência com meus infinitos livros.

And the species of the first form of Divination, that is, an open invocation of devils, are the following: Sorcery, Oneiromancy, Necromancy, Oracles, Geomancy, Hydromancy, Aeromancy, Pyromancy, and Soothsaying (see S. Thomas, Second of the Second, quest. 95, 26, and 5). The species of the 2nd kind are Horoscopy, Haruspicy, Augury, Observation of Omens, Cheiromancy and Spatulamancy.

But let no one think that such practices are lawful because the Scripture records that the soul of the just Prophet, summoned from Hades to predict the event of Saul’s coming war, appeared through the means of a woman who was a witch. For, as S. Augustine says to Simplicianus: It is not absurd to believe that it was permitted by some dispensation, or by the potency of any magic art, but by some hidden dispensation unknown to the Pythoness or to Saul, that the spirit of that just man should appear before the sight of the king, to deliver the Divine sentence against him.

Oneiromancy may be practised in two ways. The first is when a person uses dreams so that he may dip into the occult with the help of the revelation of devils invoked by him, with whom he has entered into an open pact. The second is when a man uses dreams for knowing the future, in so far as there is such virtue in dreams proceeding from Divine revelation, from a natural and intrinsic or extrinsic cause”

when we study at the time of the dawn we are given an understanding of certain occult matters in the Scriptures.”

MUITA FÉ NO ARI.: “doctors are very often helped by dreams in their diagnosis (as Aristotle says in the same book).”

when they desire to see what their fellow-witches are doing, it is their practice to lie down on their left side in the name of their own and of all devils; and these things are revealed to their vision in images.”

The other species of divination, which are performed with a tacit, but not an open, invocation of devils, are Horoscopy, or Astrology, so called from the consideration of the stars at birth; Haruspicy, which observes the days and hours; Augury, which observes the behaviour and cries of birds; Omens, which observe the words of men; and Cheiromancy, which observes the lines of the hand, or of the paws of animals.”

although the sin of Satan is unpardonable, this is not on account of the greatness of his crime, having regard to the nature of the Angels, with particular attention to the opinion of those who say that the Angels were created only in a state of nature, and never in a state of grace. And since the good of grace exceeds the good of nature, therefore the sins of those who fall from a state of grace, as do the witches by denying the faith which they received in baptism, exceed the sins of the Angels.”

A certain well-born citizen of Spires had a wife who was of such an obstinate disposition that, though he tried to please her in every way, yet she refused in nearly every way to comply with his wishes, and was always plaguing him with abusive taunts. It happened that, on going into his house one day, and his wife railing against him as usual with opprobrious words, he wished to go out of the house to escape from quarrelling. But she quickly ran before him and locked the door by which he wished to go out; and loudly swore that, unless he beat her, there was no honesty or faithfulness in him. At these heavy words he stretched out his hand, not intending to hurt her, and struck her lightly with his open palm on the buttock; whereupon he suddenly fell to the ground and lost all his senses, and lay in bed for many weeks afflicted with a most grievous illness. Now it is obvious that this was not a natural illness, but was caused by some witchcraft of the woman. And very many similar cases have happened, and been made known to many.”

it is to be said that witches are not generally rich for this reason: that the devils like to show their contempt for the Creator by buying witches for the lowest possible price. And also, lest they should be conspicuous by their riches.”

And because we are now dealing with matters relating to morals and behaviour, and there is no need for a variety of arguments and disquisitions, since those matters which now follow under their headings are sufficiently discussed in the foregoing Questions; therefore we pray God that the reader will not look for proofs in every case, since it is enough to adduce examples that have been personally seen or heard, or are accepted at the word of credible witnesses.

There are 3 classes of men blessed by God, whom that detestable race cannot injure with their witchcraft. And the first are those who administer public justice against them, or prosecute them in any public official capacity. The second are those who, according to the traditional and holy rites of the Church, make lawful use of the power and virtue which the Church by her exorcisms furnishes in the aspersion of Holy Water, the taking of consecrated salt, the carrying of blessed candles on the Day of the Purification of Our Lady, of palm leaves upon Palm Sunday, and men who thus fortify themselves are acting so that the powers of devils are diminished; and of these we shall speak later. The third class are those who, in various and infinite ways, are blessed by the Holy Angels.”

FAÇA O SINAL DA CRUZ, OTÁRIO! “When I had invoked the devil that I might commit such a deed with his help, he answered me that he was unable to do any of those things, because the man had good faith and diligently defended himself with the sign of the cross; and that therefore he could not harm him in his body, but the most he could do was to destroy an 11th part of the fruit of his lands.”

Therefore we may similarly say that, even if the administrators of public justice were not protected by Divine power, yet the devils often of their own accord withdraw their support and guardianship from witches, either because they fear their conversion, or because they desire and hasten their damnation.”

But since self-praise is sordid and mean, it is better to pass them over in silence than to incur the stigma of boastfulness and conceit. But we must except those which have become so well-known that they cannot be concealed.”

Not even the forbidden books of Necromancy contain such knowledge; for witchcraft is not taught in books, nor is it practised by the learned, but by the altogether uneducated; having only one foundation, without the acknowledgement or practice of which it is impossible for anyone to work witchcraft as a witch.”

But these are only the children who have not been re-born by baptism at the font, for they cannot devour those who have been baptized, nor any without God’s permission.”

The first method is when witches meet together in the conclave on a set day, and the devil appears to them in the assumed body of a man, and urges them to keep faith with him, promising them worldly prosperity and length of life; and they recommend a novice to his acceptance. And the devil asks whether she will abjure the Faith, and forsake the holy Christian religion and the worship of the Anomalous Woman (for so they call the Most Blessed Virgin MARY), and never venerate the Sacraments; and if he finds the novice or disciple willing, then the devil stretches out his hand, and so does the novice, and she swears with upraised hand to keep that covenant. And when this is done, the devil at once adds that this is not enough; and when the disciple asks what more must be done, the devil demands the following oath of homage to himself: that she give herself to him, body and soul, for ever, and do her utmost to bring others of both sexes into his power. He adds, finally, that she is to make certain unguents from the bones and limbs of children, especially those who have been baptized; by all which means she will be able to fulfil all her wishes with his help.”

Another, named Walpurgis, was notorious for her power of preserving silence, and used to teach other women how to achieve a like quality of silence by cooking their 1st-born sons in an oven.”

O SUPER-HOMEM ESTUDA DEMONOLOGIA: “For just as a physician sees signs in a sick man which a layman would not notice, so the devil sees what no man can naturally see.”

As bruxas evitavam fazer bruxarias aos sábados, o dia da Santa Virgem. Hohoho, quão poderosas!

And though we are 2 who write this book, one of us has very often seen and known such men. For there is a man who was once a scholar, and is now believed to be a priest in the diocese of Freising, who used to say that at one time he had been bodily carried through the air by a devil, and taken to the most remote parts.”

This is clear in the case of certain men who walk in their sleep on the roofs of houses and over the highest buildings, and no one can oppose their progress either on high or below. And if they are called by their own names by the other by-standers, they immediately fall crashing to the ground.” HAHAHA

For it is manifest that some of them, which the common people call Fauns, and we call Trolls, which abound in Norway, are such buffoons and jokers that they haunt certain places and roads and, without being able to do any hurt to those who pass by, are content with mocking and deluding them, and try to weary them rather than hurt them. And some of them only visit men with harmless nightmares.”

Did not the devil take up Our Saviour, and carry Him up to a high place, as the Gospel testifies?”

Indeed the natural power or virtue which is in Lucifer is so great that there is none greater among the good Angels in Heaven. For just as he excelled all the Angels in his nature, and not his nature, but only his grace, was diminished by his Fall, so that nature still remains in him, although it is darkened and bound.”

Two objections which someone may bring forward are not valid. First, that man’s soul could resist him, and that the text seems to speak of one devil in particular, since it speaks in the singular, namely Lucifer. And because it was he who tempted Christ in the wilderness, and seduced the first man, he is now bound in chains. And the other Angels are not so powerful, since he excels them all. Therefore the other spirits cannot transport wicked men through the air from place to place.

These arguments have no force. For, to consider the Angels first, even the least Angel is incomparably superior to all human power, as can be proved in many ways. First, a spiritual is stronger than a corporeal power, and so is the power of an Angel, or even of the soul, greater than that of the body. Secondly, as to the soul; every bodily shape owes its individuality to matter, and, in the case of human beings, to the fact that a soul informs it”

(GOLDEN) WITCHING (S)HOU(E)R: “Here is an instance of a visible transportation in the day-time. In the town of Waldshut on the Rhine, in the diocese of Constance, there was a certain witch who was so detested by the townsfolk that she was not invited to the celebration of a wedding which, however, nearly all the other townsfolk were present. Being indignant because of this, and wishing to be revenged, she summoned a devil and, telling him the cause of her vexation, asked him to raise a hailstorm and drive all the wedding guests from their dancing; and the devil agreed, and raising her up, carried her through the air to a hill near the town, in the sight of some shepherds. And since, as she afterwards confessed, she had no water to pour into the trench, she made a small trench and filled it with her urine instead of water, and stirred it with her finger, after their custom, with the devil standing by.”

Know, moreover, that the air is in every way a most changeable and fluid matter: and a sign of this is the fact that when any have tried to cut or pierce with a sword the body assumed by a devil, they have not been able to; for the divided parts of the air at once join together again. From this it follows that air is in itself a very competent matter, but because it cannot take shape unless some other terrestrial matter is joined with it, therefore it is necessary that the air which forms the devil’s assumed body should be in some way inspissated [condensado], and approach the property of the earth, while still retaining its true property as air. And devils and disembodied spirits can effect this condensation by means of gross vapours raised from the earth, and by collecting them together into shapes in which they abide, not as defilers of them, but only as their motive power which give to that body the formal appearance of life, in very much the same way as the soul informs the body to which it is joined.”

From this there may arise an incidental question as to what should be thought when a good or bad Angel performs some of the functions of life by means of true natural bodies, and not in aerial bodies; as in the case of Balaam’s ass, through which the Angel spoke, and when the devils take possession of bodies. It is to be said that those bodies are not called assumed, but occupied. See S. Thomas, 2:8, Whether Angels assume bodies.”

To return to the point. Devils have no lungs or tongue, though they can show the latter, as well as teeth and lips, artificially made according to the condition of their body; therefore they cannot truly and properly speak. But since they have understanding, and when they wish to express their meaning, then, by some disturbance of the air included in their assumed body, not of air breathed in and out as in the case of men, they produce, not voices, but sounds which have some likeness to voices, and send them articulately through the outside air to the ears of the hearer. And that the likeness of a voice can be made without respiration of air is clear from the case of other animals which do not breathe, but are said to make a sound, as do also certain other instruments, as Aristotle says in the De Anima. For certain fishes, when they are caught, suddenly utter a cry outside the water, and die.” “If anyone wishes to inquire further into the matter of devils speaking in possessed bodies, he may refer to S. Thomas in the Second Book of Sentences, dist. 8, art. 5. For in that case they use the bodily organs of the possessed body; since they occupy those bodies in respect of the limits of their corporeal quantity, but not in respect of the limits of their essence, either of the body or of the soul.”

HAHAHA: “Therefore it must be said that in no way does an Angel, either good or bad, see with the eyes of its assumed body, nor does it use any bodily property as it does in speaking, when it uses the air and the vibration of the air to produce sound which becomes reproduced in the ears of the hearer. Wherefore their eyes are painted eyes.” “For if the secret wishes of a man are read in his face, and physicians can tell the thoughts of the heart from the heart-beats and the state of the pulse, all the more can such things be known by devils.”

JESUS CRISTO NÃO CAGAVA: “In Christ the process of eating was in all respects complete, since He had the nutritive and metabolistic powers; not, be it said, for the purpose of converting food into His own body, for those powers were, like His body, glorified; so that the food was suddenly dissolved in His body, as when one throws water on to fire.”

in times long past the Incubus devils used to infest women against their wills, as is often shown by Nider in his Formicarius, and by Thomas of Brabant in his books On the Universal Good, or On/About Bees.”

And it is no objection that those of whom the text speaks were not witches but only giants and famous and powerful men; for, as was said before, witchcraft was not perpetuated in the time of the law of Nature, because of the recent memory of the Creation of the world, which left no room for Idolatry. But when the wickedness of man began to increase, the devil found more opportunity to disseminate this kind of perfidy.”

a witch is either old and sterile, or she is not. And if she is, then he naturally associates with the witch without the injection of semen, since it would be of no use, and the devil avoids superfluity in his operations as far as he can. But if she is not sterile, he approaches her in the way of carnal delectation which is procured for the witch. And should be disposed to pregnancy, then if he can conveniently possess the semen extracted from some man, he does not delay to approach her with it for the sake of infecting her progeny.” “But this also cannot altogether be denied, that even in the case of a married witch who has been impregnated by her husband, the devil can, by the commixture of another semen, infect that which has been conceived.”

they have greater opportunity to observe many people, especially young girls, who on Feast Days are more intent on idleness and curiosity, and are therefore more easily seduced by old witches.”

But with regard to any bystanders, the witches themselves have often been seen lying on their backs in the fields or the woods, naked up to the very navel, and it has been apparent from the disposition of those limbs and members which pertain to the venereal act and orgasm, as also from the agitation of their legs and thighs, that, all invisibly to the bystanders, they have been copulating with Incubus devils; yet sometimes, howbeit this is rare, at the end of the act a very black vapour, of about the stature of a man, rises up into the air from the witch. And the reason is that that Schemer knows that he can in this way seduce or pervert the minds of girls or other men who are standing by.”

Husbands have actually seen Incubus devils swiving [fodendo] their wives, although they have thought that they were not devils but men. And when they have taken up a weapon and tried to run them through, the devil has suddenly disappeared, making himself invisible. And then their wives have thrown their arms around them, although they have sometimes been hurt, and railed at their husbands, mocking them, and asking them if they had eyes, or whether they were possessed of devils.”

CARTEIRADA NAS ESTRELAS: “those changes which were miraculously caused in the Old or New Testament were done by God through the good Angels; as, for example, when the sun stood still for Joshua, or when it went backward for Hezekiah, or when it was supernaturally darkened at the Passion of Christ. But in all other matters, with God’s permission, they can work their spells, either the devils themselves, or devils through the agency of witches; and, in fact, it is evident that they do so.”

(*) <Carnival.> These Pagan practices are sternly reprobated in the Liber Poenitentiali of S. Theodore, 7th Archbishop of Canterbury. In Book 37 is written: <If anyone at the Kalends of January goeth about as a stag or a bull-calf, that is, making himself into a wild animal, and dressing in the skins of a herd animal, and putting on the heads of beast; those who in such wise transform themselves into the appearance of a wild animal, let them do penance for 3 years, because this is devilish.> The Council of Auxèrre in 578 (or 585) forbade anyone <to masquerade as a bull-calf or a stag on the 1st of January or to distribute devilish charms.>

In the town of Ratisbon a certain young man who had an intrigue with a girl, wishing to leave her, lost his member; that is to say, some glamour was cast over it so that he could see or touch nothing but his smooth body. In his worry over this he went to a tavern to drink wine; and after he had sat there for a while he got into conversation with another woman who was there, and told her the cause of his sadness, explaining everything, and demonstrating in his body that it was so. The woman was astute, and asked whether he suspected anyone; and when he named such a one, unfolding the whole matter, she said: <If persuasion is not enough, you must use some violence, to induce her to restore to you your health.> So in the evening the young man watched the way by which the witch was in the habit of going, and finding her, prayed her to restore to him the health of his body. And when she maintained that she was innocent and knew nothing about it, he fell upon her, and winding a towel tightly about her neck, choked her, saying: <Unless you give me back my health, you shall die at my hands.> Then she, being unable to cry out, and growing black, said: <Let me go, and I will heal you.> The young man then relaxed the pressure of the towel, and the witch touched him with her hand between the thighs, saying: <Now you have what you desire.> And the young man, as he afterwards said, plainly felt, before he had verified it by looking or touching, that his member had been restored to him by the mere touch of the witch.”

As when a man who is awake sees things otherwise than as they are; such as seeing someone devour a horse with its rider, or thinking he sees a man transformed into a beast, or thinking that he is himself a beast and must associate with beasts. For then the exterior senses are deluded and are employed by the interior senses. For by the power of devils, with God’s permission, mental images long retained in the treasury of such images, which is the memory, are drawn out, not from the intellectual understanding in which such images are stored, but from the memory,¹ which is the repository of mental images, and is situated at the back of the head, and are presented to the imaginative faculty. And so strongly are they impressed on that faculty that a man has an inevitable impulse to imagine a horse or a beast, when the devil draws from the memory an image of a horse or a beast; and so he is compelled to think that he sees with his external eyes such a beast when there is actually no such beast to see; but it seems to be so by reason of the impulsive force of the devil working by means of those images.”

¹ Trecho absolutamente silogístico.

Meu problema é que fui possuído por algo maligno que começa com “D”, Diagnóstico. E essa coisa de que falei me diz que eu estou (com) outra coisa que começa com “B”. Eu (e)s(t)ou (com) uma Besta!

Me disseram que minha visão foi transtornada

Pela rigorosa fé no mais puro nada!

CRIAÇÃO DE MINHOCAS: “And what, then, is to be thought of those witches who in this way sometimes collect male organs in great numbers, as many as 20 or 30 members together, and put them in a bird’s nest, or shut them up in a box, where they move themselves like living members, and eat oats and corn, as has been seen by many and is a matter of common report?”

But in the second sense there is a distinction to be drawn between creatures; for some are perfect creatures, like a man, and an ass, etc. And other are imperfect, such as serpents, frogs, mice, etc., for they can also be generated from putrefaction.”

TRACTATUS DE ÓTICA MEDIEVAL: “For in a glamour there may be an exterior object which is seen, but it seems other than it is. But imaginary vision does not necessarily require an exterior object, but can be caused without that and only by those inner mental images impressed on the imagination.”

It is to be said that the soul is thought to reside in the centre of the heart, in which it communicates with all the members by an out-pouring of life. An example can be taken from a spider, which feels in the middle of its web when any part of the web is touched.”

A CONVENIÊNCIA DO DIABO NÃO PODER FAZER DE MULHERES INOCENTES BRUXAS (POIS QUALQUER PIA E LINDA MOÇA ACUSADA DE BRUXARIA É AUTOMATICAMENTE CULPADA E BOA CARNE DE CHURRASCO): “although the devil can blacken men’s reputations in respect of other vices, yet it does not seem possible for him to do so in respect of this vice [the pact] which cannot be perpetrated without his cooperation.” “it has never yet been known that an innocent person has been punished on suspicion of witchcraft, and there is no doubt that God will never permit such a thing to happen.”

For we have often found that certain people have been visited with epilepsy or the falling sickness by means of eggs which have been buried with dead bodies, especially the dead bodies of witches, together with other ceremonies of which we cannot speak, particularly when these eggs have been given to a person either in food or drink.”

DISFIGURING DIVINE JUSTICE: “And there are witches who can bewitch their judges by a mere look or glance from their eyes, and publicly boast that they cannot be punished; and when malefactors have been imprisoned for their crimes, and exposed to the severest torture to make them tell the truth, these witches can endow them with such an obstinacy of preserving silence that they are unable to lay bare their crimes.”

For the devil knows that, because of the pain of loss, or original sin, such children [mortas antes do batismo] are debarred from entering the Kingdom of Heaven. And by this means the Last Judgement is delayed, when the devils will be condemned to eternal torture; since the number of the elect is more slowly completed, on the fulfilment of which the world will be consumed. And also, as has already been shown, witches are taught by the devil to confect from the limbs of such children an unguent which is very useful for their spells.”

REALMENTE UM ROMANCE DIGNO DE CERVANTES:A certain man relates that he noticed that his wife, when her time came to give birth, against the usual custom of women in childbirth, did not allow any woman to approach the bed except her own daughter, who acted as midwife. Wishing to know the reason for this, he hid himself in the house and saw the whole order of the sacrilege and dedication to the devil, as it has been described. He saw also, as it seemed to him, that without any human support, but by the power of the devil, the child was climbing up the chain by which the cooking-pots were suspended. In great consternation both at the terrible words of the invocation of the devils, and at the other iniquitous ceremonies, he strongly insisted that the child should be baptized immediately. While it was being carried to the next village, where there was a church, and when they had to cross a bridge over a certain river, he drew his sword and ran at his daughter, who was carrying the child, saying in the hearing of 2 others who were with them: <You shall not carry the child over the bridge; for either it must cross the bridge by itself, or you shall be drowned in the river.> The daughter was terrified and, together with the other women in the company, asked him if he were in his right mind (for he had hidden what had happened from all the others except the 2 men who were with him). Then he answered: <You vile drab, by your magic arts you made the child climb the chain in the kitchen; now make it cross the bridge with no one carrying it, or I shall drown you in the river.> And so, being compelled, she put the child down on the bridge, and invoked the devil by her art; and suddenly the child was seen on the other side of the bridge. And when the child had been baptized, and he had returned home, since he now had witnesses to convict his daughter of witchcraft (for he could not prove the former crime of the oblation to the devil, inasmuch as he had been the only witness of the sacrilegious ritual), he accused bot her daughter and wife before the judge after their period of purgation; and they were both burned, and the crime of midwives of making that sacrilegious offering was discovered.”

For the devil hates above all the Blessed Virgin, because she bruised his head.” Quando a Virgem Boxista Maria golpeou o crânio do Belzebu?

The second result to the children of this sacrilege is as follows. When a man offers himself as a sacrifice to God, he recognizes God as his Beginning and his End; and this sacrifice is more worthy than all the external sacrifices which he makes, having its beginning in his creation and its end in his glorification, as it is said: A sacrifice to God is an afflicted spirit, etc. In the same way, when a witch offers a child to the devils, she commends it body and soul to him as its beginning and its end in eternal damnation; wherefore not without some miracle can the child be set free from the payment of so great a debt.” The dead lion which is the daily miracle.

Finally, we know from experience that the daughters of witches are always suspected of similar practises, as imitators of their mothers’ crimes; and that indeed the whole of a witch’s progeny is infected. And the reason for this and for all that has been said before is, that according to their pact with the devil, they always have to leave behind them and carefully instruct a survivor, so that they may fulfill their vow to do all they can to increase the number of witches. For how else could it happen, as it has very often been found, that tender girls of 8 or 10 years have raised up tempests and hailstorms, unless they had been dedicated to the devil under such a pact by their mothers? For the children could not do such things of themselves by abjuring the Faith, which is how all adult witches have to begin, since they have no knowledge of any single article of the Faith.”

I have sometimes seen men coming in and out to my mother; and when I asked her who they were, she told that they were our masters to whom she had given me, and that they were powerful and rich patrons. The father was terrified, and asked her if she could raise a hailstorm then. And the girl said: Yes, if I had a little water. Then he led the girl by the hand to a stream, and said: Do it, but only on our land. Then the girl put her hand in the water and stirred it in the name of her master, as her mother had taught her; and behold! the rain fell only on that land. Seeing this, the father said: Make it hail now, but only on one of our fields. And when the girl had done this, the father was convinced by the evidence, and accused his wife before the judge. And the wife was taken and convicted and burned; but the daughter was reconciled and solemnly dedicated to God, since which hour she could no more work these spells and charms.”

But when this is publicly preached to the people they get no bad information by it; for however much anyone may invoke the devil, and think that by this alone he can do this thing, he deceives himself, because he is without the foundation of that perfidy, not having rendered homage to the devil or abjured the Faith. I have set this down because some have thought that several of the matter of which I have written ought not to be preached to the people, on account of the danger of giving them evil knowledge; whereas it is impossible for anyone to learn from a preacher how to perform any of the things that have been mentioned. But they have been written rather to bring so great a crime into detestation, and should be preached from the pulpit, so that judges may be more eager to punish the horrible crime of the abnegation of the Faith.”

it is very true that many cattle are said to have been bewitched in some districts, especially in the Alps; and it is known that this form of witchcraft is unhappily most widespread.”

For in devils there are 3 things to be considered – their nature, their duty and their sin; and by nature they belong to the empyrean of heaven, through sin to the lower hell, but by reason of the duty assigned to them, as we have said, as ministers of punishment to the wicked and trial to the good, their place is in the clouds of the air. For they do not dwell here with us on the earth lest they should plague us too much; but in the air and around the fiery sphere they can so bring together the active and passive agents that, when God permits, they can bring down fire and lightning from heaven.”

In the same work we hear of a certain leader or heresiarch of witches named Staufer, who lived in Berne and the adjacent country, and used publicly to boast that, whenever he liked, he could change himself into a mouse in the sight of his rivals and slip through the hands of his deadly enemies; and that he had often escaped from the hands of his mortal foes in this manner. But when the Divine justice wished to put an end to his wickedness, some of his enemies lay in wait for him cautiously and saw him sitting in a basket near a window, and suddenly pierced him through with swords and spears, so that he miserably died for his crimes.”

ATÉ UM ESPIRRO DO PROSCRITO PODIA CONDENÁ-LO: “For when they use words of which they do not themselves know the meaning, or characters and signs which are not the sign of the Cross, such practices are altogether to be repudiated, and good men should beware of the cruel arts of these warlocks.”

Also it appears that it is very rarely that men are delivered from a bewitchment by calling on God’s help or the prayers of the Saints. Therefore it follows that they can only be delivered by the help of devils; and it is unlawful to seek such help.”

it is submitted that the exorcisms of the Church are not always effective in the repression of devils in the matter of bodily afflictions, since such are cured only at the discretion of God; but they are effective always against those molestations of devils against which they are chiefly instituted, as, for example, against men who are possessed, or in the matter of exorcising children.”

No Angel is more powerful than our mind, when we hold fast to God. For if power is a virtue in this world, then the mind that keeps close to God is more sublime than the whole world. Therefore such minds can undo the works of the devil.” Augustine, o Sofista

There are 7 metals belonging to the 7 planets; and since Saturn is the Lord of lead, when lead is poured out over anyone who has been bewitched, it is his property to discover the witchcraft by his power.”

In this way we have answered the arguments that no spell of witchcraft must be removed. For the first 2 remedies are altogether unlawful. The 3rd remedy is tolerated by the law, but needs very careful examination on the part of the ecclesiastical judge. And what the civil law tolerates is shown in the chapter on witches, where it is said that those who have skill to prevent men’s labours from being vitiated by tempests and hailstorms are worthy, not of punishment, but of reward. S. Antoninus also, in his Summa, points out this discrepancy between the Canon Law and civil law. Therefore it seems that the civil law concedes the legality of such practices for the preservation of crops and cattle, and that in any event certain men who use such arts are not only to be tolerated but even rewarded.”

With regard to the bewitchment of human beings by means of Incubus and Succubus devils, it is to be noted that this can happen in 3 ways. First, when women voluntarily prostitute themselves to Incubus devils. Secondly, when men have connection with Succubus devils; yet it does not appear that men thus devilishly fornicate with the same full degree of culpability

As for instances where young maidens are molested by Incubus devils in this way, it would take too long to mention even those that have been known to happen in our own time, for there are very many well-attested stories of such bewitchments. But the great difficulty of finding a remedy for such afflictions can be illustrated from a story told by Thomas of Brabant in his Book on Bees.”

William of Paris notes also that Incubus seem chiefly to molest women and girls with beautiful hair; either because they devote themselves too much to the care and adornment of their hair, or because they are boastfully vain about it, or because God in His goodness permits this so that women may be afraid to entice men by the very means by which the devils wish them to entice men.”

At times also women think they have been made pregnant by an Incubus, and their bellies grow to an enormous size; but when the time of parturition comes, their swelling is relieved by no more than the expulsion of a great quantity of wind. For by taking ants’ eggs in drink, or the seeds of spurge or of the black pine, an incredible amount of wind and flatulence is generated in the human stomach. And it is very easy for the devil to cause these and even greater disorders in the stomach. This has been set down in order that too easy credence should not be given to women, but only to those whom experience has shown to be trustworthy, and to those who, by sleeping in their beds or near them, know for a fact that such things as we have spoken of are true.”

the devil can inflame a man towards one woman and render him impotent towards another; and this he can secretly cause by the application of certain herbs or other matters of which he well knows the virtue for this purpose.” “he can prevent the flow of the semen to the members in which is the motive power, by as it were closing the seminal duct so that it does not descend to the genital vessels, or does not ascend again from them, or cannot come forth, or is spent vainly.”

He who loves his wife to excess is an adulterer [!]. And they who love in this way are more liable to be bewitched after the manner we have said.”

it is assumed to be temporary if, within the space of 3 years, by using every possible expedient of the Sacraments of the Church and other remedies, a cure can be caused. But if, after that time, they cannot be cured by any remedy, then it is assumed to be permanent.”

But some may find it difficult to understand how this function can be obstructed in respect of one woman but not of another. S. Bonaventura answers that this may be because some witch has persuaded the devil to effect this only with respect to one woman, or because God will not allow the obstruction to apply save to some particular woman. The judgement of God in this matter is a mystery, as in the case of the wife of Tobias. But how the devil procures this disability is plainly shown by what has already been said. And S. Bonaventura says that he obstructs the procreant function, not intrinsically by harming the organ, but extrinsically by impeding its use; and it is an artificial, not a natural impediment; and so he can cause it to apply to one woman and not to another. Or else he takes away all desire for one or another woman; and this he does by his own power, or else by means of some herb or stone or some occult creature. And in this he is in substantial agreement with Peter of Palude.” Philocaption, or inordinate love of one person for another, can be caused in 3 ways. Sometimes it is due merely to a lack of control over the eyes; sometimes to the temptation of devils; sometimes to the spells of necromancers and witches, with the help of devils.” The second cause arises from the temptation of devils. In this way Amnon loved his beautiful sister Tamar, and was so vexed that he fell sick for love of her (II Samuel 13). For he could not have been so totally corrupt in his mind as to fall into so great a crime of incest unless he had been grievously tempted by the devil.”

when a man often puts away his beautiful wife to cleave to the most hideous of women, and when he cannot rest in the night, but is so demented that he must go by devious ways to his mistress; and when it is found that those of noblest birth, Governors, and other rich men, are the most miserably involved in this sin (for this age is dominated by women, and was foretold by S. Hildegard, as Vincent of Beauvais records in the Mirror of History, although he said it would not endure for as long as it already has); and when the world is now full of adultery, especially among the most highly born; when all this is considered, I say, of what use is it to speak of remedies to those who desire no remedy?” Indeed, sir: why bother?

Avicenna mentions 7 remedies which may be used when a man is made physically ill by this sort of love; but they are hardly relevant to our inquiry except in so far as they may be of service to the sickness of the soul. For he says, in Book III, that the root of the sickness may be discovered by feeling the pulse and uttering the name of the object of the patient’s love; and then, if the law permits, he may be cured by yielding to nature [?]. Or certain medicines may be applied, concerning which he gives instructions. Or the sick man may be turned from his love by lawful remedies which will cause him to direct his love to a more worthy object. Or he may avoid her presence, and so distract his mind from her. Or, if he is open to correction, he may be admonished and expostulated with, to the effect that such love is the greatest misery. Or he may be directed to someone who, as far as he may with God’s truth, will vilify the body and disposition of his love, and so blacken her character that she may appear to him altogether base and deformed. Or, finally, he is to be set to arduous duties which may distract his thoughts.”

(*) “No formal canonization of S. Hildegard has taken place, but many miracles were wrought at her intercession, and her name is in the Roman Martyrology. The feast is celebrated on 17 September in the dioceses of Speyer, Mainz, Trier and Limburg, and by the Solesmes monks on 18 September with a proper Office. The Relics of the Saint are at Eibingen, of which town she is patron. The convent of S. Hildegard there was formally constituted on 17 September, 1904.”

When a sick man wishes to confess, and if on the arrival of the priest he is rendered dumb by his infirmity, or falls into a frenzy, those who have heard him speak must give their testimony. And if he is thought to be at the point of death, let him be reconciled with God by the laying on of hands and the placing of the Sacrament in his mouth. S. Thomas also says that the same procedure may be used with baptized people who are bodily tormented by unclean spirits, and with other mentally distracted persons. And he adds, in Book IV, dist. 9, that the Communion must not be denied to demoniacs unless it is certain that they are being tortured by the devil for some crime. To this Peter of Palude adds: In this case they are to be considered as persons to be excommunicated and delivered up to Satan.”

such was the case of the Corinthian fornicator (I Corinthians 5) who was excommunicated by S. Paul and the Church, and delivered unto Satan for the destruction of the flesh, that his spirit might be saved in the day of our Lord JESUS Christ (…) For so great was the power and the grace of S. Paul, says the gloss, that by the mere words of his mouth he could deliver to Satan those who fell away from the faith.”

For in the primitive Church, when men had to be drawn into the faith by signs, just as the Holy Spirit was made manifest by a visible sign, so also a bodily affliction by the devil was the visible sign of a man who was excommunicated. And it is not unfitting that a man whose case is not quite desperate should be delivered to Satan; for he is not given to the devil as one to be damned, but to be corrected, since it is in the power of the Church, when she pleases, to deliver him again from the hands of the devil. So says S. Thomas.”

This man was casting a devil out of a man possessed in the monastery, and the devil asked him to give him some place to which he could go. This pleased the Brother, and he jokingly said, <Go to my privy [vaso sanitário].> So the devil went out; and when in the night the Brother wished to go and purge his belly, the devil attacked him so savagely in the privy that he with difficulty escaped with his life.” HAHAHA

But a man possessed by a devil can indirectly be relieved by the power of music, as was Saul by David’s harp, or of a herb, or of any other bodily matter in which there lies some natural virtue. Therefore such remedies may be used, as can be argued both from authority and by reason.” although it is good that in the liberation of a bewitched person recourse should be had to an exorcist having authority to exorcise such bewitchments, yet at times other devout persons may, either with or without any exorcism, cast out this sort of diseases.”

ETIMOLOGIA DO TERMO ENERGÚMENO: “But if anyone asks what is the difference between the aspersion of Holy Water and exorcism, since both are ordained against the plagues of the devil, the answer is supplied by S. Thomas, who says: The devil attacks us from without and from within. Therefore Holy Water is ordained against his attacks from without; but exorcism against those from within. For this reason those for whom exorcism is necessary are called Energoumenoi, from En, meaning In, and Ergon, meaning Work, since they labour within themselves. But in exorcising a bewitched person both methods are to be used, because he is tormented both within and without.”

A FÊMEA É DUAS VEZES MAIS DIABÓLICA QUE O DIABO (MORE EVIL THAN THE DEVIL): “the labour required in the case of the bewitched is twofold, whereas it is only single in the case of the possessed.”

The miracle of the removal of a mountain was actually performed by S. Gregory Thaumaturgus, Bishop of Neocaesarea (d. circa 270-275), as the Venerable Bede tells us in his Commentary upon S. Mark XI: <Hoc quoque fieri potuisset, ut mons ablatus de terra mitteretur in mare, si necessitas id fieri poscisset. Quomodo legimus factum precibus beati patris Gregorii Neocaesareae Ponti Antistitis, viri mentis et virtutibus eximii, ut mons in terra tantum loco cederet, quantum incolae civitatis opus habebant. Cum enim volens aedificare ecclesiam in loco apto, vident eum angustiorem esse quam res exigebat, eo quod ex una parte rupe maris, ex alia monte proximo coarctaretur; venit nocte ad locum, et genibus flexis admonuit Dominum promissionis suae, ut montem longius juxta fidem petentis ageret. Et mane facto reversus invenit montem tantum spatii reliquisse structoribus ecclesiae, quantum opus habuerant.>

Also, because when witches wish to deprive a cow of milk they are in the habit of begging a little of the milk or butter which comes from that cow, so that they may afterwards by their art bewitch the cow; therefore women should take care, when they are asked by persons suspected of this crime, not to give away the least thing to them.”

In addition to the setting up of the sign of the Cross which we have mentioned, the following procedure is practised against hailstorms and tempests. Three of the hailstones are thrown into the fire with an invocation of the Most Holy Trinity, and the Lord’s Prayer and the Angelic Salutation are repeated twice or 3 times, together with the Gospel of S. John, In the beginning was the Word. And the sign of the Cross is made in every direction towards each quarter of the world. Finally, The Word was made Flesh is repeated 3 times, and 3 times By the words of this Gospel may this tempest be dispersed. And suddenly, if the tempest is due to witchcraft, it will cease. This is most true and need not be regarded with any suspicion. For if the hailstones were thrown into the fire without the invocation of the Divine Name, then it would be considered superstitious.” And for this reason it is a general practice of the Church to ring bells as a protection against storms, both that the devils may flee from them as being consecrated to God and refrain from their wickedness” And although, according to this rule, the ceremonies and legal procedures of the Old Testament are not now observed, since they are to be understood figuratively, whereas the truth is made known in the New Testament, yet the carrying out of the Sacrament or of Relics to still a storm does not seem to militate against this rule.”

Another terrible thing which God permits to happen to men is when their own children are taken away from women, and strange children are put in their place by devils. And these children, which are commonly called changelings, or in the German tongue Wechselkinder, are of 3 kinds. For some are always ailing and crying, and yet the milk of four women is not enough to satisfy them. Some are generated by the operation of Incubus devils, of whom, however, they are not the sons, but of that man from whom the devil has received the semen as a Succubus, or whose semen he has collected from some nocturnal pollution in sleep. For these children are sometimes, by Divine permission, substituted for the real children. And there is a third kind, when the devils at times appear in the form of young children and attach themselves to the nurses. But all 3 kinds have this in common, that though they are very heavy, they are always ailing and do not grow, and cannot receive enough milk to satisfy them, and are often reported to have vanished away.”

Again in Deuteronomy 22: God says that men shall not put on the garments of women, or conversely; because they did this in honour of the goddess Venus, and others in honour of Mars or Priapus.

(*) “So in Ireland the fairies are called <good people>, and traditionally seem to be of a benevolent and capricious and even mischievous disposition. In some parts of Highland Scotland fairies are called daoine sithe or men of peace, and it is believed that every year the devil carries off a 10th part of them. It will be readily remembered that to the Greeks the Fairies were the gracious goddesses.”

ACENDE A BANANA DE DINAMITE E SAI CORRENDO: “Certainly those whose high privilege it is to judge concerning matters of the faith ought not to be distracted by other business; and Inquisitors deputed by the Apostolic See to inquire into the pest of heresy should manifestly not have to concern themselves with diviners and soothsayers, unless these are also heretics, nor should it be their business to punish such, but they may leave them to be punished by their own judges. Nor does there seem any difficulty in the fact that the heresy of witches is not mentioned in that Canon.”

Again, Solomon showed reverence to the gods of his wives out of complaisance, and was not on that account guilty of apostasy from the Faith; for in his heart he was faithful and kept the true Faith. So also when witches give homage to devils by reason of the pact they have entered into, but keep the Faith in their hearts, they are not on that account to be reckoned as heretics.” But should be burnt!

a heretic is different from an apostate, and it is heretics who are subject to the Court of the Inquisition” “Let the Bishops and their representatives strive by every means to rid their parishes entirely of the pernicious art of soothsaying and magic derived from Zoroaster; and if they find any man or woman addicted to this crime, let him be shamefully cast out of their parishes in disgrace.”

But if, just as these arguments seem to show it to be reasonable in the case of Inquisitors, the Diocesans also wish to be relieved of this responsibility, and to leave the punishment of witches to the secular Courts, such a claim could be made good by the following arguments. For the Canon says, c. ut inquisitionis: We strictly forbid the temporal lords and rulers and their officers in any way to try to judge this crime, since it is purely an ecclesiastical matter: and it speaks of the crime of heresy. It follows therefore that, when the crime is not purely ecclesiastical, as is the case with witches because of the temporal injuries which they commit, it must be punished by the Civil and not by the Ecclesiastical Court. Besides, in the last Canon Law concerning Jews it says: His goods are to be confiscated, and he is to be condemned to death, because with perverse doctrine he opposed the Faith of Christ. But if it is said that this law refers to Jews who have been converted, and have afterwards returned to the worship of the Jews, this is not a valid objection. Rather is the argument strengthened by it; because the civil Judge has to punish such Jews as apostates from the Faith; and therefore witches who abjure the Faith ought to be treated in the same way; for abjuration of the Faith, either wholly or in part, is the essential principle of witches.” A canalhice do clero de que Montesquieu tão bem falou: aplicar o N.T. na esfera civil para se apropriar dos próprios bens e terras judias.

Besides, if the trial and punishment of such witches were not entirely a matter for the civil Judge, what would be the purpose of the laws which provide as follows?” “But in contradiction of all these arguments, the truth of the matter is that such witches may be tried and punished conjointly by the Civil and the Ecclesiastical Courts.” And again, although a secular prince may impose the capital sentence, yet this does not exclude the judgement of the Church, whose part it is to try and judge the case. Indeed this is perfectly clear from the Canon Law in the chapters de summa trin. and fid. cath., and again in the Law concerning heresy, c. ad abolendam and c. urgentis and c. excommunicamus, 1 and 2. For the same penalties are provided by both the Civil and the Canon Laws, as is shown by the Canon Laws concerning the Manichaean and Arian heresies. Therefore the punishment of witches belongs to both Courts together, and not to one separately.”

MAS NÓS, OS OPERADORES DO CADAFALSO, TEMOS NOSSA PRÓPRIA CÔRTE: “If it is an ecclesiastical crime needing ecclesiastical punishment and fine, it shall be tried by a Bishop who stands in favour with God, and not even the most illustrious Judges of the Province shall have a hand in it. And we do not wish the civil Judges to have any knowledge of such proceedings; for such matters must be examined ecclesiastically and the souls of the offenders must be corrected by ecclesiastical penalties, according to the sacred and divine rules which our laws worthily follow.”

Our main object here is to show how, with God’s pleasure, we Inquisitors of Upper Germany may be relieved of the duty of trying witches, and leave them to be punished by their own provincial Judges; and this because of the arduousness of the work: [!!!] provided always that such a course shall in no way endanger the preservation of the faith and the salvation of souls. And therefore we engaged upon this work, that we might leave to the Judges themselves the methods of trying, judging and sentencing in such cases.

Therefore in order to show that the Bishops can in many cases proceed against witches without the Inquisitors; although they cannot so proceed without the temporal and civil Judges in cases involving capital punishment [o melhor dos mundos para o Inquisidor]; it is expedient that we set down the opinions of certain other Inquisitors in parts of Spain, and (saving always the reverence due to them), since we all belong to one and the same Order of Preachers, to refute them, so that each detail may be more clearly understood.” ‘Com todo o respeito, mas discordo de vossas eminências espanholas latinas e frouxas’, parecem dizer os inquisidores saxões a cada linha…

so many more burdens are placed upon us Inquisitors which we cannot safely bear in the sight of the terrible Judge who will demand from us a strict account of the duties imposed upon us.” “the presbyter Udalricus went to a secret place with a certain infamous person, that is, a diviner, says the gloss, not with the intention of invoking the devil, which would have been heresy, but that, by inspecting the astrolabe, he might find out some hidden thing. And this, they say, is pure divination or sortilege.”

(*) “As Clement V died before the collection had been generally published, John XXII promulgated it anew, 25 October, 1317, and sent it to the University of Bologna as the authoritative Corpus of decretals to be used in the courts and schools.”

BEM QUE ALEMÃES SÃO REPUTADOS POR GOSTAR DE ENCHER LINGÜIÇA: “This being the case, it follows that however serious and grave may be the sin which a person commits, if it does not necessarily imply heresy, then he must not be judged as a heretic, although he is to be punished. Consequently an Inquisitor need not interfere in the case of a man who is to be punished as a malefactor, but not as a heretic, but may leave him to be tried by the Judges of his own Province.”

For a person rightly to be adjudged a heretic he must fulfill five conditions. First, there must be an error in his reasoning. Secondly, that error must be in matters concerning the faith, either being contrary to the teaching of the Church as to the true faith, or against sound morality and therefore not leading to the attainment of eternal life [fé da igreja e fé verdadeira explicitamente diferenciadas?]. Thirdly, the error must lie in one who has professed the Catholic faith, for otherwise he would be a Jew or a Pagan, not a heretic. [Benza Pan!] Fourthly, the error must be of such a nature that he who holds it must confess some of the truth of Christ as touching either His Godhead or His Manhood; for if a man wholly denies the faith, he is an apostate. Fifthly, he must pertinaciously and obstinately hold to and follow that error.”

REPENT! “if a man commits fornication or adultery, although he is disobeying the command Thou shalt not commit adultery, yet he is not a heretic unless he holds the opinion that it is lawful to commit adultery.”

EU NÃO SABIA QUE PODIA HAVER DISCUSSÕES MAIS ESTÉREIS DO QUE “FOI PÊNALTI OU NÃO FOI”, MAS EI-LAS: “a simonist is not in the narrow and exact sense of the word a heretic; but broadly speaking and by comparison he is so, according to S. Thomas, when he buys or sells holy things in the belief that the gift of grace can be had for money. But if, as is often the case, he does not act in this belief, he is not a heretic. Yet he truly would be if he did believe that the gift of grace could be had for money.”

For according to Aristotle every wicked man is either ignorant or in error. Therefore, since they who do such things have evil in their wills, they must have an error in their understandings.”

A Theologian will say that it is in the first instance a matter for the Apostolic See to judge whether a heresy actually exists or is only to be presumed in law. And this may be because whenever an effect can proceed from a two-fold cause, no precise judgement can be formed of the actual nature of the cause merely on the basis of the effect. Therefore, since such effects as the worship of the devil or asking his help in the working of witchcraft, by baptizing an image, or offering to him a living child, or killing an infant, and other matters of this sort, can proceed from 2 separate causes, namely, a belief that it is right to worship the devil and sacrifice to him, and that images can receive sacraments; or because a man has formed some pact with the devil, so that he may obtain the more easily from the devil that which he desires in those matters which are not beyond the capacity of the devil; it follows that no one ought hastily to form a definite judgement merely on the basis of the effect as to what is its cause, that is, whether a man does such things out of a wrong opinion concerning the faith. So when there is no doubt about the effect, still it is necessary to inquire farther into the cause; and if it be found that a man has acted out of a perverse and erroneous opinion concerning the faith, then he is to be judged a heretic and will be subject to trial by the Inquisitors together with the Ordinary. But if he has not acted for these reasons, he is to be considered a sorcerer, and a very vile sinner.”

(*) “Extravagantes. This word designates some Papal decretals not contained in certain canonical collections which possess a special authority, that is, they are not found in (but <wander outside>, <extra vagari>) the Decree of Gratian, or the 3 great official collections of the Corpus Iuri (the Decretals of Gregory IX; the 6th Book of the Decretals; and the Clementines). The term is now applied to the collections known as the Extravagantes Joannis XXII and the Extravagantes Communes. When John XXII (1316-34) published the Decretals already known as Clementines, there also existed various pontifical documents, obligatory upon the whole Church indeed, but not included in the Corpus Juris, and these were called Extravagantes. In 1325, Zenselinus de Cassanis added glosses to 20 constitutions of John XXII, and named this collection Viginti Extravagantes papae Joannis XXII. Chappuis also classified these under 14 titles containing all 20 chapters.”

And a Bishop can proceed without an Inquisitor, or an Inquisitor without a Bishop; or, if either of their offices be vacant, their deputies may act independently of each other, provided that it is impossible for them to meet together for joint action within 8 days of the time when the inquiry is due to commence; but if there be no valid reason for their not meeting together, the action shall be null and void in law.”

we treat of 20 methods of delivering sentence, 13 of which are common to all kinds of heresy, and the remainder particular to the heresy of witches.”

The first method is when someone accuses a person before a judge of the crime of heresy, or of protecting heretics, offering to prove it, and to submit himself to the penalty of talion if he fails to prove it. The second method is when someone denounces a person, but does not offer to prove it and is not willing to embroil himself in the matter” “The third method involves an inquisition, that is, when there is no accuser or informer, but a general report that there are witches in some town or place; and then the Judge must proceed, not at the instance of any party, but simply by the virtue of his office. Here it is to be noted that a judge should not readily admit the first method of procedure. For one thing, it is not actuated by motives of faith, nor is it very applicable to the case of witches, since they commit their deeds in secret. Then, again, it is full of danger to the accuser, because of the penalty of talion which he will incur if he fails to prove his case.” “Note also that in the case of the 2nd method the following caution should be observed. For it has been said that the 2nd method of procedure and of instituting a process on behalf of the faith is by means of an information, where the informer does not offer to prove his statement and is not ready to be embroiled in the case, but only speaks because of a sentence of excommunication, or out of zeal for the faith and for the good of the State. Therefore the secular Judge must specify in his general citation or warning aforesaid that none should think that he will become liable to a penalty even if he fails to prove his words; since he comes forward not as an accuser but as an informer.” Invejável engenharia do clima de denuncismo impune – laboratório avant-la-lettre do fascismo!

A figura do “laico-religioso” (com conhecimento de Direito): “if a Notary is not to be procured, then let there be two suitable men in the place of the Notary. For this is dealt with in the c. ut officium, § verum, lib. 6, where it is said: But because it is expedient to proceed with great caution in the trial of a grave crime, that no error may be committed in imposing upon the guilty a deservedly severe punishment; we desire and command that, in the examination of the witnesses necessary in such a charge, you shall have 2 religious and discreet persons, either clerics or laymen.

O PRO-FORMA DA INQUISIÇÃO (Manual de Redação da Caça às Bruxas)

In the Name of the Lord. Amen.

In the year of Our Lord —, on the — day of the — month, in the presence of me the Notary and of the witnesses subscribed, N. of the town of — in the Diocese of —, as above, appeared in the person at — before the honourable Judge, and offered him a schedule to the following effect.”

And if he says that he has seen anything, as, for example, that the accused was present at such a time of tempest, or that he had touched an animal, or had entered a stable, the Judge shall ask when he saw him, and where, and how often, and in what manner, and who were present. If he says that he did not see it, but heard of it, he shall ask him from whom he heard it, where, when, and how often, and in whose presence, making separate articles of each of the several points above mentioned. And the Notary or scribe shall set down a record of them immediately after the aforesaid denunciation”

The third method of beginning a process is the commonest and most usual one, because it is secret, and no accuser or informer has to appear. But when there is a general report of witchcraft in some town or parish, because of this report the Judge may proceed without a general citation or admonition as above, since the noise of that report comes often to his ears; and then again he can begin a process in the presence of the persons, as we have said before.”

Since we have said that in the 2nd method the evidence of the witnesses is to be written down, it is necessary to know how many witnesses there should be, and of what condition. The question is whether a Judge may lawfully convict any person of the heresy of witchcraft on the evidence of 2 legitimate witnesses whose evidence is entirely concordant, or whether more than 2 are necessary. And we say that the evidence of witnesses is not entirely concordant when it is only partially so; that is, when 2 witnesses differ in their accounts, but agree in the substance or effect: as when one says <She bewitched my cow>, and the other says, <She bewitched my child>, but they agree as to the fact of witchcraft.” “although 2 witnesses seem to be enough to satisfy the rigour of law (for the rule is that that which is sworn to by 2 or 3 is taken for the truth); yet in a charge of this kind 2 witnesses do not seem sufficient to ensure an equitable judgement, on account of the heinousness of the crime in question. For the proof of an accusation ought to be clearer than daylight; and especially ought this to be so in the case of the grave charge of heresy.” “the prisoner is not permitted to know who are his accusers. But the Judge himself must by virtue of his office, inquire into any personal enmity felt by the witnesses towards the prisoner; and such witnesses cannot be allowed, as will be shown later. And when the witnesses give confused evidence on account of something lying on their conscience, the Judge is empowered to put them through a 2nd interrogatory.” “if the prisoner is the subject of an evil report, a period should be set for his purgation; and if he is under strong suspicion on account of the evidence of 2 witnesses, the Judge should make him abjure the heresy, or question him, or defer his sentence. For it does not seem just to condemn a man of good name on so great a charge on the evidence of only 2 witnesses, though the case is otherwise with a person of bad reputation. This matter is fully dealt with in the Canon Law of heretics, where it is set down that the Bishop shall cause 3or+ men of good standing to give evidence on oath to speak the truth as to whether they have any knowledge of the existence of heretics in such a parish.” “But when, in spite of certain discrepancies, the witnesses agree in the main facts, then the matter shall rest with the Judge’s discretion

But it may be asked whether the Judge can compel witnesses to sweat an oath to tell the truth in a case concerning the Faith or witches, or if he can examine them many times. We answer that he can do so, especially an ecclesiastical Judge, and that in ecclesiastical cases witnesses can be compelled to speak the truth, and this on oath, since otherwise their evidence would not be valid. For the Canon Law says: The Archbishop or Bishop may make a circuit of the parish in which it is rumoured that there are heretics, and compel 3or+ men of good repute, or even, if it seems good to him, the whole neighbourhood, to give evidence. And if any through damnable obstinacy stubbornly refuse to take the oath, they shall on that account be considered as heretics.”

Note that persons under a sentence of excommunication, associates and accomplices in the crime, notorious evildoers and criminals, or servants giving evidence against their masters, are admitted as witnesses in a case concerning the Faith. And just as a heretic may give evidence against a heretic, so may a witch against a witch; but this only in default of other proofs, and such evidence can only be admitted for the prosecution and not for the defence: this is true also of the evidence of the prisoner’s wife, sons and kindred; for the evidence of such has more weight in proving a charge than in disproving it.” Wit(chn)ess.

The case of evidence given by perjurers, when it is presumed that they are speaking out of zeal for the faith, is dealed with in the Canon c. accusatus, § licet, where it says that the evidence of perjurers, after they have repented, is admissible; and it goes on to say: If it manifestly appears that they do not speak in a spirit of levity, or from motives of enmity, or by reason of a bribe, but purely out of zeal for the orthodox faith, wishing to correct what they have said, or to reveal something about which they had kept silence, in defence of the faith, their testimony shall be as valid as that of anyone else “So great is the plague of heresy that, in an action involving this crime, even servants are admitted as witnesses against their masters, and any criminal evildoer may give evidence against any person soever.” “But if it is asked whether the Judge can admit the mortal enemies of the prisoner to give evidence against him in such a case, we answer that he cannot; for the same chapter of the Canon says: You must not understand that in this kind of charge a mortal personal enemy may be admitted to give evidence.” “And a mortal enmity is constituted by the following circumstances: when there is a death feud or vendetta between the parties, or when there has been an attempted homicide, or some serious wound or injury which manifestly shows that there is mortal hatred on the part of the witness against the prisoner. And in such a case it is presumed that, just as the witness has tried to inflict temporal death on the prisoner by wounding him, so he will also be willing to effect his object by accusing him of heresy; and just as he wished to take away his life, so he would be willing to take away his good name.” “But there are other serious degrees of enmity (for women are easily provoked to hatred), which need not totally disqualify a witness, although they render his evidence very doubtful, so that full credence cannot be placed in his words unless they are substantiated by independent proofs, and other witnesses supply an indubitable proof of them. For the Judge must ask the prisoner whether he thinks that he has any enemy who would dare to accuse him of that crime out of hatred, so that he might compass his death; and if he says that he has, he shall ask who that person is; and then the Judge shall take note whether the person named as being likely to give evidence from motives of malice has actually done so. And if it is found that this is the case, and the Judge has learned from trustworthy men the cause of that enmity, and if the evidence in question is not substantiated by other proofs and the words of other witnesses, then he may safely reject such evidence. But if the prisoner says that he hopes he has no such enemy, but admits that he has had quarrels with women; or if he says that he has an enemy, but names someone who, perhaps, has not given evidence, in that case, even if other witnesses say that such a person has given evidence from motives of enmity, the Judge must not reject his evidence, but admit it together with the other proofs. § There are many who are not sufficiently careful and circumspect, and consider that the depositions of such quarrelsome women should be altogether rejected, saying that no faith can be placed in them, since they are nearly always actuated by motives of hatred. Such men are ignorant of the subtlety and precautions of magistrates, and speak and judge like men who are colour-blind.”

PROCESSO DE CONDENAÇÃO SUMÁRIA: It often happens that we institute a criminal process, and order it to be conducted in a simple straightforward manner without the legal quibbles and contentions which are introduced in other cases. (…) The Judge to whom we commit such a case need not require any writ, or demand that the action should be contested; he may conduct the case on holidays for the sake of the convenience of the public, he should shorten the conduct of the case as much as he can by disallowing all dilatory exceptions, appeals and obstructions, the impertinent contentions of pleaders and advocates, and the quarrels of witnesses, and by restraining the superfluous number of witnesses; but not in such a way as to neglect the necessary proofs” the Judge ought to advise the accuser to set aside his formal accusation and to speak rather as an informer, because of the grave danger that is incurred by an accuser. And so he can proceed in the 2nd manner, which is commonly used, and likewise in the 3rd manner, in which the process is begun not at the instance of any party.”

…Asked further how he could distinguish the accused’s motive, he answered that he knew it because he had spoken with a laugh. § This is a matter which must be inquired into very diligently; for very often people use words quoting someone else, or merely in temper, or as a test of the opinions of other people; although sometimes they are used assertively with definite intention.” “Here it must always be noted that in such an examination at least 5 persons must be present, namely, the presiding Judge, the witness of informer, the respondent or accused, who appears afterwards, and the 3rd is the Notary or scribe: where there is no Notary the scribe shall co-opt another honest man, and these 2, as has been said, shall perform the duties of the Notary; and this is provided for by Apostolic authority” For this is a common custom of witches, to stir up enmity against themselves by some word or action, as, for example, to ask someone to lend them something or else they will damage his garden, or something of that sort, in order to make an occasion for deeds of witchcraft; and they manifest themselves either in word or in action, since they are compelled to do so at the instance of the devils, so that in this way the sins of Judges are aggravated while the witch remains unpunished.”

Asked why she touched a child, and afterwards it fell sick, she answered. Also she was asked what she did in the fields at the time of a tempest, and so with many other matters. Again, why, having 1 or 2 cows, she had more milk than her neighbours who had 4 or 6. Let her be asked why she persists in a state of adultery or concubinage; for although this is beside the point, yet such questions engender more suspicion than would the case with a chaste and honest woman who stood accused.”

It is asked 1st what is to be done when, as often happens, the accused denies everything. We answer that the Judge has 3 points to consider, namely, her bad reputation, the evidence of the fact [nada mais genérico], and the words of the witnesses; and he must see whether all these agree together. And if, as very often is the case, they do not altogether agree together, since witches are variously accused of different deeds committed in some village or town; but the evidences of the fact are visible to the eye, as that a child has been harmed by sorcery, or, more often, a beast has been bewitched or deprived of its milk [o ser humano babaca vê o que quer ver; aliás, o ser humano em geral!]; and if a number of witnesses have come forward whose evidence, even if it show certain discrepancies (as that one should say she had bewitched his child, another his beast, and a 3rd should merely witness to her reputation, and so with the others), but nevertheless agree in the substance of the fact, that is, as to the witchcraft [substância etérea!], and that she is suspected of being a witch; although those witnesses are not enough to warrant a conviction without the fact of the general report, or even with that fact, yet, taken in conjunction with the visible and tangible evidence of the fact, the Judge may decide that the accused is to be reputed, not as strongly or gravely under suspicion, but as manifestly taken in the heresy of witchcraft; provided, that is, that the witnesses are of a suitable condition and have not given evidence out of enmity, and that a sufficient number of them, say 6 or 8 or 10, have agreed together under oath. And then, according to the Canon Law, he must subject her to punishment, whether she has confessed her crime or not.

It is true that S. Bernard speaks of an evident fact, and we here speak of the evidence of the fact; but this is because the devil does not work openly, but secretly.” O diabo é igualzinho deus.

If [s]he confesses and is impenitent, he is to be handed over to the secular courts to suffer the extreme penalty, according to the chapter ad abolendam, or he is to be imprisoned for life, according to the chapter excommunicamus. But if he does not confess, and stoutly maintains his denial, he is to be delivered as an impenitent to the power of the Civil Court to be punished in a fitting manner, as Henry of Segusio shows in his Summa, where he treats of the manner of proceeding against heretics.” “he should consign the accused to prison for a time, or for several years, in case perhaps, being depressed after a year of the squalor of prison, she may confess her crimes.”

This gives rise to the question whether the method employed by some to capture a witch is lawful, namely, that she should be lifted from the ground by the officers, and carried out in a basket or on a plank of wood so that she cannot again touch the ground. This can be answered by the opinion of the Canonists and of certain Theologians, that this is lawful in 3 respects. First, because it is clear from the opinion of such Doctors as Duns Scotus, Henry of Segusio and Godfrey of Fontaines, that it is lawful to oppose vanity with vanity. Also we know from experience and the confessions of witches that when they are taken in this manner they more often lose the power of keeping silence under examination: indeed many who have been about to be burned have asked that they might be allowed at least to touch the ground with one foot; and when it had been asked why they made such a request, they’d answered that if they had touched the ground they would have liberated themselves, striking many other people dead with lightning.”

But if it is only a slight matter of which she is accused, and she is not of bad reputation, and there is no evidence of her work upon children or animals, then she may be sent back to her house. But because she has certainly associated with witches and knows their secrets, she must give sureties; and if she cannot do so, she must be bound by oaths and penalties not to go out of her house unless she is summoned. But her servants and domestics, of whom we spoke above, must be kept in custody, yet not punished.”

(*) House should be searched.” Thus in the famous witch trial of Dame Alive Kyteler and her coven before the Bishop of Ossory in 1324, John le Poer, the husband of Dame Alice, deposed that in her closet were discovered mysterious vials and elixirs, strange necromantic instruments and ghastly relics of mortality which she used in her horrid craft. Holinshed in his Chronicle of Ireland (London, 1587, p. 93), sub anno 1323, has: <In rifling the closet of the ladie, they found a wafer of sacramental bread, having the divels name stamped thereon in steed of JESUS Christ, and a pipe of ointment, wherewith she greased a staffe, upon whish she ambled and gallopped through thicke and thin when and in what manner she wished.>

If the accused says that she is innocent and falsely accused and wishes to see and hear her accusers, it is a sign that she is asking to defend herself. But it is an open question whether the Judge is bound to make the deponents known to her and bring them to confront her face to face. (…) Although different Popes have had different opinions on this matter, none of them has ever said that in such a case the Judge is bound to make known to the accused the names of the informers or accusers. But, finally, Bonifice VIII(*) decreed as follows: If in a case of heresy it appear to the Bishop or Inquisitor that grave danger would be incurred by the witnesses of informers on account of the powers of the persons against whom they lay their depositions, should their names be published, he shall not publish them.” “any such Judge, even if he be secular, has the authority of the Pope, and not only of the Emperor.”

(*) “the collection of Bonifice VIII is known as Liber Sixtus

BELA APLICAÇÃO DE PONTA-CABEÇA DA “BOA-NOVA” E DO PARAÍSO AOS POBRES! “it is more dangerous to make known the names of the witnesses to an accused person who is poor, because such a person has many evil accomplices, such as outlaws and homicides, associated with him, who venture nothing but their own persons, which is not the case with anyone who is nobly born or rich, and abounding in temporal possessions.

let the Judge take notice that he must keep the names of the witnesses secret, under pain of excommunication. It is in the power of the Bishop thus to punish him if he does otherwise. Therefore he should very implicitly [!???] warn the Judge not to reveal the name from the very beginning of the process.”

IF, therefore, the accused asked to be defended, how can this be admitted when the names of the witnesses are kept altogether secret? It is to be said that 3 considerations are to be observed in admitting any defence. First, that an Advocate shall be allotted to the accused. Second, that the names of the witnesses shall not be made known to the Advocate even under an oath of secrecy, but that he shall be informed of everything contained in the depositions. Third, the accused shall as far as possible be given the benefit of every doubt, provided that this involves no scandal to the faith nor is in any way detrimental to justice (…) and the Advocate can act also in the name of procurator.

As to the first of these points: it should be noted that an Advocate is not to be appointed at the desire of the accused, as if he may choose which Advocate he will have; but the Judge must take great care to appoint neither a litigious nor an evil-minded man, nor yet one who is easily bribed (as many are), but rather an honourable man to whom no sort of suspicion attaches.” “Henry of Segusio holds an opposite view concerning the return of the fee in a case in which the Advocate has worked very hard. Consequently if an Advocate has wittingly undertaken to defend a prisoner whom he knows to be guilty, he shall be liable for the costs and expenses”

First, his behaviour must be modest and free from prolixity or pretentious oratory.” Acaba-se de abolir qualquer advogado no mundo de defender uma “bruxa”!

if he unduly defends a person already suspect of heresy, he makes himself as it were a patron of that heresy, and lays himself under not only a light but a strong suspicion”

though these means may savour of cunning and even guile, yet the Judge may employ them for the good of the faith and the State; for even S. Paul says: But being crafty, I caught you by guile. And these means are especially to be employed in the case of a prisoner who has not been publicly defamed, and is not suspected because of the evidence of any fact; and the Judge may also employ them against prisoners who have alleged enmity on the part of the deponents, and wish to know all the names of the witnesses.”

Common justice demands that a witch should not be condemned to death unless she is convicted by her own confession. But here we are considering the case of one who is judged to be taken in manifest heresy for direct or indirect evidence of the fact, or the legitimate production of witnesses; and in this case she is to be exposed to questions and torture to extort a confession of her crimes.

and behold! he was suddenly bewitched so that his mouth was stretched sideways as far as his ears in a horrible deformity, and he could not draw it back, but remained so deformed for a long time.” :O :T

indirect evidence of the fact is different from direct evidence; yet though it is not so conclusive, it is still taken from the words and deeds of witches, and it is judged from witchcraft which is not so immediate in its effect, but follows after some lapse of time from the utterance of the threatening words. May we conclude that this is the case with such witches who have been accused and have not made good their defence (or have failed to defend themselves because this privilege was not granted them; and it was not granted because they did not ask for it). But what we are to consider now is what action the Judge should take, and how he should proceed to question the accused with a view to extorting the truth from her so that sentence of death may finally be passed upon her.” he must not be too quick for this reason: unless God, through a holy Angel, compels the devil to withhold his help from the witch, she will be so insensible to the pains of torture that she will sooner be torn limb from limb than confess any of the truth. But the torture is not to be neglected for this reason, for they are not all equally endowed with this power, and also the devil sometimes of his own will permits them to confess their crimes without being compelled by a holy Angel.” For there are some who obtain from the devil a respite of 6 or 8 or 10 years before they have to offer him their homage, that is, devote themselves to him body and soul; whereas others, when they first profess their abjuration of the faith, at the same time offer their homage. And the reason why the devil allows that stipulated interval of time is that, during that time, he may find out whether the witch has denied the faith with her lips only but not in her heart, and would therefore offer him her homage in the same way.”

we may say that it is as difficult, or more difficult, to compel a witch to tell the truth as it is to exorcise a person possessed of the devil. Therefore the Judge ought not to be too willing or ready to proceed to such examination, unless the death penalty is involved.” very often meditation, and the misery of imprisonment, and the repeated advice of honest men, dispose the accused to discover the truth.” let the accused be stripped; or if she is a woman, let her first be led to the penal cells and there stripped by honest women of good reputation. And the reason for this is that they should search for any instrument of witchcraft sewn into her clothes; for they often make such instruments, at the instruction of devils. And when such instruments have been disposed of, the Judge shall use his own persuasions and those of other honest men zealous for the faith to induce her to confess the truth voluntarily; and if she will not, let him order the officers to bind her with cords, and apply her to some engine of torture; and then let them obey at once but not joyfully, rather appearing to be disturbed by their duty. Then let her be released again at someone’s earnest request, and taken on one side, and let her again be persuaded; and in persuading her, let her be told that she can escape the death penalty.” she may be promised her life on the following conditions: that she be sentenced to imprisonment for life on bread and water, provided that she supply evidence which will lead to the conviction of other witches. And she is not to be told, when she is promised her life, that she is to be imprisoned in this way; but should be led to suppose that some other penance, such as exile, will be imposed on her as punishment. And without doubt notorious witches, especially such as use witches’ medicines and cure the bewitched by superstitious means, should be kept in this way, both that they may help the bewitched, and that they may betray other witches. But such a betrayal by them must not be considered of itself sufficient ground for a conviction, since the devil is a liar, unless it is also substantiated by the evidence of the fact, and by witnesses.

Others think that, after she has been consigned to prison in this way, the promise to spare her life should be kept for a time, but that after a certain period she should be burned.”

But if neither threats nor such promises will induce her to confess the truth, then the officers must proceed with the sentence, and she must be examined, not in any new or exquisite manner, but in the usual way, lightly or heavily according as the nature of her crimes demands. And while she is being questioned about each several point, let her be often and frequently exposed to torture, beginning with the more gentle of them; for the Judge should not be too hasty to proceed to the graver kind. And while this is being done, let the Notary write all down, how she is tortured and what questions are asked and how she answers.

And note that, if she confesses under torture, she should then be taken to another place and questioned anew, so that she does not confess only under the stress of torture.

The next step of the Judge should be that, if after being fittingly tortured she refuses to confess the truth, he should have other engines of torture brought before her, and tell her that she will have to endure these if she does not confess. If then she is not induced by terror to confess, the torture must be continued on the 2nd or 3rd day, but not repeated at that present time unless there should be some fresh indication of its probable success.”

The Judge should also take care that during that interval there should always be guards with her, so that she is never left alone, for fear lest the devil will cause her to kill herself. But the devil himself knows better than anyone whether he will desert her of his own will, or be compelled to do so by God.”

THE Judge should act as follows in the continuation of the torture. First he should bear in mind that, just as the same medicine is not applicable to all the members, but there are various and distinct salves for each several member, so not all heretics or those accused of heresy are to be subjected to the same method of questioning, examination and torture as to the charges laid against them; but various and different means are to be employed according to their various natures and persons. Now a surgeon cuts off rotten limbs; and mangy sheep are isolated from the healthy; but a prudent Judge will not consider it safe to bind himself down to one invariable rule in his method of dealing with a prisoner who is endowed with a witch’s power of taciturnity, and whose silence he is unable to overcome. For if the sons of darkness were to become accustomed to one general rule they would provide means of evading it as a well-known snare set for their destruction.”

For we are taught both by the words of worthy men of old and by our own experience that this is a most certain sign, and it has been found that even if she be urged and exhorted by solemn conjurations to shed tears, if she be a witch she will not be able to weep: although she will assume a tearful aspect and smear her cheeks and eyes with spittle to make it appear that she is weeping; wherefore she must be closely watched by the attendants.” Não que uma sincera torrente de lágrimas garanta algo além de uma vida encarcerada ou a cremação numa fogueira…

I conjure you by the bitter tears shed on the Cross by our Saviour the Lord JESUS Christ for the salvation of the world, and by the burning tears poured in the evening hour over His wounds by the most glorious Virgin MARY, His Mother, and by all the tears which have been shed here in this world by the Saints and Elect of God, from whose eyes He has now wiped away all tears, that if you be innocent you do now shed tears, but if you be guilty that you shall by no means do so. In the name of the Father, and of the Son, and of the Holy Ghost, Amen.”

for S. Bernard tells us that the tears of the humble can penetrate to heaven and conquer the unconquerable. Therefore there can be no doubt that they are displeasing to the devil, and that he uses all his endeavour to restrain them, to prevent a witch from finally attaining to penitence.

But it may be objected that it might suit with the devil’s cunning, with God’s permission, to allow even a witch to weep; since tearful grieving, weaving and deceiving are said to be proper to women. We may answer that in this case, since the judgements of God are a mystery, if there is no other way of convicting the accused, by legitimate witnesses or the evidence of the fact, and if she is not under a strong or grave suspicion, she is to be discharged”

they must not allow themselves to be touched physically by the witch, especially in any contact of their bare arms or hands; but they must always carry about them some salt consecrated on Palm Sunday and some Blessed Herbs.”

And we know from experience that some witches, when detained in prison, have importunately begged their gaolers to grant them this one thing, that they should be allowed to look at the Judge before he looks at them; and by so getting the first sight of the Judge they have been able so to alter the minds of the Judge or his assessors that they have lost all their anger against them and have not presumed to molest them in any way, but have allowed them to go free.”

And no one need think that it is superstitious to lead her in backwards”

RAPE AS TORTURE: “The 3rd precaution to be observed in this 10th action is that the hair should be shaved from every part of her body. The reason for this is the same as that for stripping her of her clothes, which we have already mentioned; for in order to preserve their power of silence they are in the habit of hiding some superstitious object in their clothes or in their hair, or even in the most secret parts of the their bodies which must not be named.

But it may be objected that the devil might, without the use of such charms, so harden the heart of a witch that she is unable to confess her crimes; just as it is often found in the case of other criminals, no matter how great the tortures to which they are exposed, or how much they are convicted by the evidence of the facts and of witnesses. We answer that it is true that the devil can affect such taciturnity without the use of such charms; but he prefers to use them for the perdition of souls and the greater offence to the Divine Majesty of God.

This can be made clear from the example of a certain witch in the town of Hagenau,. She used to obtain this gift of silence in the following manner: she killed a newly-born first-born male child who had not been baptized, and having roasted it in an oven together with other matters which it is not expedient to mention, ground it to powder and ashes; and if any witch or criminal carried about him some of this substance he would in no way be able to confess his crimes.”

MANUAL DO GUERRILHEIRO DAS CRUZADAS: “this power of taciturnity can proceed from 3 causes. First, from a natural hardness of heart; for some are soft-hearted, or even feeble-minded, so that at the slightest torture they admit everything, even some things which are not true; whereas others are so hard that however much they are tortured the truth is not to be had from them; and this is especially the case with those who have been tortured before, even if their arms are suddenly stretched or twisted.”

But what is to be said of a case that happened in the Diocese of Ratisbon? Certain heretics were convicted by their own confession not only as impenitent but as open advocates of that perfidy; and when they were condemned to death it happened that they remained unharmed in the fire. At length their sentence was altered to death by drowning, but this was no more effective. All were astonished, and some even began to say that their heresy must be true; and the Bishop, in great anxiety for his flock, ordered a 3 days fast. When this had been devoutly fulfilled, it came to the knowledge of someone that those heretics had a magic charm sewed between the skin and the flesh under one arm; and when this was found and removed, they were delivered to the flames and immediately burned. Some say that a certain necromancer learned this secret during a consultation with the devil, and betrayed it; but however it became known, it is probably that the devil, who is always scheming for the subversion of faith, was in some way compelled by Divine power to reveal the matter.”

Now in the parts of Germany such shaving, especially of the secret parts, is not generally considered delicate, and therefore we Inquisitors do not use it; but we cause the hair of their head to be cut off, and placing a morsel of Blessed Wax in a cup of Holy Water and invoking the most Holy Trinity, we give it them to drink 3 times on a fasting stomach, and by the grace of God we have by this means caused many to break their silence. But in other countries the Inquisitors order the witch to be shaved all over her body. And the Inquisitor of Como has informed us that last year, that is, in 1485, he ordered 41 witches to be burned, after they had been shaved all over. And this was in the district and county of Burbia, commonly called Wormserbad, in the territory of the Archduke of Austria, towards Milan.”

(*) “Our Lady of Tears, Santa Maria delle Lagrime, is the Patroness of Spoleto. A picture of Our Lady, painted upon the wall of the house belonging to Diotallevio d’Antonio, which stood on the road from Spoleto to Trevi, was seen to shed tears in great abundance. Many graces and favours were obtained before the miraculous picture. A small chapel was erected on the spot in August 1485, and Mass was daily offered therein. On 27 March 1487, the large basilica was begun, which on its completion, 8 March 1489, was entrusted to the Olivetans.”

(*) “Helen Guthrie, in 1661 dug up the body of an unbaptized infant, which was buried in the churchyard near the southeast door of the church and took several pieces thereof, as the feet, hands, part of the head, and a part of the buttocks, and made a pie thereof, that she might eat of it and by this means might never make a confession of witchcraft.” Talento para ser comunista…

Finally, if he sees that she will not admit her crimes, he shall ask her whether, to prove her innocence, she is ready to undergo the ordeal by red-hot iron. And they all desire this, knowing that the devil will prevent them from being hurt; therefore a true witch is exposed in this manner. The Judge shall ask her how she can be so rash as to run so great a risk, and all shall be written down; but it will be shown later that they are never to be allowed to undergo this ordeal by red-hot iron. Medinho?

Let the Judge also note that when witches are questioned on a Friday, while the people are gathered together at Holy Mass to await our Saviour, they very often confess.”

As a 5th precaution, when all the above have failed, let her, if possible, be led to some castle; and after she has been kept there under custody for some days, let the castellan pretend that he is going on a long journey. And then let some of his household, or even some honest women, visit her and promise that they will set her entirely at liberty if she will teach them how to conduct certain practices. And let the Judge take note that by this means they have very often confessed and been convicted.”

For trial by combat is allowable in a criminal case for the protection of life, and in a civil case for the protection of property; then wherefore not the trial by red-hot iron or boiling water? (…) Again, a judge, who is responsible for the safety of the community, may lawfully allow a smaller evil that a greater may be avoided; as he allows the existence of harlots in towns in order to avoid a general confusion of lust. For S. Augustine On Free Will says: Take away the harlots, and you will create a general chaos and confusion of lust. So, when a person has been loaded with insults and injuries by any community, he can clear himself of any criminal or civil charge by means of a trial by ordeal.”

PAVOR DA SANTIFICAÇÃO MILAGROSA E INAUDITA DA BRUXA: “the Canon says in that chapter not that they who use such practices tempt God, but that they appear to tempt Him, so that it may be understood that, even if a man engage in such a trial with none but good intentions, yet since it has the appearance of evil, it is to be avoided.” That which is not sanctioned in the writings of the Sainted Fathers is to be presumed superstitious.” And it is not wonderful witches are able to undergo this trial by ordeal unscathed with the help of devils; for we learn from naturalists that if the hands be anointed with the juice of a certain herb they are protected from burning. Now the devil has an exact knowledge of the virtues of such herbs: although he can cause the hand of the accused to be protected from the red-hot iron by invisibly interposing some other substance, yet he can procure the same effect by the use of natural objects.”

An incident illustrative of our argument occurred hardly 3 years ago in the Diocese of Constance. For in the territory of the Counts of Fuerstenberg and the Black Forest there was a notorious witch who had been the subject of much public complaint. (…) she was released from her chains and lives to the present time, not without grave scandal to the Faith in those parts.

(*) “When scandalous reports were circulated concerning her honour, although her husband could not for a moment suspect her purity, she insisted upon an appeal to the trial by ordeal, and having walked unhurt over the red-hot plough-shares, publicly testified her innocence. The story is immensely popular in German poetry and German art. A print by Hans Burgkmair shows her stepping over the shares, one of which she holds in her hand. Upon her shrine in the Cathedral at Bamburg a bas-relief by Hans Thielmann of Warzburg depicts the same incident. Having already retired to a Benedictine cloister, upon the death of her husband S. Cunegond she took the veil.” Como eu disse, trata-se de um milagre de santa!

S. Augustine says that we must not pronounce sentence against any person unless he has been proved guilty, or has confessed. Now there are 3 kinds of sentence – interlocutory, definitive, and preceptive. These are explained as follows by S. Raymond. An interlocutory sentence is one which is given not on the main issue of the case, but on some other side issues which emerge during the hearing of a case; such as a decision whether or not a witness is to be disallowed, or whether some digression is to be admitted, and such matters as that. Or it may perhaps be called interlocutory because it is delivered simply by word of mouth without the formality of putting it into writing. A definitive sentence is one which pronounces a final decision as to the main issue of the case. A preceptive sentence is one which is pronounced by a lower authority on the instruction of a higher.

Now it is laid down by law that a definitive sentence which has been arrived at without a due observance of the proper legal procedure in trying a case is null and void in law; and the legal conduct of a case consists in 2 things. One concerns the basis of the judgement; for there must be a due provision for the hearing of arguments both for the prosecution and the defence, and a sentence arrived at without such a hearing cannot stand. The other is not concerned with the basis of the judgement, but provides that the sentence must not be conditional; for example, a claim for possession should not be decided conditionally upon some subsequent claim of property; but where there is no question of such an objection the sentence shall stand.”

the Judge need not require a writ, or demand that the case should be contested. But he must allow opportunity for the necessary proofs, and issue his citation, and exact the protestation of the oath concerning calumny, etc. Therefore there has lately been a new law made as to the method of procedure in such cases.”

the sentence should be pronounced by the Judge and no one else, otherwise it is not valid. Also the Judge must be sitting in a public and honourable place; and he must pronounce it in the day-time and not in the darkness; and there are other conditions to be observed; for example, the sentence must not be promulgated upon a Holy Day, nor yet merely delivered in writing.”

Note again that, although in criminal actions the execution of the sentence is not to be delayed, this rule does not hold good in 4 cases, with 2 of which we are here concerned. First, when the prisoner is a pregnant woman; and then the sentence shall be delayed until she has given birth. Secondly, when the prisoner has confessed her crime, but has afterwards denied it again”

And the Canonists note that suspicion is of 3 kinds. The first of which the Canon says, You shall not judge anyone because he is suspect in your own opinion. The second is Probably; and this, but not the first, leads to a purgation. The third is Grave, and leads to a conviction; and S. Jerome understands this kind of suspicion when he says that a wife may be divorced either for fornication or for a reasonably suspected fornication.” “Applying this to our discussion of the heresy of witches and to the modern laws, we say that in law there are 3 degrees of suspicion in the matter of heresy: the first slight, the second great, and the third very great.”

As an example of simple heresy, if people are found to be meeting together secretly for the purpose of worship, or differing in their manner of life and behaviour from the usual habits of the faithful; or if they meet together in sheds and barns, or at the more Holy Seasons in the remoter fields or woods, by day or by night, or are in any way found to separate themselves and not to attend Mass at the usual times or in the usual manner, or form secret friendships with suspected witches: such people incur at least a light suspicion of heresy, because it is proved that heretics often act in this manner. And of this light suspicion the Canon says: They who are by a slight argument discovered to have deviated from the teaching and path of the Catholic religion are not to be classed as heretics, nor is a sentence to be pronounced against them.

And here are especially to be noted those men or women who cherish some inordinate love or excessive hatred, even if they do not use to work any harm against men or animals in other ways. For those who behave in this way in any heresy are strongly to be suspected.”

Those who have been found to rest under a probable suspicion should prove their innocence by a fitting purgation; if not, they are to be stricken with the sword of anathema as a worthy satisfaction in the sight of all men. And if they continue obstinate in their excommunication for the period of a year, they are utterly condemned as heretics.”

ERRAR É HUMANO, PERSISTIR É PECAR! “He who has been involved in one kind or sect of heresy, or has erred in one article of the faith or sacrament of the Church, and has afterwards specifically and generally abjured his heresy: if thereafter he follows another kind or sect of heresy, or errs in another article or sacrament of the Church, it is our will that he be judged a backslider.”

Let care be taken not to put anywhere in the sentence that the accused is innocent or immune, but that it was not legally proved against him; for if after a little time he should again be brought to trial, and it should be legally proved, he can, notwithstanding the previous sentence of absolution, then be condemned.”

that you may be in good odour among the company of the faithful we impose upon you as by law a canonical purgation, assigning to you such a day of such a month at such hour of the day, upon which you shall appear in person before us with so many persons of equal station with you to purge you of your defamation. Which sponsors must be men of the Catholic faith and of good life who have known your habits and manner of living not only recently but in time past. And we signify that, if you should fail in this purgation, we shall hold you convicted, according to the canonical sanctions.”

We N., by the mercy of God Bishop of such a town, or Judge in the territory subject to the rule of such a Prince, having regard to the merits of the process conducted by us against you N., of such a place in such a Diocese, and after careful examination, find that you are not consistent in your answers, and that there are sufficient indications besides that you ought to be exposed to the question and torture. Therefore, that the truth may be known from your own mouth and that from henceforth you may not offend the ears of your Judges with your equivocations, we declare, pronounce, and give sentence that on this present day at such an hour you are to be subjected to an interrogatory under torture. This sentence was given, etc.”

Neither are they to be branded with the sign of the Cross, for such is the sign of a penitent heretic; and they are not convicted heretics, but only suspected, therefore they are not to be marked in this way. But they can be ordered either to stand on certain solemn days within the doors of a church, or near the altar, while Holy Mass is being celebrated, bearing in their hands a lighted candle of a certain weight; or else to go on some pilgrimage, or something of the kind, according to the nature and requirements of the case.”

Therefore inasmuch as you are bound by the chain of excommunication from the Holy Church, and are justly cut off from the number of the Lord’s flock, and are deprived of the benefits of the Church, the Church can do no more for you, having done all that was possible. We, the said Bishop and Judges on behalf of the Faith, sitting in tribunal as Judges judging, and having before us the Holy Gospels that our judgement may proceed as from the countenance of god and our eyes see with equity, and having before our eyes only God and the truth of the Holy Faith and the extirpation of the plague of heresy, on this day and at this hour and place assigned to you for the hearing of your final sentence, we give it as our judgement and sentence that you are indeed an impenitent heretic, and as truly such to be delivered and abandoned to the secular Court: wherefore by this sentence we cast you away as an impenitent heretic from our ecclesiastical Court, and deliver or abandon you to the power of the secular Court: praying the said Court to moderate or temper its sentence of death against you.” Ah, com certeza…

but you have been given up to your sin and led away and seduced by an evil spirit, and have chosen to be tortured with fearful and eternal torment in hell, and that your temporal body should here be consumed in the flames, rather than to give ear to better counsels and renounce your damnable and pestilent errors, and to return to the merciful bosom of our Holy Mother Church.”

6 6 6

BIBLIOGRAFIA DO “OUTRO MUNDO”

Agostinho – De Natura Daemonis, 411 d.C.

Beothius – De Consolatione Philosophiae

Caesarius – Dialogue magnus visionum atque miraculorum, Libri XII.

Collin de Plancy – Dictionnaire Infernal, sixième édition, 1863.

Mirabeau – Erotika Biblion (pseudo-Rome), 1783.

Sinistrari – Demoniality, 1927.

Stefano Infessura – Diarium urbis Rome

POLÍTICA 2.0 (revisitação) – Aristóteles (e cotejo com anotações sucintas de uma primeira leitura, em março de 2011)

Estou cada vez mais convencido de que este livro não passa de um rascunho com anotações desordenadas de um imaturo (ou senil?) Aristóteles, que estava destinado a aprimorar sua obra, mas foi interrompido por um “erro divino” e teve de abandonar seu projeto ou, pois não!, já agonizava na demência e nem que vivesse mais 10 anos poderia dar forma e estilo ao que essencialmente não tem conteúdo nem originalidade algumas (conforme veremos, reiteradamente)…

A natureza, com efeito, não age com parcimônia, como os artesãos de Delfos que forjam suas facas para vários fins; fins; ela destina cada coisa a um uso especial (…) Somente entre os bárbaros a mulher e o escravo estão no mesmo nível. (…) Foi isso que fez com que o poeta acreditasse que os gregos tinham, de direito, poder sobre os bárbaros, como se, na natureza, bárbaros e escravos se confundissem.” “O poeta Hesíodo tinha razão ao dizer que era preciso antes de tudo A casa, e depois a mulher e o boi lavrador, já que o boi desempenha o papel do escravo entre os pobres.”

todos os homens que antigamente viveram e ainda vivem sob reis dizem que os deuses vivem da mesma maneira, atribuindo-lhes o governo das sociedades humanas, já que os imaginam sob a forma do homem.”

Bastar-se a si mesma é uma meta a que tende toda a produção da natureza e é também o mais perfeito estado. É, portanto, evidente que toda cidade está na natureza e que o homem é naturalmente feito para a sociedade política. Aquele que, por sua natureza e não por obra do acaso, existisse sem nenhuma pátria seria um indivíduo detestável, muito acima ou muito abaixo do homem, segundo Homero(*)

Assim, o homem é um animal cívico, mais social do que as abelhas e os outros animais que vivem juntos.”

O Estado, ou sociedade política, é até mesmo o primeiro objeto a que se propôs a natureza. O todo existe necessariamente antes da parte. As sociedades domésticas e os indivíduos não são senão as partes integrantes da cidade, todas subordinadas ao corpo inteiro, todas distintas por seus poderes e suas funções, e todas inúteis quando desarticuladas, semelhantes às mãos e aos pés que, uma vez separados do corpo, só conservam o nome e a aparência, sem a realidade, como uma mão de pedra. O mesmo ocorre com os membros da cidade: nenhum pode bastar-se a si mesmo. (*)Aquele que não precisa dos outros homens, ou não pode resolver-se a ficar com eles, ou é um deus, ou um bruto.

Por si mesmas, as armas e a força são indiferentes ao bem e ao mal: é o princípio motor que qualifica seu uso. Servir-se delas sem nenhum direito e unicamente para saciar suas paixões rapaces ou lúbricas é atrocidade e perfídia. Seu uso só é lícito para a justiça. O discernimento e o respeito ao direito formam a base da vida social e os juízes são seus primeiros órgãos.”

Chamaremos despotismo o poder do senhor sobre o escravo; marital, o do marido sobre a mulher; paternal, o do pai sobre os filhos (dois poderes para os quais o grego não tem substantivos).”

outros consideram que o poder senhorial não tem nenhum fundamento na natureza e pretendem que esta nos criou a todos livres, e a escravidão só foi introduzida pela lei do mais forte e é, por si mesma, injusta como um puro efeito da violência.”

as propriedades são uma reunião de instrumentos e o escravo, uma propriedade instrumental animada, como um agente preposto a todos os outros meios.”

Se cada instrumento pudesse executar por si mesmo a vontade ou a intenção do agente, como faziam, dizem, as marionetes de Dédalo ou os tripés de Vulcano, que vinham por si mesmos, segundo Homero, aos combates dos deuses, se a lançadeira tecesse sozinha a tela, se o arco tirasse sozinho de uma cítara o som desejado, os arquitetos não mais precisariam de operários, nem os mestres de escravos.”

A vida consiste no uso, não na produção.” “O senhor não é senão o proprietário de seu escravo, mas não lhe pertence; o escravo, pelo contrário, não somente é destinado ao uso do senhor, como também dele é parte. Isto basta para dar uma idéia da escravidão e para fazer conhecer esta condição. O homem que, por natureza, não pertence a si mesmo, mas a um outro, é escravo por natureza”

Mas faz a natureza ou não de um homem um escravo? É justa e útil a escravidão ou é contra a natureza? É isto que devemos examinar agora.” “Não é apenas necessário, mas também vantajoso que haja mando por um lado e obediência por outro; e todos os seres, desde o primeiro instante do nascimento, são, por assim dizer, marcados pela natureza, uns para comandar, outros para obedecer.”

A natureza ainda subordinou um dos dois animais ao outro. Em todas as espécies, o macho é evidentemente superior à fêmea: a espécie humana não é exceção.”

o uso dos escravos e dos animais é mais ou menos o mesmo e tiram-se deles os mesmos serviços para as necessidades da vida.” Tal como abanar na rede e ler uma epopéia…

Vemos corpos robustos talhados especialmente para carregar fardos e outros usos igualmente necessários; outros, pelo contrário, mais disciplinados, mas também mais esguios e incapazes de tais trabalhos, são bons apenas para a vida política, isto é, para os exercícios da paz e da guerra. Ocorre muitas vezes, porém, o contrário: brutos têm a forma exterior da liberdade e outros, sem aparentar, só têm a alma de livre.”

A deusa Hera deve ser feia por dentro.

Além da servidão natural, existe aquela que chamamos servidão estabelecida pela lei; esta lei é uma espécie de convenção geral, segundo a qual a presa tomada na guerra pertence ao vencedor.

Será justo? Sobre isso, os jurisconsultos não chegam a um acordo, nem tampouco, aliás, sobre a justiça de muitas outras decisões tomadas nas assembléias populares, contra as quais eles reclamam. Consideram cruel que um homem que sofreu violência se torne escravo do que o violentou e só tem sobre ele a vantagem da força. Este, pelo menos, é um ponto muito controverso para eles e, se têm muitos contraditores, têm também muitos partidários, mesmo entre os filósofos.” “uns não podem separar o direito da benevolência, outros afirmam que é da própria essência do direito que o mais valente comande. (…) A superioridade de coragem não é uma razão para sujeitar os outros.”

Ora, o escravo faz, por assim dizer, parte de seu senhor: embora separado na existência, é como um membro anexado a seu corpo. Ambos têm o mesmo interesse e nada impede que estejam ligados pelo sentimento da amizade, quando foi a conveniência natural que os reuniu.”

O governo doméstico é uma espécie de monarquia: toda casa se governa por uma só pessoa; o governo civil, pelo contrário, pertence a todos os que são livres e iguais.”

em Siracusa, uma espécie de preceptor abriu uma escola de escravidão e exigia dinheiro para preparar as crianças para este estado, com todos os pormenores de suas funções. Pode haver um ensino completo dessa espécie de profissão, assim como existem preceitos para a cozinha e outros gêneros de serviço, ou mais estimados, ou mais necessários, pois também o serviço tem os seus graus.”

Há servos e servos e há senhores e senhores.”

Quanto à ciência do senhor, como não é nem na aquisição, nem na posse, mas no uso de seus escravos que está o seu domínio, ela se reduz a saber fazer uso deles, isto é, a saber ordenar-lhes o que eles devem saber fazer.” APLICAÇÃO DOMÉSTICA RETROATIVA: Meu pai, senhor, não era um bom administrador, por isso perdeu o controle de seus escravos.

(cont.) “Não há aí nenhum trabalho grande ou sublime, e assim os que têm meios de evitar esse estorvo desembaraçam-se dele com algum intendente, quer para se dedicar à política, quer para se dedicar à filosofia.” Para se dedicar ao trabalho (como escravo de outros senhores), o caso do meu progenitor em particular. Com isso, nenhuma vantagem obteve, pois não havia superintendente. Nossos casos são análogos se eu pensar naquilo em que me dedico, tendo escasso tempo para ordenar uma futura humanidade a fazer o que eu quero. Mas como não viverei para fruir de uma eventual decepção, estou em vantagem. Sempre posso acreditar, até a minha morte, que fui um melhor mestre!

O talento para adquirir um bem parece-se mais com a arte militar ou com a caça.” “A arte de adquirir bens será idêntica à ciência do governo doméstico? Faz parte dela ou será apenas um de seus meios?”

É uma primeira questão dizer se a agricultura, que é apenas uma maneira de obter os alimentos necessários à vida, ou alguma outra indústria que também tenha os alimentos como objeto, pertencem à arte de se enriquecer.”

Mas existe também um outro gênero de bens e de meios que comumente chamamos, e com razão, especulativo, e que parece não ter limites.”

Tampouco foi a natureza que produziu o comércio que consiste em comprar para revender mais caro. A troca era um expediente necessário para proporcionar a cada um a satisfação de suas necessidades. Ela não era necessária na sociedade primitiva das famílias, onde tudo era comum.”

Quando uma tribo tem de sobra o que falta a outra, elas permutam o que têm de supérfluo através de trocas recíprocas; vinho por trigo ou outras coisas que lhes podem ser de uso, e nada mais. Trata-se de um gênero de comércio que não está nem fora das intenções da natureza, nem tampouco é uma das maneiras naturais de aumentar seus pertences, mas sim um modo engenhoso de satisfazer as respectivas necessidades.”

Não era cômodo transportar para longe as mercadorias ou outras produções para trazer outras, sem estar certo de encontrar aquilo que se procurava, nem que aquilo que se levava conviria. Podia acontecer que não se precisasse do supérfluo dos outros, ou que não precisassem do vosso. Estabeleceu-se, portanto, dar e receber reciprocamente em troca algo que, além de seu valor intrínseco, apresentasse a comodidade de ser mais manejável e de transporte mais fácil, como o metal, tanto o ferro quanto a prata ou qualquer outro, que primeiramente se determinou pelo volume ou pelo peso e a seguir se marcou com um sinal distintivo de seu valor, a fim de não se precisar medi-lo ou pesá-lo a toda hora.”

Tendo a moeda sido inventada, portanto, para as necessidades de comércio, originou-se dela uma nova maneira de comerciar e adquirir. A princípio, era bastante simples; depois, com o tempo, passou a ser mais refinada, quando se soube de onde e de que maneira se podia tirar dela o maior lucro possível. É este lucro pecuniário que ela postula; ela só se ocupa em procurar de onde vem mais dinheiro: é a mãe das grandes fortunas. De fato, comumente se faz consistir a riqueza na grande quantidade de dinheiro.” “Ora, é absurdo chamar riquezas um metal cuja abundância não impede de se morrer de fome; prova disso é o Midas da fábula, a quem o céu, para puni-lo de sua insaciável avareza, concedera o dom de transformar em ouro tudo o que tocasse.” “As verdadeiras riquezas são as da natureza; apenas elas são objeto da ciência econômica.”

A outra maneira de enriquecer pertence ao comércio, profissão voltada inteiramente para o dinheiro, que sonha com ele, que não tem outro elemento nem outro fim, que não tem limite onde possa deter-se a cupidez.” “O fim a que se propõe o comércio não tem limite determinado. Ele compreende todos os bens que se podem adquirir; mas é menos a sua aquisição do que seu uso o objeto da ciência econômica; esta, portanto, está necessariamente restrita a uma quantidade determinada.”

O dinheiro serve ao comerciante para dois usos análogos e alternativos: um, para comprar as coisas e revendê-las mais caro; outro, para emprestar e retirar, após o prazo estabelecido, seu capital com juros. Estes dois ramos do seu tráfico não diferem, como se vê, senão porque um interpõe as coisas para aumentar o dinheiro, enquanto o outro o faz servir imediatamente ao seu próprio aumento.”

A coragem, por exemplo, não foi dada ao homem pela natureza para acumular bens, mas para proporcionar tranqüilidade. Não é esse tampouco o objeto da profissão militar, nem o da medicina, tendo uma por objeto vencer, e outra curar.” “elas se tornam o único fim da maioria das pessoas que entram nessas carreiras e subordinam tudo à meta que se propuseram.”

para a família gozar de saúde, convém mais o médico do que o chefe de família; assim como para o abastecimento e a abundância, este cuidado pode caber antes aos ministros do Estado.”

O que há de mais odioso, sobretudo, do que o tráfico de dinheiro, que consiste em dar para ter mais e com isso desvia a moeda de sua destinação primitiva?” “em grego demos à moeda o nome de tokos, que significa progenitura, porque as coisas geradas se parecem com as que as geraram.”

Existem escritores que se ocuparam desses diversos assuntos, tais como Carés de Paros, Apolodoro de Lemnos, autores de tratados sobre a cultura dos campos e dos pomares, e outros ainda, sobre outras matérias. Os curiosos devem consultá-los.”

Como censuravam Tales de Mileto pela pobreza e zombavam de sua inútil filosofia, o conhecimento dos astros permitiu-lhe prever que haveria abundância de olivas. Tendo juntado todo o dinheiro que podia, ele alugou, antes do fim do inverno, todas as prensas de óleo de Mileto e de Quios. Conseguiu-as a bom preço, porque ninguém oferecera melhor e ele dera algum adiantamento. Feita a colheita, muitas pessoas apareceram ao mesmo tempo para conseguir as prensas e ele as alugou pelo preço que quis. Tendo ganhado muito dinheiro, mostrou a seus amigos que para os filósofos era muito fácil enriquecer, mas que eles não se importavam com isso. Foi assim que mostrou sua sabedoria. Em geral, o monopólio é um meio rápido de fazer fortuna. Assim, algumas cidades, quando precisam de dinheiro, usam desse recurso. Reservam-se a si mesmas a faculdade de vender certas mercadorias e, por conseguinte, de fixar seus preços como querem.

Na Sicília, um homem que obtivera vários depósitos de dinheiro apoderou-se dos ferros das forjas. Quando os mercadores vieram de todas as partes para obtê-los, só ele pôde vendê-los, contentando-se com o dobro, de maneira que o que lhe custara 50 talentos vendia por 100. Dionísio, o tirano, informado do caso, não confiscou seu lucro, mas ordenou-lhe que saísse de Siracusa por ter imaginado, para enriquecer, um expediente prejudicial aos interesses do chefe de Estado. Aquele homem tivera a mesma idéia que Tales: ambos do monopólio fizeram uma arte.”

É bom que os que governam os Estados conheçam esse recurso, pois é preciso dinheiro para as despesas públicas e para as despesas domésticas, e o Estado está menos do que ninguém em condições de dispensá-lo. Assim, o capítulo das finanças é quase o único a que alguns prestam atenção.”

A autoridade dos pais sobre os filhos é uma espécie de realeza; todos os títulos ali se encontram: o da geração, o da autoridade afetuosa e o da idade. É até mesmo o protótipo da autoridade real; foi o que fez com que Homero dissesse de Zeus:

É o pai imortal dos homens e dos deuses¹

¹ Interessante que é uma paternidade “que não passa”; além do mais, Zeus segue eternamente mais jovem que seus ancestrais. Ele não é o protótipo da realeza, mas do despotismo.

Deve uma mulher ser sábia, corajosa e justa? Deve uma criança ter contenção e sobriedade?”

Se as mesmas qualidades lhes são necessárias, por que então o mando cabe a um e a obediência a outro? A diferença entre os dois não é do mais para o menos, mas sim específica e produz efeitos essencialmente diversos.” Ininteligível.

Todos têm, portanto, virtudes morais, mas a temperança, a força, a justiça não devem ser, como pensava Sócrates, as mesmas num homem e numa mulher. A força de um homem consiste em se impor; a de uma mulher, em vencer a dificuldade de obedecer.”

Mais vale, como Górgias, estabelecer a lista das virtudes do que se deter em semelhantes definições e imitar, no mais, a precisão do poeta que disse que

um modesto silêncio é a honra da mulher,

ao passo que não fica bem no homem.”

um profissional está numa espécie de servidão limitada; mas a natureza que faz os escravos não faz os sapateiros, nem os outros artesãos.”

A educação das mulheres e das crianças deve ser da alçada do Estado, já que importa à felicidade do Estado que as mulheres e as crianças sejam virtuosas.”

O Estado é o sujeito constante da política e do governo; a constituição política não é senão a ordem dos habitantes que o compõem.”

Alguém que é cidadão numa democracia não o é numa oligarquia.” “É cidadão aquele que, no país em que reside, é admitido na jurisdição e na deliberação. É a universalidade deste tipo de gente, com riqueza suficiente para viver de modo independente, que constitui a cidade ou o Estado. O costume é dar o nome de cidadão apenas àquele que nasceu de pais cidadãos. De nada serviria que o pai o fosse, se a mãe não for.”

Operários (artesãos, comerciantes) livres não são cidadãos. As obras da virtude são impraticáveis para quem quer que leve uma vida mecânica e mercenária.” “Em Tebas, o próprio comércio dificulta o acesso à cidadania. Havia uma lei que exigia que se tivesse fechado a loja e deixado de vender há dez anos para ser admitido.”

HOMEM DE BEM X BOM CIDADÃO

  • virtudes absolutas (nobreza)¹ X virtude limitada ou específica (mediania)

  • Todo homem de bem é bom cidadão.

  • Poucos bons cidadãos são também homens de bem.

  • Sempre comanda (porém, via de regra, em Ari., quem sabe comandar também sabe obedecer)¹ X deve sempre saber obedecer e não lhe está vedado saber comandar (ex: o soldado de ontem pode ser o general de amanhã, que é um servo do governo)

¹ Segundo Aristóteles, as mulheres não estão excluídas da classe suprema (homens de bem), mas suas limitações são evidentes (devem mais obedecer que comandar, ser discretas, guardar-se de atos de valentia).

num grupo de dançarinos, é preciso mais talento para o papel de corifeu do que para o de corista. A desigualdade de mérito é, pois, evidente.”

Entre as pessoas que estão em servidão, é preciso contar os trabalhadores manuais que vivem, como indica seu nome, do trabalho de suas mãos e os artesãos que se ocupam dos ofícios sórdidos.” Definição do “idiota político” clássico (ou antigo), que não é nem homem de bem nem cidadão.

Ah, a poluição da palavra!

* * *

Aqueles que se propõem [a] dar aos Estados uma boa constituição prestam atenção principalmente nas virtudes e nos vícios que interessam à sociedade civil, e não há nenhuma dúvida de que a verdadeira cidade (a que não o é somente de nome) deve estimar acima de tudo a virtude.

Sem isso, não será mais do que uma liga ou associação de armas, diferindo das outras ligas apenas pelo lugar, isto é, pela circunstância indiferente da proximidade ou do afastamento respectivo dos membros. Sua lei não é senão uma simples convenção de garantia, capaz, diz o sofista Licofrão, de mantê-los no dever recíproco, mas incapaz de torná-los bons e honestos cidadãos.”

Eles fizeram um pacto de não-agressão no que toca a seus comércios e até prometeram tomar armas para sua mútua defesa, mas não têm outra comunicação a não ser o comércio e seus tratados. Mais uma vez, esta não será uma sociedade civil. Por quê, então?” “A cidade, portanto, NÃO é precisamente uma comunidade de lugar, nem foi instituída simplesmente para se defender contra as injustiças de outrem ou para estabelecer comércio. Tudo isso deve existir antes da formação do Estado, mas não basta para constituí-lo.”

É isto o que chamamos uma vida feliz e honesta. A sociedade civil é, pois, menos uma sociedade de vida comum do que uma sociedade de honra e de virtude.”

PAI & FILHO, CARA & COROA: “Todos vemos que não é pelos bens exteriores que se adquirem e conservam as virtudes, mas sim que é pelos talentos e virtudes que se adquirem e conservam os bens exteriores e que, quer se faça consistir a felicidade no prazer ou na virtude, ou em ambos, os que têm inteligência e costumes excelentes a alcançam mais facilmente com uma fortuna medíocre do que os que têm mais do que o necessário e carecem dos outros bens.” “Os bens da alma não são apenas honestos, mas também úteis, e quanto mais excederem a medida comum, mais terão utilidade.” “A felicidade é muito diferente da boa fortuna. Vêm-nos da fortuna os bens exteriores, mas ninguém é justo ou prudente graças a ela, nem por seu meio.”

Que vida preferir, a que toma parte do governo e dos negócios públicos ou a vida retirada e livre de todos os embaraços do gênero? Não entra no plano da Polítíca determinar o quê pode convir a cada indivíduo, mas sim o que convém à pluralidade. Em nossa Étíca, aliás, tratamos do primeiro ponto.

AS MELHORES CONSTITUIÇÕES APUD GRÉCIA ANTIGA: “Em Esparta e em Creta, a quase totalidade de sua disciplina e de suas numerosas regras é dirigida para a guerra. Em todas as nações que têm o poder de crescer, entre os citas, entre os persas, entre os trácios, entre os celtas, não há nenhuma profissão mais estimada do que a das armas. Em alguns lugares, existem leis para estimular a coragem guerreira. Em Cartago, as pessoas são decoradas com tantos anéis quantas foram as campanhas que fizeram. Na Macedônia, uma lei pretendia que aqueles que não houvessem matado nenhum inimigo tivessem que andar de cabresto. Entre os citas, aquele que estivesse nesse caso sofria a afronta de não beber à roda, na taça das refeições solenes. A Ibéria, nação belicosa, levanta ao redor das tumbas tantos obeliscos quantos inimigos o defunto matou.”

Não é ofício nem do médico nem do piloto persuadir ou fazer violência, um a seus doentes, o outro a seus marinheiros. Mas muitos parecem considerar a dominação como o objeto da política, e aquilo que não cremos nem justo nem útil para nós não temos vergonha de tentar contra os outros.” “Se a natureza estabeleceu esta distinção, pelo menos não se deve tentar dominar a todos, mas apenas aos que só servem para serem submetidos. É assim que não se vai à caça para pegar os homens e comê-los ou matá-los, mas apenas para pegar os animais selvagens que são comestíveis.

não é exato elevar a inação acima da vida ativa, já que a felicidade consiste em ação, e as ações dos homens justos e moderados têm sempre fins honestos.”

Entre semelhantes, a honestidade e a justiça consistem em que cada um tenha a sua vez. Apenas isto conserva a igualdade. A desigualdade entre iguais e as distinções entre semelhantes são contra a natureza e, por conseguinte, contra a honestidade. Se, porém, se encontrasse alguém que ultrapassasse todos os outros em mérito e em poder e tivesse provado seu valor com grandes façanhas, seria belo ceder a ele e justo obedecer-lhe. Mas não basta ter mérito, é preciso ter bastante energia e atividade para estar certo do êxito.”

Como a maioria dos homens tem mania de dominar os outros para obter todas as comodidades, Tíbron e todos os que escreveram sobre o governo de Esparta parecem admirar seu legislador por ter aumentado muito seu império, tendo exercitado a nação nos perigos da guerra. Mas, agora que os espartanos não dominam mais, deixaram de ser felizes, e seu legislador de merecer sua reputação. Não é ridículo que, persistindo sob as leis de Licurgo e não tendo nada que os impedisse de valer-se delas, eles tenham deixado escapar sua felicidade?”

Não é um sinal de sabedoria para o legislador treinar seu povo para vencer seus vizinhos. Disso só podem resultar grandes males, e aquele que for bem-sucedido não vai deixar de investir contra a sua própria pátria e, se puder, de assenhorear-se dela. Essa é a censura que os espartanos fazem ao rei Pausânias, cuja ambição não se contentou com este alto grau de honra.”

Ao fazer a guerra, vários Estados se conservaram, mas, assim que conquistaram a superioridade, entraram em decadência, semelhantes ao ferro que se enferruja pela inação.”

Não há repouso para os escravos, diz o provérbio. Ora, os que não têm coragem para se expor aos perigos tornam-se escravos de seus agressores.”

os que parecem felizes e, semelhantes aos habitantes das Ilhas Afortunadas de que falam os poetas, gozam de tudo o que pode contribuir para a felicidade, precisam mais do que os outros de justiça e de temperança. Quanto mais opulência e lazer tiverem, mais precisarão de filosofia, de moderação e de justiça, e o Estado que quiser ser feliz e florescente deve inculcar-lhes estas virtudes o máximo possível. Se há algo de ignóbil em não saber gozar das riquezas, há bem mais ainda em fazer mau uso delas quando só se tem isso para fazer. É revoltante que homens, aliás, dignos de estima nos trabalhos e nos perigos da guerra se comportem como escravos no descanso e na paz.”

há dois tipos de hábitos, uns apaixonados, ou provindos da sensibilidade, outros intelectuais. E, assim como o corpo é gerado antes da alma, a parte carente de razão o é, igualmente, antes da razoável. Isto se observa pelos rasgos de cólera, pelos desejos e pelas vontades mostradas pelas crianças tão logo nascem.”

deve preocupar-se com a sucessão das crianças; que não haja entre elas e os pais uma distância de idade grande demais, pois neste caso os filhos não podem mostrar seu reconhecimento aos pais na velhice, nem os pais podem ajudar seus filhos tanto quanto preciso.”

O final da procriação ocorre, para os homens, aos 70 anos; para as mulheres, aos 50. Sua união deve começar na mesma proporção. A dos adolescentes não vale nada para a progenitura. Em todas as espécies animais, os frutos prematuros de sujeitos jovens demais, sobretudo se se tratar da fêmea, são imperfeitos, fracos e de pequena estatura. O mesmo ocorre com a espécie humana. Observa-se, com efeito, esta imperfeição em todos os lugares em que as pessoas se casam jovens demais. Só nascem abortos.” Continuando com a proporção 70/50: 20/14, 30/21, 40/28, 50/35…

Aquelas que conhecem cedo demais o uso das familiaridades conjugais são de ordinário mais lascivas. Por outro lado, nada retarda ou detém mais depressa o crescimento dos moços jovens do que se entregar cedo demais ao relacionamento com as mulheres, sem esperar que a natureza tenha neles elaborado completamente o licor prolífico. Há para o crescimento uma época precisa, além da qual não se cresce mais.”

verdadeira idade para casar as moças é aos 18 anos e para os homens aos 37, aproximadamente. Com isso a conjunção dos corpos se fará em pleno vigor, e a geração, depois, terminará num tempo conveniente tanto para um como para outro. Da mesma forma, a sucessão dos filhos a seus pais estará melhor colocada, se nascerem convenientemente no intervalo entre a força da idade e o declínio, que começa por volta dos 70.” [!!!]

Quanto à estação do ano própria à geração, o inverno é a que mais convém, como hoje se observa quase em toda parte.” “os físicos ensinam que ventos são favoráveis ao ato sexual; por exemplo, eles preferem o vento do norte ao do sul.”

Diremos somente que a compleição atlética não é útil nem à saúde, nem à geração, nem aos empregos civis; o mesmo ocorre com os corpos fracos, acostumados ao regime médico.”

Pedonomia: parte da pedagogia que estipula as regras (formas) da aplicação da pedagogia, i.e., do conteúdo em si da educação.

Se o corpo precisa de movimento, o espírito necessita de repouso e de tranqüilidade. No ventre da mãe os filhos recebem, como os frutos da terra, a impressão do bem e do mal.”

Sobre o destino das crianças recém-nascidas, deve haver uma lei que decida os que serão expostos e os que serão criados. Não seja permitido criar nenhuma que nasça mutilada, isto é, sem algum de seus membros; determine-se, pelo menos, para evitar a sobrecarga do número excessivo, se não for permitido pelas leis do país abandoná-los, até que número de filhos se pode ter e se faça abortarem as mães antes que seu fruto tenha sentimento e vida, pois é nisto que se distingue a supressão perdoável da que é atroz.” Até eugênicos antigos têm escrúpulos morais “anteprotestantes”…

Desde os primeiros momentos do nascimento, é bom acostumar as crianças ao frio; isto faz um bem infinito à saúde e dispõe às funções militares.”

Na idade seguinte, até os cinco anos, não é conveniente dar nada para as crianças aprenderem, nem submetê-las a qualquer trabalho. Isto poderia impedir seu crescimento. Basta mantê-las em movimento para preservar seus corpos da preguiça e do peso. Este movimento deve consistir apenas nas funções da vida e nas brincadeiras, tomando cuidado somente para que elas não sejam nem desonestas nem penosas, nem destituídas demais de ação.”

Em certos lugares, comete-se o erro de proibir à criança o choro e os movimentos expansivos. Todos estes atos servem para seu desenvolvimento e fazem parte, por assim dizer, dos exercícios corporais. O ato de reter a respiração dá força aos que trabalham. Isto também ocorre no próprio esforço das crianças para gritar.”

impedir muita conversa e familiaridade, sobretudo com os escravos.”

SIGA SEU MESTRE: “Se proibimos as conversas indecentes, com mais forte razão proibiremos as pinturas e as exibições do mesmo gênero. Os magistrados, portanto, não admitirão nem estátuas, nem pinturas lúbricas, a não ser as de certas divindades cujo culto a lei reserva aos homens adultos, a quem ela permite sacrifícios, tanto por eles quanto por suas mulheres e crianças.”

Também se deve proibir aos jovens os teatros e sobretudo a comédia, até que tenham atingido a idade de participar das refeições públicas e a boa educação os tenha colocado em condições de experimentar impunemente a bebedeira dos banquetes, sem contrair a embriaguez ou os outros vícios que a acompanham. Passaremos rapidamente por esta matéria, para voltar a ela uma outra vez e discutir se este costume deve ser mantido, e como.

Não há de se aprovar, segundo cremos, a partilha que fazem certas pessoas que dividem toda a vida de 7 em 7 anos. Mais vale seguir o ritmo da natureza. Ela apenas esboçou suas obras. A obra da educação, assim como a de todas as artes, deve unicamente completar o que falta ao ser das obras da natureza.”

Como não há senão um fim comum a todo o Estado, só deve haver uma mesma educação para todos os súditos. Ela deve ser feita não em particular, como hoje, quando cada um cuida de seus filhos, que educa segundo sua fantasia e conforme lhe agrada; ela deve ser feita em público. Tudo o que é comum deve ter exercícios comuns. É preciso, ademais, que todo cidadão se convença de que ninguém é de si mesmo, mas todos pertencem ao Estado, de que cada um é parte e que, portanto, o governo de cada parte deve naturalmente ter como modelo o governo do todo.”

Não se sabe se se deve ensinar às crianças as coisas úteis à vida ou as que conduzem à virtude, ou as altas ciências, que se podem dispensar. Cada uma destas opiniões tem seus partidários. Não há nem mesmo nada de certo a respeito da virtude, não sendo o mesmo gênero de virtude apreciado unanimemente. Também se diverge sobre o gênero de exercícios a praticar.”

Não é fora de propósito conceder algum tempo a certas ciências, mas entregar-se a elas por inteiro e querer ser consumado nelas não deixa de ter seus inconvenientes e pode ser nocivo às graças da imaginação.”

Quanto à música, sua utilidade não é igualmente reconhecida. Muitos hoje a aprendem apenas por prazer. Mas os antigos fizeram dela, desde os primeiros tempos, uma parte da educação, pois a natureza não procura apenas dar exatidão às ações, mas também dignidade ao repouso. A música é o princípio de todos os encantos da vida.”

Se possível, é melhor descartar o jogo entre as ocupações. Quem trabalha precisa de descanso: o jogo não foi imaginado senão para isto. O trabalho é acompanhado de fadiga e de esforços. É preciso entremeá-lo convenientemente de recreações, como um remédio.”

Não que ela seja necessária: ela não o é. Não que ela tenha tanta importância quanto a escrita, que serve para o comércio, para a administração doméstica, para as ciências e para a maioria das funções civis, ou quanto a pintura, que nos permite julgar melhor a obra dos artistas, ou quanto a ginástica, que ajuda a saúde e o desenvolvimento das forças; a música não faz nada disso. Mas ela serve pelo menos para passar agradavelmente o lazer. É por isso que ela foi posta na moda. Ela pareceu a seus inventores a diversão mais conveniente às pessoas livres.

Existem povos que não evitam os massacres e são ávidos de carne humana, mas que, quando atacados, são tudo, menos valentes; por exemplo, os aqueus e os heniocos do Ponto Euxino, e outras nações mais distantes que pertencem às terras da mesma região, sendo que as outras preferem a profissão de ladrões.”

Aqueles que expõem em demasia os jovens aos exercícios do ginásio e os deixam sem instrução sobre as coisas mais necessárias, fazem deles, na verdade, apenas reles guarda-costas, que servem no máximo para uma das funções da vida civil, uma função, porém, que, se consultarmos a razão, é a menor de todas. Não é por suas proezas antigas, mas sim pelas do presente que devem ser julgados.”

até a puberdade só se praticarão exercícios leves, sem sujeitar os corpos aos excessos de alimentação, nem aos trabalhos violentos, por temor de que isso impeça o crescimento. A prova do efeito funesto deste regime forçado é que entre os que venceram nos jogos olímpicos em sua juventude dificilmente se encontrarão dois ou três que também venceram numa idade mais avançada. Por que isto? Porque a violência dos exercícios a que se tinham submetido desde a infância esgotara sua força e seu vigor.”

PRÉ-ROUSSEAU: “Com efeito, não se deve atormentar ao mesmo tempo o espírito e o corpo. Desses exercícios, um impede o outro; o do corpo é nocivo ao espírito, e o do espírito ao corpo.”

Se estiver em nosso poder escolhê-la segundo o desejo, a situação da Cidade deve ser próxima do mar e do campo; assim, a ajuda seria fácil de um lugar para outro e de toda parte, assim como a exportação e a importação das mercadorias. Haveria comodidade para transportar a madeira e todos os outros materiais do país.” “a comodidade do mar faz com que se envie para o exterior ou se receba na cidade uma multidão de mercadores, o que é igualmente pernicioso para o Estado.” “Somente a atração do lucro faz com que estabeleça em seu território mercados abertos a todos. Há aí uma avareza condenável, e não é assim que um Estado ou uma cidade devem praticar o comércio.”

Os soldados da marinha, pelo contrário, são livres e, assim como seus oficiais, provêm da infantaria. São eles que comandam os marinheiros [que, diferente dos soldados da marinha, não são cidadãos]. Quanto à tripulação, é completada com camponeses e lavradores dos arredores. É o que se pratica em certos lugares, por exemplo Heracléia, cujas galeras estão sempre bem-tripuladas, embora a cidade seja muito menor do que várias outras.”

se as águas são raras ou de diversas qualidades, deve-se separar, como se faz nas cidades bem-cuidadas, as que são boas para beber das que podem servir para outros usos.”

no que se refere às casas particulares, elas serão bem mais agradáveis e mais cômodas se seu espaço for bem-distribuído, com uma estrutura à maneira moderna, ao gosto de Hipódamos.¹”

¹ Hipódamos de Mileto foi um polímata do século V a.C., tido como fundador da concepção de Planejamento Urbano, que estendia a preocupação da arquitetura para toda a polis em si. Planejou pela primeira vez a simetria geométrica da disposição das ruas e das casas e, ao mesmo tempo, a existência de um centro despovoado e amplamente aberto, i.e., a Ágora. As casas que ele planejou eram mais espaçosas e tinham dois andares.

Não se alinharão todas as ruas de um extremo ao outro, mas apenas certas partes, tanto quanto o permitir a segurança e o exigir a decoração.”

Embora não seja muito honroso opor muros de defesa a guerreiros da mesma têmpera que não têm uma grande vantagem numérica, é possível que os sitiantes consigam um tal acréscimo de forças que todo valor humano, mas com poucas pessoas, não possa resistir-lhes. Portanto, se não se quer morrer, nem se expor ao ultraje, deve-se considerar como uma das medidas mais autorizadas pelas leis da guerra manter suas muralhas no melhor estado de fortificação, principalmente hoje, quando se imaginaram tantos instrumentos e máquinas engenhosas para atacar fortificações. Não querer cercar as cidades com muros é como abrir o país às incursões dos inimigos e retirar os obstáculos de sua frente, ou como se recusar a fechar com muros as casas particulares, de medo que os que nelas habitam se tornem medrosos.”

é claro que num Estado tão perfeitamente constituído que não admita como cidadãos senão pessoas de bem, não apenas sob certos aspectos, mas integralmente virtuosos, não devemos contar entre eles aqueles que exercem profissões mecânicas ou comerciais, sendo esse gênero de vida ignóbil e contrário à virtude” TERCEIRA REPETIÇÃO!

primeiro, na juventude, o comando da força armada para defender o Estado; depois, quando maduros, a autoridade para governá-lo.”

Convém não ligar ao culto divino senão cidadãos, e não se devem educar para o sacerdócio nem lavradores que puxam arado, nem trabalhadores que saem de sua forja. Tendo a universalidade dos cidadãos sido dividida em duas classes, a dos homens de guerra e a dos homens de lei, é aí que se devem tomar os ministros da religião.”

Esta necessidade de dividir o Estado em classes diversas, segundo a variedade das funções, e de separar os homens de guerra dos lavradores não é uma invenção de hoje, nem um segredo recém-descoberto pelos filósofos que se ocupam de política. Tal distinção foi introduzida no Egito pelas leis de Sesóstris e em Creta pelas de Minos.¹ Elas ainda subsistem atualmente nestes lugares.”

¹ Afinal de contas Minos ter existido como homem de carne e osso é hipótese tão verossímil quanto com Licurgo e Sólon?

Os sábios do país contam que um certo Italus foi rei na Enótria. Os habitantes tomaram seu nome e, em vez de enotrianos, se chamaram italianos. O nome de Itália ficou também para a costa da Europa entre o golfo de Cilética e o golfo Lamético, distantes meia jornada um do outro. Segundo estes historiadores, foi Italus quem, de pastores errantes, tornou os enotrianos lavradores sedentários. Entre outras leis que lhes deu, estabeleceu pela primeira vez que comessem juntos. Este costume ainda hoje se observa entre alguns de seus descendentes, assim como algumas outras de suas leis. Os ópicos, antigamente chamados ou cognominados ausônios, nome que lhes ficou, habitavam a costa do Tirreno; e os caonianos, descendentes dos enotrianos, a praia chamada Sirtes, entre a Lapígia e a Jônia.”

É bem crível que muitas outras coisas foram inventadas várias vezes, talvez ao infinito, na longa seqüência dos séculos. Ao que parece, inicialmente a necessidade inventou as coisas necessárias; em seguida, por adjunção, as que servem para um maior conforto e para ornamento. O mesmo ocorre com a legislação e as constituições civis. Podemos conjeturar como elas são antigas pelo exemplo dos egípcios, que remontam à mais alta antiguidade e desde sempre tiveram leis e uma constituição. Cabe a nós aproveitar suas boas invenções e lhes acrescentar o que lhes falta.”

Todos concordam que as mesas comuns e as refeições públicas convêm às cidades bem-organizadas politicamente. Isto também nos agrada, mas é preciso que nelas todos os cidadãos sejam recebidos gratuitamente; caso contrário, não será fácil para aqueles que só têm o estrito necessário fornecer a sua parte e ainda arcar com o sustento de sua família.”

* * *

DA CÉLEBRE DIVISÃO ENTRE AS FORMAS DE GOVERNO

MODALIDADES IDEAIS: “Chamamos monarquia (1) o Estado em que o governo que visa a este interesse comum pertence a um só; aristocracia (2), aquele em que ele é confiado a mais de um, denominação tomada ou do fato de que as poucas pessoas a que o governo é confiado são escolhidas entre as mais honestas, ou de que elas só têm em vista o maior bem do Estado e de seus membros [aristo+cracia = governo dos melhores]; república (3), aquele em que a multidão governa para a utilidade pública; este nome também é comum a todos os Estados.

MODALIDADES CORROMPIDAS: “A tirania (4) não é, de fato, senão a monarquia voltada para a utilidade do monarca; a oligarquia (5), a aristocracia voltada para a utilidade dos ricos; a democracia (6), a república voltada para a utilidade dos pobres.”

A oligarquia estabeleceu-se desde os tempos mais remotos em todos os lugares que tinham na cavalaria a sua principal força, como os eretrianos, os de Cálcides, os magnésios do Meandro e vários outros povos asiáticos. Montava-se a cavalo para combater os inimigos dos arredores.”

1. MONARQUIA

No Estado de Esparta,¹ p.ex., há uma monarquia das mais legítimas, mas o poder do rei não é absoluto, a não ser quando o monarca estiver fora de seus Estados e em situação de guerra, pois então ele tem a autoridade suprema sobre seu exército. Além disso, ele tem no interior a superintendência do culto e das coisas sagradas. Esta espécie de monarquia não é, pois, senão um generalato perpétuo, com plenos poderes, sem porém ter o direito de vida e de morte, a não ser em certo domínio ou, nas expedições militares, quando se está combatendo, como era costume antigamente. É o que se chama lei do golpe de mão. Homero refere-se a ela. Segundo ele, Agamêmnon, na Assembléia do povo, tolerava as palavras menos respeitosas. Fora dali, de armas na mão, tinha o poder de morte sobre os soldados delinqüentes.”

¹ Platão e Montesquieu, por exemplo, recusam o status de monarquia a Esparta/Lacedemônia.

O comando militar inamovível é, portanto, um primeiro tipo de monarquia, sendo umas hereditárias e outras eletivas.”

DESACERTO NOS CRITÉRIOS: “Tendo os bárbaros naturalmente a alma mais servil do que os gregos e os asiáticos, eles suportam mais do que os europeus, sem murmúrios, que sejam governados pelos senhores. É por isso que essas monarquias, embora despóticas, não deixam de ser estáveis e sólidas, fundadas que são na lei e transmissíveis de pai para filho. Pela mesma razão, sua guarda é real, e não tirânica, pois os reis são protegidos por cidadãos armados, ao passo que os déspotas recorrem a estrangeiros. Aqueles governam de acordo com a lei súditos de boa vontade; estes, pessoas que só obedecem contrafeitas. Aqueles são protegidos pelos cidadãos; estes, contra os cidadãos. São, portanto, dois tipos diferentes de monarquia.”

Antes do aparecimento da figura de um César, A. prefigura a instituição do ditador da República Romana final, no plano teóricoa, como sendo um governo monárquico não-tirânico, posto que legal. É verdade que matiza este raciocínio depois: “Estes principados são, portanto, ao mesmo tempo despóticos pela maneira com que a autoridade é exercida e reais pela eleição e submissão espontânea do povo.” Este último critério transformaria quase todos os governos atuais da Terra em monarquias constitucionais, quando vemos não passar de tiranias, se é para dicotomizar entre as duas! Hitler como um monarca constitucional seria uma piada de humor negro. Mas é ao que a taxonomia aristotélica conduz…

Os reis dos primeiros séculos tinham autoridade sobre todos os negócios de Estado, tanto dentro quanto fora, e para sempre. A partir daí, quer porque abandonaram por si mesmos uma parte da autoridade, quer porque tenham sido despojados dela pelo povo, foram reduzidos em alguns Estados à simples qualidade de soberanos sacrificadores ou pontífices e, nos lugares onde se conservou o nome de rei, à simples faculdade de comandar os exércitos além das fronteiras.”

2. ARISTOCRACIA

O nome de aristocracia convém perfeitamente ao regime que já mencionamos acima, pois não se deve, com efeito, dar este nome senão à magistratura composta de pessoas de bem sem restrição e não a essas boas pessoas em que toda a retidão se limita ao patriotismo.”

Aristóteles perde a mão em suas classificações, sem uma exceção sequer! “Há um ar de aristocracia em toda parte onde se observa a virtude, embora sejam prezadas também a riqueza e a popularidade, como entre os espartanos, que unem a popularidade às considerações devidas à virtude. São estas duas espécies de aristocracia, além da primeira [essas subdivisões não guardam o menor interesse], as únicas a merecerem o nome de excelente e perfeita República [no sentido lato: todos os seis governos!].”

3. “REPÚBLICA” (é o próprio Aristóteles que coloca o título entre aspas!)

Reservamo-la para o final [meio!] não por ser uma depravação da aristocracia, de que acabamos de falar (pois é normal começar, como fizemos, pelas formas puras e depois ir às formas desviadas), mas porque ela reúne o que há de bom em dois regimes degenerados, a oligarquia e a democracia.

Na oligarquia, a lei não concede aos pobres nenhum salário para administrar a justiça e estabelece penas contra os ricos, caso se recusem a fazer parte de uma assembléia; na democracia, a lei dá um salário aos pobres mas não aplica nenhuma pena aos ricos. A mistura conveniente ao Estado, que ocupa o meio entre estes governos e é composta pelos dois, é conceder o salário aos pobres e aplicar a multa aos ricos.” “É democrático, por exemplo, escolher os magistrados por sorteio; oligárquico, elegê-los; democrático, não considerar a renda”

SÓ PIORA: “É o que se observa em Esparta: muitos, com efeito, a colocam na classe das democracias, porque ela tem muitas instituições dessa natureza. [!!!] Na educação das crianças, a comida é a mesma para os filhos dos ricos e para os dos pobres, a mesma instrução, a mesma severidade no trato; na idade seguinte, o mesmo gênero de vida quando se tornam homens.”

Apenas definições negativas e compósitas de “república”, além de ininteligíveis! Desistam de se apoiar nesses conceitos aristotélico, pelo BEM de todos nós!

4. TIRANIA

Quanto mais a monarquia se aproxima idealmente do governo celeste, mais sua alteração é detestável. A monarquia não passa de um vão nome, se não se distingue pela grande excelência de quem reina. O vício mais diametralmente contrário a sua instituição é a tirania. Portanto, é também o pior dos governos.”

5. OLIGARQUIA

Os postos são concedidos aos mais ricos e nomeiam a si próprios em caso de vacância. Se a escolha se fizesse entre todos, seria aristocrática; o que a torna oligárquica é que ela se faz numa classe determinada. Todavia, não sendo poderosos o suficiente para governar sem leis, transformam em leis a preferência que se arrogam.

Se seu número diminuir e sua riqueza tiver novos aumentos, forma-se um segundo grau de oligarquia, no qual, aproveitando a ascendência que adquiriram por seus postos, fazem com que se ordene por uma nova lei que seus filhos serão seus sucessores.”

Tendo aumentado ainda mais sua riqueza e seu crédito, a potência dos oligarcas aproxima-se da monarquia. Este vício é semelhante tanto à tirania que se introduz nas monarquias quanto à última espécie de democracia, de que falaremos. Chama-se dinastia ou, mais exatamente, politirania.”

6. DEMOCRACIA

INDIRETA A PLATÃO? “Não se deve, como costumavam fazer certas pessoas, definir simplesmente a democracia como o governo em que a maioria domina. Nas próprias oligarquias e em qualquer outra parte, é sempre a maioria que se sobressai.”

Se os poderes se distribuíssem de acordo com a estatura [!], como acontece, segundo certos autores, na Etiópia, ou de acordo com a beleza [Ganimedolândia ou quiçá Ilha dos alcibíadas], haveria oligarquia, porque a beleza e a alta estatura não pertencem à maioria.”

Aristóteles se esquece do espírito de um governo e da tendência das sociedades. Procura uma classificação tirando fotos, ou seja, espúria e ingênua.

Uns e outros abundam em alguns lugares, como os pescadores em Tarento e em Bizâncio, os marinheiros em Atenas, os negociantes na ilha de Egina e em Quios, os barqueiros em Tenedos. Devem-se juntar a eles os trabalhadores manuais e todos os que não são abastados o suficiente para ficar sem fazer nada, os que não nasceram de pai e mãe livres e toda espécie de populaça semelhante.”

Como o Estado não pode existir sem magistrados e precisa de homens capazes de realizar suas funções, precisa também de pessoas que executem suas ordens e estejam encarregadas do serviço, quer para sempre, quer alienadamente.”

A CARICATURA ARISTOTÉLICA (JULGA QUE NÃO HÁ DINÂMICA DE CLASSES OU ESTRATOS, E QUE QUEM ASCENDE AO PODER NÃO ENRIQUECE NEM SE DISTINGUE EM POUCO TEMPO): “A quarta é aquela que se introduziu em último lugar nas Cidades que se tornaram maiores e mais opulentas do que eram nos primeiros tempos. Ela exibe a igualdade absoluta, isto é, a lei coloca os pobres no mesmo nível que os ricos e pretende que uns não tenham mais direito ao governo do que os outros, mas que a condição destes e daqueles seja semelhante. Pois se a alma da democracia consiste, como pensam alguns, na liberdade, sendo todos iguais a este respeito, devem ter a mesma parte nos bens civis e principalmente nos grandes cargos; e, como o povo é superior em número e o que agrada à pluralidade é lei, tal Estado deve necessariamente ser popular. Mas, se todos são indistintamente admitidos no governo, é a massa que se sobressai e, sendo os pobres assalariados, podem deixar o trabalho e permanecer ociosos, não os retendo em casa a preocupação com seus próprios negócios. É, pelo contrário, um obstáculo para os ricos que não assistem às Assembléias nem se preocupam com o papel de juiz. Resulta daí que o Estado cai no domínio da multidão indigente e se vê subtraído ao império das leis. Os demagogos calcam-nas com os pés e fazem predominar os decretos. Tal gentalha é desconhecida nas democracias que a lei governa. Os melhores cidadãos têm ali o primeiro lugar. Mas onde as leis não têm força pululam os demagogos. O povo torna-se tirano. Trata-se de um ser composto de várias cabeças; elas dominam não cada uma separadamente, mas todas juntas. Não se sabe se é desta multidão ou do governo alternado e singular de vários de que fala Homero quando diz que <não é bom ter vários senhores>. De qualquer modo, o povo, tendo sacudido o jugo da lei, quer governar só e se torna déspota. Seu governo não difere em nada da tirania. Os bajuladores são honrados, os homens de bem sujeitados. O mesmo arbítrio reina nos decretos do povo e nas ordens dos tiranos. Trata-se dos mesmos costumes. O que fazem os bajuladores de côrte junto a estes, fazem os demagogos junto ao povo. Gozam do mesmo crédito.”

Se pretendermos que a democracia seja uma das formas de governo, então não se deverá nem mesmo dar este nome a esse caos em que tudo é governado pelos decretos do dia, não sendo então nem universal nem perpétua nenhuma medida.”

* * *

Sobre a divisão dos poderes, existente em qualquer forma de governo, em tempos bem anteriores a Montesquieu e às noções modernas…

1. ???

Devo ter ficado burro, porque me tornei incapaz de entender Aristóteles: “No que se chama democracia, principalmente na de hoje, em que o povo é senhor de tudo, até das leis, seria bom, para se conseguirem boas deliberações, que as Assembléias fossem ordenadas e regulamentadas como os tribunais das oligarquias, ou ainda melhor, se possível. Ali são aplicadas penas aos que são nomeados para a judicatura, a fim de obrigá-los a julgar, ao passo que na democracia é proposto um salário aos pobres. Ora, delibera-se melhor quando todos deliberam em comum, o povo com os nobres e os nobres com a multidão.”

o corpo deliberativo, o verdadeiro soberano do Estado.” Quem é o <corpo deliberativo> (que deveria ser o título deste tópico 1)? Por eliminação (categorias a seguir), seria o poder legislativo. Mas pelo que se lê acima esta categoria ou corpo ou poder é uma composição caótica de tudo que entendemos por poder executivo, legislativo e judiciário hoje

2. O PODER EXECUTIVO

Já é difícil determinar quem são os que devem chamar-se magistrados. A sociedade civil precisa de vários servidores. O nome de magistrados não convém a todos os que são nomeados por eleição ou por sorteio. É o caso dos sacerdotes, sendo seu ministério de natureza diferente da dos ofícios políticos, dos diretores de coro, dos arautos, dos embaixadores, embora também eles sejam eletivos.” “É de pouca utilidade o modo como são chamados, já que sua denominação, que é discutível, ainda não ficou bem decidida. Mas não é de pouca importância bem distinguir os seus atributos.”

O primeiro cuidado do governo é fazer com que se encontrem nos mercados os víveres necessários. Para tanto, deve haver um magistrado que cuide de que tudo seja feito de boa fé e que a decência seja observada.” O Brasil de hoje já não atende ao primeiro requisito de Aristóteles…

O oficio que se segue imediatamente é de primeira necessidade, mas também de enorme dificuldade: é o de executor das sentenças de condenação, o de pregoeiro de bens apreendidos e o de guarda das prisões. É difícil prestar-se a estas funções por causa dos ódios a que elas expõem, e não se aceitam semelhantes trabalhos a menos que sejam muito lucrativos [ou que estejamos falando de indivíduos sádicos]. Quando são aceitos, não se ousa seguir o rigor da lei, que é, porém, algo indispensável. De nada serviria sustentar uma causa e obter uma sentença se não houvesse ninguém para fazer com que ela fosse obedecida. Sem a execução, é impossível que a sociedade subsista.”

Se a mesma pessoa condena e faz executar, é alvo de um duplo ódio. Se se depara com o mesmo executor em toda parte, trata-se de um meio de fazer com que ele seja universalmente odiado.

Em vários lugares, a profissão de carcereiro é separada da de executor, como em Atenas, no tribunal dos Onze. Esta separação é uma atenuação não menos necessária do que a precedente. Tais ofícios têm a desvantagem de serem evitados pelas pessoas de bem tanto quanto possível, e não é seguro confiá-los a malandros. Estes precisam muito mais ser eles próprios vigiados do que vigiarem. Portanto, estas funções não devem pertencer a um cargo fixo, nem estar sempre nas mesmas mãos, mas sim ser realizadas ora por um, ora por outro, principalmente nos lugares em que a guarda da cidade é confiada a companhias de jovens.”

POLÍCIA: “Depois destes ofícios de maior urgência, vêm outros não menos necessários, mas de uma ordem mais elevada e de um maior valor representativo, pois exigem mais experiência e necessitam de maior confiança.” “Nos pequenos [lugares], basta para todos um comandante em chefe. Chamam-se estes chefes Estrategos ou Polemicas, a cavalaria, a infantaria ligeira, os arqueiros, a marinha têm cada qual seus oficiais particulares chamados Navarcas (almirantes), Hiparcas (generais de cavalaria), Taxiarcas (coronéis), e seus oficiais subalternos, Trierarcas, Locagos, Filarcas e outros subordinados, todos ocupados única e exclusivamente com os trabalhos de guerra.”

Embora nem todas as funções de que acabamos de falar participem do manejo do dinheiro público, mas como algumas estão amplamente envolvidas nisso, é preciso que haja acima delas um outro magistrado que, sem que ele mesmo administre coisa alguma, faça com que os outros prestem contas de sua administração e a corrijam. Uns o chamam auditor; outros, inspetor de contas; outros, grande procurador.

Além disso, uma magistratura suprema de que dependam todas as outras é, enfim, necessária. Ela tem ao mesmo tempo o direito ordinário de impor os impostos e de inspecionar a sua percepção. Em toda parte onde o povo é senhor, ela preside às Assembléias (pois é preciso que aqueles que as convocam tenham nelas a principal autoridade). Em alguns lugares, ela é chamada a Probulia, ou Consulta, porque prepara as deliberações. Nas democracias, em que a massa decide soberanamente, dão-lhe o nome de senado.” Realmente é curioso: senado executor!

Recapitulando toda esta exposição, constataremos que todos os ofícios ou ministérios necessários têm por objeto quer as honras devidas ao Ser supremo, quer o serviço militar, quer a administração das finanças, vale dizer, a receita ou a despesa das rendas públicas, quer o abastecimento dos mercados ou a polícia das cidades, dos portos e dos campos, além da administração da justiça, o tabelionato dos contratos, a execução das sentenças, a guarda das prisões, a auditoria e o exame das contas, a reforma dos abusos e das prevaricações, enfim, as deliberações sobre os negócios de Estado.

Os povos que gozam de maior lazer e de uma paz profunda, ou que estão em condições de sentir o secreto encanto do bem-estar e de obtê-lo para si mesmos, têm ofícios próprios, como a Nomofilacia ou guarda das leis, a inspeção do comportamento das mulheres, a disciplina das crianças, o reitorado dos ginásios, a intendência dos exercícios ginásticos, das festas de Baco e outros espetáculos do mesmo gênero.

Destes ofícios, alguns – como a disciplina das mulheres e das crianças – não convêm à democracia, cujo povo quase só é composto de pobres que, não tendo condições de se fazer servir por outros, são forçados a empregar suas mulheres e suas crianças como domésticos.”

Nas cidades pequenas, a falta de gente força a que se confiram vários ofícios à mesma pessoa. Não se encontram pessoas nem para todas as funções, nem para a sucessão de cada uma delas. Às vezes, porém, elas precisam das mesmas magistraturas e da mesma constituição que as grandes, com a única diferença de que umas são com freqüência forçadas a voltar sempre às mesmas pessoas, e as outras só são obrigadas a isto após longos intervalos. É assim que se suspendem em um mesmo lustre várias velas.”

É própria da aristocracia a inspeção das mulheres e das crianças. Tal função não é nem democrática, nem oligárquica. Como, com efeito, impedir as mulheres dos pobres de saírem ou censurar as mulheres dos oligarcas, acostumadas a viver no luxo?”

Estas diversidades podem combinar-se duas a duas, de modo que tais magistrados sejam eleitos por tais cidadãos e os outros por todos; uns escolhidos dentre eles, outros tirados de tal classe; uns escolhidos por sorteio, outros por eleição.”

3. O PODER JUDICIÁRIO

Além destes tribunais [sete], existem juízes para os casos mínimos, tais como os de 1 até 5 dracmas, ou pouco mais, pois, se é preciso julgar estas queixas, elas não merecem ser levadas diante dos grandes tribunais.”

Nada de relevo neste tópico. Aliás, a obra como um todo se mostra fraca, indigna do maior discípulo de Platão.

* * *

Os povos que habitam as regiões frias, principalmente da Europa, são pessoas corajosas, mas de pouca inteligência e poucos talentos. Vivem melhor em liberdade, pouco civilizados, de resto, e incapazes de governar seus vizinhos.

Os asiáticos são mais inteligentes e mais próprios para as artes, mas nem um pouco corajosos, e por isso mesmo são sujeitados por quase todos e estão sempre sob o domínio de algum senhor.” Um preconceito eterno?

Situados entre as duas regiões, os gregos também participam de ambas. (…) Poderiam mandar no mundo inteiro se formassem um só povo e tivessem um só governo.”

PSICOLOGIA AGORA? “O coração é, de fato, a faculdade da alma de que procede a benevolência e pela qual nós amamos; quando, porém, ele se crê desprezado, irrita-se mais contra as pessoas que são conhecidas e com as quais convive do que contra os desconhecidos.”

PSEUDO-OVO DE COLOMBO: “Pois não é suficiente conhecer a melhor forma, é preciso ver, em cada caso particular, qual é aquela que é possível estabelecer”

Corrigir a constituição que existe não é menos incômodo do que instituir outras, assim como é tão difícil perder quanto contrair hábitos.”

UM POLEMISTA DE ÉPOCA: “Ora, como pode conseguir isto se ignorar quantas espécies de governo existem? Nossos atuais políticos, por exemplo, só conhecem uma espécie de democracia e de oligarquia; trata-se, como vimos, de um erro, pois existem várias.”

VIM PARA CONFUNDIR, NÃO PARA ESCLARECER: “Dir-se-á, talvez, que cabe à lei dominar e que não se pode agir de pior maneira do que substituindo-a pela vontade de um homem, sujeito como os demais a suas paixões. Mas, se a própria lei for ditada pelo espírito de oligarquia ou de democracia, de que nos servirá para elucidar a questão proposta?”

há uma enorme afinidade entre a monarquia e a aristocracia, elas têm quase a mesma disciplina e os mesmos costumes e seus chefes não precisam de educação diferente da que forma o homem virtuoso.” “A monarquia é, na nossa opinião, um dos melhores regimes.” Vozes da cabeça de Ari.. De todo modo, ser “um dos melhores” quando existem 4 ou 5 tipos de governo não é lá grande coisa, concordam?!

SÓ FIZ MARIAS, DIGO, SOFISMARIAS: “Querer que o espírito comande equivale a querer que o comando pertença a Deus e às leis. Entregá-lo ao homem é associá-lo ao animal irracional. Com efeito, a paixão transforma todos os homens em irracionais. (…) A lei, pelo contrário, é o espírito desembaraçado de qualquer paixão.”

A amizade supõe igualdade e semelhança.” Não leu o Lísis.

Se antigamente se deixaram governar por reis, é, sem dúvida, porque raramente se encontravam ao mesmo tempo várias pessoas eminentes quanto ao mérito, sobretudo nas pequenas cidades, como eram as dos velhos tempos.”

ISSO É UM DADO HISTÓRICO OU UMA ASSUNÇÃO METAFÍSICA? “Mas, quando os homens de mérito começaram a se multiplicar, não se quis mais aquele governo; procurou-se algo mais conveniente ao interesse comum e se formou uma República.”

Se supusermos, porém, que em geral a monarquia convém mais aos grandes Estados, que partido tomar com relação aos filhos dos reis? Deve ser hereditário o cetro? Ficaremos expostos a cair nas mãos de maus sucessores, como aconteceu algumas vezes. Dir-se-á que o pai terá o poder de não lhe passar a coroa. Mas não devemos esperar por isto: esta renúncia está muito acima da virtude que a natureza humana comporta.”

alguém aconselhou aos siracusanos que regulassem da mesma forma a importância da guarda que lhes pedia Dionísio.” Quem você quer nomear quando não nomeia?

Mas já falei bastante da monarquia” Sim, já falaste bastante de muitas coisas e mal cheguei à metade da obra…

DANCE CONFORME A MÚSICA: “como a harmonia é dividida por alguns em dois modos, o dórico e o frígio, aos quais relacionam todos os demais e dão nome a todas as suas composições musicais, de ordinário se formam, a exemplo desses dois modos, todas as Repúblicas. Mas é melhor só admitir como bem-constituídas uma ou no máximo duas espécies. As outras são como que desvios ou da boa harmonia, ou do bom governo”

A igualdade parece ser a base do direito, e o é efetivamente, mas unicamente para os iguais e não para todos. A desigualdade também o é, mas apenas para os desiguais. Ora uns e outros põem de lado esta restrição e se iludem, já que é sobre eles próprios que sentenciam; pois de maneira bastante ordinária os homens são maus juízes a seu próprio respeito. A igualdade da qual resulta a justiça ocorre, como igualmente o demonstra a nossa Ética, nas pessoas e nas coisas. Concorda-se facilmente sobre a igualdade das coisas.”

Os Estados democráticos ostentam acima de tudo a igualdade. Foi este zelo que fez com que imaginassem o ostracismo. Nenhuma ascendência é tolerada, nem por riqueza, nem por credibilidade, nem por poder, e desde que um homem alcance tal preponderância é banido por um tempo determinado pela lei. A mitologia ensina-nos que foi este o motivo pelo qual os argonautas devolveram Hércules à terra e o abandonaram. Não queria remar com os outros no Argos, acreditando-se muito acima dos marinheiros.”

O ostracismo tem por objeto apenas deter e afastar os que se distinguem demais. Os soberanos agem da mesma forma para com Estados ou nações inteiras. Foi assim que agiram os atenienses para com os de Samos, de Quios e de Lesbos. Tão logo puderam, os rebaixaram, contra a fé dos tratados. Da mesma forma, o rei da Pérsia humilhou e saqueou os medos, os babilônios e outros insolentes que não se cuidaram durante a prosperidade.”

NADA MAIS ERRADO: “o público julga melhor do que ninguém sobre música ou poesia. Uns criticam um trecho, os demais um outro, e todos captam o forte e o fraco do conjunto da obra.”

AH, ZEITGEIST! “Entendemos por médico tanto aquele que pratica a medicina como artista [acepção de formado profissionalmente] como aquele que ordena e aquele que adquiriu conhecimentos na arte tais como se encontram em todos os demais [autodidata]. Estes últimos não são menos competentes para julgar do que os doutores.”

* * *

IGUALDADE E IGUALDADE

Ora, um dos apanágios da liberdade é que todos alternadamente mandem e obedeçam. Desta diferença entre perpetuidade e alternância dependem a disciplina e a instituição. Se houvesse uma raça de homens que superasse tanto os outros quanto imaginamos que os deuses e os heróis o fazem; se essa superioridade se manifestasse primeiramente pelo porte e pela boa aparência, depois pelas qualidades da alma, e fosse indubitável para os inferiores, o melhor sem contestação seria que seu governo fosse perpétuo e que as pessoas se submetessem a ele de uma vez por todas. Mas como, com exceção, segundo Scyllax, dos indianos, de ordinário os reis não apresentam superioridade tão acentuada sobre seus súditos, é preciso que todos os cidadãos mandem e obedeçam alternadamente, e isto por várias razões.”

Aos descontentes se soma a gente do campo, sempre ávida de novidades, e qualquer que seja o número dos altos funcionários não pode ser grande o bastante para que eles sejam os mais fortes.”

Ninguém se zanga ou se sente desonrado por ceder aos mais velhos, na esperança de alcançar as mesmas honras quando tiver a idade conveniente. Pode-se, portanto, dizer que os mesmos mandam e obedecem, mas são, porém, diferentes; assim, a disciplina deve ser em parte a mesma e em parte diferente. Pois, de acordo com o provérbio, para bem comandar é preciso ter antes obedecido.

várias funções que à primeira vista pareceriam servis podem ser executadas honestamente por homens livres. A honestidade e a torpeza residem menos na natureza do ato do que no motivo que faz agir.”

um homem não deve se submeter a ninguém, ou que isto só deve acontecer se houver desforra, conseqüência necessária da liberdade distribuída a todos em igual medida.” Memes de internet são desforra?

PRINCÍPIOS DEMOCRÁTICO-ARISTOTÉLICOS:

(*)“os magistrados devem ser sorteados, ou todos sem exceção, ou pelo menos aqueles cujo cargo não requer nem luzes, nem experiência”

(*)“não se deve ter (…) nenhuma consideração para com a fortuna”

(*)“a mesma magistratura não deve ser conferida mais de uma vez à mesma pessoa, ou pelo menos que isto aconteça raramente e para pouquíssimos cargos, a não ser os militares”

(*)“todos os cargos devem ser de curta duração, ou pelo menos aqueles onde esta breve duração for conveniente”

(*)“todos devem passar pela judicatura, de qualquer classe que sejam, e ter poder para julgar sobre todos os casos em qualquer matéria, mesmo as causas da mais alta importância para o Estado, tais como as contas e a censura, a reforma do governo, assim como as convenções particulares”

(*)Judiciário fraco, legislativo e executivo sumamente poderosos (limite da abordagem pré-Montesquieu).

(*)“os membros do senado não devem ser indistintamente assalariados. Os salários arruínam o poder da magistratura; o povo, ávido de salários, atrai tudo para si”

(*)“Não se deve tolerar nenhuma magistratura perpétua. Portanto, se sobrar alguma magistratura do antigo regime, suas atribuições serão reduzidas e, de eletiva, passará a depender de sorteio. Eis o espírito de todas as democracias.

Sem contestação, o melhor povo é o que se ocupa de agricultura. Existe, pois, disposição natural para a democracia em todos os lugares em que o povo tira sua subsistência da agricultura ou da criação de gado.” “Consideram mais agradável trabalhar do que permanecer sentadas, de braços cruzados, a deliberar sobre o governo ou gerir magistraturas, a menos que haja muito que ganhar neste trabalho, pois a maioria prefere o lucro à honra. A prova de sua despreocupação quando não se desperta sua cupidez é que suportaram muito bem seus antigos déspotas e ainda hoje se acostumam com a oligarquia quando os deixam trabalhar e não tiram seus pertences. Então, eles logo alcançam a riqueza, ou pelo menos a abastança. Se tiverem além disso alguma ambição, ela é mais do que satisfeita pelo direito de voto que lhes dão nas eleições e na auditoria das contas. E mesmo que nem todos tivessem direito de assistir a elas, mas apenas o de ser voz deliberativa nas Assembléias primárias. Com efeito, é preciso considerar isto como uma das formas do governo democrático. Era esta que havia em Mantinéia.”

Esta Constituição deixará contentes os homens de bem e os nobres. Por um lado, terão a vantagem de não serem governados por pessoas baixas; por outro lado, quando chegar a sua vez, tomarão mais cuidado para governar eqüitativamente, pois terão contas a prestar e outras pessoas que os julgarão, pois é bom depender de alguém e não ter toda a liberdade para fazer o que se quer. Esta liberdade indefinida é uma má garantia contra o fundo de maldade que todo homem traz consigo ao nascer. Resulta necessariamente desta precaução a maior vantagem para todo Estado, que é ser governado por pessoas de bem que a responsabilidade torna por assim dizer impecáveis, e isto sem ameaçar a superioridade do povo. É evidente que a melhor de todas as democracias é a que é assim constituída. Por quê? Porque nela o povo tem sua importância.”

Dentre as excelentes leis que existiam antigamente entre vários povos, observamos sobretudo as que não permitiam a ninguém possuir terras ou acima de certa quantidade, ou a uma distância grande demais da cidade onde se mora. Em vários Estados era proibido alienar a herança paterna. Uma lei de Oxilus, cujo efeito é aproximadamente o mesmo, proibia que se hipotecasse parte dela aos credores. Podemos retificá-la por um texto dos afitianos que vem bem a propósito. Esse povo, embora numeroso, possuía um território bastante pequeno; todos eram lavradores, mas nos registros do censo não constava a totalidade de suas propriedades. Dividiam-nas em certo número de partes disponíveis, para que os pobres pudessem adquiri-las em quantidade suficiente para ultrapassar até mesmo os ricos.

Depois dos agricultores, o melhor povo é o que leva a vida pastoril e explora o gado. Tem muitas afinidades com o primeiro. Ambos, habituados ao trabalho corporal, são excelentes para as expedições militares e resistem perfeitamente aos incômodos do bivaque [acampamento e vigília militar].

Quase todos os outros povos que compõem o restante das democracias estão muito abaixo destes dois. Nada de mais vil, nem de mais alheio a todo tipo de virtude do que esta multidão de operários, de mercenários e de gente sem profissão. Esta espécie de indivíduos corre sem parar pela cidade e pelas praças públicas e só fica contente nas Assembléias.”

Vemos como deve ser constituída a primeira e a melhor democracia, e também como podem sê-lo as outras. Basta que nos afastemos gradualmente da primeira e adicionemos aos poucos a populaça, à medida que a democracia for piorando.”

A XENOFOBIA DE VERDADE NASCE QUANDO A XENOFOBIA PASSA A SER COISA DO PASSADO: “Para constituí-la [a última democracia] e firmar o poder do povo, os governantes costumam receber o máximo possível de pessoas e conceder direito de cidadania não apenas aos que têm um nascimento legítimo mas até aos bastardos e aos mestiços de qualquer dos dois lados, paterno ou materno.” “preciso introduzir a atenuante de só admitir recém-chegados na medida em que forem necessários para intimidar os nobres e a classe média, sem jamais ultrapassar este limite. Se isso acontecer, a desordem não tardará a reinar por toda parte. Os nobres, que já têm muita dificuldade para suportar este governo, se irritarão cada vez mais. Esta foi a causa do levante de Cirene. Fecham-se os olhos diante de um pequeno inconveniente, mas quando ele assume certa dimensão, não podemos deixar de vê-lo.”

Deve-se dividir o povo em tribos e cúrias, dissolver os cultos particulares e reconduzi-los à unidade do culto público; numa palavra, imaginar todos os meios possíveis para unir todos os cidadãos e extinguir todas as corporações anteriores; nem mesmo desdenhar certas invenções que, embora de origem tirânica, não deixam de ser populares, como o desregramento dos escravos, que pode ser útil até certo ponto, a emancipação das mulheres e das crianças, a conivência sobre o gênero de vida que agrada a cada um: nada tem melhores efeitos para essa democracia. A dissolução agrada a muito mais gente do que uma conduta regrada.”

* * *

NA PLUTOCRACIA

Na melhor oligarquia: “A divisão pelo censo deve ser tal que aqueles que têm a renda exigida sejam mais numerosos e mais fortes dos que os que não são admissíveis. Mas também é preciso ter sempre a intenção de que aqueles que são associados ao governo venham somente da parte sadia do povo.”

É o número e a abundância de homens que salvam as democracias; sua consistência vem de uma razão diametralmente oposta ao mérito. A oligarquia, pelo contrário, só pode conservar-se pela melhor ordem de suas partes.

Assim como a multidão se compõe principalmente de quatro classes, a saber: 1a os agricultores, 2a os ligados às artes e ofícios, 3a os comerciantes, 4a os trabalhadores manuais,¹ assim também existem quatro tipos de guerreiros, a saber: 1° a cavalaria, 2° os hoplitas ou infantaria armada dos pés à cabeça, 3° a infantaria ligeira, 4° a marinha.”

¹ Curioso como hoje em dia mal se pode distinguir uma da outra!

Os lugares mais propícios à primeira espécie de oligarquias são os chamados bippasimos, isto é, próprios, por suas campinas, à criação de cavalos. Esses lugares são propícios à oligarquia mais poderosa. Seus habitantes são protegidos e conservados pela cavalaria. Ora,

só a classe opulenta pode ter haras.

Quando o lugar só oferece homens e armas, a segunda oligarquia convém-lhe mais. A armadura completa necessária à grande infantaria só pode ser fornecida pelos ricos e ultrapassa os recursos dos pobres.

É a arraia-miúda que compõe a infantaria ligeira e os marinheiros. Em toda parte onde abunda essa turbaperigo de democracia para os ricos. Se acontece alguma divisão, os combates de ordinário terminam desfavoravelmente para eles. Para sanar este inconveniente, é preciso contar com hábeis generais que misturem à cavalaria e à infantaria pesada um número suficiente dessa tropa ligeira; assim apoiada, ela combate com maior desenvoltura. Porém, criar uma força dessa espécie, vinda do seio do povo, é armar-se contra si mesmo e trabalhar para sua própria destruição. Nas sedições, o povo vence os ricos através da infantaria ligeira. Ágil e alerta, ela facilmente domina a cavalaria e a infantaria pesada. Portanto, distinguindo as idades, é preciso encarregar os velhos de fazer com que seus filhos pratiquem os exercícios ligeiros e, ao sair da juventude, tomem os melhores destes alunos para colocá-los à frente dos outros.

Quanto ao restante do povo será admitido, como já se disse, no controle dos negócios públicos, quando atingir a taxa do censo exigido, ou, como entre os tebanos, depois que se tiver abstido das profissões mecânicas durante o número prescrito de anos, ou, como em Marselha, quando, tendo passado pela censura, tiver sido considerado digno do título de cidadãos e das funções cívicas.

Devem-se impor às grandes dignidades pesados encargos, para que o povo renuncie a eles de boa vontade e os deixe aos ricos, como se assim lhe pagassem os juros. Com efeito, os ricos, ao assumir o exercício, oferecerão pomposos sacrifícios, mandarão construir salas de banquetes ou outros edifícios destinados ao público, para que o povo, convidado a estes banquetes e encantado com a magnificência dos edifícios e outras decorações, veja com prazer o governo perpetuar-se.”

Não é isso o que hoje fazem os grandes de nossas oligarquias. Procuram nas dignidades, pelo contrário, não menos o lucro do que a honra. Dir-se-ia que são menos oligarquias do que democracias em transformação.”

* * *

E VIVA O GOVERNO MISTO…

Os que se chamam aristocráticos estabeleceram-se em muitos países por imitação de governos estrangeiros, e se aproximam tanto da República propriamente dita que de agora em diante falaremos destas duas formas como sendo uma só.”

…E VIVA A MEDIOCRIDADE: “O que dissemos de melhor em nossa Ética é que a vida feliz consiste no livre exercício da virtude, e a virtude na mediania; segue-se necessariamente daí que a melhor vida deve ser a vida média, encerrada nos limites de uma abastança que todos possam conseguir.”

UM LOUVOR (ANTIGO!) AO ÚLTIMO HOMEM, ‘INDA TÃO DISTANTE NO ESPECTRO DA (NOSSA) HISTÓRIA: “Em todos os lugares, encontram-se 3 tipos de homens: alguns muito ricos, outros muito pobres, e outros ainda que ocupam uma situação média entre esses dois extremos. É uma verdade reconhecida [por quem, cara pálida e exangue?] que a mediania é boa em tudo.”

Os da primeira classe, favorecidos demais pela natureza ou pela fortuna, poderosos, ricos e rodeados de amigos ou de protegidos, não querem nem sabem obedecer. Desde a infância, são tomados por essa arrogância doméstica e a tal ponto corrompidos pelo luxo que desdenham na escola até mesmo escutar o professor. Os da outra classe, abatidos pela miséria e pelas preocupações, curvam-se diante dos outros de modo que esses últimos, incapazes de comandar, só sabem obedecer servilmente. Os primeiros, pelo contrário, não obedecem a nenhuma ordem, mas mandam despoticamente.” Também é uma verdade, paradoxal que seja, que os melhores filósofos emanam justamente da CLASSE MÉDIA.

Por isso Focílides dizia que uma modesta abastança era o objeto de seus desejos, só pedindo ao céu ser ele próprio medíocre em sua pátria.”

a tirania surge de igual modo da insolente e desenfreada democracia e da oligarquia”

NOMENCLATURAS MONTESQUIEUANAS: Quando os pobres não têm este contrapeso, e começam a prevalecer pelo número, tudo vai mal e a democracia não tarda a cair no aniquilamento.”

Um poderoso argumento a favor da mediocridade é que os melhores legisladores foram cidadãos de média fortuna. Sólon declara-se tal em suas poesias, Licurgo tornou-se tal quando parou de reinar e Carondas também o era, como quase todos os outros.”

jamais ou raramente aconteceu, e entre muito poucos povos, que se tenha optado por uma República média. Entre os príncipes não há um só exemplo desta moderação, em toda a antiguidade; em todas as outras partes, virou costume recusar a igualdade e procurar dominar quando se sai vencedor, ou ceder e obedecer quando se é vencido.”

o árbitro mais conveniente é aquele que, colocado entre dois, não pende mais para um lado do que para o outro” Infelizmente a classe média brasileira pende mais para o tio do pavê e o véio da Havan…

O censo não pode determinar-se pura e simplesmente. É preciso, porém, que o seja com a máxima amplitude possível, para que os participantes sejam mais numerosos do que os não-participantes. Quanto aos pobres, eles se consolam por não participarem e ficam descansados se não os ultrajam e lhes deixam os poucos bens que possuem, o que nem sempre acontece, pois os indivíduos de condição que pretendem os cargos públicos às vezes não são nem corteses, nem humanos. Resulta daí que, se houver guerra, os pobres a evitam, a menos que os sustentem. Mas se os sustentarem, passam a desejá-la.

Em alguns lugares, o governo é formado não apenas por aqueles que portam armas, mas pelos que as portavam. Os malianos escolhiam seu Conselho dentre estes, e seus magistrados dentre os guerreiros em atividade. O primeiro Estado entre os gregos foi organizado com esta espécie de cidadãos, depois da extinção das monarquias; e em primeiro lugar com cavaleiros, pois a força e a superioridade dos exércitos consistiam então na cavalaria. Pois as outras tropas de nada servem se não tiverem disciplina, e antigamente não havia nem disciplina, nem experiência na infantaria, de sorte que a cavalaria sozinha constituía toda a força do Estado.

Mas como os Estados cresceram e ganharam consideração através das outras armas, o governo foi comunicado a um maior número de pessoas. Assim, o que hoje chamamos de República era então chamado de democracia.¹”

¹ Resta saber a quando remonta esse “então” de Aristóteles: poderia estar falando já do tempo de Sócrates, não tão pretérito ao seu? Tem-se aí que Aristóteles já divisava o que a ciência política moderna divisa entre os gregos: sua democracia era com certeza uma oligarquia ou aristocracia, conforme fosse saudável ou decadente (ainda sem contar a chusma de escravos da polis).

* * *

STOP THE REVOLUTION!

Para terminar, é normal examinar de onde vêm as revoluções dos Estados, quantas causas podem provocá-las e quais são elas, a que depravações cada governo em particular está sujeito e quais são os meios de preservação, os remédios gerais e específicos para essas perturbações.”

A excelência do mérito é a única superioridade absoluta, e os homens que se sobressaem quanto ao mérito são os que menos provocam revoltas.”

INCÊNDIO NA BABILÔNIA DEMORA A ESPALHAR: “Do fato de as pessoas habitarem o mesmo lugar não se segue que se trata de uma única e mesma Cidade. Os muros não podem servir de critério, pois todo o Peloponeso poderia ser cercado por uma mesma muralha. Não seria a primeira vez que vastos espaços seriam assim fechados. Assim são todas as grandes cidades, que se parecem menos com cidades do que com uma nação inteira, como a Babilônia. Três dias já se haviam passado, dizem, desde que fôra tomada e em vários bairros ainda de nada se sabia.”

São também questões de política saber se convém que um Estado só contenha uma nação ou várias, se continua a ser o mesmo enquanto conserva o mesmo gênero de habitantes, apesar da morte de uns e do nascimento de outros, como os rios e as fontes, cuja água corre sem cessar para dar lugar à água que sucede.”

permanecendo os mesmos atores, o coro não deixa de mudar quando passa do cômico ao trágico.” “Permanecendo as mesmas vozes e os mesmos instrumentos, o canto não é mais o mesmo quando passa do modo dórico ao modo frígio. Isto posto, é a forma e não a matéria que decide se um Estado permanece o mesmo e se se deve, apesar da identidade de habitantes, chamá-lo de outro nome ou conservar-lhe o nome, embora seus habitantes tenham mudado.”

PRINCÍPIO DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA PAULATINA (COMO NA SOLTURA DE ESCRAVOS): “Os crescimentos desmedidos de uma classe relativamente às outras também são causas de revolução. Assim, os membros que compõem um corpo devem crescer proporcionalmente, para que subsista a mesma comensura. O animal morreria se o pé, por exemplo, crescesse até 4 côvados, não tendo o resto do corpo mais do que 2 palmos”

MEGA-SENA DA VIRADA: “As modificações ocorrem com as democracias, mas são mais raras. Por exemplo, quando a quantidade de pobres aumenta e vários deles se tornam ricos, ou então quando os bens dos ricos aumentam de valor, passa-se à oligarquia, e até à oligarquia concentrada que chamamos politirania.

Às vezes, sem que haja sedição, o governo muda em razão de seu aviltamento, como em Heréia, onde começaram a se envergonhar das eleições e os magistrados foram depois sorteados, por causa da torpeza dos eleitos.”

Algumas vezes a mudança se realiza através de progressos imperceptíveis; no final, fica-se admirado vendo os costumes e as leis mudadas sem que se tenha atentado para as causas ligeiras e silenciosas que preparam as mudanças. Na Ambrácia, por exemplo, depois de ter escolhido magistrados de pequena fortuna, passou-se a admitir pouco a pouco alguns que não possuíam nada. Ora, há pouca ou nenhuma diferença entre nada e muito pouco.”

Todos os que admitiram estrangeiros para residir em sua cidade, foram quase sempre enganados por eles, como os de Trezena, que, em Síbaris, receberam os aqueus. Foram obrigados a ceder-lhes o lugar quando o número deles aumentou, o que causou a desgraça. Os sibaritas retiraram-se para Túrio e ali fizeram a mesma tentativa, mas, querendo dispor do território como senhores, foram vencidos e expulsos. Os bizantinos sofreram algo semelhante da parte de estrangeiros e tiveram subitamente que recorrer às armas para repeli-los. Os antisianos, que de modo semelhante haviam aceitado os banidos de Quios, também se viram obrigados a livrar-se deles pela força. Os zanclianos foram vencidos e expulsos pelos de Samos, que os tinham recebido. Também foram estrangeiros que perturbaram os apoloniatas do Ponto Euxino. Os siracusanos, após a expulsão de seus tiranos, tendo tornado cidadãos alguns soldados e mercenários estrangeiros, tiveram tantos aborrecimentos por causa disso que foi preciso romper com eles. Os de Anfípolis foram quase todos expulsos pelos de Cálcis, por tê-los recebido em sua cidade.”

Às vezes a sedição parece derivar da própria natureza do lugar que foi mal-escolhido para habitação. Em Clazômenas, os habitantes do Centro (ou bairro dos banhos) detestam os da ilha; em Cólofon, a parte do norte odeia a do sul; em Atenas, o pireu é mais democrático do que a cidade. Pois, assim como num exército, um riacho, mesmo bem pequeno, pode romper a falange, assim também, numa cidade, qualquer diferença de habitação basta para quebrar, o entendimento e o acordo entre os habitantes.”

Antigamente, em Siracusa, o Estado foi perturbado por dois jovens magistrados rivais em amor. Durante a ausência de um, o outro conquistou sua amada. O despeito, quando ele voltou, sugeriu-lhe atrair e seduzir a mulher de seu rival. Tendo cada um deles conseguido o apoio de outros magistrados, a discórdia espalhou-se por toda a cidade. Portanto, nunca é cedo demais para abafar as brigas dos altos funcionários e dos grandes. O mal está na origem. Em tudo, o que começou já está feito pela metade. O menor erro cometido no início repercute em tudo que se segue.”

O noivo, por lhe terem predito que a união lhe traria desgraça, hesitou em tomar sua noiva e a deixou sem nada concluir. Os pais da moça, considerando-se insultados, acusaram falsamente o jovem de ter roubado durante a celebração de um sacrifício o dinheiro do tesouro sagrado e o fizeram morrer como sacrílego.”

todos os que, quer na condição privada, quer na magistratura, quer em família, quer em tribo ou qualquer outra associação que possa haver, proporcionaram ao Estado algum acréscimo de potência, sempre ocasionaram certa perturbação, quer começada por invejosos, quer por terem eles próprios, envaidecidos com o sucesso, desdenhado permanecer nos limites da igualdade.”

se uma das duas facções se torna muito superior, a porção média não quer arriscar-se contra quem tem uma superioridade evidente.”

em Atenas os Quatrocentos lograram o povo com a falsa esperança de que o rei da Pérsia ajudaria com seu dinheiro os atenienses a fazerem guerra contra os espartanos, e assim se apossaram do governo.”

o temor diante do perigo comum tem o efeito de reconciliar os maiores inimigos.”

Em Rodes, distribuíram aos soldados todo o dinheiro proveniente dos impostos e impediram que os capitães das galeras recebessem o que lhes era devido, acusando-os de vários delitos. Para evitar, então, a punição, os acusados foram obrigados a conspirar contra a democracia e a derrubaram.”

Antigamente, quando o mesmo personagem era demagogo e general de exército, as democracias não deixavam de se transformar em Estados despóticos. Com toda certeza, os antigos tiranos originaram-se dos demagogos. Isso já não acontece com tanta freqüência quanto antigamente, pois então, não estando ainda exercitados comumente na arte de bem falar, as armas eram o único meio de se obter poder. Hoje que a eloqüência foi levada ao mais alto grau de perfeição e goza da maior estima, são os oradores que governam o povo. (…) Assim, as usurpações da suprema autoridade eram mais freqüentes no passado do que no presente, porque se davam a alguns cidadãos magistraturas de alta importância, como em Mileto a Pritania, e se submetiam à decisão deles os maiores interesses. Aliás, as cidades estavam longe de ser tão grandes, já que o povo preferia morar no campo, ocupando-se com seus trabalhos rústicos. Portanto, se esses magistrados eram guerreiros, apossavam-se do governo. Seu principal recurso era a confiança que obtinham do povo, pelo ódio que demonstravam contra os ricos. Foi assim que Pisístrato obteve a tirania de Atenas; querelando contra os habitantes da planície; Teagênio, a de Mégara, mandando matar o gado dos proprietários, quando o encontrou passando à margem do rio; e Dionísio, a de Siracusa, acusando de traição Dafne e os grandes, artifícios que eram tidos como ímpetos de patriotismo e davam popularidade.”

quando a oligarquia está de acordo consigo mesma, não é fácil destruí-la. Temos um exemplo disto no Estado de Farsala, onde poucos homens mantêm grande número deles na obediência, porque estão em harmonia e se conduzem bem entre si.”

Em tempo de guerra, os magistrados, desconfiando do povo, são obrigados a chamar tropas estrangeiras e não raro aquele a quem confiam o comando se torna seu tirano, como Timófanes em Corinto. Se tal comando é confiado a vários, estes se coalizam numa dinastia, ou então, temerosos de serem pegos no mesmo truque, fazem com que o povo participe do governo, para reconciliarem-se com ele. Em tempo de paz, os oligarcas, desconfiados uns dos outros, entregam a guarda do Estado a seus soldados, sob o comando de algum general neutro, o qual às vezes acaba por se tornar senhor dos dois partidos, como aconteceu em Larissa sob o comando dos Alevadas (Aleuadas) de Samos e em Ábido, no tempo das facções, das quais uma era a de Ifíade.” “Várias oligarquias, como as de Cnido e de Quios, também foram destruídas por serem despóticas demais, e isso por senadores irritados com a insolência dos outros.”

A tirania reúne os vícios da democracia aos da oligarquia. Ela tem em comum com a segunda o fato de propor-se a opulência como fim (sem isso ela não teria condições de manter a guarda e a magnificência), de desconfiar do povo, de desarmá-lo, de oprimi-lo, de expulsá-lo das cidades e dispersá-lo pelos campos ou colônias. Da democracia, ela toma a guerra aos nobres, sua destruição aberta ou clandestina, seu banimento, considerando-os como rivais ou como inimigos de seu governo. De fato, é de ordinário desta classe que procedem as conspirações, querendo alguns deles dominar eles próprios, e outros temendo ser escravos. Assim, vimos Periandro aconselhar Trasíbulo a cortar as espigas mais altas, isto é, desfazer-se dos cidadãos mais eminentes.

Os ofendidos conspiram, na maioria dos casos, para se vingarem, e não em seu próprio proveito. Assim foi a conjuração contra os filhos de Pisístrato; ela teve por causa a injúria feita à irmã de Harmódio e a ofensa que ele próprio sentira na ocasião. Harmódio armou-se para vingar a irmã, Aristogíton para vingar Harmódio. Periandro, tirano de Ambrácia, permitiu que conjurassem contra ele por ter perguntado num banquete a uma de suas amantes se estava grávida de um filho seu. Pausânias matou o rei Filipe porque este desdenhava vingá-lo do ultraje que Átalo lhe fizera. Derdas conspirou contra Amintas, que se vangloriava de ter colhido a flor de sua juventude. Evágoras de Chipre foi morto por Eunucus, cuja esposa fôra raptada pelo filho daquele príncipe.” “Xerxes, bêbado de vinho, encarregara Artábano de crucificar Dario. Artábano, crendo que o príncipe se esqueceria dessa ordem por ter sido dada no auge da embriaguez, não a executou. Quando Xerxes deu mostras de sua cólera por isso, Artábano o matou para evitar sua própria perda.”

O desprezo torna infiéis até mesmo os protegidos. A confiança com que são honrados persuade-os de que poderão de repente tentar um golpe seguro. O pouco caso que têm pelo monarca também torna audaciosos os que ganharam poder e acreditam poder tornar-se senhores do Estado. (…) foi o que fez Ciro contra Astiago, cujos costumes eram desprezíveis e a incapacidade evidente, já que vivia na moleza e seu exército estava irritado com a ociosidade.”

A magnanimidade somada ao poder transforma-se em ousadia.”

Os que conspiram para conseguir um nome são de uma espécie completamente diferente. Não atacam os tiranos pelas honras e pelas riquezas, mas sim para conquistar a glória e fazer com que falem deles. O desejo de um grande nome e da memória da posteridade faz com que arrisquem grandes façanhas, mas pessoas deste tipo são raras. É preciso estar, como Díon, O Bravo, disposto ao sacrifício da própria vida e a perder tudo, se falhar o golpe. A natureza não engendra facilmente almas tão heróicas.”

Os Estados opostos, por exemplo uma democracia vizinha a uma tirania, são tão inimigos quanto os oleiros o são dos oleiros, no dizer de Hesíodo, pois a pior espécie de democracia é ela própria uma tirania. O mesmo ocorre com a monarquia e a aristocracia. Por isso os espartanos e os siracusanos, enquanto foram bem-governados, destruíram várias tiranias.

Algumas vezes a tirania morre por si mesma, quando ocorre uma divisão entre os pretendentes, como outrora a de Gelão e em nossos dias a de Dionísio.”

quase todos os usurpadores conservaram a soberania durante a vida, apesar do ódio público, mas quase todos os seus sucessores perderam-na incontinente. A vida dissoluta que levam faz com que caiam no desprezo e dá mil ocasiões de os exterminar.”

CÓLERA COM “CO” DE “CORAÇÃO PURO”: “A cólera está ligada ao ódio e produz quase os mesmos efeitos, mas é ainda mais enérgica. Os que são animados por ela insurgem-se com mais violência, não podendo, na perturbação da paixão, ouvir os conselhos da razão.” “Ao passo que a cólera é acompanhada de uma dor que não permite raciocinar, a animosidade isenta desse ardor calcula e age silenciosamente.”

vemos hoje muito poucos Estados governados por reis. [!] Se existem ainda alguns, são de preferência monarquias absolutas e tiranias. A realeza é uma dignidade estabelecida voluntariamente, cujo poder se estende às maiores coisas. Ora, como a maioria dos homens se assemelha e raramente se encontra alguém tão perfeito para corresponder à grandeza e à dignidade do cargo, as pessoas não se submetem de bom grado a semelhantes instituições. Se alguém quiser reinar por astúcia ou por violência, não haverá monarquia, mas sim tirania.”

Historicamente, a monarquia tirânica é, juntamente com a oligarquia, a forma de Estado menos duradoura. A mais longa tirania foi a de Ortógoras e de seus descendentes, em Sícion. Durou cem anos. (…) 73 anos e 6 meses reinou a dinastia: Cipselo reinou 30 anos, Periandro, 40, e Psamético, filho de Górdias, 3.” “A terceira [tirania mais longa] foi a dos Pisistrátidas, em Atenas. Mesmo assim, a tirania de Pisístrato se viu duas vezes interrompida por sua expulsão, de modo que, de 33 anos, só reinou de fato por 17 e seus filhos mais 18, o que perfaz no total 35.”

Só se sente o mal quando está consumado. Como ele não acontece de uma vez, seus progressos escapam ao entendimento e se parecem àquele sofisma que do fato de cada parte ser pequena inferir-se que o todo seja também pequeno.”

Assim, aqueles que velam pela sua segurança devem inventar de tempos em tempos alguns perigos e tornar mais próximos os perigos que estão distantes, a fim de que os cidadãos informados estejam sempre alertas, como sentinelas noturnas.”

MUITA HORA NESTA CALMA: “Não valorizar demais quem quer que seja e não distribuir nenhuma honra excessiva, mesmo que breve. Se se acumulam muitos cargos em uma só pessoa, tais cargos devem ser-lhe retirados aos poucos, e não todos de uma vez. Será sobretudo conveniente estabelecer através das leis que ninguém possa adquirir poder, crédito ou riqueza demais, ou que sejam afastados os que tiverem demais.”

O vulgo zanga-se menos por estar excluído do governo do que por ver os magistrados viverem às custas do tesouro público. É até muito cômodo dispor de todo o tempo para cuidar dos negócios particulares. Mas se estiver persuadido de que os titulares dos cargos públicos pilham o Estado, terá a dupla vexação de estar afastado tanto dos cargos públicos quanto dos lucros pecuniários.”

ENTÃO ME PROCESSA! “Aqueles que se preocupam com a segurança do Estado devem, em vez de se apoderar em proveito do povo dos bens dos condenados, consagrá-los à religião. A pena será a mesma e deterá igualmente os crimes, mas o povo terá menos pressa para condenar, pois não tirará nenhum proveito da sentença. Além disso, os legisladores devem fazer com que as acusações públicas se tornem muito raras, estabelecendo penas pesadas contra os que agirem levianamente, pois não são as pessoas do povo, mas sim as dos meios refinados que assim se costumam atacar e humilhar.”

Se houver rendas suficientes, não se deve, como fazem os demagogos, distribuir à arraia-miúda o dinheiro que sobrar. Mal o recebem e já voltam a cair na indigência, pois essas pessoas são tonéis furados a que essa liberalidade não traz nenhum proveito.”

O melhor emprego das rendas públicas, quando a sua percepção está terminada, é auxiliar amplamente os pobres, para colocá-los em condições ou de comprar um pedaço de terra ou os instrumentos para a lavoura, ou de abrir um pequeno comércio. Se não for possível ajudá-los a todos, deve-se pelo menos verter os subsídios na caixa de alguma tribo ou cúria ou de alguma porção do Estado, ora uma, ora outra. Far-se-á com que os ricos contribuam para as despesas das Assembléias necessárias, de preferência a esbanjamentos frívolos e meramente aparatosos. Por meio disso, o governo cartaginês tornou-se popular, empregando sempre alguém do povo nas administrações provinciais, para que aí fizessem fortuna.”

para eleger um general de exército, deve-se considerar mais a experiência militar do que a virtude, pois há menos generais experientes do que homens virtuosos. O caso é totalmente contrário no que diz respeito à administração das finanças, pois aí é preciso mais probidade do que tem o comum dos homens.”

A FEIÚRA DO ESTADO: “Um nariz que se afasta da linha reta, que tende para o aquilino ou é arrebitado, ainda pode agradar; mas se se alongar ou se encurtar demais, primeiro sairá da justa medida e, por fim, cairá tanto no excesso ou na falta que não será mais um nariz. O mesmo ocorre com as outras partes do corpo, e também com os regimes. A oligarquia e a democracia podem subsistir, embora se afastando de seu desígnio e de sua perfeição. Mas se dermos demasiada extensão ao seu princípio, primeiro tornaremos pior o governo, e, no final, chegaremos a tal ponto que ele nem será mais digno deste nome.”

SEJA UM MILIONÁRIO APUD CF88 (SÓ PODIA DAR MERDA): “O mais importante meio para a conservação dos Estados, mas também o mais negligenciado, é fazer combinarem a educação dos cidadãos e a Constituição. Com efeito, de que servem as melhores leis e os mais estimáveis decretos se não se acostumar os súditos a viverem segundo a forma de seu governo? Assim, se a Constituição for popular, é preciso que sejam educados popularmente; se for oligárquica, oligarquicamente; pois se houver desregramento em um só súdito, este desregramento estará então em todo o Estado.”

MANUAL DO TIRANO PRUDENTE (QUASE UMA ANTINOMIA): “Deve-se manter espiões por toda parte, saber tudo o que se faz e tudo o que se diz, destacar agentes e espiões, como fazia Hierão em Siracusa, colocando-os em toda parte onde havia uma reunião ou um conciliábulo. Não se é tão ousado quando se tem algo a temer de tais vigilantes e, quando se é, fica-se sabendo.” “Empobrecer os cidadãos, a fim de que não possam formar uma guarda armada e, absorvidos nos trabalhos de que precisam para viver, não tenham tempo de conspirar. Como exemplo dessas manobras, temos as pirâmides do Egito, os templos dedicados aos deuses pelos Cipsélidas, o de Zeus Olímpico pelos filhos de Pisístrato, as fortificações de Samos por Polícrates, que são todas coisas que tendem aos mesmos fins de ocupação e empobrecimento. Aumentar o peso dos impostos, como em Siracusa no tempo de Dionísio onde, em 5 anos, foram obrigados a dar em contribuições tudo o que valia a terra.” “Fazer uso dos recursos da extrema democracia, como a atribuição do governo doméstico às mulheres, para que elas revelem os segredos de seus maridos, e o afrouxamento da escravidão, para que também os escravos denunciem seus senhores.

SÍNDROME DE ESTOU-CALMO: “Os escravos e as mulheres nada tramam contra os tiranos e até, se tiverem a felicidade de ser bem-tratados por eles, afeiçoam-se necessariamente à tirania, ou à democracia, pois o povo também pode ser um tirano.”

Um prego expulsa outro” “os tiranos declaram guerra a todo homem de bem que tiver coragem. Esta categoria de pessoas é perniciosa a seu regime, por não quererem deixar-se tratar servilmente, serem francos com todos, sobretudo entre eles, e não denunciarem ninguém.” Vale para instituições na “democracia”. Beware where you step, fella.

Sendo senhor do Estado, não deve temer a falta de dinheiro. Mais vale para ele estar sem dinheiro para suas campanhas do que deixar em casa tesouros empilhados; com isto, ficarão menos tentados de abusar desse dinheiro os que, em sua ausência, governarem o Estado, pessoas muito mais temíveis para ele do que os meros cidadãos. Estes marcham com ele para o combate, enquanto que aqueles ficam na retaguarda.”

Que o tirano tenha também uma abordagem fácil e um ar grave, de modo que os que tiverem acesso a ele pareçam menos temê-lo do que respeitá-lo, o que homens desprezíveis não conseguem facilmente. Se não se preocupar com nenhuma outra virtude, que pelo menos seja cortês, tenha a política de passar por virtuoso, e se abstenha não apenas ele mesmo de toda injúria contra seus súditos, de qualquer sexo que for, mas também não tolere que nenhum de seus domésticos ofenda ninguém, e cuide de que suas mulheres se comportem da mesma maneira para com as outras mulheres. Pois há injúrias feitas por mulheres de tiranos que arruínam a tirania.”

Sobre a questão dos prazeres sensuais, que faça o contrário de seus êmulos de hoje, que não se contentam em se entregar a eles da manhã à noite, durante vários dias, mas ainda querem que todos saibam a vida que levam, para serem admirados como seres felizes. Que use moderadamente deste tipo de prazeres; que pelo menos tenha a aparência de não correr atrás deles, e até de procurar furtar-se a eles. Não se surpreende com facilidade e não se despreza um homem sóbrio, mas sim um homem bêbado, nem um homem vigilante, mas sim um homem sonolento.” “Que demonstre principalmente muito zelo pela religião. Teme-se menos injustiça da parte de um príncipe que se crê seja religioso e parece temer aos deuses, e se está menos tentado a conspirar contra ele quando se presume que tem a assistência e o favor do Céu. Mas é preciso que sua piedade não seja afetada, nem supersticiosa.” “Que deixe para si mesmo a distribuição das honras e entregue a seus oficiais e aos juízes as punições.” “A própria punição das faltas deve evitar o ultraje. Só se deve fazer uso dele com uma espécie de jeito paternal.”

* * *

CONSTITUIÇÕES REAIS E IDEAIS, DEVANEIOS DE UM DISCÍPULO!

Em sua República, Platão propõe que as mulheres, as crianças e os bens sejam comuns aos cidadãos. De fato, neste diálogo, Sócrates preconiza a comunidade total.”

A comunidade de mulheres oferece grandes dificuldades, e se fosse preciso estabelecê-la não seria pela razão apresentada por Sócrates. O próprio fim suposto por ele para a associação política torna impossível este estabelecimento, e assim ele nada diz de preciso sobre este assunto.” Desapega!

ARISTÓTELES NÃO COMPREENDEU SEU PRÓPRIO MESTRE: “É, portanto, claro que a unidade, como alguns a apresentam, não pertence à essência de um Estado, e o que chamam de seu maior bem é a sua ruína.”

no serviço doméstico, quanto mais empregados houver, menos o trabalho é bem-feito.”

Haveria alguma dúvida em preferir a mera qualidade de primo em nosso costume à de filho no de Sócrates?” Sim.

ANÁLISE MAIS PERFUNCTÓRIA DO MAIOR LIVRO DA IDADE ANTIGA AINDA NÃO NASCEU: “Outro absurdo da comunidade de crianças é só se ter proibido o comércio amoroso dos dois sexos, e não o amor e suas intimidades de pai para filho, de irmão para irmão, que são o cúmulo da indecência e da torpeza [com referência em que absoluto? Que declaração mais platônica!]. Ora, não é estranho proibir as relações entre os dois sexos, em razão dos perigos da volúpia excessiva, e ser indiferente sobre essas familiaridades entre pai e filho, irmão e irmão?”

O encanto da propriedade é inexprimível. Não é em vão que cada um ama a si mesmo; tal amor é inato; só é repreensível o excesso chamado amor-próprio, que consiste em se amar mais do que convém. Tampouco é proibido amar o dinheiro, nem outra coisa da mesma natureza: todos o fazem.”

LONGO E INÚTIL IMBRÓGLIO, NO QUAL ROUSSEAU JÁ APARECERIA DANDO VOADORA PARA DEFENDER PLATÃO: “também contribui o preconceito existente de que os vícios que grassam em certos regimes procedem da propriedade, como esses eternos processos que sempre renascem entre os cidadãos por ocasião dos contratos, a corrupção de testemunhas e a adulação a que as pessoas se rebaixam diante dos ricos. Mas não é da propriedade dos bens que derivam esses males, mas da improbidade dos homens.” Engraçado como contradiz os capítulos precedentes da própria Política!

SERÁ QUE SE FAZ DE IMBECIL? “basta submeter a uma tentativa a comunidade socrática e se terá a prova de que ela é impraticável.” Dêem o Übermensch ao Último Homem e ele apenas será morto, dizimado, castrado ou ignorado…

De resto, Sócrates não explica e não deixa entrever facilmente qual será a forma de governo entre seus comunistas.” Haha. Bom, qual seria a graça se a República tivesse 80 tomos e não precisássemos pensar em nada?! Para começo de conversa, nem saberíamos quem foi Aristóteles…

Platão ou, se quiserem, Sócrates, que ele faz falar, tampouco trata de uma maneira satisfatória das revoluções ou das transformações de Estado.” Hm, verdade?

É da ordem da natureza que nada seja eterno e tudo mude após certo período de tempo. A mudança ocorre quando o número elementar epiternário, combinado com o número quinário, dá dois acordes e é elevado ao cubo.”

Comete o erro torpe e juvenil de misturar seu sistema completamente arbitrário de formas de governo com um outro, que aliás não entendeu (pois se entendesse, não teria criado o seu): “E por que essa República passaria a ter a forma espartana, se a maior parte das outras se transforma no Estado contrário e não no que se lhes aproxima? Deve haver a mesma razão em toda mudança. Segundo ele, a forma espartana se transformará em oligarquia; a oligarquia, em democracia; a democracia, em tirania, embora também se transformem no sentido contrário, a saber, a democracia em oligarquia, mais até do que em monarquia. Além disso, não fala da tirania e não diz se sofre ou não mutação, nem por que causa, nem em que espécie de República. Deixa este ponto indeterminado, como algo em que a exatidão não seja fácil.¹ Segundo ele, a mudança deveria retornar à primeira e melhor espécie, de tal forma que haveria um circuito contínuo; mas a tirania algumas vezes dá lugar a outra tirania, como em Sícion a de Míron sucedeu à de Clístenes; ou a uma oligarquia, como em Cálcis, a de Antileo; ou uma democracia, como em Siracusa, a de Gelão; ou à aristocracia, como a de Carilau na Lacedemônia, e também em Cartago.²”

¹ Na verdade não precisou falar da tirania pela razão oposta: porque é muito fácil; todo homem sabe o que é e no que consiste a tirania.

² Parabéns, discípulo, fez o dever de casa: mas és filósofo ou historiador? É que estou com a memória ruim hoje…

As leis, que Platão escreveu depois, são aproximadamente do mesmo gênero que A República.” Mas com muito mais homofobia, não é mesmo? Afinal, por que, já tão velho, se dar ao trabalho de escrever tanto?

FIGHT RANÇO WITH RANÇO (A ARTE DAS CAROLINAS): “Todas as palavras que neste livro atribui a Sócrates são cheias de superfluidades pomposas e de novidades problemáticas, cuja apologia talvez fosse difícil fazer.”

O mesmo autor contenta-se com dizer que, assim como a cadeia difere da trama pela lã, deve haver algum atributo que distinga os que mandam e os que obedecem, mas não explicita quais são estas marcas distintivas.” Ele queria que você adivinhasse.

NÃO ERGAS PONTES QUE NÃO TENS O TALENTO DE ERGUER! “Sua forma de governo não é nem uma democracia, nem uma oligarquia, mas um regime médio que ele chama propriamente de ‘republicano’, composto inteiramente de militares. Se propôs esta forma por ser a mais geralmente consagrada em todas as sociedades civis, talvez tenha razão; se foi como a melhor depois da primeira d’A República, ele está enganado. Sem contestação, preferir-se-á o Estado de Esparta ou algum outro mais aristocrático.” Até hoje não se sabe muito bem a relação entre as Leis e a República, falo isso por experiência própria. Na dúvida quanto ao que falar, melhor calar a boca. E olha que eu meti o pau em metade dos livros das Leis nas minhas traduções!

Obrigado pela explicação, mas eu não pedi – e, ademais, achei que você disse a mesma coisa ali em cima, com suas próprias palavras (“o rico deve ser punido pela apatia política, o pobre incentivado”, é mais ou menos a sinopse de tudo), e sem nenhum indício de ironia (há poucos parágrafos, Ari. tinha criticado Sócrates-Platão por NÃO haver estipulado classes na República, mas agora o critica por segregar nitidamente sua polis, nas Leis!): “Na verdade, todos são convocados para as eleições, mas são obrigados a escolher primeiro entre a primeira classe de ricos, depois na segunda e depois na terceira; os da terceira e da quarta classes, porém, não são forçados a dar seu voto, e só é permitido aos da primeira e da segunda eleger entre os da quarta; é preciso apenas que cada classe forneça o mesmo número de eleitos. Portanto, a maioria e os principais sairão do grupo dos mais ricos, não se envolvendo o povo na eleição porque a lei não o força a isso.”

* * *

Faléias de Calcedônia põe os artesãos no grupo dos escravos públicos, sem lhes dar nenhum lugar entre os cidadãos. Quanto aos que se empregam nos trabalhos públicos, vá lá. Mas, mesmo assim, isso deve ser feito como se estabeleceu em Epidamno, ou como Diofante determinou antigamente em Atenas.”

Hipódamo de Mileto não deseja que os julgamentos se façam por meio de bolas; pretende que cada um traga uma tabuleta onde inscreva seu assentimento, se simplesmente condenar, ou então indique que condena sobre o principal e absolve quanto ao resto. Condena a forma empregada em nossos tribunais, pela qual, diz ele, os juízes não-raro são forçados a julgar contra a consciência e contra o juramento que prestaram.”

A medicina, por exemplo, a ginástica e todas as artes e talentos ganharam ao reformar suas velhas máximas. Ocupando, pois, a política um lugar entre as ciências, parece que também ela pode admitir o mesmo princípio. De fato, os antigos Estados mudaram muito de feição. O que há de mais ingênuo e de mais grosseiro do que suas leis e costumes primitivos, mesmo as dos gregos, que antigamente andavam cobertos de ferro? O que existe de mais pobre e de mais imbecil do que sua jurisprudência, como em Cumas, onde, para condenar à morte um homem acusado de homicídio, bastava que o acusador apresentasse várias testemunhas tomadas de sua própria família?”

ISSO É SÉRIO, ARI.? “É muito provável que os primeiros homens, tanto os que saíram do seio da terra quanto os que escaparam da calamidade geral da espécie humana [tebanos ou egípcios, em suma], eram tão rudes quanto o vulgo de hoje, como são representados os antigos gigantes; seria uma extravagância limitarmo-nos a seus decretos.” Haha

AGORA, PRESTA UM TÁCITO TRIBUTO À REPÚBLICA DE PLATÃO PELA SUA INTENSA PREOCUPAÇÃO DE “UNISSEXUALIZAR” A POLIS… E DEPOIS ENVOLVE-SE NUMA BARAFUNDA SEM SIM, DEPRECIANDO ESPARTA SEM FUNDAMENTO (E SENDO O AVESSO DO “PLATÃO FINAL” OUTRA VEZ, AO SER HOMÓFILO: “Como o homem e a mulher fazem parte de cada família, é de se esperar que o Estado esteja dividido em dois, metade homens, metade mulheres; donde se segue que todo Estado em que as mulheres não têm leis está na anarquia pela metade. É o que acontece em Esparta. Licurgo, que pretendia enrijecer seu povo com todos os trabalhos penosos, só pensou nos homens e não prestou nenhuma atenção nas mulheres. Elas se entregam a todos os excessos da intemperança e da dissolução; assim, em tal Estado é necessário que as riquezas sejam honradas, principalmente quando as mulheres dominarem, como acontece na maioria das nações guerreiras, com exceção dos celtas e dos povos em que o amor pelos rapazes está publicamente em uso. [PROGRAMA PEDERASTIA PARA TODOS?] Não é sem razão que a fábula associa Marte a Vênus, pois todos os povos guerreiros são dados tanto ao amor dos jovens quanto ao amor das mulheres. [E ESPARTA NÃO? NÃO ENTENDO ISSO.] Este mal manifestou-se ainda mais em Esparta, onde, desde a origem, as mulheres se envolveram em tudo. [COMO, SE LICURGO AS OLVIDOU?] Pois o que importa que as mulheres mandem ou que os que mandam sejam comandados pelas mulheres? É a mesma coisa.”

o legislador permaneceu longe do alvo a que se propunha; fez apenas um Estado pobre e particulares avarentos.”

Um homem do tempo de Aristóteles já não pode julgar a Esparta de Licurgo no seu momento presente, ainda mais levando-se em conta a assimilação da Grécia pela Macadônia!

Logo após falar mal dos éforos: “quer os éforos tenham sido instituídos por Licurgo desde sua primeira legislação, quer sejam de criação mais recente, não foram inúteis à prosperidade da nação.” [!!] Quem é capaz de entender Aristóteles, que sequer segue seu princípio da não-contradição quando se trata de Política?!

As virtudes guerreiras, a que se relaciona toda a Constituição de Licurgo, não são senão uma parte da virtude integral, e são boas apenas para dominar os outros homens. Assim, os espartanos conservaram-se bastante bem enquanto guerreavam, mas quando submeteram a seu domínio todos os seus vizinhos começaram a decair, não sabendo o que fazer de seu ócio, não tendo aprendido nada melhor do que os exercícios militares.”

A ilha de Creta parece ter sido disposta pela natureza para comandar a Grécia, cujos povos, em sua quase totalidade, habitam as costas do mar: por um lado, ela está situada a pouca distância do Peloponeso; por outro lado, ela toca na Ásia, confinando com Triópia e Rodes. Foi graças a esta posição que Minos se tornou senhor do mar, reduziu quase todas as outras ilhas à obediência ou as povoou com suas colônias. Pensava também em se apoderar da Sicília, quando morreu perto de Camico.”

Os que são chamados de éforos na Lacedemônia chamam-se cosmos em Creta, com a única diferença de que são somente 5 na Lacedemônia e 10 em Creta.” Só isso? Bom, na essência eram ministros que atuavam como contrapeso do rei, i.e., poder moderador institucionalizado (não-encarnado num ou dois monarcas).

Em Esparta, o povo que escolhe os éforos tem também a faculdade de escolhê-los dentre aqueles que bem quiser e, por conseguinte, de sua própria classe, assim como de todas as outras, o que faz com que tenha interesse em conservar o Estado. Em Creta, pelo contrário, os cosmos provêm não de todas as classes, mas sim de certas famílias. Dos que foram cosmos, tiram-se os senadores, dos quais se pode dizer tudo o que se disse dos de Esparta. A dispensa da prestação de contas e a perpetuidade são prerrogativas muito acima de seu mérito.” “Cassam-se os cosmos sem processo e, de ordinário, pela insurreição de outros cosmos ou de particulares amotinados. A única graça que lhes concedem é deixar-lhes, antes da expulsão, a faculdade de se demitir.”

O regime de Cartago, em geral, é sabiamente ordenado. A pedra de toque de uma boa Constituição é a perseverança voluntária e livre do povo na ordem estabelecida, sem que jamais tenha ocorrido nem alguma sedição notável de sua parte nem opressão da parte dos que a governam.”

A República de Cartago tem em comum com a de Esparta:¹ 1° o que nesta se chama Fidítias, ou refeições públicas entre pessoas da mesma classe; 2° seu Centunvirato, que corresponde ao colégio dos éforos, com a diferença de ser composto de 140 membros e de ser mais bem-recrutado, isto é, não-escolhido ao acaso e dentre o vulgo, mas sim dentre o que há de mais eminente em matéria de mérito²”

¹ Não disse no começo da obra que Esparta era uma monarquia? O próprio Montesquieu é dessa opinião!

² Mas Aristóteles cita como um mérito dos cargos de éforos espartanos serem abertos à arraia-miúda, quando não o são entre os cartagineses!

ARISTÓTELES NÃO SABE O QUE DIZ OU TODO O TEMPO SE CONTRADIZ! “A maior parte dos pontos que criticamos por se afastarem dos princípios de toda boa Constituição são comuns às três Repúblicas. No entanto, embora todas elas tenham um jeito de aristocracia ou de República, inclinam-se um pouco mais para a democracia, sob certos aspectos, e, sob outros, para a oligarquia.”

De resto, embora a República de Cartago se incline bastante para a oligarquia, ela escapa com bastante agilidade dos seus inconvenientes, através das colônias de pobres que envia para que façam fortuna nas cidades de sua dependência. Este recurso prolonga a duração do Estado, mas é confiar demais no acaso; devem-se abolir pela própria Constituição todas as causas de sedição. Se acontecer alguma calamidade e a massa se revoltar contra a autoridade não haverá leis que possam deter sua audácia, nem remediar a desordem.”

Dentre aqueles que escreveram sobre o governo civil, alguns sempre levaram uma vida privada sem participar em nada dos negócios públicos; passamo-los quase todos em revista, ao menos os que deixaram escritos dignos de atenção; os outros foram legisladores quer em sua própria pátria, quer em outro lugar. Dentre estes, alguns foram simplesmente autores de leis, outros, autores de Constituição, como Licurgo e Sólon. Falamos bastante do primeiro quando tratamos da República espartana. Alguns contam o segundo entre os bons legisladores, por ter destruído a oligarquia imoderada demais dos atenienses, libertado o povo da servidão e estabelecido uma democracia bem-temperada pela mistura das outras formas, aproximadamente tal como era antigamente. O Conselho, ou Senado do Areópago, é de fato oligárquico; a eleição dos magistrados, aristocrática e a administração da justiça, muito popular. O Areópago existia antes dele, assim como o modo de eleição dos magistrados. Ele parece só ter tido o mérito de sua conservação. No entanto, foi com certeza ele quem reergueu o povo, ao determinar que os juízes fossem tirados de todas as classes. Assim, censuram-no por ter ele próprio arruinado um ou outro, ou mesmo os dois outros poderes de sua Constituição, entregando ao sorteio, quanto ao terceiro, a nomeação dos juízes, e pondo todos sob a autoridade deles. Mal esta inovação foi recebida e já fez nascer a raça dos demagogos, que, adulando o povo, como se adulam os tiranos, reduziram o Estado à democracia atual.” Bem-lhe-quer mal-lhe-quer

Sem dúvida, era necessário entregar ao povo, como fez Sólon, a nomeação e a censura dos magistrados, sem o que ele seria escravo e, conseqüentemente, inimigo do Estado. Mas Sólon quis ao mesmo tempo que os magistrados fossem escolhidos dentre os nobres e os ricos: aqueles que possuíssem 500 medinos [?] de renda, os que podiam alimentar um par de bois, ou zeugitas, e enfim os cavaleiros, que formavam a terceira classe. A quarta classe, composta de trabalhadores manuais, não tinha acesso a nenhuma magistratura.” ?!

Alguns tentam fazer crer que Onomacrito de Lócris tenha sido o primeiro a saber fazer leis e que, tendo passado de sua pátria a Creta, ali pôs à prova este talento, embora não tivesse vindo senão para trabalhar como adivinho; dizem também que teve por companheiro Tales, cujos discípulos foram Licurgo e Zaleuco, que, por sua vez, teve Carondas como aluno. Há, porém, muitos anacronismos nessa história.

Filolau, natural de Corinto, da raça dos Baquíadas, também deu leis aos tebanos. Apaixonou-se por Díocles, vencedor nos jogos olímpicos, que, detestando o amor incestuoso de Alcíone, sua mãe, [?] deixou sua cidade e o seguiu até Tebas, onde ambos morreram. Ainda hoje se mostram seus túmulos, um em frente ao outro, mas colocados de tal forma que apenas de um deles se pode ver o istmo de Corinto. Dizem que isto foi assim arranjado por eles próprios, sobretudo por Díocles, em memória de sua desgraça, para subtrair seu sepulcro dos olhares de Corinto, pela interposição do mausoléu de Filolau.” Intercala análises de engenharia constitucional e da biografia dos grandes legisladores com casos comezinhos e romances, tsc…

Platão, a comunidade das mulheres, das crianças e dos bens, além dos banquetes públicos femininos; também é conhecida a sua lei contra a embriaguez, a lei em favor da sobriedade dos presidentes de banquetes e a que diz respeito aos exercícios militares e ao uso das duas mãos, pois ele não podia tolerar que se servissem de uma e a outra permanecesse inútil. Existem também algumas leis de Drácon, que ele acrescentou, por assim dizer, à Constituição existente; distinguem-se pela extrema severidade das penas.”

Pítaco é também mais autor de leis do que fundador de República. Cita-se uma lei sua contra os bêbados, que diz que as brigas entre eles, em estado de embriaguez, serão punidas mais severamente do que se não tivessem bebido.”

* * * PRIMEIRA LEITURA DA REPÚBLICA (CONTEÚDO IMPORTADO – COM EDIÇÕES – DO ANTIGO BLOG DO AUTOR, PRÉ-Seclusão Anagógica) * * *

[PREFÁCIO DA EDIÇÃO – COMENTADOR] Foi, como é fato conhecido, o preceptor de Alexandre, O Grande, mas não por muito tempo: “Romperá com seu real discípulo depois do assassínio de Calístenes” No entanto eis a comprovação de sua imaturidade prática, até maior que a de Platão, que tanto criticou: “Jamais se envolveu com política prática.”

Meu limite: é que o pai que temos determina o raio de nossa genialidade. O meu, infelizmente, é bem curto. Zeus não respeitou seu pai, por que esperaria receber o respeito dos filhos sem o emprego da violência? O fosso etário entre pais e filhos. Profilática: que o filho seja gerado no inverno! Adoro meus “rasgos de cólera”, “Dia de fúria”. Estranhamente encarnado numa fazenda abelhuda…

Muitas de suas obras se perderam. Algumas são atribuídas a si, mas provavelmente provêm de discípulos.

Estudou 158 Constituições de Estados – na época a Grécia estava em dissolução, e a República Romana em ascensão. Havia “zilhões” de pequenos Estados (cidades-Estados) – a geografia política do mundo era bem diferente do que é hoje. Contribuiu com as bases do Direito Moderno, mas foi muito ultrapassado por Montesquieu & al.

ECONOMIA (*)  CREMATÍSTICA

(Modesta e nobre X Supérflua, grotesca e vil)

(*) despida em absoluto do “D” marxista (ciclos D-M)

P. 24: o médico vendido. O professor vendido.

a bondade intrínseca do Estado”

a mulher passaria por atrevida se não fosse mais reservada do que um homem em suas palavras.”

São as primeiras impressões as que mais nos afetam”

a beleza e a estatura não pertencem à maioria.” Ora, veja só, às vezes me acho um não-maldito!

Democracia” não é o governo da maioria, etimologicamente, mas dos pobres.

Uma hora fala em Deus, noutra fala em Zeus.

Pelo fim do serviço militar obrigatório! Vote 25050.” Minha plataforma.

Os homens facilmente se corrompem pela prosperidade, pois nem todos são capazes de suportá-la”

161: bem atual – sobre os parlamentares e seus vencimentos: A idéia aristotélica de se não auferir SALÁRIO ao político profissional. Assim, será uma função por VOCAÇÃO, e não COBIÇA. Só os mais ricos, que já são ricos, estariam aptos, mas eles teriam menos chances de legislar em causa própria; e os pobres não se sentiriam ultrajados como hoje se vê com os sucessivos “auto-aumentos” que se concedem os deputados.

Já cobrava TRANSPARÊNCIA das autoridades em relação às receitas e gastos, mesmo sem um site na internet para publicá-lo.

No caso de algum rico ultrajar [aos mendigos], será punido mais severamente do que se tivesse insultado um igual.”

Da liberdade e da igualdade na Democracia: “sofisma miserável.”

170: “Que deixe para si mesmo a distribuição das honras e entregue a seus oficiais a aos juízes as punições.” Maquiavélico, literalmente. Não seria o caso, aliás, de Maquiavel ser um aristotélico?

178: Aristóteles X Platão-Marx no tocante à propriedade privada.

Recomenda-se também, como medida anti-viciosa, um teto para rendimentos por indivíduo ou família, sem falar na dignidade do pão (banquetes públicos) aos indigentes.

Não se deve exigir que um mesmo homem seja flautista e sapateiro.”

Platão: famoso precursor do feminismo [P.S.: quem diria…]

ENCYCLOPEDIA OF HOMOSEXUALITY

PREFACE

Biographies of gay men and lesbian women discuss their orientation only when unavoidable, as with Oscar Wilde. There have been several encyclopedias and dictionaries of sexuality (beginning with a German one of 1922, the Handbuch der Sexualwissenschaft), but this work is the first to treat homosexuality in all its complexity and variety.

all the efforts of church and state over the centuries to obliterate homosexual behavior and its expression in literature, tradition, and subculture have come to naught, if only because the capacity for homoerotic response and homosexual activity is embedded in human nature, and cannot be eradicated by any amount of suffering inflicted upon hapless individuals.”

The editors are persuaded that the phenomenology of lesbianism and that of male homosexuality have much in common, especially when viewed in the cultural and social context, where massive homophobia has provided a shared setting, if not necessarily an equal duress.”

Perhaps the most difficult obstacle to a simple focus on <homosexuality> is the growing realization that what has been lumped together under that term since its coinage in 1869 is not a simple, unitary phenomenon. The more one works with data from times and cultures other than contemporary middle-class American and northern European ones, the more one tends to see a multiplicity of homosexualities.”

The Greeks who institutionalized pederasty and used it for educational ends take a prominent role, as does the Judeo-Christian tradition of sexual restriction and homophobia that prevailed under the church Fathers, Scholasticism, and the Reformers, and – in altered form – during the 20th century under Hitler and Mussolini, Stalin and Castro.

ACHILLES

He is a tragic hero, being aware of the shortness of his life, and his devoted friendship for Patroclus is one of the major themes of the epic. Later Greek speculation made the two lovers, and also gave Achilles a passion for Troilus. The homoerotic elements in the figure of Achilles are characteristically Hellenic. He is supremely beautiful, kalos as the later vase inscriptions have it; he is ever youthful as well as short-lived, yet he foresees and mourns his own death as he anticipates the grief that it will bring to others. His attachment to Patroclus is an archetypal male bond that occurs elsewhere in Greek culture: Damon and Pythias, Orestes and Pylades, Harmodius and Aristogiton are pairs of comrades who gladly face danger and death for and beside each other. From the Semitic world stem Gilgamesh and Enkidu, as well as David and Jonathan. The friendship of Achilles and Patroclus is mentioned explicitly only once in the Iliad, and then in a context of military excellence; it is the comradeship of warriors who fight always in each other’s ken: <From then on the son of Thetis urged that never in the moil of Ares [nas confusões da guerra] should Patroclus be stationed apart from his own man-slaughtering spear.>”

The friendship with Patroclus blossomed into overt homosexual love in the fifth and fourth centuries, in the works of Aeschylus, Plato, and Aeschines, and as such seems to have inspired the enigmatic verses in Lycophron’s third-century Alexandra that make unrequited love Achilles’ motive for killing Troilus. By the IV century of our era this story had been elaborated into a sadomasochistic version in which Achilles causes the death of his beloved by crushing him in a lover’s embrace. As a rule, the post-classical tradition shows Achilles as heterosexual and having an exemplary asexual friendship with Patroclus. The figure of Achilles remained polyvalent. The classical Greek pederastic tradition only sporadically assimilated him, new variations appeared in pagan writings after the Golden Age of Hellenic civilization, and medieval Christian writers deliberately suppressed the homoerotic nuances of the figure.”

W. M. Clarke, Achilles and Patroclus in Love (1978)

AESCHINES

Athenian orator. His exchanges with Demosthenes in the courts in 343 and 330 reflect the relations between Athens and Macedon in the era of Alexander the Great. Aeschines and Demosthenes were both members of the Athenian boule (assembly) in the year 347-46, and their disagreements led to 16 years of bitter enmity. Demosthenes opposed Aeschines and the efforts to reach an accord with Philip of Macedon, while Aeschines supported the negotiations and wanted to extend them into a peace that would provide for joint action against aggressors and make it possible to do without Macedonian help. In 346-45 Demosthenes began a prosecution of Aeschines for his part in the peace negotiations – Aeschines replied with a charge that Timarchus, Demosthenes’ ally, had prostituted himself with other males and thereby incurred atimia, <civic dishonor>, which disqualified him from addressing the assembly. Aeschines’ stratagem was successful, and Timarchus was defeated and disenfranchised. The oration is often discussed because of the texts of the Athenian laws that it cites, as well as such accusations that Timarchus had gone down to Piraeus, ostensibly to learn the barber’s trade.

AESCHYLUS

QUEM DISSE, JAEGER, QUE NÃO SE PODE SER SOLDADO E POETA AO MESMO TEMPO? First of the great Attic tragedians. Aeschylus fought against the Persians at Marathon and probably Salamis. Profoundly religious and patriotic, he produced, according to one catalogue, 72 titles, but 10 others are mentioned elsewhere. He was the one who first added a second actor to speak against the chorus. Of his 7 surviving tragedies, none is pederastic. His lost Myrmidons, however, described in lascivious terms the physical love of Achilles for Patroclus’ thighs, altering the age relationship given in Homer’s Iliad – where Patroclus is a few years the older, but as they grew up together, they were essentially agemates – to suggest that Achilles was the lover (erastes) of Patroclus.

Plato had Phaedrus point out the confusion, and argue that Patroclus must have been the older and therefore the lover, while the beautiful Achilles was his beloved (Symposium, 180a). Among Attic tragedians Aeschylus was followed by Sophocles, Euripides, and Agathon.

Sophocles (496-406 B.C.), who first bested Aeschylus in 468 and added a third actor, wrote 123 tragedies of which 7 survive, all from later than 440. At least 4 of his tragedies were pederastic. Euripides (480-406 B.C.) wrote 75 tragedies of which 19 survive, and the lost Chrysippus, and probably some others as well, were pederastic. Euripides loved the beautiful but effeminate tragedian Agathon until Agathon was 40. The latter, who won his first victory in 416, was the first to reduce the chorus to a mere interlude, but none of his works survive.

All four of the greatest tragedians wrote pederastic plays but none survive, possibly because of Christian homophobia. The tragedians seem to have shared the pederastic enthusiasm of the lyric poets and of Pindar, though many of their mythical and historical source-themes antedated the formal institutionalization of paiderasteia in Greece toward the beginning of the sixth century before our era.”

(o artigo de William Percy foi transcrito na íntegra)

AFRICA, NORTH

Pederasty was virtually pandemic in North Africa during the periods of Arab and Turkish rule. Islam as a whole was tolerant of pederasty, and in North Africa particularly so. (The Islamic high-water points in this respect may tentatively be marked out as Baghdad of The Thousand and One Nights, Cairo of the Mamluks, Moorish Granada, and Algiers of the 16th and 17th centuries.) The era of Arabic rule in North Africa did, however, witness occasional puritan movements and rulers, such as the Almohads and a Shiite puritanism centered in Fez (Morocco). This puritanism continues with the current King Hassan II of Morocco, who is, however, hampered by an openly homosexual brother.”

400 Franciscan friars left the Spain of Isabel the Catholic and embraced Islam rather than <mend their ways>, as she had commanded them to do.”

Universal throughout pre-colonial North Africa was the singing and dancing boy, widely preferred over the female in café entertainments and suburban pleasure gardens. A prime cultural rationale was to protect the chastity of the females, who would instantly assume the status of a prostitute in presenting such a performance. The result was several centuries of erotic performances by boys, who were the preferred entertainers even when female prostitutes were available, and who did not limit their acts to arousing the lust of the patrons. A North African merchant could stop at the café for a cup of tea and a hookah [narguilé], provided by a young lad, listen to the singing, and then proceed to have sex with the boy right on the premises, before returning to his shop.

The present writer has spoken with a Tunisian supervisor of schools who firmly believes in the death penalty for all homosexuals. Thus, in their rush to modernism, Third World leaders often adopt the sexual standards of medieval Christendom, even as Europe and America are moving toward legalization and tolerance of same-sex activity. Such, at least in part, is also the plight of modern North Africa.”

Tunisia. A small and impoverished country of some 4 million, Tunisia’s high birthrate keeps the country very young – about half the people are under 18. Although it is common to see men walking hand-in-hand (as in all Islamic countries), it would not be wise for a foreigner to adopt the practice with a male lover. Tunisians can easily tell the difference between two friends of approximately equal status (where hand-holding is expected) and a sexual relation (which is <officially> disapproved of and therefore not to be made public).” “In the days of Carthage, the city was known for its perfumed male prostitutes and courtesans. After Carthage was destroyed in the Punic wars, Tunisia became a Roman colony. The country did not regain its independence until modern times. The Romans were supplanted by the Vandals, who in turn surrendered the country to the Byzantine Empire. The rise of the followers of Muhammad swept Tunisia out of Christendom forever, and the country eventually passed into the Turkish Empire, where it remained until the French protectorate.”

Marxist societies abominate homosexuality, and this influence has had a chilling effect on Algeria. The passing tourist will see nothing of such activity, although residents may have a different experience. Another fact is that Algerians do not like the French (because of the war) and this dislike is frequently extended to all people who look like Frenchmen, though they may be Canadian or Polish. It is a strange country, where you can spot signs saying <Parking Reserved for the National Liberation Front> (the stalls are filled with Mercedes Benzes), and also the only place in all of North Africa where the present writer has even seen a large graffito proclaiming <Nous voulons vivre français!> (We want to live as Frenchmen!).

The adventures of Oscar Wilde and André Gide in Tunisia and Algeria before the war are good evidence that this modern difference between the two countries was in fact caused by the trauma of the war. There is better evidence in the history of Algiers long before. During the 16th and 17th centuries, Algiers was possibly the leading homosexual city in the world. It was the leading Ottoman naval and administrative center in the western Mediterranean, and was key to Turkey’s foreign trade with every country but Italy. Of the major North African cities, it was the furthest from the enemy – Europe. It was the most Turkish city in North Africa, in fact the most Turkish city outside Turkey.”

The bath-houses (hammams) of Fez were the object of scandalous comments around 1500. Two factors assume a bolder relief in Morocco, although they are typical of North Africa as a whole. One is a horror of masturbation. This dislike, combined with the seclusion of good women and the diseases of prostitutes, leads many a Maghrebi [africano setentrional] to regard anal copulation with a friend as the only alternative open to him, and clearly superior to masturbation. It also leads

to such behavior being regarded as a mere peccadillo. The other, more peculiarly Moroccan tradition is that of baraka, a sort of <religious good luck>. It is believed that a saintly man can transmit some of this baraka to other men by the mechanism of anal intercourse. (Fellatio has traditionally been regarded with disgust in the region, although the 20th century has been changing attitudes.)”

Malek Chebel, L’Esprit de sérail: Perversions et marginalités sexuelles au

Magreb, Paris: Lieu Commun, 1988.

ALCIBIADES

Reared in the household of his guardian and uncle Pericles, he became the eromenos and later intimate friend of Socrates, who saved his life in battle. His, brilliance enabled him in 420 to become leader of the extreme democratic faction, and his imperialistic designs led Athens into an alliance with Argos and other foes of Sparta, a policy largely discredited by the Spartan victory at Mantinea. He sponsored the plan for a Sicilian expedition to outflank Sparta, which ended after his recall in the capture of thousands of Athenians, most of whom died in the salt mines where they were confined, but soon after the fleet reached Sicily his enemies recalled him on the pretext of his complicity in the mutilation of the Hermae, the phallic pillars marking boundaries between lots of land. He escaped, however, to Sparta and became the adviser of the Spartan high command. Losing the confidence of the Spartans and accused of impregnating the wife of one of Sparta’s two kings, he fled to Persia, then tried to win reinstatement at Athens by winning Persian support for the city and promoting an oligarchic revolution, but without success. Then being appointed commander by the Athenian fleet at Samos, he displayed his military skills for several years and won a brilliant victory at Cyzicus in 410, but reverses in battle and political intrigue at home led to his downfall, and he was finally murdered in Phrygia in 404 [Sócrates, mais velho, foi condenado apenas em 399]. Though an outstanding politician and military leader, Alcibiades compromised himself by the excesses of his sexual life, which was not confined to his own sex, but was uninhibitedly bisexual, as was typical of a member of the Athenian aristocracy. The Attic comedians scolded him for his adventures; Aristophanes wrote a play (now lost) entitled Triphales (The man with three phalli), in which Alcibiades’ erotic exploits were satirized. In his youth, admired by the whole of Athens for his beauty, he bore on his coat of arms an Eros hurling a lightning bolt. Diogenes Laertius said of him that <when a young man, he separated men from their wives, and later, wives from their husbands,> while the comedian Pherecrates declared that <Alcibiades, who once was no man, is now the man of all women>. He gained a bad reputation for introducing luxurious practices into Athenian life, and even his dress was reproached for extravagance. He combined the ambitious political careerist and the bisexual dandy, a synthesis possible only in a society that tolerated homosexual expression and even a certain amount of heterosexual licence in its public figures. His physical beauty alone impressed his contemporaries enough to remain an inseparable part of his historical image.”

Walter Ellis, Alcibiades, New York: Routledge, 1989;

Jean Hatzfeld, Alcibiade: Étude sur l’histoire d’Athènes à la fin du Ve siècle, Paris: Presses Universitaires de France, 1951.

ANARCHISM

Étienne de la Boétie (1530-1563) and William Godwin (1756-1836) wrote two proto-anarchist classics. Boétie’s Discours de la servitude voluntaire (1552-53) (translated as The Politics of Obedience and as The Will to Bondage) is still read by anarchists.” Ver excertos em Português em http://xtudotudo6.zip.net/arch2012-11-01_2012-11-30.html.

Pederasty comes not so much from lack of marriage bed as from a hazy yearning for masculine beauty.” Proudhon

The boy-lover John Henry Mackay (1864-1933), who wrote widely on both pederastic (under the pseudonym Sagitta) and anarchist topics, prepared the first (and only) biography of Stirner in 1898.”

Karl Marx & Frederick Engels had a personal disgust for homosexuality (Engels told Marx to be grateful that they were too old to attract homosexuals). Marx published full-length diatribes against Proudhon, Stirner, and Bakunin. He used Bakunin’s relationship to Nechaev as an excuse for expelling the anarchists from the International in 1872. Lenin later denounced anarchists as politically <infantile>, just as Freudians argued that homosexuality was an arrested infantile (or adolescent) development.”

Thomas Bell, a gay secretary of Frank Harris and a trick[?] of Wilde’s, has written a book on Wilde’s anarchism, available only in Portuguese.[!]”

In Spain during the Civil War (1936-39), anarchists fought against both the fascists and the communists, and for a time dominated large areas of the country. Many gay men and lesbians volunteered to fight in the war, while others worked as ambulance drivers and medics.”

Emma Goldman (1869-1940) is unquestionably the first person to lecture publicly in the United States on homosexual emancipation”

Whether from choice or necessity, anarchists have written extensively against prisons and in favor of prisoners, many of whom either from choice or necessity have experienced prison homosexuality. William Godwin opposed punishment of any kind and all anarchists have opposed any enforced sexuality.”

Both anarchists and gays can be found in the Punk Rock movement. Since many anarchists do not really believe in organizations, they can often be as hard to identify as homosexuals once were. During the early 80s at the New York Gay Pride marches, gay anarchists, S/M groups, gay atheists, NAMBLA, Pag Rag and others all marched together with banners as individual members drifted back and forth between all the groups.”

A major question is whether homosexuals are inherently attracted to anarchism or whether homosexuals have been equally attracted to democracy, communism, fascism, monarchy, nationalism or capitalism. Because of the secrecy, no one can ever figure what percentage of homosexuals are anarchists and what percentage of anarchists are homosexual. But only among anarchists has there been a consistent commitment, rooted in basic principles of the philosophy, to build a society in which every person is free to express him- or herself sexually in every way.”

ANDERSEN, HANS CHRISTIAN

His fame rests upon the 168 fairy tales and stories which he wrote between 1835 and 1872. Some of the very first became children’s classics from the moment of their appearance; the tales have since been translated into more than 100 languages. Some are almost child-like in their simplicity; others are so subtle and sophisticated that they can be properly appreciated only by adults.”

It has been speculated that the fairy tale The Little Mermaid, completed in January 1837, is based on Andersen’s self-identification with a sexless creature with a fish’s tail who tragically loves a handsome prince, but instead of saving her own future as a mermaid by killing the prince and his bride sacrifices herself and commits suicide – another theme of early homosexual apologetic literature.”

ANDROGYNY

There is a tendency to consider androgyny primarily psychic and constitutional, while hermaphroditism is anatomical.”

with reference to male human beings <androgynous> implies effeminacy. Logically, it should then mean <viraginous, masculinized> when applied to women, but this parallel is rarely drawn. Thus there is an unanalyzed tendency to regard androgynization as essentially a process of softening or mitigating maleness. Stereotypically, the androgyne is a half-man or incomplete male. In addition to these relatively specific usages there is a kind of semantic halo effect, whereby androgyny is taken to refer to a more all-encompassing realm. Significantly, in this broader, almost mystical sense the negative connotations fall away, and androgyny may even be a prized quality. For example the figures in the Renaissance paintings of Botticelli and Leonardo are sometimes admired for their androgynous beauty. It comes as no surprise that these aspects of the artists were first emphasized by homosexual art critics of the 19th century.”

In Hinduism and some African religions there are male gods who have female manifestations or avatars. A strand of Jewish medieval interpretation of Genesis holds that Adam and Eve were androgynous before the Fall. If this be the case, God himself must be androgynous since he made man <in his own image>. Working from different premises, medieval Christian mystics found that the compassion of Christ required that he be conceived of as a mother. Jakob Böhme (1575-1624), the German seer, held that all perfect beings, Christ as well as the angels, were androgynous. He foresaw that ultimately Christ’s sacrifice would make possible a restoration of the primal androgyny.”

androgyny points the way to a return to the Golden Age, an era of harmony unmarred by the conflict and dissension of today which are rooted in an unnatural polarization.”

Mircea Eliade, Mephistopheles and the Androgyne, New York: Harper and Row, 1965.

ANIMAL HOMOSEXUALITY

In the 1970s the well-publicized reports of the German ethologist Konrad Lorenz drew attention to male-male pair bonds in greylag geese. Controlled reports of <lesbian> behavior among birds, in which two females share the responsibilities of a single nest, have existed since 1885. Mounting behavior has been observed among male lizards, monkeys, and mountain goats. In some cases one male bests the other in combat, and then mounts his fellow, engaging in penile thrusts – though rarely with intromission. In other instances, a submissive male will <present> to a dominant one, by exhibiting his buttocks in a receptive manner. Mutual masturbation and fellatio have been observed among male stump-tailed macaques. During oestrus female rhesus monkeys engage in mutual full-body rubbing. Those who have observed these same-sex patterns in various species have noted, explicitly or implicitly, similarities with human behavior. It is vital, however, not to elide differences. Mounting behavior may not be sexual, but an expression of social hierarchy: the dominant partner reaffirms his superiority over the presenting one. In most cases where a sexual pairing does occur, one partner adopts the characteristic behavior of the other sex. While this behavioral inversion sometimes occurs in human homosexual conduct, it is by no means universal. Thus while (say) Roman homosexuality, which often involved slaves submitting to their masters, may find its analogue among animals, modern American androphilia largely does not. This difference suggests that the cultural matrix is important.” “In the light of this complexity, a simple identification of human homosexual behavior with same-sex interactions among animals is reductive, and may block or misdirect the search for an understanding of the remaining mysteries of human sexuality. Still, for those aspects to which they have relevance, animal patterns of homosexual behavior help to place human ones in a phylogenetic perspective – in somewhat the same way as animal cries and calls have a relation to human language, and the structures built by birds and beavers anticipate the feats of human architecture.

ARISTOCRATIC VICE

In the 17th century Sir Edward Coke attributed the origin of sodomy to <pride, excess of diet, idleness and contempt of the poor>. The noted English jurist was in fact offering a variation on the prophet Ezekiel (16:49). This accusation reflects the perennial truism that wealth, idleness, and lust tend to go together – a cluster summed up in the Latin term luxuria.

The stereotype of aristocratic vice has a sequel in the early 20th-century Marxist notion that the purported increase of homosexuality in modem industrial states stems from the decadence of capitalism; in this view the workers fortunately remain psychologically healthy and thus untainted by the debilitating proclivity. In the Krupp and von Moltke-Eulenburg scandals in Germany in 1903-08, journalists of the socialist press did their best to inflame their readership against the unnatural vices of the aristocracy, which were bringing the nation to the brink of ruin.”

ARISTOTLE

As a thinker Aristotle is outstanding for the breadth of his interests, which encompassed the entire panorama of the ancient sciences, and for his efforts to make sense of the world through applying an organic and developmental approach. In this way he departed from the essentialist, deductive emphasis of Plato. Unfortunately, Aristotle’s polished essays, which were noted for their style, are lost, and the massive corpus of surviving works derives largely from lecture notes. In these the wording of the Greek presents many uncertainties”

Although Aristotle is known to have had several male lovers, in his writings he tended to follow Plato’s lead in favoring restraints on overt expression of homoerotic feelings. He differs, however, from Plato’s ethical and idealizing approach to male same-sex love by his stress on biological factors. In a brief but important treatment in the Nicomachean Ethics (7:5) he was the first to distinguish clearly between innate and acquired homosexuality. This dichotomy corresponds to a standard Greek distinction between processes which are determined by nature (physis) and those which are conditioned by culture or custom (nomos). The approach set forth in this text was to be echoed a millennium and a half later in the Christian Scholastic treatments of Albertus Magnus and Thomas Aquinas (Summa Theologiae, 31:7). In The History of Animals (9:8), Aristotle anticipates modem ethology by showing that homosexual behavior among birds is linked to patterns of domination and submission. In various passages he speaks of homosexual relations among noted Athenian men and boys as a matter of course. His treatment of friendship (Nicomachean Ethics, books 8 and 9) emphasizes its mutual character, based on the equality of the parties, which requires time for full consolidation. He takes it as given that true friendship can occur only between two free males of equal status, excluding slaves and women. Aristotle’s ideas on friendship were to be echoed by Cicero, Erasmus, Michel de Montaigne, and Francis Bacon.

The Problems (4:26), a work attributed to Aristotle but probably compiled by a follower, attributes desire for anal intercourse in men to the accumulation of semen in the fundament. This notion derives from the common Greek medical view that semen is produced in the region of the brain and then transferred by a series of conduits to the lower body.

In England and America a spurious compilation of sexual and generative knowledge, Aristotle’s Masterpiece, enjoyed a long run of popularity. Compiled from a variety of sources, including the Hippocratic and Galenic medical traditions, the medieval writings of Albertus Magnus, and folklore of all kinds, this farrago was apparently first published in English in 1684. A predecessor of later sex manuals, the book contains such lore as the determination of the size of the penis from that of the nose.

ART, VISUAL

Before the 16th century, we find only representations of friendship between women; then in the Venetian school there begins an imagery of lesbian dalliance – but only for male entertainment. Only in recent decades has there been a substantial production of lesbian art by lesbians and for lesbians.”

pe(re)nial tradition

In antiquity the Greeks were noted for their national peculiarity of exercising in the nude. Out of this custom grew the monumental nude statue, a genre that Greece bequeathed to the world. The tradition began a little before 600 B.C. with the sequence of nude youths known as kowoi. (Monumental female nudes did not appear until ca. 350 B.C.) Although archeologists have maintained a deafening silence on the matter, it seems clear that the radiance of these figures can only be explained in the light of the Greek homoerotic appreciation of the male form. Whatever else they may have been, the kowoi were the finest pin-ups ever created.

The Romans did not share the Greek fondness for nude exercise and their attitude toward homosexual behavior was more ambiguous. Perhaps it is not surprising that they favored the old religious subject of the hermaphrodite, the double-sexed being, but now reduced largely to a subject of titillation [erotização – vulgarização]. They also were capable of depicting scenes of peeping toms [machos, provavelmente felinos] that recall the atmosphere of Petronius’s Satyricon.”

After the reign of Hadrian, who died in 138, the great age of ancient homoerotic art was over. Consequently, the adoption of Christianity cannot be said to have killed off a vibrant tradition, but it certainly did not encourage its revival.”

Since Freud’s essay of 1910 the enigmatic figure of Leonardo has offered a special appeal.”

By the turn of the century magazines began to appear in Germany presenting, by means of photographic reproduction, works appealing exclusively to male homosexual taste; lesbian magazines were only to emerge after World War I. Exceptionally, the American George Piatt Lynes (1907-1955) pursued a career in both mainstream and gay media (the latter in his extensive work for the Swiss magazine, Dei Kreis).”

Although the Surrealists sought to explore sexuality, the homophobia of their leader André Breton placed a ban on gay subjects – or at least male ones. Two related figures did explore in this realm however, the writer Jean Cocteau (1889-1963), with his drawings of sailors, and the Argentine-born painter Leonor Fini (b. 1908), with enigmatic scenes of women. The ambitious Russian-born Pavel Tchelitchev (1898-1957), connected with several avant-garde circles in Europe and America, also belongs in this company.”

It may be doubted that the long-standing premises of the modernist aesthetic – its sense of discontinuity, irony, and high seriousness – have been definitively overcome, but there is no doubt that the boundaries of the acceptable have been broadened. This enlargement creates opportunities for gay and lesbian artists. At the same time, however, the tyranny of the market and of critical stereotypes is as great as ever, so that artists are under great pressure to settle into niches that have been prepared for them. It should be remembered that many painters, sculptors, and photographers whose personal orientation is homosexual are as reluctant to be styled <gay artists> as they are to be called neo-expressionist, neo-mannerist, or some other label.”

BALZAC

Vautrin’s secret is that he does not love women, but when and how does he love men? He does so only in the rents of the fabric of the narrative, because the technique of the novelist lies exactly in not speaking openly, but letting the reader know indirectly the erotic background of the events of his story. The physical union of Vautrin with Lucien he presents with stylistic subtlety as a predestined coupling of two halves of one being, as submission to a law of nature. The homosexual aspect of the discourse must always be masked, must hide behind a euphemism, a taunting ambiguity that nevertheless tells all to the knowing reader. The pact struck between Vautrin and Lucien is a Faustian one. Vautrin dreams of owning a plantation in the American South (sic) where on a 100,000 acres he can have absolute power over his slaves – including their bodies. Balzac refers explicitly to examples of the pederasty of antiquity as a creative, civilization-building force by analogy with the Promethean influence of Vautrin upon his beloved Lucien. Vautrin is almost diabolical as a figure of exuberant masculinity, while Lucien embodies the gentleness and meekness of the feminine. The unconscious dimension of their relationship Balzac underlines with magnificent symbolism. He characterizes Vautrin as a monster, <but attached by love to humanity>. Homosexual love is not relegated to the margin of society, as in the dark underworld of the prison, but expresses the fullness of affection with all its physical demands and its spiritual powers.”

Having revealed to the hero and heroine an ideal love, Séraphitus-Séraphita departs for a heaven free of the earthly misery that human beings must endure.”

BARTHES, ROLAND

Barthes introduced into the discussion of literature an original interpretation of semiotics based on the work of the Swiss linguist Ferdinand de Saussure. His work was associated with the structuralist trend as represented by Claude Lévi-Strauss, Julia Kristeva, Tzvetan Todorov, and others. Attacked by the academic establishment for subjectivism, he formulated a concept of criticism as a creative process on an equal plane with fiction and poetry. Even those favorable to his work conceded that this could amount to a <sensuous manhandling> of the text. The turning point in his criticism is probably the tour de force S/Z (Paris, 1970), analyzing Balzac’s novella about an aging castrato, Sarrasine. Here Barthes turns away from the linear, goal-oriented procedures of traditional criticism in favor of a new mode that is dispersed, deliberately marginal, and <masturbatory>. In literature, he emphasized the factor of jouissance, a word which means both <bliss> and <sexual ejaculation>. Whether these procedures constitute models for a new feminist/gay critical practice that will erode the power of patriarchy, as some of his admirers have asserted, remains unclear.

Barthes, who never married, was actively homosexual during most of his life. Although his books are often personal, in his writing he excluded this major aspect of his experience, even when writing about love. Because of the attacks launched against him for his critical innovations, he was apparently reluctant to give his enemies an additional stick with which to beat him. Barthes’ posthumously published Incidents (Paris, 1987) does contain some revealing diary entries. The first group stems from visits he made, evidently in part for sexual purposes, to North Africa in 1968-69. The second group of entries records restless evenings in Paris in the autumn of 1979 just before his death. These jottings reveal that, despite his great fame, he frequently experienced rejection and loneliness. Whatever his personal sorrows, Barthes’ books remain to attest a remarkable human being whose activity coincided with an ebullient phase of Western culture.”

Sanford Freedman, Roland Barthes: A Bibliographical Reader’s Guide, New York: Garland, 1983.

BEAT GENERATION

The origins of this trend in American culture can be traced to the friendship of three key figures in New York City at the beginning of the 1940s. Allen Ginsberg (1926-[1997]) and Jack Kerouac (1922-1969) met as students at Columbia University, where both were working at becoming writers. In 1944 Ginsberg encountered the somewhat older William Burroughs (1914-[1997]), who was not connected with the University, but whose acquaintance with avant-garde literature supplied an essential intellectual complement to college study. Both Ginsberg and Burroughs were homosexual; Kerouac bisexual. At first the ideas and accomplishments of the three were known only to a small circle. But toward the end of the 1950s, as their works began to be published and widely read, large numbers of young people, <beatniks> and <hippies>, took up elements of their life-style.”

The word beat was sometimes traced to <beatific>, and sometimes to <beat out> and similar expressions, suggesting a pleasant exhaustion that derives from intensity of experience. Its appeal also reflects the beat and improvisation of jazz music, one of the principal influences on the trend. Some beat poets tried to match their writings with jazz in ballroom recitals, prefiguring the more effective melding of words and music in folk and rock. The ideal of spontaneity was one of the essential elements of the beat aesthetic. These writers sought to capture the immediacy of speech and lived experience, which were, if possible, to be transcribed directly as they occurred. This and related ideals reflect a new version of American folk pragmatism, preferring life to theory, immediacy to reflection, and feeling to reason. Contrary to what one might expect, however, the beat generation was not anti-intellectual, but chose to seek new sources of inspiration in neglected aspects of the European avant-garde and in Eastern thought and religion.”

First published in Paris in 1959, his novel Naked Lunch became available in the United States only after a series of landmark obscenity decisions. With its phantasmagoric and sometimes sexually explicit subject matter, together with its quasi-surrealist techniques of narrative and syntactic disjunction, this novel presented a striking new vision. This novel was followed by The Soft Machine and The Ticket That Exploded to form a trilogy. Nova Express (1964) makes extensive use of the <cut-up> techniques, which Burroughs had developed with his friend Brion Gysin. A keen observer of contemporary reality in several countries, Burroughs has sought to present a kind of <world upside down> in order to sharpen the reader’s consciousness. One of his major themes has been his anarchist-based protest against what he sees as increasingly repressive social control through such institutions as medicine and the police. Involved with

drugs for some years, he managed to kick the habit, but there is no doubt that such experiences shaped his viewpoint. His works have been compared to pop art in painting and science fiction in literature. Sometimes taxed for misogyny, his world tends to be a masculine one, sometimes exploiting fantasies of regression to a hedonistic world of juvenile freedom. Burroughs’s hedonism is acerbic and ironic, and his mixture of qualities yields a distorting mirror of reality which some have found, because perhaps of the many contradictions of later 20th-century civilization itself, to be a compelling representation.”

Ted Morgan, Literary Outlaw: The Life and Times of William Burroughs, New York: Henry Holt, 1988.

BEATS AND HIPPIES

The journalistic word <beatnik> is a pseudo-Slavic coinage of a type popular in the 1960s, the core element deriving from <beat> (generation), the suffix -nik being the formative of the noun of agent in Slavic languages. The term <hippie> was originally a slightly pejorative diminutive of the beat <hipster>, which in turn seems to derive from 1940s jivetalk adjective <hep>, meaning <with it, in step with current fashions>. The original hippies were a younger group with more spending money and more flamboyant dress. Their music was rock instead of the jazz of the beats. Despite differences that seemed important at the time, beats and hippies are probably best regarded as successive phases of a single phenomenon.

Attracted by the prestige of the beat writers, many beats/hippies cultivated claims to be poets and philosophers. In reality, once the tendency became modish only a few of the beat recruits were certifiably creative in literature and the arts; these individuals were surrounded by masses of people attracted by the atmosphere of revolt and experiment, or just seeking temporary separation – a moratorium as it was then called – from the banalities of ordinary American life. At its height the phenomenon supported scores of underground newspapers, which were read avidly by curious outsiders as well.”

Significantly, the street term for the Other, <straight>, could refer either to non-drug users or heterosexuals.”

Mysticism exerted a potent influence among beats and hippies, and some steeped themselves in Asian religions, especially Buddhism, Taoism, and Sufism. This fascination was not new, inasmuch as ever since the foundation of Theosophy as an official movement in 1875, American and other western societies had been permeated by Eastern religious elements. Impelled by a search for wisdom and cheap living conditions, many hippies and beatniks set out for prolonged sojourns in India, Nepal, and North Africa. Stay-at-homes professed their deep respect for American Indian culture.”

Most hippies were heterosexual, but their long hair exposed them to jibes of effeminacy. In this way they could experience something of the rejection that had always been the lot of homosexuals.”

With its adoption of a variant of jive talk, largely derived from black urban speech, the movement has left a lasting impression on the English vernacular, as seen in such expressions as <cool>, <spaced out>, and <rip off>.”

Marco Vassi, The Stoned Apocalypse, New York: Trident, 1972.

BENTHAM, JEREMY (1748-1832)

English philosopher and law reformer. Bentham was the founder of the Utilitarian school of social philosophy, which held that legislation should promote the greatest happiness of the greatest number. (…) His Principles of Morals and Legislation (1789) was eventually extremely influential in England, France, Spain, and Latin America where several new republics adopted constitutions and penal codes drawn up by him or inspired by his writings.

Bentham’s utilitarian ethics led him to favor abolition of laws prohibiting homosexual behavior. English law in his day (and until 1861) prescribed hanging for sodomy and during the early 19th century was enforced with, on the average, 2 or 3 hangings a year. Bentham held that relations between men were a source of sexual pleasure that did not lead to unwanted pregnancies and hence a social good rather than a social evil. He wrote extensive notes favoring law reform about 1774 and a 50-page manuscript essay in 1785. In 1791, the French National Assembly repealed France’s sodomy law but in England the period of reaction that followed the outbreak of the French Revolution made reforms impossible. In 1814 and 1816 Bentham returned to the subject and wrote lengthy critiques of traditional homophobia which he regarded as an irrational prejudice leading to <cruelty and intolerance>. In 1817-18 he wrote over 300 pages of notes on homosexuality and the Bible. Homophobic sentiment was, however, so intense in England, both in the popular press and in learned circles, that Bentham did not dare to publish any of his writings on this subject. They remained in manuscript until 1931 when C.K. Ogden included brief excerpts in an appendix to his edition of Bentham’s Theory of Legislation. Bentham’s manuscript writings on this subject are excerpted and described in detail in Louis Crompton’s 1985 monograph on Byron. Bentham’s views on homosexuality are sufficiently positive that he might be described as a precursor of the modern gay liberation movement. Bentham not only treats legal, literary, and religious aspects of the subject in his notes, but also finds support for his opinions in ancient history and comparative anthropology.”

BIBLIOGRAPHY

The emergence of systematic bibliographical control had to await the birth of the first homosexual emancipation movement in Berlin in 1897. This movement firmly held that progress toward homosexual rights must go hand in hand with intellectual enlightenment. Accordingly, each year’s production was noted in the annual volumes of the Jahrbuch fur sexuelle Zwischenstufen (1899-1923); by the end of the first ten years of monitoring over 1,000 new titles had been recorded. Although surveys were made of earlier literature, up to the time of the extinction of the movement by National-Socialism in 1933, no attempt had been made to organize this material into a single comprehensive bibliography of homosexual studies. Nonetheless, much valuable material was noted in the vast work of Magnus Hirschfeld, Die Homosexualität des Mannes und des Weisses (Berlin, 1914).”

Athenaeus (fl. ca. A.D. 200), Deipnosophists, Book 13;

Félix Buffiére, Eros adolescent: la pederastie dans la Grece antique (Paris, 1980);

Vern Bullough et al., Annotated Bibliography of Homosexuality (2 vols., New York, 1976);

Wayne R. Dynes, Homosexuality: A Research Guide (New York, 1987).

BRAZIL [HOMOPHOBIA NEWLAND] & PORTUGAL

The Colonial Era. When the Portuguese reached Brazil in 1500, they were horrified to discover so many Indians who practiced the <unspeakable sin of sodomy>. In the Indian language they were called tivira, and André Thevet, chaplain to Catherine de Medici, described them in 1575 with the word bardache, perhaps the first occasion on which this term was used to describe Amerindian homosexuals. The native women also had relations with one another: according to the chroniclers they were completely <inverted> in appearance, work, and leisure, preferring to die rather than accept the name of women. Perhaps these cacoaimbeguire contributed to the rise of the New World Amazon myth.

In their turn the blacks – more than 5 million were imported during almost 4 centuries of slavery – made a major contribution to the spread of homosexuality in the <Land of the Parrots>. The first transvestite in Brazilian history was a black named Francisco, of the Mani-Congo tribe, who was denounced in 1591 by the Inquisition visitors, but refused to discard women’s clothing. Francisco was a member of the brotherhood of the quimbanba, homosexual fetishists who were well known and respected in the old kingdom of Congo-Angola. Less well established than among the Amerindians and Africans, the Portuguese component (despite the menace of the Tribunal of the Holy Office, 1536-62) continued unabated during the whole history of the kingdom, involving 3 rulers and innumerable notables, and earning sodomy the sobriquet of the <vice of the clergy>. If we compare Portugal with the other European countries of the Renaissance – not excluding England and the Netherlands – our documentation (abundant in the archives of the Inquisition) requires the conclusion that Lisbon and the principal cities of the realm, including the overseas metropolises of Bahia and Rio de Janeiro, boasted a gay subculture that was stronger, more vital, and more stratified than those of other lands, reflecting the fact that Luso-Brazilian gays were accorded more tolerance and social acceptance. Thirty sodomites were burned by the Inquisition during 3 centuries of repression, but none in Brazil, despite the more than 300 who were denounced for practicing the <evil sin>. They were referred to as sodomitas and fanchonos.

Independence. With Brazilian independence and the promulgation of the first constitution (1823) under the influence of the Napoleonic Code, homosexual behavior ceased to be criminal, and from this date forward there has been no Brazilian law restricting homosexuality [Bolsonaro e seu séquito se encontram quase 200 anos enterrados na História; me admira que não tenham morrido asfixiados em seu ideal de mundo até agora!] – apart from the prohibition with persons less than 18 years of age, the same as for heterosexuals. Lesbianism, outlawed by the Inquisition since 1646, had always been less visible than male homosexuality in Brazil, and there is no record of any mulher-macho (<male woman>) burned by the Portuguese Inquisition. In the course of Brazilian history various persons of note were publicly defamed for practicing homosexuality: in the 17th century 2 Bahia governors, Diogo Botelho and Câmara Coutinho, both contemporaries of the major satirical poet, Gregorio de Matos, author of the oldest known poem about a lesbian in the Americas, Nise. He himself was brought before the Inquisition for blasphemy in saying that <Jesus Christ was a sodomite>. [HAHAHA!] In the 19th century the revolutionary leader Sabino was accused of homosexual practices. A considerable surviving correspondence between Empress Leopoldina, consort of the Brazil’s first sovereign, Dom Pedro, with her English lady in waiting, Maria Graham, attests that they had both a homosexual relationship and an intense homoemotional reciprocity. Such famous poets and writers as Álvares de Azevedo (1831-1852), Olavo Bilac (1865-1918), and Mário de Andrade (1893-1945) rank among the votaries of Ganymede. The list also includes the pioneer of Brazilian aeronautics, Alberto Santos-Dumont (1873-1932), after whose airship the pommes Santos-Dumont were named. At the end of the 19th century homosexuality appears as a literary theme. In 1890 Aluizio Azevedo included a realistic lesbian scene in O Cortiço, and in 1895 Adolfo Caminha devoted the entire novel O Bom Crioulo (which has been translated into English) to a love affair between a cabin boy and his black protector. In the faculties of medicine of Rio de Janeiro and Bahia various theses addressed the homosexual question, beginning with O Androfilismo of Domingos Firmínio Ribeiro (1898) and O Homosexualismo: A Libertinagem no Rio de Janeiro (1906) by Pires de Almeida – both strongly influenced by the European psychiatrists Moll, Krafft-Ebing, and Tardieu. From 1930 comes the first and most outspoken Brazilian novel on lesbianism, O Terceiro Sexo, by Odilon Azevedo, where lesbian workers founded an association intended to displace men from power, thus setting forth a radical feminist discourse.

In 1976 appeared the main gay journal of Brazilian history, O Lampião (The Lantern)[!], which had a great positive effect on the rise of the Brazilian homosexual movement.” “One of the chief battles of gay activists is to denounce the repeated murders of homosexuals – about every 10 days the newspapers report a homophobic crime.”

Recently the transvestite Roberta Close appeared on the cover of the main national magazines, receiving the accolade of <the model of the beauty of the Brazilian woman>. In the mid-1980s more than 400 Brazilian transvestites could be counted in the Bois de Boulogne in Paris; many also offer themselves in Rome. When they hear the statistics of the Kinsey Report, Brazilian gays smile, suggesting through experience and <participant observation> that in Brazil the proportion of predominantly homosexual men is as high as 30%.

Brazil, once the paradise of gays, has entered a difficult path.” Premonitório. Mas falava apenas da AIDS.

BUDDHISM

Among world religions, Buddhism has been notable for the absence of condemnation of homosexuality as such.”

For an account of the earliest form of Buddhism, scholars look to the canonical texts of the Tipitaka preserved in the Pali language and transmitted orally until committed to writing in the 2nd century B.C. These scriptures remain authoritative for the Theravada or Hinayana school of Buddhism, now dominant in Southeast Asia and Sri Lanka. The Pali Canon draws a sharp distinction between the path of the lay-person and that of the bhikkhu (mendicant monk, an ordained member of the Buddhist Sangha or Order). The former is expected primarily to support the Sangha and to improve his karmic standing through the performance of meritorious deeds so that his future lives will be more fortunate than his present one. The bhikkhu, in contrast, is expected to devote all his energies to self-liberation, the struggle to cast off the attachments which prevent him from attaining the goal of nirvana in the present lifetime.”

all acts involving the intentional emission of his semen are prohibited for the monk; the insertion of the penis into a female or male is grounds for automatic expulsion from the Sangha, while even masturbation is a (lesser) offense.” “there is no law against a monk receiving a penis into his own body.”

The full rules of the vinaya are not applied to the samanera or novice monk, who may be taken into the Sangha as early as 7 years old and who is generally expected though not obligated to take the Higher Ordination by the age of 21. In this way the more intense sexual drive of the male teenager is tacitly allowed for. A samanera may masturbate without committing an offense. Interestingly, while a novice commits a grave offense if he engages in coitus with a female, requiring him to leave the Sangha, should he instead have sex with a male he is only guilty of a lesser offense requiring that he reaffirms his samanera vows and perform such penance as is directed by his teacher. This may be the only instance of a world religion treating homosexual acts more favorably than heterosexual ones.”

it has been speculated that homosexual orientation may arise from the residual karma of a previous life spent in the opposite gender from that of the body currently occupied by the life-continuum. This explanation contains no element of negativity but rather posits homosexuality as a <natural> result of the rebirth cycle.”

The form of Buddhism which spread northward into Tibet, China, Japan, Korea, and Mongolia from its Indian heartland came to be known as the Mahayana. It de-emphasized the dichotomy between monk and lay-person and relaxed the strict vinaya codes, even permitting monks to marry (in Japan). The Mahayana doctrinally sought to obliterate categorical thinking in general and resolutely fought against conceptual dualism. These tendencies favored the development of positive attitudes toward homosexual practices, most notably in Japan.”

When Father Francis Xavier arrived in Japan in the mid-16th century with the hope of converting the Japanese to Christianity, he was horrified upon encountering many Buddhist monks involved in same-sex relationships; indeed, he soon began referring to homoeroticism as the <Japanese vice>. Although some Buddhist monks condemned such relationships, notably the monk Genshin, many others either accepted or participated in same-sex relationships. Among Japanese Buddhist sects in which such relationships have been documented are the Jishu, Hokkeshu, Shingon, and Zen.”

Zen, that form of Buddhism perhaps most familiar to Westerners, emerged during the 9th century. In the Zen monasteries of medieval Japan, same-sex relations, both between monks and between monks and novices (known as kasshiki and shami), appear to have been so commonplace that the shogun Hojo Sadatoki (whom we might now refer to as <homophobic>) initiated an unsuccessful campaign in 1303 to rid the monasteries of same-sex love. Homoerotic relationships occurring within a Zen Buddhist context have been documented in such literary works as the Gozan Bungaku, Iwatsutsuji, and Comrade Loves of the Samurai [1972]. The blending of Buddhism and homoeroticism has continued to figure prominently in the works of contemporary Japanese writers, notably Yukio Mishima and Mutsuo Takahashi.”

the Gelugpas [seita tibetana dos Lamas que se sucedem] condemned heterosexual intercourse for monks, believing that the mere odor resulting from heterosexual copulation could provoke the rage of certain deities. Such misogynistic and anti-heterosexual notions may have encouraged same-sex bonding.”

Among those who may be credited with introducing the West to Buddhism are Walt Whitman and Henry David Thoreau, both of whom are thought to have loved members of the same sex and both of whom blended elements of Buddhism with elements of other spiritual traditions in their work. In the latter half of the 20th century, many American gays are practitioners of Buddhism, and the blending of homoeroticism and Buddhism may be found in the work of a number of gay American writers and musicians including Allen Ginsberg, Harold Norse, Richard Ronan, Franklin Abbott, and Lou Harrison.”

BYRON

The most influential poet of his day, with a world-wide reputation, Byron became famous with the publication of Childe Harold’s Pilgrimage (1812-

18), an account of his early travels in Portugal, Spain, Albania, and Greece. The proud, gloomy, guilt-ridden, alienated Harold defined the <Byronic hero> who was to reappear in various guises in Byron’s later poems, notably in Manfred, The Corsair, and Lara. The type became a defining image for European and American romanticism. Forced into exile in 1816 because of the scandal caused by his wife’s leaving him, Byron settled in Italy, principally in Venice. There he wrote his sparkling satire on cant and hypocrisy, Don Juan. He spent the last months of his life in Greece, trying to help the Greeks in their struggle to gain independence from the Turks.”

Because of the intense homophobia of English society these poems were ostensibly addressed to a woman, as the name Thyrza and Byron’s use of feminine pronouns implied.”

publicity about his love affair with his half-sister, Augusta Leigh, compounded the scandal [of his homosexuality].”

Byron’s last three poems, On This Day I Complete My 36th Year, Last Words on Greece, and Love and Death, poignantly describe his love for Loukas, which was not reciprocated.”

A surreptitiously published erotic poem, Don Leon, purporting to be Byron’s lost autobiography, probably written in 1833, had set forth many of the facts about Byron’s homosexuality but was dismissed as an unwarranted libel. An edition appeared in 1866 but it remained unknown to all but a few specialists. When the Fortune Press reprinted it in 1934, the publication was confiscated by the British police.”

CAESAR

In addition to his three wives and several mistresses, Julius Caesar had a number of homosexual affairs.”

Arthur D. Kahn, The Education of Julius Caesar: A Biography, a Reconstruction, New York: Schocken, 1986;

Caesar, Gallic Wars (uma prosa bélica comemorativa cortante)

CAPOTE

American novelist and journalist. Capote became famous at the age of 24 with his elegant, evocative book Other Voices, Other Rooms, which concerns the growing consciousness of a boy seeking to comprehend the ambivalent inhabitants of a remote Mississippi house. Dubbed <swamp baroque>, this short novel was easily assimilated into then-current notions of Southern decadence. (…) In 1966 he published In Cold Blood, a <non-fiction novel> about the seemingly senseless murder of a Kansas farm family by two drifters. In preparing for the book, Capote gained the confidence of the murderers, and was thus able to make vivid their sleazy mental universe.”

Capote became the confidant of rich and famous people, especially women, and he gathered their stories for incorporation in a major work which was intended to rival Marcel Proust. Yet when excerpts from this work-in-progress were published in magazines, not only were they found to be vulgar and lacking in insight, but Capote began to be dropped by the socialites he had so unsubtly satirized. Dismayed, the writer sank more and more into a miasma of alcohol, cocaine, and valium – his only consolation the devoted love, or so he claimed, of a succession of straight, proletarian young men whom he prized because of their very ordinariness.”

CARAVAGGIO

Caravaggio came under the protection of Cardinal Francesco Maria del Monte, a homosexual prelate. During this period he painted several works showing ambiguous or androgynous young men, including The Musicians (New York, Metropolitan Museum). Efforts have been made to deny the homoerotic implications of these works, but they seem feeble.”

caravaggio1

Only after World War II did his reputation begin to climb, attaining remarkable heights in the 1980s, when even the abstract artist Frank Stella praised him. In 1986 Derek Jarman’s stylish film Caravaggio was released, presenting the artist as bisexual, but emphasizing the homosexual side.”

caravaggio2
Baco/Dionísio pelas mãos do pintor bissexual italiano.

CASTRATI

The castrati were male singers emasculated in boyhood to preserve the soprano or contralto range of their voices, who from the 16th century to the 19th played roles in Italian opera.” “Boys are commonly mischievous, unruly, and troublesome, and by the time they have really been trained their voices are usually on the edge of breaking; falsettists do not share these drawbacks, but their voices have a peculiar, unpleasant quality, and as a rule cannot attain as high a range as the soprano.”

The elaborate a cappella style, which began to flourish about the middle of the 15th century, required a much wider range of voices and a higher degree of virtuosity than anything that had gone before, and for this task the existing singers were inadequate. The first response took the form of Spanish falsettists of a special kind, but by the end of the 16th century these had yielded to the castrati, who also dominated the new baroque art form – the opera, which was the principal musical activity of the Italian nation in the next two centuries. Opera was unlike legitimate theatre in that it traveled well; it was the first form of musical entertainment that was both popular and to a certain degree international, so that a star system transcending national borders arose. Leading singers were discussed, criticized, and compared in fashionable drawing rooms from Lisbon to St. Petersburg. (…) If other nations had some form of native opera, this ranked lower on the cultural scale and was indifferently sung, while the Italian version enjoyed the highest standard of singing that had ever been known, and will in all likelihood never again be attained. France alone refused admission to Italian singers, and virtually banned the castrati; but Frenchmen, like other Europeans, were full of praise for the opera of Italy.

Since no recording devices existed in the heyday of the castrati, the modern critic has no way of judging the quality of their performance, yet 6 generations of music-lovers preferred the voices of these <half-men> to those of women themselves and of whole men.

In this economic stratum, however, it was accepted that any male child who betrayed the slightest aptitude for music should be sold into servitude, just as in modern Thailand children are sold by their parents to labor in factories or serve in brothels. The successful castrato naturally tried to conceal his humble origins and pose as the scion of an honorable family. The singing-masters of that era were responsible for the perfection of the art of the castrati; no one since has rivaled them in perseverance and thoroughness, and in their perfect command of the capabilities and shortcomings of the human vocal organs. They usually worked in a conservatorio, though sometimes they had their own singing schools or tutored pupils on the side.

Since canon law condemned castration and threatened anyone involved in it with excommunication, which could be reinforced by civil penalties, the business had to be carried on more or less clandestinely, and everywhere prying questions brought only misleading and deceitful answers. The town of Lecce in Apulia, and Norcia, a small town in the Papal States about 20 miles east of Spoleto, are mentioned as notorious for the practice, though the castrati themselves came from all parts of the peninsula. The doctors most esteemed for their skill in the operation were those of Bologna, and their services were in demand not just in Italy but abroad as well.

The curriculum entailed much hard work, and was thorough and comprehensive; as much attention was given to the theory of singing as to its actual practice. Between the ages of 15 and 20, a castrato who had retained and embellished his voice, and passed the various tests with greater or lesser distinction, was considered ready for his debut. On contract to some opera house, he would often first be seen in a female part, for which his youth and fresh complexion would particularly suit him. His looks and unfamiliarity would perhaps gain him greater success than his art would have merited, to the rage and envy of his senior colleagues. Once his name was made, he would have his clique of admirers who attended en masse his every performance and extolled him as their idol; aristocratic ladies and gentlemen would fancy themselves in love with him and manipulate a piquant interview. Backstage, the rivalry with other singers could rage with intense virulence; and a castrato who was too vain and insolent might be assassinated by the hirelings of a rival’s protector. If, however, the performer did not please his audience, he would be doomed to touring small provincial opera houses, or to performing in a church choir. Dissatisfied with his situation, he could set off for Bologna, the marketplace for the musical profession in Italy, to better his fortunes. The castrati came in for a great amount of scurrilous and unkind abuse, and as their fame increased, so did the hatred of them. They were often castigated as malign creatures who lured men into homosexuality, and there were admittedly homosexual castrati, as Casanova’s accounts of XVIII century Italy bear witness. He mentions meeting an abbé whom he

took for a girl in disguise, but was later told that it was a famous castrate. In Rome in 1762, he attended a performance at which the prima donna was a castrato, the minion of Cardinal Borghese, who supped every evening with his protector. From his behavior on stage, <it was obvious that he hoped to inspire the love of those who liked him as a man, and probably would not have done so as a woman.> He concludes by saying that the holy city of Rome forces every man to become a pederast, even if it does not believe in the effect of the illusion which the castrati provoke.”

Opponents of castration have claimed that the practice caused its victims an early loss of voice and an untimely death, while others have affirmed that castration prolonged the life of the vocal cords, and even that of their owner. There is no solid evidence for either contention: the castrati had approximately the same life span as their contemporaries, and retired at roughly the same age as other singers. The operation appears to have had surprisingly little effect on the general health and well-being of the subject, any more than on his sexual impulses. The trauma was largely a psychological one, in an age when virility was deemed a sovereign virtue.A castração tardia não elimina a libido, ao contrário da crença vulgar. Não há solução fácil para o dilema da energia! Eu-nuco El-niño or neverminds

Toward the end of the XVIII century castrati went out of fashion, and new styles in musical composition led to the disappearance of these singers. Meyerbeer was the last composer of importance to write for the male soprano voice; his Il Crociato in Egitto, produced at Venice in 1824, was designed especially for a castrato star. Succeeding generations regarded their memory with derision and disgust, and were happy to live in an age when such products of barbarism were no longer possible. A few castrati performed in the Vatican chapel and some other Roman churches until late in the XIX century, but their vogue on the operatic stage had long passed.”

Angus Heriot, The Castrati in Opera

CATAMITE

The Latin common noun, catamitus, designating a minion or kept boy, is usually derived from the Greek proper name Ganymede(s), the favorite of Zeus. Another possible source is Kadmilos, the companion of the Theban god Kabeiros. The word entered English in 16th century as part of the Renaissance revival of classical literature, and has always retained a learned, quasi-exotic aura. The term could also be used as a verbal adjective, as <a catamited boy>.” “In modern English the termination -ite tends to be perceived as pejorative, as in Trotskyite (vs. Trotskyist) and sodomite.”

CATULLUS

Born at Verona, he spent most of his life in Rome, but kept a villa near his birthplace at Smirno on Lake Garda. Often considered the best Republican poet, he imitated Sappho as well as other archaic, classical, and Hellenistic models, upon which he often improved, and which he combined with native Latin traditions to create stunning, original pieces. He wrote poems, 250 of which survive, of happiness and bitter disappointment. Some are addressed to his mistress Clodia, 10 years his senior, whom he addressed as Lesbia (though with no insinuation of what we now call lesbianism), and who was unfaithful to him with other men. Homophobic Christians and modern schoolmasters have, however, greatly exaggerated the importance of the poems to Lesbia, which amount to no more than 1/8 of the Catullan corpus.”

Sophisticated and fastidious, he set the standard for the Augustan poets of love Ovid, Horace, Vergil, and Propertius. In the Silver Age even Martial acknowledged his debt to Catullus’ epigrams. Like those poets, and most specifically Tibullus, he showed little inhibition and equal attraction to boys and women, but also shared the traditional attitude that the active, full-grown male partner degraded the passive one, and that the threat to penetrate another male symbolized one’s superior virility and power. On the other hand, the accusation of having been raped by another male has a largely negative force”

CENSORSHIP AND OBSCENITY

The practice of tolerating certain hand-produced materials clearly shows that censorship is concerned not simply with the prohibition of materials, but with the size of the audience. It is for this reason that medical and other books dealing with sexual matters formerly had the crucial details in Latin.”

The urge to censor is probably ultimately rooted in fear of blasphemy, the apprehension that if utterances offensive to the gods are tolerated their wrath will fall on the whole society. It was impiety toward the gods for which Socrates was tried and condemned in 399 B.C. The Roman erotic poet Ovid was banished by the puritanical emperor Augustus in A.D. 8.”

Since the monasteries had a monopoly on producing manuscripts, it was assumed that such oversight was not necessary. In fact the abbey scriptoria not only copied erotic materials from Greco-Roman times, but created their own new genres of this type. In any event, the medieval authorities were concerned more with doctrinal deviation than with obscenity.” “The centralization of printing in the hands of a relatively few firms made it possible to scrutinize their intended productions before publication; only those that had passed the test and bore the imprimatur [seal] could be printed. It was then only necessary to make sure that heretical materials were not smuggled in from abroad. In Catholic countries this system was put in place by the establishment, under the Inquisition, with the Index of Prohibited Books in 1557. In countries where the Reformation took hold the control of books was generally assumed by the government. In England the requirement that books should be licenced for printing by the privy council or other agents of the crown was introduced in 1538. These origins explain why the activity of censors was for long chiefly concerned with the printed word. Revealingly, this system is still in force in Communist countries today [1990].”

The French author Nicolas Chorier contrived an even more ambitious ruse for his pansexual dialogues of Aloisia Sigea (1658(?)), which purported to be a translation into Latin by a Dutch author (Jan de Meurs) working from a Spanish original by a learned woman.” Entendeu? Uma tradução para o latim (língua culta) de um escrito erudito (mas vulgar) de uma espanhola, feito por um holandês, para circular na França!

Many French books, unwelcome to throne and altar, were published in Geneva, in Amsterdam, and in Germany. With the coming of the French revolution, however, all restraints were off. Thus the large works which the Marquis de Sade had composed in prison were published, as well as two fascinating homosexual pamphlets, Les enfans de Sodome and Les petits bougres au manège. Although controls were eventually tightened again, Paris gained the reputation (which lasted until about 1960) among English and American travelers as the place where <dirty books> could be obtained.

Through his prudish editions of Shakespeare, Thomas Bowdler (1754-1825) gave rise to the term <bowdlerize>. At the ports, an efficient customs service kept all but a trickle of works deemed to be obscene from coming in. In the United States, the morals crusader Anthony Comstock (1844-1915) not only fought successfully for stringent new legislation, but as head of the New York Society for the Suppression of Vice [haha] he claimed responsibility for the destruction of 160 tons of literature and pictures. The restrictions on malleability proved to be particularly hard on publishers of homosexual material, and this problem was not overcome until the ONE, Inc. case in 1954. A landmark in freedom to read books in the United States was the 1931 Ulysses case. Shortly thereafter, however, Hollywood instituted a system of self-censorship known as the Hays Office. This device effectively prevented any direct representation of homosexual love on the silver screen for decades, the only exceptions being a very few foreign films shown at art houses. During this period book publishers practiced their own form of self-censorship by insisting that novels featuring homosexual characters must doom them to an unhappy end.

Only after World War II did the walls begin to come tumbling down in English-speaking countries. In Britain the publishers of Lady Chatterley’s Lover by D.H. Lawrence were acquitted after a spectacular trial in 1960. In America Grove Press had obtained a favorable court decision on the availability of Lady Chatterley in 1959; three years later the firm went on to publish Henry Miller’s Tropic of Cancer without difficulty. The travails of a book containing explicit homosexual passages, William Burroughs’ Naked Lunch, were more extended. In 1958 authorities at the University of Chicago refused to permit publication of excerpts in a campus literary review. This led to the founding of a new journal, largely to publish the Burroughs text; once this had been done, a lengthy court battle ensued. Only in 1964 was the way clear for the whole novel to be issued by Grove Press. (The book had been published in Paris in 1959.)

Subsequently, a series of United States Supreme Court decisions made censorship impractical, and for all intents and purposes it has ceased nationally, though local option is sometimes exercised. This cessation permitted the appearance and sale of a mass of sexually explicit

books, films, and magazines. The only restriction that is ubiquitously enforced is the ban on <kiddy porn>, photographs and films of children engaging in sexual acts. In an unlikely de facto alliance, two groups emerged at the end of the 1970s in America to reestablish some form of censorship: one consisting of fundamentalists and other religious conservatives; the other of feminist groups [haha].

Michael Barry Goodman, Contemporary Literary Censorship: The Case of Burroughs’ Naked Lunch, Metuchen, NJ: Scarecrow, 1981;

Rocco, Alcibiades The Schoolboy (1652) (diálogo êmulo de Platão apólogo da pederastia)

CERVANTES

For 5 years he was a captive in Algiers, where he was on surprisingly good terms with a homosexual convert to Islam; he refers several times in his writings to the pederasty that flourished in the Ottoman empire – on his return from Algiers he was accused of unspecified filthy acts. His marriage was unhappy, and women in his works are treated distantly. Like Manuel Azaña, he put a very high value on freedom.

While Cervantes presented the male-female relationship as the theoretical ideal and goal for most people, the use of pairs of male friends is characteristic of his fiction, and questions of gender are often close to the surface. In his masterpiece Don Quixote (1605-15), which includes cross-dressing by both sexes, the middle-aged protagonist has never had, and has no interest in, sexual intercourse with a woman. A boy servant who appears fleetingly at the outset is replaced by the unhappily-married companion Sancho Panza. The two men come to love each other, although the love is not sexual.”

Verbete por Daniel Eisenberg

Louis Combet, Cervantes ou les incertitudes du désir, Lyon: Presses Universitaires, 1982 (review in MLN, 97 [1982], 422-27);

Rosa Rossi, Ascoltare Cervantes, Milan: Riuniti, 1987 (Spanish translation: Escuchar a Cervantes, Valladolid: Ámbito, 1988);

Luis Rosales, Cervantes y la libertad, 2ed., Madrid: Cultura Hispánica, 1985;

Ruth El Saffar, Cervantes and the Androgyne, Cervantes, III (1983);

______. Beyond Fiction: The Recovery of the Feminine in the Novels of Cervantes, Berkeley: University of California Press, 1984.

CHINA

The civilization of China emerged from pre-history during the first half of the 2nd millennium B.C. in the valley of the Huang-He (Yellow River), spreading gradually southwards. Over the centuries China has exercised extensive influence on Korea, Japan, and southeast Asia. Inasmuch as Chinese society has traditionally viewed male homosexuality and lesbianism as altogether different, their histories are separate and are consequently treated in sequence in this article.

During the latter part of the Zhou, homosexuality appears as a part of the sex lives of the rulers of many states of that era. Ancient records include homosexual relationships as unexceptional in nature and not needing justification or explanation. This tone of prosaic acceptance indicates that these authors considered homosexuality among the social elite to be fairly common and unremarkable. However, the political, ritual and social importance of the family unit made procreation a necessity. Bisexuality therefore became more accepted than exclusive homosexuality, a predominance continuing throughout Chinese history.

The Eastern Zhou produced several figures who became so associated with homosexuality that later generations invoked their names as symbols of homosexual love, much in the same way that Europeans looked to Ganymede, Socrates, and Hadrian. These famous men included Mizi Xia, who offered his royal lover a half-eaten peach, and Long Yang, who compared the fickle [volúvel] lover to a fisherman who tosses back a small fish when he catches a larger one. Rather than adopt scientific terminology, with associations of sexual pathology, Chinese litterateurs preferred the aesthetic appeal of these literary tropes [figures of speech].”

One incident in the life of Dong Xian became a timeless metaphor for homosexuality. A tersely worded account [relato oral sucinto] relates how Emperor Ai [last Han] was sleeping with Dong Xian one afternoon when he was called to court. Rather than wake up his beloved, who was reclining across the emperor’s sleeve [manga, sobra de tecido], Ai took out a dagger and cut off the end of his garment. When courtiers inquired after the missing fabric, Emperor Ai told them what had happened. This example of love moved his courtiers to cut off the ends of their own sleeves in imitation, beginning a new fashion trend.

The Jin dynasty (265-420) poet Zhang Hanbian wrote a glowing tribute to the 15-year-old boy prostitute Zhou Xiaoshi. In it he presents the boy’s life as happy and care-free, <inclined toward extravagance and festiveness, gazing around at the leisurely and beautiful>. A later poet, the Liang dynasty (502-557) figure Liu Zun, tried to present a more balanced view in a poem entitled Many Blossoms. In this piece he shows the dangers and uncertainty associated with a boy prostitute’s life. His Zhou Xiaoshi

<knows both wounds and frivolity

Withholding words, ashamed of communicating.>

Although these poems take opposite perspectives on homosexual prostitution, the appearance of this theme as an inspiration for poetry points to the presence of a significant homosexual world complete with male prostitutes catering [sendo ofertados] to the wealthy.”

The high profile of male prostitution led the Song rulers to take limited action against it. Many Confucian moralists objected to male prostitution because they saw the sexual passivity of a prostitute as extremely feminizing. In the early 12th century, a law was codified which declared that male prostitutes would receive 100 strokes of a bamboo rod and pay a fine of 50,000 cash. Considering the harsh legal penalties of the period, which included mutilation and death by slicing, this punishment was actually quite lenient. And it appears that the law was rarely if ever enforced, so it soon became a dead letter.”

Legal intervention peaked in the Qing dynasty (1644-1911) when the Kang Xi Emperor (r. 1662-1723) took steps against the sexual procurement of young boys, homosexual rape, and even consensual homosexual acts.” “it seems that the traditional government laissez-faire attitude toward male sexuality prevented enforcement of the law against consensual homosexual acts.”

A thirst for knowledge of homosexual history led to the compilation of the anonymous Ming collection Records of the Cut Sleeve (Duan xiu pian) which contains vignettes of homosexual encounters culled from nearly two millennia of sources. This anthology is the first history of Chinese homosexuality, perhaps the first comprehensive homosexual history in any culture, and still serves as our primary guide to China’s male homosexual past.”

In Fujian province on the South China coast, a form of male marriage developed during the Ming. Two men were united, the older referred to as an <adoptive older brother> (qixiong) and the younger as <adoptive younger brother> (qidi). The younger qidi would move into the qixiong’s household, where he would be treated as a son-in-law by his husband’s parents. Throughout the marriage, which often lasted for 20 years, the qixiong was completely responsible for his younger husband’s upkeep. Wealthy qixiong even adopted young boys who were raised as sons by the couple. At the end of each marriage, which was usually terminated because of the familial responsibilities of procreation, the older husband paid the necessary price to acquire a suitable bride for his beloved qidi.” [!!!]

The famous 17th century author Li Yu wrote several works featuring male homosexuality and lesbianism. The greatest Chinese work of prose fiction, Dream of the Red Chamber (Honglou meng), features a bisexual protagonist and many homosexual interludes. And the mid-19th century saw the creation of A Mirror Ranking Precious Flowers (Pinhua baojian), a literary masterpiece detailing the romances of male actors and their scholar patrons.”

Within a few generations, China shifted from a relative tolerance of homosexuality to open hostility. The reasons for this change are complex and not yet completely understood. First, the creation of colloquial baihua literary language removed many potential readers from the difficult classical Chinese works which contained the native homosexual tradition. Also, the Chinese reformers early in the century began to see any divergence between their own society and that of the West as a sign of backwardness. This led to a restructuring of Chinese marriage and sexuality along more Western lines. The uncritical acceptance of Western science, which regarded homosexuality as pathological, added to the Chinese rejection of same-sex love. The end result is a contemporary China in which the native homosexual tradition has been virtually forgotten and homosexuality is ironically seen as a recent importation from the decadent West.

Communist China. In the People’s Republic of China, homosexuality is taken as a sign of bourgeois immorality and punished by <reeducation> in labor camps. Officially the incidence of homosexuality is quite low. Western psychologists, however, have noted that the official reporting of impotence is much higher in mainland China than in the West. It seems that many Chinese men, unfamiliar with homosexual role models, interpret their sexuality solely according to their attraction to women. Nevertheless, a small gay subculture has begun to develop in the major cities since the end of the Maoist era [?]. Fear of discovery and lack of privacy tend to limit the quality and duration of homosexual relationships. And for the vast majority of Chinese living in the conservative country-side, homosexual contacts are much more difficult to come by.” “With the 1997 return of Hong Kong to China approaching, British liberals have supported a last minute repeal of the sodomy law.”

Traditionally, Chinese people have viewed male homosexuality and lesbianism as unrelated. Consequently, much of the information we have on male homosexuality in China does not apply to the female experience. Piecing together the Chinese lesbian past is frustrated by the relative lack of source material. Since literature and scholarship were usually written by men and for men, aspects of female sexuality unrelated to male concerns were almost always ignored.” “Sex manuals of the period Ming include instructions integrating lesbian acts with heterosexual intercourse as a way of varying the sex lives of men with multiple concubines.”

Li Yu’s first play, Pitying the Fragrant Companion (Lianxiangban), describes a young married woman’s love for a younger unmarried woman. The married woman convinces her husband to take her talented beloved as a concubine. The 3 then live as a happy ménage-à-trois free from jealousy. A more conventional lesbian love affair is detailed in Dream of the Red Chamber, in which a former actress regularly offers incense to the memory of her deceased beloved.”

The most highly developed form of female relationship was the lesbian marriages formed by the exclusively female membership of Golden Orchid Associations. A lesbian couple within this group could choose to undergo a marriage ceremony in which one partner was designated <husband> and the other <wife>. After an exchange of ritual gifts, a wedding feast attended by female friends served to witness the marriage. These married lesbian couples could even adopt young girls, who in turn could inherit family property from the couple’s parents. This ritual was not uncommon in 19th-century Guangzhou province. Prior to this, the only other honorable way for a woman to remain unmarried was to enter a Buddhist nunnery.” “The existence of Golden Orchid Associations became possible only by the rise of a textile industry in south China which enabled women to become economically independent. The traditional social and economic attachment of women to the home has so far prevented the emergence in modem China of a lesbian community on even so limited a scale as that of male homosexuals.”

Lanling Xiaoxiao Sheng, Golden Lotus ou The Plum [Ameixa] in The Golden Vase (2013) (título original: Jin ping mei) (novela de costumes, considerada o “Lolita” oriental), s/ data precisa (~séc. XVI; ed. por Zhang Zhupo no século seguinte). trad. francesa: La merveilleuse histoire de Hsi Men avec ses six femmes (1), Fleur en fiole d’or (2);

Pai Hsien-yung, The Outsiders (Niezi) (inspirou um filme homônimo, de 1986)

CHRISTIANITY

ORÍGENES” DO MAL II: “By about A.D. 200, the church had come to recognize the texts making up the New Testament as a single canon. After some hesitation, the Hebrew Bible, known to Christians as the Old Testament, was taken from Judaism and also accepted as divinely inspired. From this point onwards, Christian doctrines were elaborated by a group of intellectuals, known as the Fathers of the Church or the Patristic writers, beginning with such figures as Origen, Clement of Alexandria and Tertullian.” “Though they based their exegesis upon the Bible, they were inevitably influenced by philosophical and religious currents of their own time, especially Greek Stoicism and Neo-Platonism and by rival mystery cults such as Manichaeanism and Gnosticism.” “Still today there are differences on such sexually related topics as divorce, celibacy, and so forth between Roman Catholics and members of various eastern branches of Christianity which date from the foundations of Christianity, including Coptic, Nestorian, and various Orthodox Churches. In practice, most of these churches have been more tolerant of homosexuality than the Roman Catholic Church and its Protestant off-shoots.”

RESUMO DAS CONFISSÕES DE UM HOMEM POUCO SANTO

St. Augustine (d. 430), one of the great scholars of the ancient world, had converted to the austere faith of Manichaeanism after receiving a classical education. It seemed to his mind more suited to his Neo-Platonic and Stoic ideals than the Christianity of his mother. In Manichaean belief, which drew heavily from Zoroastrianism, intercourse leading to procreation was particularly evil because it caused other souls to be imprisoned in bodies, thus continuing the cycle of good versus evil.

Augustine was a member of the Manichaean religion for some 11 years but never reached the stage of the Elect in part because of his inability to control his sexual appetites. He kept a mistress, fathered a child, and according to his own statement, struggled to overcome his lustful appetites everyday by praying: <Give me chastity, and continence, but do not give it yet>. Recognizing his own inability to give up sexual intercourse, Augustine finally arrived at the conclusion that the only way to control his venereal desire was through marriage. He expelled his mistress and his son from his house, became engaged to a young girl not yet of age for wedlock (probably under 12 years of age), and planned a marriage. Unable to abstain from sex, he turned to prostitutes, went through a religious crisis, and in the process became converted to Christianity.

HA-HA: “All other sex was sinful including coitus within marriage not performed in the proper position (the female on her back and facing the male) and using the proper appendages and orifices (penis in vagina). St. Augustine’s views became the views of the western church centered in Rome.” “In general there was no extensive discussion of homosexuality by any of the early Church Fathers, and most of the references are incidental.”

The Augustinian views were modified in the 13th century [o que houve nestes 7 séculos além de monges devassos e burros?] by St. Thomas Aquinas, who held that homosexual activities, though similar to other sins of lust, were more sinful because they were also sins against nature. The sins against nature in descending order were (I) masturbation, (2) intercourse in an unnatural position, (3) copulation with the same sex (homosexuality and lesbianism), and (4) sex with non-humans (bestiality).

One of the key sources in the early medieval Church is the penitential literature. Originally penance had been a way of reconciling the sinner with God and had taken place through open confession. The earliest penitentials put sexual purity at a high premium, and failure to observe the sexual regulations was classified as equal to idolatry (reversion to paganism) and homicide. Ultimately public penance was replaced by private penance and confession which was regulated by the manuals or penitentials designed to guide those who were hearing them. Most of the early penitentials classified homosexual and lesbian activities as equivalent to fornication. Later ones classified such activities as equivalent to adultery although some writers distinguished between interfemoral intercourse and anal intercourse and between fellatio or oral-genital contacts. Anal intercourse was regarded as being the most serious sin.“Sodomy came to be regarded as the most heinous of sexual offenses, even worse than incest, and as civil law began to take over from canon law, it could be punished as a capital crime.”

Antes só dormia, hoje sodomia.

Só dormia, ou será que prazer também? No lato sensucht

Calvin & Child Harolde: “Catholics denounced Calvin for his supposed pederasty, a charge that was completely unfounded.”

NADA COMO COMER O BRIOCO DUMA INDIAZINHA: “In 1730-31 the great Dutch persecution of sodomites occurred, and in the accompanying propaganda the old charges against Roman Catholicism were revived. In Catholic countries themselves, the dissolution of the Jesuit order in 1773 was preceded by accusations of sodomy.”

Graciano, A Harmony of Discordant Canons (1140)

St. Peter Damián (1007-1072), Liber Gomorrhianus

CHURCHES, GAY

The emergence of Christian churches with predominantly gay and lesbian congregations, as well as interest groups within or allied to existing denominations, is a recent phenomenon, centered in the English-speaking world. There are records of homosexual monks, nuns, and priests, especially in the later Middle Ages and in early modern times, but no indication that they even thought of organizing on the basis of their sexual preference. Christian homosexuals drawn to particular parishes, where cliques [panelinhas] occasionally even became a visible segment of the congregation, would not openly avow this shift in the church’s character: they remained closeted gay Christians, so to speak.”

Some maintain that Jesus – an unmarried man in a Jewish milieu where marriage and procreation were de rigueur even for the religious elite – had a passionate relationship with John, the beloved disciple. Liturgically and sociologically the UFMCC tends to be of a <low church> character, with notable exceptions in some congregations. The evangelical fundamentalist domination of the UFMCC may be regarded as a response to the homophobic vehemence of the mainstream fundamentalist churches, which drives gay Christians out of their fold with a vengeance and forces them into an external redoubt, in contrast to the relatively more tolerant atmosphere, hospitable to internal gay caucuses [panelinhas, partidos], of the more liberal churches.”

CICERO

Roman politician, orator, and writer, who left behind a corpus of Latin prose (speeches, treatises, letters) that make him one of the great authors of classical antiquity. Unsuccessful in politics, he was overestimated as a philosopher by the Middle Ages and the Renaissance and underestimated in modern times, but was and is ranked as one of the greatest masters of Latin style. His career as an orator began in 81 B.C., and from the very beginning his speeches revealed his rhetorical gifts. His denunciation of Verres, the proconsul who had plundered the province of Sicily, opened the way to his election as aedile, praetor, and then consul, but subsequently the intrigues of his enemies led to his banishment from Rome (58/57), followed by his triumphal return. In the civil war he took the side of Pompey and so failed again, but was pardoned by the victorious Caesar, after whose death he launched a rhetorical attack on Mark Antony. The formation of the triumvirate meant that Cicero was to be proscribed by his opponent and murdered by his henchmen.”

In the last turbulent century of the Roman republic in which he lived, a contrast between the austere virtue of earlier times and the luxury and vice of the present had become commonplace. Also, as we know from the slightly later genre of satirical poetry, a taste for salacious gossip had taken root in the metropolis. In his orations Cicero remorselessly flays the homosexual acts of his enemies, contrasting homosexual love with the passion inspired by women which is <far more of natural inspiration>.”

Something of the Roman antipathy to Greek paiderasteia transpires from Cicero’s condemnation of the nudity which the Greeks flaunted in their public baths and gymnasia, and from his assertion that the Greeks were inconsistent in their notion of friendship. He pointedly noted: <Why is it that no one falls in love with an ugly youth or a handsome old man?> Effeminacy and passive homosexuality are unnatural and blameworthy in a free man, though Cicero remained enough under the influence of Greek mores to express no negative judgment on the practice of keeping handsome young slaves as minions of their master.” “The Judaic condemnation of homosexuality per se had not yet reached Rome, but the

distinction that had existed in Hellenic law and custom between acts worthy and unworthy of a citizen was adopted and even heightened by the com[cu]bination of appeal to Roman civic virtue and his own rhetorical flair.”

The term patientia used with reference to Verres implies the passivity in sexual relations that is degrading and unworthy of a free man, just as in the case of Mark Antony, charged with having <prostituted himself to all>, much like the Timarchus whom Aeschines had denounced centuries earlier in Athens for a like failing [op. cit. – para mais detalhes, vide seção OBRAS RECOMENDADAS em https://seclusao.art.blog/2019/09/28/do-espirito-das-leis-de-montesquieu-abreviado-na-traducao-de-jean-melville-com-comentarios-e-aprofundamentos-de-rafael-aguiar-indicacoes-de-leituras-durante-o-tratado-e-ao-final/].”

SMEAR CAMPAIGN: “Cicero’s rhetoric thus had two sides: the attempt to discredit opponents by inflammatory imputations of homosexual conduct and of sexual immorality in general – a type of smear to be followed in political life down to modern times”

CIRCUMCISION

GENEALOGIA DA PROFILAXIA: “Male circumcision, or the cutting away of the foreskin [prepúcio] of the penis, has been practiced by numerous peoples from remotest antiquity as a religious custom, while to some modern homosexuals it has an aesthetic and erotic significance. It has been speculated that the custom originated somewhere in Africa where water was scarce and the ability to wash was limited. Thus the Western Semites (Israelites, Canaanites, Phoenicians, Arabs, Edomites, Syrians), who lived in an area where water was never really plentiful, also observed the custom, while the Eastem Semites (Assyrians and Babylonians), in an area where water was more abundant, did not circumcise. This is true also of the Greeks and other Aegean peoples who always lived near the water.”

Jesus never mentioned circumcision, though the Jewish rite was (Luke 2:21) performed upon him on his 8th day as it was with all other males of his community of faith – hence the designation of the calendar in which the first day of the year is January 1 as <circumcision style>. In the early church the party of Paul of Tarsus which opposed circumcision was victorious, and uncircumcised Greeks and Romans poured into the new faith, so that to this day the majority of European men have retained their foreskins. With the coming of the faith of Islam, however, in the VII century the Middle East and North Africa became a stronghold of the practice of circumcision. Hindus and Buddhists avoid it, hence East Asians – and Amerindians – retain their foreskins.”

In the late 20th century the trend is being reversed in America as more and more medical articles – and some books – have argued that the operation in most cases is needless.”

There are even groups of men who have retained their foreskins (and others who admire them); these individuals with generous or pronounced <curtains> are in demand.”

Bud Berkeley & Joe Tiffenbach, Circumcision: Its Past, Its Present, and Its Future, San Francisco: Bud Berkeley, 1983-84;

Rosemary Romberg, Circumcision: The Painful Dilemma, South Hadley, MA: Bergin & Garvey, 1985;

Edward Wallerstein, Circumcision: An American Health Fallacy, New York: Springer Publishing Co., 1980.

CLASS

When there are no children to raise there is more discretionary income, so that adopting a homosexual lifestyle provides a margin for class enhancement.” “An established gay man or lesbian may put resources which parents would use for raising the status of their children into helping a lover-protegé. The mentor may also provide private lessons in manners and business acumen.” “Curiously, some parents seem to tolerate same-sex alliances by their offspring more easily than those that cross class or racial lines. § Internalizing the folk belief that homosexuals are more <artistic>, some gay men cultivate musical, theatrical, and culinary tastes that are above their <station> – and above their income. Acquisition of these refined preferences, together with <corrected> speech patterns, hinders easy communication with former peers, though there are many factors that work for geographical and psychological distance between homosexuals, on the one hand, and their families and original peer groups, on the other. Given their relative freedom, some individuals may be inclined to experiment with <class bending>, [sinuosidade de classe] sometimes with paradoxical results.”

There is class, and there is class fantasy.”

CLEMENT OF ALEXANDRIA

Greek church father. Born in Athens, probably of pagan and peasant ancestry, he is not to be confused with Clement, bishop of Rome, author of the New Testament epistle. After his conversion, Clement of Alexandria traveled widely to study under Christians, finally under the learned Pantaenus in Alexandria. Of the early Fathers, he had the most thorough knowledge of Greek literature. He quoted Homer, Hesiod, the dramatists, and (most of all) Platonic and Stoic philosophers. Sometime before 200 he succeeded Pantaenus, whom he praised for his orthodoxy, as head of the catechetical school at Alexandria, but in 202 he had to flee the persecution unleashed by the emperor Septimius Severus and perhaps died in Asia Minor.”

Although Clement’s christianity has been criticized as being too Hellenized, his serene hope and classical learning helped convert the upper classes. His pseudo-Platonic doctrine that homosexuality was particularly noxious because it was <against nature> served to combine that strand of classical philosophy with Hellenistic Jewish homophobia, most trenchantly exemplified by the Alexandrian philosopher Philo Judaeus (20 B.C.-A.D. 45), to justify persecution of sodomites. He thus preceded and stimulated the homophobia of the Christian emperors, from Constantine’s sons to Justinian, and of the two most influential Fathers, John Chrysostom and Augustine of Hippo.

CLERGY, GAY

that there is a psychological affinity between religious ministry and hemophilia” Edward Carpenter

The patrician John XII (938-964) went so far as to model himself on the scandalous Roman emperor Heliogabalus, holding homosexual orgies in the papal palace – a practice imitated by Benedict IX (1021-ca. 1052).” “paradoxically the enforcement of celibacy on priests and even attempts to impose it on those in lesser orders increased the danger of homosexuality.”

Friars, who unlike the monks were free to wander among the laity without much supervision, became notorious as seducers of boys as well as women, whose confessions they often heard to the disgruntlement [desabono] of parish priests. Many homosexual clergy, then as now, confessed to one another and were formally absolved. Indeed, the confessional at times became the locus of seduction.

Philip IV of France charged Boniface VIII not only with heresy, usury, and simony, but with sodomy and masturbation as well.”

The Renaissance in Italy, with its revival of classical antiquity and love of art, saw a number of popes who were interested in their own sex. Among them were the anti-pope John XXIII (d. 1419), who began his career as a pirate. Entering the clergy he quickly acquired the reputation of an unblushing libertine. The humanist pope Pius II (1405-1464) watched boys run naked in a race at Pienza, noting a boy <with fair hair and a beautiful body, though disfigured with mud>. The vain Venetian Paul II (1417-1471) toyed with adopting the name Formosus. Affecting the most lavish costumes, he was attacked by his enemies as <Our Lady of Pity>. His successor, Sixtus IV (1414-1482), made his mark as an art patron, erecting the Sistine chapel. He also elevated to the cardinalate a number of handsome young men. Julius II (1443-1513), another art-loving pope, provoked such scandal that he was arraigned under various charges, including that of sodomy, but he managed to survive the attempt to depose him. His successor, the extravagant Medici Leo X (1475-1521), became embroiled in intrigues to advance favorite nephews, a hobby that strained the treasury to the utmost. Julius III (1487-1555), who had presided over the Council of Trent before his pontificate, was nonetheless sometimes seen at official functions with catamites [<coroinhas>], one of whom he made a cardinal.”

The anticlerical literature of the last decades of that century delighted in exposing cases in which a clergyman had committed a sexual offense, to the point where in 1911 the Pope had to issue the motu proprio decree Quamvis diligenter forbidding the Catholic laity to bring charges against the clergy before secular courts. This step unilaterally abolished the principle of the equality of all citizens before the law established by the French Revolution, reinstating the <benefit of clergy> of the Middle Ages. The anticlerical literature of that period still needs study for the light that it can shed on the homosexual subculture of the clerical milieux.”

The Bible for Believers and Unbelievers (1922) (clássico anticlerical russo)

The Rule of St. Benedict, chapter 22.

Transcrição completa do capítulo 22 das regras de São Benedito (regulamento dos monges na alta idade média):

CHAPTER XXII: HOW THE MONKS ARE TO SLEEP

Let them sleep singly in separate beds. Let them receive bedding suitable to their manner of life, at the discretion of the abbot. If it can be done, let all sleep in one room: but if their number does not allow of this, let them repose by tens or by twenties with their seniors who have charge of them. Let a candle burn continually in the dormitory until morning. Let them sleep clothed and girded with girdles or cords, but let them not have knives at their sides while they sleep, lest by chance while dreaming they wound a sleeper; and let them be monks always ready; and upon the signal being given let them rise without delay and hasten one after the other, yet with all gravity and decorum, to be ready in good time for the Work of God. Let not the younger brethren have their beds by themselves, but among those of the seniors: and let them be allowed gently to encourage one another as they rise for the Work of God, because some may feel drowsy and listless.”

COCTEAU, JEAN

The Infernal Machine (peça)

COLETTE

A happy childhood is a bad preparation for contact with human beings.”

COLOR SYMBOLISM

A current Russian term for a gay man is golubchik, from goluboy, <blue>, evidently through association with the <blue blood> of the aristocracy of the Old Régime.”

According to Havelock Ellis, one could not safely walk down the streets of late 19th century New York wearing a red tie without being accosted, since this garment was then the universal mark of the male prostitute.” “Because of the <scarlet woman>, the great Whore of Babylon of the book of Revelation, that color has acquired a strong association with prostitution and adultery”

In American culture the word lavender – a blend of red and blue (as in <lavender lover>, The Lavender Lexicon, etc.) – almost speaks for itself.”

The mid-1980s saw public display at rallies and marches of a rainbow Gay Pride Flag, consisting of six parallel stripes ranging from bright red to deep purple. The juxtaposition of colors stands for the diversity of the gay/lesbian community with regard to ethnicity, gender, and class – perhaps also connoting, in the minds of some, the coalition politics of the Rainbow Alliance headed by Jesse Jackson.”

COMICS

The first true comic strips were introduced in 1897 as a circulation-building device in the Sunday supplements of the Hearst newspapers. The now-familiar pulp comic book was a creation of the Depression: the first commercial example is Famous Funnies of 1934. Although these strips generally affirmed middle-class values, and certainly contained not the slightest overt indication of sex, they were regularly denounced by pundits as a pernicious influence on the young.”

Batman, appearing in 1939, featured the adventures of a playboy detective and his teenage ward, Robin. Although the relationship is portrayed as a simple mentor-protegé one, some teenage male readers were able to project something stronger into it. This aspect was certainly flirted with in the campy television off-shoot beginning in 1966, though this series reflects a much changed cultural climate. In 1941 there appeared Wonder-woman, featuring an Amazon with special powers living on an all-woman island. This strip – contrary to the expressed wishes of its creators – served as a focus for lesbian aspirations. In the 1970s it was rediscovered by the women’s movement as a proto-feminist statement.

In the late 1940s Blade drew several illustrated stories, including The Barn and Truck Hiker, that can be considered predecessors of the gay comics. Circulated underground, they have been officially published only in recent years. Somewhat later the wordless strips of supermacho types created by Tom of Finland began to circulate in Europe.

It was the American counterculture of the 1960s, however, which first made possible the exploration of taboo subjects in a context of crumbling censorship restrictions. In 1964 a Philadelphia gay monthly, Drum, began serializing Harry Chess by Al Shapiro (A. Jay). Modeled on a popular television series, Harry Chess was both macho and campy, though explicit sex scenes were veiled. In the 1970s no-holds-barred examples appeared drawn by such artists as Bill Ward, Sean, and Stephen (Meatman).”

COMING OUT

A few gays and lesbians report no memory of a coming out process; they always considered themselves homosexual and were never <in the closet>. Others have reported a sudden revelation of their own homosexuality which does not fit into any theory of stages but has brought them from apparently heterosexual to comfortably homosexual virtually overnight.”

The self-help literature for gay and lesbian youth is quite explicit in designating parents as the crucial factor in the youth’s coming out process. Those who do not come out to their family, according to G.B. MacDonald, become <half-members of the family unit: afraid and alienated, unable ever to be totally open and spontaneous, to trust or be trusted… This sad stunting of human potential breeds stress for gay people and their families alike – stress characterized by secrecy, ignorance, helplessness, and distance.> The scientific literature, however, has largely ignored the role of parents, having centered on gay and lesbian adults.”

CONTEST LITERATURE

Diálogos.

Achilles Tatius, Leucippe and Clitophon

Pseudo-Lucian, Affairs of the Heart

CONTRARY SEXUAL FEELING

the linguistic remnant of the first, uncertain psychiatric attempt to grapple with the problem of homosexuality.”

COUNTERCULTURE

Apparently the term counterculture is an adaptation of the slightly earlier <adversary culture>, an expression coined by the literary critic Lionel Trilling (1905-1975). In many respects the counterculture constituted a mass diffusion – fostered by diligent media exploitation – of the prefigurative beat/hippie phenomenon. As American involvement in the Vietnam War increased, in the wake of opposition to it the counterculture shifted from the gentle <flower-child> phase to a more aggressive posture, making common cause with the New Left, which was not, like the radicalism of the 30s, forced by economic crisis to focus on issues of unemployment and poverty. Of course radical political leaders were accustomed to decry the self-indulgence of the hippies, but their followers, as often as not, readily succumbed to the lure of psychedelic drugs and the happy times of group togetherness accompanied by ever present rock music.”

MESSIANISMO EPIDÊMICO: “The counterculture shamelessly embraced ageism: <Don’t trust anyone over thirty.> Observing this precept cut young people off from the accumulated experience and wisdom of sympathetic elders. Moreover, it meant that the adherents of the movement themselves quickly became back numbers as they crossed over the 30-year line. In regard to gay adherents, the distrust of older people tended to reinforce the ageism already present in their own subculture. To be sure, the full force of such problematic effects has become evident only in retrospect. Although outsiders, and some insiders as well, exaggerated the fusion of the counterculture and the New Left, still the convergence of massive cultural innovation with hopes for fundamental political change gave the young generation a heady sense of imminent revolution.”

The psychiatrist Thomas Szasz and others correctly perceived the link between the campaign to decriminalize marijuana and the efforts to reform sex laws.” “many assumed that homosexuals were essentially counterculturist, leftist, and opposed root and branch to the established order. Subsequent observation has shown, not surprisingly perhaps, that a majority of gay men and lesbians were (and are) liberal-reformist and even conservative, rather than revolutionary in then-overall political and social outlook.”

CROWLEY, ALEISTER

After the turn of the century Crowley’s public career began, and he was regularly attacked in the press as <The Great Beast> and <The Wickedest Man in the World>.”

Raulseixismo: <There is no law beyond Do what thou wilt.>

In a 1910 memoir Aleister Crowley proclaimed, <I shall fight openly for that which no Englishman dare defend, even in secret – sodomy! At school I was taught to admire Plato and Aristotle, who recommend sodomy to youths – I am not so rebellious as to oppose their dictum; and in truth there seems to be no better way to avoid the contamination of woman and the morose pleasures of solitary vice.>

he advanced beyond the grade of Magus to the supreme status of Ipsissimus.” E o Quico?

Scarcely known today outside occult circles, Crowley is an extravagant instance of the concern with heterodox religion that has flourished among some male homosexuals who could find no peace within established Christianity, and more recently among female adherents of <the craft>. Through his voluminous writings Crowley foreshadowed the emergence of the <Age of Aquarius>.”

Israel Regardie, The Eye in the Triangle: An Interpretation of Aleister Crowley, St. Paul: Llewellen Publications, 1970.

CRUISING

Nicole Ariana, How to Pick up Men, New York: Bantam, 1972;

Mark Freedman & Harvey Mayes, Loving Man, New York: Hark, 1976, chapter 2;

John A. Lee, Getting Sex, Toronto: General, 1978 [Tinder on paper for human beings as archaic as those from a century ago];

Publius Ovid, Art of Love [~1A.D., obra seminal do “flerte” e “sondagens de sexo casual”, homo e heteronormativas!]

CUBA

The largest island of the Antilles chain, home to 10 million Spanish-speaking people” Para 2017, o censo ainda não aponta população superior a 11.5 milhões.

The British, French, and Dutch seized islands from the Spanish or colonized vacant ones as naval bases or sugar plantations; like the pirates they seldom brought women along. All 3 European powers were involved in the notorious triangular trade, shipping molasses or rum to Europe, guns and trinkets from there to Africa, and slaves back to the West Indies.”

Cuba began to excel in sugar production after 1762. Havana became a glittering metropolis, rivaling New York and Rio de Janeiro, by 1800. The slave population, including huge numbers of males imported for work in the cane fields or molasses manufacturing, grew from fewer than 40,000 in 1770 to over 430,000 seventy years later. The census of 1841 reported that more than half the population was non-white (black and mixed blood) and that 43% were slaves. Males outnumbered females by 2 to 1 in the center and west and were just equal in the east. Other islands in the Caribbean had even greater sexual imbalances. Documentation for the homosexuality that must have abounded is scarce but the earlier prevalence can be assumed from attitudes and customs that still survive.”

With Spain’s adoption of the Napoleonic Code in 1889, homosexuality was decriminalized 3 years after the abolition of slavery.”

During World War I, Europe was closed to North Americans and Cuba, especially Havana, became a resort for the more adventurous. Prosperity increased with a rise in commodity prices. Also, the Prohibition in the United States after 1920 left Cuba as an oasis where liquor still flowed freely. Casino gambling and prostitution were also legal. A favorite port of call of cruise ships [pun intended!], Havana flourished as a mecca for pleasure-seekers.”

The post-war collapse of commodity prices was to some extent offset by tourism. Everything was for sale in Havana under the dictator Fulgencio Batista, whose 1952 coup ousted an outwardly democratic but venal and nepotistic predecessor.

Old Havana had gay bars. Moral laxity, characteristic of the slave-rooted Caribbean economy, the Napoleonic Code, and the weakness of the Catholic Church (which was mainly Spanish, urban and upper class) produced an environment where gays were only mildly persecuted and could buy protection from corrupt officials. Drugs, especially marijuana, which flourished throughout the Caribbean, were available in Cuba long before they won popularity in the United States.”

Exploiting popular revulsion against continuing political corruption as well as resentment of the diminishing but still important American domination, Fidel Castro led an ill-assorted group of liberals, patriots, and Marxists, including some gays, to victory over Batista in 1959. Only after he came to power did the United States realize that Castro was an avowed Communist. The American Central Intelligence Agency then tried and failed to assassinate him. His triumph was sealed by the missile crisis of 1962 when Khrushchev agreed to withdraw the missiles in return for Kennedy’s promise never to try to invade Cuba.”

Soviet hostility toward homosexuality since 1934, when Stalin restored the penal laws against male homosexuals, combined with traditional Latin American machismo and Catholic homophobia, made the existence of Cuban homosexuals wretched and oppressive. To prevent their <contamination> of youth, thousands of gays in the 1960s were placed in work camps known as Military Units to Increase Production (UMAP). Although the camps were abolished by the end of the decade, other forms of discrimination continued. Article 359 of the Cuban penal code prohibits public homosexuality. Violations are punished with a minimum of 5 and a maximum of 20 years. Parents must discourage their children from homosexuality or report their failure to officials as Articles 355-58 mandate. Articles 76-94 punish with 4 years imprisonment sexual deviation regarded by the government as contrary to the spirit of Socialism.”

The gifted playwright and fiction writer Virgilio Piñera (1912-1967) returned from Argentina in 1957 and after Castro’s triumph worked for several of the newspapers of the regime. On October 11, 1961, he was arrested and jailed for homosexuality. Che Guevara personally denounced him.”

Allen Young, Gays under the Cuban Revolution

DANDYISM

The dandy has been since antiquity the man who prides himself on being the incarnation of elegance and of male fashion. The word itself stems from the Romantic period in the 19th century, when the character type reached its apogee; England and France were the principal countries in which it flourished. Charles Baudelaire (1821-1867) was one of the first to perceive that the type was not limited to the age just preceding his own, but had emerged across the centuries in some celebrated historical figures. Jules Barbey d’Aurevilly (1808-1889) wrote an Essay on Dandyism and George Brummel (1845), dealing with Beau Brummell (1778-1840), the most famous English representative of the dandy in the London of George IV.

History of the Type. Ancient Greece saw two classical specimens of the dandy: Agathon and Alcibiades. In Plato’s Symposium Agathon is a poet and tragedian, not merely handsome, but obsessed with the most trivial details of his wardrobe. Aristophanes shows him using a razor to keep his cheeks as smooth and glistening as marble, wearing sumptuous clothing in the latest Ionian fashion. Later in the same dialogue Alcibiades also enters the stage, the most dazzling figure of the jeunesse dorée of Athens, richer and more influential than Agathon, and never sparing any expenditure that would enhance his renown.”

Another aesthete of this era, Oscar Wilde, affected a particularly striking costume when he made a lecture tour of the United States, capitalizing on a character featured in the Gilbert and Sullivan opera Patience (1881).”

Rationale. The relation of the dandy to male homosexuality is complicated. As a rule the homosexual – more than the male who is attracted to women – feels the need to distinguish his person in some way, is more conscious of the world of male fashion and more likely to be narcissistically preoccupied with his image. Naturally not all the dandies of the past were homosexual or bisexual, and an element of leisure class self-demarcation and snobbery enters into the picture. Since it is usually the male of the species whom nature makes physically more noteworthy, the male-female antithesis in style of dress that has prevailed in Western culture since the French Revolution reverses the immemorial state of affairs. The notion that only a woman may be preoccupied with her wardrobe and that a man should dress simply and even unobtrusively is of recent date.”

DANTE ALIGHIERI

As a youth he had a profound spiritual experience in an encounter with the young Beatrice Portinari; after her death he submerged himself in the study of philosophy and poetry. In 1302 Dante was banished from Florence, pursuing his literary career in various other cities of Italy.”

The presence in both the Inferno and the Purgatorio of groups of <sodomites> has given rise to a series of debates over the centuries. These passages must be interpreted in the larger context of the great poem’s situations and personnel.” “The sodomites of the Inferno (cantos 15 and 16) are seen running under a rain of fire, condemned never to stop if they wish to avoid the fate of being nailed to the ground for a hundred years with no chance of shielding themselves against the flames. Having recognized Dante, Brunetto Latini (ca. 1212-1294) called him to speak with him, voicing an important prophecy of Dante’s future. In describing his fellow sufferers, Latini mentioned a number of famous intellectuals, politicians, and soldiers.

In the Purgatorio (canto 26) the sodomites appear in a different context – together with lustful heterosexuals. The two categories travel in opposite directions, yelling out the reason for their punishment.

How can one account for the striking deference and sympathy that Dante shows for the sodomites? This matter began to puzzle commentators only a few years after the poet’s death.

Dante’s education took place in the 13th century when Italy was beginning to change its attitudes toward homosexual behavior. Conduct which had been a transgression condemned by religion but viewed with indulgence by everyday morality assumed increasing seriousness in the eyes of the laity. For Dante it was still possible – as it had commonly been through the first half of the 13th century – to separate human and divine judgment with respect to sodomy.”

IDADE DAS LUZES E O BURACO ESCURO: “For Dante’s commentators sodomy was a sin of such gravity that it was inconceivable for them to treat with respect men seared with such <infamy>.”

That Dante had spoken of Brunetto Latini and the sodomites with too much sympathy because he too shared their feelings was the conclusion of one anonymous commentator of the 14th century. Another wild suggestion is that the shameless Latini had made an attempt on Dante’s own virtue, and that hence Dante’s gentle words are in reality sarcasm that must be understood <in the opposite sense> (Guiniforto dei Bargigi; 1406-ca. 1460). Then, foreshadowing a thesis that would be favored by medical opinion in the 12th century, it was suggested that there were two types of sodomites, those by <choice> and those who are such by <necessity>.”

The debate on Dante’s motives has continued until our own day. In 1950 Andre Pezard devoted a whole book, Dante sous la pluie de feu, to an effort to show that the sin for which Brunetto and his companions were being punished was sodomy not in the usual sense, but in an allegorical one: sodomie spirituelle, which in Brunetto’s case meant having used the French language as a medium for one of his works.

The authoritative Encyclopedia Dantesca has sought to bring the conflict to an end, taking adequate account of Dante’s indulgent judgment as the correct key for solving the supposed <enigma> of the band of sodomites. As regards the reason for Brunetto Latini’s presence among the sodomites, Avalle D’Arco’s recent confirmation of the attribution to him of a long love poem directed to a man, S’eo son distretto inamoramente, shows that it was probably on the basis of facts that were publicly known in Dante’s time that he was consigned to Hell.” Aposto o cu que você já deu o cu.

DICKINSON, EMILY (1830-1886)

American poet. After brief periods at Amherst Academy and Holyoke Female Seminary, she settled into an outwardly uneventful life keeping house for her family. Dickinson never married. The real events in her life are her writings, which have assumed classic status in American literature.

These homoerotic poems are never joyous, but that is to be expected in a society where heterosexual marriage was virtually believed inevitable and there was little possibility of two unrelated women establishing a life together if they were not wealthy through independent inheritance.”

DIONYSUS

Greek god associated with wine and emotional exuberance. Although the name occurs in linear B tablets [?] from the end of the second millennium B.C., his figure absorbed additional elements from Thrace and the East in the following centuries. Dionysus, called Bacchus in Latin, was the son of Zeus and a mortal, Semele. When his mother unwisely besought Zeus to reveal himself in his true form, she was incinerated, but the embryo of her son escaped destruction. Zeus then inserted it into his own thigh and carried the child to term. This quality of being <twice born>, once from a woman and once from a man, points to the ambiguity of the god, who though male had effeminate traits. In literary and artistic representations, he sometimes served as a vehicle for questioning sex roles, otherwise strongly polarized in ancient Greece.

According to the late-antique writer Nonnus, Dionysus fell in love with a Phrygian boy, Ampelos, who became his inseparable companion. When the boy was killed in a bull-riding accident, the grief-stricken Dionysus turned him into a vine. As a result, the practices of vine cultivating and grape harvesting, of wine making and drinking, commemorate this deeply felt pederastic relationship: in honoring the vine (ampelos in Greek), one honors the god through his beloved.

In historic times Dionysus attracted a cult following consisting largely of women, the Bacchae or maenads. During the ritual followers abandoned their houses and work to roam about in the mountains, hair and clothing in disarray, and liberally imbibing wine, normally forbidden to women. At the height of their ecstasy they would seize upon an animal or even a child, tear it to pieces, and devour the uncooked flesh, by ingesting which they sought to incorporate the god and his powers within themselves. From a sociological point of view, the Bacchic cult is a <religion of the oppressed>, affording an ecstatic relief to women, whose status was low. Occurring only once during the year, or once every two years, these Dionysiac rites were bracketed off from the normal life of the Greek polis, suggesting comparison with such later European customs as the feast of fools, the carnival, the charivari, and mardi gras.

The maenads assume a major role in Euripides’ tragedy, The Bacchae (406 BC). Accompanied by his female followers, Dionysus appears in Thebes as a missionary. Unwisely, King Pentheus insults and arrests the divine visitor; after he has been rendered mad and humiliated, the transgressor is dismembered by the maenads. Interpretations of the play differ: a warning of the consequences of emotional excess versus a reaffirmation of the enduring presence of humanity’s irrational side. The subject probably attracted Euripides as a phenomenon of individual and group psychology in its own right, but it is unlikely that he intended it as a forecast of modern gay liberation in the <faery spirituality> mode, as Arthur Evans has argued. Inasmuch as the sexuality of The Bacchae was not pederastic, the Greek audience would not have seen the play as homosexual (a concept foreign to their mentality), but rather as challenging gender-role assumptions about men and women, whatever their sexual orientation. That the parts of the maenads were taken by men was not exceptional: women never appeared on the Greek stage.

Bacchanalian rites were introduced into Rome during the Republic. Men joined women in the frenzied gatherings, and (according to the historian Livy) there was more debauchery among the men with each other than with the women. Apart from their orgiastic aspects, the rites caused concern because they crossed class lines, welcoming citizens, freed men and slaves alike. Condemned as a subversive foreign import, the Senate suppressed the Bacchanalia in 186 BC, but they evidently were soon revived. Roman sarcophagi of the 2nd and 3rd century of our era show Bacchic scenes, projecting hopes for an afterlife spent in Dionysic bliss. In its last phases the cult of Dionysus emerged as an other-worldly mystery religion, showing affinities with Mithraism, the religion of Isis, and Christianity. Meeting now behind closed doors, members of the sect recognized one another by passwords and signs.

Although the early Christians regarded all pagan worship as demonic, they were not averse to purloining the Bacchic wine harvest imagery for their own sarcophagi and mosaics. Some Bacchic reminiscences recur in drinking songs of medieval goliardic poets, notably the Carmina Burana.”

At the end of the 16th century the flamboyant bisexual painter Caravaggio created a notably provocative image of Bacchus-Dionysus (Florence, Uffizi Gallery).” Veja pintura no verbete do pintor mais acima.

The most influential latter-day evocation of the god occurs in The Birth of Tragedy (1872) of Friedrich Nietzsche, who exalted the category of the Dionysiac as an antidote for excessive rationality in the interpretation of ancient Greece and, by implication, in modern life as well.

Nietzsche’s ideas were modernized and correlated with anthropology and psychoanalysis by the classical scholar E.R. Dodds, who in turn influenced the poet W.H. Auden. Together with his lover, Chester Kallman, Auden turned Euripides’ play into an opera libretto entitled The Bassarids.”

Karl Kerenyi, Dionysus: Archetypal Image of Indestructible Life, London: Routledge, 1976.

DREAMS

When a dream has homosexual content, the hermeneutic process is complicated by the ethical assumptions of the dreamer and the interpreter, which reflect the attitudes of society toward same-sex experience.

To understand their dream experiences human beings have formulated a lore to which the ancients gave the name oneirocritical. Because the ancient world accepted homosexual interest and activity as part of human sexuality, the dream interpreters of the eastern Mediterranean cultures could calmly explain the homoerotic episodes in dreams in terms of their overall system of signs and meanings and without anxiety. Such was the work of Artemidorus of Daldis (middle of the 2nd century), which alludes to pédérastie and homosexual dream sequences and assigns them a specific, often prophetic meaning. Not so the Christian Middle Ages; the literature of dreams became exclusively heterosexual because the taboo with which theology had tainted sexual attraction to one’s own sex imposed a censorship that is only now being lifted.”

DRUGS

It should be noted that there has never been a country or society in which unrestricted use of all psychoactive drugs has been permitted over any period of time.”

In some users hallucinogens cause terrifying experiences; psychological problems can be exacerbated, and brain damage caused. The action of stimulants is often followed by a compensatory negative experience through which the body restores its equilibrium.”

Society can tolerate drug use if it is encapsulated within an artistic, recreational, religious, or therapeutic context; while some are able to so control their usagé, for many that is a daunting or impossible condition, at least in our present culture”

education is more effective than prohibition. Exaggeration of drugs’ harmful effects reduces respect for law, overwhelms the courts and prisons, inhibits research on any therapeutic use of drugs, makes drugs of controlled strength and purity unavailable, gives drugs the glamour of the forbidden, and encourages progression to ever more dangerous yet legally equal substances. As with alcohol during America’s Prohibition (1920-33), the supply of illegal drugs has become a very profitable industry, and not a passive or benign one. Foreigners who supply drugs sometimes justify their actions to themselves and their countrymen as a means of striking back at the political and economic power of the United States.”

during the 1960s, there were a considerable number of reports of people becoming aware of homoeroticism for the first time while under the influence of LSD especially. Drugs have also been used by musicians, artists, and writers who claim that the substances help them create, although this claim is controversial, perhaps because if substantiated it would be a powerful argument for drug use.”

The use of hashish (cannabis), eaten in sweets rather than smoked, is found in the Bible (Song of Songs 5:1; I Samuel 14:25-45), and there is evidence of psychic use of hemp (marijuana), from which hashish is made, from pre-historic times. Herodotus, for example, reports its popularity among the Scythians. However, widespread use of hashish begins in Islam in the 12th and 13th centuries. While the Koran prohibited wine, which because of distribution costs was somewhat more expensive than today, it was silent on hashish, which was also much less expensive. There was debate about whether the Koran’s silence was to be taken as approval, or whether prohibition was to be inferred from the treatment of wine; still, as long as it remained a minority indulgence it was tolerated, as wine usually was. Hashish users became a subculture; in particular it is linked to the mystical Sufis, who made a cult and ritual of its use. However, almost every Islamic poet from the 13th to the 16th centuries produced at least some playful poems on hashish, although wine poetry is much more abundant.”

Hashish was thought to cause effeminacy, a preference for the passive sexual role, and a loss of interest in sex. However, it was also prized as the drug of scholars and lovers of young men, and an aid in seduction of the latter. Turkish soldiers frequently ate hashish together before going into battle.

Coffee was introduced to Europe in the 17th century from the Turkish empire. Both within Islam and in Europe coffee was at first a similarly controversial drug, subject to occasional legal restriction or suppression. Its use in coffee-houses, later cafés, was typical of intellectuals and dissidents.”

The first half of the 20th century was characterized by a wave of reaction against drugs and the establishment of legal controls throughout Westem Europe and North America. However, the tensions of the 1960s, against a backdrop of the Holocaust and the invention and use of the atomic bomb, brought on a new wave of drug use. The hedonistic use of cannabis increased greatly; its enthusiasts promoted it as an aid to sensual and sexual enjoyment. The Beat generation, especially William Burroughs and Allen Ginsberg, had already turned to potent psychedelics as a means of self-improvement; they became part of the short-lived counterculture of the late 1960s. The discovery of psychedelics was in part due to progress in anthropology and archeology. The use by native peoples of mescaline (peyote), psilocybin (mushrooms), and other psychedelics became known, and the possible role of such substances in visions and oracles of the ancient Mediterranean world was proposed by scholars. The hallucinogenic properties of the most potent psychedelic yet known, lysergic acid diethylamine-25 (LSD), were discovered in 1943” “until it became too controversial, it was manufactured by a pharmaceutical company for research in psychotherapeutic treatment.”

The gay bar remains the only gay institution in many American communities, as it was almost everywhere until the 1970s.”

Poppers are a vasodilator of transitory effect, and cause a <high> from a drop in blood pressure; users say that the intensity and/or duration of orgasm is increased, that muscles (such as throat and anal sphincters) and gag reflexes are relaxed, and that feelings of increased union or <melting> with the sex partner result. Many users report that continued use (a single inhalation produces effects only for a few minutes) inhibits erections, while other users seem unaffected. Likewise, some users say the poppers encourage passivity and complete relaxation, while others report no such effect. Headaches and dizziness are sometimes reported as side effects.” “In the early 1980s poppers were accused of being a co-factor in the development of AIDS, and they were made illegal in some areas, although the accusation remains unproven.”

EFFEMINACY, HISTORICAL SEMANTICS OF

In reading older texts it is important to bear these differences in mind, for the term effeminate can be used slightingly of a womanizer [mulherengo] as well as of a <womanish> man.

The ancient Greeks and Romans sharply differentiated the active male homosexual, the paiderastes (in the New Testament arsenokoites, literally <man-layer>), from the passive partner, the cinaedus or pathicus (New Testament Greek malakos; Hebrew, rakha). The Greeks also sometimes used the term androgynos, <man-woman>, to stigmatize the passive homosexual. Beginning with the Old Attic comedies of Aristophanes, the passive is a stock figure of derision and contempt, the active partner far less so. Because of the military ideals on which ancient societies were founded, passivity and softness in the male were equated with cowardice and want of virility. A seeming exception is the god Dionysus – whose effeminate characteristics are, however, probably an import from the non-Greek East.

In ancient Rome the terms mollis (soft) and effeminatus acquired special connotations of decadence and enervating luxury. By contrast the word virtus meant manliness. The Roman satirists took sardonic delight in flagellating the vices of luxury that were rampant among the upper classes of a nation that, once rude and war-like, had succumbed to the temptations that followed its successful conquest and plunder of the entire ancient world. The classical notion of effeminacy as the result of luxury, idleness, and pampered self-indulgence is thus far removed from the claim of some gay liberationists today to kinship with the exploited and down-trodden.

The old Icelandic literature stemming from medieval Scandinavia documents the condemnation of the argr, the cowardly, unwar-like effeminate (compare Modern German arg, <bad>). The Latin term mollities (softness) entered early Christian and medieval writings, but often with reference to masturbation. It may be that the 18th-century English term molly for an effeminate homosexual is a reminiscence of Latin mollis.”

In the 16th century the French monarch Henri III assembled an entourage of favorites whose name mignon connotes effeminacy and delicacy. In French also the original meaning of bardache was the passive partner of the active bougre. English writings of the 17th and 18th century frequently denounced foppery [dandismo], sometimes homosexual but more often heterosexual.”

Restoration times also witnessed the popularity of the self-referencing habit of male homosexuals adopting women’s names: Mary, Mary-Anne, Molly, Nance or Nancy, and Nelly. The habit occurs in other languages as well – Janet in Flemish; Checca (from Francesca) in Italian; Maricón (from Maria) in Spanish; and Adelaida in Portuguese.”

19th-century English witnessed a semantic shift of a number of terms originally applied to women to provide opprobrious designations of male homosexuals. Thus gay had the meaning of a loose woman, prostitute; faggot, a slatternly woman –, and queen (or quean), a trollop. Even today the popular mind tends to the view that gay men seek to imitate women, or even become women –, the considerable number of unstereotypical, masculine homosexuals are not taken into account.”

Termagant and virago, though pejorative, do not suggest variance of sexual orientation. The girl who is a tomboy has always been treated more indulgently than the boy who is a sissy.”

Men who cross-dress as women are of two kinds. Some go to great lengths to make the simulation credible, an effort that may be a prelude to transsexualism. In other instances the simulation is imperfect, a kind of send-up. Although some feminists have interpreted such cross-dressing exercises as mockery of women, it is more likely that they signify a questioning of gender categories. In any event, transvestism is not normally held to lie within the province of effeminacy, which is thought to be the adjunction of feminine traits in a person otherwise fully recognizable as masculine.”

Hans Herter, Reallexikon fur Antike und Christentum, 4 (1959).

EGYPT

Traditionally the pharaohs married their half-sisters, a custom that other peoples considered curious. Self-confident in their cherished habits and customs, the Egyptians nonetheless cherished a distinct sense of privacy, which restricted discussion of erotic themes in the documents that have come down to modern times. Most of our evidence stems from temples and tombs, where a full record of everyday life could scarcely be expected. Unfortunately, Egypt had no law codes comparable to those known from ancient Mesopotamia.”

The realm of mythology provides several instances of homosexual behavior. In order to subordinate him, the god Seth attempted to sodomize his brother Horus, but the latter foiled him, and tricked Seth into ingesting some of his (Horus’s) own semen. Seth then became pregnant. In another myth the ithyphallic god Min anally assaulted an enemy, who later gave birth to the god Thoth. Both these stories present involuntary receptive homosexuality as a humiliation, but the act itself is not condemned; in the latter incident the god of wisdom is born as a result. (In another myth the high god engenders offspring parthenogenetically by masturbation.) While it is sometimes claimed that the ancient Egyptians were accustomed to sodomize enemies after their defeat on the battlefield, the evidence is equivocal.”

In what is surely history’s first homosexual short story, King Pepy II Neferkare (2355-2261) makes nocturnal visits to have sex with his general Sisinne. This episode is significant as an instance of androphilia – sex between two adult men – rather than the pederasty that was dominant in the ancient world. From a slightly earlier period comes the Tomb of the Two Brothers at Thebes, which the excavators have explained as the joint sepulcher of two men, Niankhnum and Khnumhotep, who were lovers. Bas reliefs on the tomb walls show the owners embracing affectionately.”

Queen Hatshepsut (reigned 1503-1482 BC) adopted male dress and even wore a false beard; these male attributes probably stem from her decision to reign alone, rather than from lesbianism.

A figure of particular interest is the pharaoh Akhenaten (Amenhotep IV; reigned ca. 1372-1354 BC), who was a religious and artistic reformer. Although this king begat several daughters with his wife, the famous Nefertiti, in art he is often shown as eunuch-like, with swollen hips and feminine breasts. According to some interpreters these somatic features reflect a glandular disorder. Other scholars believe that they are a deliberate artistic stylization, so that the appearance of androgyny may convey a universal concept of the office of kingship, uniting the male and the female so as to constitute an appropriate counterpart of the universal god Aten he introduced. Scenes of Akhenaten caressing his son-in-law Smenkhkare have been interpreted, doubtfully, as indicating a homosexual relation between the two.”

ELLIS, HAVELOCK

Pioneering British writer on sexual psychology. Descended from a family with many generations of seafarers, Henry Havelock Ellis was named after a distinguished soldier who was the hero of the Indian Mutiny. Early in life he sailed twice around the world and spent some years in Australia. In boarding school he had some unpleasant experiences suggesting a passive element in his character, and his attachments to women were often more friendships than erotic liaisons. At the age of 32 he married Edith Lees, a lesbian; after the first year of their marriage all sexual relations ceased, and both went on to a series of affairs with women. By nature an autodidact, Ellis obtained in 1889 only a licentiate in Medicine, Surgery, and Midwifery from the Society of Apothecaries – a somewhat inferior degree that always embarrassed him. More interested in his literary studies than in the practice of medicine, he nevertheless collected case histories mainly by correspondence, as his autobiography makes no mention of clinical practice.

ERA DE AQUARIUS: “In the atmosphere that prevailed after the disgrace of Oscar Wilde (May 1895), publication in England was problematic, but under doubtful auspices the English edition was released in November 1897.”

Sexual Inversion was the first book in English to treat homosexuality as neither disease nor crime, and if he dismissed the current notion that it was a species of <degeneracy> (in the biological sense), he also maintained that it was inborn and unmodifiable – a view that he never renounced. His book, couched in simple language, urged public toleration for what was then regarded as unnatural and criminal to the highest degree. To a readership conditioned from childhood to regard homosexual behavior with disgust and abhorrence, the book was beyond the limits of comprehension, and a radical publisher and bookseller named George Bedborough was duly prosecuted for issuing <a certain lewd wicked bawdy scandalous and obscene libel>” “The book was to appear in two later editions as the second volume of Ellis’ Studies in the Psychology of Sex, which in its final format extended to 7 volumes covering the whole of sexual science as it existed in the first three decades of the 20th century.” “Ellis never endorsed the explanations offered by Freud and the psychoanalytic school, so that the third edition of Sexual Inversion (1915), which was supplemented by material drawn from Magnus Hirschfeld’s Die Homosexualität des Mannes und des Weibes, published a year earlier, presented essentially the standpoint of 1904. The next in radical character was the measured discussion of masturbation, which Victorian society had been taught to regard with virtual paranoia as the cause of numberless ills.

EPHEBOPHILIA

The term ephebophilia seems to have been coined by Magnus Hirschfeld in his Wesen der Liebe (1906)

ANTI-AQUILINO (BANQUETE): “those with bearded faces who had outgrown the stage at which they were appropriate as the younger partners in pederasty, but not yet old enough to marry: the prime age for military service. The ancient Greek age of puberty was likely in the mid-teens rather than the younger ages typical of contemporary Western society.”

In other societies, ephebes are legally on a par with younger children, but in practice sexual activities with them are not as harshly repressed as with the younger group.”

The combination of heightened sexual energy with a lack of heterosexual outlets (owing to marriage ages in the twenties and restrictions on pre-marital opportunities) and low incomes (characteristic of males still in school, military service, or just beginning to acquire work experience) has in many societies made heterosexual ephebes more available for trade (one-sided) relationships with homosexuals than any other group of heterosexual males.

For many ephebophiles, the naïveté of ephebes is a source of attraction, their enthusiasm for new experiences (including sexual and romantic involvements) contrasted with what is perceived to be the more jaded and skeptical attitudes of other adults.”

The ancient Greeks acknowledged this trait with the term philephebos (fond of young men) and philoboupais (one who is fond of over-matured boys, <bull-boys> or <husky young men>), but generally slighted it in favor of the pederastic preference. Nevertheless, the athletic games of which the Greeks were so fond featured nude ephebes, the size of whose members received public acclaim, and the victors basked in adulation; Pindar wrote odes to them.”

In the 20th century, the dominance of the androphile model of male homosexuality has tended to subsume, appropriate, and obscure the ephebophile current, and to consider it as a mode of adult-adult relationships rather than as a distinctive type of preference.”

EPICUREANISM

Knowledge of Epicureanism, the classical rival of Stoicism, is fragmentary because Christians, disliking its atheistic materialism, belief in the accidental existence of the cosmos, and ethical libertarianism, either failed to copy or actually destroyed the detested works. Of all the numerous works composed in antiquity, only Lucretius’ philosophical poem De rerum natura survives intact. Diogenes Laertius reported that Epicurus wrote more than anyone else, including 37 books On Nature. A typical maxim: <We see that pleasure is the beginning and end of living happily>.

Epicurus (341-270 BC), the founder of the school, served as an ephebe in Athens at 18 and then studied at the Academy, a fellow classmate of Menander, when Aristotle was absent in Chalcis. Having taught abroad, where he combatted the atomist philosophy of Democritus, he returned to Athens and bought his house with a garden in 307-6. There he taught until his death, allowing women and slaves to participate in his lessons – to the shock of traditionalists. Only a few lines of his works survive. Apparently he likened sexual object choice, whether of women or boys, to food preferences – a parallel that often recurred in later times. His beloved Metrodorus predeceased him.

[O LEITMOTIF INCONSCIENTE DO BLOG] The Epicurean school, consisting of scholars who secluded themselves from society in Epicurus’ garden, lived modestly or even austerely. Stoics, however, libeled the secretive Epicureans because of their professed hedonism, accusing them of profligacy of every kind despite the fact that Epicurus felt that pleasure could be attained only in restraint of some pursuits that in the long run bring more pain than the temporary pleasure they seem to offer. Natural pleasures are easily satisfied, others being unnecessary. The ideal was freedom from destiny by satisfying desire and avoiding the pain of desires too difficult or impossible to satisfy. By freeing man from fear of gods and an afterlife and by teaching him to avoid competition in politics and business it liberates him from emotional turmoil. Friendship was extremely important to Epicureans.”

Lucretius (ca. 94-55 BC) seems not to have added any ideas to those taught by Epicurus himself. But others, like the fabulously rich general Lucullus, whose banquets became proverbial, excused their gross sensuality by references to Epicurus’ maxims. Julius Caesar proclaimed himself an Epicurean. Under the Empire Stoicism vanquished its rival and vied with Christianity, which when triumphant anathematized Epicureanism.”

the Soviet Communists, who naturally ranked Epicurus above Plato as the greatest philosopher of antiquity.” ???

Gassendi (1592-1655) [neo-epicurean] exerted enormous influence on both Newton and Leibniz.”

FAGGOT

One of the most persistent myths that have gained a foot-hold in the gay movement is the belief that faggot derives from the basic meaning of <bundle of sticks used to light a fire>, with the historical commentary that when witches were burned at the stake, <only presumed male homosexuals were considered low enough to help kindle the fires>.

The English word has in fact three forms: faggot, attested by the Oxford English Dictionary from circa 1300; fadge, attested from 1588; and faggald, which the Dictionary of the Older Scottish Tongue first records from 1375. The first and second forms have the additional meaning <fat, slovenly woman> which according to the English Dialect Dictionary survived into the 19th century in the folk speech of England.

The homosexual sense of the term, unknown in England itself, appears for the first time in America in a vocabulary of criminal slang printed in Portland, Oregon in 1914, with the example <All the fagots (sissies) will be dressed in drag at the ball tonight>. The apocopated (clipped) form fag then arose by virtue of the tendency of American colloquial speech to create words of one syllable; the first quotation is from the book by Neis Anderson, The Hobo (1923): <Fairies or Fags are men or boys who exploit sex for profit.> The short form thus also has no connection with British fag as attested from the 19th century (for example, in the novel Tom Brown’s Schooldays) in the sense of <public school boy who performs menial tasks for an upper-classman>.

In American slang faggot/fag usurped the semantic role of bugger in British usage, with its connotations of extreme hostility and contempt bordering on death wishes. In more recent decades it has become the term of abuse par excellence in the mouths of heterosexuals, often just as an insult aimed at another male’s alleged want of masculinity or courage, rather than implying a sexual role or orientation.

The ultimate origin of the word is a Germanic term represented by the Norwegian dialect words fagg, <bundle, heap>, alongside bagge, <obese, clumsy creature> (chiefly of animals). From the latter are derived such Romance words as French bagasse and ltalian bagascia, <prostitute>, whence the parallel derivative bagascione whose meaning matches that of American English faggot/fag, while Catalan bagassejar signifies to faggot, <to frequent the company of loose women>.

The final proof that faggot cannot have originated in the burning of witches at the stake is that in English law both witchcraft and buggery were punishable by hanging, and that in the reign of the homosexual monarch James I the execution of heretics came to an end, so that by the time American English gave the word its new meaning there cannot have been in the popular mind even the faintest remnant of the complex of ideas credited to the term in the contemporary myth. It is purely and simply an Americanism of the 20th century.

Given the fact that the term faggot cannot refer to burning at the stake, why does the myth continue to enjoy popularity in the gay movement? On the conscious level it serves as a device with which to attack the medieval church, by extension Christianity in toto, and finally all authority. On another level, it may linger as a <myth of origins>, a kind of collective masochistic ritual that willingly identifies the homosexual as victim.

FASCISM

The term fascism derives from fasces, the bundles of rods carried by the lictors of ancient Rome to symbolize the unity of classes in the Republic. Fascism is the authoritarian movement that arose in Italy in the wake of World War I. Although Hitler admired its founder Mussolini and imitated him at first – the term Führer is modeled on Duce – one cannot simply equate his more radical National Socialist movement with the Italian phenomenon, as writers of the left are prone to do.”

Not essentially racist like Nazism or anti-bourgeois like Marxism, Italian fascism, with its corporative binding of workers and employers, has been less consistently hostile to homosexuals.”

Mussolini also argued in a discussion of a draft penal code in 1930 that because Italians, being virile, were not homosexuals, Italy needed no law banning homosexual acts, which he believed only degenerate foreigners to practice. A ban would only frighten such tourists away, and Italy needed the money they spent to improve its balance of payments and shore up its sagging economy. Napoléon had promulgated his code, which did not penalize homosexual acts between consenting adults, in northern Italy in 1810, and thus decriminalized sodomy. It had already been decriminalized in Tuscany by Grand Duke Leopold, the enlightened brother of Joseph II. The Albertine Code of 1837 for Piedmont-Sardinia was extended to all its dominions after the House of Savoy created a united Kingdom of Italy, a task completed in 1870. Pervasive was the influence of the jurist Marquis Cesare Beccaria, who argued against cruel and unusual punishments and against all offenses motivated by religious superstition and fanaticism.

Thus Italy with its age-old <Mediterranean homosexuality> in which women were protected, almost secluded – upper-class girls at least in the South being accompanied in public by dueñas –, had like other Latin countries allowed female prostitution and closed its eyes to homosexuality. As such it had became the playground par excellence during the grand tour of the English milords, and also the refuge of exiles and émigrés from the criminal sanctions of the Anglo-American common law and the Prussian code. The Prussian Code was extended in 1871-72 to the North and then South German territories incorporated in the Reich, including ones where the Code Napoleon had prevailed in the early part of the century. Byron and John Addington Symonds took refuge in Italy, as William Beckford did in Portugal and Oscar Wilde in Paris. Friedrich Alfred Krupp’s playground was in Capri, Thomas Mann’s in Venice, and Count Adelswárd Fersen’s also in Capri.”

Personally, Mussolini was somewhat of a sexual acrobat, in that he had a succession of mistresses and often took time out in the office to have sex with one or another of his secretaries.”

Believing in military strength through numbers, Mussolini did more than Hitler to subsidize parents of numerous progeny, thus hoping to increase Italy’s population from 40 to 60 million.”

However, after he formed the Rome-Berlin Axis with Hitler in 1936, Mussolini began, under Nazi influence, to persecute homosexuals and to promulgate anti-Semitic decrees in 1938 and 1939, though these were laxly enforced, and permitted exceptions, such as veterans of World War I.”

Oppressing homosexuals more than Jews, Mussolini’s regime rounded up and imprisoned a substantial number, a procedure poignantly depicted in Ettore Scola’s excellent film A Special Day (1977).” “Even exclusive homosexuals, if they were not unlucky, survived fascism unscathed.”

Admiral Horthy seized control of Hungary from the communist Bela Kun in 1920 and as Regent unleashed a <White Terror> largely directed against Jews, two years before Mussolini marched on Rome with his black-shirts.”

Fascists were less consistent and more divided among themselves than even communists or Nazis. After all, they had no sacred text like Das Kapital or Mein Kampf, and further were not ruling only a single powerful country.” “Czechoslovakia, the only democracy in Central Europe to survive this period, simply continued the Austrian penal code of 1852 that penalized both male and female homosexuality.”

The great homosexual poet Federico García Lorca was shot by a death squad near Granada in 1936; it is said that they fired the bullets through his backside to <make the punishment fit the crime>.” “More than Mussolini, Franco resisted the theories and pressures of Hitler, whom he regarded as a despicable (and perhaps deranged) upstart. It has been argued that Franco was not a fascist at all and that he actually maintained a pro-Jewish policy, granting asylum to refugees from Nazi-occupied Europe and attempting to protect Sephardic Jews in the Balkan countries. In his last years he in fact liberalized Spain to a certain extent, allowing among other things a resurgence of gay bars, baths, and culture even before the accession of King Juan Carlos upon his death in 1975. Today Spain is one of the freest countries in Europe.”

Naturally Latins, like Slavs, being considered inferior peoples by Hitler, did not in general espouse racism (Hitler had to make the Japanese honorary Aryans to ally with them in the Tripartite Pact of 1937), so they had no reason to think of homosexuals in his terms.”

FASCIST PERVERSION, BELIEF IN

Fascism and National Socialism (Nazism) were originally distinct political systems, but their eventual international ties (the <Rome-Berlin axis>) led to the use of <fascist> as an umbrella term¹ by Communist writers anxious to avoid the implication that <National Socialism> was a type of socialism. Neither in Italy nor in Spain did the right-authoritarian political movements have a homosexual component. Rather it was in Weimar Germany that the right-wing paramilitary groups which constituted the nucleus of the later National Socialist German Workers Party (NSDAP) attracted a considerable number of homosexuals whose erotic leanings overlapped with the male bonding of the party. This strong male bonding, in the later judgment of their own leaders, gave the Nazis a crucial advantage in their victory over the rival Social Democratic and communist formations in the early 1930s.

The most celebrated of the homosexuals in the Nazi Party of the 1920s was Ernst Rohm, whose sexual proclivities were openly denounced by left-wing propagandists, but this did not deprive him of Hitler’s confidence until the putsch of June 30, 1934, in which he and many of his homosexual comrades in arms were massacred.”

¹ Discordo, mas segue o jogo.

theorists such as Wilhelm Reich who were opposed to homosexuality [?] could claim that the right-wing youth were <becoming more homosexual>. The victory of National Socialism at the beginning of 1933 then reinforced Communist and émigré propagandists in their resort to <fascist perversion> as a rhetorical device with which they could abuse and vilify the regime that had defeated and exiled them – and which they hoped would be transient and unstable.

In particular, the statute by which Stalin restored the criminal sanctions against homosexuality that had been omitted from the penal codes of 1922 and 1926 was officially titled the <Law of March 7, 1934> – a pointed allusion to the anniversary of the National Socialist consolidation of power one year earlier.”

In the United States Maoists charged that the gay liberation movement of 1969 and the years following was an example of <bourgeois décadance> that would vanish once the triumph of socialism was achieved. “

Samuel Igra, Germany’s National Vice, London: Quality Press, 1945.

FILM

Adolescent alienation was the theme of Rebel without a Cause (1955), in which, however, the delicate Sal Mineo character dies so that James Dean can be united with Natalie Wood.”

In the book Midnight Express the hero admitted to a gay love affair in prison, but in the movie version (1978) he rejects a handsome fellow inmate’s advances.”

Screen biographies of gay people have had similar fates. Michelangelo and Cole Porter appear as joyful heterosexuals; Oscar Wilde could not be sanitized, to be sure, but he was presented in a <tasteful> manner (3 British versions, 2 in 1960, one in 1984). Recent screen biographies have been better; the documentary on the painter Paul Cadmus (1980) is open without being sensational; Prick Up Your Ears, on the life of Joe Orton, is as frank as one can wish, though it somehow misses the core of his personality.”

In The Third Sex (West Germany, 1959) a sophisticated older man has an entourage of teenage boys. Although this film purveys dated ideas of homosexuality, it went farther in explicitness than anything that Hollywood was able to do for over a decade. Federico Fellini’s celebrated La Dolce Vita (1960) is a multifaceted portrait of eternal decadence in chic circles in Rome.”

One breakthrough came in 1967 when the legendary Marlon Brando portrayed a closeted homosexual army officer in John Huston’s Reflections in a Golden Eye, a film which drew a <Condemned> rating from the Catholic Church.” Who gives a fuck (literally)!

Sunday Bloody Sunday: this film was notable for the shock experienced by straight audiences at a kissing scene between Peter Finch and Murray Head. Perhaps the most notorious of the gay directors was Rainer Werner Fassbinder, whose Fox and His Friends (1975) deals with homosexuality and class struggle. Fassbinder’s last film was his controversial version of a Genet novel, Querelle (1982). The death of Franco created the possibility of a new openness in Spanish culture, including a number of gay films. Influenced by Luis Buñuel, Law of Desire (1986) by Pedro Almodóvar is surely a masterpiece of comic surrealism.”

Already in the 1920s some major directors were known to be gay, including the German Friedrich W. Murnau and the Russian Sergei Eisenstein.”

During their lifetimes Charles Laughton and Montgomery Clift had to suffer fag-baiting taunts from colleagues, while Rock Hudson remained largely untouched by public scandal until his death from AIDS in 1985. Tyrone Power and Cary Grant were decloseted after their deaths. The sexuality of others, such as Errol Flynn and James Dean, remains the subject of argument. In Germany the stage actor and film director Gustav Grundgens managed to work through the Nazi period, even though his homosexuality was known to the regime.”

In 1969, however, hardcore porno arrived, apparently to stay. Some 50 theatres across the United States specialized in the genre, and where the authorities were willing to turn a blind eye, sexual acts took place there, stimulated by the films.”

Much of the early production was forgettable, but in 1971, in Boys in the Sand starring Casey Donovan (Cal Culver), the director-producer Wakefield Poole achieved a rare blend of sexual explicitness and cinematographic values.”

In the later 80s AIDS began to devastate porno-industry workers, gay and straight, and safe sex procedures became more rigorous on the set (it should be noted, however, that long before AIDS, by strict convention, pornographic film ejaculations were always conducted outside the body, so as to be graphically visible; hence film sex was always basically <safe sex>).”

PROVAVELMENTE ULTRAPASSADO: “Lesbian porno exists only as scenes within films addressed to heterosexual males, their being, thus far, no market for full-length lesbian films of this nature. A number of independent lesbian film-makers have made candid motion pictures about lesbian life, but they are not pornographic.”

Carel Rowe, The Baudelairean Cinema: A Trend Within the American Avant-Garde, Ann Arbor, MI: UMI Research Press, 1982.

FLAUBERT

From his early years at the lycée onward, he preferred the pen to his father’s scalpel, and single-handedly edited a minor journal, the Colibri, that clumsily but clearly foretold his future talent. In Paris he read Law but never took the degree for reasons of health, and there met Maxime Du Camp, with whom he formed a close friendship. Together they traveled through Brittany and Normandy in 1847, bringing back a volume of reminiscences that was to be published only after Flaubert’s death (Par les champs et par les grèves, 1885). Between October of 1849 and May of 1851 the two traveled in Egypt and Turkey, and there Flaubert had a number of pédérastie experiences which he related in his letters to Louis Bouilhet.”

BORING FASHION: “On his return to France Flaubert shut himself up in his country house at Croisset, near Rouen. Instead of aspiring to self-discovery in the manner of the Romanticists, Flaubert sought to bury his own personality by striving for the goal of art in itself, and he devoted his entire life to the quest for its secrets. His ferocious will to be in his works <like God>, everywhere and nowhere, explains the nerve-wracking effort that went into each of his novels, in which nothing is left to the free flow of inspiration, nothing is asserted without being verified, nothing is described that has not been seen.” “This explains the multiple versions that are periodically uncovered of almost every one of his works, with the sole exception of Madame Bovary (1857), which led to his being tried for offending public decency.”

In 1857 he traveled to Tunisia to collect material for a historical novel set in Carthage after the First Punic War. Salammbô (1862), abundantly documented, is so rich in sadistic scenes, including one of a mass child-sacrifice, that it horrified some contemporary readers.”

In 1874 he published La tentation de saint Antoine, a prose poem of great power and imagination. His last work, Bouvard et Pécuchet (issued posthumously in 1881), is an unfinished study in male bonding.”

Sodomy is a subject of conversation at table. You can deny it at times, but everyone starts ribbing you and you end up spilling the beans. Traveling for our own information and entrusted with a mission by the government, we regarded it as our duty to abandon ourselves to this manner of ejaculation. The occasion has not yet presented itself, but we are looking for one. The Turkish baths are where it is practiced. One rents the bath for 5 fr., including the masseurs, pipe, coffee, and linen, and takes one’s urchin into one of the rooms. – You should know that all the bath attendants are bardaches [homossexuais passivos].”

FOUCAULT

at the end of his life he surprised the world with 2 successor volumes with a different subject matter: the management of sexuality in ancient Greece and Rome. While completing these books he was already gravely ill, a fact that may account for their turgid, sometimes repetitive presentation. In June 1984 Michel Foucault died in Paris of complications resulting from AIDS.”

O CONTINENTE SE ESMIGALHA: “Discontent with the systems of Marx and Freud and their contentious followers had nonetheless left an appetite for new <mega-theories>, which the Anglo-Saxon pragmatic tradition was unable to satisfy.”

This concept of discontinuity was all the more welcome as the ground had been prepared by an influential American philosopher of science, Thomas Kuhn, whose concept of radical shifts in paradigm had been widely adopted. In vain did Foucault protest toward the end of his life that he was not the philosopher of discontinuity; he is now generally taken to be such.”

Not since Jean-Paul Sartre had France given the world a thinker of such resonance. Yet Foucault’s work shows a number of key weaknesses. Not gifted with the patience for accumulating detail that since Aristotle has been taken to be a hallmark of the historian’s craft, he often spun elaborate theories from scanty empirical evidence. He also showed a predilection for scatter-gun concepts such as episteme, discourse, difference, and power; in seeking to explain much, these talismans make for fuzziness. Foucauldian language has had a seductive appeal for his followers, but repetition dulls the magic and banalization looms.”

FOURIER

French Utopian philosopher and sexual radical. Fourier spent much of his life in Lyon, trapped in a business world which he hated with a passion. Disillusioned in childhood by the dishonesty and hypocrisy of the people around him, he gradually formulated an elaborate theory of how totally to transform society in a Utopian world of the future known as Harmony, in which mankind would live in large communes called Phalansteries.

Fourier hid his sexual beliefs from his contemporaries, and it was more than a century after his death before his main erotic work, Le nouveau monde amoureux, was first published. (…) Fourier did not believe that anyone under 16 had any sexual feelings, nor did he understand the psychology of sadism, pedophilia, or rape, so that his sexual theories are not entirely suitable for modem experimentation. (…) He recognized male homosexuals and lesbians as biological categories long before Krafft-Ebing created the modern concept of immutable sexual <perversions>.” “He wrote some fictional episodes in the vein of William Beckford, one of which describes the seduction of a beautiful youth by an older man.”

FRANCE

French politics and literature have exercised an incalculable influence on other countries, from England to Quebec, from Senegal to Vietnam. Whether justified or not, a reputation for libertine hedonism clings to the country, and especially to its capital, Paris – by far the largest city of northern Europe from the 12th to the 18th centuries (when London surpassed it), making France a barometer of changing sexual mores.”

The heavy-drinking later Merovingians, descendants of the Frankish king Merovech and his grandson Clovis, who conquered all Gaul, were barbarians who indulged their sensual appetites freely. Lack of control allowed considerable sexual license to continue into the more Christianized Carolingian period (late 8th-9th centuries), and probably to increase during the feudal anarchy that followed the Viking invasions of the 9th and 10th, but in the 11th century the church moved to regulate private conduct according to its own strict canons.”

The term sodomia, which appears in the last decades of the 12th century [?], covered bestiality, homosexual practices, and <unnatural> heterosexual relations of all kinds.” “Popes organized the Inquisition against them and invoked the bloody Albigensian Crusade which devastated much of Languedoc, homeland of a sensual culture tinged by Moslem influences from the south. The word bougre itself survives to this day as English bugger, which in Great Britain, apart from legal usage, remains a coarse and virtually obscene expression.”

The guilt of the Templars remains moot to this day; while some may have been involved in homosexual liaisons, the political atmosphere surrounding the investigation and the later controversy made impartial judgment impossible. A persistent fear of sexuality and a pathetic inability to stamp out its proscribed manifestations, even with periodic burning of offenders at the stake and strict regulations within the cloister, plagued medieval society to the end.”

Henri III was celebrated for his mignons, the favorites drawn from the ranks of the petty nobility – handsome, gorgeously attired and adorned adolescents and magnificent swordsmen ready to sacrifice their lives for their sovereign. Although the king had exhibited homosexual tendencies earlier in life, these became more marked after a stay in Venice in 1574. Yet neither he nor the mignons scorned the opposite sex in their pursuit of pleasure, and there is no absolute proof that any of this circle expressed their desires genitally. Yet a whole literature of pamphlets and lampoons by Protestants and by Catholic extremists, both of whom disapproved of the king’s moderate policy, was inspired by the life of the court of Henri III until his assassination in 1589.”

Even the entourage of Cardinal Richelieu included the Abbé Boisrobert, patron of the theatre and the arts, and founder of the French Academy, the summit of French intellectual life. His proclivities were so well known that he was nicknamed <the mayor of Sodom>, while the king who occupied the throne, Louis XIII, was surnamed <the chaste> because of his absolute indifference to the fair sex and to his wife Marie de Medici.”

In his posthumously published novel La religieuse, Denis Diderot indicted convents as hot-houses of lesbianism.”

The Revolution secured the release (though only for a time) of the imprisoned pansexual writer and thinker, the Marquis D.A.F. de Sade, who carried the transgressive strain in the Enlightenment to the ultimate limits of the imagination.”

The novels of Jean Genet, a former professional thief, treated male homosexuality with a pornographic frankness and style rich in imagery unparalleled in world literature. Genet enjoyed the patronage of the dominant intellectual of the time, the heterosexual Jean-Paul Sartre, who also wrote about homosexuality in other contexts.”

Innovations such as a computerized gay bulletin board – the Minitel – reached France, but also the tragic incursion of AIDS (in French, SIDA), spread in no small part from Haiti and the United States.”

FREE-MASONRY

The fraternal order of Free and Accepted Masons is a male secret society having adherents throughout the world. The order is claimed to have arisen from the English and Scottish fraternities of stone-masons and cathedral builders in the late Middle Ages. The formation of a grand lodge in London in 1717 marked the beginning of the spread of free-masonry on the continent as far east as Poland and Russia. From its obscure origins free-masonry gradually evolved into a political and benevolent society that vigorously promoted the ideology of the Enlightenment, and thus came into sharp and lasting antagonism with the defenders of the Old Régime.”

The slogan Liberty, Equality, Fraternity immortalized by the French Revolution is said to have begun in the lodges of the Martinist affiliate.”

FREUDIAN CONCEPTS

Five aspects of Freud’s psychoanalytic work are relevant to homosexuality, though by no means have all of them been fully appreciated in the discussion of the legal and social aspects of the subject. These include: (1) the psychology of sex; (2) the etiology of paranoia; (3) psychoanalytic anthropology; (4) the psychology of religion; and (5) the origins of Judaism and Christianity. In regard to the last two the psychoanalytic profession in the United States has notably shied away from the implications of the founder’s ideas, in no small part because of its accommodation to the norms of American culture, including popular Protestant religiosity.”

Freud pointed out that the pederast is attracted only to the male youth who has not yet lost his androgynous quality, so that it is the blend of masculine and feminine traits in the boy that arouses and attracts the adult male” “with a narcissistic starting point they seek youthful sexual partners resembling themselves, whom they then love as the mother loved them. He also determined that alleged inverts were not indifferent to female stimuli, but transferred their arousal to male objects.”

Recent investigations have sought to confirm this insight for paranoia in male subjects only, and in all likelihood it is related not just to the phenomenon of homosexual panic but to the generally higher level of societal anxiety and legal intolerance in regard to male as opposed to female homosexuality. This would also explain why lesbianism is invisible to the unconscious: the collective male psyche experiences no threat from female homosexuality.”

The outcome of Freud’s explorations in this direction [anthropology] was Totem and Taboo (1913), which despite the break with his Swiss colleague in that year is the most Jungian of all his works.” “While Hellenic civilization could distinguish between father-son and erastes-eromenos relationships, Biblical Judaism could not, and expanded its earlier prohibition of homosexual acts with a father or uncle to a generalized taboo. It is perhaps pertinent that pedophilia (sex with pre-pubertal children), as distinct from pederasty, usually involves members of the same family, not total strangers. Also, extending this mode of thinking, the fascination which some homosexual men have for partners of other races may be owing to the unconscious guilt that still adheres to a sexual relationship with anyone who could be even remotely related to them, which is to say a member of the same ethnic or racial group.” “Totemism and exogamy are the two halves of the familiar Oedipus complex, the attraction to the mother and the death wishes against the rival father.” “Freud then appealed to Robertson Smith’s writings on sacrifice and sacrificial feasts in which the totem is ceremonially slain and eaten, thus reenacting the original deed. The rite is followed by mourning and then by triumphant rejoicing and wild excesses –, the events serve to perpetuate the community and its identity with the ancestor. After thousands of years of religious evolution the totem became a god, and the complicated story of the various religions begins. This work of Freud’s has been condemned by anthropologists and other specialists, yet it may throw considerable light on aspects of Judeo-Christian myth and legend that cluster around the rivalry of the father and his adolescent son – in which the homosexual aggressor is, ostensibly, seeking to destroy the masculinity of his rival by <using him as a woman>.

Obsessional neurosis is a pathological counterpart of religion, while religion may be styled a collective obsessional neurosis.”

From the secondary sources that he had read, Freud surmised that the lawgiver Moses was an Egyptian who had opted for exile after religious counter-revolution had undone the reforms of the first monotheist, Akhenaten. His Egyptian retinue became the Levites, the elite of the new religious community which received its law code, not from him, but from the Midianite priest of a volcanic deity, Jahweh, at the shrine of Kadesh Barnea. This last site, amusingly enough, presumably took its name from the bevy of male and female cult prostitutes who ministered at its shrine. The Biblical Moses is a fusion of the two historic figures.

Freud also, on the basis of a book published by the German Semiticist Ernst Sellin, posited the death of Moses in an uprising caused by his autocratic rule and apodictic pronouncements. The whole notion was based upon a reinterpretation of some passages in the book of Hosea, which because of its early and poetic character, not to speak of the problems of textual transmission, poses enormous difficulties even for the expert.” “Judaism is a religion of the father, Christianity a religion of the son, whose death on the cross and the institution of the eucharist are the last stage in the evolution that began with the slaying and eating of the totem animal by the primal horde.”

The particular emphasis with which Freud contradicted Magnus Hirschfeld’s notion that homosexuals were a biological third sex led – together with a tendency (not confined to psychoanalysis) to deny the constitutional bases of behavior – to the assertion that homosexuality was purely the result of <fixation> in an infantile stage of sexual development provoked by the action or inaction of the parents. (…) Thus in the popular mind the belief that homosexuality is somehow a failure of psychological development has its underpinning in the Freudian concepts.”

his legacy has quietly worked in favor of toleration”

FRIENDSHIP, FEMALE ROMANTIC

When Sarah’s family discovered that she had run off with a woman instead of a man, they were relieved – her reputation would not suffer any irreparable harm (as it would have had her accomplice been male). Her relative Mrs. Tighe observed, <Sarah’s conduct, though it has an appearance of imprudence, is I am sure void of serious impropriety. There were no gentlemen concerned, nor does it appear to be anything more than a scheme of Romantic Friendship.> The English, during the second half of the 18th century, prized sensibility, faithfulness, and devotion in a woman, but forbade her significant contact with the opposite sex before she was betrothed. It was reasoned, apparently, that young women could practice these sentiments on each other so that when they were ready for marriage they would have perfected themselves in those areas. It is doubtful that women viewed their own romantic friendships in such a way, but – if we can place any credence in 18th century English fiction as a true reflection of that society – men did. Because romantic friendship between women served men’s self-interest in their view, it was permitted and even socially encouraged. The attitude of Charlotte Lennox’s hero in Euphemia (1790) is typical. Maria Harley’s uncle chides her for her great love for Euphemia and her obstinate grief when Euphemia leaves for America, and he points out that her fiancé <has reason to be jealous of a friendship that leaves him but second place in Maria’s affection>; but the fiancé responds, <Miss Harley’s sensibility on this occasion is the foundation of all my hopes. From a heart so capable of a sincere attachment, the man who is so happy as to be her choice may expect all the refinements of a delicate passion, with all the permanence of a generous friendship.>

The most complete fictional blueprint for conducting a romantic friendship is Sarah Scott’s A Description of Millennium Hall (1762), a novel which went through four editions by 1778.”

Mrs. Delany’s description of her own first love (in The Autobiography and Correspondence of Mrs. Delany, ed. Sara L. Woolsey) is typical of what numerous autobiographies, diaries, letters, and novels of the period contained. As a young woman, she formed a passionate attachment to a clergyman’s daughter, whom she admired for her <uncommon genius … intrepid spirit … extraordinary understanding, lively imagination, and humane disposition.> They shared <secret talk> and <whispers> together –, they wrote to one another every day, and met in the fields between their fathers’ houses at every opportunity. <We thought that day tedious,> Mrs. Delany wrote years later, <that we did not meet, and had many stolen interviews>. Typical of many youthful romantic friendships, it did not last long (at the age of 17, Mrs. Delany was given in marriage to an old man), but it provided fuel for the imagination which idealized the possibilities of what such a relationship might be like without the impingement of cold marital reality. Because of such girlhood intimacies (which were often cut off in an untimely manner), most women would have understood when those attachments were compared with heterosexual love by the female characters in 18th century novels, and were considered, as Lucy says in William Hayley’s The Young Widow, <infinitely more valuable>. They would have had their own frame of reference when in those novels, women adopted the David and Jonathan story for themselves and swore that they felt for each other (again as Lucy says) <a love passing the Love of Men>, or proclaimed as does Anne Hughes, the author of Henry and Isabella (1788), that such friendships are <more sweet, interesting, and to complete all, lasting, than any other which we can ever hope to possess; and were a just account of anxiety and satisfaction to be made out, would, it is possible, in the eye of rational estimation, far exceed the so-much boasted pleasure of love.>

Saint Mery, who recorded his observations of his 1793-1798 journey, was shocked by the <unlimited liberty> which American young ladies seemed to enjoy, and by their ostensible lack of passion toward men. The combination of their independence, heterosexual passionlessness, and intimacy with each other could have meant only one thing to a Frenchman

in the 1790s: that <they are not at all strangers to being willing to seek unnatural pleasures with persons of their own sex>. It is as doubtful that great masses of middle and upper-class young ladies gave themselves up to homosexuality as it is that they gave themselves up to heterosexual intercourse before marriage. But the fiction of the period corroborates that St. Mery saw American women behaving openly as though they were in love with each other. Charles Brockden Brown’s Ormand, for example, suggests that American romantic friends were very much like their English counterparts.”

But love between women, at least as it was lived in women’s fantasies, was far more consuming than the likes of Casanova could believe. Women dreamed not of erotic escapades but of a blissful life together. In such a life a woman would have choices; she would be in command of her own destiny; she would be an adult relating to another adult in a way that a heterosexual relationship with a virtual stranger (often an old or at least a much older man), arranged by a parent for consideration totally divorced from affection, would not allow her to be. Samuel Richardson permitted Miss Howe to express the yearnings of many a frustrated romantic friend when she remarked to Clarissa, <How charmingly might you and I live together and despise them all>.”

FRIENDSHIP, MALE

For Plato, friendship is rather part of the philosopher’s quest: a link between the world of the senses in which we live and the eternal world.”

How could the masculinity of a youth be preserved in a homosexual relationship with an older man? That was the kernel of the problem for the Greeks. For the Romans it was the perennial anxiety that a free citizen might take a passive role in a sexual relationship with a slave. Homosexuality in itself was not the problem for either: it was in the forms that homosexuality might take that the difficulty lay.”

Homosexuality and friendship: they may well appear at first as two discrete histories, one of society and the other of sexuality. But if one tries to follow their subterranean currents in the Europe of the Middle Ages and the Renaissance, one will end by finding oneself drawn into writing about something larger. One will find oneself writing about power and the power not only of judges but of words.”

Marriage itself was redefined, with implicit consequences for friendship. A society that had observed the tradition of arranged marriages between unequal partners was confronted with a need for change. Under the influence of the middle-class ideology of the 18th century, society now accepted the principle of a marriage founded upon the affinity of equals, upon love rather than family interest. In this sense husband and wife could now be friends, and friendship was no longer invested with an exclusively homo-social character. The decisive shift in this direction occurred in England, where the Industrial Revolution and the ideology of classical liberalism went hand in hand.”

So Romanticism revived the classical model of friendship for which Hellenic antecedents could always be held up as an ideal by such homosexual admirers of antiquity as Johann Joachim Winckelmann, a thinker who in Goethe’s words <felt himself born for a friendship of this kind> and <became conscious of his true self only under this form of friendship>.”

While Ernst Röhm could boast, late in 1933, that the homoerotic component in the SA and SS had given the Nazis the crucial edge in their struggle against the Weimar system, homophobic writers could call for the suppression of all forms of overt male homosexuality and the enactment of even more punitive laws – which were in fact adopted in 1935.”

Certain women feel more comfortable in their dealings with gay men, just because they know that they do not have to be constantly on guard against sexual aggression, but can have close relationships, both social and professional, that attain high levels of creativity and imagination.”

The use of friend or friendship as an euphemism for the homosexual partner (lover) and the liaison itself persists. Recently the compilers of newspaper obituary columns have taken to describing the lifelong companion of a deceased homosexual as <his friend>, in contexts where a heterosexual would be survived by the spouse and children.” Haha

Edward Carpenter, Ioläus: An Anthology of Friendship (1902)

GAMES, GAY

Anyone was allowed to compete regardless of race, sex, age, nationality, sexual orientation, religion, or athletic ability. In keeping with the Masters Movement in sports, athletes competed with others in their own age group. The track and field and swimming events were officially sanctioned by their respective national masters programs. Athletes participated, not as representatives of their respective countries, but as individuals on behalf of cities and towns. There were no minimum qualifying standards in any events.”

The organizers of the Gay Games have experienced considerable legal difficulties. Before the 1982 Gay Games, the United States Olympic Committee (USOC) filed a court action against the organizers of the Gay Games, which were going to be called the Gay Olympic Games. In 1978, the United States Congress passed the Amateur Sports Act which, among other things, granted the USOC exclusive use of the word Olympic. Although the USOC had allowed the Rat Olympics, Police Olympics, and Dog Olympics, it took exception to the term Gay Olympic Games. Two years later, the USOC continued its harassment of the Gay Games and filed suit to recover legal fees in the amount of $96,600.”

GAY

The word gay (though not its 3 later slang meanings) stems from the Old Provençal gai, <high spirited, mirthful>. A derivation of this term in turn from the Old High German gahi, <impetuous> (cf. modem German jah, <sudden>), though attractive at first sight, seems unlikely. Gai was a favorite expression among the troubadours, who came to speak of their intricate art of poetry as gai saber, <gay knowledge>. Despite assertions to the contrary, none of these uses reveals any particular sexual content. In so far as the word gay or gai has acquired a sexual meaning in Romance languages, as it has very recently, this connotation is entirely owing to the influence of the American homosexual liberation movement as a component of the American popular culture that has swamped the non-Communist world.

Beginning in the 17th century, the English word gay began to connote the conduct of a playboy or dashing man about town, whose behavior was not always strictly moral but not totally depraved either; hence the popularity of such expressions as <gay lothario>, <gay deceiver>, and <gay blade>. Applied to women in the 19th century (or perhaps somewhat before), it came to mean <of loose morals; a prostitute>: <As soon as a woman has ostensibly lost her reputation we, with grim inappositeness, call her gay> (Sunday Times, London, 1868).”

The expansion of the term to mean homosexual man constitutes a tertiary stage of modification, the sequence being lothario, then female prostitute, then homosexual man.”

The word (and its equivalents in other European languages) is attested in the sense of <belonging to the demimonde> or <given to illicit sexual pleasures>, even specifically to prostitution, but nowhere with the special homosexual sense that is reinforced by the antonym straight, which in the sense of heterosexual was known exclusively in the gay subculture until quite recently.”

Although it has not been found in print before 1933 (when it appears in Noel Ersine’s Dictionary of Underworld Slang as gay cat, <a homosexual boy>), it is safe to assume that the usage must have been circulating orally in the United States for a decade or more. (As Jack London explains in The Road of 1907, gay cat originally meant – or so he thought – an apprentice hobo, without reference to sexual orientation.) In 1955 the English journalist Peter Wildblood defined gay as <an American euphemism for homosexual>, at the same time conceding that it had made inroads in Britain. Grammatically, the word is an adjective, and there has been some resistance to the use of gay, gays as nouns, but this opposition seems to be fading.”

Many lesbian organizations now reject the term gay, restricting it to men, hence the spread of such binary phrases as <gay and lesbian> and <lesbian and gay people>.”

GAY STUDIES

Karl Heinrich Ulrichs (1825-1895), whose Forschungen zur mannmännhchen Liebe (Researches on Love between Males), published from 1864 to 1870, ranged in an encyclopedic manner over the history, literature, and ethnography of past and present.”

In England John Addington Symonds may be considered the first gay scholar, since he composed two privately printed works, A Problem in Greek Ethics and A Problem in Modern Ethics, the latter of which introduced to the English-speaking world the recent findings of continental psychiatrists and the new vision of Ulrichs and Walt Whitman. Symonds was also a major contributor to the first edition of Havelock Ellis’ Sexual Inversion (German 1896, English 1897). At the same time the American university president Andrew Dickson White quietly inserted into his 2-volume History of the Warfare of Science with Theology in Christendom (1896) a comprehensive analysis and demolition of the Sodom legend. In the same year Marc-André Raffalovich published his Uranisme et unisexualité (Uranism and unisexuality), with copious bibliographical and literary material, some from German authors of the 19th century, which he supplemented at intervals in a series of articles in the Archives d’anthropologie criminelle down to World War I.”

psychoanalytic biographies of famous homosexuals, a genre initiated by Freud’s philologically rather weak Eine Kindheitserinnerung des Leonardo da Vinci (A Childhood Reminiscence of Leonardo da Vinci; 1910).”

The interest of geneticists in twin studies led to some papers on the sexual orientation of monozygotic and dizygotic twins, a field pioneered by Franz Kallmann. While certain issues continue to be disputed, the study of monozygotic twin pairs has revealed concordances as marked as those for intelligence and other character traits, albeit with a complexity in the developmental aspect of the personality that earlier thinkers had not fully appreciated.”

black studies and women’s studies are by their very nature interdisciplinary. In 1976, for example, ONE Institute, the independent Los Angeles homophile education foundation, articulated the subject in the following fields: anthropology, history, psychology, sociology, education, medicine and biology, psychiatry, law and its enforcement, military, religion and ethics, biography and autobiography, literature and the arts, the homophile movement, and transvestism and transsexualism (An Annotated Bibliography of Homosexuality, New York, 1976).”

In anthropology there is a continuing temptation to ethno-romanticism, that is over-idealizing the exotic culture one is studying, viewing it as natural, non-repressive, organic, and so forth.”

GENET, JEAN

The homosexuality of Genet’s characters is explicit, and the scenes of love-making attain the limit of physical and psychological detail, recounted in the argot of the French criminal underworld (which largely defies English translation) and in a style once possible only in pornographic novels sold <under the counter>. If the homosexuality of the heroes of Genet’s novels has a strong sado-masochistic component, their love is depicted with honesty and tenderness. The plot construction borders on free association, while the sordid and brutal aspects of male love are not suppressed or denied.” “Since French writing shapes literary trends throughout the world, the influence of Genet on future depictions of homosexual experience is likely to mount.”

GERMANY

In the Passion of Saint Pelagius composed in Latin by Roswitha (Hrotswith) of Gandersheim, there is the story of the son of the king of Galicia in Spain who, captured by the Moslem invaders, was approached by Abderrahman with offers of the highest honors if he would submit to his pederastic advances but violently refused – at the cost of his life. The Latin poem on Lantfrid and Cobbo relates the love of two men, one homosexual, the other bisexual. A High German version of Solomon and Mololf composed about 1190 makes an allusion to sodomy, while the Eneid of Heinrich von Veldeke has the mother of Lavinia, the daughter of King Latinus of Italy accuse Aeneas of being a notorious sodomite to dissuade her from marrying him. Moriz von Craun, a verse narrative of ca. 1200, makes the emperor Nero the archetype of the mad sodomite, who even wishes to give birth to a child. In his rhymed Flauenbuch (1257), Ulrich von Lichtenstein presents a debate between a knight and a lady, in which the latter accuses men of preferring hunting, drinking, and boy-love to the service of women. About the same time the Austrian poet Der Strieker used references to Sodom and Gomorrah in his negative condemnation.”

Prussia was the first German state that in 1794 abolished the death penalty for sodomy and replaced it with imprisonment and flogging. After 1810 many states (including Bavaria, Württemberg, and Hannover) followed the model of the Code Napoleon in France and introduced complete impunity for homosexual acts, a policy reversed in 1871 in favor of the anti-homosexual Paragraph 175 of the uniform Imperial Penal Code.”

In German poetry, however, the homosexual theme was rare before the 19th century. Friendship between men is, to be sure, a frequent subject of poetry (especially in Friedrich Gottlieb Klopstock, Johann Wilhelm Ludwig Gleim, Wilhelm Heinse, even in Hans Jakob Christoffel von Grimmelshausen and others), but the amicable feelings depicted in them are clearly demarcated from the longing of pederasts and sodomites, and the boundary between friendship and sexuality is seldom if ever crossed (though possibly in F.W.B. von Ramdohr, Venus Urania, 1798, Part 2, pp. 103ff.)”

The flowering of a gay movement in the first third of the 20th century was the outstanding feature that set the homosexuals in Germany apart from those in other countries.”

The campaign for the abolition of Paragraph 175 provoked an enormous literature of books, pamphlets, and articles pro and con, so extensive that by 1914 the criminologist Hans Gross could write that everything that anyone could ever have to say on the subject had by then appeared in print. There was also a profusion of gay and lesbian poetry, short stories, and novels. Such mainstream authors as Hans Henny Jahnn, Klaus Mann, Thomas Mann, Anna Elisabet Weihrauch, and Christa Winsloe also discussed the theme. This cultural efflorescence lent substance to the claim of Weimar Germany to be a land of cultural innovation, though to be sure the Republic had its dark side as well.”

If until then Germany was probably unique and unparalleled in the world in terms of governmental liberalism and of opportunities for homosexual life, then the same was true in reverse for the Nazi era from 1933 to 1945: at least 10,000 homosexual men, stigmatized with the pink triangle, were confined in German concentration camps under the Holocaust during those 12 years, and many of them were killed.”

In West Germany after about 1948 conditions returned to what they had been before 1933. Although the Nazi version of Paragraph 175 remained on the books, homosexual organizations, bars, and gay magazines were tolerated in many West German cities and in West Berlin. In East Germany, to be sure, only the milder pre-1933 version of paragraph 175 was in force, but homosexual life was subject to restrictions on the part of the state and the police, so that gay men and lesbians had scarcely any opportunity to organize and express their views freely.”

Richard Plant, The Pink Triangle, New York: Henry Holt, 1986.

GIDE, ANDRÉ

In 1891 Gide met Oscar Wilde, the flamboyant aesthete, who set about ridding him of his inhibitions – with seductive grace. Gide’s first really striking work of moral <subversion> was Les Nourritures terrestres (The Fruits of the Earth, 1897), a set of lyrical exhortations to a fictional youth, Nathanaël, who is urged to free himself of the Christian sense of sin and cultivate the life of the senses with sincerity and independence. During the political turmoil of the 1930s Gide returned to the same themes and stylistic manners in Les nouvelles nourritures (1935).”

In 1895 he married his cousin, Madeleine Rondeaux, and suffered an acute conflict between her strict Christian values and his own yearning for self-liberation, together with his awakening homosexual drives. The never-ending battle within himself between the puritan and the pagan, the Biblical and the Nietzschean, caused his intellect to oscillate between two poles that are reflected in his succeeding books. In Les Caves du Vatican (The Vatican Cellars, 1914), the hero, Lafcadio, <lives dangerously> according to the Gidean formula and commits a seemingly senseless murder as a psychologically liberating <gratuitous act>. A further series of short novels have an ironic structure dominated by the viewpoint of a single character, while his major novel, Les Fauxmonnayeurs (The Counterfeiters, 1926) has a Chinese-box like structure meant to reflect the disorder and complexity of real life.”

Limited in scope as they were, Gide’s four dialogues constituted a remarkable achievement for their time by blending personal experience, the French literary mode of detached presentation of abnormal behavior, the traditional appeal to ancient Greece, and the then quite young science of ethology – the comparative study of the behavior of species lower on the evolutionary scale.”

Gide, Retour de l’U.R.S.S. (Back from the USSR, 1936)

GILGAMESH

This Mesopotamian figure ranks as the first tragic hero in world literature. The Epic of Gilgamesh has survived in Sumerian, Akkadian, and Hittite versions that go back to the 3rd millennium before our era. Lost from sight until the decipherment of the cuneiform script retrieved the literatures of early Mesopotamia, the epic is a blend of pure adventure, morality, and tragedy. Only the final version, that of Assurbanipal’s library in Nineveh, has survived in virtually complete form, but all the episodes in the cycle existed as separate poems in Sumerian. The setting of the story is the 3rd millennium, and the original language was Sumerian, the Paleoeurasian speech of the first literate civilization of Mesopotamia, which continued like Latin to be copied as a dead language of past culture even after it was displaced by the Eastern Semitic Akkadian.”

Gilgamesh is announced at the outset as a hero: two-thirds god and one-third man, endowed by the gods with strength, with beauty, with wisdom. His sexual demands upon the people of Uruk are insatiable: <No son is left with his father, for Gilgamesh takes them all . . . His lust leaves no virgin to her lover, neither the warrior’s daughter nor the wife of the noble.> In reply to their complaints Aruru, the goddess of creation, forms Enkidu out of clay. <His body was rough, he had long hair like a woman’s. He was innocent of mankind; he knew not the cultivated land.> To tame the wild man a harlot offers her services, <she made herself naked and welcomed his eagerness, she incited the savage to love and taught him the woman’s art.> At the conclusion, the transforming power of eros has humanized him; the wild animals flee from him, sensing that as a civilized man he is no longer one of them. The metamorphosis from the subhuman and savage to his new self proves strikingly how love is the force behind civilization.”

Gilgamesh has two dreams with symbolism which presages the homoerotic relationship which the gods have planned for him and the challenger Enkidu. In the Akkadian text there are puns on the words lusru, <ball (of fire), meteorite>, andiezru, <male with curled hair>, the counterpart of the harlot, and on hassinu, <axe>, and assinu, <male prostitute>. Gilgamesh’s superior energy and wisdom set him apart from others and make him lonely; he needs a male companion who can be his intimate and his equal at the same time, while their male bond stimulates and inspires them to action. After a wrestling match between Enkidu and Gilgamesh in which the latter triumphs, the two become comrades. Their erotic drive is not lost, but rather transformed and directed to higher objects; it leads to a homoerotic relationship that entails the rejection of Ishtar, the goddess of love. A liaison of this kind is not contingent on the physical beauty of the lover, it endures until death. Gilgamesh himself abandons his earlier oppressive conduct toward Uruk and comes to behave like a virtuous ruler who pursues the noble goals of fame and immortality through great deeds. But a dream warns Gilgamesh: <The father of the gods has given you kingship (but) everlasting life is not your destiny … Do not abuse this power, deal justly with your servants in the palace.>

To obtain the secret of everlasting life he journeys far across the sea to Utnapishtim, who tells him the Babylonian version of the story of the Deluge. On his return he carries with him a flower that has the power of conferring eternal youth, but loses it to a serpent lying beside a pool and so reaches Uruk empty-handed, yet still able to engrave the tale of his journey in stone. Gilgamesh has been transformed by a love that makes him seek not the pleasures of the moment, but virtue, wisdom, and immortality, hence the motif of the epic is that male bonding is a positive ingredient of civilization itself.

George F. Held, “Parallels between The Gilgamesh Epic and Plato’s Symposium”, Journal of Near Eastern Studies, 42 (1983) (artigo)

GOETHE

BIOGRAFIAS PARTE II & III: “Settling at Weimar under the patronage of the ducal heir and elected to the Privy Council, he became leader in that intellectual center, associating with Wieland, Herder, and later Schiller. His visit to Italy recorded in Italienische Reise and probably involving pederastic adventures inspired him anew as did his intimate friendship with Schiller. Even after he married in 1806 he continued his frequent love affairs with women. His autobiographical Wilhelm Meister, a Bildungsroman or novel of character formation [probably boring…], and the second part of Faust (in 1832), exalted his reputation further, although he was already first in German literature. The non-exhaustive Weimar edition of his works extends to over 130 volumes.

Knaben hebt ich wohl auch, doch

lieber sind mir die Mädchen,

Hab ich als Mädchen sie sätt, dient

sie als Knabe mir noch.

If I have had enough of one as a girl, she still serves me as a boy.”

In the play Egmont (1788) the hero’s enemy Alba is embarrassed by his son’s intense emotional bonding with Egmont. The figure of Mignon, the waif girl in Wilhelm Meister, could be androgynous. In his Travels in Switzerland [DV] he waxed rapturous over the sight of a nude comrade bathing in the lake, and in the West Eastern Divan (1819, enlarged edition, 1827), he used the pretext of being inspired by Persian poetry to allude to the <pure> love which a handsome cupbearer evokes from his master (sec. 9).”

GREECE, ANCIENT

Paiderasteia, or the love of an adult male for an adolescent boy, was invested with a particular aura of idealism and integrated firmly into the social fabric. The erastes or lover was a free male citizen, often a member of the upper social strata, and the eromenos or beloved was a youth between 12 and 17, occasionally somewhat older. Pedophilia, in the sense of erotic interest in young children, was unknown to the Greeks and the practice never approved by them. An interesting question, however, is what was the average age of puberty for ancient Greek boys? For some men (the philobupais type), the boy remained attractive after the growth of the first beard, for most he was not – exactly as with the modern pederast.”

It formed part of the process of initiation of the adolescent into the society of adult males, of his apprenticeship in the arts of the hunter and warrior. The attachment of the lover to his boy eroticized the process of learning, making it less arduous and more pleasurable, while reinforcing the bond between the mentor and his pupil.”

a biological universal – the physical beauty and grace of the adolescent that invest him with an androgynous quality soon lost when he reaches adulthood.”

The achievements of their own history necessarily rested upon the legacy of 3,000 years of cultural evolution in the Semitic and Hamitic nations. In technology and material culture they – and their successor peoples – never went far beyond the accomplishments of the non-Indo-European civilizations of the East. It was in the realm of theory and philosophy that the Greeks innovated – and created a new model of the state and society, a new conception of truth and justice that were the foundations of Western civilization.”

Sir Francis Galton calculated in the late 19th century that in the space of 200 years the population of Athens – a mere 45,000 adult male citizens [número controverso] – had produced 14 of the 100 greatest men of all time. This legacy – the <Greek miracle> – owed no small part of its splendor to the pederastic ethos that underlay its educational system and its civic ideal.”

Marriage and fatherhood were part of the life cycle of duties for which the initiation and training prepared the eromenos. Needless to say, family life did not hinder a male from pursuing boys or frequenting the geisha-like hetairai. Down to the 4th century BC, however, the really intense and reciprocal passion that the modern world calls romantic love was reserved for relationships between males. Only in the Hellenistic period (after 323 BC) was the additional possibility of love between man and wife recognized.”

A INSÂNIA E O RANCOR DO MESTRE: “The misinterpretations have been reinforced by the strictures of the elderly Plato in the Laws, where an element of resentment toward the young and of embitterment at his own failures and disappointments as a teacher seems to have been at work. This text, however it may anticipate later judeo-Christian attitudes and practices, was never typical of Greek thought on the subject. The evidence of the classical authors shows that as late as the early 3rd century of our era the Greeks accepted pederasty non-chalantly as part of the sexual order, without condemnation or apprehension.”

The Greeks knew nothing of the Book of Leviticus, cared nothing for the injunctions it contained, and scarcely even heard of the religious community for which it was meant down to the beginning of the Hellenistic era, when Judea was incorporated into the empire of Alexander the Great. On the other hand, there is evidence that in the Zoroastrian religion pederasty was ascribed to a demonic inventor and regarded as an inexpiable sin, as a vice of the Georgians, the Caucasian neighbors of the Persians – just as the Israelites identified homosexual practices with the religion of the heathen Canaanites whose land they coveted and invaded. However, the antagonism between the Greeks and the Persians precluded any adoption of the beliefs and customs of the <evil empire> – against which they won their legendary victories. The Greek spirit – of which pederasty was a vital component – stood guard over the cradle of Western civilization against the encroachments of Persian despotism. Only on the eastern periphery of the Hellenic world – where Greeks lived as subject peoples under Persian rule – could the Zoroastrian beliefs gain a foothold.

Oral-genital sexuality seems not to have been popular, but this was probably for hygienic reasons specific to the ancient world.”

The career of Sappho suggests that lesbian relations in ancient Greece took the same pattern, that is to say, they were corophile – between adult women and adolescent girls who were receiving their own initiation into the arts of womanhood. But the paucity of evidence makes it difficult to assay the incidence of the phenomenon, especially as Greek sexual mores were entirely androcentric – everything was seen from the standpoint of the adult male and free citizen. The subordinate status of women and children was taken for granted, and the effeminate man was the object of ridicule if not contempt, as can be seen in the plays of Aristophanes and his older contemporary Cratinus.”

It is true that the more abstract thinking of the Greeks ultimately recognized the parallel between male and female homosexuality, beginning with a passage in Plato’s Laws (636bc) in which both are stigmatized as <against nature> – a concept which the Semitic mind, incidentally, lacked until it was adopted from the Greek authors translated in the Middle Ages.”

Toward the end of the 2nd millennium the Mycenean era closed with a series of disasters, both natural catastrophes and wars – of which the Trojan war sung by Homer was an episode. During this period the Dorians invaded Greece, blending with the older stocks. One landmark paper on Greek pederasty, Erich Bethe’s article of 1907, ascribed pederasty to the military culture of the Dorian conquerors, an innovation ostensibly reflected in the greater prominence of the institution among the Dorian city-states of history.”

The sexual lives of the Greeks were free of ritualistic taboos, but enacted in a context of comrade simplified in the devotion of Achilles and Patroclus, which foreshadowed the pederastic ideal of the Golden Age. The lyric poetry composed in the dawn of Greek literature was rich in allusions to male love, between gods and between mortals.”

In a mere 4 centuries Greek civilization had matured into a force that intellectually and militarily dominated the world – and laid the foundations not just for Western culture, but for the entire global meta-system of today. What followed was the Hellenistic era, in which Greek thought confronted the traditions of the peoples of the east with whom the colonists in the new cities founded in Egypt and Syria mingled. The emergence of huge bureaucratic monarchies effectively crushed the independence of the city-states, eroding the base of the pederastic institution with its emphasis on civic initiative. The outcome of this period, once Rome had begun its eastward expansion, was Roman civilization as a derivative culture that blended Greek and indigenous elements. Even under Roman rule the position of the Greek language was maintained, and the literary heritage of previous centuries was codified in the form in which, by and large, it has been transmitted to modern scholars and admirers.”

For nearly 200 years scholars have argued the Homeric question: Did one, two, or many authors create the two great epic poems known as the Illiad and the Odyssey? What were the sources and techniques of composition of the author (or authors)? The current consensus favors a single author utilizing a traditional stock of legends and myths – the final redaction may have taken place as late as 640 BC. A second question arises in connection with these epic poems: Did they recognize homoerotic passion as a theme, or was this an accretion of later times?” “Homer may not have judged the details of their intimacy suitable for epic recitation, but he was not oblivious to a form of affection common to all the warrior societies of the Eastern Mediterranean in antiquity. The peculiar resonance of the Achilles-Patroclus bond probably is rooted in far older Near Eastern epic traditions, such as the liaison between Gilgamesh and Enkidu in the Mesopotamian texts.

PLATÃO CHATEADÍSSIMO: “The famous Athenian lawgiver Solon was also a poet, and in two surviving fragments (13 and 14) he speaks of pederasty as absolutely normal.”

Despite the mutilated and fragmentary state in which Sappho’s poetry has been transmitted, she was hailed in antiquity as the <tenth Muse>, and her poetry remains one of the high points of lyric intensity in world literature. In the 19th century philologists tried to reconcile her with the Judeo-Christian tradition by dismissing the lesbian interpretation of her poems as libelous, and misinterpreting or misusing bits of biographical data to make her nothing but the strait-laced mistress of a girls’ finishing school.”

Anacreon of Teos [Ceos?], who flourished in the mid-6th century, owes his fame to his drinking songs, texts composed for performance at the symposia, which inspired an entire genre of poetry: anacreontic.”

Herodotus, the <Father of History>, used the data that he gathered on his

extensive travels to point up the relativism of moral norms. Among the phenomena that he reported was the Scythian institution of the Enarees, a shift in gender that puzzled the Greeks, who called it the nousos theleia or <feminine disease>, but can now be identified as akin to the shaman and the berdache/bardache of the sub-Arctic and New World cultures. Profiting from the insights of the pre-Socratic thinkers, Herodotus anticipated the findings of modern anthropology in regard to the role of culture in shaping social norms. The consequence of his relativistic standpoint was to discredit absolutist concepts of <revealed> or <natural> morality and to allow for a pluralist approach to sexual ethics.”

Thanks to a surviving oration of Aeschines, the Contra Timarchum of 346 BC, we know of the restrictions that Athenian law placed on the homosexual activity of male citizens: the male who put his body in the power of another by prostituting himself incurred atimia or infamy, the gymnasia anathose who had authority over youth were subject to legal control, and a slave could not be the lover of a free youth. There is no evidence for parallel statutes elsewhere, and certainly no indication that homosexual behavior per se was ever the object of legal prohibition, or more stringently regulated than heterosexual, which had its own juridical norms.”

In the writings of Plato and Xenophon, Socrates basks in a strongly homophile ambiance, as his auditors are exclusively male, even if he was no stranger to heterosexuality and had a wife named Xanthippe who has come down in history as the type of the shrewish wife. His chief disciple, Plato (ca. 429-347 BC), whose thought cannot easily be disentangled from that of his teacher, never married, and left a record of ambivalence toward sexuality and homosexuality in particular that is one of the problematic sides of his thinking. His influence on Western civilization has been incalculable. One of the ironies of history is that the atypical hostility to pederasty in the elderly Plato, probably reflecting both personal resentment and envy and the decline of the institution in the 4th century (while anticipating later <puritan> attitudes), was often received with enthusiasm in later centuries, becoming a Hellenic source of Christian homophobia.“he inculcated the notion of sexual activity as ignoble and demeaning, which was integrated with the absolute <purity> of biblical Judaic ascetic ideal of complete asexuality which was to have fateful consequences for homosexuals in later centuries. A completely negative approach to pederasty emerges in one of his last works, the Laws, the product of the pessimism of old age disappointed by Athenian democracy and the failure of his ambitions at statecraft in Sicily. In the 1st book Plato calls homosexual acts <against nature> (para physin) because they do not lead to procreation, and in the 8th book (836b-839a) he proposes that homosexual activity can be repressed by law and by constant and unrelenting defamation, likening this procedure to the incest taboo. The designation of homosexual acts as <contrary to nature> found its way into the New Testament in a text that intertwined Judaic myth with Hellenic reasoning, Romans 1:18-32. This passage argues that <the wrath of God is revealed from heaven> in the form of the rain of water that drowned the Watchers and their human paramours and the rain of fire that obliterated the homosexual denizens of Sodom and Gomorrah. Later Christian thinkers were to insist that the morality of sexual acts was coterminous with procreation, and that any non-procreative gratification was <contrary to nature>, but this view never held sway in pagan antiquity, so that Plato himself cannot be charged with the tragic aftermath of this belief and the attempt to impose it upon the entire population by penal sanctions and by ostracism. The attempt of modern Christian historians to prove that Plato’s idiosyncratic later attitude corresponded to the mores of Athenian society, or of Greece as a whole, is unfounded.

Plato was succeeded by the almost equally influential Aristotle (384-322 BC), who sought to correct some of the imbalances in his teacher’s work and bring it more in line with experience.” “In the Nicomachean Ethics (1148b) he undertook to differentiate two types of homosexual inclination, one innate or constitutionally determined (<by nature>) and one acquired from having been sexually abused (<by habit>). He stated categorically that no fault attached to behavior that flowed from the nature of the subject (thereby contradicting Plato’s assertion that homosexuality per se was unnatural), while in the second type some moral fault could be imputed. In the 13th century Thomas Aquinas utilized this passage in arguing that sodomy was unnatural in general, but connatural in some human beings; yet in quoting Aristotle he suppressed the mention of homosexual urges as determined <by nature>, so that Christian theology has never been able to accept the claims of gay activists that their behavior had innate causes. At all events, Aristotle can be cited in favor of the belief that in some forms, at least, homosexuality is inborn and unmodifiable.

The successors of Plato and Aristotle, the Stoics, are sometimes regarded as condemnatory of pederasty, but a closer examination of their texts shows that they approved of boy-love and engaged in it, but counseled their followers to practice it in moderation and with ethical concern for the interests of the younger partner [= Epicureans].”

the pseudo-Aristotelian Problemata (IV, 26) claims that the propensity to take the passive role in anal intercourse is caused by an accumulation of semen in the rectum that stimulates activity to relieve the tension.”

pangenesis – the belief that the semen incorporated major parts of the body in microscopic form; yet the belief that the male seed alone determines the formation of the embryo (only in the 19th century was the actual process of fertilization of the ovum observed and analyzed).”

The Hippocratic treatise On Airs, Waters, and Places touched upon the effeminacy of the Scythians, the so-called nasos theleia, which it ascribed to climate – a view that was to recur in later centuries. The Greek adaptation of late Babylonian astrology created the individual horoscope – which included the factors determining sexual characterology. Such authors as Teucer of Babylon and Claudius Ptolemy of Alexandria named the planets whose conjunctions foretold that an individual would prefer his or her own sex or would be effeminate or viraginous. Because Greek religion and law did not condemn homosexual behavior, it fell into the category of an idiosyncrasy of temperament which the heavenly bodies had ordained, not of a pathological condition that entitled the bearer to reprieve from the severity of the law. Ptolemy taught, for example, that if the influence of Venus is joined to that of Mercury, the individuals affected <become restrained in their relations with women but more passionate for boys> (Tetrabiblos, III, 13). The astrological texts make it abundantly clear that the ancients were familiar with the whole range of sexual preferences – a knowledge that psychiatry was to recoup only in modern times.”

GREECE, MODERN

The modern Greeks derived their sexual mores, like their music, cuisine, and dress, from their overlords the Turks rather than from ancient Greece. During the long Ottoman domination from the fall of Byzantium in 1453 to 1821 and in Macedonia and Crete until 1911, and in Anatolia and Cyprus even today, the descendants of the Byzantines who did not convert to Islam preserved their language and religion. Orthodox bishops were given wide political authority over their flocks whom they helped the Turks fleece. The black (monastic) clergy were forbidden to marry, and they were often inclined to homosexuality. Greeks, like Armenians, often rose in the hierarchy at the Sublime Porte, sometimes as eunuchs. Also they served as Janissaries in the Ottoman regiments which were taught to revere the Sultan as their father, the regiment as their family, and the barracks as their home. Forbidden to marry, they engaged in sodomy, particularly pederasty, and in such Ottoman vices as opium and bribery. Along with the Armenians, Greeks became the chief merchants of the Empire, especially dominating the relatively backward Balkan provinces where they congregated in the cities and towns as Jews did in the Polish-Lithuanian commonwealth.”

Winckelmann e Byron morreram durante a guerra de independência da Grécia.

GREEK ANTHOLOGY

The Greek Anthology is another name for the Palatine Anthology preserved in a unique manuscript belonging to the Palatine Library in Heidelberg. It was assembled in the 10th century by the Byzantine scholar Constantine Cephalas on the basis of 3 older collections: (1) the Garland of Meleager, edited at the beginning of the 1st century BC; (2) the Garland of Philippus, which probably dates from the reign of Augustus; and (3) the Cycle of Agathias, collected in the reign of Justinian (527-535) and including only contemporary works. But in addition Cephalas incorporated in his anthology the Musa Puerilis or <Boy-love Muse> of Strato of Sardis, who probably flourished under Hadrian (second quarter of the 2nd century). It is probable that the segregation of the poems on boy-love from the rest of the anthology (with the mistaken inclusion of some heterosexual pieces) reflects the Byzantine attitude, quite different from that of the pagan Meleager who indifferently set the two themes side by side. These poems, assembled in the 12th book of the Anthology (with others scattered elsewhere in the collection), are monuments of the passion of an adult male for an adolescent boy (never another adult, as some modern scholars have suggested; XII, 4 is the most explicit testimony on this matter) that was an integral part of Greek civilization. The verses frankly reveal the mores and values of Greek pederasty, exalting the beauty and charm of the beloved youth, sounding the intensity of the lover’s attachment, and no less skillfully describing the physical practices to which these liaisons led, so that it is not surprising that the complete set of these poems was not published until 1764.

HANDBALLING

This sexual practice involves the insertion of one partner’s hand – and sometimes much of the arm – into the rectum of the other. Before attempting such insertion the nails are pared and the hand lubricated. Sometimes alcohol and drags are used by the receptive partner as relaxants. This practice acquired a certain popularity – and notoriety under the name of fistfucking – in a sector of the gay male leather/S&M community in the 1970s. A few lesbians have also reported engaging in it. A medical term, apparently uncommon, has been proposed for handballing: brachiproctic eroticism.

It need scarcely be stressed that handballing is dangerous in all its variations, as puncturing of the rectal lining may lead to infection and even death. Although handballing does not directly expose the passive partner to AIDS or to sexually transmitted diseases, by scratching or scarring the rectal wall it may create tiny portals for the invasion of microbes during a subsequent penetration. With the new emphasis on safe sex in the 1980s, handballing has greatly declined, and it will probably be relegated to history as one of the temporary excesses of the sexual revolution.”

It may be conjectured that the recent resort to the practice is due to medical knowledge of operations in which the anus is dilated, since the ordinary individual scarcely credits that such enlargement is possible or desirable. In a late Iranian version of the binding and riding of the god of darkness Ahriman by the hero Taxmoruw, the demonic figure breaks loose by means of a trick and swallows the hero; by pretending to be interested in anal intercourse the brother of Taxmoruw manages to insert his arm into Ahriman’s anus and retrieve the body from his belly. The brother’s arm – the one that entered the demon’s anus – becomes silvery white and stinking, and the brother has to exile himself voluntarily so that others will not become polluted. The myth is interesting as linking the forbidden sexual activity with stigmatization and outlawry of the perpetrator. There seems to have been no term for handballing in the Greek language, though siphniazein (from the island of Siphnos) has been defined as to <insert a finger in the anus>. This harmless practice has long been known, and it may have served as a kind of modest precedent.”

HELIOGABALUS / ELAGABALUS

O imperador teria vivido apenas 18 anos – como regente, 4!

he reigned in a style of luxury and effeminacy unprecedented even in the history of Rome. He sent out agents to comb the city for particularly well-hung partners for his couch, whom he made his advisers and ministers. His life was an endless search for pleasure of every kind, and he had his body depilated so that he could arouse the lusts of the greatest number. His extant portraits on coins suggest a sensual, even African type evolving through late adolescence. The refinements which he innovated in the spheres of culinary pleasure and of sumptuous interior decoration and household furnishing are mentioned by the historians of his reign as having survived him and found emulators among the Roman aristocracy of later times. For what Veblen called <conspicuous consumption> he set a standard probably unequaled until the Islamic middle ages.

His sexual personality cannot be reduced to a mere formula of passive-effeminate homosexuality, although this aspect of his erotic pleasure-seeking is the one stressed by his ancient biographers. He loved the role of Venus at the theatre and the passive role in his encounters with other men, yet he was married several times and even violated a Vestal virgin, but remained childless.”

As high priest of the Syrian deity Elagabal he sought to elevate the cult of the latter to the sole religion of the Empire, yet he did not persecute the Christians. Family intrigues ultimately cost him the favor of the soldiers who murdered him and his mother on March 11, 222. Unique as he was in the history of eroticism and of luxury, he has inspired writers from the 3rd century biographer Aelius Lampridius in the Scriptores Historiae Augustas through the later treatments of Jean Lombard, Louis Couperus, and Stefan George to Antonin Artaud and Alberto Arbasino.

HOLOCAUST, GAY

The genocide of Jews and Gypsies in Nazi-occupied Europe has overshadowed the persecution and murder of male homosexuals, which is only now beginning to be recognized and analyzed from the few surviving documents and memoirs. Regrettably, in the immediate post-war period most of those who wrote about the concentration and extermination camps, and even courts which dealt with the staffs and inmates of the camps, treated those sent there for violating the laws against homosexual offenses as common criminals deserving the punishment meted out to them by the Third Reich. The final insult to the victims of Nazi intolerance was the decision of the Bundesverfassungsgericht (Federal Constitutional Court) in Karlsruhe on May 10, 1957, which not only upheld the constitutionality of the more punitive 1935 version of Paragraph 175 of the Penal Code because it <contained nothing specifically National-Socialist> and homosexual acts <unquestionably offended the moral feelings of the German people>, but even recommended doubling the maximum penalty – from 5 to 10 years. If any other victims of National-Socialism had been rebuffed in this manner by a West German court, there would have been outraged demonstrations around the globe; but this one went unprotested and ignored – above all by the psychiatrists who until recently never missed an opportunity to assert that <homosexuality is a serious disease> – for which ostracism and punishment were the best if not the only therapy. Until the late 1980s homosexuals, along with Gypsies, were denied compensation by the West German authorities for their suffering and losses under the Nazis.

Günther (1891-1968), professor of rural sociology and racial science first at Berlin and then at Freiburg im Breisgau, the chief authority on such matters in the Third Reich, held that the genetically inferior elements of the population should be given complete freedom to gratify their sexual urges in any manner that did not lead to reproduction because they would painlessly eliminate themselves from the breeding pool.”

National-Socialism in Germany, like Marxism-Leninism in Russia, was a conspiracy of the 17th and the 19th centuries against the 18th-century Enlightenment” OK

Among all modern states for which figures can be compiled, Nazi Germany offers the horrible example of suicides increasing rather than decreasing in wartime.”

HOMER

Although dramatically dated to Mycenean times, the late 2nd millennium BC, the epics sometimes refer to things that cannot predate 650 or even 570, because interpolations existed in one form or another when 7th century poets cited the epics.”

It is difficult to detect all interpolations and changes, especially additions of Attic terms as high culture became increasingly centered in Athens, where the Peisistratids in the mid-6th century had the epics recited annually at a festival, and many believe the first texts written well over a century after the latest possible date for Homer’s death. A definitive text resulted only from the efforts of 2nd century editors in Alexandria. These texts became almost sacred to the Greeks, whose education was based on them even until the fall of Constantinople to the Turks in 1453.

Homer failed to depict institutionalized pederasty, to which almost all subsequent writers referred, many making it central. Though poets and artists around 600 BC make the earliest unmistakable references to institutionalized pederasty, Homer mentioned Ganymede twice, <the loveliest born of the race of mortals, and therefore the gods caught him away to themselves, to be Zeus’ wine-pourer, for the sake of his beauty, so he might be among the immortals> (Iliad, 20, 233-35) and Zeus’ giving Tros, Ganymede’s father, <the finest of all horses beneath the sun and the daybreak> (Iliad, 5, 265ff.) as compensation for his son. Sir Moses Finley concluded that <the text of the poems offers no directly affirmative evidence at any point; even the two references to the elevation of Ganymede to Olympus speak only of his becoming cup-bearer to Zeus.> Sir Kenneth Dover denied that these passages implied pederasty: <It should not be impossible for us … to imagine that the gods on Olympus, like the souls of men in the Muslim paradise … simply rejoiced in the beauty of their servants as one ingredient of felicity.> However, the Abrahamic religions’ taboo on homosexuality did not exist in Hellenic and Etruscan antiquity. Societies that had the formula <eat, drink, and be merry> held that banquets should fittingly issue in sexual revelry. Anachronisms such as those of Finley and Dover should therefore be dismissed, even though Homer’s allusions to Ganymede may be pederastic interpolations like those ordered by the Peisistratids – successors of Solon, who introduced institutionalized pederasty into Athens – to antedate the cultural prominence of Athens.

HUMBOLDT

MAGNUM OPUS: Voyage aux regions equinoxiales du nouveau continent (30 vols.!)

Mas não só: Cosmos: Outline of a Physical Description of the World (5 vols.!) (1862)

O FIM DE UMA ERA: “It was the last attempt by a single individual to collect within the pages of a work of his own the totality of human knowledge of the universe; after his time the increasing specialization of the sciences and the sheer accumulation of data made such a venture impossible.” Embora Le Bon seja um respeitável polímata, outrossim.

Through the accounts of his findings – models for all subsequent undertakings – he made significant contributions to oceanography, meteorology, climatology, and geography, and furthered virtually all the natural sciences of his time; but above all else he was responsible for major advances in the geographical and geological sciences.”

HYDRAULIC METAPHOR

The idea that sexual energy accumulates in the body until sufficient pressure is generated to require an outlet has over the centuries had considerable appeal. The notion acquires plausibility through observation of the wet dream, which eventually occurs in males if the semen is not evacuated through intercourse or masturbation.”

The first statement of the doctrine is probably owing to the Roman philosopher-poet Lucretius who says that the semen gradually builds up in the body until it is discharged in any available body (On the Nature of Things, IV, 1.065).”

As a device for relieving erotic tension, a homosexual outlet stands on the same plane as a heterosexual one. A curious attestation of the hydraulic concept comes from colonial America. In his reflections on an outbreak of <sodomy and buggery> in the Bay Colony, William Bradford (1590-1637) noted: <It may be in this case as it is with water when their streams are stopped or dammed up; when they get passage they flow with more violence and make more noise and disturbance, than when they are suffered to run quietly in their own channels.>

Some Victorians defended prostitution as a necessary evil. Without this safety valve, they held, the pent-up desires of men would be inflicted on decent women, whose security depends, ironically, on their <fallen> sisters. The Nazi leader Heinrich Himmler even extended this belief by analogy to hustlers and male homosexuals.”

Despite its appeal, the metaphor is not unproblematic. The hydraulic idea rests upon materialist reductionism, identifying the accumulation of semen with the strengthening of sexual desire. Yet the two do not necessarily act in concert, as anyone knows who has visited some sexual resort such as a sauna and felt sexual desire far more frequently than the body is able to replenish its supply of semen.”

INCARCERATION MOTIF

This term refers not to literal incarceration or confinement but to an aspect of gender dysphoria – the idea that a human body can contain, locked within itself, a soul of the other gender. In their adhesion to this self-concept, many pre and post-operative transsexuals unknowingly echo a theme that has an age old, though recondite history.”

Foreign as this idea is to the rationalistic Jew of the 20th century, and to the Biblical and Talmudic periods of Judaism as well, it is first mentioned by Saadiah Gaon (882-942), the spiritual leader of Babylonian Jewry, who rejected it as an alien doctrine that had found its way into Judaism from the Islamic cultural milieu.”

The transmigration of a man’s soul into the body of a woman was considered by some Kabbalists a punishment for the commission of heinous sins, such as man’s refusing to give alms or to communicate his own wisdom to others.”

In the Hollywood film Dog Day Afternoon (1975), which was based upon a real incident in Brooklyn a few years earlier, the character Leon asserts that <My psychiatrist told me I have a female soul trapped in a male body> (…) So a doctrine of medieval Jewish mysticism has entered the folklore of the gay subculture, and thence passed into the mainstream of American popular culture as a metaphor for a profound state of alienation.”

JUNG

The two thinkers increasingly diverged, particularly after Jung published his own ideas in a book entitled The Psychology of the Unconscious (1912), later renamed Symbols of Transformation. At the first meeting of the International Psychoanalytic Association in Munich in 1913, the rift between Jung and Freud turned to open hostility, and the two never met again. In April 1914 Jung resigned as President of the Association. Between 1913 and 1917 Jung went through a period of deep and intensive self-analysis; he now asserted that he had never been a Freudian, and set about creating his own school, which he dubbed analytical psychology in contrast to psychoanalysis.” Diferentão…

his Collected Works amount to eighteen volumes.” “He treated not only psychology and psychotherapy, but also religion, mythology, social issues, art and literature, and such occult and mystical themes as alchemy, astrology, telepathy and clairvoyance, yoga, and spiritualism.”

KEYNES

A polymath [raça resiliente!], Keynes cultivated many interests, from book collecting to probability theory. His real importance, however, stems from the epistemic break he achieved with the classical theory of economics, changing the landscape of that discipline for all time. Keynes was no ivory-tower theorist, and the 30-year boom in Western industrial countries (1945-75) has been called the Age of Keynes.”

In the Apostles he met his lifelong friends Lytton Strachey and Leonard Woolf. Believing himself ugly, Keynes tended to be shy in the presence of the undergraduates he admired. In 1908, however, he began a serious affair with the painter Duncan Grant, whom he later said to be the only person in whom he found a truly satisfying combination of beauty and intelligence.”

In 1908, however, he obtained a lecturer-ship in economics at King’s College, and the courses he gave there were the foundation of his later writings in the field. As editor of the Economic Journal he actively promoted new trends in the discipline outside of Cambridge. Yet he did not turn immediately to the core of the subject, as he spent a number of years writing a challenging Treatise on Probability, which was published in 1921.”

ESCASSEZ DE RECURSOS (GAYS) & SEMENTES DO NAZISMO: “Keynes elected to enter the Treasury where, despite the chronic disapproval of the Prime Minister, David Lloyd George, he worked wonders in managing the wartime economy. During this period the homosexual members of Bloomsbury (Keynes included) found their supply of eligible young men cut off, and began to engage in flirtations and even liaisons with women. After the end of the war Keynes spent a frustrating period as an adviser at the Paris peace conference [for British to see!], trying to limit voracious Allied demands for reparations from defeated Germany. Returning to London, he set down his pungent reflections on the event in what became his most widely read book, The Economic Consequences of the Peace (1919), which eroded the resolve of the Allies to enforce the Treaty of Versailles, at least in its financial provisions.

In 1925 Keynes, now famous, married the noted ballerina Lydia Lopokova. He became an adviser to government and business, consolidating his practical knowledge of economic affairs. These experiences contributed to his great book, General Theory of Employment, Interest and Money (1936).”

[PET-ROYAL]TIES: “Economic difficulties after 1975 subjected Keynesian views, which had become orthodoxy, to contemporary reassessment.”

Surprisingly, in the decades after the conviction of Oscar Wilde, his numerous affairs with young men never caused the slightest legal or even social trouble. This charmed life can be explained only by his combination of extreme personal brilliance, family and professional connections, and remarkable self-confidence.”

KLEIST HEINRICH VON (1777-1811)

German playwright and short story writer, whose The Broken Pitcher is esteemed as possibly the greatest of (and among the few) German comedies. Overshadowed by his contemporary, Johann Wolfgang von Goethe, Kleist’s significance came to light only after his suicide at age 34, a secretive joint pact made with a terminally ill female friend.

Kleist’s slim literary production (8 plays and 8 short stories) vividly and violently captures the historical break between Enlightenment rationalism and Romantic mysticism, often framed as either a psychological conflict (Das Käthchen von Heilbronn, Penthesilea) or a political one (Prinz Friedrich von Homburg, Die Hermannsschlacht). A profound sense of the irrational and absurd permeates Kleist’s works. In stories such as Michael Kohlhaas or Earthquake in Chile, individuals stand powerless before arbitrary circumstances. Kleist’s remarkable heroines, who bear uncanny resemblance to Kleist psychologically, act from the unconscious, for example when The Marquise of O. places a newspaper ad in hopes of discovering the gentleman responsible for her pregnant condition, or when Penthesilea’s confusion between love and war leads her, while intending to kiss her lover Achilles, instead to tear him from limb to limb with her bare hands and teeth.”

LAUTRÉAMONT, o Conde que faltava ao Marquês

Ducasse [nome de batismo] certainly shows more strongly the influence of Baudelaire and Sade than does any other writer. Like Sade, he is rarely studied in universities.”

LAWRENCE, DAVID HERBERT (1885-1930)

Born in a mining area of Nottinghamshire, Lawrence derived much of the problematic of his work from the tension between his coal-miner father, representing for him the physical and the elemental, and his mother, a former school-teacher, who stood for the world of higher culture, politeness, and civilization. Having attended a 2-year teacher training course in Nottingham (his only higher education), Lawrence wrote two early novels, The White Peacock (1911) and The Ties-passer (1912), while teaching at Croydon. In 1912 he eloped with the German-born Frieda von Richthofen Weekley, and the two led a bohemian life of wandering on the continent until the outbreak of World War I. During this period he wrote and published his first masterpiece, Sons and Lovers (1913), an intensely autobiographical novel [more so?].

Women in Love (1921) [currently reading!] has, despite the title, an extraordinary emphasis on the male love affair (though it is non-genitally expressed [forçação de barra, i.m.o.]) between the wealthy Gerald Crich and the school-teacher Rupert Birkin. These aspects were further explored in the Prologue to the book [!], which Lawrence withheld from publication.”

LORCA

In the famous Residencia de Estudiantes, he met and collaborated with such future celebrities as Luis Buñuel and Salvador Dalí, with the latter of whom he had an amorous relationship of several years’ duration.”

An extensive literature exists concerning the mechanics of and motives for his death, which immediately became an international incident and a symbol of fascist stupidity and anti-intellectualism. Lorca’s leftist sympathies, friends, and relatives would be sufficient to explain his execution, but much evidence suggests that his sexual orientation, activities, and writings were at least as important.”

A CANALHA (ESPERO QUE NÃO CUIDEM DO MEU ESPÓLIO!): “The House of Bernarda Alba, suppressed by his family, in 1945.”

MCCARTHYISM (BOECHATISMO NO BRASIL CONTEMPORÂNEO)

The political tactics of the United States Senator from Wisconsin Joseph R. McCarthy (1908-1957)(*) have since the 50s been labeled McCarthyism. They consisted in poorly founded but sensationally publicized charges against individuals in government service or public life whom McCarthy accused on the Senate floor of being Communists, security risks, or otherwise disloyal or untrustworthy. Senator McCarthy’s campaign did not spare <sex perverts in government>, and so it made homosexuality an issue in American political life for the first time since the founding of the republic.Homossexualidade restrita ao Triângulo das Bermudas.

(*) Oxalá nosso expoente morresse tão jovem! (P.S.: Escrito antes de sua inesperada – hoho, que clichê – morte!)

It is also noteworthy that the danger of blackmail which Magnus Hirschfeld and his Berlin Scientific-Humanitarian Committee had used as an argument for the repeal of Paragraph 175 was now turned against homosexuals to deny them employment in the name of <national security>. This factor and others worked so strongly in McCarthy’s favor that despite bitter opposition he was reelected in 1952 in the Eisenhower landslide that brought the Republican Party back to the White House after 20 years of Democratic rule.

Once the Republicans had become the majority party for a brief time, McCarthy’s tactics became a source of embarrassment to them [huhu, quantas semelhanças…], and in 1954 a campaign was launched against him in the Senate which included the (true) accusation that a young University of Wisconsin graduate employed in his office in 1947 to handle veterans’ affairs had been arrested as a homosexual and then promptly fired, and the (probably false) accusation that McCarthy himself was a homosexual, which Senator Ralph Flanders of Vermont included in his denunciation. However, it was alleged that McCarthy’s marriage in 1953 at the age of 45 was motivated by his need to squelch the rumors of his own sexual deviation; the marriage remained childless, though the couple did adopt a little girl. What is significant in retrospect is that Roy Cohn, a young attorney who was one of McCarthy’s chief aidés [sponsored by him] during his heyday, was a lifelong homosexual who died of AIDS in 1986 [meme Cazuza de direita]. Censured by the Senate in 1954, McCarthy thereafter faded in political importance, and when he died in 1957 no great wave of emotion went through the ranks of either his friends or his enemies.”

The policy of denying employment to homosexuals on moral grounds and as security risks, however, remained long after McCarthy himself.”

In France, after André Gide published his negative reflections on his trip to the Soviet Union in 1936-37, he was attacked by his former Communist associates as a pédé (faggot).”

The sexual aspect of McCarthyism has an ancestry going as far back as Aeschines, Cicero, and the Byzantine Emperor Justinian (r. 527-565), whose laws against sodomites forged the <crime of those to whom no crime could be imputed>, a weapon for political intimidation and blackmail that even the enlightened 20th century has not deprived of its cutting edge.”

PEDOPHILIA

the term <p(a)edophilia> was first used in English only as recently as 1906, by Havelock Ellis. It had previously appeared as a specific form of sexual pathology in a German article of 1896 by Richard von Krafft-Ebing. Because the term <pedophilia> originated in a medical context and today connotes disease, efforts have been made to replace it. Pederasty is sometimes used as a synonym, or as a term restricted to post-pubescent adolescents, but in the present writers’ view, it should properly be restricted to the Greek custom it originally designated, which, though a form of pedophilia as we understand it, is not congruent with it.” “The earlier average age for puberty within the last century also means that classical texts (and even more recent ones) which speak of relations with mid-teenage boys were not necessarily referring to sexually mature individuals. (The term ephebophile has been used to describe erotic attraction to boys in their late teens, who are considered adults in many if not all cultures.)” “woman/girl (korophile)” “<Child molestation> or <abuse>, terms current in the media, and in psychological and legal discourse, are neither descriptive of the phenomenon, nor value-free, as academic discourse requires.

That variant of pedophilia occurring between men and boys – male homosexual pedophilia – will be the chief focus of this article. This choice is dictated by several considerations, including the context of the article, the dearth [escassez] of research on korophile relationships, and the fact that until very recently man/boy relationships were accepted as a part, and indeed were a major part, of male homosexuality.”

pedophilia might be considered a remnant, more evident in some persons than others, of the instinct to nurture and protect the young of the species, which in human development has come to serve an educational (including sex-educational) or initiatory purpose in some societies. The attempt to root pedophilia in man’s biological inheritance is controversial, but a cross-cultural survey of man/boy pedophilia at least suggests that it is a universal phenomenon, which, when accepted by a society, generally carries a socially constructed meaning related to the acculturation process for boys.”

Several of these societies (as the Melanesians) believe that without receiving the man’s semen through fellatio the boy cannot physically mature.”

TRANSIÇÃO GRÉCIA-ROMA: “As the function of same-sex relationships increasingly became hedonistic, the age limits broke down: we find increasing references to homosexuality between men (particularly in the satiric poets, who make it clear that this was still scorned) and, to a lesser extent, to the sexual use of very young children.”

That Ganymede was more than an artistic convention is shown by the number of artists who were charged with sodomy with boys, especially their studio assistants. Histories of the Renaissance record similar charges involving popes, poets, and nobles.”

Incarcerated pedophiles continue to be subject to coercive procedures to alter their sexual interest or reduce its level. Although surgical castration is no longer employed, chemical dosages and aversion therapy may be used without the subject’s consent.”

Much of the <research> that exists on pedophilia today reflects a predetermination that adult-child sexual contacts are evil or pathological, and merely documents the point of view with which the authors began. There has been no lack of evidence by which such negative pre-suppositions could be supported, because in the same way that studies of homosexuality until quite recently were limited by the source of their research subjects, resulting in a portrayal of homosexuals as criminal, troubled, and unhappy, most studies of pedophilia examine only cases which have come before either courts or psychiatrists, precisely those where the subjects are most under stress or disturbed. In many countries, research into pedophile relationships under other circumstances is legally

impossible: if a researcher should find a healthy, quietly functioning relationship he or she would be required to report it for prosecution under <child protection> laws. These factors, plus the sensationalism surrounding the topic, assure that much of what is written on the subject is, and will continue to be, worthless.”

Pedophile organizations have linked their arguments to support of the rights of children. While emphasizing that these rights most certainly include the power to say ‘no’ to any unwanted sexual contact as well as the opportunity to say ‘yes’ to contacts children desire, some groups go further than others in espousing a broad range of children’s liberation issues. Related to the question of legal rights for children is the issue of the child’s consent in pedophile relationships. Those speaking for the protection of children frequently assert that children are incapable of consenting to such sexual relationships, sometimes justifying this assertion by the child’s lack of experience or knowledge of long-range consequences of an act. It has been answered that children can and do consent, or at least are quite capable of rejecting experiences they find distasteful, and that the proper response is to empower children to be able to say ‘no’ effectively. This impasse raises the issue of what consent means – freedom to refuse, simple assent, or an <informed> consent that is probably not realized in most human relationships? Closely related to this is the issue of power, and the assertion that the power imbalance between the adult and the younger partner in a pedophile relationship is so great that it inevitably leads to coercion and exploitation. Various responses have been made: either that the power imbalance is not so clear-cut as the critics state, particularly citing the power of the child to terminate the relationship; or that while power imbalances are inherent in all human relationships, they do not necessarily lead to exploitation, but can be used for benevolent ends, and the real issue is not the power imbalance but the use of power.

Child pornography is the sharpest point of attack on pedophilia and pedophiles. Included in this attack are the imputation that children are always abused in the production of such images, and the fear that such images will stimulate the abuse of children. It has been shown that this issue has been exploited for political purposes, and the statistics on the amount of such material exaggerated beyond proportion. Despite rhetoric, it has not been demonstrated that any more connection exists between pedophilia and child pornography than between any other sexuality and its pornography: either to show that pedophiles are more likely to create or use pornography than other persons, or that child pornography encourages sexual contacts with children. Indeed, the Kutschinsky study of the Danish experience with pornography, which has never been refuted, demonstrated that sexual assaults on children declined with the availability of pornography. Pedophiles who have responded to this issue have noted that there is no reason that depictions of children nude or even engaged in sexual actions should be any more or less objectionable than such depictions of adults, and argue that the true issue, as with all pornography, is whether coercion actually is employed in making it. The issues of child prostitution and the sexual exploitation of children in Third World countries have also been used to attack pedophiles and, by implication, pedophilia. Once it is acknowledged that pedophiles are by no means the only persons who engage in <sex tourism> or patronize prostitutes, the debate again seems to resolve itself into issues of power and consent. A defense has been offered that the right of self-determination in sexual behavior for the individual choosing prostitution should apply here. Poverty, however, may diminish the individual freedom of choice in these situations.”

???, Men and Boys [“America’s first anthology of homosexual poetry”];

Bleibtreu-Ehrenberg, Tabu Homosexualität: Die Geschichte eines Vorurteils (The taboo of homosexuality: The history of a prejudice), 1978;

______., Mannbarkeitsriten: Zur institutionellen Päderastie bei Papuas und Melanesiern (Rites of passage into manhood: On institutional paederasty in Papuas and Melanesians), 1980;

______., Der Weibmann: Kultischer Geschlechtswechsel im Schamanismus, eine Studie zur Transvestition und Transsexualität bei Naturvölkern (Androgynous: Cultic sex change in shamanism, a study on transvestism and transsexualism in primitives), 1984;

______., Paidika 1/3 (The Journal of Paedophilia): Der pädophile Impuls: Wie lernt ein junger Mensch Sexualität? (The paedophile impulse: Toward the Development of an Aetiology of Child-Adult Sexual Contacts from an Ethological and Ethnological Viewpoint), 1988;

Cook & Howells, Adult Sexual Interest in Children, 1981;

Fraser, Death of Narcissus, 1976;

Mackay, Books of the Nameless Love, 1913 (sécs. XIX-XX; o pai do “associacionismo pedofílico”);

Theo Sandfort, The sexual aspect of paedosexual relations: The experiences of 25 boys with men, 2000.

SCHOPENHAUER

Through a large inheritance from his father the celebrated misanthrope enjoyed financial independence so that he could devote his life completely to philosophy. Even today Schopenhauer’s ethic of compassion possesses great philosophical significance.”

Schopenhauer’s teleologically oriented conception of nature therefore had to assume in male homosexual behavior – the only form he discussed – a <stratagem of nature> (in the words of Oskar Eichler). Referring to Aristotle he hypothesized that young men (supposedly boys just past puberty) and likewise men who are too old (the magic boundary is here the age of 54) are not capable of begetting healthy and strong offspring, because their semen is too inferior. As nature is interested in perfecting every species, in men older than 54 <a pédérastie tendency gradually and imperceptibly makes its appearance>. When he formulated this argument Schopenhauer himself was 71 years old, so that he could have harbored a homosexual tendency for some years.”

Schopenhauer was himself the father of at least two illegitimate children and had many unhappy affairs with women. He passionately admired Lord Byron and like him came to the conclusion that women could be considered beautiful only by <the male intellect clouded by the sexual instinct>. In intellectual and aesthetic respects Schopenhauer had homosexual preferences. In a letter to his admirer Julius Frauenstadt he stressed that <even women’s faces are nothing alongside those of handsome boys>. Bryan Magee hypothesizes that the philosopher systematically suppressed his gay tendencies, a view shared by Oskar Eichler and others. Thirty years after the publication of the third edition of The World as Will and Representation Oswald Oskar Hartmann adopted Schopenhauer’s teleological explanation of homosexuality, suggesting that the first champions of homosexual rights voluntarily followed Schopenhauer’s arguments.”

SEPARATISM, LESBIAN

In its strongest form, lesbian separatism means social, cultural, and physical separation from all who are not lesbians. As society is now constituted this option is possible only for a very few. Many lesbians who regard themselves as separatists seek to live and work in circumstances that are as far as possible <women’s space>, without insisting on the absolute exclusion of men.”

Aristophanes’ play Lysistrata (411 BC) shows Athenian women seceding from their city in a <sex strike>, but only temporarily – until the men agree to make peace. Charlotte Perkins Gilman (1860-1935), a pioneering American socialist and feminist, wrote a novel, Herland (1915; reprinted 1979), depicting a Utopia in Africa populated only by women.”

Outsiders tend to label lesbian separatists as <women who hate men>. In their defense, separatists often say that what they are opposed to are the domineering, aggressive aspects of male behavior, rather than men themselves. They wish to make a clear statement that will set them apart from the ambivalent stance of heterosexual women, even those who profess feminism. Separatists believe that such straight women enter too readily into complicity with the power structure of patriarchy; by continuing to meet the sexual and emotional needs of men, these women give aid and comfort to the enemy.

Some women choose to form communes on <women’s land>, setting themselves apart from all males, including male children and animals. In so doing they hold that they are creating liberated zones in which their natures can grow unhampered by the dictates of patriarchy.”

Some women have entered lesbian separatism for a number of years as part of a process of personal growth, only to emerge later with a more complex position. This seems to have been the experience of a principal theorist of the movement, Charlotte Bunch, who remains a radical lesbian feminist.”

SHAKESPEARE

Of tenant farmer stock and the son of a glover, Shakespeare was born in the provincial town of Stratford-upon-Avon in England; however, the very few facts known about his life are derived from various legal documents. In 1582, he married Anne Hathaway, with whom he had 3 children within the next 3 years; the following 5 years are unaccounted for, but by 1594 he was involved in the theatre world in London as both an actor and a playwright. He enjoyed an increasingly successful theatrical career until his retirement in 1612 and his return to Stratford.”

Shakespeare’s prolonged separation from his wife and the stipulation in his will that she inherit his <second best bed> has sparked much debate about his sexuality.”

Historically, theatrical companies of Shakespeare’s time did not employ women; instead, their roles were played by boys, apprentices to the companies. In adherence to the laws and sympathies of the times, the plays were, therefore, unable to display any overtly sexual behavior, but one of Shakespeare’s most frequent plot devices was to have his heroines disguise themselves as boys, particularly in the comedies. Thus, what in reality was a boy pretending to be a woman pretending to be a boy leads to some psychologically acute and complex scenes with homoerotic suggestions, such as the encounters between Rosalind (as Ganymede, a name rich in suggestiveness) and Orlando in As You Like It and Viola (as Caesario) and Orsino in Twelfth Night.

For more substantive evidence, one must turn instead to Shakespeare’s sequence of 154 poems in the form of sonnets, published surreptitiously in 1609 and immediately protested by their author. Probably intended as a personal exercise for private circulation, the sonnets may be the works that reveal something of the man himself; in them, Shakespeare names the persona Will, an obviously personal and intimate diminution of William, and, as in most of the Renaissance sonnet sequences, their subject is erotic love. Dedicated to Mr. W.H., who has been variously identified as the Earl of Southampton, a boy actor named Willy Hewes, Shakespeare himself (in a misprint of his initials), someone unknown to history, or someone invented, the first 126 are clearly homoerotic, while most of the others concern a woman conventionally called <the Dark Lady>. Historically, those scholars who begrudgingly admit to their subject matter try to discount their message. Most claim that the attraction the persona feels for the fair young man is either platonic or unconsummated; others assert that the poems are only examples of the Renaissance male friendship tradition. Still others insist on the fallacy of equating the persona with the poet and confusing literature with autobiography.”

Joseph Pequigney, Such Is My Love: A Study of Shakespeare’s Sonnets, Chicago: University of Chicago Press, 1985.

SOCRATES

In early life he was interested in the scientific philosophy of his time and is said to have associated with Archelaus the physicist, but in the period best known to posterity he had abandoned these interests and was concerned solely with the right conduct of life, a quest which he conducted by the so-called <Socratic> method of cross-examining the individuals whom he encountered. While serving in the army he gained a great reputation for bravery, and as one of the presidents of the Athenian Assembly at the trial of the generals after the battle of Arginusae, he courageously refused to put an illegal motion to the vote despite the fury of the multitude.”

There has been considerable dispute over the precise meaning of the indictment, but the first part seems not to have been serious, while the second amounted to a charge that he had a <subversive> influence on the minds of the young, which was based on his known friendship with some of those who had been most prominent in their attacks on democracy in Athens. He made no attempt to placate the jury and was found guilty and sentenced to die by drinking a cup of hemlock.”

He probably rejected the conventional Greek religious beliefs of his time, yet professed or created no heterodox religious doctrines. From time to time he had paranormal experiences, signs, or warnings which he interpreted as guideposts to his own conduct.

His sexual life, apart from the unhappy marriage, reflected the Greek custom of paiderasteia to the fullest. He was both the teacher of the young men who frequented his circle and the lover of at least some of them. As a boy of 17 he had been the favorite of Archelaus, because he was in the bloom of youthful sensuality, which later gave place to serious intellectual concerns.”

he was never given to a coarse and purely sensual pederasty; if the beauty of the young Alcibiades made an intense and lasting impression on him, he never forgot his duty as a teacher to guide his youthful pupils toward perfection.” “As a bisexual Hellene, Socrates was always responsive to the beauty of the male adolescent and craved the companionship of young men; as a philosopher he practiced and taught the virtues of moderation and self-control. He endures as one of the outstanding examples in antiquity of a teacher for whom eros was an inspiration and a guide.

Because Socrates is a major figure in Western tradition, his sexual nature posed a continual problem. From Ficino to Johann Matthias Gesner (1691-1761) scholars sought to address the question discreetly. The Marquis de Sade was bolder, using socratiser as a verb meaning to sodomize. Even today, however, many classicists choose to evade the problem.”

SODOM AND GOMORRAH

These legendary cities have been traditionally located in the vicinity of the Dead Sea, where they constituted two members of a pentapolis, the Cities of the Plain. According to the Old Testament account in Genesis 14, 18, and 19, God overthrew 4 of the 5 cities in a rain of brimstone and fire. The names of Sodom and Gomorrah, especially the former, have become proverbial. Echoes of the episode recur in the Bible and in the Koran, as well as in Jewish, Christian, and Islamic exegetical and homiletic writings. From the first city, Jewish Hellenistic Greek formed the derivative sodomites, from which medieval Latin obtained the noun of agent sodomita – as a result, the connection with male homosexuality is for many axiomatic. However the matter is more complex.”

The ancient world’s rudimentary science of geology correctly related this barrenness to the circumstance that the water level of the Dead Sea had in prehistoric times been far higher; the sinking of the water level had exposed the previously inundated, now strikingly arid and sterile region to the gaze of the traveler.”

to the Bedouin living east and south of the Dead Sea it suggested the etiological inference that at one time the area surrounding this salinized body of water had been a fruitful garden belt. Yet the inhabitants of the cities of the plain had even in the midst of their abundance and prosperity denied hospitality to the poverty-stricken and the wayfarer, while the luxury in which they wallowed led them inevitably into effeminacy and vice (the parallel in the Hellenistic world was the city of Sybaris, whose proverbial self-indulgence gave the English language the word sybaritic). For this reason they were punished by the destruction of their cities and the conversion of the whole area into a lifeless desert.”

In Genesis 14:12 Lot is taken captive when Sodom is conquered by the 4 kings who have allied themselves against the Cities of the Plain; Abraham saves him by military intervention in the manner of a tribal sheikh with his retinue of 318 warriors. In 19:4-9 the Sodomites threaten Lot’s guests with gang rape, but are miraculously blinded and repelled, and in 19:13, 15 the angelic visitors warn Lot of the imminent destruction of the city so that he and his family can leave just in time to escape the rain of brimstone and fire. This underlying motif explains why Lot later <feared to dwell in Zoar> (19:30), even though God has spared the place as a reward for his model hospitality toward the 2 visitors. Over the centuries Sodom and Gomorrah, along with the Babylon of the Book of Revelation, came to symbolize the corruption and depravity of the big city as contrasted with the virtue and innocence of the countryside, a notion cherished by those who idealized rural life and is still present, though fading in 20th century America.”

These volcanic eruptions, which have left traces still to be seen at the present day, inspired the <rain of brimstone and fire> (burning sulfur) of Genesis 19:24, which supplemented the notion that the 4 cities had been <overthrown> (destroyed by an earthquake) that figures in Genesis 19:25.” Sempre o nº 4!

+ Judges 19; Romans 1:18

the currency in antiquity of world destruction legends, in which the earth is annihilated either by water (kataklysmos) or by fire (ekvyrosis). The story of Noah and the deluge is the rendering of the first in the book of Genesis, while the destruction of Sodom and Gomorrah is a localization of the second, in which the catastrophe is limited to 4 cities in the vicinity of the Dead Sea (Sodom, Gomorrah, Admah, and Zeboiim) even though the epilogue involving Lot and his daughters clearly derives from a universal conflagration myth.”

If the human race were annihilated with the exception of a single family, the earth could be repeopled only by means of sexual unions ordinarily condemned as incestuous.”

World destruction fantasies [are] associated in modern clinical experience with the early stages of schizophrenia.”

Astrological literature supplied the ancients with an entire list of calamities that betokened divine wrath, as in Luke 21:11, all of which were later ascribed to retribution for <sodomy>. Fear of homosexual aggression plays a role in these paranoid fantasies, of the sort analyzed by Freud in the classic Schreber case.”

The notion of sodomy is an innovation of Latin Christianity toward the end of the 12th century; it is not found in Jewish or Byzantine writings.” “In the late Middle Ages the tendency of the allegorizing mind to parallelism led to the notion that Gomorrah, the twin city of Sodom, had been a hotbed of lesbianism, even though there was nothing in either Testament that would suggest such a construction.”

TURING, ALAN (1912-1954)

He seems to have been a brilliant, awkward boy whose latent genius went unnoticed by all his teachers; he also had no friends until his very last years at Sherborne. Then he fell in love with a fellow science enthusiast, Christopher Morcom: the Platonic friendship was returned, and Alan Turing was for the first time in his life a happy young man. He had dreams of joining Christopher at Trinity, to pursue science together – unfortunately, Christopher Morcom suddenly died (from a much earlier infection with bovine tuberculosis).”

Turing spent two years in America, at Princeton University, and, on his return to Britain, was drafted into British cryptanalysis for the war effort. Turing was already unusual among mathematicians for his interest in machinery; it was not an interest in applied mathematics so much as something which did not really have a name yet – applied logic. His contribution to the design of code-breaking machines during the war led him deeper and deeper into the field of what would now be called computer programming, except that neither concept existed at the time. He and a colleague named Welshman designed the Bombe machines which were to prove decisive in breaking the main German Enigma ciphers. For his contribution to the Allied victory in World War II Turing was named an Officer of the British Empire (O.B.E.) in 1946. (…) He was elected as a Fellow of the Royal Society in 1951.”

The earliest inventor of such a device was the eccentric 19th century Charles Babbage, who could not obtain the necessary hardware to implement his ideas.”

He was brought to trial and sentenced to a year’s probation under the care of a psychiatrist, who proceeded to administer doses of female hormone to his patient, this being the current <wonder-therapy> which replaced castration as an attempt to kill the sexual instinct. For the entire year, Turing underwent the humiliation of femininization (<I’m growing breasts!>, he confided to a friend), but emerged seemingly intact from the public ordeal. He committed suicide in 1954, by eating an apple he had laced with cyanide.”

WHITMAN, WALT

A VIDA TEM DESSAS: “Often acclaimed as America’s greatest poet, Whitman, of working-class background, was self-taught, but as a printer, school teacher, journalist, and editor he contributed fiction and verse in the worst modes of the day to the best literary journals. There is no evidence of his genius until he suddenly began to write scraps of what was to become Leaves of Grass in his notebooks.”

It has in fact been argued that Leaves is an inverted mystical experience. This work, which encompassed his complete poetic opus, was first published in 1855 with 12 poems (Song of Myself being rather lengthy); the second edition (1857) had 32, the third (1860) 156, and so on through various printings and editions until 1881. Beginning in 1860, Whitman not only added poems (including the homoerotic Calamus collection), but dropped them, changed them, and rearranged the order. He has often been criticized for making changes, but he clearly did not do so for purposes of concealment.”

In his more programmatic poems, Whitman was always careful to say he and she, him and her. Women are permitted to have sexual lives, and he sympathizes with a prostitute, but they are generally thought of and idealized as perfect mothers for the new race of Americans.”

It was his explicitness about male-female sex that shocked his early readers. Only a few homosexuals in England and some readers in Germany caught what is now obvious to any reader who can admit what he sees on the page. The 2nd and 3rd sections of Song of Myself are homosexual in their imagery, as is the subsequent discussion of the body and soul, which climaxes in the intercourse between body and soul in the 5th section. One might also cite the tremendous sweep of eroticism from section 24 to the climax of fulfillment in male intercourse in section 29.”

He was not merely the poet of an idealized Jacksonian democracy nor of a new political structure, but of a culture bound together by love and religious faith in which each person could fulfill his or her own sexual nature.”

Whitman, who was disappointed at his contemporary reception, would have been gratified by his reputation in the 20th century, which is too widespread to more than mention. He is the democratic poet and a progenitor of the development of poetry beyond traditional metrical practice in the United States and foreign countries. A remarkable number of modern poets have paid him tribute in prose or verse, among the most notable being Ezra Pound, Pablo Neruda, Federico García Lorca, Fernando Pessoa, and Allen Ginsberg.”

WOOLF, VIRGINIA

Virginia Woolf was educated largely through reading books in the family library. Unlike her brothers, she did not go to university, and this perceived slight was later to sustain her feminist critique of discrimination against women. In 1912 she married Leonard Woolf, a brilliant Cambridge graduate who had served as a judge in Ceylon, and her sister Vanessa married the art critic Clive Bell. The two couples were major figures in the Bloomsbury group, which also included such male homosexual writers as E.M. Forster, John Maynard Keynes, and Lytton Strachey. Through much of her life Virginia suffered from severe spells of mental depression, and it was partly to provide work therapy that she and Leonard founded the Hogarth Press in 1917.”

Virginia Woolf remained a virgin until her marriage, and found the idea of sex with a man repellent. At the time of their engagement she warned Leonard of this aversion, and their sexual relations seem to have been rare. Before marriage Virginia Stephen was closely attached to her sister Vanessa – loving her almost to the point of <thought-incest> –, and was deeply involved platonically with Madge Vaughan, a daughter of John Addington Symonds, and Violet Dickinson, to whom she wrote an enormous number of letters. Throughout her life, Woolf was to draw emotional sustenance from her intense relations with other women.

Her first novel, The Voyage Out (1915), concerns the trip of a young Englishwoman to South America, followed by her engagement and death there. While this novel was conventional in form, Jacob’s Room (1922) joined the mainstream of innovative modernism through its poetic impressionism and indirection of narrative development. After this work, which marks her real beginning as a literary artist, Woolf secured her place in modernism by a series of carefully wrought books. Mrs. Dalloway (1925) blends interior monologue with the sights and sounds of a single day in central London. To the Lighthouse (1927) explores the tensions of the male-female dyad in the form of a holiday trip of Mr. and Mrs. Ramsey. Its fantastic form notwithstanding, Orlando (1928) is of great personal significance, tracing the biography of the hero-heroine through 4 centuries of male and female existence. This book is a tribute to, and portrait of, her lover Vita Sackville-West, whom she had met in 1922. Woolf’s most ambitious novel is probably The Waves (1931) which presents the contrasting personalities of 6 characters through a series of <recitatives> in which their inner consciousness is revealed.

Shortly after completing her last book, Between the Acts (1941), she suffered a final bout of mental illness and drowned herself in a river near her country home. The posthumous publication of Virginia Woolf’s Letters and Diaries have revealed some unattractive aspects of her personality: she was xenophobic and snobbish, sometimes given to expressions of personal malice, as well as anti-Semitic and homophobic sides. Yet she participated wholeheartedly in the Bloomsbury ethic of individual fulfillment and social enlightenment. Her use of stream-of-consciousness techniques, and other sophisticated literary devices, places her very near the front rank – if not within it – of modernist writers in English.

With the general decline of the Bloomsbury ethos in the middle decades of the century, Woolf’s reputation seemed to fade. In the 1970s, however, feminist critics hailed her as a major champion of then-cause. There is no doubt that A Room of One’s Own (1929), and its sequel, Three Guineas (1938), are powerful pleas for women’s creative independence. Yet her own feminism was fluid and variable, and thus not easily accommodated to present-minded uses. Throughout her life she struggled valiantly against mental illness, succeeding in building up an imposing corpus of writings while expressing her own emotional feelings in her deep relationships with women.”

WORKING CLASS, EROTICIZATION OF

One of the reasons why Walt Whitman had such an impact on English homosexuals of this period was that his praise of democracy was (mis)understood in large part as a veiled plea for such prince-and-pauper liaisons.

AS LEIS – Livro VII

Tradução comentada de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei oportuno abordar pontos polêmicos ou obscuros. Quando a nota for de Azcárate, um (*) antecederá as aspas.

 

“Nunca observaste como em todo animal o primeiro desenvolvimento é sempre o maior e mais enérgico, a ponto de muitos defenderem que o corpo humano não adquire nos 20 anos seguintes o dobro da altura que possui aos 5 anos?”

“Não me estranha, querido Clínias, que não tenhas idéia alguma do tipo de ginástica que convém aos embriões. Mas, por bizarra que essa idéia te pareça, vou explorá-la na seqüência.”

“Em Atenas, jovens e velhos indistintamente educam os filhotes de pássaro a brigar entre si. O engraçado é que não crêem que baste a prática destes duelos para fortalecê-los; pois vivem a andar para cá e para lá carregando-os (os pequenos, nas mãos; os grandes, debaixo dos braços), vários e vários quilômetros. Com a fadiga de suas pernas, estes homens pretendem dar força aos pássaros contendores, não a eles próprios. Essa pequena faceta leva quem reflete a conceber que o movimento e a agitação, não importa em que circunstância, e contanto que não levem à exaustão, são úteis a quaisquer tipos de corpos. É aí indiferente se os pássaros deste caso caminham sozinhos, ou são conduzidos por carruagens, navios, cavalos ou, enfim, da maneira que quiseres imaginar; exercício que, pois que ajuda na respiração do animal, e na digestão dos alimentos, faz com que os corpos adquiram saúde, beleza e vigor.”

“As grávidas dão passeios amiúde, no intuito de formar seu feto, como se ele fosse um amontoado de cera dentro da barriga que tem de ser moldado pela atividade da mãe; assim se concebe o bebê, ou o estágio ainda anterior ao bebê: como algo brando e flexível, ainda informado; embalá-lo-ão em mantas até que o neném tenha 2 anos de idade. Acaso multaremos as amas e babás que não levarem o objeto de seus cuidados no colo, seja em passeios pelos campos ou aos templos, ou à casa dos pais, até que sejam fortes o bastante para que se sustentem de pé por conta própria? Até as crianças chegarem aos 3 anos, terão de ser paparicadas ao extremo, resguardadas de sofrer qualquer torção ou contusão? E será que fará diferença ter uma babá magricela e frágil ou uma mulher bojuda cuidando da criança?” “Certas evidências permitem-nos conjeturar que as babás sabem por experiência quão bom é o movimento para os menininhos e menininhas que estão sob sua responsabilidade; da mesma forma que as mulheres que sabem curar o mal dos coribantes.¹”

¹ Sacerdotes de Réia, metalúrgicos da Idade Antiga. O sentido contextual é impreciso.

“Outra certeza é a de que o humor doce e o humor amargo têm participação decisiva na boa ou na má disposição das almas. É indispensável explicar os meios de influir no humor das crianças, o que deve ser tentado sem receio.”

“As babás mostram à criança vários objetos, a fim de adivinhar o que querem realmente. Quando se põe sossegado ou se cala de repente à vista de algum, inferem que deram com a causa certa; mas se a criança continua a espernear e gritar, pensam que estão longe de atinar com a solução do problema.”

“Isto não é assunto leviano. Megilo, escuta e sê, pois, árbitro entre mim e Clínias. Minha opinião é que para se viver bem não é preciso correr atrás do prazer, nem tomar os maiores cuidados a fim de evitar a dor a qualquer custo, senão ater-se a um dado meio-termo, que denomino estado pacífico.”

“nesta idade o caráter se forma principalmente sob o influxo do hábito.”

“vimos este tempo todo falando das leis não-escritas, que também são chamadas de leis dos nossos antepassados.”

“As crianças precisam brincar entre os 3 e os 6 anos (…) Como dissemos há pouco¹ que não se deve mesclar insulto e correção no caso do escravo, não lhes dando pretextos vãos para a revolta e retaliação nem para o desenvolvimento da insolência, também não se deve confundir ambas as coisas na educação das crianças livres.”

¹ Leis VI

“As crianças de 3 a 6 anos serão reunidas nos templos consagrados aos deuses. Suas babás os acompanharão, para vigiar a ordem e refrear sua vivacidade excessivamente impetuosa. Mas mesmo essas reuniões e estas babás terão uma supervisão, sendo sua inspetora em cada templo uma das 12 mulheres oficialmente autorizadas pelos guardiães da cidade, as <babás das babás>.”

“Passadas dos 6 anos, as crianças começarão a conviver somente com seus iguais (meninos, meninas). Cada grupo se adequará a uma rotina com prescrição dos exercícios mais próprios a cada idade e a cada gênero. Os varões aprenderão a montar a cavalo, atirar com o arco-e-flecha, usar a azagaia e a funda. As moças não estão proibidas, caso apresentem esta inclinação natural; no mínimo, entretanto, deverão entender do assunto em sua parte teórica.”

“Acredita-se, no que tange ao uso das mãos, e conseqüentemente às ações que delas dependem, que a natureza estabelecera uma diferença entre a mão esquerda e a mão direita; porque, com respeito aos pés e demais membros inferiores, não parece haver qualquer distinção entre direita e esquerda para os exercícios. Mas, quanto às mãos, somos como que mancos, por causa das babás e mamães, sempre de um dos lados. (…) Temos a prova de que o problema está na educação infantil, ao vermos os citas em batalha: tanto a mão canhota quanto a destra servem para apoiar o arco; e podem mirar as flechas com precisão seja com a direita ou com a esquerda, de modo que são atiradores ambidestros.”

“A ginástica tem duas partes, o baile e a luta. Há também duas classes de baile, uma que nos apresenta as palavras da Musa e que conserva sempre certo caráter de dignidade e de grandeza;¹ outra se destina a dotar o corpo e cada um de seus membros de saúde, agilidade e beleza, ensinando-os a relaxar e contrair na justa proporção em movimentos cadenciados, compassados e coordenados.² Com respeito à luta, não carecemos cá de mencionar todas as invenções dos mestres Anteu e Cercião, umas mais e outras menos convenientes, nem tudo que Epeu e Amico³ imaginaram a fim de aperfeiçoar o pugilato, pois essas minúcias não auxiliam na guerra.”

¹ O canto

² A dança

³ Todos esses nomes próprios se referem a figuras mitológicas.

“Os jogos ajudam no estabelecimento e na consolidação das leis. Quando os jogos se constituem em regras fixas, quando todas as crianças, em todo lugar e ocasião, jogam conforme os mesmos parâmetros, respeitando os mesmos objetos e da mesma maneira, não se deve temer que haja inovações nas leis sérias que são os pilares da sociedade.” Platão & A Re-deificação da Polis / Platão & A Destruição da História

“Será preciso desempenhar os maiores esforços para que os mais jovens não se apaixonem por novos gêneros de imitação, na dança, na melodia, etc., e que ninguém os atice ou os alicie em nenhum tipo de prazer inédito.”

DÉJÀ VU – Começa a repetir o dito em outras partes d’As Leis: “Vemos que os antigos davam o nome de leis aos ares que se tocam no alaúde.”

(*) “Os antigos eram meticulosos para que durante os sacrifícios não se pronunciasse qualquer palavra contrária ao espírito da cerimônia; quando isto acontecia, dava-se-lhes o nome de blasfêmias, maldições, etc. Quanto às palavras auspiciosas e favoráveis, eram bendições.”

“a raça dos poetas não é capaz de distinguir o bom do mau.”

“O poeta não poderá separar-se em seus versos do que é legítimo, justo, belo e honesto no Estado. E ser-lhe-á proibido  ensinar seu dom em particular antes de que os guardiães e os censores hajam visto e aprovado, conforme as leis, todos os conhecimentos a ser por ele transmitidos.”

“A parte elevada da música, própria para estimular o caráter, será reservada aos homens; a parte modesta e comedida, por lei, cabe destinar às mulheres.”

“Os negócios humanos são superestimados; e no entanto são necessários; nada há de mais penoso que essa tarefa, cá entre nós.”

“MEGILO – Estrangeiro, falas com demasiado desprezo da natureza humana.

ATENIENSE – Não o estranhes, Megilo, e permite-me o uso dessa linguagem, que nada mais é que o efeito da impressão produzida em mim pela contemplação dos atributos de Deus, comparados aos nossos. Queres que o homem não seja coisa desprezível e merecedora de consideração? Convenho na idéia, mas por favor prossigamos!

(…)

Os pais não deviam ter a liberdade de enviar os filhos a estes mestres sofistas nem abandonar sua educação; é premente que todos, futuros homens e mulheres, submetam-se à educação oficial da polis, pela simples razão de que pertencem a ela mais que seus próprios pais (que não cresceram na nova polis) (…) sei que agora mesmo, nas imediações do Ponto, há um número prodigioso de mulheres, chamadas Sauromatas,¹ que, conforme a lei local, se exercitam na mesma intensidade que os homens, e montam a cavalo, atiram com arco-e-flecha e manejam todo tipo de arma.”

¹ Ou sármatas. Seriam um povo bárbaro e haveria qualquer relação entre a condição desta sociedade de “democracia de gênero” com o mito das Amazonas (sociedade de mulheres guerreiras).

“Todo cidadão deve ter vergonha de, sendo homem livre que é, passar a noite inteira dormindo, sem que seja, ao mesmo tempo, aquele que primeiro aparece desperto, antes de todos os servos da sua casa.” “Sono em excesso não é saudável nem ao corpo nem à alma.”

“ATENIENSE – (…) As crianças devem se dedicar às letras dos 10 aos 13 anos; à lira e teoria musical após esta etapa; aos 16 deverá ter por concluídos estes estudos – não importa se a criança ou o pai da criança abominam ou exaltam sobremaneira esta arte, os indivíduos em formação não poderão estudá-la nem mais nem menos do que 3 anos, muito menos deixar por completo de estudá-la. Todo aquele que não seguir este cronograma será como que proscrito oficialmente da infância, condição de que falaremos adiante. (…) As crianças devem estudar as letras o tempo necessário a fim de aprenderem a ler e escrever. Para aqueles que após 3 anos não tenham atingido o nível adequado, não devemos nos afligir por isso. Quanto às obras poéticas, que não foram feitas para ser cantadas com o acompanhamento da lira, havendo poemas com metro e outros sem, e havendo prosa destituída de número e harmonia, escritos funestos que nos legaram uma vastidão de escritores mui suspeitos–, ó ilustres guardiães das leis! Para que servem estes tipos? Que credes vós que deve o bom legislador fazer com respeito a eles? (…)

CLÍNIAS – Estrangeiro, como podes fazer tantas perguntas retóricas, que parecem auto-endereçadas, tão perplexas?

ATENIENSE – Ainda bem que me interrompeste, caro Clínias! É preciso que formemos em conjunto este plano de legislação. E é justo que eu compartilhe convosco as vantagens e desvantagens que diviso.

CLÍNIAS – Mas repito: que é que te obriga a falar desta maneira e com esta entonação?

ATENIENSE – Já que insistes!… Mas não é fácil seguir adiante contra a opinião de uma infinidade de pessoas!”

“um grande número de poetas compôs em versos hexâmetros; outro, em jambos; outro grupo, ainda, elegeu temas sérios; outros escritores, temas festivos; um número infinito de pessoas, que se supõem exímios educadores, sustentam que é saudável dar todo tipo de poema e indicam todo gênero literário aos mais jovens, até a saciedade. Dizem que com isso estendem e multiplicam seus conhecimentos, até preencherem toda sua memória; outros, recortam certas passagens deste ou daquele autor, compilando-as num só volume monstruoso, obrigando os estudantes a decorar os mais díspares versos; têm o disparate de afirmar que este é o método mais seguro a fim de que atinjam a prudência, a virtude, a sabedoria e a destreza!”

“As danças báquicas e semelhantes, que tomam seu nome emprestado das ninfas, dos pãs, dos silenos, dos sátiros, nas quais imitam-se bêbados, e que são correntes em um sem-número de cerimônias religiosas, não possuem em si caráter pacífico ou guerreiro; defini-las é a coisa mais difícil. Mas me parece que pode-se segregá-las e considerá-las como um gênero novo, o de danças apolíticas.”

“o covarde, não-exercitado no auto-domínio, entrega-se facilmente a arrebatamentos e a movimentos súbitos e violentos.”

“a imitação das palavras mediante gestos é a razão de ser da dança. O que não explica por que o movimento de alguns é regular e o de outros irregular.”

“Quanto às palavras, cantos e danças cujo objetivo é imitar os corpos e os espíritos contrafeitos e afetados, onde se percebe sem esforço o caráter do bufão e do ridículo, enfim, quanto às imitações cômicas em geral, é forçoso estudar sua natureza e ter a respeito delas uma idéia exata (…) é necessário não mesclar, em nossa conduta, o sério com o ridículo; sendo que este último merece ser estudado justamente a fim de ser evitado. Seria imprudente e indecoroso. Para tais imitações o melhor é empregar escravos e estrangeiros, pois que não convém a homem ou mulher de condição livre este tipo de degradação, ainda que artística.”

“Quanto aos poetas sérios, quero dizer, os trágicos, se alguns deles se apresentassem diante de nós e nos perguntassem: <Estrangeiros, podemos ou não ir a vossa cidade representar nossas peças?>, que é que decidistes a respeito? Pelo que me diz respeito, vede vós a resposta que eu daria a estes divinos personagens: <Estrangeiros, nós mesmos estamos ocupados em compor a mais bela das tragédias; nosso plano de governo não é mais que uma imitação do mais belo e excelente que existe, e contemplamos de bom grado esta imitação como uma verdadeira tragédia.>

“A ignorância absoluta não é o maior dos males nem o mais temível; uma vasta extensão de conhecimentos mal-digeridos é coisa muito pior.”

MUJERES Y EDUCACIÓN SUPERIOR

Alejandra Montané López y Maria Eulina Pessoa de Carvalho (coord.), João Pessoa: UFPB 2013.

Breve historia del acceso de la mujer a la universidad española (1910-2013)

A excepción de Italia, las universidades del Viejo Continente fueron ámbitos exclusivamente masculinos hasta el siglo XIX y en algunos países hasta el siglo XX. En 1678, la noble veneciana Elena Lucrezia Cornaro Piscopia obtenía el doctorado en filosofía, marcando un hecho sin precedentes. Elena Lucrezia provenía de una familia especialmente influyente: había dado 3 papas y 8 cardenales a la Iglesia Catolica y una reina a la isla de Chipre. A los 26 sabía cantar, tocar y componer música, hablaba y traducía 4 lenguas modernas y 5 lenguas clásicas, y participaba de disputaciones académicas con intervención de hombres de ciencia provenientes de diversos países. Su erudición había movido a su poderosa familia a lograr un reconocimiento académico, no sin dificultades. Esse mismo año 1678 moría Anna Maria von Shuurman, la primeira mujer a la que se había permitido estudiar en la Universidad de Utrecht, a condición de permanecer encerrada <en un cuarto de madera colocado dentro de la misma aula universitaria, separado por una pared de madera en la que se habían practicado unos agujeros> (de Laurentis, 2000:12-13).”

Decreto-Resolución de 1377, del claustro de profesores de la Universidad de Bolonia: “Y puesto que la mujer es la razón 1ª del pecado, el arma del demonio, la causa de la expulsión del hombre del paraíso y de la destrucción de la antigua ley, y puesto que, en consecuencia, es preciso evitar cuidadosamente todo comercio con ella, nosotros defendemos y prohibimos expresamente que alguien se permita introducir alguna mujer, sea cual fuere ésta, incluso la más honrada, en la dicha universidad. Y si alguno lo hace a pesar de todo, será severamente castigado por el rector.”

La asistencia a classe de una mujer fue permitida, por 1ª vez, en 1875. Mª Dolores Aleu Riera es la 1ª mujer que realiza el examen de grado para obtener una Licenciatura, en Medicina, el 20-4-1882 (Flecha, 1996:63-64(*)).”

aunque antes, en 1849, se disse que Concepción Arenal se disfrazó de hombre para poder estudiar Derecho en la Universidad de Madrid (Flecha, op. cit.).”

Posteriormente, la guerra y el régimen franquista no potencian o permiten el acceso de la mujer, pero en este caso el problema no eran solamente las normativas legales, sino el modelo eclesiástico medieval que persistió en la universidad española hasta bien entrado el siglo XX, debido, según algunos autores, a la ruptura que supuso para su desarrollo la Guerra Civil Española y su posterior periodo de dictadura. Esta influencia de la iglesia junto a la consolidación del modelo napoleónico – propio de la universidad española hasta passada la década de los 80 – estaba caracterizada por el elitismo, la centralización y el utilitarismo de la enseñanza superior (Montané et al., 2010).”

El inicio de los cambios profundos que afectaron al sistema universitario y posibilitaron el total acceso de las mujeres a la universidad se dio a partir de la Constitución Española de 1978

El 1962, con el dictador governando España, se inició un acercamiento a la Comunidad Europea que no fue aceptado debido, justamente, al régimen político, aun así en 1970 se firmó un tratado comercial que producía rebajas arancelarias [alfandegárias] y que sería una 1ª aproximación. (…) finalmente el 12 de junio de 1985 se firmó en Madrid el Tratado de Adhesión de España a las Comunidades Europeas. Finalmente el 1 de enero de 1986, junto a Portugal, se constituía como miembro de pleno derecho.”

La LRU – Ley de Reforma Universitaria puede considerarse una ley de transición ideológica y como punto de partida de las grandes transformaciones de la educación superior constituye un <intento de reforma de nuestra Universidad y nuestra enseñanza superior bajo la clave del equilibrio histórico> (Souvirón, 1989:116).”

<Convenció per a l’eliminació de totes les formes de discriminació contra la dona> desenvolupada per Nacions Unides el 1979, o en la <Carta dels Drets Fonamentals> de la Unió Europea de l’any 2000, que a més, aporta en el seu article 14 que <tots els centres docentes tindran lliure creació dins del respecte als principis democràtics i a les lleis nacionals>, repetint els mateixos aspectes en l’elaborada el 2007. La UNESCO també es suma a aquesta opinió, incloent en la seva declaració dels <Objectius de desenvolupament del mil-lenni> l’àmbit de l’educació. L’objectiu número 3, recollit dins de la temática educativa de la proposta en la dècada de l’educació per al Desenvolupament sostenible 2005-2014, va dirigir a <promoure la igualtat de drets i oportunitats entre els gèneres contra una realitat de discriminacions i l’autonomia de la dona>, a més de destacar que <l’educació i formació de les nenes i les dones és un dret humà i un element essencial per al gaudi de tots els drets socials, econòmics, culturals i polítics>.”

(*) Flecha, 1996: Las primeras universitarias en España

Feministas e Acadêmicas: o papel da REDOR no fortalecimento dos estudos feministas e de gênero na educação superior no Norte e Nordeste do Brasil¹ (1910-2013)

¹ Pesquisa com apoio do Programa CAPES/DGU edital n. 40/12, projeto 303/13; e do MCTI/CNPq/SPM-PR/MDA Chamada 32/12, projeto n. 404888/2012-7.

As feministas acadêmicas da REDOR

Cecilia Maria Bacellar Sardenberg: “Lá [nos EUA] conheceu o 1º marido: Eu acabei casando com um americano, abandonei os estudos e fui morar numa base aérea, fui trabalhar numa loja, larguei faculdade, larguei tudo, fiz besteira. Foi meu 1º marido. Eu já casei e descasei várias vezes. Na cidade em que morava tinha um grupo feminista e ela começou a participar. Então, o meu feminismo começou nos EUA, vendo a situação da mulher, vendo a discriminação, eu fui somando…“Ele pediu que a CAPES suspendesse a minha bolsa, me acusando de tentativa de seqüestro dos meus filhos, eu fui presa… (choro). Tantos anos e eu vou falar sobre isso e choro. Minha foto saiu nos jornais de Salvador…”

Além destes problemas de ordem familiar, ainda aconteceu do professor orientador da tese de Cecília morrer. E ela teve que adiar a conclusão.”

Neim … o primeiro núcleo de estudos da América Latina a oferecer curso de doutorado em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo.”

Luzia Miranda: “Pesquisa … ciclos republicanos paraenses”

Em 1977, quando Luzia terminou a graduação, foi indicada por um professor para assumir a docência na Universidade. Naquela época, não tinha ainda concurso público, era indicação, era o período militar, e o professor titular da cadeira de Ciência Política indicou os 3 alunos que mais se destacaram e um deles era eu. Eu passei a ser professora da Universidade Federal do Pará em 1978.

Mary Ferreira: “Estive envolvida com a fundação do Partido dos Trabalhadores”

Gema Galgani Esmeraldo: “nós criamos a Comissão Estadual de Mulheres Trabalhadoras Rurais”

Gênero, “Raça”/Etnia e Classe: A presença feminina em cursos de graduação na Universidade Federal da Paraíba

Em meados do séc. XIX foram criadas as primeiras escolas normais – para formação docente – abertas para ambos os sexos.” “feminização do magistério” “Somente no final desse século, através de um decreto imperial, [é] que foi autorizada a presença feminina em cursos de nível superior.” “cursos tradicionalmente femininos: Filosofia, Letras, Ciências Humanas, entre outros”

E se mulheres não gostam de Engenharia, tão “simplesmente”?

Através de Lei Estadual de 1955, surgiu da junção de escolas superiores isoladas a Universidade da Paraíba, atual UFPB, que foi federalizada em 1960. (…) Em 2002, com a criação da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), desmembrou-se. “[Pelo] Reuni, a UFPB conseguiu dobrar o tamanho e atualmente é a IES do Norte e Nordeste do país que oferece o maior nº de vagas. Em 2004 ofereceu cerca de 3.700 e em 2012 ofertou 8.020, distribuídas pelo Processo Seletivo Seriado (PSS), pelo Exame Nacional do Ensino Médio e pelo Sistema de Seleção Unificada. No ensino de graduação, de 2004 a 2012, o nº de cursos aumentou de 50 para 104, enquanto o nº de alunos aumentou de 18.759 para 29.629.”

Em nossa pesquisa, o grupo de pardas/os foi somado ao contingente de respondentes que se autoclassificaram como negras/os, um procedimento realizado com base no trabalho de Batista (2005).”

podemos observar que as mulheres e homens brancos oriundos da rede particular acessam o ensino superior com uma idade média compreendida entre os 18 e os 21 anos. Entre as mulheres oriundas desta rede, as amarelas e brancas ingressam na instituição com 18,81 e 20,06, respectivamente. Em relação à rede pública, observamos a idade de acesso nos 21,91, para as mulheres negras, e nos 23,92 para os homens negros. As mulheres originárias da rede pública ingressaram com 23,1 anos, e as originárias da rede particular com 20,1 anos. (…) os estudantes [que] cursaram o ensino médio em escolas públicas ingressaram na UFPB com uma idade média de 24,1 anos, idade que retrocede para os 20,1 anos para os homens que estudaram em estabelecimentos particulares.”

predominância masculina: Matemática, Física e Ciência da Computação” “significativa presença feminina: Ciências Biológicas. Por sua vez, o Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes (CCHLA) tem se mostrado, historicamente de forte presença feminina.” “O campeão em segregação sexista é o curso de Ciência da Computação, com uma média de 90% de homens ingressantes.” “Há um curioso fato: homens e mulheres apresentam juntos a menor matrícula na licenciatura em Geografia.” Curioso mesmo é Geografia ser ciência!

O percentual das negras vem aumentando de forma consistente desde o ano de 2004, quando representavam 0,5% das ingressantes; valor que saltou para 1,95% em 2009, quando supera o número de brancas (1,73%).”

os cursos mais escolhidos pelas mulheres foram Letras (18,31%) e Serviço Social (11,12%), com um percentual maior que o dobro em relação aos demais. Já os menos escolhidos, em ordem crescente, foram os de Regência de Bandas [!], Educação Artística: Música, Filosofia: Licenciatura, Teatro: Bacharelado, Teatro: Licenciatura, Educação Artística: Licenciatura, Artes Cênicas [qual a diferença para teatro bacharel?], Artes Plásticas, Artes Visuais, Tradução: Bacharelado, Comunicações em Mídias Digitais, Línguas Estrangeiras Aplicadas às Negociações Internacionais, Música [de novo?], Ciências Sociais: Licenciatura, Filosofia: Bacharelado, Psicologia: Licenciatura, Ciências Sociais: Bacharelado, Comunicação Social: Radialismo, Turismo, História: Licenciatura, Comunicação Social: Jornalismo, Comunicação Social: Relações Públicas, Psicologia [bacharelado].

No que se refere às escolhas masculinas, ressaltamos que, de maneira equivalente às das mulheres, a maior escolha recai sobre o curso de Letras. Como menores escolhas, temos: Regência de Bandas, Artes Plásticas, Artes Cênicas, Educação Artística: Música, Teatro: Bacharelado, Educação Artística: Licenciatura, Teatro: Licenciatura, Artes Visuais, Tradução: Bacharelado, Filosofia: Licenciatura, Línguas Estrangeiras Aplicadas (…), Psicologia: Lic., Serviço Social, Comunicações em Mídias Digitais, Ciências Sociais: Licenciatura, Turismo, C.Sociais:bac., Com.Soc.:Rel.Púb., Com.Soc.:Jorn., psicologia [bac.], Filosofia:bac., Com.Soc.:Rad., Música, História:lic.”

os homens sobrepujam as mulheres nos cursos de História, Música, Ciências Sociais: Licenciatura, Comunicação e[m] Mídias Digitais, Filosofia: lic. e bac., Teatro: lic. e bac., Educ. Artíst. e Música.”

Gênero e Tecnologia da Informação: um olhar sobre a Educação Superior na Paraíba e as possibilidades de promoção da eqüidade de gênero através da Educação

A paridade de sexo no uso da Internet também foi observada no nível pós-secundário.”

HAHA: “a cultura do computador dominada por homens – observa-se o discurso machista, a competitividade, a ênfase na velocidade e no poder, a exclusão, o isolamento, o conteúdo violento nos jogos e a linguagem violenta”

A fraqueza de um estudo pseudo-sociológico que recorre a Bourdieu é patente…

bibliografia suplementar

Rawls, A theory of justice, 1917

OBRA COMPLETA DE FREUD – Tomo XI // NO DIVÃ COM CILA

06/06/2016 a 06/10/2016

Org. James Strachey, Anna Freud et al.

GLOSSÁRIO

coupeurs de nattes: pervertidos que sentem prazer em cortar o cabelo das mulheres.

macropsia: percepção que avoluma ou aumenta os corpos e objetos. Comum em hipoglicêmicos.

hebefrenia: loucura adolescente, demência precoce, esquizofrenia [!]

milhafre: ave

paramnésia: perturbação que faz esquecer a significação das palavras escutadas ou lidas

parético: enfraquecimento muscular não-relacionado com Pareto (paresia)!

Sprachwissenschaftliche Abhandlungen: ensaios filológicos

A) 5 LIÇÕES DE PSICANÁLISE (1910)

Entre 1885 e 1886 foi discípulo de Charcot em Paris, e acompanhou, em 1889, em Nancy, as experiências de Bernheim sobre o hipnotismo.” Durval Marcondes

Horácio recomendava esperar 9 anos para se publicar um escrito. Ora…

Há cerca de 40 anos que ele se dedica diariamente a 8, 9, 10, às vezes mesmo 11 análises de 1h cada.” Stephen Zweig, 1931

* * *

Caminharemos por algum tempo ao lado dos médicos, mas logo deles nos apartaremos”

esse enigmático estado que desde o tempo da medicina grega é denominado histeria” “diante da histeria o médico não sabe o que fazer” Para mais detalhes de Anna O., a “primeira histérica moderna”, ver BREUER.

Tomava na mão o cobiçado copo d’água, mas assim que o tocava com os lábios, repelia-o como hidrófoba. Para mitigar a sêde que a martirizava, vivia sòmente de frutas, melões etc. (…) despertou da hipnose com o copo nos lábios. A perturbação desapareceu definitivamente.”

Toda essa cadeia de recordações patogênicas tinha então de ser reproduzida em ordem cronológica e precisamente inversa – as últimas em primeiro lugar e as primeiras por último – sendo completamente impossível chegar ao primeiro trauma, muitas vezes o mais ativo, saltando sobre os que ocorreram posteriormente.”

Numa senhora de cêrca de 40 anos existia um tic (tique) sob a forma de um especial estalar da língua, que se produzia quando a paciente se achava excitada e mesmo sem causa perceptível. Originara-se esse tique em 2 ocasiões nas quais, sendo desígnio dela não fazer nenhum rumor, o silêncio foi rompido contra sua vontade justamente por esse estalido. Uma vez, foi quando com grande trabalho conseguira finalmente fazer adormecer seu filhinho doente, e desejava, no íntimo, ficar quieta para o não despertar; outra vez quando, numa viagem de carro com dois filhos, por ocasião de uma tempestade, os cavalos se assustaram e ela cuidadosamente quisera evitar qualquer ruído para que os animais não se espantassem ainda mais.”

histéricos e neuróticos: não só recordam acontecimentos dolorosos que se deram há muito tempo, como ainda se prendem a eles emocionalmente; não se desembaraçam do passado e alheiam-se por isso da realidade e do presente.” UnB quarto pai Marianna ranço Dilma risada buchicho cristofobia TCC formatura vai ter golpe vozdeus levaratéofimumavezcomeçadoojogo.

Breuer resolveu admitir que os sintomas histéricos apareciam em estados mentais particulares que chamava <hipnóides>. As excitações durante esses estados hipnóides tornam-se facilmente patogênicas porque não encontram neles as condições para a descarga normal do processo de excitação.” Eu não era eu.

Meu pai esteve comigo – quero dizer: contra mim! ao menos se estivera ausente em ALGUMA destas ocasiões! – em todos os meus piores momentos, geralmente como protagonista ou incentivador-da-lenha-na-fogueira:

– Expulsão do colégio militar (VIVA O BOZO!);

– Tome este volante, mesmo que não queira…

– Sociologia, mas que merda!

– Por que não pagam nem passagem no seu estágio gratuito? Na verdade é um estágio oneroso!

– Sua namorada é uma vaca, a sua cunhada me contou (complô de novela mexicana – não pode estar acontecendo comigo, não é possível…)

– Você CUSTA a crescer, come demais!

– Eu não quero que você use um computador, seu nerd!

– HAHAHA! Te humilharam, HAHAHA!

– Como assim você detesta a UnB?

– Para mim você não se formou.

– Você tinha que continuar a dar aula.

– Por que você faz essa terapia idiota e toma esses remédios inúteis?

– Roque pauleira?! Urgh…

– Desenhinho?

– Você devia fazer a prova do Barão de Rio Branco…

– Você gosta de estudar, por que não se doutora?

– Não gosto da sua esposa, não gosto dessa pobraiada carioca, não gosto que você não assuma compromissos e que não pague a taxa de água, inclusive prefiro os outros inquilinos problemáticos a você…

– Finjo que não gostaria que você tivesse um filho justamente quando você pensou que seria pai só para nunca me contradizer, isto é, sempre rebaixá-lo! Agora que sua chance de ser pai é 0, eu gostaria muito de um neto…

– Por que você nunca me ajuda quando eu peço?

– Você não é o FERA em informática? Me ajude a renovar este detector de radares, me ajude a pagar esta multa, me ajude, me ajude com a 2ª via, me ajude!!!… Ingrato!

– Lula isso Lula aquilo, PT me fodeu, comeu meu cu, fodeu meu país, só você não enxerga isso!

– Não consegue dormir? Que mentira é essa?!

– Idiota, não serve nem pra reagir a um assalto!

– Eu sou muito macho, reajo a PMs… Inclusive, revise esse texto em que conto essa estória; vou entregá-la na delegacia.

– Não existe este livro clássico de autor alemão na Alemanha democrática, este homem facínora (socialista, veja você!) foi banido deste país de Primeiro Mundo!

– Por que você demorou tanto na perícia médica, por que você relatou isso ao médico? Vão pensar que você é doido! Seja mais esperto, bata na mesa, resolva, como eu!

– ISSO É FRESCURA! SUA VIDA É UMA FRESCURA! Nos dois sentidos: eu PENEI bem mais. Tenha dó deste moribundo aqui…

– Cuide do seu irmão, pois eu vou morrer e ele precisa ser cuidado – por que não você?! Só porque eu nunca fiz nada do que te peço, não quer dizer que você não tenha que me obedecer, afinal, SOU SEU PAI! EU RESPEITAVA MEU PAI! MEU PAI ERA UM MERDA! Mas não divaguemos sobre aquilo que não nos diz respeito… Porque filosofar é coisa de inútil…

Onde existe um sintoma, existe também uma amnésia, uma lacuna da memória, cujo preenchimento suprime as condições que conduzem à produção do sintoma.”

A teoria de Breuer, dos estados hipnóides, tornou-se aliás embaraçante e supérflua, e foi abandonada pela psicanálise moderna.”

P. 24: “Tornou-se-me logo enfadonho o hipnotismo, como recurso incerto e algo místico; e quando verifiquei que apesar de todos os esforços não conseguia hipnotizar senão parte de meus doentes, decidi abandoná-lo, tornando o procedimento catártico independente dele.

dissociação” – mito ligado à histeria?

Somos todos fujões.

Em lugar do breve conflito, começa então um sofrimento interminável.”

Podemos admitir que seja tanto maior a deformação do elemento procurado quanto mais forte a resistência que o detiver.”

Aceitando a proposta da Escola de Zurique (Bleuler, Jung e outro), convém dar o nome de <complexo> a um grupo de elementos ideacionais interdependentes, catexizados de energia afetiva.”

Uma observação atenta mostra, contudo, que as idéias livres nunca deixam de aparecer.”

Para o psicanalista este método é tão precioso quanto para o químico a análise qualitativa.”

estudo das psicoses, com tanto êxito empreendido pela Escola de Zurique [?]”

O tripé do psicanalista: livre associação – sonho – ato falho. Meu blog é um manancial dos dois primeiros.

Parece-me quase escandaloso apresentar-me neste país de orientação prática como <onirócrita>”

Quando me perguntam como pode uma pessoa fazer-se psicanalista, respondo que é pelo estudo dos próprios sonhos.”

Hora solene de bramir o chicote em cômodos escuros semiconhecidos, dar uma flor até para quem é homem e quem sabe rolar por aí velozmente sem olhar para trás. Cifrões. O que mais me dá raiva é que eu gostaria de matar quem me proporcionava isso na infância.

Por ora continuarei matando edipianamente a aula de inglês, refazendo meus estudos abandonados e esquecendo a bolsa de educação física. E me deixarei dominar pelo pânico e dissabor do instante. Ansiosos não tem pesadelos.

Na vida onírica a criança prolonga, por assim dizer, sua existência no homem, conservando todas as peculiaridades e aspirações, mesmo as que se tornam mais tarde inúteis.”

A ansiedade é uma das reações do ego contra desejos reprimidos violentos.”

o esquecimento de coisas que deviam saber e que às vezes sabem realmente (p.ex. a fuga temporária dos nomes próprios), os lapsos de linguagem, tão freqüentes até mesmo conosco, na escrita ou na leitura em voz alta; atrapalhações no executar qualquer coisa, perda ou quebra de objetos, etc., bagatelas de cujo determinismo psicológico de ordinário não se cuida, que passam sem reparo como casualidades, como resultado de distrações, desatenções. Juntam-se ainda os atos e gestos que as pessoas executam sem perceber, e sobretudo, sem lhes atribuir importância mental, como sejam trautear melodias, brincar com objetos, com partes da roupa ou do próprio corpo, etc.” Cf. A Psicopatologia da Vida Cotidiana, 1901.

as perturbações do erotismo têm a maior importância entre as influências que levam à moléstia, tanto num como noutro sexo.” “Quando, em 1895, publiquei com o Dr. J. Breuer os Estudos sobre a Histeria, ainda não tinha esta opinião”

aquela mescla de lubricidade a afetado recato é o que governa a maioria dos <povos civilizados> nas coisas da sexualidade.”

Só os fatos da infância explicam a sensibilidade aos traumatismos futuros e só com o descobrimento desses restos de lembranças é que (…) afastamos os sintomas.”

Não é verdade certamente que o instinto sexual, na puberdade, entre no indivíduo como, segundo o Evangelho, os demônios nos porcos.”

F. – The Analysis of a Phobia in a Five-Year-Old Boy

O prazer de chupar o dedo, o gozo da sucção, é um bom exemplo de tal satisfação auto-erótica partida de uma zona erógena. Quem primeiro observou cientificamente esse fenômeno, o pediatra Lindner (1879), de Budapeste, já o tinha interpretado como satisfação dessa natureza e descrito exaustivamente a transição para outras formas mais elevadas de atividade sexual. Outra satisfação da mesma ordem, nessa idade, é a excitação masturbatória dos órgãos genitais, fenômeno que tão grande importância conserva para o resto da vida e que muitos indivíduos não conseguem suplantar jamais.”

Do gozo visual ativo [voyeurs] desenvolve-se mais tarde a sede de saber, como do passivo [exibicionista] o pendor para as representações artísticas e teatrais.”

Os mais profundamente atingidos pela repressão são primeiramente, e sobretudo, os prazeres infantis coprófilos”

o complexo nuclear de cada neurose”

P. 44: Édipo e Hamlet

O homem enérgico e vencedor é aquele que pelo próprio esforço consegue transformar em realidade seus castelos de ar.” E eu que fui longe demais… quixotei-me para salvar-me… Psicanálise como castelo aéreo. Lucy in the divan without diamonds…

Quando a pessoa inimizada com a realidade possui dotes artísticos (psicologicamente ainda enigmáticos [hehe]) podem suas fantasias transmudar-se não em sintomas senão em criações artísticas. Cf. Rank, 1907

VdP: “Conforme as circunstâncias de quantidade e da proporção entre as forças em choque, será o resultado da luta a saúde, a neurose ou a sublimação compensadora.” Categoria residual do que ele não pôde entender.

Nunca acabarão nem a ternura nem a repulsa.

Pp. 47-8: o transfer

B) LEONARDO DA VINCI E UMA LEMBRANÇA DA SUA INFÂNCIA [Eine Kindheitserinnerung des Leonardo da Vinci] (1910), trad. brasileira: Walderedo Oliveira

Leonardo, que talvez fosse o mais famoso canhoto da história, jamais tivera um caso de amor.”

(*) “o estudo freudiano sobre mães-deusas andróginas”

Es liebt die Welt das Strahlende zu schwärzen

Und das Erhabene in den Staub zu ziehn.”

O mundo gosta de denegrir o brilhante

E arrastar na lama o sublime.”

Schiller, A Jovem de Orléans

gênio universal cujos traços se podia esboçar, nunca definir” Burckhardt

Desprezava o ofício de escritor. Trattato della Pittura.

O que para você é o Big Bang para mim foi só uma conseqüência.

descobria defeitos em coisas que, aos outros, pareciam milagres.” Solmi (1910)

Von Seidlitz traz uma história das obras de Da Vinci, relatando telas e restaurações…

Desenhou armas para César Bórgia apesar de pacifista.

Não existe nas anotações de Leonardo um único comentário a respeito dos acontecimentos de sua época ou qualquer demonstração de preocupação com êles.”

Leonardo [se absteve de] examinar de perto os mamilos de qualquer mulher em período de amamentação. Se o tivesse feito teria certamente notado que o leite passa através de uma porção de canais excretores separados. Leonardo, no entanto, desenhou um único canal”

Não se tem o direito de amar ou odiar qualquer coisa da qual não se tenha conhecimento profundo.” Botazzi

Solmi, o “bom biógrafo”, segundo Freud: “Tale transfigurazione della scienza della natura in emozione, quasi direi, religiosa, è uno dei tratti caratteristici del manoscritii vinciani”

Terá pesquisado em vez de amar.”

não mais queria estudar pelo amor à arte mas, sim, pelo próprio amor ao estudo.” Solmi

Il sole non si move.” in: Quaderni d’Anatomia

P. 72: as crianças e as perguntas

Quem o tempo todo se reescreve demonstra que não pode passar por correto mesmo durante uma geração. Ou alguém aí já ouviu falar de uma segunda edição do Hamlet? Para nós, o que está dito, está dito. Livro perene de pedra, numa única camada.

Filho de peixe molusco alado é. Filho de molusco alado peixe é.

A tendência a botar o órgão sexual masculino na bôca e a chupá-lo, o que numa sociedade respeitável é considerado uma perversão sexual horrível, encontra-se, no entanto, com muita freqüência entre as mulheres de hoje – e de outros tempos também, como o evidenciam esculturas da antiguidade – e no ardor da paixão isso parece perder completamente o seu caráter repulsivo.” O boquete é instintivo.

Krafft-Ebing – Psycopathia Sexualis

Little Hans virou Joãozinho no Brasil.

O que nos leva a classificar alguém como sendo um invertido (homossexual) não é o seu comportamento real porém a sua atitude emocional.”

Antes do séc. XIX, ninguém podia saber a conotação dos hieróglifos egípcios. Uma civilização tão antiga, uma impressão e um julgamento tão recentes…

Uma característica especial do panteão egípcio era que os deuses individuais não desapareciam quando ocorria um processo de sincretismo.” “Ora, essa deusa-mãe com cabeça de abutre era geralmente representada pelos egípcios com um falo, seu corpo era de mulher, conforme mostram os seus seios, mas possuía também um membro masculino em ereção.”

Neith de Saís – de quem se originou, mais tarde, a Atenéia dos gregos” – cf. https://seclusao.art.blog/2019/06/08/timeu-ou-da-natureza/

podemos encontrar aqui uma das raízes do anti-semitismo que aparece com fôrça tão elementar e se manifesta de modo tão irracional entre as nações do Oeste. A circuncisão é inconscientemente associada à castração.”

Um culto fetichista cujo objeto é o pé ou calçado feminino parece tomar o pé como mero símbolo substitutivo do pênis da mulher, outrora tão reverenciado e depois perdido.”

Sem o saber, os coupeurs de nattes desempenham o papel de pessoas que executam um ato de castração sôbre o órgão genital feminino.” Escola Classe 106 Norte – Érika & A Tesoura Amarela Poucas madeixas. Impulso incontrolável. Diretoria. Morte da lembrança. Hiato. Morte da Infância. Ressurreição. E se…? E se for “inveja da feminilidade”, a antítese da inveja do pênis? E se radica aí minha obsessão metaleira, minha preferência por deixar o cabelo crescer?

e quando a conexão entre a religião oficial e a atividade sexual se tornou oculta da consciência geral, cultos secretos se dedicavam a conservá-la viva entre um certo número de iniciados.”

Pp. 91-2: as mais polêmicas até aqui. Freud defende uma “homossexualidade universal”; só o que há para diferenciar são os graus de intensidade e o caráter mais ou menos passageiro da “coisa”. Todo desenvolvimento sexual não-aberrante incluiria uma fase homossexual na infância.

Em todos os nossos casos de homossexuais masculinos [notável sua ignorância sobre o lesbianismo, derivada da sua ignorância em geral relativa às mulheres], os indivíduos haviam tido uma ligação erótica muito intensa com uma mulher, geralmente sua mãe, durante o primeiro período de sua infância, esquecendo depois êsse fato; essa ligação havia sido despertada ou encorajada por demasiada ternura por parte da própria mãe, e reforçada posteriormente pelo papel secundário desempenhado pelo pai durante sua infância. Sadger chama atenção para o fato de as mães dos seus pacientes homo. serem muitas vezes masculinizadas, mulheres com enérgicos traços de caráter e capazes de deslocar o pai do lugar que lhe corresponde.”

O menino reprime seu amor pela mãe, coloca-se em seu lugar, identifica-se com ela, e toma a si próprio como um modêlo a que devem assemelhar-se os novos objetos de seu amor. Dêsse modo êle transformou-se num homossexual.”

Como escolhia seus alunos pela beleza e não pelo talento, nenhum dêles – Cesare da Sesto, Boltraffio, Andrea Salaino, Francesco Melzi e outros mais – veio a tornar-se um pintor de importância.”

As formas de expressão por que a libido reprimida de L. se tornava manifesta – preocupação e pormenores com referência a dinheiro – estão entre os traços de caráter resultantes do erotismo anal. Ver meu trabalho Character and Anal Erotism (1908b).”

Qualquer pessoa que pense nas pinturas de L. recordar-se-á de um sorriso notável, ao mesmo tempo fascinante e misterioso, que êle punha nos lábios de seus modêlos femininos. É um sorriso imutável, desenhado em lábios longos e curvos; tornou-se uma característica do seu estilo e o têrmo <Leonardiano> tem sido usado para defini-lo.²

² [Nota acrescentada em 1919:] O conhecedor de arte pensará aqui no peculiar sorriso fixo encontrado em esculturas gregas arcaicas – nas de Egina, p.ex.; encontrará também qualquer coisa semelhante nas figuras de Verrocchio, professor de L. e, portanto, se sentirá reticente em aceitar os argumentos que se seguem.”

Voilà 4 siècles bientôt que Mona Lisa fait perdre la tête à tous ceux qui parlent d’elle, après l’avoir longtemps regardée.” Gruyer Apud SEIDLITZ

o contraste entre a reserva e a sedução, e entre a ternura mais delicada e uma sensualidade implacàvelmente exigente” “tendresse et coquetterie, pudeur et sourde volupté” “nel poema del suo sorriso” “toda a hereditariedade da espécie” “a bondade que esconde o propósito cruel”

O Autor como escravo de uma sua obra

<Heilige Anna Selbdritt> quadro da Madona

Assim, como todas as mães frustradas, substituiu o marido pelo filho pequeno.” NiE(l)tzc(in)e

(blow

list of f*cked liszts jew jeu jaws

LISTERINE

ELINE

IST

STERILE

clister

ter-lírica-e-ter-talento

bala-no-taco

L

E

I

S

servem para ser o-bebê-descidas pela go’ela dos sub’jug(ular)ados

úvula

lar dos desterrados

slavejó)

êle já tinha estado tempo demais sob o domínio da inibição para que pudesse voltar a desejar tais carícias dos lábios de outras mulheres”

É apenas um pequeno detalhe e ninguém, a não ser um psicanalista, lhe daria maior importância.”

Criava a obra de arte e depois dela se desinteressava, do mesmo modo que seu pai se desinteressava por êle.”

as raízes da necessidade de religião se encontram no complexo parental.”

estou-no-mundo

Adão era adolescente.

D***-Al*****-Ed***** o Triângulo Maldito dos Mimados para a Psicanálise Clássica. Reformado-Clássico-Proscrito

nos sonhos o desejo de voar representa verdadeiramente a ânsia de ser capaz de realizar o ato sexual.”

¹¹ [1919:] Esta afirmação baseia-se nas pesquisas de Paul Federn (1914) e Mourly Vold (Über den Traum, 1912 [parece não haver tradução para nenhuma língua]), um cientista norueguês que não tinha nenhum contato com a psicanálise.”

P. 115: o mito da “felicidade na infância”

Goku, o Fodedor

Tornou-se impacientissimo al pennello [pincel]”

C) AS PERSPECTIVAS FUTURAS DA TERAPÊUTICA PSICANALÍTICA [Die Zukünftigen Chancen der Psychoanalytischen Therapie] (1910), trad. brasileira David Mussa

<trepar> [em alemão <steigen>]¹ se usa como equivalente direto do ato sexual. Falamos de um homem como um <Steiger> [trepador] e de <nachsteigen> [correr atrás de, literalmente trepar]. Em francês os degraus de uma escada chamam-se <marches> e <un vieux marcheur> tem o mesmo sentido que o nosso <ein alter Steiger> [um velho devasso].”

¹ Curiosamente o bastante, escada em alemão é Treppe.

8 “[Nota do tradutor] Freud nem sempre estava igualmente convencido da possibilidade de auto-análises adequadas para aspirantes a analistas. Mais tarde, êle insistiu na necessidade de análises didáticas conduzidas por alguma outra pessoa.” Cause the world is full (fool!) of creepers (creeps, bisonhos, trepadeiras, tarados)!

Os senhores não podem exagerar a intensidade de carência interior de decisão das pessoas e de exigência de autoridade. O aumento extraordinário das neuroses desde que decaiu o poder das religiões pode dar-lhes uma medida disso.”

Uma operação, por certo, se destina a produzir reações; em cirurgia, estamos acostumados a isso, há muito tempo.”

os senhores devem pensar na posição de um ginecologista, na Turquia e no Ocidente. Na Turquia, tudo o que ele pode fazer é sentir o pulso de um braço, que se lhe estende através de um buraco na parede.”

A sugestão social é favorável, no presente, a tratar os pacientes nervosos pela hidropatia, dieta e eletroterapia, mas isso não capacita que tais recursos possam vencer as neuroses.”

O sucesso que o tratamento pode ter com o indivíduo deve ocorrer, igualmente, com a comunidade.”

a sua ansiosa superternura que tem em mira ocultar-lhes o ódio, a sua agorafobia que se relaciona com a ambição frustrada, as suas atitudes obsessivas que representam auto-censuras por más intenções e precauções contra as mesmas.”

essa necessidade de encobrimento [sintomas, provavelmente orgânicos, ou psicológicos ainda mais graves, que disfarçam a neurose – <ele é esquisito porque é tuberculose, porque tem pressão baixa, porque tem dores de cabeça e de barriga o tempo inteiro, porque sua coluna dói, porque herdou muitos genes ruins dos parentes…] destrói as vantagens de ser doente.” “Certo nº de pessoas, ao defrontar-se, em suas vidas, com conflitos que constataram muito difíceis de resolver, fogem para a neurose e, dêsse modo, retiram da doença vantagem inequívoca, embora, com o tempo, acarrete bastante prejuízo.” “Um bom nº daqueles que, hoje, fogem para a enfermidade não suportariam o conflito”

Lembremo-nos, no entanto, que nossa atitude perante a vida não deve ser a do fanático por higiene ou terapia.”

D) A SIGNIFICAÇÃO ANTITÉTICA DAS PALAVRAS PRIMITIVAS (prefiro ‘O contra-senso inerente aos conceitos’) [Über den Gegensinn der Urworte] (1910), trad. brasileira Clotilde da Silva Costa

Por que os sonhos funcionam sob o mecanismo da inversão da representação do desejo.

O nosso ofício de ironista.

Karl Abel (filósofo contemporâneo de F.): “Se a palavra egípcia <ken> devia significar <forte>, seu som que fosse alfabèticamente escrito seguia-se da figura de um homem em pé, armado; se a mesma palavra tinha de expressar <fraco>, as letras que representam o som se seguiam da figura de um corcunda, coxo.”

macio macilento

Em latim <altus> significa <alto> e <profundo>, <sacer> <sagrado> e <maldito> (…) <clamare> (gritar) – <clam> (suavamente, secretamente); <siccus> (sêco) – <succus> (suco). Em alemão <Boden> ainda significa o mais alto bem como o mais baixo da casa (sótão ou chão). Nosso <bös> (mau) se casa com a palavra <bass> (melhor [boss! boçal!]); em saxão antigo <bat> (bom [o homem-mocego é bom!]) corresponde ao inglês <bad> e o inglês <to lock> (trancar) ao alemão <Lücke>, <Loch> (vazio, buraco).”

<stumm> (mudo), <Stimme> (voz)”

5 “[Nota da tradutora] Diz-se que <lucus> (bosque em latim) se deriva de <lucere> (brilhar) porque nêle não há claridade. (Atribuído a Quintiliano.)” lusco-fusco

Mesmo hoje o homem inglês para exprimir <ohne> (sem) diz <without> (<mitohne>, i.e., com-sem), e o prussiano oriental faz o mesmo. A própria palavra <with>, que hoje corresponde ao <mit>, originàriamente significava ao mesmo tempo <sem> e <com>, como se pode reconhecer no inglês <withdraw> (retirar) e <withhold> (reter). A mesma transformação pode ser vista em <wider> (contra) e <wieder> (junto com).”

Topf – pot (DEU/ENG)

boat – tub (ENG/ENG)

wait – täwwen (ENG/DEU)

reck – care (ENG/ENG)

Balken – Klobe (DEU/DEU – viga, cepo)

capere – packen (LAT/DEU – tomar, agarrar respect.)

ren – Niere (LAT/DEU – rim)

leaf – folha (ENG/POR)

me  him

her  their

Leafar (li e fui longe, so far…)

Folha, Vento, folhas ao vento, oxigênio…

escrever&respirar

rayo

sucede a água

Arauto do Ar²

Taurus ²5

Sure-ata

seus réus

céus! rois reis en Romme

sóis brilhem me libertem, só. é.

fair lady não ria é uma bela moça cheia da lábia

Até um idiota como Stephen Hawking diria que no sono regular o ser humano rebobina a fita…

E) UM TIPO ESPECIAL DE ESCOLHA DE OBJETO FEITA PELOS HOMENS (Contribuições à Psicologia do Amor I) – Über einen besonderen Tipus der Objektwahl beim Manne (Beiträge zur Psichologie des Liebeslebens I) (1910 [überproduktiv!]), trad. brasileira Clotilde da Silva Costa

a precondição de que deva existir <uma terceira pessoa prejudicada>” “a pessoa em questão nunca escolherá uma mulher sem compromisso, i.e., uma moça solteira ou uma mulher casada livre” [???] “a segunda precondição consiste no sentido de que a mulher casta e de reputação irrepreensível nunca exerce atração que a possa levar à condição de objeto amoroso, mas apenas a mulher que é, de uma ou outra forma, sexualmente de má reputação, cuja fidelidade e integridade estão expostas a alguma dúvida.” “se torna alvo desse ciúme não o possuidor legítimo da pessoa amada, mas estranhos que fazem seu aparecimento pela primeira vez”

Don Juan: o primeiro afoito?

Para Freud a série tendente ao infinito das perguntas das crianças se resumiriam na matriz “como nascem as crianças?”. O que não faz sentido é a – súbita ou gradual – perda de interesse na questão antes de um esboço de resolução.

O que faria o macho alfa mais orgulhoso: desvirginar a donzela ou “ligar” o órgão da puta? Arrombar ou lacrar? Violar ou cicatrizar?

PRIMEIRA CITAÇÃO DO C.E. ENCONTRADA EM FREUD: “Ele começa a desejar a mãe para si mesmo, no sentido com o qual, há pouco, acabou de se inteirar, e a odiar de nova forma o pai como um rival que impede esse desejo; passa, como dizemos, ao controle do complexo de Édipo.”

Não perdoa a mãe por ter concedido o privilégio da relação sexual, não a ele, mas a seu pai, e considera o fato como um ato de infidelidade. Se esses impulsos não desaparecerem rapidamente, não há outra saída para os mesmos, senão seguir seu curso através de fantasias que têm por tema as atividades sexuais da mãe (ou primeiro amor), nas mais diversas circunstâncias; e a tensão conseqüente leva, de maneira particularmente rápida, a buscar alívio na masturbação.”

Quando a criança ouve dizer que deve sua vida aos pais, ou que sua mãe lhe deu a vida, seus sentimentos de ternura aliam-se a impulsos que lutam pelo poder e pela independência, e geram o desejo de retribuir essa dádiva aos pais e de compensá-los com outra de igual valor.”

<Não quero nada de meu pai; devolver-lhe-ei tudo quanto gastou comigo.> [!!!]” “a fantasia de salvar o pai de perigo” “o sentido desafiador é de longe o mais importante” “salvar a mãe adquire o significado de lhe dar uma criança – é supérfluo dizer, uma igual a ele.”

a experiência do nascimento, provavelmente, nos legou a expressão de afeto que chamamos de ansiedade. Macduff,¹ da lenda escocesa, que não nasceu de sua mãe mas lhe foi arrancado do ventre, por esse motivo não conhecia a ansiedade.²”

¹ Em Macbeth.

² Aprofundamento da questão parto-ansiedade em Inibições, Sintomas e Ansiedade.

F) SOBRE A TENDÊNCIA UNIVERSAL À DEPRECIAÇÃO NA ESFERA DO AMOR (Contribuições à Psicologia do Amor II) – Über die Allgemeinste Erniedrigung des Liebeslebens (Beiträge zur Psichologie des Liebeslebens II) (1912), trad. brasileira Jayme Salomão

Se o psicanalista clínico indagar a si mesmo qual perturbação leva as pessoas com maior freqüência a procurarem-no em busca de auxílio, ele será compelido a responder que consiste nas diversas formas de ansiedade.”

Artigo sobre a impotência sexual ligada a mulheres parecidas com a mãe no sentido freudiano, ou seja, ligada a mulheres que se escolheu amar.

Gênese 2:24

a impotência total que, talvez, mais tarde se reforce pelo início simultâneo de um real debilitamento dos órgãos que realizam o ato sexual.”

psicanestésicos, homens que nunca falham no ato, mas que o realizam sem dele derivar qualquer prazer especial”

mulheres frígidas” “Esta é a origem do empenho realizado por muitas mulheres de manter secretas, por certo tempo, mesmo suas relações legítimas”

o homem quase sempre sente respeito pela mulher que atua com restrição a sua atividade sexual, e só desenvolve potência completa quando se acha com um objeto sexual depreciado; e isto por sua vez é causado, em parte, pela entrada de componentes perversos em seus objetivos sexuais, os quais não ousa satisfazer com a mulher que ele respeita.” “Também é possível que a tendência a escolher uma mulher de classe mais baixa para sua amante permanente ou mesmo para sua esposa, tão freqüentemente observada nos homens de classes mais altas da sociedade, nada mais seja que sua necessidade de um objeto sexual depreciado” “[tais homens] consideram o ato sexual, basicamente, algo degradante, que conspurca e polui mais do que simplesmente o corpo.”

É, naturalmente, tão desvantajoso para a mulher se o homem a procura sem sua potência plena como o é se a supervalorização inicial dela, quando enamorado, dá lugar a uma subvalorização depois de possuí-la.”

Pode-se verificar, facilmente, que o valor psíquico das necessidades eróticas se reduz, tão logo se tornem fáceis suas satisfações. Para intensificar a libido, se requer um obstáculo” “Nas épocas em que não havia dificuldades que impedissem a satisfação sexual, como, talvez, durante o declínio das antigas civilizações, o amor tornava-se sem valor e a vida vazia”

os componentes instintivos coprófilos, que demonstraram ser incompatíveis com nossos padrões estéticos de cultura, provavelmente porque, em conseqüência de havermos adotado a postura ereta, erguemos do chão nosso órgão do olfato. (…) o excrementício está todo, muito íntima e inseparàvelmente ligado ao sexual; a posição dos órgãos genitais – inter urinas et faeces – permanece sendo o fator decisivo e imutável. Poder-se-ia dizer neste ponto, modificando um dito muito conhecido do grande Napoleão: <A anatomia é o destino.> Os órgãos genitais propriamente ditos não participaram do desenvolvimento do corpo humano visando à beleza: permaneceram animais (…) é absolutamente impossível harmonizar os clamores de nosso instinto sexual com as exigências da civilização.”

G) O TABU DA VIRGINDADE (Contribuições à Psicologia do Amor III) – Das Tabu der Virginität (Beiträge zur Psichologie des Liebeslebens III) (1918)

a prática da ruptura do hímen dessa maneira, fora do casamento subseqüente, é muito disseminada entre as raças primitivas que vivem ainda hoje. Como diz Crawley, <Essa cerimônia do casamento consiste na perfuração do hímen por uma pessoa designada que não o marido; é muito comum nos estágios mais baixos de cultura, especialmente na Austrália.> (Crawley, 1902, 347)”

Nas tribos Portland e Glenelg isto é feito à noiva por uma mulher idosa; e, às vezes, com essa finalidade são solicitados homens brancos, para deflorar as moças púberes (Brough Smith, 1878).”

A ruptura, às vezes, ocorre na infância”

Esse defloramento é efetuado pelo pai da noiva entre os Sakais (Malásia), os Battas (Sumatra) e os Alfoers das Celebes (Ploss e Bartels, 1891).” “Nas Filipinas haviam (sic) determinados homens cuja profissão era deflorar noivas, caso o hímen não houvesse sido perfurado na infância por uma mulher idosa, às vezes contratada para esse fim (Featherman, 1885-91).”

A perfuração ritual não acarreta necessàriamente a relação sexual. Freud critica o acanhamento e superficialidade dos primeiros etnógrafos.

8 “Em numerosos exemplos, não pode haver dúvidas de que outras pessoas além do noivo, p.ex., seus convidados e companheiros (nossos tradicionais <padrinhos do noivo> [<Kranzelherrn>]) têm livre acesso à noiva.”

a circuncisão de meninos e seu equivalente ainda mais cruel nas meninas (excisão do clitóris e dos pequenos lábios)”

em algumas ocasiões especiais, a sexualidade do homem primitivo pode sobrepujar todas as inibições; mas de maneira geral, parece ser mais fortemente dominada por proibições do que o é nas camadas mais altas da civilização.”

não se permite a um sexo pronunciar em voz alta os nomes próprios dos membros do outro sexo e as mulheres criam uma linguagem com um vocabulário especial.” “em algumas tribos, mesmo os encontros entre marido e mulher têm de se realizar fora de casa e às escondidas.”

SUPER MALLEVS MALEFICARVM: “Ele não separa o perigo material do psíquico, nem o real do imaginário. Em sua concepção animista do universo consistentemente aplicada, todo perigo decorre da intenção hostil de algum ser dotado de alma como ele próprio”

A frigidez inclui-se, assim, entre os determinantes genéticos das neuroses.”

<noites de Tobias> (o costume da continência durante as três primeiras noites do casamento)”

P. 190: “Por trás dessa inveja do pênis, manifesta-se a amarga hostilidade da mulher contra o homem, que nunca desaparece completamente nas relações entre os sexos e que está claramente indicada nas lutas e na produção literária das mulheres <emancipadas>. Em uma especulação paleobiológica, Ferenczi atribuiu a origem dessa hostilidade das mulheres à época em que os sexos se tornavam diferenciados. A princípio, a cópula realizou-se entre dois indivíduos semelhantes, um dos quais, no entanto, transformou-se no mais forte e forçou o mais fraco a se submeter à união sexual. Os sentimentos de amargura decorrentes dessa sujeição ainda persistem na disposição das mulheres hoje em dia.”

Arthur Schitzler – Das Schicksal des Freiherrn

Uma comédia da autoria de Anzengruber mostra como um simples camponês é dissuadido de casar com sua noiva pretendida porque ela é <uma rapariga que lhe cobrará primeiro a vida>. Por esse motivo ele concorda em que ela case com outro homem e está disposto a aceitá-la quando ficar viúva e não for mais perigosa. O título da peça, Das Jungferngift (<O Veneno da Virgem>), traz-nos à lembrança o hábito dos encantadores de serpentes que, primeiro, fazem as cobras venenosas morderem um pedaço de pano a fim de, depois, lidarem com elas sem perigo.”

Hebbel – Judite e Holofernes: “Quando o general assírio está cercando sua cidade, ela concebe o plano de seduzi-lo com sua beleza e de destruí-lo, usando assim um motivo patriótico, para esconder outro, sexual. Depois de haver sido deflorada por esse homem poderoso, que se gaba de seu vigor e de sua insensibilidade, ela encontra forças em sua fúria para lhe cortar a cabeça, tornando-se assim a libertadora de seu povo. (…) É claro que Hebbel sexualizou intencionalmente a narrativa patriótica do Apócrifo do Velho Testamento, pois, nela, Judite pode se gabar, depois ao voltar, que não foi violada, e nem existe no texto bíblico qualquer menção de sua misteriosa noite nupcial. Mas provavelmente, com a fina percepção de poeta, ele percebeu o velho motivo, que se havia perdido na narrativa tendenciosa [infantil Apud Groddeck].”

H) A CONCEPÇÃO PSICANALÍTICA DA PERTURBAÇÃO PSICOGÊNICA DA VISÃO – Die Psychogene Sehstörung in Psychoanalytischen Auffassung (1910), trad. brasileira Paulo Dias Corrêa

nos pacientes predispostos à histeria, há uma tendência inerente à dissociação – a uma desagregação das conexões em seu campo psíquico”

FREUD, O PAI DO SEXO: “Foi Jung, e não eu, que fêz da libido um equivalente da fôrça instintiva da tôdas as faculdades psíquicas, e que contesta a natureza sexual da libido. (…) Da minha concepção você extrai a natureza sexual da libido e da conclusão de Jung seu significado generalizado. É assim que se cria na imaginação dos críticos um pan-sexualismo que não existe nos meus conceitos nem nos de Jung. (…) Nunca afirmei que tôdos os sonhos expressassem a satisfação de um desejo sexual, mas muitas vêzes acentuei o contrário. Porém isto não produz nenhum efeito, e as pessoas continuam a repetir a mesma coisa.

Com meus agradecimentos cordiais e cumprimentos sinceros,

Seu, Freud.”

os dedos de pessoas que renunciaram à masturbação se recusam a aprender os movimentos delicados indispensáveis para tocar piano ou violino.”

como se uma voz punitiva estivesse falando de dentro do indivíduo e dizendo: <Como você tentou utilizar mal seu órgão da visão para prazeres sensuais perversos, é justo que você nunca mais veja nada> (…) A idéia da pena de talião está implícita nisto (…) A bela lenda de Lady Godiva nos conta como todos os habitantes da cidade se esconderam por trás de suas venezianas fechadas, a fim de tornar mais fácil a tarefa da senhora de cavalgar nua pelas ruas, em pleno dia, e como o único homem que espreitou pelas venezianas os seus encantos descobertos foi punido com a cegueira.”

I) PSICANÁLISE “SILVESTRE” – Über “Wilde” Psychoanlyse (1910), trad. brasileira Paulo Dias Corrêa

<neuroses atuais>, tais como a neurastenia típica e a neurose de angústia simples” “condições com uma causação puramente física e contemporânea” [???] “[F.] sugere dever considerar-se a hipocondria uma terceira <neurose atual>”

Dificuldade de distinguir entre neurastenia e hipocondria.

Psicanálise “silvestre”: amadora, sem método.

Pp. 211-2: “É idéia há muito superada, e que se funda em aparências superficiais, a de que o paciente sofre de uma espécie de ignorância, e que se alguém consegue remover esta ignorância dando a êle a informação (acêrca da conexão causal de sua doença com sua vida, acerca de suas experiências de meninice, e assim por diante) êle deve recuperar-se. (…) Se o conhecimento acêrca do inconsciente fôsse tão importante para o paciente como as pessoas sem experiência de psicanálise imaginam, ouvir conferências ou ler livros seria suficiente para curá-lo. Tais medidas, porém, têm tanta influência sôbre os sintomas da doença nervosa [uma vez que já houve a somatização, é tarde demais para se cuidar de forma amadora…] como a distribuição de cardápios numa época de escassez de víveres tem sôbre a fome. A analogia vai mesmo além de sua aplicação imediata; pois, informar o paciente sôbre seu inconsciente redunda, em regra, numa intensificação do conflito nêle e numa exacerbação de seus distúrbios. [- Você é narcista. – Obrigado, agora entendi! Deixo de me apaixonar pelo meu reflexo n’água quando puder…] (…) isto não se poderá fazer antes que 2 condições tenham sido satisfeitas. (…) o paciente deve (…) ter alcançado êle próprio a proximidade daquilo que êle reprimiu [digamos que ver NARCISISTAS lidando diariamente com seus problemas não ajuda muito… Automaticamente, não ser o que me torna mórbido torna-se errado – <humilde> e <sem estudos formais> é sardinha para piranhas na CAPES] e, segundo, êle deve ter formado uma ligação suficiente com o médico [permaneceram-me todos até aqui tipos ordinários, estranhos ao meu mundo] (…) A intervenção psicanalítica, portanto, requer de maneira absoluta um período bastante longo de contato com o paciente. (…) A psicanálise fornece essas regras técnicas definidas para substituir o indefinível <tato médico> que se considera como um dom especial. [ausência de Freuds e Groddecks em Brasília…] (…) Tenho amiúde encontrado que um procedimento inepto dêsses, mesmo se a princípio produzia uma exacerbação da condição do paciente, conduzia a uma recuperação ao final. Nem sempre, mas muito amiúde. Quando êle já insultou bastante o médico e se sente suficientemente distanciado de sua influência, seus sintomas cedem, ou êle se decide a tomar alguma iniciativa que vai no caminho da recuperação. A melhoria final então advém por si ou é atribuída a certo tratamento totalmente neutro por algum outro doutor para quem o paciente tenha mais tarde se voltado.”

J) ZUR SELBSTMORD-DISKUSSION

não estais inclinados a dar fácil crédito à acusação de que as escolas impelem seus alunos ao suicídio. Não nos deixemos levar demasiado longe, no entanto, por nossa simpatia”

Se é o caso que o suicídio de jovens ocorre não só entre os alunos de escolas secundárias, mas também entre aprendizes e outros, êste fato não absolve as escolas secundárias.”

A escola nunca deve esquecer que ela tem de lidar com indivíduos imaturos a quem não pode ser negado o direito de se demorarem em certos estágios do desenvolvimento e mesmo em alguns um pouco desagradáveis. A escola não pode adjudicar-se o caráter de vida: ela não deve pretender ser mais do que uma maneira de vida.”

Nem chegamos a uma compreensão psicanalítica do afeto crônico do luto.” Minha vida sempre num espeto. Me comporto como se fosse meu próprio bisneto a me lamentar: que desperdício de potencial!

F. – Certas Reflexões Sôbre a Psicologia do Rapaz em Idade Escolar (1914)

K) ANTHROPOPHYTEIA

Subscrevo-me, prezado Dr. Krauss, muito cordialmente,”

A Anthropophyteia foi um periódico, fundado e editado pelo Dr. F.S. Krauss, que tratava principalmente de material antropológico de natureza sexual.”

Bourke – Scatologic Rites of All Nations

L) DUAS FANTASIAS – Beispiele de Verrats pathogener Phantasien bei Neurotikern

(apenas contribuições ao glossário do cabeçalho)

M) CARTAS A UMA MULHER NEURÓTICA – Briefe am nervöse Frauen bei Dr. Neutra

a psicanálise não se pode satisfatoriamente combinar com a técnica da <persuasão> de Oppenheim

LORD[S] OF CHAOS: The bloody rise of the satanic metal underground (1998), revised & enlarged (2003) [Ou: uma biografia obviamente não-autorizada do delinqüente eternamente juvenil Varg. V. de VVinter e VVar / & outras estórias não-relacionadas] – Moynihan & Søderlind

Our world, increasingly homogenized and with the entire spectrum of its cultural creations adulterated for palatable mass-consumption, needs dangerous ideas more than ever. It may not need the often ill-formed and destructive ideas expressed by some of the protagonists in Lords of Chaos, but we felt all along that this is an issue for the individual reader to decide.”

The notion of a Protocols of the Elders of Zion-style Jewish cabal running the world is absurd to begin with, but all the more so in a country with practically no Jewish population, and we felt the need to point this out.”

The Satyricon single Fuel for Hatred received heavy air-play on one of Norway’s 3 biggest radio stations, and just before this revised edition went to press we heard that Dimmu Borgir’s new album will be hawked to the public through TV advertising spots.”

William Pierce – The Turner Diaries

Heavy Metal exists on the periphery of Pop music, isolated in its exaggerated imagery and venting of masculine lusts. Often ignored, scorned, or castigated by critics and parents, Heavy Metal has been forced to create its own underworld. It plays by its own rules, follows its own aesthetic prerogatives. Born from the nihilism of the 1970s, the music has followed a singular course. Now in the latter half of the 1990s it is often considered passé and irrelevant, a costume parade of the worst traits in Rock. Metal is no longer a staple of FM radio, nor are record labels pushing it like they used to. Watching MTV and reading popular music magazines, one might not even realize Heavy Metal still existed at all.”

Arthur Lyons – The Second Coming: Satanism in America

In the first half of the twentieth century, Jazz was considered particularly dangerous, with its imagined potential to unleash animal passions, especially among unsuspecting white folk. (…) In his book on the Rolling Stones, Dance With the Devil, Stanley Booth quotes the New Orleans Times-Picayune in 1918: <On certain natures sound loud and meaningless has an exciting, almost an intoxicating effect, like crude colors and strong perfumes, the sight of flesh or the sadic pleasure in blood.>”

More directly tied to deviltry than Jazz, and likewise imbued with the potency of its racial origins, was Blues. Black slaves often adopted Christianity after their enforced arrival in America, but melded it with native or Voudoun strains. Blues songs abound with references to devils, demons, and spirits. One of the most influential Blues singers of all time, Robert Johnson, is said to have sold his soul to the Devil at a crossroads in the Mississippi Delta, and the surviving recordings of his haunting songs give credence to the legend that Satan rewarded his pact with the ability to play. Johnson recorded only 29 tunes, some of the more famous being Crossroads Blues, Me and the Devil Blues, and Hellhound on My Trail. The leaden resignation of his music is a genuine reflection of his existence. Life for Johnson began on the plantations, wound through years of carousing and playing juke joints, ending abruptly in 1938 when at the age of 27 he was poisoned in a bar, probably as a result of an affair with the club owner’s wife.”

A DÉCADA QUE COMEÇOU 26 DIAS MAIS CEDO: “The Stones took their diabolical inspiration seriously, deliberately cultivating a Satanic image, from wearing Devil masks in promotional photos to conjuring up sinister album titles such as Their Satanic Majesties Request and Let it Bleed. The band’s lyrics ambivalently explored drug addiction, rape, murder, and predation. The infamous culmination of these flirtations revealed itself at the Altamont Speedway outdoor festival on December 6, 1969. Inadvertently captured on film in the live documentary Gimme Shelter, it was only moments into the song Sympathy for the Devil before all hell broke loose between the legion of Hell’s Angels <security guards> and members of the audience, ending with the fatal stabbing of Meredith Hunter, a gun-wielding black man in the crowd. The infernal, violent chaos of the event at Altamont made it abundantly clear the peace and love of the ‘60s wouldn’t survive the transition to a new decade.” 7, o mais belo número.

Page’s interest in Crowley developed to a far more serious level than the Satanic dabbling of the Stones; his collection of original Crowley books and manuscripts is among the best in the world. Page held a financial share in the Equinox occult bookshop (named after the hefty journal of <magick> Crowley edited and published between 1909–14) in London and at one point even purchased Crowley’s former Scottish Loch Ness estate, Boleskine. The property continued to perpetuate its sinister reputation under new ownership, as caretakers were confined to mental asylums, or worse, committed suicide during their tenures there.” “If there is any early Rock band bearing exemplifying the basic themes that would later preoccupy many of the Black Metal bands in the ‘90s, it is Led Zeppelin.”

I read a lot of Dennis Wheatley’s books, stuff about astral planes. I’d been having loads of these experiences since I was a child and finally I was reading stuff that was explaining them. It lead me into reading about the whole thing —black magic, white magic, every sort of magic. I found out Satanism was around before any Christian or Jewish religion. It’s an incredibly interesting subject. I sort of got more into the black side of it and was putting upside-down crosses on my wall and pictures of Satan all over. I painted my apartment black. I was getting really involved in it and all these horrible things started happening to me. You come to a point where you cross over and totally follow it and totally forget about Jesus and God.” GZR, Seconds Magazine, #39, 1996, pg. 64.

Groups further from the spotlight than Black Sabbath—such as Black Widow and Coven—could afford to be even more obsessive in their imagery. The English sextet Black Widow released three diaphanous Hard Rock albums between 1970–72, and later appear as a footnote in books that cover the history of occultism in pop culture. The chanting refrain of their song Come to the Sabbat evokes images of their concerts which featured a mock ritual sacrifice as part of the show. Beyond sketchy tales of such events, and the few recordings and photos they’ve left behind, Black Widow remains shrouded in mystery.

Coven are just as obscure, but deserve greater attention for their overtly diabolic album Witchcraft: Destroys Minds and Reaps Souls. Presented in a stunning gatefold sleeve with the possessed visages of the three band members on the front, the cover hints at a true Black Mass, showing a photo with a nude girl as the living altar. The packaging undoubtedly caused consternation for the promotional department of Mercury Records, the major label who released it, and the album quickly faded into obscurity. Today it fetches large sums from collectors, clearly due more to its bizarre impression than for any other reason. The songs themselves are standard end-of-the-‘60s Rock, not far removed from Jefferson Airplane; the infusion of unabashed Satanism throughout the album’s lyrics and artwork makes up for its lack of strong musical impact. In addition to the normal tracks, the album closes with a thirteen minute Satanic Mass.”

To the best of our knowledge, this is the first Black Mass to be recorded, either in written words or in audio. It is as authentic as hundreds of hours of research in every known source can make it. We do not recommend its use by anyone who has not thoroughly studied Black Magic and is aware of the risks and dangers involved.” Coven, Witchcraft, Mercury Records, SR 61239.

Coven included the attractive female lead singer Jinx as well as a man by the name of Oz Osbourne, who bore no relation to the British vocalist Ozzy. In an additional coincidental twist, the first track on the Coven album is titled Black Sabbath.”

Do what thou wilt shall be the whole of the law”

Stories persisted for a time of a planned Satanic Woodstock in the early ‘70s where Coven was to play as a prelude to an address by Anton LaVey, High Priest of the Church of Satan.”

King Diamond, the singer and driving force behind Mercyful Fate, one of the most important openly Satanic Metal bands of the ‘80s, acknowledges he received dramatic influences from a Black Sabbath concert he attended as a kid in his native Denmark in 1971. He also tells of finding inspiration from Coven’s lead vocalist Jinx: An amazing singer, her voice, her range… not that I stand up for the viewpoints on their Witchcraft record, which was like good old Christian Satanism. But they had something about them that I liked…

Anton Szandor LaVey made headlines when he founded the first official Church of Satan on the dark evening of Walpurgisnacht, April 30, 1966. The fundamentals of the Church were based not on shallow blasphemy, but opposition to herd mentality and dedication to a Nietzschean ethic of the antiegalitarian development of man as a veritable god on earth, freed from the chains of Christian morality.”

We played to skinheads and punks and hairies—everybody. Where some guy with long hair couldn’t come into a Punk gig, all of the sudden it was really cool to go to a Venom gig for anybody. That’s why the audience grew really quick and became very strong; they were always religiously behind Venom and they’ve always stayed the same.” Abaddon

I never thought we’d be able to enter a studio again after that because we were really dirty sounding. But it turned out that 85-90% of all the fan mail that came to the record company from that record (the compilation was titled Scandinavian Metal Attack) was about our songs. So the guy from the record company called me up and said, <Hey, you really need to put your band together again and write some songs, because you have a full-length album to record this summer>. (…) Everybody seems to think that I’m a megalomaniac with a big head or something, but it wasn’t really my fault —I should have been born in some place like San Francisco or London where I would have had a real easy time putting this band together.” Quorthon

Much of the explanation for this sound was simply the circumstances of recording an entire album in two-and-a-half days on only a few hundred dollars. The end result was more extreme than anything else being done in 1984 (save maybe for some of the more violent English Industrial <power electronics> bands like Whitehouse, Ramleh, and Sutcliffe Jugend) and made a huge impact on the underground Metal scene.”

Aplicável ao “projeto ATS”: “I’m not one inch deeper into it than I was at that time, but your mind was younger and more innocent and you tend to put more reality toward horror stories than there is really. Of course there was a huge interest and fascination, just because you are at the same time trying to rebel against the adult world, you want to show everybody that I’d rather turn to Satan than to Christ, by wearing all these crosses upside down and so forth. Initially the lyrics were not trying to put some message across or anything, they were just like horror stories and very innocent.”

Like any style hyped incessantly by the music industry, Thrash Metal’s days were ultimately numbered. The genre became too big for its own good and major labels scrambled to sign Thrash bands, who promptly cleaned up their sound or lost their original focus in self-indulgent demonstrations of technical ability.”

The whole Norwegian scene is based on Euronymous and his testimony from this shop. He convinced them what was right and what was wrong.”

Norway’s official religion is Protestantism, organized through a Norwegian Church under the State. This has deep historical roots and a membership encompassing approximately 88% of Norway’s population. However, only about 2-3% of the population are involved enough to attend regular church services. A saying goes that most Norwegians will visit church on three occasions in their lives—and on two of them, they will be carried in.”

An example of the conservative Christian influence in Norway was the banning of Monty Python’s classic comedy The Life of Brian as blasphemous. The amicable rivalry and fun-making between Norwegians and Swedes led to the movie being advertised in Sweden as <a film so funny it’s banned in Norway>.” “While America has figures like Edgar Allan Poe as a part of the literary heritage, and slasher movies are screened on National TV, Norway’s otherwise highly prolific movie industry has produced but one horror film in its 70-year history. Horror films from abroad are routinely heavily censored, if not banned outright. This taboo against violence and horror permeates every part of Norwegian media. In one case, Norwegian National Broadcasting stopped a transmission of the popular children’s TV series Colargol the Singing Bear on the grounds that the particular episode featured a gun.”

When denied something, one tends to gorge on it when access is finally gained. Black Metal adherents tend to be those in their late teens to early twenties who have recently gained a relative degree of freedom and independence from their parents and other moral authorities.” Aqui, ao contrário, o pré-adolescente se rebela e o adultinho adere ao sertanejo e forró, arrependido e tosado, quando não rebola no axé.

One strange aspect of the Black Metal mentality of the earlier days was the insistence on suffering. Unlike other belief systems, where damnation is usually reserved for one’s enemies, the Black Metalers thought that they, too, deserved eternal torment. They were also eager to begin this suffering long before meeting their master in hell.”

I think Norway, being a very wealthy country with a high standard of living, makes young kids very blasé. It’s not enough to just play pinball anymore. They need something strong, and Black Metal provides really strong impulses if you get into it.” Desse ponto de vista, era pro Aloísio virar o metaleirinho do mal e eu ser o normal dos 2, concentrado em objetivos “realistas”. Conquanto… o jovem frustrado acaba caindo de barriga no fascismo quando vislumbra o “poder-na-máquina” e sente que pode tocá-lo e participar dele… Bolsonaro é seu goregrind e nada lhe faltará!

A MAN’S DEAD BODY MUST ALWAYS HAVE BEEN A SOURCE OF INTEREST TO THOSE WHOSE COMPANION HE WAS WHILE HE LIVED…”

GEORGES BATAILLE, DEATH AND SENSUALITY

Do the names eerily reflect the karma of the personalities they denote? Or are the people destined to fulfill the fate foretold in titles they (ir)reverently adopt?”

Mayhem began in 1984, inspired by the likes of Black Metal pioneers Venom, and later Bathory and Hellhammer. Judging from an early issue of Metalion’s Slayer magazine, Aarseth initially adopted Destructor for his stage name as guitarist. The other members of the earliest incarnation of the band were bassist Necro Butcher, Manheim on drums, and lead vocalist Messiah. Not long after this Aarseth took on Euronymous as his own personal mantle—presumably it sounded less comical and more exotic than his previous pseudonym. His new name was a Greek title mentioned in occult reference books as corresponding to a <prince of death>.”

Mayhem played their first show in 1985. Their debut demo tape, Pure Fucking Armageddon, appeared a year later in a limited edition of 100 numbered copies. By 1987 someone called Maniac replaced the previous singer, whom Aarseth henceforth referred to as a <former session vocalist>, despite his appearance on the demo as well as the first proper release, that year’s Deathcrush mini-LP.” “Dead, the distinctive singer for the Stockholm cult act Morbid, joined Mayhem and moved to Oslo. A new drummer was found in Jan Axel <Hellhammer> Blomberg, one of the most talented musicians in the underground. Even with the mini-LP selling briskly, and Mayhem’s bestial reputation increasing, the band and its members remained dirt poor.”

Euronymous found him. We only had one key to the door and it was locked, and he had to go in the window. The only window that was open was in Dead’s room, so he climbed in there and found him with half of his head blown away. So he went out and drove to the nearest store to buy a camera to take some pictures of him, and then he called the police.” Hellhammer, the drummer

He just sat in his room and became more and more depressed, and there was a lot of fighting. One time Euronymous was playing some synth music that Dead hated, so he just took his pillow outside, to go sleep in the woods, and after awhile Euronymous went out with a shotgun to shoot some birds or something and Dead was upset because he couldn’t sleep out in the woods either because Euronymous was there too, making noises.”

It might sound a bit weird, but Mayhem was the band that everyone had heard of, but not many people had actually heard because they had released the demos which were quite limited and the mini-LP itself was very limited. But I was lucky because I knew Maniac, the vocalist, so he had some extra copies of the mini-album and he gave me one. I was very impressed because it was the most violent stuff I had ever heard, very brutal. I remember I thought that these people like Euronymous, Maniac, and Necro Butcher were very mysterious, because they didn’t do many interviews but they were always in magazines and I saw pictures of them. They had long black hair and you couldn’t see their faces, it was mysterious and atmospheric.” Bård Eithun

WHEN DID YOU FIRST MEET EURONYMOUS?

I met Euronymous and Dead at a gig in Oslo in 1989; it was an Anthrax concert and I met them outside”

Dead hated cats. I remember one night he was trying to sleep. A cat was outside his apartment, so he ran outside with a big knife to get the cat. The cat ran into a shed [galpão] and he went after it. Then you heard lots of noise, and screaming, and there was a hole in the shed where the cat came out again, and Dead ran after it with his big knife, screaming, hunting the cat, only dressed in his underwear. That was his idea of how to deal with a cat.”

I remember Aarseth told me, <Dead did it himself, but it is okay to let people believe that I might have done it because that will create more rumors about Mayhem>. (…) But he did use some stuff from the brain to make necklaces.”

There is a bootleg of the Sarpsborg show [1990] called Dawn of the Black Hearts: Live in Sarpsborg [vídeo?], released by someone in South America.” Metalion

That’s one thing about worshiping death—why worry when people die?”

I see Dead, people.

Where?

Oh, everywhere on the stage!

She told me that the first <plane> in the astral world has the color of blue. The earthly plane has the color of black. Then comes a gray that is very near the earthly one and is easy to come to. The next one further is blue, then it gets brighter and brighter till it “stops” at a white shining one that can’t be entered by mortals. If any mortal succeeds in entering it, that one is no longer mortal and can not come back to the earthly planes nor back to this earth.” Morto, o Místico

No one speaks ill of him, which is rare in such an insular and competitive realm as the extreme music underground. As many will testify, however, Aarseth appeared to feel little sorrow over the loss of Dead, instead glorifying his violent departure in order to cultivate a further mystique of catastrophe surrounding the band.”

This has nothing to do with black, these stupid people must fear black metal! But instead they love shitty bands like Deicide, Benediction, Napalm Death, Sepultura and all that shit!! We must take this scene to what it was in the past! Dead died for this cause and now I have declared war! I’m angry, but at the same time I have to admit that it was interesting to examine a human brain in rigor mortis. Death to false black metal or death metal!! Also to the trendy hardcore people… Aarrgghh!” Euronymous “manifesto”

Dead died wearing a white T-shirt with I ❤ Transylvania stenciled across it.”

if we ever come to, for example, India, the most evil thing that we can do there that I have in mind will be to sacrifice a holy cow on stage.” Euro.

HELL IS FULL OF MUSICAL AMATEURS;

MUSIC IS THE BRANDY OF THE DAMNED.”

GEORGE BERNARD SHAW, MAN AND SUPERMAN

I’d rather be selling Judas Priest than Napalm Death, but at least now we can be specialized within <death> metal and make a shop where all the trend people will know that they will find all the trend music.”

O que vocês fazer hoje, Cérebro Mole e Solto?

O que fazemos todas as noites, Blacky… Tentar conquistar o mundo para Satanás!

Aarseth also kept in touch with a growing number of extreme bands from outside Norway whom he likewise encouraged and made plans to release records by: Japan’s Sigh, Monumentum from Italy, and the bizarre Swedish entity Abruptum. Only a few of these schemes would ever be realized before Aarseth’s death, mostly because he was never cut out to be a businessman. He ran his label ineptly, and the capital to invest in new releases was simply not there.”

WHAT SORT OF IDEAS DID VARG HAVE WHEN YOU FIRST MET HIM?

He was a Devil worshiper and he was against Nazis, for reasons I don’t know, but that’s what he said. After the arrest in early ’93 then he got into this Nazi stuff.” Eithun

the shelves contained bands like Metallica and Godflesh.”

he had a specific taste for German electronic music like Kraftwerk.”

Politically, Aarseth was a long way from the nationalist and often pseudo-right-wing sentiments that are so prominent in Black Metal today. He proclaimed himself a communist, and for a while had been a member of the Rød Ungdom (Red Youth), the youth wing of the Arbeidernes Kommunist Parti (Marxist-Leninistene) —The Marxist/Leninist Communist Workers Party. Though rather few in number, the party had an appeal for intellectuals, including many prominent writers and politicians, and thus maintained a strong grip on Norwegian cultural life for many years. Rød Ungdom was aggressively anti-Soviet, and looked to China and Albania for inspiration. Despots like Pol Pot were also viewed as models of resistance against Western imperialism.”

Some of the treasured objects in his collection were heroic photographs of Nicolae Ceaucescu, the former dictator of Rumania and one of Aarseth’s idols. <Albania is the future>, he would muse to anyone willing to listen.”

Varg came to Oslo for a time and moved into the basement of the record shop, living in the barren space there along with Samoth, the guitarist of Emperor.”

On the second Burzum release, Aske (Ashes), bass playing would be done by Samoth, but with this sole exception Vikernes maintained his project entirely alone.”

Very few such corpse-painted portraits of Vikernes exist—the fashion seems to be something more particular to Aarseth. If it is true that Vikernes introduced the ideology of medieval-style Devil worship to Norwegian Black Metal, it must be also acknowledged that not a moment was lost before Aarseth began trumpeting it as his own.”

As many as 1,200 stave churches may have existed in the early Middle Ages; only 32 original examples survived in the second half of this century. That total has since been revised to 31.”

News of the destruction of one of Norway’s cultural landmarks made national headlines. It would not be long before other churches began to ignite in nighttime blazes. On August 1st of the same year the Revheim Church in southern Norway was torched; twenty days later the Holmenkollen Chapel in Oslo also erupted in flames. On September 1st the Ormøya Church caught fire, and on the 13th of that month Skjold Church likewise. In October the Hauketo Church burned with the others. After a short pause of a few months’ time, Åsane

Church in Bergen was consumed in flames, and the Sarpsborg Church was destroyed only two days later. In battling the blaze at Sarpsborg a member of the fire department was killed in the line of duty. Some would later consider this death the responsibility of the Black Circle.” “The authorities are reluctant to discuss the details of many of these incidents, fearing that undue attention may literally spark other firebugs or copycats to join the assault which Vikernes and his associates began in 1992.”

In eleventh-century England, arson was a crime punishable by death. Later, during the reign of King Henry II, a person convicted of arson would be exiled from the community after they had suffered the amputation of one hand and one foot.”

Lewis & Yarnell – Pathological Firesetting

True pyromaniacs tend to have a sexual impulse behind their action, according to psychologist Wilhelm Stekel, whose Peculiarities of Behavior covers the affliction in detail.”

It’s not a Satanic thing, it’s a national heathen thing. It’s not a rebellion against my parents or something, it’s serious. My mother totally agrees with it. She doesn’t mind if someone burns a church down. She hates the Church quite a lot. Also about the murder (of Østein Aarseth), she thinks that he deserved it, he asked for it. So she thinks it’s wrong to punish me for it. There’s no conflict between us at all about these things. The only thing she disliked was that I liked weapons and wanted to buy weapons, and suddenly she got a box of helmets at her place because I ordered them! Bulletproof vests, all this stuff…” Varg

TEENAGERS GONNA TEEN:

I said, I know who burned the churches, to the journalist, and I was making a lot of fun with him because we told him on the phone, we have a gun and if you try to bring anybody we’ll shoot you. Come meet me at midnight and all this, it was very theatrical. He was a Christian, and I fed him a lot of amusing info. Very amusing! Of course he twisted the words like usual. After he left we lay on the floor laughing.

We thought it would be some tiny interview in the paper and it was a big front page. The same day, an hour or so after I talked to him on the phone, the police came and arrested me. That was why I was arrested. I didn’t tell them anything. I talked to the police that time and I told them, I know who burned the churches —so what? They tried to say, We’ve seen you at the site, and all this, and I said, No you haven’t!

I’d already killed a man so it’s okay to be involved in this too, to burn down a church.” Eithun

VON [americana] were merely an obscure group who managed to release one raw-sounding demo tape, Satanic Blood, which became legendary within the Norwegian scene.” O primeiro full length (Satanic Blood, idem) dos caras é de 2012!

kerrang03
IMAGEM 1. Kerrang!, 27/03/1993

The Kerrang! exposé is also notable as it appears to be the first media story which labels the Black Metal scene as <neo-fascist>. Arnopp quotes members of Venom and mainstream UK Metal band Paradise Lost (who the article claims were haphazardly attacked by teenage Black Metalers while on tour in Norway), referring to the Satanic Terrorists as Hitlerian Nazis.”

I support all dictatorships—Stalin, Hitler, Ceaucescu… and I will become the dictator of Scandinavia myself.” V.V. Mau-Mau

I didn’t care much about the value of human life. Nothing was too extreme. That there were burned churches, and people were killed, I didn’t react at all. I just thought, Excellent! I never thought, Oh, this is getting out of hand, and I still don’t. Burning churches is okay; I don’t care that much anymore because I think that point was proven. Burning churches isn’t the way to get Christianity out of Norway. More sophisticated ways should be used if you really want to get rid of it.” Ihsahn (Emperor)

I told them, why not burn up a mosque, the foreign churches from the Hindu and Islamic jerks—why not take those out instead of setting fires to some very old Norwegian artworks? They could have taken mosques instead, with plenty of people in them” Hellhammer o Batera

The epidemic mostly afflicted poor black churches in the South (States), and public outrage against a presumed conspiracy of racist terrorism resulted in the President’s formation of a National Church Arson Task Force in June, 1996. The Task Force has since concluded that no nationwide conspiracy exists, and suspects arrested in relation to the the fires have been blacks and Hispanics as well as whites. The motives in specific incidents have ranged widely, from revenge to vandalism to racial hatred.”

I understood that he was a homosexual very quickly. He was asking if I had a light, but he was already smoking. It was obvious that he wanted to have some contact. Then he asked me if we could leave this place and go up to the woods. So I agreed, because already then I had decided that I wanted to kill him, which was very weird because I’m not like this—I don’t go around and kill people. (…) He was walking behind me and I turned and stabbed him in the stomach. After that I don’t remember much, only that it was like looking at this whole incident through eyes outside of my body. It was as if I was looking at two people who were having a fight—and one had a knife, so it was easy to kill the other person. If something happens that is obscure, it’s easier for the mind to react if it acts like it is watching it from outside of yourself.” Eithun

The bizarre duo Abruptum (SUE), who allegedly recorded their music during bouts of self-inflicted torture, was praised by Aarseth as <the audial essence of Pure Black Evil>. He released their debut album Obscuritatem Advoco Amplectère Me on Deathlike Silence in 1992. Østein had also managed, with financial assistance from Varg Vikernes, to release the first Burzum CD on DSP. The second Burzum effort, Aske, was released in early 1993, some months after the burning of the Fantoft Stave Church. It was around this time, in the first months of the year, that bad blood arose between Vikernes and Aarseth. Their disagreement appears to come at the same period when Øystein was also arguing with members of the Swedish scene, causing a general animosity to surface between Black Metalers in the two neighboring countries.” “There was a certain degree of cooperation between the two groups, but the recent frictions had been strong enough that when Øystein Aarseth was found slaughtered in the stairwell of his apartment building on August 10, 1993, the initial suspicion of many was directed at the Swedes.”

People who never knew what Black Metal was, or Death Metal, or Metal at all, were attracted to this because they thought it was cool. People who never knew Grishnackh and never knew Euronymous. Oh yeah, Black Metal—that’s the new thing. There were so many new bands starting at this time in ’93 who were influenced by the writing in the newspapers.” Metalion

Aarseth had been forced to close the Helvete store a few months earlier, due to overwhelming attention from the media and police after the initial Black Metal church fire revelations. His parents were upset about all the negative publicity and, since they had helped him finance the shop, they successfully leaned on him to shut it down. Vikernes sarcastically points out how Aarseth’s inconsistent nature often resulted in deference to his parents’ wishes instead of adhering to the black and <evil> image he supposedly embodied: <Øystein once came to one of the newspapers wearing a white sweater, and later apologized to the scene, in case he had insulted anybody! It was all because of his parents. He was 26 years old!>

Øystein owed Varg a significant sum of royalty payments from the Burzum releases on Deathlike Silence, although given the poorly-run nature of the record label, this was hardly unusual or unexpected. Vikernes denies there was any monetary motive behind his actions. Others claim the attack came about as a result of a power struggle for dominance of the Black Metal scene, although astute insiders like Metalion are skeptical: That’s stupid reasoning, because you can’t expect to kill someone and have everyone think of you as the king and forget about him. That’s very, very primitive. It’s something more than that, I think.“Also Grishnackh’s mother paid for the studio recording of the first album, and Euronymous owed her money which she was supposed to get back.”

When he was sitting in his shop drinking Coca-Cola and eating Kebab from the Paki shop next door, it was all our money he bought everything with. It was dishonest pay. He was a parasite. Also he was half Lappish, a Sami, so that was a bonus. Bastard!” V.

They told the police they heard a woman screaming! I was laughing when I read about it. He ran away, pressing the doorbells and calling Help!

Bam! he was dead. Through his skull. I actually had to knock the knife out. It was stuck in his skull and I had to pry it out, he was hanging on it—and then he fell down the stairs. I hit him directly into his skull and his eyes went boing! And he was dead.”

NONE OF THE NEIGHBORS OPENED THEIR DOORS?

They didn’t dare. They thought it was some drunken fight. It’s the worst neighborhood in Oslo—60% colored people.”

When three people are going to tell the same story to the police, in interrogations lasting seven hours, it will go to hell.” Snorre Ruch, o Cúmplice

Varg was saying that what Bård had done was uncool, but inside the scene Bård’s actions commanded respect.”

The truth of the matter is that Snorre had shortly before joined Mayhem as a second guitar player. It is difficult to believe that he could have cared less about killing the founder of the band he was in—doubly difficult given Mayhem’s position as such a legendary group in the underground. In hearing his and Vikernes’s versions of the story, both are flawed. With his history of mental problems, one far-fetched explanation may be that Snorre was too daft to comprehend what he was actually participating in.”

The only foolish thing I did and the only thing I regret, is not killing (Snorre) as well. If I’d killed him as well I would not have gotten any more punishment if I was caught, and secondly, I wouldn’t have been caught. That’s what I regret.”

What is striking about members of the Scandinavian Black Metal circles in general is how little they cared about the lives or deaths of one another. When Dead killed himself, it became merely an opportunity for Aarseth to hype Mayhem to a new level. When he himself died violently two years later, his own bandmates speak of the killing with a tone of indifference more suited to a court stenographer.”

With the exception of Darkthrone, the major Norwegian Black Metal bands were now in hiatus, their key members facing prison sentences for arson, grave desecration, and murder. The legal proceedings that would follow disrupted the entire scene and pitted different factions against one another. People felt forced to choose sides: pro-Vikernes or pro-Euronymous. At this point a cult developed around the memory of Euronymous, hailed as <the King> or <Godfather of Black Metal>. As many have commented in the preceding interviews, much of this was hyperbole, emanating from a second generation of musicians trying to gain credibility by riding on the back of the legend of Aarseth’s Black Metal legacy.”

He simply refused to cooperate with the authorities, and maintained he was innocent until proven guilty. He followed the advice of his lawyer and never testified in court. The same cannot be said of the other offenders, most of whom confessed in detail once they were pressured by the police. On the one hand, this is understandable given their young age, relative naivety, and fear of worse punishments if they refused to admit their wrongdoing.”

ERROS E PUERILIDADES DA POLÍCIA NORUEGUESA: “Especially difficult to take seriously is the alleged calendar of <Satanic holy days> reprinted in the report, with many of the dates involving the sexual molestation of minors—something that is strongly condemned by all established Satanic organizations. And while it might be argued that fringe religious phenomena like Satanism are often so bewildering that it’s hard to accurately assess their practices, even complete novices in the study of New Religious Movements should begin to suspect something is wrong when they see references to dates that don’t exist, such as April 31. Unless, of course, Satanists are so evil that they follow their own calendar.” ZAGALLO (OLLAGAZ) AMOU.

Kirkebranner og satanistisk motiverte skadeverk also refers to stories that never really reached the media when the Satanic furor was at its height.”

But despite his smart-ass remarks and mental capabilities, Vikernes was no match for the seasoned investigators of the Kripos [FBI norueguês]. He sensed that the police net was tightening around him and that he was no longer in control of the situation, especially as the Oslo police dispatched its Church Fire Group to Bergen in 1993 to follow the goose steps of the Count and his subjects around Bergen.”

Lendas a respeito de Vikinho: “Vikernes knocked on the door of the police investigation’s impromptu headquarters in Room 318 of the Hotel Norge in Bergen, and seems to have virtually forced his way into the suite.”

A M O R A M O R A M O R A M O R

A M O R A M O R A M O R A M O R

A M O R A M O R A M O R A M O R

A M O R A M O R A M O R A M O R

The word Varg has a great meaning for me. I could speak about this matter for an hour.”

Grishnackh is an evil character on the side of Sauron.”

That’s typical trial bullshit. Like my psychiatrists who examined me, one of them was a Jew and a Freemason! The other was a communist. My lawyer was a homosexual. The other lawyer was a Freemason. The one single Christian faith healer in Norway was in the jury! Can you imagine? In other words, a person who says, I can look through you and with the power of Jesus pull out the evil spirits who make you sick!

There is one person who has always stood by Varg’s side and spoken out rigorously in his defense: his mother Lene Bore. Not only has she attempted to improve the public perception of her son, she also visits him frequently, helps him deal with correspondence, and assists in business matters relating to Burzum.

A number of Burzum albums have been released since his imprisonment and all have sold admirably well on the worldwide market. Royalties for the record sales are received by Lene Bore, a fact that allegedly allowed for the development of serious trouble in the future. Lene Bore also helped provide the money for recording and releasing the early Burzum releases on Aarseth’s Deathlike Silence label, and as a result she had occasion to meet a number of Varg’s friends in the Black Metal scene. Her comments are interesting, for she has dealt with an amazing amount of unrest as a result of her son’s actions over the years, and some of her impressions of Varg’s life are quite different from his own.”

YOUR FAMILY SPENT A YEAR IN IRAQ. WHAT WAS THIS LIKE FOR VARG?

I think it might be here that Varg’s dislike toward other peoples started. He experienced a very differential treatment. The other children in his class would get slapped by their teachers; he would not be. For example when they were going to the doctor, even when there were other children waiting in line, Varg would be placed first. He reacted very strongly to this. He could not understand why we should go first when there were so many before us. He had a very strongly developed sense of justice. This created a lot of problems, because when he saw students being treated unfairly, he would intervene, and try to sort things out.”

DID VARG’S RACISM INTENSIFY AT A CERTAIN POINT?

If he had racist tendencies to begin with, I am sure that they came to the surface when he lived in Oslo.”

LONG-HAIRED SKINHEADS: “It’s difficult to say. When I was three years old we moved to a road named Odinsvei, Odin’s Walk, and we were playing with the neighbor. He had German toy soldiers, but he always wanted to have the American soldiers, because they were the big heroes in his view. So I ended up with the German soldiers, as he was five years older than I. And I actually came to like them. It developed from soldiers to running around with SS helmets and German hand grenades and a Schmeizer with a swastika on it. In time we tried to figure it out —what the hell does this mean? That’s how it really began, and it developed. I was a skinhead when I was 15 or 16. Nobody knows that. People say that suddenly I became a Nazi, but I was actually a skinhead back then. It was in waves—in ‘91 I was into occultism, in ‘92 Satanism, in ‘93 mythology and so on, in waves.

WHAT ABOUT YOUR FATHER?

I have very little contact with him. They’re divorced. He left about ten years ago. There wasn’t any big impact. I was glad to be rid of him; he was just making a lot of trouble for me, always bugging me. He was in the Navy. We were raised very orderly; it was a good experience. I had a swastika flag at home and he was hysterical about it. He’s a hypocrite.¹ He was pissed about all the colored people he saw in town, but then he’s worried about me being a Nazi. He’s very materialistic, as is my mother really, but that’s the only negative thing I can say about her.² The positive thing is that she’s very efficient, and in business I have to have someone take care of my money and I can trust her fully. I know she will do things in the best way.”

¹ Yeah, that prettily sums it up for all of us – satanists, pagans, nihilistics, depressed, guilty or innocent boys… with bad dads! Apenas troca “Nazi” por “PT” e “pessoas de cor” por “corrupção” (que ele pratica) e aí tens.

² This is war! UHHH

WHAT WAS SCHOOL LIKE?

It was an Iraqi elementary school. The English school couldn’t take us because they were full. I went to a regular Iraqi school. I could use some basic English. I think it was my mother’s idea, because she didn’t want us to stay home, bored. We couldn’t go out too much because of the rabid dogs and all this, so she put us in school, just to keep us active.”

In Bergen it’s a more aristocratic society I was part of, because of my mother mainly. I had very little contact with colored people, really. In Bergen we are still blessed with having a majority of whites—unlike Oslo, which is the biggest sewer in Norway.”

When I was a skinhead there still weren’t any colored people, but there were these punks—that was more the reason I went over to the other side.” He-he

We liked the Germans, because they always had better weapons and they looked better, they had discipline. They were like Vikings. The volunteers from America were tall, blond guys, who looked much more like the ones they were attacking than some Dagos who were waving them good luck when they left home. It’s pretty absurd.”

Our big hope was to be invaded by Americans so we could shoot them. The hope of war was all we lived for. That was until I was 17, and then I met these guys in Old Funeral.”

WHAT INFLUENCED YOU TOWARD THAT?

I got interested in occultism through other friends. We played role-playing games, and some of these guys (all older than me) started to buy books on occultism, because they were interested in magic and spell casting. They showed me the books and then I bought similar things. But the music guys weren’t interested in that stuff at all, they only cared about food. [QUE PORRA É ESSA? HAHA]

WHAT WAS THE MUSIC LIKE?

Originally it was Thrash Metal, and then it became Death-Thrash or Techno-Thrash, and I lost interest. I liked the first Old Funeral demo. It had ridiculous lyrics, but I liked the demo and that was why I joined with them. They developed into this Swedish Death Metal trend; I didn’t like that so I dropped out. But I played with them for two years.” The fart(Varg) that should’ve been.

We were drawn to Sauron and his lot, and not the hobbits, those stupid little dwarves. I hate dwarves and elves. The elves are fair, but typically Jewish—arrogant, saying, We are the chosen ones. So I don’t like them. But you have Barad-dûr, the tower of Sauron, and you have Hlidhskjálf, the tower of Odin; you have Sauron’s all-seeing-eye, and then Odin’s one eye; the ring of power, and Odin’s ring Draupnir; the trolls are like typical berserkers, big huge guys who went berserk, and the Uruk-Hai are like the Ulfhedhnar, the wolfcoats. This wolf element is typically heathen. So I sympathize with Sauron. That’s partly why I became interested in occultism, because it was a so-called <dark> thing. I was drawn to Sauron, who was supposedly <dark and evil>, so I realized there had to be a connection.”

Just like democracy claims to be <light> and <good>, I reasoned that then we obviously have to be <dark> and <evil>.” J.R.R. se revira no túmulo.

SALADA DE MAIONESE ESTRAGADA NA CAIXA ENCEFÁLICA: “I never said I will become the dictator of Scandinavia myself. I did say that I support Stalin, Hitler, and Ceaucescu, and I even said that Rumania is my favorite country—an area full of Gypsies! But the point is that Rumania is the best example of communism, and when people can realize how ridiculously the whole thing works, they can see what it really is. (…) It may be a provocative way to say it, but if there wasn’t Stalin, Hitler would look even worse. Now at least we can say, look at Stalin—he’s worse. He killed 26 million.”

Well, there was a T-shirt that Øystein printed which said <Kill the Christians.> I think that’s ridiculous. What’s the logic in that? Why should we kill our own brothers? They’re just temporarily asleep, entranced. We have to say, <Hey, wake up!> That’s what we have to do, wake them up from the Jewish trance. We don’t have to kill them—that would be killing ourselves, because they are part of us.”

He was at first allowed a computer, which he used for correspondence and for the preliminary texts which would form his nationalist heathen codex. Some of the essays he composed were forwarded to correspondents and began to appear in underground publications around Europe. Most of these concerned his investigations into the esoterica of Nordic mythology and cosmology. At a certain point, after he had compiled a large portion of his book, the prison authorities decided to take away his computer; presumably they were worried he was somehow employing it for nefarious ends.” “By titling his treatise Vargsmål, Vikernes seeks to place himself in mythic lineage as a modern-day figure worthy of the ancient sagas.” “The official publication of Vargsmål would only come about years after it was written. With Varg’s front-page notoriety there were certain publishers interested in releasing the book, obviously figuring to make a quick buck on the sensationalism that could be generated, but it appears that most backed out when they had a chance to review the actual contents. In addition to mythological commentary, the book brims with volatile statements and racial, anti-Christian, nationalist rhetoric.”

I would like to find a woman to live with in peace and quiet, far away from the world’s problems, but I cannot. It is my duty to sacrifice myself and my personal wishes for the benefit of my tribe.” He-he

Varg Vikernes serves the role of a pariah and heretic to Norwegians, similar on a number of levels to that of Charles Manson in America. Both profess a radical ideology at odds with, and at times unintelligible to the average citizen. Both insist they have done nothing wrong. Both espouse a revolutionary attitude, imbued with strong racial overtones. Both have become media bogeymen in their respective countries, and both knowingly contribute to their own mythicization. Both also understand well the inherent archetypal power of symbols and names—especially those they adopt for themselves.”

With his increasing nationalism, Vikernes has discovered his predecessor in Vidkun Quisling, the Norwegian political leader who founded a collaborationist pro-German government in the midst of the Second World War. Quisling was tried and executed for treason shortly after the war’s end. As a result his name has entered international vernacular as a synonym for <traitor>. In Norway, that name is still anathema even today.” Quisling – That Inhabited Worlds Are To Be Found Outside of the Earth, and the Significance Thereof for Our View of Life, o manifesto deste idiota.

Norway’s conversion to Christianity, made possible by St. Olav’s death as a martyr at Stiklestad, was described by Jacobsen [dissidente do quislinguismo, ainda mais extremista] as the introduction of <something false and unnatural into our folk’s life>. It was therefore logical for him to condemn Quisling’s adoption of the St. Olav’s cross as the NS symbol, declaring that the party symbol itself was non-Nordic.”

He lamented not being able to legally register his own religious organization in Norway due to his criminal record. Toward this goal he has, however, formed the Norwegian Heathen Front, a loosely knit operation through which he will issue propaganda. The members of German Black Metal band Absurd, also currently behind bars, are involved with a branch of the organization in their country.” Além de ideólogos degenerados, péssimos músicos. Um absurdo, literalmente.

he plans to employ his philosophy on the nature of women as a basis for NHF strategy. His awareness of the woman’s role in revolutionary activities is not unlike that of Charles Manson before him, although Vikernes claims to have arrived at it from personal observation during his Black Metal period.”

A PSICOLOGIA INFANTO-JUVENIL DO FASCISMO: “The groundwork of the Black Metal scene is the will to be different from the masses.¹ That’s the main object. Also girls have a very important part in this, because they like mystical things and are attracted to people who are different, who have a mystique.² When a girl says <Look how cute he is> when she sees a picture of someone, her male friends will think <She likes him. If I look like him maybe she will like me as well.> They turn toward the person she admires.² The way to make Norway heathen is to go through the girls, because the males follow the girls.³” Varg

¹ Baudrillard diria: Coitado, ele ainda está preso às concepções socialistas-revolucionárias! As massas não são nada conceituável, ou são tudo, não há relação binária passível de ser feita entre massa e não-massa, não é simples assim. Não mais. Mas sendo a massa o advento inevitável do mundo moderno decadente, negar a massa como os neo-pagãos presumem, seria negar a vida, e não reafirmá-la, como pensam os Anti-Nazarenos.

² Gado demais. Boi ou vaca.

³ No Brasil atual isso seria mais condizente com tornar-se funkeiro. Mundial e macroscopicamente falando, talvez aderir ao k-pop.

Males aren’t extreme really. You find females are more to the left or more to the right than the males. Females are more communistic, more extremely Marxist-Leninist, or more extremely rightist than the males.”

In Oslo everybody fucks everybody in the scene. If one person gets a venereal disease, everyone does. The females I know in the Black Metal scene are not very intelligent, they are basically just whores. That’s a typical Oslo phenomenon.

The people I correspond with are not Black Metal girls at all. Some of them were, but they realized that I don’t like it and then they realized they didn’t really like it either. They were just doing it because they wanted to get in touch with certain people. The way to power is through the women. Hitler knew this as well. Women elected Hitler.”

O TRAPÉZIO DOS MÍMICOS: “Ironically, while Vikernes’s name is more or less synonymous with Black Metal, he takes great care to distance himself from that musical milieu. He even now claims the early Burzum releases—records regarded today as milestones of the genre—never were Black Metal music at all, instead classifying them as <standard, bad Heavy Metal>. He passionately distances himself from all forms of Rock and Roll, stressing that Rock’s roots in Afro-American culture make it alien to white people.”

Presently, Vikernes is no longer even permitted to listen to CDs. The only music he is currently allowed to experience must come via MTV—something which, in his case, might be considered a cruel and unusual form of punishment.”

Denied a musical outlet, Vikernes has focused his strong creative drive on writing. His output has encompassed political tracts, a book on mythology called Germansk Mytologi og Verdensanskuelse (Germanic Mythology and Worldview), and fiction, including a short novel. His fictional works can be compared to the infamous neo-Nazi novels Hunter and The Turner Diaries, in the sense that much of it functions as a dramatization of National Socialist rhetoric. Vikernes seems to be slightly more aware of his literary limitations than the late author of the aforementioned books, Dr. William Pierce (a former physics professor who became director of the American racialist political group the National Alliance), who makes his characters’ tender pillow-talk read like political sermonizing.”

In the early days of the Heathen Front, the organization’s mailing address was one and the same with Vikernes’s private P.O. box prison address. This would, of course, mean that any prospective members would have their letters read and, one presumes, registered by the authorities. And this actually strengthens the Heathen Front’s assertion that Vikernes is not the leader: it would be very hard for him to do an effective job of it. Whatever his official role may be, Vikernes certainly has left a strong mark on the Heathen Front. Its program was written by Vikernes, and this is a mix of rather orthodox National Socialist doctrine and neo-Heathen, anti-Christian ideas, along with some emphasis on environmentalism.” “The Allgermanische Heidnische Front [subdivisão do já irrelevante Heathen Front] and its subdivisions in Norway, Sweden, Belgium, Denmark, Holland, Iceland, Germany, and Sweden (with <affiliated subdivisions> in Russia, Finland, and the USA) are probably little more than Internet tigers. While the AHF’s policy of concentrating on producing web pages might be a bid to attract [“““]intellectually[”””] inclined youthful recruits rather than the streetfighters that make up much of the younger rank-and-file of other European National Socialist organizations, the focus on the Internet may have a more pragmatic motive.

One of the wonders of the Internet is that, in theory, a single person with a little know-how, a modem, and an acceptable computer can create web pages just as impressive as those of any huge organization. And, still theoretically, a loose group of e-mail correspondents across Europe can take on the appearance of a tremendously organized international network. In addition to its functioning as a political equalizer, the added attraction to all this is that Net know-how is mainly the field of younger people—exactly the sort the AHF has aboard. But while Vikernes’s network might theoretically consist of one teenage computer nerd per country, each still living in his parents’ house, such an estimation would probably be way off the mark. So how real is the AHF?” “whether the AHF will be noticed in the future probably depends most on if it can succeed at recruiting young Burzum fans (its most realistic recruitment base) into political activism—or at providing a conduit for them into more militant groups and scenes.” Cenário pouco auspicioso para a “organização”.

He also explains their recruiting strategy: <We don’t approach the great masses, but rather let individuals from the masses approach us instead. This is probably why so many see us as an ‘Internet project’ or as inactive and passive.> braço sueco

National-Socialists in Sweden are as much a minority as they are everywhere else, and young activists are likely to rub brown-shirted¹ shoulders with members of other groups in informal settings like concerts, meetings, and parties.”

¹ Essencialmente, <Juventude Hitlerista>, qualquer grupo paramilitar subversivo de extrema-direita – análogo aos camisas-negras para a Alemanha.

while the Third Reich was in some ways a modern welfare state (at least for those whose blood and ideology were in line with NS doctrines), Vikernes asserts that military veterans who are disabled in future wars for the greatness of Germania should commit suicide rather than be a burden on the resources of the Nation.”

SS

solo sangue Scandinavia

The journal Kulturorgan Skadinaujo appears to be the work of young students, some of whom have adopted an academic writing style. Though the fanzine-style musings that occasionally appear in its pages detract from its academic tone, the main reason why Skadinaujo seems doomed to fail as a scholarly venture is the fact that it reviews books like the pseudo-archaeology of Graham Hancock side by side with properly executed scholarly works. The end result is hardly something to show your professor.”

He has taken to interpreting the Old Norse texts as proof of—or at the very least circumstantial evidence for—contact between humans and extra-terrestrials in ancient times.”

And in the same way that Hymir sent all his trolls out to wreak revenge on Thor for having gone fishing and catching the Midgard Serpent in one of the most well-known of the Norse myths, a war was waged on Atlantis. After the conflict, the island sank into the ocean and the Aryans sought refuge on other continents, where they eventually mixed with lower races of men. The Atlantean Aryans only survived as a pure race in Northern Europe, where they can produce children like Vikernes: blonde, blue-eyed, and long-skulled.”

LIGANDO LÉ COM CRÉ E NO KIBE DANDO RÉ: “Thor had red hair, but all our ancestors had blonde hair prior to the degeneration of the Viking Age. [?] But the planet Jupiter is the colour of rust! [?] And Thor protected men against uncontrollable natural forces, just like Jupiter’s gravitation protects earth. […] Why does Thor have a belt of strength? Does not Jupiter have a ring around it? [??]”

The roots of Nazi preoccupation with flying saucers are complex, and date back to before the Second World War. Clear indications exist that the Third Reich had a program for developing flying saucers as part of its war machine.” Legal, salvou meu dia.

After the war, the UFO myth entered the subconscious of the West, with the rumored UFO crash at Roswell and alien abduction stories becoming standard features in modern folklore. And while many of the contemporary myths dramatized by the tremendously successful TV series The X-Files might seem fantastic, the strangest ideas are the ones that people actually seem to believe in.”

While the circumstances that led to the creation of the book [ufologia babaca envolvendo a tribo Africana dos Dogon!] are convoluted (as any arguments dealing with ancient astronauts invariably are), at the root of the mystery lie the writings of the French anthropologists Marcel Griaule and Germaine Dieterlen, who did research on the Dogon in the 1930s. Twenty years later, the Frenchmen published their story of how the Dogon had revealed this astronomical knowledge about Sirius (Sigu Tolo in the native language) to them.

But other anthropologists who later visited the area have been unable to find the same astronomical knowledge circulating among the Dogon, and the most realistic hypotheses seem to be that the one Dogon informant who divulged the information to the two Frenchmen either learned his Sirius lore from earlier visitors (of the human variety), or indeed from Marcel Griaule himself, a keen astronomy fan who took along star-charts to help extract information. Either wittingly or unconsciously, the Dogon native might have had this knowledge transferred to him from his interviewer—or else Griaule overemphasized what was passed to him through his interpreter, thus finding exactly what he wanted to. Furthermore, many of the Dogon’s astronomical <facts> are just plain wrong.

In the world of the pop esotericism, however, the fact that claims are exposed as lackluster or even fraudulent often has little bearing on their continuing distribution via the myriad magazines and bookshops that cater to alternative ideas.”

Sitchin was first attracted to this peculiar field of research because he was puzzled by the Nefilim, who are mentioned in Genesis, 6. There, the Nefilim (also spelled Nephilim) are described as the sons of the gods who married the daughters of Man in the days before the great flood, the Deluge. The word Nefilim is often translated as <giants>, meaning that the Old Testament asserts there were days when giants walked upon the earth. If this sounds a bit like the occult narrative of Varg Vikernes, it only becomes more so when Sitchin claims that the correct and literal meaning of the word Nefilim is <those who have come down to earth from the heavens>. [eram filósofos: viviam com a cabeça nas nuvens!] Fallen angels procured the daughters of men as mates, which Sitchin takes to mean that the space-farers mixed their superior DNA with that of primitive mankind, leading to a quantum leap in human genetic and cultural evolution which spawned the blossoming Mesopotamian cultures.” Tão crível seria a hipótese de que caiu um meteorito radioativo na Terra e fez com que gorilas e chimpanzés entrassem em acelerada mutação – com mortalidade de virtuais 100%… Os escassos sobreviventes desta hecatombe ecológica, entretanto, viriam a ser Prometeus… Cof, cof.

IS THERE A SPECIAL CONNECTION BETWEEN NATIONAL-SOCIALISM AND UFOs?

DR. MICHAEL ROTHSTEIN [cético que estuda gente que acredita em OVNIs]: In certain ways, yes. Nazism has always had some kind of relation to the occult and certain Nazi groups (often outside the actual Nazi parties) have made a special point out of it. However, this really is fringe stuff [indie, marginal]. What is more interesting is the fact that UFOs on many occasions have been interpreted as devices developed by Nazi scientists, as German secret weapons. This is, I believe, more interesting than notions of clones of Hitler hiding under Antarctica in huge UFO-related facilities. Nazis are in many ways the demons of the modern world, at least most people find them disgusting and dangerous, and any association between the bewildering UFOs and these groups points to a certain understanding of UFOs as sinister or demonic.”

As long as people wish to believe, they will readily accept authorities that support their beliefs. The phenomenon is not that Von Däniken is able to persuade people of anything. The phenomenon is that people want Von Däniken to provide material for them to believe in. Furthermore, this is not in itself a <far-out> belief. Any belief in things out of the ordinary could be considered <far out>: God, for instance, or the Resurrection of Christ, flying yogis, whatever.”

As hinted by Rothstein, one of the most unusual marriages of UFO lore and National Socialism is the idea that the Third Reich is alive and well under the Antarctic ice-cap, keeping watch over the world by means of its flying saucers and waiting for the day to return and free the world from Zionist bankers, communists, and other enemies of the Aryan race.” “The most eloquent spiritual representative of such ideas in the present day is the Chilean dignitary and author Miguel Serrano [1917-2009], a former diplomat (to India, Yugoslavia and Austria) who counted both Carl Jung and Herman Hesse [curiosamente, anti-nazi notório – autor da novela Steppenwolf] among his circle of friends.” Serrano – C.G. Jung and Hermann Hesse: A Record of Two Friendships (1965) (original: El círculo hermético, de Hesse a Jung)

Mattias Gardell is a lecturer in religious anthropology at the University of Stockholm. He has studied radical religions extensively, and is the author of a book on the Nation of Islam, Countdown to Armageddon. His latest research project has involved a year of travelling around North America and interviewing figures involved in the neo-Nazi and Ásatru movements, two milieus that sometimes overlap—and especially so in the case of Varg Vikernes.”

Such ideas of blood as a carrier of hereditary information are common in Nazi circles, and can in some way be compared to Carl Jung’s theory of the collective unconscious.”

Their law of the strong scorns pity as a four-letter word; they await the day it is banished from the dictionaries. They despise doctrines of humility. Christ’s Sermon on the Mount is even worse poison to their ears. War is their ideal, and they romanticize the grim glory of older epochs where it was a fact of life. Where is the source for such a river of animosity and primal urges? Did torrents of hatred arise simply from the amplification of a phonograph needle vibrating through the spiralled grooves of a Venom album? Is Black Metal music possessed of the inherent power to impregnate destructive messages into the minds of the impressionable, laying a fertile seed destined to sprout into deed? To an enlightened mind it would seem unlikely.”

After reading a number of similar texts by Varg Vikernes, the Austrian artist and occult researcher named Kadmon was inspired to investigate in detail what enigmatic connections might exist between the phenomena of modern Black Metal and the ancient myths of the Oskorei. The Oskorei is the Norse name for the legion of dead souls who are witnessed flying, en masse, across the night sky on certain occasions. They are rumored to sometimes swoop down from the dark heavens and whisk a living person away with them. This army of the dead is often led by Odin or another of the heathen deities. Throughout the centuries, there are many reports from people who claim to have experienced the terrifying phenomenon—they attest to having seen and heard the Oskorei with their own eyes and ears. The tales of the Oskorei also refer to real-life folk customs which were still prevalent a few hundred years ago in rural parts of Northern Europe.” “noise, corpse-paint, ghoulish appearances, the adoption of pseudonyms, high-pitched singing, and even arson.”

In German folklore, stories of the Oskorei correspond directly to the Wild Hunt, also termed Wotan’s Host. Wotan (alternately spelled Wodan) is the continental German title for Odin, Varg Vikernes’s <patron deity>”

Gyldendal’s Store Norske Leksikon (The Large Norse Encyclopedia)

O SATÃ DE VIKERNES É O JUDEU ERRANTE: “There were often fights and killings at those places Oskoreia stopped. They could drink the yule ale and eat the food, but also carry people away if they were out in the dark. One could protect against the ride by gesturing in the shape of a cross or by throwing oneself to the ground with the arms stretched out like a cross. The best way was to place a cross above all the doors. Steel above the stalls was effective as well. The Oskorei was probably regarded as a riding company of dead people, perhaps those who deserved neither Heaven nor Hell.”

the cover of Bathory’s first <Viking> album, Blood Fire Death (1988), features a haunting depiction of the Oskorei in action. The remarkable development is how so many of the minute details of the legends would inadvertently or coincidentally resurface in unique traits of the Norwegian Black Metal adherents. This behavior had already become prominent years before the scene acquired its current attraction toward Nordic mythological themes, and before Vikernes ever began writing commentaries on such topics.”

Many of the <Satanic> bands even evince a strong fascination for native folklore and tradition, seeing them as vital allegories which represent primal energies within man. This type of viewpoint is expressed well by Erik Lancelot of the band Ulver:

<The theme of Ulver has always been the exploration of the dark sides of Norwegian folklore, which is strongly tied to the close relationship our ancestors

had to the forests, mountains, and sea. The dark side of our folklore therefore has a different outlook from the traditional Satanism using cosmic symbolism from Hebraic mythology, but the essence remains the same: the ‘demons’ represent the violent, ruthless forces feared and disclaimed by ordinary men, but without whom the world would lose the impetus which is the fundamental basis of evolution.>”

atavistic ativism

folclorenoruegues
IMAGEM 2. Extraído dum livro de lendas

Ler Two Essays on Analytical Psychology do Jung: “There are present in every individual, besides his personal memories, the great <primordial> images, as Jacob Burckhardt once aptly called them, the inherited powers of human imagination as it was from time immemorial. The fact of this inheritance explains the truly amazing phenomena that certain motifs from myths and legends repeat themselves […] It also explains why it is that our mental patients can reproduce exactly the same images and associations that are known to us from the old texts.”

Kadmon also points out a few strong contrasts between the rural folklore and Black Metal, which he sees as an urban phenomena. He is not entirely correct in this assertion, however, as many of the Norwegian Black Metal musicians do not come [from] cities such as Oslo, Bergen, or Trondheim, but live in small villages in the countryside. And Varg Vikernes, too, is proud to make the distinction that he is originally from a rural area some distance outside of Bergen, rather than the city itself. Further examples can be found with the members of Emperor, Enslaved, and a number of other bands.”

Besides Bathory, one other early Scandinavian Metal band had also extolled the religion and lifestyle of the Vikings in their music, a group from the ‘80s called Heavy Load. Possibly they also inspired some of the kids later involved in Black Metal, and indeed they have been mentioned with appreciation by some close to the scene, like Metalion.”

The group Immortal even went so far as to make a professional video clip with every band member shirtless in the midst of a freezing winter snowscape, furiously playing one of their songs. A video for the Burzum song Darkness goes much further, leaving out any human traces whatsoever—the entire 8:00 clip is based on images of runic stone carvings, over which shots flash of rushing storm clouds, sunsets, rocks, and woods. Co-directed by Vikernes from prison via written instructions, the result is impressively evocative despite the absence of any storyline or drama.”

POUCO IMANENTE VOCÊ, NÃO É, DISCÍPULO EX-QUERIDINHO DE FREUD? “According to Carl Jung, it is not always modern man who actively seeks to consciously revive a pre-Christian worldview, but rather he may become involuntarily possessed by the archetypes of the gods in question. In March, 1936, Jung published a remarkable essay in the Neue Schweizer Rundschau, which remains highly controversial to the present day. Originally written only a few years after the National-Socialists came to power in Germany, it is entitled Wotan.

Jung states in no uncertain terms his conviction that the Nazi movement is a result of <possession> by the god Wotan on a massive scale. He traces elements of the heathen revival back to various German writers, Nietzsche especially, who he feels were <seized> by Wotan and became transmitters for aspects of the god’s archetypal nature. He states, <It is curious, to say the least of it […] that an old god of storm and frenzy, the long quiescent Wotan, should awake, like an extinct volcano, to a new activity, in a country that had long been supposed to have outgrown the Middle Ages.>

Jung would some years later reveal his conviction [not proofs, like Moro] that both Nietzsche and he himself had experienced personal visits [Jung estuprado na infância?] in their dreams from the ghostly procession of the <Wild Hunt>, the German equivalent of the Oskorei.”

In Norway and Sweden there has also been growing general interest in the indigenous religion of their forefathers, to the point that at least one heathen group, Draupnir, has been recognized as a legitimate religious organization by the Norwegian government. Along with them, other Ásatrú organizations such as Bifrost also hold regular gatherings where they offer blot, or symbolic sacrifice, to the deities of old.

There is absolutely no specific connection between these Nordic religious practitioners and the Black Metal scene. In fact, public assumptions that such a link would exist have been a severe liability to these groups. Dispelling negative public impressions of their religion is made considerably more difficult with characters like Vikernes speaking so frequently of his own heathen beliefs to the press.”

VonStuck
IMAGEM 3. Franz von Stuck, A caçada selvagem

O TRÁGICO ATRASADOR DA REASCENSÃO MITOLÓGICA: “Vikernes’s extreme and bloody interpretation of indigenous Norse religion is just as problematic to the neo-heathen groups as was his flaming-stave-church and brimstone variety of Satanism a few years earlier to organizations like the Church of Satan. When contemporary figures sought to revive the old religion of Northern Europe, they had not intended to bring back uncontrollable barbarism and lawlessness with it.”

There is another obscure old fable of the Oskorei, where they fetch a dead man up from the ground, rather than their usual choice of someone among the living. It was collected by Kjetil A. Flatin in the book Tussar og trolldom (Goblins and Witchcraft) in 1930. If the folkloristic and heathen impulses of Norwegian Black Metal are in fact some untempered form of resurgent atavism, then this short tale is even more surprising in its ominously allegorical portents of events to come over 60 years later with Grishnackh, Euronymous, and the fiery deeds that swirled around them”

Originally bestowed with Kristian for his first name, Vikernes found this increasingly intolerable in his late teenage years. When he first introduced himself to the Black Metal scene it was still his forename. Sometime in 1991–92 he legally changed his name to Varg. His choice of a new title is curious in light of the actions he would later commit, and the legend that would surround him—although he claims to have adopted it mainly for its common meaning of <wolf>. If one understands the etymology and usage of the word varg in the various ancient Germanic cultures (and there is no evidence that Vikernes did at the time of his name change), his decision becomes downright ominous.

A fascinating dissertation exists entitled Wargus, Vargr—‘Criminal’ ‘Wolf’: A Linguistic and Legal Historical Investigation by Michael Jacoby, published in Uppsala, Sweden, but written in German. It is a highly detailed, heavily referenced exploration of the Germanic word Warg, or vargr in Norse.”

Qual é o lado mais podre do LobisOmen?

The designation was used in the oldest written laws of Northern Europe, often with a prefix to add a specific legal meaning, such as gorvargher (cattle thief) or morthvargr (killer).”

another ancient Germanic legal text, the Salic Law, which states: <If any one shall have dug up or despoiled an already buried corpse, let him be a varg.> Hehehe

LICANTROPIA ETIMOLOGIZADA E SOCIOLOGIZADA

Vargr is the same as u-argr, restless; argr being the same as the Anglo-Saxon earg. Vargr had its double signification in Norse. It signified a wolf, and also a godless man. […] The Anglo Saxons regarded him as an evil man: wearg, a scoundrel; Gothic vargs, a fiend. […] the ancient Norman laws said of the criminals condemned to outlawry for certain offenses, Wargus esto: be an outlaw! (be a varg!) […] among the Anglo Saxons an utlagh, or out-law, was said to have the head of a wolf. If then the term vargr was applied at one time to a wolf, at another to an outlaw who lived the life of a wild beast, away from the haunts of men—<he shall be driven away as a wolf, and chased so far as men chase wolves farthest,> was the legal form of sentence—it is certainly no matter of wonder that stories of outlaws should have become surrounded with mythical accounts of their transformation into wolves.” “As can be seen from the Baring-Gould quote above, the wolf connotation of the term later became associated with werewolves, and in certain sources the Devil himself is referred to as a werewolf. However, this negative outlook on wolves appears to surface after the onset of the Christian period of Europe; the pre-Christian heathens had a quite different perception. “A number of Black Metal bands display a fascination for the wolf. The most obvious example is Ulver, whose name itself means wolves in Norwegian.”

The wolf lives in the forest, symbol of the demonic world outside the control of human civilization, and serves thus as a link between the demonic and the cultural, chaos and order, light and dark, subconscious and conscious. Still I do not by this mean to say that the wolf represents the balance point between good and evil—rather he is the promoter of <evil> in a culture which has focused too much on the light side and disowned the animalistic. He symbolizes the forces which human civilization does not like to recognize, and is therefore looked upon with suspicion and awe.” E. Lancelot

In the older Viking times, wolves were totem animals for certain cults of warriors, the Berserkers. A specific group is mentioned in the sagas, the Ulfhethnar or <wolf-coats>, who donned the skin of wolves. Baring-Gould recounts the behavior of the Berserks who, wearing these special vestments, reached an altered state of consciousness:

<They acquired superhuman force […] No sword would wound them, no fire burn them, a club alone could destroy them, by breaking their bones, or crushing their skulls. Their eyes glared as though a flame burned in the sockets, they ground their teeth, and frothed at the mouth; they gnawed at their shield rims, and are said to have sometimes bitten them through, and as they rushed into conflict they yelped as dogs or howled as wolves.>”

Wolves are sacred to Odin, the <Allfather>, who is usually accompanied by his own two wolf-elementals, Geri and Freki. Many Germanic personal first names can be traced back to another root word for wolf, ulv or ulf, so this was clearly not an ignoble or derisive connotation, except in its varg form.” “In the old sagas Odin is bestowed with myriad names and titles, some of which include Herjan (War God), Yggr (the Terrible One), Bölverkr, (The Evil Doer), Boleyg (Fiery Eyed), and Grímnir (the Masked One).”

It happens that he betrays his believers and his protégés, and he sometimes seems to take pleasure in sowing the seeds of fatal discord..” Georges Dumézil

In her essay on the word Warg, Mary Gerstein also discusses comparative symbolism between Odin, who hung on the world tree Yggdrasil for 9 nights in order to gain wisdom, and Christ, who was hung on the cross as an outlaw [3 days], only to be reborn as an empowered heavenly deity. Vikernes, despite his heathenism, has in certain respects set himself up as both avatar and Christ-like martyr for his cause, willing to suffer in prison for his sacrifice.”

SUarEZ

zeus arrrrrrghhhhhhhhh

horror arquetípico:

argh!!!típico

GIMME THE HARP: “Odin is the embodiment of every form of frenzy, from the insane bloodlust that characterized the werewolf warriors who dedicated themselves to him, to erotic and poetic madness.” Não leia senhor dos anéis demaaais…

Odin’s hall is easy to recognize: a varg hangs before the western door, an eagle droops above.”

the renunciation oath which was enforced under Boniface among the Saxons and Thuringians, who were ordered to repeat: <I forsake all the Devil’s works and words, and Thunær (Thor) and Woden (Odin) and Saxnôt (the tribal deity of the Saxons) and all the monsters who are their companions.>”

In my town all they do is have their cars and they drive up and down the one main street. They have nothing else to do—it’s a kind of competition for who has the finest car and the loudest stereo. They basically live in their cars. Those who are younger, who don’t have a car—they sit at the side of the road and look at the cars. Their lives are extremely boring, and I can see that some people want more out of existence, they want to have their own personality and expression which makes it impossible to be associated with all those meaningless humans who walk around everywhere.” Isahn

It started up with the whole <anti-LaVey> attitude that was common within the scene, because his form of Satanism is very humane. No one wanted a humane Satanism” “When LaVey says that the simplest housewife can be a Satanist, which it seems like he does in the Satanic Bible, I guess some were terrified that he had views that would take the special thing they had away from them.” “Many people did not laugh; they were very serious all the time. Nothing should be <good>. Everybody was very grim looking. Everyone wanted to be like that, and I guess there are some who are that way still.” “Of course you were affected by the whole atmosphere, that you don’t sit and laugh in this Helvete place, and you have respect for the known figures in the scene, and were careful what to say to Euronymous in the beginning, before you got to know him.”

Normal people assume, <Oh, people into Black Metal must have had a terrible childhood and have been molested. They’re weak and come from terrible backgrounds.> But as far as I’m concerned, many people I know in the scene actually come from good families, non-religious families, and had a great childhood with very nice parents and no pressure at all. Quite wealthy families, really.”

LÁ VEM O SATANISTA: “Sometimes I think it would be great to be more anonymous—it’s a small town that I live in, everyone knows who I am. People look at me even though I don’t dress particularly extremely, just because everybody knows what I am. Also with where I work, people are very skeptical towards me, and sometimes it would be easier if no one knew.”

The essence of Black Metal is Heavy Metal culture, not Satanic philosophy. Just look at our audience. The average Black Metal record buyer is a stereotypical loser: a good-for-nothing who was teased as a child, got bad grades at school, lives on social welfare and seeks compensation for his inferiority complexes and lack of identity by feeling part of an exclusive gang of outcasts uniting against a society which has turned them down. And with Heavy Metal as a cultural and intellectual foundation, these dependents on social altruism proclaim themselves the <elite>! Hah!” E. Lancelot

MANIFESTUM UNIVERSALIS: “The Satanist is an observer of society—to him, the world is like a stage, in relation to which he chooses sometimes to be a spectator, other times a participant, according to his will. He can watch from the outside and laugh, cry, sigh, or applaud depending on the effect the scenery has on his emotions; or he can throw himself into the game for the thrill; but his nature is always that of the watcher, the artist. He is not overly concerned with changing society, for his commitment to humanity is minimal.”

An appropriate example of how such futile aspirations may end is the case of Varg Vikernes: a neo-Viking martyr. A prophet of the ego who paradoxically enough chose to be the Jesus of his ideals, and now must suffer for it behind the walls of spleen. I have much respect for this man’s conviction and courage, but not his sense of reality.” Garm

I think many of them have grown up with the Bible and phone book as the only books in the house.” Simen Midgaard, jornalista free-lancer e ocultista, líder do grupo Ordo Templi Orientis. “The O.T.O. is established in Norway, unlike the Church of Satan, Temple of Set, or other real Satanic organizations.”

if they are going to get rid of Judeo-Christianity, they will have to get rid of Satan as well, as a matter of fact. He is a sort of Trotsky in the revolution”

I’m rather indifferent to the State Church. I’m not indifferent to these terrible small sects who teach their people with fear from the day they are able to talk [essas pulgas de rodoviária!]. I support any revolt, however strong it is, against that kind of Christianity because I think it makes people into neurotics. It should be forbidden by law because they torture their own children.”

O BRASIL TEM O SATANISMO MAIS MADURO (O CARNAVALESCO – A LUBRICIDADE DA CARNE): “Satanism in Norway has become strong because it’s a despotic form of Satanism, but that is also why it’s going to fade so fast—because people are not able to live like that for a very long period of time.” Pål Mathiesen, teólogo cristão

The Satanists say—to put it brutally—that we are animals. The animal culture is the most important one, and we are losing that part of us. This is broad in the culture today, with the “wild women,” etc., this whole thing of going back to nature. Being part of nature instead of spirit or morals is very strong now.”

That struck me when I was talking to Ihsahn, the symbols he was using of 3,000 or 4,000-year-old Eastern religions, and at the same to say that it’s only Norway for me and only the Nordic religion that counts. It’s not rational on that point at all. It doesn’t relate to history as something rational—you just use it.”

I think Vikernes has been analyzing our times and thinking, what can we do to achieve something? But I also think that over the years he will find out that for us to go back to the heathen religion is very, very unrealistic. It’s not going to happen if you look at the religious aspect of it. We’re not going to go back to that kind of religious ritual. That is not going to happen.”

If you are declared a Satanist or Nazi in Norway, then you are that for the rest of your life, there’s not a question about it. You will be condemned for the rest of your life. I hate that aspect of our culture, I really think it’s a bad thing, because if we don’t have an opening for forgiveness it becomes very alien to me.”

I think in society when something like that happens it’s a very good opportunity for the media. They like it because they can start a lasting soap opera with strong characters, and these Satanic groups. The media embraced it to a certain extent, and made it really big in Norway. Of course it was big, but I would say that the media capitalized on it, because it was something extreme, new, and specifically Norwegian. For them to sell newspapers, they treat it as extremely as possible. Very early on the media started to define them as total extremists, the same way they might look upon the neo-Nazi movement. They defined them as that right away; then they had them there and they can look upon them like animals doing strange things, and they can report it like something that is very different from the rest of our society.”

This is something that’s important—individualism in Norway has been held down. That has happened. If you are different in school, or very good for example, or very intelligent, that becomes a problem for you. We don’t accept people with exceptional gifts or anything like that. In England or the US, you have schools for these kind of youngsters, you send them somewhere else, and say, <You are different, go over there>. We don’t have that. Everything is supposed to fit in, in a classroom of 25 or 30 people. If you are too weak or too healthy, or if you’re too good, you’re supposed to shut up. It’s mediocrity.” “We have a very special relationship to nature, a very close one. And during the Christian period this thing with nature has been suppressed—nature is not good, nature is <evil>, so to speak. Norwegians interact with nature and are very closely connected to it, just due to the way the country itself is formed.”

They’ve spent fifty years after the war bringing down Christianity, and for the first time they’re saying now that we need more Christianity in the schools. It shows the times have changed. Maybe we have become conscious to some extent about the Christian culture when people start to burn down our churches—maybe, you can’t rule that out.”

Asbjørn Dyrendal is a Research Fellow at the Department of Cultural Studies at the University in Oslo. He has been primarily researching the new and emergent religions, especially Wicca.”

There you had a lot of young people who wanted to be Satanists. Where could they hear about what you do when you’re a Satanist? They had to get it through the media and Christian sources. They got the myths, and they tried as best as they could, by their rather modest means, to live up to them. You can see that in the early interviews with Varg Vikernes. There were situations where the journalists were trying to see this in light of the stories supplied by Kobbhaug [policial que fantasiava sobre <sacrifícios de bebês>], and where Vikernes played the appropriate role. He was hinting that many people disappear each year, that these might have been killed, and then said that he cannot comment on who was doing the killings. When asked if he has killed anyone: I can’t talk about that. He was building up to get the question of whether he had killed anyone, and then denying it in a manner which implied the opposite.” Dyrendal

Vikernes was very fond of telling people that he read LaVey and Crowley. However, what he has come out with in interviews indicates that he hasn’t understood it all very well.”

WAIT & BLEED: “If you are an adolescent, you are in a period of your life where it is impossible for you to exert influence upon your surroundings. Being able to hate and feel strong can be very liberating. This is much of the same power that lay in other forms of Metal and in Punk.” “It has passed the point where people point at you and laugh, and reached the point where people shy away from you.”

Almost every form of shocking behavior will only make your parents say, <Well, we did that when we were young too>. So, to get a shock effect, you have to go much further in your symbolism. Personally, I think these explanations are a bit simplistic.”

I am of the opinion that most people see Vikernes as a rather pathetic figure—

someone with delusions of grandeur who is only able to function within this self-created image.”

The myth of the outwardly respectable, even upstanding, citizens that go out at night to do terrible things to children has been around for thousands of years and has been levelled at Christians, Jews, Catholics, Protestants, heretics, Freemasons, and lots of other groups. It was then recycled by horror writers, who fictionalized the material. It now seems to be influencing reality again. One account of <ritual abuse> I have read seems to have been lifted directly from Rosemary’s Baby, one of the great horror classics.”

There have only been a handful of Metal groups with direct ties to LaVey’s church over the years (King Diamond being one of the more outspoken), although in recent times this has begun to change. LaVey was himself a musician, specializing in lost or obscure songs of ages past, but he often mentioned a personal distaste for Rock and other modern music in interviews. This might have alienated some musicians—who otherwise exemplify LaVey’s philosophy—from any public allegiance with the Church of Satan. In reality, LaVey understood fully why a genre like Black Metal has appeal for youth, though he may not had have much interest in the cacophony of the music itself.” “The Black Metalers are also quite mistaken if they believe LaVey is merely a humanist. Even a cursory study of LaVey’s actual writings will uncover his unabashed misanthropy and derisive scorn for the follies of humankind.”

A lot of people had tried to give it exposure, as Devil’s advocates—writers like Twain and Nietzsche—but none had codified it as a religion, a belief system.” LaVey

In the case of the Nine Satanic Statements, it took me twenty minutes to write them out. I was listening to Chopin being played in the next room and I was so moved I just wrote them out on a pad of paper lying next to me. The crux of the philosophy of Satanism can be found in the Satanic Rules of the Earth, Pentagonal Revisionism, and the Nine Satanic Sins, of which of course <stupidity> is tantamount, closely followed by <pretentiousness>. Often pretentiousness comes in the form of so-called <independent thinkers> that have a knee-jerk reaction [reação reflexa, instantânea] to any association with us.” Não compreendo o sentido exato.

It sounds like there’s a lot of stupid people in Norway too, like any country.” “We get more mail from Russia than ever, now that the Soviet Union is gone. They’ve been under atheist control for so long and the new religious <freedom> is pushing bullshit they can’t swallow. They almost yearn for the good old days of Soviet atheism…”

A lot of them are kids and they like the name Satan just as they might be attracted to a swastika and the colors red and black.” “Now, if a representative of the Church of Satan had just one entire hour on national TV to say what we want to say, Christianity would be finished.”

The anti-Christian strength of National-Socialist Germany is part of the appeal to Satanists—the drama, the lighting, the choreography with which they moved millions of people. However, the Satanic attitude is that people should be judged by their own merit—in every race there are leaders and followers. Satanists are the <Others>, who will push the pendulum in the direction it needs to go to reset the balance—depending on circumstances, this could be toward fascism or in the opposite direction. Satanism is a very brutal, realistic way of looking at things sometimes.” Barton, boqueteiro (assessor, amante, secretário, sei lá!) oficial de LaVey – verde a cor do nojo

How can someone say I don’t like Rock and Roll? It’s never been defined. There’s so much that’s fallen under that general heading, but I guess it then evolved into what we have now, which I’ve described as being like a linear metronome, i.e., music without music. They’ve just run out of ideas, really.” Continua ouvindo seu Chopin no Inferno, velhote.

kids who don’t know anything besides Rock music can still gain strength and motivation from Black Metal, Death Metal, and so forth.” Enough to found a new “religion”.

…And then you have to get a job! That’s no market place for 2 (or 20, whatever) LaFEIs…

O SEGUNDO VARG É MAIS ESPERTO: “The biggest success story in Norwegian Black Metal—measured in chart positions, magazine coverage, and gaudy magazine posters—is Dimmu Borgir, a band which boasts of six-figure CD sales on the German label Nuclear Blast. Dimmu Borgir were not part of the initial waves of Norwegian Black Metal, and therefore they have neither blood nor soot on their hands. But they have been very adept at capitalizing on the shocking image of their predecessors in the genre, while at the same time carefully distancing themselves from the worst excesses so as not to lose record sales or gigs. A typical example can be seen in the promo pictures of Dimmu Borgir engaging in the mock sacrifice of a virgin —pictures that were produced in versions ranging from <softcore> (less gore) to <hardcore> (very bloody), so that different media could pick the version most suited to their audience. In other words, it seemed as if Dimmu Borgir wanted to be provocative enough to make the kids think they were cool, but not so provocative that the kids couldn’t get their parents to buy them the album for Christmas.”

Two or three years ago it was on the verge of becoming really, really big, and the international press was interested in Black Metal. If there had been more bands like Dimmu Borgir and The Kovenant that could have made it big in the mainstream, Black Metal could have been another example of an underground that stepped up to the major league. But strong forces in the scene suddenly became very introverted and reverted to an older, harder style of Black Metal.” AsbjØrn Slettemark

There is a handful of bands that sell well, about 10,000 to 20,000 copies of each release. But sales figures are hard to confirm, because labels tend to exaggerate; and on the other hand, many of the retailers for Black Metal records don’t register their sales.”

It is my impression that Nuclear Blast realized their stable of Death Metal and Speed Metal artists were starting to lag behind. It seems to me like they picked Dimmu Borgir more or less by chance, because the records that got them the contract weren’t really that special. But Dimmu Borgir were still developing as a band, and they were willing to do the image and magazine poster thing. It wouldn’t be possible to sell a more established band like Mayhem or Darkthrone the same way. I guess Dimmu Borgir have the good old Pop Star ambition, the standing in front of the mirror singing into the toothbrush thing.”

Compared to the multinational record companies, Nuclear Blast Records is like a hot dog stand. But the German label has its home base in the world’s biggest market for heavy metal, and is serious enough to have an American distribution deal with Warner Records. And Nuclear Blast know how to <move units>, in record business parlance. The Marketing Director of Nuclear Blast, Yorck Eysel, says Dimmu Borgir has sold 150,000 copies of their last album and 400,000 discs in all during the time they have been with his label. These numbers are repeated like a mantra by everyone that works with the band, but should be taken with a pinch of salt, as exaggerating sales figures is the oldest trick in the book for vinyl and CD pushers. They know that it is easier to sell you a record that has been in the charts than one which has only been coveted by a few obsessive collectors. Even if the sales figures might be inflated, Dimmu Borgir has sold an impressive amount of records, and Eysel thinks that is due to the band’s merit.”

Interestingly, during Varg Vikernes’s trial a Burzum album was reviewed in the news section of Dagbladet, one of Norway’s most important tabloids; this was at a time when his band was being treated with contempt [even] by the Rock [specialized] press.” “Pop music there generally has been difficult to export and the Metal bands regularly outsell the <commercial> Norwegian bands”

Sigurd Wongraven of Satyricon, who had earlier starred in a Rock Furore exposé about racism in Black Metal, later received the full Rock star treatment in mainstream tabloid Dagbladet for a 2-page article which focused on the fact that Wongraven liked Italian designer clothes. Black Metal had become popular enough, and house-trained enough, for the mainstream press to dispense with the barge pole when touching it, even if the specters of racism and satanism still surfaced often enough to make the bands seem somewhat scary.”

Ketil Sveen, a co-founder of the record label and distributor Voices of Wonder, was one of the first people to sell Norwegian Black Metal records on a bigger scale. He ended his cooperation with Burzum after Varg Vikernes stated that he was a National-Socialist. Today there is a racism clause in the contracts which prospective artists have to sign in order to work with Voices of Wonder.”

We sell Black Metal in 25 countries—there’s not a lot of other music that we get out to so many.” Sveen

BURZUM_lighter

IMAGEM 4. Igreja de Fantoft em brasa e logotipo da banda de Vikernes num isqueiro promocional da Voices of Wonder. “I’ve done a few stupid things in my life, and that lighter was one of the stupidest. In my defense I want to say that none of us suspected Vikernes had really done anything like that. We figured that if he was crazy enough to torch a church he would not be crazy enough to go around bragging about it.” Sveen

Welcome to the world of German Black Metal. Less well known than its Norwegian counterpart, the German scene remains genuinely underground, an obscure exit off the darkened Autobahn of extreme Rock. That changed briefly following the night of April 29, 1993, however, when the members of the Black Metal band [arguably] Absurd followed the example set by Bård Eithun and Varg Vikernes and replaced thought with crime.”

Lianne von Billerbeck & Frank Nordhausen – Satanskinder (Satan’s Children: The murder case of Sandro B., 1994)

Such curiosities were difficult to satisfy until the Wall fell in 1989 and East Germany was opened to the West. At this point previously forbidden or impossible-to-obtain records and videos steadily came within reach. The three 17-year-olds Hendrik Möbus, Sebastian Schauscheill, and Andreas Kirchner began to draw attention to themselves with their Satanic obsessions and penchant for Black Metal. They were antagonized for their interests by many of the other kids in town—both left-wing punks and right-wing skinheads [curiosamente, o som da banda é nazi, sobre guitarras punks estéreis] —but developed a group of admirers among the local schoolgirls.” “At a certain point in 1992, a younger student, a 14-year-old named Sandro, also developed a fascination for the members of this sinister band and their associates.” “Widely disliked due to his irritating manners, he had almost no real friends. He quickly began to adopt the style and interests of the satanists and desperately tried to ingratiate himself into their circle. He would ask to attend band rehearsals and began corresponding with them and the others in the clique [panela] around Absurd. Satanskinder describes a peculiar <letter writing culture> that thrived among all of these youths.” “Heated arguments also took place there between them and members of the Christian Youth Club, which met regularly at the Center as well.”

Together with a young girl named Rita, Sandro began to plot actions against Sebastian and Hendrik, hoping to make a mockery of them in Sondershausen.” “He was also aware of an ongoing affair between Sebastian and an older married woman named Heidegrit Goldhardt, now pregnant with Sebastian’s child.” “Sebastian’s romantic relationship with Heidegrit, who oddly enough was an evangelical Christian schoolteacher, had produced some unexpected results. He had joined in with her pet projects for environmentalism and animal rights, and now spent time writing polemical letters to the newspapers about such issues.” “Absurd no longer rehearsed at the Youth Center, but had moved their equipment to a small cottage built by Hendrik’s father in the nearby woods. Through the guise of a female friend, Juliane, a letter was sent to Sandro in which she confided her hatred of Absurd. She asked Sandro to meet her one evening at the Rondell, a WW1 memorial in the forest above the town, in order to discuss how she could contribute to Sandro’s campaign against the satanists.” “Juliane didn’t appear, but the members of Absurd did instead. Sandro must have been confused, but dismissed any idea that he had been set up. They then somehow convinced him to accompany them elsewhere so that they could all discuss an important matter.” “Suddenly Andreas grabbed an electrical cord and wrapped it around Sandro’s neck. A struggle ensued, Sandro tried to scream for help. At this point, Hendrik is alleged to have pulled a knife and cut Sandro. They tied his hands behind his back. Sandro begged to be let free, promising to never speak about anything that had just happened. They could even have his life savings—500 German Marks (approximately $325). The boys considered the idea of letting him go free in the woods, but feared he would not keep his promise of silence about the abduction, especially now that he had been wounded.” “On May 1st [2 dias depois] the three members of Absurd returned to the scene of the crime and dragged Sandro’s corpse, wrapped in a blanket, to a nearby excavation pit, where they quickly buried him.” “Sebastian related a strange personal anecdote: about 6 months before the murder he heard a voice in his head. It was difficult to understand; he thought it uttered the nonsensical phrase <Küster Maier>. Later he decided it probably must have said <töte Beyer> (Kill Beyer!).” “The story detailed above follows the chronology presented in Satanskinder, although the book embellishes it with endless psychological speculation. The descriptions of the authors are based entirely on comments by disgruntled ex-friends and hangers-on who had interacted with the killers, since the latter refused to speak to them. The picture painted is one of an outsider group of youths whose fantasies got the best of them.”

We used to listen to British and German Punk Rock, British Oi, as well as Thrash Metal (Slayer, Destruction, Sodom, Morbid Angel, Possessed).” Hendrik

mostly we obtained Polish or Hungarian bootlegs, or recorded stuff from the West German radio.” “I guess it was just a question of time before we became aware of splendid bands like Deicide, Beherit, Sarcófago, Bathory, Mayhem, and Darkthrone…”

Before he <moved to the beyond>, Øystein Aarseth wanted to sign Absurd to Deathlike Silence, since our Death from the Forest demo appealed to him quite a bit.”

ABSURD HAS CALLED ITSELF <LUCIFERIAN PAGANS>…

You can use the terms <Luciferian>, <Promethean>, and <Faustian> to describe one and the same principle: reaching out toward a higher stage of existence and awareness by facing and overcoming the limiting circumstances. That is the trail we are on. However, a <Luciferian will> on its own would fall into hedonism and egomania. For that reason we need heathenism; on the one hand for expression of free will, but also for its channeling toward the greater good. In other words, a person of this sort should not operate only according to self-interest, but rather should serve his ethnic community and be the <light bringer> for it.

What we didn’t know, and only first learned from the court record, was that Sandro was bisexual. With a likelihood bordering on certainty, Sandro had fallen in love with Sebastian. That is also not astonishing, as in those days Sebastian had a certain <sex appeal> among the youths.

So Sandro discovered the relationship between Sebastian and his lover, who was married and 8 years older, while Sebastian was also considered the leader of the local satanists. If this relationship were to become public—which did indeed happen after the arrests—then it would have caused a significant fuss in the small town of Sondershausen, the result being that the girl would have been expelled from her congregation.”

WHAT WERE YOU EACH FOUND GUILTY OF?

Due to our age of 17, they had to use the youth laws for punishment, which meant a maximum of ten years in detention, no matter if even for mass-murder. At the start of 1994 our trial took place, which was a giant media spectacle. Among other things, the court found us guilty of first degree murder, deprivation of liberty, threat and duress, and bodily injury. (…) Ironically, the section we were sentenced under is one of the few pieces of legislation that remains today from National-Socialist jurisprudence.

Besides the trashy book Satanskinder, at least 3 other books feature our case. However, this book is certainly wrong with its version (although several phrases sound familiar…), due to the fact we refused to cooperate. A TV-film has also been made based on the events in Sondershausen. We have become <Satan murderers> and <Children of Satan> for all time. One could laugh about these stories, which are eternally the same old thing, if only they hadn’t led to such dire consequences. Apart from the media’s self interest for an ongoing story, there are also circles of people that have utilized the media for engaging in personal conflicts with, for example, my parents. It has long since ceased to have anything to do with <discovering the truth> (if that ever had even played a role) or <informing the public>. It has to do with chicanery, with calculated slander. It can further be asserted in my case that I turn more and more into the archetype of the scapegoat. I am the modern Loki, whom the gods punished for their own sins.

Andreas was released a year before Sebastian and I. After getting reacquainted with the scene for a half-year (among other things, he attended a Mayhem reunion concert in Bischofswerda), he retreated completely back into his private life. He broke off all contacts, lives with his girlfriend, and has a good job. Even if I was unhappy about his <departure>, I nevertheless wish him all the best.

Sebastian has totally devoted himself to a folkish world of ideas. He is married and has made a small circle of friends and acquaintances in which he actually plays the same role as he once did in our clique in Sondershausen. In the meantime he has also recorded and released new Absurd material. In addition he sings with Halgadom, a joint project with the band Stahlgewitter who are friends of his. He has only a peripheral contact with the scene, a situation that has probably kept him out of the media’s sights. It is different with me, for I have always had and maintained numerous contacts in the scene. In addition, I worked at Darker Than Black Records, through which I naturally was in a more prominent situation than my two former accomplices. Since then the media has decided to put me in the stocks and clothe me as their new scapegoat. Because I also nurtured an association with nationalistically inclined people, I have been charged severely. Nobody was interested in the facts anymore, the only thing that counted was sensationalism.”

Beginning meagerly with hymns to demons discovered in Satanic horror films, the early demo cassettes of the band are low-fi chunks of adolescent noise, soaked with distortion and offering unintentionally humorous spoken introductions to the songs. Their music is more akin to ’60s garage Punk than some of the well-produced Black Metal of their contemporaries—but what they lacked by way of musical execution they were more than willing to make up for with the real-life execution of the sad figure of Sandro Beyer.” “If there is any clear spiritual mentor behind Absurd’s transformation over the years, it is Varg Vikernes. Varg himself seems to be aware of this, and smiles when talking of recent events inspired by what happened in Norway: <In Germany some churches have burned. And there are the Absurd guys, who have also turned neo-Nazi…>”

The long quotation Hendrik attributes to <Herr Wolf> at the end of the interview is in actuality the words of Adolph Hitler, speaking of the new prototype of hardened, pitiless youth which Nazi Germany would produce.”

WHITEWASHED CARBON COPY: “Such sentiments would make Varg Vikernes proud. Absurd’s own tiny record label, Burznazg, takes its name from a term Varg once planned to use for his own operations, and the most infamous criminal in Norway was surely proud to know of the Tribute to Burzum compilation CD project initiated by Hendrik Möbus and friends.”

Möbus also reveals the existence of a Germanic <Black Circle> which he claims the members of Absurd are also connected to, called Die Teutsche Brüderschaft (Teutonic Brotherhood). The Brüderschaft is mentioned prominently in the dedication list on Absurd’s debut CD.”

In July of 1999 announcements circulated about the release of Absurd’s new 4-song CD entitled Asgardsrei. The CD featured a more aesthetic presentation and an evolved sound, although with much of Absurd’s garage-band ambience still intact. Guests on the release included Graveland’s Rob Darken and well as an <ex-member of the German mainstream band Weissglut>. The end of the advertisement advised interested customers to <ORDER IT NOW before ZOG¹ take YOUR copy>.”

¹ “A sarcastic acronym for Zionist Occupational Government, often employed in radical political circles to describe any of the present-day Western democratic states.”

The public prosecutor had now decided to launch an effort to revoke Hendrik’s parole on the basis of alleged political crimes he had committed since his release from juvenile prison. These consisted of displaying banned political emblems and also giving a <Hitler salute> at a concert.” “Travelling across the USA, Hendrik passed through a string of ill-fated liaisons with racists upon whom he depended for safe-housing, culminating with two of them violently threatening him. Following this incident, he eventually made his way to the state of West Virginia and to the headquarters of William Pierce’s racialist group the National Alliance. All was relatively quiet for a number of weeks until Hendrik was arrested in late August, 2000 by US federal agents acting on an international warrant. The German government had requested to have Hendrik extradited to face his charges of parole violation.

The press treatment of the case was unusual, with Hendrik being elevated from a <Satanic murderer> to a <neo-Nazi fugitive>. He became an international cause célèbre—garnering headlines in US News and World Report, as well as major papers like the Los Angeles Times and the Washington Post—and his case raised many serious issues about the way in which modern democratic states handle persons who they deem as threats to democracy itself. Soon after his arrest, Hendrik wrote a letter to US President Bill Clinton and Attorney-General Janet Reno and requested status as a political refugee, stating that if he were extradited back to Germany he would be persecuted on account of his political beliefs.” “A <Free Hendrik Möbus> campaign was also launched on the Internet, and William Pierce produced episodes of his radio program American Dissident Voices in which he addressed the topic of Möbus’s case in detail. In the first major ruling, the U.S. magistrate decided that Hendrik was not eligible for political asylum as he was a <convicted felon> in Germany. Hendrik then attempted to appeal the decision. In their commentaries on the case, both he and William Pierce attempted to make the fundamental issue one of free speech, since the actions which resulted in the original parole revocation were not of a violent nature, but rather <political> misdeeds (which would be perfectly legal according to US laws). Both the US and German governments tried to avoid this thorny issue and confine the legal proceedings to the logistical issues of Hendrik’s parole violation itself, rather than debating the validity of the charges that led to the violation.” A FRAQUEZA CONGÊNITA DO TOTALITARISMO: “His strategy for avoiding extradition created a further paradox: he was forced to seek the mercy of liberal democratic political asylum laws—exactly the sort of laws which a strident German nationalist would vehemently oppose in their own country for anti-immigration reasons.”

Two further court judgments against him, one for public display of the Hitler salute and the other for mocking his victim in published statements, have added more than two years of additional incarceration to the time he will serve in jail. It quickly became clear that Hendrik’s personal goal of collaborating with William Pierce in a venture to promote radical Black Metal through the racial music underground would be impossible to realize from a German prison cell. An equally significant obstacle arose exactly one year later when William Pierce died suddenly from cancer on July 23, 2002.”

Gorefest, an antiracist and politically correct Death Metal group.”

The teenager’s room was described as quite ordinary, except for a collection of disturbing compact discs. His neighbors had often noticed sounds blaring from his room, <gnawing music, hard and stressful, which one would hear late at night>—not a bad description of standard Black Metal from an unfamiliar listener.”

When a black-metaller enters a party at nite, we can say he cvlt up from his home.

Jean-Paul Bourre – Les Profanateurs (The Desecrators): “The fascination surrounding the grave of Jim Morrison of The Doors (buried in Paris’ famous Père La Chaise cemetery) and those of other notable personalities is also inexplicably discussed in one chapter. Les Profanateurs desperately attempts to pull all these disparate elements into a sinister scenario in hopes of alarming its readers.” Parece até o livro que estou lendo!

They got pissed and destroyed a few graveyards and subsequently they were in prison for it. The hoo-hah died down pretty quickly over it, and that sort of thing isn’t good for a band of our stature anyway because people get the whole ideology wrong straight away. This is why we kind of branched off from the Norwegian thing because as soon as you’ve got the Black Metal tag, people assume you are a fascist and you’re into Devil worship, which can be linked to child abuse.” Dani Filth, a ovelha negra (lúcida)

uktabloid
IMAGEM 5. Queen tabloid

The band began fairly quickly to distance themselves from their musical peers in Scandinavia by employing evocative aesthetics in the album artwork, and covering more romanticized themes drawn from nineteenth century literature and poetry. They wore the requisite Black Metal corpsepaint, but began to cultivate an atmosphere befitting of Hammer horror films rather than the one-dimensional <evilness> projected by other groups. Later releases Vempire and Dusk and Her Embrace brought the group to a exponentially increasing audience.”

In a strange political twist, an extremist racial group, the National Radical Party, nominated the singer of Metal band Korrozia Metalla (Коррозия Металла) as a mayoral candidate in Moscow. His name is Sergei Troitsky, AKA Spider, and he normally dresses in black T-shirts, jeans, and jackboots. Korrozia Metalla’s most popular song among fans is called Kill the Sunarefa, a slang term for darkly hued minorities from the south.” “Additional titillation regularly comes from naked females dancers who prance [rebolam, sensualizam] and masturbate on stage beside the musicians.”

The name Russia itself, after all, comes from the predominantly Swedish Viking tribe of the Rus who settled the region in the year 852C.E.[?].”

Poland, too, has a rapidly growing Black Metal scene which is closely linked to the rise of extreme right-wing activity there. The most visible band from that country is Graveland, led by the outspoken frontman Robert Fudali, AKA Darken.”

Fans of extreme Metal in this country are often far less intelligent than their Norwegian or European counterparts.” Which means, actually, that they are more intelligent.

SOCIEDADE DO ESPETÁCULO CONSUMADA: “The primary American interests outside of music include drugs and alcohol, neither of which played any significant part in the Norwegian Black Metal milieu. As a result, any antisocial actions are likely to be misdirected at best. The attempts to interrelate them into any kind of grand Satanic conspiracy are fruitless; the main similitude of these crimes lies in their irrational confusion.”

Singer Glen Benton branded an upside-down cross into his forehead years ago, and (to the obvious irritation of groups like Animal Militia) often advocates animal sacrifice in interviews. Allegedly the band’s albums have sold hundreds of thousands of copies worldwide.”

On April 13th, a group of male teenagers commenced a campaign of mayhem and terror with startling similarities in spirit to the Norse eruption in 1992–93. Calling themselves the Lords of Chaos, the cabal of six began their crusade by burning down a supermarket construction trailer. They followed this with the arson of a Baptist church. The terror spree escalated in perversity when the youths spread gasoline around a tropical aviary cage adjacent to a theme restaurant, then ignited the thatched-roof structure and watched the blaze exterminate the entire collection of exotic birds.”

Finnish groups like Beherit and Impaled Nazarene have enjoyed considerable success worldwide, paving the way for many fans to form their own bands and follow in their footsteps. And just as in Norway, segments of the Black Metal subculture also wed themselves to an especially virulent strain of teenaged Satanism. (…) They wear the distinctive Black Metal make-up, which gives cause for some Finns to call them <penguins>, and they flock to music festivals where their favorite bands play.” É o finlandês da picada…

Finnish metal him! Flo Mounier’s victory!

Unlike the scene in Norway, the crimes connected with Black Metal in Finland emanate from the fans, not the prominent artists. Despite its small size, this confused scene has produced one of the grisliest events to arise anywhere out of the Black Metal phenomenon. In one of the most notable cases in Finnish court history, four young Black Metalers murdered a friend in a scenario which featured overtones of Satanic sacrifice, cannibalism, and necrophilia.” “Reporting on the case is further complicated by the fact that the court has implemented a forty-year secrecy act on the entire legal proceedings.”

Jarno Elg’s career as a glue-sniffer and aspiring alcoholic led to psychiatric care at the young age of 11. He tried hashish the following year. By the time he was 16, young Jarno was drinking daily and devouring books on Satanism. This diet of Kilju [bebida etílica baseada na fermentação da laranja, com gusto e cheiro horríveis, típica da Finlândia], psychoactive chemicals, and teenaged Satanism was bound to go awry.”

The Poetic Edda, translated by Henry Adams Bellows

Sociologist Jeffrey Arnett has described Heavy Metal music as the <sensory equivalent of war.>” Segundo consta, numa rápida googlada, o sr. Arnett é PSICÓLOGO na área da adolescência/jovens adultos, e não SOCIÓLOGO.

[????????????????????????????] In France the journal Napalm Rock is issued regularly under the auspices of the National-Bolshevist political group Nouvelle Résistance.” Erva mais vencida que Hitler em 44.

The rebellious impulse in Metal therefore has yet to synthesize the nihilism with the fascism, and since fascism is a synthesis itself, there’s no reason this cannot eventually be achieved.” Kerry Bolton

The ‘60s music genres were thoroughly phony in their radicalism. Unlike Black Metal (and for that matter Oi, and much Industrial) the ‘60s musicians had no fundamental difference in outlook to the establishment they were supposedly rebelling against.”

ILLUMINATI: “The possibility of being bought off by the music business would most likely be by way of insisting on a return to the specifically anti-Christian themes at the expense of the heathen resurgence, since I’m sure many of the executives of the music industry can co-exist well enough and even utilize anti-Christianity, including Satanism, especially if it is of the nature of yet one more superficial American commodity.”

Será que esses albinos “phoneys” e bastardos utilizam Mozart o Maçom como garoto-propaganda de seu ideário europeu?

According to the police, the Einsatzgruppe was plotting direct action against prominent Norwegian politicians, bishops, and public figures. The group’s plans included a scheme to break Varg Vikernes out of jail by force. The Einsatzgruppe had all the trappings of a paramilitary unit: bulletproof vests, steel helmets, cartridge belts, and ski masks. In addition, the police found a list of 12 firearms and a map for a hiding place at a mountain. However, the only weapons the police confiscated right away were some sawed-off shotguns and dynamite with blasting caps. The police also found a war chest with 100,000 Norwegian Kroner (close to $20,000). This had been supplied by Lene Bore, Varg Vikernes’s mother. She was also arrested and charged with financing an illegal group. Bore confessed, but claimed she had no idea these people were <right-wing extremists>. She expressed concerns about the treatment her son received in jail, and claimed that he was subjected to violence by his fellow inmates. This was dismissed as unfounded by the prison director. However, it is true that Varg’s jaw had been broken in an altercation with another inmate in late 1996.” “Curiously, Bore could not be prosecuted under Norwegian law—conspiracy to break the law is not illegal if it is done to help a close family member.” “The group was, according to some sources, aiming to escape with the freed Vikernes to Africa—hardly the hideout of choice for passionate racists.”

The stigma associated with Nazism is much stronger in Norway than it is in neighboring Sweden or the US, where most of the Norwegian Nazis draw their inspiration from. This is largely due to the fact that Norway was occupied by Nazi Germany from 1940 to 1945.”

The Mayor of Brumunddal was subjected to what one would call low-level harassment. No physical attacks, no real serious vandalism, but an endless stream of mail-order merchandise, pizzas and ambulances ordered in his name. Pornographic photo montages were also posted along the route his children walked to school. Two of the activists from Brumunddal defecated on the steps of the town hall to express their discontent with municipal policy. They thought this was really smart, so they did it once more, and then were caught.”

Gaston Bachelard – Psychoanalysis of Fire

Fire stirs the spirit of human artistry; it is the spark of the will-to-create. It expresses the polarity of emotions, as Bachelard notes, and represents both the passionate higher ideals, as well as the hot and consuming tempers of irrationality.”

Most people have lost interaction with real fire; the once universal, mystical experience of blazing night fires is gone from their lives. Stoking the flames of resentment or dissension is frowned upon in a world which depends on the smooth exchange of services. Those possessed of unrestrained spirit are silenced, or ordered to fit in. Their tendencies must be stifled. Extreme emotions are shunned; those who act on them become outcasts. Mainstream culture produces a bulging sea of quaint diversions, the ostensible rewards for good behavior. The music and art made available to the masses has the consistency of soft, damp pulp—hardly a conducive medium for fire.”

re-fuse/reexist

* * *

ANEXOS

It’s not good for us to laugh. We have nothing to laugh at in this laughable society.” Varguxo

The wild hunt appeared in many legends—a ghostly flock of dark, martial shapes riding through the night on their horses through the woods, lead by Odin, the one-eyed ruler of the dead, or sometimes by a female rider… a perception that in Christian times was transposed onto the Archangel Michael and his hosts.”

The Austrian folklorist Otto Höfler was able to prove in his books Kultische Geheimbünde der Germanen and Verwandlungskulte (Transformation Cults) that the wild hunt was not at all a mythological interpretation of storms, thunder, or flocks of birds—as many researchers thought—but a union of mythology and folklore, of myth and reality which was of great importance in the Nordic mystery cults.” “Höfler stressed that in the Germanic Weltanschauung, like that of most pre-Christian cultures, there was no sharp distinction between this world and the one beyond—the borders were fluid. The folklore of the cult groups was often very brutal. With or without drugs the members felt a furor teutonicus which Höfler called a <decidedly terroristic ecstasy> with various excesses”

Beer was was their special goal—kegs were stolen or secretly emptied, sometimes to be refilled with water or horse urine, or they themselves urinated back into the barrels. Often horses were also stolen; they became the property of the Oskorei. In the morning the farmers found their horses completely exhausted, or they had to search for them because the apocalyptic riders had set them free somewhere.”

Hoping for a rich harvest, one accepted the demands and offenses of the Oskorei as part of the bargain. Similar perceptions existed in the Alps when the Perchten were given nourishment as they went from house to house, or they were allowed to plunder the pantry.” “Gradually, however, many farmers were no longer willing to accept the outrages of the Oskorei. The cultic background of the thefts and pranks fell into oblivion, becoming superstition. The sympathy of the populace disappeared—now the disguised young men were no longer considered embodiments of the dead or fertility demons, but rather trouble-makers and evil-doers.” “The louder the drums, bells, cries, rattles, and whips, the more effective the noise magic became.”

They dress as ghostly as possible, speaking with a falsetto voice, reaching ecstasy by dancing, music and noise. … Their clothes should be as nightmarish as possible. They attempted to dress as ugly as they were able. They had terrible eyes, with big white rings or painted up with coal. (Johannessen, Norwegisches Burschenbrauchtum. Kult und Saga. Wien, 1967 (dissertation), pp. 13, 95.)”

The disguised members of the Oskorei altered their voices and gave themselves false names—they represented demons and had to remain unknown. In Black Metal as well only a few musicians use their real names; many take pseudonyms from Nordic history and mythology and in the meantime it is possible to find in Black Metal culture almost all deities of the Eddas.”

munch_scream
IMAGEM 6. O Grito, de Munch, pintor norueguês expressionista.

But Black Metal is above all heathen noise, electronically enhanced. The music is powerful, violent, dark and grim; a demonic sonic art with several elements in common with the Norwegian expressionist painter Edvard Munch, whose famous work The Scream would fit well on a record cover. The eternal recurrence of certain leitmotifs, the dark blazing atmosphere, the obscure, viscous sonic landscape of many songs—often lasting more than ten minutes— have at times an almost psychedelic effect. In the heaviness and darkness of certain compositions it is possible to realize some subliminal melodies only after listening to these works several times. Black Metal is a werewolf culture, a werewolf romanticism.”

<A hard heart was placed in my breast by Wotan.> (Nietzsche, Beyond Good and Evil, aph. 260)” Muito bacana descontextualizar aforismos!

The first song I heard by Burzum was Det Som Engang Var in the CD Hvis lyset tar oss. Even now this song remains for me the most beautiful and powerful work of Burzum; its symphonic sonic violence is impressive over and over again. It is a 14-minute-long composition full of grim, blazing beauty—dark and fateful. The uniquely hair-raising, screaming-at-the-heavens vocal of Varg Vikernes turns the piece into an expressionistic shriek-opera, the words of which are probably incomprehensible even for Norwegians. The song was composed in the spring of 1992. Another work which fascinates me very much is Tomhet (Emptiness), on the same CD. This song too has an extraordinary length; from my point of view it is an exceptional soundtrack to the Norwegian landscape—that is, Norway as I imagine it, a country ruled by silence and storm, solitude and natural violence.”

I am no racist because I do not hate other races. I am no Nazi either, but I am a fascist. I love my race, my culture, and myself. I am a follower of Odin, god of war and death. He is also the god of wisdom, magic, and poetry. Those are the things I am searching for. Burzum exists only for Odin, the cyclopian enemy of the Kristian god. I do not consider my ideas to be extreme at all. That which stupid people call evil is for me the actual reason to survive.”

Daniel Bernard – Wolf und Mensch. Saarbrücken, 1983. [outro?]

Mircea Eliade – Shamanismus und archaische Ekstasetechnik. Frankfurt, 1991.

Rudolf Simek – Lexikon der Germanischen Mythologie. Stuttgart, 1984.

Grimm, Jacob – Teutonic Mythology (4 Vols). Magnolia, MA: Peter Smith, 1976.

Hoidal, Oddvar K. – Quisling: A Study in Treason. Oslo: Norwegian University Press, 1989.

Tarjei Vesaas – Land of Many Fires

L’ENCYCLOPÉDIE – AM – compilado (1)

* AMANUS, s. m. (Myth.) Dieu des anciens Perses. C’étoit, à ce qu’on croit, ou le soleil ou le feu perpétuel qui en étoit une image. Tous les jours les Mages alloient dans son temple chanter leurs hymnes pendant une heure devant le feu sacré, tenant de la vervaine en main [planta medicinal], & la tête couronnée de tiares dont les bandelettes [bandagens] leur tomboient sur les joues.”

Não há fogo sagrado que não seja apagado por um temporal.

AMAUTAS, s. m. (Hist. mod.) Philosophes du Pérou sous le regne des Incas. On croit que ce fut l’Inca Roca qui fonda le premier des écoles à Cusco, afin que les Amautas y enseignassent les Sciences aux Princes & aux Gentils-hommes; car il croyoit que la science ne devoit être que pour la Noblesse. Le devoir des Amautas étoit d’apprendre à leurs disciples les cérémonies & les préceptes de leur religion; la raison, le fondement & l’explication des lois; la politique & l’Art Militaire; l’Histoire & la Chronologie; la Poësie même, la Philosophie, la Musique & l’Astrologie. Les Amautas composoient des comédies & des tragédies qu’ils représentoient devant leurs Rois & les Seigneurs de la Cour aux fêtes solemnelles. Les sujets de leurs tragédies étoient des actions militaires, les triomphes de leurs Rois ou d’autres hommes illustres. Dans les comédies ils parloient de l’agriculture, des affaires domestiques, & des divers évenemens de la vie humaine. On n’y remarquoit rien d’obscene ni de rampant; tout au contraire y étoit grave, sententieux, conforme aux bonnes moeurs & à la vertu. Les acteurs étoient des personnes qualifiées; & quand la piece étoit joüée, ils venoient reprendre leur place dans l’assemblée, chacun selon sa dignité. Ceux qui avoient le mieux réussi dans leur rôle recevoient pour prix des joyaux ou d’autres présens considérables. La poësie des Amautas étoit composée de grands & de petits vers où ils observoient la mesure des syllabes. On dit néanmoins qu’au tems de la conquête des Espagnols ils n’avoient pas encore l’usage de l’écriture, & qu’ils se servoient de signes ou d’instrumens sensibles pour exprimer ce qu’ils entendoient dans les Sciences qu’ils enseignoient. Garcilasso de la Vega, Hist. des Incas, liv. II. & IV.

AMAZONE, s. f. (Hist. anc.) femme courageuse & hardie, capable de grands exploits.

Amazone, dans un sens plus particulier, est le nom d’une nation ancienne de femmes guerrieres, qui, dit-on, fonderent un Empire dans l’Asie mineure, près du Thermodon, le long des côtes de la mer Noire.

Il n’y avoit point d’hommes parmi elles; pour la propagation de leur espece, elles alloient chercher des étrangers; elles tuoient tous les enfans mâles qui leur naissoient, & retranchoient aux filles la mammelle droite pour les rendre plus propres à tirer de l’arc. C’est de cette circonstance qu’elles furent appellées Amazones, mot composé d’<A> privatif, & de MAO, mammelle, comme qui diroit sans mammelle, ou privées d’une mammelle.

Não havia homens entre elas; para a propagação da espécie elas procuravam estrangeiros; elas matavam todas as crianças macho que lhes nasciam, e decepavam nas mulheres a mama direita para torná-las mais aptas no exercício do tiro de arco. Provém dessa circunstância o chamarem-nas Amazonas, palavra composta do ‘A’ privativo, e de MAO, mama, como que dizendo sem mamas, ou privadas de uma das mamas.

Les Auteurs ne sont pas tous d’accord qu’il y ait eu réellement une nation d’Amazones. Strabon, Paléphate, & plusieurs autres le nient formellement: mais Hérodote, Pausanias, Diodore de Sicile, Trogue Pompée, Justin, Pline, Pomponius Mela, Plutarque, & plusieurs autres, l’assurent positivement. Hippocrate dit qu’il y avoit une loi chez elles, qui condamnoit les filles à demeurer vierges, jusqu’à ce qu’elles eussent tué trois des ennemis de l’État. Il ajoûte que la raison pour laquelle elles amputoient la mammelle droite à leurs filles, c’étoit afin que le bras de ce côté-là profitât davantage, & devînt plus fort.

Quelques Auteurs disent qu’elles ne tuoient pas leurs enfans mâles; qu’elles ne faisoient que leur tordre les jambes, pour empêcher qu’ils ne prétendissent un jour se rendre les maîtres.

M. Petit Medecin de Paris, a publié en 1681, une dissertation latine, pour prouver qu’il y a eu réellement une nation d’Amazones; cette dissertation contient quantité de remarques curieuses & intéressantes sur leur maniere de s’habiller, leurs armes, & les villes qu’elles ont fondées. Dans les médailles le buste des Amazones est ordinairement armé d’une petite hache d’armes appellée bipennis, ou securis, qu’elles portoient sur l’épaule, avec un petit bouclier en croissant que les Latins appelloient pelta, à leur bras gauche: c’est ce qui a fait dire à Ovide, de Ponto.

Non tibi amazonia est pro me sumenda securis, Aut excisa levi pelta gerenda manu.

Des Géographes & voyageurs modernes prétendent qu’il y a encore dans quelques endroits des Amazones. Le P. Jean de Los Sanctos, Capucin Portugais, dans sa description de l’Éthiopie, dit qu’il y a en Afrique une République d’Amazones; & AEnéas Sylvius rapporte qu’on a vû subsister en Boheme pendant 9 ans, une République d’Amazones fondée par le courage d’une fille nommée Valasca [Popazuda].”

AMAZONES. riviere des Amazones; elle traverse toute l’Amérique méridionale d’occident en orient, & passe pour le plus grand fleuve du monde. On croît communément que le premier Européen qui l’a reconnu fut François d’Orellana, Espagnol; ce qui a fait nommer cette riviere par quelques-uns Orellana: mais avant lui, elle étoit connue sous le nom de Maranon (qu’on prononce Maragnon) nom qu’elle avoit reçû, à ce qu’on croit, d’un autre Capitaine Espagnol ainsi appellé. Orellana dans sa relation dit avoir vû en descendant cette riviere, quelques femmes armées dont un cacique Indien lui avoit dit de se défier: c’est ce qui l’a fait appeller riviere des Amazones.

La carte très-défectueuse du cours de la riviere des Amazones dressée par Sanson sur la relation purement historique d’un voyage de cette riviere que fit Texeira, accompagné du P. d’Acunha Jésuite, a été copiée par un grand nombre de Géographes, & on n’en a pas eû de meilleure jusqu’en 1717 qu’on en publia une du P. Fritz Jésuite, dans les lettres édifiantes & curieuses.

Enfin M. de la Condamine, de l’Académie Royale des Sciences, a parcouru toute cette riviere en 1743; & ce voyage long, pénible, & dangereux, nous a valu une nouvelle carte de cette riviere plus exacte que toutes celles qui avoient précédé. Le célebre Académicien que nous venons de nommer a publié une relation de ce voyage très-curieuse & très-bien écrite, qui a été aussi insérée dans le volume de l’Académie Royale des Sciences pour 1745. Nous y renvoyons nos Lecteurs, que nous exhortons fort à la lire. M. de la Condamine dit qu’il n’a point vû dans tout ce voyage d’Amazones, ni rien qui leur ressemble; il paroît même porté à croire qu’elles ne subsistent plus aujourd’hui; mais en rassemblant les témoignages, il croit assez probable qu’il y a eu en Amérique des Amazones, c’est-à-dire une société de femmes qui vivoient sans avoir de commerce [bom eufemismo!] habituel avec les hommes.”

AMAZONIUS, nom donné au mois de Décembre par les flateurs de l’Empereur Commode, en l’honneur d’une courtisanne qu’il aimoit éperdument, & qu’il avoit fait peindre en Amazone: ce Prince par la même raison prit aussi le surnom d’Amazonius.” Êta amor mais brega!

AMBA. Manga!

AMBAGES, s. m. (Belles-Lettres.) mot purement Latin adopté dans plusieurs langues, pour signifier un amas confus de paroles obscures & entortillées dont on a peine à démêler le sens; ou un long verbiage [verborragia], qui, loin d’éclaircir les choses dont il s’agit, ne sert qu’à les embrouiller. V. Circonlocution.

encyclopedie AMbaiba

* AMBAIBA [foto], arbre qui croît au Brésil; il est très-élevé; son écorce ressemble à celle du figuier; elle couvre une peau mince, épaisse, verte & gluante; son bois est blanc, comme celui du bouleau, mais plus doux & plus facile à rompre; son tronc est de grosseur ordinaire, mais creux depuis la racine jusqu’au sommet; sa feuille est portée sur un pédicule épais, long de deux ou trois piés, d’un rouge foncé en dehors, & spongieux au-dedans; elle est large, ronde, découpée en neuf ou dix lanieres, & chaque laniere a sa côte, d’où partent des nervures en grand-nombre; elle est verte en dessus, cendrés en dessous, & bordée d’une ligne grisârre; le haut du creux donne une espece de moelle que les Negres mettent sur leurs blessures; les fleurs sortent de la partie supérieure du tronc, & pendent à un pédicule fort court, au nombre de 4 ou 5; leur forme est cylindrique; elles ont 7 à 9 pouces de long, sur un pouce d’épaisseur; leur cavité est pleine de duvet; il y a aussi des amandes [amêndoas] qui sont bonnes à manger, quand les fleurs sont tombées; les habitans du Brésil font du feu avec sa racine seche sans caillou ni acier [sem aço nem pedra]; ils pratiquent un petit trou; ils sichent dans ce trou un morceau de bois dur & pointu qu’ils agitent avec beaucoup de vitesse; le bois percé est sous leurs piés, & le bois pointu est perpendiculaire entre leurs jambes: l’agitation suffit pour allumer l’écorce.

On attribue à sa racine, à son écorce, à sa moelle, à sa feuille, au suc de ses rejettons, une si grande quantité de propriétés, que les hommes ne devroient point mourir dans un pays où il y auroit une douzaine de plantes de cette espece, si on en savoit faire usage. Mais je ne doute point que ceux qui habitent ces contrées éloignées ne portent le même jugement de nos plantes & de nous, quand ils lisent les vertus merveilleuses que nous leur attribuons [muito bem-percebido].

AMBASSADE. (…) L’histoire nous parle aussi d’ambassadrices; Mme la Maréchale de Guebriant a été, comme dit Wicquefort, la premiere femme, & peut-être la seule, qui ait été envoyée par aucune Cour de l’Europe en qualité d’ambassadrice. Matth. liv. IV. Vie d’Henri IV. dit que le Roi de Perse envoya une Dame de sa Cour en ambassade vers le Grand Seigneur pendant les troubles de l’Empire.”

AMBASSADEUR. (…) Ils croient donc que chez les Barbares qui inonderent l’Europe, ambascia signifioit le discours d’un homme qui s’humilie ou s’abaisse devant un autre, & qu’il vient de la même racine qu’abaisser, c’est-à-dire de an ou am & de bas.

(…)

Les ambassadeurs ordinaires sont d’institution moderne; ils étoient inconnus il y a 200 ans: avant ce tems-là tous les ambassadeurs étoient extraordinaires, & se retiroient sitôt qu’ils avoient achevé l’affaire qu’ils avoient à négocier. (…) A la vérité il n’y a nulle différence essentielle entre ambassadeur ordinaire & ambassadeur extraordinaire [ambos são perfeitamente inúteis]”

(…)

Le nom d’ambassadeur, dit Ciceron, est sacré & inviolable: non modo inter sociorum jura, sed etiam inter hostium tela incolume versatur. In Verr. Orat. VI. Nous lisons que David fit la guerre aux Ammonites pour venger l’injure faite à ses ambassadeurs, liv. II. Rois, 10. Alexandre fit passer au fil de l’épée les habitans de Tyr, pour avoir insulté ses ambassadeurs. La jeunesse de Rome ayant outragé les ambassadeurs de Vallonne [?], sut [fut?] livrée entre leurs mains pour les en punir à discrétion.

(…)

Dans toutes les autres Cours de l’Europe l’ambassadeur de France a le pas sur celui d’Espagne, comme cette Couronne le reconnut publiquement au mois de Mai 1662, dans l’audience que le Roi Louis XIV donna à l’ambassadeur d’Espagne, qui, en présence de 27 autres tant ambassadeurs que, envoyés des Princes, protesta que le Roi son maître ne disputeroit jamais le pas à la France. Ce fut en réparation de l’insulte faite à Londres l’année précédente par le Baron de Batteville, ambassadeur d’Espagne, au Comte d’Estrades, ambassadeur de France: on frappa à cette occasion une médaille.”

AMBIDEXTRE. “Hippocrate dans ses Aphorismes prétend qu’il n’y a point de femme ambidextre: plusieurs Modernes cependant soûtiennent le contraire, & citent des exemples en faveur de leur sentiment: mais s’il y a des femmes ambidextres, il faut avoüer du moins qu’il y en a beaucoup moins que d’hommes.”

AMBLYOPIE, s. f. est une offuscation ou un obscurcissement de la vûe, qui empêche de distinguer clairement l’objet, à quelque distance qu’il soit placé. Cette incommodité vient d’une obstruction imparfaite des nerfs optiques, d’une suffusion légere, du défaut ou de l’épaisseur des esprits, &c. Quelques-uns comptent 4 espèces d’amblyopies; savoir, la myopie, la presbytie, la nyctalopie, & l’amaurosis. Voyez chacune à son article. Blanchard. (N)

AMBRE-GRIS. “autrefois l’ambre étoit à la mode en France: combien ne voit-on pas encore de coupes, de vases & d’autres ouvrages faits de cette matiere avec un travail infini? mais les métaux précieux, les pierres fines & les pierreries l’ont emporté sur l’ambre-jaune dès qu’ils ont été assez communs pour fournir à notre luxe.”

AMBROSIA, nom que les Grecs donnoient à une fête que l’on célebroit à Rome le 24 Novembre en l’honneur de Bacchus. Romulus l’avoit instituée, & les Romains l’appelloient brumalia.”

AMBROSIE, s. f. dans la Théologie des payens, étoit le mets dont ils supposoient que leurs dieux se nourrissoient. Voyez Dieu & Autel. Ce mot est composé d’A’ privatif & de BROTO\, mortel; ou parce que l’ambrosie rendoit immortels ceux qui en mangeoient, ou parce qu’elle étoit mangée par des immortels.”

A FUNÇÃO DO ORGASMO ou: SOFRIMENTOS DE UM JOVEM BUROCRATA EX-PROFESSOR

9ª ed. – Vol. I – A descoberta do orgônio

Reich

29/06 a 23/08

DIC – priapismo / satiríase / satiromania: ereção dolorosa; excitação sexual excessiva (mórbida).

             espermatorréia: derramamento involuntário do esperma

As investigações de Forel na organização racional das formigas dirigiram a minha atenção para o problema do vitalismo. Entre 1919 e 1921, familiarizei-me com a Philosophie des Organischen e com a Ordnungslehre, de Driesch.”

Lange – Geschichte des Materialismus

Grimm – Buddha

Hoje muito poucas pessoas sabem que a moralidade foi uma vez encarada como um instinto filogeneticamente, e na verdade sobrenaturalmente, determinado. Isso se dizia com absoluta seriedade e grande dignidade.”

Adler era decepcionante. Criticou Freud.”

O seu inconsciente é como a <coisa em si> de Kant. Em si mesmo não pode ser agarrado” A coisa-em-si não existe

A teoria da esquizofrenia de Freud tinha parado na conclusão prematura de que essa doença é atribuível a uma regressão auto-erótca. Ele tinha idéia de que uma fixação do desenvolvimento psíquico de uma criança no período do narcisismo infantil primário constitui uma disposição para a doença mental. Defendi essa idéia por ser correta, mas não por ser completa. Não era tangível. Parecia-me que o ponto em comum de contato entre a criança absorvida em si mesma e o esquizofrênico adulto está na forma como sentem o seu meio ambiente. Para o recém-nascido o meio ambiente com os seus inúmeros estímulos não pode ser mais que um caos do qual as sensações do seu próprio corpo são uma ponte. Em termos de experiência, não existe nenhuma distinção entre o eu e o mundo. (…) Se, durante o processo de separação, a criança experimenta um choque sério, as fronteiras entre o eu e o mundo permanecem confusas e nebulosas.” “a perda do sentido da realidade no esquizofrênico começa com a interpretação errônea das sensações do seu próprio corpo em desenvolvimento.”

Foi só muitos anos mais tarde que Ferenczi afirmou que ninguém realmente seguia, ou podia seguir, essa regra. Isso é tão claro para nós hoje que nem mesmo esperamos que alguém o faça. [sobre o <dizer tudo quanto lhe viesse à cabeça>]”

Sabe-se que pacientes que sofrem de súbito estupor catatônico se tornam logo normais outra vez, quando são capazes de ter acessos de violência.” “Em pacientes que sofrem de estupor catatônico a <couraça> muscular domina o corpo inteiro. A descarga de energia se torna cada vez mais restrita. Em um acesso de violência, um impulso forte irrompe do centro vegetativo, que ainda é móvel, e, através da couraça, libera a energia muscular presa. Mas o seu caráter real como experiência tem de ser agradável. Isso era impressionante, e a teoria psicanalítica da catatonia não podia explicá-lo. Dizia-se que o paciente catatônico <voltava completamente ao útero e ao auto-erotismo>, explicação que não era satisfatória”

O que o analista levava meses deslindando e interpretando em pacientes compulsivos era expresso em linguagem clara pelo paciente psicótico.” “O paciente psicótico é assediado pelas idéias sexuais que nos outros são cuidadosamente escondidas, reprimidas ou apenas meio admitidas. O ato sexual, atividades perversas, relações sexuais com a mãe ou com o pai, cobrir de excremento os órgãos genitais, sedução de – ou por – mulher ou marido de amigo ou amiga, fantasias grosseiramente sensuais, inclusive mamar e outras semelhantes, inundam o pensamento consciente do psicótico.” “Quanto a sua experiência de vida, o paciente neurótico e o paciente pervertido estão para o esquizofrênico assim como o ladrão ordinário está para o arrombador ousado.”

Observei uma garota que estava de cama na clínica havia anos e não fazia nada exceto mover a região pélvica e passar o dedinho no clitóris. Estava totalmente bloqueada.” “De vez em quando, entretanto, uma expressão inteligível se desenhava no seu rosto. Se alguém conhece realmente a terrível angústia das crianças pequenas que são proibidas de masturbar-se, então entenderá semelhante comportamento em pacientes neuróticos. Eles desistem do mundo, e dementes, praticam o ato que um mundo irracionalmente governado uma vez lhes proibiu. Não se vingam; não castigam; não causam qualquer mal. Simplesmente permanecem deitados e tentam salvar os últimos restos de um prazer patologicamente corrompido.”

O ouro deve ser misturado ao cobre, e nunca ao pague.

Estava a ponto de empurrar as crianças para dentro d’água quando foi tomada de terrível angústia. Daí em diante foi atormentada pelo impulso de confessar-se à polícia a fim de proteger as crianças contra ela mesma. O impulso mantinha-a em um estado de medo mortal, pois temia ser enforcada pelo crime. O pensamento provocou-lhe uma constrição na garganta. O mutismo impedia-a de ceder ao impulso.” “Fôra órfã e vivera com estranhos, morando com 6 ou mais pessoas no mesmo quarto. Menina, fôra sexualmente violada por homens feitos. Era atormentada pelo desejo de uma mãe que a protegesse.” “Ninguém a entendia. Embora fosse totalmente fria, dormia com muitos homens diferentes.” “Apesar do fato [de] que o seu trabalho era dificultado por perturbações psíquicas agudas, era explorada cruelmente e sem piedade. Recebia uns 2 schillings por dia de 10h de trabalho, o que quer dizer que devia sustentar-se, e aos 3 filhos, com uns 60 ou 80 schillings por mês! O extraordinário é que o conseguia! Nunca pude descobrir como. Apesar de tudo, não se descuidava absolutamente da sua aparência. Lia sempre, inclusive alguns livros que me tomou emprestados.”

Outra paciente estava sofrendo da chamada ninfomania. Não conseguia nunca experimentar a satisfação. Por isso, dormia com qualquer homem disponível — sem encontrar satisfação. Masturbava-se com o cabo de uma faca, ou mesmo com a lâmina, até que lhe sangrava a vagina. Somente aqueles que conhecem o tormento de uma excitação sexual insaciável e sumamente tensa deixarão de falar sobre a <transcendência da espiritualidade fenomenológica>.” “Quando a mãe percebe que a criança se está masturbando, atira simplesmente uma faca na criança.” “Esse caso está pormenorizadamente descrito no meu livro Der triebhafte Charakter [A Compulsão do Caráter].”

Os neuróticos compulsivos e os pacientes histéricos foram educados desde tenra idade de forma absolutamente anti-sexual. Na primeira infância, não tiveram orientação sexual, ou foram prematuramente ativos. Então, subitamente, foram brutalmente punidos, e a punição viveu no inconsciente como um sentimento de culpa sexual.”

EXTATÍSTICA, UMA ESTATÍSTICA ENÉRGICA E SEMOVENTE

Freud agarrava-se à idéia de que as meninas têm apenas uma sexualidade clitória e não experimentam o erotismo vaginal na primeira infância.”

Um menino que tivesse uma vinculação genital plenamente desenvolvida em relação à mãe teria muito maior facilidade em estabelecer uma vinculação genital com uma mulher do que um menino que houvesse amado a mãe de uma forma somente anal, i.e., perversa.”

O desenvolvimento independente da economia sexual começou com a questão da diferença entre prazer pré-genital e genital. Nem um só ponto da minha teoria é válido sem isso.”

O seu caso parecia totalmente desesperado. Subitamente, surgiu uma fantasia incestuosa, e pela primeira vez o paciente se masturbou com satisfação. Todos os seus sintomas desapareceram imediatamente. Em 8 dias voltaram pouco a pouco. Masturbou-se outra vez. Os sintomas desapareceram de novo, apenas para voltar alguns dias mais tarde. Isso continuou por várias semanas. Finalmente consegui chegar à raiz dos seus sentimentos de culpa quanto à masturbação, e corrigir alguns hábitos prejudiciais de comportamento. Após um total de 9 meses, terminei o tratamento.”

Uma vez que o paciente era diligente e ordeiro — <ajustado à realidade>, como costumávamos dizer — não ocorreu a nenhum de nós que era precisamente essa tranqüilidade emocional, essa equanimidade inabalável,que formava a base patológica do caráter, pela qual a impotência eretiva podia ser mantida.” “Terminei a análise alguns meses mais tarde e o paciente não estava curado. A imperturbabilidade com que aceitou isso era tão estóica quanto a imperturbabilidade com que aceitou tudo, durante o tratamento todo. Esse paciente gravou em mim o importante conceito de <bloqueio emocional> na análise do caráter.”

“Os psicanalistas faziam graças maliciosas a respeito da sua preguiça durante a sessão analítica. Se um paciente não fazia nenhuma associação durante horas a fio, o analista tinha de fumar muito para não adormecer. Houve analistas, inclusive, que deduziram disso teorias grandiosas. Se o paciente permanecia em silêncio, então, o analista devia também manter-se em silêncio, mesmo que fosse, afinal, por horas ou semanas. Isso era considerado como <técnica consumada>.” “A situação não era nada melhorada nem pelas brincadeiras a respeito: do analista que despertou de um sono profundo, durante uma sessão, e encontrou vazio o divã; nem pelas explicações enroladas para provar que estava certo que o analista cochilasse um instante, pois o seu inconsciente permaneceria atento ao paciente. Afirmava-se mesmo que o inconsciente do analista podia, ao despertar do sono durante um tratamento, compreender exatamente o rumo que o inconsciente do paciente estava seguindo. Era deprimente e desanimador. Por outro lado, Freud aconselhava-nos a não ser demasiado ambiciosos nos nossos esforços terapêuticos.”

somático: corpo menos tripas e cabeça (físico, por oposição a psicológico, psíquico).

Como muitos outros, Stekel não conseguia ver a diferença fundamental entre a excitação psicossomática e o conteúdo psíquico de um sintoma.” “não havia dúvidas de que as psiconeuroses tinham um cerne neurótico atual (estase) e que as neuroses estásicas tinham uma superestrutura psiconeurótica.”

Embora muitos analistas atribuíssem a maior importância aos conteúdos psíquicos dos sintomas neuróticos, eminentes psicopatologistas, como Jaspers (cf. a sua Psychopathologie) negavam completamente o caráter científico da interpretação psicológica do significado, e por isso negavam o caráter científico da própria psicanálise. Jaspers afirmava que o <significado> de uma atitude psíquica ou de uma ação podia ser compreendido apenas <filosoficamente> — e não cientificamente.” “Allers, o filósofo e fisiologista vienense, recusou-se a entrar na questão da vida psíquica inconsciente porque, do ângulo da filosofia, a hipótese de um <inconsciente> era a priori falsa.”

Um ano mais tarde, o médico vienense Chrobak enviou uma paciente a Freud. Sofria de crises agudas de angústia e ainda era virgem, após 8 anos de casamento com um homem impotente. Chrobak escreve o seguinte comentário: <Sabemos bem demais qual é a única prescrição para estes casos, mas não podemos prescrevê-la. É: Penis normalis, dosim repetatur!>”

Uma mulher era considerada genitalmente sã quando capaz de experimentar um orgasmo clitório. A esse tempo, desconhecia-se a distinção econômico-sexual entre excitação clitória e vaginal. (N.E.:) A controvérsia não chegou ao fim. Masters e Johnson são as autoridades que mais recentemente negaram a distinção. Ainda assim, a única autoridade verdadeira deve ser a mulher que experimentou tanto o orgasmo clitório como o vaginal. Invariavelmente afirmará que há uma diferença.” “a pura verdade é que uma análise precisa do comportamento genital, além das frases nada explicativas <dormi com uma mulher> ou <dormi com um homem>, era absolutamente proibida na psicanálise. Levei mais de 2 anos de experiência para livrar-me completamente dessa reserva delicada, e descobrir que as pessoas confundem o ato sexual puramente animal com a posse amorosa.”

um economista sexual — que sabe que o homem é a única espécie biológica que destruiu a sua própria função sexual natural e está doente em conseqüência disso.” “Até 1923, ano em que nasceu a teoria do orgasmo, apenas as potências ejaculativa e eretiva eram conhecidas da sexologia e dos psicanalistas. Sem a inclusão dos componentes funcionais, econômicos e experimentais, o conceito de potência sexual não teria existido. Potência eretiva e ejaculativa eram apenas pré-condições indispensáveis da potência orgástica. Potência orgástica é a capacidade de abandonar-se, livre de quaisquer inibições, ao fluxo de energia biológica; a capacidade de descarregar completamente a excitação sexual reprimida, por meio de involuntárias e agradáveis convulsões do corpo.

Nem um único neurótico é orgasticamente potente, e as estruturas de caráter da esmagadora maioria dos homens e mulheres são neuróticas. No ato sexual livre de angústia, de desprazer [hm] e de fantasias, a intensidade de prazer no orgasmo depende da quantidade de tensão sexual concentrada nos genitais. Quanto maior e mais abrupta é a <queda> da excitação, tanto mais intenso é o prazer.” Soninho pós-coito: bom sinal.

Fase de controle voluntário da excitação

A ternura também está ausente no <coito onanista> com um objeto não-amado. Normalmente a atividade da mulher não difere de modo algum da do homem. A passividade da mulher, embora comum, é patológica e resulta habitualmente de fantasias masoquistas de violação.” “Pela fricção mútua, gradual, rítmica, espontânea e sem esforço, a excitação vai-se concentrando na superfície e na glande do pênis, e nas partes posteriores da membrana mucosa da vagina. A sensação característica que precede e acompanha a descarga do sêmen está ainda totalmente ausente (não nos casos de ejaculação prematura). O corpo ainda está menos excitado que o genital. A consciência está inteiramente dirigida para a assimilação das sensações ondulantes de gozo. O ego participa ativamente, na medida em que tenta explorar todas as possíveis fontes de prazer e atingir o mais alto grau de tensão antes do momento do orgasmo. Intenções conscientes obviamente não têm lugar aqui. Tudo acontece espontaneamente com base nas experiências de anteprazer individualmente diferentes, por uma mudança de posição, pela natureza da fricção, pelo ritmo, etc. Segundo a maior parte dos homens e mulheres potentes, quanto mais lentas e delicadas são as fricções, e mais estreitamente sincronizadas, mais intensas são as sensações de prazer. Isso pressupõe um alto grau da afinidade entre o homem e a mulher. Um correspondente patológico disso é o desejo de fazer fricções violentas, especialmente pronunciado nos caracteres sádicos compulsivos que sofrem de anestesia do pênis e da incapacidade de descarregar o sêmen. Outro exemplo é a pressa nervosa dos que sofrem de ejaculações prematuras. Os homens e mulheres orgasticamente potentes nunca riem ou falam durante o ato sexual exceto, possivelmente, para trocar palavras de carinho. Falar e rir indicam sérias perturbações da capacidade de entregar-se” “Nesta fase, a interrupção da fricção é em si mesma agradável por causa das sensações especiais de prazer que acompanham essa pausa, e não exigem esforço psíquico. Dessa forma, prolonga-se o ato. A excitação diminui um pouco durante a pausa. Não desaparece inteiramente, entretanto, como nos casos patológicos. A interrupção do ato sexual pela retração do pênis não é desagradável na medida em que ocorra após uma pausa tranqüila. Ao continuar a fricção, a excitação aumenta firmemente além do nível anteriormente atingido. Toma gradualmente, mais e mais, posse do corpo inteiro, enquanto o próprio genital mantém um nível mais ou menos constante de excitação. Finalmente, como resultado de um novo aumento habitualmente repentino de excitação genital, inicia-se a fase de contração muscular involuntária.”

Fase de contrações musculares involuntárias

Neste ponto, a consciência se torna mais ou menos nublada; seguindo-se a uma pequena pausa no <auge> do clímax, as fricções aumentam espontaneamente e o desejo de penetrar <completamente> se torna mais intenso com cada contração muscular ejaculatória. As contrações musculares na mulher seguem o mesmo curso que seguem no homem; há apenas uma diferença psíquica, isto é, a mulher sã quer <receber completamente> durante, e logo após, o clímax.”

Pressupõe-se que é patológica a continuidade do ato, isto é, refazê-lo, como se a tensão não houvesse sido dissipada.

a pessoa orgasticamente impotente experimenta um esgotamento plúmbeo, desgosto, repulsa, aborrecimento ou indiferença e, ocasionalmente, aversão ao companheiro. Nos casos de satiríase e ninfomania, a excitação sexual não desaparece. A insônia é uma das características essenciais da falta de satisfação. Não se pode, entretanto, concluir automaticamente que uma pessoa experimentou a satisfação quando cai no sono imediatamente após o ato sexual.”

experiência sensorial x experiência motora

(fase 1) (fase 2)

convulsão=solução

É preciso distinguir dois grupos de fantasias que poderiam acompanhar o ato sexual: umas em harmonia com a experiência sexual, outras em contradição com ela. Se o companheiro é capaz de atrair todo o interesse sexual para ele, ou para ela, ao menos momentaneamente, então as fantasias inconscientes são também supérfluas. Em termos da sua própria natureza, essas fantasias se opõem à experiência real, pois só se fantasia o que não se pode obter na realidade.” “Quanto mais intensamente a fantasia precisa trabalhar para aproximar, do ideal, o companheiro, tanto mais o prazer sexual perde em intensidade e valor econômico-sexual. Depende inteiramente da natureza das discordâncias que existem em toda relação prolongada a redução, ou não, da intensidade da experiência sexual; e, no caso afirmativo, o grau de redução. Essa redução tende a transformar-se em uma perturbação patológica muito mais cedo quando há uma fixação forte do objeto primitivo e incapacidade de realizar uma transferência genuína, e quando, além do mais, é necessária grande quantidade de energia para superar no companheiro as características em contradição com o objeto primitivo.”

A fórmula terapêutica de Freud para as neuroses, embora correta, é incompleta. O pré-requisito fundamental da terapia consiste em tornar o paciente consciente da sua sexualidade reprimida. Só isso não cura; isto é, pode curar, mas não cura necessariamente. O tornar o paciente consciente dos impulsos sexuais reprimidos garante a cura quando também elimina a fonte de energia da neurose, i.e., a estase sexual. Em outras palavras, esse tipo de terapia efetua a cura quando a consciência das exigências instintivas restaura também a capacidade de obter uma plena satisfação orgástica. Dessa forma, as proliferações patológicas são privadas da fonte da sua energia (princípio de remoção de energia).”

A excitação sexual é um processo somático. Os conflitos da neurose são de natureza psíquica. O que acontece é que um conflito secundário, em si mesmo normal, causa uma leve perturbação na balança da energia sexual. Essa estase secundária intensifica o conflito, e o conflito por sua vez aumenta a estase. Assim, o conflito psíquico e a estase da excitação somática aumentam-se mutuamente. O conflito psíquico central é a relação sexual entre a criança e os pais. Está presente em toda neurose. É o armazém histórico da experiência, de que se alimenta o conteúdo da neurose. Todas as fantasias neuróticas podem ser reduzidas à primeira vinculação sexual da criança com os pais. (…) As fixações patológicas incestuosas pelos pais, pelos irmãos e irmãs, perdem a sua força quando se elimina a estase simultânea de energia, i.e., quando a plena satisfação orgástica é experimentada no presente real. Por isso, depende do grau de descarga da energia sexual que o conflito de Édipo se torne ou não patológico. Em suma, a neurose atual [a neurose somática de Freud, também chamada de pré-genital ou pré-edipiana, num mal-entendido, por algumas gerações de psicanalistas freudianos] e a psiconeurose [a neurose clássica, genital ou edipiana] se sobrepõem: não podem ser concebidas como tipos separados de neuroses.” “Se as atividades sexuais não-genitais são reprimidas, a função genital se torna perturbada. Essa perturbação provoca fantasias e ações pré-genitais. As fantasias e atividades sexuais pré-genitais, que encontramos nas neuroses e perversões, são não apenas a causa das perturbações genitais mas, de qualquer forma, também o resultado dessa perturbação. Esses critérios e observações constituem o fundamento da distinção, que fiz, em 1936, entre impulsos naturais e secundários.”

As enfermidades psíquicas revelam apenas qualidades. Todavia, sempre parecem depender dos chamados fatores quantitativos, da resistência e da força, da catexia de energia, das experiências e ações psíquicas. Em uma reunião do círculo mais íntimo de analistas, Freud uma vez aconselhou-nos a ser prudentes. Tínhamos, disse, que estar preparados para esperar perigosos desafios de uma futura organoterapia à terapia psíquica da neurose. Não havia maneira de saber o que poderia ser essa organoterapia, mas já se podiam ouvir os seus expoentes batendo à porta. A psicanálise deverá um dia estabelecer-se sobre uma base orgânica. Isso era uma verdadeira intuição freudiana!

Todo paciente é profundamente cético em relação ao tratamento. Cada um apenas o disfarça de maneira diferente. Apresentei uma vez um relatório sobre um paciente que disfarçava a sua secreta desconfiança de um modo extremamente engenhoso: mostrava-se muito polido e concordava com tudo.” “A adaptação da técnica à hipocrisia do caráter do paciente apresentava conseqüências que ninguém adivinhava, e que todos inconscientemente temiam.”

O id era <mau>, o superego sentava-se num trono com uma longa barba e era <austero>; e o pobre do ego esforçava-se por ser um <medianeiro> para os dois.” “Desapareceu a seriedade das comunicações psicanalíticas: foi cada vez mais substituída por um pathos, reminiscência dos filósofos morais. Pouco a pouco, a teoria das neuroses foi traduzida para a linguagem da <psicologia do ego>. A forma eclipsou o conteúdo; a organização tornou-se mais importante que a tarefa. Teve início o mesmo processo de deterioração que destruiu os grandes movimentos sociais da história. Exatamente como o primitivo cristianismo onde Jesus se havia transformado na Igreja, e como a ciência marxista se tornara na ditadura fascista, muitos psicanalistas logo se tornaram os piores inimigos da sua própria causa. A cisão no âmago do movimento já não tinha conserto. Hoje, 15 anos depois, isso é evidente para todos. Foi somente em 1934 que o percebi claramente. Era tarde demais.”

sinais de desintegração dentro do movimento psicanalítico (por exemplo, a teoria do instinto de morte)” “A psicanálise jamais se recuperou disso.” “Se o analista não conseguia curar um paciente, o instinto de morte é que era o responsável.”

Reik publicou um livro, Geständniszwang und Strafbedürfnis [Compulsão de Confessar e Necessidade de Punição], no qual todo o conceito original de enfermidade psíquica estava de cabeça para baixo. O pior de tudo é que o livro encontrou aprovação. Reduzida à expressão mais simples, a sua inovação podia ser descrita como a eliminação do medo à punição pelas transgressões sexuais cometidas na infância. Em Beyond the Pleasure Principle e The Ego and the Id, F. presumia a existência de uma necessidade inconsciente de punição. Essa necessidade explicava ostensivamente a resistência do paciente à cura.

O paciente aventurava-se a procurar uma companhia, abandonava a abstinência, ou experimentava contatos sexuais mais satisfatórios. Entretanto somente em poucos casos se concretizava a esperança de que essa libertação de energia sexual acarretasse também o estabelecimento da função orgástica. Concluindo, poder-se-ia dizer que apenas uma energia insuficiente se havia libertado das amarras neuróticas. De modo geral, entretanto, o paciente permanecia bloqueado. Propunha-se, assim, a questão: onde, além dos sintomas neuróticos, se prende a energia sexual? Isso era um problema novo na psicanálise. mas não estava fora da sua estrutura. Pelo contrário, tratava-se apenas de uma aplicação consistente do método de raciocínio analítico, que tomava o sintoma neurótico como ponto de partida. A princípio, não obtive resposta para a pergunta. Problemas clínicos e terapêuticos nunca podem ser resolvidos pela meditação. Solucionam-se no processo de controle dos trabalhos práticos.”

Somente o aparelho genital é capaz de proporcionar o orgasmo e de descarregar plenamente a energia biológica. A pré-genitalidade pode apenas aumentar as tensões vegetativas”

não há conversão de uma excitação sexual. A mesma excitação que aparece nos genitais como sensação de prazer é percebida como angústia quando se apodera do sistema cardíaco, i.e., é percebida como o oposto exato do prazer.” “A angústia cardíaca se encontra na angina pectoris [dor isquêmica do peito, i.e., parestesia], na asma brônquica, no envenenamento pela nicotina e na exoftalmia [saliência exagerada do globo ocular]. Assim, a angústia sempre se desenvolve quando o sistema cardíaco é afetado por qualquer excitação anormal.” Quando se vive? era necessário distinguir a angústia que resultava de uma estase de excitação e a angústia que era a causa de uma repressão sexual. A primeira determinava as neuroses estásicas, a última, as psiconeuroses. Mas os dois tipos de angústia agiam simultaneamente em qualquer dos casos.”

Na fantasia ou na expectativa de um perigo, o organismo age como se o perigo já estivesse presente.” Me afadigo apenas de pensar na troca de uma lâmpada no meu futuro apartamento…

Eu estava firmemente convencido da exatidão da minha ampliação do conceito original de F. sobre a angústia. Era muito agradável sentir que me estava aproximando cada vez mais da sua função fisiológica.” “Freud havia demonstrado que a angústia na neurose se torna fixa. O paciente escapa à angústia se, por exemplo, desenvolve um sintoma compulsivo. Se a função da compulsão é perturbada, a angústia aparece imediatamente. Muitos casos persistentes de neurose de compulsão e depressão crônica não puderam ser alterados. Eram de certa forma inacessíveis. Na literatura psicanalítica, não havia processos técnicos para vencer a superfície desse estado enrijecido. Era o caráter como um todo que resistia.” pensar é sofrer, por outro lado…

Eu leio para não (me) odiar.

A função da terapia psicanalítica era descobrir e eliminar resistências. Não se esperava que interpretasse diretamente a matéria inconsciente. Assim, o analista devia partir da repressão dos impulsos inconscientes pelo ego moralista.”

O esquema de Freud, da interrelação do <inconsciente> com o <pré-consciente> e o <consciente>, não coincide com o seu outro esquema da estrutura psíquica, que consiste do <id>, do <ego> e do <superego>. [DUAS ABSTRAÇÕES COMPLETAMENTE ARBITRÁRIAS, POR SINAL.] De fato, freqüentemente se contradizem. O <inconsciente> de Freud não é idêntico ao <id>. O último é mais profundo. O inconsciente compreende os desejos reprimidos e importantes elementos do superego moralista. Uma vez que o superego tem a sua origem na vinculação incestuosa da criança aos pais, carrega as antigas características dessa vinculação. O próprio superego é provido de grande intensidade instintiva, particularmente de natureza agressiva e destrutiva. O <ego> não é idêntico ao <sistema consciente>. A defesa do ego contra os desejos sexuais proibidos é, ela própria, reprimida. Além disso, o ego tem origem no id, do qual é apenas uma parte especialmente diferenciada, embora, mais tarde, sob a influência do superego, entre em conflito com o id.” “a esse tempo não era possível trabalhar com o id, que não era tangível, nem como superego, que era apenas uma hipótese teórica, expresso claramente na forma de uma angústia de consciência. (…) Para Freud, o <inconsciente> nunca tinha sido mais que uma <hipótese indispensável>.” Fala como se não continuasse sendo uma pura hipótese de trabalho. Incompreensível ingenuidade – como se de um momento para outro se tivesse passado de uma pré-história caótica para uma sistematização empírica e milenarmente testada da mente. O que “provou” de súbito o id no meio do caminho, a própria psicanálise?! Não pode ser esse o nível silogístico do argumento!!

o jovem passivo-feminino que sofria de sintomas histéricos, incapacidade para o trabalho, e impotência ascética. Abertamente, era muito polido; secretamente, o seu medo o tornava muito astuto. Assim, concordava com tudo. A polidez representava o estrato mais alto da sua estrutura. Produzia matéria superabundante sobre a fixação sexual pela mãe. <Produzia>, sem qualquer convicção interior. Não examinei essa matéria, mas procurei continuamente chamar-lhe a atenção para a sua polidez, como uma defesa contra a percepção realmente afetiva. O ódio escondido começou a aparecer cada vez mais nos seus sonhos. (*) Como a sua polidez diminuísse, tornou-se insultante. (**) Assim, era a polidez que lhe aparava o ódio.(***) Consegui torná-lo evidente, por completo, destruindo cada uma das suas inibições. Até então, o  ódio havia sido uma atitude inconsciente. Ódio e polidez eram antíteses. Ao mesmo tempo, a sua polidez excessiva era uma expressão disfarçada do ódio. Pessoas excessivamente polidas são habitualmente as mais impiedosas e perigosas. [continua!]

(*) Mesma época do “poodle preto de Ranna”. A falta de compaixão para com os animais. “Quero que minha família vire farelo”; “…que meus ex-colegas da DRI morram”, “…que os sociólogos que conheci sejam infelizes”, etc., como pensamento-mor e desejo reinante seriam o equivalente simbólico da auto-destruição genital?!

22/02/2022: ocorrência esporádica do mesmo estilo de sonho (um cão pequeno, iracundo, de alguma pessoa secundária, grande perigo de me ferir, muito ódio presente). Como se todo um ressentimento só “me acessasse” em sonho.

(**) Sentimento da onda purificatória – Liz, Yssel, Jana, Cathy… Avanços e retrocessos.

Descontar a frustração cotidiana nos incautos mendigos e pedintes ou internautas desavisados/desaforados. Mas PRINCIPALMENTE nos segundos, que estão cada vez mais intragáveis.

(***) “Seja educado com os outros, Rafael, eles não têm culpa. Amadureça!” “Você não pode falar assim com a sua avó, com o seu chefe, com o seu pai, com a mãe dos outros! Mas com o seu presidente (Satanás), sim!” Estranha semelhança a versos bíblicos. (2022:) Veja quanto ressentimento o fascista doente não estava aprendendo a espocar – como a Dilma corroía o coraçãozinho dessas flores? O quanto eu não tive de padecer para aturá-los? O quanto hoje eles NÃO estão um centímetro melhores e toda a evolução e distância emocional e sentimental que conquistei? Esses imbecis são mesmo sencientes? São, sabem-no e estão AINDA mais amargurados? Porque se não mudam de idéia, como poderiam não estar?

cila com “c” de cão raivoso;

homem com “h” de hostil.

[cont.] Por seu lado, o ódio libertado repelia um medo intenso ao pai. Era simultaneamente um impulso reprimido e uma defesa inconsciente do ego contra a angústia. Quanto mais claramente o ódio era trazido à superfície, mais distintamente apareciam as manifestações de angústia. Finalmente o ódio deu lugar a nova angústia. O primeiro não era absolutamente a agressão original da infância, mas uma formação nova, de um período posterior. A nova angústia que irrompeu era a manifestação de uma defesa contra um estrato mais profundo do ódio destrutivo. O estrato superficial do ódio se havia satisfeito com o ridículo e o desprezo. A atitude destrutiva mais profunda consistia em impulsos assassinos contra o pai. Eliminado o medo a esses impulsos (<angústia destrutiva>), a atitude destrutiva mais profunda se tornou manifesta em sentimentos e fantasias. (…) o medo à destruição não podia subir à superfície sem, ao mesmo tempo, trair a agressão destrutiva. Como resultado da maneira pela qual se desenvolve a estrutura de caráter do homem moderno, uma <resistência interior> é constantemente interpolada entre o impulso biológico e a sua realização; o homem age <reagindo> e está intimamente voltado contra si mesmo.Tenho pena do D***.

Hora de ultrapassar nossos sonhos mais profundos até aqui…

ziguezague

Voltar a odiar, forçar o “corpo” a engolir esse ódio,

que não sou eu

f***-** Gaia!

Ele anda muito sentido!”

2 idiotas na lagoa

A dependência econômica nos fez pensar três vezes a cada ato de coragem do passado; quando não era mais absolutamente necessário meditar tanto… esquecemos como se fazia rebeldia e vôo livre… Temos que pagar alguém que nos reensine e readestre… Mas não há garantias de sucesso… Quando finalmente tivermos concluído o processo, estaremos às portas da velhice para colher os frutos. Pupilas gustativas deterioradas contraídas que não vêem…

[e ainda continua!] O impulso destrutivo em relação ao pai era, por sua vez, uma defesa do ego contra a destruição pelo pai. Quando comecei a descobrir isso e a desmacará-lo como uma defesa, a angústia genital veio à superfície. Assim, as intenções destrutivas contra o pai tinham a função de proteger o paciente contra a castração pelo pai.” Já não se aplica inteiramente a mim.

E assim Reich poderia seguir indefinidamente inventando novos teatrinhos…

[cont.] O medo de ser castrado, que era reprimido pela aversão destrutiva ao pai, era em si mesmo uma defesa contra um estrato ainda mais profundo de agressão destrutiva [JÁ CHEGA], principalmente o desejo de privar o pai do seu pênis e assim eliminá-lo como rival.” “Uma descrição completa desse caso aparece no meu livro Character Analysis [o mesmo do acima no título original em alemão?].” Completa perda de tempo a-social; nem parece que estamos diante do mesmo autor da PMF…

Não havia mais nenhuma dicotomia entre a matéria histórica e contemporânea. O mundo total da experiência passada incorpora-se ao presente sob a forma de atitudes de caráter. O caráter de uma pessoa é a soma total funcional de todas as experiências passadas.

Um conflito, combatido em determinada idade, sempre deixa atrás de si um vestígio no caráter do indivíduo. Esse vestígio se revela como um enrijecimento do caráter. Funciona automaticamente e é difícil de eliminar. O paciente não o sente como algo alheio; freqüentemente, porém, percebe-o como uma rigidez ou como uma perda da espontaneidade. Cada um desses estratos da estrutura do caráter é uma parte da história da vida do indivíduo, conservada e, de outra forma, ativa no presente. A experiência mostrou que os conflitos antigos podem ser bem facilmente reativados pela liberação desses estratos. Se os estratos de conflitos enrijecidos eram especialmente numerosos e funcionavam automaticamente, se formavam uma unidade compacta e não facilmente penetrável, o paciente os sentia como uma <couraça> rodeando o organismo vivo. (*) Essa couraça podia estar na <superfície> ou na <profundeza>, podia ser <tão macia quanto uma esponja> ou <tão dura quanto uma rocha>. A sua função em todos os casos era proteger o indivíduo contra experiências desagradáveis. Entretanto, acarretava também uma redução da capacidade do organismo para o prazer. Experiências de vários conflitos compunham o conteúdo latente da couraça. A energia que conservava a couraça unida era, habitualmente, uma tendência destrutiva inibida. Isso se comprova pelo fato de que a agressão começava a soltar-se imediatamente, quando a couraça era penetrada. (…) as pessoas reagiam com profunda aversão a qualquer perturbação do equilíbrio neurótico da sua couraça. (**) Essa era uma das maiores dificuldades na investigação da estrutura do caráter. A tendência destrutiva, em si mesma, nunca era livre. Era refreada por atitudes de caráter opostas. Por isso, nas situações da vida em que era necessário ser agressivo, agir, ser decidido, assumir uma posição definida, a pessoa era levada pela piedade, pela polidez, pelas reticências, pela falsa modéstia; (sic) em suma, pelas virtudes que são tidas em alta estima. Mas não podia haver dúvidas de que paralisavam toda reação racional, (sic) todo impulso ativo de vida no indivíduo.”

(*) Isso é deveras nítido. Eu sou o planeta e eles são os satélites e detritos de estações espaciais. Em inércia, mas em órbita. É necessário enviar um astronauta… E é uma operação perigosa.

(**) Idéia de título de livro [hahaha!]: TEMPO COME ESPAÇO: O MITO DE CRONOS, O DEVORADOR DE PLANETAS. // A HISTÓRIA DE UM ÓDIO IMPRESSIONANTE // O COMPLEXO DE SOUJIRO SETA: Rafael, o Solícito

A que preço, hein, teu velho cheio de cicatrizes? A que preço tu superaste todos os obstáculos diante de ti como um rolo compressor? Estás multifragmentado por dentro. Não és mais que uma couraça gigante. Combater a depressão formando uma casca deve ser o conselho médico mais imbecil que já ouvi na vida… Médico da posse na CAPES.

ENSAIO PESSOAL: Estratificações do meu caráter (síntese)

(nota-prólogo: sonho de hoje – 28 de julho)

Eu voltava à clínica do Dr. Minoro, meu primeiro psiquiatra. Era horário de almoço, ele não estava. A secretária me atendeu. Me forneceu uma medicação, uma espécie de líquido amarelo que despejou na própria mão e que eu deveria “recolher” (como se fosse guardar com minhas mãos no bolso, ou num recipiente; não era para consumo imediato, para sorver com a boca, era o correspondente a várias dosagens que devia tomar homeopaticamente em casa); ela cometeu um erro e despejou mais do líquido do que era necessário; ele transbordou da sua mão para a mesa. Ela riu e eu também; queria ter sido grosso com ela, mas me contive, sendo sempre muito polido. Mas esse não parecia ser o motivo principal da minha visita. Era como se eu estivesse ali para revisitar meus colegas da terapia coletiva/hospital-dia com quem estive em “pé de igualdade” antes, para mostrar-lhes que “estava bem melhor agora”. Como era horário de almoço, não pude encontrar ninguém. Um detalhe é que o dr. Minoro tinha estipulado que eu devia voltar à clínica a cada quatro sextas, isto é, uma vez ao mês, e por alguma razão eu passei cerca de 2 ou 3 meses sem comparecer, por puro esquecimento e desleixo.

Angústias do meu histórico que o sonho pode estar refletindo: Foi meu primeiro tratamento psicológico-psiquiátrico, e o resultado, embora na própria clínica tenha sido dado como satisfatório, não me agradou. É como se tudo que eu tivesse feito foi “dar uma pausa” nas correrias e demandas do mundo real. Sem trabalhar ou estudar, meu corpo e minha mente restauraram de alguma forma a saúde e a noção de bem-estar, mas eu não tinha certeza alguma em relação ao futuro a longo prazo. Fato é que recebi alta do hospital-dia; continuei a visitar o dr. Minoro a cada mês para receber receitas de remédios, o que não durou mais do que 2 ou 3 vezes. Lembro que estava com muitos remédios acumulados, que davam para um tempo de 2 ou mais meses, mesmo que eu não voltasse ao consultório. Houve alguma discussão entre mim e meu pai em que ele insinuou que os remédios eram inúteis e caros; eu, afligido com a situação de dependência econômica em relação e ele, e considerando-me um “ex-paciente” que já voltara à normalidade, me auto-dispensei dos medicamentos. O que, diferentemente do que haviam relatado (tanto outros pacientes quanto profissionais da clínica) sobre o efeito-rebote, não me causou qualquer efeito colateral ou abstinência. Minha vida seguiu no ritmo desejado: fiz curso para concurso, fiz várias provas, depois, quando achei que não agüentaria o mesmo ritmo de estudos e as provas interessantes escassearam, tendo certa margem para poder me concentrar noutras coisas (ainda tinha dinheiro no banco da minha época de professor, de forma que nunca mais havia pedido dinheiro para o meu pai; das provas que realizei, era boa a chance de ser empossado em algum cargo nos próximos meses, etc.), me tornei ativo esportivamente. Primeiro me engajei em diversas sessões fisioterápicas para um velho problema de fascite plantar [fáscia: tecido fibroso, sangüíneo, nervoso]; me informei sobre meu caso (“pisada pronada” ou “pé chato”“Harry!”) e passei a usar somente calçados adequados. Fiz academia pela primeira vez. Emagreci muitos quilos. Emagreci cerca de 20kg na balança, mas devo ter perdido mais de 30kg de gordura. Tinha uma rotina regrada; não sofria de insônia. Dormia sem esforço à meia-noite e às 8 da manhã já estava de pé. Fazia os exercícios pela manhã. Me sentia com apetite regular, aprendendo a comer menos nas refeições, e ainda assim me sentia saciado. A tarde e a noite eram livres. Podia ler, escrever, ouvir música e ver anime.

Lembro que durante o tratamento no hospital-dia, interrompi o consumo de álcool assim que iniciei com a medicação (tarja vermelha). Mais ou menos nas últimas semanas, senti nova curiosidade e novo ímpeto para provar álcool e reinseri-lo na minha “dieta alimentar”, porque tornava as saídas mais interessantes afinal. Ou seja, fui abstinente da substância aproximadamente entre 18 e 24 meses, não me lembro ao certo quanto tempo. Uma vez fiquei quase 30 dias sem fumar, num mês de dezembro, por causa de uma dor de garganta. Considerava que seria fácil de parar se eu quisesse, naquele momento, mas julguei que eu tinha direito a certa arbitrariedade nos meus prazeres, então continuei fumando, simplesmente porque é agradável. Nota: no máximo 5 cigarros por dia.

Todo esse ciclo que descrevo durou de setembro-2011 a dezembro-2013 ou janeiro-2014. Raramente eu sentia episódios de ansiedade. De forma crônica e moderada, posso dizer que no pôr-do-sol sentia meu ritmo acelerar; durante dois dias na semana, eu fazia curso de francês, começando às 19h ou 19h30. Me sentia um pouco mais nervoso e inquieto antes de entrar na sala de aula, sem saber definir o porquê. Sempre fui muito pontual em meus compromissos. Pela primeira vez, comecei a me atrasar nas aulas, parte voluntária parte involuntariamente, porque decidia terminar alguma tarefa no computador e não administrava o tempo corretamente. Por exemplo: queria terminar de uma vez uma resenha de jogo, ao invés de deixar para depois. Além disso, as aulas estavam “banais” (eu já estava no módulo avançado do curso e tinha bastante autonomia na língua; não aprendia nada essencial ou inédito via curso). Um dos professores era considerado imensamente tedioso pelos outros alunos (jovens de 18-20 anos da UnB), um verdadeiro robô que apenas seguia o livro didático ordeiramente. Mas fato é que hoje eu me considero um sujeito que “se atrasa” em encontros, ao invés de ser o que chega “demasiadamente cedo”, como até antes dessa época.

Uma briga com meu pai, em particular, em 2013, motivada pelo pouco caso que ele exibia sobre a situação traumática de eu sofrer assaltos, me deixou mal por uma semana; não foi o suficiente para me fazer deixar de freqüentar a academia nem deixar de executar meus hobbies, mas um grande sentimento de culpa tomou conta de mim por ter gritado em alto e bom som, numa festa de um primo dele, que ele tinha que morrer. Mesmo sabendo que seria merecido se acaso ele morresse. É como se eu acreditasse que estava moralmente impedido de “ir contra as regras da moral”, que meu corpo me puniria caso eu insistisse nessa volição homicida… Mas nunca fui injusto: a opinião que tenho dele é a mais correta. De qualquer forma, comecei a me sentir diferente, mais inseguro e intranqüilo, na véspera de ser convocado para o cargo público na CAPES (7 de maio de 2014, meu primeiro dia aqui). Desde então meu quadro reverteu à situação anterior, quando dava aula, e me ressubmeti ao tratamento, em outra(s) clínica(s).

Em resumo, porque o primeiro tratamento deu apenas parcialmente certo, mas sem que eu achasse que tenha sido pela qualidade dos profissionais que me atenderam, e porque eu não o segui até o final (recebi alta apenas do acompanhamento psicológico), é que eu considero que tive esse sonho agora. Me ressinto pelo meu primeiro psiquiatra ser um velho que não conseguia entender minhas angústias, e porque meus psicólogos de variadas vertentes não atacavam meus problemas fundamentais. A pior experiência do período foi quando meus pais foram chamados para uma sessão de psicodrama. Acho que o psicólogo se chamava Ivan. Pois bem, a sessão foi um fiasco completo; meu pai se descontrolou e eu voltei para casa bastante instável. A partir desse dia, não tolerava mais os métodos da clínica. Aquele dia deveria ter sido minha “formatura”, pois já estava implícito que minha alta estava próxima. Tinha avançado bastante e agora era preciso apenas “aparar as arestas” na relação com meu pai. Como nada do que pudesse ser feito por eles converteria o meu pai de suas convicções fossilizadas, me senti traído por todos, principalmente pelo psicólogo do psicodrama, que disse que “não há nada de errado com seu pai, ele é um homem bom, honesto, mas não enxerga algumas coisas”. Mas foi nesse dia do fiasco do psicodrama que finalmente disse para mim: não quero mais “descansar”. Quero estudar para concursos. Vamos ser pragmáticos! Procurei uma instituição para me matricular num curso. Creio que dali a 2 meses já estava estudando. E dali a 1 mês (em relação ao dia do psicodrama) já não freqüentava o hospital-dia. Por algum tempo (umas 3 semanas) ainda compareci às sextas-feiras para fazer a “transição” e terminar de me despedir dos pacientes, que afinal foram as pessoas com quem mais interagi depois de me demitir da escola. Ainda converso com uma enfermeira e uma psicóloga deste lugar (CAPP-Vida) pelo Facebook. Eu queria estar melhor do que estava, mas de certa forma já esperava por isso, porque nunca me sentira compreendido naquele lugar. Fiquei bem comigo mesmo, embora tivesse o pressentimento de que aquela serenidade seria efêmera e quando “o mundo” me atacasse com o mesmo vigor de antes eu voltaria a cair e me ver em maus lençóis.

0

0-12

Até onde eu sei, tive uma infância bastante saudável e resolvi satisfatoriamente o que psicanalistas chamariam de “Complexo de Édipo” da primeira infância, não sofrendo de uma incapacitação severa ou neurose delicada.

I

13-16:

conflitos: pai, socialidade, sexualidade, amadurecimento, vida escolar

soluções parciais (vestígios): mudança de escola, procura por outros amigos, auto-afirmação intelectual, conquista amorosa e primeiro sexo, procura de maior diálogo e intimidade com o sexo oposto, comportar-se adequadamente com base numa nova visão e consideração a longo prazo (para que sintam orgulho de mim e me tomem como um modelo a se seguir).

partes mais duras da crosta (contrapontos, resíduo negativo): bullying (Pedro e Pinguço – “você jamais seria um de nós, a panela headbanger, embora não seja um deles [os playboyzinhos da sala ou do colégio – SIGMA])”, autoestima afetada, saudade do colégio militar (considero a expulsão minha 1ª morte), desafio aos professores (devido a meu posto desprivilegiado, de mero aluno, jamais poderia ganhar), perda da belicosidade enquanto ferramenta vantajosa, a vulnerabilidade do amor (estresses e angústias anteriormente desconhecidos; vida fica mais “séria” a partir deste ponto); o número de hobbies cresce cada vez mais (início da construção da “bomba-relógio fatal” de quem quer coisas demais e tem pouco tempo para concretizá-las) – será?!?

II

17-19:

conflitos: pai, pós-sexualidade, amadurecimento, vida acadêmica, mercado de trabalho

soluções parciais (vestígios): eu não fazia o que meu pai queria que eu fizesse (tirar a carteira de motorista, cursar direito…, mas no fim eu me achava no lugar que queria [cursando jornalismo, que queria desde os 10, talvez 11 anos]); meu primeiro namoro acabou, e eu ainda a amava, mas eu sempre estava saindo com alguém ou me apaixonando por curtos períodos de tempo – o que me preocupava era não ter mais uma parceira fixa; eu me via me transformando em jornalista, mas sem a recompensa financeira por isso; veio a “crise”: devia abandonar o barco, queria estudar sociologia e ser professor. Quem sabe finalmente eu conseguisse “soltar a língua”, me recuperar da rigidez e ser mais espontâneo! Além disso, me livraria de um peso: meu pai não reclamaria das mensalidades do curso de jornalismo no CEUB.

partes mais duras da crosta (contrapontos, resíduo negativo): eu tinha pânico de ter de trabalhar durante o curso (queria tempo para me aperfeiçoar, para ler, para curtir), e meu pai falou no sentido de um ultimato: “a partir do quinto semestre você vai ter de me ajudar a pagar seu curso, arranjar um estágio”. Não é possível obter estágio no curso de jornalismo antes do quinto semestre. Mas eu havia feito 2 estágios logo no primeiro semestre; um deles não-remunerado, e o outro ilegal, até que a empresa foi obrigada a me desligar. Eu me sentia mal nesses lugares, preferia as aulas. Achei perda de tempo. Por isso, era muito importante passar no vestibular da UnB para não ser obrigado pelo meu pai a trabalhar (e o que é pior: sem vantagem financeira nenhuma, pois o dinheiro iria para os boletos do curso). Ou seja, eu não “estava mais onde queria”, tinha que dançar conforme a música do “mundo real”. Me adaptar. Uma vez na UnB, eu tinha um compromisso comigo mesmo de “me enxergar como um professor” tão rápido quanto possível.

(2022: O engraçado é que o ser mais desadaptado ao mundo que conheço é o EXIGENTE EX-PAI!)

III

20-22

conflitos: vida acadêmica, amadurecimento, socialidade

soluções parciais (vestígios): comecei a me entrincheirar, para não me sentir desconfortável em relações com colegas que eu não desejasse ter; meus semestres letivos eram inteiramente dedicados ao curso. Lia todos os textos das disciplinas. Nas férias, procurava textos complementares que via nas ementas, ou investigava assuntos do meu interesse, como filosofia, leituras recomendadas na época do jornalismo, etc. Não havia tempo para mais nada (meus hobbies, como resenhar jogos, escrever um livro de ficção, esse tipo de coisa – talvez a única exceção fossem “descobertas musicais”, que fazia com prazer e alívio). (2022:) De certa forma foi, até hoje, o momento “mais ocupado” de minha vida.

partes mais duras da crosta (contrapontos, resíduo negativo): Me senti um solitário, cada vez mais “pesado”. Nunca era maduro o suficiente, por mais que crescesse muito como escritor e pensador. Nenhum professor morria de paixões por mim ou me enxergava como um gênio ou talento promissor, coisas que eu fantasiei que aconteceriam antes do curso começar. Deixei inteiramente de lado o campo amoroso.

IV

23-26

(fase tratada acima, no prólogo com a ajuda da descrição do sonho)

V

27-presente

conflitos: socialidade, sintomas físicos (somatização), administração do tempo, pais

soluções parciais (vestígios): aberto a novas amizades, vou, no entanto, conforme me desapontam, me fechando cada vez mais, como que por reflexo, como se fosse uma planta carnívora competente (automática, sem liberdade). Toda a soma das minhas angústias, não encontrando escapatória, nem se esgotando psiquicamente, começou a afetar meu físico de “n” maneiras. Trabalhar 8h por dia é tão ruim quanto sempre me falaram minha vida inteira, e me sinto um zumbi durante boa parte da semana. O jeito é me concentrar nas leituras por quanto tempo eu puder, dentro ou fora do trabalho, é claro. Até mesmo a dor física parece nos dar uma trégua durante nossas horas de concentração em problemas “auto-propostos” e de uma esfera mais alta e abstrata do que as “coisas mundanas”. Voltei a assumir hobbies antigos como os reviews de jogos e interesses literários extra-acadêmicos. Na verdade, iniciei publicamente minha carreira de escritor. Voltei a ter uma parceira fixa, “sonho” antigo. Ou seja, diferentemente do que pensava, não estava morto para o amor.

partes mais duras da crosta (contrapontos, resíduo negativo): Me sinto um solitário, ora mais leve, ora mais pesado. Sou até mais maduro do que deveria ser. Se eu pudesse ser tão acéfalo quanto alguns “respeitáveis pais de família” que conheço, isso redundaria em prazer e qualidade de vida. O acúmulo dos meus hobbies e a insatisfação com o ritmo dos trabalhos, tendo em vista que o cronograma de um trabalhador em tempo integral é apertado, me frustra continuamente. Ler e escrever virou praticamente uma compulsão, um mantra, um sine qua non. Eu não chamaria de uma atividade satisfatória, mas apenas catártica: pelo menos serve de substituto para um rivotril de vez em quando. Mas é “tudo que tenho”. Cada vez mais a coexistência com meus pais me oprime. Todo o amadurecimento que acumulei neste tempo terá sido em vão se não puder “exercê-lo” de fato, “voando” sozinho (ou com uma parceira, no caso).

O paciente queixava-se do vazio das suas experiências. Mas quando eu lhe apontava o mesmo vazio na essência das suas comunicações, na sua frieza, na sua natureza grandiloqüente ou hipócrita, ele se enfurecia. Ele percebia o sintoma — uma dor de cabeça ou um tique — como algo estranho. Mas o seu caráter era ele próprio. Perturbava-se quando lhe apontava isso. O que é que impedia uma pessoa de perceber a sua própria personalidade? Afinal, a personalidade é o que a pessoa é! Gradualmente comecei a entender que é o ser total que constitui a massa compacta e obstinada que obstrui todos os esforços de análise.” “a tendência destrutiva cravada no caráter não é senão a cólera que o indivíduo sente por causa da sua frustração na vida e da sua falta de satisfação sexual. (…) O desejo de destruir é apenas a reação ao desapontamento amoroso ou à perda do amor.” “Em suma, o amor contrariado causa angústia. Igualmente, a agressão inibida causa angústia; e a angústia inibe as exigências do ódio e do amor.” “a pessoa orgasticamente insatisfeita desenvolve um caráter artificial e um medo às reações espontâneas da vida; e assim, também, um medo de perceber as suas próprias sensações vegetativas.” “Traços de caráter como <complexo de inferioridade> ou <ambição de poder> são apenas manifestações superficiais do processo de <encouraçamento>, no sentido biológico da inibição vegetativa do funcionamento vital.”

Quanto à necessidade inconsciente de punição, não tinha nenhuma utilidade terapêutica; pois, se há um instinto biológico profundamente enraizado de permanecer doente e de sofrer, então a terapia nada pode fazer!”

Muitos analistas desorientavam-se por causa da desolação reinante no campo da terapia. Stekel não quis trabalhar sobre a resistência psíquica à revelação da matéria inconsciente, preferindo <atirar contra o inconsciente com interpretações>. Essa prática ainda é seguida por muitos psicanalistas desorientados. Era uma situação desesperada.”

STEKEL, Wilhelm – Nietzsche und Wagner, eine sexualpsychologische Studie zur Psychogenese des Freundschaftsgefühles und des Freundschaftsverrates, [Nietzsche e Wagner: Um estudo sexual-psicológico sobre a psicogênese dos sentimentos e rompimentos de amizade], 1917. In: Artigo em jornal alemão de Sexologia.

Jung generalizou a tal ponto o conceito de libido que este perdeu completamente a sua significação de energia sexual. Acabou no <inconsciente coletivo> e com isso no misticismo, que mais tarde representou oficialmente como nacional-socialista.”

digam aos pacientes que tenham relações sexuais, se vivem em abstinência; que se masturbem, e tudo irá bem! Era assim que os analistas tentavam interpretar — mal — a minha teoria da genitalidade. De fato, isso era precisamente o que muitos médicos e psiquiatras estavam dizendo aos seus pacientes naquele tempo.”

No meu trabalho clínico, nunca encontrei um instinto primário correspondendo à sexualidade ou à fome. Todas as manifestações que poderiam ser interpretadas como <instinto de morte> provaram ser produtos da neurose. Assim, por exemplo, ocorria no suicídio, que era ou uma ação inconsciente contra outra pessoa — com a qual o indivíduo se identificava —, ou ação para escapar do enorme desprazer causado por uma situação de vida extremamente difícil.” “o medo da morte e de morrer equivale a uma inconsciente angústia de orgasmo, e o suposto instinto da morte, o desejo de desintegração, de inexistência é o desejo inconsciente da solução orgástica da tensão.”

Agressão, no sentido estrito da palavra, não tem nada que ver com sadismo ou com destruição. A palavra significa <aproximação>. Toda manifestação positiva da vida é agressiva: o ato do prazer sexual assim como o ato de ódio destrutivo, o ato sádico assim como o ato de procurar alimento. Agressão é a expressão de vida da musculatura e do sistema de movimento. (*) A avaliação da agressão tem enorme importância para a educação das crianças. Grande parte da inibição da agressão que as nossas crianças têm de suportar, em seu próprio detrimento, é o resultado da identificação de <agressivo> com <mau> ou com <sexual> (*). Agressão é sempre uma tentativa de prover os meios para a satisfação de uma necessidade vital. (**) Assim, a agressão não é um instinto, no sentido estrito da palavra; consiste mais no meio indispensável de satisfação de todo impulso instintivo. Este último é essencialmente agressivo porque a tensão exige satisfação. Conseqüentemente, há uma agressividade destrutiva, uma sádica, uma locomotora e uma sexual.”

(*) “Você ainda tem que aprender muito na vida pra deixar de ser arrogante!” Desaprender a ética dos humilhados. Ser grande não significa ser presunçoso. Para cortar a ínfima parte com larvas do fruto, os “educadores” de nosso tempo despejam safras inteiras nos esgotos!

(**) depressive-agressive

a perversão denominada <sadismo> é uma mistura de impulsos sexuais primários e de impulsos destrutivos secundários. Não existe em nenhum outro lugar do reino animal — e é uma característica do homem, adquirida em um período tardio do seu desenvolvimento; um impulso secundário.”

toda supressão dos impulsos sexuais provoca ódio, agressividade não-dirigida (i.e., inquietação motora sem um objetivo racional), e tendências destrutivas.”

Toda conversão de uma neurose compulsiva em histeria era acompanhada de uma redução de ódio. Perversões ou fantasias sádicas no ato sexual diminuíam na medida em que a satisfação aumentava. Essas observações nos permitem entender o aumento dos conflitos conjugais quando a atração sexual e a satisfação diminuem; permitem-nos também entender o desaparecimento da brutalidade conjugal quando aparece outro companheiro de satisfação. Investiguei o comportamento dos animais selvagens e verifiquei que são inofensivos quando bem-alimentados e sexualmente satisfeitos. [não está exagerando?] Os touros só são selvagens e perigosos quando levados para junto da vaca; não, porém, quando levados de volta. Cães acorrentados são muito perigosos porque a sua atividade motora e a sua satisfação sexual são impedidas. Acabei por entender os traços brutais de caráter que se manifestam em condições de insatisfação sexual crônica. Pude observar este fenômeno em solteironas malevolentes e em moralistas ascéticos. Em compensação, pessoas capazes de obter satisfação sexual são visivelmente amáveis e boas. Uma pessoa capaz de sentir a satisfação sexual nunca é sádica. Se uma dessas pessoas se tornasse sádica, poder-se-ia presumir com segurança que uma perturbação súbita havia impedido a satisfação habitual. Isso também se observou no comportamento de mulheres que estavam na menopausa. Há mulheres que, na idade crítica, não apresentam traços de maldade ou ódio irracional, e outras que desenvolvem características de ódio na medida em que ainda não as haviam desenvolvido. Não pode haver dúvidas de que a diferença no comportamento se deve à sua experiência genital anterior. O segundo tipo se constitui de mulheres que nunca tiveram uma relação amorosa satisfatória e lamentam agora essa falha, sentindo consciente ou inconscientemente as conseqüências da estase sexual. Cheias de ódio e de inveja, tornam-se os mais violentos oponentes de qualquer forma de progresso.” “Assim, quanto à técnica, era necessário encontrar os mecanismos que inibiam as reações de ódio a fim de liberar a energia encravada.”

As crises apareciam sempre que ia ter relações sexuais com o marido, ou quando namoriscava alguém e começava a ficar excitada. Nessas ocasiões, sofria de dispnéia aguda [dificuldade de respirar e desconforto generalizado], da qual só melhorava com o uso de drogas anti-espasmódicas. A vagina era hipestésica [insensível ao toque]. A garganta, pelo contrário, hipersensível. Inconscientemente, sofria de fortes impulsos — dirigidos à mãe — de morder e de sugar. (…) A fantasia de um pênis transpassado na garganta manifestava-se claramente nos seus sonhos e ações. Quando as fantasias se tornaram conscientes, a asma desapareceu pela primeira vez. Mas foi substituída por excitações intestinais vagotônicas agudas [tensão do nervo vagal] em forma de diarréia. Esta alternava com uma constipação simpaticotônica [hipertensão arterial e taquicardia decorrente de alteração mórbida no sistema nervoso simpático]. (…) A fantasia do pênis na garganta cedeu lugar à fantasia de <ter um bebê no estômago, e de ter que vomitá-lo fora>. (…) Temia uma crise de diarréia durante a cópula. (…) Os intervalos entre as recaídas se tornaram mais longos. Isso continuou por vários meses. A asma desaparecia com cada progresso em direção à excitação vaginal, e reaparecia com cada deslocamento da excitação para os órgãos respiratórios. A oscilação da excitação sexual entre a garganta e a região pélvica era acompanhada das correspondentes fantasias da sexualidade oral e genital infantis. (…) Depois que esse medo foi superado, foi tomada pela angústia de que se desintegraria ou estouraria por causa da excitação.”

Nos homens a sensação da ejaculação esconde freqüentemente a angústia de orgasmo. Nas mulheres, a angústia de orgasmo aparece na sua forma pura. As suas mais freqüentes angústias são de sujar-se durante a excitação, de deixar escapar um flato, ou de urinar involuntariamente.” “As mulheres reagem de formas diferentes à angústia de orgasmo. A maior parte delas conserva o corpo imóvel, sempre meio conscientes da atividade sexual. Outras movem o corpo de maneira muito exagerada, porque o movimento delicado produz uma excitação muito grande. As pernas se conservam juntas. A região pélvica é puxada para trás. Como forma de inibir a sensação orgástica, sempre prendem a respiração. Muito estranhamente, não percebi isso até 1935.”

Se o paciente sofre de um medo hipocondríaco de catástrofe, então toda excitação forte é bloqueada. (…) Assim, é necessário <não perder a cabeça>: é necessário estar constantemente <em guarda>. É necessário <estar alerta>. Essa atitude de vigilância se expressa na fronte e nas pálpebras.” “As neuroses compulsivas caracterizam-se por uma abstinência ascética, rígida e bem racionalizada.”

P. 86: Pelo que pude entender, A Função do Orgasmo nasceu como um artigo ou livreto. O autor trata metalingüisticamente da obra na obra, isto é, fala acerca dela em terceira pessoa; basta lembrarmos que esta é a nona edição, muito posterior à data das primeiras descobertas de Reich sobre o binômio neurose-sexualidade [a posteriori: A Função do Orgasmo é só a primeira das duas partes da obra-maior A Descoberta do Orgone – créditos ao Dimitri]: “Os principais aspectos das minhas descobertas clínicas foram apresentados no meu livro Die Funktion des Orgasmus. Dei o manuscrito a F. no seu apartamento, no dia 6 de maio de 1926; o trabalho lhe fôra dedicado. Pareceu meio aborrecido ao ler o título. Olhou o manuscrito, hesitou por um momento e disse como se estivesse agitado: <Tão grosso?> [em qual sentido?] Não me senti muito à vontade. A sua reação não fôra racional. Era muito polido e normalmente não teria feito uma observação tão cortante. Antes, Freud costumava ler todo manuscrito em poucos dias, fazendo então seu comentário por escrito [tão dissimuladamente quanto Adorno?]. Agora, mais de dois meses se passaram, antes que eu recebesse a sua carta.” “Você mesmo não consegue explicar alguns dos sintomas mais característicos, e toda a sua idéia do deslocamento da libido genital ainda não está muito boa para mim. Entretanto, espero que continue a estudar o problema e chegue, finalmente, a uma solução satisfatória…” Tertuliano, se quisesse ser academicamente universal, devia ter também escrito um panegírico da Humildade.

Em 1928, foi publicado no jornal psicanalítico o primeiro ensaio sobre o tema [de Análise do Caráter], com o título de <Técnica de Interpretação e Análise das Resistências>. No fim do ano, revi o ensaio e o apresentei ao seminário de técnica. Foi o primeiro dos inúmeros artigos que nos cinco anos seguintes foram compondo o mencionado livro. Deveria ser publicado pela imprensa psicanalítica. Estava justamente lendo as segundas provas tipográficas, quando a comissão executiva da Associação Psicanalítica Internacional decidiu não permitir que o livro saísse com a sua chancela. Hitler acabava de assumir o poder.

princípio de coerência desenvolveu-se com base nos erros típicos da análise convencional, chamada ortodoxa. Esta seguia a regra de interpretar o material na mesma seqüência em que o paciente o oferecia, sem considerar a estratificação e a profundidade. Sugeri que as resistências fossem tratadas sistematicamente, começando-se com a que estivesse mais próxima da superfície psíquica e tivesse particular importância imediata. A neurose devia ser combatida de uma posição segura. Toda quantidade de energia psíquica liberada pela dissolução das funções de defesa deveria reforçar as exigências instintivas inconscientes e, dessa forma, torná-las mais acessíveis. Uma remoção sistemática dos estratos da couraça do caráter deveria levar em conta a estratificação dos mecanismos neuróticos. Interpretações diretas da matéria instintiva inconsciente podiam apenas romper esse trabalho, e assim deviam ser evitadas. O paciente devia primeiro entrar em contato consigo mesmo antes de poder compreender as relações dos seus diversos mecanismos neuróticos. Enquanto a couraça funcionasse, o paciente podia, no máximo, conseguir uma compreensão intelectual da sua situação. De acordo com a experiência, isso tinha um efeito terapêutico secundário.

Desconhecia a caducidade do método de associação livre antes de ler este livro: “Como a couraça limita o paciente, é claro que a sua inabilidade para expressar-se faz parte da enfermidade. Não é má vontade, como pensavam muitos analistas. A solução correta do encouraçamento psíquico rígido deve levar finalmente à relaxação da angústia. Liberada a angústia estásica, têm-se todas as possibilidades de estabelecer uma energia que flua livremente e, em combinação com ela, a potência genital.”

Já sabia que o como, a forma do comportamento e das comunicações, era muito mais importante do que o quê o paciente dizia ao analista. As palavras podem mentir. A expressão nunca mente. Embora as pessoas não tenham consciência disso, a expressão é a manifestação imediata do caráter [lição primeiro aprendida com a Tharsila]. Aprendi, com o tempo, a compreender a forma das próprias comunicações como expressões diretas do inconsciente [cavar, cavar e cavar… nada ainda!]. A necessidade de convencer e de persuadir o paciente diminuiu em importância e logo se tornou supérflua [“pense sobre isso… ou não” – V.H.]. O que quer que o paciente não entendesse espontânea e automaticamente não tinha nenhum valor terapêutico. Atitudes de caráter tinham de ser entendidas espontaneamente. A compreensão intelectual do inconsciente era substituída pela percepção imediata do paciente da sua própria expressão. Deixei de empregar a terminologia psicanalítica com os meus pacientes. Isso, por si mesmo, afastava a possibilidade de esconderem um sentimento atrás de uma palavra. O paciente não falava mais do seu ódio: sentia-o.

As transferências de amor e de ódio para o analista perderam o seu caráter mais ou menos acadêmico. Uma coisa é falar sobre o erotismo anal da própria infância, ou lembrar-se de que um dia foi sentido; muito diferente é experimentá-lo durante a sessão como uma necessidade real de expelir um flato e ter, até, que ceder à necessidade.”

Muitas regras psicanalíticas tinham um caráter inerente e forte de tabu, que apenas reforçava os tabus neuróticos do paciente no campo sexual. Assim, por exemplo, a regra era que o analista não devia ser visto — mas deveria permanecer, por assim dizer, como uma folha branca de papel, na qual o paciente inscreveria as suas transferências. Esse procedimento não eliminava, antes reforçava, o sentimento do paciente, de estar lidando com um ser <invisível>, inatingível e sobre-humano, i.e., em termos de um modo de pensar infantil, com um ser assexuado. Assim, como podia o paciente superar a timidez que se encontrava na raiz da sua enfermidade? Tratado dessa forma, tudo o que pertencia à sexualidade permanecia como diabólico e proibido, como algo que devia ser <condenado> ou <sublimado>, a qualquer preço.” “Não considerava curado nenhum paciente que não pudesse, pelo menos, masturbar-se livre de sentimentos de culpa. Atribuía a maior importância à supervisão da vida sexual genital do paciente, durante o tratamento. (Espero que se entenda que isso não tem nada que ver com a teoria de masturbação praticada por alguns analistas.)”

por mais ampla e multiforme que a minha prática tenha sido, não tive um só caso de suicídio. Foi só muito mais tarde que cheguei a entender os casos de suicídio que ocorriam durante o tratamento. Os pacientes cometiam suicídio quando a sua energia sexual fôra excitada mas era impedida de conseguir uma descarga adequada.”

Era claro que os impulsos anti-sociais que enchem o inconsciente são viciosos e perigosos apenas enquanto está bloqueada a descarga de energia biológica por meio da sexualidade. Se este é o caso, há apenas, basicamente, três saídas patológicas: impulsividade autodestrutiva desenfreada (vício, alcoolismo, crime causado por sentimentos de culpa, impulsividade psicopata, assassínio sexual, violação de crianças, etc.); neuroses de caráter por inibição dos instintos (neurose compulsiva, histeria de angústia, histeria de conversão); e psicoses funcionais (esquizofrenia, paranóia, melancolia ou insanidade maníaco-depressiva). Estou omitindo os mecanismos neuróticos operantes na política, na guerra, no casamento, na educação das crianças, etc.”

NO DIVÃ…

– Quê que tá pegando, bicho?

– Faço a menor Idéia, meu!

– Jocasta, talvez?

– Não, ela ocupa a posição passiva…

– Disso eu entendo, afinal sou um anal-ista…

– He-he [forçada]

– Parabéns!

– Pelo quê?!

– Meu intuito nesta sessão era arrancar-lhe inconscientemente este seu desejo latente de rir de uma fria piada instrumental, de um jogo de linguagem [ba]c(a[na-l]. Isso fará de você, a médio prazo, um analisando menos banana!…

– Como pode ser tão cruel, Senhor Doutor?! Me comparando a um objeto passivo, devorado o tempo todo por macacos, o Pai do Homem!

– Isso porque eu não mencionei que se tratava de uma Banana Nanica!…

– Dizem que banana dá muito, em todas as estações do ano…

– Seja no litoral, seja no interior…

– Mas, desconversando, do que você chamaria o Popeye?!

– Agora o piadista é você?

– Ainda não está na pista?

– Eu diria que é um belo dum Freudiano clássico… Que se revela mormente nos sonhos…

– Por quê? Why? Cause then you pop ‘n eye?

– Porque ele tem PULSÃO!

– De vida ou de morte?

– Ora essa, de vida, pois o espinafre é verde e germina, como machão que é… Agora você paga!

– Como assim?

– É, como eu disse, é uma pulsão devida… Eu te dou motivos para continuar vivo, e fermento o fluxo de caixa em sua carteira…

Não entendia como é que o tenaz processo neurótico podia ceder tão rapidamente. Não desapareciam apenas os sintomas de angústia neurótica: mudava toda a personalidade do paciente. Eu não conseguia explicá-lo teoricamente.” “A atitude em relação ao trabalho mudou. Se, até então, haviam trabalhado mecanicamente, sem demonstrar nenhum interesse real, considerando trabalho como um mal necessário que uma pessoa assume sem pensar muito, agora se tornavam judiciosos. Se as perturbações neuróticas os haviam impedido antes de trabalhar, agora eram impelidos por uma necessidade de entregar-se a algum trabalho prático, pelo qual pudessem ter um interesse pessoal. Se o trabalho realizado era capaz de absorver os seus interesses, floresciam. Se, porém, era de natureza mecânica, como o do empregado de escritório, o do homem de negócios ou o do funcionário medíocre, então se tornava um peso quase intolerável.” “Em outros casos, houve completo abandono do trabalho quando o paciente se tornou capaz de obter a satisfação genital. Isso parecia confirmar as advertências mal-intencionadas do mundo, de que a sexualidade deixou de ser alarmante. Ficou claro que os últimos eram pacientes que, até então, haviam realizado o seu trabalho com base em um senso compulsivo do dever, à custa dos desejos íntimos a que haviam renunciado; desejos que não eram absolutamente anti-sociais, muito pelo contrário. Uma pessoa que se sentisse mais capacitada para ser um escritor e se empregasse em um escritório de advogado precisaria reunir toda a sua energia para dominar a sua revolta e suprimir os seus impulsos sãos.” “Os pacientes mais difíceis eram os que estavam estudando para o sacerdócio. Inevitavelmente, havia profundo conflito entre a sexualidade e a prática da sua profissão. Resolvi não aceitar mais sacerdotes como pacientes.”

Conservamos todas as utopias de nossa história pessoal. A nossa utosfera ou redetopia ou biotopia.

O jovem ficaria cada vez mais emaranhado em uma situação difícil. Não apenas se absteria da possibilidade da satisfação instintiva, mas se negaria também a possibilidade de procurar outro objeto. (*) Uma neurose para ambos resultaria necessariamente. Permaneceria a lacuna entre a moralidade e o instinto. Ou o instinto se expressaria de uma forma disfarçada ou corrompida. O jovem poderia, facilmente, desenvolver fantasias compulsivas de violação, impulsos de violação real, ou as características de uma dupla moralidade. (**) Freqüentaria prostitutas e correria o risco de adquirir uma doença venérea. Não haveria nenhuma possibilidade de harmonia interior. De um ângulo puramente social, o resultado não poderia ser mais desastroso, nem a <moralidade>, como quer que seja, teria sido satisfeita.”

(*) COMO DESTRUIR O VELHO MUNDO COM O MARTELO – COMECE POR SI MESMO: Um segundo tudo bem, mas um terceiro? Curso de graduação, a mulher perfeita, o melhor amigo… Um terceiro pai, um terceiro olho, terceiro gênero, terceiro membro colateral?! Um terceiro comprimento de cabelo? Uma série infinita de concursos cada vez mais bem-remunerados? Uma semiótica cada vez mais desnudadora? Temos um limite. Mesmo as brincadeiras atualizáveis da infância (videogame) se cristalizaram e são impedidas no mundo real. Gostam de ser revividas apenas esterilmente, em mil labirintos oníricos. Zum zaravalho… 1, 2, 3, COLÉGIO!!!

(**) Se eu fosse um monge, seria devasso. Se eu fosse mau, eu seria um bom homem.

título LIVRO: CALIGRAFIA DISCURSIVA

A auto-regulagem segue as leis naturais do prazer; não apenas é compatível com os instintos naturais: é, funcionalmente, idêntica a eles.” “A estrutura psíquica moralista abertamente adere às rígidas leis do mundo moralista; exteriormente adapta-se a elas; e interiormente revolta-se [Não seria esse o comportamento mais natural, em vez de anti-natural? O raciocínio silogístico de Reich parece não percebê-lo. Se se revolta, não é moralista. É uma mulher de César por necessidade.]. Uma pessoa com semelhante estrutura [Inata? Curável?] está constantemente à mercê de inclinações anti-sociais [A sociedade é moralista ou natural? A moral não é uma segunda natureza?] — de natureza tanto compulsiva como impulsiva. A pessoa com uma estrutura auto-regulada e sã não se adapta à parte irracional do mundo; insiste na satisfação dos seus direitos naturais. Parece doente e anti-social [Reich apenas se enrola na prosa, mas começamos a entender o que ele pretende afirmar] aos [olhos dos] moralistas neuróticos. Na realidade, é incapaz de praticar ações anti-sociais. Desenvolve uma autoconfiança natural, baseada na sua [pre]potência sexual[, diria uma Thaís]. Uma estrutura moralista caminha sempre de mãos dadas com uma potência fraca, e a pessoa é constantemente forçada a procurar compensações, i.e., a desenvolver uma autoconfiança artificial e afetada [Vanigracismo]. A felicidade sexual [contradição em termos] dos outros lhe desperta o mau humor [dilema/trampa/doublebind: estaria eu me disfarçando de auto-regulado, ou apenas estagiando no inferno do moralismo, perdido e desorientado?], porque se sente excitado por ela mas é incapaz de gozá-la. Essencialmente, empenha-se na relação sexual apenas para provar a sua potência [U*****]. Para a pessoa que tem uma estrutura genital [auto-regulada], a sexualidade é uma experiência de prazer, e nada mais. O trabalho (*) é uma atividade agradável e uma realização [salto complicado]. Para o indivíduo moralistamente estruturado, o trabalho é um dever cansativo, ou apenas uma necessidade material [que trabalho, cara pálida?].

(*) Critério de decisão: expediente burocrático ou período de criação e investigação artístico-filosóficas??

A pessoa que tem uma estrutura moralista [minha cobaia: A******] tem de desenvolver uma couraça que restringe e controla automaticamente todas as ações e funções, e independe de situações exteriores [exemplo concreto: Sempre considerou repulsivo que eu tivesse hábitos que os outros considerariam excêntricos, isto é, fazer listas de objetivos a curto ou médio ou longo prazo, expressar sentimentos ou exprimir-me poeticamente sobre laços de amizade originados na infância (episódio do Orkut). Hoje em dia, caso ainda conservasse contato comigo, ou, abstraindo, se pudéssemos divisar sua rotina na Valec, poderíamos intuir a continuidade desse quadro: A CREDIT TO DEMENTIA: <Qual o nexo de você perder seu tempo manuscrevendo ou digitando essas coisas no horário de almoço ou mesmo enquanto está vago no trabalho? Qual o sentido de ler esses caras? O que você GANHA com isso tudo?!? Pior: por que problematizar, racionalizar, sobre o que eu falo, essa sua própria condição anormal? Mire-me e inspire-se, eu sou o sucesso, o ~padrãozinho~ de nascença. Todas as doenças psicossociais passam por mim resvalando, no máximo de raspão, é isso mesmo, graças a minha condição exuberante desde o berço. Esse é o mito que NÓS nos criamos, percebe? Lembra-se? FRATURA EXPOSTA NOS SEUS SONHOS. Você não me ligou no dia do meu último aniversário porque afinal nós nascemos juntos. Prova disso é que eu me sinto em sintonia com os outros, fazendo o que todo mundo faz, ganho mais que você, tenho o carro do ano e não estou em crise com isso. Moro bem, sou bem-casado… Você só anda com malucos, não sabe nem dirigir, e tenho certeza que é um socialista! Ainda escuta heavy metal e deixa o cabelo e a barba crescerem, como se adolescente sujismundo fosse… Não sabe jogar bola, está acima do peso e fala mal dos outros pelas costas. Tenho pena de você! Inclusive esse eu imaginário que você trata de, realisticamente, que seja!, dotar de vida e incrustar no seu blog, em palavras, é a manifestação literal da sua patologia, a obra de uma mente insana e insanável! Eu, eu sou a prova, que você testemunha de 4 em 4 anos em época de Copa! Você no espelho gostaria de ser-me! Será que eu sei disso, Rafael? Seu sonho é me usar para um dia vender seus livros, eu rendo discursos. Pois bem, bolsominions são vendáveis! E tem mais: enquanto você digita, teima em achar que está sendo observado e julgado! Mas ninguém liga para o que você faz nesse computador o dia todo, simplesmente… Não poderia ser mais curto, ferino e grosso… Por que eu sou tão importante para VOCÊ VOCÊ VOCÊ?!?!?!?! My mother once said: you need Morals, you need Christian Morals, to survive and educate children in this world…You need my Son always in your unconscious, you need to be an A.A.V II’s Dad! Otherwise, it won’t work, I’m predicting, I’m prophesying> — Affectionately, Sphinx].”

DIREITO DE RESPOSTA AUTODADO: – É verdade, eu só queria um mundo em que ainda pudéssemos ser melhores amigos, em que você existisse e eu também (por incrível que pareça nem 2 desses 3 fatores podem coexistir… Se você existe e é meu amigo, eu não existo como tal; se eu e você existimos, não somos amigos como tais; se eu existo e sou seu amigo, você não é isso que você é, a negação mais positivada da carne que eu jamais testemunhei!

A regulagem moralista não pode ser destruída a menos que seja substituída por algo diferente, e melhor.”

Desempenho reativo do trabalho: O trabalho é executado de modo mecânico, forçado e maçante; enfraquece os desejos sexuais e é diametralmente oposto a eles. Só pequenas quantidades da energia biológica podem ser descarregadas na sua execução. O trabalho é essencialmente desagradável. As fantasias sexuais são fortes e interrompem o trabalho. Por isso, têm de ser reprimidas, criando mecanismos neuróticos, que reduzem ainda mais a capacidade para o trabalho. A redução do rendimento de trabalho sobrecarrega todo impulso amoroso com sentimentos de culpa. A auto-confiança é enfraquecida. Isso acarreta fantasias neuróticas compensatórias de grandeza.”

R. – The Sexual Revolution

Essas reuniões mensais na casa de Freud eram abertas apenas aos titulares da Sociedade Psicanalítica. Todos sabiam que se diziam palavras da maior importância e que se tomavam importantes decisões. Era preciso considerar cuidadosamente o que se dizia. A psicanálise tornara-se um movimento muito controvertido, de âmbito mundial. A responsabilidade era enorme, mas não era do meu feitio fugir parodiando a verdade: devia apresentar o problema exatamente como era, ou calar-me. A última hipótese já não era possível. O meu trabalho político-sexual adquirira autonomia”

O que é que se deve fazer quando a mulher, apesar de um desejo consciente, tem a vagina seca?” “Por que é que os homens gostam tanto de conversar entre eles sobre as suas relações com as mulheres?” “O ato sexual entre irmão e irmã é punido na União Soviética?” “Um operário estava casado com uma mulher gravemente doente que, havia anos, não podia deixar o leito. Tinham três crianças pequenas e uma filha de 18 anos. A moça tomou o lugar da mãe, cuidava das crianças e do pai. Não havia problemas. Dormia com o pai. Tudo ia muito bem. Ela continuava a tomar conta da família, a cozinhar, a cuidar da casa. O pai trabalhava e cuidava da mulher doente. A filha era boa para os irmãos menores. O povo começou a murmurar. A polícia de costumes foi chamada. O pai foi detido, acusado de incesto e jogado à prisão. As crianças foram postas no asilo. A família desabou. A filha teve de empregar-se como criada em uma casa estranha. Por quê?” “O que é que se deve fazer quando se quer ter uma relação sexual e há outras pessoas dormindo no mesmo quarto?” “O meu filho tem 3 anos e vive brincando com o pênis. Tento puni-lo, mas não adianta. Faz mal?” “Eu me masturbo todos os dias — casualmente três vezes no mesmo dia. É prejudicial à minha saúde?” “Zimmermann – um inovador suíço – diz que, para evitar a gravidez, o homem deve impedir a ejaculação não se movendo dentro da mulher. É verdade? Dói!” “Qual deve ser o relacionamento entre meninos e meninas em um acampamento de férias?” “A leucorréia [corrimento vulvovaginal esbranquiçado] é causada pela masturbação?”

Nesses serões, dedicados à discussão da profilaxia das neuroses e à questão da cultura, Freud a princípio exprimia claramente as opiniões que haviam sido publicadas em Civilization and its Discontents, em 1931 e que muitas vezes estavam em evidente desacordo com a posição assumida por ele em The Future of an Illusion.”O Mal-Estar na Civilização/Modernidade como reação freudiana a Reich.

A neurose é uma epidemia que age debaixo da superfície. A humanidade, como um todo, está psiquicamente enferma.” Problema infinito “Segundo os dados estatísticos que eu havia compilado em diversas organizações e grupos de jovens, podia demonstrar-se que não menos de 60 e até 80% dessas pessoas eram afligidas por graves moléstias neuróticas. E é preciso ter em mente que essas cifras representam apenas os sintomas neuróticos conscientes; não incluem as neuroses de caráter, das quais os membros dessas organizações não suspeitam.” “em reuniões de sociedades fechadas (por exemplo: organizações de livres pensadores, grupos de estudantes e de operários, todos os tipos de grupos jovens politicamente orientados, etc.), que não tinham nenhuma atração para os neuróticos, a percentagem de neuroses sintomáticas era apenas, em média, 10% mais baixa que a das reuniões abertas. Nos 6 centros de orientação que estavam sob a minha supervisão, em Viena, uns 70% dos que vinham em busca de ajuda e de conselho precisavam de tratamento psicanalítico. Apenas uns 30%, homens e mulheres que sofriam de neuroses estásicas de tipo médio, podiam ser ajudados por meio de orientação e ajuda social.”

qual é, na vida, o destino posterior dessas pessoas sãs? Não terão uma vida fácil: isso é certo. Entretanto, sem a ajuda da <organoterapia espontânea da neurose> (emprego a expressão para designar a solução orgástica das tensões), superam o laço patológico que as liga à família, e também os efeitos da miséria sexual da sociedade.”

O flagelo maciço das neuroses é produzido em três estágios principais da vida humana: na primeira infância, através da atmosfera de um lar neurótico; na puberdade, e finalmente no casamento compulsivo, na sua concepção estritamente moralista.”

Adolescentes que encontram o seu caminho dentro da verdadeira vida da sexualidade e do trabalho, rompem o laço que os ligava aos pais, e que fôra adquirido na infância. Os outros, seriamente afetados pela frustração específica determinada pela inibição sexual, regridem mais que nunca para a situação de infância. É por essa razão que a maior parte das neuroses e psicoses se desenvolve na puberdade.”

Age-se com hipocrisia quando se permite legalmente a um, ou uma, adolescente que se case na véspera do seu 16º aniversário — proclamando assim que as relações sexuais não são nocivas nesse caso — ao passo que, ao mesmo tempo, se exige o <ascetismo até o dia do casamento>, mesmo que este não se possa realizar antes que o homem, ou a mulher, tenha os seus 30.”

A rebelião típica dos adolescentes contra o lar paterno não é uma manifestação neurótica da puberdade, mas uma preparação para a função social que esses jovens terão de desempenhar mais tarde, como adultos. Eles têm de lutar pela sua própria capacidade e pelo seu progresso.”

A saúde psíquica se caracteriza não pela teoria do Nirvana dos iogues e budistas, nem pelo hedonismo dos epicuristas (*) ou pela renúncia do monasticismo; caracteriza-se pela alternância entre a luta desagradável e a felicidade, entre o erro e a verdade, entre a derivação e a volta ao rumo, entre o ódio racional e o amor racional; em suma, pelo fato de se estar plenamente vivo em todas as situações da vida.

(*) A expressão emprega-se aqui no seu sentido vernacular. Na verdade, Epicuro e a sua escola não têm, além do nome, nada em comum com a chamada filosofia epicurista da vida. A filosofia natural séria de Epicuro foi mal-entendida pelas massas semi-educadas e não-educadas como defensora da satisfação dos impulsos secundários. Não há como evitar essas falsificações de idéias verdadeiras. A economia sexual é traída pelo mesmo fato — pelos que sofrem da angústia de prazer, por uma ciência que teme a sexualidade.”

A capacidade de suportar o desprazer e a dor sem se tornar amargurado e sem procurar o refúgio no encouraçamento caminha lado a lado com a capacidade de receber a felicidade e de dar o amor. Como salientou Nietzsche, aquele que poderia <exaltar-se até atingir as culminâncias do céu> deve estar preparado para <ser mergulhado na morte>.” Human being against the turtle-in-us

As necessidades sexuais podem ser satisfeitas com um, e mesmo, companheiro durante algum tempo apenas. (…) A satisfação sexual pode prover a base de um casamento feliz. Mas essa mesma satisfação está em desacordo com todos os aspectos da exigência moralista da monogamia vitalícia.” “A intimidade sexual e a amizade humana são substituídas, nas relações conjugais, por uma fixação paterna ou materna e por mútua dependência escravizante: em suma, por um incesto disfarçado. Hoje esses temas são lugares-comuns, há muito tempo descritos pormenorizadamente, que só padres, psiquiatras, reformistas sociais e políticos continuam, em grande número, a ignorar.”

Biologicamente, o organismo humano são necessita de 3000 ou 4000 atos sexuais ao longo dos 30 ou 40 anos em que é genitalmente ativo.” Média de uma transa a cada 5 dias.

Os elementos do caos sexual são inter-relacionados. A proibição da masturbação na infância reforça na mulher a angústia de sentir a vagina penetrada ou tocada, levando-a a temer o uso de meios anticoncepcionais.”

a psicanálise, embora correta como psicologia individual, não tinha importância social. Era assim que falavam os marxistas que simpatizavam com a psicanálise.” R. – Dialektischer Materialismus und Psychoanalyse

Deixava os meus manuscritos permanecerem na gaveta do meu escritório durante anos, antes de me sentir suficientemente seguro para publicá-los. Ser esperto era algo que eu podia deixar para os outros.”

Wer Wissenschaft und Kunst besitzt, hat auch Religion,

Wer jene beiden nicht besitzt,

der habe Religion!”

Aquele que tem Ciência e Arte também tem Religião,

Aquele que ambas não tem,

que esse tenha Religião!”

Goethe

Hoje, encarando o perigo universal, o mundo inteiro percebe aquilo que há 12 anos apenas se mencionava.”

Toda a política da cultura (filmes, romances, poesia, etc.) gira em torno do elemento sexual e medra sobre a sua renúncia na realidade e a sua afirmação no ideal. As indústrias e a propaganda capitalizam-no.”

CONTRA O PAPA: “Admitir a possibilidade da felicidade humana teria sido a mesma coisa que admitir a incorreção da teoria do instinto de morte.” “Hoje entendo também a necessidade da sua resignação. Durante uma década e meia, ele havia lutado pelo reconhecimento de fatos simples. Os seus colegas de profissão o tinham caluniado, o haviam chamado de charlatão, e posto em dúvida a sinceridade das suas intenções. Freud não era um pragmatista social, <apenas> um cientista; mas era um cientista cuidadoso e honesto. O mundo não podia mais continuar a negar a existência da vida psíquica inconsciente e assim se valeu da sua antiga manobra de corrupção: enviou-lhe muitos estudantes, que chegaram a uma mesa servida e não tiveram de preocupar-se com a cozinha. Tinham apenas um interesse: popularizar a psicanálise o mais depressa possível. [ninguém obrigou Fraud a isso: ele foi o mais desejoso desse processo abestalhador!] (…) Freud sabia em 1929 que, apesar de todo o meu entusiasmo juvenil, eu estava certo. Admiti-lo, porém, significaria sacrificar a metade da organização psicanalítica.” “A maior tragédia de Freud é que ele procurava refúgio em teorias biológicas, em vez de calar-se ou de deixar que cada um fizesse o que bem entendesse. Foi isso o que o levou a contradizer-se.” “O sofrimento causado pelas relações do sujeito com outras pessoas, disse Freud, é mais doloroso que qualquer outro. As pessoas têm a tendência de encará-lo como um aborrecimento superficial, mas não é menos fatal ou mais evitável do que o sofrimento que tem outras origens. Aqui, Freud dá voz às suas próprias experiências amargas com a espécie humana. Aqui, atinge o problema econômico-sexual de estrutura, i.e., a irracionalidade que determina o comportamento de um homem. Eu mesmo tive dolorosa amostra disso na organização psicanalítica, organização cuja tarefa profissional deveria consistir no controle médico do comportamento irracional.” “Freud estava desiludido. A princípio, pensava haver descoberto a terapia radical das neuroses. Na realidade, isso fôra apenas um começo. Era muito mais complicado do que sugeria a fórmula de tornar o inconsciente consciente. Sustentava que a psicanálise podia abraçar não apenas problemas médicos, mas problemas universais da existência humana. Mas não encontrou o seu caminho na sociologia.”

Uma criança brinca de maneira natural. É coibida pelo seu ambiente. A princípio, defende-se contra a coibição. Vencida, preserva apenas a defesa contra a limitação do prazer, sob a forma de reações irracionais de despeito, destituídas de objetivo, e patológicas. Da mesma forma, o comportamento humano reflete apenas as contradições entre a afirmação de vida e a negação de vida no próprio processo social. A psicanálise tornou-se uma <teoria de adaptação cultural> abstrata e portanto conservadora, cheia de contradições insolúveis.”

influenciando os impulsos instintivos, e não o mundo que obriga as pessoas a viverem com o desejo, é que o homem poderia esperar libertar-se de uma certa dose de sofrimento. A finalidade dessa influência estaria em dominar as pontes interiores das necessidades. De um modo radical, isso poderia conseguir-se matando os instintos, como ensinado pela filosofia oriental e posto em prática pela ioga. Esses são os argumentos de Freud, o homem que, incontestavelmente, pôs diante do mundo a verdade da sexualidade infantil e da repressão sexual!” “Eu sabia que um dia todos os espíritos da escuridão e do medo à vida apontariam Freud como o seu chefe.”

O amor sexual proporciona as mais fortes sensações de prazer e é o protótipo do anseio de felicidade em geral. Mas uma pessoa nunca está menos protegida contra o sofrimento do que quando ama, e nunca está mais desamparadamente infeliz do que quando perde o objeto amado, ou o amor.”

No sentido estrito da palavra, a história e a mitologia primitivas são reproduções da economia sexual da espécie humana.”

Eu visava a descobrir os motivos inconscientes de um homem como Freud, que se pôs, e à sua autoridade, no ápice de uma ideologia conservadora e, com a sua teoria da civilização, destruiu aquilo que havia realizado por meio de um trabalho contínuo como cientista natural e como médico. Não podia haver dúvidas de que não agira assim por covardia intelectual ou por conservadoras razões políticas.”

EUNUCO, O POLÍTICO MAIS CRUEL

A supressão sexual tem a função de tornar o homem dócil à autoridade exatamente como a castração dos garanhões e dos touros tem a função de produzir satisfeitos animais de carga.”

O precoce tem sua vendeta na velhice, que lhe é mais confortável e contemporânea.

era precisamente essa a questão que os acontecimentos sociais, por volta de 1930, tornavam imperativa. Foi o dilúvio fascista que varreu a Alemanha como um macaréu [enchente, cheia, onda fluvial acarretada pelo encontro da água do mar com a correnteza de um rio em momento de maré alta], surpreendendo a todos e fazendo com que muitos se perguntassem como podia acontecer semelhante coisa. Economistas, sociólogos, reformistas culturais, diplomatas e homens de Estado procuravam por uma resposta nos livros antigos. Mas os livros antigos não continham nenhuma explicação desses fenômenos. Não havia um só modelo político que facilitasse uma compreensão das emoções humanas irracionais que o fascismo representava. Nunca, antes, a própria alta política havia sido posta em xeque coma estrutura irracional.”

O psicanalista inglês Ernest Jones protestou categoricamente contra esse argumento funcional e sociológico afirmando que o complexo de Édipo descoberto no homem europeu era a fons et origo de toda a cultura. Por isso, a família dos dias de hoje era uma instituição biológica imutável.”

A poucas milhas das ilhas de Trobriand, nas ilhas de Amphlett, vivia uma tribo com um sistema patriarcal baseado na autoridade da família. Todas as características dos neuróticos europeus (desconfiança, angústia, neuroses, suicídios, perversões, etc.) já eram evidentes nos nativos dessas ilhas.” Não sei por que lamentamos tanto o fim do patriarcado. O mal de ver a casa desabar de dentro? Enfim, 30 anos de neurose, desconfiança, angústia, perversões e, bem, pelo menos de 5 a 7 anos com pensamentos suicidas em nível moderado são o que meu pai me legou enquanto vivi sob este teto. Feliz dia dos pais (13 de agosto de 2017)!

O casamento de primos cruzados encontrou-se em toda parte onde a pesquisa etnológica pôde provar a existência atual ou histórica do matriarcado (cf. Morgan, Bachofen, Engels e outros). Exatamente como as nossas, essas crianças são obrigadas a viver vida ascética; demonstram as mesmas neuroses e traços de caráter que conhecemos nos neuróticos de caráter.”

Uma humanidade que tem sido forçada, por milhares de anos, a negar a sua lei biológica e que, em conseqüência dessa negação, adquiriu uma segunda natureza — que é uma anti-natureza — pode apenas debater-se em exaltação irracional quando quer restaurar a sua função biológica básica e, ao mesmo tempo, teme fazê-lo.” Na superfície, usa a máscara artificial do autocontrole, da insincera polidez compulsiva e pseudo-socialidade. Essa máscara esconde o segundo estrato, o <inconsciente> freudiano, no qual sadismo, avareza, sensualidade, inveja, perversões de toda sorte, etc., são mantidos sob controle, não sendo entretanto privados da mais leve quantidade de energia. Esse segundo estrato é o produto artificial de uma cultura negadora do sexo e, em geral, é sentido conscientemente como um enorme vazio interior e desolação. Por baixo disso, na profundidade, existem e agem socialidade e a sexualidade naturais, a alegria espontânea no trabalho e a capacidade para o amor. Esse terceiro e mais profundo estrato, que representa o cerne biológico da estrutura humana, é inconsciente e temido. Está em desacordo com todos os aspectos da educação e do controle autoritários.” “Uma das suas características mais essenciais veio a ser essa de sentir-se felicíssimo em atirar a sua responsabilidade de si mesmo para cima de algum führer ou político —, pois não se compreende mais e, na verdade, teme a si mesmo e às suas instituições. Está desamparado, é incapaz para a liberdade e suspira pela autoridade porque não pode reagir espontaneamente; está encouraçado e quer que se lhe diga o que deve fazer [complexo de Shinji], pois é cheio de contradições e não pode confiar em si mesmo.”

desamparado se depara com o desânimo, esse mundo parado

don’t tell me what ta do

don’t go travel to the United States of Claustrophobia

Hitler morreu… e o sociopata já não se sente muito bem…

O que o verniz superficial da boa educação e um autocontrole artificial havia refreado durante tanto tempo irrompia agora em ação, completado pelas próprias multidões em luta pela liberdade: nos campos de concentração, na perseguição aos judeus, na aniquilação de toda a decência humana, na destruição sádica e divertida de cidades inteiras por aqueles que só são capazes de sentir a vida quando marcha o seu passo de ganso [*], como em Guernica [**], em 1936 (…) uma dança de São Vito [***] que voltará sempre”

[*] Cadência militar não criada mas apropriada pelo nazismo e que hoje se conserva como um símbolo seu.

[**] Massacre (bombardeio aéreo) de civis pelas próprias forças aliadas (já que o Franquismo se aliou ao Nazifascismo às vésperas da Guerra) na cidade de mesmo nome. 1937. O número de vítimas parece risível hoje em dia: não chegou a 1000. Parece um daqueles fatos históricos banais que só repercutem mesmo em sua forma artística.

[***] Febre reumática e mal nervoso que gera espasmos involuntários em músculos dos membros e da face, geralmente em bebês. Excerto Wiki: Sydenham’s chorea is characterized by the abrupt onset (sometimes within a few hours) of neurologic symptoms, classically chorea [a dança dos pés e das mãos], usually affecting all four limbs. Other neurologic symptoms include behavior change, dysarthria, gait disturbance, loss of fine and gross motor control with resultant deterioration of handwriting, headache, slowed cognition, facial grimacing, fidgetiness and hypotonia.”

CAMPO DE LABORATÓRIO DE CONCENTRAÇÃO: “Em 1928-30, ao tempo da controvérsia com Freud, eu sabia muito pouco sobre o fascismo; quase tão pouco quanto a média dos noruegueses em 1939, ou a média dos americanos em 1940. Foi só em 1930-33 que comecei a conhecê-lo na Alemanha. Senti-me desamparadamente perplexo quando redescobri nele, aos poucos, o assunto da controvérsia com Freud.” “O fascismo alemão deixou bem claro que não operava com o pensamento e a sabedoria do povo, mas com as suas reações emocionais infantis. Nem o seu programa político nem qualquer das suas muitas e confusas promessas econômicas levaram o fascismo ao poder e o garantiu aí no período seguinte: mas sim, em grande parte, foi o apelo a um sentimento místico e obscuro, a um desejo vago e nebuloso, mas extraordinário e poderoso. Aqueles que não entenderam isso não entenderam o fascismo que é um fenômeno internacional.” “o fascismo não era uma nova filosofia de vida, como os seus amigos e muitos dos seus inimigos queriam fazer o POVO acreditar; ainda menos tinha qualquer coisa que ver com uma revolução racional contra condições sociais intoleráveis. O fascismo é meramente a extrema conseqüência reacionária de todas as anteriores formas não-democráticas de liderança dentro da estrutura do mecanismo social.O desapontamento por parte de milhões de pessoas quanto às organizações liberais, mais a crise econômica, mais um irresistível desejo de liberdade, produzem a mentalidade fascista, i.e., o desejo de entregar-se a uma figura autoritária de pai.”

As massas populares pareciam sentir que as sugestões a respeito das <técnicas de amor> tais como as que lhes dava Van de Velde, embora fossem um bom negócio, não tinham realmente nada que ver com o que procuravam, nem eram atraentes.”

obrigados a dizer <procriação eugênica superior> quando queriam significar <felicidade no amor>, as massas congregaram-se em torno de Hitler”

Todo ser humano percebe em si mesmo aquilo que se chama de <sentimentos oceânicos ou cósmicos>. A seca ciência acadêmica sentia-se orgulhosa demais para ocupar-se com semelhante misticismo. Esse anseio cósmico ou oceânico que as pessoas sentem não é senão a expressão do seu desejo orgástico pela vida. Hitler fez um apelo a esse desejo, e é por essa razão que as multidões o seguiram, e não aos secos racionalistas, que tentavam sufocar esses vagos sentimentos de vida com estatísticas econômicas.”

preservação da família überalles

perversão

cada um per se

ser 0.0 final solutionversion

perseveração

perversão de cão

afastando o jovem — da família para os grupos da juventude —, o fascismo levava em consideração tanto os laços familiais quanto a rebelião contra a família.”

Quando o fascista diz <judeu>, designa uma sensação irracional definida. Irracionalmente, o <judeu> representa o <fazedor de dinheiro>, o <usurário>, o <capitalista>. Isso foi confirmado pelo tratamento psicológico de profundidade de judeus e não-judeus, igualmente [?]. Em nível mais profundo,o conceito de judeu significa <sujo>, <sensual>, <bestialmente sexual>, mas também <Shylock>, <castrador>, <assassino>.” “Francês para o alemão tem o mesmo significado que judeu e negro têm para o inglês inconscientemente fascista. Judeu, francês e negro são palavras que significam <sexualmente sensuais>. Esses são os fatores inconscientes que permitiram que o moderno propagandista sexual do século XX, o psicopata sexual e pervertido criminoso Julius Streicher[*], pusesse o seu Der Stürmer nas mãos de milhões de adolescentes e adultos alemães. Nas páginas do Der Stürmer, mais que em qualquer outra parte, ficou claro que a higiene sexual deixara de ser um problema das sociedades médicas; tornara-se muito mais uma questão de decisiva significação social.”

[*] Wiki: “Within the pages of Mein Kampf, Hitler even praised Streicher for subordinating the German Socialist Party to the Nazi Party, a move Hitler believed was essential to the success of the National Socialists.”

Freud psicologizou a biologia. Disse que há no campo da vida <tendências> que <pretendem> umas coisas e outras. Isso era um ponto de vista metafísico. A sua crítica foi justificada pelas posteriores provas experimentais da natureza funcional simples dos processos instintivos.” “Se uma criança quebrava uma vidraça, esse ato se encarava como a expressão do instinto destrutivo. Se caía freqüentemente, isso se encarava como o efeito do instinto mudo de morte. Se a mãe a deixava sozinha e a criança brincava indo e voltando, isso se encarava como o efeito de uma <compulsão de repetição além do princípio de prazer>.”

O masoquista imagina estar sendo atormentado porque deseja <romper-se>. Só dessa maneira é que espera conseguir a relaxação.” Síndrome de Kuririn ou de Vítima do Hokuto no Ken “Mulheres de caráter masoquista só se podiam entregar às relações sexuais com a fantasia de estarem sendo seduzidas ou violadas. Como se o homem as obrigasse a fazerem aquilo que simultaneamente desejam e temem.” “A conhecida índole vingativa do masoquista, cuja autoconfiança está gravemente abalada, se realiza quando leva o outro a passar mal, ou quando provoca nele um comportamento cruel.” O que o E****** e a M******* efetivamente significam para meu sistema psíquico? “A idéia de que a pele, especialmente a pele das nádegas, se torna <quente> ou <está queimando> é freqüentemente encontrada entre os masoquistas. O desejo de ser esfregado com uma escova dura, ou de apanhar até que a pele <se rompa> não é senão o desejo de conseguir a liberação de uma tensão por meio de uma explosão. Assim, a dor não é de maneira nenhuma o objetivo do impulso; é simplesmente uma experiência desagradável durante a liberação de uma tensão sem dúvida real. O masoquismo é o protótipo de um impulso secundário, e demonstra por força o resultado da repressão da função de prazer natural.” “sem que o pretendesse, eu havia descoberto a natureza dinâmica de todas as religiões e filosofias do sofrimento.”

A perturbação do orgasmo do masoquista difere da perturbação de outros neuróticos pelo fato de que, no momento da mais alta excitação, o masoquista é possuído pelo espasmo e o conserva. Dessa forma, cria uma contradição entre a expansão acentuada que está a ponto de ocorrer e a contração súbita. Todas as outras formas de impotência orgástica inibem antes de ser atingido o ápice da excitação. Essa diferença sutil, que pareceria ter apenas um interesse acadêmico, decidiu o destino do meu trabalho científico. Está claro pelas minhas notas, entre 1928 e mais ou menos 1934, que o fundamento do meu trabalho experimental no campo da biologia, até o momento das experiências com o bíon, foi preparado nesse período.”

Se a excitação atingiu o ápice e exige uma descarga completa, o espasmo da musculatura pélvica tem o mesmo efeito que o puxar o freio de mão de um carro a 75 milhas por hora; tudo é lançado em confusão. O mesmo acontece ao paciente em um genuíno processo de cura.”

ESCORRIDO

Espasmos no vaso

espasmos no vazio

no vácuo

vácuo emocional

zero prazer

prazero

vazamento

A imagem do caráter humano como uma couraça [crosta morta] em volta do cerne do organismo vivo era extremamente significativa. Se uma bexiga [extremamente elástica] dessas fosse colocada em uma situação insolúvel de tensão e pudesse exprimir-se, lamentar-se-ia. Desamparadamente vencida, procuraria fora de si mesma as causas do seu sofrimento e se queixaria. Pediria para ser aberta com furos. Provocaria os que a cercam até pensar que havia atingido o seu objetivo [<O que será que ele quer? Acho que ele é enrolado!> consórcio V****-T****; minha vida é um VT: crise sempre repetida, autotransmitida impunemente. Meu agradecimento às heroínas amazonas.]. O que ela não conseguia realizar espontaneamente, de dentro para fora, esperaria passiva e desamparadamente do mundo exterior.

O paciente neurótico desenvolve uma <rigidez> na periferia do corpo, conservando embora um cerne interior vivo. Sente-se <constrangido dentro da sua própria pele>, <inibido>, incapaz de <compreender-se a si mesmo>, como se <estivesse emparedado>, <sem contato> e <tenso a ponto de romper-se>. Esforça-se, por todos os meios disponíveis, <em direção ao mundo> mas é como se <estivesse amarrado>. Mais que isso, os seus esforços para entrar em contato com a vida são freqüentemente dolorosos; está tão mal preparado para suportar as dificuldades e desapontamentos da vida, que prefere <arrastar-se dentro de si mesmo>.” Epilepsia como convulsão orgástica?

Estava claro que a ejaculação do sêmen sozinha não podia ser responsável por isso, pois a ejaculação sem prazer não reduz a tensão.”

Que o soma [corpo] influencia a psique é correto; é uma afirmação correta, mas unilateral. O reverso, i.e., que a psique condiciona o soma é coisa que pode ser vista freqüentemente. Não se pode alargar o campo psíquico a ponto de tornar válidas as suas leis para o soma.”

Na excitação sexual, os vasos periféricos se dilatam. Na angústia, sente-se uma tensão interior centralizada como se fosse explodir, os vasos periféricos se contraem.”

Daí em diante, descobri que sempre que eu dissolvia uma tensão muscular, irrompia uma das três excitações básicas do corpo — angústia, ódio ou excitação sexual.

CAMINHOS DE RESOLUÇÃO DA ANGÚSTIA

(ENSAIO EXPERIMENTAL AUTOBIOGRÁFICO):

vamos associar cada uma das 3 excitações a “representantes” antropomórficos:

MUNDANÍSSIMA TRINDADE”

angústia – colegas

ódio – pai

libido – a ex

CENÁRIO 1

2008

tensão gerada pela sensação de abandono e isolamento > “alcoolismo” > Maniax e Jardim Ingá > força anestésica da ressaca (descompasso) > bipolaridade semanal (interiorização das obrigações x escape ideal) > amigos apenas na 2ª instância (a ideal) > tentativa de realização do ideal na figura M**** > reação à recusa na intoxicação e misticismo > cena da fogueira > alucinação noturna > experimentação singular do triplo orgasmo múltiplo > enfraquecimento do sentimento inicial > primeiras dormências nas mãos (tremores nos dedos)

CENÁRIO 2

2009-10

discussões filho-pai > ódio concentrado (rompantes de fúria) > adormecimento consciente (transição com remorso e dor nas costas – sensação de abandono ou absurdo – textos “O ÓRFÃO”; “O INCOMUNICÁVEL”, etc., demonstrando o grande solipsismo em que me achava) > tratamento “musical” (…And Justice for All) > a longo prazo, transformação do ódio em indiferença (dormência pulsional) > desafetos universitário (Ceariba’s) > autossuficiência (busca recalcitrante) > o caso policialesco de Afrodite

Equilíbrio forjado entre a concupiscência, a ascese (masoquismo velado), o rancor, a euforia, a irritabilidade e a completa inércia ou afundamento melancólico. Esperando a improvável ajuda exterior.

Sentir-se atropelado (furacão Sabrina) não é tão ruim assim. Pelo menos o atropelamento não foi interno!

CENÁRIO 3

2014

O câncer J***** > a difícil expulsão da cólera adormecida > remorso e paralisia arrastada (falência corporal), purgatório CAPES > ressurgimento (conversão do ódio inicial em fetiche – a inusitada resolução da incompatibilidade entre o ateu combalido e heróico e a evangélica ressentida)

(sensação máxima de audácia no contra-ataque ao harém)

mas a represa continua

como em Mariana, as barragens não se rompem

auto-comiseração milica

se não pode com seu inimigo, junte-se a ele

corteje a Morte vestida como a noiva de preto

sua foice é de isopor,

ela só quer ser enrabada

Sem dúvida devemos ignorar os gostos ao redor,

Alimentar com rações parcas o cão chamado Ódio que mantemos adestrado (mascote da família),

E cultuar nossa Deusa caseira,

Sim, é isso.

Podia, agora, eliminar um sorriso amistoso atípico que dificultasse o trabalho analítico, ou descrevendo a expressão ou perturbando a atitude muscular, por exemplo levantando o queixo do paciente.” a extinção dos atendentes de telemarketing

Alguns fisiologistas pensam que os nervos armazenam excitação, enquanto a contração muscular a descarrega; pois não é o nervo, mas somente o músculo que pode contrair-se e é capaz de descarregar energia.” “Em estado de extensão, a bexiga poderia executar vários movimentos rítmicos; poderia, por exemplo, produzir uma onda de expansão e contração alternadas, como se verifica no movimento de uma lombriga ou na peristase intestinal.” “Uma sociedade formada de semelhantes bexigas criaria as filosofias mais idealísticas a respeito do <estado de ausência de sofrimento>. Como qualquer extensão em direção ao prazer ou motivada pelo prazer poderia ser sentida somente como dolorosa, a bexiga desenvolveria um medo à excitação agradável (angústia de prazer) e criaria teorias sobre a <maldade>, a <propensão para o pecado> e a <ação destrutiva> do prazer. Em suma, seria um asceta do século XX. Conseqüentemente, teria medo de qualquer idéia de possibilidade da tão ardentemente desejada relaxação; e então odiaria semelhante idéia e finalmente perseguiria e mataria qualquer um que falasse a respeito. Juntar-se-ia a outros seres igualmente constituídos, peculiarmente rígidos, e traçariam rígidas normas de vida. Essas normas teriam a função única de garantir a menor produção possível de energia interior, i.e., de garantir a tranqüilidade, a resignação, e a continuidade das reações habituais.” “A bexiga poderia ser sacudida por convulsões que emergiriam subitamente, por meio das quais se descarregaria a energia represada. Por exemplo, poderia ter acessos histéricos ou epiléticos. Poderia, por outro lado, tornar-se completamente rígida e desolada, como ocorre na esquizofrenia catatônica.” “Associar a natureza a convulsões do corpo seria uma blasfêmia. Assim mesmo criaria indústrias de pornografia, sem perceber a contradição.”

Em um nível fisiológico mais profundo, a expansão corresponde ao funcionamento parassimpático e a contração ao funcionamento simpático. De acordo com as descobertas de Kraus e Zondek, a função do parassimpático pode ser substituída pelo grupo iônico do potássio e a função do simpático pode ser substituída pelo grupo iônico do cálcio.”

A sensação de boca seca está associada à angústia. Em contrapartida, o suor (particularmente o suor frio) é abundante na pessoa angustiada e tensa.

A pele irrigada (rubor) é sinal de expansão (euforia, satisfação). O que permanece confuso para mim: o desconforto do tímido seria um prazer disfarçado?

A produção de adrenalina está relacionada à angústia.

Retenção do esfíncter: euforia; retenção da urina: angústia (apesar de a pessoa sentir mais vontade de ir ao banheiro).

Pênis flácido e escroto rígido: angústia.

Sentimento orgiástico: dissolução do ego, pressentimento de naturalidade (nos comportamos como autômatos, por mais que a expressão esteja “contaminada” pela perspectiva mecânica) e impressão de perfeição, ao contrário do ego prensado e claramente divisável e experimentado, que se sente “falhado” em tudo que executa, constrangido, sem espontaneidade.

Hipertensão: sintoma de que o coração “não vai bem”.

o mesmo nervo que inibe a glândula salivar estimula a secreção de adrenalina” “Em termos do organismo total, é também significativo que no prazer as pupilas sejam diminuídas pelo parassimpático (correspondendo ao diafragma de uma câmera), aguçando-se assim a visão. [mas não dizem que a pupila se expande até 2 ou 3x para ‘melhor observar’ o objeto amado?] Na paralisia causada pelo medo, ao contrário, a visão diminui, por causa da dilatação das pupilas.”

Todos os nossos pacientes contam que atravessaram períodos na infância nos quais, por meio de certos artifícios sobre o comportamento vegetativo (prender a respiração, aumentar a pressão dos músculos abdominais, etc.) haviam aprendido a anular os seus impulsos de ódio, de angústia ou de amor. (…) Pode dizer-se que toda rigidez muscular contém a história e o significado da sua origem. Não é como se tivéssemos de deduzir a partir de sonhos ou de associações a maneira como se desenvolveu a couraça muscular; a couraça é a forma na qual a experiência infantil é preservada como obstáculo ao funcionamento.” “Não pode haver dúvidas de que a maior parte do que as pessoas costumam descrever como uma <disposição> ou como uma <constituição instintiva> acabará provando ser um comportamento vegetativo adquirido.” o afeto reprimido aparece antes da lembrança correspondente. Semelhante aproximação proporciona uma garantia segura da liberação dos afetos, uma vez que a atitude muscular crônica tenha sido entendida e dissolvida com êxito. Quando se tenta liberá-los somente por meio de trabalho no campo psicológico, diminuem-se os afetos por uma questão de sorte.”

A atitude muscular é idêntica ao que chamamos expressão corporal. Muito freqüentemente não é possível saber se um paciente é hipertônico, ou não. Todavia, com o corpo inteiro, ou com partes dele, <expressa algo>. (…) A esse respeito lembramo-nos da perda da expressão espontânea nas crianças, primeira e mais importante manifestação da supressão sexual final que se dá no quarto ou no quinto ano de vida. Essa perda é experimentada primeiro como <estar morrendo>, como <estar sendo metido em uma couraça> ou como <estar sendo emparedado>. Em alguns casos, esse sentimento de <estar morrendo> ou de <estar morto> pode ser mais tarde compensado parcialmente pela camuflagem de atitudes psíquicas, por exemplo por uma jovialidade superficial ou por uma sociabilidade indireta.

Quando, por exemplo, um impulso de chorar deve ser reprimido, não é o lábio inferior que se torna tenso, mas toda a musculatura da boca e do queixo, e assim também a musculatura correspondente da garganta; em suma, todos os órgãos que entram em ação como uma unidade funcional no ato de gritar. Lembramo-nos a esse respeito do conhecido fenômeno de que as pessoas histéricas delimitam os seus sintomas somáticos não de acordo com áreas anatômicas, mas funcionais. Um rubor histérico não segue as ramificações de uma determinada artéria; mas envolve quase exclusivamente o pescoço ou a testa. A função vegetativa do corpo ignora os limites anatômicos, que são indicações superficiais.” A amigdalite crônica como afetos não-resolvidos… Vontade de gritar e de chorar reprimidas.

a dissolução de uma couraça muscular começa em geral nas partes do corpo mais afastadas dos genitais, habitualmente a cabeça. A atitude facial é a mais visível. A expressão facial e o tom da voz são também as funções que o próprio paciente sente e às quais presta atenção com mais freqüência e cuidado.” Minha expressão sem vida nas fotos sempre me assusta.

Cabeça e pescoço: dor de cabeça forte é um sintoma encontrado em muitos pacientes. Localiza-se muito freqüentemente acima do pescoço, sobre os olhos ou na testa. Na psicopatologia, essas dores de cabeça definem-se em geral como <sintomas neurastênicos>. Como começam? Se alguém tentar forçar a musculatura do pescoço durante um longo período de tempo, como se fosse evitar um golpe iminente, sentirá logo o aparecimento de uma dor na parte posterior da cabeça, bem acima do ponto no qual a musculatura está tensa. Por isso, a dor na parte posterior da cabeça pode ser reduzida a uma tensão excessiva dos músculos do pescoço. Essa atitude expressa uma angústia contínua de algo perigoso que possa sobrevir por trás; por exemplo, a angústia de ser agarrado pelo pescoço [estranho neo-freudianismo], golpeado na cabeça, etc.” Até hoje não se pratica uma terapia que una os benefícios da acupuntura, fisioterapia e RPG à psicanálise ou psicologia comportamental.

Alguns pacientes têm uma expressão facial que poderia ser descrita como <arrogante>. A dissolução dessa expressão mostra que é uma atitude de defesa contra uma atenção nervosa ou apreensiva do rosto. Alguns pacientes mostram <a testa de um pensador>. É raro encontrar um paciente que na infância não tenha criado a fantasia de ser um gênio. Habitualmente, essa atitude facial é o resultado de uma defesa contra a angústia, na maior parte das vezes, de natureza masturbatória. Em outros pacientes, observamos uma testa <lisa>, <chata> ou <inexpressiva>. O medo de ser golpeado na cabeça é sempre o motivo dessa expressão.” “Muitas pessoas têm uma expressão facial como uma máscara. (…) a parte inferior da boca é tensa. Esses pacientes sofrem freqüentemente de náuseas. A sua voz é habitualmente baixa, monótona ou <diluída>.” “Nessas condições é inútil tentar falar alto e com voz ressoante. As crianças freqüentemente adquirem essas condições em idade muito tenra, quando são obrigadas a reprimir violentes impulsos de chorar. A concentração contínua de atenção em uma determinada parte do corpo resulta invariavelmente em uma fixação da inervação correspondente.Maldito Diego, maldito Marcel, maldito Cintra! “Não há possibilidade de eliminar a náusea se a tensão do assoalho da boca não é descoberta (…) Antes que a sensação crônica da náusea possa ser eliminada, a inibição do impulso de chorar tem de ser completamente dissolvida.” “Conhecemos o rosto deprimido da pessoa melancólica. É notável como uma expressão de abatimento pode combinar-se com a mais extrema e crônica tensão da musculatura. Há pessoas que assumem uma expressão continuamente radiante; há aquelas cujas faces são <rígidas> ou <encovadas>.” “O choro reprimido leva facilmente os músculos faciais a uma impermeabilidade de máscara.”

As perturbações respiratórias nas neuroses são os sintomas que resultam das tensões abdominais. Imagine que você está assustado, ou que prevê um grande perigo. Involuntariamente aspirará o ar e prenderá a respiração. Como a respiração não pode cessar inteiramente, você logo respirará outra vez, mas a expiração não será completa. Será superficial.” Havia momentos na DRI em que eu me sentia quase que debaixo d’água: enquanto o ouvido permanecesse alerta, era sufocante inspirar e expirar. Qualquer gesto ou ruído mais dilatado pareciam me denunciar, me tornar vulnerável.

Em estado de apreensão, os ombros são involuntariamente levados para a frente, e permanecem nessa atitude rígida. Às vezes são também forçados para cima. Se essa atitude é mantida durante algum tempo, sente-se uma pressão na testa. Tratei vários pacientes nos quais não consegui eliminar a pressão na testa enquanto não descobri a atitude de expectativa amedrontada na musculatura do tórax.”

Qual a função dessa atitude de <respiração curta>? Se examinarmos a posição dos órgãos internos e a sua relação com o plexo solar, entenderemos imediatamente a situação com que estamos lidando. Em estado de medo, involuntariamente se inspira; estamos pensando na inalação involuntária que ocorre no afogamento e que verdadeiramente causa a morte.”

<Há algo no meu estômago que não consegue sair> — ou—

<Sinto como se tivesse um prato no estômago> — ou —

<A minha barriga está morta> — ou —

<Preciso segurar a minha barriga> —, etc.

Quase todas as fantasias das crianças sobre a gravidez e o nascimento giram em torno das suas sensações abdominais vegetativas.”

Pacientes que se queixam de um aperto crônico, assim como de um cinto, ou de um sentimento de pressão, apresentam a musculatura abdominal superior rígida, isto é, dura como uma tábua.”

À mais leve manifestação de sentimento, <regulava algo no estômago>, prendia a respiração e olhava inexpressivamente para o espaço. Os olhos pareciam vazios; pareciam <voltados para dentro>. A parede abdominal tornava-se tensa e as nádegas encolhiam-se.”

Era visível entre os seus traços patológicos o fato de ser incapaz de qualquer agressão. Sempre se sentia impelido a ser <amável e polido>, a concordar com tudo o que as pessoas diziam, ainda que expressassem opiniões opostas e contraditórias. Sofria por baixo da superficialidade que regulava a sua vida. Estava sofrendo dessa enfermidade muito comum — uma sociabilidade mal-interpretada e indireta — que se transforma em uma compulsão rígida e destrói intimamente muitas pessoas. (…) A boca dava a impressão de ser pequena e apertada; quase não a movimentava ao falar; os lábios eram estreitos, como se comprimidos um contra o outro. Os olhos careciam de expressão.

Apesar dessa diminuição óbvia e grave da sua mobilidade vegetativa, percebia-se, debaixo da superfície, uma natureza inteligente e muito viva. Era esse, sem dúvida, o fator que lhe permitia tenta resolver as suas dificuldades com grande energia.

O tratamento subseqüente durou 6 meses e ½, com 1 sessão por dia [!].” Demoraria de 2 a 3 anos para freqüentar o mesmo número de sessões semanalmente…

(…) O paciente ficou meio sentado no divã, tremeu de cólera, levantou o punho como se fosse dar um soco, sem entretanto completar o gesto. Então, sem fôlego, recuou exausto. Toda a ação se dissolveu em uma espécie de choro de lamentação. Essas ações expressavam <cólera impotente> semelhante à que as crianças freqüentemente experimentam diante dos adultos.”

havia, em algum ponto, uma ruptura na conexão entre a excitação muscular vegetativa e a percepção psíquica dessa excitação.”

Ele sabia que estava expressando uma cólera esmagadora que conservara trancada dentro de si mesmo durante anos. O desligamento emocional desapareceu quando uma crise provocou a lembrança do irmão mais velho, que o havia dominado e maltratado demais quando era criança.”

Quanto mais intensas se tornavam as ações musculares da face, mais a excitação somática, ainda totalmente desligada do reconhecimento psíquico, se expandia em direção ao tórax e ao abdômen. Várias semanas mais tarde, o paciente contou que durante as contrações no peito, mas principalmente quando essas contrações diminuíam, sentia <correntes> que se estendiam em direção ao baixo abdômen. Nesse meio tempo, separou-se da mulher com a intenção de ligar-se a outra. Entretanto revelou-se no decorrer das semanas seguintes que a pretendida ligação não se realizara. De início o paciente permaneceu indiferente a isso. Depois que lhe chamei a atenção para o fato, foi que tentou, arriscando várias explicações aparentemente plausíveis, interessar-se pelo assunto. Mas era bem evidente que uma interdição interior o impedia de tratar o problema de uma forma realmente afetiva. Como não se costuma, no trabalho de análise do caráter, tratar de um assunto por mais imediato que seja se o paciente não tocar nele por si mesmo de uma forma plenamente afetiva, adiei a discussão do problema”

Tornava-se cada vez mais claro que o paciente estava resistindo à compreensão do conjunto em todas as suas partes. Nós dois sabíamos que era muito precavido. Não era só na sua atitude psíquica que essa precaução se expressava; nem só no fato de que até certo ponto cooperava, e se adaptava às exigências do trabalho; e no fato de que se tornava meio inamistoso e frio quando o trabalho ultrapassava certos limites.”

Eu me sinto como um animal primitivo” “Sinto-me como um peixe”

Era um homem que as mulheres achavam muito atraente; mas por estranho que pareça não se aproveitara muito disso.”

DEFESA ABDOMINAL. Esse fenômeno existe em todos os neuróticos sem exceção, sempre que se ordena que expirem plenamente e se faz uma leve pressão na parede abdominal uns 3cm abaixo da extremidade do esterno. Isso provoca uma resistência forte dentro do abdômen; ou o paciente experimenta uma dor semelhante à que é causada por uma pressão nos testículos.”

EXPRESSINHO (conforto e carinho): A nostalgia do viaduto: toda criança gosta, e todo adulto gosta, por tabela, nostalgicamente, da sensação da queda, daquele êmulo de dor-de-barriga, típica da montanha-russa ou do carro veloz na ladeira íngreme: o puxar e repuxar, o arrepio convulsivo, no ventre. Dor-prazer de Adão?!

O que significa o aparecimento de crises de bocejo durante a sessão psicanalítica?

[v]idas e (vi)n(das)

É como uma casca protetora em volta de uma criança. É incrível como posso agora sentir a profundidade do mundo”

Este homem também se angustiava com gorilas quando pequeno: “Agora irrompera afinal. O gorila representava o pai, figura ameaçadora que queria impedi-lo de mamar.”

A forma forçada e dura da convulsão orgástica correspondia a uma atitude psíquica que dizia: <Um homem é duro e inflexível; qualquer forma de entrega é feminina>.”

Análise do caráter (psiquismo) e Vegetoterapia (somatismo, músculos): dois lados de uma mesma moeda, etapas intercaladas e indissociáveis do processo terapêutico integral.

Há dois pontos nos quais a inibição sempre se encontra: a garganta e o ânus.” As extremidades do sistema digestório.

Contra o formalismo excessivo: “Em muitos casos, um espasmo sério de garganta não é descoberto enquanto a excitação vegetativa na pélvis não se tenha dissolvido até certo ponto.”

muitos pacientes sofrem de uma tensão crônica da musculatura dos maxilares, o que dá um aspecto mesquinho à metade inferior do rosto. Na tentativa de empurrar o queixo para baixo, verifica-se forte resistência e rigidez. Se se ordena ao paciente que abra e feche a boca, ele só executa o movimento depois de alguma hesitação e com visível esforço. Mas o paciente deve ser levado, primeiro, a experimentar essa forma artificial de abrir e fechar a boca antes de poder ser convencido de que a mobilidade do seu queixo está inibida.”

um movimento rítmico da musculatura das sobrancelhas (<tique>) pode funcionar como uma defesa contra um olhar tenso.”

descobrir as inibições e os pontos onde a fragmentação obstrui a unificação do reflexo do orgasmo”

Como maneira de preparar e conseguir o reflexo do orgasmo, faço primeiro os meus pacientes inspirarem e expirarem profundamente e os encorajo a <acostumarem-se com isso>. Se se ordena ao paciente que respire fundo, ele em geral força a respiração, para dentro e para fora, de modo artificial. Esse comportamento voluntário serve apenas para obstruir o ritmo vegetativo natural da respiração. Desmascara-se a inibição; pede-se ao paciente que respire de <modo inteiramente normal>, i.e., sem se entregar a quaisquer exercícios respiratórios, como gostaria de fazer. Depois de 5 ou 10 movimentos, a respiração em geral se torna mais profunda, e emerge a primeira inibição. Quando uma pessoa expira natural e profundamente, a cabeça se move com espontaneidade para trás no fim do movimento. Os pacientes não podem deixar a cabeça ir para trás de modo espontâneo e natural. Esticam o pescoço para frente para evitar o <movimento para trás>, ou movem a cabeça com um puxão violento para o lado; em qualquer caso, de modo diferente do movimento natural.

Na exalação profunda, os ombros relaxam-se com naturalidade e se movem suave e levemente para frente. É no fim preciso da exalação que os nossos pacientes mantêm os ombros firmes ou os levantam; em suma, executam movimentos vários com os ombros para impedir o movimento vegetativo espontâneo.

Outra maneira de liberar o reflexo do orgasmo é exercer uma pressão suave no alto abdômen. Coloco as pontas dos dedos de ambas as mãos aproximadamente no meio do abdômen superior entre o umbigo e o esterno, e digo ao paciente que inspire e expire fundo. Durante a expiração, vou aplicando, aos poucos, uma suave pressão no alto abdômen. Isso provoca reações diferentes em pacientes diferentes. Em alguns, o plexo solar se mostra altamente sensível à pressão; em outros, há um movimento de reação no qual as costas se arqueiam. Esses são os pacientes que suprimem toda excitação orgástica no ato sexual, puxando a pélvis para trás e arqueando as costas. Há também os pacientes nos quais uma pressão contínua no alto abdômen produz contrações ondulantes no abdômen. Isso às vezes libera o reflexo do orgasmo. Se a exalação profunda é continuada durante certo tempo, uma parede abdominal tensa e dura se torna invariavelmente macia. Pode ser pressionada com mais facilidade. Os pacientes contam que <se sentem melhor>, afirmação que não pode ser tomada ao pé da letra. Na minha prática, lanço mão de uma fórmula que os pacientes entendem espontaneamente: digo-lhes para <cederem> por completo. A atitude de entrega é a mesma que a da rendição: a cabeça desliza para trás, os ombros movem-se para a frente e para cima, o meio do abdômen se encolhe, a pélvis move-se para a frente e as pernas separam-se espontaneamente. A expiração profunda produz a atitude de rendição (sexual). Isso explica a inibição do orgasmo nessas pessoas que são incapazes de render-se, e que prendem a respiração quando a excitação se eleva a um clímax.”

Uma abertura frouxa da boca parece contribuir para o estabelecimento da atitude de rendição.”

Prender a respiração durante bastante tempo era algo que se considerava como uma façanha heróica de autocontrole”

Quando sinto medo, fico muito birrenta; então tenho vontade de lutar contra alguma coisa, mas não sei contra quê. Não pense que tenho vontade de brigar com o mágico {a mãe não o havia mencionado}; tenho muito medo dele. É uma coisa que eu não sei o que é.”

A inalação profunda provoca uma obstrução da atividade biológica dos centros vegetativos, resultando em uma irritabilidade reflexa aumentada. A exalação repetida reduz a estase e, com isso, a irritabilidade angustiosa.”

A reação reflexa desapareceu à medida que o paciente começou a superar o medo de expirar. Assim, a atividade respiratória inibida pela neurose é um fator central do mecanismo neurótico em geral. Bloqueia a atividade vegetativa do organismo, criando a fonte de energia dos sintomas e fantasias neuróticas de todo tipo.”

Quanto mais arduamente tentava superar a sua falta de auto-estima por meio da ruminação compulsiva [por que por que por que eu me odeio todos me odeiam], mais intensa se tornava a pressão. (…) Essas reações sempre apareciam quando uma excitação não conseguia chegar aos genitais e era desviada <para cima>. Essa é a base fisiológica do que os psicanalistas chamavam <deslocamento de baixo para cima>.”

é fácil pôr a mão entre as costas do paciente e o divã.” Ficam arqueados e tensos na ponta da poltrona do consultório. Igual na sessão de fisioterapia!

A musculatura das nádegas também fica tensa. Os pacientes, freqüentemente, superam a ausência de excitabilidade nesses músculos tentando produzir neles contrações e relaxações voluntárias.”

A defesa contra o reflexo do orgasmo provoca várias perturbações vegetativas, por exemplo a constipação crônica, o reumatismo muscular, a ciática, etc. Em muitos pacientes, a constipação desaparece, mesmo quando existiu durante décadas, com o desenvolvimento do reflexo do orgasmo. O seu pleno desenvolvimento é freqüentemente precedido por náuseas e por sensações de vertigem, somadas a estados espasmódicos da garganta, contrações isoladas da musculatura abdominal, do diafragma, da pélvis, etc. Mas todos esses sintomas desaparecem logo que se haja desenvolvido plenamente o reflexo do orgasmo.”

Embora nunca se expressasse abertamente, havia em muitos pacientes uma maldade escondida que eu não conseguia localizar. O tratamento do comportamento vegetativo permite determinar onde se localiza somaticamente a mesquinhez. Há pacientes que expressam amistosidade com os olhos e com as bochechas, mas que expressam, quanto ao queixo e a boca, exatamente o contrário. A expressão é completamente diferente na metade inferior da face e na metade superior. A dissolução da atitude da boca e do queixo libera incrível quantidade de cólera.

escondendo o pum na barriga” “encerrou a maldade”

Na neurose simples, há só uma restrição superficial da mobilidade vegetativa, que permite excitações interiores e descargas <na fantasia>. Se o encouraçamento atinge a profundidade, se bloqueia áreas centrais do organismo biológico e controla completamente a musculatura, há apenas duas possibilidades: irrupção forte (cólera violenta, que se experimenta como um alívio) ou deterioração gradual e completa do mecanismo vital. Várias enfermidades orgânicas, como a úlcera gástrica, o reumatismo muscular e o câncer, prendem-se ao problema neste ponto.”

O reflexo do orgasmo encontra-se em todas as criaturas que copulam. Entre organismos biológicos mais primitivos, como por exemplo os protozoários, encontra-se na forma de contrações plasmáticas. O estágio mais elementar, no qual se pode encontrar, é a divisão de células únicas.

Há algumas dificuldades para chegar a uma resposta a respeito do que é que, nos organismos mais altamente organizados, toma o lugar da contração, quando o organismo não pode mais contrair-se assumindo a forma esférica, como o protozoário [talvez Aristófanes esteja correto n’O Banquete!]. A partir de um certo estágio do desenvolvimento, o metazoário [todo animal pluricelular que já possui órgãos e sistemas especializados, membros diferenciados, etc.] tem uma estrutura óssea. Isso impede a operação, natural nos moluscos e protozoários, de se tornarem esféricos no ato de contrair-se. Imaginemos um tubo flexível, no qual a nossa bexiga biológica se tenha desenvolvido. Imaginemos depois que introduzimos nele uma vara que se pode curvar em uma direção. Isso representaria a espinha. Imaginemos que o impulso de contração é agora introduzido nessa bexiga longitudinalmente esticada. Podemos ver que a bexiga só tem uma possibilidade quando, a despeito da sua inabilidade para tornar-se esférica, deseja contrair-se. Tem de curvar-se o mais possível, e rapidamente.” “As pessoas histéricas têm uma tendência especial para desenvolver espasmos musculares em partes do organismo cuja musculatura é anular, sobretudo na garganta e no ânus.” O SER HUMANO CONTRA A CATATONIA: “Além disso, a musculatura anular encontra-se na entrada e na saída do estômago. Desenvolvem-se, nessas duas aberturas, espasmos que têm freqüentemente conseqüências sérias para o estado geral da pessoa. Esses pontos do corpo, especialmente dispostos para contrações continuas, e correspondendo biologicamente a estágios muito primitivos de desenvolvimento, são os pontos mais freqüentes de desordens espasmódicas. Se a garganta e o ânus são bloqueados, a contração orgástica se torna impossível. A retração somática expressa-se por uma atitude que é o oposto exato do reflexo do orgasmo: as costas ficam arqueadas, o pescoço duro, o ânus bloqueado, o peito para a frente e os ombros tensos. O arc de cercle histérico é o oposto exato do reflexo do orgasmo e o protótipo da defesa contra a sexualidade.”

A reserva psíquica expressa-se em rigidez vegetativa. O ódio psíquico expressa-se em uma atitude vegetativa definida de ódio.” “Bioenergeticamente, a psique e o soma funcionam condicionando-se mutuamente e ao mesmo tempo formando um sistema unitário.”

Uma paciente excepcionalmente bonita e sexualmente atraente queixava-se de sentir-se feia, porque não sentia o seu corpo como um todo unido. Descreveu assim o seu estado: <Cada parte do meu corpo é independente. As minhas pernas estão aqui e a minha cabeça está ali e eu nunca sei muito bem onde estão as minhas mãos. Eu não tenho o meu corpo todo junto>. Em suma, sofria da conhecida perturbação da autopercepção, especialmente pronunciada na despersonalização esquizóide. (…) Logo no começo do tratamento, era notável a <indiferença> da sua expressão facial. (…) Nessas ocasiões, os seus olhos tinham um olhar vazio e <perdido>. (…) A indiferença [dos olhos e da testa] tinha a função de impedir que a paciente ficasse continuamente à mercê da torturante percepção do ódio expresso pela boca. Depois de tratarmos a região da boca por umas duas semanas, a expressão maliciosa desapareceu por completo em conexão com o desenvolvimento de uma reação muito forte de desapontamento da paciente. Um dos seus traços de caráter era a compulsão de exigir continuamente amor. Zangava-se quando as suas exigências impossíveis não eram satisfeitas. Depois que se dissolveu a atitude da boca e do queixo, apareceram contrações pré-orgásticas em todo o corpo, primeiro em forma de serpentina — movimentos ondulantes que também, incluíam a pélvis. Entretanto, a excitação genital estava inibida em um ponto definido. Durante a procura do mecanismo da inibição, a expressão da testa e dos olhos foi-se tornando cada vez mais pronunciada. Tornou-se uma expressão de fixidez má, observadora, crítica e atenta. Com isso, a paciente percebeu que tinha de <estar em guarda> constantemente, e que nunca fôra capaz de <perder a cabeça>. (…) a <testa morta> havia escondido a <testa crítica>. O passo seguinte era descobrir que função tinha a <testa crítica> e maliciosa. (…) a testa da paciente montava guarda quando ela queria ceder a um impulso sexual. (…) Não eliminamos um sintoma somático apenas tornando-o historicamente compreensível. Não podemos progredir sem o conhecimento da função simultânea do sintoma. (Que não deve ser confundida com o <conflito atual>!)¹ O fato de que a atitude atenta da testa derivasse da sua identificação infantil com o pai severo não teria tido o mais leve efeito sobre a perturbação orgástica. O decorrer do tratamento dessa paciente provou a exatidão desse critério (…) Aos poucos, a expressão severa alternou com uma expressão alegre, meio infantil da testa e dos olhos. Assim, uma vez estava de acordo com o desejo genital; outra vez a sua atitude em relação a ele era crítica e adversa. Com a substituição da atitude crítica da testa pela atitude alegre, a inibição da excitação genital também desapareceu.”

¹ (2022) Essa parte supostamente histórica da psicanálise é sem dúvida a mais defasada.

<Não perca a cabeça> é uma atitude muito comum. A nossa paciente sofria da sensação de ter um corpo dividido, não-integrado e não-unificado. Por isso, também não tinha a consciência e a sensação da sua graça vegetativa e sexual. Como é possível que um organismo que constitui um todo unificado possa <despedaçar-se> na sua percepção? O termo despersonalização não indica nada, pois em si mesmo exige uma explicação. O que nos devemos perguntar é como é possível que partes do organismo funcionem por si mesmas, independentemente do organismo total.” “A observação clínica ensina-nos ainda que as perturbações da auto-percepção não desaparecem realmente enquanto o reflexo do orgasmo não é plenamente desenvolvido em um todo unificado.” “Assim, a despersonalização torna-se compreensível como uma falta de carga, i.e., como uma perturbação da inervação vegetativa dos órgãos isolados ou dos sistemas de órgãos (por exemplo, as pontas dos dedos, os braços, a cabeça, as pernas, os genitais, etc.).” “quando o paciente deveria estar à beira de recuperar a saúde, surgem contra esta as piores reações.” “Todo desequilíbrio da sensação somática total afeta simultaneamente a autoconfiança e a unidade do sentimento do corpo. Ao mesmo tempo, esses desequilíbrios obrigam o corpo a fazer compensações.” “variadas formas [d]a cisão da personalidade. Entre as mais simples sensações de frigidez ou rigidez, de um lado, e a divisão esquizofrênica, a falta de contato e a despersonalização de outro, não há diferenças de base mas tão somente diferenças quantitativas, que se expressam também qualitativamente. A sensação de integridade tem conexão com a sensação de contato imediato com o mundo. A unificação do reflexo do orgasmo também restaura as sensações de profundidade e seriedade. Os pacientes lembram-se do tempo da sua primeira infância [que idade?], quando a unidade de sensação do seu corpo não estava perturbada. (…) do tempo em que se sentiam <vivos>; e como finalmente tudo isso fora despedaçado e esmagado pela educação. No rompimento da unidade do sentimento do corpo pela supressão sexual, e no contínuo anseio de restabelecer contato consigo mesmo e com o mundo, encontra-se a raiz de todas as religiões negadoras do sexo. <Deus> é a idéia mistificada da harmonia vegetativa entre o eu e a natureza.”

Nem a música me encontra mais…

Isso é especialmente verdadeiro quanto às culturas da Índia, da China e do Japão. Quando um patriarcado austero e negador do sexo quer propagar-se, precisa suprimir severamente os impulsos sexuais das crianças. Isso resulta em angústia e cólera agudas, ambas prejudiciais à cultura da família patriarcal e dependentes da ideologia do autocontrole e do poder de não mover um só músculo, por maior que seja a dor (…) Essa ideologia também proporciona uma interiorização nos exercícios respiratórios dos iogues. A técnica de respiração ensinada pelos iogues é o oposto exato da técnica de respiração que usamos para reativar as excitações emocionais vegetativas nos nossos pacientes. (…) A expressão facial rígida semelhante a uma máscara, dos hindus típicos, dos chineses e japoneses, encontra o seu extremo oposto na capacidade para o êxtase intoxicado. O fato de que a tática iogue tenha podido espalhar-se na Europa e na América se deve ao fato de que nessas culturas se procura um meio de conseguir o controle sobre os impulsos vegetativos naturais e, ao mesmo tempo, de eliminar estados de angústia. Não estão longe de um pressentimento da função orgástica da vida.” “A <rígida atitude militar> é o exato oposto da atitude natural, solta, ágil. O pescoço tem de estar rígido, a cabeça esticada para a frente; os olhos devem olhar rigidamente para a frente; o queixo e a boca devem ter uma expressão <varonil>; o tórax deve estar puxado para fora; os braços devem ser rigidamente mantidos rente ao corpo; as mãos devem estar esticadas ao longo da dobra das calças. Sem dúvida, a mais importante indicação da intenção sexualmente supressiva dessa técnica militar é a ordem proverbial: estômago para dentro, tórax para fora. As pernas são duras e rígidas.” “a tensão dos tornozelos é uma indicação clínica típica do controle artificial dos afetos.”

ESPARTA: “Ensinar o povo a assumir uma atitude rígida e não-natural é um dos meios mais essenciais usados por um sistema social ditatorial para produzir, com a perda da vontade, organismos que funcionem automaticamente.”

Quem quer ser homem deve dominar-se.” “Não se deve deixar-se levar.” “Não se deve demonstrar medo.” “Cólera é falta de educação.” “Uma criança decente senta-se quieta.” “Não se deve demonstrar o que se sente.” “Deve-se cerrar os dentes.” “Essas frases, características da educação, inicialmente são repelidas pelas crianças, depois aceitas com relutância, laboradas e, por fim, exercitadas. Entortam-lhes — via de regra — a espinha da alma (…) É um dos grandes segredos da psicologia das massas que o adulto médio, a criança média e o adolescente médio são muito mais propensos a resignar-se com a ausência de felicidade que a continuar a lutar pela alegria de viver, quando esta última atitude acarreta sofrimento demais.”

Thomasismo: “Se a hipertonicidade da musculatura continua por anos e décadas, leva a uma contratura crônica e a nódulos reumáticos, como resultado do depósito de substâncias sólidas nos feixes musculares. Nesse último estágio, o processo reumático não é mais reversível. Observa-se na vegetoterapia do reumatismo que ele ataca tipicamente os grupos musculares que desempenham papel importante na supressão dos afetos e das sensações orgânicas. O reumatismo muscular é sobretudo comum na musculatura do pescoço (<pescoço duro>, obsticidade [inclinação patológica da cabeça para um dos dois ombros]) e entre as omoplatas, onde o gesto de puxar os ombros para trás dá a impressão, do ângulo da análise de caráter, de <autocontrole> e de <retração>. Essa doença atinge em geral os dois músculos grossos do pescoço que correm do occipício até a clavícula (músculos esternoclidomastóideos). Esses músculos tornam-se curiosamente hipertônicos quando a cólera é inconsciente e continuamente suprimida. Um paciente reumático teve a idéia de chamar a esses grupos musculares de músculos do ódio. Somado a esses está o espasmo crônico dos masseteres, que dá à metade inferior da face uma expressão obstinada e mal-humorada.”

O lumbago [lombalgia] requer uma investigação pormenorizada a esse respeito. Encontra-se muito freqüentemente em pacientes cuja musculatura das nádegas se encontra em estado de tensão crônica que retrai as sensações anais. Outro grupo de músculos em que encontramos com frequência o reumatismo muscular compreende os adutores profundos e superficiais da parte superior das coxas, que mantêm as pernas juntas. Têm a função, especialmente nas mulheres, de suprimir a excitação genital. No trabalho vegetoterapêutico, adotamos a expressão músculos da moralidade para designá-los. O anatomista vienense Julius Tandler referia-se jocosamente a eles como custodes virginitatis.”

Temos todas as razões para crer que o enfisema pulmonar, caracterizado pela forma de barril do tórax cheio de ar, é o resultado de uma atitude crônica e extrema de inspiração. Devemos lembrar-nos de que qualquer fixação crônica de uma atitude determinada prejudica a elasticidade dos tecidos; esse é o caso do enfisema, no que diz respeito às fibras elásticas dos brônquios.”

A úlcera gástrica como subproduto de uma perturbação afetiva crônica é tão freqüente que não pode haver mais qualquer dúvida quanto à sua natureza psicossomática.”

Hemorróidas, como resultado de um espasmo crônico do esfíncter anal. O sangue nas veias periféricas do esfíncter anal contraído é mecanicamente represado, causando a dilatação das paredes dos vasos.”

Com base no trabalho pioneiro de Wartburg sobre a asfixia do tecido no câncer (excesso de CO²) tornou-se claro que a restrição crônica da exalação causada pela simpaticotonia é um elemento essencial da disposição para o câncer. A reduzida respiração externa resulta em uma respiração interna escassa. Os órgãos cuja respiração é cronicamente prejudicada são mais suscetíveis aos estímulos que produzem o câncer do que os órgãos com boa respiração.”

EXPECTATIVA ETERNAMENTE ADIADA

Tive apenas a intenção de indicar um importante campo da patologia orgânica intimamente relacionado com o tema da função do orgasmo: para enfatizar conexões até aqui menosprezadas; para fazer um apelo à consciência da profissão médica no sentido de encarar as perturbações sexuais dos homens e mulheres tão seriamente como merecem; e para imprimir nos estudantes de medicina a necessidade de estudarem corretamente a teoria do orgasmo e a sexologia geral a fim de serem capazes de enfrentar as tremendas necessidades da população. O médico deve ter cuidado para não se confinar ao limite de uma lâmina de microscópio: deve relacionar o que vê no microscópio com a função autônoma da vida do organismo total. Deverá dominar essa função total nos seus componentes biológicos e psíquicos, e compreender que a influência exercida pela sociedade sobre a função de tensão-carga do organismo e dos seus órgãos exerce uma influência decisiva sobre a saúde ou doença daqueles que dependem dela. A medicina psicossomática, que é hoje o ramo especial de entusiastas e de especialistas, poderá ser, sem demora, o que promete vir a ser: a estrutura geral da medicina do futuro.

Seriam as cargas da superfície da zona sexual de um milésimo de volt, ou de meio volt? A literatura fisiológica não fornecia chaves para a resposta a semelhante pergunta. Mesmo a idéia de uma carga na superfície do organismo não era geralmente conhecida. Quando, em dezembro de 1934, perguntei ao diretor de um instituto fisiológico em Londres como se podia medir a carga da pele, achou a própria pergunta muito esquisita. Tarchanoff e Veraguth, mesmo antes do início do século, haviam descoberto o <fenômeno psicogalvânico>, que revelava a manifestação das excitações psíquicas em forma de oscilações potenciais na pele.” Cf. REICH, Experimentelle Ergebnisse über elektrische Funktion von Sexualitat und Angst. Sexpol Verlag, 1937.

Nos homens e mulheres descontraídos e vegetativamente vivos, o potencial de uma mesma zona sexual raramente é constante. Oscilações de até 50 mv [microvolts], e mais, podem ser observadas nas zonas sexuais. Isso está definitivamente de acordo com o fato de que as zonas sexuais são dotadas de alta, e extremamente variável, intensidade de sensações e capacidade de excitação. Subjetivamente, a excitação das zonas sexuais é experimentada como o fluir de uma corrente, como uma comichão ou como uma sensação confortante de calor ou de <suavidade>. As áreas da pele não-especificamente erógenas apresentam essas características em grau muito menor, ou não as apresentam.”

Reações negativas de angústia em forma de redução rápida da carga de superfície podem ser verificadas na membrana mucosa da vagina, na língua, e nas palmas das mãos. Um susto inesperado, causado por um grito, por uma bola que se estoura ou pelo som barulhento de um gongo que se toca, são particularmente adequados como estímulos.”

Órgãos desapontados e habituados reagem lentamente aos estímulos de prazer.”

Segundo a visão tradicional, a energia bioelétrica se move pelos caminhos das fibras nervosas, pressupondo-se que as fibras nervosas não sejam contráteis. Até aqui, entretanto, todas as observações levam à hipótese de que os plexos sinciciais vegetativos são, eles mesmos, contráteis, i.e., podem expandir-se e contrair-se. Conseqüentemente, a ameba continua a existir em todos os animais, inclusive no homem, na forma do sistema nervoso autônomo contrátil. Essa suposição é confirmada microscopicamente. Por exemplo, movimentos de expansão e contração em vermes pequenos e translúcidos podem ser facilmente observados ao microscópio. Esses movimentos do mecanismo autônomo da vida ocorrem independentemente dos movimentos do corpo total, e os precedem.” “A sensação de <ser frio> e de <estar morto>, e a <falta de contato> do paciente psiquiátrico são expressões de uma deficiência da carga bioelétrica na periferia do corpo.”

Como só as sensações vegetativas de prazer são acompanhadas de um aumento da carga na superfície do organismo, a excitação agradável tem de ser considerada como um processo especificamente produtivo no sistema biológico. Todos os outros afetos, por exemplo o desprazer, o aborrecimento, a angústia e a pressão, em termos de energia, são o oposto a esse processo e por isso representam funções negadoras da vida. Assim, o processo do prazer sexual é o processo da vida per se.” Engraçado como há apenas uma força da vida e da alegria do existir e 3, 4, 5 forças negativas e destruidoras.

Os vitalistas sempre haviam afirmado que a matéria não-viva é fundamentalmente diferente da matéria viva. Aduziam sempre um princípio metafísico, como a <enteléquia>, para explicar o funcionamento vivo per se. Por outro lado, os mecanicistas afirmavam que, física e quimicamente, a matéria viva não é em nada diferente da matéria não-viva; apenas não fôra ainda suficientemente investigada. Assim, os mecanicistas negavam que há uma diferença fundamental entre a matéria viva e a não-viva. A fórmula de tensão-carga podia provar a exatidão de ambas as visões, embora de maneira diferente do que ambas poderiam imaginar.” Não se pode provar isso, Reich.

Os experimentos elétricos demonstraram que a excitação biológica do prazer e a excitação biológica da angústia são funcionalmente equivalentes à sua percepção.”

A energia eletromagnética move-se à velocidade da luz, i.e., a aproximadamente 186 mil milhas (300 mil quilômetros) por segundo. A observação da natureza das curvas e das medidas de tempo que caracterizam o movimento da energia bioelétrica demonstra que o movimento da energia bioelétrica é fundamentalmente diferente da velocidade conhecida e do tipo de movimento da energia eletromagnética. A energia bioelétrica move-se extremamente devagar, a uma velocidade mensurável em milímetros por segundo. (A velocidade pode ser medida contando-se o número dos pontos máximos cardíacos) A forma do movimento é lenta e ondulante. Assemelha-se aos movimentos de um intestino ou de uma serpente. O movimento também corresponde ao lento despertar de uma sensação orgânica ou de uma excitação vegetativa. Poder-se-ia sustentar que é a grande resistência dos tecidos animais que baixa a velocidade da energia elétrica do organismo. Essa explicação é insatisfatória. Quando um estímulo elétrico é aplicado ao corpo, é sentido imediatamente e respondido.

De modo inesperado, o conhecimento da função biológica de tensão-carga levou-me à descoberta dos processos de energia nos bíons, no organismo humano e na radiação do sol.

No verão de 1939, publiquei um pequeno ensaio, Drei Versuche mit Gummi am statischen Elektroskop. A borracha e o algodão expostos a uma cultura de bíons obtidos da areia do oceano produziam nítida deflexão do indicador de um eletroscópio estático. As mesmas substâncias em contato com um corpo humano vegetativamente não-perturbado, em particular na região do abdômen e dos genitais, por aproximadamente 15 ou 20 minutos, influenciarão igualmente o eletroscópio. Em última análise, a areia da qual surgiram os bíons por meio do aquecimento e da dilatação é apenas a energia solar concentrada. Daí veio a idéia de expor a borracha e o algodão aos raios fortes do sol, depois de verificar que não afetavam o eletroscópio. Demonstrou-se que o sol emite uma energia que influencia a borracha e o algodão da mesma forma que influencia a cultura de bíons e o organismo humano após a respiração plena, em estado vegetativo não-perturbado. Chamei a essa energia, que é capaz de carregar a matéria orgânica, orgônio.” Logo, o ser-em-angústia, que não reage ao bíon, está mais morto que o morto, i.e., mais morto que o inorgânico? Isto não pode ser!

A esse ponto, a investigação do organismo vivo foi além dos limites da psicologia profunda e da fisiologia; entrou no inexplorado território biológico. Durante os últimos 5 anos, a investigação do bíon absorveu toda a atenção disponível. Os bíons são vesículas microscópicas carregadas de energia orgonal [energia solar concentrada na matéria]; desenvolvem-se a partir da matéria inorgânica por meio do aquecimento e da dilatação. Propagam-se como bactérias. Desenvolvem-se também espontaneamente e na terra ou, como no câncer, a partir de matéria orgânica em degeneração. O meu livro Die Bione (1938) mostra a importância da fórmula de tensão-carga para a investigação experimental da organização natural da substância viva a partir da matéria não-viva.

A energia orgonal demonstra-se também visual, térmica e eletroscopicamente no solo, na atmosfera e nos organismos vegetais e animais. A vibração do céu, que alguns físicos atribuem ao magnetismo terrestre, e o cintilar das estrelas em noites claras e secas, são expressões diretas do movimento dos orgônios atmosféricos. As <tempestades elétricas> da atmosfera que perturbam os aparelhos elétricos quando há intensificação da atividade das manchas solares são, como se pode demonstrar experimentalmente, um efeito da energia orgonal atmosférica. Anteriormente essas tempestades eram percebidas apenas como perturbações das correntes elétricas.

A cor da energia orgonal é azul ou azul-cinza. Conseguimos torná-la visível dispondo de certa forma determinados elementos. A detenção da energia cinética do orgônio é expressa por um aumento de temperatura. A sua concentração ou densidade é indicada no eletroscópio estático pelas diferenças na velocidade da descarga. A descarga espontânea dos eletroscópios no ar não-ionizado, fenômeno conhecido como natural leak, <vazamento natural>, pelos fisiologistas, é o efeito do orgônio atmosférico e não tem nada que ver com a umidade. (…) A cor azul-do-céu e o azul-cinza da neblina atmosférica nos dias quentes de verão são reflexos diretos do orgônio atmosférico. O azul-cinza, as luzes setentrionais em forma de nuvem, o chamado fogo de Santelmo e as formações azuladas recentemente observadas no céu pelos astrônomos durante um aumento de atividade das manchas solares são também manifestações da energia orgonal.

As formações de nuvens, até aqui mal-entendidas, e os temporais dependem de mudanças na concentração do orgônio atmosférico. Isso pode ser demonstrado simplesmente medindo-se a velocidade das descargas eletroscópicas.”

Todos os alimentos cozidos consistem de vesículas azuis, que contêm orgônio.”

Numerosas observações de biólogos (Neisenheimer, Linné e outros) tornam possível entender a coloração azul das rãs em estado de excitação sexual ou a luminosidade azul dos botões das plantas como uma excitação biológica (orgonótica) do organismo. As culturas de bíons obtidas da areia do mar, nas quais descobri a radiação de orgônio em janeiro de 1939, tiveram o mesmo efeito sobre o filme colorido tanto na escuridão completa como à luz do sol, i.e., fizeram o filme ficar azul.” Blue Planet

Em contraste com a energia eletromagnética, a energia do orgônio é capaz de carregar matéria orgânica não-condutora.” O segundo volume deste livro descreverá como a pesquisa do bíon levou à descoberta da energia atmosférica do orgônio, como a existência do orgônio pode ser objetivamente demonstrada e qual a importância da sua descoberta para a compreensão do funcionamento biofísico.”