A INTERPRETAÇÃO EVOLUTIVA DE WERNER JAEGER DA METAFÍSICA DE ARISTÓTELES: Uma análise crítica – Guilherme Cecílio

In: ANAIS DE FILOSOFIA CLÁSSICA, edição v. 10, n. 20, 2016.


só pouco a pouco teria Aristóteles conseguido distanciar-se do platonismo e alcançar um pensamento maduro e original.”

Urmetaphysik X Spätmetaphysik

para que uma obra seja verdadeira e completamente unitária, não basta que ela seja autêntica.”


A pergunta “onde termina a física – e a biologia, na também – e começa a metafísica” faz sentido sobretudo quando o assunto é o Estagirita!

Assim como Heidegger pergunta o que é o ser?, temos o direito de perguntar, face a determinados “pergaminhos”: o que é um livro? o que é a obra?


todo estudo posterior a 1923 é uma tomada de posição a favor ou contra a tese de Jaeger.”

A principal razão de não se ter até agora procurado estudar o desenvolvimento intelectual de Aristóteles é, em suma, a ideia escolástica de sua filosofia como um sistema estático de conceitos.” J., sempre em laranja agora

Thomas Case, ‘Aristotle’, 1910 (1996). (artigo da enciclopédia britânica)


É ilógico, meu caro Watson!

O quê?

O princípio elementar da não-contradição!


A HAGIOGRAFIA DE UM PAGÃO: “Partindo das informações contidas nas diversas Vidas de Aristóteles, a meta do intérprete era reconstruir a história espiritual do Estagirita, desde o período acadêmico até seus últimos anos.”

as contradições e duplicações textuais – Dubletten – são o primeiro passo para que se reconstrua a história por trás de um texto.”

De Philosophia como seu primeiro grande livro (abortado).


Então quando foi mestre de Alexandre ele era ainda um “aluno”?

Desviar de Platão, no entanto, é sempre regredir. Melhor ter ficado à sombra luminosa.


teoria revisionista do suprassensível”


Se houvera logrado êxito, Heidegger não teria precisado publicar nada.

O bizarro elo da ontologia aristotélica à astronomia.


(*) “Stephen Menn disponibilizou no site da Humboldt-Universität zu Berlin uma primeira versão de sua obra ainda não publicada em mídia impressa, The Aim and the Argument of Aristotle’s Metaphysics.”

(*) “ao folhear qualquer introdução ao pensamento de Aristóteles e até mesmo estudos especificamente voltados à Metafísica, é comum encontrar esse tipo de afirmação.” Engraçado, podia jurar que era o contrário: livros-didáticos ou interpretações rasas ou panorâmicas citam a Metafísica como magnum opus indelevelmente unitária. Mas sem dúvida cogitar uma unidade tão absoluta neste tratado em Ar. e argumentar que Nietzsche “só escreveu dois livros propriamente ditos” é o que há de mais espúrio em termos de filosofastros!


Não se pode emendar dois sonetos tão desafinados!

Os filósofos são ótimos, o que estraga são os editores e os fãs!


Penélope Aristóteles, a cosedora.

De niilista a baconiano.

Aporistóteles

Quando Aristóteles Chorou


Aristóteles não resolveu a tensão entre ontologia e teologia porque tal tensão seria, de fato, insolúvel.”

cada esfera especial conserva seu caráter de tentativa e indagação, que não encontra jamais satisfação na forma exterior de uma construção perfeita e impecável, mas está sempre se corrigindo e aperfeiçoando” Qualquer semelhança com seu mestre não é mera coincidência.

Pierre Aubenque, Le problème de l’être chez Aristote, 1962.

(*) “a ontologia é um projeto que jamais se conclui: seria impossível apreender completamente o ser, pois quando se tenta fazê-lo, o máximo que se atinge é o ente. Tal tese, de claro sabor heideggeriano, conjuga-se no pensamento do estudioso francês com um severo juízo acerca da teologia.”

Descortinar-se-ia a verdadeira face de Aristóteles: o filósofo do perene questionar, do revisionismo honesto.” Mas isso ainda é demasiado véu de Maia! Não basta ser honesto, se ser revisionista da perfeição é hediondo. O mesmo vale para o marxismo (Marx//Platão).

MUITO ALÉM DO CIDADÃO JAEGER: “O primeiro a adotar o método evolutivo e aplicá-lo à Metafísica, atingindo, porém, resultados opostos aos de Jaeger, foi Hans von Arnim. (…) Relevantes são também as interpretações de Emilio Oggioni, Paul Gohlke, Max Wundt e Josef Zürcher” Todos entre os 1920 e os 50. Cf. Reale, 2008: “A componente teológica é, para todos, completa ou parcialmente representante do espírito platônico; mas, para Jaeger, o platonismo é o ponto de partida do qual Aristóteles tende a se distanciar; para Gohlke e Wundt, o platonismo é a linha de chegada, no sentido de uma meditada recuperação; para Oggioni, tratar-se-ia de um retorno ao platonismo, contra a tendência, mais autenticamente aristotélica, em direção ao empirismo crítico. [p. 7] Ou seja: uma dupla Odisséia, círculo perfeito.


Podem os analíticos ingleses avaliar o inapreciável (ontologias)?


(*) “Talvez o melhor exemplo dos extremos atingidos pelos defensores do método histórico-genético seja a fantasiosa interpretação de Josef Zürcher. Este autor defendeu que o corpus contém, sim, fortes sinais de evolução; essa seria, contudo, a evolução não de Aristóteles, mas a de Teofrasto! O Estagirita teria se mantido platônico durante toda sua carreira, ao passo que Teofrasto teria evoluído de uma postura platônica ao empirismo radical. O discípulo teria editado a obra de seu mestre, justapondo seus próprios escritos aos textos compostos por Aristóteles.” Daria uma boa novela. E Eco devia ter sido seu autor.

Jaeger serviu-se dessa tese geral como fio condutor para empreender uma ‘restauração’ do corpus: ele julgou ser capaz de datar, ao menos aproximativamente, não só cada obra de Aristóteles, mas até mesmo seções do que tradicionalmente se considerara como sendo uma única obra.”


Aristóteles é o Xenofonte de Platão, diz uma fonte estrangeira (maybe Daily Mirror?).


os textos que dariam testemunho do período puramente platônico da evolução filosófica do Estagirita estariam praticamente restritos às chamadas obras exotéricas, as quais, como se sabe, ou se perderam totalmente ou só nos chegaram de modo extremamente fragmentário.” Hipótese bastante conhecida.

Antes de tudo, é preciso reconhecer que a tese de Jaeger revigorou enormemente o estudo das obras exotéricas de Aristóteles, estudo que vêm produzindo excelentes resultados.” Migalhas, migalhas, migalhas…


Tão diferente de si mesmo que chega a ser idêntico!

Foi Aristóteles jamais discípulo de Platão?

Platão existiu?!


CAUSA MORTIS PEAK NONFICTION: O problema com Ar., agora falando sério, tanto quanto eu o compreendo, é que ele não compreendeu a teoria das idéias. Portanto, opor-se ou não opor-se a elas é o de menos. Quiçá eu não tenha compreendido Aristóteles, no entanto – mas, questão de lógica, se compreendi Platão, compreendi Aristóteles, pois Platão é o summum bonum da epistemologia – se não compreendi Aristóteles, é verdade que me enganei com Platão?!

Teresa Oñate y Zubía (2001, p. 65) chega ao extremo de sugerir que o modo como Jaeger descreve a dicotomia ‘platônico’–‘aristotélico’ reproduziria uma perspectiva renascentista do conflito entre os dois filósofos, a saber, a visão que representa Platão, por um lado, como o filósofo da transcendência, do espírito religioso, e Aristóteles, por outro, como o filósofo da imanência, o campeão do espírito laico e científico, visão que foi imortalizada no celebérrimo afresco da Escola de Atenas, no qual Platão figura apontando para o céu e Aristóteles para a terra.” Eram os renascentistas (deuses) escolásticos? Sabiam voar? Flutuar, ao menos?


Na Ética, vai de Buda a Maquiavel. Queda pura, diria Heid.

O dia que a transcendência for um fardo estaremos todos perdidos (insustentável leveza do Untermensch).


Não tratar como caricatura quem trata os outros como caricatura.


ao falar de um estágio ‘platônico’ e outro ‘genuinamente aristotélico’, Jaeger sub-repticiamente reintroduz a noção de sistema, pois cada um destes estágios teria uma unidade de pensamento tal que os faz merecer, em nossa opinião, o título de pequeno sistema. (…) Jaeger flerta, assim, com um círculo interpretativo assaz vicioso.”

O método histórico-genético, para ser verdadeiramente histórico, deveria construir-se sobre dados de fato incontroversos, sobre datas seguras e bem provadas; ao invés, umas e outros faltam completamente” R. De acordo! É por isso que a filologia é uma merda!

Mas, como se sabe, as referências cruzadas também são, em última instância, inconfiáveis, visto que, por vezes, elas operam nos dois sentidos: o texto α contém uma frase do tipo “como dissemos em β”, o que parece ser um sinal de que β seja o texto mais antigo dos dois; mas às vezes encontra-se em β o mesmo tipo de remissão a α, o que, pela mesma lógica, sugeriria que α seria anterior a β, despedaçando assim a coerência da tentativa de determinar a ordem de composição dos tratados aristotélicos com auxílio das referências cruzadas.” Aristrollteles. Tell, troll!

Liaisons hyper-dangeureuses

À procura do meu Urblog.


(*) Cf. Décarie, 1972 “se Aristóteles acrescenta uma nota para corrigir uma opinião que ele não mais aceita, não pode ele simplesmente eliminar as passagens que dela guardam quaisquer resquícios? Se ele não o faz, é porque ele aceita o que se crê serem os estágios antigos e recentes de seu pensamento.” Até isso é suposição. Gostamos dos “filhos” que superamos… Já outros queimam obras-primas insuperáveis… Exemplo vivo são as minhas Teorias Supremas (de um adolescente sem mestre) à venda aqui.

YOU CHOOSE, REGARDING THE SEASON: “a uns parecerá mais crível que Aristóteles tenha sido um platônico em sua juventude, a outros será mais verossímil que ele tenha sido um anti-platônico.” See a son, see a sun.

o método jaegeriano tende fortemente a optar pela solução cronológica para ‘solucionar’ (supostas) inconsistências, ao invés de tentar resolvê-las filosoficamente, ou melhor, ao invés de tentar mostrar como Aristóteles teria resolvido o problema (ou, no mínimo, como uma solução poderia ser licitamente extraída de sua filosofia).” Quem o lê e não conhece, pode pensar que J. era um tolo. Porém sua Paideia é ainda inigualável em termos de compreender Platão, e se há método “histórico-genético” ali, é sua suprema evolução (pun superintended²). Mas enfim, sobre Jaeger’s Aristotle, tudo volta à moda, basta esperar.

…apesar de todas as críticas, o valor de Jaeger como filólogo é inegável.”

Metafísica, cujos ‘livros sobre a substância’ – Substanzbücher –, isto é, ΖΗΘ (os quais, como vimos, foram eleitos por Jaeger como o paradigma do ‘Aristóteles maduro’), têm recebido, há quase um século, a maior parte da atenção por parte da crítica especializada, ao passo que seções cruciais da obra, tais como Metaph. Α, Β, E e Λ, têm sido consideravelmente negligenciadas.” Convenhamos: Metafísica é um mau livro. Faríamos bem em lê-lo menos, ele todo.


Edição recomendada, se um dia eu não tiver o que fazer: ARISTÓTELES. Metafísica: ensaio introdutório, texto grego com tradução e comentário de Giovanni Reale. Tradução para o Português de Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2005. 2º v.

Minha edição, à propos, é uma de bolso da Gradifco (espanhol).

Ainda falta o livro maduro de Jaeger sobre A. para eu ler, de toda maneira (11 anos depois deste primeiro).

P.S.: Esse Menn parece bom mesmo! (Só que 8 anos depois parece que o livro ainda não foi publicado!) https://www.philosophie.hu-berlin.de/de/lehrbereiche/antike/mitarbeiter/menn/contents

Para quando eu melhorar meu italiano: OGGIONI, Emilio. La filosofia prima di Aristotele: Saggio di ricostruzione e di interpretazione. Milano: Vita e Pensiero,1939.

* * *

Moral da estória: estou mais confortável apenas transcrevendo Plínio o Velho, o maior copista de Aristóteles que jamais existiu – fazendo de mim um plagiário consciente e informado dos conhecimentos botânicos e zoológicos de Ari!