[ARQUIVO] SÓ É BOM PRA QUEM NÃO TEM (O²)

Originalmente publicado em outubro de 2006. Editado em 8 de janeiro de 2010. Editado novamente em 27 de fevereiro de 2024.

A crônica abaixo, assinada com pseudônimo, havia sido publicada em 2006 num “blog de parceria” entre escritores e jornalistas. Em 2010 foi republicado por mim pela primeira vez.

Não existe uma ordem. Possivelmente corroo, outrora – ao ser inalado – proporciono a sustentação biológica. Não sou, porém, justo. Mato e concedo o dom da vida por conveniência. Minhas conveniências mudam rapidamente. Não me mato porque sou imortal, o que não quer dizer que nunca tenha tentado. Apesar de um blog ser exclusivo do reino dos humanos, dentro do próprio gênero Homo existem de amebas a baleias, de briófitas a elefantes, de lagartixas a um filósofo. Sou unilateral, não ligo para o valor, moral, de nenhuma dessas entidades. O² para os íntimos. Um nome mais curto não representa a ausência de rusgas. Você precisa de mim e briga comigo. Você fecha o blog, não me lê mais, não obstante tudo que disse ecoará em sua mente. Até que o Oxigênio não queira mais sustentar vidas – pela escolha dessas vidas.

Sinceramente não sei o nível de metáfora ou literalidade do parágrafo acima, seja para mim, seja para um círculo restrito, seja para o anônimo – aquele para quem EU sou anônimo. Minha primeira reflexão é a seguinte: gostarei do que sou? A resposta da maioria é não. E do que posso vir a ser? “Se alcançasse esse objetivo, finalmente me daria por satisfeito.” Essa noção está errada.

Não tenho (mais) namorada (o que representa muito, posto que é a queda do céu ao inferno). Não sou assalariado. Não que não tenha trabalhado, mas receber aquele quinhão ao final do mês é um privilégio do qual me sinto virgem. Minhas idéias não entram em conformidade com a ordem social – eu gosto da desigualdade, mas me irrito ao ver que na maioria das vezes me encontro do lado de baixo. E então… Projeto-me no corpo de um amigo. Três anos de namoro, vai casar, estágio onde trabalha pouco e é bem-pago – pelo que dele sei, é realizado musicalmente (esqueci de dizer: gostaria de tocar bateria ou cantar, o que me é impossível, por razões genéticas, de humor e de tempo), apolítico, sabe, daqueles que não se esquentam com facilidade… Sente-se bem. Não tem um blog oficial ou outros dez em que “bica” – e eu, que sempre ANOTO MAS NÃO ESCREVO no meu, acabo fazendo o bom trabalho no dos outros! Quis dizer que meu amigo, codinome Plutônio, é a vida que eu projeto para mim mesmo.

Minhas aspirações são essas. Alguém para “comer todo dia” (sendo bem direto), dinheiro para gastar a curto, médio e longo prazo. Uma banda. Despreocupações. As aspirações de Plutônio são… Não tenho a intimidade necessária.

Despreocupação é o que eu não teria sendo Plutônio. Isso porque eu sou eu, mesmo dentro dele. Começaria a me perguntar: “Quando vamos casar?”, “Ela vai terminar comigo?”, “Quando, como porque e onde? O que eu lhe teria feito? Vou sofrer tanto assim – de novo?!”, “E a separação dos bens?”… Os ciúmes, ah, os ciúmes… Afinal, a namorada dele é novinha, mas é bonita. Tenho certeza que Plutônio não pensa nessas coisas. Quanto ao dinheiro, “em que gastar?”, “tê-lo-ei para sempre?”, “E se eu for demitido? Por justa causa?”. Bandas são como relacionamentos, outrossim. Descobri que a vida de Plutônio é tão insatisfatória quanto a minha, afinal – pelo menos “pra mim”!

Ah, Estou bem. E ontem eu fiquei ainda melhor do que numa sexta-feira normal, porque me perguntaram “Para que isso de escrever em blog?” (não foi meu colega de time Sódio). Respondi-lhe: Para ser contra-argumentado. Pelo meu bem, espero que sim. O céu está cinza. O de Plutônio também, embora ele não se dê conta. Não, apaga tudo, o que foi que eu escrevi?! Plutônio, você está bem?!

(Post Scriptum de dezembro de 2006:) Para azular o cinzento… eu já sei! Vou dizer a todas que pensam que eu (ainda) as amo que não é bem assim.

Por Oxigênio

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