OS FUNDAMENTOS DA FÍSICA (vol. III) (9ª ed.) – Ramalho

PARTE I. CARGAS ELÉTRICAS EM REPOUSO

CAPÍTULO 1. Eletrização & Força elétrica

Eletrostática como um domínio completamente separado do estudo da força gravitacional.

O nome elétron deriva de elektron, grego para âmbar, substância com que os antigos identificaram pela primeira vez a repulsão e atração de caráter elétrico. Adivinha a quem se atribui a descoberta em primeiro lugar? Ao desatento Tales, O Lunático. Foi preciso esperar até o séc. XVI para que, na Inglaterra, dessem continuidade ao estudo da Eletricidade. Uma “descoberta” nada bárbara (cof, cof)…

A palavra tribo advém do grego tribein e significa <atritar>, <esfregar>. Por isso a eletrização por atrito é também denominada triboeletrização.”

Os materiais como o vidro, que conservam as cargas nas regiões onde elas surgem, são chamados isolantes ou dielétricos. Os materiais nos quais as cargas se espalham imediatamente são chamados condutores. É o caso dos metais.”

Van der Graaf (1901-1967). “Geradores de VdG de grande porte, que armazenam grandes quantidades de carga elétrica, gerando descargas elétricas de enormes proporções, costumam ser utilizados em aceleradores de partículas.”

Corrimões de escadas rolantes e batentes de portas: “Em regiões de clima seco, é relativamente comum um passageiro sentir um pequeno choque ao descer de um veículo e tocá-lo. Isso ocorre porque, sendo o ar seco bom isolante elétrico, a eletricidade estática adquirida por atrito não se escoa para o ambiente, e o passageiro, ao descer, faz a ligação do veículo com o solo. Às vezes é a roupa do passageiro (ou do motorista) que se eletriza por atrito com o banco do carro. Ao descer, o toque na parte metálica produz a descarga e a sensação de choque.”

[!] “Foi o cientista, político e escritor americano Benjamin Franklin (1706-1790) quem introduziu os termos eletricidade positiva e eletricidade negativa para designar a eletricidade vítrea e resinosa, respectivamente.” Este homem tão precipitado enquanto politicólogo inventou o pára-raio! Isso o livro-texto da minha época não mostrava…

ATENÇÃO: A experiência realizada por Franklin é muito perigosa. Por isso, jamais tente repeti-la.” HAHAHAHA

Não esperava encontrar isto aqui (p. 35): “Dos inúmeros sermões proferidos pelo Padre Antônio Vieira (1608-1697), os mais famosos são Sermão da Quinta Dominga da Quaresma e Sermão da Sexagésima.”

CAPÍTULO 2. Campo elétrico

(…)

CAPÍTULO 3. Trabalho e potencial elétrico

(…)

CAPÍTULO 4. Condutores em equilíbrio eletrostático. Capacitância eletrostática

Ocorrem por dia, em nosso planeta, cerca de 40 mil tempestades, que originam, aproximadamente, 100 raios por segundo.”

Os dois tipos de pára-raios:

a) Modelo de Franklin

Também chamado simplesmente de pára-raios de F., consta basicamente de uma haste condutora disposta verticalmente na parte mais alta da estrutura a ser protegida. A extremidade superior da haste apresenta de 3 a 4 pontas de um material de elevado ponto de fusão (que não se derreta com a dissipação da energia da descarga). A outra extremidade da haste é ligada, por meio de condutores metálicos, a barras metálicas profundamente cravadas no solo.

Estudos experimentais permitiram concluir que <o campo de proteção oferecido por uma haste vertical é aquele abrangido por um cone, tendo por vértice o ponto mais alto do pára-raios e cuja geratriz forma um ângulo de 60° com a vertical.

b) Modelo de Faraday

Este método consiste em uma malha de captação, formando módulos retangulares, feitos de cabos de cobre nu passando por suportes isoladores, colocados de modo a envolver o topo da estrutura, como uma gaiola. Ao longo da malha, distribuem-se regularmente hastes terminadas em ponta. O aterramento se dá do mesmo modo que o método de F., mas com maior número de terminais. Esse sistema, apesar de mais dispendioso, proporciona maior proteção, sendo utilizado em edificações de grande porte, como ginásios, galpões industriais, etc.

Obs.

O pára-raios radioativo, baseado na ionização do ar por meio da presença de material radioativo no material constituinte da ponta, está proibido no Brasil desde 1989. Quem eventualmente ainda utilize esse tipo de p-r está obrigado a desmontá-lo e encaminhar os componentes à Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).”

PARTE II. CARGAS ELÉTRICAS EM MOVIMENTO

CAPÍTULO 5. Corrente elétrica

O pior caso de choque é aquele que se origina quando uma corrente elétrica entra pela mão de uma pessoa e sai pela outra. Nesse caso, atravessando o tórax de ponta a ponta, há grande chance de a corrente afetar o coração e a respiração.

O valor mínimo de intensidade de corrente que se pode perceber é 1mA (micro-ampère). Esse valor provoca sensação de cócegas ou formigamento leve. Entretanto, com uma corrente de intensidade 10x maior a pessoa já perde o controle dos músculos, sendo difícil abrir a mão e livrar-se do contato.

O valor mortal está compreendido entre 10mA e 3A, aproximadamente. Nessa faixa de valores, a corrente, atravessando o tórax, atinge o coração com intensidade suficiente para modificar seu ritmo. Modificado o ritmo, o coração pára de bombear sangue para o corpo e a morte pode ocorrer em segundos. Se a intensidade for ainda mais alta, a corrente pode paralisar completamente o coração. Este se contrai ao máximo e mantém-se assim enquanto passa a corrente. Interrompida a corrente, geralmente o coração relaxa e pode começar a bater novamente, como se nada tivesse acontecido. Todavia, paralisado o coração, paralisa-se também a circulação sangüínea, e uma interrupção de poucos minutos dessa circulação pode provocar danos cerebrais irreversíveis.”

CAPÍTULO 6. Resistores

Existem elementos de circuitos cuja função, entre outras, é a de transformar energia elétrica em energia térmica (dissipar energia elétrica) ou limitar a intensidade da corrente elétrica em circuitos eletrônicos. Tais elementos recebem o nome de resistores.

São exemplos de resistores que se destinam a dissipar energia elétrica: os filamentos de tungstênio das lâmpadas elétricas incandescentes; fios de certas ligas metálicas (como nicromo: liga de níquel e de cromo), enrolados em hélice cilíndrica, utilizados em chuveiro, torneiras elétricas, secadores de cabelos, etc.

Os resistores utilizados para limitar a intensidade de corrente que passa por determinados componentes eletrônicos não têm a finalidade de dissipar energia elétrica, embora isso aconteça inevitavelmente. Comumente, são constituídos de um filme de grafite depositado de modo contínuo sobre um suporte cerâmico ou enrolado em forma de faixas helicoidais.”

Muitos resistores que se destinam a dissipar energia são, algumas vezes, chamados impropriamente de <resistências>. Você certamente já ouviu frases do tipo <é preciso trocar a resistência do chuveiro> ou <a resistência do secador de cabelos queimou>. Na verdade, a resistência elétrica é uma propriedade física do resistor.”

O estudo moderno da eletricidade teve início a partir da observação de um biólogo. Luigi Galvani (1737-1797) verificou que as pernas da rã, que suspendera para secar por meio de presilhas de cobre num suporte de ferro [quem seca uma rã???], contraíam-se quando balançados pelo vento. Galvani atribuiu a ocorrência à existência de correntes elétricas produzidas pelas próprias pernas da rã.

(…) [Mas] o físico Alessandro Volta (1745-1827) não concordou com a hipótese de seu colega biólogo. Para ele, as contrações eram devidas a uma corrente elétrica, mas produzidas de outro modo. Ao serem balançadas pelo vento, as extremidades livres das pernas suspensas tocavam o suporte de ferro. Então estabelecia-se o contato da perna da rã com 2 metais, o cobre, de um lado, e o ferro, do outro. Isso e mais as substâncias ácidas do corpo da rã geravam a corrente responsável pelas contrações. A construção da primeira pilha elétrica por Volta comprovou a veracidade de sua hipótese.”

Com a descoberta do efeito magnético da corrente elétrica, a história da Eletrodinâmica se entrelaça com a do Magnetismo, surgindo então com destaque as pesquisas de cientistas como Oersted, Ampère, Faraday, Maxwell e outros.”

! DICAS CULTURAIS !

As óperas de Verdi adaptando Shakespeare e Schiller. La Traviata, cantada no Poderoso Chefão 2.


Paulicéia Desvairada é considerado como o primeiro livro de poemas do modernismo brasileiro (Mário de Andrade).”

CAPÍTULO 7. Associação de resistores

(…)

CAPÍTULO 8. Medidas elétricas

(…)

CAPÍTULO 9. Geradores elétricos

(…)

CAPÍTULO 10. Receptores elétricos

(…)

CAPÍTULO 11. As leis de Kirchoff

(…)

CAPÍTULO 12. Capacitores

(…)

PARTE III. ELETROMAGNETISMO

CAPÍTULO 13. Campo magnético

campo magnetico

CAPÍTULO 14. Força magnética

(…)

CAPÍTULO 15. Indução eletromagnética

(…)

CAPÍTULO 16. Noções de corrente alternada

(…)

CAPÍTULO 17. Ondas eletromagnéticas

(…)

PARTE IV. INTRODUÇÃO À FÍSICA MODERNA

CAPÍTULO 18. Relatividade especial

No final do séc. XIX, acreditava-se que as ondas eletromagnéticas, a exemplo das ondas mecânicas, necessitavam de um meio material para se propagarem. Esse meio elástico, onipresente e invisível, preenchendo todo o Universo, foi denominado éter. As ondas eletromagnéticas e a luz, em particular, propagavam-se com velocidade c = 300 mil km/s em relação a esse meio.

Como o éter era um meio hipotético, cuja existência jamais fôra provada, em 1887 os cientistas Michelson e Morley realizaram, em Cleveland (EUA), uma experiência para verificar sua existência. Eles consideraram que, se o espaço sideral estivesse preenchdio por um <mar de éter> imóvel e a luz fosse realmente propagada através dele, a velocidade desta deveria ser afetada pela <correnteza de éter> resultante do movimento de translação da Terra. Em outras palavras, um raio de luz lançado no sentido do movimento da Terra deveria sofrer um retardamento, por causa da correnteza do éter, da mesma forma que um nadador é retardado pela correnteza da água ao nadar contra ela.”

Michelson e Morley esperavam encontrar valores diferentes para os intervalos de tempo delta-T e delta-T’, segundo cálculos teóricos previamente feitos. A diferença de tempo deveria ser detectada pela análise da interferência dos feixes de luz no anteparo de sua máquina interferômetro [basicamente um superespelho mergulhado horizontalmente em mercúrio]. Contudo, realizada a experiência, a conclusão foi perturbadora: não havia diferença entre os 2 intervalos de tempo. Repetiram a experiência várias vezes, em épocas e condições técnicas diferentes, chegando sempre à mesma medição. (…) Foi o fim do sistema de referência universal newtoniano.”

CAPÍTULO 19. Física quântica

Na história da Física, existem vários exemplos de conceitos que exigiram revisão ou mesmo substituição, quando novos dados experimentais se puseram a eles. Contudo, no caso da luz, foi a primeira vez em que duas teorias, completamente diferentes, são simultaneamente necessárias, completando-se mutuamente.”


“Logo após a hipótese de
De Broglie, foi desenvolvida por vários físicos notáveis, como Heisenberg, Schrödinger, Born, Pauli [citado em Jung] e Dirac, a Mecânica Quântica.”

CAPÍTULO 20. Física nuclear

A força nuclear forte é a mais intensa das 4 forças fundamentais. Sua intensidade é 1038 vezes maior que a força gravitacional, a mais fraca das quatro. Entretanto, sua ação só se manifesta em distâncias muito pequenas, comparáveis às dimensões do núcleo atômico (10-15m). A intensidade da força nuclear forte diminui rapidamente quando há a separação entre as partículas, praticamente se anulando quando a distância assume as dimensões de alguns diâmetros nucleares. Essa força também é denominada força hadrônica, porque só se manifesta entre os hádrons, grupo de partículas do qual fazem parte os nêutrons e os prótons, mas não os elétrons, que não são afetados pela força nuclear forte.”

A intensidade da força eletromagnética é em média 100x menor que a da força nuclear forte.”

NÃO BRINCAR COM FOGO OU ELETRICIDADE: “Entre os léptons (grupo de partículas das quais faz parte o elétron) e os hádrons, atuando em escala nuclear, desenvolve-se a denominada força nuclear fraca. Sua intensidade é 1025 vezes maior que a da força gravitacional, mas 1013 vezes menor que a da força nuclear forte. Ela é a responsável pela emissão de elétrons por parte dos núcleos de algumas substâncias radioativas, num processo denominado decaimento beta. Atualmente a maior parte dos cientistas admite que a força nuclear fraca e a força eletromagnética são manifestações diferentes de uma mesma interação fundamental, chamando-as de força eletrofraca. Esse é um primeiro passo para a unificação completa das 4 forças fundamentais, entendendo-as como manifestações de uma única superforça.”

a força gravitacional tem grande importância na Astronomia e na Cosmologia, explicando a movimentação dos astros no Universo, bem como a formação de estrelas, galáxias e sistemas planetários.”

Um contato entre uma partícula e sua antipartícula pode resultar num processo de aniquilação da matéria. É o que ocorre entre um elétron e um pósitron, sendo criados dois fótons de alta energia.”

Com a construção de grandes aceleradores de partículas, muitas antipartículas foram descobertas como, p.ex., o antipróton e o antinêutron. O antipróton foi descoberto em 1955 pelos físicos norte-americanos Owen Chamberlain (1920-2006) e Emílio Gino Segré (1905-1989), no Bévatron da Universidade da Califórnia, em Berkeley, EUA. Por esse feito, receberam o prêmio Nobel de Física de 59.”

Entre os bósons, os mais conhecidos são os fótons, que têm massa de repouso nula.”

As partículas elementares elétron, neutrino, múon, tau e suas antipartículas são exemplos de léptons. O nome lépton significa leve, e a razão disso é que sua massa costuma ser menor que a menor massa dos hádrons. Entretanto, sabe-se hoje que o tau, um tipo de lépton que só pode ser encontrado em partículas aceleradas e em raios cósmicos, tem massa que corresponde a quase o dobro da massa do próton.

Os hádrons, que estão sujeitos a todas as interações, podem ser de 2 tipos: os mésons e os bárions. Um tipo de méson, o píon, foi descoberto em 1947 pelo físico brasileiro César Lattes (1924-2005), no pico de Chacaltaya, nos Andes bolivianos, a 5.600m de altitude. Os mésons são partículas cuja massa pode variar desde um valor próximo a 1/7 da massa do próton até valores mais elevados que a massa de núcleos leves. Próton, nêutron, lambda, sigma, Xi, ômega e suas antipartículas são exemplos de bárions.”

Os hádrons, na verdade, não seriam partículas elementares, pelo fato de que são constituídos por partículas ainda menores, os denominados quarks.¹ O modelo dos quarks prevê a existência de 3 tipos, indicados pelas letras u (de up), d (de down) e s (de strange [haha]). Os quarks apresentariam carga elétrica fracionária em relação à carga elementar. Existiriam 3 antiquarks.

¹ O nome quark, dado por Gell-Mann às menores partículas constituintes da matéria, foi tirado do romance Finnegans Wake, de Joyce.

Esse modelo se expandiu com a inclusão de mais 3 tipos de quarks: o c (de charmed), o b (de bottom) e o t (de top) e seus correspondentes antiquarks.”

Os hádrons mais comuns (prótons e nêutrons), denominados núcleons, são constituídos apenas pelos quarks u e d. Um próton seria constituído por 2 quarks u e um quark d, pois a carga elétrica do quark u é +2/3 e a do quark d é -1/3 (carga = 1). Um nêutron seria formado por 2 quarks d e um quark u (carga 0).”

Cada m² da superfície do planeta é atingido, em cada segundo, por cerca de 200 partículas denominadas raio cósmico, com energias de alguns milhões de elétrons-volt. Entre as partículas que constituem a radiação cósmica predominam os elétrons e os núcleos atômicos, principalmente de hidrogênio (prótons). As partículas dos raios cósmicos deslocam-se pelo espaço com velocidades próximas à da luz. Algumas delas são muito mais energéticas do que qualquer outra partícula produzida nos maiores aceleradores de partículas existentes.”

No Brasil, as atividades envolvendo os raios cósmicos marcam o próprio início das pesquisas físicas em nosso país. Por ocasião da implantação da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, em 1934, foi marcante a atuação do físico ucraniano de nascimento, naturalizado italiano, Gleb Wataghin (1899-1986), que hoje empresta seu nome ao Instituto de Física da Unicamp.”

Em 1949, foi criado no RJ o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), coordenado por César Lattes e José Leite Lopes (1918-2006), outro importante pesquisador brasileiro, primeiro presidente da Sociedade Brasileira de Física.”

Na esteira dos aperfeiçoamentos dos acelerados de partículas, em 1929, o físico norte-americano Ernest Lawrence (1901-58), prêmio Nobel de física de 39, desenvolveu outro acelerador com concepção diferente, o cíclotron, no qual partículas carregadas eram aceleradas em percursos espiralados, ganhando energia a cada ciclo. Esse conceito ainda hoje é utilizado nos grandes aceleradores.”

quando núcleos pesados como os de urânio são bombardeados por partículas como nêutrons acelerados, originam-se núcleos menores e uma grande quantidade de energia. (…) Essa energia obtida confirmou plenamente a fórmula de Einstein E = mc²”

Em 02/12/1942, na Universidade de Chicago, um grupo de cientistas, dirigido por Enrico Fermi [ironicamente, um italiano ‘ajudou a matar’ o fascismo], criou com sucesso o primeiro reator a conseguir um estado de auto-sustentação ou <crítico>. O reator era abastecido com urânio natural embebido em blocos de grafite, tendo a fissão ocorrido no isótopo do urânio de massa 235 e 92 prótons.”

invenção da bomba a

Chama-se energia de ligação do núcleo a quantidade de energia mínima que o núcleo deve receber para ser possível separar núcleos atômicos. (…) quando núcleons se juntam e se fundem para formar um núcleo mais pesado, há liberação de energia, que corresponde à energia de ligação, i.e., à energia que o núcleo formado deveria receber para que fossem liberados os núcleos originais. No processo que ocorre no Sol, núcleos de hidrogênio unem-se para formar núcleos de hélio e, como subproduto dessa reação nuclear, é liberada uma enorme quantidade de energia.”

Por que não existem usinas de energia de fusão nuclear? “o gasto de energia para se obterem as condições necessárias à realização do processo é maior que a quantidade de energia obtida dele.” “A fusão nuclear causa bem menos problemas que a fissão na obtenção de energia elétrica. Por isso, há um grande empenho dos cientistas e dos governos em todo o mundo para buscar soluções que tornem viável a utilização do processo de fusão em substituição ao de fissão. Nesse sentido, foi criado um projeto internacional, que constitui uma das maiores cooperações científico-tecnológicas dos últimos tempos, o ITER (International Thermonuclear Experimental Reactor). O reator, baseado na tecnologia Tokamak, está sendo construído na França e, uma vez concluído (o primeiro prazo para início das operações é 2016), deverá produzir cerca de 1 GW (1 bilhão de watts) de potência. Tal projeto consumirá mais de 10 bilhões de euros, metade dos quais investidos pela comunidade européia.” Atualizações: https://www.iter.org/sci/iterandbeyond – a máquina sucedânea do projeto ITER tem previsão para entrar em funcionamento nos anos 40: “DEMO is the machine that will address the technological questions of bringing fusion energy to the electricity grid. The principal goals for the DEMO phase of fusion research are the exploration of continuous or near-continuous (steady-state) operation, the investigation of efficient energy capture systems, the achievement of a power output in the Q-value range of 30 to 50 (as opposed to ITER’s 10), and the in-vessel production of tritium (called tritium breeding). DEMO would be a simpler machine than ITER, with fewer diagnostics and a design more targeted to the capture of energy than to the exploration of plasma regimes.” “Beyond DEMO, the final step to producing fusion energy would be the construction of a prototype reactor, fully optimized to produce electricity competitively. The timescale for such a prototype depends heavily on political will to reach this stage, but most forecasts place this phase of fusion energy development at the middle of the century.” Ironicamente, além da União Européia parece que só o Japão está envolvido, sem a presença dos EUA…

supernova

Uma das previsões da relatividade geral de Einstein é a existência de ondas gravitacionais, as quais, apesar das tentativas, ainda não foram observadas. Existe a expectativa de que na eventual colisão de dois buracos negros, envolvendo massas da ordem de milhares de massas equivalentes ao Sol, ondas gravitacionais possam ser detectadas, resolvendo um dos grandes enigmas da Física atual.”

PARTE V. ANÁLISE DIMENSIONAL

CAPÍTULO 21. Análise dimensional

(…)

[+]

Gilbert, De magnete, 1600.

Grattan

THE PHYSICAL PRINCIPLES OF THE QUANTUM THEORY (Ou: sempre podemos saber algo de alguma coisa, porém… sempre há também um socrático porém!) – Heisenberg. Translated by Carl Eckart & Frank C. Hoyt. (1930)

FOREWORD

The structure of the helium atom, the existence of half-quantum numbers in band spectra, the continuous spatial distribution of photo-electrons, and the phenomenon of radioactive disintegration, to mention only a few examples, are achievements of the new theory which had baffled the old.”

This symmetry of the book with respect to the words <particle> and <wave> shows that nothing is gained by discussing fundamental problems (such as causality) in terms of one rather than the other.”

1. INTRODUCTION

Thus it was characteristic of the special theory of relativity that the concepts <measuring rod> and <clock> were subject to searching criticism in the light of experiment (…) A much more radical departure from the classical conception of the world was brought about by the general theory of relativity, in which only the concept of coincidence in space-time was accepted uncritically. According to this theory, classical concepts are applicable only to the description of experiments in which both the gravitational constant and the reciprocal of the velocity of light may be regarded as negligibly small.

Although the theory of relativity makes the greatest of demands on the ability for abstract thought, still it fulfills the traditional requirements of science in so far as it permits a division of the world into subject and object (observer and observed) and hence a clear formulation of the law of causality. This is the very point at which the difficulties of the quantum theory begin. In atomic physics, the concepts <clock> and <measuring rod> (comprimento) [ou seja, tempo e espaço] need no immediate consideration, for there is a large field of phenomena in which i/c is negligible. The concepts <space-time coincidence> and <observation>, on the other hand, do require a thorough revision.” “the interaction between observer and object causes uncontrollable and large changes in the system being observed, because of the discontinuous changes characteristic of atomic processes.” “it appears that in many cases it is impossible to obtain an exact determination of the simultaneous values of 2 variables, but rather that there is a lower limit to the accuracy with which they can be known.” “These uncertainty relations give us that measure of freedom from the limitations of classical concepts which is necessary for a consistent description of atomic processes.”

After Newton’s objections to the wave theory of light had been refuted and the phenomena of interference explained by Fresnel, this theory dominated all others for many years, until Einstein pointed out that the experiments of Lenard on the photoelectric effect could only be explained by a corpuscular theory.”

When the energy of the atom is known, one speaks of a <stationary state of the atom>. When the kinetic energy of the electron is too small to change the atom from its stationary state to a higher one, the electron makes only elastic collisions with the atoms, but when the kinetic energy suffers for excitation some electrons will transfer their energy to the atom, so the electronic current as a function of the velocity changes rapidly in the critical region. The concept of stationary states, which is suggested by these experiments, is the most direct expression of the discontinuity in all atomic processes.”

It is true that it might be postulated that 2 separate entities, one having all the properties of a particle, and the other all the properties of wave motion, were combined in some way to form <light>. But such theories are unable to bring about the intimate relation between the two entities which seems required by the experimental evidence.” The solution of the difficulty is that the two mental pictures which experiments lead us to form – the one of particles, the other of waves – are both incomplete and have only the validity of analogies which are accurate only in limiting cases.” Light and matter are both single entities, and the apparent duality arises in the limitations of our language.” Fortunately, mathematics is not subject to this limitation” “In order to avoid obscuring the essential relationships by too much mathematics, however, it has seemed advisable to relegate this formalism to the Appendix [que eu, claro, não cubro aqui].”

2. CRITIQUE OF THE PHYSICAL CONCEPTS OF THE CORPUSCULAR THEORY

As Bohr has emphasized, if a measurement of its co-ordinate is to be possible at all, the electron must be practically free.” This may be expressed in concise general terms by saying that every experiment destroys some of the knowledge of the system which was obtained by previous experiments.” “It is a matter of personal belief whether such a calculation concerning the past history of the electron can be ascribed any physical reality or not.”

O RABO É MAIS VELOZ QUE A CABEÇA DA COBRA, E AO MESMO TEMPO NÃO É: The orbit is the temporal sequence of the points in space at which the electron is observed. As the dimensions of the atom in its lowest state are of the order 10-8 cm, it will be necessary to use light of wave-lenght not greater than 10-9 cm in order to carry out a position measurement of sufficient accuracy for the purpose. A single photon of such light is, however, sufficient to remove the electron from the atom, because of the Compton recoil. Only a single point of the hypothetical orbit is thus observable. One can, however, repeat this single observation on a large number of atoms, and thus obtain a probability distribution of the electron in the atom.” “This result is stranger than it seems at first glance. (…) there is thus always a small but finite probability of finding the electron at a great distance from the center of the atom.” “This paradox also serves as a warning against carrying out the <statistical interpretation> of quantum mechanics too schematically. Because of the exponential behavior of the Schrödinger function at infinity, the electron will sometimes be found as much as, say, 1cm from the nucleus. One might suppose that it would be possible to verify the presence of the electron at such a point by the use of red light [faixa de onda mais extensa]. This red light would not produce any appreciable Compton recoil and the foregoing paradox would arise once more.” “The statistical predictions of quantum theory are thus significant only when combined with experiments which are actually capable of observing the phenomena treated by the statistics.”

3. CRITIQUE OF THE PHYSICAL CONCEPTS OF THE WAVE THEORY

historically we first encounter attempts to develop 3D wave theories that could be readily visualized (Maxwell and de Broglie waves). (…) The reader must be warned against an unwarrantable confusion of classical wave theory with the Schrödinger theory of waves in a phase space.”

Although it is perhaps possible in principle to diminish these space and time intervals without limit by refinement of the measuring instruments, nevertheless for the physical discussion of the concepts of the wave theory it is advantageous to introduce finite values for the space and time intervals involved in the measurements and only pass to the limit zero for these intervals at the end of the calculations. (…) It is possible that future developments of the quantum theory will show that the limit zero for such intervals is an abstraction without physical meaning” Voilà!

4. THE STATISTICAL INTERPRETATION OF QUANTUM THEORY

It is instructive to compare the mathematical apparatus of quantum theory with that of the theory of relativity. In both cases there is an application of the theory of linear algebras. One can therefore compare the matrices of quantum theory with the symmetric tensors of the special theory of relativity. The greatest difference is the fact that the tensors of quantum theory are in a space of infinitely many dimensions, and that this space is not real but imaginary.” The exact knowledge of the numerical value of any dynamical variable corresponds to the determination of a definite direction in this space, in the same manner as the exact knowledge of the moment of inertia of a solid body determines the principal direction to which this moment belongs (it is assumed that there is zero degeneracy).”

An atom in a (non-degenerate) stationary state presents such a determinate case: The direction characterizing it is that of the kth principal axis of the tensor E, which belongs to the energy value Ekk.” The total angular momentum of the atom, e.g., can be determined simultaneously with its energy.”

FIG 14 VETORES

It follows from this discussion that the value of q’ cannot be uniquely predicted from the result of the experiment determining E, for a disturbance of the system, which is necessarily indeterminate to a certain degree, must occur between the 2 experiments involved. This disturbance is qualitatively determined, however, as soon as one knows that the result is to be an exact value of q. In this case, the probability of finding a value q’ after E has been measured is given by the square of the cosine of the angle between the original direction Ek and the direction q’. (…) This assumption is one of the formal postulates of quantum theory and cannot be derived from any other considerations. It follows from this axiom that the values of 2 dynamical quantities are casually related if, and only if, the tensors corresponding to them have parallel principal axes.”

Thus one becomes entangled in contradictions if one speaks of the probable position of the electron without considering the experiment used to determine it (cf. the paradox of negative kinetic energy, chapter 2).”

If one were to treat the measuring device as a part of the system – which would necessitate an extension of the Hilbert space – then the changes considered above as indeterminate would appear determinate. (…) For these observations, however, the same considerations are valid as those given above [um sistema que contém outro sistema enviesa o experimento], and we should be forced, e.g., to include our own eyes as part of the system, and so on. The chain of cause and effect could be quantitatively verified only if the whole universe were considered as a single system – but then physics has vanished, and only a mathematical scheme remains. The partition of the world into observing and observed system prevents a sharp formulation of the law of cause and effect. (The observing system need not always be a human being; it may also be an inanimate apparatus, such as a photographic plate.)”

With the advent of Einstein’s relativity theory it was necessary for the 1st time to recognize that the physical world differed from the ideal world conceived in terms of everyday experience. It became apparent that ordinary concepts could only be applied to processes in which the velocity of light could be regarded as practically infinite. The experimental material resulting from modern refinements in experimental technique necessitated the revision of old ideas and the acquirement of new ones, but as the mind is always slow to adjust itself to an extended range of experience and concepts, the relativity theory seemed at first repellantly abstract. Nonetheless, the simplicity of its solution of a vexatious problem has gained it universal acceptance. As is clear from what has been said, the resolution of the paradoxes of atomic physics can be accomplished only by further renunciation of old and cherished ideas. Most important of these is the idea that natural phenomena obey exact laws – the principle of causality. In fact, our ordinary description of nature, and the idea of exact laws, rests on the assumption that it is possible to observe the phenomena without appreciably influencing them. To co-ordinate a definite cause to a definite effect has sense only when both can be observed without introducing a foreign element disturbing their interrelation. The law of causality, because of its very nature, can only be defined for isolated systems, and in atomic physics even approximately isolated systems cannot be observed. (…) There exist no infinitesimals by the aid of which an observation might be made without appreciable perturbation.”

Faraday and Maxwell explained electromagnetic phenomena as the stresses and strains of an ether, but with the advent of the relativity theory, this ether was dematerialized; the electromagnetic field could still be represented as a set of vectors in space-time, however. Thermodynamics is an even better example of a theory whose variables cannot be given a simple geometric interpretation.”

resumodaopera

Os matemáticos apertam a mão de Sócrates: nasce a Estatística Aplicada, vulgo cobertor curto da realidade!

Many of the abstractions that are characteristic of modern theoretical physics are to be found discussed in the philosophy of past centuries. At that time these abstractions could be disregarded as mere mental exercises by those scientists whose only concern was with reality, but today we are compelled by the refinements of experimental art to consider them seriously.”

5. DISCUSSION OF IMPORTANT EXPERIMENTS

It is true that an ingenious combination of arguments based on the correspondence principle can make the quantum theory of matter together with a classical theory of radiation furnish quantitative values for the transition probabilities, i.e., either by the use of Schrödinger’s virtual charge density or its equivalent, the element of the matrix representing the electric dipole moment of the atom. Such a formulation of the radiation problem is far from satisfactory and leads to false conclusions.”

Dirac, in his radiation theory, employs the language of the particle representation, but makes use of conclusions drawn from the wave theory of radiation in his derivation of the Hamiltonian function.”

the classical wave theory is sufficient for the discussion of all questions of coherence and interference.”

It is very difficult for us to conceive the fact that the theory of photons does not conflict with the requirements of the Maxwell equations. (…) whenever an experiment is capable of furnishing information regarding the direction of emission of a photon, its results are precisely those which would be predicted from a solution of the Maxewell equations of the needle type (unidirectional beams)”

If one supposes that an experiment has determined the position of the atom with a given accuracy (the value of the momentum must then be correspondingly uncertain), then this means that the density is given by the foregoing expression only in a finite volume v, and is zero elsewhere.” “This example illustrates very clearly how the quantum theory strips even the light waves of the primitive reality which is ascribed to them by the classical theory.”

For a point electron (one of zero radius) even the classical theory yields an infinite value of the energy, as is well known, so that it becomes necessary to introduce a universal constant of the dimension of a lenght – the <radius of the electron>. It is remarkable that in the non-relativistic theory this difficulty can be avoided in another way – by a suitable choice of the order of non-commutative factors in the Hamiltonian function. This has hitherto not been possible in the relativistic quantum theory.

The hope is often expressed that after these problems have been solved the quantum theory will be seen to be based, in a large measure at least, on classical concepts. But even a superficial survey of the trend of the evolution of physics in the past 30 years [Hallo, século XX!] shows that it is far more likely that the solution will result in further limitations on the applicability of classical concepts than that it will result in a removal of those already discovered.” thenDANsING d SONG O’ THE ‘SIR. ENS’! S.O.[CRATE’]S. FLU-TE & HARP BE4 THE HEMLOCK… LOCK ‘EM ALL, THE TRUTHS, WITH STRINGS!

MÊNON OU DA VIRTUDE Ou: Da inexistência de uma ciência política (Última tradução do ciclo “PLATÃO. Obras Completas”) + VIRGINIA WOOLF ao final!

Tradução comentada de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei oportuno abordar pontos polêmicos ou obscuros. Quando a nota for de Azcárate (tradutor) ou de Ana Pérez Vega (editora), um (*) antecederá as aspas.

MÊNON – Poderias dizer-me, Sócrates, se a virtude pode ser ensinada? E, podendo ou não, adquire-se só com a prática ou encontra-se no homem também naturalmente ou sob qualquer outra forma?

SÓCRATES – Até agora os tessálios desfrutaram de grande renome entre os gregos, e foram muitíssimo admirados por sua destreza em montar a cavalo, bem como por suas riquezas; mas hoje em dia sua fama reside, a meu ver, mais em sua sabedoria, principalmente na dos concidadãos de teu amigo Aristipo de Larissa.(*) A razão disso é que Górgias, havendo visitado esta cidade, atraiu a seu círculo, em vista de seu enorme talento, os aristocratas alêuadas, i.e., descendentes do rei Aleuas.¹ Aristipo se encontrava neste número. Apenas os mais distintos dos tessálios freqüentavam a residência de Górgias. Ele vos acostumou a responder com firmeza e imponência às perguntas, assim como os sábios respondem com naturalidade tudo aquilo que são perguntados (…)”

(*) “Que não deverá ser confundido com Aristipo de Cirene, discípulo do próprio Sócrates, que no entanto punha o Prazer no lugar do soberano Bem.” – P.A. (Mau discípulo, por sinal!)

¹ Rei mitológico, já que se diz que fôra neto do próprio Aquiles da Guerra de Tróia. Há discordância entre os escoliastas de língua portuguesa se se o chama Aleuas ou Alevas e, em conseqüência, seus descendentes poderiam tanto se chamar alêuadas como alêvadas. Aqui procedemos à opção de Azcárate.

Mas aqui em Atenas, meu querido Mênon, as coisas tomaram a contra-mão. Não sei que espécie de aridez se apoderou da ciência; até o ponto em que parece se haver retirado por completo destes lugares, para ir animar apenas vossa Tessália. Imagino que se perambularas nas ruas questionando o que me questionas serias vítima de troça, e não haveria quem não to dissesse: Estrangeiro, estou tão distante de saber se a virtude, dada sua natureza, pode ser ensinada, que ignoro mesmo o que seja essa tal virtude! Mas Mênon, eu disse isso sobre todos os atenienses: eu também não sei a resposta. Prescindo da sabedoria, como meus concidadãos. Sinto muitíssimo não possuir qualquer tipo de ciência sobre a virtude! (…) Parece-te, aliás, possível que alguém que não conhece a pessoa de Mênon afirme que seja formoso, rico e nobre, ou, enfim, destituído destas características? Crês tu?

MÊNON – Não, mas será verdade, Sócrates, que não saibas mesmo o que é a virtude? É concebível que, voltando eu a minha terra, tenha de aviltar tua imagem de sábio, confessando tua ignorância no tema?

SÓCRATES – Não só não o sei, querido Mênon, como não encontrei jamais alma que o soubesse, tanto quanto me concerne.

MÊNON – Como é? Não visitaste Górgias quando ele freqüentou Atenas?

SÓCRATES – Sim.

MÊNON – E me dizes então que ele de nada sabia?

SÓCRATES – Ando meio caduco, Mênon. Não posso dar-te um juízo exato, agora, de como avaliei Górgias então. Bom, talvez ele realmente soubesse o quê é a virtude, e dessa forma tu também, pois que tu és discípulo de Górgias.”

SÓCRATES – Deixemos Górgias em paz, uma vez que não se encontra para defender-se. Mas tu, Mênon, em nome dos deuses, o que opinas sobre a virtude? Diz-mo. Não me prives deste conhecimento! Se eu saio desta conversa convencido de que tu e Górgias sabeis quê é a virtude, terei de admitir minha derrota: incorrera em falsidade todo este tempo, uma vez que conhecia homens que sabiam o que é a virtude!

MÊNON – A coisa não é assim tão difícil, Sócrates. Queres que te diga, duma vez, em que consiste a virtude do homem? Nada mais simples: consiste em estar em posição de administrar os negócios da sua pátria; e, administrando, fazer o bem a seus amigos e o mal a seus inimigos, procurando, por sua parte, evitar todo o sofrimento. Queres conhecer em que consiste a virtude da mulher? É facílimo defini-la: o dever de uma mulher é governar bem sua casa, vigiar seu interior, ser submissa ao marido. Também há uma virtude própria para os jovens, de um e outro sexo, e para os anciãos; a que convém ao homem livre é outrossim distinta da do escravo; em suma, há uma infinidade de virtudes. Nenhum inconveniente há em responder o que é a virtude, porque cada profissão, cada idade, cada ação, tem sua virtude particular. (…)

SÓCRATES – Imensa é minha fortuna, Mênon! Estava à procura de uma virtude, e me deparo com um verdadeiro enxame delas! Mas, recorrendo a esta imagem, i.e., do enxame, se eu te houvesse questionado da natureza das abelhas, e tu me respondesses que há muitas abelhas e de muitas espécies diferentes; o que me haveria de responder se eu te contestasse: É em virtude de sua qualidade de abelhas que dizes haver grande número? Ou não diferem em nada enquanto abelhas, mas sim em razão de outros conceitos, p.ex., a beleza, a magnitude ou qualquer qualidade assim, separável do que uma abelha é? (…)

MÊNON – Ora, diria que as abelhas, enquanto abelhas, não diferem umas das outras!”

SÓCRATES – Saiba então que o mesmo sucede com as virtudes. Ainda que haja muitas e de muitos matizes e variedades, todas compartilham uma essência comum, o que possibilita que sejam chamadas virtudes.”

Te parece, Mênon, que a saúde de um homem seja distinta da saúde de uma mulher?”

Mênon, a verdade é que não buscamos mais que uma virtude. O que fizemos foi percorrer caminhos estranhos e achar várias virtudes, máscaras da virtude una.”

SÓCRATES – Agora vê se concordas: a figura é, dentre todas as coisas que existem, a única que está unida à cor. Estás satisfeito ou desejas reformular tal definição? Eu me daria por satisfeito, caso desses-me uma definição de virtude no mesmo tom.

MÊNON – Mas esta definição é impertinente, Sócrates!

SÓCRATES – Por quê?!

MÊNON – Segundo tu, a figura está sempre unida à cor.

SÓCRATES – Sim, e…?

MÊNON – Se se dissesse que não se sabe quê é a cor, e que neste ponto está-se no mesmo embaraço que quanto à definição de figura, que pensarias a respeito?

SÓCRATES – (…) minha resposta já está dada; se não é justa, a ti toca pedir a palavra e refutá-la. Mas se fossem dois amigos, como tu e eu, que quiséssemos conversar juntos, seria preciso então responder-te, não é mesmo? Desta vez, de maneira mais suave e conforme com as leis da dialética. E o que é mais conforme com as leis da dialética? Não se limitar somente a dar uma resposta verdadeira, mas fazer com que esta resposta consista em palavras que o mesmo sujeito que nos dirigiu a pergunta confesse que entendeu a todas, uma a uma. Desta maneira inicio minha tentativa de responder-te melhor que antes. Pergunto: há uma coisa que chamas de fim, i.e., limite, extremidade? Estas 3 palavras expressam uma mesma idéia. Talvez Pródico não concordasse. Mas enfim, tu não assumes que uma coisa é finita e limitada? Eis meu entendimento.

(…)

E bem, não chamas algumas coisas de superfícies, planos, e outras sólidos? P.ex., o que se chama com estes nomes na geometria.

(…)

Agora sim podes conceber o que entendo eu por figura. Porque digo em geral de toda figura que é: aquilo que limita o sólido. Para resumir esta definição em apenas dois substantivos, chamo de figura o limite do sólido.

MÊNON – Excelente, Sócrates. E qual sua definição de cor?

SÓCRATES – Ah, Mênon! Tua juventude gosta de tripudiar de um velho como eu, não?! Sufoca-me com pergunta atrás de pergunta! Enquanto isso, não queres nem te lembrar nem dizer-me como Górgias entendia a virtude!

MÊNON – To direi, Sócrates—depois de terdes respondido minha pergunta!

SÓCRATES – Ainda que tivera meus olhos vendados, somente ao ouvir-te diria: és belo e tens amantes!

MÊNON – Por que dizes isto?!

SÓCRATES – Porque em teus discursos não fazes mais que mandar; coisa muito comum entre os jovens que, orgulhosos de sua beleza, exercem uma espécie de tirania enquanto se encontram na flor dos anos. Além disso, talvez tenhas descoberto minha fraqueza, amigo, o amor pela beleza! Mas farei tua vontade, respondo-te a seguir.

MÊNON – Sim, por favor, Sócrates!

SÓCRATES – Queres que te responda como responderia Górgias, a fim de que me sigas com mais facilidade?

MÊNON – Ó, é uma ótima idéia!

SÓCRATES – Não dizeis vós, segundo o sistema de Empédocles, que os corpos produzem emanações?

MÊNON – Correto, prossegue.

SÓCRATES – E que têm poros, através dos quais passam tais emanações?

MÊNON – Decerto.

SÓCRATES – E que certas emanações são proporcionais a certos poros; enquanto que outros deles são ou demasiado largos ou demasiado estreitos para que sirvam de condutores?

MÊNON – Não mentes.

SÓCRATES – Reconheces a vista?

MÊNON – Vejo que sim.

SÓCRATES – Estabelecidas todas estas coisas, atenta agora ao que digo, tal qual o disse outrora Píndaro: <A cor não é outra coisa que uma emanação das figuras, proporcional à vista e sensível>.¹

¹ O mais impressionante dessa definição é sua atualidade, como se Sócrates já falasse da freqüência da luz e nossa percepção dos tons pela decodificação instantânea dos neurônios que desemboca na retina. Ainda mais curioso diante do fato de que em outros diálogos Platão apresenta definições assaz mequetrefes, para nosso tempo pós-goethiano, em teoria das cores! É só ler seus diálogos mais avançados, incluindo mesmo A República.

sobre a base desta resposta, ser-te-ia fácil agora explicar o que são a voz, o olfato e as coisas análogas.”

SÓCRATES – Ela (a resposta sobre a cor) tem não sei quê de trágico, querido Mênon; e por esta razão mais te agradou que a resposta sobre a figura!

(…)

Mas esta segunda definição não é tão boa quanto a primeira, ó filho de Alexidemo. O mesmo opinarias, se acaso não fosses obrigado a voltar a tua terra antes de testemunhares os mistérios, e se pudesses permanecer e ser iniciado.

MÊNON – E com muito gosto permaneceria eu, Sócrates, se consentisses em me comunicar tais coisas.

SÓCRATES – (…) Cessa de multiplicar o que é único, Mênon, pilhéria esta comum aos oradores que querem ridicularizar seu oponente. Tomando então a virtude em si, integral e inviolada, explica-ma agora no que consiste! Te dei dois modelos para servirem-te de guia.

MÊNON – A virtude consiste, Sócrates, como refere o poeta, em comprazer-se com as coisas belas e poder adquiri-las.”

SÓCRATES – Desejar as coisas belas, é a teu ver desejar as coisas boas?

MÊNON – Ora, sim.”

SÓCRATES – Mas Mênon, crês que um homem, conhecendo tanto o mal quanto o bem, pode se ver premido a desejar o mal?

MÊNON – É claro.

(…)

Sócrates, parece que tens razão; ninguém deseja o mal.”

SÓCRATES – E não é certo que a parte desta definição que expressa o querer é comum a todos os homens? E que neste conceito ninguém é melhor do que ninguém?

MÊNON – Convenho.

SÓCRATES – Está patente, portanto, que, se uns são melhores que os outros, não pode ser senão em razão do poder.

MÊNON – Isso sem dúvida.”

MÊNON – Tinha ouvido dizer, Sócrates, antes de conversar contigo, que tu não sabias outra coisa senão duvidar e encher os outros de dúvidas. Vejo agora que fascinas meu espírito com teus feitiços, tuas maldições e teus encantamentos! De maneira que me encontro repleto de dúvidas… (…) Fazes bem em não saíres de Atenas, nem visitar outros países. Porque se fazes alhures o que aqui fazes, creio que te exterminariam!

SÓCRATES – És muito astuto, Mênon, e tentaste pregar-me uma peça!”

Sei que todos os homens belos gostam de ser comparados, porque comparações são-lhes sempre vantajosas! (…) Não te devolverei outra comparação por esta! (…) se conduzo ao espírito dos outros a dúvida, não é porque saiba mais que ninguém, mas exatamente ao contrário; sou o ser que mais questiona, só isso! (…) Já com relação à virtude, meu caro, não sei o quê é; e creio que tu o sabias antes de vir ter comigo; mas depois de conversarmos um pouco, creio que agora já não saibas mais!”

SÓCRATES – Compreendo o que queres dizer, Mênon. Percebe quão pouco fecundo não é o tema que acabas de estabelecer?! Parece que não é possível ao homem indagar aquilo que sabe, nem o que não sabe, afinal se já o sabe não tem necessidade de indagação alguma. Não indagará tampouco o que não sabe, pela simples razão de que não sabe o quê deveria indagar!

MÊNON – Não te parece que falo a verdade, Sócrates?

SÓCRATES – Não.

MÊNON – Quisera dizer-me o motivo!”

Os poetas dizem¹ que a alma humana é imortal. Que logo que desaparece, ou pelo menos quando acontece o que denominam ‘morrer’, volta a aparecer; perecer, nunca. Por isso, é preciso viver da forma mais santa concebível. Porque Perséfone, após 9 anos, devolve a vida à alma do morto, de acordo com os méritos e as faltas da vida passada. Assim nascem e renascem os reis e os homens mais ilustres e sábios; nos séculos seguintes, eles são considerados pelos mortais como santos e heróis. A alma, partícipe desse ciclo infinito, tendo se deparado com as mesmas coisas tantas vezes, é por isso mesmo a coisa mais sábia que há. Seria coisa de se admirar, portanto, que ela pudesse recobrar aquilo que já abrigava, i.e., a resposta de quê é a virtude?”

¹ Píndaro

Tudo que se chama buscar e aprender nada mais é do que recordar.”

SÓCRATES – Chama algum dos muitos escravos que estão a teu serviço, quem quiseres. (…)

MÊNON – Com prazer. Vem tu, jovem.

SÓCRATES – É grego? Ou sabe o grego?

MÊNON – Excepcionalmente. Ele é como que de nossa família, sempre foi de nossa casa.

SÓCRATES – Aguarda e só observa se o escravo recorda ou aprende de mim.

MÊNON – Pois não, sou todo ouvidos.

SÓCRATES – Jovem, diz-me: sabes que isto é um quadrado?

[Sócrates desenha com um graveto na areia para que o jovem visualize.]

ESCRAVO – Sim.

SÓCRATES – O espaço quadrado não é aquele que tem as quatro linhas que vês iguais?

ESCRAVO – Certamente.

SÓCRATES – Não tem também estas outras linhas, que dividem-no ao meio, iguais entre si? [Desenha uma cruz dentro do quadrado.]

MENON figura1¹ Supondo que o segmento BC = 2, tanto BF quanto FC = 1, nas palavras de Sócrates ao escravo logo abaixo. Cada um dos 4 quadrados que nasceram “dentro” do primeiro quadrado desenhado na areia conservam suas propriedades, só que em miniatura. E Sócrates fez tudo isso apenas riscando uma “cruz” na areia – ângulos retos, o que chamaríamos hoje, pós-Descartes, de eixos x (horizontal) e y (vertical), que não passam de lados de novos quadrados, conforme a perspectiva –, observando a proporção das medidas (a cruz, i.e., os segmentos perpendiculares entre si FH e EG, interseccionando-se no ponto zero do plano cartesiano, representado na imagem pela letra “I”).

ESCRAVO – Sim.

SÓCRATES – Não é verossímil que haja um espaço semelhante, embora maior ou menor?¹

ESCRAVO – Sem dúvida.

SÓCRATES – Se este lado fosse de 2 pés e este outro também de 2 pés, quantos pés teria o todo? Considera-o antes desta maneira, aliás: se este lado fosse de 2 pés e este de um pé só, não é certo que o espaço teria 1 vez 2 pés?²

ESCRAVO – Sim, sim, Sócrates.

SÓCRATES – Mas como na verdade este outro lado é também de 2 pés, não terá o espaço 2 vezes 2?

ESCRAVO – Sim.

SÓCRATES – Reiterando: logo, o espaço é 2×2?

ESCRAVO – Sim.

SÓCRATES – Quanto são 2×2? Conta para mim.

ESCRAVO – São 4, Sócrates.

SÓCRATES – E não poder-se-ia formar um espaço que fosse o dobro deste, ainda conservando suas mesmas propriedades, tendo lados iguais?³

ESCRAVO – Sim.

SÓCRATES – Quantos pés teria esse espaço?

ESCRAVO – 8.4

SÓCRATES – Agora diz-me: qual seria o comprimento de cada linha desse novo quadrado maior que concebemos… Veja: este quadrado traçado na areia¹ tem 2 pés de cada lado. Quantos pés teria o lado do <quadrado que é o dobro deste>?

ESCRAVO – É evidente: os lados teriam o dobro de pés!

SÓCRATES – Bem vê, Mênon, que eu não ensino nada ao jovem, tudo o que faço é interrogá-lo. E ele já imagina qual é a linha que deve traçar para formar o espaço trigonométrico de 8 pés, não te parece assim?

MÊNON – Sim, Sócrates.”

² Neste caso, seria como se a figura total fosse, p.ex., a ligação dos pontos BEGC, equivalente a um retângulo.

³ Um quadrado que fosse para o quadrado ABCD o mesmo que o quadrado BFIE é para o quadrado ABCD.

4 O sumo óbvio, que Sócrates tentava demonstrar: o não-iniciado em matemática tomará por operação aritmética (e a operação equivocada) o que era uma operação trigonométrica. Falando em linguagem mais acessível, o jovem não sabia ainda que a obtenção da área do quadrado era obtida por meio de uma MULTIPLICAÇÃO de 2, e não de uma SOMA de 2, uma vez que, no caso do número 2, a multiplicação (o quadrado) e a soma coincidem. (2+2=2×2) Daí o jovem ter dito que o quadrado com o dobro das medidas, i.e., lado = 4, teria 8 pés de área, pois ele fez mentalmente 4 + 4 e não 4². Este raciocínio todo, bem simples, serve para lembrar, também: não é todo matemático que é bom em ensinar matemática. É preciso saber o método para não fazer o aluno “descobrir a natureza” da forma indesejada (pelo ensino oficial, pelos livros, pelo próprio educador, etc.). Mostrar que o jovem se equivocava ao imaginar o quadrado e que se daria conta do erro ao contar os quadrados após desenhar o quadrado na areia favorecia Sócrates na discussão que tinha com Mênon (sobre a teoria da reminiscência).

SÓCRATES – Teu escravo não sabia a princípio qual era a linha com que se forma o espaço de 8 pés, e na verdade ainda não o sabe, porque não o fiz ir adiante.¹ Mas ele pensava que sabia. E a prova disso é que respondia sem hesitar, muito confiante de si. Ele não se imaginava ignorante em nada. Mas, por fim, quando lhe objetei que incorria em erro, reconheceu seu embaraço, e admitiu que não sabe. Houve um progresso: agora ele sabe que não sabe.

¹ Número irracional, que os gregos não se preocupavam em denotar. Muito embora, neste exemplo Sócrates tenha apresentado apenas um quadrado bidimensional. No caso do CUBO, seria possível encontrar 8 como volume da figura cujo lado é 2 pés (2³).

MÊNON – O que dizes é a suma verdade, Sócrates.

SÓCRATES – Admites que teu escravo avançou em conhecimentos?

MÊNON – Não posso negá-lo!

SÓCRATES – Pois ensinando-o a duvidar das coisas, e até de si mesmo, e fazendo-o arrefecer sua natureza antes mais arrogante, como se arrefece um tornado, crês que fizemos um bem ou que fizemos um mal a ele?

MÊNON – Um bem sem dúvida.

PLATÃO – O que fizemos foi situá-lo em uma posição privilegiada para enfim caçar a verdade. Porque agora, ainda que não saiba o que é, buscará esta coisa com prazer e ponderação. Antes chegaria a conclusões apressadas e desfiguradoras, não importa se na praça pública, crendo-se senhor da razão, ou apenas diante de si mesmo. Não veria o ridículo de sua resposta, de que o dobro da área aparecia com o dobro da longitude das linhas (acrescentando outro tanto de pés aos lados do quadrado).”

SÓCRATES – Escravo, volta. Responde, agora: este espaço, não é de 4 pés? [Sócrates volta a apontá-lo a figura 1, desenhada na areia.]

ESCRAVO – Sim.

SÓCRATES – Não se pode acrescentar a este espaço outro idêntico?¹

ESCRAVO – Sim.

SÓCRATES – E ainda outro (um terceiro quadrado)?

ESCRAVO – Sim.

SÓCRATES – E agora o quarto?

ESCRAVO – Sem dúvida.

SÓCRATES – Não temos então quatro espaços iguais entre si?

ESCRAVO – Sim, sim.

SÓCRATES – Mas que é todo este espaço (o quadrado maior) diante do menor?²

ESCRAVO – É o quádruplo.

SÓCRATES – Mas o que queríamos não era achar o dobro?

ESCRAVO – Evidente.

SÓCRATES – Estas duas linhas,(*) inscritas dentro do quadrado grande, não cortam em dois cada um destes espaços (os dois retângulos, que assim se tornam 4 quadrados menores)? [(*)A cruz na areia, cf. legenda da figura]

ESCRAVO – Sim, exato.

SÓCRATES – Não vês aqui, pois, 4 linhas iguais que cortam este espaço? [Decompondo a cruz: duas linhas perpendiculares são também 4 linhas ou segmentos de reta, com referência ao ponto I, o centro.]

ESCRAVO – Vejo.

SÓCRATES – Responde agora, qual a magnitude deste espaço?

ESCRAVO – Como?!

SÓCRATES – A cruz que desenhei na areia não divide este quadrado original em 4 quadrados?

ESCRAVO – Sim.

SÓCRATES – Então me diga: quantos espaços semelhantes há <dentro> desta figura?

ESCRAVO – 4.

SÓCRATES – E naquela? [Sócrates aponta para o polígono CBGE.]

ESCRAVO – 2.

SÓCRATES – Qual a proporção de 4 para 2?

ESCRAVO – 4 é o dobro de 2.

SÓCRATES – Quantos pés tem este espaço? [CBGE]

ESCRAVO – 8 pés. [4×2]

SÓCRATES – Quais as linhas que o formam?

ESCRAVO – Estas. [O escravo assinala o polígono CBGE.]

SÓCRATES – Com esta linha aqui em um dos lados? [Sócrates aponta para o segmento BC.]

ESCRAVO – Isso.

SÓCRATES – Os sofistas chamam esta linha de diâmetro. Assim, supondo que seja este o nome mais adequado, o espaço que chamamos dobro, ó escravo de Mênon, será formado de acordo com o diâmetro. Mas lembra-te que o outro lado [segmento BE] permanece do mesmo tamanho.

ESCRAVO – Perfeitamente, Sócrates!

SÓCRATES – E agora, Mênon? Crês que teu jovem escravo deu alguma resposta que lhe fôra ordenada, ou que ele chegou à resposta por seu próprio mérito?

MÊNON – Vejo o que querias demonstrar, Sócrates: ele chegou à descoberta por conta própria, sem a ajuda de ninguém.”

¹ Como vimos, aí teríamos um retângulo, pois para DOBRAR O QUADRADO seria necessário não multiplicar por 2, mas por 4 (aumentar o quadrado 4x).

² Basta visualizar sempre a figura 1 para entender o problema. Comparar o menor quadrado com o maior quadrado, não importando as dimensões numéricas do caso particular (o número de pés do quadrado, o que foi deixado de fora da imagem que inseri acima justamente para facilitar a abstração).

Daí concluímos que aquele que não sabe ou ignora tem, apesar disso, em si mesmo, faltando apenas recordar, opiniões verdadeiras relativas àquele assunto que, por enquanto, pensa ignorar totalmente.”

SÓCRATES – Não concordas que a ciência que tem hoje teu escravo, não seria preciso que ele a tivesse recebido noutro tempo, imemorável, ou que sempre a tivera consigo, embora adormecida?

MÊNON – Sou obrigado a concordar.

SÓCRATES – Mas ora: se fosse a segunda hipótese, teu escravo teria sido um sábio desde sempre! E se a recebeu, ao contrário, noutro tempo, não foi, decerto, nessa vida presente! A não ser que alguém o tenha secretamente introduzido na arte da geometria, vês? Sabes se alguém o ensinou?

MÊNON – Sócrates, este é um servo doméstico. Asseguro-te que nunca foi educado em semelhantes coisas.

(…)

SÓCRATES – Se não o foi, é claro que recebeu este ensinamento antes, e que em algum momento aprendeu o que sabe, posto que não se pode aprender aquilo de que a alma não é capaz desde sempre!

MÊNON – Mataste a charada.

SÓCRATES – Será então quando ainda não era homem: foi neste momento em que foram-lhe impressos na alma estes conhecimentos que ora manifestou.

MÊNON – Creio que sim, Sócrates.

SÓCRATES – Mênon, não é correto afirmar que embora em seu corpo atual teu escravo nada soubesse de trigonometria até o momento em sua alma ele sempre fôra um sábio?

MÊNON – Sem dúvida alguma, Sócrates.

SÓCRATES – Logo, se a verdade dos objetos está sempre em nossa alma, ela é imortal. Por isso nunca devemos depreciar este método: perguntar com confiança e persistência, indagar nossas próprias almas sobre os objetos, tentar trazer à memória aquilo de que já não mais lembrávamos!

MÊNON – Não sei exatamente como fazer o que dizes, mas concordo que falas a verdade.

SÓCRATES – E tua crítica me é tão familiar que acho que a encontro dentro de mim mesmo, Mênon. Às vezes procedemos a um método que nem bem entendemos. Porém, creio ser minha missão nesta vida defender este método com palavras e com os fatos que puder encontrar. Estou persuadido apenas disso: que é preciso indagarmo-nos a respeito daquilo que não sabemos, pois isto no mínimo nos fará melhores, ou pelo menos não nos corromperá se nada advir disso! Pois ficaremos mais resolutos, menos preguiçosos – de que adiantaria repousarmos crendo ser impossível descobrir aquilo que ignoramos agora e que seria vão empreender qualquer coisa?

MÊNON – Mas isto está excepcionalmente bem-dito, Sócrates!”

permita-me indagar, como que por hipótese, se a virtude pode ser ensinada, ou se se a adquire por qualquer outro meio. Quando digo <como que por hipótese>, entendo por hipótese o método ordinário dos geômetras.”

Se a virtude for uma ciência, é óbvio que se pode ensiná-la.” “Mas se apresenta agora outra questão igualmente problemática: será a virtude uma ciência ou não?

SÓCRATES – Se há alguma espécie de bem que seja distinta da ciência, pode então suceder que a virtude não seja uma ciência. Mas se não há nenhum gênero de bem que a ciência não abranja, teremos razões para conjeturar que a virtude é uma modalidade de conhecimento.

MÊNON – Perfeitamente.”

SÓCRATES – (…) Ora, se uma coisa qualquer, e não precisa ser a virtude, é por natureza suscetível de ser ensinada, não é sumamente necessário que nela e dela haja mestres e discípulos?

MÊNON – Creio que sim, Sócrates.

SÓCRATES – E podemos concluir que quando alguma coisa prescinde por completo de mestres é sinal de que ela não pode ser objeto de ensino?

MÊNON – Nada mais exato.”

Justamente, Mênon! Temos a felicidade de contar neste recinto, em hora muito apropriada, com Anito,¹ que estava desde o começo de nossa conversação tão perto de nós! (…) Anito é filho de um pai rico e sábio, Antemião, que não deve sua fortuna ao mero acaso, nem à liberalidade alheia, como seria o caso de Ismênias o Tebano, que não faz muito recebeu em herança todos os bens de Polícrates. Pelo contrário: tudo o que tem decorre de sabedoria e indústria. E Antemião, em que pese sua posição econômica, nada tem de arrogante, faustoso, nem desdenha os outros cidadãos; é modesto e prudente em sociedade. Um homem assim não deixaria de haver educado muitíssimo bem seu filho, pelo menos de acordo com a grande maioria dos atenienses. Tanto que ele quase sempre é eleito para os cargos mais importantes!”

¹ Conveniente lembrar: Anito seria um dos homens responsáveis pela morte de Sócrates. Conferir https://seclusao.art.blog/2017/12/08/apologia-de-socrates/.

ANITO – E quem são esses mestres, Sócrates?

SÓCRATES – Tu sabes, como eu, sem dúvida, Anito, que são os que se chamam de sofistas.

ANITO – Por Hércules! Não mo digas, Sócrates. Eu não desejaria que nenhum parente meu, nem aliado, nem amigo íntimo, concidadão ou estrangeiro sequer, fôra tão insensato a ponto de pagar para perder-se com tais gentes. São os sofistas, manifestamente, uma peste e um encosto para todos os que com eles tratam.

SÓCRATES – Como, Anito?! Entre aqueles que se arrogam o ser úteis aos homens, só os sofistas logram diferenciar-se dos demais. Queres dizer que não só eles não melhoram seus alunos como até os pioram?!? E se atrevem a exigir dinheiro por esta obra? Mal sei no que acreditar, Anito, pois estaria tudo a desmoronar se desse plena a teu discurso! Eu conheci um homem, chamado Protágoras, que acumulara com a profissão de sofista mais dinheiro que Fídias, quem possui reputação tão ilibada! Não deixa de ser fenômeno singular: se aquele que remenda trajes e calçados devolve-os piores ainda a seus donos, ao cabo de 30 dias estará sem clientela e na sarjeta! Mas então este Protágoras, que corrompera desta forma os cidadãos, não é suspeito de nada vil em toda a Grécia! E não digo que pese-lhe alguma suspeita desde ontem, e que ela pode demorar a se alastrar e se verificar: faz 40 anos que este homem é célebre! Que era, melhor dizendo, pois, morto aos 70, dizem que exerceu a Sofística desde pelo menos os 30 anos de idade… Em todo este tempo jamais foi injuriado, nem caluniado. Mas Protágoras não foi o primeiro de sua classe, nem será o último. Supondo que digas a verdade, que há de se pensar dos sofistas que estão em exercício?! Que enganam a juventude de pleno conhecimento, dolosamente, ou que não conhecem o dano que provocam? Consideraremos estes homens insensatos a tal ponto – homens, repito, tidos como sábios personagens de nossa polis?

ANITO – Bem longe se encontram de ser uns insensatos, ó Sócrates! Os insensatos de fato são os jovens que lhes dão ouvidos e dinheiro! Mais insensatos ainda os pais destes mesmos jovens, que confiam a eles a educação de seus rebentos. Mas mais insensatas de todos são as cidades que permitem a entrada destes homens nefandos, em vez de fechar os portões a estrangeiros tão mal-intencionados como eles!

SÓCRATES – Algum sofista corrompeu-te, Anito? Que razão tens para pensar tão mal deles?

ANITO – Por Zeus! Jamais cultivei o trato com semelhantes figuras… E não consentiria que nenhum conhecido se aproximasse destes sofistas!

SÓCRATES – Então conheces estes homens só pelo ouvir falar?

ANITO – E oxalá nunca por experiência própria!

SÓCRATES – E, sem contato direto com as coisas, meu querido, como podes saber se são boas ou más?

ANITO – Muito bem, Sócrates, me pegaste em teu discurso. Em todo caso, tendo eu as experimentado ou não, conheço os sofistas como a palma de minha mão, e sei o que são.”

SÓCRATES – Os homens virtuosos, fizeram-se por si mesmos, sem receber lições? Outra questão: podem eles ensinar aos demais aquilo que nem eles mesmos não aprenderam com ninguém?

ANITO – Creio que receberam sua instrução dos que os precederam, homens igualmente virtuosos. Crês que esta cidade não produziu grande número de cidadãos estimáveis por sua virtude?

SÓCRATES – Eu creio, Anito, que nesta cidade há grandes nomes de Estado, e que sempre houve alguns, a cada geração. Mas foram eles os professores de sua própria virtude, ou da de seus sucedâneos? Porque isto é o que desejamos saber, e não se há ou não homens virtuosos, nem se sempre houve ou sempre haverá! A questão é se os grandes homens de agora e de outrora dispõem e dispuseram do talento para comunicar aos outros sua virtude, em que tanto sobressaíam; senão, teríamos de admitir que a virtude é intransmissível, impassível de ensino, de um homem a outro.”

SÓCRATES – (…) Convéns em que Temístocles era um homem de bem?

ANITO – Sim.

(…)

SÓCRATES – (…) Não ouviste dizer que Temístocles ensinou seu filho Cleofanto a cavalgar? Cavalgava tão bem seu filho que podia se equilibrar de pé sobre o cavalo enquanto disparava dardos, sem falar doutros movimentos e posturas maravilhosos. O pai sabia tudo isso e comunicou cada coisa ao filho, que as aprendeu. Em todas estas coisas técnicas Cleofanto aprendeu com seu pai e os melhores mestres, naquilo em que porventura Temístocles não excelia. Os antigos referiam essa estória, te recordas?

ANITO – Sim, dizes verdade.

SÓCRATES – Deve ser correto dizer que seu filho contava com predisposições naturais…

ANITO – Provavelmente.

SÓCRATES – Mas já ouviste falar de cidadão, velho ou novo, que Cleofanto fosse homem de bem tal qual seu pai (virtuoso)?

ANITO – Neste particular, estou no escuro.

SÓCRATES – Pode ser que isto se devesse a um capricho paterno? Considerando que a virtude pudera ser ensinada, não seria a mais importante de todas as ciências a legar à própria prole?

ANITO – Por Zeus, Sócrates, todo pai desejaria o melhor para seu filho!

SÓCRATES – Vês então como Temístocles, homem de bem, fôra um péssimo professor. Mas cacemos mais exemplos: e Lisímaco, filho de Aristides? Aristides acaso foi homem virtuoso?

ANITO – Sim, e muito.

SÓCRATES – Aristides com certeza deu a seu filho Lisímaco a melhor educação com que poderíamos sonhar nós próprios. E crês que isto surtiu efeito? Conheces muito bem Lisímaco e seus dotes.(*) Por fim, analisemos, se queres, ainda, Péricles, homem de méritos extraordinários. Dizem que educou pessoalmente seus filhos Paralos e Xantipo.

ANITO – Sim, sei-o.

SÓCRATES – Não deves ignorar que estes se tornaram dois dos melhores cavaleiros vistos em Atenas; além disso, eram versados na música, em ginástica e em tudo que envolve esta arte. Mas não quis Péricles torná-los virtuosos? Seria o mesmo caso de Tucídides com Melesias e Estefanos: infelizmente os filhos destes hábeis cidadãos e políticos não tiveram vidas destacadas quanto ao mérito de governar seus conterrâneos!

(*) Para esses pormenores (Lisímaco e Melésias filho de Tucídides, citado logo a seguir), ver o diálogo Laques. Este de que se fala não é Tucídides o Historiador. – P.A.”

ANITO – Pelo que ouço, Sócrates, falas mal dos homens com demasiada liberdade! Se me queres ouvir, te aconselharia a ser um bocado mais reservado. Se é fácil noutras cidades fazer o mal a qualquer um que se queira e sair incólume, em Atenas, Sócrates, é mais fácil ainda! Creio que saibas a que me refiro…

SÓCRATES – Mênon, vem cá! Parece que Anito está muito incomodado, o que não me assusta! É um mal-entendido, Anito. Crês que desprezo estes grandes homens; e como te imaginas neste número, pegas a ofensa para ti! Mas se um dia aprendes o que é verdadeiramente <falar mal>, deixar-te-á de enfadares com bagatelas… No momento, Mênon, Anito não sabe o que diz! Mas diz-me tu, Mênon: não tendes entre vós de Larissa homens de virtude?

MÊNON – Com certeza.

SÓCRATES – E quem são os professores dessa gente?

MÊNON – Ó, Sócrates! Não conheço professores desta matéria, pelo menos não sei dizer se são realmente o que dizem ser… O fato é que os cidadãos se dividem como que por igual entre os que dizem que a virtude pode ser ensinada e os que dizem que a virtude não pode ser ensinada.

SÓCRATES – Dizes então, se a divisão está meio a meio, que entre os professores de virtude há desses que ainda não estão certos de que a virtude possa ser ensinada?!

MÊNON – Ora, mas isso não faria sentido!

SÓCRATES – Mas me diz quê pensas dos sofistas, então.

MÊNON – Sócrates, o que muito me agrada em Górgias é que nunca ouvirás dele uma promessa de tamanho quilate. Ele não afiança nem dá garantias. Ao contrário, já o vi troçando seus colegas que se jactavam de ensinar a virtude. Ele se gaba apenas daquilo que é inegável em si: de sua alta capacidade para formar belos oradores.

SÓCRATES – Não disseste, ao fim: crês que os sofistas são professores de virtude?

MÊNON – Não sei, sinceramente, caro Sócrates! Há dias em que me parece que são e dias em que não o creio minimamente.

SÓCRATES – Sabes que não sois os únicos? Muitos políticos compartilham vossa opinião, e até o poeta Teógnis!

MÊNON – Referes-me os versos a que te referes.

SÓCRATES – Em suas elegias, diz: Bebe e come com aqueles que gozam de grande crédito; mantém-te sempre próximo deles e faz o possível para agradá-los. Aprenderás coisas boas, ao conviver com os bons; mas se trava contato com os maus, até a razão que já possuis escoará ladeira abaixo!(*) Estás de acordo que subentende-se nesta passagem que a virtude pode ser ensinada?

MÊNON – Claro.

SÓCRATES – Mas eis outros fragmentos um pouco distintos: Se se pudesse dar ao homem a inteligência, indubitavelmente estes talentosos educadores se veriam ricos da noite para o dia. Nunca o filho de um pai virtuoso seria mau, só de ouvir sábios conselhos. Mas tudo isso é quimera, ser bom ou mau independe de lições! Agora não nos parece que se contradiz em absoluto?

MÊNON – Ó Sócrates, nada mais certo!

(*) Teógnis, Sentenças, 5:33:432. – P.A.”

SÓCRATES – Mas se não há mestres, tampouco haverá discípulos.

MÊNON – Penso o mesmo que tu.

SÓCRATES – E estamos conformes em que aquilo para o que não há nem mestre nem discípulo não se pode ensinar!

MÊNON – Correto, Sócrates.”

MÊNON – A meu ver, a nosso ver… não há nem sequer indícios de homens peritos e qualificados para ensinar a virtude. Porém, isso não é dizer que eu não enxergue homens virtuosos. Havendo-os realmente, não posso atinar com quê se fizeram virtuosos!

SÓCRATES – Mênon, creio que isso seja um indício de que tu e eu somos pouco habilidosos! Creio que nenhum de nós foi bem instruído; tu por Górgias, e eu por Pródico. Portanto, é preciso que nos consagremos com todo esmero a nós mesmos antes de tudo, a fim de buscarmos alguém que nos faça melhores do que somos, qualquer que seja o meio! É até ridículo não havermos notado até aqui que a ciência não é único método disponível para dotar os homens de conhecimento e torná-los hábeis a conduzir seus negócios! Ou, talvez, ainda fazendo esta concessão, havendo outro método, poderia ser que ainda assim a forma como alguém se torna virtuoso continuasse obscura para nós!

MÊNON – Que queres dizer agora, Sócrates?!”

SÓCRATES – (…) Escuta: se alguém que soubesse o caminho até Larissa estivesse no meio da estrada e servisse de guia a outros, não te parece que conduziria muito bem essas pessoas?!?

MÊNON – Não tenho dúvida.

SÓCRATES – E se um outro conjeturasse com precisão qual seria o caminho, ainda que nunca o houvesse percorrido, nem tivesse ouvido falar ou lido ou aprendido de outrem sobre isso; não daria no mesmo, i.e., não ensinaria adequadamente quem lho perguntasse?

MÊNON – Sim, Sócrates.

SÓCRATES – Tendo, um, uma mera opinião e, o outro, um conhecimento completo do objeto, não será pior condutor aquele que este? Ainda que, por puro azar, soubesse a resposta, não concordas que o guia experimentado o superaria no papel de educador?

MÊNON – Tens razão.

SÓCRATES – Então, eis outro método de ensinar as coisas: a opinião que se mostra verdadeira. A ciência é o método clássico e seguro. Parece que ignoramos essa dupla faceta durante toda nossa discussão acerca da natureza da virtude. Havíamos concluído que só a ciência ensina a bem agir, ao passo que, agora vemos, a conjetura acertada produz o mesmo efeito!

MÊNON – Dou-te razão.

SÓCRATES – Portanto, a opinião verdadeira não é menos útil do que a ciência.

MÊNON – Mas Sócrates… O possuidor do conhecimento saberá sempre alcançar seu objetivo. Já o conjeturador se extraviará um bom número de vezes!

SÓCRATES – Que dizes? Mas se alguém se aferra a uma opinião correta e ensina-a, não é correto que ensina-a corretamente?

MÊNON – Esta conclusão eu não contesto, Sócrates. Mas se fosse um dilema tão simplório, me surpreenderia que não se falasse mais sobre a arte de bem opinar do que acerca de obter o conhecimento. Mais ainda me surpreende que tratemos estas coisas como duas completamente diferentes uma da outra, se é que tens razão!

SÓCRATES – Sabes donde procede esse teu assombro? Queres que to diga?

MÊNON – Ora, já estás perdendo tempo ao não pronunciá-lo logo de uma vez!

SÓCRATES – Nunca admiraste as estátuas consagradas a Dédalo? Há dessas em tua cidade?

MÊNON – Não entendo…

SÓCRATES – Estas esculturas, ó Mênon, quando seguras por molas, são facilmente detidas e fixadas; mas sem este artifício, escapam e fogem.

MÊNON – E…?

SÓCRATES – …E daí que não significa muito ter uma dessas estátuas que escapam fácil. Mas uma estátua fixa é de muito valor. Estas sim são consideradas obras-primas! Mas que tem isso a ver?, perguntarás… É que esta imagem vem a calhar para falar sobre opiniões e conjeturas… As opiniões acertadas são como estátuas com molas, e trazem toda uma sorte de benesses… Mas vê tu que a alma do homem não as capta por muito tempo… Tampouco são caras estas obras… Só mesmo a obra derivada de um conhecimento superior, erigido pela razão, possui um preço mais elevado. Isso, essa ciência, é o que chamo de reminiscência. Uma opinião coligada com outra, logo forma reminiscências, porque cadeias de opiniões nos evocam antigos conhecimentos adormecidos… O que no começo é frouxo e resvaladiço adquire fixidez e estabilidade com o tempo. Daí vem a superioridade da ciência sobre a opinião, Mênon.

MÊNON – Por Zeus, Sócrates! Não capto todos os detalhes de teu discurso, mas do que pude compreender vejo que faz todo o sentido!…

SÓCRATES – (…) E quando afirmo que a opinião verdadeira difere em qualidade da ciência, não creio, positivamente, estar emitindo uma opinião. De quase nada sei, mas se hei de exaltar algum conhecimento meu, ei-lo: o que sei, eu sei.

MÊNON – Tens toda razão!”

SÓCRATES – A ciência não pode servir de guia nos negócios políticos.

MÊNON – Tudo indica que não.

SÓCRATES – Então não foi devido a sua sabedoria que homens como Temístocles e os demais que citei quando conversava com Anito bem governaram o Estado. Porém, devido a essa característica, eles não puderam comunicar adiante esse dom.

MÊNON – Sim, sim, continua!

SÓCRATES – Não sendo uma ciência, só a opinião verdadeira pode conduzir os políticos na boa administração das coisas públicas; quanto à sabedoria, os políticos não são em nada diferentes dos profetas e dos adivinhos em transe. Estes últimos anunciam muitas coisas verdadeiras, mas não sabem do que falam.

MÊNON – Com bastante probabilidade…

SÓCRATES – Mas que tem que o adivinho não seja dotado de inteligência? Se ao final ele adivinha mesmo assim?

MÊNON – Não há mal algum, efetivamente.

SÓCRATES – Temos razões de sobra, portanto, para chamar os profetas de homens divinos; nada diferente no que se refere aos poetas. E, como vimos, nada mais óbvio e evidente que atribuir o mesmo epíteto aos bons políticos, homens realmente entusiasmados, inspirados e animados pela divindade ao triunfarem sobre grandes empresas, sem ter nenhuma ciência exata daquilo que fazem!

MÊNON – Ó, certo!

SÓCRATES – As mulheres, com razão, chamam os homens virtuosos de divinos. Os espartanos, quando querem elogiar o homem de bem, dizem a mesma coisa.

MÊNON – Não vejo como contestá-lo, Sócrates, mas creio que Anito não ficará satisfeito!

SÓCRATES – Isso não me importa! Conversarei com ele em outra ocasião. Mas no que toca a ti e a mim, Mênon, concluíramos que a virtude não é natural ao homem, nem passível de aprender-se; ela como que aterrissa por influência divina entre os eleitos. A menos que nos apareça algum político que seja capaz de ensinar sua arte, não mudaremos de opinião! Se aparece tal figura, diremos que é, entre os vivos, o que Tirésias é entre os mortos, se havemos de dar crédito a Homero, que versa: O único sábio dos ínferos, onde todos os demais nada mais são que sombras que erram ao acaso.(*) Analogamente, um homem assim seria, comparado com os outros, em matéria de virtude, feito de carne e osso, ou a própria luz, ao passo que nós não passaríamos de sombras e de escuridão.

MÊNON – Sócrates, teu discurso foi perfeito!

SÓCRATES – Nada mais resta a dizer, Mênon: a virtude é um presente dos deuses!

(*) Odisséia X

Para todos e para ninguém cabe a tarefa de evadir a caverna. E ninguém que a evada pode sequer convencer os outros ou forçá-los a evadi-la também, dadas as circunstâncias…

* * *

PREFÁCIO DAS OBRAS COMPLETAS DE PLATÃO POR VIRGINIA WOOLF – Trechos da tradução espanhola do inglês, reconvertidos para a Língua Portuguesa

(*) “Não conheço uma definição mais eloqüente e simultaneamente lacônica da obra platônica que a de Virginia Woolf. Assim, pois, com ela a palavra.” – A.P.V., 2012.

SOBRE NÃO SABER O GREGO

(*) “Esta tradução foi feita por mim; ela foi posteriormente polida e melhorada por Daniel Nisa em O leitor comum.” A.P.V.

É um processo extenuante. Concentrar-se arduamente no significado exato das palavras; julgar o que implica cada admissão; seguir concentrada porém criticamente as oscilações dos discursos e as mudanças de opinião à medida que se endurece e se intensifica o diálogo rumo à verdade. São o mesmo o prazer e o bom? A virtude pode acaso ser ensinada? É a virtude uma espécie de ciência? Uma mente cansada ou distraída pode facilmente equivocar-se nesses meandros, enquanto tenta avançar, impiedosamente, por tais interrogatórios abrasivos e intermináveis. Mas ninguém, por mais despreparado para os ensinamentos de Platão, pode deixar de começar a amar, ainda que saia <sem nada aprender de concreto>, ou a amar cada vez mais, o próprio processo do conhecimento, como exposto por ele. À medida que o argumento ascende às nuvens, de grão em grão, de degrau em degrau, Protágoras (e Protágoras pode ser qualquer outro) vai cedendo um pouco, logo um pouco mais, Sócrates avança no mesmo ritmo, devagar mas firme. E o importante não é tanto o desfecho, mas a maneira como vai-se abrindo esse desfecho.”

É uma noite de inverno; as mesas estão prontas e bem-servidas na ampla sala de Agaton. Uma escrava toca a flauta. Sócrates fez as abluções e veste sandálias. Pára à entrada. Recusa dar mais um passo, ainda quando mandam expressamente alguém vir recepcioná-lo. . . . Agora Sócrates acabou seu discurso. Escolheu Alcibíades para ser vítima de sua ironia neste epílogo de banquete. Alcibíades não pode responder com palavras, pois só consegue admirar este homem fora de série…”

Descartaremos agora as diversões, ternuras, frivolidades da amizade, só porque aprendemos a amar a busca pela Verdade? A Verdade será encontrada mais depressa pelo fato de taparmos os ouvidos à bela música, de fecharmos a boca ao vinho, pelo fato de escolhermos dormir ao invés de virar a noite conversando? Não é o estudante enclausurado, o asceta, que se mortifica na solidão, que tem a palavra final. Então quem? A natureza ensolarada, o homem que pratica o auto-aperfeiçoamento cotidianamente, sem se deixar atrofiar pela repetição da vida, que saiba que algumas coisas possuem, de forma permanente, em meio a tudo, mais valor que outras.”

Um povo que julgava tanto, como o ateniense, através dos sentidos básicos, como a audição, acostumados ao teatro de arena, ao ar livre, ou ao escutar discussões na praça e no mercado, era muito menos hábil do que nós para fatiar frases e apreciá-las fora do contexto original em que foram produzidas. Para eles não existiam as Belas Frases de Hardy e de Meredith, nem as Sentenças de George Eliot. Somos muito mais delicados e sutis, bon-vivants, dissecadores. O escritor antigo (e a platéia antiga) se atinha muito mais ao conjunto e muito menos ao detalhe.”

ao citarmos e destacarmos passagens, trechos, distorcemos muito mais os gregos do que os ingleses. Há um aspecto de natural, de nudez, nesta literatura tão crua e límpida que pode ter um gosto azedo ou amargo para paladares contemporâneos, paladares refinados e seletos demais, acostumados a avaliar cada vírgula de obras impressas, reprovando sabores, regurgitando e detectando matizes. É-nos benquisto um esforço inaudito de alargar e distender a mente, a fim de captar esse conjunto onde não há parnasianismo nem nada de inútil, sem a ênfase moderna prestada à eloqüência. Olhamos sem pestanejar figuras em close, absorvemos palavras soltas, hipervalorizando-as, ou meditando demais sobre um nada. O grego tinha uma visão panorâmica, não se punha a caçar pulgas e lêndeas. Poderia soar até mesmo grosseiro. De fato parece que nosso olhar e nosso coração são estreitos demais para apreciar de um trago só emoções tão densas, capazes de cegar o espírito se contempladas e experimentadas diretamente, à grega.”

Os gregos podiam dizer, acerca de seus antepassados conhecidos, como que pela primeira vez na História, que ainda que mortos, não morreram. E podiam complementar: Se morrer de forma nobre é parte indispensável da excelência, a Fortuna decidiu nossa sorte; a Grécia foi coroada pelos deuses, e aqui há liberdade, fez-se o Homem, de forma que, não importa quantas gerações transcorram, não envelheceremos.(*)

(*) Simônides

Ao lermos estas frases sucintas registradas em lápides, estrofes de um coro trágico, o final ou o começo dum diálogo de Platão, um fragmento de Safo, talvez, quando passamos o dia a remoer uma metáfora grandiloqüente do Agamêmnon de Ésquilo, ao invés de <cheirar todo o jardim>, como talvez fizessemos com uma obra dita <completa> como Rei Lear, não estaríamos lendo erroneamente, estrabicamente, num nevoeiro de associações absurdas, inserindo nos versos gregos coisas que não faziam falta aos próprios gregos, mas somente a nós? Detrás de cada linha já não se é auto-suficiente naquele mundo, já não se lê a Grécia em cada estrofe de Ésquilo ou de Sófocles?”

Cada palavra tem o vigor da oliveira e do templo consagrado a algum deus e dos corpos dos jovens.”

Não, paremos de tentar esgotar a sentença grega como o fazemos com o Inglês! Não há esse polimorfismo semântico paradoxalmente tão acessível porque vizinho nosso, nossa cultura mesma encarnada, digo, letrada. A linguagem é aquilo que mais escraviza, quando o assunto são os antigos. O desejo de desvendar o que está irremediavelmente perdido nos deixa eternamente hipnotizados pelas sereias e petrificados pela medusa.”

Digo que Shelley necessita de 20 palavras em seu vernáculo para expressar 13 palavras do grego.”

…toda pessoa, inclusive se antes houvera sido totalmente alheia às humanidades ensinadas na escola, se torna um poeta tão logo seja tocada pelo amor.” O Banquete

Tudo isso para dizer que as traduções são mera equivalência um pouco vaga. Não é culpa dos tradutores. Fazemos ecos e associações demais, involuntariamente. […] Nem o erudito mais competente pode conservar a sutileza do acento, o vôo, a ascensão e a queda <icárea> das palavras:

…A ti, que eternamente choras em tua tumba de pedra.” Electra

POLÍTICA 2.0 (revisitação) – Aristóteles (e cotejo com anotações sucintas de uma primeira leitura, em março de 2011)

Estou cada vez mais convencido de que este livro não passa de um rascunho com anotações desordenadas de um imaturo (ou senil?) Aristóteles, que estava destinado a aprimorar sua obra, mas foi interrompido por um “erro divino” e teve de abandonar seu projeto ou, pois não!, já agonizava na demência e nem que vivesse mais 10 anos poderia dar forma e estilo ao que essencialmente não tem conteúdo nem originalidade algumas (conforme veremos, reiteradamente)…

A natureza, com efeito, não age com parcimônia, como os artesãos de Delfos que forjam suas facas para vários fins; fins; ela destina cada coisa a um uso especial (…) Somente entre os bárbaros a mulher e o escravo estão no mesmo nível. (…) Foi isso que fez com que o poeta acreditasse que os gregos tinham, de direito, poder sobre os bárbaros, como se, na natureza, bárbaros e escravos se confundissem.” “O poeta Hesíodo tinha razão ao dizer que era preciso antes de tudo A casa, e depois a mulher e o boi lavrador, já que o boi desempenha o papel do escravo entre os pobres.”

todos os homens que antigamente viveram e ainda vivem sob reis dizem que os deuses vivem da mesma maneira, atribuindo-lhes o governo das sociedades humanas, já que os imaginam sob a forma do homem.”

Bastar-se a si mesma é uma meta a que tende toda a produção da natureza e é também o mais perfeito estado. É, portanto, evidente que toda cidade está na natureza e que o homem é naturalmente feito para a sociedade política. Aquele que, por sua natureza e não por obra do acaso, existisse sem nenhuma pátria seria um indivíduo detestável, muito acima ou muito abaixo do homem, segundo Homero(*)

Assim, o homem é um animal cívico, mais social do que as abelhas e os outros animais que vivem juntos.”

O Estado, ou sociedade política, é até mesmo o primeiro objeto a que se propôs a natureza. O todo existe necessariamente antes da parte. As sociedades domésticas e os indivíduos não são senão as partes integrantes da cidade, todas subordinadas ao corpo inteiro, todas distintas por seus poderes e suas funções, e todas inúteis quando desarticuladas, semelhantes às mãos e aos pés que, uma vez separados do corpo, só conservam o nome e a aparência, sem a realidade, como uma mão de pedra. O mesmo ocorre com os membros da cidade: nenhum pode bastar-se a si mesmo. (*)Aquele que não precisa dos outros homens, ou não pode resolver-se a ficar com eles, ou é um deus, ou um bruto.

Por si mesmas, as armas e a força são indiferentes ao bem e ao mal: é o princípio motor que qualifica seu uso. Servir-se delas sem nenhum direito e unicamente para saciar suas paixões rapaces ou lúbricas é atrocidade e perfídia. Seu uso só é lícito para a justiça. O discernimento e o respeito ao direito formam a base da vida social e os juízes são seus primeiros órgãos.”

Chamaremos despotismo o poder do senhor sobre o escravo; marital, o do marido sobre a mulher; paternal, o do pai sobre os filhos (dois poderes para os quais o grego não tem substantivos).”

outros consideram que o poder senhorial não tem nenhum fundamento na natureza e pretendem que esta nos criou a todos livres, e a escravidão só foi introduzida pela lei do mais forte e é, por si mesma, injusta como um puro efeito da violência.”

as propriedades são uma reunião de instrumentos e o escravo, uma propriedade instrumental animada, como um agente preposto a todos os outros meios.”

Se cada instrumento pudesse executar por si mesmo a vontade ou a intenção do agente, como faziam, dizem, as marionetes de Dédalo ou os tripés de Vulcano, que vinham por si mesmos, segundo Homero, aos combates dos deuses, se a lançadeira tecesse sozinha a tela, se o arco tirasse sozinho de uma cítara o som desejado, os arquitetos não mais precisariam de operários, nem os mestres de escravos.”

A vida consiste no uso, não na produção.” “O senhor não é senão o proprietário de seu escravo, mas não lhe pertence; o escravo, pelo contrário, não somente é destinado ao uso do senhor, como também dele é parte. Isto basta para dar uma idéia da escravidão e para fazer conhecer esta condição. O homem que, por natureza, não pertence a si mesmo, mas a um outro, é escravo por natureza”

Mas faz a natureza ou não de um homem um escravo? É justa e útil a escravidão ou é contra a natureza? É isto que devemos examinar agora.” “Não é apenas necessário, mas também vantajoso que haja mando por um lado e obediência por outro; e todos os seres, desde o primeiro instante do nascimento, são, por assim dizer, marcados pela natureza, uns para comandar, outros para obedecer.”

A natureza ainda subordinou um dos dois animais ao outro. Em todas as espécies, o macho é evidentemente superior à fêmea: a espécie humana não é exceção.”

o uso dos escravos e dos animais é mais ou menos o mesmo e tiram-se deles os mesmos serviços para as necessidades da vida.” Tal como abanar na rede e ler uma epopéia…

Vemos corpos robustos talhados especialmente para carregar fardos e outros usos igualmente necessários; outros, pelo contrário, mais disciplinados, mas também mais esguios e incapazes de tais trabalhos, são bons apenas para a vida política, isto é, para os exercícios da paz e da guerra. Ocorre muitas vezes, porém, o contrário: brutos têm a forma exterior da liberdade e outros, sem aparentar, só têm a alma de livre.”

A deusa Hera deve ser feia por dentro.

Além da servidão natural, existe aquela que chamamos servidão estabelecida pela lei; esta lei é uma espécie de convenção geral, segundo a qual a presa tomada na guerra pertence ao vencedor.

Será justo? Sobre isso, os jurisconsultos não chegam a um acordo, nem tampouco, aliás, sobre a justiça de muitas outras decisões tomadas nas assembléias populares, contra as quais eles reclamam. Consideram cruel que um homem que sofreu violência se torne escravo do que o violentou e só tem sobre ele a vantagem da força. Este, pelo menos, é um ponto muito controverso para eles e, se têm muitos contraditores, têm também muitos partidários, mesmo entre os filósofos.” “uns não podem separar o direito da benevolência, outros afirmam que é da própria essência do direito que o mais valente comande. (…) A superioridade de coragem não é uma razão para sujeitar os outros.”

Ora, o escravo faz, por assim dizer, parte de seu senhor: embora separado na existência, é como um membro anexado a seu corpo. Ambos têm o mesmo interesse e nada impede que estejam ligados pelo sentimento da amizade, quando foi a conveniência natural que os reuniu.”

O governo doméstico é uma espécie de monarquia: toda casa se governa por uma só pessoa; o governo civil, pelo contrário, pertence a todos os que são livres e iguais.”

em Siracusa, uma espécie de preceptor abriu uma escola de escravidão e exigia dinheiro para preparar as crianças para este estado, com todos os pormenores de suas funções. Pode haver um ensino completo dessa espécie de profissão, assim como existem preceitos para a cozinha e outros gêneros de serviço, ou mais estimados, ou mais necessários, pois também o serviço tem os seus graus.”

Há servos e servos e há senhores e senhores.”

Quanto à ciência do senhor, como não é nem na aquisição, nem na posse, mas no uso de seus escravos que está o seu domínio, ela se reduz a saber fazer uso deles, isto é, a saber ordenar-lhes o que eles devem saber fazer.” APLICAÇÃO DOMÉSTICA RETROATIVA: Meu pai, senhor, não era um bom administrador, por isso perdeu o controle de seus escravos.

(cont.) “Não há aí nenhum trabalho grande ou sublime, e assim os que têm meios de evitar esse estorvo desembaraçam-se dele com algum intendente, quer para se dedicar à política, quer para se dedicar à filosofia.” Para se dedicar ao trabalho (como escravo de outros senhores), o caso do meu progenitor em particular. Com isso, nenhuma vantagem obteve, pois não havia superintendente. Nossos casos são análogos se eu pensar naquilo em que me dedico, tendo escasso tempo para ordenar uma futura humanidade a fazer o que eu quero. Mas como não viverei para fruir de uma eventual decepção, estou em vantagem. Sempre posso acreditar, até a minha morte, que fui um melhor mestre!

O talento para adquirir um bem parece-se mais com a arte militar ou com a caça.” “A arte de adquirir bens será idêntica à ciência do governo doméstico? Faz parte dela ou será apenas um de seus meios?”

É uma primeira questão dizer se a agricultura, que é apenas uma maneira de obter os alimentos necessários à vida, ou alguma outra indústria que também tenha os alimentos como objeto, pertencem à arte de se enriquecer.”

Mas existe também um outro gênero de bens e de meios que comumente chamamos, e com razão, especulativo, e que parece não ter limites.”

Tampouco foi a natureza que produziu o comércio que consiste em comprar para revender mais caro. A troca era um expediente necessário para proporcionar a cada um a satisfação de suas necessidades. Ela não era necessária na sociedade primitiva das famílias, onde tudo era comum.”

Quando uma tribo tem de sobra o que falta a outra, elas permutam o que têm de supérfluo através de trocas recíprocas; vinho por trigo ou outras coisas que lhes podem ser de uso, e nada mais. Trata-se de um gênero de comércio que não está nem fora das intenções da natureza, nem tampouco é uma das maneiras naturais de aumentar seus pertences, mas sim um modo engenhoso de satisfazer as respectivas necessidades.”

Não era cômodo transportar para longe as mercadorias ou outras produções para trazer outras, sem estar certo de encontrar aquilo que se procurava, nem que aquilo que se levava conviria. Podia acontecer que não se precisasse do supérfluo dos outros, ou que não precisassem do vosso. Estabeleceu-se, portanto, dar e receber reciprocamente em troca algo que, além de seu valor intrínseco, apresentasse a comodidade de ser mais manejável e de transporte mais fácil, como o metal, tanto o ferro quanto a prata ou qualquer outro, que primeiramente se determinou pelo volume ou pelo peso e a seguir se marcou com um sinal distintivo de seu valor, a fim de não se precisar medi-lo ou pesá-lo a toda hora.”

Tendo a moeda sido inventada, portanto, para as necessidades de comércio, originou-se dela uma nova maneira de comerciar e adquirir. A princípio, era bastante simples; depois, com o tempo, passou a ser mais refinada, quando se soube de onde e de que maneira se podia tirar dela o maior lucro possível. É este lucro pecuniário que ela postula; ela só se ocupa em procurar de onde vem mais dinheiro: é a mãe das grandes fortunas. De fato, comumente se faz consistir a riqueza na grande quantidade de dinheiro.” “Ora, é absurdo chamar riquezas um metal cuja abundância não impede de se morrer de fome; prova disso é o Midas da fábula, a quem o céu, para puni-lo de sua insaciável avareza, concedera o dom de transformar em ouro tudo o que tocasse.” “As verdadeiras riquezas são as da natureza; apenas elas são objeto da ciência econômica.”

A outra maneira de enriquecer pertence ao comércio, profissão voltada inteiramente para o dinheiro, que sonha com ele, que não tem outro elemento nem outro fim, que não tem limite onde possa deter-se a cupidez.” “O fim a que se propõe o comércio não tem limite determinado. Ele compreende todos os bens que se podem adquirir; mas é menos a sua aquisição do que seu uso o objeto da ciência econômica; esta, portanto, está necessariamente restrita a uma quantidade determinada.”

O dinheiro serve ao comerciante para dois usos análogos e alternativos: um, para comprar as coisas e revendê-las mais caro; outro, para emprestar e retirar, após o prazo estabelecido, seu capital com juros. Estes dois ramos do seu tráfico não diferem, como se vê, senão porque um interpõe as coisas para aumentar o dinheiro, enquanto o outro o faz servir imediatamente ao seu próprio aumento.”

A coragem, por exemplo, não foi dada ao homem pela natureza para acumular bens, mas para proporcionar tranqüilidade. Não é esse tampouco o objeto da profissão militar, nem o da medicina, tendo uma por objeto vencer, e outra curar.” “elas se tornam o único fim da maioria das pessoas que entram nessas carreiras e subordinam tudo à meta que se propuseram.”

para a família gozar de saúde, convém mais o médico do que o chefe de família; assim como para o abastecimento e a abundância, este cuidado pode caber antes aos ministros do Estado.”

O que há de mais odioso, sobretudo, do que o tráfico de dinheiro, que consiste em dar para ter mais e com isso desvia a moeda de sua destinação primitiva?” “em grego demos à moeda o nome de tokos, que significa progenitura, porque as coisas geradas se parecem com as que as geraram.”

Existem escritores que se ocuparam desses diversos assuntos, tais como Carés de Paros, Apolodoro de Lemnos, autores de tratados sobre a cultura dos campos e dos pomares, e outros ainda, sobre outras matérias. Os curiosos devem consultá-los.”

Como censuravam Tales de Mileto pela pobreza e zombavam de sua inútil filosofia, o conhecimento dos astros permitiu-lhe prever que haveria abundância de olivas. Tendo juntado todo o dinheiro que podia, ele alugou, antes do fim do inverno, todas as prensas de óleo de Mileto e de Quios. Conseguiu-as a bom preço, porque ninguém oferecera melhor e ele dera algum adiantamento. Feita a colheita, muitas pessoas apareceram ao mesmo tempo para conseguir as prensas e ele as alugou pelo preço que quis. Tendo ganhado muito dinheiro, mostrou a seus amigos que para os filósofos era muito fácil enriquecer, mas que eles não se importavam com isso. Foi assim que mostrou sua sabedoria. Em geral, o monopólio é um meio rápido de fazer fortuna. Assim, algumas cidades, quando precisam de dinheiro, usam desse recurso. Reservam-se a si mesmas a faculdade de vender certas mercadorias e, por conseguinte, de fixar seus preços como querem.

Na Sicília, um homem que obtivera vários depósitos de dinheiro apoderou-se dos ferros das forjas. Quando os mercadores vieram de todas as partes para obtê-los, só ele pôde vendê-los, contentando-se com o dobro, de maneira que o que lhe custara 50 talentos vendia por 100. Dionísio, o tirano, informado do caso, não confiscou seu lucro, mas ordenou-lhe que saísse de Siracusa por ter imaginado, para enriquecer, um expediente prejudicial aos interesses do chefe de Estado. Aquele homem tivera a mesma idéia que Tales: ambos do monopólio fizeram uma arte.”

É bom que os que governam os Estados conheçam esse recurso, pois é preciso dinheiro para as despesas públicas e para as despesas domésticas, e o Estado está menos do que ninguém em condições de dispensá-lo. Assim, o capítulo das finanças é quase o único a que alguns prestam atenção.”

A autoridade dos pais sobre os filhos é uma espécie de realeza; todos os títulos ali se encontram: o da geração, o da autoridade afetuosa e o da idade. É até mesmo o protótipo da autoridade real; foi o que fez com que Homero dissesse de Zeus:

É o pai imortal dos homens e dos deuses¹

¹ Interessante que é uma paternidade “que não passa”; além do mais, Zeus segue eternamente mais jovem que seus ancestrais. Ele não é o protótipo da realeza, mas do despotismo.

Deve uma mulher ser sábia, corajosa e justa? Deve uma criança ter contenção e sobriedade?”

Se as mesmas qualidades lhes são necessárias, por que então o mando cabe a um e a obediência a outro? A diferença entre os dois não é do mais para o menos, mas sim específica e produz efeitos essencialmente diversos.” Ininteligível.

Todos têm, portanto, virtudes morais, mas a temperança, a força, a justiça não devem ser, como pensava Sócrates, as mesmas num homem e numa mulher. A força de um homem consiste em se impor; a de uma mulher, em vencer a dificuldade de obedecer.”

Mais vale, como Górgias, estabelecer a lista das virtudes do que se deter em semelhantes definições e imitar, no mais, a precisão do poeta que disse que

um modesto silêncio é a honra da mulher,

ao passo que não fica bem no homem.”

um profissional está numa espécie de servidão limitada; mas a natureza que faz os escravos não faz os sapateiros, nem os outros artesãos.”

A educação das mulheres e das crianças deve ser da alçada do Estado, já que importa à felicidade do Estado que as mulheres e as crianças sejam virtuosas.”

O Estado é o sujeito constante da política e do governo; a constituição política não é senão a ordem dos habitantes que o compõem.”

Alguém que é cidadão numa democracia não o é numa oligarquia.” “É cidadão aquele que, no país em que reside, é admitido na jurisdição e na deliberação. É a universalidade deste tipo de gente, com riqueza suficiente para viver de modo independente, que constitui a cidade ou o Estado. O costume é dar o nome de cidadão apenas àquele que nasceu de pais cidadãos. De nada serviria que o pai o fosse, se a mãe não for.”

Operários (artesãos, comerciantes) livres não são cidadãos. As obras da virtude são impraticáveis para quem quer que leve uma vida mecânica e mercenária.” “Em Tebas, o próprio comércio dificulta o acesso à cidadania. Havia uma lei que exigia que se tivesse fechado a loja e deixado de vender há dez anos para ser admitido.”

HOMEM DE BEM X BOM CIDADÃO

  • virtudes absolutas (nobreza)¹ X virtude limitada ou específica (mediania)

  • Todo homem de bem é bom cidadão.

  • Poucos bons cidadãos são também homens de bem.

  • Sempre comanda (porém, via de regra, em Ari., quem sabe comandar também sabe obedecer)¹ X deve sempre saber obedecer e não lhe está vedado saber comandar (ex: o soldado de ontem pode ser o general de amanhã, que é um servo do governo)

¹ Segundo Aristóteles, as mulheres não estão excluídas da classe suprema (homens de bem), mas suas limitações são evidentes (devem mais obedecer que comandar, ser discretas, guardar-se de atos de valentia).

num grupo de dançarinos, é preciso mais talento para o papel de corifeu do que para o de corista. A desigualdade de mérito é, pois, evidente.”

Entre as pessoas que estão em servidão, é preciso contar os trabalhadores manuais que vivem, como indica seu nome, do trabalho de suas mãos e os artesãos que se ocupam dos ofícios sórdidos.” Definição do “idiota político” clássico (ou antigo), que não é nem homem de bem nem cidadão.

Ah, a poluição da palavra!

* * *

Aqueles que se propõem [a] dar aos Estados uma boa constituição prestam atenção principalmente nas virtudes e nos vícios que interessam à sociedade civil, e não há nenhuma dúvida de que a verdadeira cidade (a que não o é somente de nome) deve estimar acima de tudo a virtude.

Sem isso, não será mais do que uma liga ou associação de armas, diferindo das outras ligas apenas pelo lugar, isto é, pela circunstância indiferente da proximidade ou do afastamento respectivo dos membros. Sua lei não é senão uma simples convenção de garantia, capaz, diz o sofista Licofrão, de mantê-los no dever recíproco, mas incapaz de torná-los bons e honestos cidadãos.”

Eles fizeram um pacto de não-agressão no que toca a seus comércios e até prometeram tomar armas para sua mútua defesa, mas não têm outra comunicação a não ser o comércio e seus tratados. Mais uma vez, esta não será uma sociedade civil. Por quê, então?” “A cidade, portanto, NÃO é precisamente uma comunidade de lugar, nem foi instituída simplesmente para se defender contra as injustiças de outrem ou para estabelecer comércio. Tudo isso deve existir antes da formação do Estado, mas não basta para constituí-lo.”

É isto o que chamamos uma vida feliz e honesta. A sociedade civil é, pois, menos uma sociedade de vida comum do que uma sociedade de honra e de virtude.”

PAI & FILHO, CARA & COROA: “Todos vemos que não é pelos bens exteriores que se adquirem e conservam as virtudes, mas sim que é pelos talentos e virtudes que se adquirem e conservam os bens exteriores e que, quer se faça consistir a felicidade no prazer ou na virtude, ou em ambos, os que têm inteligência e costumes excelentes a alcançam mais facilmente com uma fortuna medíocre do que os que têm mais do que o necessário e carecem dos outros bens.” “Os bens da alma não são apenas honestos, mas também úteis, e quanto mais excederem a medida comum, mais terão utilidade.” “A felicidade é muito diferente da boa fortuna. Vêm-nos da fortuna os bens exteriores, mas ninguém é justo ou prudente graças a ela, nem por seu meio.”

Que vida preferir, a que toma parte do governo e dos negócios públicos ou a vida retirada e livre de todos os embaraços do gênero? Não entra no plano da Polítíca determinar o quê pode convir a cada indivíduo, mas sim o que convém à pluralidade. Em nossa Étíca, aliás, tratamos do primeiro ponto.

AS MELHORES CONSTITUIÇÕES APUD GRÉCIA ANTIGA: “Em Esparta e em Creta, a quase totalidade de sua disciplina e de suas numerosas regras é dirigida para a guerra. Em todas as nações que têm o poder de crescer, entre os citas, entre os persas, entre os trácios, entre os celtas, não há nenhuma profissão mais estimada do que a das armas. Em alguns lugares, existem leis para estimular a coragem guerreira. Em Cartago, as pessoas são decoradas com tantos anéis quantas foram as campanhas que fizeram. Na Macedônia, uma lei pretendia que aqueles que não houvessem matado nenhum inimigo tivessem que andar de cabresto. Entre os citas, aquele que estivesse nesse caso sofria a afronta de não beber à roda, na taça das refeições solenes. A Ibéria, nação belicosa, levanta ao redor das tumbas tantos obeliscos quantos inimigos o defunto matou.”

Não é ofício nem do médico nem do piloto persuadir ou fazer violência, um a seus doentes, o outro a seus marinheiros. Mas muitos parecem considerar a dominação como o objeto da política, e aquilo que não cremos nem justo nem útil para nós não temos vergonha de tentar contra os outros.” “Se a natureza estabeleceu esta distinção, pelo menos não se deve tentar dominar a todos, mas apenas aos que só servem para serem submetidos. É assim que não se vai à caça para pegar os homens e comê-los ou matá-los, mas apenas para pegar os animais selvagens que são comestíveis.

não é exato elevar a inação acima da vida ativa, já que a felicidade consiste em ação, e as ações dos homens justos e moderados têm sempre fins honestos.”

Entre semelhantes, a honestidade e a justiça consistem em que cada um tenha a sua vez. Apenas isto conserva a igualdade. A desigualdade entre iguais e as distinções entre semelhantes são contra a natureza e, por conseguinte, contra a honestidade. Se, porém, se encontrasse alguém que ultrapassasse todos os outros em mérito e em poder e tivesse provado seu valor com grandes façanhas, seria belo ceder a ele e justo obedecer-lhe. Mas não basta ter mérito, é preciso ter bastante energia e atividade para estar certo do êxito.”

Como a maioria dos homens tem mania de dominar os outros para obter todas as comodidades, Tíbron e todos os que escreveram sobre o governo de Esparta parecem admirar seu legislador por ter aumentado muito seu império, tendo exercitado a nação nos perigos da guerra. Mas, agora que os espartanos não dominam mais, deixaram de ser felizes, e seu legislador de merecer sua reputação. Não é ridículo que, persistindo sob as leis de Licurgo e não tendo nada que os impedisse de valer-se delas, eles tenham deixado escapar sua felicidade?”

Não é um sinal de sabedoria para o legislador treinar seu povo para vencer seus vizinhos. Disso só podem resultar grandes males, e aquele que for bem-sucedido não vai deixar de investir contra a sua própria pátria e, se puder, de assenhorear-se dela. Essa é a censura que os espartanos fazem ao rei Pausânias, cuja ambição não se contentou com este alto grau de honra.”

Ao fazer a guerra, vários Estados se conservaram, mas, assim que conquistaram a superioridade, entraram em decadência, semelhantes ao ferro que se enferruja pela inação.”

Não há repouso para os escravos, diz o provérbio. Ora, os que não têm coragem para se expor aos perigos tornam-se escravos de seus agressores.”

os que parecem felizes e, semelhantes aos habitantes das Ilhas Afortunadas de que falam os poetas, gozam de tudo o que pode contribuir para a felicidade, precisam mais do que os outros de justiça e de temperança. Quanto mais opulência e lazer tiverem, mais precisarão de filosofia, de moderação e de justiça, e o Estado que quiser ser feliz e florescente deve inculcar-lhes estas virtudes o máximo possível. Se há algo de ignóbil em não saber gozar das riquezas, há bem mais ainda em fazer mau uso delas quando só se tem isso para fazer. É revoltante que homens, aliás, dignos de estima nos trabalhos e nos perigos da guerra se comportem como escravos no descanso e na paz.”

há dois tipos de hábitos, uns apaixonados, ou provindos da sensibilidade, outros intelectuais. E, assim como o corpo é gerado antes da alma, a parte carente de razão o é, igualmente, antes da razoável. Isto se observa pelos rasgos de cólera, pelos desejos e pelas vontades mostradas pelas crianças tão logo nascem.”

deve preocupar-se com a sucessão das crianças; que não haja entre elas e os pais uma distância de idade grande demais, pois neste caso os filhos não podem mostrar seu reconhecimento aos pais na velhice, nem os pais podem ajudar seus filhos tanto quanto preciso.”

O final da procriação ocorre, para os homens, aos 70 anos; para as mulheres, aos 50. Sua união deve começar na mesma proporção. A dos adolescentes não vale nada para a progenitura. Em todas as espécies animais, os frutos prematuros de sujeitos jovens demais, sobretudo se se tratar da fêmea, são imperfeitos, fracos e de pequena estatura. O mesmo ocorre com a espécie humana. Observa-se, com efeito, esta imperfeição em todos os lugares em que as pessoas se casam jovens demais. Só nascem abortos.” Continuando com a proporção 70/50: 20/14, 30/21, 40/28, 50/35…

Aquelas que conhecem cedo demais o uso das familiaridades conjugais são de ordinário mais lascivas. Por outro lado, nada retarda ou detém mais depressa o crescimento dos moços jovens do que se entregar cedo demais ao relacionamento com as mulheres, sem esperar que a natureza tenha neles elaborado completamente o licor prolífico. Há para o crescimento uma época precisa, além da qual não se cresce mais.”

verdadeira idade para casar as moças é aos 18 anos e para os homens aos 37, aproximadamente. Com isso a conjunção dos corpos se fará em pleno vigor, e a geração, depois, terminará num tempo conveniente tanto para um como para outro. Da mesma forma, a sucessão dos filhos a seus pais estará melhor colocada, se nascerem convenientemente no intervalo entre a força da idade e o declínio, que começa por volta dos 70.” [!!!]

Quanto à estação do ano própria à geração, o inverno é a que mais convém, como hoje se observa quase em toda parte.” “os físicos ensinam que ventos são favoráveis ao ato sexual; por exemplo, eles preferem o vento do norte ao do sul.”

Diremos somente que a compleição atlética não é útil nem à saúde, nem à geração, nem aos empregos civis; o mesmo ocorre com os corpos fracos, acostumados ao regime médico.”

Pedonomia: parte da pedagogia que estipula as regras (formas) da aplicação da pedagogia, i.e., do conteúdo em si da educação.

Se o corpo precisa de movimento, o espírito necessita de repouso e de tranqüilidade. No ventre da mãe os filhos recebem, como os frutos da terra, a impressão do bem e do mal.”

Sobre o destino das crianças recém-nascidas, deve haver uma lei que decida os que serão expostos e os que serão criados. Não seja permitido criar nenhuma que nasça mutilada, isto é, sem algum de seus membros; determine-se, pelo menos, para evitar a sobrecarga do número excessivo, se não for permitido pelas leis do país abandoná-los, até que número de filhos se pode ter e se faça abortarem as mães antes que seu fruto tenha sentimento e vida, pois é nisto que se distingue a supressão perdoável da que é atroz.” Até eugênicos antigos têm escrúpulos morais “anteprotestantes”…

Desde os primeiros momentos do nascimento, é bom acostumar as crianças ao frio; isto faz um bem infinito à saúde e dispõe às funções militares.”

Na idade seguinte, até os cinco anos, não é conveniente dar nada para as crianças aprenderem, nem submetê-las a qualquer trabalho. Isto poderia impedir seu crescimento. Basta mantê-las em movimento para preservar seus corpos da preguiça e do peso. Este movimento deve consistir apenas nas funções da vida e nas brincadeiras, tomando cuidado somente para que elas não sejam nem desonestas nem penosas, nem destituídas demais de ação.”

Em certos lugares, comete-se o erro de proibir à criança o choro e os movimentos expansivos. Todos estes atos servem para seu desenvolvimento e fazem parte, por assim dizer, dos exercícios corporais. O ato de reter a respiração dá força aos que trabalham. Isto também ocorre no próprio esforço das crianças para gritar.”

impedir muita conversa e familiaridade, sobretudo com os escravos.”

SIGA SEU MESTRE: “Se proibimos as conversas indecentes, com mais forte razão proibiremos as pinturas e as exibições do mesmo gênero. Os magistrados, portanto, não admitirão nem estátuas, nem pinturas lúbricas, a não ser as de certas divindades cujo culto a lei reserva aos homens adultos, a quem ela permite sacrifícios, tanto por eles quanto por suas mulheres e crianças.”

Também se deve proibir aos jovens os teatros e sobretudo a comédia, até que tenham atingido a idade de participar das refeições públicas e a boa educação os tenha colocado em condições de experimentar impunemente a bebedeira dos banquetes, sem contrair a embriaguez ou os outros vícios que a acompanham. Passaremos rapidamente por esta matéria, para voltar a ela uma outra vez e discutir se este costume deve ser mantido, e como.

Não há de se aprovar, segundo cremos, a partilha que fazem certas pessoas que dividem toda a vida de 7 em 7 anos. Mais vale seguir o ritmo da natureza. Ela apenas esboçou suas obras. A obra da educação, assim como a de todas as artes, deve unicamente completar o que falta ao ser das obras da natureza.”

Como não há senão um fim comum a todo o Estado, só deve haver uma mesma educação para todos os súditos. Ela deve ser feita não em particular, como hoje, quando cada um cuida de seus filhos, que educa segundo sua fantasia e conforme lhe agrada; ela deve ser feita em público. Tudo o que é comum deve ter exercícios comuns. É preciso, ademais, que todo cidadão se convença de que ninguém é de si mesmo, mas todos pertencem ao Estado, de que cada um é parte e que, portanto, o governo de cada parte deve naturalmente ter como modelo o governo do todo.”

Não se sabe se se deve ensinar às crianças as coisas úteis à vida ou as que conduzem à virtude, ou as altas ciências, que se podem dispensar. Cada uma destas opiniões tem seus partidários. Não há nem mesmo nada de certo a respeito da virtude, não sendo o mesmo gênero de virtude apreciado unanimemente. Também se diverge sobre o gênero de exercícios a praticar.”

Não é fora de propósito conceder algum tempo a certas ciências, mas entregar-se a elas por inteiro e querer ser consumado nelas não deixa de ter seus inconvenientes e pode ser nocivo às graças da imaginação.”

Quanto à música, sua utilidade não é igualmente reconhecida. Muitos hoje a aprendem apenas por prazer. Mas os antigos fizeram dela, desde os primeiros tempos, uma parte da educação, pois a natureza não procura apenas dar exatidão às ações, mas também dignidade ao repouso. A música é o princípio de todos os encantos da vida.”

Se possível, é melhor descartar o jogo entre as ocupações. Quem trabalha precisa de descanso: o jogo não foi imaginado senão para isto. O trabalho é acompanhado de fadiga e de esforços. É preciso entremeá-lo convenientemente de recreações, como um remédio.”

Não que ela seja necessária: ela não o é. Não que ela tenha tanta importância quanto a escrita, que serve para o comércio, para a administração doméstica, para as ciências e para a maioria das funções civis, ou quanto a pintura, que nos permite julgar melhor a obra dos artistas, ou quanto a ginástica, que ajuda a saúde e o desenvolvimento das forças; a música não faz nada disso. Mas ela serve pelo menos para passar agradavelmente o lazer. É por isso que ela foi posta na moda. Ela pareceu a seus inventores a diversão mais conveniente às pessoas livres.

Existem povos que não evitam os massacres e são ávidos de carne humana, mas que, quando atacados, são tudo, menos valentes; por exemplo, os aqueus e os heniocos do Ponto Euxino, e outras nações mais distantes que pertencem às terras da mesma região, sendo que as outras preferem a profissão de ladrões.”

Aqueles que expõem em demasia os jovens aos exercícios do ginásio e os deixam sem instrução sobre as coisas mais necessárias, fazem deles, na verdade, apenas reles guarda-costas, que servem no máximo para uma das funções da vida civil, uma função, porém, que, se consultarmos a razão, é a menor de todas. Não é por suas proezas antigas, mas sim pelas do presente que devem ser julgados.”

até a puberdade só se praticarão exercícios leves, sem sujeitar os corpos aos excessos de alimentação, nem aos trabalhos violentos, por temor de que isso impeça o crescimento. A prova do efeito funesto deste regime forçado é que entre os que venceram nos jogos olímpicos em sua juventude dificilmente se encontrarão dois ou três que também venceram numa idade mais avançada. Por que isto? Porque a violência dos exercícios a que se tinham submetido desde a infância esgotara sua força e seu vigor.”

PRÉ-ROUSSEAU: “Com efeito, não se deve atormentar ao mesmo tempo o espírito e o corpo. Desses exercícios, um impede o outro; o do corpo é nocivo ao espírito, e o do espírito ao corpo.”

Se estiver em nosso poder escolhê-la segundo o desejo, a situação da Cidade deve ser próxima do mar e do campo; assim, a ajuda seria fácil de um lugar para outro e de toda parte, assim como a exportação e a importação das mercadorias. Haveria comodidade para transportar a madeira e todos os outros materiais do país.” “a comodidade do mar faz com que se envie para o exterior ou se receba na cidade uma multidão de mercadores, o que é igualmente pernicioso para o Estado.” “Somente a atração do lucro faz com que estabeleça em seu território mercados abertos a todos. Há aí uma avareza condenável, e não é assim que um Estado ou uma cidade devem praticar o comércio.”

Os soldados da marinha, pelo contrário, são livres e, assim como seus oficiais, provêm da infantaria. São eles que comandam os marinheiros [que, diferente dos soldados da marinha, não são cidadãos]. Quanto à tripulação, é completada com camponeses e lavradores dos arredores. É o que se pratica em certos lugares, por exemplo Heracléia, cujas galeras estão sempre bem-tripuladas, embora a cidade seja muito menor do que várias outras.”

se as águas são raras ou de diversas qualidades, deve-se separar, como se faz nas cidades bem-cuidadas, as que são boas para beber das que podem servir para outros usos.”

no que se refere às casas particulares, elas serão bem mais agradáveis e mais cômodas se seu espaço for bem-distribuído, com uma estrutura à maneira moderna, ao gosto de Hipódamos.¹”

¹ Hipódamos de Mileto foi um polímata do século V a.C., tido como fundador da concepção de Planejamento Urbano, que estendia a preocupação da arquitetura para toda a polis em si. Planejou pela primeira vez a simetria geométrica da disposição das ruas e das casas e, ao mesmo tempo, a existência de um centro despovoado e amplamente aberto, i.e., a Ágora. As casas que ele planejou eram mais espaçosas e tinham dois andares.

Não se alinharão todas as ruas de um extremo ao outro, mas apenas certas partes, tanto quanto o permitir a segurança e o exigir a decoração.”

Embora não seja muito honroso opor muros de defesa a guerreiros da mesma têmpera que não têm uma grande vantagem numérica, é possível que os sitiantes consigam um tal acréscimo de forças que todo valor humano, mas com poucas pessoas, não possa resistir-lhes. Portanto, se não se quer morrer, nem se expor ao ultraje, deve-se considerar como uma das medidas mais autorizadas pelas leis da guerra manter suas muralhas no melhor estado de fortificação, principalmente hoje, quando se imaginaram tantos instrumentos e máquinas engenhosas para atacar fortificações. Não querer cercar as cidades com muros é como abrir o país às incursões dos inimigos e retirar os obstáculos de sua frente, ou como se recusar a fechar com muros as casas particulares, de medo que os que nelas habitam se tornem medrosos.”

é claro que num Estado tão perfeitamente constituído que não admita como cidadãos senão pessoas de bem, não apenas sob certos aspectos, mas integralmente virtuosos, não devemos contar entre eles aqueles que exercem profissões mecânicas ou comerciais, sendo esse gênero de vida ignóbil e contrário à virtude” TERCEIRA REPETIÇÃO!

primeiro, na juventude, o comando da força armada para defender o Estado; depois, quando maduros, a autoridade para governá-lo.”

Convém não ligar ao culto divino senão cidadãos, e não se devem educar para o sacerdócio nem lavradores que puxam arado, nem trabalhadores que saem de sua forja. Tendo a universalidade dos cidadãos sido dividida em duas classes, a dos homens de guerra e a dos homens de lei, é aí que se devem tomar os ministros da religião.”

Esta necessidade de dividir o Estado em classes diversas, segundo a variedade das funções, e de separar os homens de guerra dos lavradores não é uma invenção de hoje, nem um segredo recém-descoberto pelos filósofos que se ocupam de política. Tal distinção foi introduzida no Egito pelas leis de Sesóstris e em Creta pelas de Minos.¹ Elas ainda subsistem atualmente nestes lugares.”

¹ Afinal de contas Minos ter existido como homem de carne e osso é hipótese tão verossímil quanto com Licurgo e Sólon?

Os sábios do país contam que um certo Italus foi rei na Enótria. Os habitantes tomaram seu nome e, em vez de enotrianos, se chamaram italianos. O nome de Itália ficou também para a costa da Europa entre o golfo de Cilética e o golfo Lamético, distantes meia jornada um do outro. Segundo estes historiadores, foi Italus quem, de pastores errantes, tornou os enotrianos lavradores sedentários. Entre outras leis que lhes deu, estabeleceu pela primeira vez que comessem juntos. Este costume ainda hoje se observa entre alguns de seus descendentes, assim como algumas outras de suas leis. Os ópicos, antigamente chamados ou cognominados ausônios, nome que lhes ficou, habitavam a costa do Tirreno; e os caonianos, descendentes dos enotrianos, a praia chamada Sirtes, entre a Lapígia e a Jônia.”

É bem crível que muitas outras coisas foram inventadas várias vezes, talvez ao infinito, na longa seqüência dos séculos. Ao que parece, inicialmente a necessidade inventou as coisas necessárias; em seguida, por adjunção, as que servem para um maior conforto e para ornamento. O mesmo ocorre com a legislação e as constituições civis. Podemos conjeturar como elas são antigas pelo exemplo dos egípcios, que remontam à mais alta antiguidade e desde sempre tiveram leis e uma constituição. Cabe a nós aproveitar suas boas invenções e lhes acrescentar o que lhes falta.”

Todos concordam que as mesas comuns e as refeições públicas convêm às cidades bem-organizadas politicamente. Isto também nos agrada, mas é preciso que nelas todos os cidadãos sejam recebidos gratuitamente; caso contrário, não será fácil para aqueles que só têm o estrito necessário fornecer a sua parte e ainda arcar com o sustento de sua família.”

* * *

DA CÉLEBRE DIVISÃO ENTRE AS FORMAS DE GOVERNO

MODALIDADES IDEAIS: “Chamamos monarquia (1) o Estado em que o governo que visa a este interesse comum pertence a um só; aristocracia (2), aquele em que ele é confiado a mais de um, denominação tomada ou do fato de que as poucas pessoas a que o governo é confiado são escolhidas entre as mais honestas, ou de que elas só têm em vista o maior bem do Estado e de seus membros [aristo+cracia = governo dos melhores]; república (3), aquele em que a multidão governa para a utilidade pública; este nome também é comum a todos os Estados.

MODALIDADES CORROMPIDAS: “A tirania (4) não é, de fato, senão a monarquia voltada para a utilidade do monarca; a oligarquia (5), a aristocracia voltada para a utilidade dos ricos; a democracia (6), a república voltada para a utilidade dos pobres.”

A oligarquia estabeleceu-se desde os tempos mais remotos em todos os lugares que tinham na cavalaria a sua principal força, como os eretrianos, os de Cálcides, os magnésios do Meandro e vários outros povos asiáticos. Montava-se a cavalo para combater os inimigos dos arredores.”

1. MONARQUIA

No Estado de Esparta,¹ p.ex., há uma monarquia das mais legítimas, mas o poder do rei não é absoluto, a não ser quando o monarca estiver fora de seus Estados e em situação de guerra, pois então ele tem a autoridade suprema sobre seu exército. Além disso, ele tem no interior a superintendência do culto e das coisas sagradas. Esta espécie de monarquia não é, pois, senão um generalato perpétuo, com plenos poderes, sem porém ter o direito de vida e de morte, a não ser em certo domínio ou, nas expedições militares, quando se está combatendo, como era costume antigamente. É o que se chama lei do golpe de mão. Homero refere-se a ela. Segundo ele, Agamêmnon, na Assembléia do povo, tolerava as palavras menos respeitosas. Fora dali, de armas na mão, tinha o poder de morte sobre os soldados delinqüentes.”

¹ Platão e Montesquieu, por exemplo, recusam o status de monarquia a Esparta/Lacedemônia.

O comando militar inamovível é, portanto, um primeiro tipo de monarquia, sendo umas hereditárias e outras eletivas.”

DESACERTO NOS CRITÉRIOS: “Tendo os bárbaros naturalmente a alma mais servil do que os gregos e os asiáticos, eles suportam mais do que os europeus, sem murmúrios, que sejam governados pelos senhores. É por isso que essas monarquias, embora despóticas, não deixam de ser estáveis e sólidas, fundadas que são na lei e transmissíveis de pai para filho. Pela mesma razão, sua guarda é real, e não tirânica, pois os reis são protegidos por cidadãos armados, ao passo que os déspotas recorrem a estrangeiros. Aqueles governam de acordo com a lei súditos de boa vontade; estes, pessoas que só obedecem contrafeitas. Aqueles são protegidos pelos cidadãos; estes, contra os cidadãos. São, portanto, dois tipos diferentes de monarquia.”

Antes do aparecimento da figura de um César, A. prefigura a instituição do ditador da República Romana final, no plano teóricoa, como sendo um governo monárquico não-tirânico, posto que legal. É verdade que matiza este raciocínio depois: “Estes principados são, portanto, ao mesmo tempo despóticos pela maneira com que a autoridade é exercida e reais pela eleição e submissão espontânea do povo.” Este último critério transformaria quase todos os governos atuais da Terra em monarquias constitucionais, quando vemos não passar de tiranias, se é para dicotomizar entre as duas! Hitler como um monarca constitucional seria uma piada de humor negro. Mas é ao que a taxonomia aristotélica conduz…

Os reis dos primeiros séculos tinham autoridade sobre todos os negócios de Estado, tanto dentro quanto fora, e para sempre. A partir daí, quer porque abandonaram por si mesmos uma parte da autoridade, quer porque tenham sido despojados dela pelo povo, foram reduzidos em alguns Estados à simples qualidade de soberanos sacrificadores ou pontífices e, nos lugares onde se conservou o nome de rei, à simples faculdade de comandar os exércitos além das fronteiras.”

2. ARISTOCRACIA

O nome de aristocracia convém perfeitamente ao regime que já mencionamos acima, pois não se deve, com efeito, dar este nome senão à magistratura composta de pessoas de bem sem restrição e não a essas boas pessoas em que toda a retidão se limita ao patriotismo.”

Aristóteles perde a mão em suas classificações, sem uma exceção sequer! “Há um ar de aristocracia em toda parte onde se observa a virtude, embora sejam prezadas também a riqueza e a popularidade, como entre os espartanos, que unem a popularidade às considerações devidas à virtude. São estas duas espécies de aristocracia, além da primeira [essas subdivisões não guardam o menor interesse], as únicas a merecerem o nome de excelente e perfeita República [no sentido lato: todos os seis governos!].”

3. “REPÚBLICA” (é o próprio Aristóteles que coloca o título entre aspas!)

Reservamo-la para o final [meio!] não por ser uma depravação da aristocracia, de que acabamos de falar (pois é normal começar, como fizemos, pelas formas puras e depois ir às formas desviadas), mas porque ela reúne o que há de bom em dois regimes degenerados, a oligarquia e a democracia.

Na oligarquia, a lei não concede aos pobres nenhum salário para administrar a justiça e estabelece penas contra os ricos, caso se recusem a fazer parte de uma assembléia; na democracia, a lei dá um salário aos pobres mas não aplica nenhuma pena aos ricos. A mistura conveniente ao Estado, que ocupa o meio entre estes governos e é composta pelos dois, é conceder o salário aos pobres e aplicar a multa aos ricos.” “É democrático, por exemplo, escolher os magistrados por sorteio; oligárquico, elegê-los; democrático, não considerar a renda”

SÓ PIORA: “É o que se observa em Esparta: muitos, com efeito, a colocam na classe das democracias, porque ela tem muitas instituições dessa natureza. [!!!] Na educação das crianças, a comida é a mesma para os filhos dos ricos e para os dos pobres, a mesma instrução, a mesma severidade no trato; na idade seguinte, o mesmo gênero de vida quando se tornam homens.”

Apenas definições negativas e compósitas de “república”, além de ininteligíveis! Desistam de se apoiar nesses conceitos aristotélico, pelo BEM de todos nós!

4. TIRANIA

Quanto mais a monarquia se aproxima idealmente do governo celeste, mais sua alteração é detestável. A monarquia não passa de um vão nome, se não se distingue pela grande excelência de quem reina. O vício mais diametralmente contrário a sua instituição é a tirania. Portanto, é também o pior dos governos.”

5. OLIGARQUIA

Os postos são concedidos aos mais ricos e nomeiam a si próprios em caso de vacância. Se a escolha se fizesse entre todos, seria aristocrática; o que a torna oligárquica é que ela se faz numa classe determinada. Todavia, não sendo poderosos o suficiente para governar sem leis, transformam em leis a preferência que se arrogam.

Se seu número diminuir e sua riqueza tiver novos aumentos, forma-se um segundo grau de oligarquia, no qual, aproveitando a ascendência que adquiriram por seus postos, fazem com que se ordene por uma nova lei que seus filhos serão seus sucessores.”

Tendo aumentado ainda mais sua riqueza e seu crédito, a potência dos oligarcas aproxima-se da monarquia. Este vício é semelhante tanto à tirania que se introduz nas monarquias quanto à última espécie de democracia, de que falaremos. Chama-se dinastia ou, mais exatamente, politirania.”

6. DEMOCRACIA

INDIRETA A PLATÃO? “Não se deve, como costumavam fazer certas pessoas, definir simplesmente a democracia como o governo em que a maioria domina. Nas próprias oligarquias e em qualquer outra parte, é sempre a maioria que se sobressai.”

Se os poderes se distribuíssem de acordo com a estatura [!], como acontece, segundo certos autores, na Etiópia, ou de acordo com a beleza [Ganimedolândia ou quiçá Ilha dos alcibíadas], haveria oligarquia, porque a beleza e a alta estatura não pertencem à maioria.”

Aristóteles se esquece do espírito de um governo e da tendência das sociedades. Procura uma classificação tirando fotos, ou seja, espúria e ingênua.

Uns e outros abundam em alguns lugares, como os pescadores em Tarento e em Bizâncio, os marinheiros em Atenas, os negociantes na ilha de Egina e em Quios, os barqueiros em Tenedos. Devem-se juntar a eles os trabalhadores manuais e todos os que não são abastados o suficiente para ficar sem fazer nada, os que não nasceram de pai e mãe livres e toda espécie de populaça semelhante.”

Como o Estado não pode existir sem magistrados e precisa de homens capazes de realizar suas funções, precisa também de pessoas que executem suas ordens e estejam encarregadas do serviço, quer para sempre, quer alienadamente.”

A CARICATURA ARISTOTÉLICA (JULGA QUE NÃO HÁ DINÂMICA DE CLASSES OU ESTRATOS, E QUE QUEM ASCENDE AO PODER NÃO ENRIQUECE NEM SE DISTINGUE EM POUCO TEMPO): “A quarta é aquela que se introduziu em último lugar nas Cidades que se tornaram maiores e mais opulentas do que eram nos primeiros tempos. Ela exibe a igualdade absoluta, isto é, a lei coloca os pobres no mesmo nível que os ricos e pretende que uns não tenham mais direito ao governo do que os outros, mas que a condição destes e daqueles seja semelhante. Pois se a alma da democracia consiste, como pensam alguns, na liberdade, sendo todos iguais a este respeito, devem ter a mesma parte nos bens civis e principalmente nos grandes cargos; e, como o povo é superior em número e o que agrada à pluralidade é lei, tal Estado deve necessariamente ser popular. Mas, se todos são indistintamente admitidos no governo, é a massa que se sobressai e, sendo os pobres assalariados, podem deixar o trabalho e permanecer ociosos, não os retendo em casa a preocupação com seus próprios negócios. É, pelo contrário, um obstáculo para os ricos que não assistem às Assembléias nem se preocupam com o papel de juiz. Resulta daí que o Estado cai no domínio da multidão indigente e se vê subtraído ao império das leis. Os demagogos calcam-nas com os pés e fazem predominar os decretos. Tal gentalha é desconhecida nas democracias que a lei governa. Os melhores cidadãos têm ali o primeiro lugar. Mas onde as leis não têm força pululam os demagogos. O povo torna-se tirano. Trata-se de um ser composto de várias cabeças; elas dominam não cada uma separadamente, mas todas juntas. Não se sabe se é desta multidão ou do governo alternado e singular de vários de que fala Homero quando diz que <não é bom ter vários senhores>. De qualquer modo, o povo, tendo sacudido o jugo da lei, quer governar só e se torna déspota. Seu governo não difere em nada da tirania. Os bajuladores são honrados, os homens de bem sujeitados. O mesmo arbítrio reina nos decretos do povo e nas ordens dos tiranos. Trata-se dos mesmos costumes. O que fazem os bajuladores de côrte junto a estes, fazem os demagogos junto ao povo. Gozam do mesmo crédito.”

Se pretendermos que a democracia seja uma das formas de governo, então não se deverá nem mesmo dar este nome a esse caos em que tudo é governado pelos decretos do dia, não sendo então nem universal nem perpétua nenhuma medida.”

* * *

Sobre a divisão dos poderes, existente em qualquer forma de governo, em tempos bem anteriores a Montesquieu e às noções modernas…

1. ???

Devo ter ficado burro, porque me tornei incapaz de entender Aristóteles: “No que se chama democracia, principalmente na de hoje, em que o povo é senhor de tudo, até das leis, seria bom, para se conseguirem boas deliberações, que as Assembléias fossem ordenadas e regulamentadas como os tribunais das oligarquias, ou ainda melhor, se possível. Ali são aplicadas penas aos que são nomeados para a judicatura, a fim de obrigá-los a julgar, ao passo que na democracia é proposto um salário aos pobres. Ora, delibera-se melhor quando todos deliberam em comum, o povo com os nobres e os nobres com a multidão.”

o corpo deliberativo, o verdadeiro soberano do Estado.” Quem é o <corpo deliberativo> (que deveria ser o título deste tópico 1)? Por eliminação (categorias a seguir), seria o poder legislativo. Mas pelo que se lê acima esta categoria ou corpo ou poder é uma composição caótica de tudo que entendemos por poder executivo, legislativo e judiciário hoje

2. O PODER EXECUTIVO

Já é difícil determinar quem são os que devem chamar-se magistrados. A sociedade civil precisa de vários servidores. O nome de magistrados não convém a todos os que são nomeados por eleição ou por sorteio. É o caso dos sacerdotes, sendo seu ministério de natureza diferente da dos ofícios políticos, dos diretores de coro, dos arautos, dos embaixadores, embora também eles sejam eletivos.” “É de pouca utilidade o modo como são chamados, já que sua denominação, que é discutível, ainda não ficou bem decidida. Mas não é de pouca importância bem distinguir os seus atributos.”

O primeiro cuidado do governo é fazer com que se encontrem nos mercados os víveres necessários. Para tanto, deve haver um magistrado que cuide de que tudo seja feito de boa fé e que a decência seja observada.” O Brasil de hoje já não atende ao primeiro requisito de Aristóteles…

O oficio que se segue imediatamente é de primeira necessidade, mas também de enorme dificuldade: é o de executor das sentenças de condenação, o de pregoeiro de bens apreendidos e o de guarda das prisões. É difícil prestar-se a estas funções por causa dos ódios a que elas expõem, e não se aceitam semelhantes trabalhos a menos que sejam muito lucrativos [ou que estejamos falando de indivíduos sádicos]. Quando são aceitos, não se ousa seguir o rigor da lei, que é, porém, algo indispensável. De nada serviria sustentar uma causa e obter uma sentença se não houvesse ninguém para fazer com que ela fosse obedecida. Sem a execução, é impossível que a sociedade subsista.”

Se a mesma pessoa condena e faz executar, é alvo de um duplo ódio. Se se depara com o mesmo executor em toda parte, trata-se de um meio de fazer com que ele seja universalmente odiado.

Em vários lugares, a profissão de carcereiro é separada da de executor, como em Atenas, no tribunal dos Onze. Esta separação é uma atenuação não menos necessária do que a precedente. Tais ofícios têm a desvantagem de serem evitados pelas pessoas de bem tanto quanto possível, e não é seguro confiá-los a malandros. Estes precisam muito mais ser eles próprios vigiados do que vigiarem. Portanto, estas funções não devem pertencer a um cargo fixo, nem estar sempre nas mesmas mãos, mas sim ser realizadas ora por um, ora por outro, principalmente nos lugares em que a guarda da cidade é confiada a companhias de jovens.”

POLÍCIA: “Depois destes ofícios de maior urgência, vêm outros não menos necessários, mas de uma ordem mais elevada e de um maior valor representativo, pois exigem mais experiência e necessitam de maior confiança.” “Nos pequenos [lugares], basta para todos um comandante em chefe. Chamam-se estes chefes Estrategos ou Polemicas, a cavalaria, a infantaria ligeira, os arqueiros, a marinha têm cada qual seus oficiais particulares chamados Navarcas (almirantes), Hiparcas (generais de cavalaria), Taxiarcas (coronéis), e seus oficiais subalternos, Trierarcas, Locagos, Filarcas e outros subordinados, todos ocupados única e exclusivamente com os trabalhos de guerra.”

Embora nem todas as funções de que acabamos de falar participem do manejo do dinheiro público, mas como algumas estão amplamente envolvidas nisso, é preciso que haja acima delas um outro magistrado que, sem que ele mesmo administre coisa alguma, faça com que os outros prestem contas de sua administração e a corrijam. Uns o chamam auditor; outros, inspetor de contas; outros, grande procurador.

Além disso, uma magistratura suprema de que dependam todas as outras é, enfim, necessária. Ela tem ao mesmo tempo o direito ordinário de impor os impostos e de inspecionar a sua percepção. Em toda parte onde o povo é senhor, ela preside às Assembléias (pois é preciso que aqueles que as convocam tenham nelas a principal autoridade). Em alguns lugares, ela é chamada a Probulia, ou Consulta, porque prepara as deliberações. Nas democracias, em que a massa decide soberanamente, dão-lhe o nome de senado.” Realmente é curioso: senado executor!

Recapitulando toda esta exposição, constataremos que todos os ofícios ou ministérios necessários têm por objeto quer as honras devidas ao Ser supremo, quer o serviço militar, quer a administração das finanças, vale dizer, a receita ou a despesa das rendas públicas, quer o abastecimento dos mercados ou a polícia das cidades, dos portos e dos campos, além da administração da justiça, o tabelionato dos contratos, a execução das sentenças, a guarda das prisões, a auditoria e o exame das contas, a reforma dos abusos e das prevaricações, enfim, as deliberações sobre os negócios de Estado.

Os povos que gozam de maior lazer e de uma paz profunda, ou que estão em condições de sentir o secreto encanto do bem-estar e de obtê-lo para si mesmos, têm ofícios próprios, como a Nomofilacia ou guarda das leis, a inspeção do comportamento das mulheres, a disciplina das crianças, o reitorado dos ginásios, a intendência dos exercícios ginásticos, das festas de Baco e outros espetáculos do mesmo gênero.

Destes ofícios, alguns – como a disciplina das mulheres e das crianças – não convêm à democracia, cujo povo quase só é composto de pobres que, não tendo condições de se fazer servir por outros, são forçados a empregar suas mulheres e suas crianças como domésticos.”

Nas cidades pequenas, a falta de gente força a que se confiram vários ofícios à mesma pessoa. Não se encontram pessoas nem para todas as funções, nem para a sucessão de cada uma delas. Às vezes, porém, elas precisam das mesmas magistraturas e da mesma constituição que as grandes, com a única diferença de que umas são com freqüência forçadas a voltar sempre às mesmas pessoas, e as outras só são obrigadas a isto após longos intervalos. É assim que se suspendem em um mesmo lustre várias velas.”

É própria da aristocracia a inspeção das mulheres e das crianças. Tal função não é nem democrática, nem oligárquica. Como, com efeito, impedir as mulheres dos pobres de saírem ou censurar as mulheres dos oligarcas, acostumadas a viver no luxo?”

Estas diversidades podem combinar-se duas a duas, de modo que tais magistrados sejam eleitos por tais cidadãos e os outros por todos; uns escolhidos dentre eles, outros tirados de tal classe; uns escolhidos por sorteio, outros por eleição.”

3. O PODER JUDICIÁRIO

Além destes tribunais [sete], existem juízes para os casos mínimos, tais como os de 1 até 5 dracmas, ou pouco mais, pois, se é preciso julgar estas queixas, elas não merecem ser levadas diante dos grandes tribunais.”

Nada de relevo neste tópico. Aliás, a obra como um todo se mostra fraca, indigna do maior discípulo de Platão.

* * *

Os povos que habitam as regiões frias, principalmente da Europa, são pessoas corajosas, mas de pouca inteligência e poucos talentos. Vivem melhor em liberdade, pouco civilizados, de resto, e incapazes de governar seus vizinhos.

Os asiáticos são mais inteligentes e mais próprios para as artes, mas nem um pouco corajosos, e por isso mesmo são sujeitados por quase todos e estão sempre sob o domínio de algum senhor.” Um preconceito eterno?

Situados entre as duas regiões, os gregos também participam de ambas. (…) Poderiam mandar no mundo inteiro se formassem um só povo e tivessem um só governo.”

PSICOLOGIA AGORA? “O coração é, de fato, a faculdade da alma de que procede a benevolência e pela qual nós amamos; quando, porém, ele se crê desprezado, irrita-se mais contra as pessoas que são conhecidas e com as quais convive do que contra os desconhecidos.”

PSEUDO-OVO DE COLOMBO: “Pois não é suficiente conhecer a melhor forma, é preciso ver, em cada caso particular, qual é aquela que é possível estabelecer”

Corrigir a constituição que existe não é menos incômodo do que instituir outras, assim como é tão difícil perder quanto contrair hábitos.”

UM POLEMISTA DE ÉPOCA: “Ora, como pode conseguir isto se ignorar quantas espécies de governo existem? Nossos atuais políticos, por exemplo, só conhecem uma espécie de democracia e de oligarquia; trata-se, como vimos, de um erro, pois existem várias.”

VIM PARA CONFUNDIR, NÃO PARA ESCLARECER: “Dir-se-á, talvez, que cabe à lei dominar e que não se pode agir de pior maneira do que substituindo-a pela vontade de um homem, sujeito como os demais a suas paixões. Mas, se a própria lei for ditada pelo espírito de oligarquia ou de democracia, de que nos servirá para elucidar a questão proposta?”

há uma enorme afinidade entre a monarquia e a aristocracia, elas têm quase a mesma disciplina e os mesmos costumes e seus chefes não precisam de educação diferente da que forma o homem virtuoso.” “A monarquia é, na nossa opinião, um dos melhores regimes.” Vozes da cabeça de Ari.. De todo modo, ser “um dos melhores” quando existem 4 ou 5 tipos de governo não é lá grande coisa, concordam?!

SÓ FIZ MARIAS, DIGO, SOFISMARIAS: “Querer que o espírito comande equivale a querer que o comando pertença a Deus e às leis. Entregá-lo ao homem é associá-lo ao animal irracional. Com efeito, a paixão transforma todos os homens em irracionais. (…) A lei, pelo contrário, é o espírito desembaraçado de qualquer paixão.”

A amizade supõe igualdade e semelhança.” Não leu o Lísis.

Se antigamente se deixaram governar por reis, é, sem dúvida, porque raramente se encontravam ao mesmo tempo várias pessoas eminentes quanto ao mérito, sobretudo nas pequenas cidades, como eram as dos velhos tempos.”

ISSO É UM DADO HISTÓRICO OU UMA ASSUNÇÃO METAFÍSICA? “Mas, quando os homens de mérito começaram a se multiplicar, não se quis mais aquele governo; procurou-se algo mais conveniente ao interesse comum e se formou uma República.”

Se supusermos, porém, que em geral a monarquia convém mais aos grandes Estados, que partido tomar com relação aos filhos dos reis? Deve ser hereditário o cetro? Ficaremos expostos a cair nas mãos de maus sucessores, como aconteceu algumas vezes. Dir-se-á que o pai terá o poder de não lhe passar a coroa. Mas não devemos esperar por isto: esta renúncia está muito acima da virtude que a natureza humana comporta.”

alguém aconselhou aos siracusanos que regulassem da mesma forma a importância da guarda que lhes pedia Dionísio.” Quem você quer nomear quando não nomeia?

Mas já falei bastante da monarquia” Sim, já falaste bastante de muitas coisas e mal cheguei à metade da obra…

DANCE CONFORME A MÚSICA: “como a harmonia é dividida por alguns em dois modos, o dórico e o frígio, aos quais relacionam todos os demais e dão nome a todas as suas composições musicais, de ordinário se formam, a exemplo desses dois modos, todas as Repúblicas. Mas é melhor só admitir como bem-constituídas uma ou no máximo duas espécies. As outras são como que desvios ou da boa harmonia, ou do bom governo”

A igualdade parece ser a base do direito, e o é efetivamente, mas unicamente para os iguais e não para todos. A desigualdade também o é, mas apenas para os desiguais. Ora uns e outros põem de lado esta restrição e se iludem, já que é sobre eles próprios que sentenciam; pois de maneira bastante ordinária os homens são maus juízes a seu próprio respeito. A igualdade da qual resulta a justiça ocorre, como igualmente o demonstra a nossa Ética, nas pessoas e nas coisas. Concorda-se facilmente sobre a igualdade das coisas.”

Os Estados democráticos ostentam acima de tudo a igualdade. Foi este zelo que fez com que imaginassem o ostracismo. Nenhuma ascendência é tolerada, nem por riqueza, nem por credibilidade, nem por poder, e desde que um homem alcance tal preponderância é banido por um tempo determinado pela lei. A mitologia ensina-nos que foi este o motivo pelo qual os argonautas devolveram Hércules à terra e o abandonaram. Não queria remar com os outros no Argos, acreditando-se muito acima dos marinheiros.”

O ostracismo tem por objeto apenas deter e afastar os que se distinguem demais. Os soberanos agem da mesma forma para com Estados ou nações inteiras. Foi assim que agiram os atenienses para com os de Samos, de Quios e de Lesbos. Tão logo puderam, os rebaixaram, contra a fé dos tratados. Da mesma forma, o rei da Pérsia humilhou e saqueou os medos, os babilônios e outros insolentes que não se cuidaram durante a prosperidade.”

NADA MAIS ERRADO: “o público julga melhor do que ninguém sobre música ou poesia. Uns criticam um trecho, os demais um outro, e todos captam o forte e o fraco do conjunto da obra.”

AH, ZEITGEIST! “Entendemos por médico tanto aquele que pratica a medicina como artista [acepção de formado profissionalmente] como aquele que ordena e aquele que adquiriu conhecimentos na arte tais como se encontram em todos os demais [autodidata]. Estes últimos não são menos competentes para julgar do que os doutores.”

* * *

IGUALDADE E IGUALDADE

Ora, um dos apanágios da liberdade é que todos alternadamente mandem e obedeçam. Desta diferença entre perpetuidade e alternância dependem a disciplina e a instituição. Se houvesse uma raça de homens que superasse tanto os outros quanto imaginamos que os deuses e os heróis o fazem; se essa superioridade se manifestasse primeiramente pelo porte e pela boa aparência, depois pelas qualidades da alma, e fosse indubitável para os inferiores, o melhor sem contestação seria que seu governo fosse perpétuo e que as pessoas se submetessem a ele de uma vez por todas. Mas como, com exceção, segundo Scyllax, dos indianos, de ordinário os reis não apresentam superioridade tão acentuada sobre seus súditos, é preciso que todos os cidadãos mandem e obedeçam alternadamente, e isto por várias razões.”

Aos descontentes se soma a gente do campo, sempre ávida de novidades, e qualquer que seja o número dos altos funcionários não pode ser grande o bastante para que eles sejam os mais fortes.”

Ninguém se zanga ou se sente desonrado por ceder aos mais velhos, na esperança de alcançar as mesmas honras quando tiver a idade conveniente. Pode-se, portanto, dizer que os mesmos mandam e obedecem, mas são, porém, diferentes; assim, a disciplina deve ser em parte a mesma e em parte diferente. Pois, de acordo com o provérbio, para bem comandar é preciso ter antes obedecido.

várias funções que à primeira vista pareceriam servis podem ser executadas honestamente por homens livres. A honestidade e a torpeza residem menos na natureza do ato do que no motivo que faz agir.”

um homem não deve se submeter a ninguém, ou que isto só deve acontecer se houver desforra, conseqüência necessária da liberdade distribuída a todos em igual medida.” Memes de internet são desforra?

PRINCÍPIOS DEMOCRÁTICO-ARISTOTÉLICOS:

(*)“os magistrados devem ser sorteados, ou todos sem exceção, ou pelo menos aqueles cujo cargo não requer nem luzes, nem experiência”

(*)“não se deve ter (…) nenhuma consideração para com a fortuna”

(*)“a mesma magistratura não deve ser conferida mais de uma vez à mesma pessoa, ou pelo menos que isto aconteça raramente e para pouquíssimos cargos, a não ser os militares”

(*)“todos os cargos devem ser de curta duração, ou pelo menos aqueles onde esta breve duração for conveniente”

(*)“todos devem passar pela judicatura, de qualquer classe que sejam, e ter poder para julgar sobre todos os casos em qualquer matéria, mesmo as causas da mais alta importância para o Estado, tais como as contas e a censura, a reforma do governo, assim como as convenções particulares”

(*)Judiciário fraco, legislativo e executivo sumamente poderosos (limite da abordagem pré-Montesquieu).

(*)“os membros do senado não devem ser indistintamente assalariados. Os salários arruínam o poder da magistratura; o povo, ávido de salários, atrai tudo para si”

(*)“Não se deve tolerar nenhuma magistratura perpétua. Portanto, se sobrar alguma magistratura do antigo regime, suas atribuições serão reduzidas e, de eletiva, passará a depender de sorteio. Eis o espírito de todas as democracias.

Sem contestação, o melhor povo é o que se ocupa de agricultura. Existe, pois, disposição natural para a democracia em todos os lugares em que o povo tira sua subsistência da agricultura ou da criação de gado.” “Consideram mais agradável trabalhar do que permanecer sentadas, de braços cruzados, a deliberar sobre o governo ou gerir magistraturas, a menos que haja muito que ganhar neste trabalho, pois a maioria prefere o lucro à honra. A prova de sua despreocupação quando não se desperta sua cupidez é que suportaram muito bem seus antigos déspotas e ainda hoje se acostumam com a oligarquia quando os deixam trabalhar e não tiram seus pertences. Então, eles logo alcançam a riqueza, ou pelo menos a abastança. Se tiverem além disso alguma ambição, ela é mais do que satisfeita pelo direito de voto que lhes dão nas eleições e na auditoria das contas. E mesmo que nem todos tivessem direito de assistir a elas, mas apenas o de ser voz deliberativa nas Assembléias primárias. Com efeito, é preciso considerar isto como uma das formas do governo democrático. Era esta que havia em Mantinéia.”

Esta Constituição deixará contentes os homens de bem e os nobres. Por um lado, terão a vantagem de não serem governados por pessoas baixas; por outro lado, quando chegar a sua vez, tomarão mais cuidado para governar eqüitativamente, pois terão contas a prestar e outras pessoas que os julgarão, pois é bom depender de alguém e não ter toda a liberdade para fazer o que se quer. Esta liberdade indefinida é uma má garantia contra o fundo de maldade que todo homem traz consigo ao nascer. Resulta necessariamente desta precaução a maior vantagem para todo Estado, que é ser governado por pessoas de bem que a responsabilidade torna por assim dizer impecáveis, e isto sem ameaçar a superioridade do povo. É evidente que a melhor de todas as democracias é a que é assim constituída. Por quê? Porque nela o povo tem sua importância.”

Dentre as excelentes leis que existiam antigamente entre vários povos, observamos sobretudo as que não permitiam a ninguém possuir terras ou acima de certa quantidade, ou a uma distância grande demais da cidade onde se mora. Em vários Estados era proibido alienar a herança paterna. Uma lei de Oxilus, cujo efeito é aproximadamente o mesmo, proibia que se hipotecasse parte dela aos credores. Podemos retificá-la por um texto dos afitianos que vem bem a propósito. Esse povo, embora numeroso, possuía um território bastante pequeno; todos eram lavradores, mas nos registros do censo não constava a totalidade de suas propriedades. Dividiam-nas em certo número de partes disponíveis, para que os pobres pudessem adquiri-las em quantidade suficiente para ultrapassar até mesmo os ricos.

Depois dos agricultores, o melhor povo é o que leva a vida pastoril e explora o gado. Tem muitas afinidades com o primeiro. Ambos, habituados ao trabalho corporal, são excelentes para as expedições militares e resistem perfeitamente aos incômodos do bivaque [acampamento e vigília militar].

Quase todos os outros povos que compõem o restante das democracias estão muito abaixo destes dois. Nada de mais vil, nem de mais alheio a todo tipo de virtude do que esta multidão de operários, de mercenários e de gente sem profissão. Esta espécie de indivíduos corre sem parar pela cidade e pelas praças públicas e só fica contente nas Assembléias.”

Vemos como deve ser constituída a primeira e a melhor democracia, e também como podem sê-lo as outras. Basta que nos afastemos gradualmente da primeira e adicionemos aos poucos a populaça, à medida que a democracia for piorando.”

A XENOFOBIA DE VERDADE NASCE QUANDO A XENOFOBIA PASSA A SER COISA DO PASSADO: “Para constituí-la [a última democracia] e firmar o poder do povo, os governantes costumam receber o máximo possível de pessoas e conceder direito de cidadania não apenas aos que têm um nascimento legítimo mas até aos bastardos e aos mestiços de qualquer dos dois lados, paterno ou materno.” “preciso introduzir a atenuante de só admitir recém-chegados na medida em que forem necessários para intimidar os nobres e a classe média, sem jamais ultrapassar este limite. Se isso acontecer, a desordem não tardará a reinar por toda parte. Os nobres, que já têm muita dificuldade para suportar este governo, se irritarão cada vez mais. Esta foi a causa do levante de Cirene. Fecham-se os olhos diante de um pequeno inconveniente, mas quando ele assume certa dimensão, não podemos deixar de vê-lo.”

Deve-se dividir o povo em tribos e cúrias, dissolver os cultos particulares e reconduzi-los à unidade do culto público; numa palavra, imaginar todos os meios possíveis para unir todos os cidadãos e extinguir todas as corporações anteriores; nem mesmo desdenhar certas invenções que, embora de origem tirânica, não deixam de ser populares, como o desregramento dos escravos, que pode ser útil até certo ponto, a emancipação das mulheres e das crianças, a conivência sobre o gênero de vida que agrada a cada um: nada tem melhores efeitos para essa democracia. A dissolução agrada a muito mais gente do que uma conduta regrada.”

* * *

NA PLUTOCRACIA

Na melhor oligarquia: “A divisão pelo censo deve ser tal que aqueles que têm a renda exigida sejam mais numerosos e mais fortes dos que os que não são admissíveis. Mas também é preciso ter sempre a intenção de que aqueles que são associados ao governo venham somente da parte sadia do povo.”

É o número e a abundância de homens que salvam as democracias; sua consistência vem de uma razão diametralmente oposta ao mérito. A oligarquia, pelo contrário, só pode conservar-se pela melhor ordem de suas partes.

Assim como a multidão se compõe principalmente de quatro classes, a saber: 1a os agricultores, 2a os ligados às artes e ofícios, 3a os comerciantes, 4a os trabalhadores manuais,¹ assim também existem quatro tipos de guerreiros, a saber: 1° a cavalaria, 2° os hoplitas ou infantaria armada dos pés à cabeça, 3° a infantaria ligeira, 4° a marinha.”

¹ Curioso como hoje em dia mal se pode distinguir uma da outra!

Os lugares mais propícios à primeira espécie de oligarquias são os chamados bippasimos, isto é, próprios, por suas campinas, à criação de cavalos. Esses lugares são propícios à oligarquia mais poderosa. Seus habitantes são protegidos e conservados pela cavalaria. Ora,

só a classe opulenta pode ter haras.

Quando o lugar só oferece homens e armas, a segunda oligarquia convém-lhe mais. A armadura completa necessária à grande infantaria só pode ser fornecida pelos ricos e ultrapassa os recursos dos pobres.

É a arraia-miúda que compõe a infantaria ligeira e os marinheiros. Em toda parte onde abunda essa turbaperigo de democracia para os ricos. Se acontece alguma divisão, os combates de ordinário terminam desfavoravelmente para eles. Para sanar este inconveniente, é preciso contar com hábeis generais que misturem à cavalaria e à infantaria pesada um número suficiente dessa tropa ligeira; assim apoiada, ela combate com maior desenvoltura. Porém, criar uma força dessa espécie, vinda do seio do povo, é armar-se contra si mesmo e trabalhar para sua própria destruição. Nas sedições, o povo vence os ricos através da infantaria ligeira. Ágil e alerta, ela facilmente domina a cavalaria e a infantaria pesada. Portanto, distinguindo as idades, é preciso encarregar os velhos de fazer com que seus filhos pratiquem os exercícios ligeiros e, ao sair da juventude, tomem os melhores destes alunos para colocá-los à frente dos outros.

Quanto ao restante do povo será admitido, como já se disse, no controle dos negócios públicos, quando atingir a taxa do censo exigido, ou, como entre os tebanos, depois que se tiver abstido das profissões mecânicas durante o número prescrito de anos, ou, como em Marselha, quando, tendo passado pela censura, tiver sido considerado digno do título de cidadãos e das funções cívicas.

Devem-se impor às grandes dignidades pesados encargos, para que o povo renuncie a eles de boa vontade e os deixe aos ricos, como se assim lhe pagassem os juros. Com efeito, os ricos, ao assumir o exercício, oferecerão pomposos sacrifícios, mandarão construir salas de banquetes ou outros edifícios destinados ao público, para que o povo, convidado a estes banquetes e encantado com a magnificência dos edifícios e outras decorações, veja com prazer o governo perpetuar-se.”

Não é isso o que hoje fazem os grandes de nossas oligarquias. Procuram nas dignidades, pelo contrário, não menos o lucro do que a honra. Dir-se-ia que são menos oligarquias do que democracias em transformação.”

* * *

E VIVA O GOVERNO MISTO…

Os que se chamam aristocráticos estabeleceram-se em muitos países por imitação de governos estrangeiros, e se aproximam tanto da República propriamente dita que de agora em diante falaremos destas duas formas como sendo uma só.”

…E VIVA A MEDIOCRIDADE: “O que dissemos de melhor em nossa Ética é que a vida feliz consiste no livre exercício da virtude, e a virtude na mediania; segue-se necessariamente daí que a melhor vida deve ser a vida média, encerrada nos limites de uma abastança que todos possam conseguir.”

UM LOUVOR (ANTIGO!) AO ÚLTIMO HOMEM, ‘INDA TÃO DISTANTE NO ESPECTRO DA (NOSSA) HISTÓRIA: “Em todos os lugares, encontram-se 3 tipos de homens: alguns muito ricos, outros muito pobres, e outros ainda que ocupam uma situação média entre esses dois extremos. É uma verdade reconhecida [por quem, cara pálida e exangue?] que a mediania é boa em tudo.”

Os da primeira classe, favorecidos demais pela natureza ou pela fortuna, poderosos, ricos e rodeados de amigos ou de protegidos, não querem nem sabem obedecer. Desde a infância, são tomados por essa arrogância doméstica e a tal ponto corrompidos pelo luxo que desdenham na escola até mesmo escutar o professor. Os da outra classe, abatidos pela miséria e pelas preocupações, curvam-se diante dos outros de modo que esses últimos, incapazes de comandar, só sabem obedecer servilmente. Os primeiros, pelo contrário, não obedecem a nenhuma ordem, mas mandam despoticamente.” Também é uma verdade, paradoxal que seja, que os melhores filósofos emanam justamente da CLASSE MÉDIA.

Por isso Focílides dizia que uma modesta abastança era o objeto de seus desejos, só pedindo ao céu ser ele próprio medíocre em sua pátria.”

a tirania surge de igual modo da insolente e desenfreada democracia e da oligarquia”

NOMENCLATURAS MONTESQUIEUANAS: Quando os pobres não têm este contrapeso, e começam a prevalecer pelo número, tudo vai mal e a democracia não tarda a cair no aniquilamento.”

Um poderoso argumento a favor da mediocridade é que os melhores legisladores foram cidadãos de média fortuna. Sólon declara-se tal em suas poesias, Licurgo tornou-se tal quando parou de reinar e Carondas também o era, como quase todos os outros.”

jamais ou raramente aconteceu, e entre muito poucos povos, que se tenha optado por uma República média. Entre os príncipes não há um só exemplo desta moderação, em toda a antiguidade; em todas as outras partes, virou costume recusar a igualdade e procurar dominar quando se sai vencedor, ou ceder e obedecer quando se é vencido.”

o árbitro mais conveniente é aquele que, colocado entre dois, não pende mais para um lado do que para o outro” Infelizmente a classe média brasileira pende mais para o tio do pavê e o véio da Havan…

O censo não pode determinar-se pura e simplesmente. É preciso, porém, que o seja com a máxima amplitude possível, para que os participantes sejam mais numerosos do que os não-participantes. Quanto aos pobres, eles se consolam por não participarem e ficam descansados se não os ultrajam e lhes deixam os poucos bens que possuem, o que nem sempre acontece, pois os indivíduos de condição que pretendem os cargos públicos às vezes não são nem corteses, nem humanos. Resulta daí que, se houver guerra, os pobres a evitam, a menos que os sustentem. Mas se os sustentarem, passam a desejá-la.

Em alguns lugares, o governo é formado não apenas por aqueles que portam armas, mas pelos que as portavam. Os malianos escolhiam seu Conselho dentre estes, e seus magistrados dentre os guerreiros em atividade. O primeiro Estado entre os gregos foi organizado com esta espécie de cidadãos, depois da extinção das monarquias; e em primeiro lugar com cavaleiros, pois a força e a superioridade dos exércitos consistiam então na cavalaria. Pois as outras tropas de nada servem se não tiverem disciplina, e antigamente não havia nem disciplina, nem experiência na infantaria, de sorte que a cavalaria sozinha constituía toda a força do Estado.

Mas como os Estados cresceram e ganharam consideração através das outras armas, o governo foi comunicado a um maior número de pessoas. Assim, o que hoje chamamos de República era então chamado de democracia.¹”

¹ Resta saber a quando remonta esse “então” de Aristóteles: poderia estar falando já do tempo de Sócrates, não tão pretérito ao seu? Tem-se aí que Aristóteles já divisava o que a ciência política moderna divisa entre os gregos: sua democracia era com certeza uma oligarquia ou aristocracia, conforme fosse saudável ou decadente (ainda sem contar a chusma de escravos da polis).

* * *

STOP THE REVOLUTION!

Para terminar, é normal examinar de onde vêm as revoluções dos Estados, quantas causas podem provocá-las e quais são elas, a que depravações cada governo em particular está sujeito e quais são os meios de preservação, os remédios gerais e específicos para essas perturbações.”

A excelência do mérito é a única superioridade absoluta, e os homens que se sobressaem quanto ao mérito são os que menos provocam revoltas.”

INCÊNDIO NA BABILÔNIA DEMORA A ESPALHAR: “Do fato de as pessoas habitarem o mesmo lugar não se segue que se trata de uma única e mesma Cidade. Os muros não podem servir de critério, pois todo o Peloponeso poderia ser cercado por uma mesma muralha. Não seria a primeira vez que vastos espaços seriam assim fechados. Assim são todas as grandes cidades, que se parecem menos com cidades do que com uma nação inteira, como a Babilônia. Três dias já se haviam passado, dizem, desde que fôra tomada e em vários bairros ainda de nada se sabia.”

São também questões de política saber se convém que um Estado só contenha uma nação ou várias, se continua a ser o mesmo enquanto conserva o mesmo gênero de habitantes, apesar da morte de uns e do nascimento de outros, como os rios e as fontes, cuja água corre sem cessar para dar lugar à água que sucede.”

permanecendo os mesmos atores, o coro não deixa de mudar quando passa do cômico ao trágico.” “Permanecendo as mesmas vozes e os mesmos instrumentos, o canto não é mais o mesmo quando passa do modo dórico ao modo frígio. Isto posto, é a forma e não a matéria que decide se um Estado permanece o mesmo e se se deve, apesar da identidade de habitantes, chamá-lo de outro nome ou conservar-lhe o nome, embora seus habitantes tenham mudado.”

PRINCÍPIO DA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA PAULATINA (COMO NA SOLTURA DE ESCRAVOS): “Os crescimentos desmedidos de uma classe relativamente às outras também são causas de revolução. Assim, os membros que compõem um corpo devem crescer proporcionalmente, para que subsista a mesma comensura. O animal morreria se o pé, por exemplo, crescesse até 4 côvados, não tendo o resto do corpo mais do que 2 palmos”

MEGA-SENA DA VIRADA: “As modificações ocorrem com as democracias, mas são mais raras. Por exemplo, quando a quantidade de pobres aumenta e vários deles se tornam ricos, ou então quando os bens dos ricos aumentam de valor, passa-se à oligarquia, e até à oligarquia concentrada que chamamos politirania.

Às vezes, sem que haja sedição, o governo muda em razão de seu aviltamento, como em Heréia, onde começaram a se envergonhar das eleições e os magistrados foram depois sorteados, por causa da torpeza dos eleitos.”

Algumas vezes a mudança se realiza através de progressos imperceptíveis; no final, fica-se admirado vendo os costumes e as leis mudadas sem que se tenha atentado para as causas ligeiras e silenciosas que preparam as mudanças. Na Ambrácia, por exemplo, depois de ter escolhido magistrados de pequena fortuna, passou-se a admitir pouco a pouco alguns que não possuíam nada. Ora, há pouca ou nenhuma diferença entre nada e muito pouco.”

Todos os que admitiram estrangeiros para residir em sua cidade, foram quase sempre enganados por eles, como os de Trezena, que, em Síbaris, receberam os aqueus. Foram obrigados a ceder-lhes o lugar quando o número deles aumentou, o que causou a desgraça. Os sibaritas retiraram-se para Túrio e ali fizeram a mesma tentativa, mas, querendo dispor do território como senhores, foram vencidos e expulsos. Os bizantinos sofreram algo semelhante da parte de estrangeiros e tiveram subitamente que recorrer às armas para repeli-los. Os antisianos, que de modo semelhante haviam aceitado os banidos de Quios, também se viram obrigados a livrar-se deles pela força. Os zanclianos foram vencidos e expulsos pelos de Samos, que os tinham recebido. Também foram estrangeiros que perturbaram os apoloniatas do Ponto Euxino. Os siracusanos, após a expulsão de seus tiranos, tendo tornado cidadãos alguns soldados e mercenários estrangeiros, tiveram tantos aborrecimentos por causa disso que foi preciso romper com eles. Os de Anfípolis foram quase todos expulsos pelos de Cálcis, por tê-los recebido em sua cidade.”

Às vezes a sedição parece derivar da própria natureza do lugar que foi mal-escolhido para habitação. Em Clazômenas, os habitantes do Centro (ou bairro dos banhos) detestam os da ilha; em Cólofon, a parte do norte odeia a do sul; em Atenas, o pireu é mais democrático do que a cidade. Pois, assim como num exército, um riacho, mesmo bem pequeno, pode romper a falange, assim também, numa cidade, qualquer diferença de habitação basta para quebrar, o entendimento e o acordo entre os habitantes.”

Antigamente, em Siracusa, o Estado foi perturbado por dois jovens magistrados rivais em amor. Durante a ausência de um, o outro conquistou sua amada. O despeito, quando ele voltou, sugeriu-lhe atrair e seduzir a mulher de seu rival. Tendo cada um deles conseguido o apoio de outros magistrados, a discórdia espalhou-se por toda a cidade. Portanto, nunca é cedo demais para abafar as brigas dos altos funcionários e dos grandes. O mal está na origem. Em tudo, o que começou já está feito pela metade. O menor erro cometido no início repercute em tudo que se segue.”

O noivo, por lhe terem predito que a união lhe traria desgraça, hesitou em tomar sua noiva e a deixou sem nada concluir. Os pais da moça, considerando-se insultados, acusaram falsamente o jovem de ter roubado durante a celebração de um sacrifício o dinheiro do tesouro sagrado e o fizeram morrer como sacrílego.”

todos os que, quer na condição privada, quer na magistratura, quer em família, quer em tribo ou qualquer outra associação que possa haver, proporcionaram ao Estado algum acréscimo de potência, sempre ocasionaram certa perturbação, quer começada por invejosos, quer por terem eles próprios, envaidecidos com o sucesso, desdenhado permanecer nos limites da igualdade.”

se uma das duas facções se torna muito superior, a porção média não quer arriscar-se contra quem tem uma superioridade evidente.”

em Atenas os Quatrocentos lograram o povo com a falsa esperança de que o rei da Pérsia ajudaria com seu dinheiro os atenienses a fazerem guerra contra os espartanos, e assim se apossaram do governo.”

o temor diante do perigo comum tem o efeito de reconciliar os maiores inimigos.”

Em Rodes, distribuíram aos soldados todo o dinheiro proveniente dos impostos e impediram que os capitães das galeras recebessem o que lhes era devido, acusando-os de vários delitos. Para evitar, então, a punição, os acusados foram obrigados a conspirar contra a democracia e a derrubaram.”

Antigamente, quando o mesmo personagem era demagogo e general de exército, as democracias não deixavam de se transformar em Estados despóticos. Com toda certeza, os antigos tiranos originaram-se dos demagogos. Isso já não acontece com tanta freqüência quanto antigamente, pois então, não estando ainda exercitados comumente na arte de bem falar, as armas eram o único meio de se obter poder. Hoje que a eloqüência foi levada ao mais alto grau de perfeição e goza da maior estima, são os oradores que governam o povo. (…) Assim, as usurpações da suprema autoridade eram mais freqüentes no passado do que no presente, porque se davam a alguns cidadãos magistraturas de alta importância, como em Mileto a Pritania, e se submetiam à decisão deles os maiores interesses. Aliás, as cidades estavam longe de ser tão grandes, já que o povo preferia morar no campo, ocupando-se com seus trabalhos rústicos. Portanto, se esses magistrados eram guerreiros, apossavam-se do governo. Seu principal recurso era a confiança que obtinham do povo, pelo ódio que demonstravam contra os ricos. Foi assim que Pisístrato obteve a tirania de Atenas; querelando contra os habitantes da planície; Teagênio, a de Mégara, mandando matar o gado dos proprietários, quando o encontrou passando à margem do rio; e Dionísio, a de Siracusa, acusando de traição Dafne e os grandes, artifícios que eram tidos como ímpetos de patriotismo e davam popularidade.”

quando a oligarquia está de acordo consigo mesma, não é fácil destruí-la. Temos um exemplo disto no Estado de Farsala, onde poucos homens mantêm grande número deles na obediência, porque estão em harmonia e se conduzem bem entre si.”

Em tempo de guerra, os magistrados, desconfiando do povo, são obrigados a chamar tropas estrangeiras e não raro aquele a quem confiam o comando se torna seu tirano, como Timófanes em Corinto. Se tal comando é confiado a vários, estes se coalizam numa dinastia, ou então, temerosos de serem pegos no mesmo truque, fazem com que o povo participe do governo, para reconciliarem-se com ele. Em tempo de paz, os oligarcas, desconfiados uns dos outros, entregam a guarda do Estado a seus soldados, sob o comando de algum general neutro, o qual às vezes acaba por se tornar senhor dos dois partidos, como aconteceu em Larissa sob o comando dos Alevadas (Aleuadas) de Samos e em Ábido, no tempo das facções, das quais uma era a de Ifíade.” “Várias oligarquias, como as de Cnido e de Quios, também foram destruídas por serem despóticas demais, e isso por senadores irritados com a insolência dos outros.”

A tirania reúne os vícios da democracia aos da oligarquia. Ela tem em comum com a segunda o fato de propor-se a opulência como fim (sem isso ela não teria condições de manter a guarda e a magnificência), de desconfiar do povo, de desarmá-lo, de oprimi-lo, de expulsá-lo das cidades e dispersá-lo pelos campos ou colônias. Da democracia, ela toma a guerra aos nobres, sua destruição aberta ou clandestina, seu banimento, considerando-os como rivais ou como inimigos de seu governo. De fato, é de ordinário desta classe que procedem as conspirações, querendo alguns deles dominar eles próprios, e outros temendo ser escravos. Assim, vimos Periandro aconselhar Trasíbulo a cortar as espigas mais altas, isto é, desfazer-se dos cidadãos mais eminentes.

Os ofendidos conspiram, na maioria dos casos, para se vingarem, e não em seu próprio proveito. Assim foi a conjuração contra os filhos de Pisístrato; ela teve por causa a injúria feita à irmã de Harmódio e a ofensa que ele próprio sentira na ocasião. Harmódio armou-se para vingar a irmã, Aristogíton para vingar Harmódio. Periandro, tirano de Ambrácia, permitiu que conjurassem contra ele por ter perguntado num banquete a uma de suas amantes se estava grávida de um filho seu. Pausânias matou o rei Filipe porque este desdenhava vingá-lo do ultraje que Átalo lhe fizera. Derdas conspirou contra Amintas, que se vangloriava de ter colhido a flor de sua juventude. Evágoras de Chipre foi morto por Eunucus, cuja esposa fôra raptada pelo filho daquele príncipe.” “Xerxes, bêbado de vinho, encarregara Artábano de crucificar Dario. Artábano, crendo que o príncipe se esqueceria dessa ordem por ter sido dada no auge da embriaguez, não a executou. Quando Xerxes deu mostras de sua cólera por isso, Artábano o matou para evitar sua própria perda.”

O desprezo torna infiéis até mesmo os protegidos. A confiança com que são honrados persuade-os de que poderão de repente tentar um golpe seguro. O pouco caso que têm pelo monarca também torna audaciosos os que ganharam poder e acreditam poder tornar-se senhores do Estado. (…) foi o que fez Ciro contra Astiago, cujos costumes eram desprezíveis e a incapacidade evidente, já que vivia na moleza e seu exército estava irritado com a ociosidade.”

A magnanimidade somada ao poder transforma-se em ousadia.”

Os que conspiram para conseguir um nome são de uma espécie completamente diferente. Não atacam os tiranos pelas honras e pelas riquezas, mas sim para conquistar a glória e fazer com que falem deles. O desejo de um grande nome e da memória da posteridade faz com que arrisquem grandes façanhas, mas pessoas deste tipo são raras. É preciso estar, como Díon, O Bravo, disposto ao sacrifício da própria vida e a perder tudo, se falhar o golpe. A natureza não engendra facilmente almas tão heróicas.”

Os Estados opostos, por exemplo uma democracia vizinha a uma tirania, são tão inimigos quanto os oleiros o são dos oleiros, no dizer de Hesíodo, pois a pior espécie de democracia é ela própria uma tirania. O mesmo ocorre com a monarquia e a aristocracia. Por isso os espartanos e os siracusanos, enquanto foram bem-governados, destruíram várias tiranias.

Algumas vezes a tirania morre por si mesma, quando ocorre uma divisão entre os pretendentes, como outrora a de Gelão e em nossos dias a de Dionísio.”

quase todos os usurpadores conservaram a soberania durante a vida, apesar do ódio público, mas quase todos os seus sucessores perderam-na incontinente. A vida dissoluta que levam faz com que caiam no desprezo e dá mil ocasiões de os exterminar.”

CÓLERA COM “CO” DE “CORAÇÃO PURO”: “A cólera está ligada ao ódio e produz quase os mesmos efeitos, mas é ainda mais enérgica. Os que são animados por ela insurgem-se com mais violência, não podendo, na perturbação da paixão, ouvir os conselhos da razão.” “Ao passo que a cólera é acompanhada de uma dor que não permite raciocinar, a animosidade isenta desse ardor calcula e age silenciosamente.”

vemos hoje muito poucos Estados governados por reis. [!] Se existem ainda alguns, são de preferência monarquias absolutas e tiranias. A realeza é uma dignidade estabelecida voluntariamente, cujo poder se estende às maiores coisas. Ora, como a maioria dos homens se assemelha e raramente se encontra alguém tão perfeito para corresponder à grandeza e à dignidade do cargo, as pessoas não se submetem de bom grado a semelhantes instituições. Se alguém quiser reinar por astúcia ou por violência, não haverá monarquia, mas sim tirania.”

Historicamente, a monarquia tirânica é, juntamente com a oligarquia, a forma de Estado menos duradoura. A mais longa tirania foi a de Ortógoras e de seus descendentes, em Sícion. Durou cem anos. (…) 73 anos e 6 meses reinou a dinastia: Cipselo reinou 30 anos, Periandro, 40, e Psamético, filho de Górdias, 3.” “A terceira [tirania mais longa] foi a dos Pisistrátidas, em Atenas. Mesmo assim, a tirania de Pisístrato se viu duas vezes interrompida por sua expulsão, de modo que, de 33 anos, só reinou de fato por 17 e seus filhos mais 18, o que perfaz no total 35.”

Só se sente o mal quando está consumado. Como ele não acontece de uma vez, seus progressos escapam ao entendimento e se parecem àquele sofisma que do fato de cada parte ser pequena inferir-se que o todo seja também pequeno.”

Assim, aqueles que velam pela sua segurança devem inventar de tempos em tempos alguns perigos e tornar mais próximos os perigos que estão distantes, a fim de que os cidadãos informados estejam sempre alertas, como sentinelas noturnas.”

MUITA HORA NESTA CALMA: “Não valorizar demais quem quer que seja e não distribuir nenhuma honra excessiva, mesmo que breve. Se se acumulam muitos cargos em uma só pessoa, tais cargos devem ser-lhe retirados aos poucos, e não todos de uma vez. Será sobretudo conveniente estabelecer através das leis que ninguém possa adquirir poder, crédito ou riqueza demais, ou que sejam afastados os que tiverem demais.”

O vulgo zanga-se menos por estar excluído do governo do que por ver os magistrados viverem às custas do tesouro público. É até muito cômodo dispor de todo o tempo para cuidar dos negócios particulares. Mas se estiver persuadido de que os titulares dos cargos públicos pilham o Estado, terá a dupla vexação de estar afastado tanto dos cargos públicos quanto dos lucros pecuniários.”

ENTÃO ME PROCESSA! “Aqueles que se preocupam com a segurança do Estado devem, em vez de se apoderar em proveito do povo dos bens dos condenados, consagrá-los à religião. A pena será a mesma e deterá igualmente os crimes, mas o povo terá menos pressa para condenar, pois não tirará nenhum proveito da sentença. Além disso, os legisladores devem fazer com que as acusações públicas se tornem muito raras, estabelecendo penas pesadas contra os que agirem levianamente, pois não são as pessoas do povo, mas sim as dos meios refinados que assim se costumam atacar e humilhar.”

Se houver rendas suficientes, não se deve, como fazem os demagogos, distribuir à arraia-miúda o dinheiro que sobrar. Mal o recebem e já voltam a cair na indigência, pois essas pessoas são tonéis furados a que essa liberalidade não traz nenhum proveito.”

O melhor emprego das rendas públicas, quando a sua percepção está terminada, é auxiliar amplamente os pobres, para colocá-los em condições ou de comprar um pedaço de terra ou os instrumentos para a lavoura, ou de abrir um pequeno comércio. Se não for possível ajudá-los a todos, deve-se pelo menos verter os subsídios na caixa de alguma tribo ou cúria ou de alguma porção do Estado, ora uma, ora outra. Far-se-á com que os ricos contribuam para as despesas das Assembléias necessárias, de preferência a esbanjamentos frívolos e meramente aparatosos. Por meio disso, o governo cartaginês tornou-se popular, empregando sempre alguém do povo nas administrações provinciais, para que aí fizessem fortuna.”

para eleger um general de exército, deve-se considerar mais a experiência militar do que a virtude, pois há menos generais experientes do que homens virtuosos. O caso é totalmente contrário no que diz respeito à administração das finanças, pois aí é preciso mais probidade do que tem o comum dos homens.”

A FEIÚRA DO ESTADO: “Um nariz que se afasta da linha reta, que tende para o aquilino ou é arrebitado, ainda pode agradar; mas se se alongar ou se encurtar demais, primeiro sairá da justa medida e, por fim, cairá tanto no excesso ou na falta que não será mais um nariz. O mesmo ocorre com as outras partes do corpo, e também com os regimes. A oligarquia e a democracia podem subsistir, embora se afastando de seu desígnio e de sua perfeição. Mas se dermos demasiada extensão ao seu princípio, primeiro tornaremos pior o governo, e, no final, chegaremos a tal ponto que ele nem será mais digno deste nome.”

SEJA UM MILIONÁRIO APUD CF88 (SÓ PODIA DAR MERDA): “O mais importante meio para a conservação dos Estados, mas também o mais negligenciado, é fazer combinarem a educação dos cidadãos e a Constituição. Com efeito, de que servem as melhores leis e os mais estimáveis decretos se não se acostumar os súditos a viverem segundo a forma de seu governo? Assim, se a Constituição for popular, é preciso que sejam educados popularmente; se for oligárquica, oligarquicamente; pois se houver desregramento em um só súdito, este desregramento estará então em todo o Estado.”

MANUAL DO TIRANO PRUDENTE (QUASE UMA ANTINOMIA): “Deve-se manter espiões por toda parte, saber tudo o que se faz e tudo o que se diz, destacar agentes e espiões, como fazia Hierão em Siracusa, colocando-os em toda parte onde havia uma reunião ou um conciliábulo. Não se é tão ousado quando se tem algo a temer de tais vigilantes e, quando se é, fica-se sabendo.” “Empobrecer os cidadãos, a fim de que não possam formar uma guarda armada e, absorvidos nos trabalhos de que precisam para viver, não tenham tempo de conspirar. Como exemplo dessas manobras, temos as pirâmides do Egito, os templos dedicados aos deuses pelos Cipsélidas, o de Zeus Olímpico pelos filhos de Pisístrato, as fortificações de Samos por Polícrates, que são todas coisas que tendem aos mesmos fins de ocupação e empobrecimento. Aumentar o peso dos impostos, como em Siracusa no tempo de Dionísio onde, em 5 anos, foram obrigados a dar em contribuições tudo o que valia a terra.” “Fazer uso dos recursos da extrema democracia, como a atribuição do governo doméstico às mulheres, para que elas revelem os segredos de seus maridos, e o afrouxamento da escravidão, para que também os escravos denunciem seus senhores.

SÍNDROME DE ESTOU-CALMO: “Os escravos e as mulheres nada tramam contra os tiranos e até, se tiverem a felicidade de ser bem-tratados por eles, afeiçoam-se necessariamente à tirania, ou à democracia, pois o povo também pode ser um tirano.”

Um prego expulsa outro” “os tiranos declaram guerra a todo homem de bem que tiver coragem. Esta categoria de pessoas é perniciosa a seu regime, por não quererem deixar-se tratar servilmente, serem francos com todos, sobretudo entre eles, e não denunciarem ninguém.” Vale para instituições na “democracia”. Beware where you step, fella.

Sendo senhor do Estado, não deve temer a falta de dinheiro. Mais vale para ele estar sem dinheiro para suas campanhas do que deixar em casa tesouros empilhados; com isto, ficarão menos tentados de abusar desse dinheiro os que, em sua ausência, governarem o Estado, pessoas muito mais temíveis para ele do que os meros cidadãos. Estes marcham com ele para o combate, enquanto que aqueles ficam na retaguarda.”

Que o tirano tenha também uma abordagem fácil e um ar grave, de modo que os que tiverem acesso a ele pareçam menos temê-lo do que respeitá-lo, o que homens desprezíveis não conseguem facilmente. Se não se preocupar com nenhuma outra virtude, que pelo menos seja cortês, tenha a política de passar por virtuoso, e se abstenha não apenas ele mesmo de toda injúria contra seus súditos, de qualquer sexo que for, mas também não tolere que nenhum de seus domésticos ofenda ninguém, e cuide de que suas mulheres se comportem da mesma maneira para com as outras mulheres. Pois há injúrias feitas por mulheres de tiranos que arruínam a tirania.”

Sobre a questão dos prazeres sensuais, que faça o contrário de seus êmulos de hoje, que não se contentam em se entregar a eles da manhã à noite, durante vários dias, mas ainda querem que todos saibam a vida que levam, para serem admirados como seres felizes. Que use moderadamente deste tipo de prazeres; que pelo menos tenha a aparência de não correr atrás deles, e até de procurar furtar-se a eles. Não se surpreende com facilidade e não se despreza um homem sóbrio, mas sim um homem bêbado, nem um homem vigilante, mas sim um homem sonolento.” “Que demonstre principalmente muito zelo pela religião. Teme-se menos injustiça da parte de um príncipe que se crê seja religioso e parece temer aos deuses, e se está menos tentado a conspirar contra ele quando se presume que tem a assistência e o favor do Céu. Mas é preciso que sua piedade não seja afetada, nem supersticiosa.” “Que deixe para si mesmo a distribuição das honras e entregue a seus oficiais e aos juízes as punições.” “A própria punição das faltas deve evitar o ultraje. Só se deve fazer uso dele com uma espécie de jeito paternal.”

* * *

CONSTITUIÇÕES REAIS E IDEAIS, DEVANEIOS DE UM DISCÍPULO!

Em sua República, Platão propõe que as mulheres, as crianças e os bens sejam comuns aos cidadãos. De fato, neste diálogo, Sócrates preconiza a comunidade total.”

A comunidade de mulheres oferece grandes dificuldades, e se fosse preciso estabelecê-la não seria pela razão apresentada por Sócrates. O próprio fim suposto por ele para a associação política torna impossível este estabelecimento, e assim ele nada diz de preciso sobre este assunto.” Desapega!

ARISTÓTELES NÃO COMPREENDEU SEU PRÓPRIO MESTRE: “É, portanto, claro que a unidade, como alguns a apresentam, não pertence à essência de um Estado, e o que chamam de seu maior bem é a sua ruína.”

no serviço doméstico, quanto mais empregados houver, menos o trabalho é bem-feito.”

Haveria alguma dúvida em preferir a mera qualidade de primo em nosso costume à de filho no de Sócrates?” Sim.

ANÁLISE MAIS PERFUNCTÓRIA DO MAIOR LIVRO DA IDADE ANTIGA AINDA NÃO NASCEU: “Outro absurdo da comunidade de crianças é só se ter proibido o comércio amoroso dos dois sexos, e não o amor e suas intimidades de pai para filho, de irmão para irmão, que são o cúmulo da indecência e da torpeza [com referência em que absoluto? Que declaração mais platônica!]. Ora, não é estranho proibir as relações entre os dois sexos, em razão dos perigos da volúpia excessiva, e ser indiferente sobre essas familiaridades entre pai e filho, irmão e irmão?”

O encanto da propriedade é inexprimível. Não é em vão que cada um ama a si mesmo; tal amor é inato; só é repreensível o excesso chamado amor-próprio, que consiste em se amar mais do que convém. Tampouco é proibido amar o dinheiro, nem outra coisa da mesma natureza: todos o fazem.”

LONGO E INÚTIL IMBRÓGLIO, NO QUAL ROUSSEAU JÁ APARECERIA DANDO VOADORA PARA DEFENDER PLATÃO: “também contribui o preconceito existente de que os vícios que grassam em certos regimes procedem da propriedade, como esses eternos processos que sempre renascem entre os cidadãos por ocasião dos contratos, a corrupção de testemunhas e a adulação a que as pessoas se rebaixam diante dos ricos. Mas não é da propriedade dos bens que derivam esses males, mas da improbidade dos homens.” Engraçado como contradiz os capítulos precedentes da própria Política!

SERÁ QUE SE FAZ DE IMBECIL? “basta submeter a uma tentativa a comunidade socrática e se terá a prova de que ela é impraticável.” Dêem o Übermensch ao Último Homem e ele apenas será morto, dizimado, castrado ou ignorado…

De resto, Sócrates não explica e não deixa entrever facilmente qual será a forma de governo entre seus comunistas.” Haha. Bom, qual seria a graça se a República tivesse 80 tomos e não precisássemos pensar em nada?! Para começo de conversa, nem saberíamos quem foi Aristóteles…

Platão ou, se quiserem, Sócrates, que ele faz falar, tampouco trata de uma maneira satisfatória das revoluções ou das transformações de Estado.” Hm, verdade?

É da ordem da natureza que nada seja eterno e tudo mude após certo período de tempo. A mudança ocorre quando o número elementar epiternário, combinado com o número quinário, dá dois acordes e é elevado ao cubo.”

Comete o erro torpe e juvenil de misturar seu sistema completamente arbitrário de formas de governo com um outro, que aliás não entendeu (pois se entendesse, não teria criado o seu): “E por que essa República passaria a ter a forma espartana, se a maior parte das outras se transforma no Estado contrário e não no que se lhes aproxima? Deve haver a mesma razão em toda mudança. Segundo ele, a forma espartana se transformará em oligarquia; a oligarquia, em democracia; a democracia, em tirania, embora também se transformem no sentido contrário, a saber, a democracia em oligarquia, mais até do que em monarquia. Além disso, não fala da tirania e não diz se sofre ou não mutação, nem por que causa, nem em que espécie de República. Deixa este ponto indeterminado, como algo em que a exatidão não seja fácil.¹ Segundo ele, a mudança deveria retornar à primeira e melhor espécie, de tal forma que haveria um circuito contínuo; mas a tirania algumas vezes dá lugar a outra tirania, como em Sícion a de Míron sucedeu à de Clístenes; ou a uma oligarquia, como em Cálcis, a de Antileo; ou uma democracia, como em Siracusa, a de Gelão; ou à aristocracia, como a de Carilau na Lacedemônia, e também em Cartago.²”

¹ Na verdade não precisou falar da tirania pela razão oposta: porque é muito fácil; todo homem sabe o que é e no que consiste a tirania.

² Parabéns, discípulo, fez o dever de casa: mas és filósofo ou historiador? É que estou com a memória ruim hoje…

As leis, que Platão escreveu depois, são aproximadamente do mesmo gênero que A República.” Mas com muito mais homofobia, não é mesmo? Afinal, por que, já tão velho, se dar ao trabalho de escrever tanto?

FIGHT RANÇO WITH RANÇO (A ARTE DAS CAROLINAS): “Todas as palavras que neste livro atribui a Sócrates são cheias de superfluidades pomposas e de novidades problemáticas, cuja apologia talvez fosse difícil fazer.”

O mesmo autor contenta-se com dizer que, assim como a cadeia difere da trama pela lã, deve haver algum atributo que distinga os que mandam e os que obedecem, mas não explicita quais são estas marcas distintivas.” Ele queria que você adivinhasse.

NÃO ERGAS PONTES QUE NÃO TENS O TALENTO DE ERGUER! “Sua forma de governo não é nem uma democracia, nem uma oligarquia, mas um regime médio que ele chama propriamente de ‘republicano’, composto inteiramente de militares. Se propôs esta forma por ser a mais geralmente consagrada em todas as sociedades civis, talvez tenha razão; se foi como a melhor depois da primeira d’A República, ele está enganado. Sem contestação, preferir-se-á o Estado de Esparta ou algum outro mais aristocrático.” Até hoje não se sabe muito bem a relação entre as Leis e a República, falo isso por experiência própria. Na dúvida quanto ao que falar, melhor calar a boca. E olha que eu meti o pau em metade dos livros das Leis nas minhas traduções!

Obrigado pela explicação, mas eu não pedi – e, ademais, achei que você disse a mesma coisa ali em cima, com suas próprias palavras (“o rico deve ser punido pela apatia política, o pobre incentivado”, é mais ou menos a sinopse de tudo), e sem nenhum indício de ironia (há poucos parágrafos, Ari. tinha criticado Sócrates-Platão por NÃO haver estipulado classes na República, mas agora o critica por segregar nitidamente sua polis, nas Leis!): “Na verdade, todos são convocados para as eleições, mas são obrigados a escolher primeiro entre a primeira classe de ricos, depois na segunda e depois na terceira; os da terceira e da quarta classes, porém, não são forçados a dar seu voto, e só é permitido aos da primeira e da segunda eleger entre os da quarta; é preciso apenas que cada classe forneça o mesmo número de eleitos. Portanto, a maioria e os principais sairão do grupo dos mais ricos, não se envolvendo o povo na eleição porque a lei não o força a isso.”

* * *

Faléias de Calcedônia põe os artesãos no grupo dos escravos públicos, sem lhes dar nenhum lugar entre os cidadãos. Quanto aos que se empregam nos trabalhos públicos, vá lá. Mas, mesmo assim, isso deve ser feito como se estabeleceu em Epidamno, ou como Diofante determinou antigamente em Atenas.”

Hipódamo de Mileto não deseja que os julgamentos se façam por meio de bolas; pretende que cada um traga uma tabuleta onde inscreva seu assentimento, se simplesmente condenar, ou então indique que condena sobre o principal e absolve quanto ao resto. Condena a forma empregada em nossos tribunais, pela qual, diz ele, os juízes não-raro são forçados a julgar contra a consciência e contra o juramento que prestaram.”

A medicina, por exemplo, a ginástica e todas as artes e talentos ganharam ao reformar suas velhas máximas. Ocupando, pois, a política um lugar entre as ciências, parece que também ela pode admitir o mesmo princípio. De fato, os antigos Estados mudaram muito de feição. O que há de mais ingênuo e de mais grosseiro do que suas leis e costumes primitivos, mesmo as dos gregos, que antigamente andavam cobertos de ferro? O que existe de mais pobre e de mais imbecil do que sua jurisprudência, como em Cumas, onde, para condenar à morte um homem acusado de homicídio, bastava que o acusador apresentasse várias testemunhas tomadas de sua própria família?”

ISSO É SÉRIO, ARI.? “É muito provável que os primeiros homens, tanto os que saíram do seio da terra quanto os que escaparam da calamidade geral da espécie humana [tebanos ou egípcios, em suma], eram tão rudes quanto o vulgo de hoje, como são representados os antigos gigantes; seria uma extravagância limitarmo-nos a seus decretos.” Haha

AGORA, PRESTA UM TÁCITO TRIBUTO À REPÚBLICA DE PLATÃO PELA SUA INTENSA PREOCUPAÇÃO DE “UNISSEXUALIZAR” A POLIS… E DEPOIS ENVOLVE-SE NUMA BARAFUNDA SEM SIM, DEPRECIANDO ESPARTA SEM FUNDAMENTO (E SENDO O AVESSO DO “PLATÃO FINAL” OUTRA VEZ, AO SER HOMÓFILO: “Como o homem e a mulher fazem parte de cada família, é de se esperar que o Estado esteja dividido em dois, metade homens, metade mulheres; donde se segue que todo Estado em que as mulheres não têm leis está na anarquia pela metade. É o que acontece em Esparta. Licurgo, que pretendia enrijecer seu povo com todos os trabalhos penosos, só pensou nos homens e não prestou nenhuma atenção nas mulheres. Elas se entregam a todos os excessos da intemperança e da dissolução; assim, em tal Estado é necessário que as riquezas sejam honradas, principalmente quando as mulheres dominarem, como acontece na maioria das nações guerreiras, com exceção dos celtas e dos povos em que o amor pelos rapazes está publicamente em uso. [PROGRAMA PEDERASTIA PARA TODOS?] Não é sem razão que a fábula associa Marte a Vênus, pois todos os povos guerreiros são dados tanto ao amor dos jovens quanto ao amor das mulheres. [E ESPARTA NÃO? NÃO ENTENDO ISSO.] Este mal manifestou-se ainda mais em Esparta, onde, desde a origem, as mulheres se envolveram em tudo. [COMO, SE LICURGO AS OLVIDOU?] Pois o que importa que as mulheres mandem ou que os que mandam sejam comandados pelas mulheres? É a mesma coisa.”

o legislador permaneceu longe do alvo a que se propunha; fez apenas um Estado pobre e particulares avarentos.”

Um homem do tempo de Aristóteles já não pode julgar a Esparta de Licurgo no seu momento presente, ainda mais levando-se em conta a assimilação da Grécia pela Macadônia!

Logo após falar mal dos éforos: “quer os éforos tenham sido instituídos por Licurgo desde sua primeira legislação, quer sejam de criação mais recente, não foram inúteis à prosperidade da nação.” [!!] Quem é capaz de entender Aristóteles, que sequer segue seu princípio da não-contradição quando se trata de Política?!

As virtudes guerreiras, a que se relaciona toda a Constituição de Licurgo, não são senão uma parte da virtude integral, e são boas apenas para dominar os outros homens. Assim, os espartanos conservaram-se bastante bem enquanto guerreavam, mas quando submeteram a seu domínio todos os seus vizinhos começaram a decair, não sabendo o que fazer de seu ócio, não tendo aprendido nada melhor do que os exercícios militares.”

A ilha de Creta parece ter sido disposta pela natureza para comandar a Grécia, cujos povos, em sua quase totalidade, habitam as costas do mar: por um lado, ela está situada a pouca distância do Peloponeso; por outro lado, ela toca na Ásia, confinando com Triópia e Rodes. Foi graças a esta posição que Minos se tornou senhor do mar, reduziu quase todas as outras ilhas à obediência ou as povoou com suas colônias. Pensava também em se apoderar da Sicília, quando morreu perto de Camico.”

Os que são chamados de éforos na Lacedemônia chamam-se cosmos em Creta, com a única diferença de que são somente 5 na Lacedemônia e 10 em Creta.” Só isso? Bom, na essência eram ministros que atuavam como contrapeso do rei, i.e., poder moderador institucionalizado (não-encarnado num ou dois monarcas).

Em Esparta, o povo que escolhe os éforos tem também a faculdade de escolhê-los dentre aqueles que bem quiser e, por conseguinte, de sua própria classe, assim como de todas as outras, o que faz com que tenha interesse em conservar o Estado. Em Creta, pelo contrário, os cosmos provêm não de todas as classes, mas sim de certas famílias. Dos que foram cosmos, tiram-se os senadores, dos quais se pode dizer tudo o que se disse dos de Esparta. A dispensa da prestação de contas e a perpetuidade são prerrogativas muito acima de seu mérito.” “Cassam-se os cosmos sem processo e, de ordinário, pela insurreição de outros cosmos ou de particulares amotinados. A única graça que lhes concedem é deixar-lhes, antes da expulsão, a faculdade de se demitir.”

O regime de Cartago, em geral, é sabiamente ordenado. A pedra de toque de uma boa Constituição é a perseverança voluntária e livre do povo na ordem estabelecida, sem que jamais tenha ocorrido nem alguma sedição notável de sua parte nem opressão da parte dos que a governam.”

A República de Cartago tem em comum com a de Esparta:¹ 1° o que nesta se chama Fidítias, ou refeições públicas entre pessoas da mesma classe; 2° seu Centunvirato, que corresponde ao colégio dos éforos, com a diferença de ser composto de 140 membros e de ser mais bem-recrutado, isto é, não-escolhido ao acaso e dentre o vulgo, mas sim dentre o que há de mais eminente em matéria de mérito²”

¹ Não disse no começo da obra que Esparta era uma monarquia? O próprio Montesquieu é dessa opinião!

² Mas Aristóteles cita como um mérito dos cargos de éforos espartanos serem abertos à arraia-miúda, quando não o são entre os cartagineses!

ARISTÓTELES NÃO SABE O QUE DIZ OU TODO O TEMPO SE CONTRADIZ! “A maior parte dos pontos que criticamos por se afastarem dos princípios de toda boa Constituição são comuns às três Repúblicas. No entanto, embora todas elas tenham um jeito de aristocracia ou de República, inclinam-se um pouco mais para a democracia, sob certos aspectos, e, sob outros, para a oligarquia.”

De resto, embora a República de Cartago se incline bastante para a oligarquia, ela escapa com bastante agilidade dos seus inconvenientes, através das colônias de pobres que envia para que façam fortuna nas cidades de sua dependência. Este recurso prolonga a duração do Estado, mas é confiar demais no acaso; devem-se abolir pela própria Constituição todas as causas de sedição. Se acontecer alguma calamidade e a massa se revoltar contra a autoridade não haverá leis que possam deter sua audácia, nem remediar a desordem.”

Dentre aqueles que escreveram sobre o governo civil, alguns sempre levaram uma vida privada sem participar em nada dos negócios públicos; passamo-los quase todos em revista, ao menos os que deixaram escritos dignos de atenção; os outros foram legisladores quer em sua própria pátria, quer em outro lugar. Dentre estes, alguns foram simplesmente autores de leis, outros, autores de Constituição, como Licurgo e Sólon. Falamos bastante do primeiro quando tratamos da República espartana. Alguns contam o segundo entre os bons legisladores, por ter destruído a oligarquia imoderada demais dos atenienses, libertado o povo da servidão e estabelecido uma democracia bem-temperada pela mistura das outras formas, aproximadamente tal como era antigamente. O Conselho, ou Senado do Areópago, é de fato oligárquico; a eleição dos magistrados, aristocrática e a administração da justiça, muito popular. O Areópago existia antes dele, assim como o modo de eleição dos magistrados. Ele parece só ter tido o mérito de sua conservação. No entanto, foi com certeza ele quem reergueu o povo, ao determinar que os juízes fossem tirados de todas as classes. Assim, censuram-no por ter ele próprio arruinado um ou outro, ou mesmo os dois outros poderes de sua Constituição, entregando ao sorteio, quanto ao terceiro, a nomeação dos juízes, e pondo todos sob a autoridade deles. Mal esta inovação foi recebida e já fez nascer a raça dos demagogos, que, adulando o povo, como se adulam os tiranos, reduziram o Estado à democracia atual.” Bem-lhe-quer mal-lhe-quer

Sem dúvida, era necessário entregar ao povo, como fez Sólon, a nomeação e a censura dos magistrados, sem o que ele seria escravo e, conseqüentemente, inimigo do Estado. Mas Sólon quis ao mesmo tempo que os magistrados fossem escolhidos dentre os nobres e os ricos: aqueles que possuíssem 500 medinos [?] de renda, os que podiam alimentar um par de bois, ou zeugitas, e enfim os cavaleiros, que formavam a terceira classe. A quarta classe, composta de trabalhadores manuais, não tinha acesso a nenhuma magistratura.” ?!

Alguns tentam fazer crer que Onomacrito de Lócris tenha sido o primeiro a saber fazer leis e que, tendo passado de sua pátria a Creta, ali pôs à prova este talento, embora não tivesse vindo senão para trabalhar como adivinho; dizem também que teve por companheiro Tales, cujos discípulos foram Licurgo e Zaleuco, que, por sua vez, teve Carondas como aluno. Há, porém, muitos anacronismos nessa história.

Filolau, natural de Corinto, da raça dos Baquíadas, também deu leis aos tebanos. Apaixonou-se por Díocles, vencedor nos jogos olímpicos, que, detestando o amor incestuoso de Alcíone, sua mãe, [?] deixou sua cidade e o seguiu até Tebas, onde ambos morreram. Ainda hoje se mostram seus túmulos, um em frente ao outro, mas colocados de tal forma que apenas de um deles se pode ver o istmo de Corinto. Dizem que isto foi assim arranjado por eles próprios, sobretudo por Díocles, em memória de sua desgraça, para subtrair seu sepulcro dos olhares de Corinto, pela interposição do mausoléu de Filolau.” Intercala análises de engenharia constitucional e da biografia dos grandes legisladores com casos comezinhos e romances, tsc…

Platão, a comunidade das mulheres, das crianças e dos bens, além dos banquetes públicos femininos; também é conhecida a sua lei contra a embriaguez, a lei em favor da sobriedade dos presidentes de banquetes e a que diz respeito aos exercícios militares e ao uso das duas mãos, pois ele não podia tolerar que se servissem de uma e a outra permanecesse inútil. Existem também algumas leis de Drácon, que ele acrescentou, por assim dizer, à Constituição existente; distinguem-se pela extrema severidade das penas.”

Pítaco é também mais autor de leis do que fundador de República. Cita-se uma lei sua contra os bêbados, que diz que as brigas entre eles, em estado de embriaguez, serão punidas mais severamente do que se não tivessem bebido.”

* * * PRIMEIRA LEITURA DA REPÚBLICA (CONTEÚDO IMPORTADO – COM EDIÇÕES – DO ANTIGO BLOG DO AUTOR, PRÉ-Seclusão Anagógica) * * *

[PREFÁCIO DA EDIÇÃO – COMENTADOR] Foi, como é fato conhecido, o preceptor de Alexandre, O Grande, mas não por muito tempo: “Romperá com seu real discípulo depois do assassínio de Calístenes” No entanto eis a comprovação de sua imaturidade prática, até maior que a de Platão, que tanto criticou: “Jamais se envolveu com política prática.”

Meu limite: é que o pai que temos determina o raio de nossa genialidade. O meu, infelizmente, é bem curto. Zeus não respeitou seu pai, por que esperaria receber o respeito dos filhos sem o emprego da violência? O fosso etário entre pais e filhos. Profilática: que o filho seja gerado no inverno! Adoro meus “rasgos de cólera”, “Dia de fúria”. Estranhamente encarnado numa fazenda abelhuda…

Muitas de suas obras se perderam. Algumas são atribuídas a si, mas provavelmente provêm de discípulos.

Estudou 158 Constituições de Estados – na época a Grécia estava em dissolução, e a República Romana em ascensão. Havia “zilhões” de pequenos Estados (cidades-Estados) – a geografia política do mundo era bem diferente do que é hoje. Contribuiu com as bases do Direito Moderno, mas foi muito ultrapassado por Montesquieu & al.

ECONOMIA (*)  CREMATÍSTICA

(Modesta e nobre X Supérflua, grotesca e vil)

(*) despida em absoluto do “D” marxista (ciclos D-M)

P. 24: o médico vendido. O professor vendido.

a bondade intrínseca do Estado”

a mulher passaria por atrevida se não fosse mais reservada do que um homem em suas palavras.”

São as primeiras impressões as que mais nos afetam”

a beleza e a estatura não pertencem à maioria.” Ora, veja só, às vezes me acho um não-maldito!

Democracia” não é o governo da maioria, etimologicamente, mas dos pobres.

Uma hora fala em Deus, noutra fala em Zeus.

Pelo fim do serviço militar obrigatório! Vote 25050.” Minha plataforma.

Os homens facilmente se corrompem pela prosperidade, pois nem todos são capazes de suportá-la”

161: bem atual – sobre os parlamentares e seus vencimentos: A idéia aristotélica de se não auferir SALÁRIO ao político profissional. Assim, será uma função por VOCAÇÃO, e não COBIÇA. Só os mais ricos, que já são ricos, estariam aptos, mas eles teriam menos chances de legislar em causa própria; e os pobres não se sentiriam ultrajados como hoje se vê com os sucessivos “auto-aumentos” que se concedem os deputados.

Já cobrava TRANSPARÊNCIA das autoridades em relação às receitas e gastos, mesmo sem um site na internet para publicá-lo.

No caso de algum rico ultrajar [aos mendigos], será punido mais severamente do que se tivesse insultado um igual.”

Da liberdade e da igualdade na Democracia: “sofisma miserável.”

170: “Que deixe para si mesmo a distribuição das honras e entregue a seus oficiais a aos juízes as punições.” Maquiavélico, literalmente. Não seria o caso, aliás, de Maquiavel ser um aristotélico?

178: Aristóteles X Platão-Marx no tocante à propriedade privada.

Recomenda-se também, como medida anti-viciosa, um teto para rendimentos por indivíduo ou família, sem falar na dignidade do pão (banquetes públicos) aos indigentes.

Não se deve exigir que um mesmo homem seja flautista e sapateiro.”

Platão: famoso precursor do feminismo [P.S.: quem diria…]

CAPES, 50 ANOS: Depoimentos ao Cpdoc/FGV (2002)

Org. Marieta de Moraes Ferreira & Regina da Luz Moreira

Em 1951, foi criada a Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), com o objetivo de <assegurar a existência de pessoal especializado em quantidade e qualidade suficientes para atender às necessidades dos empreendimentos públicos e privados que visam ao desenvolvimento do país>. Para secretário-geral foi indicado o professor Anísio Teixeira, que a dirigiu até 1963.”

O projeto Capes, 50 anos teve como objetivo recuperar a história da fundação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), de seus primórdios até a atualidade, através da coleta de depoimentos de atores que desempenharam papel destacado na trajetória da instituição. Dessa tarefa, e da preparação deste livro, foi incumbido o Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (Cpdoc) da Fundação Getúlio Vargas, detentor de reconhecida experiência nesse campo de trabalho.

A importância da Capes e sua capacidade de aglutinar figuras destacadas, seja como funcionários, seja como dirigentes ou como colaboradores, nos possibilitaria arrolar um enorme número de possíveis depoentes. No entanto, a exigüidade do tempo, e os próprios limites impostos pelo formato de um livro, nos levaram, com o auxílio da direção atual, a definir uma lista restrita de entrevistados que nos permitiriam obter uma visão ampla e diversificada da instituição. Foram registrados, no total, 18 depoimentos em 40 horas de gravação

PASSANDO O PANO EM BIOGRAFIAS SUSPEITAS: “Na entrevista, ele [o depoente] está diante de um entrevistador ativo, que argumenta, reage, confirma, contesta [e que é manipulado a gosto]. Para que isso seja possível, o entrevistador precisa conhecer os personagens, os cenários e os roteiros. A reconstituição das trajetórias de personagens ligados à Capes abre assim novas perspectivas para o aprofundamento dos estudos sobre a pós-graduação no Brasil.” Será ainda possível?

HISTÓRICO

RESUMO ESQUEMÁTICO DO PRIMEIRO SESQUICENTENÁRIO CAPESIANO:

ANÍSIO TEIXEIRA (I) – DITADURA (II) – REABERTURA (III) – COLLOR (IV) – ABÍLIO E EXPANSÃO EM PLENO NEOLIBERALISMO (V) – …???

Quando Anísio Teixeira aportou em Brasília, tudo era mato, terra seca – e ignorância.

I. ERA ANÍSIO (1951-64)

A Capes foi criada em 11 de julho de 1951, pelo Decreto n. 29.741 [constituído de 12 artigos, cujos <melhores momentos> transcrevo a seguir], inicialmente como uma comissão destinada a promover o aperfeiçoamento do pessoal de nível superior.”

Art. 1º Fica instituída, sob a Presidência do Ministro da Educação e Saúde, uma Comissão composta de representantes do Ministério da Educação e Saúde, Departamento Administrativo do Serviço Público, Fundação Getúlio Vargas, Banco do Brasil, Comissão Nacional de Assistência Técnica, Comissão Mista Brasil, Estados Unidos, Conselho Nacional de Pesquisas, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Confederação Nacional da Indústria, Confederação Nacional do Comércio, para o fim de promover uma Campanha Nacional de aperfeiçoamento de pessoal de nível superior.”

Art. 2º (…) oferecer os (sic) indivíduos mais capazes, sem recursos próprios, acesso a tôdas as oportunidades de aperfeiçoamentos.

(…) Promover em coordenação com os órgãos existentes o aproveitamento das oportunidades de aperfeiçoamento oferecidas pelos programas de assistência técnica da Organização da Nações Unidas, de seus organismos especializados e resultantes de acordos bilaterais firmados pelo Govêrno brasileiro [curiosamente ainda engatinha-se na área ~70 anos depois]

Art. 7º A Comissão proporá ao Presidente da República, até 31 de dezembro de 1951, a forma definitiva que deve ser dada à entidade incumbida da execução sistemática e regular dos objetivos da Campanha.”

Art. 9º Os dirigentes dos órgãos da administração pública, das autarquias e sociedade de economia mista deverão facilitar o afastamento dos seus servidores selecionados para o programa de aperfeiçoamento instituído neste Decreto.

Art. 10. O Banco do Brasil facilitará cambiais para as bolsas concedidas, e, na medida das possibilidades, a transferência dos salários e vencimentos dos beneficiários do programa de aperfeiçoamento.

Art. 11.Os membros da Comissão não perceberão remuneração especial pelos seus trabalhos, mas serão considerados como tendo prestado relevantes serviços do (sic) país.”

Rio de Janeiro, 11 de julho de 1951, 130º da Independência e 63º da República.

GETÚLIO VARGAS

E. Simões Filho

Horácio Lafer

Francisco Negrão de Lima

Danton Coelho

Este texto não substitui o original publicado no Diário Oficial da União – Seção 1 de 13/07/1951”

Um breve interlúdio antes de continuarmos, avançando 40 anos no tempo (para depois voltarmos a recuar): Fica claro pelo Decreto 99.678/90 que a Capes foi momentaneamente “rebaixada” a mero órgão interno de assessoria a assuntos voltados à pós-graduação (na realidade seu Presidente seria o que hoje é um Diretor, código 101.5). Havia 2 coordenadores-gerais no organograma publicado no Anexo II, bem como 6 assessores, 1 coordenador, 8 chefes de divisão e 14 chefes de unidade (DAS mínimo, hoje extinto). O INEP estava hierarquicamente acima da Capes de acordo com este documento legal.

Aproveitando o excurso, antes de terminar, trecho do Decreto 50.737: “a administração das bôlsas de estudo oferecidas pelo Govêrno Brasileiro a latino-americanos e afro-asiáticos para cursos de graduação e pós-graduação no Brasil (…) JÂNIO QUADROS”

Foram várias as instituições e agências públicas criadas nesses primeiros meses de 1951, entre elas o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (atual BNDES) e o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), com os quais a Capes, ao longo destes 50 anos, interagiu na formulação e implementação de uma nova política de desenvolvimento científico e tecnológico. Foi também o momento de criação da primeira faculdade de administração pública da América Latina, a EBAP, órgão da Fundação Getúlio Vargas destinado à formação de uma nova geração de formuladores e de gestores públicos.” “Em seu depoimento, Almir de Castro [o <segundo homem>, 1º depois de A.T.] assinala que a Capes era ligada ao Ministério da Educação, mas também à Presidência da República.¹ O que ressalta é a grande autonomia e autoridade de que era dotada sua direção.”

¹ Precedente perigoso para quem nela hoje trabalha… Precedente e presidente são palavras tão parecidas que Weintraub talvez escreva uma pensando na outra…

A concessão de bolsas de estudos, no entanto, apenas progressivamente foi se desenvolvendo, até se afirmar como atividade de maior peso dentro da agência, em detrimento das atividades de fomento. O que talvez explique esse crescimento gradativo seja o fato de que o setor responsável pelas bolsas se viu também obrigado a realizar pesquisas sobre a atuação de outras instituições congêneres, sobre seu processo de concessão, etc. As atividades de fomento favoreceram a criação de centros nacionais, núcleos regionais de ensino e pesquisa, ou ainda unidades de cunho institucional, que foram perdendo importância ao longo do período, em detrimento das bolsas de estudo.”

II. DITADURA MILITAR 1ª PARTE (1964-74)

I HAD A DREAM…: “A Capes teve sua trajetória diretamente afetada pelo movimento político-militar de 1964, que inaugurou na agência um período de descontinuidade administrativa e turbulência institucional. Naquele momento, chegou-se mesmo a cogitar sua extinção.”

Já no final do mês de maio, a Capes era transformada, de comissão em coordenação, e junto com a nova designação, assumia uma nova condição institucional: o Decreto n. 53.932 [1964](*), integrou-a à estrutura do Ministério da Educação e Cultura, vinculando-a à política da educação superior do país através da Diretoria do Ensino Superior, a DESu. Assim, embora mantivesse a mesma sigla, a Capes passava a ser diretamente subordinada ao ministro da Educação, que teria autoridade inclusive para regulamentar as atividades e aprovar os regimentos internos da agência.”

(*)

Art. 1º A Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), de que tratam os Decretos nºs 29.741, de 11 de julho de 1951, 50.737, de 7 de junho de 1961, e 51.146, de 5 de agôsto de 1961, órgão da Presidência da República; a Comissão Supervisora do Plano dos Institutos (COSUPl), de que tratam os Decretos nºs 49.355 de 28 de novembro de 1960, 51.405, de 6 de fevereiro de 1962, e 52.456, de 16 de setembro de 1963, órgão do Ministério da Educação e Cultura; e o Programa de Expansão do Ensino Tecnológico (PROTEC), de que trata o Decreto nº 53.325, de 18 de dezembro de 1963, órgão do Ministério da Educação e Cultura, ficam reunidos na Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), subordinada diretamente ao Ministro da Educação e Cultura e que poderá regulamentar atividades e aprovará regimento internos (sic).

colaborar em programas de formação e adestramento de pessoal…”

Art. 4º Os auxílios concedidos pela CAPES visando à complementação de recursos dos Centros de Treinamento para o cumprimento de programas específicos de formação de pessoal ou desenvolvimento de novos centros terão sempre caráter temporário, estabelecendo-se, em cada caso, convênio com as instituições contempladas de sorte que através (sic) recursos regulares previstos nos orçamentos das mesmas (sic) seja assegurada a continuidade de seu funcionamento.”

Art. 5º A CAPES será orientada por um Conselho Deliberativo integrado por 9 membros designados pelo Presidente da República, pelo prazo de 3 anos e mediante indicação do Ministro da Educação e Cultura.

§ 1º Dois dos nove membros do Conselho são considerados membros natos: o Diretor da Diretoria do Ensino Superior do Ministério da Educação e Cultura e o Presidente do Conselho Nacional de Pesquisas.

§ 2º A Presidência do Conselho caberá ao Ministro da Educação e Cultura, sendo seu substituto eventual o Diretor da Diretoria de Ensino Superior.”

O Diretor Executivo e os Secretários serão de livre escolha do Ministro da Educação e Cultura.”

Brasília, 26 de maio de 1964; 143º da Independência e 76º da República.

H. CASTELLO BRANCO

Flávio Lacerda”

Decreto n. 54.356 (setembro de 64):

Dispõe sobre o Regime de Organização e Funcionamento da <Coordenação do Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior>.”

Art. 2º A ação da CAPES se exercerá, principalmente, pelas seguintes formas:

I – Concessão de bôlsas a graduados para estudos no país e no estrangeiro;

II – Administração de bôlsas oferecidas pelo govêrno Brasileiro a cidadãos estrangeiros para estudos no país;

III – Supervisão dos estabelecimentos mantidos pelo Govêrno em Centros educacionais estrangeiros (Casa do Brasil);

IV – Estímulo à formação de Centros Nacionais de Treinamento Avançado;

V – Incentivo à implantação do regime de tempo integral para o pessoal docente de nível superior;(*)

VI – Prestação de assistência técnica e financeira às Universidades, Escolas Superiores Isoladas e Institutos Científicos e Culturais;

VII – Promoção de encontros de professôres e pesquisadores visando a elevar os padrões de ensino superior em todo o país.”

* * *

(*) Incrível como décadas depois essa importante conquista ainda é assunto em ementas recentes de tribunais e em trabalhos jurídico-acadêmicos:

TRT-10 – RECURSO ORDINÁRIO RO 1164200701710006 DF 01164-2007-017-10-00-6 (TRT-10)

Data de publicação: 29/05/2009

Ementa: PROFESSOR UNIVERSITÁRIO E PESQUISADOR. CONTRATAÇÃO EM REGIME DE DEDICAÇÃO INTEGRAL. HORAS EXTRAS PELO TRABALHO EXTRA-CLASSE. INDEVIDAS. ELASTECIMENTO DE HORÁRIO. ÔNUS DA PROVA. 1. As normas específicas de tutela referentes à jornada dos professores (CLT [em extinção!], Título III, Seção XII) estão expressamente direcionadas apenas às horas de trabalho em sala de aula, cujo tratamento legal mais benéfico se justifica em razão do desgaste sofrido pelo profissional sob tais condições. Em se tratando de professor universitário contratado em regime de dedicação integral, nos termos do art. 52 da Lei nº 9394 /96, uma vez obedecida a jornada especial do professor quanto ao trabalho em sala de aula, mostra-se indevida, à míngua de norma mais favorável, a percepção de horas extras pelo trabalho desenvolvido extra-classe. 2. Em razão da natureza extraordinária do fato alegado, é do empregado o ônus de comprovar o trabalho extraordinário (arts. 818 da CLT e 333, I, do CPC). Tal encargo probatório não se altera em se tratando de professor universitário que desenvolve atividades de pesquisa científica nas instalações da faculdade reclamada, onde lhe é franqueada ampla permanência além do horário contratado, para fins de estudos e pesquisa. Nesse caso, incumbe ao autor demonstrar que sua permanência no ambiente de trabalho ocorreu sob o comando e no interesse exclusivo da instituição de ensino.

O art. 9º do Decreto 3.860/2001, que dispõe sobre a organização do ensino superior e a avaliação de cursos e instituições, nada menciona sobre a duração da hora no aludido regime de tempo integral, estando assim redigido: <Para os fins do inciso III do art. 52 da Lei nº 9.394 de 1996, entende-se por regime de trabalho docente em tempo integral aquele que obriga a prestação de quarenta horas semanais de trabalho na mesma instituição, nele reservado o tempo de pelo menos vinte horas semanais destinado a estudos, pesquisa, trabalhos de extensão, planejamento e avaliação>. Lado outro [hm], a remuneração dos professores é, na forma do disposto no art. 320 da CLT, fixada pelo número de aulas semanais. Havendo cláusula coletiva estabelecendo que <considera-se como aula o módulo docente destinado ao trabalho letivo ministrado pelo professor, integrante da atividade do magistério, com duração máxima de 50 (cinqüenta) minutos, ministrado para turma ou classe regular de alunos>, conclui-se que o regime de 40 horas (de 60 minutos) em tempo integral equivale a 48 horas-aula semanais de 50 minutos cada, realidade que abarca tanto as atividades em sala de aula como aquelas outras compatíveis com a condição de professor e exigidas quando do labor em tempo integral.

Há duas grandes <heranças conceituais> subjacentes à questão da regulamentação do regime docente de tempo integral. Primeiro, existe o conceito de isonomia, originado no setor público, que tende a uniformizar o tratamento da questão, partindo da premissa de que todas as universidades devem ser tratadas da mesma forma. Segundo, há conceito de hora-aula, nascido no âmbito privado, que tende a confundir o trabalho docente como uma contabilização das horas despendidas em sala de aula, gerando uma tendência de se <aulificar> o ensino. Ambos os conceitos, em conjunção com o disposto no inciso III do art. 52, fazem com que haja a tendência de se quantificar a questão, quando esta deveria ser antes qualificada.” “o intelecto não se prende obrigatoriamente a espaços físicos, nem se submete facilmente a injunções temporais.” [O dia que esse tipo de mérito for reconhecido eu amputo meus 4 mindinhos. Não farão falta!] “Há uma tradição normativa da educação superior, com deliberação do antigo CFE (Parecer nº 792/73, relator pelo Conselheiro Valnir Chagas), de que uma hora-aula de cinqüenta minutos na prática significa um dispêndio de até sessenta minutos da carga horária dos cursos, já que há outras atividades pedagógicas associadas (como intervalos para apreensão de conteúdo). Nas palavras do Relator da questão, o esquema 50 + 10 <se enraíza no racionalismo pedagógico>, havendo <toda uma orientação de flexibilidade que doravante há de presidir à organização das ‘atividades’ escolares>. O conceito de hora-aula esteve tão enraizado na tradição educacional que fez com que muitas cargas horárias de cursos superiores fossem mensuradas em horas-aula, o que criou algumas distorções, por conta das diferenças entre os turnos diurno e noturno.” “É não apenas desejável, como necessário, a existência de um critério mínimo que caracterize uma universidade, em distinção a outros tipos de IES. Porém, fica a dúvida: o corte, a referência, será <por cima>, por um modelo de universidade de elite com pesquisa de ponta, ensino pós-graduado, ou <por baixo>, por uma instituição voltada à formação profissional, com pesquisa aplicada e pós-graduação profissionalizante? Ora, havendo fontes de financiamento abundantes, pode-se pensar facilmente <por cima>. Se não, há que se ponderar sobre a sustentabilidade das instituições, sob o risco de implosão do Sistema, e de retorno a um ensino elitizado, sustentado pelos contribuintes, os quais majoritariamente a ele não tinham acesso.” “O requisito legal (LDB), que na prática quantifica o problema, tem gerado mal-entendidos e problemas diversos. As universidades não têm um mesmo padrão organizacional, até por suas diferenças institucionais e ambientais.” André Magalhães Nogueira – Universidade e Regime de Trabalho (documento 56), OBSERVATÓRIO UNIVERSITÁRIO, 08/2006.

* * *

§1º Os membros do Conselho Deliberativo perceberão por sessão a que comparecerem uma gratificação de presença fixada pelo Ministro da Educação e Cultura, até ao máximo de 48 sessões anuais.”

Parágrafo único. A distribuição e a lotação dos servidores da CAEPS (sic) caberão ao Diretor Executivo.”

§1º O Diretor-Executivo e os Chefes de Divisões perceberão a gratificação que fôr arbitrada pelo Conselho Deliberativo e aprovada pelo Ministro da Educação e Cultura.”

(voltando…)

O interregno entre a gestão de SUZANA GONÇALVES (1964-1966) e a de CELSO BARROSO LEITE (1969-1974) pode ser caracterizado como um período de grande instabilidade institucional, em que 6 diretores-executivos — 2 deles interinos — estiveram à frente da Capes.”

III. REGULAMENTAÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO NO BRASIL (1974-89)

1974, quando a transferência para Brasília exigiu a contratação e o treinamento de novos funcionários. Isso possibilitou não apenas um novo dinamismo administrativo, mas também a criação de um esprit de corps, através do qual se estabeleceu uma forte identidade institucional. Esse dinamismo institucional foi basicamente explicitado no Decreto-Lei n.° 74.299, de julho de 1974

* * *

Art. 1º. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), órgão autônomo do Ministério da Educação e Cultura, criada pelo Decreto nº 53.932, de 26 de maio de 1964, e reformulada pelo Decreto nº 66.662, de 5 de junho de 1970, tem as seguintes finalidades:”

Art. 12. Para assegurar a autonomia financeira da CAPES nos termos do artigo 172 do Decreto-lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, fica mantido o Fundo Especial instituído pelo artigo 9º do Decreto nº 66.662, de 5 de junho de 1970, com a denominação de Fundo de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (FAPES).”

Brasília, 18 de julho de 1974; 153º da Independência e 86º da República.

ERNESTO GEISEL”

Ernesto Gás Hélio, será que falava grosso?!?

* * *

A PRÉ-HISTÓRIA DO FRANKENSTEIN CHAMADO GAE

A gestão de Darcy Closs passou a recorrer de forma cada vez mais sistemática e progressiva, ainda que informal, à colaboração de consultores vindos da área acadêmica, quer para a análise das solicitações de bolsas de estudo, para entrevistas com candidatos, avaliação de cursos, recomendações de cotas de bolsas, quer para a elaboração, implantação e avaliação de projetos de interesse da política definida pela agência. Essas consultorias permitiram à Capes fazer frente à multiplicação de suas atividades e programas — que no período chegaram a patamares até então inéditos —, e seus pareceres, estudos e avaliações, embora não tivessem poder deliberativo, foram gradualmente ganhando importância dentro da agência, uma vez que subsidiavam as decisões do CTA. A partir de 1977, essas consultorias assumiram a forma de comissões, e mais tarde foram institucionalizadas, com seus presidentes passando a integrar um conselho técnico-científico, com direito inclusive [ó!] a participação no conselho superior da agência.”

ANOS MOURA CASTRO: “Nesse sentido, foi estabelecido todo um processo de transferência, para as universidades e programas, da responsabilidade de selecionar, acompanhar, pagar e avaliar o desempenho dos alunos bolsistas, cabendo à agência apenas a função de promover uma melhor e mais ampla avaliação dos programas e dos alunos.” “esse foi também o momento em que a Capes readquiriu maior destaque no sistema de pós-graduação, chegando mesmo a se impor sobre as demais agências. A pedra de toque para que isso ocorresse foi seu reconhecimento formal como órgão responsável pela formulação do Plano Nacional de Pós-Graduação, o que se deu em fins de 1981, com a extinção do Conselho Nacional de Pós-Graduação. A partir de então ela assumiu as competências que até então (sic) eram do conselho. Esse novo papel fez também com que a Capes fosse reconhecida dentro do MEC como a agência executiva do Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, o que na prática a tornou responsável pela elaboração, acompanhamento e coordenação de todas as atividades relacionadas com a pós-graduação dentro do ministério.” “agora era dada à Capes a responsabilidade de assessorar a Secretaria de Educação Superior, a SESu — que havia substituído o DAU — na tarefa de formular a política nacional de pós-graduação.”

O momento final desse período é representado pela gestão de EDSON MACHADO DE SOUSA (1982-1990), que, juntamente com a de ABÍLIO BAETA NEVES, é uma das mais longas da história da Capes, em que pese a numerosa sucessão de titulares que a pasta da Educação teve então.” (nada mudou)

IV. O FIM DA CAPES PARTE I (1990-92)

A posse de FERNANDO COLLOR DE MELO na presidência da República, em março de 1990, e a profunda reestruturação da administração pública federal que se seguiu, trouxeram consigo a extinção da Capes, medida que traumatizou não apenas seus funcionários, mas a toda a comunidade acadêmica. E foi exatamente a mobilização desses segmentos que garantiu, em pouco menos de um mês, o reestabelecimento da agência.” Collor só deveria ser citado em caixa alta em processos penais.

A lei que determinou a transformação da Capes em fundação foi aprovada no início de janeiro de 1992, sob o n. 8.405, durante a gestão de JOSÉ GOLDEMBERG na pasta da Educação.” Pasta surrada essa, por que não compram logo uma mochila?

Capítulo de 1 página. Merecido.

V. NOVOS TEMPOS, NOVOS BLÁ-BLÁ-BLÁS (1992-2001)

a Capes assumiu a incumbência de validar os diplomas expedidos pelo sistema nacional de pós-graduação, e que possibilitou a definição de uma política para o setor de bolsas no exterior, através do incentivo aos acordos de cooperação.” Era Netherrealmeyer

OS ANTI-CABALISTAS IRÃO ODIAR ESTA ESCALA: “foram introduzidas novidades como a escala numérica de 1 a 7, de modo a permitir uma maior diferenciação entre os programas — alteração consolidada já na rodada realizada em 2001 —, e a medição da qualidade dos programas segundo sua inserção internacional.”

ENTREVISTAS & FRAGMENTOS

Considerávamos que a medicina e a biologia já eram tradicionalmente atendidas por fundações como a Rockefeller e outras. A classe médica já era mais ou menos autônoma e não precisava de um órgão para fornecer bolsas e mandar pessoas ao exterior; era muito comum naquele tempo encontrar médicos <com prática em hospitais de Viena, Paris, etc>. Curiosamente, isto até constituiu um problema para nós da Capes em certa época, uma vez que o presidente Juscelino era médico, o ministro da Educação, Clóvis Salgado, era médico e eu próprio, diretor de programas da Capes, também era. De toda maneira, porém, cortamos a medicina deste contexto. A área já era considerada atendida; por isso, atendíamos principalmente ao que, na época, se achava que contribuía para o desenvolvimento.” Almir de Castro

Tempos que não voltam mais: “ÁREA DE TECNOLOGIA, CIÊNCIA APLICADA? – Não exclusivamente. Está claro que não considerávamos o desenvolvimento uma coisa estanque, que se atendia apenas com tecnologia e ciência. Sabíamos que há um contexto de interação de todas as coisas e, por isso mesmo, atendíamos também áreas como ciências sociais, que era um setor abandonado; a Capes foi a primeira agência a se preocupar com as ciências sociais.”

VAMOS FORMAR EMPRESÁRIOS VISIONÁRIOS: “a simples existência de agrônomos não vai ajudar diretamente o desenvolvimento da agricultura. Outro exemplo: se começássemos a formar engenheiros especializados em automóveis antes da implantação da indústria automobilística, estaríamos gastando dinheiro para formar profissionais que teriam que emigrar para a Europa e para os Estados Unidos, porque aqui não se iria criar uma indústria automobilística apenas pelo fato de existirem engenheiros especializados em motor de automóvel.”

KUBI-CAR-CHECK

QUATRO VEZES CRISTÃO: “Anísio foi educado por padres na Bahia, por isso tinha uma fé inabalável; ia dedicar-se à vida religiosa. Só comia aquilo de que não gostava, para se acostumar à punição e à privação; era um homem de passar a noite ajoelhado, de se contrariar em tudo por fé. Tinha uma fé inquebrantável e era estudioso, ao mesmo tempo, de filosofia, cristianismo, religiões em geral. Mais tarde, quando começaram a acusá-lo de comunista, ele reagiu” “Enfim, não sei se foi uma manobra inocente ou não, mas seu pai exigiu que, antes de fazer os votos, ele passasse um ano na Europa, e Anísio aceitou; fez da viagem uma peregrinação. Obteve licença das mais altas autoridades da Igreja para visitar lugares santos, penetrar em recintos proibidos aos leigos, fez uma via crucis de fé, refez o roteiro de santos. E nesta história toda, acabou perdendo a fé. Por que meandros e mecanismos, ele nunca esclareceu, mas perdeu totalmente a fé.” Comeu umas putas húngaras!

A partir dai, voltou-se muito para os aspectos teóricos e pragmáticos da educação. Era um imenso admirador de John Dewey

Nós do staff é que achávamos — e eu ainda acredito nisso — que não tem a menor importância haver cem escolas de economia no Brasil, embora se pudesse, sem prejuízo, fechar a metade. Mas se houver cem escolas de engenharia e só 20 forem muito boas, ainda assim está tudo ok. Com a vastidão do Brasil, com a diversificação de trabalho que existe, há tarefas para engenheiro que só sabe fazer fossa e pavimentação e tarefas para o engenheiro criador, que vai fazer uma pesquisa, um trabalho tecnicamente sofisticado, que realmente vai introduzir uma coisa nova, ser um

grande professor [isso sim é o fundo da fossa] e tudo o mais. Há tarefas para todos.” “Evidentemente, uma pessoa só vai cursar uma universidade ruim se não puder ir para uma melhor ou porque, naquele local, não há um corpo de professores capaz de oferecer um ensino melhor. Não é por má fé que se faz uma escola ruim, mas mesmo essas pessoas têm uma missão a cumprir.” Limpar banheiros com diploma na gaveta.

Fizemos também coisas que talvez fossem da seara do CNPq ou do IBGE, como o primeiro cadastro de instituições de pesquisa do Brasil.” “nunca pudemos oferecer mais de 20 bolsas integrais para o exterior, não havia recursos. As bolsas eram integrais e, no auxílio, incluíam-se passagens para pessoas que tinham bolsas não-integrais de países ou instituições. Por exemplo, nesse tempo o ITA tinha um programa de treinamento de pessoal recém-formado, à frente do qual estava um professor inteiramente abnegado, que só vivia para isso. Por suas próprias relações, movimentava empresas, universidades, centros industriais dos Estados Unidos e da Europa; escrevia para essas instituições, solicitando bolsas e estágios. No fim do ano, tinha umas 30 ou 40 oportunidades de treinamento no exterior para oferecer a rapazes do ITA formados naquele ano ou no ano anterior, e a uma grande parte deles a Capes fornecia passagens.”

Por exemplo, a França tinha um número muito grande a oferecer, cento e tantas bolsas por ano; a Usaid, naquele tempo chamada de Ponto 4(*), também tinha um número grande, assim como a Alemanha e o Canadá, além dos órgãos que mantinham programas de bolsas; todos se ligaram um pouco à Capes.”

(*) “Nota dos autores – Programa criado no governo Truman (1945-53) para promover a cooperação técnica entre os Estados Unidos e a América Latina; no Brasil, procurou abranger principalmente as áreas de administração pública, economia, administração orçamentária e financeira, agricultura, recursos minerais, energia nuclear, saúde, educação e transporte. Na área de educação, dedicou-se à formação de professores que viessem por sua vez a formar profissionais para a indústria e promoveu a vinda de técnicos e professores americanos, além de conceder a brasileiros bolsas de estudos nos Estados Unidos, entre outros aspectos. Foi considerado por políticos, educadores e intelectuais um instrumento de controle político e ideológico dos Estados Unidos sobre o Brasil.” Não sem razão.

O QUE HOJE PARECE SER TAREFA PARA GÊNIOS DA COMPUTAÇÃO DESCOBRIR: “Assim, num tempo em que havia certa limitação de candidatos, tínhamos a informação completa sobre o que se passava em matéria de candidaturas, qualificação de candidatos, o que nos permitia saber quem estava se candidatando a duas bolsas.

A CAPES SOFRIA PRESSÃO POLÍTICA PARA CONCEDER BOLSAS? Naturalmente, recebíamos pedidos políticos e pessoais, mas fazíamos uma seleção muito ad hoc, muito informal. Recebíamos, por exemplo, uma carta de recomendação e telefonávamos para o signatário: <Você está recomendando mesmo ou é uma caria apenas para constar?> Tínhamos resultados bastante satisfatórios.” Haha!

O sistema de seleção realmente funcionava, completamente isento de ingerências, de influência política ou de qualquer fator não-acadêmico.” EM LETRAS GARRAFAIS NO LIVRO.

NUNCA HOUVE O FIO-CONDUTOR IMAGINÁRIO: “COMO ERAM AS RELAÇÕES COM O CNPq? Não eram institucionais, mas derivadas, como acontece muito no Brasil, de laços de amizade entre mim e os dirigentes do CNPq, como o prof. Antônio Moreira Couceiro e o prof. Manuel da Frota Moreira, diretor científico do CNPq, ou com o prof. Heitor Grillo, ou com diretores, presidentes, conselheiros. Os contatos eram mais troca de informações, para orientação da politica dos dois órgãos.”

NO BRASIL CADA IDÉIA TEM SEU PADRINHO. MESMO QUE SEJA A MESMA IDÉIA. AÍ TEMOS 2 PADRINHOS DA MESMA CRIANÇA, E NÃO É UM CASAL! “Havendo tão pouco em matéria de bolsa, em matéria de auxílio universitário, informal, não tinha importância que mais de um órgão fizesse a mesma coisa. Porque, por mais que fizessem os dois órgãos num mesmo campo, não conseguiriam fazer nem 10% do necessário. A mim, pessoalmente, essa duplicação nunca preocupou muito. Lembro que, muitos anos depois, Celso Barroso Leite passou a dirigir a Capes. Ele trabalhara conosco durante vários anos, e quando dirigiu a instituição, preocupou-se muito com a duplicação de atribuições. Em conversa, eu lhe disse para não se preocupar tanto com isso, porque todos os órgãos brasileiros que se dedicavam àquelas tarefas não dispunham dos recursos necessários para atender às extensas necessidades nacionais.”

a segunda coisa mais importante depois da seleção era ele ter garantido o aproveitamento de sua bolsa; isso, entretanto, era uma coisa que já nos escapava um pouco. Não tínhamos dúvida de que a seleção era muito bem-feita, porque se fazia com o aval e a participação das melhores pessoas. Em sua grande maioria, os bolsistas já estavam dentro do núcleo de uma escola ou centro de pesquisas. Todos estavam aptos a logo começar a absorver a experiência dos centros de treinamento, porque muito raramente mandávamos uma pessoa que não tivesse domínio da língua do país para onde ia. Mas em casos especiais, não deixamos de mandar um bolsista sem esta qualificação, e não nos saímos mal. Mandamos, mais de uma vez, pessoas ainda meio claudicantes, mas que chegavam e reforçavam seu inglês ou seu francês e se saíam muito bem, porque eram de alto calibre e apenas incidentalmente deficientes em idioma estrangeiro.” Traduzindo: tergiverso, meu caro Watson: nunca houve acompanhamento de egressos!

Em primeiro lugar, devo dizer que sequer fui consultada se queria ou não ser diretora da Capes. Mas vou contar como as coisas se passaram. Sou mineira de Santa Luzia, e minha mãe pertence à família Viana, muito numerosa; entre seus membros estão o historiador Hélio Viana e sua irmã Argentina Viana. Esta, que faleceu cedo, casou-se com Humberto de Alencar Castelo Branco, que em 1964 tornou-se presidente da República.” Suzana Gonçalves Viana

A BEATA QUE VIROU PRESIDENTE DA CAPES: “Durante todo o tempo tive que lidar com um personagem meio misterioso, uma espécie de <olheiro> do SNI [a Abin do Mal] — eles estavam em todos os ministérios. No governo Castelo Branco o <olheiro> era também professor, uma pessoa que me dava a impressão de ser muito equilibrada e nunca permitiu absurdos e intromissões indesejáveis.” “Anteriormente eu trabalhara na PUC, lecionando no Instituto Feminino, nos cursos de preparação cívica da mulher; era uma iniciativa vinculada também à Ação Católica. Comecei no final dos anos 40, depois do Estado Novo. As mulheres já tinham direito de voto e, talvez em decorrência disso, resolveram abrir cursos de preparação para um exercício cívico mais consciente [agora precisamos para todo homem branco]. A partir dali, fui ministrar cursos análogos no Colégio Jacobina e depois no Santa Úrsula. A partir destes exemplos, outras instituições também passaram a oferecer cursos semelhantes. Posteriormente, fui convidada pelo então reitor da PUC, o padre Artur Alonso, para assessorá-lo no Setor de Intercâmbio da Universidade, o que me aproximou dos órgãos de comunicação do Rio.”

Como inúmeros outros organismos governamentais, a Capes era uma campanha mantida com recursos transferidos da Casa Militar da Presidência da República. O dr. Anísio Teixeira certamente sabia que, embora esdrúxulo, o caminho era o mais seguro, pois a dotação era muito pequenina, e o tempo todo ele lutou tremendamente para aumentá-la. Nisso, sobreveio a Revolução de 64 e — não tenho documentos sobre isso, sei apenas de oitiva — no primeiro momento houve um movimento para extinguir a Capes. Mas professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobretudo Paulo de Góes e Amadeu Cury, puseram-se em campo para convencer o governo de que isso, positivamente, não devia ser feito.” Provavelmente os militares eram peritos em magia negra para sumir com tantas provas de atrocidades, fossem ideológicas ou materiais! “Aliás, o ministro Suplicy tinha qualidades muito positivas, como pude notar durante sua passagem pelo Ministério — eu não o conhecia, sendo ele paranaense.” Hm. Até agora não falou mal de ninguém.

o Protec era uma anomalia. Foram abertos cursos de engenharia onde houvesse espaço, sem anuência prévia do Conselho Federal de Educação, sem dotação orçamentária nem vínculo com universidades públicas; eram escolas isoladas. Como todos os orçamentos foram contingenciados, era preciso tomar providências para que os estudantes não perdessem o ano nessas escolas, que não tinham competência jurídica para diplomar; portanto seus cursos não tinham validade.”

Lembro que, de uma feita, chegou ao meu conhecimento que uma importante universidade estava investindo dotações da Capes no mercado financeiro, fraudando, portanto, cláusula do convênio por ela assinado e que determinava a pronta aplicação dos recursos. Considerava-se, certamente, acima de controles. Aí mandei os dois Nelsons, um por ser agressivo e o outro por ser bem tranqüilo, para ter com o reitor dessa universidade e conhecer suas explicações a respeito. Rapidamente, a universidade resgatou o dinheiro do mercado financeiro e passou a aplicá-lo conforme as determinações da Capes. Era isso, ou o convênio seria denunciado.”

O governo Costa e Silva realmente endureceu, mas o seguinte foi pior, o do Médici. Apesar de seu ar tranqüilo, seu governo foi o pior de todos, inclusive com sacrifício de vidas. Quando voltei à Capes, como assessora de Programas, o agente do SNI não era mais aquele professor do período inicial, mas um militar. Para mostrar eficiência, fez um questionário: tínhamos que preencher o nome do bolsista, sua proveniência, seus compromissos com a Capes. Depois, para serem respondidas pelo bolsista, vinham umas perguntinhas, entre as quais uma totalmente risível: <Gosta de música? Quais são os seus autores preferidos?> Obviamente, se fosse um comunista de verdade, só responderia Mozart e Beethoven, porque era escolado, mas se não fosse e escrevesse Geraldo Vandré, estaria perdido. Como baixou o nível, que coisa incrível!”

Depois da saída de Celso Barroso Leite, imagino que deva ter havido uma certa crise, porque ninguém pode gerenciar a Capes sem continuidade, numa rotatividade permanente. Com a transferência para Brasília e a gestão de Darcy Closs, as coisas se normalizam. Sei que o Cláudio de Moura Castro ficou 3 anos, e o Edson Machado de Sousa 7, um bom tempo.” “Brasília é a capital. A Capes não pode ficar no Rio a vida inteira.”

lembro que o prof. Anísio Teixeira foi logo afastado e classificado como comunista.” Celso Barroso

Tomei a iniciativa de fazer uma visita ao general Artur Façanha, presidente do CNPq, para mostrar-lhe a conveniência de trabalharmos em conjunto. Como enveredamos por uma conversa sobre futebol, eu disse: <General, sem saber o que o outro está fazendo, correndo para trás e para diante, a gente fica parecendo o ataque do Flamengo, que às vezes quase faz gol contra, porque está completamente biruta.> O general, que até então estava muito formal, também era torcedor do Flamengo e gostou da informalidade; assim, passamos a conversar sobre a conveniência de o CNPq cuidar de uma coisa e nós, na Capes, de outra.”

FEIJOADA: “Pode-se ser excelente pesquisador e péssimo professor; aliás, com freqüência encontramos exemplos. Muitos não querem perder tempo com alunos e por isso preferem fazer pesquisa. Sustentei muito essa tese. Nada aconteceu, formalmente, mas algumas pessoas também foram reconhecendo, e como se tratava da vocação natural dos órgãos, essa idéia vingou: a Capes intensificou sua atuação no aperfeiçoamento do corpo docente, e o CNPq voltou-se mais para a pesquisa.” Aleluia, irmãos!

Houve uma época em que se cuidou muito de biologia, depois passamos um pouco para economia; nessa área, a instituição mais beneficiada foi a Universidade Federal do Rio de Janeiro, até pela proximidade e maior possibilidade de contato. Já na minha gestão, o Conselho Deliberativo pretendeu dar certa preferência a universidades do Nordeste. Eu era contra e expus meu pensamento ao Conselho: <Não sei se os candidatos de lá já estão qualificados, por exemplo, para receber uma bolsa no estrangeiro.> Sempre considerei que era melhor um nordestino ir para São Paulo do que para o exterior. Claro, pode haver um gênio lá, mas em média o Nordeste estava ainda um pouco longe da pós-graduação; valia mais fazer uma especialização em São Paulo ou no Rio do que ir para o exterior.”

Nós mudamos da sede antiga, na avenida Marechal Câmara, no Castelo, para o prédio do MEC, para economizar aluguel. Algumas repartições do Ministério já tinham mudado para Brasília, e havia muitas salas vazias. Ficamos mais bem-instalados em termos de espaço, mas não de privacidade, porque o prédio do MEC é muito barulhento, com aquelas divisórias de madeira.”

A Capes era uma agência relativamente pequena. Em 1974, ela mantinha 70 bolsistas no exterior e mil no país; no final de 1978, as concessões somavam 1.200 bolsistas no exterior e 13 mil no Brasil.” Darcy Closs

Criou-se, também, um novo tabu: as bolsas para o exterior contemplariam apenas o doutorado; entretanto, em áreas com expressiva necessidade de capacitação, a Capes ofereceria, excepcionalmente, bolsas de mestrado no estrangeiro. Por exemplo, levando em conta proposta da área, foi enviada uma circular a todos os bolsistas casados que estavam no exterior: <Se sua esposa conseguir uma vaga no mestrado de biblioteconomia na sua universidade, a Capes garantirá o pagamento das taxas e oferecerá uma bolsa suplementar.> Resultado: boa parcela da elite da biblioteconomia brasileira iniciou sua pós-graduação através dessa sistemática; obviamente tiveram a oportunidade de retornar posteriormente ao exterior, já com bolsa própria, para completar os créditos e obter o doutorado.”

as universidades do Nordeste eram fracas porque seus professores não conseguiam ser aceitos na pós-graduação das universidades do Centro-Sul, e professores mal-formados não conseguiam melhorar nem a qualidade do ensino de graduação nem implantar núcleos de pesquisa em suas universidades.” Nossa, como o bolsonarismo era forte naquela época!

sem a Finep a pós-graduação não teria deslanchado, particularmente na fase inicial de implantação da Capes em Brasília. (…) Como conseqüência, a Capes cresceu e ultrapassou em pouco tempo o número de bolsas do CNPq, consolidando-se como agência de pós-graduação, enquanto o CNPq voltou a sua origem de financiador de núcleos, grupos, linhas de pesquisa e projetos dos pesquisadores no país.”

Desde que a Capes se consolidou como agência de pós-graduação, sua classificação dos cursos em A, B, C, D e E — sistema recentemente <apropriado> pelo Provão¹ do MEC — passou a ter grande impacto junto às universidades. A própria Finep via nessa classificação da Capes uma forma de convalidar os auxílios que estava dando aos cursos.”

¹ “Conhecido como <Provão>, o Exame Nacional de Cursos [atual ENADE] foi criado pela Lei n° 9.131 de 1995, e constitui um dos instrumentos de avaliação do MEC visando à melhoria da graduação brasileira. As provas são realizadas anualmente entre maio e junho, e sua abrangência está restrita às diretrizes e currículos em vigor. Condição obrigatória para a obtenção do registro do diploma de nível superior, deve ser prestado pelos alunos que estão concluindo os cursos escolhidos no ano anterior pelo MEC.”

A seguir, a melhor entrevista dentre todas:

Desde menino, tinha interesse pelas atividades manuais: mecânica, ferraria, carpintaria, depois por eletricidade e eletrônica; por isso, pensei inicialmente em estudar engenharia. Mas comecei a ler sobre ciências sociais e achei bastante interessante; depois, percebi que tinha horror de matemática, era muito indisciplinado. Além disso, se estudasse engenharia, passaria um ano como engenheiro e o resto da vida como administrador da empresa da família.(*) Então resolvi estudar administração, mas achei muito pobre, intelectualmente; economia era muito mais rica, o desafio intelectual muito maior.

(*) A Usina Siderúrgica Queirós Júnior, fundada no interior de Minas em 1888 com o nome de Usina Esperança, pertencia à família paterna de Ana Amélia Queirós Carneiro de Mendonça, avó materna do entrevistado.

A faculdade de administração era uma antiga escola de comércio, um curso desses de perito contador, a coisa mais humilde possível. Com a criação da Universidade Federal de Minas Gerais, virou faculdade de economia e administração da noite para o dia, à frente da qual ficou um professor de economia política, um advogado chamado Ivon Leite Magalhães Pinto, que teve uma única idéia brilhante na vida — mas não é necessário mais do que uma idéia para modificar o mundo, não é mesmo? Na hora de construir o prédio da faculdade, ele fez sala para professor, sala para aluno, uma biblioteca, que equipou com todos os clássicos de economia, assinaturas de todas as grandes revistas internacionais de economia, administração, sociologia e ciência política, e botou os professores menos ruins em tempo integral, coisa absolutamente inédita na época. E passou a fazer um concurso para selecionar uns 7 alunos por ano, aos quais concedeu uma bolsa equivalente a um salário mínimo. Deixou esse pessoal trancadinho lá dentro, com porteiro na porta, de 7 da manhã às 7 da noite; isso criou uma química fantástica. Éramos todos autodidatas, porque os professores também não sabiam quase nada; a partir do segundo ano, já sabíamos mais do que a metade deles.” Cláudio de Moura Castro

DITABRANDA? MAIS PARA DITADUDA OU DITABRARA

COMO SURGIU O CONVITE PARA DIRIGIR A CAPES?

(…) recebi um telefonema do Guilherme de Ia Peña, já escolhido para a Secretaria de Ensino Superior do MEC, perguntando se eu queria ser diretor da Capes. Eduardo Portela havia sido indicado para ser ministro da Educação do governo Figueiredo, que se iniciava em março de 1979. Apesar de ter sido um dos ministros mais bem-intencionados que já tivemos, o Portela foi um dos com menos capacidade para identificar quadros e montar uma equipe; foi de uma extraordinária infelicidade, nesse particular. A SESu é um lugar muito difícil, espinhoso, cheio de armadilhas, e ele convidou o Guilherme de Ia Peña, um tocador de obra; excelente funcionário da Finep, muito inteligente, competente, mas de personalidade volátil. Convidou ainda o João Guilherme de Aragão, um velho nordestino do Dasp, para ser secretário-geral; foi uma catástrofe. O Guilherme não me conhecia muito bem, só tínhamos estado juntos uma vez; acho que me convidou por referências que teve a meu respeito.

O SENHOR NÃO TINHA NENHUMA ARTICULAÇÃO POLÍTICA NO MEC?

Zero. Tinha visto o Guilherme uma vez, e o Portela, nem isso. Depois fiquei sabendo que meu nome foi o segundo; o primeiro a ser escolhido foi o antropólogo Roberto Cardoso de Oliveira, da UnB, que impôs como condição para assumir a direção da Capes a eliminação do veto ideológico na concessão de bolsa. O Portela disse que não tinha a mais remota possibilidade de fazer isso, e saíram buscando outro nome; acharam o meu, não sei como [hahaha!]. Acredito que Dionísio Dias Carneiro, que tinha sido indicado para a Finep naquele momento, possa ter influenciado. Sei que recebi o convite e aceitei.

Meu raciocínio foi o seguinte: Falo mal dos dirigentes do MEC, dizendo que deviam fazer isso e aquilo; minha artilharia está assestada contra a administração da educação brasileira, não faço outra coisa senão criticá-la. Agora, quero ver como é estar do outro lado. E já que me convidaram para a melhor posição do MEC — ser diretor da Capes é infinitamente melhor do que ser ministro da Educação —, vou aceitar, vou virar vidraça.

Eu tinha uma carreira acadêmica consolidada, não tinha a mais remota intenção de permanecer no serviço público, tinha minha posição na Fundação Getúlio Vargas e na PUC, era uma época em que o mercado era extremamente generoso; se perdesse o emprego, eu poderia ir, virtualmente, para qualquer lugar no Brasil, então aceitei. Minha meta era fazer tudo o que tivesse que fazer, com uma enorme curiosidade intelectual de verificar quanto tempo levaria para me botarem para fora. Fiquei dois anos e meio; descobri que a burocracia é incompetente até para expelir as pessoas.

ERA VISÍVEL A INTENÇÃO DE COLOCÁ-LO PARA FORA?

Como não?! O <baixo clero> do MEC conspirou contra mim desde o início, pela minha irreverência e meu desamor pelas liturgias da burocracia.

QUAL FOI SUA PRIMEIRA IMPRESSÃO AO CHECAR À CAPES?

Descobri que era uma instituição brilhante, com uma equipe extremamente leal, do contínuo ao diretor-adjunto, todos totalmente dedicados e com particular abertura para a inovação. Eu não podia querer mais. Tudo modestinho, magrinho, pouca gente, uns 200 funcionários, sem grandes estrelas, não era um CNPq, sempre cheio de grandes cientistas; prima dona na casa, só eu. Levei aos poucos uma nova geração de gente intelectualmente sólida e descobri que dava para fazer coisas do arco-da-velha [prodigiosas].¹ Eu tinha um diretor-adjunto extraordinário, o Hélio Barros, que conhece a Capes muito mais que eu, porque pegou 3 gestões. Fazíamos uma boa dobradinha: ele olhava os dinheiros e a administração, e eu ficava inventando moda.

¹ Só fui ler essa expressão de novo em Monteiro Lobato!

O primeiro dia na Capes foi muito ilustrativo: cheguei no MEC sem gravata e fui logo barrado no elevador privativo do ministro; além disso, meu primeiro ato administrativo foi mandar desentupir a latrina do meu gabinete. E em meu primeiro contato com a burocracia, fui levado para ver o processamento do sistema de bolsas, como passava de uma mesa para outra, de uma mesa para outra, uma coisa chatíssima. Como não queria fazer desfeita, fiquei prestando atenção e fazendo perguntas. Em dado momento, não resisti: <Por que é necessário este papel aqui, se já existe este outro?> Resposta: <É, realmente, não há necessidade.> E eu: <Então, vamos acabar com ele.> O Hélio Barros disse em seguida: <Fulano, acabe com o papel.> E eliminou-se aquele papel. Era uma burocracia realmente fantástica!

O SENHOR DISPENSOU ALGUÉM DA EQUIPE?

Não. Logo que cheguei, disse que não poria ninguém na rua, que estava todo mundo garantido — o Guilherme de la Peña tinha feito um estrago na SESu, botando todos os velhos na rua. Quanto a mim, pedi a todos os funcionários qualificados que me escrevessem meia página, uma página, o que fosse, sobre o que achavam da Capes; com isso, fiquei sabendo quem era quem, deu para fazer uma apreciação sobre a qualidade do pessoal, além de conhecer muito mais sobre a agência. O resultado foi um processo normal de atrito: as pessoas que não se sentiram confortáveis com o novo clima foram progressivamente saindo, e foram entrando novos, ou seja, a minha equipe, essencialmente alguns conhecidos e ex-alunos meus que tinham feito mestrado: Fernando Spagnolo, que ainda está lá, Guy Capdeville, hoje reitor da Universidade Católica de Brasília, Lúcia Guaranis, que hoje está na Finep, Ricardo Martins, e mais um grupinho.”

A Capes tinha um time de vôlei; pois Spagnolo e eu fizemos questão de jogar vôlei com os contínuos [antigo estagiário].”

Houve até um incidente interessante. A Capes recebia um volume monumental de cartas, e o protocolo estava levando dois dias para processar tudo aquilo; algumas cartas eram urgentes, eram bolsistas pedindo socorro no exterior, essas coisas. Mandei um funcionário fazer uma investigação, mas ele não descobriu nada de errado. Decidi ir ao protocolo e comecei perguntando como se fazia a triagem; ficamos, dois ou três contínuos e eu, fazendo a triagem das cartas durante toda uma manhã. Realmente, não havia nada de errado, mas depois que estive lá o protocolo passou a funcionar; os contínuos se sentiram valorizados por terem o diretor da Capes trabalhando junto com eles.” Uma pena que o tempo é impiedoso e faz questão de dizimar essas memórias para os “novos contínuos”, que não continuam nada!…

QUAL ERA SUA AVALIAÇÃO SOBRE O PROJETO DE ANÍSIO TEIXEIRA PARA A CAPES? QUAIS OS PONTOS DE CONTINUIDADE, QUAIS OS PONTOS DE RUPTURA?

Exceto quanto à dedicação do staff, à competência, ao amor à instituição, há uma ruptura cognitiva entre a Capes de Anísio Teixeira e a de Darcy Closs: a memória se perdeu; só quando a Capes completou 30 anos é que fizemos uma grande comemoração e voltamos a ver o que Anísio falava sobre ela. Criei, nessa ocasião, o Prêmio Anísio Teixeira, para recuperar a importância de sua figura para a trajetória e o sucesso da Capes. Eu próprio cheguei à direção sem saber absolutamente nada sobre ele, a não ser que era um baiano de grande envergadura, que tinha feito coisas importantes, membro do movimento da Escola Nova, etc., mas seu papel dentro da Capes tinha sido completamente apagado; não encontrei qualquer mensagem que pudesse ser atribuída ao Anísio, não houve a herança de uma mensagem substantiva. Havia a herança de uma organização com amor-próprio, com auto-estima, sem nenhuma mancha de corrupção e com uma meritocracia muito forte.” Poxa… Dá até lágrimas nos olhos ter nascido em 1988…

É UMA INSTITUIÇÃO ORIGINAL DENTRO DO SERVIÇO PÚBLICO BRASILEIRO?

Isso mesmo. Pelo que pude entender, a Capes teve um levíssimo período fisiológico, por ação dos consultores que acompanhavam seus próprios projetinhos, mas nunca chegou a ser uma coisa ostensiva; as bolsas sempre foram concedidas à base do mérito. Não sei se já era uma idéia do Anísio, mas sei que perdurou. Mesmo após 1964, manteve-se a tradição: todo político respeitou a Capes; até seus maus dirigentes eram pessoas com bons currículos.”

SIM, O TEMPO PASSA: “Eu entendia que pós-graduação não pode ter o mais remoto resquício de preocupação com eqüidade, justiça social ou assistencialismo; entendia que pós-graduação era a mais pura meritocracia, alguma coisa para formar uma elite de pesquisadores.”

continuamos com a mesma liberdade do tempo do Darcy na montagem dos comitês assessores e aperfeiçoamos um sistema iniciado por ele: a rotatividade de consultores. A cada ano, metade era substituída; a outra metade transmitia a experiência.” Sem Jorges e pés-de-barro!

Inicialmente, passamos a divulgar as notas A; quando não havia A, publicávamos as notas B. Era uma política deliberada, mas sem movimentos bruscos, que pudessem frustrar o sistema. Pois bem, pouco depois de minha saída, alguém entregou à jornalista Rosângela Bittar o livro das avaliações, e ela publicou uma matéria de página inteira em O Estado de S. Paulo com os cursos que tiveram conceito E, entrevistando todos os responsáveis. Foi um protesto generalizado. (…) Na hora em que esse pessoal dos cursos E se juntou para desmoralizar a avaliação da Capes, do alto de seu Olimpo químico, o Senise reagiu: <Absolutamente! A avaliação é perfeitamente respeitável, não tem nada do que os senhores estão falando. Se receberam conceito E, é porque merecem.> Enfim, o protesto acabou reforçando a avaliação; ficou uma coisa irreversível. E não houve mais protestos. O interessante é que antes de a Capes iniciar a publicação das notas, alguns pró-reitores, como o Gehrard Jacob, da UFRS, já as divulgavam internamente. Mas uma universidade não tem <internamente>; divulgou, está na rua. Em seguida, o pró-reitor da UFMG passou a fazer o mesmo, e algumas pós-graduações que tinham conceito A, afixavam na porta seu conceito, pois era uma qualificação para elas.”

O PT ABRIU FERIDAS QUE JAMAIS CICATRIZARAM NA CASA-GRANDE: “uma extraordinária arquitetura meritocrática para a pós-graduação, coisa que só país desenvolvido tem. As universidades têm um metabolismo basal, o orçamento da SESu, que é a <casa da mãe Joana>, mas a pós-graduação é guiada por 3 ou 4 pilares de meritocracia extraordinariamente sólidos, e mecanicamente interligados.”

Minha luta era contra os mestrados vagabundos. Minha posição era: <Quem não tem qualidade não deve manter mestrado.> Descredenciar não fazia parte da agenda, mas eu achava que não deveríamos apoiar mestrados criados por atacado. E eu fazia a distinção entre mestrado orgânico e mestrado-trapiche.¹ O mestrado orgânico tem a característica de crescimento de um organismo a partir de uma boa semente, que é uma liderança intelectual forte; minha tese era que todos os bons mestrados ou doutorados que estavam aparecendo eram orgânicos, no sentido de que havia uma organicidade interna e que tudo girava em torno de um guru, uma figura forte. Já o mestrado-trapiche era aquele em que alguém embarcava 20 PhDs num navio, desembarcava no trapiche e chamava aquilo de mestrado; em geral, era o reitor que fazia a contração de um monte de gente desarticulada, sem liderança, e isso não levava a coisa nenhuma, não produzia pesquisa, nada.”

¹ Armazém litorâneo, hangar, antigo moinho de cana. Leia um Jorge Amado!

Havia os embates financeiros, ou seja, a luta pelo orçamento. Quando assumiu o MEC, Eduardo Portela entrou com uma idéia meridianamente certa: a prioridade é o primeiro grau; ninguém pode tirar dele esse mérito. Mas as burocracias têm um grau muito grande de endogenia com suas clientelas. A burocracia do primeiro grau é aquela das senhoras professoras de grupo escolar, e suas lideranças eram da mesma estirpe. Na universidade, eram os empresários públicos do ensino, os reitores, todos alertas ali, como o Linaldo; e na pós-graduação eram os acadêmicos mais sabidos que estavam na administração da pós-graduação, pessoas finíssimas, primeiro time.”

toda a prioridade para o primeiro grau acabou indo por água abaixo, porque não havia gente para materializá-la, não havia clima no país. A configuração de poder não era a mesma de hoje, o primeiro e o segundo graus eram uma catástrofe, os projetos de educação rural do Banco Mundial eram outra catástrofe, ninguém queria saber daquilo; assim, esses recursos acabavam em nossas mãos, pela competência e agressividade da equipe. A mesma coisa aconteceu quando Rubem Ludwig assumiu o MEC: perdemos um pouco de poder, mas logo recuperamos e fomos em frente.”

Curiosamente, as equipes do regime militar eram constituídas à base do mérito mesmo; a escolha era tecnocrática, havia uma preocupação com a competência. O próprio Portela cometeu erros horrendos, mas sempre tentando acertar. O militar é meritocrático por natureza. Então, o governo militar nunca nos incomodou; dentro do MEC, o militarismo nunca foi um tema, e ainda menos com o Ludwig. Ele foi um dos ministros mais gentis, mais afáveis, mais fáceis de tratar, mais educados que passaram pelo MEC. General premiado, muito bem cotado no Exército, era o trouble shooter da Força; quando o negócio estava ruim, mandavam o Ludwig.”

o Guilherme de Ia Peña, que tinha fortes ligações militares, me disse: <Esse negócio de veto ideológico a gente resolve com a maior facilidade. Tenho um conhecido no SNI, o coronel Nini, que é uma maravilha e resolve isso num instante.> Era, nada mais nada menos, que o então coronel Newton Cruz.(*)”

(*) “Newton de Araújo Cruz (1924-), militar, foi chefe da agência central do SNI (1981-83) e comandante militar do Planalto e da 11ª RM (1983-84). Neste último cargo por duas vezes determinou medidas de emergência para Brasília, primeiro sob pretexto de garantir segurança ao Congresso durante a votação da nova lei salarial (1983) e depois quando da votação da emenda Dante de Oliveira (1984).¹ Identificado com a linha-dura do Exército, pediu passagem para a reforma quando foi excluído da lista de promoções a general-de-divisão. A partir de então dedicou-se à política candidatando-se a cargos eletivos no Rio de Janeiro.”

¹ Nome formal das Diretas Já!.

ATUALMENTE, QUAIS SÃO OS PRINCIPAIS DESAFIOS DA PÓS-GRADUAÇÃO E, PRINCIPALMENTE, PARA A CAPES, PRINCIPAL AGÊNCIA DE PÓS-GRADUAÇÃO NO BRASIL?

Primeiro, valorizar aquilo que é a essência da produção da área. Ou seja, escrever uma tese de doutorado sobre um compositor ou sobre as madeiras utilizadas na fabricação de uma viola de gambá não é da essência de um curso de música; a essência de um curso de música é dar um concerto e ter uma boa crítica, ou compor uma peça que ganhe um prêmio. (…) Em segundo lugar, extinguir o mestrado acadêmico, esse iguana – achamos que o iguana deveria ter sido extinto, porque é igual ao dinossauro, mas não foi, continua aí até hoje. O nosso sistema é uma cópia do sistema americano, mas lá não existe mestrado acadêmico. O que aconteceu? O Brasil criou a pós-graduação mais longa do mundo: no mínimo, três anos de mestrado e cinco anos de doutorado. Terceiro, acelerar o processo de criação do mestrado profissional e acabar com sua descaracterização, pela exigência de um programa de pesquisa. A Capes levou muito tempo para aprovar o mestrado profissional; custou a compreendê-lo dentro de sua lógica, que é a de formar profissionais e não pesquisadores. O que interessa é a excelência dos profissionais formados e não a excelência da pesquisa. A pesquisa é para o doutorado. Se alguém quiser fazer pós-graduação em engenharia, deveria existir um mestrado profissional onde se formam profissionais e um doutorado onde se faz pesquisa.”

A pós-graduação não pode ser maior do que o estoque de alunos com perfil adequado para cursá-la. A idéia de criar um aprendiz de doutor, que é o mestrado, foi boa no seu tempo, mas caducou. Acho até que pode haver um período probatório de mestrado acadêmico, como era sua concepção original, mas no momento em que conseguimos criar um bom doutorado, devemos extinguir o mestrado. Além do mais, no Brasil a pós-graduação está muito cara. Quem paga isso? O custo-aluno no Brasil é igual ao da França, é a média da Europa. (…) O comitê não é proprietário da Capes ou da ciência brasileira, mas um grupo que assessora o Ministério da Educação na administração da coisa pública. O povo está sendo lesado quando decisões são tomadas por partes interessadas e não por pessoas que, pelo menos em tese, estão representando os interesses desse povo. Houve uma usurpação de poder por parte dos comitês assessores, comitês de consultores ou o que quer que seja; virou a <casa da mãe Joana>. Na teoria da ciência política e da democracia, não há uma única justificativa para se delegar à parte interessada a gestão de uma coisa pública, é como entregar as galinhas para a raposa tomar conta.”

A CAPES NÃO ERA HIERARQUICAMENTE SUBORDINADA À SESu?

Semi-subordinada. Era sempre uma relação ambígua, mais na teoria que na prática; havia espaço para escapar.”

A Capes é muito mais maleável que a SESu ou o CNPq que, este sim, azedou de vez. Os funcionários criaram um ambiente muito ruim no CNPq. Mas a Capes não, essa é fácil de consertar. Acho que ela precisa de mais estrelas.¹ Possui bons funcionários do cotidiano, o pessoal que toca a máquina. Mas faltam mais estrelas, mais grandes cabeças.” “as pessoas se sentiam mais valorizadas, porque tinham mais autonomia. Eu gosto de liderar, não gosto de mandar.”

¹ Careful what you wish… You might just get it!

Acabou!

Formei-me em matemática no Paraná: em 1960 fiz o bacharelado e no ano seguinte consegui a licenciatura. Queria fazer mestrado em lógica matemática com um dos mais brilhantes pesquisadores na área, o prof. Leônidas Hegenberg, que estava no ITA. Fui a São José dos Campos e tive uma entrevista com ele, que se interessou, mas a Capes recusou meu pedido de bolsa, apesar de toda a boa vontade do dr. Almir de Castro, diretor-executivo à época.” Edson Machado de Sousa

Davi me convidou a ir para a UnB, e foi aí que nasceu meu contato com a área de educação, especialmente a educação superior, com uma mescla de economia.”

Não sei se houve algum problema entre ele e o Cláudio, mas o fato é que o Gladstone me convidou para dirigir a Capes, o ministro confirmou o convite, e eu aceitei; fiquei na direção entre 82 e 89, 7 anos, até agora o mais longo mandato. Provavelmente serei superado pelo Abílio.”

Ubirajara Alves era diretor de Programas da Capes e, fazendo uso dos resultados dos processos de avaliação, criou um sistema de indicadores que possibilitariam determinar o volume e o tipo de apoio a ser dado aos programas em função do seu desempenho no processo da avaliação. E isso de uma forma automática, sem precisar perguntar aos Comitês. Isso foi aprovado pelo Conselho, e acabamos implantando uma sistemática de apoio que era praticamente decidida no âmbito burocrático da agência, não dependia de apreciação pelos comitês científicos.”

Como no orçamento da universidade pública não havia uma rubrica específica de apoio à pós-graduação, os programas viviam à mercê da disponibilidade de recursos da Reitoria, em geral exíguos e irregulares. Então, era preciso que os programas de pós-graduação passassem a contar com um reforço de recursos para atender a suas necessidades. Isto tudo acabou gerando uma situação em que as Reitorias não tinham mais ingerência nos programas de pós-graduação.”

Foi um período em que eu, pessoalmente, viajei à Austrália, a Israel, à Holanda, à Bélgica, enfim, a vários países com os quais não tínhamos tradição de cooperação, para tentar abrir canais. Não fomos muito bem-sucedidos, não, exceto, talvez, em alguma coisa com a Austrália, pela facilidade da língua, mas com Israel, Holanda, Bélgica, não foi possível ampliar muito.”

É preciso lembrar que o governo Sarney criou o Ministério da Ciência e Tecnologia, e todo o MEC passou a agir com cautela, para não provocar qualquer conflito entre suas políticas e as do novo Ministério. A própria Capes teve que ir devagar, porque agora o CNPq estava bastante fortalecido; era uma relação que tinha que ser muito bem costurada. A verdade é que os bons tempos não voltaram mais, porque o FNDCT estava muito esvaziado, a Finep nunca mais voltou a ter o papel de antes em relação à Capes.”

UM DOS PROGRAMAS MAIS CRIATIVOS INICIADO EM SUA GESTÃO À FRENTE DA CAPES FOI O PROGRAMA DE APOIO AO DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO E TECNOLÓGICO, O PADCT.

(…) Quando se estruturou o PADCT, conseguimos incluir esse programa, que foi um grande sucesso; lembro que foi uma briga enorme para convencer os negociadores brasileiros a incluir um programa para melhoria de ensino de ciências no nível médio no PADCT. (…) Quando abordávamos a necessidade de melhorar o ensino de ciências como um investimento para alimentar a criação de novos pesquisadores, para atrair o jovem para a ciência e para o trabalho científico, a comunidade científica torcia o nariz. Não foi fácil, mas conseguimos. Porém, hoje em dia o PADCT foi minguando, minguando, quase desapareceu.”

O fato é que houve um arrefecimento, por parte da Capes, dessa proposta de integrar melhor pós-graduação e graduação. Essa foi minha grande frustração, porque ainda hoje considero que o grande desafio do ensino superior no país é a qualificação de docentes. E, apesar de todo o esforço que se faz na Capes, a pós-graduação brasileira ainda é essencialmente uma atividade de formação de pesquisadores, embora eu reconheça que não se faz pós-graduação sem pesquisa. Mas no desenvolvimento dos programas, a orientação esquece essa perspectiva da melhoria de qualidade do desempenho do docente.

E existe a própria pós-graduação profissionalizante, que tenta aprimorar pessoas que não querem ir para a vida acadêmica, não querem ser pesquisadores. Na medida em que a Capes começar a regulamentar o mestrado profissionalizante, acabará dando um carimbo acadêmico a esse mestrado. Então, por que não incorporar o MBA ao sistema de pós-graduação? Esse conflito não é bom para o sistema.”

A continuidade administrativa é outro elemento importante para explicar o sucesso da Capes. Nunca ouvi nenhum dirigente da Capes dizer: <Rompi com tudo o que havia antes.> Mesmo pessoas com pontos de vista diferentes, que atuaram em épocas diferentes, sempre inovaram, mas guardaram uma continuidade em relação aos momentos anteriores. Vejam o Cláudio de Moura Castro, por exemplo. É uma pessoa extremamente criativa, gosta de enfrentar novos desafios, não é alguém que se acomode. Pois quando passou pela direção da Capes, exercitou bem esse lado de sua personalidade, mas sem destruir nada, sem passar a borracha no que fôra feito antes. Eu tenho uns pegas feios com o Cláudio mas, apesar de várias divergências conceituais, temos um relacionamento excelente.”

Atualmente, não gosto do caminho que a Capes está tomando, acho que ela está partindo para uma formalização extremamente rígida do sistema; os controles se intensificaram, as exigências aumentaram enormemente. Tenho minhas dúvidas se isso é bom para o sistema. A lei não diz que, para abrir um curso de pós-graduação, é preciso ter autorização, mas criou-se uma sistemática dentro da Capes, de tal sorte que ninguém se arrisca a criar um curso de pós-graduação sem seu beneplácito. Antes criava-se um curso e, só depois de dois ou três anos, quando eram defendidas as primeiras dissertações ou teses, é que o programa se dirigia à Capes, pedindo para entrar no sistema de avaliação e ser reconhecido. Hoje ninguém mais faz isso.”

* * *

A REFORMA ADMINISTRATIVA A SER IMPLEMENTADA PELO GOVERNO COLLOR NÃO PREVIA A EXTINÇÃO DA CAPES?

Previa, e quando assumi, com um mês e meio de governo, ela já havia sido extinta — eu tinha sido convidada para dirigir um órgão que não existia mais. Como se tratava do governo Collor, consultei algumas pessoas da comunidade científica, porque não queria entrar em conflito com meus pares. E todo mundo considerou que eu devia aceitar o cargo, porque a situação ficaria muito difícil sem a Capes. Mas todos diziam igualmente: <Se as coisas ficarem politicamente difíceis, você sai.> Resolvi enfrentar o desafio — e tive muito apoio do Goldemberg, que estava na então Secretaria de Ciência e Tecnologia.

Mesmo com a Capes extinta, Chiarelli me deu posse, mas na mesma noite foi internado na UTI com um sério problema de saúde. Resultado: não assinou o ato, e eu comecei a trabalhar num órgão que não existia mais, numa posição para a qual não tinha sido nomeada. Foi bastante complicado, pois eu precisava assinar papéis, mas não estava nomeada. Um dos membros do Conselho da Capes, o dr. Osvaldo Ramos, era médico do Hospital São Paulo, onde estava internado o ministro, e levou-lhe o ato de minha nomeação, que foi assinado na UTI.

A primeira luta visava, evidentemente, recriar a Capes. Os próprios funcionários, com total apoio da comunidade científica, já tinham começado a fazer uma enorme mobilização, na qual me incorporei. E conseguimos ressuscitar o órgão, com o apoio integral do próprio ministro.” Eunice Ribeiro Durham

2020: Será que dois raios caem na mesma Coordenação?

QUEM LÊ PENSA QUE ESTAMOS NO SÉCULO XXI: “Tínhamos uma reunião por semana, eu contava o que estava fazendo, e o ministro aprovava. Aprovou até mesmo minha iniciativa de acabar definitivamente com as bolsas administrativas, aquelas de origem mais política, distribuídas por fora do sistema, sem passar pelo Comitê — fiquei chocada quando soube que existiam. Conversei com alguns deputados e senadores, explicando que o procedimento era politicamente contraproducente, pois não há bolsas para todos, e cada parlamentar satisfeito geraria outros dez irritados. Consegui convencê-los sem maiores dificuldades.”

Essa luta durou toda a minha gestão, ou seja, um ano e meio. Em primeiro lugar, foi preciso recriar a Capes tal como era antes, mas como ela tinha sido extinta, foi necessário negociar com a Secretaria de Administração, uma discussão muito dura. Boa parte dos funcionários tinha sido colocada à disposição ou simplesmente demitida, e os cargos tinham sido extintos. Só para recompor a estrutura anterior foi um trabalho hercúleo, para o qual tive grande ajuda de Angela Santana, uma das minhas diretoras, que conhecia bem Brasília, os políticos, os administradores, etc. Conseguimos um quadro mínimo e começamos imediatamente um novo trabalho para

transformar a Capes em fundação, o que lhe daria maior liberdade de ação.”

Mais fritado que pastel na rodoviária…

Ao mesmo tempo que lutava para transformar a Capes em fundação, fiz um esforço muito grande para informatizá-la. Ainda me lembro de distribuir bolsas com umas folhas de papel almaço coladas, com aquelas enormes listas de programas, número de bolsas nos últimos 3 anos, quantas bolsas o CNPq dava, para saber quantas dava a Capes; tudo era feito à mão pela Angela Santana. No Ministério havia um daqueles grandes computadores centrais, extremamente ineficiente, que armazenava os dados da Capes; obter qualquer informação daquele computador era absolutamente impossível.

A Capes fôra organizada de uma forma, teoricamente, muito satisfatória. Havia 3 sistemas: o Programa de Demanda Social, que privilegiava os programas consolidados; o Programa de Bolsas no Exterior, e o Programa Institucional de Capacitação Docente, o PICD, que oferecia bolsas a professores de universidades que não possuíam pós-graduação, para eles estudarem nos centros de pós-graduação. Com o Programa de Demanda Social havia uma questão séria: foram se acumulando distorções históricas, e era preciso rever os critérios de distribuição de bolsas entre os diferentes programas, avaliar a eficiência e a eficácia das bolsas, o que introduziu o critério de tempo de titulação.”

Um dos problemas do Brasil é que as pessoas só olham para o próprio umbigo. Minha vantagem, por ser antropóloga e ter começado a trabalhar com o Nupes, é que pude ter, desde o início, uma visão comparativa e cosmopolita. No mundo inteiro o mestrado estava em cheque; a França tinha acabado de eliminá-lo, mantendo o DEA — Diplome d’Études Approfondis e o doutorado. Nos Estados Unidos, o mestrado só é importante para administração e formação de professores: é um mestrado profissional. Em suma, esta foi uma linha de batalha, de discussão nas reuniões e com os programas, e sofreu grande oposição; mas começou a frutificar, porque a luta continuou depois que deixei a Capes. Mas reconheço que até hoje existe resistência, porque a universidade é extremamente conservadora e corporativa; ninguém quer mudar nada.”

Quando entrei para a SESu, embora conhecesse bastante bem o ensino superior, não tinha idéia do problema dos hospitais, jamais tinha lidado com eles. Só então descobri que tínhamos 44 hospitais; tomei um susto! Minha primeira reação foi: <Transferimos todos para o Ministério da Saúde.> Depois vi que, na situação brasileira, a manutenção de hospitais universitários é essencial para o sistema de saúde. Iniciei imediatamente a montagem de um sistema de avaliação para a distribuição de verbas; comecei a levantar os custos dos hospitais, sempre na relação custo/paciente. A diferença entre um hospital e outro era absolutamente brutal. Não havia nenhuma eficiência dentro do sistema, nenhuma racionalidade no uso de recursos; a situação dos hospitais era um verdadeiro horror.” “Quando o hospital tinha verba, a universidade a utilizava, contratando pessoas com as verbas do hospital para trabalhar na universidade; e quando o hospital não tinha verba, contratava pessoal para si como se fosse assistente das faculdades. Resultado: era impossível saber com certeza quanto custava o hospital.”

Foi na minha gestão à frente da Secretaria que formulamos o projeto básico do Fundef, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério.”

Fazer uma mudança no currículo de um curso é complicadíssimo, de tal forma que os anos passam, e os cursos são totalmente inadequados para os alunos. Cada professor é dono de sua disciplina, ensina o que quer, não tem nenhuma obrigação de pensar o que é necessário. E a demanda dos alunos vai em direção totalmente contrária. O aluno tem uma vantagem e uma desvantagem: normalmente, é capaz de ver os defeitos, mas é incapaz de propor uma solução razoável. Já os professores não querem mudar, de modo que o sistema entra numa inércia terrível.”

* * *

É digna de nota esta continuidade das ações na Capes; nenhum dirigente entrou lá para mudar tudo. Todos mantiveram a maioria dos programas, sempre aperfeiçoando, melhorando, mas ninguém fez terra arrasada da gestão anterior.” A.S.

Acontece que a Capes era um órgão autônomo da administração direta, e a reforma promovida pelo governo Collor extinguiu essa figura jurídica da administração pública federal. Com isso, a agência ficou no limbo: existia, mas não tinha personalidade jurídica definida, não era nem autarquia, nem órgão de administração direta; mas tinha CGC, mantinha conta em banco e recebia recursos do Tesouro Nacional. Uma maluquice! Aí decidimos transformar a Capes em fundação.”

Absolutamente “patriarcal”, típico do brasileiro (crer-se esperto, tentar levar vantagem a todo custo): “E informamos ao Planejamento: <Esse é o custo da bolsa.> O que fazia tradicionalmente o Planejamento? Pegava o número de bolsas de mestrado e multiplicava por 12 mensalidades; esse era o custo das bolsas de mestrado no ano. Aí nós dissemos: <Tem mais o auxílio-ida, o auxílio-volta, o auxílio para confecção de tese, auxílio para cobrir as despesas de laboratório, etc.> Inventávamos umas despesas nas bolsas do país. E mais: <Portanto, não são 12 mensalidades, são 15. O custo anual da bolsa, na realidade, é o valor mensal vezes 15 parcelas.> Como eles não cortam orçamento de bolsas, aumentamos seu custo anual unitário. Com esse mecanismo, conseguimos repassar recursos e restabelecer o fomento, com base no número de bolsistas da Capes que tinha o curso.”

NUNCA SE DESPEÇA: QUANDO A SENHORA DEIXOU A CAPES? Saí em 2 de janeiro de 1995.”

SAUDADE DAQUILO QUE EU NÃO VIVI: “Sou até hoje apaixonada pela Capes, e não apenas porque trabalhei lá durante 18 anos, desde 1977, como assessora regional do PICD, até 1995. A Capes funciona como todo órgão público deveria funcionar. Como é um órgão pequeno, da decisão à ação tudo é muito rápido. Ali todo mundo se conhece, partilha um espaço físico pequeno. Oficialmente, a Capes tem uma estrutura piramidal, mas funciona efetivamente em rede, o que dá a ela enorme agilidade em termos de funcionamento; ou seja, tudo é implementado com muita rapidez. A comunidade científica percebe essa eficiência — as coisas são negociadas, discutidas e imediatamente implementadas — e se sente participante da Capes. Ou seja, trata-se de um segmento da sociedade que participa da elaboração e da implementação da política pública que gera conseqüências em seu dia-a-dia. Sob essa ótica, a Capes é um espaço efetivamente democrático do governo federal, e acredito que historicamente se constitua no primeiro caso de orçamento participativo da administração pública. A Capes traz o cliente para dentro.

17 ANOS E A INVERSÃO DA REALIDADE: “Aliás, na Capes todo mundo conhecia os bolsistas pelo nome, inclusive os do exterior — no CNPq era tudo número. Nossos bolsistas ficavam encantados com isso, porque não eram tratados como números; isto faz muita diferença. Quando se está no exterior, jovem, tendo sua primeira experiência, a insegurança é muito grande. Por isso, é fundamental que na outra ponta esteja um funcionário que o conheça, saiba de seus problemas, ajude no que puder. A vida do bolsista está praticamente nas mãos daquela pessoa.”

* * *

Alberto Coimbra, então diretor da Coppe, realizou a façanha de contratar, em plena ditadura, 3 professores russos — meu orientador de mestrado era russo.” Sandoval Carneiro Jr.

Angela achava que eu tinha o perfil adequado e disse que eles precisavam que eu coordenasse o processo de transição de autarquia para fundação” Passei na droga de um concurso para uma fundação e até hoje mal sei diferenciar uma fundação de uma autarquia!

No início do governo Collor, os apartamentos funcionais tinham sido postos à venda, por isso, tudo o que o governo oferecia eram 30 diárias de hotel — lembro que nosso salário equivalia a uns 700 dólares. Por sorte, uma prima de minha mãe, já com os filhos casados, morava em Brasília num apartamento grande, e me convidou para ficar com ela. Quando aceitei assumir a Capes, coloquei uma condição: eu não queria cortar os vínculos com a universidade, porque até estava orientando alguns alunos, estava envolvido com o curso de doutorado, que estava começando. Assim, combinei de ficar no Rio às segundas-feiras, para conversar com meus alunos, e passar de terça a sexta-feira em Brasília.”

No setor de bolsas no exterior, por exemplo, a responsável não falava inglês, ou falava muito mal.” Mas não diga! Na CAPES?! Inacreditável!

a informatização da Capes durou muitos anos, só terminou inteiramente no ano passado [2000!], apesar de ser prioritária. Naquela época, a Internet já estava começando a atuar, e era preciso treinar os funcionários para seu uso.” É hora de outra “informatização”, ou minha carroça vai criar vida própria e sair voando ou planando asadelta pela Esplanada…

O pessoal do CNPq é muito atencioso, mas poucos tinham a postura que encontrei, mais tarde, na Capes, em muitos funcionários: uma atitude de dedicação total à agência.” Mas antes não fossem – muitos problemas psiquiátricos com filhos de ex-funcionários e atuais funcionários teriam sido cortados pela raiz…

a Capes decidiu, por exemplo, que os bolsistas de pós-doutorado e especialmente do doutorado-sanduíche poderiam viajar sem a família, e com isso cortou as verbas para passagens e outros benefícios aos quais pelo menos a esposa tinha direito. Essas coisas vão mudando ao longo do tempo, dependendo das idiossincrasias dos dirigentes.”

* * *

Sou mineira de Pouso Alegre e formei-me em ciências sociais na Faculdade de Filosofia e Letras de Juiz de Fora, então instituição privada, que depois se tornou a Universidade Federal de Juiz de Fora. Estava passando férias de Natal na minha cidade e, dançando num baile com o antropólogo Roque Laraia. Soube que o Museu Nacional, aqui no Rio, estava oferecendo uma bolsa para um curso de especialização em antropologia social organizado por Roberto Cardoso de Oliveira. Meu sonho, na época, era vir para o Rio para cursar a Escola de Belas-Artes, o que minha família não apoiava. Então, vi nesse curso uma oportunidade. Eram 25 candidatos para 3 vagas; candidatei-me e passei. Vim para o Rio em 1960 para fazer o curso em tempo integral; entrava no Museu no máximo às 9h e saía às 17h, com uma carga brutal de leitura. Foi um curso excepcional. Éramos 3 alunos com 5 professores, fora os estrangeiros que passavam de vez em quando: Roberto Cardoso de Oliveira, Luís de Castro Faria, Roberto Da Matta, Roque Laraia e Alcida Rita Ramos.” Maria Andréa Loyola, mais uma das presidentas do meu órgão que é também minha colega de “raiz de formação”! (Antropólogos dominariam o mundo, se tivessem qualquer interesse nessa vã empreitada!)

SÓ ACREDITO PORQUE ESTOU LENDO, JÁ DIZIA JOÃO GUILHERME – “SÉCULO 2.064” E UMAS PORRAS DESSAS AINDA ACONTECIAM!!!: “Na época, houve um processo contra mim, que ficou famoso, saiu até nos jornais do Rio. O próprio catedrático da cadeira de sociologia, que havia me convidado para trabalhar com ele, resolveu abrir um processo contra mim, usando trechos descontextualizados do livro de Kingsley Davis, A sociedade humana. Começou a me acusar das coisas mais malucas: o principal era pregar que o homem se origina do macaco! Dizia também que eu era contra o tabu do incesto, a favor do infanticídio como forma de controle da natalidade, do amor livre, do tecnicismo e do comunismo. Enfim, esse processo acabou se transformando num inquérito administrativo conduzido pela Reitoria, onde fui interrogada. O negócio durou um tempão, saiu nos jornais, e acabei uma pessoa malvista na cidade. Na época, eu já lecionava na UFMG, na Faculdade de Sociologia e Política, substituindo o Rubinger, que havia sido preso e depois exilado na Bolívia ou no México, não me lembro bem.”

Saiu o AI-5 e, finalmente, fui aposentada junto com o pessoal da UFMG — eu estava licenciada da Universidade de Juiz de Fora para fazer o mestrado — na mesma época em que Fernando Gabeira, meu amigo e vizinho aqui no Rio, era tido como líder do grupo que seqüestrou o embaixador americano. Eu fui a única professora aposentada de Juiz de Fora e minha foto saiu em todos os jornais da cidade, junto com a do Gabeira. Minha fama de bicho-papão cresceu enormemente.”

SENTIMENTO QUE NÃO POSSO COMPREENDER, DEVIDO AO ANO EM QUE NASCI: Foi uma época dificílima, porque a experiência de exílio é muito ruim; mas foi muito rica intelectualmente. Freqüentei o seminário de Alain Touraine, Raymond Aron [provavelmente o mais burro da turma], Lévi-Strauss, Foucault, Althusser, Poulantzas e vários outros.”

TÁ ZOANDO! “Na PUC tive chance de trabalhar com Carmen Junqueira, Otávio lanni, Florestan Fernandes, Vilmar Faria e Bolivar Lamounier. O Cebrap era um centro dinâmico e efervescente em termos de discussão e troca de idéias; trabalhei e convivi com pessoas como Fernando Henrique e Ruth Cardoso, Francisco Weffort, Elza Berquó, José Serra, José Artur Gianotti, Vilmar, Bolivar, Paul Singer, Francisco de Oliveira, Aracy e Leôncio Martins Rodrigues, para citar apenas os mais conhecidos. Lá fiquei durante 6 anos, quando a UERJ decidiu abrir o programa de mestrado em medicina social. Fui convidada para fazer uma pesquisa sobre medicina popular, com um grande financiamento da Finep. Como a situação financeira do Cebrap era irregular e a PUC, naquela época, nunca pagava em dia, resolvi assumir essa pesquisa como um reforço de caixa. Fiz a pesquisa em Nova Iguaçu e depois voltei à França, em 1980, para trabalhar com Pierre Bourdieu.”

Quando cheguei, ele disse simplesmente: <Quero que você assuma a Capes. É um pedido, e não quero ouvir um ‘não’.> Fiquei assustadíssima, porque o meu contato com a Capes era um contato de usuária, da época em que coordenava o mestrado do IMS. Só.” “o salário era baixíssimo, e o Collor tinha acabado com os apartamentos funcionais.”

Quando entrei, o orçamento da Capes era só bolsa, e com atraso. Conseguimos primeiramente manter as bolsas atreladas aos salários dos docentes, o que implicou um aumento no seu valor. Em seguida, que o Itamar determinasse que bolsa era igual a salário, não podia atrasar; isso foi decisivo. Como resultado, os recursos chegavam em tempo hábil; o resto era seguir o fluxograma. E o José Roberto foi realmente uma peça fundamental; muito bom, cabeça muito criativa; devo muito à sua habilidade. Para o exterior, passamos a remeter o dinheiro com antecedência; os bolsistas recebiam três meses de uma vez, e assim já sabiam que teriam tranqüilidade pelos três meses seguintes. Outra pressão muito forte vinda do exterior resultava da decisão tomada pela Eunice de reduzir o tempo de bolsa na França; havia cartas, pedidos, uma reclamação generalizada. Concordei que, de fato, não tinha sentido passar quatro anos fora. Em função disso, comecei a atacar o setor externo da Capes, pois era tudo muito caro — cada aluno no exterior custava quase 25 mil dólares por ano. Procurei, então, racionalizar: em vez de aumentar o tempo de duração da bolsa, atacar os problemas que retardavam os doutorados no exterior, e acho que desenhei uma verdadeira politica para o setor, à qual Abílio Baeta Neves deu continuidade e cujo ponto principal era trabalhar, cada vez mais, através de acordos de cooperação, do tipo Capes-Cofecub.” Parecia uma ótima idéia, a princípio…

O Acordo Capes-Cofecub começou em 1974 como um programa criado para apoiar o Nordeste; era um projeto de pesquisa conjunta. Havia uma missão inicial: levava-se o nordestino para a França, com o objetivo de identificar um parceiro para a cooperação; aí vinha o professor francês e selecionava alunos para fazer mestrado e doutorado — na época, muitos nordestinos se formaram na França. Mais tarde, o Rio Grande do Sul descobriu o Capes-Cofecub; aí começou a haver uma enorme quantidade de bolsas francesas para o estado. Em seguida, o Sudeste, outras universidades incorporaram o programa e, como resultado, o Nordeste voltou à míngua, e o Capes-Cofecub começou a servir para todas as universidades, basicamente aquelas da Região Sudeste.

Com a ampliação do Capes-Cufecub, fomos cortando as bolsas de mestrado, porque com a melhoria de nosso sistema de pós-graduação não havia mais sentido formar mestres no exterior; ficaram as bolsas de doutorado, doutorado-sanduíche e as missões de pesquisadores dos dois países. As bolsas de doutorado foram mantidas em 3 anos, e para isso tivemos que convencer as universidades francesas a deixar de exigir dos brasileiros o DEA (Diplome d’Études Aproffondies), curso de introdução ao doutorado, de um ano, obrigatório na França.” “de fato, o nosso mestrado — alguns eram verdadeiros doutorados — é infinitamente mais abrangente e aprofundado do que o DEA deles. Concordaram em dispensar nossos estudantes daquele curso. Mas como as universidades francesas são autônomas, essa dispensa foi individualizada, ou seja, por adesão de cada uma. Criamos, então, junto com os franceses, a rede Santos Dumont, formada pelas universidades que aderiram à proposta de dispensar novos bolsistas do DEA. A mesma rede formamos depois com a Inglaterra, chamada Margareth Mee.”

Entretanto, um defeito do programa é que ele sempre foi muito desequilibrado, uma coisa de brasileiros indo para a França como alunos, e franceses vindo para o Brasil como professores [DV!]. Agora está mudando um pouco; no meu projeto, por exemplo, tenho alunos franceses. Mas há também um problema de critérios, regras, pelo lado francês. O governo brasileiro financia os bolsistas que vão para a França, o que é muito importante; a instituição francesa apenas os acolhe — e não há contrapartida, não há no sistema francês uma agência que cumpra para lá esse papel que a Capes e o CNPq cumprem para o Brasil: financiar bolsistas. Essa foi uma reclamação sempre presente na negociação. Existe uma bolsa do Ministério da Educação da França, bolsa Lavoisier, mas é muito pequena.

O problema maior é a extrema competitividade do sistema francês. Os alunos sabem que, se saírem de lá, quando voltarem seu lugar já estará preenchido. Eles têm interesse em ir para os Estados Unidos, mas não em vir para cá, porque o Brasil não dá prestígio, não dá currículo, não contribui de maneira significativa para a carreira do pesquisador francês. Os próprios pesquisadores, quando vêm, é por um período muito curto; os grandes nomes ficam apenas uma, duas semanas. Essa é a realidade.” Bolsa Tristes Trópicos

Quando cheguei, quase caí para trás. Comparada a outros prédios de Brasília, todos suntuosos, a Capes era praticamente uma favela. Tinha 5 computadores, sendo que 3 não funcionavam. E aqueles processos todos empilhados, bolsas contadas à mão! Eu pedia dados, não havia; informação, nenhuma. A história da Capes era zero. Existe um famoso porão no MEC, cheio de documentos, mas na prática indisponíveis, devido à dificuldade de acesso; na própria Capes não havia nada, até porque também não havia espaço. Foi para preservar a memória da agência que resolvi retomar as publicações, há muito interrompidas, lançando o Infocapes e outras publicações do tipo: Cursos de mestrado e doutorado, Cursos de pós-graduação lato sensu, A avaliação e seus resultados, etc. E o Abílio continuou e ampliou o elenco de publicações da Capes, melhorando inclusive a apresentação, que está melhor e muito bonita. No processo de reformulação da agência, mexi inclusive em sua estrutura.”

Outro problema de organização era o quadro de pessoal. Os funcionários da Capes não faziam parte da carreira de ciência e tecnologia. Essa era outra situação esdrúxula, que procurei encaminhar. Também não foi fácil, mas acabou saindo. Realmente, era estranho: por que o pessoal do CNPq faz parte da carreira de ciência e tecnologia e o da Capes não? Isso implicava um aumento salarial significativo para os funcionários da Capes, que eles reivindicavam com razão. Tinha ainda a assistência médica dos funcionários, a assistência previdenciária; éramos uma grande família, totalmente desinstitucionalizada.”

Isso foi a coisa que me deu mais trabalho: ficar no telefone conversando com a direção de outros órgãos para conseguir funcionário. Mas conseguimos algumas melhorias com a implantação de um plano de racionalização administrativa e de capacitação de recursos humanos e com a simplificação de procedimentos, sobretudo com a informatização.”

o critério de publicação internacional em revistas reconhecidas, quando generalizado, é problemático. O modelo adotado tem, a meu ver, nefasta inspiração nas ciências exatas.”

Há um professor na biologia da UERJ que, quando discutimos a possibilidade de criar uma revista de pesquisa, considerou que a publicação deveria ser escrita em inglês, caso contrário não seria lida; em parte ele tem razão, mas não vamos exagerar. Aliás, a revista da Academia Brasileira de Ciências é toda em inglês. Escrevi uma cartinha para eles, dizendo que isso é um absurdo; pode ser bilíngüe, ter resumo em inglês, mas publicar toda a revista da Academia Brasileira de Ciências exclusivamente em inglês?! Acho um exagero, uma rendição cultural.”

O que me preocupa mais é essa postura dominante, toda ela centrada numa visão tecnológica da ciência. O desenvolvimento das humanidades, das artes e das ciências sociais é um patrimônio da humanidade, e nenhuma sociedade pode pretender desenvolver-se de fato se não tiver uma boa filosofia, uma sociologia, uma antropologia, uma história bem feitas.”

BRASILEIROS, MAIS REALISTAS QUE O REI: “Meu problema com as universidades privadas não é o fato de serem privadas, é o fato de visarem apenas ao lucro. Ou seja, por trás delas há o enriquecimento de um grupo, que não vai reinvestir, ou o fará limitadamente, na própria universidade. Quando se fala que as universidades americanas são privadas, esquece-se de dizer que na maior parte delas, ao menos nas mais importantes, todos os recursos são reinvestidos na própria universidade. E é por isso que elas têm as bibliotecas que têm, que produzem o que produzem. Aquilo não é de uma pessoa, nem de um grupo, mas de uma comunidade; não são instituições que visam ao lucro, no sentido capitalista do termo, como é o caso — não de todas, como as confessionais — da maior parte das universidades privadas brasileiras.

como o professor não quer mais lecionar no curso de graduação, a universidade vai se deteriorando cada vez mais. Lembro-me de que um dos critérios que introduzi no sistema de avaliação para dar conceito A a um curso de mestrado ou doutorado era a relação com a graduação, não apenas em termos da participação do professor nas aulas, mas também quanto ao desenvolvimento pelo programa de alguma atividade que contribuísse para elevar a qualidade desse nível de ensino.”

FOR GENTLEMEN TO SEE: “Iniciei também um sistema de acompanhamento dos bolsistas no exterior, que não sei se teve continuidade foi incluída, entre as obrigações constantes do termo de compromisso assinado pelo aluno, a de manter atualizado seu endereço durante 5 anos, para podermos fazer esse acompanhamento. Isso é fundamental. Estou tentando implantar isso na UERJ — o que não consegui fazer na Capes, estou tentando agora.”

¹ Não!

o próprio mercado já incorporou essa idéia de mestre e doutor. No Brasil, isto virou sinônimo de uma formação mais aprimorada e mais avançada. Minha proposta era termos dois tipos de formação, a partir da graduação: a acadêmica e a profissional. Na primeira vertente, teríamos o mestrado e o doutorado clássicos; na segunda, passaríamos da graduação para um curso no mesmo nível do mestrado acadêmico, mas de caráter profissionalizante. Caso a pessoa quisesse voltar para a carreira acadêmica, cursaria algumas disciplinas complementares e poderia se inscrever no doutorado; senão, já estaria preparada para o mercado.” “Tem especialização boa e ruim. E é por isso que o mercado começa a exigir mestrado, porque não confia nesses cursos de especialização; no dia em que o mercado puder confiar na especialização, o mestrado perde o sentido para ele.” “Não tem o menor sentido procurar mestres. Como não faz sentido o investimento da agência, da universidade e do aluno, em tempo e esforço, para ter um diploma cujo valor, na prática, é muito relativo para ele.”

Hoje em dia, já não há necessidade de mandar gente se formar no exterior; mas continuo considerando importante a convivência do aluno com outros sistemas de ensino e com outras culturas, é uma forma de enriquecimento muito grande; o doutorado-sanduíche atende perfeitamente bem a isso.”

* * *

LEAP OF FAITH: “Depois de estudar em colégios públicos, transferi-me para o Colégio Anchieta, de padres jesuítas, velho sonho de meus pais. Muito provavelmente por forte influência da escola, decidi cursar ciências sociais, opção complicada no final da década de 1960. Graduei-me na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e depois ingressei na primeira turma do mestrado em ciência política e sociologia. Cumpri todos os créditos mas não escrevi a tese, porque em 1975 segui para a Alemanha, para fazer o doutorado na Universidade de Münster. Como já trabalhava na UFRGS, para lá retornei depois de defender a tese.” Abílio

Politicamente, sempre participei muito do MDB gaúcho, e em 1985 envolvi-me na campanha de Pedro Simon ao governo do estado, defendendo a criação da Secretaria de Ciência e Tecnologia e a revitalização da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado, a Fapergs, que estava definhando. Assim, quando Simon venceu a eleição, foi natural que eu fosse trabalhar na recém-criada Secretaria de Ciência & Tecnologia — e considero que tivemos algum sucesso nesse campo.”

Só agora as pessoas começam a se dar conta do papel assumido pela Capes após a extinção do Conselho Federal de Educação. No final de 94, pela primeira vez, seu sistema de avaliação alcançou uma força que não possuía. Concedeu-se a esse sistema o poder de validar os diplomas do sistema federal de pós-graduação.”

todo mundo precisava saber se um curso que recebe nota 5 na área de sociologia equivale realmente, em termos de excelência, a outro que recebe a mesma nota na área de física, por exemplo. A única equivalência possível teria que ser obtida pela qualidade do produto, e esta precisa conter relação com algum parâmetro mais internacional.

MAS ISTO É INJUSTO COM AS CIÊNCIAS SOCIAIS, ÁREA EM QUE É POSSÍVEL EXISTIR UM EXCELENTE TRABALHO QUE NÃO INTERESSE ÀS PUBLICAÇÕES ESTRANGEIRAS.

(…) Não adianta simplesmente insistir no fato de que as ciências humanas e sociais são diferentes das exatas. Diferentes em quê? É preciso guardar as especificidades, mas não se pode ficar no papel de primo pobre ou exótico. Depois da avaliação de 98, decidimos trazer equipes internacionais para avaliar os cursos que obtiveram notas 6 e 7. A reação das ciências humanas foi impressionante, quase anedótica: gente importante da área criticou pesadamente: <Como vão avaliar de fora a produção das ciências sociais brasileiras, da sociologia, da ciência política? Por que vão trazer pessoas que só falam inglês para nos avaliar? Nossa língua é o português, portanto só aceitamos ser avaliados em português> — essa crítica veio de gente muito importante do Rio de Janeiro, embora revele uma perspectiva extremamente paroquial.” Neoliberalismo rasteiro.

MARX E O PREÇO DO GRÃO (misturando alhos com bugalhos): “Ciências agrárias são a área em que o Brasil mais contribui, proporcionalmente, para a produção de conhecimento mundial. Como, então, afirmar que não existe internacionalização da ciência agrária?!”

MAIS, MAIS, MAIS E MAIS ARTIGOS, UHUL, RUMO À LUA, RUMO À MARTE! “Se hoje estamos exigindo uma produção per capita, em circulação nacional e internacional, de 2 ou 3 artigos por ano, na próxima avaliação é provável que este número suba para 4; o patamar será mais alto. Esta mudança é fundamental.”

Na distribuição anual de bolsas, os melhores são beneficiados, mas de uma forma muito pequena, porque a Capes não pode deixar de dar bolsas para um curso novo, caso contrário matará a própria expansão da pós-graduação.”

Há muitos programas excelentes de pós-graduação que, historicamente, recebiam quase exclusivamente bolsas do CNPq — alguns programas na área de física, ciências sociais, antropologia, ciências biológicas, áreas que se qualificaram rapidamente e viveram muito mais do apoio do CNPq do que da Capes. Eles recebiam as bolsas e as taxas de bancada. Dando um exemplo bem concreto: na área de física da UFRGS, em Porto Alegre, um programa nota 7 em duas avaliações só tem uma ou duas bolsas de doutorado da Capes, porque vivia do apoio do CNPq. Quando o CNPq deixou de dar taxa de bancada, o programa sofreu um baque brutal de recursos.” DV

* * *

ENTREVISTAS COM AD HOCs

Em 1951, Paulo de Góes criou uma pós-graduação lato sensu no Instituto de Microbiologia — um dos primeiros ensaios de pós-graduação no país. Ainda não dava título de doutor nem de mestre. Iniciou-se um curso de especialização com duração de um ano, para formar especialistas em microbiologia. Quando foi criado o curso de especialização, nós nos mudamos para um prédio atrás da Reitoria, na Praia Vermelha, o antigo refeitório dos doentes mentais, tudo muito improvisado, mas funcional; recebíamos, às vezes, 80 alunos por ano para fazer o curso.” Amadeu Cury, ex-reitor da UnB

Não se pode desmerecer a capacidade de julgar de uma pessoa só porque seu próprio departamento poderá ser beneficiado. O que deve ser julgado é o mérito.”

O período de 1966 a 1969 foi, a meu ver, o mais sombrio da Capes, que identificamos com a Idade Média, em razão do manto negro que cobriu a instituição.”

Biologia e medicina tinham muita influência, muita presença. Sempre tiveram. Havia engenheiros, químicos mas, curiosamente, não havia matemáticos, pelo menos na minha época. Os mais próximos da matemática talvez fossem Kurt Politzer, professor de tecnologia industrial na Escola de Química da UFRJ, e José Válter Bautista Vidal, geoquímico. Posteriormente vieram os matemáticos: Lindolpho de Carvalho Dias e Jacob Pallis.”

Quando assumi, verifiquei que o <interior> da Universidade de Brasília não era nada do que se dizia. Dez anos após sua criação e funcionamento, a Universidade só tinha 3 ou 4 cursos aprovados pelo Conselho Federal de Educação! Portanto, depois de 10 anos ainda não havia concedido diplomas para a quase totalidade dos cursos. Pouca gente conhece esta verdade histórica. Nem mesmo base física havia, somente umas poucas construções como o prédio da Faculdade de Educação, onde estava instalada a Reitoria, o auditório Dois Candangos, 3 grandes galpões em frente e um reduzido trecho da parte sul do Instituto Central de Ciências, mais conhecido como <Minhocão>.”

Pois bem, decidimos que a primeira coisa a fazer era pôr ordem no caos. Toda universidade faz um contrato com seus alunos: Se você for aprovado no vestibular e fizer o curso, ao final receberá um diploma. Mas a UnB não dava! Vivíamos assediados por várias empresas que desejavam contratar recém-formados, mas não podiam, porque eles não tinham diploma. Paramos tudo o que estávamos fazendo e passamos um longo período, cerca de um ano, organizando curso por curso: freqüência, disciplinas obrigatórias, complementares, optativas, currículos, créditos, períodos, tudo!”

Havia um curso de cinema! Tinha quatro alunos mas não tinha programa, nem currículo, nada! Consegui com o reitor da UFF, onde havia um curso regular de cinema, que aceitasse os nossos 4 alunos pois não iríamos manter um curso sem qualquer estrutura, apenas para 4 alunos.”

Quando o Instituto de Matemática Pura e Aplicada, o Impa, foi fundado, em 1952, ocupava duas salas pequenas dentro do CBPF, de modo que havia uma certa confusão entre CBPF e Impa. Mantínhamos distância da Faculdade de Filosofia, controlada por pessoas complicadas, não muito competentes, mas que dominavam o processo acadêmico — a exceção era Maria Laura Mousinho, que tinha fortes vínculos com o Impa e o CBPF.” Lindolpho Dias, matemático

O CNPq, por sua vez, tinha tido um início muito promissor, de grande ebulição, quando foi presidido por seu criador, o almirante Álvaro Alberto; muitas coisas foram feitas até 1955, quando ele deixou a presidência, e o CNPq perdeu prestígio.”

Muita gente entende que Capes e CNPq são a mesma coisa e deveriam até se fundir num único órgão. Mas eu vejo uma diferença fundamental entre eles: a Capes, como indica o próprio nome, é um órgão do Ministério da Educação cuja finalidade básica é o aperfeiçoamento de profissionais de nível superior, não necessariamente através de pesquisa. Por isso, é perfeitamente natural que ela ofereça uma bolsa a um médico que não pretenda fazer pesquisa, mas apenas aprimorar-se no exterior ou no Brasil. Ou ainda para um advogado passar um período fora, para eventualmente até fazer um doutorado, mas sem se obrigar, a priori, a ser um pesquisador. Já o CNPq, cujo nome original era Conselho Nacional de Pesquisas e depois mudou para Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, tem como alvo específico a pesquisa científica e a tecnológica e, mais recentemente, o desenvolvimento tecnológico; suas bolsas devem ter por objetivo aprimorar um pesquisador. É claro que isso é subjetivo, e muita gente que recebeu bolsa não se transformou em pesquisador.”

Engraçado como em 2001 não havia essa TARA ABSOLUTA pela pesquisa que toma conta do mundo acadêmico hoje. O que a CAPES devia fomentar, então? Certamente a docência era vista com mais respeito (não que faça tanto sentido, de qualquer forma, desvincular ensino e pesquisa), mas nos exemplos dados pelo entrevistado fica claro que essa não era nem nunca foi a prioridade dos bolsistas: médicos queriam preencher currículo para chegar a postos de trabalho no topo, advogados, idem. E o mais embaraçoso é que os aprovados em concurso da CAPES são Analistas em CIÊNCIA & TECNOLOGIA. A rigor, não têm mais nada a ver com o MEC.

Em 1950, quando fiz vestibular, o número de alunos no ensino superior no Brasil era de 60 mil. Aqui no Rio, eram 300 vagas para engenharia: 200 na UFRJ e 100 na PUC; em São Paulo só existia a Escola Politécnica. E não havia uma tradição de pesquisa.”

em 51 houve esse fato importantíssimo da fundação do CNPq e da Capes; tanto o Ministério da Educação quanto a Presidência da República, na época, consideraram importante a criação dos dois órgãos. Claro que houve forte motivação com a explosão da bomba atômica e coisas desse tipo.”

COMO O SENHOR AVALIA A EVOLUÇÃO DA CAPES ENTRE 1964 E 1974?

Suzana Gonçalves tinha prestígio, porque era prima da falecida esposa do presidente Castelo Branco, d. Argentina, e irmã de Elisinha, então casada com Válter Moreira Sales. Apesar de muito culta, tenho a impressão de que ela não tem pós-graduação formal. (…) Suzana estudava muito e era muito ativa no Conselho; era uma administradora, e muito boa. Depois que Muniz de Aragão saiu da Diretoria do Ensino Superior, entrou aquele maluco, um amazonense chamado Epílogo de Campos, um horror. Completo maluco! Aliás, o próprio nome indica; era uma família Campos, do Amazonas, com um filho chamado Prólogo, este Epílogo e até uma moça chamada Errata!”

O que ocorre é que as antigas autarquias tinham ficado muito burocratizadas, e as fundações representaram uma libertação. Cada fundação tinha seu plano salarial, podia contratar pela CLT e sem concurso, tinha autonomia de gestão de pessoal, as licitações eram simplificadas. Mas a lei do Regime Jurídico Único, de dezembro de 90, acabou com tudo isso. Hoje, a administração da Capes como fundação, assim como o CNPq, tem as mesmas restrições de uma autarquia. Não se pode demitir nem contratar com autonomia. [Benzadeus!] Sabe quem tem poder para demitir um motorista que roubou? O presidente da República! [Faz arminha!]

Comparando com a Argentina, a situação fica ainda mais estranha, porque lá o autoritarismo efetivamente acabou com a ciência e tecnologia, enquanto o nosso regime militar trabalhou com a ciência e tecnologia, porque era desenvolvimentista. Existia uma perspectiva de hegemonia no Atlântico Sul, principalmente durante o governo Geisel, entre 1974 e 1979. Mas a verdade é que em 1985 nós não percebíamos a imensa inflexão econômica que o país estava vivendo e talvez tenhamos insistido num modelo que estava esgotado, não como perspectiva mas como formato — inclusive, uma série de características desse modelo está voltando agora, no final da década de 1990. Na política de hoje há muita coisa para se aprender com o modelo peluciano.” Reinaldo Guimarães

TRAGÉDIA MILITAR, NÃO? FINANCIARAM BONS REDUTOS MARXISTAS! “É admirável que, durante aqueles anos de chumbo, Pelúcio tenha organizado na Finep um grupo de pesquisa em política industrial, em economia da tecnologia, onde estavam Maria da Conceição Tavares, Carlos Lessa, Simon Schwartzman, Marcelo Abreu, José Tavares. Além disso, graças ao Pelúcio fundou-se o Instituto de Economia da UFRJ, o Instituto de Economia da Unicamp, o Cpdoc; foi o momento de explosão desses centros todos. Esse foi o maior legado do José Pelúcio Ferreira. Embora fosse um economista, seu maior legado foi a institucionalização da pesquisa no Brasil”

O SENHOR CONSIDERA CAPES E CNPq AGÊNCIAS COMPLEMENTARES, QUE SE SUPERPÕEM EM CERTOS MOMENTOS?

Existe uma disputa burocrática permanente, um eterno ruído de fundo. E não tem jeito, como tudo em Brasília. Isso é uma coisa com a qual se convive, a não ser quando aumenta muito o volume do ruído de fundo. No início da Nova República [1988?], por exemplo, o espírito de equipe era muito grande, porque existia uma mobilização da sociedade inclusive no campo científico e tecnológico, que fazia com que se cimentassem essas relações em cima e o ruído ficasse mais embaixo. Eu comparecia religiosamente a todas as Reuniões do Conselho Deliberativo do CNPq, por exemplo, coisa que depois deixou de ocorrer; atualmente o CNPq não manda ninguém para o Conselho Superior da Capes, fica um banco vazio ou, quando manda, é um técnico de terceiro escalão [tipo um eu].”

E O TEMPO PASSA…: “Lembro muito bem. A Capes foi extinta junto com coisas como a Fundação da Pesca de Carapicu, para fazer uma caricatura da situação. Eunice Durham assumiu como diretora-geral de uma entidade fantasma. A comunidade científica se movimentou, e a Capes foi recriada no Congresso. O impacto aqui fora foi muito grande, houve uma gritaria danada. Extinguir a Capes era uma tolice.

SIM, PORQUE ERA UMA AGÊNCIA EFICIENTE, ALÉM DE MUITO PEQUENA, BASTANTE ENXUTA.

Hoje, tenho uma visão bem crítica sobre essa assertiva de que a Capes é enxuta, seus funcionários são dedicados, etc. Considero que a Capes tem menos funcionários do que precisa e que essa histórica contenção de funcionários acabou por desenvolver certos vícios internos, de grupos dominantes, muito prejudicial à agência. Ali há grupos pesados, e se a diretoria não tomar cuidado, fica submetida a eles, porque emperram tudo. Como é pouca gente, formam-se feudos dos técnicos: a área da fulana, a área do sicrano. Feudos burocráticos.” Hohoho, você não é o Batman mas matou A CHARADA; só faltou dar nome aos boicacos…

Com a Reforma que o transformou em fundação em 1973, o CNPq atraiu pessoal altamente qualificado, porque pagava excelentes salários, e incorporou-se à parte mais moderna da burocracia. Como pagava bem, outros órgãos, que por razões jurídicas não podiam contratar, faziam suas contratações através do CNPq. A partir do momento em que o setor público deixou de ser financeiramente atraente e o CNPq perdeu importância — em 85, com a criação do Ministério de Ciência e Tecnologia, o CNPq deixou de ser o cabeça do sistema —, houve grande evasão. Quando voltei ao CNPq no final do governo Collor para fazer o diretório dos grupos de pesquisa, levei um choque! A decadência era visível até em termos físicos. O edifício do CNPq era uma ruína! Num período relativamente curto, 5 anos, a decadência foi vertiginosa. Isso a Capes não viveu com essa intensidade, protegeu-se, não sei por que razões.”

Em 1986 tinha sido criado um órgão chamado Fórum de Pró-Reitores de Pós-Graduação e Pesquisa — Fopropp, uma sigla horrorosa!” HAHAHAHA

* * *

(*) Simon Schwartzman iniciou a carreira de professor e pesquisador na UFMG, da qual foi afastado pelo regime militar em 1964, só tendo reingressado em 2000, quando se aposentou, de acordo com a Lei da Anistia.”

* * *

Como se sabe, no Brasil as primeiras escolas superiores só foram criadas no início do século XIX com a vinda da família real portuguesa para a colônia, e tinham o único propósito de fornecer quadros profissionais para desempenhar diferentes ocupações na rte; no final do Império, o país contava com apenas 6 escolas superiores. Em 1900, eram 24 as escolas de ensino superior, e três décadas depois o sistema já contava com uma centena de instituições, sendo que várias delas foram criadas pelo setor privado, principalmente pela iniciativa confessional católica. O fundamental a ressaltar é que até o início da década de 30 o sistema era constituído por um conjunto de escolas isoladas, de cunho profissionalizante, divorciadas da investigação científica, atividade essa que era realizada nos institutos de pesquisa, que em geral possuíam tênues laços com o sistema de ensino superior existente. Até esse momento, não fôra criada no Brasil nenhuma universidade institucionalizada.” Carlos Benedito Martins

[a] Universidade de São Paulo em 1934 e a Universidade do Distrito Federal em 1935 — esta, de curta vida — representaram as primeiras tentativas de superação de um padrão de organização do ensino superior, baseado na escola isolada e profissionalizante, e de construção de um novo modelo baseado em instituições mais orgânicas, que integrassem ensino e pesquisa.”

No final dos anos 50, inúmeros estudantes e docentes estavam de volta ao Brasil e nos anos subseqüentes assumiriam a liderança intelectual e científica nas universidades, participando ativamente da implantação dos primeiros cursos de mestrado e de doutorado no país.”

Deve-se destacar ainda que a Universidade de Brasília, que iniciou suas atividades em 1962, incluiu também em suas atividades a existência regular e permanente de cursos de pós-graduação.”

Esses cursos passaram a coexistir com o modelo europeu de pós-graduação, particularmente o francês, presente nos doutorados da USP, que outorgava apenas o título de doutor, através de uma relação acadêmica tutorial entre o orientador e o doutorando que, de modo geral, desenvolvia seu trabalho de forma isolada e artesanal. O título de doutor tendia a conferir mais vantagens simbólicas do que benefícios econômicos e profissionais ao seu detentor e possuía reduzido valor no campo acadêmico, em função da ausência de uma carreira acadêmica institucionalizada no país, com exceção da própria USP, cujo doutorado se incorporou à carreira docente.”

Com o golpe militar de 1964, a política educacional dos anos subseqüentes buscou desmobilizar o movimento pela reforma universitária, desmantelando o movimento estudantil e controlando coercitivamente as atividades de docentes. Ao lado de um conjunto de medidas repressivas, os responsáveis pela política educacional buscaram vincular a educação ao desenvolvimento econômico, que passava a ser comandado por uma lógica de crescente internacionalização, processo esse iniciado em décadas anteriores. Para isso, o governo implantou um sistema de fomento, procurando adequá-lo ao financiamento do desenvolvimento da ciência e tecnologia; o BNDE passou a fornecer auxílio através do Fundo de Desenvolvimento Técnico-Científico, o Funtec, criado em 1964, e posteriormente a Finep passaram a administrar o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, o FNDCT, criado em 1969.”

o resultado da avaliação de 1994 atribuiu a 41% dos cursos de mestrado e a 53% dos de doutorado o conceito <A>, que então era a maior escala existente no interior do processo de avaliação.” Que beleza…

O sistema de avaliação que vinha sendo adotado passou a emitir claros sinais de esgotamento, ao não discriminar mais a qualidade acadêmica dentro dos programas. Na avaliação de 1996, 79% dos cursos de mestrado e 90% dos de doutorado obtiveram conceito <A> ou <B>. Após várias discussões realizadas no Conselho Técnico-Científico e no Conselho Superior da Capes, introduziram-se modificações para apreciação dos cursos; além disso, decidiu-se que a avaliação passaria a ser trienal, com o acompanhamento anual do desempenho dos programas.”

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA: Uma visão crítica, desfazendo mitos e lendas – Tatiana Roque, 2012. – CAPÍTULO 7. O século XIX inventa a matemática “pura” ou “A ERA DO RIGOR”

no século XIX, a análise matemática adquiriu a forma que reconhecemos, ainda hoje, como válida. O movimento de rigorização pode ser dividido em duas fases: uma francesa, na qual se destaca a figura de Cauchy; e outra alemã.”

não bastava reconhecer que infinitésimos, ou limites, eram fundamentos inadequados para a análise; uma doutrina positiva se fazia necessária.”

Não que os matemáticos, preocupados com um suposto estado caótico de sua disciplina, tenham feito uma reunião e combinado os novos padrões que deveriam substituir os que estavam em uso. Os pesquisadores do século XVIII sequer percebiam seus métodos como pouco rigorosos ou desorganizados. Portanto, não podemos afirmar que seus resultados carecessem de rigor, como se eles tivessem o objetivo de avançar sem preocupações com a fundamentação de seus métodos. A noção de rigor se transformou na virada do século XVIII para o XIX porque os matemáticos da época se baseavam em crenças e técnicas que não eram mais capazes de resolver os problemas que surgiam no interior da própria matemática. Ou seja, isso não se deu por preocupações formalistas, nem por um interesse metamatemático de fundamentar essa disciplina. O rigor é um conceito histórico, e a noção de rigor de Lagrange era diferente da de Cauchy, que, por sua vez, também seria criticado por Weierstrass, baseado em sua própria concepção aritmética.”

A discussão sobre as quantidades negativas, durante o século XVIII, mostra que somente os números absolutos eram aceitos, pois se pretendia relacionar a existência em matemática a uma noção qualquer de <realidade>. Para avançar, era preciso migrar para um conceito abstrato de número não subordinado à ideia de quantidade.”

Por volta de 1800, a matemática era teórica e prática ao mesmo tempo. Fazia parte de seu projeto representar a natureza por equações, e os matemáticos teóricos se viam como pertencentes à mesma tradição inaugurada por Newton e outros. Uma das consequências da reflexão sobre a estrutura interna da matemática, que ocupou o século XIX, foi a sua separação da física. Ainda que procurasse se estabelecer como uma disciplina independente, a análise do século XVIII era motivada por problemas físicos que continuaram a exercer grande influência por alguns anos.”

Ainda que, desde o século XVII, as entidades algébricas tenham adquirido um lugar de destaque na matemática, até o final do século XVIII as raízes negativas e imaginárias de equações eram consideradas quantidades irreais. Os números que hoje chamamos de <irracionais> apareciam na resolução de problemas, mas também não tinham um estatuto definido.”

A partir daí, a noção de função terá um papel central na matemática, no lugar das curvas ou das expressões analíticas que as representavam. A expressão <ponto de vista dos Conjuntos> não se refere ainda à teoria dos conjuntos. Essa distinção é importante em nossa abordagem, pois pretendemos contextualizar as contribuições de Cantor¹ para a definição de conjunto no desenvolvimento conceitual e abstrato da matemática na Alemanha, ligado aos nomes de Dirichlet, Riemann e Dedekind.”

¹ Ainda hoje tratado como louco e contestado na própria Matemática.

Os métodos sintéticos voltaram a ser defendidos e o valor atribuído à possibilidade de generalização fornecida pela álgebra passou a ser criticado em prol de métodos que pudessem ser mais intuitivos. O ápice desse movimento ocorreu em 1811 e um de seus protagonistas foi Lazare Carnot.”

Nos últimos anos do século XVIII, Laplace adquiriu grande poder na cena francesa, sobretudo depois de se tornar ministro, com o golpe de Napoleão, em 1799. A partir daí, ele passou a incentivar uma padronização do ensino na École Polytechnique com base na análise e na mecânica. O curso de análise deveria ser dividido em 3 partes: análise pura (ou análise algébrica); cálculo diferencial; e cálculo integral. Além disso, a introdução ao cálculo deveria ser feita com base no método de limites, exposto por Lacroix.”

Segundo Schubring, Lazare Carnot é o melhor símbolo da discussão sobre o rigor em análise que teve lugar na França naquele momento, anteriormente esboçada por d’Alembert. As principais contradições dessa reação consistiam em tentar obter, ao mesmo tempo, uma maior generalização da matemática, mas mantendo o apelo à intuição. Em 1797, Carnot já havia publicado uma obra sobre os fundamentos do cálculo chamada Réflexions sur la métaphysique du calcul infinitesimal (Reflexões sobre a metafísica do cálculo infinitesimal), segunda versão de um texto de 1785.”

Não houve descoberta que tivesse produzido, nas ciências matemáticas, uma revolução tão feliz e tão rápida quanto a da análise infinitesimal; nenhuma forneceu meios mais simples, nem mais eficazes, para penetrar no conhecimento das leis da natureza. Decompondo, por assim dizer, os corpos até os seus elementos, ela parece ter indicado sua estrutura interior e sua organização; mas, como tudo o que é extremo escapa aos sentidos e à imaginação, só se pôde formar uma ideia imperfeita desses elementos, espécies de seres singulares que tanto fazem o papel de quantidades verdadeiras quanto devem ser tratados como absolutamente nulos e parecem, por suas propriedades equívocas, permanecer a meio caminho entre a grandeza e o zero, entre a existência e o nada.” Carnot

Mas sua posição mudará depois dessa data. Carnot foi exilado por razões políticas e retornou à França em 1800, graças a Napoleão, que o designou ministro da guerra. Em pouco tempo, contudo, renunciou ao cargo e passou a se dedicar às questões ligadas aos fundamentos da matemática, publicando, em 1813, uma nova edição de seu livro. Nessa nova versão, reviu suas posições sobre a álgebra, afirmando que seus princípios são ainda menos claros do que os do cálculo infinitesimal. Tal posição refletia a concepção mais geral da época, que voltava a valorizar a geometria e o saber dos antigos. Inspirado por essa tendência, Carnot passou a defender o método dos infinitamente pequenos contra o dos limites e propôs seguir os princípios de Leibniz em análise.

Maine de Biran integrou uma segunda geração do grupo dos idéologues franceses e atacou os defensores da álgebra, destacando o caráter obscuro de seus métodos. Segundo ele, a linguagem algébrica é uma prática cega e mecânica que não possui a clareza da geometria.”

A noção de função será então definida antes das noções de continuidade, limite e derivada, a fim de eliminar as incertezas ligadas à concepção sobre essas noções.”

Quando quantidades variáveis são ligadas de modo que, quando o valor de uma delas é dado, pode-se inferir os valores das outras, concebemos ordinariamente essas várias quantidades como expressas por meio de uma delas que recebe, portanto, o nome de <variável independente>; e as outras quantidades, expressas por meio da variável independente, são as que chamamos funções desta variável.” Cauchy

Durante muito tempo a historiografia da matemática enxergou Cauchy como o pai fundador do movimento de rigor na análise, até que começaram a ser identificados alguns erros em sua concepção de continuidade. As duas imagens são as duas faces da mesma moeda. Ao procurar na obra desse matemático francês antecedentes das noções modernas em análise, podemos nos deparar com erros que frustrarão nossas expectativas. Pensamos ser mais proveitoso ver Cauchy como um homem de seu tempo, que buscava um tipo de rigor que já não era o do século XVIII, fundado na algebrização, mas que também não era o rigor típico do século XIX. Para ele, o conceito de continuidade era fundamental, e essa idéia se associava ao universo das curvas. A noção de função se relacionava implicitamente a essas curvas, uma vez que exemplos de funções que não podem ser vistas como curvas ainda não intervinham na matemática da época.

A matemática não era a ferramenta central de uma busca especulativa pela verdade, e sim o elemento principal de uma cultura ligada à engenharia. Esse papel da matemática ajudou a configurar um certo espírito de corpo na elite francesa, que adquiria uma identidade científica. A Revolução democratizara o ideal meritocrático, que substituiu os critérios de nascimento no acesso aos serviços. A admissão na École Polytechnique passou a se dar por concurso e a matemática ganhou status nessa meritocracia, uma vez que tal saber era tido como capaz de medir a inteligência.”

A física matemática e a mecânica celeste eram os principais campos de pesquisa dos matemáticos franceses no século XIX. Eles procuravam estudar as equações que governam fenômenos físicos em mecânica dos fluidos, eletrostática e eletrodinâmica, teoria do calor e da luz, etc. A análise complexa, desenvolvida por Cauchy, emergiu do estudo de equações diferenciais parciais, ligadas a problemas físicos. Em 1824, o secretário perpétuo da Academia de Ciências de Paris, Joseph Fourier, ao relatar os avanços daquele ano, proclamava: O tempo das grandes aplicações das ciências chegou.

Existia uma separação entre, de um lado, a física matemática e a mecânica celeste; e, de outro, a mecânica que lidava com artefatos para a engenharia ou a indústria. Além disso, havia também a geometria, que trabalhava com instrumentos óticos e sobrevivia desde o século XVII. Mesmo para Cauchy o rigor não era uma restrição nem um objetivo em si mesmo; era a condição para o desenvolvimento de métodos gerais com vistas à aplicação. A prática da matemática não era muito valorizada por si mesma, sobretudo em comparação com seu desenvolvimento na Alemanha das décadas seguintes.

Ao afirmarmos que a pesquisa matemática na França inspirava-se nas aplicações não queremos dizer que sua orientação não fosse eminentemente teórica. O domínio de aplicação de uma teoria era tanto maior quanto mais elevado era seu ponto de vista. Esse princípio levava à busca de uma ciência derivada de uma ideia unificadora, caso da análise para Lagrange. O mesmo princípio levou Fourier a constituir sua análise sobre as séries trigonométricas. Logo, como afirma B. Belhoste, o movimento de teorização não se opunha às aplicações; encontrava nelas sua inspiração. O interesse pela solução de problemas de física ou de engenharia e a busca por teorias cada vez mais gerais eram os dois lados da mesma moeda.” Quanto mais se abre a perspectiva de uma “ciência ‘x’ aplicada”, mais se consolida a ciência “x” em sua modalidade teórico-epistemológica – vide desdobramentos da psicanálise científica no século XX. O “científica” como sobrenome da psicanálise eu insiro aqui num sentido extra-moral: os acadêmicos empiricistas, psicólogos de araque e teólogos que se virem para desmoralizá-la, ou seja, aplicar sua crítica enviesada e altamente interessada… Contra ou a favor da Psicanálise como um todo, não poderíamos ter a má-fé de considerá-la um esoterismo judaico, como alguns proto-nazistas insinuaram e ainda insinuam…

Paris deixava de ser o principal centro da atividade matemática e a École Polytechnique perdia seu caráter inovador. O clima de autoritarismo do final do Segundo Império tornou ambíguo o papel da matemática, que era divorciado da pesquisa. Seu estudo era incentivado, acima de tudo, por sua utilidade prática no treinamento de engenheiros e a sociedade se interessava cada vez menos por pesquisas teóricas e abstratas.”

A invasão napoleônica, no início do século XIX, motivou a necessidade de elevar o nível de sofisticação militar e científica da Alemanha. Os alemães explicavam a própria derrota apontando para o alto nível de educação científica dos franceses, consequência da reforma educacional implantada após a Revolução Francesa. O traço característico das universidades que se desenvolviam na Alemanha a partir de 1810 era o papel indissociável entre o ensino e a pesquisa. Essa estreita relação permitia aos professores ir além dos cursos padronizados e elementares, baseados em livros-textos, para introduzir novos resultados, ligados a pesquisas.

O estilo dos matemáticos alemães da época pode ser explicado, em grande parte, pela proximidade com a faculdade de filosofia e pelo contato com filósofos. Promoviam-se, assim, orientações mais teóricas, motivadas também por pressuposições filosóficas. O grupo dos neo-kantianos do início do século XIX, que se opunha ao idealismo de Hegel, exerceu forte influência sobre diversos matemáticos alemães algumas décadas depois. Os valores neo-humanistas enxergavam a matemática como uma ciência pura, o que era expresso na visão de vários pensadores da época. Os conceitos fundamentais deviam ser definidos por meio de outras definições claramente explicitadas e nunca se basear em intuições [e isso foi empreendido por neo-kantianos, quão paradoxal!].

Por favor, não metam Kant no meio! “A matemática em si mesma, ou a assim chamada matemática pura, não depende de suas aplicações. Ela é completamente idealista; seus objetos, número, espaço e força, não são tomados do mundo externo, são idéias primitivas. [Que não derivam do espaço, do tempo, logo do contável, nem do princípio da causalidade! Ok!] Eles seguem seu desenvolvimento independentemente, por meio de deduções a partir de conceitos básicos. … Qualquer adição de aplicações ou ligação com estas, das quais ela não depende, são, portanto, desvantajosas para a própria ciência.”

Os matemáticos não eram mais vistos como práticos; participavam de uma elite intelectual de professores universitários que valorizava o saber puro, principalmente no contexto das humanidades enfatizadas por Humboldt.” Nada mais inconcebível para o Brasil em qualquer período.

Em Berlim, a matemática passou a se basear em noções puramente aritméticas. Nessa atmosfera, Cantor recebeu sua educação matemática entre 1863 e 1869. Weierstrass preferia apresentar seus resultados nos cursos, por isso eles permaneceram praticamente inéditos até 1895, quando foi editado o primeiro volume de suas obras. Mas, durante os anos 1870, sua fama se espalhou. Muitos convidados vinham assistir a seus cursos e escreviam anotações que acabavam circulando. No final do século, a noção de rigor defendida por Weierstrass se tornou predominante, repousando sobre a aritmetização da matemática, conforme essa tendência foi denominada por Felix Klein em 1895, na ocasião do aniversário de 80 anos de Weierstrass.”

As tentativas anteriores de assegurar as bases ontológicas dos conceitos fundamentais da matemática a partir da relação com uma certa realidade, não importa qual fosse, colocavam os alicerces dessa disciplina no mundo externo.”

Dizia eu que a aritmética não existe, a priori

Os seguidores de Al-Khwarizmi resolviam equações e admitiam o caso de raízes irracionais. Ao traduzir o termo grego alogos, que também possui o sentido de <inexprimível>, essas soluções foram chamadas de <mudas> (jidr assam). Nas versões latinas, a designação árabe foi, algumas vezes, traduzida por <números surdos>, que é como os irracionais ficaram conhecidos. Como mencionado no Capítulo 4, os métodos algébricos adquiriram grande autonomia com os árabes (começando a ficar independentes com relação à geometria). Além dos irracionais quadráticos, eles calculavam raízes de ordem qualquer, obtidas pela inversão da operação de potenciação e aproximadas por métodos elaborados que também permitiam resolver equações numéricas.”

Em 1585, o holandês Simon Stevin publicou um texto de popularização em holandês e francês, chamado De Thiende (O décimo, traduzido para o francês como La disme), defendendo uma representação decimal para os números fracionários e mostrando como estender os princípios da aritmética com algarismos indo-arábicos para realizar cálculos com tais números. Apesar de seu sistema ser bastante complexo, sem o uso de vírgulas, o fato de escrever as casas decimais de um número tornava mais evidente a possibilidade de se aumentar o número de casas, o que é útil se quisermos aproximar um número irracional por um racional.

A introdução da representação decimal com vírgulas foi um passo importante na legitimação dos irracionais, uma vez que fornecia uma intuição de que entre dois números quaisquer é sempre viável encontrar um terceiro, aumentando o número de casas decimais. Nota-se, por meio dessa representação, que, apesar de os irracionais escaparem, é possível que racionais cheguem muito perto.”

Raiz de 2 ao longo do tempo, conforme os matemáticos se tornavam cada vez mais especializados em sua “decifração”:

  1. 3/2 =1,5

  2. 7/5 = 1,4

  3. 41/29 = 1,41379310…

  4. 99/70 = 1,41428571…

  5. 17/12 = 1,41666…

Numa linha contínua (eixo x), apenas as divisões (3) e (4) chegavam mais próximas do que seria a “raiz de 2”.

Descoberta, no séc. XVII, do TEOREMA FUNDAMENTAL DA ÁLGEBRA: “O nº de raízes de uma equação é dado pelo seu grau.”

Ex: 2x4 + 5x³ − 35x² − 80x + 48 = 2(x + 3)(x + 4)(x − 4)(x − ½) = 0

Obviamente, para admitir esse número de soluções, será necessário admitir como válidas as soluções que Girard designa <impossíveis>. Mas para que servem essas soluções se elas são impossíveis?”

tanto as verdadeiras raízes quanto as falsas não são sempre reais, mas às vezes apenas imaginárias; o que quer dizer que podemos sempre imaginar tantas quanto dissemos em cada equação, mas às vezes não há nenhuma quantidade que corresponda àquelas que imaginamos.” Descartes, The Geometry, livro III, p. 86, tradução da própria Tatiana Roque.

O exemplo utilizado [por Descartes] para ilustrar esse caso é o da equação dada por x³ − 6x² + 13x − 10 = 0, para a qual podemos imaginar três soluções, das quais apenas uma é real, dada pelo número 2. Quanto às outras, mesmo que as aumentássemos, diminuíssemos ou multiplicássemos, não conseguiríamos fazer com que deixassem de ser imaginárias. A palavra <imaginária>, talvez devido à grande influência da obra de Descartes, passará a ser a mais usada para designar essas quantidades.

Enquanto um número negativo −a era entendido como 0 − a, não se punha o problema de defini-lo em si mesmo.” “Em alguns tratados do século XV os resultados negativos eram usados sem grandes discussões.” “É interessante observar que números negativos, quando apareciam nos cálculos, podiam ser chamados <negativos>, entretanto, quando representavam a solução de uma equação eram ditos <fictícios>.” “Apesar de afirmar explicitamente que a raiz quadrada de um número negativo não é correta, Cardano não se privava de operar com raízes de números negativos.”

Bombelli não usava essa notação. Designando a raiz quadrada por R.q. e a raiz cúbica por R.c., escrevia que R.c. 2.p.dm.R.q.121 + R.c. 2.m.dm.R.q.121. Observamos que ele usava a notação dm.R.q.121 para (raiz quadrada ou simples de -121), o que é diferente de R.q.m.121 [o que diabos é o “d”? ver abaixo!]. Isso indica que a sua notação para (raiz quadrada ou simples de -121) privilegiava a operação realizada com esse número e não o número obtido como raiz de uma quantidade negativa.”

p.dm., que é a abreviação para più di meno, em italiano, designa que estamos somando a raiz quadrada do nº negativo 121 e m.dm., abreviação de meno di meno, designa a subtração dessa mesma quantidade.”

A historiografia retrospectiva da matemática, praticada, por exemplo, por Bourbaki, chega a afirmar que più, meno, meno di meno e più di meno são, respectivamente, 1, −1, −i e i.” “porém, dizer isso hoje soa inadequado. A razão é porque o símbolo i será utilizado como uma unidade imaginária, ao passo que più di meno e meno di meno contêm em suas expressões as idéias de adição e de subtração, ou seja, relacionam-se a operações.”

numerro e³zat0

A introdução de uma nova notação, com os trabalhos de Viète, desviou a atenção dos matemáticos que sucederam os algebristas do século XVI, e ele não admitia nem números negativos e imaginários como raízes de equações, apesar de operar com a regra dos sinais de modo pragmático.”

O livro de Arnauld Nouveaux éléments de géometrie (Novos elementos de geometria) traz o primeiro debate explícito entre dois matemáticos sobre o modo de conceber as quantidades negativas. Schubring mostra que Arnauld recorre a justificativas geométricas, similares às de Cardano, para defender que <menos com menos deve dar menos>. Seu opositor, Prestet, mencionado no Capítulo 6, afirma, ao contrário, que as quantidades negativas devem ter o mesmo estatuto das positivas. Além disso, a regra dos sinais deve ser provada algebricamente e não geometricamente, como Cardano havia proposto e Arnauld justificado.”

Uma novidade é que suas considerações eram escritas em francês e não em latim, como antes. Logo, tiveram grande impacto nos meios cultos franceses até o início do século XVIII.”

TODA RAIZ É UMA CURVA (NENHUMA POTÊNCIA É LINEAR), O MUNDO MESMO É CIRCULAR! “Pascal e Barrow afirmavam que números irracionais deviam ser entendidos somente como símbolos, não possuindo existência independente de grandezas geométricas contínuas. Um número como (raiz de 3), por exemplo, deveria ser entendido como uma grandeza geométrica. § Com Leibniz e Newton, o cálculo infinitesimal passou a usar sistematicamente as séries infinitas. A noção de que a um ponto qualquer da reta está associado um número ficava implícita.” Comentário acima sobre a raiz de 2 e suas 5 respostas.

Nesse período, o cálculo de áreas já estava distante da tradição euclidiana e buscava associar a área a um número. O método utilizado era baseado, primordialmente, na manipulação de séries infinitas, como já era o caso da técnica usada por Pascal e Fermat descrita no Capítulo 6. A solução de problemas envolvendo quadraturas e equações diferenciais fez proliferar o uso dessas séries.”

Arquimedes já havia encontrado limites para a razão entre o perímetro e o diâmetro da circunferência, e outros matemáticos já tinham aproximado o valor dessa razão, mas no contexto do cálculo leibniziano se colocará o problema de admitir π como um número.”

No século XVI, alguns matemáticos, como M. Stifel, já haviam aventado a hipótese de a quadratura ser impossível. Para demonstrar isso, era necessário verificar que o perímetro não está para o diâmetro assim como um número inteiro para outro. Em meados do século XVIII essa possibilidade não surpreendia mais os matemáticos, sobretudo devido à grande variedade de séries infinitas que se relacionavam à quadratura do círculo. Se a soma dessas séries for uma quantidade racional, ela será um número inteiro ou uma fração; caso contrário, pode ser um número transcendente. Desde o século XVII eram fornecidas diversas aproximações para o valor da razão entre o diâmetro e a circunferência do círculo. Mas apenas em meados desse século os matemáticos perceberão que, ao invés de buscar o verdadeiro valor de π, poderiam mostrar que não há <verdadeiro valor>, ou que esse valor é impossível.”

A designação de número <real> começou a ser empregada por volta de 1700 para distinguir essas quantidades das negativas e imaginárias, que ainda não eram consideradas reais.”

Durante os séculos XVII e XVIII, com o estudo das funções transcendentes o logaritmo se tornou um conceito importante para esclarecer as ferramentas algébricas da análise e dar-lhes consistência.”

Clairaut seguiu a mesma linha de Fontenelle, admitindo quantidades negativas como soluções das equações. No entanto, os escritos de ambos foram atacados duramente por d’Alembert, que, na Encyclopédie, criticou radicalmente a aceitação dos números negativos, atitude que, conforme seu pensamento, partia de uma falsa metafísica. Do mesmo modo, devia se rejeitar, ainda segundo ele, a generalidade obtida pela álgebra na resolução de equações. Essa posição contradizia sua defesa do poder de generalização da álgebra no contexto da análise, mas, para d’Alembert, na resolução de equações o uso da álgebra dava lugar a uma metafísica equivocada sobre as quantidades negativas. Ou seja, podia-se aceitar a regra dos sinais nas operações, no entanto não era legítimo conceber quantidades negativas como sendo menores que zero, pois essa idéia é incorreta.

A ruptura provocada por d’Alembert devia-se às suas posições em relação ao logaritmo de números negativos, que requeria a intervenção de números imaginários. Em uma controvérsia com Euler, que descreveremos a seguir, d’Alembert acreditava que esses logaritmos deviam ser reais, o que tentava demonstrar a todo custo. Isso o fez questionar, em geral, o estatuto dos números negativos, evitando o problema de dar consistência a seus logaritmos.”

Se log(1) = 0, aceitar-se-ia log(-1) = 0?

Logo, um nº e seu oposto devem possuir o mesmo logaritmo. Leibniz tinha enunciado a regra de que a derivada de log(x) é igual a 1/x, mas afirmava que ela só era válida para valores reais de x.”

os logaritmos de números negativos devem ser imaginários, e não reais.”

notações como o símbolo (raiz de -1) só começaram a ser usadas no final do séc. XVII.”

D’Alembert registrou em 1784, em sua Encyclopédie, a importância de seu próprio trabalho nos verbetes denominados Équation e Imaginaire. Ele ressaltava ter sido pioneiro em demonstrar que qualquer quantidade imaginária, tomada à vontade, pode sempre ser reduzida à forma (e + função de raiz de -1), com e e f sendo quantidades reais.”

Euler já via a álgebra como uma ciência dos números, e não das quantidades. Para ele, todas as grandezas podiam ser expressas por números e a base da matemática devia se constituir de uma exposição clara do conceito de números e das operações. Entretanto, suas propostas não foram reconhecidas no século XVIII. Para Euler, o modo de se obter os números negativos era similar ao modo de se obter os positivos.”

Chega a ser surpreendente, logo depois de 1800, o número de trabalhos sobre a representação geométrica dos negativos e imaginários escritos por pessoas que não participavam da comunidade matemática. Um exemplo conhecido é o do dinamarquês Caspar Wessel, mas no meio francês houve também o caso do padre Adrien-Quentin Buée, que não integrava a comunidade científica.”

Outro personagem mítico é Jean-Robert Argand. Na historiografia tradicional, diz-se que se tratava de um suíço, amador em matemática, que trabalhava como guardador de livros. Mas essa versão é falsa. Hoje só se pode afirmar que, entre 1806 e 1814, um certo Argand parece ter sido um técnico que estava a par do desenvolvimento da ciência na época.”

Annales de Mathématiques Pures et Appliquées, a primeira revista especializada em matemática, editada fora de Paris por J.D. Gergonne.” “Argand publicou, ainda em 1813, nos Annales de Gergonne, o artigo Essai sur une manière de représenter les quantités imaginaires dans les constructions géométriques (Ensaio sobre uma maneira de representar as quantidades imaginárias nas construções geométricas).” “Supondo uma balança com dois pratos, A e B. Acrescentemos ao prato A as quantidades a, 2a, 3a, 4a, e assim sucessivamente, fazendo com que a balança pese para o lado do prato A. Se quisermos, podemos retirar uma quantidade a de cada vez, restabelecendo o equilíbrio. E quando chegamos a 0? Podemos continuar retirando essas quantidades? Sim, afirmava Argand; basta acrescentá-las ao prato B. Ou seja, introduz-se aqui uma noção relativa do que <retirar> significa: retirar do prato A significa acrescentar ao prato B. Desse modo, as quantidades negativas puderam deixar de ser <imaginárias> para se tornarem <relativas>. [Nasce aí] a grandeza negativa –a

Na balança de Argand, o 0 pode ser visto como ponto de apoio entre os braços. Esse 0 não é propriamente um <nada>, nem o número negativo é um <menos que nada>; o 0 é o referencial que permite a escolha (decisão) de uma orientação que tornará um número positivo ou negativo. Se considerarmos os números um agregado de coisas, como uma pluralidade, o +1 será sempre ligado a acrescentar algo mais, operação que pode ser repetida infinitas vezes, mas não o inverso. A balança de Argand consegue reverter essa dessimetria entre positivos e negativos e o 0 pode ser visto como ponto de apoio dos braços que devem se reequilibrar, à direita e à esquerda, enquanto colocamos pesos em cada um dos pratos ou deles os retiramos.” “A multiplicação deve ser entendida agora como uma rotação em sentido horário, quando se multiplica por (- raiz de -1); e anti-horário quando se multiplica por (+ raiz de -1)” “Temos então, no lugar de uma reflexão, uma rotação.”

Essas primeiras propostas sobre o fundamento dos negativos e imaginários, apresentadas por pensadores que não eram centrais na matemática, revelam que o pensamento da época tinha necessidade de se apoiar em uma epistemologia baseada em uma relação geométrica com a realidade. A tentativa de estender a análise às variáveis complexas, feita por Cauchy, trazia novos problemas e, logo, uma nova demanda quanto à definição desses números de modo formal. A matemática que se desenvolverá a partir de meados do século XIX passará a privilegiar a coerência interna dos enunciados e a definição de seus objetos prescindirá dessa conexão com o mundo externo. A concepção de objetos matemáticos plenamente abstratos é marcante no trabalho de Gauss sobre os números imaginários, o que sugerirá que esses números sejam admitidos em matemática tanto quanto os outros, não sendo mais chamados de <imaginários> e sim de <complexos>.”

Quando, em 1831, Gauss publicou o que denominava <metafísica das grandezas imaginárias>, no artigo Theoria residuorum biquadraticum (Teoria dos resíduos biquadráticos), já tinha renome. Foi o primeiro matemático influente a defender publicamente as quantidades imaginárias, desde seus trabalhos sobre a demonstração do teorema fundamental da álgebra, editado em 1799. De certo modo, pode ser visto como um homem do século XVIII, por não distinguir suas pesquisas das realizadas em física, astronomia e geodésia, além de escrever em latim. Contudo, seus temas de estudo e suas ideias sobre a matemática, sobretudo sua concepção de rigor, aproximam-no das novas tendências do século XIX.”

Na Alemanha, a influência da filosofia de Kant fazia com que os matemáticos se baseassem em concepções epistemológicas diferentes dos franceses. Como mostra Schubring, Gauss retirou boa parte de suas teorias sobre os números negativos e complexos dos trabalhos de um professor do secundário chamado W.A. Förstemann, que, por sua vez, usou os escritos sobre os números negativos que Kant havia publicado em 1763 (Attempt to introduce the conception of Negative Quantities into Philosophy).”

A aritmética generalizada, criada na Idade Moderna, era superior à geometria dos antigos, pois, partindo do conceito de inteiros absolutos, foi possível estender seus domínios passo a passo: de inteiros a frações, de números racionais a números irracionais, de positivos a negativos, de números reais a números imaginários.” “Basta lembrar que Gauss estava envolvido na invenção de uma nova geometria, não-euclidiana, que não se apóia na intuição. As restrições que os objetos matemáticos deviam sofrer para se adequarem ao espaço euclidiano deviam ser, de acordo com sua concepção, eliminadas.” “mas o passo decisivo para que o estatuto dos números complexos fosse firmemente estabelecido foi dado com a introdução da noção de vetor. Esse conceito apareceu na Inglaterra, no século XIX, nos trabalhos de W.R. Hamilton. No final desse século, o plano como conjunto de pontos e o plano como composto de vetores passaram a ser vistos como dois conceitos distintos.”

Dirichlet havia estudado em Paris nos anos 1820 e logo se tornou fundamental para a disseminação da análise e da física matemática francesas na Alemanha. Havia participado do círculo de Fourier, que era secretário-geral da Academia de Ciências, onde Dirichlet conheceu Alexander von Humboldt, que promoveria sua carreira na Alemanha. Dirichlet trabalhou em Berlim até os anos 1850 e, no início da carreira, estudou e divulgou os trabalhos de Gauss sobre a análise de Fourier, a teoria da integração e a física matemática. Na época, a Universidade de Göttingen ainda não era um centro de matemática avançado. Gauss era professor de astronomia e não se via estimulado a transmitir suas descobertas a alunos pouco preparados.” “A presença de Dirichlet, juntamente com Riemann e Dedekind, que se via como seu discípulo, mudaria a matemática praticada na Universidade de Göttingen. Os três inspiravam-se em Gauss e propunham uma visão abstrata e conceitual dessa disciplina. Apesar das diferenças entre seus campos de pesquisa, eles convergiam nas preferências metodológicas e teóricas e podem ser considerados um grupo.”

o exemplo de Dirichlet é tido como o primeiro passo para que se percebesse a necessidade de expandir a noção de função, uma vez que, nesse caso, esta não tinha nenhuma das propriedades admitidas tacitamente como gerais: não pode ser escrita como uma expressão analítica (segundo Dirichlet); não pode ser representada por uma série de potências; e não é contínua em nenhum ponto (também não é derivável nem integrável).” “Logo, o exemplo de Dirichlet só pode ser visto como uma função se esse conceito for entendido como uma relação arbitrária entre variáveis numéricas.” “Ou seja, apesar de aquilo que ele considerava <arbitrário> ser mais um caso particular do que se entende hoje do uso desse adjetivo, parecia importante, naquele momento, afirmar a generalidade como forma de questionar a redução da prática matemática ao escopo das expressões analíticas.”

Depois da estranha função sugerida por Dirichlet, proliferarão exemplos de funções patológicas, sobretudo na segunda metade do século XIX, que incitarão uma revisão da definição de função. Um exemplo famoso desses <monstros>, como se dizia no meio, era a função construída por Weierstrass, que desafiava o senso comum da época. Por volta de 1860, Weierstrass adotava uma definição de função semelhante à de Dirichlet, mas, em 1872, apresentou à Academia de Ciências de Berlim um exemplo de função contínua não derivável em nenhum ponto. Esse tipo de função contraria nossa intuição geométrica de que uma função traçada continuamente, por um desenho a mão livre, deve ser suave, salvo em pontos excepcionais, ou seja, não pode ter bicos em absolutamente todos os seus pontos.

Diversos exemplos contra-intuitivos surgiram nesse período. Riemann foi responsável pela criação de alguns deles ao longo de seu estudo da integração; a investigação das séries trigonométricas também deu origem a funções bizarras, como a proposta por Du Bois-Reymond (que é contínua mas não pode ser desenvolvida em séries de Fourier); Hankel e Darboux construíram outras funções patológicas e investigaram suas propriedades. Antes, as funções surgiam de problemas concretos, como os de natureza física; agora vinham do interior da matemática, a partir dos esforços dos matemáticos para delimitar os novos conceitos que estavam sendo forjados e deviam servir de fundamento para a análise, como os de função, continuidade e diferenciabilidade.”

A curva de Koch é obtida quando as iterações se repetem ao infinito. No limite, chega-se a uma curva contínua em todos os pontos que não é derivável em nenhum desses pontos (ou seja, é constituída exclusivamente por bicos).” Parece uma moita – um fractal.

Antes desse momento supunha-se, de modo geral, que a reta contivesse todos os números reais. Por isso não havia preocupação em se definir esse tipo de número. Um exemplo disso foi visto anteriormente, no estudo das raízes de uma equação de grau ímpar, ao se admitir que o gráfico de uma função, positiva (para x positivo) e negativa (para x negativo), deve cortar o eixo das abscissas em um ponto que é assumido como um número real.”

Cantor concluiu que a unicidade também pode ser verificada quando a série trigonométrica deixa de ser convergente, ou deixa de representar a função, em um número finito de pontos excepcionais. Logo depois, ele refinou mais uma vez o argumento, ao perceber que sua conclusão ainda era válida mesmo que o número desses pontos excepcionais fosse infinito, desde que estivessem distribuídos sobre a reta de um modo específico. Para estudar essa distribuição dos pontos, era necessário descrever os números reais de um modo mais meticuloso e detalhado, sem supor, implicitamente e de modo vago, que esses números fossem dados pelos pontos da reta.”

A fim de caracterizar a continuidade, Dedekind julgava necessário investigar suas origens aritméticas. Foi o estudo aritmético da continuidade que levou à proposição dos chamados <cortes de Dedekind>. Ele começou por estudar as relações de ordem no conjunto dos números racionais, explicitando verdades tidas como óbvias, por exemplo: se a>b e b>c, então a>c. A partir daí, deduziu propriedades menos evidentes, como a de que há infinitos números racionais entre dois racionais distintos a e c. Dedekind notou que um racional a qualquer divide os números racionais em duas classes, A1 e A2, a primeira contendo os números menores que a; a segunda contendo os números maiores que a. Podemos concluir, assim, que qualquer número em A1 é menor do que um número em A2.”

A argumentação de Dedekind recorria aos gregos para dizer que eles já sabiam da existência de grandezas incomensuráveis. No entanto, não é possível usar a reta para definir os números aritmeticamente, pois os conceitos matemáticos não devem ser estabelecidos com base na intuição geométrica.

Logo, era necessário criar novos números, de tal forma que <o domínio descontínuo dos números racionais R possa ser tornado completo para formar um domínio contínuo>, como é o caso da linha reta. A palavra usada para designar a propriedade da reta que distingue os reais dos racionais é <continuidade>, que seria equivalente ao que chamamos de <completude>. Apesar de Dedekind afirmar que é preciso <completar> os racionais, esse termo não era empregado com sentido técnico.”

Apesar da compreensão comum da palavra <multiplicidade> estar associada à ideia de algo que é <múltiplo> (ou vários), não é nesse sentido que a estamos empregando, o que fica claro quando se fala de <uma multiplicidade>. Usamos <multiplicidade> para indicar algo que possui vários aspectos, ou várias dimensões.”

Dedekind expôs essa questão em uma correspondência com outro matemático alemão, R. Lipschitz, aluno de Dirichlet, na qual diz que a continuidade do domínio das quantidades era uma pressuposição implícita dos matemáticos, além da noção de quantidade não ter sido definida de modo preciso. Até ali, os objetos da matemática, as quantidades, existiam e a necessidade de definir sua existência não se colocava. Ao contrário dessas suposições, no texto Was Sind und was Sollen die Zahlen? (O que são e o que devem ser os números?), Dedekind insiste que o fenômeno do corte, em sua pureza lógica, não tem nenhuma semelhança com a admissão da existência de quantidades mensuráveis, uma noção que ele rejeitava veementemente.” “Retomando as duas classes A1 e A2 definidas anteriormente, ele afirma que a essência da continuidade está no fato de que todos os pontos da reta estão em uma das duas classes, de modo que se todo ponto da primeira classe está à esquerda de todo ponto da segunda classe, então existe apenas um ponto que produz essa divisão.”

Para obter um conjunto numérico que traduza fielmente a continuidade da reta, Dedekind usou um procedimento que se tornaria muito freqüente na matemática. Sempre que encontrarmos um número não-racional produzindo um corte, deveremos incluir esse número na nova categoria a ser criada, que deve admitir racionais e não-racionais. Ou seja, quando o corte é um número irracional, esse número será reunido aos racionais formando um conjunto, que gozará da propriedade de continuidade da reta, chamado de <conjunto dos números reais>.”

A principal propriedade dos números racionais, que os torna essencialmente distintos dos reais, é o fato de poderem ser enumerados. O que é isso? Eles são pontos discretos, não-imbricados entre si, logo, podemos associá-los a números naturais e contá-los. O resultado dessa contagem será um número infinito, mas ela permite enumerar os racionais.

Essa propriedade levará Cantor a concluir que o conjunto dos números racionais é infinito de uma maneira distinta do conjunto dos números reais, que não podem ser enumerados. O procedimento de <enumeração> dos elementos de um conjunto é feito por meio da associação de cada um desses elementos a um número natural; e a associação é definida como uma função de um conjunto no outro, uma correspondência biunívoca entre seus elementos.” “Uma função é dita biunívoca se diferentes elementos no seu domínio estão associados a diferentes elementos no contra-domínio e se cada elemento y no contra-domínio está associado a algum x no domínio.

Podemos pensar na relação <ser filho de> entre os conjuntos A = {alunos de uma turma} e B = {mães dos alunos}. Tal relação constitui uma função, pois não há aluno sem mãe biológica (ainda que esta não esteja mais viva) e cada aluno possui apenas uma mãe biológica. Porém, essa função não é biunívoca, pois pode haver alunos irmãos, isto é, eles terão a mesma mãe (diferentes elementos do domínio com a mesma imagem).

Considere agora a relação <ser o dobro de> entre os conjuntos A = {números naturais} e B = {números pares}. Tal relação constitui uma função biunívoca, pois ao dobrar números naturais diferentes os resultados serão diferentes e cada número par é o dobro de algum número natural (a sua metade).”

Nesse contexto surgirá a idéia de função como uma correspondência entre dois conjuntos numéricos. Se x é um elemento do conjunto dos reais, e n um elemento do conjunto dos naturais, pode ser estabelecida uma correspondência entre x e n, de modo que cada elemento de um conjunto seja associado a um, e somente um, elemento do outro? Essa é a pergunta que Cantor formula para Dedekind em 1873. Ele mesmo provou que é impossível encontrar tal correspondência, estabelecendo uma diferença fundamental entre o número de elementos (cardinalidade) do conjunto de números reais e o número de elementos do conjunto dos números naturais.

O conceito de correspondência biunívoca servirá de base para a constituição da nova teoria dos conjuntos, por volta de 1879. Dois conjuntos são ditos com a mesma <potência> se existe correspondência biunívoca entre seus elementos. Os conjuntos que possuem a mesma potência dos naturais são chamados <enumeráveis>, e os outros são <não-enumeráveis>. A resposta ao critério para que uma série trigonométrica represente uma função, fornecida por Cantor, repousa sobre essa diferenciação, e essa resposta é afirmativa no caso de a série deixar de convergir em infinitos pontos, contanto que eles formem um subconjunto enumerável da reta.”

coisas distintas são entendidas de um mesmo ponto de vista quando consideradas a partir de seus números. Nesse caso, podemos dizer que essas coisas formam um conjunto.”

O ponto de vista de Weierstrass também pode ser dito conceitual, mas de um modo diferente dos matemáticos de Göttingen, pois ele não tinha o mesmo entendimento do tipo de abstração que estava em jogo ao se definirem os conceitos básicos da análise. Cantor foi inspirado por Weierstrass, mas, como mostra Ferreirós, sua dedicação à teoria dos conjuntos levou-o a se afastar do grupo de Berlim. Ele chegou a ser criticado por Weierstrass, e o caráter abstrato de suas definições pode ser relacionado à influência crescente de Riemann e Dedekind em seus trabalhos, a partir dos anos 1880.”

A história da análise matemática é vista, freqüentemente, como uma evolução dos conceitos intuitivos usados no cálculo do século XVII às definições rigorosas propostas pelo movimento de aritmetização da análise e pela teoria dos conjuntos. Um bom exemplo é o título do livro editado por Grattan-Guinness em 1980, From Calculus to Set Theory (Do cálculo à teoria dos conjuntos).”

Na última metade do século XIX, Cantor teria introduzido o infinito na matemática, um dos ingredientes principais para o florescimento espetacular da matemática moderna. Na narrativa tradicional, a repulsa ao infinito, o horror infiniti, teria reinado entre os matemáticos desde os gregos, impedindo os avanços dessa ciência, até que Cantor venceu todas as barreiras e logrou fazer com que o infinito fosse, finalmente, aceito.” Ao preço da própria loucura…

Eu espiei, através das páginas de Russell, a doutrina dos conjuntos, a Mengenlehre, que postula e explora vastos números que um homem imortal não atingiria mesmo se exaurisse suas eternidades contando, e cujas dinastias imaginárias possuem as letras do alfabeto hebreu como cifras. Não me foi dado entrar neste delicado labirinto.” Jorge Luis Borges

Muitas narrativas do início do século XX atribuem a Cantor o papel de pai fundador da moderna teoria dos conjuntos. Como mostra Ferreirós na introdução dessa sua obra monumental sobre a história dessa teoria, em 1914 Hausdorff dedicou o primeiro manual da teoria dos conjuntos a seu criador, Cantor; e Hilbert escolheu a teoria dos conjuntos como um exemplo-chave do tipo de matemática defendida por ele, freqüentemente associada ao nome de Cantor.” “Mas muitos matemáticos e filósofos já haviam tratado rigorosa e positivamente da noção de infinito antes de Cantor. Só para dar dois exemplos na Alemanha: Dedekind, na matemática; e Hegel, na filosofia.” HM

A noção de conjunto não é uma descoberta do século XIX executada por mentes geniais que, finalmente, desvendaram o fundamento correto da matemática, tido como eternamente válido e implícito em todos os tempos, mas que vinha sendo usado por pessoas ainda despreparadas para penetrar seu misterioso labirinto, como na citação de Borges. Preferimos pensar que a matemática efetivamente praticada pelos matemáticos do século XIX partia de pressupostos que os fizeram inventar noções que participavam de uma [cosmo-]visão conceitual e abstrata, propícia ao desenvolvimento da noção de conjunto e à sua aplicação em problemas de naturezas diferentes. Esse ponto de vista, que chamamos <conjuntista>, tem sua própria história, que não se identifica com a história da teoria dos conjuntos, como procuramos mostrar aqui.” “A teoria dos conjuntos emergiu, assim, da investigação de conjuntos concretos, encarados de modo cada vez mais conceitual e abstrato. Essa história é detalhada por Ferreirós. Usamos sua distinção entre a teoria dos conjuntos, como ramo da matemática, e a abordagem conjuntista, como concepção sobre a matemática, com o fim de caracterizar a imagem da matemática que moldou também a maneira de escrever sua história até meados do século XX.”

A visão modernista da matemática prega uma renúncia ao mundo, uma vez que não se deve fazer geometria ou análise com os objetos dados pelo senso comum, mas sim construir o edifício da matemática sobre noções dotadas de uma consistência interna.”

A imagem de que a matemática é um saber axiomatizado baseado nas noções de conjunto e estrutura foi popularizada por Nicolas Bourbaki, a partir de 1939, com o início da publicação de seus Éléments des mathématiques: les structures fondamentales de l’analyse (Elementos de matemática: as estruturas fundamentais da análise). <Bourbaki> é o pseudônimo adotado por um grupo de matemáticos franceses dos anos 1930 cujo objetivo era elaborar livros atualizados sobre todos os ramos da matemática, que pudessem servir de referência para estudantes e pesquisadores. Cada um desses ramos era visto como uma investigação sobre estruturas próprias, tendo como principal ferramenta o método axiomático. Uma de suas principais contribuições foi organizar as subdisciplinas da matemática, selecionando seus conceitos básicos, suas ferramentas e seus problemas. Nesse quadro, a definição de função usada por Dedekind e Cantor será considerada insuficiente e, em seu lugar, Bourbaki proporá:

Definição bourbakista de função: Sejam E e F dois conjuntos, que podem ser distintos ou não. Uma relação entre um elemento variável x de E e um elemento variável y de F é dita uma relação funcional se, para todo x pertencente a E, existe um único y pertencente a F que possui a relação dada com x. Damos o nome função à operação que associa, desse modo, a todo elemento x, pertencente a E, o elemento y, pertencente a F que possui a relação dada com x; y será dito o valor da função no elemento x.

Em seguida, essa primeira versão será reformulada e a função será definida como um determinado subconjunto do produto cartesiano dos dois conjuntos E × F. Ou seja, (…)” Ou seja: falaram merda sem pensar, tsk. “Conjunto e variação passam a ser idéias inconciliáveis.” Não se fala mais de x nem de y.

A definição formal de função, que aprendemos na escola, segue o padrão bourbakista, o que provoca uma dificuldade de conciliação em relação aos exemplos de função que são efetivamente estudados. É difícil associar a noção dinâmica de função, que aparece em situações físicas, à definição formal, de natureza estática. Na história da física, a função serviu para estudar a variação, ou a mudança, a partir de uma escolha de variáveis relevantes em um certo fenômeno. Além dos exemplos físicos, as funções são exemplificadas por curvas ou expressões analíticas, que foram outros modos de conceber funções ao longo da história. Isso mostra que, isolada de seu contexto histórico, a definição de função e as funções que conhecemos durante nosso aprendizado de matemática não convergem. Podemos dizer que se trata de uma deficiência do ensino, porém, não fazemos essas considerações para discutir a educação.” Azar o seu, pois deviam.

Nos Elementos de matemática de Bourbaki, cada um dos livros sobre certa sub-área era introduzido por um relato sobre a evolução histórica daquele assunto até ali. Esses relatos foram reunidos em um só volume, publicado em 1960 como Éléments d’histoire des mathématiques (Elementos de história da matemática), com critérios idênticos para avaliar as idéias importantes do presente e do passado. Não foi à toa que os bourbakistas se preocuparam em escrever uma história da matemática. Alguns de seus membros mais ilustres, como André Weil e Dieudonné, publicaram escritos de história independentemente do grupo, mas reproduzindo o mesmo ponto de vista. A historiografia tradicional da matemática, muitas vezes criticada por nós, foi impulsionada pelo estilo bourbakista.” “Foi, portanto, quando a matemática passou a se enxergar como matemática <pura> que a distinção entre teoria e prática se tornou importante na escrita de sua história.” A arrogância lhe subiu a cabeça e não quis mais andar com os primos… Uma conduta irracional!

Por volta dos anos 1960, as ideias de Bourbaki contaminaram a educação, o que ajudou a cristalizar a concepção pouco, ou nada, histórica da matemática. Com o movimento da matemática moderna, que teve grande repercussão no Brasil, defendia-se que essa disciplina devia ser ensinada com os conceitos de base definidos à maneira bourbakista, que seria adaptada às nossas estruturas cognitivas. Nessa época, muitos matemáticos e educadores compartilhavam a crença de que os alunos têm de ser acostumados a pensar em termos de conjuntos e operações. Piaget chegou a estabelecer uma correspondência entre as estruturas defendidas por Bourbaki e as primeiras operações por meio das quais as crianças interagem com o mundo.” Não é o que a nossa posição nos rankings indica…

[+]

Corry, Modern Algebra and the Rise of Mathematical Structures

Ferreirós, Labyrinth of Thought

Grattan-Guinness, The Development of the Foundations of Mathematical Analysis from Euler to Riemann

Gray, Plato’s Ghost: the Modernist Transformation of Mathematics

Sir Isaac Newton, Two Treatises of the Quadrature of Curves

Lacroix, Traité du calcul différentiel et du calcul intégral

ÍON

Tradução comentada de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei oportuno abordar pontos polêmicos ou obscuros. Quando a nota for de Azcárate (tradutor) ou de Ana Pérez Vega (editora), um (*) antecederá as aspas.

(*) “Íon ou Sobre a Ilíada ou ainda Da poesia é um diálogo de Platão pertencente ao que os escoliastas batizaram de Primeiros diálogos, escritos em sua juventude. Íon trata, por óbvio, do tema da Poesia, mais especificamente acerca da origem do talento do poeta, fenômeno tido por inexplicável.” – A.P.V. Podemos considerar, pois, Platão um dos fundadores do campo da Estética.

(*) “Os rapsodistas ou rapsodos foram, entre os gregos, os primeiros depositários das obras dos grandes poetas como Hesíodo, Homero e Arquíloco. Encaravam como uma profissão formal o popularizar seus versos. Participavam de concursos como as <Olimpíadas dos Poetas> a cada quinqüênio em Epidauro, onde havia um templo consagrado a Asclépio ou Esculápio, curiosamente deidade relacionada à fundação da medicina (a poesia podendo ser interpretada como uma cura d’alma). Não pode se referir este templo a Asclepíades de Samos, poeta e mestre dos epigramas, porque esse é mais jovem inclusive que o próprio Platão.” – P.A.

SÓCRATES – Muitas vezes, meu querido Íon, tive inveja de vós rapsodos, por vossa vocação. Não poderia deixar de produzir inveja esta vantagem que oferece vossa vida, de aparecerdes sempre ricamente vestidos e adornados nos mais esplêndidos saraus, sendo que muito me fascina o fato de que preciseis devotar-vos a um estudo continuado de uma multidão de poetas antigos que atingiram a excelência, principalmente Homero, o maior e mais divino de quantos se possa enumerar. E é fato que não só aprendeis os versos como penetrais em suas profundas significações. Afinal jamais será um bom rapsodo aquele que não tenha conhecimento das palavras do poeta e sua devida conotação. Aqueles que escutam o rapsodo dependem deste intérprete para que entendam o poema. Esta função seria impossível a ignorantes do desejo de expressão do poeta.”

ÍON DE ÉFESO – (…) Nem Metrodoro de Lâmpsaco nem Estesímbroto de Tasos nem Glauco, nem nenhum outro, encontra-se em posição de discursar sobre Homero tantas coisas, e tantas coisas belas, quanto eu.

SÓCRATES – Encantas-me, Íon, tanto mais quanto que não poderás recusar-te agora a me demonstrar tua ciência colossal!”

SÓCRATES – (…) neste momento só quero que tu me digas se tua habilidade se limita à inteligência de Homero ou se se estende igualmente à de Hesíodo e de Arquíloco.

ÍON – De forma alguma, Sócrates. Devoto-me exclusivamente a Homero, e me parece o bastante.

SÓCRATES – Não há certos assuntos sobre os quais Homero e Hesíodo se expressam igualmente?

ÍON – Eu imagino que sim, e isso não deve se dar raramente!

SÓCRATES – Poderias explicar melhor o que diz Homero sobre estes objetos que aquilo que diz Hesíodo?

ÍON – Explicá-los-ia perfeitamente sempre que ambos os poetas falam das mesmas coisas, Sócrates.

SÓCRATES – E nos casos em que não dizem exatamente o mesmo? P.ex., Homero e Hesíodo não discursam sobre a arte divinatória?

ÍON – Em absoluto.

SÓCRATES – Estarias tu em condições de explicar melhor ainda que um adivinho competente o que estes dois poetas disseram, seja de maneira idêntica ou divergente, acerca desta arte tão especial?

ÍON – Não.”

SÓCRATES – (…) Homero fala de coisas estranhas a todos os demais poetas? Não fala sobretudo da guerra, das relações dos homens entre si, dos bons e dos maus, tanto em seus dramas pessoais quanto na política? Não fala ele de como até mesmo os deuses participam da vida humana, ou quando fazem concílios apenas entre iguais? Ou seja, não fala Homero de coisas que se passam na terra, nos céus e nos infernos, não toca a genealogia dos deuses e dos heróis? Não seriam estas as matérias que constituem, basicamente, os poemas de Homero?

ÍON – Tens razão, Sócrates.

SÓCRATES – Mas os demais poetas não tratam dos mesmos assuntos?

ÍON – Evidente, Sócrates, mas não como Homero.

SÓCRATES – Mas por quê? Falam pior?

ÍON – Incomparavelmente pior!

SÓCRATES – E portanto Homero fala melhor?

ÍON – Sim, por óbvio.”

SÓCRATES – Ora, se conheces aqueles que falam bem, deves conhecer aqueles que falam mal.

ÍON – Assim parece.”

SÓCRATES – Não é difícil, meu querido amigo, adivinhar a razão. É evidente que tu não és capaz de falar sobre Homero mediante a arte¹ ou a ciência. Porque se puderas falar de Homero através da arte, estarias habilitado a fazer o mesmo com respeito a todos os poetas. Com efeito, a poesia é uma só e mesma arte, cujo estudo teórico se chama poética. Ou discordas?

ÍON – Jamais.”

¹ Arte neste contexto seria mais bem-traduzido como técnica. O descompasso se deve à concepção grega que tende a igualar o que chamamos de arte (inspiração, como logo veremos) a uma “capacidade de realizar uma obra metodicamente”, significado que se desgastou ao longo dos séculos nos discursos do mundo moderno. Em grego, techne seria provavelmente o vocábulo original. Não traduzi por técnica, o que seria mais condizente, evitando esta nota de rodapé, porque a tradução em espanhol não optou, no séc. XIX, por realizar essa transformação – portanto, é saudável assinalar como há uma certa gradação dos próprios tradutores quanto ao entendimento desta questão (seja hoje, seja antigamente). Ficará bem claro na sequência como meu ponto de vista deverá prevalecer: não devemos entender “arte” na boca de Sócrates como entendemos Arte no sentido moderno (Pintura, Escultura, Poesia, Cinema): para Sócrates, um sapateiro domina a arte de fabricar sapatos, um capitão de navio a arte de pilotar uma embarcação nos mares, etc. Nesse sentido, o rapsodo, para Sócrates, não estava muito distante destes dois. Era um artesão como eles, artesão das palavras e das metáforas e símbolos possíveis graças à complexidade da linguagem e das narrativas dos feitos humanos. É esta diferença, mínima e sutil na cabeça do grego, que muitos acadêmicos ocidentais não conseguem captar, pois para eles – talvez envaidecidos – trata-se de um fosso ou abismo (qualificação técnico-artística X ofício plebeu). Independentemente disso, toda arte envolve, mais ou menos mesclada no processo criativo e espontâneo, algum tipo de técnica, no sentido instrumental, por isso decidi pela manutenção da expressão no diálogo, mas há outros trechos em que é inevitável, como solução, usar literalmente “técnica” (vide adiante).

este título de sábio pertence só a vós os rapsodos, atores, e aos próprios poetas que cunharam pela primeira vez os versos que cantais. Eu, eu não sei mais do que a sinceridade, o que aliás é o que mais convém a homens de pouco talento.”

(*) “Polignoto: era da ilha de Tasos. Os afrescos que pintou em Delfos até pelo menos o ano 395 a.C. atraíam as atenções pelo traçado e pela expressão dos semblantes.” – P.A.

SÓCRATES – Mas como? Em matéria de escultura acaso já viste quem esteja à altura de decidir sobre os méritos das obras de Dédalo, filho de Metion, ou de Epéio, filho de Panopeu, ou de Teodoro de Samos, ou de qualquer outro estatuário, e que se veja, ao mesmo tempo, anestesiado, adormecido, encabulado, sem saber quê dizer, quando o assunto são as obras de escultores menores?

ÍON – Por Zeus, Sócrates, jamais vi um caso destes em toda minha vida!

SÓCRATES – Aposto que também nunca ouviste falar, seja na arte de tocar a flauta ou o alaúde, ou ainda na de acompanhar o canto com o alaúde, ou na rapsódia em geral, nunca ouviste falar, em suma, que alguém estivesse apto, por conhecimento, a julgar de Olimpo, Tâmiras, Orfeu, Fêmio (o rapsodo de Ítaca) e que, ao virar-se para Íon de Éfeso, não soubesse quê dizer, simplesmente, nem mesmo se era bom ou mau rapsodo.

ÍON – Nada tenho a opor a tua tese, Sócrates! Posso assegurar-te, contudo: eu, dentre todos os homens, sou este fenômeno: capaz de falar com mais facilidade e eloqüência de Homero que qualquer um; meus ouvintes estão de acordo comigo. Isso não me impede de ficar absorto e em silêncio, impotente, toda vez que o tema central muda de avatar poético. Diz-me, eu to suplico, ó Sócrates, que tipo de doença é esta!

SÓCRATES – (…) Esse talento que possuis de discursar com excelência sobre Homero não é-te devido à técnica ou à sabedoria, como eu dizia antes, senão que é um não-sei-quê de virtuoso e de divino, uma coisa mágica que te transporta, semelhante à pedra que Eurípides chamou de <magnética>, mas que os outros gregos preferem denominar pedra de Heracléia. Esta pedra não só tem a virtude de atrair os anéis de ferro como comunica-lhes esse mesmo poder, de forma que esses próprios anéis atraídos pela pedra passam a exercer a atração sobre outros anéis mais distantes, facultando a formação de correntes ou cadeias de objetos de ferro, uma verdadeira corrente de anéis suspensa no ar! E todos os anéis magnetizados o são em virtude desta pedra somente. A pedra inspira os anéis. Assim como a Musa inspira os poetas, e estes comunicam sua inspiração divina a outros mais competentes dentre os homens, que entendem e sentem seu entusiasmo, e são capazes de, por sua vez, comunicá-los à gentalha, numa <cadeia dos inspirados>. Não é pela técnica que tu comunicas Homero: é pelo entusiasmo e pela inspiração, cativado que és pelo dom do poeta épico excelente. O mesmo sucede com os poetas líricos. Semelhantes aos coribantes, que não dançam senão quando estão fora de si mesmos, os poetas não estão de sangue frio quando compõem suas preciosas odes. Antes ao contrário: desde o momento que chegam ao tom da harmonia e ao ritmo adequados, entram como que em furor, e se vêem arrastados por um entusiasmo igual ao das bacantes, que em seus movimentos e em sua embriaguez tiram leite e mel dos rios, e cessam de tirá-lo assim que cessa o delírio. Assim é que a alma dos poetas líricos faz realmente o que eles se jactam tanto de praticar.”

o poeta é um ser alado, ligeiro e sagrado, incapaz de produzir enquanto o entusiasmo não o arrebata e o obriga a sair de si”

Um sobressai no ditirambo, outro nos elogios, este nas canções destinadas à dança, aquele nos versos épicos, outro ainda nos jambos, e todos sem exceção são medíocres fora do gênero em que sofrem inspiração, porque é esta e não a técnica a que preside seu trabalho.”

O objetivo que Deus se propõe ao privá-los do sentido, e servir-se deles como ministros, como faz com os profetas e outros adivinhos inspirados, é que, ao ouvi-los nós, tenhamos por estabelecido que não são eles que dizem coisas tão maravilhosas, posto que estão fora de seu senso. São os órgãos da divindade que falam através de suas bocas.”

ÍON – Ó, por Zeus, Sócrates! Teus discursos causam em minh’alma uma profunda impressão, e me parece que os poetas, graças a um favor divino, são diante de nós os intérpretes dos deuses.

SÓCRATES – E vós, os rapsodos, não sois os intérpretes dos poetas?

ÍON – Sim.

SÓCRATES – Logo, sois vós os intérpretes dos intérpretes.

ÍON – Sem contradição.”

SÓCRATES – (…) Não te imaginas estar presente nas ações que recitas, não te imaginas estar em Ítaca ou diante de Tróia, ou seja, no lugar mesmo onde se desenrola a cena?

ÍON – A prova que me demonstras é a suma evidência, Sócrates! Porque, se hei de te falar com a mais pura franqueza, asseguro-te que quando declamo uma passagem patética meus olhos se enchem de lágrimas, e quando recito algum fragmento terrível ou violento fico todo eriçado e palpita meu coração.

SÓCRATES – E então, Íon, diremos que um homem está em seu santo juízo, quando, vestido com trajes de múltiplas cores e levando uma coroa de ouro, chora em meio aos sacrifícios e às festas, ainda que não tenha perdido nenhum de seus adornos, ou quando, em companhia de mais de 20 mil amigos, se o vê dominado pelo terror, apesar de ninguém em absoluto ter concorrido para produzir-lhe qualquer dano?

ÍON – Certamente que não está são este homem, Sócrates!

SÓCRATES – Sabes tu se no momento em que recitas transmites os mesmos sentimentos que sentes à alma dos espectadores?

ÍON – Claro que sim, Sócrates! Das tribunas, onde me situo, vejo-os chorar com freqüência, ou então olhar de modo ameaçador, ou então tremer como eu à narração do que escutam! E necessito estar sempre atento aos movimentos que se produzem na platéia, porque se faço-os chorar, significa que, depois, me porei a rir e receberei o dinheiro; mas se os faço rir, eu é que chorarei ao final, e perderei todo o lucro que esperava obter.

SÓCRATES – Vês agora como o expectador é o último destes anéis que, como eu dizia, recebem uns dos outros a virtude que lhes comunica a pedra de Heracléia? O rapsodo, tal como tu, o ator, é o anel intermediário, e o primeiro anel é o poeta mesmo. Por meio destes anéis o deus atrai a alma dos homens, como deseja, fazendo sua virtude atravessar até o fim da longa corrente, da mesma forma que a propriedade da pedra-ímã. Sustenta-se assim uma comprida linha de coristas, maestros de capela e sub-maestros, sujeitos todos aos anéis que estão mais próximos da Musa, a pedra. Um poeta está ligado a uma Musa, outro poeta a outra Musa diferente, e nós dizemos deste fenômeno que <estão possuídos>, dominados, posto que os poetas não estão a sua própria mercê, mas pertencem neste momento inteiramente à Musa. Estes primeiros anéis se ligam a outros anéis, cada anel a seu anel, conforme profira comédias ou tragédias, ou jambos ou ditirambos. Cada anel tem seu temperamento. Há os anéis de Orfeu, outros consagrados a Museu, mas a maior parte realmente está dedicada a Homero. Tu pertences à classe destes últimos, Íon! Homero te possui. Quando se entoam em tua presença os versos de algum outro poeta, tu ages como o sonâmbulo, pois teu espírito nada te comunica.”

SÓCRATES – Homero não fala das artes em muitas passagens e de forma muito específica? Por exemplo, a arte de conduzir um carro? Se eu mesmo pudesse recordar os versos, tos mencionaria aqui.

ÍON – Eu os sei, vou recitar-tos.

SÓCRATES – Recita-me, pois, as palavras de Nestor a seu filho Antíloco, quando lhe dá conselhos sobre as precauções que deve tomar a fim de evitar tocar a meta na corrida de carros, nos funerais de Pátroclo.

ÍON – Inclina-te, Nestor diz-lhe, bem-preparado, sobre teu carro, à esquerda; ao mesmo tempo, com o chicote e a voz, apura o cavalo da direita, afrouxando-lhe as rédeas; faz com que o cavalo da esquerda se aproxime da linha de chegada, de maneira que o cubo da roda, feito com arte, pareça mesmo tocar nela, porém sem de modo algum fazê-lo.

SÓCRATES – É quanto basta. Quem julgará melhor, Íon, se Homero fala com propriedade ou não nestes versos: um médico ou um cocheiro?

ÍON – O cocheiro, sem pestanejar.

(…)

SÓCRATES – Deus atribuiu a cada arte a faculdade de julgar sobre as matérias que a cada uma correspondam, porque não julgamos mediante a medicina as mesmas coisas que conhecemos pela arte (técnica) da pilotagem.

ÍON – Com certeza não!”

SÓCRATES – (…) não reconheces que as artes diferem umas das outras?

ÍON – Com certeza.

SÓCRATES – Até onde se pode conjeturar sobre a fronteira dessas diferenças posso sem medo dizer que uma é diferente de outra, porque esta é a ciência de um objeto, e aquela a de outro. Pensas como eu?

ÍON – Absolutamente.”

SÓCRATES – (…) julgarás tu melhor que o cocheiro se Homero fala bem ou mal?

ÍON – O cocheiro julgará melhor.

SÓCRATES – Porque tu és rapsodo e não cocheiro.

ÍON – Exato.

SÓCRATES – A arte do rapsodo é distinta da do cocheiro?

ÍON – Claro.

SÓCRATES – Já que o é, tem que ser a ciência de outros objetos que não os da pilotagem de carroças.

ÍON – Concorde.

SÓCRATES – Mas quê, amigo Íon! Quando Homero diz que Hecamede, concubina de Nestor, deu a Macaon, que ferido estava, uma beberagem e assim se expressa: deu-lhe vinho fino, sobre o qual havia raspado queijo de cabra com uma faca de metal, e mesclado-lhe cebola para dar sede, pertence ao médico ou ao rapsodo o julgar se Homero falou de forma correta ou não?

ÍON – À medicina, Sócrates.”

SÓCRATES – (…) Da mesma forma que te mencionei passagens da Odisséia e da Ilíada cujo julgamento pertence, uma parte, aos adivinhos, outra parte aos médicos, outra aos pescadores, etc., diz-me agora, Íon, tu que conheces Homero melhor que eu, os trechos que são mais próprios à rapsódia mesma no que compete ao julgamento e à crítica. Em que trechos de Homero tua técnica sobressai a todos os outros profissionais?

ÍON – Eu te respondo, Sócrates, que todos os trechos de Homero são competência nossa em última instância.

SÓCRATES – Mas Íon, tu disseste o contrário há bem pouco! Como tens uma memória tão ruim?! Não é próprio de um rapsodo ser tão esquecido!

ÍON – Como assim, Sócrates? Que é que eu esqueci?

SÓCRATES – Não te lembras de ter dito que a técnica do rapsodo é distinta da do cocheiro?

ÍON – Claro que me recordo, Sócrates.

SÓCRATES – Não confessaste, então, que, sendo distinta, sua técnica deve se voltar necessariamente a outros objetos?

ÍON – De certa forma.

SÓCRATES – A técnica do rapsodo, segundo o que tu disseste, não conhecerá todas as coisas, como não as conhecerá o rapsodo.

ÍON – Talvez seja preciso excetuar esta classe de objetos, Sócrates.”

ÍON – Conhecerei, creio, os discursos que são colocados na boca dos homens e das mulheres, dos escravos e das pessoas livres, dos que obedecem e dos que mandam.

SÓCRATES – Queres dizer então que o rapsodo saberá melhor que o piloto de que maneira deve falar quem comanda um navio atingido pela tempestade?

ÍON – Não, neste caso o piloto é o mais indicado.

SÓCRATES – O rapsodo saberá melhor que o médico os discursos dos que tratam os doentes?

ÍON – Também não, confesso-o.

SÓCRATES – Então o rapsodo é o mais indicado para julgar os discursos dos escravos?

ÍON – Sim.

SÓCRATES – Por exemplo, pretendes que o rapsodo, e não o vaqueiro, saberá o que é preciso dizer a fim de amansar as bestas quando estiverem irritadas?

ÍON – Não, não.

SÓCRATES – E saberá melhor que um trabalhador de lã o que se refere à lã?

ÍON – Não!

SÓCRATES – Saberá melhor os discursos de um general que tenta animar seus soldados?

ÍON – Sim, eis o que o rapsodo deve conhecer.

SÓCRATES – Mas como?! A arte do rapsodo é igual à arte da guerra?

ÍON – Pelo menos eu sei muito bem como deve falar um general de exército.

SÓCRATES – Talvez, Íon, sejas versado na arte de comandar uma tropa. Com efeito, se foras simultaneamente bom cavaleiro e bom tocador de alaúde, distinguirias tão bem quanto qualquer outro cavaleiro quais cavalos são mais rápidos. Mas se eu te perguntasse através de que arte conheces os cavalos que correm mais rápido, se por ser bom cavaleiro ou por ser bom tocador de alaúde, que me responderias?

ÍON – Te responderia que enquanto bom cavaleiro é que o saberia.

SÓCRATES – Analogamente, se conhecesses o que é bem-tocado no alaúde, confessarias que este discernimento fazias em virtude de ser músico, e não cavaleiro?

ÍON – É evidente.

SÓCRATES – Pois bem: posto que entendes de arte militar, tens este conhecimento enquanto homem bélico ou rapsodo?

ÍON – Isso não é o mais importante, Sócrates.

SÓCRATES – Como é que não importa? A teu ver, a arte do rapsodo é idêntica à da guerra, ou são duas artes distintas?

ÍON – Creio serem a mesma arte.

SÓCRATES – De maneira, então, que o bom rapsodo é também um bom general?

ÍON – Sim.

SÓCRATES – E vice-versa? O bom general será um bom rapsodo?

ÍON – Bom, não nego que aí tens minha discordância.

SÓCRATES – Pelo menos crês que um excelente rapsodo seria com igual probabilidade excelente capitão…

ÍON – Decerto.

SÓCRATES – E não és tu o melhor rapsodo de toda a Grécia?

ÍON – Estou seguro disso.

SÓCRATES – Portanto, tu, Íon, és o melhor capitão de toda a Grécia?

ÍON – Posso afiançar-te, Sócrates! Aprendi a sê-lo por Homero.

SÓCRATES – Em nome dos deuses, Íon! Como, sendo tu o melhor capitão e melhor rapsodo de toda a Grécia, andas de cidade em cidade recitando versos e não estás, ao invés, à frente dos nossos exércitos?! Pensas que os gregos têm grande necessidade de um rapsodo com uma coroa de ouro, e que nada dariam por um grande general?

ÍON – Nossa cidade, Sócrates, está submetida a vossa dominação. Vós atenienses mandais em nossas tropas e não necessitamos de nenhum general, verdadeiramente. Quanto a vossa cidade em si, e a Esparta, em particular, não me elegeriam para conduzir seus exércitos, posto que já vos credes capazes o bastante na matéria.

SÓCRATES – Meu querido Íon, conheces Apolodoro de Cícico?

ÍON – Quem é esse?

SÓCRATES – Aquele que os atenienses já colocaram muitas vezes à cabeça de suas tropas, ainda que seja um estrangeiro. E Fanóstenes de Andros e Heraclides de Clazômenas de igual modo. Porque avaliamos os guerreiros pelo seu mérito, não pela sua nacionalidade. E não escolheriam para mandar em seus exércitos Íon, cumulando-o de glórias? Por que não o crês? Vós efésios não sois atenienses de origem, e Éfeso não é uma colônia que não cede em nada a muitas outras polis? Se dizes a verdade, Íon, se a arte e a ciência que possuis advêm de Homero, então ages mal para comigo, porque depois de te haver exaltado pelas belezas homéricas que conheces e de haver-me prometido fazer-me partícipe destas, vejo agora que me enganas, porque não só não me fazes partícipe destas coisas como tampouco queres confessar-me quais são esses conhecimentos em que tanto sobressais! Semelhante a Proteu, giras em todos os sentidos, metamorfoseias-te e adquires todas as formas imagináveis; diriges teu discurso a fim de livrares-te de minhas demandas. Concluis, pois, por transformar-te em general, para que eu não possa compreender a extensão de tua habilidade e de tua inteligência em Homero! Por último, se é à técnica que deves esta habilidade sem comparação, tendo-te antes comprometido a ensinar-ma ou pelo menos demonstrar-ma, faltas com tua palavra! Logo, és injusto, Íon! Se, ao contrário, não é à técnica senão a uma inspiração divina que se devem seus conhecimentos homéricos, já que tu ficas possuído mesmo sem ter ciência das coisas enquanto as recitas, como eu te disse antes, não tenho eu motivo para queixar-me de ti!”

Pois então, Sócrates, se queres que eleja um ou outro, é muito melhor passar por um homem divino do que por general.”

#off Confunde-me ou devora-me.

APOLOGIA DE SÓCRATES – atualizado e ampliado

Conteúdo original em https://seclusao.art.blog/2017/12/08/apologia-de-socrates/ (08/12/17) – Foram acrescentados novos trechos e editadas algumas das traduções de 2 anos atrás.

Tradução comentada de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei oportuno abordar pontos polêmicos ou obscuros. Quando a nota for do tradutor Azcárate ou da editora Ana Pérez Vega, um (*) antecederá as aspas.

(*) “Os últimos acusadores de Sócrates foram Anito, que morreu posteriormente apedrejado no Ponto, Lícon, que sustentou a acusação, e Meleto.”

esta é a primeira vez na minha vida que compareço perante um tribunal de justiça, apesar de contar mais de 70 anos. (…) muitos acusadores (…) disseram-vos que há um certo Sócrates, homem sábio que indaga o que se passa nos céus e nas entranhas da terra e que sabe converter uma doutrina má em boa. (…) Por outra parte, estes acusadores são em grande número, e faz muito tempo que estão metidos nesta trama. (…) o mais injusto é que não me é permitido conhecer nem nomear meus acusadores, à exceção de um certo autor de comédias.”

Remontemos, pois, à primeira causa da acusação, sobre a que fui tão desacreditado e que deu a Meleto segurança para me arrastar a este tribunal.”

E nem é porque não considere louvável o poder instruir os homens, como fazem Górgias de Leôncio(*), Pródico de Céos(**) e Hípias de Élide(***). Estes grandes personagens têm o maravilhoso talento, aonde quer que vão, de persuadir os jovens a se unir a eles e abandonar seus concidadãos, quando poderiam estes ser seus mestres sem custar-lhes um óbolo [centavo].

(*) Górgias de Leontinos ou de Leontini [atual Sicília] (em grego, Γοργίας) (circa 485a.C.-circa 380a.C): filósofo do período antropológico da Filosofia grega.

(**) Pródico de Céos (Pródikos; circa 465(50?)a.C.-circa 395a.C.) foi um filósofo grego, que formou parte da primeira geração de sofistas. Nasceu no povoado de Yulis, na ilha egéia de Céos (uma das Cíclades, no mar Egeu).

(***) Hípias de Élide, sofista grego das primeiras gerações, nasceu aproximadamente em meados do século V a.C. e ademais foi um jovem contemporâneo de Protágoras e Sócrates. A maior fonte de conhecimento sobre ele é Platão. Aparece nos diálogos platônicos (Hípias menor e Hípias maior), além de (de forma breve) no Protágoras.”

Cálias III, filho de Hipônico [sogro de Alcibíades, neto de Cálias II], homem que gasta mais com os sofistas que todos os cidadãos juntos”

(*) “Querefonte, segundo Platão, era um cidadão ateniense que perguntou ao oráculo de Delfos se havia alguém mais sábio do que Sócrates, e a Pitonisa contestou-lhe que não havia nenhum grego mais sábio que este.”

ele não mente, a divindade não pode mentir.”

Pode muito bem suceder, que nem ele nem eu saibamos nada do que é belo e do que é bom; mas há esta diferença, que ele crê sabê-lo por mais que nada saiba, e eu, não sabendo nada, admito não saber. Me parece, pois, que nisto eu, ainda que por pouco, era mais sábio, porque não cria saber o que de fato não sabia. (…) fui em busca de outros, conhecendo bem que me fazia odioso, e fazendo-me violência, porque temia os resultados; mas me parecia que devia, sem duvidar, preferir a voz de deus a todas as coisas, e para topar com o verdadeiro sentido do oráculo, ir de porta em porta pelas casas de todos aqueles que gozavam de grande reputação (…) todos aqueles que passavam por ser os mais sábios me pareceram que não eram, ao passo que todos aqueles que não gozavam desta mesma opinião se achavam, em verdade, muito mais próximos de sê-lo.”

Depois destes grandes homens de Estado, fui então aos poetas, tantos aos tragediógrafos quanto aos ditirâmbicos, fora outros, em nada duvidando de que com eles finalmente seria pego no pulo, i.e., descoberto como mais ignorante que eles. Com esse intuito, examinei suas obras, as mais famosas e bem-escritas, e perguntei-lhes o que queriam dizer aqui e ali, e qual era seu objetivo, para que isso me instruísse. (…) Não houve um só de todos os poetas vivos que houvesse abordado que soubesse dizer ou dar razão de seus próprios poemas. Aprendi então que não é a sabedoria que guia os poetas, mas certos movimentos da natureza e um entusiasmo semelhante ao dos profetas e adivinhos; que todos dizem coisas muito boas, sem compreender nada do que dizem. Convenci-me então da presunção dos poetas, que se julgavam os mais sábios num sem-número de matérias. Deixei-os, pois, persuadido de que até eu era superior a eles, pela mesma razão que eu era superior aos políticos.”

Era melhor para mim ser como sou. Desta singela conclusão, atenienses, nasceu contra mim todo o ódio e inimizade que se me dedicam, capaz de produzir todas as calúnias que conheceis, fazendo-me adquirir esta fama injusta de homem sábio.”

Parece-me, atenienses, que somente Deus é o verdadeiro sábio, e que isto quisera dizer por intermédio de seu oráculo, deixando transparecer que toda a sabedoria humana não é grande coisa ou, por melhor dizer, que não é nada; e se o oráculo nomeou a Sócrates, sem dúvida valeu-se de meu nome como um exemplo, e como se dissesse a todos os homens: <O mais sábio de entre vós é aquele que reconhece, como Sócrates, que sua sabedoria nada é>.”

Isto tanto me preocupa que não tenho tempo para me dedicar ao serviço da república nem ao cuidado de meus assuntos pessoais, e vivo numa grande pobreza em virtude deste culto que rendo a deus. Por outro lado, muitos jovens das mais abastadas famílias, em meio a seu tempo ocioso, a mim se juntam de bom grado, e nisso sentem tanto prazer que acabam emulando meu método, e saem por aí questionando os homens auto-intitulados sábios, pondo-os à prova. E não duvideis de que acabam encontrando boa colheita, porque há muitos desses homens vãos pela cidade: tão confiantes quanto são ignorantes.

Todos aqueles que os jovens convencem de que não passam em realidade de uns ignorantes acabam por se voltar contra mim e não contra os próprios jovens, e espalha-se esse rumor de que há um tal Sócrates, malvado e infame, corruptor da juventude; quando se lhes pergunta o que faz Sócrates ou o que ensina Sócrates, não têm o que dizer, e para dissimular a debilidade de sua acusação e a vacuidade de seu argumento soltam estes impropérios de sempre dirigidos aos filósofos, coisa trivial, vós o sabeis. Alegam que Sócrates indaga o que é que se passa nos céus e nas entranhas da terra, que além disso não crê nos deuses, que explica as causas más como sendo boas. E toda essa celeuma só porque não se atrevem a dizer a verdade: que o único que faz Sócrates é pegar esses pseudo-sábios no pulo, descobrindo seu segredo (eles nada sabem).”

Meleto representa os poetas, Anito os políticos e artistas e Lícon os oradores.”

ACUSAÇÃO FORMAL: “Sócrates é réu, porque corrompe os jovens, porque não crê nos deuses do Estado, e porque no lugar destes deuses estabelece novas divindades que chama de demônios ou espíritos ou gênios.”

SÓCRATES – (…) já que encontraste quem corrompe os jovens desta cidade, e já o denunciaste aos magistrados, é necessário que digas quem fará dos jovens pessoas melhores. Fala, vejamos de quem se trata!… Vês, Meleto? Calaste-te. Estás perplexo, não atinas com que responder. Não te parece isto vergonhoso? Não é a prova cabal de que jamais te preocupaste com a educação da juventude? Mas repito, meu excelente Meleto: quem é aquele que pode melhorar os jovens?

MELETO – As leis.

SÓCRATES – Meleto, sabes que não foi esta minha pergunta. Eu te pergunto quem é o homem; porque é evidente que a primeira coisa que este homem deve conhecer são as leis.

MELETO – São, Sócrates, os magistrados aqui reunidos.

SÓCRATES – Como, Meleto?! Estes magistrados ou juízes são capazes de instruir os jovens e fazer deles pessoas melhores?

MELETO – Sim, Sócrates, certamente.

SÓCRATES – Mas são todos estes juízes, ou há entre eles uns que são capazes e outros que não?

MELETO – Todos igualmente.

SOCRATES – Hm, perfeitamente. Por Hera! De um só golpe deste a Atenas um número enorme de bons preceptores! Mas sigamos adiante, Meleto. Estes ouvintes que nos escutam, o júri, podem eles, também, fazer dos jovens melhores, ou não?

MELETO – Podem.

SÓCRATES – E os senadores?

MELETO – O mesmo digo dos senadores.

SÓCRATES – Mas, querido Meleto, todos aqueles que vêm à assembléia do povo corrompem igualmente os jovens ou são capazes de melhorá-los?

MELETO – São todos capazes.

SÓCRATES – Segue-se daí que todos os atenienses podem fazer os jovens melhores, menos eu; só eu os corrompo, não é assim, Meleto?

MELETO – Sim, Sócrates.

SÓCRATES – Ó, sou mesmo um desgraçado! Mas continua a responder-me. Parece-te que sucederá o mesmo com os cavalos? Podem todos os homens aperfeiçoá-los, e é possível que somente um indivíduo possua a capacidade de arruiná-los? (…) Há um só bom domador ou há alguns bons domadores? E o restante dos homens, que não são domadores, será que pioram os cavalos? Não seria assim com todos os animais? Ó, sem dúvida! Anito e tu já conviestes nisto! Porque seria extremamente raro e vantajoso para a juventude que um só houvera capaz de corrompê-la, enquanto todos os demais instruem-na e a conduzem no bom caminho. Mas tu provaste com sobras, Meleto, que a educação da juventude não é coisa que tenha tirado teu sono um só dia, e teus discursos evidenciam com clareza absoluta que tu jamais te ocupaste desta matéria que motiva tua perseguição contra mim.”

SÓCRATES – Existirá alguém que prefira receber dano daqueles com quem trata a tirar vantagem? Responde, porque a lei manda que me respondas neste tribunal. Há alguém em seu juízo perfeito que prefira ser piorado que melhorado, Meleto?

MELETO – Não, não há.

SÓCRATES – Mas então, vejamos: quando me acusas de corromper a juventude e torná-la pior, sustentas que faço-o deliberadamente ou sem querer?

MELETO – Sabes o que fazes, Sócrates.

SÓCRATES – Tu és jovem, eu um ancião. É possível que tua sabedoria seja assim tão superior a minha, que sabendo tu que o contato com os maus causa o mal, e o contato com os bons causa o bem, suponhas-me tão ignorante que não saiba que, se converto aqueles que me rodeiam em maus, exponho-me a receber o mesmo mal em paga? Supões que eu, apesar desta simples consequência lógica, insista e persista no mal, e isso por livre e espontânea vontade, conhecedor dos meus atos? (…) Um de dois: ou eu não corrompo os jovens, ou, corrompendo-os, fá-lo sem saber e contra minha vontade, e de qualquer maneira que seja tu és um caluniador. Se corrompo a juventude a despeito de minhas intenções, a lei não permite que se cite alguém que não pode responder pelos próprios atos no tribunal. Não é culpado aquele que erra involuntariamente; só pode ser réu aquele que peca porque quer. O procedimento nestes casos seria chamar-me e repreender-me, instruindo-me no jeito correto de fazer as coisas. É certo que, se me ensinam aquilo que não sei, não mais errarei. Mas tu, com propósito, e longe de preocupar-te em educar-me, arrastas-me a este tribunal, onde o objetivo da lei é castigar as ofensas, jamais o mero repreender ou prevenir faltas voluntárias.

SÓCRATES – (…) explica-te se me acusas de ensinar que há muitos deuses (e neste caso, se creio que há deuses, não sou ateu, e falta a matéria para que seja eu culpado), ou se estes deuses não são do Estado. (…) Ou bem me acusas de que não admito nenhum deus, e que ensino os demais a que não reconheçam nenhum?

MELETO – Acuso-te de não reconhecer nenhum deus.

SÓCRATES – Oh, maravilhoso Meleto!, por que dizes isso? O quê!! Eu não creio como os demais homens que o sol e a lua são deuses?!

MELETO – Não, por Zeus! Ateniense Sócrates, tu não crês nisto, porque afirmas que o sol é uma pedra e a lua um pedaço de terra.

SÓCRATES – Mas tu estás acusando Anaxágoras em meu lugar, querido Meleto? Creio que menosprezes estes juízes, subestimando sua inteligência, ao pensar que eles ignorem que os livros de Anaxágoras de Clazômenas estão repletos de asserções deste tipo. E que necessidade teriam os jovens de aprender comigo coisas que poderiam aprender no teatro mesmo, por um dracma quando muito?

SÓCRATES – Meleto, tu dizes coisas verdadeiramente incríveis. Nem mesmo te pões de acordo contigo! Me parece, caros atenienses, que este Meleto é um insolente, que forjou esta acusação com o único intuito de insultar-me, com toda a audácia de um imberbe, porque, justamente, só veio ao tribunal a fim de testar-me e propor um enigma, dizendo-se a si próprio: Vejamos se Sócrates, este homem que se passa por tão sábio, reconhece que me contradigo e que digo coisas absurdas, ou se consigo enganá-lo, não só a ele como a todos os presentes! Efetivamente, contradizes-te em tua acusação, porque é como se tu dissesses: Sócrates é réu; primeiro, porque não reconhece deuses; segundo, porque os reconhece! Não seria isto mangar dos outros? Pelo menos eu creio que sim. Atenienses, suplico-vos que não vos irriteis comigo, se falo de forma tão simplória. Responde mais isto, Meleto. Há alguém no mundo que crê na existências de coisas humanas mas não na existência de homens?… Juízes, mandai que ele responda, e que deixe de murmurar tanto!… Há quem acredite haver regras para domar cavalos, e que não haja cavalos? Que há tocadores de flauta e que não há som de flauta? (…) há alguém que ao mesmo tempo creia nas coisas dos demônios, e que, no entanto, creia que não há demônios?

MELETO – Não, sem dúvida.

SÓCRATES – Que trabalho custou-me arrancar-te esta confissão! Respondeste-me, mas não sem que os magistrados a isso te obrigassem!”

SÓCRATES – E estes demônios, não estamos convencidos de que são deuses ou filhos de deuses? É assim, sim ou não?

MELETO – Sim.”

…E se os demônios são filhos dos deuses, filhos bastardos, que seja, pois o que dizem é que são filhos de deuses com ninfas ou de deuses com homens quaisquer, diz-me, quem é o homem capaz de crer que há filhos de deuses, mas que não há deuses? Seria como acreditar que há mulas e jegues mas que não há cavalos nem asnos!”

Talvez alguém objete: Não tens remorso, Sócrates, de te haveres consagrado a um estudo que te põe neste momento em risco de morte?

Meu filho, se vingares a morte de Pátroclo, teu amigo, matando a Heitor, tu morrerás, porque tua morte deve seguir à de Heitor.”

É uma verdade constante, atenienses, que todo homem que escolheu um posto que tenha crido honroso, ou que foi-lhe imposto por seus superiores, deve se manter firme, e não deve temer nem a morte, nem o que há de mais terrível, antecipando-se a todo o horror.

Conduzir-me-ia de uma maneira singular e estranha, atenienses, se depois de ter guardado fielmente todos os postos a que me destinaram nossos generais em Potidéia, em Anfípolis e em Délio(*) [não confundir com Delos] e de ter arriscado minha vida tantas vezes, agora que o deus me ordenou passar meus dias no estudo da filosofia, estudando-me a mim mesmo e estudando os demais, abandonasse este posto por medo da morte ou de qualquer outro perigo. (…) Porque temer a morte, atenienses, não é outra coisa senão se crer sábio sem o ser, e crer conhecer o que não se conhece. Com efeito, ninguém conhece a morte, nem sabe se é o maior dos bens para o homem.

(*) Sócrates se distinguiu por seu valor nos dois primeiros lugares, e na batalha de Délio salvou as vidas de Xenofonte e Alcibíades, seus discípulos.”

Se me dissésseis: Sócrates, em nada estimamos a acusação de Anito, e te declaramos absolvido; mas só à condição de que cessarás de filosofar e de fazer tuas indagações de costume; e se reincidires, e se se chegar a descobri-lo, tu morrerás. Se me désseis a liberdade sob estas condições, responder-vos-ia sem hesitar: Atenienses, respeito-vos e amo-vos; mas obedecerei a deus antes que a vós, e enquanto eu viver não cessarei de filosofar, dando-vos sempre conselhos, retomando minha vida ordinária, e dizendo a cada um de vós quando vos encontrasse: – Bom homem, como, sendo ateniense e cidadão da maior cidade do mundo por sua sabedoria e por seu valor, como é que não te envergonhas de não haveres pensado senão em amontoar riquezas?

Toda minha ocupação se resume em trabalhar para persuadir-vos, jovens e velhos, de que antes do cuidado com o corpo e com as riquezas, antes de qualquer outro cuidado, vem o da alma e seu aperfeiçoamento”

Fazei o que pede Anito, ou não o façais; dai-me a liberdade, ou não ma deis; eu não posso fazer outra coisa, ainda que houvesse de morrer mil vezes… Mas não murmureis, atenienses, e concedei-me a graça que vos pedi ao princípio: escutai-me com calma. Calma que creio não resultar infrutífera; fato é que tenho de dizer-vos outras muitas coisas que, quiçá, far-vos-ão murmurar. Mas não vos deixeis levar pela paixão. Estai persuadidos de que se me fizerdes morrer com base no que acabo de declarar-vos, o mal não será só para mim. Com efeito, nem Anito nem Meleto podem causar-me mal algum, porque o mal nada pode contra o homem de bem. Far-me-ão condenarem-me à morte, é certo, ou quiçá ao desterro, ou à perda dos meus bens e dos meus direitos de cidadão”

condenar-me seria ofender o deus e desconhecer a dádiva que vos foi regalada. Morto eu, atenienses, não encontraríeis facilmente outro cidadão que o deus conceda a esta cidade – sim, sei que esta comparação vos soará ridícula e prepotente –, como se diz de um corcel nobre e generoso, porém entorpecido por sua nobreza, e que tem necessidade da espora, de ser excitado, constrangido e despertado para o bom comportamento. Figura-se-me que sou realmente aquele que deus escolheu para excitar os atenienses e retificá-los, atiçá-los, fustigá-los, espetá-los, cuidar de vós, numa só palavra, jamais abandonar-vos, nem um só instante!”

Que resultará disso, amigos? Passareis o resto da vida dormentes, profundamente insensíveis, a menos que o deus tenha compaixão de vós e vos envie um outro homem que se pareça comigo. (…) Há um quê de sobre-humano no fato de eu ter abandonado durante tantos anos meus próprios interesses a fim de me consagrar aos vossos, dirigindo-me a cada qual de vós, como se fôra um pai ou um irmão mais velho, como só um destes poderia fazer… exortando-vos sem descanso a que praticásseis a virtude.”

ZARATUSTRA II (OU ZARATUSTRA ZERO): “Talvez pareça absurdo que eu me tenha intrometido a dar lições a cada um em particular, e que jamais me tenha atrevido a me apresentar em vossas assembléias, para dar meus conselhos à pátria. Quem mo impediu, atenienses, foi este demônio familiar, esta voz divina de que tantas vezes vos falei, e que serviu a Meleto para formar admiravelmente um capítulo da acusação. (…) Essa voz é a que sempre se me opôs, quando quis mesclar-me nos negócios da república”

É preciso, de toda necessidade, que aquele que quiser combater pela justiça, por pouco que queira viver, seja tão-somente um simples particular e não um homem público.”

é impossível que eu deixe de ser vítima da injustiça.”

Já sabeis, atenienses, que nunca desempenhei nenhuma magistratura, e que fui tão-somente senador. A tribo de Antioquia, à qual pertenço, ocupava seu turno no Pritaneu quando, contra toda a lei, vos empenhastes em processar um dos dez generais que não haviam enterrado os corpos dos cidadãos mortos no combate naval das Arginusas; injustiça, reconheceis hoje, porque arrependestes-vos.¹ Fui eu o único senador que se atreveu a opor-se a vós a fim de impedir a violação das leis. Protestei contra vosso decreto, e apesar dos oradores que estavam prestes a denunciar-me, apesar de vossas ameaças e vitupérios, preferi correr este perigo ao lado da lei e da justiça que consentir convosco em tão insigne iniqüidade, sem que me impedissem nem os grilhões nem a morte.

Isto se deu quando a cidade era governada pelo povo, porém já depois que se estabeleceu a oligarquia (decadência dos costumes): havendo-nos mandado os Trinta tiranos que outros quatro e eu fôramos a Tholos(*) para um assunto, comunicaram-nos uma ordem: prender Léon de Salamina para a execução. Os Trinta davam este tipo de comando à toa, a muitas pessoas, a fim de comprometer o maior número de cidadãos o possível em seus crimes e calamidades. (…) Mas vede: todo o poder destes Trinta tiranos, por maior que fôra, não me intimidou. Não foi o bastante para turvar meu juízo ou fazer-me desobedecer à lei justa.

Assim que saímos de Tholos, dirigiram-se os outros 4 a Salamina, e mataram León. Eu voltei a minha casa. Não duvideis de que minha morte teria sido ordenada em muito pouco tempo caso naquele momento mesmo não tivesse sido abolido tal governo. Existe um grande número de cidadãos capazes de testemunhar a meu favor.

Credes que eu haveria de viver tantos anos se me mesclara ainda mais do que nestas ocasiões nos negócios da república? Se, como homem de bem, houvera combatido toda e qualquer classe de interesse bastardo, dedicando-me exclusivamente à defesa da suprema justiça? Esperança vã, atenienses! Nem eu nem nenhum outro houvera podido fazê-lo. Mas a única coisa a que me propusera em toda minha vida pública e privada foi jamais ceder ante a injustiça, jamais ceder aos tiranos que meus caluniadores querem agora convencer-vos de que são meus discípulos! (…) como meu ofício não é mercenário, não me recuso a discursar, ainda que sem a menor das retribuições; e estou sempre disposto, seja com ricos ou com pobres, a dedicar todo o tempo àquele cidadão que queira me fazer perguntas, e, se o prefere, a fazer-lhe eu mesmo as perguntas que ele queira responder, ou as que ele deseja que eu pergunte de todo o coração. E se, dentre estes que questionei, há alguns que se tornaram homens de bem ou pícaros, nem por isso devo ser exaltado ou censurado. Porque não sou eu a causa. Nunca prometi ensinar coisa alguma a ninguém.

¹ Atenas, além de ter vencido a batalha de Arginusa contra Esparta, não tinha como enterrar soldados mortos como náufragos, cujos cadáveres afundaram em alto-mar!

(*) “Sala de despacho dos Pritaneus, prítanes ou senadores – P.A. / Vestígios dessa câmara, uma sala redonda, foram escavados por arqueólogos em tempos recentes. – A.P.V.”

Como já vos disse, foi o deus mesmo quem me deu esta ordem, através dos oráculos, sonhos e outros meios de que se vale a divindade quando quer que os homens saibam qual é a sua vontade.”

Não desejo contar com a proteção dos que ‘corrompi’, porque poderiam ter razões para defender-me com unhas e dentes; mas seus pais, que não seduzi e que têm já certa idade, que outra razão podem ter para querer me proteger, senão minha inocência?”

tenho parentes e tenho três filhos, dos quais o maior está na adolescência e os outros dois na infância, e no entanto, não os farei comparecer aqui para vos comprometer a absolver-me.”

muitos que vi, que passavam por grandes personagens, agiam com uma baixeza surpreendente quando se tornavam réus de um julgamento, como que persuadidos de que seria para eles um grande mal se lhes arrancassem a vida, e de que se tornariam imortais caso viesse a sonhada absolvição. Repito que, obrando assim, só poderiam cometer uma afronta a Atenas, pois fariam com que os estrangeiros cressem que os mais virtuosos dentre nós, os favoritos e os mais dignos de louvor, em nada se diferenciavam, no fundo, de mulherzinhas miseráveis. Isso é o que não deveis absolutamente fazer, atenienses, vós que houvestes alcançado tanto renome. Se quiséramos fazê-lo, nós, grandes personagens, estais obrigados, vós magistrados, a impedir-nos, e declarar que condenareis ainda mais depressa àquele que recorrer a estas cenas trágicas para mover os juízes por compaixão, ridicularizando nossa polis. Aquele que esperar tranqüilamente vossa sentença, com efeito, demorará mais a morrer.”

* * *

não esperava ver-me condenado por tão escasso número de votos.”

(*) “A lei permitia ao acusado condenar-se a uma destas três penas: prisão perpétua, multa ou desterro. Sócrates não caiu nesta armadilha.”

Dito isto, de que sou eu merecedor? De um grande bem, sem dúvida, atenienses, se é que recompensais verdadeiramente o mérito. E que é que convém a um homem pobre, vosso benfeitor, e que tem necessidade de uma grande concessão e tolerância a fim de se ocupar exclusivamente em exortar-vos? Nada convém-lhe tanto, atenienses, quanto ser alimentado no Pritaneu, o que é-lhe muito mais devido que àqueles dentre vós que ganharam as corridas de charrete nos jogos olímpicos; porque estes, com suas vitórias, fazem que pareçamos mais felizes; eu, eu os faço, não em aparência, mas verdadeiramente, mais felizes. Acresce que os atletas de renome não carecem deste tipo de socorro – o sustento alheio –; por outro lado, eu dele necessito.”

Se tivésseis uma lei que ordenasse que um julgamento de morte durasse muitos dias, como se pratica noutras partes, estou convencido de que vos convenceria de minha inocência. Mas como hei de destruir tantas calúnias num espaço de tempo tão curto? Tenho a mais absoluta certeza que nada fiz de mal a ninguém. Como hei de fazê-lo a mim mesmo, pois, confessando que mereço ser castigado, impondo-me a mim mesmo uma pena? Por não ter de sofrer necessariamente o suplício a que me condena Metelo, suplício que, verdadeiramente, não sei se é um bem ou um mal, iria eu optar, em detrimento da pena capital, por uma dessas penas ditas ‘menores’, que tenho certeza que são realmente males? Condenar-me-ei eu, inocente, a alguma delas? Seria cabível uma prisão perpétua? E que significa viver, sendo eterno escravo dos Onze?(*) Será justo o confinamento até que pague eu a multa estipulada? Isto equivale à pena de prisão perpétua, pois que não tenho com que pagar a multa. Condenar-me-ei ao desterro? Era preciso que eu fosse obcecado pelo ‘estar vivo’, queridos atenienses, se não percebesse que, se vós, meus concidadãos, não mais suporteis meus hábitos e conversações nem minhas máximas, havendo-vos irritado a ponto de levar vosso ódio e repulsa às últimas conseqüências, com muito mais razão os homens de outros países não poderiam em absoluto suportar-me! Preciosa vida para Sócrates, se a esta idade, expulso de Atenas, se visse errante de cidade em cidade como um vagabundo e como um proscrito! Sei muito bem que, aonde quer que eu vá, os jovens me escutarão, como me escutam os de Atenas; mas se os rechaço eis que rogarão a seus pais que me desterrem; e, se não os rechaço, eis que seus próprios pais e parentes, sem nenhum rogo, se apressarão em arrojar-me da cidade ainda mais depressa!

(*) “O número de magistrados encarregados de vigiar as prisões.”

O quê, Sócrates, se fores banido não poderás manter-te em repouso e guardar silêncio? (…) se vos digo que calar no meu exílio seria o mesmo que desobedecer a Deus, e que por esta razão me é impossível guardar silêncio, não me creríeis, decerto, e entenderíeis isto como ironia!

uma vida sem avaliação moral não é vida”

Verdadeiramente, se fosse eu rico, condenar-me-ia a uma multa tal que pudesse pagá-la, porque isto não me causaria nenhum prejuízo; mas não posso, porque nada tenho, a menos que queirais que a multa seja proporcional a minha indigência, e neste particular poderia ela se estender no máximo a uma mina de prata, pois é a isto que me condeno.”

(Havendo-se Sócrates condenado a si mesmo à multa por obedecer à lei, os juízes deliberaram e o condenaram à morte…)”

E para agravar vossa vergonhosa situação, sabeis que os estrangeiros me chamarão sábio, ainda que eu não o seja! No lugar deste gravame para vós, poderíeis muito bem ter agido com mais paciência, pois minha morte adviria naturalmente. Alcançaríeis da mesma forma vosso objetivo, pois vede: na idade em que estou, já não disto muito da morte.”

Não são as palavras, atenienses, aquilo que me faltara; é a impudência de não vos haver dito aquilo que gostaríeis de ouvir. Teria sido para vós uma grande satisfação o haver-me visto lamentar, suspirar, chorar, suplicar e cometer todas as demais baixezas que estais vendo todos os dias dentre outros acusados.”

Sucede amiúde nos combates que pode-se salvar a própria vida com muita facilidade, depondo as armas e pedindo asilo e clemência ao inimigo, e o mesmo sucede em todos os demais perigos; há mil expedientes utilizáveis para evitar a morte. Quando alguém está em liberdade para escolher suas ações ou seu discurso, é realmente fácil. Ah, atenienses! Não é evitar a morte que é difícil, mas evitar a desonra, que se aproxima muito mais ligeira que a morte!

Ó vós, que me houvestes condenado à morte! Quero predizer-vos o que vos sucederá, porque me vejo naqueles instantes, quando a morte se aproxima, em que os homens são capazes de profetizar o futuro. Vo-lo anuncio: vós que me matais agora, vosso castigo não tardará, quando eu houver finalmente morrido, e será, por Zeus!, mais cruel que o castigo que me impusestes! Ao desfazer-vos de mim, só houvestes tentado em vão descarregar-vos do importuno peso da prestação de contas de vossa existência, mas vos sucederá tudo ao contrário, vo-lo predigo!”

se credes que basta matar alguém para impedir que outros vos denunciem e joguem na cara que viveis pessimamente, vos enganais de forma terrível. Esta maneira de libertar-vos de vossos censores não é decente nem sequer possível. A melhor maneira, ao mesmo tempo decente e muito simples, é, no lugar de calar os homens, fazer-vos pessoas melhores.”

Com respeito a vós que me absolvestes com vossos votos, ó, atenienses! Conversarei convosco com o maior prazer, no intervalo de tempo entre meu encarceramento e os preparativos dos Onze. Concedei-me, suplico-vos, um momento só de atenção, nesta oportunidade, pois nada impedirá que conversemos juntos; haverá tempo de sobra. Quero dizer-vos, como amigos que sois, antes disso, só uma coisa que acaba de suceder-me, e explicar-vos o que significa. Sim, meus juízes (e, chamando-vos desta maneira, não me engano no nome!), sucedeu-me hoje uma coisa muito maravilhosa. A voz divina de meu demônio familiar que me fazia advertências tantas vezes, e que às menores ocasiões não deixava jamais de separar-me de todo o mal que possivelmente viesse a empreender, hoje, que me sucede o que vós vedes, e que a maior parte dos homens tem pelo mal supremo, esta voz não me disse nada, nem esta manhã, enquanto saía de casa, nem quando cheguei ao tribunal, nem após começar a discursar a vós. E todavia muitas vezes me sucedeu ser interrompido em meio a minhas conversações por esta ‘voz’! Hoje a nada meu gênio interior se opôs, em nenhum momento de minha fala ou de minhas ações. Que quer dizer isso? Vou dizê-lo! São fortes indícios de que o que me sucedeu é um grande bem”

É preciso que de duas uma: ou que a morte seja um aniquilamento absoluto e uma privação de todo sentido, ou, como se diz, que seja um trânsito da alma de uma paragem para outra. Se é a privação de todo sentido, um sono pacífico que não é turvado por nenhum sonho, que maior vantagem poderia apresentar a morte? (…) Se a morte é semelhante coisa, chamo-a com razão de um bem; porque então o tempo todo inteiro não é mais que uma longa noite.

Mas se a morte é um trânsito de um lugar para outro, e se, segundo se diz, lá embaixo está o paradeiro de todos os que um dia viveram, que maior bem, outrossim, é possível imaginar, ó meus juízes? Porque se, ao deixar os juízes prevaricadores deste mundo, encontramos no Hades os verdadeiros juízes, que se diz que fazem, ali sim, justiça, Minos, Radamanto, Éaco, Triptólemo e todos os demais semideuses que foram justos em vida, não é esta a mudança mais feliz que há? A que preço não compraríeis a felicidade de conversar com Orfeu, Museu, Hesíodo e Homero? (…) Que transporte de alegria não teria eu assim que me encontrasse com Palamedes, com Ájax, filho de Telamon, e com todos os demais heróis da antiguidade, que foram vítimas da injustiça? Que prazer o poder comparar minhas aventuras com as suas! Mas ainda seria um prazer infinitamente maior para mim passar ali os dias, interrogando e examinando e avaliando todos estes personagens, para distinguir os verdadeiramente sábios dos que apenas crêem sê-lo e não o são (os torpes). Há alguém, juízes meus, que não daria tudo aquilo que possui neste mundo para poder examinar em pessoa aquele que conduziu um vasto exército contra Tróia? Ou Ulisses, ou Sísifo, ou tantos outros, homens, mulheres, cuja conversação e avaliação moral seriam de um júbilo inexprimível? De fato é uma recompensa que não traz qualquer prejuízo! Ali entraríamos em contato com os mais felizes e os únicos que gozam de fato da imortalidade, se havemos de crer no que diz o vulgo.”

Eis, em suma, por que a voz divina nada me dissera neste dia. Não guardo nenhum rancor contra meus acusadores, nem contra os que me condenaram. (…) Um favor, apenas, peço-vos: Quando meus filhos houverem crescido, suplico-vos que os fustigai, os atormentai, como eu vos atormentei, no caso de que eles prefiram as riquezas à virtude, e de que se creiam algo quando nada são! Não deixeis de vexá-los bastante, se eles deixarem de se aplicar naquilo em que devem se aplicar, imaginando que são aquilo que não são!

Mas já é tempo de que nos retiremos daqui, eu para morrer, vós para viverdes. Entre vós e eu, quem leva a melhor parte? Isto é o que ninguém sabe, exceto Deus.”

(Pseudo?) EPÍNOMIS OU O FILÓSOFO // Popularmente conhecido como “Leis XIII” // “DA ASTRONOMIA” ou “A ASCENDÊNCIA DO SÁBIO” seriam minhas sugestões de título.

Tradução comentada de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei oportuno abordar pontos polêmicos ou obscuros. Quando a nota for de Azcárate, um (*) antecederá as aspas.

Na série que envolve as obras provavelmente inautênticas (identificadas pelo prefixo (Pseudo) no título), dou minha opinião pessoal ao final, contextualizando o escrito face à obra platônica canônica.

CLÍNIAS – Cá estamos reunidos novamente nós três, como havíamos disposto, tu, Estrangeiro, Megilo e eu, a fim de examinar de que maneira trataremos o tema da prudência, que, em nossa opinião, prepararia perfeitamente o homem que a houvesse adquirido para obter toda a sabedoria de que a natureza humana é capaz. Os demais pontos da legislação, nos parece que já os tratamos suficientemente. Esta questão remanescente, por outro lado, talvez seja a mais importante. Resumindo, o problema seria: que ciências podem fazer do homem mortal sábio?¹ Isto ainda não conseguimos esclarecer. Dediquemo-nos a sua resolução no dia de hoje. Do contrário, deixaríamos esta obra – a constituição da nova polis – imperfeita. Ademais, a nada se destinava nossa conversação anterior senão à compreensão cabal dos altos valores, tais quais a própria prudência.

ATENIENSE – (…) A maior parte dos que têm experiência de vida está conforme em dizer que o gênero humano não pode chegar à verdadeira felicidade. Escutai-me, e vede se neste ponto penso como esta maioria. Convenho em que é absolutamente impossível aos homens o ser verdadeiramente feliz, com a exceção de uma casta privilegiada, se bem que a verdade desta proposição me parece limitada à vida presente, e sustento que todo homem tem uma esperança legítima de gozar, depois da morte, daqueles bens, pelos quais, afinal, esforçara-se tanto sobre a terra em seguir uma vida virtuosa até o fim.

¹ Para resumir de forma ainda mais direta a pergunta-mote: Como um sábio se torna um sábio? Infelizmente diria que a resposta CERTA a esta pergunta não está em lugar algum de nossos milênios de filosofia.

a sabedoria se afasta de nós à medida que nos aproximamos do que chamam artes, conhecimentos e todas as demais ciências parelhas que tomamos falsamente por ciências, porque nenhum dos conhecimentos que têm por objeto as coisas humanas merece este nome.”

O primeiro passo é enumerar todas as ciências que levam vulgarmente este nome, ainda que não comuniquem a sabedoria”

se aquele que as possuiu pôde passar-se por sábio em tempos mui recuados, hoje, longe de ser um título de sabedoria, possuir conhecimento nestas pretensas ciências é um motivo de críticas amargas e injuriosas.”

A primeira arte, se havemos de crer na tradição, é a que fez com que os primeiros homens deixassem de se alimentar de carne humana, ensinando-os a se servir da carne dos animais. Perdoem-me os homens destes séculos remotos; mas não são estes os sábios que buscamos.”

Outro tanto deve-se dizer, pouco mais ou menos, de toda classe de agricultura.”

A construção de casas e a arquitetura, a arte de trabalhar toda classe de móveis em metal, madeira, barro, tecidos, de fabricar ferramentas de todo gênero; todos estes procedimentos são, sem dúvida, úteis à sociedade, mas nada têm que ver com a virtude.

Igualmente, a arte da caça, que abraça tantos objetos e supõe tanto trabalho, não dá nem grandeza de alma nem sabedoria; tampouco a arte da adivinhação e da interpretação dos augúrios, as quais concebem unicamente o sentido das palavras, mas ignoram a verdade última das próprias palavras.”

Passemos a examinar as artes de puro entretenimento, que são imitativas na maior parte e que nada têm de sério. Imitam por meio de uma infinidade de instrumentos, e dão ao corpo diferentes atitudes, que não são de todo decentes. Por exemplo a prosa ou qualquer modalidade de escrita em versos; outras artes são filhas do desenho e expressam uma infinidade de figuras diferentes, com materiais secos ou brandos.”

Depois de todas essas artes, temos outras cujo fim é ser úteis ao homem numa infinidade de ocasiões. Delas, a mais importante e variada é a arte da guerra.” “Sem dúvida que a arte que leva o nome de medicina nos presta grande auxílio contra os estragos que as estações, o frio, e o calor extemporâneos, bem como outros acidentes, causam aos seres animados.” “O mesmo sucede com os que se dedicam a defender os direitos dos outros ante os tribunais, mediante o talento com as palavras. Todo seu mérito consiste em possuir memória e conhecer certa rotina; são capazes de discernir o que a praça pública chama de ‘justo’.”

Seria preciso descobrirmos alguma ciência que dê a quem a possui uma sabedoria real e não apenas aparente.”

Chame-se-o mundo, Olimpo ou céu, pouco importa, contanto que, elevando-se à verdadeira contemplação deste deus, observe-se como ele se apresenta sob mil disfarces.” Este trecho é fundamental para compreender o restante do diálogo, principalmente o conceito de “oitavo planeta”, “oitavo céu” ou ainda de “mundo superior”.

se o número fosse retirado da humanidade, a prudência far-se-lhe-ia impossível.”

e todo aquele que não tem sabedoria, que é a parte principal de toda virtude, não podendo fazer-se perfeitamente bom, não pode pelo mesmo motivo chegar à felicidade.”

não é dado a todo mundo compreender toda a virtude e eficácia da essência dos números. É evidente, p.ex., que a música em seu conjunto não pode existir sem movimentos e sem sons medidos pelo número. O mais admirável é que esta ciência, ao mesmo tempo que é origem de todos os bens, não é origem de nenhum mal, coisa de que é fácil se convencer.”

Dizei-me: donde provém nosso conhecimento acerca da unidade e do número dois? Nós, que somos os únicos seres do universo dotados naturalmente da capacidade de refletir?” “o céu não cessa de ensinar aos homens o que é 1 e o que são 2, até que mesmo o mais estúpido tenha aprendido a contar; porque esta mesma série de dias e noites ensina a cada um de nós o que são 3, 4 e muitos.”

são cinco os corpos elementares: o fogo e a água; o terceiro o ar, o quarto a terra, e o quinto o éter.” Cheirado.

Tomemos pela primeira unidade a espécie terrestre, que compreende todos os homens, todos os animais, de muitos pés e sem nenhum, todos os que se movem e os que são imóveis e estão presos por raízes.”

Na segunda espécie, coloquemos outros animais, cuja natureza consiste em ao mesmo tempo serem produzidos e estarem submetidos pelo sentido da visão. Estes participam principalmente do fogo, mas neles também entram pequenas porções de terra, de ar e de outros elementos. Desta mescla resulta uma infinidade de animais que são diferentes entre si, todos visíveis. É preciso crer que estes animais são os que vemos na abóbada celeste, e cuja reunião forma a espécie divina dos astros.”

A espécie terrestre se move sem nenhuma regra; a espécie ígnea, ao contrário, tem seus movimentos definidos por uma ordem admirável. Mas tudo o que se move sem ordem alguma deve ser considerado como desprovido de razão; e neste caso se encontram, com efeito, quase todos os animais terrestres.”

A necessidade que domina a alma inteligente é a mais forte de todas as necessidades, posto que é por suas leis, e não pelas de outros, que semelhante alma se governa”

O diamante mesmo não tem mais solidez e consistência, e pode-se dizer com sinceridade que as três Parcas mantêm e garantem a execução perfeita do que cada um dos deuses resolvera baseado na mais sábia das deliberações.”

Mas, por incrível que pareça, alguns homens, ao perceber que os astros fazem sempre as mesmas coisas, e da mesma forma, creram, por esta mesma razão, que os astros não possuíam alma!” “o que se deve reconhecer como dotado de inteligência é precisamente aquilo que faz sempre as mesmas coisas”

ZEUS & OS DEMÔNIOS NA TERRA DO SOL

Para demonstrar que temos razão em sustentar que os corpos celestes estão animados, basta que fixemos nossa atenção em sua magnitude; porque não é certo que sejam tão pequenos como nos parecem; antes, pelo contrário, sua massa é de uma densidade prodigiosa, o que ninguém pode negar, porque isso se apóia em numerosas provas. Assim, não haverá equívoco em supor o corpo do sol maior que o da terra. Sem falar que os outros corpos celestes têm também uma magnitude que a simples imaginação do homem é incapaz de graduar. Agora, dizei-me, por favor: que natureza poderia imprimir a massas tão gigantescas um movimento circular, que há tantos séculos é exatamente o mesmo de hoje?“não é falar de forma inteligível o atribuir a causa desses movimentos a não sei que força inerente aos corpos, a certas propriedades ou a outras coisas semelhantes.”

Depois do fogo, insiramos o éter e digamos que a alma forma com ele uma espécie que, semelhante neste ponto às outras espécies, participa principalmente do elemento de que está formada, entrando os outros elementos em quantidade bem menor, e só na medida em que são necessários para unir todas as partes. Depois do éter vem o ar, do qual a alma forma outra espécie de animais. Enfim, a terceira espécie se forma da água.”

Com respeito aos deuses conhecidos com os nomes de Zeus e Hera, e todos os outros, podem ocupar o ponto que se queira, contanto que não se altere por isso a ordem que acabamos de estabelecer, e que não se nos desminta. É preciso, pois, afirmar que os astros e todos os demais seres que julgamos através dos sentidos, que foram inclusive formados com e por eles, são, entre os deuses visíveis, os primeiros, os maiores, os mais dignos de honra, e aqueles cuja visão é mais perspicaz. Imediatamente após, situam-se os demônios, espécie aérea, ocupantes do terceiro lugar, mediano, servindo de intérpretes aos homens. (…) Estas duas espécies de seres animados, uns de natureza etérea, outros de natureza aérea, não são visíveis para nós, e por mais que estejam próximos de nós não conseguimos percebê-los.”

Só Deus, que reúne em si a perfeição da divindade, está isento de todo sentimento de alegria e de tristeza; dele são próprias a sabedoria e a inteligência supremas.”

A água é o elemento da quinta espécie de animais que podemos citar como pertencentes à linhagem dos semi-deuses. Algumas vezes se revelam a nós, outras se ocultam; mal vemos traços de sua existência e a visão espectral que deles obtemos vem sempre acompanhada de uma indisfarçável surpresa.” Um velho hábito de endeusar jubartes e monstros que-tais…

PLATÃO CONTRA O FILHO CRISTIANISMO

A razão [de a palavra planeta não ter nome na língua grega] é que o primeiro a descobri-los foi um bárbaro. Os primeiros nomes que se empregaram nesse estudo provêm de civilizações mais antigas que a nossa e favorecidas pela beleza do estio, isto é, pela clareza e transparência do firmamento no verão em seus países. Falo do Egito e da Síria, onde os sábios podiam monitorar livremente todos os astros, que não se escondiam atrás de véus. As nuvens e as chuvas davam sempre trégua nessa estação. Suas longas e insistentes observações, acumuladas durante uma série infinita de anos, são um conhecimento hoje assimilado por quase todos os povos, particularmente pelos gregos. Por isso é que podemos aceitar suas lições com confiança, como aceitamos outras leis que nós mesmos descobrimos. Pretender, aliás, que o que é divino não mereça nossa veneração, ou que os astros não sejam divinos, é uma extravagância manifesta.”

a estrela da manhã, que também é, em verdade, a estrela da tarde,¹ parece chamar-se Vênus,(*) nome que, de acordo com o sírio que a nomeou, é o que mais convém a este astro. O segundo astro, que caminha conforme o sol e Vênus, chama-se Mercúrio. Há ainda três poderes que se movem da esquerda para a direita, como o sol e a lua. Com respeito ao oitavo,² deve-se compreendê-lo sob um só nome, e nenhum é melhor que o de mundo superior,³ que segue um movimento oposto ao das demais estrelas, arrastando-as em sua esfera de ação,4 pelo menos assim julgamos, com nossos parcos conhecimentos neste ponto.”

(*) “Vênus foi conhecida e reverenciada pelos povos orientais com diferentes nomes: Astarte (Astarote), Milita, Alita, Derceto, Atargátide, Ishtar. Ver Heródoto, 1:105 e Luciano, De dea Syria, 100:22.”

¹ É notável que já a geração de Platão reconheça sem controvérsia que as supostas “estrela da manhã” e “estrela da tarde” não eram 2 corpos celestes, senão um e o mesmo, descoberta atribuída a Pitágoras, do século anterior ao platônico.

² A terra, com letra minúscula, inclusive, em nossa notação (os gregos não diferenciavam minúscula e maiúscula), não era considerada um “planeta”. Mas temos então a lista para formar os 7 astros que enumera Pseudo-Platão, antes, naturalmente, de explicar do que se trataria o misterioso oitavo, na nota nº 3 (e é bom que não discriminemos, como astrônomos modernos que somos, planetas, estrelas e satélites, o que então não se fazia): o sol (1), a lua (2), a Estrela d’Alva ou Vênus (3), Mercúrio (4), e os “3 poderes” que Ps.-Platão cita em seguida. De fato, além de Marte (Ares), Júpiter (Zeus) e Saturno (Cronos), dentre os planetas do sistema solar que estão mais longe do sol que a Terra (no cinturão exterior), não havia outros que pudessem ser percebidos a olho nu. A rigor, Urano o pode, em condições extremamente favoráveis, mas sua descoberta enquanto planeta se deu só com a ajuda do telescópio, já no séc. XVIII.

³ Até o trecho mais adiante, em que Pseudo-Platão finalmente enumera os três corpos dos quais ainda não havia falado, o leitor contemporâneo leigo fica na dúvida, deixado em suspenso, se o Ateniense descreve realmente um “planeta”, que entende ter um movimento circular e “na contra-mão” dos outros. Mas o leitor familiarizado de Platão já sabe que ele não nomeará nenhum planeta: descreve poética e filosoficamente, de forma sem sombra de dúvida derivada da escola pitagórica, a simples abóbada celeste como este misterioso “mundo superior”, uma vez que, como bem sabemos através da obra canônica de Platão, muito se valorizava a questão da harmonia e perfeição do céu que serviria para validar sua Idéia e Divindade, então ele criou este artifício explicativo, até para contemplar o número 8 e associá-lo à escala musical e à figura tridimensional por excelência (o cubo).

A abóbada celeste também evoca o Um de Parmênides, posto que o firmamento ou “todo o céu visível” seria a quimera conceitual de Platão a fim de evocar o real perfeito e acabado, fechado em si mesmo. A redoma definitiva e inultrapassável pela mera intuição do homem.

Auxiliarmente, podemos dizer que a idéia de céu e firmamento sempre nos remete a Urano, o avô de Zeus na mitologia, mas não levar isso seriamente e tentar ligar os pontos no âmbito da Astronomia! Eis um planeta que foi batizado por causa da influência universal do mito grego e não por terem os astrônomos gregos conseguido identificá-lo nalgum momento sob qualquer forma – hipótese esta completamente descartada por nossa historiografia e teoria do conhecimento.

4 Possível vislumbre da força da gravidade?

Temos, pois, que falar ainda de 3 astros, dentre os quais o mais lento no céu é chamado por alguns de Saturno, assim como o segundo em velocidade é chamado de Júpiter; Marte é o mais veloz, e o de cor vermelha e mais intensa.”

Também é indispensável que todo grego saiba que o clima da Grécia é, com bastante probabilidade, o mais saudável de todos para a formação da virtude. Sua principal vantagem consiste em que sua temperatura é um meio-termo entre o frio do inverno e o calor do verão. Não obstante, como nosso verão não é tão sereno como o dos países que comentei, não fomos propiciados senão muito mais tarde com o conhecimento da ordem destes deuses no céu. Por outro lado, tenhamos em conta que os gregos trataram de aperfeiçoar tudo o que receberam dos bárbaros; e sobre o objeto que tratamos (a prudência), devemos nos persuadir de que, se foi difícil descobrir tudo isto com segurança, devemos nos prometer, entre nós gregos, que o ensino de tal objeto, bem como o devido culto a todos os deuses da forma mais racional possível, com o auxílio do oráculo de Delfos, fiel na observância das leis, hão de ser proporcionados às futuras gerações. E que culto e reverência mais perfeitos que o próprio estudo da Astronomia? Assim nos distanciaremos das tradições irracionais dos bárbaros. E que nenhum grego tema ou censure, tampouco, indagações mortais sobre as coisas divinas, crendo que seria um tabu questionar-se ou até mesmo pronunciar-se sobre estas coisas. Afinal, Deus sendo previdente, dotado de razão e em nada ignorante da extensão da inteligência humana, por que haveria Ele de duvidar, quando é Ele mesmo quem ensina, que os homens estão aptos a aprender sobre o assunto? (…) Se Deus desconhecesse o potencial da razão humana, seria o mais insensato de todos os seres, porque neste caso Se desconheceria a Si próprio, ofendendo-Se ao julgar que o homem não deveria se dedicar a aprender o que Ele sabe, ou seja, julgando que o homem não pudesse ser de fato homem! Porque seria um ser invejoso se testemunhasse os esforços humanos para se aperfeiçoar com o auxílio da própria sabedoria divina, e nisso não Se regozijasse!”

Com efeito, necessita-se certo temperamento, uma mescla de lassidão e vivacidade, para que uma alma se mostre ao mesmo tempo suave, dócil, digna e receptiva às lições da temperança. Também é necessário que a essas qualidades se una, para a prática das ciências, uma boa memória, que faça o sujeito derivar prazer do próprio estudo; do contrário, ele jamais se consagraria a esta profissão. (…) é uma necessidade para as pessoas desta feliz condição aprenderem a sabedoria, como é para mim o ensiná-la.¹ Tratemos, portanto, de explicar, aplicando nossas luzes, e segundo a capacidade das pessoas para quem me dirijo, qual é esta ciência própria para inspirar a piedade com respeito aos deuses, e como se a deve aprender. (…) Ignorais acaso que é indispensável que o verdadeiro astrônomo seja também muito sábio? Não falo daquele que observa os astros segundo o método de Hesíodo ou de autores semelhantes, limitando-se a estudá-los quando nascem e se põem, senão daquele que, dentre as 8 revoluções, compreendeu pelo menos as revoluções dos 7 planetas,² cada um dos quais descreve sua órbita de uma maneira diferente, coisa que não é possível ao homem comum conhecer”

¹ Para mim, esta frase sozinha serve como prova de que Platão não é o autor do escrito. Quem leu O Banquete sabe muito bem…

² Como dito, os gregos conheciam 5 planetas, com exclusão da Terra: Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter e Saturno. Urano, Netuno e Plutão, este último rebaixado a menos-que-planeta no século XXI, são descobertas modernas, relativamente recentes. Portanto, a contagem “7 planetas” na verdade inclui o sol e a lua, pois na idade de Platão pensava-se que o sol orbitava a terra e que era uma esfera sólida como os demais corpos visíveis no firmamento.

Mas por que venho falando do firmamento como esta “oitava revolução”, se não há qualquer menção explícita a isso nesta obra? Porque ao comentar que há oito revoluções mas que só sete são “de planetas”, o Ateniense ou Estrangeiro confirma mais uma vez que a oitava revolução é a da abóbada celeste, que governa todos os astros. É como se o Ateniense, pedantemente, dissesse: “Filósofos (logo, políticos e legisladores da República perfeita) há que compreenderiam as revoluções dos 7 planetas, e isso já nos basta para termos a melhor polis. Se o critério a fim de formar os governantes desta cidade fosse ainda mais rigoroso, é mesmo possível que apenas alguns homens muito privilegiados e eu mesmo pudéssemos ocupar a posição, o que inviabilizaria este projeto.”

JULGAMENTO DA AUTENTICIDADE DA OBRA

Epínomis possui uma indisfarçável estilística platônica, mas sua dialética é tão irregular e contraditória, beirando a escolástica, que mais me parece um esboço que resultaria na versão definitiva d’A República VII, sendo otimista e condescendente. Sendo mais pragmático, entendo este livro como uma falsificação, posterior à vida de Platão. Para acompanhar meu raciocínio, recomendo apreciar o capítulo 7 da magnum opus citada em seus melhores momentos: https://seclusao.art.blog/2019/07/21/a-republica-livro-vii/.

A Astronomia jamais seria a ciência mais importante na República perfeita. Mas entende-se por que o vulgo batizou a obra de Leis 13: o Ateniense terminava aquele extenso diálogo (Leis 12) afirmando que a ciência política (a ciência do conhecer-se, no fundo) não era exata (ao ponto disso se ter tornado um enorme pleonasmo hoje em dia, embora não o fosse na época de Platão). Sendo assim, interpretaram esse dito como se o político devesse se dedicar a conhecimentos mais exatos ao invés de depender da sorte. Mas foi uma interpretação realmente ingênua! A política só pode ser feita arriscando-se, e entre homens, e será sempre uma coisa incerta, seja Grande Política ou política mesquinha… Nunca se fará através das estrelas! Platão jamais incorreria num erro tão lastimável… Fosse este o pensamento de Platão, e Aristófanes ser-lhe-ia um pensador infinitamente superior (ler As Nuvens)!

AS LEIS – Livro XII

Tradução comentada de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei oportuno abordar pontos polêmicos ou obscuros. Quando a nota for de Azcárate, um (*) antecederá as aspas.

em nada devem nossos cidadãos se exercitar tanto, desde a tenra infância, em tempos de paz, como na aquisição deste hábito, aprendendo uns a mandar e outros a obedecer. É preciso desterrar o sentimento de independência das relações da vida, não só entre os homens, mas também entre os animais submetidos ao homem.”

Com o mesmo fim em vista é necessário acostumar-se a sentir fome, sede, frio, calor, deitar na cama dura, evitar enfaixar a cabeça e os pés, superprotegendo-os, tornando os cabelos e a pele inúteis; sendo que a natureza no-los deu a fim de proteger essas partes sem ajuda de outros artifícios. Porque, como estão situados nos extremos do corpo, influem sem dúvida, cabeça e pés, na boa ou má disposição, segundo se achem em bom ou mau estado. Os pés foram feitos, mais que qualquer outro membro, para obedecer o corpo, assim como a cabeça foi feita para mandar, afinal nela a natureza colocou todos nossos principais sentidos.”

Se, conduzido a sua tenda, desarmado, Pátroclo houvesse dado algum sinal de vida, como já sucedeu a inumeráveis guerreiros vencidos em combate, ao mesmo tempo que as mesmas armas do filho de Peleu se encontravam em poder de Heitor, todos os covardes que havia no exército grego teriam tido ocasião de culpar Menécio pela perda de suas próprias armas. Outros há que perderam sua espada e escudo por terem se aventurado precipitadamente em terrenos escarpados, ou por combaterem com demasiado vigor nos mares, ou quando arrastados de sua embarcação pela tempestade, ao caírem n’água e serem arrebatados por correntes agitadas, ou, enfim, noutras mil circunstâncias as quais poderiam ser usadas para justificar esta grave perda, que é motivo de muita difamação e às vezes de calúnia entre os cidadãos, quando exagera-se o efetivamente acontecido.” Para o grego desta época, era pior voltar de um combate vivo e desarmado do que morrer em batalha.

É impossível ao homem transformar uma coisa no seu contrário como fizeram noutros tempos os deuses, como no caso, p.ex., de Ceneu o Tessálio, que foi transformado pelos deuses de mulher em homem. E, não obstante, se a metamorfose inversa a esta pudesse acontecer (a de homem em mulher), tal seria, de todos os castigos, o mais óbvio para um guerreiro que perdesse suas armas em combate.”

Pode acontecer que os magistrados, esmagados pelo peso do próprio cargo, sem forças para manter a convicção e a correção, sentenciem de modo injusto ou cometam algo que não lhes seria adequado; por difícil que seja encontrar este homem, é necessário ao Estado investir alguém no cargo de supervisor da conduta dos magistrados, alguém dotado de uma virtude superior. Estes caracteres verdadeiramente divinos devem ser descobertos pelo Estado para que dêem sua parcela de contribuição.” “Somente estes, dentre todos os cidadãos, farão jus a usar uma coroa de laurel. Serão todos sacerdotes de Apolo e do Sol, e a cada ano se elegerá para grande sacerdote o mais digno dentre os sacerdotes do ano anterior. Seu nome será inscrito nos anais e servirá para contar o número de anos enquanto o Estado subsistir.”

Quando hoje se julga um processo, o legislador [não teria querido dizer juiz?], se possui intuição, sensibilidade e experiência, não exigirá das partes nenhum juramento. Obrigará, tão-somente, a parte acusadora a que ponha por escrito, de modo singelo, os tópicos da acusação; e a parte defensora a que produza da mesma forma suas provas. Seria um desastre se, tendo em vista a quantidade de processos que são suscitados num Estado, não pudéssemos jamais duvidar das acusações que ali são feitas; pois significaria que pelo menos metade da polis é perjura. E mesmo aqueles que não são réus formais comem com os culpados, coabitam e coexistem com eles sem nenhum problema ou peso na consciência!”

os juízes não consentirão de maneira alguma que se façam juramentos vãos na tentativa do depoente de dar mais crédito às próprias palavras. Também não será permitido dirigir imprecações contra os magistrados e as famílias dos magistrados, nem que os depoentes se degradem em súplicas indecorosas e em lamentações mulheris”

O efeito natural do comércio freqüente entre habitantes de diversos Estados é introduzir uma grande variedade nos costumes, pois relações de povos estrangeiros entre si sempre acarretam o surgimento de novidades e modas. Este é o maior mal que pode experimentar o Estado governado por leis sábias.”

é indiferente passar-se por homem de bem ou não perante as demais nações; porque os homens maus e viciosos se encontram tão longe de se enganar quanto à noção que têm da virtude quanto os homens bons; não é porque não se pratica a virtude que não se conhece a virtude. Há nesses tipos tratantes um não-sei-quê de perspicácia acima da média. Mesmo que afundados nos maus costumes, discursam belamente e formam um juízo exato do que é que separa homens de bem dos homens que não são bons.”

não será permitido a nenhum cidadão com menos de 40 anos viajar ao estrangeiro. E, aliás, que absolutamente ninguém viaje por conta própria, por turismo e curiosidade, mas sempre com incumbências públicas, em nome do Estado, na qualidade de heraldo (mensageiro), embaixador ou simples observador. Mas que não se contem entre as viagens as correrias e expedições militares, porque não o são. Serão eleitos os melhores cidadãos para assistir aos sacrifícios e aos jogos que se realizam longe da polis. Na Pítia quando em honra de Apolo, em Olímpia quando em honra de Zeus, na Neméia e no Istmo (Corinto) em honra a outros deuses do Olimpo. Como nestas ocasiões outros povos terão contato com o nosso, seria inconcebível que fossem eleitos cidadãos não-virtuosos, que nos causassem vergonha e arruinassem nossa reputação ao nos representar. Pois nestas assembléias graves, consagradas à celebração da religião e da paz, deve-se ter uma elevada idéia de nossa república.”

E essas espécies de embaixadores, quando estiverem de regresso à pátria, farão saber a nossa juventude quão ruins são as leis das demais nações, muito inferiores as nossas.”

Encontram-se sempre, em meio à multidão, certos personagens divinos, ainda que raríssimos, nascidos em países civilizados ou não, sempre na mesma proporção nos dois casos, e a comunicação com este tipo de espírito é de valor inestimável.”

O observador, após deter-se em seu trabalho por um período máximo de 10 anos, ao voltar se apresentará ao conselho dos magistrados encarregados da inspeção das leis.” “Se não regressa nem melhor nem pior do que quando fizera a viagem de ida, o mínimo que se faz é agradecer-lhe o zelo pelo bem público.” “Se houvesse motivos para crer que tal embaixador voltara pior do que fôra, aparentando trazer novos conhecimentos que na realidade não tem, este cidadão seria proibido de se comunicar com os outros, jovens ou anciãos, indistintamente. Se então guardasse obediência a esta ordem dos magistrados, deixar-se-á que vivesse em nossa república, doravante como simples particular (não seria mais um cidadão). Mas se ficasse provado, no foro, que tentara introduzir mudanças na educação e nas leis após seu retorno do exterior, condenar-se-o-ia à morte.”

As oferendas mais divinas são as aves e as pinturas que um artista delas pode fazer um dia.”

Uma vez que o condenado tenha ofendido os juízes que o condenaram, os ofendidos o entregarão ao tribunal dos guardiães das leis; se condenado por mais este crime, merece morrer, posto que trata-se de atentado contra o Estado e as leis.”

ATENIENSE – (…) O vulgo imagina que aqueles que se dedicam, auxiliados pela astronomia e demais artes necessárias, à contemplação de objetos mundanos acabam por se fazerem ateus, porque por este método descobrem que tudo o que sucede no mundo real é obra da necessidade, e não dos desígnios da Providência, que tudo conduz ao sumo bem.

CLÍNIAS – Que pensas a respeito, caro Estrangeiro?”

MAGOADO COM ARISTÓFANES

ATENIENSE – (…) Todos os corpos celestes que velam com seus olhos lhes pareceram cheios de pedras, e terra e outras matérias inanimadas, às quais atribuíram as causas da harmonia universal. Vês tu que é daí que provêm tantas acusações de ateísmo, e isto desgostou muitas pessoas de estudarem os astros. Vês aí a origem das invectivas dos poetas, que compararam os filósofos aos cachorros, por fazerem ressonar seus argumentos como inúteis ladridos. Nada mais infundado que semelhantes injúrias; mas bem vês que hoje todos pensam ao contrário!

CLÍNIAS – Como pensam exatamente?

ATENIENSE – Não é possível que um mortal tenha piedade sólida a respeito dos deuses, caso não se convença da verdade daquilo de que falamos, a saber: que a alma é o mais antigo dos seres que existem via geração, ela é imortal e rege a todos os corpos. Além disso, como já disséramos, há nos astros uma inteligência que dirige a todos os seres.”

Começaremos pela eleição dos guardiães do Estado, obedecendo aos critérios: idade, nível de conhecimentos, caráter, conduta prática. O que deve saber um guardião da lei? Questão dificílima, posto que acima de nossas competências. Nem mesmo saberíamos fixar em lei, p.ex., o tempo prescrito para se começarem e para se concluírem os estudos de cada ciência indispensável a este cargo. Os próprios estudantes das especialidades das ciências não sabem, eles mesmos, nem podem saber, o tempo necessário para aprendê-las, a não ser que já tenham se tornado mestres.”

Amigos, como diz o provérbio, nada se fez ainda, e tudo está em nossas mãos; mas, se quisermos arriscar nossas vidas na empresa, a fim de obter, no jargão dos apostadores, seja o pior, seja o melhor dos mundos possíveis,¹ de nada devemos descuidar!”

¹ Optei por uma tradução mais conservadora e descontextualizada, embora Platão realmente mergulhe na metáfora do jogador na acepção de apostador, que, sem garantias, dá seu lance, faz sua jogada e espera pelo tudo ou pelo nada. No caso do texto que encontrei em Azcárate, a referência é ao uso dos dados, jogando-se 3 dados de 6 lados e somando-se o resultado: o número mínimo da jogada (jogada de muito azar) seria 3 (1×3), e o número máximo, ou jogada mais sortuda, seria 18 (6×3). Citar diretamente 3 e 6, como na versão em espanhol (talvez a grega), seria confuso para o leitor, pois não é uma referência muito direta. Mas mesmo “3 e 18”, graduando e facilitando o texto platônico, não faria muito sentido para quem não conhece o hábito dos jogos de azar, e que se jogam nessas ocasiões precisamente três dados, e não dois, nem quatro. Em suma, quem quer ganhar ou atingir a excelência, precisa ter coragem e se dispor à eventualidade da miséria e do fracasso totais. A ciência do Estado (das Leis, na época de Platão) não é uma ciência exata.

L’ENCYCLOPÉDIE – AN – An(née)

AN

AN. O ETERNO RETORNO BABILÔNICO DE TODAS AS COISAS

Ainsi le tems dans lequel les étoiles fixes font leur révolution est nommé la grande année. Cette année est de 25.920 de nos années vulgaires; car on a remarqué que la section commune de l’écliptique & de l’équateur, n’est pas fixe & immobile dans le ciel étoilé; mais que les étoiles s’en éloignent en s’avançant peu-à-peu au-delà de cette section, d’environ 50 secondes par an. On a donc imaginé que toute la sphere des étoiles fixes faisoit une révolution périodique autour des poles de l’écliptique, & parcouroit 50 secondes en un an; ce qui fait 25.920 ans pour la révolution entiere. On a appellé grande année ce long espace de tems, qui surpasse quatre à cinq fois celui que l’on compte vulgairement depuis le commencement du monde.”

Ce sont les Égyptiens, si on en croit Hérodote, qui ont les premiers fixé l’année, & qui l’ont fait de 360 jours, qu’ils séparerent en douze mois (…) Nous lisons même dans Diodore de Sicile, Liv. I, dans la vie de Numa par Plutarque, & dans Pline, Liv. VII, ch. 48 que l’année Égyptienne étoit dans les premiers tems fort différente de celle que nous appellons aujourd’hui de ce nom.”

Kepler, par exemple, faisoit l’année de 365 jours 5 heures 48 min 57 sec 39 tierces. Riccioli de 365 jours 5 heures 48 min. Tycho de 365 jours 5 heures 48 min. M. Euler a publié dans le premier tome des Mémoires François de l’Académie de Berlin, p. 37, une table par laquelle on voit combien les Astronomes sont peu d’accord sur la grandeur de l’année solaire.”

L’année civile commune est celle qu’on a fixée à 365 jours; elle est composée de 7 mois de 31 jours; savoir, Janvier, Mars, Mai, Juillet, Août, Octobre, Décembre; de 4 de 30 jours, Avril, Juin, Septembre & Novembre, & d’un de 28 jours, qui est Février. Il y a apparence que cette distribution bisarre a été faite pour conserver, autant qu’il étoit possible, l’égalité entre les mois, & en même tems pour qu’ils fussent tous à peu près de la grandeur des mois lunaires, dont les uns sont de 30 jours & les autres de 29. Une autre raison qui a pû y engager, c’est que le soleil met plus de tems à aller de l’équinoxe du printems à l’équinoxe d’automne, que de celui d’automne à celui du printems; desorte que du premier Mars au premier Septembre, il y a quatre jours de plus que du premier Septembre au premier Mars: mais quelque motif qu’on ait eu pour faire cette distribution, on peut en général supposer l’année commune de 5 mois de 31 jours, & de 7 mois de 30 jours [=365].”

L’addition de ce jour intercalaire, tous les quatre ans, a été faite par Jules César, qui, voulant que les saisons pussent toûjours revenir dans le même tems de l”année, joignit à la quatrieme année les six heures négligées dans chacune des années précédentes. Il plaça le jour entier formé par ces quatre fractions après le 24e de Février, qui étoit le 6e des Calendes de Mars. § Or comme ce jour ainsi répété étoit appellé en conséquence bis sexto calendas, l’année où ce jour étoit ajoûté, fût aussi appellée bis sextus, d’où est venu bissextile. § Le jour intercalaire n’est plus aujourd’hui regardé comme la répétition du 24 Février, mais il est ajoûté à la fin de ce mois, & en est le 29.

Or il y a deux especes de mois lunaires; savoir, le mois périodique, qui est de 27 jours 7 heures 43 min 5 sec, c’est à peu près le tems que la lune employe à faire sa révolution autour de la terre: 2°. le mois synodique, qui est le tems que cette planète employe à retourner vers le soleil à chaque conjonction; ce tems qui est l’intervalle de deux nouvelles lunes est de 29 jours 12 heures 44 minutes 33 sec.”

L’ancienne année romaine étoit l’année lunaire. Dans sa premiere institution par Romulus, elle étoit seulement composée de 10 mois. Le premier, celui de Mars, contenoit 31 jours; le second, celui d’Avril, 30. 3°. Mai 31; 4°. Juin 30; 5°. Quintilis ou Juillet 31; 6°. Sextilis ou Août 30; 7°. Septembre 30; 8°. Octobre 31; 9°. Novembre 30; 10°. Decembre 30; le tout faisant 304 jours.”

Numa Pompilius corrigea cette forme irrégulière de l’année, & fit 2 mois de ces jours surnuméraires. Le premier fut le mois de Janvier; le second celui de Février. L’année fut ainsi composée par Numa de 12 mois, 1°. Janvier 29 jours, 2°. Février 28, 3°. Mars 31, 4°. Avril 29, 5°. Mai 31, 6°. Juin 29, 7°. Juillet 31, 8°. Août 29, 9°. Septembre 29, 10°. Octobre 31, 11°. Novembre 29, 12°. Decembre 29; le tout faisant 355 jours. Ainsi cette année surpassoit l’année civile lunaire d’un jour, & l’année astronomique lunaire de 15 heures 11 minutes 24 secondes: mais elle étoit plus courte que l’année solaire de 11 jours, ensorte que son commencement étoit encore vague, par rapport à la situation du soleil.”

au lieu d’ajoûter 23 jours à chaque 8e année [1 ano a mais a cada ~130 anos!], on n’en ajoûta que 15; & on chargea les grands Pontifes de veiller au soin du calendrier. Mais les grands Pontifes ne s’acquittant point de ce devoir, laissèrent tout retomber dans la plus grande confusion. Telle fut l’année romaine jusqu’au tems de la réformation de Jules César.” Nisso ainda somos Césares…“elle surpassoit par conséquent la vraie année solaire d’environ 11 minutes, ce qui en 131 ans produisoit un jour d’erreur. L’année romaine étoit encore dans cet état d’imperfection, lorsque le Pape Grégoire XIII y fit une réformation, dont nous parlerons un peu plus bas.

Jules Cesar à qui l’on est redevable de la forme de l’année Julienne, avoit fait venir d’Égypte Sosigènes fameux Mathématicien, tant pour fixer la longueur de l’année, que pour en rétablir le commencement, qui avoit été entierement dérangé de 67 jours, par la négligence des Pontifes. § Afin donc de le remettre au solstice d’hyver, Sosigènes fut obligé de prolonger la premiere année jusqu’à 15 mois ou 445 jours [!]; & cette année s’appella en conséquence l’année de confusion, annus confusionis. § L’année établie par Jules Cesar a été suivie par toutes les nations chrétiennes jusqu’au milieu du XVIe siècle, & continue même encore de l’être par l’Angleterre. Les Astronomes & les Chronologistes de cette nation comptent de la même maniere que le peuple, & cela sans aucun danger, parce qu’une erreur qui est connue n’en est plus une.

L’année Grégorienne (…), les dernieres années de 3 siècles consécutifs doivent être communes; & la derniere du 4e siècle seulement est comptée pour bissextile.”

Or quoique cette erreur de 11 minutes qui setrouve dans l’année Julienne soit fort petite, cependant elle étoit devenue si considérable en s’accumulant depuis le tems de Jules Cesar, qu’elle avoit monté à 70 jours, ce qui avoit considérablement dérangé l’équinoxe. Car du tems du Concile de Nicée, lorsqu’il fut question de fixer les termes du tems auquel on doit célébrer la Pâque, l’équinoxe du Printems se trouvoit au 21 de Mars. Mais cet équinoxe ayant continuellement anticipé, on s’est apperçû l’an 1582 lorsqu’on proposa de réformer le calendrier de Jules Cesar, que le soleil entroit déjà dans l’équateur dès le 11 Mars; c’est-à-dire, 10 jours plûtôt que du tems du Concile de Nicée. Pour remédier à cet inconvénient, qui pouvoit aller encore plus loin, le Pape Grégoire XIII fit venir les plus habiles Astronomes de son tems, & concerta avec eux la correction qu’il falloit faire, afin que l’équinoxe tombât au même jour que dans le tems du Concile de Nicée; & comme il s’étoit glissé une erreur de 10 jours depuis ce tems-là, on retrancha ces 10 jours de l’année 1582, dans laquelle on fit cette correction; & au lieu du 5 d’Octobre de cette année, on compta tout de suite le 15.” Com menos tempo ainda, irmão! – PICUINHAS CALENDARIALES: “La France, l’Espagne, les pays Catholiques d’Allemagne, & l’Italie, en un mot, tous les pays qui sont sous l’obéissance du Pape, reçûrent cette réforme dès son origine: mais les Protestans la rejetterent d’abord.” “En l’an 1700, l’erreur des 10 jours avoit augmenté encore & étoit devenue de 11; c’est ce qui détermina les protestans d’Allemagne à accepter la réformation Grégorienne, aussi-bien que les Danois & les Hollandois. Mais les peuples de la Grande-Bretagne & la plûpart de ceux du Nord de l’Europe, ont conservé jusqu’ici [sabe-se lá que ano do séc XVIII!] l’ancienne forme du calendrier Julien.” Quer dizer que tem alguns idiotas perdidos em outra data?! Ou a globalização parametrizou tudo?

Au reste il ne faut pas croire que l’année Grégorienne soit parfaite; car dans 4 siècles l’année Julienne avance de 3 jours, 1h & 22 minutes. Or comme dans le calendrier Grégorien on ne compte que les 3 jours, & qu’on néglige la fraction d’1h & 22 minutes, cette erreur au bout de 72 siècles produira un jour de mécompte.” [!!!]

L’année Égyptienne appellée aussi l’année de Nabonassar, est l’année solaire de 365 jours divisée en 12 mois de 30 jours, auxquels sont ajoûtés 5 jours intercalaires à la fin: les noms de ces mois sont ceux-ci. 1°. Thot, 2°. Paophi, 3°. Athyr, 4°. Chojac, 5°. Tybi, 6°. Mecheir, 7°. Phatmenoth, 8°. Pharmuthi, 9°. Pachon, 10°. Pauni, 11°. Epiphi, 12°. Mesori; & de plus H’MERAI E’PAGOMEIAI, ou les 5 jours intercalaires.” “Cette briéveté des premieres années Égyptiennes, est ce qui fait, suivant les mêmes Auteurs, que les Égyptiens supposoient le monde si ancien, & que dans l’Histoire de leurs Rois, on en trouve qui ont vécu jusqu’à 1000 & 1200 ans. Quant à Hérodote, il garde un profond silence sur ce point; il dit seulement que les années Égyptiennes étoient de 12 mois, ainsi que nous l’avons déja remarqué. D’ailleurs l’Écriture nous apprend que dès le tems du déluge l’année étoit composée de 12 mois. Par conséquent Cham, & son fils Misraim, fondateur de la Monarchie Égyptienne, ont dû avoir gardé cet usage, & il n’est pas probable que leurs descendans y ayent dérogé.”

S. Augustin, de Civit. Dei, 50:15:14, fait voir que les années des patriarches rapportées dans l’Écriture sont les mêmes que les nôtres; & qu’il n’est pas vrai, comme beaucoup de gens se le sont imaginés, que 10 de ces années n’en valoient qu’une d’à présent.” Trouxa.

Les grecs: “L’ordre de leurs mois étoit celui-ci, 1°. *E’XAOMAIWN de 29 jours; 2°. *METAGEI=TNIWN, 30 jours; 3°. *BOHDROMIWN 29; 4°. *MAIMAXHRWN 30; 5°. *PUANEYIWN 29; 6°. *POSEIDEWN 30; 7°. *GAMHLIWN 29; 8°. *ANEHRIWN 30; 9°. *E’LAFHOLIWN 29; 10°. *MENUXIWN 30; 11°. *QARGHLIWN, 29; 12°. *SXIRRWFORIWN, 30.”

The pagans pay the price with guns. But roses they do not pray. Nor prey.

Sabat ou Schebeth: também o “mês de novembro” dos hebreus antigos. No calendário judeu moderno, Schebeth se transformou em “maio”, i.e., o 5º dos 12. Sempre com 30 dias, nos dois casos.

Golius, dans ses notes sur Alfergan, pp. 27&suiv. est entré dans un grand détail sur la forme ancienne & nouvelle de l’année Persienne, laquelle a été suivie de la plûpart des auteurs Orientaux. Il nous apprend particulierement, que sous le Sultan Gelaluddaulé Melicxa, vers le milieu du XIe siècle, on entreprit de corriger la grandeur de l’année & d’établir une nouvelle époque; il fut donc reglé que de 4 ans en 4 ans, on ajoûteroit un jour à l’année commune, laquelle seroit par conséquent de 366 jours. Mais parce qu’on avoit reconnu que l’année solaire n’étoit pas exactement de 365 jours 6 heures, il fut ordonné qu’alternativement (après 7 ou 8 intercalations) on intercaleroit la 5e, & non pas la 4e année; d’où il paroît que ces peuples connoissoient déja fort exactement la grandeur de l’année, puisque selon cette forme, l’année Persienne seroit de 365 jours 5 heures 49 minutes 31 secondes, ce qui differe à peine de l’année Grégorienne, que les Européens ou Occidentaux se sont avisés de rechercher plus de 500 ans après les Asiatiques ou Orientaux. Or depuis la mort de Jezdagirde, le dernier des Rois de Perse, lequel fut tué par les Sarrasins, l’année Persienne [o ano que passa com você dormindo no escuro!] étoit de 365 jours, sans qu’on se souciât d’y admettre aucune intercalation; & il paroît que plus anciennement, après 120 années écoulées, le premier jour de l’an, qui avoit rétrogradé très-sensiblement, étoit remis au même lieu qu’auparavant, en ajoûtant un mois de plus à l’année, qui devenoit pour lors de 13 mois.”

será que o jabuti gosta da jabuticaba?

L’année Sabbatique, chez les anciens Juifs, se disoit de chaque 7e année. Durant cette année, les Juifs laissoient toûjours reposer leurs terres.”

Le jour de l’an, ou le jour auquel l’année commence, a toûjours été très-différent chez les différentes Nations. § Chez les Romains, le premier & le dernier jour de l’an étoient consacrés à Janus; & c’est par cette raison qu’on le représentoit avec deux visages.”

L’année civile ou légale, en Angleterre, commence le jour de l’Annonciation, c’est-à-dire le 25 Mars; quoique l’année chronologique commence le jour de la Circoncision, c’est-à- dire le premier jour de Janvier, ainsi que l’année des autres Nations de l’Europe. Guillaume le Conquérant ayant été couronné le premier de Janvier, donna occasion aux Anglois de commencer à compter l’année de ce jour – là pour l’histoire” “Dans la partie de l’année qui est entre ces 2 termes, on met ordinairement les deux dates à-la-fois, les deux derniers chiffres étant écrits l’un sur l’autre à la maniere des fractions; par exemple, 1724/5 est la date pour tout le tems entre le premier Janvier 1725 & le 25 Mars de la même année.Bizarro é pouco.

Les Chinois, & la plûpart des Indiens commencent leur année avec la 1e lune de Mars. Les Brachmanes avec la nouvelle lune d’Avril, auquel jour ils célebrent une fête appellée Samwat saradi pauduga, c’est-à-dire, la fête du nouvel an.” Eu sabia!

Preciso descobrir qual é o período de descanso do meu calendário.

Les Grecs commencent l’année le premier Septembre, & datent du commencement du monde.” Que moral!

ces années [da criação do mundo!], suivant Scaliger, sont au nombre de 5.676.”

L’ENCYCLOPÉDIE – AM – compilado (2)

AMÉRIQUE, ou le Nouveau-monde, ou les Indes occidentales, est une des 4 parties du monde, baignée de l’océan, découverte par Christophe Colomb, Génois, en 1491, & appellée Amérique d’Améric-Vespuce Florentin, qui aborda en 1497, à la partie du continent située au sud de la ligne; elle est principalement sous la domination des Espagnols, des François, des Anglois, des Portugais & des Hollandois. Elle est divisée en septentrionale & en méridionale par le golfe de Mexique & par le détroit de Panama. L’Amérique septentrionale connue s’étend depuis le 11e degré de latitude jusqu’au 75e. Ses contrées principales sont le Mexique, la Californie, la Loüisiane, la Virginie, le Canada, Terre-neuve, les îles de Cuba, Saint-Domingue, & les Antilles. L’Amérique méridionale s’étend depuis le 12e degré septentrional, jusqu’au 60e degré méridional; ses contrées sont Terre-ferme, le Pérou, le Paraguai, le Chili, la Terre Magellanique, le Brésil, & le pays des Amazones.” [!!!]

gingembre

AMETHYSTE, s. f. (Hist. nat.) amethystus, pierre précieuse de couleur violette, ou de couleur violette pourprée. On a fait dériver son nom de sa couleur, en disant qu’elle ressembloit à la couleur qu’a le vin, lorsqu’il est mêlé d’eau. Les Auteurs qui ont traité des Pierres précieuses, ont donné plusieurs dénominations des couleurs de l’amethyste; ils disent que les plus belles sont de couleur violette, tirant sur la couleur de rose pourprée, de couleur colombine, ou de fleur de pensée; & qu’elles ont un mélange de rouge, de violet, de gris de lin, &c. Il est bien difficile de trouver des termes pour exprimer les teintes d’une couleur ou les nuances de plusieurs couleurs. Je crois même qu’il est impossible de parvenir par ce moyen à donner une idée juste de la couleur d’une pierre précieuse. C’est pourquoi il vaut mieux donner un objet de comparaison qui exprime la couleur de l’amethyste. On le trouvera dans le spectre solaire que donne le prisme par la refraction des rayons de la lumière. L’espace de ce spectre auquel M. Newton a donné le nom de violet représente la couleur de l’amethyste la plus commune, qui est simplement violette. Si on fait tomber l’extrémité inférieure d’un spectre sur l’extrémité supérieure d’un autre spectre; on mêlera du rouge avec du violet, & on verra la couleur de l’amethyste pourprée. Ce moyen de reconnoître les couleurs de l’amethyste, est certainement le plus sûr.”

AMITIÉ. “Le commerce que nous pouvons avoir avec les hommes, regarde ou l’esprit ou le coeur: le pur commerce de l’esprit s’appelle simplement connoissance; le commerce où le coeur s’intéresse par l’agrément qu’il en tire, est amitié. Je ne vois point de notion plus exacte & plus propre à développer tout ce qu’est en soi l’amitié, & même toutes ses propriétés.” Commercé: palavra tornada infecta dali a menos de 100 anos…

L’amitié suppose la charité, au moins la charité naturelle: mais elle ajoûte une habitude de liaison particuliere, qui fait entre deux personnes un agrément de commerce mutuel. § C’est l’insuffisance de notre être qui fait naître l’amitié, & c’est l’insuffisance de l’amitié même qui la détruit.”

Lorsqu’on entrevoit de loin quelque bien, il fixe d’abord les desirs; lorsqu’on l’atteint, on en sent le néant. (…) on se néglige, on deviant difficile, on exige bientôt comme un tribut les complaisances qu’on avoit d’abord reçûes comme un don. C’est le caractere des hommes de s’approprier peu à peu jusqu’aux graces qu’on leur fait; une longue possession accoûtume naturellement à regarder comme siennes les choses qu’on tient d’autrui: l’habitude persuade qu’on a un droit naturel sur la volonté des amis; on voudroit s’en former un titre pour les gouverner: lorsque ces prétensions sont réciproques, comme il arrive souvent, l’amour propre s’irrite, crie des deux côtés, & produit de l’aigreur, des froideurs, des explications amères, & la rupture.

On se trouve aussi quelquefois des défauts qu’on s’étoit cachés; où l’on tombe dans des passions qui dégoûtent de l’amitié, comme les maladies violentes dégoûtent des plus doux plaisirs. Aussi les hommes extrèmes, capables de donner les plus fortes preuves de dévouement, ne sont pas les plus capables d’une constante amitié: on ne la trouve nulle part si vive & si solide, que dans les esprits timides & sérieux, dont l’ame modérée connoît la vertu; le sentiment doux & paisible de l’amitié soulage leur coeur, détend leur esprit, l’élargit, les rend plus confians & plus vifs, se mêle à leurs amusemens, à leurs affaires, & à leurs plaisirs mystérieux: c’est l’ame de toute leur vie.

Les jeunes gens neufs à tout, sont très-sensibles à l’amitié: mais la vivacité de leurs passions les distrait & les rend volages [voláteis]. La sensibilité & la confiance sont usées dans les vieillards: mais le besoin les rapproche, & la raison est leur lien. Les uns aiment plus tendrement, les autres plus solidement.”

Un ami avec qui l’on n’aura eû d’autre engagement que de simples amusemens de Littérature trouve étrange qu’on n’expose pas son crédit pour lui; l’amitié n’étoit point d’un caractere qui exigeât cette démarche.”

Un Monarque ne peut-il donc avoir des amis? faut-il que pour les avoir, il les cherche en d’autres Monarques, ou qu’il donne à ses autres amis un caractere qui aille de pair avec le pouvoir souverain? Voici le véritable sens de la maxime recûe. § C’est que par rapport aux choses qui forment l’amitié, il doit se trouver entre les deux amis, une liberté de sentiment & de langage aussi grande, que si l’un des deux n’étoit point supérieur, ni l’autre inférieur.

L’amitié ne met pas plus d’égalité que le rapport du sang; la parenté entre des parens d’un rang fort différent ne permet pas certaine familiarité”

Les Anciens ont divinisé l’amitié; mais il ne paroît pas qu’elle ait eu comme les autres Divinités des temples & des autels de pierre, & je n’en suis pas trop fâché. Quoique le tems ne nous ait conservé aucune de ses représentations, Lilio Geraldi prétend dans son ouvrage des Dieux du Paganisme, qu’on la sculptoit sous la figure d’une jeune femme, la tête nue, vêtue d’un habit grossier, & la poitrine découverte jusqu’à l’endroit du coeur, où elle portoit la main; embrassant de l’autre côté un ormeau sec. Cette derniere idée me paroît sublime.”

AMPHIBIE, sub. pris adjectiv. (Hist. nat.) animal qui vit alternativement sur la terre & dans l’eau, c’est-à-dire dans l’air & dans l’eau, comme le castor, le veau de mer, &c.” “Le castor, le loutre, le rat d’eau, l’hippopotame, le crocodile, un grand lésard d’Amérique, le cordyle, la tortue d’eau, la grenouille, le crapaud d’eau, la salamandre d’eau appellée tac ou tassot, le serpent d’eau, &c. Gesner regardoit aussi comme amphibies les oiseaux qui cherchent leur nourriture dans l’eau. Nomenclator aquatilium animantium

AMPHIBOLOGIE. “celui qui compose s’entend, & par cela seul il croit qu’il sera entendu: mais celui qui lit n’est pas dans la même disposition d’esprit; il faut que l’arrangement des mots le force à ne pouvoir donner à la phrase que le sens que celui qui a écrit a voulu lui faire entendre.”

A REPÚBLICA – Livro VII

Tradução de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei que devia tentar esclarecer alguns pontos polêmicos ou obscuros demais quando se tratar de leitor não-familiarizado com a obra platônica. Quando a nota for de Azcárate, haverá um (*) antecedendo as aspas.

#Educação #Ética #arete #FiloPol #grandesaúde #Tradução #platonismo #controvérsiadofilósofoRei #OUm #Epistemo #sofistas #Velhice #Matemática #Geometria #Música

– Crês acaso que estes homens acorrentados possam ver outra coisa, de si mesmos e dos companheiros que estão ao lado, senão as sombras que o fogo projeta à frente deles, no fundo da caverna?

– Como poderiam ver, se desde o nascimento estão obrigados a manter a cabeça imóvel?

– E quanto aos objetos que passam por detrás deles, podem ver outra coisa senão as sombras dos mesmos?

– Somente as sombras, Sócrates.

– Se pudessem conversar uns com os outros, não conviriam por fim em dar às sombras que vêem os nomes das coisas mesmas?

– Necessariamente.

– E se no fundo de seu cativeiro houvesse um eco que repetisse as palavras dos transeuntes, imaginar-se-iam outra coisa senão que as próprias sombras que desfilam diante de seus olhos é que emitem essas vozes?

– Não, por Zeus! Só teriam como imaginar isso mesmo.”

Se naquele ato recordava sua primeira estância e a idéia que ali se tem da sabedoria, entre seus companheiros de escravidão, não se regozijaria ele de sua mudança e não se compadeceria da desgraça daqueles primeiros companheiros?”

Dir-lhes-emos: noutros Estados pode-se escusar aos filósofos que evitam a moléstia dos negócios públicos, porque devem sua sabedoria somente a si próprios, uma vez que se formaram sozinhos (num Estado imperfeito, só assim o filósofo se forma, isto é, tornam-se filósofos, apesar do Estado)”

OS ILUMINADOS & OS PERSEFONISTAS: “Nossos discípulos recusarão, portanto, as nossas disposições? Negar-se-ão a arcar alternativamente com o peso do governo, pré-requisito se quiserem usufruir maior parte de sua vida juntos na região da luz pura?”

Desejas agora examinar de que maneira formaremos os homens deste caráter, e como fá-los-emos passar das trevas à luz, como se diz de alguns que atravessaram do Hades à estância dos deuses?”

Ora Palamedes, vês tu que nas tragédias sempre se nos representam Agamemnon como um general peculiar? Não observaste que Agamemnon, nestas representações, se jacta de haver inventado os números, de haver elaborado o plano de campanha diante de Ílion, e de haver procedido à enumeração dos navios e de tudo o mais, como se antes dele fôra impossível praticar tudo isto?? Como se antes de Agamemnon não se soubesse quantos pés tem algo ou alguém, não havendo criatura que soubesse como contar, se é que devemos crer na palavra do personagem dos poemas?!”

– …O conhecimento da unidade é uma das coisas que elevam a alma e fazem-na se voltar à contemplação do ser.

– Mas a visão da unidade produz em nós, Sócrates, o efeito de que falas; porque vemos a mesma coisa sendo ao mesmo tempo una e múltipla, até o infinito.”

Se tentas dividir a unidade propriamente dita diante dos matemáticos, riem-se de ti, tornam-se indiferentes ao que fazes; e se perseveras e divides a unidade, eles a multiplicam outras tantas vezes, temendo que a unidade não se pareça com o que ela é,¹ em outras palavras, una, idêntica a si mesma, e sim que acabe parecendo um conjunto de várias partes.”

¹ Ou: “apareça diferente de como sói aparecer”, tradução alternativa.

– Nunca observaste que os que nasceram para calcular têm mais facilidade para aprender todas as ciências, e que até os espíritos mais vagarosos, quando se exercitam com a devida constância na arte do cálculo, alcançam, no mínimo, a vantagem de adquirirem maior flexibilidade e penetração no ato de aprender?

– É assim, sim.

– Além do mais, não te seria fácil encontrar muitas ciências mais penosas para aprender e praticar do que esta.

– Com certeza não.”

Pois bem, ninguém que possua a menor experiência em geometria negar-nos-á que o objeto desta ciência é diretamente contrário à linguagem que usa aquele que dela trata.

– Que queres dizer com isso?

– Ora, a linguagem dos geômetras é ridícula e forçada. Falam pomposamente em equalizar, aplicar, transpor, somar, e assim por diante, como se eles lidassem com matéria real e fossem artífices, como se suas demonstrações tendessem à prática e atuassem, sendo que esta ciência, toda ela, nunca ultrapassa o puro conhecer.

– Estou conforme.

– E tens de convir também noutra coisa.

– E no que seria?

– Que a geometria tem por objeto o conhecimento do que existe sempre, e não do que nasce e perece em algum momento.

(*) “Calipolis, <bela cidade>, nome apto a um Estado ideal.”

Para Platão, o jovem grego deve ser instruído nos seguintes conhecimentos, pela ordem:

1. A arte da guerra;

2. A geometria;

(conforme seguirá na exposição:)

3. A astronomia;

4. A música;

5. A dialética (filosofia);

6. A política e a filosofia, alternativamente, a partir deste ponto.

SÓCRATES – E a astronomia será o terceiro. Que achas disso?”

As ciências de que falamos (a matemática e a astronomia) têm uma grande vantagem: purificam e reanimam um órgão da alma extinto e embotado pelas demais ocupações da vida.”

seja olhando para o alto e de boca aberta ou olhando para baixo e semicerrando os olhos, se alguém tenta conhecer algo sensível, nego que chegue a conhecer alguma coisa; pois nada do sensível é objeto da ciência, e sustento que a alma não contempla o céu e as imensidões do espaço, mas aponta sempre e inexoravelmente para baixo, ainda quando seu portador esteja apenas nadando de costas, com a boca voltada para o firmamento, ou estirado sobre a terra, na mesma posição.”

Que se admire a beleza e a ordem dos astros que adornam o céu, nada mais justo; mas como, depois de tudo, não deixam de ser objetos sensíveis, quero que se ponha sua beleza ainda em um patamar inferior (muito inferior, na verdade) ao da beleza verdadeira, da que produzem a velocidade e a lentidão reais em si em suas relações mútuas e nos movimentos que comunicam aos astros, segundo o verdadeiro número e todos os verdadeiros avatares.”

Quero, pois, que o céu recamado não seja mais que uma imagem que nos sirva para nossa instrução como serviriam a um geômetra as figuras executadas por Dédalo ou por qualquer outro escultor ou pintor.”

– Esquartejem-me os deuses se o ensino da música hoje não se anda fazendo tão aborrecido quanto o da astronomia pelos eruditos do dia! Nossos músicos falam sem cessar de intervalos condensados(*), aprumam seus ouvidos como que para catalogar os sons que se sucedem; e uns professores dizem que ouvem um som médio entre dois tons, e que este som é o menor intervalo que os separa e que há que se medir todos os outros com esta unidade; outros sustentam, ao contrário, que as cordas produziram dois tons perfeitamente semelhantes; e todos preferem o juízo do ouvido ao da mente.

– Falas desses músicos agora famosos que não dão descanso às cordas, torturando-as e atormentando-as com seus martinetes.”

(*) “Bemol, o semitom típico da lira de 4 cordas, que conforme a posição na notação determina os diferentes modos musicais, mas que na harmonia não-temperada tinha apenas duas possibilidades: ascendente ou descendente.”

Aqui tens, meu querido Glauco, o canto mesmo que interpreta a dialética. Esta, por mais que seja inteligível, pode ser representada pelo órgão da vista que, segundo demonstramos, eleva-se gradualmente do espetáculo dos animais ao dos astros e, por fim, à contemplação do sol mesmo. E assim, aquele que se dedica à dialética, renunciando em absoluto ao uso dos sentidos, eleva-se, exclusivamente pelo uso da razão, até o que é cada coisa em si; e, se continua suas indagações até haver percebido, mediante o pensamento, o bem em si, chega ao término dos conhecimentos inteligíveis. Assim também, o que vê o sol chegou ao término do conhecimento das coisas visíveis.”

(*) “Veja-se Euclides, livro X, sobre as linhas incomensuráveis (como a da diagonal do quadrado).”

Não basta ser em parte laborioso e em parte indolente, que é o que acontece quando um jovem, cheio de ardor na ginástica, na caça e em todos os exercícios corporais rechaça todo estudo e conversação ou indagação científicas, esquivando-se desta classe de trabalhos.”

Não se deve crer em Sólon quando diz que um ancião pode aprender muitas coisas; mais fácil seria para ele correr. Não! Todos os grandes trabalhos estão reservados para a juventude.”

Que os exercícios do corpo sejam forçados ou voluntários, nem por isso o corpo deixa de tirar proveito; mas as lições que se faz entrar compulsoriamente alma adentro não produzem qualquer efeito.”

Logo que tiverem concluído sua formação de exercícios ginásticos (o que dura por volta de dois a três anos), ser-lhes-á impossível dedicar-se a outra coisa, pois nada há de mais adverso às ciências que a fadiga e o sono. Por outro lado, os exercícios ginásticos são uma prova a que é essencial submeter a juventude.

Passado este tempo, e quando já tiverem por volta dos 20 anos, conceder-se-lhes-á, pelo menos aos que demonstrarem aptidão, distinções honrosas, e se lhes apresentarão em conjunto os conhecimentos que adquiriram em separado durante a vida pregressa, a fim de que se acostumem a ver de um golpe só, e de um ponto de vista geral, as relações que as disciplinas guardam entre si, pré-requisito para se conhecer a natureza do ser.”

aquele que sabe reunir os objetos de uma perspectiva geral nasceu para a dialética; os que não estão neste caso, melhor esquecer.”

Portanto, depois de se observar atentamente quais são os melhores para este gênero de vida, priorizando-se aqueles que demonstraram mais zelo e constância, tanto nos estudos quanto nos trabalhos da guerra e nas demais provas prescritas, ao atingirem estes eleitos a casa dos 30 anos, conceder-se-lhes-ão as maiores honras. Dedicando-se à dialética, serão distinguidos aqueles que, sem necessitar do auxílio dos olhos e dos demais sentidos, podem se elevar ao conhecimento do ser, o que exige unicamente a vocação para a verdade; é neste ponto, amigo, que se devem tomar as maiores precauções.”

Pode ser que lhes ocorra como com um filho aristocrata que, educado na nobreza e na opulência, em meio ao fausto e rodeado de aduladores, se apercebesse, já adulto, de que aqueles que alegam ser seus pais de fato não o são, sem no entanto dispor de mais qualquer recurso para descobrir a identidade dos verdadeiros.”

– É uma excelente precaução afastar as crianças ou os púberes da dialética. Não ignoras, sem dúvida, que os jovens, quando se enamoram de algo, principalmente os primeiros argumentos de um saber, gostam de se servir disso como de um passatempo, e têm prazer em provocar controvérsias sem fim. Assim como podem ser facilmente enganados, tendem a tentar enganar o próximo; semelhantes aos cães filhotes, comprazem-se em dar puxões e mordiscadas verbais em toda gente que aparece.

– Os jovens são exatamente o que descreveste, sensualistas extravagantes!

– Após inumeráveis disputas, em que tanto perderam quanto venceram, concluem, o mais das vezes, por não mais acreditarem em nada daquilo em que antes acreditavam e que com ímpeto defendiam. Tornam-se céticos. Desta maneira, facilitam que todos os demais cidadãos não lhes dêem crédito ou reputação, e também maculam a imagem da filosofia.

– Ó, nada mais certo!”

– Seria bastante dar à dialética um tempo dobrado em relação à formação em ginástica, fazendo os aprendizes dialéticos se consagrarem a sua arte sem trégua e com exclusividade, pelo menos de forma tão exclusiva quanto se fez antes, na idade dos exercícios corporais?

– Estás falando, então, de um tempo de 4, 6 anos…?

– Isso não é o mais importante, atenção: passemos adiante, então, dando um número médio para tua pergunta: 5 – se fazes questão de uma resposta exata… Depois deste tempo o Estado fá-los-á descer de novo à caverna, obrigando-os a passar pelo exército e pelas demais ocupações da faixa etária. Além de ser dialéticos, não deverão perder para os demais em termos de experiência. Durante este período, serão cuidadosamente observados, para se constatar se ainda se mantêm firmes, diante de mil contingências, não só em assuntos filosóficos ou militares, mas para o que quer que se dirijam em seu tempo livre ou por encargo da sociedade; ou se vacilam como cidadãos.

– Mas quanto tempo deverão durar estas provas?

– Quinze anos. Então é chegada a ocasião de conduzir ao termo aqueles que, aos 50 anos de idade, tiverem saído incólumes de todas estas provas, havendo-se destacado nos estudos e na conduta.”

L’ENCYCLOPÉDIE – AM – Âme

ÂME. “Il ne peut y avoir que deux manieres d’envisager l’ame, ou comme une qualité, ou comme une substance. Ceux qui pensoient qu’elle n’étoit qu’une pure qualité, comme Epicure, Dicéarchus, Aristoxène, Asclepiade & Galien, croyoient & devoient nécessairement croire qu’elle étoit anéantie à la mort. Mais la plus grande partie des Philosophes ont pensé que l’ame étoit une substance. Tous ceux qui étoient de cette opinion ont soutenu unanimement qu’elle n’étoit qu’une partie séparée d’un tout, que Dieu étoit ce tout, & que l’ame devoit enfin s’y réunir par voie de réfusion.” “Ceux qui soûtenoient qu’il n’y avoit qu’une seule substance universelle étoient de vrais athées: leurs sentimens & ceux des Spinosistes modernes sont les mêmes; & Spinosa sans doute a puisé ses erreurs dans cette source corrompue de l’antiquité. Ceux qui soûtenoient qu’il y avoit dans la nature deux substances générales, Dieu & la matiere, concluoient en conséquence de cet axiome fameux, de rien rien, que l’une & l’autre étoient éternelles: ceux-ci formoient la classe des Philosophes Théistes & Déistes, approchant plus ou moins suivant leurs différentes subdivisions, de ce qu’on appelle le Spinosisme. Il faut remarquer que tous les sentimens des anciens sur la nature de Dieu tenoient beaucoup de ce systeme absurde. La seule barriere qui soit entr’eux & Spinosa, c’est que ce Philosophe ainsi que Straton, destituoit & privoit de la connoissance & de la raison cette force répandue dans le monde, qui selon lui en vivifioit les parties & entretenoit leur liaison, au lieu que les Philosophes Théistes donnoient de la raison & de l’intelligence à cette ame du monde. La divinité de Spinosa n’étoit qu’une nature aveugle, qui n’avoit ni vie ni sentiment, & qui néanmoins avoit produit tous ces beaux ouvrages, & y avoit mis sans le savoir une symmétrie & une subordination qui paroissent évidemment l’esset d’une intelligence très-éclairée, qui choisit & (sic?) ses fins & ses moyens.” “Voyez l’article de l’immatérialisme, où nous prouvons que les anciens Philosophes n’avoient eu aucune teinture de la véritable spiritualité.”

Humanus autem animus decerptus est, mente divina, cum alio nullo nisi cum ipso Deo comparari potest.” « On ne rencontre rien, dans la nature terrestre, qui ait la faculté de se ressouvenir & de penser, qui puisse se rappeller le passé, considérer le présent, & prévoir l’avenir. Ces facultés sont divines; & l’on ne trouvera point d’où l’homme peut les avoir, si ce n’est de Dieu. Ainsi ce quelque chose qui sent, qui goûte, qui veut, est céleste & divin, & par cette raison il doit être nécessairement éternel » Cícero

Celles qui s’étoient souillées par des vices ou par des crimes, passoient par une succession de corps différens, pour se purifier avant que de retourner à leur substance primitive. C’étoit-là les deux especes de métempsycoses naturelles, dont faisoient réellement profession ces deux écoles de Philosophie [Platônicos e Pitagóricos].” “les 4 grandes sectes de l’ancienne Philosophie; savoir les Pythagoriciens, les Platoniciens, les Péripatéticiens, & les Stoïciens

« Pourquoi donc l’ame, que vous dites être immortelle, être Dieu, est-elle malade dans les malades, imbécille dans les enfans, caduque dans les vieillards? ô folie, démence, infatuation! » Arnobe (?)

Après avoir parlé des ames sensitives, & déclaré qu’elles étoient mortelles, Aristote ajoûte que l’esprit ou l’intelligence existe de tout tems, & qu’elle est de nature divine: mais il fait une seconde distinction; il trouve que l’esprit est actif ou passif, & que de ces deux sortes d’esprit le premier est immortel & éternel, le second corruptible. Les plus savans Commentateurs de ce Philosophe ont regardé ce passage comme inintelligible, & ils se sont imaginés que cette obscurité provenoit des formes & des qualités qui infectent sa philosophie, & qui confondent ensemble les substances corporelles & incorporelles. (…) Aristote tire ici une conclusion contre son existence particuliere & distincte dans un état futur [e funda o Existencialismo, por assim dizer]: sentiment qui a été embrassé par tous les Philosophes, mais qu’ils n’ont pas tous avoüé aussi ouvertement.”

A ansiedade vai passar como a vontade, fique à vontade. Prolixo ansioso. Ânsia de vômito e sêmen, de engolir e ruminar, de introjetar, de ser invadido e libertar. Embraçar o embaraçado. Um ébrio médio, um Baco baço. Coceira no ventre, o baixo. Venta e molda o barro. Muda o endereço do bairro dos deuses. Sede nectarina da existência e dos assopros.

Peu de tems après la naissance du Christianisme, les Philosophes étant puissamment attaqués par les écrivains chrétiens, altérerent leur philosophie & leur religion, en rendant leur philosophie plus religieuse, & leur religion plus philosophique. Parmi les rafinemens du paganisme, l’opinion qui faisoit de l’ame une partie de la substance divine, fut adoucie. Les Platoniciens la bornerent [confinerent] à l’amedes brutes. Toute puissance irrationnelle, dit Porphire, retourne par réfusion dans l’ame du tout. Et l’on doit remarquer que ce n’est seulement qu’alors que les Philosophes commencerent à croire réellement & sincerement le dogme des peines & des récompenses d’une autre vie. Mais les plus sages d’entre-eux n’eurent pas plûtôt abandonné l’opinion de l’ame universelle, que les Gnostiques, les Manichéens & les Priscilliens s’en emparerent: ils la transmirent aux Arabes, de qui les athées de ces derniers siecles, & notamment Spinosa, l’ont empruntée. § On demandera peut-être d’où les Grecs ont tiré cette opinion si étrange de l’ame universelle du monde; opinion aussi détestable que l’athéisme même, & que M. Bayle trouve avec raison plus absurde que le système des atomes de Démocrite & d’Epicure. On s’est imaginé qu’ils avoient tiré cette opinion d’Egypte. La nature seule de cette opinion fait suffisamment voir qu’elle n’est point Egyptienne: elle est trop rafinée, trop subtile, trop métaphysique, trop systématique: l’ancienne philosophie des Barbares (sous ce nom les Grecs entendoient les Egyptiens comme les autres nations) consistoit seulement en maximes détachées, transmises des maîtres aux disciples par la tradition, où rien ne ressentoit la spéculation, & où l’on ne trouvoit ni les rafinemens ni les subtilités qui naissent des systèmes & des hypothèses. Ce caractere simple ne régnoit nulle part plus qu’en Egypte. Leurs Sages n’étoient point des sophistes scholastiques & sédentaires, comme ceux des Grecs; ils s’occupoient entierement des affaires publiques de la religion & du gouvernement; & en conséquence de ce caractere, ils ne poussoient les Sciences que jusqu’où elles étoient nécessaires pour les usages de la vie. Cette sagesse si vantée des Egyptiens, dont il est parlé dans les saintes Écritures, consistoit essentiellement dans les arts du gouvernement, dans les talens de la législature, & dans la police de la société civile. § Le caractere des premiers Grecs, disciples des Égyptiens, confirme cette vérité; savoir, que les Egyptiens ne philosophoient ni sur des hypothèses, ni d’une maniere systématique. Les premiers Sages de la Grece, conformément à lusage des Égyptiens leurs maîtres, produisoient leur philosophie par maximes détachées & indépendantes, telle certainement qu’ils l’avoient trouvée, & qu’on la leur avoit enseignée. Dans ces anciens tems le Philosophe & le Théologien, le Législateur & le Poëte, étoient tous réunis dans la même personne: il n’y avoit ni diversité de sectes, ni succession d’écoles: toutes ces choses sont des inventions Greques § (…) Le plus beau principe de la Physique des Grecs eut deux auteurs, Démocrite & Séneque: le principe le plus vicieux de leur Métaphysique eut de même deux auteurs, Phérécide le Syrien, & Thalès le Milésien, Philosophes contemporains. § Phérécide le Syrien, dit Cicéron, fut le premier qui soûtint que les ames des hommes étoient sempiternelles; opinion que Pythagore son disciple accrédita beaucoup. § Quelques personnes, dit Diogene Laërce, prétendent que Thalès fut le premier qui soûtint que les ames des hommes étoient sempiternelles. Thalès, dit encore Plutarque, fut le premier qui enseigna que l’ame est une nature éternellement mouvante, ou se mouvant par elle-même.” “l’immortalité de l’ame étoit une chose que l’on avoit crue de tout tems? Homere l’enseigne, Hérodote rapporte que les Égyptiens l’avoient enseignée depuis les tems les plus reculés: c’est sur cette opinion qu’étoit fondée la pratique si ancienne de déifier les morts.”

O CÍRCULO CONTRA O TRIÂNGULO: “Suidas nous dit que Phérécide n’eut de maître que lui-même.” E eu digo que sou deus. “Le grand secret des mystères & le premier des mysteres qui furent inventés en Égypte, consistoit dans le dogme de l’unité de Dieu: c’étoit-là le mystère que l’on apprenoit aux Rois, aux Magistrats & à un petit nombre chois d’hommes sages & vertueux; & en cela même cette pratique avoit pour objet l’utilité de la société. (…) tout est Dieu: ce qui les a entraînés dans toutes les erreurs & les absurdités de notre spinosisme. Les Orientaux d’aujourd’hui ont aussi tiré originairement leur réligion d’Égypte, quoiqu’elle soit infectée du spinosisme le plus grossier: mais ils ne sont tombés dans cet égarement que par le laps de tems, & par l’effet d’une spéculation rafinée, nullement originaire d’Égypte. Ils en ont contracté le goût par la communication des Arabes-Mahométans, grands partisans de la Philosophie des Grecs, & en particulier de leur opinion sur la nature de l’ame.

Anima velut surculus quidam ex matrice Adami in propaginem deducta, & genitalibus semine foveis commodata. Pullulabit tam intellectu quam & sensu.” Tertullien

M. Leibnitz a sur l’origine des ames un sentiment qui lui est particulier. Le voici: il croit que les ames ne sauroient commencer que par la création, ni finir que par l’annihilation; & comme la formation des corps organiques animés ne lui paroit explicable dans l’ordre, que lorsqu’on suppose une préformation déjà organique; il en infere que ce que nous appellons génération d’un animal, n’est qu’une transformation & augmentation: ainsi puisque le même corps étoit déjà organisé, il est à croire, ajoûte-t-il, qu’il étoit déjà animé, & qu’il avoit la même ame.”

Encore aujourd’hui il y a peu d’hommes en Orient qui aient une connoissance parfaite de la spiritualité.”

PERSEGUIÇÃO INTELECTUAL: “Spinosa ayant une fois posé pour principe qu’il n’y a qu’une substance dans l’univers, s’est vû forcé par la suite de ses principes à détruire la spiritualité de l’ame. Il ne trouve entre elle & le corps d’autre différence que celle qu’y mettent les modifications diverses, modifications qui sortent néanmoins d’une même source, & possedent un même sujet. Comme il est un de ceux qui paroît avoir le plus étudié cette matiere, qu’il me soit permis de donner ici un précis de son système & des raisons sur lesquelles il prétend l’appuyer. Ce Philosophe prétend donc qu’il y a une ame universelle répandue dans toute la matiere, & surtout dans l’air, de laquelle toutes les ames particulieres sont tirées; que cette ame universélle est composée d’une matiere déliée & propre au mouvement, telle qu’est celle du feu; que cette matiere est toûjours prête à s’unir aux sujets disposés à recevoir la vie, comme la matiere de la flamme est prête à s’attacher aux choses combustibles qui sont dans la disposition d’être embrasées.” “Ainsi les corps ne sont que des modifications qui peuvent exister ou non exister sans faire aucun tort à la substance; ils caractérisent & déterminent la matiere ou la substance, à peu près comme les passions caractérisent & déterminent un homme indifférent à être mû ou à rester tranquille. En conséquence, la matiere n’est ni corporelle ni incorporelle; sans doute, parce qu’il n’y a qu’une seule substance dans l’univers, corporelle en ce qui est corps, incorporelle en ce qui ne l’est point. (…) Aussi Pythagore & Platon conviennent-ils l’un & l’autre, que Dieu existoit avant qu’il y eût des corps, mais non avant qu’il y eût de la matiere, l’idée de la matiere ne demandant point l’existence actuelle du corps.” “Mais si par substance Spinosa entend une substance idéale métaphysique & arbitraire, il ne dit rien; car ce qu’il dit ne signifie autre chose, sinon qu’il ne peut y avoir dans l’univers deux essences différentes qui aient une même essence? Qui en doute? C’est à la faveur d’une équivoque aussi grossiere qu’il soûtient qu’il n’y a qu’une seule substance dans l’univers.”

Ce seroit une extravagance de dire que l’esprit de l’homme fût un point mathématique, puisque le point mathématique n’existe que dans l’imagination. Ce n’est pas aussi un point physique ou un atome. Outre qu’un atome indivisible répugne par lui-même, cette ridicule pensée n’est jamais tombée dans l’esprit d’aucun homme, non pas même d’aucun Épicurien.”

Spinosa pose comme un principe de sa Philosophie, que l’esprit n’a aucune faculté de penser ni de vouloir: mais seulement il avoüe qu’il a telle ou telle pensée, telle ou telle volonté. Ainsi par l’entendement, il n’entend autre chose que les idées actuelles qui surviennent à l’homme. Il faut avoir un grand penchant à adopter l’absurdité, pour recevoir une philosophie si ridicule.” APENAS CHAUVINISMO: “Cet absurde système a été embrassé par Hobbes: écoutons-le expliquer la nature & l’origine des sensations.”

PRÉ-SAUSSUREANOS: “quand on entend dire Dieu, l’Arabe reçoit le même mouvement d’air à la prononciation de ce mot François; le tympan de son oreille, les petits os qu’on nomme l’enclume & le marteau, reçoivent de ce mouvement d’air la même secousse & le même tremblement qui se fait dans l’oreille & dans la tête d’une personne qui entend le François. Par conséquent tous ces petits corps qu’on suppose composer l’esprit humain, sont remués de la même maniere, & reçoivent les mêmes impressions dans la tête d’un Arabe que dans celle d’un François; par conséquent encore un Arabe attacheroit au mot de Dieu la même idée que le François, parce que les petits corps subtils & agités qui composent l’esprit humain, selon Epicure & les Athées, ne sont pas d’une autre nature chez les Arabes que chez les François. Pourquoi donc l’esprit de l’Arabe ne se forme-t-il à la prononciation du mot Dieu aucune autre idée que celle d’un son, & que l’esprit d’un François joint à l’idée de ce son celle d’un être tout parfait, Créateur du ciel & de la terre? Voici un détroit pour les Athées & pour ceux qui nient la spiritualité de l’ame, d’où ils ne pourront se tirer, puisque jamais ils ne pourront rendre raison de cette différence qui se rencontre entre l’esprit de l’Arabe & celui du François. § (…) comme l’Arabe qui ne sait pas la langue Françoise ignore cette convention, il ne reçoit que la seule idée du son, sans y en joindre aucune autre. Cette vérité est constante, & il n’en faut pas davantage pour détruire les principes d’Epicure, d’Hobbes, & de Spinosa; car je voudrois bien savoir quelle seroit la partie contractante dans cette convention; à ce mot Dieu, je joindrai l’idée d’un être tout parfait; ce ne sera pas ce corps sensible & palpable, chacun en convient; ce ne sera pas aussi cet amas de corps subtils & agités, qui sont l’esprit humain, selon le sentiment de ces Philosophes, parce que ces esprits reçoivent toutes les impressions de l’objet, sans pouvoir rien faire au-delà: or ces impressions étoient les mêmes, & parfaitement semblables, lorsque l’Arabe entendoit prononcer ce mot Dieu, sans savoir pourtant ce qu’il signifioit. Il faut donc nécessairement qu’il y ait quelqu’autre cause que ces petits corps avec laquelle on convienne qu’à ce mot Dieu l’ame se représentera l’être tout parfait, de la même maniere qu’on peut convenir avec le Gouverneur d’une place assiégée, qu’à la décharge de 20 ou 30 volées de canon, il doit assûrer les habitans qu’ils seront bien-tôt secourus.”

1e. quand on a les yeux ouverts, en pensant fortement à quelque chose, il arrive très-souvent qu’on n’apperçoit pas les objets qui sont devant soi, quoiqu’ils envoyent à nos yeux les mêmes especes & les mêmes rayons, que lorsqu’on y fait plus d’attention. De sorte qu’outre tout ce qui se passe dans l’oeil & dans le cerveau, il faut qu’il y ait encore quelque chose qui considere & qui examine ces impressions de l’objet, pour le voir & pour le connoître.”

Precursores de uma longa discussão que não leva a nada: “Le néant, le pur néant, quoiqu’il ne puisse produire aucune impression, parce qu’il ne peut agir, ne laisse pas d’être l’objet de la pensée, de même que ce qui existe. L’esprit, par sa propre vertu & par la faculté qu’il a de penser, tire le néant de l’abysme pour le confronter avec l’être, & pour reconnoître que ces deux idées du néant & de l’étre se détruisent réciproquement.”

la question de la matérialité de l’ame, portée au tribunal de la raison, sera décidée en faveur de M. Locke.”

La question de l’immortalité de l’ame est nécessairement liée avec la spiritualité de l’ame. Nous ne connoissons de destruction que par l’altération ou la séparation des parties d’un tout; or nous ne voyons point de parties dans l’ame: bien plus nous voyons positivement que c’est une substance parfaitement une & qui n’a point de parties. Pherécide le Syrien est le premier qui au rapport de Cicéron & de S. Augustin, répandit dans la Grèce le dogme de l’immortalité de l’ame. Mais ni l’un ni l’autre ne nous détaillent les preuves dont il se servoit, & de quelles preuves pouvoit se servir un Philosophe qui, quoique rempli de bon sens, confondoit les substances spirituelles avec les matérielles, ce qui est esprit avec ce qui est corps. On sait seulement que Pythagore n’entendit point parler de ce dogme dans tous les voyages qu’il fit en Égypte & en Assyrie, & qu’il le reçut de Phérécide, touché principalement de ce qu’il avoit de neuf & d’extraordinaire. L’Orateur Romain ajoûte que Platon étant venu en Italie pour converser avec les disciples de Pythagore approuva tout ce qu’ils disoient de l’immortalité de l’ame, & en donna même une sorte de démonstration qui fut alors très applaudie: mais il faut avoüer que rien n’est plus frêle que cette démonstration, & qu’elle part d’un principe suspect. En effet, pour connoître quelle espece d’immortalité il attribuoit à l’ame, il ne faut que considérer la nature des argumens qu’il emploie pour la prouver. Les argumens qui lui sont particuliers & pour lesquels il est si fameux ne sont que des argumens métaphysiques tirés de la nature & des qualités de l’ame, & qui par conséquent ne prouvent que sa permanence, & certainement il la croyoit; mais il y a de la différence entre la permanence de l’ame pure & simple, & la permanence de l’ame accompagnée de châtimens & de récompenses. Les preuves morales sont les seules qui puissent prouver un état futur & proprement nommé de peines & de récompenses. Or Platon, loin d’insister sur ce genre de preuves, n’en allegue point d’autres, comme on peut le voir dans le douzieme livre de ses lois, que l’autorité de la tradition & de la religion. Je tiens tout cela pour vrai, dit-il, parce que je l’ai oüi dire. Par là il fait assez voir qu’il en abandonne la vérité, & qu’il n’en réclame que l’inutilité. 2e. L’opinion de Platon sur la métempsycose a donné lieu de le regarder comme le plus grand défenseur des peines & des récompenses d’une autre vie. A l’opinion de Pythagore qui croyoit la transmigration des ames purement naturelle & nécessaire, il ajoûta que cette transmigration étoit destinée à purifier les ames qui ne pouvoient point à cause des souillures qu’elles avoient contractées ici bas, remonter au lieu d’où elles étoient descendues, ni se rejoindre à la substance universelle dont elles avoient été séparées; & que par conséquent les ames pures & sans tache ne subissoient point la métempsycose. Cette idée étoit aussi singuliere à Platon que la métempsycose physique l’étoit à Pythagore. Elle semble renfermer quelque sorte de dispensation morale que n’avoit point celle de son maître; & elle en différoit même en ce qu’elle n’y assujettissoit pas tout le monde sans distinction, ni pour un tems égal. Mais pour faire voir néanmoins combien ces deux Philosophes s’accordoient pour rejetter l’idée des peines & des récompenses d’une autre vie, il suffira de se rappeller ce que nous avons dit au commencement de cet article de leur sentiment sur l’origine de l’ame. Des gens qui étoient persuadés que l’ame n’étoit immortelle que parce qu’ils la croyoient une portion de la divinité elle-même, un être éternel, incréé aussi bien qu’incorruptible; des gens qui supposoient que l’ame, après un certain nombre de révolutions, se réunissoit à la substance universelle où elle étoit absorbée, confondue & privée de son existence propre & personnelle: ces gens-là, dis-je, ne croyoient pas sans doute l’ame immortelle dans le sens que nous le croyons: autant valoit-il pour les ames être absolument détruites & anéanties, que d’être ainsi englouties dans l’ame universelle, & d’être privées de tout sentiment propre & personnel. Or nous avons prouvé au commencement de cet article, que la réfusion de toutes les ames dans l’ame universelle étoit le dogme constant des 4 principales sectes de Philosophes qui florissoient dans la Grèce.”

qu’il y a trois juges dans les enfers: il parle du Styx, du Cocyte & de l’Achéron, &c. & il y insiste avec tant de force, que l’on peut & que l’on doit même croire qu’il a voulu persuader les lecteurs auxquels il avoit destiné les ouvrages où il en parle, comme le Phédon, le Gorgias, sa République, &c. Mais qui peut s’imaginer qu’il ait été lui-même persuadé de toutes ces idées chimériques? Si Platon, le plus subtil de tous les Philosophes, eût crû aux peines & aux récompenses d’une autre vie, il l’eût au moins laissé entrevoir comme il l’a fait à l’égard de l’éternité de l’ame, dont il étoit intimement persuadé; c’est ce qu’on voit dans son Epinomis, lorsqu’il parle de la condition de l’homme de bien après sa mort: « J’assûre, dit-il, très-fermement, en badinant comme sérieusement, que lorsque la mort terminera sa carrière, il sera à sa dissolution dépouillé des sens dont il avoit l’usage ici-bas; ce n’est qu’alors qu’il participera à une condition simple & unique; & sa diversité étant résolue dans l’unité, il sera heureux, sage & fortuné ». (…) n’est pas sans dessein que Platon est obscur dans ce passage. Comme il croyoit que l’ame se réunissoit finalement à la substance universelle & unique de la nature dont elle avoit été séparée, & qu’elle s’y confondoit, sans conserver une existence distincte, il est assez sensible que Platon insinue ici secrètement, que lorsqu’il badinoit, il enseignoit alors que l’homme de bien avoit dans l’autre vie une existence distincte, particulière, & personnellement heureuse, conformément à l’opinion populaire sur la vie future; mais que lorsqu’il parloit sérieusement, il ne croyoit pas que cette existence fût particulière & distincte: il croyoit au contraire que c’étoit une vie commune, sans aucune sensation personnelle, une résolution de l’ame dans la substance universelle. J’ajoûterai seulement ici, pour confirmer ce que je viens de dire, que Platon dans son Timée s’explique plus ouvertement, & qu’il y avoue que les tourmens des enfers sont des opinions fabuleuses.

En effet, les Anciens les plus éclairés ont regardé ce que ce Philosophe dit des peines & des récompenses d’une autre vie comme choses d’un genre exotérique, c’est-à-dire, comme des opinions destinées pour le peuple, & dont il ne croyoit rien lui-même. Lorsque Chrysippe, fameux Stoïcien, blâme Platon de s’être servi mal-à-propos des terreurs d’une vie future pour détourner les hommes de l’injustice, il suppose lui-même que Platon n’y ajoûtoit aucune foi; il ne le reprend pas d’avoir crû ces opinions, mais de s’être imaginé que ces terreurs puériles pouvoient être utiles au progrès de la vertu. Strabon fait voir qu’il est du même sentiment, lorsqu’en parlant des Brachmanes des Indes, il dit qu’ils ont à la manière de Platon, inventé des fables concernant l’immortalité de l’ame & le jugement futur. Celse avoue que ce que Platon dit d’un état futur & des demeures fortunées destinées à la vertu, n’est qu’une allégorie.

Aristote s’explique sans détour, & de la manière la plus dogmatique contre les peines & les récompenses d’une autre vie: « La mort, dit-il, est de toutes les choses la plus terrible, c’est la fin de notre existence; & après elle l’homme n’a ni bien à espérer, ni mal à craindre. »

Epictète, vrai Stoïcien s’il y en eut jamais, dit en parlant de la mort: « Vous n’allez point dans un lieu de peines: vous retournez à la source dont vous êtes sortis, à une douce réunion avec vos élémens primitifs; il n’y a ni enfer, ni Achéron, ni Cocyte, ni Phlégéton. ». Séneque dans sa consolation à Marcia, fille du fameux Stoïcien Crémutius Cordus, reconnoît & avoue les mêmes principes avec aussi peu de tour qu’Epictète: « Songez que les morts ne ressentent aucun mal; la terreur des enfers est une fable; les morts n’ont à craindre ni ténebres, ni prison, ni torrent de feu, ni fleuve d’oubli; il n’y a après la mort ni tribunaux, ni coupables, il regne une liberté vague sans tyrans. Les Poëtes donnant carriere à leur imagination, ont voulu nous épouvanter par de vaines frayeurs: mais la mort est la fin de toute douleur, le terme de tous les maux; elle nous remet dans la même tranquillité où nous étions avant que de naître ».”

Les Newtoniens peuvent-ils supposer que l’attraction soit une cause réelle, quand même il ne surviendroit jamais aucun phénomene qui ne suivît la loi inverse du quarré des distances?”

Falando assim até parece fácil: “Mais de quelque manière que l’on conçoive ce qui pense en nous, il est constant que les fonctions en sont dépendantes de l’organisation, & de l’état actuel de notre corps pendant que nous vivons. Cette dépendance mutuelle du corps & de ce qui pense dans l’homme, est ce qu’on appelle l’union du corps avec l’ame; union que la saine Philosophie & la révélation nous apprennent être uniquement l’effet de la volonté libre du Créateur. Du moins n’avons-nous nulle idée immédiate de dépendance, d’union, ni de rapport entre ces deux choses, corps & pensée. Cette union est donc un fait que nous ne pouvons révoquer en doute, mais dont les détails nous sont absolument inconnus.”

On a des expériences de destruction d’autres parties du cerveau, telles que les nates & testes, sans que les fonctions de l’ame aient été détruites. Il en faut dire autant des corps cannelés; c’est M. Petit qui a chassé l’ame des corps cannelés, malgré leur structure singulière. Où est donc le sensorium commune? où est cette partie, dont la blessure ou la destruction emporte nécessairement la cessation ou l’interruption des fonctions spirituelles, tandis que les autres parties peuvent être altérées ou détruites, sans que le sujet cesse de raisonner ou de sentir? M. de la Peyronie fait passer en revûe toutes les parties du cerveau, excepté le corps calleux; & il leur donne l’exclusion par une foule de maladies très-marquées & très-dangereuses qui les ont attaquées, sans interrompre les fonctions de l’ame: c’est donc, selon lui, le corps calleux qui est le lieu du cerveau qu’habite l’ame. Oui, c’est selon M. de la Peyronie, le corps calleux qui est ce siége de l’ame, qu’entre les Philosophes les uns ont supposé être partout, & que les autres ont cherché en tant d’endroits particuliers” “Voilà donc l’ame installée dans le corps calleux, jusqu’à ce qu’il survienne quelqu’expérience qui l’en déplace, & qui réduise les Physiologistes dans le cas de ne savoir plus où la mettre. En attendant, considérons combien ses fonctions tiennent à peu de chose; une fibre dérangée; une goutte de sang extravasé; une légere inflammation; une chûte; une contusion: & adieu le jugement, la raison, & toute cette pénétration dont les hommes sont si vains: toute cette vanité dépend d’un filet bien ou mal placé, sain ou mal sain.”

La nature des alimens influe tellement sur la constitution du corps, & cette constitution sur les fonctions de l’ame, que cette seule réflexion seroit bien capable d’effrayer les mères qui donnent leurs enfans à nourrir à des inconnues.”

A HISTORINHA DA BOA CRENTE: “Une jeune fille que ses dispositions naturelles, ou la sévérité de l’éducation, avoit jettée dans une dévotion outrée, tomba dans une espece de mélancholie religieuse. La crainte mal raisonnée qu’on lui avoit inspirée du souverain-Être, avoit rempli son esprit d’idées noires; & la suppression de ses règles fut une suite de la terreur & des alarmes habituelles dans lesquelles elle vivoit. L’on employa inutilement contre cet accident es emmenagogues les plus efficaces & les mieux choisis [plantas aplicadas na pélvis para estimular o sangramento no útero]; la suppression dura; elle occasionna des effets si fâcheux, que la vie devint bientôt insupportable à la jeune malade; & elle étoit dans cet état, lorsqu’elle eut le bonheur de faire connoissance avec un Ecclésiatique d’un caractere doux & liant, & d’un esprit raisonnable, qui, partie par la douceur de sa conversation, partie par la force de ses raisons, vint à bout de bannir les frayeurs dont elle étoit obsédée, à la réconcilier avec la vie, & à lui donner des idées plus saines de la Divinité; & à peine l’esprit fut-il guéri, que la suppression cessa, que l’embonpoint revint, & que la malade joüit d’une très-bonne santé, quoique sa manière de vivre fût exactement la même dans les deux états opposés. Mais, comme l’esprit n’est pas moins sujet à des rechûtes que le corps, cette fille étant retombée dans ses premieres frayeurs superstitieuses, son corps retomba dans le même dérangement, & la maladie fut accompagnée des mêmes symptomes qu’auparavant. L’Écclésiastique suivit, pour la tirer de-là, la même voie qu’il avoit employée; elle lui réussit, les règles reparurent, & la santé revint. Pendant quelques années, la vie de cette jeune personne fut une alternative de superstition & de maladie, de religion & de santé. Quand la superstition dominoit, les règles cessoient, & la santé disparoissoit; lorsque la religion & le bon sens reprenoient le dessus, les humeurs suivoient leur cours ordinaire, & la santé revenoit.”

O MÚSICO AFICIONADO: “La fièvre & le délire étoient toûjours suspendus pendant les concerts, & la Musique étoit devenue si nécessaire au malade, que la nuit il faisoit chanter & même danser une parente qui le veilloit, & à qui son affliction ne permettoit guère d’avoir pour son malade la complaisance qu’il en exigeoit. Une nuit entr’autres qu’il n’avoit auprès de lui que sa garde, qui ne savoit qu’un misérable vaudeville, il fut obligé de s’en contenter, & en ressentit quelques effets. Enfin 10 jours de Musique le guérirent entierement, sans autre secours qu’une saignée du pié, qui fut la seconde qu’on lui fit, & qui fut suivie d’une grande évacuation.” The discmanman. “Il n’y a pas d’apparence qu’un Peintre pût être guéri de même par des tableaux; la Peinture n’a pas le même pouvoir sur les esprits, & elle ne porteroit pas la même impression à l’ame.” Sessões continuadas de recitação de poemas e muito thrash metal inoculado diretamente na veia…

ÂME des Bêtes (Métaph.). “La question qui concerne l’ame des bêtes étoit un sujet assez digne d’inquiéter les anciens Philosophes; il ne paroît pourtant pas qu’ils se soient fort tourmentés sur cette matiere, ni que partagés entr’eux sur tant de points différens, ils se soient fait de la nature de cette ame un prétexte de querelle. Ils ont tous donné dans l’opinion commune, que les brutes sentent & connoissent, attribuant seulement à ce principe de connoissance plus ou moins de dignité, plus ou moins de conformité avec l’ame humaine; & peut-être, se contentant d’envelopper diversement, sous les savantes ténebres de leur style énigmatique, ce préjugé grossier, mais trop naturel aux hommes, que la matiere est capable de penser. Mais quand les Philosophes anciens ont laissé en paix certains préjugés populaires, les modernes y signalent leur hardiesse [neste contexto, provavelmente afobação cairia bem]. Descartes suivi d’un parti nombreux, est le premier Philosophe qui ait osé traiter les bêtes de pures machines [e é incrível como esta reificação do universo era tratada como um avanço nos últimos esplendores do Progressismo, neste século tão secular! O quanto não devemos voltar a beber dos gregos e glorificar neo-filósofos que humanizem as coisas, hoje em dia, desintoxicando nossa NÃO-ALMA desta bobajada mecanicista toda!]: car à peine Gomesius Pereira, qui le dit quelque tems avant lui, mérite-t’il qu’on parle ici de lui; puisqu’il tomba dans cette hypothèse par un pur hasard, & que selon la judicieuse réflexion de M. Bayle, il n’avoit point tiré cette opinion de ses véritables principes. Aussi ne lui fit-on l’honneur ni de la redouter, ni de la suivre, pas même de s’en souvenir; & ce qui peut arriver de plus triste à un novateur, il ne fit point de secte.”

Peter Bayle – The Dictionary Historical and Critical [já baixado] (orig. 1737 – 2ª edição crítica de Des Maizeaux – 4º tomo, letras M-R) (dicionário muito bem-detalhado de personalidades). A seguir, trechos: “If it be a strange doctrine we ought not to wonder at it; for of all physical objects, none is more abstruse and perplexing than the souls of beasts.” O que começou mal, termina mal. O homem, ao se inventar a alma, pensa primeiro na sua. Depois, quimera das quimeras, inventa uma alma para os bichos. Se ainda não decidiu o quão espiritualizada é a natureza e o quão coisa é ou está ele mesmo, que homem poderia acertar o palpite sobre os animais, remexendo e atiçando ígneos híbridos com vara curtíssima? Um coelho alucinado não é menos humano que um homem dormindo.

Seek the clown Descartes in thyself!

Todos nós somos de origem obscura (uterina). África-mãe-nação.

INTRANSIGENTE: Desde que me entendo por em transe, gente!

On peut observer en passant que la Philosophie de Descartes, quoiqu’en aient pû dire ses envieux, tendoit toute à l’avantage de la religion” Papagaiam isso o tempo inteiro.

Heureusement depuis Descartes, on s’est apperçû d’un troisieme parti qu’il y avoit à prendre; & c’est depuis ce tems que le ridicule du système des automates s’est développé. On en a l’obligation aux idées plus justes qu’on s’est faites, depuis quelque tems, du monde intellectuel. On a compris que ce monde doit être beaucoup plus étendu qu’on ne croyoit, & qu’il renferme bien d’autres habitans que les Anges, & les ames humaines; ample ressource pour les Physiciens, partout où le méchanisme demeure court, en particulier quand il s’agit d’expliquer les mouvemens des brutes.”

Un musicien, un joüeur de luth, un danseur, exécutent les mouvemens les plus variés & les plus ordonnés tout ensemble, d’une maniere très-exacte, sans faire la moindre attention à chacun de ces mouvemens en particulier: il n’intervient qu’un seul acte de la volonté, par où il se détermine à chanter, ou joüer un tel air, & donne le premier branle aux esprits animaux; tout le reste suit régulierement sans qu’il y pense.” Eu, AnimaRobô

Rien ne donne une plus juste idée des automates Cartésiens, que la comparaison employée par M. Regis, de quelques machines hydrauliques que l’on voit dans les grottes & dans les fontaines de certaines maisons des Grands, où la seule force de l’eau déterminée par la disposition des tuyaux, & par quelque pression extérieure, remue diverses machines. Il compare les tuyaux des fontaines aux nerfs; les muscles, les tendons, &c. sont les autres ressorts qui appartiennent à la machine; les esprits sont l’eau qui les remue; le coeur est comme la source; & les cavités du cerveau sont les regards. Les objets extérieurs, qui par leur présence agissent sur les organes des sens des bêtes, sont comme les étrangers qui entrant dans la grotte, selon qu’ils mettent le pié sur certains carreaux disposés pour cela, font remuer certaines figures; s’ils s’approchent d’une Diane, elle fuit & se plonge dans la fontaine; s’ils avancent davantage, un Neptune s’approche, & vient les menacer avec son trident. On peut encore comparer les bêtes dans ce système, à ces orgues qui joüent différens airs, par le seul mouvement des eaux: il y aura de même, disent les Cartésiens, une organisation particuliere dans les bêtes, que le Créateur y aura produite, & qu’il aura diversement réglée dans les diverses especes d’animaux, mais toûjours proportionnément aux objets, toûjours par rapport au grand but de la conservation de l’individu & de l’espece.

On sait jusqu’où est allée l’industrie des hommes dans certaines machines: leurs effets sont inconcevables, & paroissent tenir du miracle dans l’esprit de ceux qui ne sont pas versés dans la méchanique. Rassemblez ici toutes les merveilles dont vous ayez jamais oüi parler en ce genre, des statues qui marchent, des mouches artificielles qui volent & qui bourdonnent; des araignées de même fabrique qui filent leur toile; des oiseaux qui chantent; une tête d’or qui parle; un Pan qui joue de la flûte: on n’auroit jamais fait l’énumération, même à s’en tenir aux généralités de chaque espece, de toutes ces inventions de l’art qui copie si agréablement la nature. Les ouvrages célebres de Vulcain, ces trépiés qui se promenoient d’eux-mêmes dans l’assemblée des Dieux; ces esclaves d’or, qui sembloient avoir appris l’art de leur maître, qui travailloient auprès de lui, sont une sorte de merveilleux qui ne passe point la vraissemblance; & les Dieux qui l’admiroient si fort, avoient moins de lumieres apparemment que les Méchaniciens de nos jours. Voici donc comme nos Philosophes Cartésiens raisonnent. Réunissez tout l’art & tous les mouvemens surprenans de ces différentes machines dans une seule, ce ne sera encore que l’art humain (…) le corps de l’animal est incontestablement une machine composée de ressorts infiniment plus déliés que ne seroient ceux de la machine artificielle” BioTech is GodZilla

Si les bêtes sont de pures machines, Dieu nous trompe; cet argument est le coup fatal à l’hypothese des machines.”

Esplêndida reviravolta: ”Avoüons-le d’abord; si Dieu peut faire une machine, qui par la seule disposition de ses ressorts exécute toutes les actions surprenantes que l’on admire dans un chien ou dans un singe, il peut former d’autres machines qui imiteront parfaitement toutes les actions des hommes: l’un & l’autre est également possible à Dieu; & il n’y aura dans ce dernier cas qu’une plus grande dépense d’art; une organisation plus fine, plus de ressorts combinés, seront toute la différence. Dieu dans son entendement infini renfermant les idées de toutes les combinaisons, de tous les rapports possibles de figures, d’impressions & de déterminations de mouvement, & son pouvoir égalant son intelligence, il paroît clair qu’il n’y a de différence dans ces deux suppositions, que celle des degrés du plus & du moins, qui ne changent rien dans le pays des possibilités. Je ne vois pas par où les Cartésiens peuvent échapper à cette conséquence, & quelles disparités essentielles ils peuvent trouver entre le cas du méchanisme des bêtes qu’ils défendent, & le cas imaginaire qui transformeroit tous les hommes en automates, & qui réduiroit un Cartésien à n’être pas bien sûr qu’il y ait d’autres intelligences au monde que Dieu & son propre esprit.”

Vous Cartésien, m’alléguez l’idée vague d’un méchanisme possible, mais inconnu & inexplicable pour vous & pour moi: voilà, dites-vous, la source des phénomenes que vous offrent les bêtes. Et moi j’ai l’idée claire d’une autre cause; j’ai l’idée d’un principe sensitif: je vois que ce principe a des rapports très-distincts avec tous les phénomenes en question, & qu’il explique & réunit universellement tous ces phénomenes. Je vois que mon ame en qualité de principe sensitif, produit mille actions & remue mon corps en mille manieres, toutes pareilles à celles dont les bêtes remuent le leur dans des circonstances semblables. Posez un tel principe dans les bêtes, je vois la raison & la cause de tous les mouvemens qu’elles font pour la conservation de leur machine: je vois pourquoi le chien retire sa patte quand le feu le brûle; pourquoi il crie quand on le frappe, &c. ôtez ce principe, je n’apperçois plus de raison, ni de cause unique & simple de tout cela. J’en conclus qu’il y a dans les bêtes un principe de sentiment, puisque Dieu n’est point trompeur, & qu’il seroit trompeur au cas que les bêtes fussent de pures machines; puisqu’il me représenteroit une multitude de phénomenes, d’où résulte nécessairement dans mon esprit l’idée d’une cause qui ne seroit point: donc les raisons qui nous montrent directement l’existence d’une ame intelligente dans chaque homme, nous assûrent aussi celle d’un principe immatériel dans les bêtes.”

pourquoi ces yeux, ces oreilles, ces narines, ce cerveau? c’est, dites-vous, afin de régler les mouvemens de l’automate sur les impressions diverses des corps extérieurs: le but de tout cela, c’est la conservation même de la machine. Mais encore, je vous prie, à quoi bon dans l’univers des machines qui se conservent elles-mêmes? (…) Nierez-vous que les différentes parties du corps animal soient faites par le Créateur pour l’usage que l’expérience indique? Si vous le niez, vous donnez gain de cause aux athées.” “Cette machine doit être faite pour quelque fin distincte d’elle; car elle n’est point pour elle-même, non plus que les roues de l’horloge ne sont point faites pour l’horloge.”

qui nous empêcheroit de supposer dans l’échelle des intelligences, au-dessous de l’ame humaine, une espece d’esprit plus borné qu’elle, & qui ne lui ressembleroit pourtant que par la faculté de sentir; un esprit qui n’auroit que cette faculté sans avoir l’autre, qui ne seroit capable que d’idées indistinctes, ou de perceptions confuses? Cet esprit ayant des bornes beaucoup plus étroites que l’ame humaine, en sera essentiellement ou spécifiquement distinct.”

Si l’ame des bêtes est immatérielle, dit-on, si c’est un esprit comme notre hypothèse le suppose, elle est donc immortelle, & vous devez nécessairement lui accorder le privilége de l’immortalité, comme un apanage inséparable de la spiritualité de sa nature. Soit que vous admettiez cette conséquence, soit que vous preniez le parti de la nier, vous vous jettez dans un terrible embarras. L’immortalité de l’ame des bêtes est une opinion trop choquante & trop ridicule aux yeux de la raison même, quand elle ne seroit pas proscrite par une autorité supérieure, pour l’oser soûtenir sérieusement. Vous voilà donc réduit à nier la conséquence, & à soûtenir que tout être immatériel n’est pas immortel: mais dès lors vous anéantissez une des plus grandes preuves que la raison fournisse pour l’immortalité de l’ame. Voici comme l’on a coûtume de prouver ce dogme: l’ame ne meurt pas avec le corps, parce qu’elle n’est pas corps, parce qu’elle n’est pas divisible comme lui, parce qu’elle n’est pas un tout tel que le corps humain, qui puisse périr par le dérangement ou la séparation des parties qui le composent. Cet argument n’est solide qu’au cas que le principe sur lequel il roule le soit aussi; savoir, que tout ce qui est immatériel est immortel, & qu’aucune substance n’est anéantie: mais ce principe sera réfuté par l’exemple des bêtes; donc la spiritualité de l’ame des bêtes ruine les preuves de l’immortalité de l’ame humaine.” Não acredito que depois de São Tomás de Aquino e suas enciclopédias escolásticas ainda haja tanto o que discutir!

Ainsi, quoique l’ame des bêtes soit spirituelle, & qu’elle meure avec le corps, cela n’obscurcit nullement le dogme de l’immortalité de nos ames, puisque ce sont là deux vérités de fait dont la certitude a pour fondement commun le témoignage divin. Ce n’est pas que la raison ne se joigne à la révélation pour établir l’immortalité de nos ames: mais elle tire ses preuves d’ailleurs que de la spiritualité.”

E qual é o problema de levar meu cãozinho para o paraíso comigo?

Si les brutes ne sont pas de pures machines, si elles sentent, si elles connoissent, elles sont susceptibles de la douleur comme du plaisir; elles sont sujettes à un déluge de maux, qu’elles souffrent sans qu’il y ait de leur faute, & sans l’avoir mérité, puisqu’elles sont innocentes, & qu’elles n’ont jamais violé l’ordre qu’elles ne connoissent point. Où est en ce cas la bonté, où est l’équité du Créateur? Où est la vérité de ce principe, qu’on doit regarder comme une loi éternelle de l’ordre? Sous un Dieu juste, on ne peut être misérable sans l’avoir mérité. Mais ce qu’il y a de pis dans leur condition, c’est qu’elles souffrent dans cette vie sans aucun dédommagement dans une autre, puisque leur ame meurt avec le corps; & c’est ce qui double la difficulté. Le Pere Malebranche a fort bien poussé cette objection dans sa défense contre les accusations de M. de la Ville. § Je répons d’abord que ce principe de S. Augustin, savoir, que sous un Dieu juste on ne peut être misérable sans l’avoir mérité n’est fait que pour les créatures raisonnables, & qu’on ne sauroit en faire qu’à elles seules d’application juste.”

Eu e meus apaniguados mereceríamos nós essa dorzinha de pedra nos rins ou de bexiga apertada?

que sous un Dieu bon aucune créature ne peut être nécessitée à souffrir sans l’avoir mérité: mais loin que ce principe soit évident, je crois être en droit de soûtenir qu’il est faux. L’ame des brutes est susceptible de sensations, & n’est susceptible que de cela: elle est donc capable d’être heureuse en quelque degré. (…) Qu’emporte donc la juste idée d’un Dieu bon? c’est que quand il agit il tende toûjours au bien, & produise un bien; c’est qu’il n’y ait aucune créature sortie de ses mains qui ne gagne à exister plûtôt que d’y perdre: or telle est la condition des bêtes; qui pourroit pénétrer leur intérieur, y trouveroit une compensation des douleurs & des plaisirs, qui tourneroit toute à la gloire de la bonté divine; on y verroit que dans celles qui souffrent inégalement, il y a proportion, inégalité, ou de plaisirs ou de durée; & que le degré de douleur qui pourroit rendre leur existence malheureuse, est précisément ce qui la détruit: en un mot, si l’on déduisoit la somme des maux, on trouveroit toûjours au bout du calcul un résidu de bienfaits purs, dont elles sont uniquement redevables à la bonté divine; on verroit que la sagesse divine a sû ménager les choses, en sorte que dans tout individu sensitif, le degré du mal qu’il souffre, sans lui enlever tout l’avantage de son existence, tourne d’ailleurs au profit de l’univers.” [Esse raciocínio seria genial se aplicado à enantiodromia do próprio ser humano – mas que falta de tato clássico!]

O gato não sabe que é charmoso e elegante, que inútil cega beleza, que não se aproveita! Poderia a mulher?… Poderia eu?… Pingos conscienciosos.

Est-il juste que l’ame d’un poulet souffre & meure afin que le corps de l’homme soit nourri? que l’ame du cheval endure mille peines & mille fatigues durant si long-tems, pour fournir à l’homme l’avantage de voyager commodément? Dans cette multitude d’ames qui s’anéantissent tous les jours pour les besoins passagers des corps vivans, peut-on reconnoître cette équitable & sage subordination qu’un Dieu bon & juste doit nécessairement observer? Je réponds à cela que l’argument seroit victorieux, si les ames des brutes se rapportoient aux corps & se terminoient à ce rapport; car certainement tout être spirituel est au-dessus de la matiere. Mais, remarquez-le bien, ce n’est point au corps, comme corps, que se termine l’usage que le Créateur tire de cette ame spirituelle, c’est au bonheur des êtres intelligens. Si le cheval me porte, & si le poulet me nourrit, ce sont bien là des effets qui le rapportent directement à mon corps: mais ils se terminent à mon ame, parce que mon ame seule en recueille l’utilité.”

Tudo isso pertence à Genealogia do Fascismo: “Pour l’anéantissement, ce n’est point un mal pour une créature qui ne refléchit point sur son existence, qui est incapable d’en prévoir la fin, & de comparer, pour ainsi dire, l’être avec le non-être, quoique pour elle l’existence soit un bien, parce qu’elle sent. La mort, à l’égard d’une ame sensitive, n’est que la soustraction d’un bien qui n’étoit pas dû [A Mosca Filosófica!]; ce n’est point un mal qui empoisonne les dons du Créateur & qui rende la créature malheureuse. Ainsi, quoique ces ames & ces vies innombrables que Dieu tire chaque jour du néant soient des preuves de la bonté divine, leur destruction journalière ne blesse point cet attribut: elles se rapportent au monde dont elles font partie; elles doivent servir à l’utilité des êtres qui le composent; il suffit que cette utilité n’exclue point la leur propre, & qu’elles soient heureuses en quelque mesure, en contribuant au bonheur d’autrui. Vous trouverez ce système plus développé & plus étendu dans le traité de l’essai philosophique sur l’ame des bêtes de M. Bouillet [Dispenso, obrigado.]”

Confrontando novamente o Ultra-existencialismo/solipsismo de uma alma antiga (2009): “Il n’est pas possible que les hommes avec qui je vis soient autant d’automates ou de perroquets instruits à mon insu. J’apperçois dans leur extérieur des tons & des mouvemens qui paroissent indiquer une ame: je vois régner un certain fil d’idées qui suppose la raison: je vois de la liaison dans les raisonnemens qu’ils me font, plus ou moins d’esprit dans les ouvrages qu’ils composent. Sur ces apparences ainsi rassemblées, je prononce hardiment qu’ils pensent en effet. Peut-tre que Dieu pourroit produire un automate en tout semblable au corps humain, lequel par les seules lois du méchanisme, parleroit, feroit des discours suivis, écriroit des livres très-bien raisonnés. Mais ce qui me rassûre contre toute erreur c’est la véracité de Dieu.” “Je vois un chien accourir quand je l’appelle, me caresser quand je le flatte, trembler & fuir quand je le menace, m’obéir quand je lui commande, & donner toutes les marques extérieures de divers sentimens de joie, de tristesse, de douleur, de crainte, de desir, des passions de l’amour & de la haine; je conclus aussitôt qu’un chien a dans lui-même un principe de connoissance & de sentiment, quel qu’il soit.”

Il vaudroit encore mieux s’en tenir aux machines de Descartes, si l’on n’avoit à leur opposer que la forme substantielle des Péripatéticiens, qui n’est ni esprit ni matiere. Cette substance mitoyenne est une chimere, un être de raison dont nous n’avons ni idée ni sentiment. Est-ce donc que les bêtes auroient une ame spirituelle comme l’homme? Mais si cela est ainsi, leur ame sera donc immortelle & libre; elles seront capables de mériter ou de démériter, dignes de récompense ou de châtiment; il leur faudra un paradis & un enfer. Les bêtes seront donc une espece d’hommes, ou les hommes une espece de bêtes; toutes conséquences insoûtenables dans les principes de la religion.” “puisqu’il est prouvé par plusieurs passages de l’Écriture, que les démons ne souffrent point encore les peines de l’enfer, & qu’ils n’y seront livrés qu’au jour du jugement dernier, quel meilleur usage la justice divine pouvoit-elle faire de tant de légions d’esprits réprouvés, que d’en faire servir une partie à animer des millions de bêtes de toute espece, lesquelles remplissent l’univers, & font admirer la sagesse & la toute-puissance du Créateur? (…) Une dégradation si honteuse pour ces esprits superbes, puisqu’elle les réduit à n’être que des bêtes, est pour eux un premier effet de la vengeance divine, qui n’attend que le dernier jour pour se déployer sur eux d’une maniere bien plus terrible.” “Les bêtes sont naturellement vicieuses: les bêtes carnacieres & les oiseaux de proie sont cruels; beaucoup d’insectes de la même espece se dévorent les uns les autres; les chats sont perfides & ingrats; les singes sont malfaisans; les chiens sont envieux; toutes sont jalouses & vindicatives à l’excès, sans parler de beaucoup d’autres vices que nous leur connoissons. Il faut dire de deux choses l’une: ou que Dieu a pris plaisir à former les bêtes aussi vicieuses qu’elles sont, & à nous donner dans elles des modeles de tout ce qu’il y a de plus honteux; ou qu’elles ont comme l’homme un péché d’origine qui a perverti leur premiere nature.” “Pythagore enseignoit autrefois, qu’au moment de notre mort nos ames passent dans un corps soit d’homme, soit de bête, pour recommencer une nouvelle vie, & toûjours ainsi successivement jusqu’à la fin des siecles. Ce système qui est insoûtenable par rapport aux hommes, & qui est d’ailleurs proscrit par la religion, convient admirablement bien aux bêtes, selon le P. Bougeant, & ne choque ni la religion, ni la raison. Les démons destinés de Dieu à être des bêtes, survivent nécessairement à leur corps, & cesseroient de remplir leur destination, si lorsque leur premier corps est détruit, ils ne passoient aussitôt dans un autre pour recommencer à vivre sous une autre forme.”

ConFABULANDO: “Si les bêtes ont de la connoissance & du sentiment, elles doivent conséquemment avoir entre-elles pour leurs besoins mutuels, un langage intelligible. La chose est possible, il ne faut qu’examiner si elle est nécessaire. Toutes les bêtes ont de la connoissance, c’est un principe avoüé; & nous ne voyons pas que l’Auteur de la nature ait pû leur donner cette connoissance pour d’autres fins que de les rendre capables de pourvoir à leurs besoins, à leur conservation, à tout ce qui leur est propre & convenable dans leur condition, & la forme de vie qu’il leur a prescrite. Ajoûtons à ce principe, que beaucoup d’especes de bêtes sont faites pour vivre en société, & les autres pour vivre du moins en ménage, pour ainsi dire, d’un mâle avec une femelle, & en famille avec leurs petits jusqu’à ce qu’ils soient élevés. Or, si l’on suppose qu’elles n’ont point entr’elles un langage, quel qu’il soit, pour s’entendre les unes les autres, on ne conçoit plus comment leur société pourroit subsister: comment les castors, par exemple, s’aideroient-ils les uns les autres pour se bâtir un domicile, s’ils n’avoient un langage très-net & aussi intelligible pour eux que nos langues le sont pour nous? (…) si la nature les a faites capables d’entendre une langue étrangere, comment leur auroit-elle refusé la faculté d’entendre & de parler une langue naturelle? car les bêtes nous parlent & nous entendent fort bien.” HAHA!

Une hirondelle ne fait pas le printemps.” Proverbe!

Quelque difficile qu’il soit d’expliquer leur langage & d’en donner le dictionnaire, le Père Bougeant a osé le tenter. Ce qu’on peut assurer, c’est que leur langage doit être fort borné, puisqu’il ne s’étend pas au-delà des besoins de la vie (…) Point d’idées abstraites par conséquent, point de raisonnemens métaphysiques, point de recherches curieuses sur tous les objets qui les environnent, point d’autre science que celle de se bien porter, de se bien conserver, d’éviter tout ce qui leur nuit, & de se procurer du bien. (…) Comme la chose qui les touche le plus est le desir de multiplier leur espece, ou du moins d’en prendre les moyens, toute leur conversation roule ordinairement sur ce point. On peut dire que le Pere Bougeant a décrit avec beaucoup de vivacité leurs amours, & que le dictionnaire qu’il donne de leurs phrases tendres & voluptueuses, vaut bien ce de l’Opéra. Voilà ce qui a révolté dans un Jésuite condamné par état à ne jamais abandonner son pinceau aux mains de l’amour. La galanterie n’est pardonnable dans un ouvrage philosophique, que lorsque l’Auteur de l’ouvrage est homme du monde; encore bien des personnes l’y trouvent-elles déplacée. En prétendant ne donner aux raisonnemens qu’un tour léger & propre à intéresser par une sorte de badinage, souvent on tombe dans le ridicule; & toûjours on cause du scandale, si l’on est d’un état qui ne permet pas à l’imagination de se livrer à ses saillies. Il paroît qu’on a censuré trop durement notre Jesuite sur ce qu’il dit, que les bêtes sont animées par des diables. Il est aise de voir qu’il n’a jamais regardé ce système que comme une imagination bisarre & presque folle. Le titre d’amusement [Amusement philosophique] qu’il donne à son livre, & les plaisanteries dont il l’égaye, font assez voir qu’il ne le croyoit pas appuyé sur des fondemens assez solides pour opérer une vraie persuasion.”

Âme des Plantes (Jardinage.) Les Physiciens ont toûjours été peu d’accord sur le lieu où réside l’ame des plantes; les uns la placent dans la plante, ou dans la graine avant d’être semée; les autres dans les pepins ou dans le noyau des fruits.” Haverá briófitas no Céu? Coitada da planta, está sobrevivendo em estado vegetativo somente!

on restraint à l’homme, comme à l’être le plus parfait, les trois qualités de l’ame, savoir de végétative, de sensitive, & de raisonnable.”

Âme de Saturne. Ame de Saturne, anima Saturni, selon quelques Alchimistes, est la partie du plomb la plus parfaite, qui tend à la perfection des métaux parfaits; laquelle partie est selon quelques-uns, la partie teignante [? – régnante?].”

“THE MOST MYSTERIOUS MS.” STILL AN ENIGMA – Elizabeth Smith Friedman

A FRAUD? “<The most mysterious manuscript in the world.>, so named 40 years ago [1922] by the late Prof. John M. Manly of the University of Chicago, is now for sale in New York for $160,000, although not one cipher word on the 135 pages has ever been deciphered. The owner, Hans P. Kraus, the rare book dealer of Vienna and New York, upon being reproached for asking such a price, said that when deciphered the manuscript would be worth $1 million.

The existence of the manuscript has been known in the U.S. for 50 years, In 1912 it was purchased by a New York rare book dealer, the late Wilfred M. Voynich at a place never before disclosed but now identified by Kraus as the Mondragone Monastery in Frascati, near Rome. The age of the ms. is nor certain” “Accompanying the ms. was a letter of transmittal written in 1665 by Johannes Marcus Marci at the court of the Emperor Rudolph in Prague. Marci sent the ms. as a present to Athanasius Kircher, a celebrated Jesuit scholar and scientist in Rome who had written a work on ciphers. Marci challenged Kircher to solve the mystery; Kircher’s fame was such that his failure to do so probably discouraged other scholars, perhaps for centuries, from attempting the task.

The Marci letter said that the manuscript once belonged to the Emperor Rudolph and was thought to be the work of Roger Bacon, a statement which Voynich accepted as true. He later established that the ms. was in existence at least as early as 1608 when, after chemical treatment of a faded page, there appeared in the margin the signature Jacobi de Tepenecz. The title de Tepenecz was bestowed on this botanist and alchemist in 1609 [Roger Bacon viveu no séc. XIII].”

As to why Bacon had written in cipher, Voynich said that since Bacon had written dissertations in plain language on the subject of ciphers, it was logical to assume that he would have put his own precepts into practice.”

Newbold [criptógrafo do séc. XX] said his decipherments proved that the 13th century scientist had possessed both a telescope and a microscope, whose invention history places several centuries later; that the ms. included a drawing of what was undoubtedly the great spiral nebula in Andromeda, of whose existence Newbold had been entirely unaware, and that he had deciphered the date of a falling comet and other facts likewise unknown to him before then.”

Some sick souls believed that Newbold had learned the secrets of black magic, and one deluded woman traveled hundreds of miles to beseech him to cast out the demons that had taken possession of her.”

All the scholars competent to judge the ms. were – and still are [1962] – agreed that it is definitely not a hoax or the doodlings of a psychotic”

from a Vatican manuscript partly in cipher, they [Manly and William Friedman] obtained, by the straightforward methods of solving simple ciphers, a medieval recipe for making home brew; Newbold, using his complicated methods, produced a totally different result.”

The complex method used by Newbold was reducible to 9 steps. The first and last of these, without any consideration of the intermediate abstruse and confusing processes, are utterly devoid of precision and are incapable of yielding one and only one plain-language text – a rigid requirement of any legitimate cipher method.”

PÓS-II GUERRA: “The group comprised specialists in philology, paleography, ancient, classical and medieval languages and literature; Egyptologists, mathematicians and authorities in other sciences depicted in the manuscript. Under Friedman’s direction, they agreed to meet after working hours and concentrate their talents on an attempt to master the document.” “The scientists disbanded and returned to their universities or research projects. Their considered opinions as to the age, authorship and general nature of the ms., based on their extracurricular work, are still valid today”

a symbol often resembling our hand-written small letter <m> just as often looks as though it is composed of 3 separate symbols.”

The first impression is that here is a simple substitution cipher. However, the decipherer is doomed to utter frustration when no solution based on such a theory is reached.”

1. The number of basically different symbols employed in the manuscript is quite small – perhaps 20, or even fewer. However, tiny variations and affixes may make multiple forms of a basic character, which might suggest counting them as different symbols.

2. (…) the number of different <words> is quite limited.

3. (…) rarely are they over 7 or 8 symbols in length.

4. There is a very large number of repetitions of single <words> and groups of <words>.

(…)

7. The text is homogeneous, the same <words> appearing in all sections whether botanical, astrological, biological or astronomical.

(…)

10. Certain symbols appear so infrequently as to suggest that they are extraneous to the text or are errors, made perhaps by the author himself or by some scribe who transcribed the original.”

Unlike most unsolved ancient writings – the Mayan hieroglyphics, f.ex., where most scholars believe there is insufficient material and too little repetition – this manuscript presents exactly the opposite characteristics.”

There can be no question that the same scribe wrote the text and made the drawings”

Although a well-known American botanist, Dr. Hugh O’Neill, believes that he has identified 2 American plants in the illustrations, no other scholar has corroborated this, all agreeing that none of the plants depicted is indigenous to America.”

Egyptian hieroglyphic writing intrigued scholars for centuries. All attempts at solution were unsuccessful until Rosetta Stone was found in 1799. Even with the trilingual writing on that stone, and with one of the versions in the well-known language Greek, the decipherment took 30 years.”

TIMEU OU DA NATUREZA

Tradução de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei que devia tentar esclarecer alguns pontos polêmicos ou obscuros demais quando se tratar de leitor não-familiarizado com a obra platônica. Quando a nota for de Azcárate, haverá um (*) antecedendo as aspas.

“Quanto às mulheres, declaramos que seria preciso pôr suas naturezas em harmonia com a dos homens, da qual não diferem, e dar a todas as mesmas ocupações que a eles se dá, inclusive as da guerra, e não só num caso ou noutro, mas em todas as circunstâncias da vida.”

“CRÍTIAS – Escuta, Sócrates, uma história bastante singular, mas inteiramente verdadeira, que no passado contava aquele que era o mais sábio dentre os Sete Sábios, Sólon em pessoa.”

(*) “Para informações biográficas de Sólon, Dropides e dos dois Crítias, cfr. as notas do diálogo Cármides. [a ser publicado no Seclusão]

“CRÍTIAS – (…) disse Elanciano Crítias [Crítias o velho]: <Aminandro, se Sólon, em lugar de compor versos por passatempo, se consagrara a sério à poesia, como muitos de seu tempo; se levara a cabo a obra que começara a escrever no Egito; se não tivera precisão de dedicar-se a combater as facções e os males de toda classe, que não cessavam de aparecer em torno seu; em minha opinião, nem Hesíodo nem Homero nem ninguém teriam tido chance de superá-lo enquanto poeta.> A conversa continuou:

– [Animandro] Que obra era essa que Sólon começara a compor no Egito?

– [Crítias velho] Tratava-se da história do acontecimento mais grandioso e de maior renome que se sucedera nesta cidade, cuja recordação, dado o transcurso do tempo e a morte de seus atores originais, não nos foi comunicado a nós.

– [Animandro] Ora, quero ouvir bem do começo tudo que Sólon relataria, do que se tratava esse grande evento, e quem o contou com aparência verídica pela primeira vez.

– [Crítias velho] Há no delta do Nilo, em cujo extremo este rio divide suas águas, um território chamado Saiticos, distrito cuja principal cidade é Saís, pátria do rei Amósis [ou Amásis]. Os habitantes honravam uma divindade como a fundadora desta cidade, chamada por eles de Neith, ninguém menos que nossa Atena, se havemos de crer em tal relato.(*)

(*) “Sobre a identidade de Neith de Saís com Atena ou Minerva, ver Heródoto, II, 28, 59, 170 e 176; Pausânias, II, 36; Cícero, Da natureza [ou genealogia] dos deuses, III, 23; e Plutarco, Sobre Ísis e Osíris, 9, 32 e 62.”

(*) “Níobe, filha de Foroneu,¹,² que deu a luz a um filho de Zeus, Argos, em honra do qual seria fundada a cidade homônima.³ [Fonte: Pseudo-Apolodoro]”

¹ Reza o mito que Níobe teria sido a(o) primeira(o) felizarda(o) mortal escolhida(o) por um deus olímpico para procriar.

² Foroneu é, por sua vez, neto de Oceano (titã) com Tétis.

³ Como se a mitografia já não fosse confusa o bastante, noutras fontes Argos (o rei) é ainda o quarto monarca da dinastia que fundou e governou Argos ou Argus (a cidade)!

“CRÍTIAS VELHO – [Sacerdote egípcio] <Sólon, Sólon! vós gregos sereis sempre umas crianças… na Grécia não há anciãos!>

– [Sólon] Que queres com isso dizer?

– [Sacerdote] Sois crianças na alma. Não possuís tradições remotas nem conhecimentos veneráveis por sua antiguidade. Eis o motivo. Mil vezes e de mil maneiras os homens se extinguiram, e ainda se extinguirão, o mais das vezes perecendo pelo fogo e pela água, mas outras tantas também por uma infinidade doutras causas.

“SACERDOTE – (…) no espaço que rodeia a terra e no céu realizam-se grandes revoluções. Os objetos que cobrem o globo desaparecem a cada grande intervalo de tempo num vasto incêndio. (…) O Nilo, nosso constante salvador, ao transbordar, salvara-nos de tal calamidade. E quando os deuses, purificando a terra por meio das águas, a submergem totalmente, os pastores no alto das montanhas e seus rebanhos se vêem salvos; mas os habitantes de vossas cidades litorâneas são arrastados ao mar pela corrente dos rios. Acontece que, no Egito, as águas nunca se precipitam do alto rumo às campinas; pelo contrário, manam das próprias entranhas da terra. É por isso que, diz-se, entre nós conservaram-se as mais antigas tradições, porque nós moramos num sítio privilegiado, em que um determinado número de homens sempre sobreviveu aos cíclicos desastres naturais. Decorre daí que, segundo nossa sabedoria muito mais longeva que a vossa, nada há que seja belo, grande e notável em qualquer matéria neste mundo que não tenha sido registrado por escrito por nossa civilização. No que se refere a vós gregos e tantos outros povos, apenas aprendestes a utilizar o alfabeto escrito e as coisas necessárias para o Estado, terríveis chuvas prorromperam sobre vós como raios, deixando remanescer somente alguns iletrados e gente estranha às Musas; desta feita, começais sempre de novo, sois verdadeiras crianças ignorantes dos sucessos antigos tanto deste país, o Egito, quanto do vosso próprio. Decerto essas genealogias, que acabas de expor, Sólon, parecem-se muito com contos de fadas; além de mencionares um só dilúvio, coisa inverossímil, posto que precedido por muitos outros, ignoras que a melhor e mais perfeita raça de homens existira em teu país, e que de um só germe desta raça que escapara à aniquilação total descende tua cidade. (…) uma mesma deusa protegera, instruíra e engrandecera a tua cidade e a nossa; a tua mil anos antes, formando-a de uma semente tomada da terra e de Hefesto. Nota que, segundo nossos livros sagrados, passaram-se 8 mil anos desde a fundação de nossa cidade. Vou dar-te, portanto, uma noção das instituições que tinham teus concidadãos de 9 mil anos atrás, sem olvidar de relatar-te os mais gloriosos de seus feitos.”

“Amiga da guerra e do conhecimento, a deusa devia escolher, para fundar um Estado, o país mais capaz de produzir homens que se parecessem com ela.”

“Nossos livros contam como Atenas destruiu um poderoso exército, que, partindo do Oceano Atlântico, invadira insolentemente a Europa e a Ásia. Naquela época era possível atravessar este oceano. Havia em suas águas uma ilha, situada em frente ao estreito, que em vossa língua chamais de <as colunas de Hércules>.¹ Esta ilha era maior que a Líbia e a Ásia juntas; os navegadores cruzavam dali às demais pequenas ilhas, e destas ao continente banhado pelo oceano digno de seu nome.²”

¹ O limite ocidental da Europa.

² “Atlântico” de Átlas, o Titã que suporta o globo celeste nas costas.

“este vasto poder, reunindo todas as suas forças, tentara um dia subjugar de uma só vez o teu e o nosso país, bem como todos os povos situados deste lado oriental do estreito.”

“Nos tempos que se sucederam a estes, grandes tremores de terra provocaram inundações; e em um só dia, digo, em uma só e fatal noite, a terra tragou todos os vossos guerreiros, e a ilha de Atlântida desapareceu entre as águas. Como resultado, não é possível, desde então, explorar este oceano, muito em decorrência do grande lodo deixado por esta imensa ilha no momento em que soçobrava até os confins das profundezas, que hoje serve de obstáculo insuperável para os navios.”

“esta imagem eterna, conquanto divisível, que chamamos de tempo. (…) o futuro e o passado são formas que em nossa ignorância aplicamos indevidamente ao Ser eterno. Dele nós dizemos: foi, é, será; quando só se pode dizer, verdadeiramente: ele é.”

a unidade perfeita do tempo, o ano perfeito, realiza-se quando as 8 revoluções de velocidades diferentes voltaram a seu ponto de partida”¹

¹ Segundo M. Martin, refere-se Platão ao “mínimo múltiplo comum” dos anos da Lua, de Mercúrio e dos outros planetas conhecidos então em seu percurso de translação ao redor do Sol, o que resultaria no ano perfeito ou grande ano para o observador terrestre, quando finalmente acontece de estarem todos os corpos celestes alinhados e tudo se reinicia do zero na grande corrida circular periódica e eterna da existência.

“…que o que fizer bom uso do tempo que lhe fôra dado para viver voltará ao astro que lhe é próprio, ali permanecerá e ali atravessará uma vida feliz; que o que delinqüir será transformado em mulher num segundo nascimento, e se ainda assim não cessar de ser mau encarnará outra vez no formato de seus vícios, como aquele animal a cujos costumes mais se tiver assemelhado na vida anterior; e, por fim, nem suas metamorfoses nem seus tormentos concluirão enquanto não se fizer digno de recobrar sua primeira e excelente condição, o que alcançará deixando-se governar pela revolução do mesmo e do semelhante e domando mediante a razão esta massa irracional, refrega tumultuosa das partes de fogo, água, ar e terra que vão se acrescentando ao longo do tempo a sua natureza.

Promulgadas estas leis, e com o objetivo de não responder, para o sucessivo, pela maldade destas almas,¹ Deus as semeou, estas na Terra, aquelas na Lua, e outras nos demais órgãos do tempo [planetas].”

¹ Este motivo reaparece no Fédon, quando Zeus resolve delegar o poder de julgar os mortos, no Submundo, a seus filhos. Aparentemente, a divindade se cansa de cuidar diretamente do problema de “avaliar o comportamento das almas pecadoras” em seus erros sem conta…

“O Ser, feito presa das águas por todos os lados, caminhava adiante, para trás, para a direita, para a esquerda, para cima, para baixo. A onda, que avançando e retrocedendo dava ao corpo seu alimento, estava já bastante agitada.”

“Os deuses encerraram os dois círculos divinos da alma num corpo esférico, que construíram à imagem da forma redonda do universo, que é aquilo que nós chamamos de cabeça, a parte mais divina de nosso corpo e a que manda em todas as demais.”

A observação do dia e da noite, as revoluções dos meses e dos anos, nos ensinaram o número, o tempo e o desejo de conhecer a natureza e o mundo. (…) Quanto aos demais benefícios, infinitamente menores, para quê celebrá-los? Só quem não é filósofo ou o cego de espírito que não sente aqueles primeiros benefícios poderiam se queixar, mas se queixariam em vão.”

“A harmonia, cujos movimentos são semelhantes aos de nossa alma, o tino dos que com inteligência cultivam o comércio das Musas — harmonia esta reduzida agora a servir, quão trágico!, a prazeres frívolos.”

MOIRA VENCIDA: “Superior à necessidade, a inteligência convencera a primeira de que devia dirigir a maior parte das coisas criadas ao bem; e, por haver-se deixado persuadir pelos conselhos da sabedoria, a necessidade deu azo a que se formara, no começo de tudo, o universo.”

“quanto ao fogo, p.ex., deixemos de dizer: isto é fogo; e da água não digamos: aquilo é água; mas sim: parece água. Procedamos da mesma forma com todas as coisas variáveis, às quais atribuímos erroneamente estabilidade sempre que, diante de seu aparecimento, as designamos por <isto> e <aquilo>.”

“Existe um número infinito de mundos ou somente um número limitado? Quem refletir atentamente compreenderá que não se pode sustentar a existência de um número infinito sem que isto denuncie o desconhecimento de coisas que pessoa alguma pode ignorar. Mas não há mais do que um mundo, ou é preciso admitir que haja cinco? É esta uma questão dificílima. A nós nos parece que a preferência por um mundo único é a mais correta; mas outros, encarando a questão sob outro ponto de vista, poderiam muito bem se opor.”

O POLÍTICO OU DA SOBERANIA

Tradução de trechos de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego por Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.

Além da tradução ao Português, providenciei notas de rodapé, numeradas, onde achei que devia tentar esclarecer alguns pontos polêmicos ou obscuros demais quando se tratar de leitor não-familiarizado com a obra platônica. Quando a nota for de Azcárate, haverá um (*) antecedendo as aspas.

Ficino, escolástico do século XV, foi um dos primeiros tradutores de Platão, às portas do “ressurgimento moderno da Filosofia”. Victor Cousin, filósofo francês, 4 séculos mais tarde, faria uma tradução bem parecida. Falo isso porque em traduções de trechos difíceis eles costumam concordar.

(*) “Amon, i.e., o Zeus dos habitantes do litoral africano. Amon significa areia [embora haja controvérsias – e tem proveniência egípcia]. O Teodoro do diálogo é oriundo de Cirene [colônia grega situada na atual Líbia].”

(*) “Conforme o testemunho do mesmo Platão, o diálogo intitulado Teeteto precede O Sofista, que é por sua vez seguido pel’O Político, cujo plano é que fosse continuado em O Filósofo. [Este último não foi produzido antes da morte de Platão. Os diálogos, portanto, devem ser estudados como uma unidade, e não como independentes entre si.]

O ESTRANGEIRO – (…) Procedemos como aquele que, pretendendo dividir em dois o gênero humano, fizesse como os nativos da Ática, que distinguem os gregos de todos os demais povos como uma raça à parte; a seguir, juntando todas as demais nações, ainda que numerosas, quase infinitas, sem sequer se conhecerem muitas delas, as designam pelo singelo nome de <bárbaros>. (…) Quão mais sábio e veraz não seria dividir por espécies e por metades, se se dividisse o número em par ou ímpar, e a raça humana em varões e fêmeas; sem distinguir os lídios, os frígios ou qualquer outro povo, nem opô-los a todos os demais, a não ser quando não houvesse meio de dividir por espécies e por partes!”

O ESTRANGEIRO – Toda a parte da ciência especulativa que se refere ao mando, como já dissemos, que tem por objeto a educação dos animais, dos que vivem em rebanho. De acordo?

SÓCRATES O JOVEM¹ – Sim.

O ESTRANGEIRO – Assim, já dividimos todo o reino animal, pondo de um lado os selvagens, e doutro os que se pode amansar; pois esses animais que são suscetíveis de amansamento nós denominamos animais domesticados, em contraste com os selvagens.”

¹ Este é apenas um xará do grande Sócrates, estudante novato de Filosofia.

O ESTRANGEIRO – Nestas divisões da educação dos animais que andam, é preciso se valer de perífrases¹ para designar as diversas partes; porque querer dar a cada uma um nome próprio seria prestar-se a um trabalho desnecessário.

SÓCRATES O JOVEM – Então como se deve dizer?

O ESTRANGEIRO – Desta forma: dividida a educação dos animais que andam em duas partes, uma se refere à espécie de animais que vive em grupos e que tem chifres; e a outra à espécie que não os tem.

SÓCRATES O JOVEM – Se estabelecermos isso, tudo bem, não será mais preciso voltar a este assunto.

O ESTRANGEIRO – Muito bem: é óbvio que o rei conduz um rebanho desprovido de cornos.

SÓCRATES O JOVEM – Mas por que isso é óbvio?

O ESTRANGEIRO – Decomponhamos esta espécie; façamos de forma que designemos aquilo que lhe pertence.

SÓCRATES O JOVEM – Estou conforme.

O ESTRANGEIRO – Queres dividi-la segundo os animais que têm ou não a pata fendida; ou segundo o critério da geração, i.e., aquelas em que a geração pode se produzir mesmo que não se trate dos mesmos animais e aquelas em que a geração só se dá entre os semelhantes? Compreendeste a questão?

SÓCRATES O JOVEM – Não exatamente.

O ESTRANGEIRO – Vou dar um exemplo: os cavalos e os asnos podem reproduzir entre si.

SÓCRATES O JOVEM – Ah, compreendo.

O ESTRANGEIRO – Ao contrário, os demais animais domésticos, que vivem em rebanho, engendram cada um sua própria espécie dentro de seus confins, não se mesclando nem engendrando híbridos.

SÓCRATES O JOVEM – Sim, isso é exato.

O ESTRANGEIRO – Mas e então: te parece que o político cuida de uma espécie que engendra em comum com outras, ou de um animal puro, que não se mescla com nenhum outro?

SÓCRATES O JOVEM – Evidentemente, de uma espécie que não se mescla.

O ESTRANGEIRO – Agora é preciso, ainda, dividir em duas partes esta espécie eleita, como já fizemos outras vezes.

SÓCRATES O JOVEM – Com certeza.”

¹ Substitutos na mesma língua, i.e., poder-se-ia chamar “animal que produz e se alimenta de mel” no lugar de “abelha”. Nem tudo que não tem nome carece por isso de uma descrição exata.

O ESTRANGEIRO – (…) os cachorros não devem ser incluídos entre os animais que vivem em sociedade.

SÓCRATES O JOVEM – Não, decerto. Mas então como obteremos nossas duas metades desta vez?

O ESTRANGEIRO – Procedendo como vós faríeis; refiro-me a ti e Teeteto, posto que vós vos ocupais da Geometria.¹

SÓCRATES O JOVEM – Ainda não entendo aonde queres chegar.

O ESTRANGEIRO – Pelo cálculo da diagonal. E depois pelo da diagonal da diagonal.

SÓCRATES O JOVEM – Ainda não compreendi!

O ESTRANGEIRO – A natureza própria da espécie humana, quanto a seu modo de andar, não consiste em ser exatamente como a diagonal, sobre a qual pode-se construir um quadrado de 2 pés?

SÓCRATES O JOVEM – Sim, exato.

O ESTRANGEIRO – E a natureza da outra espécie, relativamente ao mesmo objeto, não é como a diagonal do quadrado do nosso quadrado, posto que tem 2×2 pés?”

¹ Isto não está em contradição com a nota anterior sobre o jovem Sócrates: um dos pilares da dialética platônica é justamente o conhecimento matemático, que é preciso dominar primeiro em sua generalidade a fim de filosofar com conseqüência.

O ESTRANGEIRO – Eis nossa espécie humana ao lado e em companhia da mais nobre e ao mesmo tempo a mais ágil das espécies.

SÓCRATES O JOVEM – É verdade que se trata de uma conseqüência bem ridícula.

O ESTRANGEIRO – Não é o mais natural que o mais lento chegue sempre mais tarde?

SÓCRATES O JOVEM – Irrefutável.

O ESTRANGEIRO – E não seria mais ridículo ainda apresentar o rei correndo com seu rebanho, e disputando corrida com o homem mais atlético, um corredor nato?”

SÓCRATES O JOVEM – Nada concebo de mais ridículo.

O ESTRANGEIRO – Já vês às claras, Sócrates, o que disséramos quanto ao sofista.

SÓCRATES O JOVEM – O que exatamente?

O ESTRANGEIRO – Que este método não considera o que é nobre e o que não o é, nem considera se o caminho é curto ou comprido, apenas concentra todas as suas forças na busca pela verdade.

SÓCRATES O JOVEM – Já o aprecio.

O ESTRANGEIRO – Pois bem: depois de tudo isto, e antes de que perguntes-me qual era esse caminho mais curto do qual falavas antes, que conduz à definição do rei, eu mesmo me adiantarei.

SÓCRATES O JOVEM – De acordo.

O ESTRANGEIRO – Teria sido necessário começar por dividir os animais que andam em bípedes e quadrúpedes. E, como à primeira categoria só pertencem os pássaros – ademais do homem –, seria preciso dividir esta nova espécie de bípedes em bípedes nus e bípedes com pena;¹(*) por último, feita esta dupla operação, e deixado às claras o modo de educar ou de conduzir os homens, situamos, numa terceira etapa, o político e o rei à cabeça desta arte, confiando-lhes a renda do Estado, como legítimos possuidores desta ciência.”

¹ Este trecho é muito famoso e parodiado, já por contemporâneos (vd. Aristófanes), já por modernos muito mais próximos de nós. Aristóteles e Diógenes Laércio, este último nem que fosse de forma distorcedora ou descontextualizadora, também tornaram essa passagem ainda mais célebre.

(*) “Esta passagem deu origem sem dúvida à famosa anedota de Diógenes o Cínico. Diógenes Laércio [um dos primeiros historiadores da Filosofia, ainda do mundo antigo, que acabo de citar], num comentário sobre a vida de seu xará, nos diz: <Como ele tinha ouvido a definição platônica do homem (um animal de dois pés sem penas), pegou um galo e, depenando-o, levou-o à Academia, e ao apresentá-lo afirmou: ‘Eis aqui o homem de Platão.’>.”

O ESTRANGEIRO – Uma das antigas tradições, ainda recordadas e que se recordarão por muito tempo, é a do prodígio, que apareceu na querela entre Atreu e Tiestes. Tu com certeza já a ouviste, então te será fácil dizeres o que se sucedeu então.

SÓCRATES O JOVEM – Creio que falas da maravilha da ovelha de ouro.(*)

O ESTRANGEIRO – Não se trata disso, meu jovem! Falo da mudança do nascer e do pôr do sol e dos demais astros, os quais se punham no mesmo ponto de que agora nascem, e nasciam do lado oposto. Querendo o deus testificar sua presença a Atreu, por uma mudança repentina foi que estabeleceu a ordem atual.

SÓCRATES O JOVEM – Ah, já ouvi esta estória também.

O ESTRANGEIRO – Também é muito popular aquela do reinado de Cronos.

SÓCRATES O JOVEM – Já perdi as contas de quantas vezes a escutei!

O ESTRANGEIRO – Mas não se diz por aí que os homens doutros tempos eram filhos da terra, e que não nasciam uns dos outros?

SÓCRATES O JOVEM – Sim, sim, essa é outra de nossas antigas tradições orais.”

(*) Cuja determinação necessitaria de 3 divisões sucessivas em 2 partes, como as realizadas pelo Estrangeiro até aqui.

O ESTRANGEIRO – Escuta! Este universo é às vezes dirigido por Deus mesmo, que lhe imprime um movimento circular; mas em outras Ele o abandona, como quando suas revoluções já preencheram a medida do tempo marcado. O mundo, então, dono de seu movimento, descreve um círculo contrário ao primeiro, porque é um ser vivo e recebeu a inteligência daquele que desde o princípio o ordenou harmoniosamente. A causa deste movimento retrógrado é necessária e inata ao mundo, e vou dizer-te qual é esta.

SÓCRATES O JOVEM – Estou curioso!

O ESTRANGEIRO – Ser sempre da mesma maneira, na mesma forma e sendo o mesmo ser é privilégio dos deuses por excelência. A natureza do corpo não pertence a esta ordem das coisas. O ser a que chamamos céu e mundo foi dotado, desde seu começo, de uma multitude de qualidades admiráveis, porém participa ao mesmo tempo da natureza dos corpos.” “Mover-se por si mesmo por toda a eternidade só pode fazê-lo aquele que conduz tudo o que se move, e este ser não pode se mover simultaneamente de duas maneiras antitéticas. Tudo isto prova que nem se pode dizer que o mundo se dá a si mesmo o movimento por toda a eternidade, nem que recebe da divindade dois impulsos e dois impulsos contrários, nem que é colocado alternativamente em movimento por duas divindades contrárias.”

sua massa imensa, suspensa igualmente por todas as partes, gira sobre um ponto de apoio muito estreito.” Antes ou depois do Eureka! de Arquimedes?

Então necessariamente há uma grande mortandade entre os demais animais, e dentre os homens são poucos os que sobrevivem. Estes últimos experimentam mil fenômenos surpreendentes e inauditos; mas o mais extraordinário é o que resulta do movimento retrógrado do mundo, quando ao curso atual dos astros sucede outro, contrário.” “a idade dos diversos seres vivos se deteve repentinamente” “Os cabelos brancos dos anciãos se tornaram negros” “e o corpo e a alma se metamorfosearam juntos. Ao fim deste progresso tudo se desvaneceu e entrou no nada.” “Se os anciãos voltavam às formas da juventude, era natural que os que haviam morrido e estavam enterrados ressuscitassem, voltassem à vida e seguissem o movimento geral, que renovava em sentido contrário a geração” “Os animais, divididos em gêneros e em grupos, eram dirigidos por daimons, que, como pastores divinos, sabiam prover a todas as necessidades do rebanho” “Deus mesmo conduzia e vigiava os homens; da mesma forma que hoje os homens, como animais de uma natureza mais divina, conduzem as espécies inferiores. Sob este governo divino não havia nem cidades, nem casamentos, nem família. Os homens ressuscitavam todos do seio da terra sem nenhuma lembrança passada. Ignorantes de nossas instituições, coletavam nas árvores e nos bosques frutas em abundância, sem para isso aprender o cultivo, pois a terra era fecunda. Nus e sem abrigo, passavam quase toda a vida ao ar livre; as estações, temperadas, eram-lhes agradáveis; o espesso céspede que cobria a terra lhes propiciava leitos macios. Eis aqui, Sócrates, a vida dos homens sob Cronos.”

Quando terminou a época que compreende todas estas coisas, sobrevindo uma revolução, e a raça nascida da terra já havia perecido quase por inteiro, e cada alma já havia passado por todas as gerações, entregando à terra as sementes de que ela era tributária, sucedeu que o senhor deste universo, à guisa do piloto que abandona o timão, lançou-se para fora, passando a ocupar apenas um ponto de observação; e a fatalidade, bem como seu próprio impulso, arrastaram o mundo num redemoinho contrário.”

Enquanto o mundo dirige, em concerto com seu guia e senhor, os animais que encerra em seu seio, produz pouco mal e muito bem. Quando chega a separar-se do guia, no primeiro instante de seu isolamento governa ainda com sabedoria; mas à medida que o tempo passa e que o esquecimento chega, o antigo estado de desordem reaparece e domina; e, por último, o bem que produz é de tão pouco valor e a quantidade de mal, que se mescla com ele, tão grande, que o mundo mesmo, com tudo o que encerra, se põe em perigo de perecer. É então que o deus, que ordenara o mundo, ao vê-lo em perigo, e não desejando que sucumba na confusão e chegue a se perder e dissolver no abismo da dessemelhança, é então, repito, que, assumindo de novo o timão, repara as alterações que sofreu o universo, restabelecendo o antigo movimento por ele (este deus) presidido, protegendo-o contra a caducidade, e fazendo dele imortal.” “tendo o mundo adentrado no caminho da atual geração, a idade se deteve de novo e se viu que reaparecia já a corrente contrária. Aqueles animais que por sua pequenez estavam quase reduzidos ao nada começaram a crescer; e os que tinham saído da terra encaneceram de repente; morreram e voltaram à própria terra. Todo o demais sofreu a mesma mudança, imitando e seguindo todas as modificações do universo.” “Privados da proteção do daimon, seu pastor e senhor, entre animais naturalmente selvagens e que se haviam feito ferozes, os homens débeis e sem defesa eram despedaçados por eles. Viram-se desprovidos, além disso, da arte e da indústria nestes primeiros tempos, porque a terra havia cessado de oferecer-lhes o alimento, sem que tivessem meios de procurar-se-o, pois esta era uma necessidade nova. Por isso acabavam vivendo na maior escassez, até que os deuses nos proporcionaram, com as devidas instruções e ensinamentos, estes presentes de que falam as antigas tradições: Prometeu, o fogo; Hefesto e a deusa que o acompanha nos mesmos trabalhos, as artes; outras divindades, as sementes e as plantas.”

O ESTRANGEIRO – A meu ver, só quando já se tiver determinado a natureza do governo do Estado é que nos convenceremos de que o homem político chegou a sua definição completa.”

O ESTRANGEIRO – Alimentar seu gado é um dever de todos os pastores, mas não do político, ao qual atribuímos, assim, um nome que não lhe convém; e o que se devia fazer era escolher um que fosse comum a todos os pastores de uma vez.”

confundimos o rei com o tirano, figuras tão diferentes, seja em si mesmas, seja pela maneira exterior de governar.”

Chamemos, pois, a arte de governar mediante a violência de tirania; e a arte de governar voluntariamente os animais bípedes, governo esse prestado com gosto, de política”

a exposição já se fez demasiado comprida, e não pudemos pôr termo a nossa história.”

O ESTRANGEIRO – Até que fim, caro Sócrates! Mas por quem, em vez de responder de uma vez que a arte do tecedor é a de entrelaçar a trama e a urdidura, demos tantas voltas e procedemos a mil divisões inúteis?

SÓCRATES O JOVEM – Me parece, querido estrangeiro, que nada do que dissemos é inútil.”

nenhuma dessas artes nega a existência do justo meio, para o bem ou para o mal; pelo contrário, as artes forçosamente a admitem, se bem que com desconfiança”

O ESTRANGEIRO – Se suprimirmos a política, como poderíamos indagar depois no que consiste a ciência real?

SÓCRATES O JOVEM – Isso seria impossível.

O ESTRANGEIRO – Pois bem; da mesma forma que no Sofista provamos que o não-ser existe, porque não sendo assim não se poderia conceder existência ao discurso, provaremos agora que os excessos, o mais e o menos, o bem e o mal que escapam do justo meio da política, são comensuráveis; e não só entre si, como justamente em referência a este justo meio.”

O ESTRANGEIRO – O quê? Mas será possível?! Nos consagraremos a esta indagação sobre a política só para aprender política, ou fá-la-emos para chegarmos também a ser dialéticos mais hábeis acerca de todas as outras coisas?

SÓCRATES O JOVEM – Evidentemente que com o segundo fito.”

Acrescentemos que, se se encontra um homem que, neste tipo de discussões, censura todos os discursos longos e não aprova estes perpétuos rodeios e reviravoltas, é preciso impedi-lo de ir-se embora depois de haver simplesmente criticado a extensão de nosso discurso. Peçamos-lhe que comprove claramente de que modo uma discussão mais breve faria dos contendores melhores dialéticos e mais hábeis perscrutadores das razões por trás das coisas! (…) Voltemos ao homem político, aplicando ao caso nosso exemplo do tecedor de que acabamos de falar.

O ESTRANGEIRO – Todas as artes que fabricam instrumentos para o Estado, grandes ou pequenos, é preciso que as consideremos como artes auxiliares. Sem elas, na verdade, não haveria nem Estado nem política; no entanto, nenhuma delas integra a ciência real.

SÓCRATES O JOVEM – Certamente que não!

O ESTRANGEIRO – (…) se alguém disser que não há nada que não seja instrumento de outra coisa, enunciaria uma proposição muito provável, porém há uma entre as coisas que o Estado possui que não tem este caráter.”

O ESTRANGEIRO – Não colocaremos numa quinta espécie a arte da ornamentação, a pintura, a música, todas as imitações que se realizam com a cooperação destas artes, que têm por único objeto o prazer, e que, com razão, poderiam ser chamadas por um só nome?

SÓCRATES O JOVEM – Sim, mas qual?

O ESTRANGEIRO – As artes de recreio.”

O ESTRANGEIRO – E não formaremos uma sexta espécie com esta outra que fornece a cada uma das artes de que acabamos de falar os corpos, com os quais e sobre os quais elas operam, espécie muito variada e que procede de outras muitas artes?

SÓCRATES O JOVEM – Aonde queres chegar?

O ESTRANGEIRO – O ouro, a prata e todos os metais que se extraem das minas; tudo aquilo que a arte de cortar e esculpir as árvores fornece à carpintaria e à marcenaria; a arte de extrair tocos das árvores; a do curtidor que despoja os animais de sua pele; todas as artes análogas que nos preparam a cortiça, o papel e as maromas (cordas grossas); tudo isso fornece espécies simples de trabalhos com os quais podemos formar espécies compostas.”

Tudo o que se pode possuir, com exceção dos animais domésticos, parece-me que está categorizado nestas 7 espécies.”

Quanto à posse de animais domésticos, sem contar os escravos, a arte de educar o gado, que distinguimos anteriormente, abarca a todos os animais, de modo indubitável.

(…)

Só nos falta a espécie dos escravos, e em geral a dos servidores, entre os quais, pelo que me consta, incluem-se os que competem frente ao rei pela elaboração mesma do tecido que é seu desígnio elaborar; à maneira que vimos antes: que os que fiam, os que cardam e os que executam alguma das operações supracitadas competiam entre si pelo título de tecelões.”

O ESTRANGEIRO – Aqueles que se adquire por dinheiro podemos sem dificuldade batizar de escravos, e dizer que não participam, absolutamente, da ciência real.

SÓCRATES O JOVEM – Sem dúvida.

O ESTRANGEIRO – Mas todos esses homens livres, que voluntariamente se filiam com os anteriores na classe dos servidores, transportando e distribuindo entre si os produtos da agricultura e das demais artes; fixando-se nas praças; ou comprando e vendendo de cidade em cidade, por mar ou por terra; trocando objetos por moeda, se é que não moeda por moeda; os cambistas, os comerciantes, os locadores de embarcações, os traficantes, como os chamamos; teria toda essa gente a pretensão de aspirar à ciência política?

SÓCRATES O JOVEM – No máximo, à ciência mercantil.”

O ESTRANGEIRO – A classe dos pregoeiros, dos homens hábeis em redigir escritos, e que freqüentemente nos prestam seu ministério, e outros tantos muito versados na arte de desempenhar certas funções perante os magistrados; que diremos deles todos?

SÓCRATES O JOVEM – O mesmo que disseste antes; que estes são servidores, mas não chefes de Estado.

O ESTRANGEIRO – No entanto, não fui, pelo menos não conscientemente, mero títere quando afirmei que nesta categoria veríamos aparecer os que têm as maiores pretensões à ciência política; eis o que é estranho: que tais pretendentes pertençam à classe dos servidores.”

O ESTRANGEIRO – (…) Encontramos os adivinhos, que têm uma parte da ciência do servidor, porque se os considera intérpretes dos deuses entre os homens.

SÓCRATES O JOVEM – Exatamente.

O ESTRANGEIRO – Temos também a classe dos sacerdotes, que, segundo se opina, sabem oferecer, em nosso nome, sacrifícios aos deuses a fim de agradá-los, e sabem também pedir-lhes bens, intercedendo em nosso favor.”

Com efeito, a ordem dos sacerdotes e adivinhos tem-se em alta conta e inspira um profundo respeito dada a nobreza de suas funções. No Egito ninguém pode reinar sem pertencer à classe sacerdotal; e se um homem de uma classe inferior se apodera do trono pela violência tem necessariamente de salvaguardar-se ingressando logo nesta ordem. Entre os gregos, em muitas cidades, são os primeiros magistrados que presidem os principais sacrifícios.”

O ESTRANGEIRO – O que não se conhece é sempre surpreendente. Isso se aplica a mim. Tive um momento de estupor a primeira vez que vi o grupo que se ocupa dos negócios públicos.

SÓCRATES O JOVEM – Que grupo?

O ESTRANGEIRO – O maior mágico de todos os sofistas, o mais hábil nesta arte, e que é preciso distinguir, por mais difícil que seja, do verdadeiro político e do verdadeiro rei, caso queiramos contemplar com clareza o objeto de nossas indagações.”

O ESTRANGEIRO – Mas estas três formas não são de certo modo cinco, já que duas delas criam para si mesmas outros nomes?

SÓCRATES O JOVEM – Quais nomes?

O ESTRANGEIRO – Ao considerar estes governos sob a perspectiva da violência ou do livre consentimento, da pobreza ou da riqueza, das leis ou da licenciosidade que neles aparecem, divide-se-os em dois; e como se encontram duas formas de monarquia, são denominadas como tirania e reinado.

(…)

Analogamente, todo Estado governado por uns poucos se chama ou aristocracia ou oligarquia.

SÓCRATES O JOVEM – Nenhuma objeção.

O ESTRANGEIRO – Quanto à democracia, que o povo governe com o uso da força ou com o consentimento dos demais, que os que a exercem observem escrupulosamente as leis ou não, a rigor não faz diferença, pois não a conhecemos por nomes distintos.”

É necessário examinar agora em qual destes governos se encontra a ciência de mandar nos homens, ciência, por acaso, a mais difícil e mais preciosa de todas as que se pode adquirir.”

O ESTRANGEIRO – Mas será possível que, numa cidade de mil homens, cem, ou somente 50, possuam-na de maneira suficiente?

SÓCRATES O JOVEM – Neste caso, de todas as artes, seria esta a mais fácil. Sabemos, positivamente, que de mil homens não extrairemos nem 100 jogadores de xadrez que possam ser considerados mestres entre os gregos, quanto mais 100 reis! Afinal de contas, governe ou não, quem possui a ciência real merece ser chamado de rei, e nisso estamos bastante de acordo.

as diferenças que separam todos os homens e todas as ações e a incessante variação das coisas humanas, que sempre estão em movimento, não permitem a uma arte, qualquer que seja ela, estabelecer uma regra simples e única, que convenha em todos os tempos e lugares.

(…)

E no entanto sabes que é este o caráter da lei, como o de um homem obstinado e falto de educação, que não tolera que ninguém faça nada contra sua vontade, nem questione, ainda que alguém descubra algo inusitado e genial.

SÓCRATES O JOVEM – Com certeza; a lei impera sobre cada um de nós indistintamente, como acabaste de expor.

O ESTRANGEIRO – E não é impossível que o que é sempre o mesmo convenha ao que não é sempre o mesmo?

SÓCRATES O JOVEM – Temo que sim.

O ESTRANGEIRO – Doravante, como é que pode ser imprescindível criar leis, se as leis não são as melhores? Investiguemos este problema!”

Aquilo que convém ao maior número de indivíduos e de circunstâncias será o que constituirá a lei, e o legislador o imporá a toda a comunidade, seja formulando-o por escrito, seja estipulando-o via costumes dos antepassados transmitidos oralmente.”

O ESTRANGEIRO – Não seria de crer que um médico, e também um professor de ginástica, ao empreender uma viagem e, quiçá, ausentar-se por um longo período, tenha razões para temer pelo futuro de seus doentes e alunos, caso não tome o cuidado de deixar suas prescrições por escrito, para que não se as esqueçam? E afinal, é o melhor deixar suas disposições e convicções assim por escrito, ou haveria outro expediente mais recomendável?

SÓCRATES O JOVEM – Não, nada melhor que deixar tudo por escrito.

O ESTRANGEIRO – Mas se acaso volta mais cedo do que havia planejado, não se atreverá a substituir as prescrições que havia deixado por outras novas, caso perceba que estas são mais saudáveis aos doentes graças ao que aprendeu sobre os ventos ou sobre mudanças de temperatura nos lugares em que esteve, em que o curso ordinário das estações era diferente?”

Se alguém, sem ter convencido os outros, impõe-lhes pela força aquilo que é melhor, diga-me, que nome recebe esta violência?

(…)

Se um médico, sem ter recorrido à persuasão, em virtude da arte que conhece tão a fundo, prescreve que o doente, criança, homem ou mulher, tome agora um remédio melhor que o que estava tomando (porque era o que estava escrito), qual é o nome desta violência? Qualquer um menos o de um pecado contra a arte médica, ou será que seria precisamente um atentado contra a saúde? E o paciente desta violência acaso poderá dizer que tal tratamento é daninho e anti-medicinal?

SÓCRATES O JOVEM – O nome é qualquer um menos o de pecado contra a medicina ou dano contra o doente.”

O ESTRANGEIRO – (…) não seria o cume do ridículo criticar esta violência, da qual tudo se poderá dizer, exceto que obrigara o doente a executar qualquer coisa vexatória, injusta ou má?

SÓCRATES O JOVEM – Sim, seria.

O ESTRANGEIRO – E a violência, é justa se seu autor é rico, e injusta se ele é pobre? Ou, pelo contrário, se um homem, valendo-se ou não da persuasão, rico ou pobre, com ou contra as leis escritas, faz o que é útil, não se deve dizer que esta é a verdadeira definição do bom governo, e que ela pautará o homem sábio e virtuoso, que acima de tudo respeita o interesse dos governados? Assim como o piloto, preocupado constantemente com a segurança de seu navio e da tripulação, sem escrever leis, mas criando por assim dizer, e seguindo, uma lei inerente a sua arte, protege seus companheiros de viagem; assim, da mesma forma, o Estado se veria em prosperidade, caso fosse administrado por homens que soubessem governar desta maneira, fazendo prevalecer o poder supremo da arte sobre as leis escritas!”

O ESTRANGEIRO – Que nenhum membro do Estado se atreve a fazer nada <contra as leis>; e se alguém a isso se atrevera, seria castigado com a pena de morte e com os maiores suplícios. Esta regra é muito justa e bela, se consideramos apenas o segundo tipo de punição e descartamos o primeiro. Expliquemos de que maneira se estabelece essa regra, que, em nossa opinião, só se justifica mesmo com a remoção da pena de morte. Ou tu pensas doutra forma?

SÓCRATES O JOVEM – De forma alguma!”

O ESTRANGEIRO – (…) Suponhamos, imbuídos do espírito destas idéias, que determinássemos, depois de uma detida reflexão, que se proibisse que a medicina ou a arte da pilotagem mandassem, como senhoras absolutas, nos escravos e nos homens livres; que se formasse uma assembléia, fosse constituída tão-só por nós (os políticos governantes), fosse constituída por todo o povo, fosse constituída só pelos ricos (forma censitária); e que os ignorantes e os artesãos possuíssem o direito de dar seu parecer sobre a navegação e sobre o tratamento das doenças, sobre como se deveria empregar os remédios e demais instrumentos médicos para o bem dos adoentados, e como se deveria dispor dos navios e dos instrumentos marítimos a fim de navegar; sobre o que se deve fazer nos momentos de perigo, proceda este dos ventos e das ondas, ou de encontros com piratas; e sobre se conviria, numa batalha naval, opor embarcações compridas com outras embarcações compridas ou não. E, depois disto, suponhamos, ainda, que o que tivesse sido aprovado pelo povo, não importa se oriundo dos médicos ou pilotos, ou dos ignaros nestas artes, fosse por nós inscrito em tábuas triangulares e em colunas, ou então consagrado como costumes orais de nossos antepassados (por mera convenção), e que doravante se navegasse e se tratasse dos doentes exclusivamente conforme estas novas regras.

SÓCRATES O JOVEM – Mas eis uma suposição perfeitamente absurda!

ESTRANGEIRO – Cada ano tiraríamos a sorte para eleger os chefes entre os ricos ou entre o povo inteiro, e os chefes assim eleitos, ajustando sua conduta às leis estabelecidas da forma que dissemos, dirigiriam os navios e cuidariam dos doentes.

SÓCRATES O JOVEM – Isso é ainda mais impossível de admitir.”

“O ESTRANGEIRO – (…) Aquele que quiser poderá acusar os magistrados [governantes] de não terem dirigido os navios durante o ano de mandato segundo as leis escritas ou os antigos costumes dos antepassados. E o mesmo com os doentes. Aquele que for condenado, os próprios magistrados decidirão seu castigo.

SÓCRATES O JOVEM – Aquele que de espontânea vontade chegasse a exercer magistratura semelhante seria, por sua vez, muito castigado, e justamente – e aliás mais justo quão mais rigoroso fosse o castigo!

O ESTRANGEIRO – Será preciso ainda estabelecer uma lei ordenando que, se há alguém que, independentemente das leis escritas, estuda a arte do piloto e da navegação, a arte de curar e da medicina, relativamente aos ventos ou ao quente e ao frio, e se dedica a indagações profundas sobre isto, deve-se começar por declará-lo, não um médico ou piloto, mas um vaidoso extravagante e um sofista inútil. Após o quê, quem queira poderá acusá-lo de corromper a juventude, ao ensiná-la a praticar a arte do piloto e do médico sem ter em mente as leis escritas, e ao dirigir os navios conforme seus próprios caprichos e tratar os doentes da forma mais arbitrária; e nem preciso dizer que um tal subversivo será citado diante de um tribunal de justiça.

“os homens não consentem, de bom grado, em ser governados por um só, por um monarca, pois assim perdem a esperança de que um dia um homem comum digno de exercer esse poder apareça, um homem dotado simultaneamente de vontade e força para mandar com virtude e conhecimento, tanto quanto para distribuir eqüitativamente a justiça, que é o que se chama bem.”

“E como hoje em dia já não se vê nas cidades, tal qual sucede na colméia, um rei como o que descrevemos, que sobressaia a olhos vistos a todos os demais, na alma e no corpo, não resta outro recurso senão reunir-se em conselho a fim de redigir as leis, seguindo as pegadas do verdadeiro governo.”

“Não deveríamos antes de tudo nos admirar de que um Estado como este seja tão sólido e poderoso? Porque faz muito tempo que os Estados são vítimas desses males; e, no entanto, permanecem de pé, estáveis e firmes. É verdade que muitos, submersos, como os navios naufragados, perecem, pereceram e perecerão pela nescidade dos pilotos e tripulantes, que no que toca às coisas mais importantes são rematados ignorantes; sendo completamente estranhos à política, crêem que de todas as ciências esta é que melhor dominam.”

“O ESTRANGEIRO – Deves reconhecer, pupilo Sócrates, que as três formas de governo fazem uma, que é ao mesmo tempo a mais fácil e a mais difícil.

SÓCRATES O JOVEM – Como é?

O ESTRANGEIRO – As três formas de governo de que tratamos desde o princípio deste discurso, i.e., o monárquico, o dos poucos e o da multidão.

SÓCRATES O JOVEM – De fato.

ESTRANGEIRO – Dividamos cada uma delas em outras duas, a fim de que tenhamos por fim 6 e, acrescidas à mais distinta, a sétima, fazemos 7; o sétimo sendo o único e verdadeiro governo.

SÓCRATES O JOVEM – Mas como?

O ESTRANGEIRO – Da monarquia dissemos que nascem o reinado e a tirania; do governo dos poucos, a aristocracia, que é um nome de bom agouro, e a oligarquia; quanto ao governo das massas, optamos por chamá-lo só de democracia; mas veja, é chegado o momento de dividi-lo em duas partes por sua vez.

SÓCRATES O JOVEM – E qual será o método empregado?”

“desde que amarrada com estes sábios regulamentos, que chamamos de leis, a monarquia é o melhor dos 6 governos; sem leis, é o mais duro e mais insuportável.” “quanto à multidão, sua essência é a debilidade, então ela não é capaz nem de um grande bem nem de um grande mal, pelo menos em comparação com os outros governos; ali, o poder está dividido em 1000 partes entre 1000 indivíduos; por está razão é que é o pior de todos os governos, quando se observa a lei, isto é; mas é o melhor dos 3 quando as leis são violadas. Quando o povo é licencioso, o melhor é viver sob a democracia”

“a ciência que julga se é preciso ou não persuadir tem de mandar na que tem o poder de persuadir”

“Certos governantes são extremamente moderadas por natureza, inclinadas a viver uma vida pacífica, cuidando por si mesmos e de seus negócios, atuando em suas relações internas e externas do modo mais condizente para a manutenção da paz entre os seus e os Estados vizinhos. Mas, enganados por este amor excessivo ao repouso e pela satisfação de seus desejos, não reparam que assim se incapacitam para a guerra, que educam os jovens na mesma molície, e que se colocam à mercê do inimigo; de maneira que ao cabo de poucos anos eles, seus filhos e o Estado inteiro, de livres que eram, caem, insensivelmente, na escravidão.”

“E que é que diremos dos outros, que se inclinam mais para o lado da força? Não lançam sem cessar sua pátria em novas guerras, à conta de sua paixão imoderada por este gênero de vida? E, à força de suscitar inimigos, não a conduzem à ruína total ou então à perda de sua liberdade?”

“O ESTRANGEIRO – Os homens moderados buscam nos demais o seu próprio caráter; se casam, tanto quanto seja possível, com mulheres das mesmas condições e casam suas filhas da mesma maneira; e os homens fortes e enérgicos fazem o mesmo: buscam nos demais o seu próprio caráter; tudo isso quando o mais conveniente seria que estas duas classes de homens fizessem o exato contrário.

SÓCRATES O JOVEM – Mas como o fariam e por que razão?

O ESTRANGEIRO – Porque tal é a natureza do caráter forte e enérgico que, repleto de vigor no princípio, se se reproduz sem misturas por muitas gerações, acaba-se deixando arrastar a incríveis acessos de furor.

SÓCRATES O JOVEM – É bastante provável.

O ESTRANGEIRO – Por outro lado, a alma que se deixa levar por um pudor excessivo, que não se associa a uma audácia varonil, e que se reproduz assim durante longo tempo, faz-se mais débil do que seria aconselhável, e acaba caindo em completo desfalecimento.

“esta é a única tarefa, e ao mesmo tempo toda a tarefa do tecedor real: não permitir jamais que o caráter prudente se divorcie do caráter forte e enérgico” “Os chefes moderados têm, com efeito, costumes prudentes, justos e conservadores, mas carecem da energia e da audácia que a ação reclama.” “Os chefes fortes e enérgicos, por sua vez, deixam algo a desejar em termos de justiça e da prudência, mas sobressaem quanto à ação.”

“Não era possível, estrangeiro, definires melhor o rei e o político.”

LORD[S] OF CHAOS: The bloody rise of the satanic metal underground (1998), revised & enlarged (2003) [Ou: uma biografia obviamente não-autorizada do delinqüente eternamente juvenil Varg. V. de VVinter e VVar / & outras estórias não-relacionadas] – Moynihan & Søderlind

Our world, increasingly homogenized and with the entire spectrum of its cultural creations adulterated for palatable mass-consumption, needs dangerous ideas more than ever. It may not need the often ill-formed and destructive ideas expressed by some of the protagonists in Lords of Chaos, but we felt all along that this is an issue for the individual reader to decide.”

The notion of a Protocols of the Elders of Zion-style Jewish cabal running the world is absurd to begin with, but all the more so in a country with practically no Jewish population, and we felt the need to point this out.”

The Satyricon single Fuel for Hatred received heavy air-play on one of Norway’s 3 biggest radio stations, and just before this revised edition went to press we heard that Dimmu Borgir’s new album will be hawked to the public through TV advertising spots.”

William Pierce – The Turner Diaries

Heavy Metal exists on the periphery of Pop music, isolated in its exaggerated imagery and venting of masculine lusts. Often ignored, scorned, or castigated by critics and parents, Heavy Metal has been forced to create its own underworld. It plays by its own rules, follows its own aesthetic prerogatives. Born from the nihilism of the 1970s, the music has followed a singular course. Now in the latter half of the 1990s it is often considered passé and irrelevant, a costume parade of the worst traits in Rock. Metal is no longer a staple of FM radio, nor are record labels pushing it like they used to. Watching MTV and reading popular music magazines, one might not even realize Heavy Metal still existed at all.”

Arthur Lyons – The Second Coming: Satanism in America

In the first half of the twentieth century, Jazz was considered particularly dangerous, with its imagined potential to unleash animal passions, especially among unsuspecting white folk. (…) In his book on the Rolling Stones, Dance With the Devil, Stanley Booth quotes the New Orleans Times-Picayune in 1918: <On certain natures sound loud and meaningless has an exciting, almost an intoxicating effect, like crude colors and strong perfumes, the sight of flesh or the sadic pleasure in blood.>”

More directly tied to deviltry than Jazz, and likewise imbued with the potency of its racial origins, was Blues. Black slaves often adopted Christianity after their enforced arrival in America, but melded it with native or Voudoun strains. Blues songs abound with references to devils, demons, and spirits. One of the most influential Blues singers of all time, Robert Johnson, is said to have sold his soul to the Devil at a crossroads in the Mississippi Delta, and the surviving recordings of his haunting songs give credence to the legend that Satan rewarded his pact with the ability to play. Johnson recorded only 29 tunes, some of the more famous being Crossroads Blues, Me and the Devil Blues, and Hellhound on My Trail. The leaden resignation of his music is a genuine reflection of his existence. Life for Johnson began on the plantations, wound through years of carousing and playing juke joints, ending abruptly in 1938 when at the age of 27 he was poisoned in a bar, probably as a result of an affair with the club owner’s wife.”

A DÉCADA QUE COMEÇOU 26 DIAS MAIS CEDO: “The Stones took their diabolical inspiration seriously, deliberately cultivating a Satanic image, from wearing Devil masks in promotional photos to conjuring up sinister album titles such as Their Satanic Majesties Request and Let it Bleed. The band’s lyrics ambivalently explored drug addiction, rape, murder, and predation. The infamous culmination of these flirtations revealed itself at the Altamont Speedway outdoor festival on December 6, 1969. Inadvertently captured on film in the live documentary Gimme Shelter, it was only moments into the song Sympathy for the Devil before all hell broke loose between the legion of Hell’s Angels <security guards> and members of the audience, ending with the fatal stabbing of Meredith Hunter, a gun-wielding black man in the crowd. The infernal, violent chaos of the event at Altamont made it abundantly clear the peace and love of the ‘60s wouldn’t survive the transition to a new decade.” 7, o mais belo número.

Page’s interest in Crowley developed to a far more serious level than the Satanic dabbling of the Stones; his collection of original Crowley books and manuscripts is among the best in the world. Page held a financial share in the Equinox occult bookshop (named after the hefty journal of <magick> Crowley edited and published between 1909–14) in London and at one point even purchased Crowley’s former Scottish Loch Ness estate, Boleskine. The property continued to perpetuate its sinister reputation under new ownership, as caretakers were confined to mental asylums, or worse, committed suicide during their tenures there.” “If there is any early Rock band bearing exemplifying the basic themes that would later preoccupy many of the Black Metal bands in the ‘90s, it is Led Zeppelin.”

I read a lot of Dennis Wheatley’s books, stuff about astral planes. I’d been having loads of these experiences since I was a child and finally I was reading stuff that was explaining them. It lead me into reading about the whole thing —black magic, white magic, every sort of magic. I found out Satanism was around before any Christian or Jewish religion. It’s an incredibly interesting subject. I sort of got more into the black side of it and was putting upside-down crosses on my wall and pictures of Satan all over. I painted my apartment black. I was getting really involved in it and all these horrible things started happening to me. You come to a point where you cross over and totally follow it and totally forget about Jesus and God.” GZR, Seconds Magazine, #39, 1996, pg. 64.

Groups further from the spotlight than Black Sabbath—such as Black Widow and Coven—could afford to be even more obsessive in their imagery. The English sextet Black Widow released three diaphanous Hard Rock albums between 1970–72, and later appear as a footnote in books that cover the history of occultism in pop culture. The chanting refrain of their song Come to the Sabbat evokes images of their concerts which featured a mock ritual sacrifice as part of the show. Beyond sketchy tales of such events, and the few recordings and photos they’ve left behind, Black Widow remains shrouded in mystery.

Coven are just as obscure, but deserve greater attention for their overtly diabolic album Witchcraft: Destroys Minds and Reaps Souls. Presented in a stunning gatefold sleeve with the possessed visages of the three band members on the front, the cover hints at a true Black Mass, showing a photo with a nude girl as the living altar. The packaging undoubtedly caused consternation for the promotional department of Mercury Records, the major label who released it, and the album quickly faded into obscurity. Today it fetches large sums from collectors, clearly due more to its bizarre impression than for any other reason. The songs themselves are standard end-of-the-‘60s Rock, not far removed from Jefferson Airplane; the infusion of unabashed Satanism throughout the album’s lyrics and artwork makes up for its lack of strong musical impact. In addition to the normal tracks, the album closes with a thirteen minute Satanic Mass.”

To the best of our knowledge, this is the first Black Mass to be recorded, either in written words or in audio. It is as authentic as hundreds of hours of research in every known source can make it. We do not recommend its use by anyone who has not thoroughly studied Black Magic and is aware of the risks and dangers involved.” Coven, Witchcraft, Mercury Records, SR 61239.

Coven included the attractive female lead singer Jinx as well as a man by the name of Oz Osbourne, who bore no relation to the British vocalist Ozzy. In an additional coincidental twist, the first track on the Coven album is titled Black Sabbath.”

Do what thou wilt shall be the whole of the law”

Stories persisted for a time of a planned Satanic Woodstock in the early ‘70s where Coven was to play as a prelude to an address by Anton LaVey, High Priest of the Church of Satan.”

King Diamond, the singer and driving force behind Mercyful Fate, one of the most important openly Satanic Metal bands of the ‘80s, acknowledges he received dramatic influences from a Black Sabbath concert he attended as a kid in his native Denmark in 1971. He also tells of finding inspiration from Coven’s lead vocalist Jinx: An amazing singer, her voice, her range… not that I stand up for the viewpoints on their Witchcraft record, which was like good old Christian Satanism. But they had something about them that I liked…

Anton Szandor LaVey made headlines when he founded the first official Church of Satan on the dark evening of Walpurgisnacht, April 30, 1966. The fundamentals of the Church were based not on shallow blasphemy, but opposition to herd mentality and dedication to a Nietzschean ethic of the antiegalitarian development of man as a veritable god on earth, freed from the chains of Christian morality.”

We played to skinheads and punks and hairies—everybody. Where some guy with long hair couldn’t come into a Punk gig, all of the sudden it was really cool to go to a Venom gig for anybody. That’s why the audience grew really quick and became very strong; they were always religiously behind Venom and they’ve always stayed the same.” Abaddon

I never thought we’d be able to enter a studio again after that because we were really dirty sounding. But it turned out that 85-90% of all the fan mail that came to the record company from that record (the compilation was titled Scandinavian Metal Attack) was about our songs. So the guy from the record company called me up and said, <Hey, you really need to put your band together again and write some songs, because you have a full-length album to record this summer>. (…) Everybody seems to think that I’m a megalomaniac with a big head or something, but it wasn’t really my fault —I should have been born in some place like San Francisco or London where I would have had a real easy time putting this band together.” Quorthon

Much of the explanation for this sound was simply the circumstances of recording an entire album in two-and-a-half days on only a few hundred dollars. The end result was more extreme than anything else being done in 1984 (save maybe for some of the more violent English Industrial <power electronics> bands like Whitehouse, Ramleh, and Sutcliffe Jugend) and made a huge impact on the underground Metal scene.”

Aplicável ao “projeto ATS”: “I’m not one inch deeper into it than I was at that time, but your mind was younger and more innocent and you tend to put more reality toward horror stories than there is really. Of course there was a huge interest and fascination, just because you are at the same time trying to rebel against the adult world, you want to show everybody that I’d rather turn to Satan than to Christ, by wearing all these crosses upside down and so forth. Initially the lyrics were not trying to put some message across or anything, they were just like horror stories and very innocent.”

Like any style hyped incessantly by the music industry, Thrash Metal’s days were ultimately numbered. The genre became too big for its own good and major labels scrambled to sign Thrash bands, who promptly cleaned up their sound or lost their original focus in self-indulgent demonstrations of technical ability.”

The whole Norwegian scene is based on Euronymous and his testimony from this shop. He convinced them what was right and what was wrong.”

Norway’s official religion is Protestantism, organized through a Norwegian Church under the State. This has deep historical roots and a membership encompassing approximately 88% of Norway’s population. However, only about 2-3% of the population are involved enough to attend regular church services. A saying goes that most Norwegians will visit church on three occasions in their lives—and on two of them, they will be carried in.”

An example of the conservative Christian influence in Norway was the banning of Monty Python’s classic comedy The Life of Brian as blasphemous. The amicable rivalry and fun-making between Norwegians and Swedes led to the movie being advertised in Sweden as <a film so funny it’s banned in Norway>.” “While America has figures like Edgar Allan Poe as a part of the literary heritage, and slasher movies are screened on National TV, Norway’s otherwise highly prolific movie industry has produced but one horror film in its 70-year history. Horror films from abroad are routinely heavily censored, if not banned outright. This taboo against violence and horror permeates every part of Norwegian media. In one case, Norwegian National Broadcasting stopped a transmission of the popular children’s TV series Colargol the Singing Bear on the grounds that the particular episode featured a gun.”

When denied something, one tends to gorge on it when access is finally gained. Black Metal adherents tend to be those in their late teens to early twenties who have recently gained a relative degree of freedom and independence from their parents and other moral authorities.” Aqui, ao contrário, o pré-adolescente se rebela e o adultinho adere ao sertanejo e forró, arrependido e tosado, quando não rebola no axé.

One strange aspect of the Black Metal mentality of the earlier days was the insistence on suffering. Unlike other belief systems, where damnation is usually reserved for one’s enemies, the Black Metalers thought that they, too, deserved eternal torment. They were also eager to begin this suffering long before meeting their master in hell.”

I think Norway, being a very wealthy country with a high standard of living, makes young kids very blasé. It’s not enough to just play pinball anymore. They need something strong, and Black Metal provides really strong impulses if you get into it.” Desse ponto de vista, era pro Aloísio virar o metaleirinho do mal e eu ser o normal dos 2, concentrado em objetivos “realistas”. Conquanto… o jovem frustrado acaba caindo de barriga no fascismo quando vislumbra o “poder-na-máquina” e sente que pode tocá-lo e participar dele… Bolsonaro é seu goregrind e nada lhe faltará!

A MAN’S DEAD BODY MUST ALWAYS HAVE BEEN A SOURCE OF INTEREST TO THOSE WHOSE COMPANION HE WAS WHILE HE LIVED…”

GEORGES BATAILLE, DEATH AND SENSUALITY

Do the names eerily reflect the karma of the personalities they denote? Or are the people destined to fulfill the fate foretold in titles they (ir)reverently adopt?”

Mayhem began in 1984, inspired by the likes of Black Metal pioneers Venom, and later Bathory and Hellhammer. Judging from an early issue of Metalion’s Slayer magazine, Aarseth initially adopted Destructor for his stage name as guitarist. The other members of the earliest incarnation of the band were bassist Necro Butcher, Manheim on drums, and lead vocalist Messiah. Not long after this Aarseth took on Euronymous as his own personal mantle—presumably it sounded less comical and more exotic than his previous pseudonym. His new name was a Greek title mentioned in occult reference books as corresponding to a <prince of death>.”

Mayhem played their first show in 1985. Their debut demo tape, Pure Fucking Armageddon, appeared a year later in a limited edition of 100 numbered copies. By 1987 someone called Maniac replaced the previous singer, whom Aarseth henceforth referred to as a <former session vocalist>, despite his appearance on the demo as well as the first proper release, that year’s Deathcrush mini-LP.” “Dead, the distinctive singer for the Stockholm cult act Morbid, joined Mayhem and moved to Oslo. A new drummer was found in Jan Axel <Hellhammer> Blomberg, one of the most talented musicians in the underground. Even with the mini-LP selling briskly, and Mayhem’s bestial reputation increasing, the band and its members remained dirt poor.”

Euronymous found him. We only had one key to the door and it was locked, and he had to go in the window. The only window that was open was in Dead’s room, so he climbed in there and found him with half of his head blown away. So he went out and drove to the nearest store to buy a camera to take some pictures of him, and then he called the police.” Hellhammer, the drummer

He just sat in his room and became more and more depressed, and there was a lot of fighting. One time Euronymous was playing some synth music that Dead hated, so he just took his pillow outside, to go sleep in the woods, and after awhile Euronymous went out with a shotgun to shoot some birds or something and Dead was upset because he couldn’t sleep out in the woods either because Euronymous was there too, making noises.”

It might sound a bit weird, but Mayhem was the band that everyone had heard of, but not many people had actually heard because they had released the demos which were quite limited and the mini-LP itself was very limited. But I was lucky because I knew Maniac, the vocalist, so he had some extra copies of the mini-album and he gave me one. I was very impressed because it was the most violent stuff I had ever heard, very brutal. I remember I thought that these people like Euronymous, Maniac, and Necro Butcher were very mysterious, because they didn’t do many interviews but they were always in magazines and I saw pictures of them. They had long black hair and you couldn’t see their faces, it was mysterious and atmospheric.” Bård Eithun

WHEN DID YOU FIRST MEET EURONYMOUS?

I met Euronymous and Dead at a gig in Oslo in 1989; it was an Anthrax concert and I met them outside”

Dead hated cats. I remember one night he was trying to sleep. A cat was outside his apartment, so he ran outside with a big knife to get the cat. The cat ran into a shed [galpão] and he went after it. Then you heard lots of noise, and screaming, and there was a hole in the shed where the cat came out again, and Dead ran after it with his big knife, screaming, hunting the cat, only dressed in his underwear. That was his idea of how to deal with a cat.”

I remember Aarseth told me, <Dead did it himself, but it is okay to let people believe that I might have done it because that will create more rumors about Mayhem>. (…) But he did use some stuff from the brain to make necklaces.”

There is a bootleg of the Sarpsborg show [1990] called Dawn of the Black Hearts: Live in Sarpsborg [vídeo?], released by someone in South America.” Metalion

That’s one thing about worshiping death—why worry when people die?”

I see Dead, people.

Where?

Oh, everywhere on the stage!

She told me that the first <plane> in the astral world has the color of blue. The earthly plane has the color of black. Then comes a gray that is very near the earthly one and is easy to come to. The next one further is blue, then it gets brighter and brighter till it “stops” at a white shining one that can’t be entered by mortals. If any mortal succeeds in entering it, that one is no longer mortal and can not come back to the earthly planes nor back to this earth.” Morto, o Místico

No one speaks ill of him, which is rare in such an insular and competitive realm as the extreme music underground. As many will testify, however, Aarseth appeared to feel little sorrow over the loss of Dead, instead glorifying his violent departure in order to cultivate a further mystique of catastrophe surrounding the band.”

This has nothing to do with black, these stupid people must fear black metal! But instead they love shitty bands like Deicide, Benediction, Napalm Death, Sepultura and all that shit!! We must take this scene to what it was in the past! Dead died for this cause and now I have declared war! I’m angry, but at the same time I have to admit that it was interesting to examine a human brain in rigor mortis. Death to false black metal or death metal!! Also to the trendy hardcore people… Aarrgghh!” Euronymous “manifesto”

Dead died wearing a white T-shirt with I ❤ Transylvania stenciled across it.”

if we ever come to, for example, India, the most evil thing that we can do there that I have in mind will be to sacrifice a holy cow on stage.” Euro.

HELL IS FULL OF MUSICAL AMATEURS;

MUSIC IS THE BRANDY OF THE DAMNED.”

GEORGE BERNARD SHAW, MAN AND SUPERMAN

I’d rather be selling Judas Priest than Napalm Death, but at least now we can be specialized within <death> metal and make a shop where all the trend people will know that they will find all the trend music.”

O que vocês fazer hoje, Cérebro Mole e Solto?

O que fazemos todas as noites, Blacky… Tentar conquistar o mundo para Satanás!

Aarseth also kept in touch with a growing number of extreme bands from outside Norway whom he likewise encouraged and made plans to release records by: Japan’s Sigh, Monumentum from Italy, and the bizarre Swedish entity Abruptum. Only a few of these schemes would ever be realized before Aarseth’s death, mostly because he was never cut out to be a businessman. He ran his label ineptly, and the capital to invest in new releases was simply not there.”

WHAT SORT OF IDEAS DID VARG HAVE WHEN YOU FIRST MET HIM?

He was a Devil worshiper and he was against Nazis, for reasons I don’t know, but that’s what he said. After the arrest in early ’93 then he got into this Nazi stuff.” Eithun

the shelves contained bands like Metallica and Godflesh.”

he had a specific taste for German electronic music like Kraftwerk.”

Politically, Aarseth was a long way from the nationalist and often pseudo-right-wing sentiments that are so prominent in Black Metal today. He proclaimed himself a communist, and for a while had been a member of the Rød Ungdom (Red Youth), the youth wing of the Arbeidernes Kommunist Parti (Marxist-Leninistene) —The Marxist/Leninist Communist Workers Party. Though rather few in number, the party had an appeal for intellectuals, including many prominent writers and politicians, and thus maintained a strong grip on Norwegian cultural life for many years. Rød Ungdom was aggressively anti-Soviet, and looked to China and Albania for inspiration. Despots like Pol Pot were also viewed as models of resistance against Western imperialism.”

Some of the treasured objects in his collection were heroic photographs of Nicolae Ceaucescu, the former dictator of Rumania and one of Aarseth’s idols. <Albania is the future>, he would muse to anyone willing to listen.”

Varg came to Oslo for a time and moved into the basement of the record shop, living in the barren space there along with Samoth, the guitarist of Emperor.”

On the second Burzum release, Aske (Ashes), bass playing would be done by Samoth, but with this sole exception Vikernes maintained his project entirely alone.”

Very few such corpse-painted portraits of Vikernes exist—the fashion seems to be something more particular to Aarseth. If it is true that Vikernes introduced the ideology of medieval-style Devil worship to Norwegian Black Metal, it must be also acknowledged that not a moment was lost before Aarseth began trumpeting it as his own.”

As many as 1,200 stave churches may have existed in the early Middle Ages; only 32 original examples survived in the second half of this century. That total has since been revised to 31.”

News of the destruction of one of Norway’s cultural landmarks made national headlines. It would not be long before other churches began to ignite in nighttime blazes. On August 1st of the same year the Revheim Church in southern Norway was torched; twenty days later the Holmenkollen Chapel in Oslo also erupted in flames. On September 1st the Ormøya Church caught fire, and on the 13th of that month Skjold Church likewise. In October the Hauketo Church burned with the others. After a short pause of a few months’ time, Åsane

Church in Bergen was consumed in flames, and the Sarpsborg Church was destroyed only two days later. In battling the blaze at Sarpsborg a member of the fire department was killed in the line of duty. Some would later consider this death the responsibility of the Black Circle.” “The authorities are reluctant to discuss the details of many of these incidents, fearing that undue attention may literally spark other firebugs or copycats to join the assault which Vikernes and his associates began in 1992.”

In eleventh-century England, arson was a crime punishable by death. Later, during the reign of King Henry II, a person convicted of arson would be exiled from the community after they had suffered the amputation of one hand and one foot.”

Lewis & Yarnell – Pathological Firesetting

True pyromaniacs tend to have a sexual impulse behind their action, according to psychologist Wilhelm Stekel, whose Peculiarities of Behavior covers the affliction in detail.”

It’s not a Satanic thing, it’s a national heathen thing. It’s not a rebellion against my parents or something, it’s serious. My mother totally agrees with it. She doesn’t mind if someone burns a church down. She hates the Church quite a lot. Also about the murder (of Østein Aarseth), she thinks that he deserved it, he asked for it. So she thinks it’s wrong to punish me for it. There’s no conflict between us at all about these things. The only thing she disliked was that I liked weapons and wanted to buy weapons, and suddenly she got a box of helmets at her place because I ordered them! Bulletproof vests, all this stuff…” Varg

TEENAGERS GONNA TEEN:

I said, I know who burned the churches, to the journalist, and I was making a lot of fun with him because we told him on the phone, we have a gun and if you try to bring anybody we’ll shoot you. Come meet me at midnight and all this, it was very theatrical. He was a Christian, and I fed him a lot of amusing info. Very amusing! Of course he twisted the words like usual. After he left we lay on the floor laughing.

We thought it would be some tiny interview in the paper and it was a big front page. The same day, an hour or so after I talked to him on the phone, the police came and arrested me. That was why I was arrested. I didn’t tell them anything. I talked to the police that time and I told them, I know who burned the churches —so what? They tried to say, We’ve seen you at the site, and all this, and I said, No you haven’t!

I’d already killed a man so it’s okay to be involved in this too, to burn down a church.” Eithun

VON [americana] were merely an obscure group who managed to release one raw-sounding demo tape, Satanic Blood, which became legendary within the Norwegian scene.” O primeiro full length (Satanic Blood, idem) dos caras é de 2012!

kerrang03
IMAGEM 1. Kerrang!, 27/03/1993

The Kerrang! exposé is also notable as it appears to be the first media story which labels the Black Metal scene as <neo-fascist>. Arnopp quotes members of Venom and mainstream UK Metal band Paradise Lost (who the article claims were haphazardly attacked by teenage Black Metalers while on tour in Norway), referring to the Satanic Terrorists as Hitlerian Nazis.”

I support all dictatorships—Stalin, Hitler, Ceaucescu… and I will become the dictator of Scandinavia myself.” V.V. Mau-Mau

I didn’t care much about the value of human life. Nothing was too extreme. That there were burned churches, and people were killed, I didn’t react at all. I just thought, Excellent! I never thought, Oh, this is getting out of hand, and I still don’t. Burning churches is okay; I don’t care that much anymore because I think that point was proven. Burning churches isn’t the way to get Christianity out of Norway. More sophisticated ways should be used if you really want to get rid of it.” Ihsahn (Emperor)

I told them, why not burn up a mosque, the foreign churches from the Hindu and Islamic jerks—why not take those out instead of setting fires to some very old Norwegian artworks? They could have taken mosques instead, with plenty of people in them” Hellhammer o Batera

The epidemic mostly afflicted poor black churches in the South (States), and public outrage against a presumed conspiracy of racist terrorism resulted in the President’s formation of a National Church Arson Task Force in June, 1996. The Task Force has since concluded that no nationwide conspiracy exists, and suspects arrested in relation to the the fires have been blacks and Hispanics as well as whites. The motives in specific incidents have ranged widely, from revenge to vandalism to racial hatred.”

I understood that he was a homosexual very quickly. He was asking if I had a light, but he was already smoking. It was obvious that he wanted to have some contact. Then he asked me if we could leave this place and go up to the woods. So I agreed, because already then I had decided that I wanted to kill him, which was very weird because I’m not like this—I don’t go around and kill people. (…) He was walking behind me and I turned and stabbed him in the stomach. After that I don’t remember much, only that it was like looking at this whole incident through eyes outside of my body. It was as if I was looking at two people who were having a fight—and one had a knife, so it was easy to kill the other person. If something happens that is obscure, it’s easier for the mind to react if it acts like it is watching it from outside of yourself.” Eithun

The bizarre duo Abruptum (SUE), who allegedly recorded their music during bouts of self-inflicted torture, was praised by Aarseth as <the audial essence of Pure Black Evil>. He released their debut album Obscuritatem Advoco Amplectère Me on Deathlike Silence in 1992. Østein had also managed, with financial assistance from Varg Vikernes, to release the first Burzum CD on DSP. The second Burzum effort, Aske, was released in early 1993, some months after the burning of the Fantoft Stave Church. It was around this time, in the first months of the year, that bad blood arose between Vikernes and Aarseth. Their disagreement appears to come at the same period when Øystein was also arguing with members of the Swedish scene, causing a general animosity to surface between Black Metalers in the two neighboring countries.” “There was a certain degree of cooperation between the two groups, but the recent frictions had been strong enough that when Øystein Aarseth was found slaughtered in the stairwell of his apartment building on August 10, 1993, the initial suspicion of many was directed at the Swedes.”

People who never knew what Black Metal was, or Death Metal, or Metal at all, were attracted to this because they thought it was cool. People who never knew Grishnackh and never knew Euronymous. Oh yeah, Black Metal—that’s the new thing. There were so many new bands starting at this time in ’93 who were influenced by the writing in the newspapers.” Metalion

Aarseth had been forced to close the Helvete store a few months earlier, due to overwhelming attention from the media and police after the initial Black Metal church fire revelations. His parents were upset about all the negative publicity and, since they had helped him finance the shop, they successfully leaned on him to shut it down. Vikernes sarcastically points out how Aarseth’s inconsistent nature often resulted in deference to his parents’ wishes instead of adhering to the black and <evil> image he supposedly embodied: <Øystein once came to one of the newspapers wearing a white sweater, and later apologized to the scene, in case he had insulted anybody! It was all because of his parents. He was 26 years old!>

Øystein owed Varg a significant sum of royalty payments from the Burzum releases on Deathlike Silence, although given the poorly-run nature of the record label, this was hardly unusual or unexpected. Vikernes denies there was any monetary motive behind his actions. Others claim the attack came about as a result of a power struggle for dominance of the Black Metal scene, although astute insiders like Metalion are skeptical: That’s stupid reasoning, because you can’t expect to kill someone and have everyone think of you as the king and forget about him. That’s very, very primitive. It’s something more than that, I think.“Also Grishnackh’s mother paid for the studio recording of the first album, and Euronymous owed her money which she was supposed to get back.”

When he was sitting in his shop drinking Coca-Cola and eating Kebab from the Paki shop next door, it was all our money he bought everything with. It was dishonest pay. He was a parasite. Also he was half Lappish, a Sami, so that was a bonus. Bastard!” V.

They told the police they heard a woman screaming! I was laughing when I read about it. He ran away, pressing the doorbells and calling Help!

Bam! he was dead. Through his skull. I actually had to knock the knife out. It was stuck in his skull and I had to pry it out, he was hanging on it—and then he fell down the stairs. I hit him directly into his skull and his eyes went boing! And he was dead.”

NONE OF THE NEIGHBORS OPENED THEIR DOORS?

They didn’t dare. They thought it was some drunken fight. It’s the worst neighborhood in Oslo—60% colored people.”

When three people are going to tell the same story to the police, in interrogations lasting seven hours, it will go to hell.” Snorre Ruch, o Cúmplice

Varg was saying that what Bård had done was uncool, but inside the scene Bård’s actions commanded respect.”

The truth of the matter is that Snorre had shortly before joined Mayhem as a second guitar player. It is difficult to believe that he could have cared less about killing the founder of the band he was in—doubly difficult given Mayhem’s position as such a legendary group in the underground. In hearing his and Vikernes’s versions of the story, both are flawed. With his history of mental problems, one far-fetched explanation may be that Snorre was too daft to comprehend what he was actually participating in.”

The only foolish thing I did and the only thing I regret, is not killing (Snorre) as well. If I’d killed him as well I would not have gotten any more punishment if I was caught, and secondly, I wouldn’t have been caught. That’s what I regret.”

What is striking about members of the Scandinavian Black Metal circles in general is how little they cared about the lives or deaths of one another. When Dead killed himself, it became merely an opportunity for Aarseth to hype Mayhem to a new level. When he himself died violently two years later, his own bandmates speak of the killing with a tone of indifference more suited to a court stenographer.”

With the exception of Darkthrone, the major Norwegian Black Metal bands were now in hiatus, their key members facing prison sentences for arson, grave desecration, and murder. The legal proceedings that would follow disrupted the entire scene and pitted different factions against one another. People felt forced to choose sides: pro-Vikernes or pro-Euronymous. At this point a cult developed around the memory of Euronymous, hailed as <the King> or <Godfather of Black Metal>. As many have commented in the preceding interviews, much of this was hyperbole, emanating from a second generation of musicians trying to gain credibility by riding on the back of the legend of Aarseth’s Black Metal legacy.”

He simply refused to cooperate with the authorities, and maintained he was innocent until proven guilty. He followed the advice of his lawyer and never testified in court. The same cannot be said of the other offenders, most of whom confessed in detail once they were pressured by the police. On the one hand, this is understandable given their young age, relative naivety, and fear of worse punishments if they refused to admit their wrongdoing.”

ERROS E PUERILIDADES DA POLÍCIA NORUEGUESA: “Especially difficult to take seriously is the alleged calendar of <Satanic holy days> reprinted in the report, with many of the dates involving the sexual molestation of minors—something that is strongly condemned by all established Satanic organizations. And while it might be argued that fringe religious phenomena like Satanism are often so bewildering that it’s hard to accurately assess their practices, even complete novices in the study of New Religious Movements should begin to suspect something is wrong when they see references to dates that don’t exist, such as April 31. Unless, of course, Satanists are so evil that they follow their own calendar.” ZAGALLO (OLLAGAZ) AMOU.

Kirkebranner og satanistisk motiverte skadeverk also refers to stories that never really reached the media when the Satanic furor was at its height.”

But despite his smart-ass remarks and mental capabilities, Vikernes was no match for the seasoned investigators of the Kripos [FBI norueguês]. He sensed that the police net was tightening around him and that he was no longer in control of the situation, especially as the Oslo police dispatched its Church Fire Group to Bergen in 1993 to follow the goose steps of the Count and his subjects around Bergen.”

Lendas a respeito de Vikinho: “Vikernes knocked on the door of the police investigation’s impromptu headquarters in Room 318 of the Hotel Norge in Bergen, and seems to have virtually forced his way into the suite.”

A M O R A M O R A M O R A M O R

A M O R A M O R A M O R A M O R

A M O R A M O R A M O R A M O R

A M O R A M O R A M O R A M O R

The word Varg has a great meaning for me. I could speak about this matter for an hour.”

Grishnackh is an evil character on the side of Sauron.”

That’s typical trial bullshit. Like my psychiatrists who examined me, one of them was a Jew and a Freemason! The other was a communist. My lawyer was a homosexual. The other lawyer was a Freemason. The one single Christian faith healer in Norway was in the jury! Can you imagine? In other words, a person who says, I can look through you and with the power of Jesus pull out the evil spirits who make you sick!

There is one person who has always stood by Varg’s side and spoken out rigorously in his defense: his mother Lene Bore. Not only has she attempted to improve the public perception of her son, she also visits him frequently, helps him deal with correspondence, and assists in business matters relating to Burzum.

A number of Burzum albums have been released since his imprisonment and all have sold admirably well on the worldwide market. Royalties for the record sales are received by Lene Bore, a fact that allegedly allowed for the development of serious trouble in the future. Lene Bore also helped provide the money for recording and releasing the early Burzum releases on Aarseth’s Deathlike Silence label, and as a result she had occasion to meet a number of Varg’s friends in the Black Metal scene. Her comments are interesting, for she has dealt with an amazing amount of unrest as a result of her son’s actions over the years, and some of her impressions of Varg’s life are quite different from his own.”

YOUR FAMILY SPENT A YEAR IN IRAQ. WHAT WAS THIS LIKE FOR VARG?

I think it might be here that Varg’s dislike toward other peoples started. He experienced a very differential treatment. The other children in his class would get slapped by their teachers; he would not be. For example when they were going to the doctor, even when there were other children waiting in line, Varg would be placed first. He reacted very strongly to this. He could not understand why we should go first when there were so many before us. He had a very strongly developed sense of justice. This created a lot of problems, because when he saw students being treated unfairly, he would intervene, and try to sort things out.”

DID VARG’S RACISM INTENSIFY AT A CERTAIN POINT?

If he had racist tendencies to begin with, I am sure that they came to the surface when he lived in Oslo.”

LONG-HAIRED SKINHEADS: “It’s difficult to say. When I was three years old we moved to a road named Odinsvei, Odin’s Walk, and we were playing with the neighbor. He had German toy soldiers, but he always wanted to have the American soldiers, because they were the big heroes in his view. So I ended up with the German soldiers, as he was five years older than I. And I actually came to like them. It developed from soldiers to running around with SS helmets and German hand grenades and a Schmeizer with a swastika on it. In time we tried to figure it out —what the hell does this mean? That’s how it really began, and it developed. I was a skinhead when I was 15 or 16. Nobody knows that. People say that suddenly I became a Nazi, but I was actually a skinhead back then. It was in waves—in ‘91 I was into occultism, in ‘92 Satanism, in ‘93 mythology and so on, in waves.

WHAT ABOUT YOUR FATHER?

I have very little contact with him. They’re divorced. He left about ten years ago. There wasn’t any big impact. I was glad to be rid of him; he was just making a lot of trouble for me, always bugging me. He was in the Navy. We were raised very orderly; it was a good experience. I had a swastika flag at home and he was hysterical about it. He’s a hypocrite.¹ He was pissed about all the colored people he saw in town, but then he’s worried about me being a Nazi. He’s very materialistic, as is my mother really, but that’s the only negative thing I can say about her.² The positive thing is that she’s very efficient, and in business I have to have someone take care of my money and I can trust her fully. I know she will do things in the best way.”

¹ Yeah, that prettily sums it up for all of us – satanists, pagans, nihilistics, depressed, guilty or innocent boys… with bad dads! Apenas troca “Nazi” por “PT” e “pessoas de cor” por “corrupção” (que ele pratica) e aí tens.

² This is war! UHHH

WHAT WAS SCHOOL LIKE?

It was an Iraqi elementary school. The English school couldn’t take us because they were full. I went to a regular Iraqi school. I could use some basic English. I think it was my mother’s idea, because she didn’t want us to stay home, bored. We couldn’t go out too much because of the rabid dogs and all this, so she put us in school, just to keep us active.”

In Bergen it’s a more aristocratic society I was part of, because of my mother mainly. I had very little contact with colored people, really. In Bergen we are still blessed with having a majority of whites—unlike Oslo, which is the biggest sewer in Norway.”

When I was a skinhead there still weren’t any colored people, but there were these punks—that was more the reason I went over to the other side.” He-he

We liked the Germans, because they always had better weapons and they looked better, they had discipline. They were like Vikings. The volunteers from America were tall, blond guys, who looked much more like the ones they were attacking than some Dagos who were waving them good luck when they left home. It’s pretty absurd.”

Our big hope was to be invaded by Americans so we could shoot them. The hope of war was all we lived for. That was until I was 17, and then I met these guys in Old Funeral.”

WHAT INFLUENCED YOU TOWARD THAT?

I got interested in occultism through other friends. We played role-playing games, and some of these guys (all older than me) started to buy books on occultism, because they were interested in magic and spell casting. They showed me the books and then I bought similar things. But the music guys weren’t interested in that stuff at all, they only cared about food. [QUE PORRA É ESSA? HAHA]

WHAT WAS THE MUSIC LIKE?

Originally it was Thrash Metal, and then it became Death-Thrash or Techno-Thrash, and I lost interest. I liked the first Old Funeral demo. It had ridiculous lyrics, but I liked the demo and that was why I joined with them. They developed into this Swedish Death Metal trend; I didn’t like that so I dropped out. But I played with them for two years.” The fart(Varg) that should’ve been.

We were drawn to Sauron and his lot, and not the hobbits, those stupid little dwarves. I hate dwarves and elves. The elves are fair, but typically Jewish—arrogant, saying, We are the chosen ones. So I don’t like them. But you have Barad-dûr, the tower of Sauron, and you have Hlidhskjálf, the tower of Odin; you have Sauron’s all-seeing-eye, and then Odin’s one eye; the ring of power, and Odin’s ring Draupnir; the trolls are like typical berserkers, big huge guys who went berserk, and the Uruk-Hai are like the Ulfhedhnar, the wolfcoats. This wolf element is typically heathen. So I sympathize with Sauron. That’s partly why I became interested in occultism, because it was a so-called <dark> thing. I was drawn to Sauron, who was supposedly <dark and evil>, so I realized there had to be a connection.”

Just like democracy claims to be <light> and <good>, I reasoned that then we obviously have to be <dark> and <evil>.” J.R.R. se revira no túmulo.

SALADA DE MAIONESE ESTRAGADA NA CAIXA ENCEFÁLICA: “I never said I will become the dictator of Scandinavia myself. I did say that I support Stalin, Hitler, and Ceaucescu, and I even said that Rumania is my favorite country—an area full of Gypsies! But the point is that Rumania is the best example of communism, and when people can realize how ridiculously the whole thing works, they can see what it really is. (…) It may be a provocative way to say it, but if there wasn’t Stalin, Hitler would look even worse. Now at least we can say, look at Stalin—he’s worse. He killed 26 million.”

Well, there was a T-shirt that Øystein printed which said <Kill the Christians.> I think that’s ridiculous. What’s the logic in that? Why should we kill our own brothers? They’re just temporarily asleep, entranced. We have to say, <Hey, wake up!> That’s what we have to do, wake them up from the Jewish trance. We don’t have to kill them—that would be killing ourselves, because they are part of us.”

He was at first allowed a computer, which he used for correspondence and for the preliminary texts which would form his nationalist heathen codex. Some of the essays he composed were forwarded to correspondents and began to appear in underground publications around Europe. Most of these concerned his investigations into the esoterica of Nordic mythology and cosmology. At a certain point, after he had compiled a large portion of his book, the prison authorities decided to take away his computer; presumably they were worried he was somehow employing it for nefarious ends.” “By titling his treatise Vargsmål, Vikernes seeks to place himself in mythic lineage as a modern-day figure worthy of the ancient sagas.” “The official publication of Vargsmål would only come about years after it was written. With Varg’s front-page notoriety there were certain publishers interested in releasing the book, obviously figuring to make a quick buck on the sensationalism that could be generated, but it appears that most backed out when they had a chance to review the actual contents. In addition to mythological commentary, the book brims with volatile statements and racial, anti-Christian, nationalist rhetoric.”

I would like to find a woman to live with in peace and quiet, far away from the world’s problems, but I cannot. It is my duty to sacrifice myself and my personal wishes for the benefit of my tribe.” He-he

Varg Vikernes serves the role of a pariah and heretic to Norwegians, similar on a number of levels to that of Charles Manson in America. Both profess a radical ideology at odds with, and at times unintelligible to the average citizen. Both insist they have done nothing wrong. Both espouse a revolutionary attitude, imbued with strong racial overtones. Both have become media bogeymen in their respective countries, and both knowingly contribute to their own mythicization. Both also understand well the inherent archetypal power of symbols and names—especially those they adopt for themselves.”

With his increasing nationalism, Vikernes has discovered his predecessor in Vidkun Quisling, the Norwegian political leader who founded a collaborationist pro-German government in the midst of the Second World War. Quisling was tried and executed for treason shortly after the war’s end. As a result his name has entered international vernacular as a synonym for <traitor>. In Norway, that name is still anathema even today.” Quisling – That Inhabited Worlds Are To Be Found Outside of the Earth, and the Significance Thereof for Our View of Life, o manifesto deste idiota.

Norway’s conversion to Christianity, made possible by St. Olav’s death as a martyr at Stiklestad, was described by Jacobsen [dissidente do quislinguismo, ainda mais extremista] as the introduction of <something false and unnatural into our folk’s life>. It was therefore logical for him to condemn Quisling’s adoption of the St. Olav’s cross as the NS symbol, declaring that the party symbol itself was non-Nordic.”

He lamented not being able to legally register his own religious organization in Norway due to his criminal record. Toward this goal he has, however, formed the Norwegian Heathen Front, a loosely knit operation through which he will issue propaganda. The members of German Black Metal band Absurd, also currently behind bars, are involved with a branch of the organization in their country.” Além de ideólogos degenerados, péssimos músicos. Um absurdo, literalmente.

he plans to employ his philosophy on the nature of women as a basis for NHF strategy. His awareness of the woman’s role in revolutionary activities is not unlike that of Charles Manson before him, although Vikernes claims to have arrived at it from personal observation during his Black Metal period.”

A PSICOLOGIA INFANTO-JUVENIL DO FASCISMO: “The groundwork of the Black Metal scene is the will to be different from the masses.¹ That’s the main object. Also girls have a very important part in this, because they like mystical things and are attracted to people who are different, who have a mystique.² When a girl says <Look how cute he is> when she sees a picture of someone, her male friends will think <She likes him. If I look like him maybe she will like me as well.> They turn toward the person she admires.² The way to make Norway heathen is to go through the girls, because the males follow the girls.³” Varg

¹ Baudrillard diria: Coitado, ele ainda está preso às concepções socialistas-revolucionárias! As massas não são nada conceituável, ou são tudo, não há relação binária passível de ser feita entre massa e não-massa, não é simples assim. Não mais. Mas sendo a massa o advento inevitável do mundo moderno decadente, negar a massa como os neo-pagãos presumem, seria negar a vida, e não reafirmá-la, como pensam os Anti-Nazarenos.

² Gado demais. Boi ou vaca.

³ No Brasil atual isso seria mais condizente com tornar-se funkeiro. Mundial e macroscopicamente falando, talvez aderir ao k-pop.

Males aren’t extreme really. You find females are more to the left or more to the right than the males. Females are more communistic, more extremely Marxist-Leninist, or more extremely rightist than the males.”

In Oslo everybody fucks everybody in the scene. If one person gets a venereal disease, everyone does. The females I know in the Black Metal scene are not very intelligent, they are basically just whores. That’s a typical Oslo phenomenon.

The people I correspond with are not Black Metal girls at all. Some of them were, but they realized that I don’t like it and then they realized they didn’t really like it either. They were just doing it because they wanted to get in touch with certain people. The way to power is through the women. Hitler knew this as well. Women elected Hitler.”

O TRAPÉZIO DOS MÍMICOS: “Ironically, while Vikernes’s name is more or less synonymous with Black Metal, he takes great care to distance himself from that musical milieu. He even now claims the early Burzum releases—records regarded today as milestones of the genre—never were Black Metal music at all, instead classifying them as <standard, bad Heavy Metal>. He passionately distances himself from all forms of Rock and Roll, stressing that Rock’s roots in Afro-American culture make it alien to white people.”

Presently, Vikernes is no longer even permitted to listen to CDs. The only music he is currently allowed to experience must come via MTV—something which, in his case, might be considered a cruel and unusual form of punishment.”

Denied a musical outlet, Vikernes has focused his strong creative drive on writing. His output has encompassed political tracts, a book on mythology called Germansk Mytologi og Verdensanskuelse (Germanic Mythology and Worldview), and fiction, including a short novel. His fictional works can be compared to the infamous neo-Nazi novels Hunter and The Turner Diaries, in the sense that much of it functions as a dramatization of National Socialist rhetoric. Vikernes seems to be slightly more aware of his literary limitations than the late author of the aforementioned books, Dr. William Pierce (a former physics professor who became director of the American racialist political group the National Alliance), who makes his characters’ tender pillow-talk read like political sermonizing.”

In the early days of the Heathen Front, the organization’s mailing address was one and the same with Vikernes’s private P.O. box prison address. This would, of course, mean that any prospective members would have their letters read and, one presumes, registered by the authorities. And this actually strengthens the Heathen Front’s assertion that Vikernes is not the leader: it would be very hard for him to do an effective job of it. Whatever his official role may be, Vikernes certainly has left a strong mark on the Heathen Front. Its program was written by Vikernes, and this is a mix of rather orthodox National Socialist doctrine and neo-Heathen, anti-Christian ideas, along with some emphasis on environmentalism.” “The Allgermanische Heidnische Front [subdivisão do já irrelevante Heathen Front] and its subdivisions in Norway, Sweden, Belgium, Denmark, Holland, Iceland, Germany, and Sweden (with <affiliated subdivisions> in Russia, Finland, and the USA) are probably little more than Internet tigers. While the AHF’s policy of concentrating on producing web pages might be a bid to attract [“““]intellectually[”””] inclined youthful recruits rather than the streetfighters that make up much of the younger rank-and-file of other European National Socialist organizations, the focus on the Internet may have a more pragmatic motive.

One of the wonders of the Internet is that, in theory, a single person with a little know-how, a modem, and an acceptable computer can create web pages just as impressive as those of any huge organization. And, still theoretically, a loose group of e-mail correspondents across Europe can take on the appearance of a tremendously organized international network. In addition to its functioning as a political equalizer, the added attraction to all this is that Net know-how is mainly the field of younger people—exactly the sort the AHF has aboard. But while Vikernes’s network might theoretically consist of one teenage computer nerd per country, each still living in his parents’ house, such an estimation would probably be way off the mark. So how real is the AHF?” “whether the AHF will be noticed in the future probably depends most on if it can succeed at recruiting young Burzum fans (its most realistic recruitment base) into political activism—or at providing a conduit for them into more militant groups and scenes.” Cenário pouco auspicioso para a “organização”.

He also explains their recruiting strategy: <We don’t approach the great masses, but rather let individuals from the masses approach us instead. This is probably why so many see us as an ‘Internet project’ or as inactive and passive.> braço sueco

National-Socialists in Sweden are as much a minority as they are everywhere else, and young activists are likely to rub brown-shirted¹ shoulders with members of other groups in informal settings like concerts, meetings, and parties.”

¹ Essencialmente, <Juventude Hitlerista>, qualquer grupo paramilitar subversivo de extrema-direita – análogo aos camisas-negras para a Alemanha.

while the Third Reich was in some ways a modern welfare state (at least for those whose blood and ideology were in line with NS doctrines), Vikernes asserts that military veterans who are disabled in future wars for the greatness of Germania should commit suicide rather than be a burden on the resources of the Nation.”

SS

solo sangue Scandinavia

The journal Kulturorgan Skadinaujo appears to be the work of young students, some of whom have adopted an academic writing style. Though the fanzine-style musings that occasionally appear in its pages detract from its academic tone, the main reason why Skadinaujo seems doomed to fail as a scholarly venture is the fact that it reviews books like the pseudo-archaeology of Graham Hancock side by side with properly executed scholarly works. The end result is hardly something to show your professor.”

He has taken to interpreting the Old Norse texts as proof of—or at the very least circumstantial evidence for—contact between humans and extra-terrestrials in ancient times.”

And in the same way that Hymir sent all his trolls out to wreak revenge on Thor for having gone fishing and catching the Midgard Serpent in one of the most well-known of the Norse myths, a war was waged on Atlantis. After the conflict, the island sank into the ocean and the Aryans sought refuge on other continents, where they eventually mixed with lower races of men. The Atlantean Aryans only survived as a pure race in Northern Europe, where they can produce children like Vikernes: blonde, blue-eyed, and long-skulled.”

LIGANDO LÉ COM CRÉ E NO KIBE DANDO RÉ: “Thor had red hair, but all our ancestors had blonde hair prior to the degeneration of the Viking Age. [?] But the planet Jupiter is the colour of rust! [?] And Thor protected men against uncontrollable natural forces, just like Jupiter’s gravitation protects earth. […] Why does Thor have a belt of strength? Does not Jupiter have a ring around it? [??]”

The roots of Nazi preoccupation with flying saucers are complex, and date back to before the Second World War. Clear indications exist that the Third Reich had a program for developing flying saucers as part of its war machine.” Legal, salvou meu dia.

After the war, the UFO myth entered the subconscious of the West, with the rumored UFO crash at Roswell and alien abduction stories becoming standard features in modern folklore. And while many of the contemporary myths dramatized by the tremendously successful TV series The X-Files might seem fantastic, the strangest ideas are the ones that people actually seem to believe in.”

While the circumstances that led to the creation of the book [ufologia babaca envolvendo a tribo Africana dos Dogon!] are convoluted (as any arguments dealing with ancient astronauts invariably are), at the root of the mystery lie the writings of the French anthropologists Marcel Griaule and Germaine Dieterlen, who did research on the Dogon in the 1930s. Twenty years later, the Frenchmen published their story of how the Dogon had revealed this astronomical knowledge about Sirius (Sigu Tolo in the native language) to them.

But other anthropologists who later visited the area have been unable to find the same astronomical knowledge circulating among the Dogon, and the most realistic hypotheses seem to be that the one Dogon informant who divulged the information to the two Frenchmen either learned his Sirius lore from earlier visitors (of the human variety), or indeed from Marcel Griaule himself, a keen astronomy fan who took along star-charts to help extract information. Either wittingly or unconsciously, the Dogon native might have had this knowledge transferred to him from his interviewer—or else Griaule overemphasized what was passed to him through his interpreter, thus finding exactly what he wanted to. Furthermore, many of the Dogon’s astronomical <facts> are just plain wrong.

In the world of the pop esotericism, however, the fact that claims are exposed as lackluster or even fraudulent often has little bearing on their continuing distribution via the myriad magazines and bookshops that cater to alternative ideas.”

Sitchin was first attracted to this peculiar field of research because he was puzzled by the Nefilim, who are mentioned in Genesis, 6. There, the Nefilim (also spelled Nephilim) are described as the sons of the gods who married the daughters of Man in the days before the great flood, the Deluge. The word Nefilim is often translated as <giants>, meaning that the Old Testament asserts there were days when giants walked upon the earth. If this sounds a bit like the occult narrative of Varg Vikernes, it only becomes more so when Sitchin claims that the correct and literal meaning of the word Nefilim is <those who have come down to earth from the heavens>. [eram filósofos: viviam com a cabeça nas nuvens!] Fallen angels procured the daughters of men as mates, which Sitchin takes to mean that the space-farers mixed their superior DNA with that of primitive mankind, leading to a quantum leap in human genetic and cultural evolution which spawned the blossoming Mesopotamian cultures.” Tão crível seria a hipótese de que caiu um meteorito radioativo na Terra e fez com que gorilas e chimpanzés entrassem em acelerada mutação – com mortalidade de virtuais 100%… Os escassos sobreviventes desta hecatombe ecológica, entretanto, viriam a ser Prometeus… Cof, cof.

IS THERE A SPECIAL CONNECTION BETWEEN NATIONAL-SOCIALISM AND UFOs?

DR. MICHAEL ROTHSTEIN [cético que estuda gente que acredita em OVNIs]: In certain ways, yes. Nazism has always had some kind of relation to the occult and certain Nazi groups (often outside the actual Nazi parties) have made a special point out of it. However, this really is fringe stuff [indie, marginal]. What is more interesting is the fact that UFOs on many occasions have been interpreted as devices developed by Nazi scientists, as German secret weapons. This is, I believe, more interesting than notions of clones of Hitler hiding under Antarctica in huge UFO-related facilities. Nazis are in many ways the demons of the modern world, at least most people find them disgusting and dangerous, and any association between the bewildering UFOs and these groups points to a certain understanding of UFOs as sinister or demonic.”

As long as people wish to believe, they will readily accept authorities that support their beliefs. The phenomenon is not that Von Däniken is able to persuade people of anything. The phenomenon is that people want Von Däniken to provide material for them to believe in. Furthermore, this is not in itself a <far-out> belief. Any belief in things out of the ordinary could be considered <far out>: God, for instance, or the Resurrection of Christ, flying yogis, whatever.”

As hinted by Rothstein, one of the most unusual marriages of UFO lore and National Socialism is the idea that the Third Reich is alive and well under the Antarctic ice-cap, keeping watch over the world by means of its flying saucers and waiting for the day to return and free the world from Zionist bankers, communists, and other enemies of the Aryan race.” “The most eloquent spiritual representative of such ideas in the present day is the Chilean dignitary and author Miguel Serrano [1917-2009], a former diplomat (to India, Yugoslavia and Austria) who counted both Carl Jung and Herman Hesse [curiosamente, anti-nazi notório – autor da novela Steppenwolf] among his circle of friends.” Serrano – C.G. Jung and Hermann Hesse: A Record of Two Friendships (1965) (original: El círculo hermético, de Hesse a Jung)

Mattias Gardell is a lecturer in religious anthropology at the University of Stockholm. He has studied radical religions extensively, and is the author of a book on the Nation of Islam, Countdown to Armageddon. His latest research project has involved a year of travelling around North America and interviewing figures involved in the neo-Nazi and Ásatru movements, two milieus that sometimes overlap—and especially so in the case of Varg Vikernes.”

Such ideas of blood as a carrier of hereditary information are common in Nazi circles, and can in some way be compared to Carl Jung’s theory of the collective unconscious.”

Their law of the strong scorns pity as a four-letter word; they await the day it is banished from the dictionaries. They despise doctrines of humility. Christ’s Sermon on the Mount is even worse poison to their ears. War is their ideal, and they romanticize the grim glory of older epochs where it was a fact of life. Where is the source for such a river of animosity and primal urges? Did torrents of hatred arise simply from the amplification of a phonograph needle vibrating through the spiralled grooves of a Venom album? Is Black Metal music possessed of the inherent power to impregnate destructive messages into the minds of the impressionable, laying a fertile seed destined to sprout into deed? To an enlightened mind it would seem unlikely.”

After reading a number of similar texts by Varg Vikernes, the Austrian artist and occult researcher named Kadmon was inspired to investigate in detail what enigmatic connections might exist between the phenomena of modern Black Metal and the ancient myths of the Oskorei. The Oskorei is the Norse name for the legion of dead souls who are witnessed flying, en masse, across the night sky on certain occasions. They are rumored to sometimes swoop down from the dark heavens and whisk a living person away with them. This army of the dead is often led by Odin or another of the heathen deities. Throughout the centuries, there are many reports from people who claim to have experienced the terrifying phenomenon—they attest to having seen and heard the Oskorei with their own eyes and ears. The tales of the Oskorei also refer to real-life folk customs which were still prevalent a few hundred years ago in rural parts of Northern Europe.” “noise, corpse-paint, ghoulish appearances, the adoption of pseudonyms, high-pitched singing, and even arson.”

In German folklore, stories of the Oskorei correspond directly to the Wild Hunt, also termed Wotan’s Host. Wotan (alternately spelled Wodan) is the continental German title for Odin, Varg Vikernes’s <patron deity>”

Gyldendal’s Store Norske Leksikon (The Large Norse Encyclopedia)

O SATÃ DE VIKERNES É O JUDEU ERRANTE: “There were often fights and killings at those places Oskoreia stopped. They could drink the yule ale and eat the food, but also carry people away if they were out in the dark. One could protect against the ride by gesturing in the shape of a cross or by throwing oneself to the ground with the arms stretched out like a cross. The best way was to place a cross above all the doors. Steel above the stalls was effective as well. The Oskorei was probably regarded as a riding company of dead people, perhaps those who deserved neither Heaven nor Hell.”

the cover of Bathory’s first <Viking> album, Blood Fire Death (1988), features a haunting depiction of the Oskorei in action. The remarkable development is how so many of the minute details of the legends would inadvertently or coincidentally resurface in unique traits of the Norwegian Black Metal adherents. This behavior had already become prominent years before the scene acquired its current attraction toward Nordic mythological themes, and before Vikernes ever began writing commentaries on such topics.”

Many of the <Satanic> bands even evince a strong fascination for native folklore and tradition, seeing them as vital allegories which represent primal energies within man. This type of viewpoint is expressed well by Erik Lancelot of the band Ulver:

<The theme of Ulver has always been the exploration of the dark sides of Norwegian folklore, which is strongly tied to the close relationship our ancestors

had to the forests, mountains, and sea. The dark side of our folklore therefore has a different outlook from the traditional Satanism using cosmic symbolism from Hebraic mythology, but the essence remains the same: the ‘demons’ represent the violent, ruthless forces feared and disclaimed by ordinary men, but without whom the world would lose the impetus which is the fundamental basis of evolution.>”

atavistic ativism

folclorenoruegues
IMAGEM 2. Extraído dum livro de lendas

Ler Two Essays on Analytical Psychology do Jung: “There are present in every individual, besides his personal memories, the great <primordial> images, as Jacob Burckhardt once aptly called them, the inherited powers of human imagination as it was from time immemorial. The fact of this inheritance explains the truly amazing phenomena that certain motifs from myths and legends repeat themselves […] It also explains why it is that our mental patients can reproduce exactly the same images and associations that are known to us from the old texts.”

Kadmon also points out a few strong contrasts between the rural folklore and Black Metal, which he sees as an urban phenomena. He is not entirely correct in this assertion, however, as many of the Norwegian Black Metal musicians do not come [from] cities such as Oslo, Bergen, or Trondheim, but live in small villages in the countryside. And Varg Vikernes, too, is proud to make the distinction that he is originally from a rural area some distance outside of Bergen, rather than the city itself. Further examples can be found with the members of Emperor, Enslaved, and a number of other bands.”

Besides Bathory, one other early Scandinavian Metal band had also extolled the religion and lifestyle of the Vikings in their music, a group from the ‘80s called Heavy Load. Possibly they also inspired some of the kids later involved in Black Metal, and indeed they have been mentioned with appreciation by some close to the scene, like Metalion.”

The group Immortal even went so far as to make a professional video clip with every band member shirtless in the midst of a freezing winter snowscape, furiously playing one of their songs. A video for the Burzum song Darkness goes much further, leaving out any human traces whatsoever—the entire 8:00 clip is based on images of runic stone carvings, over which shots flash of rushing storm clouds, sunsets, rocks, and woods. Co-directed by Vikernes from prison via written instructions, the result is impressively evocative despite the absence of any storyline or drama.”

POUCO IMANENTE VOCÊ, NÃO É, DISCÍPULO EX-QUERIDINHO DE FREUD? “According to Carl Jung, it is not always modern man who actively seeks to consciously revive a pre-Christian worldview, but rather he may become involuntarily possessed by the archetypes of the gods in question. In March, 1936, Jung published a remarkable essay in the Neue Schweizer Rundschau, which remains highly controversial to the present day. Originally written only a few years after the National-Socialists came to power in Germany, it is entitled Wotan.

Jung states in no uncertain terms his conviction that the Nazi movement is a result of <possession> by the god Wotan on a massive scale. He traces elements of the heathen revival back to various German writers, Nietzsche especially, who he feels were <seized> by Wotan and became transmitters for aspects of the god’s archetypal nature. He states, <It is curious, to say the least of it […] that an old god of storm and frenzy, the long quiescent Wotan, should awake, like an extinct volcano, to a new activity, in a country that had long been supposed to have outgrown the Middle Ages.>

Jung would some years later reveal his conviction [not proofs, like Moro] that both Nietzsche and he himself had experienced personal visits [Jung estuprado na infância?] in their dreams from the ghostly procession of the <Wild Hunt>, the German equivalent of the Oskorei.”

In Norway and Sweden there has also been growing general interest in the indigenous religion of their forefathers, to the point that at least one heathen group, Draupnir, has been recognized as a legitimate religious organization by the Norwegian government. Along with them, other Ásatrú organizations such as Bifrost also hold regular gatherings where they offer blot, or symbolic sacrifice, to the deities of old.

There is absolutely no specific connection between these Nordic religious practitioners and the Black Metal scene. In fact, public assumptions that such a link would exist have been a severe liability to these groups. Dispelling negative public impressions of their religion is made considerably more difficult with characters like Vikernes speaking so frequently of his own heathen beliefs to the press.”

VonStuck
IMAGEM 3. Franz von Stuck, A caçada selvagem

O TRÁGICO ATRASADOR DA REASCENSÃO MITOLÓGICA: “Vikernes’s extreme and bloody interpretation of indigenous Norse religion is just as problematic to the neo-heathen groups as was his flaming-stave-church and brimstone variety of Satanism a few years earlier to organizations like the Church of Satan. When contemporary figures sought to revive the old religion of Northern Europe, they had not intended to bring back uncontrollable barbarism and lawlessness with it.”

There is another obscure old fable of the Oskorei, where they fetch a dead man up from the ground, rather than their usual choice of someone among the living. It was collected by Kjetil A. Flatin in the book Tussar og trolldom (Goblins and Witchcraft) in 1930. If the folkloristic and heathen impulses of Norwegian Black Metal are in fact some untempered form of resurgent atavism, then this short tale is even more surprising in its ominously allegorical portents of events to come over 60 years later with Grishnackh, Euronymous, and the fiery deeds that swirled around them”

Originally bestowed with Kristian for his first name, Vikernes found this increasingly intolerable in his late teenage years. When he first introduced himself to the Black Metal scene it was still his forename. Sometime in 1991–92 he legally changed his name to Varg. His choice of a new title is curious in light of the actions he would later commit, and the legend that would surround him—although he claims to have adopted it mainly for its common meaning of <wolf>. If one understands the etymology and usage of the word varg in the various ancient Germanic cultures (and there is no evidence that Vikernes did at the time of his name change), his decision becomes downright ominous.

A fascinating dissertation exists entitled Wargus, Vargr—‘Criminal’ ‘Wolf’: A Linguistic and Legal Historical Investigation by Michael Jacoby, published in Uppsala, Sweden, but written in German. It is a highly detailed, heavily referenced exploration of the Germanic word Warg, or vargr in Norse.”

Qual é o lado mais podre do LobisOmen?

The designation was used in the oldest written laws of Northern Europe, often with a prefix to add a specific legal meaning, such as gorvargher (cattle thief) or morthvargr (killer).”

another ancient Germanic legal text, the Salic Law, which states: <If any one shall have dug up or despoiled an already buried corpse, let him be a varg.> Hehehe

LICANTROPIA ETIMOLOGIZADA E SOCIOLOGIZADA

Vargr is the same as u-argr, restless; argr being the same as the Anglo-Saxon earg. Vargr had its double signification in Norse. It signified a wolf, and also a godless man. […] The Anglo Saxons regarded him as an evil man: wearg, a scoundrel; Gothic vargs, a fiend. […] the ancient Norman laws said of the criminals condemned to outlawry for certain offenses, Wargus esto: be an outlaw! (be a varg!) […] among the Anglo Saxons an utlagh, or out-law, was said to have the head of a wolf. If then the term vargr was applied at one time to a wolf, at another to an outlaw who lived the life of a wild beast, away from the haunts of men—<he shall be driven away as a wolf, and chased so far as men chase wolves farthest,> was the legal form of sentence—it is certainly no matter of wonder that stories of outlaws should have become surrounded with mythical accounts of their transformation into wolves.” “As can be seen from the Baring-Gould quote above, the wolf connotation of the term later became associated with werewolves, and in certain sources the Devil himself is referred to as a werewolf. However, this negative outlook on wolves appears to surface after the onset of the Christian period of Europe; the pre-Christian heathens had a quite different perception. “A number of Black Metal bands display a fascination for the wolf. The most obvious example is Ulver, whose name itself means wolves in Norwegian.”

The wolf lives in the forest, symbol of the demonic world outside the control of human civilization, and serves thus as a link between the demonic and the cultural, chaos and order, light and dark, subconscious and conscious. Still I do not by this mean to say that the wolf represents the balance point between good and evil—rather he is the promoter of <evil> in a culture which has focused too much on the light side and disowned the animalistic. He symbolizes the forces which human civilization does not like to recognize, and is therefore looked upon with suspicion and awe.” E. Lancelot

In the older Viking times, wolves were totem animals for certain cults of warriors, the Berserkers. A specific group is mentioned in the sagas, the Ulfhethnar or <wolf-coats>, who donned the skin of wolves. Baring-Gould recounts the behavior of the Berserks who, wearing these special vestments, reached an altered state of consciousness:

<They acquired superhuman force […] No sword would wound them, no fire burn them, a club alone could destroy them, by breaking their bones, or crushing their skulls. Their eyes glared as though a flame burned in the sockets, they ground their teeth, and frothed at the mouth; they gnawed at their shield rims, and are said to have sometimes bitten them through, and as they rushed into conflict they yelped as dogs or howled as wolves.>”

Wolves are sacred to Odin, the <Allfather>, who is usually accompanied by his own two wolf-elementals, Geri and Freki. Many Germanic personal first names can be traced back to another root word for wolf, ulv or ulf, so this was clearly not an ignoble or derisive connotation, except in its varg form.” “In the old sagas Odin is bestowed with myriad names and titles, some of which include Herjan (War God), Yggr (the Terrible One), Bölverkr, (The Evil Doer), Boleyg (Fiery Eyed), and Grímnir (the Masked One).”

It happens that he betrays his believers and his protégés, and he sometimes seems to take pleasure in sowing the seeds of fatal discord..” Georges Dumézil

In her essay on the word Warg, Mary Gerstein also discusses comparative symbolism between Odin, who hung on the world tree Yggdrasil for 9 nights in order to gain wisdom, and Christ, who was hung on the cross as an outlaw [3 days], only to be reborn as an empowered heavenly deity. Vikernes, despite his heathenism, has in certain respects set himself up as both avatar and Christ-like martyr for his cause, willing to suffer in prison for his sacrifice.”

SUarEZ

zeus arrrrrrghhhhhhhhh

horror arquetípico:

argh!!!típico

GIMME THE HARP: “Odin is the embodiment of every form of frenzy, from the insane bloodlust that characterized the werewolf warriors who dedicated themselves to him, to erotic and poetic madness.” Não leia senhor dos anéis demaaais…

Odin’s hall is easy to recognize: a varg hangs before the western door, an eagle droops above.”

the renunciation oath which was enforced under Boniface among the Saxons and Thuringians, who were ordered to repeat: <I forsake all the Devil’s works and words, and Thunær (Thor) and Woden (Odin) and Saxnôt (the tribal deity of the Saxons) and all the monsters who are their companions.>”

In my town all they do is have their cars and they drive up and down the one main street. They have nothing else to do—it’s a kind of competition for who has the finest car and the loudest stereo. They basically live in their cars. Those who are younger, who don’t have a car—they sit at the side of the road and look at the cars. Their lives are extremely boring, and I can see that some people want more out of existence, they want to have their own personality and expression which makes it impossible to be associated with all those meaningless humans who walk around everywhere.” Isahn

It started up with the whole <anti-LaVey> attitude that was common within the scene, because his form of Satanism is very humane. No one wanted a humane Satanism” “When LaVey says that the simplest housewife can be a Satanist, which it seems like he does in the Satanic Bible, I guess some were terrified that he had views that would take the special thing they had away from them.” “Many people did not laugh; they were very serious all the time. Nothing should be <good>. Everybody was very grim looking. Everyone wanted to be like that, and I guess there are some who are that way still.” “Of course you were affected by the whole atmosphere, that you don’t sit and laugh in this Helvete place, and you have respect for the known figures in the scene, and were careful what to say to Euronymous in the beginning, before you got to know him.”

Normal people assume, <Oh, people into Black Metal must have had a terrible childhood and have been molested. They’re weak and come from terrible backgrounds.> But as far as I’m concerned, many people I know in the scene actually come from good families, non-religious families, and had a great childhood with very nice parents and no pressure at all. Quite wealthy families, really.”

LÁ VEM O SATANISTA: “Sometimes I think it would be great to be more anonymous—it’s a small town that I live in, everyone knows who I am. People look at me even though I don’t dress particularly extremely, just because everybody knows what I am. Also with where I work, people are very skeptical towards me, and sometimes it would be easier if no one knew.”

The essence of Black Metal is Heavy Metal culture, not Satanic philosophy. Just look at our audience. The average Black Metal record buyer is a stereotypical loser: a good-for-nothing who was teased as a child, got bad grades at school, lives on social welfare and seeks compensation for his inferiority complexes and lack of identity by feeling part of an exclusive gang of outcasts uniting against a society which has turned them down. And with Heavy Metal as a cultural and intellectual foundation, these dependents on social altruism proclaim themselves the <elite>! Hah!” E. Lancelot

MANIFESTUM UNIVERSALIS: “The Satanist is an observer of society—to him, the world is like a stage, in relation to which he chooses sometimes to be a spectator, other times a participant, according to his will. He can watch from the outside and laugh, cry, sigh, or applaud depending on the effect the scenery has on his emotions; or he can throw himself into the game for the thrill; but his nature is always that of the watcher, the artist. He is not overly concerned with changing society, for his commitment to humanity is minimal.”

An appropriate example of how such futile aspirations may end is the case of Varg Vikernes: a neo-Viking martyr. A prophet of the ego who paradoxically enough chose to be the Jesus of his ideals, and now must suffer for it behind the walls of spleen. I have much respect for this man’s conviction and courage, but not his sense of reality.” Garm

I think many of them have grown up with the Bible and phone book as the only books in the house.” Simen Midgaard, jornalista free-lancer e ocultista, líder do grupo Ordo Templi Orientis. “The O.T.O. is established in Norway, unlike the Church of Satan, Temple of Set, or other real Satanic organizations.”

if they are going to get rid of Judeo-Christianity, they will have to get rid of Satan as well, as a matter of fact. He is a sort of Trotsky in the revolution”

I’m rather indifferent to the State Church. I’m not indifferent to these terrible small sects who teach their people with fear from the day they are able to talk [essas pulgas de rodoviária!]. I support any revolt, however strong it is, against that kind of Christianity because I think it makes people into neurotics. It should be forbidden by law because they torture their own children.”

O BRASIL TEM O SATANISMO MAIS MADURO (O CARNAVALESCO – A LUBRICIDADE DA CARNE): “Satanism in Norway has become strong because it’s a despotic form of Satanism, but that is also why it’s going to fade so fast—because people are not able to live like that for a very long period of time.” Pål Mathiesen, teólogo cristão

The Satanists say—to put it brutally—that we are animals. The animal culture is the most important one, and we are losing that part of us. This is broad in the culture today, with the “wild women,” etc., this whole thing of going back to nature. Being part of nature instead of spirit or morals is very strong now.”

That struck me when I was talking to Ihsahn, the symbols he was using of 3,000 or 4,000-year-old Eastern religions, and at the same to say that it’s only Norway for me and only the Nordic religion that counts. It’s not rational on that point at all. It doesn’t relate to history as something rational—you just use it.”

I think Vikernes has been analyzing our times and thinking, what can we do to achieve something? But I also think that over the years he will find out that for us to go back to the heathen religion is very, very unrealistic. It’s not going to happen if you look at the religious aspect of it. We’re not going to go back to that kind of religious ritual. That is not going to happen.”

If you are declared a Satanist or Nazi in Norway, then you are that for the rest of your life, there’s not a question about it. You will be condemned for the rest of your life. I hate that aspect of our culture, I really think it’s a bad thing, because if we don’t have an opening for forgiveness it becomes very alien to me.”

I think in society when something like that happens it’s a very good opportunity for the media. They like it because they can start a lasting soap opera with strong characters, and these Satanic groups. The media embraced it to a certain extent, and made it really big in Norway. Of course it was big, but I would say that the media capitalized on it, because it was something extreme, new, and specifically Norwegian. For them to sell newspapers, they treat it as extremely as possible. Very early on the media started to define them as total extremists, the same way they might look upon the neo-Nazi movement. They defined them as that right away; then they had them there and they can look upon them like animals doing strange things, and they can report it like something that is very different from the rest of our society.”

This is something that’s important—individualism in Norway has been held down. That has happened. If you are different in school, or very good for example, or very intelligent, that becomes a problem for you. We don’t accept people with exceptional gifts or anything like that. In England or the US, you have schools for these kind of youngsters, you send them somewhere else, and say, <You are different, go over there>. We don’t have that. Everything is supposed to fit in, in a classroom of 25 or 30 people. If you are too weak or too healthy, or if you’re too good, you’re supposed to shut up. It’s mediocrity.” “We have a very special relationship to nature, a very close one. And during the Christian period this thing with nature has been suppressed—nature is not good, nature is <evil>, so to speak. Norwegians interact with nature and are very closely connected to it, just due to the way the country itself is formed.”

They’ve spent fifty years after the war bringing down Christianity, and for the first time they’re saying now that we need more Christianity in the schools. It shows the times have changed. Maybe we have become conscious to some extent about the Christian culture when people start to burn down our churches—maybe, you can’t rule that out.”

Asbjørn Dyrendal is a Research Fellow at the Department of Cultural Studies at the University in Oslo. He has been primarily researching the new and emergent religions, especially Wicca.”

There you had a lot of young people who wanted to be Satanists. Where could they hear about what you do when you’re a Satanist? They had to get it through the media and Christian sources. They got the myths, and they tried as best as they could, by their rather modest means, to live up to them. You can see that in the early interviews with Varg Vikernes. There were situations where the journalists were trying to see this in light of the stories supplied by Kobbhaug [policial que fantasiava sobre <sacrifícios de bebês>], and where Vikernes played the appropriate role. He was hinting that many people disappear each year, that these might have been killed, and then said that he cannot comment on who was doing the killings. When asked if he has killed anyone: I can’t talk about that. He was building up to get the question of whether he had killed anyone, and then denying it in a manner which implied the opposite.” Dyrendal

Vikernes was very fond of telling people that he read LaVey and Crowley. However, what he has come out with in interviews indicates that he hasn’t understood it all very well.”

WAIT & BLEED: “If you are an adolescent, you are in a period of your life where it is impossible for you to exert influence upon your surroundings. Being able to hate and feel strong can be very liberating. This is much of the same power that lay in other forms of Metal and in Punk.” “It has passed the point where people point at you and laugh, and reached the point where people shy away from you.”

Almost every form of shocking behavior will only make your parents say, <Well, we did that when we were young too>. So, to get a shock effect, you have to go much further in your symbolism. Personally, I think these explanations are a bit simplistic.”

I am of the opinion that most people see Vikernes as a rather pathetic figure—

someone with delusions of grandeur who is only able to function within this self-created image.”

The myth of the outwardly respectable, even upstanding, citizens that go out at night to do terrible things to children has been around for thousands of years and has been levelled at Christians, Jews, Catholics, Protestants, heretics, Freemasons, and lots of other groups. It was then recycled by horror writers, who fictionalized the material. It now seems to be influencing reality again. One account of <ritual abuse> I have read seems to have been lifted directly from Rosemary’s Baby, one of the great horror classics.”

There have only been a handful of Metal groups with direct ties to LaVey’s church over the years (King Diamond being one of the more outspoken), although in recent times this has begun to change. LaVey was himself a musician, specializing in lost or obscure songs of ages past, but he often mentioned a personal distaste for Rock and other modern music in interviews. This might have alienated some musicians—who otherwise exemplify LaVey’s philosophy—from any public allegiance with the Church of Satan. In reality, LaVey understood fully why a genre like Black Metal has appeal for youth, though he may not had have much interest in the cacophony of the music itself.” “The Black Metalers are also quite mistaken if they believe LaVey is merely a humanist. Even a cursory study of LaVey’s actual writings will uncover his unabashed misanthropy and derisive scorn for the follies of humankind.”

A lot of people had tried to give it exposure, as Devil’s advocates—writers like Twain and Nietzsche—but none had codified it as a religion, a belief system.” LaVey

In the case of the Nine Satanic Statements, it took me twenty minutes to write them out. I was listening to Chopin being played in the next room and I was so moved I just wrote them out on a pad of paper lying next to me. The crux of the philosophy of Satanism can be found in the Satanic Rules of the Earth, Pentagonal Revisionism, and the Nine Satanic Sins, of which of course <stupidity> is tantamount, closely followed by <pretentiousness>. Often pretentiousness comes in the form of so-called <independent thinkers> that have a knee-jerk reaction [reação reflexa, instantânea] to any association with us.” Não compreendo o sentido exato.

It sounds like there’s a lot of stupid people in Norway too, like any country.” “We get more mail from Russia than ever, now that the Soviet Union is gone. They’ve been under atheist control for so long and the new religious <freedom> is pushing bullshit they can’t swallow. They almost yearn for the good old days of Soviet atheism…”

A lot of them are kids and they like the name Satan just as they might be attracted to a swastika and the colors red and black.” “Now, if a representative of the Church of Satan had just one entire hour on national TV to say what we want to say, Christianity would be finished.”

The anti-Christian strength of National-Socialist Germany is part of the appeal to Satanists—the drama, the lighting, the choreography with which they moved millions of people. However, the Satanic attitude is that people should be judged by their own merit—in every race there are leaders and followers. Satanists are the <Others>, who will push the pendulum in the direction it needs to go to reset the balance—depending on circumstances, this could be toward fascism or in the opposite direction. Satanism is a very brutal, realistic way of looking at things sometimes.” Barton, boqueteiro (assessor, amante, secretário, sei lá!) oficial de LaVey – verde a cor do nojo

How can someone say I don’t like Rock and Roll? It’s never been defined. There’s so much that’s fallen under that general heading, but I guess it then evolved into what we have now, which I’ve described as being like a linear metronome, i.e., music without music. They’ve just run out of ideas, really.” Continua ouvindo seu Chopin no Inferno, velhote.

kids who don’t know anything besides Rock music can still gain strength and motivation from Black Metal, Death Metal, and so forth.” Enough to found a new “religion”.

…And then you have to get a job! That’s no market place for 2 (or 20, whatever) LaFEIs…

O SEGUNDO VARG É MAIS ESPERTO: “The biggest success story in Norwegian Black Metal—measured in chart positions, magazine coverage, and gaudy magazine posters—is Dimmu Borgir, a band which boasts of six-figure CD sales on the German label Nuclear Blast. Dimmu Borgir were not part of the initial waves of Norwegian Black Metal, and therefore they have neither blood nor soot on their hands. But they have been very adept at capitalizing on the shocking image of their predecessors in the genre, while at the same time carefully distancing themselves from the worst excesses so as not to lose record sales or gigs. A typical example can be seen in the promo pictures of Dimmu Borgir engaging in the mock sacrifice of a virgin —pictures that were produced in versions ranging from <softcore> (less gore) to <hardcore> (very bloody), so that different media could pick the version most suited to their audience. In other words, it seemed as if Dimmu Borgir wanted to be provocative enough to make the kids think they were cool, but not so provocative that the kids couldn’t get their parents to buy them the album for Christmas.”

Two or three years ago it was on the verge of becoming really, really big, and the international press was interested in Black Metal. If there had been more bands like Dimmu Borgir and The Kovenant that could have made it big in the mainstream, Black Metal could have been another example of an underground that stepped up to the major league. But strong forces in the scene suddenly became very introverted and reverted to an older, harder style of Black Metal.” AsbjØrn Slettemark

There is a handful of bands that sell well, about 10,000 to 20,000 copies of each release. But sales figures are hard to confirm, because labels tend to exaggerate; and on the other hand, many of the retailers for Black Metal records don’t register their sales.”

It is my impression that Nuclear Blast realized their stable of Death Metal and Speed Metal artists were starting to lag behind. It seems to me like they picked Dimmu Borgir more or less by chance, because the records that got them the contract weren’t really that special. But Dimmu Borgir were still developing as a band, and they were willing to do the image and magazine poster thing. It wouldn’t be possible to sell a more established band like Mayhem or Darkthrone the same way. I guess Dimmu Borgir have the good old Pop Star ambition, the standing in front of the mirror singing into the toothbrush thing.”

Compared to the multinational record companies, Nuclear Blast Records is like a hot dog stand. But the German label has its home base in the world’s biggest market for heavy metal, and is serious enough to have an American distribution deal with Warner Records. And Nuclear Blast know how to <move units>, in record business parlance. The Marketing Director of Nuclear Blast, Yorck Eysel, says Dimmu Borgir has sold 150,000 copies of their last album and 400,000 discs in all during the time they have been with his label. These numbers are repeated like a mantra by everyone that works with the band, but should be taken with a pinch of salt, as exaggerating sales figures is the oldest trick in the book for vinyl and CD pushers. They know that it is easier to sell you a record that has been in the charts than one which has only been coveted by a few obsessive collectors. Even if the sales figures might be inflated, Dimmu Borgir has sold an impressive amount of records, and Eysel thinks that is due to the band’s merit.”

Interestingly, during Varg Vikernes’s trial a Burzum album was reviewed in the news section of Dagbladet, one of Norway’s most important tabloids; this was at a time when his band was being treated with contempt [even] by the Rock [specialized] press.” “Pop music there generally has been difficult to export and the Metal bands regularly outsell the <commercial> Norwegian bands”

Sigurd Wongraven of Satyricon, who had earlier starred in a Rock Furore exposé about racism in Black Metal, later received the full Rock star treatment in mainstream tabloid Dagbladet for a 2-page article which focused on the fact that Wongraven liked Italian designer clothes. Black Metal had become popular enough, and house-trained enough, for the mainstream press to dispense with the barge pole when touching it, even if the specters of racism and satanism still surfaced often enough to make the bands seem somewhat scary.”

Ketil Sveen, a co-founder of the record label and distributor Voices of Wonder, was one of the first people to sell Norwegian Black Metal records on a bigger scale. He ended his cooperation with Burzum after Varg Vikernes stated that he was a National-Socialist. Today there is a racism clause in the contracts which prospective artists have to sign in order to work with Voices of Wonder.”

We sell Black Metal in 25 countries—there’s not a lot of other music that we get out to so many.” Sveen

BURZUM_lighter

IMAGEM 4. Igreja de Fantoft em brasa e logotipo da banda de Vikernes num isqueiro promocional da Voices of Wonder. “I’ve done a few stupid things in my life, and that lighter was one of the stupidest. In my defense I want to say that none of us suspected Vikernes had really done anything like that. We figured that if he was crazy enough to torch a church he would not be crazy enough to go around bragging about it.” Sveen

Welcome to the world of German Black Metal. Less well known than its Norwegian counterpart, the German scene remains genuinely underground, an obscure exit off the darkened Autobahn of extreme Rock. That changed briefly following the night of April 29, 1993, however, when the members of the Black Metal band [arguably] Absurd followed the example set by Bård Eithun and Varg Vikernes and replaced thought with crime.”

Lianne von Billerbeck & Frank Nordhausen – Satanskinder (Satan’s Children: The murder case of Sandro B., 1994)

Such curiosities were difficult to satisfy until the Wall fell in 1989 and East Germany was opened to the West. At this point previously forbidden or impossible-to-obtain records and videos steadily came within reach. The three 17-year-olds Hendrik Möbus, Sebastian Schauscheill, and Andreas Kirchner began to draw attention to themselves with their Satanic obsessions and penchant for Black Metal. They were antagonized for their interests by many of the other kids in town—both left-wing punks and right-wing skinheads [curiosamente, o som da banda é nazi, sobre guitarras punks estéreis] —but developed a group of admirers among the local schoolgirls.” “At a certain point in 1992, a younger student, a 14-year-old named Sandro, also developed a fascination for the members of this sinister band and their associates.” “Widely disliked due to his irritating manners, he had almost no real friends. He quickly began to adopt the style and interests of the satanists and desperately tried to ingratiate himself into their circle. He would ask to attend band rehearsals and began corresponding with them and the others in the clique [panela] around Absurd. Satanskinder describes a peculiar <letter writing culture> that thrived among all of these youths.” “Heated arguments also took place there between them and members of the Christian Youth Club, which met regularly at the Center as well.”

Together with a young girl named Rita, Sandro began to plot actions against Sebastian and Hendrik, hoping to make a mockery of them in Sondershausen.” “He was also aware of an ongoing affair between Sebastian and an older married woman named Heidegrit Goldhardt, now pregnant with Sebastian’s child.” “Sebastian’s romantic relationship with Heidegrit, who oddly enough was an evangelical Christian schoolteacher, had produced some unexpected results. He had joined in with her pet projects for environmentalism and animal rights, and now spent time writing polemical letters to the newspapers about such issues.” “Absurd no longer rehearsed at the Youth Center, but had moved their equipment to a small cottage built by Hendrik’s father in the nearby woods. Through the guise of a female friend, Juliane, a letter was sent to Sandro in which she confided her hatred of Absurd. She asked Sandro to meet her one evening at the Rondell, a WW1 memorial in the forest above the town, in order to discuss how she could contribute to Sandro’s campaign against the satanists.” “Juliane didn’t appear, but the members of Absurd did instead. Sandro must have been confused, but dismissed any idea that he had been set up. They then somehow convinced him to accompany them elsewhere so that they could all discuss an important matter.” “Suddenly Andreas grabbed an electrical cord and wrapped it around Sandro’s neck. A struggle ensued, Sandro tried to scream for help. At this point, Hendrik is alleged to have pulled a knife and cut Sandro. They tied his hands behind his back. Sandro begged to be let free, promising to never speak about anything that had just happened. They could even have his life savings—500 German Marks (approximately $325). The boys considered the idea of letting him go free in the woods, but feared he would not keep his promise of silence about the abduction, especially now that he had been wounded.” “On May 1st [2 dias depois] the three members of Absurd returned to the scene of the crime and dragged Sandro’s corpse, wrapped in a blanket, to a nearby excavation pit, where they quickly buried him.” “Sebastian related a strange personal anecdote: about 6 months before the murder he heard a voice in his head. It was difficult to understand; he thought it uttered the nonsensical phrase <Küster Maier>. Later he decided it probably must have said <töte Beyer> (Kill Beyer!).” “The story detailed above follows the chronology presented in Satanskinder, although the book embellishes it with endless psychological speculation. The descriptions of the authors are based entirely on comments by disgruntled ex-friends and hangers-on who had interacted with the killers, since the latter refused to speak to them. The picture painted is one of an outsider group of youths whose fantasies got the best of them.”

We used to listen to British and German Punk Rock, British Oi, as well as Thrash Metal (Slayer, Destruction, Sodom, Morbid Angel, Possessed).” Hendrik

mostly we obtained Polish or Hungarian bootlegs, or recorded stuff from the West German radio.” “I guess it was just a question of time before we became aware of splendid bands like Deicide, Beherit, Sarcófago, Bathory, Mayhem, and Darkthrone…”

Before he <moved to the beyond>, Øystein Aarseth wanted to sign Absurd to Deathlike Silence, since our Death from the Forest demo appealed to him quite a bit.”

ABSURD HAS CALLED ITSELF <LUCIFERIAN PAGANS>…

You can use the terms <Luciferian>, <Promethean>, and <Faustian> to describe one and the same principle: reaching out toward a higher stage of existence and awareness by facing and overcoming the limiting circumstances. That is the trail we are on. However, a <Luciferian will> on its own would fall into hedonism and egomania. For that reason we need heathenism; on the one hand for expression of free will, but also for its channeling toward the greater good. In other words, a person of this sort should not operate only according to self-interest, but rather should serve his ethnic community and be the <light bringer> for it.

What we didn’t know, and only first learned from the court record, was that Sandro was bisexual. With a likelihood bordering on certainty, Sandro had fallen in love with Sebastian. That is also not astonishing, as in those days Sebastian had a certain <sex appeal> among the youths.

So Sandro discovered the relationship between Sebastian and his lover, who was married and 8 years older, while Sebastian was also considered the leader of the local satanists. If this relationship were to become public—which did indeed happen after the arrests—then it would have caused a significant fuss in the small town of Sondershausen, the result being that the girl would have been expelled from her congregation.”

WHAT WERE YOU EACH FOUND GUILTY OF?

Due to our age of 17, they had to use the youth laws for punishment, which meant a maximum of ten years in detention, no matter if even for mass-murder. At the start of 1994 our trial took place, which was a giant media spectacle. Among other things, the court found us guilty of first degree murder, deprivation of liberty, threat and duress, and bodily injury. (…) Ironically, the section we were sentenced under is one of the few pieces of legislation that remains today from National-Socialist jurisprudence.

Besides the trashy book Satanskinder, at least 3 other books feature our case. However, this book is certainly wrong with its version (although several phrases sound familiar…), due to the fact we refused to cooperate. A TV-film has also been made based on the events in Sondershausen. We have become <Satan murderers> and <Children of Satan> for all time. One could laugh about these stories, which are eternally the same old thing, if only they hadn’t led to such dire consequences. Apart from the media’s self interest for an ongoing story, there are also circles of people that have utilized the media for engaging in personal conflicts with, for example, my parents. It has long since ceased to have anything to do with <discovering the truth> (if that ever had even played a role) or <informing the public>. It has to do with chicanery, with calculated slander. It can further be asserted in my case that I turn more and more into the archetype of the scapegoat. I am the modern Loki, whom the gods punished for their own sins.

Andreas was released a year before Sebastian and I. After getting reacquainted with the scene for a half-year (among other things, he attended a Mayhem reunion concert in Bischofswerda), he retreated completely back into his private life. He broke off all contacts, lives with his girlfriend, and has a good job. Even if I was unhappy about his <departure>, I nevertheless wish him all the best.

Sebastian has totally devoted himself to a folkish world of ideas. He is married and has made a small circle of friends and acquaintances in which he actually plays the same role as he once did in our clique in Sondershausen. In the meantime he has also recorded and released new Absurd material. In addition he sings with Halgadom, a joint project with the band Stahlgewitter who are friends of his. He has only a peripheral contact with the scene, a situation that has probably kept him out of the media’s sights. It is different with me, for I have always had and maintained numerous contacts in the scene. In addition, I worked at Darker Than Black Records, through which I naturally was in a more prominent situation than my two former accomplices. Since then the media has decided to put me in the stocks and clothe me as their new scapegoat. Because I also nurtured an association with nationalistically inclined people, I have been charged severely. Nobody was interested in the facts anymore, the only thing that counted was sensationalism.”

Beginning meagerly with hymns to demons discovered in Satanic horror films, the early demo cassettes of the band are low-fi chunks of adolescent noise, soaked with distortion and offering unintentionally humorous spoken introductions to the songs. Their music is more akin to ’60s garage Punk than some of the well-produced Black Metal of their contemporaries—but what they lacked by way of musical execution they were more than willing to make up for with the real-life execution of the sad figure of Sandro Beyer.” “If there is any clear spiritual mentor behind Absurd’s transformation over the years, it is Varg Vikernes. Varg himself seems to be aware of this, and smiles when talking of recent events inspired by what happened in Norway: <In Germany some churches have burned. And there are the Absurd guys, who have also turned neo-Nazi…>”

The long quotation Hendrik attributes to <Herr Wolf> at the end of the interview is in actuality the words of Adolph Hitler, speaking of the new prototype of hardened, pitiless youth which Nazi Germany would produce.”

WHITEWASHED CARBON COPY: “Such sentiments would make Varg Vikernes proud. Absurd’s own tiny record label, Burznazg, takes its name from a term Varg once planned to use for his own operations, and the most infamous criminal in Norway was surely proud to know of the Tribute to Burzum compilation CD project initiated by Hendrik Möbus and friends.”

Möbus also reveals the existence of a Germanic <Black Circle> which he claims the members of Absurd are also connected to, called Die Teutsche Brüderschaft (Teutonic Brotherhood). The Brüderschaft is mentioned prominently in the dedication list on Absurd’s debut CD.”

In July of 1999 announcements circulated about the release of Absurd’s new 4-song CD entitled Asgardsrei. The CD featured a more aesthetic presentation and an evolved sound, although with much of Absurd’s garage-band ambience still intact. Guests on the release included Graveland’s Rob Darken and well as an <ex-member of the German mainstream band Weissglut>. The end of the advertisement advised interested customers to <ORDER IT NOW before ZOG¹ take YOUR copy>.”

¹ “A sarcastic acronym for Zionist Occupational Government, often employed in radical political circles to describe any of the present-day Western democratic states.”

The public prosecutor had now decided to launch an effort to revoke Hendrik’s parole on the basis of alleged political crimes he had committed since his release from juvenile prison. These consisted of displaying banned political emblems and also giving a <Hitler salute> at a concert.” “Travelling across the USA, Hendrik passed through a string of ill-fated liaisons with racists upon whom he depended for safe-housing, culminating with two of them violently threatening him. Following this incident, he eventually made his way to the state of West Virginia and to the headquarters of William Pierce’s racialist group the National Alliance. All was relatively quiet for a number of weeks until Hendrik was arrested in late August, 2000 by US federal agents acting on an international warrant. The German government had requested to have Hendrik extradited to face his charges of parole violation.

The press treatment of the case was unusual, with Hendrik being elevated from a <Satanic murderer> to a <neo-Nazi fugitive>. He became an international cause célèbre—garnering headlines in US News and World Report, as well as major papers like the Los Angeles Times and the Washington Post—and his case raised many serious issues about the way in which modern democratic states handle persons who they deem as threats to democracy itself. Soon after his arrest, Hendrik wrote a letter to US President Bill Clinton and Attorney-General Janet Reno and requested status as a political refugee, stating that if he were extradited back to Germany he would be persecuted on account of his political beliefs.” “A <Free Hendrik Möbus> campaign was also launched on the Internet, and William Pierce produced episodes of his radio program American Dissident Voices in which he addressed the topic of Möbus’s case in detail. In the first major ruling, the U.S. magistrate decided that Hendrik was not eligible for political asylum as he was a <convicted felon> in Germany. Hendrik then attempted to appeal the decision. In their commentaries on the case, both he and William Pierce attempted to make the fundamental issue one of free speech, since the actions which resulted in the original parole revocation were not of a violent nature, but rather <political> misdeeds (which would be perfectly legal according to US laws). Both the US and German governments tried to avoid this thorny issue and confine the legal proceedings to the logistical issues of Hendrik’s parole violation itself, rather than debating the validity of the charges that led to the violation.” A FRAQUEZA CONGÊNITA DO TOTALITARISMO: “His strategy for avoiding extradition created a further paradox: he was forced to seek the mercy of liberal democratic political asylum laws—exactly the sort of laws which a strident German nationalist would vehemently oppose in their own country for anti-immigration reasons.”

Two further court judgments against him, one for public display of the Hitler salute and the other for mocking his victim in published statements, have added more than two years of additional incarceration to the time he will serve in jail. It quickly became clear that Hendrik’s personal goal of collaborating with William Pierce in a venture to promote radical Black Metal through the racial music underground would be impossible to realize from a German prison cell. An equally significant obstacle arose exactly one year later when William Pierce died suddenly from cancer on July 23, 2002.”

Gorefest, an antiracist and politically correct Death Metal group.”

The teenager’s room was described as quite ordinary, except for a collection of disturbing compact discs. His neighbors had often noticed sounds blaring from his room, <gnawing music, hard and stressful, which one would hear late at night>—not a bad description of standard Black Metal from an unfamiliar listener.”

When a black-metaller enters a party at nite, we can say he cvlt up from his home.

Jean-Paul Bourre – Les Profanateurs (The Desecrators): “The fascination surrounding the grave of Jim Morrison of The Doors (buried in Paris’ famous Père La Chaise cemetery) and those of other notable personalities is also inexplicably discussed in one chapter. Les Profanateurs desperately attempts to pull all these disparate elements into a sinister scenario in hopes of alarming its readers.” Parece até o livro que estou lendo!

They got pissed and destroyed a few graveyards and subsequently they were in prison for it. The hoo-hah died down pretty quickly over it, and that sort of thing isn’t good for a band of our stature anyway because people get the whole ideology wrong straight away. This is why we kind of branched off from the Norwegian thing because as soon as you’ve got the Black Metal tag, people assume you are a fascist and you’re into Devil worship, which can be linked to child abuse.” Dani Filth, a ovelha negra (lúcida)

uktabloid
IMAGEM 5. Queen tabloid

The band began fairly quickly to distance themselves from their musical peers in Scandinavia by employing evocative aesthetics in the album artwork, and covering more romanticized themes drawn from nineteenth century literature and poetry. They wore the requisite Black Metal corpsepaint, but began to cultivate an atmosphere befitting of Hammer horror films rather than the one-dimensional <evilness> projected by other groups. Later releases Vempire and Dusk and Her Embrace brought the group to a exponentially increasing audience.”

In a strange political twist, an extremist racial group, the National Radical Party, nominated the singer of Metal band Korrozia Metalla (Коррозия Металла) as a mayoral candidate in Moscow. His name is Sergei Troitsky, AKA Spider, and he normally dresses in black T-shirts, jeans, and jackboots. Korrozia Metalla’s most popular song among fans is called Kill the Sunarefa, a slang term for darkly hued minorities from the south.” “Additional titillation regularly comes from naked females dancers who prance [rebolam, sensualizam] and masturbate on stage beside the musicians.”

The name Russia itself, after all, comes from the predominantly Swedish Viking tribe of the Rus who settled the region in the year 852C.E.[?].”

Poland, too, has a rapidly growing Black Metal scene which is closely linked to the rise of extreme right-wing activity there. The most visible band from that country is Graveland, led by the outspoken frontman Robert Fudali, AKA Darken.”

Fans of extreme Metal in this country are often far less intelligent than their Norwegian or European counterparts.” Which means, actually, that they are more intelligent.

SOCIEDADE DO ESPETÁCULO CONSUMADA: “The primary American interests outside of music include drugs and alcohol, neither of which played any significant part in the Norwegian Black Metal milieu. As a result, any antisocial actions are likely to be misdirected at best. The attempts to interrelate them into any kind of grand Satanic conspiracy are fruitless; the main similitude of these crimes lies in their irrational confusion.”

Singer Glen Benton branded an upside-down cross into his forehead years ago, and (to the obvious irritation of groups like Animal Militia) often advocates animal sacrifice in interviews. Allegedly the band’s albums have sold hundreds of thousands of copies worldwide.”

On April 13th, a group of male teenagers commenced a campaign of mayhem and terror with startling similarities in spirit to the Norse eruption in 1992–93. Calling themselves the Lords of Chaos, the cabal of six began their crusade by burning down a supermarket construction trailer. They followed this with the arson of a Baptist church. The terror spree escalated in perversity when the youths spread gasoline around a tropical aviary cage adjacent to a theme restaurant, then ignited the thatched-roof structure and watched the blaze exterminate the entire collection of exotic birds.”

Finnish groups like Beherit and Impaled Nazarene have enjoyed considerable success worldwide, paving the way for many fans to form their own bands and follow in their footsteps. And just as in Norway, segments of the Black Metal subculture also wed themselves to an especially virulent strain of teenaged Satanism. (…) They wear the distinctive Black Metal make-up, which gives cause for some Finns to call them <penguins>, and they flock to music festivals where their favorite bands play.” É o finlandês da picada…

Finnish metal him! Flo Mounier’s victory!

Unlike the scene in Norway, the crimes connected with Black Metal in Finland emanate from the fans, not the prominent artists. Despite its small size, this confused scene has produced one of the grisliest events to arise anywhere out of the Black Metal phenomenon. In one of the most notable cases in Finnish court history, four young Black Metalers murdered a friend in a scenario which featured overtones of Satanic sacrifice, cannibalism, and necrophilia.” “Reporting on the case is further complicated by the fact that the court has implemented a forty-year secrecy act on the entire legal proceedings.”

Jarno Elg’s career as a glue-sniffer and aspiring alcoholic led to psychiatric care at the young age of 11. He tried hashish the following year. By the time he was 16, young Jarno was drinking daily and devouring books on Satanism. This diet of Kilju [bebida etílica baseada na fermentação da laranja, com gusto e cheiro horríveis, típica da Finlândia], psychoactive chemicals, and teenaged Satanism was bound to go awry.”

The Poetic Edda, translated by Henry Adams Bellows

Sociologist Jeffrey Arnett has described Heavy Metal music as the <sensory equivalent of war.>” Segundo consta, numa rápida googlada, o sr. Arnett é PSICÓLOGO na área da adolescência/jovens adultos, e não SOCIÓLOGO.

[????????????????????????????] In France the journal Napalm Rock is issued regularly under the auspices of the National-Bolshevist political group Nouvelle Résistance.” Erva mais vencida que Hitler em 44.

The rebellious impulse in Metal therefore has yet to synthesize the nihilism with the fascism, and since fascism is a synthesis itself, there’s no reason this cannot eventually be achieved.” Kerry Bolton

The ‘60s music genres were thoroughly phony in their radicalism. Unlike Black Metal (and for that matter Oi, and much Industrial) the ‘60s musicians had no fundamental difference in outlook to the establishment they were supposedly rebelling against.”

ILLUMINATI: “The possibility of being bought off by the music business would most likely be by way of insisting on a return to the specifically anti-Christian themes at the expense of the heathen resurgence, since I’m sure many of the executives of the music industry can co-exist well enough and even utilize anti-Christianity, including Satanism, especially if it is of the nature of yet one more superficial American commodity.”

Será que esses albinos “phoneys” e bastardos utilizam Mozart o Maçom como garoto-propaganda de seu ideário europeu?

According to the police, the Einsatzgruppe was plotting direct action against prominent Norwegian politicians, bishops, and public figures. The group’s plans included a scheme to break Varg Vikernes out of jail by force. The Einsatzgruppe had all the trappings of a paramilitary unit: bulletproof vests, steel helmets, cartridge belts, and ski masks. In addition, the police found a list of 12 firearms and a map for a hiding place at a mountain. However, the only weapons the police confiscated right away were some sawed-off shotguns and dynamite with blasting caps. The police also found a war chest with 100,000 Norwegian Kroner (close to $20,000). This had been supplied by Lene Bore, Varg Vikernes’s mother. She was also arrested and charged with financing an illegal group. Bore confessed, but claimed she had no idea these people were <right-wing extremists>. She expressed concerns about the treatment her son received in jail, and claimed that he was subjected to violence by his fellow inmates. This was dismissed as unfounded by the prison director. However, it is true that Varg’s jaw had been broken in an altercation with another inmate in late 1996.” “Curiously, Bore could not be prosecuted under Norwegian law—conspiracy to break the law is not illegal if it is done to help a close family member.” “The group was, according to some sources, aiming to escape with the freed Vikernes to Africa—hardly the hideout of choice for passionate racists.”

The stigma associated with Nazism is much stronger in Norway than it is in neighboring Sweden or the US, where most of the Norwegian Nazis draw their inspiration from. This is largely due to the fact that Norway was occupied by Nazi Germany from 1940 to 1945.”

The Mayor of Brumunddal was subjected to what one would call low-level harassment. No physical attacks, no real serious vandalism, but an endless stream of mail-order merchandise, pizzas and ambulances ordered in his name. Pornographic photo montages were also posted along the route his children walked to school. Two of the activists from Brumunddal defecated on the steps of the town hall to express their discontent with municipal policy. They thought this was really smart, so they did it once more, and then were caught.”

Gaston Bachelard – Psychoanalysis of Fire

Fire stirs the spirit of human artistry; it is the spark of the will-to-create. It expresses the polarity of emotions, as Bachelard notes, and represents both the passionate higher ideals, as well as the hot and consuming tempers of irrationality.”

Most people have lost interaction with real fire; the once universal, mystical experience of blazing night fires is gone from their lives. Stoking the flames of resentment or dissension is frowned upon in a world which depends on the smooth exchange of services. Those possessed of unrestrained spirit are silenced, or ordered to fit in. Their tendencies must be stifled. Extreme emotions are shunned; those who act on them become outcasts. Mainstream culture produces a bulging sea of quaint diversions, the ostensible rewards for good behavior. The music and art made available to the masses has the consistency of soft, damp pulp—hardly a conducive medium for fire.”

re-fuse/reexist

* * *

ANEXOS

It’s not good for us to laugh. We have nothing to laugh at in this laughable society.” Varguxo

The wild hunt appeared in many legends—a ghostly flock of dark, martial shapes riding through the night on their horses through the woods, lead by Odin, the one-eyed ruler of the dead, or sometimes by a female rider… a perception that in Christian times was transposed onto the Archangel Michael and his hosts.”

The Austrian folklorist Otto Höfler was able to prove in his books Kultische Geheimbünde der Germanen and Verwandlungskulte (Transformation Cults) that the wild hunt was not at all a mythological interpretation of storms, thunder, or flocks of birds—as many researchers thought—but a union of mythology and folklore, of myth and reality which was of great importance in the Nordic mystery cults.” “Höfler stressed that in the Germanic Weltanschauung, like that of most pre-Christian cultures, there was no sharp distinction between this world and the one beyond—the borders were fluid. The folklore of the cult groups was often very brutal. With or without drugs the members felt a furor teutonicus which Höfler called a <decidedly terroristic ecstasy> with various excesses”

Beer was was their special goal—kegs were stolen or secretly emptied, sometimes to be refilled with water or horse urine, or they themselves urinated back into the barrels. Often horses were also stolen; they became the property of the Oskorei. In the morning the farmers found their horses completely exhausted, or they had to search for them because the apocalyptic riders had set them free somewhere.”

Hoping for a rich harvest, one accepted the demands and offenses of the Oskorei as part of the bargain. Similar perceptions existed in the Alps when the Perchten were given nourishment as they went from house to house, or they were allowed to plunder the pantry.” “Gradually, however, many farmers were no longer willing to accept the outrages of the Oskorei. The cultic background of the thefts and pranks fell into oblivion, becoming superstition. The sympathy of the populace disappeared—now the disguised young men were no longer considered embodiments of the dead or fertility demons, but rather trouble-makers and evil-doers.” “The louder the drums, bells, cries, rattles, and whips, the more effective the noise magic became.”

They dress as ghostly as possible, speaking with a falsetto voice, reaching ecstasy by dancing, music and noise. … Their clothes should be as nightmarish as possible. They attempted to dress as ugly as they were able. They had terrible eyes, with big white rings or painted up with coal. (Johannessen, Norwegisches Burschenbrauchtum. Kult und Saga. Wien, 1967 (dissertation), pp. 13, 95.)”

The disguised members of the Oskorei altered their voices and gave themselves false names—they represented demons and had to remain unknown. In Black Metal as well only a few musicians use their real names; many take pseudonyms from Nordic history and mythology and in the meantime it is possible to find in Black Metal culture almost all deities of the Eddas.”

munch_scream
IMAGEM 6. O Grito, de Munch, pintor norueguês expressionista.

But Black Metal is above all heathen noise, electronically enhanced. The music is powerful, violent, dark and grim; a demonic sonic art with several elements in common with the Norwegian expressionist painter Edvard Munch, whose famous work The Scream would fit well on a record cover. The eternal recurrence of certain leitmotifs, the dark blazing atmosphere, the obscure, viscous sonic landscape of many songs—often lasting more than ten minutes— have at times an almost psychedelic effect. In the heaviness and darkness of certain compositions it is possible to realize some subliminal melodies only after listening to these works several times. Black Metal is a werewolf culture, a werewolf romanticism.”

<A hard heart was placed in my breast by Wotan.> (Nietzsche, Beyond Good and Evil, aph. 260)” Muito bacana descontextualizar aforismos!

The first song I heard by Burzum was Det Som Engang Var in the CD Hvis lyset tar oss. Even now this song remains for me the most beautiful and powerful work of Burzum; its symphonic sonic violence is impressive over and over again. It is a 14-minute-long composition full of grim, blazing beauty—dark and fateful. The uniquely hair-raising, screaming-at-the-heavens vocal of Varg Vikernes turns the piece into an expressionistic shriek-opera, the words of which are probably incomprehensible even for Norwegians. The song was composed in the spring of 1992. Another work which fascinates me very much is Tomhet (Emptiness), on the same CD. This song too has an extraordinary length; from my point of view it is an exceptional soundtrack to the Norwegian landscape—that is, Norway as I imagine it, a country ruled by silence and storm, solitude and natural violence.”

I am no racist because I do not hate other races. I am no Nazi either, but I am a fascist. I love my race, my culture, and myself. I am a follower of Odin, god of war and death. He is also the god of wisdom, magic, and poetry. Those are the things I am searching for. Burzum exists only for Odin, the cyclopian enemy of the Kristian god. I do not consider my ideas to be extreme at all. That which stupid people call evil is for me the actual reason to survive.”

Daniel Bernard – Wolf und Mensch. Saarbrücken, 1983. [outro?]

Mircea Eliade – Shamanismus und archaische Ekstasetechnik. Frankfurt, 1991.

Rudolf Simek – Lexikon der Germanischen Mythologie. Stuttgart, 1984.

Grimm, Jacob – Teutonic Mythology (4 Vols). Magnolia, MA: Peter Smith, 1976.

Hoidal, Oddvar K. – Quisling: A Study in Treason. Oslo: Norwegian University Press, 1989.

Tarjei Vesaas – Land of Many Fires

À SOMBRA DAS MAIORIAS SILENCIOSAS: O fim do social e o surgimento das massas (4ª ed.) – Baudrillard (MANUAL EM CONTRA-SOCIOLOGIA)

Trad. de 1985, Suely Bastos

Não são boas condutoras do político, nem boas condutoras do social, nem boas condutoras do sentido em geral. Tudo as atravessa, tudo as magnetiza, mas nelas se dilui sem deixar traços. E na realidade o apelo às massas sempre ficou sem resposta. Elas não irradiam, ao contrário, absorvem toda a irradiação das constelações periféricas do Estado, da História, da Cultura, do Sentido. Elas são a inércia, a força da inércia, a força do neutro.” “neutro = nem 1 nem 0utr0”

hoje referente mudo, amanhã protagonista da história, quando elas tomarão a palavra e deixarão de ser a <maioria silenciosa> – ora, justamente as massas não têm história a escrever, nem passado, nem futuro, elas não têm energias virtuais para liberar, nem desejo a realizar: sua força é atual, toda ela está aqui, e é a do seu silêncio.”

A sociologia só pode descrever a expansão do social e suas peripécias. Ela vive apenas da hipótese positiva e definitiva do social. A assimilação, a implosão do social lhe escapam. A hipótese da morte do social é também a da sua própria morte.

O termo massa não é um conceito. Leitmotiv da demagogia política, é uma noção fluida, viscosa, <lumpen-analítica>. Uma boa sociologia procurará abarcá-la em categorias <mais finas>: sócio-profissionais, de classe, de status cultural, etc. Erro: é vagando em torno dessas noções fluidas e acríticas (como outrora a de <mana>) que se pode ir além da sociologia critica inteligente. Além do que, retrospectivamente, se poderá observar que os próprios conceitos de <classe>, de <relação social>, de <poder>, de <status>, todos estes conceitos muito claros que fazem a glória das ciências legítimas, também nunca foram mais do que noções confusas, mas sobre as quais se conciliaram misteriosos objetivos, os de preservar um determinado código de análise.”

As <massas camponesas> de outrora não eram exatamente massas: só se comportam como massa aqueles que estão liberados de suas obrigações simbólicas, <anulados> (presos nas infinitas <redes>) e destinados a serem apenas o inumerável terminal dos mesmos modelos, que não chegam a integrá-los e que finalmente só os apresentam como resíduos estatísticos.” “Qualquer tentativa de qualificá-la é somente um esforço para transferi-Ia para a sociologia e arrancá-la dessa indistinção que não é sequer a da equivalência (soma ilimitada de indivíduos equivalentes: 1 + 1 + 1 + 1 – tal é a definição sociológica)”

Infelizmente não existem aliens. O inferno não é ninguém, o inferno não existe. O inferno sou eu e esse lustre.

O último avatar de deus dura um século. Foi selado, se não fôra selado ficaria ao relento, louco de si mesmo, esfalfado, inútil, um cu negro diante das civilizações selvagens.

Nada de histeria nem de fascismo potencial, mas simulação por precipitação de todos os referenciais perdidos. Caixa preta de todos os referenciais, de todos os sentidos que não admitiu, da história impossível, dos sistemas de representação inencontráveis, a massa é o que resta quando se esqueceu tudo do social.”

Foram pagãs e permaneceram pagãs à sua maneira, jamais freqüentadas pela Instância Suprema, mas vivendo das miudezas das imagens, da superstição e do diabo.” “Esta é a sua maneira de minar o imperativo categórico da moral e da fé, o imperativo sublime do sentido

imperativo incessantemente renovado de moralização da informação: melhor informar, melhor socializar, elevar o nível cultural das massas” “O que elas rejeitam é a <dialética> do sentido. E de nada adianta alegar que elas são mistificadas. Hipótese sempre hipócrita que permite salvaguardar o conforto intelectual dos produtores de sentido: as massas aspirariam espontaneamente às luzes naturais da razão. Isso para conjurar o inverso, ou seja, que é em plena <liberdade> que as massas opõem ao ultimato do sentido a sua recusa e sua vontade de espetáculo. Temem essa transparência e essa vontade política como temem a morte.” “trabalho de absorção e de aniquilamento da cultura” “nós somos apenas episodicamente condutores de sentido, no essencial e em profundidade nós nos comportamos como massa, vivendo a maior parte do tempo num modo pânico ou aleatório, aquém ou além do sentido.”

Nos Estados Unidos, a playlist dá shuffle em vosmecê!

essa indiferença não deveria existir, ela não tem nada a nos dizer. Em outros termos, a <maioria silenciosa> é despossuída até de sua indiferença, ela não tem nem mesmo o direito de que esta lhe seja reconhecida e imputada, é necessário que também esta apatia lhe seja insuflada pelo poder.” “Ora, é exatamente essa indiferença que exigiria ser analisada na sua brutalidade positiva, em vez de ser creditada a uma magia branca, a uma alienação mágica que sempre desviaria as multidões de sua vocação revolucionária.” A indiferença em relação à indiferença é forçoso.

É curioso que essa constatação jamais tenha subvertido a análise, reforçando-a, ao contrário, em sua fantasia de um poder todo-poderoso na manipulação, e de uma massa prostrada num coma ininteligível.”

O poder está muito satisfeito por colocar sobre o futebol uma responsabilidade fácil, ou seja, a de assumir a responsabilidade diabólica pelo embrutecimento das massas.”

VIDA TRANS,CORRA NORMAL: Rancor e Mal

Bom dia, diabo! Casemos essa música em nossos olvidos. Desovados de nosso próprio planeta. Contra-estratégia expressa aos pais fantasmas nebulosos azuis zumbis: nothing beyond our pseudofamily, so… nothing like family routines, nothing like normal boys usually do things. O fascismo não existe, Bolsonaro muito menos; ora, ninguém (me) liga, meu telephone está sempre no silencioso das massas pretas de absorção da matéria escura da Samsung. atroCIDADE alerta…:… ban ban e não bang bang. A missa mulheril de cada dia, ruminando poliânus, ciprestes a cair. Saudade e açucalinidade. Mútuo piscar de olhos de almas desentendidas que se entendem muito bem, pois. Que assim seja! Amem.a.meta.

O Homem veio da @

ANTI-FREUD (E DE CARONA REICH): “Ora, não se trata de maneira alguma de encontrar uma nova interpretação das massas em termos da economia libidinal (remeter o conformismo ou o <fascismo> das massas a uma estrutura latente, a um obscuro desejo de poder e de repressão que eventualmente se alimentaria de uma repressão primária ou de uma pulsão de morte).” Ironia: até quem vai contra Reich vai contra o nazismo!

Esta é hoje a única alternativa para a declinante análise marxista. Outrora se atribuía às massas um destino revolucionário contrariado pela servidão sexual (Reich), hoje se lhes atribui um desejo de alienação e servidão, ou ainda uma espécie de microfascismo cotidiano tão incompreensível quanto sua virtual pulsão de liberação. Ora, não há nem desejo de fascismo e de poder nem desejo de revolução.” Será? O revolucionário encara com otimismo o espectro fascista clássico, pois se existe a vontade de autoescravização, existirá a posteriori, sem dúvida, a revolução. O tique-taque do pêndulo do relógio.

RECADO A DELEUZE: “Última esperança: que as massas tenham um inconsciente ou um desejo, o que permitiria reinvesti-las como suporte ou suposto de sentido. O desejo, reinventado em toda parte, não é senão o referencial do desespero político.”

O cinismo e a imoralidade da política maquiaveliana estão nisso: não no uso sem escrúpulos dos meios com que se o confundiu na concepção vulgar, mas na desenvoltura com relação aos fins. Pois, Nietzsche o viu bem, é nesse menosprezo por uma verdade social, psicológica, histórica, nesse exercício dos simulacros enquanto tais, que se encontra o máximo de energia política, nesse momento em que o político é um jogo e ainda não se deu uma razão. É a partir do século XVIII, e particularmente depois da Revolução, que o político se infletiu de uma maneira decisiva.” Carta de compromissos (grilhões). “No mesmo momento começa a ser representação” “(o teatro segue um destino paralelo: torna-se um teatro representativo – o mesmo acontece com o espaço perspectivo [da pintura]: de instrumental que era no início, torna-se o lugar de inscrição de uma verdade do espaço e da representação)” “idade de ouro dos sistemas representativos burgueses (a constitucionalidade: a Inglaterra do século XVIII, os Estados Unidos da América, a França das revoluções burguesas, a Europa de 1848).

É com o pensamento marxista em seus desenvolvimentos sucessivos que se inaugura o fim do político e de sua energia própria. Nesse momento começa a hegemonia definitiva do social e do econômico, e a coação, para o político, de ser o espelho, legislativo, institucional, executivo, do social.” “a energia do social se inverte, sua especificidade se perde, sua qualidade histórica e sua idealidade desaparecem em benefício de uma configuração em que não só o político se volatilizou, mas em que o próprio social não tem mais nome.”

não há mais investidura política porque também não há mais referente social de definição clássica” massinha: representante da massa.

O fato de a maioria silenciosa (ou as massas) ser um referente imaginário não quer dizer que ela não existe. (…) Elas não se expressam, são sondadas.”

A cabine de votação parece um banheiro químico misturado com cápsula do tempo (um revestimento futurista, branco, metálico, moderno, com coisas bregas e ultrapassadas, fetichistas, por dentro da embalagem), cabine telefônica, uma urna (para os mortos).

jogo nojo gozo enajenación naja-nación luto Geena não

churrasco de cerveja zero álcool na laje na segunda-feira de noite

Fim das esperanças revolucionárias. Porque estas sempre especularam sobre a possibilidade de as massas, como da classe proletária, se negarem enquanto tais. Mas a massa não é um lugar de negatividade nem de explosão, é um lugar de absorção e de implosão.”

Na massa o político se deteriora como vontade e representação.” #IDÉIATÍTULODELIVRO O Único e seus fenômenos. “Durante muito tempo a estratégia do poder pôde parecer se basear na apatia das massas. Quanto mais elas eram passivas, mais ele estava seguro. Mas essa lógica só é característica da fase burocrática e centralista do poder. E é ela que hoje se volta contra ele: a inércia que fomentou se tornou o signo de sua própria morte. É por isso que o poder procura inverter as estratégias: da passividade à participação, do silêncio à palavra. Mas é muito tarde. O limite da <massa crítica>, o da involução do social por inércia, foi transposto.”

Agora buracos negros até existem, pois aparecem em fotografias. O real começou de facto a ser engolido por si mesmo. Nem energia ele arrota, nonobstant.

Em toda parte se procura fazer as massas falarem, se as pressiona a existir de forma social eleitoralmente, sindicalmente, sexualmente, na participação, nas festas, na livre expressão, etc. É preciso conjurar o espectro, é preciso que ele diga seu nome. Nada demonstra com mais clareza que hoje o único problema verdadeiro é o silêncio da massa, o silêncio da maioria silenciosa.” Comprovante de votação nas duas últimas eleições: prove que você existe; comprovante de residência: esse não precisa, sabemos que você pode mesmo morar nas ruas, pular de hotel em motel, pode ter seu organismo alterado artificialmente para jamais dormir. Injetar-se drogas, matar pessoas sonâmbulo pelas ruas de madrugada. Mas isso não nos diz respeito. Votaste? É isso que importa! Não que estejamos indignados com os outros, apenas sabemos que você existe… A propósito, você quer entrar para o sindicato? Nós descontamos a parcela no seu contracheque, não precisa se preocupar. Quem não tem foto no instagram ou facebook, quem não comprova sua vida sexual ativa, tampouco existe. Portanto, cuidado. Você tem direito a ter fases depressivas, mas não exagere… Estamos de olho, passar bem. Ótima semana!

Como não é mais do reino da vontade nem do da representação, ela cai sob o golpe do diagnóstico, da adivinhação pura e simples – de onde o reino universal da informação e da estatística: é preciso auscultá-la, senti-Ia, retirar-lhe algum oráculo. Daí o furor de sedução, de solicitude e de solicitação em torno dela. Daí a predição por ressonância, os efeitos de antecipação e de futuro da multidão em miragens como: <O povo francês pensa… A maioria dos alemães reprova… Toda a Inglaterra vibra com o nascimento do Príncipe…, etc.> – espelho que tende a um reconhecimento sempre cego, sempre ausente.”

Acredita-se que se estruturam as massas injetando-lhes informação, acredita-se que se libera sua energia social cativa à força de informação e de mensagens (a tal ponto que não é mais o enquadramento institucional, mas a quantidade de informação e a taxa de exposição aos meios de comunicação que hoje medem a socialização).”

A massa só é massa porque sua energia social já se esfriou. É um estoque frio, capaz de absorver e de neutralizar todas as energias quentes. Ela se assemelha a esses sistemas semimortos em que se injeta mais energia do que se retira, a essas minas esgotadas que se mantêm em estado de exploração artificial a preço de ouro.”

A energia que se dispende para atenuar a baixa tendencial da taxa de investimento político e a fragilidade absoluta do princípio social de realidade, para manter essa situação do social e impedi-lo de implodir totalmente, essa energia é imensa, e o sistema se precipita aí.”

Não se trata também de produção do social, porque senão o socialismo bastaria, até mesmo o próprio capitalismo. De fato, tudo muda com a precedência da produção da demanda sobre a das mercadorias. A relação lógica (da produção ao consumo) se desfaz, e estamos numa ordem inteiramente diferente, que não é mais nem de produção nem de consumo, mas de simulação de ambas graças à inversão do processo. De repente, não se trata mais de uma crise <real> do capital, como o supõe Attali, crise que depende de um pouco mais de social e de socialismo, mas de um dispositivo absolutamente diferente, hiper-real, que não tem mais nada a ver nem com o capital nem com o social.”

como massa, se limita a ser boa condutora dos fluxos, mas de todos os fluxos, boa condutora da informação, mas de qualquer informação, boa condutora de normas, mas de todas as normas; com isso, se limita a remeter o social à sua transparência absoluta, a só dar lugar aos efeitos do social e do poder, constelações flutuantes em torno desse núcleo imperceptível.”

Nunca houve manipulação. A partida foi jogada pelos dois, com as mesmas armas, e ninguém hoje poderia dizer quem a venceu”

hiperconformismo, forma imanente de humor” “a massa realiza esse paradoxo de não ser um sujeito, um grupo-sujeito, mas de também não ser um objeto.” “a noção de objeto aí se perde, como o campo da microfísica se perde na análise última da <matéria> – impossível captá-la como objeto neste limite infinitesimal

Todo o mundo conhece a profunda indeterminação que reina sobre as estatísticas (o cálculo de probabilidades ou os grandes números também correspondem a uma indeterminação, a uma <flutuação> do conceito de matéria, a que pouco corresponde uma insignificante noção de <lei objetiva>.”

Daí partiria, no sentido literal, uma patafÍsica ou a ciência das soluções imaginárias, ciência da simulação e da hiper-simulação de um mundo exato, verdadeiro, objetivo, com suas leis universais, incluindo o delírio daqueles que o interpretam segundo estas leis. As massas e seu humor involuntário nos introduziriam a uma patafísica do social que finalmente nos desembaraçaria de toda esta metafísica do social que nos atravanca.”

O publicitário não pode deixar de crer que as pessoas acreditam – por pouco que seja, isso quer dizer que existe uma probabilidade mínima de que a mensagem alcance seu objetivo e seja decodificada segundo seu sentido.”

O MEIO É A MENSAGEM, profetizava Mac Luhan: fórmula característica da fase atual, a fase cool de qualquer cultura mass-media

Enquanto o político há muito tempo é considerado só como espetáculo no interior da vida privada, digerido como divertimento semi-esportivo, semilúdico (veja-se o voto vencedor das eleições americanas, ou as tardes de eleições no rádio ou na tevê), e na forma ao mesmo tempo fascinada e maliciosa das velhas comédias de costumes. O jogo eleitoral se identifica há muito tempo aos jogos televisados na consciência do povo. Este, que sempre serviu de álibi e de figurante para a representação política, se vinga entregando-se à representação teatral da cena política e de seus atores.” “É o jogo, o filme ou os desenhos animados que servem de modelos de percepção da esfera política.” Neymar vingador e seu Death Note.

Até os anos 60, a história se impõe como tempo forte: o privado e o cotidiano não são mais do que o avesso obscuro da esfera política. No melhor dos casos, intervém uma dialética entre os dois e pode-se pensar que um dia o cotidiano, como o individual, resplandecerá além da história, no universal. Mas até lá só se pode deplorar o recuo das massas a sua esfera doméstica, sua recusa da história, da política e do universal, e sua absorção na cotidianidade embrutecida do consumo (felizmente elas trabalham, o que lhes garante um estatuto histórico <objetivo> até o momento da tomada de consciência). Hoje, inversão do tempo fraco e do tempo forte: começa-se a vislumbrar que o cotidiano, que os homens em sua banalidade até que poderiam não ser o reverso insignificante da história – melhor: que o recuo para o privado até poderia ser um desafio direto ao político, uma forma de resistência ativa à manipulação política. Os papéis se invertem: é a banalidade da vida, a vida corrente, tudo o que se estigmatizara como pequeno-burguês, abjeto e apolítico (inclusive o sexo) que se torna o tempo forte

Hipótese vertiginosa. As massas despolitizadas não estariam aquém mas além da política. (…) As massas executariam em sua prática <ingênua> (e sem ter esperado as análises sobre o <fim do político>) a sentença da anulação do político, seriam espontaneamente transpolíticas, como são translingüísticas em sua linguagem. Mas, atenção! (…) alguns desejariam que se tratasse (em particular em sua versão sexual e de desejo) de uma nova fonte de energia revolucionária, desejariam lhe dar um sentido e o reconstituir como negatividade histórica em sua própria banalidade. Exaltação de microdesejos, de pequenas diferenças, de práticas cegas, de marginalidades anônimas. Último sobressalto dos intelectuais para exaltar a insignificância, para promover o não-sentido na ordem do sentido. E revertê-lo à razão política. A banalidade, a inércia, o apoliticismo eram fascistas, agora se tornam revolucionários – sem mudar de sentido, isto é, sem deixar de ter sentido. Micro-revolução da banalidade, transpolítica do desejo – mais um truque dos <libertadores>.”

UMA ETNOGRAFIA DA AMÉRICA LATINA 2020’S: “A emergência das maiorias silenciosas se integra no ciclo completo da resistência histórica ao social. Resistência ao trabalho, evidentemente, mas também resistência à medicina, resistência à escola, resistência à segurança, resistência à informação. A história oficial só registra o progresso ininterrupto do social, relegando às trevas, como culturas passadas, como vestígios bárbaros, tudo que não concorreria para esse glorioso acontecimento.” “(o social vai bem, obrigado, só restam uns loucos para escapar ao registro, à vacinação e às vantagens da segurança)”

QUANDO A REDE GLOBO SE TORNA VÍTIMA DO MONSTRO QUE CRIOU (OU MELHOR: QUANDO ELA DESCOBRE QUE A MASSA ERA O DOUTOR E ELA MERO FRANKENSTEIN): “Sempre se acreditou que são os meios de comunicação que enredam as massas – o que é a própria ideologia dos mass media. Procurou-se o segredo da manipulação numa semiologia que combate os mass media. Mas se esqueceu, nessa lógica ingênua da comunicação, que as massas são um meio muito mais forte que todos os meios de comunicação, que são elas que os enredam e os absorvem – ou que pelo menos não há nenhuma prioridade de um sobre o outro. O processo da massa e o dos meios de comunicação são um processo único. Mass(age) é a mensagem.”

trata-se de lhes inculcar de todos os lados (propaganda oficial [Keenes], associação de consumidores, ecólogos [Uirás], sociólogos) a boa prática e o cálculo funcional em matéria de consumo, mas sem esperança.” “Valor/signo em vez de valor de uso já é um desvio da economia política.” “Uso a-social, resistente a todas as pedagogias socialistas – uso aberrante através do qual as massas (nós, vocês, todo o mundo) inverteram a economia política desde agora. Não esperaram as revoluções futuras nem as teorias que pretendem libertá-las de um movimento <dialético>. Elas sabem que não se liberta de nada e que só se abole um sistema obrigando-o ao hiperlógico, impelindo-o a um uso excessivo que equivale a um amortecimento brutal. <Vocês querem que se consuma – pois bem, consumamos sempre mais, e não importa o quê; para todos os fins inúteis e absurdos.>”

O mesmo aconteceu com a medicina: à resistência frontal (que aliás não desapareceu) se substituiu uma forma mais sutil de subversão, um consumo excessivo, irrefreável, da medicina, um conformismo pânico às injunções da saúde. Escalada fantástica do consumo médico que desvia completamente os objetivos e as finalidades sociais da medicina. Que melhor meio de aboli-Ia? Desde então os médicos não sabem mais o que fazem, o que são, muito mais manipulados do que manipuladores. <Queremos mais cuidados, mais médicos, mais medicamentos, mais segurança, mais saúde, sempre mais, sem limites!> As massas são alienadas na medicina? De modo algum: ao exigirem sempre mais, como mercadoria, estão prestes a arruinar sua instituição, a explodir a segurança social, a colocar o próprio social em perigo. Que maior ironia pode haver do que nesta exigência do social como bem de consumo individual, submetido ao excesso da oferta e da procura? Paródia e paradoxo: é por sua inércia nos caminhos do social que lhes foram traçados que as massas lhes ultrapassam a lógica e os limites, e destroem todo o edifício.”

o terrorismo na verdade pretende visar o capital (o imperialismo mundial, etc.) mas se engana de inimigo, e ao fazer isso visa seu verdadeiro inimigo, que é o social.” NADA A VER COM COPA OU OLIMPÍADAS: “terrorismo não-explosivo, não-histórico, não-político; implosivo, cristalizante, siderante” V de Vacância

Ele é o único ato não-representativo. É nisso que ele tem afinidade com as massas, que são a única realidade não-representável. Sobretudo isso não quer dizer que novamente o terrorismo representaria o silêncio e o não-dito das massas, que exprimiria violentamente sua resistência passiva. Isso quer dizer simplesmente: não há equivalente ao caráter cego, não-representativo, desprovido de sentido, do ato terrorista, senão o comportamento cego, desprovido de sentido e além da representação que é o das massas. Eles têm isso de comum porque são a forma atual mais radical, mais exacerbada, de negação de qualquer sistema representativo. É tudo.” “Só conhecemos bem os encadeamentos representativos, não sabemos grande coisa dos encadeamentos analógicos, a-finitários, imediatizados, irreferenciais e outros sistemas.”

Não se pode dizer que é a <era das maiorias silenciosas> que <produz> o terrorismo. É a simultaneidade dos dois que é assombrosa e causa estranheza. Único acontecimento, aceite-se ou não sua brutalidade, que verdadeiramente marca o fim do político e do social. O único que traduz essa realidade de uma implosão violenta de todos os nossos sistemas de representação.” “O terrorismo não visa de modo algum desmascarar o caráter repressivo do Estado (essa é a negatividade provocadora dos grupelhos, que aí encontram uma última oportunidade de serem representativos aos olhos das massas).”

solidariedade dos ativistas mortos “onda de choque”

P. 29: terrorismo x banditismo

os meios são apenas meios

roleta russa mode on

Rael is a problem.

patafísica reacionária do nazista frustrado

de toda forma,

já-deu

agora

fodeu

fode eu

Esahubris 9001 & Stephen Jacobs

Não há diferença alguma entre um terremoto na Guatemala e a queda de um Boeing da Lufthansa com 300 passageiros a bordo, entre a intervenção <natural> e a intervenção <humana> terrorista. A natureza é terrorista, como o é a interrupção abrupta de todo o sistema tecnológico: os grandes black-outs de Nova Iorque (1965 e 1977) criam situações terroristas melhores que as verdadeiras, situações sonhadas. Melhor: esses grandes acidentes tecnológicos, como os grandes acidentes naturais, exemplificam a possibilidade de uma subversão radical sem sujeito. A pane de 1977 em Nova Iorque poderia ser fomentada por um grupo terrorista muito organizado e isso não mudaria nada no resultado objetivo. Teriam sucedido os mesmos atos de violência, de pilhagem, de levante, a mesma suspensão da ordem <social>. Isso significa que o terrorismo não está na decisão de violência, mas em toda parte na normalidade do social, de modo que ela pode de um momento para o outro se transfigurar numa realidade inversa, absurda, incontrolável. A catástrofe natural funciona dessa maneira e é assim que, paradoxalmente, ela se torna a expressão mítica da catástrofe do social. Ou melhor, sendo a catástrofe natural por excelência um incidente desprovido de sentido, não-representativo (senão de Deus, eis por que o responsável pela Continental Edison pôde falar de Deus e de sua intervenção no episódio do último black-out de Nova Iorque), torna-se uma espécie de sintoma ou de encarnação violenta do estado do social, a saber, de sua catástrofe e da ruína de todas as representações que o sustentavam.”

a fascinação é a intensidade extrema do neutro.”

A implosão, para nós e hoje, só pode ser violenta e catastrófica, porque ela resulta do fracasso do sistema de explosão e de expansão dirigida que foi o nosso no Ocidente há alguns séculos.” “A implosão é inelutável, e todos os esforços para salvar os princípios de realidade, de acumulação, de universalidade, os princípios de evolução que dependem dos sistemas em expansão, são arcaicos, regressivos, nostálgicos. Inclusive todos aqueles que querem liberar as energias libidinais, as energias plurais, as intensidades fragmentárias, etc.” “Há traços disso, de diversas tentativas de controlar os novos impulsos anti-universais [satanização do “globalismo”], anti-representativos, tribais, centrípetos, etc.: as comunidades, a ecologia, o crescimento zero [CPTK(SIC) – Centro de Pesquisas Tirei do Ku para a Sustentação Idônea do Capital], as drogas [a única ‘evasão de divisas’ politicamente correta] – tudo isso sem dúvida é dessa natureza. Mas é preciso não se iludir sobre a implosão lenta. Ela está destinada à efemeridade e ao fracasso. Não houve transição equilibrada de sistemas implosivos aos sistemas explosivos: isso sempre aconteceu violentamente, e há toda a possibilidade de que nossa passagem para a implosão também seja violenta e catastrófica.”

ESTE ZERO: “Só a <sociologia> pode parecer testemunhar sua eternidade, e a soberana algaravia das <ciências sociais> ainda o divulgará muito tempo após ele ter desaparecido.”

SANTÍSSIMA TRINDADE SPONSORED BY K. – RIMA COM…: “como o espaço e o tempo, o social efetivamente abre uma perspectiva ao infinito. Não há definição do social senão nessa perspectiva panótica.”

Se o sexo e a sexualidade, dado que a revolução sexual os muda em si mesmos, são verdadeiramente um modo de troca e de produção de relações sexuais, já a sedução é o inverso da troca, e próxima ao desafio. A sexualidade realmente só se tornou <relação sexual>, só pôde ser falada nesses termos já racionalizados de valor e de troca, ao se esquecer qualquer forma de sedução – assim como o social só se torna <relação social> quando perdeu toda a dimensão simbólica.

SEMPRE CABE +1: “Ver, em L’Échange Simbolique et le Mort¹, a tripla residualidade: do valor na ordem econômica, do fantasma na ordem psíquica, da significação da ordem lingüística. É preciso portanto acrescentar aí a residualidade do social na ordem… social.”

¹ Talvez o único livro de Baudrillard que ainda não li!

não se pode dizer que o social morre, pois ele é desde sempre acumulação do morto. Com efeito, estamos numa civilização do super-social, e simultaneamente do resíduo indegradável, indestrutível, que se expande na própria medida da extensão do social.”

O REI MAGNÂNIMO: “Em 1544 abriu-se o primeiro grande estabelecimento de pobres em Paris: vagabundos, dementes, doentes, todos aqueles que o grupo não integrou e deixou como sobras serão adotados sob o signo nascente do social.”

4 CENTURIES LATER…: “Quando a sobra atinge as dimensões da sociedade toda, tem-se uma socialização perfeita. Vejam-se os Guaiaqui [Kwakiutl?] ou os Tupi-Guarani: quando um tal resíduo aparece, é drenado pelos líderes messiânicos para o Atlântico, sob a forma de movimentos escatológicos que purgam o grupo dos resíduos <sociais>. Não só o poder político (Clastres) mas o próprio social é conjurado como instância desintegrada/desintegrante.” Não há uma obra de Baudrillard sem Pierre Clastres…

Sea-arriba: O paradoxo do sociólogo que combate os anti-sociólogos: parcial no cultivo da neutralidade, torna-se tendencioso. A evolução social re-quer o autogolpe, uma espécie de “Brasil transformado em ciência”. Onde tudo é ruçamente permitido!

gestão usurária da morte” “É nessa perspectiva de gestão de resíduos que o social pode aparecer hoje pelo que é: um direito, uma necessidade, um serviço, um puro e simples valor de uso.” “o social como ecossistema, homeostase e superbiologia funcional da espécie“Uma espécie de espaço fetal de segurança (…) a forma mais baixa da energia social”

* * *

Se toda a riqueza fosse sacrificada, as pessoas perderiam o sentido do real. Se toda a riqueza se tornasse disponível, as pessoas perderiam o sentido do útil e do inútil. O social existe para garantir o consumo inútil da sobra a fim de que os indivíduos se dediquem à gestão útil de suas vidas.” Transformar leite e queijo em livros.

Não é à toa que cálculo (estudo de relações entre coisas) se chama razão.

o afluxo repentino de divisas é a maneira mais rápida e mais radical de arruinar uma moeda”

NEGATIVE LOTTO: “A loucura de Hölderlin lhe veio desta prodigalidade dos deuses, desta graça dos deuses que afoga e se torna mortal se não pode ser reparada e compensada por uma equivalência humana, a da terra, a do trabalho. Há aí uma espécie de lei que não tem nada a ver com a moral burguesa. Mais próximo de nós, citemos a confusão mortal das pessoas superexpostas à riqueza e à felicidade – como clientes de uma grande loja aos quais se oferece escolher o que desejam: é o pânico. Ou ainda esses vinhateiros a quem o Estado oferece mais dinheiro para arrancar suas vinhas do que ganhariam trabalhando nelas. São muito mais desestruturados por este prêmio inesperado do que pela tradicional exploração de força de trabalho.”

Eu preciso de imbecis me aparando ou eu seria só cabelo.

Se meu talento fosse reconhecido da noite para o dia, fatalmente eu ficaria louco como se toda a metanfetamina do mundo fosse-me injetada duma vez.

DESAFIO: Cite 10 coisas mais úteis que pisar na Lua.

A verdadeira candura é a dos socialistas e humanistas de toda espécie, que querem que toda a riqueza seja redistribuída, que não haja nenhuma despesa inútil, etc.”

É o que o socialismo não vê: ao querer abolir essa escassez, e ao reivindicar o usufruto generalizado da riqueza, põe fim ao social acreditando que o está conduzindo ao auge.” “Quando tudo, inclusive o social, se torna valor de uso, o mundo se tornou inerte, onde se opera o inverso do que Marx sonhava. Ele sonhava com uma reabsorção do econômico no social (transfigurado). O que nos acontece é a reabsorção do social na economia política (banalizada): a gestão pura e simples.”

Nada mudou desde Mandeville e sua Fábula das Abelhas.”

Terceira hipótese: “O social não foi sempre um equívoco, como na primeira hipótese, nem uma sobra, como na segunda. Mas justamente só teve sentido, como o poder, como o trabalho, como o capital, num espaço perspectivo de distribuição racional (…) e hoje morre” “Ora, o social só existe num espaço perspectivo, morre no espaço de simulação”

Curto-circuito fantástico: o real é hiper-realizado; nem realizado, nem idealizado. O hiper-real é a abolição do real não por destruição violenta, mas pela afirmação, elevação à potência do modelo.” “Há real em demasia, cai-se no obsceno e no pornô.”

CAGADA HAT-TRICK

A direita

A esquerda

O espírito aristocráticotirânico AMEMuns aos outros

Doña Flôbert e seus 2 Partidos

* * *

A esquerda é o monstro do Alien.

Por que, no final das contas, o fascismo (genuíno, pur sang) é sempre eleito democraticamente: “Os representantes do povo são bastante ingênuos a esse respeito: tomam sua eleição por uma aprovação e um consenso popular, não desconfiam nunca que não há nada mais ambíguo do que impelir alguém ao poder e que o espetáculo mais gratificante para o povo sem dúvida sempre foi a derrota de uma classe política.”

O advento do socialismo como modelo é absolutamente diferente de seu advento histórico. Como acontecimento, como mito, como força de ruptura, o socialismo não tem, como se diz, o tempo de se parecer consigo mesmo, de se fortalecer como modelo, não tem tempo de se confundir com a sociedade – nessa qualidade ele não é um estado estável, e aliás só fez breves aparições históricas. Ao passo que hoje o socialismo se propõe como modelo estável e confiável – não é mais uma exigência revolucionária, é uma simulação de mudança (simulação no sentido de desenvolvimento do melhor cenário possível) e uma simulação do futuro. Nada de surpresa, nada de violência, nada de ultrapassagem, nada de verdadeira paixão.”

A menos que haja uma reversão miraculosa da história, que daria sua carne e seu sangue a qualquer projeto social que apareça, e à realidade sem mais, é-nos necessário, como diz Canetti, perseverar na destruição atual.”

* * *

o intelectual infelizmente sempre é bastante virginal para ser cúmplice da repressão ao vício.” Nunca cansamos de ser críticos. Só com críticas explícitas fazemos 3 pontos fora de casa. Como político, excelente filósofo; como filósofo, excelente político. Como legislador, excelente burocrata. Enquanto funcionário racional-legal, criador de exceções imprevisíveis incontroláveis o tempo inteiro. Como pai ótimo filho.

Ou Stalin ou Nada, de que lado Você (o[u] Eu) está?

O CORPO DECIDE QUANDO O TEATRO FICA ENJOADO: “Nós vagueamos entre os fantasmas do capital, de hoje em diante vaguearemos no modelo póstumo do socialismo. A hiper-realidade de tudo isso não mudará nem um pouco, num certo sentido é nossa paisagem familiar há muito tempo. Estamos doentes de leucemia política, e essa indiferença crescente (estamos atravessados pelo poder sem por ele sermos atingidos, analisamos, atravessamos o poder sem alcançá-lo) é absolutamente semelhante ao tipo de patologia mais moderna: a saber, não a agressão biológica objetiva, mas a incapacidade crescente do organismo de fabricar anticorpos (ou mesmo, como na esclerose em placas, a possibilidade de os anticorpos se voltarem contra o próprio organismo).”

E aí nós, intelectuais, fomos pegos. Porque enquanto se tratava de economia, de programação e do desencantamento de uma sociedade liberal, mantivemos nosso foro íntimo, ricos de uma reserva mental e política indefinida, vestais de uma pequena chama crítica e filosófica, promessa de uma eficácia silenciosa da teoria (aliás a teoria se portava muito bem, ela não reencontrará sem dúvida jamais a qualidade ofensiva e jubilatória ao mesmo tempo que a grandiosa sinecura de que desfrutou nesses últimos 20 anos).” “Nada pior do que a absorção da força teórica numa instituição. Eu compreendo: a própria utopia dos conceitos segundo os quais analisávamos esta situação que não era a nossa, e a dissolvíamos em seus componentes imaginários, essa utopia mesma se volta contra nós sob a forma de julgamento de valor real, de jurisdição intelectualmente armada com nossas próprias armas, sob a forma desse fantasma da vontade coletiva, essa utopia foi a de nossa própria classe [os intelectuais], que mantém, mesmo na simulação, o poder de nos anular.”

velho slogan rimbaudiano que se tornou socialista – alegrai-vos, hoje se vai mudar verdadeiramente a vida – é maravilhoso!”

Thomas En(do)gênio: “Tal é o sonho socialista, enlouquecido de transparência, inundado de ingenuidade. Porque nenhum grupo jamais funcionou assim – mas sobretudo: que grupo não sonhou com isso? Felizmente é verossímil que algum projeto social digno desse nome jamais existiu, que nenhum grupo na verdade jamais se concebeu idealmente como social, em suma, jamais houve <a sombra> (salvo nas cabeças intelectuais) nem o embrião de um sujeito coletivo com responsabilidade limitada, nem a possibilidade mesma de um objetivo dessa ordem.”

MARTIN (HIGH DAGGER) E EU – A A-D[R]AGA QUE NOS SOBRE-VOA AO IN-VÉS DE PER-FURAR

GLOSSÁRIO PRÉ-FACIAL

Puesto que las relaciones en el interior de las familias de palavras desempeñan un importante papel en el texto de Heidegger y pueden quedar ocultas por la traducción, el glosario está ordenado de acuerdo con ellas. [Mas preferi indexar prioritariamente em ordem alfabética, aqui, na medida do possível, o trabalhoso léxico alemão.]”

Anblick: visão i’m-age’m

Einblick: compreensão

andenken: pensar-em

an-denken: lembrar

an-drängen: in-vestir

überdrangen: sobrepujar

Anfang: início

An-fang: in-ício

incipio (latim): in+capio: eu pego (I seize)

An-wesen: “natureza-do-Ser”

anwesen: presenciar

Anwesenheit: presença

Dada la opción tomada, que prima la correlación esencia-presencia, la expresión participial das Anwesende queda en una cierta ambigüedad, que constituye por otra parte uno de los centros de lo que está en discusión: «lo que presencia», «lo presenciante», o simplemente «lo presente», en el cual, al igual que antes con «esencia», queda de cierto modo oculto el movimiento de llegar a la presencia, el desocultamiento.”

apremiante (espanhol): urgente, obrigatório

[!]

aufbleiben: manter-se receptivo, resistir

ausbleiben: falhar / não se dar / não ter lugar

Aufgang: surgimento

Aufgang Amadeus Mozart! Surja, Klassische Musik!

Auseinandersetzung: confrontação

de-fim-a-diante-com próximoutro?

einander: um ao outro, cada um

Ersetzung: compensação, reembolso

setzen: set, pôr sunset

o olhar perspectivístico de Nietzsche

austragen: levar às últimas conseqüências (de-encerrado)

quitar

resolver, chegar à síntese do problema

dirimir

Beginn: começo que não é um início

bergen: cobijar (cuidado com o falso cognato – salvar, resgatar, albergar, COBRIR, OCULTAR, MENTIR)

salvaguardar = verwahren, preservar = einmachen

entbergen: desocultar, de certa forma CONDENAR, MATAR EXPOSTO AO SOL DA VERDADE

Beständigkeit: consistência, com-insistência = Inständigkeit, disponível-sem-p-terno

Beständsicherung: aseguramiento de la existencia consistente”

Bewusst-sein: ser-consciente

blicken: olhar, contemplar

consunção: definhamento

dichten: poetizar; inventar.

obrar = wirken

erwirken: levar a efeito

wirkend: eficiente

Wirklichkeit: realidade efetiva

Wirksamkeit: eficácia

ob-rar o-brar

eigentlich: em-si

EntZWEIung: des-união

ereignen: acontecer = geschehen (historiar)

Ereignis: acontecimento

ereignung: apropriação

Erinnerung: recordação, lembrança

festhalten: assegurar = sichern; deter.

festmachen: fixar, tornar consistente

festsetzen/feststellen: determinar = bestimmen

Fort-gang: pro-gresso pró-gesso

Gesetz: lei (ou seja, o [im]posto – setzen no passivo)

Gesichtskreis: círculo visual, campo-de-visão

Ge-stell: dis-positivo dis-pôr isto não está disposto como diria o preguiçoso Ed-som que é um des-afino para meus ou-vidos.

das Gewesene: «lo ya sido» [jazido], lo que no quiere decir lo simplemente pasado, por lo que es importante seguir teniendo presente el wesen que está en el participio; cfr. II 12, 28. Die Gewesenheit: «lo esencialmente sido»; cfr. II 12. Das Ge-wesen: «lo esenciado»; con la separación del «ge-», Heideg«ge-»r [hehe-gege] quiere señalar su carácter de recogimiento de lo múltiple (como en el término Ge-birge, montañas, cadena montañosa, respecto de Berg, montaña singular); cfr. II 315. Das Gewesende: «lo ya sido esenciante»; cfr. II 397.”

Gleich: O Mesmo

Eingleichung: assimilação = Einverleibung

Grundfrage: pergunta fundamental

Ab-grund: ab-ismo

herstellen: produzir

Hipóstase/hipostasiar (português): ser ou existência e não “invenção”? Polissemia medicinal-teológica.

Leib: corpo com-vida (mas não aceitei)

lichten: despejar (não é alumiar ou iluminar)

liegen: sein/be, ou pelo menos a parte do “estar”

Machenschaft: maquinação

machten: exercer-poder

Bemächtingung: a/em-poderamento, o substantivo favorito das feminazis.

mentar (espanhol): mencionar

Mit-teilen: com-partir

Not-Wendigkeit: agilidade da necessidade! [k]Nót górdio da vida cal-do-que-nó!

Sache: coisa no sentido abstrato (contraparte de Ding, material)

Satz: princípio

Setzung: posição

Voraus-setzung: pressu-posição

selbständig: independente, aquele que se mantém de pé por si mesmo, autossustém-se.

Stimme: voz

Stimmung: temperamento, ânimo

Trieb: pulsão carpe-dia-trieb nehmen-the-day!

übersinnlich: suprassensível

überwinden: superar

ungut: engraçado (e não mau ou não-bom!)

Unheimische: desamparo

Unheimlische: inquietante

Untergang: ocaso

Unterkunft: albergue, guarida

Unwesen: «inesencia»; la palabra, que es claramente una negación de Wesen (esencia), existe en el lenguaje corriente y tiene una connotación peyorativa, de abuso, confusión. Sobre su relación con la esencia, cfr. esp. II 294.”

Unwillen: fúria (e não passivo ou não-vontade!) – mesma raiz de in-dignação, mal-dizer, não-aceitar.

Verfestigung: consolidação

verlassen: abandonar, esquecer

unterlassen: omitir

veranlassen: ocasionar ocaso-nar, derivar… brotar, nascer, partir é perder-se. É ser autêntico.

verrechnen: computar

Versuch: tentativa

Versuchender: tentador

vollENDung: acabamento

vollziehen: levar a cabo

wahren: conservar; durar.

anwähren: perdurar

Weile: morada; intervalo, instante, lapso (justamente com sua correlação espácio-temporal: espaço de abrigo, tempo de abrigo do Ser)

jeweilig: o particular

Wert: valor setzen des Werte (= Wertsetzung)

Umwert: não-valor, desvalor

Umwertung: transvaloração (desvalorização de todos os valores!)

Wesen: essência (et al.) (daí a correspondência pós-nietzschiana entre essenciar e presenciar)

La forma wesen deriva de una raíz indogermánica que comparte con otras el sentido de <ser> y que es posteriormente sustituida por ésta. En alemán queda en el participio pasado de ser (gewesen) y en las expresiones anwesen (presente) y abwesen (ausente). Wesen en sentido verbal es empleado por Heidegger para decir «ser», sin que por ello se tenga que pensar que aquello de lo que se dice sea algo «ente», reservando entonces la palabra «ser» para los entes (cfr., p.ej., II, 177). Acuñamos entonces para «wesen» (en sentido verbal) el verbo «esenciar». En el Wesen entendido como «esencia», quididad, «qué-es», queda oculto ese carácter verbal, lo que implica también que en ocasiones debe dejarse traslucir y entenderse como <el esencial>. «Das wesende» será «lo que esencía» o «lo esenciante».

Ziel: meta

Zweck: fim

(relativamente intercambiáveis)

Züchtung: adestramento

zustellen: remeter-a, proporcionar

* * *

La primera edición de la La voluntad de poder abarcaba 483 fragmentos numerados. Pronto se vió que esta edición había resultado muy incompleta en relación con el material manuscrito existente [vide esclarecimentos em azul bem adiante neste trabalho]. En 1906 apareció una nueva edición, sustancialmente aumentada, manteniendo el mismo plan anterior. Abarcaba 1067 fragmentos, es decir, más del doble de los que tenía la primera. Esta edición apareció en 1911 formando los tomos XV y XVI de la llamada «edición en gran octavo» de las obras de Nietzsche. Sin embago, tampoco ella contiene todo el material; lo que no fue incluido en el plan apareció en los dos tomos de la citada edición dedicados a la obra postuma (XIII y XIV).La gran cantidad de cartas de que se dispone, que sigue aumentando contínuamente gracias a nuevos e importantes descubrimientos, también habrá de publicarse en orden cronológico.”

Para el uso diario durante este curso es recomendable la edición de La voluntad de poder preparada por A. Baeumler para la colección de bolsillo de la editorial Kröner. Es una reproducción fiel de los tomos XV y XVI de las Obras Completas y contiene un sensato epílogo y un resumen breve y bien hecho de la vida de Nietzsche. Además, Baeumler ha editado en la misma colección un volumen titulado Nietzsche in seinen Briefen und Berichten der Zeitgenossen [Nietzsche en sus cartas y en relatos de sus contemporáneos]. El libro resulta útil para una primera toma de contacto. Para el conocimiento de su vida sigue conservando su importancia la exposición hecha por su hermana [!!], Elisabeth Förster-Nietzsche: Das Leben Friedrich Nietzsches [La vida de Friedrich Nietzsche], 1895-1904.

Efectivamente, el desierto a mi alrededor es inmenso; en realidad sólo soporto a quienes son totalmente extraños y casuales o a quienes están vinculados a mi desde hace mucho o desde la infancia. Todo lo demás se ha desmoronado o ha sido directamente rechazado (ha habido en esto mucha violencia y mucho dolor).”

Con su doctrina del eterno retorno Nietzsche no hace más que pensar a su modo el pensamiento que, de modo oculto, pero constituyendo su auténtico motor, domina toda la filosofía occidental. Nietzsche piensa este pensamiento de manera tal que con su metafísica vuelve al inicio de la filosofía occidental; o, expresado con mayor claridad: al inicio tal como la filosofía occidental se ha acostumbrado a verlo en el curso de su historia, a lo cual también Nietzsche ha contribuido, a pesar de tener, por otra parte, una comprensión originaria de la filosofía presocrática.”

La eternidad, no como un ahora detenido, ni como una serie de ahoras desarrollándose al infinito, sino como el ahora que repercute sobre sí mismo: ¿qué otra cosa es esto sino la oculta esencia del tiempo? Pensar el ser, la voluntad de poder, como eterno retorno, pensar el pensamiento más grave de la filosofía, quiere decir pensar el ser como tiempo. Nietzsche pensó este pensamiento, pero no lo pensó aún como la pregunta por ser y tiempo. También Platón y Aristóteles, al comprender el ser como ουσία (presencia), pensaron este pensamiento, pero al igual que Nietzsche, tampoco lo pensaron como pregunta.”

Baeumler presenta lo que Nietzsche denomina el pensamiento más grave y la cima de la consideración como una convicción «religiosa» totalmente personal, y agrega: «Sólo una de las dos puede tener validez: o bien la doctrina del eterno retorno o bien la de la voluntad de poder» (p. 80). «El fundador de religiones Nietzsche es también el que lleva a cabo una egiptización del mundo heraclíteo». De acuerdo con ello, la doctrina del eterno retorno significa una detención del devenir. En este dictamen, Baeumler supone que Heráclito enseña el eterno flujo de las cosas en el sentido de un continuar indefinido. Hace ya algún tiempo que sabemos que esa comprensión de la doctrina heraclitea no es griega. Pero tan cuestionable como esa [primeira] interpretación de Heráclito es que pueda tomarse sin más la voluntad de poder de Nietzsche como devenir en el sentido de un continuo fluir. la doctrina del eterno retorno, en la que él teme un egipticismo, va en contra de su concepción de la voluntad de poder, a la cual, a pesar de hablar de metafísica, no concibe de modo metafísico sino que interpreta de modo político.”

La segunda interpretación de la doctrina nietzscheana del eterno retorno es la de Karl Jaspers. Por una parte, Jaspers se ocupa de ella de modo más detenido y ve que constituye un pensamiento decisivo de Nietzsche. Sin embargo, y a pesar de hablar de ser, Jaspers no lleva este pensamiento al ámbito de la pregunta fundamental de la filosofía occidental y por lo tanto tampoco lo pone en verdadera conexión con la doctrina de la voluntad de poder.”

A MÁSCARA DO ESQUERDOPATA METALEIRO: «Pero nosotros, nuevos filósofos, no sólo comenzamos con la exposición de la jerarquía y la diferencia de valor fáctica entre los hombres, sino que además queremos precisamente lo contrario de una equiparación, de una igualación: enseñamos el extrañamiento en todo sentido, abrimos abismos como nunca los ha habido, queremos que el hombre sea más malo de lo que nunca lo fue. Entretanto vivimos aún ocultos y extraños unos de otros. Por muchos motivos nos será necesario ser ermitaños e incluso emplear máscaras, por lo que difícilmente serviremos para buscar a nuestros semejantes. Viviremos solos y conoceremos probablemente los martirios de cada una de las siete soledades. Y si por casualidad nos cruzamos en el mismo camino, puede apostarse a que no nos reconoceremos o nos engañaremos mutuamente» (La voluntad de poder, n. 988)

¡Gracias a la mera eliminación habría de surgir por sí mismo algo nuevo!”

Una proposición en cuanto proposición no puede ser nunca un principio.”

La interpretación del libro no la comenzaremos, sin embargo, con su primer capítulo, «La voluntad de poder como conocimiento», sino con el cuarto y último: «La voluntad de poder como arte».”

PARA UMA HISTORIOGRAFIA DA FILOSOFIA? “La obra capital de Schopenhauer apareció en el año 1818. Es profundamente deudora de las obras capitales de Schelling y Hegel, por entonces ya publicadas. La mejor prueba de ello son los insultos desmedidos y faltos de gusto que Schopenhauer propinó a Hegel y Schelling durante toda su vida. Schopenhauer llama a Schelling «cabeza hueca» y a Hegel, «burdo charlatán». Estos insultos a la filosofía, frecuentemente imitados en la época posterior a Schopenhauer, ni siquiera tienen el dudoso privilegio de ser especialmente «nuevos».

En una de sus obras más profundas, el tratado Sobre la esencia de la libertad humana, aparecido en 1809, Schelling expresó: «En última y suprema instancia no hay más ser que el querer. Querer es el ser originario» (I, VII, 350). Y Hegel, en su Fenomenología del espíritu (1807), concibió a la esencia del ser como saber, pero al saber como esencialmente igual al querer.

Schelling y Hegel tenían la certeza de que con la interpretación del ser como voluntad no hacían más que pensar el pensamiento essencial de otro gran pensador alemán, el concepto de ser de Leibniz, quien determinó la esencia del ser como la unidad originaria de perceptio y appetitus, como representación y voluntad. No es casual que el propio Nietzsche nombre a Leibniz dos veces en La voluntad de poder en passajes decisivos: «La filosofía alemana como un todo —Leibniz, Kant, Hegel, Schopenhauer, para nombrar a los grandes— es el tipo más profundo de romanticismo y nostalgia que haya habido hasta ahora: el anhelo de lo mejor que jamás haya existido» (n. 419) .Y: «Händel, Leibniz, Goethe, Bismarck: característicos del tipo alemán fuerte» (n. 884).”

«Dependencia» no es un concepto que pueda expresar la relación de los grandes entre sí.”

Todas las ciencias, en cambio, piensan sólo un ente entre otros, un determinado ámbito del ente. Sólo están vinculadas inmediatamente por él, pero nunca de modo absoluto. Puesto que en el pensamiento filosófico reina el mayor vínculo posible, todos los grandes pensadores piensan lo mismo. Pero este «mismo» es tan esencial y tan rico que ninguno puede agotarlo, sino que cada uno no hace más que vincular a cada uno de los otros de modo más riguroso.

«El querer me parece sobre todo algo complejo, algo que sólo como palabra tiene una unidad—y precisamente en una palabra está encerrado el prejuicio popular que se ha adueñado de la precaución siempre escasa de los filósofos» (Más allá del bien γ del mal; VII, 28)—. Nietzsche se dirige aquí sobre todo contra Schopenhauer, que opinaba que la voluntad era la cosa más simple y conocida del mundo.” “Pero este planteamiento es un error. Según la convicción de Nietzsche, el error básico de Schopenhauer está en pensar que hay algo así como un querer puro, que sería más puro cuanto más completamente indeterminado se deje lo querido y más decididamente se excluya al que quiere. Por el contrario, en la esencia del querer radica que lo querido y el que quiere sean integrados en el querer

O ENSIMESMADO ESTÁ FORA DE SI: “La ira no podemos proponérnosla ni decidirla, sino que nos asalta, nos ataca, nos «afecta». Este asalto es repentino e impetuoso; nuestro ser se agita en el modo de la excitación; nos sobreexcita, es decir, nos lleva más allá de nosotros mismos, pero de manera tal que en la excitación ya no somos dueños de nosotros mismos. Se dice: actuó presa de sus afectos. El lenguaje popular muestra una visión aguda cuando respecto de alguien presa de excitación dice que «no se contiene». En el asalto de la excitación el contenerse desaparece y se transforma en explosión. Decimos: está fuera de sí de alegría.”

UM HOMEM E/OU UM RATO

O HOMEM REVOLTADO, O HOMEM INDISPOSTO

O HOMEM SOBREPOSTO, O HOMEM QUE PAGUIMPOSTO

O HOMEM SUPOSTO APENAS SUPOSTO HOMEM

O RATO ROEDOR-O HOMEM HONRADO

O HUMANÓIDE ROÍDO, O IMPÉRIO RUÍDO

O RATO RASGADO, O RATO HORRÍVEL

O HOMEM-RATO FUDIDO

O TATO EM FALTA O TETO PREENCHIDO

QUEM MEXEU NO MEU RATO

QUEM ESFAQUEOU O MEU HOMEM

QUEM ESCAPOU

PELO BURACO DA RATOEIRA

SEM DEIXAR VESTÍGIO

EIS A Q.: PEDIDO DE SOCORRO? “El odio no se esfuma después de una explosión, sino que crece y se endurece, carcome y consume nuestro ser.” “El irascible pierde la capacidad de meditar. El que odia potencia la meditación y la reflexión hasta el extremo de la astuta malevolencia.” Sou astuto ou me deixo levar como um balão mal-cuidado?

HOJE, EU TE JURO, ESTOU SUPERIOR A VOCÊ: “El amor no es ciego, sino clarividente; sólo el enamoramiento es ciego, fugaz y sorpresivo, un afecto, no una pasión. (…) gran pasión — el derroche y la invención, no sólo el poder dar sino el tener que dar y, al mismo tiempo, esa despreocupación por lo que ocurra con lo que se derrocha, esa superioridad que descansa en sí misma que caracteriza a la gran voluntad.” la interna ligereza de lo superior”

Nietzsche se queda en camino y le es siempre más urgente la caracterización inmediata de lo que quiere. Con tal actitud, adopta inmediatamente el lenguaje de su tiempo y de la «ciencia» contemporánea. Al hacerlo, no se arredra ante exageraciones conscientes e interpretaciones unilaterales, creyendo que de este modo puede destacar de la manera más clara posible lo que diferencia sus concepciones y sus preguntas de las corrientes. Al seguir este proceder mantiene, sin embargo, una visión del conjunto, y, por así decirlo, puede permitirse esas unilateralidades. El proceder se vuelve fatal, en cambio, cuando otros, sus lectores, recogen desde fuera esas proposiciones y, dependiendo de lo que se quiera que ofrezca Nietzsche en la ocasión, o bien las exponen como su opinión única, o bien lo refutan gratuitamente basándose en tales expresiones aisladas.O tipo Ceariba da minha contemporaneidade (os atrasados).

O ser consiste no consentimento.”

Aristóteles – Da Alma: “Su contenido no es una psicología, ni tampoco una biología. Es una metafísica de lo viviente, de lo cual también forma parte el hombre.”

Para Heidegger, Aristóteles, Leibniz e Kant não são idealistas, em que pese o que afirma: “Tomados en conjunto, los grandes pensadores no han otorgado nunca el primer rango a la representación en sus concepciones de la voluntad.” [!!!]

AGORA FALOU A MINHA LÍNGUA: “Da igual que se la llame idealista o no idealista, emocional o biológica, racional o irracional, en cualquier caso será una falsificación.”

sólo en la continua elevación lo elevado puede seguir siendo elevado y seguir estando en lo alto.”

GRANDE FALA DE HEGEL: “La belleza sin fuerza odia al entendimiento, porque éste le exige aquello de lo que no es capaz. Pero la vida del espíritu no es la vida que retrocede ante la muerte y se mantiene pura frente a la desolación, sino la que la soporta y se conserva en ella. El espíritu sólo conquista su verdad encontrándose a sí mismo en el desgarramiento absoluto. Es ese poder no como lo positivo que prescinde de lo negativo, como cuando decimos de algo que no es nada o es falso, y habiéndolo liquidado nos alejamos de él para pasar a otra cosa; sino que es ese poder en la medida en que mira a la cara a lo negativo, en que se detiene en él.”

Schopenhauer aparece, al contrario [da dissimulação e da hipocrisia do status quo, do Estado], como el testarudo [obstinado] moralista que en última instancia, para seguir teniendo razón con su apreciación moral, se convierte en negador del mundo. Finalmente en <místico>.” VdP

Die Briefe des Freiherrn Carl von Gersdorff an Friedrich Nietzsche, ed. por K. Schlechta.

Schopenhauer interpretó el hecho de ser ávidamente leído por el público culto como un triunfo filosófico sobre el idealismo alemán. Pero la razón de que Schopenhauer ocupara el primer lugar en la filosofía de esa época no radicaba en que su filosofía hubiera triunfado sobre el idealismo alemán sino en que los alemanes habían sucumbido ante el idealismo alemán, en que ya no sabían estar a su altura. Esta decadencia hizo de Schopenhauer un gran hombre, lo que tuvo como consecuencia que la filosofía del idealismo alemán, vista desde los lugares comunes schopenhauerianos, se convirtiera en algo extraño y extravagante y cayera en el olvido. Sólo con rodeos y extravíos volvemos a encontrar el camino que conduce hacia esta época del espíritu alemán. Estamos, sin embargo, muy alejados de una relación verdaderamente histórica con nuestra historia. Nietzsche sintió que aquí operaba una «grandiosa iniciativa» del pensamiento metafísico. Se quedó, no obstante, en este presentimiento, y así tenía que ser, pues la década de trabajo dedicada a la obra capital no le dejó la serenidad necesaria para demorarse en las espaciosas construcciones de la obra de Hegel y Schelling.”

El poder es la voluntad en cuanto querer-ir-más-allá-de-sí, pero precisamente por ello es volver-a-sí, encontrarse y afirmarse en la conclusa sencillez de la esencia”

Lo que se encuentra en Aristóteles como saber es aún filosofía, es decir, el libro citado de la Metafísica [o IX] es el más digno de cuestión de toda la filosofía aristotélica. (…) Pero la propia doctrina aristotélica es sólo una salida en una determinada dirección, el llegar-a-un-primer-final del primer inicio de la filosofía occidental en Anaximandro, Heráclito y Parménides”

Ser artista es un poder-producir. Pero producir quiere decir: llevar a ser algo que aún no es. En la producción asistimos, por así decirlo, al devenir del ente y nos es posible observar con limpidez su esencia.”

En qué medida el artista sólo es un estadio previo. El mundo como una obra de arte que se da a luz a sí misma…” VdP

Arte no mienta [nomeia] aquí el estrecho concepto actual, con el significado de «bellas artes» como producción de lo bello en la obra. Este antiguo uso de la palabra arte en un sentido más amplio, según el cual las bellas artes son sólo un tipo de arte entre otros, es interpretado por Nietzsche en el sentido de comprender toda producción como una correspondencia con las bellas artes y el artista respectivo. «El artista es sólo un estadio previo» se refiere al artista en sentido estrecho, al que produce obras de arte.”

ya en su primer escrito (El nacimiento de la tragedia a partir del espíritu de la música), ve Nietzsche al arte como carácter fundamental del ente. Así podemos comprender que en la época en que trabaja en La voluntad de poder vuelva a la posición sobre el arte que había formulado en El nacimiento de la tragédia

esa profesión de fe, ese evangelio del artista” VdP

A arte é a conexão entre o real e o fantástico de cada era, perfeitamente circulares, reversíveis, retroalimentares. Paifilhopai A conexão entre dois abismos centrípetos Eu não sou o fim, eu sou a conexão. Eu sou o Messias, mas o Messias traz a Mensagem.

El concepto de filosofía no debe determinarse más siguiendo la figura del moralista, de aquel que a este mundo, que no valdría nada, le opone otro más elevado. Por el contrario, en contra de estos filósofos morales nihilistas (cuyo ejemplo más reciente ve Nietzsche en Schopenhauer), hay que poner al antifilósofo, al filósofo que surge del contramovimiento, al «filósofo artista».”

Morreu um tipo de homem.

Antropomorfizou-se um tipo de morte.

(Ejercicios previos: 1) el que se configura a sí mismo, el ermitaño; 2) el artista, tal como ha sido hasta ahora, como pequeño ejecutor, en una materia [meu limite (infra-da20ano)])” VdP

Toda elevación creadora y todo el orgullo de la vida que descansa sobre sí misma constituyen, por el contrario, rebelión, ceguera y pecado.”

Felizmente los griegos no tenían vivencias, pero sí, en cambio,
un saber tan claro y originariamente desarrollado y una tal pasión por
el saber que en esa claridad del saber no precisaban «estética» alguna.”

El gran arte no es sólo grande ni se vuelve grande por la superior calidad de lo creado, sino porque es una «necesidad absoluta». Su rango es superior porque es esta necesidad, y mientras lo siga siendo; pues sólo en razón de la grandeza de su esencialidad crea a su vez un ámbito de grandeza para lo producido. Paralelamente al desarrollo del dominio de la estética y de la relación estética con el arte se produce en la época moderna la decadencia del gran arte en el sentido señalado. Esta decadencia no consiste en que la «calidad» sea inferior y el estilo descienda, sino en que se pierde la relación inmediata a la tarea fundamental de exponer lo absoluto, es decir, de ponerlo en cuanto tal como determinante dentro del ámbito del hombre histórico.“En el instante histórico en el que el desarrollo de la estética alcanza el punto más alto, abarcador y estricto posible, el gran arte ya ha llegado a su fin. El acabamiento de la estética tiene su grandeza por reconocer y expresar este final del gran arte como tal. La última y mayor estética de occidente es la de Hegel. Está formulada en sus Lecciones de estética, impartidas por última vez en 1928-1929 en la Universidad de Berlín.” «Los bellos días del arte griego ya se han ido, como la edad de oro de la baja Edad Media.» H.

Frente al hecho de que el arte ha abandonado su esencia, el siglo XIX acomete una vez más el intento de una «obra de arte total». Este esfuerzo está ligado al nombre de Richard Wagner. No es nada casual que no se limite a la creación de obras que sirvieran a ese fin, sino que esté acompañado y apoyado por reflexiones de principio, con sus correspondientes escritos. Citemos los más importantes: El arte y la revolución, 1849; La obra de arte del futuro, 1850; Ópera y drama, 1851; El arte alemán y la política alemana, 1865. No es posible aquí aclarar, ni siquiera en grandes rasgos, la complicada y confusa situación histórico-espiritual de mediados del siglo XIX. En la década de 1850 a 1860 se mezclan nuevamente, entrelazándose de extraña manera, la auténtica y bien conservada tradición de la gran época del movimiento alemán y el penoso vacío y desarraigo de la existencia que saldrán completamente a la luz en los «Gründerjahre» [1871-1873]. No podrá comprenderse nunca este siglo sumamente ambiguo recurriendo a una descripción sucesiva de sus diferentes períodos. Es necesario delimitarlo desde dos lados en dirección convergente, desde el último tercio del siglo XVIII y desde el primer tercio del siglo XX.”

la obra de arte debe ser una celebración de la comunidad del pueblo: «la» religión. Para ello, las artes determinantes son la poesía y la música. El propósito era que la música fuera un medio para hacer valer el drama, pero en realidad, en la forma de ópera, se convierte en el auténtico arte. El drama no tiene su peso y su esencia en la originariedad poética, es decir en la verdad conformada en la obra lingüística, sino en el carácter escénico de lo representado y de la gran coreografía. La arquitectura sólo vale en cuanto construcción de teatros, la pintura en cuanto decorado, la plástica en cuanto representación gestual del actor. La poesía y el lenguaje se quedan sin la esencial y decisiva fuerza conformadora del auténtico saber. Se busca el dominio del arte como música, y con él el domínio del puro estado sentimental: el frenesí y el ardor de los sentidos, la gran convulsión, el feliz terror de fundirse en el gozo, la desaparición en el «mar sin fondo de las armonías», el hundimiento en la embriaguez, la disolución en el puro sentimiento como forma de redención: «la vivencia» [antítese suprema do grego, certa falta inata de inocência ou transparência, pesantez, neblina, cenho e vida sobrecarregados, densos ao insuportável cúbico…] en cuanto tal se vuelve decisiva. La obra es ya sólo un excitante de la vivencia. Todo lo que se represente ha de actuar sólo [en soledad] como primer plano, como fachada, con la mira puesta en la impresión, el efecto, la voluntad de excitar: «teatro». El teatro y la orquesta determinan el arte.”

¿Y el estado en el que el preludio de Lohengrin, por ejemplo, transporta al oyente, y más aún a la oyente, se diferencia esencialmente del éxtasis sonambúlico? Después de escuchar este preludio le oí decir una vez a una italiana, con esos ojos belamente embelesados que saben poner las wagnerianas: <come si dorme con questa música!>”

Pero lo absoluto es ahora experimentado sólo como lo puramente carente de determinación, como la total disolución en el puro sentimiento, como el balancearse que se hunde en la nada. No es de sorprender que Wagner encontrara en la obra capital de Schopenhauer, que leyó detenidamente cuatro veces, la confirmación y explicación metafísica de su arte. Por más que, en su realización y en sus consecuencias, la voluntad wagneriana de construir la «obra de arte total» se convirtió de modo inevitable en lo contrario del gran arte, tal voluntad es, sin embargo, única en su tiempo y, a pesar de lo mucho de histriónico y aventurero que tuviera, eleva a Wagner por encima de los demás esfuerzos que se han hecho por el arte y por mantener su carácter esencial en la existencia.”

«Sin ninguna duda, Wagner les dio a los alemanes de esta época la idea más abarcadora de lo que podría ser un artista: el respeto por “<el artista> creció de pronto enormemente; suscitó por todas partes nuevas valoraciones, nuevos deseos, nuevas esperanzas; y quizás no en último término precisamente por el carácter meramente anunciador, incompleto, imperfecto de sus creaciones artísticas. ¡Quién no ha aprendido de él!»

NASCI “CERTO” AFINAL DE CONTAS: “Que el intento de Richard Wagner tuviera que fracasar se debe no solamente al predominio de la música respecto de las otras artes. Al contrario: que la música haya podido asumir esa preeminencia tiene ya su razón en el creciente desarrollo de una posición fundamental de tipo estético respecto del arte en su conjunto; se trata de la concepción y valoración del arte desde el mero estado sentimental y de la creciente barbarización de este último que lo convierte en la mera ebullición del sentimiento abandonado a sí mismo. Por otra parte, esta excitación de la embriaguez de los sentimientos, este desencadenarse de los afectos, podía tomarse como una salvación de la «vida», sobre todo frente al creciente desencanto y desolación de la existencia provocados por la industria, la técnica y la economía, en conjunción con el debilitamiento y vaciamiento de la fuerza conformadora del saber y la tradición, para no hablar de la falta de toda gran finalidad de la existencia. La ascensión a la ola de los sentimientos debía ofrecer ese espacio que faltaba, el espacio para una posición fundada y estructurada en medio del ente, posición que sólo la gran poesía y el gran pensar son capaces de crear.”

Pero puesto que Wagner buscaba meramente la ascensión de lo dionisíaco y desbordarse en él, mientras que Nietzsche queria sujetarlo y conformarlo, la ruptura entre ambos estaba ya predeterminada.”

Wagner no pertenecía a esa clase de personas para las que lo más horroroso son sus propios seguidores. Wagner necesitaba wagnerianos y wagnerianas. Nietzsche, en cambio, quiso y admiró a Wagner toda su vida; su disputa con él era de contenido y tenía una carácter esencial. Durante años aguardó y mantuvo la esperanza de que surgiera la posibilidad de una confrontación fértil.”

Sobre la relación entre Wagner y Nietzsche, cfr. Kurt Hildebrand, Wagner und Nietzsche; ihr Kampf gegen das 19. Jahrhundert [Wagner y Nietzsche; su lucha contra el siglo XIX], 1924.”

sabemos, por ejemplo, lo mucho que apreciaba Nietzsche una obra como el Nachsommer [Verano tardío] de Stifter, casi exactamente el mundo opuesto al de Wagner.”

GENEALOGIA SINUOSA DO FASCISMO: “Lo que en la época de Herder y Winckelmann estaba al servicio de una gran autorreflexión de la existencia histórica, es ejercido ahora por sí mismo, es decir como disciplina profesional; comienza la investigación histórica del arte propiamente dicha, aunque figuras como las de Jakob Burckhardt e Hippolyte Taine, a su vez totalmente diferentes entre sí, no pueden calibrarse con los instrumentos de medida de la especialización profesional. La investigación de la poesía desemboca en el ámbito de la filologia [temos de saber trafegar nas duas vias]; «creció con el sentido por lo pequeño, por la auténtica filología» (Dilthey, Gesammelte Schriften, XI, 216). La estética se convierte en una psicología que trabaja con métodos científico-naturales, es decir, los estados sentimentales son sometidos por sí mismos a experimentación, observación y medida en cuanto hechos que suceden; también aquí F. T. Vischer y W. Dilthey son excepciones, sostenidas y guiadas por la tradición de Hegel y Schiller. La historia de la poesía y de las artes plásticas consiste en que haya una ciencia de ellas que saque a la luz importantes conocimientos y al mismo tiempo mantenga despierta una disciplina de pensamiento. El cultivo de estas ciencias pasa por ser la auténtica realidad del «espíritu». La propia ciencia es, al igual que el arte, un fenómeno y un campo de actividad cultural. Pero allí donde lo «estético» no se convierte en objeto de investigación sino que determina la actitud del hombre, el estado estético se convierte en uno entre otros estados posibles, como p.ej. el político o el científico; el «hombre estético» es un producto del siglo XIX.”

VOLTAR AO FENÔMENO: “Lo que Hegel formulara respecto del arte —que había perdido poder en cuanto configuración y preservación determinante de lo absoluto— lo reconoce Nietzsche respecto de los «valores supremos» religión, moral y filosofía: la ausencia y la falta de fuerza creadora y de capacidad vinculante para fundar la existencia humano-histórica sobre el ente [sendo] en su totalidad. Pero mientras que para Hegel el arte, a diferencia de la religión, la moral y la filosofía, había caído en el nihilismo y se había transformado en algo pasado y carente de realidad efectiva, Nietzsche busca en él el contramovimiento [acabou X só está começando…]. En ello se muestra, a pesar de su essencial separación de Wagner, una repercusión de la voluntad wagneriana de «obra de arte total». (…) mientras que la estética hegeliana encontraba su desarrollo en una metafísica del espíritu, la meditación nietzscheana sobre el arte se convertía en una «fisiología del arte».”

«La estética no es más que una fisiología aplicada». De este modo, ya ni siquiera es «psicología», como ocurre en general en el siglo XIX, sino investigación científico-natural de los estados y processos corporales y de las causas que los provocan. (…) aquí se piensan hasta el final las consecuencias últimas del preguntar estético por el arte. El estado sentimental es reducido a excitaciones de las vías nerviosas, a estados corporales.

todo suceder es igualmente esencial e inesencial; en ese ámbito no hay ningún orden jerárquico ni se establecen criterios; todo es tal como es y sigue siendo lo que es, y su simple derecho radica en el hecho de que es. La fisiología no conoce ningún ámbito en el que algo estuviera sometido a decisión y elección. Dejar el arte en manos de la fisiología parece ser como rebajar el arte al nivel del funcionamento de los jugos gástricos. ¿Cómo podría el arte al mismo tiempo fundar y determinar la posición de valores auténtica y decisiva? El arte como contramovimiento al nihilismo y el arte como objeto de la fisiología, esto equivale a querer mezclar fuego y agua. Si aun es posible aquí un acuerdo, sólo lo será en el sentido de declarar que el arte, en cuanto objeto de la fisiología, no es el contramovimiento sino el movimiento capital y extremo del nihilismo.”

4) (…) la peligrosidad fisiológica del arte. Considerar: en qué medida nuestro valor «bello» es completamente antropomórfico: basado en presupuestos biológicos relativos al crecimiento y el progreso. (…)

7) La colaboración de las facultades artísticas en la vida normal, su ejercicio tonificante: inversamente lo feo.

8) La cuestión de las epidemias y el contagio.

9) El problema de la «salud» y la «histeria»; genio = neurosis.

10) El arte como sugestión, como medio de comunicación, como ámbito de invención de la induction psycho-motrice.

(…) 16) El tipo del romántico: ambiguo. Su consecuencia es el «naturalismo».

17) Problema del actor. La «falta de sinceridad», la típica capacidade de transformación como defecto de carácter… La falta de pudor, el payaso, el sátiro, el bufo, el Gil Blas, el actor que hace de artista…

Todo cuerpo viviente (Leib) es también un cuerpo físico (Körper), pero no todo cuerpo físico es un cuerpo viviente.”

la embriaguez de la fiesta, de la competición, de los accesos de valentía, de la victoria, de todo movimiento extremo; la embriaguez de la destrucción; la embriaguez bajo ciertas influencias meteorológicas, por ejemplo la embriaguez primaveral; finalmente la embriaguez de la voluntad, la embriaguez de una voluntad colmada y exhuberante.” “a embriaguez da festa, da competição, dos acessos de valentia, da vitória, de todo movimento extremo; a embriaguez da destruição; a embriaguez sob certas influências meteorológicas, por exemplo a embriaguez primaveril; finalmente a embriaguez da vontade, a embriaguez duma vontade abundante e exuberante.”

Según El nacimiento de la tragedia, el fragmento n. 798 y otros pasajes, sólo a lo dionisíaco le corresponde la embriaguez, mientras que a lo apolíneo le corresponde el sueño; ahora (El ocaso de los ídolos), en cambio, lo dionisíaco y lo apolíneo son dos tipos de embriaguez; éste es el estado fundamental. La doctrina definitiva de Nietzsche tiene que comprenderse de acuerdo con esta aclaración, aparentemente insignificante, pero muy esencial.” “La embriaguez es siempre un sentimiento de embriaguez.”

Una pesadez estomacal puede tender un velo de sombra sobre todas las cosas. Lo que normalmente nos parece indiferente resulta de pronto irritante y molesto. Lo que normalmente se hace con facilidad, queda paralizado. La voluntad puede interponerse, puede contener la desazón, pero no puede despertar y crear imediatamente el temple de ánimo contrario: en efecto, los temples de ánimo siempre son superados y transformados sólo por otros temples de ánimo.”

El temple de ánimo es precisamente el modo fundamental en el que estamos fuera de nosotros mismos. Pero así estamos esencialmente y siempre. En todo ello vibra el estado corporal, nos eleva y lleva más allá de nosotros mismos, o bien deja al hombre apático y prisionero de sí mismo. No estamos en primer lugar «vivos» y después tenemos un aparato llamado cuerpo, sino que vivimos (leben) en la medida en que vivimos corporalmente (leiben). Este vivir corporalmente es algo esencialmente diferente del mero estar sujeto a un organismo. La mayoría de lo que sabemos del cuerpo y del correspondiente vivir corporalmente en las ciencias naturales son comprobaciones en las que el cuerpo ha sido previamente malinterpretado como mero cuerpo físico. De ese modo pueden encontrarse muchas cosas, pero lo essencial y decisivo queda siempre ya fuera de la mirada y la comprensión; la búsqueda que va detrás de lo «anímico» para un cuerpo que previamente ha sido malinterpretado como cuerpo físico desconoce ya la situación real.”

De alguien que ha bebido mucho podemos decir que «tiene» una embriaguez, pero no que está embriagado. En ese caso, la embriaguez no es el estado en el que se está junto a sí y más allá de sí mismo, sino que lo que aquí llamamos «embriaguez» es, usando la expresión común, una mera «borrachera», que precisamente impide toda posibilidad de un estado tal.”

El acrecentamiento no quiere decir que «objetivamente» aparezca un plus, un incremento de fuerza, sino que debe entenderse en la dimensión del temple de ánimo: estar en subida, ser llevado por la subida. Del mismo modo, el sentimiento de plenitud no se refiere a una creciente acumulación de sucesos internos sino, sobre todo, a ese estar templado que se deja determinar de modo tal que para él nada es extraño ni nada es demasiado, que está abierto a todo y pronto para todo: el mayor frenesí y el riesgo supremo, uno junto al otro.”

«Los artistas no son los hombres de las grandes pasiones, cuenten lo que cuenten, a nosotros y a sí mismos.»

En la medida en que son artistas, es decir creadores, tienen que observarse, les falta pudor ante sí mismos, y más aún ante la gran pasión; en cuanto artistas tienen que explotarla, espiarla, sorprenderla y transformarla en la configuración creadora. Los artistas son demasiado curiosos para sólo ser grandes en una gran pasión, pues ésta no conoce la curiosidad respecto de sí misma (…) Los artistas, con su talento, son también siempre la víctima de su talento; éste les impide el puro derroche de la gran pasión.

«No se acaba con la propia pasión representándola: más bien, ya se ha acabado cuando se la representa.»

El estado artístico mismo no es nunca la gran pasión, pero es sin embargo pasión; y por ello ésta tiene continuidad al salir a captar la totalidad del ente, de manera tal que ese salir mismo se captura en su propio captar, se retiene en la mirada y se fuerza en una forma.”

La fórmula de la contraposición de lo apolíneo y lo dionisíaco hace tiempo que se ha convertido en el refugio de todo que se dice y escribe de modo confuso y confusionista sobre el arte y sobre Nietzsche. Para él esta contraposición siguió siendo una continua fuente de oscuridades no superadas y de nuevas preguntas.”

O FILÓSOFO DO MENOS? “En su contenido, Schopenhauer vive de aquellos a quienes denosta: Schelling y Hegel. A quien no denosta es a Kant; pero en cambio lo entiende radicalmente mal.” Não DEPRECIA Kant? Imagina se o fizesse! Talvez que Heidegger tenha entendido Schopenhauer (e seu pseudo-êmulo Nie.) radicalmente mal. Dialeticamente mal. Tragicamente mal. Genealogicamente mal.

Puede decirse que la Crítica del Juicio de Kant, la obra en la que está expuesta su estética, sólo ha tenido efecto hasta ahora por obra de malentendidos, proceso corriente en la historia de la filosofía. Schiller ha sido el único que comprendió algo essencial respecto de la doctrina kantiana de lo bello y del arte, aunque también el conocimiento al que llegó fue sepultado por las doctrinas estéticas del siglo XIX.

Si se determina que la relación con lo bello, el agrado, es «desinteresado», el estado estético será, de acuerdo con Schopenhauer, una suspensión de la voluntad, el apaciguamiento de todo tender, el puro reposo, el puro no-querer-nada-más, el puro estar suspendido en la impasibilidad. ¿Y Nietzsche? Nietzsche dice: El estado estético es la embriaguez. Esto es evidentemente lo opuesto de todo «agrado desinteresado», por lo tanto también el mayor antagonismo frente a Kant en lo que hace a la determinación del comportamiento respecto de lo bello.” Uma embriaguez anti-utilitária – como pôde Heidegger ser tão ingênuo?

Y cuando Nietzsche dice (La voluntad de poder, n. 804): «Lo bello no existe, del mismo modo en que no existe lo bueno y lo verdadero», coincide también con la opinión de Kant.”

La esencia del «placer de la reflexión» como comportamiento fundamental respecto de lo bello está expuesta en los parágrafos 57 a 59 de la Crítica del juicio.”

Este elevarnos más allá de nosotros mismos en la plenitud de nuestra capacidad esencial es lo que acontece, para Nietzsche, en la embriaguez. O sea que en la embriaguez se abre lo bello. Lo bello mismo es lo que transporta al sentimiento de embriaguez.”

Por mucho que el modo en que Nietzsche lo dice y lo expone pueda sonar al wagneriano torbellino de sentimientos y al mero hundirse en la mera «vivencia», lo que quiere es, con certeza, lo contrario. Lo extraño y casi absurdo reside sólo en el hecho de que intente acercar e imponer a sus contemporáneos esta concepción del estado estético empleando el lenguaje de la fisiología y la biología.”

el estado de creación es «un estado explosivo”

«Los artistas no deben ver nada tal como es, sino más pleno, más simple, más fuerte: para ello les tienen que ser propias una especie de juventud y primavera, una especie de embriaguez habitual en la vida.» [itálicos meus] (800)

Estou viciado no que já me viciou, mas como?

el efecto de la obra de arte no es otro que el de suscitar nuevamente el estado del creador en quien goza de ella. Recibir el arte es volver a realizar la creación.”

«Se es artista al precio de sentir como contenido, como <la cosa misma>, lo que todos los no artistas llaman <forma>. De este modo se está, evidentemente, en un mundo invertido: pues a partir de entonces el contenido se convierte en algo meramente formal, incluyendo nuestra vida.» (n. 818)

Cuanto menos violentemos la «estética» nietzscheana para convertirla en un edificio doctrinal aparentemente transparente, cuanto más dejemos seguir su propio camino a ese buscar y preguntar, con tanta mayor seguridad nos encontraremos con esas perspectivas y representaciones fundamentales en las que el conjunto adquiere para Nietzsche una unidad desarrollada, aunque oscura y carente de configuración. Es necesario aclarar esas representaciones si queremos comprender la posición metafísica fundamental del pensamiento de Nietzsche.” Às vezes o problema do curioso é exumar o cadáver do sagrado…

Incluso Kant, que gracias a su método trascendental tenía posibilidades más amplias y determinadas para interpretar la estética, quedó atrapado dentro de los límites del concepto moderno de sujeto.”

¿quién debe establecer qué es lo perfecto? Sólo pueden hacerlo aquellos que lo son y que por eso lo saben. Aquí se abre el abismo de ese girar en círculo en el que se mueve toda la existencia humana. Qué es salud, sólo puede decirlo quien está sano. Pero lo sano se mide de acuerdo con lo que se establezca como esencia de la salud. Qué es verdad sólo puede establecerlo quien es veraz; pero quién es veraz se determina de acuerdo con lo que se establezca como esencia de la verdad.” Porque sim, deve-se explicar aos tartamudos…

«El poeta hace entrar en juego la pulsión que quiere conocer, el músico la hace descansar» Aurora, 337

ahora también vemos con más claridad en qué sentido esa proposición nietzscheana es una inversión de la de Schopenhauer, que definía al arte como un «quietivo de la vida». La inversión no reside en suplantar simplemente «quietivo» por «estimulante», en cambiar lo que calma por lo que excita. La inversión es una transformación de la determinación esencial del arte. Este pensar acerca del arte es un pensar filosófico, un pensar que instaura una medida y que es por ello una confrontación histórica y se transforma en prefiguración de lo futuro.”

estamos a punto de creer que <bueno es lo que nos gusta>”

El arte no se somete simplemente a reglas, no sólo tiene leyes que seguir, sino que es en sí mismo legislación y sólo en cuanto tal es verdaderamente arte. Lo inagotable y lo que hay que crear es la ley. Lo que el arte que disuelve el estilo interpreta erróneamente como una mera efervescencia de sentimientos es, en esencia, la inquietud por encontrar la ley, que en el arte sólo se vuelve real cuando la ley se oculta en la libertad de la forma para entrar así en el juego abierto.” Crise de meia-idade é a adolescência dos lerdos de pensamento.

El pensar nietzscheano acerca del arte es, en su apariencia más inmediata, un pensar estético, mientras que en su voluntad más íntima es un pensar metafísico, es decir una determinación del ser del ente [do ser do sendo]. (…) El arte es para Nietzsche el modo esencial en el que el ente es creado como ente. Puesto que lo que importa es este carácter creador, legislador y conformador que posee el arte, la determinación esencial de este último sólo puede llevarse a buen fin si se pregunta qué es en cada caso lo creativo en el arte. Esta pregunta no se plantea con el propósito de comprobar psicológicamente cuáles son los motores de la creación artística que se dan en cada ocasión, sino como una pregunta que decide si, cuando y cómo están o no están dadas las condiciones fundamentales del arte de gran estilo. Esta pregunta no es para Nietzsche una pregunta de la historia del arte en sentido corriente sino en sentido esencial, una pregunta que contribuye a configurar la historia futura de la existencia.”

Los términos «romántico» y «clásico» no constituyen más que una fachada y un punto de apoyo.”

Todo homem faminto não passa de um nostálgico.”

QUEM NÃO ACREDITA EM SUPERIORIDADE INATA PATINHO FEIO É: “el anhelo de cambio y devenir también puede surgir del descontento de quienes odian todo lo existente simplemente porque existe. Aquí lo creador es el rechazo de quienes sufren una carencia, de los desfavorecidos, de los frustrados, para los cuales toda superioridad existente es ya una objeción en contra de su derecho de existir. //Análogamente, el anhelo de ser, la voluntad de eternización puede provenir de la posesión de la plenitud, del agradecimiento por lo que es; pero lo permanente y vinculante puede también ser instituído como ley y coacción por la tiranía de un querer que quisiera liberarse de su padecimiento más propio.”

El gran estilo es la voluntad activa de ser, pero de manera tal que conserva en sí el devenir.”

A propósito de esto, hay que reflexionar sobre el significado que tiene para la metafísica de Nietzsche la prioridad, expresamente recalcada [enfatizar, ao contrário da convicção vulgar], de la distinción activo-reactivo respecto de la de ser y devenir. Pues formalmente podría alojarse la distinción activo-reactivo dentro de uno de los miembros de la oposición subordinada, dentro del devenir. La conjunción en una unidad originaria de lo activo y del ser y el devenir, conjunción propia del gran estilo, tiene por lo tanto que estar comprendida en la voluntad de poder, si se piensa a ésta de modo metafísico. Pero la voluntad de poder es como eterno retorno. En él Nietzsche quiere pensar conjuntamente, en una unidad originaria, ser y devenir, acción y reacción. Con esto tenemos una visión del horizonte metafísico en el que hay que pensar lo que Nietzsche llama gran estilo y, en general, arte.”

El gran estilo es el sentimiento supremo de poder. El arte romántico, que surge del disgusto y de la carencia, es un querer-alejarse-de-sí. Pero querer, de acuerdo con su esencia propia, es: querer-a-sí-mismo, el «sí» no entendido nunca como algo que está sólo allí delante y simplemente subsiste, sino como lo que aún quiere devenir lo que es. El querer en sentido propio no es un alejarse-de-sí, y sí en cambio un ir-más-allá-de-sí en el que, en ese sobrepasarse, la voluntad recoge [reavém] precisamente al que quiere, lo lleva consigo y lo transforma. Por eso, querer-alejarse-de-sí es, en el fondo, un no-querer.”

De acuerdo con ello, el cuerpo y lo fisiológico son también más conocidos y, en cuanto pertenecen al hombre, son para él lo más conocido. En la medida, sin embargo, en que el arte se funda en el estado estético y éste tiene que ser comprendido de modo fisiológico, el arte es la forma más conocida de la voluntad de poder, pero al mismo tiempo también la más transparente. El estado estético es un hacer y un recibir que llevamos a cabo nosotros mismos. No assistimos simplemente como espectadores a un suceder, sino que nos mantenemos nosotros mismos en ese estado.”

Como ente-en-sí vale, desde Platón, lo suprasensible, lo que está eximido y sustraído de la mutabilidad de lo sensible. Para Nietzsche, el valor de algo se mide de acuerdo con lo que contribuya a acrecentar la realidad del ente. El arte tiene más valor que la verdad, quiere decir: el arte, en cuanto «sensible» es más ente que lo suprasensible. Si este ente era tenido hasta ahora por el más elevado y el arte es, sin embargo, más ente, el arte se revela como lo que es más ente dentro del ente, como el acontecer fundamental dentro del ente en su totalidad.”

el nihilismo, es decir el platonismo, pone como lo que es verdaderamente a lo suprasensible, desde lo cual todos los demás entes se rebajan a lo que propiamente no es, se los difama y se los declara nulos.”

Pôncio

En el diccionario los significados están enumerados y listos para que se los escoja. La vida del lenguaje real reside en la multivocidad. La transformación de la palabra viviente y fluctuante en la rigidez de una serie de signos unívoca y mecánicamente fijada sería la muerte del lenguaje y la congelación y devastación de la existencia.”

Cuando Hegel o Goethe dicen la palabra «cultura» y cuando la dice una persona culta de los años noventa del siglo pasado, no sólo el contenido formal del significado de la palabra es diferente, sino que también difiere, aunque no carezca de relación, el mundo contenido en el decir.”

La voluntad de originariedad, de estrictez y medida en la palabra no es, por lo tanto, un jugueteo estético sino el trabajo en el núcleo esencial de nuestra existencia en cuanto existencia histórica.”

Así como llamamos justicia a la esencia de lo justo, cobardía a la esencia de lo cobarde, y belleza a la esencia de lo bello, la esencia de lo verdadero tiene que llamarse verdad. Pero la verdad, en cuanto esencia de lo verdadero, es sólo una, pues la esencia de algo es aquello en lo que coincide todo lo que tiene tal esencia, en nuestro caso, todo lo verdadero.”

Si la tomamos en cambio en el significado que alude a una pluralidad, la palabra «verdad» no nombra la esencia de lo verdadero sino, en cada caso, algo verdadero en cuanto tal. Ahora bien, la esencia de una cosa puede comprenderse preferente o exclusivamente como aquello que corresponde a todo lo que satisface esa esencia.”

La objeción de que la mutación de la esencia conduce al relativismo es sólo posible sobre la base del desconocimiento de la esencia de lo absoluto y de la esencialidad de la esencia.”

El hecho de que en el pensamiento de Nietzsche falte la pregunta por la esencia de la verdad es una omisión de un tipo peculiar, omisión que, en caso de que pueda achacarse a alguien, no sería sólo ni en primer lugar a él. Esta «omisión» atraviesa, desde Platón y Aristóteles, toda la historia de la filosofia occidental.” Blá, blá, blá… “Que muchos pensadores se ocupen del concepto de verdad, que Descartes interprete la verdad como certeza, que Kant, no independientemente de este giro, distinga una verdad empírica y una trascendental, que Hegel elabore una nueva determinación de la importante distinción entre verdad abstracta y concreta, es decir entre verdad científica y especulativa, que Nietzsche diga que «la verdad» es el error, todos éstos son avances esenciales del preguntar pensante. ¡Y sin embargo! Todos ellos dejan intacta la esencia misma de la verdad.” Querida, Desmistifiquei as Crianças!

predicar acerca de una «esencia eterna e inmutable de la ciencia», o es una mera manera de hablar que no toma en serio ella misma lo que dice o, de lo contrario, implica un desconocimiento de los hechos fundamentales que conciernen al origen del concepto occidental de saber.”

Só a carne tem sombra.

En su época de Basilea impartió en varias ocasiones lecciones sobre Platón: «Introducción al estudio de los diálogos platónicos», 1871-1872 y 1873-1874», y «Vida y doctrina de Platón», 1876 (cfr. XIX, 235-ss.).” Verificar XIX do Obras Completas

El propio Schopenhauer basa toda su filosofia consciente y expresamente en Platón y en Kant. Así, en el prólogo de su obra capital, El mundo como voluntad γ representación (1818), escribe: «La filosofía de Kant es pues la única respecto de la cual se presupone un conocimiento detallado en lo que se va a exponer. Pero si además de ello, el lector también se ha detenido en la escuela del divino Platón, estará tanto mejor preparado y será tanto más receptivo para escucharme». En tercer lugar, nombra además a los Veda hindúes.”

Ya en sus años juveniles, su interpretación de Platón alcanza (con las lecciones de Basilea) una notable independencia y con ella una mayor verdad que la de Schopenhauer.”

La experiencia fundamental de Nietzsche es la creciente comprensión del hecho básico de nuestra historia. Este es, para él, el nihilismo. Nietzsche no ha cesado de expresar de forma apasionada esta experiencia fundamental de su existencia pensante. Para los ciegos, para quienes no pueden y sobre todo no quieren ver, sus palabras suenan fácilmente como algo desmesurado, como un delirio. Y sin embargo, si evaluamos la profundidad de su comprensión y reflexionamos acerca de la cercanía con la que el hecho histórico fundamental del nihilismo lo acosaba, casi podría decirse que sus palabras son suaves.”

Por poner una meta Nietzsche entiende la tarea metafísica de establecer un orden del ente en su totalidad, no simplemente la indicación de un hacia dónde y para qué provisorios.”

Esta no puede afectar sólo a determinados grupos, clases y sectas, ni siquiera a determinados estados y pueblos, sino que tiene que ser, como mínimo, europea.” Que golpe!

Pero la auténtica lucha es aquella en la que los que luchan se superan alternativamente y despliegan desde sí la fuerza para esta superación.” A verdade é que nunca lutei de verdade, porque sempre superei meus “rivais” de golpe só, isso na remota possibilidade em que já não era superior a eles de nascença.

El gran estilo sólo puede crearse a través de la gran política, y la gran política tiene la más íntima ley de su voluntad en el gran estilo. ¿Qué dice Nietzsche acerca del gran estilo?”

Me chame quando tudo estiver pronto. Acho que vou hibernar um pouco no meu caixão de tampa de crosta de gelo.

«Lo que hace el gran estilo: convertirse en amo tanto de la propia dicha como de la propia desdicha.» (Proyectos e ideas para una continuación independiente del Zaratustra, del año 1885; XII, 415)

¿Por qué falta esa fuerza fundamental para ganar de modo creador un puesto en medio del ente? Respuesta: porque desde hace tiempo que se la ha debilitado contínuamente y transformado en su opuesto. El principal debilitamiento de la fuerza fundamental de la existencia consiste en la difamación y degradación de la fuerza fundadora de metas de la «vida» misma.”

«Ya no somos más cristianos: nos hemos salido del cristianismo no porque hayamos habitado demasiado lejos de él sino porque hemos habitado demasiado cerca suyo, más aún, porque hemos salido de él; es nuestra propia piedad más estricta y exigente lo que hoy nos prohibe seguir siendo cristianos.» (XIII, 318)

el hecho de que [caracteres gregos – arte como técnica], como «poesía», se haya convertido preferentemente en el nombre del arte de la palabra, el arte poético, es un testimonio de la posición preeminente que adquiere este arte dentro de la totalidad del arte griego. Por ello tampoco es casual que Platón, cuando lleva a la palabra la relación entre arte y verdad y plantea una decisión de la misma, trate en primer lugar y de manera dominante del arte poético y del poeta.”

el conocimiento decisivo de todo el diálogo sobre la república reza: es esencialmente necesario que los filósofos sean los gobernantes (cfr. Politeia, V, 473). Esta proposición no quiere decir: los profesores de filosofía deben dirigir los asuntos del Estado, sino: los modos de comportamiento fundamentales que sostienen y determinan a la comunidad tienen que estar fundados en el saber esencial, en el supuesto, claro, de que la comunidad, en cuanto orden del ser, se funde desde sí misma y no quiera tomar sus criterios de un orden diferente. La libre autofundación de la existencia histórica se coloca a sí misma bajo la jurisdicción del saber, y no de la fe, en la medida en que por ésta se entienda una manifestación divina de la verdad autorizada por una revelación.”

É essencialmente necessário que não haja reis, santos nem o político de vocação de que falaria Weber, em suma, à frente do Estado. Apenas o mundano esclarecido cuidando do mundano (e, por incrível que pareça, na definição tipológica weberiana ainda restam traços de uma “metafísica”, vestígios do sagrado, uma nostalgia de predestinação, a negação, por inferência, pelo tipo oposto, de que o sábio deva se interessar por política, como se ou a própria política ou, pior, o mundo – indiretamente, o sábio! –, não fossem coisa deste mundo…). O homem governa o homem. O primado não cabe a uma classe política, que é “pura mitologia” de nossa época. Pensamento (o weberiano) decadente ou pretensioso demais, mas natural, do ponto de vista lógico, se oriundo da primeira metade do século XX.

El planteamiento de la República y el del Banquete se funden en el Fedro en una base originaria y al mismo tiempo en vista a las cuestiones fundamentales de la filosofía. Se hace alusión a esto para que no olvidemos ya ahora que las consideraciones sobre el arte de la República, las únicas importantes para nosotros por el momento, no constituyen la totalidad de la meditación platônica al respecto.”

el Stellmacher es el que hace [macht] productos [Gestelle]”

#TítulosdeLivros

  • SEM ESPELHOS

  • …E VIVA O ÓCIO!

Algo superior y algo inferior pueden mantener una distancia y un antagonismo, pero nunca una discrepancia, porque les falta la igualdad de medida.”

O Fedro como o diálogo mais perfeito de Platão.

cuanto más cae la mayor parte de los hombres en la vida cotidiana en la apariencia del caso y en las opiniones corrientes acerca del ente, sintiéndose bien en ello y encontrándose así justificados, tanto más «se oculta» para ellos el ser”

Só na medida em que o ser é capaz de desdobrar o poder «erótico» em referência ao homem, só nessa medida ele é capaz de pensar no ser mesmo e de superar o esquecimento do ser.”

Lo bello es ese movimiento en sí mismo antagónico que se compromete en la apariencia sensible más cercana y, al hacerlo, se eleva al mismo tiempo hacia el ser: es lo que cautiva y arrebata [das Berückend-Entrückende]. Es lo bello, por lo tanto, lo que nos arranca del olvido del ser y nos proporciona la mirada a él.”

La mirada llega a la mayor y más distante lejanía del ser, y al mismo tiempo a la más próxima y brillante cercanía del parecer.”

esta desunión, esta discrepancia en sentido amplio, para Platón no provoca pavor, sino que es bienhechora [benfeitora]. Lo bello eleva más allá de lo sensible y retrotrae hacia lo verdadero.”

PENSAMENTO IDIÓTICO: “En la época en la que la inversión del platonismo se convirtió para Nietzsche en una expulsión de él [del platonismo], le sobrevino la locura. Hasta ahora ni se ha reconocido que esta inversión es el último paso dado por Nietzsche, ni se ha visto que sólo ha sido consumado con claridad en el último año de creación (1888).”

HEIDEGGER FALANDO DE SI MESMO: “Cuanto más preciso y simple sea el modo en el que se reconduce la historia del pensamiento occidental a sus pocos pasos esenciales desde un preguntar decisivo, tanto más crece su fuerza anticipadora y vinculante, especialmente si se trata de superarla. Quien cree que el pensar filosófico puede deshacerse de esa historia con una simple decisión, se encontrará sin advertirlo golpeado por ella misma, com un golpe del que nunca podrá recuperarse, porque es el golpe de la ceguera. Ésta cree ser original cuando no hace más que repetir lo recibido y mezclar interpretaciones heredadas para formar algo pretendidamente nuevo. Cuanto mayor tenga que ser un cambio, tanto más profundamente partirá de su historia.”

Los seis períodos de la historia del platonismo que termina con la expulsión de él, son los siguientes:

«1) El mundo verdadero, alcanzable para el sabio, el piadoso, el virtuoso; éste vive en él, es él». Aquí se constata la fundación de la doctrina por parte de Platón. Aparentemente no se trata específicamente del mundo verdadero sino sólo del modo en el que el hombre se relaciona con él y de la medida en que es alcanzable.Y la determinación esencial del mundo verdadero radica en que es alcanzable para el hombre aquí y ahora, aunque no para cualquiera ni sin ninguna condición. El mundo verdadero es alcanzable para el virtuoso (…) «(La forma más antigua de la idea, relativamente inteligente, simple, convincente. Paráfrasis de la proposición ‘yo, Platón, soy la verdad’)». (…) El «mundo verdadero» no es el objeto de una doctrina sino el poder de la existencia, lo presente que ilumina, el puro aparecer sin velo.

«2) El mundo verdadero, inalcanzable por ahora, pero prometido a los sabios, los píos, los virtuosos (‘al pecador que cumple penitencia’).»

(…)

Comienza la posibilidad del sí y el no, del «tanto lo uno como lo otro»; el aparente decir sí al lado de acá, pero con reservas; la posibilidad de participar en el lado de acá, pero dejando abierta una última puerta trasera. [É instrutivo que o Além não exista sem o Aqui em nenhuma religião.]” Advento do Platonismo. «(Progreso de la idea: se vuelve más fina, más capciosa, más inaprehensible; se vuelve mujer, se vuelve cristiana…)»

«3) El verdadero mundo, inalcanzable, indemostrable, imprometible, pero ya en cuanto pensado un consuelo, una obligación, un imperativo.» 2000 anos jogados fora¿

Lo suprasensible es ahora un postulado de la razón práctica; incluso fuera de toda posibilidad de experiencia y de demostración, es exigido como algo necesariamente existente con el fin de salvar un fundamento suficiente para la legalidad de la razón. Se duda críticamente de la posibilidad de acceder a lo suprasensible por la vía del conocimiento, pero sólo para dejar lugar a la fe en la exigencia racional. Nada cambia con Kant respecto de la existencia y la estructura de la imagen cristiana del mundo, sólo que toda la luz del conocimiento cae sobre la experiencia, es decir sobre la interpretación científico natural-matemática del «mundo.” «(En el fondo, el antiguo sol, pero a través de la niebla y el escepticismo; la idea se ha vuelto sublime, pálida, nórdica, königsbergiana)» Nunca estive errado: Könisberg já foi território russo, teutônico (prússio), soviético e, finalmente, russo novamente, agora como Kalinigrado! Mas esse promete não ser o fim: Wikipédia da cidade: “Germany currently places no claims, however it also has not renounced any claims to the possibility of territory reunification.” “It was the easternmost large city in Germany until it was captured by the Soviet Union on 9 April 1945, near the end of World War II.” Hoje, 09/04/17. Terra natal também de Hannah Arendt.

Voltando ao Plato-Kantismo, o Cristianismo do advogado de coração puro. A má-fé já se cristalizou debaixo da carne mole do coração e das ondas cerebrais conscientes.

«4) El mundo verdadero, ¿inalcanzable? En todo caso, inalcanzado. Y en cuanto inalcanzado también desconocido. En consecuencia, no consuela, ni redime, ni obliga: ¿a qué podría obligarnos algo desconocido?…» No que o pai cria já não crê o filho.

Es la época posterior a la del dominio del idealismo alemán, a mediados del siglo pasado.” Ápice da aceleração histórica.

Se muestra que lo suprasensible no ha entrado en la filosofía kantiana en razón de los principios filosóficos del conocimiento, sino como consecuencia de inquebrantadas presuposiciones teológico-cristianas. Respecto de esto, Nietzsche comenta en una ocasión refiriéndose a Leibniz, Kant, Fichte, Schelling, Hegel y Schopenhauer: «Son todos meros Schleiermachers» (XV, 112)”

el rechazo, aunque sea poco sutil, de lo suprasensible por desconocido, por ser aquello que según Kant ningún conocimiento por principio habría de alcanzar, es el primer albor de «probidad» de la meditación dentro de la capciosidad y la «falsa moneda» que se había vuelto dominante con el platonismo. Por eso:

«(Mañana gris. Primer bostezo [bocejo] de la razón. Canto del gallo del positivismo)».”

«5) El ‘mundo verdadero’—una idea que no sirve ya para nada, que ya ni siquiera obliga—, una idea inútil, que se ha vuelto superflua, en consecuencia una idea refutada: ¡suprimámosla!» Mas não é mais frustrante como fôra outrora…

Ahora escribe el «mundo verdadero » entre comillas.”

«(Día claro; desayuno; retorno del bon sens y de la alegría; sonrojo [rubor; ofensa] de Platón; gritería infernal de todos los espíritus libres)».”

Nietzsche no quiere quedarse en el amanecer, ni se contenta con una simple mañana. A pesar de la eliminación del mundo suprasensible como mundo verdadero, sigue estando el lugar vacío de ese arriba y la hendidura en la construcción entre un arriba y un abajo: el platonismo.”

«6) Hemos suprimido el mundo verdadero: ¿qué mundo queda? ¿el aparente quizá?…¡Pues no! ¡con el mundo verdadero también hemos suprimido el aparente!»

O itálico representa a velocidade da luz das conclusões enfáticas, rááááá…

Mediodía; instante de la sombra más corta; fin del error más largo; punto más elevado de la humanidad”

A L U Z C E G A

la expresión «punto más elevado de la humanidad» tiene que entenderse como el punto culminante de la decisión acerca de si, con el final del platonismo, también debe llegar a su final el hombre tal como es hasta el momento, de si debe llegarse a ese tipo de hombre que Nietzsche designa como el «último hombre»; o si más bien ese hombre puede ser superado y comenzar el «superhombre»” Não faz sentido uma opção entre os dois; seria uma série inevitável. Nada muito animador! Segundo H., é necessário assumir a hipótese de que escolheu-se o último homem. O que advém¿ Baudrillard, e depois a implosão e (p)recessão im(pre)visíveis¿ “El gran peligro que Nietzsche ve es el de quedarse en el último hombre, en un mero arranque [arrebatamento; preâmbulo], en la difusión cada vez mayor y en el aplanamiento creciente del último hombre.”

«Deseo para mí mismo y para todos los que viven —para todos los que se permiten vivir— sin los miedos de una conciencia puritana una espiritualización y una multiplicación cada vez mayor de sus sentidos; sí, queremos estar agradecidos a los sentidos por su fineza, su plenitud y su fuerza, y ofrecerles en cambio lo mejor del espíritu que tengamos»

la inversión tiene que convertirse en una expulsión fuera del platonismo.”

La representación mecanicista de una naturaleza «sin vida» es sólo una hipótesis con fines de cálculo; pasa por alto que también en ella reinan relaciones de fuerzas y, por lo tanto, de perspectivas. Todo punto de fuerza es en sí mismo perspectivista. De eso se desprende claramente «que no hay un mundo inorgánico» (XIII, 81). Todo lo «real» es viviente, es en sí mismo perspectivista y se afirma en su perspectiva frente a otras.”

ETERNO RETORNO E GARGALHADAS: “Queda abierta la pregunta de si esa extrañeza puede eliminarse con la interpretación de la doctrina del eterno retorno de lo mismo que hace Ernst Bertram en su muy leído libro sobre Nietzsche, en el que la llama «ese engañoso y burlesco misterio de la locura del último Nietzsche» (2ed., p. 12).”

Con demasiada facilidad podría intentar explicarse este modo de hablar de sí mismo en sus escritos diciendo que Nietzsche es víctima de una exagerada tendencia a autoobservarse y autoexponerse. Si se le agrega la circunstancia de que su vida terminó en la locura, la cuenta cuadrará fácilmente: este dar importancia a la propia persona se tomará como un anuncio de la posterior locura. En qué medida es éste un juicio falaz es algo que al final de estas lecciones tendrá que desprenderse por sí mismo. (…) su tarea pensante y el instante histórico de ésta. La reflexión sobre sí mismo a la que contínuamente vuelve Nietzsche es lo opuesto de un vanidoso mirarse en el espejo, es la preparación siempre renovada para el sacrificio que su tarea exigía de él, una necesidad que sintió desde el tiempo lúcido de su juventud.”

(Mein Leben. Autobiographische Skizze des jungen Nietzsche [Mi vida. Esbozos autobiográficos del joven Nietzsche], Francfort, 1936) Esta autopresentación no fue encontrada hasta 1936, al revisar la hermana de Nietzsche sus manuscritos postumos, y fue publicada separadamente por el Archivo Nietzsche siguiendo una sugerencia mía.”

Las miradas retrospectivas γ panorámicas que Nietzsche dirige a su propia vida son siempre y exclusivamente miradas anticipadoras en dirección de su tarea. Ésta es para él la auténtica realidad. En ella vibran todas sus relaciones, tanto las que mantiene consigo mismo como con las personas cercanas o con los extraños que quiere conquistar. Desde esta perspectiva tenemos que interpretar asimismo el sorprendente hecho de que, por ejemplo, los esbozos de sus cartas los escribiera directamente en sus «manuscritos», no por ahorrar [economizar] papel, sino porque las cartas, pues también ellas son meditaciones, pertenecen a la obra.”

Por mucho que por momentos tenga la apariencia contraria, estos comentarios han sido para él lo más difícil, porque pertenecen al carácter único de una misión que era sólo suya. Ésta consiste, entre otras cosas, en hacer visible por medio de la propia historia, en una época de decadencia, de falsificación de todo, de mera actividad en todos los ámbitos, que el pensar de gran estilo es un auténtico actuar, un actuar en su forma más poderosa, aunque también más silenciosa. Aquí la habitual distinción entre la «mera teoría» y la «práctica» útil no tiene ya ningún sentido. Pero Nietzsche también sabía que los creadores poseen la grave distinción de no tener que necesitar de los otros para liberarse del pequeño yo propio”

BOSQUELAGO

bosquelago lagobosque pedrapiramidal spielbergiana

bosta purê de batata hmmm vida inteligente inexistente sou eu

bosqueja bosteja hey you hel-her enxaqueca com aura perdida da obra de arte

fumando na janela suado e zoado pelos colegas vingançaulo

dente do tempo

dragão cearense

roca do dentista broca piramidal

egipto antigus

não mais que eu

cri-cri

interpretação cabal

(Quien no conozca este paisaje lo encontrará descrito por C. F. Meyer en el comienzo de su Jürg Jenatsch.)”

O ÚLTIMO JANTAR DOS PATRÍCIOS

O SEXTO MACARRÃO INSTANTÂNEO ENTRE 3 AMIGOS:

É QUASE MADRUGADA

SILSMARIA
30/04/2017 00:28

Estamos acostumbrados a considerar que esos pensamientos son «meros» pensamientos, algo irreal e inefectivo. Pero en verdad, el pensamiento del eterno retorno de lo mismo es una conmoción de todo el ser. El ámbito visual al que el pensador dirige su mirada no es ya el horizonte de sus «vivencias personales», es algo diferente de él mismo, algo que le ha pasado por debajo y por encima y desde entonces está allí, algo que a él, el pensador, ya no le pertenece, sino algo a lo que él pertenece.”

DESCONFIE DOS PEDAGOGOS APAIXONADOS

«Apenas se lo comunica, ya no se ama lo suficiente el propio conocimiento» (Más allá del bien γ del mal, 160)

Aurora. Lleva como epígrafe un aforismo del Rigveda indio: «Hay tantas auroras que aún no han alumbrado».”

quien calla absolutamente delata precisamente que calla; quien, en cambio, al comunicarse de manera ocultadora habla parcamente, calla que en realidad calla.”

Sin la técnica de los grandes laboratorios, sin la técnica de las grandes bibliotecas y archivos y sin la técnica de un perfecto sistema de información, son hoy impensables tanto un trabajo científico fértil como el efecto que le corresponde. Todo debilitamiento, todo freno de estos estados de cosas es reacción.

A diferencia de la «ciencia», la situación en la filosofía es totalmente diferente. Cuando se dice aquí «filosofía» se hace referencia exclusivamente a la creación de los grandes pensadores. Esta creación tiene sus propios tiempos y sus propias leyes también en lo que hace al modo de comunicarse. La prisa por exponer resultados y el miedo de llegar tarde desaparecen ya por el hecho de que forma parte de la esencia de toda auténtica filosofía que sea necesariamente mal entendida por sus contemporáneos. Incluso respecto de sí mismo el filósofo tiene que dejar se ser su propio contemporáneo. Cuanto más esencial y revolucionaria es una filosofía, tanto más necesita que se formen primero aquellos hombres y aquellas generaciones que habrán de asumirla. En ese sentido, aún hoy tenemos que esforzarnos, por ejemplo, en comprender el contenido esencial de la filosofía de Kant, liberándola de las falsas interpretaciones de sus contemporáneos y sus seguidores.”

la expresión de Feuerbach: «el hombre es [ist] lo que come [isst]»”

O PAI MORTO, A MÃE TIRÂNICA E O IRMÃO INDESEJADO

«Contra la doctrina de la influencia del milieu y de las causas exteriores: la fuerza interior es infinitamente superior.» VdP

Tu te afastas com freqüência das boas companhias, não é, Rafa¿

«¿Qué vuelve heroico?», pregunta Nietzsche en La gaya ciencia (n. 268). Respuesta: «Ir al mismo tiempo al encuentro de su supremo sufrimiento y de su suprema esperanza» (…) es decir, no engañarse con la pretendida victoria.”

sólo en el ámbito del conocimiento y de quien conoce acontece la suprema tragedia: «Los supremos motivos trágicos no han sido hasta ahora utilizados: los poetas nada saben por experiencia de las cien tragedias del que conoce» (XII, 246; 1881/82).”

para hacer que comience el pensamiento más grave, es decir la tragedia, previamente tiene que crear poeticamente al pensador que pueda pensarlo. Esto acontece en la obra que comienza a gestarse en 1883, un año después de La gaya ciencia.”

Este final de La gaya ciencia constituirá, sin alteración ninguna, el comienzo de la primera parte de Asi habló Zaratustra, publicada al año siguiente. Sólo el nombre del lago, «Urmi», será sustituido por «el lago de su país natal». Al comenzar la tragedia de Zaratustra comienza su ocaso.”

en el instante en que comienza, todo lo que se suele tomar por «tragedia» ya ha sucedido; «tan sólo» acontece el ocaso.”

ODE ALOÍSIA

Yo os digo: hay que tener aún caos dentro de sí para poder dar a luz una estrella que dance. Yo os digo: aún tenéis caos dentro de vosotros.

¡Ay! Llega el tiempo en el que el hombre ya no dará a luz ninguna estrella. ¡Ay! Llega el tiempo del hombre más despreciable, del que ya no puede despreciarse a sí mismo.

¡Mirad! Os muestro al último hombre.

Mientras el desprecio provenga de la repugnancia por lo despreciado no es aún el supremo desprecio; ese desprecio por repugnancia es aún él mismo despreciable”

* * *

«El necesario ocultamiento del sabio: su conciencia de no ser comprendido en absoluto; su maquiavelismo, su frialdad frente a lo actual.» (XIII, 37; 1884)

Y si decimos que esta obra es el centro de la filosofía de Nietzsche hay que decir al mismo tiempo que está totalmente fuera del centro, que es «excéntrica» respecto de ella. Y si se recalca [releva] que es la cima más alta que alcanzó el pensamiento de Nietzsche, nos olvidamos, o mejor, tenemos poca idea de que, precisamente después del Zaratustra, en los años 1884-1889, su pensamiento dio aún pasos esenciales que lo pusieron ante nuevas transformaciones.

A la obra que lleva por título Así habló Zaratustra Nietzsche le puso un subtítulo que reza: «Un libro para todos y para ninguno». Lo que el libro dice está dirigido a cada uno, a todos; pero nadie tiene el derecho de leer verdaderamente el libro mientras permanezca tal como simplemente es, es decir, si previa y simultáneamente no se transforma; o sea que es un libro para ninguno de todos nosotros tal como simplemente somos: un libro para todos y para ninguno, por lo tanto un libro que nunca puede ni debe simplemente «leerse».”

En la época de Aurora, alrededor de 1881, apuntó (XI, 159):

«Lo nuevo de nuestra posición actual respecto de la filosofía es una convicción que ninguna época había tenido: que no tenemos la verdad. Todos los hombres anteriores <tenían la verdad>, incluso los escépticos.»”

«Profunda aversión a descansar de una vez por todas en alguna consideración global del mundo. Encanto del modo de pensar opuesto: no dejarse quitar el atractivo del carácter enigmático.» (La voluntad de poder, n. 470; 1885-1886)

Zaratustra cuenta el enigma a bordo de un barco, en viaje hacia el mar abierto, «inexplorado». ¿Y a quién le cuenta el enigma? No a otros viajeros sino sólo a los marineros”

Todo brilla para mí nuevo,

sobre espacio y tiempo duerme el mediodía:

Sólo tu ojo, inmenso,

me dirige la mirada, ¡oh, infinitud!”

«No sólo de un sol ha vivido el ocaso»

o eterno retorno da ponta italiana

do cocô nas calças e no chão

da risada de mofa e troça

da guerra de bolinha de isopor e das trincheiras

das velharias, cacarecos e do

campeonato de carros que nunca vai acabar

aos 44 do 1º e último turno

o cúmplice de outrora

é hoje o idiota que vigia seus passos

confio mais em qualquer úlcera

que neste sêm-pelos e escovado,

sorridente, esbranquiçado,

com seu mafioso suspensório de não-trabalhador

não dá trabalho não pensar

em nada

só cagar cagar cagar

na vida dos outros,

o que é muito pior

que cagar a sua

até a alma!

você é muito sujo e feio, ó anão!

ah não! ana nias… coma bananas

tome pílulas de entorpecimento…

para ver se cresce mais saudável

não force a vista

vamos assistir um chaves

e rir dos nossos irmãos mais velhos

o seu ímpeto sumiu em las vegas

com uma camisa da seleção brasileira

que tortura rebuscar

mas o pior é você

que nunca vai lembrar!

Lo que para nosotros tiene el aspecto de dos callejones rectilíneos que se alejan uno de otro es en verdad el fragmento inmediatamente visible de un gran círculo que vuelve constantemente sobre sí.”

En lugar de alegrarse de que el enano haya pensado su pensamiento, Zaratustra replica «encolerizado». O sea que el enano, en realidad, no ha comprendido el enigma; se ha tomado demasiado a la ligera la solución. Por consiguiente, no se piensa aún el pensamiento del eterno retorno de lo mismo con sólo representarse: «todo gira en círculo». En el pasaje de su libro sobre Nietzsche en el que caracteriza a la doctrina del eterno retorno de «engañoso y burlesco misterio de la locura», E. Bertram cita de modo admonitorio, es decir como una visión que estaría por encima del pensamiento del eterno retorno, una sentencia de Goethe. Ésta dice así: «Cuanto más se conoce, cuanto más se sabe, se reconoce que todo gira en círculo». Se trata precisamente del pensamiento del círculo tal como lo piensa el enano que, según las palabras de Zaratustra, se lo toma demasiado a la ligera, precisamente al no pensar el gigantesco pensamiento nietzscheano.”

todo lo que en general puede ser tiene que haber sido ya como ente, pues en un tiempo infinito el curso de un mundo finito tiene que haberse completado necesariamente.”

cuando la soledad habla, lo hace en el discurso de sus animales.”

Os animais só falam quando o homem fecha a matraca.

En una ocasión Nietzsche dice (sept. 1888, Sils-Maria, al final de un prefacio perdido para El ocaso de los ídolos, en el que se habla retrospectivamente de Así habló Zaratustra y Más allá del bien γ de mal): «El amor a los animales: en todas las épocas se ha reconocido por ello a los ermitaños…» (XIV, 417).”

DIGRESSÕES NÃO-ANTROPOMÓRFICAS SOBRE O PROFETA ZARATUSTRA II

A águia não come a serpente. O alto não mata o baixo. O que voa não mata o que rasteja, pois precisa dele. É ele. O baixo é eterno, fechado em si mesmo. O alto tem até o que o homem não tem, é mais que homem, já não é homem. O veneno do baixo mata qualquer alto (e muitas vezes é indiferente a qualquer outro baixo). Mas há ocasiões em que o alto se põe inalcançável para suas garras – ó, o que digo, o baixo não tem garras, foi punido por Deus no começo de tudo! O começo que é cada dia, cada dia de mediocridade da massa… Ouroboros é cobra, leão e, claro, pássaro num só ao mesmo tempo. Ressurge rugindo em seus altos e baixos, em seus propósitos e despropósitos, dentro da caverna ou nos arredores dela…

El orgullo es la madura decisión de mantenerse en el rango esencial propio que surge de la tarea, es la seguridad de ya-no-confundirse. Orgullo es el mantenerse arriba que se define desde la altura, desde el estar ariba, y es esencialmente distinto de la presunción y la arrogancia. Éstas precisan la relación con lo inferior como aquello de lo que se quisieran separar y de lo que siguen dependiendo, necesariamente, por la razón de que no tienen nada dentro de sí por obra de lo cual pudieran pretender estar arriba.”

La serpiente es el animal más inteligente. Inteligencia significa dominio sobre un saber efectivo, sobre el modo en el que el saber en cada caso se anuncia, se retrae, pretende y cede y no cae en sus propias trampas. De esta inteligencia forma parte la fuerza de disimulación y transformación, no la simple y rastrera falsedad, forma parte el dominio sobre la máscara, el no abandonarse, el mantenerse en el trasfondo al jugar con lo que está en primer plano, el poder sobre el juego de ser y apariencia.”

el águila y la serpiente no son animales domésticos, animales que se llevan a la casa y se habitúan a ella. Son ajenos a todo lo habitual y acostumbrado y a todo lo familiar en sentido mezquino. Estos dos animales son los que determinan la más solitaria soledad, que es algo diferente de lo que entiende por ella la opinión común; en efecto, ésta opina que la soledad nos libera y separa de todo; el punto de vista común piensa que en la soledad a uno «ya nada le molesta».”

Que meu conhecimento rasteje com minha depressão… Com minha gravidade

el gusano dormido que yace en el suelo como un extraño es la figura opuesta a la serpiente enroscada que con la vigilia propia de la amistad se eleva en anillos hacia lo alto describiendo amplios círculos. Cuando comienza a increpar a su pensamiento más abismal para que se levante, los animales de Zaratustra se asustan, pero el miedo no los hace retroceder sino que se acercan, mientras que alrededor todos los demás animales huyen. Sólo el águila y la serpiente permanecen. En la más pura soledad, se trata de llevar a la despierta luz del día lo que ellos mismos simbolizan.”

Zaratustra no se pierde a sí mismo, sigue alimentando su orgullo y asegura la seguridad de su rango, aunque tenga que yacer abatido y la inteligencia no se preocupe por él, con lo que no puede darse a conocer a sí mismo su saber. «Bayas [baios; bagas] amarillas y rojas» le lleva el águila, entre otras cosas, y recordamos que anteriormente (3a parte, «Del espíritu de la gravedad») se aludía al «amarillo profundo y el rojo ardiente»; estos dos colores quiere tener juntos ante su vista el gusto de Zaratustra: el color de la más profunda falsedad, del error, de la apariencia, y el color de la suprema pasión, de la creación más abrasadora.”

«El amarillo profundo» puede interpretarse también como el oro del «destello [centelha] de oro de la serpiente vita» (La voluntad de poder, n. 577), o sea «la serpiente de la eternidad» (XII, 426).”

Tiene que ser un placer, entonces, lanzarse al mundo nuevo, porque todas las cosas brillarán ahora bajo la luz del nuevo conocimiento y querrán ser integradas en las nuevas determinaciones y, al hacerlo, darán al conocimiento una confirmación profunda y curarán a los que antes buscaban de la enfermedad del preguntar.”

«La soledad, necesaria por un tiempo, para que el propio ser se vuelva íntegro y compenetrado, completamente curado y duro. Nueva forma de la comunidad: que se afirma de manera belicosa. De lo contrario, el espíritu se vuelve mortecino. Nada de <jardines> y de mero <eludir las masas>. ¡Guerra (¡pero sin pólvora!) entre diferentes pensamientos!, ¡y sus ejércitos!» (XII, 368; 1882-1884)

ese jardín no es el mundo —«el mundo es profundo»—: y más profundo de lo que nunca pensó el día» (III, «Antes de la salida del sol»)

«Las cosas mismas todas danzan para quienes piensan como nosotros»

Quizás el discurso de los animales es sólo más brillante, más habilidoso y juguetón, pero en el fondo es lo mismo que el discurso del enano al que Zaratustra le replica que se lo toma demasiado a la ligera. En efecto, tampoco el discurso de sus propios animales, que le exponen su doctrina con las más bellas fórmulas, es capaz de engañar a Zaratustra”

si todo retorna, toda decisión y todo esfuerzo y todo querer ir hacia adelante son indiferentes; que, si todo gira en círculo, nada vale la pena; que de esta doctrina sólo resulta el hastío y finalmente el no a la vida. También sus animales, a pesar del bello discurso sobre el anillo del ser, parecen en el fondo pasar danzando por encima de lo esencial. También sus animales parecen querer comportarse como los hombres: o bien se escapan como el enano, o bien simplemente miran y describen lo que pasa cuando todo gira; se acurrucan frente al ente [Jeca Tatu], «contemplan» su eterno cambio y lo describen con las más bellas imágenes. No presienten lo que allí ocurre”

Cuando el gran hombre grita, el pequeño corre hacia él y tiene compasión. Pero toda compasión, nuevamente, yerra y queda fuera de lugar; su interés sólo hace que el sufrimiento se falsee y empequeñezca con pequeños consuelos y que se impida o retrase el verdadero conocimiento. La compasión no tiene la menor idea de en qué medida el sufrimiento, el supremo mal que ahoga, se mete en la garganta y hace gritar, es «necesario para el bien» del hombre.”

Los dos callejones, futuro y pasado, no se chocan, corren uno detrás del otro.

Y sin embargo hay allí un choque. Pero sólo para quien no se queda en observador sino que es él mismo el instante, instante que actúa adentrándose en el futuro y, al hacerlo, no abandona el pasado sino que, por el contrario, lo asume y lo afirma. Quien está en el instante está girando en dos direcciones: para él, pasado y futuro corren uno contra otro.

Esto es lo más grave y lo propio de la doctrina del eterno retorno, que la eternidad es en el instante, que el instante no es el ahora fugaz, no es el momento que se desliza veloz para un observador, sino el choque de futuro y pasado. En él el instante accede a sí mismo. Él determina el modo en que todo retorna.”

«Pues cantar es apropiado para los convalecientes»

Zaratustra, que ha superado la enfermedad, su disgusto por lo pequeño, al reconocer su necesidad.” “Por ello, la poesía, si ha de cumplir con su tarea, no puede ser nunca una cantilena [Leier] y un organillo. Todavía está por crearse la lira [Leier] que sirva de instrumento para el nuevo decir y cantar.”

Sólo cuando el maestro de la doctrina se comprende a sí mismo desde ella, como una víctima necesaria, como aquel que tiene que vivir su ocaso porque es un tránsito, sólo cuando el que va hacia el ocaso se bendice así a sí mismo, sólo entonces alcanza su meta y su final.”

«En contra del valor de lo que permanece siempe igual (v. la ingenuidad de Spinoza, igualmente la de Descartes), el valor de lo más breve y pasajero, el seductor destello de oro en el vientre de la serpiente vita

Zaratustra se ha convertido él mismo en héroe al haberse incorporado el pensamiento del eterno retorno con todo su contenido como el peso más grave. Es ahora el sabio que sabe que lo más grande y lo más pequeño se pertenecen mutuamente y retornan, que por lo tanto incluso la gran doctrina del anillo de los anillos tiene que convertirse en una cantilena de organillo, que ésta acompaña siempre a su verdadera anunciación. Es ahora alguien que marcha al mismo tiempo al encuentro de su supremo sufrimiento y de su suprema esperanza.”

El velo del devenir es el retorno en cuanto verdad sobre el ente en su totalidad, y el sol de mediodía es el instante de la sombra más corta, la claridad más clara, la imagen sensible de la eternidad.”

Se dice: después del Zaratustra, Nietzsche no supo ir adelante. Hay que considerar siempre un juicio de este tipo como una señal de que no el pensador sino sus sabihondos intérpretes no saben ir adelante y tapan su desconcierto más mal que bien con una necia pedantería.”

El comienzo de Zaratustra es su ocaso, Nietzsche no ha pensado nunca una esencia diferente de Zaratustra.”

Los «fragmentos postumos» no son una confusa y arbitraria mescolanza de notas escritas al azar que por casualidad no llegaron a la imprenta. Las notas son diferentes no sólo por su contenido sino también por su forma, o incluso por su falta de forma; surgen, en efecto, de temples de ánimo cambiantes y de múltiples propósitos y perspectivas, en unas ocasiones registrados fugazmente, en otras más elaborados, en unas ocasiones sólo ensayados en medio de dudas y tanteos, em otras logrados repentinamente al primer intento.” “No obstante, quien tenga sólo una vaga idea de las dificultades que presenta precisamente una publicación adecuada de la obra postuma de Nietzsche correspondiente a la última época (a partir de 1881), se abstendrá de hacer ningún reproche a los primeros y hasta ahora únicos editores por el procedimiento elegido. Por encima de las carencias de la edición actual, a los primeros editores les corresponde el mérito decisivo de habernos hecho accesibles los trabajos manuscritos dejados por Nietzsche en una versión legible; esto sólo lo podían hacer ellos, especialmente P. Gast, quien por haber colaborado durante años con Nietzsche en la preparación de sus manuscritos para la imprenta, estaba totalmente familiarizado con su escritura y sus variantes. De otro modo, mucho de lo que hay en los difícilmente legibles manuscritos, y con frecuencia lo más importante, estaría hoy cerrado para nosotros.”

al pensar Nietzsche su pensamiento fundamental, lo «poético» es tan «teórico» como lo «teórico» en sí mismo «poético». Todo pensar filosófico, y especialmente el más estricto y prosaico, es en sí mismo poético, y a pesar de ello no es nunca una obra poética. A la inversa, una obra poética puede ser como los himnos de Hölderlin— pensante en grado sumo, y a pesar de ello no es nunca filosofía. El Así habló Zaratustra de Nietzsche es poético en grado sumo, y sin embargo no es una obra de arte sino «filosofía». Puesto que toda efectiva filosofía, es decir toda gran filosofía, es en sí misma pensante-poética, la distinción entre «teórico» y «poético» no puede servir para distinguir notas filosóficas.

Infinita importancia de nuestro saber, nuestro errar, nuestras costumbres, nuestros modos de vida, para todo lo venidero. ¿Qué haremos con el resto de nuestras vidas, nosotros que hemos pasado la mayor parte de ella en la ignorancia mas esencial? Enseñaremos la doctrina, es el medio más fuerte para incorporarla nosotros mismos. Nuestro tipo de bienaventuranza como maestros de la mayor doctrina.”

Esboço da época de Gaia Ciência e Assim Falou…

«¿Qué haremos con el resto de nuestra vida?». Se trata, por lo tanto, de un corte decisivo de la vida, que separa lo anterior (lo transcurrido) del «resto» que aún queda. Evidentemente, el corte es provocado por el pensamiento del eterno retorno, que todo lo transforma. No obstante, lo que se encuentra antes de este corte y lo que le sigue no están separados de manera cuantitativa. Lo ocurrido antes no queda apartado. El punto 5 está precedido de otros cuatro y el 4 termina con la indicación: «transición». Por muy nueva que sea, la doctrina del eterno retorno no sale del vacío sino que está sujeta a una «transición».”

Si el pensamiento del eterno retorno de todas las cosas no te subyuga, no es culpa tuya; ni tampoco es un mérito si lo hace. Pensamos de todos nuestros antepasados de modo más indulgente de lo que ellos lo hacían, lamentamos los errores que habían incorporado, no su maldad.”

Mais do espólio

¿O no será esta distinción entre «metafísico» y «existencial», aun suponiendo que sea en sí misma clara y sostenible, tan poco adecuada respecto a la filosofía de Nietzsche como lo era la que se establecía, en otro sentido, entre su carácter teórico-prosaico y su carácter poético?”

Zaratustra, nacido a orillas del lago Urmi, abandonó su patria a los treinta años, se dirigió a la provincia de Aria y, en los diez años que duró su soledad en las montañas, compuso el Zend-Avesta” [Bem e Mal]

O que são dez anos¿

«mediodía y eternidad»: ambos son conceptos y nombres para el tiempo, si tenemos en cuenta que también la eternidad sólo la pensamos a partir del tiempo.”

Este proyecto escoge las supremas determinaciones temporales como título para una obra que tiene que tratar del ente en su totalidad y de la vida nueva. Cómo se piensa el ente en su totalidad está también indicado en la imagen: la serpiente, el animal más inteligente, la «ser-piente de la eternidad» yace enroscada en la luz de mediodía del sol del conocimiento. Una imagen grandiosa, ¡cómo puede decirse que no es poético! Evidentemente lo es, pero sólo porque está profundamente pensado, y está pensado así porque el proyecto de aquello dentro de lo cual ha de comprenderse y elevarse al saber el ente en su totalidad se arriesga aquí más lejos que nunca, pero no para penetrar en el espacio sin aire ni luz de una «especulación» vana sino para internarse en el ámbito central de la trayectoria del hombre.”

<Muertos están todos los dioses: ahora queremos que viva el superhombre>;

¡que ésta sea alguna vez, en el gran mediodía, nuestra

última voluntad!

Así habló Zaratustra.”

Por eso, si hay algo así como una catástrofe en la creación de los grandes pensadores, ésta no consiste en que fracasen y no puedan seguir adelante sino precisamente en que van adelante, es decir, en que se dejan determinar por el efecto inmediato de su pensamiento, que es siempre un efecto desviado. Lo funesto es siempre el seguir «adelante», en lugar de quedarse atrás em la fuente del propio inicio.”

La incomprensión que hace del pensamiento del eterno retorno una «teoría» con posteriores consecuencias prácticas vio facilitada su aceptación por el hecho de que las notas de Nietzsche que debían proporcionar una «exposición y fundamentación» hablan un lenguaje «científico-natural». Nietzsche recurre incluso a obras científico-naturales, físicas, químicas y biológicas de aquella época y em cartas de esos años habla de planes de estudiar ciencia natural y matemáticas en una gran universidad. Todo eso confirma de modo suficientemente claro que el propio Nietzsche tomaba en consideración un «aspecto científico-natural» dentro de la doctrina del eterno retorno.”

«La totalidad de nuestro mundo es la ceniza de innumerables seres vivientes: y aunque lo viviente sea tan poco en comparación con el conjunto, todo ya ha sido alguna vez transformado en vida, y así continuará siendo.» (XII, 112)

«Guardémonos de decir que la muerte se opone a la vida. Lo viviente sólo es una especie de lo muerto, y una especie muy rara.»

la física, en cuanto física, no puede jamás pensar la fuerza como fuerza.”

con el cálculo está puesta la racionalidad. Una física que pretenda ser utilizable técnicamente y que al mismo tiempo quiera ser irracional es un contrasentido.

A LINGUAGEM DA ESPERANÇA UNIVERSAL

«Si se hubiera alcanzado alguna vez un equilibrio de la fuerza, duraría aún hoy: por lo tanto no ha sucedido nunca.» (n. 103)

«El espacio sólo ha surgido gracias a la suposición de un espacio vacío. Éste no existe.Todo es fuerza.» (n. 98)

«la fuerza es eternamente igual y eternamente activa.» (n. 90)

Vistas en conjunto, las reflexiones de Nietzsche sobre el espacio y el tiempo son muy escasas, y los pocos pensamientos acerca del tiempo, que apenas si van más allá de lo tradicional, son discontinuos: la prueba más infalible de que la pregunta por el tiempo respecto del despliegue de la pregunta conductora de la metafísica, y con ello también ésta misma en su origen más profundo, le permanecieron cerradas.”

del eterno fluir de las cosas, una concepción que Nietzsche, junto con la tradición usual, consideraba falsamente como de Heráclito; nosotros la llamaremos, más correctamente, pseudo-heraclítea.”

La representación de la totalidad del mundo como «caos» tiene para Nietzsche la función de rechazar una «humanización» del ente en total. Humanización es tanto la explicación moral del mundo a partir de la resolución de un creador como la correspondiente explicación técnica a partir de la actividad de un gran artesano (demiurgo). (…) Pero también hay humanización si hacemos de la irracionalidad un principio del mundo.”

«¡Atribuir al ser un <sentimiento de autoconservación>! ¡Qué delirio! ¡Atribuir a los átomos una <tendencia al placer y al displacer>!» (XII, n. 101).

En el ente tampoco hay «metas», ni «fines», ni «propósitos», y si no hay fines también está excluido lo que carece de fin, lo «contingente».”

«Guardémonos de creer que el universo tiene la tendencia de alcanzar ciertas formas, de que quiere ser más bello, más perfecto, más complicado. ¡Todo eso no es más que humanización! Anarquía, feo, forma, son conceptos impropios.» (XII, n. 111)

«La suposición de que el universo es un organismo contradice la esencia de lo orgánico.» (XII, n. 93; La gaya ciencia, n. 109)

«¿Cuándo dejarán de oscurecernos todas estas sombras de Dios? ¡Cuándo habremos desdeificado totalmente la naturaleza! ¡Cuándo nosotros, los hombres, podremos comenzar a naturalizarnos junto con la naturaleza pura, con la naturaleza nuevamente encontrada y redimida!»

en la desdeificación más extrema el pensamiento verdaderamente metafísico presiente un camino, únicamente en el cual los dioses, si acaso es otra vez posible en la historia del hombre, saldrán al encuentro.”

Lo que aquí hace Nietzsche respecto de la totalidad del mundo es una especie de «teología negativa» que trata de captar de la manera más pura posible lo absoluto manteniendo alejada toda determinación «relativa», es decir, referida al hombre.”

¿O será quizás «la nada» la más humana de todas las humanizaciones? A este extremo tenemos que llegar com nuestro preguntar para divisar el carácter único que tiene la tarea que se nos presenta, la de determinar el ente en su totalidad.”

ESTAMOS INCLUÍDOS ENTRE OS FÓSSEIS EXUMADOS: “o bien uno duda y desespera de toda posibilidad de verdad y se toma todo como un juego de representaciones; o bien uno se decide, en un acto de fe, por una intepretación del mundo, siguiendo el principio de que una es mejor que ninguna” “o bien uno se acomoda a la situación y se mueve con la aparente superioridad de quien duda de todo, no se compromete con nada y quiere preservar su tranquilidad; o bien uno logra olvidar la humanización y con ello se la considera eliminada, consiguiendo de este modo su tranquilidad. Así pues, siempre que la objeción de la humanización se toma como algo insuperable se cae en la superficialidad, por mucha que sea la facilidad con que estas reflexiones se dan la apariencia de ser sumamente profundas y, sobre todo, «críticas». ¡Qué revelación se produjo hace dos décadas (1917) para todos los que no estaban familiarizados con el pensamiento real y su rica historia cuando Spengler creyó haber descubierto por primera vez que toda época y toda cultura tienen su visión del mundo! Y sin embargo no era más que una hábil e ingeniosa popularización de ideas y cuestiones que ya habían sido pensadas con mayor profundidad hacía tiempo —y en último lugar por parte de Nietzsche—, aunque de ninguna manera hubieran sido resueltas y no lo hayan sido hasta hoy. La razón de ello es tan simple como de peso y difícil de pensar.”

Hablar de humanización sin haber decidido, es decir, sin haber preguntado quién es el hombre, no es, em efecto, más que palabrerío, y lo seguirá siendo aunque se acuda para ilustrarlo a toda la historia universal y a las más antiguas culturas de la humanidad, que nadie está en condiciones de comprobar. O sea que para tratar la objeción de humanización, tanto su afirmación como su rechazo, de un modo que no sea superficial y sólo aparente hay que recoger en primer lugar la pregunta: ¿quién es el hombre? Porque la pregunta por quién es el hombre no es tan inofensiva ni es posible despacharla de la noche a la mañana; si han de mantenerse las posibilidades de preguntar de la existencia, esta pregunta es la tarea futura de Europa en este siglo y en el próximo.”

sigue abierta la pregunta de si la determinación de la esencia del hombre lo humaniza o lo deshumaniza. Cabe la posibilidad de que llevar a cabo la determinación de la esencia del hombre sea siempre y necesariamente una cosa del hombre y por lo tanto humana, pero que la determinación misma, su verdad, eleve al hombre más allá de sí mismo y por lo tanto lo ¿«humanice, otorgando de este modo una esencia diferente también a la realización humana de la determinación esencial del hombre.”

Quien en otros tiempos tuvo una vez la ocurrencia de decir que la ciencia sólo podía afirmar su esencia si la recuperaba desde un preguntar originario, tiene que aparecer en esta situación como un loco y un destructor de «la» ciencia; en efecto, preguntar por los fundamentos provoca un agotamiento interior y es un procedimiento para el que se encuentra disponible el efectivo nombre de «nihilismo». Pero este fantasma ya ha pasado, ahora hay tranquilidad y los

estudiantes —se dice— quieren de nuevo trabajar. El filisteísmo general del espíritu puede volver a empezar. «La ciencia» no tiene la menor idea de que su pretensión de práctica inmediata no sólo no excluye la meditación filosófica sino que, por el contrario, en esse instante de sumo aprovechamiento práctico de la ciencia surge la suma necesidad de meditación sobre aquello que jamás puede evaluarse por su utilidad y provecho inmediato, aquello que lleva la inquietud suma a la existencia, inquietud no en el sentido de perturbación y confusión sino en el de despertar y mantenerse en vigilia, por oposición a la quietud de la somnolencia filosófica, que es el auténtico nihilismo. Pero sin lugar a dudas, si se calcula de acuerdo con la comodidad, resulta más fácil cerrar los ojos ante sí mismo y esquivar el peso de las preguntas, aunque más no sea con la excusa de que no se tiene tiempo para esas cosas.

Extraordinaria época del hombre en la que nos movemos desde hace décadas, un tiempo en el que no se tiene tiempo para la pregunta acerca de quién es el hombre. Con la descripción científica de los hombres actuales y pasados no puede llegar a saberse jamás quién es el hombre. Este saber tampoco puede provenir de una fe para la que todo saber es de antemano y necesariamente una necedad y algo «pagano». Este saber sólo surge de una originaria actitud cuestionante.

Pero se nos había dicho que el ente en su totalidad sólo recibe su interpretación por parte del hombre, y ahora resulta que el hombre mismo tiene que ser interpretado desde el ente en su totalidad. Aquí todo gira en círculo. Efectivamente. La cuestión es precisamente si se consigue, y de qué modo, tomarse en serio este círculo, en lugar de cerrar continuamente los ojos ante él.”

La objeción de humanización, por muy evidente que sea y por más que pueda ser groseramente manipulada con facilidad por cual quiera, carece de validez y de fundamento en tanto no sea ella misma retrotraída al preguntar de la pregunta acerca de quién es el hombre, pregunta que ni siquiera puede ser planteada, y mucho menos respondida, sin la pregunta acerca de qué es el ente en su totalidad. Esta pregunta, sin embargo, encierra en sí otra aún mas originaria, otra pregunta que ni Nietzsche ni la filosofía anterior a él jamás han desplegado [desdobrado] o podido desplegar.”

La referencia a la conexión esencial entre «ser» y «tiempo» ha despertado la atención. Se plantea entonces la siguiente cuestión: si la doctrina nietzscheana del eterno retorno de lo mismo se refiere a la totalidad del mundo, o sea al ente en su totalidad [o sendo enquanto sempre sendo]—en cuyo lugar se dice, sin ninguna distinción, «el ser» [passado e futuro da espécie e do indivíduo]—y si la eternidad y el retorno, en cuanto ruptura de pasado y futuro, deben tener que ver con el «tiempo», entonces es posible que la doctrina del eterno retorno de lo mismo tenga, a pesar de todo, alguna importancia, y que no debamos como hasta ahora que pasar por alto las demostraciones como proyectos fracasados.”

Si el devenir finito que transcurre en ese tiempo infinito hubiera podido alcanzar una situación de equilibrio, en el sentido de una situación de estabilidad y quietud, ya la tendría que haber alcanzado hace mucho, pues las posibilidades del ente, finitas por su número y su tipo, tienen necesariamente que acabarse y que haberse acabado ya en un tiempo infinito. Puesto que no existe una situación de equilibrio tal en forma de un estado de quietud, essa situación no ha sido alcanzada nunca; es decir, aquí: no puede existir en absoluto. Por lo tanto, el devenir del mundo, al ser finito y al mismo tiempo volver sobre sí, es un devenir constante, es decir, eterno. Pero puesto que este devenir del mundo, en cuanto devenir finito, acontece constantemente en un tiempo infinito, y puesto que no acaba una vez que ha agotado sus posibilidades finitas, desde entonces ya tiene que haberse repetido, más aún, tiene que haberse repetido un infinidad de veces y seguirse repitiendo del mismo modo en el futuro. Dado que la totalidad del mundo es finita en cuanto a las formas de su devenir, pero a nosotros nos resulta prácticamente inconmensurable, las posibilidades de variación de su carácter general son sólo finitas, pero para nosotros tienen siempre la apariencia de infinitud, puesto que son inabarcables, y por lo tanto la apariencia de algo siempre nuevo.”

cada proceso, en su vuelta atrás, arrastra todo lo pasado, y, al actuar hacia adelante, simultáneamente lo empuja. Esto implica: todo proceso del devenir tiene que volver a traerse a sí mismo; él y todo lo demás retorna como lo mismo.”

La ciencia natural usa necesariamente una cierta representación de la fuerza, el movimiento, el espacio y el tiempo, pero jamás puede decir qué son la fuerza, el movimiento, el espacio y el tiempo, porque no puede preguntar esto mientras siga siendo ciencia natural y no franquee de improviso el paso a la filosofía.” “Precisamente porque se precisa en tal medida a la química y a la física, la filosofía no se ha vuelto superflua sino aún más necesaria —en un sentido más profundo de necesidad— que, por ejemplo, la química misma, porque ésta, dejada sola, se consume a sí misma; el hecho de que este proceso de posible devastación requiera 10 o 100 años y sólo entonces se vuelva visible a los ojos corrientes, carece de importancia para lo esencial que se trata aquí de rechazar desde su base.”

O bien se considera posible la exclusión de toda humanización, y entonces tiene que poder haber algo así como el punto de vista de la falta de punto de vista; o bien se reconoce al hombre en su esencia de estar en el ángulo, y entonces hay que renunciar a una captación no humanizadora de la totalidad del mundo. ¿Qué decisión toma Nietzsche ante esta disyuntiva, que difícilmente puede habérsele escapado puesto que sería él quien habría de contribuir en parte a desarrollarla? Se decide a favor de las dos opciones, tanto de la voluntad de deshumanización del ente en su totalidad como de la voluntad de tomarse en serio la esencia del hombre como un «estar en el ángulo». Nietzsche se decide en favor de la unión de ambas voluntades. Exige al mismo tiempo la suprema humanización del ente y la extrema naturalización del hombre. Sólo quien penetra hasta esta voluntad pensante de Nietzsche tiene alguna idea de su filosofía.

«La historia futura: este pensamiento triunfará cada vez más, y los que no crean en él, finalmente, por su naturaleza, tendrán que extinguirse.» (n. 121)

«Esta doctrina es clemente con los que no creen en ella, no tiene infiernos ni amenazas. El que no cree tiene una vida fugaz en su conciencia.» (n. 128)

«¡Para el pensamiento más potente se precisam muchos milenios; durante mucho, mucho tiempo tiene que ser pequeño e impotente!» (n. 130)

«Él [el pensamiento del eterno retorno] deberá ser la religión de las almas más libres, más alegres y más sublimes, ¡una deliciosa pradera entre el hielo dorado y el cielo puro!»

un tenerse [Sichhalten] en el doble sentido de tener un sostén y de mantener una actitud.”

«Vosotros, que os mantenéis en pie por vosotros mismos, tenéis que aprender a poneros de pie vosotros mismos, o si no caeréis.» (XII, 250, n. 67)

«’Ya no creo en nada’, éste es el modo de pensar correcto de un hombre creador» (XII, 250, 68).

En general, esta sentencia es tomada como testimonio de «escepticismo absoluto» y «nihilismo», de duda y desesperación respecto de todo conocimiento y todo orden, y por lo tanto como un signo de huida ante toda decisión y toma de posición, como expresión de esa actitud negativa para la cual ya nada vale la pena. Pero aquí, no creer y no-tener-por-verdadero significan otra cosa, significan no recoger directamente y sin más lo previamente dado, rehuyendo así toda inquietud y cerrando los ojos ante la propia comodidad bajo la apariencia de una supuesta decisión.

¿Qué es lo verdadero, según la concepción de Nietzsche? Es lo fijado en el continuo flujo y cambio de lo que deviene, lo fijado a lo que los hombres tienen que —y también quieren—mantenerse fijos, lo fijo con lo que trazan un límite a todo preguntar y a toda nueva inquietud y alteración; de este modo consigue el hombre consistencia para su propia vida, aunque sea la consistencia de lo usual y dominable, como protección ante cualquier inquietud y como consuelo de su quietud [na corda do equilibrista].”

«Todo crear es comunicar. El hombre del conocimiento, el creador, el amante, son unoXII, 250(…)

La esencial falta de necesidad de la creación de que se le agregue posteriormente una finalidad puede tomar la apariencia de un mero juego sin finalidad, de l’art pour l’art

Nietzsche busca la figura de un hombre que, en la transformada unidad de esa alterada tríada, sea al mismo tiempo el que conoce, el que crea y el que dona. Este hombre futuro es el propiamente dominante, el que se ha vuelto señor del último hombre, de manera tal que éste desaparece. Esto significa que el dominador no se comprenderá ya por oposición a él, lo que todavía sigue sucediendo mientras el hombre futuro tenga que comprenderse partiendo del último hombre, como super-hombre, es decir como transición. El que domina, esa unidad del que conoce, el que crea y el que ama, es, desde su fundamento más propio, algo totalmente diferente.” “¿Qué puede aún significar, en ese anillo, actuar, planear, tomar una resolución, en una palabra, la «libertad»? En este anillo de la necesidad, la libertad es tan superflua como imposible. Pero con ello se reniega de la esencia del hombre, y se niega incluso la posibilidad de su esencia.” Invertir la rueda, ¡que inesencial!

«Mi doctrina dice: vivir de manera tal que tengas que desear vivir nuevamente, ésa es la tarea; ¡de todos modos lo harás!»

La mención que hace el pensamiento remite así al «ser-ahí» en cada caso propio. En él y a partir de él debe decidirse lo que es y lo que será, puesto que lo que deviene es sólo lo que retorna, lo que ya fue en mi vida.” “Por el contrario: representarse simplemente que uno es un transcurrir de procesos y, encadenado a él, un eslabón [elo] de una serie de sucesos que vuelven siempre a ocurrir en una monotonía circular y sin fin, representarse así quiere decir no estar cabe sí mismo [?], no ser en el modo de ese ente que, en cuanto tal[,] pertenece a la totalidad del ente; representarse así al hombre significa, en medio de todo el cálculo, olvidarse de él como un sí mismo, como quien al hacer un recuento de los presentes se olvida de contarse a sí mismo.”

También aquí, como en tantos otros aspectos esenciales, Nietzsche no desarrolló su doctrina y dejó más de un punto en la oscuridad; no obstante, ciertas alusiones evidencian contínuamente que lo que había experimentado y sabía respecto de este pensamiento era mucho más que lo que aparece en sus notas y, por supuesto, que lo publicado.”

Aquí se muestran de manera aún más clara las dos visiones posibles: considerar y decidir nuestras referencias al ente en su totalidad desde nosotros mismos, desde el tiempo experimentado propiamente [1] en cada caso, o bien salir de este tiempo de nuestra temporalidad para, sirviéndonos sin embargo de este mismo tiempo, dar cuenta del todo por medio de un cálculo infinito [2]. El tiempo intermedio entre cada retorno tiene en cada uno de los casos una medida diferente. Visto desde la temporalidad propia [1], desde la temporalidad que nosotros experimentamos, entre el final de un transcurso vital y el comienzo del otro no hay ningún tiempo (cfr. Aristóteles, Física, IV, 10-14), mientras que calculado «objetivamente», la duración no es ni siquiera captable [2] con billones de años. ¿Pero qué son billones de años si se toma corno medida la eternidad, es decir, a la vez, el instante de una decisión?”

[1] A falta de um abismo – “existencialismo clássico” do século XX. Antropoformismo no acme.

[2] Um grão de poeira que assujeita todas as coisas, inclusive o trono vermelho e dourado reluzente no centro dos centros das galáxias… O cúmulo da ninguendade. Eclesiastes.

[1]+[2]=muito mais que [3]!

Eram 7 vezes um nanico que trabalhava na mina e conheceu dúzias de princesas dorminhocas avarentas…

Pero este pensamiento del eterno retorno es para la vida el más difícil de pensar, porque con él le resulta precisamente más fácil extraviarse respecto de sí misma en cuanto creadora y hundirse en dejar que todo simplemente pase y se deslice. En la frase citada se muestra que el eterno retorno surge de la esencia de la vida y con ello se lo sustrae de antemano de la arbitrariedad de ser una ocurrencia o una «profesión de fe personal». Desde aquí puede verse también la relación que mantiene la doctrina del eterno retorno de lo mismo, en cuanto constante devenir, con la antigua doctrina, usualmente llamada heraclitea, del eterno fluir de todas las cosas.” “Es ciertamente indiscutible que Nietzsche se sentía cercano a la doctrina de Heráclito, entendida ésta en el modo en que él la veía, juntamente con sus contemporáneos. En especial alrededor del año 1881, inmediatamente antes de la aparición del pensamiento del eterno retorno, habla con frecuencia del «eterno fluir de todas las cosas» (XII, 30, n. 57); incluso llama a la doctrina «del fluir de las cosas» «la verdad última» (n. 89), aquella que no soporta ya que se la incorpore. Esto quiere decir: la doctrina del eterno fluir de todas las cosas, en el sentido de una permanente falta de existencia consistente, no puede ya ser tenida por verdadera; en ella el hombre no puede sostenerse como en algo verdadero porque quedaría entregado a la inconsistencia, al cambio sin fin y a la total destrucción, ya que entonces es imposible algo firme y por lo tanto verdadero.”

el pensamiento del eterno retorno de lo mismo fija el eterno fluir; esta última verdad queda ahora incorporada (cfr. los primeros planes, 1881). Desde aquí se muestra por qué se hablaba entonces de «incorporación» con tanto énfasis. Ahora, en cambio, la doctrina del eterno fluir de las cosas queda superada junto con su esencia destructiva. A partir de la doctrina del eterno retorno el «heraclitismo» de Nietzsche resulta en general algo bastante peculiar.”

«Os enseño la redención del eterno fluir: el río retorna siempre a sí en su fluir, y vosotros, los mismos, descendéis siempre en el mismo río.» Nota 723, contemporânea à criação do Zaratustra

El devenir es conservado como devenir, y sin embargo se introduce en el devenir la consistencia, es decir, entendido de modo griego, el ser.

«¿No lo sabes? En cada acción que haces está reproducida y abreviada la historia de todo acontecer.» (n. 726)

«Un proceso infinito no puede ser pensado de ninguna otra manera que como periódico.» (n. 727)

«La doctrina del eterno retorno le sonreirá en primer lugar a la chusma que vive con frialdad y sin gran necesidad interior. El impulso de vida más vulgar será el primero en darle su apoyo. Una gran verdad sólo conquista en último término a los hombres más elevados: éste es el sufrimiento de los veraces.» (n. 730; cfr. n. 35)

¿Pero qué pasa con lo que Nietzsche ha pensado y escrito pero no comunicado en el período que va de 1884 a 1888?

El conjunto de lo no publicado proveniente de este período es muy grande y está repartido en los tomos XIII, XIV, XV y XVI; pero tenemos que agregar de inmediato que lo está en una forma que desorienta y que ha llevado por caminos profundamente equivocados a la interpretación de la época decisiva de la filosofía de Nietzsche, suponiendo que pueda hablarse realmente de una interpretación, es decir de una confrontación a la luz de la pregunta fundamental de la metafísica occidental. La razón principal del equívoco está en un hecho que se acepta con demasiada obviedad.

Nietzsche había planeado como título de la obra durante un cierto tiempo, préstese atención, sólo durante un cierto tiempo (1886-1887): «La voluntad de poder». Incluso se la nombra explícitamente con ese título, empleando caracteres especiales, en La genealogía de la moral, aparecida en 1887 (VII, 480, n. 27), en cuya solapa [aba, lapela] aparece también anunciada. Esta obra, sin embargo, no sólo no fue nunca publicada por Nietzsche, sino que tampoco llegó nunca a tener la forma de una obra, la forma que Nietzsche le hubiera dado a una obra de este tipo. Tampoco quedó incompleta en el camino de su realización, sino que hay simplemente fragmentos sueltos.

Desde la intervención de los editores de la obra postuma, que han publicado una obra titulada La voluntad de poder, existe falsamente una obra —más aún, una obra capital— de Nietzsche: «La voluntad de poder». En verdad, se trata de una selección arbitraria de notas de los años 1884 a 1888, en las que el pensamiento de la voluntad de poder pasa a un primer plano sólo por momentos; e incluso respecto de esto hay que preguntarse aún de qué modo y por qué pasa a un primer plano. Con esta arbitraria selección, que ciertamente busca un apoyo en planes muy aproximativos del propio Nietzsche, queda predeterminada de antemano la concepción que se tiene de la filosofía nietzscheana de este período. En manos de sus expositores, la auténtica filosofía de Nietzsche se convierte de pronto en «filosofía de la voluntad de poder». Los editores del libro «La voluntad de poder», que trabajaban con más cuidado que sus posteriores usuarios y expositores, no podían pasar por alto, sin embargo, que en las notas de Nietzsche también hace oír su voz la doctrina del eterno retorno; por ello, y siguiendo el hilo conductor de un plan del mismo Nietzsche, la incorporaron en su propia recopilación.

En este período hay actividad alrededor del plan para la obra capital, pero no se encuentra ninguna huella del título «La voluntad de poder». Por el contrario, los títulos rezan: «El eterno retorno» (1884), en tres planes diferentes del mismo año; «Mediodía y eternidad. Una filosofía del eterno retorno» (1884); o, transformando en título el subtítulo anterior, «Filosofía del eterno retorno» (1884).

Del año 1885 se encuentra, en cambio, la nota: «La voluntad de poder. Intento de una interpretación de todo suceder». El prólogo debía tratar «sobre la amenazante ‘falta de sentido’» y el «problema del pesimismo». Muy pronto, cuando hablemos del «ámbito» de la doctrina del eterno retorno, comprenderemos que de este modo todo el plan, que no habla del eterno retorno como tal, queda colocado, sin embargo, bajo el dominio de este pensamiento.

el quinto punto, que lleva el título: «La doctrina del eterno retorno como martillo en la mano del hombre más poderoso».”

¿qué hay oculto en realidad detrás de esta diferencia entre el eterno retorno en cuanto «pensamiento más grave» y la voluntad de poder en cuanto «hecho último»? Mientras no retrocedamos con nuestro preguntar hacia este ámbito fundante quedaremos presos de las palabras y no iremos más allá de un cálculo extrínseco del pensar de Nietzsche.”

El plan de 1886 está titulado «La voluntad de poder. Intento de una transvaloración de todos los valores». El subtítulo expresa lo que la meditación sobre la voluntad de poder tiene que realizar: una transvaloración de todos los valores. Por «valor» entiende Nietzsche aquello que es condición de la vida, es decir del acrecentamiento de la vida. Transvaloración de todos los valores significa poner para la vida, para el ente en su totalidad, una nueva condición por medio de la cual la vida vuelva a sí misma, es decir, sea impulsada más allá de sí y de ese modo se torne posible en su verdadera esencia. La transvaloración no es otra cosa que lo que tiene que llevar a cabo el peso más grave, el pensamiento del eterno retorno. Por eso, el subtítulo, que señala cuál es el contexto más amplio al que pertenece la voluntad de poder, podría ser, al igual que en el año 1884: «Una filosofía del eterno retorno» (XVI, 414, 5).

En el libro primero, «El peligro de los peligros», la cuestión apunta nuevamente a la amenazadora «falta de sentido», también podríamos decir al hecho de que todas las cosas pierden su peso.”

Nazismo – Ingá

(-o último grito do último homem, que não consegue passar-)

Filosofia Futura – identidade de Rafael com uma missão (ser-escritor)

Zaratustra passa a ser apreciado da forma correta

El nihilismo es el acaecimiento de la desaparición de todo peso de todas las cosas, el hecho de la falta de un peso grave. Pero esta falta sólo se vuelve visible y experimentable cuando es sacada a la luz en el preguntar por un nuevo peso. Visto desde allí, el pensar del pensamiento del eterno retorno es, en cuanto preguntar que remite continuamente a una decisión, el acabamiento del nihilismo. Este pensar pone un fin al ocultamiento y disimulación de aquel acaecimiento, pero lo hace de manera tal que se convierte, al mismo tiempo, en el tránsito hacia una nueva determinación del mayor de los pesos.

Los títulos de la última parte varían: «Los inversos. Su martillo, ‘La doctrina del eterno retorno’» (425); «Liberación de la incertidumbre» (426); «El arte curativo del futuro» (427).” “Los títulos del libro cuarto son ahora los siguientes: «La liberación del nihilismo»; «Dionysos. Filosofía del eterno retorno»; «Dionysos philosophos»; «Dionysos. Filosofía del eterno retorno».”

La cuestión del nihilismo y del pensamiento del eterno retorno tratada en el libro primero requiere una discusión aparte.”

La voluntad de poder sería así el fundamento real del eterno retorno de lo mismo

La voluntad de poder es un «presupuesto» del eterno retorno de lo mismo en la medida en que sólo desde la voluntad de poder puede saberse qué quiere decir eterno retorno de lo mismo. Porque el eterno retorno de lo mismo es, en cuanto a la cosa misma, el fundamento y la esencia de la voluntad de poder, ésta puede ponerse como fundamento y punto de partida para llegar a ver la esencia del eterno retorno de lo mismo.

Ya sea que se distinga entre un contenido «científico-natural» y un significado «ético» o, más ampliamente, entre una parte «teórica» y una «práctica», o que se sustituya esa distinción por la hoy más en boga, pero de ninguna manera más clara, entre sentido «metafísico» y fuerza de apelación «existencial», en cualquier caso se muestra una huida hacia una dualidad, ninguna de cuyas partes es por sí adecuada, lo que constituye el signo de una perplejidad creciente, pero no admitida. De esta manera, no se pone al descubierto lo esencial y lo más propio sino que se lo troca inmediatamente en otros modos de representación hace tiempo usuales y ya desgastados. Lo mismo sucede con las distinciones que en una dirección diferente se hacen entre una exposición «poética» y una exposición «prosaica» de la doctrina o entre una parte «subjetiva» y una «objetiva». Se ha ganado ya algo importante si se advierte, aunque sea a partir de una experiencia aún poco determinada y segura de la «doctrina», que tales criterios de interpretación son cuestionables y obstruyen nuestra mirada.

la forma que se busca a sí misma. Los tres títulos se refieren a la totalidad de esta filosofía, y ninguno de ellos acierta con ella totalmente, porque la forma de esta filosofía no se deja constreñir a una vía única. (…) el propio Nietzsche veía posibilidades claras de llegar a una forma, pues sin esta visión resultaría incomprensible la seguridad con la que la actitud fundamental aparece a través de los múltiples planes. (…) Para acercarnos a la meta, o mejor aún, para llegar a descubrir cuál es la meta, tenemos que elegir un camino provisorio que al mismo tiempo nos evite el peligro de la vacuidad tópica de los títulos.

Lo que se busca es la estructuración interna de la verdad del pensamiento del eterno retorno de lo mismo en cuanto pensamiento fundamental de la filosofía de Nietzsche. La verdad del pensamiento se refiere al ente en su totalidad. Pero puesto que, por su esencia, el pensamiento quiere ser el peso más grave y, de este modo, determinar el ser hombre, y por lo tanto a nosotros mismos, en medio del ente, la verdad de este pensamiento sólo será verdad si es nuestra verdad.“Los que piensan este pensamiento tampoco son nunca hombres cualesquiera que aparecen en cualquier lugar y cualquier momento. El pensar de este pensamiento tiene su muy propia necesidad histórica y él mismo determina un instante histórico. Sólo desde ese instante surge la eternidad de lo pensado en ese pensamiento.“Al nombrar el ente en su totalidad, «en su totalidad» debe entenderse siempre como una expresión interrogativa, como una expresión cuestionable, es decir que merece que se la cuestione

quizás toda filosofía sea un contramovimiento frente a cualquier otra. En el pensamiento de Nietzsche, sin embargo, el movimiento en contra tiene un sentido especial. Aquello en contra de lo que piensa no quiere rechazarlo para poner algo diferente en su lugar. El pensamiento de Nietzsche quiere invertir. Pero aquello a lo que se refiere la inversión y el contramovimiento que así se forma no es una dirección cualquiera, pasada o incluso contemporánea, de alguna cierta filosofía, sino la totalidad de la filosofía occidental en la medida en que es el principio conformador en la historia del hombre occidental.

La totalidad de la historia de la filosofía occidental es interpretada como platonismo. La filosofía de Platón es la medida con la que se aprehende tanto la filosofía posplatónica como la preplatónica. Esta medida sigue siendo determinante mientras la filosofía ponga, para la posibilidad del ente en su totalidad y para el hombre en cuanto que es dentro de esa totalidad, determinadas condiciones de acuerdo con las cuales se acuña el ente. A lo que tiene validez en primera y última instancia, a aquello que es por lo tanto condición de la «vida» en cuanto tal, Nietzsche lo denomina valor. Lo propiamente determinante son los valores supremos. Así pues, si la filosofía de Nietzsche quiere ser, en el sentido descrito, el contramovimiento que se enfrente a toda la historia de la filosofía occidental hasta el momento, tendrá que dirigirse contra los valores supremos establecidos en la filosofía.

Un contramovimiento de tal alcance y con tal pretensión tiene que ser también necesario. Lo que impulsa a él no puede basarse en una opinión arbitraria acerca de lo que se trata de superar. Aquello en contra de lo cual se quiere poner en acción el contramovimiento tiene que valer la pena de que se lo haga. Por eso, en un contramovimiento de este estilo se halla al mismo tiempo el mayor reconocimiento del contrario, se lo toma en serio de la manera más profunda. Esta apreciación supone, a su vez, que lo contrario ha sido radicalmente experimentado y pensado, es decir padecido, con todo su poder y todo su significado. El contramovimiento, en su necesidad, tiene que surgir de una experiencia originaria de este tipo y, al mismo tiempo, permanecer enraizado en ella. “En la experiencia del hecho del nihilismo se enraiza y palpita la totalidad de la filosofía de Nietzsche; pero al mismo tiempo, ésta conduce a aclarar por vez primera la experiencia del nihilismo y a hacerla cada vez más transparente en todo su alcance. Con el despliegue de la filosofía de Nietzsche crece conjuntamente la profundidad con la que se comprende la esencia y el poder del nihilismo, y se acrecienta el estado de necesidad y la necesidad de su superación.

La nada es —tomada formalmente— la negación de algo, más precisamente, de todo algo. Todo algo constituye el ente en su totalidad. La posición de la nada es la negación del ente en su totalidad. De acuerdo con ello, el nihilismo contiene, explícita o implícitamente, la siguiente doctrina fundamental: el ente en su totalidad es nada. Sin embargo, precisamente esta proposición puede entenderse de un modo tal que Nietzsche habría puesto reparos en tomarla como expresión del nihilismo.

Cuando Hegel, en el comienzo de su metafísica general (Ciencia de la lógica), pronuncia la frase: «Ser y nada son lo mismo», esto puede expresarse fácilmente en la forma: el ser es la nada. Pero esta frase hegeliana tiene tan poco de nihilismo que precisamente contiene, en el sentido de Nietzsche, algo de esa «grandiosa iniciativa» (La voluntad de poder, n. 416) del idealismo alemán por superar el nihilismo.” Momento mais alarmante: quando o devir se equipara ao nada.

el pensamiento del eterno retorno debe pensarse «nihilistamente» y sólo «nihilistamente». Pero esto quiere decir aquí: el pensamiento del eterno retorno sólo puede pensarse en la medida en que también piensa el nihilismo como aquello que tiene que ser superado y como aquello que está ya superado en la voluntad de crear. Sólo quien extiende su pensar hasta el más extremo estado de necesidad del nihilismo será capaz de pensar también el pensamiento que lo supera como dando un giro a la necesidad [not-wendend] y como necesario [notwendig].

Ahora aparece en las proximidades de Zaratustra un perro, no un águila con la serpiente alrededor del cuello; y un aullido, no el canto de los pájaros. Todo se transforma en la imagen opuesta a la del temple propio del pensamiento del eterno retorno.

«Justo entonces la luna llena se elevó, con un silencio de muerte, por encima de la casa, justo entonces se quedó inmóvil, un círculo incandescente, inmóvil sobre el techo plano, como sobre una propiedad ajena…»

En lugar de la claridad del sol brilla la luna llena, que también es una luz, pero una luz prestada, sólo el reflejo externo de un brillar real, el puro fantasma de una luz, que sin embargo alumbra lo suficiente como para que los perros se asusten y aullen: «porque los perros creen en ladrones y fantasmas». Pero el niño entonces tuvo piedad del perro que se asustaba de un fantasma y aullaba armando tanto alboroto. En un mundo así, la compasión aparece especialmente entre los niños, que no comprenden todo eso y aún no han llegado a la mayoría de edad para lo que es.

aún entonces, no siendo ya un niño, cayó también en el temple de ánimo de la piedad y la compasión y se representó el aspecto del mundo a partir de ella. Con las palabras de Zaratustra, Nietzsche alude a la época en que su mundo estaba determinado por Schopenhauer y Wagner, cada uno de los cuales, a su manera, enseñaba un pesimismo y en ultima instancia la huida en la disolución, en la nada, en un puro estar flotando y dormido, y anunciaba un despertar, para poder seguir durmiendo mejor. (…) El mundo de Schopenhauer y de Wagner se le había vuelto cuestionable muy pronto, antes de que él mismo lo supiera, ya al escribir la tercera y cuarta Consideración intempestiva: Schopenhauer como educador y Richard Wagner en Bayreuth. En ambas obras, y por más que aparezca como su defensor y que quiera serlo con su mejor voluntad, se produce ya una separación de ellos; no obstante, no era aún un despertar. Nietzsche no había llegado aún a sí mismo, es decir a su pensamiento, primero tenía que pasar por la historia previa de ese pensamiento y por ese estadio intermedio en el que no sabemos adonde ir, en que no encontramos cómo salir realmente de lo anterior ni cómo entrar en lo venidero. ¿Dónde estaba Zaratustra?

A meia-noite de Nietzsche: dos 30 aos 37 anos. Um ano canino.

Un hombre joven, o sea un hombre que ha abandonado hace poco la niñez, quizás aquel que había oído aullar al perro, el propio Zaratustra; un joven pastor, alguien que está dispuesto a guiar y conducir. Éste yace en la desolación de la luz reflejada. «¿Se habría quedado dormido? Entonces la serpiente se deslizó en su garganta, y se aferró a ella mordiéndola.»

La serpiente negra es el sombrío siempre igual del nihilismo, su fundamental carencia de meta y de sentido, es el nihilismo mismo. El nihilismo se ha aferrado mordiendo al joven pastor durante el sueño; el poder de esta serpiente sólo podía disponerse a deslizarse en la boca del joven pastor, es decir a incorporársele, porque no estaba despierto.“Esto quiere decir: el nihilismo no se puede superar desde afuera, tratando de quitarlo con tirones y empujones, poniendo en lugar del Dios cristiano otro ideal, la razón, el progreso, el «socialismo» económico-social, la mera democracia. Con estos intentos de eliminarla, la serpiente sólo se aferra cada vez más fuerte.“Todos los tironeos y maquinaciones hechos desde afuera, todos los remedios temporarios, todas las simples presiones para apartarlo, desplazarlo y postergarlo son en vano. Todo es aquí en vano si el hombre mismo no hunde los dientes en el peligro, y no en cualquier parte y ciegamente: a la serpiente negra hay que cortarle la cabeza, lo que realmente determina y dirige, lo que está delante y arriba.“A partir de aquí resulta claro: el joven pastor es Zaratustra mismo que en esta visión va al encuentro de sí, que tiene que gritarse a sí mismo con toda la fuerza de su íntegra esencia: ¡Muerde!el que sabe tiene que liquidar necesariamente este hastío que provoca el hombre despreciable.”

De una parte está: todo es nada, todo es indiferente, con lo que nada merece la pena: todo es lo mismo. De la otra parte está: todo retorna, cada instante importa, todo importa: todo es lo mismo.”

una meditación sobre lo recibido en dote y una decisión acerca de lo encomendado como tarea. La situación de necesidad misma no es otra cosa que aquello que abre el trasladarse al instante.” “En este pensamiento, lo que ha de pensarse, por el modo en que ha de pensarse, repercute sobre el que lo piensa, apremiándolo; y esto, a su vez, sólo para integrarlo en lo que ha de pensarse. Pensar la eternidad exige: pensar el instante, es decir trasladarse al instante del ser sí mismo.“Un pensamiento de este tipo constituye un pensamiento «metafísico».” “¿Qué quiere decir entonces «posición metafísica

fundamental»?“eso que llamamos «posición metafísica fundamental» pertenece propia y exclusivamente a la historia occidental y contribuye esencialmente a determinarla. Algo así como una posición metafísica fundamental sólo era posible en el pasado y, en la medida en que se la intente aún en el futuro, lo pasado seguirá vigente como algo no superado, es decir, no apropiado. La posibilidad de una posición metafísica fundamental debe discutirse aquí en un sentido básico y no exponerse con el carácter de un relato historiográfico. De acuerdo con lo dicho, esta discusión básica es esencialmente histórica.” “Metafísica es, por lo tanto, el título para la filosofía en sentido propio [primeiro] y se refiere, por consiguiente, a lo que en cada caso constituye el pensamiento fundamental de una filosofía. Incluso el significado habitual de la palabra, es decir el que ha llegado al uso común y corriente, contiene aún un reflejo, aunque débil y muy indeterminado, de este carácter: con la denominación «metafísico» se designa lo enigmático, lo que nos supera, lo inapresable. La palabra se emplea ya sea en sentido peyorativo, según el cual estos enigmas no son más que algo imaginario y en el fondo un absurdo, ya sea en un sentido valorizador, según el cual lo metafísico es lo inalcanzable último y decisivo. En cualquier caso, sin embargo, el pensamiento se mueve dentro de lo indeterminado, inseguro y oscuro. La palabra nombra más el final y el límite del pensar y del preguntar que su auténtico comienzo y despliegue.”

Con la referencia a la desvalorización de la palabra «metafísica» no hemos penetrado en el auténtico significado de la palabra. La palabra y su surgimiento son muy singulares, su historia lo es más aún. Y sin embargo, del poder y del predominio de esta palabra y de su historia depende, en una porción esencial, la configuración del mundo espiritual de occidente, y con ello del mundo en general. En la historia, las palabras son con frecuencia más poderosas que las cosas y los hechos.“Con la referencia a la desvalorización de la palabra «metafísica» no hemos penetrado en el auténtico significado de la palabra. La palabra y su surgimiento son muy singulares, su historia lo es más aún. Y sin embargo, del poder y del predominio de esta palabra y de su historia depende, en una porción esencial, la configuración del mundo espiritual de occidente, y con ello del mundo en general. En la historia, las palabras son con frecuencia más poderosas que las cosas y los hechos.

Quién es Nietzsche no lo sabremos nunca por un relato historiográfico de su vida, ni tampoco por la exposición del contenido de sus escritos. Quién es Nietzsche no querernos ni tampoco debemos saberlo mientras nos refiramos sólo a la personalidad y la figura histórica, al objeto psicológico y a sus producciones.” “En contra de su voluntad más íntima, Nietzsche se transformó en incitador y promotor de una amplificada autodisección y puesta en escena anímica, corporal y espiritual del hombre que tiene como consecuencia final y mediata la publicidad sin límites de toda actividad humana en «imagen y sonido», gracias a los montajes fotográficos y los reportajes “Nietzsche forma parte de los pensadores esenciales. Con el nombre de «pensador» denominamos a aquellos señalados que están destinados a pensar un pensamiento único, que será siempre un pensamiento «sobre» el ente en su totalidad. Cada pensador piensa sólo un único pensamiento. Este no necesita ni recomendaciones ni influencias para llegar a dominar.” Carta de recomendação da História

El abuso casi increíble de la palabra «de|cisión» [Entscheidung] no puede disuadirnos, sin embargo, de conservarle ese contenido en virtud del cual está referida a la escisión [Scheidung] más íntima y a la distinción [Unterscheidung] más extrema. Ésta es la distinción entre el ente en su totalidad, lo que incluye a dioses y hombres, mundo y tierra, y el ser, cuyo dominio es lo que permite o rehusa a todo ente ser el ente que es capaz de ser.“Pues ésa es la otra característica que distingue al pensador: que en virtud de su saber llega a saber en qué medida no puede saber algo esencial.

Con el no conocer de lo que aún puede conocerse acaba el conocer corriente. Con el saber de lo que no puede saberse comienza el saber esencial del pensador¹. El investigador científico pregunta para llegar a respuestas utilizables. El pensador pregunta para fundar la dignidad de ser cuestionado [Fragwürdigkeit] del ente en su totalidad.

¹ Missão: restrição.

Nietzsche es la transición desde el período preparatorio de la modernidad —calculado historiográficamente, la época entre 1600 y 1900— al comienzo de su acabamiento. La extensión temporal de este acabamiento nos es desconocida. Presumiblemente será, o bien muy breve y catastrófica o bien, por el contrario, muy prolongada, en el sentido de que se instituya lo ya alcanzado con una capacidad de durar cada vez mayor. En el estadio actual de la historia del planeta no habrá ya lugar para medianías.

El ser es, pensado metafísicamente, aquello que se piensa, desde el ente como su determinación más general y hasta el ente como su fundamento y su causa.

El acabamiento metafísico de una época no es la simple continuación hasta su fin de algo ya conocido. Es el establecimiento por primera vez incondicionado y de antemano completo de lo inesperado y que tampoco cabía esperar jamás. Respecto de lo anterior, el acabamiento es lo nuevo. Por eso tampoco es nunca visto ni comprendido por aquellos que sólo calculan retrospectivamente.

Incluso cuando ya no se conozca ni siquiera el nombre de Nietzsche, lo que su pensar tuvo que pensar seguirá dominando. A todo pensador que piensa en dirección de la decisión lo mueve y lo consume la preocupación por un estado de necesidad que no puede aún ser sentido y experimentado en vida del pensador en el círculo de su influencia, historiográficamente comprobable pero inauténtica.

En el pensamiento de la voluntad de poder llega de antemano a su acabamiento el pensamiento metafísico mismo. Nietzsche, el pensador del pensamiento de la voluntad de poder, es el último metafisico de occidente. La época cuyo acabamiento se despliega en su pensamiento, la época moderna, es una época final. Esto quiere decir: una época en la que, en algún momento y de algún modo, surgirá la decisión histórica de si esta época final será la conclusión de la historia occidental o bien la contrapartida de un nuevo inicio.

Lo que acontece no lo experimentamos nunca con comprobaciones historiográficas de lo que «pasa». Como bien lo da a entender esta expresión, lo que «pasa» es aquello que desfila delante de nosotros en el primer plano y en el fondo del escenario público conformado por los sucesos y las opiniones que surgen sobre ellos. Lo que acontece no puede jamás llegar a conocerse historiográficamente. Sólo es posible saberlo de modo pensante al comprender lo que ha sido elevado al pensamiento y la palabra por aquella metafísica que ha predeterminado la época.

Si integramos la «filosofía» de Nietzsche en nuestro patrimonio cultural o la dejamos de lado, carece igualmente de significación. Lo único funesto sería que nos «ocupáramos» de Nietzsche sin estar decididos a un auténtico preguntar y que pretendiéramos tomar esta «ocupación» por una confrontación pensante con el pensamiento único de Nietzsche. El rechazo inequívoco de toda filosofía es una actitud que siempre merece respeto, pues contiene más filosofía de lo que ella misma cree. El mero jugueteo con pensamientos filosóficos que desde el comienzo se mantiene fuera con múltiples reparos y que se lleva a cabo con fines de entretenimiento y diversión intelectual es, en cambio, despreciable, pues no sabe lo que está en juego en el curso de pensamientos de un pensador.

todo pensador, cuando piensa por primera vez su pensamiento único lo piensa ya en su acabamiento, pero todavía no en su despliegue

Incluso el plan más general que establece la división en la que se ordenan los manuscritos escritos en diferentes años es obra suya. Esta recopilación y publicación en forma de libro de las notas escritas por Nietzsche entre los años 1882 y 1888, que no puede decirse que sea totalmente arbitraria, fue realizada, en un primer intento, después de la muerte de Nietzsche y apareció en 1901 como tomo XV de sus Obras. La edición de 1906 del libro La voluntad de poder recoge un número considerablemente mayor de manuscritos y fue integrada sin cambios en 1911 en la «Edición en Gran Octavo», como tomos XV y XVI, reemplazando la primera publicación de 1901.

Con esta sentencia, la vida es voluntad de poder, llega a su acabamiento la metafísica occidental, en cuyo inicio se encuentra la oscura expresión: el ente en su totalidad es ψνσις. La sentencia de Nietzsche, el ente en su totalidad es voluntad de poder, enuncia sobre el ente en su totalidad aquello que estaba predeterminado como posibilidad en el inicio del pensamiento occidental y que se ha vuelto ineludible por obra de una inevitable declinación de ese comienzo. Esta sentencia no transmite una opinión privada de la persona Nietzsche. Quien piensa y dice esta sentencia es «un destino». Esto quiere decir: el ser pensador de este y de todo pensador esencial de occidente consiste en la fidelidad casi inhumana a la oculta historia de occidente. Graças a D.!

la voluntad de poder, un peculiar dominio del ser «sobre» el ente en su totalidad [bajo la forma velada del abandono del ente por parte del ser]”

ya Aristóteles y Platón, e incluso Heráclito y Parménides, y después Descartes, Kant y Schelling, «también» habían «hecho» una «teoría del conocimiento» tal, aunque ciertamente la «teoría del conocimiento» del viejo Parménides tenía que ser necesariamente muy imperfecta aún [western standards], ya que no disponía todavía de los métodos y aparatos del siglo XIX y XX.”

Kant ha administrado la cuestión «gnoseológica» mucho mejor que los «neokantianos» que lo «mejoraron» posteriormente.

Precisamente el que goza de mejor parecer —y esto quiere decir: el más digno de fama— es aquel que tiene la fuerza de prescindir de sí y dirigir la mirada exclusivamente a lo que «es».”

No debemos interpretar a Heráclito con el auxilio del pensamiento fundamental de Nietzsche ni comprender la metafísica de Nietzsche simplemente desde Heráclito y declararla «heraclitea»“Por eso, sólo tiene un interés historiográfico saber que Nietzsche «conocía» a Heráclito y lo apreció más que a nadie a lo largo de toda su vida, ya desde muy temprano, cuando aún se ocupaba exteriormente de sus tareas de profesor de filología clásica en Basilea. Filológico-historiográficamente quizás hasta podría demostrarse que la concepción nietzscheana de la verdad como «ilusión» «proviene» de Heráclito, o dicho con más claridad: que al leerlo lo había plagiado. Dejamos a los historiógrafos de la filosofía la satisfacción por el descubrimiento de este tipo de relaciones de plagio.“Se podría aún responder a esta pregunta indicando que ya cuando era estudiante de bachillerato Nietzsche admiraba especialmente al poeta Hölderlin, en cuyo Hiperión se alaban pensamientos de Heráclito. Pero la misma pregunta se plantea nuevamente: por qué apreciaba tanto precisamente a Hölderlin, en una época en que generalmente sólo se lo conocía de nombre y como un romántico fracasado. Con esta historiográfica ciencia de detectives dedicada a rastrear dependencias no avanzamos absolutamente nada, es decir no avanzamos jamás en dirección de lo esencial sino que sólo nos enredamos en parecidos y relaciones extrínsecas.

Verdad quiere decir: adecuación del representar a aquello que el ente es y tal como es.

INFANTILISMO GNOSEOLÓGICO DE GABRIEL KEENE: “Corrección en el sentido de corrección lógica quiere decir que una proposición se sigue de otra de acuerdo con las reglas de la inferencia. A la corrección en el sentido de no contradictoriedad y de corrección lógica se la llama también «verdad» formal, no dirigida al contenido del ente, a diferencia de la verdad material, de contenido. La conclusión es «formalmente» verdadera, pero materialmente no.” Uma metafísica de primeira também pode ser uma teoria do conhecimento de quinta. Literalmente, um erro antigo.

¿Cómo un pensar cuyo pensamiento fundamental concibe al ente en su totalidad como «vida» no habría de ser biológico, más biológico aún que cualquier tipo de biología que conozcamos?

¿Por qué un modo de pensar metafísico no habría de ser biologista? ¿Dónde está escrito que esto sea un error? ¿No es, por el contrario, un pensar que comprende a todo el ente como algo viviente y como un fenómeno de la vida el que está más cerca de lo efectivamente real y por ello el más verdadero? «Vida»: ¿no nos resuena en esta palabra lo que comprendemos propiamente por «ser»? El propio Nietzsche observa en una oportunidad (La voluntad de poder, n. 582; 1885-1886):

«El <ser>: no tenemos de él otra representación más que <vivir>. ¿Cómo puede entonces <ser> algo muerto?».

Efectivamente, sería algo forzado y, además, un esfuerzo vano, pretender ocultar, o siquiera debilitar, el lenguaje biológico que está tan manifiesto en Nietzsche, pretender ignorar que ese lenguaje encierra un modo de pensar biológico y no es, por lo tanto, una capa externa. A pesar de ello, la caracterización usual, y en cierto sentido incluso correcta, del pensar nietzscheano como biologismo representa el obstáculo principal que impide avanzar hacia su pensamiento fundamental.Qué sea lo viviente y que tal cosa sea, es algo que no decide nunca la biología en cuanto biología, sino que el biólogo, en cuanto biólogo, hace uso de esa decisión como algo que ya ha ocurrido, un uso ciertamente necesario para él. Pero si el biólogo, en cuanto tal persona determinada, toma una decisión acerca de lo que debe considerarse como viviente, entonces no lleva a cabo esa decisión en cuanto biólogo, ni con los medios y las formas de pensamiento y de demostración propios de su ciencia, sino que habla como metafísico, como un hombre que, más allá de la región correspondiente, piensa el ente en su totalidad.

De la misma manera, el historiador del arte no puede nunca, en cuanto historiador, decidir qué es para él arte y por qué tal obra es una obra de arte. Estas decisiones sobre la esencia del arte y sobre el carácter esencial del ámbito histórico del arte son tomadas siempre fuera de la historia del arte, aun cuando sean continuamente empleadas dentro de la investigación que ésta realiza.” “Más allá del dominio meramente calculante de una región, toda ciencia sólo es un auténtico saber en cuanto se fundamenta metafísicamente, o cuando ha comprendido que esa fundamentación es una necesidad inamovible para su consistencia esencial

El paso del pensar científico a la meditación metafísica es esencialmente más extraño y por lo tanto más difícil que el paso del pensar cotidiano precientífico al modo de pensar de una ciencia.“La idea de una «concepción del mundo científicamente fundada» es un significativo engendro de la confusión espiritual que fue tomando carácter público con fuerza cada vez mayor en el último tercio del siglo pasado y que alcanzó notables éxitos en el área de la pseudocultura y la vulgarización científica.(…) el fundamento metafísico de las ciencias unas veces es reconocido como tal, aceptado y nuevamente olvidado, y otras veces,

las más, no es pensado en absoluto o rechazado como una fantasmagoría filosófica.

Ahora bien, si,por ejemplo, determinadas concepciones sobre lo viviente dominantes en la biología y provenientes del ámbito de lo vegetal y lo animal, se trasladan a otros ámbitos, por ejemplo el de la historia, puede hablarse de biologismo; ese nombre designa entonces el hecho ya aludido de que el pensamiento biológico se extiende, excediéndose quizás y rebasando sus límites, más allá del ámbito de la biología. En la medida en que se ve en ello un abuso arbitrario, una violencia infundada del pensar y, finalmente, una confusión del conocimiento, es necesario preguntar cuál es la razón de todo ello.” “El biologismo no es tanto la simple pérdida de límites del pensar biológico como el completo desconocimiento de que ya el pensar biológico mismo sólo resulta fundamentable y decidible en el ámbito metafísico y que no puede jamás justificarse a sí mismo científicamente.

Se diga sí o se diga no al «biologismo» de Nietzsche, en cualquier caso se permanece en la superficie de su pensar. La tendencia a actuar así encuentra su apoyo en el carácter que poseen las publicaciones de Nietzsche. Sus palabras y sus frases provocan, arrastran, penetran y excitan. Se cree que con sólo dejarse llevar por esta impresión ya se ha entendido a Nietzsche.

Si se la traduce de un modo aparentemente literal: «Pues es lo mismo representar y ser», se tiene la tentación de extraer como contenido de la sentencia la superficial concepción de Schopenhauer: el mundo es meramente nuestra representación, no «es» nada en y por sí. Pero a diferencia de esa interpretación subjetiva, la sentencia tampoco significa simplemente lo contrario: que el pensar es también algo ente y pertenece al ser. La sentencia significa lo ya dicho: sólo hay ente donde hay percibir, y sólo percibir donde hay ente. La sentencia alude a un tercero, o a un primero, que sostiene la copertenencia de ambos: la alétheia.”

Este examen y discusión de los γένη τοί όντος, de las «proveniencias del ente» (en cuanto tal), se llama desde Platón «dialéctica». El último y a la vez más potente intento de examinar de este modo las categorías, es decir los respectos de acuerdo con los cuales la razón piensa el ente en cuanto tal, es la dialéctica de Hegel, a la que éste configuró en una obra que lleva el auténtico y adecuado título de Ciencia de la lógica. “En la medida en que la elucidación y determinación de la razón puede y tiene que llamarse «lógica», también puede decirse: la «metafísica» occidental es «lógica»; la esencia del ente en cuanto tal se decide en el horizonte visual del pensar.

Los más grandes racionalistas son los que más fácilmente caen en el irracionalismo, y a la inversa: cuando el irracionalismo determina la imagen del mundo, el racionalismo celebra su triunfo. (…) «Lógico» no quiere decir aquí: pensado de acuerdo con las reglas de la lógica escolar, sino: calculado a partir de la confianza en la razón.

La explotación práctica sólo se vuelve posible sobre la base de la «utilidad» teórica.

Estou no perfeito ponto médio entre o artista, o moralista e o filósofo, conforme o entendimento clássico. Isso quer dizer que eu sou péssimo em cada um dos três (Filosofia, Direito e Arte) ou que sou um prefigurador do filósofo-legislador-arauto que irá surgir como síntese da nova aristocracia nos próximos séculos?

La casidad, lo que hace que una casa sea una casa, es lo propiamente ente en ella; lo verdaderamente ente es el είδος, la «idea».”

¿Qué se considera como ente, incluso cuando ya se ha perdido el originario modo de percibir platónico?”

Pero el pensamiento de Nietzsche no apunta a poner otra interpretación de lo verdaderamente ente en lugar de la cristiana, a suplantar el Dios cristiano y su cielo por otro Dios, manteniendo la misma dei-dad.”

Preguntar qué es el conocimiento humano quiere decir querer conocer el conocer mismo. Con frecuencia se encuentra que este propósito es un contrasentido, algo absurdo y paradójico, comparable con el propósito del barón de Münchausen¹ de sacarse de la ciénaga tirando él mismo de sus propios cabellos. (…) En efecto, el conocer no es para el hombre algo que se conozca y reconozca sólo ocasionalmente, o quizás sólo cuando se pone a construir una teoría del conocimiento, sino que en el conocer mismo ya está implícito que éste se ha conocido.

¹ Aceito como “Münchausen” ou “Münchhausen”.

Por ser así, sólo a este hombre histórico occidental puede sucederle que sea atacado por la falta de meditación, por una perturbación de la meditatividad, destino del que queda totalmente preservada una tribu negra. A la inversa, la salvación y la fundación del hombre histórico occidental sólo pueden provenir de la suprema pasión de la meditación.

La vida vive viviendo corporalmente. Quizás tengamos muchos conocimientos, casi inabarcables, acerca de lo que llamamos el cuerpo viviente [Leibkorper], sin que hayamos meditado seriamente sobre lo que sea vivir corporalmente [leiben]. Es algo más y algo diferente que «llevar consigo un cuerpo», es aquello en lo que adquieren su propio carácter procesual todos aquellos sucesos y fenómenos que comprobamos en el cuerpo de un ser viviente. Vivir coroporalmente quizás sea por el momento una expresión oscura, pero nombra algo que, a propósito del conocimiento de lo viviente tiene que experimentarse y mantenerse presente en la meditación en primer lugar y constantemente.Caos es el nombre para la vida que vive corporalmente, para la vida en cuanto vida corporal tomada en gran escala.

el pensamiento de Nietzsche quiere decir que el hombre y el mundo deben verse primariamente desde el cuerpo y la animalidad, de ninguna manera que el hombre descienda del animal, y más exactamente del «mono», ¡como si una doctrina de la descendencia de este tipo pudiera decir algo sobre el hombre!

«Los monos son demasiado bonachones como para que el hombre pueda descender de ellos».

(XIII, 276; 1884)

El valor supremo, a diferencia del conocimiento y la verdad, es el arte. Éste no copia lo que está allí delante ni lo explica desde otra cosa que esté allí delante, sino que transfigura la vida, la eleva a posibilidades superiores, aún no vividas, que no están suspendidas «por encima» de la vida sino que, por el contrario, la despiertan nuevamente desde ella misma a su estado de vigilia, pues «sólo por el encanto permanece despierta la vida» (Stefan George, Das Neue Reich, p. 75).

El arte es así el experimentar creador de lo que deviene, de la vida misma, y también la filosofía —pensada de modo metafísico, no estético— no es, en cuanto pensar pensante, otra cosa que «arte».

Lo que ha de conocerse y es cognoscible es caos, pero éste nos sale al encuentro de modo corporal, es decir en estados corporales e integrado y referido a ellos; el caos no sale al encuentro sólo en los estados corporales, sino que ya al vivir nuestro cuerpo vive corporalmente como una ola en la corriente del caos.”

El conocer no es como un puente que en algún momento y secundariamente une dos orillas de un río que subsisten por sí, sino que es él mismo un río que al fluir crea las orillas y las vuelve una a la otra de un modo más originario que lo que pueda nunca hacerlo un puente.

«Vida» es, sin embargo, el término que designa al ser, y ser quiere decir: presenciar, resistir a desaparecer y desvanecerse, consistir, consistencia. Si, por lo tanto, la vida es ese caótico vivir corporal y ese sobrepujarse en medio del acoso [umdrangtes Sichüberdrängen], si debe ser lo propiamente ente, entonces a lo viviente tiene que importarle al mismo tiempo y con igual originariedad resistir al impulso [Drang] y al sobrepujamiento [Überdrang], suponiendo claro que este impulso no impulsa a la mera aniquilación. Esto no puede suceder porque entonces el impulso se expulsaría a sí mismo y de ese modo tampoco podría jamás ser un impulso. Por ello, en la esencia del impulso que se sobrepuja se encuentra algo que le es conforme, es decir algo impulsivo, que lo impulsa a no sucumbir al embate [Andräng] sino a estar erguido en él, aunque más no sea para poder ser pasible de impulso [bedrängbar] y poder ser sobrepujándose. Sólo lo que está erguido puede caer.¹ Pero resistir el embate empuja hacia la consistencia y hacia lo que tiene existencia consistente. Lo consistente y el impulso hacia ello no son, por lo tanto, algo ajeno al impulso vital, algo que lo contradice, sino que, por el contrario, corresponden a la esencia de la vida que vive corporalmente: para vivir, lo viviente tiene que, por mor de sí mismo, impulsar hacia algo consistente.”

¹ Como já dizia Gillette’s Neymar Jr.

La praxis como ejercicio de la vida es en sí aseguramiento de la existencia consistente. La praxis es en sí misma en cuanto aseguramiento de la existencia consistenteuna necesidad de esquemas. De la esencia de lo viviente en lo que hace a su vitalidad, del aseguramiento de la existencia consistente en el modo de la necesidad de esquemas, forma parte un horizonte. La vitalidad de un viviente no termina en este círculo delimitador, sino que comienza constantemente desde él.

Para Nietzsche el hombre es el animal que aún no ha sido fijado. Se trata de decidir en primer lugar en qué consiste la animalidad y en qué sentido hay que comprender la fijación esencial que se ha hecho hasta ahora del animal «hombre», su distinción por medio de la racionalidad.

El horizonte está siempre dentro de una perspectiva, de un mirar a través en dirección de algo posible que se eleva y sólo puede elevarse desde lo que deviene, es decir desde el caos. La perspectiva es una trayectoria de la mirada previamente abierta sobre la que se forma en cada caso un horizonte.

Pero sobre todo, horizonte y perspectiva se fundan en una figura esencial más originaria del ser humano (en el ser-ahí), que Nietzsche, lo mismo que toda metafísica anterior a él, ni ve ni puede ver.” “Lo consistente sólo es perceptible en cuanto tal en la perspectiva que se dirige a algo que deviene, y lo que deviene sólo se descubre en cuanto tal sobre el fondo transparente de algo consistente.”

Así pues, la razón, como lo fue viendo Kant de manera cada vez más clara en el curso de su pensamiento, es en su esencia «razón práctica», lo que quiere decir: percepción proyectante de lo que en sí mismo tiende a posibilitar la vida. Proyectar la ley moral en la razón práctica quiere decir: posibilitar el ser hombre como persona, la cual está determinada por el respeto ante la ley. La razón despliega sus conceptos y categorías de acuerdo con la correspondiente dirección del aseguramiento de la existencia consistente.

Si desde antiguo se considera al conocer como un re-presentar [dar-stellen], el concepto nietzscheano del conocimiento conserva esta esencia del conocimiento, pero el peso del ponerdelante [Vorstellen] se traslada al poner-delante [Vor-stellen], al llevar ante sí como un poner en el sentido de establecer [auf-stellen], es decir de fijar [Festmachen], de pre-sentar [Dar-stellen] en el dispositivo [Gestell] de una forma. Por ello el conocer no es «conocer», es decir, no es reproducir. El conocer es lo que es en cuanto remitir [Zustellen] en lo consistente, en cuanto subsumir y esquematizar.

Existe siempre la tendencia a partir del hombre «individual» para atribuirle sólo después las relaciones con los otros y con las cosas. Tampoco se consigue nada afirmando que el hombre es un ser social y un animal gregario, puesto que incluso entonces la comunidad puede seguirse entendiendo como una mera reunión de individuos. Así como hay que decir, en general, que incluso esa formulación más plena «del» hombre como aquel que se comporta respecto del otro y de la cosa y de ese modo respecto de sí mismo seguirá manteniéndose en un nivel superficial si, previamente a todo ello, no se ha señalado aquello que remite al fundamento sobre el que descansa la relación con el otro, con la cosa y consigo mismo. (Este fundamento es, según Ser y Tiempo, la comprensión de ser. Ésta no es la instancia última sino sólo el elemento primero del que parte la indagación del fundamento para el pensar del ser como fundamento abismal [Ab-Grund].)

Si estuviéramos entregados a una marea de representaciones y sensaciones cambiantes y fuéramos arrastrados por ella, no seríamos nunca nosotros mismos, ni tampoco los demás hombres podrían jamás aparecerse a sí mismos y a nosotros como los mismos y como sí mismos. De la misma manera, también aquello acerca de lo cual los mismos hombres deberían entenderse entre sí sería algo carente de existencia consistente. En la medida en que el mal entendimiento y la falta de entendimiento son sólo modos derivados del entenderse, el salir al encuentro de esos mismos hombres en su identidad [Selbigkeit] y su ser sí mismos [Selbstheit] tiene que fundarse siempre primariamente en tal entenderse, comprendido esencialmente.

Entenderse en sentido esencial y entenderse como mero acuerdo son dos cosas fundamentalmente diferentes. Aquél es el fundamento de un ser-hombre histórico, éste sólo una consecuencia y un medio; aquél es la suprema necesidad y decisión, éste sólo un recurso y algo ocasional. La opinión corriente cree, sin embargo, que entenderse es ya una concesión y una debilidad, la renuncia a confrontarse. Ignora totalmente que el entenderse en sentido esencial es la lucha suprema y más difícil, más difícil que la guerra e infinitamente alejada de todo pacifismo.

si occidente se considera aún capaz de crear una meta por encima de él y de su historia o si, por el contrario, prefiere hundirse en la salvaguarda e intensificación de los intereses comerciales y vitales y contentarse con la apelación a lo habido hasta el momento como si fuera lo absoluto.

«En la formación de la razón, de la lógica, de las categorías, la necesidad ha sido determinante: la necesidad, no de <conocer>, sino de subsumir, de esquematizar, con el fin de entenderse, de calcular…»

Hacer que lo objetivo se detenga en un estar y aferrarlo en la re-presentación, o sea, la «formación de conceptos», no es una ocupación especial y secundaria de un entendimiento teórico, no es algo ajeno a la vida, sino ley fundamental del ejercicio humano de la vida en cuanto tal.

Ningún pensador moderno ha luchado de manera más dura que Nietzsche en favor del saber y en contra de un no saber vago y difuso, en una época en que el extrañaniento respecto del saber era promovido por la ciencia misma, especialmente en base a esa actitud que se denomina positivismo. Actualmente, el positivismo no está de ninguna manera superado sino sólo encubierto, y es por ello más efectivo.

Este poner del árbol como el mismo es en cierto modo un poner algo que no hay, que no hay en el sentido de algo que se encuentre allí delante. Esta posición de algo «igual» es, por lo tanto, un inventar e imaginar. Para determinar y pensar el árbol en el aparecer en que se da en cada caso, es preciso que se invente previamente su mismidad.

El carácter inventivo de la razón fue explícitamente visto y pensado por primera vez por Kant en su doctrina de la imaginación trascendental. La concepción de la esencia de la razón absoluta en la metafísica del idealismo alemán (en Fichte, Schelling, Hegel) se funda totalmente en la visión kantiana de la esencia de la razón como una «facultad» «formativa», inventiva.”

Nietzsche piensa la doctrina platónica de las ideas de un modo excesivamente extrínseco y superficial, siguiendo a Schopenhauer y en conformidad con la tradición, cuando cree que tiene que distinguir su doctrina del «desarrollo de la razón» de la doctrina platónica de una «idea preexistente». La interpretación nietzscheana de la razón también es platonismo, sólo que trasladado al pensamiento moderno. Esto quiere decir: también Nietzsche tiene que mantener el carácter inventivo de la razón, el carácter «preexistente», es decir, preconfigurado y de antemano consistente de las determinaciones de ser, de los esquemas.

Se da de hecho esa determinada especie animal que es el hombre. Ni se ve ni puede demostrarse con fundamento que haya una necesidad incondicionada de que exista este tipo de seres vivientes. Esta especie animal, cuya existencia es en el fondo casual, está dispuesta en cuanto a su constitución vital de tal modo que, al chocar con el caos, reacciona especialmente a este determinado modo de asegurar la existencia consistente: constituir categorías y un espacio tridimensional como formas de volver consistente el caos. «En sí» no hay espacio tridimensional, no hay igualdad entre cosas, no hay en general cosas como algo fijo, consistente, con sus correspondientes propiedades fijas.”

«La constricción subjetiva de no poder aquí contradecir es una constricción biológica.»

Esta frase tiene nuevamente una formulación tan concisa que tendría que permanecer casi incomprensible si no viniéramos ya de un ámbito previamente aclarado. «La constricción subjetiva de no poder aquí contradecir»: ¿dónde «aquí»? ¿Y «no contradecir» qué? ¿Y por qué «contradecir»? Nietzsche no dice nada sobre esto porque quiere decir algo diferente de lo que parece.

Entre el penúltimo y el último párrafo falta la transición; más exactamente: no se la formula expresamente porque resulta clara a partir de lo anterior. Nietzsche piensa implícitamente así: todo pensar en categorías, todo pensar previo en esquemas, es decir de acuerdo a reglas, es perspectivista, condicionado por la esencia de la vida, por lo tanto también lo será el pensar de acuerdo con la regla fundamental del pensamiento, con el principio de no contradicción. Lo que este axioma tiene de prescripción vinculante, es decir de necesidad para el pensamiento, tiene el mismo carácter que todo lo que es regla o esquema.”

Nietzsche, en un sentido totalmente concordante con la tradición de la metafísica occidental, busca captar la esencia de la razón desde la perspectiva del principio supremo del pensar, el principio de no contradicción.

La ley fundamental de la razón fue enunciada y discutida por primera vez de manera completa y explícita como el axioma de todos los axiomas por Aristóteles. Su exposición nos ha llegado en el libro IV de la Metafísica (Met. IV, 3-10 – ).

Desde esta consideración aristotélica del principio de no contradicción, la pregunta siguiente no ha vuelto ya a encontrar sosiego: si este principio es un principio lógico, una regla suprema del pensar, o si es una proposición metafísica, es decir una proposición que establece algo sobre el ente en cuanto tal, sobre el ser.

El hecho de que la consideración de este principio vuelva en el acabamiento de la metafísica es el signo inequívoco de la importancia de este principio. A la inversa, el acabamiento de la metafísica occidental se caracteriza por el modo en que se lleva a cabo esta consideración.

La meditación sobre la consideración que hace Nietzsche del principio de no contradicción deberá ser para nosotros una primera vía para ir, a propósito de una cuestión decisiva para la metafísica, definitivamente más allá de lo que es aparentemente sólo biológico en la interpretación nietzscheana de la esencia de la verdad, del conocimiento y de la razón, aclarándola así en su ambigüedad.”

con facilidad y frecuencia, la «constricción subjetiva» de evitar la contradicción no aparece. Entonces presumiblemente no hay ninguna constricción; y sí, en su lugar, una peculiar libertad que quizás no sólo sea la razón de la posibilidad de contradecirse sino incluso la razón de la necesidad del principio de no contradicción.

Lo «imposible» es una incapacidad de nuestro pensar, o sea un no poder subjetivo, y de ninguna manera un no admitir objetivo por parte del objeto. A este imposible objetivo se refiere Nietzsche con la palabra «necesidad».

Con una alteración biológica de nuestra capacidad de pensar el principio de no contradicción podría perder su validez. ¿No la ha perdido ya?“Aquel pensador que junto con Nietzsche ha llevado a cabo el acabamiento de la metafísica, es decir Hegel, ¿no ha superado acaso en su metafísica la validez del principio de no contradicción? ¿No enseña Hegel que la contradicción pertenece a la esencia más íntima del ser? ¿No es también ésa la doctrina esencial de Heráclito? Pero para Hegel y para Heráclito, la «contradicción» es el «elemento» del «ser», por lo que trastocamos ya todo si hablamos de una contradicción del decir y del hablar en lugar de una contrariedad [Widenvendigkeit] del ser.

«Si, según Aristóteles, el principio de no contradicción es el más cierto de todos los principios, si es el último y más básico al que remiten todas las demostraciones, si en él radica el principio de todos los otros axiomas: con tanto mayor rigor habría que sopesar qué afirmaciones en el fondo ya supone. O bien con él se afirma algo referente a lo real, al ente, como si ya se lo conociera de otro lado, concretamente que no se le pueden atribuir predicados opuestos. O bien el principio quiere decir: que no se le deben atribuir predicados opuestos. En ese caso, la lógica sería un imperativo, no para el conocimiento de lo verdadero sino para poner y acomodar un mundo que deba llamarse verdadero para nosotros

El principio de no contradicción dice «algo» sobre el ser. Contiene el proyecto esencial del óv ή δν, del ente en cuanto tal.

En Aristóteles, sin embargo, no aparece en ningún lado la «certeza», y no puede aparecer porque «certeza» es un concepto de la época moderna, aunque ciertamente preparado por la concepción helenística y cristiana referente a la certeza de la salvación.

La pregunta que aquí Nietzsche exige que se plantee ha sido contestada hace tiempo —a saber, por Aristóteles— y de manera tan decidida que aquello por lo que Nietzsche pregunta constituye para Aristóteles el contenido único de este principio. Pues, según Aristóteles, el principio dice algo esencial sobre el ente en cuanto tal: que toda ausencia [Abwesen] resulta extraña a la presencia [Anwesen], porque la arrebata llevándola a su inesencia [Unwesen] y pone así la inconsistencia, destruyendo de este modo la esencia [Wesen] del ser.

lo imposible no consiste en que se mezclen y no sino en que el hombre se excluye del representar del ente en cuanto tal y olvida qué quiere propiamente aprehender con su y con su no. Con afirmaciones contradictorias, que sin obstáculos puede proferir sobre lo mismo, el hombre abandona su esencia y se pone en la inesencia; disuelve la referencia al ente en cuanto tal.

Esta caída en la inesencia de sí mismo tiene su carácter inquietante en el hecho de que siempre aparece como algo inofensivo, de que con ella los negocios y diversiones continúan exactamente como antes, de que en general no tiene demasiado peso qué y cómo se piensa; hasta que un día la catástrofe esté allí, un día que quizás precise siglos para surgir de la noche de la creciente falta de pensamiento.

Nietzsche reconoce que el principio de no contradicción es un principio sobre el ser del ente. Pero no reconoce que esta concepción del principio de contradicción fue enunciada precisamente por el pensador que por primera vez puso y concibió de manera completa este principio como principio del ser. Si esta falta de reconocimiento por parte de Nietzsche fuera simplemente un error historiográfico no deberíamos hablar más de él. Pero significa algo diferente: que Nietzsche desconoce el fundamento histórico de su propia interpretación del ente, no mide el alcance de sus tomas de posición y no es capaz por ello de establecer cuál es su propio sitio, con lo que tampoco puede alcanzar al adversario que quiere alcanzar y que, para cumplir con tal propósito, previamente tiene que ser comprendido y atacado en su posición más propia.”

Aristóteles no tenía necesidad de preguntar además por los presupuestos [Voraussetaungen] del principio de no contradicción, porque lo concebía ya como la posición anticipada [Voraus-ansetzung] de la esencia del ente, puesto que en tal poner llegaba a su acabamiento el inicio del pensar occidental.

Nos cuesta decir qué es más grande y esencial en esta actitud pensante de los griegos al pensar el ser: la inmediatez y pureza de la visión inicial de las figuras esenciales del ente o la falta de necesidad de interrogar nuevamente la verdad de esta visión, pensado en términos modernos: de ir detrás de sus propias posiciones. Los pensadores griegos «sólo» muestran anticipadamente los primeros pasos.

Desde entonces no se ha dado ningún paso más allá del espacio que los griegos transitaron por primera vez. Forma parte del misterio del primer inicio irradiar tanta claridad a su alrededor que no precisa una aclaración que vaya arrastrándose detrás de él. Esto quiere decir, al mismo tiempo: si por un estado de necesidad histórica real del hombre occidental se volviera necesario un pensar más originario del ser, este pensar sólo podría acontecer en confrontación con el primer inicio del pensar occidental. Esta confrontación no tendrá lugar, su propia esencia y necesidad permanecerán cerradas, mientras se nos rehuse la grandeza, es decir la simplicidad y la pureza del correspondiente temple fundamental del pensar y la fuerza del decir adecuado.

Dado que Nietzsche se ha acercado a la esencia de lo griego de modo más inmediato que ningún otro pensador metafísico anterior y dado que, al mismo tiempo, piensa de modo absolutamente moderno con la más inflexible consecuencia, podría parecer que en su pensamiento se produce la confrontación con el inicio del pensar occidental. Pero, por ser aún moderna, no es sin embargo esa confrontación antes aludida, sino que se convierte inevitablemente en una mera inversión del pensar griego. Con la inversión, Nietzsche se enreda más definitivamente en aquello que invierte. No llega a una confrontación, a la fundación de una posición fundamental que salga de la inicial, y que salga de modo tal que no la desdeñe sino que le permita erigirse en su unicidad y concisión para elevarse apoyándose en ella.”

Resumiendo, queda abierta la pregunta: ¿los axiomas lógicos son adecuados a lo real o son criterios y medios para crear para nosotros lo real, el concepto de <realidad>?… Pero para poder afirmar lo primero sería necesario, como se ha dicho, conocer ya el ente; lo que no es el caso de ningún modo. Por lo tanto, el principio no contiene un criterio de verdad sino un imperativo sobre lo que debe valer como verdadero.”

El aseguramiento de la existencia consistente no es necesario porque rinde una utilidad sino que el conocimiento es necesario para la vida porque el conocer, en sí mismo y desde sí mismo, hace surgir una necesidad y la dirime, porque conocer es en sí ordenar. Y es ordenar porque proviene de una orden.“Ordenar es, previamente, instituir y tener la osadía de esa exigencia, es el descubrimiento de su esencia —descubrimiento que crea la exigencia misma— y la posición de su derecho. Este ordenar tomado en un sentido esencial es siempre más difícil que la obediencia en el sentido de acatar la orden ya dada. El auténtico ordenar es un obedecer frente a lo que reclama ser asumido con responsabilidad libre, cuando no directamente creado. El ordenar esencial es el primero en poner el hacia dónde y el para qué. (…) El ordenar y el poder ordenar originarios surgen siempre de una libertad, son siempre una forma fundamental del auténtico ser libre. La libertad —en el sencillo y profundo sentido en que Kant comprendió su esencia— es en sí misma inventar, fundar sin fundamento un fundamento, de modo que ella misma se dé la ley de su esencia.

La extremada expresión «incapacidad» quiere decir, precisamente: la falta de contradicción y su acatamiento no provienen de la representación de la ausencia de cosas que se contradigan, sino de una necesaria capacidad de ordenar y del tener-que puesto en ella.

PARA TODOS E PARA NINGUÉM S.A.

Aquí, y en otros muchos pasajes similares, podría formularse una pregunta cercana a la irritación: ¿por qué emplea Nietzsche las palabras de un modo tan poco comprensible? La respuesta es clara: porque no escribe un manual escolar como «propedéutica» de una «filosofía» ya acabada sino que habla de modo inmediato desde lo que se trata propiamente de saber. En el campo visual de su razonamiento, la proposición comentada es lo más unívoca y concisa posible. Evidentemente, una decisión queda aún abierta: la de si un pensador debe hablar de modo que cualquiera lo comprenda sin más [imposible], o si lo pensado de modo pensante reclama ser dicho de manera tal que quienes quieran repensarlo tengan que emprender antes un largo camino en el que aquel cualquiera quedará necesariamente atrás y sólo algunos llegarán a la cercanía de la meta.

En ello está implícita aún otra pregunta, a saber, qué es más esencial e históricamente más decisivo: que el mayor número posible, o incluso todos, se contenten con la mayor superficialidad posible del pensar, o que algunos individuos encuentren el camino.”

una necesidad propia que reina en la esencia del conocimiento y que es la única que fundamenta por qué y de qué modo la verdad, en cuanto tener-por-verdadero es un valor necesario. La necesidad —el tener-que del ordenar e inventar— surge de la libertad. De la esencia de la libertad forma parte el ser-cabe-sí-mismo, es decir que un ente de tipo libre pueda darse cuenta de sí mismo, que él mismo pueda admitirse a sí mismo en sus posibilidades. Un ente de este tipo está fuera de la región que habitualmente llamamos biológica, la vegetal-animal. A la libertad le pertenece aquello que, de acuerdo con una determinada dirección interpretativa del pensamiento moderno, se vuelve visible como «sujeto».”

La esencia de la constricción a la que se alude en el principio de no contradicción no se determina jamás desde la región biológica. Ahora bien, si a pesar de todo Nietzsche dice: esta constricción es una constricción «biológica», quizás no sea violento y forzado que planteemos la pregunta de si el término «biológico» no quiere decir algo diferente de lo viviente representado en el modo de lo animal y lo vegetal. Si contínuamente nos encontramos con que Nietzsche, tomando distancia respecto del concepto de verdad tradicional, pone de relieve que el tener-por-verdadero, el ejercicio de la vida, tiene un carácter inventivo-ordenante, ¿no habría que escuchar en la palabra «biológico» algo diferente, precisamente aquello que muestra los rasgos esenciales del inventar y el ordenar? ¿No habría que determinar en primer lugar la esencia de la tantas veces nombrada vida a partir de esos rasgos esenciales, en lugar de tener ya preparado un concepto indeterminado y confuso de «vida» para, por su intermedio, explicar todo, y por lo tanto nada?”

Nietzsche está tan poco cerca del peligro de biologismo que, más bien al contrario, tiende a interpretar lo biológico en sentido propio y estricto —lo vegetal y lo animal— de modo no biológico, es decir, en principio, de modo humano, desde las determinaciones de perspectiva, horizonte, orden e invención, en general desde el representar del ente.”

el mundo verdadero es lo que deviene, el mundo aparente es lo fijo y consistente. El mundo verdadero y el mundo aparente han intercambiado sus lugares, sus rangos y su carácter.”

¡Si la verdad no acometiera constantemente y de modo cada vez más imperioso en el error mismo, e incluso en él de manera más esencial que en lo verdadero! El error sigue estando referido a lo verdadero y a la verdad; ¿cómo podría ser el error un desacierto, como podría no acertar con la verdad, dejarla de lado y pasarla por alto, si ella simplemente no estuviera? Todo error vive en primer lugar —es decir en su esencia— de la verdad. Por lo tanto, cuando Nietzsche dice de modo inequívoco: la verdad es una especie de error, en ese concepto «error» tiene que pensar implícitamente: no acertar con la verdad, apartarse de ella.

La verdad como error es un no acertar con la verdad. La verdad es no acertar con la verdad. En la inequívoca determinación de la esencia de la verdad como error se piensa necesariamente la verdad dos veces, y en cada caso de modo diferente, es decir, se la piensa de manera ambigua: por un lado como fijación de lo consistente y por otro como conformidad con lo real.”

Pero esta conformidad con lo que deviene, alcanzada en el arte, es una apariencia, apariencia en cuanto apariencialidad (la obra que se ha vuelto fija no es lo deviniente mismo) y apariencia en cuanto comparecer de nuevas posibilidades en aquella apariencia. Así como la verdad como error precisa de la verdad como conformidad, así también la apariencia como comparecer precisa de la apariencia en el sentido de la apariencialidad.

¿Pero por qué Nietzsche se interesa tan decididamente por la salvación de la relatividad? ¿Qué quiere decir con relatividad? Simplemente que la perspectiva proviene de la vida que crea un mirar que atraviesa y que, siempre desde un punto de vista, mira abriendo anticipadamente. «Relatividad» vale aquí como título para señalar que el círculo que envuelve a la perspectiva a modo de horizonte, el «mundo», no es más que una creación de la «acción» de la vida misma.”

¿Si no tiene lugar ya ninguna medida ni ninguna estimación respecto de algo verdadero, cómo el mundo que surge de la «acción» de la vida podría seguir siendo tildado de «apariencia» y comprendido como tal? Con la comprensión de esta imposibilidad está dado el paso decisivo ante el que Nietzsche ha vacilado tanto tiempo, el paso hacia el saber que, con toda sencillez, tiene que expresar así lo que sabe: con la abolición del «mundo verdadero» también ha quedado abolido el «mundo aparente». ¿Pero qué es lo que queda si con el mundo verdadero cae también el aparente y, en general, esa distinción? La frase final de la nota n. 567, del último año de creación, responde:

«La contraposición del mundo aparente y el mundo verdadero se reduce a la contraposición ‘mundo’ y ‘nada’.»

En el ámbito de lo extremo sólo existe la única pregunta de cómo se lo soportará; de si se lo comprenderá de acuerdo con su esencia oculta como final y se lo salvará pasando a algo que le corresponda, es decir, a otro inicio. Pero mucho antes de ello tenemos que llegar a saber adonde llega el propio Nietzsche en su marcha hacia el extremo.”

«Inmoralista»: esta palabra nombra un concepto metafísico. «Moral» no quiere decir aquí ni «moralidad» ni «doctrina de las costumbres». «Moral» tiene para Nietzsche el significado amplio y esencial de posición de lo ideal, en el sentido de que lo ideal, en cuanto es lo suprasensible fundado en las ideas, constituye la medida de lo sensible, mientras que lo sensible es considerado como lo inferior y carente de valor y, por lo tanto, como lo que tiene que ser combatido y erradicado. En la medida en que toda metafísica se funda en la distinción del mundo suprasensible como mundo verdadero y el mundo sensible como mundo aparente, toda metafísica es «moral». El inmoralista se opone a la distinción «moral» que funda toda metafísica, niega la distinción de un mundo verdadero y un mundo aparente y el orden jerárquico puesto en ella. «Nosotros, inmoralistas» quiere decir: nosotros que estamos fuera de la distinción que sostiene a la metafísica. En ese sentido hay que tomar también el título de la obra que publicó Nietzsche en sus últimos años: Más allá del bien y del mal.”

Al nombrar a los «príncipes europeos» Nietzsche piensa en el sentido de lo que para él significa «la gran política»: la determinación del lugar del hombre en el mundo y de su esencia. «Gran política» es aquí sólo otro nombre para la metafísica más propia de Nietzsche. ¿Pero qué es entonces la meditación de los inmoralistas?“Los editores del libro La voluntad de poder han pensado de modo muy extrínseco, o bien no han pensado en absoluto, cuando, extraviados evidentemente por las primeras palabras del fragmento: «Los príncipes europeos…», sólo se les ocurrió relacionarlo de inmediato con el «estado» y la «sociedad» y colocaron el fragmento en el sitio completamente equivocado en el que ahora se encuentra. A causa de esta equivocación aparentemente inofensiva, el contenido y el peso del fragmento quedan ocultos

Sólo ahora, con la abolición de la distinción que sustenta a la metafísica occidental, comienza Zaratustra. ¿Quien es «Zaratustra»? Es el pensador cuya figura Nietzsche ha creado por anticipado y tenido que crear porque es el extremo, el extremo dentro de la historia de la metafísica.

Sólo una esencia suprema puede tener un «ocaso».”

IDOLATRIA DA TRAGÉDIA

NASCIMENTO DO CREPÚSCULO

Por ello Nietzsche ha creado en la figura de Zaratustra el ideal de ese pensar que era para él mismo inalcanzable.”

Lo verdadero de este tener-por-verdadero consolida lo que deviene, con lo que precisamente no corresponde con el carácter de devenir del caos.”

Sólo en su relación recíproca, el arte y el conocimiento proporcionan el total aseguramiento de lo viviente como tal.”

¿Qué quiere decir Nietzsche con la palabra «justicia», que nosotros inmediatamente relacionamos con el derecho y la jurisprudencia, con la moralidad y la virtud? Para Nietzsche, la palabra «justicia» no tiene ni un significado «jurídico» ni un significado «moral», sino que, antes bien, nombra aquello que debe asumir y ejecutar la esencia de la όμοίωσις [similitude, mesmidade, aparência]: la asimilación al caos, es decir al ente en su totalidad, y por lo tanto éste mismo. Pensar el ente en su totalidad, más concretamente, pensarlo en su verdad y pensar la verdad en él, eso es metafísica. «Justicia» es aquí el nombre metafísico para referirse a la esencia de la verdad, al modo en el que en el final de la metafísica occidental tiene que pensarse la esencia de la verdad“El pensamiento de la «justicia» es el acontecimiento [Geschehnis] del abandono del ente por parte del ser dentro del pensar del ente mismo.

Ser libre está aquí comprendido como ser libre para…, libre hacia…, como un proyectarse vinculante a una «perspectiva», como un ir-más allá de sí mismo.”

Nietzsche habla aquí en términos absolutos, al decir: justicia como modo de pensar a partir de las estimaciones de valor; esto suena esencialmente diferente a decir: justicia es el modo de pensar a partir de estimaciones de valor.

En la medida en que e-rige [er-richtet], el construir, al mismo tiempo y de antemano, tiene que fundarse en un fundamento. Con el ir-hacia-lo-alto se forma y se abre al mismo tiempo una mirada abierta y en rededor. La esencia del construir no radica ni en acumular unas sobre otras partes de la obra, ni en ordenarlas de acuerdo con un plan, sino previa y únicamente en que en el e-rigir se abre por medio de lo erigido un nuevo espacio, una atmósfera diferente. Hay construir y construir.El construir no se mueve de antemano nunca en el vacío, sino que se mueve en el interior de aquello que se impone y se abre paso como lo pretendidamente determinante y quisiera no sólo obstaculizar el construir sino volverlo in-necesario. El construir, en cuanto e-rigir, al mismo tiempo siempre tiene que de-cidir [ent-scheiden] acerca de la medida y la altura, y por consiguiente tiene que e-liminar [aus-scheiden] y darse previamente a sí mismo el espacio en el que erigir sus medidas y alturas y abrir sus vistas.”

la esencia de la vida no puede pensarse más allá de ella.”

El tener-por-verdadero recibe su ley y su regla de la justicia. Ésta es el fundamento esencial de la verdad y del conocimiento, aunque, por supuesto, sólo si pensamos «la justicia» de modo metafísico en el sentido de Nietzsche y tratamos de comprender en qué medida alude a la constitución de ser de lo viviente, es decir del ente en su totalidad.

Comúnmente se entiende por poder [Macht] la institución ordenada, planificante y calculante de una violencia [Gewalt]. El poder se toma como una especie de violencia. Acrecentamiento de poder y predominio significan entonces acumulación y disposición de medios de violencia, así como su posible extensión y empleo siguiendo un cálculo. Lo que ejerce violencia —lo que actúa en el sentido de la violencia, lo violento— se muestra como lo que se desencadena de modo arbitrario, incalculable, ciego. A lo que allí estalla se les denomina fuerzas. La violencia es, entonces, un almacenamiento de fuerzas que impulsa a estallar, que no es dueña de sí misma. Pero fuerza quiere decir capacidad de producir un efecto. Y producir un efecto significa: transformar en otro lo que en cada caso está allí delante. Las fuerzas son puntos de efectuación, donde «punto» señala la concentración en algo que afluye de manera impulsiva y que sólo es en el campo de tal afluir. De ese modo, se comprende al poder como una especie de violencia, a la violencia como fuerza, y a la fuerza como un ciego hervidero de impulsos que no es ulteriormente comprensible y que sin embargo está operante por doquier y es experimentable en sus efectos.“Este centro, la esencia de lo que Nietzsche nombra con la palabra «poder», y con frecuencia también con la palabra «fuerza», se determina en verdad a partir de la esencia de la justicia.

Nietzsche ha subrayado la palabra «ventaja» [Vorteil], para no dejar ninguna duda de que en la justicia de que aquí se trata importa esencialmente la «ventaja». La acentuación tiene que fortalecernos en el esfuerzo de no seguir pensando el concepto cubierto por esta palabra de acuerdo con representaciones cotidianas. Además, la palabra Vor-teil, según su auténtico significado, entretanto perdido, quiere decir: la parte adjudicada de antemano antes de hacer una partición. En la justicia, en cuanto apertura de perspectivas, se ensancha un horizonte que todo lo abraza, la delimitación de aquello que es adjudicado de antemano a todo representar, calcular y formar, adjudicado como lo que en todas partes y en cada ocasión se trata de obtener y mantener [erhalten]. Er-halten quiere decir aquí, al mismo tiempo: alcanzar, recibir y conservar, reservar como consistencia.

¿Si lo que importa no son las personas singulares, será entonces la comunidad lo que importe? Tampoco. Lo que Nietzsche quiere decir sólo lo apreciaremos a partir de lo que dice acerca de la perspectiva de la justicia. Esta ve más allá de la distinción entre un mundo verdadero y un mundo aparente y su visión se dirige, por lo tanto, a una determinación más elevada de la esencia del mundo y, a una con ello, a un horizonte más amplio, en el que al mismo tiempo se determina de modo «más amplio» la esencia del hombre, o sea del hombre ocidental-moderno.”

Precisamente si pensamos las palabras fundamentales «voluntad» y «poder» en el sentido nietzscheano, de una manera en cierto modo correcta léxicamente, mayor será el peligro de aplanar completamente el pensamiento de la voluntad de poder, es decir de simplemente equiparar mutuamente voluntad y poder, de tomar la voluntad como poder y el poder como voluntad. De ese modo no sale la luz lo decisivo, la voluntad de poder [Wille zur Macht], el «de» \zur\.

Con interpretaciones de ese tipo a lo sumo se puede constatar en Nietzsche una nueva determinación de la esencia de la voluntad, sobre todo respecto de Schopenhauer. Las interpretaciones políticas del pensamiento fundamental nietzscheano favorecen al máximo el aplanamiento aludido, cuando no directamente la eliminación de la esencia de la voluntad de poder.

contínuamente insiste en que «voluntad» es meramente una palabra que no hace más que ocultar en su simplicidad fonética una esencia en sí múltiple. Tomada por sí, la «voluntad» es algo inventado; no hay algo así como «voluntad»”

Esto sólo pueden serlo si hay entre ellos una tensión que los separa, y por lo tanto si no son precisamente lo mismo en el sentido de la vacía mismidad de lo coincidente. Voluntad de poder quiere decir: dar poder [Ermächtigung] para la sobreelevación de sí mismo. Este sobrepotenciamiento tendiente a la elevación es al mismo tiempo el acto básico de la sobreelevación misma. Por ello Nietzsche habla contínuamente de que el poder es en sí mismo «acrecentamiento de poder»; el ejercicio de poder [Machten] propio del poder consiste en dar poder para «más» poder.

Todo esto, tomado superficialmente, suena a mera acumulación cuantitativa de fuerzas y apunta a un mero hervir, irrumpir y desencadenarse de impulsos ciegos y golpes pulsionales. La voluntad de poder tiene entonces el aspecto de un proceso en movimiento que, al igual que un volcán, se estremece en el interior del mundo y tiende a estallar. Pero de este modo no se aprehende nada de su esencia propia. El dar poder para la sobreelevación de sí mismo quiere decir, en cambio, lo siguiente: el dar poder lleva a la vida a que se detenga y esté por sí misma, pero la lleva a detenerse estando en algo que, en cuanto sobreelevación, es movimiento.

Se trata de ver «que es la voluntad de poder la que conduce también al mundo inorgánico, o más bien, que no hay un mundo inorgánico” (XIII, n. 204, 1885)

¿Qué sucede con la verdad de los proyectos metafísicos y de todos los proyectos pensantes en general? Como fácilmente puede verse, ésta es una, si no la pregunta decisiva. Para desplegarla y resolverla le faltan a la filosofía hasta el momento todos los presupuestos esenciales. La pregunta no puede ser planteada de modo suficiente dentro de la metafísica y por lo tanto tampoco dentro de la posición fundamental nietzscheana.”

es el antropomorfismo del «gran estilo», que se interesa por pocas cosas y de larga duración.Tampoco debemos creer que esta humanización se le tenga que presentar ahora a Nietzsche como una objeción. Él tenía conciencia del antropomorfismo de su metafísica. Tenía conciencia de él no sólo como de un modo de pensar en el que hubiera caído accidentalmente y del que no encontrara salida. Nietzsche quiere esta humanización de todo el ente y sólo la quiere a ella.“El antropomorfismo pertenece a la esencia de la historia final de la metafísica y determina mediatamente la decisión de la transición, en la medida en que ésta lleva a cabo al mismo tiempo una «superación» del animal rationale y del subiectum, y lo hace como un giro en un «punto» de giro que sólo se habrá de alcanzar por su intermedio. El giro: ente—ser—, el punto de viraje del giro: la verdad del ser. El giro no es una inversión, es un girar que penetra en el otro fundamento [Grund] como abismo [Ab-grund].

Esta humanización del mundo sin miramientos y llevada a su extremo se deshace de las últimas ilusiones de la posición metafísica fundamental de la edad moderna y toma en serio la posición del hombre como subiectum. Nietzsche rechazaría con toda seguridad y con razón todo reproche de banal subjetivismo, de ese subjetivismo que se agota en hacer del hombre que está allí delante, sea como individuo, sea como comunidad, la medida y el fin utilitario de todo. Pero al mismo tiempo, con la misma razón, reivindicaría haber llevado a su acabamiento el subjetivismo metafísicamente necesario, al haber convertido el «cuerpo» en hilo conductor de la interpretación del mundo.

En el curso de pensamiento nietzscheano que conduce a la voluntad de poder no sólo llega a su acabamiento la metafísica de la edad moderna sino la metafísica occidental en su totalidad. Desde un comienzo, la pregunta de esta última reza: ¿qué es el ente? Los griegos determinaron el ser del ente como consistencia del presenciar. Esta determinación del ser permanece inconmovible a lo largo de toda la historia de la metafísica.

¿Puede entonces llamarse al pensamiento de Nietzsche un acabamiento de la metafísica? ¿No es más bien su negación, o incluso su superación? ¿Fuera del «ser», en dirección al «devenir»?

De hecho, la filosofía de Nietzsche se interpreta muchas veces de este modo.Y si no exactamente así, entonces se dice: en la historia de la filosofía ya hubo, muy pronto, en Heráclito, y más tarde, inmediatamente antes de Nietzsche, en Hegel, en lugar de la «metafísica del ser» una «metafísica del devenir». Visto a grandes rasgos, es correcto, pero en el fondo es una carencia de pensamiento que no se queda atrás de la anterior.

Nietzsche quiere, ciertamente, el devenir y lo que deviene como el carácter fundamental del ente en su totalidad; pero primariamente y ante todo quiere al devenir como lo que permanece, como lo propiamente «ente»; ente, en el sentido de los pensadores griegos. Nietzsche piensa como metafísico de manera tan decidida que también lo sabe. Por ello, una nota que sólo recibe su forma definitiva en el último año, en 1888 (La voluntad de poder, n. 617) comienza así:

«Recapitulación: Imprimir al devenir el carácter del ser, esa es la suprema voluntad de poder

Esto significa: la interpretación inicial del ser como consistencia del presenciar queda ahora a salvo en lo incuestionado.

Puesto que aquí, en el acabamiento de la metafísica occidental por parte de Nietzsche, la pregunta que todo lo sostiene, la pregunta por la verdad, en cuya esencia [Kern, Wesen] esencia [west, leia-se essencía] el ser mismo metafísicamente interpretado de múltiples maneras, no sólo queda sin plantearse como hasta ahora sino que su propia cuestionabilidad queda totalmente sepultada, este acabamiento se convierte en un final. Pero este fin es la necesidad [Not] del otro comienzo. De nosotros y de los que vendrán en el futuro dependerá que experimentemos su carácter necesario [Notwendigkeit]. Como paso inmediato, esta experiencia requiere que se comprenda el final como acabamiento. Esto quiere decir: no nos está permitido explotar a Nietzsche para cualquier tipo de falsificación espiritual contemporánea, ni tampoco podemos, supuestamente en posesión de la verdad eterna, dejarlo de lado. Tenemos que pensarlo, y esto quiere decir siempre pensar su pensamiento único y con él el simple pensamiento que guía la metafísica occidental, hasta su propio límite interno. Entonces experimentaremos como lo primero con cuánta amplitud y de qué manera decisiva el ser está ya ensombrecido por el ente y por la preponderancia de lo denominado real.”

Saber y voluntad constituyen, según el proyecto de Schelling y Hegel, la esencia de la razón. Según el proyecto leibniziano de la substancialidad de la substancia, se los piensa como vis primitiva activa et passiva. Sin embargo, el pensamiento de la voluntad de poder, especialmente en su forma biológica, parece caer fuera del ámbito de estos proyectos y, más que llevar a su acabamiento la tradición de la metafísica parece interrumpirla, desfigurándola y aplanándola.

Qué significa acabamiento, (…) todo esto no puede ser tratado aquí.”

Lo esencialmente sido es la liberación hacia su esencia [Wesen] de lo que aparentemente no es más que pasado, la tra-ducción del inicio, aparentemente hundido de modo definitivo, a su carácter inicial, gracias al cual sobrepasa todo lo que le sigue y es así futuro. Lo pasado que esencia [wesende], la entidad proyectada en cada caso como velada verdad del ser, predomina por encima de todo lo que en el presente, gracias a su eficacia, vale como lo efectivamente real.”

1) El pensamiento del eterno retorno de lo mismo piensa el pensamiento fundamental de la voluntad de poder antecipadamente en un sentido metafísico-histórico, es decir, lo piensa en dirección de su acabamiento.

2) Ambos pensamientos piensan metafísicamente lo mismo, en el ámbito de lo moderno y en el de la historia final.¹

¹ Cfr. Holzwege, p. 301-ss. [Trad, cit., p. 234-ss.].

3) En la unidad esencial de ambos pensamientos la metafísica que llega a su acabamiento dice su última palabra.

4) El que la unidad esencial quede sin expresar funda la época de la acabada carencia de sentido.

5) Esta época cumple con la esencia de la modernidad, que sólo de esta manera llega a sí misma.

6) Históricamente, este cumplimiento es, de modo oculto y en contra de la apariencia pública, la necesidad de la transición que asume todo lo ya sido y prepara lo venidero en el camino hacia la guardia de la verdad del ser.

La determinación metafísica del ser como voluntad de poder queda impensada en cuanto a su contenido decisivo y cae presa de malentendidos mientras se ponga al ser sólo como poder o sólo como voluntad y se explique la voluntad de poder en el sentido de una voluntad como poder o de un poder como voluntad. Pensar el ser, la entidad del ente, como voluntad de poder significa: comprender el ser como un desligarse del poder en su esencia, de modo tal que el poder que ejerce el poder incondicionadamente pone al ente, en cuanto a lo objetivamente eficaz, en una preeminencia exclusiva frente al ser y deja que éste caiga en el olvido.

Qué sea este desligarse del poder en su esencia es algo que Nietzsche no fue capaz de pensar y ninguna metafísica es capaz de pensar porque no puede llegar a ello con su preguntar. Nietzsche piensa en cambio su interpretación del ser del ente como voluntad de poder en unidad esencial con aquella determinación del ser que está recogida en el título «eterno retorno de lo mismo».

El pensamiento del eterno retorno de lo mismo fue pensado por Nietzsche cronológicamente antes que la voluntad de poder, aunque se encuentran resonancias de ésta igualmente tempranas. Pero el pensamiento del eterno retorno es sobre todo anterior, es decir anticipador, por su contenido, sin que Nietzsche mismo haya sido nunca capaz de pensar expresamente como tal la unidad esencial con la voluntad de poder y de elevarla metafísicamente al concepto. Tampoco reconoce Nietzsche la verdad metafísico-histórica del pensamiento del eterno retorno, y esto no porque le hubiera quedado oscuro sino porque, al igual que todos los metafísicos anteriores a él, no podía reencontrar los trazos fundamentales del proyecto metafísico conductor. Pues el conjunto de trazos del proyecto metafísico del ente en dirección de la entidad, y por lo tanto el representar del ente en cuanto tal en el ámbito de la presencia y la consistencia, sólo puede saberse cuando se experimenta ese proyecto [Entwurf] como históricamente arrojado [geworfen] [consumado]. Un experimentar de este tipo no tiene nada en común con las teorías explicativas que de vez en cuando construye la metafísica sobre sí misma. También Nietzsche sólo llega a ese tipo de explicaciones, que sin embargo no deben trivializarse convirtiéndolas en una psicología de la metafísica.

El término «retorno» piensa el volver consistente de lo que deviene para asegurar el devenir de lo que deviene en la permanencia de su devenir. El término «eterno» piensa el volver consistente de esa constancia en el sentido de un girar que vuelve a sí y se adelanta hacia sí. Pero lo que deviene no es lo continuamente otro de una multiplicidad que varía sin fin. Lo que deviene es lo mismo mismo [das Gleiche selbst], es decir: lo uno y mismo (idéntico) en la respectiva diversidad de lo otro. En lo mismo se piensa la presencia en devenir de lo idéntico uno. El pensamiento de Nietzsche piensa el constante volverse consistente del devenir de lo que deviene en la presencia una del repetirse de lo idéntico.

En el pensar de Nietzsche, «verdad» se ha endurecido en una esencia entendida como concordancia con el ente en su totalidad que se ha vuelto hueca, con lo que desde esa concordancia [Einstimmigkeit] con el ente no puede volverse perceptible la libre voz [Stimme] del ser.

La historia de la verdad del ser finaliza en la pérdida de su esencia inicial, prefigurada por el derrumbamiento de la no fundada άλήθΐα. Pero al mismo tiempo se eleva necesariamente la apariencia historiográfica de que ahora se recuperaría en su forma originaria la unidad inicial de la φύσις; pues ésta, ya en la primera época de la metafísica, fue repartida en «ser» y «devenir».”

Hora do almoço no trabalho: me sinto como um presidiário no seu banho de sol.

La doctrina de Nietzsche no es, sin embargo, superación de la metafísica, sino que es la más extrema y enceguecida reivindicación de su proyecto conductor. Por eso es algo essencialmente diferente de una débil reminiscencia historiográfica de antiguas doctrinas sobre el curso cíclico del acontecer universal.

Mientras se catalogue al pensamiento del eterno retorno como una curiosidad indemostrada e indemostrable y se lo ponga en la cuenta de los caprichos poéticos y religiosos de Nietzsche, el pensador quedará rebajado a la superficialidad de las opiniones actuales. Por sí mismo, esto sería aún soportable, en cuanto no es más que la inevitable incomprensión por parte de los sabelotodos contemporáneos. Pero otra cosa está en juego. El preguntar de modo insuficiente por el sentido metafísico-histórico de la doctrina nietzscheana del eterno retorno quita de un medio la íntima necesidad del curso histórico del pensar occidental y así, al ejercer también él la maquinación olvidada del ser, confirma el abandono del ser.”

PREÂMBULO DE SER E TEMPO: “Que ambos pensamientos piensan lo mismo, la voluntad de poder en términos modernos, el eterno retorno de lo mismo en términos de la historia final, resultará visible si sometemos a una meditación el proyecto conductor de toda metafísica. En la medida en que éste representa el ente en general en dirección de su entidad, pone al ente en cuanto tal en lo abierto de la consistencia y de la presencia. Sin embargo, desde qué ámbito son re-presentados [vor-gestellt] la consistencia y el presenciar y, más aún, el volver consistente del presenciar, es algo que no le inquieta jamás al proyecto conductor de la metafísica. La metafísica se mantiene simplemente en lo abierto de su proyecto y da al volver consistente del presenciar una interpretación en cada caso diferente, de acuerdo con la experiencia básica de la entidad del ente ya previamente determinada. Pero si se despierta una meditación para la cual lo despejante [Lichtende] que hace acaecer [ereignet, suceder] toda apertura de lo abierto entre en la mirada, entonces el volver consistente y el presenciar mismos son interrogados respecto de su esencia [fetiche?]. Ambos muestran entonces su esencia temporal y exigen al mismo tiempo que desaparezca de la mente lo que se comprende habitualmente con la palabra «tiempo».” Ecce homo. O chiado imorrível da eternidade. Zamzumshhhhhhh.chh.chh..chhh…engasgue.

La voluntad de poder se torna ahora comprensible como volver consistente la sobreelevación, es decir, el devenir, y de ese modo como una determinación transformada del proyecto conductor metafísico. El eterno retorno de lo mismo lleva, por así decirlo, su esencia delante de sí como el más constante volver consistente del devenir de lo constante. Aunque todo esto, por supuesto, sólo para la mirada de ese preguntar que ha puesto en cuestión la entidad respecto de su ámbito de proyección y de su fundación, un preguntar en el que el proyecto conductor de la metafísica, y por lo tanto ésta misma, ya han sido superados desde su fundamento, en el que ya no se los admite como el primer y único ámbito que sirve de norma.”

la voluntad de poder como la acuñación propia de la historia final del qué es, el eterno retorno de lo mismo como la del que es. La necesidad de fundamentar esta distinción había sido reconocida en unas lecciones (no publicadas) del año 1927. No obstante, el origen esencial de la distinción permanecía oculto.”

El qué-es y el que-es se superponen en su diferenciación con la distinción que sustenta en todas partes la metafísica y que se consolida por vez primera y al mismo tiempo de modo definitivo —aunque con una capacidad de variar hasta volverse irreconocible— en la distinción platónica del [grego não-transcrito] y el [grego não-transcrito] (cfr. Aristóteles, Met. Ζ 4,1030 a 17).”

El «mundo verdadero» es el mundo de antemano decidido en cuanto a su que-es.”

que que foi, cristão? ansioso para o apocalipse?

qué agudo-imediato

a nsiedad e

a pocalips e

s a i!

d i e!

d a d

i s

dead

k i s s

m y

l i p s

p i c o

das

sensa

ções

i o u

s a c o

preto

dingdong

p ã o

p i l l s

c é u

a a

p o l

ó m

s o

ç

o

Con la creciente falta de cuestionamiento de la entidad, qué-es y que-es se van evaporando en meros «conceptos de la reflexión», manteniéndose sin embargo con un poder tanto más obstinado cuanto más obvia se vuelve la metafísica.”

¿Hay que asombrarse entonces si en el acabamiento de la metafísica la distinción del qué-es y el que-es vuelve a aparecer una vez más con la mayor fuerza, pero al mismo tiempo de manera tal que la distinción en cuanto tal es olvidada y las dos determinaciones fundamentales del ente en su totalidad —la voluntad de poder y el eterno retorno de lo mismo— quedan, por así decirlo, metafísicamente sin suelo natal, pero son puestas y dichas, sin embargo, de modo incondicionado?”

La inversión no es, ciertamente, un giro meramente mecánico, por el cual lo inferior, lo sensible, pase a ocupar el lugar de lo superior, lo suprasensible, mientras ambos, junto con sus lugares, permanecen inalterados. La inversión es la transformación de lo inferior, lo sensible, en «la vida» en el sentido de la voluntad de poder, en cuya estructura esencial se integra transformando lo suprasensible como aseguramiento de la existencia consistente.

A esta superación de la metafísica, es decir a su transformación en su última figura posible, tiene que corresponder también la eliminación de la diferencia entre qué-es y que-es, que queda así impensada. El qué-es (voluntad de poder) no es un «en sí», al que circunstancialmente le corresponda el que-es [Schopenhauer]. El qué-es, en cuanto esencia, es la condición de la vitalidad de la vida (valor) y en este condicionamiento es, al mismo tiempo, el que-es propio y único de lo viviente, es decir, aquí, del ente en su totalidad.”

Apenas estemos en condiciones de pensar a fondo la pura mismidad de la voluntad de poder y el eterno retorno de lo mismo en todas las direcciones y en todas las figuras en las que se cumple, se habrá encontrado el fundamento sólo desde el cual puede mensurarse el alcance metafísico de los dos pensamientos fundamentales por separado. Se convierten así en un impulso para retroceder con el pensar hacia el primer inicio, del que constituyen su acabamiento en el sentido de dar incondicionadamente el poder a la inesencia [Unwesen] que surgió ya con la ιδέα.”

O eixo, a “viragem”, intermetafísicos par excellence, seriam, segundo Heidegger, a frase do paradoxo absoluto: contraposição ser e devir, universo como ser. Frase final da Metafísica do Ocidente.

RESTRIÇÃO – O Existencialismo é deveras frágil para ser um “novo começo”.

Tempo congelado ou estrutural: como “sair” disso? Com o tempo…: “El presenciar que surge, ni interrogado ni proyectado sobre el carácter «temporal», es percibido en cada caso sólo según un respecto: como generación y corrupción, como alteración y devenir, como permanencia y duración.”

A AMPULHETESTÁTUA

ESTÁ TUA AMPULHETA

FISSURADA

RACHADA

QUEBRADA

VAZADA

AREJADA?

ESCAMOTEADA

viralizada

virilizada

cagada decomposta aspirada chateada descomprimida ressequida

dalinizada

salvador

tunc tunc estunc, a areia se prendeu no gargalo e não é mais movediça alguém morda essa cobra pretoescura

OUSADIA, MESMIDADE E ENSIMESMAMENTO

O absoluto da presença irretirável irretratável.

Em outros termos, fugidio como um rio e volátil como um fio, mas e daí?

Hegel da el primer paso para eliminar esta contraposición en favor del «devenir», entendiendo a éste desde lo suprasensible, desde la idea absoluta, como su autoexposición. Nietzsche, que invierte el platonismo, traslada el devenir a lo «viviente» en cuanto caos «que vive corporalmente». Este suprimir la contraposición de ser y devenir invirtiéndola constituye el auténtico acabamiento. En efecto, ahora ya no hay ninguna salida, ni en la división ni en una fusión más adecuada. Esto se muestra en que el «devenir» pretende haber asumido la preeminencia respecto del ser, mientras que la preponderancia del devenir no hace más que llevar a cabo la confirmación extrema del inconmovido poder del ser en el sentido del volver consistente del presenciar (aseguramiento); pues la interpretación del ente y de su entidad como devenir es el volver consistente del devenir en la presencia incondicionada.”

SER & AREIAS: THE DATE

serenidade

ser-e-nidade

serendipity

serentidade

ser-entidade

seren(t)idade

santidade

iniqüidade

ser-em-minha-idade

dá dor nas costas

e é uma aporia só!

lío lío lío pero tambien lo leo

maybe I’m a

TUDO NÃO PASSA

PELO TUDO AS PASSAS PASSAM

ATREVIDAS

Para uma vida ruim, nessa compreensão, está-se em prisão perpétua. Solitária da cabeça verminosa.

É terno enquanto dure.

Este dar al devenir el poder del ser le quita a aquél la última posibilidad de preeminencia y a éste le devuelve su esencia inicial (el carácter de φύσις [phýsis]), pero llevada al acabamiento en su inesencia.”

Todas as cortinas do mundo, se abram para me (in)vestir.

mim verter

sangue

inver dade ter

Agora é OFFcial: cabô a metafísica, galera.

O rio arredio sem estação seca alguma. Mas aí vai: também não tem teve terá qualquer dilúvio.

SOBERBA ILAÇÃO

ERRATA: o (a)ra(u)to roeu a roupa do rei(tificação) der Oma

O lato sensu, lo! eu… alôu?! pad’o-lay…delo… mah!

EX-TASE E AUTOGLORIFICAÇÃO “Toda corrección es sólo un estadio previo y una ocasión para la sobreelevación [exaltação do recurso do devir], todo fijar es sólo un apoyo para la disolución en el devenir y por lo tanto en el querer volver consistente el «caos».

a verdad volta ao e-ser

HITLER: O ÚLTIMO TRAVESTI DO AVATAR: “¿Pero qué sucede entonces? Entonces comienza la donación de sentido como «transvaloración de todos los valores». La «carencia de sentido» se convierte en el único «sentido». La verdad es «justicia», es decir suprema voluntad de poder.”

Anti-H.A.: “A esta «justicia» sólo le hace justicia el dominio incondicional de la tierra por parte del hombre.

Se o sentido da terra fosse a sociedade global, ainda assim o contramovimento a Heidegger adviria de marcianos. Há de vir. Viria. Virilitas.

Comienza entonces y con esto la época de la acabada carencia de sentido. En esta de-nominación, lo «carente de sentido» es comprendido ya como un concepto propio del pensar según la historia del ser, pensar que deja tras de sí la metafísica en su totalidad (incluida su inversión y su desviación en las transvaloraciones). Según Ser y Tiempo [Compre Já, apenas R$66,64!], «sentido» nombra el ámbito del proyecto, o sea, de acuerdo con su propósito propio (en conformidad con la pregunta única por el «sentido de ser»)”

Sólo bajo la orden incondicionada de sí misma la maquinación puede mantenerse en un estado, es decir: volverse consistente. Allí, pues, donde con la maquinación la carencia de sentido llega al poder, la represión del sentido y con él de todo interrogar la verdad del ser tiene que ser sustituida por la proposición maquinante de «fines» (valores). Se espera consecuentemente la instauración de nuevos valores por parte de la «vida», después de que ésta ha sido previamente movilizada de modo total, como si la movilización total fuera algo en sí misma y no la organización de la incondicionada carencia de sentido, desde y para la voluntad de poder. Estas posiciones que dan poder al poder no se rigen ya por «medidas» e «ideales» que aún podrían estar fundados en sí mismos, sino que están «al servicio» de la mera ampliación de poder y se los valora de acuerdo con su utilidad considerada en ese sentido. La época de la acabada carencia de sentido es, por lo tanto, el tiempo de la invención e imposición, basadas en el poder, de «cosmovisiones» que llevan al extremo toda la calculabilidad del representar y producir, ya que, por su esencia, surgen de una autoinstauración del hombre dentro del ente apoyada sobre sí misma, así como de su dominio incondicional sobre todos los medios de poder del globo y sobre éste mismo.

Aquello que el ente es en cada uno de los ámbitos particulares, el qué-es que anteriormente se determinaba en el sentido de las «ideas», se convierte ahora en aquello con lo que la autoinstauración cuenta de antemano como lo que le indica qué y cuánto valor tiene el ente que ha de producirse o representarse (la obra de arte, el producto técnico, la institución estatal, el ordenamiento humano personal y social). El calcular que se instaura a sí mismo inventa los «valores» (de la cultura, del pueblo). El valor es la traducción de la esencialidad de la esencia (es decir, de la entidad) en algo calculable y por consiguiente estimable de acuerdo con el número y la dimensión espacial. Lo grande tiene ahora una esencia propia de la grandeza: lo gigantesco. Esto no resulta del acrecentamiento de lo pequeño hacia algo cada vez más grande sino que es el fundamento esencial, el motor y la meta del acrecentamiento que, por su parte, no consiste en algo cuantitativo.

Al acabamiento de la metafísica, es decir al erigirse y consolidarse de la acabada carencia de sentido, no le queda, por lo tanto, más que la extrema entrega al final de la metafísica en la forma de la «transvaloración de todos los valores». En efecto, el acabamiento nietzscheano de la metafísica es en primer lugar una inversión del platonismo (lo sensible se convierte en el mundo verdadero, lo suprasensible en el mundo aparente).¹ Pero en la medida en que, al mismo tiempo, la «idea» platónica, en su forma moderna, se ha convertido en principio de la razón y éste en «valor», la inversión del platonismo se convierte en «transvaloración de todos los valores» [paso 2]. En ella, el platonismo invertido se transforma en ciego endurecimiento y aplanamiento. Ahora sólo existe el plano único de la «vida» que se da a sí misma y por mor de si misma el poder de sí misma. En la medida en que la metafísica comienza expresamente con la interpretación de la entidad como ιδέα, alcanza en la «transvaloración de todos los valores» su final extremo. El plano único es aquello que queda después de la supresión del mundo «verdadero» y del mundo «aparente» y que aparece como lo mismo del eterno retorno y la voluntad de poder.

En cuanto ejecutor de la transvaloración de todos los valores, Nietzsche, sin saber el alcance de este último paso, atestigua su definitiva pertenencia a la metafísica, y con ella su abismal separación de toda posibilidad de otro inicio. ¿Pero no ha impuesto Nietzsche un nuevo «sentido» con la total caducidad y aniquilamiento de los fines e ideales reinantes hasta el momento? ¿No ha anticipado en su pensar al «superhombre» como «sentido» de la «tierra»?”

¹ Hoje, após um distanciamento de aproximadamente 1 ano da leitura do trecho, bem como após intensas leituras em Platão, Aristóteles, Arendt e, atualmente, Jaeger, entre outros, finalmente estou totalmente de acordo com esta afirmação heideggeriana.

CUIDADO CUIDADO CUIDADO comentário temporal à frente * * * Suas definições de malversação foram atualizadas. * * * comentário temporal à retaguarda CUIDADO CUIDADO CUIDADO

O princípio da não-contradição foi contradito.

O princípio dos princípios.

Os dez fechos dos desfechos.

desfaz-se o conto

de fada-

-do ao

fra-cas[s]o

de vida/morte

printemps du gague-yo

y du titoo-be’oh!

insípido tradeusjour

El «superhombre» es para él el acabamiento del último hombre, del hombre existente hasta el momento, es la fijación [Fest-stellung] del animal que hasta ahora no ha sido todavía fijado, del animal que aún sigue dependiente y a la búsqueda de ideales que estén allí delante, de ideales «en sí verdaderos». El superhombre es la más extrema rationalitas en el dar poder a la animalitas, es el animal rationale que llega a su acabamiento en la brutalitas. La carencia de sentido se convierte ahora en el «sentido» del ente en su totalidad. La incapacidad de interrogar el ser decide acerca de qué sea el ente. La entidad es abandonada a sí misma como maquinación desencadenada. Ahora, el hombre no sólo tiene que «arreglárselas» sin «una verdad», sino que la esencia de la verdad queda expulsada al olvido, por lo que todo pasa a referirse a un «arreglárselas» y a algunos «valores».

Pero la época de la acabada carencia de sentido posee más inventiva (sic) y más formas de ocuparse, más éxitos y más vías para hacer público todo ello que cualquier otra época anterior. Por eso tiene que caer en la presunción [la época o Nietzsche?] de haber encontrado y de poder «dar» a todo un «sentido» al que recompensa «servir», con lo que las necesidades de recompensa adoptan un carácter especial. La época de la acabada carencia de sentido impugnará su propia esencia de la manera más ruidosa y violenta. Sin ninguna meditación, buscará refugio en su propio «transmundo» y asumirá la confirmación última de la preponderancia de la metafísica en la forma del abandono del ente por parte del ser [Mein Gott, warum haben Sie mir vergessen?]. La época de la acabada carencia de sentido no está, por lo tanto, aislada. Lleva a su cumplimiento la esencia de una historia oculta, por más arbitrario y desligado que parezca ser el modo en que opera con ella en los caminos de su «historiografía».”

A PIADA DO JOÃOZINHO DA METAFÍSICA

– Mãe, é verdade que uma hora a pedra pára de rolar ladeira abaixo?

E morreu.

ZÉ À ESQUERDA

la carencia de sentido es la consecuencia predeterminada de la validez final [Endgültigkeit] del comienzo de la metafísica moderna

Con el acabamiento de la época moderna la historia se entrega a la historiografía, que tiene la misma esencia que la técnica.”

O universo é um cachorro correndo atrás do próprio rabo. Assim sou eu e a Ursa maior.

ACABAMENTO: “Pero éste no se muestra de ninguna manera a sí mismo, es decir a la conciencia historiográfico-técnica que lo impulsa y asegura, como la solidificación y el final propio de lo ya alcanzado, sino como liberación hacia un continuado alejarse de sí que conduce al acrecentamiento de todo en todo.”

Ecos da Condição Humana (da amante do autor): “Cada cosa factible confirma cada artefacto, todo artefacto clama por la factibilidad, todo actuar y pensar se ha convertido en estatuir cosas factibles.”

Tenemos que deponer la manía de lo poseíble y aprender que algo inusual y único se exige de los venideros.

Aquellos que, afectados por el despejamiento [esvaziamento ou viragem] del rehusarse, sólo quedan desconcertados ante él, no hacen más que huir de la meditación, como alguien que burlado durante demasiado tiempo por el ente se ha vuelto tan extraño al ser que ni siquiera es capaz de desconfiar de él con fundamento. Aún totalmente presos de la servidumbre de la metafísica a la que

presumiblemente se habría apartado hace tiempo, se buscan salidas hacia alguna cosa recóndita y suprasensible. Se huye hacia la mística (la mera imagen contraria de la metafísica) o, puesto que se permanece en la actitud del cálculo, se apela a los «valores». Los «valores» son los ideales definitivamente flexionados hacia lo calculable, los únicos que resultan utilizables para la maquinación: la cultura y los valores culturales como medios de propaganda, los productos del arte como objetos que sirven a la finalidad de mostrar las realizaciones y como material para decorar vehículos en los desfiles. [?]”

la verdad del ser, la insistencia en ella, sólo a partir de la cual mundo y tierra conquistan en la disputa su esencia para el hombre, mientras que éste, en esa disputa, experimenta el enfrentamiento de su esencia al dios del ser. Los dioses habidos hasta ahora son los dioses ya sidos.

Se somete a la preservación de lo venidero. Con esto, lo ya sido del primer inicio se ve constreñido a reposar sobre el abismo [Ab-grund] de su fundamento hasta ahora no fundado y a volverse, sólo así, historia.

La transición no es pro-greso [Fort-schritt], ni tampoco es un deslizarse de lo que ha habido hasta ahora a algo nuevo. La transición es lo que carece de transición, porque pertenece a la decisión de la inicialidad del inicio. Éste no se deja aprehender mediante retrocesos historiográficos ni mediante el cultivo historiográfico de lo recibido. El inicio sólo es en el iniciar. Inicio es: tra-dición [Überlieferung].

«Verdaderamente, mi querido Fichte, no me disgustaría si usted, o quien fuera, quisiera llamar quimerismo a aquello que opongo al idealismo, al que tacho de nihilismo…» (F. H. Jacobi, Werke, t. 3, Leipzig, 1816, p. 44; extraido de: «Jacobi a Fichte», aparecido por primera vez en el otoño de 1799)

la palabra «nihilismo» entró en circulación gracias a Turgueniev para denominar la concepción según la cual sólo el ente accesible en la percepción sensible, es decir experimentado por uno mismo, es real y existente, y niguna otra cosa. Con ello se niega todo lo que esté fundado en la tradición y la autoridad o en cualquier otro tipo de validez. Para esta visión del mundo, sin embargo, se utiliza generalmente la designación «positivismo».

el «Dios cristiano» ha perdido su poder sobre el ente y sobre el destino del hombre. El «Dios cristiano» es al mismo tiempo la representación principal para referirse a lo «suprasensible» en general y a sus diferentes interpretaciones, a los «ideales» y «normas», a los «principios» y «reglas», a los «fines» y «valores» que han sido erigidos «sobre» el ente para darle al ente en su totalidad una finalidad, un orden y —tal como se dice resumiendo— «un sentido». El nihilismo es ese proceso histórico por el que el dominio de lo «suprasensible» caduca y se vuelve nulo, con lo que el ente mismo pierde su valor y su sentido.”

Cada época, cada humanidad, está sustentada por una metafísica y puesta por ella en una determinada relación con el ente en su totalidad y por lo tanto también consigo misma. El final de la metafísica se desvela como el derrumbe del dominio de lo suprasensible y de los «ideales» que surgen de él. El final de la metafísica no significa sin embargo de ninguna manera que cese la historia. Es el comenzar a tomar en serio el «acaecimiento» de que «Dios ha muerto». Este comienzo ya está en marcha. El propio Nietzsche comprende su filosofía como la introducción al comienzo de una nueva época. Prevé que el siglo siguiente, es decir el actual siglo XX, será el comienzo de una época cuyas transformaciones no podrán compararse con las conocidas hasta entonces. Los escenarios del teatro del mundo podrán seguir siendo los mismos durante un cierto tiempo, la obra que se está representando ya es otra.”

El nihilismo en sí acabado y determinante para el futuro puede designarse como «nihilismo clásico».

La expresión «transvaloración de todos los valores habidos hasta el momento» le sirve a Nietzsche, junto a la palabra conductora «nihilismo», como el segundo título capital por medio del cual su posición fundamental metafísica se asigna su lugar y su destinación dentro de la historia de la metafísica occidental.”

La transvaloración piensa por vez primera el ser como valor. Con ella, la metafísica comienza a ser pensamiento de los valores. Forma parte de esta transformación el hecho de que no sólo los valores que había hasta el momento caen presa de una desvalorización sino que, sobre todo, se erradica la necesidad de valores del tipo que había y en el lugar que ocupaban hasta el momento, o sea en lo suprasensible. El modo más seguro de que se produzca la erradicación de las necesidades habidas hasta el momento es mediante una educación que lleve a una creciente ignorancia de los valores válidos hasta el momento, mediante una extinción de la historia que ha habido hasta el momento por la vía de una transcripción de sus rasgos fundamentales.

Ente, tente ir em frente!

A verdade do fenomenólogo não pode ser revelada!

Si la fundación de la verdad acerca del ente en su totalidad constituye la esencia de la metafísica, la transvaloración de todos los valores, en cuanto fundación del principio de una nueva posición de valores, es en sí metafísica.

#pérola “Apenas el poder se detiene en un nivel de poder se vuelve ya impotencia.”

puesto que todo ente en cuanto voluntad de poder, es decir en cuanto sobrepotenciarse que nunca cesa, es un constante «devenir», y este «devenir», sin embargo, no puede nunca en su movimiento salir hacia un fin que esté fuera de sí sino que, por el contrario, encerrado en el acrecentamiento del poder, sólo vuelve constantemente a éste, también el ente en su totalidad, en cuanto es este devenir del carácter del poder, tiene siempre que volver a retornar y a traer lo mismo.

O PULO DO GATO

El eterno retorno de lo mismo proporciona al mismo tiempo la interpretación más precisa del «nihilismo clásico», que ha aniquilado toda meta fuera y por encima del ente. Para este nihilismo, la sentencia «Dios ha muerto» expresa no sólo la impotencia del Dios cristiano sino la impotencia de todo suprasensible a lo que el hombre debiera o quisiera subordinarse. Pero esta impotencia significa el desmoronamiento del orden que reinaba hasta el momento.

Con la transvaloración de todos los valores válidos hasta el momento al hombre se le formula, por lo tanto, la ilimitada exigencia de erigir de modo incondicionado, a partir de sí mismo, por medio de sí mismo y por encima de sí mismo, los «nuevos estandartes» bajo los cuales tiene que llevarse a cabo la institución de un nuevo orden del ente en su totalidad. Puesto que lo «suprasensible», el «más allá» y el «cielo» han sido aniquilados, sólo queda la «tierra». Por consiguiente, el nuevo orden tiene que ser: el dominio incondicionado del puro poder sobre el globo terrestre por medio del hombre; no por medio de un hombre cualquiera, y mucho menos por medio de la humanidad existente hasta el momento, que ha vivido bajo los valores hasta el momento válidos. ¿Por medio de qué hombre entonces?”

el superhombre no es una mera ampliación del hombre que ha existido hasta el momento, sino esa forma sumamente unívoca de la humanidad que, en cuanto voluntad de poder incondicionada, se eleva al poder en cada hombre en diferente grado, proporcionándole así la pertenencia al ente en su totalidad, es decir a la voluntad de poder, y demostrando que es verdaderamente «ente», cercano a la realidad y a la «vida». El superhombre deja simplemente detrás de sí al hombre de los valores válidos hasta el momento, «pasa por encima» de él y traslada la justificación de todos los derechos y la posición de todos los valores al ejercicio de poder del puro poder.

Los cinco títulos capitales citados —«nihilismo», «transvaloración de todos los valores válidos hasta el momento», «voluntad de poder», «eterno retorno de lo mismo», «superhombre»— muestran la metafísica de Nietzsche en cada caso desde un respecto particular, el cual resulta, sin embargo, siempre determinante para el todo. Por eso, la metafísica de Nietzsche es comprendida si y sólo si lo nombrado en los cinco títulos capitales puede pensarse, es decir experimentarse esencialmente, en su copertenencia originaria, por el momento sólo señalada. Qué sea el «nihilismo» en el sentido de Nietzsche sólo puede saberse, por lo tanto, si comprendemos al mismo tiempo y en su conexión, qué es la «transvaloración de todos los valores válidos hasta el momento», qué es la «voluntad de poder», qué es el «eterno retorno de lo mismo», qué es el «superhombre». Por eso, en sentido contrario, partiendo de una comprensión suficiente del nihilismo puede prepararse ya el saber acerca de la esencia de la trasvaloración, de la esencia de la voluntad de poder, de la esencia del eterno retorno de lo mismo, de la esencia del superhombre. Pero un saber tal es estar en el interior del instante que la historia del ser ha abierto para nuestra época.

El saber pensante, en cuanto presunta «doctrina meramente abstracta», no tiene un comportamiento práctico sólo como consecuencia posterior. El saber pensante es en sí mismo una actitud [Haltung] que no es sostenida [gehalten] en el ser por ente alguno sino por el ser.”

El término «nihilismo» permite un uso múltiple. Se puede abusar del título «nihilismo» como una ruidosa consigna [ordem, estância] carente de contenido que tiene a la vez la función de amedrentar, de descalificar y de ocultar al mismo que comete el abuso ocultando su propia falta de pensamiento.[*]”

[*] [Nota do tradutor espanhol] ¡Nacionalsocialismo! [haha]

«nihilismo clásico» como ese nihilismo cuya «clasicidad» consiste en que, sin saberlo, tiene que oponer una extrema resistencia al saber de su esencia más íntima. El nihilismo clásico se descubre entonces como ese acabamiento del nihilismo en el que éste se considera dispensado de la necesidad de pensar precisamente aquello que constituye su esencia: el nihil, la nada, en cuanto velo de la verdad del ser del ente.”

[TAREFA PARA O FUTURO!] CONTRASTAR COM ED. ESCALA (RECAPITULAÇÃO DA INTRODUÇÃO DO LIVRO): “Los fragmentos están numerados de forma correlativa del 1 al 1067, y con la indicación de su número son fáciles de encontrar en las diferentes ediciones. El primer libro —«El nihilismo europeo»— abarca los números del 1 al 134.

Nosotros, hombres de hoy, no sabemos sin embargo la razón por la que lo más interno de la metafísica de Nietzsche no pudo ser hecho público por él mismo sino que pemaneció oculto en su legado; y aún está oculto, aunque ese legado, si bien en una forma muy equívoca, se haya vuelto accesible.

En efecto, este papel de la idea de valor no es en verdad de ningún modo obvio. Lo muestra ya la referencia histórica de que sólo desde la segunda mitad del siglo XIX ha pasado a un primer plano en esa forma explícita, llegando a dominar como si fuera una obviedad. Con demasiada facilidad nos dejamos engañar y rehuimos este hecho porque toda consideración historiográfica se apodera inmediatamente del modo de pensar dominante en su respectivo presente y lo convierte en el hilo conductor siguiendo el cual contempla y redescubre el pasado. Los historiógrafos están siempre orgullosos de estos descubrimientos y no se dan cuenta de que ya habían sido hechos antes de que ellos comenzaran posteriormente su trabajo. Así, apenas surgió la idea de valor comenzó a hablarse, y se sigue aún hablando, de «valores culturales» de la Edad Media y de los «valores espirituales» de la Antigüedad, aunque ni en la Edad Media hubo algo así como «cultura» ni menos aún en la Antigüedad algo así como «espíritu» y «cultura». Espíritu y cultura, como queridos y experimentados modos fundamentales del comportamiento humano, sólo los hay desde la época Moderna, y «valores», como criterios de medida impuestos para tal comportamiento, sólo en la época reciente.

Jakob Wackernagel – Vorlesungen über Syntax [Lecciones de sintaxis], 2ª serie, 2ª ed., 1928, p. 272: «En el alemán nicht(s) […] se encuentra la palabra que en gótico, en la forma waihts, […], sirve para traducir el griego τίποτα.».

El significado de la raíz latina nihil, sobre el cual ya reflexionaron los romanos (ne-hilum), sigue sin aclararse hasta el día de hoy.

¿Y si entonces la pregunta por la esencia de la nada no estuviera aún planteada de modo suficiente con el recurso a aquel «o bien—o bien»? ¿Y si, finalmente, la falta de esta pregunta desplegada por la esencia de la nada fuera el fundamento de que la metafísica occidental tenga que caer en el nihilismo? Entonces, el nihilismo, experimentado y comprendido de manera más originaria y esencial, sería esa historia de la metafísica que conduce hacia una posición metafísica fundamental en la que la nada no sólo no puede sino que ya ni siquiera quiere ser comprendida en su esencia. Nihilismo querría decir entonces: el esencial no pensar en la esencia de la nada. Quizás radique en esto el que el propio Nietzsche se vea obligado a pasar al nihilismo —desde su punto de vista— «acabado». Puesto que reconoce al nihilismo como movimiento, y sobre todo como movimiento de la historia occidental moderna, pero no es capaz, sin embargo, de pensar la esencia de la nada porque no es capaz de preguntar por ella, Nietzsche tiene que convertirse en el nihilista clásico que expresa la historia que ahora acontece. (…) El concepto nietzscheano de nihilismo es él mismo un concepto nihilista. A pesar de todo lo que comprende, no es capaz de reconocer la esencia oculta del nihilismo porque lo comprende de antemano y exclusivamente desde la idea de valor, como el proceso de desvalorización de los valores supremos. Nietzsche tiene que comprender así el nihilismo porque, manteniéndose en la senda y en el ámbito de la metafísica occidental, piensa a esta última hasta su final.

En la idea de valor, la esencia del ser se piensa —sin saberlo— en un respecto determinado y necesario: en su inesencia [Unwesen].

NOSTALGINGÁ – A metafísica do brasileiro-raiz

en la multiplicidad del acontecer falta la unidad que la abarque: el carácter de la existencia no es <verdadero>, es falso…

Los epígrafes cosmología, psicología y teología —o la trinidad naturaleza, hombre, Dios— circunscriben el ámbito en el que se mueve todo el representar occidental cuando piensa el ente en su totalidad en el modo de la metafísica. Por eso, al leer el título «Caducidad de los valores cosmológicos» suponemos inmediatamente que Nietzsche, de los tres ámbitos usuales de la metafísica, destaca uno determinado, el de la cosmología. Esta suposición es errónea. Cosmos no significa aquí «naturaleza» a diferencia del hombre y de Dios, sino que significa lo mismo que «mundo», y mundo es el nombre del ente en su totalidad. Los «valores cosmológicos» no son una determinada clase de valores que están junto a otros del mismo rango o a los que podrían incluso subordinarse. Determinan, por el contrario, «aquello a lo que ella [la vida humana] pertenece, «naturaleza», «mundo», la completa esfera del devenir y lo transitorio» (La genealogía de la moral, Vll, 425; 1887)”

El concepto nietzscheano de psicología podría entenderse más bien en el sentido de una «antropología», si «antropología» quisiera decir: el preguntar filosófico por la esencia del hombre desde la perspectiva de sus referencias esenciales al ente en su totalidad. «Antropología» sería entonces la «metafísica» del hombre. (…) El hecho de que la metafísica se convierta en «psicología», en la cual, ciertamente, la «psicología» del hombre tiene una preeminencia especial, se funda ya en la esencia de la metafísica moderna.”

Por mucha que sea la fuerza con la que Nietzsche se dirija repetidamente contra Descartes, cuya filosofía es la fundación de la metafísica moderna, sólo se dirige contra él porque aún no había puesto al hombre de manera completa y suficientemente decidida como subiectum. La representación del subiectum como ego, como yo, o sea la interpretación «egoísta» del subiectum, no es para Nietzsche aún suficientemente subjetivista. Sólo en la doctrina del superhombre, en cuanto doctrina de la preeminencia incondicionada del hombre dentro del ente, la metafísica moderna llega a la determinación extrema y acabada de su esencia. En esta doctrina Descartes celebra su supremo triunfo. (…) la vía hacia los problemas fundamentales de la metafísica son las [6] Meditationes sobre el hombre como subiectum.”

«Sentido» —podría pensarse— es algo que todo el mundo entiende. Esto es efectivamente así en el círculo del pensar cotidiano y de un opinar aproximativo. Pero apenas se nos llama la atención sobre el hecho de que el hombre busca un «sentido» en todo acontecer, y cuando Nietzsche señala que esta búsqueda de un «sentido» se ve decepcionada, entonces no pueden evitarse las preguntas acerca de qué quiere decir aquí sentido, de en qué medida y por qué busca el hombre un sentido, de por qué no puede aceptar como algo indiferente la eventual decepción que entonces pudiera surgir sino que, por el contrario, resulta afectado, amenazado y hasta quebrantado en su propia existencia consistente.

Aquello ante lo que la voluntad retrocede espantada no es la nada, sino el no querer, la aniquilación de sus propias posibilidades esenciales. El horror ante el vacío del no querer —ese «horror vacui» es el «hecho fundamental de la voluntad humana».Y precisamente de este «hecho fundamental» de la voluntad humana, de que prefiera ser voluntad de nada antes que no querer, saca Nietzsche la prueba de su tesis de que la voluntad es, en su esencia, voluntad de poder (cfr. Genealogía de la moral, VH, 399; 1887).

la vida vivida aquí y ahora junto con sus cambiantes ámbitos, no puede ser negada como real.”

Por consiguiente, las categorías son las palabras metafísicas fundamentales y por ello los nombres de los conceptos filosóficos fundamentales. La circunstancia de que en nuestro pensar corriente y en el comportamiento cotidiano respecto del ente estas categorías, en cuanto interpelaciones, sean dichas de modo tácito, y de que incluso la mayoría de los seres humanos no llegue durante toda su «vida» a experimentarlas, reconocerlas y mucho menos a comprenderlas como tales interpelaciones tácitas, esto, lo mismo que otras cosas similares, no constituye razón alguna para opinar que estas categorías sean algo indiferente, fraguado [forjado] por una filosofía presuntamente «alejada de la vida».

Que el «hombre de la calle» piense que hay un «motor Diesel» porque Diesel lo inventó, es lo normal. No todo el mundo necesita saber que todo ese sistema de invenciones no habría podido dar ni un solo paso si la filosofía, en el instante histórico en que penetró en el ámbito de su in-esencia, no hubiera pensado las categorías de esa naturaleza y no hubiera abierto así previamente el ámbito para la búsqueda y la experimentación de los inventores. Claro que quien sabe acerca de esta auténtica proveniencia de la máquina moderna, no está por ello en condiciones de construir mejores motores; pero quizás esté en condiciones, y quizás sea el único que lo esté, de preguntar qué es esta técnica maquinista dentro de la historia de la relación del hombre con el ser.” “la técnica significa exactamente lo mismo que significa la «cultura» que le es contemporánea.”

El enunciado, enuntiatio, es comprendido luego como juicio. En los diferentes modos del juicio se hallan ocultas las diferentes interpelaciones, las diferentes categorías. Por ello Kant, en su Crítica de la razón pura, enseña que la tabla de las categorías tiene que obtenerse siguiendo el hilo conductor de la tabla de los juicios. Lo que enuncia aquí Kant es —aunque ciertamente en una forma que entretanto se ha modificado— lo mismo que llevó a cabo por primera vez Aristóteles más de dos mil años antes.”

El título ser y pensar es también válido para la metafísica irracional, a la que se llama así porque lleva el racionalismo a su extremo, siendo la que menos se libera de él, del mismo modo en que todo ateísmo tiene que ocuparse de Dios más que el teísmo.”

El hecho de que Nietzsche llame a estos valores supremos «categorías» sin más explicación ni fundamentación y que comprenda a las categorías como categorías de la razón muestra cuán decididamente piensa dentro del cauce de la metafísica.”

Chega de voltas, H., que isto não é G.P.!

Si Nietzsche, por el hecho de comprender a estas categorías como valor, se sale del cauce de la metafísica y se designa entonces con justicia como «antimetafísico», o si sólo lleva la metafísica a su final definitivo y se convierte por ello él mismo en el último metafísico, éstas son cuestiones respecto de las cuales sólo nos encontramos en camino, pero cuya respuesta está ligada de la manera más íntima con la aclaración del concepto nietzscheano de nihilismo.” Meta-ser ou não meta-ser, eis-a-qu-est-ão!

no se trata de una toma de conocimiento historiográfico de sucesos pasados y de sus repercusiones en el presente. Lo que está enjuego es algo que está por delante, algo que todavía está en curso, decisiones y tareas.“No estamos en esta historia como en un espacio indiferente en el que se podrían adoptar a discreción posiciones y puntos de vista. Esta historia es el modo mismo en el que estarnos y nos movemos, el modo mismo en que somos.

pós-içar valores

cu da vaca dos novos tempos

cow-culo

Sólo mediante la transvaloración de todos los valores el nihilismo se vuelve clásico. Lo caracterizan el saber acerca del origen y de la necesidad de los valores y, con ello, el conocimiento de la esencia de los valores válidos hasta el momento. Sólo aquí la idea de valor y el poner valores llegan a sí mismos; no simplemente en el modo en el que un actuar instintivo al mismo tiempo se conoce a sí mismo y ocasionalmente se observa, sino de manera tal que esta conciencia se vuelve un momento esencial y una fuerza motriz de todo actuar. No ocurre solamente que lo que designamos con el equívoco nombre de «instinto» se transforma de algo previamente inconsciente en algo consciente, sino que la consciencia, el calcular y «recalcular psicológico» se convierten en el auténtico «instinto».

Niilismo clássico” como niilismo vindouro (consumado). Bá!

El nihilismo determina la historicidad de esta historia. Por eso, para comprender la esencia del nihilismo no es tan importante contar la historia del nihilismo en cada siglo y describir sus formas. Todo tiene que apuntar en primer lugar a reconocer al nihilismo como legalidad de la historia. Si se quiere comprender esta historia como «decadencia», contando a partir de la desvalorización de los valores supremos, el nihilismo no es la causa de esta decadencia sino su lógica interna: esa legalidad del acontecer que lleva más allá de la mera decadencia y por lo tanto señala ya más allá de ella.”

podre poder ao redor

El pesimismo que nace de la debilidad busca «comprender» todo y explicarlo historiográficamente, disculparlo y dejarlo valer. Para todo lo que sucede ya ha descubierto inmediatamente algo análogo ocurrido anteriormente. El pesimismo como declinación se refugia en el «historicismo». El pesimismo que tiene su fuerza en la «analítica» y el pesimismo que se enreda en el «historicismo» se oponen del modo más extremo.“Por medio de la «analítica» se despierta ya el presentimiento de que la «voluntad de verdad», en cuanto pretensión de algo válido y que sirve de norma, es una pretensión de poder y, en cuanto tal, sólo justificada por la voluntad de poder y como forma de la voluntad de poder. El estado intermedio así caracterizado es el «nihilismo extremo» [!], que reconoce explícitamente y enuncia que no hay verdad [Para além da crença historiográfica].” Não se deixar enganar pelo hiperbolismo da nomenclatura.

En la medida en que el supremo poderío del nihilismo clasico-extático, extremo-activo, no conoce ni reconoce como medida nada fuera y por encima de él, el nihilismo clasico-extático podría «ser un modo de pensar divino» (n. 15).

Pero ¿cómo se llega a esa interpretación del ente, si no surge simplemente como una opinión arbitraria y violenta de la cabeza del desencaminado señor Nietzsche? ¿Cómo se llega al proyecto del mundo como voluntad de poder, dando por supuesto que en tal interpretación del mundo Nietzsche sólo tiene que decir aquello hacia lo que tiende en su curso más oculto una larga historia de Occidente, especialmente la historia de la época moderna? ¿Qué es lo que esencia e impera en la metafísica occidental para que se convierta finalmente en una metafísica de la voluntad de poder?”

En parte bajo la influencia de Nietzsche, la filosofía erudita de fines del siglo XIX y comienzos del XX se convirtió en «filosofía de los valores» y «fenomenología de los valores». Los valores mismos aparecen como cosas en sí que se ordenan en «sistemas». En esta tarea, y a pesar del rechazo tácito de la filosofía de Nietzsche, sus escritos, especialmente el Zaratustra, fueron examinados en busca de tales valores para montar entonces con ellos una «ética de los valores» de modo «más científico» que el «poco científico poeta-filósofo» que era Nietzsche.” Que coisa, meu irmãozinho…

REFÚGIO DO REFUGO: “Se creyó poder enfrentarse al nihilismo volviendo a la filosofía kantiana, lo que no fue, sin embargo, más que un modo de rehuirlo y de renunciar a mirar el abismo que recubre.

Für mich, das ist Deleuze: “sólo mediante la posición el valor se convierte, para el poner la mira en algo, en un «punto» perteneciente a su óptica. Los valores no son, por lo tanto, algo que esté allí delante previamente y en sí, de manera que puedan convertirse ocasionalmente en puntos de vista. El pensar de Nietzsche es lo suficientemente lúcido y abierto como para advertir que el punto de vista sólo se «puntúa» como tal gracias a la «puntuación» de ese mirar. Lo que vale no vale porque sea un valor en sí, sino que el valor es valor porque vale.”

Voluntad de poder es, en la metafísica de Nietzsche, el nombre más pleno para el desgastado y vacío título de «devenir».”

en la determinación de la esencia del valor como condición está aún indeterminado qué condicionan [bedingen] los valores, qué cosa [Ding] convierten en «cosa», si empleamos aquí la palabra «cosa» en el muy amplio sentido de «algo», que no nos obliga a pensar en objetos y cosas palpables. Pero lo que los valores condicionan es la voluntad de poder.”

Este mirar abriéndose a puntos de vista forma parte de la posición de valores. Este carácter de la voluntad de poder de mirar abriendo y atravesando es lo que Nietzsche denomina su carácter «perspectivista». Voluntad de poder es, por lo tanto, en sí misma: poner la mira en más poder; el poner la mira en… es la trayectoria de la visión y de la mirada que atraviesa: la per-spectiva.

Según Leibniz, todo ente está determinado por perceptio y appetitus, por el impulso que lleva en cada caso a poner-delante, a «representar» la totalidad del ente, y a que éste sea sólo y exclusivamente en y como esta repraesentatio. Este representar tiene en cada caso lo que Leibniz denomina un point de vue, un punto de vista. Así dice también Nietzsche: es el «perspectivismo» (la constitución perspectivista del ente) aquello «en virtud de lo cual todo centro de fuerza —y no sólo el hombre— construye desde sí la totalidad del mundo restante, es decir, lo mide, lo palpa, lo conforma de acuerdo con su propia fuerza… (n. 636; 1888. Cfr. XIV, 13; 1884-1885: «Si se quisiera salir del mundo de las perspectivas, se perecería»).

Pero Leibniz no piensa aún los puntos de vista como valores. El pensamiento del valor no es aún tan esencial y explícito como para que los valores puedan pensarse como los puntos de vista de las perspectivas.

Alguns (muitos) homens ainda não põem em xeque a humanidade inteira…

La esencia misma del poder es algo combinado. Lo real así determinado es consistente y, al mismo tiempo, inconsistente. Su consistencia es, por lo tanto, relativa. Por eso dice Nietzsche: «El punto de vista del ‘valor’ es el punto de vista de las condiciones de conservación, de acrecentamiento respecto de formaciones complejas de duración de vida relativa dentro del devenir».

«El valor total del mundo es invalorable, en consecuencia el pesimismo filosófico forma parte de las cosas cómicas» (n. 708; 1887-1888)

Estamos tentados de pasar simplemente por alto este hecho o de catalogar esta interpretación de la historia de la metafísica como la visión historiográfica de la historia de la filosofía que le resultaba más cercana. Estaríamos entonces sólo ante una visión historiográfica junto a otras. Así, en el curso de los siglos XIX y XX la historiografía erudita se ha representado la historia de la filosofía a veces desde el horizonte de la filosofía de Kant o de la filosofía de Hegel, a veces desde el de la Edad Media, aunque con mayor frecuencia, por cierto, desde un horizonte que, gracias a la mezcla de las más diversas doctrinas filosóficas, aparenta una amplitud y una validez universal por la que todos los enigmas desaparecen de la historia del pensamiento.

La metafísica de la voluntad de poder no se agota en poner nuevos valores frente a los válidos hasta el momento. Hace que todo lo que haya sido pensado y dicho hasta entonces sobre el ente en cuanto tal en su totalidad aparezca a la luz del pensamiento del valor. En efecto, incluso la esencia de la historia es determinada de modo nuevo por la metafísica de la voluntad de poder, lo que reconocemos por la doctrina nietzscheana del eterno retorno de lo mismo y su íntima conexión con la voluntad de poder. El tipo de historiografía que se da en cada momento es siempre sólo la consecuencia de una determinación esencial de la historia ya establecida.

si se piensa bien, la transvaloración llevada a cabo por Nietzsche no consiste en que ponga nuevos valores en lugar de los valores supremos válidos hasta el momento, sino en que concibe ya a «ser», «fin» y «verdad» como valores y sólo como valores.

Ni Hegel ni Kant, ni Leibniz ni Descartes, ni el pensamiento medieval ni el helenístico, ni Aristóteles ni Platón, ni Parménides ni Heráclito saben de la voluntad de poder como carácter fundamental del ente.

¿Pero hay en general algo así como una consideración de la historia que no sea unilateral, una consideración que la abarque por todos sus lados? ¿No tiene cada presente que ver e interpretar el pasado desde su círculo visual? ¿No se vuelve «más vivo» su conocimiento historiográfico cuanto más decididamente asume su función directiva el respectivo círculo visual del respectivo presente? El propio Nietzsche, en una de sus obras tempranas, en la segunda de sus Consideraciones intempestivas, bajo el título «De la utilidad y el perjuicio de la historia para la vida», ¿no ha exigido acaso y fundamentado con la mayor insistencia que la historiografía debe servir a la vida, y que sólo puede hacerlo si previamente se libera de la ilusión de una pretendida «objetividad en sí» historiográfica?

Si, además, el fundamento de la concepción nietzscheana de toda metafísica, la interpretación del ente en su totalidad como voluntad de poder, se moviera totalmente en los cauces del pensamiento metafísico anterior y llevara a su acabamiento su pensamiento fundamental, entonces la «imagen de la historia» de Nietzsche estaría en todo aspecto justificada y se mostraría como la única posible y necesaria. Pero en ese caso no habría ya ninguna escapatoria ante la tesis de que la historia del pensar occidental se desarrolla como una desvalorización de los valores supremos y que, de acuerdo con este volverse nulos de los valores y con la caducidad de los fines, es y tiene que volverse «nihilismo».“Hay que mostrar que a la metafísica anterior el pensamiento del valor le era ajeno y tenía que serle ajeno porque aún no podía concebir el ente como voluntad de poder.“la interpretación del ente como voluntad de poder sólo es posible sobre la base de las posiciones metafísicas fundamentales modernas

La referencia al fragmento n. 12B, en el que Nietzsche comenta el origen de nuestra creencia en los valores supremos válidos hasta el momento, no nos hace adelantar nada. En efecto, ese comentario supone que las posiciones de valores provienen de la voluntad de poder. Ésta rige para él como el hecho último al que podemos descender. Lo que para Nietzsche rige con certeza se transforma para nosotros en pregunta. En correspondencia con ello, la derivación que hace del pensamiento del valor también nos resulta problemática.

¿dónde surge el proyecto del ente en su totalidad que lo muestra corno voluntad de poder? Sólo con esta pregunta pensamos en la raíz del origen de la posición de valores dentro de la metafísica.

Al igual que Nietzsche, al igual que Hegel, tampoco nosotros podemos salir de la historia y del «tiempo» y contemplar lo sido en sí, desde una posición absoluta, por así decirlo sin una óptica determinada y por ello necesariamente unilateral. Para nosotros rige lo mismo que para Nietzsche y Hegel, con el agravante de que el círculo visual de nuestro pensamiento quizás ni siquiera alcance la esencialidad y menos aún la grandeza del cuestionamiento de esos pensadores, por lo que nuestra interpretación de la historia, en el mejor de los casos, quedará detrás de las ya alcanzadas.

SALOMON MOIRA ESTÁ MORTO: TUDO PODE SER DITO PELA PRIMEIRA VEZ, TUDO NOVO SOB O SOL. Ou, antes, “tudo”, “novo”, “sob” e mesmo “o sol” são indiferentes agora. Talvez.

La pregunta por la verdad de la «imagen de la historia» tiene mayor alcance que la pregunta por la corrección y el cuidado historiográfico en la utilización e interpretación de las fuentes.

El hombre que se ajusta a los ideales y aspira a cumplirlos con diligencia es el hombre virtuoso, el hombre idóneo, es decir, el «hombre bueno». En el sentido de Nietzsche, esto significa: el hombre que se quiere a sí mismo como este «hombre bueno» erige por encima de él ideales suprasensibles que le ofrecen algo a lo que puede someterse para, en el cumplimiento de esos ideales, asegurarse a sí mismo una meta de la vida.

QUAL É O MEU SUMO BEM?

O mesmo desde que eu nasci e até que eu morra.

La voluntad que quiere el «hombre bueno» y sus ideales es una voluntad de poder de esos ideales y con ello una voluntad de impotencia del hombre. La voluntad que quiere el «hombre bueno» y el «bien», entendido en ese sentido, es la voluntad «moral».

O PROBLEMA “GRAÇA” OU “A VIDA COMO ELA É ENTRE OS QUE NÃO SÃO (COMO VIVER ENTRE SUB-CIBORGUES)”

Não se aceita nenhum desafio explícito. Não há desafio explícito, porque ele é automaticamente a loucura e a própria derrota. A conduta forte e silenciosa. Nenhuma oposição sublunar. Apenas platônica, he-he. Poética. Quantas são as pessoas que não acreditam no Um? Você não está Soz1nho… A vingança e o troco só existem quando eles constituem o ANEL DA MISSÃO… É mais uma questão filosófica do que ceder a qualquer impulso vermelho-sangue…

Como num sonho, todas as cabeças se voltam para mim. Para não é contra, se pensar bem… O que sobra quando todos os zumbis de um galpão terminaram de devorar o último dos homens? Começa o verdadeiro canibalismo…

Eu sempre vou combater o mal radical sem nome…

UMA PROMESSA: Nem que eu fosse o Michael Schumacher, acreditar num Além… Não ter conserto ou solução temporária no plano provisório (na existência!) não significa que ela seja fútil ou que devamos deserdar… O mais difícil, sobretudo quando isto é digitado no ar-condicionado e serenado…

Se eu não puder dar a volta por cima, eu tento por baixo ou pelos lados… Seria esse o Bach final a que todos esperam?

* * *

incluso en el significado metafísico, hay «moral» y «moral» para Nietzsche. Por un lado, en el sentido más amplio, significa todo sistema de estimaciones y relaciones de valor; aquí se la entiende de manera tan amplia que incluso pueden llamarse «morales» las nuevas posiciones de valor, simplemente porque ponen las condiciones de la vida. Por otro, en cambio, y por lo general, moral designa para Nietzsche el sistema de aquellas estimaciones de valor que incluye en sí la postulación de valores supremos incondicionados en el sentido del platonismo y del cristianismo. La moral es la moral del «hombre bueno», que vive de y en la oposición con el «mal», y no «más allá del bien y del mal». En la medida en que su metafísica está «más allá del bien y del mal» y en que previamente trata de constituir y de ocupar este lugar como posición fundamental, Nietzsche puede designarse a sí mismo como «inmoralista».

O super-homem quer ser a medida de todas as mais-que-coisas.

Si la ingenuidad consiste en no saber que el origen de los valores está en que son puestos por los propios hombres en términos de poder, ¿cómo puede ser una «ingenuidad hiperbólica» «ponerse a sí mismo como sentido y medida del valor de las cosas»? Esto último es algo totalmente diferente de la ingenuidad. Es la suma consciencia del hombre que se apoya sobre sí mismo, es explícita voluntad de poder y de ningún modo impotencia de poder. Si tuviéramos que comprender la afirmación de ese modo, Nietzsche estaría diciendo: la «ingenuidad hiperbólica» consiste en no ser en absoluto ingenuo. No podemos atribuirle tamaña insensatez. ¿Qué dice entonces la afirmación? De acuerdo con la determinación que hace Nietzsche de la esencia de los valores, incluso aquellos que se ponen desconociendo el origen de los valores tienen que surgir de las posiciones humanas, es decir, de modo tal que el hombre se ponga a sí mismo como sentido y medida del valor: la ingenuidad no consiste en que el hombre ponga los valores y actúe como sentido y medida del valor. El hombre es ingenuo en la medida en que pone los valores como la «esencia de las cosas» que recae sobre él, sin saber que es él que las pone y que lo que las pone es una voluntad de poder.” “con el despertar y desarrollarse de la autoconciencia del hombre, no puede quedar constantemente oculto; resulta que, con el creciente conocimiento del origen de los valores, tiene que caducar la creencia en ellos. Pero el conocimiento del origen de los valores, de la posición humana de los valores y de la humanización de las cosas no puede detenerse en que, después del desvelamiento de tal origen y de la caducidad de los valores, el mundo aparezca como carente de valor.

Se le suele reprochar con frecuencia a Nietzsche que su imagen del superhombre es indeterminada, que esta figura del hombre es inaprensible. Se llega a estos juicios sólo porque no se comprende que la esencia del super-hombre consiste en «superar» el hombre tal como es hasta el momento.

QUADRO TEUTÔNICO ASSUSTADOR E NEFASTO: “El superhombre, en cambio, no precisa ya ese «sobre» y ese «más allá», porque quiere únicamente al hombre mismo, y lo quiere no en cualquier respecto particular sino absolutamente, como señor de la ejecución incondicionada del poder con los medios de esta tierra exhaustivamente explotados.(*) (…) El poder incondicionado es el puro sobrepotenciar como tal, el incondicionado sobrepasar, estar encima y poder ordenar, lo único y lo más elevado.

Las inadecuadas exposiciones que se han hecho de la doctrina nietzscheana del superhombre tienen siempre su única razón en que hasta ahora no se ha sido capaz de tomar en serio como metafísica a la filosofía de la voluntad de poder y de comprender las doctrinas del nihilismo, del superhombre y, sobre todo, del eterno retomo de lo mismo de modo metafísico como componentes esenciales necesarios, es decir, de pensarlas desde la historia y la esencia de la metafísica occidental.

(*) Onde raios Nietzsche diz isto em sua obra? Seria uma hiperingênua interpretação do “amor à terra” de Zaratustra?

La realidad de lo real es el ser representado por medio del sujeto representante y para éste. La doctrina nietzscheana que convierte todo lo que es y tal como es en «propiedad y producto del hombre» no hace más que llevar a cabo el despliegue extremo de la doctrina de Descartes por la que toda verdad se funda retrocediendo a la certeza de sí del sujeto humano. Más aún, si recordamos que ya en la filosofía griega anterior a Platón un pensador, Protágoras, enseñó que el hombre era la medida de todas las cosas, parece en efecto que toda la metafísica, no sólo la moderna, está construida sobre el papel determinante del hombre dentro del ente en su totalidad.

Así hay, hoy en día, una concepción conocida por todos, la concepción «antropológica», que exige que se interprete el mundo a la imagen del hombre y que se suplante la metafísica por la «antropología». En todo ello ya se ha tomado una particular decisión acerca de la relación del hombre con el ente en cuanto tal.

¿Qué ocurre con la metafísica y su historia respecto de esta relación? Si la metafísica es la verdad sobre el ente en su totalidad, ciertamente el hombre también formará parte del ente en su totalidad. Incluso habrá que admitir que el hombre asume un papel especial en la metafísica en la medida en que es quien busca, desarrolla, fundamenta y conserva el conocimiento metafísico, quien lo transmite, y también lo deforma. Esto, sin embargo, no da de ninguna manera

derecho a considerar al hombre la medida de todas las cosas, a distinguirlo como el centro de todo el ente y a ponerlo como señor del mismo. Podría opinarse que la sentencia del pensador griego Protágoras acerca del hombre como medida de todas las cosas, la doctrina de Descartes del hombre como «sujeto» de toda objetividad y el pensamiento de Nietzsche del hombre como «productor y propietario» de todo el ente son quizás sólo exageraciones y casos extremos de determinadas posiciones metafísicas, y no algo que tenga

el carácter mesurado y equilibrado de un saber auténtico. De acuerdo con ello, estos casos excepcionales no deberían convertirse en la regla de acuerdo con la cual se ha de determinar la esencia de la metafísica y de su historia.

Esta opinión podría admitir también que las tres doctrinas, provenientes de la época griega, del comienzo de la modernidad y de nuestro presente respectivamente, señalarían de una manera confusa el hecho de que en épocas totalmente diferentes y en diversas situaciones históricas siempre vuelve a surgir, y cada vez con más fuerza, la doctrina según la cual todo ente es lo que es sólo sobre la base de una humanización por parte del hombre. Esta opinión podría por último preguntarse: ¿por qué la metafísica no ha de afirmar por fin sin reparos el incondicionado papel de dominador del hombre, hacer de él el principio definitivo de toda interpretación del mundo y poner un fin a todas las recaídas en ingenuas visiones del mundo? Si esto ocurre con razón y en el sentido de toda metafísica, el «antropomorfismo» de Nietzsche no hace más que expresar sin tapujos, como verdad, lo que en la historia de la metafísica ya ha sido pensado y exigido en épocas tempranas, y posteriormente de modo recurrente, como principio de todo pensar.

Para ganar, frente a esta opinión, una visión más libre de la esencia de la metafísica y de su historia, es aconsejable en primer lugar pensar a fondo las doctrinas de Protágoras y de Descartes en sus rasgos fundamentales. Al hacerlo tenemos necesariamente que pasar revista a aquella esfera de preguntas que nos acerca de modo más originario la esencia de la metafísica en cuanto verdad sobre el ente en su totalidad y nos permite reconocer en qué sentido la pregunta «¿qué es el ente en cuanto tal y en su totalidad»? es la pregunta conductora de toda metafísica. Ya el título de la obra capital de Descartes muestra de qué se trata: Meditationes de prima philosophia (1641), «Meditaciones sobre la filosofía primera». La expresión «filosofía primera» procede de Aristóteles y designa aquello que constituye en primer lugar y de manera propia la tarea de lo que recibe el nombre de filosofía. La (caracteres gregos) trata la pregunta primera por su rango y que domina a todas las otras: qué es el ente, en cuanto que es un ente. Así, el águila, por ejemplo, en cuanto que es un pájaro, es decir, un ser viviente, es decir algo presente desde sí mismo. ¿Qué distingue al ente en cuanto ente?

Sin embargo, parece que entretanto, con el cristianismo, se ha respondido definitivamente a la pregunta acerca de qué es el ente y eliminado así la pregunta misma, y todo esto desde un lugar que es esencialmente superior al opinar y al errar contingentes del hombre. La revelación bíblica, que según ella misma lo indica se apoya en la inspiración divina, enseña que el ente ha sido creado por el Dios creador personal y es conservado y dirigido por él. Gracias a la verdad revelada, proclamada como absolutamente vinculante por la doctrina de la Iglesia, aquella pregunta —qué es el ente— se ha vuelto superflua. El ser del ente consiste en su ser creado por Dios (omne ens est ens creatum). Si el conocimiento humano quiere experimentar la verdad sobre el ente sólo le queda, como único camino confiable, recoger y conservar fervientemente la doctrina de la revelación y su tradición por parte de los doctores de la Iglesia. La auténtica verdad es transmitida sólo por la doctrina de los doctores. La verdad tiene el carácter esencial de «doctrina». El mundo medieval y su historia están construidos sobre esta doctrina. La única forma adecuada en la que puede expresarse de modo completo el conocimiento en cuanto doctrina es la «summa», la reunión de escritos doctrinales en los que la totalidad del contenido doctrinal transmitido y las diferentes opiniones doctrinales son examinadas, empleadas o rechazadas en función de su concordancia con la doctrina eclesiástica. [A diferença entre a apoteose da Escolástica – um São Tomás – e um panfleto vulgar como o Mallevs é menor do que se pensa!]

Los que tratan de este modo acerca de qué es el ente en su totalidad son «teólogos». Su «filosofía» sólo tiene de filosofía el nombre, porque una «filosofía cristiana» es un contrasentido aún mayor que la idea de un círculo cuadrado. El cuadrado y el círculo todavía concuerdan en que son figuras espaciales, mientras que la fe cristiana y la filosofía son abismalmente diferentes. Incluso si quisiera decirse que en ambos casos se enseña la verdad, lo que quiere decir verdad es totalmente diferente. El hecho de que los teólogos medievales a su manera, es decir cambiándoles el sentido, estudiaron a Platón y a Aristóteles es equivalente a la utilización de la metafísica de Hegel por parte de Karl Marx para su cosmovisión política. Pero bien mirado, la doctrina christiana no quiere transmitir un saber sobre el ente, sobre lo que éste es, sino que su verdad es por completo una verdad de salvación. Se trata del aseguramiento de la salvación de las almas inmortales individuales. Todos los conocimientos están referidos al orden de la salvación y están al servicio del aseguramiento y la promoción de la misma. Toda historia se convierte en historia de la salvación: creación, pecado original, redención, juicio final. Así también queda establecido de qué único modo (es decir con qué único método) tiene que determinarse y transmitirse lo que es digno de saberse. A la doctrina le corresponde la schola (la instrucción); por eso los doctores de la doctrina de la fe y la salvación son «escolásticos». (…) Se asume el pensamiento esencialmente cristiano de la certeza de la salvación, pero la «salvación» no es ya la bienaventuranza eterna del más allá; el camino que conduce a ella no es la negación de sí. Se busca lo salvífico y saludable exclusivamente en el libre autodespliegue de todas las capacidades creativas del hombre. Por eso surge la pregunta de cómo puede conquistarse y fundamentarse una certeza acerca del ser hombre y del mundo que es buscada por el hombre mismo para su vida aquí. (…) Pasa a un primer plano la pregunta por el «método», es decir la pregunta por el «camino a tomar», la pregunta acerca de cómo conquistar y fundamentar una seguridad fijada por el hombre mismo. No hay que comprender aquí «método» en sentido «metodológico», como modo de exploración e investigación, sino en sentido metafísico, como camino hacia una determinación esencial de la verdad que sea fundamentable exclusivamente por medio de las facultades del hombre.

Tampoco es casual que los títulos de las obras filosóficas principales de Descartes remitan a la preeminencia del método: Discours de la méthode; Regulae ad directionem ingenii; Meditationes de prima philosophia (no simplemente «Prima philosophia»); Les principes de la philosophie (Principia philosophiae).

El hombre se convierte en el fundamento y la medida [II], puestos por él mismo, de toda certeza y verdad. Si llegamos por el momento sólo hasta este punto en la reflexión sobre la proposición de Descartes, nos vendrá inmediatamente a la memoria la sentencia de Protágoras, el sofista griego de la época de Platón. De acuerdo con esa sentencia, el hombre es la medida de todas las cosas. Siempre se pone la proposición de Descartes junto con la sentencia de Protágoras y se ve en ésta, así como en la sofística griega en general, una anticipación de la metafísica moderna de Descartes; en efecto, en ambos casos se expresa de manera casi palpable la preeminencia del hombre. (…) Sólo la diferencia entre ambas nos permitirá dirigir una mirada hacia lo mismo que ellas dicen. Este mismo es el suelo sólo desde el cual comprenderemos suficientemente la doctrina nietzscheana del hombre como legislador del mundo y reconoceremos el origen de la metafísica de la voluntad de poder y del pensamiento del valor incluido en ella.

«Medida de todas las cosas es el hombre, de las que son en cuanto que son, de las que no son en cuanto que no son» intentaremos en primer lugar una traducción que sea más adecuada al pensamiento griego.

«De todas las ‘cosas’ (de aquellas que el hombre tiene en utilización y en uso y, por lo tanto, contínuamente a su alrededor: es el (respectivo) hombre la medida, de las presentes de que presencien tal como presencian, de aquellas, en cambio, a las que les es rehusado presenciar, de que no presencien.» [Arendt ecoa]

Platón: «¿No lo comprende (Protágoras) de cierto modo así: tal como algo se me muestra en cada caso, de ese aspecto es para mí; tal como se aparece a ti, así es a su vez para ti? ¿Pero hombre eres tanto tú como yo?» Por lo tanto, «el hombre» es aquí el «respectivo» hombre (yo y tú y él y ella); cualquiera puede decir «yo»; el respectivo hombre es el respectivo «yo». Pero con esto se atestigua entonces de antemano —casi hasta en las palabras mismas— que se trata del hombre comprendido «yoicamente», que el ente en cuanto tal se determina de acuerdo con la medida proporcionada por el hombre así definido, que por consiguiente tanto aquí como allí, en Protágoras y en Descartes, la verdad sobre el ente tiene la misma esencia, considerada y medida por medio del «ego»

Por qué y hasta qué punto la mismidad del hombre, el concepto de ser, la esencia de la verdad y el modo en que se da la medida determinan de antemano una posición metafísica fundamental, sostienen a la metafísica en cuanto tal y la convierten en la estructura del ente mismo, todo esto no puede ya preguntarse desde la metafísica y por intermedio de la metafísica.

El hombre percibe lo presente en el entorno de su percibir. Este presente se mantiene en cuanto tal y de antemano en un ámbito de accesibilidad, ya que este ámbito es un ámbito de desocultamiento. La percepción de lo presente se funda en el permanecer de éste en el interior del ámbito del desocultamiento.

Nosotros, hombres de hoy, y algunas generaciones antes de nosotros, hace tiempo que hemos olvidado este ámbito del desocultamiento del ente y sin embargo recurrimos constantemente a él. Opinamos que un ente se vuelve accesible por el hecho de que un yo, en cuanto sujeto, representa un objeto. ¡Como si para ello no tuviera que imperar previamente una dimensión abierta, dentro de cuya apertura pueda volverse accesible algo como objeto para un sujeto y pueda la accesibilidad misma ser recorrida como algo experimentable! Los griegos, en cambio, aunque de modo suficientemente indeterminado, sabían de este desocultamiento, entrando en el cual el ente presencia y que de cierto modo lleva a éste consigo. A pesar de todo lo que se ha acumulado desde entonces entre los griegos y nosotros en cuanto a interpretación metafísica del ente, podemos recordar este ámbito de desocultamiento y experimentarlo como aquello en lo que reside nuestro ser hombre. Es posible atender de modo suficiente al desocultamiento sin que volvamos a ser y pensar de modo griego. Por demorarse en el ámbito de lo desoculto el hombre pertenece a un entorno fijo formado por lo que le es presente. Por la pertenencia a este entorno se asume al mismo tiempo un límite frente a lo no presente. Aquí, por lo tanto, el sí mismo del hombre queda determinado como el respectivo «yo» por la limitación a lo desoculto que lo rodea. La limitada pertenencia al entorno de lo desoculto contribuye a constituir el ser sí mismo del hombre. El hombre se convierte en [grego] por la limitación, y no por un volverse ilimitado en el modo de que el yo que se representa a sí mismo se eleve previamente a medida y centro de todo el ente. «Yo» es para los griegos el nombre para el hombre que se inserta en esta limitación y de ese modo, cabe sí, es él mismo.

Protágoras: «Acerca de los dioses no estoy en condiciones de saber algo (esto quiere decir, en griego: de recibir en la ‘visión’ algo desoculto), ni de que son ni de que no son, ni de cómo son en cuanto a su aspecto, pues es múltiple lo que impede percibir el ente como tal; tanto el no revelarse (es decir el ocultamento – Heid.) del ente como la brevedad de la historia del hombre»

El modo en el que Protágoras determina la relación del hombre respecto del ente no hace más que recalcar [ressaltar, assumir] la limitación del desocultamiento del ente al respectivo entorno de la experiencia que se hace del mundo. Esta limitación presupone que impera el desocultamiento del ente, más aún, que ese desocultamiento ya ha sido experimentado como tal y elevado al saber como carácter fundamental del ente mismo. Esto ocurrió en las posiciones metafísicas fundamentales de los pensadores del inicio de la filosofía occidental: en Anaximandro [apeiron], Heráclito y Parménides. La sofistica, dentro de la que se cuenta a Protágoras como su principal pensador, sólo es posible sobre la base y como un derivado de la interpretación griega del ser como presencia y de la determinación griega de la esencia de la verdad como desocultamiento.

MAIS AQUÉM DA SUPERAÇÃO DO CETICISMO: “Aquí no hay en ningún lado la menor huella de que se piense que el ente en cuanto tal tenga que regirse por el yo basado sobre sí mismo como sujeto, de que este sujeto sea el juez de todo ente y de su ser, y de que, gracias a esa función judicial, decida desde la certeza incondicionada sobre la objetividad de los objetos.” // MAIS AQUÉM DA SUPERAÇÃO DA FÉ COMO ‘ALGO DADO’: “Aquí, por último, tampoco hay huella de ese proceder de Descartes que intenta incluso demostrar como incondicionalmente cierta la esencia y la existencia de Dios.

Protágoras definiu o eu negativamente. Mas em Descartes falta o caos originário. Há demasiada luz, sem escuridão.

A miragem no deserto pode ser o que eu quiser. Pode ser nada. Mas há areia e céu no nada.

Puesto que hasta ahora la dependencia y el alejamiento nunca habían sido claramente distinguidos, ha sido posible que volviera siempre a introducirse furtivamente el engaño de que Protágoras sería de algún modo el Descartes de la metafísica griega [quem sabe o Hume]; así como también ha sido posible aducir que Platón sería el Kant de la filosofía griega y Aristóteles su Tomás de Aquino [!!].

Pero tampoco la determinación moderna del hombre como «sujeto» es tan unívoca como podría hacernos creer engañosamente el uso corriente de los conceptos «sujeto», «subjetividad», «subjetivo», «subjetivista».

seria comico se nao fosse comigo

nao é, senhor conego?

¿Cómo llega el hombre al papel de auténtico y único sujeto? ¿Por qué este sujeto humano se traslada al «yo», de manera tal que subjetividad se torna equivalente a yoidad? ¿Se determina la subjetividad por la yoidad o, a la inversa, ésta por aquélla?

De acuerdo con su concepto esencial, «subiectum» es lo que en un sentido destacado está ya siempre delante de y, por lo tanto, a la base de otro, siendo de esta forma fundamento. Del concepto esencial de «subiectum» tenemos que mantener alejado en un primer momento el concepto de hombre y, por lo tanto, también los conceptos de «yo» y de «yoidad». Sujeto —lo que yace delante desde sí mismo— son las piedras, las plantas y los animales no menos que el hombre. Nos preguntamos: ¿de qué está a la base el subiectum cuando en el comienzo de la metafísica moderna el hombre se vuelve sujeto en sentido destacado?”

La pregunta «¿qué es el ente?» se transforma en pregunta por el fundamentum absolutum inconcussum veritatis, por el fundamento incondicional e inquebrantable de la verdad. Esta transformación es el comienzo de un nuevo pensar por el que la época se vuelve una época nueva y la edad que le sigue se vuelve edad moderna.”

Si decimos, por ejemplo, radicalizando, que la nueva libertad consiste en que el hombre se da la ley a sí mismo, elige lo que es vinculante y se vincula a ello, hablamos ya en el lenguaje de Kant y acertamos, sin embargo, con lo esencial del comienzo de la época moderna, que conquista su figura histórica propia con una posición metafísica fundamental para la que la libertad se torna esencial de un modo peculiar (…) El mero desprenderse, el mero arbitrio, no son nunca más que el lado oscuro de la libertad, mientras que su lado luminoso es la reivindicación de algo necesario como aquello que vincula y sustenta. Ambos «lados» no agotan, sin embargo, la esencia de la libertad, y ni siquiera dan con su núcleo. (…) La nueva libertad, vista metafísicamente, es la apertura de una multiplicidad de aquello que en el futuro pueda y quiera ser puesto a sabiendas por el hombre mismo como necesario y vinculante. (…) el esencial dar poder al poder sólo es posible como realidad fundamental en la historia de la época moderna y como esa historia.”

No se trata, por lo tanto, de que ya en épocas anteriores hubiera poder y de que en un cierto momento, digamos desde Maquiavelo, se hubiera impuesto de manera unilateral y exagerada, sino que el <poder>, rectamente entendido en su sentido moderno, es decir, como voluntad de poder, sólo se vuelve metafísicamente posible como historia moderna.” Só que Heidegger não entendeu o que é <poder>!

la comparación historiográfica obstruye el camino a la historia.” Dessa perspectiva, qualquer genealogia é impossível. Ou então deveria haver uma nova palavra para uma genealogia tão perfeita e honesta que “abarcasse” o outro-ponto-de-vista, supondo que isso fosse possível, de nossa situação histórica (que o moderno pode compreender como era o grego não seria mera empáfia ou superstição?).

Genealogia da democracia na Antiguidade: ela nasceu da sua cabeça.

Que en el desarrollo de la historia moderna el cristianismo siga existiendo, que contribuya a impulsar este desarrollo bajo la figura del protestantismo, que se haga valer en la metafísica del idealismo alemán y del romanticismo, que se reconcilie con las respectivas épocas reinantes, con las correspondientes transformaciones, asimilaciones y compensaciones, y que aproveche las respectivas conquistas modernas para fines eclesiásticos, todo esto demuestra con más fuerza que en nada tán decididamente ha perdido el cristianismo su fuerza medieval, su fuerza conformadora de historia. Su significación histórica ya no radica en lo que es capaz de configurar sino en que, desde el comienzo de la época moderna y a lo largo de toda ella, es continuamente aquello contra lo cual tiene que distinguirse, expresamente o no, la nueva libertad. La liberación respecto de una certeza de salvación de tipo revelado es, en sí, una liberación hacia una certeza en la que el hombre pueda estar, por sí mismo, seguro de su determinación y de su tarea. El aseguramiento del supremo e incondicionado autodespliegue de todas las capacidades de la humanidad en dirección del incondicionado dominio de toda la tierra es el oculto acicate que impulsa al hombre moderno a salidas cada vez más nuevas y más absolutamente nuevas, y lo obliga a establecer vínculos que le pongan en seguro el aseguramiento de su proceder y la seguridad de sus metas. Por eso, lo que es puesto a sabiendas como vinculante aparece bajo numerosas formas y enmascaramientos.” Mas, sr. Heid. (contra os insetos), de que fragmento (nietzschiano, por favor!) o sr. tirou que é a nova “pedra-de-toque” do homem o “incondicionado domínio de toda a Terra”?!?!

Lo vinculante puede ser: la razón humana y su ley propia (iluminismo), o lo real, lo factico instituido y ordenado desde esa razón (positivismo). Lo vinculante puede ser: la humanidad armónicamente estructurada en todas sus configuraciones y llevada a su forma bella (la humanidad del clasicismo). Lo vinculante puede ser: el despliegue de poder de la nación que se basa en sí misma o los «proletarios de todos los países» o pueblos y razas determinados. Lo vinculante puede ser: un desarrollo de la humanidad en el sentido del progreso de una racionalidad al alcance de todo el mundo. Lo vinculante también puede ser: «los gérmenes ocultos de la época respectiva», el despliegue del «individuo», la organización de las masas, o ambas cosas; o, por último, la creación de una humanidad que no encuentre su figura esencial ni en el «individuo» ni en la «masa» sino en el «tipo». Pero el carácter único del «tipo» consiste en una clara recurrencia de la misma impronta, la cual no admite, sin embargo, una monótona uniformización sino que exige una peculiar ordenación jerárquica. En el pensamiento nietzscheano del superhombre no se piensa anticipadamente un determinado «tipo» de hombre sino, por vez primera, el hombre en la figura esencial del «tipo». Son sus modelos la organización militar prusiana y la orden jesuítica[?], las cuales están dirigidas a un peculiar acoplamiento de sus respectivas esencias, acoplamiento en el que su original contenido histórico puede ser en gran medida desechado.”

[?] Doravante, o sublinhado é o altamente contestável das novas conclusões de Heidegger (quando ele tenta ir além do além do bem e do mal, i.e., além do trabalho/legado nietzschiano, mas recai no aquém).

En el aspecto decisivo, hablar de «secularización» constituye un extravío irreflexivo; en efecto, para la «secularización», para la «mundanización», hace falta ya un mundo en dirección del cual y entrando en el cual se produce la mundanización. Pero el «saeculum», ese «mundo» a través del cual se «seculariza» en la tan invocada «secularización», no existe en sí o de manera tal que pudiera realizarse ya por el simple hecho de salir del mundo cristiano.

Descartes pensó por adelantado este fundamento en un sentido auténticamente filosófico, es decir desde necesidades esenciales, no como un adivino que predice lo que luego sucede sino adelantándose en el sentido de que lo pensado por él quedó como fundamento para lo que vino después. Profetizar no es la función de la filosofía, pero tampoco hacer de sabelotodo que va cojeando detrás de los acontecimientos. Al entendimiento común le place difundir una opinión según la cual la filosofía sólo tendría la tarea de, corriendo siempre detrás, aprehender una época, su pasado y su presente, en pensamientos y en los llamados conceptos, o incluso integrarla en un «sistema». Se cree que, atribuyéndole esa tarea, se le ha rendido a la filosofía un particular homenaje.” Nietzsche é o escancaramento inaudito de que às vezes está-se 300 anos à frente dos contemporâneos, não por ser profeta, mas porque seu presente (desocultado) já alcança esses horizontes que ainda tateamos tão arduamente… Talvez se pudesse dizer o mesmo de Platão, mas na Grécia Antiga seria absurdo falar em “um homem à frente de seu tempo”…

Esta determinación de la filosofía no es válida ni siquiera respecto de Hegel, cuya posición metafísica fundamental encierra aparentemente este concepto de filosofía; en efecto, la filosofía de Hegel, que en un respecto era un acabamiento, sólo lo era en cuanto pensaba por adelantado los ámbitos en los que se movería posteriormente la historia del siglo XIX. Que este siglo haya tomado posición contra Hegel en un nivel que se encuentra por debajo de la metafísica hegeliana (el nivel del positivismo) sólo es, pensado metafísicamente, la prueba de que se tornó completamente dependiente de él y sólo con Nietzsche transformó esa dependencia en una nueva liberación.”

Descartes: “la verdad consiste en que la verdad es ahora «certeza»”

Escalando a torre do bem e do mal.

La posición que adopta Nietzsche frente a Descartes se enreda también en estos equívocos, lo que tiene su razón en que Nietzsche se encuentra bajo la ley de esta proposición, y esto quiere decir, de la metafísica de Descartes, de una manera más inevitable que cualquier otro pensador moderno antes de él. Se cae en el engaño provocado por la historiografía, que puede constatar fácilmente que entre Descartes y Nietzsche hay dos siglos y medio. La historiografía puede señalar que Nietzsche ha defendido ostensiblemente otras «doctrinas» y que se ha opuesto incluso a Descartes con gran acritud.

Se um mesmo grande filósofo se revisaria e tiraria conclusões parecidas com os sucedâneos que viveram, teríamos mais segurança de afirmá-lo caso houvesse de fato um Homem Tricentenário. Mas levando em conta que vampiros da ficção são tão imaturos apesar da idade milenar… O auge continuaria sendo entre os 20 e os 50?!?

Nosotros tampoco opinamos que Nietzsche enseñe algo idéntico a Descartes, sino que afirmamos ante todo algo mucho más esencial: que piensa lo mismo en su acabamiento histórico esencial. Lo que metafísicamente tiene su principio con Descartes comienza con Nietzsche la historia de su acabamiento. El arranque de la época moderna y el comienzo de la historia de su acabamiento son, sin embargo, extremadamente diferentes, por lo que para el calcular historiográfico tiene que surgir naturalmente la apariencia —que por otro lado tiene razón de ser— de que, frente a la desgastada época moderna, comienza con Nietzsche una época novísima. Esto es, en un sentido más profundo, completamente verdadero, y sólo dice que la diferencia entre las posiciones metafísicas fundamentales de Descartes y Nietzsche que puede registrarse historiográficamente, es decir de un modo exterior, es para una reflexión histórica, es decir para una reflexión que piensa en dirección de decisiones esenciales, el síntoma más claro de una mismidad en lo esencial.

Ego cogito (ergo) sum: «pienso, luego soy». La traducción es literalmente correcta. Esta correcta traducción parece brindar también la comprensión correcta de la «proposición». «Pienso»: con este enunciado se constata un hecho; «luego soy»: con estas palabras, de un hecho que se ha constatado se infiere que yo soy. Basándose en esta concluyente inferencia uno puede quedarse tranquilo y satisfecho de que así ha quedado «demostrada» mi existencia. Aunque para esto no hacía falta incomodar a un pensador del rango de Descartes. Lo que éste quiere decir es, en realidad, algo diferente. Pero lo que quiere decir sólo podremos repensarlo si llegamos a tener claro lo que Descartes entiende por cogito, cogitare.

Traducimos cogitare por «pensar» y quedamos convencidos de que ya está claro lo que Descartes quiere decir con cogitare. Como si supiéramos inmediatamente lo que quiere decir «pensar» y, sobre todo, como si pudiéramos estar seguros de que con nuestro concepto de «pensar», tomado quizá de algún manual de «lógica», acertamos con aquello que Descartes quiere decir con la palabra «cogitare». En importantes pasajes, Descartes utiliza para cogitare la palabra percipere (per-cipio): tomar en posesión algo, apoderarse de una cosa, aquí en el sentido de re-mitir-a-sí [Sich-zu-stellen] en el modo del poner ante sí [Vor-sich-stellen], del «re-presentar» [Vor-stellen]. Si comprendemos cogitare como re-presentar en ese sentido literal, nos acercamos ya más al concepto cartesiano de cogitatio y perceptivo [praticamente o inverso do <penso> vulgar no séc. XXI – mais adequado o <sinto>]. Las palabras alemanas terminadas en -ung designan con frecuencia dos cosas que se copertenecen: representación [Vorstellung] con el significado de «representar» y representación con el significado de «representado». La misma duplicidad posee también perceptio, en el sentido de percipere y de perceptum: el llevar-ante-sí y lo llevado-ante-sí y hecho-«visible» en el sentido más amplio. Por ello Descartes utiliza también con frecuencia para perceptio la palabra idea, que, de acuerdo con este uso, no sólo significa lo representado en un representar sino también este representar mismo, el acto y el ejercicio del mismo.”

Penso, logo há coisas (outros sujeitos). E, ah!, não estou sonhando, ok, Confúcio?

Dúvida é certeza

No sonho não se duvida

Não se questiona

Apenas se afirma

Unilateralmente.

Presen-cio

Não he-sito

A penas cito au tores

El cogitare es siempre un «pensar» [denken] en el sentido de un reparar [Be-denken], de un reparar que piensa en sólo dejar valer como asegurado y re-presentado en sentido propio lo que no presente reparos [Bedenkenlose]. El cogitare es esencialmente re-presentar que repara, re-presentar que examina y recuenta: cogitare ist dubitare.”

Eu estava aqui reparando…

dando uma de deus.

Não reparamos que passamos a vida tentando reparar erros que não são erros.

É possível reparar que não há reparação possível?

en efecto, aún no hemos captado un rasgo esencial de la cogitatio, si bien en el fondo ya lo hemos rozado y nombrado. Daremos con él si prestamos atención a que Descartes dice: todo ego cogito es cogito me cogitare; todo «yo represento algo» al mismo tiempo «me» representa, a mí, el que representa (delante de mí, en mi re-presentar). Con una expresión que es fácilmente mal interpretable, todo re-presentar humano es un representar-«se».

Foi Lineu quem escolheu o nome Homo sapiens sapiens? Quando? Século XVIII – “homo sapiens”. Então a reiteração “cartesiana” é algo posterior. Não que “biologismos” me importem agora!

En verdad, con la determinación del cogito como cogito me cogitare Descartes tampoco quiere decir que en cada representar de un objeto además me represente y me vuelva objeto, «yo» mismo, el que representa, en cuanto tal, como si fuera un añadido. Pues, de lo contrario, todo representar tendría que revolotear continuamente de aquí para allá entre el representar del objeto propiamente re-presentado y el representar del que representa (ego). ¿Será entonces que el yo del que representa es representado sólo de manera confusa y marginal? No.” Eu sou a catedral. Eu sou a mesa.

La conciencia de mí mismo no se agrega a la conciencia de las cosas, por así decirlo, como un observador de la conciencia de la cosa que apareciera al lado de ésta. La conciencia de las cosas y objetos es en primer lugar, esencialmente y en su fundamento, autoconciencia, y sólo como tal es posible la conciencia de ob-jetos.

«Cogitationis nomine, intelligo illa omnia, quae nobis consciis in nobis fiunt, quatenus eorum in nobis consciencia est. Atque ita non modo intelligere, velle, imaginari, sed etiam sentire, idem est sic quod cogitare.»

«Por ‘pensamento’ compreendo tudo aquilo que – para nós, que somos conscientes de nós próprios – nos acontece, e que além disso percebemos que acontece. Assim, não só o conhecer, o querer e o imaginar, mas também o sentir, são sinônimos disso a que se chama ‘pensar’.»

La complejidad con la que se ha trazado aquí el esquema de la esencia de la cogitatio no debe resultarnos chocante. Lo que aparece como complejidad es el intento de llegar a ver la esencia simple y unitaria del re-presentar.

El mayor obstáculo para una recta comprensión de la proposición es la fórmula en la que Descartes la ha enunciado. De acuerdo con ella —de acuerdo con el ergo (luego)— parece como si la proposición fuera una argumentación silogística que, expuesta en su totalidad, estaría compuesta de una premisa mayor, una premisa menor y una conclusión. Si se la separara en sus miembros, la proposición tendría el siguiente tenor: premisa mayor: is qui cogitat, existit [quem pensa, existe]; premisa menor: ego cogito [eu penso]; conclusión: ergo existo (sum) [portanto, eu existo (sou)]. A mayor abundamiento, Descartes denomina a la proposición misma «conclusio». Por otra parte, se encuentran abundantes observaciones que expresan con claridad que la proposición no debe entenderse en el sentido de una argumentación silogística. Así, muchos intérpretes concuerdan en que la proposición «en realidad» no es un silogismo. Pero con esta constatación negativa no se ha ganado mucho, pues entonces surge la opinión contraria, igualmente insostenible, según la cual con la asunción de que la proposición no es un silogismo ya todo habría encontrado una elucidación suficiente.

Sartre, o PSF (pop star da filosofia): inverto aqui e “ganho o mundo”. Marximizo os lucros e conceitos! Heideggercartes será meu Hegel e nada me faltará, a não ser de Beauvoir!

¿Por qué esta «certeza suprema» es tan incierta y dudosa en cuanto a su contenido?” “La razón de ello es presumiblemente siempre una y la misma, la que impide el acceso a las proposiciones filosóficas esenciales: que no pensamos de un modo suficientemente simple y esencial, que con demasiada facilidad y prontitud echamos mano de nuestras opiniones previas corrientes.

Así, se considera al «principio de no contradicción» un «principio» («axioma») válido en sí mismo de manera intemporal, y no se reflexiona en que para la filosofía de Aristóteles tiene un contenido esencialmente diferente y desempeña un papel distinto que para Leibniz, y que, a su vez, tiene una verdad diferente en la metafísica de Hegel o en la de Nietzsche. La proposición dice en cada caso algo esencial no sólo sobre la «contradicción» sino sobre el ente en cuanto tal y sobre la especie de verdad en la que el ente en cuanto tal es experimentado y proyectado

El «yo soy» no es inferido del «yo represento», sino que el «yo represento» es, por su esencia, lo que el «yo soy» (…) El ergo no puede querer decir: «en consecuencia».[O ergo] Es conducto [incerto] en cuanto conjunción inmediata de aquello que en sí se copertenece esencialmente y es puesto a seguro en tal copertenencia [e, e não logo]. Ego cogito, ergo sum; yo represento, «y en ello está implícito», «en ello está ya establecido y puesto por el representar mismo»: yo como siendo. El «ergo» no expresa una consecuencia sino que remite a aquello que el cogito no sólo «es» sino como lo cual también se sabe de acuerdo con su esencia, en cuanto cogito me cogitare. El «ergo» significa lo mismo que: «y ya por sí mismo esto quiere decir». Lo que quiere decir el «ergo» lo expresamos de la manera más precisa si lo omitimos y quitamos también la acentuación del «yo» por medio del ego, en la medida en que lo yoico no es esencial. La proposición se lee entonces: cogito sum.” Existir é re-representar a existência incessantemente.

¿Qué dice la proposición cogito sum? Parece casi una «ecuación». Pero aquí caemos en un nuevo peligro, el de trasladar formas proposicionales correspondientes a una determinada región del conocimiento las ecuaciones de la matemática— a una proposición que se caracteriza por ser incomparable con cualquier otra, incomparable en todo respecto.”

0 = . = mônada = 1

¿adopta Descartes simplemente como modelo de todo conocer un modo de conocimiento ya existente y probado en las «matemáticas» o bien, a la inversa, lleva a cabo una nueva determinación, una determinación metafísica, de la esencia de lo matemático? Lo acertado es lo segundo.”

(PRESTI)DIGITO LOGO COGITO

REZOU O VERIFICADOR

EU, WILL SMITH, NÃO SOU UM ROBÔ!

NEM VENHA, GIBSON, BIG SON, COM CIBERNÉTICA

POIS ESTA NÃO É UMA POSTURA ÉTICA!

NO MÁXIMO MORFÉTICA!

Aquello a lo que se retrotrae todo como fundamento inquebrantable es la esencia plena de la representación misma, en cuanto que desde ella se determinan la esencia del ser y de la verdad, pero también la esencia del hombre, como aquel que representa y el modo en que sirve de medida.

el propio Descartes sugiere una interpretación extrínseca e insuficiente de la «res cogitans» en la medida en que habla doctrinalmente en el lenguaje de la escolástica medieval y divide el ente en su totalidad en substantia infinita y substantia finita.”

Lembrando que só Aristóteles é substancial na Idade Média. Ó, época desalmada!

la nueva determinación del hombre por medio del cogito sum sólo queda, por así decirlo, inscrita en los marcos antiguos.

Tenemos aquí el ejemplo más palpable del solapamiento de un nuevo comienzo del pensar metafísico con el pensar anterior. Esto es lo que tiene que constatar una descripción historiográfica de los contenidos y los modos doctrinales de Descartes. Por el contrario, la meditación histórica sobre el preguntar en sentido propio tiene que insistir en pensar en sus proposiciones y conceptos el sentido querido por Descartes mismo, aunque para ello fuera necesario traducir en otro «lenguaje» sus propios enunciados. Sum res cogitans no quiere decir, pues: soy una cosa que está equipada con la propiedad de pensar, sino: soy un ente cuyo modo de ser consiste en el representar, de modo tal que ese re-presentar pone también en la representatividade al re-presentante mismo. El ser del ente que soy yo mismo, y que es en cada caso el hombre en cuanto tal, tiene su esencia en la representatividad y en la certeza que le corresponde. Pero esto no significa: yo soy una «mera representación», un mero pensamiento y nada verdaderamente real; sino que significa: la consistencia de mí mismo en cuanto res cogitans consiste en la segura fijación del representar, en la certeza conforme a la cual el sí mismo es llevado ante sí mismo.A prova cabal de que eu sou o (fragmento) do Real é que eu me questiono sobre isso o tempo todo (eis o atributo do Real).

Lo accesible matemáticamente, lo que es calculable con seguridad en el ente que no es el hombre mismo, en la naturaleza inanimada, es la extensión (lo espacial), la extensio, dentro de la cual pueden contarse el espacio y el tiempo. Sin embargo, Descartes iguala inmediatamente extensio con spatium. Por eso el ámbito no humano del ente finito, la «naturaleza», es concebida como res extensa.

En estos días, nosotros mismos somos testigos de una misteriosa ley de la historia por la que un día un pueblo no está ya a la altura de la metafísica que ha surgido de su propia historia, y esto precisamente en el instante en que esta metafísica se ha vuelto incondicionada [obligatoria]. Ahora se muestra lo que Nietzsche ya reconoció metafísicamente, que la «economía maquinal» de la época moderna, el cálculo maquinístico de todo actuar y planificar exige, en su forma incondicionada, una humanidad nueva que vaya más allá del hombre que ha existido hasta el momento. No basta con poseer carros de combate, aviones y aparatos de comunicación; tampoco basta con disponer de hombres que puedan emplearlos; ni siquiera basta con que el hombre domine simplemente la técnica, como si ésta fuera algo en sí mismo indiferente, más allá de beneficios y perjuicios, de la construcción y la destrucción, aprovechable a placer por cualquiera para cualquier fin.É impressionante como o mesmo sujeito pode ser tão conseqüente e tão megalamoníaco num espaço temporal tão reduzido!

Se necesita una humanidad que sea acorde desde su base con la peculiar esencia fundamental de la técnica moderna y su verdad metafísica, es decir, que se deje dominar por la esencia de la técnica [!] para, de este modo, manejar y aprovechar ella misma los diferentes procesos y posibilidades técnicas.”

el ens ya no es ens creatum, es ens certum: indubitatum: vere cogitatum: «cogitatio».” O erro de se ter criado um deus não pode se perpetuar para a flecha de sentido invertido, ou seja, para a continuidade da sucessão: o último homem não é pai da Técnica, a tecnologia não é sua filha. Ele não criou nada melhor do que si mesmo, nem diferente, nem que o superasse essencialmente, enquanto este último homem.

Lo «axiomático» tiene ahora un sentido diferente respecto de la verdad que Aristóteles encuentra, como «principio de no contradicción», para la interpretación del ente en cuanto tal.”

un pensar, en la misma originariedad hacia la que se abre paso, se pone también a sí mismo su propio límite.”

El nombre y el concepto «sujeto» pasan a convertirse ahora, en su nuevo significado, en el nombre propio y la palabra esencial para el hombre. Esto quiere decir: todo ente no humano se convierte en objeto para este sujeto. A partir de este momento, subiectum no vale ya como nombre y concepto para el animal, el vegetal y el mineral.

Descartes, lo mismo que posteriormente Kant, no dudó nunca de que el ente y lo que se constata como tal no sea en sí y desde sí efectivamente real. Pero queda abierta la pregunta por lo que aquí quiera decir ser y por el modo en que el ente habrá de ser alcanzado y asegurado por el hombre en cuanto éste se ha convertido en sujeto.

En este sentido metafísico se entiende methodus cuando Descartes, en su importante tratado Regulae ad directionem ingenii, aparecido sólo después de su muerte, establece, como regula IV: Necessaria est methodus ad rerum veritatem investigandam. «Necesario (esencialmente necesario) es el método para encontrar y seguir la huella de la verdad (certeza) del ente.» En el sentido

del «método» así comprendido, todo pensamiento medieval carece esencialmente de método.

El hombre es quien tiene, conscientemente y como tarea, esta disposición. El sujeto es «subjetivo» por y en el hecho de que la determinación del ente, y con ella la del hombre mismo, no se encuentra ya estrechada por ningún límite sino que lo ha perdido en todo respecto. La relación con el ente es el avasallante pro-ceder hacia la conquista y el dominio del mundo.Só o homem é o mundo, eis o avatar-mor do suicídio. Suma com a alteridade!

Heidegger é um satélite. Heidegger são os anos 60. Ozzy matou Heidegger. Nem o pó mata Ozzy.

En la esencia de la nueva posición metafísica del hombre como subiectum se halla el fundamento de que la ejecución del descubrimiento y de la conquista del mundo, así como las respectivas iniciativas en esa dirección, tienen que ser asumidas y llevadas a cabo por individuos eminentes. La concepción moderna del hombre como «genio» tiene como presupuesto metafísico la determinación de la esencia del hombre como sujeto. A la inversa, el culto del genio y sus desviaciones no son, por lo tanto, lo esencial de la humanidad moderna, así como tampoco lo son el «liberalismo» y el autogobierno de los estados y las naciones en el sentido de las «democracias» modernas. Que los griegos hubieran pensado al hombre como «genio» es tan inimaginable como profundamente ahistórica la opinión de que Sófocles era un «hombre genial».

Se reflexiona demasiado poco sobre el hecho de que es el «subjetivismo» moderno, y sólo él, el que ha descubierto y vuelto disponible y dominable el ente en su totalidad, posibilitando aspiraciones y formas de dominio que la Edad Media no podía conocer y que estaban fuera del círculo visual de los griegos.”

O homem moderno já passou. Nietzsche foi metafísico. Você também o foi. E agora sim estamos na gravidade zero do “sem saber o que fazer”.

Não convence de que Protágoras e Descartes sejam substancialmente diferentes.

el propósito de esta contraposición es, precisamente, el de hacer visible en esto, que es en apariencia totalmente diferente, no, por cierto, algo idéntico, pero sí lo mismo, y de este modo la oculta esencia unitaria de la metafísica, para alcanzar por esta vía un concepto más originario de la metafísica frente a la interpretación sólo moral, es decir determinada desde el pensamiento del valor, que hace Nietzsche de ella.”

Las notas más importantes en las que Nietzsche se ocupa de la proposición conductora de Descartes están entre los trabajos prévios para la planeada obra capital La voluntad de poder. No obstante, no han sido recogidos en ésta por los editores del libro postumo, lo que vuelve a mostrar la falta de idea con que ha sido compuesto el citado libro. En efecto, la relación de Nietzsche con Descartes es esencial para la propia posición metafísica fundamental de Nietzsche. Desde esa relación se determinan los presupuestos internos de la metafísica de la voluntad de poder. Por no verse que detrás del más enérgico repudio del cogito cartesiano se encuentra el vínculo aún más estrecho a la subjetividad puesta por Descartes, la relación histórica esencial entre los dos pensadores, es decir la relación que determina su posición fundamental, queda en la oscuridad.”

En las notas resulta de nuevo patente que la confrontación de Nietzsche con los grandes pensadores es emprendida en la mayor parte de los casos recurriendo a escritos filosóficos sobre esos pensadores y resultan, por lo tanto, ya cuestionables en detalle, por lo que muchas veces no vale la pena que entremos en una discusión más precisa.

Por otra parte, el recurso a las obras de los grandes pensadores y al texto exacto y considerado en todos sus aspectos tampoco proporciona una garantía de que el pensar de ese pensador sea repensado de manera pensante y comprendido de modo más originario. De esto proviene que los historiógrafos de la filosofía que trabajan con mucha exactitud suelen contar cosas sumamente curiosas respecto de los pensadores que «investigan», mientras que un verdadero pensador, disponiendo de un relato insuficiente de este tipo, puede reconocer, sin embargo, algo esencial, por la simple razón de que, en cuanto es alguien que piensa y pregunta está de antemano cerca de quien piensa y pregunta, en una cercanía que no puede ser alcanzada por ninguna ciencia historiográfica, por más exacta que sea.”

«Y allí donde dije que la proposición ‘pienso, luego existo’ es de todas la primera y la más cierta que sale al encuentro de cualquiera que filosofe siguiendo un orden, con ello no he negado que previamente a esa proposición se tenga que ‘saber’ (sáre) qué sea ‘pensar’, ‘existencia’, ‘certeza’, ni tampoco ‘que no pueda suceder que aquello que pienso no sea’ y cosas similares; pero puesto que estos que están aquí son los conceptos más simples y que proporcionan un conocimiento solos, sin que lo nombrado por ellos exista como ente, he considerado que no debían ser enumerados (tomados en consideración) expresamente.»

la proposición que se pone como «principio» y certeza primera re-presenta con ello el ente como cierto (entendiendo la certeza como esencia de la representación y de todo lo incluida en ella), de manera tal que precisamente sólo mediante esta proposición queda también puesto lo que quieran decir ser, certeza y pensar.”

«Y he notado con frecuencia que los filósofos erraban al intentar que lo que era lo más simple y cognoscible por sí mismo se volviera más claro mediante determinaciones conceptuales de la lógica; en efecto, de este modo, devolvían lo en sí claro (sólo) como algo más oscuro.»

Aquí Descartes dice que la «lógica» y sus definiciones no son el tribunal supremo de la claridad y la verdad. Éstas descansan sobre otro fundamento; para Descartes, sobre el que resulta puesto por su proposición fundamental.”

La objeción nietzscheana de que la proposición de Descartes hace uso de presuposiciones no demostradas y por ello no es un principio no acierta en un doble respecto:

1) la proposición no es una argumentación silogística que dependa de premisas mayores;

2) y, sobre todo, la proposición es, por su esencia, el pre-suponer mismo que Nietzsche echa en falta; en ella se pone explicitamente de antemano aquello a lo que toda proposición y todo conocimiento apela como fundamento esencial.”

el punto propiamente decisivo, Nietzsche ve la posición fundamental de Descartes desde la suya propia, que la interpreta desde la voluntad de poder, es decir, de acuerdo con lo visto antes, la «computa psicológicamente». Por eso, no hay que asombrarse si, ante la interpretación psicológica de una posición fundamental que ya es en sí misma «subjetiva», caemos en un confuso conjunto de tomas de posición que a primera vista no resulta facilmente aclarable. Sin embargo, tenemos que intentarlo, porque todo depende de que se comprenda la filosofía de Nietzsche como metafísica, es decir, en el contexto esencial de la historia de la metafísica.

Nietzsche reconocía, sin embargo, que las doctrinas de Locke y Hume sólo representan una versión más grosera de la posición fundamental de Descartes en dirección de una destrucción del pensar filosófico y que se basan en una incomprensión del comienzo de la filosofia moderna llevado a cabo por aquél.”

Nietzsche coincide con Descartes en aquello en lo que cree tener que distanciarse de él. Sólo el modo en el que explica el origen de ser y verdad desde el pensar es diferente”

Sin darse cuenta suficientemente, Nietzsche está de acuerdo con Descartes en que ser quiere decir «representatividad», fijación en el pensar, y que verdad quiere decir «certeza». En este respecto, Nietzsche piensa de manera totalmente moderna. No obstante, cree dirigirse en contra de Descartes al poner en tela de juicio que su proposición sea una certeza inmediata, es decir una certeza conquistada y assegurada por medio de una mera toma de conocimiento.”

¿Qué sucede aquí? Nietzsche retrotrae el ego cogito a un ego volo e interpreta el velle como querer en el sentido de la voluntad de poder, a la que piensa como el carácter fundamental del ente en su totalidad. Pero ¿qué pasaría si la instauración de este carácter fundamental sólo fuera posible sobre el terreno de la posición metafísica fundamental de Descartes? Entonces, la crítica de Nietzsche a Descartes sería un desconocimiento de la esencia de la metafísica que sólo puede asombrar a quien aún no ha comprendido que este autodesconocimiento de la metafísica se ha vuelto una necesidad en el estadio de su acabamiento.”

«El concepto de substancia, una consecuencia del concepto de sujeto: no a la inversa!» (La voluntad de poder, n. 485; 1887). Nietzsche entiende aquí «sujeto» en el sentido moderno. Sujeto es el yo humano. El concepto de substancia no es jamás, como opina Nietzsche, una consecuencia del concepto de sujeto. Pero tampoco el concepto de sujeto es una consecuencia del concepto de substancia. El concepto de sujeto surge de la nueva interpretación de la verdad del ente (…) El concepto de sujeto no es otra cosa que la limitación del transformado concepto de substancia al hombre en cuanto representante en cuyo representar lo representado y el representante están fijados en su copertenencia. Nietzsche ignora el origen del «concepto de substancia» porque, a pesar de toda la crítica a Descartes, sin un saber suficiente de la esencia de una posición metafísica fundamental, considera incondicionalmente asegurada la posición fundamental metafísica moderna y deposita todo en la preeminencia del hombre como sujeto. Sin embargo, el sujeto es comprendido ahora como voluntad de poder; en conformidad con ello, también la cogitatio, el pensar, es interpretado de otro modo.”

«La lógica no proviene de la voluntad de verdad». Nos sorprendemos. Según el propio concepto de Nietzsche la verdad es, sin embargo, lo fijo y lo que se ha fijado; ¿la lógica no habría de surgir de esta voluntad de fijar y volver consistente? Según el concepto propiamente nietzscheano, sólo puede provenir de la voluntad de verdad. Cuando, a pesar de ello, dice: «La lógica no proviene de la voluntad de verdad», está comprendiendo de improviso verdad en un sentido diferente: no en el suyo, de acuerdo con el cual es una especie de error, sino en el sentido tradicional, según el cual verdad quiere decir: concordancia del conocimiento con las cosas y con lo real. Este concepto de verdad es la presuposición y el patrón de medida para la interpretación de la verdad como apariencia y error. ¿La propia interpretación nietzscheana de la verdad como apariencia no se convierte así en una apariencia? No se convierte ni siquiera en una apariencia: la interpretación nietzscheana de la «verdad» como error invocando la esencia de la verdad como concordancia con lo real se convierte en la inversión de su propio pensar y, con ella, en su disolución.”

Nietzsche puede decir al mismo tiempo: la «verdad» es apariencia y error, pero, en cuanto error es sin embargo un «valor». El pensar en términos de valores oculta el derrumbe de la esencia de ser y verdad. El pensamiento de los valores es él mismo una «función» de la voluntad de poder. Cuando Nietzsche dice: el concepto de «yo» y por lo tanto el de «sujeto» son un invento de la «lógica», tendría que rechazar la subjetividad como «ilusión», por lo menos allí donde se la reivindica como realidad fundamental de la metafísica.”

Sólo que la puesta en cuestión de la subjetividad en el sentido de la yoidad de la conciencia pensante es compatible, sin embargo, en el pensamiento de Nietzsche, con la asunción incondicionada de la subjetividad en el sentido metafísico, por cierto no reconocido, del subiectum. Lo que subyace no es para Nietzsche el «yo» sino el «cuerpo»: «La creencia en el cuerpo es más fundamental que la creencia en el alma» (n. 41); y: «El fenómeno del cuerpo es el fenómeno más rico, más claro, más aprehensible: hay que anteponerlo metódicamente, sin establecer nada sobre su significado último» (n. 489). Ésta es la posición fundamental de Descartes, en el supuesto de que tengamos aún ojos para ver, es decir para pensar metafísicamente. El cuerpo tiene que anteponerse «metódicamente». Lo que cuenta es el método. Ya sabemos lo que significa: lo que cuenta es el modo de proceder en la determinación de aquello a lo que se retrotrae todo lo fijable.” “El hecho de que Nietzsche ponga el cuerpo en el lugar del alma y la conciencia no implica ningún cambio respecto de la posición metafísica fundamental fijada por Descartes. Ésta sólo adopta con Nietzsche una forma más basta [apropriada] y es llevada al límite, o quizá al ámbito, de la absoluta carencia de sentido. Pero la carencia de sentido no es ya una objeción, en el supuesto de que sea de utilidad para la voluntad de poder.”

El hecho de que Pascal, casi contemporáneamente a Descartes, aunque determinado esencialmente por él, haya tratado de salvar la cristiandad del hombre, no sólo ha empujado la filosofía de Descartes a la apariencia de una «teoría del conocimiento» sino que, a una con ello, la ha hecho aparecer como un modo de pensar que serviria simplemente a la «civilización» pero no a la «cultura». En verdad, sin embargo, en el pensar de Descartes se trata de un esencial traslado de la humanidad entera y de su historia, desde el ámbito de la especulativa verdad de la fe del hombre cristiano a la representatividad del ente fundada en el sujeto, sólo desde cuyo fundamento esencial se vuelve posible la moderna posición dominante del hombre.” La nueva conceptualización, basada en el cogito sum, le abre una perspectiva cuyo despliegue sólo es experimentado en su plena incondicionalidad metafísica por la época actual.”

«Car elles (quelques notions genérales touchant la Physique) m’ont fait voir qu’il est possible de parvenir a des connaissances qui soient fort útiles a la vie, et qu’au lien de cette philosophie spéculative, qu’on enseigne dans les écoles, on en peut trouver une pratique, par laquelle connaissant la force et les actions du feu, de l’eau, de l’air, des astres, des cieux et de tous les autres corps qui nous environnent, aussi distinctement que nous connaissons les divers métiers de nos artisans, nous les pourrions employer en même façon à tous les usages auxquels ils sont propres, et ainsi nous rendre comme maîtres et possesseurs de la nature»

La toma de posición de Nietzsche respecto del «cogito ergo sum» de Descartes es, en todo respecto, la prueba de que desconoce la conexión histórico-esencial interna de su propia posición metafísica fundamental con la de Descartes. La razón de la necesidad de este desconocimiento reside en la esencia de la metafísica de la voluntad de poder que, sin poder saberlo, se obstruye una visión essencialmente adecuada de la esencia de la metafísica. Que esto es así sólo lo reconoceremos, sin embargo, si de la consideración comparativa de las 3 posiciones metafísicas fundamentales mencionadas [cartesiana, pascaliana e nietzscheana] rescatamos en una mirada lo mismo que domina su esencia y que exige al mismo tiempo su respectiva peculiaridad.”

A prova de que Nietzsche estava certo é que ele estava errado. Perfeito até na verdade (o erro necessário), esse iconoclasta!

Para Nietzsche, el «ser» es también representatividad, pero el «ser», entendido como consistencia, no basta para aprehender lo que propiamente «es», es decir lo que deviene en la realidad de su devenir. El «ser», en cuanto es lo fijo y rígido, es sólo una apariencia del devenir, pero una apariencia necesaria. El carácter de ser propio de lo real en cuanto devenir es la voluntad de poder. En qué medida la interpretación nietzschiana del ente en su totalidad como voluntad de poder tiene sus raíces en la antes nombrada subjetividad de las pulsiones y afectos y, al mismo tiempo, está esencialmente codeterminada por el proyecto de la entidad como re-presentatividad, requiere aún una demostración especial y explícita.”

Da certeza à convenção é um saltinho quântico. Quálitico!

Ser es consistencia, fijeza. Tener-por-verdadero es fijar lo que deviene, fijación con la que se asegura al respectivo viviente algo consistente en sí mismo y en su entorno, en virtud de lo cual puede estar seguro de su existencia consistente y de su conservación y, por lo tanto, puede tener el poder de acrecentar el poder.”

«Sólo hay un ver perspectivista, sólo un ‘conocer’ perspectivista; y cuanto más afectos dejemos llegar a la palabra respecto de una cosa, cuanto más ojos, ojos diferentes, sepamos implantarnos para la misma cosa, tanto más completo será nuestro ‘concepto’ de esa cosa, nuestra ‘objetividad’.» Más Allá…

la historia más interna de la metafísica y de la transformación de sus posiciones fundamentales sería simplemente una historia de la transformación de la autoconcepción del hombre. Tal opinión estaría en completa concordancia con el modo de pensar antropológico hoy corriente. Sin embargo, y a pesar de que parece sugerida e impulsada por lo que se ha expuesto hasta ahora, es una opinión errónea, más aún, es aquel error que se trata de superar.”

la metafísica de Nietzsche es, en cuanto acabamento de la metafísica moderna, al mismo tiempo, el acabamiento de la metafísica occidental en general, y con ello —en un sentido rectamente entendido— el final de la metafísica en cuanto tal.” Deveras?

Que el hombre se vuelva así el ejecutor y administrador, e incluso el poseedor y portador de la subjetividad no demuestra de ninguna manera que sea el fundamento esencial de la subjetividad.”

¿la respectiva interpretación del hombre y por lo tanto el ser-hombre histórico no es en cada caso más que la consecuencia esencial de la respectiva «esencia» de la verdad y del ser mismo? Si fuera así, la esencia del hombre no puede ser nunca determinada originariamente de modo suficiente con la interpretación del hombre que se ha tenido hasta ahora, es decir con la interpretación metafísica del hombre como animal rationale, ya se privilegie en ello la rationalitas (racionalidad, conciencia y espiritualidad) o la animalitas, la animalidad y la corporalidad, o se busque en cada caso simplemente un equilibrio aceptable entre ambas.”

ESPAÇO PARA A PROPAGANDA: “La visión de estas conexiones constituye el impulso del tratado Ser y tiempo. La esencia del hombre se determina a partir de la esencia (en sentido verbal) de la verdad del ser por parte del ser mismo.

En el tratado Ser y tiempo se hace el intento, sobre la base de la pregunta por la verdad del ser [ôntico], y no ya por la verdad del ente [metafísico], de determinar la esencia del hombre a partir de su relación con el ser y sólo desde ella, esencia del hombre que se designa allí como ser-ahí [Da-sein], en un sentido precisamente definido. A pesar del despliegue simultáneo, por ser necesario para la cosa misma, de un concepto de verdad más originario, no se ha logrado despertar en lo más mínimo (en los 13 años transcurridos) ni siquiera una primera comprensión de este cuestionamiento. La razón de la incomprensión radica por una parte en el inextirpable y cada vez más sólido acostumbramiento al modo de pensar moderno: el hombre es pensado como sujeto; toda meditación sobre el hombre es comprendida como antropología. Por otra parte, sin embargo, la razón de la incomprensión radica en el intento mismo, que, quizás por ser algo que ha crecido históricamente y no algo <construído>, proviene de lo anterior aunque se separe de ello y por eso remite necesaria y constantemente a los cauces en los que se mueve lo precedente, invocando incluso su ayuda para decir algo totalmente diferente. Pero, sobre todo, este camino se interrumpe en un lugar decisivo. Esta interrupción se funda en que el camino y el intento emprendidos caen contra su voluntad en el peligro de convertirse de nuevo en una consolidación de la subjetividad, en que ellos mismos impiden los pasos decisivos, es decir la exposición suficiente de los mismos en su ejecución esencial. Todo giro hacia el <objetivismo> y el <realismo> sigue siendo <subjetivismo>: la pregunta por el ser en cuanto tal está fuera de la relación sujeto-objeto.

Que, y cómo, la esencia de la verdad y del ser y la referencia a éste determinan la esencia del hombre, de manera tal que ni la animalidad ni la racionalidad, ni el cuerpo, ni el alma, ni el espíritu, ni todos ellos juntos alcanzan para comprender de modo inicial la esencia del hombre, es algo de lo que la metafísica nada sabe ni puede saber.”

La no-verdad es comprendida como falsitas (falsedad), y ésta como error, como errar. El error consiste en que, en el representar, se le re-mite al que representa algo que no satisface las condiciones de la remitibilidad, es decir de la indubitabilidad y de la certeza. Ahora bien, el hecho de que el hombre yerre, es decir que no esté inmediata y constantemente en plena posesión de lo verdadero, significa ciertamente una limitación de su esencia; como consecuencia de ello, también el sujeto, como el cual funciona el hombre en el interior del re-presentar, es limitado, finito, condicionado por otra cosa. El hombre no está en posesión del conocimiento absoluto, no es, pensado en términos cristianos, Dios. Pero, en la medida en que conoce, tampoco se encuentra simplemente en algo nulo. El hombre es medium quid inter Deum et nihil, determinación del hombre que recoge entonces Pascal, en otro sentido y de otra manera, y la convierte en el núcleo de su determinación de la esencia del hombre.

Pero el poder errar, en cuanto carencia, es para Descartes al mismo tiempo el testimonio de que el hombre es libre, es un ser que se apoya sobre sí mismo. El error atestigua precisamente la primacía de la subjetividad, de manera tal que, visto desde ella, el posse non errare, la capacidad de no errar, es más esencial que el non posse errare, la incapacidad de errar. Pues donde no existe ninguna posibilidad de errar, [I] o bien, como en la piedra, no hay ninguna referencia a lo verdadero, [II] o bien, como en el ser que conoce absolutamente, es decir que crea, hay un vínculo con la verdad pura que excluye toda subjetividad, es decir todo volver a apoyarse-sobre-sí-mismo. El posse non errare, la posibilidad y la capacidad de no errar, significa, por el contrario, sobre todo la referencia a lo verdadero, pero, al mismo tiempo, la facticidad del error y así el quedar implicado en la no-verdad.

En el curso posterior del despliegue de la metafísica moderna, la no-verdad se convertirá, en Hegel, en un estadio y una especie de la verdad misma, y esto quiere decir: la subjetividad, en su apoyarse-sobre-sí-misma, tiene una esencia tal que supera la no-verdad en lo incondicionado del saber absoluto, superación por la cual la no-verdad aparece sólo como algo condicionante y finito. Aquí, todo error y toda falsedad siempre es sólo la unilateralidad de lo en sí y por sí verdadero. Lo negativo pertenece a la positividad del representar absoluto. La subjetividad es el representar incondicionado que media y supera en sí a todo lo condicionante, es espíritu absoluto.”

para comprender el sentido nietzscheano de esta palabra «justicia» tenemos que dejar de lado inmediatamente todas las representaciones sobre la «justicia» que provengan de la moral cristiana, humanista, iluminista, burguesa y socialista.” “Si ahora, por ejemplo, los ingleses destruyen las unidades de la flota francesa amarradas en el puerto de Oran, esto es, desde el punto de vista de su poder, totalmente «justo»; porque «justo» sólo quiere decir: lo que sirve al acrecentamiento del poder. Con ello queda dicho al mismo tiempo que nosotros no podemos ni debemos jamás justificar ese proceder; todo poder tiene, pensado metafísicamente, su derecho. Y sólo por impotencia llega a no estar justificado. No obstante, a la táctica de todo poder le es inherente no poder ver cualquier proceder del poder contrario bajo la perspectiva propia de ese poder, sino que el proceder contrario queda sometido a la medida de una moral humana universal que sólo tiene, sin embargo, un valor propagandístico.”

La subjetividad no sólo queda liberada de todo límite sino que ella misma dispone ahora de todo poner y quitar límites. No es la subjetividad del sujeto la que transforma la esencia y la posición del hombre en medio del ente. Antes bien, el ente en su totalidad ha experimentado ya una interpretación diferente por medio de aquello de donde toma su origen la subjetividad, por medio de la verdad del ente. Por ello, con la transformación del ser-hombre en sujeto la historia de la humanidad moderna no recibe simplemente nuevos «contenidos» y nuevos ámbitos de acción, sino que el curso mismo de la historia se vuelve diferente. En apariencia, todo no es más que descubrimiento, investigación, descripción, organización y dominio del mundo, en todo lo cual el hombre se expande y, como consecuencia de la expansión, distiende su esencia, la aplana y la pierde.”

CLÍMAX? P. 161 do t. II: “El final de la metafísica”

la esencia incondicionada de la subjetividad se despliega necesariamente como la brutalitas de la bestialitas. Al final de la metafísica se encuentra la proposición: homo est brutum bestiale. La expresión nietzscheana de la «bestia rubia» no es una exageración ocasional sino la caracterización y la consigna de un contexto en el que estaba conscientemente, sin llegar a captar sus referencias histórico-esenciales.”

Aquí sólo insistiremos nuevamente en lo siguiente: hablar del final de la metafísica no quiere decir que en el futuro no «vivirán» ya hombres que piensen de modo metafísico y elaboren «sistemas de metafísica». Aún menos quiere decirse con ello que la humanidad en el futuro no «vivirá» ya basándose en la metafísica. El final de la metafísica que se trata de pensar aquí es sólo el comienzo de su «resurrección» bajo formas modificadas; éstas dejarán a la historia en sentido propio, a la historia ya pasada de las posiciones metafísicas fundamentales sólo el papel económico de proporcionar los materiales con los que, correspondientemente transformados, se construirá de «nuevo» el mundo del «saber».

Pero ¿qué quiere decir entonces «final de la metafísica»? Respuesta: el instante histórico en el que están agotadas las posibilidades esenciales de la metafísica. La última de estas posibilidades tiene que ser aquella forma de la metafísica en la que se invierte su esencia. Esta inversión es llevada a cabo no sólo efectivamente sino también a sabiendas, aunque de manera diferente en ambos casos, en la metafísica de Hegel y en la metafísica de Nietzsche. Este ejercicio a sabiendas de la inversión es, en el sentido de la subjetividad, la única inversión real que le es adecuada. El propio Hegel dice que pensar en el sentido de su sistema quiere decir hacer el intento de estar y caminar cabeza abajo. Y Nietzsche ya en época temprana designa a toda su filosofía como inversión del «platonismo».

El acabamiento de la esencia de la metafísica puede ser, en su realización, muy imperfecto y no precisa excluir que sigan existiendo las posiciones metafísicas fundamentales habidas hasta el momento. Lo verosímil es que se llegue a un cómputo de las diferentes posiciones metafísicas fundamentales, de sus diversas doctrinas y conceptos. Pero este cómputo, nuevamente, no sucede de modo arbitrario. Es dirigido por el modo de pensar antropológico que, no comprendiendo ya la esencia de la subjetividad, continúa la metafísica moderna aplanándola. La «antropología» como metafísica es la transición de la metafísica a su forma última: la «cosmovisión».”

Si la historia fuera una cosa podría aún resultar convincente que se exigiera estar «por encima» de ella para poder conocerla. Pero si la historia no es una cosa, y si nosotros mismos, al ser de modo histórico, somos también ella misma, el intento de estar «por encima» de la historia es quizá una aspiración que jamás podrá alcanzar el lugar desde donde tomar una decisión histórica. Presumiblemente, la meditación sobre la esencia más originaria de la metafísica nos conduce a la cercanía del lugar de tal decisión. Esta meditación es equivalente a la intelección de la esencia del nihilismo europeo según la historia del ser.”

¿qué es, en las posiciones metafísicas caracterizadas, lo mismo, lo que contínuamente sustenta y sirve de guía?”

la relación sujeto-objeto está ante todo limitada a la historia moderna de la metafísica y no vale de ninguna manera para la metafísica en general, tanto menos, pues, para su comienzo entre los griegos (en Platón).”

Por que Heidegger possui dois termos para se referir ao homem, e o segundo deles é raro nos tratados filosóficos pregressos (o ente)(*): “La metafísica habla del ente en cuanto tal en su totalidad, es decir del ser del ente; de este modo impera en ella una referencia del hombre al ser del ente. Sin embargo, la pregunta de si y cómo el hombre se relaciona con el ser del ente, no con el ente, con éste y aquél, queda sin formular. Se pretende que aclarando la relación del hombre con el ente ya se ha determinado de modo suficiente la referencia al «ser». Se toma a ambas, la relación con el ente y la referencia al ser, como lo «mismo», y esto incluso con cierta razón. En esta igualación se manifiesta el rasgo fundamental del pensar metafísico.(*) Mas o “ente” é o que os outros filósofos chamavam de “ser”. Então a pergunta correta é o que é o ser, para Heidegger.

Presente como “esfera privilegiada”. O resto é simplesmente TUDO.

¿Cómo habría de relacionarse el hombre con el ente, es decir experimentar el ente en cuanto ente, si no le fuera concedida la referencia al ser?”

A porta da História possui uma chave a qualquer momento que se queira abri-la, embora nunca seja a mesma.

Pero el ser del ente del tipo de lo histórico no pierde por eso esencialidad. Sólo se vuelve más extraño si en una esencialidad tal se anuncia que no precisa ni siquiera de la atención general para irrradiar, sin embargo, y precisamente entonces, su plenitud esencial. Esta extrañeza aumenta la cuestionabilidad de aquello a lo que estamos señalando, la cuestionabilidad del ser y con ella la cuestionabilidad de la referencia del hombre al ser.”

Somos capaces de encontrar, mostrar y buscar entes en cualquier momento. ¿Pero «el ser»? ¿Es casual que apenas lleguemos a aprehenderlo y que con todas las múltiples relaciones con el ente olvidemos esta referencia al ser? ¿O la razón de esta oscuridad que se deposita sobre el ser y sobre la referencia a él del hombre reside en la metafísica y en su dominio?”

Nos relacionamos [verhalten] con el ente y nos mantenemos [halten] ante todo en la referencia al ser. Sólo así el ente en su totalidad es para nosotros sostén [Halt] y estancia [Aufenthalt].” Suporte e parada. Chão e casa. Estrada e casulo. Trilha e mundo.

Podría casi pensarse, y con razón, que con lo que denominamos «distinción» entre ente y ser hemos inventado e imaginado algo que no «es» y que, sobre todo, no tiene necesidad de «ser».” “La distinción de ente y ser se revela como ese Mismo desde el que surge toda metafísica, del que sin embargo al surgir inmediatamente se escapa, ese Mismo que ella deja detrás de sí y fuera de su ámbito, como aquello que ya no piensa explícitamente y que ya no necesita pensar. La distinción de ente y ser posibilita todo nombrar, todo experimentar y todo comprender del ente en cuanto tal.”

«onto-logía». Aunque formado con palabras griegas, el nombre no proviene de la época del pensamiento griego sino que fue acuñado en la época moderna y es empleado ya, por ejemplo, por el erudito alemán Clauberg (que era discípulo de Descartes y profesor en Herborn).”

«Ontología» se ha convertido hoy otra vez en un nombre de moda; pero su tiempo ya parece haber pasado de nuevo. Por ello, es lícito recodar su uso más simple, vuelto hacia el significado de las palabras griegas; ontología: el interpelar y comprender el ser del ente. Con este nombre no designamos una disciplina especial de la metafísica, ni tampoco una «corriente» del pensamiento filosófico. Tomamos este título con tal amplitud que indica simplemente un acaecimiento, el acaecimiento de que el ente es interpelado en cuanto tal, es decir, en su ser.”

ente y ser son de algún modo llevados-fuera-uno-de-otro, y separados, y sin embargo referidos uno a otro, y esto desde sí mismos, no por razón de un posterior «acto» de «distinción». La distinción como «diferencia» quiere decir que entre ser y ente existe un dirimir [Austrag]. De dónde y cómo se llega a ese dirimir, no está dicho”

llega un instante histórico en el que existe la necesidad [Not] y se volverá necesario [notwendig] preguntar por la base y el fundamento de la «onto-logía». Por eso en Ser y Tiempo se habla de «ontologia fundamental». No es preciso discutir aquí si con ella sólo se intenta ponerle a la metafísica, como a un edificio que ya está en pie, un fundamento diferente, o si a partir de la meditación acerca de la «diferencia ontológica» resultan otras decisiones sobre la «metafísica».”

Toda denominación es ya un paso hacia la interpretación. Quizás tengamos que volver a desandar ese paso. Esto significaría que el dirimir no puede comprenderse si lo pensamos formalmente como «distinción» y si pretendemos descubrir para tal distinción el «acto» de un «sujeto» que distingue.”

Ya el nombre empleado para el ser desde el comienzo de la metafísica en Platón, OUSÍA, nos delata cómo se piensa el ser, de qué modo se lo distingue frente al ente.” “quiere decir entidad y significa, por lo tanto, lo universal respecto del ente.” “A diferencia de esto, que es lo más general, a diferencia del ser, el ente es en cada caso lo «particular», lo «especificado» de tal o cual modo, lo «individual».” O universal-do-agora; o múltiplo-do-aqui; O-mundo-do-você.

no es de extrañar que en la metafísica nos encontremos con frecuencia con la aseveración de que sobre el ser no es posible decir nada más. Incluso puede demostrarse esta afirmación de modo «estrictamente lógico». Efectivamente, apenas se enuncie algo más sobre el ser, este predicado tendría que ser aún más universal que el ser. Pero puesto que el ser es lo más universal de todo, un intento tal contradice su esencia. Como si aquí se dijera algo en absoluto sobre la esencia del ser cuando se lo denomina lo más universal de todo. Con ello se dice, a lo sumo, de qué modo se lo piensa —a saber: por medio de la universalización del ente— pero no qué significa «ser».” “Así pues, aunque la metafísica afirme siempre que ser es el concepto más universal, y por ello el más vacío e incapaz de recibir una determinación ulterior, por otra parte, sin embargo, toda posición metafísica fundamental piensa el ser siguiendo una interpretación propia. Aunque al hacerlo, se supone con facilidad la opinión de que, puesto que el ser es lo más universal, también la interpretación del ser se da por sí sola y no precisa ninguna otra fundamentación. Con la interpretación del ser como lo más universal no se dice nada sobre el ser mismo sino sólo sobre el modo en el que la metafísica piensa sobre el concepto de ser. Que la metafísica piensa de modo tan extraordinariamente carente de pensamiento, es decir desde el horizonte y en el modo del opinar y generalizar cotidiano, lo testimonia con toda claridad la circunstancia de que, a pesar de que hace uso de la distinción de ser y ente en todas partes, toda meditación sobre ella le sea tan decididamente lejana. Pero a pesar de esto, la distinción aparece constantemente dentro de la metafísica, y lo hace en un rasgo esencial que domina la estructura de la metafísica en todas sus posiciones fundamentales.”

seriedade do ser em série

El ser, la entidad del ente, es pensada como lo «a priori», el «prius», lo anterior, lo precedente. Lo a priori, lo anterior, alude, en el significado temporal corriente, a lo que es más antiguo, al ente que ha surgido y ha sido en otro tiempo y ya no está más presente. Si se tratara de la sucesión temporal del ente, ni la palabra ni su concepto requerirían una elucidación especial. Pero lo que está en cuestión es la distinción de ser y ente.” con la concepción del a priori no se piensa nada alejado sino que con ella se comprende por vez primera [Platão] algo demasiado cercano, aunque sólo se lo haga dentro de determinados límites, límites que son los de la filosofía, es decir, los de la metafísica.”

DEIXA COMO TÁ, DEIXA COMUTAR

Filosofar sobre como a filosofia é um caminho sem volta é um caminho sem volta.

Caminhar é um caminho sem volta.

Todo caminho é um caminho sem volta.

Toda volta é na verdade uma reta (sem volta).

la igualdad y el ser igual son en verdad lo posterior y no lo previo. Esto es en cierto modo acertado, pero no acierta, sin embargo, con el estado de cosas de que se trata: el a priori.”

La pregunta sigue siendo: ¿qué quiere decir aquí y allí «dado» y «ser dado».”

el ente es «previo» —también podríamos decir: más vuelto hacia nosotros— que el ser.”

El ser, de acuerdo con su esencia más propia, tiene que determinarse desde sí mismo, a partir de sí mismo, y no de acuerdo con el modo en que nosotros lo captamos y percibimos.”

Porque el ser es presencia de lo consistente en lo desoculto, Platón puede interpretar el ser, la OUSÍA (entidad), como IDEA. «Idea» no es el nombre que designa las «representaciones» que tenemos en la conciencia como yo-sujetos. Esto está pensado de modo moderno y, además, de manera tal que lo moderno resulta banalizado y deformado. IDEA es el nombre que designa al ser mismo.” “IDEA quiere decir lo mismo que EIDOS.”

El «aspecto» [Aussehen] no es pensado de modo «moderno»— un «aspecto» [Aspekt] para un «sujeto», sino aquello en lo que el ente correspondiente (la casa) tiene su existencia consistente y aquello de donde proviene porque en ello está constantemente, es decir, es.”

A sujidade do sujeito

Por eso, logramos la traducción alemana más adecuada del a priori si lo denominamos das Vor-herige, lo pre-cedente, en el estricto sentido en el que esta palabra dice al mismo tiempo dos cosas: «Vor» significa «de antemano», «Her» el «venir de sí hacia nosotros», o sea: lo pre-cedente. Si pensamos así el auténtico sentido de lo a priori, como lo pre-cedente, la palabra pierde el equívoco sentido temporal de lo «anterior», donde «tiempo» y «temporal» se entiende en el sentido de la medición y sucesión temporal corriente, en el sentido de la sucesión de los entes.”

el ser, de acuerdo con su aprioridad, está más allá del ente.”

Con la interpretación platónica del ser como IDEA comienza, por lo tanto, la metafísica. Esta marca, en lo sucesivo, la esencia de la filosofía occidental. Su historia es, desde Platón hasta Nietzsche, historia de la metafísica.” “toda filosofia es, desde Platón, «idealismo», en el sentido unívoco de la palabra según el cual el ser se busca en la idea, en lo que tiene el carácter de idea y en lo ideal. Por lo tanto, visto desde el fundador de la metafísica, puede decirse: toda filosofía occidental es platonismo. Metafísica, idealismo, platonismo, significan, en esencia, lo mismo. Siguen siendo determinantes incluso cuando se imponen contramovimientos e inversiones. En la historia de Occidente, Platón se convierte en el prototipo del filósofo. Nietzsche no sólo ha designado a su filosofía como inversión del platonismo. El pensamiento de Nietzsche era y es en todas partes un único y con frecuencia discrepante diálogo con Platón.

El indiscutible predominio del platonismo en la filosofía occidental se muestra por último en que incluso a la filosofía anterior a Platón, que según lo que hemos expuesto no era aún metafísica, es decir no era una metafísica desplegada, se la interpreta desde Platón y se la llama filosofía preplatónica. Incluso Nietzsche se mueve dentro de este horizonte visual cuando interpreta las doctrinas de los tempranos pensadores de Occidente. Sus manifestaciones sobre los filósofos preplatónicos como «personalidades» junto con su primera obra sobre El nacimiento de la tragedia han reforzado el prejuicio aún hoy corriente de que su pensamiento está determinado esencialmente por los griegos.

«A los griegos no les debo ninguna impresión de fuerza similar; y, para declararlo francamente, no pueden ser para nosotros lo que son los romanos. De los griegos no se aprende

(Crepúsculo dos Ídolos, VIII, 167)

En esa época, Nietzsche sabía claramente que la metafísica de la voluntad de poder sólo se conjuga con lo romano y con el Príncipe de Maquiavelo. Para el pensador de la voluntad de poder, de los griegos sólo es esencial Tucídides, el pensador de la historia que ha pensado la historia de la guerra del Peloponeso; por eso, en el pasaje citado, que contiene además las más duras palabras de Nietzsche contra Platón, dice:

«Mi cura de todo platonismo ha sido siempre Tucídides.»

Pero Tucídides, el pensador de la historia, no era capaz, sin embargo, de superar el platonismo que impera en el fondo del pensamiento nietzscheano. Puesto que la filosofía de Nietzsche es metafísica y toda metafísica es platonismo, en el final de la metafísica el ser tiene que ser pensado como valor, es decir, computado como una condición meramente condicionada del ente. La interpretación metafísica del ser como valor está prefigurada por el comienzo de la metafísica.”

Ser tiene el carácter de posibilitar, es condición de posibilidad. Ser es, para decirlo con Nietzsche, un valor. ¿O sea que Platón ha sido el primero en pensar en términos de valor? Esta opinión sería precipitada.”

Por eso el nuevo orden de la metafísica no es sólo entendido sino realizado e instaurado como transvaloración de todos los valores.

Todas estas indicaciones son sólo paráfrasis de un único hecho básico, de que la distinción de entidad y ente forma el auténtico armazón de la metafísica. La caracterización del ser como a priori le da a esta distinción una impronta peculiar. Por eso, en las diferentes concepciones de la aprioridad que se alcanzan en cada una de las posiciones metafísicas fundamentales en conformidad con la interpretación del ser, es decir, al mismo tiempo, de las ideas, se halla también un hilo conductor para delimitar de manera más precisa el papel que desempeña en cada caso la distinción de ser y ente, sin que ella misma llegue nunca a ser pensada propiamente como tal. Pero para comprender las concepciones de la aprioridad del ser, especialmente en la metafísica moderna y, en conexión con ella, el origen del pensamiento del valor, es aún necesario pensar a fondo más decididamente en otro respecto la doctrina de Platón de la idea como carácter esencial del ser.”

Los griegos, sobre todo desde la época de Platón, comprendían efectivamente al conocer como una especie de ver y de mirar, lo que se manifiesta en la aún hoy usual expresión de lo «teórico», donde resuenan {termo grego}, la mirada, y {}, ver (teatro, espectáculo). Se pretende ofrecer una explicación más profunda de este hecho afirmando que los griegos tenían una especial predisposición óptica, que eran de «tipo visual». Que esta apreciada explicación no es explicación alguna se ve con facilidad.”

el «ver» resulta preferentemente apropiado para servir de aclaración para la captación de lo presente y consistente. En efecto, en el ver tenemos a lo captado «enfrente» en un sentido destacado, suponiendo que a nuestro ver no subyazca ya una interpretación del ente. Los griegos no han ilustrado la relación con el ente por medio del ver porque eran de «tipo visual» sino que, si se quiere emplear esa expresión, eran de «tipo visual» porque experimentaban el ser del ente como presencia y consistencia.

Aquí habría que discutir la cuestión de cómo ningún instrumento de los sentidos, tomado por sí mismo, puede tener una preeminencia respecto de otro cuando se trata de la experiencia del ente. Habría que tener en cuenta que ninguna sensibilidad es capaz de percibir jamás el ente en cuanto ente. Hacia el final del libro sexto de su gran diálogo sobre la República, Platón intenta aclarar la relación del conocer con el ente conocido poniendo en correspondencia esta relación con el ver y lo visto. Dando por supuesto que el ojo esté equipado con la facultad de ver, y dando por supuesto que haya colores en las cosas, la facultad de ver no podrá ver y los colores no se tornarán visibles si no ha aparecido un tercer elemento que, por su esencia, está destinado a posibilitar a la vez el ver y la visibilidad. Este tercer elemento es {grego}, la luz, la fuente de luz, el sol.” “la «idea del bien» es aquello que no sólo brinda «desocultamiento», sobre la base del cual se vuelven posibles el conocer y el conocimiento, sino también aquello que posibilita el conocer, el cognoscente y el ente en cuanto ente.

«El bien está en dignidad y en potencia, en dominio, más allá aún del ser [ente]» Pl.

Esto está pensado en griego, y aquí fracasan todas las artes interpretativas teológicas y pseudoteológicas.” Aquém de Platágoras Telosmócrito Menidius d’Éphese von Herx Derizekllardcoult-de-rochefouquivel

Decimos el «bien» y pensamos «bien» cristiano-moralmente en el sentido de lo que es debido, lo que está en orden, lo conforme a la regla y la ley. De modo griego, y aún platónico, quiere decir lo apto, lo que es apto para algo y vuelve él mismo apto a otros.” Apto al autoperfeccionamiento

el ser se convierte en aquello que hace al ente apto para ser ente. Ser se muestra en el carácter de posibilitar y condicionar. Aquí se da el paso decisivo para toda la metafísica por medio del cual el carácter de «a priori» del ser adquiere al mismo tiempo la distinción de ser condición.”

Platón piensa el ser como {grego}, como presencia y consistencia y como visualidad, y no como voluntad de poder. Puede resultar tentador equiparar {grego} y bonum con valor (cfr. Die Kategorien und Bedeutungslehre des Duns Scotus, 1916 [La doctrina de las categorías y la significación en Duns Scoto]). Esta equiparación pasa por alto lo que está entre Platón y Nietzsche, o sea la totalidad de la historia de la metafísica.”

El a priori no es una cualidad del ser sino que es él mismo”

Las ideas son alojadas en el pensamiento de «Dios» y finalmente en la perceptio.”

Ésta sería una oportunidad para determinar la posición metafísica fundamental de Aristóteles, para lo cual no basta, por cierto, la usual contraposición con Platón; en efecto, Aristóteles, aunque pasando por la metafísica platónica, intenta pensar de nuevo el ser del modo inicialmente griego y, de cierta manera, volver atrás el paso dado por Platón con la {gr.}, paso mediante el cual la entidad adquiere el carácter de lo condicionante y posibilitante, de la {gr.}. Frente a esto, Aristóteles —si está permitido decirlo— piensa el ser de modo más griego que Platón (…) Sólo puede advertirse que Aristóteles no es ni un platónico fracasado ni el precursor de Tomás de Aquino. Su obra filosófica tampoco se agota en el absurdo que se le suele atribuir de haber bajado las ideas de Platón de su ser en sí y haberlas puesto en las cosas mismas. A pesar de su distancia respecto del inicio de la filosofía griega, la metafísica de Aristóteles es, en aspectos esenciales, de nuevo una especie de impulso de regreso al inicio dentro del pensamiento griego. El hecho de que Nietzsche, en correspondencia con su relación nunca interrumpida con Platón, no consiguiera nunca —prescindiendo de las ideas sobre la esencia de la tragedia— una relación interna con la metafísica de Aristóteles, debería ser lo suficientemente importante como para pensar a fondo sus fundamentos esenciales.“apenas el ente mismo pasa a un primer plano y atrae y reivindica para sí todo el comportamiento del hombre, el ser tiene que retroceder en favor del ente. Es cierto que sigue siendo aún lo posibilitante y, en tal sentido, lo precedente, lo a priori. Pero este a priori, aunque no se lo pueda negar, no tiene de ninguna manera el peso de lo que él en cada caso posibilita, del ente mismo. Lo a priori, al comienzo y en esencia lo pre-cedente, se convierte así en lo ulterior, en algo que, frente a la preponderancia del ente, es tolerado como condición de posibilidad del mismo.”

El ser se comprende como sistema de las condiciones necesarias con las que el sujeto tiene que contar de antemano sobre la base de su relación con el ente, y precisamente en vistas al ente en cuanto lo objetual. Condiciones con las que tiene que contarse necesariamente; ¿cómo no se las iba a denominar un día «valores», «los» valores, y computarlas como tales?

Sólo mediante la metafísica de la subjetividad se pone en libertad y entra entonces en juego sin trabas el rasgo esencial de la IDEA que en un principio estaba aún oculto y retenido. (…) El paso decisivo en este proceso lo da la metafísica de Kant. Dentro de la metafísica moderna, constituye el centro, no sólo por la cronologia sino desde una perspectiva histórico-esencial, por el modo en que se recoge en ella el comienzo de Descartes y se lo transforma en la confrontación con Leibniz. La posición metafísica fundamental de Kant se expresa en la proposición que el propio Kant determina, en la Crítica de la Razón Pura, como el principio supremo de su fundamentación de la metafísica (A158, B197).”

De manera explícita y determinante se le da aquí el título de «condiciones de posibilidad» a lo que Aristóteles y Kant llaman «categorías». De acuerdo con la explicación de este nombre dada antes, por categorías se entienden las determinaciones esenciales del ente en cuanto tal, es decir, la entidad, el ser; lo que Platón comprende como «ideas». El ser es, según Kant, condición de posibilidad del ente, es su entidad. Aquí, entidad y ser, en concordancia con la posición fundamental moderna, quieren decir representatividad, objetividad. El principio supremo de la metafísica de Kant dice: las condiciones de posibilidad del re-presentar de lo re-presentado son al mismo tiempo, es decir, no son otra cosa que, condiciones de posibilidad de lo representado. Constituyen la representatividad; pero ésta es la esencia de la objetividad, y ésta es la esencia del ser. El principio dice: el ser es re-presentatividad.”

TÉCNICA, HEIDEGGER, REPRESENTAÇÃO

Trocando em miúdos, o ser é coisa. Fa-dado-a. Se os objetos determinam nossa liberdade, a maestria técnica significa a própria emancipação num mundo autômato-robô, não é isso, Alemão Terra e Sangue?

Sou o que quero

Sou uma liga de metal

Flexível indestrutível

De hoje em diante

O poder é isso mesmo

A apologia de mim mesmo

Mas algo nisso soa

Inquietantemente-

falhado…

Quem coordena os coordenadores da Técnica, Ó Panóptico?!

La seguridad se busca en la certeza. Ésta determina la esencia de la verdad. El fundamento de la verdad es el re-presentar, es decir, el «pensar» en el sentido del ego cogito, es decir, del cogito me cogitare. La verdad como representatividad del objeto, la objetividad, tiene su fundamento en la subjetividad, en el re-presentar que se representa; pero esto porque el representar mismo es la esencia del ser.”

Kant no repite simplemente lo que Descartes ya había pensado antes que él. Sólo Kant piensa de modo trascendental y concibe expresa y conscientemente lo que Descartes puso como comienzo del preguntar en el horizonte del ego cogito. Con la interpretación kantiana del ser se piensa por primera vez expresamente la entidad del ente en el sentido de «condición de posibilidad» y se franquea así el camiño para el despliegue del pensamiento del valor en la metafísica de Nietzsche. No obstante, Kant no piensa aún el ser como valor. Pero tampoco piensa ya el ser como IDEA”

La voluntad de poder es el carácter fundamental del ente en su totalidad, el «ser» del ente, tomado en el sentido amplio que también admite como ser al devenir, si se admite, por otra parte, que el devenir «no es una nada».”

¿Cuándo las «condiciones» se convierten en el producto de una estimación y en aquello que es estimado, es decir, en valores? Sólo cuando el re-presentar del ente en cuanto tal se convierte en ese re-presentar que se apoya incondicionadamente sobre sí mismo y que tiene que establecer desde sí y para sí todas las condiciones del ser. Sólo cuando el carácter fundamental del ente se ha vuelto de una esencia tal que él mismo exige contar y estimar como una necesidad esencial del ser del ente. Esto ocurre allí donde el carácter fundamental del ente se revela como voluntad de poder.”

Con qué claridad el proyecto de la entidad como representatividad busca desplegar la esencia de ésta sin saber nada de una voluntad de poder, está testimoniado por la doctrina kantiana de la objetividad de los objetos. La subjetividad trascendental es la presuposición interna de la subjetividad incondicionada de la metafísica de Hegel, en la que la «idea absoluta» (el aparecerse-a-sí-mismo del re-presentar incondicionado) constituye la esencia de la realidad efectiva.”

sólo en la metafísica de Leibniz la metafísica de la subjetividad lleva a cabo su comienzo decisivo.”

La distinción de potentia y actus remite a la de Aristóteles” “Además, el propio Leibniz señala explícitamente en varias ocasiones la conexión entre la vis primitiva activa y la «entelequia» de Aristóteles.” “Hasta ahora hemos comprendido a la metafísica demasiado exclusivamente como platonismo y con ello hemos menospreciado la re-percusión histórica no menos esencial de la metafísica de Aristóteles.”

Con Leibniz todo ente se vuelve «de tipo subjetivo», es decir, en sí mismo representante-apetente y por lo tanto eficaz [wirk-sam]. Directa e indirectamente (a través de Herder), la metafísica de Leibniz determinó el «humanismo» alemán (Goethe) y el idealismo (Schelling y Hegel). En la medida en que el idealismo se fundaba sobre todo en la subjetividad trascendental (Kant) y, al mismo tiempo, pensaba de modo leibniziano, mediante una peculiar fusión y radicalización en dirección de lo incondicionado, se llegó a pensar aquí la entidad del ente a la vez como objetividad y como eficacia. La eficacia (realidad efectiva) es comprendida como voluntad que sabe (saber volitivo), es decir como «razón» y «espíritu». La obra capital de Schopenhauer, El mundo como voluntad y representación, reúne, junto con una exégesis muy exterior y superficial del platonismo y de la filosofía kantiana, todas las direcciones fundamentales de la interpretación occidental del ente en su totalidad, desarraigándolas y llevándolas a un plano de comprensibilidad que se inclina hacia el emergente positivismo. La obra capital de Schopenhauer se convirtió para Nietzsche en la auténtica «fuente» para la forma y dirección de sus pensamientos. A pesar de ello, Nietzsche no tomó de los «libros» de Schopenhauer el proyecto del ente como «voluntad». Schopenhauer sólo pudo «cautivar» al joven Nietzsche porque las experiencias fundamentales del pensador que se estaba despertando encontraron en esa metafísica sus primeros e insoslayables [inevitáveis] apoyos. Las experiencias fundamentales del pensador tampoco provienen de su disposición ni de su formación, sino que acontecen desde la esenciante verdad del ser, y es el estar transferido al ámbito de ésta lo que constituye aquello que corrientemente y desde una perspectiva exclusivamente histórico-biográfica y antropológico-psicológica se conoce como la «existencia» de un filósofo. [Cada vez esas linhas soam mais claras para mime m mina própria experiência de pensador no século XXI.]

Que el ser del ente se torne poderoso como voluntad de poder no es la consecuencia de que haya surgido la metafísica de Nietzsche. Por el contrario, el pensamiento de Nietzsche tuvo que entrar en la metafísica porque el ser hacía aparecer su esencia propia como voluntad de poder, como aquello que en la historia de la verdad del ente tenía que ser comprendido mediante el proyecto en cuanto voluntad de poder. El acontecimiento fundamental de esta historia fue, en último término, la transformación de la entidad en subjetividad.”

En la medida en que no banalicemos a la metafísica convirtiéndola en una opinión doctrinal, la experimentaremos como la estructura, «dispuesta» por el ser, de la distinción de ser y ente. Incluso allí donde el «ser» se ha volatilizado en la interpretación hasta convertirse en una abstracción vacía pero necesaria y aparece entonces en Nietzsche (VIII, 78) como «el último humo de la realidad que se evapora», incluso allí impera la distinción de ser y ente, no en los pensamentos del pensador sino en la esencia de la historia en la que él mismo, pensando, es y tiene que ser.

A la distinción de ser y ente no podemos sustraernos, ni siquiera cuando presuntamente renunciamos a pensar metafísicamente. En cualquier parte y constantemente estamos y nos movemos en el puente de esta distinción que nos lleva del ente al ser y del ser al ente, en todo comportarse respecto del ente, cualquiera sea su tipo y su rango, su certeza y su grado de accesibilidad. Por eso, hay una visión esencial en lo que dice Kant de la «metafísica»: «Y así, en todos los hombres, apenas la razón se amplía en ellos hasta la especulación, ha habido efectivamente en todos los tiempos alguna metafísica, y también la seguirá habiendo siempre» (Introducción a la segunda edición de la Crítica de la razón pura, B21). Kant habla de la razón, de su ampliación a la «especulación», es decir de la razón teórica, del re-presentar, en la medida en que se prepara a disponer sobre la entidad de todo ente.”

Tenemos el presentimiento de que entramos aquí en la región, o quizás sólo en la región marginal más externa, de una pregunta decisiva que la filosofia hasta ahora ha eludido, aunque en el fondo ni siquiera ha podido eludirla, pues para ello tendría que haber encontrado previamente la pregunta por la distinción. Presentimos quizás que detrás de la confusión y la tensión que se extienden a propósito del «problema» del antropomorfismo está la citada pregunta decisiva, que, como todas las de su tipo, encierra en sí una determinada riqueza esencial de preguntas concatenadas entre sí.”

¿Se funda toda metafísica en la distinción de ser y ente?

¿Qué es esta distinción? ¿Se funda esta distinción en la naturaleza del hombre o se funda la naturaleza del hombre en esta distinción? ¿Es esta alternativa insuficiente? ¿Qué quiere decir aquí fundar en cada uno de los casos?

¿Por que pensamos aquí en términos de fundar y preguntamos por el «fundamento»?”

siempre nos encontramos de inmediato obligados a tomar al hombre como algo dado a lo que después le atribuimos esa relación con el ser. A esto corresponde la inevitabilidad que posee el antropomorfismo, que mediante la metafísica de la subjetividad ha recibido incluso su justificación metafísica. ¿No se vuelve de este modo intangible la esencia de la metafísica como la región que no debe transgredir ningún preguntar filosófico? La metafísica sólo podrá a lo sumo referirse a sí misma, y de este modo satisfacer por su parte, en última instancia, la esencia de la subjetividad.”

anima(l) (a)fundante

Sin embargo, no hemos avanzado nada con estas reflexiones.”

El «es» circula en el lenguaje como la palabra más desgastada y sustenta, sin embargo, todo decir, y esto no sólo en el sentido de la manifestación verbal. También en todo comportarse silencioso respecto del ente habla el «es». En todas partes, incluso allí donde no hablamos, nos comportamos sin embargo respecto del ente en cuanto tal y nos comportamos respecto de lo que «es», de lo que es de tal o cual manera, de lo que todavía es o ya no es, o de lo que simplemente no es.”

«este hombre es de Suabia»; «el libro es tuyo»; «el enemigo es[tá] en retirada»; «rojo es a babor [bombordo]»; «el Dios es»; «en China es [hay] una inundación»; «la copa es de plata»; «la tierra es»; «el campesino es[tá] en el campo»; «en los sembrados es[tá] el escarabajo de la patata»; «la conferencia es en el aula 5»; «el perro es[tá] en el jardín»; «éste es un hombre del demonio»; «Sobre todas las cimas es[tá] la paz»”

Nos encontramos de nuevo en el mismo punto de la meditación”

A ETERNA RIXA PARMÊNIDES X PLATÃO

El ser tiene que mantenerse absolutamente indeterminado en su significado para resultar determinable por parte de los diferentes tipos de entes de cada caso. Sólo que, apelando a los diferentes tipos de ente ya hemos puesto y admitido la multiplicidad del ser. Si nos atenemos exclusivamente al significado de las palabras «es» y «ser», este significado mismo, aún con toda la mayor vacuidad e indeterminación posible, tiene que tener, sin embargo, ese tipo de univocidad que admite desde sí una variación en una multiplicidad.” “tenemos que hacer visible esta doble faz del «ser» más allá de la mera indicación, aunque sin caer en el peligro de recurrir como orientación última, en lugar de la abstracción, a ese otro medio de pensamiento igualmente estimado: la dialéctica.”

El ser es lo más vacío y al mismo tiempo la riqueza desde la que todo ente, tanto conocido y experimentado como desconocido y por experimentar, es dotado del respectivo modo esencial de su ser.

El ser es lo más universal [das Allgemeinste] que se encuentra en todo ente, y por lo tanto lo más común [das Gemeinste], lo que ha perdido toda caracterización o que nunca la ha poseído.”

Lo más comprensible se opone a toda comprensibilidad.”

El ser es el decir-no [Absage] a ese papel de fundación, rehusa todo lo fundante, es abismal [ab-gründig].” “Pero esto que es lo más olvidado es al mismo tiempo lo que más se interna en el recuerdo [das Erinnerndste], lo único que permite penetrarse de lo sido, lo presente y lo venidero y estar en su interior.”

El ser queda para nosotros como algo indiferente y por ello prácticamente tampoco prestamos atención a la distinción de ser y ente, aunque basamos en ella todo comportamiento respecto del ente. Pero no sólo nosotros, los hombres de hoy, estamos fuera de esa discrepancia aún no experimentada de la relación con el ser. Este estar fuera y no conocer es lo que caracteriza a toda metafísica; para ella, en efecto, el ser es necesariamente lo más universal, lo más comprensible. Dentro de este horizonte sólo piensa la universalidad, graduada y estratificada en cada caso de modo diferente, de los diferentes ámbitos del ente.”

Puesto que la relación con el ser ha desaparecido de cierto modo en la indiferencia, tampoco la distinción de ser y ente puede volverse digna de cuestión para la metafísica.

Sólo desde este estado de cosas reconocemos el carácter metafísico de la época histórica de hoy. El «hoy» —no contado por el calendario ni por los sucesos de la historia mundial— se determina desde el tiempo más propio de la historia de la metafísica: es la determinación metafísica de la humanidad histórica en la época de la metafísica de Nietzsche.

Esta época muestra una obviedad peculiarmente indiferente respecto de la verdad del ente en su totalidad. O bien el ser se explica aún de acuerdo con la tradicional explicación cristiano-teológica del mundo, o bien el ente en su totalidad —el mundo— se determina invocando «ideas» y «valores». Las «ideas» recuerdan el comienzo de la metafísica occidental en Platón. Los «valores» remiten a la relación con el final de la metafísica en Nietzsche. Sólo que las «ideas» y «valores» no siguen siendo pensados en su esencia y en su proveniencia esencial.”

Esta indiferencia frente al ser [mundo] en medio de la suprema pasión por el ente [ser!] testimonia el carácter totalmente metafísico de la época.”

La «cosmovisión» es esa figura de la metafísica moderna que se vuelve inevitable cuando comienza su culminación en dirección de lo incondicionado. La consecuencia es una peculiar uniformidad de la hasta-ahora-múltiple-historia-occidental-europea, uniformidad que se anuncia metafísicamente en el acoplamiento de «idea» y «valor» como recurso determinante para la interpretación cosmovisional del mundo.” “El hecho de que aquí y allá, en círculos eruditos y partiendo de una tradición erudita, se hable de ser, de «ontología» y metafísica, son sólo ecos que no albergan ya ninguna fuerza conformadora de historia. El poder de la cosmovisión se ha apoderado de la esencia de la metafísica. Esto quiere decir: aquello que es peculiar de toda metafísica, que la distinción de ser y ente que la sustenta a ella misma permanezca esencial y necesariamente indiferente e incuestionada, se convierte ahora en lo que caracteriza a la metafísica como «cosmovisión». (…) sólo con el comienzo del acabamiento de la metafísica puede desplegarse el dominio total e incondicionado sobre el ente, no perturbado ni confundido ya por nada.” Creio que já não haverá mais mundo quando ele puder ser dominado.

lo desoculto mismo se transforma en conformidad con el ser del ente. La verdad se determina como tal desocultamiento en su esencia, en el desocultar, a partir del ente mismo admitido por ella y, de acuerdo con el ser así determinado, acuña la respectiva forma de su esencia. Por eso la verdad es, en su ser, histórica. La verdad requiere en cada caso una humanidad por medio de la cual sea dispuesta, fundada, comunicada y, de ese modo, preservada. La verdad y su preservación se copertenecen esencialmente, o sea, históricamente.

El modo, en cambio, en el que quien está llamado a salvaguardar la verdad en el pensar asume la rara disposición, fundamentación, comunicación y preservación de la verdad en el anticipador proyecto existencial-extático, delimita lo que se llamará la posición metafísica fundamental de un pensador. Por lo tanto, cuando se nombre a la metafísica, que pertenece a la historia del ser mismo, con el nombre de un pensador (la metafísica de Platón, la metafísica de Kant), esto no quiere decir aquí que la metafísica sea la obra, la posesión o la característica distintiva de esos pensadores como personalidades de la creación cultural. Ahora, la denominación significa que los pensadores son lo que son en la medida en que la verdad del ser se ha confiado a ellos para que digan el ser, es decir, en el interior de la metafísica, el ser del ente.

Con la obra Aurora (1881) la claridad irrumpe en el camino metafísico de Nietzsche. En el mismo año le llega —«a 6 000 pies sobre el nivel del mar y mucho más alto sobre todas las cosas humanas»— la visión del «eterno retorno de lo mismo» (XII, 425). Desde entonces su marcha se mantiene durante casi una década en la resplandeciente claridad de esta experiencia. Zaratustra toma la palabra. Como maestro del «eterno retorno» enseña el «superhombre». Se aclara y consolida el saber de que el carácter fundamental del ente es la «voluntad de poder» y de que de ella proviene toda interpretación del mundo, en la medida en que su índole es ser posiciones de valor. La historia europea desvela su rasgo fundamental como «nihilismo» y empuja hacia la necesidad de una «transvaloración de todos los valores válidos hasta el momento». La nueva posición de valores, realizada a partir de la voluntad de poder que ahora se reconoce decididamente a sí misma, exige como legislación su propia justificación desde una nueva «justicia» [Refundação d’A República].

la verdad del ente en cuanto tal en su totalidad quiere hacerse palabra en su pensar. Los planes acerca del modo de proceder se suceden unos a otros. Un proyecto tras otro van abriendo la estructura de lo que quiere decir el pensador. El título conductor es a veces «el eterno retorno», a veces «la voluntad de poder», a veces «la transvaloración de todos los valores». Cuando una expresión desaparece como expresión conductora, vuelve a aparecer como título de la parte final o como subtítulo del título principal. Todo avanza, sin embargo, en dirección a la educación de los hombres que «acometerán la transvaloración» (XVI, 419). Ellos son los «nuevos hombres veraces» (XIV, 322) de una nueva verdad.

Estos planes y proyectos no pueden tomarse como signos de inacabamiento e irresolución. Su cambio no es el testimonio de un primer intento y su correspondiente inseguridad. Estos esbozos no son programas sino la sedimentación escrita en la que se conservan los caminos, callados pero precisos, que Nietzsche ha tenido que recorrer en el ámbito de la verdad del ente en cuanto tal.

«La voluntad de poder», «el nihilismo», «el eterno retorno de lo mismo», «el superhombre», «la justicia» son las cinco expresiones fundamentales de la metafísica de Nietzsche.

«La voluntad de poder» es la expresión para el ser del ente en cuanto tal, la essentia del ente. «Nihilismo» es el nombre para la historia de la verdad del ente así determinado. «Eterno retorno de lo mismo» se llama al modo en que es el ente en su totalidad, la existentia del ente. «El superhombre» designa a aquella humanidad que es exigida por esta totalidad. «Justicia» es la esencia de la verdad del ente como voluntad de poder. Cada una de estas expresiones fundamentales nombra al mismo tiempo lo que dicen las demás. Sólo si se piensa conjuntamente lo dicho por éstas se extrae totalmente la fuerza denominativa de cada una de las expresiones fundamentales.

El intento siguiente sólo puede pensarse y seguirse desde la experiencia básica de Ser y Tiempo. Ésta consiste en ser afectado de un modo siempre creciente, aunque también de un modo que en algunos puntos tal vez se vaya aclarando, por ese acontecimiento único de que en la historia del pensamiento occidental se ha pensado ciertamente desde un comienzo el ser del ente, pero la verdad del ser en cuanto ser ha quedado, no obstante, sin pensarse, y no sólo se le rehusa al pensar como experiencia posible sino que el pensar occidental, en cuanto metafísica, encubre propiamente, aunque no a sabiendas, el acontecimiento de este rehusar.Vergessenheit

VER(com_os_olhos_do_coração)gessen

isolatus

pulso latente

from the insurmountable heights (-DADE)

Este intento de interpretación de la metafísica de Nietzsche se dirige, por lo tanto, a una meta próxima y a la meta más remota que se puede reservar al pensar.”

La lucha por el dominio de la tierra y el completo despliegue de la metafísica que lo sustenta llevan a su acabamiento una era de la tierra y de la humanidad histórica”

Uma obra sobre Heidegger, não Nietzsche: “Pero con el acabamiento de la era de la metafísica occidental se determina al mismo tiempo, en la lejanía, una posición histórica fundamental que, después de la decisión de esa lucha por el poder y por la tierra misma, no puede ya abrir y sostener el ámbito de una lucha. La posición fundamental en la que llega a su acabamiento la era de la metafísica occidental se ve entonces integrada a su vez en un conflicto de una esencia totalmente diferente. (…) El conflicto es la confrontación del poder del ente y de la verdad del ser. Preparar esta confrontación es la meta más remota de la meditación que aquí se intenta. (…) La meta más remota se encuentra infinitamente lejos en la sucesión temporal de los hechos y situaciones demostrables de la era actual. Pero esto, sin embargo, sólo quiere decir: pertenece a la lejanía histórica de una historia diferente.” “tal pensar es inicial y en el otro inicio tiene que preceder incluso a la poesía [Dichtung] en el sentido de la lírica [Poesie]. En el texto siguiente, exposición e interpretación están tan entrelazadas que no será claro en todas partes y de inmediato qué se extrae de las palabras de Nietzsche y qué se añade. Toda interpretación, sin embargo, no sólo tiene que poder extraer del texto la cosa de que se trata, sino que, sin insistir en ello, inadvertidamente, tiene que poder agregar algo propio proveniente de su propia cosa. Este añadido es lo que el profano, midiéndolo respecto de lo que, sin interpretación, considera el contenido del texto, censura necesariamente como una intervención extraña y una arbitrariedad.”

La voluntad «de» no es aún el poder mismo, pues no es aún propiamente tener el poder. El anhelar algo que aún no es se considera un signo de romanticismo. Pero esta voluntad de poder, en cuanto pulsión de tomar el poder es, al mismo tiempo, el puro afán de violencia. Este tipo de interpretaciones de la «voluntad de poder», en las que se encontrarían romanticismo y maldad, deforman el sentido de la expresión fundamental de la metafísica de Nietzsche”

Se toma a la voluntad como una facultad anímica que la consideración psicológica delimita desde hace ya tiempo frente al entendimiento y al sentimiento. De hecho, también Nietzsche concibe a la voluntad de poder de modo psicológico. No define, sin embargo, la esencia de la voluntad de acuerdo con una psicología usual sino que, a la inversa, postula la esencia y la tarea de la psicología en conformidad con la esencia de la voluntad de poder. Nietzsche exige que la psicología sea «morfología y doctrina del desarrollo de la voluntad de poder» (Más allá del bien y del mal, n. 23).”

la esencia de la voluntad de poder sólo se deja interrogar y pensar con la vista puesta en el ente en cuanto tal, es decir, metafísicamente. La verdad de este proyecto del ente en dirección al ser en el sentido de la voluntad de poder tiene carácter metafísico. No tolera ninguna fundamentación que recurra al tipo y a la constitución de un ente en cada caso particular, porque este ente invocado sólo es mostrable en cuanto tal si previamente el ente ya ha sido proyectado en dirección del carácter fundamental de la voluntad de poder en cuanto ser. [A história do mundo incondicionalmente levou o sujeito até este ponto]

¿Está entonces este proyecto exclusivamente al arbitrio de este pensador individual? Así lo parece. Esta apariencia de arbitrariedade pesa en un primer momento también sobre la exposición de lo que piensa Nietzsche cuando dice las palabras «voluntad de poder».”

Ser servidor es también una especie de la voluntad de poder. Querer no sería nunca un querer-ser-señor si la voluntad no pasara de ser un desear y un aspirar, en lugar de ser desde su base y exclusivamente: ordenar.”

El poder es poder sólo y mientras siga siendo acrecentamiento de poder y se ordene a sí mismo más poder. Ya el mero detener el acrecentamiento de poder, el mantenerse en un nivel de poder, marca el comienzo de la impotencia. El sobrepotenciarse a sí mismo forma parte de la esencia del poder. Surge del poder mismo en la medida en que es orden y, en cuanto orden, se da poder para sobrepotenciar el respectivo nivel de poder. De este modo, el poder está constantemente en camino «de» sí mismo, no sólo de un nivel siguiente de poder, sino del apoderamiento de su pura esencia.”

Pero si el poder es siempre poder de poder y la voluntad es siempre voluntad de voluntad, ¿no son entonces poder y voluntad lo mismo? Son lo mismo en el sentido de copertenencia esencial a la unidad de una esencia. No hay una voluntad por sí como no hay un poder por sí. Voluntad y poder, puestos cada uno por sí, se solidifican en fragmentos de conceptos desprendidos artificialmente de la esencia de la «voluntad de poder».”

en la esencia de la voluntad reina el terror al vacío. Éste consiste en la extinción de la voluntad, en no querer. Por eso, puede decirse de la voluntad: «prefiere querer la nada antes que no querer» (Genealogía de la moral, 3). «Querer la nada» quiere decir aquí: querer el empequeñecimiento, la negación, la aniquilación, la devastación. En un querer tal, el poder se asegura aún la posibilidad de ordenar. Así pues, incluso la negación del mundo no es más que una escondida voluntad de poder.”

Para Nietzsche, el descolorido título de «devenir» conserva el contenido pleno que se ha revelado como la esencia de la voluntad de poder. Voluntad de poder es sobrepotenciación del poder. Devenir no quiere decir aquí el indeterminado fluir de un cambio indefinido de estados cualesquieras que están allí delante. Devenir tampoco quiere decir «desarrollo hacia una meta». Devenir es la superación, en ejercicio del poder, del nivel de poder respectivo. En el lenguaje de Nietzsche, devenir quiere decir movilidad de la voluntad de poder en cuanto carácter fundamental del ente, movilidad que impera desde esa voluntad misma.”

Por eso, todo ser es «devenir». La amplia mirada abierta al devenir es la visión que se anticipa y atraviesa penetrando en el ejercicio de poder de la voluntad de poder, realizada desde el propósito único de que ésta «sea» como tal. Pero esta mirada que, abriendo a, atraviesa y penetra en la voluntad de poder le pertenece a ésta misma. La voluntad de poder, en cuanto dar el poder de sobrepotenciar, es un mirar previo y que atraviesa; Nietzsche dice: «perspectivista». Sólo que la «perspectiva» no es nunca una mera trayectoria de la mirada en la cual se llega a ver algo, sino que la mirada que se abre atravesando tiene la mira en las «condiciones de conservación y acrecentamiento». Los «puntos de vista» puestos en tal «ver» son, en cuanto condiciones, de un tipo tal que se tienen que tener en cuenta y se tiene que contar con ellos. Tienen la forma de «números» y de «medidas», es decir de valores. Los valores «son siempre reducibles a aquella escala numérica y de medida de la fuerza» (La voluntad de poder, n. 710). «Fuerza» es entendida por Nietzsche siempre en el sentido de poder, es decir, como voluntad de poder. El número es essencialmente «forma perspectivista» (La voluntad de poder, n. 490), ligado por lo tanto al «ver» propio de la voluntad de poder que, por su esencia, es un contar con valores.”

Las «formaciones complejas» de la voluntad de poder son de «duración relativa en el interior del devenir».”

«La cuestión de los valores es más fundamental que la cuestión de la certeza: la última sólo alcanza gravedad bajo el supuesto de que ya se haya respondido a la cuestión del valor» La voluntad de poder, n. 588

La metafísica de la voluntad de poder —y sólo ella— es, con derecho y necesariamente, un pensar en términos de valor. En el contar con valores y en el estimar de acuerdo con relaciones de valor, la voluntad de poder cuenta consigo misma. La auto-conciencia de la voluntad de poder consiste en pensar en términos de valor, donde el término «conciencia» no significa ya un representar indiferente sino el contar consigo mismo que ejerce y da poder. (…) La metafísica de la voluntad de poder interpreta todas las posiciones metafísicas fundamentales que le preceden bajo la luz del pensamiento del valor. Toda confrontación metafísica es un decidir sobre el orden jerárquico de los valores.”

Las ideas son en cada caso lo uno respecto de lo múltiple, lo cual sólo aparece bajo su luz y sólo al aparecer así es. En cuanto son este uno que unifica, las ideas son al mismo tiempo lo consistente, verdadero, a diferencia de lo cambiante y aparente. Comprendidas desde la metafísica de la voluntad de poder, las ideas tienen que ser pensadas como valores y las unidades más altas como valores supremos. El propio Platón aclara la esencia de la idea a partir de la idea más alta, de la idea del bien

el ser del ente no ha sido aún proyectado como voluntad de poder. No obstante, Nietzsche, desde su posición metafísica fundamental, puede interpretar la comprensión platónica del ente, las ideas y por lo tanto lo suprasensible, como valores. En esta interpretación, toda la filosofía desde Platón se convierte en metafísica de los valores. El ente en cuanto tal se comprende en su totalidad desde lo suprasensible y se reconoce a éste, al mismo tiempo, como lo verdaderamente ente [o mundo verdadeiro], ya sea lo suprasensible en el sentido del Dios creador y redentor del cristianismo, la ley moral, o la autoridad de la razón, el progreso, la felicidad de la mayoría. En todos los casos, lo sensible que está allí delante se mide respecto de algo deseable, de un ideal. Toda metafísica es platonismo. El cristianismo y las formas de su secularización moderna son «platonismo para el pueblo» (VII, 5).

La interpretación de toda metafísica llevada a cabo desde el pensamiento del valor es la interpretación «moral». Pero Nietzsche no realiza esta interpretación de la metafísica y de su historia como una consideración historiográfico-erudita del pasado sino como una decisión histórica de lo venidero. Si el pensamiento del valor se convierte en hilo conductor de la reflexión histórica sobre la metafísica en cuanto fundamento de la historia occidental, esto quiere decir ante todo: la voluntad de poder es el principio único de la posición de valores. Allí donde la voluntad de poder osa reconocerse como el carácter fundamental del ente, todo tiene que estimarse en referencia a si, acrecienta o disminuye e inhibe la voluntad de poder.”

DESPOTISMO ESCLARECIDO: “Mientras que la metafísica existente hasta el momento no conoce propiamente a la voluntad de poder como principio de la posición de valores, en la metafísica de la voluntad de poder ésta se convierte en «principio de una nueva posición de valores». Puesto que desde la metafísica de la voluntad de poder toda metafísica se comprende de modo moral como una valoración, la metafísica de la voluntad de poder se vuelve una posición de valor, una «nueva» posición de valor.”

Nietzsche no ha expuesto el conocimiento que tenía del nihilismo, conocimiento que surge de la metafísica de la voluntad de poder y que le pertenece esencialmente a ella, con la trabada conexión con la que se ofrecía a su visión metafísica de la historia, cuya forma pura, sin embargo, no conocemos ni nunca podremos llegar a descubrir a partir de los fragmentos que se conservan. No obstante, en el interior de su pensar, Nietzsche ha pensado a fondo lo aludido por el título «nihilismo» en todos los respectos, niveles y tipos esenciales para él, y ha fijado los pensamientos en diferentes anotaciones de diversa amplitud y diverso grado de elaboración.”

El proceso de desvalorización de los valores supremos válidos hasta el momento no es por lo tanto un suceso histórico entre muchos otros sino el acontecimiento fundamental de la historia occidental, historia sostenida y guiada por la metafísica. En la medida en que la metafísica ha recibido mediante el cristianismo un peculiar sello teológico, la desvalorización de los valores vigentes hasta el momento tiene que expresarse también de modo teológico con la sentencia: «Dios ha muerto». «Dios» alude aquí en general a lo suprasensible, lo cual, en cuanto eterno mundo «verdadero», que está «más allá», opuesto al mundo «terrenal» de aquí, se hace valer corno el fin propio y único. Cuando la fe eclesiástico-cristiana palidece y pierde su dominio mundano, no por ello desaparece el dominio de este Dios. Por el contrario, su figura se disfraza, su pretensión se endurece volviéndose irreconocible. En lugar de la autoridad de Dios y de la Iglesia aparece la autoridad de la conciencia, el dominio de la razón, el dios del progreso histórico, el instinto social.”

Pero si la «muerte de Dios» y la caducidad de los valores supremos son el nihilismo, ¿cómo puede afirmarse aún que el nihilismo no es algo negativo? ¿Qué podría impulsar la aniquilación que conduce a la nula nada de manera más decidida que la muerte, y más aún la muerte de Dios? Sólo que la desvalorización de los valores supremos válidos hasta el momento, si bien pertenece, como acontecer fundamental de la historia occidental, al nihilismo, jamás agota, sin embargo, su esencia.

La desvalorización de los valores supremos válidos hasta el momento conduce en primer lugar a que el mundo aparezca como carente de valor. Los valores válidos hasta el momento se desvalorizan, pero el ente en su totalidad permanece, y la necesidad de erigir una verdad sobre el ente no hace más que acrecentarse. Se abre paso la imprescindibilidad de nuevos valores. Se anuncia la posición de nuevos valores. Surge un estado intermedio por el que atraviesa la actual historia del mundo. Este estado intermedio lleva consigo que, al mismo tiempo, se desee y hasta se opere la vuelta del mundo de valores precedente y, sin embargo, se sienta y se reconozca, aunque de mala gana, la presencia de un nuevo mundo de valores. Este estado intermedio, en el que los pueblos históricos de la tierra tienen que decidir entre la decadencia o un nuevo comienzo, durará tanto como se mantenga la apariencia de que aún es posible salvar de la catástrofe al futuro histórico con un equilibrio que medie entre los viejos y los nuevos valores.

La desvalorización de los valores supremos hasta el momento queda de antemano integrada en la transvaloración de todos los valores que ocultamente se espera. Por eso, el nihilismo no opera en dirección de la mera nulidad. Su esencia propia se encuentra en el modo afirmativo de una liberación.”

Pero ¿qué sentido tiene entonces la palabra negativa nihilismo para referirse a lo que en esencia es afirmación? El nombre asegura a la esencia afirmativa del nihilismo el rigor supremo de lo incondicionado que desecha toda mediación. Nihilismo quiere decir, entonces: nada de las posiciones de valor válidas hasta el momento debe ya valer, todo ente tiene que cambiar en su totalidad, es decir, tiene que ponerse en su totalidad bajo condiciones diferentes. Apenas el mundo aparece sin valor en virtud de la desvalorización de los valores supremos hasta el momento, se abre paso algo extremo, que a su vez sólo puede ser sustituido por otro extremo (cfr. La voluntad de poder, n. 55).”

Con el nihilismo aflora históricamente el dominio de lo «total».”

fracasa todo intento de computar lo nuevo que surge de la inversión incondicionada empleando los medios de los modos de pensar y experimentar existentes hasta el momento.”

POR UM INVENTÁRIO PARTE II: Quando podemos dizer que quem apareceu depois foi plagiado por quem havia sentado à janela do trem?

La posición de los valores supremos, su falsificación, su desvalorización, el aspecto temporalmente carente de valor del mundo, la necesidad de suplantar los valores válidos hasta el momento por otros nuevos, la nueva posición como transvaloración, los estadios previos de esta transvaloración, todo esto circunscribe una legalidad propia de las estimaciones de valor en las que tiene sus raíces la interpretación del mundo.

Esta legalidad es la historicidad de la historia occidental, experimentada desde la metafísica de la voluntad de poder. En cuanto legalidad de la historia, el nihilismo despliega una serie de diferentes estadios y formas de sí mismo. Por ello, el simple término nihilismo dice demasiado poco, ya que oscila dentro de una pluralidad de sentidos. Nietzsche rechaza la opinión de que el nihilismo sea la causa de la decadencia señalando que, al ser la «lógica» de la decadencia, impulsa precisamente más allá de ella. La causa del nihilismo es, en cambio, la moral, en el sentido de la instauración de ideales supranaturales de lo verdadero, lo bueno y lo bello que tienen validez «en sí». La posición de los valores supremos pone al mismo tiempo la posibilidad de su desvalorización, que comienza ya con el hecho de que se muestren como inalcanzables [hm]. De ese modo, la vida aparece como inepta y como lo menos apropiada para realizar esos valores. Por eso, la «forma preliminar» del nihilismo auténtico es el pesimismo (La voluntad de poder, n. 9).” “El pesimismo proveniente de la fuerza está caracterizado por la capacidad «analítica», con lo cual Nietzsche no entiende el agitado deshilachar y disolver la «situación historiográfica», sino el separar y mostrar con frialdad, por el hecho de ya saber, los fundamentos por los que el ente es tal como es. El pesimismo que sólo ve la declinación proviene, en cambio, de la «debilidad», busca en todas partes lo aciago [fatal], está al acecho [à espreita; observação tensa porém impotente] de las posibilidades de fracaso y cree ver así el modo en que sucederá todo. Lo comprende todo y para cada situación es capaz de aportar una analogía del pasado. [2007-2008] Su característica es, a diferencia de la «analítica», el «historicismo» (La voluntad de poder, n. 10).”

Por momentos se extiende el «nihilismo incompleto», por momentos se atreve a surgir ya el «nihilismo extremo». El «nihilismo incompleto», si bien niega los valores supremos válidos hasta el momento, no hace más que poner nuevos ideales en el antiguo lugar (en lugar del «cristianismo primitivo, «el comunismo»; en lugar del «cristianismo dogmático», la «música wagneriana»). Esta medianía retarda la decidida destitución de los valores supremos. El retardo oculta lo decisivo: que con la desvalorización de los valores supremos válidos hasta el momento tiene que eliminarse sobre todo el lugar que les es adecuado, lo «suprasensible» existente en sí.” “El «nihilismo extremo» reconoce que no hay una «verdad eterna en sí». Pero en la medida en que contenta con esta comprensión y contempla la decadencia de los valores supremos válidos hasta el momento, resulta «pasivo». El nihilismo «activo, por el contrario, interviene, revoluciona, saliéndose del modo de vivir anterior e infundiendo a lo que quiere morir con mayor razón «el deseo del final» (La voluntad de poder, n. 1055). [Plato is back to the game – há uma verdade, só há que evitar as mil arapucas e ser prematuro a respeito do ser!…]

¿Y a pesar de ello, este nihilismo no sería negativo? ¿No confirma el propio Nietzsche el carácter puramente negativo del nihilismo en esa expresiva descripción del nihilista que reza así (La voluntad de poder, n. 585A): «Un nihilista es el hombre que, del mundo tal como es juzga que no debería ser, y del mundo que debería ser, que no existe»?”

El nihilismo extremo pero activo desaloja los valores válidos hasta el momento junto con su «espacio» (lo suprasensible) y da espacio por vez primera a las posibilidades de una nueva posición de valores. En referencia a este carácter del nihilismo extremo de crear espacios y salir a campo abierto, Nietzsche habla también de «nihilismo extático» (La voluntad de poder, n. 1055).”

El nihilismo extático se convierte en «nihilismo clásico». Como tal comprende Nietzsche su propia metafísica. Allí donde la voluntad de poder es el principio que se ha adoptado para la posición de valores, el nihilismo se convierte en el «ideal del supremo poderío del espíritu» (La voluntad de poder, n. 14). En la medida en que se niega todo ente existente en sí y se afirma la voluntad de poder como origen y medida del crear, «el nihilismo podría ser un modo divino de pensar» (La voluntad de poder, n. 15). Se está pensando en la divinidad del dios Dionisos.” Gerações se passam nessa moleza derrisória que nada significa. As próprias afirmações mais entusiásticas e revigorantes não parecem mais que duchas de água fria, são-nos acolhidas com indiferença, fastio. O terrível poder de duvidar embutido no otimismo mais heróico (e portanto derivado do pessimismo forte). Quanto esta marcha da transvaloração não pode continuar a ser retardada por simulacros, como num programa autossabotado de computador? Vamos jogar toda a “lógica ocidental” no lixo; a lixeira é o próprio Ocidente, mas esse lixo não é reciclável. Inércia. Quem morre na Lua não é decomposto.

Esto implica: sólo en la trans-valoración son puestos los valores como valores, es decir, comprendidos en su fundamento esencial como condiciones de la voluntad de poder. La esencia de ésta da la posibilidad de pensar metafísicamente «lo dionisíaco».”

Pensado estrictamente, la trans-valoración [Um-wertung] es el repensar [Um-denken] del ente en cuanto tal en su totalidad en referencia a «valores». Esto implica: el carácter fundamental del ente en cuanto tal es la voluntad de poder. Sólo como nihilismo «clásico» llega el nihilismo a su propia esencia.”

«El mundo, en cuanto fuerza, no debe pensarse como ilimitado, pues no puede ser pensado de este modo; nos prohibimos el concepto de una fuerza infinita en cuanto inconciliable con el concepto de <fuerza>. Por lo tanto: al mundo le falta la capacidad de eterna novedad» (La voluntad de poder, n. 1062)

el ente en cuanto voluntad de poder en su totalidad tiene que hacer que retorne lo mismo y el retorno de lo mismo tiene que ser eterno.”

El eterno retorno de lo mismo es el modo de presenciar de lo inconsistente (de lo que deviene) en cuanto tal, pero esto en el volver consistente en grado sumo (en el moverse en círculo), con la determinación única de asegurar la continua posibilidad del ejercicio del poder. El retorno, la llegada y la partida del ente que está determinado como eterno retorno tiene en todas partes el carácter de la voluntad de poder. Por eso la mismidad de lo mismo que retorna consiste ante todo en que, en todo ente, es el ejercicio del poder lo que en cada caso ordena, condicionando, como consecuencia de ese ordenar, una misma constitución del ente. El retorno de lo mismo no quiere decir nunca que, para un observador cualquiera cuyo ser no estuviera determinado por la voluntad de poder, lo mismo que estaba previamente allí delante vuelva siempre a estar de nuevo allí delante.”

Lo mismo que retorna tiene en cada caso una existencia consistente sólo relativa y es, por lo tanto, lo por esencia carente de existencia consistente. Pero su retorno significa llevar siempre de nuevo a la existencia consistente, es decir, volver consistente. El eterno retorno es el más consistente volver consistente de lo que carece de existencia consistente. Pero desde el comienzo de la metafísica occidental el ser se comprende en el sentido de la consistencia de la presencia, donde consistencia tiene el doble significado de fijeza y de permanencia. El concepto nietzscheano del eterno retorno de lo mismo enuncia esta misma esencia del ser. Nietzsche distingue, ciertamente, el ser, como lo consistente, firme, fijado e inmóvil, frente al devenir. Pero el ser pertenece sin embargo a la voluntad de poder, que tiene que asegurarse la existencia consistente a partir de algo consistente únicamente para poder superarse, es decir, devenir.”

En la «cima de la consideración», donde se decide la verdad sobre el ente en cuanto tal en su totalidad, se instituiría algo falso, una apariencia. La verdad sería así un error.”

El eterno retorno de lo mismo dice cómo es en su totalidad el ente que, en cuanto universo no tiene ningún valor ni ninguna meta en sí. La carencia de valor del ente en su totalidad, una determinación en apariencia sólo negativa, se funda en la determinación positiva por la que se le ha asignado de antemano al ente el todo del eterno retorno de lo mismo.

Sólo si el ente en su totalidad es caos le queda garantizada, en cuanto voluntad de poder, la continua posibilidad de configurarse de modo «orgánico» en formaciones de dominio en cada caso limitadas de duración relativa.”

cuán difícil y cuán poco frecuente es para un hombre, en cuanto pensador, poder mantenerse en los cauces de un proyecto requerido por la metafísica y en su fundamentación correspondiente.”

La pertenencia de la esencia humana a la salvaguardia del ente no se basa de ninguna manera en que en la metafísica moderna todo ente es objeto para un sujeto. Esta interpretación del ente desde la subjetividad es ella misma metafísica y ya una oculta consecuencia de la encubierta referencia del ser mismo a la esencia del hombre. Esta referencia no puede pensarse desde la relación sujeto-objeto, pues ésta es precisamente el necesario desconocimiento y el constante encubrimiento de esa referencia y de la posibilidad de experimentarla. Por ello, la proveniencia esencial del antropomorfismo —necesario en el acabamiento de la metafísica— y de sus consecuencias, la proveniencia del dominio del antropologismo, constituyen un enigma para la metafísica, que ni siquiera puede advertirlos como tal. Puesto que el hombre pertenece a la esencia del ser y, desde ese pertenecer, resulta destinado a la comprensión de ser, el ente, según sus diferentes ámbitos y grados, se halla en la posibilidad de ser investigado y dominado por el hombre.

Pero el hombre que, estando en medio del ente, se comporta respecto del ente que es, en cuanto tal, voluntad de poder y, en su totalidad, eterno retorno de lo mismo, se llama superhombre. Su realización implica que el ente aparezca en el carácter de devenir de la voluntad de poder desde la más resplandeciente claridad del pensamiento del eterno retorno de lo mismo. «Una vez que hube creado el superhombre, coloqué a su alrededor el gran velo del devenir e hice que el sol estuviera sobre él en el mediodía» (XII, 362). Puesto que la voluntad de poder, en cuanto principio de la transvaloración, hace aparecer a la historia con el rasgo fundamental del nihilismo clásico [último], también la humanidad de esta historia tiene que confirmarse en ella ante sí misma.

El «super» en la expresión «superhombre» contiene una negación y significa salir e ir más allá, por «sobre» el hombre habido hasta el momento. El no de esta negación es incondicionado, en la medida en que viene del sí de la voluntad de poder y afecta absolutamente la interpretación del mundo platónica, cristiano-moral, en todas sus variantes, manifiestas y ocultas. La afirmación que niega decide, pensando de modo metafísico, que la historia de la humanidad se convierta en una nueva historia. El concepto general, aunque no exhaustivo, de «superhombre» alude ante todo a esta esencia nihilístico-histórica de la humanidad que se piensa a sí misma de modo nuevo, es decir, aquí: de la humanidad que se quiere a sí misma.” Humanidade como gênio.

«Tenía que concederle el honor a Zaratustra, a un persa: los persas fueron los primeros en pensar la historia en su totalidad, em su conjunto» (XIV, 303)

En el interior de la metafísica, el hombre es experimentado como el animal racional (animal rationale). El origen «metafísico» de esta determinación esencial del hombre que sustenta toda la historia occidental no ha sido hasta ahora comprendido, no ha sido puesto a decisión del pensar. Esto quiere decir: el pensar no ha surgido aún de la escisión entre la pregunta metafísica por el ser, la pregunta por el ser del ente, y aquella pregunta que pregunta de un modo más inicial, que interroga por la verdad del ser y con ello por la referencia esencial del ser a la esencia del hombre. La metafísica misma impide preguntar por esa referencia esencial.” O freio que usam para acelerar e passar a marcha (da história).

en la interpretación nihilista de la metafísica y de su historia, el pensamiento, es decir la razón, aparece como el fundamento y la medida conductora de la instauración de valores. La «unidad» existente «en sí» de todo el ente, el «fin» último presente «en sí» de todo el ente, lo verdadero válido «en sí» para todo el ente, aparecen como tales valores puestos por la razón.”

Sólo que también la animalidad está igualmente y ya de antemano invertida. No es considerada ya como la mera sensibilidad y como lo inferior en el hombre. La animalidad es el cuerpo viviente que vive corporalmente [leibende Leib], es decir, el cuerpo pleno de impulsos que provienen de él mismo y que todo lo sobrepuja. Esta expresión nombra la característica unidad de la formación de dominio de todas las pulsiones, los impulsos, las pasiones que quieren la vida misma. En cuanto la animalidad vive como vida corpórea, es en el modo de la voluntad de poder.”

Todas las facultades del hombre están predeterminadas metafísicamente como modos en que el poder dispone sobre su propio ejercicio.

«Pero el que está despierto, el que sabe, dice: soy totalmente cuerpo, y nada más; y alma es sólo una palabra para algo en el cuerpo. El cuerpo es una gran razón, una multiplicidad con un sentido, una guerra y una paz, un rebaño y un pastor. Un instrumento de tu cuerpo es también tu pequeña razón, hermano mío, a la que llamas ‘espíritu’, un pequeño instrumento y un pequeño juguete de tu gran razón»

Así habló Zaratustra, 1a parte: «De los que desprecian el cuerpo»”

Sólo el rango de la razón, desplegado hasta lo incondicionado en la forma de la metafísica moderna, desvela el origen metafísico de la esencia del superhombre.”

Este percibir [Vernehmen] se convierte ahora en una vista [Vernehmung] en sentido judicial (en el sentido de que tiene derecho y dice lo que es de derecho). El re-presentar, desde sí y en dirección a sí, interroga a todo lo que le sale al encuentro respecto de si y cómo hace frente al aseguramiento que el re-presentar, en cuanto llevar-ante-sí, requiere para su propia seguridad. El representar ahora ya no es más sólo la vía que conduce a la percepción del ente en cuanto tal, es decir de lo consistente presente. El representar se convierte en el tribunal que decide sobre la entidad del ente y dice que en el futuro sólo habrá de valer como ente lo que en el re-presentar sea puesto por éste [tribunal] ante sí mismo y quede así puesto en seguro para él. Pero en este poner-ante-sí el representar se representa en cada caso también a sí mismo; y esto no de manera secundaria y de ningún modo como un objeto, sino de antemano y como aquello a lo que todo tiene que estar remitido y en cuyo entorno únicamente toda cosa puede ser puesta en seguro.”

La entidad del ente es, en toda metafísica, subjetividad en el sentido originario. El término más corriente, pero que no nombra nada diferente, es: «substancialidad». La mística medieval (Tauler y Suso) traduce subiectum y substantia por «understand» y, en correspondencia literal, obiectum por «gegenwurf».”

Mediante la aludida transformación de la esencia metafísica de la subjetividad, el nombre subjetividad adquiere y conserva en el futuro el sentido único de que el ser del ente consiste en el representar. La subjetividad en sentido moderno se destaca respecto de la substancialidad, que resulta finalmente superada en aquélla. Por ello, la exigencia decisiva de la metafísica de Hegel reza: «Según mi comprensión, que tiene que justificarse sólo por la exposición del sistema mismo, todo depende de captar y expresar lo verdadero no como substancia sino asimismo como sujeto» (System der Wissenschaft. Erster Teil, die Phänomenologie des Geistes [Sistema de la ciencia. Primera parte: La fenomenología del espíritu], 1807, pág. XX; Werke, II, 1832, p. 14). La esencia metafísica de la subjetividad no se cumple con la «yoidad» ni menos aún con el egoísmo del hombre. El «yo» es siempre sólo una ocasión posible, y en ciertas situaciones la ocasión más próxima, en la que la esencia de la subjetividad se manifiesta y busca un abrigo para su manifestación. La subjetividad, en cuanto ser de todo ente, no es jamás sólo «subjetiva» en el mal sentido de lo que alude de modo casual a un yo singular.

Por eso, cuando en referencia a la subjetividad así entendida se habla del subjetivismo del pensamiento moderno, se tiene que alejar totalmente la idea de que se trate aquí de un opinar y de un modo de comportarse «meramente subjetivo», egoísta y solipsista. En efecto, la esencia del subjetivismo es objetivismo, en la medida en que para el sujeto todo se vuelve objeto. Incluso lo no objetivo —lo que no tiene el carácter de objeto— queda determinado por lo objetivo, por la referencia de su rechazo. Puesto que el representar pone en la representatividad lo que sale al encuentro y se muestra, el ente así remitido se convierte en «objeto».” «Entidad es subjetividad» y «entidad es objetividad» dicen lo mismo.”

Leibniz determina a la subjetividad como representar que apetece. Sólo con esta comprensión se alcanza el pleno comienzo de la metafísica moderna (cfr. Monadologie, par. 14 y 15). La monas, es decir la subjetividad del sujeto, es perceptio y appetitus (cfr. también Principes de la Nature et de la Grâce, fondé en raison, n. 2 [ver favoritos]).”

Sólo como autolegislación incondicionada, el representar, es decir la razón en la plenitud dominada y completamente desplegada de su esencia, es el ser de todo ente. Ahora bien, la autolegislación caracteriza a la «voluntad», en la medida en que su esencia se determina en el horizonte de la razón pura. La razón, en cuanto representar que apetece, es en sí misma al mismo tiempo voluntad. La subjetividad incondicionada de la razón es volitivo saber de sí mismo. Esto quiere decir: la razón es espíritu absoluto. En cuanto tal, la razón es la realidad absoluta de lo real, el ser del ente.”

«Fenomenología» no significa aquí el modo de pensar de un pensador sino la manera en que la subjetividad incondicionada, en cuanto representar (pensar) incondicionado que se aparece a sí, es ella misma el ser de todo ente [sempre, recapitulando: a totalidade de todo ser]. La «lógica» de Hegel forma parte de la «fenomenología» porque sólo en ella el aparecer a sí de la subjetividad incondicionada se vuelve incondicionado, en la medida en que incluso las condiciones de todo aparecer, las «categorías», en su más propio representarse y abrirse como «logos», son llevadas a la visibilidad de la idea absoluta.

El representar distingue a lo representado frente [al] y para lo que representa. El re-presentar es por esencia este distinguir y escindir. Por eso, en el «Prólogo» a todo el Sistema de la Ciencia, Hegel dice: «La actividad de escindir es la fuerza y el trabajo del entendimiento, del poder más extraordinario y más grande, o mejor, del poder absoluto» (Werke, II, p. 25).”

La negación nihilista de la preeminencia metafísica, determinante del ser, de la razón incondicionada —no su eliminación total— es la afirmación del papel incondicionado del cuerpo como puesto de mando de toda interpretación del mundo. «Cuerpo» es el nombre de esa forma de la voluntad de poder en la que ésta, por estar siempre en situación, es inmediatamente accesible para el hombre en cuanto «sujeto» eminente. Por eso, Nietzsche dice: «Esencial: partir del cuerpo y utilizarlo como hilo conductor» (La voluntad de poder, n. 532; cfr. ns. 489, 659).” “La voluntad racional, hasta el momento al servicio del representar, transforma su esencia en voluntad que, en cuanto ser del ente, se ordena a sí misma” “La voluntad ya no es sólo autolegislación para la razón que representa y que, sólo en cuanto representa, también actúa. La voluntad es ahora la pura autolegislación de sí misma: la orden de llegar a su esencia, es decir, la orden de ordenar, el puro ejercicio de poder del poder.” “Acabamiento quiere decir aquí que la posibilidad más extrema de la esencia de la subjetividad, refrenada hasta el momento, se convierte em centro esencial. La voluntad de poder es, por lo tanto, la subjetividad incondicionada y, puesto que está invertida, también la subjetividad que sólo entonces ha llegado a su acabamiento y que en virtud de este acabamiento agota al mismo tiempo la esencia de la incondicionalidad.”

Fundamento de la entera doctrina de la ciencia de Fichte (1794)”

Sobre a ponte metafísica Hegel-Nie.: “la subjetividad del espíritu absoluto es, ciertamente, incondicionada, pero es también una subjetividad aún esencialmente inacabada. Sólo su inversión en subjetividad de la voluntad de poder agota la última posibilidad esencial del ser como subjetividad.” Não há eu, mas nunca houve espírito vicário do eu, tampouco.

la subjetividad incondicionada de la razón puede saberse como lo absoluto de aquella verdad sobre el ente que enseña el cristianismo. De acuerdo con esta doctrina, el ente es lo creado por el creador. Lo más ente (summum ens) es el creador mismo.” “Ahora la subjetividad, en cuanto voluntad de poder, sólo se quiere simplemente a sí misma como poder en el dar poder para la sobrepotenciación.” “puesta en su punto más alto, la voluntad de poder, en cuanto subjetividad acabada, es el supremo y único sujeto, es decir el superhombre [hm – a chegada do incondicionado é apenas enunciada, mas se já foi ultrapassada?…]. Éste no sólo va, de modo nihilista, más allá de la esencia del hombre habida hasta el momento sino que, al mismo tiempo, en cuanto inversión de esta esencia, sale más allá de sí mismo hacia su incondicionalidad, y esto quiere decir, a la vez, entra en el todo del ente, en el eterno retorno de lo mismo.”

O super-homem é um estágio efêmero da própria individualidade do “superior” durante a “civilização transitória”?

Em várias instâncias, em Nie. ou não, reconhece-se que o gênio seria o único delineamento, ainda que indireto, do “super-homem”. Napoleão…, Sócrates, Platão. O gênio existindo antes da noção de gênio ou individualidade como o paradigma da perfeição telúrica. Até Da Vinci soa forçado em contraste…

El «superhombre» no es un ideal suprasensible; tampoco es una persona que surgirá en algún momento y aparecerá en algún lugar. En cuanto sujeto supremo de la subjetividad acabada es el puro ejercicio de poder de la voluntad de poder. El pensamiento del «superhombre» no surge, por lo tanto, de una «arrogancia» del «señor Nietzsche». Si se quiere pensar el origen de este pensamiento desde el pensador, entonces se halla en la íntima resolución con la que Nietzsche se somete a la necesidad esencial de la subjetividad acabada, es decir, de la última verdad metafísica sobre el ente en cuanto tal. El superhombre vive en cuanto la nueva humanidad quiere el ser del ente como voluntad de poder. Quiere este ser porque ella misma es querida por este ser, es decir, en cuanto humanidad, es entregada incondicionadamente a sí misma.En el momento de la claridad más luminosa, cuando el ente en su totalidad se muestra como eterno retorno de lo mismo, la voluntad tiene que querer el superhombre; pues sólo con la vista puesta en el superhombre puede soportarse el pensamiento del eterno retorno de lo mismo. La voluntad que aquí quiere no es un desear y un apetecer, sino la voluntad de poder. Los «nosotros» que allí quieren son aquellos que han experimentado el carácter fundamental del ente como voluntad de poder y saben que ésta, en su grado más alto, quiere su propia esencia y es así la consonancia con el ente en su totalidad.” «Que vuestra voluntad diga» quiere decir ante todo: que vuestra voluntad sea voluntad de poder. Pero ésta, en cuanto principio de la nueva posición de valores, es el fundamento de que el ente ya no sea el más allá suprasensible sino la tierra de aquí, como objeto de la lucha por el dominio terrestre,¹ y de que el superhombre se vuelva el sentido y la meta de tal ente. Meta no alude ya al fin existente «en sí» sino que quiere decir lo mismo que valor. El valor es la condición condicionada por la propia voluntad de poder para ella misma.”

¹ Ou realmente eu sou incapaz de entender no momento ou este é o erro crucial de toda a filosofia de Heidegger. Tenha ele errado APENAS NISSO, tudo o mais foi em vão (nesta etapa do ‘escorrimento da verdade do ser’), o que não impede um tiro de filósofo-artilheiro mais preciso no futuro… Mas divago!

«Toda la belleza y todo lo sublime que le hemos prestado a las cosas reales e imaginadas quiero reivindicarlos como propiedad y producto del hombre: como su más bella apología. El hombre como poeta, como pensador, como dios, como amor, como poder: ¡ay por la real generosidad con la que ha obsequiado a las cosas para empobrecerse y sentirse miserable! Éste era hasta ahora su mayor desprendimiento, que admiraba y adoraba y sabía ocultarse que era él el que había creado eso que admiraba.» (La voluntad de poder, epígrafe al libro segundo, 1887-1888)

¿No conduce esta humanización del ente en cuanto tal en su totalidad a un empequeñecimiento del mundo? Se impone, sin embargo, una contrapregunta: ¿quién es aquí el hombre por medio del cual y en dirección al cual se humaniza el ente? ¿En qué subjetividad se funda la <subjetivización del mundo>?”

Convertirse en señor quiere decir, ante todo, someterse a sí mismo a la orden que da poder a la esencia del poder. Las pulsiones sólo encuentran su esencia, de la especie de la voluntad de poder, como grandes pasiones, es decir como pasiones colmadas en su esencia por el puro poder. Éstas «se arriesgan ellas mismas» y son ellas mismas «juez, vengador y víctima» (Así habló Zaratustra, segunda parte, «De la superación de sí mismo»). Los pequeños gozos se mantienen extraños a las grandes pasiones.

Lo inverso de la humanización, o sea la humanización por medio del superhombre, es la «deshumanización». Esta libera al ente de las posiciones de valor del hombre que ha existido hasta el momento. Mediante esta deshumanización el ente se muestra «desnudo», como el ejercicio del poder y la lucha de las formaciones de dominio de la voluntad de poder, es decir, del «caos». Así, el ente es, puramente desde la esencia de su ser: «naturaleza».”

La fijación metafísica del hombre como animal significa la afirmación nihilista del superhombre.”

El superhombre no significa un burdo aumento de la arbitrariedad de los hechos de violencia usuales, según el modo del hombre existente hasta el momento. A diferencia de toda mera exageración del hombre actual hasta la desmesura, el paso al superhombre transforma esencialmente al hombre que ha existido hasta el momento en su «inverso». Este tampoco presenta simplemente un «nuevo tipo» de hombre. Antes bien, el hombre inverso de modo nihilista es por vez primera el hombre como tipo.”

el simple rigor de simplificar todas las cosas y todos los hombres en algo único: el incondicionado dar poder a la esencia del poder para el dominio sobre la tierra. Las condiciones de este dominio, es decir, todos los valores, son puestos y llevados a efecto por medio de una completa «maquinalización» de las cosas y por medio de la selección del hombre. Nietzsche reconoce el carácter metafísico de la máquina y expresa ese conocimiento en un «aforismo» de la obra El caminante y su sombra (1880):

«La maquina como maestra. La máquina enseña por sí misma el engranaje de masas humanas en acciones en las que cada uno tiene que hacer una sola cosa: proporciona el modelo de la organización de partidos y del modo de hacer la guerra. No enseña, por el contrario, la soberanía individual: de muchos hace una máquina y de cada individuo un instrumento para un fin. Su efecto

general es: enseñar la utilidad de la centralización.» (III, 317)”

El adiestramiento [Züchtung] de los hombres no es, sin embargo, domesticación, en el sentido de refrenar y paralizar la sensibilidad, sino que la disciplina [Zucht] consiste em almacenar y purificar las fuerzas en la univocidad del «automatismo» estrictamente dominable de todo actuar. Sólo cuando la subjetividad incondicionada de la voluntad de poder se ha convertido en la verdad del ente en su totalidad, es posible, es decir, metafísicamente necesaria, la institución de un adiestramiento racial, es decir, no la mera formación de razas que crecen por sí mismas sino la noción de raza que se sabe como tal. Así como la voluntad de poder no es pensada de modo biológico sino ontológico, así tampoco la noción nietzscheana de raza tiene un sentido biologista sino metafísico.”

«Un viejo chino decía que había oído que cuando los reinos deben sucumbir tienen muchas leyes.» (La voluntad de poder, n. 745)

el modo en que la transvaloración nihilista clásica de todos los valores anticipa, diseña y lleva a efecto las condiciones del dominio incondicional de la tierra es el «gran estilo». Éste determina el «gusto clásico», del que «forma parte una porción de frialdad, de lucidez, de dureza: lógica sobre todo, felicidad en la espiritualidad, «tres unidades», concentración, odio al sentimiento, la sensibilidad, el esprit, odio a lo múltiple, a lo inseguro, a lo vago, al presentimiento, así como a lo breve, agudo, bonito, benévolo.”

Lo grande del gran estilo surge de la amplitud de poder de la simplificación, que es siempre fortalecimiento. Pero puesto que el gran estilo pone de antemano su impronta en el modo del omniabarcante dominio de la tierra y puesto que está referido a la totalidad del ente, de él forma parte lo gigante. Su auténtica esencia no consiste, sin embargo, en la acumulación meramente cuantitativa de una multiplicidad excesiva. Lo gigantesco del gran estilo se corresponde con ese poco que contiene la plenitud esencial propia de aquello simple por cuya dominación se distingue la voluntad de poder. Lo gigante no está sometido a la determinación de la cantidad. Lo gigantesco del gran estilo es aquella «cualidad» del ser del ente que se mantiene conforme a la subjetividad acabada de la voluntad de poder. Lo «clásico» del nihilismo también ha superado, por lo tanto, el romanticismo que aún tiene escondido en sí todo «clasicismo» en la medida en que sólo «aspira» a lo «clásico».”

«Beethoven, el primer gran romántico, en el sentido del concepto francés de romanticismo, así como Wagner es el último de los románticos… los dos, antagonistas instintivos del gusto clásico, del estilo severo, para no hablar aquí del ‘gran’ estilo.» (La voluntad de poder, n. 842)

Esta dominación planetaria es, metafísicamente, el incondicionado volver consistente lo que deviene en su totalidad.”

En el gran estilo el superhombre testimonia el carácter único de su determinación. Si a este sujeto supremo de la subjetividad acabada se lo mide con los ideales y las preferencias de la posición de valores existente hasta el momento, la figura del superhombre desaparece de la vista. Donde, por el contrario, toda meta determinada, todo camino y toda configuración no son en cada caso más que condiciones y medios para dar poder de modo incondicionado a la voluntad de poder, allí el carácter unívoco de aquel que, en cuanto legislador, pone las condiciones del dominio sobre la tierra consiste precisamente en no estar determinado por tales condiciones.”

La aparente inaprehensibilidad del superhombre muestra la agudeza con la que es comprendida, a través de este auténtico sujeto de la voluntad de poder, la aversión esencial a toda fijación que distingue a la esencia del poder. La grandeza del superhombre, que no conoce el estéril aislamiento de la mera excepción, consiste en que pone la esencia de la voluntad de poder en la voluntad de una humanidad que, en tal voluntad, se quiere a sí misma como señora de la tierra. En el superhombre hay «una jurisdicción propia que no tiene ninguna instancia por encima de ella» (La voluntad de poder, n. 962). La ubicación y la especie del individuo, de las comunidades y de su relación recíproca, el rango y la ley de un pueblo y de los grupos de pueblos se determinan de acuerdo con el grado y el modo de la fuerza imperativa desde la que se ponen al servicio de la realización del dominio incondicionado del hombre sobre sí mismo. El superhombre es el tipo de esa humanidad que por vez primera se quiere a sí misma como tipo y se acuña ella misma como tal tipo. Para eso se precisa, sin embargo, el «martillo» com el que se estampe y endurezca ese tipo y se destroce todo lo habido hasta el momento por serle inadecuado.”

Si el ente en su totalidad es eterno retorno de lo mismo, a la humanidad que tiene que comprenderse como voluntad de poder en medio de esa totalidad sólo le queda la decisión de querer la nada experimentada de modo nihilista antes que no querer en absoluto y abandonar así su posibilidad esencial. Si la humanidad quiere la nada entendida de modo clasico-nihilista (la carencia de meta del ente en su totalidad), se crea, bajo el martillo del eterno retorno de lo mismo, una situación que hace necesaria la especie inversa de hombre.

La verdad del ente en cuanto tal en su totalidad está determinada por la voluntad de poder y el eterno retorno de lo mismo. Esa verdad es preservada por el superhombre. La historia de la verdad del ente en cuanto tal en su totalidad y, como consecuencia de ella, la verdad de la humanidad incluida por ella en su campo tienen el rasgo fundamental del nihilismo.”

<En qué medida el artista sólo es un estadio previo> (La voluntad de poder, n. 796). La esencia del auténtico rasgo fundamental de la voluntad de poder, o sea el acrecentamiento, es el arte. Sólo él determina el carácter fundamental del ente en cuanto tal, es decir, lo metafísico del ente.”

apariencia en el sentido de lucir y brillar (el sol brilla) y apariencia en el modo del mero parecer así (el arbusto que en el camino nocturno parece ser un hombre pero es sólo un arbusto). Aquélla es la apariencia como comparecer [Aufschein], ésta la apariencia como parecer [Anschein]. Pero puesto que incluso la apariencia en el sentido de comparecer hace que la totalidad del ente en su devenir se fije y vuelva consistente en determinadas posibilidades, resulta al mismo tiempo una apariencia que no es adecuada a lo que deviene. Así, la esencia del arte, en cuanto voluntad de apariencia como comparecer, muestra también su conexión con la esencia de la verdad, en la medida en que ésta es comprendida como el error necesario para asegurar la existencia consistente, es decir como mera apariencia.”

con el despliegue del ser como subjetividad comienza la historia de la humanidad occidental como liberación del ser humano hacia una nueva libertad. Esta liberación es el modo en que se lleva a cabo la transformación del representar: del percibir [Vernehmen] como recibir al percibir como interrogatorio y jurisdiccionalidad (per-ceptio).

La liberación para la nueva libertad es, negativamente, el desligarse de la seguridad de salvación cristiano-eclesiástica, creyente en la revelación. Dentro de ésta, la verdad de la salvación no se limita a la referencia fideística a Dios sino que, al mismo tiempo, decide acerca del ente. Lo que se llama filosofía queda como sierva de la teología. El ente, en sus diferentes órdenes, es lo creado por el Dios creador y lo que por medio del Dios redentor es nuevamente elevado de la caída y devuelto a lo suprasensible.”

Pero puesto que la liberación para una nueva libertad en el sentido de una autolegislación de la humanidad comienza como una liberación respecto de la certeza de salvación cristiano-suprasensible, esta liberación sigue referida, en su rechazo, al cristianismo. Por ello, a la mirada que sólo se dirige hacia atrás, la historia de la nueva humanidad se le aparece fácilmente como una secularización del cristianismo. Pero la secularización que traslada lo cristiano al «mundo» necesita de un mundo que haya sido previamente proyectado desde exigencias no-cristianas. Sólo en el interior de éste puede desplegar e instaurarse la secularización. El mero alejamiento del cristianismo no significa nada si previamente y para ello no se ha determinado una nueva esencia de la verdad y no se ha hecho aparecer el ente en cuanto tal en su totalidad desde esa nueva verdad.”

Por lo tanto, sólo en la metafísica de la voluntad de poder la nueva libertad comienza a elevar su plena esencia a ley de una nueva legalidad. Con esta metafísica, la nueva época se eleva por vez primera al dominio completo de su esencia. Lo que le precede es un preludio. Por ello, la metafísica moderna sigue siendo hasta Hegel interpretación del ente en cuanto tal, ontología, cuyo logos se experimenta de modo cristiano-teológico como razón creadora y se funda en el espíritu absoluto (onto-teo-logía). Sin duda, el cristianismo aún sigue siendo en adelante un fenómeno histórico. Por medio de modificaciones, acomodaciones y compromisos se reconcilia en cada caso con el nuevo mundo y con cada uno de sus progresos renuncia de modo más decisivo a su anterior fuerza conformadora de historia; pues la explicación del mundo que reivindica está ya fuera de la nueva libertad.”

Justicia, en cuanto <modo de pensar>, es un re-presentar, es decir un fijar «a partir de estimaciones de valor». En este modo de pensar se fijan los valores, las condiciones de la voluntad de poder relativas a un punto de vista. Nietzsche no dice que la justicia sea un modo de pensar entre otros a partir de (arbitrarias) estimaciones de valor. De acuerdo con su formulación, la justicia es un pensar a partir de «las» estimaciones de valor explícitamente llevadas a cabo. Es el pensar en el sentido de la voluntad de poder, que es la única que pone valores. Este pensar no es una consecuencia de las estimaciones de valor, es el llevar a cabo la estimación misma.”

El modo de pensar es «constructivo». Levanta aquello que no está aún como algo allí delante y quizá no lo llegue a estar nunca. El levantar es un erigir. Va hacia lo alto, y de manera tal que sólo así se abre y conquista la altura. La altura que se escala en el construir asegura la claridad de las condiciones bajo las cuales se encuentra la posibilidad de ordenar.”

No obstante, para pensar la esencia de la justicia de manera adecuada a esta metafísica hay que excluir todas las representaciones acerca de la justicia que provienen de la moral cristiana, humanista, iluminista, burguesa y socialista. Lo justo [das Gerechte] sigue siendo, ciertamente, lo que se adecúa a lo «recto» [das Rechte]. Pero lo recto, lo que indica la dirección [Richtung] y da la medida, no existe en sí. Lo recto da el derecho [das Recht] a algo. Pero lo recto se determina a su vez a partir de lo que es de «derecho». La esencia del derecho la define Nietzsche, sin embargo, del siguiente modo: «Derecho = la voluntad de eternizar una respectiva relación de poder» (XIII, 205).”

«Bien y mal» son los nombres que designan los puntos de vista de la posición de valores habida hasta el momento, que reconoce como ley vinculante algo suprasensible en sí. La mirada que atraviesa abriéndose sobre los valores hasta el momento supremos es «pequeña», a diferencia de la grandeza del «gran estilo», en el que se prefigura el modo en el que la transvaloración nihilista-clásica de todos los valores habidos hasta el momento se convierte en el rasgo fundamental de la historia que comienza. El poder que mira lejos en torno a sí, en cuanto poder perspectivista, es decir que pone valores, supera todas las perspectivas habidas hasta el momento. Es aquello de lo que parte la nueva posición de valores y que predomina en toda nueva posición de valores”

Una justicia que pone la mira en la ventaja indica de manera suficientemente capciosa y basta hacia el dominio de la utilidad, el aprovechamiento y el cálculo. Además, Nietzsche subraya en su manuscrito la palabra «ventaja», para no dejar ninguna duda de que la justicia de la que aquí se trata se dirige esencialmente a la «ventaja». La palabra «Vor-teil» [ventaja, parte previa], de acuerdo con su auténtico significado, entretanto perdido, se refiere a la parte adjudicada de antemano antes de hacer una partición y repartición. La justicia es el adjudicar, previo a todo pensar y actuar, de aquello en lo que pone exclusivamente la mira. Esto es: «conservar algo que es más que esta o aquella persona». No es una fácil utilidad lo que está en la mira de la justicia, ni seres humanos determinados, ni tampoco comunidades, ni tampoco «la humanidad».”

El «algo» que quiere conservarse en la justicia es, sin embargo, el volverse consistente de la esencia incondicionada de la voluntad de poder como carácter fundamental del ente.”

Sin embargo, la verdad sólo sigue siendo una especie de error y engaño mientras se la piense, de acuerdo con su concepto no desplegado, aunque corriente, como adecuación a lo real. Por el contrario, el proyecto que piensa el ente en su totalidad como «eterno retorno de lo mismo» es un pensar en el sentido de aquel eminente modo de pensar constructivo, eliminador y aniquilador. Su verdad es el «supremo representante de la vida misma».”

Las cinco expresiones fundamentales: «voluntad de poder», «nihilismo», «eterno retorno de lo mismo», superhombre» y «justicia» corresponden a la esencia de la metafísica articulada en cinco momentos. Pero la esencia de esa unidad, dentro de la metafísica y para ella misma, permanece encubierta. El pensamiento de Nietzsche obedece a la unidad oculta de la metafísica, de la cual debe constituir, ocupar y elaborar su posición fundamental no concediendo a ninguna de las cinco expresiones la primacía exclusiva de ser el único título que pudiera guiar la estructuración del pensamiento.”

VONTADE DE RETORNOS // JUSTIÇA DE POTÊNCIA // VONTADE DE SUPERAR // O HOMEM E SEU ALÉM COMO VONTADE E AUTO-JUSTIFICAÇÃO

Esta inquietud esencial de su pensamiento testimonia que Nietzsche resiste al mayor peligro que amenaza a un pensador: abandonar el lugar de destino inicialmente asignado a su posición fundamental y hacerse comprensible desde algo extraño e incluso pasado. Si después vienen extraños que encubren la obra con títulos extraños, que hagan lo que más les plazca.”

¿no se está forzando lo que Nietzsche había evitado: la clasificación histórica hecha desde afuera, que sólo mira hacia atrás, o más aún, el siempre funesto y fácilmente maligno cómputo historiográfico? ¡Y esto, además, sobre la base de un concepto de metafísica que el pensamiento de Nietzsche ciertamente satisface y confirma, pero no fundamenta ni proyecta en ninguna parte! (…) ¿Si la metafísica es, en general, la verdad del ente en cuanto tal en su totalidad, por qué no habría de caracterizar a la metafísica de Nietzsche la expresión «justicia», que nombra el rasgo fundamental de la verdad de esa metafísica?

En cualquier lado en que escarbara dentro mío me angustiaba profundamente encontrar sólo pasiones, sólo perspectivas desde un cierto ángulo, sólo la

irreflexividad de aquello a lo que le faltan ya las condiciones previas para la justicia: ¿pero dónde estaba el discernimiento?; es decir, el discernimiento que proviene de una comprensión más abarcadora.” (XIV, 385ss.)

La metafísica no es una fabricación del hombre. Pero por eso tiene que haber pensadores. Éstos se sitúan en cada caso primeramente en el desocultamiento que se prepara el ser del ente. La «metafísica de Nietzsche», es decir, ahora, la verdad del ente en cuanto tal en su totalidad preservada en la palabra desde su posición fundamental, es, conforme a su esencia histórica, el rasgo fundamental de la historia de la época que, sólo desde su incipiente acabamiento, se da comienzo a sí misma como tiempo de la modernidad”

Queda aún la pregunta acerca de qué pueblos y qué humanidad estarán sometidos de modo definitivo y anticipador a la ley de la pertinencia a este rasgo fundamental de la incipiente historia del dominio de la tierra. Ya no es, en cambio, una pregunta sino que está decidido, lo que Nietzsche apuntó alrededor de 1881-1882, cuando, después de Aurora, le asaltó el pensamiento del eterno retorno de lo mismo”

cabe suponer que la filosofía como doctrina y como figura de la cultura desaparecerá, y que puede desaparecer porque, en la medida en que ha sido auténtica, ya ha nombrado la realidad de lo real, es decir el ser, sólo desde el cual todo ente es llamado a ser lo que es y cómo es. Las «doctrinas filosóficas fundamentales» aluden a lo que se enseña en ellas en el sentido de lo expuesto en una exposición que interpreta el ente en su totalidad en dirección del ser. Las «doctrinas filosóficas fundamentales» aluden a la esencia de la metafísica que llega a su acabamiento y que, de acuerdo con su rasgo fundamental, sustenta la historia occidental, le da la forma europeo-moderna y la destina a la «dominación del mundo». Lo que se expresa en el pensamiento de los pensadores puede imputarse historiográficamente a la esencia nacional del pensador, pero no puede hacerse pasar jamás por una peculiaridad nacional. El pensamiento de Descartes, la metafísica de Leibniz, la filosofía de Hume, son, en cada caso, europeos, y por ello planetarios. Del mismo modo, la metafísica de Nietzsche no es jamás, en su núcleo, una filosofía específicamente alemana. Es europeo-planetaria.”

La meditación que ahora efectuamos hace surgir continuamente la sospecha de que suponemos que el pensar de Nietzsche en el fondo tendría que pensar el ser en cuanto tal y que, puesto que no lo hace, resultaría por eso insuficiente. Nada de esto se quiere decir. Se trata, más bien, de trasladarnos, pensando en dirección de la pregunta por la verdad del ser, a la cercanía de la metafísica de Nietzsche, para experimentar lo por él pensado desde la mayor fidelidad a su pensamiento. Está lejos de este intento el propósito de difundir una representación quizá más correcta de la filosofía de Nietzsche. Sólo pensamos su metafísica para poder preguntar algo digno de cuestionarse: ¿en la metafísica de Nietzsche, que experimenta y piensa por primera vez el nihilismo como tal, se supera o no el nihilismo?

Preguntando de este modo juzgamos a la metafísica de Nietzsche respecto de si lleva a cabo o no la superación del nihilismo. Sin embargo, renunciamos también a este juicio. Sólo preguntamos, y nos dirigimos la pregunta a nosotros, si y de qué modo se muestra la esencia propia del nihilismo en la experiencia y superación metafísica que hace Nietzsche de él. Se pregunta si en el concepto metafísico del nihilismo puede experimentarse su esencia, si esta esencia puede, en general, ser captada por el concepto, o si requiere del decir una rigurosidad diferente.

El nombre «nihilismo» nombra, a su manera, el ser del ente.”

La experiencia fundamental de Nietzsche dice: el ente es el ente en cuanto voluntad de poder en el modo del eterno retorno de lo mismo. En cuanto que es de tal modo, no es nada. De acuerdo con ello, el nihilismo, según el cual del ente en cuanto tal no habría nada, queda excluido de los fundamentos de esa metafísica. Por lo tanto, ésta, según parece, ha superado el nihilismo.

Nietzsche reconoce al ente en cuanto tal. ¿Pero en tal reconocimiento, reconoce también al ser del ente, o sea, lo reconoce a él mismo, al ser, es decir, en cuanto ser? De ningún modo. El ser es determinado como valor y con ello se lo explica desde el ente como una condición puesta por la voluntad de poder, por el «ente» en cuanto tal. El ser no es reconocido como ser. Este <reconocer> quiere decir: dejar que ser impere en toda su cuestionabilidad desde la mirada dirigida a su proveniencia esencial; quiere decir: sostener la pregunta por el ser. Pero esto significa: meditar sobre la proveniencia del presenciar y la consistencia, y de este modo mantener abierto el pensar a la posibilidad de que «ser», en el camino hacia el «en cuanto ser», podría abandonar su propia esencia en favor de una determinación más inicial. El hablar de «ser mismo» tiene siempre un carácter cuestionante.

Al representar que, al pensar en términos de valores, dirige su mirada hacia la validez, el ser le queda fuera de su círculo visual respecto ya de la cuestionabilidad del «en cuanto ser». Del ser en cuanto tal no «hay» nada: el ser, un nihil.

Pero admitiendo que el ente es gracias al ser y nunca el ser gracias al ente [o ser graças ao mundo e não o mundo graças ao ser]; admitiendo asimismo que el ser, respecto del ente, no puede ser nada, ¿no estará el nihilismo, allí donde no sólo del ente sino incluso del ser no hay nada, no estará allí jugando su juego o, más bien, no estará sólo allí jugando el juego que le es propio? Efectivamente. Donde sólo del ente no hay nada puede que se encuentre nihilismo, pero no se acierta aún con su esencia, que sólo aparece donde el nihil afecta al ser mismo [a existência mesma].

La absurdidad es impotente frente al ser mismo, y por lo tanto también frente a lo que le acontece en el destino [Ge-schick] de que, dentro de la metafísica, del ser no hay nada.”

la metafísica de Nietzsche es nihilismo en sentido propio.”

En cuanto piensa una completa transvaloración de todos los valores válidos hasta el momento, la metafísica de Nietzsche lleva a su acabamiento la desvalorización de los valores supremos hasta el momento. Siendo «destructora» de este modo, forma parte del curso de la historia que ha tenido el nihilismo hasta el momento. Pero en la medida en que esta transvaloración se lleva a cabo expresamente desde el principio de la posición de valores, este nihilismo se ofrece al mismo tiempo como algo que, en su sentido, ya no es: en cuanto «destructor» es «irónico». Nietzsche comprende su metafísica como el nihilismo más extremo, de manera tal que éste, al mismo tiempo, no es ya un nihilismo.”

A BALANÇA DA JUSTIÇA INERENTE A ELA PRÓPRIA: “Mediante el pensar en términos de valor a partir de la voluntad de poder, si bien se atiene a reconocer al ente en cuanto tal, al mismo tiempo, con la soga [corda] de la interpretación del ser como valor se ata a la imposibilidad de siquiera recibir al ser en cuanto ser en la mirada cuestionante. [Ponto cego da busca pela Verdade moderna.] Sólo mediante este enredarse consigo mismo el nihilismo llega a terminar totalmente lo que él mismo es.

La pregunta nietzscheana por lo que signifique el nihilismo es, por lo tanto, una pregunta que aún piensa, a su vez, de modo nihilista. Por eso, por su manera de cuestionar, no llega al ámbito de lo que busca la pregunta por la esencia del nihilismo, o sea, a que, y cómo, el nihilismo es una historia que concierne al ser mismo.”

La metafísica de Nietzsche es nihilista en la medida en que es un pensar en términos de valor y que éste se funda en la voluntad de poder como principio de toda posición de valores. De acuerdo con ello, la metafísica de Nietzsche se vuelve acabamiento del nihilismo propio porque es metafísica de la voluntad de poder. Pero si esto es así, la metafísica de la voluntad de poder es el fundamento del acabamiento del nihilismo propio, pero no puede ser de ninguna manera el fundamento del nihilismo propio en cuanto tal. Éste, aunque aún no haya llegado a su acabamiento, tiene que imperar en la esencia de la metafísica precedente. Esta última, si bien no es metafísica de la voluntad de poder, experimenta, sin embargo, al ente en cuanto tal en su totalidad como voluntad. Por más que la esencia de la voluntad que aquí se piensa pueda seguir siendo oscura en múltiples respectos, y quizá necesariamente, si se retrocede desde la metafísica de Schelling y Hegel hasta Descartes, pasando por Kant y Leibniz, el ente en cuanto tal se experimenta, en el fondo, como voluntad.”

Falta uma filosofia analítica da lavagem da louça.

La metafísica es, en cuanto metafísica, el nihilismo propio. La esencia del nihilismo es históricamente como metafísica, la metafísica de Platón no es menos nihilista que la metafísica de Nietzsche. Sólo que en aquélla la esencia del nihilismo permanece oculta, mientras que en ésta aparece por completo. De todos modos, desde la metafísica y dentro de ella, no se da a conocer nunca.” Al identificar metafísica y nihilismo no se sabe qué es mayor, si la arbitrariedad o el grado de condena de toda nuestra historia hasta el momento.”

THE STUPID CIRCLE: Si la metafísica en cuanto tal es el nihilismo propio, pero éste, por su esencia, no es capaz de pensar su propia esencia, cómo podría la metafísica misma llegar jamás a su propia esencia? Las representaciones metafísicas acerca de la metafísica permanecen necesariamente por detrás de esa esencia. La metafísica de la metafísica no alcanza nunca su esencia.” Garotinho esperto!

Nos atenemos a la pregunta que enunció Aristóteles como permanente pregunta del pensar: ¿qué es el ente [ser]?” “Para pensar de modo suficiente la pregunta de la metafísica es necesario en primer lugar pensarla como pregunta, y no pensar en las respuestas que se le han dado en el curso de la historia de la metafísica.”

«Esencia», en el significado de essentia (qué), es ya la interpretación metafísica del «esenciar», la interpretación que pregunta por el qué del ente en cuanto tal.”

¿cómo se relaciona la metafísica con el ser mismo? ¿Piensa la metafísica el ser mismo? No, jamás. Piensa el ente respecto del ser. El ser es lo que responde en primer y en último lugar a la pregunta en la que lo interrogado es siempre el ente. Por eso el ser mismo permanece impensado en la metafísica, y no de manera incidental sino en correspondencia con su propio preguntar. Este preguntar y el responder, en la medida en que piensan el ente en cuanto tal, piensan necesariamente desde el ser, pero no piensan en él, y no lo hacen porque, de acuerdo con el sentido interrogativo más propio de la metafísica, el ser es pensado como el ente en su ser [o mundo é pensado como o ser em seu mundo]. En la medida en que la metafísica piensa el ente desde el ser, no piensa: ser en cuanto ser.”

¿Por qué es en general el ente y no más bien nada?” Leibniz

BACK TO THE PAST (A REPÚBLICA): “La ontología es, al mismo tiempo y necesariamente, teología. Para reconocer el rasgo onto-teológico fundamental de la metafísica es preciso no orientarse por el mero concepto escolar de metafísica de la escuela leibnizio-wolffiana, pues éste no es más que una forma doctrinal derivada de la esencia de la metafísica pensada metafísicamente.”

También la metafísica de Nietzsche, en cuanto ontología, y aunque parezca alejada de la metafísica escolar, es al mismo tiempo teología. La ontología del ente en cuanto tal piensa la essentia como voluntad de poder. Esta ontología piensa la existentia del ente en cuanto tal en su totalidad teológicamente como eterno retorno de lo mismo. Esta teología es, sin embargo, una teología negativa de un tipo particular. Su negatividad se muestra en la frase: Dios ha muerto. Ésta no es la frase del ateísmo, sino la frase de la onto-teología de aquella metafísica en la que llega a su acabamiento el nihilismo propio.”

trascendencia. § La palabra nombra, por un lado, el pasar por encima del ente hacia lo que éste es en cuanto a su qué-es (su cualificación). El pasar por encima hacia la essentia es la trascendencia en el sentido de lo trascendental. Kant, de acuerdo con la limitación crítica del ente a objeto de la experiencia, equiparó lo trascendental con la objetividad del objeto. Pero trascendencia también significa, al mismo tiempo, lo trascendente, que, en el sentido del primer fundamento existente del ente en cuanto lo existente, pasa por encima de él y, sobresaliendo, se eleva con toda la plenitud de lo esencial. La ontología representa la trascendencia en el sentido de lo trascendental. La teología representa la trascendencia en el sentido de lo trascendente.En virtud de su esencia, la metafísica piensa el ente pasando por encima de él de modo trascendental-trascendente, pero lo hace sólo para re-presentar el ente mismo, es decir, para volver a él.” “El pensar que pasa por encima piensa dejando continuamente de lado el ser, no en el sentido de un desacierto sino en el modo de no dejarse involucrar por el ser mismo, por lo digno de cuestión de su verdad.”

HISTÓRIA UNIVERSAL, HISTÓRIA DO NADAL, NADA & ALL INC. TRABALHO MATERIAL IDEAL BRAÇAL

La metafísica es la historia en la que del ser mismo no hay esencialmente nada” “La experiencia ahora señalada de la esencia nihilista de la metafísica no es aún suficiente para pensar la esencia de la metafísica de un modo que le sea adecuado. Esto requiere que previamente experimentemos la esencia de la metafísica desde el ser mismo. Pero suponiendo que un pensar, viniendo de lejos se halle en camino hacia ello, ese pensar tendría ante todo que aprender a saber precisamente qué quiere decir esto: el ser mismo permanece impensado en la metafísica. Tal vez el pensar, por lo pronto, sólo tenga que aprender esto.”

¿O sólo hablamos así, en apariencia desmesuradamente, porque hasta ahora hemos buscado vanamente lo que dice la metafísica sobre la esencia de la verdad en que ella misma está?”

la metafísica piensa efectivamente el ente en cuanto tal, pero no piensa el «en cuanto tal» mismo. (…) Algo tan significativo cobija el lenguaje de manera tan poco visible en voces [Wörter] tan sencillas cuando éstas son efectivamente palabras [Worte].”

En la metafísica el ser ni se pasa por alto ni pasa inadvertido. Y sin embargo, su visión del ser no lo admite como algo propiamente pensado; para ello, el ser en cuanto ser mismo tendría que ser admitido por la metafísica como lo que ella tiene que pensar.” Permanece el ocultamiento de la esencia del desocultamiento. El ser mismo permanece fuera.” el permanecer fuera del ser en cuanto tal es el ser mismo. En el permanecer fuera se encubre consigo mismo. Este velo que se desvanece a sí mismo, como el cual[*] el ser mismo esencia [verbo esenciar em grego] [como o mundo mundeia, é mundano, profana… se consagra, se derrama, como num vaso, num rito sagrado… a hóstia] en el permanecer fuera, es la nada en cuanto ser mismo [O NADA FEITO MUNDO].

[*] Desisto de tentar entender essa horrenda sintaxe heideggeriana…”

El ser es, en cuanto tal, algo diferente de sí mismo, tan decididamente diferente que ni siquiera «es». En la enunciación todo esto suena dialéctico. En cuanto a la cosa, la situación es, sin embargo, diferente.”

el ente está abandonado por el ser mismo. (…) ¿Cuándo acontece? ¿Ahora? ¿Sólo hoy? ¿O desde hace tiempo? ¿Desde hace mucho? ¿Desde cuándo? Desde que el ente en cuanto ente mismo llegó a lo desoculto. [SER DESCARNADO E DESBUNDADO] Desde que aconteció ese desocultamiento, la metafísica es; pues la metafísica es la historia de ese desocultamiento del ente en cuanto tal. Desde que esta historia es, es históricamente la sustracción del ser mismo, es el abandono del ente en cuanto tal por parte del ser, es la historia de que del ser no hay nada.“Pensamos ahora este nombre en la medida en que nombra el nihil. Pensamos la nada en la medida en que concierne al ser mismo. Pensamos este «concernir» mismo como historia. Pensamos esta historia como historia del ser mismo, donde lo que esencia de esa historicidad se determina desde el ser mismo.” “el permanecer-impensado radica en el ser mismo y no en el pensar. ¿Pertenece entonces también el pensar al permanecer fuera del ser? La respuesta afirmativa de esta pregunta, según como se la piense, puede atinar con algo esencial.”

Pero esta localidad es la esencia del hombre. La localidad no es el hombre por sí como sujeto, en cuanto sólo se mueve a su alrededor dentro de lo humano, en cuanto se toma a sí mismo como un ente entre otros y, en el caso de que se encuentre con el ser explícitamente, lo explica inmediata y continuamente sólo desde el ente en cuanto tal. (…) Ese donde, en cuanto ahí del albergue, pertenece al ser mismo, «es» ser mismo, y por eso se llama ser-ahí [Da-sein].”

Remete-se à dupla leitura heideggeriana “O que é metafísica?” e “Carta sobre o Humanismo”.

Se suele considerar al pensar como la actividad del entendimiento. El asunto del entendimiento es la comprensión. La esencia del pensar es la comprensión de ser en las posibilidades de su despliegue, posibilidades que la esencia del ser tiene que otorgar.

AUTO-ESTIPULADO

Se dispersar é se realizar

Se concentrar é se diluir, se cortar.

Se desdobrar, ser, autoalienar.

Me desdobro para fazer as coisas e ter um preço.

Derramamento da bacia sem desperdício de gotas.

El pensar lleva entonces el ser al lenguaje en la forma del ente en cuanto tal. Este pensar es el pensar metafísico. No rechaza al ser mismo, pero tampoco se atiene al permanecer fuera del ser en cuanto tal. El pensar no corresponde desde sí a la sustracción del ser.”

Cuanto más exclusivamente la metafísica se asegura del ente en cuanto tal y, en el ente y desde él, se asegura a sí misma como la verdad «del ser», tanto más decididamente ha terminado ya con el ser en cuanto tal.”

En la interpretación del ser como valor la nada del ser queda sellada, de lo que forma parte que este sellar mismo se comprenda como el nuevo sí al ente en cuanto tal en el sentido de la voluntad de poder, es decir como superación del nihilismo.” Sim, somos (não valemos) nada. Seria melhor se fôramos outra coisa. Que tal nós mesmos? A essência do eu. Má-gica do bem. O mundo não muda nada. O mudo não manda e não mundeia.

Pensada desde la esencia del nihilismo, la superación de Nietzsche no es más que el acabamiento del nihilismo. En él se nos manifiesta de manera más clara que en cualquier otra posición fundamental de la metafísica la esencia plena del nihilismo. Lo propio [das Eigene] de ella es el permanecer fuera del ser mismo. Pero en la medida en que en la metafísica acontece este permanecer fuera, esto que es lo propio [Eigentliche] no es admitido como lo propio del nihilismo.”

Por medio del dejar fuera, el permanecer fuera es entregado, de manera encubierta, a sí mismo.”

En cuanto metafísica, el nihilismo acontece en la impropiedad de sí mismo. Pero esta impropiedad no es una falta de propiedad, sino su acabamiento, en la medida en que es el permanecer fuera del ser mismo y a éste le interesa que el quedar fuera siga siendo por completo lo que es. (…) La plena esencia del nihilismo es la unidad originaria de lo que le es propio y lo que le es impropio. Hablar de propio e impropio no es casual, sino que es pensado, a sabiendas y sin decirlo, desde el acaecer apropiante [Ereignen], el apropiar [Eignen] y lo peculiarmente propio [Eigentümliches].”

cuando el nihilismo se experimenta y se lleva al concepto dentro de la metafísica, el pensar metafísico sólo puede encontrar lo impropio del nihilismo, e incluso a éste sólo de manera tal que lo impropio no se experimenta como tal sino que se lo explica desde el proceder de la metafísica.”

Nihilismo —que del ser mismo no hay nada— para el pensar metafísico significa siempre y exclusivamente: del ente en cuanto tal no hay nada. La metafísica, por lo tanto, se arma ella misma el camino para experimentar la esencia del nihilismo. En la medida en que la metafísica somete a decisión en cada caso la afirmación o la negación del ente en cuanto tal y considera que su primera y última tarea se halla en la correspondiente explicación del ente desde un fundamento que es, ha cometido, inadvertidamente, la inadvertencia de que ya con la preeminencia de la pregunta por el ente en cuanto tal el ser mismo queda fuera y, quedando fuera, entrega el pensar de la metafísica a su propio modo, es decir a dejar fuera ese permanecer fuera en cuanto tal y a no dejarse involucrar en ese dejar fuera.”

En ello [el nihilismo] se muestra: la inesencia pertenece a la esencia.”

la inesencia pertenece a la esencia no es el enunciado formal y universal de una ontología acerca de la esencia que se represente metafísicamente como «esencialidad» y que aparezca de modo determinante como «idea». La proposición piensa en la palabra «esencia» [Wesen], comprendida de modo verbal (verbum), el ser mismo en el modo en que Él mismo, el ser, es. (…) Por ello, el pensar que, en cuanto metafísico, se representa el ente en cuanto tal en el modo del permanecer fuera, es tan poco capaz de penetrar en el permanecer fuera como de experimentar el abandono del ente en cuanto tal por parte del ser mismo.

la esencia del nihilismo de acuerdo con la historia del ser no muestra, sin embargo, aquellos rasgos que usualmente caracterizan a lo que se alude con el nombre corriente de «nihilismo»: lo que degrada y destruye, la declinación y la decadencia. La esencia del nihilismo no contiene nada negativo en el modo de algo destructivo que tuviera su sede en las convicciones humanas y se ejerciera a través de las acciones humanas. La esencia del nihilismo no es en absoluto cosa del hombre, sino del ser mismo, y por ello, entonces sí, es también cosa de la esencia del hombre y, sólo en esa secuencia, al mismo tiempo cosa del hombre; y presumiblemente no sólo una más entre otras.”

¿Si este dominio de lo destructivo y aquel no preguntar y no poder preguntar por la esencia del nihilismo no proceden finalmente de la misma raíz común?”

Ascensión contra decadencia, elevación contra declinación, exaltación contra denigración, construcción contra destrucción, se mueven, en cuanto fenómenos opuestos, en el ámbito del ente. La esencia del nihilismo, en cambio, concierne al ser mismo, o, dicho de manera más adecuada, éste concierne a aquella, en la medida en que el ser mismo se ha trasladado a la historia de que de él mismo no hay nada.”

¿Qué quiere decir superación? Superar significa: poner algo debajo de sí y, al mismo tiempo, hacer que lo así dejado debajo de sí quede atrás como algo que en adelante no debe tener ya ningún poder determinante. Incluso si no tiene por finalidad eliminar, la superación es, sin embargo, un presionar contra…”

¿quién o qué sería jamás lo suficientemente poderoso como para ir en contra del ser mismo, en cualquier respecto y con cualquier finalidad que sea, y de someterlo a la tutela del hombre? Una superación del ser mismo no sólo no puede llevarse a cabo nunca, sino que ya el intento de hacerlo se tornaría en el propósito de arrancar de sus goznes [dobradiças] la esencia del hombre. Pues los goznes de esta esencia consisten en que el ser mismo, de cualquier modo que sea, incluso en el de su permanecer fuera, reivindica la esencia del hombre”

Querer ir de modo inmediato en contra del permanecer fuera del ser mismo querría decir no respetar al ser mismo como ser. La superación del nihilismo así querida sólo sería una severa recaída en lo impropio de su esencia, que desfigura lo que en él es propio.”

O super-homem ainda é um homem.

Si prestamos atención a la esencia del nihilismo como una historia del ser mismo, el propósito de superar el nihilismo pierde sentido, si por ello se entiende que el hombre someta desde sí esa historia y la doblegue [duplo sentido: submeta; dobre, este mesmo possuindo outro duplo sentido] a su mero querer. También es errónea una superación del nihilismo entendida en el sentido de que el pensamiento humano vaya en contra del dejar fuera del ser.”

Aniquilar ou clonar, eis a questão.

En lugar de precipitarse en una superación del nihilismo que siempre calcula con demasiada cortedad, el pensar que es afectado por la esencia del nihilismo se demora en el advenimiento del permanecer fuera y lo espera, para sólo entonces aprender a pensar el permanecer fuera del ser en lo que quisiera ser desde sí mismo.”

Como superar algo que sequer deveio (a essência do homem)?

Esta historia, es decir la esencia del nihilismo, es el destino del ser mismo. En su esencia y pensado respecto de lo propio, el nihilismo es la promesa del ser en su desocultamiento, de manera tal que se oculta precisamente en cuanto tal promesa y, en el permanecer fuera, ocasiona al mismo tiempo que se lo deje fuera. (…) Lo impropio en la esencia del nihilismo es la historia del permanecer fuera, es decir del ocultamiento de la promesa. Pero si el ser mismo se reserva a sí mismo en su permanecer fuera, la historia del dejar fuera el permanecer fuera es entonces precisamente el preservar de ese reservarse del ser mismo.

Lo esencial de lo impropio dentro del nihilismo no es nada fallido e inferior. Lo que esencia de la inesencia en la esencia no es nada negativo [o que está por trás de não haver nada por trás não é um anti-valor nem decadência, de uma perspectiva <sobre-humana>/objetiva]. La historia del dejar fuera el permanecer fuera del ser mismo es la historia de la salvaguarda de la promesa en el modo de que esa salvaguardia permanece oculta en lo que ella es. Permanece oculta porque está ocasionada por la sustracción ocultante del ser mismo y es dotada desde éste con esa esencia que salvaguarda de tal modo.

Lo que por su esencia oculta salvaguardando y en esa esencia suya permanece allí oculto a sí mismo y, por lo tanto, en general, y sin embargo de cierto modo aparece, es, en sí mismo, lo que denominamos misterio. En lo impropio de la esencia del nihilismo acontece el misterio de la promesa, como el cual el ser es Él mismo reservándose como tal.”

O mundo não cede fácil.

Pero si ya el propósito de una superación inmediata del nihilismo se precipita y pasa por encima de su esencia, entonces también el intento de superar la metafísica se derrumba como algo nulo. A menos que el hablar de una superación de la metafísica contenga un sentido que no apunte ni a un rebajamiento ni, menos aún, a una eliminación de la metafísica.”

Todo concepto metafísico de la metafísica consigue que ésta quede bloqueada frente a su propia proveniencia esencial. Pensada según la historia del ser, «superación de la metafísica» siempre quiere decir únicamente: abandono de la interpretación metafísica de la metafísica. El pensar abandona la mera «metafísica de la metafísica» al dar el paso atrás, desde el dejar fuera del ser hacia su permanecer fuera. En el paso atrás el pensar ya se ha puesto en camino de pensar al encuentro del ser en su sustraerse, sustraerse que, en cuanto es del ser, sigue siendo un modo del ser, un advenir.” Mundo-contra-mundo-para-ser-mundo

alter homo

Pão com queijo mofado da cantina da biblioteca. Catraca até pra entrar.

Subir a escada pra fumar.

Ceariba: E aí, fez progressos?

Larga-fecha esse teu blog, marujo!

Fica só baforando na sacada

La esencia de la metafísica llega a mayor profundidad que la metafísica misma, a una profundidad que pertenece a ese otro ámbito, de manera tal que lo profundo ya no es la correspondencia con una elevación.”

A ação goethiana de fazer o nada

¿Pero la esencia del nihilismo según la historia del ser no es lo meramente pensado por parte de un pensar exaltado con el que una filosofía romántica huye de la verdadera realidad? ¿Qué significa esta esencia pensada del nihilismo frente a la única realidad efectiva del nihilismo real, que esparce por todas partes confusión y descomposición, empuja al crimen y a la desesperación? ¿Qué pretende esa pensada nada del ser frente a la a-niquil-ac[c]ión [Ver-nichts-ung] de todo ente que, con su violencia que se inmiscuye por todas partes, hace ya casi inútil toda resistencia?

No hace falta ya describir con detalles la violencia en expansión del nihilismo real, que es experimentado de manera suficientemente directa aún sin una definición esencial ajena a la realidad. Por otra parte, a pesar de toda la unilateralidad de su interpretación, la experiencia de Nietzsche ha dado de modo tan penetrante con el nihilismo «real» que, frente a ella, la determinación aquí intentada de la esencia del nihilismo aparece como algo esquemático, por no hablar de su inutilidad. ¿Pues en medio de la amenaza de toda consistencia divina, humana, cósica y natural, quién habría de preocuparse por cuestiones tales como el dejar fuera del permanecer fuera del ser mismo, en caso de que esto acontezca y no sea más bien la escapatoria de una abstracción desesperada?”

lo real, en cuanto aquello que es, es capaz con todos sus manejos de determinar la realidad efectiva [Wirklichkeit], el ser, o si, por el contrario, es la

eficacia [Wirksamkeit] proveniente del ser mismo la que ocasiona todo lo real.

¿Lo que Nietzsche experimenta y piensa, la historia de la desvalorización de los valores supremos, se mantiene por sí mismo? ¿No esencia en esa historia la esencia del nihilismo según la historia del ser? Que la metafísica de Nietzsche interprete el ser como un valor es el efectivo-eficaz [wirklich-wirksam] dejar fuera del permanecer fuera del ser mismo en su desocultamiento. Lo que llega al lenguaje en esa interpretación del ser como valor es lo impropio que acontece en la esencia del nihilismo, lo cual no se conoce a sí mismo y sin embargo sólo es desde la unidad esencial con lo propio del nihilismo.

Si Nietzsche experimentó realmente una historia de la desvalorización de los valores supremos, lo así experimentado, junto con la experiencia misma, es el real dejar fuera del permanecer fuera del ser en su desocultamiento.”

Aquello a lo que pregunta es el ente en cuanto tal en su totalidad, por qué es el ente. En cuanto tal pregunta metafísica, pregunta por aquel ente que pudiera ser el fundamento de lo que es y de cómo es. ¿Por qué la pregunta por los valores supremos contiene la pregunta por lo más elevado? [Pregunta pela essência e pelo valor do que a olhos vistos já não tem.] ¿Falta sólo la respuesta a esta pregunta? ¿O falta la pregunta misma como la pregunta que es? Al preguntar incurre en falta, en la medida en que, preguntando por el fundamento del ente, deja de lado con su preguntar el ser mismo y su verdad, lo deja fuera. Esta pregunta ya está en falta como pregunta —no sólo porque le falte la respuesta—: esta pregunta fallida no es una mera falta, en el sentido de que se le haya deslizado algo incorrecto. La pregunta falla a sí misma. Se pone en una situación sin perspectivas, en cuyo entorno toda posible respuesta se queda corta de antemano.” Graças a Deus.

¿El hecho de que toda historiografía, incluso la que posee el rango y la amplitud de miras de Jakob Burckhardt, no sepa ni pueda saber nada de todo esto, es una prueba suficiente de que esta esencia del nihilismo no «es»?”

Mediante el alzamiento a la subjetividad, incluso la trascendencia teológica, y por lo tanto el más ente de los entes —al que se designa, de manera suficientemente significativa, como: «el ser»— se desplazan a un tipo de objetividad, a saber, a aquella que corresponde a la subjetividad de la fe moral-práctica.”

Frente a su propia esencia, que permanece en la sustracción junto con el ser mismo, el hombre se vuelve inseguro, sin poder experimentar el origen ni la esencia de esa inseguridad. En su lugar, busca lo primariamente verdadero y consistente en la seguridad de sí mismo. Por eso aspira a un aseguramiento de sí en medio del ente que sea organizable por él mismo, para lo cual investiga al ente respecto de las posibilidades de aseguramiento nuevas y cada vez más fiables que ofrece. De este modo se muestra que, de entre todos los entes, el hombre se ve llevado a la inseguridad de una manera especial.”

La rueda del mundo, al rodar,

roza meta tras meta:

necesidad, lo llama el rencoroso,

y el bufón lo llama: juego…

El juego del mundo, dominante,

mezcla ser y apariencia:

¡Lo eterno bufonesco

nos mezcla a nosotros — en él!…

UNA OU MÚLTIPLA AFINAL? UM CHOPP A CADA PARTIDA DE MAIS ESTA COPA!

El carácter de juego del juego del mundo lo piensa la metafísica de Nietzsche del único modo en que puede pensarlo: desde la unidad de la voluntad de poder y el eterno retorno de lo mismo. Sin la referencia a esa unidad, la expresión «juego del mundo» quedaría vacía. Para Nietzsche es, sin embargo, una expresión pensada y, en cuanto tal, pertenece al lenguaje de su metafísica.”

El ente, en cuanto subjetidad, deja fuera de una manera decisiva la verdad del ser mismo, en la medida en que la subjetidad, desde su propia voluntad de aseguramiento, pone la verdad del ente como certeza. La subjetidad no es algo hecho por el hombre, sino que el hombre se asegura como el ente que está en conformidad con el ente en cuanto tal en la medida en que se quiere como sujeto-yo y como sujeto-nosotros, en que se re-presenta [vor-stellt] a sí y de ese modo se remite [zu-stellt] a sí.”

lo presuntamente real del nihilismo en su representación habitual queda por detrás de su esencia. El hecho de que nuestro pensar, habituado desde hace siglos a la metafísica, no llegue aún a captarlo, no es una prueba en favor de la opinión contraria.”

EIS O EXISTENCIALISMO, MEUS JOVENS: “La metafísica de la subjetividad deja fuera el ser de manera tan decidida que el ser queda oculto en el pensar en términos de valor y éste ya casi no puede saberse ni aceptarse como metafísica. (…) Este bloqueo, sin embargo, de acuerdo con el reinante enmascaramiento de la metafísica respecto de sí misma, aparece como la liberación de toda metafísica (cfr. Ocaso de los ídolos, «Cómo el ‘mundo verdadero’ se convirtió finalmente en fábula», VIII, p.82ss.).”

En esta época de la historia del ser se imponen las consecuencias del predominio de lo impropio del nihilismo, y sólo ellas, pero nunca como consecuencias, sino como el nihilismo mismo. Por eso éste sólo muestra rasgos destructivos. Éstos serán experimentados, favorecidos o combatidos a la luz de la metafísica.

La antimetafísica y la inversión de la metafísica, pero también la defensa de la metafísica habida hasta el momento, son un avatar único del dejar fuera el permanecer fuera del ser mismo que viene aconteciendo desde hace tiempo.

La lucha acerca del nihilismo, a favor y en contra de él, se lleva a cabo en el campo que ha delimitado el predominio de la inesencia del nihilismo. Mediante esta lucha no se decide nada. No hace más que sellar el predominio de lo impropio dentro del nihilismo. Incluso cuando opina que se halla en el lado contrario, es en el fondo y por completo nihilista, en el destructivo significado habitual de la palabra.

La voluntad de superar el nihilismo se desconoce a sí misma porque se excluye a sí misma de la revelación de la esencia del nihilismo como historia del permanecer fuera del ser, sin poder saber lo que hace. El desconocimiento de la imposibilidad esencial de superar el nihilismo en el interior de la metafísica, incluso mediante su inversión, puede llegar hasta el extremo de considerar inmediatamente la negación de esta posibilidad como una afirmación del nihilismo [o que seria confessadamente uma faca de dois gumes – bom auspício a longo prazo / recrudescer o niilismo = vencê-lo] o, por lo menos, como una indiferencia que observa el proceso del deterioro nihilista sin intervenir [budismo ou estagnação patafísica do simulacro como descrita em Baudrillard? Indefinição do impasse – maior perigo: quando o sol não se põe mais no Ocidente, não se ergue mais no levante… Meio-dia e eternidade?!].” Mas ou o niilismo não existe (nunca existiu) ou…?

#TÍTULODELIVRO: NADA PODE SER PIOR

COMO AINDA SE PODE PENSAR NUM TÍTULO DE LIVRO?

Sem medo de ser “inferior” a Nietzsche.

Estou cheio do niilismo!

Sem medo de ser feliz.

Sem medo de ser

Sem medo

De medos cem…

Ser medo sem “d”!

Ser-o-medo

O medo tem medo de si mesmo?!

INTERLOCUTOR NÃO-NIILISTA: O que você tem?

INTERLOCUTOR NIILISTA: Nada!

Se o que vivemos é uma “época chatinha”, temos de acreditar que há ascensão e queda do Niilismo. Não é possível ignorar a História apenas apontando os erros dos primeiros que ousaram ignorá-la, embora nela se encaixando.

Puesto que el permanecer fuera del ser es la historia del ser y por tanto la historia propiamente existente, el ente en cuanto tal, y especialmente en la época del dominio de la inesencia del nihilismo, cae en lo ahistórico. Signo de ello es la emergencia de la historiografía, que pretende ser la representación determinante de la historia. Toma a ésta como algo pasado y explica su surgimiento como una conexión de efectos causalmente demostrable. Lo pasado que se ha objetivado de tal manera mediante el relato y la explicación aparece en el círculo visual de aquel presente que lleva a cabo en cada caso la objetivación y que, a lo sumo, se explica a sí mismo como producto del acontecer pasado. Qué son los hechos y qué la facticidad, qué sea en general el ente en este tipo de pasado, es algo que ya se cree saber, puesto que la objetivación llevada a cabo por la historiografía siempre sabe aducir algún material de hechos y presentarlo en una visión fácilmente comprensible y, sobre todo, «actual».”

La historiografía, consciente o inconscientemente, está al servicio de la voluntad de las diferentes humanidades de instaurarse en el ente de acuerdo con un orden abarcable. Tanto la voluntad del nihilismo comúnmente entendido y de su acción como la voluntad de superación del nihilismo se mueven en el cómputo historiográfico del espíritu historiográficamente analizado y de las situaciones histórico-universales.” O mapa é um só.

Tenho uma esperança infinitesimal na humanidade, no Ser, em suma (Hein? Suma!). Mas, por ora, o mundo é a própria Síria. Ainda que ele fosse um tabuleiro de xadrez, submetido a lances espetaculosos e probabilidades espúrias, essa abstração permaneceria plana para mim. Cosmopolita que sou, sou sírio. A ahistoricidade me persegue pelas escadas e corredores, em qualquer sentido que os percorra. Resta determinarmos se assim sempre foi e assim sempre será. Síria ontem, Síria hoje, Síria sempre?

Es necesario pensar el carácter metafísico de la historiografía si hemos de medir el alcance de la reflexión historiográfica que en ocasiones se cree llamada, si no a salvar, por lo menos a aclarar al hombre que resulta puesto en juego en la época en que llega a su acabamiento la inesencia del nihilismo.

Entretanto, en conformidad con las pretensiones y exigencias de la época, el ejercicio efectivo de la historiografía ha pasado de la ciencia especializada al periodismo. La palabra, comprendida de modo recto y no peyorativo, nombra la instauración y el aseguramiento metafísico de la cotidianidad de la época incipiente en la forma de una historiografía que trabaja de manera segura, es decir con la mayor velocidad y fiabilidad posibles, y por medio de la cual se sirve a cada uno la objetividad del día que resulte en cada caso utilizable. Ella contiene, al mismo tiempo, el reflejo de la objetivación del ente en su totalidad que se está llevando a cabo.”

En la objetivación, el hombre mismo, y todo lo que pertenece a la humanidad, se convierte en una mera existencia consistente que, computado psicológicamente, queda integrado en el proceso de trabajo de la voluntad de voluntad, independientemente de que en él algunos individuos se imaginen aún libres o que otros interpreten este proceso como algo puramente mecánico. Tanto unos como otros desconocen la oculta esencia según la historia del ser, es decir la esencia nihilista, que, dicho en el lenguaje de la metafísica, sigue siendo siempre algo espiritual. El hecho de que, en el proceso de la objetivación incondicionada del ente en cuanto tal, la humanidad convertida en material humano quede incluso postergada respecto de las materias primas y los materiales de trabajo, no radica en una preferencia pretendidamente materialista por la materia y la fuerza respecto del espíritu, sino que se funda en lo incondicional de la objetivación misma, que tiene que llegar a poseer y asegurar la posesión de todas las existencias consistentes, de cualquier tipo que sean.”

MECANISMO DO NIILISMO: “rehusa su permanecer fuera rechazándolo a lo más lejano (…) como el destino del total ocultamiento del ser en medio del completo aseguramiento del ente.”

ser+ente=1

se ser = 1 ou ente = 1, anti-ser ou anti-ente = 0.

como o produto não pode ser zero (ou pode?), provavelmente nunca um será 1 e o outro será 0, integralmente. ser e ente tampouco são um e o mesmo (0,5).

Lo que es es lo que acontece. Lo que acontece ya ha acontecido. Esto no quiere decir que sea pasado.”

El advenir mantiene al ente en cuanto tal en su desocultamiento y le deja este último como el impensado ser del ente. Lo que acontece [geschieht] es la historia [Geschichte] del ser, es el ser como historia del permanecer fuera.

Si la admisión por parte del hombre ya hubiera acontecido de acuerdo con su esencia según la historia del ser, el hombre tendría que poder experimentar la esencia del nihilismo. (…) A esta proveniencia esencial del nihilismo metafísicamente [historicamente] comprendido se debe que el nihilismo no pueda superarse. Pero no se puede superar no porque sea insuperable sino porque todo querer superar sigue siendo inadecuado a su esencia.

La relación histórica del hombre respecto de la esencia del nihilismo sólo puede basarse en que su pensar acepte pensar al encuentro del permanecer fuera del ser mismo.”

Aparentemente, nada real se supera.

O niilismo é relativo

todo querer-superar deja efectivamente al nihilismo detrás de nosotros, pero sólo en la medida en que, imperceptiblemente, dentro del horizonte de experiencia metafísicamente determinado que sigue siendo dominante, se alza a nuestro alrededor con mayor poder aún y trastorna el opinar.”

El ser se despeja [lichtet sich] como el advenir del retener en sí el rehusar de su desocultamiento. Lo que se nombra con «despejar», «advenir», «retener en sí», «rehusar», «desocultar», «ocultar», es lo esenciante mismo y uno [das Selbe und Eine Wesende]: el ser [el mundo tal como es].”

hay que llevar al extremo el intento de pensar el ser como ser con la mirada puesta en la tradición, para experimentar que y por qué ser no se deja determinar ya como «ser». Este límite no hace que el pensar se extinga sino que, por el contrario, lo transforma, convirtiéndolo en aquella esencia que ya está predeterminada desde el escatimarse de la verdad del ser.

Cuando el pensar metafísico se destina [sich schickt] al paso atrás, se apronta [schickt sich an] a dejar en libertad el espacio esencial del hombre. Pero este dejar en libertad es inducido por el ser a pensar al encuentro del advenir de su permanecer fuera. El paso atrás no deja de lado la metafísica. Por el contrario, sólo ahora el pensar tiene frente a sí y a su alrededor, en el ámbito de las experiencias del ente en cuanto tal, la esencia de la metafísica.

Su permanecer fuera es la sustracción de sí mismo en el retener en sí su desocultamiento, el cual promete en el ocultarse que rehusa. Así, el ser esencia como la promesa en la sustracción [Entzug]. Pero ésta no deja de ser una referencia [Bezug], una referencia como la cual el ser mismo hace llegar a sí su albergue, es decir, lo trae y ocupa [be-zieht]. (…) El ser, en cuanto tal advenir que no deja escapar nunca su albergue, es lo que no-deja-de, lo incessante [Un-ab-lässige]. (…) El ser precisa el asilo. Al necesitarlo, lo requiere.”

É & DEVE-SER: Lo doblemente necesitante es, y se denomina, necesidad [Not]. En el advenir del permanecer fuera de su desocultamiento, el ser mismo es la necesidad.”

En el interior del desocultamiento del ente en cuanto tal, la necesidad del ser no llega a aparecer [sensação do absurdo e ‘em vão’]. El ente es y suscita la apariencia de que el ser es sin la necesidad.

Pero la falta de necesidad que se instaura como dominio de la metafísica lleva al ser mismo al extremo de su necesidad. Ésta no es sólo lo necesitante en el sentido del requerimiento que no cesa y que requiere el albergue en cuanto lo precisa como el desvelamento del advenir, es decir, en cuanto lo deja esenciar como la verdad del ser. Lo incesante de su precisar va tan lejos en el permanecer fuera de su desocultamiento que el albergue del ser, es decir, la esencia del hombre, es dejado fuera, el hombre es amenazado con la aniquilación de su esencia y el ser mismo puesto en peligro en el precisar de su albergue. Yendo tan lejos en el permanecer fuera, el ser se dota del peligro de que la necesidad como la que esencia en cuanto necesitante no sea nunca históricamente para los hombres la necesidad que ella es. En el extremo, la necesidad del ser se vuelve falta de necesidad. El predominio de la falta de necesidad, que en cuanto tal permanece velada, del ser que, en su verdad, sigue siendo la necesidad doblemente necesitante del incesante precisar del albergue, no es otra cosa que la preponderancia incondicionada, dentro de la esencia del nihilismo, de su inesencia completamente desplegada.

La falta de necesidad como velada necesidad extrema del ser domina, sin embargo, precisamente en la época del ensombrecimiento del ente y de la confusión, de la violencia de lo humano y de su desesperación, de la descomposición del querer y de su impotencia. Un padecimiento sin límites y un dolor sin medida muestran en todas partes, de modo abierto y tácito, que el mundo se encuentra en un estado de plena necesidad. Y a pesar de ello, en el fundamento de su historia, carece de necesidad. Ésta es, sin embargo, según la historia del ser, su necesidad suprema y, al mismo tiempo, la más oculta. Pues es la necesidad del ser mismo.

Cada caganeira tem o seu sentido profundo (literalmente) – e raso quando (se) [d]es-peja no vaso. A disENTEria mundial das guerras.

Pensar al encuentro de la necesidad extrema del ser quiere decir, en efecto: dejarse involucrar en el peligro de la aniquilación de su esencia y, por lo tanto, pensar algo peligroso.”

La frecuentemente repetida expresión de Nietzsche «vivir peligrosamente» pertenece al ámbito de la metafísica de la voluntad de poder y exige el nihilismo activo, al que ahora hay que pensar como el dominio incondicionado de la inesencia del nihilismo. Pero no es lo mismo el peligro en cuanto riesgo de ejercicio incondicionado de la violencia y el peligro en cuanto amenaza de la aniquilación de la esencia del hombre, proveniente del permanecer fuera del ser mismo. No obstante, el no pensar en el permanecer fuera de la necesidad de ser mismo que acontece como metafísica es la ofuscación frente a la falta de necesidad como necesidad esencial del hombre(*). Esta ofuscación proviene de la inconfesada angustia ante la angustia, que experimenta como terror el permanecer fuera del ser mismo.” (*) la necesidad de la falta de necesidad.” – Kant como o primeiro que o entendeu pós-Platão?

Estar ausente significa, pensado metafísicamente, el mero opuesto del presenciar en cuanto ser: no ser en el sentido de la nula nada.”

El cierre de lo sagrado ensombrece todo lucir de lo divino. Este ensombrecer solidifica y oculta la falta de Dios. La oscura falta hace que todo el ente esté en el desamparo [im Unheimischen], al mismo tiempo que, en cuanto es lo objetivo de una objetivación sin límites, parece tener una posesión segura y ser siempre familiar. El desamparo del ente en cuanto tal saca a la luz la apatridad [Heimatlosigkeit] del hombre histórico en medio del ente en su totalidad. El dónde de un habitar en medio del ente en cuanto tal parece aniquilado, porque el ser mismo, en cuanto aquello que esencia en todo albergue, se rehusa.

La apatridad del hombre respecto de su esencia, a medias reconocida y a medias negada, es reemplazada por la instauración de la conquista de la tierra como planeta y por la expansión al espacio cósmico. El hombre apatrida(*) se deja llevar —por el éxito de sus realizaciones y por el ordenamiento de masas cada vez más grandes de su especie— a la fuga de su propia esencia, para representarse esa fuga como el retorno a la verdadera humanidad del homo humanus y acogerla en su propia esencia.O que representaria pisar em Marte? Desculpe o trocadilho, mas nada importa agora.

(*) Parece um subtipo do último homem, a descrição antecipada da Guerra Fria e do millennial.

El embate de lo efectivo y lo eficaz se acrecienta. La falta de necesidad en referencia al ser se consolida con el acrecentado necesitar del ente y a causa de él. Cuanto más necesita el ente del ente menos siente la falta del ente en cuanto tal, para no hablar de que quiera atender en algún caso al ser mismo. La indigencia del ente respecto del desocultamiento del ser llega a su acabamiento.

El curso histórico de esta época se encuentra bajo la apariencia de que el hombre, que se ha liberado para acceder a su humanidad, ha tomado libremente en su poder y a su disposición el ordenamiento del universo. Lo recto parece haber sido encontrado. Sólo resta instituirlo correctamente e instituir así el dominio de la justicia como supremo representante de la voluntad de voluntad.” Claramente evocando A República

Lo inquietante de esta necesidad ausente-presente se vuelve inaccesible por el hecho de que todo lo real que afecta al hombre de esta época y lo arrastra consigo, el ente mismo, le es completamente familiar, pero que, precisamente por ello, la verdad del ser no sólo no le es familiar sino que, siempre que aparece «ser», lo despacha como el fantasma de la mera abstracción, con lo que no lo reconoce y lo rechaza como una nula nada. En lugar de pensar sin cesar en la histórica plenitud esencial de la palabra «ser» (como sustantivo y como verbo), sólo se oyen, abandonando todo pensar rememorante, simples vocablos, cuya mera resonancia es sentida con justicia como molesta.”

tanto en la utilización positiva como en el distanciamiento negativo, el conocer metafísico sólo se enriquece con el empleo del saber científico. [en esta época o en general?]”

El pensar del ser está tan decididamente implicado en el pensar metafísico del ente en cuanto tal que sólo puede abrir y andar su camino con la vara y el bastón que toma prestados de la metafísica. La metafísica ayuda e impide al mismo tiempo. Pero dificulta la marcha no porque sea metafísica sino porque mantiene su propia esencia en lo impensable. Sin embargo, sólo esta esencia de la metafísica, el que ocultando cobije el desocultamiento del ser y sea así el misterio de la historia del ser, concede a la experiencia del pensar según la historia del ser el pasaje a la dimensión libre como la cual esencia la verdad del ser mismo.”

Para éste, el ser mismo en su desocultamiento, y de este modo el desocultamiento mismo, tienen que volverse previamente dignos de cuestión; pero esto en la época de la metafísica, por la cual el ser ha perdido su dignidad para convertirse en valor. La dignidad del ser en cuanto ser no consiste, sin embargo, en tener vigencia como valor, aunque sea el valor supremo. El ser esencia en la medida en que —libertad de lo libre mismo— libera a todo ente hacia él y queda para el pensar como lo que hay que pensar.”

La «realidad efectiva» es llamada con frecuencia «existencia».”

La metafísica conoce la pregunta de si el mundo efectivamente real, es decir, el mundo ahora «existente», es o no el mejor de los mundos. En la palabra «existencia» (existentia) el ser, en cuanto realidad efectiva de lo real expresa su nombre metafísico más corriente.”

Podemos complacernos en la fácil invocación de que cualquiera en cualquier momento sabe qué quieren decir «ser», «realidad efectiva» y «existencia» [Dasein, Existenz]. En qué medida, sin embargo, ser se determina como realidad efectiva [Wirklichkeit] desde el efectuar [Wirken] y la obra [Werk], permanece en la oscuridad.

El ser se diferencia en qué-es y que-es.”

¿Qué se manifiesta aún como «es» si al mismo tiempo se prescinde del «qué» y el «que»?”

Si se piensan aunque más no sea en términos aproximados las preguntas que se acaban de atar, se desvanece la apariencia de obviedad en la que se encuentra la distinción de essentia y existentia para toda la metafísica. La distinción queda sin fundamento, por más que la metafísica vuelva siempre a preocuparse por delimitar lo en ella distinguido y ofrezca una enumeración de los modos de la posibilidad y de las especies de la realidad efectiva, los cuales, junto con la diferencia en la que ya se encuentran colocados, se difuminan en la indeterminación.”

La proveniencia de la distinción de essentia y existentia, y más aún la proveniencia del ser que se ha diferenciado de tal modo, permanecen ocultas o, dicho en griego: olvidadas.”

historiográficamente es fácil establecer la conexión entre la distinción de essentia y existentia y el pensamiento de Aristóteles, que es quien la lleva por primera vez al concepto, es decir, al mismo tiempo, a su fundamento esencial, después de que el pensamiento de Platón respondiera a la reivindicación del ser en un modo que preparaba tal distinción, desafiando a que se la establezca.”

¿Qué es lo presente que aparece en el presenciar? Al pensamiento de Aristóteles lo presente se le muestra como aquello que, habiendo llegado a un estado [Stand], está en una consistencia [Beständigkeit], o, llevado a su situación [Lage], yace delante [vorliegt]. Lo consistente y yacente delante que sale al desocultamiento es el morar en este caso esto y en este caso aquello (…) El reposo se muestra como un carácter de la presencia. Pero el reposo es un modo eminente de la movilidad. En la quietud el movimiento ha llegado a su acabamiento.” “El señalamiento de la movilidad y el reposo como los caracteres de la presencia y la interpretación de esos caracteres desde la esencia inicialmente decidida del ser, en el sentido del presenciar que surge a lo desoculto, son llevadas a cabo por Aristóteles en su Física.”

El reposo de lo producido no es una nada, sino un recogimiento. Ha recogido en sí todos los movimientos del pro-ducir de la casa, los ha finalizado en el sentido de la delimitación que conlleva el acabamiento (…) Pensada en griego, la obra no es obra en el sentido de la realización de un esforzado hacer, ni es tampoco un resultado o un éxito; es obra en el sentido de lo que está expuesto en lo desoculto de su aspecto y se demora como lo que así está detenido o yace. Demorarse [weilen] quiere decir aquí: presenciar reposadamente como obra.”

la enérgeia pensada de modo griego nada tiene que ver con lo que posteriormente se llama energía; a lo sumo, vale lo contrario, pero incluso esto sólo de una manera muy lejana.”

La ENTELÉQUIA es el tener(-se)-en-el-final, el tener en posesión el puro presenciar que ha dejado tras de sí toda producción y es por lo tanto inmediato: el esenciar en la presencia.”

El comienzo del capítulo quinto del tratado de Aristóteles sobre las Categorías

enuncia esta distinción:

«Pero presente en el sentido de la (presencia) que esencia predominantemente y que es asimismo, de acuerdo con ello, la que se dice en primer lugar y con la mayor frecuencia, no es ni lo que se enuncia respecto de algo que ya yace delante, ni lo que (sólo) tiene lugar en algo que ya de cierto modo yace delante, por ejemplo este hombre aquí, este caballo aquí.»

(…)

«En segundo lugar se llaman sin embargo presentes aquellos (obsérvese el plural) en los cuales, en cuanto modos del aspecto, ya predomina (sobresale) (como en cada caso tal) lo aludido como presente en primer lugar. De esto forman parte los (llamados) modos del aspecto así como los géneros de esos modos; por ejemplo, este hombre aquí está en el aspecto de hombre, pero para este aspecto <hombre>, el género de proveniencia (de su aspecto) es <el ser viviente>. Presentes, en un segundo rango, se llama pues a estos: por ejemplo, <el hombre> (en general), así como <el ser viviente> (en general)». La presencia en sentido subordinado es el mostrarse del aspecto, de lo que también forman parte todas las proveniencias en las cuales lo que se demora en cada caso hace provenir (delante) aquello como lo cual él presencia.

La presencia en el sentido primario es el ser que se enuncia en el que-es, la existentia. La presencia en sentido secundario es el ser al que se vuelve en la pregunta qué-es, la essentia.

La distinción entre qué-es y que-es viene del ser mismo (la presencia). En efecto, el presenciar tiene en sí la diferencia entre la pura cercanía del demorarse y el graduado permanecer en las proveniencias del aspecto. ¿Pero en qué medida el presenciar tiene esa diferencia en sí?”

¿Cómo podría Aristóteles hacer descender las ideas al ente real si no hubiera concebido previamente a lo que mora individualmente en cada caso como lo propiamente presente? ¿Pero cómo habría de llegar al concepto de la presencia de lo real individual si no pensara previamente en general el ser del ente en el sentido de la esencia del ser inicialmente decidida, es decir, a partir del presenciar en lo desoculto? Aristóteles no trasplanta las ideas (como si fueran cosas) a las cosas individualizadas, sino que piensa por vez primera lo en cada caso individualizado como lo que mora en cada caso [das Jeweilige], y piensa ese morar como el modo eminente del presenciar, y precisamente del presenciar del EIDOS mismo en el presente [Gegenwart] extremo del aspecto indivisible, es decir de aquel que no tiene ya otra proveniencia.”

En la medida en que Platón no puede nunca admitir al ente individualizado como lo que propiamente es mientras que Aristóteles integra lo individualizado en el presenciar, Aristóteles piensa de modo más griego que Platón, es decir, más conforme a la esencia del ser inicialmente decidida. No obstante, Aristóteles, por su parte, sólo ha podido pensar la OUSÍA como ENERGÉIA en contraposición a la OUSÍA como IDÉA, por lo que también mantiene al EIDOS como presencia subordinada en el acervo esencial del presenciar de lo presente en general.”

Onde está o Ser

Em algum ponto entre Ari e Plá!

Entre a Academia e o Liceu

las versiones lingüísticas del acervo esencial del ser cambian, pero el acervo mismo —se dice— se conserva. Si sobre este terreno se despliegan posiciones fundamentales cambiantes del pensamiento metafísico, su multiplicidad no hace más que confirmar la unidad de las determinaciones sustentadoras del ser, que permanece inalterada. Pero este permanecer igual es una apariencia, bajo cuya protección la metafísica, como historia del ser, acaece en cada caso de modo diferente.”

El qué-es, allí donde se hace valer como ser, favorece que predomine la mirada dirigida a aquello que el ente es, y posibilita así una peculiar preeminencia del ente. El que-es, en el cual no parece decirse nada del ente mismo (de su qué), satisface la modesta función de constatar que el ente es, en lo cual el «es» y el ser pensado en él mantienen simplemente su carácter usual. Ambas cosas, la preeminencia del ente y la obviedad del ser, caracterizan a la metafísica.”

¿Pero es actualitas sólo otra palabra, una traducción, para la misma esencia de la ENTELÉQUIA que mantiene firme su mismidad? ¿Y la existentia conserva ese rasgo fundamental del ser que recibió su acuñación en general en la OUSÍA (presencia)? Ex-sistere spelunca significa en Cicerón salir fuera de la caverna.” “La esencia de la «obra» no es más la «obridad» en el sentido del eminente presenciar en lo libre, sino la «realidad efectiva» de algo real efectivo que domina en el efectuar y queda acoplado al proceder de este último.”

es necesario considerar de inmediato lo romano en toda la riqueza de su despliegue histórico, de modo tal que abarque el elemento político imperial de Roma, lo cristiano de la iglesia romana y lo románico. Lo románico, con una peculiar fusión de lo imperial y lo curial, se convierte en el origen de esa estructura fundamental de la realidad experimentada de modo moderno que se llama cultura y que, por razones diferentes, le es aún desconocida tanto al mundo griego como al romano, pero también a la Edad Media germánica.”

la actualitas, en cuanto existentia, se diferencia de la potentia (possibilitas), en cuanto essentia. (…) En todo llegar a estar [Entstehen] de un ente reina el descender [Entstammen] de su qué-es. Ésta es la cosidad de cada cosa, es decir su causa originaria [Ur-sache].

Desde aquí puede explicarse la realidad del hacer humano y del crear divino. El ser transformado en actualitas da al ente en su totalidad ese rasgo fundamental del que puede apoderarse el representar de la creencia bíblico-cristiana en la creación para asegurarse la justificación metafísica. A la inversa, la posición fundamental del ser como realidad efectiva alcanza, mediante el dominio de la interpretación cristiano-eclesiástica del ente, una obviedad que resulta desde entonces determinante para toda comprensión ulterior de la entidad del ente, incluso fuera de la estricta actitud fideística y de la interpretación del ente en su totalidad enseñada por ella. (…) En ello se funda la necesidad de la «destrucción» de ese encubrimiento que surgió al volverse necesario un pensar de la verdad del ser (cfr. Ser y Tiempo). Pero esta destrucción, lo mismo que la «fenomenología» y todo preguntar hermenéutico-trascendental, no está aún pensada en el sentido de la historia del ser.”

cuanto más morosamente dure lo presente, tanto más real resulta.”

Esse, a diferencia de essentia, es esse actu. Pero la actualitas es causalitas. El carácter causal del ser como realidad efectiva se muestra en toda su pureza en aquel ente que satisface en sentido máximo la esencia del ser, ya que es el ente que no puede nunca no ser. Pensado «teológicamente», este ente se llama «Dios». No conoce el estado de posibilidad, porque en él aún no sería algo. En ese aún-no reside una carencia de ser, en la medida en que éste está caracterizado por la consistencia. El ente supremo es realización [Verwirklichung] pura, siempre cumplida, actus purus.”

En la proposición «Deus est summum bonum» no se halla, por lo tanto, una caracterización moral o incluso una idea de «valor», sino que el nombre «summum bonum» es la más pura expresión de la causalidad propia de lo real efectivo puro, de conformidad con su llevar a efecto la consistencia de todo lo que posee consistencia (cfr. Tomás de Aquino, Summa theologica, I, qu. 1-23).” El summum ens está caracterizado por la omnipraesentia. Pero también la «ubicuidad» (estar presente en todas partes) está determinada de modo «causal». Deus est ubique per essentiam inquantum adest omnibus ut causa essendi.”

Es cierto que se remite la proveniencia del término existentia a dos pasajes de la Metafísica de Aristóteles que tratan, casi con las mismas palabras, del ser del ente en el sentido de «desoculto» (Met., E, 4, 1027b17 y Met., K, 8, 1065a21ss.).”

Lo que así «está-fuera», ex-sistens, lo ex-sistente, no es otra cosa que lo que presencia desde sí en su producción”

La determinación del ser en el sentido de la ex-sistencia pensada aristotelicamente surge de esa transformación de la esencia de la verdad, que va del desocultamiento del ente a la corrección del enunciado aprehensor y que se inicia ya con Platón y sustenta el comienzo de la metafísica.”

En sus Disputationes metaphysicae, cuyo influjo en el comienzo de la metafísica moderna se ha vuelto entretanto más evidente, dice Suárez lo siguiente sobre la ex-sistentia (XXXI, sect. IV, n. 6): «nam esse existentiae nihil aliud est quam illud esse, qua formaliter, et inmediate entitas aliqua constituitur extra causas suas, et desinit esse nihil, ac incipit esse aliquid: sed huiusmodi est hoc esse qua formaliter et inmediate constituitur res in actualitate essentiae: ergo est verum esse existentiae»[*]. Existencia es aquel ser por medio del cual se instaura en cada caso de modo propio e inmediato una entidad fuera de las causas, y así cesa el no-ser y comienza a ser un algo del caso. De acuerdo con la distinción en el ser que la sustenta, la ex-sistentia se refiere en cada caso a una entidad. Lo que en cada caso es un ente es establecido por la existencia en el «fuera» de la causación. Esto quiere decir: el qué-es pasa a través de una realización causante, y lo hace de modo tal que lo allí llevado a efecto es despedido luego de la causación como algo efectuado y establecido sobre sí mismo como algo real efectivo.”

[*] O ser da existência não é nada senão o ser mediante o qual uma entidade é formalmente e imediatamente estabelecida fora de suas causas, e deixa de ser o nada, vindo a tornar-se alguma coisa: de tal modalidade é o ser por quem uma coisa é formalmente e imediatamente estabelecida na atualidade da essência: Ele é, destarte, o verdadeiro ser da existência.

Ex-sistentia es actualitas en el sentido de la res extra causas et nihilum sistentia, de un ser eficiente que traslada algo al «afuera» de la causación y la realización, al ser efectuado, y de este modo supera la nada (es decir la falta de lo real).” A de-situação (existência) é o corrente no sentido de coisa (alter-ego), i.e., a entrada em consideração de outras coisas que nada têm a ver com o eu, ou seja, de tudo que está fora do círculo perpétuo das causas e efeitos, ou seja, do impasse idiotizante do Homem Racional. Trocando em miúdos, e minutos, é a superação do nada. Existimos, logo o niilismo não triunfa, mesmo quando é citado e situado. O que ele invade é sempre o contrário do que ele combate (não-objetos, objetos, respectivamente). E o objeto é o ser. A de-situação é o Um subjacente a todas as possibilidades (reais individuais). Esse Um é a causa-ativa.

Posibilitar, causar, fundamentar, son determinados de antemano como recogimiento desde lo uno en cuanto único-que une. Este unir no es ni un combinar ni un agrupar.

La unidad de lo uno se muestra todo a lo largo de la historia del ser en diferentes figuras, cuya diferencia procede de la transformación de la esencia de la ALETHEIA en desocultamiento que abriga.”

Desde que el Dios creador, en cuanto causa primera, es lo eficiente primero, siendo aquello que efectúa el mundo y, dentro de éste, el hombre el primer efectuante, la tríada Dios, mundo (naturaleza), hombre circunscribe el área de posibilidades de acuerdo con las cuales cada uno de estos ámbitos de lo real asume la caracterización de la esencia de la realidad efectiva.” “La verdad, transformada mientras tanto en la metafísica en característica del intellectus (humanus, divinus), llega a su esencia definitiva, que es llamada certeza [Gewissheit].” “Que la verdad se vuelva, en esencia, certeza es un acaecimiento cuyo inicio resulta inaccesible a toda metafísica.”

Previamente, el Dios creador, y con él la institución que ofrece y administra los dones de su gracia (la Iglesia), estaban en posesión única de la verdad única y eterna. Dios, en cuanto actus purus, es la realidad pura y, con ello, la causalidad de todo lo real, es decir, la fuente y el lugar de la salvación que, como bienaventuranza, garantiza subsistencia eterna. De esta salvación el hombre nunca puede, por sí mismo, tener ni conseguir una certeza incondicionada. Mediante la fe, en cambio, e igualmente mediante la incredulidad, el hombre se encuentra fijado esencialmente a la consecución de la certeza de la salvación o bien empujado a renunciar a esta salvación y a su certeza. Reina así una necesidad, de origen oculto, de que el hombre, de una manera u otra, se asegure su salvación, en un sentido cristiano o en otro sentido. (…) Aquí se encuentra encerrada la posibilidad de que el hombre, de acuerdo con la esencia de la certeza en general (autoaseguramiento), determine desde sí la esencia de la certeza y lleve de este modo la humanidad al dominio en el interior de lo real efectivo.”

O IMPASSE CANIBAL: “La cultura como tal es elevada a la categoría de «fin» o, lo que en esencia significa lo mismo, puede ser instaurada como medio y valor para la dominación de la humanidad sobre la tierra. La Iglesia cristiana pasa a una posición defensiva. El acto de defensa decisivo es la asunción del modo esencial del adversario que acaba de surgir, el cual, en un primer momento, se mueve y se instaura aún dentro del mundo determinado de modo cristiano [O Humanismo é anticristão (no que dependesse apenas do juízo da Igreja). Mas o próprio humanista se converte, ingenuamente. Se Jesus fosse humanista, a igreja teria de reconhecer que o Filho de Deus era um ateu (pelo bem do Pai).]. La Iglesia cristiana se convierte en cristianismo cultural. Pero también a la inversa, la cultura, es decir la autocerteza de la humanidad que se ha vuelto segura de su efectuar, aspira a integrar el cristianismo en su mundo y a superar la verdad del cristianismo absorbiéndola en la certeza de la humanidad cierta de sí misma y de sus posibilidades de saber.”

LITURGIA LAICA DA REDENÇÃO

Imagina-se uma realidade alternativa em que o homem se tornou tão bom, tão conseqüente com as máximas do Messias que divide seu calendário, que, justamente, esqueceu quem é Jesus. Todos são Jesus reencarnados, com o perdão da expressão, já que Jesus é o Deus encarnado, por isso o Jesus original nada mais representa: abole-se sem luta uma religião milenar. A coligação dos bons homens é o reino dos Céus na terra. Não há padre que reze essa missa, apenas pastores apascentando ovelhas (literais).

Seguro do ente

Contrato dos contratos

Contra-ato dos contra-atos

Seguro do não-ser e do sendo

Corretora de rota da vida

Seguro do retorno em tempo incalculável

Apropriação do ciclo das eternidades

Capitalização de todos os riscos

Negócio da China

Não há buraco negro ou bolha

que engula estoure diminua

O otimismo

de um bom Homo oeconomicus

Assegurar-se com previsibilidade

da própria espontaneidade

Oportunidade única!

Rainbow Friday

Assine Aqui

x ____________________

Assine Aqui

O único caminho sem-volta que eu conheço…

…é o do antifascista de país emergente

Nunca mais deixaremos um boina-preta

pensar um “a!” em voz alta

sem levar uma aula de História

em forma de bofetão

Este llevar a efecto el aseguramiento y esta instauración de lo real efectivo en la seguridad sólo pueden dominar la marcha histórica de la humanidad de los siglos modernos porque en el premonitorio comienzo de esta historia se transforma la relación del hombre con todo lo real, en la medida en que la verdad sobre el ente se ha convertido en certeza y ésta despliega desde entonces su propia plenitud esencial como esencia determinante de la verdad.”

Mediante la fe el hombre tiene la certeza de la realidad de lo real supremo y con ello, al mismo tiempo, la del efectivo volverse consistente de sí mismo en la bienaventuranza eterna.”

La multivocidad de la esencia de la realidad en el comienzo de la metafísica moderna es el signo de una auténtica transición. Por el contrario, la presunta univocidad del comienzo de la filosofía moderna que se expresaría en el «cogito ergo sum» es una apariencia.”

La exigencia de certeza apunta a un fundamentum absolutum et inconcussum, a un cimiento que no dependa de una referencia a otro sino que esté de antemano desligado de esta referencia y descanse en sí mismo.”

Subiectum y substans quieren decir lo mismo, lo propiamente constante y real, lo que satisface la realidad y la constancia y por ello se llama substantia. (…) El concepto de substancia no es griego, pero junto con la actualitas domina la caracterización esencial del ser en la metafísica posterior.

Ratio es, por lo tanto, otro nombre para el subiectum, para lo que subyace. Así, una designación referida al comportamiento humano (enunciativo) accede al papel de término conceptual que indica lo que constituye a un ente en su verdadero ser, en la medida en que, en cuanto aquello que se demora, es lo en sí constante, y de ese modo es lo que está debajo de todo lo de alguna manera ente, la substantia. El fundamento, comprendido como la esencia de la entidad del ente, recibe en la metafísica posterior el nombre de ninguna manera obvio de ratio.

Es subiectum una estrella y una planta, un hombre y un dios. Cuando en el comienzo de la metafísica moderna se exige un fundamentum absolutum et inconcussum que, como lo verdaderamente ente, satisfaga la esencia de la verdad en el sentido de la certitudo cognitionis humanae, se está preguntando por un subiectum que en cada caso ya yazca delante en y para todo re-presentar, y que, en la esfera del re-presentar indubitable, sea lo constante y estable.”

is qui cogitat, non potest non existere, dum cogitat.” Descartes

La realidad como representatividad —mientras se la piense metafísicamente y no, de modo inadecuado respecto del ser, psicológicamente— no quiere decir nunca que lo real sea un producto anímico-espiritual y el efecto de una actividad representativa, y por lo tanto algo que sólo está delante como una construcción psíquica. Por el contrario, apenas llega a preponderar en la esencia de la realidad el rasgo fundamental del representar y de la representatividad, la constancia y consistencia de lo real quedan limitadas a la esfera del presenciar en la presencia [Praesenz] de la re-praesentatio.”

El representar humano mismo y el hombre representante, pensados desde la nueva esencia de la realidad efectiva, son aquí más constantes, más reales y más entes que todos los entes restantes. Por ello, en el futuro la mens humana, de acuerdo con esta distinción de su yacer delante como subiectum, reivindicará exclusivamente para sí el nombre de «sujeto», de manera tal que subiectum y ego, subjetividad y yo se volverán sinónimos. En esto, el «sujeto» como nombre que designa el «sobre lo cual» del enunciado sólo pierde en apariencia su dignidad metafísica, la cual se anuncia en Leibniz y se despliega plenamente en la Ciencia de la lógica de Hegel.

Al principio, sin embargo, todo ente no humano queda aún en una situación ambigua respecto de la esencia de su realidad. Puede ser determinado por la representatividad y la objetividad para el subiectum representante, pero también por la actualitas del ens creatum y de su substancialidad. Queda roto, en cambio, el dominio exclusivo del ser como actualitas, en el sentido del actus purus. La historia del ser comienza, dentro de la verdad metafísica de éste como entidad del ente, a llevar a una unidad las múltiples posibilidades de su esencia y de ese modo a dirimir el acabamiento de la misma.”

Asumir la preparación del acabamiento de la metafísica moderna y de esa forma regir en todas direcciones esta historia del acabamiento es la destinación según la historia del ser del pensar que lleva a cabo Leibniz.”

Todo efectuar es un producir efectos que se lleva a efecto a sí. En cuanto cada vez trae algo delante de sí, lleva a cabo una re-misión [Zu-stellung] y re-presenta [vor-stellt] así de cierto modo lo llevado a efecto. Efectuar es en sí mismo un representar (percipere). Pensar de manera más propia la esencia de la realidad efectiva, pensarla adentrándose en lo que le es propio, significa ahora, en el ámbito de la esencia de la verdad como certeza: pensar la esencia de la perceptio (de la representación) en relación a cómo se despliega plenamente desde ella la esencia del efectuar y de la realidad efectiva.”

Cuando Leibniz piensa la «mónada», piensa la unidad como constitución esencial de las «unidades». La plenitud esencial, que da univocidad al ambiguo título de «unidad», surge, sin embargo, de la copertenencia de la realidad efectiva y el representar. En una carta a Arnauld del 30 de abril de 1687, Leibniz dice (Die philosophischen Schriften von G.W. Leibniz, ed. Gerhardt, II, 97): «Pour trancher court, je tiens pour un axiome cette proposition identique qui n’est diversifiée que par l’accent, savoir que ce qui n’est pas véritablement un être, n’est pas non plus véritablement un être».”

El representar —que remite siempre el universo desde un punto de vista, pero que, sin embargo, lo representa en cada caso sólo en una concentración correspondiente al punto de vista y no alcanza, por lo tanto, aquello que propiamente se apetece— es en sí mismo transitorio, en la medida en que, por su referencia al universo, estando esencialmente en su respectivo mundo impulsa más allá de él. De esta forma, en el representar esencia un progreso que impulsa más allá de sí: principium mutationis «est internum omnibus substantiis simplicibus, … consistitque in progressu perceptionum Monadis cuiusque, nec quicquam ultra habet tota rerum natura»” “La apetición (appetitus), en la que la mónada lleva a efecto, desde su simplicidad, la unidad que le es propia, es, a la inversa, en sí misma esencialmente re-presentante. El simple estar-en sí de lo propiamente constante (persistens)

La causa prima es la suprema substantia; su efectuar, sin embargo, en conformidad con la transformación de la esencia de la realidad efectiva, también se ha transformado. El efectuar de la unidad originaria, de la «unité primitive» (Monadología, §47), en cuanto llevar a efecto en el sentido de la apetición representante, es un difundirse en lo real individual que tiene su limitación en cada caso en el tipo de punto de vista de acuerdo con cuya amplitud de visión (perspectiva) se determina la capacidad de reflejar, es decir, de hacer resplandecer, de tal o cual manera el universo. Por ello las substancias creadas surgen, por así decirlo, «par des Fulgurations continuelles de la Divinité de moment à moment» (Monadología, §47).”

Así, potentia y actus aparecen como dos modos de un ser que no ha recibido una mayor determinación, añadiéndose a ellas en la metafísica posterior la necessitas como tercera modalidad.” “De acuerdo con ello, este ser no consiste ni en la actualitas, en cuanto ésta se refiere al ser efectuado sólo de lo que yace delante, ni en la potentia, en el sentido de la disposición de una cosa para algo (por ejemplo del tronco de un árbol para una viga). La vis tiene el carácter del conatus, del ya apremiante intentar una posibilidad. El conatus es en sí nisus, la propensión a la realización. Por eso, a la vis le es propia la tendentia, con lo que se alude al apetecer al que pertenece el representar.”

El «tratado» (Gerh., VII, 289-291), no datado hasta el momento, carece de título. Lo designaremos con el nombre de «Las 24 proposiciones» (v. pp. 362-369ss [estamos na 355 do tomo II].).” “el pensamiento de Leibniz alcanza la cima de su misteriosa transparencia.”

«Pourquoi il y a plutôt quelque chose que rien?» «rien ne se fait sans raison suffisante»

Ser, en cuanto realidad efectiva, es un fundar; el fundar tiene que tener en sí la esencia de dar al ser prioridad frente a la nada. El ser tiene que tener en sí el carácter de quererse y poderse [sich zu mögen und zu vermögen] en su esencia. Ser es el unificador llevarse a efecto en el estar-en-sí, es apetecer de sí mismo que-se-lleva-ante sí (que representa).”

«Itaque dici potest Omne possibile Existiturire»

La expresión existiturire, que a pesar de su aparente deformidad resulta «bella» en cuanto a la cosa en virtud de la esencialidad de su decir, es, por su forma gramatical, un verbum desiderativum. Se nombra en él la apetición del llevarse a efecto, el conatus ad Existentiam (n. 5).”

La existencia misma tiene una esencia tal que provoca el querer de sí misma.”

Começo das 24 proposições: «Hay una razón en la esencia del ente en cuanto ente por la que existe algo más bien —es decir con predilección, queriéndolo más— que nada.»

Mesmo que houvesse o nada, tanto faz, a realidade nada deixaria escapar de si.

Esto quiere decir: el ente es, en su ser, exigencial respecto de sí mismo. «Existir» ya quiere decir en sí: querer y poder unificante, que es un llevar a efecto.”

Só o adulto entende a “impossibilidade” de matar-se de fome. Só o filósofo maduro entende o sentido não-problemático-a-despeito-das-aparências do inesgotamento da existência.

El Dios que aquí esencia como fundamento no está pensado de modo teológico sino puramente ontológico, como el ente supremo en el que tienen su causa todo ente y el ser mismo. Pero puesto que Leibniz piensa todo modo de ser como modus existendi, desde la existentia determinada monádicamente, no sólo el ens possibile es pensado como existituriens sino también el ens necessarium como existentificans.”

La esencia de la repraesentatio, y con ella la del ser en el sentido de la vis y la existentia, adquieren ahora un peculiar doble carácter. Cada mónada es en cuanto que, unificando de modo originario, hace que acaezca como reflejo desde su respectivo punto de vista un mundo como una perspectiva del universo. Siendo de tal modo representante, la mónada se presenta y representa a sí misma, presenta y representa así aquello que ella misma exige en su apetencia. Lo que de esta manera representa, eso es ella.”

El término usual de subjetividad grava el pensar de inmediato y de modo demasiado obstinado con opiniones erróneas que toman toda relación del ser al hombre, y más aún a su yoidad, como una destrucción del ser objetivo, como si la objetividad, con todos sus rasgos esenciales, no tuviera que quedar presa dentro de la subjetividad.

El nombre subjetidad quiere recalcar que el ser está determinado desde el subiectum, pero no necesariamente por medio de un yo.” “la «subjetividad» aparece como un modo de la subjetidad.”

En su historia como metafísica, el ser es continuamente subjetidad. Pero allí donde la subjetidad se vuelve subjetividad, el subiectum destacado desde Descartes, el ego, tiene preeminencia en varios sentidos. En primer lugar, el ego es el ente más verdadero, el más accesible en su certeza.”

Desde el comienzo pleno de la metafísica moderna, ser es voluntad, es decir, exigentia essentiae. «La voluntad» cobija en sí una esencia múltiple. Es la voluntad de la razón o la voluntad del espíritu, es la voluntad del amor o la voluntad de poder.”

surge la apariencia de una continua humanización del ser. Cuanto más se acerca a su acabamiento la metafísica moderna, y con ella la metafísica en general, el antropomorfismo es incluso requerido y asumido propiamente como la verdad, si bien la posición fundamental del antropomorfismo es fundamentada de modo diferente por Schelling y por Nietzsche.

El nombre subjetidad nombra la unitaria historia del ser, desde la impronta esencial del ser como IDEA hasta la consumación de la esencia moderna del ser como voluntad de poder.

Ser es, en cuanto tal acaecer, la actualitas.

Ser tiene, sin embargo, en cuanto realidad efectiva que efectúa (que quiere [mögende]) de ese modo, el rasgo fundamental de la voluntad.

Ser es, en cuanto tal querer, el volver consistente de la consistencia, que, no obstante, sigue siendo un devenir.

Ser se distingue, en la medida en que todo querer es un quererse, por el «en dirección a sí», cuya esencia propia se alcanza en la razón en cuanto mismidad [Selbstheit].

Ser es voluntad de voluntad.”

el ser es un sistema” “En la Edad Media, puesto que la ventas no se funda aún sobre la certitudo del cogitare, el ser tampoco puede ser nunca sistemático. Lo que se denomina un sistema medieval, no es nunca más que una Summa como exposición de la totalidad de la doctrina.”

* * *

UM[:]A BREVE HISTÓRIA DO SER ROLANDO A RAMPA (SOBRE SI MESMO), ESFERO QU’EST

A IDEIA usurpa a ALETHEIA “despedir del ente hacia la así incipiente presencia.”

El ser es en primer lugar el qué-es.”

La preeminencia del qué-es da por resultado la preeminencia del ente mismo en cada caso en lo que es.”

O NÃO-ENTE O C-RENTE

CU-RENTE

K-RENT

C-URVO

CU-R-VÔ

O ENTENDO

LOGO PISCO E SINALIZO

Aristóteles el perverso inconciente: “las posteriores existentia y existencia no pueden nunca alcanzar retrospectivamente la inicial plenitud esencial del ser, ni siquiera si se las piensa en su originariedad griega.”

La esencia del que-es (realidad efectiva), que queda en la obviedad, permite finalmente la equiparación de la certeza incondicionada con la realidad absoluta.”

La plenitud esencial de la voluntad no puede determinarse en referencia a la voluntad como facultad anímica; antes bien, la voluntad tiene que ser llevada a la unidad esencial con el aparecer”

¿Qué quiere decir entonces el «yo pienso» kantiano?

Lo mismo que: yo represento algo en cuanto algo, es decir, hago que algo esté junto ante mí. Para el estar junto, y determinada en esencia por él, es necesaria la unidad.”

La palabra «Gegenstand» [objeto] quiere decir, desde el siglo XV: resistencia [Widerstand].

Para Lutero, Gegenstand significa:

el «estado» [Stand] opuesto:

el estado de judío y el estado de cristiano:

«adoptar el estado-opuesto [Gegen-stand]».

Desde el siglo XVIII la palabra sirve de traducción de obiectum, surgiendo la disputa de si debe decirse Gegen-wurf o Gegen-stand. Ob-jeto [Gegen-stand] y poner-delante [Vor-stellen]: re-praesentare.”

Ser — incuestionado y obvio, y por lo tanto impensado e incomprendido ya en una verdad hace tiempo olvidada y sin fundamento.”

ob je suis TÔ?

La pregunta por el origen esencial del «objeto» en general. Ésta es la pregunta por la verdad del ente en la metafísica moderna.”

O esquecimento mais profundo é o não-recordar.”

La voluntad (como rasgo esencial y fundamental de la entidad) tiene su origen esencial en la esencial ignorancia de la esencia de la verdad como verdad del ser.”

Cómo el concepto de ser del racionalismo (ens certum – objetividad) y del empirismo (impressio – realidad) coinciden en la determinación de la realidad efectiva de lo eficiente. La eficacia, sin embargo, no en sentido formal general sino en el originario de la historia del ser.”

La tesis [kantiana] quiere decir en primer lugar: ser [mundo] (es) sólo la posición de la cópula entre sujeto y predicado.”

La tesis de Kant sobre el ser: una tesis ontoteológica, enunciada en el contexto de la pregunta por la existencia de Dios en el sentido del summum ens qua ens realissimum.

En lo que para Kant es incuestionado está para nosotros lo digno de cuestión: la proveniencia esencial de la «posición» desde el dejar yacer delante de lo presente en su presencia.”

Voluntad — como saber absoluto: Hegel

Como voluntad de amor: Schelling

Voluntad de poder — eterno retorno: Nietzsche”

El abandono del ser [mundo] contiene la indecisión acerca de si el ente perseverará en su preeminencia. Esto significa, en adelante, acerca de si el ente sepultará y erradicará toda posibilidad de inicio en el ser, continuando así a ocuparse del ente, pero conduciendo también a la devastación que no destruye sino que, en la instalación y la organización, ahoga lo inicial. El abandono del ser contiene la indecisión acerca de si en él, en cuanto extremo de la ocultación del ser, no se despeja ya la desocultación de esta ocultación y, de ese modo, el inicio más inicial. En el plazo de esta indecisión, en la que se despliega el acabamiento de la metafísica y el ser humano es reivindicado por el «superhombre», el hombre arrebata para sí el rango de lo propiamente real. La realidad de lo real, caracterizada desde hace tiempo como existencia, asigna al hombre esta distinción. El hombre es lo propiamente existente, y la existencia se determina desde el ser hombre, cuya esencia ha decidido el comienzo de la metafísica moderna.

En la medida en que el hombre, en el margen del plazo de indecisión en la historia del ser, vaya tentando el camino hacia un primer recuerdo que se interne en el ser, tendrá a la vez que recorrer y dejar fuera de sí el dominio del ser humano.

La distinción de la existencia en el sentido de realidad como ser sí-mismo, prefigurada desde el primer acabamiento de la metafísica en Schelling, llega, pasando por Kierkegaard, que no es ni teólogo ni metafísico y es sin embargo lo esencial de ambos, a un peculiar estrechamiento. El hecho de que, inmediatamente, la conversión de la realidad efectiva en autocerteza del ego cogito esté determinada por el cristianismo, y de que, mediatamente, el estrechamiento del concepto de existencia esté determinado por la cristianidad, no hace más que testimoniar nuevamente cómo la fe cristiana se ha apropiado de los rasgos fundamentales de la metafísica y, bajo esa forma, ha llevado a ésta a dominar en Occidente.”

Donde hay realidad efectiva, allí hay voluntad; donde hay «voluntad», allí hay un quererse; donde hay un quererse, allí existen posibilidades de desarrollo esencial de la voluntad como razón, amor, poder.”

HISTÓRICO DO CONCEITO DE EXISTÊNCIA ATÉ EU MESMO ME ENGLOBAR COMO COROLÁRIO (QUEM É O A-METAFÍSICO?)

El proceso inicial, sin embargo, deja atrás el inicio [ALETHEIA] como algo infundado y por eso puede poner todo el peso en instaurarse como pro-greso (Fort-schritt) [ENTELEQUIA] y superación.” el presenciar como morada de lo que mora en cada caso [als Weile des Jeweiligen] (Aristóteles).” “el presenciar de lo producido e instalado, la obridad.”

dominar yaciendo ya delante, el «predominar» pensado de modo griego como: presenciar desde sí.”

Del ser como presencia se llega al ser como representatividad en el sujeto.”

La certeza incondicionada de la voluntad que se sabe a sí misma como realidad absoluta (espíritu, amor).”

El devenir, en sí mismo «contradictorio» (Schelling)”

8. (…) Existir como fe, es decir, atenerse a la realidad de lo real que el hombre mismo es en cada caso.

Fe como devenir manifiesto ante Dios. Atenerse a la realidad de que Dios se ha vuelto hombre.

Fe como ser cristiano en el sentido de devenir cristiano.”

9. Existencia en el sentido de Kierkegaard, sólo que sin la esencial referencia a la fe cristiana, al ser cristiano. Ser sí mismo como personalidad a partir de la comunicación con otros. Existencia en relación con la «trascendencia» (K. Jaspers).”

10. Existencia — utilizada temporalmente en Ser y Tiempo como la insistencia [Inständigkeit] extática en el despejamiento del ahí del ser-ahí.”

EIS QUE… UM TRUQUE SÓRDIDO?

11. Cómo desaparece en la metafísica de Nietzsche la diferencia de esencia y existencia, por qué tiene que desaparecer en el final de la metafísica; cómo, sin embargo, precisamente así se alcanza el mayor alejamiento del inicio.

(…) voluntad de poder como essentia; eterno retorno de lo mismo como existentia (cfr. «La metafísica de Nietzsche»).”

a existência do fundamento é o fundamento da existência

só a fé embasa

umalma

salto de fé do espermatozóide

nada por trás senão o próprio por-trás

tudo é um cu!

SUPERSSOPA

sendo

s e n d o

s e n d o

s e n d o

s e n d o

s e n d o

s e n d o

sendo

Lo existencial, tomado en su aparente indiferencia histórica, no tiene que entenderse necesariamente de modo cristiano, como en Kierkegaard, sino en cualquier aspecto de la intervención del hombre como aquel que lleva a efecto lo efectivamente real. El eco que ha encontrado lo existencial en las últimas décadas está basado en la esencia de la realidad efectiva, que, en cuanto voluntad de poder, ha hecho del hombre un instrumento del hacer (producir, llevar a efecto). Esta esencia del ser, a pesar de Nietzsche, e incluso en él mismo, puede permanecer encubierta. Por ello, lo existencial admite múltiples interpretaciones.”

el acoplamiento, históricamente imposible, de Nietzsche y Kierkegaard tiene su fundamento en que lo existencial sólo es la agudización del papel de la antropología dentro de la metafísica en su acabamiento.”

Preessenciar em sua memória total: “Dejar-presenciar: destino del ser”

A veces el recuerdo que se interna en la historia puede ser el único camino transitable hacia lo inicial”

El recuerdo que se interna en la metafísica como una época necesaria de la historia del ser”

Templar [stimmen: amornar, afinar] como acaecer [acontecer] apropiante en lo propio: el acaecimiento apropiante, sin embargo, decir [Sage]el son del silencio.”

CUATERNIDAD: Ver Jung.

Hans Jonas. The Phenomenon of Life: Toward a Philosophical Biology (1966)

el inicio concede la decisión de despedirse, despedida en la que marcha al encuentro de sí mismo como aquello que admite y, de este modo, hace que acaezca una vez más, en su propia inicialidad, la pura falta de necesidad que es ella misma un reflejo de lo inicial, de lo que acaece”

A veces el ser tiene necesidad del ser humano, y sin embargo nunca es dependiente de la humanidad existente.”

GENEALOGIA DO AMANHÃ – #SugestõesdeTítulos

El recuerdo no refiere opiniones pasadas y representaciones acerca del ser. Tampoco persigue sus relaciones de influencia ni hace un relato acerca de puntos de vista dentro de una historia conceptual. No conoce el progreso y el retroceso en una sucesión de problemas en sí que llenarían una historia de los problemas.

Puesto que sólo se conoce y se quiere conocer a la historia en la esfera de la historiografía, que indaga y recupera lo pasado para utilidad del presente, también el recuerdo que se interna en la historia del ser [mundo] queda entregado en un primer momento a la apariencia que lo presenta como una historiografía conceptual, además unilateral y llena de lagunas.

Sin embargo, cuando el recuerdo conforme a la historia del ser nombra a un pensador y sigue lo pensado por él, este pensar es para aquel recuerdo la respuesta que está a la escucha y que acaece ante la reivindicación del ser, como una determinación [Bestimmung] por parte de la voz [Stimme] de la reivindicación. El pensar de los pensadores no es ni un proceso dentro de sus «cabezas» ni una obra de esas cabezas. Siempre se puede considerar al pensamiento de modo historiográfico de acuerdo con esos criterios y apelar a la corrección de esas consideraciones. Pero de ese modo no se piensa el pensar como pensar del ser. El recuerdo que se interna conforme a la historia del ser se retrotrae a la reivindicación de la silenciosa voz [lautlose Stimme] del ser y a su modo de templar [Stimmen, afinar]. Los pensadores no son sopesados refiriéndolos recíprocamente de acuerdo con contribuciones que significarían un éxito para el progreso del conocimiento. [VOCÊ ENTROU PARA A HISTÓRIA DO SER!]

Todo pensador sobrepasa el límite interno de todo pensador. Pero este sobrepasar no es un saber más, ya que él mismo sólo consiste en mantener al pensador en la inmediata reivindicación del ser, permaneciendo así en su límite. Esto, a su vez, consiste en que el pensador mismo no puede nunca decir lo que le es más propio. Tiene que quedar no dicho porque la palabra decible recibe su determinación desde lo indecible. Lo más propio del pensador no es, sin embargo, posesión suya sino propiedad del ser, del cual el pensamiento recoge en sus proyectos lo que él arroja, proyectos que no hacen más que admitir la implicación en lo arrojado.

La historicidad de un pensador (el modo en el que es reivindicado para la historia por el ser y en el que corresponde a la reivindicación) no se mide jamás de acuerdo con el papel historiográficamente calculable que desempeñan al circular públicamente sus opiniones, siempre y necesariamente mal interpretadas en su tiempo. La historicidad del pensador, que no se refiere a él sino al ser, tiene su medida en la fidelidad originaria del pensador a su límite interno. No conocer este último, y no conocerlo gracias a la cercanía de lo indecible no dicho, es el oculto regalo del ser a los pocos que son llamados a la senda del pensar. Por el contrario, el cálculo historiográfico busca el límite interno de un pensador en el hecho de que aún no está enterado de algo que le es extraño y que otros, posteriores, asumirán como verdad después de él, y a veces sólo por mediación suya.”

El ser, en su historia, sólo puede admitirse [eingestehen] en aquella admisión [Eingeständnis] que libra exclusivamente a la dignidad inicial del ser el ajustarse del ser humano a la referencia al ser, para que, así admitido [geständig], conserve la insistencia [Inständigkett] en la preservación del ser.”

¿Qué acontece en la historia del ser? No podemos preguntar así, porque habría entonces un acontecer y algo que acontece. Pero el acontecer es el único acontecimiento [Geschehnis]. Sólo el ser es. ¿Qué acontece? No acontece nada, si vamos a la búsqueda de algo que acontezca en el acontecer. No acontece nada, el acaecimiento acaece apropriando [das Ereignis er-eignen]. El inicio —al dirimir el despejamiento— en sí mismo se despide. El inicio que acaece es lo digno en cuanto es la verdad misma que se eleva en su despedir. Lo digno es lo noble que acaece sin necesidad de obrar.” “la des-ocultación es la ocultación, y esto porque es la propiedad del fundamento abismal [Ab-grund].

oscuro resplandor en la transparencia de la certeza del acabado saber metafísico.”

la metafísica es historia del ser como pro-gresar que sale del inicio, progresar que convertirá un día el regreso en necesidad [Not] y el recuerdo que se interna en el inicio en necesidad apremiante [notvolle Notwendigkeit].” “En este progresar el ser se entrega a la entidad y rehusa el despejamiento de la inicialidad del inicio. La entidad, empezando como IDEIA, inaugura la preeminencia del ente respecto del carácter esencial de la verdad, cuya esencia misma pertenece al ser.”

BARRICADA DO SER

Transmutar todos os valores é apenas completar mais uma volta.

Somos só dança e decadência. O “o” da barriga do óbvio. Ou o “b” da barriga do ócio. Ou o “m” da barriga do ódio.

O SENDO A SENDA

La realidad efectiva traslada su esencia a la multiformidad de la voluntad. La voluntad se lleva a efecto a sí misma en la exclusividad de su egoísmo como voluntad de poder. Pero en la esencia del poder se encubre el más extremo abandono del ser a la entidad, en virtud de lo cual ésta se transforma en maquinación.” “El ser ya sólo aparece para ser entregado al desprecio. El nombre de este desprecio es «abstracción».”

El signo de la degradación del pensar es el ascenso de la logística¹ al rango de verdadera lógica.”

¹ Termo ambíguo: gestão dos recursos; as quatro operações básicas da Matemática. Poder-se-ia dizer: a aritmética da administração é a administração da aritmética.

RUMO A UMA FILOSOFIA PÓS-TÉCNICA

La renuncia en la que el ser se abandona a la extrema inesencia de la entidad (a la «maquinación») es, ocultamente, el retener en sí la esencia inicial del acaecimiento apropiante en el inicio aún no iniciado, que aún no ha entrado en su abismo. El progreso del ser hacia la entidad es esa historia del ser —llamada metafísica— que en su comienzo queda tan esencialmente alejada de su inicio como en su final. Por eso, la metafísica misma, es decir ese pensar del ser que tuvo que darse el nombre de «filosofía», tampoco puede llevar nunca la historia del ser mismo, es decir el inicio, a la luz de su esencia. El progreso del ser hacia la entidad es sobre todo el rechazo inicial de una fundación esencial de la verdad del ser”

O vislumbre de Sils-María é o tesouro secreto da pior existência.

El progreso tampoco puede hacer nada contra la recusación del inicio, recusación en la que lo inicial se encubre hasta volverse inaccesible. No obstante, en el progreso, la distinción del ser frente al ente (diferencia ontológica), sin llegar propiamente a su estructura fundada, entra en la verdad (apertura), a su vez indeterminada, del ser.”

QUEM É A PRESENÇA ETERNAMENTE PRESENTE? QUEM É A SEGURANÇA ASSEGURADA?

Que [o fato de que o <sendo> é, o predicado da questão, o <puro acontecer> e, enquanto puro acontecer, o mais afastado possível da Filosofia] el ente es le da al ente [<sendo>] el privilegio de lo incuestionado, a partir de lo cual se eleva la pregunta acerca de qué [quem (sujeito) – regresso a Platão, o ápice da filosofia] es el ente.”

El qué-es es así, desde el ente, el primer ser que se interroga. En ello se manifiesta que el ser mismo sólo se entrega a la determinación en la forma de la entidad, para, por medio de esta determinidad misma, llevar a la esencia sólo el ente en cuanto tal.”

Eliminar a idéia: uma rebeldia destinada a não vingar

la metafísica tiene que ser previamente experimentada en su inicio para que la metafísica se vuelva capaz de decisión como acaecimiento apropiante de la historia del ser y perda la forma aparente de una doctrina y de una manera de ver, es decir, de un producto humano.”

el hombre queda incluido en la historia del ser, pero en cada caso sólo respecto del modo en que, a partir de la referencia del ser a él y de acuerdo con ella, asume, pierde, pasa por alto, libera, profundiza o dilapida su esencia.

El hecho de que el hombre sólo pertenezca a la historia del ser en la esfera de su esencia determinada por la reivindicación del ser, y no respecto de su estar, actuar y producir en el interior del ente, significa una limitación de tipo peculiar.

El acaecimiento apropiante concede en cada caso el plazo desde el cual la historia asume la garantía de un tiempo.”

Respecto del «despejamiento» [acaecer, acontecer, o <despejamento apropriante> do ser no próprio ser], cfr. Die Bestimmung der Sache des Denkens [La determinación del pensar], 1964-1965.

Ler, outrossim: Carta sobre el humanismo.

+

J.L. Molinuevo: «El final de la filosofía y la tarea del pensar», 1980.

ÍNDICE REMISSIVO DE NOMES PRÓPRIOS – nomes em espanhol e português:

Descartes (75x!)

Platão, Platón (62x)

Hegel (48x)

Aristóteles (47x)

Kant (45x)

Schopenhauer (31x)

Leibniz (27x)

Wagner (18x)

Schelling (17x)

Heráclito (16x)

Protágoras (13x)

Parménides, Parmênides (6x)

Fichte (5x)

Kierkegaard (4x)

Goethe (4x)

Tomás de Aquino (4x)

Jaspers (4x)

Baumler (4x)

Hume (3x)

Hölderlin (3x)

Tucídides (3x)

Arendt (3x)

Marx (2x)

Maquiavelo (2x)

Burckhardt (2x)

Anaximandro (2x)

Pascal (2x)

Baudrillard (2x)

Bertram (2x)

Herder (2x)

Dilthey (2x)

Jacobi (2x)

Ozzy (2x)

Sócrates (1x)

Jaeger (1x)

Sartre (1x)

Spinoza (1x)

Spengler (1x)

Taine (1x)

Turgueniev (1x)

Winckelmann (1x)

Händel (1x)

Elisabeth Förster (1x)

Gast (1x)

Feuerbach (1x)

Locke (1x)

Bismarck (1x)

Stifter (1x)

Vischer (1x)

Clauberg (1x)

Duns Scotus (1x)

Tauler (1x)

Suso (1x)

Suárez (1x)

Lutero (1x)

Jung (1x)

Hans Jonas (1x)

Molinuevo (1x)