[ARQUIVO] A SOCIOLOGIA E A SUA VIDA / BODES EXPIATÓRIOS & CÉREBROS VIRANDO GELEIA

Originalmente postado em 5 de outubro de 2009. Parágrafo novo no final.

Sob o que paira tão alto, sua casa e sua família. Contornos mais nítidos, mas coração mais apertado. O que é sensível para nós seria falável, se não fosse doloroso falar do que mais se conhece! Quanto ao insensível e incorpóreo, tanto faz que tenhamos imparcialidade, ele é obscuro e distante mesmo… Claro, até voltar a ser familiar; digo, familial. E o quanto das cabeças dos nossos pais não é absolutamente indecifrável, por mais autômato e robótico?

Escrevo para tentar parar de pensar sem cessar no mesmo corpo de problemas todos os dias, o que vem me atrapalhando a manter minha rotina de leituras. Não me importam a sociologia e seus entreveros entre autores, todos corretos e todos errados ao mesmo tempo. Chega!

Só me importam alguns pontos, tais quais: se um sujeito bem gordo completa a travessia de uma ponte de madeira sobre um rio, envergando-a para baixo, e um segundo sujeito, magrinho, apenas pele e osso, tenta passar e racha a madeira, caindo na água quando estava justamente no meio do caminho, de quem é a culpa? O cristão instaurará um inquérito de imediato. Estes ocasionaram o Estado, a polícia. Se o gordo não é ricaço, a culpa é dele, ele vai preso. Ou, se não houver provas de que alguém ali passou antes, o ônus vai todo para o magricela. Bodes expiatórios são unidades carnais. Cristo era um homem. Nesse nosso mundo não é costume a partilha de responsabilidades. Vai ver é por isso que a Terra está assim, que a camada de ozônio…

Ninguém? Deus? Não falemos de vazios, sigamos no Mundo dos Homens falando de Homens, e não de Idéias. Afinal, em tudo que importa, só Homem, o ato, a matéria, o tangível, é que entram na conta. E que se dane se o gordão fez de propósito ou o magro estava sendo coagido. O que você faz não é voluntário nem desinteressado.

Então por que eu aqui? Sinceramente, o que mais me preocupa no momento é dinheiro. Não dinheiro para a vida toda, não meu dinheiro, mas o dinheiro dos meus pais que vai pra mim. Atualmente, é assim que eu vivo, e até 2ª ordem continuarei pedindo toda semana algumas notas, retirando-as da carteira do meu pai sob as vistas do dono. Ele ser murrinha e eu ser um universitário desempregado são duas coisas que não casam bem. Mas tem de casar, de alguma forma – é a vida. O chefe da família diz que não há conversa nessa casa, os filhos mondrongos são os responsáveis. Eu digo que ele é um bicho-do-mato escroto que não tem solução, é um daqueles casos perdidos.

Não importa quem tem razão, nem qual é o lado fraco. Ele vai morrer como mau pai e sem conquistar os filhos. Vai viver cada segundo do resto de sua vida com o peso (será que o elefante sente?) de não ter conseguido estabelecer o mínimo diálogo intergeracional. Se há um consolo – certamente ele pensa nesses esquemas –, é que ele acha que algo extraordinário irá acontecer e ele ainda poderá realizar sua meta (opa, nós – estranhamente, ele não se encara como ator). A esperança morre só depois do defundo…

P.S. 2023: Hoje moro só e meu pai está em fase final do Alzheimer. Até hoje nunca admitiu seus erros e ainda acusa todos a sua volta por não ter-se tornado o Rei da Inglaterra.

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