A BAGACEIRA

José Américo de Almeida 

DICIONÁRIO DE (81) TERMOS ESDRÚXULOS E TUPINIQUINS, afora aquelas definições encontradas entre [ ]’s no decorrer das próprias citações (contrastar com José de Alencar e Rachel de Queiroz):

aça: albino // ver fuá e sarará

alapardar: esconder

aluir: abater, abalar

aquilotar: habituar-se

araponga: pássaro cujo canto ressoa ao metal; pessoa que grita.

áscua: brasa, chama

assuada: motim, algazarra

azucrim: diabo


bagaceira: cachaça;

depósito dos resíduos da cana;

bando de palavras desconexas;

ralé;

entulho (coletivo)


banga: cambada de vagabundos; indicativo de mofa com o interlocutor, quando no final da frase; casa mal-construída.

bangalafumenga: zé-ninguém, imprestável // ver leguelhé

batoré: porco, imundo

bouba: ferida

cabroeira: coletivo de cabras (homens)

cafundó: ermo

cambiteiro: profissional rural

cambonja ou cambonje: ave peralta

camumbembe: vagabundo

caninguento: rabugento

capulho: broto ou botão da flor

Cariri: tribo indígena – mais detalhado em https://seclusao.art.blog/2017/06/29/o-quinze-rachel-de-queiroz/ 

chuchurrear: bebericar com estardalhaço

coco: dança popular de Alagoas

cruviana: grande frio

delerência: delícia (pessoa)

dríade ou dríada: planta que dá flor; divindade.

empacho: estorvo; vergonha.

encalacrar: entalar, endividar, comprometer-se (no mau sentido)

encalistrar: ficar vexado

enxuí: maribondo pequeno porém doloroso como qualquer espécie maior

espia-caminho: flor

espoleta: capataz de fazenda

essa: monumento sepulcral

estreme: puro

fichu: lenço para se proteger do sol forte

figa: várias acepções; dando figa: pouco me fodendo.

fiota: janota

fouveiro: ruivo, de fisionomia europeizada

fuá: arisco (cavalo, p. ex.); caspa.

guenzo: doente

hamadríada ou hamadríade: macaco pequeno e feioso

homizio: desterro, exílio, fuga

hemoptise: hemorragia do pulmão

ledice: ar contente

leguelhé: imprestável // ver bangalafumenga

macaíba ou macaúba: palmeira

maldar (sentido peculiar): dar motivos para suspeitas

mangará: pé-de-bananeira

maracanã: periquito

maracatu: dança folclórica

marouço: maré grossa

matula: corja

moçame: coletivo de “moça”

multípara: parideira, mulher de ativo e fértil ovário, mãe de muitos

niquice: impertinência // também usado por Graciliano Ramos

paleio: lábia; carícias interesseiras.

pantim: boato

patacão: moeda de cobre, do tempo de D. João III; também usada no Brasil e no Uruguai (não a mesma, mas o nome); patela; idiota; cebolão (relógio grande de bolso).

patativa: pássaro do canto doce; sujeito falaz.

peitica: despeito; ave tropical.

perequeté: emperiquitado

piaba: peixe fluvial de pequeno porte

pileca: magro e fraco (cavalo ou homem)

pinóia: puta; pechincha.

pirambeba: mesmo peixe que o cambucu

pulveroso: cheio de pó

punaré: “mamífero roedor, da família dos Echimydeos, gênero Thrichomys, presente no bioma da caatinga, mas também no Paraguai e na Bolívia. Se adapta facilmente a zonas secas e pedregosas. É de pequeno porte, tem pêlos macios, cauda longa e peluda, como de castor, apesar de no mais parecer um rato comum. Também é conhecido, vulgarmente, como rato-boiadeiro e rabudo.” dicionarioinformal.com.br, com adaptações.

punare

rebentina: acesso de cólera

rosetar: divertir-se demasiadamente

sainete: consolo, graça

salmoura: água salgada que conserva alimentos

sarará: mulato arruivado ou com albinismo // ver fuá

sessar: peneirar

sobrosso: medo

sostra: mulher feia

soverter: subverter (regionalismo)

teiró: teima, birra, antipatia

tinhoso: de má índole; repelente.

truaca: bebedeira

trupizupe: desmiolado

zunzum: atoarda, boataria

* * *

nossa ficção incipiente não pode competir com os temas cultivados por uma inteligência mais requintada: só passará por suas revelações, pela originalidade de seus aspectos despercebidos.”

Um romance brasileiro sem paisagem seria como Eva expulsa do paraíso. O ponto é suprimir os lugares-comuns da natureza.

A língua nacional tem rr e ss finais… Deve ser utilizada sem os plebeísmos que lhe afeiam a formação. (…) A plebe fala errado; mas escrever é disciplinar e construir…”

* * *

Dagoberto Marçau vivia desse jeito, entre trabalheiras e ócios, como o homem-máquina destas terras que ou se agita resistentemente ou, quando pára, pára mesmo, como um motor parado.

Como que cobrara medo ao vazio interior. Não há deserto maior que uma casa deserta.”

Era o êxodo da seca de 1898. Uma ressurreição de cemitérios antigos – esqueletos redivivos, com o aspecto terroso e o fedor das covas podres.” “Expulsos do seu paraíso por espadas de fogo, iam, ao acaso, em descaminhos, no arrastão dos maus fados.” “Não tinham sexo, nem idade, nem condição nenhuma. Eram os retirantes. Nada mais.”

Lúcio responsabilizava a fisiografia paraibana por esses choques rivais.”


Eu não vou na sua casa,

Você não venha na minha,

Porque tem a boca grande,

Vem comer minha farinha…”


A história das secas era uma história de passividades. Limitavam-se a fitar os olhos terríveis nos seus ofensores. Outros ronronavam, como se estivessem engolindo golfadas de ódio.”

A seca representava a valorização da safra. Os senhores de engenho, de uma avidez vã, refaziam-se da depreciação dos tempos normais à custa da desgraça periódica.”

Chorando de quê?! Ninguém é olho-d’água pra viver revendo…”

– O que está na terra é da terra!

Era essa a fórmula de espoliação sumaríssima.”

Não amasse assim a roupa que tanto ódio causou

E meteu-se na rede que, parada, é feita para se dormir; mas, aos embalos, a voar, é feita para se sonhar.

Lembrou-lhe o martírio infligido a Seu-bem, um cãozito amarelo com a cauda enroscada como um imbuá [espécie de centopéia ou caracol sem casa e horrendo!], que estivera preso, ali dentro, uma semana, sem comer.

Pungia-o esse remorso.

(…)

Ocorriam-lhe outros malfeitos de menino arteiro: deitava sal no dorso leitoso dos cururus; mudava de ninho os passarinhos nuelos [ainda sem penas]

Convocava, nessa superexcitação, todos os episódios da infância indócil.

Acudiam-lhe as reminiscências, como um enxame assanhado.

Órfão de mãe, ao nascer, a natureza criara-o vivaz e livre, como um selvagenzinho folgazão.

Não sentira a soledade de unigênito. Crescera de cambulhada com os moleques da bagaceira, garotos de uma malícia descarada.

E recordava-se da violenta transição desses hábitos de liberdade.”

Os longos silêncios regulamentares incutiram-lhe o vezo das meditações intranqüilas.

E fôra, ao mesmo passo, amolecendo a inteligência com leituras secretas. Noitadas de romances angustiados, debaixo dos cobertores, à luz dos lampiões vigilantes.

A liberdade acadêmica agravara-lhe essa sensibilidade. Duas cadeiras de… réu para ser julgado no fim do ano. A filosofia impérvia como a mata de Marzagão com o cipoal de todos os sistemas enredado no fenomenismo catedrático. O Direito Romano (católico, apostólico, romano…) do professor Neto. (Em Roma só havia o Papa…)”

Não gostava de ser menino. Minha vontade era ser homem feito. E agora, este buço parece o luto de minha infância que morreu.

Eu sofria na minha inocência com pena dos bichos que se amavam. Amor de arranhaduras, de coices e de dentadas. E, enfim, creio que os beijos doem muito mais.”

Mal sabia ele que o espelho nos familiariza com a imagem física, mas nenhum homem se identificaria, se se encontrasse em pessoa.”

Recolher-se é voltar-se contra si próprio. E sobrevinha-lhe o remorso que é o narcisismo dos pessimistas.”

E ele, a curtir essa crise moral, rebolando o espírito atormentado, por um revide parecido com a greve da fome…”

De uma rebeldia inativa retraía-se da luta pela vida, como quem estaciona à margem do caminho para dar passagem a um desconhecido.”

Costumava dizer que suas ações não tinham equilíbrio porque o coração lhe pesava mais do que a cabeça. Parecia-lhe o contrapeso da hereditariedade promíscua.”

Essa assistência distraía-o, às vezes, do conflito secreto. Era a satisfação de tirar do sofrimento alheio um motivo de alegria íntima, a consciência de ser bom. Um meio de esquecer a própria dor para sofrer a dor dos outros.”


Eu já ia levantando a cabeça, me endireitando, quando apertou 88. Alguma neblina era só pra apagar a poeira. Chuvas salteadas.

Fiquei, outra vez, no ora-veja, sem semente de gado. Voou o derradeiro patacão do pé-de-meia.

Acabo disso, essa é que foi a seca grande.”


Sobreveio a seca de 1898. Só se vendo. Como que o céu se conflagrara e pegara fogo no sertão funesto.

Os raios de sol pareciam labaredas soltas ateando a combustão total. Um painel infernal. Um incêndio estranho que ardia de cima para baixo. Nuvens vermelhas como chamas que voassem. Uma ironia de ouro sobre azul.

O sol que é para dar o beijo de fecundidade dava um beijo de morte longo, cáustico, como um cautério monstruoso.

A poeira levantava e parecia ouro em pó.

(…)

Durante um ano a fio, uma gota d’água que fosse não refrescara a queimadura dos campos.

Depois, não se via um pássaro: só voavam muito alto as folhas secas.

Bem. Um passarinho estava sob a última folha da umburana, como debaixo de um guarda-sol. Caiu a folha e o passarinho abriu o bico e também caiu, com as asas abertas.

O panasco pulverizara-se: girava com a poeirada chamejante.”

Eu nunca que deixasse a minha terra. A gente teimava em ficar e o sol também teimava, como quem diz: <Aqui estou grimpando de cima>. Emperrado de dia e de noite, porque nunca se viu lua mais parecida com o sol.”

– Você comeu fogo! – disse o feitor.

Ele achou a expressão usual ajustada ao seu martírio.

– Diz bem. Comi fogo em vida. Mas um homem é um homem.”

O Acre é como o outro mundo: pode ser muito bom, mas quem vai não volta mais. E diz que dinheiro de borracha encurta quando ela estira”

Baldara-se-lhe todo o heroísmo sertanejo. Ainda bem não se refazia de um cataclismo, sobrevinha-lhe outro. Horrendos desastres desorganizando a economia renascente. O sertão vitimado: todo o seu esforço aniquilado pelo clima arrítmico, perturbador dos valores, regulador inconstante dos destinos da região.

E Valentim saiu, ao desbarato, pela soalheira estendida nas estradas que iam desaparecendo nas várzeas nuas.”

O papagaio vinha arrepiado, com medo de ficar só.

Soledade quisera soltá-lo à ventura; mas, ele não sabia mais voar e, perdendo o vôo, ganhava esse peco [acanhado] destino humano…

O louro tinha aprendido, como todos os outros papagaios domésticos, o aviso inconsciente, qual uma previsão do seu fim:

– Papa-gai’ não co-meu mo-rreu.

Era o estribilho da fome.

E finou-se, encorajado, escondendo-se sob as asas, numa súplica aflitiva:

– Sol’dade! Sol’dade!…

– A gente sai por este mundão sem saber pra onde vai. Quanto mais anda, menos quer chegar. Porque, se fica, está de muda e tem pena de ficar. E, enquanto anda, pensa que vai voltar.

Lúcio interrompeu:

– Não interrompendo… Como é que se tem saudade dessa terra infernal?

– Moço, sertanejo não se adorna no brejo. O sertão é pra nós como homem malvado pra mulher: quanto mais maltrata, mais se quer bem.”

Então, havia um cajueiro curiosíssimo. Bipartia-se em galhos desiguais: um, hierático, linheiro, parecia querer escorar o céu; o outro, de uma humilde horizontalidade, deitava-se, literalmente, no chão.

Era nesse poiso natural que Lúcio ia, às matinadas, repassar seus romances convulsivos. Em vez de interpretar o clássico <livro da natureza>, desdenhava essas folhas verdes ilustradas por todos os matizes e que só têm sido lidas pela rama, para, em tão ledo e fragrante retiro, afundar-se na degenerescência romântica, exaspero da sensibilidade como sal em ferida braba.

Mas, acertara de se enamorar da figurinha fictícia de Sibil, no tablado abominável do empresário judeu. [?]

A mulher era um anjo… depois da queda. Queda, de verdade, que produz mártires e não demônios… (O pobre do anjo mau!…).

Seria capaz de pedir-lhe a mão… para levantá-la desse inferno.

O amor era um consolo. Função de enfermeiro ou de esmoler. [mecenas dos mundanos] A beleza <o longo e obediente sofrimento> da Circe…

E evocava as famosas paixões plebéias. Não excluía dessa baixa do coração nem a humildade da cor. Salomão, o padroeiro das senzalas.

Nigra sum, sed formosa.

E nosso poeta Gonçalves Crespo ganhara esse lirismo pixaim em Portugal:

És negra, sim, mas que formosos dentes, Que pérolas sem par!

Lafcádio Hearn querendo casar com uma pretinha; Baudelaire…

Esteve em levantar-se e gritar: <Viva o amor cruzado que curou nostalgia africana e coloriu o meu Brasil!>

Há confidências que aliviam como um vômito, mas repugnam também como um vômito.

Lúcio acolheu-a com um sorriso só nos lábios e continuou a ler.

Então, ela sentou-se no cajueiro ao seu lado. E ele começou a ficar como os cajus, amarelo e encarnado, mudando de cor. Todo contrafeito, parecia recear ser surpreendido nesse convívio suspeito.

(…)

Ela desconversou:

– O senhor quer bem a seu pai?

O estudante pendeu a cabeça humilhado. Acudiram-lhe as cenas de aspereza desse homem brutificado pelo trato semibárbaro do engenho. Já segredavam os moradores. <Aquele dá coice no vento.>

E, intentando confortá-la:

– Não ligue, Soledade: meu pai é pancada pra todo o mundo.

Alguns avatares se recusam a evoluir, sr. Hegel… Não venha me dizer que era o estágio final!

Já não era a retirante desbotada e acabadinha, mas a moça capitosa, [obstinada; sedutora] de graças desabrochantes.

Refeita e mimosa, semelhava certas flores que decaem ao anoitecer, para, às primeiras orvalhadas, madrugarem com mais frescor.”

Os galhos do cajueiro comprovavam as desigualdades acidentais – filhos do mesmo tronco com destinos díspares.

Só, então, Lúcio notou esse contraste.

E Soledade fremia num alvoroço incompreendido.

Sentia o primeiro toque da puberdade que ensaia adivinhar os mistérios interiores. Uma inquietude de virgem na insciência do amor feito de curiosidade e de medo.

Cortejada por toda parte, desassossegada, receosa, refugiava-se na complacência honesta do estudante; discernida com o instinto divinatório com que as mulheres mais ingênuas interpretam os sentimentos que as requestam.”

Espia-caminho – um nome que era uma advertência, como quem diz <Por onde quer que passes, por toda parte, estão armados os laços da sedução.>

Exasperavam-se os cajueiros confidentes.

Não eram mais as árvores acolhedoras dos solilóquios matinais.

Expulsavam os intrusos de sua casta intimidade. E sacudiam neles folhas, cajus, castanhas, maturis [a castanha imatura]… Até galhos secos sacudiam.

Molhavam-nos com o orvalho restante.

Era uma pateada em regra. E rangiam, balançando-se, gingando, em meneios de capoeiras. Contorciam-se, como se quisessem, outra vez, saltar das raízes, cair em cima desse par bêbedo de perfumes que profanava o pudor da alameda aromal.

E o vento ajudava assobiando.

Lúcio saiu desconfiado com o sentido nos bosques sagrados. Mas, não eram dríadas nem hamadríadas despeitadas” Em tradução livre, não eram espíritos nem bichos travessos, mas puro fenômeno natural.

– Patrão, faz toda vida que não se entrosa um forró – intercedeu o feitor, com fingida indiferença de quem pleiteia um desejo próprio em nome de outrem.

O senhor de engenho pusera termo a essas funções. Costumava dizer que a alegria do pobre era um mau agouro. De feito, não se dava um samba que não acabasse em sangueira.

Mas Manuel Broca segredou-lhe um plano que ele acolheu entre malicioso e desconfiado. E, vendo outros moradores que se acercavam, acedeu com uma praga:

– Pois levem os 600 mil diabos!…

(Os diabos tinham sempre conta certa: eram trezentos ou seiscentos mil…)”

Os negros giravam como sombras alucinadas.

Parecia um inferno orgíaco.

De chofre, todas as mulheres deram as costas para a porta. Era a superstição de que, estando alguém, do lado de fora, a rezar às avessas, via despidos os que se achavam dançando.”

Despercebido de todos os vexames do servilismo remanescente, o povoléu rural desmandava-se na animação barulhenta.

Parecia que o problema da felicidade se resolvia nessa diversão agreste.

Era um júbilo integral. Uma alegria unânime que cantava como a melhor música do samba.

Sem os fermentos da ambição que atormentam a natureza humana; sem os cuidados da previdência, numa vida de cada dia; sem imaginação que elaborasse pressentimentos mofinos; sobretudo, sem tempo para pensar em ser triste – essa gente tinha a fortuna de não se conhecer. As próprias dores físicas eram discretas, sem choro alto.

Lúcio corria-se de sua tristeza inveterada perante tanta explosão de prazer que dissimulava a penúria permanente. Chegava a saber que os sofrimentos morais eram uma ilusão dos sentidos. Só havia uma condição de felicidade: não saber sofrer. Feliz era o animal que se encolhia à chicotada e a esquecia, quando deixava de doer. Feliz era a sensibilidade que não ia além da casca grossa. E bendizia a ignorância que ignorava até a dor. Invejava essa vivacidade inconsciente. Acostumado a cultivar as sentimentalidades malsãs, como um mendigo que vive de sua ferida aberta, ouvia casquinadas cavas, oriundas, talvez, das cavernas do estômago, e não sabia rir de estômago cheio.

Entrou na onda pulverosa. E testemunhava os idílios brejeiros, cuja amostra mais doce era uma injúria: – <Feia!…> – <Essa safada!…> Ou, um derrame lírico: – <Bichinha…> E, quando passava da palavra ao gesto, era um beliscão, uma pisadura, um puxavão de orelha, uma dentada… Só uma carícia não doía: o cafuné. Mas, às vezes, as unhas penetravam com mais bem-querer.”


<Cabra danado,

Se não tem corage, eu tenho

De pegar nessa pistola

E atirar no senhor de engenho…

Minha senhora,

De que chora este menino?

Chora de barriga cheia

Com vontade de apanhar…>


O estudante observou: <Musa mentirosa!Atirar no senhor de engenho neste estado de subordinação crônica… Chorar de barriga cheia, como se não chorasse senão de fome…>

Estudante é uma raça de gente que só vive de cabeça virada…”

revelam-se excelências plásticas nessa desordem de músculos de alguns tiparrões excepcionais. Donzelas equívocas da redondeza acudiam ao estalo dos dedos, como se chama aos cães.

Mas, ali não se brigava por mulher: o amor não valia uma facada.

– Olhe que eu te dou uns croques! [cascudos]

– Quando chegar em casa, você chia no relho [cinto]!…”

A polícia debandara, aturdida.

– Fez sangue?

– Foi a força do governo, patrão.

Para eles o governo era, apenas, essa noção de violência: o espaldeiramento, a prisão ilegal, o despique partidário… Não o conheciam por nenhuma manifestação tutelar.

E explicavam:

– Chegou e foi metendo o fandango. [festival de sapatadas] Só pra empatar o samba. Passou o refe [arma, rifle] em tudo.”

Sabia que a fotografia não era sua e alvoroçou-a a curiosidade – a única forma de impaciência da mulher, esse apetite do desconhecido que constitui, as mais das vezes, o móvel de sua perdição – a curiosidade de verificar quem era aquela figura feminina que tanto se parecia consigo.

Instava:

– Lúcio, não é meu?

Suspeitou que interessava ao estudante porque se assemelhava a alguém que ele amava. Era a condição mais humilhante de ser amada.

Como quem ama de olhos fechados, com o sentido em outro amor.”

Soledade estava acostumada a ver bichos esfolados e esquartejados, o choro dos bezerros na ferra, os rebanhos carpindo-se [chorando] no sangue fraterno, a rês levantando-se náfega [torta, cambaleante] das mucicas [puxão pela cauda para derrubar] da vaquejada, as ossadas da seca… Mas, não havia termo de comparação com esse suplício dos mártires da almanjarra. [roda hidráulica que o gado é forçado a mover]

Era a sorte dos bois sertanejos na bagaceira…”

A almanjarra ronceira, [indolente] à pachorra [lerdeza] das juntas fatigadas, era o símbolo diuturno da rotina empeciva. [estorvada] Traçava, inalteravelmente, a mesma circunferência na bosta de boi.

Era a norma automática que distingue a mesmice do instinto das variações da inteligência.

A moagem ia, por assim dizer, de meia-noite a meia-noite. Os eixos frouxos vomitavam o bagaço maior do que a cana engolida e mijavam um fio de caldo no parol [recipiente onde cai o caldo]…”

Ninguém queria. Dava por menos: 8$000, 6$000… E, com o papagaio no dedo, beijando-o, cheirando-lhe as asas. Afinal, vendeu-o e entristeceu, porque não tinha mais, em casa, quem lhe chamasse pelo nome…

– Por esse preço, volto com ele.”

Vendiam a faca de ponta e cachaça, para que a polícia e a justiça cumprissem, depois, o seu dever.

A feira de cocos era um tintim por tintim… Comprava-se pelo som, batendo com uma moeda.

Moeda corrente: pelega, [cédula] bagarote, [dindim] selo, cruzado, pataca, [moeda de prata, igual a 320 réis] xenxém [xem-xem, moeda de prata, 10 réis]…”

– ‘Stá aí! ‘Stá vendo? Ticaca!… [gambá nordestino]

Assim o chamava em seus arrufos. No sertão ia pegando. Não que ele fosse catingoso. Efebo sadio, se tinha algum pituim, era o bodum do chiqueiro.

Vinha-lhe o apelido de um episódio da infância. Fôra o caso que, quando menino, dera com uma maritacaca detrás do serrote da acauã. [ave de rapina que se alimenta de cobras]

E, como não tivesse olfato, de nascença, procurou alcançá-la. A bicha defendeu-se, o quanto pôde, com a micção fétida. Ele nem se dava disso. Que gentil e mimoso animalzinho!

Trouxe-o nos braços, como um achado curioso.

Misericórdia! Tudo se impregnou do mau odor.

E, depois de muitas esfregações, ficou sendo Ticaca.

Aspirando o cheiro que se evolava de Soledade, o estudante apiedou-se de Pirunga a quem faltava um sentido tão precioso. E imaginou com que fúria ele a amaria, se lhe sentisse o bálsamo do corpo virgem.

Essa vigilância era um incitamento.”

– Ainda estou por ver uma moça mais foguete!… Solta de corda e canga e o branco sem respeito na batida dela…

– Mais hoje, mais amanhã, esse negócio acaba em choro de menino…

– Minha negra, não é por falar, mas já caiu na boca do mundo.”

Bonita, nada! É só engraçadinha…”

Se os homens se comportavam assim, como os bichos de sua convivência, nas cenas de fecundidade da fazenda, por que Lúcio, que a seguia por toda parte, como o marruá [touro selvagem] acompanha as vacas solteiras, não lhe dera ainda um sinal dessa animalidade?”

tanto mais triste e sofredora, mais a queria, como a figura magrinha e dolente da estrebaria.”

A palpitação das narinas dava-lhe um ar mais picante.

Emboscava-se nas moitas arremedando os anuns. [aves que se enroscam nas árvores]

Assanhava os maribondos. E desferia a rir, perante as piruetas de Lúcio, que punha as mãos na cabeça, aperreado.”

Nisto, surdiu o feitor. Esfregou a mão na axila e tirou a caixa de maribondos, todos quietos, inofensivos, como abelhas brasileiras.

– Como é isso, Manuel? – inquiriu o estudante.

Manuel Broca passou, de novo, a mão no sovaco e apanhou, impunemente, outra caixa.”

Nesse ambiente afrodisíaco, nutria um amor sem carnalidades, um idílio naturista, com o sabor acre de fruta de vez, junto aos abandonos e aos modos de indiferença ou de entrega dessa mulher perturbadora que alvoroçava todo o Marzagão.

A semelhança evocativa amortecia-lhe os apetites indiscretos que a natureza velhaca lhe destilava no sangue tropical.

E governava as venetas de gozo. Chegava a ter remorsos dos sonhos ruins.”

E ela ficou olhando outros passarinhos acasalados – o macho, de ordinário, mais bonito que a fêmea. E era também o que cantava.

Então, voltou-se para Lúcio, esquecendo-lhe o nome:

– Esse menino, você é tão capiongo, [soturno] nem abre o bico. Faz toda a vida que não me conta uma história.

Um ventozinho madrigalesco mexia-lhe as madeixas curtas, ora alargando-lhe a testa, ora cobrindo-lhe os olhos.

(…)

– Era uma vez uma fada. Como não havia tão bela entre os anjos e as 11 mil virgens, o céu vivia a mirá-la, todo o dia que Deus dava, com o seu olho de sol, muito aceso e namorado. O sol crescia e se enchia de luz pra ver melhor. Nenhuma nuvem passava por essa visão de fogo. E o céu era tão feliz que não chorava mais. Nem uma gota d’água! Por causa desse namoro, as fontes foram secando, as árvores esfolhando-se, a terra estorricando…

– Deixa de enjôo, enjoado!… – interrompeu Soledade, atinando com a alusão piegas.

Enjoava-se dessas fantasias.

(…)

– Não é o cacho que vem saindo?… A bananeira está parindo.”

Encalmava-se o dia.

Desvãos de verdura, moitas de uma confidência exemplar com que guardavam as sombras doces, ofereciam-se a esse enleio amoroso e confiado.

Eram gasalhados convidativos, recessos nupciais. O bambual com o refrigério dos seus leques. O dossel de maracujá com flores e frutos.

O melão bravo, envolvendo um arbusto, todo salpicado de ouro, formava um ninho acintoso.”

Havia troncos crespos de cigarras cantadeiras. (Quem duvidar é só ver na serra.)

As macaíbas prediletas tinham cigarras como espinhos.”

Já teria o pudor deteriorado pela contaminação da bagaceira?”

Vendo que o casaca-de-couro [curutié, adora trepar em árvores e tem cor de canela] compunha o ninho com espinhos e gravetos, Lúcio censurava:

– Passarinho chabouqueiro [tosco]!…

Só compreendia o amor conchegado em plumas.

E Soledade lembrava o beija-flor que nidifica, de preferência, nos pés de urtiga. Comparava:

– Veja como o coração é bem guardado! A gente não pega, não vê…

E, levando a mão ao peito:

– …mas é o que se sente mais: bate sem parar e bate, dentro, com mais força, quando já não nos pertence…

Uma tardinha, ela estacou perto de casa e pediu a Lúcio que lhe abotoasse o casaco aberto atrás.

Com os dedos desastrados, ele aflorava-lhe as espáduas capitosas.

Sentia-lhe na penugem da nuca um cheiro extraordinário de bogari [jasmim] machucado.

Ela encolhia, aos toques casuais.

– Olhe, direitinho!…

E virou a cabeça. Estavam as casas desencontradas. Com uma só mão fechou o casaco prontamente – sinal de que o havia desabotoado por gosto.”

Lúcio repôs-se a custo:

– A gente não pode nem…

– …nem o quê, branco sem respeito!

– …abotoar.

Pirunga tomou o verbo no sentido brasileiro [agarrar com segundas intenções] e apresentou-lhe o peito forte:

– Abotoe! Abotoe! Abotoa nada!…

E teria investido, se Soledade não o houvesse chumbado ao solo com o olhar agridoce.”

– Você conhece a história de Carlota? [gênero de azeitonas; forte, livre; mulher do povo]

– Tenho uma idéia…

– Era uma mulher do sertão do Pajeú. [<planta pontuda>] Descera na seca de 45 e ia arrasando o Brejo…

Torceu o nariz e retificou:

– Ia arrasando, uma história: arrasou, bem arrasado!

Procurou colher a primeira impressão nos olhos do filho e prosseguiu:

– Sertaneja, quando é boa, é boa; mas, também, quando desencabeça!…

E, tendenciosamente:

– Então, se é bonita…

Continuou:

– Carlota chegou aqui na tira; mas, com pouco, estava feita uma senhora dona. Vivia como uma princesa na roda das famílias. Bastava ser espingarda do chefe, um homem de poder e dinheiro que mandava em toda esta redondeza.

E, usando de uma familiaridade a que Lúcio estava desafeito:

– Mas, meu filho, a mulher parecia que tinha trazido todo o cangaço do sertão e o fogaréu da seca debaixo da saia. O fim foi aquela derrota! Ela mandou matar um deputado geral – o dr. Trajano Chacon. A política virou. E nem lhe conto: morreu Beiju enforcado; foi gente pra Fernando. Os maiorais da terra… Ela também. (…) Areia nunca mais se levantou! Vá por todo este distrito e, se encontrar um ente de Deus com o nome de Carlota, eu dou o pescoço à forca…

Lúcio explodiu:

– Então, o senhor conheceu Carlota?! Era bonita mesmo? Sim, devia ser muito bonita!

Dagoberto deu de costas.

E, sob a impressão romanesca desse episódio amoroso, ele correu à casa de Soledade.

Não a encontrou.

Nesse comenos, seria capaz de exumá-la, se ela tivesse morrido, tamanha era a ânsia de vê-la.”

Pressentia-lhe as fatalidades de Helena e Carlota, destruidoras de cidades.”

Sentia-se predestinado a participar dos seus maus fados.

Então, fora de si:

– Soledade, dá-me o beijo de morte! Comunica-me num beijo o teu destino de tragédia! Liga-me aos teus maus augúrios!…”

anfisbena

E ele baixou-se e passou a examinar o corpo cilíndrico da anfisbena [cobra de duas cabeças], sem distinguir-lhe os olhos minúsculos:

– Duas cabeças e cega! Não admira, pois, que, com uma cabeça só, eu viva nesta cegueira… E dizer que foi a própria luz da inteligência que me cegou!…

Depois, ficou a considerar que não havia termo de comparação entre Carlota e Soledade – uma conspurcada na mancebia adulterosa, a outra um <anjo de inocência>.”

Santo Deus! os guris lázaros, embastidos de perebas, coçando as sarnas eternas. Sambudos, [desnutridos, esquálidos, anões, caveiras de barriga de verme, etc.] com as pernas de taquari, como uma laranja enfiada em dois palitos.

As cabecinhas grisalhas do lendeaço fediam a ovo podre.

Mas não choravam, não sabiam chorar.”

A natureza caridosa procurava encobrir essa miséria. A jitirana [planta] encostava-se na baiúca [pocilga] infeta, marinava pela parede rota e ia desabrochar, toda espalhada, na coberta de palha, formando o que nenhuma casa rica ostentava: um teto de flores.”

Não havia choça paupérrima que não tivesse um cachorro gafo. [leproso, faminto]

Era o sócio da fome.

Os pobres gozos herbívoros! Comiam capim, pastavam como carneiros.”

Havia música de graça nos coretos do arvoredo. Perfume de graça em cada floração.

E o sol fazia-lhes visitas médicas entrando pelos rasgões dos tugúrios.

Afinal, valia a pena viver, porque ninguém se matava. Não se dava o caso de um suicídio.”

O patrão toca da terra, sem se fazer por onde… De uma hora pra outra, se está no oco do mundo.

Amanhece aqui, anoitece acolá.”

Passavam as lavadeiras vistas de longe como monstros macrocéfalos – com uma trouxa na cabeça e outra trouxa na barriga. Enchiam as panças, já que não podiam encher os estômagos.

Mulheres extraordinárias! Filhavam uma e, não raro, duas vezes por ano.

Engendravam-se em prazeres fugazes eternidades de sofrimento.”

A água, tão boa para purificar, lameirava o sítio. Tudo se fundia em lama.

A enxurrada revolucionária transpunha as represas, inchando, espumando, blaterando…

Os córregos mais humildes rompiam o álveo, espalhando-se, esborrotando as levadas, cacheando pelos baixios.

Mananciais aos gorgolhões, como vômitos incoercíveis.”

De primeiro, Soledade gostava do cheiro quente da terra molhada pelo chuvisco. Lembrava-lhe os campos lavados do Bondó.

Mas a chuvarada agressiva deu para enfastiá-la.

Era a flor de estufa transportada para o atoleiro. Tinha saudade da quentura das estiagens fatais, dos dias mormacentos do sertão soalheiro.

O que mais a amofinava era não poder vaguear pelos lúbricos [escorregadios, deslizantes] lamarentos. O aguaceiro, como uma sentinela à porta, sonegava-lhe as recreações bucólicas.”

E ela dizia para Lúcio:

– Tudo quanto é bicho cria asa no inverno: é formiga, é cupim.

Só a gente não cria.

– Pra voar pra muito longe…”

A saparia começava a toada de sete fôlegos. O comum era um reco-reco rascante. Depois, concertava-se toda a variedade instrumental – carrilhões, castanholas, flautins (um flautim gritante) e, afinal, a pancadaria da jia: bum! bum! bum!”

Chuviscava. Uma chuvinha miúda, conta-gota, antipática, como toda impertinência pequenina. O xixi intolerável.”

E o céu encarvoava-se. Ficava baixo, frisava pelo copado, pesava nas cabeças. Reatavam-se os dias lutuosos.

Outro chuvão hostil. A luz do relâmpago molhava-se nas cordas d’água.

E as árvores cavadas ficavam dançando nas raízes, numa dança macabra, até tombarem, pingando, como num suor de agonia ***

O amor de Soledade era uma sinfonia de chuva com sol. Um idílio de venetas – ora de meiguice inesgotável, ora de maus modos. Tão depressa se conchegava rendido, como se esquivava enjoado.”

Como?… Começaria pelos dedos ou, melhor, pelas unhas. Se não relutasse, subiria pelo braço; e, se gostasse, na testa, um na testa; e, se anuísse, nos olhos – sim, fechar-lhe-ia os olhos com muitos beijos, para, então, de surpresa, beijá-la, bem beijada, na boca. Um beijo que lhe deixasse uma cicatriz n’alma. Queria sorver-lhe o aroma carnal que se bebe em beijos.”

No caso que andasse enamorada, seria uma determinação natural; mas parecia-lhe que ela propendia para um amor criminoso.

Que, desde a partida de Lúcio, tinha outras maneiras, tinha e a ninguém passava despercebido. E esses modos acusavam certa transformação interior.”

No sertão tudo era livre: não se prendiam nem os caudais nas barragens. Mas só as águas não voltavam…

Aviventava a nostalgia incurável, o mal de uma instabilidade que não condizia com a vida sedentária de seu natural.”

– Hum! A menina está um moção!…

E, perdendo o antigo respeito nesse nivelamento da seca:

– Eu, sendo comigo, não deixava brejeiro tomar chegada…

Ela palidejava e enrubescia.

Continuou, sem saber que estava remexendo uma ferida aberta:

– Moça triste é sinal de…

Pirunga levou o indicador aos lábios, pedindo silêncio.”

– Menina, você tem pena do sertão?

Ter pena – como se ajusta essa sinonímia, quando a saudade se aplica ao sertanejo! É a sua única sentimentalidade.”

Mas, daí a pouco, tornou o silêncio de quem não ouve nada porque só se ouve a si próprio. O silêncio fecundo que é o ritmo de quem se escuta.”


Instado, Pirunga improvisou:

Não se vê um olho-d’água,

Quando há seca no sertão.

E enchem-se os olhos d’água,

Quando seca o coração…

O xexéu de minha terra

Que me ensinou a cantar

Antes me tirasse o canto

E me ensinasse a voar…

Um dos tropeiros responde:

Quem deu pena ao passarinho

O canto tinha que dar:

Quem voa sofre saudade,

Quem sofre deve cantar…

Pirunga confiou-se à veia repentista:

No quente do coração

Eu criei um passarinho

E, foi ter asas, voou,

Não quis mais saber do ninho…

Um bacurau, [ave noturna] o gago notívago – baco… baco… bacurau – lembrava no vôo curto e na gaguez os poetas da bagaceira.

E a natureza abafou-se, novamente, em cochichos. Sussurros anônimos. Pios assustados. Murmuravam os sons humildes que tinham estado à espera do silêncio.”


Chocavam-se os dois sentimentos fundamentais do sertanejo – dignidade da família e o apego à gleba. Ele sabia que o crime lhe acarretaria a prisão no meio adverso. A nostalgia quebrantava-lhe o pensamento de vingança.”

Pirunga estivera, cedinho, a coscuvilhar a bruaca e sumira-se, como encanto.

Valentim ficara em casa para não dar de cara com o feitor. Afastava de si qualquer incidente que pudesse embaraçar-lhe o regresso premeditado ao sertão.

Queria combinar tudo com Pirunga e nada dele aparecer.

Dera uma volta pelo engenho, daí se passara à casa de farinha, espiara o canavial de longe e nem sombra dele.

Recrudesciam-lhe os pressentimentos. Teria fugido com raiva de Soledade? Teria seguido o comboio?

E, descoroçoado por mil apreensões, sentiu-se, desenganadamente, abandonado no exílio adverso, quando mais carecia desse bordão da velhice decadente.

Aquele que fazia as vezes dos seus filhos não o acompanhara por uma dedicação desinteressada, mas por causa de Soledade. Porque, desfeita a última esperança, se safara, como os outros.”

Pirunga relutava. Desobedecia pela primeira vez.

Um vem-vem provocativo começou a cantar.

Era a voz do sertão que os invocava num apelo instante.

Valentim rogava, humilhado:

– Meu filho, vamos s’embora! Lá a gente não se lembra de nada.”

Qual a onça acuada por uma matilha de gozos, o criminoso detinha com uma imobilidade faiscante a cabroeira poltrona – para mais de 20 sujeitos que o cercavam, à distância, com as enxadas erguidas.” “E Valentim fazia frente a 20, 30, a quantos acudiam ao clamor de perseguição e cobardia.”

– Mas padrinho!…

Alheio às circunstâncias da luta, examinou-o, de revés, atento nos seus perseguidores. Vendo-o ileso, exprimiu uma alegria selvagem, com o ar de desafio ou de escárnio.

– Eu venho punir por ele, brejeirada de mucufa! [bando de covardes]

E atravessou-se para que ninguém lhe pusesse a mão.

Estranhou ainda:

– Mas, padrinho!…

(…)

Dagoberto saiu-lhe à frente. Encorajou os capangas:

– Brejeiro, quando dá pra valentão, não há sertanejo que pegue!

Valentim entesou também com o senhor de engenho”

Entregando-se, ele preservava a fuga para o sertão.”

– Eu não sei quando me livro. Se você deixasse a bagaceira e voltasse com ela – você sabe… – eu não fazia caso: morria satisfeito na cadeia. Você podia…

E embatucou. [paralisou]

Sobrevinha-lhe uma curiosidade involuntária, quando ela se mexia no lençol. Como estaria deitada? De borco? De borco não seria…

(…)

Lembrava a inocência com que ela lhe saltava nos joelhos, o tempo em que a tomava nos braços, nuinha e tenra como um querubim-menina, desses que não saem do céu, nem para as estampas bentas.”

correu transtornado, com muito mais medo dela, do corpo branco, como uma mancha de luar na treva absoluta, do que do bicho imaginário.”

Enfarado das mulheres superfinas que civilizavam o sexo, Lúcio não se esquecera de sua beldade matuta, corada pelo sol e cheirando a si mesma.”

Seu bucolismo fôra uma criação lírica. A paisagem perdera aquele sentido solidário. Escravizara-se às formas exteriores refletidas em sua sensibilidade; mas das árvores só lhe restavam n’alma as sombras úmidas.

O que lhe parecera o sentimento da natureza fôra uma subordinação vulgar.

O espírito moderno enfastiava-se da mesmice do campo, do eterno espetáculo de flores e cantos. Amofinava-se dentro dessa alegria natural como um doente de indigestão que sofre da felicidade do estômago cheio.

Não distinguia as variedades da estação: as mangueiras e os cajueiros sujos de sangue, sangrando na folhagem nupcial; abacateiros floridos cobertos de insetos, com as copas musicais, como violinos em surdina; o jatobá carregado, batendo num barulho de castanholas…”

A noite nua, sem o maillot das nuvens, nas negligências da solidão, tomava um banho de leite. E a brancura tangível escorria molhando as coisas adormecidas. (…) Um ruidoso meio-dia à meia-noite.”

Mulher é como fruita: quando cai, apodrece…”

Falava baixo, com a fadiga da voz. Batia os dedos em tudo, como num teclado.

Não se sentava que não enterrasse a cara nas mãos. E deu-lhe voltar aos antigos hábitos – à solidão voluntária do quarto de dormir.

Refugiava-se nos livros de uma invenção fantástica que lhe haviam desorganizado a sensibilidade.

Tendo presentes os conselhos de Milonga, tornou, um dia, a rabiscar na parede com o veneno pessimista:

O amor é o caixeiro-viajante da propagação da espécie.

Nós compramos as mulheres perdidas e as mulheres honestas nos compram. É o regime instituído pelos interesses sexuais.

Há uma generosidade egoísta: a de quem ama sem ser amado.”

A mulher só sabe guardar o seu segredo. O amor é a única força capaz de a descobrir; e, quando a descobre toda, nas denúncias de certos abandonos, ela está perdida para o próprio amor que a descobriu.

Não! a mulher que ama é a que diz menos, porque é a que mente mais.

Só a mulher que sofre diz tudo num grito de dor.”

A maior das saudades é a do bem presente que já não se alcança.”

Indo ao pomar, só distinguia nos frutos sazonados as manchas pretas.

Dir-se-ia que a alma se lhe tinha apodrecido dentro, como um feto morto.

Sentia que a sua piedade para com os outros não era mais do que uma forma da piedade devida a si mesmo.

Trazia a cabeça inclinada, como quem leva o peso de uma idéia fixa.”

Tinha a ânsia de retomá-la; só se corre para o que foge.”

Se sei? Até gato e cachorro sabem que o senhor vai me defender aquele bandido no júri. Foi pra isso que o botei no estudo – pra ser contra mim, pra me derrotar!…”

– É!… Beija as mãos de um criminoso e nunca beijou as de seu pai!

– Nesta casa nunca se ouviu um beijo!”

Lúcio aproveitou-se desse silêncio perturbador e disse, deliberadamente, com um insólito poder de resolução:

– Meu pai, eu serei advogado de Valentim. Mas não era isto o que eu vinha dizer-lhe. Eu queria dizer-lhe…

– Que ajudará a matar-me! Não é isso? Não sei onde estou que…

– Não, senhor! Não perca a calma. Eu vinha dar-lhe parte – e já pouco me importa que saiba – que…

Aí, empalideceu de certo modo e acabou numa fraqueza doida, como o criminoso com a perversidade da confissão:

– …vou casar-me com a filha do assassino.

– O quê?! Então, você!…

Dagoberto ficou da cor da parede. Ficou branquinho!”

Quer que lhe diga? É de sua vontade? Pois não me faz nada que case ou não case. É senhor de suas ações…”

Para que foi que eu gastei tantos e quantos? Dinheiro que dava pra levantar a cabeça de muita gente… Pra que foi que o tirei da bagaceira? (…) Mas isso não tem tramenha. [cilada] Se estudo dá é pra desmantelar a bola, você me vai é pro cabo do freijó. (…) Então, seu corno, você pensa que me bota o pé no pescoço?! Que me desmoraliza a raça?

Esteve, vai-não-vai, a saltar-lhe ao gasnete. [garganta] Chegou a fazer menção de aberturá-lo. [agarrá-lo pela gola]

– É coragem muita!… E não lhe digo mais nada…

Mas, de pancada, voltou-se, imperativamente, num vozeirão, como se tivesse a alma a trovejar.

– Não! não casará com a retirante! Corto a mesada, boto pra fora de casa!… Tinha que ver!…

– Por ser retirante, não. O senhor não casou com minha mãe?

– E a que vem isso? Sua mãe não era essa mundiça! [imunda]

– Não diga isso, meu pai!

– Não diga o quê?!

– Se minha mãe não era retirante, Soledade também não é… (…) O pai de Soledade não é irmão do pai de minha mãe? Pois, então?

Dagoberto desconcertou-se:

– É a pura mentira!”

– Não, meu filho, ela não pode ser tua esposa porque… Eu profanei a memória de tua mãe, mas foi tua mãe, que amei nela…

Lúcio sentiu que lhe refluíam todas as taras atávicas, os impulsos da raça vingadora, o sentimento de família dos seus antepassados sertanejos.

– Que é que o senhor está dizendo?

Dagoberto deu um passo atrás corrido de vergonha dessas dissonâncias da honra. Bem que o feitor lhe dissera que com aquele calibre passaria a perna em seu Lúcio.

E o estudante não lhe temia a veemência, embora lhe evitasse olhar.

– Meu pai, o senhor está mentindo para me dissuadir!…

– Ah, meu filho, antes fosse mentira! Mas a gente tem duas idades de perder a cabeça…

– Eu logo vi! É por isso que o senhor tem medo do assassino… Porque sabe que minha gente não perdoa essas afrontas!

E, como se falasse ao retrato:

– Meu pai desonrou minha família, prostituiu minha prima, tomou minha noiva!…

Ele sabia que o coração não é capaz de renúncias; mas também devia saber que o pai pode disputar tudo ao filho, menos o seu amor, que é um direito da idade.

Caiu o quadro espatifado.

Ambos se assustaram diante desse mistério.

Fôra Milonga que o derrubara por trás com o cabo da vassoura.

E, com a ascendência ganha pela humildade das criadas velhas:

– Minha gente! isso é um fim de mundo…

Saiu carregando tudo:

– Enquanto eles virem a morta não se esquecem da viva. É a mesma coisa…

Lúcio recuou:

– Eu queria resgatar aquele destino. Meu amor encarnava todo o sofrimento da seca.

Dirigiu-se ao pai:

– Tome-a para o senhor. Já é sua…

E, como lhe percebesse um gesto de renúncia:

– Eu matei, nascendo, minha mãe. Foi por minha causa que o senhor perdeu sua mulher; agora, não seja também por mim que perca sua amante. Não diga mais que nem bonita é… É bonita e é sua.”

Não sabia que ele tinha caído na vida? Estava tudo de língua passada… Eu vi o esternegue! Babau!…”

– Agora, já sei por que querias ser minha mãe! É impossível: eu já não tenho mais pai!

Despediu-se, ao dobrar a estrada:

– Até dia de juízo!”

(As saúvas solidárias – as mesmas formigas sacrílegas que haviam derruído a igreja de Santa Rita – carcomiam, impunemente, a cadeia fedorenta que empestava todo o quarteirão.)”

Valentim voltou-se, afinal, para Pirunga:

– Homem, que é isso?! Parece que você viu alma do outro mundo…

– Padrinho, Soledade não tinha nada com o feitor…

– De verdade, Pirunga?! Que é que você está dizendo? Eu logo vi! Minha filha…

Recuou para os presos:

– Vocês querem cigarro? Tomem cigarro!

E não encontrou mais o maço que havia escondido no reboco aberto.

(…)

– O feitor era só leva-e-traz…

– O quê, Pirunga?! O feitor…

– Era só espoleta… Andava aos mandaretes… Foi tudo obra do senhor de engenho… A derrota está feita!…

A cadeia estava vai-não-vai. Rangeram as traves com o pé-de-vento num longo gemido do teto desengonçado.

Valentim fez menção de sair:

– ‘Spera aí! Eu vou já-já!…”

Eu atirei no que vi… Nunca que eu pensasse!…”

E, beijando os dedos em cruz:

(…)

– Eu quero é que você prometa que não mata o senhor de engenho.

(…)

– Pois, padrinho, desde que eu sube, só dava tempo era vir pedir licença ao senhor… A pistola já está escorvada. [com a pólvora carregada]

– Ninguém me tira o meu direito. Um dia, cedo ou tarde, eu hei de me livrar, porque Deus não é servido que eu morra desonrado! – blaterou Valentim.

E acalmando-se:

– Jure que não mata e que irá com eles pra onde eles forem. Feche os olhos a tudo. Faça de conta que não vê. Vá sempre na batida. Dê aqui, dê acolá, não deixe o rabo da saia dela!

Era horrendo esse pacto.

Ficaram nisso. Pirunga beijou, silenciosamente, os dedos em cruz.”

O sertão tinha um cheiro de milagre. A natureza imperecível ostentava, de extremo a extremo, uma beleza moça. Tinha morrido só pelo gosto de renascer mais bela.

Reflorescia o deserto arrelvado nesse surto miraculoso da seiva explosiva. Revivia a flora, frondeava a catinga, de supetão, na paisagem nova em folha. Cada árvore tinha um vestido novo para a festa da ressurreição.

Como que as pedras rebentavam em folhagem. As trepadeiras subiam, enroscavam-se pelos anfractos [ cf. definição em https://seclusao.art.blog/2017/06/29/o-quinze-rachel-de-queiroz/ ] e faziam com que a rocha nua florisse.”

O sertão pagava-se dos anos estéreis com essa largueza.

Todos queriam desfrutar a felicidade bandoleira do paraíso pastoril.

Só havia de triste o balar das ovelhas – bicho triste! – cabisbaixas e unidas, como meninos medrosos, tão junto o rebanho, que parecia um algodoal aberto.

Não: havia em tudo isso, nessa revivência estuante, uma tristeza maior.”

Dagoberto afeiçoava-se, o melhor que podia, à vida pastoril.

Não era raro que saísse também a campear.

Corisco revigorado, com o brio dos árabes ancestrais, era a sua montada predileta.

Pirunga advertia:

– Olhe que o cavalo mete de cabeça! Não vá desembestar…

E, um dia, desembestou: picado nas ilhargas, sem precisão, arremessou-se aos trancos, voando por cima de todos os precipícios.

(…)

Desequilibrando-se pela violência do salto, Dagoberto agarrou-se a um galho atravessado. E ficou bem meia hora dependurado, a oscilar, como um enforcado, servindo de espantalho.

A qualquer esforço para subir, o ramo frágil ameaçava partir-se. E embaixo o cacto agressivo esperava-o com os braços erguidos arrepiados de espinhos longos como estiletes.”

Se cair, fica uma renda, fura até a alma!”

Dagoberto, no último alento, expediu um grito fúnebre, como se já estivesse sofrendo a dor dos espinhos. E Pirunga avançou para Corisco, montou, fez carreira, saltou e, tomando o rival nos braços, alcançou o outro lado, são e salvo.”

Pirunga procurava afazer-se à missão que Valentim lhe cometera; mas recobrava nesse sistema de vida o gênio selvagem. Revertido à liberdade do sertão, que lhe restituía o brio congenial, sentia todo o pejo da transigência imposta por uma vingança aprazada.

Via os animais jucundos [joviais e prazenteiros] nos escândalos da reprodução. As novilhas núbeis dando-se aos touros patrícios; o pai-de-chiqueiro em libidinagens olfativas; o carneiro gemebundo com o pescoço alongado no lombo da marra pudica…

Só ele representava a renúncia do amor incendiário.

Zoava no mato um jazz-band de chocalhos. Tilintavam rosetas.”

Ia sentar-se na ribanceira para ver a nova enchente do rio que engrossava borbulhando em maretas barrentas. Despejando-se um jato intumescido, numa escapada de poucos dias, na vertigem do curso impaciente, a correnteza brutal deixava o leito seco e, no arremesso erosivo, levava de presente para terras estranhas tudo o que podia levar.”

– Eu vi a onça que você criou. Até inda tem coleira – disse Pirunga a Soledade.

– Mimosa?! Pois eu jurava que ela tinha morrido. Soltei com tanta pena! É capaz de me conhecer.

– Conhece o quê! Conhece nada! A bicha parece que nunca saiu da furna. [caverna]

– Pirunga, vamos pegá-la?

– Olhe que, quando ela me avistou, levantou a mão, parecia que estava dando adeus; mas, o diabo que receba a unhada!

Soledade tanto fez, que Pirunga resolveu pôr peito a essa aventura. Foram juntos. E Dagoberto, que desaprovava tamanha temeridade, foi atrás…”

Soledade agitou um lenço, correspondendo ao cumprimento feito.

E a fera correu para ela com unhas e dentes. Correu e abraçou-se com Dagoberto que de mais perto procurou defender a amante.

Estrangulou-se um grito de extrema angústia:

E Pirunga não vacilou: salvou, mais uma vez, seu maior inimigo de um perigo mortal.”

Dagoberto deitava-lhe a cabeça grisalha nos joelhos e ela passava a extrair-lhe, entre mimalhices e cafunés amorosos, os impertinentes cabelos brancos.

Pirunga sabia que o que se afigurava muito apego nas paixões serôdias [extemporâneas] não passava de zelo assustadiço. Era um amor feito de medos – de não ser amado e de não poder amar.

E ela descaiu a fronte. Evocava, numa crise de remorso, a cena de sua perdição.

Como estivesse a banhar-se na cachoeira, pressentira que alguém a espreitava por trás das cajazeiras entrelaçadas de jitirana.

Era o senhor de engenho que, descoberto, avançou e lhe colheu a camisa, toda impregnada do cheiro virgem.

Batendo-lhe nos contornos firmes, a água, que parecia aljofrá-la, acachoava, mudava de ritmo, num jato macio, escapava-se mais devagar, formava poças maliciosas, onde o olho do sol ficava a espiar, de baixo para cima, essa nudez sensacional.

(…)

Ela pôs-se a gritar, quase a chorar. Atordoada, procurava encobrir com as mãos tiritantes, numa atitude curva de pudicícia, as pomas eretas. Tentava embrulhar-se no jorro branco como num lençol. Vestia-se de espumas diáfanas.

Enfim, deitou a correr. Refugiu pelo capão adentro, quebrando os gravetos entrançados com os peitos virginais.

Os mamilos desabrochavam numa floração sangüínea em rosas bravas. Ela sangrava, através dos calumbis [juremas-pretas] e de espinheiros novos, como se lhe rebentassem rosas por todo o corpo.

Deviam ser os anuns: ui! ui!

E floriu uma rosa mais rubra na sombra – o amor purpúreo na sua glória inaugural.

O pudor de energia selvagem só se renderia pela volúpia da submissão. Só cederia à investida bestial, à posse, às carreiras, dos instintos animais.

Não fôra nada de ninfas nem de faunos; mas um primitivismo pudico – o Brasil brasileiro com mulheres nuas no mato…

Dagoberto tomava gosto aos riscos do pastoreio, às grandes corridas temerárias pelos tabuleiros e chavascais [atoleiro, mata cerrada] da fazenda.”

Pirunga sumia-se na vertigem das velocidades fatais, como o vaqueiro voador que leva o cavalo nas pernas.

Embaralhavam-se os dois, de onde em onde, formando com as véstias vermelhas uma visão de demônios alucinados.

(…)

Dagoberto gritava para Pirunga, forcejando por deter o seu corcel infrene:

– Está sonhando?! Correndo atrás de quê?…

Praguejava ameaças e fazia menção de puxar a pistola; mas, o receio de largar as rédeas privava-o desse gesto de salvação.

Era a inversão das hostilidades: a vítima corria atrás do perseguidor.

Quando ia afrouxando o ímpeto, reboava outro grito estimulante: ê-cô-ô!

E disparavam com maior destreza.

(…)

Varavam as sebas; voavam por cima das touceiras de cactos; afundavam-se nos socavões afogados; repontavam, além, num socalco; abeiravam-se dos boqueirões escancarados.

Desapareciam. Só se distinguia a ondulação da catinga. Só se ouvia um chiado de mato flexível.

Os vaqueiros erguiam-se nos estribos, procurando ver a parelha tresloucada.

Atalhavam-na; rodeavam-na. E ela desagarrava dessa direção: desandava, acelerada, ziguezagueando, na fuga mais desordenada.

Seguiam o estrupido de demônios à solta. Rastejavam na esteira de sangue e de suor.

Cessou a estropeada.

Os cavaleiros mais destros riscavam à borda do precipício.

Pirunga tinha a véstia repregada de espinhos, todo ouriçado.

Não premeditara esse desfecho.

– Foi Corisco. Mordeu o freio nos dentes…

O cavalo parecia desforrado, nesse assomo de liberdade, das humilhações da bagaceira.

E ele denunciou na roda dos companheiros a vertigem de suicídio e de vingança:

– Eu jurei que não matava e não matei…

Sobrevinham-lhe dúvidas sobre a quebra do juramento, olhando para os dedos:

– Eu matei?!… Hein?!…

Depois levantou a mão do defunto:

– Patrão, eu matei?!

Soledade afogou o choro, chamou um dos vaqueiros à parte e entreteve com ele uma longa confidência.

Quando trouxeram o morto, bifurcado na sela, com as pernas atadas por baixo, os braços pendentes quase com as mãos por terra, bamboleando, a cabeça espedaçada lambendo as crinas assanhadas, quando apareceu no pátio essa visão ridícula, ela muda estava, muda ficou.

– Foi você! Se é homem, não negue! – desafiou-o Soledade.

E sacou a pistola do corpete.

Numa agilidade de bote de onça, Pirunga lançou-se sobre ela.

Arrebatou-lhe a arma e jogou-a por cima da parede.

Soledade atirou-se, então, com unhas e dentes.

Era a revivescência de uma raça de heróis bandidos em que os homens defendem a honra e as mulheres o amor.

Pegaram-se em luta corpo a corpo.”

Ouvindo as imprecações, o cachorro cainçava do lado de fora e esfregava as patas na porta.

Violentada com mais força pelas garras brutais, Soledade fraquejava. Esboçou um sorriso conciliador.

E Pirunga foi-lhe à gorja outra vez. Aplicou-lhe os dedos férreos numa hercúlea constrição.

Com os olhos enormes e a face violácea, meio desfalecida, ela asfixiava.

Retomando a posse de si mesmo, ele soltou-lhe a goela arroxeada.

E achou-lhe graça, vendo-lhe a língua pendente, como um gesto insultuoso.

Mas Soledade inclinava-se sobre o seu peito hirsuto. Parecia-lhe que ela ia caindo morta.

Ficou linda, toda viçosa e reflorindo na beleza fecundada.”

Maltratada, rendida, a mulher forte sofria a vertigem da submissão. Sorria-se com um sorriso triste, mas convidativo, como agradecendo a insólita revelação de força que a reconciliava com o passado.

Era a oferta do sonho perdido – o amor retrátil que se voltava.

Acabando-se, a vela levantou a chama e iluminou-a.

Ao desalinho da luta, soltara-se-lhe o peito cheio, no amojo [lactância] dos sete meses.

(…)

Ao espetáculo dessa nudez, Pirunga estremeceu no frenesi impuro.

Seu primeiro movimento foi deitar a correr, mas faltavam-lhe as pernas.

E, para vencer-se, procurou vencê-la. Tinha medo de si mesmo.

Aferrou-a, de novo, aí com um furor de morte; voltou a esganá-la, enterrando-lhe os dedos possantes na garganta magnífica.

E arremessou-a contra a parede.

Depois, procurou chamá-la a si. Tentou soerguê-la com o braço por baixo da cabeça, dizendo-lhe o nome. Revirou-lhe, supersticiosamente, o sapato emborcado, porque chamava a morte…

Saiu nas pontas dos pés…

Não piou nenhuma ave agoureira, mas o chocalho soou como um dobre. [sino]

O arranque dos tetéus [quero-queros] parecia uma denúncia.

A caligem [nevoeiro pesado] pavorosa tinha uma impregnação de mistérios. A noite protetora prometia-lhe guardar segredo e oferecia-se para homiziá-lo.

Um vento alto como que queria apagar as últimas estrelas para que ele fugisse no escuro.

Mas, abriu-se um relâmpago ruivo, como se a treva procurasse reconhecê-lo. E o pico da serra parecia erguer-se mais para vê-lo.

Doendo-lhe o remorso de a ter deixado insepulta, tornou, às apalpadelas, escorregou pelas sombras, eis que ouviu uma praga estrangulada…

E largou a correr.

Poderia bandolear-se com os quadrilheiros que infestavam o sertão. Encontraria os poderosos redutos de impunidade. Mas, uma força estranha [Caetano Veloso!] empuxava-o, com o sacrifício da liberdade, para um rumo certo.

O dr. Lúcio Marçau viera arrecadar a herança paterna.

Assediava-o a roda da inquisitiva bisbilhotice urbana. E, em troca, contavam-lhe frioleiras [bagatelas] íntimas, os podres dos amigos, os nadinhas domésticos da pasmaceira inaturável.

Ele refugia a esse meio social intermediário, à vida sem sabor e mexeriqueira das pequenas cidades, onde a gente se enerva, sem a doçura do campo nem a sedução das capitais, como na intimidade de uma grande família desunida.

Nem Areia, a eugênica, se subtraía a esse espírito miúdo.

– Então, seu pai correu atrás da morte até encontrá-la?… – perguntou-lhe um antigo condiscípulo.

Avizinhava-se, de vez em quando, um sujeitinho ressentido:

– Não conhece mais os pobres…

E ele já tinha a cabeça fora do lugar de cortejar a torto e a direito…”

Lúcio observava o caráter de Areia, [hoje com pouco mais de 20 mil hab.] sua feição original, diferente dos outros povoados do interior que, maiores ou menores, eram todos iguais. O ar antigo dos sobrados de azulejo dominava as habitações mais novas com uma orgulhosa decadência.

O ambiente preguiçoso não se lhe comunicava ao temperamento árdego e cioso de ação.”

Era um homem que se entregava à prisão. Confessava ter estrangulado uma mulher, mas não lhe dizia o nome, nem mencionava nenhuma circunstância do crime.

Ele reconheceu Pirunga.

– Foi Soledade, não foi?

– Matei para não morrer. Porque morrer como ela queria me matar era pior do que morrer de verdade!…

Viera fazer companhia a Valentim.

Temendo ser capturado em outro ponto, palmilhara serras brutas e matas fechadas, numa escapula de muitos meses, como o pior facínora amoitado.

Lúcio promoveu o primeiro encontro, a salvo da curiosidade dos presos, na sala livre.

(…)

De quando em quando, percebia cochichos, a esmo:

– Mas, padrinho, eu jurei sem dizer nada: foi só beijando os dedos! Não jurei que ele não morria! Eu jurei que ele não morria?…

Chegavam outras frases avulsas:

– Eu via a hora de me esbagaçar nas pedras e ele ficar de seu, olhando pra minha derrota!… O vento zoava que nem cachorro na boca da furna…

Transfigurou-se a face encarquilhada [enrugada] do velho, repuxada por um sorriso infernal.

Lúcio apurou o ouvido:

– Eu todo dia pedia a Deus que se quebrasse a jura! Não tinha mais fé de me soltar…

Pirunga desoprimia-se do perjúrio:

– Eu não quebrei… Eu quebrei?! Não foi por gosto…

– Mas é a mesma coisa… Estou de peito lavado!…

E olhavam desconfiados para Lúcio.

Reatou-se o mistério. Falavam-se mais à puridade. [em códigos]

Enfarruscou-se, a súbitas, o rosto de Valentim num esgar intraduzível.”

Era véspera de São João.

A cidade chispava na chuva de limalhas. Jatos de fogo queimavam a bruma do anoitecer. Uma visão de relâmpagos e trovões.

Os rapazes não tinham medo do perigo festivo; o tédio aldeão pesava-lhes nas pernas. Brincavam com as queimaduras. E, se corria algum covarde, a chama corria atrás.”

– Coitadinha de minha filha! Mas, felizmente, está morta, bem morta… Ela não podia viver assim!…

Deitou a cabeça no ombro do afilhado com uma tristeza satisfeita:

– O que passou passou.

A centelha sinistra do olhar secava-lhe as lágrimas.

Culpava a seca desse desfecho.

– Foi a bagaceira!”

Em sua natureza primitiva o instinto de honra e o preconceito da vingança privada suplantavam o próprio amor paterno.

Lúcio estivera todo esse tempo sentado, sereno, blindado da calma reavida. Apenas, batia, de vez em vez, com o pé no ladrilho.”

A gente sai contente da cadeia quando tem o que é seu. O que a seca não levou e perdeu na bagaceira!…”

Dispersou-se o povo sedentário e esfacelou-se a família…

– O advogado não pode continuar a atacar os poderes públicos! – advertiu o presidente do tribunal do júri, com a ajuda da campainha enérgica.

Lúcio abreviou a eloqüência forense.

– Eu dou por terminada esta função teatral que avilta a dignidade dos réus, cara a cara, para formar a consciência dos julgamentos espontâneos… Justiça de nulidades (…) Não sabe que cada processo é uma palpitação da natureza humana. Atende menos a esse problema moral que a meia-língua das testemunhas. Justiça falível, és a balança de dois pesos que só não pesam nas consciências! Como eu quisera que fosses cega, de verdade, não pela tua ignorância, mas pela imparcialidade! O mau juiz é o pior dos homens. (…) Peque pelo amor que é a liberdade e não pelo ódio que é a injustiça mais grosseira… Vingue em cada absolvição de um miserável a impunidade dos grandes criminosos!…

(Valentim foi absolvido por perturbação de sentidos e de inteligência… dos jurados.)


Os proprietários decadentes explicavam esses valores ativos na área do ramerrão, esfregando os dedos:

– Faz tudo isso porque casou com a filha de usineiro…

A obra de um homem era maior que toda a obra de um povo. O fator espiritual que o vitalizava tinha aparelhado essa transformação.

Lúcio achava o sentido da vida, amando-a; a vida só premiava a quem a amava.

De um pessimismo de quem fecha os olhos para ver tudo escuro, ele, dantes, sofria não ter nenhum sofrimento. O pessimismo que se enrodilha nos corações vazios, como a cobra no pau oco, era uma idéia fixa que supurava. Quisera curar os males d’alma pela dor sem saber que esse processo agia como a medicina dos sinapismos, abrindo feridas maiores. Sem saber que a dor só é fecunda como uma advertência à cura. E, se purificava, era a purificação do medo.

(…)

Agora sacudia de si essa sensibilidade irrefletida, o espírito artificial das ânsias vagas. Reorganizava a vontade. Arrenegava todas as teorias da dor e do pessimismo.

Só desejava do passado a vida que não vivera.

Nesse esforço de retificação moral, já não queria matar o tempo; quisera, antes, restaurá-lo, criá-lo, desdobrá-lo.

(…)

Seu segredo de otimismo era viver dentro de sua esfera. Situava o ideal da vida no Marzagão. Era o homem mais feliz da terra, sem indagar se além desses limites havia uma ventura maior. Dizia com o orgulho de um pequeno deus: eu criei o meu mundo.

Não procurava os grandes prazeres que solicitam prazeres maiores até chegarem às desilusões arrependidas.

(…)

Saneava o grau de moralidade de um povo que chegara a ter cachaça no sangue e estopim nos instintos.

Perdoava sem malbaratar o perdão. Tinha a experiência de que o mau humor se ralava a si próprio antes de ralar aos outros.

Os moradores gabavam-lhe a gravidade acolhedora:

– É um patrão dado; dá as horas a gente.

Reconheciam a simplicidade de suas maneiras:

– É um homem sem bondade…

Já não pareciam condenados a trabalhos forçados: assimilavam o interesse da produção. E o senhor de engenho premiava-lhes as iniciativas adquirindo-lhes os produtos a bom preço.

Lúcio tinha sobretudo a intuição das utilidades; uma inteligência das necessidades positivas, a disciplina da ação. Bases objetivas que não sacrificavam os estímulos d’alma. Era, ao invés, essa espiritualidade bem dirigida que fecundava as suas melhores soluções. (…) Ele modificava o antigo panteísmo. Criava a beleza útil. (…) A natureza bruta era infecunda e inestética.”

Um romance com tantas boas idéias morrer nesse pragmatismo de S. Mill! Moinho de mixórdia…

Beijos ou risos. Era a mesma coisa.

Ela acercou-se da grande touça amável. E mulher vê tudo. A inscrição estava meio desfeita pelo atrito das hastes: EDADE CIO.

Tinham desaparecido as primeiras sílabas. Só as últimas permaneciam, com um sentido diverso, indiscretamente, numa denúncia significativa: EDADE CIO…

Era o passado que revivia na expressão mais suspeita desses 2 nomes próprios comidos pelo tempo que, ironicamente, deixara de preservar as letras iniciais: SOL LU.”

Bendisse o lance emocional do seu desencanto. Fôra preciso sofrer uma grande dor para curar todas as dores menores. Tinha sido imunizado por uma mortal decepção: o ridículo, quando não mata, cura. Sentia ainda o ressaibo dessa abençoada desilusão.

E evocava a crise de afetividade, essa hipertrofia romanesca, enojado do amor que transfigurava a mulher em anjos ou demônios que não podem ser amados…”

Acaba de contradizer o que disse acima sobre o amadurecimento de Lúcio…

Quando o Marzagão começou a ser feliz, passou a ser triste.

A alegria civilizava-se. Já não era o povo risão dos sambas bárbaros. Tinham sido abolidos os cocos. E as valsas arrastavam-se, lerdamente, como danças de elefantíases.

Lúcio notava que havia gerado a felicidade, mas suprimira a alegria. (…) A inspiração dos brios humanos convertia-se na indisciplina do trabalho. A personalidade restaurada era um assomo de rebeldia.

Um dia tocou o búzio. Lavrava incêndio no canavial. O fogo ainda se ocultava na fumarada para que ninguém o descobrisse. Mas o partido estalava como um foguetório.

Urgia extingui-lo ou impedir-lhe a marcha com aceiros. E cada qual que se retraísse: todos tinham a impressão do perigo; ninguém queria expor-se.

Só Pirunga e Xinane se arrojaram à empresa.

Lúcio lembrou-se, então, da temerária passividade dos moradores na noite em que o açude ameaçava arrombar.

Os que aprendiam a ler na escola rural achavam indigna a labuta agrícola e derivavam para o urbanismo estéril.

A geografia era uma noção de vagabundagem.

O ano de 1915 reproduzia os quadros lastimosos da seca.

Eram os mesmos azares do êxodo. A mesma debandada patética.

Lares desmantelados; os sertanejos desarraigados do seu sedentarismo.

(…)

Lúcio sentia gritar-lhe no sangue a solidariedade instintiva das raças.

E organizou a assistência aos mais necessitados.

Abeirou-se, certa vez, uma retirante com o ar de mistério. Trazia um rapazinho pela mão.”

– Eu fazia ela morta porque não dava acordo de si…

Ocorreu-lhe a circunstância da praga ouvida à última hora.”

A lembrança do amor ou é saudade ou remorso. Nesse caso, era vergonha.

Arrepender-se é punir-se a si mesmo.

Ele chamou o rapazinho a si e tomou-lhe o rosto entre as mãos.

Beijou-lhe a testa suja e requeimada.

Depois, apresentou-o à esposa:

– Essa é… minha prima.

E, a custo, com um grande esforço sobre si:

– É a mãe de meu irmão…”

Vinham protestar contra a admissão dos novos retirantes: Soledade e o filho.”

Só a terra era dócil e fiel. Só ela se afeiçoara ao seu sonho de bem-estar e de beleza. (…)

– Eu criei o meu mundo; mas nem Deus pôde fazer o homem à sua imagem e semelhança…”

PRIMEIRO ALCIBÍADES OU DA NATUREZA HUMANA

Tradução de “PLATÓN. Obras Completas (trad. espanhola do grego de Patricio de Azcárate, 1875), Ed. Epicureum (digital)”.

“Todas essas grandes vantagens te inspiraram tamanha vaidade que vieste a depreciar todos os teus amantes, como homens demasiado inferiores a ti, e disso resultou que todos se retiraram.”

“quando se sabe bem uma coisa, não é o mesmo demonstrá-la a um por um, ou a muitos de uma vez, como um mestre na lira ensina a um ou a muitos discípulos?”

“Quando ignoras uma coisa e sabes que a ignoras, estás incerto e flutuante sobre esta mesma coisa? Por exemplo, não sabes que ignoras a arte de preparar os alimentos?”

PEDRA DE TOQUE DE TODA A FILOSOFIA SOCRÁTICO-PLATÔNICA: “Compreendes bem que todas as faltas que se cometem, não procedem senão desta espécie de ignorância, que faz com que se creia saber o que não se sabe?” “E quando esta ignorância recai sobre coisas de grandíssima transcendência, não é então vergonhosa e terrível em seus efeitos?” “Eis por que te arrojaste, como corpo morto, na política, antes de receber instrução.”

“Porque a melhor prova de que se sabe bem uma coisa é o estar em posição de ensiná-la a outros.” Um poeta citado por Kant na Crítica do Juízo entoa a mesma cantilena…

“Se pensas pores-te à cabeça dos atenienses, é preciso que te prepares para combater os reis de Esparta e o rei da Pérsia.”

“Aos 14 se o entrega aos preceptores do rei, que são quatro senhores escolhidos, os mais estimados de toda a Pérsia, e de preferência que estejam no vigor da idade; e um passa pelo mais sábio, o outro pelo mais justo, o terceiro pelo mais temperado e o quarto pelo mais valente. O primeiro lhe ensina a magia de Zaratustra, filho de Ormuzd; quer dizer, a religião e todo o culto dos deuses, e lhe ensina igualmente todos os deveres de bom rei. O segundo ensina-lhe a dizer sempre a verdade, ainda que contra si mesmo. O terceiro lhe ensina a não se deixar jamais vencer por suas paixões, a fim de que se mantenha sempre livre e rei, tendo sempre império sobre si mesmo. O quarto acostuma-o a ser intrépido, e ensina-lhe a nada temer; porque se teme, é escravo.”

“Não há nenhuma comparação entre nós e os lacedemônios, pois são eles infinitamente mais ricos. Alguém de nós se atreveria a comparar nossas terras com as de Esparta e da Messênia, que são muito mais extensas e melhores, e que mantêm um número infinito de escravos sem contar os ilotas?¹ Acrescenta os cavalos e as demais cabeças que pastam nos campos da Messênia. Mas deixo isso à parte para falar-te só do ouro e da prata; toda a Grécia reunida tem menos que a Lacedemônia sozinha, porque faz tempo o dinheiro de toda a Grécia e muitas vezes o dos bárbaros entra na Lacedemônia e não sai jamais; e como a raposa disse ao leão nas fábulas de Esopo: vejo muito bem os passos do dinheiro que entra em Esparta, mas não vejo os do que sai. (…) Mas se a riqueza dos espartanos parece tão grande cotejada com a do resto da Grécia, não é nada contra a do rei da Pérsia.”

¹ Veja pela etimologia que se pode usar tanto ilota quanto hilota.

“Sendo assim, meu querido Alcibíades, segue meus conselhos, e obedece ao preceito que está escrito no frontispício do templo de Delfos: Conhece-te a ti mesmo, porque os inimigos com quem hás de te haver são tais como eu os represento, e não como tu te imaginas.”

“SÓCRATES – Convéns em que há ciências que estão destinadas às mulheres, e outras que estão reservadas aos homens?

ALCIBÍADES – Quem o pode negar?

SÓCRATES – Sobre todas estas ciências não é possível que as mulheres estejam de acordo com seus maridos.

ALCIBÍADES – Isso é certo.

SÓCRATES – Por conseguinte, não haverá amizade, posto que a amizade não é mais do que a concórdia.

ALCIBÍADES – Sou da tua opinião.

SÓCRATES – Então, quando uma mulher fizer o que deve fazer, não será amada por seu marido.

ALCIBÍADES – Me parece que não.”

“ALCIBÍADES – Te juro, Sócrates, por todos os deuses, que eu mesmo não sei o que me digo, e que corro grande risco de estar dentro de algum tempo em muito mau estado, sem disso me aperceber.

SÓCRATES – Não desanimes, Alcibíades; se te apercebesses deste estado aos 50 anos, te seria difícil achar remédio e ter cuidado de ti mesmo; mas na idade em que tu estás é justamente o tempo oportuno de sentires teu mal.”

“SÓCRATES – Que meio temos de conhecer a arte que nos faz melhores a nós mesmos, se não sabemos antes o que somos nós mesmos?

ALCIBÍADES – É absolutamente impossível.

SÓCRATES – Mas é uma coisa fácil conhecer-se a si mesmo, e foi um ignorante aquele que inscreveu esse preceito às portas do templo de Apolo em Delfos? Ou é uma coisa muito difícil que não é dada a todos os homens conseguir?”

“SÓCRATES – Eis aqui por que aquele que só ama teu corpo se retira assim que esta flor da beleza começa a murchar.

ALCIBÍADES – Correto.

SÓCRATES – Mas aquele que ama tua alma, não se retira jamais, enquanto ela continuar aspirando à perfeição.¹

[¹ Clara antecipação do tema central d’O Banquete.]

ALCIBÍADES – Parece que sim.

SÓCRATES – Aqui tens a razão por que fui o único que não te abandonou e que permanece constante, depois que aparece murcha a flor de tua beleza e que todos os teus amantes se escafederam.

ALCIBÍADES – Me dás um grande prazer, e te suplico que não me abandones.

SÓCRATES – Trabalha sem descanso com todas as tuas forças para te fazeres melhor.¹

[¹ O mesmo preceito de toda Primeira filosofia, de Sócrates à contemporaneidade.]

ALCIBÍADES – Trabalharei.

SÓCRATES – Ao ver o que sucede, é fácil julgar que Alcibíades, filho de Clínias, jamais teve, e ainda agora mesmo não tem, mais que um único e verdadeiro amante; e este amante fiel, digno de ser amado, é Sócrates, filho de Sofronisco e Fenarete.

ALCIBÍADES – Nada mais verdadeiro.”

“Um olho que quer se ver a si mesmo deve se olhar em outro olho, e nesta parte do olho em que reside toda a sua virtude, isto é, a vista.” Princípio basilar de toda epistemologia ou <objetividade> E <subjetividade>.

“Portanto, meu querido Alcibíades, os Estados, para ser felizes, não têm necessidade de muralhas, nem de navios, nem de arsenais, nem de tropas, nem de grande aparato; a única coisa de que necessitam para sua felicidade é a virtude.”

“ALCIBÍADES – Pois bem, digo se deus quiser; e acrescento que para o sucedâneo vamos mudar de papéis, tu serás a mim e eu serei tu, quer dizer, eu, por minha vez, serei teu amante, como tu foste o meu até aqui.”

O verdadeiro sentido destas palavras é: o homem será amante da sabedoria (filósofo, sábio), invertendo o que sempre se dera até o presente. O absoluto será a medida de todas as coisas, mesmo no mundo dos homens.

THE NATURE AND TREATMENT OF ANXIETY DISORDERS

Barr Taylor & Bruce Arnow, 1988.

For the existentialist Rollo May (1950), anxiety <is described on the philosophical level as the realization that one may cease to exist as a self. . . i.e., the threat of meaninglessness> (p. 193).”

Etimologia greco-latina: sendo pressionado para baixo por tristezas e misérias (pesares).

Jablensky (1985) notes that the English word anxiety does not cover the same semantic space as the French anxieté or the Spanish ansiedad although they all derive from a common root. In French, angoisse is used as a near-synonym for anxiety but connotes more strongly the physical sensations accompanying the experience and may be closer to the English anguish than to anxiety. And the German word angst implies, besides anxiety and anguish, agony, dread, fear, fright, terror, consternation, alarm and apprehension.”

the indefinable nature of the feeling gives it its peculiarly unpleasant and intolerable quality.”

Lay people, in particular, use the terms anxiety, stress and tension interchangeably. There is little agreement in the scientific community as to the definition and nature of stress, and the term is best avoided as it only causes confusion.”

Se o paciente é prejudicado pela ansiedade, procura tratamento, ou se envolve em comportamentos auto-destrutivos a fim de controlá-la, a ansiedade deve ser considerada clínica.”

Generalizada e/ou episódica (ataque de pânico)


CORE CHAT

palpitação do coração

não deixe estranhos dar

palpite, não

pit of emotions

the inverted peak

shadow&light

negative&positive

yes and no world against

you

who am I

a genius, a demon,

Socrates or a man

a single and

pitagorean

human being

that was not

and will not be

just live

with the leaves

leave me

alone

can you?

all of you

levee of emotions

lake of discharge

storm and thunder

revenge

vengeance

action of genius

evil genius

gentle

until

kindle the

sweetness

draw

out

now!

* * *

jittery man

The bullied are afterwards the greatest bullies” Juice R, pessoa sem-graça nota 7 que não quis se identificar. Possui características de liderança. Falam mal pelas suas costas, mas ela não está nem aí…

Queria ter consulta com o dentista a qualquer dia menos hoje!

aquiescente com o tumulto

Eu já havia lido Sartre, mas fui saber o que é náusea quando trabalhei na DRI.

depois eu começo a sentir que estou separado do meu corpo e, sabe, que vou cair ou/hmm/como se eu estivesse fora do meu corpo e não tivesse mais controle sobre minhas funções motoras – não consigo nem caminhar nem conversar”

mas finjo para os trouxas

terapia de impacto

tratamento de choque

de coxinhas estou cheio,

ops, grogue

boxeador

madVanity beats

but the countdown never comes in…

minha boca mais seca que a tua consciência

verme sem olhos, ouvidos, miolos!

miolo mole miolo-oco

guacamole

cabeça-de-ovo

azedo

como abacate

eXtra-

(degra)

(d/g)ado

GG

gado.golpista

odeiam regras então

meu K.O.

será letal

matarei em

legítima defesa

dessa vez

eis meu lema

tímido

em time que está ganhando

mexe-se sim,

para fazer cera


between dizziness and almost vertigo”

Não se sabe o que é mais irritante, se, numa palestra, ninguém prestar atenção… ou todo mundo prestar atenção.

Sintomas muscular-esqueléticos da ansiedade: dores, espasmos, paralisias, rigidez, mioclonia (contrações musculares involuntárias), bater de dentes, voz irregular, tônus muscular crescente, tremores, sensação constante de cansaço, pernas bambas, corpo desajeitado.

No sistema sensório: Tinnitus (doença do ouvido mais freqüente em depressivos; condição também associada com a gradual perda da audição), vista embaçada, hiper-sensibilidade ao calor e frio, sensação generalizada de fraqueza, arrepios repentinos, face corada, face pálida, suor, coceiras.

(…) respiratório: (…) sensação de engasgo. (…) gastro-intestinal: (…) flatulências, dor abdominal, azia, desconforto abdominal, náusea, vômitos, frouxidão intestinal, perda de peso, perda do apetite, constipação (…) genital-urinário: urina freqüente, perda da menstruação, menstruação excessiva, ejaculação precoce, perda da libido. (…) sistema automático: boca seca, tontura, dor de cabeça de tensão, cabelos eriçados.


sentimentos de irrealidade”

impotência para controlar o pensamento”

perda de objetividade e perspectiva”

medo de não conseguir lidar”

medo de se machucar ou morrer”

medo de ficar louco ou incapaz”

medo de avaliações negativas”

imagens visuais aterradoras”

ideação de medo repetitiva”

mobilização do corpo para enfrentar/fugir”

Immobility is classified as attentiveness, in which the animal remains inert while carefully observing its environment—a phenomenon suggested by the phrase <freeze in your tracks,> or as tonic immobility, in which a previously active animal exhibits prolonged freezing and decreased responsiveness.”

For instance, during anxiety episodes some patients feel that their coordination is impaired, that they might faint and that they can’t move their feet.”

vista evitativa

The behavior associated with anxiety frequently becomes independent of the anxiety itself. Furthermore, behavior engaged in for the purpose of controlling anxiety sometimes exacerbates the anxiety. For example, some patients drink excessive amounts of coffee when they feel anxious, yet the caffeine in coffee produces anxiety and even panic.”

The most serious complications of anxiety disorders are often associated with the patient’s attempts to cope with anxiety. Patients may become severely avoidant or depressed, abuse drugs or alcohol, or become helplessly dependent on their family, friends, and the medical system. The avoidance, when manifested as agoraphobia, may be one of the most disabling of all psychiatric problems. (…) Thus, chronic symptoms such as avoidance, which result from efforts to cope with anxiety, are often more disabling than the anxiety itself and need to become the focus of treatment. [lógica da insistência dos terapeutas]

Very uncomfortable. Shopping in store. Unable to wait through check-out stand. I went and sat in car while my Mom paid for the items.”

The septo-hippocampus, thalamus, locus coeruleus, and their afferents and efferents, and various neurotransmitters are clearly involved with anxiety.”

Contemporary psychodynamic theories of anxiety began with Fr.. His first major discussion of anxiety was published in 1894 and his last in 1926, but his writings before and after these also address major issues of anxiety. New insight, observations, experience, and discussions led Fr. to reformulate and elaborate his views. In his final model, and the one still followed by most psychoanalysts, Fraud argued that the generation of anxiety occurs unconsciously, outside of the individual’s awareness.”

She reported that the number of the street the bus was approaching corresponded to the age at which her father had died and that her father had had his heart attack near the hour that corresponded to the time her anxiety attack on the bus occurred.”

Deutsch (1929) presented 4 cases of agoraphobia where defense against aggressive impulses towards parents or parental figures resulted in panic attacks.”

catástrofe narcisista

all the awful sexual things that I was always taught can happen to you when you walk around the streets in the dark”

Threat of loss creates anxiety, and actual loss causes sorrow; both, moreover, are likely to arouse anger.”

beta-blockers, which block many of the peripheral sensations of anxiety, are not effective in blocking panic.”

We have glimpses of some of the systems involved with anxiety, but an integrated model will require new neuroscientific methods capable of observing the actual functioning of the central nervous system under various conditions.” The limbic system is concerned with integrating emotional and motivational behavior, particularly motor coordination in emotional responses (Watson et al., 1986).” For instance, low intensity stimulation of the LC causes head and body turning, eye scanning, chewing, tongue movement, grasping and clutching, scratching, biting fingers or nails, pulling hair or skin, hand wringing, yawning, and spasmodic total body jerking (Redmond et al., 1976).”

Neurotransmitter systems are distributed only partially in the classical anatomic pathways. Neurotransmitters are the chemical <messengers> that control transmission between nerves. In general, they are released at the end of a nerve into the synaptic cleft, the space between the end of one nerve and the beginning of another. These neurotransmitters diffuse across the synaptic cleft to the postsynaptic neuron, where they activate specific sites on the cell membrane called receptors. Attachment to the receptor causes the postsynaptic neuron to alter its standing electrical charge, which in turn may cause it to discharge.” “Already, over 40 neurotransmitters and neurohormones have been isolated from the CNS. However, 2 neurotransmitter systems, the noradrenergic and serotinergic, seem particularly important to anxiety, and each has strong proponents arguing for its central role in anxiety disorders.”

It is possible that patients prone to anxiety disorders have too few noradrenergic receptors, that their system is too sensitive to input (it tends to overshoot), and that their receptors are subsensitive. Neurotransmitter systems are dynamic and it may be that environmental events, like a traumatic experience or separation, are necessary for the noradrenergic system to become disequilibrated.” Que é possível Homero já podia dizê-lo, não carece um neurocientista afirmar com tanta pompa. Seria melhor virem a público quando tivessem qualquer informação certa e transmitir usando seus preciosos neurorreceptores!

Experimentally, the serotonergic system seems to be involved in behavioral inhibition. The suppression of behavioral inhibition following punishment is a phenomenon that seems to be affected by drugs with antianxiety properties.” The antianxiety drugs counteract the behavioral effects of 3 classes of stimuli: those associated with punishment, with the omission of expected reward, and with novelty.” Classificação puramente abstrata e convencional.

VOCÊ É UM HOMEM OU EU MATO? a rat conditioned to expect a shock when a red light is flashed (stimulus of punishment), will exhibit freezing (behavioral inhibition), increase in heart rate and other physiological functions (increment in arousal), and scanning (increased attention).” Vejo que avançamos milhas e milhas desde Pavlov!

TODO GARÇOM TEM CARA DE BUNDA: toughening up by repeated exposure to a feared situation should be enhanced by drugs that increase noradrenergic activity. Exposure combined with imipramine is more effective than exposure alone.”

5. Mild episodic anxiety. Mild episodic anxiety occurs for reasons that are difficult for the patient to identify. [TODA razão de ansiedade é difícil de identificar.] Such anxiety is a common phenomenon in therapy. We include so-called death or existential anxiety in this category.

6. Mild anxiety and mild depression, sometimes called distress. This is probably the most common anxiety disorder. Patients with mild anxiety and depression and concomitant medical problems are the most frequent users of sedative medications. [80% da população mundial – embora apenas traços de porcentagem provavelmente tenham consciência e recebam medicação…]

7. Anxiety related to specific social, family, or work situations. In such patients the anxiety is usually bearable and is seen as secondary to the primary problem. Such patients sometimes meet the criteria for social phobia.”

Traditionally, psychoanalysts have classified distress and generalized and panic anxiety together.”

Panic disorder with agoraphobia is the most severe condition and includes all of the pathology of the other disorders.”

The extreme rituals and obsessive thoughts characteristic of individuals with obsessive-compulsive disorder distinguish this group from other anxiety sufferers.”

DSM-III-R is a necessary evil. It is necessary because it often determines reimbursement, helps with clinical formulation and treatment, and facilitates communication of scientific and clinical information. The drawbacks of DSM-III-R are that it forces clinicians to classify patients into categories that only partially fit their complex problems; it makes assumptions not shared by many therapists (for instance, that mental health problems should be considered medical problems), and it gives undue emphasis to psychiatry over other mental health disciplines since psychiatrists were the ones who mainly developed and implemented the system.”

Pennys-silvana

The syndrome of recurrent panic attacks was recognized as a separate disorder as far back as 1871 when Da Costa described the <irritable heart> and later in 1894 when Fraud first applied the name anxiety neurosis to the syndrome, separating it from the category of neurasthenia.”

The 1869 American Medico-Psychological Association diagnostic system included only simple, epileptic, paralytic, senile and organic dementia, idiocy, cretinism, and ill-defined forms. The next major change in the U.S. occurred in 1917 when the American Psychiatric Association developed a 22-item nosology based on etiology. By then psychoanalytic theory had introduced the concept of neurosis, in which anxious symptoms were attributed to unconscious conflicts. Thus <psychoneurosis> was introduced as a diagnostic category. Disorders subsumed under this heading included hysteria (of which anxiety hysteria was a variant), [afinal, ao que tudo indica a histeria nem existe mais, fato nunca excessivamente sublinhado] psychasthenia or compulsive states, neurasthenia, hypochondriasis, reactive depression, anxiety state, and mixed psychoneurosis.”

DSM-I: 1952

DSM-II: 1968

DSM-III-R: 1980 “In 1980 the term <neurosis> was replaced by <disorder>.” PARA TRANS-TORNO DOS PACI-ENTES

DSM-IV: 1992 (previsão – livro velho!)

A patient often meets the criteria for generalized anxiety disorder, panic disorder, and agoraphobia simultaneously, or, over time, exhibits changing symptomology that at one time may seem most consistent with one diagnosis and at another time with an alternative one. (…) the rigid hierarchical system of DSM-III, in which one anxiety diagnosis precluded another, is loosened.”

feelings of impending doom.” Dá uma música do Black Sabbath

Attacks usually last minutes; occasionally they will last for an hour or more. The individual often develops varying degrees of nervousness and apprehension between attacks. The initial attacks are unexpected or spontaneous, although over time, they may become associated with specific situations, persons or places.”

Não precisa ser um DSM recente para me deixar “apreensivo” (mas o que é isso na vida de um eternamente apreensivo?):

PANIDOG SYMPTOMS – Spair (12/13)!

(1) shortness of breath (dyspnea) or smothering [asfixia] sensations

(2) dizziness, unsteady feelings, or faintness

(3) palpitations or accelerated heart rate

(4) trembling or shaking

(5) sweating

(6) choking

(7) nausea or abdominal distress

(8) depersonalization or derealization

(9) numbness or tingling sensations (paresthesias)

(10) flushes (hot flashes) or chills [rubores (quentura) ou calafrios]

(11) chest pain or discomfort

(12) fear of dying [more like fear of never dying…]

(13) fear of going crazy or doing something uncontrolled

“As a result of this fear, the person either restricts travel or needs a companion when away from home, or else endures agoraphobic situations despite intense anxiety.”

WORKABHORRENT

anxiety is almost invariably experienced if the individual attempts to resist the obsessions or compulsions.” “Obsessions and compulsions secondary to panic and agoraphobia are often readily amenable to treatment; obsessions and compulsions characteristic of obsessive compulsive disorder are far more refractory to change.”

TRAUMATIC SYMPTOMS – Strike!!

Part I

(1) recurrent and intrusive recollections

(2) recurrent and distressing dreams of the event

(3) sudden acting or feeling as if the traumatic event were recurring

(4) intense psychological distress at exposure to events that resemble the traumatic event [síndrome de E. temote]

Espere, uma pausa para distender os músculos…


LITTLE JEW SYNDROME

remote memory

remote control

of your own business

dare your church [synagogue?] matters

and live the secular world

for us sinners you ultra-fool

you’re fuel

for my combustions

my hellish combustions

oh how does it feel to be alone

like some Achilles standing by

beneath the shadows,

repentlessly?

YouReaTraumA

IRA @ YOU

Assunto: Re: calque (Recalc. de cimento – retificação)

To (destino otário): vai.a.a.merda.com.agua.sanitaria@no.teu.cu

cof cof, more coffee coffee please!


Part II

(1) efforts to avoid thoughts, or feelings associated with the trauma

(2) efforts to avoid activities or situations that arouse recollections of the trauma

(3) inability to recall an important aspect of the trauma

(4) marked diminished interest in significant activities

(5) feeling of detachment or estrangement from others

(6) restricted range of affect

(7) sense of foreshortened future”

What about “sense of being superior”?!

Part III

(1) difficulty falling or staying asleep [Grande Bog!]

(2) irritability or outbursts of anger

(3) difficulty concentrating

(4) hypervigilance

(5) exaggerated startle response (?)

(6) physiologic reactivity upon exposure to events that symbolize or resemble an aspect of the trauma

GENERALIZED A. SYMPTOMS

Motor Tension

(1) trembling, twitching, or feeling shaky [“enrolado”, como dizem alguns]

(2) muscle tension, aches, or soreness

(3) restlessness

(4) easy fatigability

Autonomic hyperactivity

(5) Shortness of breath or smothering sensations

(6) palpitations or accelerated heart rate

(7) sweating, or cold clammy hands

(8) dry mouth

(9) dizziness or lightheadedness

(10) nausea, diarrhea, or other abdominal distress

(11) flushes (hot flashes) or chills

(12) frequent urination

(13) trouble swallowing or <lump in throat> [Pomo de Adão? Sensação de ter engolido um tubo?!]

Vigilance and scanning

(14) feeling keyed up or on edge

(15) exaggerated startle response (?)

(16) difficulty concentrating or <mind going blank> because of anxiety

(17) trouble falling or staying asleep

(18) irritability

<The Europeans have taken a slightly different approach to the classification of anxiety disorders. The main European classification system is the International Classification of Diseases (ICD). ICD is not a true nomenclature in that it has a limited number of categories that are not systematically ordered. ICD does not use operational rules but describes the classification for purposes of making the diagnosis. Anxiety states are defined in ICD-9 as ‘various combinations of physical and medical manifestations of anxiety, not attributable to real danger and occurring either in attacks or as a persisting state.’ The anxiety is usually diffuse and may extend to panic. Other neurotic features such as obsessional or hysterical symptoms may be present but do not dominate the clinical picture> (Jablensky, 1985, p. 755). Presumably, there will be some reconciliation between ICD-10 and DSM-IV when they are published in the future.”

a patient may come close to meeting the DSM-III-R criteria for panic disorder but may have too few panic attack episodes to qualify for that diagnosis. The focus of treatment should still be on the panic attacks if they are disabling.” Some patients with recent onset of panic attacks may see a psychotherapist early in the course of their disorder, but this is rare, as most consult a medical specialist first.”

Hipotensão ortostática: condição fisiológica de quem tem níveis de pressão abaixo da média exclusivamente após mais de 3 minutos na posição vertical (em pé); pode ser ignorada e confundida com a condição da tontura ou náusea ansiosas.

lightheadedness (a feeling that one might be about to faint)” Alarme falso desde sempre.

Vertigem de fumar na sacada.

Comer não dá prazer antes de grandes eventos.

Intolerância ao calor e suor excessivo: hipertireoidismo também pode ser a resposta.

Depersonalization or derealization: (may be attributed to) Temporal lobe epilepsy: (Symptoms) Perceptual distortions, hallucinations” Jesus tinha um rombo no lobo.

Keep in mind that anxiety disorder patients often overuse the medical system and caution must be taken to make the appropriate diagnosis while avoiding or minimizing unnecessary tests.”

Drogas ansiosas”: aspirina, cocaína, anfetamina, alucinógenos. Álcool, cafeína e nicotina são conhecidas facas de dois gumes. Qual seria a taxa de nicotina “com moderação”? O antitabagista da rodada.

Fluxograma habitual da nicotina: leve excitação seguida de tensão-relaxação. Abuso: ansiedade (superexcitação).

Café: ansiedade quando abusivo ou em pessoas predeterminadas à sensibilidade.

Somatoform Disorders. (…) The two types of somatoform disorders most likely to present with panic-like symptoms are somatization disorder and hypochondriasis.”

Somatization disorder is distinguished from the anxiety disorders by its course, number of symptoms, and phenomenology. The main feature of somatization disorder is a history of physical symptoms of several years’ duration, beginning before the age of 30. To meet the DSM-III-R criteria, patients must complain of at least 12 symptoms in 4 different body systems, to have sought medical evaluation and treatment of these symptoms without a medical explanation being uncovered. At any one time, these patients usually have at least one or two symptoms that dominate the clinical picture and are present night and day.” Voilà! My research has finally ended…

O QUE É, O QUÉ? SÓ GANHAMOS, MAS COM ISSO SÓ PERDEMOS? O fato de que a cada dia somos brindados com o diagnóstico de novos transtornos e desordens.

compared to patients with somatoform disorders, most panic patients have symptom-free episodes and times when they are not bothered by somatic symptoms.”

Assessing the presence and extent of avoidance is somewhat problematic, particularly for patients who must work or take transportation despite dread of doing so. They may appear to have little restriction, when in fact they live with frequent dread. Four self-report instruments are available to assess avoidance: the Mobility Inventory (Chambless et al., 1985), the Phobic Avoidance Inventory (Telch, 1985), (see Appendix 2), the Stanford Agoraphobia Severity Scale (Telch, 1985), and the Fear Inventory (Marks & Mathews, 1979). Of these, the latter two are easiest to use.”

APPENDIX 2

The Hamilton Anxiety Rating Scale (Hamilton, 1959) is the standard pharmacology outcome rating scale for anxiety. It is designed to be completed by an interviewer. The Stanford Panic Appraisal Inventory (Telch, 1985) was designed to assess patients’ panic cognitions. The Common Fears and Phobias questionnaire is an adaption of the Fear Survey (Wolpe & Lang, 1964). The Stanford Panic Diary is used to collect information on the intensity, symptomatology, place of occurrence, cognition, and patient response to panic attacks. Patients should be given a sufficient number of forms for them to be able to record this information on all the panic attacks they may experience from one visit to another. The Panic Attack Self-Efficacy form is used to monitor treatment. Patients need to be taught how to use the form. Finally, the Phobic Avoidance Inventory, developed by Michael Telch, Ph.D., for the Stanford Agoraphobia Avoidance Research Projects, is a useful clinical tool. Some of the items will need to be changed if the form is used in geographic locations other than the San Francisco Bay area. For instance, the <Driving an Automobile> section refers to Route 280 and Highway 101.”

~(Neste ponto: consultar caderno Goethe com anotações pessoais.)~


OUT OF THE BLUE: randomly, “do nada”…

o nada é o limite

pálido ponto abstrato

vórtice zero do buraco negro

fedro

belo

fim


HAMILTON ANXIETY RATING SCALE

Anxious mood – 68,75%

Tension – 45,75%

Fears – 41,5%

Insomnia – 45,75%

Insomnia during UnB – 54% (only!)

Intellectual compromising – 25%

Depressed mood – 31,25% (Am+Dm=100%!)

Somatic (muscular) – 39,27%

Somatic II – 40%

Cardiovascular symptoms – 41,5%

Respiratory symptoms – 37,5%

Gastrointestinal symptoms – 30,5%

Genitourinary – 31,25%

Autonomic symptoms (boca seca, suor, dor de cabeça) – 58,25%

Behavior at interview – 63,75%


Se meu humor fosse dividido em 10 pedaços, eu seria “6 torrões de ansiedade”, “3 torrões de depressão” e 1 de capricho indeciso. Olá, garçom, vou querer um café. O que vai ser, (ran)cinzas ou azedante? Soda cáustica.

Mais volátil que pedras de granizo em precipitação.

* * *

As many therapists are ambivalent about or opposed to symptom-focused treatment we would like to begin this chapter by briefly attempting to persuade the reader of our point of view, if he or she does not already share it.” “In general, psychodynamic approaches proceed with somewhat diffuse or general goals, while behavioral, cognitive, and pharmacological treatments are more specific in their foci. Specific and non-specific therapies, which have often seen themselves in competition with one another—witness the sometimes acrimonious exchanges between behaviorally oriented clinicians and their dynamic counterparts—have dissimilar goals. (…) To oversimplify a bit, psychodynamic therapy primarily offers insight, self-awareness, and general growth and development, while behavioral and other forms of brief, symptom-focused treatment concentrate on helping the patient achieve palpable relief from certain specific complaints.”

Saia mais!” – talvez signifique: saia mais da sala destes analistas superficiais.

Several authorities on psychodynamic treatment have noted that patients with phobic and other anxiety-related complaints are not receptive to such therapy, or that they do not respond well once engaged in psychodynamic psychotherapy.” “Consider, for example, the agoraphobic patient. In the most severe cases, all facets of the person’s day-to-day life are compromised: work is problematic and often impossible because of the difficulty traveling far from, or even leaving, home; personal and family relationships are distorted by the demands imposed upon intimates to organize their lives to protect the agoraphobic from exposure to anxiety; mundane, everyday tasks such as grocery shopping are either delegated to others, or are undertaken only after carehil [sic – careful?] planning to minimize <unsafe> features of the situation such as lines or traffic; and socializing and other recreational activities are severely curtailed or entirely avoided.” “they would like to be able to grocery-shop independently, or travel more freely, or shop in a department store, or attend a movie, or return to work. And it is here that treatment must begin.” “Often what they want to deal with is another problem such as a difficulty in establishing close relationships or ambivalence about a particular partner, but they seem to need to formulate a more disabling problem in order to justify the need for psychotherapy to themselves or to others. Some, who may have a well-defined anxiety disorder, enter treatment with an a priori bias against behavioral or symptom-focused treatment as <superficial> [mas não é bias, é fato] and seek a therapy that is focused on the promotion of insight and self-understanding. But for the vast majority of patients presenting with anxiety disorders, symptom relief is the most salient initial goal.”

PROFUNDEZA DEMAIS NÃO É REALEZA

even if one assumes that behavioral symptoms have their roots in unconscious conflict, they may become functionally autonomous (Fraud, 1936; Sluzki, 1981), and be maintained by a variety of other factors. Stated differently, the processes that <cause> a problem and those that maintain the problem are likely to be distinct. As the etiological factors may no longer be significant at the time of treatment, symptoms may be relieved without fresh outbreaks [meu caso na fase Victor Hugo].”

ALIMENTE-SE DE COISAS BOAS (MAS PODE CONTINUAR COMENDO FAST FOOD)

as he begins to behave in a less helpless fashion, others in his relationship network are likely to come to treat him as though he is more competent, which will, in turn, enhance his self-perception.”

Just as many psychiatrists never receive training in the administration of exposure therapy and so confine their treatment of anxious patients to pharmacotherapy, many psychologists and social workers trained to conduct exposure therapy are negatively disposed toward the use of medication and do not seek a medical consultation for patients who are failing to carry out therapeutic tasks because the symptoms are too distressing. Further, even when it is employed, medication is often improperly or inadequately applied. That is, the dosage is often too small to reduce the symptoms or it is so great that the anxious symptoms temporarily disappear, and the patient fails to learn to cope more effectively with them should they arise.”

For example, one elderly agoraphobic patient, Mrs. H., with a 40-year history of avoidances of various kinds, made considerable progress in her ability to travel freely and comfortably over a 6-month period. After years of being housebound, she was able to visit her children and grandchildren who lived nearby, take a course at a local college, attend church, and shop in department stores, all without a companion. At one point, she and the therapist agreed that the next task was for her to drive to a nearby city by herself to visit a relative. Like most other activities involving travel, this was something that she had always done with her husband. At this point, progress stopped. For several weeks, she would arrive for her sessions not having done the task, offering a variety of explanations involving inconvenience, but it quickly became clear that there were other issues involved.”

SÍNDROME DA HONESTIDADE: “At the time of the initial consultation, symptoms of panic, which included palpitations, sweatiness, chest pain, dizziness, nausea, and fears of death and insanity were a daily occurrence. (…) She described her parents as very supportive and loving, but when she talked about her interaction with them it was clear that they were extremely demanding, with a very rigid sense of right and wrong. The family had clear and definite rules regarding virtually all areas of behavior—what church to attend and how often, what kind of car one should and shouldn’t drive, what kind of furniture one should have in one’s house, when was a proper time to go to bed, how a dinner table was to be set, what color the napkins should be, and so on. Virtually all behavior was evaluated in terms of its <rightness> or <wrongness> (…) Mrs. K. was the clear favorite among the three siblings in her family.” “K. was somewhat envious of her siblings, who had been <rebellious> as children but seemed to her to have developed a sense of adventure and to enjoy life considerably more than she.” “Considerable time was spent addressing her compliance as it manifested itself in the transference, including her over-enthusiasm for the therapist’s interpretations and her beliefs that she would be abandoned and the therapy relationship terminated if she failed to please the therapist and meet the expectations she imagined he had for her.” “During the course of treatment, Mrs. K. became considerably more assertive, and reported losing the general sense of bemused detachment that formerly had characterized her relationships and activities and were a direct outgrowth of her compliant posture.”

one particular agoraphobic patient of ours dealt with the demands of others in an outwardly compliant way, but when uncomfortable or unhappy with such demands found ways to sabotage them passively. The way this emerged in the therapy was that when the patient felt the therapist did not understand the severity of her problem and was <pushing> too hard for her to complete certain tasks on her own, she would agree to carry out the tasks and then <not find the time>.”

While some patients elect to stay in treatment beyond the point where their presenting symptoms have been reduced or have remitted, it is beyond the scope of our current effort to describe the long-term treatment of the anxious patient.”

The main symptomology of patients with acute anxiety was reviewed in the first chapter. The patient feels anxious, tense, nervous; he is preoccupied and worried and ruminates about some, perhaps, indefinable problem; he may appear worried, with a furrowed brow or tense muscles; he may sweat excessively and have trouble sleeping and concentrating. (…) It is usually not possible to determine when an acute problem will become chronic, but most acute anxiety and tension disorders resolve within 6 months.”

Past history of vulnerability to stress suggests continuation of the same vulnerability to stress, other factors being similar. We have seen patients with panic disorder, for instance, who experience recurrence of panic symptoms only when they feel stressed. In these people stress always seems to produce recurrence of the panic symptoms. Effective and early coping with stress minimizes adverse consequences.”

THE THIN LINE BETWEEN… “The boundary between generalized anxiety disorder and panic disorder is somewhat arbitrary. Generalized anxiety is often a feature of panic disorder, although some patients with panic disorder have all the symptoms of generalized anxiety; conversely, patients with generalized anxiety disorder are likely to have at least infrequent panic attacks, perhaps occurring with only one or two symptoms. Patients with chronic anxiety score high on <neuroticism> on standard personality inventories. The neuroticism factor includes anxious, depressive, and somatic symptoms, low self-esteem and low self-confidence, and irritability.” “Patients report that they are frequently preoccupied, worried, or ruminative; their preoccupations often concern events that are highly improbable. For instance, a wealthy patient may worry that he will become a pauper; an excellent college student may worry that he will fail his classes. When the content of the ruminations involves anticipated problems whose occurrence is more probable, the experience is more accurately described as anticipatory anxiety [parrifobia].”

When compared with those who did not suffer panic attacks, patients who did found their thoughts more clearly articulated, intrusive, credible, and difficult to exclude. Most patients who had experienced panic attacks reported a physical feeling as the most frequent precipitant to episodes of anxiety, whereas patients in the generalized anxiety disorder group reported an anxious thought or a change in mood as the trigger. These data suggest that generalized anxiety disorder patients may be less likely than patients with panic attacks to systematically misconstrue their somatic experiences as dangerous.”

O balão de pensamentos dos quadrinhos foi a invenção literária mais genial do século XX. Talvez a invenção humana por excelência deste século, tirante o avião.

rivotril, nicotine, ecstasy, vicodin, marijuana and alcohol…

In retrospect, she decided that her asthma attack was actually a panic attack. Medical examination was normal. She reported feeling anxious 80-90 percent of the time even when she was not having panic attacks. She reported worrying continuously about her children, her health, and the health of her children. On a scale from 0 to 10, with 10 being the highest anxiety and 0 being none, she rated her anxiety a 10 most of the time.”

Although the electromyographic activity recorded from the frontalis muscle is reliably higher in anxious patients than in controls, EMG activity from forearm, masseter, and other muscle sites does not appear to differ (Lader & Marks, 1971). (…) There is no evidence of EEG abnormalities among anxious patients. Respiration is more rapid and shallow. Finally, although dry mouth is a common symptom of anxiety, there do not appear to be differences in salivation between anxious subjects and controls (Peck, 1966).” “individual differences are sufficient to prevent generalizations regarding the physiological reactivity of anxious patients as a group.” “Evans et al. (1986) found that average daily heart rate was not correlated with anxiety measures.” “at present, we lack a reliable peripheral biologic measure of anxiety.”

As anxiety and depression are closely associated, distinguishing between the two can pose a problem. In a community sample, 67% of subjects with a psychiatric disorder had features of both anxiety and depression that could not be differentiated (Tennant et al., 1981).”

Thyer et al. (1985a) reported that the mean age of onset for GAD [Generalized Anxiety Disorder] patients was 22.8 years. Noyes et al. (1980) have suggested that the onset is gradual. Studies indicating the stability of <neurotic traits> are also relevant here; in adults such traits seem stable from one decade to another. Given the chronic nature of the problem, helping patients learn to tolerate symptoms without abusing prescribed medications or other substances seems particularly important.”

Among the most interesting theories regarding etiology is that generalized anxiety disorder in humans is analogous to sensitization observed in animals. There are 2 basic processes involved in defensive learning: habituation, which is the response decrement that occurs on repeated presentation of a noxious stimulus, and sensitization, which is the increase in defense evoked by strong or noxious stimuli. Habituation is the process that allows an animal to eventually ignore repeated innocuous events, and sensitization is the process that leads it to attend to potentially dangerous ones. (…) Perhaps generalized anxiety disorder represents chronic sensitization characterized by continuous over-attention to potentially noxious or dangerous stimuli.” Uau, como são geniais os psiquiatras de nossa era! Como se houvesse mesmo a possibilidade de ser até outra coisa!

Benson notes that hypnosis, autogenic training, relaxation and transcendental meditation have been shown to lower oxygen consumption, respiration, and heart rate while increasing alpha activity and skin resistance—all responses compatible with inhibited sympathetic activity.” For instance, the subject is invited to imagine floating in a hot bath or a lake and may be told that each breath out will leave him feeling a bit more comfortable and that he will be able to breathe more deeply and easily. Spiegel encourages the patient to picture an imaginary screen in his mind’s eye, a movie screen or a TV screen, and to visualize on that screen a pleasant scene, somewhere the patient enjoys being. After the patient has achieved the ability to produce a comforting scene and is able to achieve body relaxation, he is asked to imagine anxious images. The patient moves from anxious scenes back to comfort and floating—a process similar to desensitization.”

After patients have identified what they would like to say to whom, we model and role-play the situation. Often we suggest the kinds of things that the patient might say and play the role of the patient in the feared situation. We then reverse roles and have the patient practice the interaction. We provide feedback. When the patient feels comfortable with the role-played interaction we then encourage them to use the skills in the actual situation, cautioning them that such situations are rarely identical to the ones created in the office but offer some variations and challenges for them to work on. We agree on the situation they will try and then review it during the next session. Such review may also be useful in elaborating troublesome thoughts. Patients will usually downplay obviously successful interactions or attribute their success to some external factor. Thus, developing a proper cognitive appraisal of their performance is a part of the assertion training.”

It is probably unrealistic to expect patients presenting with GAD to adopt what amounts to a <heart-healthy> life-style (i.e., avoidance of smoking; exercising at aerobic levels 3-5[!] times per week for 20-30 minutes; eating a low-fat, low cholesterol diet, and maintaining a serum cholesterol below 200 mg/dl; blood pressure below 140 systolic and 90 diastolic; and weight no more than 10-20 pounds above ideal for height sex, and age).” “Patients with GAD who drink several cups of caffeinated coffee daily should certainly be encouraged to cut down to no more than one. Those who clearly work an excessive amount of hours should be encouraged to reduce their work load if possible and to build in time for recreation.” Não dê ao escravo o gosto do que ele não pode ter.

The longterm pharmacologic treatment of chronic or generalized anxiety is one of the most controversial issues in medicine. The debate centers on the risk/benefit of such treatment. On one hand, some argue that effective agents should not be withheld from people who are suffering from anxiety disorders. Others argue that the agents are not, in fact, effective and that they carry considerable risk for longterm dependence, unknown side-effects, and life-threatening withdrawal.”

While there is general consensus that benzodiazepines are effective in the short run, given the importance of the question, it is surprising how limited our knowledge is regarding the long-term effectiveness of benzodiazepines. In 1980, after reviewing studies on benzodiazepine effects, the British Medical Association concluded that the tranquilizing effects of such drugs do not persist beyond 3 to 4 months. However, other experts have argued that benzodiazepines are effective beyond 4 months, particularly in patients with severe anxiety.”

He was seriously considering resigning from his firm because he dreaded meetings with clients and other professionals and was hardly able to stand the anxiety. He was drinking 1-2 oz. [?] of alcohol per week; there were no medical causes for his anxiety. He had taken diazepam, 5-10mg per week intermittently for the past 3 years with no apparent benefit. He met the DSM-III-R criteria for panic disorder and for uncomplicated and generalized anxiety disorder. Because of the panic attacks and an unwillingness to take imipramine, he was started on Alprazolam 0.5mg BID. On this dose, he achieved immediate and almost complete relief of his symptoms. For the first time in his life, he said, he no longer dreaded going to work and no longer experienced anguish from hour to hour. (…) Coincident with his improvement, one of his senior partners in the accounting firm decided to retire and wanted to have the patient buy out his interest. Because of the reduced anxiety, the patient was now more confident to deal with clients and to try to obtain new business. He decided to buy the firm, a move that caused him some stress and demanded more intensive effort. This new business venture coincided with the end of the first 6 months on the medication and the patient did not want to stop the medication and possibly jeopardize both his ability to function effectively and his monetary investment. Over the 6 months, he had not increased his medication, was not using alcohol, did not have evidence of withdrawal symptoms, and remained improved. We agreed to continue the medication for another 6 months and then to try a drug-free period.”

O perigo de estar por cima da onda… Assumir riscos em excesso. Contribuir para o próprio fracasso. Ingenuamente. Como se fosse a primeira vez.

At the end of 6 months, now a year into therapy, the patient continued to use the medication as prescribed and maintained his improvement. We strongly encouraged him to try a drug-free period, reviewed the possible long-term risks associated with the drug, and reminded him of our initial agreement. Reluctantly, he gradually stopped the medication, and although he did not seem to have withdrawal symptoms, his anxiety and panic attacks had returned within 3 months and had begun to impair his work. The medication was resumed for another 6 month period.

Although this case is somewhat unusual in the dramatic relief obtained from the medication, the issues are typical for many patients; the medication was associated with improved functioning and alternative therapies seemed ineffective. However, the patient continues to rely on the medication in order to function effectively.”

“In a few patients the withdrawal syndrome can be sufficiently severe to cause epileptic seizures, confusion, and psychotic symptoms (Owen & Tyrer, 1983; Noyes et al., 1986.). For most patients, withdrawal symptoms are more diffuse, including anxiety, panic, tremor, muscle twitching, perceptual disturbances, and depersonalization (Petursson & Lader, 1984; Owen & Tyrer, 1983; Busto et al., 1986).” “Benzodiazepine withdrawal is a real and serious problem and sometimes life-threatening in chronic benzodiazepine users.”

CHOCANDO OS OVOS NO NINHO DA SERPENTE:Jennifer had a difficult family history. She described her father, also a lawyer, as extremely critical, distant, and contemptuous of her and her older sister. She reported that as an adolescent, he would frequently end arguments by saying <You’re fat,> [also known as young] as though this fact disqualified her from rendering opinions or having feelings worthy of consideration, and as though she was to be dismissed on all counts for this reason. She reported that her mother was a loving, <reasonable,> person, who, however, never confronted the father, and, instead, attempted to accommodate to his irascibility.

The patient proved to be highly sensitive to a variety of medications including imipramine, desipramine, protriptyline, nortriptyline, and amitriptyline, complaining that each either caused increased fatigue or increased agitation. We continued with cognitive therapy during this period of about 4 months when numerous medications were tried, but the patient’s depression and anxiety continued. Family therapy with a colleague of the primary therapist was also arranged. The patient reported that the first session <made a huge difference> in her outlook. While nothing was resolved, and she remained unsure whether she and her father could have an acceptable relationship, having her father hear her concerns seemed to lift a weight from her. She reported fears prior to the session that he would dismiss her, deny the validity of her complaints, or storm out of the session. (…) She no longer felt hopeless about the future.”

PARADOXAL INTENTION or REVERSAL PSYCHOLOGY (…) Everytime he felt a little wave of spontaneous alarm, he was not to push it aside but was to enhance it, to augment it, to try to experience it more profoundly and more vividly. If he did not spontaneously feel fear, every 20 or 30 minutes, he was to make a special effort to try and do so, however difficult and ludicrous it might seem. I arranged to see him twice a day over the next two days until his examination. He was an intelligent man, and an assiduous patient. He practiced the exercises methodically, and by the time of the examination he reported himself as almost totally unable to feel frightened. … He passed his examination without apparent difficulty.”

Many of our patients have read books about anxiety before coming to the clinic or wish to do so in the course of therapy. Ghosh and Marks (1986) have even reported that bibliotherapy works as effectively as therapist instruction for self-exposure, at least with agoraphobics. We have yet to see a patient benefit from bibliotherapy to the extent indicated by the Ghosh and Marks study. However, we have found such books useful to help patients gain an understanding of their problem and to feel less alone in struggling with their difficulties. Two books that provide a good discussion of panic are The Anxiety Disease by Sheehan (1984) and Panic: Facing Fears, Phobias and Anxiety by Agras (1985); these books are not designed as self-help manuals.” Then they are probably good lectures.

we have seen patients who avoid speaking in public situations; in most such cases, they fear that their anxiety will become evident to others either through a tremor in their voice or through an inability to speak.”

while the agoraphobic’s fear of losing control and driving his or her car off the road during a panic attack can be easily viewed as <irrational,> the social phobic’s fear of verbally stumbling during a talk or fear of being rejected as a suitor on a date might reasonably occur. (…) Thus a vicious cycle often develops in which the anxiety is actually instrumental in potentiating the consequences most feared by the patient through interaction of the cognitive, physiological, and behavioral aspects of the problem.”

Beck and Emery (1985) have made certain important observations on the phenomenon of shame as it applies to individuals who experience anxiety regarding evaluation. As they note, shame involves insult to one’s public image. Strangers, who are perceived as representatives of a group, may more easily arouse feelings of shame than those with whom we are on intimate terms. (…) Such judgements are viewed as <absolute, finalistic, irrevocable.>

One final observation made by Beck and Emery that may have important treatment implications is that one may feel shame whether the perceived disapproval is communicated or not; shame is tied to the perception of how others think, rather than what they specifically communicate. Thus, an individual might expose him or herself to problematic situations regularly without diminution of anxiety, if he or she continued to believe that others’ negative evaluations continued to be present.

unlike anxiety, which usually ends when the individual exits the fear-evoking situation, the experience of shame continues beyond the individual’s participation, fits with Liebowitz et al.’s (1985a) report that the anxiety of the social phobics they have seen <does not seem to attenuate during the course of a single social event or performance . . . (but rather) augment(s), as initial somatic discomfort becomes a further distraction and embarrassment to the already nervous individual> Seria possível que eu fosse sociofóbico entre 2006-2012 e tenha me tornado progressivamente “apenas” ansioso-depressivo?


who copes with difficulties

is cop(y)ing (with) the

winners

cannot copy without you two!


the social performance standards of those with increased levels of social anxiety are unrealistically high. Thus, the discrepancy between actual performance and the desired standard may be more likely to be pronounced”

being introduced, meeting people in authority, and being watched while doing something are among the more difficult situations for this group, while agoraphobics fear circumstances including being alone, being in unfamiliar places, and open spaces.” <Ele é tímido> são as piores aspas da história.

In our experience, alcohol abuse is a significant problem among social phobics and must be carefully assessed before proceeding with treatment.”

He had begun to avoid small seminars in which he felt class participation would be required. Though verbally appropriate and attractive, he had done little dating, and had had no sexual experiences of any kind with women. He would also become sufficiently nervous over the prospect of asking a young woman for a date that in this situation too, he worried about his voice quavering and was avoiding such encounters. During the sixth week of treatment, he confided to the therapist that he believed that when he thinks about women, he emits an offensive odor that causes others who may be physically near him to leave. This idea had started when he was 17 and a senior in high school. His parents had gone out for the evening and he had masturbated in the family room. His parents however, came home unexpectedly early, within a minute or so of the time he had finished masturbating. Though he had managed to collect himself before they entered the family room, and there was no overt evidence they knew what he had done, he believed that in the act of masturbating he had given off an odor that they could detect. This idea had progressed to the point where he now believed that just thinking about an attractive woman caused him to give off such an odor. He was in the habit of sitting by himself in a corner of the library or cafeteria due to fears that others could smell when he was thinking about women.

The patient’s questionable reality testing and other phenomenology raised the possibility that he might be schizophrenic. However, after discussing these issues with the therapist, and feeling somewhat reassured, he agreed to a consultation with a urologist who was quite understanding and also reassured him. He was greatly relieved by this reassurance, and stopped isolating himself in the school library and cafeteria. Social isolation is often a feature of social phobia, and in such cases, without the availability of corrective feedback, ideas such as the above can develop.”

The onset of social phobia appears typically between ages 15 and 20. Marks (1969) noted that among a sample he studied onset appeared to peak in the late teens. Amies et al. (1983) reported a mean onset of 19, as opposed to 24 among the agoraphobics. Nichols (1974) reported that two thirds of his sample developed the problem before age 25. Shaw (1976) reported that 60% of the social phobics in her sample had developed the problem by age 20 (as compared with 20% of agoraphobics), and 19% of the social phobics rated the onset as acute (as compared with 53% of the agoraphobics).”

Several other hypotheses have been suggested. Nichols (1974) has noted the presence among social phobics of unusual sensitivity to criticism, disapproval, and scrutiny from others, low self-evaluation, rigid ideas regarding appropriate social behavior, a tendency to overestimate the extent to which visible symptoms of anxiety are evident to others, and a fear of being seen as ill or losing control. He argues that perception of loss of regard by others leads the individual to become hyper-aware of his or her anxiety in social situations, leading to increased sensitivity to physical cues and increasing concern that further lack of regard will ensue should such symptoms be noticed.” “poor performance in social situations leads the individual to expect negative evaluation and rejection from others (Curran, 1977). Another hypothesis is that social anxiety and social phobias are mediated by faulty cognitions regarding performance demands and the consequences of negative evaluation, which then, in fact, interfere with effective performance (Beck & Emery, 1985). [Óbvio.] Some of the avoidant strategies employed by social phobics such as gaze aversion, facial inexpressiveness, and reduced talkativeness can engender rejecting responses from others” O que não ensinam na escola: que não querer, conseguir ou suportar olhar no rosto dos outros não é covardia, mas condição. O tagarela é o primeiro a ser punido, mas também o primeiro a ser abordado (pelas mesmas pessoas!): “O que está acontecendo? Tudo bem com você, o que é que tá pegando? O gato comeu sua língua?”. Outrora tive um chefe que ria das pessoas que não conseguiam olhar nos olhos dos outros. Esse chefe, longe de ser um pacato cidadão mediano, era um dos mais neuróticos patológicos não só do setor, mas do órgão inteiro. Sua característica mais pusilânime era chegar dando um bom dia mais animado que o apresentador do Balanço Geral. Com o tempo, entretanto, e a percepção de que as pessoas no trabalho não o enxergavam como sua mãe o enxergava (e portanto ele mesmo se enxergava), graças a sua arrogância, hipocrisia e acerbas observações, e a certeza cada vez maior de que não passava de um chato de galocha, ele começou a se comportar de modo um tanto errático, auto-isolando-se além de toda medida, aproveitando-se do expediente de ser chefe para passar o dia trancado, longe de nossos olhos perscrutadores. Alguns realmente aprendem na prática a baixar a bola.

Beta-blockers have been prescribed to block the peripheral manifestations of anxiety on the assumption that peripheral autonomic arousal increases social anxiety. Beta-blockers have been shown to reduce performance anxiety among such groups as musicians and college students.” “in patients with atypical depression, MAOIs seem to reduce interpersonal sensitivity, which is a measure of sensitivity to rejection, criticism and indifference on the part of others”

As a group, social phobics suffer from a number of cognitive errors. While it is true that the underlying theme of these errors involves sensitivity to the evaluation of others, they may take a variety of forms. The most common cognitive errors we have encountered among social phobics are the following: (1) overestimating the extent to which their behavior will be noticed by others, thus exposing them to scrutiny or evaluation; (2) overestimations about the likelihood of rejection, embarrassment, or humiliation in a particular situation; (3) unrealistic assessments about the character of others’ responses to displays of anxiety; (4) attributional errors; and (5) overresponsiveness to actual rejection or lack of acceptance.” (Aloisiofobia)

Fenigstein (1979) has differentiated between private self-consciousness, which involves heightened awareness of one’s thoughts and feelings, and public self-consciousness, which involves similar awareness of how one is viewed by others. Those in the latter group report a sense of being observed when with other people, an increased awareness of how others regard them, and they assign considerable importance to others’ responses toward them (Fenigstein, 1979). Their attention is focused on their appearance and behavior to an extent that effectively turns them into observers. Social situations often trigger an assessment process (Schlenker & Leary, 1982) in which the individual monitors his effect on others in hypervigilant fashion much as the panic disorder patient monitors internal sensations hypervigilantly. (…) The social phobic often erroneously assumes that others are monitoring his social performance as closely as he is. Thus if his voice trembles, or if he has a tendency to blush, or shake while holding a glass, he assumes that the attention of others is equally focused on such displays.” Mais eu leio sobre isso, mais eu “condeno meu passado” (o que é quase uma prova empírica de que eu sou um sociófobo até para mim mesmo – o eu do passado!) e mais eu penso na Tharsila como um papagaio que sempre me relia uma cartilha de tópicos prontos semanalmente, inutilmente… Adendum 2022: me distanciei bastante dessa tendência – rara vez que releio o blog e NÃO me identifico com descrições de tipo psicológico!

Several studies have indicated the presence of perfectionistic social standards among the socially anxious (Alden & Cappe, 1981; Alden & Safran, 1978; Goldfried & Sobocinski, 1975). To put the same concept slightly differently, what we have encountered among many social phobics is an unrealistic appraisal of what is required of them in social situations. [WE’RE SO FUCKED… HARDWIRED TO…] For example, they may assume that in an initial heterosocial encounter they will inevitably be rejected if they are not <totally at ease,> or if they fail to demonstrate a quick sense of humor. As the hypothesized demands of social situations become higher and more unreasonable, [graças aos youtubers, instagramers e tiktokers imbecis esse padrão se generalizou] the social phobic’s self-efficacy drops, and the risk of perceived failure is increased, leading to overestimating the likelihood of rejection, embarrassment or humiliation.”

Specifically, social phobics tend to assume that the anxiety or awkwardness they experience in social situations marks them as different, defective, and strange. Yet in many instances, the situations arousing anxiety for the social phobic arouse anxiety in many of us (e.g., public speaking, first dates, job interviews, etc.). The labels social phobics attach to themselves as a consequence of their anxiety, which are often global, absolute, and self-blaming, have the effect of increasing their arousal and levels of anxiety. In general, these labels reflect their lack of self-acceptance.” “Those who present with extreme avoidance across a wide variety of social situations usually manifest an oversensitivity to rejection, and the reverse attributional bias discussed above. These individuals are the most difficult to treat and usually require longer-term therapy, in which deeper cognitive structures relating to self-esteem and personal identity (Guidano & Liotti, 1983) become the focus of treatment.”

In general, we have been more impressed with the cognitive errors common among social phobics which, as we noted, distort the demands and risks involved in social encounters. Most of the social phobics we see appear to have adequate skills but have difficulty in deploying them or underestimate their own performance.

The patient indicated that what disturbed her about blushing was that people would see she was anxious. (…) Her supervisor at work frequently commented about it when he noticed her blushing in a way that embarrassed her. Accordingly, she was instructed not to avoid this supervisor but, in fact, to seek him out, and when blushing did occur to say, <Uh-oh, menopause already,> or <Oh no, not those hot flashes again,> or to fan herself with her hand and say, <Whew, it’s hot in here.>Mais um pouco e o sujeito pensaria que estava sendo abordado…

She did not have problems interacting with strangers; symptoms of anxiety were experienced only with those whom she regarded as <potential friends.>” “Linda’s sensitivity to rejection was clearly related to doubts about her self-worth. Part of the fear of rejection in social situations had to do with the extent to which she was searching for evidence regarding her own worth in such encounters.”

Alcohol is the earliest and probably still the most widely used drug with antianxiety properties. Sedative-hypnotics with antianxiety properties were widely used during the 19th century. For instance, it is estimated that by the 1870s a single hospital in London specialized in nervous diseases might dispense several tons of bromides annually. Barbiturates, first synthesized in 1864, began to be widely used in medicine after 1900. Meprobamate, originally developed as a potential muscle relaxant in the 1950s, achieved rapid popularity and was widely prescribed until its addictive properties became apparent. The discovery of the effectiveness of the benzodiazepines was serendipitously made by Stembach in 1957 who, when cleaning up his laboratory, decided to screen a group of compounds he had synthesized many years before (Stembach, 1983). One compound, 1,4-benzodiazepine-chlordiazepoxide, was 2x to 5x more potent than meprobamate in producing relaxation in rats.” “Because of their clinical effectiveness and their low potential for fatal overdosage, BZDs have largely replaced other sedative hypnotics. In the early 1960s Klein reported that the monoamine oxidase inhibitors (MAOIs) and tricyclic antidepressants (TCAs) blocked anxiety attacks in patients prone to anxiety, even in those who were not depressed. Drugs that block the peripheral manifestations of anxiety, like the beta-blockers, have been used in some patients. More recently, drugs that increase serotonin levels in the brain amongst other effects, the azaspirodecanediones, have shown promise as antianxiety agents.”

Other agents that are potent inhibitors of amine uptake, notably amphetamine and cocaine, are poor antidepressants. Furthermore, some TCAs affect the reuptake of serotonin, while others have a greater effect on norepinephrine.”

The other group of antidepressants with significant antipanic effect are the MAO inhibitors. The monoamine oxidase (MAO) inhibitors comprise a heterogeneous group of drugs, which, as the name implies, block the enzyme monoamine oxidase. MAO inhibitors were first used to treat tuberculosis. Because the drugs seemed to have mood-elevating effects in tuberculosis patients, they were given to depressed psychiatric patients with favorable results.” “MAO is widely distributed throughout the body, although its important biological effects relate to its action within the mitochondria.”

Another group of theoretical importance in treating anxiety are central adrenergic agonists. On the assumption that central noradrenergic activity is increased, agents that reduce central noradrenergic activity should have antianxiety effects. One agent that has been evaluated for its antianxiety effects is clonidine, which reduces central sympathetic activity through potent agonistic activity on alpha-2 presynaptic receptors in the CNS. Clonidine has been found to be effective in the treatment of panic attacks (Liebowitz et al., 1981), anxiety experienced during opiate withdrawal, and anxiety accompanying depression (Uhde et al., 1984).”

Antipsychotic medications, like thioridazine, chlorpromazine, haldol and mesoridazine have been advocated for the treatment of anxiety. Indeed, such agents are effective in reducing anxiety in patients with psychotic disorders. However, autonomic and extra-pyramidal side effects and the risk of tardive dyskinesia make them generally inappropriate for patients with primary anxiety disorders.”

Alcohol is rapidly absorbed from the stomach, small intestine, and colon. After absorption, it is rapidly distributed throughout all tissues and all fluids of the body. Alcohol is metabolized through oxidation. The rate of metabolism is roughly proportional to body weight and probably to liver weight. Many other factors, such as diet, hormones, drug interactions, and enzyme mass affect alcohol metabolism. Alcohol use is also associated with tolerance, physical dependence and can lead to a life-threatening withdrawal reaction.”

50 CLASSIC PHILOSOPHY BOOKS – Parte 1: O Sentido Trágico da Vida (Unamuno)

  1. THE CONDITIONS OF EXISTENCE AS AFFECTING THE PERPETUATION OF LIVING BEINGS – Thomas Huxley

if there were no men there would be no tape-worms.”

Malthus nunca foi refutado e jamais será”

  1. TRAGIC SENSE OF LIFE – Miguel de Unamuno, com longo prefácio de S. de Madariaga

TÍTULO DE LIVRO AFORISMÁTICO: Todas as notas de rodapé que você nunca leu.

(*) “Unamuno, como criador, não tem nada dos fracassos desses artistas que nunca sentiram profundamente. Mas ele mostra as limitações desses artistas que não conseguem serenar.”

(*) “O senso da forma é altamente simpático ao elemento feminino na natureza humana, e a raça basca é altamente masculina.”

(*) “Luzbel, the Angel Of denying nothingness, endlessly falling – Bottom he ne’er can touch”

(*) “Versos brancos nunca são o melhor meio para os poetas de uma forte inspiração masculina.”

(*) “A corruptible organism could not hate as I hated.”

(*) “A extrema limitação no emprego de detalhes fisionômicos de que Unamuno fez sua marca registrada em seu trabalho criativo pode ter levado seus críticos a esquecer a intensidade daqueles – admiravelmente escolhidos – que são dados.”

(*) “ele nunca grita.”

(*) “Na Rússia, Dosto. e Tolstoy escolhem o lado Leste enquanto Turgeniev se torna o advogado do Ocidente.” Unamuno é nosso Dostoievsky” Então a literatura basca é mesmo pobre.

* * *

Um homem pega um bonde elétrico para escutar uma ópera, e se pergunta, Qual, nesse caso, é o mais útil, o bonde ou a ópera?”

Vi com mais freqüência um gato usar a razão do que rir ou chorar. Talvez ele chore ou ria internamente – mas então, talvez também internamente, um caranguejo resolva equações de segundo grau.”

depois de ter examinado e pulverizado com sua análise as provas tradicionais da existência de Deus, do Deus Aristotélico, que é o Deus correspondente ao _zoon politikon_, o Deus abstrato, o imóvel primo Movedor, Kant reconstrói Deus do zero – o Deus Luterano, em resumo.” As cambalhotas críticas de K.

para sustentar a imortalidade da alma Deus é introduzido. Todo o resto é a conciliação do profissional da filosofia.”

Infinitamente, nosso único eu só luta pelo infinito.

Desde sempre e para sempre, o homem só quer viver para sempre.

so he had God-ache. Unhappy man! And unhappy fellow-men!”

poeta e filósofo são irmãos gêmeos, se é que não um e o mesmo”

The man of Fichte, o eu de Fichte, o feixe de Eu, a pesca da verdade e individualidade pelo fio do anzol, de cada um o Homem, de cada Ingente e Protuberante Ser o Eu pungente: doeu – ai! Ass: Fichtício

Querer ser outro alguém: “It has been said that every man who has suffered misfortunes prefers to be himself, even with his misfortunes, rather than to be someone else without them.”


OI & TCHAU

Eu não vou retroceder porque eu não (desisto) cedo.

Eu só vou avançar reto

Andar de braços com a alva morte

Contar piada, memori(a)zar as coisas passadas não-ano(i)tadas


Quem recebe o fruto desse sacrifício?”

Os dias de semana são o meu calvário (e são vários!) e os fins de semana meu Além Paradisíaco Finito (logo, inexistentes).

A meta é sempre…

Se a consciência é, como certo pensador inumano disse, nada mais do que um lampejo de luz entre duas eternidades de escuridão, então não há nada mais execrável que a existência.” não deixa de ser um trocadilho genial e risível

Há vezes em que mesmo um axioma pode se tornar uma impertinência.”

Lágrimas de crocodilo eu não vou chorar.

The chiefest sanctity of a temple is that it is a place to which men go to weep in common. A miserere sung in common by a multitude tormented by destiny has as much value as philosophy.”


PAPO DE BOTECO SOBRE O DESTINO

Deus tem que se submeter à lei lógica da contradição, e Ele não pode, de acordo com os teólogos, fazer com que dois e dois sejam mais ou menos do que quatro. Ou a lei da necessidade está acima d’Ele ou Ele Mesmo é a lei da necessidade. E na ordem moral a questão que desponta é saber se falsidade, ou homicídio, ou adultério, são errados porque Ele assim o decretou, ou se Ele assim o decretou porque são errados. Se a resposta é a primeira, então Deus é um Deus caprichoso e insensato, que decreta uma lei quando Ele poderia igualmente ter decretado outra, ou, se a resposta é a última, Ele obedece a uma natureza e essência intrínsecas que existem nas coisas mesmas independentemente d’Ele — isto é, independentemente de Sua vontade soberana; e se é este o caso, se Ele obedece à razão inata das coisas, essa razão, se pudéssemos ao menos sabê-la, nos bastaria, sem qualquer necessidade ulterior de Deus, e já que não sabemo-la, Deus não explica nada. Essa razão estaria além de Deus. (…) E é por causa desse problema das relações entre a razão de Deus, necessariamente necessária, e Sua vontade, necessariamente livre, que o Deus lógico e aristotélico será sempre um Deus contraditório.”

Deus é indefinível. Procurar defini-Lo é procurar confiná-Lo nos limites de nossa mente — isto é, matá-Lo. Enquanto procurarmos defini-Lo, aí ergue-se diante de nós — o Nada.”

* * *

All or nothing! And what other meaning can the Shakespearean <To be or not to be> have, or that passage in Coriolanus where it is said of Marcius <He wants nothing of a god but eternity>? (…) Nothing is real that is not eternal.”

Everything passes! Such is the refrain of those who’ve tasted of the fruit of the tree of the knowledge of good and evil.”

Um amigo meu me confessou que, antevendo do auge do vigor físico a aproximação de uma morte violenta, ele se propôs a concentrar sua vida e passar seus poucos dias que ele calculou que ainda teria para escrever um livro. Vaidade das vaidades!


UM DOS AFORISMOS MAIS PATÉTICOS DA HISTÓRIA HUMANA:
Aí você tem esse <ladrão de energias>, como ele [Nie.] tão obtusamente chamava Cristo que buscou casar niilismo e esforço pela existência, e ele fala sobre coragem. Seu coração anelava o eterno enquanto sua cabeça o convencia do nada, e, desesperado e louco para se defender de si mesmo, ele amaldiçoou aquilo que mais amava. Já que não podia ser Cristo, ele blasfemava contra Cristo. Atacando a si mesmo, ele se desejava sem-fim e sonhava com sua teoria do eterno retorno, uma lamentável falsificação da imortalidade, e, cheio de pena de si mesmo, ele abominava a compaixão. E alguns há que dizem que dele é a filosofia dos homens fortes! Não, não é. Minha saúde e minha força me impelem a me perpetuar. [?] Sua doutrina é a doutrina dos fracotes que aspiram a ser fortes, mas não dos fortes que são fortes. [?] Só os enfermos se entregam à morte final [?] e substituem a espera pela imortalidade pessoal por algum outro desejo. [Ah, os últimos homens! Unamunos demoram a passar pelo mundo, mas sim, também eles passam.] No forte, o zelo pela perpetuidade [?] supera a dúvida de realizá-la, [R.I.P. Unamuno] e sua superabundância de vida [?] inunda o outro lado da morte [??? – tornou-se um peixe capaz de respirar debaixo d’água, superabundantemente?].”

O homem de letras que contar-lhe que despreza a fama é um sonso mentiroso.” “Precisamos que outros acreditem em nossa superioridade para que nela acreditemos nos próprios, e sobre sua crença basear nossa fé em nossa própria persistência, ou pelo menos na persistência de nossa fama.”

Pergunte a qualquer artista sincero o que ele preferiria, que seu trabalho perecesse e sua memória sobrevivesse, ou que seu trabalho sobrevivesse e sua memória perecesse, e você verá o que ele irá dizer-lhe, se ele é mesmo sincero [??].” Mil vezes meu trabalho. Ele é anônimo.

<Posteridade é uma acumulação de minorias,> disse Gounod.¹ Ele prefere se prolongar no tempo do que no espaço [outra tolice].”

¹ Compositor clássico.

Erwin Rohde – Psyche (fav.)

Melanchton – Loci Communes (1ª obra protestante)

And I have read in a Protestant theologian, Ernst Troeltsch, that in the conceptual order Protestantism has attained its highest reach in music in which art Bach has given it its mightiest artistic expression. Thus, then, is what Protestantism dissolves into – celestial music!”

Já o catolicismo…the Christ of Vélasquez [link imagem], that Chr. who is forever dying, yet never finishes dying, in order that he may give us life.”

No me mueve, Dios, para quererte el cielo que me tienes prometido”

And why be scandalized by the infallibility of a man, of the Pope? What difference does it make wether it be a book that is infallible — the Bible –, or a single man?” “Pius IX, the 1st Pontiff to be proclaimed infallible, declared that he was irreconcilable with the so-called modern civilization.”

t(ra)di(tionalism)

The Trinity was a kind of pact between the monotheism and polytheism, and humanity and divinity sealed a peace in Christ”

Ninguém está mais propenso a acreditar tão pouco quanto aqueles que começaram acreditando demais.”

to say that everything is God, and that when we die we return to God, or, more accurately, continue in Him, avails our longing nothing; for if this indeed be so, then we were in God before we were born, and if when we die we return to where we were before being born, then the human soul, the individual consciousness, is perishable. And since we know very well that God, the personal and conscious God of Christian monotheism, is simply the provider, and above all the guarantor of our immortality, pantheism is said and rightly said, to be merely atheism disguised; and, in my opinion, undisguised. And they were right in calling Spinoza an atheist, for his is the most logical, the most rational, system of pantheism.”

Essa última proposição – le bonheur fait partie de la verité é uma proposição de pura advocacia, mas não de ciência ou de razão pura. (…) – credo quia absurdum, que significa na verdade _credo quia consolans_ — eu acredito porque é algo consolador para mim.”

Os deuses não mais sendo e Cristo não sendo ainda, havia entre Cícero e Marco Aurélio um momento único no qual o homem esteve sozinho. Em nenhum outro lugar eu acho essa grandeza; mas o que torna Lucrécio intolerável é sua física, que ele dá como positiva. Se ele é fraco, é porque não duvidou o bastante; ele desejava explicar, chegar a uma conclusão!”

Flaubert

A dúvida metódica de Descartes é uma dúvida cômica, uma dúvida puramente teórica e provisória – quer dizer, a dúvida de um homem que age como se duvidasse sem realmente duvidar.” “essa dúvida cartesiana excogitada num fogão”

Sufro yo a tu costa, Dios no existente, pues si tú existiras existiría yo también de veras” nota 35

Faith, some say, consists in not thinking about it (…) Yes, but infidelity also consists in not thinking about it.”

E no que concerne àquele ditado abjeto e ignóbil: <Se não houvera um Deus, seria necessário inventá-Lo,> não devemos dizer nada. É a expressão do ceticismo sujo daqueles conservadores que vêem a religião meramente como um meio de governo e cujo interesse reside em que na outra vida deva existir um inferno para aqueles que se opõem a suas ambições mundanas nesta vida. Essa frase repugnante e saducéia é digna do cético servidor-do-temporal a quem ela é atribuída.”

E não é em vão [ironicamente] que repetimos ainda uma vez mais as mesmas eternas lamentações que já eram velhas nos tempos de Jó e do Eclesiastes, e até repetimos tudo nas mesmas palavras, só para fazer os devotos do progresso verem que há algo que nunca morre. Quem quer que repita a <Vaidade das Vaidades> do Eclesiastes ou as lamentações de Jó, ainda que sem mudar um <a>, tendo-as experimentado n’alma, executa um trabalho de admoestação. Preciso é repetir sem cessar a ladainha do memento mori.”

hoje, no séc. XX, todos os séculos idos e todos eles vivos, ainda subsistem.”

Pobre rapaz! se ele ao menos usasse sua inteligência para melhores propósitos!…”

E se os pedaços de um tabuleiro de xadrez fossem dotados de consciência, teriam provavelmente poucos problemas em atribuir livre-arbítrio a seus movimentos – ou seja, clamar-se-iam uma racionalidade finalista.”

Is there really anything strange in the fact that the deepest religious feeling has condemned carnal love and exalted virginity?” “A mulher se entrega ao amante porque sente que seu desejo o faz sofrer. Isabel tem compaixão por Lourenço, Julieta por Romeu, Francesca por Paolo. A mulher parece dizer: <Venha, pobre alma, tu não deves sofrer tanto por minha causa!>. E portanto seu amor é mais amoroso e puro que o do homem, mais bravo e mais resistente.” Nessun maggior dolore che ricordarsi del tempo felice nella miseria are the words that Dante puts into the mouth of Francesca da Rimini (Inferno, V., 121-123).”

<The bitterest sorrow that man can know is to aspire to do much and to achieve nothing> (_polla phroneoita mêdenos chrateein_) – so Herodotus relates that a Persian said to a Theban at a banquet (book ix., chap. xvi.). And it is true.”

.0 (PONTO ZERO)

A mesma mente que formulou a noção do nada havia necessariamente de pensar e pinçar o conceito de ponto, o enunciado-mor da matemática, “a” ciência niilista. Pois considerando tudo o que há, só o que não pode haver seriam o vazio e o ponto. Na verdade um é o desdobramento lógico do outro. De um ponto (singularidade metafísica) estão excluídos tempo e espaço. Presente, mais conhecido como ponto, ou negação de todas as negações ou zero dos zeros.

Gravidade negativa é negar a verdade… viva, viva, viva!

IRREVERSÍVEL

Ainda cremos que possa haver um retorno, uma reconciliação. Mas a morte do outro encerra essa esperança. Por exemplo: não choro nem fico de luto se meu pai perde uma perna ou envelhece. Muito menos quando envelhece, pois esse é um processo gradual. Mas arrebento em lágrimas se no telefone dizem: o velho acaba de falecer. Infelizmente forte ou fraco ninguém está imune.

Zeus, Júpiter, estava em processo de ser convertido em um deus único, assim como Jahwé originalmente um deus entre tantos outros, veio a se converter em deus único, primeiro o deus do povo de Israel, depois o deus da humanidade, e finalmente o deus de todo o universo.”

O Deus lógico, racional, o ens summum, o primum movens, o Ser Supremo da filosofia teológica, o Deus que é atingido pelos três famosos caminhos da negação, eminência e causalidade, _viae negationis, eminentiae, causalitatis_, não é nada senão uma idéia de Deus, uma coisa morta. As provas de sua existência são, no fundo, meramente uma vã tentativa para determinar sua essência; porque como Vinet observou tão bem, a existência é deduzida da essência; e dizer que Deus existe, sem dizer o que é Deus e como ele é, é o equivalente a não dizer absolutamente nada.”

Laplace is said to have stated that he had not found the hypothesis of God necessary in order to construct his scheme of the origin of the Universe, and it is very true. In no way whatever does the idea of God help us to understand better the existence, the essence and the finality of the Universe. That there is a Supreme Being, infinite, absolute and eternal, whose existence is unknown to us, and who has created the Universe, is not more conceivable than that the material basis of the Universe itself, its matter, is eternal and infinite and absolute.” “For to say that the world is as it is and not otherwise because God made it so, while at the same time we do not know for what reason He made it so, is to say nothing. And if we know for what reason God made it so, then God is superfluous and the reasons itself suffices.”

Hoje estou alegre como nunca. Dia 6/10/15 foi um dia perfeito. Para o passado, para o presente, para o futuro. Super-energizado, tranquilo, sortudo, posudo e sereno. Ontem vi batalhas contra Piccolo Daimao na tela grande em Dragon Ball, e um tanto de pornografia. O universo se refez na luta laboral de Goku, a Tabatha veio trabalhar conosco e eu corri feito um pápa-léguas. Choveu e eu olhei atento pela janela do ônibus. Ah, ufa, já não estou mais gripado. Nesses dias, escassamente, é que desejamos ser imortais. O machucado no meu joanete por causa da minha chinela nem incomodou. Os maus presságios futebolísticos, tampouco. Dane-se a religião denominada Corinthianismo! A Brenda poderia até desligar o whatsapp na minha cara. Hoje, excepcionalmente, eu sou um fumante confiante.

Assinado: Zezé diCdoce

Those who say that they believe in God and yet neither love nor fear Him, do not in fact believe in Him but in those who have taught them that God exists, and these in their turn often enough do not believe in Him either.”

God wills that the heart should have rest, but not the head, reversing the order of the physical life in which the head sleeps and rests at times while the heart wakes and works unceasingly.”

Entre a poesia e a religião a sabedoria de viver encena sua comédia. Todo indivíduo que não vive quer poética quer religiosamente é um tolo”

Kierkegaard

From the subterranean ore [praying] of memory we extract the jewelled visions of our future (…) And humanity is like a young girl full of longings” “there is no kinder wish than that when the winter of life shall come it may find the sweet dreams of its spring into memories sweeter still”

CRUCIFICADO À MEIA-NOITE

in Christ human race sublimated its hunger for eternity” eternamente?

sublimação: sempre temporária; sempre?

temporariamente eterno enquanto dure depois que acabe e permaneça como cicatriz até sarar de nascença

muito infantil para compreender coisas de adulto

muito adulto para compreender criancices

mas, engraçado, só o adolescente não se entende!

A cidade de pedra branca onde tudo transcorre tão bem é Roma!

os meios justificam a agonia tenebrosa

ressubluminados pelo sistema!

Just as truth is the goal of rational knowledge, so beauty is the goal of hope, which is perhaps in its essence irrational.” “Nothing is lost, nothing wholly passes away, for in some way or another everything is perpetuated” Desde que o Sol circunda a terra ou a Terra circunda o sol, voltamos a Ele, rodamos felizes no anel e você sabe mais o quê!

Every impression that reached me remains stored up in my brain even though it may be so deep or so weak that it is buried in the dephts of my subconsciousness; but from these depths it animates my life” quando você é leitor de alguém mesmo contra sua vontade

beauty springs from compassion and is simply the temporal consolation that compassion seeks. A tragic consolation!” estou sonolento

Hope in action is charity, and beauty in action is goodness.”

Whosoever knows not the Son will never know the Father, and the Father is only known through the Son (…) the Son of Man”

What is Fate, what is Fatality, but the brotherhood of love and suffering?”

Have you never felt the horrible terror of feeling yourself incapable of suffering and of tears?”

And the reader will no doubt think that this idea of suffering can have only a metaphorical value when applied to God, similar to that which is supposed to attach to those passages in the Old Testament which describe the human passions of the God of Israel.”

<Brother Wolf> St. Francis of Assisi called the poor wolf that feels a painful hunger for the sheep, and feels, too, perhaps, the pain of having to devour them”

The face can only see itself when portrayed in the mirror, but in order to see itself it must remain the prisoner of the mirror in which it sees itself, and the image which it sees therein is as the mirror distorts it; and if the mirror breaks, the image is broken; and if the mirror is blurred, the image is blurred.”

pelo espelho somos fascinados na esperança de poder atravessá-lo em pêlo.

A origem do mal, como muitos já descobriram no passado, não é senão o que é chamado pelo outro nome <a inércia da matéria>, e, ao ser aplicada às coisas do espírito, <a preguiça>.”

nuca em pêlo

pêlo em ovo

lá de baixo

no homem sempre tem

o difícil é não achar

a chave para o sofrimento

e a preocupação

está na cera quente

cera ou não-cera eis a

questão

eis o quentão

a suprema preguiça é a de não aspirar loucamente à imortalidade.”

ponta-cabeça: “And many of those who seem to be the greatest egoists, trampling everything under their feet in their zeal to bring their work to a successful issue, are in reality men whose souls are aflame and overflowing with charity, for they subject and subordinate their petty personality to the sociality that has a mission to accomplish.”

volição rubro-negra

d’em tudo embarcar

e abarcar

e açambarcar


a·po·ca·tás·ta·se

substantivo feminino

[Teologia] Doutrina herética segundo a qual, no fim dos tempos, serão admitidas ao Paraíso todas as almas, inclusive a do Diabo.

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

[consultado em 16-11-2015]


he, the Roman, describes the Jews as a people dominated by superstition and hostile to religion, _gens superstitioni obnoxia, religionibus adversa_

<He who possesses science and art, has religion; he who possesses neither science nor art, let him get religion,> said Goethe in one of his frequent accesses of paganism. And yet in spite of what he said, he himself, Goethe…?” Traduzi essa frase lendo Hegel. Unamuno nada entendeu de G.

Behold, we have forsaken all and followed thee; what shall we have therefore?” Pedro

o Universo é mulher. E assim foi na Alemanha, na França, na Provença, na Espanha, na Itália, e no princípio da idade moderna.”

Francesco de Sanctis, Storia della Letteratura italiana

o que foi a Cavalaria senão um híbrido entre paganismo e Cristianismo, cujo Livro seria talvez a lenda de Tristão e Isolda?”

A Europa afluiu para a Universidade de Bolonha em busca de aprendizado. A Cavalaria foi sucedida pelo Platonismo. (…) Mas a razão foi realmente para salvar a vida, o que os homens já buscaram salvar em seus cultos da mulher.”

doctrines such as spiritualism, metempsychosis, the transmigration of the souls from star to star, [interpretações não-autorizadas de Pl.] and the like; doctrines which as often as they are pronounced to be defeated and dead, are found to have come to life again, clothed in some more or less new form. And it is merely supine to be content to ignore them and not to seek to discover their permanent and living essence.”

<Calypso was inconsolable at the departure of Ulysses; in her sorrow she was dismayed at being immortal,> said the gentle, the mystical Fénelon at the beginning of his _Télémaque_. Was it not a kind of doom that the ancient gods, no less than the demons, were subject to—the deprivation of the power to commit suicide?”

– Eu não posso me matar, não está escrito!

– Por quê?!

– Porque eu sou DEUS!

though the other life may exclude space, it cannot exclude time, as Cournot observes”

Swedenborg remarked that the angels change, because angels, like men, love themselves, and he who loves himself experiences changes of state”

He who sees God shall die, say the Scriptures (Judg. 13:22); and may it not be that the eternal vision of God is an eternal death?”

MADRUGADA PÓ DE ESTRELAS

Todos os meus dias são completos, e de alguma forma eu sou a vida de alguém sedento pela Imortalidade que pediu ao gênio da Lâmpada essa existência contínua, perfeita, acabada, múltipla, total, infinita mesmo: cada dia é uma existência, do início ao fim. Eu nasço, cresço, reproduzindo-me ou não, e morro.

Quem na idade de oitenta se lembra da criança que era aos oito, por mais consciente que seja da cadeia inquebrantável que une a ambas?”

Herculísifo

Novamente o mal-entendido circula entre as línguas dos vários tempos e lugares (P. 8456-8457): “Sêneca, o Espanhol, a isso deu expressão no seu Consolatio ad Marciam (xxvi.); o que ele desejava era viver essa vida de novo: ista moliri. E o que pedia (19:25-7) era para ver Deus em carne, não em espírito. E o quê, senão isso, é o significado daquela cômica concepção do eterno retorno que saiu da trágica alma do pobre Nietzsche, faminta por imortalidade concreta e temporal?”

A MINHA grande pergunta seria: quem não sabe o que está escrevendo, deveria ainda assim continuar escrevendo? Sempre é possível calar, bloquear!

The majority of suiciders would not take their lives if they had the assurance that they would never die on this Earth. The self-slayer kills himself because he will not wait for death.”

SUICÍDIO SE JOGANDO DA JANELA (2009)

No parapeito da janela, de costas: o <em vão> clamava… Mas o que seria uma Jade Barbosa, um Michael Schumacher, uma Menina de Ouro presos eternamente em seu estado impotente? Pior do que o suplício eterno da alma de todos os Livros Sagrados. Ou então: suprema consolação: já que eu vou morrer mesmo… por que aqui e agora? O que estarei perdendo, se o futuro for melhor? Se for pior?!… Sei eu – pior do que isto aqui?? Com a coluna quebrada, voluntariamente, com opróbrio máximo? Certamente que não! Fé… na minha melhora, ainda que pouca e relutante.

Vamos viver amanhã, e depois concluiremos se vale(ria) a pena se suicidar hoje.

Já valeu? Não que eu saiba.

Então estamos no caminho certo.

Um suicídio INCONSCIENTE. Portanto, algo inexistente.

The rationalist beatitude did not ever satisfy or deceive even a Spinoza.”

in that case the Universe would be infinite, and in reality we are unable to conceive a Universe that is both eternal and limited such as that which served as the basis of Nietzsche’s theory of eternal recurrence.” “But as far as our own world is concerned, its gradual death appears to be proved. (…) May it be that consciousness and its extended support are two powers in contraposition, the one growing at the expense of the other?”

Leopardi, that Christian atheist” “A Natureza nos dá a vida como uma mãe, mas nos ama como uma madrasta.”

Is the sadness of the field in the fields themselves or in us who look upon them?” Elucubrações dementes e mambembes do nosso amiguinho Una…

what is an infinite consciousness? Since consciousness supposes limitation, or rather since consciousness is consciousness of limitation, of distinction, does it not thereby exclude infinitude?”

eternal rope hurting our hands

May it not be that in the end all shall be saved, including Cain and Judas and Satan himself, as Origen’s development of the Pauline apocatastasis led him to hope?”

eternal punishment is a meaningless phrase.”

hell has been conceived as a sort of police institution, necessary in order to put fear into the world. And the worst of it is that it no longer intimidates, and therefore will have to be shut up.”

Franklin, who believed in another life, asserted that he was willing to live this life over again, the life that he had actually lived, <from its beginning to the end>; while Leopardi, who did not believe in another life, asserted that nobody would consent to live his life over again.”

What cruelty is there in denying to a man that which he did not or could not desire?”

a man mean mad

that the Christian, mystical, inward longing ever since St. Paul, has been to give human finality, or divine finality, to the Universe, to save human consciousness, and to save it by converting all humanity into a person. This longing is expressed in the anacefaleosis, the gathering together of all things, all things in earth and in heaven, the visible and the invisible, in Christ, and also in the apocatastasis, the return of all things to God, to consciousness, in order that God may be all in all. And does not God’s being all in all mean that all things shall acquire consciousness and that in this consciousness everything that has happened will come to life again, and that everything that has existed in time will be eternalized?”

P. 8488: Nice <agnostic> poetry: “And the soul, my soul at least, longs for something else, not absorption, not quietude, not peace, not appeasement, it longs ever to approach and never to arrive, it longs for a never-ending longing, for an eternal hope which is eternally renewed but never wholly fulfilled.”

Do not write upon the gate of heaven that sentence which Dante placed over the threshold of hell, _Lasciate ogni speranza!_ Do not destroy time! Our life is a hope which is continually converting itself into memory” “An eternal purgatory, then, rather than a heaven of glory”

Is there perhaps any greater joy than that of remembering misery in time of felicity? Does not the prison haunt the freed prisoner?”

Christianity, the only religion which we Euro[PEONS] of the 20th century are really capable of feeling, is, as Kierkegaard said, a desperate sortie (Afsluttende uvidenskabelig Efterskrift, ii., i., cap. i.), a sortie which can be successful only by means of the martyrdom of faith, which is, according to this same tragic thinker, the crucifixion of reason”

vamos [es]capar os hábeis!

Castrate Alves

treat all veins

if it be that nothingness is the fate that awaits us we must not so act that it shall be a just fate.” Senancour, Obermann

Ele está na base daquele vale buscando o conflito interior!

ansieDIEde, a doença do século. Morrer de esperar morrer sem ter o que fazer… dadieísmo

The man who does not really know why he acts as he does and not otherwise, feels the necessity of explaining to himself the motive of his action and so he forges a motive.”


heart composed with earth

earthly heartly in heaven

chantilly

bow splendidly


it is not faith that creates martyrs but martyrs who create faith.”

CARTILHA NEOLIBERAL:Act so that in your own judgement and in the judgement of others you may merit eternity, act so that you may become irreplaceable, act so that you may not merit death. Or perhaps thus: Act as if you were to die to-morrow, but to die in order to survive and be eternalized. The end of morality is to give personal, human finality to the Universe; to discover the finality that belongs to it—if indeed it has any finality—and to discover it by acting.”


All that has achieved existence deserves to be destroyed”

Denn alles was Ensteht ist wert doss es zugrunde geht”

— Mefistófeles


Mephistopheles asserts that everything that exists deserves to be destroyed, annihilated, but not that everything will be destroyed or annihilated”

Indeed, it is scarcely possible to form a clear idea as to what pessimism really is.”

The despair which finds a voice is a social mood”

The real despair writes no books”

Wir sind nicht auf der Welt, um glücklich zu sein, sondern um unsere Schuldigkeit zu tun” “Não estamos no mundo para sermos felizes, mas para cumprirmos nossas obrigações [para sermos ou nos sentirmos culpados, como a etimologia de Schuldigkeit mostrará]

The intellectual world is divided into two classes—dilettanti on the one hand, and pedants on the other.” Veja abaixo a retomada do assunto.

Our greatest endeavor must be to make ourselves irreplaceable” Unamuno passou tanto tempo ocupado criticando o Eterno Retorno que não percebeu que compactuava em tudo com ele. “And to act in such a way as to make our annihilation an injustice, in such a way as to make our brothers, our sons, and our brothers’ sons, and their sons’ sons, feel that we ought not to have died, is something that is within the reach of all.”

Ah, ela estava sofrendo muito. Tinha que ter morrido mesmo, foi um conforto para ela!” The Ant

he, because he was sinless, did not deserve to have died” Não sou um samba, mas vim só para deixar saudade…

#TÍTULO DE LIVRO? Enclísico, o último dos filósofos.

If we could but enter into the cloister and examine the religious vocation of those whom the self-interest of their parents had forced as children into a novice’s cell and who had suddenly awakened to the life of the world—if indeed they ever do awake!—or of those whom their own self-delusions had led into it!”

just as the Apostle exclaimed, <I am a Roman citizen!> each one of us, even the atheist, might exclaim <I am a Christian!>” “this demands the civilizing of Christianity, which was Luther’s task, although he himself eventually became the founder of a Church.”

This question of the proper vocation is possibly the gravest and most deep-seated of social problems, that which is at the root of all the others. That which is known par excellence as the social question is perhaps not so much a problem of the distribution of wealth, of the products of labour, as a problem of the distribution of avocations, of the modes of production.”

TESTE VOCACIONAL PARA A VIDA – E SE OSCAR NIEMEYER O FIZESSE AOS 101 ANOS E REPROVASSE?

the workman works with the consciousness, not of the uselessness merely, but of the social perversity, of his work, manufacturing the poison that will kill him” e eu nem sou farmacêutico!


THE BALDE

the ball of life is bad and bald

debalde


Fragmentos de uma metalinguagem (CAPES 7-1-2016 12:09): “And do you not know cases in which a man, justifying his action on the ground that the professional organism to which he belongs and in which he works is badly organized and does not function as it ought, will evade the strict performance of his duty on the pretext that he is thereby fulfilling a higher duty?” mas eu poderia estar almoçando, e estou aqui me sacrificando pelos meus entes queridos!

There is nothing worse than a loaded pistol which nobody uses left lying in some corner of the house; a child finds it, begins to play with it, and kills its own father.”

arranging the bed for the sake of arranging it – mother’s philosophy

getting milk for the sake of getting it

without a single crisis

when he is <dead to them,> not merely <dead>” venceu na vida

he (s)ought to live

meu barbeiro morreu” “meu escritor de cabeceira morreu” Pelé nunca deveria morrer etc.

Often the employer finds it almost impossible to dismiss an inefficient workman on account of his inefficiency, for his fellow-workers take his part. Their work, moreover, is often perfunctory [A Mosca Perfunctória & Outras Estórias], performed merely as a pretext for receiving a wage” Pagar o santo e oco pedágio de cada dia… o tempedágio – vamos despertar hoje porque a nota técnica não irá se fazer sozinha! Ou daqui a pouco… irá!

There is scarcely a single servant of the State who feels the religious bearing of his official and public duties.”

And how, in fact, would man have passed his time in Paradise if he had had no work to do in keeping it in order?”

QUANDO UNAMUNO VAI LONGE DEMAIS:there is much more humanity in war than in peace. (…) War is the school of fraternity and the bond of love; it is war that has brought peoples into touch with one another” “Human love knows no purer embrace, or one more fruitful in its consequences, than that between victor and vanquished on the battlefield. And even the purified hate that springs from war is fruitful. War is, in its strictest sense, the sanctification of homicide; Cain is redeemed as a leader of armies. And if Cain had not killed his brother Abel, perhaps he would have died by the hand of Abel.#PAZ “God revealed Himself above all in war; He began by being the God of battles” Tudo começa com Ares. “the State, the child of war.” “It was slavery that enabled Plato to speculate upon the ideal republic, [será?] and it was war that brought slavery about. Not without reason was Athena the goddess of war and of wisdom. But is there any need to repeat once again these obvious truths, which, though they have continually been forgotten, are continually rediscovered?

Rometa et Julieu

this repellent ethic of anarchic individualism: each one for himself.” Cada Robinson Crusoé na sua ilha.

true charity is a kind of invasion”

Whosoever loves thee dearly will make thee weep” Autor desconhecido

O amor que não mortifica não merece um nome tão divino” Tomé de Jesus

O fogo só queima porque a carne é combustível.

A cura para o sofrimento é sofrer mais. (…) Não fume ópio, mas ponha sal e vinagre na ferida da alma, porque quando você dorme e não mais sofre, você não mais é.” So Nietzschean! “Então, não feche os olhos para a agonizante Esfinge, mas olhe-a na cara e deixe-a agarrá-lo com a boca e mastigá-lo com suas centenas de milhares de dentes venenosos e engoli-lo. E quando ela o tiver engolido, você vai conhecer a doçura do gosto do sofrimento.” Not so…

As chorumelas do anti-nietzschiano nietzschiano: “Há o que pensar no fato de que a ética cristã já foi chamada uma ética de escravos. Por quem? Por anarquistas!”

Milton, o grande lutador, o grande puritano perturbador da paz espiritual, o trovador de Satã”

“They also serve who only stand and wait.”

O egotismo é o único remédio verdadeiro para o egoísmo, a avarícia espiritual, o vício de se preservar e reservar e não se esforçar para perenizar se dando e se doando.” O egotista é o egoísta religioso, verdadeiro devocionado, altruísta, indiferente a si, ao próprio corpo, melhor dizendo.

Dominicanos x quietistaspietism may be described as the irruption, or rather the persistence, of Catholic mysticism in the heart of Protestant rationalism.”

Cross his arms” em Inglês tem duplo sentido? Talvez três, quatro (revólveres).

<Esse mundo e o próximo são como duas esposas de um só marido—se ele agradar uma estará enciumando a outra>, disse um pensador árabe [tinha que ser!]

If I work without ceasing to the end, Nature is obliged (_so ist die Natur verpflichtet_) to provide me with another form of existence, since my actual spirit can bear no more.”

Goethe

May not the contemplative, medieval, monastic ideal be aesthetical, and not religious nor even ethical?”

a Companhia de Jesus, uma milícia com o mundo como seu campo de operações”

É curioso que monges e anarquistas devam estar em inimizade uns com os outros, quando fundamentalmente eles compartilham a mesma ética e estão aparentados por estreitos nós de companheirismo.” Ainda não entendi qual é a birra de Unamuno com os anarcos.

Kantism is Protestant, and we Spaniards are fundamentally Catholic.” Foda-se.

The people abhors comedy. When Pilate—the type of the refined gentleman, the superior person, the aesthete, the rationalist if you like—proposes to give the people comedy and mockingly presents Christ to them, saying, <Behold the man!> the people mutinies and shouts <Crucify him! Crucify him!> (…) And that which Dante, the great Catholic, called the Divine Comedy, is the most tragical tragedy that has ever been written.”

Participem do homem

And there is one figure, a comically tragic figure, a figure in which is revealed all that is profoundly tragic in the human comedy, the figure of Our Lord Don Quixote, the Spanish Christ”

Uma voz clamando no deserto!”—autodefinição de Isaías, 40:3.


UNAMUNO & SALAMANCA [curiosa sintonia profissional]

E, portanto, eu clamo com a voz de alguém que clama no deserto, e eu emito meu grito desta Universidade de Salamanca, uma Universidade que arrogantemente se estilizou <omnium scientiarum princeps> [“a melhor no ensino da ciência”, lema, até hoje, da instituição], a qual Carlyle chamou de baluarte da ignorância e a qual um letrado francês batizou recentemente de Universidade fantasma; eu grito alto desde essa Espanha—<a terra dos sonhos que se tornam realidades, a muralha da Europa, o lar do ideal cavalheiresco,> para citar uma carta que o poeta americano Archer M. Huntington me enviou outro dia—desde essa Espanha que foi a cabeça e a testa da Contra-Reforma no século XVI. E eles a recompensam muito bem por isso!”


And the famous maladie du siècle, which announced itself in Rousseau and was exhibited more plainly in Sénancour’s Obermann than in any other character, neither was nor is anything else but the loss of faith in the immortality of the soul, in the human finality of the Universe.”

immortality in mortality

And in Marlowe’s [primeiro autor a reintroduzir o mito na Europa moderna] Faust there is a scene that is worth the whole of the second part of the Faust of Goethe.”

all is dross [refugo; rebotalho] that is not Helen [personificação da Cultura, para Unamuno].”

Give me my soul again!–(…) For the primitive Faust has no ingenuous Margaret to save him. This idea of his salvation was the invention of Goethe”

invãção, a vã invenção; em vista da invasão.

devastação das flores devagarinho chegando e brotando

This Faust has studied Philosophy, Jurisprudence, Medicine, and even Theology, only to find that we can know nothing” “Mephistopheles, ever willing evil, ever achieves good in its own despite.” “Margaret, child of the simple-hearted people” “redeemed” “and everything ends among mystical choruses with the discovery of the eternal feminine. Poor Euphorion!”

And this Helen is the spouse of the fair Menelaus, the Helen whom Paris bore away, who was the cause of the war of Troy, and of whom the ancient Trojans said that no one should be incensed because men fought for a woman who bore so terrible a likeness to the immortal gods.” “For Helen with her kisses takes away our soul.” Um homem sem mulher é Eterno. Eu sou mortal.

Europe! This idea of Europe, primarily and immediately of geographical significance, has been converted for us by some magical process into a kind of metaphysical category.” “All this is due to the Renaissance and the Reformation, and to what was the offspring of these two, the Revolution, and to them we owe also a new Inquisition, that of science or culture, which turns against those who refuse to submit to its orthodoxy the weapons of ridicule and contempt.”

o moinho maldito não se mexe, meus miolos na testa sim.

Dentre o povo espanhol existe uma resposta singular para a costumária interrogação, <Como vai você?> e ela é <Vivendo.>” “Entre nós espanhóis outra frase ganhou rapidamente uso corrente, a expressão <É uma questão de (deixar) passar o tempo,> ou <matar o tempo.>” “pulamos da arte para a religião”


(INS)PIRADO

o tempo mata e morre

a qualquer tempo

o tempo todo

inter mi tente ser outra coisa que

não.

isso.

aqui.


A imensurável beleza da vida é uma coisa muito interessante sobre o que se escrever”

Para eles sua ciência, com a qual poderemos lucrar; para nós, nosso próprio trabalho.”

Foi ao se fazer ridículo que Dom Quixote atingiu sua imortalidade.” rindo do meu ânus espanhol

hoje, quando uma parcela dos desprivilegiados de massa cinzenta diz que nunca tivemos ciência, arte, filosofia, Renascença (disso tivemos talvez demasiado), nem nada, esses mesmos críticos sendo uns ignorantes de nossa real história, uma história que ainda está para ser escrita, a primeira tarefa sendo desfazer a teia de caluniação e revolta tecida ao redor dela.”

a Itália testemunhou uma união desnaturada e nefária entre Cristandade e Paganismo, isto é, entre imortalismo e mortalismo, uma união com a qual mesmo alguns dos Papas consentiram em suas almas”


Sempre haverá cross-overs existenciais… e pureza de estilo nisso

SS de sobrevivência secular

o ponto zero da vivissitura

Tudo está errado em Tessalônica

teça uma resposta finalmente

não-faraônica


Um livro escrito nas três primeiras décadas do séc. XX não pode estar livre do vírus chamado Nacionalismo: “Deixemos de lado os oito séculos em que a Espanha guerreou contra os Mouros, durante os quais defendeu a Europa do Maometismo, seu trabalho de unificação interna, sua descoberta da América e das Índias—porque foi a conquista de Espanha e Portugal, e não de Colombo e Vasco da Gama—deixemos tudo isso de parte, e mais que isso, a um lado, e não é pouca coisa.”

e no fim de tudo, a raça humana vai sucumbir exausta aos pés de uma pilha de bibliotecas, museus, máquinas, laboratórios …”

A fúria do Fascismo já brilha em seus olhos, em seu perfume de palavras, em sua peninha… Tão pequena, ah, ele não tem pena!…

Quase todos nós espanhóis recaímos no modo ridículo da literatura, alguns mais outros menos.” Quixotesco e bom, aparentemente!

Mama, eu vou conquistar a África!

O Dom Quixote como o Ramo de Ouro de toda uma etnia…

a segunda metade do século XIX, um período afilosófico, positivista, tecnicista, devotado à história pura e às ciências naturais, um período essencialmente materialista e pessimista.”

Mas é possível filosofar [não em Alemão mas] em álgebra aplicada ou mesmo em Esperanto?” All philosophy is, therefore, at bottom philology.” É, faz sentido (o filólogo mais precoce foi também o maior filósofo). Já li coisas mais extremadas neste grande livro-ensaio…

History is not mathematics, neither is philosophy. And how many philosophical ideas are not strictly owing to something akin to rhyme, to the necessity of rightly placing a consonant! In Kant himself there is a great deal of this, of aesthetic symmetry

and race, the blood of the spirit, is language” Eu sou doador universal

Love does not discover that it is love until it speaks, until it says, I love thee!” Verdade, sempre verdade. Ah, os poetas! Ah, nós, ah, eu… Nunca o “eles” nem o “vós”… O perigo de verbalizar TUDO. Eu tenho o emprego dos sonhos.

The real and concrete truth is: homo sum, ergo cogito.”

At bottom, philosophy abhors Christianity, and well did the gentle Marcus Aurelius prove it.” At bottom, all things could be all things, you see…

And the comic, the irrational tragedy is the tragedy of suffering caused by ridicule and contempt.” “The greatest height of heroism to which an individual, like a people, can attain is to know how to face ridicule; better still, to know how to make oneself ridiculous and not to shrink from the ridicule.”

we twin-brothers of the Atlantic seaboard have always been distinguished by a certain pedantry of feeling”

The religious is the transcendental economic or hedonic. (…) And with an insight that amounts to genius our Jesuits speak of the grand business of our salvation.”

the only reactionaries are those who find themselves at home in the present. Every supposed restoration of the past is a creation of the future, and if the past which it is sought to restore is a dream, something imperfectly known, so much the better. (…) he who marches is getting there, even though he march walking backwards.

St. Teresa is worth any institutions, any Critique of Pure Reason.”

How is it that among the words that English has borrowed from our language, such as siesta, camarilla, guerrilla, there is to be found this word desperdo?”

Spero quia absurdum, it ought to have been said, rather than credo.”

He fought for Dulcinea, and he won her, for he lives.”

Peace of mind, thanks to the providence of God, is no longer possible.”

In this world a man of culture is either a dilettante or a pedant: you have to take your choice.” op. cit.

A filosofia de Bergson foi chamada de uma filosofia semi-mundana.” “E ele afunda no desespero do século crítico cujas duas grandes vítimas foram Nietzsche e Tolstoi.”

Dom Quixote me lembra Carlos Gomes. Nada de Kafka!

To cry aloud, to cry aloud in the wilderness. (…) And may God deny you peace, but give you glory!

SALAMANCA, In the year of grace 1912.”

DIÁRIO DE UM SEDUTOR

A sua vida era demasiado intelectual para que ele pudesse ser um sedutor, no sentido vulgar do termo, embora por vezes se revestisse de um corpo parastático [pilastras das quinas dos templos; de caráter ornamental] e fosse então, todo ele, sensualidade pura.”

Para ele, os indivíduo nunca foram senão estímulos, e lançava-os para longe de si do mesmo modo que as árvores deixam tombar as folhas – ele rejuvenescia, enquanto morria a folhagem.”

É revoltante que um homem indique mal a estrada a um viajante que ignora o caminho a percorrer, e o abandone em seguida, sozinho no engano. Mas não será mais revoltante ainda levar alguém a perder-se em si próprio?”

Nada consigo imaginar de mais penoso que um intrigante cujo fio de intrigas se quebra, e volta então, contra si próprio, toda a sua sagacidade, porque nesse momento a sua consciência acorda e logo ele tenta libertar-se das confusas malhas em que se enredou.”

apenas se é tímido na medida em que se é visto, mas só se é visto na medida em que se vê”

Já admirei o pequenino pé, como sou naturalista, aprendi com Cuvier a tirar daí as mais seguras conclusões. (…) Já reparei que as jovens com pés pequenos sabem geralmente manter melhor o equilíbrio que aquelas cujos pés são maiores, largos como os do andarilho. Quem o poderia pensar?”

ah, sim! quando se tem 17 anos, quando, nessa idade feliz, se sai a fazer compras, quando se encontra um indizível prazer em cada um dos objetos, grandes ou pequenos, que a mão encontra, nessa idade o esquecimento é fácil.”

Temos 16 anos, já lemos muito, muitos romances entenda-se”

Quem poderá penetrar os desígnios do homem, mesmo quando ele vai simplesmente a uma Exposição?”

Em geral, os apaixonados consideram um encontro como o mais belo dos instantes. Contudo, esta opinião comporta muitas ilusões. Fui testemunha de várias entrevistas em que, embora a rapariga fosse encantadora e o mancebo belo, a impressão de conjunto era quase repulsiva.”

Sinto-me por vezes vexado ao ver um homem em semelhante circunstância, de tal modo perturbado que, por puro amor, é tomado de delirium tremens.”

Melhor será, sem dúvida, abordá-la, agora que, pela 5ª vez, ela passa à minha frente.”

Não ficareis aqui mais de uma hora, creio; dentro de duas horas saberei quem sois, pois para que outro fim julgais que a polícia mantém fichas de recenseamento?”

Refrear-se é uma condição capital em qualquer prazer.”

quanto mais uma pessoa se esconde, tanto mais se torna desagradável ser surpreendida.”

Espalhava-se sobre ela uma melancolia, semelhante ao arrulhar do pombo, um profundo desejo sem objeto.”

Neste sentido, uma jovem não se desenvolve como um rapaz, ela não cresce, nasce. Um rapaz começa imediatamente a desenvolver-se, o que demora muito tempo; uma donzela nasce durante muito tempo e nasce mulher feita, mas o instante desse nascimento chega tarde. Não foi apenas Minerva que brotou, acabada e perfeita, do cérebro de Júpiter; não foi apenas Vênus que, em todo o seu encanto, saiu das ondas do mar; toda donzela, cuja feminilidade não foi ainda corrompida por aquilo a que se chama desenvolvimento, é também assim.”

É difícil dizer o que é mais belo, fácil dizer o que é mais interessante.”

Quanto mais a olho mais me convenço de que ela é uma figura isolada. Eis o que um homem não deve ser, nem mesmo quando mancebo”

Um livro para ler em goladas curtas e ficar gozando…

Muito diferente é tudo aquilo a que, impropriamente, se chama também coquetismo e que provém da própria natureza; por exemplo o pudor feminino, sempre o mais belo dos coquetismos.”

Muitas vezes perguntei a mim próprio por que não haverá nada mais funesto para uma rapariga que conviver muito com outras raparigas.”

O destino mais profundo da mulher é ser companheira do homem, mas o convívio com o seu próprio sexo facilmente provocará a este respeito uma reflexão que faz dela uma dama de companhia em vez de uma companheira.”

através da música, se encontra sempre um cômodo meio de comunicação com uma jovem, desde que, como é óbvio, não se tenha a imprudência de tomar atitudes de entendido.

mas, ao fim e ao cabo, que podem os romances ensinar-nos acerca do amor? Apenas mentiras que ajudam a passar o tempo.”

não pertence à classe das virgens teoricamente experientes, para as quais, muito antes do tempo, é tão geläufig [comum] imaginarem-se nos braços de um marido.”

É muito difícil fazer uso do embaraço, mas pode-se ganhar muito com ele.”

As raparigas falam geralmente com muito desdém dos homens embaraçados mas, secretamente, gostam bastante deles. Um toque de embaraço lisonjeia a vaidade de uma jovem, fá-la sentir a sua superioridade, é como um brinde que se lhe concede.”

O embaraço priva os homens do seu caráter masculino, e é por isso que serve relativamente bem para equilibrar os sexos, e, por conseqüência, as mulheres sentem-se humilhadas ao compreenderem que se tratava apenas de um disfarce, coram de si próprias, e compreendem então muito bem que, de certo modo, ultrapassaram os seus limites; é como quando continuam, durante muito tempo, a tratar um rapaz como se ele fosse ainda uma criança.”

Na verdade as minhas relações com ela não se assemelham a coisa alguma; são de natureza espiritual, o que naturalmente é, para uma jovem, coisa alguma.”

Que força rejuvenescedora a de uma rapariga; nem a frescura do ar matinal ou a maresia, nem o sopro do vento, nem o perfume do vinho ou o seu sabor – nada, em todo o mundo, possui uma tal força rejuvenescente.”

Outros serão virtuosos durante o dia e pecadores à noite; eu sou pura dissimulação de dia, e à noite, apenas desejos. Ah! se ela pudesse penetrar na minha alma – se!”

A tia vê o relâmpago mas nada ouve, Cordélia ouve a voz mas nada vê.”

Sim, não se pode negar que é uma forma infeliz de passar a vida, passar com o futuro cunhado de braço dado. Para uma jovem isto representa pouco mais ou menos o mesmo que significa para um homem o lugar de ajudante de escritório… Mas, pelo menos, o ajudante de escritório pode avançar”

Psicoligo os pontos

Minhoca na cabeça dos outros é refresco.

Dia ensolarado não tem cheiro.

Primavera – a estação + maligna

só se está apaixonado uma vez, não é assim? Mas o deus do amor é cego e, sendo-se suficientemente astuto, é possível enganá-lo.”

pode-se estar apaixonado de muitas ao mesmo tempo; porque as amamos de diferentes maneiras.”

É como se fosse meu irmão, meu filho e, no entanto, é um amigo, um jovem da minha idade, é um rival.”

Seduzir uma jovem significa para a maior parte das pessoas: seduzir uma jovem, e está tudo dito; e, no entanto, toda uma linguagem se oculta neste pensamento.”

O meu riso e a excentricidade neutralizam qualquer manifestação erótica. Ela é bastante livre comigo e, quanto à reserva, é mais intelectual que feminina.”

tem por mim um interesse no sentido puramente grego.”

Não me vou tornando, como Jeová, cada vez mais visível graças à voz, mas sim cada vez menos, pois quanto mais falo mais me elevo.”

Há várias espécies de rubor feminino. Há a vermelhidão grosseira, cor de tijolo. Desta se servem, com grande freqüência, os autores de romances quando fazem corar as suas heroínas über und über. E depois há o rubor delicado; este é a aurora matinal do espírito que, numa jovem, adquire inapreciável valor. A vermelhidão furtiva, resultante de uma idéia feliz, é bela no homem, mais bela ainda no adolescente, encantadora na mulher. É o clarão de tempestade, o relâmpago do calor do espírito. É o mais belo no adolescente, encantador na donzela porque se mostra na sua virgindade, e por isso tem também o pudor da surpresa. Quanto mais se envelhece, tanto mais desaparece tal rubor.”

apontei-lhe que um meio muito útil para estreitar relações com uma jovem consiste em emprestar-lhe livros.”

Posso dar a Eduardo qualquer livro que me agrade, dado que ele nada entende de literatura.”

Os olhos cerram-se e é à noite; mas nela é dia claro. É necessário que Eduardo desapareça. Chegou já aos últimos limites. temo a cada instante que lhe vá fazer uma declaração de amor.”

As minhas relações com Cordélia começam a tomar um aspecto dramático. Aconteça o que acontecer, não poderei manter-me durante muito tempo como simples expectador, sob pena de deixar escapar-se o instante decisivo.”

Riu-se-me na cara. Mas a paciência é uma preciosa virtude e o último a rir é quem ri melhor.”

Não gosto da vertigem, e tal estado só é recomendável quando nos achamos perante jovens que, de outro modo, não poderiam alcançar um reflexo poético.”

O MAIOR DILEMA DO HOMEM E DA HUMANIDADE:Quanto aos esponsais, o diabo é haver neles sempre tanta ética, o que é tão enfadonho quando se trata de ciência como quando se trata da vida. Que espantosa diferença! Sob o céu da estética tudo é leve, belo, fugidio, mas assim que a ética se mete no assunto tudo se torna duro, anguloso, infinitamente fatigante.”

Aquele que não sabe fazer o cerco a uma donzela até que ela perca tudo o mais de vista, aquele que não sabe, à medida do seu desejo, fazer acreditar a essa donzela que ela é quem toma todas as iniciativas, esse homem é e será sempre um desajeitado

Eu sou um esteta, um erótico, que apreendeu a natureza do amor, a sua essência, que crê no amor e o conhece a fundo”

o supremo prazer imaginável é ser amado, ser amado acima de tudo.”

Eu seria então tio de Cordélia. Sou a favor da liberdade de pensamento e não há idéia, por mais absurda, que eu não tenha a coragem de encarar. Cordélia teme uma declaração de amor de Eduardo, mas este espera que uma tal declaração virá a decidir tudo.”

Ficará louca de alegria por ter um genro tão agronômico. Genro! Como tudo fica unido como os dedos da mão quando nos arriscamos sobre este terreno. No fundo não serei seu genro, mas apenas seu sobrinho, ou antes, volente Deo (se Deus quiser), nem uma coisa nem outra.”

se um trocista tão frio como eu se pode apaixonar, também ela o poderia fazer sem ter que corar por isso”

minha arte reside em utilizar anfibologias para que compreendam num sentido e se apercebam subitamente de que as minhas palavras podem ser entendidas também de outro modo.”

como se fosse mais natural para o coração exprimir-se por escrito que de viva voz.”

Já fiz, na minha vida, muitas declarações de amor e, no entanto, toda a minha experiência me é absolutamente inútil neste caso”

Oh! Natureza maravilhosa, profunda e enigmática, é certo que dás a palavra aos homens, mas às jovens oferece a eloquência do beijo!”

A rapariga não sabe se deve dizer sim ou não; a tia dirá sim, ela dirá sim também, eu fico com ela, ela comigo – e a história poderá começar.”

De entre todas as coisas ridículas, é o noivado que tem o primeiro lugar.” “O casamento tem, pelo menos, um sentido” “O noivado é uma invenção puramente humana e não traz honra a quem o inventou. Não é nem carne nem peixe”

apenas aquele que é artista adquire o direito de julgar os outros artistas.”

Eduardo está fora de si, exasperado.”

O pensamento da minha alegria futura sufoca-me de tal modo que quase perco o domínio sobre mim próprio.”

Porque uma jovem ama apenas uma vez.”

O combate inclui apertos de mão, toques de pé, que Ovídio, como se sabe, recomenda e desaconselha ao mesmo tempo com um profundo ciúme, isto para já não falar de beijos e abraços.”

Um sem-fim de coisas depende da posição, isto é, para aquele que compreende.”

Que sorte habitar em casa de meu tio. Para fazer perder a um mancebo o gosto pelo tabaco, levá-lo-ia a qualquer sala de fumo de Regensen”

Na verdade, todas as jovens que aceitam confiar-se a mim podem estar certas de um tratamento perfeitamente estético; apenas no fim, bem entendido, serão enganadas”

Seria assaz interessante conseguir de um qualquer rato de biblioteca que ele contasse nas fábulas, nas lendas, nas canções populares, nas mitologias, se uma jovem é mais vezes infiel que um homem.”

Se tenho uma tia que se chama Mariana, um tio que atende pelo nome de Cristóvão, um pai que é comandante de batalhão, etc., todas estas questões de notoriedade pública nada têm a ver com os mistérios do amor.”

Não pertenço exatamente ao número desses amantes que se amam por estima, casam por estima e, por estima, têm filhos”

A minha precaução lisonjeou o seu orgulho”

Está embaraçado, e as pessoas embaraçadas gostam de tagarelar.”

A jovem é deliciosa e dá prazer aos olhos; mas é nova ainda e os seus conhecimentos não estarão talvez amadurecidos.”

Então, quando se sentir livre, tão livre que chegará quase à tentação de romper comigo, começará a segunda guerra.”

Amo Cordélia? Sim! Sinceramente? Sim! Felizmente? Sim! –“

um homem só está acabado quando atinge a idade em que nada pode aprender com uma donzela.”

a natureza feminina é um abandono sob a forma de resistência.”

Um artista pinta a sua bem-amada, e aí encontra o seu prazer” “Ela não sabe que eu possuo este retrato e, no fundo, é nisso que consiste o meu crime.”

É bastante aborrecido, pois quando se quer, como homem galante, emocionar damas, nunca se deve cair. É necessário dar atenção a essas coisas quando pretendemos ser homens mundanos, mas são indiferentes se nos apresentamos simplesmente como uma figura intelectual; porque então mergulhamos em nós próprios, desmoronamo-nos e, ainda que chegássemos a cair realmente, ninguém se admiraria.”

Nunca poderá sentir vertigem espiritual aquele que apenas pensa numa coisa, e eu penso em ti”

Não é só nas comédias, mas também na vida real, que é difícil vigiar uma jovem; é necessário ter tantos olhos como dedos.”

Quanto maior é o caminho já percorrido pelo erotismo, tanto mais curtas as cartas se tornam”

a maior parte das pessoas é limitada; não conseguem recordar o que está demasiado próximo delas no tempo, nem o que está demasiado longe.”

existe uma jovem mais orgulhosa do que o vôo da águia”

Naturalmente, não me preparo para estes diálogos, o que seria contrário ao caráter próprio de uma conversa, sobretudo quando esta é erótica.”

Toda rapariga é, em relação ao labirinto do seu coração, uma Ariana, segurando o fio graças ao qual é possível sair dele, mas de que ela própria se não sabe servir.”

Bem sabes como gosto de falar comigo próprio. Encontrei em mim o ser mais interessante que conheço. Poderei ter algumas vezes temido a ausência de assunto para estes diálogos, mas isso acabou agora que te tenho.”

Ai de mim! Pois eu não passo de um homem interessante, enquanto tu és o mais interessante dos assuntos.”

Trais, como uma bailarina, a beleza das tuas formas – a cintura delgada, o peito largo, uma estatura florescente, eis o que apontaria qualquer encarregado de recrutamento. Pensas talvez que isso nada vale e as grandes senhoras são muito mais belas; ai de nós, criança! Não conheces toda a falsidade do mundo.”

não conseguirás emocionar-me, não serei arrastado pelo desejo, estou calmamente sentado na balaustrada da ponte e fumo o meu charuto.”

o teu leve passo quase chamae eu ardo

Repara, o próprio céu te favorece, esconde-se por trás das nuvens, enche de sombras o espaço para lá da floresta, é como se fechasse as cortinas diante de nós.”

flavorece que não conheço

Estou apaixonado por mim próprio – por quê? porque estou apaixonado por ti; o que aos olhares profanos do mundo é a expressão da mais prosaica consideração pessoal é aos teus olhos santificados a expressão do mais entusiástico aniquilamento de si próprio.”

Quando se ama não se segue pelas estradas largas. Apenas o casamento se encontra no meio da estrada real.”

Ah! sim, uma árvore é exatamente a testemunha que convém, mas é demasiado pouco.”

Sou Diógnes Chavético, e você é meu barril! – que situação!

Oh! estarás tu fatigada de escutar esta voz?”

Lê-se nos velhos contos que um rio se enamorou de uma jovem.”

paysan païen

Que me selem o meu cavalo, seguir-vos-ei.”

e não vos passe sequer pelo pensamento que eu seja capaz de atentar contra uma rapariga de surpresa.”

ride um pouco e pensai um bocadinho em mim. Nada mais peço. Acharão que é pouco, mas este pouco me basta. É um início, e eu sou forte sobretudo nas noções preliminares.”

Não há dúvida de que o amor possui a sua dialética própria. Em tempos, houve uma jovem por quem me apaixonei. No verão passado vi, no teatro de Dresde, uma atriz que se lhe assemelhava extraordinariamente. Por esta razão desejei conhecê-la e consegui-o, mas convenci-me então de que a dissemelhança era bastante grande. Hoje, encontrei na rua uma senhora que me fez lembrar a tal atriz. Esta história pode continuar até o infinito.”

Ela sorri-me, cumprimenta-me, acena-me, como se fosse minha irmã. Um só olhar lhe recorda que é a minha bem-amada. O amor tem muitas posições.”

Beija-me com prolixidade, como a nuvem da Transfiguração, livre como uma brisa, tão suavemente como quando se pega numa flor”

O que lhe dou a ler é, na minha opinião, o melhor alimento: a mitologia e os contos.”

Aliás, os homens que não apreciam as criadinhas perdem com isso mais que elas.” “Se eu fosse rei – bem sabia o que havia de fazer –, não seria com tropas de infantaria que faria as minhas paradas. Se eu fosse um dos nossos trinta e dois vereadores, pediria imediatamente a instituição de uma junta de saúde pública que, pelos seus conhecimentos na matéria, pelos seus conselhos e exortações, e graças a recompensas apropriadas, procuraria de todos os modos encorajar as criadinhas a adotar vestuários de bom gosto e bem-cuidados.” “Uma criada não deve ter o ar de uma dama, como muito bem o diz O Amigo da Polícia”

só porque se foi infeliz nos amores, não há razão para se ser indiferente para cornos dos outros…”

Disse um velho filósofo que se anotarmos exatamente aquilo que sucede na nossa vida, nos tornaremos, sem darmos por isso, filósofos.”

Um beijo completo requer que sejam uma jovem e um homem a agir. Um beijo entre homens é de mau gosto ou, o que é pior, tem um sabor desagradável. [será que Kierkegaard experimentou?] — Penso também que um beijo está mais próximo da sua idéia quando é o homem a dá-lo à jovem, do que inversamente.” Ah, os preconceitos epocais!

Se a diferença de idades é muito grande, nenhuma idéia poderá justificar o beijo. Recordo uma escola feminina de província, onde as raparigas da última classe tinham, na sua terminologia, a expressão: Beijar o Senhor Conselheiro, expressão que, nos seus espíritos, se ligava a uma idéia mais que desagradável.”

Quando um irmão beija a sua irmã, o beijo não é um verdadeiro beijo, tal como o não é um beijo de acaso no jogo das prendas, ou um beijo roubado. Um beijo é um ato simbólico, que nada significa se não existe o sentimento que o deve originar, e este sentimento apenas existe em circunstâncias determinadas.”

O beijo é umas vezes ruidoso como um estalido, outras vezes sibilante; há beijos que estalam e beijos que ribombam; ora é cavo [profundo], ora maciço, ora roçagante como tecido, etc.”

o primeiro beijo é qualitativamente diferente de todos os outros. Há muito poucas pessoas que tenham refletido sobre este assunto”

Quão grande era realmente o saber de Platão sobre o erotismo!”

Para o amor tudo é imagem e, em contrapartida, a imagem é realidade.”

As situações eróticas são sempre plásticas ou pictóricas; mas se dois amantes falam, juntos, do seu afeto, isto não é plástico nem pictórico.” “basta, a tornar-se necessário falar, que apenas um o faça. É o homem quem deve falar e, conseqüentemente, possuir algumas das virtudes do cinto de que Vênus se servia para enfeitiçar” “Compreendamo-nos; posso muito bem cansar-me de uma jovem em particular, mas nunca de conversar com uma jovem.”

Minha Cordélia!

Será o abraço uma luta?

Teu Johannes”

Tem ela uma natureza feminina demasiado profunda para nos fatigar com hiatos, essa figura de retórica característica sobretudo das mulheres, e que se torna inevitável quando o homem, que deve fornecer a consoante de apoio precedente ou seguinte, é também de natureza feminina.“

Sobre o rompimento de esponsais, todas as rapariguinhas são grandes casuístas“embora nas escolas não exista um curso para esta matéria, sabem todas perfeitamente em que casos esse rompimento se deve efetuar.”

Enquanto assim nos divertíamos nas leves regiões da conversação, um perigo se mantinha adormecido e uma só palavra teria bastado para lançar aquelas gentis raparigas num terrível embaraço.” “manteve-se sempre reprimido, exatamente como Xeerazade protela a sentença de morte, continuando a contar as suas histórias.”

Há uma observação que já ontem devia ter feito; mas só me lembrei dela depois de ter saído!”

como se não fosse o temor que torna o amor interessante. Que é afinal o nosso amor pela natureza? Não existirá nele um misterioso fundo de angústia e horror?”

as fatais seduções do seio”

o amor só adquire a sua real importância quando nenhum estranho o suspeita”

em amor, o princípio da antiguidade não conta para aumentos e promoções.”

um batalhão daquelas que foram iludidas completamente, semi ou ¾.” “Aceito o seu ódio como uma gratificação suplementar.”

Apercebo-me, ai de mim, que eu próprio trago o sinal denunciador que Horácio deseja para todas as donzelas infiéis: um dente negro e, para cúmulo, incisivo. Quão supersticioso se pode ser! Este dente perturba-me bastante, desagrada-me que aludam a ele” “Faço, em vão, todo o possível para o embranquecer” “Penso em mandá-lo arrancar, mas isso poderia alterar a minha voz e o seu poder.”

O casamento será sempre uma instituição respeitável, apesar do enfado de desfrutar, logo nos primeiros dias da juventude, uma parte da respeitabilidade que é apanágio da velhice. Pelo contrário, os noivados são uma invenção verdadeiramente humana e, conseqüentemente, de tal modo importante e ridícula que uma jovem, no turbilhonar da sua paixão, vai mais além, continuando a ter consciência dessa importância e sentindo a energia da sua alma circular por todo o seu ser como um sangue superior.”

A mulher, eternamente rica de dons naturais, é uma fonte inesgotável para os meus pensamentos (…) Aquele que não sente a necessidade deste gênero de estudos poderá orgulhar-se de ser, neste mundo, tudo que quiser, à exceção de uma coisa: não é um esteta.

Os crentes – esses bons muçulmanos – ficariam decepcionados quando, no seu Paraíso, abraçassem sombras pálidas e privadas de força (…) desesperariam ao encontrarem apenas lábios pálidos, olhos mortiços, colos insensíveis e apertos de mão sem convicção”

a experiência é uma estranha personagem pois apresenta a particularidade de ser sempre por, sendo também contra.”

É o que explica também que Deus, ao criar Eva, tenha lançado sobre Adão um sono profundo; pois a mulher é o sonho do homem.”

a mulher, em estado de inocência, é invisível. Aliás, não havia, como se sabe, imagem de Vesta, a deusa que representa, note-se, a verdadeira virgindade. Pois tal existência é esteticamente ciumenta de si própria, tal como Jeová o era esteticamente, e não quer que exista uma sua imagem” “Esta existência da mulher (existência é já demasiado, pois ela não existe ex si própria) é corretamente expressa pela palavra: graça, que recorda a vida vegetativa” “só esteticamente é livre. Num sentido mais profundo, apenas se torna livre através do homem” “É certo que a mulher escolhe, mas, se a sua escolha fosse o resultado de longas reflexões, não seria feminina. E é por isso que é desonroso não ser aceite, porque o homem em questão se sobrestimou, quis libertar uma mulher sem ser capaz de o fazer.”

A feminilidade assume então o caráter da crueldade abstrata, que é o cúmulo caricatural do verdadeiro recato virginal. Um homem nunca poderá ser tão cruel como uma mulher. Se os consultarmos, os mitos, os contos e as lendas o confirmarão.” “Um Barba-Azul mata, na própria noite de núpcias, todas as jovens que amou, mas não tem prazer em matá-las (…) não é uma crueldade pela crueldade.”

O entendimento perfeito criado no instante não é coisa fácil, e aquele que o não alcança terá, naturalmente, de arrastar com ele, durante toda a vida, esse dissabor. O instante é tudo e, no instante, a mulher é tudo — mas as conseqüências ultrapassam a minha inteligência. Entre outras, também a de ter filhos. Enfim, julgo-me um pensador assaz lógico mas, mesmo louco, não seria homem para pensar nessa conseqüência, de modo algum a entendo, para isso é necessário um marido.”

horrenda refero (relato coisas horríveis)”

Uma melancolia que se desenha como uma nuvem enganadora sobre a força viril faz parte do encanto masculino, e, na mulher, encontra paralelo num certo humor sombrio.”

preferiria fazer três guerras a dar à luz uma só vez.”

Eurípides

A minha boa Diana, ao que parece, possui, de uma ou de outra maneira, certos conhecimentos que a tornam muito menos ingênua que a própria Vênus.”

Com Cordélia, terei sido constantemente fiel ao meu pacto? Isto é, ao meu pacto com a estética, pois é o fato de ter sempre a idéia do meu lado que me dá força. É este um segredo como o dos cabelos de Sansão, que nenhuma Dalila conseguirá arrancar-me.”

Se a nossa ligação houvesse sido secreta, apenas teria sido interessante na primeira potência. Mas aqui trata-se do que é interessante na segunda potência, e é isso que constitui, para ela, primordialmente, o interessante.”

Mas ela não voa para longe de mim. Voa pois, bela ave, voa”

A primavera é sem dúvida a mais bela época do ano para se ficar apaixonado [De novo, 11 anos depois] – e o fim do verão a mais bela para alcançar a finalidade dos desejos.”

Quando andava à caça, Alfeu enamorou-se da ninfa Aretusa.”

Nada se pode imaginar de menos erótico do que essas tagarelices sobre o futuro”

o amor ama um recinto fechado”

a oferta de uma obra verdadeiramente poética a uma jovem é sempre uma injúria

Amparando-nos um ao outro somos fortes, mais fortes que o mundo, mais fortes que os próprios deuses.”

Tudo dorme em paz, salvo o amor.”

accipio omen (aceito o agouro)!”

você é o meu agouro de ouro

em tonalidades púrpura-sombrias

Tudo é imagem, sou o meu próprio mito.”

A sua evolução é obra minha – em breve colherei a recompensa. – Quanto não acumulei para este único instante que se anuncia?”

a inocência é, no homem, um elemento negativo, mas na mulher é a essência da sua natureza.” “ela está desflorada e não estamos já no tempo em que o desgosto de uma jovem abandonada a transformava num heliotrópio [criatura iluminada; alusão ao reino vegetal, mas ao mesmo tempo despido de passividade].” “nada me repugna mais que lágrimas e súplicas de mulher que tudo desfiguram e, contudo, a nada conduzem.” “Se eu fosse um deus faria aquilo que Netuno fez por uma ninfa, transformá-la-ia em homem.”

Sua paixão predominante /

é a jovem debutante”

Mozart, Don Giovanni

FILHO OU PNIN – programa nacional de incentivo a nada em particular

20/11/15 a 12/01/16

Nabokov – trad. Pinheiro de Lemos

P. 11: “Deve-se particularmente acentuar que Pnin não encarnava absolutamente o tipo bem-humorado e comum dos alemães no século passado, der zerstreute Professor (o professor distraído).”

Pnin era desajeitado com as mãos de modo bem raro. Entretanto, como podia fabricar num abrir e fechar de olhos uma gaita monocórdica com uma casca de vagem, fazer uma pedra chata tocar 10x a superfície de um lago e fazer com os dedos das mãos a sombra chinesa de um coelho (sem faltar sequer os olhos que piscavam) e executar alguns outros fáceis truques que todos os russos sabem com as mãos nas costas, julgava-se dotado de grande habilidade manual e mecânica.”

Tinha verdadeira admiração pelo fecho-éclair.” [!] Tu iluminas como eu ilumino com meu pinto? Quem diria que isso aprenderia lendo Nabucodonokov!

<caneta-tinteiro> (fountain pen)”

<raciocínio afetivo> (wishful thinking)”

com a sem-cerimônia nacional que tanto desagradava a Pnin.”

o grande Bog... “slava Bogu (graças a Deus)!”

a onda de desesperada exaustão que de repente lhe (sic) submergiu era uma sensação que não lhe era inteiramente desconhecida.”

O crânio é um capacete de viajante espacial.”

Meu cliente era uma dessas pessoas singulares e infelizes que pensam no seu coração <órgão oco e musculoso> de acordo com a revoltante definição do Webster’s New Collegiate Dictionary, que estava na mala desgarrada de Pnin (…) com um ódio doentio”

Nunca tentava dormir do lado esquerdo, nem mesmo naquelas horas tristes da noite em que a pessoa que sofre de insônia deseja um terceiro lado depois de experimentar os dois que tem.”

o autômato repulsivo que nele se alojava tinha desenvolvido uma consciência própria”

E Pnin viu-se de repente (estaria morrendo?) a deslizar para a infância.”

a dramática prerrogativa das pessoas que se afogam – especialmente na antiga Marinha Russa – fenômeno de asfixia que um velho psicanalista, cujo nome não me acode, explicou como o choque evocado subconscientemente do batismo, o que causa uma explosão de recordações intermediárias entre a primeira imersão e a última. Tudo aconteceu num relance mas não há meio de falar disso senão em muitas palavras consecutivas.”

Pnin, Timofey Pnin, Timosha

déjà vu às 4:20 p/ T.P.P. (Pavel)

3,14~20nim

uma loura sem idade definida”

sempre insere Nabokov confusões de gringos que trocam Dosto. e Tolstoi um pelo outro.

Tecnicamente falando, a arte do narrador em entregar conversações telefônicas ainda está muito atrasada em comparação com a reprodução de diálogos efetuados de sala para sala ou de janela para janela através de algum estreito beco azul numa cidade antiga onde a água é preciosa, e há sofrimento para os burros, tapetes à venda, minaretes, estrangeiros, melões e os vibrantes ecos matinais.”

patético sábio patético

Sofria de um caso de verdadeira paixão pela máquina de lavar de Joan. Embora proibido de aproximar-se dela, era de vez em quando apanhado em transgressão. Pondo de lado todo o decoro e cautela, jogava dentro dela tudo o que estivesse ao alcance da mão, (…) só pela alegria de ver pela janelinha o que pareciam intermináveis cambalhotas de golfinhos atacados de epilepsia. § Num domingo, depois de certificar-se da solidão, não pôde resistir e de pura curiosidade científica alimentou a possante máquina com um par de sapatos de lona com solas de borracha manchados de barro e clorofila. Os sapatos marcharam com um terrível barulho desritmado, como o de um exército passando por uma ponte, e saíram sem as solas, ao mesmo tempo que Joan saía da saleta atrás da copa e (…)”

ambos só se sentiam à vontade no mundo quente da intelectualidade natural.”

lisa Liza

<Nu, eto iz nite> (Nada feito)”

Por fim, outro passageiro se aproximou, disse entschuldigen Sie, pedindo licença para apreciar o jogo [de xadrez suicida].”

Esta cerveja não é nem de longe o nosso bom néctar alemão mas é melhor do que Coca-Cola.”

Lasse mich! Lasse mich!”

cauchemar! “Vamos encerrar esta conversa de pesadelo (diese Koschmarische Sprache).”

Conciúmedo pelo sumi

Bastaria ficar com ela, guardá-la – como ela era – com a sua crueldade, a sua vulgaridade, os seus deslumbrantes olhos azuis, a sua miserável poesia, os seus pés grossos, e a sua alma impura, sórdida e infantil.”

Parecia estar inesperadamente à beira de uma solução simples do universo mas foi interrompido por uma tarefa urgente.”

Você sabe que eu não compreendo o que é anúncio e o que não é.”

“– Impossível! – exclamou Pnin. – Uma ilha tão pequena e, ainda por cima, com uma palmeira só não pode existir num mar tão grande…”

Lermontov disse tudo a respeito de sereias em dois poemas apenas. Não compreendo o humorismo americano nem quando me sinto bem”

portfel’ (pasta)”

Se seu russo era música, seu inglês era massacre.”

P. 54: “Os órgãos que contribuem para a produção dos sons da língua inglesa são a laringe, a abóbada palatina, os lábios, a língua (que é o polichinelo da trupe) e por último, embora não fosse o menos importante, o maxilar inferior. (…) Tinha enorme dificuldade com a despalatização e jamais conseguia retirar o excesso de molhadura russa dos tt e dos dd antes das vogais que tão estranhamente suavizava. O seu explosivo <hat> (chapéu) – (<Nunca uso chapéu, nem no inverno>) só diferia da pronúncia americana corrente de <hot> (quente), típica dos habitantes de Waindell, por exemplo, pela sua duração mais breve e ficava assim parecido com a forma verbal alemã <hat> (tem). Os oo longos se tornavam inevitavelmente breves. O seu <no> (não) parecia positivamente italiano e se acentuava com o seu hábito de triplicar a negativa simples (<Posso levá-lo de carro, Pnin?> <No-no-no, moro a dois passos daqui>.) Não possuía (e não tinha consciência dessa falha) qualquer oo longo. O máximo que conseguia quando tinha de pronunciar <noon> (meio-dia) era a vogal aberta do alemão nun (agora) <Não tenho aula na terça-feira à tarde (afternun). Hoje é terça-feira>.”

Puchkin

Embora Pnin devesse naquela classe de Russo Elementar limitar-se aos exercícios de linguagem (<Mama telefon! Brozu li ya vdol’ ulits shmnih. Ot Vladivostoka do Vashingtona 5.000 mil>.) ele aproveitava qualquer oportunidade de guiar os seus alunos por excursões literárias e históricas.”

Até 1950 (já se estava em 1953 – como o tempo corre!)”

Durante a primavera, Pnin havia empenhadamente pnianizado o gabinete.”

um apontador de lápis, esse instrumento altamente filosófico que vai – tumtumtum, tumtumtum – alimentando-se com a casca amarela e a madeira doce do lápis até terminar numa espécie de vácuo giratório insonoro, como deve acontecer a todos nós.”

o seu sanduíche estava meio desembrulhado e o seu cachorro tinha morrido.”

Tinha começado a perder a vista 2 anos antes e estava agora inteiramente cego. Entretanto, com regularidade solar, era guiado todos os dias para o Pavilhão Frieze por sua sobrinha e secretária.”

Escute aqui, Komarov (Poslushayte, Komarov – uma maneira descortês de falar com alguém)”

Não havia galeria que ligasse a Biblioteca da Universidade de Waindell a quaisquer outros edifícios, mas a mesma estava íntima e seguramente ligada ao coração de Pnin.”

Tomo XVIII Tequilas do livro.

(sábado, 12 de fevereiro, e estamos na terça-feira, ó Leitor Descuidado)”

Quem vive em casa de vidro não deve tentar 2 coelhos de uma só cajadada.”

Usando luvas de borracha a fim de evitar algum choque de surpresa da eletricidade amerikanski nas prateleiras de metal”

Infelizmente, <Gamlet, Wil’yama Shekspira> não fôra adquirido por Todd e, portanto, não era representado na Biblioteca da Universidade de Waindell”

Victor ficou contente de saber que <esquilo> vinha de uma palavra grega que significava <cauda de sombra>.”

Uma criança de 3 anos, quando é solicitada, a copiar um quadrado, faz um canto reconhecível e se contenta então em representar o resto do desenho como ondulante ou circular.”

as cores das sombras, as diferenças de matiz entre a sombra de uma laranja e a de uma ameixa ou de um abacate.”

A vida é o que acontece enquanto os espanhóis tiram uma soneca.

Entre as muitas coisas divertidas que Lake ensinava estava a idéia de que a seqüência do espectro solar não é um círculo fechado mas uma espiral de matizes que vão do vermelho cádmio e do alaranjado através de um amarelo de estrôncio e de um verde claro paradisíaco aos azuis de cobalto e aos violetas, ponto em que a série não sobe de novo ao vermelho mas passa para outra espiral que começa com uma espécie de cinza de alfazema e continua em matizes Cinderela que transcendem a percepção humana.”

“– Não, não, – disse Pnin. – Não quero nem um ovo, nem um torpedo. Quero apenas uma bola de futebol. Redonda!”

O que são as vicissitudes da fama! Na Rússia, segundo me lembro, todos, todos – crianças, adultos, médicos, advogados, todos lêem Jack London.”

Graças a uma corrente de devaneio e delicada abstração em sua natureza, Victor em qualquer fila tomava sempre um dos últimos lugares. Havia muito se habituara a esta desvantagem como a pessoa se habitua a uma vista fraca ou ao puxar de uma perna.”

Timofey Pavlovich Pnin, o que significa <Timofey filho de Paulo>.” Nosso tardiamente descoberto Júnior.

Nu kak? (Tudo bem?)”

A primeira descrição do boxe na literatura russa é encontrada num poema de Mihail Lermontov, nascido em 1814 e assassinado em 1841… datas fáceis de lembrar. Por outro lado, a primeira descrição do tênis é encontrada em Ana Karenina, romance de Tolstoi, e se refere ao ano de 1875.”

Quando você ficar velho, recordará também o passado com muito interesse.”

Fui campeão de kroket. Ninguém pratica mais hoje em dia esses jogos tão sadios…”

Perdão, felizmente isto é açúcar e não sal. (…) Não vai acabar seu bife? Não gostou?” “Ora, tem de comer mais, muito mais, se quer ser um futebolista.” “Tomou em silêncio o seu sorvete de creme de baunilha, que não continha baunilha e não era feito de creme.”

Victor, dessa vez, adormecera logo que pusera a cabeça embaixo do travesseiro, método novo a respeito do qual o Dr. Eric Wind, que estava naquele momento sentado num banco perto de uma fonte em Quito, no Equador, nada saberia jamais.”

Pnin passeava lentamente sob os pinheiros solenes. O céu estava morrendo. Não acreditava num Deus autocrático. Cria vagamente numa democracia de fantasmas. Talvez as almas dos mortos formassem comitês e estes, em sessão permanente, cuidassem dos destinos dos vivos.”

Se a vida já é temporária, imagine o cargo de chefia!

Como de costume, os professores estéreis procuravam com êxito <produzir> criticando os livros de colegas mais férteis e, como de costume, uma safra de professores felizes gozava ou ia gozar vários prêmios recebidos anteriormente naquele ano.”

Tristram W. Thomas (Tom para os amigos), professor de Antropologia, tinha obtido 10 mil dólares da Fundação Mandoville para um estudo sobre os hábitos alimentares dos pescadores e dos trepadores de palmeiras de Cuba. Outra caritativa instituição tinha acorrido em auxílio do dr. Bodo von Falternfels para que ele pudesse completar <uma bibliografia relativa às obras publicadas e inéditas dedicadas nos últimos anos a uma análise crítica da influência dos discípulos de Nietzsche sobre o Pensamento Moderno>.”

Nunca tinha havido em Waindell qualquer departamento de Russo regular e a existência docente de meu pobre amigo sempre dependera de sua anexação ao eclético Departamento de Alemão numa espécie de extensão de Literatura Comparada de um dos seus ramos.”

Duas características bem interessantes marcavam Leonard Blorenge, Presidente de Literatura e Língua Francesa: não gostava de literatura e não sabia francês.”

Quando o Dr. Hagen disse a Blorenge que Falternfels era fortemente antipninista, Blorenge afirmou secamente que ele também o era.”

O seu homem francês, além de falá-lo?”

só acreditamos em gravações da língua e outros dispositivos mecânicos. Não permitimos livros.”

um maníaco feliz, dopado pelas notas de pé de página, que perturbava as traças que dormiam num massudo volume à procura de uma referência a outro ainda mais massudo.”

Aprendi que nem toda sombra é negra…

Sombra rósea do coração

e o velho Pnin/Jr. se lembrou das festas de aniversário de sua infância.” “Lembrava-se também do zumbido solitário em seus ouvidos quando, depois de uma brincadeira de esconder, por demais prolongada, ao fim de uma hora de desagradável esconderijo, saiu de um armário escuro e abafado no quarto da empregada e descobriu que todas as outras crianças já tinham ido para casa.”

Leve também sua esposa. Ou é solto e solteiro?”

Free and single

go free

Todd Road, 999” – ouvindo agora na CAPES, 9… Satan is just God up above [nABOkoV], God is only Satan down below.

Examinou as faces e o queixo para saber se a barba feita pela manhã ainda estava em condições.”

Betty (…) Usava a mesma trança de Gretchen enrolada na cabeça.” WIKI: “In Germany today [this name] is not as popular, and as a given name it is used much less than it once was. However, in the U.S. the name <Gretchen> remains very popular and nostalgic.”

Mas uma aliança com um pequeno brilhante aparecia em sua mão gorda e ela a mostrou com tímida vaidade a Pnin, que não pôde deixar de sentir uma ponta de tristeza. Refletiu que poderia ter-lhe proposto casamento se ela não tivesse uma mentalidade de empregada doméstica, a qual também tinha ficado inalterada.”

os sapatos de Cinderela não eram feitos de vidro mas de pele de esquilo russo – vais em francês. Era, conforme disse, um caso de sobrevivência dos mais aptos entre as palavras, desde que verre era uma palavra mais evocativa que vair, que, na sua opinião, não vinha do latim varius, variegado, mas de vevertisa, designação eslava de uma certa pele de inverno do esquilo, bela e clara, que tinha um matiz azulado ou, melhor, sizëy, columbino – de columba, pombo em latim, como alguém aqui sabe (…o) (<Sempre pensei que ‘columbina’ fosse uma espécie de flor>, disse Thomas a Betty, que assentiu ligeiramente.)”

“Significado de Columbina

1. substantivo feminino

Excremento dos pombos que constitui excelente adubo.

Etimologia (origem da palavra columbina). Do latim columbina.

2. substantivo feminino [Botânica] Nome comum às plantas do gênero Aquilégia.”

Tom é de opinião que o melhor método de ensinar alguma coisa é recorrer a discussões na classe, o que importa em deixar 20 jovens imbecis e 2 arrogantes neuróticos discutirem durante 50 minutos alguma coisa que nem o professor nem eles sabem.”

Os cachorros americanos não estavam habituados a pedestres.”

As suas digressões verbais emprestam nova emoção à vida. Os seus erros de pronúncia são míticos. Os seus lapsos de vocabulário são oraculares. Imagine que ele chama minha mulher de John.”

Já sou professor adjunto há 9 anos e isso me torna quase Professor Adjunto Emérito. O tempo voa.”

nicht wahr”

Der arme Kerl. Quando nada, dourei a pílula.”

Por onde andará agora esse grânulo de carvão? O fato irritante e demente é que o mesmo ainda existe seja lá onde for!”

Mas, aos 16 anos, eu era tão arrogante quanto tímido, e declinei a oportunidade de fazer o papel do cavalheiro no primeiro ato.”

Estavam bebendo auf Brudershaft (à fraternidade), o que duas pessoas fazem entrelaçando os braços enquanto bebem.”

Marquei os acentos tônicos e transliterei o russo ficando entendido que o u e o i têm sons breves e zh se pronuncia como j em português.”

Não possuo outras jóias

senão meus olhos,

mas tenho uma rosa que é ainda mais doce

que meus lábios rosados.”

poema pornô russo

“— Quero um último conselho seu – disse Liza na voz que os franceses chamam de <branca>.”

P. 145: “<Você, Lise, vive cercada de poetas, cientistas, artistas e elegantes. O famoso pintor que fez seu retrato no ano passado está agora, ao que se diz, morrendo de tanto beber (govoryat, spilsya) nos ermos de Massachusetts.”

Quero que continue com as suas pesquisas psicoterápicas, que não compreendo muito e cuja validade ponho em dúvida no pouco que posso compreender. (…) a teoria do seu Dr. Halp, segundo a qual o nascimento é um ato de suicídio da parte da criança”

Anos 90: por incrível que pareça, minha Pré-História!

vos’ midesyatniki (homens dos Oitenta), i.e., nós ambos tínhamos alojamento naquela noite em ruas Oeste Oitenta.”

embora tivesse ouvido o programa muitas vezes antes, Gwen Cockerell riu tanto que o velho cachorro da casa, Sobakevich, um cocker castanho com olhos lacrimejantes, ficou nervoso e começou a me cheirar.”

Sou de tal modo constituído que não posso deixar de beber o suco de 3 laranjas antes de enfrentar os rigores do dia.”

Cockerell, de robe marrom, e sandálias, deixou o cocker entrar”

MITOLOGIA – LENDAS – Salvador Nogueira

OS CASTIGOS DE PROMETEU E IO

Zeus não pôde suportar a idéia de que, assim como seu pai, ele seria suplantado um dia. O que ele não entendeu foi a natureza de sua substituição. E por isso ele me mantém aqui, na esperança de que eu revele quem está destinado a superá-lo. Mas ele pode esperar sentado.”

NARCISO

A partir de agora, a sua palavra será sempre a última, jamais a primeira! – evocou, condenando Eco a eternamente repetir o que outros dizem, sem jamais ter iniciativa no diálogo.

A ninfa ficou arrasada. Perdera definitivamente a chance de conquistar Narciso.”

<Que aquele que não ama ninguém venha a apaixonar-se por si próprio!>

A deusa Nêmesis, cujo nome significa <ira justa>, ouviu o apelo e tratou de fazer com que se concretizasse.”

O que ele não imaginara é que nem mesmo a morte o curaria, pois, ao ser transportado pelo barqueiro Caronte através do rio dos mortos, Narciso se inclinou para fora, na tentativa de rever sua imagem refletida nas águas do Estige.”

EROS E PSIQUÊ

Todos comunicavam aos 4 ventos, sem medo de errar, que Psiquê era mais bela que a própria Afrodite, a deusa da beleza. (…) Com o passar do tempo, os templos dedicados a Afrodite começaram a sumir, assim como os cultos dedicados a ela.” “Afrodite decidiu lançar uma cruel vingança sobre Psiquê, e para isso convocou a ajuda de seu filho, o deus do amor, Eros.”

– E a flechada que quero de ti é no coração dela, e voltada para o sujeito mais horroroso que pudermos encontrar. (…)

– Hmm, está bem – respondeu Eros. – Mas pode ser depois do almoço? Estou com uma fome danada, e Zeus está servindo uma ambrosia daquelas na casa dele hoje…” HAHAHA

Assim que o deus alado do amor colocou seus olhos na princesa, foi tomado por uma paixão incontrolável. Jamais faria com que ela se apaixonasse por um qualquer. Aliás, por ninguém. Exceto ele. E trataria também de impedir que outro homem sentisse por ela nada além de uma profunda admiração platônica.

E assim foi. Dias, meses e anos se passaram, e o rei e a rainha começaram a ficar preocupados: estaria sua filha mais bela que Afrodite inacreditavelmente ficando para titia? Cansados de esperar, decidiram ir até o oráculo de Apolo em busca de orientação. Mas Eros já havia conversado previamente com o deus, pois os humanos costumavam pedir-lhe conselhos com muita freqüência, e os dois estavam mancomunados num plano.”

Mas o imponderável sempre entra em ação. Uma multidão de formigas que estava no chão se compadeceu de Psiquê. Elas caminharam laboriosamente na direção da pilha e separaram com precisão (e velocidade incrível) todos os tipos de semente. Ao fim da tarde, quando a deusa retornou, ficou chocada com o inesperado sucesso da princesa.”

Eros, Eros… você sabe que já deu muita dor de cabeça para mim, não é? Você fica disparando suas flechinhas por aí, e lá vou eu [me] transformar em touro, em cisne, para fugir da Hera e ir atrás de garotas lá embaixo… mas eu entendo bem a situação e preciso acima de tudo ser justo. Daremos ambrosia a Psiquê e ela se tornará uma deusa, morando consigo no céu!”

ORFEU E EURÍDICE

Na Terra, houve apenas um mortal cuja música se aproximou em qualidade da música divina. Nascido na Trácia, era filho de uma das musas, de forma que considerá-lo totalmente humano seria injusto. Seu nome era Orfeu.

Admirado onde quer que fosse, Orfeu se tornou um homem importante. Na lendária viagem do Argo, sob o comando de Jasão, ele foi um importante membro da tripulação. Sempre que os heróis estavam exaustos ou o trabalho nos remos se mostrava particularmente difícil, Orfeu começava a executar canções com sua lira, uma mais bela que a outra. Logo o ânimo estava recobrado, e as pás se moviam no ritmo das notas musicais.”

Certa ocasião, Orfeu chegou mesmo a salvar toda a tripulação da morte, quando se ouviu ao longe, no mar, o sedutor canto das sereias. A embarcação já estava apontada para lá, enfeitiçados que estavam os homens pelos sons maliciosos das famosas criaturas, quando Orfeu cantou tão alto e tão bem que quebrou o efeito das sereias e fez com que o curso original do navio fosse retomado, sem ameaçar a integridade dos guerreiros.”

Não se sabe onde ele a encontrou nem como a cortejou, mas é óbvio que nenhuma jovem teria como resistir a seus talentos, uma vez que ele estivesse determinado a conquistá-la. Casaram-se, mas a felicidade do casal durou pouco. Quando Eurídice caminhava pelo campo com uma de suas damas de honra, foi picada por uma víbora e morreu.”

O cão Cérbero parecia encantado e parou de vigiar os portões do palácio de Hades. A roda de Íxion parou de girar. Sísifo fez uma pausa na tarefa de empurrar sua pedra morro acima e sentou-se nela para observar o espetáculo. Tântalo se viu sem sede, e pela primeira vez verteram lágrimas do rosto das Fúrias.”

Hades, o cruel rei dos mortos, desmanchou-se em lágrimas. Percebeu que não poderia recusar o pedido de Orfeu e o instruiu sobre como proceder:

– Vou ajudar você. Vá-te daqui, e saiba que sua Eurídice estará caminhando pouco atrás de ti. Só não olhe para trás. Acredite em mim, e ela estará lá. Será sua quando saírem do reino dos mortos e voltarem à superfície. Até lá, não olhe para trás! Jamais!”

Chocado, Orfeu tentou voltar para as trevas, em busca de sua amada, mas não o deixariam entrar mais uma vez. Agora, só retornaria ao mundo dos mortos quando fosse um deles. Arrasado, o jovem abdicou em definitivo da companhia dos homens. Ficou vagando pelos bosques da Trácia, e a lira era sua única companheira. Triste, tornou-se vítima de um bando de Mênades furiosas, que fizeram seu corpo em pedaços. Seus restos mortais acabaram recolhidos pelas Musas e Orfeu foi enterrado no sopé do Olimpo.”

PÉGASO E BELEROFONTE

Seu pai, Glauco, fôra rei de Éfira, e a paixão dele por essas criaturas era tamanha que alimentava seus animais com carne humana, no intuito de deixá-los mais fortes e poderosos. Os deuses jamais viram esse hábito selvagem e bizarro com bons olhos, e Glauco encontrou um fim justo, sob encomenda: ao ser derrubado de seu carro, foi vorazmente consumido por seus cavalos enfurecidos, recebendo assim o mesmo castigo que infligia a outros.”

– Eu… eu… sou filho de Posêidon? – perguntou Belerofonte. Esse era um rumor que se espalhara pela cidade como explicação para o fato de que o príncipe parecia ter espírito nobre demais para ter o cruel rei pai. Mas nem mesmo o próprio Belerofonte havia levado a história a sério, embora sua vaidade fosse a maior que já se vira por aquelas bandas e também fosse fato público e notório que sua mãe, Eurínome, tinha excelentes relações com os deuses, a ponto de haver recebido sua educação de Atena em pessoa.”

Pégaso não era um cavalo qualquer. Um corcel branco de longas asas, ele nascera do confronto de Perseu com a górgona Medusa. Quando o herói cortou a cabeça da criatura, seu sangue verteu no chão e desse líquido se construiu a magia de seu galope aéreo. Como domar uma criatura nascida das entranhas de um monstro? Era só o que Belerofonte conseguia se perguntar.”

– Queria que você matasse a Quimera para mim. Trata-se de uma criatura que tira o sono do meu povo. Isso, para dizer o mínimo.

A Quimera era um monstro poderosíssimo, de força descomunal e ferocidade conhecida em todo o mundo civilizado. Ela tinha o corpo de bode, a parte dianteira de leão e a parte traseira de serpente. Com o toque final: soltava labaredas poderosas pela boca.”

Assim como a Quimera e os Solimos, as guerreiras Amazonas não tiveram hipótese contra o poderoso cavaleiro voador.”

Depois de viver muitos anos de felicidade em Argos, Belerofonte se sentiu no direito de igualar-se aos deuses. Planejou cavalgar com Pégaso até o Olimpo, onde se tornaria mais um imortal. Mas o corcel alado era mais esperto. Sabia que isso nenhum dos deuses toleraria e derrubou seu cavaleiro lá do alto. (…) o cavalo, por sua sabedoria, caiu nas graças de Zeus, que o levou para o Olimpo e o abrigou nos estábulos celestiais. Lá ele pode ser visto até hoje, na constelação que leva seu nome. E Z. fez dele o seu favorito: sempre que queria usar o raio, era Pégaso quem lhe trazia o relâmpago e o trovão.”

TESEU E O MINOTAURO

– Que tipo de covarde faria essa viagem pelo mar, onde não há perigos? Vou por terra, enfrentando todos os desafios que se colocarem em meu caminho.

– Mas, meu filho, por que isso?

– Porque assim eu sou, mãe.”

Outro bandido célebre era Procusto, que amarrava suas vítimas a uma cama de ferro, e, então, dependendo da altura do coitado, ou cortava partes de seus membros ou os esticava, para que a vítima ficasse do tamanho da cama.”

Medéia, vinda de Corinto para Atenas depois que seus poderes mágicos a informaram da identidade de Teseu e de sua iminente chegada, convenceu Egeu de que aquela era a melhor estratégia – seu objetivo, entretanto, era meramente afastar o rei de seu filho, para que pudesse manter sua grande influência sobre o destino daquela cidade.”

Pai, não tire os olhos do horizonte. Se voltar de Creta com sucesso, saberás antes que eu ponha os pés no solo, pois trocaremos no barco a vela negra por uma branca. Assim que vir a embarcação, já saberá qual foi o nosso destino.” “Acreditando que seu filho estivesse morto e que sua cidade continuasse condenada a sacrificar 14 pessoas a cada 9 anos para atender à selvageria de Creta, o rei Egeu foi incapaz de lidar com tamanho sofrimento. Ele atirou-se do alto de um rochedo ao mar, que, por causa desse episódio, ganhou seu nome.”

Teseu também recebeu em sua casa o velho Édipo, que todos tinham repudiado, e o assistiu em seu leito de morte, além de garantir a proteção de suas duas filhas depois que ele se fôra. Também se manteve fiel a Herácles, mesmo quando o guerreiro perdeu completamente o juízo e matou sua mulher e os filhos. Levou o herói a Atenas e fez com que recobrasse o equilíbrio, em vez de deixá-lo se matar, como era o plano original, assim que se deu conta do que fizera.

Apesar de todos os deveres de estado, Teseu jamais renunciou ao espírito de aventura. Esteve entre os argonautas na busca pelo velocino de ouro e também conduziu uma expedição à terra das Amazonas, de onde trouxe uma mulher, com quem se casou e teve um filho, chamado Hipólito.

Por esse mesmo espírito de aventura, Teseu chegou a seqüestrar a pequena Helena de Tróia, ainda criança, com planos de se casar com ela futuramente. Seus irmãos Pólux e Castor a resgataram antes que isso pudesse acontecer, mas não encontraram o seqüestrador, que já havia saído em outra aventura, com seu amigo Pirítoo – o objetivo era nada menos que buscar Perséfone no mundo dos mortos!

Teseu quase terminou seus dias por lá, quando Hades elaborou uma armadilha para a dupla que queria roubar sua esposa. Sabedor dos planos de Teseu e Pirítoo, o deus dos mortos convidou os dois a sentar-se a seu lado. Mas eles não sabiam que se sentariam em cadeiras <especiais>: as Cadeiras do Esquecimento, em que a mente se transformava nm completo vazio, e a pessoa não conseguia sequer se mover. Teseu foi resgatado por Héracles (sic), mas Hades não permitiu que Pirítoo saísse de lá.

De volta a Atenas, nos anos que se seguiram, Teseu casou-se com Fedra, irmã de sua ex-noiva, Ariadne. Era o início de uma triste seqüência de eventos para o herói, pois sua nova esposa calhou de se apaixonar perdidamente por seu filho, Hipólito. O jovem, entretanto, nada queria com mulher alguma. Tudo o que lhe animava (sic) era a caça, sem dúvida por herança de sua mãe amazona. De sua parte, a Afrodite só restavam zombarias. Por isso mesmo a deusa tratou de arranjar a inconveniente paixão de Fedra. Hipólito ficou chocado ao conhecer as intenções da madrasta.

Fedra, depressiva, já sabia exatamente como se vingar. Cometeu suicídio e morreu com uma carta na mão, destinada a Teseu. Quando ele chegou em casa, leu as últimas palavras de sua esposa. Ela dizia que Hipólito a teria atacado, primeiro para agarrá-la, depois de raiva, pela recusa dela em sucumbir. Quando o jovem chegou, o pai imediatamente o expulsou de casa, chocado com as <revelações>. Todos os apelos do filho pareciam em vão, diante de algo tão impactante quando (sic) um suicídio recheado de denúncias.”

TÂNTALO E A CASA DE ATREU

a casa de Atreu, assim chamada em homenagem ao pai de Agamenon, sempre escondeu grandes infortúnios (…) Tântalo era apenas semideus, mas era o mais querido entre os olímpicos. (…) Mandou matar seu filho Pélops, cozinhá-lo e servi-lo num grande banquete para os olímpicos. Imaginou que poderia se safar enganando-os e tornando-os legítimos canibais” “Acorrentado para todo o sempre no Hades, o semideus estava destinado a uma eternidade de fome e sede.” “Quanto a Pélops, os deuses decidiram devolver-lhe a vida. O único inconveniente foi que tiveram de dar-lhe um ombro de marfim, uma vez que o seu <de fábrica> já havia sido inadvertidamente consumido naquele jantar medonho. Pélops foi praticamente o único membro da família que pôde viver o resto de seus dias em relativa paz e felicidade.”

Como assim? Ifigênia estava morta fazia muito tempo! Mas a mulher explicou que, no momento de seu sacrifício, fôra transportada magicamente pelos deuses para a terra dos táuridas. Ali, acabou sendo condenada a cuidar de sacrifícios semelhantes.”

ÉDIPO E A CASA REAL DE TEBAS

ADESTRAMENTO E SELEÇÃO: “como poderia Cadmo criar sozinho uma cidade? § Eis que Atena apareceu para ele e o orientou a semear a terra com os dentes do dragão. Então, dos sulcos do solo começaram a surgir homens, armados. O príncipe esperava que eles pudessem ajudá-lo, mas os guerreiros <brotados> tinham outros planos. Travaram entre si uma imensa batalha, e mataram uns aos outros, restando apenas 5 sobreviventes. Cadmo apelou a esses 5 e conseguiu convencê-los a ajudar na empreitada. Assim foi fundada a cidade de Tebas. § Cadmo governou por muitos anos e transformou a cidade em uma referência de prosperidade. Diz-se que foi o primeiro a introduzir o alfabeto na Grécia.”

Os descendentes de Cadmo tiveram muitas histórias tristes, mas nenhuma se comparou em drama à vivida por seu trineto Édipo, o mais famoso soberano da casa real de Tebas.

O rei Laio foi o quarto homem a ocupar o trono real de Tebas. Ele era bisneto de Cadmo e casou-se com uma prima distante, também bisneta do fundador da cidade. Seu nome era Jocasta.

Como fôra o oráculo de Delfos o responsável pelas instruções que levaram ao surgimento de Tebas, os soberanos daquela localidade cultivaram o costume de consultá-lo sobre os rumos de seu reino.”

Édipo, desesperançoso acerca da própria vida e sem amigos, animou-se com a possibilidade de enfrentar a tal Esfinge.”

O casal viveu feliz durante longos anos e teve 2 filhos e 2 filhas. Quando os meninos já haviam atingido a idade adulta, a cidade foi infestada por uma praga terrível.”

– Apolo se diz disposto a acabar com a praga que assola Tebas – disse Creonte. – Mas, para isso é preciso castigar o assassino de Laio.

– Ótimo – respondeu Édipo. – Convocaremos o mais venerado de todos os tebanos, o profeta Tirésias.

Cego e idoso, o vidente foi trazido à presença do rei.”

Esses profetas e oráculos não sabem de nada. Pois saiba que Laio ouviu em Delfos que seria morto pelo próprio filho. Mas impedimos isso, abandonando nosso filho numa montanha, onde certamente morreria. E todos sabem que Laio morreu pelas mãos de assaltantes, numa encruzilhada de 3 estradas no caminho que leva a Delfos.”

MOTE HINDU: “Ele tentou me jogar para fora da estrada e me bateu com seu bordão. Mas caí sobre eles e matei-os todos.”

Renunciou ao trono, e seu filho mais velho, Polinice, recusou a coroação. Ficou decidido que Creonte, irmão de Jocasta, assumiria o poder”

RESSACA DA GUERRA DOS 7 CONTRA TEBAS: “Sem herdeiros aparentes para o trono, Creonte voltou ao poder mais cruel e furioso do que nunca. Decidiu que todos os combatentes que avançaram contra Tebas não poderiam ser enterrados, condenando suas almas a um vagar eterno, sem chances de adentrar o mundo dos mortos. Antígona, já de volta à cidade após a morte de Édipo, decidiu contrariar as ordens do novo soberano tebano, uma vez que as leis divinas estavam acima de qualquer declaração de um líder humano.”

Dez anos depois, Tebas encontraria sua ruína. Invadidos por Argos, os tebanos foram vencidos e se espalharam pela Grécia. A cidade em si foi reduzida a ruínas. E o único sinal remanescente da grandeza que outrora teve a casa real de Tebas foi o colar dado por Afrodite a Harmonia.”

CÉCROPE E A CASA REAL DE ATENAS

Cécrope não era completamente humano. Seu pai era um homem, mas ele havia nascido de um dragão, de quem herdara os membros inferiores na forma do animal. Com o surgimento de Atenas, coube a ele, como soberano, decidir qual dos deuses serviria como protetor da cidade.

Era uma decisão importante, e, embora tivesse reservado para si a palavra final, Cécrope optou por consultar antes seus súditos. Na disputa eleitoral figuravam Poseidon e Atena. O primeiro, durante a campanha, para mostrar como poderia ser bom para a cidade, fez cair seu tridente sobre o rochedo da Acrópole; a água salgada que brotou da fenda produzida veio a formar um poço de grande profundidade. O benfeitor se propunha ser um grande <tocador de obras>, caso eleito fosse. [haha – ASSOLA MAS FAZ]”

todos foram reunidos para a grande votação. Verificou-se que os homens, em sua totalidade, votaram em Poseidon. Mas as mulheres estavam em maior número, e todas elas acabaram votando em Atena, que saiu vencedora. Cécrope aceitou o resultado e proclamou Atena protetora” “Enquanto o deus dos mares providenciou um dilúvio para castigar a pólis, os homens decidiram que a partir daquele instante as mulheres não teriam mais direito a voto. E assim foi durante toda a Antiguidade clássica, mesmo na época da era de ouro da democracia ateniense.”

quando chegaram à terra firme, ele disse a Filomela ter recebido a triste notícia da morte de Procne. Era tudo mentira, mas foi o que bastou para que fizesse um casamento falso com a irmã de sua mulher. Em pouco tempo, contudo, a verdade foi revelada (…) Para evitar que ela contasse a verdade a todos na Trácia, Tereu não teve dúvida: cortou sua língua.” “Pegou o filho Ítis, que a irritava profundamente por ser <a cara do pai>, e mandou matá-lo, picá-lo e cozinhá-lo, para servir ao marido.” Mais comum que inveja divina nestes tempos!

Os deuses interferiram, transformando Procne e Filomela em dois pássaros. A primeira, em um rouxinol, e a segunda, em uma andorinha, ave que é incapaz de cantar.”

Mas, também, um deus que sai por aí estuprando jovens [Apolo] não merece nem o respeito, que dirá a adoração”

O REI MIDAS

Teve de implorar a Baco que desfizesse o pedido. O deus do vinho o instruiu então a lavar-se na nascente do rio Páctolo, para que a dádiva perdesse o seu efeito. O rei seguiu à risca as instruções e voltou ao normal. Sua passagem por lá ficou marcada, entretanto, pela descoberta de vários grãos de ouro nas areias daquele curso d’água.

Midas voltava ao normal e continuava tão idiota quanto sempre. Diz-se que algum tempo depois foi convidado a ser jurado numa disputa musical entre Pã e Apolo. Sabe-se que Pã é muito bom com sua flauta, mas ainda assim tosco perto do deus da verdade com sua lira prateada. O rei, entretanto, nunca soube nada de música – nem de coisa alguma, para ser honesto – e declarou Pã seu vencedor. Apolo ficou tão furioso com o negócio que deu a Midas orelhas de burro.”

Mandou confeccionar um chapéu especialmente projetado para escondê-las, mas nada podia fazer a respeito do criado que cortava seu cabelo.”

A FUNÇÃO DO ORGASMO ou: SOFRIMENTOS DE UM JOVEM BUROCRATA EX-PROFESSOR

9ª ed. – Vol. I – A descoberta do orgônio

Reich

29/06 a 23/08

DIC – priapismo / satiríase / satiromania: ereção dolorosa; excitação sexual excessiva (mórbida).

             espermatorréia: derramamento involuntário do esperma

As investigações de Forel na organização racional das formigas dirigiram a minha atenção para o problema do vitalismo. Entre 1919 e 1921, familiarizei-me com a Philosophie des Organischen e com a Ordnungslehre, de Driesch.”

Lange – Geschichte des Materialismus

Grimm – Buddha

Hoje muito poucas pessoas sabem que a moralidade foi uma vez encarada como um instinto filogeneticamente, e na verdade sobrenaturalmente, determinado. Isso se dizia com absoluta seriedade e grande dignidade.”

Adler era decepcionante. Criticou Freud.”

O seu inconsciente é como a <coisa em si> de Kant. Em si mesmo não pode ser agarrado” A coisa-em-si não existe

A teoria da esquizofrenia de Freud tinha parado na conclusão prematura de que essa doença é atribuível a uma regressão auto-erótca. Ele tinha idéia de que uma fixação do desenvolvimento psíquico de uma criança no período do narcisismo infantil primário constitui uma disposição para a doença mental. Defendi essa idéia por ser correta, mas não por ser completa. Não era tangível. Parecia-me que o ponto em comum de contato entre a criança absorvida em si mesma e o esquizofrênico adulto está na forma como sentem o seu meio ambiente. Para o recém-nascido o meio ambiente com os seus inúmeros estímulos não pode ser mais que um caos do qual as sensações do seu próprio corpo são uma ponte. Em termos de experiência, não existe nenhuma distinção entre o eu e o mundo. (…) Se, durante o processo de separação, a criança experimenta um choque sério, as fronteiras entre o eu e o mundo permanecem confusas e nebulosas.” “a perda do sentido da realidade no esquizofrênico começa com a interpretação errônea das sensações do seu próprio corpo em desenvolvimento.”

Foi só muitos anos mais tarde que Ferenczi afirmou que ninguém realmente seguia, ou podia seguir, essa regra. Isso é tão claro para nós hoje que nem mesmo esperamos que alguém o faça. [sobre o <dizer tudo quanto lhe viesse à cabeça>]”

Sabe-se que pacientes que sofrem de súbito estupor catatônico se tornam logo normais outra vez, quando são capazes de ter acessos de violência.” “Em pacientes que sofrem de estupor catatônico a <couraça> muscular domina o corpo inteiro. A descarga de energia se torna cada vez mais restrita. Em um acesso de violência, um impulso forte irrompe do centro vegetativo, que ainda é móvel, e, através da couraça, libera a energia muscular presa. Mas o seu caráter real como experiência tem de ser agradável. Isso era impressionante, e a teoria psicanalítica da catatonia não podia explicá-lo. Dizia-se que o paciente catatônico <voltava completamente ao útero e ao auto-erotismo>, explicação que não era satisfatória”

O que o analista levava meses deslindando e interpretando em pacientes compulsivos era expresso em linguagem clara pelo paciente psicótico.” “O paciente psicótico é assediado pelas idéias sexuais que nos outros são cuidadosamente escondidas, reprimidas ou apenas meio admitidas. O ato sexual, atividades perversas, relações sexuais com a mãe ou com o pai, cobrir de excremento os órgãos genitais, sedução de – ou por – mulher ou marido de amigo ou amiga, fantasias grosseiramente sensuais, inclusive mamar e outras semelhantes, inundam o pensamento consciente do psicótico.” “Quanto a sua experiência de vida, o paciente neurótico e o paciente pervertido estão para o esquizofrênico assim como o ladrão ordinário está para o arrombador ousado.”

Observei uma garota que estava de cama na clínica havia anos e não fazia nada exceto mover a região pélvica e passar o dedinho no clitóris. Estava totalmente bloqueada.” “De vez em quando, entretanto, uma expressão inteligível se desenhava no seu rosto. Se alguém conhece realmente a terrível angústia das crianças pequenas que são proibidas de masturbar-se, então entenderá semelhante comportamento em pacientes neuróticos. Eles desistem do mundo, e dementes, praticam o ato que um mundo irracionalmente governado uma vez lhes proibiu. Não se vingam; não castigam; não causam qualquer mal. Simplesmente permanecem deitados e tentam salvar os últimos restos de um prazer patologicamente corrompido.”

O ouro deve ser misturado ao cobre, e nunca ao pague.

Estava a ponto de empurrar as crianças para dentro d’água quando foi tomada de terrível angústia. Daí em diante foi atormentada pelo impulso de confessar-se à polícia a fim de proteger as crianças contra ela mesma. O impulso mantinha-a em um estado de medo mortal, pois temia ser enforcada pelo crime. O pensamento provocou-lhe uma constrição na garganta. O mutismo impedia-a de ceder ao impulso.” “Fôra órfã e vivera com estranhos, morando com 6 ou mais pessoas no mesmo quarto. Menina, fôra sexualmente violada por homens feitos. Era atormentada pelo desejo de uma mãe que a protegesse.” “Ninguém a entendia. Embora fosse totalmente fria, dormia com muitos homens diferentes.” “Apesar do fato [de] que o seu trabalho era dificultado por perturbações psíquicas agudas, era explorada cruelmente e sem piedade. Recebia uns 2 schillings por dia de 10h de trabalho, o que quer dizer que devia sustentar-se, e aos 3 filhos, com uns 60 ou 80 schillings por mês! O extraordinário é que o conseguia! Nunca pude descobrir como. Apesar de tudo, não se descuidava absolutamente da sua aparência. Lia sempre, inclusive alguns livros que me tomou emprestados.”

Outra paciente estava sofrendo da chamada ninfomania. Não conseguia nunca experimentar a satisfação. Por isso, dormia com qualquer homem disponível — sem encontrar satisfação. Masturbava-se com o cabo de uma faca, ou mesmo com a lâmina, até que lhe sangrava a vagina. Somente aqueles que conhecem o tormento de uma excitação sexual insaciável e sumamente tensa deixarão de falar sobre a <transcendência da espiritualidade fenomenológica>.” “Quando a mãe percebe que a criança se está masturbando, atira simplesmente uma faca na criança.” “Esse caso está pormenorizadamente descrito no meu livro Der triebhafte Charakter [A Compulsão do Caráter].”

Os neuróticos compulsivos e os pacientes histéricos foram educados desde tenra idade de forma absolutamente anti-sexual. Na primeira infância, não tiveram orientação sexual, ou foram prematuramente ativos. Então, subitamente, foram brutalmente punidos, e a punição viveu no inconsciente como um sentimento de culpa sexual.”

EXTATÍSTICA, UMA ESTATÍSTICA ENÉRGICA E SEMOVENTE

Freud agarrava-se à idéia de que as meninas têm apenas uma sexualidade clitória e não experimentam o erotismo vaginal na primeira infância.”

Um menino que tivesse uma vinculação genital plenamente desenvolvida em relação à mãe teria muito maior facilidade em estabelecer uma vinculação genital com uma mulher do que um menino que houvesse amado a mãe de uma forma somente anal, i.e., perversa.”

O desenvolvimento independente da economia sexual começou com a questão da diferença entre prazer pré-genital e genital. Nem um só ponto da minha teoria é válido sem isso.”

O seu caso parecia totalmente desesperado. Subitamente, surgiu uma fantasia incestuosa, e pela primeira vez o paciente se masturbou com satisfação. Todos os seus sintomas desapareceram imediatamente. Em 8 dias voltaram pouco a pouco. Masturbou-se outra vez. Os sintomas desapareceram de novo, apenas para voltar alguns dias mais tarde. Isso continuou por várias semanas. Finalmente consegui chegar à raiz dos seus sentimentos de culpa quanto à masturbação, e corrigir alguns hábitos prejudiciais de comportamento. Após um total de 9 meses, terminei o tratamento.”

Uma vez que o paciente era diligente e ordeiro — <ajustado à realidade>, como costumávamos dizer — não ocorreu a nenhum de nós que era precisamente essa tranqüilidade emocional, essa equanimidade inabalável,que formava a base patológica do caráter, pela qual a impotência eretiva podia ser mantida.” “Terminei a análise alguns meses mais tarde e o paciente não estava curado. A imperturbabilidade com que aceitou isso era tão estóica quanto a imperturbabilidade com que aceitou tudo, durante o tratamento todo. Esse paciente gravou em mim o importante conceito de <bloqueio emocional> na análise do caráter.”

“Os psicanalistas faziam graças maliciosas a respeito da sua preguiça durante a sessão analítica. Se um paciente não fazia nenhuma associação durante horas a fio, o analista tinha de fumar muito para não adormecer. Houve analistas, inclusive, que deduziram disso teorias grandiosas. Se o paciente permanecia em silêncio, então, o analista devia também manter-se em silêncio, mesmo que fosse, afinal, por horas ou semanas. Isso era considerado como <técnica consumada>.” “A situação não era nada melhorada nem pelas brincadeiras a respeito: do analista que despertou de um sono profundo, durante uma sessão, e encontrou vazio o divã; nem pelas explicações enroladas para provar que estava certo que o analista cochilasse um instante, pois o seu inconsciente permaneceria atento ao paciente. Afirmava-se mesmo que o inconsciente do analista podia, ao despertar do sono durante um tratamento, compreender exatamente o rumo que o inconsciente do paciente estava seguindo. Era deprimente e desanimador. Por outro lado, Freud aconselhava-nos a não ser demasiado ambiciosos nos nossos esforços terapêuticos.”

somático: corpo menos tripas e cabeça (físico, por oposição a psicológico, psíquico).

Como muitos outros, Stekel não conseguia ver a diferença fundamental entre a excitação psicossomática e o conteúdo psíquico de um sintoma.” “não havia dúvidas de que as psiconeuroses tinham um cerne neurótico atual (estase) e que as neuroses estásicas tinham uma superestrutura psiconeurótica.”

Embora muitos analistas atribuíssem a maior importância aos conteúdos psíquicos dos sintomas neuróticos, eminentes psicopatologistas, como Jaspers (cf. a sua Psychopathologie) negavam completamente o caráter científico da interpretação psicológica do significado, e por isso negavam o caráter científico da própria psicanálise. Jaspers afirmava que o <significado> de uma atitude psíquica ou de uma ação podia ser compreendido apenas <filosoficamente> — e não cientificamente.” “Allers, o filósofo e fisiologista vienense, recusou-se a entrar na questão da vida psíquica inconsciente porque, do ângulo da filosofia, a hipótese de um <inconsciente> era a priori falsa.”

Um ano mais tarde, o médico vienense Chrobak enviou uma paciente a Freud. Sofria de crises agudas de angústia e ainda era virgem, após 8 anos de casamento com um homem impotente. Chrobak escreve o seguinte comentário: <Sabemos bem demais qual é a única prescrição para estes casos, mas não podemos prescrevê-la. É: Penis normalis, dosim repetatur!>”

Uma mulher era considerada genitalmente sã quando capaz de experimentar um orgasmo clitório. A esse tempo, desconhecia-se a distinção econômico-sexual entre excitação clitória e vaginal. (N.E.:) A controvérsia não chegou ao fim. Masters e Johnson são as autoridades que mais recentemente negaram a distinção. Ainda assim, a única autoridade verdadeira deve ser a mulher que experimentou tanto o orgasmo clitório como o vaginal. Invariavelmente afirmará que há uma diferença.” “a pura verdade é que uma análise precisa do comportamento genital, além das frases nada explicativas <dormi com uma mulher> ou <dormi com um homem>, era absolutamente proibida na psicanálise. Levei mais de 2 anos de experiência para livrar-me completamente dessa reserva delicada, e descobrir que as pessoas confundem o ato sexual puramente animal com a posse amorosa.”

um economista sexual — que sabe que o homem é a única espécie biológica que destruiu a sua própria função sexual natural e está doente em conseqüência disso.” “Até 1923, ano em que nasceu a teoria do orgasmo, apenas as potências ejaculativa e eretiva eram conhecidas da sexologia e dos psicanalistas. Sem a inclusão dos componentes funcionais, econômicos e experimentais, o conceito de potência sexual não teria existido. Potência eretiva e ejaculativa eram apenas pré-condições indispensáveis da potência orgástica. Potência orgástica é a capacidade de abandonar-se, livre de quaisquer inibições, ao fluxo de energia biológica; a capacidade de descarregar completamente a excitação sexual reprimida, por meio de involuntárias e agradáveis convulsões do corpo.

Nem um único neurótico é orgasticamente potente, e as estruturas de caráter da esmagadora maioria dos homens e mulheres são neuróticas. No ato sexual livre de angústia, de desprazer [hm] e de fantasias, a intensidade de prazer no orgasmo depende da quantidade de tensão sexual concentrada nos genitais. Quanto maior e mais abrupta é a <queda> da excitação, tanto mais intenso é o prazer.” Soninho pós-coito: bom sinal.

Fase de controle voluntário da excitação

A ternura também está ausente no <coito onanista> com um objeto não-amado. Normalmente a atividade da mulher não difere de modo algum da do homem. A passividade da mulher, embora comum, é patológica e resulta habitualmente de fantasias masoquistas de violação.” “Pela fricção mútua, gradual, rítmica, espontânea e sem esforço, a excitação vai-se concentrando na superfície e na glande do pênis, e nas partes posteriores da membrana mucosa da vagina. A sensação característica que precede e acompanha a descarga do sêmen está ainda totalmente ausente (não nos casos de ejaculação prematura). O corpo ainda está menos excitado que o genital. A consciência está inteiramente dirigida para a assimilação das sensações ondulantes de gozo. O ego participa ativamente, na medida em que tenta explorar todas as possíveis fontes de prazer e atingir o mais alto grau de tensão antes do momento do orgasmo. Intenções conscientes obviamente não têm lugar aqui. Tudo acontece espontaneamente com base nas experiências de anteprazer individualmente diferentes, por uma mudança de posição, pela natureza da fricção, pelo ritmo, etc. Segundo a maior parte dos homens e mulheres potentes, quanto mais lentas e delicadas são as fricções, e mais estreitamente sincronizadas, mais intensas são as sensações de prazer. Isso pressupõe um alto grau da afinidade entre o homem e a mulher. Um correspondente patológico disso é o desejo de fazer fricções violentas, especialmente pronunciado nos caracteres sádicos compulsivos que sofrem de anestesia do pênis e da incapacidade de descarregar o sêmen. Outro exemplo é a pressa nervosa dos que sofrem de ejaculações prematuras. Os homens e mulheres orgasticamente potentes nunca riem ou falam durante o ato sexual exceto, possivelmente, para trocar palavras de carinho. Falar e rir indicam sérias perturbações da capacidade de entregar-se” “Nesta fase, a interrupção da fricção é em si mesma agradável por causa das sensações especiais de prazer que acompanham essa pausa, e não exigem esforço psíquico. Dessa forma, prolonga-se o ato. A excitação diminui um pouco durante a pausa. Não desaparece inteiramente, entretanto, como nos casos patológicos. A interrupção do ato sexual pela retração do pênis não é desagradável na medida em que ocorra após uma pausa tranqüila. Ao continuar a fricção, a excitação aumenta firmemente além do nível anteriormente atingido. Toma gradualmente, mais e mais, posse do corpo inteiro, enquanto o próprio genital mantém um nível mais ou menos constante de excitação. Finalmente, como resultado de um novo aumento habitualmente repentino de excitação genital, inicia-se a fase de contração muscular involuntária.”

Fase de contrações musculares involuntárias

Neste ponto, a consciência se torna mais ou menos nublada; seguindo-se a uma pequena pausa no <auge> do clímax, as fricções aumentam espontaneamente e o desejo de penetrar <completamente> se torna mais intenso com cada contração muscular ejaculatória. As contrações musculares na mulher seguem o mesmo curso que seguem no homem; há apenas uma diferença psíquica, isto é, a mulher sã quer <receber completamente> durante, e logo após, o clímax.”

Pressupõe-se que é patológica a continuidade do ato, isto é, refazê-lo, como se a tensão não houvesse sido dissipada.

a pessoa orgasticamente impotente experimenta um esgotamento plúmbeo, desgosto, repulsa, aborrecimento ou indiferença e, ocasionalmente, aversão ao companheiro. Nos casos de satiríase e ninfomania, a excitação sexual não desaparece. A insônia é uma das características essenciais da falta de satisfação. Não se pode, entretanto, concluir automaticamente que uma pessoa experimentou a satisfação quando cai no sono imediatamente após o ato sexual.”

experiência sensorial x experiência motora

(fase 1) (fase 2)

convulsão=solução

É preciso distinguir dois grupos de fantasias que poderiam acompanhar o ato sexual: umas em harmonia com a experiência sexual, outras em contradição com ela. Se o companheiro é capaz de atrair todo o interesse sexual para ele, ou para ela, ao menos momentaneamente, então as fantasias inconscientes são também supérfluas. Em termos da sua própria natureza, essas fantasias se opõem à experiência real, pois só se fantasia o que não se pode obter na realidade.” “Quanto mais intensamente a fantasia precisa trabalhar para aproximar, do ideal, o companheiro, tanto mais o prazer sexual perde em intensidade e valor econômico-sexual. Depende inteiramente da natureza das discordâncias que existem em toda relação prolongada a redução, ou não, da intensidade da experiência sexual; e, no caso afirmativo, o grau de redução. Essa redução tende a transformar-se em uma perturbação patológica muito mais cedo quando há uma fixação forte do objeto primitivo e incapacidade de realizar uma transferência genuína, e quando, além do mais, é necessária grande quantidade de energia para superar no companheiro as características em contradição com o objeto primitivo.”

A fórmula terapêutica de Freud para as neuroses, embora correta, é incompleta. O pré-requisito fundamental da terapia consiste em tornar o paciente consciente da sua sexualidade reprimida. Só isso não cura; isto é, pode curar, mas não cura necessariamente. O tornar o paciente consciente dos impulsos sexuais reprimidos garante a cura quando também elimina a fonte de energia da neurose, i.e., a estase sexual. Em outras palavras, esse tipo de terapia efetua a cura quando a consciência das exigências instintivas restaura também a capacidade de obter uma plena satisfação orgástica. Dessa forma, as proliferações patológicas são privadas da fonte da sua energia (princípio de remoção de energia).”

A excitação sexual é um processo somático. Os conflitos da neurose são de natureza psíquica. O que acontece é que um conflito secundário, em si mesmo normal, causa uma leve perturbação na balança da energia sexual. Essa estase secundária intensifica o conflito, e o conflito por sua vez aumenta a estase. Assim, o conflito psíquico e a estase da excitação somática aumentam-se mutuamente. O conflito psíquico central é a relação sexual entre a criança e os pais. Está presente em toda neurose. É o armazém histórico da experiência, de que se alimenta o conteúdo da neurose. Todas as fantasias neuróticas podem ser reduzidas à primeira vinculação sexual da criança com os pais. (…) As fixações patológicas incestuosas pelos pais, pelos irmãos e irmãs, perdem a sua força quando se elimina a estase simultânea de energia, i.e., quando a plena satisfação orgástica é experimentada no presente real. Por isso, depende do grau de descarga da energia sexual que o conflito de Édipo se torne ou não patológico. Em suma, a neurose atual [a neurose somática de Freud, também chamada de pré-genital ou pré-edipiana, num mal-entendido, por algumas gerações de psicanalistas freudianos] e a psiconeurose [a neurose clássica, genital ou edipiana] se sobrepõem: não podem ser concebidas como tipos separados de neuroses.” “Se as atividades sexuais não-genitais são reprimidas, a função genital se torna perturbada. Essa perturbação provoca fantasias e ações pré-genitais. As fantasias e atividades sexuais pré-genitais, que encontramos nas neuroses e perversões, são não apenas a causa das perturbações genitais mas, de qualquer forma, também o resultado dessa perturbação. Esses critérios e observações constituem o fundamento da distinção, que fiz, em 1936, entre impulsos naturais e secundários.”

As enfermidades psíquicas revelam apenas qualidades. Todavia, sempre parecem depender dos chamados fatores quantitativos, da resistência e da força, da catexia de energia, das experiências e ações psíquicas. Em uma reunião do círculo mais íntimo de analistas, Freud uma vez aconselhou-nos a ser prudentes. Tínhamos, disse, que estar preparados para esperar perigosos desafios de uma futura organoterapia à terapia psíquica da neurose. Não havia maneira de saber o que poderia ser essa organoterapia, mas já se podiam ouvir os seus expoentes batendo à porta. A psicanálise deverá um dia estabelecer-se sobre uma base orgânica. Isso era uma verdadeira intuição freudiana!

Todo paciente é profundamente cético em relação ao tratamento. Cada um apenas o disfarça de maneira diferente. Apresentei uma vez um relatório sobre um paciente que disfarçava a sua secreta desconfiança de um modo extremamente engenhoso: mostrava-se muito polido e concordava com tudo.” “A adaptação da técnica à hipocrisia do caráter do paciente apresentava conseqüências que ninguém adivinhava, e que todos inconscientemente temiam.”

O id era <mau>, o superego sentava-se num trono com uma longa barba e era <austero>; e o pobre do ego esforçava-se por ser um <medianeiro> para os dois.” “Desapareceu a seriedade das comunicações psicanalíticas: foi cada vez mais substituída por um pathos, reminiscência dos filósofos morais. Pouco a pouco, a teoria das neuroses foi traduzida para a linguagem da <psicologia do ego>. A forma eclipsou o conteúdo; a organização tornou-se mais importante que a tarefa. Teve início o mesmo processo de deterioração que destruiu os grandes movimentos sociais da história. Exatamente como o primitivo cristianismo onde Jesus se havia transformado na Igreja, e como a ciência marxista se tornara na ditadura fascista, muitos psicanalistas logo se tornaram os piores inimigos da sua própria causa. A cisão no âmago do movimento já não tinha conserto. Hoje, 15 anos depois, isso é evidente para todos. Foi somente em 1934 que o percebi claramente. Era tarde demais.”

sinais de desintegração dentro do movimento psicanalítico (por exemplo, a teoria do instinto de morte)” “A psicanálise jamais se recuperou disso.” “Se o analista não conseguia curar um paciente, o instinto de morte é que era o responsável.”

Reik publicou um livro, Geständniszwang und Strafbedürfnis [Compulsão de Confessar e Necessidade de Punição], no qual todo o conceito original de enfermidade psíquica estava de cabeça para baixo. O pior de tudo é que o livro encontrou aprovação. Reduzida à expressão mais simples, a sua inovação podia ser descrita como a eliminação do medo à punição pelas transgressões sexuais cometidas na infância. Em Beyond the Pleasure Principle e The Ego and the Id, F. presumia a existência de uma necessidade inconsciente de punição. Essa necessidade explicava ostensivamente a resistência do paciente à cura.

O paciente aventurava-se a procurar uma companhia, abandonava a abstinência, ou experimentava contatos sexuais mais satisfatórios. Entretanto somente em poucos casos se concretizava a esperança de que essa libertação de energia sexual acarretasse também o estabelecimento da função orgástica. Concluindo, poder-se-ia dizer que apenas uma energia insuficiente se havia libertado das amarras neuróticas. De modo geral, entretanto, o paciente permanecia bloqueado. Propunha-se, assim, a questão: onde, além dos sintomas neuróticos, se prende a energia sexual? Isso era um problema novo na psicanálise. mas não estava fora da sua estrutura. Pelo contrário, tratava-se apenas de uma aplicação consistente do método de raciocínio analítico, que tomava o sintoma neurótico como ponto de partida. A princípio, não obtive resposta para a pergunta. Problemas clínicos e terapêuticos nunca podem ser resolvidos pela meditação. Solucionam-se no processo de controle dos trabalhos práticos.”

Somente o aparelho genital é capaz de proporcionar o orgasmo e de descarregar plenamente a energia biológica. A pré-genitalidade pode apenas aumentar as tensões vegetativas”

não há conversão de uma excitação sexual. A mesma excitação que aparece nos genitais como sensação de prazer é percebida como angústia quando se apodera do sistema cardíaco, i.e., é percebida como o oposto exato do prazer.” “A angústia cardíaca se encontra na angina pectoris [dor isquêmica do peito, i.e., parestesia], na asma brônquica, no envenenamento pela nicotina e na exoftalmia [saliência exagerada do globo ocular]. Assim, a angústia sempre se desenvolve quando o sistema cardíaco é afetado por qualquer excitação anormal.” Quando se vive? era necessário distinguir a angústia que resultava de uma estase de excitação e a angústia que era a causa de uma repressão sexual. A primeira determinava as neuroses estásicas, a última, as psiconeuroses. Mas os dois tipos de angústia agiam simultaneamente em qualquer dos casos.”

Na fantasia ou na expectativa de um perigo, o organismo age como se o perigo já estivesse presente.” Me afadigo apenas de pensar na troca de uma lâmpada no meu futuro apartamento…

Eu estava firmemente convencido da exatidão da minha ampliação do conceito original de F. sobre a angústia. Era muito agradável sentir que me estava aproximando cada vez mais da sua função fisiológica.” “Freud havia demonstrado que a angústia na neurose se torna fixa. O paciente escapa à angústia se, por exemplo, desenvolve um sintoma compulsivo. Se a função da compulsão é perturbada, a angústia aparece imediatamente. Muitos casos persistentes de neurose de compulsão e depressão crônica não puderam ser alterados. Eram de certa forma inacessíveis. Na literatura psicanalítica, não havia processos técnicos para vencer a superfície desse estado enrijecido. Era o caráter como um todo que resistia.” pensar é sofrer, por outro lado…

Eu leio para não (me) odiar.

A função da terapia psicanalítica era descobrir e eliminar resistências. Não se esperava que interpretasse diretamente a matéria inconsciente. Assim, o analista devia partir da repressão dos impulsos inconscientes pelo ego moralista.”

O esquema de Freud, da interrelação do <inconsciente> com o <pré-consciente> e o <consciente>, não coincide com o seu outro esquema da estrutura psíquica, que consiste do <id>, do <ego> e do <superego>. [DUAS ABSTRAÇÕES COMPLETAMENTE ARBITRÁRIAS, POR SINAL.] De fato, freqüentemente se contradizem. O <inconsciente> de Freud não é idêntico ao <id>. O último é mais profundo. O inconsciente compreende os desejos reprimidos e importantes elementos do superego moralista. Uma vez que o superego tem a sua origem na vinculação incestuosa da criança aos pais, carrega as antigas características dessa vinculação. O próprio superego é provido de grande intensidade instintiva, particularmente de natureza agressiva e destrutiva. O <ego> não é idêntico ao <sistema consciente>. A defesa do ego contra os desejos sexuais proibidos é, ela própria, reprimida. Além disso, o ego tem origem no id, do qual é apenas uma parte especialmente diferenciada, embora, mais tarde, sob a influência do superego, entre em conflito com o id.” “a esse tempo não era possível trabalhar com o id, que não era tangível, nem como superego, que era apenas uma hipótese teórica, expresso claramente na forma de uma angústia de consciência. (…) Para Freud, o <inconsciente> nunca tinha sido mais que uma <hipótese indispensável>.” Fala como se não continuasse sendo uma pura hipótese de trabalho. Incompreensível ingenuidade – como se de um momento para outro se tivesse passado de uma pré-história caótica para uma sistematização empírica e milenarmente testada da mente. O que “provou” de súbito o id no meio do caminho, a própria psicanálise?! Não pode ser esse o nível silogístico do argumento!!

o jovem passivo-feminino que sofria de sintomas histéricos, incapacidade para o trabalho, e impotência ascética. Abertamente, era muito polido; secretamente, o seu medo o tornava muito astuto. Assim, concordava com tudo. A polidez representava o estrato mais alto da sua estrutura. Produzia matéria superabundante sobre a fixação sexual pela mãe. <Produzia>, sem qualquer convicção interior. Não examinei essa matéria, mas procurei continuamente chamar-lhe a atenção para a sua polidez, como uma defesa contra a percepção realmente afetiva. O ódio escondido começou a aparecer cada vez mais nos seus sonhos. (*) Como a sua polidez diminuísse, tornou-se insultante. (**) Assim, era a polidez que lhe aparava o ódio.(***) Consegui torná-lo evidente, por completo, destruindo cada uma das suas inibições. Até então, o  ódio havia sido uma atitude inconsciente. Ódio e polidez eram antíteses. Ao mesmo tempo, a sua polidez excessiva era uma expressão disfarçada do ódio. Pessoas excessivamente polidas são habitualmente as mais impiedosas e perigosas. [continua!]

(*) Mesma época do “poodle preto de Ranna”. A falta de compaixão para com os animais. “Quero que minha família vire farelo”; “…que meus ex-colegas da DRI morram”, “…que os sociólogos que conheci sejam infelizes”, etc., como pensamento-mor e desejo reinante seriam o equivalente simbólico da auto-destruição genital?!

22/02/2022: ocorrência esporádica do mesmo estilo de sonho (um cão pequeno, iracundo, de alguma pessoa secundária, grande perigo de me ferir, muito ódio presente). Como se todo um ressentimento só “me acessasse” em sonho.

(**) Sentimento da onda purificatória – Liz, Yssel, Jana, Cathy… Avanços e retrocessos.

Descontar a frustração cotidiana nos incautos mendigos e pedintes ou internautas desavisados/desaforados. Mas PRINCIPALMENTE nos segundos, que estão cada vez mais intragáveis.

(***) “Seja educado com os outros, Rafael, eles não têm culpa. Amadureça!” “Você não pode falar assim com a sua avó, com o seu chefe, com o seu pai, com a mãe dos outros! Mas com o seu presidente (Satanás), sim!” Estranha semelhança a versos bíblicos. (2022:) Veja quanto ressentimento o fascista doente não estava aprendendo a espocar – como a Dilma corroía o coraçãozinho dessas flores? O quanto eu não tive de padecer para aturá-los? O quanto hoje eles NÃO estão um centímetro melhores e toda a evolução e distância emocional e sentimental que conquistei? Esses imbecis são mesmo sencientes? São, sabem-no e estão AINDA mais amargurados? Porque se não mudam de idéia, como poderiam não estar?

cila com “c” de cão raivoso;

homem com “h” de hostil.

[cont.] Por seu lado, o ódio libertado repelia um medo intenso ao pai. Era simultaneamente um impulso reprimido e uma defesa inconsciente do ego contra a angústia. Quanto mais claramente o ódio era trazido à superfície, mais distintamente apareciam as manifestações de angústia. Finalmente o ódio deu lugar a nova angústia. O primeiro não era absolutamente a agressão original da infância, mas uma formação nova, de um período posterior. A nova angústia que irrompeu era a manifestação de uma defesa contra um estrato mais profundo do ódio destrutivo. O estrato superficial do ódio se havia satisfeito com o ridículo e o desprezo. A atitude destrutiva mais profunda consistia em impulsos assassinos contra o pai. Eliminado o medo a esses impulsos (<angústia destrutiva>), a atitude destrutiva mais profunda se tornou manifesta em sentimentos e fantasias. (…) o medo à destruição não podia subir à superfície sem, ao mesmo tempo, trair a agressão destrutiva. Como resultado da maneira pela qual se desenvolve a estrutura de caráter do homem moderno, uma <resistência interior> é constantemente interpolada entre o impulso biológico e a sua realização; o homem age <reagindo> e está intimamente voltado contra si mesmo.Tenho pena do D***.

Hora de ultrapassar nossos sonhos mais profundos até aqui…

ziguezague

Voltar a odiar, forçar o “corpo” a engolir esse ódio,

que não sou eu

f***-** Gaia!

Ele anda muito sentido!”

2 idiotas na lagoa

A dependência econômica nos fez pensar três vezes a cada ato de coragem do passado; quando não era mais absolutamente necessário meditar tanto… esquecemos como se fazia rebeldia e vôo livre… Temos que pagar alguém que nos reensine e readestre… Mas não há garantias de sucesso… Quando finalmente tivermos concluído o processo, estaremos às portas da velhice para colher os frutos. Pupilas gustativas deterioradas contraídas que não vêem…

[e ainda continua!] O impulso destrutivo em relação ao pai era, por sua vez, uma defesa do ego contra a destruição pelo pai. Quando comecei a descobrir isso e a desmacará-lo como uma defesa, a angústia genital veio à superfície. Assim, as intenções destrutivas contra o pai tinham a função de proteger o paciente contra a castração pelo pai.” Já não se aplica inteiramente a mim.

E assim Reich poderia seguir indefinidamente inventando novos teatrinhos…

[cont.] O medo de ser castrado, que era reprimido pela aversão destrutiva ao pai, era em si mesmo uma defesa contra um estrato ainda mais profundo de agressão destrutiva [JÁ CHEGA], principalmente o desejo de privar o pai do seu pênis e assim eliminá-lo como rival.” “Uma descrição completa desse caso aparece no meu livro Character Analysis [o mesmo do acima no título original em alemão?].” Completa perda de tempo a-social; nem parece que estamos diante do mesmo autor da PMF…

Não havia mais nenhuma dicotomia entre a matéria histórica e contemporânea. O mundo total da experiência passada incorpora-se ao presente sob a forma de atitudes de caráter. O caráter de uma pessoa é a soma total funcional de todas as experiências passadas.

Um conflito, combatido em determinada idade, sempre deixa atrás de si um vestígio no caráter do indivíduo. Esse vestígio se revela como um enrijecimento do caráter. Funciona automaticamente e é difícil de eliminar. O paciente não o sente como algo alheio; freqüentemente, porém, percebe-o como uma rigidez ou como uma perda da espontaneidade. Cada um desses estratos da estrutura do caráter é uma parte da história da vida do indivíduo, conservada e, de outra forma, ativa no presente. A experiência mostrou que os conflitos antigos podem ser bem facilmente reativados pela liberação desses estratos. Se os estratos de conflitos enrijecidos eram especialmente numerosos e funcionavam automaticamente, se formavam uma unidade compacta e não facilmente penetrável, o paciente os sentia como uma <couraça> rodeando o organismo vivo. (*) Essa couraça podia estar na <superfície> ou na <profundeza>, podia ser <tão macia quanto uma esponja> ou <tão dura quanto uma rocha>. A sua função em todos os casos era proteger o indivíduo contra experiências desagradáveis. Entretanto, acarretava também uma redução da capacidade do organismo para o prazer. Experiências de vários conflitos compunham o conteúdo latente da couraça. A energia que conservava a couraça unida era, habitualmente, uma tendência destrutiva inibida. Isso se comprova pelo fato de que a agressão começava a soltar-se imediatamente, quando a couraça era penetrada. (…) as pessoas reagiam com profunda aversão a qualquer perturbação do equilíbrio neurótico da sua couraça. (**) Essa era uma das maiores dificuldades na investigação da estrutura do caráter. A tendência destrutiva, em si mesma, nunca era livre. Era refreada por atitudes de caráter opostas. Por isso, nas situações da vida em que era necessário ser agressivo, agir, ser decidido, assumir uma posição definida, a pessoa era levada pela piedade, pela polidez, pelas reticências, pela falsa modéstia; (sic) em suma, pelas virtudes que são tidas em alta estima. Mas não podia haver dúvidas de que paralisavam toda reação racional, (sic) todo impulso ativo de vida no indivíduo.”

(*) Isso é deveras nítido. Eu sou o planeta e eles são os satélites e detritos de estações espaciais. Em inércia, mas em órbita. É necessário enviar um astronauta… E é uma operação perigosa.

(**) Idéia de título de livro [hahaha!]: TEMPO COME ESPAÇO: O MITO DE CRONOS, O DEVORADOR DE PLANETAS. // A HISTÓRIA DE UM ÓDIO IMPRESSIONANTE // O COMPLEXO DE SOUJIRO SETA: Rafael, o Solícito

A que preço, hein, teu velho cheio de cicatrizes? A que preço tu superaste todos os obstáculos diante de ti como um rolo compressor? Estás multifragmentado por dentro. Não és mais que uma couraça gigante. Combater a depressão formando uma casca deve ser o conselho médico mais imbecil que já ouvi na vida… Médico da posse na CAPES.

ENSAIO PESSOAL: Estratificações do meu caráter (síntese)

(nota-prólogo: sonho de hoje – 28 de julho)

Eu voltava à clínica do Dr. Minoro, meu primeiro psiquiatra. Era horário de almoço, ele não estava. A secretária me atendeu. Me forneceu uma medicação, uma espécie de líquido amarelo que despejou na própria mão e que eu deveria “recolher” (como se fosse guardar com minhas mãos no bolso, ou num recipiente; não era para consumo imediato, para sorver com a boca, era o correspondente a várias dosagens que devia tomar homeopaticamente em casa); ela cometeu um erro e despejou mais do líquido do que era necessário; ele transbordou da sua mão para a mesa. Ela riu e eu também; queria ter sido grosso com ela, mas me contive, sendo sempre muito polido. Mas esse não parecia ser o motivo principal da minha visita. Era como se eu estivesse ali para revisitar meus colegas da terapia coletiva/hospital-dia com quem estive em “pé de igualdade” antes, para mostrar-lhes que “estava bem melhor agora”. Como era horário de almoço, não pude encontrar ninguém. Um detalhe é que o dr. Minoro tinha estipulado que eu devia voltar à clínica a cada quatro sextas, isto é, uma vez ao mês, e por alguma razão eu passei cerca de 2 ou 3 meses sem comparecer, por puro esquecimento e desleixo.

Angústias do meu histórico que o sonho pode estar refletindo: Foi meu primeiro tratamento psicológico-psiquiátrico, e o resultado, embora na própria clínica tenha sido dado como satisfatório, não me agradou. É como se tudo que eu tivesse feito foi “dar uma pausa” nas correrias e demandas do mundo real. Sem trabalhar ou estudar, meu corpo e minha mente restauraram de alguma forma a saúde e a noção de bem-estar, mas eu não tinha certeza alguma em relação ao futuro a longo prazo. Fato é que recebi alta do hospital-dia; continuei a visitar o dr. Minoro a cada mês para receber receitas de remédios, o que não durou mais do que 2 ou 3 vezes. Lembro que estava com muitos remédios acumulados, que davam para um tempo de 2 ou mais meses, mesmo que eu não voltasse ao consultório. Houve alguma discussão entre mim e meu pai em que ele insinuou que os remédios eram inúteis e caros; eu, afligido com a situação de dependência econômica em relação e ele, e considerando-me um “ex-paciente” que já voltara à normalidade, me auto-dispensei dos medicamentos. O que, diferentemente do que haviam relatado (tanto outros pacientes quanto profissionais da clínica) sobre o efeito-rebote, não me causou qualquer efeito colateral ou abstinência. Minha vida seguiu no ritmo desejado: fiz curso para concurso, fiz várias provas, depois, quando achei que não agüentaria o mesmo ritmo de estudos e as provas interessantes escassearam, tendo certa margem para poder me concentrar noutras coisas (ainda tinha dinheiro no banco da minha época de professor, de forma que nunca mais havia pedido dinheiro para o meu pai; das provas que realizei, era boa a chance de ser empossado em algum cargo nos próximos meses, etc.), me tornei ativo esportivamente. Primeiro me engajei em diversas sessões fisioterápicas para um velho problema de fascite plantar [fáscia: tecido fibroso, sangüíneo, nervoso]; me informei sobre meu caso (“pisada pronada” ou “pé chato”“Harry!”) e passei a usar somente calçados adequados. Fiz academia pela primeira vez. Emagreci muitos quilos. Emagreci cerca de 20kg na balança, mas devo ter perdido mais de 30kg de gordura. Tinha uma rotina regrada; não sofria de insônia. Dormia sem esforço à meia-noite e às 8 da manhã já estava de pé. Fazia os exercícios pela manhã. Me sentia com apetite regular, aprendendo a comer menos nas refeições, e ainda assim me sentia saciado. A tarde e a noite eram livres. Podia ler, escrever, ouvir música e ver anime.

Lembro que durante o tratamento no hospital-dia, interrompi o consumo de álcool assim que iniciei com a medicação (tarja vermelha). Mais ou menos nas últimas semanas, senti nova curiosidade e novo ímpeto para provar álcool e reinseri-lo na minha “dieta alimentar”, porque tornava as saídas mais interessantes afinal. Ou seja, fui abstinente da substância aproximadamente entre 18 e 24 meses, não me lembro ao certo quanto tempo. Uma vez fiquei quase 30 dias sem fumar, num mês de dezembro, por causa de uma dor de garganta. Considerava que seria fácil de parar se eu quisesse, naquele momento, mas julguei que eu tinha direito a certa arbitrariedade nos meus prazeres, então continuei fumando, simplesmente porque é agradável. Nota: no máximo 5 cigarros por dia.

Todo esse ciclo que descrevo durou de setembro-2011 a dezembro-2013 ou janeiro-2014. Raramente eu sentia episódios de ansiedade. De forma crônica e moderada, posso dizer que no pôr-do-sol sentia meu ritmo acelerar; durante dois dias na semana, eu fazia curso de francês, começando às 19h ou 19h30. Me sentia um pouco mais nervoso e inquieto antes de entrar na sala de aula, sem saber definir o porquê. Sempre fui muito pontual em meus compromissos. Pela primeira vez, comecei a me atrasar nas aulas, parte voluntária parte involuntariamente, porque decidia terminar alguma tarefa no computador e não administrava o tempo corretamente. Por exemplo: queria terminar de uma vez uma resenha de jogo, ao invés de deixar para depois. Além disso, as aulas estavam “banais” (eu já estava no módulo avançado do curso e tinha bastante autonomia na língua; não aprendia nada essencial ou inédito via curso). Um dos professores era considerado imensamente tedioso pelos outros alunos (jovens de 18-20 anos da UnB), um verdadeiro robô que apenas seguia o livro didático ordeiramente. Mas fato é que hoje eu me considero um sujeito que “se atrasa” em encontros, ao invés de ser o que chega “demasiadamente cedo”, como até antes dessa época.

Uma briga com meu pai, em particular, em 2013, motivada pelo pouco caso que ele exibia sobre a situação traumática de eu sofrer assaltos, me deixou mal por uma semana; não foi o suficiente para me fazer deixar de freqüentar a academia nem deixar de executar meus hobbies, mas um grande sentimento de culpa tomou conta de mim por ter gritado em alto e bom som, numa festa de um primo dele, que ele tinha que morrer. Mesmo sabendo que seria merecido se acaso ele morresse. É como se eu acreditasse que estava moralmente impedido de “ir contra as regras da moral”, que meu corpo me puniria caso eu insistisse nessa volição homicida… Mas nunca fui injusto: a opinião que tenho dele é a mais correta. De qualquer forma, comecei a me sentir diferente, mais inseguro e intranqüilo, na véspera de ser convocado para o cargo público na CAPES (7 de maio de 2014, meu primeiro dia aqui). Desde então meu quadro reverteu à situação anterior, quando dava aula, e me ressubmeti ao tratamento, em outra(s) clínica(s).

Em resumo, porque o primeiro tratamento deu apenas parcialmente certo, mas sem que eu achasse que tenha sido pela qualidade dos profissionais que me atenderam, e porque eu não o segui até o final (recebi alta apenas do acompanhamento psicológico), é que eu considero que tive esse sonho agora. Me ressinto pelo meu primeiro psiquiatra ser um velho que não conseguia entender minhas angústias, e porque meus psicólogos de variadas vertentes não atacavam meus problemas fundamentais. A pior experiência do período foi quando meus pais foram chamados para uma sessão de psicodrama. Acho que o psicólogo se chamava Ivan. Pois bem, a sessão foi um fiasco completo; meu pai se descontrolou e eu voltei para casa bastante instável. A partir desse dia, não tolerava mais os métodos da clínica. Aquele dia deveria ter sido minha “formatura”, pois já estava implícito que minha alta estava próxima. Tinha avançado bastante e agora era preciso apenas “aparar as arestas” na relação com meu pai. Como nada do que pudesse ser feito por eles converteria o meu pai de suas convicções fossilizadas, me senti traído por todos, principalmente pelo psicólogo do psicodrama, que disse que “não há nada de errado com seu pai, ele é um homem bom, honesto, mas não enxerga algumas coisas”. Mas foi nesse dia do fiasco do psicodrama que finalmente disse para mim: não quero mais “descansar”. Quero estudar para concursos. Vamos ser pragmáticos! Procurei uma instituição para me matricular num curso. Creio que dali a 2 meses já estava estudando. E dali a 1 mês (em relação ao dia do psicodrama) já não freqüentava o hospital-dia. Por algum tempo (umas 3 semanas) ainda compareci às sextas-feiras para fazer a “transição” e terminar de me despedir dos pacientes, que afinal foram as pessoas com quem mais interagi depois de me demitir da escola. Ainda converso com uma enfermeira e uma psicóloga deste lugar (CAPP-Vida) pelo Facebook. Eu queria estar melhor do que estava, mas de certa forma já esperava por isso, porque nunca me sentira compreendido naquele lugar. Fiquei bem comigo mesmo, embora tivesse o pressentimento de que aquela serenidade seria efêmera e quando “o mundo” me atacasse com o mesmo vigor de antes eu voltaria a cair e me ver em maus lençóis.

0

0-12

Até onde eu sei, tive uma infância bastante saudável e resolvi satisfatoriamente o que psicanalistas chamariam de “Complexo de Édipo” da primeira infância, não sofrendo de uma incapacitação severa ou neurose delicada.

I

13-16:

conflitos: pai, socialidade, sexualidade, amadurecimento, vida escolar

soluções parciais (vestígios): mudança de escola, procura por outros amigos, auto-afirmação intelectual, conquista amorosa e primeiro sexo, procura de maior diálogo e intimidade com o sexo oposto, comportar-se adequadamente com base numa nova visão e consideração a longo prazo (para que sintam orgulho de mim e me tomem como um modelo a se seguir).

partes mais duras da crosta (contrapontos, resíduo negativo): bullying (Pedro e Pinguço – “você jamais seria um de nós, a panela headbanger, embora não seja um deles [os playboyzinhos da sala ou do colégio – SIGMA])”, autoestima afetada, saudade do colégio militar (considero a expulsão minha 1ª morte), desafio aos professores (devido a meu posto desprivilegiado, de mero aluno, jamais poderia ganhar), perda da belicosidade enquanto ferramenta vantajosa, a vulnerabilidade do amor (estresses e angústias anteriormente desconhecidos; vida fica mais “séria” a partir deste ponto); o número de hobbies cresce cada vez mais (início da construção da “bomba-relógio fatal” de quem quer coisas demais e tem pouco tempo para concretizá-las) – será?!?

II

17-19:

conflitos: pai, pós-sexualidade, amadurecimento, vida acadêmica, mercado de trabalho

soluções parciais (vestígios): eu não fazia o que meu pai queria que eu fizesse (tirar a carteira de motorista, cursar direito…, mas no fim eu me achava no lugar que queria [cursando jornalismo, que queria desde os 10, talvez 11 anos]); meu primeiro namoro acabou, e eu ainda a amava, mas eu sempre estava saindo com alguém ou me apaixonando por curtos períodos de tempo – o que me preocupava era não ter mais uma parceira fixa; eu me via me transformando em jornalista, mas sem a recompensa financeira por isso; veio a “crise”: devia abandonar o barco, queria estudar sociologia e ser professor. Quem sabe finalmente eu conseguisse “soltar a língua”, me recuperar da rigidez e ser mais espontâneo! Além disso, me livraria de um peso: meu pai não reclamaria das mensalidades do curso de jornalismo no CEUB.

partes mais duras da crosta (contrapontos, resíduo negativo): eu tinha pânico de ter de trabalhar durante o curso (queria tempo para me aperfeiçoar, para ler, para curtir), e meu pai falou no sentido de um ultimato: “a partir do quinto semestre você vai ter de me ajudar a pagar seu curso, arranjar um estágio”. Não é possível obter estágio no curso de jornalismo antes do quinto semestre. Mas eu havia feito 2 estágios logo no primeiro semestre; um deles não-remunerado, e o outro ilegal, até que a empresa foi obrigada a me desligar. Eu me sentia mal nesses lugares, preferia as aulas. Achei perda de tempo. Por isso, era muito importante passar no vestibular da UnB para não ser obrigado pelo meu pai a trabalhar (e o que é pior: sem vantagem financeira nenhuma, pois o dinheiro iria para os boletos do curso). Ou seja, eu não “estava mais onde queria”, tinha que dançar conforme a música do “mundo real”. Me adaptar. Uma vez na UnB, eu tinha um compromisso comigo mesmo de “me enxergar como um professor” tão rápido quanto possível.

(2022: O engraçado é que o ser mais desadaptado ao mundo que conheço é o EXIGENTE EX-PAI!)

III

20-22

conflitos: vida acadêmica, amadurecimento, socialidade

soluções parciais (vestígios): comecei a me entrincheirar, para não me sentir desconfortável em relações com colegas que eu não desejasse ter; meus semestres letivos eram inteiramente dedicados ao curso. Lia todos os textos das disciplinas. Nas férias, procurava textos complementares que via nas ementas, ou investigava assuntos do meu interesse, como filosofia, leituras recomendadas na época do jornalismo, etc. Não havia tempo para mais nada (meus hobbies, como resenhar jogos, escrever um livro de ficção, esse tipo de coisa – talvez a única exceção fossem “descobertas musicais”, que fazia com prazer e alívio). (2022:) De certa forma foi, até hoje, o momento “mais ocupado” de minha vida.

partes mais duras da crosta (contrapontos, resíduo negativo): Me senti um solitário, cada vez mais “pesado”. Nunca era maduro o suficiente, por mais que crescesse muito como escritor e pensador. Nenhum professor morria de paixões por mim ou me enxergava como um gênio ou talento promissor, coisas que eu fantasiei que aconteceriam antes do curso começar. Deixei inteiramente de lado o campo amoroso.

IV

23-26

(fase tratada acima, no prólogo com a ajuda da descrição do sonho)

V

27-presente

conflitos: socialidade, sintomas físicos (somatização), administração do tempo, pais

soluções parciais (vestígios): aberto a novas amizades, vou, no entanto, conforme me desapontam, me fechando cada vez mais, como que por reflexo, como se fosse uma planta carnívora competente (automática, sem liberdade). Toda a soma das minhas angústias, não encontrando escapatória, nem se esgotando psiquicamente, começou a afetar meu físico de “n” maneiras. Trabalhar 8h por dia é tão ruim quanto sempre me falaram minha vida inteira, e me sinto um zumbi durante boa parte da semana. O jeito é me concentrar nas leituras por quanto tempo eu puder, dentro ou fora do trabalho, é claro. Até mesmo a dor física parece nos dar uma trégua durante nossas horas de concentração em problemas “auto-propostos” e de uma esfera mais alta e abstrata do que as “coisas mundanas”. Voltei a assumir hobbies antigos como os reviews de jogos e interesses literários extra-acadêmicos. Na verdade, iniciei publicamente minha carreira de escritor. Voltei a ter uma parceira fixa, “sonho” antigo. Ou seja, diferentemente do que pensava, não estava morto para o amor.

partes mais duras da crosta (contrapontos, resíduo negativo): Me sinto um solitário, ora mais leve, ora mais pesado. Sou até mais maduro do que deveria ser. Se eu pudesse ser tão acéfalo quanto alguns “respeitáveis pais de família” que conheço, isso redundaria em prazer e qualidade de vida. O acúmulo dos meus hobbies e a insatisfação com o ritmo dos trabalhos, tendo em vista que o cronograma de um trabalhador em tempo integral é apertado, me frustra continuamente. Ler e escrever virou praticamente uma compulsão, um mantra, um sine qua non. Eu não chamaria de uma atividade satisfatória, mas apenas catártica: pelo menos serve de substituto para um rivotril de vez em quando. Mas é “tudo que tenho”. Cada vez mais a coexistência com meus pais me oprime. Todo o amadurecimento que acumulei neste tempo terá sido em vão se não puder “exercê-lo” de fato, “voando” sozinho (ou com uma parceira, no caso).

O paciente queixava-se do vazio das suas experiências. Mas quando eu lhe apontava o mesmo vazio na essência das suas comunicações, na sua frieza, na sua natureza grandiloqüente ou hipócrita, ele se enfurecia. Ele percebia o sintoma — uma dor de cabeça ou um tique — como algo estranho. Mas o seu caráter era ele próprio. Perturbava-se quando lhe apontava isso. O que é que impedia uma pessoa de perceber a sua própria personalidade? Afinal, a personalidade é o que a pessoa é! Gradualmente comecei a entender que é o ser total que constitui a massa compacta e obstinada que obstrui todos os esforços de análise.” “a tendência destrutiva cravada no caráter não é senão a cólera que o indivíduo sente por causa da sua frustração na vida e da sua falta de satisfação sexual. (…) O desejo de destruir é apenas a reação ao desapontamento amoroso ou à perda do amor.” “Em suma, o amor contrariado causa angústia. Igualmente, a agressão inibida causa angústia; e a angústia inibe as exigências do ódio e do amor.” “a pessoa orgasticamente insatisfeita desenvolve um caráter artificial e um medo às reações espontâneas da vida; e assim, também, um medo de perceber as suas próprias sensações vegetativas.” “Traços de caráter como <complexo de inferioridade> ou <ambição de poder> são apenas manifestações superficiais do processo de <encouraçamento>, no sentido biológico da inibição vegetativa do funcionamento vital.”

Quanto à necessidade inconsciente de punição, não tinha nenhuma utilidade terapêutica; pois, se há um instinto biológico profundamente enraizado de permanecer doente e de sofrer, então a terapia nada pode fazer!”

Muitos analistas desorientavam-se por causa da desolação reinante no campo da terapia. Stekel não quis trabalhar sobre a resistência psíquica à revelação da matéria inconsciente, preferindo <atirar contra o inconsciente com interpretações>. Essa prática ainda é seguida por muitos psicanalistas desorientados. Era uma situação desesperada.”

STEKEL, Wilhelm – Nietzsche und Wagner, eine sexualpsychologische Studie zur Psychogenese des Freundschaftsgefühles und des Freundschaftsverrates, [Nietzsche e Wagner: Um estudo sexual-psicológico sobre a psicogênese dos sentimentos e rompimentos de amizade], 1917. In: Artigo em jornal alemão de Sexologia.

Jung generalizou a tal ponto o conceito de libido que este perdeu completamente a sua significação de energia sexual. Acabou no <inconsciente coletivo> e com isso no misticismo, que mais tarde representou oficialmente como nacional-socialista.”

digam aos pacientes que tenham relações sexuais, se vivem em abstinência; que se masturbem, e tudo irá bem! Era assim que os analistas tentavam interpretar — mal — a minha teoria da genitalidade. De fato, isso era precisamente o que muitos médicos e psiquiatras estavam dizendo aos seus pacientes naquele tempo.”

No meu trabalho clínico, nunca encontrei um instinto primário correspondendo à sexualidade ou à fome. Todas as manifestações que poderiam ser interpretadas como <instinto de morte> provaram ser produtos da neurose. Assim, por exemplo, ocorria no suicídio, que era ou uma ação inconsciente contra outra pessoa — com a qual o indivíduo se identificava —, ou ação para escapar do enorme desprazer causado por uma situação de vida extremamente difícil.” “o medo da morte e de morrer equivale a uma inconsciente angústia de orgasmo, e o suposto instinto da morte, o desejo de desintegração, de inexistência é o desejo inconsciente da solução orgástica da tensão.”

Agressão, no sentido estrito da palavra, não tem nada que ver com sadismo ou com destruição. A palavra significa <aproximação>. Toda manifestação positiva da vida é agressiva: o ato do prazer sexual assim como o ato de ódio destrutivo, o ato sádico assim como o ato de procurar alimento. Agressão é a expressão de vida da musculatura e do sistema de movimento. (*) A avaliação da agressão tem enorme importância para a educação das crianças. Grande parte da inibição da agressão que as nossas crianças têm de suportar, em seu próprio detrimento, é o resultado da identificação de <agressivo> com <mau> ou com <sexual> (*). Agressão é sempre uma tentativa de prover os meios para a satisfação de uma necessidade vital. (**) Assim, a agressão não é um instinto, no sentido estrito da palavra; consiste mais no meio indispensável de satisfação de todo impulso instintivo. Este último é essencialmente agressivo porque a tensão exige satisfação. Conseqüentemente, há uma agressividade destrutiva, uma sádica, uma locomotora e uma sexual.”

(*) “Você ainda tem que aprender muito na vida pra deixar de ser arrogante!” Desaprender a ética dos humilhados. Ser grande não significa ser presunçoso. Para cortar a ínfima parte com larvas do fruto, os “educadores” de nosso tempo despejam safras inteiras nos esgotos!

(**) depressive-agressive

a perversão denominada <sadismo> é uma mistura de impulsos sexuais primários e de impulsos destrutivos secundários. Não existe em nenhum outro lugar do reino animal — e é uma característica do homem, adquirida em um período tardio do seu desenvolvimento; um impulso secundário.”

toda supressão dos impulsos sexuais provoca ódio, agressividade não-dirigida (i.e., inquietação motora sem um objetivo racional), e tendências destrutivas.”

Toda conversão de uma neurose compulsiva em histeria era acompanhada de uma redução de ódio. Perversões ou fantasias sádicas no ato sexual diminuíam na medida em que a satisfação aumentava. Essas observações nos permitem entender o aumento dos conflitos conjugais quando a atração sexual e a satisfação diminuem; permitem-nos também entender o desaparecimento da brutalidade conjugal quando aparece outro companheiro de satisfação. Investiguei o comportamento dos animais selvagens e verifiquei que são inofensivos quando bem-alimentados e sexualmente satisfeitos. [não está exagerando?] Os touros só são selvagens e perigosos quando levados para junto da vaca; não, porém, quando levados de volta. Cães acorrentados são muito perigosos porque a sua atividade motora e a sua satisfação sexual são impedidas. Acabei por entender os traços brutais de caráter que se manifestam em condições de insatisfação sexual crônica. Pude observar este fenômeno em solteironas malevolentes e em moralistas ascéticos. Em compensação, pessoas capazes de obter satisfação sexual são visivelmente amáveis e boas. Uma pessoa capaz de sentir a satisfação sexual nunca é sádica. Se uma dessas pessoas se tornasse sádica, poder-se-ia presumir com segurança que uma perturbação súbita havia impedido a satisfação habitual. Isso também se observou no comportamento de mulheres que estavam na menopausa. Há mulheres que, na idade crítica, não apresentam traços de maldade ou ódio irracional, e outras que desenvolvem características de ódio na medida em que ainda não as haviam desenvolvido. Não pode haver dúvidas de que a diferença no comportamento se deve à sua experiência genital anterior. O segundo tipo se constitui de mulheres que nunca tiveram uma relação amorosa satisfatória e lamentam agora essa falha, sentindo consciente ou inconscientemente as conseqüências da estase sexual. Cheias de ódio e de inveja, tornam-se os mais violentos oponentes de qualquer forma de progresso.” “Assim, quanto à técnica, era necessário encontrar os mecanismos que inibiam as reações de ódio a fim de liberar a energia encravada.”

As crises apareciam sempre que ia ter relações sexuais com o marido, ou quando namoriscava alguém e começava a ficar excitada. Nessas ocasiões, sofria de dispnéia aguda [dificuldade de respirar e desconforto generalizado], da qual só melhorava com o uso de drogas anti-espasmódicas. A vagina era hipestésica [insensível ao toque]. A garganta, pelo contrário, hipersensível. Inconscientemente, sofria de fortes impulsos — dirigidos à mãe — de morder e de sugar. (…) A fantasia de um pênis transpassado na garganta manifestava-se claramente nos seus sonhos e ações. Quando as fantasias se tornaram conscientes, a asma desapareceu pela primeira vez. Mas foi substituída por excitações intestinais vagotônicas agudas [tensão do nervo vagal] em forma de diarréia. Esta alternava com uma constipação simpaticotônica [hipertensão arterial e taquicardia decorrente de alteração mórbida no sistema nervoso simpático]. (…) A fantasia do pênis na garganta cedeu lugar à fantasia de <ter um bebê no estômago, e de ter que vomitá-lo fora>. (…) Temia uma crise de diarréia durante a cópula. (…) Os intervalos entre as recaídas se tornaram mais longos. Isso continuou por vários meses. A asma desaparecia com cada progresso em direção à excitação vaginal, e reaparecia com cada deslocamento da excitação para os órgãos respiratórios. A oscilação da excitação sexual entre a garganta e a região pélvica era acompanhada das correspondentes fantasias da sexualidade oral e genital infantis. (…) Depois que esse medo foi superado, foi tomada pela angústia de que se desintegraria ou estouraria por causa da excitação.”

Nos homens a sensação da ejaculação esconde freqüentemente a angústia de orgasmo. Nas mulheres, a angústia de orgasmo aparece na sua forma pura. As suas mais freqüentes angústias são de sujar-se durante a excitação, de deixar escapar um flato, ou de urinar involuntariamente.” “As mulheres reagem de formas diferentes à angústia de orgasmo. A maior parte delas conserva o corpo imóvel, sempre meio conscientes da atividade sexual. Outras movem o corpo de maneira muito exagerada, porque o movimento delicado produz uma excitação muito grande. As pernas se conservam juntas. A região pélvica é puxada para trás. Como forma de inibir a sensação orgástica, sempre prendem a respiração. Muito estranhamente, não percebi isso até 1935.”

Se o paciente sofre de um medo hipocondríaco de catástrofe, então toda excitação forte é bloqueada. (…) Assim, é necessário <não perder a cabeça>: é necessário estar constantemente <em guarda>. É necessário <estar alerta>. Essa atitude de vigilância se expressa na fronte e nas pálpebras.” “As neuroses compulsivas caracterizam-se por uma abstinência ascética, rígida e bem racionalizada.”

P. 86: Pelo que pude entender, A Função do Orgasmo nasceu como um artigo ou livreto. O autor trata metalingüisticamente da obra na obra, isto é, fala acerca dela em terceira pessoa; basta lembrarmos que esta é a nona edição, muito posterior à data das primeiras descobertas de Reich sobre o binômio neurose-sexualidade [a posteriori: A Função do Orgasmo é só a primeira das duas partes da obra-maior A Descoberta do Orgone – créditos ao Dimitri]: “Os principais aspectos das minhas descobertas clínicas foram apresentados no meu livro Die Funktion des Orgasmus. Dei o manuscrito a F. no seu apartamento, no dia 6 de maio de 1926; o trabalho lhe fôra dedicado. Pareceu meio aborrecido ao ler o título. Olhou o manuscrito, hesitou por um momento e disse como se estivesse agitado: <Tão grosso?> [em qual sentido?] Não me senti muito à vontade. A sua reação não fôra racional. Era muito polido e normalmente não teria feito uma observação tão cortante. Antes, Freud costumava ler todo manuscrito em poucos dias, fazendo então seu comentário por escrito [tão dissimuladamente quanto Adorno?]. Agora, mais de dois meses se passaram, antes que eu recebesse a sua carta.” “Você mesmo não consegue explicar alguns dos sintomas mais característicos, e toda a sua idéia do deslocamento da libido genital ainda não está muito boa para mim. Entretanto, espero que continue a estudar o problema e chegue, finalmente, a uma solução satisfatória…” Tertuliano, se quisesse ser academicamente universal, devia ter também escrito um panegírico da Humildade.

Em 1928, foi publicado no jornal psicanalítico o primeiro ensaio sobre o tema [de Análise do Caráter], com o título de <Técnica de Interpretação e Análise das Resistências>. No fim do ano, revi o ensaio e o apresentei ao seminário de técnica. Foi o primeiro dos inúmeros artigos que nos cinco anos seguintes foram compondo o mencionado livro. Deveria ser publicado pela imprensa psicanalítica. Estava justamente lendo as segundas provas tipográficas, quando a comissão executiva da Associação Psicanalítica Internacional decidiu não permitir que o livro saísse com a sua chancela. Hitler acabava de assumir o poder.

princípio de coerência desenvolveu-se com base nos erros típicos da análise convencional, chamada ortodoxa. Esta seguia a regra de interpretar o material na mesma seqüência em que o paciente o oferecia, sem considerar a estratificação e a profundidade. Sugeri que as resistências fossem tratadas sistematicamente, começando-se com a que estivesse mais próxima da superfície psíquica e tivesse particular importância imediata. A neurose devia ser combatida de uma posição segura. Toda quantidade de energia psíquica liberada pela dissolução das funções de defesa deveria reforçar as exigências instintivas inconscientes e, dessa forma, torná-las mais acessíveis. Uma remoção sistemática dos estratos da couraça do caráter deveria levar em conta a estratificação dos mecanismos neuróticos. Interpretações diretas da matéria instintiva inconsciente podiam apenas romper esse trabalho, e assim deviam ser evitadas. O paciente devia primeiro entrar em contato consigo mesmo antes de poder compreender as relações dos seus diversos mecanismos neuróticos. Enquanto a couraça funcionasse, o paciente podia, no máximo, conseguir uma compreensão intelectual da sua situação. De acordo com a experiência, isso tinha um efeito terapêutico secundário.

Desconhecia a caducidade do método de associação livre antes de ler este livro: “Como a couraça limita o paciente, é claro que a sua inabilidade para expressar-se faz parte da enfermidade. Não é má vontade, como pensavam muitos analistas. A solução correta do encouraçamento psíquico rígido deve levar finalmente à relaxação da angústia. Liberada a angústia estásica, têm-se todas as possibilidades de estabelecer uma energia que flua livremente e, em combinação com ela, a potência genital.”

Já sabia que o como, a forma do comportamento e das comunicações, era muito mais importante do que o quê o paciente dizia ao analista. As palavras podem mentir. A expressão nunca mente. Embora as pessoas não tenham consciência disso, a expressão é a manifestação imediata do caráter [lição primeiro aprendida com a Tharsila]. Aprendi, com o tempo, a compreender a forma das próprias comunicações como expressões diretas do inconsciente [cavar, cavar e cavar… nada ainda!]. A necessidade de convencer e de persuadir o paciente diminuiu em importância e logo se tornou supérflua [“pense sobre isso… ou não” – V.H.]. O que quer que o paciente não entendesse espontânea e automaticamente não tinha nenhum valor terapêutico. Atitudes de caráter tinham de ser entendidas espontaneamente. A compreensão intelectual do inconsciente era substituída pela percepção imediata do paciente da sua própria expressão. Deixei de empregar a terminologia psicanalítica com os meus pacientes. Isso, por si mesmo, afastava a possibilidade de esconderem um sentimento atrás de uma palavra. O paciente não falava mais do seu ódio: sentia-o.

As transferências de amor e de ódio para o analista perderam o seu caráter mais ou menos acadêmico. Uma coisa é falar sobre o erotismo anal da própria infância, ou lembrar-se de que um dia foi sentido; muito diferente é experimentá-lo durante a sessão como uma necessidade real de expelir um flato e ter, até, que ceder à necessidade.”

Muitas regras psicanalíticas tinham um caráter inerente e forte de tabu, que apenas reforçava os tabus neuróticos do paciente no campo sexual. Assim, por exemplo, a regra era que o analista não devia ser visto — mas deveria permanecer, por assim dizer, como uma folha branca de papel, na qual o paciente inscreveria as suas transferências. Esse procedimento não eliminava, antes reforçava, o sentimento do paciente, de estar lidando com um ser <invisível>, inatingível e sobre-humano, i.e., em termos de um modo de pensar infantil, com um ser assexuado. Assim, como podia o paciente superar a timidez que se encontrava na raiz da sua enfermidade? Tratado dessa forma, tudo o que pertencia à sexualidade permanecia como diabólico e proibido, como algo que devia ser <condenado> ou <sublimado>, a qualquer preço.” “Não considerava curado nenhum paciente que não pudesse, pelo menos, masturbar-se livre de sentimentos de culpa. Atribuía a maior importância à supervisão da vida sexual genital do paciente, durante o tratamento. (Espero que se entenda que isso não tem nada que ver com a teoria de masturbação praticada por alguns analistas.)”

por mais ampla e multiforme que a minha prática tenha sido, não tive um só caso de suicídio. Foi só muito mais tarde que cheguei a entender os casos de suicídio que ocorriam durante o tratamento. Os pacientes cometiam suicídio quando a sua energia sexual fôra excitada mas era impedida de conseguir uma descarga adequada.”

Era claro que os impulsos anti-sociais que enchem o inconsciente são viciosos e perigosos apenas enquanto está bloqueada a descarga de energia biológica por meio da sexualidade. Se este é o caso, há apenas, basicamente, três saídas patológicas: impulsividade autodestrutiva desenfreada (vício, alcoolismo, crime causado por sentimentos de culpa, impulsividade psicopata, assassínio sexual, violação de crianças, etc.); neuroses de caráter por inibição dos instintos (neurose compulsiva, histeria de angústia, histeria de conversão); e psicoses funcionais (esquizofrenia, paranóia, melancolia ou insanidade maníaco-depressiva). Estou omitindo os mecanismos neuróticos operantes na política, na guerra, no casamento, na educação das crianças, etc.”

NO DIVÃ…

– Quê que tá pegando, bicho?

– Faço a menor Idéia, meu!

– Jocasta, talvez?

– Não, ela ocupa a posição passiva…

– Disso eu entendo, afinal sou um anal-ista…

– He-he [forçada]

– Parabéns!

– Pelo quê?!

– Meu intuito nesta sessão era arrancar-lhe inconscientemente este seu desejo latente de rir de uma fria piada instrumental, de um jogo de linguagem [ba]c(a[na-l]. Isso fará de você, a médio prazo, um analisando menos banana!…

– Como pode ser tão cruel, Senhor Doutor?! Me comparando a um objeto passivo, devorado o tempo todo por macacos, o Pai do Homem!

– Isso porque eu não mencionei que se tratava de uma Banana Nanica!…

– Dizem que banana dá muito, em todas as estações do ano…

– Seja no litoral, seja no interior…

– Mas, desconversando, do que você chamaria o Popeye?!

– Agora o piadista é você?

– Ainda não está na pista?

– Eu diria que é um belo dum Freudiano clássico… Que se revela mormente nos sonhos…

– Por quê? Why? Cause then you pop ‘n eye?

– Porque ele tem PULSÃO!

– De vida ou de morte?

– Ora essa, de vida, pois o espinafre é verde e germina, como machão que é… Agora você paga!

– Como assim?

– É, como eu disse, é uma pulsão devida… Eu te dou motivos para continuar vivo, e fermento o fluxo de caixa em sua carteira…

Não entendia como é que o tenaz processo neurótico podia ceder tão rapidamente. Não desapareciam apenas os sintomas de angústia neurótica: mudava toda a personalidade do paciente. Eu não conseguia explicá-lo teoricamente.” “A atitude em relação ao trabalho mudou. Se, até então, haviam trabalhado mecanicamente, sem demonstrar nenhum interesse real, considerando trabalho como um mal necessário que uma pessoa assume sem pensar muito, agora se tornavam judiciosos. Se as perturbações neuróticas os haviam impedido antes de trabalhar, agora eram impelidos por uma necessidade de entregar-se a algum trabalho prático, pelo qual pudessem ter um interesse pessoal. Se o trabalho realizado era capaz de absorver os seus interesses, floresciam. Se, porém, era de natureza mecânica, como o do empregado de escritório, o do homem de negócios ou o do funcionário medíocre, então se tornava um peso quase intolerável.” “Em outros casos, houve completo abandono do trabalho quando o paciente se tornou capaz de obter a satisfação genital. Isso parecia confirmar as advertências mal-intencionadas do mundo, de que a sexualidade deixou de ser alarmante. Ficou claro que os últimos eram pacientes que, até então, haviam realizado o seu trabalho com base em um senso compulsivo do dever, à custa dos desejos íntimos a que haviam renunciado; desejos que não eram absolutamente anti-sociais, muito pelo contrário. Uma pessoa que se sentisse mais capacitada para ser um escritor e se empregasse em um escritório de advogado precisaria reunir toda a sua energia para dominar a sua revolta e suprimir os seus impulsos sãos.” “Os pacientes mais difíceis eram os que estavam estudando para o sacerdócio. Inevitavelmente, havia profundo conflito entre a sexualidade e a prática da sua profissão. Resolvi não aceitar mais sacerdotes como pacientes.”

Conservamos todas as utopias de nossa história pessoal. A nossa utosfera ou redetopia ou biotopia.

O jovem ficaria cada vez mais emaranhado em uma situação difícil. Não apenas se absteria da possibilidade da satisfação instintiva, mas se negaria também a possibilidade de procurar outro objeto. (*) Uma neurose para ambos resultaria necessariamente. Permaneceria a lacuna entre a moralidade e o instinto. Ou o instinto se expressaria de uma forma disfarçada ou corrompida. O jovem poderia, facilmente, desenvolver fantasias compulsivas de violação, impulsos de violação real, ou as características de uma dupla moralidade. (**) Freqüentaria prostitutas e correria o risco de adquirir uma doença venérea. Não haveria nenhuma possibilidade de harmonia interior. De um ângulo puramente social, o resultado não poderia ser mais desastroso, nem a <moralidade>, como quer que seja, teria sido satisfeita.”

(*) COMO DESTRUIR O VELHO MUNDO COM O MARTELO – COMECE POR SI MESMO: Um segundo tudo bem, mas um terceiro? Curso de graduação, a mulher perfeita, o melhor amigo… Um terceiro pai, um terceiro olho, terceiro gênero, terceiro membro colateral?! Um terceiro comprimento de cabelo? Uma série infinita de concursos cada vez mais bem-remunerados? Uma semiótica cada vez mais desnudadora? Temos um limite. Mesmo as brincadeiras atualizáveis da infância (videogame) se cristalizaram e são impedidas no mundo real. Gostam de ser revividas apenas esterilmente, em mil labirintos oníricos. Zum zaravalho… 1, 2, 3, COLÉGIO!!!

(**) Se eu fosse um monge, seria devasso. Se eu fosse mau, eu seria um bom homem.

título LIVRO: CALIGRAFIA DISCURSIVA

A auto-regulagem segue as leis naturais do prazer; não apenas é compatível com os instintos naturais: é, funcionalmente, idêntica a eles.” “A estrutura psíquica moralista abertamente adere às rígidas leis do mundo moralista; exteriormente adapta-se a elas; e interiormente revolta-se [Não seria esse o comportamento mais natural, em vez de anti-natural? O raciocínio silogístico de Reich parece não percebê-lo. Se se revolta, não é moralista. É uma mulher de César por necessidade.]. Uma pessoa com semelhante estrutura [Inata? Curável?] está constantemente à mercê de inclinações anti-sociais [A sociedade é moralista ou natural? A moral não é uma segunda natureza?] — de natureza tanto compulsiva como impulsiva. A pessoa com uma estrutura auto-regulada e sã não se adapta à parte irracional do mundo; insiste na satisfação dos seus direitos naturais. Parece doente e anti-social [Reich apenas se enrola na prosa, mas começamos a entender o que ele pretende afirmar] aos [olhos dos] moralistas neuróticos. Na realidade, é incapaz de praticar ações anti-sociais. Desenvolve uma autoconfiança natural, baseada na sua [pre]potência sexual[, diria uma Thaís]. Uma estrutura moralista caminha sempre de mãos dadas com uma potência fraca, e a pessoa é constantemente forçada a procurar compensações, i.e., a desenvolver uma autoconfiança artificial e afetada [Vanigracismo]. A felicidade sexual [contradição em termos] dos outros lhe desperta o mau humor [dilema/trampa/doublebind: estaria eu me disfarçando de auto-regulado, ou apenas estagiando no inferno do moralismo, perdido e desorientado?], porque se sente excitado por ela mas é incapaz de gozá-la. Essencialmente, empenha-se na relação sexual apenas para provar a sua potência [U*****]. Para a pessoa que tem uma estrutura genital [auto-regulada], a sexualidade é uma experiência de prazer, e nada mais. O trabalho (*) é uma atividade agradável e uma realização [salto complicado]. Para o indivíduo moralistamente estruturado, o trabalho é um dever cansativo, ou apenas uma necessidade material [que trabalho, cara pálida?].

(*) Critério de decisão: expediente burocrático ou período de criação e investigação artístico-filosóficas??

A pessoa que tem uma estrutura moralista [minha cobaia: A******] tem de desenvolver uma couraça que restringe e controla automaticamente todas as ações e funções, e independe de situações exteriores [exemplo concreto: Sempre considerou repulsivo que eu tivesse hábitos que os outros considerariam excêntricos, isto é, fazer listas de objetivos a curto ou médio ou longo prazo, expressar sentimentos ou exprimir-me poeticamente sobre laços de amizade originados na infância (episódio do Orkut). Hoje em dia, caso ainda conservasse contato comigo, ou, abstraindo, se pudéssemos divisar sua rotina na Valec, poderíamos intuir a continuidade desse quadro: A CREDIT TO DEMENTIA: <Qual o nexo de você perder seu tempo manuscrevendo ou digitando essas coisas no horário de almoço ou mesmo enquanto está vago no trabalho? Qual o sentido de ler esses caras? O que você GANHA com isso tudo?!? Pior: por que problematizar, racionalizar, sobre o que eu falo, essa sua própria condição anormal? Mire-me e inspire-se, eu sou o sucesso, o ~padrãozinho~ de nascença. Todas as doenças psicossociais passam por mim resvalando, no máximo de raspão, é isso mesmo, graças a minha condição exuberante desde o berço. Esse é o mito que NÓS nos criamos, percebe? Lembra-se? FRATURA EXPOSTA NOS SEUS SONHOS. Você não me ligou no dia do meu último aniversário porque afinal nós nascemos juntos. Prova disso é que eu me sinto em sintonia com os outros, fazendo o que todo mundo faz, ganho mais que você, tenho o carro do ano e não estou em crise com isso. Moro bem, sou bem-casado… Você só anda com malucos, não sabe nem dirigir, e tenho certeza que é um socialista! Ainda escuta heavy metal e deixa o cabelo e a barba crescerem, como se adolescente sujismundo fosse… Não sabe jogar bola, está acima do peso e fala mal dos outros pelas costas. Tenho pena de você! Inclusive esse eu imaginário que você trata de, realisticamente, que seja!, dotar de vida e incrustar no seu blog, em palavras, é a manifestação literal da sua patologia, a obra de uma mente insana e insanável! Eu, eu sou a prova, que você testemunha de 4 em 4 anos em época de Copa! Você no espelho gostaria de ser-me! Será que eu sei disso, Rafael? Seu sonho é me usar para um dia vender seus livros, eu rendo discursos. Pois bem, bolsominions são vendáveis! E tem mais: enquanto você digita, teima em achar que está sendo observado e julgado! Mas ninguém liga para o que você faz nesse computador o dia todo, simplesmente… Não poderia ser mais curto, ferino e grosso… Por que eu sou tão importante para VOCÊ VOCÊ VOCÊ?!?!?!?! My mother once said: you need Morals, you need Christian Morals, to survive and educate children in this world…You need my Son always in your unconscious, you need to be an A.A.V II’s Dad! Otherwise, it won’t work, I’m predicting, I’m prophesying> — Affectionately, Sphinx].”

DIREITO DE RESPOSTA AUTODADO: – É verdade, eu só queria um mundo em que ainda pudéssemos ser melhores amigos, em que você existisse e eu também (por incrível que pareça nem 2 desses 3 fatores podem coexistir… Se você existe e é meu amigo, eu não existo como tal; se eu e você existimos, não somos amigos como tais; se eu existo e sou seu amigo, você não é isso que você é, a negação mais positivada da carne que eu jamais testemunhei!

A regulagem moralista não pode ser destruída a menos que seja substituída por algo diferente, e melhor.”

Desempenho reativo do trabalho: O trabalho é executado de modo mecânico, forçado e maçante; enfraquece os desejos sexuais e é diametralmente oposto a eles. Só pequenas quantidades da energia biológica podem ser descarregadas na sua execução. O trabalho é essencialmente desagradável. As fantasias sexuais são fortes e interrompem o trabalho. Por isso, têm de ser reprimidas, criando mecanismos neuróticos, que reduzem ainda mais a capacidade para o trabalho. A redução do rendimento de trabalho sobrecarrega todo impulso amoroso com sentimentos de culpa. A auto-confiança é enfraquecida. Isso acarreta fantasias neuróticas compensatórias de grandeza.”

R. – The Sexual Revolution

Essas reuniões mensais na casa de Freud eram abertas apenas aos titulares da Sociedade Psicanalítica. Todos sabiam que se diziam palavras da maior importância e que se tomavam importantes decisões. Era preciso considerar cuidadosamente o que se dizia. A psicanálise tornara-se um movimento muito controvertido, de âmbito mundial. A responsabilidade era enorme, mas não era do meu feitio fugir parodiando a verdade: devia apresentar o problema exatamente como era, ou calar-me. A última hipótese já não era possível. O meu trabalho político-sexual adquirira autonomia”

O que é que se deve fazer quando a mulher, apesar de um desejo consciente, tem a vagina seca?” “Por que é que os homens gostam tanto de conversar entre eles sobre as suas relações com as mulheres?” “O ato sexual entre irmão e irmã é punido na União Soviética?” “Um operário estava casado com uma mulher gravemente doente que, havia anos, não podia deixar o leito. Tinham três crianças pequenas e uma filha de 18 anos. A moça tomou o lugar da mãe, cuidava das crianças e do pai. Não havia problemas. Dormia com o pai. Tudo ia muito bem. Ela continuava a tomar conta da família, a cozinhar, a cuidar da casa. O pai trabalhava e cuidava da mulher doente. A filha era boa para os irmãos menores. O povo começou a murmurar. A polícia de costumes foi chamada. O pai foi detido, acusado de incesto e jogado à prisão. As crianças foram postas no asilo. A família desabou. A filha teve de empregar-se como criada em uma casa estranha. Por quê?” “O que é que se deve fazer quando se quer ter uma relação sexual e há outras pessoas dormindo no mesmo quarto?” “O meu filho tem 3 anos e vive brincando com o pênis. Tento puni-lo, mas não adianta. Faz mal?” “Eu me masturbo todos os dias — casualmente três vezes no mesmo dia. É prejudicial à minha saúde?” “Zimmermann – um inovador suíço – diz que, para evitar a gravidez, o homem deve impedir a ejaculação não se movendo dentro da mulher. É verdade? Dói!” “Qual deve ser o relacionamento entre meninos e meninas em um acampamento de férias?” “A leucorréia [corrimento vulvovaginal esbranquiçado] é causada pela masturbação?”

Nesses serões, dedicados à discussão da profilaxia das neuroses e à questão da cultura, Freud a princípio exprimia claramente as opiniões que haviam sido publicadas em Civilization and its Discontents, em 1931 e que muitas vezes estavam em evidente desacordo com a posição assumida por ele em The Future of an Illusion.”O Mal-Estar na Civilização/Modernidade como reação freudiana a Reich.

A neurose é uma epidemia que age debaixo da superfície. A humanidade, como um todo, está psiquicamente enferma.” Problema infinito “Segundo os dados estatísticos que eu havia compilado em diversas organizações e grupos de jovens, podia demonstrar-se que não menos de 60 e até 80% dessas pessoas eram afligidas por graves moléstias neuróticas. E é preciso ter em mente que essas cifras representam apenas os sintomas neuróticos conscientes; não incluem as neuroses de caráter, das quais os membros dessas organizações não suspeitam.” “em reuniões de sociedades fechadas (por exemplo: organizações de livres pensadores, grupos de estudantes e de operários, todos os tipos de grupos jovens politicamente orientados, etc.), que não tinham nenhuma atração para os neuróticos, a percentagem de neuroses sintomáticas era apenas, em média, 10% mais baixa que a das reuniões abertas. Nos 6 centros de orientação que estavam sob a minha supervisão, em Viena, uns 70% dos que vinham em busca de ajuda e de conselho precisavam de tratamento psicanalítico. Apenas uns 30%, homens e mulheres que sofriam de neuroses estásicas de tipo médio, podiam ser ajudados por meio de orientação e ajuda social.”

qual é, na vida, o destino posterior dessas pessoas sãs? Não terão uma vida fácil: isso é certo. Entretanto, sem a ajuda da <organoterapia espontânea da neurose> (emprego a expressão para designar a solução orgástica das tensões), superam o laço patológico que as liga à família, e também os efeitos da miséria sexual da sociedade.”

O flagelo maciço das neuroses é produzido em três estágios principais da vida humana: na primeira infância, através da atmosfera de um lar neurótico; na puberdade, e finalmente no casamento compulsivo, na sua concepção estritamente moralista.”

Adolescentes que encontram o seu caminho dentro da verdadeira vida da sexualidade e do trabalho, rompem o laço que os ligava aos pais, e que fôra adquirido na infância. Os outros, seriamente afetados pela frustração específica determinada pela inibição sexual, regridem mais que nunca para a situação de infância. É por essa razão que a maior parte das neuroses e psicoses se desenvolve na puberdade.”

Age-se com hipocrisia quando se permite legalmente a um, ou uma, adolescente que se case na véspera do seu 16º aniversário — proclamando assim que as relações sexuais não são nocivas nesse caso — ao passo que, ao mesmo tempo, se exige o <ascetismo até o dia do casamento>, mesmo que este não se possa realizar antes que o homem, ou a mulher, tenha os seus 30.”

A rebelião típica dos adolescentes contra o lar paterno não é uma manifestação neurótica da puberdade, mas uma preparação para a função social que esses jovens terão de desempenhar mais tarde, como adultos. Eles têm de lutar pela sua própria capacidade e pelo seu progresso.”

A saúde psíquica se caracteriza não pela teoria do Nirvana dos iogues e budistas, nem pelo hedonismo dos epicuristas (*) ou pela renúncia do monasticismo; caracteriza-se pela alternância entre a luta desagradável e a felicidade, entre o erro e a verdade, entre a derivação e a volta ao rumo, entre o ódio racional e o amor racional; em suma, pelo fato de se estar plenamente vivo em todas as situações da vida.

(*) A expressão emprega-se aqui no seu sentido vernacular. Na verdade, Epicuro e a sua escola não têm, além do nome, nada em comum com a chamada filosofia epicurista da vida. A filosofia natural séria de Epicuro foi mal-entendida pelas massas semi-educadas e não-educadas como defensora da satisfação dos impulsos secundários. Não há como evitar essas falsificações de idéias verdadeiras. A economia sexual é traída pelo mesmo fato — pelos que sofrem da angústia de prazer, por uma ciência que teme a sexualidade.”

A capacidade de suportar o desprazer e a dor sem se tornar amargurado e sem procurar o refúgio no encouraçamento caminha lado a lado com a capacidade de receber a felicidade e de dar o amor. Como salientou Nietzsche, aquele que poderia <exaltar-se até atingir as culminâncias do céu> deve estar preparado para <ser mergulhado na morte>.” Human being against the turtle-in-us

As necessidades sexuais podem ser satisfeitas com um, e mesmo, companheiro durante algum tempo apenas. (…) A satisfação sexual pode prover a base de um casamento feliz. Mas essa mesma satisfação está em desacordo com todos os aspectos da exigência moralista da monogamia vitalícia.” “A intimidade sexual e a amizade humana são substituídas, nas relações conjugais, por uma fixação paterna ou materna e por mútua dependência escravizante: em suma, por um incesto disfarçado. Hoje esses temas são lugares-comuns, há muito tempo descritos pormenorizadamente, que só padres, psiquiatras, reformistas sociais e políticos continuam, em grande número, a ignorar.”

Biologicamente, o organismo humano são necessita de 3000 ou 4000 atos sexuais ao longo dos 30 ou 40 anos em que é genitalmente ativo.” Média de uma transa a cada 5 dias.

Os elementos do caos sexual são inter-relacionados. A proibição da masturbação na infância reforça na mulher a angústia de sentir a vagina penetrada ou tocada, levando-a a temer o uso de meios anticoncepcionais.”

a psicanálise, embora correta como psicologia individual, não tinha importância social. Era assim que falavam os marxistas que simpatizavam com a psicanálise.” R. – Dialektischer Materialismus und Psychoanalyse

Deixava os meus manuscritos permanecerem na gaveta do meu escritório durante anos, antes de me sentir suficientemente seguro para publicá-los. Ser esperto era algo que eu podia deixar para os outros.”

Wer Wissenschaft und Kunst besitzt, hat auch Religion,

Wer jene beiden nicht besitzt,

der habe Religion!”

Aquele que tem Ciência e Arte também tem Religião,

Aquele que ambas não tem,

que esse tenha Religião!”

Goethe

Hoje, encarando o perigo universal, o mundo inteiro percebe aquilo que há 12 anos apenas se mencionava.”

Toda a política da cultura (filmes, romances, poesia, etc.) gira em torno do elemento sexual e medra sobre a sua renúncia na realidade e a sua afirmação no ideal. As indústrias e a propaganda capitalizam-no.”

CONTRA O PAPA: “Admitir a possibilidade da felicidade humana teria sido a mesma coisa que admitir a incorreção da teoria do instinto de morte.” “Hoje entendo também a necessidade da sua resignação. Durante uma década e meia, ele havia lutado pelo reconhecimento de fatos simples. Os seus colegas de profissão o tinham caluniado, o haviam chamado de charlatão, e posto em dúvida a sinceridade das suas intenções. Freud não era um pragmatista social, <apenas> um cientista; mas era um cientista cuidadoso e honesto. O mundo não podia mais continuar a negar a existência da vida psíquica inconsciente e assim se valeu da sua antiga manobra de corrupção: enviou-lhe muitos estudantes, que chegaram a uma mesa servida e não tiveram de preocupar-se com a cozinha. Tinham apenas um interesse: popularizar a psicanálise o mais depressa possível. [ninguém obrigou Fraud a isso: ele foi o mais desejoso desse processo abestalhador!] (…) Freud sabia em 1929 que, apesar de todo o meu entusiasmo juvenil, eu estava certo. Admiti-lo, porém, significaria sacrificar a metade da organização psicanalítica.” “A maior tragédia de Freud é que ele procurava refúgio em teorias biológicas, em vez de calar-se ou de deixar que cada um fizesse o que bem entendesse. Foi isso o que o levou a contradizer-se.” “O sofrimento causado pelas relações do sujeito com outras pessoas, disse Freud, é mais doloroso que qualquer outro. As pessoas têm a tendência de encará-lo como um aborrecimento superficial, mas não é menos fatal ou mais evitável do que o sofrimento que tem outras origens. Aqui, Freud dá voz às suas próprias experiências amargas com a espécie humana. Aqui, atinge o problema econômico-sexual de estrutura, i.e., a irracionalidade que determina o comportamento de um homem. Eu mesmo tive dolorosa amostra disso na organização psicanalítica, organização cuja tarefa profissional deveria consistir no controle médico do comportamento irracional.” “Freud estava desiludido. A princípio, pensava haver descoberto a terapia radical das neuroses. Na realidade, isso fôra apenas um começo. Era muito mais complicado do que sugeria a fórmula de tornar o inconsciente consciente. Sustentava que a psicanálise podia abraçar não apenas problemas médicos, mas problemas universais da existência humana. Mas não encontrou o seu caminho na sociologia.”

Uma criança brinca de maneira natural. É coibida pelo seu ambiente. A princípio, defende-se contra a coibição. Vencida, preserva apenas a defesa contra a limitação do prazer, sob a forma de reações irracionais de despeito, destituídas de objetivo, e patológicas. Da mesma forma, o comportamento humano reflete apenas as contradições entre a afirmação de vida e a negação de vida no próprio processo social. A psicanálise tornou-se uma <teoria de adaptação cultural> abstrata e portanto conservadora, cheia de contradições insolúveis.”

influenciando os impulsos instintivos, e não o mundo que obriga as pessoas a viverem com o desejo, é que o homem poderia esperar libertar-se de uma certa dose de sofrimento. A finalidade dessa influência estaria em dominar as pontes interiores das necessidades. De um modo radical, isso poderia conseguir-se matando os instintos, como ensinado pela filosofia oriental e posto em prática pela ioga. Esses são os argumentos de Freud, o homem que, incontestavelmente, pôs diante do mundo a verdade da sexualidade infantil e da repressão sexual!” “Eu sabia que um dia todos os espíritos da escuridão e do medo à vida apontariam Freud como o seu chefe.”

O amor sexual proporciona as mais fortes sensações de prazer e é o protótipo do anseio de felicidade em geral. Mas uma pessoa nunca está menos protegida contra o sofrimento do que quando ama, e nunca está mais desamparadamente infeliz do que quando perde o objeto amado, ou o amor.”

No sentido estrito da palavra, a história e a mitologia primitivas são reproduções da economia sexual da espécie humana.”

Eu visava a descobrir os motivos inconscientes de um homem como Freud, que se pôs, e à sua autoridade, no ápice de uma ideologia conservadora e, com a sua teoria da civilização, destruiu aquilo que havia realizado por meio de um trabalho contínuo como cientista natural e como médico. Não podia haver dúvidas de que não agira assim por covardia intelectual ou por conservadoras razões políticas.”

EUNUCO, O POLÍTICO MAIS CRUEL

A supressão sexual tem a função de tornar o homem dócil à autoridade exatamente como a castração dos garanhões e dos touros tem a função de produzir satisfeitos animais de carga.”

O precoce tem sua vendeta na velhice, que lhe é mais confortável e contemporânea.

era precisamente essa a questão que os acontecimentos sociais, por volta de 1930, tornavam imperativa. Foi o dilúvio fascista que varreu a Alemanha como um macaréu [enchente, cheia, onda fluvial acarretada pelo encontro da água do mar com a correnteza de um rio em momento de maré alta], surpreendendo a todos e fazendo com que muitos se perguntassem como podia acontecer semelhante coisa. Economistas, sociólogos, reformistas culturais, diplomatas e homens de Estado procuravam por uma resposta nos livros antigos. Mas os livros antigos não continham nenhuma explicação desses fenômenos. Não havia um só modelo político que facilitasse uma compreensão das emoções humanas irracionais que o fascismo representava. Nunca, antes, a própria alta política havia sido posta em xeque coma estrutura irracional.”

O psicanalista inglês Ernest Jones protestou categoricamente contra esse argumento funcional e sociológico afirmando que o complexo de Édipo descoberto no homem europeu era a fons et origo de toda a cultura. Por isso, a família dos dias de hoje era uma instituição biológica imutável.”

A poucas milhas das ilhas de Trobriand, nas ilhas de Amphlett, vivia uma tribo com um sistema patriarcal baseado na autoridade da família. Todas as características dos neuróticos europeus (desconfiança, angústia, neuroses, suicídios, perversões, etc.) já eram evidentes nos nativos dessas ilhas.” Não sei por que lamentamos tanto o fim do patriarcado. O mal de ver a casa desabar de dentro? Enfim, 30 anos de neurose, desconfiança, angústia, perversões e, bem, pelo menos de 5 a 7 anos com pensamentos suicidas em nível moderado são o que meu pai me legou enquanto vivi sob este teto. Feliz dia dos pais (13 de agosto de 2017)!

O casamento de primos cruzados encontrou-se em toda parte onde a pesquisa etnológica pôde provar a existência atual ou histórica do matriarcado (cf. Morgan, Bachofen, Engels e outros). Exatamente como as nossas, essas crianças são obrigadas a viver vida ascética; demonstram as mesmas neuroses e traços de caráter que conhecemos nos neuróticos de caráter.”

Uma humanidade que tem sido forçada, por milhares de anos, a negar a sua lei biológica e que, em conseqüência dessa negação, adquiriu uma segunda natureza — que é uma anti-natureza — pode apenas debater-se em exaltação irracional quando quer restaurar a sua função biológica básica e, ao mesmo tempo, teme fazê-lo.” Na superfície, usa a máscara artificial do autocontrole, da insincera polidez compulsiva e pseudo-socialidade. Essa máscara esconde o segundo estrato, o <inconsciente> freudiano, no qual sadismo, avareza, sensualidade, inveja, perversões de toda sorte, etc., são mantidos sob controle, não sendo entretanto privados da mais leve quantidade de energia. Esse segundo estrato é o produto artificial de uma cultura negadora do sexo e, em geral, é sentido conscientemente como um enorme vazio interior e desolação. Por baixo disso, na profundidade, existem e agem socialidade e a sexualidade naturais, a alegria espontânea no trabalho e a capacidade para o amor. Esse terceiro e mais profundo estrato, que representa o cerne biológico da estrutura humana, é inconsciente e temido. Está em desacordo com todos os aspectos da educação e do controle autoritários.” “Uma das suas características mais essenciais veio a ser essa de sentir-se felicíssimo em atirar a sua responsabilidade de si mesmo para cima de algum führer ou político —, pois não se compreende mais e, na verdade, teme a si mesmo e às suas instituições. Está desamparado, é incapaz para a liberdade e suspira pela autoridade porque não pode reagir espontaneamente; está encouraçado e quer que se lhe diga o que deve fazer [complexo de Shinji], pois é cheio de contradições e não pode confiar em si mesmo.”

desamparado se depara com o desânimo, esse mundo parado

don’t tell me what ta do

don’t go travel to the United States of Claustrophobia

Hitler morreu… e o sociopata já não se sente muito bem…

O que o verniz superficial da boa educação e um autocontrole artificial havia refreado durante tanto tempo irrompia agora em ação, completado pelas próprias multidões em luta pela liberdade: nos campos de concentração, na perseguição aos judeus, na aniquilação de toda a decência humana, na destruição sádica e divertida de cidades inteiras por aqueles que só são capazes de sentir a vida quando marcha o seu passo de ganso [*], como em Guernica [**], em 1936 (…) uma dança de São Vito [***] que voltará sempre”

[*] Cadência militar não criada mas apropriada pelo nazismo e que hoje se conserva como um símbolo seu.

[**] Massacre (bombardeio aéreo) de civis pelas próprias forças aliadas (já que o Franquismo se aliou ao Nazifascismo às vésperas da Guerra) na cidade de mesmo nome. 1937. O número de vítimas parece risível hoje em dia: não chegou a 1000. Parece um daqueles fatos históricos banais que só repercutem mesmo em sua forma artística.

[***] Febre reumática e mal nervoso que gera espasmos involuntários em músculos dos membros e da face, geralmente em bebês. Excerto Wiki: Sydenham’s chorea is characterized by the abrupt onset (sometimes within a few hours) of neurologic symptoms, classically chorea [a dança dos pés e das mãos], usually affecting all four limbs. Other neurologic symptoms include behavior change, dysarthria, gait disturbance, loss of fine and gross motor control with resultant deterioration of handwriting, headache, slowed cognition, facial grimacing, fidgetiness and hypotonia.”

CAMPO DE LABORATÓRIO DE CONCENTRAÇÃO: “Em 1928-30, ao tempo da controvérsia com Freud, eu sabia muito pouco sobre o fascismo; quase tão pouco quanto a média dos noruegueses em 1939, ou a média dos americanos em 1940. Foi só em 1930-33 que comecei a conhecê-lo na Alemanha. Senti-me desamparadamente perplexo quando redescobri nele, aos poucos, o assunto da controvérsia com Freud.” “O fascismo alemão deixou bem claro que não operava com o pensamento e a sabedoria do povo, mas com as suas reações emocionais infantis. Nem o seu programa político nem qualquer das suas muitas e confusas promessas econômicas levaram o fascismo ao poder e o garantiu aí no período seguinte: mas sim, em grande parte, foi o apelo a um sentimento místico e obscuro, a um desejo vago e nebuloso, mas extraordinário e poderoso. Aqueles que não entenderam isso não entenderam o fascismo que é um fenômeno internacional.” “o fascismo não era uma nova filosofia de vida, como os seus amigos e muitos dos seus inimigos queriam fazer o POVO acreditar; ainda menos tinha qualquer coisa que ver com uma revolução racional contra condições sociais intoleráveis. O fascismo é meramente a extrema conseqüência reacionária de todas as anteriores formas não-democráticas de liderança dentro da estrutura do mecanismo social.O desapontamento por parte de milhões de pessoas quanto às organizações liberais, mais a crise econômica, mais um irresistível desejo de liberdade, produzem a mentalidade fascista, i.e., o desejo de entregar-se a uma figura autoritária de pai.”

As massas populares pareciam sentir que as sugestões a respeito das <técnicas de amor> tais como as que lhes dava Van de Velde, embora fossem um bom negócio, não tinham realmente nada que ver com o que procuravam, nem eram atraentes.”

obrigados a dizer <procriação eugênica superior> quando queriam significar <felicidade no amor>, as massas congregaram-se em torno de Hitler”

Todo ser humano percebe em si mesmo aquilo que se chama de <sentimentos oceânicos ou cósmicos>. A seca ciência acadêmica sentia-se orgulhosa demais para ocupar-se com semelhante misticismo. Esse anseio cósmico ou oceânico que as pessoas sentem não é senão a expressão do seu desejo orgástico pela vida. Hitler fez um apelo a esse desejo, e é por essa razão que as multidões o seguiram, e não aos secos racionalistas, que tentavam sufocar esses vagos sentimentos de vida com estatísticas econômicas.”

preservação da família überalles

perversão

cada um per se

ser 0.0 final solutionversion

perseveração

perversão de cão

afastando o jovem — da família para os grupos da juventude —, o fascismo levava em consideração tanto os laços familiais quanto a rebelião contra a família.”

Quando o fascista diz <judeu>, designa uma sensação irracional definida. Irracionalmente, o <judeu> representa o <fazedor de dinheiro>, o <usurário>, o <capitalista>. Isso foi confirmado pelo tratamento psicológico de profundidade de judeus e não-judeus, igualmente [?]. Em nível mais profundo,o conceito de judeu significa <sujo>, <sensual>, <bestialmente sexual>, mas também <Shylock>, <castrador>, <assassino>.” “Francês para o alemão tem o mesmo significado que judeu e negro têm para o inglês inconscientemente fascista. Judeu, francês e negro são palavras que significam <sexualmente sensuais>. Esses são os fatores inconscientes que permitiram que o moderno propagandista sexual do século XX, o psicopata sexual e pervertido criminoso Julius Streicher[*], pusesse o seu Der Stürmer nas mãos de milhões de adolescentes e adultos alemães. Nas páginas do Der Stürmer, mais que em qualquer outra parte, ficou claro que a higiene sexual deixara de ser um problema das sociedades médicas; tornara-se muito mais uma questão de decisiva significação social.”

[*] Wiki: “Within the pages of Mein Kampf, Hitler even praised Streicher for subordinating the German Socialist Party to the Nazi Party, a move Hitler believed was essential to the success of the National Socialists.”

Freud psicologizou a biologia. Disse que há no campo da vida <tendências> que <pretendem> umas coisas e outras. Isso era um ponto de vista metafísico. A sua crítica foi justificada pelas posteriores provas experimentais da natureza funcional simples dos processos instintivos.” “Se uma criança quebrava uma vidraça, esse ato se encarava como a expressão do instinto destrutivo. Se caía freqüentemente, isso se encarava como o efeito do instinto mudo de morte. Se a mãe a deixava sozinha e a criança brincava indo e voltando, isso se encarava como o efeito de uma <compulsão de repetição além do princípio de prazer>.”

O masoquista imagina estar sendo atormentado porque deseja <romper-se>. Só dessa maneira é que espera conseguir a relaxação.” Síndrome de Kuririn ou de Vítima do Hokuto no Ken “Mulheres de caráter masoquista só se podiam entregar às relações sexuais com a fantasia de estarem sendo seduzidas ou violadas. Como se o homem as obrigasse a fazerem aquilo que simultaneamente desejam e temem.” “A conhecida índole vingativa do masoquista, cuja autoconfiança está gravemente abalada, se realiza quando leva o outro a passar mal, ou quando provoca nele um comportamento cruel.” O que o E****** e a M******* efetivamente significam para meu sistema psíquico? “A idéia de que a pele, especialmente a pele das nádegas, se torna <quente> ou <está queimando> é freqüentemente encontrada entre os masoquistas. O desejo de ser esfregado com uma escova dura, ou de apanhar até que a pele <se rompa> não é senão o desejo de conseguir a liberação de uma tensão por meio de uma explosão. Assim, a dor não é de maneira nenhuma o objetivo do impulso; é simplesmente uma experiência desagradável durante a liberação de uma tensão sem dúvida real. O masoquismo é o protótipo de um impulso secundário, e demonstra por força o resultado da repressão da função de prazer natural.” “sem que o pretendesse, eu havia descoberto a natureza dinâmica de todas as religiões e filosofias do sofrimento.”

A perturbação do orgasmo do masoquista difere da perturbação de outros neuróticos pelo fato de que, no momento da mais alta excitação, o masoquista é possuído pelo espasmo e o conserva. Dessa forma, cria uma contradição entre a expansão acentuada que está a ponto de ocorrer e a contração súbita. Todas as outras formas de impotência orgástica inibem antes de ser atingido o ápice da excitação. Essa diferença sutil, que pareceria ter apenas um interesse acadêmico, decidiu o destino do meu trabalho científico. Está claro pelas minhas notas, entre 1928 e mais ou menos 1934, que o fundamento do meu trabalho experimental no campo da biologia, até o momento das experiências com o bíon, foi preparado nesse período.”

Se a excitação atingiu o ápice e exige uma descarga completa, o espasmo da musculatura pélvica tem o mesmo efeito que o puxar o freio de mão de um carro a 75 milhas por hora; tudo é lançado em confusão. O mesmo acontece ao paciente em um genuíno processo de cura.”

ESCORRIDO

Espasmos no vaso

espasmos no vazio

no vácuo

vácuo emocional

zero prazer

prazero

vazamento

A imagem do caráter humano como uma couraça [crosta morta] em volta do cerne do organismo vivo era extremamente significativa. Se uma bexiga [extremamente elástica] dessas fosse colocada em uma situação insolúvel de tensão e pudesse exprimir-se, lamentar-se-ia. Desamparadamente vencida, procuraria fora de si mesma as causas do seu sofrimento e se queixaria. Pediria para ser aberta com furos. Provocaria os que a cercam até pensar que havia atingido o seu objetivo [<O que será que ele quer? Acho que ele é enrolado!> consórcio V****-T****; minha vida é um VT: crise sempre repetida, autotransmitida impunemente. Meu agradecimento às heroínas amazonas.]. O que ela não conseguia realizar espontaneamente, de dentro para fora, esperaria passiva e desamparadamente do mundo exterior.

O paciente neurótico desenvolve uma <rigidez> na periferia do corpo, conservando embora um cerne interior vivo. Sente-se <constrangido dentro da sua própria pele>, <inibido>, incapaz de <compreender-se a si mesmo>, como se <estivesse emparedado>, <sem contato> e <tenso a ponto de romper-se>. Esforça-se, por todos os meios disponíveis, <em direção ao mundo> mas é como se <estivesse amarrado>. Mais que isso, os seus esforços para entrar em contato com a vida são freqüentemente dolorosos; está tão mal preparado para suportar as dificuldades e desapontamentos da vida, que prefere <arrastar-se dentro de si mesmo>.” Epilepsia como convulsão orgástica?

Estava claro que a ejaculação do sêmen sozinha não podia ser responsável por isso, pois a ejaculação sem prazer não reduz a tensão.”

Que o soma [corpo] influencia a psique é correto; é uma afirmação correta, mas unilateral. O reverso, i.e., que a psique condiciona o soma é coisa que pode ser vista freqüentemente. Não se pode alargar o campo psíquico a ponto de tornar válidas as suas leis para o soma.”

Na excitação sexual, os vasos periféricos se dilatam. Na angústia, sente-se uma tensão interior centralizada como se fosse explodir, os vasos periféricos se contraem.”

Daí em diante, descobri que sempre que eu dissolvia uma tensão muscular, irrompia uma das três excitações básicas do corpo — angústia, ódio ou excitação sexual.

CAMINHOS DE RESOLUÇÃO DA ANGÚSTIA

(ENSAIO EXPERIMENTAL AUTOBIOGRÁFICO):

vamos associar cada uma das 3 excitações a “representantes” antropomórficos:

MUNDANÍSSIMA TRINDADE”

angústia – colegas

ódio – pai

libido – a ex

CENÁRIO 1

2008

tensão gerada pela sensação de abandono e isolamento > “alcoolismo” > Maniax e Jardim Ingá > força anestésica da ressaca (descompasso) > bipolaridade semanal (interiorização das obrigações x escape ideal) > amigos apenas na 2ª instância (a ideal) > tentativa de realização do ideal na figura M**** > reação à recusa na intoxicação e misticismo > cena da fogueira > alucinação noturna > experimentação singular do triplo orgasmo múltiplo > enfraquecimento do sentimento inicial > primeiras dormências nas mãos (tremores nos dedos)

CENÁRIO 2

2009-10

discussões filho-pai > ódio concentrado (rompantes de fúria) > adormecimento consciente (transição com remorso e dor nas costas – sensação de abandono ou absurdo – textos “O ÓRFÃO”; “O INCOMUNICÁVEL”, etc., demonstrando o grande solipsismo em que me achava) > tratamento “musical” (…And Justice for All) > a longo prazo, transformação do ódio em indiferença (dormência pulsional) > desafetos universitário (Ceariba’s) > autossuficiência (busca recalcitrante) > o caso policialesco de Afrodite

Equilíbrio forjado entre a concupiscência, a ascese (masoquismo velado), o rancor, a euforia, a irritabilidade e a completa inércia ou afundamento melancólico. Esperando a improvável ajuda exterior.

Sentir-se atropelado (furacão Sabrina) não é tão ruim assim. Pelo menos o atropelamento não foi interno!

CENÁRIO 3

2014

O câncer J***** > a difícil expulsão da cólera adormecida > remorso e paralisia arrastada (falência corporal), purgatório CAPES > ressurgimento (conversão do ódio inicial em fetiche – a inusitada resolução da incompatibilidade entre o ateu combalido e heróico e a evangélica ressentida)

(sensação máxima de audácia no contra-ataque ao harém)

mas a represa continua

como em Mariana, as barragens não se rompem

auto-comiseração milica

se não pode com seu inimigo, junte-se a ele

corteje a Morte vestida como a noiva de preto

sua foice é de isopor,

ela só quer ser enrabada

Sem dúvida devemos ignorar os gostos ao redor,

Alimentar com rações parcas o cão chamado Ódio que mantemos adestrado (mascote da família),

E cultuar nossa Deusa caseira,

Sim, é isso.

Podia, agora, eliminar um sorriso amistoso atípico que dificultasse o trabalho analítico, ou descrevendo a expressão ou perturbando a atitude muscular, por exemplo levantando o queixo do paciente.” a extinção dos atendentes de telemarketing

Alguns fisiologistas pensam que os nervos armazenam excitação, enquanto a contração muscular a descarrega; pois não é o nervo, mas somente o músculo que pode contrair-se e é capaz de descarregar energia.” “Em estado de extensão, a bexiga poderia executar vários movimentos rítmicos; poderia, por exemplo, produzir uma onda de expansão e contração alternadas, como se verifica no movimento de uma lombriga ou na peristase intestinal.” “Uma sociedade formada de semelhantes bexigas criaria as filosofias mais idealísticas a respeito do <estado de ausência de sofrimento>. Como qualquer extensão em direção ao prazer ou motivada pelo prazer poderia ser sentida somente como dolorosa, a bexiga desenvolveria um medo à excitação agradável (angústia de prazer) e criaria teorias sobre a <maldade>, a <propensão para o pecado> e a <ação destrutiva> do prazer. Em suma, seria um asceta do século XX. Conseqüentemente, teria medo de qualquer idéia de possibilidade da tão ardentemente desejada relaxação; e então odiaria semelhante idéia e finalmente perseguiria e mataria qualquer um que falasse a respeito. Juntar-se-ia a outros seres igualmente constituídos, peculiarmente rígidos, e traçariam rígidas normas de vida. Essas normas teriam a função única de garantir a menor produção possível de energia interior, i.e., de garantir a tranqüilidade, a resignação, e a continuidade das reações habituais.” “A bexiga poderia ser sacudida por convulsões que emergiriam subitamente, por meio das quais se descarregaria a energia represada. Por exemplo, poderia ter acessos histéricos ou epiléticos. Poderia, por outro lado, tornar-se completamente rígida e desolada, como ocorre na esquizofrenia catatônica.” “Associar a natureza a convulsões do corpo seria uma blasfêmia. Assim mesmo criaria indústrias de pornografia, sem perceber a contradição.”

Em um nível fisiológico mais profundo, a expansão corresponde ao funcionamento parassimpático e a contração ao funcionamento simpático. De acordo com as descobertas de Kraus e Zondek, a função do parassimpático pode ser substituída pelo grupo iônico do potássio e a função do simpático pode ser substituída pelo grupo iônico do cálcio.”

A sensação de boca seca está associada à angústia. Em contrapartida, o suor (particularmente o suor frio) é abundante na pessoa angustiada e tensa.

A pele irrigada (rubor) é sinal de expansão (euforia, satisfação). O que permanece confuso para mim: o desconforto do tímido seria um prazer disfarçado?

A produção de adrenalina está relacionada à angústia.

Retenção do esfíncter: euforia; retenção da urina: angústia (apesar de a pessoa sentir mais vontade de ir ao banheiro).

Pênis flácido e escroto rígido: angústia.

Sentimento orgiástico: dissolução do ego, pressentimento de naturalidade (nos comportamos como autômatos, por mais que a expressão esteja “contaminada” pela perspectiva mecânica) e impressão de perfeição, ao contrário do ego prensado e claramente divisável e experimentado, que se sente “falhado” em tudo que executa, constrangido, sem espontaneidade.

Hipertensão: sintoma de que o coração “não vai bem”.

o mesmo nervo que inibe a glândula salivar estimula a secreção de adrenalina” “Em termos do organismo total, é também significativo que no prazer as pupilas sejam diminuídas pelo parassimpático (correspondendo ao diafragma de uma câmera), aguçando-se assim a visão. [mas não dizem que a pupila se expande até 2 ou 3x para ‘melhor observar’ o objeto amado?] Na paralisia causada pelo medo, ao contrário, a visão diminui, por causa da dilatação das pupilas.”

Todos os nossos pacientes contam que atravessaram períodos na infância nos quais, por meio de certos artifícios sobre o comportamento vegetativo (prender a respiração, aumentar a pressão dos músculos abdominais, etc.) haviam aprendido a anular os seus impulsos de ódio, de angústia ou de amor. (…) Pode dizer-se que toda rigidez muscular contém a história e o significado da sua origem. Não é como se tivéssemos de deduzir a partir de sonhos ou de associações a maneira como se desenvolveu a couraça muscular; a couraça é a forma na qual a experiência infantil é preservada como obstáculo ao funcionamento.” “Não pode haver dúvidas de que a maior parte do que as pessoas costumam descrever como uma <disposição> ou como uma <constituição instintiva> acabará provando ser um comportamento vegetativo adquirido.” o afeto reprimido aparece antes da lembrança correspondente. Semelhante aproximação proporciona uma garantia segura da liberação dos afetos, uma vez que a atitude muscular crônica tenha sido entendida e dissolvida com êxito. Quando se tenta liberá-los somente por meio de trabalho no campo psicológico, diminuem-se os afetos por uma questão de sorte.”

A atitude muscular é idêntica ao que chamamos expressão corporal. Muito freqüentemente não é possível saber se um paciente é hipertônico, ou não. Todavia, com o corpo inteiro, ou com partes dele, <expressa algo>. (…) A esse respeito lembramo-nos da perda da expressão espontânea nas crianças, primeira e mais importante manifestação da supressão sexual final que se dá no quarto ou no quinto ano de vida. Essa perda é experimentada primeiro como <estar morrendo>, como <estar sendo metido em uma couraça> ou como <estar sendo emparedado>. Em alguns casos, esse sentimento de <estar morrendo> ou de <estar morto> pode ser mais tarde compensado parcialmente pela camuflagem de atitudes psíquicas, por exemplo por uma jovialidade superficial ou por uma sociabilidade indireta.

Quando, por exemplo, um impulso de chorar deve ser reprimido, não é o lábio inferior que se torna tenso, mas toda a musculatura da boca e do queixo, e assim também a musculatura correspondente da garganta; em suma, todos os órgãos que entram em ação como uma unidade funcional no ato de gritar. Lembramo-nos a esse respeito do conhecido fenômeno de que as pessoas histéricas delimitam os seus sintomas somáticos não de acordo com áreas anatômicas, mas funcionais. Um rubor histérico não segue as ramificações de uma determinada artéria; mas envolve quase exclusivamente o pescoço ou a testa. A função vegetativa do corpo ignora os limites anatômicos, que são indicações superficiais.” A amigdalite crônica como afetos não-resolvidos… Vontade de gritar e de chorar reprimidas.

a dissolução de uma couraça muscular começa em geral nas partes do corpo mais afastadas dos genitais, habitualmente a cabeça. A atitude facial é a mais visível. A expressão facial e o tom da voz são também as funções que o próprio paciente sente e às quais presta atenção com mais freqüência e cuidado.” Minha expressão sem vida nas fotos sempre me assusta.

Cabeça e pescoço: dor de cabeça forte é um sintoma encontrado em muitos pacientes. Localiza-se muito freqüentemente acima do pescoço, sobre os olhos ou na testa. Na psicopatologia, essas dores de cabeça definem-se em geral como <sintomas neurastênicos>. Como começam? Se alguém tentar forçar a musculatura do pescoço durante um longo período de tempo, como se fosse evitar um golpe iminente, sentirá logo o aparecimento de uma dor na parte posterior da cabeça, bem acima do ponto no qual a musculatura está tensa. Por isso, a dor na parte posterior da cabeça pode ser reduzida a uma tensão excessiva dos músculos do pescoço. Essa atitude expressa uma angústia contínua de algo perigoso que possa sobrevir por trás; por exemplo, a angústia de ser agarrado pelo pescoço [estranho neo-freudianismo], golpeado na cabeça, etc.” Até hoje não se pratica uma terapia que una os benefícios da acupuntura, fisioterapia e RPG à psicanálise ou psicologia comportamental.

Alguns pacientes têm uma expressão facial que poderia ser descrita como <arrogante>. A dissolução dessa expressão mostra que é uma atitude de defesa contra uma atenção nervosa ou apreensiva do rosto. Alguns pacientes mostram <a testa de um pensador>. É raro encontrar um paciente que na infância não tenha criado a fantasia de ser um gênio. Habitualmente, essa atitude facial é o resultado de uma defesa contra a angústia, na maior parte das vezes, de natureza masturbatória. Em outros pacientes, observamos uma testa <lisa>, <chata> ou <inexpressiva>. O medo de ser golpeado na cabeça é sempre o motivo dessa expressão.” “Muitas pessoas têm uma expressão facial como uma máscara. (…) a parte inferior da boca é tensa. Esses pacientes sofrem freqüentemente de náuseas. A sua voz é habitualmente baixa, monótona ou <diluída>.” “Nessas condições é inútil tentar falar alto e com voz ressoante. As crianças freqüentemente adquirem essas condições em idade muito tenra, quando são obrigadas a reprimir violentes impulsos de chorar. A concentração contínua de atenção em uma determinada parte do corpo resulta invariavelmente em uma fixação da inervação correspondente.Maldito Diego, maldito Marcel, maldito Cintra! “Não há possibilidade de eliminar a náusea se a tensão do assoalho da boca não é descoberta (…) Antes que a sensação crônica da náusea possa ser eliminada, a inibição do impulso de chorar tem de ser completamente dissolvida.” “Conhecemos o rosto deprimido da pessoa melancólica. É notável como uma expressão de abatimento pode combinar-se com a mais extrema e crônica tensão da musculatura. Há pessoas que assumem uma expressão continuamente radiante; há aquelas cujas faces são <rígidas> ou <encovadas>.” “O choro reprimido leva facilmente os músculos faciais a uma impermeabilidade de máscara.”

As perturbações respiratórias nas neuroses são os sintomas que resultam das tensões abdominais. Imagine que você está assustado, ou que prevê um grande perigo. Involuntariamente aspirará o ar e prenderá a respiração. Como a respiração não pode cessar inteiramente, você logo respirará outra vez, mas a expiração não será completa. Será superficial.” Havia momentos na DRI em que eu me sentia quase que debaixo d’água: enquanto o ouvido permanecesse alerta, era sufocante inspirar e expirar. Qualquer gesto ou ruído mais dilatado pareciam me denunciar, me tornar vulnerável.

Em estado de apreensão, os ombros são involuntariamente levados para a frente, e permanecem nessa atitude rígida. Às vezes são também forçados para cima. Se essa atitude é mantida durante algum tempo, sente-se uma pressão na testa. Tratei vários pacientes nos quais não consegui eliminar a pressão na testa enquanto não descobri a atitude de expectativa amedrontada na musculatura do tórax.”

Qual a função dessa atitude de <respiração curta>? Se examinarmos a posição dos órgãos internos e a sua relação com o plexo solar, entenderemos imediatamente a situação com que estamos lidando. Em estado de medo, involuntariamente se inspira; estamos pensando na inalação involuntária que ocorre no afogamento e que verdadeiramente causa a morte.”

<Há algo no meu estômago que não consegue sair> — ou—

<Sinto como se tivesse um prato no estômago> — ou —

<A minha barriga está morta> — ou —

<Preciso segurar a minha barriga> —, etc.

Quase todas as fantasias das crianças sobre a gravidez e o nascimento giram em torno das suas sensações abdominais vegetativas.”

Pacientes que se queixam de um aperto crônico, assim como de um cinto, ou de um sentimento de pressão, apresentam a musculatura abdominal superior rígida, isto é, dura como uma tábua.”

À mais leve manifestação de sentimento, <regulava algo no estômago>, prendia a respiração e olhava inexpressivamente para o espaço. Os olhos pareciam vazios; pareciam <voltados para dentro>. A parede abdominal tornava-se tensa e as nádegas encolhiam-se.”

Era visível entre os seus traços patológicos o fato de ser incapaz de qualquer agressão. Sempre se sentia impelido a ser <amável e polido>, a concordar com tudo o que as pessoas diziam, ainda que expressassem opiniões opostas e contraditórias. Sofria por baixo da superficialidade que regulava a sua vida. Estava sofrendo dessa enfermidade muito comum — uma sociabilidade mal-interpretada e indireta — que se transforma em uma compulsão rígida e destrói intimamente muitas pessoas. (…) A boca dava a impressão de ser pequena e apertada; quase não a movimentava ao falar; os lábios eram estreitos, como se comprimidos um contra o outro. Os olhos careciam de expressão.

Apesar dessa diminuição óbvia e grave da sua mobilidade vegetativa, percebia-se, debaixo da superfície, uma natureza inteligente e muito viva. Era esse, sem dúvida, o fator que lhe permitia tenta resolver as suas dificuldades com grande energia.

O tratamento subseqüente durou 6 meses e ½, com 1 sessão por dia [!].” Demoraria de 2 a 3 anos para freqüentar o mesmo número de sessões semanalmente…

(…) O paciente ficou meio sentado no divã, tremeu de cólera, levantou o punho como se fosse dar um soco, sem entretanto completar o gesto. Então, sem fôlego, recuou exausto. Toda a ação se dissolveu em uma espécie de choro de lamentação. Essas ações expressavam <cólera impotente> semelhante à que as crianças freqüentemente experimentam diante dos adultos.”

havia, em algum ponto, uma ruptura na conexão entre a excitação muscular vegetativa e a percepção psíquica dessa excitação.”

Ele sabia que estava expressando uma cólera esmagadora que conservara trancada dentro de si mesmo durante anos. O desligamento emocional desapareceu quando uma crise provocou a lembrança do irmão mais velho, que o havia dominado e maltratado demais quando era criança.”

Quanto mais intensas se tornavam as ações musculares da face, mais a excitação somática, ainda totalmente desligada do reconhecimento psíquico, se expandia em direção ao tórax e ao abdômen. Várias semanas mais tarde, o paciente contou que durante as contrações no peito, mas principalmente quando essas contrações diminuíam, sentia <correntes> que se estendiam em direção ao baixo abdômen. Nesse meio tempo, separou-se da mulher com a intenção de ligar-se a outra. Entretanto revelou-se no decorrer das semanas seguintes que a pretendida ligação não se realizara. De início o paciente permaneceu indiferente a isso. Depois que lhe chamei a atenção para o fato, foi que tentou, arriscando várias explicações aparentemente plausíveis, interessar-se pelo assunto. Mas era bem evidente que uma interdição interior o impedia de tratar o problema de uma forma realmente afetiva. Como não se costuma, no trabalho de análise do caráter, tratar de um assunto por mais imediato que seja se o paciente não tocar nele por si mesmo de uma forma plenamente afetiva, adiei a discussão do problema”

Tornava-se cada vez mais claro que o paciente estava resistindo à compreensão do conjunto em todas as suas partes. Nós dois sabíamos que era muito precavido. Não era só na sua atitude psíquica que essa precaução se expressava; nem só no fato de que até certo ponto cooperava, e se adaptava às exigências do trabalho; e no fato de que se tornava meio inamistoso e frio quando o trabalho ultrapassava certos limites.”

Eu me sinto como um animal primitivo” “Sinto-me como um peixe”

Era um homem que as mulheres achavam muito atraente; mas por estranho que pareça não se aproveitara muito disso.”

DEFESA ABDOMINAL. Esse fenômeno existe em todos os neuróticos sem exceção, sempre que se ordena que expirem plenamente e se faz uma leve pressão na parede abdominal uns 3cm abaixo da extremidade do esterno. Isso provoca uma resistência forte dentro do abdômen; ou o paciente experimenta uma dor semelhante à que é causada por uma pressão nos testículos.”

EXPRESSINHO (conforto e carinho): A nostalgia do viaduto: toda criança gosta, e todo adulto gosta, por tabela, nostalgicamente, da sensação da queda, daquele êmulo de dor-de-barriga, típica da montanha-russa ou do carro veloz na ladeira íngreme: o puxar e repuxar, o arrepio convulsivo, no ventre. Dor-prazer de Adão?!

O que significa o aparecimento de crises de bocejo durante a sessão psicanalítica?

[v]idas e (vi)n(das)

É como uma casca protetora em volta de uma criança. É incrível como posso agora sentir a profundidade do mundo”

Este homem também se angustiava com gorilas quando pequeno: “Agora irrompera afinal. O gorila representava o pai, figura ameaçadora que queria impedi-lo de mamar.”

A forma forçada e dura da convulsão orgástica correspondia a uma atitude psíquica que dizia: <Um homem é duro e inflexível; qualquer forma de entrega é feminina>.”

Análise do caráter (psiquismo) e Vegetoterapia (somatismo, músculos): dois lados de uma mesma moeda, etapas intercaladas e indissociáveis do processo terapêutico integral.

Há dois pontos nos quais a inibição sempre se encontra: a garganta e o ânus.” As extremidades do sistema digestório.

Contra o formalismo excessivo: “Em muitos casos, um espasmo sério de garganta não é descoberto enquanto a excitação vegetativa na pélvis não se tenha dissolvido até certo ponto.”

muitos pacientes sofrem de uma tensão crônica da musculatura dos maxilares, o que dá um aspecto mesquinho à metade inferior do rosto. Na tentativa de empurrar o queixo para baixo, verifica-se forte resistência e rigidez. Se se ordena ao paciente que abra e feche a boca, ele só executa o movimento depois de alguma hesitação e com visível esforço. Mas o paciente deve ser levado, primeiro, a experimentar essa forma artificial de abrir e fechar a boca antes de poder ser convencido de que a mobilidade do seu queixo está inibida.”

um movimento rítmico da musculatura das sobrancelhas (<tique>) pode funcionar como uma defesa contra um olhar tenso.”

descobrir as inibições e os pontos onde a fragmentação obstrui a unificação do reflexo do orgasmo”

Como maneira de preparar e conseguir o reflexo do orgasmo, faço primeiro os meus pacientes inspirarem e expirarem profundamente e os encorajo a <acostumarem-se com isso>. Se se ordena ao paciente que respire fundo, ele em geral força a respiração, para dentro e para fora, de modo artificial. Esse comportamento voluntário serve apenas para obstruir o ritmo vegetativo natural da respiração. Desmascara-se a inibição; pede-se ao paciente que respire de <modo inteiramente normal>, i.e., sem se entregar a quaisquer exercícios respiratórios, como gostaria de fazer. Depois de 5 ou 10 movimentos, a respiração em geral se torna mais profunda, e emerge a primeira inibição. Quando uma pessoa expira natural e profundamente, a cabeça se move com espontaneidade para trás no fim do movimento. Os pacientes não podem deixar a cabeça ir para trás de modo espontâneo e natural. Esticam o pescoço para frente para evitar o <movimento para trás>, ou movem a cabeça com um puxão violento para o lado; em qualquer caso, de modo diferente do movimento natural.

Na exalação profunda, os ombros relaxam-se com naturalidade e se movem suave e levemente para frente. É no fim preciso da exalação que os nossos pacientes mantêm os ombros firmes ou os levantam; em suma, executam movimentos vários com os ombros para impedir o movimento vegetativo espontâneo.

Outra maneira de liberar o reflexo do orgasmo é exercer uma pressão suave no alto abdômen. Coloco as pontas dos dedos de ambas as mãos aproximadamente no meio do abdômen superior entre o umbigo e o esterno, e digo ao paciente que inspire e expire fundo. Durante a expiração, vou aplicando, aos poucos, uma suave pressão no alto abdômen. Isso provoca reações diferentes em pacientes diferentes. Em alguns, o plexo solar se mostra altamente sensível à pressão; em outros, há um movimento de reação no qual as costas se arqueiam. Esses são os pacientes que suprimem toda excitação orgástica no ato sexual, puxando a pélvis para trás e arqueando as costas. Há também os pacientes nos quais uma pressão contínua no alto abdômen produz contrações ondulantes no abdômen. Isso às vezes libera o reflexo do orgasmo. Se a exalação profunda é continuada durante certo tempo, uma parede abdominal tensa e dura se torna invariavelmente macia. Pode ser pressionada com mais facilidade. Os pacientes contam que <se sentem melhor>, afirmação que não pode ser tomada ao pé da letra. Na minha prática, lanço mão de uma fórmula que os pacientes entendem espontaneamente: digo-lhes para <cederem> por completo. A atitude de entrega é a mesma que a da rendição: a cabeça desliza para trás, os ombros movem-se para a frente e para cima, o meio do abdômen se encolhe, a pélvis move-se para a frente e as pernas separam-se espontaneamente. A expiração profunda produz a atitude de rendição (sexual). Isso explica a inibição do orgasmo nessas pessoas que são incapazes de render-se, e que prendem a respiração quando a excitação se eleva a um clímax.”

Uma abertura frouxa da boca parece contribuir para o estabelecimento da atitude de rendição.”

Prender a respiração durante bastante tempo era algo que se considerava como uma façanha heróica de autocontrole”

Quando sinto medo, fico muito birrenta; então tenho vontade de lutar contra alguma coisa, mas não sei contra quê. Não pense que tenho vontade de brigar com o mágico {a mãe não o havia mencionado}; tenho muito medo dele. É uma coisa que eu não sei o que é.”

A inalação profunda provoca uma obstrução da atividade biológica dos centros vegetativos, resultando em uma irritabilidade reflexa aumentada. A exalação repetida reduz a estase e, com isso, a irritabilidade angustiosa.”

A reação reflexa desapareceu à medida que o paciente começou a superar o medo de expirar. Assim, a atividade respiratória inibida pela neurose é um fator central do mecanismo neurótico em geral. Bloqueia a atividade vegetativa do organismo, criando a fonte de energia dos sintomas e fantasias neuróticas de todo tipo.”

Quanto mais arduamente tentava superar a sua falta de auto-estima por meio da ruminação compulsiva [por que por que por que eu me odeio todos me odeiam], mais intensa se tornava a pressão. (…) Essas reações sempre apareciam quando uma excitação não conseguia chegar aos genitais e era desviada <para cima>. Essa é a base fisiológica do que os psicanalistas chamavam <deslocamento de baixo para cima>.”

é fácil pôr a mão entre as costas do paciente e o divã.” Ficam arqueados e tensos na ponta da poltrona do consultório. Igual na sessão de fisioterapia!

A musculatura das nádegas também fica tensa. Os pacientes, freqüentemente, superam a ausência de excitabilidade nesses músculos tentando produzir neles contrações e relaxações voluntárias.”

A defesa contra o reflexo do orgasmo provoca várias perturbações vegetativas, por exemplo a constipação crônica, o reumatismo muscular, a ciática, etc. Em muitos pacientes, a constipação desaparece, mesmo quando existiu durante décadas, com o desenvolvimento do reflexo do orgasmo. O seu pleno desenvolvimento é freqüentemente precedido por náuseas e por sensações de vertigem, somadas a estados espasmódicos da garganta, contrações isoladas da musculatura abdominal, do diafragma, da pélvis, etc. Mas todos esses sintomas desaparecem logo que se haja desenvolvido plenamente o reflexo do orgasmo.”

Embora nunca se expressasse abertamente, havia em muitos pacientes uma maldade escondida que eu não conseguia localizar. O tratamento do comportamento vegetativo permite determinar onde se localiza somaticamente a mesquinhez. Há pacientes que expressam amistosidade com os olhos e com as bochechas, mas que expressam, quanto ao queixo e a boca, exatamente o contrário. A expressão é completamente diferente na metade inferior da face e na metade superior. A dissolução da atitude da boca e do queixo libera incrível quantidade de cólera.

escondendo o pum na barriga” “encerrou a maldade”

Na neurose simples, há só uma restrição superficial da mobilidade vegetativa, que permite excitações interiores e descargas <na fantasia>. Se o encouraçamento atinge a profundidade, se bloqueia áreas centrais do organismo biológico e controla completamente a musculatura, há apenas duas possibilidades: irrupção forte (cólera violenta, que se experimenta como um alívio) ou deterioração gradual e completa do mecanismo vital. Várias enfermidades orgânicas, como a úlcera gástrica, o reumatismo muscular e o câncer, prendem-se ao problema neste ponto.”

O reflexo do orgasmo encontra-se em todas as criaturas que copulam. Entre organismos biológicos mais primitivos, como por exemplo os protozoários, encontra-se na forma de contrações plasmáticas. O estágio mais elementar, no qual se pode encontrar, é a divisão de células únicas.

Há algumas dificuldades para chegar a uma resposta a respeito do que é que, nos organismos mais altamente organizados, toma o lugar da contração, quando o organismo não pode mais contrair-se assumindo a forma esférica, como o protozoário [talvez Aristófanes esteja correto n’O Banquete!]. A partir de um certo estágio do desenvolvimento, o metazoário [todo animal pluricelular que já possui órgãos e sistemas especializados, membros diferenciados, etc.] tem uma estrutura óssea. Isso impede a operação, natural nos moluscos e protozoários, de se tornarem esféricos no ato de contrair-se. Imaginemos um tubo flexível, no qual a nossa bexiga biológica se tenha desenvolvido. Imaginemos depois que introduzimos nele uma vara que se pode curvar em uma direção. Isso representaria a espinha. Imaginemos que o impulso de contração é agora introduzido nessa bexiga longitudinalmente esticada. Podemos ver que a bexiga só tem uma possibilidade quando, a despeito da sua inabilidade para tornar-se esférica, deseja contrair-se. Tem de curvar-se o mais possível, e rapidamente.” “As pessoas histéricas têm uma tendência especial para desenvolver espasmos musculares em partes do organismo cuja musculatura é anular, sobretudo na garganta e no ânus.” O SER HUMANO CONTRA A CATATONIA: “Além disso, a musculatura anular encontra-se na entrada e na saída do estômago. Desenvolvem-se, nessas duas aberturas, espasmos que têm freqüentemente conseqüências sérias para o estado geral da pessoa. Esses pontos do corpo, especialmente dispostos para contrações continuas, e correspondendo biologicamente a estágios muito primitivos de desenvolvimento, são os pontos mais freqüentes de desordens espasmódicas. Se a garganta e o ânus são bloqueados, a contração orgástica se torna impossível. A retração somática expressa-se por uma atitude que é o oposto exato do reflexo do orgasmo: as costas ficam arqueadas, o pescoço duro, o ânus bloqueado, o peito para a frente e os ombros tensos. O arc de cercle histérico é o oposto exato do reflexo do orgasmo e o protótipo da defesa contra a sexualidade.”

A reserva psíquica expressa-se em rigidez vegetativa. O ódio psíquico expressa-se em uma atitude vegetativa definida de ódio.” “Bioenergeticamente, a psique e o soma funcionam condicionando-se mutuamente e ao mesmo tempo formando um sistema unitário.”

Uma paciente excepcionalmente bonita e sexualmente atraente queixava-se de sentir-se feia, porque não sentia o seu corpo como um todo unido. Descreveu assim o seu estado: <Cada parte do meu corpo é independente. As minhas pernas estão aqui e a minha cabeça está ali e eu nunca sei muito bem onde estão as minhas mãos. Eu não tenho o meu corpo todo junto>. Em suma, sofria da conhecida perturbação da autopercepção, especialmente pronunciada na despersonalização esquizóide. (…) Logo no começo do tratamento, era notável a <indiferença> da sua expressão facial. (…) Nessas ocasiões, os seus olhos tinham um olhar vazio e <perdido>. (…) A indiferença [dos olhos e da testa] tinha a função de impedir que a paciente ficasse continuamente à mercê da torturante percepção do ódio expresso pela boca. Depois de tratarmos a região da boca por umas duas semanas, a expressão maliciosa desapareceu por completo em conexão com o desenvolvimento de uma reação muito forte de desapontamento da paciente. Um dos seus traços de caráter era a compulsão de exigir continuamente amor. Zangava-se quando as suas exigências impossíveis não eram satisfeitas. Depois que se dissolveu a atitude da boca e do queixo, apareceram contrações pré-orgásticas em todo o corpo, primeiro em forma de serpentina — movimentos ondulantes que também, incluíam a pélvis. Entretanto, a excitação genital estava inibida em um ponto definido. Durante a procura do mecanismo da inibição, a expressão da testa e dos olhos foi-se tornando cada vez mais pronunciada. Tornou-se uma expressão de fixidez má, observadora, crítica e atenta. Com isso, a paciente percebeu que tinha de <estar em guarda> constantemente, e que nunca fôra capaz de <perder a cabeça>. (…) a <testa morta> havia escondido a <testa crítica>. O passo seguinte era descobrir que função tinha a <testa crítica> e maliciosa. (…) a testa da paciente montava guarda quando ela queria ceder a um impulso sexual. (…) Não eliminamos um sintoma somático apenas tornando-o historicamente compreensível. Não podemos progredir sem o conhecimento da função simultânea do sintoma. (Que não deve ser confundida com o <conflito atual>!)¹ O fato de que a atitude atenta da testa derivasse da sua identificação infantil com o pai severo não teria tido o mais leve efeito sobre a perturbação orgástica. O decorrer do tratamento dessa paciente provou a exatidão desse critério (…) Aos poucos, a expressão severa alternou com uma expressão alegre, meio infantil da testa e dos olhos. Assim, uma vez estava de acordo com o desejo genital; outra vez a sua atitude em relação a ele era crítica e adversa. Com a substituição da atitude crítica da testa pela atitude alegre, a inibição da excitação genital também desapareceu.”

¹ (2022) Essa parte supostamente histórica da psicanálise é sem dúvida a mais defasada.

<Não perca a cabeça> é uma atitude muito comum. A nossa paciente sofria da sensação de ter um corpo dividido, não-integrado e não-unificado. Por isso, também não tinha a consciência e a sensação da sua graça vegetativa e sexual. Como é possível que um organismo que constitui um todo unificado possa <despedaçar-se> na sua percepção? O termo despersonalização não indica nada, pois em si mesmo exige uma explicação. O que nos devemos perguntar é como é possível que partes do organismo funcionem por si mesmas, independentemente do organismo total.” “A observação clínica ensina-nos ainda que as perturbações da auto-percepção não desaparecem realmente enquanto o reflexo do orgasmo não é plenamente desenvolvido em um todo unificado.” “Assim, a despersonalização torna-se compreensível como uma falta de carga, i.e., como uma perturbação da inervação vegetativa dos órgãos isolados ou dos sistemas de órgãos (por exemplo, as pontas dos dedos, os braços, a cabeça, as pernas, os genitais, etc.).” “quando o paciente deveria estar à beira de recuperar a saúde, surgem contra esta as piores reações.” “Todo desequilíbrio da sensação somática total afeta simultaneamente a autoconfiança e a unidade do sentimento do corpo. Ao mesmo tempo, esses desequilíbrios obrigam o corpo a fazer compensações.” “variadas formas [d]a cisão da personalidade. Entre as mais simples sensações de frigidez ou rigidez, de um lado, e a divisão esquizofrênica, a falta de contato e a despersonalização de outro, não há diferenças de base mas tão somente diferenças quantitativas, que se expressam também qualitativamente. A sensação de integridade tem conexão com a sensação de contato imediato com o mundo. A unificação do reflexo do orgasmo também restaura as sensações de profundidade e seriedade. Os pacientes lembram-se do tempo da sua primeira infância [que idade?], quando a unidade de sensação do seu corpo não estava perturbada. (…) do tempo em que se sentiam <vivos>; e como finalmente tudo isso fora despedaçado e esmagado pela educação. No rompimento da unidade do sentimento do corpo pela supressão sexual, e no contínuo anseio de restabelecer contato consigo mesmo e com o mundo, encontra-se a raiz de todas as religiões negadoras do sexo. <Deus> é a idéia mistificada da harmonia vegetativa entre o eu e a natureza.”

Nem a música me encontra mais…

Isso é especialmente verdadeiro quanto às culturas da Índia, da China e do Japão. Quando um patriarcado austero e negador do sexo quer propagar-se, precisa suprimir severamente os impulsos sexuais das crianças. Isso resulta em angústia e cólera agudas, ambas prejudiciais à cultura da família patriarcal e dependentes da ideologia do autocontrole e do poder de não mover um só músculo, por maior que seja a dor (…) Essa ideologia também proporciona uma interiorização nos exercícios respiratórios dos iogues. A técnica de respiração ensinada pelos iogues é o oposto exato da técnica de respiração que usamos para reativar as excitações emocionais vegetativas nos nossos pacientes. (…) A expressão facial rígida semelhante a uma máscara, dos hindus típicos, dos chineses e japoneses, encontra o seu extremo oposto na capacidade para o êxtase intoxicado. O fato de que a tática iogue tenha podido espalhar-se na Europa e na América se deve ao fato de que nessas culturas se procura um meio de conseguir o controle sobre os impulsos vegetativos naturais e, ao mesmo tempo, de eliminar estados de angústia. Não estão longe de um pressentimento da função orgástica da vida.” “A <rígida atitude militar> é o exato oposto da atitude natural, solta, ágil. O pescoço tem de estar rígido, a cabeça esticada para a frente; os olhos devem olhar rigidamente para a frente; o queixo e a boca devem ter uma expressão <varonil>; o tórax deve estar puxado para fora; os braços devem ser rigidamente mantidos rente ao corpo; as mãos devem estar esticadas ao longo da dobra das calças. Sem dúvida, a mais importante indicação da intenção sexualmente supressiva dessa técnica militar é a ordem proverbial: estômago para dentro, tórax para fora. As pernas são duras e rígidas.” “a tensão dos tornozelos é uma indicação clínica típica do controle artificial dos afetos.”

ESPARTA: “Ensinar o povo a assumir uma atitude rígida e não-natural é um dos meios mais essenciais usados por um sistema social ditatorial para produzir, com a perda da vontade, organismos que funcionem automaticamente.”

Quem quer ser homem deve dominar-se.” “Não se deve deixar-se levar.” “Não se deve demonstrar medo.” “Cólera é falta de educação.” “Uma criança decente senta-se quieta.” “Não se deve demonstrar o que se sente.” “Deve-se cerrar os dentes.” “Essas frases, características da educação, inicialmente são repelidas pelas crianças, depois aceitas com relutância, laboradas e, por fim, exercitadas. Entortam-lhes — via de regra — a espinha da alma (…) É um dos grandes segredos da psicologia das massas que o adulto médio, a criança média e o adolescente médio são muito mais propensos a resignar-se com a ausência de felicidade que a continuar a lutar pela alegria de viver, quando esta última atitude acarreta sofrimento demais.”

Thomasismo: “Se a hipertonicidade da musculatura continua por anos e décadas, leva a uma contratura crônica e a nódulos reumáticos, como resultado do depósito de substâncias sólidas nos feixes musculares. Nesse último estágio, o processo reumático não é mais reversível. Observa-se na vegetoterapia do reumatismo que ele ataca tipicamente os grupos musculares que desempenham papel importante na supressão dos afetos e das sensações orgânicas. O reumatismo muscular é sobretudo comum na musculatura do pescoço (<pescoço duro>, obsticidade [inclinação patológica da cabeça para um dos dois ombros]) e entre as omoplatas, onde o gesto de puxar os ombros para trás dá a impressão, do ângulo da análise de caráter, de <autocontrole> e de <retração>. Essa doença atinge em geral os dois músculos grossos do pescoço que correm do occipício até a clavícula (músculos esternoclidomastóideos). Esses músculos tornam-se curiosamente hipertônicos quando a cólera é inconsciente e continuamente suprimida. Um paciente reumático teve a idéia de chamar a esses grupos musculares de músculos do ódio. Somado a esses está o espasmo crônico dos masseteres, que dá à metade inferior da face uma expressão obstinada e mal-humorada.”

O lumbago [lombalgia] requer uma investigação pormenorizada a esse respeito. Encontra-se muito freqüentemente em pacientes cuja musculatura das nádegas se encontra em estado de tensão crônica que retrai as sensações anais. Outro grupo de músculos em que encontramos com frequência o reumatismo muscular compreende os adutores profundos e superficiais da parte superior das coxas, que mantêm as pernas juntas. Têm a função, especialmente nas mulheres, de suprimir a excitação genital. No trabalho vegetoterapêutico, adotamos a expressão músculos da moralidade para designá-los. O anatomista vienense Julius Tandler referia-se jocosamente a eles como custodes virginitatis.”

Temos todas as razões para crer que o enfisema pulmonar, caracterizado pela forma de barril do tórax cheio de ar, é o resultado de uma atitude crônica e extrema de inspiração. Devemos lembrar-nos de que qualquer fixação crônica de uma atitude determinada prejudica a elasticidade dos tecidos; esse é o caso do enfisema, no que diz respeito às fibras elásticas dos brônquios.”

A úlcera gástrica como subproduto de uma perturbação afetiva crônica é tão freqüente que não pode haver mais qualquer dúvida quanto à sua natureza psicossomática.”

Hemorróidas, como resultado de um espasmo crônico do esfíncter anal. O sangue nas veias periféricas do esfíncter anal contraído é mecanicamente represado, causando a dilatação das paredes dos vasos.”

Com base no trabalho pioneiro de Wartburg sobre a asfixia do tecido no câncer (excesso de CO²) tornou-se claro que a restrição crônica da exalação causada pela simpaticotonia é um elemento essencial da disposição para o câncer. A reduzida respiração externa resulta em uma respiração interna escassa. Os órgãos cuja respiração é cronicamente prejudicada são mais suscetíveis aos estímulos que produzem o câncer do que os órgãos com boa respiração.”

EXPECTATIVA ETERNAMENTE ADIADA

Tive apenas a intenção de indicar um importante campo da patologia orgânica intimamente relacionado com o tema da função do orgasmo: para enfatizar conexões até aqui menosprezadas; para fazer um apelo à consciência da profissão médica no sentido de encarar as perturbações sexuais dos homens e mulheres tão seriamente como merecem; e para imprimir nos estudantes de medicina a necessidade de estudarem corretamente a teoria do orgasmo e a sexologia geral a fim de serem capazes de enfrentar as tremendas necessidades da população. O médico deve ter cuidado para não se confinar ao limite de uma lâmina de microscópio: deve relacionar o que vê no microscópio com a função autônoma da vida do organismo total. Deverá dominar essa função total nos seus componentes biológicos e psíquicos, e compreender que a influência exercida pela sociedade sobre a função de tensão-carga do organismo e dos seus órgãos exerce uma influência decisiva sobre a saúde ou doença daqueles que dependem dela. A medicina psicossomática, que é hoje o ramo especial de entusiastas e de especialistas, poderá ser, sem demora, o que promete vir a ser: a estrutura geral da medicina do futuro.

Seriam as cargas da superfície da zona sexual de um milésimo de volt, ou de meio volt? A literatura fisiológica não fornecia chaves para a resposta a semelhante pergunta. Mesmo a idéia de uma carga na superfície do organismo não era geralmente conhecida. Quando, em dezembro de 1934, perguntei ao diretor de um instituto fisiológico em Londres como se podia medir a carga da pele, achou a própria pergunta muito esquisita. Tarchanoff e Veraguth, mesmo antes do início do século, haviam descoberto o <fenômeno psicogalvânico>, que revelava a manifestação das excitações psíquicas em forma de oscilações potenciais na pele.” Cf. REICH, Experimentelle Ergebnisse über elektrische Funktion von Sexualitat und Angst. Sexpol Verlag, 1937.

Nos homens e mulheres descontraídos e vegetativamente vivos, o potencial de uma mesma zona sexual raramente é constante. Oscilações de até 50 mv [microvolts], e mais, podem ser observadas nas zonas sexuais. Isso está definitivamente de acordo com o fato de que as zonas sexuais são dotadas de alta, e extremamente variável, intensidade de sensações e capacidade de excitação. Subjetivamente, a excitação das zonas sexuais é experimentada como o fluir de uma corrente, como uma comichão ou como uma sensação confortante de calor ou de <suavidade>. As áreas da pele não-especificamente erógenas apresentam essas características em grau muito menor, ou não as apresentam.”

Reações negativas de angústia em forma de redução rápida da carga de superfície podem ser verificadas na membrana mucosa da vagina, na língua, e nas palmas das mãos. Um susto inesperado, causado por um grito, por uma bola que se estoura ou pelo som barulhento de um gongo que se toca, são particularmente adequados como estímulos.”

Órgãos desapontados e habituados reagem lentamente aos estímulos de prazer.”

Segundo a visão tradicional, a energia bioelétrica se move pelos caminhos das fibras nervosas, pressupondo-se que as fibras nervosas não sejam contráteis. Até aqui, entretanto, todas as observações levam à hipótese de que os plexos sinciciais vegetativos são, eles mesmos, contráteis, i.e., podem expandir-se e contrair-se. Conseqüentemente, a ameba continua a existir em todos os animais, inclusive no homem, na forma do sistema nervoso autônomo contrátil. Essa suposição é confirmada microscopicamente. Por exemplo, movimentos de expansão e contração em vermes pequenos e translúcidos podem ser facilmente observados ao microscópio. Esses movimentos do mecanismo autônomo da vida ocorrem independentemente dos movimentos do corpo total, e os precedem.” “A sensação de <ser frio> e de <estar morto>, e a <falta de contato> do paciente psiquiátrico são expressões de uma deficiência da carga bioelétrica na periferia do corpo.”

Como só as sensações vegetativas de prazer são acompanhadas de um aumento da carga na superfície do organismo, a excitação agradável tem de ser considerada como um processo especificamente produtivo no sistema biológico. Todos os outros afetos, por exemplo o desprazer, o aborrecimento, a angústia e a pressão, em termos de energia, são o oposto a esse processo e por isso representam funções negadoras da vida. Assim, o processo do prazer sexual é o processo da vida per se.” Engraçado como há apenas uma força da vida e da alegria do existir e 3, 4, 5 forças negativas e destruidoras.

Os vitalistas sempre haviam afirmado que a matéria não-viva é fundamentalmente diferente da matéria viva. Aduziam sempre um princípio metafísico, como a <enteléquia>, para explicar o funcionamento vivo per se. Por outro lado, os mecanicistas afirmavam que, física e quimicamente, a matéria viva não é em nada diferente da matéria não-viva; apenas não fôra ainda suficientemente investigada. Assim, os mecanicistas negavam que há uma diferença fundamental entre a matéria viva e a não-viva. A fórmula de tensão-carga podia provar a exatidão de ambas as visões, embora de maneira diferente do que ambas poderiam imaginar.” Não se pode provar isso, Reich.

Os experimentos elétricos demonstraram que a excitação biológica do prazer e a excitação biológica da angústia são funcionalmente equivalentes à sua percepção.”

A energia eletromagnética move-se à velocidade da luz, i.e., a aproximadamente 186 mil milhas (300 mil quilômetros) por segundo. A observação da natureza das curvas e das medidas de tempo que caracterizam o movimento da energia bioelétrica demonstra que o movimento da energia bioelétrica é fundamentalmente diferente da velocidade conhecida e do tipo de movimento da energia eletromagnética. A energia bioelétrica move-se extremamente devagar, a uma velocidade mensurável em milímetros por segundo. (A velocidade pode ser medida contando-se o número dos pontos máximos cardíacos) A forma do movimento é lenta e ondulante. Assemelha-se aos movimentos de um intestino ou de uma serpente. O movimento também corresponde ao lento despertar de uma sensação orgânica ou de uma excitação vegetativa. Poder-se-ia sustentar que é a grande resistência dos tecidos animais que baixa a velocidade da energia elétrica do organismo. Essa explicação é insatisfatória. Quando um estímulo elétrico é aplicado ao corpo, é sentido imediatamente e respondido.

De modo inesperado, o conhecimento da função biológica de tensão-carga levou-me à descoberta dos processos de energia nos bíons, no organismo humano e na radiação do sol.

No verão de 1939, publiquei um pequeno ensaio, Drei Versuche mit Gummi am statischen Elektroskop. A borracha e o algodão expostos a uma cultura de bíons obtidos da areia do oceano produziam nítida deflexão do indicador de um eletroscópio estático. As mesmas substâncias em contato com um corpo humano vegetativamente não-perturbado, em particular na região do abdômen e dos genitais, por aproximadamente 15 ou 20 minutos, influenciarão igualmente o eletroscópio. Em última análise, a areia da qual surgiram os bíons por meio do aquecimento e da dilatação é apenas a energia solar concentrada. Daí veio a idéia de expor a borracha e o algodão aos raios fortes do sol, depois de verificar que não afetavam o eletroscópio. Demonstrou-se que o sol emite uma energia que influencia a borracha e o algodão da mesma forma que influencia a cultura de bíons e o organismo humano após a respiração plena, em estado vegetativo não-perturbado. Chamei a essa energia, que é capaz de carregar a matéria orgânica, orgônio.” Logo, o ser-em-angústia, que não reage ao bíon, está mais morto que o morto, i.e., mais morto que o inorgânico? Isto não pode ser!

A esse ponto, a investigação do organismo vivo foi além dos limites da psicologia profunda e da fisiologia; entrou no inexplorado território biológico. Durante os últimos 5 anos, a investigação do bíon absorveu toda a atenção disponível. Os bíons são vesículas microscópicas carregadas de energia orgonal [energia solar concentrada na matéria]; desenvolvem-se a partir da matéria inorgânica por meio do aquecimento e da dilatação. Propagam-se como bactérias. Desenvolvem-se também espontaneamente e na terra ou, como no câncer, a partir de matéria orgânica em degeneração. O meu livro Die Bione (1938) mostra a importância da fórmula de tensão-carga para a investigação experimental da organização natural da substância viva a partir da matéria não-viva.

A energia orgonal demonstra-se também visual, térmica e eletroscopicamente no solo, na atmosfera e nos organismos vegetais e animais. A vibração do céu, que alguns físicos atribuem ao magnetismo terrestre, e o cintilar das estrelas em noites claras e secas, são expressões diretas do movimento dos orgônios atmosféricos. As <tempestades elétricas> da atmosfera que perturbam os aparelhos elétricos quando há intensificação da atividade das manchas solares são, como se pode demonstrar experimentalmente, um efeito da energia orgonal atmosférica. Anteriormente essas tempestades eram percebidas apenas como perturbações das correntes elétricas.

A cor da energia orgonal é azul ou azul-cinza. Conseguimos torná-la visível dispondo de certa forma determinados elementos. A detenção da energia cinética do orgônio é expressa por um aumento de temperatura. A sua concentração ou densidade é indicada no eletroscópio estático pelas diferenças na velocidade da descarga. A descarga espontânea dos eletroscópios no ar não-ionizado, fenômeno conhecido como natural leak, <vazamento natural>, pelos fisiologistas, é o efeito do orgônio atmosférico e não tem nada que ver com a umidade. (…) A cor azul-do-céu e o azul-cinza da neblina atmosférica nos dias quentes de verão são reflexos diretos do orgônio atmosférico. O azul-cinza, as luzes setentrionais em forma de nuvem, o chamado fogo de Santelmo e as formações azuladas recentemente observadas no céu pelos astrônomos durante um aumento de atividade das manchas solares são também manifestações da energia orgonal.

As formações de nuvens, até aqui mal-entendidas, e os temporais dependem de mudanças na concentração do orgônio atmosférico. Isso pode ser demonstrado simplesmente medindo-se a velocidade das descargas eletroscópicas.”

Todos os alimentos cozidos consistem de vesículas azuis, que contêm orgônio.”

Numerosas observações de biólogos (Neisenheimer, Linné e outros) tornam possível entender a coloração azul das rãs em estado de excitação sexual ou a luminosidade azul dos botões das plantas como uma excitação biológica (orgonótica) do organismo. As culturas de bíons obtidas da areia do mar, nas quais descobri a radiação de orgônio em janeiro de 1939, tiveram o mesmo efeito sobre o filme colorido tanto na escuridão completa como à luz do sol, i.e., fizeram o filme ficar azul.” Blue Planet

Em contraste com a energia eletromagnética, a energia do orgônio é capaz de carregar matéria orgânica não-condutora.” O segundo volume deste livro descreverá como a pesquisa do bíon levou à descoberta da energia atmosférica do orgônio, como a existência do orgônio pode ser objetivamente demonstrada e qual a importância da sua descoberta para a compreensão do funcionamento biofísico.”

MITOLOGIA – DEUSES – Maurício Horta

OS PRIMÓRDIOS

Se atravessássemos em suas entranhas a distância percorrida por uma bigorna de bronze em queda livre por 9 dias, chegaríamos novamente à desordem e à escuridão. Esse, no entanto, não era mais o Caos, mas uma derivação sua: o Tártaro, abismo das trevas insondáveis, terror de qualquer deus. Para eles, essa versão grega do inferno era pior que a morte.” “Caos, em grego, é um substantivo neutro, nem masculino nem feminino. E, ainda que Gaia fosse indiscutivelmente feminina, ainda não havia a quem ela amar, senão ao indiferenciado nada do Caos.” “O nascimento de Urano cria o princípio do masculino, que complementa a feminilidade da fértil Gaia.” Já disseram: Adão veio de Eva. “Primeiro são gerados os 6 terríveis Titãs – Oceano, Céos, Crios, Hipérion, Jápeto e Cronos – e as 6 Titânidas – Téia, Réia, Têmis, Mnemosine, Febe e Tétis.” “Nascem os 3 Ciclopes – criaturas fortes e engenhosas, com um único potente olho na testa que trarão consigo a luz do relâmpago, as nuvens de tempestade e o rugir do trovão – e 3 Hecatônquiros, gigantes com 100 braços e 50 cabeças cada um, capazes de estremecer o mundo lançando rochas com a maior facilidade.” “Tudo o que podia sentir por seus filhos era ódio, pois sabia que, tão logo viessem à luz, tentariam destroná-lo.” “Sem jamais ter saído da escuridão, nenhum dos irmãos ousa rebelar-se contra um pai tão grande, poderoso e vil. Isto é, nenhum, exceto Cronos, deus do tempo, o mais novo e mais ambicioso dos Titãs.” “Urano dá um longo grito de dor, e, num único movimento, afasta-se de Gaia até instalar-se na abóbada celeste, em cima do mundo, para nunca mais voltar ao solo.” “Desse sangue não nasceriam deuses, e sim 3 tipos de personagens, que encarnam a violência, o castigo, a guerra.

(…) Primeiro surgem do sangue paterno as vingativas Erínias – terríveis moradoras do Tártaro, de onde saem vestidas de preto, com olhos vermelhos e cabeleira entremeada de serpentes. Com elas vêm as pestes, o rancor e a loucura que punirão quem desobedecer aos pais, desrespeitar os mais velhos, fizer falso juramento ou matar.” Conflitua com versão em HERÓIS. Ou bem as Górgonas são-lhes apenas descendentes indiretas?

os Gigantes (…) Cabeludos, barbudos e com corpo terminando em um rabo de serpente, sempre carregam consigo brilhantes lanças de bronze. Nascem já adultos, sem jamais terem conhecido a inocência das crianças, e não ficariam velhos, embora sejam mortais – os Gigantes só podem ser mortos por outro mortal, nunca por um deus. Por fim, vêm as Melíades, ninfas também guerreiras, que vivem nos freixos, árvores das quais são feitas as lanças dos guerreiros.”

Nix pare o inelutável, inflexível, obscuro e invisível Destino (Moros). (…) Para ajudá-lo numa tarefa tão árdua, Moros ganha 3 irmãs chamadas Moiras” “Nix não se satisfez em dar à luz tanta infelicidade. Teve ainda a Ternura (Filotes), que alimenta as pequenas mentiras; o Escárnio (Momo), que mais tarde seria expulso do céu por ridicularizar os deuses; a Indignação (Nêmesis); a Miséria (Oizys); as 3 ninfas do pôr do sol (Hespérides), guardiãs dos jardins dos deuses; a Fraude (Apate); e a Velhice (Geras) (…) Como se não bastasse tanta desgraça, Nix pare ainda Éris, deusa da discórdia, que sozinha dará continuidade aos infortúnios do mundo com mais uma linhagem de espíritos nefandos: a Fadiga, o Esquecimento, a Fome, as Dores do Corpo e da Alma, as Batalhas, os Combates, os Homicídios, os Massacres, os Litígios, as Mentiras, as Disputas, a Falta de Lei, a Desilusão e o Espírito dos Juramentos.” “Quem será o soberano desse Universo para que Gaia não sucumba ao desgosto de uma eterna briga entre irmãos, netos, bisnetos e quantas gerações vierem?”

O IMPÉRIO DE ZEUS

Com medo de perder seu poder, o deus do tempo cíclico passa então a engolir cada filho tão logo nasce, mal saído de entre os joelhos da esposa Réia.” “De tão grato a essas mães de criação, Zeus, quando se tornar o senhor de todo o Universo, dedicará as constelações de Ursa Maior e Ursa Menor a Adrastéia e Io, e, para homenagear as abelhas que o alimentaram, dará a elas o brilho do ouro e resistência contra ventos e neve, permitindo que possam viver nas maiores altitudes.” “Ao fim do velório, Zeus eleva Amaltéia aos céus e a transforma na constelação de Capricórnio, em retribuição ao leite que o nutriu por anos.”

a titânida Tétis, que sabe mais do que todos os deuses e todos os homens” “Faça de Zeus o copeiro de Cronos, e garanta que seu marido beba deste fármaco.”

Hipérion, soberano do dia e da noite, casou-se com Téia, deusa do éter, e juntos tiveram o Sol, a Lua e a Aurora. Jápeto, deus da mortalidade, juntou-se a Têmis, deusa das leis divinas, e tiveram Átlas, Menecéio, Epimeteu e Prometeu. (…) Crios teve com a divindade menor Euríbia os filhos Astreu, Palas e Perses. Mnemosine, deusa da memorização, ficou sozinha.”

Pobre Tessália, região fértil no centro da Grécia, que abriga os dois montes em cujo pico as duas gerações adversárias se ampararão para iniciar uma guerra entre imortais igualmente fortes e determinados.”

Guardando os portões do Tártaro está a horrenda Campe. Mil víboras partem de cada pata da aberração, cuspindo veneno em direção a Zeus. Não bastasse isso, ela também solta sua horripilante e peçonhenta cabeleira de serpentes. Da cintura, 50 cabeças de bestas selvagens rugem como leão e espumam na boca com os grunhidos de javalis enfurecidos. (…) e de seu pescoço uma cauda de escorpião com um gélido ferrão retorcido mira Zeus, atacado por chamas lançadas de seus assustadores cílios.”

A Hades dão o capacete da invisibilidade.”

Enquanto a energia fornecida pelo alimento dos mortais acaba, e logo os faz voltar ao estado de fome e sede, o néctar e a ambrosia nunca deixam de existir. E de nutrir.”

As fundações que mantinham certa ordem no Universo começam a ruir, e, cabrum!, Urano, o céu, lentamente volta a se deitar no leito de Gaia, a terra. O mundo volta ao Caos, ao estado primordial de desordem, quando nada ainda possuía formas.” “Na terrível fenda pela qual se chega ao Tártaro, são enfiadas todas as raízes da terra.” “O fato de estarem presos no Tártaro não significa que os Titãs deixem de agir sobre o mundo.” “Se a escuridão é uma punição terrível para um deus, algo pior está reservado para Átlas. O líder do time titânico merece um castigo exemplar.” “Zeus condena Átlas a carregar o céu em seus ombros por toda a eternidade, para que nunca mais Urano recaia sobre Gaia no abraço primordial que deu origem aos Titãs.”

O CLUBE DOS 12

Ironicamente, Hera é a deusa do casamento.

O nome de Zeus deu origem à palavra deus, e Júpiter, sua versão latina, é a junção de <jus> (justiça) e <pater> (pai).” “aos pés, tem seu pássaro preferido – a águia, que plana no alto dos céus e cai como um raio sobre sua presa. Para mostrarem sua imparcialidade, os cretenses representam-no sem orelhas; já os lacedemônios (da região de Esparta) colocam-lhe 4 orelhas, capazes de ouvir todos os pedidos dos mortais.” “Justiça é algo que ocorre entre iguais, e Zeus está acima de todos. Ora ele age bem, ora age aparentemente mal, e ninguém sabe exatamente por quê.”

de todos os seres, nenhum alimentava mais o desejo do jovem Zeus do que sua prima Métis – aquela que preparou a poção vomitória que liberou os deuses olímpicos da barriga de Cronos. Desde que, ainda adolescente, partiu de Creta em busca de seus pais, Zeus admira a deusa da astúcia e dos conselhos sábios.” “Zeus precisa tomar de Métis para si a capacidade de prever os acontecimentos, para que conquiste a soberania em seu estado absoluto e se torne senhor eterno dos céus. <Métis lhe dará filhos que a ultrapassarão em sabedoria. A primeira será uma menina de olhos cinzentos e espírito bruto. Em seguida, dará à luz seu varão, para quem ela inventará um instrumento mais poderoso que teu relâmpago – com ele vai eclipsar-te da mesma forma como Cronos sucedeu a Urano e tu sucedeste a Cronos>, previne-o Gaia. <De nada adiantará aniquilá-lo. É necessário impedir que Métis siga com sua prole.>

Zeus reencontra então sua prima e a ama. Ao ver a barriga grávida da prima, Zeus é tomado pela felicidade de finalmente tornar-se pai. Mas, atormentado pela profecia de Gaia, passa a perseguir a amante com doces palavras. Sagaz como só ela podia ser, Métis se disfarça na forma de todos os animais – até se transformar em uma mosca. É então que Zeus abre sua boca, devora-a e toma para si a astúcia com a qual reinará eternamente sobre o céu e a terra.

Métis foi apenas a primeira das 7 deusas que Z. amou. Com ela teve Atenas (sic), deusa da sabedoria e da guerra. De sua tia Têmis – que se imortalizou em nosso imaginário como a mulher de olhos vendados que segura com uma mão a balança da justiça e com a outra, uma espada – teve 3 filhas: a Eqüidade, a Lei e a Paz, com as quais Z. estabelece a força da justiça sobre o mundo. Com Euríneme, teve as 3 Graças, que personificam a beleza e o encanto e trazem a alegria na natureza e no coração dos homens e dos deuses com as conversas e boas relações sociais.

Amou Mnemósine (sic) por 9 noites e, ao fim de 9 meses, teve como filhas as 9 Musas, ninfas virgens habitantes das montanhas, das margens dos rios e das fontes que inspiram poetas e músicos, iluminam reis para apaziguar conflitos e divertem os deuses com seus cantos e danças. De Latona, teve Apolo. Mas sua única esposa legítima foi a ciumenta irmã Hera, com quem teve Ares, Ilítia e Hebe.

Além das 7 deusas, a irrefreável potência sexual de Z. leva-o, segundo levantamento de mitógrafos, a deitar-se com 115 mulheres mortais, com quem tem uma intensa prole, igualmente mortal, porém tremendamente poderosa: Héracles, Helena, Dioscuros, Perseu, Minos, Radamante, Éaco, Arcas, Zeto, Âmfion (sic), Epafo (sic).”

Z” DE ZOOLÓGICO

Sua primeira amante mortal é Niobe. Em seguida vêm tantas outras que se pode colocá-las em ordem alfabética. Deita-se com Elara, princesa de Orcômeno e, com medo da ira de Hera, esconde-a sob a terra, onde nasce o gigante Títio. Para abduzir a princesa fenícia Europa, o rei dos deuses se metamorfoseia em um touro, que a leva até a Ilha de Creta, onde a ama. Desse rapto nascem Minos, rei de Creta, e Radamantis (sic), rei das Ilhas Cíclades. Sob o disfarce de uma formiga, Z. seduz também Eurimedusa, princesa de Etiotis, no norte da Grécia, e tem com ela Mirmidão, o homem-formiga. Já para enganar Ftia, Z. se faz passar por uma pomba.

Com a bela Lamia, rainha da Líbia, teve vários filhos, mas sua esposa Hera é tomada por tamanho ciúme que lhe rouba todos os filhos. Tão grande é o sofrimento da mulher que Z. lhe dá o poder de arrancar seus próprios olhos e colocá-los de volta no globo ocular quando se sentir mais calma. Mas, mesmo cegando-se de tempos em tempos, o horror de ter perdido os filhos não passa, e Lamia começa a seqüestrar e matar os filhos alheios, ganhando um rosto mais distorcido a cada vítima, até tornar-se um tubarão.” [!]

O desejo de Z. é tão voraz que nem mesmo os rapazes ficaram livres dele. Disfarçado de águia Z. encanta Ganimedes, príncipe de Tróia, e o abduz para o Monte Olimpo, onde este se tornará seu amante e copeiro dos deuses.”

* * *

Pandora, a 1ª mortal, criada sob ordens de Z.” “Prometeu, o 1º homem” [?]

Depois de ter devorado Métis, Z. personificou a astúcia. Isso não quer dizer que suas mulheres não tentarão manipulá-lo, mas que ele saberá contornar o que a mitologia mostra como um vício feminino.”

Liberado da opressão paterna, o rei dos deuses começa a cortejar sua irmã gêmea em Cnossos, Creta. Mas a indiferença da moça não supera a sagacidade de Z. (…) Tomada de pena pelo filhote de cuco ferido, Hera delicadamente o coloca em seu seio, como mandaria seu instinto materno. Basta ela começar a acariciá-lo para que ele tome sua forma original e a agarre à força. Desonrada, H. se vê obrigada a casar-se com o irmão para encobrir a vergonha de seu estupro.” “Terminado o casamento que lotou o Jardim das Hespérides, o casal divino parte para a Ilha de Samos, onde os noivos terão uma noite de núpcias de 300 anos.”

Divindades masculinas só passariam a se impor na região da Grécia com a vinda dos jônios, por volta de 1950 a.C.”

WHO IS HER(A)?

Nunca é representada como mãe, mas, sim, como uma esposa revanchista e madrasta terrível” “Condena Héracles à servidão sob o rei Eristeu, de Micenas, persegue Dionísio antes mesmo de seu nascimento e faz com que a mãe dele, Semele, seja acertada por um trovão de Z. Leva Ino, a ama de Dionísio, a se jogar no mar com seu filho. Condena as filhas do rei Proito a vagabundear pelo Peloponeso como vacas loucas. Persegue Io, a sacerdotisa de Argos. E gera, por partenogênese, o filho Hefesto, deus ferreiro deformado.”

Por que Z. trai a esposa de forma tão sistemática? H. acredita que tudo seja culpa da incontrolável vulnerabilidade masculina ao prazer carnal. Mas o rei dos deuses não concorda.

<Na verdade, o prazer no homem é muito mais tedioso e fraco do que aquele que vocês mulheres compartilham>, diz, para a raiva de Hera. Para esclarecerem o assunto, os dois descem à Terra e consultam alguém que conhece por experiência própria os dois lados do prazer: o velho Tirésias.

Quando jovem, Tirésias viu duas serpentes prestes a copular. Com um golpe de galho, separou as duas e imediatamente se tornou uma menina. Sob seu corpo de mulher, chegou a casar-se com um homem. Sete anos depois de sua transformação, ele (que ainda era uma mulher) encontrou serpentes copulando novamente e lhes deu um 2º golpe. E virou homem de novo.

Diante da pergunta de H. e Z., Tirésias responde, sem dúvida: <Venerável casal olímpico, numa escala de 10, a mulher goza 9x a parte do homem>.

A ira que já se acumulava no fígado celeste de H. explode, e, com essa resposta, a deusa arranca a vista do pobre velho. Z., que é infinitamente justo, tenta reparar o ato da esposa dando a Tirésias o poder de prever o futuro e prolongando sua vida.

Poseidon e Apolo são condenados a reconstruir a cidade de Tróia para o rei Laomedão”

os gregos chegaram a criar Heraia, uma versão feminina da Olimpíada. Ainda assim, os jogos de Hera não ficaram em pé de igualdade com os dedicados ao marido: as mulheres, consideradas mais fracas, corriam apenas 5/6 do percurso masculino.” [?]

* * *

Certa manhã, quando o deus solar Hélio já fustiga seus cavalos brancos para fazer emergir do mar sua carruagem de fogo, e a deusa lunar Selene começa a afundar-se na água, sua enxaqueca é insuportável. Tanto que pede ao enteado Hefesto, o filho de H. gerado por partenogênese, que lhe quebre a cabeça imortal com uma machadada.

Qual não é a sua surpresa ao ver que de seu cérebro pula uma figura já adulta, dotada de olhos brilhantes, mente rápida e coração inflexível, vestida para a batalha, urrando um ensurdecedor grito de guerra! Nesse instante, o panteão olímpico inteiro treme, a Terra grita horrivelmente por toda sua extensão, os mares são revoltos por ondas escuras cujas espumas se espalham pelo mundo.”

Z. assume uma faceta feminina ao parir a filha de sua cabeça, enquanto Hefesto se faz de parteira com seu machado. Sem a figura da mãe, Atena cresce ligada somente à figura paterna de Zeus, e, com atributos da guerra, essencialmente masculina, ela se sente em casa no mundo dos homens, acompanhando heróis nas batalhas.” “Se a guerra é inevitável, Atena inspira os homens a provar sua bravura e, quando assim a prudência exige, refreia o instinto de Ares, impedindo que guerreiros se matem uns aos outros.”

Atena mantém sua virgindade a qualquer custo, como se negasse sua feminilidade. Já nasceu vestida, e o único homem a vê-la nua ficará cego (sim, essa é uma 2ª versão da história sobre como o velho adivinho Tirésias perde a visão).” ERRATA: Páris viu as três deusas olímpicas nuas. Cf. https://seclusao.art.blog/2017/07/16/mitologia-herois-jose-francisco-botelho/.

* * *

Na fábula de Hans Christian Andersen, um pato estranhamente diferente foge da ninhada, rejeitado por sua feiúra, mas, quando cresce, volta como um belo cisne. Os mesmos passos trilha Hefesto, o filho deformado da deusa Hera, com uma única diferença: volta ao Olimpo como o mais habilidoso dos deuses.” “Conforme ele ensaia seus primeiros passos, os demais deuses são tomados pelo riso: o aleijado que não consegue andar senão cambaleando. Furiosa, Hera decide então livrar-se daquela deformidade. Joga Hefesto das alturas do Olimpo e busca esquecer o erro criado por sua birra.” “Nas mãos salvadoras de Tétis, filha de Nereu, e Eurínome, filha de Oceano, Hefesto sobrevive sem nenhum machucado.” “Com os metais que as duas extraem das pedras do mar, Hefesto começa a criar peças de ourivesaria delicadas como jamais vistas.” “9 anos passados desde quando adotou o garoto, Tétis decide quebrar seu silêncio ao encontrar fortuitamente a deusa H..” “Hefesto cria o mais belo trono já visto e pede ao deus mensageiro, Hermes, que envie o móvel até o Olimpo.” “H., sem dar-se conta, senta-se confortavelmente, tenta levantar-se e não consegue.” “Dionísio joga o corpo inerte de Hefesto no lombo de uma mula e o leva até o Olimpo. Os deuses estão reunidos. Desaparecido está o escárnio que levou H. a jogá-lo ao mar, e, em seu lugar, instaura-se a apreensão diante do jovem deus que já provou tanto seu talento quanto seu poder de fogo, capaz de dissuadir até mesmo o violento Ares. Agora, até Z. parece curvar-se diante dele:

– Ó Hefesto, filho de H.. Eu lhe garanto o que quiseres de nós em troca da liberdade de minha esposa, diz o rei dos deuses.” “Feio e coxo, pede como esposa a mais bela de todas as deusas, Afrodite.”

Num dia em que Z. condenou H. a ficar dependurada no céu, levando açoitadas por ter armado contra a autoridade do marido, o filho antes rejeitado corre para defendê-la. Dessa vez, é Z. quem o lança do céu. Mas Hefesto é trazido novamente ao Olimpo, recebe o perdão do rei dos céus e assume o papel de pacificador entre os imortais.”

Os Ciclopes e outras criaturas monstruosas também passam a trabalhar sob suas ordens no interior de vulcões.”

A verdadeira atração de Afrodite é por Ares” “Aproveitando o pouco tempo livre do marido, Afrodite satisfaz ilicitamente seus desejos com Ares – e com muitos outros. Ela só não conta com a aliança entre o marido e Hélio, o deus-sol.” “Por mais aleijado e lento que seja, derrotei pela 2ª vez o mais violento de todos os deuses. <Hefesto>, chama Z., irritado, <és um tolo por tornar pública uma questão pessoal destas.> Poseidon, de olho na sobrinha presa, mantém sua gravidade e se junta à opinião de Z.. <É verdade, Hefesto. Deixa Ares partir>, diz o deus dos mares. <Como Z. se recusa a tomar partido, garanto-lhe que Ares pagará em troca da liberdade o equivalente a todos os presentes de casamento que você deu a sua mulher.>”

Harmonia, filha de Ares e Afrodite.” “Com a bênção de Ares, Harmonia se unirá a Cadmo, regente da Beócia, terra onde fica Tebas. Essa será a 1ª vez que os deuses olímpicos assistirão a um matrimônio entre uma deusa e um mortal.” “Afrodite dá à filha um belo colar feito por Hefesto” “Ao vestir o colar, Harmonia se transforma em uma serpente. A jóia é herdada por Semele, sua filha, que também é destruída. Querendo manter-se bela e vigorosa, Jocasta segue na fila das portadoras do colar. Como resultado, acaba casando-se com o próprio filho e se mata ao saber disso. Polinice herda então a jóia e dá a Erifila, que morre junto a Alcmeão, Fegeu e seus filhos. E as mortes se sucederão eternamente, assim como o sofrimento de Hefesto.”

* * *

Afrodite personifica a sedução. Ela é a materialização do ideal de beleza. E é capaz de corromper qualquer um, desmanchando os mais sagrados vínculos de fidelidade. De todos os seres do Universo, somente três estão livres de sua influência encantadora: Héstia, a mais velha das filhas de Cronos [deusa do lar – Vesta é a nomenclatura romana; ou seja, figura central nos cultos da mitologia tardia], Ártemis, a deusa da caça, e Atena, a deusa da sabedoria na guerra.

O REVERSO DO BANQUETE

Afrodite entrega-se a Hermes. De seu breve amor nasce uma criança, a quem ela dá o nome do pai e da mãe: Hermafrodito.” “Salmácida simula abandonar o lago, e o rapaz se vê sozinho. Ele tira então suas roupas e se lança às águas cristalinas. Nesse momento, a ninfa grita: <Venci, ele é meu>, despe-se e o agarra nas águas, forçando-lhe beijos e carícias. Hermafrodito tenta fugir de seus braços, mas eles o prendem como um polvo que envolve sua presa.

– Tolo, podes lutar quanto quiseres, diz Salmácida. Mas jamais escapará de mim. Deuses, que não haja um dia em que nós sejamos separados.

Os deuses ouvem seu clamor, e assim os dois corpos se unem em um só – nem homem, nem mulher, mas os dois ao mesmo tempo.”

O LAGO CHINÊS

<Pai, mãe, por favor, garanti-me que todos aqueles que se banharem aqui emerjam como eu, metade homem, metade mulher.>

Os pais o ouvem e, para compensar o filho de dois sexos, enfeitiçam as águas conforme seu desejo.”

TRAQUINAS

Foi sob sua inspiração que Z. amou tantas mortais e que tantas mulheres caíram em desgraça.”

Os troianos, que me criaram, informaram-me que em tua cama devo tornar-me uma mulher casada e dar-te filhos nobres.”

* * *

dois filhos que teve com Afrodite – Deimos (o Pânico) e Fobos (o Medo) –, além de Éris (a Discórdia, mãe de todos os males humanos), Ênio (a destruidora de cidades), as Queres (seres noturnos que dilaceram os cadáveres e sugam o sangue dos mortos em batalha), Limo (a fome, que alimenta os saques), Ponos (a Fadiga, que enfraquece os combatentes), Algos (a Dor, que os imobiliza) e Lete (o Esquecimento, que joga irmãos contra irmãos).”

Por causa do temperamento violento de Ares, os gregos sempre preferem invocar Atena em vez dele. São raros os templos erigidos em sua honra na Grécia, e apenas duas estátuas suas são conhecidas – uma delas em Esparta, cidade guerreira onde se fazem sacrifícios humanos em nome de Ares.

Já os romanos veneram Marte, o nome latino de Ares. Tanto que na sua variação da mitologia, o deus da guerra é pai de Rômulo e Remo. Desde o reinado de Numa, teve a serviço de seu culto um colégio de sacerdotes.”

* * *

<É verdade que viestes aqui procurar as vacas que habitam os campos? Não vi, não sei, não escutei outros falarem disso. E não pareço um ladrão de bois. O que me interessa é o sono, o leite e minha mãe. Na verdade, grande prodígio seria que um menino recém-nascido roubasse vacas em uma montanha. Nasci ontem: os meus pés são tão delicados que não suportariam pisar na dura terra.>

Enquanto Apolo lhe responde, Hermes assovia como se ouvisse um discurso vão:

– Ó exímio charlatão e enganador. Se não queres dormir o teu último e supremo sono, desce do berço. Serás chamado para sempre o rei dos ladrões.”

<Um recém-nascido com o aspecto de um arauto? Grave questão é esta!>, diz Zeus.”

<Bandido, se ainda bebê conseguistes matar duas vacas, realmente me preocupo com a força que terás adulto>, diz Apolo. <É melhor que não cresças muito.>

Apolo então agarra as pernas de Hermes e as prende com um forte laço de vime. Nesse momento, Hermes pega sua lira e começa a tocá-la para encantar o irmão. E, conforme soam as límpidas notas, Hermes as acompanha com sua voz de menino. Apolo pára imediatamente de amarrá-lo e, maravilhado, diz:

<Tu inventastes algo que vale mais do que minhas vacas. Acredito que podemos entrar facilmente em um acordo se me presenteares com essa arte milagrosa. Se me ensinares tua arte, serás famoso entre os deuses imortais.>

<(…) Z. já te concedeu o dom das profecias. Da tua parte, meu caro, deixa para mim essa glória.>”

a profecia que me pedes… Não é lícito que nenhum imortal a aprenda, pois assim jurei a Z.. Mas, se fores até as ninfas Trias que habitam o Monte Parnasso, elas poderão te ensinar a adivinhação com pedras.”

<Prometo-te jamais mentir. Só não garanto contar sempre a verdade inteira.>

<Isso não se esperaria de ti>, diz Z., sorrindo. <Mas tuas tarefas daqui para frente incluirão a criação de tratados, a promoção do comércio, a manutenção do direito de todos os viajantes de percorrer qualquer estrada do mundo.>

E assim o rei dos deuses o acolhe como o 12º deus olímpico. Dá-lhe um bastão mágico capaz de separar brigas, um chapéu que o protege das chuvas e sandálias aladas, que o fazem voar.

Hermes também cria a escrita dos homens – diante do que ficam tão gratos que passam a dedicar-lhe a língua de todo animal sacrificado. Depois, cria a astronomia, as escalas musicais e a ginástica. Nenhum deus grego será tão próximo dos homens quanto esse talentoso mensageiro.”

* * *

A origem de Deméter data ainda dos tempos em que gregos cultuavam deusas da fertilidade em vez de divindades masculinas, trazidas por invasores nômades.”

uma vez ingerida, a romã, alimento dos mortos, jamais permitirá libertar-se inteiramente do Tártaro.”

* * *

Primeiro, Poseidon aproxima-se da Titânide Tétis, que com o Titã Oceano já deu à luz 3 mil rios e 3 mil ninfas. Mas logo muda de idéia – uma profecia de Têmis diz que qualquer filho nascido dela será maior que seu pai.”

* * *

<Querido pai, permite que eu viva para sempre virgem da mesma forma como Zeus prometeu a virgindade a Ártemis.>

Mas, ainda que seu pai conceda seu desejo, Dafne permanecerá sempre irresistivelmente amável. E Apolo, mesmo presidindo todos os oráculos do mundo, não pode deixar de se enganar pela esperança de amá-la.

Quando vê os cabelos loiros de sua amada balançando em seu pescoço, pensa: <Quão lindos seriam se ela os penteasse>. Para seus olhos, os olhos de Dafne são como estrelas; seus lábios, os mais doces para beijar; suas mãos, seus dedos, seus braços, seus ombros, tudo o que vê na ninfa é o mais belo do mundo.

De nada adianta Apolo correr atrás de Dafne, pois, ao fugir, seus delicados pés são mais rápidos que o vento.”

Dafne começa a fraquejar, e Apolo mantém seu vigor; sua respiração ofegante alcança os cabelos da amada. Ao sentir que não terá mais forças, ela invoca o pai:

– Ajude-me, pai! Cobre-me com a terra! Destrói a beleza que me feriu ou transforma o corpo que destrói a minha vida!

Antes mesmo de terminar sua prece, seu corpo é tomado pelo torpor; uma casca envolve seu seio e seus cabelos se tornam folhas. Seus braços se transformam em galhos, seus pés penetram a terra como raízes e sua face vira a copa da árvore.

Apolo abraça-a e sente os seios sob a casca do tronco. Tenta beijar seus ramos, mas eles se afastam dos lábios apolíneos.

– Tu podes não ser minha esposa, mas serás minha árvore preferida, e suas folhas, o louro, serão para sempre minha coroa.

Depois de sua prepotência ter-lhe custado Dafne, seu primeiro amor feminino, Jacinto, seu primeiro amor masculino, e quase tê-lo confinado no Tártaro, o deus da luz passa a sempre pregar a moderação. Desde então, as frases <Conhece-te a ti mesmo> e <Nada em excesso> jamais sairão de seus lábios.

Esse Apolo amadurecido passa a representar a essência dos valores da civilização helenista. Ele incorpora a pureza, a grandeza e a prudência.”

* * *

– Escolhe o que quiser, pois não há o que eu lhe possa recusar, responde o deus.

– Quero que me ames tal como recebes Hera em seus braços.

Não fosse a influência da vingativa esposa de Z., Semele jamais cometeria tamanha blasfêmia, e, se pudesse voltar atrás, Z. teria fechado os lábios da amante ou jamais teria feito sua oferta em primeiro lugar. Mas é tarde demais. E o preço por Semele se comparar aos deuses será sua vida.”

Com Semele morta, Z. precisa encontrar alguma forma de garantir a vida ao filho concebido nesse trágico encontro. Ele então costura o embrião dentro da própria coxa, e na perna do pai se dá a gestação de Dionísio.

Assim que nasce o filho de Z., H. ordena que os Titãs seqüestrem a criança, façam dela picadinho e joguem esses restos em um caldeirão. Mas a avó Réia traz o menino de volta à vida, clamando Perséfone, a rainha do Tártaro, a levá-lo à casa do rei Atamas de Orcómeno (sic), onde será criado como uma menina pela rainha Ino.

H., que não pode ser enganada, descobre a estratégia e condena Atamas e Ino à loucura. Para proteger Dionísio, Hermes o transforma em um cabrito e o oferta de presente às ninfas do Monte Nisa.” “é no vinhedo que H. o reconhece, apesar de todos os trejeitos femininos trazidos por sua criação. Para castigá-lo, a rainha dos céus o deixa louco. E assim ele passa a vagar por todo o mundo, acompanhado de seu tutor, Sileno, de ninfas, pãs, curetes e sátiros. Vai ao Egito levando consigo a vinha. Depois, segue em direção à Índia. Ao chegar ao Rio Eufrates, é combatido pelo rei de Damasco, que não quer saber de vinho em seus domínios. Mas de nada adianta opor-se a Dionísio: o rei tem o couro arrancado ainda vivo, e, para fechar a vitória com ironia, o deus constrói uma ponte de videira para atravessar o Eufrates.” “Intoxicados, os indianos matam seus bois achando que são sátiros, derrubam os carvalhos crendo que suas copas são a cabeleira de Dionísio, e alguns acabam mais dançando que lutando.

A vitória demorará bastante – o poeta grego No[n]nus precisará de 27 livros [número diverge no Wiki: 48] para descrevê-la – mas chegará [a epopéia Dionysiaca].”

EMÍLIO ou POR QUE LIVROS SÃO UMA PORCARIA ou ainda POR QUE EU ODEIO AS MULHERES

8 de julho de 2015

DIC: dupe – trouxa, mané

PREFÁCIO DO TRADUTOR INGLÊS WILLIAM PAYNE – 18/06/1892 [!]

Não é provável que duas pessoas igualmente competentes concordariam completamente sobre uma lista de méritos entre os escritores educacionais, mas eu me aventuraria a enumerar os seguintes como os MAIORES CLÁSSICOS EM EDUCAÇÃO do mundo: a República de Platão, Política de Aristóteles, as 2 Morais de Plutarco, Instituições de Quintiliano, Didactica Magna de Comenius, Levana de Richter, How Gertrude Teaches Her Children de Pestaiozzi, Education of Man de Froebel, Filosofia da Educação de Rosenkranz, Gargantua de Rabelais, Ensaios de Montaigne, o Emílio de Rousseau, Posições de Mulcaster, Schoolmaster de Ascham, Pensamentos (…) de Locke, Educação de Spencer. Dessa lista de clássicos educacionais, os três livros que mais merecem essa preeminência são A República, o Emílio e Educação (Spencer); e se uma redução a mais tivesse de ser feita, designaria o E. de R. como o maior clássico educacional do mundo.” “we are justified in saying of the Émile what R. himself said of the Republic, <C’est le plus beau traité d’éducation qu’on a jamais fait>.” “As obras-pais são o Discurso sobre a Desigualdade e o Contrato Social. Nesses trabalhos a teoria de Rousseau é a de que o homem é naturalmente bom, mas foi depravado pela sociedade, e o único jeito de se reformar é retornar à natureza. O Emílio é o desenvolvimento dessa teoria, e é o monumento mais completo da filosofia de R.” “Às vezes a educação se torna quase totalmente <livresca>, devotada ao estudo dos livros e palavras em vez das coisas, e em outros momentos ela se torna principalmente literária ou humanística, até a negligência do estudo da matéria. Os registros do pensamento humano, do sentimento e das conquistas formam um termo do contraste, enquanto que a matéria e seus fenômenos, sob a alcunha de Natureza, constituem o outro pólo.” “Provavelmente a maioria dos homens sente às vezes esse instinto reverter para o estado de natureza, mas em R. esse instinto era uma paixão dominante. Em sua vida precoce esse instinto induziu a uma espécie de vagabundagem que o conduziu a longas caminhadas a pé pela Itália; e na vida tardia essa paixão achou satisfação no Eremitério de Montmorency, e finalmente em Ermenonville.” O Monge Peregrino

O Emílio pode ser chamado um romance educacional, seguindo o estilo da Cyropaedia ou do Gargantua, e sua forma pode ter sido sugerida por essas obras, ou bem possível que por aquele romance político incomparável…” “Nessa busca genérica e totalizante devemos dizer que R. estava em companhia respeitável, senão ilustre. Platão escreveu sua República, Harrington sua Oceana, More sua Utopia, Sidney sua Arcadia, e Hobbes seu Leviatã, cada um para expressar sua falta de satisfação com as coisas como existiam, e para achar gratificação na construção ideal de um mundo escorado em melhores princípios. Em todas essas criações há algum elemento de verdade perene, algo de que as sucessivas gerações precisam ser lembradas para manter o mundo, ou fazer do mundo, uma habitação deleitável para a raça.”

Veja os incontáveis dispositivos e máquinas para ensinar uma criança a ler! Que bando de geringonças inúteis! Crie-se na criança o desejo de ler, e todo esse aparato não serve para nada; o processo se simplifica o máximo, e a criança não poderá ser contida ou impedida de aprender.”

Boyhood follows childhood, and manhood, in turn, succeeds boyhood.” “um velho erro, que consistia em ou ignorar os direitos da infância como um todo ou prescrever o mesmo tratamento para crianças e homens indistintamente.” “os métodos infantis ganharam uma ascendência que não só é daninha às crianças como também para os adultos, já que os métodos infantis foram transportados para as universidades.” “Em nossos esforços para fazer da educação progressiva ela se tornou estacionária, e mesmo retrógrada. A reforma de Jean-Jacques [foi realmente adotada, mas] foi levada longe demais.” “Seu pensamento é de que, tanto quanto possível, a mente da criança deve ser mantida uma tabula rasa até a idade de 12, mas com toda a sua capacidade desenvolvida e preparada quando o sinal para se começar o trabalho de aquisição soar, sem prepossessão ou preconceito, o que a manteria equilibrada e independente.”

Foi relatado que uma vez um naturalista descobriu numa mina o que parecia uma nova espécie de planta, mas quando transplantada para a superfície ela se revelou a common tansy [flor amarela da ordem das “daisies”, margaridas] – um habitat anormal havia alterado sua aparência a ponto de ser impossível reconhecê-la.”

R. merece nossos aplausos quando desaconselha a seleção de uma intelectual para esposa, mas Sophie se parece demais com sua Teresa para merecer sequer nosso respeito.”

Que outro livro chamou tanto a atenção das mães para seu senso de dever com tamanhos paixão e efeito? O Emílio fez do ministério da sala de aula tão sagrado quanto o ministério do altar; e ao desvelar os mistérios de sua arte e desvendar o segredo de seu poder, fez do ofício de professor algo honrado e respeitado.”

O EMÍLIO PROPRIAMENTE DITO

Sou continuamente admoestado a propor aquilo que seja praticável! Isso é equivalente a dizer: <Proponha que se faça aquilo que está sendo feito!>, ou ao menos, <Proponha algo bom que seja compatível com a ruindade existente!>”

As pessoas lamentam a sorte das crianças; não vêem que a raça humana teria perecido se o homem não começasse por ser uma criança.” “quem pode esperar ter todo o controle sobre as conversas e atos que circundam uma criança?”

Por medo de que o corpo seja deformado por movimentos livres, nós nos apressamos a deformá-lo submetendo-o a uma prensa. Torná-lo-íamos deliberadamente impotente a fim de prevenir que fosse um corpo aleijado!”

They cry because of the wrong you do them.” “A free child must have ceaseless care, but when he is securely tied we may toss him into a corner and pay no heed to his cries.” “what a barbarous precaution it is to prolong the weakness of children at the expense of fatigue that must be suffered in later life.” “Suffering is the lot of man at every period of life.”

Augustus, the master of the world which he has conquered and which he governed, himself taught his grandsons to write and to swim”

Les Confessions, livro autobiográfico de R. em que ele expõe suas falhas como pai.

I will merely observe, contrary to the ordinary opinion, that the tutor of a child ought to be young – just as young as a man can be and be wise. Were it possible, I would have him a child, so that he might become a companion to his pupil and secure his confidence by taking part in his amusements. There are not things enough in common between infancy and mature years, so that there comes to be formed at that distance a really solid attachment. Children sometimes flatter old people, but they never love them.“There is a great difference, I assure you, between following a young man 4 years and conducting him 25. You give your son a tutor when he is already grown; but I would have him have one before he is born. Your man can take another pupil every 4 years; but mine shall never have but one.”

it is less reasonable to educate a poor man for becoming rich, than to educate a rich man for becoming poor.”

Aquele que se incumbe de um aluno doentio e abalável troca sua função de tutor pela de uma enfermeira; ao tratar de uma vida inútil, ele perde o tempo que seria destinado à aumentação de seu valor; e ainda corre o risco de ver uma mãe chorosa reprová-lo algum dia pela morte de um filho que ele manteve longamente vivo para ela.

Eu não me incumbiria de uma criança doente e debilitada, fosse para ele viver 80 anos. Não quero um aluno sempre inútil para si mesmo e para os outros, cuja única ocupação é manter-se vivo, e cujo corpo é um embaraço para a educação da alma. O que eu realizaria com cuidados milimétricos sem propósito, a não ser dobrar a perda para a sociedade ao roubar-lhe dois homens em detrimento de um? Se alguém fosse tomar o meu lugar e se devotar a esse inválido, não teria objeção, e aprovaria sua caridade; mas meu próprio talento não corre nessa linha.” “Não sei de que doença os médicos nos curam, mas sei que eles nos dão algumas bem fatais – covardia, pusilanimidade, credulidade, e medo da morte. Se curam o corpo, destroem a coragem. Que conseqüência se nos apresenta que façam corpos mortos caminhar? Do que precisamos é de homens, e não os vemos advir de suas mãos.” “O sábio Locke, que devotou parte de sua vida ao estudo da medicina, recomendava fortemente que crianças não fossem acompanhadas por médicos; nem por precaução e nem para cuidados triviais.” “A única parte útil da medicina é a higiene; e a higiene é menos uma ciência que uma virtude. Temperança e trabalho são os dois reais médicos do homem; o trabalho afia seu apetite, e a temperança previne-o de abusar-lhe.”

homens amontoados juntos como ovelhas pereceriam dentro em pouco. O bafo do homem é fatal para seus convivas; isso não é menos verdade literalmente que figurativamente. Cidades são os túmulos da espécie humana.”

Crianças devem ser banhadas freqüentemente; e na proporção que ganham força a quentura da água deve ser gradualmente arrefecida, até, finalmente, inverno e verão, elas tomarem banho em água fria, e mesmo em água a ponto de congelar. Como, para não expor sua saúde, essa redução de temperatura deve ser lenta, sucessiva e insensível, um termômetro terá de ser empregado com o fito de medições exatas.” “Ao manter-se as crianças vestidas e entre 4 paredes, nas cidades, elas sufocam.” “Crianças criadas em casas muito arrumadas em que aranhas não são toleradas têm medo de aranhas, e em muitos casos esse medo permanece depois de crescidas. Nunca vi camponeses, seja homem, mulher, ou criança, com medo de aranha.”

Uma criança quer desarranjar tudo que vê; ela quebra e danifica tudo que alcançar; segura um pássaro como seguraria uma pedra, e o estrangula sem saber o que faz.”

Orgulhar-se de não ter sotaque é orgulhar-se de retirar às sentenças sua graça e força.” “O sotaque mente menos que a fala, e é talvez por essa razão que pessoas cultivadas o temam tanto.”

First he would have your cane [bengala], presently your watch, next the bird which he sees flying in the air, and finally the stars which he sees glittering in the heavens – in a word, he would have everything he sees; and, short of being God himself, how is he to be satisfied?”

Do not give your pupil any sort of verbal lesson, for he is to be taught only by experience. Inflict on him no species of punishment, for he does not know what it is to be in fault. Never make him ask your pardon, for he does not know how to offend you.”

Two pupils from the city will do more mischief in the country than the youth of a whole village.” “To know good and evil, and to understand the reason of human duties, is not the business of a child.”

P. 68 (PDF): “Nothing is more difficult than to distinguish, in infancy, real stupidity from that apparent and deceptive stupidity which is the indication of strong characters. It seems strange, at first sight, that the two extremes should have the same signs, and yet this must needs be so; for, at an age when the man has as yet no real ideas, all the difference that exists between him who has genius and him who has it not, is that the latter gives admittance only to false ideas, while the former, finding no others, gives admittance to none. (…) During his infancy the younger Cato seemed an imbecile in the family. He was taciturn and obstinate, and this was all the judgment that was formed of him. It was only in the antechamber of Sylla that his uncle learned to know him. (…) If Caesar had not lived, perhaps men would always have treated as a visionary that very Cato who penetrated his baleful [doloroso] genius, and foresaw all his projects from afar.”

You are alarmed at seeing him consume his early years in doing nothing! Really! Is it nothing to be happy? Is it nothing to jump, play, and run, all the day long? In no other part of his life will he be so busy.”

What would you think of a man who, in order to turn his whole life to profitable account, would never take time to sleep? You will say that he is a man out of his senses; that he does not make use of his time but deprives himself of it; and that to fly from sleep is to run toward death.” Ro(u)be novo sono

It will seem surprising to some that I include the study of languages among the inutilities of education; but it will be recollected that I am speaking here only of primary studies; and that, whatever may be thought of it, I do not believe that, up to the age of twelve or fifteen years, any child, prodigies excepted, has ever really learned two languages.” “The spirit of each language has its peculiar form, and this difference is doubtless partly the cause and partly the effect of national characteristics. This conjecture seems to be confirmed by the fact that, among all the nations of the earth, language follows the vicissitudes of manners, and is preserved pure or is corrupted just as they are.” Saussure diria que todas as nações da Terra estão corrompidas e depravadas, segundo este raciocínio.

Nevertheless, we are told that he learns to speak several. This I deny. I have seen such little prodigies that thought they were speaking five or six languages. I have heard them speak German in terms of Latin, French, and Italian, respectively. In fact, they used five or six vocabularies, but they spoke nothing but German. In a word, give children as many synonyms as you please, and you will change the words they utter, but not the language; they will never know but one. § It is to conceal their inaptitude in this respect that they are drilled by preference on dead languages, since there are no longer judges of those who may be called to testify. The familiar use of these languages having for a long time been lost, we are content to imitate the remains of them which we find written in books; and this is what we call speaking them.”

I dare assert that, after studying cosmography and the sphere for two years, there is not a single child of ten who, by the rules which have been given him, can go from Paris to Saint Denis.”

P. 77: A história da morte de Alexandre, que se envenenou em honra da amizade com um famoso médico, Felipe. Felipe havia sido ordenado a envenenar Alexandre.

Émile shall never learn anything by heart, not even fables, and not even those of La Fontaine, artless and charming as they are; for the words of fables are no more fables than the words of history are history. (…) Fables may instruct men, but children must be told the bare truth § All children are made to learn the fables of La Fontaine, but there is not one of them who understands them. Even if they were to understand them it would be still worse; for the moral in them is so confused, and so out of proportion to their age, that it would incline them to vice rather than to virtue.” “in the fable of the Ant and the Cricket you fancy you are giving them the cricket for an example, but you are greatly mistaken: it is the ant that they will choose. No one likes to be humiliated.”

Reading is the scourge of infancy, and almost the sole occupation which we know how to give them. At the age of twelve, Émile will hardly know what a book is. But I shall be told that it is very necessary that he know how to read.” “Through what wonder-working has an art so useful and so agreeable become a torment to infancy? It is because children have been constrained to apply themselves to it against their wills, and because it has been turned to uses which they do not at all comprehend.” “Shall I speak at present of writing? No; I am ashamed to spend my time with such nonsense in a treatise on education.”

What need has he of learning to foretell rain? He knows that you observe the clouds for him.”

At eighteen, we learn from physics what a lever is; but there is no little peasant of twelve who does not know how to use a lever better than the first mechanician of the Academy.”

Our first teachers of philosophy are our feet, our hands, and our eyes. To substitute books for all these is not to teach us to reason, but to teach us to use the reason of others”

The limbs of a growing child should have plenty of room in their clothing. Nothing should impede their movements or their growth; nothing should fit so closely as to pinion the body. French dress, uncomfortable and unhealthy for men, is especially injurious for children.” “A better plan is to let them wear short skirts for as long a time as possible, then to give them a very loose dress, and to take no pride in showing off their form, a thing which serves only to deform it. Almost all their defects of body and mind come from the same cause: we wish to make men of them before their time.” “There should be little or no head-dress at any time of the year. The ancient Egyptians always went bareheaded, while the Persians covered the head with high tiaras, and they still wear high turbans, whose use, according to Chardin, is made necessary by the climate of the country.”

In the midst of the manly and sensible precepts which Locke gives us, he falls into contradictions which we should not expect from so exact a reasoner. This very man, who would have children in summer bathe in cold water, would not have them drink cool water when they are warm, nor lie down on the ground in damp places. As if little peasants selected very dry ground on which to sit or to lie, and as if one had ever heard say that the dampness of the earth had ever made one of them ill! To hear the doctors on this subject, one would fancy that all savages are impotent with rheumatism.

(*) “All this may be very well for savages, but if any enthusiastic disciple of Rousseau or of Locke should apply this hardening process to the children of civilized parents, the result would be like that which followed Peter the Great’s attempt to habituate his naval cadets to drinking sea-water. See Compayré, History of Pedagogy, English tr., p. 198.” Payne

Children require a long period of sleep, because their physical activity is extreme. One serves as a corrective for the other, and we thus see that they have need of both. Night is the season for repose, as is indicated by Nature.” “Whence it follows that in our climate, as a general rule, men and animals need to sleep longer in winter than in summer.” “No bed is hard for one who falls asleep the moment he lies down.” Professor cruel: “I shall sometimes awaken Émile, less from the fear that he may form the habit of sleeping too long than for the purpose of accustoming him to everything, even to being abruptly awakened. Besides, I should be poorly qualified for my employment if I could not force him to awaken of himself, and to get up, so to speak, at my command, without my saying a single word to him.”

Children should have many sports by night. This advice is more important than it seems. The night naturally frightens men, and sometimes animals. Reason, knowledge, intelligence, courage, relieve but few people from paying this tribute. I have seen logicians, strong minded men, philosophers, and soldiers, who were intrepid by day, tremble at night like women at the rustling of a leaf. We attribute this affright to the tales told by nurses, but we are mistaken; it has a natural cause. What is this cause? The same which makes the deaf distrustful and the people superstitious ignorance of the things which surround us and of what takes place about us.”

Let Émile spend his mornings in running barefoot in all seasons around his chamber, up and down stairs, and through the garden. Far from scolding him for this, I shall imitate him; only I shall take care to remove broken glass.”

As the sight is the sense which is the most intimately connected with the judgments of the mind, it requires a long time to learn to see. Sight must have been compared with touch for a long time in order to accustom the first of these two senses to make a faithful report of forms and distances; without the sense of touch, without progressive movement, the most piercing eyes in the world could not give us an idea of extension. To the oyster, the entire universe must appear only as a mere point; and were this oyster to be informed by a human soul, the world would seem nothing more. It is only by walking, feeling, numbering, and measuring dimensions that we learn to estimate them; but also, if we were always measuring, the eye, reposing on the instrument, would acquire no accuracy.”

Children, who are great imitators, all try their hand at drawing. I would have my pupil cultivate this art, not exactly for the art itself, but for rendering the eye accurate and the hand flexible; and, in general, it is of very little consequence that he understand such or such an exercise, provided he acquire the perspicacity of sense, and the correct habit of body, which are gained from that exercise. I shall take great care, therefore, not to give him a drawing-master who will give him only imitations to imitate, and will make him draw only from drawings.” In holding the pencil, I should follow his example; and at first I shall use it as awkwardly as he does.” “I shall begin by tracing a man just as lackeys [alunos] trace them on walls a stroke for each arm, a stroke for each leg, and the fingers larger than the arms. After a very long time we shall both take note of this disproportion; we shall observe that a leg has thickness, and that this thickness is not the same throughout”

O bom quadro não precisa de moldura?

I have said that geometry is not within the comprehension of children; but this is our fault. We do not perceive that their method is not ours, and that what becomes for us the art of reasoning ought to be for them only the art of seeing. Instead of giving them our method, it would be better for us to borrow theirs; for our way of learning geometry is as much a matter of imagination as of reasoning.” instead of using a compass to trace a circle, I will trace it with a point at the end of a thread turning about a centre. After this, when I would compare the radii of a circle, Émile will laugh at me, and will give me to understand that the same thread, while stretched tight, can not have traced unequal distances.”

(*) “No experimental process can ever establish the general truth that the sum of the three angles of a triangle is equal to two right angles. We should not confound <geometrical recreations> with geometrical science.”

I have sometimes asked why we do not offer children the same games of skill which men have, such as tennis, fives, billiards, bow and arrow, foot-ball, and musical instruments.” We always play games indolently in which we can be unskillful without risk. A falling shuttle-cock does harm to no one; but nothing invigorates the arms like having to protect the head with them, and nothing makes the sight so accurate as having to protect the eyes from blows.”

A perfect music is that which best unites these three voices. Children are incapable of this music, and their singing never has soul. So also, in the speaking voice, their language has no accent; they cry, but they do not modulate; and as there is little accent in their conversation, there is little energy in their voice. The speech of our pupil will be more uniform and still more simple, because his passions, not yet being awakened, will not mingle their language with his own. Therefore, do not make him recite parts in tragedy, or in comedy, nor attempt to teach him, as the phrase is, to declaim.

Moreover, in order to know music well, it does not suffice to render it; it is necessary to compose it, and one should be learned along with the other, for except in this way music is never very well learned.”

The farther the father fades…

For myself I would say, on the contrary, that it is only the French who do not know how to eat, since such a peculiar art is required in order to render their food palatable.” “Gluttony is the vice of natures which have no substance in them. The soul of a glutton is all in his palate – he is made only for eating; in his stupid incapacity, he is himself only at table, he is able to judge only of dishes. Leave him to this employment without regret; both for ourselves and for him, this employment is better for him than any other.” “The child thinks of nothing but eating; but in adolescence we no longer think of it; for everything tastes good, and we have many other things to occupy our thoughts.”

The clock strikes, and what a change! In a moment his eye grows dull and his mirth ceases; adieu to joy, adieu to frolicsome sports. A stern and angry man takes him by the hand, says to him gravely, <Come on, sir!> and leads him away. In the room which they enter I discover books. Books! What cheerless furniture for one of his age! The poor child allows himself to be led away, turns a regretful eye on all that surrounds him, holds his peace as he goes, his eyes are swollen with tears which he dares not shed, and his heart heavy with sighs which he dares not utter.”

His face, which has not been glued down to books, does not rest on his stomach, and there is no need of telling him to hold up his head.”

A teacher thinks of his own interest rather than that of his pupil. He endeavors to prove that he does not waste his time, and that he earns the money which is paid him; and so he furnishes the child with acquisitions capable of easy display, and which can be exhibited at will. Provided it can easily be seen, it matters not whether what he learns is useful.”

É contado que Alexandre O Grande, em sua infância, fôra o único a conseguir cavalgar o cavalo irado Bucéfalo. Ele descobriu que Bucéfalo nada temia, a não ser a própria sombra, e com a descoberta da causa veio a descoberta do remédio… Gata, eu quero cavalgar no seu bucéfalo!

Oh, but the human race is so easy to get lost, ‘cause there are monkeys who can surpass the negroes!

I receive pay for my tricks, not for my lessons.”

All this parade of instruments and machines displeases me. The scientific atmosphere kills science. All these machines either frighten the child, or their appearance divides and absorbs the attention which he owes to their effects.”

By collecting machines about us we no longer find them within ourselves.” O homemtécnica de Ráidega

Instead of making a child stick to his books, if I employ him in a workshop, his hands labor to the profit of his mind; he becomes a philosopher, but fancies he is only a workman.”

those multitudes of foolish and tiresome questions with which children weary all those who are about them, without respite and without profit, more to exercise over them some sort of domination than to derive any advantage from them.” Por quê?

Things! things! I shall never repeat often enough that we give too much power to words. With our babbling education we make nothing but babblers.”

I have often observed that in the learned instructions which we give to children we think less of making ourselves heard by them than by the grand personages who are present. I am very certain of what I have now said, for I have observed this very thing of myself.”

a man of his stature is buried in bushes.”

do you think that I should fail to weep if I could dine on my tears?”

O adolescente de 15 anos de Rousseau se comporta como nossa criança de 10 anos, talvez de 8.

I hate books; they merely teach us to talk of what we do not know.” (*) “Pestalozzi and even Plato affected a contempt for books: yet they were prolific authors, and owe their immortality to their writings. There are modern instances of this self-inflicted and unconscious satire of writing books to prove that books are useless!Se eu ao menos pudesse falar de tudo que não sei… Heil, Hitler!

my despite for sea ribes

(*) “Rousseau owed many of his ideas to the greater writers of ancient and modern times; but the source of his inspiration was Robinson Crusoé.”

Whatever men have made, men may destroy; there are no ineffaceable characters save those which Nature impresses, and Nature makes neither princes, nor millionaires, nor lords.”

I see that he owes his existence solely to his crown, and that if he were not king he would be nothing at all. But he who loses his crown and does without it, is then superior to it. From the rank of king, which a craven, a villain, or a madman might occupy as well, he ascends to the state of man which so few men know how to fill.”

UMA LIÇÃO PARA O DIOGO (EMBORA R. ESTEJA ERRADO): “<But,> you say, <my father served society while gaining this property.> Be it so; he has paid his own debt, but not yours. You owe more to others than as though you were born without property; you were favored in your birth. It is not just that what one man has done for society should release another from what he owes it; for each one, owing his entire self, can pay only for himself, and no father can transmit to his son the right of being useless to his fellows; yet that is what he does, according to you, in leaving him his riches, which are the proof and reward of labor.” Outside of society, an isolated man, owing nothing to any one, has a right to live as he pleases; but in society, where he necessarily lives at the expense of others, he owes them in labor the price of his support; to this there is no exception. To work, then, is a duty indispensable to social man. Rich or poor, powerful or weak, every idle citizen is a knave.”

I insist absolutely that Émile shall learn a trade. <An honorable trade, at least,> you will say. What does this term mean? Is not every trade honorable that is useful to the public? I do not want him to be an embroiderer, a gilder, or a varnisher, like Locke’s gentleman; neither do I want him to be a musician, a comedian, or a writer of books.*

* <You yourself are one,> some one will say. I am, to my sorrow, I acknowledge; and my faults, which I think I have sufficiently expiated, are no reasons why others should have similar ones. I do not write to excuse my faults, but to prevent my readers from imitating them.” A diligência chegou tarde, Rousseau! Eu sou outro você! Vamos salvar, juntos, a próxima geração?! Hmm, pouco provável… Eles estão ocupados demais jogando League of Legends para nos LER… Mas eis aí um progresso, quem sabe!

I would rather have him a cobbler [sapateiro; torta de fruta!] than a poet; I would rather have him pave the highways than to decorate china [porcelana].”

masonlayer

brickmason

brickmayor

fortressmason

musclelayer

masonslayer

brutemason

cobblermaker

shoecobbler

The great secret of education is to make the exercises of the body and of the mind always serve as a recreation for each other.”

Músculos doem, porque exagerei. Pensando no futuro de Rastignac e Mademoiselle Taillefer eu relaxo a postura, mas enervo e franzo minha fronte. Logo quererei caminhar, fazer uma promenade pelas aléias, en bouleversant le boulevard.

Émile has only natural and purely physical knowledge. He does not know even the name of history, nor what metaphysics and ethics are.”

At first we do not know how to live; soon we are no longer able to live; and in the interval which separates these two useless extremities three quarters of the time which remains to us is consumed in sleep, in labor, in suffering, in constraint, in troubles of every description.”

and whatever God wishes a man to do he does not cause it to be told to him by another man, but he says it to him himself, he writes it in the depths of his heart.”

À Tharsila na terapia:

Lembrei de você ao ler este trecho de Rousseau – Emílio, em que o autor elabora sucintamente seu conceito de “amor de si” em contraposição a “amor-próprio”. Vemos que talvez existam tantos conceitos de amor-próprio ou “auto-estima” quantas forem as cabeças!

[Voltei a trabalhar hoje, chego e não tenho conexão com a Internet nem mouse que funcione; tento resolver o problema e no começo (ou: até o momento) ninguém sabe o que houve… isso que eu chamo de pátria educadora!… Hehe, portanto, assim que voltar a me conectar ao mundo estarei enviando esse fragmento… acho que terei tempo de sobra para traduzir o trecho se você desejar (não sei seu nível de conhecimento do Inglês)… PS: o trecho após o asterisco, do próprio punho do Rousseau, parece ter sido feito sob encomenda para mim nas nossas sessões – vira-e-mexe parece que estou lendo justamente o que devia ler no momento em que estou lendo!]

The love of self (amour de soi), which regards only ourselves, is content when our real needs are satisfied; but self-love (amour-propre), which makes comparisons, is never satisfied, and could not be, because this feeling, by preferring ourselves to others, also requires that others prefer ourselves to them – a thing which is impossible.* (…) Thus, that which makes man essentially good is to have few needs and to compare himself but little with others; while that which makes him essentially bad is to have many needs and to pay great deference to opinion.

(*) Rousseau distinguishes love of self (amour de soi) from self-love (amour-propre). The first feeling is directed toward simple well-being, has no reference whatever to others, and is unselfish. The second feeling, on the contrary, leads the individual to compare himself with others, and sometimes to seek his own advantage at their expense. Our term self-love includes both meanings.”

The instructions of nature are tardy and slow, while those of men are almost always premature. In the first case, the senses arouse the imagination; and in the second, the imagination arouses the senses and gives them a precocious activity which can not fail to enervate and enfeeble, first the individual, and then, in the course of time, the species itself. [O MITO DA BESTA-LOIRA PUDICA NA GELEIRA:] A more general and a more trustworthy observation than that of the effect of climate is that puberty and sexual power always come earlier among educated and refined people than among ignorant and barbarous people [o mal da república tropical!].Explicação: a educação moderna, ao consistir num elevamento da censura, instiga a curiosidade no “pré-jovem”, tendo um efeito inverso e perverso em seu desenvolvimento físico e mental!

and if you are not sure of keeping him in ignorance of the difference of the sexes up to his sixteenth year, take care that he learn it before the age of ten.”

Modesty is born only with the knowledge of evil”

Whoever blushes is already guilty; true innocence is ashamed of nothing.”

There is a certain artlessness of language which becomes innocence and is pleasing to it; this is the true tone which turns aside a child from a dangerous curiosity.”

giggling governesses address conversation to them at 4 years which the most shameless would not dare to hold at 15. These nurses soon forget what they have said, but the children never forget what they have heard. Licentious conversation leads to dissolute manners; a vile servant makes a child debauched”

show them only pictures which are touching but modest, which move without seducing” A internet agradece.

Thucydides, in my opinion, is the true model for historians.” “The good Herodotus, without portraits, without maxims, but flowing, artless, and full of details the most capable of interesting and pleasing, would perhaps be the best of historians if these very details did not often degenerate into puerile simplicities, better adapted to spoil the taste of youth than to form it. Discernment is already necessary for reading him.” “We often find in a battle gained or lost the reason of a revolution which, even before that battle, had become inevitable.” “The fury of systems having taken possession of them all, nobody attempts to see things as they are, but only so far as they are in accord with his system.”

avoid a void

<The writers of lives who please me most,> says Montaigne, <are those who take more pleasure in counsels than in events, more in what proceeds from within than in what comes from without; and this is why in all respects my man is Plutarch.>”

There is no folly, save vanity, of which we can not cure a man who is not a fool.”

The lesson which revolts does not profit. I know nothing more stupid than this saying, I told you so.” “But if to his chagrin you add reproaches, he will hate you, and will make it a law no longer to listen to you, as though to prove to you that he does not think as you do on the importance of your advice.” “In saying to him, for example, that a thousand others have committed the same faults, you will place him far above his own reckoning; you will correct him by not seeming to pity him; for, to one who believes he is of more account than other men, it is a very mortifying excuse to be consoled by their example”

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properly prospering

Through what strange turn of mind is it that we are taught so many useless things, while the art of self-conduct counts for nothing? It is asserted that we are trained for society, and yet we are taught as though each of us was to spend his life in thinking alone in his cell, or in discussing idle questions with the indifferent. You fancy you are teaching your pupils to live by teaching them certain contortions of the body and certain verbal formula which have no significance. (…) The laws do not permit young men to transact their own business and to dispose of their own property; but of what use would these precautions be to them if up to the prescribed age they could acquire no experience? They would have gained nothing by waiting, and would be just as inexperienced at 25 as at 15.

a man superior to others, but not able to raise them to his level, to know how to condescend to theirs!”

Without having experienced the human passions, he knows their illusions and their manner of acting.”

Locke would have us begin with the study of mind, and pass thence to the study of the body. This is the method of superstition, of prejudice, and of error, but not that of reason, nor even of well-ordered nature; it is to close one’s eyes in order to learn how to see. We must have studied the body for a long time in order to form a correct notion of mind and to suspect that it exists. The contrary order serves only to establish materialism.”

<I would much prefer,> says the good Plutarch, <that one should believe there is no Plutarch in existence, than to say that Plutarch is unjust, envious, jealous, and so tyrannical as to exact more than he gives power to perform.>”

If I dissimulate and pretend to see nothing, he takes advantage of my weakness; thinking that he deceives me, he holds me in contempt, and I am the accomplice of his ruin. If I attempt to hold him back, the time for it is passed, and he no longer listens to me. I become disagreeable to him, odious, unendurable, and he will not be likely to lose any time in getting rid of me.”

Young men who are found wise on these subjects, without knowing how they became so, have never gained their wisdom with impunity.”

But why does the child choose secret confidants? Always through the tyranny of those who govern him. Why should he conceal himself from them if he were not forced to do so? Why should he complain of them if he had no subject of complaint? Naturally they are his first confidants; and we see from the eagerness with which he comes to tell them what he thinks, that he believes that he has only half thought it until he has told them. Consider that, if the child fears neither lecture nor reprimand on your part, he will always tell you everything; and that no one will dare confide anything to him which he ought to conceal from you, if he is very sure that he will conceal nothing from you.” “but if he becomes more timid and more reserved, and I perceive in his conversation the first embarassment from shame, the instinct is already developing itself, and the idea of evil is already beginning to be associated with it.” O engraçado é que isso está no capítulo dos 15 aos 20 anos, quando deveria estar no capítulo dos 7 anos de idade.

Drama queen Rousseau: “Reading, solitude, idleness, an aimless and sedentary life, intercourse with young men and women, these are the paths dangerous to open to one of his age, and which ceaselessly keep him alongside of peril.”

When the hands are fully occupied, the imagination is in repose; when the body is very weary, the heart does not become excited.”

If hunting is ever an innocent pleasure, if it is ever fitting for a man, it is now that we must have recourse to it.”

Diana has been represented as the enemy of love, and the allegory is very appropriate. The languors of love spring only from a pleasing repose; violent exercise suppresses tender emotions.” Deixa eu correr pra você, gata! 

MONTESQUIEU APLICADO ÀS PULSÕES (“Só a paixão freia a paixão”): We have no hold on the passions save through the passions; it is through their empire that we must make war on their tyranny, and it is always from Nature herself that we must draw the instruments proper for controlling her.”

Give me a child of 12 years who knows nothing at all, and at 15 I will guarantee to make him as wise as he whom you have instructed from infancy”

Whoever has passed all his youth at a distance from cultivated society will maintain there for the rest of his life an air of embarrassment and restraint, a style of conversation that is always inappropriate, and dull and awkward manners which the habit of living there no longer corrects, and which become only the more ridiculous by the effort to escape from them.”

What is real love itself, if not a dream, a fiction, an illusion? We love the picture which we form much more than the object to which we apply it. If we saw what we love exactly as it is, there would no longer be any love in the world. When we cease to love, the person whom we loved remains the same as before, but we no longer see her the same. The veil of delusion falls, and love vanishes.” “Sophie is so modest! How will he view their advances? Sophie has such simplicity! How will he love their airs?”

You can not imagine how Émile, at the age of twenty, can be docile. How different our ideas are! As for me, I can not conceive how he could be docile at ten; for what hold had I on him at that age? It cost me the cares of fifteen years to secure that hold. (…) I grant to him, it is true, the appearance of independence; but he was never in more complete subjection, for his obedience is the result of his will.” “He sets too little value on the judgments of men to incur their prejudices, and is not at all anxious to be esteemed before being known.” But he would like to be known. And does not know exactly how. What to do with his know-how.

Just the contrary. If, alone, he takes no account whatever of other men, does it follow that he should take no account of them while living with them?”

Era uma vez o gentil Emílio no ônibus: “He indicates no preference for them over himself in his manners, because he does not prefer them in his heart; but, on the other hand, he does not treat them with an indifference which he is very far from feeling; if he has not the formalities of politeness, he has the active instincts of humanity. He does not love to see any one suffer. He will not offer his place to another through affectation, but will yield it to him voluntarily through goodness of heart, if, seeing him neglected, he thinks that this neglect mortifies him; for it will cost my young man less to remain standing voluntarily than to see the other remain standing by compulsion.”

Generally speaking, people who know little speak much, and people who know much speak little.” D*** “not for the sake of seeming well informed in social usages, nor to affect the airs of a polished gentleman, but, on the contrary, for the sake of escaping notice, for fear that he may be observed; and he is never more at ease than when no one is paying attention to him.” “Although, on entering society, he is in absolute ignorance of its usages, he is not, on this account timid and nervous. If he keeps in the background, it is not through embarrassment, but because in order to see well, he must not be seen; for he is hardly disturbed by what people think of him, and ridicule does not cause him the least fear.”

SÍNDROME DE GON: “Émile will be, if you please, an amiable foreigner, and at first his peculiarities will be pardoned by saying: <He will outgrow all that!> In the end, people will become perfectly accustomed to his manners, and, seeing that he does not change them, he will again be pardoned for them by saying: <He was made so!>” “He will not be fêted in society as a popular man, but people will love him without knowing why.” “He aims neither at eccentricity nor brilliancy. Émile is a man of good sense, and wishes to be nothing else”

In running he would be the fleetest, in a contest the strongest, in work the most clever, and in games of skill the most dexterous; but he will care little for advantages which are not clear in themselves, but which need to be established by the judgment of others as of having more genius than another, of being a better talker, of being more learned, etc.; still less those which become no one, as of being better born, of being thought richer”

he philosophizes on the principles of taste, and this is the study that is proper for him during this period.” “taste is corrupted by an excessive delicacy, which makes us sensitive to things which the most of mankind do not perceive. (…) In disputes as to the preference, philosophy and learning are exhausted (…) At this moment there is perhaps no civilized place on the globe where the general taste is as bad as in Paris. And yet it is in this capital that good taste is cultivated; and there appear but few books esteemed in Europe whose author was not trained in Paris. Those who think it suffices to read the books which are written there are deceived, we learn much more from the conversation of authors than from their books (…) If you have a spark of genius, come and spend a year in Paris; you will soon be all you are capable of being, or you will never be anything.”

It is of little account to learn languages for themselves, for their use is not so important as we think; but the study of language leads to the study of general grammar. We must learn Latin in order to know French well; and we must study and compare both in order to understand the rules of the art of speaking.”

There is, moreover, a certain simplicity of taste which penetrates the heart and which is found only in the writings of the ancients. In oratory, in poetry, in every species of literature, he will find them, just as in history, abundant in matter and sober in judgment. Our authors, on the contrary, say little and talk much. To be ever giving their judgment for law is not the means of forming our own. The difference between the two tastes is visible on monuments, and even on tombstones. Ours are covered with eulogies, while on those of the ancients we read facts:

Sta, viator; heroem calcas. [Pare, peregrino; você está pisando sobre o pó de um herói]

being the first, the ancients are nearer to Nature, and have more native genius. Whatever La Motte and the Abbé Terrasson may say to the contrary, there is no real progress in reason in the human race, because what is gained on the one hand is lost on the other; for as all minds always start from the same point, and as the time spent in learning what others have thought is lost for teaching one’s self how to think, we have more acquired knowledge and less vigor of mind. Our minds, like our hands, are trained to do everything with tools, and nothing by themselves.” “I take Émile to the theatre in order to study, not manners, but taste; for it is there, in particular, that he will be presented to those who know how to reflect. (…) The study of the theatre leads to that of poetry; they have exactly the same object. If he has the least spark of taste for poetry, with what pleasure he will cultivate the languages of poets, the Greek, the Latin, and the Italian!E que depreciação monstruosa ter lido os renascentistas em Inglês!

They will be delicious to him at an age and in circumstances when the heart is interested so charmingly in all varieties of beauty calculated to touch it. Imagine on one side my Émile, and on the other a college blade, reading the fourth book of the AEneid, or Tibullus, or the Banquet of Plato. What a difference!” Seria eu um retardado, no sentido anacrônico do termo? Num livro em que Rousseau sempre prescreve as coisas com atraso em relação a nossa época tão precoce, eu nunca jamais teria tido o prazer de gastar horas com um Platão em mãos, atualizando este blog, que para mim só passou a fazer real sentido em 2008, justo à segunda década de vida… Mas até seu Emílio se adianta a mim, logo neste hábito que me é tão caro!

Be a man of feeling, but be a wise man. If you are but one of these, you are nothing.” “I have said elsewhere that taste is but the art of discerning the value of little things (…) since the happiness of life depends on the contexture of little things, such concerns are far from being unimportant” “I should be temperate for sensual reasons.”

and in my viands I should always prefer those which she has made the most toothsome, and which have passed through the fewest hands in order to reach my table.”

who, seeking for summer in winter and winter in summer, would have cold in Italy and heat in the north.”

In order to be well served, I would have few domestics. A private citizen derives more real service from a single servant than a duke from the ten gentlemen who surround him.”

My furniture should be as simple as my tastes. I would have neither picture-gallery nor library, especially if I loved books and were a judge of pictures.”

Anti-Ronaldo Fenômeno, o PokerStars: “Play is not an amusement for a rich man, but the resource of an idler; and my pleasures would give me too much employment to leave me much time to be so poorly employed. Being solitary and poor, I do not play at all, save sometimes at chess, and this is too much. (…) We rarely see thinkers who take much pleasure in play, for it suspends this habit, or employs it in dry combinations”

The dishes would be served without order, appetite dispensing with manners”

it is a hundred times more easy to be happy than to appear so.”

Adeus a Paris, então, cidade tão famosa, barulhenta, fumacenta, e suja, onde as mulheres não mais acreditam na honra, nem os homens na virtude. Adeus, Paris. Como estamos em busca de amor, felicidade, e inocência, não estaremos jamais longe o bastante de ti.”

A partir da p. 260, a caracterização de Sophie: trechos que vão irritar a Brenda!

His merit lies in his power; he pleases simply because he is strong. I grant that this is not the law of love, but it is the law of Nature, which is anterior even to love.”

A burguesa crítica rousseauana de Platão: “As though it were not through the little community, which is the family, that the heart becomes attached to the great! And as though it were not the good son, the good husband, and the good father, who makes the good citizen!”

You are always saying that women have faults which you have not. Your pride deceives you. They would be faults in you, but they are virtues in them; and everything would not go so well if they did not have them.”

Brilhante e rafaelítica análise?

Woman is worth more as a woman, but less as a man; wherever she improves her rights she has the advantage, and wherever she attempts to usurp ours she remains inferior to us. Only exceptional cases can be urged against this general truth – the usual mode of argument adopted by the gallant partisans of the fair sex.” “A mulher vale mais como mulher, mas menos como homem; onde quer que ela aperfeiçoe seus direitos ela tem a vantagem, e onde quer que ela procure usurpar os nossos ela permanece inferior a nós. Só casos excepcionais podem ser evocados contra essa verdade geral – a principal argumentação utilizada pelos galantes partidários do sexo frágil.”

Ao tentar usurpar nossas vantagens elas não abandonam as próprias (…) conseqüentemente, não podendo manejar ambas propriamente, devido a sua incompatibilidade inata, esbarram em suas próprias limitações sem predominar nas nossas, assim perdendo metade de seu valor.” “Acredite em mim, mãe judiciosa, não faça de sua filha um bom homem, como se quisesse passar a perna na Natureza, mas faça dela sim uma boa mulher, e tenha certeza de que ela valerá mais para si mesma e para nós.” “the whole education of women ought to be relative to men. To please them, to be useful to them, to make themselves loved and honored by them, to educate them when young, to care for them when grown, to counsel them, to console them, and to make life agreeable and sweet to them – these are the duties of women at all times, and what should be taught them from their infancy.” “Little girls, almost from birth, have a love for dress. Not content with being pretty, they wish to be thought so. We see in their little airs that this care already occupies their minds; and they no sooner understand what is said to them than we control them by telling them what people will think of them. The same motive, very indiscreetly presented to little boys, is very far from having the same power over them.” “Delicacy is not languor, and one need not be sickly in order to please.” “Once opened, this first route is easy to follow; sewing, embroidery, and lace-work will come of themselves. Tapestry is not so much to their liking; and as furniture is not connected with the person, but with mere opinion, it is too far out of their reach. Tapestry is the amusement of women; young girls will never take very great pleasure in it.” “As long as they live they will be subject to the most continual and the most severe restraint – that which is imposed by the laws of decorum.” “By reason of our senseless customs, the life of a good woman is a perpetual combat with herself; and it is just that this sex share the discomfort of the evils which it has caused us.” “Do not deny them gayety, laughter, noise, and sportive diversions; but prevent them from being satiated with one and running to the other; never suffer them for a single moment of their lives to know themselves free from restraint.” “Made to obey a being as imperfect as man, often so full of vices, and always so full of faults, she ought early to learn to suffer even injustice, and to endure the wrongs of a husband without complaint” “Heaven has not made them insinuating and persuasive in order to become waspish; has not made them weak in order to be imperious; has not given them so gentle a voice in order to use harsh language; and has not made their features so delicate in order to disfigure them by anger. When they become angry they forget themselves; they often have reason to complain, but they are always wrong in scolding. (…) The husband who is too mild may make a woman impertinent; but, unless a man is a brute, the gentleness of a wife reforms him, and triumphs over him sooner or later.” “the little girls who have only just come into the world, so to speak; compare them with little boys of the same age, and if the latter do not seem dull, thoughtless, and stupid in their presence, I shall be unquestionably wrong.” “I know that austere teachers would have young girls taught neither singing, dancing, nor any other accomplishment. This seems to me ludicrous. To whom, then, would they have these things taught? To boys? To whom does it pertain, by preference, to have these talents: to men, or to women? To no one, they will reply; profane songs are so many crimes; the dance is an invention of the devil; a young girl ought to have no amusement save her work and her prayers. Strange amusements these for a child of ten!” “I can imagine nothing more ridiculous than to see an old dancing-master approach with a grim air young persons who want merely to laugh, and, while teaching them his frivolous science, assume a tone more pedantic and magisterial than if it were their catechism he was teaching.” “I shall never be made to believe that the same attitudes, the same steps, the same movements, the same gestures, and the same dances are equally becoming to a little brunette, lively and keen, and to a tall, beautiful blonde with languishing eyes.” “Women have a flexible tongue; they speak sooner, more easily, and more agreeably than men. They are accused also of speaking more. This is proper, and I would willingly change this reproach into a commendation. With them the mouth and the eyes have the same activity, and for the same reason. A man says what he knows, and a woman what is pleasing. In order to speak, one needs knowledge and the other taste” Estranha verdade que agrada, essa.

It is easy to see that if boys are not in a condition to form any true idea of religion, for a still stronger reason the same idea is above the conception of girls. It is on this very account that I would speak to them the earlier on this subject; for if we must wait till they are in a condition to discuss these profound questions methodically, we run the risk of never speaking to them on this subject.” “For the reason that the conduct of woman is subject to public opinion, her belief is subject to authority. Every daughter should have the religion of her mother, and every wife that of her husband. Even were this religion false, the docility which makes the mother and the daughter submit to the order of nature expunges in the sight of God the sin of error. As they are not in a condition to judge for themselves, women should receive the decision of fathers and husbands as they would the decision of the Church.” “Always extremists, they are all free-thinkers or devotees; none of them are able to combine discretion with piety.”

I wish some man who thoroughly knows the steps of progress in the child’s mind would write a catechism for him. This would perhaps be the most useful book that was ever written”

To what condition should we reduce women if we make public prejudice the law of their conduct? Let us not abase to this point the sex which governs us, and which honors us when we have not degraded it. There exists for the whole human species a rule anterior to opinion. (…) § This rule is the inner moral sense.” “Are women capable of solid reasoning? Is it important for them to cultivate it? Will they cultivate it with success? Is this culture useful to the functions imposed on them? Is it compatible with the simplicity which is becoming to them?” “The reason which leads man to the knowledge of his duties is not very complex; and the reason which leads woman to the knowledge of hers is still simpler.” “The search for abstract and speculative truths, principles, and scientific axioms, whatever tends to generalize ideas, does not fall within the compass of women; all their studies ought to have reference to the practical; it is for them to make the application of the principles which man has discovered, and to make the observations which lead man to the establishment of principles. All the reflections of women which are not immediately connected with their duties ought to be directed to the study of men and to that pleasure-giving knowledge which has only taste for its object; for as to works of genius, they are out of their reach, nor have they sufficient accuracy and attention to succeed in the exact sciences; and as to the physical sciences, they fall to that one of the two which is the most active, the most stirring, which sees the most objects, which has the most strength, and which exercises it most in judging of the relations of sensible beings and of the laws of nature.” “She must therefore make a profound study of the mind of man, not the mind of man in general, through abstraction, but the mind of the men who surround her, the mind of the men to whom she is subject, either by law or by opinion.” “It is for women to discover, so to speak, an experimental ethics, and for us to reduce it to a system. Woman has more spirit and man more genius; woman observes and man reasons.” “The world is woman’s book; when she reads it wrong, it is her fault or some passion blinds her.” In France girls live in convents and women travel the world over. Among the ancients it was just the contrary: girls, as I have said, indulged in sports and public festivals, while the women lived in retirement. This custom was the more reasonable and better maintained the public morals. (…) Mothers, at least make companions of your daughters. Give them a sense of uprightness and a soul of honor, and then conceal nothing from them, nothing which a chaste eye may look at. Balls, banquets, games, even the theatre, everything which, wrongly viewed, makes the charm of unadvised youth, may be offered without risk to uncorrupted eyes. The better they see these noisy pleasures the sooner will they be disgusted with them.” “I hear the clamor which is raised against me.”

The convents are veritable schools of coquetry – not of that honest coquetry of which I have spoken, but of that which produces all the caprices of women and makes the most extravagant female fops [dandismos; coisas de janota; almofadinhagens].” “it seems to me that, in general, Protestant countries have more family affection, more worthy wives, and more tender mothers than Catholic countries”

Unfortunately, private education in our large cities no longer exists. Society there is so general and so mixed that there is no longer an asylum for retreat, and we live in public even at home. By reason of living with everybody we no longer have a family, we hardly know our parents, we see them as strangers, and the simplicity of domestic manners has become extinct along with the sweet familiarity which constituted its charm.”

In the large cities the depravation begins with life, and in the small it begins with reason. Young women from the provinces, taught to despise the happy simplicity of their manners, make haste to come to Paris to share the corruption of ours” “Only fools are loud in their conduct; women who are wise create no sensation.”

Gloomy lessons serve only to involve in hatred both those who give them and all that they say.”

and if she were more perfect she would be less pleasing.” “Sophie is not beautiful; but in her presence men forget beautiful women, and beautiful women are discontented with themselves.” “she charms, but no one can tell why.” “She has also devoted herself to all the details of housekeeping. She is acquainted with the kitchen and the pantry; she knows the price of provisions, and also their qualities; she has a thorough knowledge of book-keeping, and serves her mother as housekeeper.” “It is not with girls as with boys, who can be governed up to a certain point by their appetite. This inclination has its consequences for the sex; it is too dangerous to go unchecked. The little Sophie, in her girlhood, going alone into her mother’s pantry, did not always come back empty-handed, and her fidelity with respect to sugar-plums and bonbons was not above suspicion. Her mother detected her, reproved her, punished her, and made her fast. At last she succeeded in persuading her that bonbons spoiled the teeth, and that eating too much made one stout. In this way Sophie reformed. As she grew up she contracted other tastes, which have turned her aside from this low sensuality. In women, as in men, as soon as the heart grows warm gluttony is no longer a dominant vice. Sophie has preserved the characteristic taste of her sex: she likes milk, butter, cream, and sweetmeats; is fond of pastry and dessert, but eats very little meat; she has never tasted either wine or intoxicating liquors. Moreover, she eats very moderately of everything; her sex, less laborious than ours, has less need to repair its waste.” “Sophie is naturally gay – she was even frolicsome in her childhood; but little by little her mother has taken care to repress her giddy airs, for fear that too sudden a change might ere long apprise her of the moment which had rendered it necessary.” “Woman is made to submit to man, and even to endure his injustice. You will never reduce young boys to the same point; in them the inner sense rises in revolt against injustice; nature has not made them for tolerating it.” “Sophie loves virtue, and this love has become her ruling passion. She loves it because there is nothing so beautiful as virtue; she loves it because virtue constitutes the glory of woman, and a virtuous woman seems to her almost equal to an angel” “Sophie will be chaste and upright even to her last breath” “She speaks of the absent only with the greatest circumspection, especially if they are women. She thinks that what makes them slanderous and satirical is the habit of speaking of their own sex; for as long as they restrict themselves to speaking of ours they are only just.” “although she is not tall, she has never wished for high heels; she has feet that are small enough to do without them.”

ROUSSEAU ENSINANDO A CORTAR CANTADAS DE PEDREIRO NO SÉCULO XVIII

Deixe o bonitão loquaz cumprimentá-la, exortá-la em altos termos por sua esperteza, por sua beleza, por suas graças, e pela felicidade incomprável de agradar-lhe, e ela o interromperá prontamente dizendo com polidez: <Senhor, receio ter conhecimento dessas coisas melhor do que o senhor, e se não temos nada melhor sobre o que conversar, penso que devemos encerrar a conversação neste mesmo instante.>”

Não corta o meu barato, gata, corta o meu carão.

Ou sou seu cachorrinho ou sou meu próprio demônio. Você me pediu para ir com calma, mas eu fui tão calmo quanto uma tsunami umedecendo a praia desguarnecida, arrancando as raízes das árvores mais anciãs!

Luneta profana, é o que eu nunca vou usar. No meio da montanha-russa eu não sei sentar!

Deus-micróbio: ou plenipotente ou um nada levado pelo vento das circunstâncias e emoções. microDeus-óbito.

Estou tendo um AVC. Vou terminar de tê-lo quando eu morrer. Isso pode levar décadas.

With such a great maturity of judgment, and developed in all respects like a girl of twenty, Sophie at fifteen will not be treated by her parents as a child. (…) The happiness of a noble girl consists in making a good man happy. We must therefore think of your marriage, and we must think of it thus early, for on marriage depends the destiny of life, and there is never too much time for thinking of this.” “Nada é mais difícil do que a escolha de um bom marido, salvo, talvez, a de uma boa esposa. Sofia, você deve ser essa esposa tão rara.” “but, although you have good judgment and know your own merits, you are lacking in experience, and do not know to what extent men can disguise themselves. An adroit rascal may study your tastes in order to lead you astray, and in your presence feign virtues which he does not have. This one might ruin you, Sophie, before you were aware of it, and you would become conscious of your error only to weep over it [LA FEMME DE 30 ANS]. The most dangerous of all snares, and the only one which reason can not avoid, is that of the senses. If you ever have the misfortune to fall into it, you will see nothing but illusions and idle fancies; your eyes will be fascinated, your judgment will be unsettled, your will will be corrupted, and you will cherish even your illusion, and when you are in a condition to be conscious of it you will not disown it. (…) As long as you are cool-headed, remain your own judge; but as soon as you are in love, then trust the care of yourself to your mother.” “In the two sexes I know of but two classes that are really distinct: people who think and people who do not think; and this difference depends almost wholly on education. A man belonging to the first of these two classes ought not to form an alliance with the second; for the greatest charm of companionship fails him when, having a wife, he is reduced to thinking alone. Men who devote their whole lives to working for a living have no other idea than that of their work or their interests, and their whole mind seems to be at the ends of their fingers.” “The conscience is the clearest of philosophers, and we need not know Cicero’s Offices in order to be a man of worth; and the most honorable woman in the world has perhaps the least idea of what honor is.” “It is then not meet for an educated man to take a wife who is uneducated, nor, consequently, to marry into a class where education is impossible. But I would a hundred times prefer a simple girl, rudely brought up, to a girl of learning and wit who should come to establish in my house a literary tribunal of which she should make herself the president. A woman of wit is the scourge of her husband, her children, her friends, her servants, of everybody. (…) Away from home she is always the subject of ridicule, and is very justly criticised, as one never fails of being the moment she leaves her proper station and enters one for which she is not adapted” “Readers, I appeal to you on your honor which gives you the better opinion of a woman as you enter her room, which makes you approach her with the greater respect: to see her occupied with the duties of her sex, with her household cares, the garments of her children lying around her; or, to find her writing verses on her dressing-table, surrounded with all sorts of pamphlets and sheets of notepaper in every variety of color? If all the men in the world were sensible, every girl of letters would remain unmarried all her life.”

It is asked whether it is good for young men to travel, and the question is in great dispute. If it were differently stated, and it were asked whether it is good for men to have traveled, perhaps there would not be so much discussion. § The abuse of books kills science. Thinking they know what they have read, men think they can dispense with learning it.” “Of all the centuries of literature there is not one in which there has been so much reading as in this, and not one in which men have been less wise; of all the countries of Europe, there is not one where so many histories and travels have been printed as in France, and not one where less is known of the genius and customs of other countries. So many books make us neglect the book of the world” “A Parisian fancies he knows men, while he knows only Frenchmen. (…) we must have lived with them, in order to believe that with so much spirit they can also be so stupid. The queer thing about it is, that each of them has read, perhaps ten times, the description of the country one of whose inhabitants has filled him with so much wonder.” “I have spent my life in reading books of travel, and I have never found two of them which gave me the same idea of the same people.” “They [books] are useful for preparing Platos of fifteen for philosophizing in clubs, and for instructing a company on the customs of Egypt and India, on the faith of Paul Lucas or of Tavernier.” O caráter nacional: “He who has seen ten Frenchmen has seen them all. Although we can not say the same of the English and of some other peoples, it is nevertheless certain that each nation has its peculiar and specific character, which is inferred by induction, not from the observation of a single one of its members, but of several.” Carmelitando: “There are many people whom travel instructs still less than books, because they are ignorant of the art of thinking; whereas in reading, their mind is at least guided by the author, while in their travels they do not know how to see anything for themselves.” Beware with whom you travel next time! “Of all the people in the world, the Frenchman is he who travels the most; but, full of his own ways, he slights indiscriminately everything which does not resemble them.” O gringo amado do Doutor Sérgio-Sapiente é o francês de hoje. “The English also travel, but in a different way; and it seems that these two nations must be different in everything. The English nobility travel, the French nobility do not travel; the French people travel, the English people do not travel. This difference seems to me honorable to the latter.” E quem seria o britânico de hoje? O britânico mesmo?! O europeu em geral?!? “The Englishman has the prejudices of pride, and the Frenchman those of vanity.” “Whoever returns from a tour of the world is, on his return, what he will be for the rest of his life.”

Seria eu, citando tantas passagens de um livro, o mesmo que um selfier ou recorder de show de música? Mas ora, se eu não leio várias vezes o que eu posto!! Já o selfier… E, bem, não há o que eu possa chamar de “exemplar original” no meu metier… Nen(h)um romance possui esse romantismo!

Tem gente que volta fedida da Europa porque só tomou banho de loja.

Vai uma fotografia na chapa com sal aí?!

To travel for the sake of traveling, is to be a wanderer, a vagabond; to travel for the sake of instruction, is still too vague an object, for instruction which has no determined end amounts to nothing. I would give to the young man an obvious interest in being instructed; and this interest, if well chosen, will go to determine the nature of the instruction. This is always the method which I have attempted to put in practice.”

Livro análogo em que Rousseau “ensina a religião do futuro, ou como sempre deveria ter sido ensinada”: Profession de Foi du Vicaire Savoyard.

Comentários póstumos de filósofos franceses:

Rousseau was not a pure theorist, proceeding by a + b and subjecting society without pity to the bed of Procrustes [que exigisse que se achatasse ou se alongasse a seu molde]”

Ele, que desdenhava fazer a barba a fim de aparecer diante do Rei da França, saltava de sua cama ainda no escuro a fim de saudar, na floresta, a flor recém-brotada ou um pássaro de estação.” Tradução bem livre, devo avisar.

We may imagine and even predict that a day will come when there will no longer be a single man in the world who has opened a single volume of Voltaire; but Rousseau!” “The moment we scrutinize his system of morals and come into close relations with it, it stands the test no better than his philosophy or his politics. The form is a marvel, but the substance is only an incoherent jumble of maxims, relatively true, but often false in their application.” “His mind was deformed from infancy, and could never be repaired. No; he withdraws from the real world, and with the ink and paper of the old books with which he has stuffed his head he builds a moral and philosophic world” “Teria ele se tornado nosso Rousseau se ele houvesse sido um pai de família, confinado a uma vida sedentária e regrada cujos fins seriam tão-só suas crianças e o pão de cada dia? Certamente que não.” Querida, abandonei as crianças!

Ab ovo: do começo. É dito que Helena de Tróia nasceu de um de dois ovos gêmeos botados por Leda. Helena, filha de Zeus, não deixa por isso de ser mais ou menos avó, bisavó ou trisavó de Aquiles, por mais absurdo que pareça! Já a maçã, símbolo do pecado e da perdição, em latim é mala. Os cristãos são uns malas sem ramo!

sour source!

 

“EU SOU HEATHCLIFF!”

Roland Barthes, 1977

DIC – sortija: anel de dedo ou de cabelo; jogo de passar-o-anel, espécie de batata-quente traPnsplantado.

anonadarse: aniquilar-se

asir: agarrar, prender, atingir

colmar: preencher, acalmar

ajetreo: atividade intensa, atarefamento, zigue-zague

esquela: necrológio

pañoleta: lenço, xale

apabullar: aporrinhar

mansalva: a mancheias

candil, plafón: candeia, lustre

guiñar, guiño: brilhar (lampejo); desprezar (indiferença); subentender (latente); talvez gracejar (gracejo).

agujero: buraco

glicina: glicina (Port.), glicocola, aminoácido presente no açúcar

embadurnar: manchar

desgarrador: pungente, lancinante

cordel: barbante

celda: cela

acertijo: adivinhação

descifrar: decifrar

anclar: ancorar

angosto: estreito

oblación/oblação: oferenda

rompecabezas: quebra-cabeça

* * *

Las palabras no son jamás locas, es la sintaxe que es loca.”

<alucinación verbal> (Freud, Lacan): frase trunca que se limita generalmente a su parte sintáctica (<Aunque seas…>, <Si debes aún…>, <Sigue siendo…>)” Quando quero me lembrar de algo esquecido numa lista de afazeres ou simplesmente algo exaustivo que tenho que fechar e soterrar de uma vez. MANTRAS AUTO-COMPLETANTES: TCHEU VÊ…

QUE MAIS? CLAC, CLAC… A BER… ENTONCES… A VECES… POR CIERTO… PERO NI SIEMPRE… !Y AL CABO!… !NO OTRA VEZ!

* * *

índice dos 80 verbetes amorosos

ABISMARSE

ABRAZO

ADORABLE

AFIRMACIÓN

ALTERACIÓN

ANGUSTIA

ANULACIÓN

ASCESIS

ÁTOPOS

AUSENCIA

CARTA

CATÁSTROFE

CELOS

CIRCUNSCRIBIR

COLOCADOS

COMPASIÓN

COMPRENDER

CONDUCTA

CONNIVENCIA

CONTACTOS

CONTINGENCIAS

CORAZÓN

CUERPO

DECLARACIÓN

DEDICATORIA

DEMONIOS

DEPENDENCIA

DESOLLADO

DESPERTAR

DESREALIDAD

DOLIDO

DRAMA

ENCUENTRO

ERRABUNDEO

ESCENA

ESCRIBIR

ESPERA

EXILIO

FADING

FALTAS

FASTIDIOSO

FIESTA

GASTO

GRADIVA

HABLADURÍA

IDENTIFICACIÓN

IMAGEN

INCOGNOSCIBLE

INDUCCIÓN

INDUMENTARIA

INFORMANTE

INSOPORTABLE

LANGUIDEZ

LOCO

LOCUELA

LLORAR

MAGIA

MONSTRUOSO

MORTIFICACIÓN

MUTISMO

NOCHE

NUBES

OBJETOS

OBSCENO

OCULTAR

POR QUÉ

QUERER-ASIR

RAPTO

RECUERDO

RESONANCIA

SACIEDAD O COLMO

SALIDAS

SIGNOS

SOLO

SUICIDIO

TAL

TE AMO

TERNURA

UNIÓN

VERDAD

ABISMARSE. Ataque de anonadamiento que se apodera del sujeto amoroso, por desesperación o plenitud.

la dulzura del abismo (…) felicidad excesiva”

nadie más a quien hablar

hemorragia suave que no mana de ningún parte de mi cuerpo” “Me instalo fugitivamente en un pensamiento falso de la muerte”

SARTRE. Sobre el desvanecimiento y la cólera como huidas, Esquisse d’une théorie des émotions.

ABRAZO. El gesto del abrazo amoroso parece cumplir, por un momento, para el sujeto, el sueño de unión con el ser amado.

ANTI-DELEUZE: “En este incesto prorrogado, nada se agota, nada se quiere: todos los deseos son abolidos, porque parecen definitivamente colmados.” “en medio de este abrazo infantil, lo genital llega infaltablemente a surgir”

la saciedad existe, y no me daré tregua hasta hacer que se repita: a través de todos los meandros de la historia amorosa me obstinaré en querer rencontrar, renovar, la contradicción – la contracción – de los dos abrazos.

ADORABLE. Al no conseguir nombrar la singularidad de su deseo por el ser amado, el sujeto amoroso desemboca en esta palabra un poco tonta: ¡adorable!

el buen humor del deseo. Todo París está a mi disposición, sin que yo quiera asirlo: ni languidez ni codicia. Olvido todo lo real que, en París, excede a su encanto”

DIDEROT. Sobre la teoría del instante fecundo

la correcta traducción de <adorable> sería el ipse latino: es él, es precisamente él en persona.”

De palabra en palabra, me canso de decir de otro modo lo que es propio de mí” “viaje al término del cual mi última filosofía no quede sino ser la de reconocer – y la de practicar – la tautología. Es adorable lo que es adorable. “Lo que clausura así el lenguaje amoroso es aquello mismo que lo ha instituido: la fascinación.” “disco rayado”

AFIRMACIÓN. Contra viento y marea, el sujeto afirma el amor como valor.

PELÉIAS: Que tens? Não me pareces feliz.

(…) Sim, sim, eu sou feliz, mas estou triste.”

indiferença perfeita”

Hago discretamente cosas locas; soy el único testigo de mi locura. Lo que el amor desnuda en mí es la energía. Todo lo que hago tiene un sentido (puedo, pues, vivir, sin quejarme), pero ese sentido es una finalidad inasequible: no es más que el sentido de mi fuerza. Las inflexiones dolientes, culpables, tristes, todo lo reactivo de mi vida cotidiana se revierte. Werther alaba [louva] su propia tensión, que él afirma, frente a la simpleza de Alberto. Nacido de la literatura, no pudiendo hablar sino con la ayuda de esos códigos usados, estoy no obstante solo con mi fuerza, consagrado a mi propia filosofía.”

ALTERACIÓN. Producción breve, en el campo amoroso, de una contraimagen del objeto amado. Al capricho de incidentes ínfimos o de rasgos tenues, el sujeto ve alterarse e invertirse repentinamente la buena Imagen.

había solamente un pequeño punto de la nariz que llevaba una marca ligera, mas una clara marca de corrupción.” Rusbrock

¿Será vulgar el otro, de quien yo alababa su elegancia y originalidad?”

estoy provisionalmente defascinado, no sin dolor.”

la vergüenza viene de la sujeción (…) a merced de un incidente fútil, que sólo mi perspicacia o mi delirio captan”

lo veo de pronto (cuestión de visión) afanándose, enloqueciéndose, o simplemente empeñándose en complacer, en respetar, en plegarse a ritos mundanos gracias a los cuales espera hacerse reconocer.” “imagen mezquina: me mostra al otro preso en la simpleza del mundo social.” “el otro se vuelve gregario.”

Muy a menudo es por el lenguaje que el otro se altera; dice una palabra diferente, y escucho zumbar de una manera amenazante todo otro mundo, que es el mundo del otro.” PIROCO QUEER – Y muy a menudo es cuando está entre sus amigos más viejos, antiguos. Una arqueología abstracta en vivo. DESALTERACIÓN o la reversión perfunctoria del proceso: No era nada. Es diferente. No quiere decir que contigo no me divierto.

el gueto temido de la homosexualidad femenina, de la seducción grosera”

La palabra está hecha de una sustancia química tenue que opera las más violentas alteraciones: el otro, mantenido largo tiempo en el capullo de mi propio discurso, da a entender, por una palabra que se le escapa, los lenguajes a los que puede recurrir y que por consecuencia otros le prestan.”

el otro se me aparece sometido a un deseo. Pero no es un deseo acabado, bien dirigido – en tal caso estaría simplemente celoso – es solamente un deseo nasciente, un impulso de deseo que detecto en el otro, sin que él mismo esté muy consciente de ello: lo veo, en la conversación, agitarse, multiplicarse, sobrepasarse, ponerse en posición de apetencia respecto de un tercero, como suspenso de él para seducirlo.” “verán a ese sujeto enloquecido por aquel otro, impulsado a establecer con él una relación más cálida, más insistente, más empalagosa [melosa, enjoativa]: sorprendo al otro, por así decir, en flagrante delito de inflación de sí mismo.”

Vi la esperma brotar de sus ojos” Sade

y a poco que la persona solicitada responda de la misma manera, la escena se hace irrisoria: tengo la visión de 2 pavorreales desplegando las colas [HAHA], uno ante el otro.”

Gide, cediendo al juego de 3 escolares argelinos, <anhelante, jadeante>, ante su mujer que fingía leer, tenía el aire <de un criminal o de un loco>. ¿Todo deseo no sea el mío no es loco?”

FLAUBERT. Bouvard et Pécuchet

Herido por un propósito que lo sorprende, Werther ve de pronto a Carlota como una parlanchina cualquiera y la incluye en el grupo de las amigas con las cuales parlotea (no es ya la otra, sino otra entre otras), y dice entonces desdeñosamente: <mis mujercitas> (meine Weibchen). Una blasfemia asciende bruscamente a los labios del sujeto y viene a romper irrespetuosamente la bendición del enamorado [O momento da quebra do tabu]: está poseído por un demonio que habla por su boca de donde salen, como en los cuentos de hadas, no ya flores, sino sapos. Horrible reflujo de la Imagen.

(El horror de herir es todavía más fuerte que la angustia de perder.)

A vulgarização da mulher, para o homem hetero, não seria já uma putificação (atestado de promiscuidade)?

ANGUSTIA. El sujeto amoroso, a merced de tal o cual contingencia, se siente asaltado por el miedo a un peligro, a una herida, a un abandono, a una mudanza, sentimiento que expresa con el nombre de angustia.

los muebles, las lámparas, son estúpidos; no hay nada de amistoso donde buscar ánimo.”

el temor clínico al desmoronamiento es el temor a un desmoronamiento que ha sido ya experimentado (primitive agony)”

WINNICOTT – La crainte de l’effondrement

ANULACIÓN. Explosión de lenguaje en el curso del cual el sujeto llega a anular al objeto amado bajo el peso del amor mismo: por una perversión típicamente amorosa, lo que el sujeto ama es el amor y no el objeto.

Carlota es muy insulsa; es el pobre personaje de una escenificación fuerte, atormentada, brillante, montada por el sujeto W.; por una decisión graciosa de este sujeto, un objeto grotesco está ubicado en el centro de la escena“objeto inerte” “es mi deseo lo que deseo, y el ser amado no es más que su agente.” “feliz de elevarme humillando al otro”

Me siento culpable y me reprocho por abandonarlo. Se opera un brusco viraje: trato de desanularlo, me obrigo a sufrir de nuevo.”

ASCESIS. Ya sea que se sienta culpable con respecto al ser amado o que quiera impresionarlo representándole su infortunio, el sujeto amoroso esboza una conducta ascética de autocastigo (régimen de vida, indumentaria, etcétera).

me entregaré al estudio de una ciencia seria y abstracta.”

Seré muy paciente, un poco triste, en una palabra digno, como corresponde al hombre del resentimiento. Remarcaré histéricamente mi duelo (el duelo que presumo) en mi vestimenta, en el corte de pelo, en la regularidad de mis hábitos. Será un retiro apacible; justo ese poco de retiro necesario para el buen funcionamiento de un patético [apaixonado] discreto.”

regresa, mírame, mira lo que haces de mí.”

O enlutado, asceta pleno, diante de si mesmo e do SOCIUS, é isso em escala absoluta: chantageia com o mundo, jamais cede. “Preferiria desaparecer, ser aniquilado, que deixar de sofrer diária e deliberadamente.” “Porque é culpa de vocês, no fundo, será que vocês não reconhecem os monstros que são, a água límpida que sorvem sem pedir licença?”

ÁTOPOS. El ser amado es reconocido por el sujeto amoroso como átopos (calificación dada a Sócrates por sus interlocutores), es decir, como inclasificable, de una originalidad incesantemente imprevisible.

Sobre la atopía de Sócrates, Michel Guérin, Nie., Socrate héroïque.”

intuyo que el verdadero lugar de la originalidad no es ni el otro ni yo, sino nuestra propia relación. Es la originalidad de la relación lo que es preciso conquistar. La mayor parte de las heridas me vienen del estereotipo: estoy obligado a estar celoso, abandonado, frustrado, como todo el mundo.” “los celos, por ejemplo, no tienen ya espacio en esa relación sin lugar”

AUSENCIA. Todo episodio de lenguaje que pone en escena la ausencia del objeto amado – sean cuales fueren la causa y la duración – y tiende a transformar esta ausencia en prueba de abandono.

Es la mujer quien da forma a la ausencia, quien elabora su ficción, puesto que tiene el tiempo para ello” “los Cantos de tejedoras” Los Cantos O(b)scuros o “b” cenos.

en todo hombre que dice la ausencia del otro, lo femenino se declara” “el origen ha pertenecido, el porvenir pertenecerá a los sujetos en quien existe lo femenino.”

destetado detestado sem teto e de vidro e desfigurado apenas verborrágico

No princípio era a Verborragia, no princípio Deus – eu sabia –

sangrava (hemorragia).

Trate de se tratar. Dá para se dar ao respeito. Considere levar-se em consideração.

Soy irregularmente infiel. Es la condición de mi supervivencia” “El enamorado que no olvida a veces, muere por exceso, fatiga y tensión de memorias (como W.).”

muchas veces pasaban los autobuses uno tras otro y ella no aparecía en ninguno.”

Com os cristãos acontece o contrário do que com essa nossa resignação madura? Primeiro a dor da morte inaudita, depois a esperança infinita…

La frustración tendría por figura la Presencia (…) La castración tendría por figura la Intermitencia” “El deseo se estrella contra la necesidad: está ahí el hecho obsesivo del sentimiento amoroso.”

FRAGMENTOS DE UM DISCURSO EDIPIANO: “como una madre que viene a buscar su hijo, del brillo mundanal, de la infatuación social, que me restituya <la intimidad religiosa, la gravedad> del mundo amoroso.”

camarillas [grupo de lobistas ou influenciadores], ambiciones, promociones, tretas, alianzas, escisiones, funciones, poderes”

en el último momento: cuando hayas deseado la verdad como has deseado el aire, entonces sabrás lo que es.”

CARTA. La figura enfoca la dialéctica particular de la carta de amor; a la vez vacía (codificada) y expresiva (cargada de ganas de significar el deseo).

no tengo nada que decirte, sino que este nada es a ti a quien lo digo”

Gide: Paludes, que es el libro de la Nada.”

<cuando escribe a alguien, es para él y no para usted: debe pues buscar menos decirle lo que piensa que lo que le agrada más.> la marquesa de Merteuil, Liaisons dangereuses – ella no está enamorada; lo que ella postula es una correspondencia, es decir una empresa táctica destinada a defender posiciones, a asegurar conquistas” “(se trata pues de una verdadera correspondencia, en el sentido casi matemático del término) Pero la carta, para el enamorado, no tiene valor táctico: es puramente expresiva – en rigor aduladora”

Atenciosamente,

Aquele que preferia ficar sem uma resposta!

Perpetuos monólogos a propósito de un ser amado, que no son ni rectificados ni alimentados, desenbocan en ideas erróneas sobre las relaciones mutuas, y nos vuelven extraños uno al otro cuando nos encontramos de nuevo” Freud: Correspondance, 49 [A su novia Martha]

CATÁSTROFE. Crisis violenta en cuyo transcurso el sujeto, al experimentar la situación amorosa como un atolladero definitivo, como una trampa de la que no podrá jamás salir, se dedica a una destrucción total de sí mismo.

después de no sé qué incidente, me encierro en mi habitación y rompo en sollozos: me lleva una ola poderosa, asfixiado de dolor (…) veo como en un relámpago claro y frío, la destrucción a la que estoy condenado. Ninguna relación con la humillación insidiosa y en suma civilizada de los amores dificiles; ninguna relación con el pasmo del sujeto abandonado; no me autocompadezco.” Vó Maria sempre em meu imaginário nessas horas: qual é a razão?

(¿Causa [de la Catástrofe]? Nunca solemne, de ningún modo por declaración de ruptura)”

¿No es indecente comparar la situación de un sujeto con mal de amores a la de un recluso de Dachau? ¿Una de las injurias más inimaginables de la Historia puede reencontrarse en un incidente fútil, infantil, sofisticado, oscuro, ocurrido a un sujeto cómodo, que es sólo presa de su Imaginario? Estas dos situaciones tienen, sin embargo, algo de común: son, literalmente, pánicas”

<Pánico> se relaciona con el dios Pan; pero se pueden emplear las etimologías como las palabras y fingir creer que <pánico> viene del adjetivo griego que quiere decir <todo>.”

BETTELHEIM. La fortaleza vacía

CELOS.Sentimiento que nace en el amor y que es producido por la creencia de que la persona amada prefire a otro” (Littré).

El celoso de la novela no es W.; es el señor Schmidt, el novio de Friederike, el hombre del mal humor. (…) Se trata (y ahí está una de las bellezas del libro) de una disposición trágica y no psicológica. W. no odia a Alberto; simplemente, Alberto ocupa una plaza deseada: es un adversario”

W. es capturado por esta imagen: Carlota corta rebanadas de pan y las distribuye a sus hermanos y hermanas. Carlota es un pastel, y ese pastel se reparte: a cada uno su tajada: no soy él único”

¿las diosas del Destino no son también las diosas del Reparto, las Parcas (de las que la última es la Muda, la Muerte)?”

si no acepto la partición del ser amado niego su perfección” “Melite se reparte porque ella es perfecta, e Hiperión sufre por ello [Hölderlin]” “Así, sufro, dos veces: por el reparto mismo, y por mi impotencia para soportar su nobleza.”

Zulayha intentó seducir a José y el marido no se indignó por ello (…) la escena transcurre en Egipto y Egipto está bajo un signo zodiacal que excluye los celos: Géminis. [Djedidi: <José cede ‘en la medida de un ala de mosquito’ para que la leyenda no pueda poner en duda su virilidad.>]”

CIRCUNSCRIBIR. Para reducir su infortúnio, el sujeto pone su esperanza en un método de control que le permita circunscribir los placeres que le da la relación amorosa: por una parte, guardar estes placeres, aprovecharlos plenamente, y, por la otra, cerrar la mente a las amplias zonas depresivas que separan estos placeres: “olvidar” al ser amado fuera de los placeres que da.

Gaudium es el <placer que el alma experimenta cuando considera la posesión de un bien presente o futuro como assegurada…>”

Laetitia es un placer alegre, <un estado en que el placer predomina en nosotros> (en medio de otras sensaciones a veces contradictorias).”

LEIBNIZ. Nouveaux essais sur l’entendement humain

nada, de la imagen, puede ser olvidado; una memoria extenuante impide abandonar a voluntad al amor”

(convertir la escasez de frecuentación en lujo de la relación, a la manera epicúrea; o, mas aún, considerar al otro como perdido, y por lo tanto experimentar, cada vez que él vuelve, el alivio de una resurrección)”

la miseria amorosa es indisoluble (el amor no es ni dialéctico ni reformista).”

COLOCADOS. El sujeto amoroso ve a todos los que lo rodean colocados, y cada uno le parece como provisto de un pequeño sistema práctico y afectivo de vínculos contractuales, de los que se siente excluido; experimenta entonces un sentimiento ambiguo de envidia y de irrisión.

W. quiere una plaza que está ya tomada”

los esposos, los amantes, los tríos, los propios marginados (droga, seducción), bien alojados en su marginalidad: todo el mundo salvo yo.

Cuando el tren atraviesa, por encima, las grandes ciudades de Holanda, la mirada del viajero domina los interiores sin cortinas, bien iluminados, donde cada uno parece consagrarse a su intimidad como si no fuera visto por miles de pasajeros”

COMPASIÓN. El sujeto experimenta un sentimiento de compasión violenta con respecto al objeto amado cada vez que lo ve, lo siente o lo sabe desdichado o amenzado por tal o cual razón, exterior a la relación amorosa misma.

NIETZSCHE. Aurora, I, af. 63.

Si el otro sufre alucinaciones, si teme volverse loco, debería yo mismo alucinar, enloquecer. Ahora bien, sea cual fuere la fuerza del amor esto no se produce: estoy conmovido, angustiado, porque es horrible ver sufrir a la gente que se ama, pero, al mismo tiempo, permanezco seco, impermeable. (…) soy una Madre (el otro me da preocupaciones), pero una Madre insuficiente; me agito demasiado, en proporción incluso de la reserva profunda en que, de hecho, me mantengo. (…) siendo desgraciado por sí mismo, el otro me abandona: si sufre sin que yo sea la causa, es que no cuento para él: su sufrimiento me anula

OVERRESIS: “Sufriré por lo tanto con el otro, pero sin exagerar; sin perderme. A esta conducta, a la vez muy afectiva y muy controlada, muy amorosa y muy pulcra [formosa], se le podría dar un nombre: es la delicadeza, es como la forma <sana> (civilizada, artística) de la compasión.”

COMPRENDER. Al percibir de golpe el episodio amoroso como un nudo de razones inexplicables y de soluciones bloqueadas, el sujeto exclama: “¡Quiero comprender lo que me ocurre!”.

El lugar más sombrio – dice un proverbio chino – está siempre bajo la lámpara.”

COMO TE COMO VEGANO

Comprended vuestra locura: tal era el mandato de Zeus cuando ordenó a Apolo volver los rostros de los Andróginos divididos (…) <para que la vista de su seccionamiento los vuelva menos osados>” “el yo, órgano soberbio de la ignorancia”

no desenmascarar más, no interpretar más, sino hacer de la conciencia misma una droga y a través de ella aceder a la visión sin remanente de lo real, al gran sueño claro, al amor profético.”

(…¿Si se requiriera del análisis no ya destruir la fuerza (ni tampoco corregirla o dirigirla), sino solamente decorarla, como lo haría un artista? ¿Nos imaginamos que la ciencia de los lapsus descubra un día su propio lapsus y que ese lapsus sea: una forma nueva, inaudita, de la conciencia?)”

CONDUCTA. Figura deliberativa: el sujeto amoroso se plantea con angustia problemas con mucha frecuencia fútiles, de conducta: ante tal alternativa ¿qué hacer?, ¿cómo actuar?

hasta que, de tal cascada de alternativas, surja por fin un acto puro – puro de todo pesar, de todo estremecimiento –.”

me ato en el cálculo, me impido gozar.”

(la espontaneidad: gran sueño: paraíso, poder, goce)”

no soy el hombre de los pequeños <acting-out>; mi locura es moderada, no se ve; inmediatamente tengo miedo de las consecuencias, de toda consecuencia: es mi miedo – mi deliberación – el que es <espontáneo>.”

paz; sufro, pero al menos no tengo que decidir nada” “no tengo más que estar ahí [Edson]: el karma (la máquina, el aula) se mueve ante mí, pero sin mí.”

CONNIVENCIA. El sujeto se imagina hablando del ser amado con una persona rival y esta imagen desarrolla extrañamente en él una aceptación de complicidad.

Los celos son una ecuación con tres términos permutables (indecidibles): se está siempre celoso de dos personas a la vez (…) El odiosamato (así se dice <rival> em italiano) es también amado por mí: me interesa, me intriga, me llama (véase El eterno marido de Dostoievski).”

CONTACTOS. La figura refiere a todo discurso interior suscitado por un contacto furtivo con el cuerpo (y más precisamente la piel) del ser deseado.

(como Dios, el Fetiche no responde)”

(Presiones de manos – inmenso expediente novelesco –…)”

CONTINGENCIAS. Pequeños acontecimientos, incidentes, reveses, fruslerías, mezquindades, futilidades, pliegues de la existencia amorosa; todo nudo factual cuya resonancia llega a atravesar las miras de felicidad del sujeto amoroso, como si el azar intrigase contra él.

El incidente es fútil (es siempre fútil), pero va a atraer hacia sí todo mi lenguaje. Lo transformo enseguida en acontecimiento importante, pensado por algo que se parece al destino. (…) Circunstancias innumerables y tenues tejen así el velo negro de la Maya, el tapiz de las ilusiones, de los sentidos, de las palabras.”

En el incidente, no es la causa lo que me retiene y repercute en mí, es la estructura. Toda la estructura de la relación viene a mí como se tiende un mantel [toalha]: sus resaltos, sus trampas, sus callejones [becos] sin salida (…) No recrimino, no sospecho, no busco las causas; veo con pavor la extensión de la situación en la que estoy preso; no soy el hombre del resentimiento, sino el de la fatalidad.”

A veces, histéricamente, mi propio cuerpo produce el incidente: (…) un cólico, una gripe: todos los sustitutos posibles de la afonía histérica [pérdida de la voz].”

CORAZÓN. Esta palabra vale para toda clase de movimientos y de deseos, pero lo que es constante es que el corazón se constituya en objeto de donación – aunque sea mal apreciado o rechazado –.”


Com “c” de “confisco”.

¿Qué van a hacer de mi deseo el mundo, el otro?” “el mundo y yo no nos interesamos en la misma cosa”

(sólo los enamorados y el niño tienen el corazón oprimido).”

CUERPO. Todo pensamiento, toda emoción, todo interés suscitados en el sujeto amoroso por el cuerpo amado.

no siendo la fascinación, en suma, más que el extremo del desapego”

Seus dedos ao teclar,

Sua expressão quando está assistindo um vídeo.

DECLARACIÓN. Propensión del sujeto amoroso a conversar abundantemente, con una emoción contenida, con el ser amado, acerca de su amor, de él, de sí mismo, de ellos: la declaración no versa sobre la confesión de amor, sino sobre la forma, infinitamente comentada, de la relación amorosa.

(Hablar amorosamente es desvivirse sin término, sin crisis; es practicar una relación sin orgasmo. Existe tal vez una forma literaria de este coitus reservatus: es el galanteo.)”

DEDICATORIA. Episodio de lenguaje que acompaña todo regalo amoroso, real o proyectado, y, más generalmente, todo gesto, efectivo o interior, por el cual el sujeto dedica alguna cosa al ser amado.

El regalo amoroso es solemne; arrastrado por la metonimia voraz que regula la vida imaginaria, me transporto por entero en él. A través de ese objeto te doy mi Todo, te toco con mi falo; es por eso que estoy loco de excitación, que recorro las tiendas, que me obstino en encontrar el buen fetiche, el fetiche brillante logrado, que se adaptará perfectamente a tu deseo.”

¿el análisis como un regalo de amor?”

<¿Qué voy a hacer con tu regalo?!> se convierte en la frase-farsa del regalo amoroso.”

¡qué es lo que no te doy!”

<Te daré más de lo que me das y así te dominaré> (en los grandes potlatchs amerindios se llegaba así a incendiar aldeas, a degollar esclavos).”

“Declarar lo que regalo es seguir el modelo familiar: mira los sacrificios que hacemos por ti; o más aún: nosotros te hemos dado la vida (-Pero ¡qué voy a hacer ya, con la vida!, etc.).”

No se puede regalar lenguaje, pero se lo puede dedicar – puesto que el otro es un pequeño dios –.” “es el principio mismo del Himno. No pudiendo dar nada, dedico la dedicatoria misma”

El canto es el suplemento precioso de un mensaje vacío, enteramente contenido en su intención, puesto que lo que regalo cantando es a la vez mi cuerpo (a través de mi voz) y el mutismo con que lo golpeas.”

No bien el sujeto amoroso crea o elabora una obra cualquiera, se apodera de él una pulsión de dedicatoria. Lo que hace, quiere inmediatamente, incluso por anticipado, regalarlo a quien ama, a aquel por quien ha trabajado, o trabajará.” “lo que sigue a la dedicatoria tiene poca relación con esa dedicatoria.”

por más que escriba tu nombre sobre mi obra, ésta ha sido escrita para <ellos> (los otros, los lectores). Es pues por una fatalidad de la escritura misma que no se puede decir de un texto que es amoroso, sino solamente, como máximo, que ha sido hecho <amorosamente>, como un pastel o una pantufla bordada.”

La escritura es seca, obtusa; sigue su curso, indiferente, sin delicadeza; mataría <padre, madre, amante>, antes que desviarse de su fatalidad (por lo demás enigmática). Cuando escribo, debo rendirme a esta evidencia (que, según mi Imaginario, me desgarra): no hay ninguna benevolencia en la escritura sino más bien un terror: sofoca al otro, que, lejos de percibir en ella la donación, lee una afirmación de dominio, de poder, de goce, de soledad. De ahí la cruel paradoja de la dedicatoria: quiero regalarte a cualquier precio lo que te asfixia.Verdade Fundamental: não gosto de mim. Meus sermões não são chatos como os hipócritas, e – também – servem para mim mesmo.

(Comprobamos a menudo que un sujeto que escribe no posee para nada la escritura de su imagen privada: quien me ama <por mí mismo>, no me ama por mi escritura (y yo sufro por ello). ¡Es indudable que amar a la vez dos significantes en el mismo cuerpo resulta demasiado! Eso lo sabe cualquiera…)”

PASOLINI. Teorema

O que os matemáticos denominam uma catástrofe (a descomposição de um sistema por outro)”

Catástrofe inicial translúcida tranSibéria trans-baudellairiana transuda

TRANSUBIHARDSOFT

.PUNCH

Não posso pois te dar o que cri escrever para ti; a isso devo render-me: (…) (não me contentaria com um cabeçalho mundano, preguiçoso de dedicar-te uma obra que se nos escapa aos dois). A operação em que se aprisiona o outro não é um cabeçalho. É, mais profundamente, uma inscrição: o outro está inscrito, se inscreveu no texto, deixou aí sua impressão, múltipla. Se, desse livro, tu não fôras mais que quem o dedica, não sairias de tua dura condição de objeto (amado) – de deus –; mas tua presença no texto, já pelo fato de ser ali irreconhecível, não é a de uma figura analógica, a de um fetiche: é a de uma força, que não está, a partir desse momento, segura.”

DEMONIOS. A veces le parece al sujeto amoroso que está poseído por un demonio de lenguaje que lo impulsa a herirse a sí mismo y a expulsarse – según una expresión de Goethe – del paraíso que, en otros momentos, la relación amorosa constituye para él.

El demonio es plural (<mi nombre es Legión>, Lucas 8:30). Cuando se rechaza a un demonio, cuando por fin le impongo silencio, hay otro”

Las burbujas hacen <plop> una tras otra… <Miedo de perder la dignidad> (el más avieso de los demonios)”

sobre todo si son de lenguaje (¿y de qué otra cosa serían?), se combaten por el lenguaje. Puedo pues esperar exorcizar (por mí mismo) la palabra demoniaca que se me sugiere sustituyéndola (si tengo el talento del lenguaje)” “yo creía por fin haber salido de la crisis y he aquí que no ceso de agitarme en el pensamiento, el deseo, el disgusto, la agresión del otro; y agrego a estas heridas el desánimo de comprobar que reincido “farmacopea (veneno por un lado, remedio por el otro)”

DEPENDENCIA. Figura en la cual la opinión ve la condición misma del sujeto amoroso, sojuzgado al objeto amado.

La mecánica del vasallaje amoroso exige una futilidad sin fondo. Puesto que para que la dependencia se manifieste en su pureza es necesario que estalle en las circunstancias más irrisorias, y devenga inconfesable a fuerza de pusilanimidad: esperar un llamado telefónico es de algún modo una dependencia demasiado burda [grosseira]; es necesario que la afine, sin límites” “en el campo amoroso la futilidad no es una <debilidad> o un <ridículo>: es un signo de fuerza

estoy sujeto dos veces: de quien amo y de quien él depende.” círculo da autodependência

não escolhi seus parentes (meus novos parentes)

seus amigos (no mínimo meus novos colegas)

Estoy submetido a ese estadio histórico en que el poder aristocrático comienza a sufrir los primeros golpes de la reivindicación democrática: <No hay razón para que sea yo quien, etc.>.

DESOLLADO [?]. Sensibilidad especial del sujeto amoroso que lo hace vulnerable, ofrecido en carne viva a las heridas más ligeras.

[?] ESFOLADO (Desolado? Porém em Espanhol a palavra é idêntica, sem o segundo “l”!). Alternativamente, em sentido conotativo e coloquial, mas fora de moda, DESCARADO, SEM-VERGONHA.

EMPLUMADO (cheio de si, todo-prosa)

Soy <una masa de sustancia irritable>.”

La carta geográfica de esos puntos sólo yo la conozco” “desearía que se distribuyera preventivamente este mapa de acupuntura moral a mis nuevos conocidos (que, por otra parte, podrían utilizarlo también para hacerme sufrir más).”

EL TRAVIESO PILLO: “Para identificar mis puntos débiles existe un instrumento que semeja un clavo: es la broma; yo la soporto mal. El Imaginario es, en efecto, una materia seria (nada que ver con el <espíritu serio>: el enamorado no es hombre de buena conciencia): el niño que está en la luna no es juguetón [brincalhão]; estoy, del mismo modo, cerrado al juego: no sólo el juego amenaza incesantemente con hacer aflorar uno de mis puntos débiles sino que incluso todo aquello con lo que el mundo se entretiene me parece siniestro” Os suscetíveis aos bromeros pirracentos?

WINNICOTT. Fragment d’une analyse

sueña poco, no practica el retruécano” tipo de jogo de palavras baseado em inversões. Ex: deves comer para viver e não viver para comer.

basta de novela, basta de Imagen simulada

DESPERTAR. Modos diversos bajo los cuales el sujeto amoroso se vuelve a encontrar, al despertar, sitiado por la inquietud de su pasión.

El desvelo amoroso implica un desgaste que afecta al cuerpo tan duramente como un trabajo físico. <Sufría tanto, dice alguien, luchaba de tal modo durante todo el día con la imagen del ser amado, que, por la noche, dormía muy bien.> Y W., poco antes de suicidarse, se acuesta y duerme prolongadamente.”

despertares pánicos (Octavio se despierta de un desmayo: <De golpe sus desdichas se presentaron ante su pensamiento: no se muere de dolor, o hubiese muerto en ese instante>).”

DESREALIDAD. Sentimiento de ausencia, disminución de realidad experimentado por el sujeto amoroso frente al mundo. // DO SENTIMENTO DE SER RABUGENTO

I. (…) atónito [DIC – assombrado por um raio; atordoado.] como un astro desierto, como una Naturaleza que el hombre no hubiera jamás habitado.

II. Hojeo el álbum de un pintor que amo; no puedo hacerlo más que con indiferencia. (…)

III. En un restaurante atestado, con amigos, sufro (palabra incomprensible para quien no está enamorado). El sufrimiento me viene del gentío, del ruido, del decorado (kitsch). (…)

IV. (…) (El mundo está lleno sin mí, como en La náusea; juega a vivir detrás de un vidrio; el mundo está en un acuario; lo veo muy cerca y sin embargo aislado, hecho de otra sustancia; elijo continuamente fuera de mí mismo, como si estuviera drogado. <¡Oh!, cuando esta magnífica Naturaleza, desplegada ante mí, me parece tan glacial como una miniatura cubierta de barniz…>)”

Eu esvazio o mundo. Eu sou o absurdo sem graça, vacilando na pista de gelo que é o reino do propósito.

Toda conversación general en la que estoy obligado a asistir (si no a participar) me desuella, me deja aterido. Me parece que el lenguaje de los otros, del que estoy excluido, esos otros lo sobremplean irrisoriamente: afirman, contestan, presumen, alardean. ¿Que tengo que ver con Portugal, el cariño a los perros o el último Petit Rapporteur? Vivo el mundo – el otro mundo – como una histeria generalizada.”

salvarme de la desrealidad – para retrasar su llegada – intento comunicarme con el mundo a través del mal humor. Pronuncio discursos contra cualquier cosa” Seria uma boa se fosse “aqui” permitido (escrito muito antes de 21/05/17, quando o digito – já não trabalho com os mesmos colegas, o que era meu supremo suplício)

Pp. 110-111, as mais ricas e pungentes do livro? Nada sobre o amor, mas justamente sua antítese, o social.

<…En el aeropuerto el taxi me pidió 14 mil liras (en lugar de 7 mil) porque era ‘Corpus Christi’. Este país pierde en los 2 planos: elimina la diferencia de los gustos pero no la división de las clases, etc.> Basta, por otra parte, que vaya un poco más lejos para que esta agresividad, que me mantenía vivo, comunicado con el mundo, vuelva al abandono: entro en las aguas taciturnas de la desrealidad. <Piazza del Popolo (es feriado), todo el mundo habla, se encuentra en estado de exhibición (¿no es eso el lenguaje: un estado de exhibición?)…> (…) Estoy de sobra, pero, doble duelo, aquello de lo que soy excluido no me inspira deseos.” Na Internet eu me realizo, pois não faço a apologia, a acepção, de nada nem ninguém. “Respeita os outros! Parece que você tem 12 anos!” Justamente até que se tenha mais de 19 não se entende a “criancice” extravasadora dos adultos.

Sufro la realidad como un sistema de poder. Roma en día feriado, todos me imponen su sistema de ser; son mal criados. ¿La descortesía no es solamente una plenitud? El mundo está completo, la plenitud es su sistema, y, como una última ofensa, ese sistema se presenta como una <naturaleza> con la que debo mantener buenas relaciones: para ser <normal> (exento de amor) [Se quer viver aqui, adeqúe-se às regras!] me sería necesario encontrar divertido a Coluche [grande humorista francês dos anos 70-80, o Didi Mocó avec élegance], bueno el restaurante J., bella la pintura de T. y animada la fiesta del <Corpus Christi>; no solamente sufrir el poder sino incluso entrar en simpatía con él: ¿<amar> la realidad? ¡Qué tedio para el enamorado (por la virtud de lo amoroso)!”

Mientras percibo al mundo como hostil permanezco ligado a él: no estoy loco. Pero, a veces, agotado el mal humor, no tengo ya ningún lenguaje [Vânia, Thaís, Nerize, Ueslei, Jussara, Davi, minha sala, o sapateiro, minha casa, o twitter…]: el mundo no es <irreal> (podría entonces hablarlo: hay artes de lo irreal, y son las mayores), sino desreal: lo real ha huido de él, a ninguna parte, de modo que ya no tengo ningún sentido; no alcanzo a definir mis relaciones con Coluche, el restaurante, el pintor, la Piazza del Popolo. ¿Qué relación puedo tener con un poder si no soy ni su esclavo, ni su cómplice, ni su testigo?”

estereotipado, laboriosamente extravagante. Lo encuentro idiota en segundo grado: idiota por representar al idiota. Mi mirada es implacable, como la de un muerto; no me divierte ningún teatro, así sea risible [o tipo risonho universitário: Thomas, Aloísio, Tucano, Saulo…], no acepto ningún guiño; estoy cerrado a todo <tráfico asociativo>: mi conciencia está separada en dos por el vidrio del café.” película cinzescura dalma Ouço risadas ao longe no Setor Bancário Norte da minha alma.

TÍTULO DE LIVRO (SUGESTÃO): O NADA & O TABU

todo <real> lo perturba” (…) ninguna sustitución imaginaria viene a compensar esta pérdida (…) no <sueño> (…) coagulado, petrificado, inmutable (…) En un primer momento estoy neurótico; en el segundo momento estoy loco“si llego, por alguna habilidad de escritura, a decir esta muerte, comienzo a revivir”

Não estou para A-literalidades…

(un loco que escribe no es jamás completamente loco; es un falsificador: ningún Elogio de la Locura es posible).”

¿Qué es lo pueril? ¿Es <cantar el tedio, los dolores, las tristezas, las melancolías, la muerte, las tinieblas, lo sombrío>, etc. – todo eso que, según se dice, hace el enamorado –?”

DOLIDO. Imaginándose muerto, el sujeto amoroso ve la vida del ser amado continuar como si nada hubiera ocurrido.

hasta qué punto sentirían el vacio que tu pérdida causaría en su destino? ¿Cuánto tiempo?…”

es que a través del luto mismo, que no niego, veo la vida de los otros continuar, sin cambio; los veo perseverar en sus ocupaciones, en sus pasatiempos, en sus problemas, frecuentar los mismos lugares, los mismos amigos; nada cambiaría en el contenido de su existencia. Del amor, asunción demencial de la Dependencia (tengo absoluta necesidad del otro), surge cruelmente la posición adversa: nadie tiene verdaderamente necesidad de mí.”

estar deprimido, se dice, es llevar la figura de la Madre tal como me imagino que me llorará para siempre: imagen inmóvil, muerta, salida de la Nekuia [Nekyia, necromancia: diferente da katabasis greco-dantesca, não inclui a jornada ao Submundo, é mais como um holograma de Guerra nas Estrelas]”

el moribundo es apresado por un papear [*]: Carlota y sus amigos son <buenas mujercitas> que hablan fútilmente de la muerte. Me veo comido de dientes afuera por la palabra de los otros, disuelto en el éter de las Habladurías. Y las habladurías continuarán sin que yo sea ya, desde hace tiempo, el objeto: una energía lingual, fútil e incansable, podrá más que mi recuerdo mismo.

[*] “<Papear (ant. <charlar> o <hablar confusamente>): pappa, papilla; pappare, probar con la punta de la lengua, parlotear y comer.”

DRAMA. El sujeto amoroso puede escribir por sí mismo su novela de amor. Sólo una forma muy arcaica podría recoger el acontecimiento que declama sin poder contarlo.

Los acontecimentos de la vida amorosa son tan fútiles que no acceden a la escritura sino a través de un inmenso esfuerzo: uno se desalienta de escribir lo que, al escribirse, denuncia so propia chatura: <Encontré a X… en compañía de Y…>, <Hoy, X… no me ha telefoneado>, <X… estaba de mal humor>, etc.: ¿quién reconocería en esto una historia? El acontecimiento, ínfimo, no existe más que a través de su repercusión, enorme: Diario de mis repercusiones (de mis heridas, de mis alegrías, de mis interpretaciones, de mis razones, de mis veleidades): ¿quién comprendería algo en él?”

Como Relato, el amor es un programa que debe ser recorrido. Para mí, por el contrario, esta historia ya ha tenido lugar. El enamoramiento es un drama, si devolvemos a esta palabra el sentido arcaico que le dio Nietzsche: <El drama antiguo tenía grandes escenas declamatorias, lo que excluía la acción (ésta se producía antes o tras la escena).> El rapto amoroso (puro momento hipnótico) se produce antes del discurso y tras el proscenio de la conciencia: el <acontecimiento> amoroso es de orden hierático” Tróia, Ulisses de Joyce, etc. – o que Afrodites magérrimas de clitóris arregaçado jamais compreenderiam.

ENCUENTRO. La figura remite al tiempo feliz que siguió inmediatamente al primer rapto, antes que nacieran las dificultades de la relación amorosa.

<exploro> con embriaguez la perfección del ser amado, es decir la adecuación inesperada de un objeto a mi deseo: es la dulzura del comienzo, el tiempo proprio del idilio.”

se opone a la <secuela>: <la secuela> es el largo reguero [regueiro, fio, corrente] de sufrimientos, heridas, angustias, desamparos, resentimientos, desesperaciones, penurias y trampas de que soy presa, viviendo entonces sin cesar bajo la amenaza de una ruina que asolaría a la vez al otro, a mí mismo y al encuentro prestigioso que en un comienzo nos ha descubierto el uno al otro.”

Hay enamorados que no se suicidan: (…) vuelvo a ver el día (…) salida dialéctica (…) vuelva a iniciar la jornada (…) afirmo la afirmación, recomienzo, sin repetir.”

(más tarde, en el recuerdo, el sujeto convertirá en un momento los tres momentos de la jornada amorosa)” 2005, 2016- – tubos

ou: -2017-…

es un descubrimiento progresivo de las afinidades, complicidades e intimidades que podré cultivar eternamente con un otro, en trance de convertirse, desde luego, en <mi otro>: voy integramente hasta este descubrimiento (me estremece sólo persarlo), toda curiosidad intensa por un ser encontrado vale en suma por el amor”

¿Quieres eso? ¡Vaya, yo también! ¿No te gusta esto? ¡A mí tampoco!”

la estupefacción de un azar sobrenatural: el amor pertenece al orden (dionisiaco) del Golpe de dados.” shuffle do reprodutor musical

(<He aqui lo que soy>. Es el goce narrativo, lo que a la vez colma y retarda el saber, reenvida [instiga, incita]. En el encuentro amoroso me reanimo incessantemente, soy ligero.)”

ERRABUNDEO [errância, vagabundagem, vadiagem]. Aunque todo amor sea vivido como único y aunque el sujeto rechace la idea de repetirlo más tarde en otra parte, sorprende a veces en él una suerte de difusión del deseo amoroso; comprende entonces que está condenado a errar hasta la muerte de amor en amor.

una especie de inocencia oculta el fin de esta cosa concebida, afirmada, vivida según la eternidad. que desaparezca o pase a la región Amistad, de todas maneras, no lo veo desvanecerse (…) (el otro no desaparece jamás cuándo y cómo se lo espera). limitación del discurso amoroso: no puedo yo mismo construir hasta el fin mi historia de amor: exactamente igual que mi propia muerte” “a los otros corresponde escribir el relato mítico.”

como si el amor pudiera un día colmarme (…) como si, a través del amor, accediera yo a otra lógica (donde el absoluto no estuviera obligado a ser único)” Recuperação mental em 2015 temporária o suficiente

Desde el momento en que no soy colmado y sin embargo no me mato, el errabundeo amoroso es fatal. W. mismo lo ha conocido – passando de la <pobre Leonor> a Carlota –; si hubiera sobrevivido, W. habría escrito las mismas cartas a otra mujer.”

parece un ballet, más o menos rápido según la velocidad del sujeto infiel, es también una gran ópera. El Holandés maldito está condenado a errar por el mar mientras no haya encontrado una mujer de una fidelidad eterna. Soy el Holandés Errante; vicio desde los tiempos remotos de mi infancia profunda, dios Imaginario, afligiéndome con una compulsión de palabra que me lleva a decir <Te amo> hasta que otro recoja esta palabra y me la devuelva <Tomara que dure…>, <Ah, não era pra ser!> <Sossegue um tempo com alguém.> <Sossegue um tempo solteiro> ad infinit.

todos los <fracasos> amorosos se parecen (y con razón: todos proceden de la misma falla).”

La <mutabilidad perpetua> (in inconstantia constans)”

ESCENA. La figura apunta a toda escena (en el sentido restringido del término) como intercambio de cuestionamientos recíprocos.

la <última palabra>” “ejercicio de un derecho” “jamás tú sin mí” “Los participantes saben que el enfrentamiento al que se entregan y que no los separará es tan inconsecuente como un goce perverso (la escena sería una manera de darse placer sin el riesgo de engendrar niños).”

Es el diálogo lo que ha corrumpido a la Tragedia incluso antes de que llegara súbitamente Sócrates.” “esquizofrenia” “soliloquio amoroso” “el proto-actor, el loco y el enamorado” “la lengua social inspirada por la malvada Eris: la de la neurosis universal.”

el héroe y el corifeo [corifeu; o líder do coro trágico, aquele que fala pelos demais personagens da peça, é tanto um representante, um delegado, quanto um metamorfo, camaleão, podendo se passar por qualquer um da estória]”

la molestia de Carlota excita todavía más a W.”

esticomitis, modelo arcaico de todas las escenas del mundo”

Esta sobrepuja no es jamás otra cosa que el grito de Narciso: ¡Y yo! ¡Y yo!

¿De qué médios podría disponer yo? ¿El silencio? No haría más que avivar la voluntad de la escena; soy pues llevado a responder para enjugar, para suavizar. ¿El razonamiento? Nadie es de un metal tan puro que deje al otro sin voz. ¿El análisis de la propia escena? Pasar de la escena a la metaescena no es nunca sino abrir otra escena. ¿La huida? Es el signo de una defección adquirida: la pareja está ya deshecha: como el amor, la escena es siempre recíproca.” Meu silêncio constrangido, minha retirada estratégica, meu bloqueio das redes sociais, meu fajuto <agir com naturalidade com ela a despeito do que está acontecendo>, todos rigorosamente impotentes.

(Lo que X… tenía de bueno era que no explotaba jamás la frase que le era dada; por una suerte de ascesis rara, no se aprovechaba del lenguaje.)” <Ah, então quer dizer que…>

La escena no es ni práctica ni dialéctica” “en Sade la violencia ya no marca: el cuerpo es instantáneamente restaurado por nuevos desgastes” “así ocurre con el participante de la escena: renace de la escena pasada, como si nada hubiera ocurrido.”

arretado ajetreo

cajetera pelota de rabia

Todo participante de una escena sueña con tener la última palabra. Hablar el último, <concluir>, es dar un destino a todo lo que se ha dicho; en el espacio de la palabra, lo que viene último ocupa un lugar soberano” “todo combate de lenguaje (maché de los antiguos sofistas, disputatio de los escolásticos) se dirige a la posesíon de ese lugar; mediante la última palabra voy a desorganizar, a <liquidar> al adversario, voy a infligirle una herida (narcísica) mortal, voy a reducirlo al silencio, voy a castrarlo de toda palabra. (…) es el último golpe de dados lo que cuenta. La escena, no se parece en nada a un juego de ajedrez sino más bien a un juego de sortija [ainda bem]: no obstante, el juego es aquí revertido, puesto que la victoria corresponde a aquel que logra tener el anillo en su mano en el momento mismo en que el juego se detiene”

<Pronto te verás desembarazada de mí> (…) mediante el anuncio del suicidio W. se convierte imediatamente en el más fuerte de los dos

Qué es un héroe? Aquel que tiene la última réplica. ¿Se ha visto alguna vez un héroe que no hable antes de morir? Renunciar a la última réplica revela pues una moral antiheroica: es la de Abraham: hasta el final del sacrificio que se le ordena, no habla. (…) ese maestro zen que, por toda respuesta a la solemne pregunta: <Quién es Buda?>, se quitó las sandalias, las puso sobre su cabeza y se fue: disolución impecable de la última réplica, dominio del no-dominio.”

ESCRIBIR. Señuelos [animal; artimanha; armadilha], debates y callejones sin salida a los que da lugar el deseo de “expresar” el sentimiento amoroso en una “creación” (especialmente de escritura).

LA PARADOJA: “el mito romántico (produciré una obra inmortal escribiendo mi pasión). Sin embargo, W., que en otro tiempo dibujaba mucho y bien, no puede hacer el retrato de Carlota (…) <He perdido… la fuerza sagrada, vivificante; con que creaba mundos en torno de mí.>”

Esa mañana de verano, en calma la bahía,

me quedé largo rato en la mesa,

sin hacer nada.”

BASHŌ – Haikú

Oscilando entre um Jimi Hendrix engasgado que morreu de cólera (o homem que morreu de raiva) e um blog adolescente: “Por una parte es no decir nada y por la otra es decir demasiado: imposible el ajuste. Mis deseos de expresión oscilan entre el haikú muy apagado, capaz de resumir una situación desmedida, y un gran torrente de trivialidades. Soy a la vez demasiado grande y demasiado débil para la escritura (…) Cierto que el amor tiene parte ligada con mi lenguaje (que lo alimenta), pero no puede alojarse en mi escritura. No puedo escribirme. ¿Cuál es ese yo que se escribiría? (escribir sobre algo es volverlo caduco) – Lo que bloquea la escritura amorosa es la ilusión de expresividad: escritor, o pensándome tal, continúo engañándome sobre los efectos del lenguaje: no sé que la palabra <sufrimiento> no expressa ningún sufrimiento y que, por consiguiente, emplearla, no solamente es no comunicar nada, sino que incluso, muy rápidamente, es provocar irritación (sin hablar del ridículo). Sería necesario que alguien me informara que no se puede escribir sin pagar la deuda de la <sinceridad> (siempre el mito de Orfeo: no volverse a mirar). Lo que la escritura demanda y lo que ningún enamorado puede acordarle sin desgarramiento es sacrificar un poco de su Imaginario y asegurar así a través de su lengua la asunción de un poco de realidad.

Ante la muerte de su hijo-niño, para escribir (no serían más que jirones de escritura), Mallarmé se somete a la división parental:

Madre, llora

Yo, pienso”

soy mi propio niño: soy a la vez padre y madre (de mí, del otro): ¿cómo podría dividir el trabajo?”

Saber que no se escribe para el otro, saber que esas cosas que voy a escribir no me harán jamás amar por quien amo, saber que la escritura no compensa nada, no sublima nada, que es precisamente ahí donde no estás: tal es el comienzo de la escritura.”

ESPERA. Tumulto de angustia suscitado por la espera del ser amado, sometida a la posibilidad de pequeños retrasos (citas, llamadas telefónicas, cartas, atenciones recíprocas).

Espero a gaivota azul.

escenografía de la espera: destaco un trozo de tiempo en que voy a imitar la pérdida del objeto amado y provocar todos los efectos de un pequeño duelo, lo cual se representa, por lo tanto, como una pieza de teatro.”

(miro mi reloj muchas veces); el Prólogo concluye con una acción súbita: decido <preocuparme>, desencadeno la angustia de la espera. Comienza entonces el primer acto; está ocupado por suposiciones: ¿y si hubiera un malentendido sobre la hora, sobre el lugar? Intento recordar el momento en que se concretó la cita, las precisiones que fueron dadas. ¿Qué hacer (angustia de conducta)? ¿Cambiar de café? ¿Hablar por teléfono? ¿Y si el otro llega durante essas ausencias? Si no me ve lo más probable es que se vaya, etc. El segundo acto es el de la cólera; dirijo violentos reproches al ausente: <Siempre igual, él (ella) habría podido perfectamente…>, <Él (ella) sabe muy bien que…>. ¡Ah, si ella (él) pudiera estar allí, para que le pudiera reprochar no estar allí! En el tercer acto, espero (¿obtengo?) la angustia absolutamente pura: la del abandono [e o pior: lendo Kierkegaard!]; acabo de pasar en un instante de la ausencia a la muerte [não existo nessa cidade; acabou meu fim de semana]: explosión de duelo: estoy interiormente lívido. Así es la pieza; puede ser acortada por la llegada del otro; si llega en el primero, la acogida es apacible; si llega en el segundo, hay <escena>; si llega en el tercero, es el reconocimiento, la acción de gracias: respiro largamente, como Pelléas saliendo del túnel y reencontrando la vida, el olor de las rosas.” Quem me recomendou este livro?

O metrô de 100 saídas; o parque gigantesco, escuro labirinto. O banheiro com uma passagem secreta – onde me é proibido entrar. O parquinho desolado, a casa inachada longe longe de casa, pessoas sem rosto num show, ela faltou à aula hoje, justo quando mais tinha coisas a dizer, etc.

(La angustia de la espera no es continuamente violenta; tiene sus momentos apagados; espero y todo el entorno de mi espera está aquejado de irrealidad: en el café, miro a los demás que entran, charlan, bromean, leen tranquilamente: ellos no esperan.)

La espera es un encantamiento: recibí la orden de no moverme: me privo de salir de la pieza, de ir al lavabo, de hablar por teléfono incluso (para no ocupar el aparato); sufro si me telefonean (por la misma razón); me enloquece pensar que a tal hora cercana será necesario que yo salga, arriesgándome así a perder el llamado bienhechor, el regreso de la Madre.” Verdadeiro purgatório do escritor. Universo em estado de crisálida.

Y si no viene lo alucino: la espera es un delirio.” Me passou um trote! Fui a sua casa… Encontrei a roommate dela. Desconfio que ela desconfia da verdade. “Todavía el teléfono: a cada repiqueteo descuelgo rápido, creo que es el ser amado quien me llama (puesto que debe llamarme); un esfuerzo más y <reconozco> su voz, entablo el diálogo, a riesgo de volverme con ira contra el importuno que me despierta de mi delirio. En el café, toda persona que entra, si posee la menor semejanza de silueta, es de este modo, en un primer movimiento, reconocida. [!!!] Y mucho tiempo después que la relación amorosa se ha apaciguado conservo el hábito de alucinar al ser que he amado: a veces me angustio todavía por un llamado telefónico que tarda y, ante cada importuno, creo reconocer la voz que amaba: soy un mutilado al que continúa doliéndole la pierna amputada.”

recrio no recreio, não creio!

¿Estoy enamorado? – Sí, porque espero. A veces, quiero jugar al que no espera; intento ocuparme de otras cosas, de llegar con retraso; pero siempre pierdo a este juego: cualquier cosa que haga, me encuentro ocioso, exacto, es decir, adelantado.”

Erostartes: “Eu amo, logo espero.”

Más aún: si espero frente a la ventanilla de un banco, en la partida de un avión, establezco enseguida un vínculo agresivo con el empleado, con la azafata [aeromoça, recepcionista], cuya indiferencia descubre e irrita mi sujeción”

Hacer esperar: prerrogativa constante de todo poder, <pasatiempo milenario de la humanidad>.” Coitados dos apaixonados por Cristo…

Un mandarín estaba enamorado de una cortesana: <Seré tuya, dijo ella, cuando hayas pasado cien noches esperándome sentado sobre un banco, en mi jardín, bajo mi ventana.> Pero, en la nonagesimonovena noche, el mandarín se levanta, toma su banco bajo el brazo y se va.”

EXILIO. Al decidir renunciar al estado amoroso, el sujeto se ve con tristeza exiliado de su Imaginario. [AUTOLUTO]

(La pasión amorosa es un delirio; pero el delirio no es extraño; todo el mando [mundo?] habla de él, está ya domesticado. Lo que es enigmático es la pérdida del delirio: ¿se entra en qué?)”

VICTOR HUGO: “El exilio es una especie de largo insomnio” (Pierres, 62).

FREUD: “El duelo mueve al yo a renunciar al objeto declarándoselo muerto y ofreciéndole como premio el permanecer con vida” (Duelo y melancolía, 254).

(¿El punto más sensible de este duelo no es que me hace perder un lenguaje, el lenguaje amoroso? Se acabaron los <Te amo>.)”

Esta tristeza no es una melancolía, o al menos es una melancolía incompleta (de ningún modo clínica), puesto que no me acusa de nada y no estoy postrado.”

Carencia redoblada: no puedo siquiera investir mi desdicha, como en el tiempo en que sufría por estar enamorado. En ese tiempo deseaba, soñaba, luchaba; un bien estaba ante mí, simplemente retardado, atravesado por contratiempos. Ahora ya no hay resonancias; todo es calmo, y es peor.” “el duelo amoroso tiene siempre un remanente: una expresión regresa sin cesar: <¡Qué lástima!>.”

Nunca mais caminharei na passarela a passos largos, autoconfiante e de bermuda. O pôr-do-sol é triste… Mario para crianças… Jogo para crianças, com chifres, sem dinheiro, vencidas como pelo último chefe apelão da máquina… 72 horas: o tempo da crisálida? Isso de você aparecer quando você quer é que é o problema!

Prueba de amor: te sacrifico (…) una guedeja [trança]. De ese modo tal vez accederé al <amor verdadero>. (…) el analista debe despreocuparse de su paciente (a falta de lo cual el análisis amenaza con ser interminable) (…) el ser amado debe entrar en la melancolía de su propia decadencia.”

pero lo Imaginario arde por debajo, como el carbón mal apagado; se inflama de nuevo; lo que había sido abandonado resurge; de la tumba mal cerrada retumba bruscamente un largo grito.” Cenas 2007: “(Celos, angustias, posesiones, discursos, apetitos, signos, de nuevo el deseo amoroso ardía por todas partes. Era como si quisiera estrechar una última vez, con locura, a alguien que iba a morir – a quien yo dispondría a morir –; produje una negativa de separación.)

Esta renuncia puede alcanzar tal intensidad que produzca un extrañamiento de la realidad y una retención del objeto por vía de una psicosis alucinatoria de deseo” Freud

FADING. Prueba dolorosa por la cual el ser amado parece retirarse de todo contacto, sin que siquiera esa indiferencia enigmática sea dirigida contra el sujeto amoroso ni se pronuncie en provecho de quien sea otro, mundo o rival.

si la voz se pierde, es toda la imagen que se desvanece (el amor es monológico, maniaco; el texto es heterológico, perverso).”

El fading del objeto amado es el retorno terrorífico de la Mala Madre, la retracción inexplicable del amor, el desamparo bien conocido de los Místicos: Dios existe, la Madre está presente, pero ellos no aman ya.”

La voz del ser amado no la conozco nunca sino muerta, rememorada, recortada en el interior de mi cabeza, mucho más allá del oído”

la fatiga es el infinito mismo: lo que no termina de acabar.”

A Freud [a nadie, en verdad], al parecer, no le gustaba el teléfono, a él que le gustaba, sin embargo, escuchar. ¿Tal vez sentía, prevía, que el teléfono es siempre una cacofonía, y que lo que deja pasar es la mala voz, la falsa comunicación?”

FREUD, Martin. Freud, mon père

(se dice, las máscaras de la tragedia griega tenían una función mágica: dar a la voz un origen ctónico, deformarla, descentrarla, hacerla venir del más allá subterráneo)”

¿a quién hablar?” “Te voy a dejar, dice cada segundo la voz del teléfono.”

Me asusto de la fatiga del otro: es el más cruel de los objetos rivales. ¿Cómo luchar contra la fatiga?” Pero ¿qué hacer con ese paquete de fatiga depositado ante mí? ¿Qué quiere decir ese regalo? ¿Déjame? ¿Acógeme? Nadie responde, porque lo que se regala es precisamente lo que no responde.” “(En ninguna novela de amor he leído que un personaje esté fatigado.)”

BLANCHOT. Vieja conversación

FALTAS. En tal o cual ocasión ínfima de la vida cotidiana el sujeto cree haber faltado al ser amado y experimenta un sentimiento de culpabilidad.

la observación de los rótulos, el temor de estar retrasado, el hecho de alocarse en una estación, ¿no revelan una manía de viejo, de jubilado?”

A partir de entonces no vio nada, sino la parte trasera, obtusa, del último vagón, a lo lejos. (…) El tren no partía. Sin embargo, no osaba moverse, dejar el andén, aunque fuera absolutamente inútil quedarse ahí. Una especie de obligación simbólica (la obligación muy fuerte de un pequeño simbolismo) lo forzaba a quedarse ahí, mientras el tren estuviera detenido (con X… dentro). Estaba pues quieto, como un estúpido, no viendo nada, sino el tren lejano, no siendo visto por nadie, sobre el andén desierto – impaciente finalmente de que el tren partiera –. Pero hubiera sido una falta partir primero, y tal vez de hacerlo se habría sentido atormentado por mucho tiempo.”

cada vez que, para romper la servidumbre, intento <dominarme> (es el consejo unánime del mundo), me siento culpable. Soy culpable entonces, paradójicamente, de aligerar el peso, de reducir el embarazo exorbitante de mi devoción, en suma de <lograr> (según el mundo); en última instancia es ser fuerte lo que me da miedo, es el dominio (o su simple gesto)”

BANQUETE: Fedro: “si un hombre que ama hubiese cometido una mala acción […] más vergüenza le causaría presentarse ante la persona que ama que ante su padre”

FASTIDIOSO. Sentimiento de celos tenue que se apodera del sujeto amoroso cuando ve el interés del ser amado captado y desviado por personas, objetos u ocupaciones que actúan a sus ojos como otros tantos rivales secundarios.

LoL, estudos, amigos, mesmo a mãe… Ou o sono.

El mundo está lleno de vecinos indiscretos, con los que debo compartir al otro.” “Soy incesantemente perturbado por Fastidiosos: una vaga relación reencontrada por azar y que se sienta a la fuerza junto a nosotros; vecinos de mesa cuya vulgaridad visiblemente fascina al otro, al punto que no escucha si le hablo o no; un objeto, incluso, un libro, por ejemplo, en que el otro se encuentra sumergido (estoy celoso del libro).”

Carlota reparte su naranja por cortesía mundana, o, si se quiere, por bondad; pero esos son motivos que no apaciguan al enamorado: <¿De que sirvió que yo apartara esas naranjas para ella, si ella las regala a otros?>” “Contradicción insoluble: por una parte, es absolutamente preciso que Carlota sea <buena>, porque ella es un objeto perfecto; pero, por otra parte, no es necesario que esta bondad tenga por efecto abolir el privilegio que me constituye. Esa contradicción se vuelve vago resentimiento” “estoy irritado contra los otros, contra el otro, contra mí (de ahí puede surgir una <escena>).” “Não acredito que você está com ciúme disso!…”

FIESTA. El sujeto amoroso vive todo encuentro con el ser amado como una fiesta.

y sea de mí lo que fuere no podré decir no haya saboreado las alegrías, los más puros goces de la vida.” W.

(¿No es acaso nada, para ti, ser la fiesta de alguien?)”

GASTO. Figura mediante la cual el sujeto amoroso titubea y busca a la vez situar el amor en una economía del puro gasto, de la pérdida <por nada>.

Alberto, personaje plano, moral, conforme decreta (siguiendo a tantos otros) que el suicidio es una cobardía. Para W., por el contrario el suicidio no es una debilidad, puesto que procede de una tensión: <Oh! querido mío, si tensar todo el ser es dar prueba de fuerza, ¿por qué una tensión demasiado grande sería debilidad?>.” “(Un lord, después un obispo inglés, reprocharon a Goethe la epidemia de suicidios provocados por Werther. A lo que Goethe respondió en términos propiamente económicos: <Vuestro sistema comercial ha hecho por cierto miles de víctimas; ¿por qué no tolerarle algunas a Werther?>.)”

La exuberancia amorosa es la exuberancia del niño cuyo despliegue narcisista, cuyo goce múltiple, nada (todavía) contiene. Esta exuberancia puede estar atravesada de tristeza, depresiones, movimientos suicidas, porque el discurso amoroso no es un promedio de estados; pero semejante desequilibrio forma parte de esa economía negra que me marca con su aberración, y, por así decirlo, con su lujo intolerable.”

GRADIVA. Este nombre, tomado del libro de Jensen (…) designa la imagen del ser amado en cuanto acepta entrar un poco en el delirio del sujeto amoroso a fin de ayudarlo a salir de él.

El ser amado parece entonces enpeñarse en hundirme en mi delirio, en mantener e irritar la herida amorosa: como esos padres de esquizofrénicos que, según se dice, no cesan de provocar o agravar la locura de su hijo por medio de pequeñas intervenciones conflictuales, el otro intenta volverme loco. (…) ponerme en contradicción conmigo mismo (…) alterna actos de seducción y de frustración a la frialdad, al silencio (…) <quebrar> la conversación, ya sea imponiendo pasar bruscamente de un tema serio (que me importa) a un tema trivial, o bien interesándose visiblemente, mientras hablo, en otra cosa distinta de lo que yo digo.”

una gota de estar-enamorado diluida en una vaga relación amistosa la colorea vivamente, la hace incomparable”

Si el enamorado llega a <amar> es en la medida misma en que se feminiza, en que se une a la clase de las grandes Enamoradas, de las Suficientemente Buenas.”

WINNICOTT. La Madre

Quien son Norbert y Zoe?

Qui sont N. et Z.?

Who are N&Z

Wer sin

HABLADURÍA. Herida experimentada por el sujeto amoroso cuando comprueba que el ser amado está metido en habladurías, y escucha hablar de él de una manera común.

Sobre la ruta a Falera un hombre se aburre; percibe a otro que marcha delante de él, lo alcanza y le pide que le narre el banquete dado por Agatón. Así nace la teoría del amor: de un azar, de un tedio, de un deseo de hablar, o, si se prefiere, de una habladuría de 3 kilómetros de longitud. Aristodemos asistió al famoso banquete; se lo ha contado a Apolodoro que, sobre la ruta a Falera, lo relata a Glauco (hombre, se dice, sin cultura filosófica), y, al hacerlo, por mediación del libro, nos lo cuenta a nosotros que hablamos de él nuevamente.”

conversación (hablamos de una cuestión)” x “habladuría (hablamos entre nosotros de los demás)”

la lingüística oficial sólo se ocupa del mensaje.”

(en El Banquete la disposición de los lechos tiene gran importancia)” O banquete não é numa mesa?

está ya prometido, [W.] no debe caer enamorado, etc. Así las habladurías resumen y anuncian la historia por venir.” “la amiga es un hada mala, que, so capa de disuadir, predice y apela. Cuando la amiga habla, su discurso es insensible (un hada no se apiada jamás): la habladuría es ligera, fría, adquiere así el status de una especie de objetividad; su voz, en suma, parece doblar la voz de la ciencia. Esas dos voces son reductoras. Cuando la ciencia habla llego a veces a escuchar su discurso como el rumor de una habladuría que propala y critica ligeramente”

El pronombre de tercera persona es un pronombre pobre” “es como si lo viera muerto, reducido” “Para mí, el otro no podría ser un referente: tú no es jamás sino tú, yo no quiero que el Otro hable de ti.”

IDENTIFICACIÓN. El sujeto se identifica dolorosamente con cualquier persona (o con cualquier personaje) que ocupe en la estructura amorosa la misma posición que él.

¡Nada puede salvarte, desdichado! Veo perfectamente que nada puede salvarnos”

La estructura no tiene preferencia por nadie; es pues, terrible (como una burocracia). No se le puede suplicar, decirle: <Vea cómo soy mejor que H…>. Inexorable, responde: <Usted está en el mismo lugar; por lo tanto es H…>. Nadie puede alegar en contra de la estructura.”

Una larga cadena de equivalencias une a todos los enamorados del mundo. En la teoría de la literatura, la <proyección> (del lector en el personaje), hoy, ya no tiene curso: leyendo una novela de amor es poco decir que me proyecto; me uno a la imagen del enamorado (todos saben que esas novelas se leen en estado de secesión, de reclusión, de ausencia y de voluptuosidad: en los cuartos de baño).

IMAGEN. En el campo amoroso, las más vivas heridas provienen más de lo que se ve que de lo que se sabe.

O STALKER PERFEITO: “yo no estoy en la escena: la imagen carece de enigma.”

La imagen es perentoria; ningún conocimiento puede contradecirla, arreglarla, sutilizarla.”

Yo sé que Carlota no me pertenece, dice la razón de W., pero de todos modos, Alberto me la roba, dice la imagen que tiene bajo sus ojos.” Esperança: Kevin não existe, tenho que ver a traição com meus próprios olhos; deixa eu conhecer esse seu novo namoradinho; quem é seu novo amigo, etc.

a veces también soy apresado en la imagen.” “Não é o que você está pensando, eu posso explicar”

me veo como una estatuilla, sentado sobre uno de esos bloques, abandonado para siempre.”

El enamorado es pues artista, y su mundo es un mundo al revés, puesto que toda imagen es su propio fin (nada más allá de la imagen).” A prisão do mundo sem paixão do homem pab.-uéslico.

INCOGNOSCIBLE. Esfuerzos del sujeto amoroso por comprender y definir al ser amado <en si>, como tipo caracterial, psicológico o neurótico, independientemente de los datos particulares de la relación amorosa.

(<Yo te conozco. ¡Nadie más que yo te conoce bien!>)”

¿De dónde viene? ¿Quién es? Me agoto; no lo sabré jamás.”

¿conocer a alguien, no es solamente eso: conocer su deseo?”

el enamorado no es Edipo. No es cierto que cuanto más se ama mejor se comprende” “el otro no es para conocerlo; su opacidad no es en absoluto la pantalla de un secreto sino más bien una especie de evidencia, en la cual se anula el juego de la apariencia y del ser.” “movimiento místico: accedo al conocimiento del no conocimiento.”

INDUCCIÓN. El ser amado es deseado porque otro u otros han mostrado al sujeto que es deseable: por especial que sea, el deseo amoroso se descubre por inducción.

parte de los otros, del lenguaje, de los libros, de los amigos: ningún amor es original.”

todo rival ha sido al comienzo maestro, guía, presentador, mediador.”

INDUMENTARIA. Todo afecto suscitado o mantenido por las prendas que el sujeto viste en el encuentro amoroso o que usa con la intención de seducir al objeto amado.

Quiero ser el otro, quiero que él sea yo, como si estuviéramos unidos”

Es con esa indumentaria (traje azul y chaleco amarillo) que W. quiere ser enterrado y que se lo encuentra en trance de morir en su cuarto.” “Ese vestuario perverso ha sido usado en toda Europa por los fans de la novela, bajo el nombre de <traje à la W.>”

INFORMANTE. Figura amistosa que parece, sin embargo, tener por función constante herir al sujeto amoroso entregándole, como si tal cosa, informaciones sobre el ser amado de carácter anodino [antálgico, paliativo], pero cuyo efecto es el de perturbar la imagen que el sujeto tiene de ese ser.

el Informante, que se afana y dice todo a todo el mundo. El informante, ingenuo o perverso, tiene un papel negativo.” o tipo Pablo – ou eu mesmo? “Estoy por cierto obligado a escucharlo (mundanamente no puedo dejar ver mi irritación), pero me esfuerzo en volver a mi escucha sorda, indiferente, como comprimida.” “Lo que quiero es un pequeño cosmos (con su tiempo, con su lógica), habitado solamente por <nosotros dos> (nombre de una revista sentimental francesa). Todo lo que viene del exterior es una amenaza: ya sea bajo la forma de tedio (estoy obligado a vivir en un mundo del que el otro está ausente) o bien bajo la forma de herida (si ese mundo me endilga sobre el otro un discurso indiscreto).” “es el exterior del otro lo que se me ocultaba. El telón se abre al revés, no a una escena íntima sino a una sala pública. Cualquier cosa que diga, la información me es dolorosa: un trozo sordo, ingrato, de realidad me cae encima. Para la delicadeza amorosa, todo hecho tiene algo de agresivo” El Carnaval, tiempo universal de las ausencias.

INSOPORTABLE. La sensación de una acumulación de sufrimientos amorosos explota en este grito: <Esto no puede continuar>.

es propio de la situación amorosa ser inmediatamente intolerable” “Un demonio niega el tiempo, la maduración, la dialéctica, y dice a cada instante: ¡Esto no puede durar! Sin embargo dura, si no siempre, al menos mucho tiempo. La paciencia amorosa tiene pues por punto de partida su propia negación: no procede ni de una espera, ni de un dominio (…) una desgracia que no se usa, en proporción a su agudeza (…) la repetición (¿cómica?) del gesto por el cual yo me manifiesto que he decidido – ¡valientemente! – poner fin a la repetición; la paciencia de una impaciencia.”

ese grito: manifestándome a mí mismo que es preciso salir de el Insoportable, por cualquier medio que sea, instalo en mí el teatro marcial de la Decisión, de la Acción, de la Salida. La exaltación es como la ganancia secundaria de mi impaciencia; me nutro de ella, me revuelco [derrubo] en ella. Siempre <artista>, hago de la forma misma un contenido. Imaginando una solución dolorosa (renunciar, partir, etc.), hago retumbar en mí el fantasma exaltado de la salida; una gloria de abnegación me invade (renunciar al amor, no a la amistad, etc.), y olvido enseguida lo que debería entonces sacrificar: nada menos que mi locura – que, por definición, no puede constituirse en objeto de sacrificio

Cuando la exaltación ha decaído quedo reducido a la filosofía más simple: la de la resistencia (dimensión natural de las fatigas verdaderas).

un tentetieso [joão sorrisão, pino com peso] sin piernas al que se le dan papirotazos incesantes, pero que finalmente retoma su verticalidad, asegurada por un contrapeso interior (¿pero cuál es mi contrapeso? ¿La fuerza del amor?).”

Así es la vida;

caer 7 veces

y levantarse 8”

Ainda bem que há números infinitos (transcendência)

LANGUIDEZ. Estado sutil del deseo amoroso, experimentado en su carencia, fuera de todo querer-asir.

es como si el deseo no fuera sino esta hemorragia. He aquí la fatiga amorosa: un hambre sin satisfacción.”

la languidez sería ese pasaje extenuante de la libido narcisista a la libido objetal.”

LOCO. El sujeto amoroso es atravesado por la idea de que está o se vuelve loco.

insensato ante mis propios ojos (conozco mi delirio), simplemente irrazonable a los ojos de los demás, a quienes relato muy juiciosamente mi locura: consciente de esta locura, dando exp[l]i[c]aciones acerca de ella.”

Este hombre, en los tiempos en que estaba en el manicomio, era feliz: no sabía nada de sí mismo. W. se reconoce a medias en el loco de las flores: loco de pasión, como él, pero privado de todo acceso a la felicidad (supuesta) de la inconsciencia: sufriente por haber malogrado incluso su locura.” Impressionante como do livro lido em 2006 só retive a cena do suicídio.

Mafalda: “Yo no soy otro: es lo que compruebo con pavor.”

estoy loco puesto que consisto.” Compenso logo insisto.

Conceptos de San Agustín: “Es loco aquel que está limpio de todo poder. – ¿Cómo? ¿Acaso el enamorado no conoce ninguna excitación de poder? El sometimiento es no obstante asunto mío: sometido, queriendo someter, experimento a mi manera la ambición de poder, la libido dominandi: ¿es que no dispongo, como los sistemas políticos, de un discurso bien construido, es decir sólido, ágil, articulado?” (citado por Sainte-Beuve, II, 160) “estoy loco: no porque sea original burdo ardid de la conformidad. Si los demás hombres son siempre, en grados diversos, militantes de algo, yo no soy soldado de nada, ni siquiera de mi propia locura” “(¿Puede reconocerse aquí la escisión muy singular que deslinda, en el Enamorado, la voluntad de dominio de la voluntad de poder?)”

LOCUELA. Esta palabra, sacada de Ignacio de Loyola, designa el flujo de palabras a traves del cual el sujeto argumenta incansablemente en su cabeza los efectos de una herida o las consecuencias de una conducta; forma enfática del <discursear> amoroso.

Trop penser me font amours”

al capricho de un estímulo ínfimo, se desencadena en mi cabeza una fiebre de lenguaje, un desfile de razones, de interpretaciones, de alocuciones. No tengo conciencia sino de una máquina que se alimenta a sí misma de uma zanfonía cuyo manubrio [manivela] gira titubeante un tocador anónimo, y que no se calla nunca. En la locuela, nada impide la repetición.”

SCHUBERT. “Der Leiermann”, Winterreise, com poemas de Müller.

(hallar la palabra adecuada es eufórico); la rumio, me nutro de ella; como los niños o los dementes atacados de mericismo, vuelvo a sorber incesantemente mi herida y la regurgito. (…) y recomienzo (tales sentidos del verbo meruomai: enrollar, devanar, tramar).”

a menudo, el niño autista mira sus propios dedos mientras manosea objetos (pero no mira los objetos mismos): es el twiddling.”

Humboldt llama a la libertad del signo locuacidad. Soy (interiormente) locuaz (…) Si pudiera forzar el signo, sumeterlo a una sanción, podría finalmente encontrar descanso. ¡Que no puedan enyesarse las cabezas, como las piernas! (…) ningún director de escena está ahí para decirme: ¡Corte! (…) nadie me escucha, nadie me mira, pero (como el tocador de zanfonía de Schubert) continúo hablando, girando mi manivela.”

Tengo en mí dos interlocutores, atareados en elevar el tono, de réplica en réplica, como en las antiguas esticomitis (…) algazara final (escena de clowns).” Devaneios & DaVanIaS…

Em vão

Em vãos não-ocupados por nenhum cérebro nem coração

(…IV. <A Los 20 años, dice la señora Desbordes-Valmore, penas profundas me forzaron a renunciar al canto, porque mi voz me hacía llorar>.)” V. Hugo + Macross Plus

LLORAR. Propensión particular del sujeto amoroso a llorar: modos de aparición y función de las lágrimas en ese sujeto.

¿En W. es el enamorado que llora o el romántico?” “se mofa de la censura que mantiene hoy al adulto lejos de las lágrimas” “sigue las órdenes del cuerpo enamorado, que es un cuerpo bañado, en expansión líquida: llorar juntos, fluir juntos”

¿Quién hará la historia de las lágrimas? ¿Desde cuándo los hombres (y no las mujeres) ya no lloran? ¿Por qué la <sensibilidad> en cierto momento se ha vuelto <sensiblería>?” “los Griegos, la gente del siglo XVII, lloraban mucho en el teatro.”

SCHUBERT. Lob der Thränen (“Elogio das lágrimas”), poesia de Schlegel.

cuando lloro me dirijo siempre a alguien: adapto mis modos de llorar al tipo de chantaje que, a través de mis lágrimas, pretendo ejercer en torno mío.” “(<Mira lo que haces de mí>)” “me pongo a llorar para probarme que mi dolor no es uma ilusión.” “produzco un mito del dolor” “<el más verdadero> de los mensajes”

MAGIA. Consultas mágicas, pequeños ritos secretos y acciones votivas no están ausentes de la vida del sujeto amoroso, sea cual fuere la cultura a la que pertenezca.

La dialéctica diría: la hoja no caerá, y después cae; pero entretanto habrás cambiado y no te plantearás ya la pregunta.”

si (tú vuelves…) entonces (cumpliré mi voto).”

MONSTRUOSO. El sujeto se da cuenta bruscamente que constriñe al objeto amado en una red de tiranías: de piadoso se siente devenir monstruoso.

desea secretamente la pérdida de lo que el amado tiene de más querido: padre, madre, parientes, amigos; no quiere para el amado ni hogar ni hijos”

Yo hablo y tú me entiendes, luego existimos” Ponge

yo, que amo, soy indeseable, alineado en las filas de los fastidiosos: los que son pesados, molestan, se inmiscuyen, complican, reclaman, intimidan (o más simplemente: los que hablan).”

(…como en esos sueños horrorosos en que una persona amada se nos aparece con la parte inferior del rostro integramente borrada, privada de su boca (…) el soliloquio hace de mí un monstruo, una enorme lengua.)”

MORTIFICACIÓN. Escena múltiple en la que lo implícito de la relación amorosa actúa como coacción y suscita un embarazo colectivo que no es explícito.

La situación está cargada. Lo pesado es el saber silencioso: yo sé que tú sabes que yo sé”

No hago más que ver lo que se habla, como en el cine mudo. Se produce en mí (contracción en los términos) una suerte de fascinación alerta: estoy metido en la escena y sin embargo bien despierto: mi atención forma parte de lo que se actúa, la escena carece de exterior y no obstante la leo; no hay candilejas [gambiarras], es un teatro extremado. De ahí el malestar – o para algunos, perversos, el goce –.”

MUTISMO. El sujeto amoroso se angustia de que el objeto amado responda parcimoniosamente, o no responda, a las palabras (discursos o cartas) que le dirige.

(…El interlocutor perfecto, el amigo, ¿no es entonces el que construye en torno nuestro la mayor resonancia posible? ¿No puede definirse la amistad como un espacio de sonoridad total?)”

como si mi cualidad excedese la del objeto amado, como si yo estuviera adelantado respecto de él.”

¿debo proseguir, hablar <en el desierto>? Necesitaría una confianza que precisamente la sensibilidad amorosa no permite. ¿Debo detenerme, renunciar? Eso tendría el aspecto de vejarme, de enjuiciar al otro y, a partir de allí, dar la señal de partida de una <escena>.”

La muerte es sobre todo esto: todo lo que ha sido visto, habrá sido visto para nada. Duelo de lo que hemos percibido.” FRANÇOIS WAHL, Chute

NOCHE. Todo estado que suscita en el sujeto la metáfora de la oscuridad (afectiva, intelectiva, existencial) en la que se debate o se sosiega.

No Ser y Ser, saliendo de un fondo único, no se diferencian sino por sus nombres. Ese fondo único se llama Oscuridad. – Oscurecer esta oscuridad[*], he ahí la puerta de toda maravilla” CHU. Tao Te King/Ching [taoísmo]

[*] Intepretação: ignorar?

NUBES. Sentido y uso del ensombrecimiento de humor que se apodera del sujeto amoroso bajo el efecto de circunstancias variadas.

El rostro del señor Schmidt, el prometido de Friederike, se ensombrece paralelamente; rehúsa participar en la conversación. W. enjuicia entonces el malhumor; viene de nuestros celos, de nuestra vanidad, es un descontento de nosotros mismos cuyo peso descargamos sobre los otros, etc. <¡Nómbrenme>, dice W., <el hombre que, estando de mal humor, es lo bastante honesto para disimularlo, para soportarlo completamente solo, sin destruir la alegría en torno suyo!> [A Emoção Anti-Carolíngia][*] Tal hombre es evidentemente inhallable, puesto que el malhumor no es más que un mensaje. No pudiendo estar manifiestamente celoso, sin diversos inconvenientes, de donde proviene el ridículo, desplazo mis celos, les doy un efecto derivado, atemperado, y como inacabado, cuyo motivo verdadero no se expresa abiertamente: incapaz de ocultar la herida y no osando declarar la causa, transijo; hago abortar el contenido sin renunciar a la forma [No (ex-)trabalho: a forma sem conteúdo: “Vocês não têm conteúdo.”]: aquí, usted debe leer (que algo no va bien): pongo simplemente mi pathos sobre la mesa, reservándome desatar el paquete más tarde según las circunstancias: ya sea que me descubra (al grado de llegar a una <explicación>) o bien que me encubra.” “¿El suicidio de amor será un malhumor un poco extremo?)”

Você ficou com ciúmes?”

Não, impressão sua!”

Me explica.”

[*] Você exala ódio pelas narinas! Há quem desabe se não for unanimidade…

Hay sin embargo nubes más sutiles; todas las sombras tenues, de causa ligera, incierta, que pasan por encima de la relación, cambian la luz, el relieve; hay de repente otro paisaje, una ligera embriaguez negra.” “Recorro rápidamente los estados de carencia, a través de los cuales el Zen ha codificado la sensibilidad humana (furyu): la soledad (sabi), la tristeza que me llega de la <increíble naturalidad> de las cosas (wabi), la nostalgia (aware), el sentimiento de lo extraño (yugen).”

OBJETOS. Todo objeto tocado por el cuerpo del ser amado se vuelve parte de ese cuerpo y el sujeto se apega a él apasionadamente.

Del ser amado surge una fuerza que nada puede detener y que impregna todo lo que toca, así sea con la mirada: si W., no pudiendo ir a ver a Carlota, le envía su doméstica, es esta doméstica misma, sobre la que ella ha posado su mirada, la que se convierte para W. en una parte de Carlota (<Bien le habría tomado la cabeza entre mis manos para darle un beso si no hubiera sido por el respeto humano>).”

Tan pronto el objeto metonímico es presencia (engendrando alegría) como ausencia (engendrando desamparo).”

OBSCENO. Desacreditada por la opinión moderna, la sentimentalidad del amor debe ser asumida por el sujeto amoroso como una fuerte transgresión, que lo deja solo y expuesto; por una inversión de valores, es pues esta sentimentalidad lo que constituye hoy lo obsceno del amor.

doy un curso <sobre> el amor; el auditorio es femenino, algo maduro; soy Paul Géraldy.”

los gritos de una eyaculación grandiosa pero insoportable, don extático que el ser hace de sí mismo en tanto que víctima desnuda, obscena […] ante las grandes carcajadas de las prostitutas” Bataille

La verdadera música popular, la música de las masas, la música plebeya, está abierta a todos los despliegues de las subjetividades de grupo, no ya a la subjetividad única, a la bella subjetividad sentimental del sujeto aislado…” DANIEL CHARLES. Musique et oubli

THOMAS MANN. La montaña mágica

Di con un intelectual enamorado: para él, <asumir> (no reprimir) la extrema tontería, la tontería desnuda de su discurso, es lo mismo que para el sujeto batailleano desnudarse en un lugar público: es la forma necesaria del imposible y de lo soberano: una abyección tal que ningún discurso de la transgresión puede recuperarla y que se expone sin protección al moralismo de la antimoral.”

El sello distintivo de las almas modernas no es la mentira sino la inocencia, encarnada en el moralismo falso. Hacer en todas partes el descubrimiento de esta inocencia tal vez sea el aspecto más repulsivo de nuestro trabajo.” N. – G. da Mor.

(Inversión histórica: no es ya lo sexual lo que es indecente; es lo sentimental…)”

no sé ordenar mi discurso, graduarlo, disponer los enfoques, las comillas; hablo siempre en primer grado; me mantengo en un delirio prudente, ajustado, discreto, domesticado, trivializado por la literatura.”

Todo lo que es anacrónico es obsceno. Como divinidad (moderna), la Historia es represiva, la Historia nos prohíbe ser inactuales. Del pasado, no soportamos más que la ruina, el monumento, el kitsch o el retro, que es divertido“El sentimiento amoroso está pasado de moda (démodé), pero ese démodé no puede ni siquiera ser recuperado como espectáculo; el amor cae fuera del tiempo interesante; ningún sentido histórico, polémico, puede serle conferido; es en esto que es obsceno.”

Cuando imagino seriamente suicidarme por una llamada telefónica que no llega, se produce una obscenidad tan grande como cuando, en Sade, el Papa sodomiza a un pavo [pavão ou palerma].” “nada puede superar el inconveniente de un sujeto que se hunde porque su otro adopta un aire ausente, <mientras existen todavía tantos hombres en el mundo que mueren de hambre, mientras tantos pueblos luchan duramente por su liberación, etc.>.”

Todo el mundo comprenderá que X… tenga <enormes problemas> con su sexualidad, pero nadie se interesará en los que Y… pueda tener con su sentimentalidad” “(Nous deux – la revista – es más obscena que Sade.)”

(todo obsceno decible como tal no puede ya ser el último grado de lo obsceno; yo mismo diciéndolo, aunque sea a través del parpadeo de una figura, soy ya recuperado)”

OCULTAR. Figura deliberativa: el sujeto amoroso se pregunta no si debe declarar al ser amado que lo ama (ésta es una figura de declaración), sino en qué medida debe ocultarle las perturbaciones> (las turbulencias) de su pasión: sus deseos, sus desamparos, en suma, sus excesos (en lenguaje racineano: su furor).

¿Deberé ocultarle mi perturbación, ya ahora pasada (<¿Cómo estás?>)?” “Una angustia de segundo grado se apodera de mí y es la de tener que decidir el grado de publicidad que daré a mi primera angustia.”

¿El exceso, la locura, no son mi verdad, mi fuerza?”

los sinales de esta pasión amenazan con asfixiar al otro.”

a veces lo veo como objeto, a veces como sujeto; vacilo entre la tiranía y la oblación.”

trampa: estoy condenado a ser un santo o un monstruo: santo no puedo, monstruo no quiero: por consiguiente, tergiverso: muestro un poco de mi pasión.” <Es indigno de las grandes almas difundir a su alrededor la perturbación que experimentan> (Clotilde de Vaux)” BALZAC. La fausse maîtresse “Sin embargo, ocultar totalmente una pasión (o incluso simplemente su exceso) es inconcebible: porque la pasión está hecha, por esencia, para ser vista: es preciso que el ocultar se vea: sepan que estoy ocultándoles algo, tal es la paradoja activa que debo resolver: no hay oblación amorosa sin teatro final: el signo siempre vence.”

quiero ser a la vez lastimoso y admirable, quiero ser en el mismo momento niño y adulto.” “Puedo modelar mi mensaje a mi gusto, pero no mi voz. En mi voz, diga lo que diga, el otro reconocerá que <tengo algo>. Soy mentiroso (por preterición), no comediante. Mi cuerpo es un niño encaprichado, mi lenguaje es un adulto muy civilizado.”

POR QUÉ. Al mismo tiempo que se pregunta obsesivamente por qué no es amado, el sujeto amoroso vive en la creencia de que en realidad el objeto amado lo ama, pero no se lo dice.

Existe para mí un <valor superior>: mi amor. No me digo jamás: <¿Para qué?>. No soy nihilista. No me planteo la cuestión de los fines. Nunca hay <porqués> en mi discurso monótono, sino uno solo (…) ¿Cómo puede no amarse ese yo que el amor vuelve perfecto (que da tanto, que hace feliz, etc.)?”

O sprich, mein herzallerliebstes Lieb, warum verliessest du mich?”

HEINE. Lyrisches Intermezzo

¿Cómo haces para amar un poco? Vivo bajo el régimen del demasiado o del no bastante; todo lo que no es total me parece parsimonioso; lo que busco es ocupar un lugar desde donde las cantidades no se perciban más. O incluso – puesto que soy nominalista –: ¿por qué no me dices que me amas?”

La verdad es que – paradoja exorbitante – no ceso de creer que soy amado. Alucino lo que deseo. Cada herida viene menos de una duda que de una traición: porque no puede traicionar sino quien ama, no puede estar celoso sino quien cree ser amado; el otro, episódicamente, falta a su ser, que es el de amarme; he aqui el origen de mis desgracias. Un delirio, sin embargo, sólo existe si despertamos de él (no hay sino delirios retrospectivos): un día comprendo lo que me ha ocurrido: creía sufrir por no ser amado y sin embargo sufría porque creía serlo; vivía en la complicación de creerme a la vez amado y abandonado. Cualquiera que hubiese entendido mi lenguaje íntimo no habría podido menos que exclamar, como se lo hace de un niño difícil: pero en fin, ¿qué quiere?

metametempsicose

metá-metá

metametemparanoid

(Te amo se vuelve me amas. Un día, X… recibe orquídeas anónimas; enseguida alucina su origen: no pueden venir más que de quien lo ama; y quien lo ama no puede ser más que aquel a quien ama. Sólo después de mucho tiempo de crítica, llega a disociar las dos inferencias…)”

QUERER-ASIR. Comprendiendo que las dificultades de la relación amorosa provienen de que quiere incesantemente apropiarse de una manera o de otra del ser amado, el sujeto toma la decisión de abandonar en adelante a su respecto todo querer-asir.

El N.Q.A. (el no-querer-asir, expresión imitada del Oriente) es un sustituto inverso del suicidio. No matarse (de amor) quiere decir: tomar esa decisión, la de no asir al otro. Es un mismo momento aquel en que W. se mata y habría podido renunciar a asir a Carlota (momento, por lo tanto, solemne).” A plenitude da indiferença. O contrário da chantagem (chanter les gens) do tudo ou nada. A plena carência ou incompletude. O ESTAR-E-ACEITAR. O um pouco ou muito. Mas faltam pedaços. Mas há pedaços. Esperar para abocanhar. Libido com calma para devorar. Nada disso faz sentido, muito menos se matar. O desbunde do budismo. Quero bater uma no escuro, o chuveiro bem ligado.

<El mundo me debe aquello de lo que tengo necesidad. Me son necesarios la belleza, el brillo, la luz, etc.> (leído en un programa de La tetralogía, en Beirut).” Wagner

No quiero sustituir el arrebato cálido de la pasión por <la vida empobrecida, el querer-morir, el gran hastío>.” “por una parte, no me opongo al mundo sensorial; dejo circular en mí el deseo; por otra parte, lo apuntalo contra <mi verdad>; mi verdad es amar absolutamente, a falta de lo cual me retiro”

¿Y si el N.Q.A. era un pensamiento táctico (¡por fin uno!)? ¿Si yo quisiera todavía conquistar al otro fingiendo renunciar a él? ¿Si me alejara para asirlo más seguramente?” “una ficción bien conocida de los sabios (<Mi fuerza está en mi debilidad>)”

No se exhibe y brillará. No se afirma y se impondrá. Cumple su obra, no se apega a ella y puesto que no se apega a ella, su obra quedará” Tao, XXII

<Weil ich niemals dich anhielt, halt ich dich fest> (<Puesto que no te retengo nunca, te tengo firmemente>): verso de 2 melodías de Webern, 1911-12.” Rilke

Posto que nenhuma vez a ti retenho,

firme te tenho

Eu li gado mas entendi múmia.

quietude do quitute. Que tudo!

TAO BRUTAO

Última trampa: renunciando a todo querer-asir, me exalto y quedo encantado con la <buena imagen> que voy a dar de mí. No salgo del sistema” Taoísmo consciente. Heroísmo voluntário a-heróico. Sem querer precipitar-me, chovi. Fugi do céu. Talvez por isso ninguém lembre de mim… Mas há coisas inevitáveis, sabendo-se ou não. Não se pode jogar uma moeda pro alto a vida toda.

O LADO BOM DA HIPOCRISIA: “(<Sentada apaciblemente sin hacer nada la primavera llega y las hierbas crecen por sí mismas>). Y una vez más el Oriente: no querer asir el no-querer-asir; dejar venir (del otro) lo que viene, dejar pasar (del otro) lo que se va; no asir nada, no rechazar nada: recibir, no conservar, producir sin apropiarse, etc. O bien: <El Tao perfecto no ofrece dificultad, salvo que evita elegir>.”

STENDHAL. Armance: “Que el No-Querer-Asir quede pues irrigado de deseo por ese movimiento riesgoso: te amo está en mi cabeza, pero yo lo aprisiono tras de mis labios. No profiero. Digo silenciosamente a quien no es ya o no es todavía el otro: me contengo de amarte.”

alma libre y embriagada, olvidadiza, olvidada, ebria de lo que no bebe ni beberá jamás!” Rusbrock apud Laporte

Esqueçam que esqueci vocês.

RAPTO. Episodio considerado inicial (pero que puede ser reconstruido después), en el curso del cual el sujeto amoroso se encuentra raptado (capturado y encantado) por la imagen del objeto amado (flechazo, prendamiento).

Cada vez que un sujeto <cae> enamorado, prorroga un poco el tiempo arcaico en que los hombres debían raptar a las mujeres (para asegurar la exogamia)”

RAPTOSA: “curiosa contradanza: en el mito antiguo, el raptor es activo, es sujeto del rapto (cuyo objeto es una Mujer, como se sabe, siempre pasiva); en el mito el raptor no quiere nada, no hace nada; está inmóvil, y el objeto raptado es el verdadero sujeto del rapto; el enamorado es siempre implícitamente feminizado.”

AFERIDA: “el <sujeto> es para nosotros (¿desde el cristianismo?) el que sufre; die Wunde! die Wunde! [A ferida! A ferida!] disse Parsifal

nada de mundanidad, de ócio, sólo la lectura de Homero, una suerte de acunamiento [embalamento; to rock (in a cradle), movimento que lembra a inércia] cotidiano un poco vacío, prosaico (se hace cocer guisantes). Esta <maravillosa serenidad> no es más que una espera, un deseo –: no caigo nunca enamorado, si no lo he deseado; la vacancia que he creado en mí (y de la que como W., inocentemente, me enorgullezco) no es otra cosa que ese tiempo, más o menos largo, en que busco con los ojos, en torno mío, sin que lo parezca, a quien amar.

ATHANASIUS KIRCHER. Experimentum mirabile de imaginatione gallinae. In: MILLER, Gérard. Sobre la hipnosis (Ornicar, 4)

Sin embargo, el mito del <flechazo> es tan fuerte que uno se queda estupefacto al oír que alguien decide caer enamorado: como Amador viendo a Florinda en la corte del gobernador de Cataluña: <Después de haberla mirado largo tiempo resuelve amarla.> [Heptamerón] ¿Cómo, voy a decidir si devo volverme loco (el amor sería esta locura que yo quiero)?”

lo que llega bruscamente a tocarme (a raptarme) es la voz, la caída de los hombros, la esbeltez de su silueta, la tibieza de la mano, el sesgo de una sonrisa, etc. Desde ese momento, ¿qué me importa la estética de la imagen? Algo viene a ajustarse exactamente a mi deseo (del que ignoro todo); no haré pues ninguna preferencia de estilo. (…) puedo prendarme de una pose ligeramente vulgar (adoptada por provocación): hay trivialidades sutiles, móviles, que pasan rápidamente sobre el cuerpo del otro: una manera breve (pero excesiva) de separar los dedos, de abrir las piernas, de remover los carnosos labios al comer, de dedicarse a una ocupación muy prosaica, de volver idiota a su cuerpo un segundo, por continencia (lo que fascina en la <trivialidad> del otro es tal vez que, por un momento muy corto, sorprendo en él, separado del resto de su persona, como un gesto de prostitución).”

Y parece que usted está ahí cuando leo pasajes de amor en los libros. – Todo lo que se tacha allí de exagerado usted me lo hace sentir, dijo Friederike. Comprendo, W., que no cansen los panecillos [pãezinhos] de Carlota” FLAUBERT. L’éducation sentimentale

schema, es el cuerpo en movimiento, en situación, en vida.”

(ella corta rebanadas de pan para los niños: escena célebre, frecuentemente comentada): amamos primeramente un cuadro.”

lo que no había sido nunca visto es descubierto en su integridad, y desde entonces devorado con los ojos”

puedo caer enamorado de una frase que se me dice

el flechazo se dice siempre en el pasado simple (el ser de la fotografía no es representar, sino rememorar) no ceso de asombrarme de haber tenido esa oportunidad:[*] someterme de golpe a una imagen desconocida

[*] A garota bunduda e indiferente na quadra de basquete, sozinha.

RECUERDO. Rememoración feliz y/o desgarradora de un objeto, de un gesto, de una escena, vinculados al ser amado, y marcada por la intrusión de lo imperfecto en la gramática del discurso amoroso.

destiempos: es la anamnesis, que no encuentra sino rasgos insignificantes, de ningún modo dramáticos, como si me acordara del tiempo mismo y solamente del tiempo: es un perfume sin soporte, un grado de memoria, una simple fragrancia; algo así como un gesto puro, tal como sólo el haikú japonés ha sabido decirlo, sin recuperarlo en ningún destino.”

E era Abril no hemisfério norte…

<Las estrellas brillaban>. Nunca más esa dicha volverá tal cual.”

A MACIEIRA: “Lo imperfecto es el tiempo de la fascinación: parece estar vivo y sin embargo no se mueve: ni olvido, ni resurreción; Desde el origen ávida de representar un papel, las escenas se ponen en posición de recuerdo: frecuentemente lo siento, lo preveo, en el mismo momento en que se forman. – Este teatro del tiempo es precisamente lo contrario de la búsqueda del tiempo perdido; puesto que yo me acuerdo patética, puntualmente, y no filosófica, discursivamente: me acuerdo para ser infeliz/feliz – no para comprender –. No escribo, no me encierro para escribir la novela enorme del tiempo recobrado.”

Tempo sempre achado

ΔT sempre achato

mas maximizo,

na câmera lenta

desfocada

Apesar da organização alfabética, parece ter sido uma obra escrita ou intensamente revisada cronologicamente, linearmente.

RESONANCIA. Modo fundamental de la subjetividad amorosa: una palabra, una imagen resuenan dolorosamente en la conciencia afectiva del sujeto.

algo tenue y agudo despierta bruscamente a ese cuerpo que, entretanto, se embotaba en el conocimiento razonado de una situación general” O sofrimento tão restrito a essa época e a essa região que eu batizo “O VANISMO”

VAMPIRISMO

VACÚOLO DE IDÉIAS

VVV DE VACILO VICIOSO VINGATIVO

vá de ré! conde

l d Darkula|i lama

Você deve fingir que está doente”

niñería

Remete ao verbete INSOPORTABLE (“Isto não pode continuar!”): “Mi cuerpo interior se pone a vibrar, como sacudido por trompetas que se responden y se superponen: la incitación hace huella [impressão], la huella se amplía y todo es (más o menos rápidamente) devastado. En lo imaginario amoroso nada distingue la provocación más fútil de un hecho realmente consecuente; el tiempo es conmocionado hacia adelante (me suben a la cabeza predicciones catastróficas) y hacia atrás (recuerdo con pavor los <precedentes>): a partir de una pequeñez todo un discurso recuerdo y de la muerte se eleva y me arrastra: es el reino de la memoria, arma de la resonancia del <resentimiento> –.”

meMoiras podem mudar o futuro?

detesto acústicos!

(La resonancia de un <accidente imprevisto que […] cambia súbitamente el estado de los personajes>: es un golpe teatral, el <momento favorable> de una pintura: cuadro patético del sujeto asolado, postrado, etc.)”

En el temor común – el que precede alguna actividad difícil de cumplir –, me veo en el futuro en un estado de fracaso, de impostura, de escándalo. En el temor amoroso, tengo miedo de mi propia destrucción, que entreveo bruscamente”

Si la cosa resuena muy fuertemente, hace tal estrépito en mi cuerpo que estoy obligado a detener toda ocupación; me tendo en mi lecho y dejo transcurrir, sin luchar, la <tempestad interior>; al contrario del monje zen, que se vacía de imágenes, me dejo llenar por ellas, experimento hasta el fin su amargor. La depresión tiene por lo tanto su gesto – puesto en clave –, y es eso sin duda lo que la limita; puesto que basta que en cierto momento pueda sustituirlo por otro gesto (incluso vacío, como levantarme, ir a mi mesa, sin que forzosamente trabaje en ello enseguida) para que la resonancia se amortigüe y deje lugar al hipócrita taciturno. El lecho (diurno) es el lugar de lo Imaginario; la mesa es nuevamente, haga lo que haga, la realidad.” 04/03/2017 Trabalho: onde jamais se deita. “por una parte, recibo en carne viva el propósito del mensaje, me indigna su falsedad, quiero desmentir, etc.; por otra parte, percibo perfectamente el pequeño movimiento de agresividad que ha impulsado a X… – sin que lo sepa demasiado él mismo – a transmitirme una información hiriente. (…) [Trampa:] Ahora bien, ¿qué hago yo? Conjugo las dos lingüísticas, la tradicional y la filología activa: me instalo dolorosamente en la sustancia misma del mensaje (a saber, el contenido del rumor), y amargura la fuerza que lo funda: pierdo en los dos tableros, me hiere por todas partes. Tal es la resonancia: la práctica afanosa de una escucha perfecta: lejos de <flotar> mientras el otro habla, escucho completamente, en estado de conciencia total: no puedo abstenerme de escucharlo todo y es la pureza de esta escucha lo que me resulta doloroso: ¿quién podría soportar sin sufrir un sentido múltiple y sin embargo purificado de todo <ruido>? (…) estrépito inteligible (…) oyente monstruoso (…) inmenso órgano auditivo – como si la escucha misma entrara en estado de enunciación –: en mí, es la oreja la que habla.

SACIEDAD O COLMO. El sujeto plantea, con obstinación, el anhelo y la posibilidad de una satisfacción plena del deseo implicado en la relación amorosa y de un éxito sin falla y como eterno de esta relación: imagen paradisíaca del Soberano Bien, dable y aceptable. [O ACHAMENTO DA CARA-METADE]

en cuanto no estoy en el exceso me siento frustrado”

sobrepaso los límites de la saciedad y, en lugar de encontrar el asco, la náusea, o incluso la embriaguez, descubro… la Coincidencia. La desmesura me ha conducido a la mesura; me ajusto a la imagen, nuestras medidas son las mismas: exactitud, precisión, música; he terminado con el no suficiente.”

la relación amorosa parece reducirse a una larga queja.” “cuando estoy colmado o recuerdo haberlo estado el lenguaje me parece pusilánime: <Se produce un encuentro que es intolerable a causa del gozo y a veces el hombre queda reducido en él a nada; es lo que llamo el transporte. El transporte es el gozo del que no se puede hablar> [Rusbrock].”

creer en el Soberano Bien es tan loco como creer en el Soberano Mal: Heinrich von Ofterdingen [personagem folclórico alemão romancizado por Novalisresponsável pela origem da imagem da flor azul e também pelo Tannhäuser de Wagner] es filosóficamente de la misma naturaleza que la Julieta de Sade.”

(Saciedad quiere decir abolición de las herencias: <El Gozo se quiere él mismo, quiere la eternidad, la repetición de las mismas cosas, quiere que todo permanezca eternamente igual> [Nie.]. El enamorado colmado no tiene ninguna necesidad de escribir…)”

SALIDAS. Señuelos de soluciones, sean cuales fueren, que proporcionan al sujeto amoroso, a despecho de su carácter a menudo catastrófico, un descanso pasajero; manipulación de las salidas posibles de la crisis amorosa.

el discurso amoroso es en cierta forma un a puertas cerradas de las salidas.”

este teatro, de género estoico, me engrandece, me da estatura. Imaginando una solución extrema, produzco una ficción, me convierto en artista, hago un cuadro, pinto mi salida”

DOUBLE BIND: Situación en la que el sujeto pierde siempre: cara, gano yo; cruz, pierdes tú” (Bettelheim, 81)”

Para que haya infortunio es necesario que el propio bien haga mal” Schiller

SIGNOS. Ya sea que quiera probar su amor o que se esfuerce por descifrar si el otro lo ama, el sujeto amoroso no tiene a su disposición ningún sistema de signos seguros.

¿soy amado (no soy ya, lo soy todavía)? Es mi futuro lo que intento leer, descifrando en lo que está inscrito el anuncio de lo que me va a ocurrir, según un procedimento que tendería a la vez a la paleografía y a la adivinación? (…) pido al rostro del otro, incansablemente, la respuesta: cuánto valgo?”

Ella era entendida y sabía que el carácter amoroso se cifra de algún modo en las cosas sin importancia. Una mujer instruida puede leer su porvenir en un simple gesto, así como Cuvier sabía decir viendo el fragmento de una pata: esto pertenece a un animal de tal dimensión, etc.” BALZAC. Les secrets de la princesse de Cadignan

Como el Octavio de Stendhal, no sé nunca lo que es normal; privado (lo sé) de toda razón, quiero refugiarme, para decidir acerca de una interpretación, en el sentido común; pero el sentido común no me suministra más que evidencias contradictorias”

Gide: <Todo en su comportamiento parecia decir: puesto que no me ama nada me importa. Ahora bien, yo la amaba todavía, e incluso nunca la había amado tanto; pero probárselo me era imposible. Ahí estaba, sin duda, lo más terrible.>

Los signos no son pruebas por que cualquiera puede producirlos falsos o ambiguos. De ahí ese volverse, paradójicamente, sobre la omnipotencia del lenguaje: puesto que nada asegura el lenguaje, tendré al lenguaje por la única y última seguridad: no creeré ya en la interpretación [o que gera mágoas de vez em quando]. De mi otro recibiré toda palabra como un signo de verdad: y cuando sea yo el que hable, no pondré en duda que recibe como verdadero lo que diga. De donde se deduce la importancia de las declaraciones; quiero permanentemente arrancar al otro la fórmula de su sentimiento y le digo incesantemente por mi parte que lo amo: nada es dejado a la sugestión, a la adivinación: para que una cosa sea sabida es necesario que sea dicha

SOLO. La figura remite no a lo que puede ser la soledad humana del sujeto amoroso sino a su soledad filosófica, al no hacerse cargo hoy del amor-pasión ningún sistema importante de pensamento (de discurso).

¿Cómo se llama a ese sujeto que se obstina en un <error>, contra todos, como si tuviera ante él la eternidad para <equivocarse>? – Se lo llama un recalcitrante.” “no dejo de <recaer> en una doctrina interior que nadie comparte conmigo.”

<ningún sacerdote lo acompañó> (es la última frase de la novela). La religión no condena solamente, en W., al suicida, sino también, quizás, al enamorado, al utópico, al desclasado, a aquel que no está <religado> sino a sí mismo.”

En El banquete, Erixímaco comprueba con ironía que ha leído en alguna parte un panegírico de la sal, pero nada sobre Eros; y es porque Eros está censurado como tema de conversación que la pequeña sociedad del Banquete decide hacer de él la materia de su mesa redonda: se dirían intelectuales de hoy aceptando discutir a contracorriente, precisamente del Amor y no de política, del Deseo (amoroso) y no de la Necesidad (social).” “Eros es para cada uno de ellos un sistema. Hoy, sin embargo, no hay ningún sistema del amor: por más que se vuelva hacia tal o cual de los linguajes recibidos, ninguno le responde, si no para alejarlo de lo que ama. El discurso cristiano, si todavía existe, lo exhorta a reprimir y sublimar. (…) En cuanto al discurso marxista, no dice nada.”

estoy solo para hacer el sistema (tal vez porque soy incesantemente compelido hacia el solipsismo de mi discurso). Paradoja difícil: puedo ser entendido por todo el mundo (el amor viene de los libros, su dialecto es corriente) pero no puedo ser escuchado (recibido <proféticamente>) sino por sujetos que tienen exactamente y presentemente el mismo lenguaje que yo. Los enamorados, dice Alcibíades, son semejantes a aquellos a quienes ha mordido una víbora: <No quieren, se dice, hablar de su accidente a nadie, salvo a los que han sido víctimas de una circunstancia semejante>

no enfrento ni contesto: simplemente no dialogo: no estoy forzosamente <despolitizado>: mi desviación es la de no ser <excitado>.”

Todo el mundo tiene espíritu perspicaz,

sólo yo tengo el espíritu confuso,

(…)

Todo el mundo tiene su fin pre[ci]so,

sólo yo tengo el espíritu obtuso del campesino.

Sólo yo difiero de los otros hombres”

Tao

SUICIDIO. En el campo amoroso, el deseo de suicidio es frecuente: una pequeñez lo provoca.

una especie de álgebra rápida de la que tengo necesidad en ese momento de mi discurso (…) En una frase, solamente una frase, que acaricio sombríamente: <Y el hombre que durante ¾ de hora había pensado en terminar con su vida, subía al instante sobre una silla para buscar en su biblioteca el catálogo de los cristales de Saint-Gobain> [Stendhal].”

La idea de suicidio, entonces, me salva, porque puedo contarla (y no me privo de ello): renazco y coloreo esta idea con los colores de la vida, ya sea que la dirija agresivamente contra el objeto amado (chantaje bien conocido) o que me una fantasmáticamente a él en la muerte”

Después de haberlo discutido los sabios llegaron a la conclusión de que los animales no se suicidan; a lo máximo algunos – caballos, perros – tienen deseos de mutilarse.”

Acabo de releer Werther no sin irritación. Había olvidado que empleaba tanto tiempo en morir {lo que es completamente falso — Barthes}. A las 4 o 5 recuperaciones, lo que se esperaba, su último suspiro, es seguido por otro más último todavía […] las partidas ornamentadas me exasperan” Gide

TAL. Llamado sin cesar a definir el objeto amado, y sufriendo por las incertidumbres de esta definición, el sujeto amoroso sueña con una sabiduría que lo haría tomar al otro tal cual es, eximido de todo adjetivo.

haga lo que haga, por más que me prodigue para él, no renuncia nunca a su propio sistema. Experimento contradictoriamente al otro como una divinidad caprichosa que cambia incesantemente de humor con respecto a mí (…) esta cosa envejecerá tal cual es, y por ello sufro). O también, veo al otro en sus límites. O, en fin, me interrogo: ¿hay un punto, uno solo, sobre el cual el otro podría sorprenderme? Así, curiosamente, la <libertad> del otro de <ser él mismo> la experimento como una obstinación pusilánime. (…) ese tal me es doloroso, puesto que nos separa” Uma divindade que não gosta de animes

cuanto más lo designe menos le hablaré: seré semejante al infans que se contenta con una palabra vacía para mostrar alguna cosa: Ta, Da, Tat (dice el sánscrito). Tal, dirá el enamorado: tú eres así, precisamente así.”

Accedo entonces (fugitivamente) a un lenguaje sin adjetivos. Amo al otro no según sus cualidades (compatibilizadas) sino según su existencia” “Lo que liquido, en ese movimiento, es la categoría misma del mérito: del mismo modo que el mítico se vuelve indiferente a la santidad (que sería de nuevo un atributo), accediendo al tal del otro no opongo ya la oblación al deseo”

(El enemigo negro del tal es la Habladuría, fábrica inmunda de adjetivos…)”

A****** e T*****: “Éramos amigos y nos hemos convertido en extraños uno del otro. Pero es bueno que así sea, y no buscamos disimulárnoslo ni oscurecerlo como si tuviésemos que tener vergüenza de ello. Como dos navíos que prosiguen cada uno su camino tras sus propias metas: así sin duda podemos cruzarnos y celebrar fiestas entre nosotros como ya lo hemos hecho – y entonces los buenos navíos reposaban lado a lado en el mismo puerto, bajo el sol, tan calmos que se hubiera dicho que estuviesen ya en su destino y no hubiesen tenido sino el mismo rumbo –. Pero enseguida el llamado irresistible de nuestra misión nos impulsaba de nuevo lejos uno del otro, cada uno sobre mares, hacia parajes, bajo solos diferentes – tal vez para no vernos nunca, o tal vez para volvernos a ver una vez más, pero sin reconocernos ya –: ¡mares y soles diferentes han debido cambiarnos!” La gaya ciencia af. 279

TE AMO. La figura no remite a la declaración de amor, a la confesión, sino a la proferición repetida del grito de amor.

Pasada la primera declaración de amor, <te amo> no quiere decir nada; no hace sino retomar de una manera enigmática, hasta tal punto parece vacía, el viejo mensaje. Lo repito fuera de toda pertinencia; sale del lenguaje, divaga, ¿dónde? No podría descomponer la expresión sin reír. !Cómo! Estaría <yo> de un lado, <tú> del otro, y en el medio un nexo de afecto razonable (por léxico).” “je-t-aime debe entenderse (y leerse aquí) a la húngara, por ejemplo, en que se dice con una sola palabra, szeretlek” “decir te-amo es hacer como si no hubiese ningún teatro de la palabra, y esta expresión es siempre verdadera (no hay otro referente que su proferición)” “no es metáfora” “(Aunque dicho miles de veces, te-amo está fuera del diccionario; es una figura cuya definición no puede exceder el encabezado.)” “La palabra (la frase-palabra) no tiene sentido sino en el momento en que la pronuncio” te-amo no compete ni a la lingüística ni a la semiología. Su instancia (eso a partir de lo cual se lo puede hablar) sería más bien la Música.” “El goce no se dice: pero habla y dice: te-amo.” “Te amo. – Yo tambien. (…) la forma es aquí claudicante, por el hecho de que no retoma literalmente la proferición – y es propio de la proferición ser literal –. ” “El niño proustiano – al pedir que su madre duerma en su habitación – quiere obtener el yo también” “Fantaseo lo que es empíricamente imposible: que nuestras dos profericiones sean dichas al mismo tiempo, que una no siga a la otra, como si dependiera de ella; sólo le conviene el relámpago único: la abolición de toda contabilidad.” “Te amo, dice Pelléas. – Yo te amo también, dice Mélisande.”

La Bestia [de RavelLes entretiens de la Belle et de la Bête, Ma Mère l’Oye] – retenida en estado de encantamiento en su fealdad – ama a la Bella; la Bella, evidentemente, no ama a la Bestia, pero, al fin, vencida (poco importa por qué; digamos: por los encuentros que tiene con la Bestia), le dice la palabra mágica: <Yo lo amo, Bestia>; y enseguida, a través de la desgarradura suntuosa de un arpegio de arpa, un sujeto nuevo aparece.”

alguien sufre porque su mujer lo a dejado; quiere que vuelva, quiere – precisamente – que le diga te amo, y corre, él también, tras la palabra; para terminar, ella se la dice, luego de lo cual él se desmaya: es un filme de 1975.”

(el esclavo es aquel que tiene la lengua cortada, que no puede hablar sino por gestos, expresiones, caras)”

TERNURA. Goce, pero también evaluación inquietante de los gestos tiernos del objeto amado, en la medida en que el sujeto comprende que carece de su privilegio.

El gesto tierno dice: pídeme lo que sea que pueda aplacar tu cuerpo, pero tampoco olvides que te deseo un poco, ligeramente, sin querer tomar nada enseguida.” ver Musil – L’homme sans qualités, II, 772.

El placer sexual no es metonímico (*): una vez tomado, se le corta. La ternura, por el contrario, no es más que una metonimia infinita, insaciable; el gesto, el episodio de ternura (el acorde delicioso de una velada) no puede interrumpirse sino con aflicción: todo parece puesto en duda: retorno del ritmo – vritti (para el Budista, es el curso de las olas, el proceso cíclico) –, alejamiento del nirvana.”

(*) Toda puta se arrepende de engolir, o promíscuo mais ainda de soltar.

L… veía con asombro a A… hacerle a la camarera de ese restaurante bávaro, al pedirle su schnitzel [costeleta], los mismos ojos tiernos, la misma mirada angélica que tanto lo commovían cuando esos gestos le estaban dirigidos.”

UNIÓN. Sueño de unión total con el ser amado.

mal dibujante o mediocre utopista, no llego a nada.”

Orfeo, debilitado, no era sino una mujer, y los dioses lo hicieron morir por las mujeres.”

la pareja perfecta es la de Aquiles y Patroclo: no por un prejuicio homosexual sino porque en el interior de un mismo sexo la diferencia permanece inscrita: uno (Patroclo) era el amante, el otro (Aquiles) era el amado.”

<¿Adónde llegaste con X…?>, yo debo responder: ahora exploro nuestros límites”

Sueño de unión total: todo el mundo dice que ese sueño es imposible y sin embargo insiste. No renuncio a él.”

VERDAD. Todo episodio de lenguaje llevado a la sensación de verdad que el sujeto amoroso experimenta pensando en su amor, ya sea que crea ser el único en ver al objeto amado en su verdad o bien que defina la especificidad de su propia exigencia como una verdad sobre la cual no puede ceder.

Me ocurre no comprender como otro la puede amar, tiene el derecho de amarla, cuando que mi amor por ella es tan exclusivo, tan profundo, tan pleno, cuando que no conozco, no me interesa, no tengo nada más que ella.” W.

(Amor ciego: este proverbio es falso. El amor hace clarividente: <Tengo, de ti, sobre ti, el saber absoluto>. Informe del sabio al amo: tú puedes todo sobre mí pero yo lo sé todo sobre ti.)”

Siempre la misma inversión: lo que el mundo tiene por <objetivo> yo lo tengo por artificial y lo que tiene por locura, ilusión, error, yo lo tengo por verdad.”

GRIMM. Periódico para eremitas

G.B. SCHOLEM. La Cábala y su simbolismo, Siglo XXI, 174.

– ¿Cuál es la única y última palabra de la verdad?

– Sí.”

Entiendo que el maestro, oponiendo curiosamente un adverbio a un pronombre, a cuál, responde al lado

* * *

Uma breve lista de livros para ler…

BATAILLE. L’oeil pinéal

BENVENISTE. Problemas de lingüística general

JEAN-LOUIS BOUTTES. Le destructeur d’intensité (manuscrito)

BRECHT. Madre coraje y sus hijos

DJEDIDI. La poésie amoureuse des arabes

MÉLANIE KLEIN. Essais de psychanalyse

LECLAIRE. Psicoanalizar

MANDELBROT. Les objets fractals

MAURICE, PERCHERON. Le Bouddha et le bouddhisme

SAINT-BEUVE. Port-Royal, Hachette, 6 vols.

SEARLES. The effort to drive the other person crazy, Nouvelle Revue de Psychanalyse, 12.

SOLLERS. “Paradis” Tel Quel, 62.

WATTS. Le bouddhisme zen

…e de músicas para escutar e filmes para assistir:

BOUCOURECHLIEV. Thrène

DEBUSSY. Pelléas et Mélisande (especialmente o ato III).

DUPARC. Chanson triste

MOZART. Les noces de Fígaro

RAVEL. Ma mère l’Oye

WAGNER. El buque fantasma

FRIEDRICH. Los restos de la esperanza captados en los espejos [???]

BUÑUEL. El discreto encanto de la burguesía, 1972.

* * *

Uma breve lista de livros para reler:

El Banquete (y Obra Completa de Platón)

Werther

Sociedade do Espetáculo

Obra Completa de Shakespeare e Sófocles

Morro dos Ventos Uivantes

O Mundo como Vontade e Representação

COOL MEMORIES 2DOUBLEBIND2 (1987-90)

Jean Baudrillard – trad. inglesa Chris Turner; trad. inglês-português Mr. Cila

At the computer screen, I look for the film and find only the subtitles. The text on the screen is neither a text nor an image – it is a transitional object (video is a transitional image)”

Must one really force oneself to think? Sometimes it seems the other experience – of the progressive extenuation of both thought and the energy for writing – is newer and more extraordinary. How far can this dishabituation go?”

ANSIEDADE INCUBADA

O pressentimento radical de algo realmente poderoso prestes a acontecer; essa verdadeira idéia fixa, ainda que passageira, de todas as mentes civilizadas… A iminência de um evento que marcará indelevelmente nossa existência, a a-verbalidade desse fenômeno… Eu tenho certeza, Luísa! E tem a ver com a Copa do Mundo… Como numa novela interminável, uma Malhação, o pré-adolescente jornalista militar deve caminhar pelas comerciais e entre-quadras candangas, cruzar as pistas e encruzilhadas, a W3 que não some nem no horizonte, sem esperar muita coisa, mas regalando a vida em oferta por essa aparição incerta duvidosa segura banal. Não se sabe onde nem quando, mas virá, qualquer coisa há-de vir, do contrário não faria o menor sentido… Cada beijo aleatório tem um significado hegeliano profundo, que chatice a aborrescência! Mexe com a essência… Carência, estimulante… Qual será o clímax da temporada de expulsões? Por que eu estou sempre ou magro ou gordo demais? As camisas nunca me servem (por muito tempo). Está sol mas faz frio. Calor, tempo abafado, mas o céu é cinza como a fuligem de minhalma. Desata esse nó górdio das amizades… Emba(ra)çamento furioso. Não resolveu e se desenvolveu, hoje é um mal perdurável, antes mera possibilidade remota latente, pior cenário catastrófico de um talento promissor chegando ao seu fim pessoal em poucos anos.

<It’s a miracle! This morning I dropped my slice of bread and it didn’t fall on the buttered side!> The rabbi replies, <That’s because you’d buttered it on the wrong side, little Sarah.>”

How a woman can once again become violently desirable after you have broken up remains a mystery. Unless it is from a desire to immortalize the break-up.”

Everything makes us impatient. Perhaps we feel remorse for a life which is too long, from the point of view of the species, for the use we make of it.”

Um acidente num monitor de tráfego aéreo, o ataque cardíaco de uma velha, um foguete em chamas, uma telha que cai, tudo engatilha um processo de responsabilidade infernal. Crimes reais seriam preferíveis, crimes causados pela paixão e não pela poluição, pelo mal e não pela profilaxia e pela inócua masturbação mental de uma consciência dementizada.”

É assim que o tédio funciona, como um súbito estalo na linha telefônica cerebral que nos conecta à vida. É como algo numa quina de nossas vidas que se recusa a morrer. É como com o homem da estória de Buzzati-Traverso, que, chegando em casa à noite, esmaga um besouro enquanto avança corredor adentro. Ele não consegue dormir, sua mulher não pára de ziguezaguear ruidosamente pela casa, o galo canta no meio da madrugada, o cachorro se torna agitado. O homem se ergue da cama e, no corredor, percebe o besouro, ainda agonizando. Ele o pisoteia de uma vez por todas, terminando o serviço, no que o lar recai no silêncio outra vez. Sua esposa deita e ressona, o cachorro se aquieta e tudo se torna tranqüilo.”

A indiferença cresce conforme o destino se externaliza em tecnologias sofisticadas. Todas essas manipulações médicas e genéticas que se dizem descobridoras de todos os segredos do corpo apenas tornam as pessoas indiferentes a seus próprios corpos. Todas essas tecnologias que exaltam ou exasperam o pensamento apenas o tornam indiferente a si mesmo. Alguma vez alguém disse: Le câblage est accablant. Mais ou menos o seguinte: Conectar-se é fatigante.”

WHAT’S HAPPENING?

#Recanto99

Memória d’água (se nem peixes podem se lembrar de nada(r)!), coisa pra navio inglês deslizar. Tá tudo branco, chefia! Papá não pode mais diminuir, é um feixe. Gato-de-luvas. Cu paira no ar-rêgo. O Rocha Negra e o buraco de minhoca temporal. Minha ôca, mandióca, vazia sem água. Série atemporal de fenômenos esquizo-coletivistas. Grão funesto do passado. Jogo da memeria na internet zombeteira. Particows, partibees, partibeetles and queens in-betweens… Partisheep. Parte o navio negreiro satisfeito, da costa do Brasil. Honra a tarântula, totem sagrado! Índio não quer cachimbo, índio quer contracorrente.

BRASÍLIA

Cidades e vilas antigas possuem uma história; as americanas, sendo verdadeiras bombas urbanas sem planejamento, possuem verdadeiras expansões epidêmicas, incontroláveis e vertiginosas. Cidadezinhas recentes não têm nem uma nem outra coisa. Elas sonham com um passado impossível e uma explosão improvável.”

a terna loucura dos subúrbios”

Ação ou isenção? Votação, petições, solidariedade, informação, direitos humanos: todas essas coisas são extorquidas de você sob a forma de chantagem promocional ou pessoal.”

INDOLÊNCIA, INATIVIDADE

“Se gerações de camponeses jogaram a vida fora com trabalho duro, certamente devemos reconhecer, outrossim, que eles não gastaram mais tempo em labuta do que em momentos de preguiça.

Meu avô parou de trabalhar quando ele morreu: era um camponês. Meu pai parou bem antes do seu tempo: funcionário público, aposentadoria precoce (ele pagou por isso na forma de uma hipocondria mortal, mas sem dúvida isso foi como tinha de ser). Eu nunca comecei a trabalhar, tendo usufruído bem cedo de uma situação marginal e sabática: a de professor universitário. Quanto às crianças, elas não tiveram filhos. É então que a seqüência prossegue até o estágio supremo da impassibilidade.

Essa inatividade é rural na essência. É baseada num senso de mérito e equilíbrio <naturais>. Você nunca deve fazer demais. É um princípio de discrição e respeito pela equivalência entre trabalho e terra: o camponês dá, mas cabe à terra e aos deuses dar o restante – a maior parte. Um princípio de respeito pelo que não vem do trabalho e nunca virá.

Esse princípio traz consigo uma certa inclinação para acreditar no destino. A indolência é uma estratégia fatal, e o fatalismo uma estratégia de indolência. É dessa correlação que derivo uma visão de mundo que é ao mesmo tempo extremista e preguiçosa. Eu não vou mudar nesse aspecto, não importa como caminhem as coisas. Detesto a agitação buliçosa dos meus concidadãos, detesto a iniciativa, responsabilidade social, ambição, competição. Esses valores são exógenos, urbanos, coisas eficientes e pretensiosas. São qualidades industriais, enquanto que a indolência é uma energia natural.”

OBS: Eu sou o pai e o avô de Baudrillard num só: funcionário público que não se aposentará. Semi-homem rural. Camponês de terno. Meu pai concentrou ambivalentemente as duas vidas, não ao mesmo tempo, intercaladas, mas nos extremos: o funcionário dedicado e de chefia, ideal burocrático, décadas a fio, e depois, ainda antes da velhice, o “homem fazendeiro”, em ócio idílico, o sonho-mor da meia-idade industrial fatigada. Overdose decantada. Meu filho (?!) poderá ser qualquer coisa, não há nada que nos diga se estamos marchando para frente ou para trás, em que pese eu ter renegado a universidade com todas as forças… Ou quem sabe estamos estagnados no Zeitgeist da França da Guerra Fria, a da juventude baudrillardiana: ainda não tivemos nosso Maio de 68.

SALDO ZERO

Ainda na p. 7: Eu e o Paraíba: há aqueles que por onde passam geram eventos e acontecimentos, cheios de lubricidade, e há eu, para quem nada de bom ou ruim acontece. Nenhum “influxo demoníaco”, o silêncio da sina. Nós, os solitários e indiferentes (em mão dupla: o mundo também pouco nos dá), não gostamos de reciclar máquinas, revender notebooks antigos na OLX. Só nos daria dor de cabeça, perda de tempo. Não vale o que custa. A esterilidade nos infecta, pelo menos isso: quarentena móvel e virótica, eliminando os vírus do caos onde quer que resvalem nas imediações. Falta de carisma, falta de aura natal. Não nasci para ser prefeito de uma cidade. “Na falta de um destino que vivenciar, você só pode ironizar sobre as coisas – compensação bastarda.” “fui forçado a admitir a mim mesmo que minha imaginação conceitual advinha, no fundo, da minha impotência e esterilidade hereditária. Vingança do fatal (oh estratégias!).” “uma reflexão pálida do demônio da entropia” “Ah, the desert. There was something I experienced intensely. But then all the rest is justified, since it only takes one passion to justify an existence. But that’s just it – it was a passion for emptiness.”

Doubtless it is the secret aim of computers to put an end to the world by an exhaustive listing of data, as it is the secret aim of the photographer to exhaust the real by the endless production of images.”

Flies in the plane – a rare sight.”

speculation would never go so far as fornication, since penetration is metaphysical (Derrida dixit).”

On the lines of the Jesuit republics of the past, they ought now to found a Psychoanalytic Republic of Argentina, which would extend the rule of the Unconscious as far as Patagonia.” “After socialism in one country, psychoanalytic dictatorship in one country. Without it, the Unconscious will just fade away one day, leaving no trace.”

Word-processing as the artificial paradise of writing. The computer as the artificial paradise of intelligence. Like a landscape where the camera lens would automatically correct the contours of the land, it is now impossible, on some computers, to make spelling mistakes. On some others it is even impossible to exchange ideas. The machine corrects automatically.”

Reagan’s smile still hovered in the air after Reagan had disappeared. Kennedy’s murder was also still in the air long after Kennedy had disappeared. Reagan’s cancer is in keeping with his smile, since the person who can only smile is a candidate for cancer, whereas those who show political imagination expose themselves to murder.”

the oceanographer of ennui.”

There is no word in Japan for referring to communication. No concept of the universal either. For them, the universal is a local system, Western in character.”

O <livre-arbítrio> é grandemente assegurado no exterior hoje em dia. Mas se torna, por dentro, tristeza sob a ação repelente automática dos anticorpos, o enduro da vontade provocado por enzimas perversas – a rejeição da mente. (…) Isso é basicamente a rebelião das energias, a conspiração de uma vontade secreta contra todas as escolhas e cálculos existenciais. Logo depois você tem de recair em qualquer velha forma supersticiosa de tomada de decisão. (…) (e a liberdade é um corpo heterogêneo no universo metafísico), na animadversão ou qualquer loucura do gênero – o equivalente mental da rejeição biológica.”

O sofrimento é sempre um sofrimento relativo à indiferença patética do mundo quanto a nós” “A ironia é uma arma da astúcia, inevitavelmente maliciosa, inevitavelmente tornando as coisas piores, mas nos confortando frente à crueza da doença.” Esse comentário me lembra o P**** M******. O bom compadecido.

A BERMUDIZAÇÃO DO TRIÂNGULO DA REALIDADE

The invisible aircraft. So impossible to locate that it can no longer even locate itself and loses track of its own position (three of the planes crashed during testing).” “como é bem sabido, ao brincar de pique-esconde você nunca deve ficar invisível demais, ou os outros vão se esquecer de você.”

Hoje os grevistas são utilizadores-de-greves. O mesmo para greves de consumo.” Talvez seja bom deixar de comprar o suco de uva provisoriamente; quem sabe um suco de laranja seja um bom refresco, uma agradável novidade… Vamos curtir uma praia, mas com moderação. Não diga sim ao sindicato, diga ‘mais ou menos’.

Firmes convicções só podem ser derrotadas pela imbecilidade mais desenfreada.” D***, o eterno “último a falar”, irrefletido no espelho.

TEMERIDADES

PRÓLOGO DO FIM: O presidente, no acme da impopularidade indissolúvel, que dança para se conservar no cargo até o fim concreto do mandato (mais abstrato do que nunca, a essa altura), contra todas as probabilidades, é o verdadeiro esfomeado do bandejão. Não contente com a montanha de arroz, feijão, salada e carne de segunda que conseguiu deglutir, quase sem ter de pagar por isso, ainda lambe o prato de forma impecável, recusando qualquer ajuda, repelindo o mau-olhado dos garçons ou responsáveis por lavar a louça suja, sugando qualquer grão ou partícula sobrevivente. Com efeito, é ridículo o espetáculo e inócuo o banquete, não há calorias ou sinal de nutrição real, e há um constrangimento difícil de disfarçar nas mesas em torno, mas o que importa é a auto-satisfação, que se explodam as testemunhas, o tribunal da consciência: talvez a côdea de pão, o restolho de purê ou pirão, realmente valham a pena, não importa quão bem-vestido seja o lambedor, quão desprezível e caricato seja o ganho. Ele simplesmente não pode evitar…

INTERMEZZO

se consolar na desaparição

tocar sanfona para o auditório vazio

gozando na própria cara

ADÁGIO-RESUMO: De tanto simular a própria morte, ninguém irá ao enterro verdadeiro da democracia, passaram a ignorar a velha e sua tosse que já não sabem se é qualquer espasmo doentio ou fabricado. Na verdade, é bem possível que isso (a última missa) tenha sido num passado remoto. Nossas memórias andam mesmo pra lá de desreguladas. A dama era tão velha que talvez já tivesse uma filha idosa, e confundimos as duas. Uma já morreu, a outra é só uma cópia. Especulamos, somente, porque nenhum repórter daria mesmo esse furo.

Toda a arte da política hoje pode ser resumida assim: chicotear a indiferença popular.”

A painter exactly repaints a particular Picasso, a Matisse or a Velázquez. He signs this work, which is not a copy, finds a gallery to exhibit it and people to buy it. He may even merely sign the photo of a famous work. Why is it not possible to republish Sein und Zeit [Ser e Tempo de Heidegger] or La Chartreuse de Parme [O Monastério de Parma, de Stendhal] under my own name? Why is what is possible in painting, not possible in literature (and in music and architecture)?”

THIN [R]ICE

sideral sai do real

areal ao lado

irreal acima

desreal abaixo

pan-real nas latereais

dia-agonal

Escrever numa pressa enorme, quase até o ponto de haver terminado antes de haver começado, produz uma leve ansiedade – a impressão de ter concluído rápido demais, de que você está se destruindo com impaciência. Uma ansiedade ligada ao eclipse do Outro e, ao mesmo tempo, ao eclipse do conteúdo referencial. Um efeito de eletrocussão, de recuo – igual o de uma arma. Tudo sobre o que se escreve está desaparecendo – essa é a única razão convincente para escrever. Jenseits des eigenen Schattens [O Acolá da própria Sombra].”

CRISÁLIDA DE HERÁCLITO

Escrever as coisas muito rápido para não deixar a linha de raciocínio em aberto, aguardando uma chamada excepcional, um insight, <travado>, <dependente>, <responsável>, <lógico demais>… Melhor um auto-circuito fechado. Retrô alimentado. Alienado. Bifê refogado. Patógeno alienígena. Vírus adaptativo. Micróbio super-resistente. Super-ei. Superei a mim mesmo. A mímica. A mimese. Alívio nas costas sempre tensas. Explicar, esmiuçar, abordar, antecipar, sair do lugar? Convencer? Em plena era dos crentelhos? A-ham, espelhos… Convencidos os Narcisos… Atitude inicial, iniciativa, resposta anterior à provocação, é sempre pior que uma queda, uma precipitação! Jamais prova nada além do outro, mesmo que só para si prove os próprios pontos de vista, diante de D. Polícia da interpolação. Pop ululação das massas. Nelson Gaga. Ruptura. Tontura. Acupuntura. Suturas e remédios. Não é um cura, é só um médium.

Deveríamos nos admirar não de que haja tanto caos e violência, mas de que haja tão pouco e tudo funcione tão bem. Dados o nível de agressividade de cada motorista, as fragilidades dos equipamentos e a correria do tráfego, é um milagre que milhares não morram todo santo dia, é um milagre que não nos matemos uns aos outros senão raramente e que só uma pequena porção dessas possibilidades desastrosas atinjam a fruição. Quando se vê o imenso caos burocrático, o número de decisões absurdas, a fraude universal e o desperdício de nossas virtudes cívicas, a única reação natural é maravilhar-se diante do milagre diário dessa máquina que, de um jeito ou de outro, continua a funcionar, puxando consigo em sua órbita todo o detrito que ela mesma gera. Afora quebradeiras episódicas (não mais comuns, definitivamente, que tremores de terra), é como se uma mão invisível gerenciasse toda essa bagunça, normalizando a anomalia. Esse é talvez o mesmo milagre que nos previne de sucumbir, dia a dia, à idéia da morte ou à melancolia suicida.”

TRADUÇÃO LIVRE, ASPECTOS AUTORAIS: “Uma economia da poeira e da sujeira é uma aventura em si mesma e uma economia das aranhas, além de um desafio à natureza, é incorrer num risco ainda maior. Mas tentar uma economia do livro, abrir bibliotecas, organizando o inorganizável, permutando desordens que jamais se repetirão (Heráclito?) é realmente absurdo, deve trazer até má sorte. É tão pretensioso quanto a idéia de reorganizar num índice alfabético os neurônios do seu cérebro! Além do mais, a biblioteca é o topo da cadeia alimentar, acumula as 3 funções descritas, ao invés de ser apenas uma crematística dos livros: todo livro é um depósito de ácaros, todo livro é um lar em potencial de aracnídeos…”

A interdisciplinaridade vai matar os conceitos.

Num sistema tão perfeito quanto este, basta que te tirem o café-da-manhã para que te sintas imprevisível.”

Glenn Gould, o pianista definitivo do séc. XX.

OLÁ EU SOU FRANCÊS

se tivéssemos depositado todas as nossas energias para consumar a revolução de 1789, fato é que não teria sobrado nenhuma energia para celebrá-la.” “A energia usada para mentir não pode ser usada para falar a verdade. São duas energias totalmente distintas. Talvez que ambas as vertentes jamais se cruzem em algumas individualidades peculiares. Isso explicaria vermos alguns sujeitos que são perfeitamente sinceros e perfeitamente hipócritas, sem a menor imagem de contradição. § Toda transfusão de energias heterogêneas leva a sérias desordens (como um erro numa transfusão de sangue). Querer comungar energia sexual e energia mental soa tão aberrante quanto pedir que células cerebrais executem funções do fígado. Há uma energia específica para palavras e uma energia própria para imagens. Nem sempre apenas cópias se anulam, mas até figuras opostas! Canibalismo somático.” “Em suma, a energia que se dissipa comemorando uma revolução nada tem a ver com a energia-matriz que a gerou anteriormente.” “a energia das eleições é desespero; ainda que multiplicada ao infinito, não transmuta numa só esperança ou fato político” “Também é mentira que hoje em dia o social <perde> uma vez que temos muitas expensas militares.” Só haveria entropia verdadeira no cenário mais improvável da coincidência de infinitas entropias infinitesimais…

é a precessão da resposta sobre o enigma da (a pergunta sobre a) existência que torna o mundo indecifrável.” “A Filosofia moderna se jacta, afetando auto-suficiência, de haver formulado inúmeras questões decisivas para as quais não há respostas, mas na verdade o que temos de aceitar de uma vez é que não há, nunca houve [doente é ser o que?], pergunta alguma, caso em que nossa responsabilidade se torna total, já que SOMOS a resposta – e o enigma permanece, assim, insolúvel e pleno — eu diria, unilateral.”

Me pedem para escrever ficção. Ficção? É o que eu já faço. Meus personagens são um número de hipóteses malucas que maltratam a realidade de várias formas e cada um deles eu mato no fim, quando já cumpriram seu papel.” No meu livro agathachristieano, o bandido não é descoberto no final.

ME RECORDO DE TER SIDO PLATÃO SÓ NÃO LEMBRO QUANDO EXATAMENTE

Um romance ambientado no STF seria chamado como? Justiça & Repartição, é lógico…

CARAMBA, QUE INCONSCIENTE CAVERNOSO VOCÊ TEM, LOBA VOVÓ MÁ! Por que uma cabeça tão inchada e um poço de memórias tão profundo, hein? Bom, não vivo em prol da utilidade, mas, isso à parte, digo-te: é para te englobar sem o menor esforço, é para sumires sem pista nem recordo nessa imensidão não-azul, te nadificares todito… Sou espaçoso, ainda que ocioso… Burp!

Como as jovens cegas se maquiam?

O anúncio publicitário é a Extrema Unção reconciliadora de nós mesmos com o artificial.”

PSICANALIZADO & ZERADO: Encarando duas psicanálises ao mesmo tempo. Mais sutil que isso seria ter dois inconscientes e só um psicanalista (que não teria mais nenhum).”

Cicciolina é uma espécie de personificação do amor. Na verdade ela dissemina o amor sexual pelo corpo todo, isto é, desviriliza o órgão genital; irônico para alguém que é a encarnação de algo abstrato! Diz Baudrillard: é o sonho consumado, a meta, de Reich. “O último avatar do desejo se torna membro do parlamento – fantástico! [O que vem a seguir, a Playboy da mulher do Cunha?!] Em suas aparições televisivas pré-rafaelíticas [pré-renascentistas], ela parecia a única a estar viva, a única natural! Tendo exorcizado toda a modéstia, extravasado toda a imodéstia, ela finalmente se tornou, em sua doçura espectral, sedutora.”

Curiosamente, todos os adjetivos conceituais que definem os fenômenos extremos da contemporaneidade têm uma forma plural anômica no Francês: fatals, fractals, banals, virals. Já os antigos valores possuem plurais tradicionais: égaux, moraux, finaux, globaux.” Desse ponto de vista, o Português é a média com o universo, o bajulador perfeito; e o Inglês, a nadificação ultimada da língua e do homem. Não declino-para-nada, soul-pára-mor.Te

Hegemony of the commentary, the gloss, the quotation, the reference. But absolute superiority of the ellipsis, the fragment, the quip, the riddle, the aphorism.”

On me (us): “Deconstructing is a weak form of thought, the inverse gloss to constructive structuralism.” “it exhausts itself in passing the wor(l)d th(r)ough the sieve [peneira] of the text, going over and over the text and the exege(ne)sis with so many inverted < commas >, italics, ([pa](ren[t)h]ese[(s)] and so much etymology that there is literally no text left.” I’m bored

O dicionário é a minha faca (que corta e liga as coisas).

Deconstructing is as interminable as psychoanalysis, in which it finds a fitting partner.”

psicossíntese

By his own admission, Descartes only thought for two to three minutes a day. The rest of the time, he went riding, he lived. What are we to make of these modern thinkers, then, who think for fourteen hours a day? Just as Barthes said of sexuality that in Japan it was to be found in sex and nowhere else, whereas in the USA it was anywhere but in sex”

P. 17: “Todo ser humano julgado inferior por um outro automaticamente se torna superior a esse outro. É o que acontece em relações homem-mulher: a mulher presumida inferior imediatamente se torna superior. O oposto não é verdadeiro: quando uma mulher vê um homem como um ser superior, ela não se torna seu inferior mas está, ao invés, meramente em postura de sedução. E se um homem vê uma mulher como um ser superior, ele não se torna seu inferior: ele descansa meramente em postura de admirador.

A mulher atenta a essas coisas as nega veementemente, alegando que a tal superioridade feminina é uma fantasia masculina – mas dado que a suposta inferioridade da mulher é da mesma ordem, quiçá haja apenas fantasias masculinas? Nesse ponto, a mulher está sob risco de ceder à tentação de acreditar em si mesma como superior ao homem (o que é diferente de sê-lo). É então que ela se torna imediatamente inferior à própria feminilidade, i.e. igual, com efeito, ao homem quando ele, como é usual hoje, se torna inferior à própria essência masculina.”

investimos toda nossa liberdade no louco desejo de tirar o máximo de nós mesmos.”

Loucura horizontal, a nossa loucura (…) a loucura do autismo – em oposição à loucura <vertical> de anteontem, a loucura psíquica, a loucura transcendente da esquizofrenia, da alienação, da inexorável transparência do Outro. Hoje em dia tudo o que vemos são as monstruosas variantes da identidade: a do isofrênico, sem sombra, transcedência, Outro ou imagem, a do autista que, como tinha de ser, devorou seu próprio duplo e absorveu seu irmão gêmeo (ser um gêmeo é, por sinal, uma forma de autismo <a dois>). Loucura identitária, ipsomaníaca, isofrênica. Nossos monstros são todos autistas maníacos. Como produtos de uma combinação quimérica (mesmo quando é uma genética), desprovidos da heterogeneidade hereditária, afligidos com a esterilidade hereditária, eles não têm outro destino senão caçar-se desesperadamente uma <Outridade> por intermédio da eliminação de todos os Outros (Frankenstein – mas esse é também o problema do racismo). Computadores são autistas, máquinas celibatárias: a fonte de seu sofrimento e a causa de sua vingança é a natureza recalcitrante e tautológica de sua própria linguagem.

Onde quer que observemos, constatamos loucura horizontal se opondo à vertical.”

Todas essas coisas – ser um gêmeo, incesto e, até um certo ponto, homossexualidade e narcisismo – são mais profundas e potentes que a sexualidade e a única fuga em potencial é a morte.”

Ao princípio da separação de Segalen, da eterna incompreensibilidade, devemos agregar o princípio da eterna inseparabilidade em física de partículas. Essa simultaneidade de dois princípios opostos tem de ser pensada por inteiro até o fim. Não se pode estar mais separado e mais inseparável que o eu e a vida.” Obstinado em cristalizar-se. O banhista do rio heraclitiano quer agarrar-se às margens, e de fato o consegue por alguns poucos segundos, mas a correnteza é muito forte, e lá vai ele de novo, atabalhoado e engolindo água… Este eu que sou agora, é a Pura Morte, até virar apenas pegadas, e depois tudo menos isso, nem ao menos isso… Obstinado em morrer, mas ainda não é a sua hora. Ha-ha, nem é sua nem é hora. Nem o “mas”, muitos menos o “é”, talvez então o NÃO, talvez… a… não, de novo não… Rio Heraclitiano hoje é Zeus-peniano. Translúcido eletrochoque não-venenoso. Água-viva arraia-miúda do fundo do corrégomar. Medusa desperta, mentira que faz mimir. A água é um excelente metal.

A Metempsicose do Gato: ele foi camelo, cachorro, tartaruga, homem, planta, bruxa e filósofo.

Andar atrás de alguém é a ilusão cômica de nosso tempo.

Andar atrás dos outros é a ilusão trágica.”

Nunca um elevador sem piso

Nunca um sonho sem elevador”

Sempre um sonho meio aéreo

A viagem, como a existência, é uma arte não-figurativa.”

Para nós ir a Buenos Aires é como pisar na Lua. Tanto faz se o astronauta é de verdade ou o ambiente é simulado. Deserção: virtude feminina. A(s irmãs) América, a (lua) Europa, a Oceania, a África, a (linda) Ásia (de Maomé), a Patagônia…

Um dia descobriremos o gene da revolta. E talvez até o gene da revolta contra a engenharia genética. E muda isso alguma coisa sobre a revolta em si mesma?”

O caminhão carregando 35 toneladas de iogurte que colidiu contra a fábrica de laticínios. Uma excelente sacada acidental do real.

Médicos sem Fronteiras aumentam a taxa de mortalidade por onde passam, quando passam e por lá ficam. Ficam, ficam, ficam e morrem.

Alergia a coisas muito mais impalpáveis que a poeira.”

DV: “O compact disc. Ele não se desgasta, mesmo após usado. Espantoso. É como se você nunca tivesse usado. Então é como se você não existisse. Se as coisas não envelhecem mais, então é porque é você que está morto.”

Debaixo de sua franja, isolada do mundo via fones de ouvido. Coração moído, sentimentos intra-expansivos. Cartões-postais de cidades mal-conhecidas é seu único passatempo ou meio de comunicação. Durante o vôo, logicamente.

O mundo tornou-se um seminário. Tudo agora se reveste dessa forma acadêmica cansativa. Algumas existências são meramente um perpétuo seminário, sequiosas por uma lápide feliz à sombra da Cultura em seus estertores. O Juízo Final se converteu num simpósio gigante, com toda locomoção e estadia pagas de antemão.”

TRANQÜILO CHÁ DAS 5, MUITO EMBORA VAMOS TODOS MORRER MESMO DE TANTO O SOL BATER EM NOSSAS NUCAS DESPROTEGIDAS…

A camada de ozônio é a desculpa perfeita para o chato não trabalhar. Crachá de chato. Chatocrachá. Crachato, cara chato. Cratera terrestre-solar. Chávena de chá. Craque em ser chato como uma tocha que deve ser carregada num dia de calor. Regar a tocha, cagar conteúdos, óleo, óleo verbal escorrendo às pampas. Cálcio nos ossos. Coceira extremamente chata. Inoportuna. Gastar calorias com a língua. Ser. Ser chato. Ser chato tomando chá. Sendo chato tomar chá. o Ser-chato-chá. O estar-sendo, o ser-para-as-5, o ser-para-o-chá, a hora do inglês ver e ouvir embalado e embalando na cadeira de balanço à penumbra da porta, ante a penteadeira da vovó. Cheiro de mofo engraçado e prazenteiro. Vai um biscoitinho? Feito com muito amor e carinho. Impulsividade impossível. Acabamos aceitando.

What is being destroyed more quickly than the ozone layer is the subtle layer of irony that protects us from the radiation of stupidity. But, conversely, we may also say that the subtle film of stupidity, which protects us from the lethal radiation of intelligence, is also disappearing.”

O desejo, o corpo, o sexo terão sido meras utopias como o restante: Progresso, Iluminismo, Revolução, felicidade. Já estamos evitando o sol por medo do câncer (com um olho na ressurreição dos corpos?), desistimos do sexo diante dos perigos, nos exprimimos cada vez menos em público, paramos de fumar, beber, foder. A Nova Ecologia Política está em marcha. Vigie a sua parte da equação! Concentre-se na salvação das espécies e se divirta o menos que puder. Mas coragem! Um dia a camada de ozônio vai ser substituída pela camada de todos os detritos que dejetamos no espaço. Há uma justiça nisso: um dia seremos salvos pela poluição como hoje somos salvos, politicamente, pela servidão.”

o desejo foi para toda uma geração algo como uma estrela-guia. Hoje é só um satélite-observatório.”

Não temos aiatolás.

Não há mais como ofender ou causar aversão; em prol da subversão, nenhuma reação. Será que alguma manipulação secreta já teve êxito em desligar todos os genes da negatividade, todos os reflexos da violência, todos os signos do orgulho?”

ora, se até para obras de arte (nas quais o autor dá sempre o seu melhor para eludir qualquer tipo de interpretação) arranjam significados, por que não posso ser o crítico-entusiasta do belo movimento de implosão da vazia fascinação pós-hollywoodiana?”

os artistas plásticos, quem diria, me lêem me levando a sério, literalizando todas as minhas metáforas” “simulação não é o modelo de nada; assumir a simulação é a abandonar a simulação”

toda a nulidade do mundo contemporâneo na brancura da escrita. Com a piscadinha vulgar da pós-modernidade inclusa no pacote. Mas, diante disso, Camus é quase um clássico metafísico inatingível.” A era em que “pintura ruim” não mais é pintura ruim… Deduza as consequências, grave uma britadeira no estúdio e ganhe milhões, sem dividir com o inventor da britadeira…

Lixeira poética – títulos de possíveis obras:

POT-POURRI DO CILA

A ÉTICA DO DESTINO

SOBRE AS CINZAS DE DEUS

DESALENTO TOTAL

MEU NU É O NADA

A SEMIÓTICA DE TUDO AO MESMO TEMPO

PÓLVORA EM PALAVRAS

PARA DESAPRENDER O QUE EU JÁ SEI

O LIVRO DA BATATA QUENTE

900 PÁGINAS DE UM TUMOR ESBRANQUIÇADO

A INFUSÃO DO MAL

COMUNICAÇÃO (IGNORÂNCIA) É UMA BÊNÇÃO

A ALEGRIA DA DESRESPONSABILIZAÇÃO

PODIA SER PIOR

MONOTONIA CENTRÍPETA

PIONEIRISMO CIRCULAR

O LABIRINTO DA LINHA RETA // TODA LINHA RETA É UM LABIRINTO

Quem fala não desejar catástrofes e diz nunca esperar o mal do próximo nunca precisou de um órgão na fila da emergência. Transfusão, rá!

Sou um inquebrantável bloco de fragilidades autorreguladas

Microtrabalho em equipe do solitário

Golfinista

mesmo os suburbanos possuem um ânimo pioneiro ou animal”

Hamlet das horas de sono: dormir ou não dormir, eis a questão.

Que horas são? Hora de encontrar o meu relógio…

US: “Tanto com os puritanos faraônicos – os dos domos e templos – quanto com os grandes apostadores – os dos porn-shows e das luzes ofuscantes – ficamos com a mesma impressão de umpovo eleito ou maldito, talvez por conta do local desértico e da luz.” Coast to coast the same boast Dinheiro opaco do cassino, Jesus de vidro transparente A. o “proud of his values” de terno, gravata e cartão estourado assepsia de quem anda comigo engenharia social seleção supranatural

Uma das atrações de um parque americano: você adentra um labirinto e se perde, sem saber por onde ir, verdadeiramente inábil para achar a saída. Isso dura uma ou duas horas, dependendo de qual ingresso você comprou na entrada, no fim das quais um helicóptero pousa e o extrai.”

Na Disneyworld da Flórida eles estão construindo uma paródia gigantesca de Hollywood, com boulevards, estúdios, etc. Mais uma espiral no simulacro. Um dia vão reconstruir a Disneylândia na Disneyworld.”

A estupidez do exagero dos meios para um fim. A única coisa comparável à força bruta e ao esforço desproporcionais empregados por três escavadeiras que fazem o serviço normalmente alocado a dois trabalhadores manuais é a pletora de referências, bibliografia e registros em cartões de biblioteca necessária em exercícios pré-natais para o parto sem dor de uma pequena e digna de pena verdade objetiva [, necessária para construir as máquinas].”

A tentação de não existir para ninguém, de demonstrar que não existe para ninguém. Esse é o complexo do refém – o refém em quem todos logo perdem o interesse. Uma fantasia pueril: verificar se alguém o ama. Algo que você nunca deve tentar. Ninguém encara tantos suplícios por uma pessoa.”

Não se pode ter o bolo e comê-lo também

Não se pode ter a esposa e fodê-la ao mesmo tempo

Não se pode foder a própria vida e salvá-la junto”

Um dos prazeres de viajar é mergulhar nos lugares em que tantos outros estão obrigados a viver e depois emergir incólume, cheio de um prazer malicioso de abandoná-los a seus próprios destinos. Mesmo sua felicidade local parece estar subordinada a uma resignação secreta. Ou, ao menos, nunca pode ser equiparada à liberdade de partir. É nesses momentos que você percebe que não é o bastante estar vivo; é preciso atravessar a vida. Não é o bastante ter visto uma cidade; é preciso tê-la atravessado.” Aplicável ao TEMPO (“Eles ainda estão no meu ontem, coitados!”). “O essencial não é pensar a idéia, mas superá-la.”

Uma nova arte do body-building: engordar até os mais de 100kg, tornar-se um obeso, massa amorfa, para depois modelar a massa via escultura interna ao desenvolver os músculos de uma área particular e usar os exercícios apropriados para tirar da gordura uma forma.”

As vitrines de loja, a flora intestinal da cidade.”

O sono pode às vezes ser o equivalente a uma briga doméstica silenciosa. Pela manhã, dependendo de como foi o sono de cada um, marido e mulher podem ter se tornado completos estranhos um ao outro.”

É difícil fitar alguém terna e desapaixonadamente enquanto a insulta carnalmente no mesmo grau da impassibilidade e ternura faciais usadas. É difícil falar com aquela engenhosidade, distraído pela sensualidade das pernas nuas debaixo da minissaia negra, em que alguém poderia resvalar sem sequer ser percebido. Ainda assim a beleza de seus traços contraria qualquer senso de ciúmes ou concupiscência. Nesse nível, a diferença sexual desafia a imaginação, a beleza é como um signo astrológico.”

No passado, as doenças físicas eram sublimadas nas paixões da alma. Hoje, a dessublimação das paixões é expulsa pelos vírus do corpo.”

Pensamentos circulam como o bolo alimentar no labirinto do intestino delgado, com a certeza de encontrar a saída sob a forma de excremento.”

Já foi dito que a probabilidade de um macaco digitar o Hamlet é infinitesimal. Mas a probabilidade não é só baixa; é zero. E menor que zero, já que, se houvesse uma oportunidade do macaco conseguir, significaria que Hamlet seria só uma probabilidade em bilhões, o que é estúpido. É o sonho dos cretinos da estatística que, exaurindo as probabilidades, você possa terminar escrevendo o Hamlet. Mas isso é impensável: o Hamlet não é da ordem da probabilidade. Ele é tanto radicalmente improvável quanto supremamente necessário. Probabilidade minúscula, necessidade máxima. O mundo é o que é e isso é tudo. A probabilidade de que ele pudesse ser diferente ou que o Hamlet eventualmente nunca tivesse existido é a única chance que resta a uns sujeitos de segunda classe de reinventá-lo em seus computadores. Ou, pensando bem, a única chance em aberto para os macacos. (Nada tenho contra os macacos; isso é uma metáfora.)”

Contrariamente à superstição, que consiste, sob o véu dos direitos humanos, no estender responsabilidades ao infinito, ansiamos por coisas que nos aconteçam pelas quais não sejamos os responsáveis, e nem nos deleguem essa responsabilidade.”

Outra Catástrofe jaz a nossa espera, a da superprodução cultural. Somos impelidos a acreditar que no mercado cultural a demanda vai exceder a oferta ainda por um bom tempo (então todos os estoques vão zerar). Mas podemos mensurar desde já um apreciável excesso de oferta sobre demanda na economia cultural do cidadão médio. Mesmo hoje, a criatividade desenfreada excede nossa capacidade de absorção. O indivíduo mal tem tempo para consumir os próprios produtos culturais, quanto mais o dos outros. O público faz o seu melhor: corre para as exibições, festivais, mas se aproxima o limite. Eles vivem repetindo que o público quer ainda mais e que as pessoas nunca terão cultura demais. Mas é uma ilusão de perspectiva colossal. E de duas uma: ou a cultura é meramente um rito ou idioma, e neste caso nunca foi produzida aquém ou além do necessário, ou passou a se comportar como o mercado, com suas edições limitadas, concorrência desleal e especulação, e só se pode esperar os mesmos efeitos que na ruína de 1929 na esfera da produção material: o fim das assunções <naturais> da economia, que depois das imagens de hot capital (bolhas inflacionárias) e circulação exponencial, tornou-se especulativo. Assim como tivemos a Quinta-Feira Negra [que ironia…] de Wall Street, teremos também um Black Sabbath da cultura.”

cabarE.U. (Exclusão do Um or Eunuch Ultimatum): “The age of exegesis and pleasure is disappearing, each person producing his performance in a climate of general indifference.” Ícone: um blogueiro que não consegue digerir e ruminar o próprio conteúdo tendente ao infinito que gera em seu blog. De qualquer jeito, seus dedos “defecam” “novas” mais rápido do que seus olhos e miolos conseguem processar a informação.

Eu não ligo pro seu

você não liga pro meu

Seus anúncios ostensivos são em vão

Eu me recuso a mostrar sinal de vida

ou animação

Morra famélico, produtor!

Vou passar a devorar meu próprio rabo

até ficar mais chato…

O que há lá além de bens imateriais que reestimule a demanda?”

haverá uma destruição em massa desses bens a fim de resgatar o signo-valor / valor simbólico, bem como sacas de café foram destruídas em locomotivas para resgatar outrora o valor de troca.”

batismo por imersão fetal.”

Esse é o destino de todo sacramento: se simplifica com o tempo.”

consenso: talvez seja ele o vírus epidêmico e devastador de nossos tempos modernos, contra os quais produzimos menos e menos anticorpos.”

Comunicação é para a linguagem o que a reprodução é para a sexualidade.” Um mal necessário. “By contrast, the poetic ecstasy of language corresponds to the libertine phase of a sexuality without reproduction (poetic language is exhausted in and by itself and no more reproduces itself than does thought which, for that reason, is never assured of continuity).”

Esse poder que temos de nos identificarmos com o outro nos sonhos, de substituir nós mesmos por esse outro, de fazê-lo falar mais sutilmente do que fazemos nós mesmos. De saber nos sonhos o que não sabemos sobre ele na realidade. Como se estivéssemos vivendo instintivamente na cabeça do outro. Como se a inteligência dos sonhos fosse a de um diretor de teatro exógeno, impessoal (muito embora completamente imerso ele mesmo no sonho), cuja identidade não é mais relevante para ele mesmo do que a de qualquer outra pessoa.”

Mesmo se o santo sudário fosse genuíno, a Igreja, tendo mais precisão hoje de uma garantia de capacidade crítica que da fé dos seus crentes, teria tido ainda assim de reconhecê-lo como falso.”

limpamos nossa consciência como brancos; nos tornamos mais brancos que brancos.”

A pessoa cujo stereo quebra um dia e nunca mais em sua vida volta a ouvir música.

A pessoa que perde seu avião por puro azar e volta pra casa para jamais sair de novo.

E por que nâo?”

Em algumas situações, basta uma palavra a mais para acarretar um suicídio, mas basta só um miligrama a mais de barbitúrico para acarretar a ida além do próprio suicídio.”

Madrugada no hotel nos limites da cidade. O fio do sono é cortado pela insônia da matilha. Você gostaria de se levantar e estrangular aquele cachorro que acaba de latir lá longe, mas qual é o sentido disso? O contágio começa de novo aqui e acolá, esporadicamente, e de repente explode num uivado generalizado. Depois, traiçoeiramente, começa a diminuir no espectro (fade out) e você já imagina poder tirar seu ronco novamente, quando alguma criatura quadrúpede patética solta outro ganido solitário em direção à lua, acordando seus clones sonambúlicos, que latem um atrás do outro… A noite chega ao fim e o galo começa a cacarejar. Só aí é que vence o silêncio, sucedido pelos sons baixinhos e anestesiantes dos primeiros hóspedes que acordam.”

A condição ideal do trabalho é a indolência. A vacuidade espacial da viagem é o equivalente da vacuidade temporal da desídia. Você pode se mover em todas as direções e o ritual do espaço é confortavelmente o equivalente do ritual do confinamento numa sala fechada.

(…) você pode dissolver no nirvana da viagem e perseguir tarefas burocráticas como caçaria sua própria sombra. O que ainda é melhor do que perder sua sombra por trabalhar.”

ninguém quer engravidar a filosofia, mas pouco importa: a criança nasce mesmo assim, por telepatia. Essa desafortunada criança já nasceu recebendo a Extrema Unção heideggeriana dos satélites além-túmulo e saiu flutuando, iluminada pelos reflexos dos picos transalpinos, rumo ao sétimo céu da filosofia.”

ESTRANHAMENTE AUTOBIOGRÁFICO: “Comportamento territorial furioso. Não cace em minhas terras e eu não caçarei nas tuas. Furiosamente temperamental. Rimbaud. Lentidão, falta de cultura, o desejo fremente de cortar relações. De se livrar inclusive da família, dos objetos, da memória, de tudo – de sofrer uma purificação total. Ab-reação[*] violenta à origem, desgosto pela continuidade. Camponês nômade. Ainda é a Temporada no Inferno.”

[*] “[Psicanálise] Reaparição consciente de sentimentos até aí recalcados.” MURO DAS LAMENTAÇÕES. DESVIO DA ROTA. PREDESTINADO. MISSÃO. O SOFREDOR INCOMUNICÁVEL. X-TUDOTUDO. REMORSO ESGOTO. PEDRO. TIANGUÁ. PEDRA. MOLE. RAIVA. PAI. MORTE. FINALMENTE ESTOU VIVO MAS QUERIA ESTAR MORTO (caleidoscópio de sensações 2009-2013) TO BE CONTINUED?! VONTADE DE REPISAR ESSES ACONTECIMENTO ESPREMIDOS NO TEMPO ATÉ DESFIGURAR A FACE DE CADA UM QUE ME DESPEITOU NESTE PERÍODO INTENSOINSANO DE MINHA VIDA LASTIMÁVEL. ONDE ESSAS MEMÓRIAS SE TRANCAFIARAM ESSE TEMPO TODO? A DOR DE PERCEBER QUE NUNCA ESTIVE UM DÉCIMO DE SEGUNDO EQUIVOCADO.

A má fé para com a história é total: Heidegger, Hitler, os campos, o Terror. Isso tudo é insultado e repudiado, mas totalmente lavado e glorificado, não obstante, num conta-gotas midiático. Pelos ditames da moralidade, nada disso deveria ter existido, não mais do que o ato homicida de Caim ou o extermínio dos selvagens. Mas teríamos de ter inventado tudo isso da mesma forma – senão, do que é que falaríamos?”

Toda nossa semiótica é meramente caridade fora de lugar com seres tão-somente inumanos, essências canibalísticas, com sua hipocrisia semântica (a constante aparência de ter significado).”

Chega de piedade pelos signos. (…) Signos são tão arcaicos quanto as pedras, mas mais sutilmente indiferentes”

No escrever, o momento mais encantador é o da condensação, elipse, rarefação. Construir núcleos cada vez mais densos em torno dos quais a luz se desorienta, e o pensar também”

Fruir o signo em vez de usá-lo é a perversão dos seres humanos. Porque a única fruição é de Deus e o único uso é o uso do signo (Santo Agostinho).”

É muito fácil se adaptar à vida australiana ou americana porque elas são o grau zero do estilo de vida. Mas o grau zero é também o da exterminação de todos os outros, e a tentação do fácil é a tentação da morte.”

Um cego vai virar dono de uma cadeia de canais de TV na Espanha (depois de se livrar do Presidente do Instituto para os Deficientes Visuais ao empurrá-lo poço do elevador abaixo).

A luta entre os incapacitados e os cegos pelo direito de vender bilhetes de loteria é apenas o prelúdio de uma luta pelo poder. Um dia, ele vai estar todo nas mãos dos incapazes. Comandar os outros, ou ser comandado por eles, pressupõe um tipo de mutilação. Então, como nos computadores e eletrônicos, aqueles incapazes de nascença – aqueles com vantagens hereditárias – serão cada vez mais capazes (com o perdão do trocadilho).

As hierarquias do futuro serão hierarquias da falta. Os intelectuais, que estiveram até hoje bem-situados na corrida, perderão os privilégios, já que seu handicap é apenas simbólico e não se compara a um bom handicap físico, seja anatômico seja cerebral, que é mais visível, mais efetivo, mais eficiente. Não estamos mais na idade da metáfora.

(…) Políticos e intelectuais serão sucedidos por mutantes de verdade, esses sem um gene ou cromossomo ou com extras (quando o vírus da AIDS tiver se tornado parte da herança genética da humanidade), ou mesmo por mutantes artificiais que não terão reprodução sexual – (…) sucessores aos eunucos que infestavam os haréns da antiguidade e os coros da Renascença, e aos hemofílicos impotentes que comandavam impérios, etc.

Isso não é pejorativo. É apenas a expressão da lei que diz que só o indivíduo a quem falta algo é capaz de preencher o vácuo de poder.”

Toda sociedade deve se escolher um inimigo, mas ela não deve tentar exterminá-lo. Esse foi o erro fatal do fascismo e do Terror revolucionário. Mas é o mesmo erro cometido pelo terror democrático, que agora elimina o Outro com ainda mais segurança que o holocausto. Se não hipostasiamos mais nenhuma raça diretamente, damos a cada indivíduo o direito de escolher o que é melhor para si, inclusive na reprodução e perpetuação do análogo – e o indivíduo ainda é racista. Aliás, é o único racista.”

Quanto mais a imagem evolui rumo à alta-definição, mais a identidade segue rumo à baixa-definição. Quanto mais a sexualidade segue rumo à baixa-definição, mais evoluímos rumo à alta-definição de todas as técnicas corporais.

Alta-definição é a definição-média de pornográfica. Todas as formas de alta-definição são indexadas ao genital (e aos genitais) no pornô. Sempre há algo obsceno na alta-definição, pois, mesmo no campo cultural – aliás, particularmente nesse campo.”

Não há prova mais clara de que o poder do Ocidente está ancorado na aflição do resto do mundo inteiro, e de que o espetáculo dessa aflição é sua glória suprema, do que a inauguração, no telhado do Arco da Defesa, na França, com um bufete oferecido pela Fundação dos Direitos do Homem, de uma exibição das melhores fotos da miséria.”

in the void the most distant objects are in radical proximity.”

essa ideologia rousseauísta da boa natureza apenas oculta pobremente a consciência obscura de uma predestinação para o mal”

Yellowstone, talvez a primeira e maior reserva natural do mundo, nos EUA, demonstra como incêndios naturais podem ser benéficos a várias espécies de plantas e animais.

Os aztecas acreditavam que apenas pelo derramamento de sangue humano a energia solar podia ser regenerada. Podemos mesmo acreditar que eles erraram tanto assim em suas crenças?”

Ficar sem signo é tão grave quanto perder a própria sombra.”

O fim da História, o fim do real, o fim dos dinossauros, o fim do ozônio, a desaparição da mulher – um fim ao remorso, o objeto perdido está atrás de nós! Há uma última vez pra tudo – a última vez já foi!”

Drogas: a única commodity ilegal sobrevalorada em escala global. O que não deixa alternativa ao Terceiro Mundo senão explorá-las assiduamente.”

Um dia veremos o reemergir do circuito paralelo do álcool.”

AIDS é a África, drogas a América do Sul, terrorismo o Islã, dívida o Terceiro Mundo. Quebras econômicas e vírus eletrônicos são, mais ou menos, os únicos sucessos do Ocidente.”

O pós-moderno é o primeiro conduíte verdadeiramente universal e conceitual, como jeans ou Coca-Cola. Tem as mesmas virtudes em Vancouver ou Zanzibar; Chicago ou Budapeste. É uma fornicação verbal global.”

Há duas espécies animais de intelectuais: aqueles que preferem carne fresca e aqueles que preferem carniça. Aqueles que preferem destroçar conceitos vivos e aqueles que preferem os restos. Eles não possuem nada em comum, exceto que são ambos mamíferos.”

Não há sentido nenhum em questionar a realidade quando mais de dez estão presentes. Toda audiência de mais de 10 se torna automaticamente defensiva e reage violentamente a qualquer desafio ao real e verdades manifestas. Nenhuma asserção radical pode ser feita para mais de 10 pessoas.”

São Paulo – indiferença e loucura

Como o céu: luminoso e fumacento – o tráfego: sonhodoramente violento

Uma passagem estridente sob a varredura das avenidas

Uma passagem estridente através da indistinta mistura das raças”

BRAZIL

Talvez a predileção brasileira pelo desfile de carnes, particularmente a das nádegas, seja mais da ordem do comestível do que do sexual. Esse era o pedaço do corpo humano mais delicioso para uma sociedade canibal que acabou permanecendo delicioso aos olhos. E esse olho talvez seja mais canibal do que luxurioso.”

As estátuas com olhos de ágata e cabelo humano imputrescível nas igrejas barrocas de Minas Gerais.”

Ao sul do Rio Grande, assim que se cruza a fronteira dos Estados Unidos, a maldição começa. A América do Sul inteira continua a viver o momento da imolação dos impérios que colapsaram à chegada dos espanhóis e portugueses e que continuarão colapsando para sempre.”

a cena de um desespero absoluto da conquista, que passou a correr nas veias de uma população inteira (…), incluindo a raça branca, que parece aceitar que não há esperança para esse continente e ele está condenado ao escândalo da exterminação. Lar das reservas planetárias da clorofila e cocaína, do oxigênio e da corrupção total dos recursos e das mentes.”

“Ninguém tem qualquer esperança real de sair desse cenário. Talvez nunca tenha havido desejo algum de libertação, de se arrancar desse primitivismo, exceto dentro de um estrato político-intelectual reduzido e epifenomênico. E mesmo seu comportamento é problemático. Tudo é planejado em termos de normas modernas (planos, programas, organização), mas, no momento da ação, há uma perda de motivação quanto aos resultados. Como se tivessem provado o que deveria ser feito, mas em seguida não tivessem mais vontade de insistir. As coisas vão bem mal, é claro, mas não pense que isso os torna infelizes, já que esse contratempo apenas lhes confirma a impossibilidade de escapar do atoleiro.

É o mesmo com as relações interpessoais: generosidade à flor da pele, uma afeição tocante e, ao mesmo tempo, apatia, despreocupação – talvez tão artificial quanto as demonstrações calorosas? Mas não: a questão é que nada deve ser dado como certo, para que o jogo continue. A relação com o tempo é a mesmíssima que a com o dinheiro e as demais: encontros, reuniões, o volume das trocas é deliberadamente todo deixado no ar. Todos são felizes com esse estado de permanente instabilidade monetária e temporal. É um jogo, é um destino. Todos os planos econômicos são condenados ao fracasso aqui com tanta segurança que o que vem a acontecer não é nem mesmo uma falha; é um espetáculo, e, como tal, compete com o futebol, o samba, os cultos, o jogo do bicho. Esse é o Brasil real, como Muniz Sodré fala, não o Brasil simulado, aquele que querem que ande no mesmo ritmo das tecno-democracias ocidentais. Como é realmente, o país está condenado, sem dúvida, e com auto-contentamento, a perpetuar o sacrifício, a imolação, a canibalização ritual de toda a sua riqueza. E por que não?”

o curto-circuito entre um mundo ritualístico e primitivo da lentidão, em que o ciclo se completa espontaneamente, e um mundo moderno da velocidade e aceleração. O resultado é incoerente: eles avançam, tomam a dianteira com determinação, e logo em seguida recaem, fatalmente, no mesmo ciclo de lentidão e são mais uma vez contaminados pelo vírus letárgico da indolência. Se eles não se mostram comprometidos com a consequência de seus atos, não é por falta de determinação ou energia, mas porque parte dessa energia permanece presa ao primeiro ciclo, ao qual ainda estão apegados. Daí a severidade com que os brasileiros lidam com as falhas em seus projetos ou programas. Nada é destinado a ir direto ao seu alvo, não se espera de ninguém que leve a operação até sua conclusão. O final tem de ser deixado ao acaso, ao diabo, à fatalidade. Reivindicar controlar essa parte do fogo, essa partilha maldita, assumir responsabilidade por tudo isso, seria altamente absurdo e sacrílego. É o ciclo que comanda, e o ciclo é como a curvatura da terra. E a indolência, o improviso é apenas a aceitação tácita no coração das pessoas desse elemento enigmático que frustra todo projeto e ordena que as chances de dar certo sejam meramente figurativas.”

Crises são para as camadas mais altas do capitalismo, que rapinam todos os lucros derivados em escala mundial. Catástrofes são para a classe média, que vê suas razões para viver desaparecerem. Os outros (80%) estão tão abaixo do nível da crise que nem mesmo a experimentam. Eles sobrevivem a tudo, se puderem, é claro, instintivamente. Desprovidos até de uma existência econômica, é mais fácil para eles achar um equilíbrio catastrófico simbólico.”

A crise econômica brasileira é tão ininteligível quanto a especulação wallstreetiana, exceto em sua obscura tentativa de demonstrar a absurdidade do sistema econômico. É um tipo de jogo coletivo, uma aposta alta na hipótese de que uma sociedade pode sobreviver – e por muito espaço de tempo, sem se desesperar de si – na desordem econômica mais absoluta, pelo menos enquanto não dispõe de estruturas racionais ou rígidas. Isso tudo é correlato ao caso dos italianos e o poder político: eles apostam na hipótese de que uma sociedade pode prosperar, insolentemente, sob a ausência de um Estado e de um governo, desde que se conserve sardônica e teatral o suficiente. Itália e Brasil são prefigurações do futuro. Pois todas as sociedades estão condenadas a um dia viver além do político e do econômico.”

NERVO INICIÁTICO: COM(G)R(ESSO) NACIONAL

In Brasilia, the abstraction of the city offers at least one certainty: at least those who are mad enough to cross its urban expressways – endangering their lives in the process – are human beings. The human race is nowhere so incongruous as in these extra-terrestrial surroundings, with the exception of these tiny touching creatures who go on foot. Otherwise, human beings take refuge around Brasilia in the numerous cults of the satellite towns, in an atmosphere of initiatory kitsch the more flamboyant and syncretic for being so opposed to the sidereal geometry of the mother-city.” “Em Brasília, a abstração da cidade oferece pelo menos uma certeza: ao menos os que forem loucos o suficiente para atravessar suas vias expressas – arriscando suas vidas no processo – são seres humanos. A raça humana não é em lugar nenhum tão incongruente quanto nesses domínios extra-terrestres, com a exceção dessas criaturazinhas tão tocantes que passeiam a pé. Mas, em última hipótese, os seres humanos da capital, para se sentirem mais humanos, se refugiam de quando em quando num dos numerosos cultos das cidades-satélites, numa atmosfera de kitsch iniciático mais exibicionista e sincrética justamente por ser tão contrastante com a geometria sideral da cidade-mãe.”

Os ricos de Copacabana são mantidos confinados pelos seus próprios escravos. Escravos que, pacificamente, silenciosamente, devoram o espaço-tempo de seus mestres. Mestres que vedam o acesso, mesmo em sonho, aos seus apartamentos luxuosos, mestres que detêm as chaves para as próprias almas dos escravos; exatamente como os escravos detêm as chaves dos elevadores pessoais de seus mestres.”

A mais requintada catástrofe, maior ainda que o naufrágio do Titanic, ocorreu na noite de 31 de dezembro de 1899, a primeira noite do século. O transatlântico saído de Manaos [grafia de Baudrillard], transbordando em riquezas ligadas à indústria da borracha, velejou rio Amazonas acima, cheio de aristocratas e famosos do mundo inteiro, para a mais luxuosa das festas internacionais. Esses membros da alta sociedade beberam e dançaram a noite toda ao ritmo das bandas, enquanto o transatlântico afundava vagarosamente e se perdia no labirinto da floresta. Eles conseguiram se dirigir para uma das margens secas de um dos inúmeros tentáculos do rio, mas não foram achados até ser tarde demais, quando todos já tinham morrido de fome, sede e calor. Dessa forma foi que uma parte da élite do mundo acabou oferecida como sacrifício humano para a entrada do novo século. Manus deusManaus – consonância maléfica.

Não só eles desapareceram, mas até mesmo essa história desapareceu dos arquivos. Eu nunca fui capaz de re-apurá-la na fonte eu mesmo. Será que eu alucinei com o tédio ou o calor? Não, eu tenho certeza que a li como um item genuíno de informação. Por que ela não está na memória de todo mundo, como a tragédia do Titanic?”

CATASTROPHY

Acho bom ter feito as pazes com esse livro, uma vez que a expulsão de objetos hostis é extremamente perigosa. É como um extravio num estado de pecado mortal. Ao invés de seguir seu caminho e entrar em órbita, o objeto força sua passagem de volta nas nebulosas profundezas do corpo. Exatamente o título inicial: <A vida, movendo-se por si mesma, do que está morto> [Memórias Refrigeradas]. E a morte do livro deve, de fato, ser vista como a vingança do mundo físico (e dos outros) contra o simbólico que o(s) nega – um ato sacrifical que é parte do livro em si mesmo. É por isso que você tem que se livrar dele e repassá-lo para outras pessoas, porque, como com qualquer bem simbólico, o mal e a transparência do mal não são coisas de que você deva desfrutar sozinho. É a regra do sacrifício.”

Toda mulher é única. Ela nunca é, portanto, ideal, porque a mulher ideal é um duplo.

Duas mulheres sempre se fundem numa só, combinadas numa eterna duplicidade.

Duas mulheres reais, se se combinam não só na imaginação, podem constituir uma mulher ideal.”

Mas, lá no fundo, duas mulheres não são o bastante. O homem moderno (Der Philosoph, Le Philosophe, Three Women in Love, 1989; Drowning by Numbers, Afogando em Números, 1989) está condenado à fantasia das três mulheres. Com 3 mulheres (ou mais), não há ciúmes nem predileção; uma progressão ritual [encadeamento] é criada, uma transferência de qualidades de uma a outra, uma nada sabendo da outra. Nenhuma quebra: a fagulha de uma nos olhos das outras, os ciúmes de uma no gozo das outras, a transparência de cada uma nas nuances das demais.”

Masculino e feminino estão a anos-luz de distância. Ninguém nem mesmo sabe se persiste uma relação entre os dois. É como bolas de bilhar que se chocam em velocidades diferentes, uma tocando a outra antes que a outra a toque: a não-polaridade dos sexos significa que eles não mais compartilham o mesmo espaço. Cada sexo não mais é, exatamente, o outro do outro sexo. Destarte, não há mais, exatamente, diferenças de sexo.”

RELAÇÃO ASSIMÉTRICA NO MUNDO DO AMOR: “O homem nunca significou a morte para a mulher” “Para haver diferença, as coisas têm de ser comparáveis. Apaixonar-se pelas próprias diferenças – o modelo do sexismo.”

Assim como as defesas do corpo precisam ser neutralizadas antes de um transplante cardíaco, a imunidade da mente precisa ser desligada antes de ela ser inicializada no mundo da inteligência artificial (computadores).

Os intelectuais estão condenados ao desaparecimento quando a inteligência artificial estourar no mercado, igual quando os heróis do cinema mudo desapareceram com a ascensão do cinema falado. Somos todos Buster Keatons.”

Caminhar entre tantos rostos de cujos nomes sua memória se esqueceu é como estar cego. A obliteração de nomes e rostos na memória é como o escurecimento da luz do dia para os olhos.” “Uma luta-livre entre cegos. O árbitro é cego também. Bem como os expectadores. E todo o evento acontece no escuro (essa última condição é supérflua).”

Comunicar? Comunicar? Só meios comunicam.”

Eu sou uma sobremesa para os lobos

#deathmetalyrics

AM I A MAN OR A MEDIUM?

I am mice

Yes we are

Media

I’m in half

Butchered

Pitilessly

Means to an end

Don’t you make no amends

Ships sink

Full of friends

Frenzy’s freak

Machiavelli does not justify my existence

Tense existence

Past tense

Present perfect

Future inexistent

Destined to doom

I’m centered in the edges and thresholds of the world

Where there is this eye that beholds

The eye of the hurricane

Storming sorrow towards my vanquished soul

Há um quê de orgulhoso no ato de evitar se repetir. Você está se iludindo se pensa que os outros prestaram atenção cuidadosa no que você disse, o que é muitas vezes o caso. Na outra mão, há qualquer coisa de uma modéstia exagerada nisso de repetir a mesma história dez vezes: porque isso é agir como se os outros não estivessem ouvindo, o que também não é sempre verdade.”

mais além da alienação, dissolvendo-se na pura outridade.”

O próprio Deus não acredita em Si, de acordo com a tradição. Fazê-lo seria uma fraqueza. Também seria uma fraqueza acreditar que temos uma alma ou um desejo. Deixemos essa fraqueza aos outros, como Deus deixa as crenças para os mortais.”

M., C., J. (C.A.A.O. – COSCUVILHEIRAS AMIGAS, ANGELICAIS E OTIMISTAS)

Histéricos [nós os ansiosos, instáveis por natureza] são esquivos, porque, quando generosos de espírito e demonstrando admiração, obtêm uma forma de reter o controle sobre seus favores. Ou eles são generosos com seus favores, mas mantêm uma distância mental. Esse equilíbrio é uma forma de sedução. Por outro lado, aqueles que se doam completamente são insuportáveis. São o tipo das mulheres harmoniosas, insignificantes e em paz consigo mesmas que qualquer um gostaria de trancar nalgum lugar e fazer sofrer.

ANÁLISE PSICOLÓGICA DO TRIO (AS CARACTERÍSTICAS SE INTENSIFICAM EXPONENCIALMENTE, COMO NUMA FÓRMULA, COM BASE NO AUMENTO DO NÚMERO DE MEMBROS DA PANELINHA):

Devotas, quase casadas, bonitas, na moda, honradas, sociáveis, boas oradoras, boas até demais, com defeito no disfarce de manipuladoras. Risadeiras. Sem senso do tempo apropriado para intervir. Têm consciência (ou chegam perto de achar) que suas vidas são espécies de modelos para o resíduo da gentalha. Inspirações medianas (“qualquer um gostaria de estar no meu lugar”), mas falta-lhes: consciência da própria repelência, o sentido do asco da homogeneidade, o sentimento de grandeza do mundo, do quão pouco seu papel representa, mesmo no sentido quantitativo da coisa, que é sempre onde podem levar vantagem. De certa forma são, sim, invejáveis, pois poucos conseguem possuir fé no futuro. Quem disse que animais não podem ter consciência do estado da felicidade?! Qualquer Outro também invasivo (espelho de suas personalidades, portanto idêntico na forma, porém discordante no conteúdo) torna-se O Inimigo. Senti na pele. Tanto as vantagens de estar alinhado com seu “perímetro do consenso” quanto o tormento de estar “do lado de lá” desses muros. Tirar a prova da panela: todo grupo de fêmeas coscuvilheiras tem a sua vedete masculina, normalmente um afeminado considerado “fiel”, que faz a ponte para salvar as aparências, tornar o hermetismo sectário do grupo algo mais “diplomático” e “palatável” (M., C. e J. possuem E.).

Uma pessoa SS: sempre solícita.

Eventos cativos não reproduzem em cativeiro.” (ler: notícias plantadas)

Which will win out in the long term, enforced idleness or frenzied activism?”

Nossa alta sociedade cultivada só se empanturra de Beckett, Cioran, Artaud [Baudrillard seria o quarto destes cavaleiros do Apocalipse?] e todas essas formas consagradas de cinismo e niilismo para se evadir melhor de qualquer análise das formas atuais de desespero. Eles denunciam com a maior energia político-moral toda presente instância do niilismo, da niilidade dos valores, enquanto <culturalmente> saboreiam as formas heróicas porém anacrônicas de niilismo e o inumano. Eles enaltecem a divisão maldita, todavia mantêm a água benta ao alcance.” Entende-se o que Nietzsche queria dizer com: eu não sou nenhum santo.

Anorexia: ab-reação a nossa euforia (bem-estar)” expiar culpas em dietas

Hipocondria: auto-ingestão de má consciência, digestão de nossos próprios corpos mortos.” Minha expiação: sentar e trabalhar quando nem preciso.

Resumo da minha história: patafísico aos 20 – situacionista aos 30 – utopista aos 40 – transversal aos 50 – viral e metaléptico aos 60.”

O paradoxo de Groucho: não quero pertencer a nenhum clube que me aceite como membro.”

Já matou uma baleia hoje?

Mesmo que não se escutem senão a si mesmas, duas pessoas como o meu pai podem discutir. Já eu comigo ou eu com ele, é totalmente diferente.

If nuclear technology is disappearing over the horizon, this is because new forms of war have taken its place.” Reversibilidade da guerra total: como fomos ingênuos ao esgotar as possibilidades, então!

Casanova conta como ele começou a ter hemorragias nasais por volta dos 4 anos e que foi aí que ele começou a se sentir vivo, sentir que era um ser humano.”

A mulher da sua vida – a expressão é absurda. De fato, é a mulher ou a vida. Não há espaço para as duas juntas. A competição é por demais acirrada.”

Agência Alérgica Apoteótica”

Philippe Alfonsi – Au nom de la science

Vattimo & Rovatti – Il pensiero debole

MITOLOGIA – HERÓIS – José Francisco Botelho

ODISSEU

A primeira parada nessa mirabolante travessia foi a Ilha dos Lotófagos. O país tinha esse nome porque seus habitantes se alimentavam do lótus: um fruto mágico que apagava todas as lembranças. Os lotófagos eram criaturas desmemoriadas e felizes: viviam num eterno presente, desconhecendo o passado e sem pensar no futuro. Alguns dos marujos de Odisseu experimentaram a guloseima local: imediatamente, esqueceram-se do lar e resolveram ficar para sempre naquela maravilhosa amnésia. Odisseu teve de arrastá-los à força de volta aos navios – e partiu dali o mais rápido possível. Ele ainda passaria por muitos perigos, mas o primeiro talvez tenha sido o maior deles: as delícias do esquecimento são uma tentação à qual é difícil resistir.”

Como de praxe naqueles tempos, Odisseu levava consigo um presente para oferecer a possíveis anfitriões. Era um vinho fortíssimo e de sabor indescritível, que trouxera da ilha de Ismaura.”

Odisseu pigarreou e deu um passo à frente; falando em palavras açucaradas e suaves, como sempre, lembrou o gigante sobre as leis da hospitalidade, respeitadas por deuses e por mortais. O cíclope soltou uma gargalhada furiosa.

– Eu sou Polifemo, filho de Posêidon! Em minha caverna, não há outra lei além de minha vontade!”

As sinistras refeições tornaram-se rotina. Todos os dias, o cíclope levava seus rebanhos para pastar, deixando a caverna selada; voltava de tardezinha, e matava a fome degustando dois gregos antes de dormir.”

ULISSES & SUA SAGA CONTRA O NADA

– Um presente magnífico – exclamou o gigante em meio a sa bebedeira. – Agora me diga o seu nome, para que eu lhe devolva essa gentileza em espécie.

– O meu nome – respondeu Odisseu – é Ninguém.

– Excelente, meu caro Ninguém! Agora, eis o meu presente para você: vou devorá-lo por último. – E com isso, o Cíclope mergulhou num sono profundo.”

– Polifemo, que mal o aflige? Quem o feriu? – perguntavam os Ciclopes.

– Ninguém! – gritou Polifemo. – Ninguém me feriu! Ninguém está escondido em minha caverna! Ninguém quer me matar!

Os demais Ciclopes foram embora.”

O senhor dos oceanos planejava uma longa e dolorosa vingança.”

Eolo deixou solto apenas o suave Zéfiro, o vento Oeste, que se encarregou de soprar a frota de Odisseu rumo à terra natal. Odisseu passou a viagem encerrado em sua cabine, agarrando com força o saco que continha os ventos; temia que um deles escapasse por engano e soprasse a frota para longe… Quando estava apenas a algumas horas de viagem de Ítaca, o comandante da esquadra caiu no sono. Sua tripulação havia dias vinha arrastando o olho para aquele presente.” “Ítaca afastou-se, afastou-se até desaparecer no encapelado horizonte…”

Navegou até os confins ocidentais do mundo, terras soturnas, cobertas por uma noite eterna – e chegou ao Rio Oceano, um gigantesco anel de águas que envolvia toda a Terra. Lá, desembarcou em um promontório coberto por bosques negros; no fundo da floresta, estava a entrada do Hades.” “o fantasma de Tirésias; o adivinho aproximou-se em meio aos nevoeiros do além, apoiado em seu cajado.”

Nem bem se livraram das Sereias, os viajantes tiveram de enfrentar o mais horripilante obstáculo da jornada: o Estreito de Cila e Caríbdis.” “De todas as coisas funestas que testemunhei, murmurou, nada me causou mais dor do que a visão de meus camaradas gritando meu nome em vão e desaparecendo na neblina sangrenta.”

O pobre herói foi mantido em uma espécie de prisão amorosa na Ilha de Ogígia por nada menos que 7 anos – tendo de atender aos desejos insaciáveis de Calipso noite e dia, sem descanso. Finalmente saciada, ela deixou que Odisseu partisse em uma jangada improvisada.”

<Que grande honra para Nausícaa se, em vez dos verdes garotões feácios, ela tivesse por marido um homem experiente, sofrido e testado nas agruras do mundo…>, o rei disse, como quem não quer nada.”

Estava cansado, infinitamente cansado; para falar a verdade, não sabia que tipo de recepção o esperava em Ítaca – e se sua esposa, Penélope, houvesse cedido aos avanços de outro homem? Afinal de contas, vinte anos haviam-se passado desde que Odisseu partira de casa.”

A última grande façanha de Odisseu em sua jornada pelo mundo foi recusar a mão da doce e inesquecível Nausícaa.”

Vinte anos são vinte anos. Árvores agora cresciam onde antes havia só campinas. Em outros pontos, bosques tinham desaparecido para dar lugar a plantações.”

Ele e Atena eram velhos amigos – mas, nos últimos anos, ela havia desaparecido de sua vida.” “Atena era tão bela e curvilínea quanto todas as deusas olímpicas – mas, ao contrário da maioria de suas parentas, vivia no mais completo celibato.”

<semelhante aos deuses> era o elogio que os heróis gregos mais gostavam de ouvir”

Por mais poderosa que fosse, Atena não era páreo para seu tio, cujas sísmicas oscilações de humor podiam sacudir os alicerces da terra e as profundezas do mar. Por sorte, Posêidon havia partido em uma longa viagem aos confins do mundo – fôra visitar os Hiperbóreos, seus servos mais queridos, que viviam nas últimas margens do Oceano.” Até os deuses viajam.

Era Argos, o cachorro que havia acompanhado Odisseu em muitos passeios e caçadas. Já tinha quase 30 anos – um verdadeiro Matusalém canino.” “Segurando as lágrimas, Odisseu fez uma breve carícia na cabeça esfalfada do amigo. Argos esticou a cabeça, fechou os olhos e morreu.”

Na sala do trono, havia um grande arco que ninguém além de Odisseu jamais conseguira disparar. Quem conseguir puxar este arco e lançar uma flecha com ele – declarou a rainha – terá a minha mão. O desafio era só uma artimanha para ganhar tempo: ela sabia que ninguém conseguiria [Ninguém conseguiria!] usar a arma além do legítimo rei de Ítaca.” referência ao Mahabharata Livro I!

Odisseu, Telêmaco e os dois criados lutaram contra mais de 100 inimigos. Foi uma luta desigual, pois Odisseu tinha do seu lado ninguém menos que Atena.”

PERSEU

O rei de Argos [líder da matilha?] jamais terá filhos; e será morto pelas mão do próprio neto.”

o rei ordenou que seus engenheiros construíssem uma torre de bronze e encerrou a princesa lá em cima. Cercou-a de trancas e paredes metálicas; ao redor da torre, prendeu cachorros furiosos.”

BARROQUIZAÇÃO DOS MITOS COM DIREITO A GOLDEN SHOWER DIVINA: “À noite, já exausta de tanto chorar, ela escorregava para sonhos úmidos em que um herói ou um deus vinha salvá-la de sua virgindade forçada. Zeus, o senhor dos deuses, acabou comovido pelas lágrimas de Dânae (…) no caminho, transformou-se em uma cálida chuva de gotas douradas. Aquela torrente brilhante e luxuriosa escorreu pelas grades das janelas, encharcou o vestido de Dânae, molhando-lhe os seios e as coxas. Meio desperta, meio acordada (sic), ela soltou um grito de prazer havia muito tempo contido no fundo de sua alma. Um deus a possuía, e por isso ela estava livre.

Naquele dia, foi concebido Perseu.”

Acrísio ordenou que a serva fosse estrangulada e tomou uma espada para trespassar o menino, que se agarrava ao pescoço de Dânae. Mas sua mão fraquejou.”

BOCETAS & MULHERES: “Sepultados sob as águas, a princesa e seu filho estavam condenados a morrer de fome e sede. Ou seriam jogados contra os rochedos e recifes do Mar Egeu. Vendo a arca desaparecer no horizonte, em meio às crespas elevações do mar, Acrísio sentiu a alma serena, pela primeira vez em muitos anos.”

PERSÉDIPO: “Se sua intenção é casar-se com Hipodâmia, e não com minha mãe, eu lhe darei qualquer coisa. – Perseu retrucou, impetuoso. – Até a cabeça de uma Górgona.” “Na época, poucos monstros eram mais temidos que as Górgonas. Séculos atrás elas haviam sido 3 jovens e formosas irmãs. Vaidosíssimas, gabaram-se de ser mais lindas que as deusas do Olimpo. A blasfêmia foi castigada de forma exemplar: as 3 irmãs foram convertidas em monstros horrendos. Suas louras madeixas se tornaram ninhos de serpente. Os lábios viraram focinhos e presas de javali brotaram de suas gengivas.” “Medusa era a mais feroz das Górgonas. E também a única mortal.”

três Gréias – criaturas decrépitas e monstruosas que dividiam entre si um único olho e um único dente. Perseu esgueirou-se até a sombria moradia das Gréias, ao pé do Monte Átlas, e roubou seu maior tesouro: o olho e o dente, sem os quais elas não podiam enxergar nem alimentar-se. Cegas e incapazes de atacá-lo, as Gréias tiveram de responder a todas as suas perguntas, revelando o caminho para o Jardim das Hespérides. Por sorte, o local ficava ali perto, à sombra do Monte Átlas. De bom grado, as ninfas entregaram a Perseu 3 artefatos fantásticos: um par de sandálias aladas, que havia pertencido a Hermes, o mensageiro dos deuses; o capacete de Hades, que tornava invisível quem o usasse; e um alforje mágico, em que Perseu poderia guardar a cabeça de Medusa sem que ela apodrecesse. Para completar o arsenal, Atena deu-lhe um escudo de bronze rutilante. A superfície era tão polida que parecia um espelho.” “Calçando as sandálias aladas, Perseu voou em direção à Hiperbórea, uma região nos confins do mundo varrida por ventos gelados e envolta em sombras permanentes. Encontrou as Górgonas adormecidas em meio a um sinistro Jardim, adornado com estátuas de homens e animais.” “o sangue de Medusa jorrou. Suas irmãs imortais, Estênelo e Euríale, despertaram enfurecidas e puseram-se a buscar o assassino. Mas Perseu usava o capacete de Hades – e voou, invisível, para bem longe dali.”

Havia tempos o reino da Etiópia era assolado por um pavoroso monstro marinho, que erguia vagalhões com seus braços, devorava navios inteiros e devastava o litoral com as chicotadas de seu rabo gigantesco. Um oráculo revelava que o levitã só seria aplacado se o rei etíope lhe entregasse a própria filha.” “Semanas depois, Perseu iria pousar na Grécia, carregando Andrômeda – com quem se casara, é claro.”

Anos mais tarde, Perseu participava de uma competição atlética na cidade de Larissa. Seu esporte favorito era o arremesso de discos. No meio de um lançamento, contudo, uma rajada de vento desviou o disco de Perseu na direção da platéia. Um dos espectadores tombou nos degraus da arena, com a cabeça fatalmente rachada. Dânae, que estava do outro lado das arquibancadas, soltou um grito ao ver aquele rosto que manchava de vermelho o mármore branco.

O oráculo se cumprira: Acrísio acabara de ser morto por seu neto.”

HÉRCULES (HÉRACLES)

Perseu foi um dos mais célebres heróis gregos – mas o que se tornou o modelo épico de todos os outros foi seu bisneto, Héracles.”

Zeus, sabendo da exemplar fidelidade de Alcmena, tomara a aparência de Anfitrião para seduzi-la”

Os 12 trabalhos

1. “arrancar o couro do monstruoso Leão da Neméia. A fera, que havia caído da Lua, tinha a pele invulnerável a qualquer arma, e ninguém jamais conseguira feri-la.

Viajando até a Neméia, Héracles encontrou a região quase deserta: o leão havia devorado a maior parte dos habitantes.”

Héracles ficou tão orgulhoso dessa proeza que, daquele dia em diante, passou a usar a pele do Leão da Neméia amarrada ao redordo corpo.”

2. “que decapitasse a Hidra de Lerna”

Héracles enterrou-a sob uma enorme pedra no meio do pântano – e a última cabeça da Hidra está lá até hoje, vivíssima e cheia de um insaciável ódio pela humanidade.”

3. “que trouxesse a famosa corça da Cerínia. A bela criatura, que tinha cascos de prata e chifres de ouro, era conhecida por sua velocidade sobrenatural.” “O herói perseguiu a corça, a pé, durante um ano inteiro, seguindo-a até os confins da terra, sem jamais disparar uma seta – pois não queria ferir um animal tão bonito. Certo dia, a corça adormeceu exausta debaixo de uma árvore, e o herói a apanhou numa rede.”

4. “que o javali de Erimanto fosse levado com vida até Micenas”

5. “que limpasse os célebres e imundos currais do rei Áugias.

Áugias, governante de Élis, possuía os maiores rebanhos do mundo: por graça divina, seus animais eram livres de doenças, além de gozar de uma fertilidade sobrenatural. Mas toda fortuna tem seu lado fétido. Áugias possuía tantos bois, cavalos e ovelhas que nem mesmo um exército de servos seria capaz de limpar diariamente os currais de Élis. Havia 30 anos que o esterco de milhares de animais se acumulava em grotescas e imensas camadas nos pátios e nas paredes. Euristeu divertiu-se imaginando o grandioso Hércules a carregar infinitos baldes de estrume em seus ombros heróicos.”

Em um único dia, e sem sujar as mãos, Héracles realizou a faxina mais célebre da mitologia grega.”

6. “As aves do Estínfale tinham bicos, patas e plumas de bronze. Ao voarem pelo céu, despejavam na terra um dilúvio de penas afiadas como punhais. Héracles [foi] encarregado de livrar a Arcádia daquela praga” “Atena presentou Herácles com 2 címbalos (castanholas de metal), forjadas por Hefesto.”

7. ONDE ESTÁ ARIADNE? “Havia décadas que a ilha de Creta era assolada por um touro selvagem que soltava chamas pelas ventas, incendiando plantações e derrubando casas com os chifres. (…) foi esse mesmo animal quem engendrou o Minotauro. (…) amansado por Héracles, o touro ficou anos perambulando pela Grécia sem causar danos.”

8. “4 éguas incrivelmente ferozes, que viviam atadas a grossas correntes de ferro. (…) Sempre que algum viajante desavisado pedia hospedagem em seu palácio, o sádico Diomedes presenteava suas éguas com um horrendo banquete. (…) Héracles desafiou Diomedes para um duelo e derrubou-o a golpes de clava. Depois, jogou-o na baia das éguas antropófagas, que devoraram seu dono ainda vivo. (…) Amansadas e tornadas herbívoras, as éguas passaram o resto de seus dias pastando em Micenas.”

9. “A região da Frígia (parte da atual Turquia) era ocupada pela belicosa nação das Amazonas. Elas eram súditas de Ares, o deus da guerra (…) Hipólita, a rainha das Amazonas, não usava coroa na cabeça: em vez disso, andava sempre com os belos quadris cingidos por um cinturão de ouro. Admeta, a mimada filha de Euristeu, sonhava em adornar-se com aquele famoso enfeite.”

O filho de Zeus reuniu uma tropa de confrades heróicos, entre os quais se incluía Teseu [Plutarco], rei de Atenas, e zarpou rumo à Frígia. Ancorou seu navio no litoral e enviou uma mensagem a Hipólita, convidando-a para um banquete a 2: pretendia usar seus dotes de sedutor para resolver a questão.”

Seduzida pelo corpo musculoso de Héracles, Hipólita lhe ofereceu de bom grado o cinturão de ouro, como prova de amor. Tudo teria acabado sem derramamento de sangue, não fosse por Hera. Transformando-se em amazona, a deusa correu pelo acampamento e gritou que os gregos haviam raptado a rainha. (…) Comandados por Héracles e Teseu, os gregos conseguiram repelir o ataque e zarparam, levando Hipólita como prisioneira. Héracles apoderou-se do cinturão, deu um rápido beijo em Hipólita e depois a entregou a Teseu. A rainha das Amazonas acabou se apaixonando pelo rei de Atenas, com quem teve um filho, chamado Hipólito.”

10. “Gerião, descendente dos antigos Titãs, era o rei da cidade de Tartessos, nos confins ocidentais do mundo, às margens do Rio Oceano. Nascera com 3 cabeças, 6 braços e 3 troncos unidos pela cintura; sua maior riqueza era um rebanho de belíssimos bois vermelhos, que ficavam a pastar nas bordas do mundo. (…) mirando um dos flancos do monstro, conseguiu trespassar-lhe os 3 corpos com uma única e compridíssima flecha. (…) atravessar toda a Europa com o gado roubado. Héracles passou anos tocando a boiada até chegar a Micenas.

11. “No dia em que se casou com Zeus, Hera recebeu de sua avó, Gaia, um presente deslumbrante: uma árvore que dava refulgentes maçãs de ouro.”

Segundo as profecias do Oráculo de Delfos, nenhum mortal podia colher os frutos da macieira sagrada sem perecer. (…) Chegando ao pé do gigante Átlas, ofereceu-se para aliviar seu fardo por algum tempo – desde que o Titã lhe trouxesse alguns frutos do jardim encantado.”

12. “Os antigos gregos conheciam duas entradas para o reino de Hades: a caverna Aquerúsia, às margens do Mar Negro, e uma fenda nos rochedos do Cabo Tênaros, no Peloponeso.”

Antes de se engalfinhar com o cão infernal, Héracles foi pedir permissão ao dono da fera – Hades. O temido Senhor dos Mortos respondeu que o herói podia levar o monstro, desde que conseguisse capturá-lo sem utilizar nenhuma arma.”

* * *

Após pagar seus pecados cumprindo as 12 tarefas colossais, Hércules continuou perambulando pela Grécia e realizando as mais variadas façanhas – tantas que seriam necessários muitos livros iguais a este para contá-las.” “Dejanira amava loucamente seu marido, mas se ressentia de suas constantes infidelidades (também nisso Héracles havia puxado ao pai).”

A GUERRA DE TRÓIA

Na época de Platão e Aristóteles, os gregos consideravam a Guerra de Tróia o marco fundador de seu país.”

Como disse Homero, em um dos mais célebres versos da Ilíada: <Os deuses criam sofrimentos e conflitos para que os homens tenham histórias para contar>.”

Quando Helena tinha apenas 12 anos, sua beleza já causava batalhas. Teseu, rei de Atenas, reuniu um exército e invadiu Esparta só para raptá-la. Enfurecidos, Cástor e Pólux convocaram um batalhão de espartanos e devastaram a Ática, região onde ficava Atenas, até encontrar e resgatar a irmã. Nascia ali a rivalidade entre Atenas e Esparta, que se estenderia até os tempos históricos.”

Tíndaro entregou sua cobiçada filha adotiva a Menelau, irmão do riquíssimo Agamênon – o mais abonado dos soberanos gregos, que governava a grande cidade de Micenas. O próprio Agamênon recebeu a mão de Clitemnestra – forjando, assim, um vínculo formidável entre duas das cidades mais poderosas da península grega.”

A belíssima Tétis já atraíra olhares cobiçosos de Zeus; mas o senhor do Olimpo não se atrevera a possuí-la: segundo uma profecia, o filho de Tétis estava destinado a ser muito mais poderoso que seu pai. Por isso, a divina Tétis foi obrigada a casar-se com um mortal. Essa união estava fadada à infelicidade: Tétis ficaria jovem para sempre, enquanto Peleu envelheceria como todos os homens. Ainda assim, as núpcias entre a Nereida e o Argonauta foram uma celebração grandiosa. O festim, organizado pelo centauro Quíron, ocorreu nos prados à sombra do Monte Pélion – e foi ali que, pela última vez, deuses e mortais se sentaram lado a lado, compartilhando a mesa.”

DON JUAN & O REINO DAS 3 MULHERES

“Ouvi dizer que ninguém conhece mais a beleza feminina do que um pastorzinho que vive nas encostas do Monte Ida. O nome dele é Páris.” “Quando estava grávida de Páris, a rainha Hécuba sonhara que dava a luz a uma tocha – e as chamas consumiam toda a cidade. Um adivinho previu que o menino em seu útero seria a ruína de todos os troianos. Por isso, tão logo nasceu, Páris foi entregue a um pastor, que o criou nas encostas do Monte Ida. Naquelas paragens idílicas, o jovem exercitou suas perícias inatas de sedutor: no seu rol de conquistas, estavam não apenas as pastoras e camponesas da vizinhança, mas também ninfas que viviam nos bosques vizinhos.” “Com palavras doces, intimaram o pastor a fazer o mais célebre e funesto julgamento de beleza na história. Páris confessou-se indeciso: todas as candidatas eram deslumbrantes.

– Ajudaria se tirássemos a roupa? – sugeriu uma.

O troiano assentiu com o mais perfeito sorriso de satisfação. Contemplou, num instante, a metafísica nudez de Hera, Atenas e Afrodite (…)

– Não tenho como decidir, são todas lindas.

As candidatas apelaram para uma estratégia tão antiga quanto homens e deuses: o suborno. Hera prometeu-lhe o domínio sobre todos os povos da Ásia. Atena jurou torná-lo o mais sábio dos homens. Mas foi Afrodite quem ofereceu a ele a propina mais sedutora:

– Se me escolher, eu lhe darei o amor de Helena de Esparta, a mais bela de todas as mortais.

O pastor troiano não teve dúvidas: escolheu Afrodite, ganhou o ódio de Hera e Atena.

Ao fazer seu julgamento, Páris era apenas um adolescente, e ainda não sabia de sua origem ilustre.”

Elevado subitamente da pobreza ao fausto, ele tornou-se um dândi na corte troiana: sempre vestido com extravagância, coberto de perfumes e com os cabelos luxuosamente penteados.”

No dia em que Páris tomou o navio para Esparta, sua irmã, Cassandra, começou a chorar convulsivamente.

– Ele nos trará a morte, o fogo e a ruína – ela soluçou; Cassandra tinha o estranho e malfadado talento de ver o futuro com minúcias, mas as pessoas preferiam não ouvir suas previsões. Isso porque, certa vez, a princesa recusara os avanços de Apolo. Como castigo, ele condenara Cassandra a vislumbrar o destino pavoroso de sua família – sem poder fazer coisa alguma para mudá-lo.”

Exemplo de lealdade fraterna, Pólux não aceitou abandonar seu querido irmão àquele destino fantasmagórico. E decidiu dividir sua imortaidade com Cástor: Assim, os dois irmãos passaram a se revezar entre o céu e o inferno: até hoje, cada um deles passa um dia no Olimpo e outro no reino dos mortos. Encontram-se, às vezes, no meio do caminho, e conversam brevemente sobre os tempos em que andavam sobre a Terra. Em honra a eles, Zeus colocou no céu a constelação de Gêmeos – hoje, um símbolo do Zodíaco.”

Os modos de Páris logo atraíram a atenção das espartanas, acostumadas a homens que pensavam apenas em matar e conquistar.” Pouco verossímil… “Helena deixou-se levar, com uma mistura de medo e excitação.”

Naquela época, vivia em Argos um célebre adivinho, de nome Calcante. Foi um dos maiores videntes do mundo antigo, superado apenas por Tirésias. Alguns dizem que Calcante era troiano, mas fugira da cidade natal depois de contemplar, em uma visão do futuro, a ruína total da cidade. O certo é que, alguns anos antes, Calcante fizera uma profecia famosa: os muros de Tróia jamais cairiam, a menos que o filho de Peleu e Tétis estivesse entre os atacantes.”

Aquiles, aos 15 anos, já tinha um insaciável apetite por fama e glória.” “Aquiles também fez questão de levar Pátroclo – seu primo mais velho, que era também seu melhor amigo.”

Alguns soldados começaram a murmurar, impacientes, que os deuses zombavam de Agamênon. Os mais ousados já começavam a ridicularizar o pomposo título do <Rei dos Heróis>.” “os deuses não esquecem – muito menos as deusas. Agora Ártemis o tinha na palma da mão.”

Aquiles, que nada sabia daquela trama, enfureceu-se. Jamais tivera grandes simpatias por Agamênon, e o complô forjado com seu nome o atingiu como uma ofensa mortal. Já sacando a espada, e carregando a lança de carvalho presa às costas, ele correu à tenda de Agamênon, onde Ifigênia estava agora presa.” “- Essa é a vontade dos deuses – disse Ifigênia. – Não deixarei que a Grécia se destrua por minha causa.” “A frota grega finalmente partiu. Mas o entusiasmo dera lugar a um ânimo sombrio. Da amurada dos navios, alguns guerreiros avistaram uma figura vestida de negro que cavalgava para longe. Era Clitemnestra, de luto, retornando a Micenas. Em seu coração destroçado ela levava um único objetivo: vingar-se, um dia, de seu desnaturado esposo, o Rei dos Heróis.”

Egeu – cujas águas tinham cor de vinho, conforme garantem os poetas antigos”

Os encantos de Helena haviam enfeitiçado Tróia. A cidade inteira se apaixonara por ela. Príamo a amava como se fosse uma filha. Na rua, as pessoas soltavam gritos de êxtase ao vê-la passar. Em sua maioria, os troianos esperavam que as ameaças gregas nã passassem de blefe.”

A disputa entre gregos e troianos se transformou em uma verdadeira obsessão para a divina família do Olimpo – cujos membros resolveram acertar suas disputas internas usando o mundo dos mortais como tabuleiro.” DV 1914

Apolo foi outro que decidiu lutar ao lado dos troianos. Já Posêidon tinha protegidos em ambas as trincheiras. As preferências de Zeus também pendiam ora para um lado, ora para outro.”

Heitor, o filho mais velho de Príamo e Hécuba, se tivesse de escolher entre a glória e a felicidade, certamente teria preferido a segunda opção.”

os gregos estavam paralisados pelo medo de uma profecia: acreditava-se que o primeiro soldado a pisar nas areias da Trôade seria morto naquele mesmo dia.

Para dar fim à hesitação geral, Odisseu recorreu a um de seus estratagemas mais traiçoeiros. Jogou seu escudo na praia e pulou sobre ele, tendo o cuidado de não encostar um único dedo na areia troiana. O barco de Protesilau, rei da Filácia, estava junto à embarcação de Ítaca. <Ótimo>, pensou Protesilau, sem reparar no escudo sob os pés de Odisseu, <a profecia cairá sobre ele. Acabaram-se seus ardis, Odisseu!>. No instante seguinte, Protesilau saltou à praia – afundando até os tornozelos nas dunas salgadas. A cavalaria troiana avançou sobre ele. O rei da Filácia derrubou vários inimigos, mas a lança de Heitor acabou por lhe atravessar o peito.”

Que os gregos ficassem lá fora, na planície, espremidos entre as muralhas e o mar. Havia fontes de água potável dentro da cidade, e caminhos secretos ligavam Tróia à região da Dardânia, no Norte. De lá, viriam suprimentos e aliados.” “Nesse impasse, correram 9 anos.”

Briseis & Criseida

Nos ataques às regiões vizinhas, os gregos não roubavam apenas jóias e armas, mas também mulheres.” “Agamênon, querendo esquecer o ódio que vira nos olhos de Clitemnestra, tomou por concubina uma bonita jovem chamada Criseida. Filha de Crises, um sacerdote de Apolo, ela fôra capturada na cidade de Moésia, a leste do Monte Ida. Durante o saque de Lirnesso, Aquiles capturou a desejável rainha Briseis.” “Por algum tempo, Briseis conseguiu apagar da atormentada mente de Aquiles a lembrança de Ifigênia.”

Naquele momento de cansaço e desânimo generalizado, gregos e troianos poderiam ter feito as pazes. Mas uma série de acontecimentos acabou precipitando uma seqüência de fatos trágicos”

No início da primavera, Crises, o sacerdote de Apolo, veio ao acampamento grego implorar a devolução de sua filha, trazendo um rico resgate. Mas Agamênon o escorraçou aos gritos. Furioso e humihado, Crises ajoelhou-se à beira do mar e invocou a vingança de Apolo. Suas preces chegaram ao Olimpo, e a face dourada de Apolo ficou escura de raiva.” “Empunhando o arco, o deus disparou suas setas contra as hostes gregas. Cada guerreiro alvejado tombava ao chão, com febre, delirando. Durante 9 dias, as flechas de Apolo espalharam uma praga mortal pelo acampamento grego. Piras crepitavam do entardecer à alvorada.”

– Fizemos por merecer a cólera de Apolo – disse Aquiles. – Que o grande Rei devolva sua concubina, e escolha outra. Graças aos nossos esforços, há muitas prisioneiras e muitas riquezas à sua disposição.

A maioria dos guerreiros apoiou a sugestão – e todos sorriram ante a agulhada indireta contra o Rei dos Heróis. Agamênon foi obrigado a ceder, mas a raiva borbulhava em sua alma: há tempos ele ressentia a popularidade de Aquiles entre os soldados.

– Muito bem, Criseida voltará aos braços de seu pai – disse o rei. – Mas com uma condição. Aquiles, você mesmo disse que posso escolher quem eu quiser, entre as nossas prisioneiras. Pois bem, tragam-me Briseis agora mesmo. Ela será a minha concubina! E esta noite o seu leito ficará vazio, filho de Peleu.

Os olhos de Aquiles coruscaram. Sua mão desceu ao cabo da espada – e ele teria decapitado Agamênon ali mesmo, de um único golpe, se não fosse por Atena.” “Invisível aos olhos mortais, ela correu feito uma rajada de vento até Aquiles e sussurrou em seu ouvido:

– Não cometa essa loucura. Aguarde. Os deuses lhe darão glória redobrada, se você obedecer.

Aquiles respirou fundo. Controlando a muito custo seu impulso assassino, o filho de Peleu abriu os braços e gritou:

– Pois então escute meu juramento, Rei dos Heróis! Os troianos jamais me ofenderam. Não roubaram meu gado nem feriram minha família. Foi em busca de glória que cruzei o mar, mas encontrei vergonha. Minha espada não vai se erguer novamente contra Tróia, e os teus soldados serão derrubados um a um pelo grande Heitor. Que desgraça ter de combater um inimigo tão valoroso, em nome de um aliado tão estúpido!”

* * *

Cansado do desprezo que lhe votavam os troianos, Paris estava disposto a provar seu valor. Desafiou os gregos a enviarem contra ele seus maiores campeões.

No mesmo instante, Menelau avançou de espada à mão, sequioso de vingança. Antes que o combate tivesse início, Heitor e Odisseu avançaram para parlamentar. Combinou-se uma trégua. Todos concordavam que aquela guerra já durava tempo demais. Ficou acertado que o vencedor daquele duelo ficaria com Helena – e o conflito chegaria ao fim, sem que mais ninguém tivesse de morrer.

A luta começou. Páris foi o primeiro a arremessar a lança, que foi cravar-se no escudo do grego. Emseguida, o troiano esquivou-se à azagaia do rei de Esparta, que em seguida o golpeou com a espada. A lâmina se partiu contra o elmo de Páris, mas o príncipe perdeu o equilíbrio e caiu para trás. Com um grito de triunfo, Menelau agarrou-o pelo capacete e começou a arrastá-lo em direção às linhas gregas. Com os cordões do elmo estrangulando seu pescoço, Páris desmaiou. A Guerra de Tróia teria acabaodo naquele momento, se não fosse por Afrodite- vendo seu querido súdito à beira da morte, ela desceu ao campo de batalha envolvida em uma nuvem de vapor e arrebatou o príncipe troiano. De repente, Páris descobriu-se em seu quarto, deitado sobre os lençóis perfumados – e, lá fora, a matança recomeçou. Enquanto Menelau procurava inutilmente o inimigo que acabara de derrubar, um arqueiro troiano chamado Pândaro cometeu a tolice de disparar seu arco – Atena o havia inspirado traiçoeiramente a alvejar o rei de Esparta. A flecha acertou a cintura de Menelau – a fivela do cinto evitou uma ferida mortal, mas o sangue escorreu por suas pernas, e um grito de indignação se levantou das linhas gregas. A trégua estava rompida.”

os mirmidões permaneciam ociosos junto aos navios, entretendo-se a tocar lira ou lançar discos, enquanto seu chefe continuava cismando com os olhos fixos no mar.”

Foi graças a Diomedes que a investida troiana foi rechaçada. Num duelo encarniçado, ele quebrou com um pedregulho a perna de Enéias – o guerrero mais hábil entre os troianos, depois de Heitor. Enéias era fruto dos amores entre Afrodite e o mortal Anquises, um nobre da família real troiana. Mais uma vez, a deusa do amor desceu à batalha – agora, para salvar seu amado filho.

Os deuses, sempre que desejavam, podiam ficar invisíveis aos olhos mortais – indo e vindo feito uma brisa ou um pensamento. Naquele dia, contudo, Atena conferiu a Diomedes um dom formidável: o poder de ver os deuses a qualquer momento, em qualquer lugar. Em meio ao furor da batalha, o jovem rei avistou a forma luminosa de Afrodite descendo em direção a Enéias. Diomedes não teve dúvidas: arremessou a lança com toda a força, rasgando o delicado vestido da deusa e perfurando a aromática pele de seu braço. Pelo pulso de Afrodite, escorreu o icor – o néctar dourado que flui nas artérias divinas, assim como o sangue corre pelas veias dos mortais. Com um grito de dor, Afrodite deixou cair Enéias e fugiu em direção ao Olimpo.

Inebriado por sua façanha, Diomedes admirou a bela figura da deusa que fugia, derramando gotas de ouro. Apolo, oculto numa nuvem de poeira, aproveitou o momento para apanhar Enéias nos braços e levá-lo para bem longe dali. Diomedes, sempre tão ponderado, estava naquele dia possuído pelo espírito da ousadia. Num salto, disparou atrás de Apolo, tentando acertar Enéias. Três vezes o golpeou com a espada, e três vezes Apolo repeliu seu ataque. Diomedes erguia a mão para desferir o quarto golpe quando Apolo voou pelos ares e depositou o filho de Afrodite no alto do Monte Pérgamo. Se não fosse por isso, toda a história do mundo teria sido diferente – pois foram os descendentes de Enéias que, muitos séculos depois, fundaram o Império Romano.

Disposto a vingar Afrodite, com quem tinha um antigo caso de amor, Ares lançou-se sobre os gregos brandindo sua acha gigantesca. Avistando o vulto monstruoso, que ceifava homens como se fossem bonecos, Diomedes correu até ele com fúria. Naquele instante, Atena conferiu ao seu braço força redobrada – e a lança de Diomedes enterrou-se no ventre de Ares, no ponto exato em que a couraça terminava. O icor jorrou, e o deus da guerra soltou um grito horrendo; por um instante, ambos os exércitos ficaram paralisados de medo.

Diomedes respirou fundo e piscou os olhos. Ares fugia pelos ares, rumo ao Olimpo. Em uma única tarde, o jovem rei de Argos havia enfrentado três deuses – façanha que os poetas do futuro jamais esqueceriam.”

Naquela mesma tarde, Heitor tentou novamente resolver a guerra com um combate singular. Erguendo a lança de bronze diante das linhas troianas, convocou nova trégua e desafiou os inimigos a enviar seu maior campeão para um duelo. Os gregos tiraram a sorte; e a escolha recaiu sobre o Grande Ájax. Ele avançou com seu famoso escudo, constituído por 7 camadas de couro de boi e uma grossa chapa de bronze. O príncipe de Tróia e o príncipe de Salamina duelaram a golpes de lança, sob os brados de ambos os exércitos, enquanto o sol caía em direção ao horizonte. No início da noite, detiveram-se, arfantes e ensangüentados: o resultado do duelo fôra um justíssimo empate. A luta renhida havia criado um laço de respeito mútuo entre os dois inimigos, que trocaram elogios e presentes. Ájax brindou Heitor com um suntuoso boldrié de cor púrpura [cinturão], enquanto o troiano lhe deu sua espada, uma formidável arma de bronze marchetada em ouro. Separaram-se como amigos, embora soubessem que no dia seguinte a guerra recomeçaria. Não desconfiavam que Moira determinara um papel sombrio para os presentes que haviam garbosamente trocado.”

– Me empreste sua armadura! – Pátroclo suplicou. – Ao me verem, os troianos pensarão que o grande Aquiles voltou à luta, e sairão em debandada!

A contragosto, Aquiles assentiu. Não queria roubar do primo a chance de mostrar seu valor. E assim, Pátroclo ajustou ao corpo a legendária armadura de Aquiles, a mesma que Peleu havia recebido no dia de seu casamento: couraça e grevas [caneleiras] banhadas em ouro, reluzentes como o sol refletido nas águas. O capacete escondia seu rosto, deixando de fora apenas os olhos e a boca.” “o deus Apolo, na forma de um nevoeiro, zproximou-se dele pelas costas e desferiu um terrível soco entre suas omoplatas. O elmo voou longe, Pátroclo perdeu o fôlego, cambaleou – e sentiu uma estocada no ventre. Num átimo, Heitor lhe havia atravessado a barriga com o pontiagudo bronze.” “Tétis viajou até as profundezas do Monte Vesúvio e pediu a Hefesto, o ferreiro dos deuses, que forjasse para Aquiles uma nova armadura e um novo escudo. Tão logo recebeu o equipamento divino, Aquiles subiu em seu carro de guerra.” “o herói, transformado em carniceiro, atirou-se nas águas atrás de suas vítimas e degolou-as a todas como se fossem cordeiros.” “Ele era apenas um homem, e teria de enfrentar um semideus em plena fúria.” “Tentou cansar Aquiles, obrigando-o a correr atrás dele, ao redor dos muros; mas por fim se deteve e avançou, de espada em punho, coberto pela armadura que tirara de Pátroclo. Aquiles abaixou-se atrás do escudo de Hefesto, buscando com os olhos algum ponto vulnerável no inimigo. Viu uma fresta entre a couraça e o elmo, e para lá dirigiu sua azagaia, com impulso brutal: a ponta de bronze entrou na garganta e saiu pela nuca. Heitor tombou numa golfada de sangue. E seu espírito despencou vertiginosamente rumo à Mansão dos Mortos, lamentando sua família, sua juventude perdida e a iminente queda de Tróia.”

Certa noite, quando o acampamento grego estava mergulhado no sono, Hermes, o arauto divino, conduziu o rei Príamo à tenda de Aquiles. O soberano de Tróia, devastado por anos de perdas e sofrimentos, viera implorar que lhe entregassem o corpo do filho. De joelhos, fez uma das súplicas mais célebres nas histórias e nas lendas antigas:

– Para que Heitor tenha o funeral que merece, farei agora o que ninguém mais suportaria fazer: vou beijar a mão do homem que matou meu filho.” “Aquiles escoltou Príamo até o território troiano e prometeu-lhe uma trégua de 11 dias para que a cidade celebrasse os funerais do grande Heitor.”

O filho de Peleu e Tétis estava cansado daquela guerra, que lhe parecia sem sentido. Já se arrependia da escolha que fizera anos atrás – seria tarde demais para mudar de idéia e trocar a glória letal por uma tranqüila e vulgar felicidade?

Em vez de combater, ele agora preferia freqüentar o templo de Apolo Timbriano, uma singela construção nos arrabaldes da cidade, que era considerada território neutro. Lá, gregos e troianos às vezes se encontravam quando iam fazer preces e oferendas. Numa dessas ocasiões, Aquiles avistou Polixena, uma das filhas mais novas de Príamo. Foi só então que a lembrança de Ifigênia desapareceu de sua mente. O guerreiro invencível foi sobrepujado por uma paixão incontrolável pela princesa troiana. Era um amor tão avassalador que Aquiles se dispôs a trair os companheiros. Enviou mensageiros a Príamo, garantindo que ajudaria os troianos contra os gregos, se Polixena lhe fosse dada em casamento. O rei de Tróia concordou; mas Polixena e seus irmãos odiavam Aquiles amargamente, e aproveitaram-se daquela paixão para vingar a morte de Heitor. Encontrando-o em segredo no templo de Apolo, Polixena envolveu o grego em seduções e indiretas, até fazê-lo confessar qual era seu único ponto invulnerável – o calcanhar [Sansão, o Plágio]. Depois, pediu que Aquiles voltasse ao templo dali a alguns dias, sozinho e desarmado, para celebrar o matrimônio.

Jamais saberemos se Aquiles desconfiou de alguma coisa. O fato é que cumpriu o desejo de sua amada. Deífobo, irmão de Heitor e Polixena, recebeu-o junto ao altar e lhe deu um abraço, fingindo acolhê-lo como membro da família. Mas, naquele momento, Páris, tocaiado atrás da estátua de Apolo, disparou uma flecha envenenada no único ponto fraco do mais poderoso dos gregos. Outros troianos, que estavam escondidos atrás do altar, saltaram sobre Aquiles. Mesmo ferido e desarmado, ele matou vários inimigos a socos.” Cronologia bastante desrespeitada pelas adaptações.

Após a morte de Aquiles e Ájax, os gregos começaram a se desesperar.”

Filoctetes embarcou rumo às praias de Tróia, com 10 anos de atraso. Sua ferida, com efeito, foi tratada e curada por Macaôn e Podalírio, filhos de Esculápio, deus da medicina – que tinham vindo da Tessália, para se juntar às tropas gregas.

Tão logo sentiu a perna sarar, Filoctetes desafiou Páris a um duelo de arco e flecha. Páris disparou a primeira seta, e errou; Filoctetes atirou 3 projéteis na seqüência, acertando o troiano na perna, no peito e no rosto. E, assim, o maior mulherengo das lendas e dos mitos encontrou seu fim, trespassado de setas e fulminado pelo nefasto sangue da Hidra de Lerna – que, anos depois de sua derrota às mãos de Héracles, continuava fazendo vítimas entre os humanos.

Os gregos haviam queimado o próprio acampamento. Todos os navios tinham zarpado.” “O vidente Calcante anunciou que, se essa estátua fosse levada para o interior de Tróia, o rei Príamo acabaria por derrotar os gregos. Por isso, a estátua fôra construída de tal forma que não pudesse ser transportada pelos portões da cidade.” “Príamo foi massacrado, com grande parte de seus filhos, no pátio do templo de Zeus. Cassandra refugiou-se no templo de Atena, mas o Pequeno Ájax a perseguiu sem piedade, e alguns dizem que ele a violentou ali mesmo, sobre o altar da deusa. Menelau finalmente reencontrou Helena, e estava prestes a degolá-la por sua mortífera infelidade quando a filha de Leda abriu o vestido, mostrando-lhe seus mitológicos seios [HAHA!]. Helena já tinha quase 50 anos à época, mas as gotas de icor em suas veias lhe conservavam o frescor de eterna adolescente. Menelau foi incapaz de destruir tanta beleza e levou-a de volta a Esparta, onde Helena remoeu remorsos, lembranças e saudade até o fim de seus dias.” “Embora odiasse os troianos, Atena ficara enojada com o estupro de Cassandra em seu altar. Quando o navio do Pequeno Ájax se aproximava da Lócrida, ela jogou sobre ele uma tremenda tempestade. O navio afundou, mas Ájax, que era exímio nadador, conseguiu salvar-se com vigorosas braçadas. Escalou um penhasco que se erguia entre as ondas e, lá do alto, gritou:

– Nem mesmo os deuses podem me matar!

Irritado com aquela arrogância, Posêidon ergueu-se do fundo do mar e destroçou o Pequeno Ájax com um golpe de tridente.”

Agamênon retornou a Micenas levando Cassandra como concubina. Mas sua esposa, Clitemnestra, jamais lhe perdoara o sacrifício de Ifigênia. Com a ajuda de um amante, chamado Egisto, a rainha tramou o assassinato do esposo. Durante um banquete, Agamênon foi enveneado e esfaqueado até a morte. Electra e Orestes, filhos do casal, eram pequenos demais quando a irmã Ifigênia fôra morta e mal se lembravam dela. Por isso, ficaram horrorizados com o assassinato do pai. A tragédia completou-se quando Orestes e Electra resolveram vingar a morte de Agamênon, encurralando e matando Egisto e Clitemnestra. A terrível história da família de Agamênon é um dos temas das peças de Ésquilo e Eurípides, dois dos maiores escritores gregos.

OS ARGONAUTAS

O Oráculo de Delfos assim havia determinado: os campos de Orcômenos só voltariam a florescer quando o rei sacrificasse os próprios filhos, o príncipe Frixo e a princesa Hele.”

Assim como havia ninfas dos rios, das florestas e das montanhas, também havia ninfas das nuvens – e Nefele era uma delas. Naqueles tempos, aliás, o céu era habitado por uma ampla variedade de criaturas voadoras. Nefele desfrutava a amizade do famoso Carneiro Dourado. Filho de Posêidon e da mortal Teofane, o animal tinha lãs de ouro, era inteligente como um ser humano e capaz de voar como um pássaro.” “Segundos depois, Frixo e Hele cruzavam o céu, agarrados à lã dourada. Lá embaixo, terras e mares sucediam-se loucamente, e o vôo do divino animal os arrebatava para longe da Grécia. Encantada por aquela visão, Hele inclinou-se demais, perdeu o equilíbrio e despencou pelos ares. A princesa tombou e afundou nas águas de um estreito entre o Mar Negro e o Mar Egeu. E o local passou a ser conhecido como Helesponto, ou Mar de Hele (hoje o nome do estreito é <Dardanelos>).” “Eram os picos do Cáucaso, no limite entre a Europa e a Ásia. E o Carneiro pousou.

Exausto, o fantástico animal soltou o último suspiro. Mas seu espírito disparou rumo às alturas, e subiu e subiu até ultrapassar as nuvens e chegar às estrelas, onde está até hoje – o Carneiro do Zodíaco. Já sua lã dourada ficou aqui embaixo – com ela, Frixo confeccionou o Velocino de Ouro.”

DIC – velocino: diminutivo de tosão, velo

O homem destinado a roubar o Velocino era Jasao, filho de Éson, rei da cidade de Iolcos, na Tessália. Quando Jasão era ainda criança, Éson foi destronado pelo irmão, Pélias. O usurpador trancafiou o rei no calabouço e enviou soldados para capturar o bebê. Mas Alcimede, mãe de Jasão, conseguiu enviar o filho, em segredo, para fora da cidade. O príncipe sem reino foi entregue ao centauro Quíron, que o educou no costumeiro curriculo dos heróis gregos.”

Pélias não queria matar um parente – pois poderia incorrer na vingança das Erínias [Fúrias], que punem todos aqueles que vertem o sangue da própria família. (…)

– Eu lhe entregarei o trono – disse – se você viajar até a Cólquida e me trouxer o Velocino de Ouro.” “Em seguida, Jasão enviou emissários a todas as côrtes da Grécia, convocando voluntários para aquela missão. A fama do Velocino de Ouro e a perspectiva de gloriosas aventuras atraíram alguns dos maiores heróis da época. O primeiro a atender a seu chamado foi Argus, um célebre construtor naval. Ele projetou o maior navio dos tempos mitológicos: uma galera com 50 remos – batizada de Argo, em honra ao seu construtor. E 50 guerreiros foram escolhidos para tripular o navio – dali por diante conhecidos como Argonautas.

O grande Héracles fez uma pausa em seus 12 Trabalhos, trazendo consigo Hilas, seu filho com a ninfa Melite. Cástor e Pólux, irmãos de Helena, foram os representantes de Esparta. De Atenas, vieram Zetes e Calais – marinheiros alados, filhos da princesa Orítia e de Bóreas, o tormentoso Vento Norte. Do pai, haviam herdado as asas majestosas e rápidas. Outro Argonauta célebre foi Orfeu, o maior poeta e músico dos mitos gregos. Seu talento era sublime: quando dedilhava sua harpa na solidão das florestas, as árvores moviam-se lentamente em suas raízes, ao ritmo da música, e os animais selvagens vinham deitar-se a seus pés.

(…) Eufemo, timoneiro do Argo, que por ser filho de Posêidon caminhava sobre as águas; os irmãos Peleu e Telamon, que teriam filhos famosos – Peleu é o pai de Aquiles e Telamon, do Grande Ájax. Era a maior aventura marítima que o mundo já vira.”

Para os gregos, a Cólquida [atual Geórgia] era um desses lugares tão remotos que sua localização se perdia nas fronteiras da fábula.” “Depois de várias semanas de viagem, fizeram uma parada em Quios.”

De súbito, Hilas sentiu que muitas mãos frias e suaves o prendiam em um abraço irresistível – eram as náiades, ninfas das águas, que haviam se apaixonado pelo belo filho de Héracles. Incapaz de resistir, o rapaz deslizou para o fundo do rio, acariciado pelos dedos gélidos da correnteza.” “Os dias se passaram. O Argos estava pronto para zarpar. Jasão esperou o máximo que pôde – mas finalmente percebeu que Héracles não voltaria. E assim a expedição partiu, deixando para trás seu mais poderoso tripulante.

Depois de Quios, os Argonautas deram voltas e mais voltas pelas águas – sua navegação completa é narrada no poema Argonâutica de Apolônio de Rodes.

Ilha de Salmidesso, no Mar Negro. Lá vivia, solitário e esfomeado, um adivinho chamado Fineu – que certa vez havia enfurecido Zeus com a atrevida precisão de suas adivinhações. Achando que Fineu já havia revelado muitos planos divinos aos mortais, o senhor do Olimpo o amaldiçoou com a cegueira e o jogou naquela ilha deserta – onde o desditado adivinho era constantemente atormentado pelas Harpias. Sempre que Fineu conseguia juntar, às apalpadelas, algumas frutas ou nozes para comer, gritos esganiçados rasgavam o céu, e lá do alto desciam duas criaturas horrendas, que misturavam no mesmo corpo a cabeça de mulher com as asas e garras de pássaro.

As Harpias arrancavam a comida às fracas mãos de Fineu, que era obrigado a alimentar-se de migalhas.

O adivinho amaldiçoado implorou ajuda ao grupo de viajantes. Jasão conferenciou com Zetes e Calais, e depois ordenou que os tripulantes preparassem uma fogueira para assar carnes. Quando o cheiro de comida começou a se espalhar, duas sombras se precipitaram das nuvens e vieram em vôo rasante atacar o banquete. Nisso, os filhos do Vento Norte sacaram as espadas e abriram as asas. Lâminas de bronze engancharam-se nas ferozes garras, e penas ensangüentadas caíram. Por fim, as Harpias debandaram. Zetes e Calais as perseguiram até que os monstros tombaram exaustos no mar, de onde jamais emergiram.”

Medéia & Jasão

A neta do Sol amava as sombras. Sem medo de monstros ou fantasmas, ela embrenhava-se nos recantos mais obscuros e selvagens colhendo raízes e ervas – para suas poções e feitiços, pois Medéia era sacerdotisa de Hécate, a terrível deusa das bruxas. Com a ajuda de sua infernal protetora, a princesa da Cólquida podia conversar com os animais, invocar o repelir tempestades acalmar ou enfurecer os mares.”

Afrodite, a deusa do amor, jogou seus laços irresistíveis sobre o espírito da princesa bruxa.” “diante do altar de Hécate, decidiu trair a própria família e ajudar Jasão.

– Mas, antes, você deve jurar que me amará para sempre – ela disse. E, agora, não havia doçura em sua voz, apenas a sombra de uma ameaça.

Jasão estendeu os dedos para tocar a pedra do altar.

– Por Hécate, eu juro.”

Jasão trazia não apenas o legendário artefato, mas também a bela e misteriosa princesa da Cólquida. Mesmo assim, Pélias recusou-se a ceder o trono – na verdade, nem sequer permitiu que Jasão entrasse em Iolcos. Numa barulhenta assembléia, os Argonautas se dispuseram a invadir a cidade. Mais uma vez contudo, foi Medéia quem salvou Jasão.” “Medéia reuniu as filhas de Pélias e fez uma demonstração de seus poderes mágicos: degolou um carneiro velho, desmembrou-o e jogou os pedaços dentro de um caldeirão com ervas e raízes. De lá, emergiu um imaculado cordeirinho.

Ante os olhos assombrados das princesas, Medéia garantiu que podia também rejuvenescer o velho rei.

– Para isso – ela acrescentou – vocês precisam fazer com ele o mesmo que fiz àquele carneiro.

As filhas de Pélias caíram na armadilha: degolaram o próprio pai enquanto ele dormia, cortaram-no em pedaços e o levaram ao caldeirão de Medéia. Mas a feiticeira não colocou no caldo borbulhante os ingredientes corretos – Pélias continuou morto, e suas filhas enlouqueceram de culpa.”

Jasão sentia mais medo que afeto por aquela que tanto o ajudara. O povo de Iolcos, horrorizado com o assassinato de Pélias, recusou-se a receber Jasão na cidade.

Os Argonautas se dispersaram – e Jasão foi embora com Medéia, para nunca mais voltar ali.”

No código das bruxas, as coisas eram simples: Hécate as livrava de qualquer peso na consciência. Para Medéia, o remorso e as recriminações de seu marido eram pura hipocrisia.

Depois de perambular pela Grécia, o casal se refugiou em Corinto, cujo rei, Creonte, era amigo de Jasão. Lá, ele e Medéia tiveram dois filhos, Mêrmeros e Feres. Apesar disso, Medéia percebeu que o marido se tornava cada vez mais distante. Agora, ele a tratava como um fardo. Na côrte de Creonte, todos a olhavam com desconfiança. (…) Na penumbra do quarto, Medéia ouviu de seu amado e ingrato Jasão as terríveis palavras:

– Você precisa ir embora.

Creonte havia oferecido a mão de sua filha, Creúsa, ao príncipe destronado de Iolcos. Mas impusera uma condição: Medéia tinha de partir. A feiticeira ouviu tudo em silêncio. Quando falou, sua voz era calma e fria como o vento que sopra à meia-noite. Relembrou tudo o que havia feito por Jasão: a ele entregara sua virgindade; por ele, abandonara seu país e renegara sua família. Se não fosse por ela, Jasão não seria ninguém.

– Não foi você quem me ajudou – o herói respondeu bruscamente, lembrando as palavras de Fineu. – É a Afrodite que devo agradecer.”

Ante aquela réplica, Medéia se calou. E assentiu, em silêncio. Jasão se surpreendeu: a inflexível Medéia havia cedido. A feiticeira parecia realmente conformada com seu destino – chegou mesmo a oferecer à princesa Creúsa um maravilhoso vestido para o casamento.

No dia da cerimônia, Creúsa entrou no templo usando a veste que Medéia lhe dera. (…) [PARASITE EVE (MITO-CÔNDRIA):] Um esgar de pânico distorceu as belas feições de Creúsa. O tecido de sua túnica se converteu em línguas de fogo.

Queria matar Medéia, sim, apagá-la da face da terra – mas, ao mesmo tempo, recordava aquele entardecer no bosque de Hécate, e o corpo nu da princesa da Cólquida sobre a relva. Lembrava também a noite em que haviam fugido, a bordo do Argo, com o luminoso Velocino nas mãos – ele e Medéia triunfantes, apaixonados. Tudo aquilo parecia ter acontecido havia muito tempo, havia séculos ou milênios.

A porta da casa se abre. Jasão estaca, incapaz de se mover. O que vê está além dos pesadelos mais sádicos. Os olhos de Medéia ressaltam em um rosto ensangüentado. Uma gargalhada sacode a feiticeira. E suas mãos vermelhas seguram o corpo dos filhos. Feridas horrendas rasgam suas carnes. A mãe ri; ri sem loucura, ri no gozo da vingança. Jasão cai de joelhos, definitivamente derrotado por aquela que mais o amou.

Um clarão o ofusca. Hélios, o deus do Sol, enviou sua carruagem, puxada por serpentes, para resgatar sua neta Medéia. Antes que os soldados de Creonte a alcancem, a feiticeira sobe ao carro dourado com o corpo dos filhos nos braços. As serpentes solares sibilam, e Jasão vê o rosto de Medéia pela última vez, enquanto ela sobe vertiginosamente ao céu.

(…) Hécate, a deusa das sombras, não esquece juras quebradas. Por ter repudiado Medéia, o herói é amaldiçoado pela senhora das feiticeiras. E vaga pela Grécia, sem que ninguém ouse acolhê-lo – solitário, esquecido e miserável.” Judeu Holandês, Errante Voador

Quem não se mata em Esparta?

Quem, aqueu, não mata bem?

Grego apaixonado, agonal e patético: vontade trágica visceral do cego. Você tem honra, mas seu ego é gratuito…

BIBLIOGRAFIA

APOLODORO. Biblioteca Mitológica

APOLÔNIO DE RODES. Argonáutica

ÉSQUILO. A Oréstia

EURÍPIDES. Ifigênia em Áulis

EURÍPIDES. Medéia

HIGINO. Fábulas

SÓFOCLES. Ájax

SÓFOCLES. Filoctetes